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SAÚDE COLETIVA 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Paulo Henrique Gouveia 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Nesta etapa, discutiremos os conceitos que nos mostram o papel da 
Vigilância em Saúde e do farmacêutico inserido nesse campo. Conheceremos 
sua história no contexto da saúde brasileira, que tem como foco a vigilância em 
saúde, bem como as bases legais que sustentam as ações de saúde. É 
importante compreender as ações da vigilância em saúde, incluindo aquelas 
voltadas para a vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, saúde do 
trabalhador e vigilância em saúde ambiental. 
Discutiremos o papel do farmacêutico nas ações de vigilância em saúde 
e a importância de conhecer as necessidades de saúde da população para 
garantir as melhores ações nesse sentido. Veremos os conceitos e legislações 
mais relevantes da vigilância para, assim, garantir a qualidade do cuidado e a 
integralidade do atendimento à população. 
TEMA 1 – HISTÓRIA DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE E SUA LEGISLAÇÃO 
Para compreender as ações da vigilância em saúde, é essencial conhecer 
a história da saúde pública e da vigilância sanitária. Nesse contexto, 
analisaremos algumas práticas sanitárias históricas no Brasil, a evolução das 
ações em saúde coletiva e a necessidade de fortalecer iniciativas voltadas à 
promoção da saúde. Além disso, exploraremos como essas ações estão 
diretamente relacionadas à vigilância em saúde. 
Florence Nightingale já possuía um olhar atento às necessidades de 
saúde e compreendia a importância dos cuidados na prevenção da transmissão 
de doenças, nas condições higiênico-sanitárias e em outras práticas essenciais. 
Esse entendimento ficou evidente em suas ações durante a Guerra da Crimeia, 
em 1854. 
Uma de suas frases mais impactantes, citada por Brown (1988), afirma: 
“Um paciente com frio e febre, fraco, mal alimentado e com escaras não está 
sofrendo da doença, mas da falta de enfermagem adequada.” Essa reflexão 
reforça a ideia de que o cuidado prestado pela enfermagem não se limita aos 
hospitais, mas se estende à saúde coletiva, sendo muitos dos conceitos de 
Florence ainda aplicáveis às ações de vigilância em saúde. 
 
 
3 
No período do Brasil Colônia, já existiam práticas sanitárias isoladas e 
fragmentadas com o objetivo de reduzir a disseminação de doenças 
transmissíveis. Além disso, medidas de controle sanitário foram implementadas 
para evitar a propagação de enfermidades trazidas pelas embarcações, dando 
início ao que conhecemos hoje como quarentena. 
Com a abolição da escravatura, a chegada da Revolução Industrial e o 
aumento da imigração, diversas epidemias se espalharam pelo país, como a 
febre amarela e a peste bubônica. Diante desse cenário, Oswaldo Cruz assumiu 
a Secretaria da Saúde do Rio de Janeiro e iniciou uma série de ações sanitárias 
para combater a precariedade das condições higiênico-sanitárias, que 
favoreciam a proliferação de ratos e, consequentemente, da peste bubônica. 
Entre as medidas adotadas, destacou-se a criação da polícia sanitária, 
que fiscalizava e multava proprietários de imóveis insalubres, além das brigadas 
mata-mosquitos, responsáveis pela limpeza de telhados, calhas e imóveis. 
Essas equipes também aplicavam petróleo em ralos e bueiros para eliminar 
criadouros de mosquitos, visando à prevenção da febre amarela. Para reforçar 
essa estratégia, Oswaldo Cruz contratou agentes que visitavam residências e 
comércios para exterminar os mosquitos. No entanto, a população, descrente da 
relação entre os mosquitos e a transmissão da febre amarela, resistiu às ações, 
mesmo com a distribuição de folhetos explicativos. 
A imposição da vacinação obrigatória contra a varíola gerou forte revolta 
popular, resultando em confrontos entre a polícia e o exército, depredações de 
estabelecimentos comerciais, incêndios em bondes e outros atos de resistência. 
Diante da insatisfação, Oswaldo Cruz teve que recuar, marcando o primeiro 
grande movimento popular contra medidas de saúde pública no Brasil. 
No combate à peste bubônica, estratégias de extermínio de ratos foram 
implementadas, mas também enfrentaram resistência da população, que 
duvidava da eficácia dessas ações. Apesar das dificuldades, a insistência no 
controle dos roedores resultou na redução da doença, consolidando esse 
período como um marco importante para a saúde pública e para a prevenção de 
doenças. Embora a medicina preventiva ainda não fosse uma prioridade, essas 
ações prepararam o caminho para seu desenvolvimento. 
Com o golpe militar na década de 1960, o governo criou os Institutos de 
Aposentadoria e Pensões (IAPs), responsáveis pela arrecadação de recursos 
 
 
4 
para seguridade e assistência médica. Nos anos 1970, os investimentos foram 
direcionados principalmente para ações curativas, sem controle adequado, 
agravando a crise financeira do país. Nesse período, o Instituto Nacional de 
Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) passou a gerir a previdência 
social e a saúde, mas apenas para grupos que contribuíam financeiramente, 
reforçando o caráter privatista e curativo da medicina. 
Ainda na década de 1970, foram criados o Sistema Nacional de Vigilância 
Epidemiológica (SNVE), o Programa Nacional de Imunização e o Sistema 
Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), introduzindo a vigilância epidemiológica 
no Brasil. Em 1978, com a crise mundial, foi realizada a Primeira Conferência 
Internacional sobre Cuidados Primários à Saúde, em Alma Ata, com o objetivo 
de discutir os problemas de saúde das populações e a necessidade de políticas 
públicas. O evento enfatizou desafios urgentes, como saneamento básico, 
qualidade da água, redução da mortalidade materno-infantil e controle de 
doenças transmissíveis. A conferência resultou na Declaração de Alma Ata, que 
estabeleceu o slogan “Saúde para todos no ano 2000”. 
Até a década de 1980, o Brasil priorizava a medicina curativa em 
detrimento da medicina preventiva. Nesse contexto, grandes investimentos 
foram direcionados às indústrias farmacêuticas e de equipamentos médicos, 
sem considerar as reais necessidades da população. Um novo marco ocorreu 
em 1986, com a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde, que contou 
com ampla participação popular e destacou a necessidade urgente de uma 
reforma sanitária. A conferência reforçou a importância da integralidade do 
cuidado e da redução das desigualdades no acesso à saúde, pavimentando o 
caminho para a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). 
Com a Constituição Federal, em 1988, foi criado o Sistema Único de 
Saúde (SUS), e, nesse momento, a saúde passou a ser vista como política 
pública e de responsabilidade do governo. Aqui se iniciou um processo para 
garantir saúde à população, prevendo: 
• Saúde como direito de todos e dever do Estado; 
• Universalidade do atendimento da saúde; 
• Integrar um único sistema à rede pública de serviços de saúde; 
• Organização dos serviços focada na regionalização e hierarquização. 
 
 
5 
O art. 200 da Constituição Federal cita que compete ao SUS “executar as 
ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do 
trabalhador.” Outro momento importante foi a criação da Lei Orgânica da Saúde, 
a Lei n. 8.080, que regulamentou o SUS e instituiu ações de vigilância à saúde. 
Em seu art. 6º, a referida lei cita que estão incluídas ainda no campo de atuação 
do SUS: 
I. A execução de ações: 
a) De vigilância sanitária; 
b) De vigilância epidemiológica; 
c) De saúde do trabalhador; e 
d) De assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica. 
A Portaria n. 1.378 de 2013, em seu art. 4º, cita que as ações da Vigilância 
em Saúde abrangem toda a população brasileira e envolvem práticas e 
processos de trabalho voltados para: 
• Vigilância da situação de saúde da população; 
• Detecção oportuna e adoção de medidas adequadas para a resposta às 
emergências de saúde pública;• Vigilância, prevenção e controle de doenças transmissíveis; 
• Vigilância de doenças crônicas não transmissíveis, acidentes e violências; 
• Vigilância e populações expostas a riscos ambientais em saúde; 
• Vigilância em saúde do trabalhador; 
• Vigilância sanitária dos riscos decorrentes da produção e do uso de 
produtos, serviços e tecnologias de interesse à saúde; 
• Outras ações de vigilância. 
Em 2017, a Portaria n. 2.488, que regulamenta a Política Nacional de 
Atenção Básica (PNAB), reforçou a importância da Vigilância em Saúde ao 
definir a atenção básica como um conjunto de ações individuais, familiares e 
coletivas que abrangem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, 
tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em 
saúde. Essas ações devem ser desenvolvidas por meio de práticas de cuidado 
integrado e gestão qualificada. 
 
 
6 
No contexto da Vigilância em Saúde, Oliveira et al. (2009) destacam que 
a vigilância consiste na execução de ações de caráter coletivo, voltadas à 
implementação de medidas preventivas, de proteção e promoção da saúde. 
Dessa forma, fica evidente que as ações de vigilância são fundamentais para a 
análise global das condições de saúde da população. 
Por fim, ao compreender a interação da saúde com diversos fatores que 
influenciam diretamente o processo saúde-doença, é essencial considerar as 
múltiplas interfaces da saúde, considerando que fatores como condições 
biológicas, de estilo de vida, ambientais e relacionadas aos serviços de saúde 
influenciam nas variantes do processo saúde-doença. 
Em 2018, ocorreu a Primeira Conferência Nacional de Vigilância em 
Saúde, na qual foi descrito como de extrema importância o seguinte conceito: “A 
Vigilância em Saúde é responsável pela informação e intervenção que 
possibilitem a redução de riscos e promoção de saúde nos territórios, 
articulando-se às Redes de Atenção à Saúde”. Partindo desse conceito, 
entendemos a importância de analisar a situação da saúde, conhecer as 
necessidades de saúde da população, realizar o planejamento em saúde das 
ações para doenças transmissíveis, crônicas, violências e também abordar 
conceitos de vigilância sanitária, epidemiológica, ambiental e em saúde do 
trabalhador. 
TEMA 2 – VIGILÂNCIA SANITÁRIA 
A vigilância sanitária tem um papel fundamental na proteção da saúde 
pública, sendo uma prática que remonta à época da vinda da Família Real para 
o Brasil. Algumas ações de controle sanitário já eram realizadas na Europa e 
foram implementadas no Brasil, como a fiscalização de embarcações e a 
imposição de quarentena para navios suspeitos de transportar indivíduos com 
doenças contagiosas. Além disso, o trabalho de Oswaldo Cruz no combate a 
epidemias no Rio de Janeiro evidenciou a necessidade de melhorias nas 
condições higiênico-sanitárias do comércio de rua e dos imóveis urbanos. 
A Constituição Federal do Brasil reforça o papel do Estado na garantia 
das ações de vigilância sanitária, estabelecendo em seu art. 200 que compete 
ao SUS desenvolver medidas de vigilância sanitária, epidemiológica e de saúde 
do trabalhador. O conceito de vigilância sanitária está definido na Lei Federal n. 
 
 
7 
8080/1990, em seu art. 6º: “Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de 
ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos 
problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação 
de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde”. Essas medidas são 
essenciais para a prevenção de doenças e a promoção da qualidade de vida da 
população. 
Devemos entender que toda ação da vigilância sanitária é embasada em 
legislações específicas para cada situação encontrada. Pensando em 
legislações específicas, temos: 
• Código sanitário estadual ou municipal; 
• Resoluções de Diretoria Colegiada (RDC); 
• Código de Defesa do Consumidor (CDC); 
• Manual de boas práticas e outras legislações específicas para cada área. 
A vigilância sanitária utiliza-se de vários sistemas de informação em 
saúde, mas o de maior importância para as ações da vigilância seria o Notivisa, 
que traz informações e canais para denúncias e notificações de profissionais de 
saúde, das instituições de saúde e da população em geral. Além dele, pode-se 
usar o site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que traz muita 
informação para toda a população. 
Atua de acordo com o risco sanitário; sempre vai priorizar aquilo que tem 
maior grau de risco à saúde. Risco sanitário seria a probabilidade de algo ou 
alguém causar danos à saúde das pessoas ou coletividades, por exemplo, 
medicamentos, procedimentos médicos, produção de alimentos, dentre outros. 
As demandas de atividades são: 
• de rotina, que ocorrem quando o próprio estabelecimento solicita inspeção 
da Anvisa por necessitar de licença sanitária, análise de projetos 
arquitetônicos, liberação de alvará de funcionamento, entre outros; 
• programadas, organizadas de acordo com prioridades de risco sanitário e 
necessidades de acordo também com solicitações de outros órgãos, por 
exemplo, hospitais, laboratórios, indústrias etc.; 
• emergenciais, que devem ocorrer imediatamente após o conhecimento de 
determinada situação com risco alto à saúde da população, como 
denúncia ou surto alimentar; 
 
 
8 
• externas, em que são envolvidos vários órgãos, como Ministério Público 
ou conselhos de classe; podem ocorrer por meio de denúncia, Ministério 
Público, central de atendimento ao usuário, entre outros. 
Nas ações da vigilância sanitária, encontramos rotineiramente algumas 
irregularidades, que são principalmente: 
• comercialização de produtos sem registro no Ministério da Saúde; 
• procedimentos inadequados; 
• estrutura física inadequada; 
• fluxos comprometidos; 
• falta ou inadequação de recursos humanos; 
• ausência de responsável técnico. 
A vigilância sanitária tem responsabilidades administrativas referentes às 
suas ações: inspeções sanitárias, processos administrativos sanitários e 
aplicações de penalidades. Quando falamos em inspeção sanitária, temos 
alguns objetivos que podem ser inspeção programada ou solicitada pelo próprio 
estabelecimento, inspeção motivada por avaliação de risco sanitário realizada 
pelo técnico de vigilância ou inspeção para avaliação de denúncia. De uma 
inspeção sanitária, podem ser gerados vários documentos: 
• Termo de intimação: preenchido sempre que o técnico da Anvisa 
encontrar irregularidade; ele pode dar tempo para o estabelecimento 
arrumar por ter grande risco; 
• Auto de infração: gerado com base em irregularidades encontradas em 
uma avaliação de risco alto ou por descumprimento de um termo de 
intimação; 
• Apreensão de produtos por irregularidades; 
• Interdição do estabelecimento, de parte dele ou de apenas um 
equipamento; 
• Cassação da licença sanitária: ocorre sempre que uma inspeção sanitária 
é realizada, mesmo que a licença esteja vigente; dependendo do que 
encontrar no momento da inspeção, será possível cassar a licença 
sanitária. 
 
 
9 
Sempre que houver um auto de infração, é gerada a abertura de um 
processo administrativo sanitário e este tem alguns itens importantes: 
• Auto de infração; 
• Apreensão de produtos; 
• Interdição do estabelecimento ou de parte dele; 
• Relatório realizado pelo técnico da Anvisa; 
• Defesa administrativa; 
• Julgamento e decisão; 
• Imposição de penalidades; 
• Recursos administrativos; 
• Decisão final; 
• Para recorrer, são três instâncias no máximo. 
Vale reforçar que a atuação da vigilância sanitária tem muitas ações, 
dentre elas: 
• Conceder ou cancelar registros de produção; 
• Conceder autorização de funcionamento de empresa (AFE); 
• Fiscalizar estabelecimentos de interesse à saúde; 
• Monitorar propaganda, garantindo ao consumidor a diminuição de riscos 
à saúde da população; 
• Atuar em portos, aeroportos efronteiras; 
• Promover ações orientativas e educativas; 
• Elaborar planejamento de saúde em que o gestor deve conhecer as 
necessidades de saúde da população. 
TEMA 3 – VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA 
Vemos a vigilância epidemiológica como um serviço de grande 
importância no controle e monitoramento das doenças transmissíveis e não 
transmissíveis. Temos o conceito do Ministério da Saúde sobre a epidemiologia 
como sendo o 
[…] conjunto de atividades que permite reunir a informação 
indispensável para conhecer, a qualquer momento, o comportamento 
ou história natural das doenças, bem como detectar ou prever 
alterações de seus fatores condicionantes, com o fim de recomendar 
 
 
10 
oportunamente, sobre bases firmes, as medidas indicadas e eficientes 
que levem à prevenção e ao controle de determinadas doenças. 
(Brasil, 2005) 
Quando falamos nas ações da vigilância epidemiológica, entendemos que 
a epidemiologia tem como papel principal compreender os determinantes e 
condicionantes das doenças na população para que consiga intervir na história 
das doenças e atuar de maneira a reverter os indicadores de saúde. 
Rouquayrol (2003) define epidemiologia como “o estudo da distribuição e 
dos fatores determinantes das doenças nas coletividades humanas e a aplicação 
deste estudo para controlar problemas de saúde”. Dessa forma, a epidemiologia 
tem como principais objetivos: 
• Identificar o agente causal e/ou os fatores relacionados à causa das 
doenças; 
• Compreender os modos de transmissão das doenças; 
• Conhecer os determinantes e condicionantes do adoecimento; 
• Estabelecer ações de promoção e prevenção das doenças e agravos; 
• Realizar planejamento em saúde para melhorar os indicadores de saúde. 
Para que os objetivos supracitados possam ser cumpridos, é necessário 
compreendermos quais as ações da vigilância epidemiológica garantem esse 
cumprimento. São elas: 
1. Descrever como a doença se distribuiu na população; 
2. Verificar a intensidade da doença na população, ou seja, a magnitude dos 
problemas de saúde da população; 
3. Coletar dados e informações acerca da doença ou agravo; 
4. Identificar causas, entre outras ações. 
Com isso, temos o conceito de investigação epidemiológica. Ela busca 
responder a perguntas essenciais: quem é afetado? Quando ocorreu? Onde se 
manifestou? Essas respostas permitem compreender melhor a causalidade das 
doenças e aprimorar a atuação clínica tanto para a população quanto para o 
indivíduo. O perfil epidemiológico da população passou por mudanças 
significativas, resultando no surgimento de novas patologias e agravos. Além 
disso, as taxas de morbimortalidade, a expectativa de vida, as formas de 
 
 
11 
tratamento e as estratégias de prevenção estão em constante evolução, exigindo 
adaptações contínuas das políticas e práticas em saúde pública. 
A saúde é muito dinâmica e pode ter uma descoberta nova a qualquer 
momento, e o gestor deve acompanhar essas descobertas para poder adaptar 
as necessidades de cada população; deve possuir um sistema de informações 
precisas e dados fidedignos e, para isso, precisa informar o que seria 
considerado primordial para avaliar, analisar ou compreender as ações de 
saúde. Entre tais dados, estão: 
• Coleta, análise e interpretação dos dados de rotina: nesse momento, 
temos algumas ações importantes, como notificação compulsória de 
casos, Sistema Nacional de Agravos de Notificações (Sinan), análise de 
dados, busca ativa em prontuários médicos e outros documentos, exames 
realizados em laboratórios ou bancos de sangue, cruciais para iniciar uma 
investigação. 
• Investigação epidemiológica: após confirmar o diagnóstico, inicia-se a 
investigação para conhecer a cadeia epidemiológica, sendo necessário: 
identificar contatos e criar estratégias para proteger os suscetíveis, 
bloquear a transmissão, seja por medidas preventivas, seja por 
imunização dos suscetíveis a bloqueio com medicação ou outra, 
determinar as medidas mais eficazes de prevenção e controle da doença. 
• Recomendação ou aplicação de medidas de bloqueio: nesse momento, é 
preciso focar nas melhores e mais eficazes ações para bloqueio ou 
profilaxia da doença, seja por vacinação, quimioprofilaxia ou isolamento, 
além das medidas gerais de profilaxia. 
• Divulgação das informações por meio de divulgação do boletim 
epidemiológico ou divulgação na mídia. 
TEMA 4 – VIGILÂNCIA AMBIENTAL 
Com base em um levantamento de diagnóstico de saúde da população, 
muitas vezes temos o diagnóstico ambiental voltado às condições de saúde da 
população. Observe o seguinte conceito para vigilância em saúde ambiental: 
[…] conjunto de ações que proporciona o conhecimento e a detecção 
de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes do 
meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de 
 
 
12 
identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores de riscos 
ambientais relacionados às doenças ou outros agravos à saúde. 
(Brasil, 2009) 
As ações de saúde ambiental são realizadas analisando os tipos de risco, 
sendo biológicos (como vetores ou hospedeiros) e não biológicos (como água, 
alimentos, ar, desastres etc.). Vejamos alguns exemplos: 
• Radiações: césio; 
• Qualidade de água: potabilidade; 
• Qualidade do ar: poluição ambiental. 
Por ser uma área de conhecimento com várias vertentes, é preciso ter 
vários programas para desenvolver ações para seus problemas. Assim, foram 
criados pelo Ministério da Saúde, em conjunto com outros órgãos, os seguintes 
programas: 
• Vigiagua: analisa água de diversos locais públicos para garantir a 
qualidade da água e a potabilidade de fontes de água; 
• Vigiar: analisa e monitora a qualidade do ar; 
• Vigipeq: faz vigilância das populações expostas a substâncias químicas; 
• Vigidesastres: tem presença em acidentes com produtos químicos, físicos 
etc. Por exemplo, o caso do Césio-137. 
A vigilância em saúde ambiental mostra ações de prevenção de 
determinadas doenças que são transmitidas por vetores, como leptospirose, ou 
de doenças transmitidas por mosquitos, como dengue e febre amarela, 
procurando focos dos vetores e formas de eliminação, além de orientar a 
população. 
TEMA 5 – VIGILÂNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR 
A vigilância em saúde destaca a importância de monitorar a saúde da 
população trabalhadora, que frequentemente enfrenta riscos associados às suas 
atividades laborais. Para isso, é fundamental conhecer legislações e diretrizes 
do programa de saúde do trabalhador. 
Entre as principais normativas, podemos citar a Portaria n. 3.120/98, a 
Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador e a Portaria do 
Ministério da Saúde n. 4.052/98, que estabeleceu a listagem de doenças e 
 
 
13 
agravos de notificação compulsória. Além disso, os códigos de saúde estaduais 
e municipais e a recente Portaria n. 1.823/2012, que institui a Política Nacional 
de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, são essenciais para a regulação 
dessa área. No âmbito das Normas Regulamentadoras (NR), é importante 
conhecer: a NR 4, que trata do SESMT; a NR 5, sobre a CIPA; a NR 6, que 
regulamenta o uso de EPIs; a NR 7, referente ao Programa de Controle Médico 
de Saúde Ocupacional (PCMSO); a NR 9, que aborda riscos ocupacionais de 
natureza química, física e biológica; e a NR 32, que trata da segurança e saúde 
no trabalho em serviços de saúde. 
A Lei Orgânica da Saúde cita o seguinte em seu capítulo I, art. 6º: 
Entende-se por Saúde do Trabalhador, para fins desta lei, um conjunto 
de atividades que se destina, através das ações de vigilância 
epidemiológica e sanitária, à promoção e proteção da saúde do 
trabalhador, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde 
dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das 
condições de trabalho, abrangendo: 
I. Assistência ao trabalhador vítima de acidente de trabalho ou portador 
de doença profissional e do trabalho;II. Participação, no âmbito da competência do SUS, em estudos, 
pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à 
saúde existentes no processo de trabalho; 
III. Participação, no âmbito da competência do SUS, da normatização, 
fiscalização e controle das condições de produção, extração, 
armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de substâncias, 
de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentem riscos 
à saúde do trabalhador; 
IV. Avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde; 
V. Informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às 
empresas sobre os riscos de acidente de trabalho, doença profissional 
e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, de avaliações 
ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de 
demissão, respeitados os preceitos da ética profissional; 
VI. Participação na normatização, fiscalização e controle de serviços 
de saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e 
privadas; 
VII. Revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no 
processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração de 
entidades sindicais; 
VIII. A garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão 
competente a interdição de máquinas de setor de serviço ou de todo o 
ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para 
a vida ou saúde dos trabalhadores. 
 
 
14 
Vale lembrar que a falta ou a inadequação das notificações se faz 
presente em todo o Brasil, uma vez que o trabalhador muitas vezes não 
consegue realizar a notificação por pressão do próprio local de trabalho ou por 
medo de perder o emprego, sem citar as inúmeras situações de trabalho 
informal. O serviço de saúde do trabalhador deve focar nas ações de 
planejamento do trabalho, sempre levando em consideração os riscos para a 
saúde e reforçando a segurança do trabalhador. Como ações de saúde do 
trabalhador, temos: 
• Investigação de acidentes ou doenças relacionadas ao trabalho; 
• Investigação de óbitos dentro dos ambientes de trabalho; 
• Presença de doenças do trabalho. 
É preciso lembrar que existem riscos nos ambientes de trabalho, por meio 
dos quais a saúde do trabalhador é analisada. Eles são divididos em cinco 
grupos, e cada um tem uma cor definida. Partindo desse levantamento, é feito o 
mapa de riscos do setor/estabelecimento; é importante que ele seja exposto para 
a visibilidade de todos. 
Existem também documentos oficiais que auxiliam a notificação ou 
investigação de situações ligadas ao trabalho, a saber: 
• Comunicação de acidente de trabalho (CAT), importante para documentar 
o ocorrido e seus detalhes; 
• Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA): tem a finalidade 
de orientar e alertar os trabalhadores por meio de documento descritivo 
dos riscos existentes em seu ambiente de trabalho; 
• Mapa de riscos: traz os riscos do ambiente de trabalho e informa seu tipo 
(biológico, físico, químico etc.); 
• Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO): 
responsável por orientar, fornecer medidas de promoção e prevenção e, 
principalmente, realizar exames admissionais, demissionais e periódicos. 
As ações de saúde do trabalhador vão desde promoção e prevenção, 
investigação de acidente ou de morte, até análise de nexo causal, que significa 
ligar a causa do acidente ou morte com o trabalho, seja pelas atividades 
realizadas ou condições ambientais e estruturais. 
 
 
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NA PRÁTICA 
A dengue é um grave problema de saúde coletiva no Brasil, impactando 
anualmente milhares de pessoas devido à alta circulação do mosquito Aedes 
aegypti. Fatores como urbanização desordenada, saneamento inadequado e 
mudanças climáticas favorecem a proliferação do vetor. Os surtos 
sobrecarregam o sistema de saúde, exigindo medidas preventivas eficazes, 
como controle ambiental e campanhas educativas. 
Tal contexto exige ações efetivas das vigilâncias em saúde no país. Com 
isso, tente vincular essa doença às ações de vigilância epidemiológica, sanitária, 
de saúde ambiental e saúde do trabalhador. Você se surpreenderá com o quanto 
a interação das vigilâncias é importante para o bom andamento de ações de 
saúde e da integralidade do cuidado. 
FINALIZANDO 
As ações de vigilância em saúde parecem, num primeiro momento, 
individuais para cada uma das vigilâncias, mas, ao observarmos o 
desenvolvimento de teorias, entendemos cada vez mais a importância da 
interação entre elas e percebemos que isso garante a integralidade do cuidado. 
Ao falar de ações de vigilância, devemos utilizar todas as abordagens voltadas 
à integralidade do cuidado. 
Nesta etapa, compreendemos que a vigilância em saúde da população 
traz suas formas de ação — vigilância sanitária, vigilância epidemiológica, 
vigilância em saúde do trabalhador e vigilância em saúde ambiental — e que 
suas ações se complementam em diversos momentos e a partir dos mais 
diferentes olhares. 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
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. Acesso em: 22 maio 2025. 
BRASIL. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições 
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funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. 
Disponível em: 
. Acesso em: 22 maio 2025. 
_____. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível 
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Acesso em: 22 maio 2025. 
BROWN, P. Florence Nightingale. Helen Exley, 1988. 
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Acesso em: 22 maio 2025. 
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. Acesso em: 22 maio 2025. 
_____. Guia de Vigilância Epidemiológica. Disponível em: 
. 
Acesso em: 22 maio 2025. 
ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia & Saúde. 6. ed. Rio 
de Janeiro: Medsi, 2003.

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