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SAÚDE COLETIVA AULA 2 Prof. Paulo Henrique Gouveia 2 CONVERSA INICIAL Nesta etapa, discutiremos os conceitos que nos mostram o papel da Vigilância em Saúde e do farmacêutico inserido nesse campo. Conheceremos sua história no contexto da saúde brasileira, que tem como foco a vigilância em saúde, bem como as bases legais que sustentam as ações de saúde. É importante compreender as ações da vigilância em saúde, incluindo aquelas voltadas para a vigilância epidemiológica, vigilância sanitária, saúde do trabalhador e vigilância em saúde ambiental. Discutiremos o papel do farmacêutico nas ações de vigilância em saúde e a importância de conhecer as necessidades de saúde da população para garantir as melhores ações nesse sentido. Veremos os conceitos e legislações mais relevantes da vigilância para, assim, garantir a qualidade do cuidado e a integralidade do atendimento à população. TEMA 1 – HISTÓRIA DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE E SUA LEGISLAÇÃO Para compreender as ações da vigilância em saúde, é essencial conhecer a história da saúde pública e da vigilância sanitária. Nesse contexto, analisaremos algumas práticas sanitárias históricas no Brasil, a evolução das ações em saúde coletiva e a necessidade de fortalecer iniciativas voltadas à promoção da saúde. Além disso, exploraremos como essas ações estão diretamente relacionadas à vigilância em saúde. Florence Nightingale já possuía um olhar atento às necessidades de saúde e compreendia a importância dos cuidados na prevenção da transmissão de doenças, nas condições higiênico-sanitárias e em outras práticas essenciais. Esse entendimento ficou evidente em suas ações durante a Guerra da Crimeia, em 1854. Uma de suas frases mais impactantes, citada por Brown (1988), afirma: “Um paciente com frio e febre, fraco, mal alimentado e com escaras não está sofrendo da doença, mas da falta de enfermagem adequada.” Essa reflexão reforça a ideia de que o cuidado prestado pela enfermagem não se limita aos hospitais, mas se estende à saúde coletiva, sendo muitos dos conceitos de Florence ainda aplicáveis às ações de vigilância em saúde. 3 No período do Brasil Colônia, já existiam práticas sanitárias isoladas e fragmentadas com o objetivo de reduzir a disseminação de doenças transmissíveis. Além disso, medidas de controle sanitário foram implementadas para evitar a propagação de enfermidades trazidas pelas embarcações, dando início ao que conhecemos hoje como quarentena. Com a abolição da escravatura, a chegada da Revolução Industrial e o aumento da imigração, diversas epidemias se espalharam pelo país, como a febre amarela e a peste bubônica. Diante desse cenário, Oswaldo Cruz assumiu a Secretaria da Saúde do Rio de Janeiro e iniciou uma série de ações sanitárias para combater a precariedade das condições higiênico-sanitárias, que favoreciam a proliferação de ratos e, consequentemente, da peste bubônica. Entre as medidas adotadas, destacou-se a criação da polícia sanitária, que fiscalizava e multava proprietários de imóveis insalubres, além das brigadas mata-mosquitos, responsáveis pela limpeza de telhados, calhas e imóveis. Essas equipes também aplicavam petróleo em ralos e bueiros para eliminar criadouros de mosquitos, visando à prevenção da febre amarela. Para reforçar essa estratégia, Oswaldo Cruz contratou agentes que visitavam residências e comércios para exterminar os mosquitos. No entanto, a população, descrente da relação entre os mosquitos e a transmissão da febre amarela, resistiu às ações, mesmo com a distribuição de folhetos explicativos. A imposição da vacinação obrigatória contra a varíola gerou forte revolta popular, resultando em confrontos entre a polícia e o exército, depredações de estabelecimentos comerciais, incêndios em bondes e outros atos de resistência. Diante da insatisfação, Oswaldo Cruz teve que recuar, marcando o primeiro grande movimento popular contra medidas de saúde pública no Brasil. No combate à peste bubônica, estratégias de extermínio de ratos foram implementadas, mas também enfrentaram resistência da população, que duvidava da eficácia dessas ações. Apesar das dificuldades, a insistência no controle dos roedores resultou na redução da doença, consolidando esse período como um marco importante para a saúde pública e para a prevenção de doenças. Embora a medicina preventiva ainda não fosse uma prioridade, essas ações prepararam o caminho para seu desenvolvimento. Com o golpe militar na década de 1960, o governo criou os Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs), responsáveis pela arrecadação de recursos 4 para seguridade e assistência médica. Nos anos 1970, os investimentos foram direcionados principalmente para ações curativas, sem controle adequado, agravando a crise financeira do país. Nesse período, o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps) passou a gerir a previdência social e a saúde, mas apenas para grupos que contribuíam financeiramente, reforçando o caráter privatista e curativo da medicina. Ainda na década de 1970, foram criados o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE), o Programa Nacional de Imunização e o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), introduzindo a vigilância epidemiológica no Brasil. Em 1978, com a crise mundial, foi realizada a Primeira Conferência Internacional sobre Cuidados Primários à Saúde, em Alma Ata, com o objetivo de discutir os problemas de saúde das populações e a necessidade de políticas públicas. O evento enfatizou desafios urgentes, como saneamento básico, qualidade da água, redução da mortalidade materno-infantil e controle de doenças transmissíveis. A conferência resultou na Declaração de Alma Ata, que estabeleceu o slogan “Saúde para todos no ano 2000”. Até a década de 1980, o Brasil priorizava a medicina curativa em detrimento da medicina preventiva. Nesse contexto, grandes investimentos foram direcionados às indústrias farmacêuticas e de equipamentos médicos, sem considerar as reais necessidades da população. Um novo marco ocorreu em 1986, com a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde, que contou com ampla participação popular e destacou a necessidade urgente de uma reforma sanitária. A conferência reforçou a importância da integralidade do cuidado e da redução das desigualdades no acesso à saúde, pavimentando o caminho para a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Com a Constituição Federal, em 1988, foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS), e, nesse momento, a saúde passou a ser vista como política pública e de responsabilidade do governo. Aqui se iniciou um processo para garantir saúde à população, prevendo: • Saúde como direito de todos e dever do Estado; • Universalidade do atendimento da saúde; • Integrar um único sistema à rede pública de serviços de saúde; • Organização dos serviços focada na regionalização e hierarquização. 5 O art. 200 da Constituição Federal cita que compete ao SUS “executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador.” Outro momento importante foi a criação da Lei Orgânica da Saúde, a Lei n. 8.080, que regulamentou o SUS e instituiu ações de vigilância à saúde. Em seu art. 6º, a referida lei cita que estão incluídas ainda no campo de atuação do SUS: I. A execução de ações: a) De vigilância sanitária; b) De vigilância epidemiológica; c) De saúde do trabalhador; e d) De assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica. A Portaria n. 1.378 de 2013, em seu art. 4º, cita que as ações da Vigilância em Saúde abrangem toda a população brasileira e envolvem práticas e processos de trabalho voltados para: • Vigilância da situação de saúde da população; • Detecção oportuna e adoção de medidas adequadas para a resposta às emergências de saúde pública;• Vigilância, prevenção e controle de doenças transmissíveis; • Vigilância de doenças crônicas não transmissíveis, acidentes e violências; • Vigilância e populações expostas a riscos ambientais em saúde; • Vigilância em saúde do trabalhador; • Vigilância sanitária dos riscos decorrentes da produção e do uso de produtos, serviços e tecnologias de interesse à saúde; • Outras ações de vigilância. Em 2017, a Portaria n. 2.488, que regulamenta a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), reforçou a importância da Vigilância em Saúde ao definir a atenção básica como um conjunto de ações individuais, familiares e coletivas que abrangem promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde. Essas ações devem ser desenvolvidas por meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada. 6 No contexto da Vigilância em Saúde, Oliveira et al. (2009) destacam que a vigilância consiste na execução de ações de caráter coletivo, voltadas à implementação de medidas preventivas, de proteção e promoção da saúde. Dessa forma, fica evidente que as ações de vigilância são fundamentais para a análise global das condições de saúde da população. Por fim, ao compreender a interação da saúde com diversos fatores que influenciam diretamente o processo saúde-doença, é essencial considerar as múltiplas interfaces da saúde, considerando que fatores como condições biológicas, de estilo de vida, ambientais e relacionadas aos serviços de saúde influenciam nas variantes do processo saúde-doença. Em 2018, ocorreu a Primeira Conferência Nacional de Vigilância em Saúde, na qual foi descrito como de extrema importância o seguinte conceito: “A Vigilância em Saúde é responsável pela informação e intervenção que possibilitem a redução de riscos e promoção de saúde nos territórios, articulando-se às Redes de Atenção à Saúde”. Partindo desse conceito, entendemos a importância de analisar a situação da saúde, conhecer as necessidades de saúde da população, realizar o planejamento em saúde das ações para doenças transmissíveis, crônicas, violências e também abordar conceitos de vigilância sanitária, epidemiológica, ambiental e em saúde do trabalhador. TEMA 2 – VIGILÂNCIA SANITÁRIA A vigilância sanitária tem um papel fundamental na proteção da saúde pública, sendo uma prática que remonta à época da vinda da Família Real para o Brasil. Algumas ações de controle sanitário já eram realizadas na Europa e foram implementadas no Brasil, como a fiscalização de embarcações e a imposição de quarentena para navios suspeitos de transportar indivíduos com doenças contagiosas. Além disso, o trabalho de Oswaldo Cruz no combate a epidemias no Rio de Janeiro evidenciou a necessidade de melhorias nas condições higiênico-sanitárias do comércio de rua e dos imóveis urbanos. A Constituição Federal do Brasil reforça o papel do Estado na garantia das ações de vigilância sanitária, estabelecendo em seu art. 200 que compete ao SUS desenvolver medidas de vigilância sanitária, epidemiológica e de saúde do trabalhador. O conceito de vigilância sanitária está definido na Lei Federal n. 7 8080/1990, em seu art. 6º: “Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde”. Essas medidas são essenciais para a prevenção de doenças e a promoção da qualidade de vida da população. Devemos entender que toda ação da vigilância sanitária é embasada em legislações específicas para cada situação encontrada. Pensando em legislações específicas, temos: • Código sanitário estadual ou municipal; • Resoluções de Diretoria Colegiada (RDC); • Código de Defesa do Consumidor (CDC); • Manual de boas práticas e outras legislações específicas para cada área. A vigilância sanitária utiliza-se de vários sistemas de informação em saúde, mas o de maior importância para as ações da vigilância seria o Notivisa, que traz informações e canais para denúncias e notificações de profissionais de saúde, das instituições de saúde e da população em geral. Além dele, pode-se usar o site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que traz muita informação para toda a população. Atua de acordo com o risco sanitário; sempre vai priorizar aquilo que tem maior grau de risco à saúde. Risco sanitário seria a probabilidade de algo ou alguém causar danos à saúde das pessoas ou coletividades, por exemplo, medicamentos, procedimentos médicos, produção de alimentos, dentre outros. As demandas de atividades são: • de rotina, que ocorrem quando o próprio estabelecimento solicita inspeção da Anvisa por necessitar de licença sanitária, análise de projetos arquitetônicos, liberação de alvará de funcionamento, entre outros; • programadas, organizadas de acordo com prioridades de risco sanitário e necessidades de acordo também com solicitações de outros órgãos, por exemplo, hospitais, laboratórios, indústrias etc.; • emergenciais, que devem ocorrer imediatamente após o conhecimento de determinada situação com risco alto à saúde da população, como denúncia ou surto alimentar; 8 • externas, em que são envolvidos vários órgãos, como Ministério Público ou conselhos de classe; podem ocorrer por meio de denúncia, Ministério Público, central de atendimento ao usuário, entre outros. Nas ações da vigilância sanitária, encontramos rotineiramente algumas irregularidades, que são principalmente: • comercialização de produtos sem registro no Ministério da Saúde; • procedimentos inadequados; • estrutura física inadequada; • fluxos comprometidos; • falta ou inadequação de recursos humanos; • ausência de responsável técnico. A vigilância sanitária tem responsabilidades administrativas referentes às suas ações: inspeções sanitárias, processos administrativos sanitários e aplicações de penalidades. Quando falamos em inspeção sanitária, temos alguns objetivos que podem ser inspeção programada ou solicitada pelo próprio estabelecimento, inspeção motivada por avaliação de risco sanitário realizada pelo técnico de vigilância ou inspeção para avaliação de denúncia. De uma inspeção sanitária, podem ser gerados vários documentos: • Termo de intimação: preenchido sempre que o técnico da Anvisa encontrar irregularidade; ele pode dar tempo para o estabelecimento arrumar por ter grande risco; • Auto de infração: gerado com base em irregularidades encontradas em uma avaliação de risco alto ou por descumprimento de um termo de intimação; • Apreensão de produtos por irregularidades; • Interdição do estabelecimento, de parte dele ou de apenas um equipamento; • Cassação da licença sanitária: ocorre sempre que uma inspeção sanitária é realizada, mesmo que a licença esteja vigente; dependendo do que encontrar no momento da inspeção, será possível cassar a licença sanitária. 9 Sempre que houver um auto de infração, é gerada a abertura de um processo administrativo sanitário e este tem alguns itens importantes: • Auto de infração; • Apreensão de produtos; • Interdição do estabelecimento ou de parte dele; • Relatório realizado pelo técnico da Anvisa; • Defesa administrativa; • Julgamento e decisão; • Imposição de penalidades; • Recursos administrativos; • Decisão final; • Para recorrer, são três instâncias no máximo. Vale reforçar que a atuação da vigilância sanitária tem muitas ações, dentre elas: • Conceder ou cancelar registros de produção; • Conceder autorização de funcionamento de empresa (AFE); • Fiscalizar estabelecimentos de interesse à saúde; • Monitorar propaganda, garantindo ao consumidor a diminuição de riscos à saúde da população; • Atuar em portos, aeroportos efronteiras; • Promover ações orientativas e educativas; • Elaborar planejamento de saúde em que o gestor deve conhecer as necessidades de saúde da população. TEMA 3 – VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA Vemos a vigilância epidemiológica como um serviço de grande importância no controle e monitoramento das doenças transmissíveis e não transmissíveis. Temos o conceito do Ministério da Saúde sobre a epidemiologia como sendo o […] conjunto de atividades que permite reunir a informação indispensável para conhecer, a qualquer momento, o comportamento ou história natural das doenças, bem como detectar ou prever alterações de seus fatores condicionantes, com o fim de recomendar 10 oportunamente, sobre bases firmes, as medidas indicadas e eficientes que levem à prevenção e ao controle de determinadas doenças. (Brasil, 2005) Quando falamos nas ações da vigilância epidemiológica, entendemos que a epidemiologia tem como papel principal compreender os determinantes e condicionantes das doenças na população para que consiga intervir na história das doenças e atuar de maneira a reverter os indicadores de saúde. Rouquayrol (2003) define epidemiologia como “o estudo da distribuição e dos fatores determinantes das doenças nas coletividades humanas e a aplicação deste estudo para controlar problemas de saúde”. Dessa forma, a epidemiologia tem como principais objetivos: • Identificar o agente causal e/ou os fatores relacionados à causa das doenças; • Compreender os modos de transmissão das doenças; • Conhecer os determinantes e condicionantes do adoecimento; • Estabelecer ações de promoção e prevenção das doenças e agravos; • Realizar planejamento em saúde para melhorar os indicadores de saúde. Para que os objetivos supracitados possam ser cumpridos, é necessário compreendermos quais as ações da vigilância epidemiológica garantem esse cumprimento. São elas: 1. Descrever como a doença se distribuiu na população; 2. Verificar a intensidade da doença na população, ou seja, a magnitude dos problemas de saúde da população; 3. Coletar dados e informações acerca da doença ou agravo; 4. Identificar causas, entre outras ações. Com isso, temos o conceito de investigação epidemiológica. Ela busca responder a perguntas essenciais: quem é afetado? Quando ocorreu? Onde se manifestou? Essas respostas permitem compreender melhor a causalidade das doenças e aprimorar a atuação clínica tanto para a população quanto para o indivíduo. O perfil epidemiológico da população passou por mudanças significativas, resultando no surgimento de novas patologias e agravos. Além disso, as taxas de morbimortalidade, a expectativa de vida, as formas de 11 tratamento e as estratégias de prevenção estão em constante evolução, exigindo adaptações contínuas das políticas e práticas em saúde pública. A saúde é muito dinâmica e pode ter uma descoberta nova a qualquer momento, e o gestor deve acompanhar essas descobertas para poder adaptar as necessidades de cada população; deve possuir um sistema de informações precisas e dados fidedignos e, para isso, precisa informar o que seria considerado primordial para avaliar, analisar ou compreender as ações de saúde. Entre tais dados, estão: • Coleta, análise e interpretação dos dados de rotina: nesse momento, temos algumas ações importantes, como notificação compulsória de casos, Sistema Nacional de Agravos de Notificações (Sinan), análise de dados, busca ativa em prontuários médicos e outros documentos, exames realizados em laboratórios ou bancos de sangue, cruciais para iniciar uma investigação. • Investigação epidemiológica: após confirmar o diagnóstico, inicia-se a investigação para conhecer a cadeia epidemiológica, sendo necessário: identificar contatos e criar estratégias para proteger os suscetíveis, bloquear a transmissão, seja por medidas preventivas, seja por imunização dos suscetíveis a bloqueio com medicação ou outra, determinar as medidas mais eficazes de prevenção e controle da doença. • Recomendação ou aplicação de medidas de bloqueio: nesse momento, é preciso focar nas melhores e mais eficazes ações para bloqueio ou profilaxia da doença, seja por vacinação, quimioprofilaxia ou isolamento, além das medidas gerais de profilaxia. • Divulgação das informações por meio de divulgação do boletim epidemiológico ou divulgação na mídia. TEMA 4 – VIGILÂNCIA AMBIENTAL Com base em um levantamento de diagnóstico de saúde da população, muitas vezes temos o diagnóstico ambiental voltado às condições de saúde da população. Observe o seguinte conceito para vigilância em saúde ambiental: […] conjunto de ações que proporciona o conhecimento e a detecção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de 12 identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores de riscos ambientais relacionados às doenças ou outros agravos à saúde. (Brasil, 2009) As ações de saúde ambiental são realizadas analisando os tipos de risco, sendo biológicos (como vetores ou hospedeiros) e não biológicos (como água, alimentos, ar, desastres etc.). Vejamos alguns exemplos: • Radiações: césio; • Qualidade de água: potabilidade; • Qualidade do ar: poluição ambiental. Por ser uma área de conhecimento com várias vertentes, é preciso ter vários programas para desenvolver ações para seus problemas. Assim, foram criados pelo Ministério da Saúde, em conjunto com outros órgãos, os seguintes programas: • Vigiagua: analisa água de diversos locais públicos para garantir a qualidade da água e a potabilidade de fontes de água; • Vigiar: analisa e monitora a qualidade do ar; • Vigipeq: faz vigilância das populações expostas a substâncias químicas; • Vigidesastres: tem presença em acidentes com produtos químicos, físicos etc. Por exemplo, o caso do Césio-137. A vigilância em saúde ambiental mostra ações de prevenção de determinadas doenças que são transmitidas por vetores, como leptospirose, ou de doenças transmitidas por mosquitos, como dengue e febre amarela, procurando focos dos vetores e formas de eliminação, além de orientar a população. TEMA 5 – VIGILÂNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR A vigilância em saúde destaca a importância de monitorar a saúde da população trabalhadora, que frequentemente enfrenta riscos associados às suas atividades laborais. Para isso, é fundamental conhecer legislações e diretrizes do programa de saúde do trabalhador. Entre as principais normativas, podemos citar a Portaria n. 3.120/98, a Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador e a Portaria do Ministério da Saúde n. 4.052/98, que estabeleceu a listagem de doenças e 13 agravos de notificação compulsória. Além disso, os códigos de saúde estaduais e municipais e a recente Portaria n. 1.823/2012, que institui a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, são essenciais para a regulação dessa área. No âmbito das Normas Regulamentadoras (NR), é importante conhecer: a NR 4, que trata do SESMT; a NR 5, sobre a CIPA; a NR 6, que regulamenta o uso de EPIs; a NR 7, referente ao Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO); a NR 9, que aborda riscos ocupacionais de natureza química, física e biológica; e a NR 32, que trata da segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde. A Lei Orgânica da Saúde cita o seguinte em seu capítulo I, art. 6º: Entende-se por Saúde do Trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e sanitária, à promoção e proteção da saúde do trabalhador, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo: I. Assistência ao trabalhador vítima de acidente de trabalho ou portador de doença profissional e do trabalho;II. Participação, no âmbito da competência do SUS, em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho; III. Participação, no âmbito da competência do SUS, da normatização, fiscalização e controle das condições de produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentem riscos à saúde do trabalhador; IV. Avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde; V. Informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas sobre os riscos de acidente de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizações, de avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional; VI. Participação na normatização, fiscalização e controle de serviços de saúde do trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas; VII. Revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração de entidades sindicais; VIII. A garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão competente a interdição de máquinas de setor de serviço ou de todo o ambiente de trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores. 14 Vale lembrar que a falta ou a inadequação das notificações se faz presente em todo o Brasil, uma vez que o trabalhador muitas vezes não consegue realizar a notificação por pressão do próprio local de trabalho ou por medo de perder o emprego, sem citar as inúmeras situações de trabalho informal. O serviço de saúde do trabalhador deve focar nas ações de planejamento do trabalho, sempre levando em consideração os riscos para a saúde e reforçando a segurança do trabalhador. Como ações de saúde do trabalhador, temos: • Investigação de acidentes ou doenças relacionadas ao trabalho; • Investigação de óbitos dentro dos ambientes de trabalho; • Presença de doenças do trabalho. É preciso lembrar que existem riscos nos ambientes de trabalho, por meio dos quais a saúde do trabalhador é analisada. Eles são divididos em cinco grupos, e cada um tem uma cor definida. Partindo desse levantamento, é feito o mapa de riscos do setor/estabelecimento; é importante que ele seja exposto para a visibilidade de todos. Existem também documentos oficiais que auxiliam a notificação ou investigação de situações ligadas ao trabalho, a saber: • Comunicação de acidente de trabalho (CAT), importante para documentar o ocorrido e seus detalhes; • Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA): tem a finalidade de orientar e alertar os trabalhadores por meio de documento descritivo dos riscos existentes em seu ambiente de trabalho; • Mapa de riscos: traz os riscos do ambiente de trabalho e informa seu tipo (biológico, físico, químico etc.); • Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO): responsável por orientar, fornecer medidas de promoção e prevenção e, principalmente, realizar exames admissionais, demissionais e periódicos. As ações de saúde do trabalhador vão desde promoção e prevenção, investigação de acidente ou de morte, até análise de nexo causal, que significa ligar a causa do acidente ou morte com o trabalho, seja pelas atividades realizadas ou condições ambientais e estruturais. 15 NA PRÁTICA A dengue é um grave problema de saúde coletiva no Brasil, impactando anualmente milhares de pessoas devido à alta circulação do mosquito Aedes aegypti. Fatores como urbanização desordenada, saneamento inadequado e mudanças climáticas favorecem a proliferação do vetor. Os surtos sobrecarregam o sistema de saúde, exigindo medidas preventivas eficazes, como controle ambiental e campanhas educativas. Tal contexto exige ações efetivas das vigilâncias em saúde no país. Com isso, tente vincular essa doença às ações de vigilância epidemiológica, sanitária, de saúde ambiental e saúde do trabalhador. Você se surpreenderá com o quanto a interação das vigilâncias é importante para o bom andamento de ações de saúde e da integralidade do cuidado. FINALIZANDO As ações de vigilância em saúde parecem, num primeiro momento, individuais para cada uma das vigilâncias, mas, ao observarmos o desenvolvimento de teorias, entendemos cada vez mais a importância da interação entre elas e percebemos que isso garante a integralidade do cuidado. Ao falar de ações de vigilância, devemos utilizar todas as abordagens voltadas à integralidade do cuidado. Nesta etapa, compreendemos que a vigilância em saúde da população traz suas formas de ação — vigilância sanitária, vigilância epidemiológica, vigilância em saúde do trabalhador e vigilância em saúde ambiental — e que suas ações se complementam em diversos momentos e a partir dos mais diferentes olhares. 16 REFERÊNCIAS ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em: . Acesso em: 22 maio 2025. BRASIL. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 22 maio 2025. _____. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: . Acesso em: 22 maio 2025. BROWN, P. Florence Nightingale. Helen Exley, 1988. MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Secretaria de Trabalho. Normas Regulamentadoras. Disponível em: . Acesso em: 22 maio 2025. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Conselho Nacional de Saúde. Subsídios para Construção da Política Nacional de Saúde Ambiental. Disponível em: . Acesso em: 22 maio 2025. _____. Gabinete do Ministro. Portaria n. 1.823, de 23 de agosto de 2012. Institui a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Disponível em: . Acesso em: 22 maio 2025. _____. Guia de Vigilância Epidemiológica. Disponível em: . Acesso em: 22 maio 2025. ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia & Saúde. 6. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003.