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APRESENTAÇÃO ................................................................................................................ 3 1. ORIGENS REMOTAS DA PSICOLOGIA ..................................................................... 5 2. OS LUGARES DA PSICOLOGIA NA MODERNIDADE. ........................................... 7 3. A GESTÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO NO SÉCULO XIX ..................................11 4. PRINCIPAIS ABORDAGENS E TEORIAS PSICOLÓGICAS: O NATURAL E O HISTÓRICO .........................................................................................................................16 5. O DESENVOLVIMENTO DA PSICOLOGIA NO BRASIL: A MODERNIDADE BRASILEIRA E O LUGAR DA PSICOLOGIA NA SOCIEDADE ................................43 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................47 GABARITO..........................................................................................................................49 SUMÁRIO 3 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA Prof. Dra. Joana Azevêdo Lima APRESENTAÇÃO Não resta dúvida que a emergência histórica de cada uma das ciências humanas se deu por ocasião de um problema, de uma exigência, de um obstáculo de ordem teórica e prática; certamente foram necessárias as novas normas que a sociedade industrial impôs aos indivíduos para que, lentamente, durante o século XIX, a psicologia se constituísse como ciência; não há dúvida também que foram necessárias as ameaças que desde a Revolução pesaram sobre os equilíbrios sociais, e sobre aquele particularmente que havia instaurado a burguesia, para que aparecesse uma reflexão de tipo sociológica (Foucault, 2002, p. 476). Escrever acerca da história da Psicologia leva-nos a fazer um recorte. Diversos autores já versaram sobre este assunto como Schultz e Schultz (2000), a obra organizada por Jacó-Vilela, Ferreira e Portugal (2008), Figueiredo (1991, 1992), Bock, Furtado e Teixeira (2008), Rodrigues, Goodwin (2005), Penna (2000), Freitas (2014), Bock (2007), etc. Mas por que é tão importante estudar a história do campo da Psicologia? Além de se conhecer a matriz, a raiz do que se tem hoje, da Psicologia que fazemos e que nos representa atualmente, esse motivo se prende também ao fato de que “...há séculos as questões e os problemas de que se ocupa a Psicologia vêm atraindo a tenção e interesse...” (p. 19). Aliado à isso, a busca contínua na compreensão do pensamento e comportamento, tanto em sociedade como individualmente do indivíduo. Isso faz com que a Psicologia esteja ligada diretamente a seu passado e dele dependa a sua compreensão, afinal, os caminhos percorridos são dados cruciais para se compreender a experiência desta ciência atualmente e sua expressão moderna. Outro argumento forte é o fato de existirem psicologias, o que faz com que seja urgente o conhecimento do nascimento das diversas abordagens da Psicologia Moderna (Schultz & Schultz, 2000). 4 A Psicologia se desenvolveu junto com o momento histórico, o que significa dizer que dados de base para compreensão da história da Psicologia precisam, invariavelmente, serem situações no tempo e espaço. Ora, se o grande ponto em comum em todas as psicologias é o estudo do indivíduo e este está em relação contínua com o contexto em que vive, para se compreender os modos de vida em sociedade e de sua individualidade no contexto social torna-se imprescindível situá-lo sócio-historicamente. Significa dizer que a concepção e distinção entre domínio público e privado foi determinante Ao mencionar o contexto histórico, nãos e pode esquivar da compreensão de um fator contextual marcante, o Zeitgeist, enquanto espirito ou clima intelectual de uma época. Mas há quem diga, que não há muitas novidades numa determinada época. À estes precisamos fazer relembrar o movimento de construção da ciência, que corresponde à dialética heigeliana de tese, antítese e síntese, o que significa dizer que considera-se a tese existente e, após analisá-la, testá-la etc, constitui-se uma antítese que vai culminar numa síntese e, esta, por sua vez, se tornara a nova tese que aguardará uma antítese e assim se faz o ciclo da construção do conhecimento. Assim, afirmam Schultz e Schultz (2000, p. 27) “o Zeitgeist no âmbito de uma ciência pode ter um efeito inibidor sobre métodos de investigação, as formulações teóricas e a definição do objeto de estudo de uma disciplina...”. Isso porque, em alguns momentos, teorias, abordagens e estudos em geral não tiveram espaço para as suas manifestações justamente por não condizerem com o clima intelectual da época. Esse movimento de tese, antítese e síntese foi o que determinou a emergência das diversas escolas da Psicologia, afinal de contas, esse é o movimento da construção do conhecimento cientifico. Estas escolas constituíam a sua identidade a partir de modos de pensamento teórico, metodológico e técnico. Para este material fiz um recorte que analisei funcionar como um esquema que atende aquilo que vem aparecendo nos editais e provas de concursos da área. Portanto, evidencio que existem outras organizações da história da Psicologia, a depender da obra ou autor/a, mas este aqui, em especial, caminha mais no recorte de Schultz e Schultz (2000), a obra organizada por Jacó-Vilela, et al (2008) e Figueiredo (1992). Sendo assim, vamos estudar essa história com a seguinte divisão de conteúdo: 5 1. ORIGENS REMOTAS DA PSICOLOGIA Para versar sobre o surgimento da Psicologia, evidencia-se que há múltiplas versões para o surgimento como alguns autores que versam a partir de origens remotas apoiada nos clássicos, outros autores que enunciam o surgimento a partir de condições peculiares do século XVI e outros que analisam a partir da fundação do século XIX. Importa salientar que os autores situam o surgimento da Psicologia a partir de uma análise contextual, histórica, uma vez que o nascimento de uma Psicologia científica não é fruto da evolução natural de uma tendência da racionalidade moderna ou obra de indivíduos isolados em seus respectivos laboratórios. • 1.1 - Autores que situam uma Origem remota nos Clássicos Alguns autores contam a história da Psicologia enquanto ciência a partir de uma análise contextual e histórica recortada a partir dos parâmetros filosóficos e do rompimento e movimento de independência da Psicologia frente a Filosofia e a Fisiologia, associado a emergência do positivismo. Nesse contexto, a discussão acerca da compreensão da interioridade humana ultrapassa o modo de entender da antiguidade cristã, agora passam a refletir quanto à razão (racionalismo) e à experiência através dos sentidos (empirismo). No racionalismo menosprezavam o papel da percepção como fonte de ideias e conhecimentos. A mente tem a capacidade inata de gerar ideias independentemente da estimulação ambiental. Todo conhecimento se baseia na razão e a percepção seria um processo seletivo. Já no empirismo reconhecem a interação entre os processos mentais e corporais. Começaram a investigar a natureza dos mecanismos e processos fisiológicos. Juntamente com os iluministas franceses formaram o movimento psicológico associacionismo considerado a ruptura entre a filosofia e a psicologia (Jacó-Vilela, 2008). Foi no século XVIII com Immanuel Kant (1724-1804) que a Psicologia, comparada e unida à metafísica, começou a se constituir ciência se confirmando disciplina científico-natural, nas universidades alemãs na segunda metade do século XVIII. Portanto, para Vidal (2008, p.67), justificando a visão do Iluminismo, o século XVIII foi “O século da Psicologia...” 6 Então, o positivismo como método visava a cientificidade e objetividade através da observação e experimentação como meios de compreender o fenômeno. Pautava-se na associação da razão com a percepção, no entanto, afirmava que o que se capta na apreensão do fenômeno é a sua aparência e não essência. E se para a Psicologia ser consideradaetc. Por serem exclusivas do homem, estas não podem ser alcançadas pela psicologia animal pois os animais não têm vida social e cultural (Bock et al, 2008). 38 Portanto, os princípios da Psicologia Sócio-Histórica recebem destaque a linguagem e o pensamento humano como tendo origem social. Isso porque é na relação com o social que se produz sentidos e significados. Sendo assim, a cultura passa a ser parte importante do desenvolvimento humano e deve ser integrada ao estudo e à explicação das funções psicológicas superiores. A consciência e o comportamento são aspectos integrados de uma unidade, não podendo ser isolados pela Psicologia (Bock, et al, 2008). A subjetividade, por sua vez, pode ser analisada e concebida partir de duas dimensões, individual e social. Quando individual tem a ver com a constituição histórica dos laços sociais dentro de um sistema individual. Significa dizer que o sujeito vai construindo seus valores próprios e seus sentidos a partir das relações. Quando social analisa-se como a participação ativa do sujeito em sua subjetividade na vida social enquanto transformador e transformado dialeticamente. Para essa constituição subjetiva, o uso de instrumentos amplia de forma ilimitada a gama de atividades em cujo interior as novas funções psicológicas podem operar, ampliando assim seu repertorio de possibilidades. As operações com os signos são as bases sobre as quais acontecem a reconstrução da atividade psicológica na internalização de formas culturais de comportamento, referindo-se a construção de sentidos e significados. Não existe nada internamente que não tenha existido externamente, afinal a relação é dialética (Bock et al, 2008). Além da subjetividade e da linguagem outras categorias são consideradas fundamentais na Psicologia Sócio-Histórica como atividade, consciência e identidade a partir de estudos de Luria, Leontiev e Vigotsky. A atividade é considerada o meio pelo qual o sujeito se coloca no mundo e estabelece as suas relações determinantes para a sua constituição subjetiva de transformador do mundo e de transformado por ele simultaneamente respeitando a relação dialética. A consciência pode ser considerada um reflexo ativamente modificado da realidade objetiva vivida pelos sujeitos. Trata-se do mundo dos registros das vivências da vida vivida do sujeito, não referindo, portanto, só dimensão cognitiva, mas também composto de razão, afeto e emoção. A categoria identidade refere a organização que o sujeito faz de si mesmo, uma forma de se reconhecer único identificado com o si mesmo, com o que faz, com a forma que vive (Bock, et ao, 2008). 39 • 4.4.1 - Psicologia Sócio-Histórica no Brasil Surge como a proposta de uma nova Psicologia Social e nessa história de emergência brasileira destaca-se especialmente Silvia Lane (PUC-SP) e Ecléia Bosi (USP). O que antes era uma Psicologia Social importada de outros países, que não representava o contexto histórico e social do Brasil, transformou-se na proposta de contextualização e representação a partir das duas escolas apontadas, PUC-SP e USP. Nessa Psicologia Social Sócio-Histórica brasileira, o homem é entendido ainda como um ser histórico e social e a relação estabelecida entre o indivíduo e sociedade é dialética, o que configura o movimento de transformação da realidade. O objetivo dessa da Psicologia Sócio-Histórica brasileira é compreender o indivíduo em relação dialética com a sociedade. Trata-se de compreender a constituição histórica e social do indivíduo e os elementos que explicam os processos de consciência e alienação, assim como compreender as possibilidades de ação do indivíduo frente às determinações sociais (Spink & Spink, 2008). O método utilizado para compreender esse sujeito social e histórico dinâmico e contínuo em suas transformações e ativo é o materialismo histórico dialético, pois permite trabalhar com a historicidade dos fenômenos e, por isso, contrapõe-se à sua naturalização. Considera que sujeito e objeto estão em relação dialética, portanto não há neutralidade no conhecimento, há sempre uma intenção do sujeito sobre o objeto, e essa intenção é histórica e deve ser considerada. Retomando as duas Escolas USP e PUC-SP, vamos fazer um apanhado histórico dessas conquistas e construções da Psicologia Social Sócio- Histórica brasileira. Ressalta-se que embora não tão mencionada como Silvia Lane, Ecléia Bosi tem a mesma estatura e importância para a história. Bosi foi aluna de Dante Moreira Leite, importante nome, e desenvolveu o seu estudo acerca da memória. Inaugurou uma forma de compreender a cidade a partir da memória de seus moradores, o que fez com que contribuísse para uma mentalidade não colonizada de Psicologia Social (Bock, et al, 2007; Bock et al, 2008). Alguns marcos históricos recebem destaque aqui para o nosso estudo, de forma que nos dê uma melhor compreensão do cenário de constituição dessa Psicologia Social. Destacamos aqui o ano de 1971, período em plena a ditadura militar no país. Nesse ano na Faculdade de Psicologia da PUC-SP cresce uma inquietação sobre as bases teóricas e metodológicas da Psicologia Social, justamente pelo fato de ser algo importado que não 40 correspondia com a realidade contextual brasileira. Lane retoma seus estudos acerca do marxismo o que lhe rendeu perseguições políticas na época. Retorna a Marx para buscar bases para construir a Psicologia Social para o Brasil, no que concebe uma leitura crítica do cognitivismo, aquele que influenciava a Psicologia Social da época, algo advindo dos EUA, o que marca o início da construção do pensamento de Lane. Em 1972, ainda na PUC-SP, há a inauguração da primeira pós-graduação em Psicologia Social no Brasil, um marco importante justamente para a construção do nosso próprio conhecimento a partir da nossa realidade, fato confirmado por Lane. Significa também dizer que a Psicologia Social precisa ser pesquisa não só intervenção, ou seja, através da pesquisa conquistamos o conhecimento prático e teórico necessário para a compreensão e intervenção em nossa realidade: emerge a Psicologia voltada para a realidade brasileira (Bock, et al, 2007). Faz emergir, portanto, a chamada Psicologia Social Crítica, inicialmente muito mal vista porque se recusava a reproduzir o que vinha de fora, ou seja, de outros países. Ela propunha a superação do método experimental, faziam outro tipo de pesquisa, o que fez com que os modelos de pesquisa em Psicologia hegemônicos (e importados, não canso de referir) não concordaram e se sentiram desafiados e ameaçados. 1980 foi marcado pela fundação da ABRAPSO (Associação Brasileira de Psicologia Social) por Lane. Em 1981 há o primeiro Encontro da ABRAPSO, onde se discutiram questões que resultam do confronto entre a psicologia existente e as novas necessidades. Além disso, foi em 1984 que é publicada a principal obra, o livro “Psicologia Social: O homem em movimento” de Silvia Lane e Wanderley Codo. Nela estão publicados os estudos dos alunos de pós-graduação acerca das principais categorias teóricas da Psicologia Social Sócio-Histórica brasileira e suas inserções em principais áreas. Em seguida, em 1988, há o segundo Encontro da ABRAPSO em que são discutidos os avanços na compreensão do psiquismo de maneira integrada, na compreensão da inserção social do indivíduo e no reconhecimento do grupo como referência fundamental para a compreensão dos indivíduos e para a intervenção do psicólogo. Mediante a compreensão sócio-histórica do indivíduo, cresce a importância da leitura sócio-histórica o que leva a elaboração de material de referencial que advém marxismo e do materialismo histórico dialético (Bock, et al, 2007). 41 Essa Psicologia Sócio-Hitsórica apresenta seus fundamentos, portanto, com base em proposições teóricas e prática, principalmente, pautadas na compreensão da relação dialética subjetividade-objetividade. Faz emergir a influência da Teoria das Representações Sociais postulada porde maneira voluntária, mas firme em seu papel político e social baseando-se em referenciais teóricos e metodológicos da sociologia, antropologia, história da educação popular e serviço social, cuja preocupação fundamental era colocar a psicologia a serviço da comunidade (Freitas, 2014). Em 1970 aparece o conceito de comunidade de maneira sistematizada dando conta de servir de referência para as práticas. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) surge a disciplina de Psicologia Comunitária, a qual passa a fazer parte do currículo do curso. A partir daí o termo comunidade foi propagado por órgãos internacionais como ONU, principalmente na América Latina. Surgem Centros Comunitários de Saúde Mental demonstrando a superação dos hospitais psiquiátricos, cuja base era o desenvolvimento de atividades de educação popular. Segue-se, portanto, com a realização de muitos trabalhos junto à população, o que favoreceu a construção de teoria e prática para servir de base para a área e teoria emergente. A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) destaca-se com seus resultados de pesquisa na área realizados junto com população rural (Freitas, 2014). No final da década de 1970 revisão da intencionalidade da psicologia comunitária e seu destinatário apresenta o predomínio da matriz marxista. Apresenta-se como área do conhecimento não elitista a serviço do povo, para superar a exploração e a dominação (Freitas, 2014). Em 1980 com a criação da ABRAPSO emerge uma Psicologia Social Crítica, histórica e comprometida com a realidade concreta da população, com o modo de vida vivida da população. Em cada região do país tinha um núcleo da ABRAPSO que discutia seus aspectos regionalmente e oportunizava o intercâmbio dos profissionais para que se fizesse uma rede de comunicação e divulgação do conhecimento para o desenvolvimento da área. 46 Em 1981, incialmente, o Psicólogo (a) na comunidade se confundia com o educador social, assistente social ou com o clínico fora do consultório, mas só que agora desenvolve um papel de militante, que oportuniza conscientização coletiva através dos grandes verbos da Psicologia Social comunitária, educar e politizar. Foi neste mesmo ano que houve I Encontro Regional de Psicologia na Comunidade da ABRAPSO (regional SP). Encerra-se o questionamento do papel do Psicólogo (a) ligado à prevenção e cura de doença mental ou tarefas conscientizadoras e educativas. O Psicólogo (a) ainda definido pelas técnicas que utiliza e não por seu conhecimento, algo que será desenvolvido mais adiante com a consolidação da profissão e da área. Em 1988 a partir do Encontro Mineiro de Psicologia Comunitária em que se deu ênfase à técnicas e dinâmica de grupo, os limites teóricos e práticos da profissão foram discutidos e chegou-se a conclusão de que havia a necessidade de resgatar a individualidade e subjetividade-competência do Psicólogo (a), um dos meios poderia ser através da relação estreita entre saúde e condição de vida; Por fim, em 1990 já se escuta mais o termo Psicologia da Comunidade como aquela voltada para o profissional que atua geralmente em instituições públicas e por elas demandada como órgãos ligados à família, instituições penais, posto de saúde etc. Destaca-se principalmente ligados à saúde onde contribui para que se enxergue a Psicologia como uma profissão da saúde, o que oportuniza a nossa entrada na saúde. 47 BIBLIOGRAFIA 1. BOCK, A. M., FURTADO, O., TEIXEIRA, M. de L. T. Psicologias: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008. 2. BOCK, Ana Mercês Bahia et al. Sílvia Lane e o projeto do “Compromisso Social da Psicologia”. Psicol. Soc., Porto Alegre, 19(2), 2007. Disponível em . 3. BUYS, Rogerio Christiano. A psicologia humanista. In A. M. JACÓ- VILELA, A. A. L. FERREIRA, & F. T. PORTUGAL, (Eds.). História da Psicologia: Rumos e Percursos. (p. 339-348). Rio de Janeiro, RJ: Nau, 2008. 4. DUNKER, C. I. L. Aspectos históricos da psicanálise pós-freudiana. In A. M. JACÓ-VILELA, A. A. L. FERREIRA, & F. T. PORTUGAL, (Eds.). História da Psicologia: Rumos e Percursos. (p. 387-412). Rio de Janeiro, RJ: Nau, 2008. 5. FERREIRA, A. A. L. O múltiplo surgimento da Psicologia. In A. M. JACÓ-VILELA, A. A. L. FERREIRA, & F. T. PORTUGAL, (Eds.). História da Psicologia: Rumos e Percursos. (p. 13-46). Rio de Janeiro, RJ: Nau, 2008. 6. FIGUEIREDO, L. C. M. A invenção do psicológico: quatro séculos de subjetivação (1500-1900). São Paulo: Ed. Escuta/Educ, 1992. 7. FIGUEIREDO, L. C. M. Psicologia: uma introdução; uma visão histórica da psicologia como ciência. São Paulo: Educ, 1991. 8. FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Trad. Lígia M. Ponde Vassalo. Petrópolis: Vozes, 1987. 9. FOUCAULT, M. As palavras e as coisas. São Paulo, Martins Fontes, 2002. 10. GOODWIN, C. J. História da Psicologia Moderna (2ª ed.). São Paulo: Cultrix, 2005. 11. LANE, Silvia T. Maurer. O Que é psicologia social. 22. ed. São Paulo (SP): Brasiliense, 1994. 12. LANE, S. T. M. A Psicologia Social e uma nova concepção de homem para a Psicologia. In S. T. M LANE, e W. CODO. (orgs.). Psicologia social: o homem em movimento. (p.10-19). São Paulo: Brasiliense, 1984. 48 13. LOUREIRO, Inês. Luzes e sombras. Freud e o advento da psicanálise. In A. M. JACÓ-VILELA, A. A. L. FERREIRA, & F. T. PORTUGAL, (Eds.). História da Psicologia: Rumos e Percursos. (p. 371-386). Rio de Janeiro, RJ: Nau, 2008. 14. PENNA, A. G. História das Ideias Psicológicas. Rio de Janeiro: Imago, 2000. 15. SCHULTZ, D. P., & SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix, 2000. 16. RUSSO, J. A. O movimento psicanalítico brasileiro. In A. M. JACÓ- VILELA, A. A. L. FERREIRA, & F. T. PORTUGAL, (Eds.). História da Psicologia: Rumos e Percursos. (p. 413-424). Rio de Janeiro, RJ: Nau, 2008. 17. SÁ, Roberto Novaes de. As influências da fenomenologia e do existencialismo na Psicologia. In A. M. JACÓ-VILELA, A. A. L. FERREIRA, & F. T. PORTUGAL, (Eds.). História da Psicologia: Rumos e Percursos. (p. 319-338). Rio de Janeiro, RJ: Nau, 2008. 18. SPINK, Mary Jane. Psicologia Social e saúde: Prática, saberes e sentidos. Petrópoliz: Vozes, 2003. 19. SPINK, M. J. Psicologia Social e Saúde: trabalhando com a complexidade. Quaderns de Psicología, Vol. 12, No 1, 41-56, 2010. 20. SPINK, Mary Jane Paris & SPINK, Peter Kevin. A psicologia social na atualidade. In A. M. JACÓ-VILELA, A. A. L. FERREIRA, & F. T. PORTUGAL, (Eds.). História da Psicologia: Rumos e Percursos. (p. 565-586). Rio de Janeiro, RJ: Nau, 2008. 21. VIDAL, F. A mais útil de todas as ciências”. Configurações da psicologia desde o Renascimento tardio até o fim do Iluminismo. In A. M. JACÓ- VILELA, A. A. L. FERREIRA, & F. T. PORTUGAL, (Eds.). História da Psicologia: Rumos e Percursos. (p. 47-71). Rio de Janeiro, RJ: Nau, 2008. 22. YAMAMOTO, O. H. O psicólogo em hospitais de Natal: uma caracterização preliminar. Psicologia: Reflexão e Crítica, 11, p.345- 362, 1998. 49 GABARITO 01 A 02 D 03 Aciência necessitava de um método, era atrás das regularidades que se estava buscando, que significa servir-se das mesmas condições e replicar um estudo, por exemplo. No entanto onde buscar essas regularidades? No bom senso, pois a ciência é a sistematização do bom senso. O estudo sistemático é que faz com que se chegue nos padrões de regularidades. Para isso pode-se servir de estudos de indução e dedução. Na indução há as leis da coexistência e da sucessão. Constitui-se regularidade de certos fatos, a existência de outros fatos ligados aos primeiros. Parte-se de dados particulares (fatos, experiências, enunciados empíricos) e, por meio de uma seqüência de operações cognitivas, chega a leis ou conceitos mais gerais, indo dos efeitos à causa, das conseqüências ao princípio, da experiência à teoria. Na dedução, as leis são apreendidas por via da conseqüência e correlação, o que leva a fatos novos que escaparam a observação direta mas que a experiência verificou. Trata-se de um processo de raciocínio através do qual é possível, partir-se de uma ou mais premissas aceitas como verdadeiras • 1.2 - Autores que situam o surgimento a partir de Condições Peculiares que teriam surgido no Séc XVI Este século foi marcado pela necessidade de conhecimento de si, busca da natureza na individualidade e na interioridade humana, espaços propícios para o surgimento da Psicologia, afinal são bases iniciais de despertamento do interesse da Psicologia enquanto ciência, através da emergência de seus objetos, objetivos e métodos. Foi nesse período, portanto que diversas experiências e práticas emergiram. Segundo os autores que situam o surgimento da Psicologia a partir de condições peculiares que emergiram no século XVI, a busca pelo entendimento da interioridade humana era emergente. A busca pela concepção dessa interioridade humana fazia destacar uma multiplicidade de orientações no campo da Psicologia. Dentre estes a orientação internalista e a externalista. A abordagem internalista versava sobre as condições da psicologia através de uma série de transformações intelectuais, conceituais ou 7 metodológicas. A externalista, por sua vez, tratava de condições da psicologia a partir de uma série de transformações culturais, sociais, econômicas e políticas. Ambas são importantes pois, enquanto a primeira traz conceitos e práticas científicas e faz parte de uma rede de interesses de pesquisadores etc, a outra aborda as práticas sociais. Emerge a concepção de subjetividade enquanto constituição de um domínio de interioridade reflexiva, diante do conceito de individualidade que refere produção de um campo de singularização valorativa num espaço coletivo. E a Psicologia como campo do saber consegue se inserir e, com o tempo, se destacar em situações e discussões que envolvem a loucura, que passa a ser vista como doença mental, assim como com o advento no entendimento de infância enquanto estágio de desenvolvimento distinto da fase adulta. Cada período agora tem suas condições respeitadas de acordo como são constituídas. Na discussão sobre infância, especialmente, a Psicologia entra com a análise do período de vida escolar e a escola. Espaços propícios para o futuro da Psicologia como veremos mais adiante (Ferreira, 2008). • 1.3 - Autores que abordaram a história da origem na Fundação no Séc XIX Foi nas décadas finais do século XIX que a Psicologia se institucionalizou, mas ainda não era exclusivamente experimental. Ela atendia às instituições especificas ou seja, mantinha-se experimental nas universidades que assim geravam condições de ser a nova Psicologia emerge para ocupar os espaços na modernidade. Conforme veremos no próximo capítulo, Wundt é que torna-se grande referência. 2. OS LUGARES DA PSICOLOGIA NA MODERNIDADE. No último quarto do século XIX a direção da nova Psicologia foi vastamente influenciada por Wilhelm Wundt, o qual trazia a concepção da nova Psicologia, a nova ciência. 8 • 2.1 - O projeto científico de Wundt Wilhelm Wundt (1832-1920), filósofo e fisiologista, em seu projeto cientifico foi quem definiu a Psicologia como ciência, através de determinação de objeto de estudo, método, tópicos a serem estudados e objetivos. Foi em 1879, quando instalou o Laboratório de Psicologia Experimental, em Leipzig, na Alemanha, que a Psicologia começou a se fazer científica. Formulou um sistema de filosofia, incluindo uma lógica, uma teoria do conhecimento, uma ética e uma metafísica. Seu objeto de estudo era a experiência, que considerava “um todo unitário e coerente, que pode ser concebido e elaborado cientificamente a partir de dois pontos de vista distintos” (p. 94), que são complementares. Para Wundt, “a psicologia é uma ciência empírica cujo objeto de estudo é a experiência imediata.” (Jacó-Vilela, 2008, p. 94). A experiência refere processos interligados, para ele, pode ser analisada pelo seu conteúdo objetivo: • Experiência mediata: investiga-se o conteúdo objetivo, objetos da experiência, mundo externo, pensados independentemente do sujeito da experiência; • Experiência imediata: investiga-se o próprio sujeito da experiência, mundo interno. O autor faz uma distinção acerca do que vem a ser ciência natural (física, química, fisiologia etc) e Psicologia, no que afirma serem complementares. As ciências naturais estão afeitas à darem conta dos conteúdos da experiência mediata, já a Psicologia cuida da experiência imediata. A experiência interliga mundo interno e externo, não havendo diferença entre ambos e a experiência, por sua vez, abrange os dois, deste modo, a relação entre psicologia e ciências naturais é de complementariedade. Aponta ainda dois métodos emprestados das ciências naturais dos quais a psicologia vai se servir: observação (apreensão do fenômeno da forma como ele se apresenta sem interferência) e experimentação (manipulação através da interferência do pesquisador). 9 • 2.2 - Estruturalismo Edward Bradford Titchener (1867-1927), psicólogo estruturalista britânico, foi aluno e colaborador de Wundt, em Leipzig. Produziu sua própria concepção de Psicologia, o que lhe fez distanciar dos pensamentos wundtianos, no que concerne a métodos e concepção de objetos (Jacó- Vilela, et al, 2008). O estruturalismo objetiva investigar e entender o fenômeno da consciência, no entanto, o foco é em seus aspectos estruturais, mais focadamente os estados elementares da consciência como estruturas do sistema nervoso central. O seu objeto “...é o instrospeccionismo e os conhecimentos psicológicos produzidos são eminentemente experimentais, isto é, produzidos a partir de laboratório.” (Bock, et al, 2008, p.41). • 2.3 - Funcionalismo William James (1842-1910) foi um filósofo e psicólogo americano e o primeiro intelectual a oferecer um curso de psicologia nos Estados Unidos. É uma escola que tem uma história longa, cujo período refere a metade da década de 1850: “... Seu desenvolvimento histórico, ao contrário do estruturalismo, foi promovido por líderes intelectuais com vários interesses e formações. Pode-se atribuir parcialmente a essa base diversificada o fato de o funcionalismo, ao contrário do estruturalismo, não ter estagnado nem declinado.” (Schultz & Schultz, 2000, p. 123). James interessava-se em pesquisar “o que fazem os homens” e “por que fazem”, no que elegeu a consciência como objeto através da qual se aprofunda buscando conhecer o seu funcionamento: como a pessoa se desenvolve e como funciona a sua mente, como o homem usa a consciência para adaptar-se ao meio. • 2.4 - Associacionismo O principal representante é Edward L. Thorndike (1874-1949), um psicólogo americano. Iniciou seus estudos de Psicologia na Universidade de Harvard, Estados Unidos, onde foi discípulo de William James. Na Psicologia, o que lhe chamava a atenção era o estudo do aprendizado dos animais. Foi quem formulou a primeira teoria da aprendizagem. 10 Para ele, a aprendizagem se dá através de um processo a partirde associação de ideias. Para aprender uma coisa complexa, a pessoa precisaria aprender primeiro as ideias mais simples, para assim fazer suas associações subsequentes. Formulou a Lei do efeito que afirma que todo comportamento tende a se repetir se for recompensado, por sua vez, se for castigado, tenderá a não ocorrer mais (Bock, et al, 2008). • 2.5 - Elementos que levaram às transformações ocorridas na Psicologia desde a modernidade Um dos principais pontos de análise de espaço de transformação na Psicologia gira em torno da constituição das subjetividades contemporâneas. A modernidade traz o sujeito como fundamento auto- fundante de um mundo convertido em puro objeto de conhecimento e controle. Emergem dois modelos de sociedades, holistas e individualistas, cuja discussão envolve as dimensões de público e o privado da vida em sociedade. Com relação às sociedades holistas, dentre as características é a dominância das formas coletivas e hierárquicas da existência social. As identidades que os indivíduos assumem se definem a partir da posição que ocupam no quadro social estratificado e hierarquizado. Limitam as possibilidades de individuação. Já nas sociedades individualistas, o sujeito é visto como auto-fundante: cada indivíduo particular se constitui como sujeito de sua privacidade para nas esferas públicas fazer valer seus direitos, como sujeito econômico, jurídico. Os indivíduos gozam de uma precária e muito discutível independência dos vínculos e obrigações. Concretizam-se na presença de uma autoridade responsável pela efetuação dos procedimentos disciplinares Vejamos um exemplo de como o conteúdo sobre ética profissional foi cobrado pela banca UNIVASF no concurso para o cargo de Psicólogo (a): 11 QUESTÃO 01. (UNIVASF 2009) A Psicologia científica tem como marco histórico de sua fundação: A) A fundação do Laboratório de Leipzig, por Wilhelm Wundt, em 1879. B) A abertura do consultório psicanalítico de Freud, no início do século XIX. C) A criação do Laboratório de Medidas Antropométricas por Francis Galton, em 1881. D) A criação do Centro de Estudos Cognitivos por George Miller e Ulric Neisser, no início da década de 60. E) O lançamento do livro “Science and human behavior” de Skinner, em 1953. 3. A GESTÃO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO NO SÉCULO XIX Para tratar da gestação do espaço de surgimento da Psicologia considerando o século XIX, utiliza-se a obra de Figueiredo (1991, 1992) que por sua capacidade de sintetizar esse período e desenvolver o entendimento a partir dos movimentos que definiram modos de vida em sociedade e individual, como Romantismo, Liberalismo e Regime Disciplinar, tornou-se referência para diversas obras que contam essa história do surgimento da Psicologia enquanto ciência. 3.1 - O romantismo Foi um movimento cultural e estético de exteriorização das experiências privatizadas. Tem seu início na Escócia, Inglaterra e Alemanha, mas ganha proporções revolucionárias na França a partir do fim do século XVIII, mais precisamente a Revolução Francesa (1789). Surge como reação ao Iluminismo e ao Neoclassicismo, surge como literatura popular para atender aos anseios da burguesia, apoiada no idealismo (Figueiredo, 1992). Na França assume um tom mais moralizador do que crítico, refletindo a oposição dos liberais conservadores aos revolucionários. Na França o Romantismo expressa os sentimentos dos descontentes com as novas estruturas. O que explica as atitudes saudosistas ou reivindicatórias que 12 pontuam todo o movimento. Na Alemanha, o Romantismo valoriza o individualismo, a liberdade e os valores nacionais (Figueiredo, 1992). O Romantismo representa os anseios da classe burguesa, na época em ascensão. Abandona o classicismo e caminha ao lado do povo, da cultura leiga. Ao Romantismo coube a tarefa de criar uma linguagem nova, identificada com os padrões da classe média e da burguesia. Enquanto o classicismo observa a realidade objetiva, exterior e a reproduzia do mesmo modo, sem deformar a realidade, o Romantismo deforma a realidade, exposta pelo crivo da emoção. A arte romântica inicia uma nova e importante etapa na literatura, o que refere uma efervescência social e política, esperança e paixão, luta e revolução. Retrata uma nova atitude do homem perante si mesmo, está voltado para a espontaneidade, os sentimentos e a simplicidade (Figueiredo, 1992). Nenhum movimento artístico foi tão rebelde e revolucionário. Surge com o liberalismo e ressalta o eu individual, divulgado pela Revolução Francesa. Enquanto a Revolução Francesa chega ao poder, quebrando a hierarquia social, o Romantismo destrói as regras e as formas preestabelecidas, ressalta a realidade subjetiva (Figueiredo, 1991). Ainda no Romantismo há uma vivência do individualismo o que refere a liberdade positiva e a autonomia, auto – engendramento. Transformação dos sujeitos naquilo que eles de fato são – constituição de uma personalidade singularizada. Perda das identidades convencionais: tornar-se o que verdadeiramente se é, contrapondo-se ao conservadorismo, aos papéis e as máscaras socialmente convencionais (Figueiredo, 1992). É a configuração do indivíduo no sentido de autônomo, de auto-afirmativo, definido, personalizado, singularizado. Trata-se de desenvolver suas potencialidades mesmo que a custa de crises, loucuras ou de agregações (Figueiredo, 1991). O movimento romântico fazia através da restauração de formas orgânicas da vida social, de valores autênticos, de modos de relação entre os homens e o mundo físico e histórico que trariam de volta a integridade, a espontaneidade e a fecundidade da vida coletiva e individual (Figueiredo, 1991). Os indivíduos eram constituídos sob os ideais românticos, e valorizavam prioritariamente o auto-crescimento. Consideravam suas interioridades e tentam permanentemente preservá-lo da vida competitividade e turbulenta das grandes cidades, constituindo, no seu conjunto o que vem a ser chamado de civilização intimista. Havia a defesa romântica das paixões, dos impulsos, dos estados alterados da consciência, assim como a defesa da absoluta liberdade da criação e transfiguração. 13 3.2 - O liberalismo e o individualismo. Acerca dos pressupostos do liberalismo destaca-se John Locke (1632- 1704), que constituiu as linhas básicas do movimento. O séc XIX, foi considerado o apogeu do liberalismo e do individualismo, quando diante da separação das esferas privadas e individuais. Não cabia ao Estado intervir nem administrar a vida de ninguém. Na sociedade individualista, os indivíduos são portadores de personalidades soberanas, identidades auto-contidas (Figueiredo, 1992). Na primeira fase do liberalismo pode-se destacar: • Jusnaturalismo: reconhece nos indivíduos direitos inalienáveis; • Contratualismo: Sociedade e Estado fruto de uma convenção entre homens; • Liberalismo econômico: combate a intervenção do Estado na vida econômica; • Negação do absolutismo estatal: limitação do poder Estado mediante divisão de poderes. Nesse período o Estado é considerado como bem absoluto, embora moralmente neutro, seu objetivo é escolher sua maneira de ser no mundo. Trata-se de um bem absoluto porque o indivíduo é visto como fim e não como meio, no que autoriza-se o poder de persuasão (Figueiredo, 1992). Nesse período, a categoria indivíduo não é inata é construída historicamente enquanto um dos modos de subjetivação. Trata-se de um modo hegemônico de organização da subjetividade na modernidade em que o indivíduo produzido pelo individualismo pré-existe ao social o qual se organiza para atendê-lo. As sociedades individualistas, por sua vez, exigem para sua reprodução a criação ou permanência de dispositivos que preencham a função instituinte. Busca-se incentivar e exprimir suas potencialidades concebidas como naturais (Figueiredo, 1991). Em sendo assim, emerge a discussão mais forte em torno do conceito de indivíduo. Este conceito foi elevado ao nível de bandeira política de realidadeeconômica pelo liberalismo, em que o homem na sua constituição mais íntima é o centro e o fundamento de um mundo e cultiva-se a proteção de sua privacidade. 14 • 3.3 - O regime disciplinar No movimento do Regime Disciplinar há a exigência de que o Estado faça uma intervenção mais positiva e uma certa administração da vida social. O Estado deveria intervir e administrar os comportamentos individuais, mediante o controle mais planejado, instaurando novas modalidades de poder. O Utilitarismo de Bentham irá substituir a crença e a defesa intransigente dos direitos naturais dos indivíduos pelo cálculo racional da felicidade (Figueiredo, 1992). Nesse movimento, as instituições terminam por participar do controle, como, por exemplo, as instituições educacionais, corretivas, de saúde e lazer as quais assumem funções disciplinares e preventivas. A família, o lar, por sua vez, progressivamente abandona a função que lhes era própria no século XVIII, de espaço da liberdade. A família adota práticas de treinamento precoce e de normatização das crianças jovens e adultos (Figueiredo, 1991). No final do séc XIX e início de XX há o aprofundamento e a expansão das práticas disciplinares, como práticas de exame, avaliação, programação, novos exercícios. Trata-se de formas de controle que invadiram todos os refúgios em que os indivíduos liberais procuravam se abrigar e foram apresentando-se a estes de forma positivamente sedutora, convincente e eficaz (Figueiredo, 1992). Essas mudanças no modo de vida em sociedade e individual, de vida pública e privada alcançaram o sucesso esperado, uma vez que a construção de subjetividades disciplinadas, consideradas úteis e cada vez mais treinadas a responder ao que se desejava para o melhor desempenho de papéis que lhes são delegados e principalmente aqueles do tipo dóceis e domesticadas. A institucionalização da subjetividade teve como um dos aportes o capitalismo, a preservação da força de trabalho e a integração aos aparelhos de produção da população. A medicina, por exemplo, caridosamente dirigida aos “pobres doentes” está reservada à cuidar do bem-estar físico da população e ganha poder de polícia médica, passa a se encarregar do controle dos corpos. A população torna-se objeto de investigação e vigilância e intervenção e o destaque maior, o ponto focal de ação é o corpo (Figueiredo, 1992). Foucault (1987) analisa o controle social produzido por estes novos dispositivos disciplinares e pela normatização técnica-científica. Apresenta-nos a modernidade como uma era de domesticação dos corpos 15 e pela regulação das populações, de modo a maximizar a sua utilidade social e reduzir o potencial político. Para ele, o indivíduo constitui-se num produto manufaturado pelos poderes–saberes da disciplinarização. Foucault (1987) se recusa a atribuir ao Estado um lugar central no processo de dominação moderna. O poder jurídico-político sediado no Estado e nas instituições não tem cessado de perder importância em favor dos minúsculos, invisíveis, mas permanentes poderes disciplinares. Nesse contexto, os modos de individualidades produzidos se dão a partir de um controle continuo e permanente, o que resulta numa vigilância das vidas e corpos, no que concretizou com a ideia do panóptico. O panóptico é um modelo de prisão que trata da regulação das vidas e corpos dos indivíduos em busca do controle Trata-se de um sistema de vigilância de 360 graus (imagem 1). Diante da teoria de Foucault (1987), acerca do que foi considerado como tecnologia da disciplina, toma-se o corpo como objeto de conhecimento, poder, controle do corpo e do espaço social. Autoriza, portanto, o internamento dos considerados loucos e dos pobres, fazendo emergir aspectos da disciplina higienista. É desse cenário que surge o modelo de atuação da psicologia atendimento/psicoterapia individual, já que corpos e psique precisam ser regulados/ajustados/corrigidos/disciplinados. Sendo assim, nesse movimento de análise e questionamento da realidade social e individual que se encontra o espaço propicio para os principais e primeiros questionamentos contundentes acerca do indivíduo e suas condições de vida, abrindo o cenário para a Psicologia e suas diversas abordagens. E, novamente, menciono aqui que esse surgimento aconteceu respeitando-se o movimento de construção do conhecimento cientifico de tese, antítese e síntese. 16 4. PRINCIPAIS ABORDAGENS E TEORIAS PSICOLÓGICAS: O NATURAL E O HISTÓRICO Diante dos movimentos que surgiram no século XIX analisados, e das transformações sofridas pela sociedade e pelos indivíduos em seus modos de vida pública e privada, as principais escolas da psicologia emergiram, segundo Figueiredo (1992): • Do movimento liberal e individualista com suas características de promoção de liberdade e igualdade entre os homens, assim como da separação de vida pública e privada, emerge um espaço propicio para a gestação da antes chamada de Psicologia do Ego, que mais tarde se constituiu a Psicanálise. • Do movimento romântico de liberdade de desenvolvimento das potencialidades das personalidades, aliado à fecundidade da vida coletiva e exaltação de valores nacionais e de sentimentos, faz emergir individualidades criativas como acontece com as características básicas do Humanismo. • A partir das identidades manipuláveis do regime disciplinar, através dos controles dos corpos que individualizam e docilizam, do controle da vida e da centralidade administrativa desse controle, faz fecundar um espaço de gestação para o Behaviorismo. • ACERTE O ALVO: O Behaviorismo é considerada a primeira força, Psicanálise a segunda força, Humanismo a terceira força e a Psicologia Transpessoal a quarta força (Schultz & Schultz, 2000; Jacó-Vilela et al, 2008; entre outros). Enquanto as principais escolas da psicologia emergentes na modernidade, estas servirão de base para o surgimento das outras diversas abordagens e áreas de atuação fazendo firmar a consciência de que não há somente uma Psicologia, mas Psicologias. Esse movimento faz assinalar o que já foi estudado acerca da construção do pensamento científico através de tese, formulação de antítese e emergência de síntese. 17 • 4.1 - Behaviorismo Final do séc XIX (EUA) época em que fortes correntes eram ministradas em cursos de Psicologia, marcadas por identidades delimitadas como o Funcionalismo de William James e o Estruturalismo de Edward Titchener. Com base nisso, nesse período o objeto de estudo da Psicologia era a consciência, o que fez batizar a Psicologia como a ciência da consciência (Bock, et al, 2008). Alguns marcos históricos foram muito importantes para a consolidação da Psicologia enquanto ciência: • 1888: A Psicologia ministrada formalmente; • 1892: American Psychological Association (APA); • 1894: Psychological Review. Além do Funcionalismo e do Estruturalismo, outra escola importante para a constituição do cenário do Behaviorismo foi o Funcionalismo de Edward Lee Thorndike, discípulo de James, como já mencionamos neste material, e que mais tarde vai fundar o Associassionismo. Este teórico trazia a discussão acerca da Lei do Efeito através de um estudo controlado sem se deter na introspecção, em que afirmava que todo comportamento tende a se repetir se for recompensado, mas se for castigado, tenderá a não ocorrer mais. Para ele os aspectos mentais são quem determinam o comportamento. Este estudo trouxe importantes contribuições para a educação, uma vez que afirmava que a aprendizagem se dá por associação de ideias (Schultz & Schultz, 2000). Início do século XX, momento em que a Psicologia almejava o seu reconhecimento enquanto ciência, com a influência destas escolas, em especial do Associacionismo de Thorndike e da Lei do Efeito, o espaço para o Behaviorismo se abre. Os fundamentos básicos estão repousados no empirismo associacionista britânico que afirma que a experiência é o determinante da mente e a associação que o Behaviorismofaz na relação à estimulo (S) e resposta (R). Além disso, a influência do pensamento mecanicista e materialista dos fisiologistas associado ao positivismo de Comte, que postula sobre o observável, a observação objetiva, o conhecimento prático e o controle da natureza (Jacó-Vilela, et al, 2008). 18 Importa dizer que o surgimento do Behaviorismo enquanto escola se dá em 1913, com um manifesto criado por John Broadus Watson: “O que precisamos fazer é começar a trabalhar na Psicologia fazendo do comportamento, e não da consciência, o ponto objetivo de nosso ataque.” No entanto, outros autores precisam ser mencionados por se fazerem extremamente importantes para esta abordagem a partir de seus estudos como Ivan Petrovich Pavlov que antecedeu Watson foi Buurhus Frederick Skinner (Jacó-Vilela, et al, 2008). Um acontecimento importante na época do surgimento do behaviorismo foi a chamada “crise da física clássica”, que, na verdade, era uma crise no determinismo que alterou a maneira de pensar a ciência, derrubando o sistema hegemônico determinista que atribuía relações estritas entre causas e efeitos nos fenômenos naturais. A explicação para determinados fenômenos deveria se basear nas relações entre os aspectos envolvidos, um se altera em função de modificações no outro. Essa crise influenciou especialmente Skinner, como veremos mais adiante (Jacó-Vilela, et al, 2008). • 4.1.1 - Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936) Nasceu na Rússia, numa pequena vila agrícola cujos pais eram camponeses. Seu pai era sacerdote e sua mãe uma filha de sacerdote. Iniciou como seminarista e se interessou pela ciência a partir de ideias mecanicistas e materialistas de um fisiologista russo Sechenov, autor do clássico estudo sobre reflexos do cérebro (Jacó-Vilela, et al, 2008). Em 1870, Pavlov estuda fisiologia na Universidade de São Petersburgo onde formou-se médico em 1883 e se interessou por pesquisas na área estudada, fisiologia, mais precisamente acerca da digestão e glândulas digestivas por volta de 1900, que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Fisiologia em 1904. Sobre isso, dedicou-se ao estudo com cães cujo foco era a salivação animal através da elaboração de um programa de replicação (Jacó-Vilela, et al, 2008). 19 Um dos primeiros dispositivos utilizados por Pavlov para registrar as reações salivares. Estrutura do condicionamento desenvolvida por outro Russo chamado Nicolai, mas atribuída à Pavlov. A Torre do Silêncio (imagem abaixo) é um ambiente isolado o suficiente do mundo exterior para propiciar a objetividade necessária à pesquisa científica. Tudo isso corroborando com a preocupação dele de controle rigoroso e eliminação de possíveis fontes de erro (Jacó-Vilela, et al, 2008). Através deste experimento, ele buscava garantir estímulos controlados. Pela característica de seus estudos e postulados, não aceitava abordagem psicológica que envolvia o dualismo dos processos mentais e físicos, uma vez que considerava desnecessária e puramente especulativa. Sendo assim, ele buscava interpretar os fenômenos em termos cerebrais recíprocos de excitação e inibição (Jacó-Vilela, et al, 2008). Sua teoria, portanto, sobre o que chamou de Reflexo Condicionado, que postula que um estímulo (S) tem uma relação de dependência com uma resposta (R). Nessa teoria o tempo (t) também é relevante pois quanto mais t levava-se para expor o S, menos a R acontecia, o que levava a uma extinção gradativa da R. seu grande objetivo com estes estudos era clareza sobre o funcionamento do cérebro (Schultz & Schultz, 2000). 20 • 4.1.2 - John Broadus Watson (1878-1958) Nascido em 187 na Carolina do Sul, nos Estados Unidos. Sua história conta com registro de um pai violento, mãe religiosa a qual lhe deu o nome de um pregador fundamentalista batista e queria que ele fosse ministro. Entra na Universidade de Psicologia aos 16 anos, e aos 22 torna-se mestre. Desperta o interesse pelo comportamento animal, por influência de seu pai. Torna-se Ph.D. na Universidade de Chicago, onde ensinou também no período de 1903 a 1908. Falece aos 80 anos após ser homenageado pela APA (Jacó-Vilela, et al, 2008). Em 1913, publica o artigo “A psicologia como o behaviorista a vê”, que ficou conhecido como o “manifesto behaviorista” e no qual delimitava o campo onde a psicologia deveria focar seus estudos. O seu objeto de estudo é o comportamento no que sugere que a Psicologia seja uma ciência puramente empírica e que leve generalizações amplas sobre o comportamento humano. Para isso, sugere extremo controle experimental para que os estudos psicológicos possam ser replicados em qualquer laboratório (Jacó-Vilela, et al, 2008). A primeira fase de seus estudos é marcada por estudos com animais. Através destes estudos afirmava conseguir responder algumas hipóteses que seriam generalizáveis para a compreensão do universo humano, quando publica uma de suas mais importantes obras que aborda o comportamento humano “A psicologia do ponto de vista de um behaviorista”, nela trazia a sua proposta de psicologia como uma ciência natural independente (Jacó-Vilela, et al, 2008). Em 1920 centraliza seus estudos em crianças, afirma que ao nascer, a criança tem apenas três reações básicas amor, raiva e medo, as quais são bases de formação e seus hábitos. O hábito está justamente no aprendizado na exposição repetida às mesmas condições, fazendo com que suas respostas sejam as mesmas tanto no que concerne a estímulos particulares de um ambiente interno (músculos, glândulas etc.) assim como do externo (os objetos do mundo exterior) (Jacó-Vilela, et al, 2008). 21 Quando sai da universidade onde lecionava, é atraído pela área de publicidade e propaganda. Torna-se destaque na publicidade (marketing) mais especificamente no que concerne a predição e controle do comportamento. O destaque foi tamanho que mais tarde se tornou presidente da empresa que o contratou permanecendo até a sua aposentadoria (Jacó-Vilela, et al, 2008). Apresenta os conceitos de Estímulo (S) e Resposta (R), mostrando como uma resposta pode ser condicionada a um estímulo específico, que tipos de resposta podemos apresentar. Além disso escreve também sobre reflexos condicionados, estudados Pavlov, um dos maiores influenciadores de seu trabalho a partir de 1916 (Schultz & Schultz, 2000). • 4.1.3 - Buurhus Frederick Skinner (1904-1990) Nasceu numa cidade pequena na Pensylvania. Seu pai era advogado e sua mãe dona-de-casa e protestante. Tornou-se Psicólogo em 1926, fez pós-graduação em Psicologia em Harvard em 1928 e doutorado em 1931, e fez vários pós-doutorados. Então torna-se docente em Minesota, depois Indiana e em seguida volta para Harvard. Publicou importantes livros como The behavior of organisms (1938) e Science and human behavior (1953). Morre aos 86 anos de leucemia (Jacó-Vilela, et al, 2008). Ressalto aqui a crise do determinismo já mencionado anteriormente. Foi nesse contexto que Skinner, influenciado pela concepção funcional de Mach, propõe um sistema no qual as explicações que dava para o comportamento do organismo no que concerne a causa e efeito passa a ser substituído por descrições de relações funcionais entre as alterações que acontecessem no ambiente e o comportamento. Para ele, não mais o comportamento do organismo seria condicionado de maneira reflexa, mas sim seria influenciado por suas consequências. Sendo assim, o homem passa ser considerado produtor de seu meio através das modificações produzidas pelo organismo em seu ambiente (Jacó-Vilela, et al, 2008). Esse comportamento que passa a ser analisado a partir da influência de suas consequências recebe a denominação de classe operante. Refere dizer que as consequências agora passam a ser consideradas contingências. Portanto, importante dizer que as respostas passam a ser definidas por suas consequências. Diante disso, o comportamento 22 recebe uma amplitude maior de estudo diferindo do que acontecia com o comportamento reflexo (Jacó-Vilela, etal, 2008). ACERTE O ALVO: Nos casos de comportamento operante o que proporciona a aprendizagem é a ação do organismo sobre o meio e o efeito resultante desta ação. Skinner, assim como os outros estudiosos comportamentais, fez diversos experimentos com animais. O que de mais importante estes estudos revelaram? Permitiam fazer afirmações acerca do que chamaram leis do comportamento, que referiam generalizações (Bock, et al, 2008). Um dos exemplos clássicos dos estudos skinnerianos é aquele realizado na “Caixa de Skinner” (figura abaixo). A Caixa de Skinner é um recipiente fechado em que há uma barra que precisa ser acionada para que a gota de água seja liberada a partir de uma pequena haste. A aprendizagem acontece que o sujeito experimental (rato) explora a caixa (ambiente) e acidentalmente ele pressiona a barra e aciona a liberação de uma gota de água. Daí em diante, a tendência é que, por conta da privação de água, ele aprenda a pressionar a barra, se o mantiver nas mesmas condições, no caso, sede (Bock, et al, 2008). ACERTE O ALVO: O comportamento operante pode ser representado pela equação: R→S 23 No entanto, ao se tratar de sujeitos humanos, deve-se considerar o comportamento verbal como uma forma de comportamento operante distintiva, pois atua indiretamente sobre o meio, ou seja, que age inicialmente sobre outros seres humanos. Esse estudo acerca do comportamento verbal abre espaço para estudos diversos tomando-se como objeto a linguagem, o pensamento, a moral, a alienação, os propósitos, dentre outros (Jacó- Vilela, et al, 2008). Skinner afirma que o comportamento humano é selecionado não apenas para atender a necessidades de sobrevivência imediata, o que seria apenas um tipo de conseqüência seletiva, mas também para se adaptar a condições outras, futuras. Para o teórico, o fato de nos depararmos sempre com uma diversidade de ambientes o nosso comportamento acompanhando tantas mudanças também se modifica constantemente, o que refere o contato da pessoa com as contingências específicas, o lhes faz serem distintas das outras pessoas. Esse estudo das contingências passa a ser definido em três níveis (Jacó-Vilela, et al, 2008). • Filogenético: seleção de comportamentos característicos da espécie (Humana); • Ontogenético: comportamentos selecionados ao longo da interação com o ambiente (história de reforçamento da pessoa); • Cultural: comportamentos selecionados pela interação do organismo com seu ambiente social (Eu). Para Skinner o behaviorismo era uma filosofia. Defendia um behaviorismo mais indutivo, evitava teoria e buscava mais a prática: “Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e, por sua vez, são modificados pelas conseqüências de suas ações.” (Skinner, 1957, p.15, apud Jacó-Vilela, et al, 2008, p. 183) Os estudos de Skinner trouxeram contribuições importantes para a aprendizagem, principalmente no que tange a problemas de aprendizagem através do papel da punição na aquisição de respostas, dos efeitos de diferentes programas de reforço, a extinção de R operante, reforço secundário e generalização. 24 • 4.1.4 - Behaviorismo no Brasil Os primeiros cursos de Psicologia no Brasil surgiram nos anos 1950. Fred Simmons Keller, professor na Universidade de Columbia nos EUA, contribuiu com pesquisas que colaboraram para o estabelecimento e divulgação da análise do comportamento. Início da década de 1960 ele vem ao Brasil na qualidade de professor visitante na USP, posteriormente passou 2 meses na UNB. Outro nome importante é Carolina Martuscelli Bori que contribuiu com a fundação de diversos cursos de graduação em psicologia relacionados à análise do comportamento. Seus estudos versavam principalmente em torno da educação e pesquisa, como quando esteve à frente de importantes instituições científicas como a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Tanto que em 1970 outros diversos cursos de graduação e pós-graduação surgiram como na USP, UNB, UFPA, Universidade Federal de São Carlos (SP), PUC-SP (Jacó-Vilela, et al 2008). ACERTE O ALVO: Fique de olho em outros processos como extinção, punição, discriminação e generalização. • 4.2 - Humanismo O termo Humanismo surgiu no Renascimento entre o final do século XIV e o início do século XV. Denominava tanto um aspecto literário, quanto filosófico, preocupando-se com o valor do homem e tentando compreendê-lo em seu mundo. Sartre define o humanismo como qualquer doutrina que pense o homem tomando como critério aquilo que o diferencia dos outros seres, ou seja, entenda o homem na sua própria existência. Por esse ponto de vista, o humanismo teria começado na Grécia do século V com os sofistas. Estes afirmavam que “o homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são enquanto são, e das coisas que não são enquanto não são”. O humanismo sofista situa e valoriza o ser humano em seu mundo: “O humanismo tem como principal matriz a filosofia romântica que exalta a contemplação estética, o intuicionismo afetivo e a superação, por fusão empática, da dicotomia entre sujeito e objeto”. (Sá, 2008, p.335). 25 Algumas críticas foram feitas dirigidas aos sofistas como foi o caso de Aristóteles, os sofistas não falavam da realidade, pois o que diziam não poderia ser demonstrado, portanto estavam distantes de qualquer conhecimento verdadeiro. Durante a Idade Média manifesta-se um humanismo de natureza cristã, onde o valor do homem é dado na semelhança com Deus (Schultz & Schultz, 2000). Posteriormente, nos séculos XVII e XVIII, autores como Descartes, Rousseau e Kant deram uma contribuição fundamental à compreensão da especificidade do homem. Descartes, por exemplo, pensava o conhecimento como ativo, ou seja, o conhecimento não era dado ao homem por um universo finalista, mas o homem que submetia o universo ao seu comportamento. Além disso, para ele o homem teria o poder de conhecer tudo, inclusive sua própria consciência. Rousseau, por sua vez, concebe o homem como ativo e autônomo, porém, dentro de um campo ético. Já Kant concebe o homem como autônomo, apesar da limitação do conhecimento. Segundo ele, não conhecemos a realidade em si, mas apenas a representação que dela fazemos (fenômenos) (Sá, 2008). Ferry e Renault (1992) definem o humanismo como a concepção e a valorização da humanidade em sua capacidade de autonomia. O que constitui a modernidade é a maneira como o homem vai se pensar como fonte de suas representações e de seus atos, como fundamento ou como autor. Outro marco importante que caracteriza o context de surgimento da Psicologia Humanista foi a promulgação da Declaração Universal dos Direitos do Homem, regulada pela ONU em 10 de dezembro de 1948. Essa Declaração apresenta princípios de Direitos como igualdade de direitos a todos os homens. Isso contribui para o pensamento do não determinismo do homem, pois o ser humano é capaz de ultrapassar qualquer determinação de qualquer natureza e, também por isso, é totalmente responsável por seus atos. Tal pensamento deve ser posto de forma positiva, afirmando a autonomia do homem (Sá, 2008). Assim, a Psicologia Humanista surgiu na década de 1930, nos EUA, no meio de um movimento mundial mais amplo que se constituía na valorização do ser humano. Teve seus primeiros trabalhos publicados a partir dos anos 1940, entretanto, foi na década de 1950 que o movimento foi reconhecido (Sá, 2008). 26 O humanismo é uma “linha” de pensamento no qual os interesses e valores humanos são primordialmente importantes. Os psicólogos humanistas faziam objeções à Psicanálise e ao Comportamentalismo que vigoravam na época, argumentando que essas “escolas” ofereciam uma imagem da natureza humana demasiadamente restrita (Sá, 2008). Os temas bases desta abordagem teórica dão uma ênfase “...na experiência consciente, numa crença na integralidade da natureza e da conduta do ser humano, na concentração no livre-arbítrio,na espontaneidade e no poder de criação do indivíduo, e no estudo de tudo o que tenha relevância para a condição humana”. (Schultz & Schultz, 2000, p. 391). A Psicologia Humanista traz em sua história de surgimento críticas ao Behaviorismo, forma de entendimento hegemônico da época. Essa crítica fundamentava-se no fato de o behaviorismo negar as forças inconscientes e focalizar o comportamento observável, tinham pontos de vista limitados, por ser baseado na relação S - R, retratavam o ser humano como robôs que reagem a eventos predeterminados. Os humanistas se opunham a essa visão argumentando que o comportamento humano é demasiadamente complexo para ser explicado dessa forma. Critica também a Psicanálise afirmando que ela estudava apenas o lado emocionalmente perturbado da natureza humana, dando muita ênfase ao patológico. Contrariamente, os humanistas pretendiam estudar nossas forças e virtudes e investigar o comportamento humano no que ele tem de melhor. Essas críticas se fundamentavam justamente porque a Psicologia Humanista afirmava que a psicologia deveria abordar a consciência a partir da perspectiva da totalidade (Schultz & Schultz, 2000; Sá, 2008). Alguns autores podem ser apontados como iniciadores do movimento humanista em psicologia Abraham Maslow, Gardner Murphy, Gordon Allport, Carl Rogers. • 4.2.1 - Abraham Maslow (1908-1970) Maslow era o mais velho de sete filhos, nasceu em 1908 no Brooklin, em Nova York. Teve uma infância difícil, seu pai frequentemente sumia, abandonando a família. Sua mãe era supersticiosa e frequentemente o punia pelas mínimas faltas que fizesse, eles não se davam bem. Maslow, uma vez disse: “Com a infância que tive, é um milagre eu não ser psicótico”. (Schultz & Schultz, 2000). 27 Maslow é considerado o pai espiritual da psicologia humanista, critica o determinismo em psicologia e afirma que a pessoa sadia é capaz de transcender a cultura e as condições e renovar valores. Afirma que cada pessoa nasce com as mesmas necessidades instintivas que nos capacitam a crescer, nos desenvolver e realizar nossos potenciais no eu. Que cada pessoa traz em si uma tendência inata para tornar-se auto-realizadora, o que lhe levou a desenvolver a teoria da Auto-Realização a partir da Hierarquia das Necessidades (figura abaixo) (Schultz & Schultz, 2000). Sobre as necessidades afirma que são inatas, e cada uma delas tem de ser satisfeita antes que a próxima necessidade da hierarquia surja para nos motivar. Em sua teoria, as necessidades são atendidas da base para o topo e aquelas pessoas que conseguem atender as necessidades de auto-realização são consideradas psicologicamente saudáveis, mas que não chegam a 1% da população. São consideradas saudáveis porque, segundo ele, são livres de neuroses e psicoses (Schultz & Schultz, 2000). • 4.2.2 - Carl Rogers (1902-1987) Carl Rogers, outro expoente da Psicologia Humanista, era o quarto de seis filhos, nasceu em 1902, em Oak Park, subúrbio de Chicago. Os pais eram extremamente religiosos e enfatizavam o comportamento moral. Aos 12 anos foi morar na zona rural, o que despertou seu interesse pela ciência. Estudou agricultura na universidade, mas depois abandonou para se dedicar ao ministério. Cria a Terapia Centrada na Pessoa (TCP) ou Terapia Centrada no Cliente, na qual o dom de mudar ou aperfeiçoar a personalidade é centrado no interior da pessoa. É a pessoa, não o terapeuta que determina a mudança; o papel do terapeuta é facilitar a mudança. Assim, atribui a responsabilidade da mudança à pessoa ou cliente, e não ao terapeuta, como é o caso na psicanálise ortodoxa, Rogers supôs que as pessoas podem 28 alterar consciente e racionalmente seus pensamentos e comportamentos indesejáveis, tornando-os desejáveis. Rogers acreditava, portanto, que por sermos seres racionais governados por uma percepção consciente de nós mesmos e de nosso mundo, cada pessoa possui uma tendência inata para atualizar as capacidades e potenciais do eu (Schultz & Schultz, 2000). Para ele “...as pessoas devem confiar em seu próprio exame e na interpretação das suas próprias experiências. Ele também acreditava que as pessoas podem melhorar conscientemente a si mesmas. Esses conceitos se tornaram pilares de sua teoria da personalidade...” Significa dizer que para ele a auto-atualização é o nível mais alto de saúde psicológica e é alcançada por meio do que o autor denominou como funcionamento pleno (Schultz & Schultz, 2000 p. 397). De sua teoria, alguns conceitos importantes recebem destaque: • Self: fator autônomo próprio do nosso desenvolvimento, que proporciona maior consciência da responsabilidade pessoal e do auto-conhecimento; • Tendência atualizante: motivação humana básica de realizar, manter e aprimorar o self; • Auto-realização: O desenvolvimento mais completo do self. • 4.2.3 - A Psicologia da Gestalt Surgiu na Europa e emerge negando e tentando superar as Psicologias da época, século XIX, que caracterizavam-se por fragmentar as ações e os processos humanos para gerar a sua compreensão. A Psicologia da Gestalt, diferentemente do que ocorria, buscava compreender o homem em sua totalidade (Bock, et al, 2008). Sua origem é na Fenomenologia e, portanto, buscava analisar o fenômeno até chegar a um nível de consciência chamado de “pura visão”, ou seja, o modo como o ser humano toma consciência do fenômeno a partir de sua percepção acerca do seu entorno. Isso porque, para os autores da Gestalt, a percepção do mundo é a porta de entrada da consciência. No entanto, o mais importante é analisar como é decodificado pela consciência aquele 29 aprendizado acerca do mundo. Um exemplo bastante utilizado é a analise acerca da ilusão de ótica (ver imagem), a qual é compreendida como resultado de uma percepção enganosa da realidade, mas entendida pela consciência naquele momento como correta. Conforme se vê nas figuras clássicas denunciadas na Psicologia da Gestalt apresentadas anteriormente, a ilusão de ótica pode concorrer para que se enxergue coisas diferentes a depender da percepção de mundo de cada pessoa. • 4.2.3.1 - Frederick S. Perls (1893-1970) Fritz Perls, como era conhecido o criador da Gestalt Terapia (1951), foi um médico alemão que atuou como psicanalista até 1941. Teve influências também da Fenomenologia de forma tão forte que inspirou o nome de sua corrente. Por conta da Segunda Guerra Mundial foi para a África do Sul e fundou o Instituto Sul-Africano de Psicanálise e em 1940 foi para os EUA onde fez o primeiro lançamento de uma obra de Gestalt Terapia. Embora sua relação estreita com a Psicanálise, a Gestalt Terapia está mais próxima da Fenomenologia, uma vez que não trabalha com conceitos de inconsciente, lhe importando a experiencia do aqui-agora. Dentre os princípios da Gestalt Terapia estão a valorização do presente frente ao passado ou futuro, a tomada de consciência diante de uma experiencia e a importância do todo (Bock, et al, 2008). 30 4.2.4 - Psicologia Humanista no Brasil Nos anos 1960, a proposta de terapia de Rogers começou a ser divulgada na Universidade de São Paulo. Nessa mesma época, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro tinha a disciplina “Técnica de aconselhamento psicológico”, que também se baseava na teoria de Rogers. Na Universidade Federal de Minas Gerais, a partir de 1968 surgiu interesse pela área com a vinda de Max Pagés, ex-aluno e colaborador de Rogers. Em 1974, no Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi criada a disciplina “Psicoterapia Centrada na Pessoa”, e depois foi criada “Psicologia Humanista Existencial”. No Rio de Janeiro, em 1975, foi fundado o Centro de Psicologia da Pessoa (CPP). Em 1977 Carl Rogers veio ao Brasil, no interior do Rio de Janeiro, onde ocorreu um workshop de três semanas de duração em que Rogers discutiu todas as suas ideias (Buys, 2008). A abordagem Humanista enfatiza a força e a aspiração humana e a realização do nosso potencial.Oferece uma ideia lisonjeira e otimista da natureza humana e descreve as pessoas como seres ativos e criativos, interessados em desenvolvimento e auto-realização (Buys, 2008). • 4.3 - Psicanálise O período em que a Psicanálise surgiu foi um período entre guerras (1919 – 1938), quando emergia uma nova forma de Estado e sociedade com o novo capitalismo. Nesse momento, havia o predomínio da razão permeado por uma cultura organização industrial cujo foco, aliado ao capitalismo, era a individualização. Com o fim da 1ª Guerra e o declínio do império Áustro-Húngaro e a eclosão da Revolução Russa (1917), houve o declínio de laços aristocráticos (Loureiro, 2008). No séc XIX, em meio a uma era Vitoriana marcada pela repressão sexual, a tarefa de sublimação permitiu que a sexualidade fosse, sem restrições morais, discutida em todos os ambientes, inclusive nos conventos. Esse fato fez evoluir os conhecimentos psiquiátricos, literários neurofisiológicos, sociológicos, antropológicos e artísticos, o que trouxe contribuição para a identificação de fenômenos mentais que iam além dos perceptíveis pela consciência (Loureiro, 2008). 31 Até a 1ª Guerra Mundial havia uma centralidade em torno da figura de Freud. Budapest, Londres, Zurique, além de Viena e Berlim tornam-se referência para analistas para o processo de formação de tradições psicanalíticas locais. A Psicanálise passa a ter uma veiculação internacional com a publicação do International Journal of Psychoanalysis (1920) (Loureiro, 2008). O período pós-freudiano conhecido como Freudismo, é marcado contextualmente por uma heterogeneidade e amplitude do movimento cultural. Destaca-se Oskar Pfister, um pastor protestante, marxista que questiona as condições psíquicas e a fé. Outro destaque é Wilhelm Reich, que se tornará figura importante na quarta geração, ou quarta força, a Psicologia Transpessoal, trazia uma teoria de uma “moral sexual civilizada”, munido de terapias corporais, bioenergética associada a psicanálise. Ernest Kris era outro nome importante, um crítico de arte, que trabalhava com temas como caricatura associado à arte e a psicanálise e à fantasia. Caracterizava um movimento relativamente marginal, de contracultura e crítica aos costumes. Questionava a moral sexual, autonomia da consciência e pureza naturalizada da mulher e da criança. O seu maior interesse repousava em pesquisas acerca do inconsciente e método clínico mais do que a consolidação de uma doutrina homogênea com clareza a determinação de procedimentos para tratamentos e formação dos analistas, o que gerou uma cisão (Dunker, 2008). • 4.3.1 Sigmund Freud (1856 -1939) Nasceu em Freiberg (República Tcheca), mas aos 3 anos mudou-se com a família para Viena (Áustria). Embora de família judia, ele era agnóstico. Aprende diversos idiomas, inicia estudos sobre humanidades, especialmente mitologia e história, e interessa-se ainda por literatura e artes. Em 1873 entra na Faculdade de Medicina, onde tornou-se Neurologista, se debruçando na ciência positivista e experimental, estudando o Fisicalismo e a Psiquiatria Organicista. No período de 1885 a 1886 foi para Paris por interessar-se pelo fenômeno da Histeria, encontrando-se com Jean Martin Charcot, com quem estudou a Clínica das Psiconeuroses. Encontrou-se com Hyppolyte Bernheim com quem estudou a hipnose como mera sugestão verbal portanto, mesmo em vigília poder-se-ia obter os mesmos efeitos alcançados em estado hipnótico. No período de 1985 a 1938 desenvolve a teoria em torno da hipnose. E em 1938 vai para Londres (Inglaterra) onde fica doente e idoso e em 1939 morre aos 83 anos devido a um câncer de boca (Loureiro, 2008). 32 Uma de suas hipóteses era de que a ansiedade que se manifestava nos sintomas era conseqüência da energia ligada à sexualidade. A energia reprimida tinha expressão nos vários sintomas que serviam como um mecanismo de defesa psicológica. Diante disso, desenvolve métodos para acessar esse conteúdo reprimido, o que mais tarde será chamado de Livre Associação ou Associação Livre e posteriormente apresentará o método de Interpretação dos Sonhos. Recebeu críticas em 1910 com o argumento de que ele tinha interesse maior em pesquisas acerca do inconsciente e método clínico do que a consolidação de uma doutrina homogênea com clareza a determinação de procedimentos para tratamentos e formação dos analistas, o que gerou uma cisão com seguidores, discípulos e simpatizantes da Psicanálise. Dentre eles pode-se citar Carl Gustav Jung, considerado o Príncipe da Psicanálise, que afirmava que havia um dualismo pulsional e extensa teoria em torno da sexualidade, fazendo emergir a sua Psicologia Analítica. Outro teórico com qual cindiu foi Alfred Adler, que argumentava que havia pouca valorização do poder e da dimensão embrionária da personalidade além de questões pessoais, o que afirmava a sua Psicologia do Indivíduo, e outros teóricos que se afastaram por discrepância de ideias e metodologias (Loureiro, 2008). Sobre a teoria e método de Freud destaca-se o estudo sobre histeria (1895), em co-autoria com Joseph Breuer, com quem estudou sobre a histeria. Nesse método a histeria é causada por repressão de certas lembranças que são expressas em sintomas corporais. O método desenvolvido para trabalhar com essa demanda foi o Método Catártico, que consistia na utilização do recurso da hipnose (que conheceu com Chrcot) em busca de se acessar um evento traumático e o alivio desse sintoma aconteceria por meio do que chamou de catarse ou ab-reação. No entanto, ele percebe que a hipnose era bem sucedida em aliviar ou eliminar sintomas, ela não parecia capaz de curar, por também ser parcial ou provisória a eliminação do sintoma. Aliado à isso, Freud descobriu que alguns pacientes neuróticos não eram fácil ou profundamente hipnotizáveis. Que era, portanto, um meio artificial de neutralizar as resistências, o que fazia precisar de um meio que a dissolvesse gradualmente. Por conta desses e de outros problemas, Freud abandonou a técnica, mas ele manteve a catarse como método de tratamento, tendo desenvolvido a partir dela o que tem sido considerado a técnica mais significativa na evolução da psicanálise: a livre associação (Schultz & Schultz, 2000; Loureiro, 2008). 33 Associação livre (1896) consiste em o paciente deitado no divã e de costas para o psicanalista falar livremente tudo o que vem á mente (imagem); P s icanalista P ac iente Nessa técnica, o paciente deitado no divã, é encorajado a falar aberta e espontaneamente, dando completa expressão a qualquer ideia, por mais embaraçosa, irrelevante ou tola que pareça. O objetivo da psicanálise freudiana é trazer à percepção consciente lembranças ou pensamentos reprimidos, que ele supunha ser a fonte do comportamento anormal do paciente (Schultz & Schultz, 2000). Para Freud, as associações livres não se dão ao acaso, há um determinismo psíquico onde tudo remete a um sentido latente. Atravessa e apresenta a dimensão imaginária de nossa vida psíquica composta de substituições, sonhos, lapsos, atos falhos, prazer e desprazer com objetos e pessoas, medo ou bem-estar com objetos ou pessoas, e surgem na consciência em dois níveis: • Conteúdo manifesto (no sonho; a palavra esquecida e a pronunciada, no lapso, no ato falho); • Conteúdo latente, que é o conteúdo inconsciente real e oculto (os desejos sexuais). Freud empreendeu a tarefa de auto-análise como um recurso para melhor compreender a si mesmo e aos seus pacientes; para isso, empregou o método da análise de sonhos, já que associação livre seria impossível por não conseguir ocupar dois lugares ao mesmo tempo, de terapeuta e de paciente. Para ele os sonhos tinham um rico material emocional e revelavam causas subjacentes a um distúrbio e as causas estavam 34 situadas no inconsciente, portanto não era algo sem sentido. Suas anotações destes dois anos de auto-análise culminaram na publicação de sua mais importante obra, “A interpretaçãodos Sonhos” (1900) (Schultz & Schultz, 2000). Nessa obra da Interpretação dos Sonhos ele apresenta a primeira concepção (ou primeira tópica) sobre a estrutura e funcionamento psíquico. Nessa primeira estrutura há três instancias ou sistemas psíquicos, que chamou de inconsciente, pré-consciente e consciente (imagem abaixo) (Bock et al, 2008): • Inconsciente: aquele conteúdo que não está na consciência. Constitui-se genuinamente do conteúdo reprimido, ou seja, aquilo que não chega no pré-consciente por obra de censuras internas. • Pré-consciente: há os conteúdos que são acessíveis à consciência, ou seja, não estão na consciência, mas poderiam e podem estar a qualquer momento. • Consciente: local que recebe informações do mundo interior e exterior. Nessa estrutura, há um destaque para a percepção, atenção e raciocínio. • A segunda tópica de Freud emerge de uma remodelagem em 1920 e 1923 e apresenta os conceitos de id, ego e superego referindo três sistemas de personalidade (imagem abaixo) (Bock et al, 2008): • Id: onde se localizam as pulsões (de vida e de morte) por ser considerado o reservatório de energia psíquica. É um sistema regido pelo princípio do prazer. • Ego: é a estrutura que refere equilíbrio entre o que exige o id e as ordens do superego. Por ser regido pelo princípio da realidade, regula o princípio do prazer na busca de satisfação considerando as condições objetivas da realidade, o que pode-se considerar que ao invés de buscar o prazer busca-se a evitação do desprazer. • Superego: refere às exigências sociais e culturais, portanto traz em seu bojo proibições, limites e autoridade. Cabe ao superego a preservação da moral e dos ideais. 35 ACERTE O ALVO: • 1º Modelo do Aparelho Psíquico (1890) • 2º Modelo do Aparelho Psíquico (1920) • Ao final (1923):valor descritivo e sistemático Outra informação extremamente importante é conhecer e saber identificar quem é o sujeito da Psicanálise e como foi determinado. Trata-se de uma pluralidade identificatória, um sujeito constituído de vários eu’s formados de sensações, percepções, representações, imagens etc. Pode-se conhece- lo através de mecanismos psíquicos, como incorporação, introjeção, internalização, identificação ou projeção do sujeito no outro, ou em função dos sentimentos, das descrições, das sensações, das razões, das causas ou das justificativas que damos para funcionar de tal ou qual maneira. Dentre as contribuições da Psicanálise pode-se citar o conhecimento acerca do cérebro, quando se questiona para onde vai o conteúdo reprimido. Contribuição na área da Psicossomática a partir do estudo do sintoma vegetativo entendido não como algo que refere uma expressão substitutiva da emoção, mas sim seu concomitante fisiológico. O uso da compreensão de forma que ela tenha efeito terapêutico. Contribui para a Educação ao buscar saber o que se está fazendo quando se educa, já que não se faz o que se quer, além da problematização acerca do excesso de poder e de repressão que o processo educacional atua nos indivíduos. Mediante isso, uma hipótese foi levantada acerca das várias histerias que acontecem em nossa civilização, afirmando que estão ligadas aos tempos em que a criança está desenvolvendo um processo de aprendizagem e de interação social (Loureiro, 2008). 36 • 4.3.2 - O movimento psicanalítico no Brasil Alguns historiadores referem Juliano Moreira, psiquiatra brasileiro, como aquele que primeiro veiculou as ideias freudianas na Faculdade de Medicina da Bahia, a ponto de em 1929, quando foi fundada no Rio de Janeiro a seção carioca da Sociedade Brasileira de Psicanálise, Juliano Moreira, assumiu a presidência. Em 1951, autorizado pela Associação Psicanalítica Internacional (IPA), surge, em São Paulo, a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Dois nomes recebem destaque na difusão das ideias psicanalíticas no Brasil Franco da Rocha e Durval Marcondes (Russo, 2008). Nesse período a Psicanálise ocupava um lugar secundário, como um saber ou uma prática acessórios à psiquiatria. Por isso não havia interesse na criação de uma corporação psicanalítica, isto é, de sociedades de formação. Outros nomes importantes que vem junto com Franco da Rocha e Arthur Ramos são Antonio Austregésilo e Gastão Pereira da Silva (Russo, 2008). De 1955 até 1970 no Rio de Janeiro é um período marcado pelo surgimento de duas sociedades psicanalíticas que dominaram a cena, ou seja, dois grupos, um era o grupo do Werner Kemper (1899-1975), de Berlim, e o outro dirigido e movimentado por seguidores de Mark Burke (1900- 1975), membro da Sociedade Psicanalítica Britânica, que romperam. O grupo de Kemper foi reconhecido em 1955 pela IPA como Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro – SPRJ. Os seguidores de Burke se juntaram aos analistas formados em Buenos Aires, e o grupo foi reconhecido em 1957 como Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro – SBPRJ. Essas sociedades foram marcadas pela presença hegemônica de médicos (Russo, 2008). Só em 1971, um grupo de psicólogos que estudavam e faziam supervisão com psicanalistas da SPRJ fundou a Sociedade de Psicologia Clínica, que oferecia formação exclusivamente para psicólogos. Embora período de ditadura, marcado por perseguições, prisões políticas e tortura, a psicanálise atinge um patamar d importância significativo ocupando espaços nos programas de TV e rádio, se tornando grande referência. Há um boom na busca por atendimento clinico individual, mas o que fazer com aqueles que não podem pagar? Surgem os grupos de terapia para atender a crescente demanda (Russo, 2008). 37 4.4 - Sócio-Histórica A Psicologia Sócio-Histórica estuda o ser humano e seu mundo como construções sociais e históricas da própria humanidade. O mundo que se tem hoje é um mundo construído pela humanidade, fazendo depender, assim, do tempo e do espaço que se vive que oportuniza essa construção, ou seja, as condições do mundo material e das formas de vida (Bock et al, 2008). Quanto à definição de Psicologia sócio-histórica pode-se dizer que segue os princípios filosóficos do materialismo histórico e dialético. Contém uma teoria e um método científico que se contrapõem à leitura da ciência proposta pelo positivismo lógico, por centralizar o sujeito ativo na transformação de seu mundo (Spink & Spink, 2008). A Psicologia Sócio-Histórica tem como grandes nomes em sua origem Vigotsky, Luria, Leontiev e Rubenstein, cientistas russos de fins do século XIX e início do XX. Vigotsky, por exemplo, dentro de um pensamento marxista propôs a construção de uma psicologia científica que desse conta dos processos psicológicos superiores, os quais marcariam a diferença qualitativa entre homens e animais (Spink & Spink, 2008). Kornilov foi o primeiro a tentar uma aplicação do marxismo à psicologia. Tentava sintetizar a psicologia idealista que reconhece uma essência inerente ao homem responsável pela vida psíquica, e a psicologia objetiva que atribui ao materialismo a essência do real primário a ação humana(Spink & Spink, 2008). Vygotsky, grande referência na Psicologia Sócio-Histórica do mundo, compreende a psique como um sistema processual, contraditório e complexo. Para ele, a psique funciona como processo recursivo do qual as influências do mundo se definiam como processo de produção de sentidos e de significados que emergiam nos sujeitos a partir das experiências. Refere dizer que para ele o sujeito é ativo e está em constante transformação ao se deparar e relacionar-se com a realidade objetiva, ou seja, as relações estabelecidas dialeticamente com o social agem diretamente em seus saltos qualitativos e quantitativos de aprendizagem ao oportunizarem construção de novos sentidos e significados (Jacó-Vilela et al, 2008). Acerca dos princípios da Psicologia Sócio-Histórica tem-se a compreensão das Funções Psicológicas Superiores, representadas pela linguagem, atenção voluntária, raciocínio, pensamento, memória voluntária, imaginaçãode maneira voluntária, mas firme em seu papel político e social baseando-se em referenciais teóricos e metodológicos da sociologia, antropologia, história da educação popular e serviço social, cuja preocupação fundamental era colocar a psicologia a serviço da comunidade (Freitas, 2014). Em 1970 aparece o conceito de comunidade de maneira sistematizada dando conta de servir de referência para as práticas. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) surge a disciplina de Psicologia Comunitária, a qual passa a fazer parte do currículo do curso. A partir daí o termo comunidade foi propagado por órgãos internacionais como ONU, principalmente na América Latina. Surgem Centros Comunitários de Saúde Mental demonstrando a superação dos hospitais psiquiátricos, cuja base era o desenvolvimento de atividades de educação popular. Segue-se, portanto, com a realização de muitos trabalhos junto à população, o que favoreceu a construção de teoria e prática para servir de base para a área e teoria emergente. A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) destaca-se com seus resultados de pesquisa na área realizados junto com população rural (Freitas, 2014). No final da década de 1970 revisão da intencionalidade da psicologia comunitária e seu destinatário apresenta o predomínio da matriz marxista. Apresenta-se como área do conhecimento não elitista a serviço do povo, para superar a exploração e a dominação (Freitas, 2014). Em 1980 com a criação da ABRAPSO emerge uma Psicologia Social Crítica, histórica e comprometida com a realidade concreta da população, com o modo de vida vivida da população. Em cada região do país tinha um núcleo da ABRAPSO que discutia seus aspectos regionalmente e oportunizava o intercâmbio dos profissionais para que se fizesse uma rede de comunicação e divulgação do conhecimento para o desenvolvimento da área. 46 Em 1981, incialmente, o Psicólogo (a) na comunidade se confundia com o educador social, assistente social ou com o clínico fora do consultório, mas só que agora desenvolve um papel de militante, que oportuniza conscientização coletiva através dos grandes verbos da Psicologia Social comunitária, educar e politizar. Foi neste mesmo ano que houve I Encontro Regional de Psicologia na Comunidade da ABRAPSO (regional SP). Encerra-se o questionamento do papel do Psicólogo (a) ligado à prevenção e cura de doença mental ou tarefas conscientizadoras e educativas. O Psicólogo (a) ainda definido pelas técnicas que utiliza e não por seu conhecimento, algo que será desenvolvido mais adiante com a consolidação da profissão e da área. Em 1988 a partir do Encontro Mineiro de Psicologia Comunitária em que se deu ênfase à técnicas e dinâmica de grupo, os limites teóricos e práticos da profissão foram discutidos e chegou-se a conclusão de que havia a necessidade de resgatar a individualidade e subjetividade-competência do Psicólogo (a), um dos meios poderia ser através da relação estreita entre saúde e condição de vida; Por fim, em 1990 já se escuta mais o termo Psicologia da Comunidade como aquela voltada para o profissional que atua geralmente em instituições públicas e por elas demandada como órgãos ligados à família, instituições penais, posto de saúde etc. Destaca-se principalmente ligados à saúde onde contribui para que se enxergue a Psicologia como uma profissão da saúde, o que oportuniza a nossa entrada na saúde. 47 BIBLIOGRAFIA 1. BOCK, A. M., FURTADO, O., TEIXEIRA, M. de L. T. Psicologias: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008. 2. BOCK, Ana Mercês Bahia et al. 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