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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Tecido muscular estriado esquelético ................ 4 3. Tecido muscular liso ................................................19 4. Tecido muscular estriado cardíaco ....................25 Referências bibliográficas ........................................33 3FISIOLOGIA MUSCULAR 1. INTRODUÇÃO Muitas células do nosso organismo possuem habilidades contráteis limi- tadas, porém apenas as células mus- culares, que são especializadas na contração, permitem a locomoção dos animais. Essas células especializadas na contração, além da locomoção, também realizam o bombeamento sanguíneo, constrição de vasos e movimentos de propulsão. As células muscula- res podem ser clas- sificadas como lisas ou estriadas, sen- do que as estriadas têm esse nome por- que as suas prote- ínas contráteis es- tão organizadas em miofilamentos, que conferem uma apa- rência de estrias ao microscópio. Além disso, o tecido mus- cular estriado tam- bém é diferenciado em estriado cardíaco e estriado esquelético. TERMO GERAL TERMO EQUIVALENTE NO MÚSCULO Célula muscular Fibra muscular Membrana plasmática Sarcolema Citoplasma Sarcoplasma Retículo endoplasmático modificado Retículo sarcoplasmático Tabela 1. Terminologia das células musculares DESENHO ESQUEMÁTICO DO TECIDO MUSCULAR ESTRIADO ESQUELÉTICO (1), TECIDO MUSCULAR ESTRIADO CARDÍACO (2) E TECIDO MUSCULAR LISO (3). FONTE: https://bit.ly/2YG7vlt TECIDO MUSCULAR ESTRIADO ESQUELÉTICO 1 TECIDO MUSCULAR ESTRIADO CARDÍACO 2 TECIDO MUSCULAR LISO 3 Figura 1. O tecido muscular 4FISIOLOGIA MUSCULAR SAIBA MAIS! Todos os três tipos de fibras musculares são derivados do mesoderma: • Tecido muscular estriado cardíaco: mesoderma esplancnopleura; • Tecido muscular estriado esquelético: maior parte derivado do mesoderma somático; • Tecido muscular liso: maior parte derivado do mesoderma somático e esplâncnico. 2. TECIDO MUSCULAR ESTRIADO ESQUELÉTICO As fibras musculares são células longas, cilíndricas, multinucleadas e com estriações transversais. Elas são decorrentes da fusão dos mioblas- tos no desenvolvimento embrionário, que, após a fusão, começam a sinteti- zar constituintes citoplasmáticos e as miofibrilas contendo miofilamentos. Figura 2. Microscopia do músculo estriado esquelético FIGURA 2 – “MICROSCOPIA DO MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO” CORTES CORADOS COM HEMATOXILINA-EOSINA, COM NÚCLEOS EM AZUL ESCURO E CITOPLASMA EM VERMELHO. MEE: MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO. FONTE: https://bit.ly/2VrsAhe CORTE TRANSVERSAL DO MEE, MOSTRANDO AS FIBRAS MUSCULARES DISPOSTAS LADO A LADO CORTE TRANSVERSAL DO MEE, MOSTRANDO AS FIBRAS MUSCULARES DISPOSTAS LADO A LADO CORTES LONGITUDINAIS SALIENTANDO AS BANDAS ESTRIADAS, QUE DÃO NOME A ESSE TIPO DE MÚSCULO CORTES CORADOS COM HEMATOXILINA-EOSINA, COM NÚCLEOS EM AZUL ESCURO E CITOPLASMA EM VERMELHO. MEE: MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO. FONTE: https://bit.ly/2VrsAhe CORTES LONGITUDINAIS SALIENTANDO AS BANDAS ESTRIADAS, QUE DÃO NOME A ESSE TIPO DE MÚSCULO 5FISIOLOGIA MUSCULAR ao tecido muscular uma coloração que varia do rosa ao vermelho. Características como diâmetro da fi- bra muscular, quantidade de mioglo- bina, quantidade de mitocôndrias, extensão do retículo sarcoplasmático e da concentração e variação de en- zimas, definem se a fibra muscular é vermelha, branca ou intermediária. CONCEITO! Miofilamentos são estru- turas proteicas responsáveis pela capa- cidade contrátil da célula. Paralelos às fibras musculares, nos espaços intercelulares, estão os capi- lares contínuos, que, juntamente com a presença da mioglobina, conferem CARACTERÍSTICAS FIBRA MUSCULAR VERME- LHA (FIBRAS DE CONTRAÇÃO LENTA) FIBRA MUSCULAR BRANCA (FI- BRAS DE CONTRAÇÃO RÁPIDA) VASCULARIZAÇÃO SUPRIMENTO VASCULAR RICO SUPRIMENTO VASCULAR MAIS POBRE INERVAÇÃO FIBRAS NERVOSAS MENORES FIBRAS NERVOSAS MAIORES DIÂMETRO FIBRA COM MENOR DIÂMETRO FIBRA COM MAIOR DIÂMETRO CONTRAÇÃO VAGAROSA, MAS REPETITIVA; NÃO SE FADIGA COM FACILIDA- DE; CONTRAÇÃO MAIS FRACA RÁPIDA; FADIGA COM FACILIDA- DE; CONTRAÇÃO FORTE RETÍCULO SARCOPLASMÁTICO POUCO EXTENSO EXTENSO MITOCÔNDRIAS NUMEROSAS POUCAS MIOGLOBINA EM GRANDE QUANTIDADE POUCAS ENZIMAS RICA EM ENZIMAS OXIDATI- VAS; POBRE EM ADENOSINA TRIFOSFATASE RICA EM ADENOSINA TRIFOSFA- TASE E FOSFORILASES; POBRE EM ENZIMAS OXIDATIVAS AS FIBRAS INTERMEDIÁRIAS APRESENTAM CARACTERÍSTICAS REALMENTE INTERMEDIÁRIAS ENTRE AS DE CONTRAÇÃO RÁPIDA E LENTA Tabela 2. Tipos de fibras musculares estriadas esqueléticas SE LIGA! Nos seres humanos, todos os músculos apresentam porcentagens va- riadas de fibras de contração rápida e fi- bras de contração lenta, porém algumas pessoas têm uma quantidade conside- ravelmente maior de fibras de contração rápida e outras têm uma quantidade maior de fibras de contração lenta. Essa disposição, que é hereditária, pode de- terminar, até certo ponto, as capacida- des atléticas dos indivíduos. Todo o músculo esquelético é envol- vido pelo epimísio, um tecido conjun- tivo denso não modelado. O epimísio dá origem ao perimísio, um tecido conjuntivo mais frouxo e menos fi- broso, que envolve os feixes de fibras musculares. Cada célula muscular é envolvida pelo endomísio, que são fibras reticulares e uma lâmina basal. 6FISIOLOGIA MUSCULAR Todos esses elementos de tecido conjuntivo são interconectados, o que faz com que todas as contrações individuais de fibras musculares se- jam transferidas para eles, suas apo- neuroses e tendões. TECIDO CONJUNTIVO DENSO NÃO- MODELADO MP: MEMBRANA PLASMÁTICA FONTE: https://bit.ly/2VniVIA TECIDO CONJUNTIVO FROUXO (MENOS FIBROSO) DERIVADO DO EPIMÍSIO FIBRAS RETICULARES E UMA LÂMINA BASAL QUE ENVOLVE CADA CÉLULA MUSCULAR INTERCONECTADO S TECIDO CONJUNTIVO FIBROSO QUE CONECTA O TECIDO MUSCULAR AO ÓSSEO MIOFILAMENTOS A FIBRA MUSCULAR É ENVOLVIDA PELO SARCOLEMA, A MP DA CÉLULA MUSCULAR COMPÕEM A MAIOR PARTE DO CITOPLASMA (SARCOPLASMA) DA FIBRA MUSCULAR FIGURA 3 – “O MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO” MP: MEMBRANA PLASMÁTICA FONTE: https://bit.ly/2VniVIA TECIDO CONJUNTIVO FIBROSO QUE CONECTA O TECIDO MUSCULAR AO ÓSSEO TECIDO CONJUNTIVO DENSO NÃO-MODELADO TECIDO CONJUNTIVO FROUXO (MENOS FIBROSO) DERIVADO DO EPIMÍSIO FIBRAS RETICULARES E UMA LÂMINA BASAL QUE ENVOLVE CADA CÉLULA MUSCULAR COMPÕEM A MAIOR PARTE DO CITOPLASMA (SARCOPLASMA) DA FIBRA MUSCULAR A FIBRA MUSCULAR É ENVOLVIDA PELO SARCOLEMA, A MP DA CÉLULA MUSCULAR INTERCONECTADOS 7FISIOLOGIA MUSCULAR Olhando a fibra muscular propria- mente dita, grande parte do seu sar- coplasma é ocupado por arranjos lon- gitudinais de miofibrilas cilíndricas, que se estendem por todo compri- mento da célula e estão alinhadas umas às outras. Retículo sarcoplasmático Núcleo Túbulos T Sarcolema Mitocôndrias Filamento fino Filamento grosso Miofibrila Miofibrila Banda A Miofibrila Sarcômero Filamentos finosFilamentos grossos Linha M Banda I Zona H Linha MDisco Z Disco ZLigações cruzadas de miosina Titina Titina Linha M Cauda da miosina Cabeça s da miosina Tropomiosina Troponina Nebulina Molécula de actina G Componentes de Uma miofibrila Ultraestrutura do músculo Figura 4. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. Fonte: SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017) 8FISIOLOGIA MUSCULAR A microscopia ótica revela a presença de estrias transversais com faixas claras e escuras vistas em corte longitudinal. As faixas escuras são conhecidas como BANDAS A e as faixas claras são conhecidas como BANDAS I. O centro de cada banda A é ocupado por uma BANDA H, pálida, que é di- vidida por uma fina LINHA M. Cada banda I é dividida por uma li- nha escura, a LINHA Z. A distância entre duas linhas Z é conhecida como sarcômero. O sarcômero é a unidade contrátil das fibras musculares esqueléticas. AS LINHASZ DELIMITAM O SARCÔMERO BANDA ABANDA I BANDA I LINHA Z LINHA ZZONA H SOMENTE FILAMENTOS GROSSOS SOMENTE FILAMENTOS FINOS FILAMENTOS FINOS E FILAMENTOS GROSSOS 1: ORGANIZAÇÃO DO SARCÔMERO EM BANDAS 2: FILAMENTOS CONTRÁTEIS EM CORTE LONGITUDINAL (A) E EM CORTE TRANSVERSAL (B). FONTE: https://bit.ly/3ieRKtw 1 2 Figura 5. O sarcômero 9FISIOLOGIA MUSCULAR A microscopia eletrônica auxiliou em revelar o que são essas bandas e linhas vistas na microscopia ótica, mostrando que, por exemplo, o sar- colema tem sua estrutura semelhante à de outras membranas plasmáticas, com a diferença de possuir invagi- nações tubulares (túbulos T) que se dispõem entre as miofibrilas. Os túbulos T se dispõem exatamente nos planos de junção entre as bandas A e I, de modo que cada sarcômero apresenta 2 conjuntos de túbulos T e eles facilitam a condução de ondas de despolarização ao longo do sarcolema. O retículo sarcoplasmático está pre- sente na fibra muscular sobre a forma de túbulos anastomosados, associa- do aos túbulos T, que armazenam cálcio intracelular. Nas proximida- des das bandas A e I, eles formam as cisternas terminais, em íntima dis- posição com um túbulo T. SE LIGA! O retículo sarcoplasmático re- gula a contração muscular através do controle do sequestro e da liberação de cálcio no interior do sarcoplasma. Quando uma onda de despolariza- ção chega ao sarcolema, ela é trans- mitida pelos túbulos T, resultando na abertura dos canais de cálcio no retículo sarcoplasmático a partir das cisternas terminais, resultando na liberação de cálcio no sarcoplasma, nas proximidades das miofibrilas. As miofibrilas ficam paralelas umas às outras através dos filamentos in- termediários de desmina e vimenti- na, que firmam as miofibrilas na peri- feria dos discos Z. As mitocôndrias das fibras muscu- lares são alongadas e podem estar paralelas ao eixo longitudinal da mio- fibrila ou se enovelar ao redor delas. ESTRUTURA DE UM SARCÔMERO SARCÔMERO Disco Z Banda I Banda A Zona H Linha M Sítio de ligação dos filamentos finos (actina) Região ocupada somente por filamentos finos Local de sobreposição entre a actina e a miosina Região ocupada somente por filamentos grossos (miosina) Sitio de ligação dos filamentos grossos (miosina) Fonte: Biofísica da contração muscular. https://www.slideshare.net/larissedalla/ aula-biofsica-da-contrao-muscular 10FISIOLOGIA MUSCULAR Já as miofibrilas, apresentam miofi- lamentos grossos (miosina II) e mio- filamentos finos (actina), dispostos paralelamente, intercalados e em for- mato de bastão. Os miofilamentos finos se originam no disco Z e se projetam em direção ao centro de dois sarcômeros adjacentes; os miofilamentos grossos também formam arranjos paralelos, porém eles estão dispostos de forma entremeada entre os miofilamentos finos. Se a fibra muscular estriada não es- tiver contraída, os miofilamentos es- pessos não se estendem por todo o comprimento do sarcômero e os mio- filamentos finos não se encontram na região mediana do sarcômero. Com isso, quando a fibra está relaxada, existem regiões onde somente miofi- lamentos finos estão presentes, que corresponde à banda I. A banda A é a região onde está con- tida toda a extensão dos miofilamen- tos espessos, sendo que a banda H é a região onde somente encontramos miofilamentos grossos. SE LIGA! Durante a contração, os mio- filamentos não se encurtam! O que acontece é que os dois discos Z se apro- ximam na extremidade do sarcômero. Os miofilamentos finos deslizam sobre os grossos. ESTRUTURA DA FIBRA MUSCULAR ESQUELÉTICA MÚSCULO ESQUELÉTICO Tecido conectivo Fascículos musculares Vasos sanguíneos Nervos Compostos por fibras musculares Sarcolema e Túbulos T Sarcoplasma Vários núcleos Retículo sarcoplasmático Miofibrilas Mitocôndrias Grânulos de glicogênio Sarcômeros Filamentos finos Filamentos grossos Troponina Actina Tropomiosina Miosina Titina Nebulina SILVERTHORN, Dee Unglaub. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre (2017) 11FISIOLOGIA MUSCULAR Contração muscular esquelética O músculo esquelético é vastamente inervado, recebendo pelo menos dois tipos de fibras nervosas: uma moto- ra e uma sensorial. As fibras do ner- vo motor atuam no estímulo inicial da contração. Os corpos celulares dos nervos mo- tores estão no encéfalo e os seus axônios mielínicos passam pelo te- cido conjuntivo do músculo, onde começam a se ramificar e perdem a sua bainha de mielina (não perdem as células de Schwann). O terminal de cada axônio se torna dilatado e se transforma em uma placa motora. A junção neuromuscular, corresponde à junção entre um axônio e uma fibra muscular. 1: O MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO RECEBE IMPULSOS NERVOSOS MOTORES CONDUZIDOS POR NERVOS ESPINAIS E NERVOS CRANIANOS DO SISTEMA NERVOSO SOMÁTICO. OS CORPOS CELULARES DOS NEURÔNIOS MOTORES FICAM NO ENCÉFALO E SEUS AXÔNIOS SE DIRIGEM AO ENCÉFALO ATRAVÉS DOS CORNOS VENTRAIS DA MEDULA ESPINAL. 2: OS AXÔNIOS AMIELÍNICOS DOS NEURÔNIOS MOTORES DO TIPO α CORRESPONDEM ÀS FIBRAS MOTORAS. ESSES AXÔNIOS SE RAMIFICAM. 3: NO FINAL DE CADA RAMIFICAÇÃO ELE SE TORNA DILATADO, SE TRANSFORMANDO NA PLACA MOTORA. 3: A “JUNÇÃO AXÔNIO + FIBRA MUSCULAR” É CHAMADA DE JUNÇÃO NEUROMUSCULAR. FONTE: https://bit.ly/2ZgWuGe 1 2 3 4 Figura 6. Junção neuromuscular O estímulo chega então à junção neu- romuscular, sob a forma de acetilco- lina, que despolariza a membrana sarcolêmica e, quando esta despola- rização atinge um certo limiar, forma- -se uma onda de despolarização, que se propaga pela fibra muscular, pro- vocando a contração muscular. Os íons cálcio deixam as cisternas terminais, entram no sarcoplasma e se ligam à subunidade TnC da tropo- nina, alterando a sua conformação. Com a mudança conformacional da 12FISIOLOGIA MUSCULAR troponina, a posição da tropomiosina na actina é alterada, revelando o sítio ativo para a miosina na molécula de actina. CONTRAÇÃO DAS FIBRAS MUSCULARES ESTRIADAS ESQUELÉTICAS – PARTE 1 IMPULSO ELÉTRICO SARCOLEMA LIBERAÇÃO DE Ca++ INTRACELULAR RETÍCULO SARCOPLASMÁTICO SUBUNIDADE TnC TROPONINA MUDANÇA NA CONFORMAÇÃO ACTINA ALTERA A POSIÇÃO DA TROPOMIOSINA SÍTIO DE LIGAÇÃO COM A MIOSINA CISTERNA TERMINAL TÚBULOS T chega no através dos e segue para se liga à gerando uma localizada na revelando 1 2 34 5 6 12 5 6 34 13FISIOLOGIA MUSCULAR O ATP presente no subfragmento S1 da miosina é hidrolisado (porém o ADP e o Pi permanecem ligados a esse subfragmento) e este complexo se liga ao sítio ativo da actina. Após a ligação, o Pi é liberado, resul- tando em uma forte ligação entre a actina e a miosina e em uma altera- ção conformacional no subfragmento S1. A molécula de ADP então é liberada e o miofilamento delgado é arrastado em direção ao centro do sarcômero, no evento conhecido como golpe de força. Após isso, uma nova molécula de ATP se une ao subfragmento S1, desco- nectando a actina da miosina. 14FISIOLOGIA MUSCULAR HIDRÓLISE CONTRAÇÃO DAS FIBRAS MUSCULARES ESTRIADAS ESQUELÉTICAS – PARTE 2 ATP ADP + Pi FRAGMENTO S1 MIOSINA PERMANECE LIGADOLIGA AO SÍTIO ATIVO ACTINA LIBERANDO Pi FORMANDO UMA FORTE LIGAÇÃO GOLPE DE FORÇA ACTINA DESLIZA SOBRE A MIOSINALIBERAÇÃO DE ADP ATP SE LIGA NOVAMENTE ATP FICA LIVRE PARA UMA NOVA PONTE TRANSVERSAL HIDRÓLISE se liga ao alterando ocorrendo o é desfeita a COMPLEXO1 2 3 4 1 2 3 4 FONTE: https://descomplica.com.br/blog/biologia/aula-ao-vivo-tecido-muscular-e-contracao/ 15FISIOLOGIA MUSCULAR SAIBA MAIS! O conceito de unidade motora é muito importante em fisiologia muscular, pois nos ajuda a entender, ao menos parcialmente, o mecanismo pelo qual o sistema nervoso controla a força de contração muscular. Como as unidades motoras de um dado músculo podem ser recrutadas independentemente umas das outras ( já que dependem da ativação de motoneurônios distintos), a força de con- tração pode ser graduada em função da quantidadede unidades motoras recrutadas pelo sistema nervoso em um dado instante. Além desse mecanismo de regulação da força de contração (denominando recrutamento), um outro importante mecanismo é utilizado pelo sistema nervoso central. Nesse segundo mecanismo, o intervalo temporal entre potenciais de ação sucessivos que trafegam por um dado motoneurônio determina o grau de somação temporal dos abalos produzidos nas fibras musculares daquela unidade motora. Dependendo, portanto, da frequência dos potenciais de ação em um motoneurônio, as fibras musculares por ele inervadas poderão apresentar perfis de contração que vão de abalos isolados ao tétano completo, onde não se pode mais distin- guir contrações isoladas, e quando o músculo desenvolve a sua máxima força de contração. Figura 7. Gradação da força muscular em função da frequência de estimulação. Fonte: https://bit. ly/2AfcHTS 16FISIOLOGIA MUSCULAR energia. Existem três sistemas me- tabólicos de energia que fornecem energia para a contração muscular. Esses sistemas de energia estão pre- sentes em todas as demais partes do corpo, entretanto medidas quantita- tivas especiais das suas atividades são extremamente importantes para o entendimento dos limites da ativi- dade física. De fato, a fonte de energia utilizada para a contração muscular é o ATP, que tem a seguinte fórmula: As ligações “~” que unem os últimos radicais fosfato são de alta energia e cada uma delas armazena aproxima- damente 7.300 calorias de energia por mol de ATP nas condições nor- mais de temperatura e pressão. Ou seja, quando um radical fosfato é re- movido, ocorre a liberação de 7.300 calorias de energia para suprir o pro- cesso de contração muscular. O mes- mo ocorre quando o segundo radical fosfato é removido da molécula. A quantidade de ATP no músculo, mesmo em atletas bem treinados, é suficiente para sustentar uma potên- cia máxima por cerca de 3 segundos. Com isso, é necessário que novos ATPs sejam formados continuamen- te. E essa ressíntese de ATP ocorre através dos sistemas de energia. MECANISMO MOLECULAR DA CONTRAÇÃO MUSCULAR Adatado de: Fisiologia humana: uma abordagem integrada. SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017) Ligação do Ca+ à troponina Elevação do Ca+ citosólico Complexo Ca-troponina desloca a tropomiosina Afasta sítio de ligação da miosina na actina G Miosina liga-se fortemente à actina Conclui o movimento de força Filamento de actina é movido. Fontes de energia para a contração muscular A contração muscular consome gran- des quantidades de energia, com isso, as células musculares estriadas esqueléticas mantém uma alta con- centração de componentes ricos em 17FISIOLOGIA MUSCULAR Os sistemas energéticos são: Sistema fosfocreatina-creatina. A fosfocreatina é um componente químico que também apresenta uma ligação fosfato de alta energia, po- dendo ser decomposta em creatina e íons fosfato, com liberação de energia para a contração muscular. SE LIGA! Existe, na maioria das célu- las musculares, de duas a quatro vezes mais fosfocreatina do que ATP. E, além disso, a quantidade de energia existen- te na ligação da creatina com o fosfato é maior do que a do ATP, apresentando aproximadamente 10.300 calorias por mol. Com isso, ela facilmente consegue fornecer energia para a ressíntese de ATP. O sistema de energia fosfatogênico gera 4 moles de ATP por minuto e consegue fornecer potência muscular máxima por 8-10 segundos, ou seja, essa energia é suficiente para peque- nas solicitações de potência muscular máxima. Sistema glicogênio-ácido lático. Esse sistema leva em consideração a utilização da glicose como fonte ener- gética para a geração de ATP. O es- tágio inicial desse processo, chamado de glicólise, consegue gerar 2,5 mo- les de ATP por minuto e não utiliza oxigênio. Durante a glicólise, cada molécula de glicose é dividida em duas de ácido pirúvico, gerando energia para a for- mação de 4 moléculas de ATP. Quan- do não há oxigênio suficiente, ocorre a formação de ácido lático, que é libe- rado na corrente sanguínea. SE LIGA! A fadiga muscular é gerada pela diminuição do pH sanguíneo, o que causa uma inibição das pontes cruzadas de actina e miosina. O sistema de energia anaeróbica (porque não utiliza oxigênio) ocorre quando se exige grandes quantida- des de ATP para períodos curtos a moderados de contração muscular (cerca de 1,3-1,6 minutos de ativida- de muscular máxima), com a potência um pouco reduzida. Sistema aeróbico. Quando ocorre a utilização do oxigê- nio para a ressíntese do ATP, esta- mos no sistema aeróbico. Ele corres- ponde à oxidação dos “alimentos” na mitocôndria. Esse sistema é utilizado quando se exige grandes quantida- des de ATP para períodos longos de contração muscular, ainda que a po- tência seja reduzida, ou seja, em ativi- dades atléticas mais prolongadas (de resistência). 18FISIOLOGIA MUSCULAR SISTEMAS DE ENERGIA glicólise O2 insuficiente na presença de O2 ATP FONTE DE ENERGIA CONTRAÇÃO MUSCULAR FÓRMULA ADENOSINA- PO3~PO3~PO3- LIGAÇÕES ~ DE ALTA ENERGIA 7300 CAL. CADA ESGOTÁVEL SINTETIZADO SISTEMAS METABÓLICOS FOSFOCREATINA – CREATINA GLICOGÊNIO – ÁCIDO LÁTICO GLICOGÊNIO 4x ATP 2x ÁCIDO PIRÚVICO MITOCÔNDRIA GLICOSE ÁCIDO LÁTICO CORRENTE SANGUÍNEA AERÓBICO GRANDES SOLICITAÇÕES MITOCÔNDRIA GLICOSE, ÁC. GRAXOS, AA. OXIGÊNIO CICLO DO ÁC. CÍTRICO NÃO LIBERA MUITA ENERGIA 1x GLICOSE 24x H+2x ATP + 4x H+ RESTANTES 2x H+ NAD NADH + H+FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA 10x GERAÇÃO ATP MECANISMO QUIMIOSMÓTICO FOSFOCREATINA > ATP LIGAÇÃO PO3 - DE ALTA ENERGIA 8-10 SEGUNDOS 10300 CAL. CONTRAÇÃO MUSCULAR ATP-CP PEQUENAS SOLICITAÇÕES POT. MUSCULAR MÁXIMA 19FISIOLOGIA MUSCULAR SAIBA MAIS! O tamanho médio dos músculos de uma pessoa é determinado, grande parte, pela heredita- riedade, juntamente com os níveis de testosterona, porém, com o treinamento, os músculos podem ser hipertrofiados em até 30-60%. A hipertrofia muscular é resultado do aumento do diâmetro das fibras musculares e no aumento das fibras musculares propriamente ditas. As mudanças que ocorrem em uma fibra hipertrofiada são: aumento no número de miofibrilas; até 120% de aumento nas enzimas mitocondriais; 60-80% de aumento nos componentes do sistema ATP-CP (fosfatogênico); até 50% de aumento no estoque de glicogênio e 75-100% de aumento nos estoques de triglicerídeos. Com todas essas mudanças, a taxa máxima de oxidação e a eficácia do sistema oxidativo também aumento em torno de 45%. 3. TECIDO MUSCULAR LISO O tecido muscular liso é encontrado na parede de vísceras ocas, nas pa- redes dos vasos sanguíneos, nos ductos maiores de glândulas com- postas, nas vias respiratórias e em pequenos feixes no interior da der- me da pele. Além disso, ele não está sob controle voluntário e é regula- do pelo sistema nervoso autôno- mo, por hormônios e por condições fisiológicas locais, sendo referido também como músculo involuntário. O músculo liso tem esse nome tam- bém porque ele não possui as es- triações transversais encontradas no músculo estriado esquelético e tam- bém não possui um sistema de túbu- los T. Mas o que isso significa? Isso significa que o tecido muscular liso não apresenta os seus filamen- tos intermediários, seus miofila- mentos de actina e miosina organi- zados em sarcômeros. 20FISIOLOGIA MUSCULAR Existem dois tipos de tecido muscular liso: • Músculo liso multiunitário, o qual suas células podem se contrair in- dependentemente umas das outras porque cada célula muscular apre- senta o seu suprimento nervoso. O padrão de ativação é tônico, ou seja, esse músculo está constante- mente ativado. Por exemplo: vasos sanguíneos, esfíncter. • Músculo liso unitário, o qual as membranas plasmáticas das cé- lulas formam junções TECIDO MUSCULAR LISO TECIDO MUSCULAR LISO REGULAÇÃO CARACTERÍSTICAS TIPOS LOCALIZAÇÃO DUCTOS DE GLDS COMPOSTAS VIAS RESPIRATÓRIAS FEIXES INT. DA DERME PAREDEDOS VASOS PAREDE DE VÍSCERAS OCAS HORMÔNIOS COND. FISIOLÓGICAS SNA MULTIUNITÁRIO UNITÁRIO NÃO POSSUI ESTRIAÇÕES NÃO POSSUI TÚBULOS T comunicantes com células mus- culares lisas contíguas e as fibras nervosas formam sinapses so- mente com algumas poucas fibras musculares. Nesse caso, as células não podem contrair independente- mente umas das outras. O padrão de ativação é fásico, ou seja, é rít- mico. Por exemplo: músculo liso do trato gastrointestinal. 21FISIOLOGIA MUSCULAR JUNÇÕES COMUNICANTES CÉLULA MUSCULAR LISA VARICOSIDADE DE NEURÔNIO AUTONÔMICO NEUROTRANSMISSOR RECEPTOR NEURÔNIO VARICOSIDADE MÚSCULO LISO MULTIUNITÁRIO MÚSCULO LISO UNITÁRIO FONTE: https://bit.ly/2ZfxJu5 AS CÉLULAS NÃO ESTÃO CONECTADAS E CADA CÉLULA DEVE SER ESTIMULADA INDIVIDUALMENTE AS CÉLULAS ESTÃO CONECTADAS POR UNIÕES EM FENDA E ELAS SE CONTRAEM COMO UMA SÓ CÉLULA VARICOSIDADE DE NEURÔNIO AUTONÔMICO NEUROTRANSMISSOR RECEPTOR JUNÇÕES COMUNICANTES NEURÔNIO MÚSCULO LISO UNITÁRIO MÚSCULO LISO MULTIUNITÁRIO AS CÉLULAS ESTÃO CONECTADAS POR UNIÕES EM FENDA E ELAS SE CONTRAEM COMO UMA SÓ CÉLULA AS CÉLULAS NÃO ESTÃO CONECTADAS E CADA CÉLULA DEVE SER ESTIMULADA INDIVIDUALMENTE CÉLULA MUSCULAR LISA VARICOSIDADE FONTE: https://bit.ly/2ZfxJu5 TIPOS DE TECIDO MUSCULAR LISO 22FISIOLOGIA MUSCULAR As células musculares lisas são células alongadas e fusiformes, com extremi- dades finas, cujo comprimento médio é de cerca de 0,2mm e um diâmetro de 5 a 6µm. Os núcleos das células mus- culares lisas são alongados e centra- lizado, caso estes estejam enrugados, enrolados ou helicoidal podem indicar que aquela célula estava contraída no momento da fixação da lâmina. Seu citoplasma homogêneo é fortemente acidófilo, corando fácil pela eosina. Cada célula é separada por uma membrana basal própria, com fi- bras reticulares produzidas pela pró- pria musculatura lisa, imersas nessa membrana basal, que prendem as ex- tremidades das células as reunindo. Além disso, a célula muscular lisa também produz fibras de elastina e proteoglicanos, que compõem tam- bém a membrana basal. Os capilares sanguíneos irrigam as células lisas passando pela membra- na basal que as recobrem. Na microscopia eletrônica é possível ver que as organelas estão apertadas na região perinuclear, ao redor dos pólos do núcleo. Além disso, o músculo liso apresen- ta corpos densos, que são regiões amorfas e arredondadas espalhadas pelo citoplasma da célula muscular. E os seus filamentos intermediários são de desmina ou vimentina. FIBRA MUSCULAR LISA RELAXADA FIBRA MUSCULAR LISA CONTRAÍDA MIOFILAMENTOS DE ACTINA E MIOSINA CORPOS DENSOS CONTRAÇÃO FONTE: https://bit.ly/2Ag3DOC AS CÉLULAS MUSCULARES LISAS SÃO ALONGADAS E FUSIFORMES, COM NÚCLEOS ALONGADOS E CENTRALIZADOS CÉLULA MUSCULAR LISA FIBRA MUSCULAR LISA CONTRAÍDA AS CÉLULAS MUSCULARES LISAS SÃO ALONGADAS E FUSIFORMES, COM NÚCLEOS ALONGADOS E CENTRALIZADOS CONTRAÇÃO CORPOS DENSOS MIOFILAMENTOS DE ACTINA E MIOSINA FIBRA MUSCULAR LISA RELAXADA FONTE: https://bit.ly/2Ag3DOC 23FISIOLOGIA MUSCULAR SE LIGA! Os miofilamentos leves da célula muscular lisa são constituídos de actina e tropomiosina, pois a troponina não está presente. Os miofilamentos grossos são constituídos de miosina II, assim como nas células musculares es- triadas esqueléticas. Contração da célula muscular lisa Por ser um músculo involuntário, a sua inervação é feita pelo sistema nervo- so autônomo através dos neurônios do simpático e parassimpático que tem atividade excitatória e inibitó- ria sobre sua atividade. Não há um sistema preciso de junções neuro- musculares, sendo que os axônios dos nervos autônomos se dilatam por entre as células musculares lisas. As células musculares lisas, ao rece- berem os neurotransmissores do sis- tema nervoso autônomo, permitem a entrada de cálcio das cavéolas para o sarcoplasma e o influxo do cálcio do retículo sarcoplasmático. AUMENTO DO CÁLCIO INTRACELULAR DESPOLARIZAÇÃO HORMÔNIOS OU NEUROTRANSMISSORES HORMÔNIOS OU NEUROTRANSMISSORES ABERTURA DE CANAIS DE CÁLCIO VOLTAGEM-DEPENDENTES ABERTURA DE CANAIS DE CÁLCIO LIGANTE-DEPENDENTES IP3 LIBERAÇÃO DE CÁLCIO INDUZIDA PELO CÁLCIO LIBERAÇÃO DE CÁLCIO PELO RETÍCULO SARCOPLASMÁTICO AUMENTO DE CÁLCIOJá no sarcoplasma, o cálcio se liga à calmodulina, alterando a sua conformação e formando o complexo cálcio-calmodulina, que se une à caldesmona, resultando na liberação do sítio ativo para a actina e, em seguida, ativando a quinase de cadeia leve da miosina. As quinases de cadeia leve da miosi- na II, ao serem fosforiladas, se estiram sobre o filamento de actina. Sobre a ação da enzima ATPase da miosina II, o ATP é quebrado e libe- ra energia para mover a cabeça da 24FISIOLOGIA MUSCULAR miosina sobre a actina a deslizando, processo semelhante a da contração da musculatura estriada esquelética. Como os miofilamentos de actina e miosina II estão ligados a uma rede de estruturas chamadas corpos den- sos, quando uma célula se contrai as outras também são estimuladas a se contrair (no músculo liso unitário). Durante a contração, o núcleo da cé- lula se deforma passivamente, assu- mindo aspecto rugoso, enrolado ou helicoidal. Figura 10. O controle do músculo liso. Fonte: Berne & Levy Fisiologia. Elsevier Health Education; Edição 6, 2011. Os hormônios que podem atuar so- bre o músculo liso, podem ter efeito na concentração sarcoplasmática de AMP-cíclico, aumentando ou di- minuindo, que leva a uma ativação ou uma inibição da enzima cinase independente da entrada de cálcio na célula, regulando a contração muscular. 25FISIOLOGIA MUSCULAR musculares cardíacas ramificadas, organizadas em lâminas (camadas), que são separadas umas das outras por bainhas de tecido conjuntivo que veicu- lam vasos sanguíneos, nervos e o sis- tema autogerador de impulso cardíaco. Os capilares que são derivados desses vasos se ramificam e invadem o tecido conjuntivo intersticial, formando uma rica rede de leitos capilares, que en- volvem cada célula muscular cardíaca. Diferentemente dos demais múscu- los, o tecido muscular cardíaco apre- senta uma contração involuntária e ritmo próprio, realizado por um sistema de células especializadas na geração e coordenação da função contrátil desse tecido. Quase metade do volume de uma fibra cardíaca é ocupado por mi- tocôndrias, sendo o glicogênio e os triglicerídeos os responsáveis pelo suprimento energético do coração. Justamente pela alta demanda ener- gética, esse tecido contém uma gran- de quantidade de mioglobina. As células musculares cardíacas têm tamanhos variados, porém apresen- tam em média 15 µm de diâmetro e 80 µm de comprimento. Possuem também geralmente um núcleo úni- co, central e oval, mas algumas delas podem ter dois núcleos. As células musculares atriais, além de meno- res, armazenam grânulos conten- do peptídeo natriurético atrial, uma substância que funciona como A CONTRAÇÃO DA MUSCULATURA LISA Ca2+-calmodulina (CaM) ↑CÁLCIO INTRACELULAR ↑ DA CINASE DA CADEIA LEVE DA MIOSINA FOSFORILAÇÃO DAS CADEIAS LEVES DA MIOSINA ↑MiosinaATPase MIOSINA-P + ACTINA CICLO DAS PONTES CRUZADAS TENSÃO 4. TECIDO MUSCULAR ESTRIADO CARDÍACO Esse tipo de tecido é encontrado ape- nas no coração e nas veias pulmona- res, onde estas se unem ao coração e ele é derivado do manto mioepicárdi- co, cujas células originam o epicárdio e o miocárdio. O miocárdio adulto é composto por uma rede anastomosada de células 26FISIOLOGIA MUSCULAR redutora da pressão arterial, pois atua na redução da capacidade dos túbu- los renais em reabsorver sódio e água. O músculo cardíaco contém miofibri- las típicas, com filamentos de actina e miosina, assim como os encontrados no músculo estriado esquelético e es- ses filamentos se dispõem lado a lado e deslizam juntos durante as contrações. O sarcolema das células cardíacas formam junções altamente especiali-zadas que unem uma célula à outra: os discos intercalares. Em cada dis- co intercalado, as membranas celula- res se fundem, formando junções co- municantes ( junções do tipo gap) nas suas porções laterais, que permitem rápida difusão de íons. SE LIGA! As junções comunicantes per- mitem um fluxo rápido de informação de uma célula para outra, de modo que as quando ocorre um potencial de ação, ele é transmitido pelas fibras miocárdicas e elas funcionam como um sincício. Os átrios são separados dos ventrí- culos por um tecido fibroso, que cir- cunda as aberturas das valvas atrio- ventriculares, o que faz com que, na realidade, o coração tenha dois sincí- cios: o atrial e o ventricular. O potencial de ação não é propaga- do do átrio para o ventrículo célula a célula, pois ele não consegue ultra- passar essa barreira fibrosa, em vez disso ele é conduzido pelo feixe-AV, que é um feixe de fibras condutoras. OS DISCOS INTERCALARES PERMITEM A CONTRAÇÃO SINCRONIZADA DO TECIDO CARDÍACO. O NÚCLEO GERALMENTE É ÚNICO, CENTRAL E OVALADO. ASSIM COMO NO MEE, TAMBÉM APRESENTAM ESTRIAS TRANSVERSAIS (SARCÔMEROS). MÚSCULO CARDÍACO OBSERVADO EM MICROSCÓPIO ÓPTICO. FONTE: https://bit.ly/38kClDr IMAGEM 11 – “MICROSCOPIA DO MÚSCULO CARDÍACO” O NÚCLEO GERALMENTE É ÚNICO, CENTRAL E OVALADO. OS DISCOS INTERCALARES PERMITEM A CONTRAÇÃO SINCRONIZADA DO TECIDO CARDÍACO. ASSIM COMO NO MEE, TAMBÉM APRESENTAM ESTRIAS TRANSVERSAIS (SARCÔMEROS). MÚSCULO CARDÍACO OBSERVADO EM MICROSCÓPIO ÓPTICO. FONTE: https://bit.ly/38kClDr 27FISIOLOGIA MUSCULAR Potencial de ação no músculo cardíaco O potencial de ação do músculo car- díaco passa de um valor extrema- mente negativo (-85 milivolts) para um valor ligeiramente positivo (+20 milivolts) a cada batimento e após o potencial em ponta inicial, a membra- na permanece despolarizada durante cerca de 0,2 segundo, exibindo um platô, seguido por uma repolariza- ção abrupta. A presença desse platô faz com que a contração da célula muscular cardí- aca dure até 15 vezes mais do que a da célula muscular esquelética. Isso ocorre por dois motivos: • No músculo cardíaco, o potencial de ação é causado pela abertura de dois tipos de canais: os canais rápidos de sódio e os canais len- tos de cálcio-sódio, que são mais lentos para abrir e demoram mais tempo abertos. Esse tempo extra permite que uma quantidade maior de cálcio e sódio entre na célula e provoque o platô. • Imediatamente após o início do po- tencial de ação, a permeabilidade da membrana plasmática ao po- tássio diminui aproximadamente 5 vezes, aumentando ainda mais o influxo de cálcio pelos canais de cálcio-sódio. A permeabilida- de da MP só aumenta novamente ao potássio quando esses canais de cálcio-sódio se fecham, possi- bilitando assim o retorno imediato do potencial de membrana da fibra ao seu nível de repouso. SE LIGA! O músculo cardíaco é refratá- rio à reestimulação durante o potencial de ação, permanecendo cerca de 0,25- 0,30 segundo sem possibilidade de uma nova estimulação. Além disso, por cerca de 0,05 segundo, existe um período re- fratário relativo, onde é mais difícil exci- tar o músculo do que nas condições nor- mais, mas caso haja um impulso mais intenso, essa excitação pode ocorrer. 28FISIOLOGIA MUSCULAR O POTENCIAL DE AÇÃO NO MÚSCULO CARDÍACO 1 2 3 4 0 4 O POTENCIAL DE AÇÃO DE UMA CÉLULA CARDÍACA CONTRÁTIL. 0: CANAIS DE SÓDIO ABERTOS / 1: CANAIS DE SÓDIO FECHADOS / 2: CANAIS DE CÁLCIO ABERTOS; CANAIS DE POTÁSSIO RÁPIDOS FECHADOS / 3: CANAIS DE CÁLCIO FECHADOS; CANAIS DE POTÁSSIO LENTOS ABERTOS / 4: POTENCIAL DE REPOUSO FONTE:https://bit.ly/2ZaUO0I POTENCIAL DE AÇÃO NO MÚSCULO CARDÍACO EM MÉDIA 105 MILIVOLTS APRESENTA UM PLATÔ ↑DURAÇÃO DA CONTRAÇÃO INFLUXO DE CÁLCIO DO LÍQUIDO EXTRACELULAR PELOS TÚBULOS T REPOLARIZAÇÃO ABRUPTA ↑PERMEAB AO POTÁSSIO APÓS O FECHAMENTO DOS CANAIS DE CÁLCIO-SÓDIO LENTOS 29FISIOLOGIA MUSCULAR Acoplamento excitação-contração Quando o potencial de ação é inicia- do na membrana miocárdica, ele se difunde para o interior das fibras car- díacas, passando ao longo dos túbu- los T até as cisternas terminais do re- tículo sarcoplasmático, fazendo com que haja um influxo de cálcio para o sarcoplasma. O ciclo das pontes cruzadas, onde há o deslizamento da actina sobre a miosina é igual ao que ocorre nas células musculares esqueléticas (discutido acima). O que difere do músculo cardíaco para o esquelético é que além dessa fonte de cálcio, ainda existe a entra- da de cálcio advinda dos canais de cálcio dependentes de voltagem, presentes nos próprios túbulos T, que ativam canais de receptores de rianodina na membrana do retículo sarcoplasmático, provocando a libe- ração de mais cálcio para o sarco- plasma, para seguirmos para as pon- tes cruzadas. Essa fonte extra de cálcio é impor- tante pois o retículo sarcoplasmáti- co das células miocárdicas é menos desenvolvido do que o das células musculares, não armazenando cálcio suficiente para uma contração mus- cular efetiva. Inversamente ao que ocorre no retículo sarcoplasmático, os túbulos T das fibras miocárdicas são extremamente desenvolvidos e realizam um contato direto com o lí- quido extracelular. Bombas de cálcio-ATPase e trocado- res de cálcio-sódio bombeiam cálcio para fora das fibras miocárdicas após o potencial de ação cardíaco. Com isso, a contração se encerra, até que ocorra um novo potencial de ação. O músculo cardíaco começa a se contrair poucos milissegundos após o início do potencial de ação e continua a se contrair após alguns milissegundos do térmico desde potencial de ação. Com isso, a du- ração da contração no músculo atrial ocorre em torno de 0,2 segundo e, no músculo ventricular, em torno de 0,3 segundo. 30FISIOLOGIA MUSCULAR SAIBA MAIS! A contração do músculo estriado esquelético quase não é afetada por mudanças moderadas na concentração de cálcio extracelular, pois o cálcio necessário para a contração fica retido no retículo sarcoplasmático. Em contraste, no músculo estriado cardíaco, como a maior parte do cálcio depende dos túbulos T, que têm contato direto com o líquido extracelular, peque- nas variações nos níveis de cálcio provocam grandes alterações na contração desse músculo. Com isso, podemos perceber que o inotropismo (a contratilidade) da fibra miocárdica de- pende do armazenamento prévio de cálcio no retículo sarcoplasmático (muito pouco pelo explicitado acima), mas também pelo influxo (no platô) através dos túbulos T. Ainda sobre a contratilidade, o sistema nervoso autônomo apresenta um efeito positivo ou negativo: o SNA simpático tem um efeito inotrópico positivo e o SNA parassimpático, particularmente na região atrial, tem um efeito inotrópico negativo. Figura 12. Acoplamento excitação-contração. Fonte: https://bit.ly/2Abhfum 1: O POTENCIAL DE AÇÃO CHEGA PROVENIENTE DE CÉLULAS ADJACENTES / 2: CANAIS DE CÁLCIO VOLTAGEM- DEPENDENTES SE ABREM ; 3: O CÁLCIO INDUZ A LIBERAÇÃO DE CÁLCIO PELOS RECEPTORES DE RIANODINA / 4: LIBERAÇÃO LOCAL CAUSA FAÍSCAS DE CÁLCIO / 5: A SOMA DE FAÍSCAS DE CÁLCIO CRIA UM SINAL DE CÁLCIO / 6: OS ÍONS CÁLCIO SE LIGAM À TROPONINA PARA INICIAR A CONTRAÇÃO / 7: O RELAXAMENTO OCORRE QUANDO O CÁLCIO SE DESLIGA DA TROPONINA / 8: O CÁLCIO É BOMBEADO PARA O RETÍCULO SARCOPLASMÁTICO / 9: O CÁLCIO É TROCADO POR SÓDIO PELO ANTIPORTE SÓDIO-CÁLCIO / 10: O GRADIENTE DE SÓDIO É MANTIDO PELA NA+-K+-ATPase. 1 2 76 5 4 3 9 8 7 10 31FISIOLOGIA MUSCULAR Frequência cardíaca e contratilidade O aumento da frequência cardíaca provoca um aumento na contratilida- de por dois motivos: Efeito escada positivo: isso ocorre porque com o aumento da frequência cardíaca, ocorre um aumento no nú- mero de platôs (número de correntes de influxo), aumentando a quantidade de cálcio intracelular. Com isso, a con- tratilidade também aumenta. Ademais, quanto mais cálcio entra na célula, mais cálcio o retículo sarcoplasmático vaiacumular no final do potencial de ação. Efeito potenciação pós extrassistolia: Após o acontecimento de uma extras- sístole, existe uma sístole exacerbada, que ocorre por causa do acúmulo de cálcio extra que ocorre no retículo sarco- plasmático. Com isso, ele fornece mais cálcio na contração pós extrassístole. Mecanismo de Frank-Starling A lei de Frank Starling diz que: “a energia de contração é proporcio- nal ao comprimento inicial da fibra do músculo cardíaco”. Essa frase ganhou uma explicação lógica após estudos de microscopia eletrônica, que permitiram relacionar a contração desenvolvida pelo mús- culo com o comprimento sarcômeros. Esses estudos evidenciaram que exis- te uma determinada variação de com- primento onde o músculo desenvolve maior força, que é entre 2,05 e 2,25µ. Nesse caso, até esse tamanho, a rela- ção tamanho-força é diretamente pro- porcional e isso ocorre porque, nesse comprimento do sarcômero, toda por- ção ativa do filamento grosso pode interagir com o filamento fino, possi- bilitando o maior número possível de ligações entre a miosina e a actina. Outro mecanismo que explica o au- mento da contratilidade cardíaca é que uma fibra cardíaca mais disten- dida significa que mais sangue está chegando ao coração. Esse sangue exerce uma pressão que distende as câmaras. A distensão, especialmente no átrio esquerdo, aumenta a frequên- cia cardíaca em 10-20%, o que, pelo mecanismo explicado acima, também aumenta a força de contração. SE LIGA! Quando a fibra se estira demais e temos sarcômeros com comprimentos maiores que 2,25µ, ocorre um decrésci- mo da força de contração, pois o filamen- to fino se afasta do centro do filamento grosso, implicando em perda de pontos de interação miosina-actina. A partir de 2,25µ, o afastamento dos filamentos fi- nos será tanto maior quanto mais estira- do estiver o sarcômero e, com isso, ocorre a diminuição progressiva do número de pontos de interação miosina-actina e da tensão gerada durante a contração. Hipertrofia do músculo cardíaco Assim como o músculo esquelético, o músculo cardíaco pode ser hipertro- fiado. Quando ela ocorre por causa de uma atividade física, essa hiper- trofia, até certo ponto, é benéfica, por 32FISIOLOGIA MUSCULAR melhorar o desempenho da bomba cardíaca. Entretanto, quando o paciente é por- tador de hipertensão arterial sistêmi- ca, existe uma sobrecarga de pressão que também ocasiona uma hipertro- fia, só que agora patológica. A hipertrofia concêntrica (aumento da parede miocárdica sem aumento das câmaras) e a hipertrofia dilata- da (dilatação das câmaras cardíacas) são exemplos de hipertrofias cardía- cas patológicas. CONTRATILIDADE E HIPERTROFIA CARDÍACA CONTRATI- LIDADE CARDÍACA MECANISMO DE FRANK STARLING EFEITO ESCADA POSITIVO↑COMPRIMENTO DA FIBRA ↑FORÇA DE CONTRAÇÃO ↑INTERAÇÃO DAS PONTES CRUZADAS EFEITO POTENCIAÇÃO PÓS EXTRASSISTOLIA FREQUÊNCIA CARDÍACA ↑FC ↑PLATÔS ↑Ca2+ INTRACEL. ↑CONTRATILIDADE ACÚMULO DE CÁLCIO DA EXTRASSÍSTOLE HIPERTROFIA CARDÍACA FISIOLÓGICA PATOLÓGICA BENÉFICA MALÉFICA CAUSADA PELO EXERCÍCIO FÍSICO CAUSADA POR SOBRECARGA PATOLÓGICA HIPERTROFIA CONCÊNTRICA HIPERTROFIA DILATADA 33FISIOLOGIA MUSCULAR REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS HALL, John Edward; GUYTON, Arthur C. Guyton & Hall tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. SILVERTHORN, Dee Unglaub. 7. ed. Porto Alegre (2017). Berne & Levy Fisiologia. Elsevier Health Education; Edição 6, 2011. BICAS, Harley EA. Oculomotricidade e seus fundamentos. Arq. Bras. Oftalmol. São Pau- lo, v. 66, n. 5, p. 687-700, outubro de 2003. Disponível em . acesso em 10 de abril de 2020. https://doi.org/10.1590/S0004-27492003000500026 JUNQUEIRA, L. C.; CARNEIRO, J. Histologia básica: texto e atlas. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koo- gan, 2013, 556 p. 34FISIOLOGIA MUSCULAR