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109RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
Campos Organizacionais: Seis Diferentes
Leituras e a Perspectiva de Estruturaçăo(1)
Organizational Fields and the Structuration Perspective:
Analytical Possibilities
Clóvis L. Machado-da-Silva(2)
Ph.D. em Estudos Organizacionais e Estratégia pela Michigan State University, EUA.
Professor Titular do CEPPAD/UFPR e Professor do PMDA/UP, Curitiba/PR, Brasil.
Edson R. Guarido Filho *
Doutor em Administração de Empresas pelo CEPPAD/UFPR.
Professor do PMDA/UP, Curitiba/PR, Brasil.
Luciano Rossoni
Doutor em Administração de Empresas pelo CEPPAD/UFPR.
Professor do PMDA/UP, Curitiba/PR, Brasil.
* Endereço: Edson R. Guarido Filho
Programa de Mestrado e Doutorado em Administração (PMDA), Universidade Positivo
(UP), Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300, Prédio da Biblioteca, 5º andar,
Curitiba/PR, 81280-330. E-mail: edson.guarido@gmail.com
Este artigo foi originalmente publicado na Revista de Administração Contemporânea -
RAC, v. 10, Edição Especial, Maio, 2006, disponível no endereço www.anpad.org.br/rac.
C. L. Machado-da-Silva, E. R. Guarido Filho, L. Rossoni
110 RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
RESUMO
O conceito de campo organizacional vem sendo tratado com certo destaque na literatura
sobre teoria institucional, nos últimos anos. Como o conceito de campo envolve uma
dimensão relacional e outra simbólica, propomos que a teoria da estruturação, baseada
na lógica de recursividade entre agência e estrutura, seja adequada para o entendimento
do campo de maneira dinâmica. Nesse sentido, o objetivo do presente ensaio teórico é
tratar a dinâmica do campo organizacional sob uma lógica estruturacionista, admitindo-
se que a partir dela se resgata tanto a importância da prática no processo de estruturação
do campo organizacional como o caráter histórico e recursivo, que tanto constrange
como habilita as ações dos atores sociais. Para tanto, revisamos o conceito de campo em
diferentes perspectivas de análise, refletindo sobre as implicações dos pressupostos
teóricos de cada abordagem e, em seguida, discutimos criticamente a fundamentação
teórica do processo de estruturação de campos organizacionais com base na abordagem
estruturacionista. Concluímos o ensaio com proposições acerca da revisão do conceito
de campo sob uma ótica multiparadigmática, na qual estrutura e agência estão
recursivamente implicadas.
Palavras-chave: teoria institucional; teoria da estruturação; campos organizacionais;
estrutura social; atores sociais e agência.
ABSTRACT
The concept of the organizational field has been greatly dealt with in the literature on
institutional theory in recent years. As the concept of field involves a relational and
symbolic dimension, we propose that the theory of structuration, based on the logic of
recursiveness between agency and structure should be adapted to the understanding of
the field dynamically. In this way, the objective of this theoretical essay is to deal with
the dynamic of the organizational field using structurationist logic, allowing that from
this logic we recall both the importance of the practice in the structuration process of the
organizational field and the historical and recursive character which may constrain or
enable the actions of social actors. To this end, we revise the concept of field in different
perspectives of analysis, reflecting on the implication of the theoretical presuppositions
of each approach and then discuss in a critical manner the theoretical foundation of the
structuration process of organizational fields based on the structurationist approach.
We conclude the paper with propositions pertaining to the revision of the concept of
field from a multiparadigmatic viewpoint in which structure and agency are recursively
implied.
Key words: institutional theory; structuration theory; organizational fields; social
structure; social actors and agency.
Campos Organizacionais: Seis Diferentes Leituras e a Perspectiva de Estruturação
111RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
INTRODUÇĂO
As relações entre organizações e outros atores sociais não representam apenas
uma estrutura resultante de suas atividades, mas também definem e delimitam
suas possibilidades para a ação, numa perspectiva mais interativa e recíproca do
processo de institucionalização. Nessa linha de raciocínio, o tratamento do conceito
de campo organizacional, com base na noção de estruturação, permite que se
incorpore uma lógica de recursividade na análise da relação entre agência e
estrutura em um contexto espaciotemporalmente delimitado. Além disso,
possibilita que se leve em conta não apenas a dimensão relacional, mas também
a dimensão simbólica no campo organizacional.
Nesse sentido, o presente trabalho caracteriza-se como um ensaio teórico,
cujo objetivo é tratar a dinâmica do campo organizacional sob uma lógica
estruturacionista. Admitimos que a partir desta lógica se resgata a importância
da prática no processo de estruturação do campo organizacional e o seu caráter
histórico e recorrente, que tanto constrange como habilita as ações dos atores
sociais.
Como se poderá observar no desdobramento do artigo, a abordagem que
adotamos pressupõe um modelo de atividade social recursivo e não-teleológico
com o objetivo de reposicionar a noção de campo nos estudos organizacionais
e evitar que se recaia em imprudências epistemológicas e teóricas
favorecedoras: (i) da ontologização do campo, enquanto realidade de fato e
completa (realismo radical); (ii) da reificação, atribuindo ao campo uma
existência independente; (iii) do voluntarismo, supondo que o campo é produto
exclusivo da ação humana; (iv) do funcionalismo, entendendo que o campo
e suas relações resultam de necessidades funcionais dos atores sociais; (v)
do normativismo , vislumbrando o campo meramente como uma
representação social da realidade que impõe parâmetros para ação,
caracterizando a supersocialização do ator.
O recorte analítico deste artigo apóia-se na preocupação apresentada por
autores como DiMaggio e Powell (1991): apesar do novo institucionalismo,
em comparação com os primeiros estudos da teoria institucional, ter elevado
o nível da autoridade formal e da capacidade de organização do âmbito das
elites locais para níveis mais amplos, essa face macrosociológica parece
repousar sobre uma microsociologia pouco explicitada. Tal microsociologia
funda-se em uma teoria cognitiva, que enfatiza as tipificações rotineiras e os
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comportamentos culturalmente sustentados e conceitualmente corretos do
ponto de vista social, bem como na noção de agência no processo de
institucionalização. Essa relação indica a necessidade de se trabalhar com
múltiplos níveis na análise institucional, já que sistemas simbólicos, como
regras e conceitos, são, em princípio, “idéias ou valores nas cabeças dos
atores organizacionais” (Scott, 2001, p. 79).
Para tanto, o artigo está organizado em duas grandes seções: na primeira delas,
apresentamos o conceito de campo organizacional com base em diferentes
perspectivas de análise, refletindo sobre as implicações de determinados
pressupostos teóricos para a explicação institucional adotada; e, na segunda,
discutimos criticamente a fundamentação teórica do processo de estruturação
de campos organizacionais com base na abordagem estruturacionista. Concluímos
o trabalho com proposições acerca da revisão do conceito de campo sob uma
ótica multiparadigmática e integracionista, na qual estrutura e agência estão
recursivamente implicadas.
PERSPECTIVAS TEÓRICAS SOBRE CAMPOS ORGANIZACIONAIS
O conceito de campo organizacional emerge como “unidade fundamental na
associação dos níveis organizacional e societário no estudo da mudança social e
da comunidade” (DiMaggio, 1986, p. 337), possibilitando trabalhar a complexa
inter-relação entre os ambientes de recursos materiais, competitivo e institucional,de modo mais adequado do que modelos populacionais precedentes (DiMaggio
& Powell, 1982; Scott, 1991, 2004). No entanto, desde a sua definição inicial até
os dias atuais um amplo debate se formou em torno do assunto e diferentes
acepções têm sido apresentadas na tentativa de aperfeiçoar o próprio conceito e
a sua operacionalização.
O reconhecimento da multiplicidade de abordagens sobre o tema, em
alguns casos com diferenciações sutis, levou-nos à classificação de seis
perspectivas teóricas sobre campos organizacionais, conforme se pode
verificar na Tabela 1.
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Tabela 1
Perspectivas Teóricas sobre Campos Organizacionais
Nota. Fonte: Literatura especializada sobre campos organizacionais.
Campo como a Totalidade dos Atores Relevantes
DiMaggio e Powell (1983) definem campo organizacional como “aquelas
organizações que, em conjunto, constituem uma área reconhecida da vida
institucional: fornecedores-chaves, consumidores de recursos e produtos, agências
reguladoras e outras organizações que produzem serviços ou produtos similares”
(p. 148). Nesta ótica, enquanto área reconhecida da vida institucional, campos
organizacionais representam a totalidade dos atores relevantes, ou seja, “uma
comunidade de organizações que compartilham sistemas de significados comuns
e cujos participantes interagem mais freqüentemente e decisivamente entre eles
do que com atores de fora do campo” (Scott, 1994, pp. 207-208). Como destacam
DiMaggio e Powell (1983), um campo estruturado corresponde a um complexo
de organizações respondendo a um ambiente de respostas organizacionais, no
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sentido delas representarem estruturalmente suas relações ao mesmo tempo em
que delimitam as ações formuladas em seus relacionamentos.
Compreendido dessa maneira, está inerente ao conceito tanto um componente
relacional entre os atores sociais como a presença de estruturas institucionais
comuns, que são construídas segundo um processo de estruturação. Conforme
explicam DiMaggio e Powell (1983), num campo esse processo é caracterizado
pela tendência ao isomorfismo estrutural, decorrente do aumento da interação
entre organizações e do volume de informações com as quais elas devem lidar,
do desenvolvimento de estruturas de dominação e de padrões de coalizão
interorganizacionais, e do reconhecimento mútuo entre organizações de que estão
envolvidas em um empreendimento comum.
Assim, em termos da sua abrangência, campos organizacionais não devem ser
tratados simplesmente como construtos agregativos, mas como construtos
significativos para os atores envolvidos (DiMaggio, 1991), com fronteiras definidas
pelo modo como são percebidas por eles, o que, no nível da ação, afeta não
somente as práticas organizacionais como a própria representação do campo.
DiMaggio (1991) exemplifica o uso dessa perspectiva em pesquisa realizada
acerca do desenvolvimento do campo de museus de arte norte-americanos, no
período de 1920 a 1940. Mazza e Pedersen (2004) também adotam essa
perspectiva em estudo recente sobre o desenvolvimento do campo da imprensa
de jornais e revistas na Itália e na Dinamarca.
Campo como Arena Funcionalmente Específica
Compreender campo organizacional como a totalidade dos atores relevantes
gera uma questão de difícil solução para a análise institucional: a de definição de
fronteiras. Esse problema é inerente à própria definição de campo, já que se
admitem determinados aspectos constituintes: o reconhecimento por parte dos
atores da relevância das relações, a existência de um sistema multidimensional
de relacionamentos (ambiente de respostas a respostas), a constituição mútua
de atores e de relações numa dinâmica de estruturação, entre outros.
As inúmeras dificuldades de operacionalização têm levado alguns pesquisadores,
tais como Scott e Meyer (1983, 1991) e Scott (1991), a optarem pelo resgate da
análise de organizações de uma mesma função, o que representa uma demarcação
arbitrária das fronteiras do campo. Enquanto recurso tal opção pode auxiliar no
sentido de tornar a pesquisa mais factível; todavia, ela torna arriscado atribuir a
qualquer campo pesquisado o status real de campo organizacional, pois pressupõe
contemplar a sua totalidade.
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É nesse sentido que Scott (1991, 2004) sugere o conceito de setor societário;
mais tarde o reformula para campo organizacional funcional. Um setor societário
é um “conjunto de organizações operando num mesmo domínio, identificadas
pela similaridade de seus serviços, produtos ou funções, junto com aquelas
organizações que influenciam criticamente o desempenho das organizações focais”
(Scott, 1991, p. 117). O adjetivo societário indica a desregionalização da fronteira,
não definida geograficamente, mas funcionalmente (em torno de alguma atividade
específica), considerando elementos do ambiente técnico e institucional na
definição das características do setor, bem como as relações entre essas
características e as propriedades das organizações que nele operam, as quais
podem ser funcionalmente diferenciadas. Nessa linha de análise, tal conceito é
mais abrangente do que a noção de indústria, que sugere o foco em torno de uma
atividade econômica específica, e também do que a noção de campo
interorganizacional identificada por Warren (1967), ampliando o escopo dos
padrões horizontais e verticais de relacionamento entre organizações. Logo, um
campo organizacional funcional é um conjunto de “organizações similares e
diferentes, interdependentes, operando numa arena funcionalmente específica
em associação com seus parceiros de troca, fontes de financiamento e
reguladores” (Scott, 2004, p. 9).
Embora não represente a totalidade do campo, essa perspectiva tenta manter
coerência com a lógica conceitual proposta por DiMaggio e Powell (1983). Além
disso, ela apresenta algumas vantagens para a realização da análise, pois delimita
o ambiente de uma organização cuja estrutura ou desempenho está sendo avaliado
sob a ótica institucional e define uma unidade intermediária mais factível de ser
empregada em análise macrosociológica. No entanto, a definição do grau de
relacionamento para consideração de um ator num campo, a especificação de
um critério para avaliação da similaridade funcional, a delimitação e o acesso a
padrões culturais e a diversidade de campos em que uma mesma organização
pode participar são algumas das dificuldades metodológicas que permanecem
presentes e que podem limitar as possibilidades de pesquisa sobre campo
organizacional (Scott, 1991). Um estudo interessante sob essa ótica é o de Scott,
Mendell e Pollack (2000) acerca do campo de assistência médica, no qual eles
abordam as lógicas de ação, esquemas de troca, variações no relacionamento e
não somente organizações isoladas, mas diferentes populações e conjuntos
organizacionais pertencentes ao setor.
Campo como Centro de Diálogo e de Discussăo
Uma terceira acepção de campo organizacional está associada à noção de
temática ou assunto, quiçá evento. Em estudo sobre ambientalismo, Hoffman
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(1999) propõe que “um campo deveria ser pensado como centro de canais comuns
de diálogo e discussão ... que reuniria vários constituintes do campo com propósitos
díspares” (p. 4). Nessa perspectiva, a atenção é direcionada para um tema central
com potencial para colocar em debate diferentes agentes, em geral organizados
coletivamente sob a forma de coalizões, que não compartilham necessariamente
um diálogo isomórfico, expresso em uma retórica comum, mas, ao contrário,
disputam interesses díspares, porém relevantes para o alcance dos seus objetivosespecíficos. Por conseguinte, o campo resulta da negociação por interpretações
acerca dos elementos constituintes do tema central em questão, ou seja, de sua
estrutura institucional (Hoffman, 1999, 2001).
Para Hoffman (1999) a ênfase em temáticas possibilita uma abordagem mais
complexa do que a de redes para explicar a formação e o desenvolvimento de
um campo, e também não compromete a lógica conceitual da definição original
de DiMaggio e Powell (1983). A estrutura de um campo passa a ser organizada
à medida que aumentam as interações e a troca de informações entre certas
organizações, e elas passam a se reconhecerem como participantes de um mesmo
debate, mesmo que isso não implique em um padrão tangível de relacionamento.
Nesse sentido, Zietsma e Winn (2005) explicam que a definição de campo
organizacional com base em temáticas permite a análise da sua dinâmica e da
mudança ao longo do tempo. No entanto, os autores alertam que em campos mais
estáveis, onde a contestação por temáticas não é intensa, em face da ocorrência
de uma lógica institucional mais bem definida e legitimada, sua aplicabilidade é
dificultada. Dessa forma, eles sugerem que a definição de campo deva considerar
tanto aquelas organizações mais intensamente envolvidas no debate como aquelas
preocupadas com a produção e a reprodução de um conjunto específico de práticas
ou de arranjos institucionais relacionados à temática em pauta.
Subjacente a tal análise está a consideração de que um campo organizacional
é entidade dinâmica, constituída como arena de poder, onde a disparidade de
interesses no debate acerca dos temas em questão está presente durante sua
estruturação (Brint & Karabel, 1991). Certo desacoplamento estrutural com os
padrões institucionais é admitido no sentido de revelar maior grau de autonomia
dos atores sociais na busca dos seus interesses. Ao que nos consta, esta definição
de campo organizacional supõe uma perspectiva de economia política conectada
a uma visão pluralista do poder.
Campo como Arena de Poder e de Conflito
Uma quarta perspectiva sobre campos organizacionais baseia-se em Bourdieu,
especialmente na sua idéia de que a categoria central para a compreensão das
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relações entre os agentes nos campos sociais é o poder e a sua reprodução.
Como explica Everett (2002), nessa ótica, “quando se pensa em termos de campo,
deve-se focar em poder, dominação e classe” (p. 60).
Segundo a leitura de Vieira e Carvalho (2003), o campo é então resultado da
disputa de organizações pelo seu domínio, numa dinâmica pautada pela
(re)alocação de recursos de poder dos atores e de sua posição relativa no que
concerne a outros atores. Similarmente, Leão (2001) localiza as organizações
num campo de poder entendendo que essa estrutura determina valores e crenças
num campo organizacional. Assim, assume que as organizações operam num
espaço social de lutas e de relações de dependência, onde interesses implícitos
nos discursos e ações empreendidas, recursos sob domínio de determinados atores,
bem como regras socialmente aceitas, definem o jogo por controle daqueles
recursos do qual decorre a dinâmica de estruturação do campo. Como afirma o
autor, “faz-se necessário que se compreendam os atores sociais envolvidos, seus
objetivos e pressupostos ideológicos, bem como sua atuação ao longo do processo
de constituição do campo” (Leão, 2001, p. 9).
De acordo com essa perspectiva, a mudança ocorre quando os arranjos de
poder no campo se modificam e geram novas instituições, o que a distingue das
demais pela consideração do poder como elemento causal central na formação
de um campo organizacional, e do qual é dele estruturalmente dependente. Nesse
sentido, tal abordagem aponta a pouca visibilidade dessa categoria nos estudos
institucionalistas que, segundo sua crítica, deveriam analisar “posições dos agentes
em campos construídos por disputas entre detentores de recursos de poder, como
condição essencial para compreender a dinâmica dos campos organizacionais,
entendidos, agora, como espaços de força e de lutas” (Misoczky, 2003, p. 170).
Campo como Esfera Institucional de Interesses em Disputa
Esta versão de campo organizacional está associada com a abordagem
institucional da maneira como é tratada por representantes da sociologia
econômica, embora não seja de sua exclusividade. Assim como a anterior, esta
perspectiva atribui relevância à noção de campo social de Bourdieu, tanto pelo
reconhecimento da dimensão relacional como por sua associação com a idéia de
poder e interesses (Swedberg, 2004a, 2004b). Porém, embora esses estudos
nitidamente enfatizem aspectos políticos do processo de institucionalização, seus
autores parecem amenizar o caráter determinista da estrutura de poder. Desta
forma, optou-se por classificá-los como categoria distinta, à medida que sugerem
atenção a aspectos mais ativos dos atores, isto é, suas capacidades e ações
criativas associadas à atuação deles sobre a ordem institucional em busca de
seus interesses.
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Os trabalhos de Fligstein (1991, 1999, 2001) representam bem essa perspectiva.
Segundo o autor, a noção de campo tem a ver com a forma pela qual ordens
locais, entendidas como padrões de interação que se reproduzem na ação, são
estabelecidas, mantidas ou transformadas. Para ele, a construção de campos
organizacionais é fenômeno cultural que envolve práticas sociais preexistentes,
regras imersas nas relações de poder entre grupos e estruturas cognitivas que
funcionam como quadros culturais (habitus). Tais elementos operam,
conjuntamente, como definidores do contexto das ações coletivas. Entretanto,
por se tratarem também de sistemas de poder, campos atuam sobre a capacidade
de interpretação dos atores, não somente por meio do quadro cultural mencionado,
mas também pelas posições ocupadas por diferentes atores, às quais influenciam
seus propósitos e seus interesses. Sob essa ótica, atores dominantes (incumbent
actors) reforçam suas posições por meio da habilidade de influenciar as regras
mediante as quais o campo é estruturado. Essas regras, que constituem o que
Fligstein chamou de concepção de controle, operam como um quadro cognitivo
para atores e organizações, refletindo o entendimento que possuem da constituição
do próprio campo, bem como o sentido que atribuem ao movimento de outros
atores e organizações. Por conta disso, campos organizacionais contêm toda
informação relevante a partir do ponto de vista dos atores numa dada organização,
mas sem caracterizar a determinação estrutural da ação ou o desprezo à
capacidade de interpretação dos atores sociais (Fligstein, 1991).
Como se pode notar, mais do que atribuir importância à scripts e normas sociais,
Fligstein (1999, 2001) sugere atenção à ação estratégica em campos
organizacionais, apresentando, para isso, o conceito de habilidades sociais (social
skills). De acordo com o autor, trata-se da habilidade de promover cooperação
entre atores, no sentido de criar, contestar e reproduzir regras de interação em
favor de seus interesses. Logo, campos organizacionais seriam construções
produzidas por organizações detentoras de poder, que possuem habilidades sociais
e recursos para influenciar as regras de interação e de dependência em função
dos seus interesses, que, por sua vez, são reflexos da sua posição na estrutura
social do campo. Organizações podem controlar campos organizacionais por
meio do seu tamanho relativo em relação às demais no campo e pelo benefício
alcançado por seus membros na formação de regras estáveis que regem as
ações legítimas no campo, o que tem relação com a abordagem institucional
baseada em interesses descrita por Swedberg (2004b).
Outro autor que parece concordar com essa abordagem é Jepperson (1991),
ao entender que a ação está associada ao desvio do padrão institucionale não à
participação em sua reprodução, de modo que o processo de institucionalização
não se opõe claramente aos interesses dos atores. Nessa mesma linha, Lawrence
e Suddaby (2005) apresentam o termo trabalho institucional (institutional work)
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como categoria que representa a formulação de ações intencionais para a criação,
a manutenção ou a ruptura institucional que, no caso de campos organizacionais,
expressam a disputa constante por suas fronteiras.
Hensmans (2003) e Washington (2004) afirmam que esta perspectiva político-
cultural resgata elementos que não estariam suficientemente tratados, como a
qualidade estratégica da agência de atores-chave na dinâmica de estruturação
de campos organizacionais. Tal abordagem estaria apoiada na capacidade de
determinados atores em mobilizar diferentes lógicas e recursos para atender aos
seus interesses, em consonância com as observações de Seo e Creed (2002) a
respeito do processo de mudança institucional.
Campo como Rede Estruturada de Relacionamentos
Um campo, conforme afirmam DiMaggio e Powell (1983), define uma
reconhecida área de atividade social ou econômica, na qual os atores estabelecem
relacionamentos entre si, reconfigurando seus modelos de ação e a estrutura
social. As organizações e outros atores sociais não estão envolvidos somente em
relações de trocas, mas se posicionam em uma estrutura de relacionamentos, ou
rede, que configura suas ações e delimita suas possibilidades (DiMaggio, 1991;
Scott, 1991).
Com base nesses aspectos, diversos estudos têm procurado analisar o conceito
de campo sustentado na noção de rede social. Powell, White, Koput e Owen-
Smith (2005) afirmam que
Esta ligação entre a dinâmica de redes e o desenvolvimento da estrutura dos
campos deve ser realizada de modo a contribuir para a explicação de como o
comportamento de atores ou organizações de um tipo influencia as ações de
organizações de outro tipo (p. 4).
Mohr (2000) considera que o conceito de campo, desde a sua formulação por
DiMaggio e Powell (1983), traz uma metáfora de espaço topológico onde ocorre
a interação, o que naturalmente tem atraído o interesse em estudos de redes
interorganizacionais, embora remeta a uma questão relevante: a representatividade
do campo por meio da análise de redes.
Nessa perspectiva, campos seriam redes de relacionamentos, “que emergem
como ambientes estruturados e estruturantes para organizações e participantes
individuais” (White, Owen-Smith, Moody, & Powell, 2004, p. 97), estando
normalmente organizados de modo mais integrado e entrelaçado, e podendo ser
desvendados por estudos topológicos e de coesão estrutural. A sua definição
parte do mapeamento empírico de determinadas condições estruturais a partir
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das quais argumentos institucionais podem ser utilizados para complementar a
sua identificação.
A noção de campo como rede de relacionamentos permite resgatar o papel dos
atores e sua capacidade de agência no processo de estruturação. Estudos mais
recentes (Powell et al., 2005; White et al., 2004) com base nessa perspectiva
procuram entender a mútua influência entre a estrutura e a dinâmica do campo
mediante a análise de sua configuração em diferentes momentos do tempo e sua
influência sobre as decisões para os atores envolvidos. A configuração relacional
entre atores influencia os parâmetros para as decisões subseqüentes e para a
própria trajetória do campo. Contudo, apesar da importância dos estudos
longitudinais sobre configurações estruturais, o foco na dimensão relacional não
pode implicar em abandono da dimensão simbólica. Vale destacar que os conceitos
de simultaneidade e de recorrência não se restringem a relacionamentos, mas se
estendem também para a noção dos significados espaciotemporalmente
delimitados.
Breves Consideraçőes sobre as Perspectivas Teóricas
Verificamos que do conceito formulado originalmente por DiMaggio e Powell
(1983) às versões subseqüentes, certos aspectos são recorrentes, enquanto outros
são específicos de determinada linha de investigação. As diferentes alternativas
conceituais apresentadas sugerem não somente variedade de ênfases sobre o
entendimento do campo organizacional, como também preferências teóricas e
particularidades analíticas, que, em certos casos, não são excludentes entre si.
De comum entre elas, o que se percebe é a tendência em destacar mais
acentuadamente no campo organizacional a dimensão relacional/estrutural do
que a dimensão simbólica/de-significado, o que, em certa medida, pode decorrer
da própria definição estabelecida por DiMaggio e Powell (1983). Nela, está
evidente a referência à noção de campo enquanto espaço comunicativo entre
diferentes atores sociais, que delimita valores, normas sociais, sanções e outros
aspectos, em decorrência da configuração relacional entre eles (Mohr, 2000).
Em termos práticos, a dimensão simbólica de um campo combinada com sua
faceta material, sob a ótica dos atores, acaba por definir uma arena de interação
da qual deriva sua noção de posição no campo, entendida como sua referência
em relação aos demais atores (sense of one’s place and other’s place), bem
como seus parâmetros para a ação.
Enquanto espaço articulado de relações, a noção de campo favorece uma
abordagem mais estrutural, fundamentada na análise de padrões e intensidade
de relacionamento. No entanto, um dos aspectos que procuramos salientar ao
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longo do artigo é o fato de que, além da consideração material das relações entre
atores, a ordem simbólica acerca do significado dessas relações precisa ser
observada. Em qualquer explicação da ação coletiva, fins racionais não possuem
sentido sem que se considere categorias culturais, como valores e crenças,
localizadas em um determinado contexto histórico. As redes sociais devem ser
entendidas também como entidades fenomenológicas, uma vez que constituem
redes de significados (Emirbayer & Goodwin, 1994; Friedland & Alford, 1991).
No que tange à constituição de um campo organizacional, há sempre um conjunto
de pressupostos a respeito da sua estruturação, entre os quais se destacam os de
duas abordagens: uma delas sustentada em Bourdieu e a noção de campos sociais;
outra, em Giddens. Ambas estão presentes já na base do conceito de campo
organizacional de DiMaggio e Powell (1982, 1983). As duas pressupõem a análise
da dualidade/dualismo entre significado e estrutura social. No entanto, embora
possuam aspectos em comum, suas premissas não são equivalentes (Mohr, 2000).
Um dos pontos de distinção entre elas está na forma como o poder, o conflito e
a posição social se apresentam no processo de estruturação.
Bourdieu (1989, 2003) considera que as relações de poder estruturam a
sociedade e estão na essência da disputa por capitais por parte de atores que
desejam sustentar ou transformar a sua posição ou a estrutura social em
determinado campo, influenciando o significado das relações que lhes garantem
legitimidade. Já em Giddens (1978, 2003) a dinâmica social é diferentemente
tratada, sendo poder e posição social vinculados à prática, não no sentido de
competência estratégica, mas enquanto parte de dimensões de interação. Assim,
a noção de estruturação representa a contínua reprodução/reconstrução da
estrutura social por atores reflexivos em contextos de tipificação de práticas. É
interessante notar que, mesmo sendo frequentemente citada como fundamental
para a abordagem cultural-cognitiva do institucionalismo, tal idéia de estruturação
ainda tem sido pouco explorada no sentido de definir os contornos de uma
articulação teórica e empírica que melhor estabeleça um quadro analítico para o
estudo de campos organizacionais (Frumkin & Kaplan,2000; Munir, 2005).
No contexto acadêmico brasileiro, o que se pode notar acerca dos estudos em
campos organizacionais é a referência a três autores centrais: DiMaggio, Scott e
Bourdieu, sendo este último o de maior destaque. Na Figura 1 representamos o
relacionamento entre 25 artigos analisados e autores referenciados por eles em
sua conceituação de campo organizacional. Esses artigos foram selecionados
em periódicos nacionais classificados como conceito A ou B pela Capes, e em
anais das diversas edições do EnANPAD e do EnEO, no período de 1998 a
2005(3).
C. L. Machado-da-Silva, E. R. Guarido Filho, L. Rossoni
122 RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
Figura 1. Rede de Artigos x Referências (*)
(*) Não se considerou a polaridade da relação, em que se indicasse se as idéias de determinado
autor são positiva ou negativamente tratadas no artigo selecionado.
Fonte: Artigos publicados em periódicos nacionais e em anais do EnANPAD e do EnEO, de 1998
a 2005.
Observou-se que num total de 149 referências sobre campo, Bourdieu foi citado
46 vezes (30,9 %), DiMaggio 33 vezes (22,1 %), e Scott 25 vezes (16,8%). Os
três autores juntos somam 104 referências, ou seja, 69,8 % de todas as referências
sobre campo foram atribuídas a eles, corroborando a centralidade visível na rede
exposta na Figura 1.
Embora alguns estudos tenham se reportado principalmente à abordagem de
campo como a totalidade dos atores relevantes (Coser & Machado-da-Silva,
2004; Machado-da-Silva & Coser, 2004a, 2004b), com base essencialmente no
trabalho de DiMaggio e Powell (1983), verificamos que os autores nacionais
recorrem principalmente aos textos de Bourdieu (1983, 1990, 1992, 1996, 2003,
2004) e de Bourdieu e Wacquant (1992) para a construção do conceito de campo,
servindo também como arcabouço analítico. Essa preferência dos pesquisadores
favorece a abordagem apoiada na visão de campo como arena de poder e de
conflito, que se destaca no contexto brasileiro.
Para Bourdieu (2003) o poder é variável central nas lutas de interesses dentro
de um campo. O campo é entendido enquanto configuração de relações entre
posições
Campos Organizacionais: Seis Diferentes Leituras e a Perspectiva de Estruturação
123RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
objetivamente definidas, na sua existência e nas determinações que impõem
sobre seus ocupantes, agentes ou instituições, por sua situação presente e
potencial na estrutura de distribuição dos tipos de poder (ou capital), cuja posse
comanda o acesso aos lucros específicos que estão em jogo no campo, bem
como pela relação objetiva com outras posições (dominação, subordinação,
etc.) (Bourdieu & Wacquant, 1992, p. 97).
Assim, um campo é considerado um espaço estruturado de posições, uma arena
de disputa por legitimação, em que agentes lutam pela redefinição ou apropriação
de um capital específico desigualmente distribuído. Essa desigualdade define a
estrutura do campo, onde se encontram dominantes e dominados, e reflete uma
relação de forças historicamente engendradas por um sistema de disposições
incorporadas, que não só possibilita a ação nesse jogo como também o
reconhecimento da sua importância, numa espécie de cumplicidade objetiva para
além das lutas e em favor da própria existência do campo (Lahire, 2002).
Na visão de Thiry-Cherques (2006), Bourdieu tem como objeto de investigação
conhecer as estruturas no sentido de que elas determinam as relações internas
a um segmento do social, ao tempo em que são determinadas por essas relações,
isto é, são estruturadas. Afirma o autor que Bourdieu segue, em linhas gerais, o
protocolo de investigação estruturalista, mas tem como fundamento epistemológico
o materialismo racional de Bachelard.
Bourdieu (1985, 1989, 2003), no entanto, define sua abordagem como
construtivista estrutural ou estruturalista construtivista, significando o entendimento
de que ela está organizada de modo a superar a dicotomia entre objetivismo e
subjetivismo. Entende que a análise sociológica precisa levar em conta dois
momentos complementares. No primeiro deles, interessa a análise do espaço
social, considerando a posição relativa e as relações objetivas entre os agentes,
na qual se admite que a diferenciação depende do volume de capital de posse do
agente. À medida que se torna mais claro o tipo de capital que define as posições,
delimita-se também uma espécie de campo de poder, e disso decorre o papel
ativo dos tipos de capital e das lutas políticas como propriedades ativas na
construção do espaço social. Por outro lado, o segundo momento da análise
sociológica deve tratar da percepção social do mundo, na qual a noção de habitus
é relevante, expressando por meio de esquemas de percepção e de apreciação a
posição social em que foi elaborado. Conforme explica, o habitus é produto da
internalização de estruturas, configurando esquemas mentais para a apreensão
do mundo. “Temos inscrito em nós, os princípios geradores e organizadores das
nossas práticas e representações, das nossas ações e pensamentos. ...
Percebemos, pensamos e agimos dentro da estreita liberdade, dada pela lógica
do campo e da situação que nele ocupamos” (Thiry-Cherques, 2006, p. 34). Isso
C. L. Machado-da-Silva, E. R. Guarido Filho, L. Rossoni
124 RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
coloca o habitus como mecanismo de reprodução social, cujo grau de abertura
para a mudança é ponto controverso entre os cientistas sociais (vide: Lau, 2004;
Lizardo, 2004). Contudo, para Lizardo (2004) não há nada no conceito de habitus
que impossibilite o seu uso de modo não-determinista. Ele afirma que muitos
críticos atacam a força do habitus na reprodução social, mas ignoram a
possibilidade da sua utilização de forma mais flexível, ensejando ações propositadas
e criativas.
Já Everett (2002) entende que certo determinismo social está imbricado na
perspectiva de Bourdieu. Os atores têm pouca liberdade de ação, delimitados
por estruturas sociais, com pouco espaço para a reflexividade e para a mudança.
Ademais, ele identifica problemas na universalização da noção de classe de
Bourdieu, que funde o conceito de classe econômica de Marx e de status de
grupo de Weber. O autor questiona, ainda, a fragilidade na limitação de um campo,
pois dificilmente se sabe o que está ou não ao alcance de suas fronteiras. Afirma
que na abordagem de Bourdieu: (i) a análise das estruturas objetivas são
logicamente conduzidas pela análise de disposições objetivas, (ii) e essa relação
preenche funções políticas, o que torna os sistemas simbólicos instrumentos de
dominação; e (iii) sistemas simbólicos são produtos sociais que constituem relações
sociais, passíveis de transformar a representação no mundo, revelando relações
sociais de poder vinculadas a bens simbólicos que contribuem para a reprodução
ou transformação de estruturas de dominação.
Em linha de análise correlata, Warde (2004) constata certa dificuldade em se
identificar a atividade que fornece o conteúdo, a razão de ser, para a existência
de um campo. Segundo ele, a associação de determinadas práticas, geralmente
concebidas como atividades típicas, desempenhadas e imbricadas no habitus,
ao conteúdo existencial de um campo deixa de lado aspectos relevantes da
dinâmica institucional. Por entender que esse conceito de campo padece de um
enfoque excessivamente estrutural, propõe a sua revisão. Considera que para a
sua efetiva compreensão é necessário o reconhecimento tanto do nível de
institucionalização do campo em si, associado à estrutura relacional fundada sobre
a ação estratégica pela disputa de capital como da institucionalização de práticas,
tratadas de modo mais amplo como entidades coordenadas, existentes por meio
do seu desempenho efetivo na ação, e resultantes de processos históricos de
interação social, variáveis no espaço-tempo. Argumenta que, na abordagem de
Bourdieu, toda conduta relevante para a investigação sociológica é estratégica e
competitiva de tal modo que a análise de campos sociais não possibilita a
apreciaçãode uma ampla teoria de práticas. Além disso, pode-se sugerir que
essa abordagem tende a privilegiar a competência de agentes mais poderosos e
estruturalmente melhor posicionados na luta para assegurar a sua legitimidade e
o domínio do campo.
Campos Organizacionais: Seis Diferentes Leituras e a Perspectiva de Estruturação
125RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
No contexto acadêmico brasileiro, Machado-da-Silva, Fonseca e Crubellate
(2005) consideram que o problema de algumas formulações, apoiadas em certas
leituras de Bourdieu, está na concepção do poder como fundamentalmente
vinculado à “perspectiva única da intencionalidade, [o que a] torna próxima do
pressuposto racionalista; pelo menos no que toca à sua subjacente orientação
voluntarista” (p. 17). Assim, relações sociais no campo assumem uma forma
mecanicista, que se apóia estritamente na funcionalidade dos relacionamentos.
GIDDENS E A TEORIA DA ESTRUTURAÇĂO
A teoria da estruturação, conforme apresentada por Giddens (1978, 2001, 2003),
focaliza sua atenção primordialmente no aspecto ontológico, procurando superar
o dualismo por muito tempo presente na teoria social no que se refere às
concepções de ser humano, fazer humano, reprodução social e transformação
social. Esse dualismo é marcado, essencialmente, pela polarização entre
objetivismo e subjetivismo, reconsiderado na teoria da estruturação enquanto
dualidade da estrutura: “as propriedades estruturais dos sistemas sociais só existem
na medida em que formas de conduta social são cronicamente reproduzidas
através do tempo e do espaço” (Giddens, 2003, pp. XXII-XXIII). Cohen (1999)
explica que a teoria da estruturação representa uma visão pós-empirista, sem a
pretensão de universalizar qualquer conjunto de práticas ou processos de
(re)produção social, mas de (re)formular seus potenciais constitutivos. Nesse
sentido, a exposição de seus componentes principais se faz necessária para o
entendimento dos argumentos sobre campos organizacionais que serão
apresentados na seqüência.
A chave para a compreensão da teoria da estruturação está no conceito de
(re)produção social, contrariando a teleologia funcionalista e a dicotomia entre
estática e dinâmica. Nesse sentido, qualquer situação social é considerada
uma realização contingente de atores sociais e ... uma hábil produção que se
sustenta sob as condições da racionalização reflexiva da ação ... porquanto
todo ato de reprodução é, ipso facto, um ato de produção, em que a sociedade
se recria num novo conjunto de circunstâncias (Giddens, 2001, p. 152).
Sob essa perspectiva, Giddens (2003) entende que sistemas sociais são “relações
reproduzidas entre atores ou coletividades, organizadas como práticas sociais
regulares” (p. 29). Como tal, Giddens (2001) lhes atribui caráter pessoal e
espaciotemporal na medida em que são continuamente criados e recriados como
realização ativa de sujeitos. Whittington (1992) reforça que o conceito de sistema
C. L. Machado-da-Silva, E. R. Guarido Filho, L. Rossoni
126 RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
social suspende o dualismo entre estrutura e agência, criando uma dualidade
interdependente. Nessa perspectiva, a análise do processo de estruturação só é
possível com o estudo das atividades dos atores, que são apoiadas pelas regras e
recursos disponíveis em seu contexto de ação. Grupos e coletividades devem ser
vistos como sistemas de interação, onde os atores produzem e reproduzem tal
contexto, reformulando continuamente os sistemas sociais (Giddens, 1978). Assim,
entende-se como estruturação “a reprodução de práticas, ... ao processo dinâmico
pelo qual as estruturas passam a existir” (Giddens, 1978, p. 129), o que está
intimamente relacionado à dualidade da estrutura na interação social.
Portanto, estrutura é concebida como “regras e recursos gerativos que tanto
se aplicam à ação como se constituem a partir dela” (Giddens, 2001, p. 145),
num processo de estruturação que se estende ao longo do tempo e espaço,
envolvendo a comunicação do significado (regras semânticas), o exercício do
poder (recursos desigualmente distribuídos) e a avaliação da conduta (regras
morais ou normativas). Sob esse prisma, regras e recursos são propriedades de
coletividades, expressas na produção da interação social, respectivamente,
enquanto estruturas de significação, dominação e legitimação (Bryant & Jary,
2001; Giddens, 1978). Conforme explica Giddens (2003),
dizer que estrutura é uma ordem virtual de relações transformadoras significa
que os sistemas sociais, como práticas sociais reproduzidas, não têm estruturas,
mas antes exibem propriedades estruturais, e que a estrutura só existe,
como presença espaço-temporal, em suas exemplificações em tais práticas e
como traços mnêmicos orientando a conduta de agentes humanos dotados de
capacidade cognoscitiva (p. 20).
Entretanto, considerar estruturas como conjunto de regras e recursos requer
atenção especial. As regras da vida social devem ser vistas como técnicas ou
procedimentos generalizáveis aplicados no desempenho/reprodução de práticas
sociais, expressando-se no âmago da cognoscitividade dos agentes humanos,
sobretudo na consciência prática e, de certa forma, envolvidas na manutenção
da segurança ontológica dos agentes, pois são usadas na constituição e
reconstituição de encontros (Giddens, 1978, 2003). Recursos, por sua vez, são
bases acessíveis de poder que fornecem os meios para influenciar o curso de
interação entre os agentes, mas que não estão descolados dos aspectos semânticos
e morais (Cohen, 1999). Assim, estruturas são ao mesmo tempo meios e recursos
para a reprodução do sistema, estando associadas à aspectos da prática rotineira,
à constituição de significados e à sanções localizadas em circunstâncias históricas
e espaciais determinadas.
Em relações sociais, consideram-se tanto a padronização de interações sociais
no tempo-espaço e na reprodução de práticas localizadas como uma ordem virtual
Campos Organizacionais: Seis Diferentes Leituras e a Perspectiva de Estruturação
127RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
de estruturação recursivamente implicadas nessa reprodução. A estrutura,
portanto, não deve ser equiparada à coerção, pois ela é, simultaneamente,
facilitadora e restritiva, não possuindo existência independente do conhecimento
dos atores sociais a respeito do que fazem em sua atividade cotidiana, mas
“de-sujeitificada nas práticas de uma coletividade” (Bertilsson, 1984, p. 343).
Em tempo, Giddens (2003) chama de integração social aquela ocorrida entre
atores em contextos de co-presença, onde há reciprocidade entre práticas, e
integração de sistema as conexões entre atores que estão fisicamente ausentes
espaciotemporalmente.
Mais do que isso, a contextualidade espaciotemporal deve ser reposicionada
na teoria. Para melhor compreender esse aspecto é preciso reconhecer que
sujeitos são antes de tudo agentes. Isso indica que há um quadro de ação prática
na conduta humana que nem sempre pode ser colocado em palavras, o que não
significa que não seja feito (praticado). Assim, o pressuposto do sujeito
cognoscitivo, que monitora reflexivamente suas ações no sistema social, também
considera que parte dessa monitoração não é discursada, mas conformada como
consciência prática, não verbalizada, e por si só parte do próprio conjunto de
ações. Nesse ponto, Cohen (1999) explica que “a qualidade característica da
consciência prática é que os agentes precisam estar apenas tacitamente cônscios
das habilidades que eles vieram a dominar, embora seja geralmente possível
concentrar a atenção discursiva quando surge uma ocasião para tal” (p. 413).
Ou seja, os agentes possuem uma forma de conhecimento essencialmente tácito
que os orienta no agir ou prosseguir no âmbito das rotinas da vida social. Nesses
termos, em se tratando de agentes reflexivos e que se movem
espaciotemporalmente, a diferenciação de contextos está associada com a
orientação dessas ações. Contextos são como cenários para as ações, aos quaisos agentes recorrem para orientar o que fazem e dizem aos outros. Há, portanto,
um processo de indexabilidade contextual configurando cenários de ação prática,
tipificados e inerentes aos estoques de conhecimento mútuo, que os agentes
utilizam para produzir um mundo significativo (Giddens, 1999).
É interessante observar que o conhecimento mútuo, no entendimento de Giddens
(2003), pressupõe sua duração para além da biografia de qualquer agente ou
grupo de agentes, estendendo-se espaciotemporalmente. Os traços de memória,
presentes no processo de estruturação, seriam o instrumento básico pelo qual o
conhecimento mútuo é preservado pelos agentes e transportado para as situações
onde as práticas respectivas são reproduzidas. Portanto, o conhecimento mútuo,
analiticamente, representa aquele conjunto de regras consideradas como
propriedades estruturais de caráter semântico e normativo, que, associadas a
recursos, enquanto meios pelos quais essas regras são aplicadas, compõem às
dimensões da dualidade da estrutura (Cohen, 1999). Isso, entretanto, não quer
C. L. Machado-da-Silva, E. R. Guarido Filho, L. Rossoni
128 RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
dizer que na teoria da estruturação se aceite o princípio de uniformidade de
práticas sociais. Conforme observa Cohen (1999),
na teoria da estruturação, os tipos de recursos aos quais os agentes têm acesso
e as habilidades cognoscíveis envolvidas nas práticas que eles desempenham,
assim como o seu conhecimento discursivo de condições sociais mais amplas,
sempre existem no interior de limites históricos e espaciais determinados ... A
variabilidade histórica da práxis social em termos ontológicos... refere-se apenas
aos aspectos de um objeto que existe onde quer que ele seja encontrado... A
teoria da estruturação fornece uma ontologia dos potenciais. Ela sustenta que
um potencial possuído pelos agentes sociais é a capacidade de produzir variações
históricas em suas próprias formas de conduta (p. 416).
Essa capacidade tem relação com o poder subjacente à ação humana, o poder
de fazer uma diferença. Ação é equiparada a capacidade transformativa na
teoria da estruturação (Cohen, 1999). Nesse sentido, mesmo que a vida cotidiana
envolva uma seqüência de ações intencionais, esses atos produzem conseqüências
imprevistas que sistematicamente podem realimentar-se na constituição de
condições não reconhecidas de novos atos.
TEORIA DA ESTRUTURAÇĂO E CAMPOS ORGANIZACIONAIS
Apesar de Giddens não fazer menção a campo organizacional como conceito ou
unidade de análise no momento em que trata de sistemas sociais e sua multiplicidade,
suas idéias possibilitam enquadrar a análise de campos numa estrutura analítica
apoiada na ótica da teoria da estruturação. Sistemas sociais referem-se às atividades
dos agentes humanos, reproduzidas em práticas localizadas, mas também à
padronização de relações sociais ao longo do espaço-tempo, podendo ser entendidos
como nível intermediário entre agentes e sociedade, onde se fazem presentes as
dimensões de interação social (poder, sanções e formas de comunicação). Assim,
“analisar a estruturação de sistemas sociais significa estudar os modos como tais
sistemas, fundamentados nas atividades cognoscitivas dos atores localizados, que
se apóiam em regras e recursos na diversidade de contextos de ação, são produzidos
e reproduzidos em interação” (Giddens, 2003, pp. 29-30). Considerando que, em
campos organizacionais, agentes interagem entre si (re)produzindo estruturas sociais
por meio de modalidades de estruturação, algumas considerações a esse respeito
se fazem necessárias.
A idéia de estrutura em interação nos sistemas sociais é oportuna para um
entendimento dinâmico da noção de poder, o que parece ser mais adequado às
Campos Organizacionais: Seis Diferentes Leituras e a Perspectiva de Estruturação
129RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
idéias até aqui delineadas, pois, ao contrário do que sugerem algumas leituras
sustentadas em Bourdieu, poder não é tratado de forma mecanicista ou como
fim para os participantes de um campo. Segundo Giddens (2003), se o poder
tem ou não ligação com interesses seccionais distintos, isso não equivale à sua
definição. Dessa forma, o poder não é visto como obstáculo a liberdade;
entretanto, seu caráter coercitivo não pode ser ignorado. O poder como dimensão
de interação supõe que estruturas de dominação sejam reproduzidas no tempo
e no espaço. Porém, como abordado anteriormente, estruturas de dominação
estão imbricadas em estruturas de significação e legitimação, ou seja, não surgem
no vácuo como produto restrito de posições sociais, mas como meio e produto
da construção de significado e de legitimidade em contextos de interação. Esse
tipo de formulação pressupõe necessariamente uma dialética de controle em
que a geração de poder não é exclusiva de grupos dominantes. É um efeito do
relacionamento e da situação compartilhados entre dominantes e dominados
(Bryant & Jary, 2001).
A dualidade entre estrutura e agência permite entender que campos são sistemas
relativamente fechados, o que não implica afirmar que sejam socialmente coesos,
cuja dinâmica de interação, embora pautada por referências estruturais localizadas,
não possibilite a criação de novos padrões. No entanto, falar da dualidade da
estrutura como reprodução de propriedades estruturais a partir da práxis de atores
cognoscitivos, é aceitar que eles são capazes não só de reproduzir, mas de produzir
novos padrões de interação, alterando endogenamente a estrutura do campo.
Acredita-se que, nesse sentido, a teoria da estruturação proporciona mais
reconhecimento tanto ao agente como ser reflexivo e capaz de ser instrumento
de mudança, quanto à prática desses agentes dentro do campo. Entender que
somente agentes estruturalmente privilegiados são estratégicos na ação, como é
tratado em algumas interpretações de Bordieu, seria tratar a agência de forma
estratificada, sendo incoerente com a noção transformadora tratada até aqui.
No que se refere ao campo e sua delimitação, os elementos da teoria da
estruturação permitem tecer outros comentários. Partindo-se do princípio de que
existem vários campos organizacionais além daquele de interesse para análise,
assume-se também que os agentes competentes podem adquirir e usar seu
conhecimento em diferentes campos. Dessa forma, a abrangência de um campo
organizacional não está restrita a influências endógenas, ou, mais propriamente,
a propriedades auto-referentes. Na realidade, pode-se afirmar que, enquanto
sistema social, possui uma lógica interna que serve de referência para ações,
julgamentos, ponderações e identidade, sem, contudo, lhe conferir autonomia
plena ou isolamento de processos sociais mais amplos dos quais faz parte. Assim,
integração social e de sistema estão implicadas no processo de estruturação e
de análise de campos.
C. L. Machado-da-Silva, E. R. Guarido Filho, L. Rossoni
130 RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
É necessário, ainda, reconhecer que a dinâmica de relações entre os atores dentro
e fora do campo é também simultânea. Ou seja, por estarem em constante processo
de estruturação, ações em campos distintos podem convergir simultaneamente,
mesmo quando os atores não estão integrados socialmente. As implicações da
simultaneidade de ações entre atores de campos distintos podem possibilitar o seu
relacionamento em algum momento, consistindo um novo potencial de interações
que, ao longo do tempo, pode acarretar um processo de conformação de fronteiras
(ou escopo) dos campos iniciais. Nesse ínterim, a falência ou integração de ordens
institucionais precedentes é contingente ao próprio processo em curso.
Da mesma forma, na medida em que se tenta estabelecer uma nova ordem
legítima sobre a configuração em elaboração, apesar da possibilidade de
contradição entre estruturas de campos distintos, necessariamente não ocorrerá
conflito. Giddens (1978) explica que a noção de conflito está intimamente ligada
a de interesse. Nesse caso,conflito é propriedade de interação, no sentido de
luta ativa conduzida no contexto dos choques de interesses. Já contradição pode
ser entendida como propriedade das estruturas, e se mantém numa relação
contingente ao conflito. É evidente que tais propriedades estruturais acarretam a
estratificação de interesses no nível de integração social; porém a ocorrência de
conflito não produz necessariamente contradição de sistema, nem a existência
dessa contradição se expressa, inevitavelmente, em uma disputa aberta no campo.
Esse aspecto tem implicações contraditórias sobre a perspectiva de campo
como arena de poder e de conflito, apresentada em seção precedente. Ao tratar
conflito e contradição de forma similar incorre-se em inconsistências analíticas,
principalmente quando se afirma que a diferença de posições ocupadas por atores
em um campo determina a natureza do conflito entre eles. Contudo, o próprio
conceito de posição deve ser visto com ressalvas.
Giddens (2003) observa que “as posições sociais são constituídas
estruturalmente como interseções específicas de significação, dominação e
legitimação que se relacionam com a tipificação de agentes” (p. 97). Portanto,
diante das distinções entre contradição e conflito, é inconcebível aceitar que o
conflito entre posições é uma condição sine qua non, bem como aceitar que
esses conflitos sejam originados exclusivamente pela disputa de poder entre os
agentes, pois, reduzindo-se a totalidade das ações dos agentes somente a disputas
pelo poder, ignora-se elementos de significação e legitimação imbricados no
processo de estruturação de campos sociais. Conforme explicam Friedland e
Alford (1991) “a sociedade é constituída a partir de múltiplas lógicas institucionais”
(p. 243), as quais consideram o entrelaçamento dos níveis individual, organizacional
e societário, bem como a variação institucional de padrões de relacionamento,
tanto na consideração de elementos simbólicos como no reconhecimento de sua
Campos Organizacionais: Seis Diferentes Leituras e a Perspectiva de Estruturação
131RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
dimensão material. “Essas lógicas institucionais são simbolicamente definidas,
organizacionalmente estruturadas, politicamente defendidas e técnica e
materialmente restringidas, e por isso possuem limites históricos específicos”
(Friedland & Alford, 1991, pp. 248-249).
A despeito das referências traçadas até aqui, é pressuposto que campo
representa um nível intermediário de estruturação social, considerado elemento
mediador entre estruturas sociais e culturais mais amplas e organizações, mesmo
que conceitualmente não possua equivalência direta na teoria da estruturação.
Nesse sentido, é importante observar que no decorrer das transformações sociais
que conduziram à sociedade contemporânea, as organizações assumiram
significado substantivo no processo mais amplo de estruturação social. No entanto,
conforme observa Ackroyd (2000), por se estar teorizando sobre uma sociedade
organizacional, é comum, especialmente em teorias sociais mais recentes, como
a de Giddens, a integração, indistintamente, de processos de estruturação
societária e organizacional. As implicações a esse respeito são várias, mas pelo
menos duas delas merecem destaque: a primeira refere-se ao status ontológico
do nível organizacional e sua implicação para a agência e a reflexividade nos
processos sociais de estruturação; a segunda diz respeito ao reconhecimento
das organizações e, de modo similar, do campo organizacional, como níveis
intermediários de estruturação, mediadores das relações mais amplas da
sociedade com indivíduos e com as próprias organizações.
Seguindo por essa linha de raciocínio, a exemplo de Chia (2003) consideramos
que organizações, mais do que entidades concretas, são world-making,
participando do contínuo processo de construção social da realidade por meio da
rotinização, formação e institucionalização de normas e códigos de comportamento.
Entretanto, contradizendo concepções mais radicais do construcionismo social,
elas não podem ser reduzidas meramente a esses padrões definidos de abstração
social, incapazes de serem desacopladas do contexto discursivo ou da realidade
lingüística em que se situam. Devem também ser tratadas estruturalmente.
Consideradas estruturalmente, explica Ackroyd (2000)(4), as organizações
representam contextos para a ação em que são definidos parâmetros para a
agência humana efetiva. O nível organizacional é aquele em que a relação entre
agência e estrutura é mais visivelmente representada; é onde a “agência
corporativa emerge, reproduz e transforma os mecanismos estruturais pelos quais
a vida social é coordenada e controlada, estabelecendo graus, sempre contestados,
de continuidade e estabilidade” (Reed, 2005a, p. 1635). Segundo este autor, é
nesse encontro entre agência e estrutura que são criadas “tensões dinâmicas
direcionando cadeias interativas subseqüentes de mudanças sócio-históricas,
produzindo conseqüências não intencionadas e não previstas para todos aqueles
C. L. Machado-da-Silva, E. R. Guarido Filho, L. Rossoni
132 RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
envolvidos” (Reed, 2005b, p. 1669). Nesse nível, as organizações são
experimentadas como reais. Ao mesmo tempo em que são ativamente constituídas
por seus membros, podendo ser vistas como meios de poder econômico, social e
de contestação pela sustentação de determinadas relações sociais, elas também
delimitam (constrangem e possibilitam) estruturalmente a participação e a
influência dos indivíduos na sociedade. Assim, “contribuem e também alteram a
reflexividade de modos que encorajam o engajamento ativo de participantes nos
processos organizacionais, mas, ao mesmo tempo, envolvem geralmente um baixo
nível de acoplamento afetivo a eles” (Ackroyd, 2000, p. 102).
De modo similar, o conceito de campo é tratado como mediador no processo
de constituição organizacional, sendo a estruturação histórica dele considerada
logicamente anterior ao de institucionalização de formas organizacionais (Scott,
2001). Nessa ótica, os efeitos sobre os sistemas organizacionais não atuam
diretamente; são mediados por processos e estruturas operando ao nível de campo
organizacional (Davis & Marquis, 2005; Scott, Mendell, & Polack, 2000).
Consequentemente, a sua relevância para os estudos organizacionais não é apenas
teórica, mas também de ordem prática no processo de estruturação social,
apresentando influências causais, porém não deterministas, sobre as
organizações(5). Enquanto nível intermediário de estruturação social, conforme
Reed (2005a), o campo pode ser concebido como espaço conceitual e domínio
ontológico onde mecanismos gerativos subjacentes atuam na (re)constituição
organizacional e na (re)produção social. Compreendê-lo sob essa perspectiva
não é trivial e, portanto, requer alguns esclarecimentos apoiados na lógica
estruturacionista, em que a noção de campo pode fazer referência tanto a processo
como a estrutura.
Enquanto sistema social é estrutura por ser constituído previamente, num
processo de estruturação que, temporalmente, precede o momento presente. E,
dessa forma, representa propriedades estruturais que podem ser reproduzidas e/
ou transformadas, de modo consciente ou tacitamente. Admite-se a existência
do campo como fenômeno social independente da sua identificação
(transfactualidade). Por assim ser, pressupõe-se a sua historicidade, tanto no
sentido dele ser elaborado mediante relações e regras específicas num
determinado contexto (path dependence), como também por permanecer
dependente de conceitos socialmente construídos na dinâmica social
(interpretação).
Evidentemente, a concepção defendida aqui não considera os indivíduos como
se fossem culturalmente narcotizados (cultural dopes), mas como agentes cuja
temporalidade das ações deve ser contemplada na análise (Acroyd & Fleetwood,
2000; Schmidt, 1997). Sob essa ótica, verifica-se que o campo possui uma
Campos Organizacionais: Seis Diferentes Leituras e a Perspectivade Estruturação
133RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
influência causal. Ele não é apenas uma representação de estrutura enquanto
regras e recursos culturalmente sustentados, mas um sistema de relações e de
posições sociais(6) (posição-prática), pré-existente e com potencial para influenciar
as ações. Nesse ponto, acredita-se que os relacionamentos num sistema social,
uma vez estabelecidos, apresentam influência causal na atenção subseqüente a
regras e recursos na estruturação (Mingers, 2003; Porpora, 1998). Em outras
palavras, propriedades de interação estão associadas a posições em
relacionamentos sociais, que, por sua vez, podem facilitar, restringir ou motivar
as ações dos agentes(7). Enquanto estrutura, campos não são considerados
epifenômenos do comportamento humano intermediado por organizações, embora
sejam recursivamente produto da agência humana. Ou ainda, como explica Reed
(2000), “formas organizacionais ... são estruturas em virtude do fato de possuírem
propriedades institucionais espacial, temporal e socialmente duradouras que são
irredutíveis às atividades de agentes contemporâneos” (p. 57). Nesse sentido, a
natureza social do campo é considerada pré-estruturada, caracterizando uma
assimetria no relacionamento estruturacionista entre agência e sociedade
(Bhaskar & Lawson, 1998), e, por isso, possuidora de um potencial causal sobre
a agência intencional humana e os acontecimentos empiricamente observáveis
(Bhaskar, 1998).
Cohen (1999) explica que se trata de uma ontologia de potenciais em que
o elemento ontológico da teoria científica pode ser entendido como uma série
de percepções internamente coerentes nos potenciais trans-históricos dos
fenômenos que constituem um domínio de investigação, isto é, os processos e
propriedades fundamentais que podem ser ativados ou realizados de numerosas
maneiras diferentes e em diferentes ocasiões (p. 401).
Ainda segundo o autor, essa visão é compatível com a ontologia estruturacionista,
“voltada exclusivamente para os potenciais constitutivos da vida social” (Cohen,
1999, p. 402). Tais potenciais são possuídos, mas nem sempre exercidos pelos
agentes sociais, impossibilitando a determinação histórica de eventos e processos.
Nesses termos, a noção de campo também deve ser reconhecida enquanto
processo recursivamente estruturado. Agentes não criam o campo a partir do
nada. Eles o recriam, reproduzem ou transformam a partir de estruturas
pré-existentes que potencializam suas ações. Entretanto, mesmo consideradas
pré-existentes, estas estruturas só continuam a existir por meio da reprodução e/
ou transformação de outras estruturas que os agentes encontram em suas ações
sociais, numa combinação específica de práxis e estrutura, histórica e
temporalmente localizada (Acroyd & Fleetwood, 2000; Mingers, 2003).
C. L. Machado-da-Silva, E. R. Guarido Filho, L. Rossoni
134 RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
A capacidade transformativa inerente à lógica da estruturação, na medida
em que se admite a reflexividade dos agentes e o nível organizacional como
intermediário na estruturação social, reforça a necessidade de atenção ao
potencial de agência. Compreender agência enquanto capacidade de fazer uma
diferença (Giddens, 1978, 2003), enquadrando a relação entre poder e ação
precedente a subjetividade, não implica rejeitar a possibilidade de regularidade
na conduta ou a concepção de uniformidades trans-históricas (Cohen, 1999).
Implica a rejeição de um determinismo radical e de um voluntarismo exagerado,
de modo que a discussão a esse respeito contemple as circunstâncias históricas
e contextuais, no sentido de reconhecer a assimetria no acesso a recursos,
estabelecendo uma dialética de controle, bem como regras e recursos na
definição do âmbito das práticas passíveis de serem exercidas por um agente
(Cohen, 1999).
Segundo Friedland e Alford (1991), não se trata de uma questão de
especificação do racional ou do irracional. Trata-se do exame de ordens
transracionais variadas, nas quais a formação de preferências e de utilidade é
histórica e institucionalmente estruturada e definida. De acordo com Beckert
(1999), agência e padrões institucionais podem ser vistos como duas forças
interdependentes que se desestabilizam, mas que atuam como mecanismos de
coordenação de um sistema social. Ao mesmo tempo em que agentes
estrategicamente pressionam estruturas institucionalizadas, normas sociais ou
regras legalmente sustentadas, paradoxalmente, influenciam os modos de ação e
as bases para avaliação de alternativas (Beckert, 1999; Scott, 2001).
Para fins de maior esclarecimento, vale resgatar a análise de Ackroyd (2000)
sobre organizações, na qual ele afirma que elas também representam um tipo de
instituição da sociedade contemporânea experimentado como real. Se esse
raciocínio for coerente, elas ganham status ontológico e participam enquanto
meio e resultado da estruturação social. Na medida em que são objetivadas,
suas propriedades e relações passam a representar parâmetros para a ação, ao
mesmo tempo em que, por assim serem consideradas e pela capacidade de
mobilização que representam, tornam-se meios pelos quais estruturas sociais
são modeladas ou reproduzidas. Assumindo ainda a discussão precedente sobre
campo enquanto estrutura, toda a lógica de relacionamento social deve ser
considerada, tanto na direção de estabelecimento de um sistema de posição-
prática como de serem objeto de referência ou parâmetros para as ações
organizacionais. Dessa forma, é viável considerar que relacionamentos
organizacionais na estruturação do campo são construídos, num certo sentido
em que são relevantes para os agentes, que escolhem a natureza das relações, e
por conseguinte, das redes de relacionamento decorrentes.
Campos Organizacionais: Seis Diferentes Leituras e a Perspectiva de Estruturação
135RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
Além disso, sob uma ontologia de potenciais coerente com a abordagem
estruturacionista, não se atribui prioridade trans-histórica ou universal às práticas
ou processos específicos de reprodução social (Cohen, 1999). Ao mesmo tempo,
admite-se a pressuposição de uma ontologia necessária, mas suficientemente
flexível para aceitar um conhecimento transitivo-contingente dirigido ao objeto
em questão e construído por meio de análise e pesquisa científica (Reed, 2005b).
Assim compreendida, a perspectiva de análise de campos organizacionais requer
cuidados que vão além das preferências teóricas, já que está no âmbito de
pressupostos ontológicos e compromissos epistemológicos.
Dessa forma, admite-se certa possibilidade de relativização epistemológica, no
sentido de aceitação de teorias substantivas que, enquanto corpo de conhecimento
historicamente contextualizado, estão sujeitas a refutação empírica. Porém, de
forma mais fundamental, que focalizem a elucidação de mecanismos ou estruturas
gerativas (potenciais), constitutivas de processos e eventos sociais gerados ou
transformados a partir de uma ampla gama de possibilidades empiricamente
discerníveis (Cohen, 1999; Hedstrom & Swedberg, 1996). Como bem observa
Ekstrom (1992), nesse tipo de análise a preocupação central é a explicação e
não a previsão:
causas não são nem eventos, nem objetos, mas propriedades ... efetivas/
produtivas e que se escondem por trás de uma seqüência de eventos e mudanças
constantes que podem ser observadas no mundo real ... .Essas propriedades
operativas que a análise causal tenta revelar existem pela necessidade
relativamente independente de seus efeitos, mas as relações entre essas
propriedades e os efeitos observáveis são contingentes tanto quanto sejam
dependentes do contexto específico em que estudamos (p. 114).
CONCLUSĂO
A explicação é o aspecto fundamental da análise social. Tal afirmação implica
reconhecer que a dupla hermenêutica inerente à atividade de pesquisa social, da
forma como é referida por Giddens (1978, 2003), faz-se presente e envolve o
fato de, enquanto cientistas sociais, utilizarmos conceitospara explicar outros
conceitos, de modo que, por não estarmos em posição privilegiada em relação a
outros atores, as implicações acerca do conhecimento da realidade se fazem
vinculadas ao pressuposto de necessidade ontológica e limitação epistemológica
(Acroyd & Fleetwood, 2000; Zeuner, 2001). Essa limitação significa, nas palavras
de Reed (2005b, p. 1665), que a ciência e o conhecimento produzido por ela não
podem fornecer uma garantia absoluta e universal da complexidade dos processos
C. L. Machado-da-Silva, E. R. Guarido Filho, L. Rossoni
136 RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
e coisas reais, mas podem especificar um critério de validade para o argumento,
a análise, a experimentação e a explicação, que, por sua vez, servem como base
para a contraposição entre explicações rivais.
Dessa forma, a análise envolve a possibilidade de revisão conceitual, que, em
contrapartida, implica também na forma de ver o mundo, reconsiderando as
estruturas, mecanismos e relações que condicionam e, simultaneamente, são
produto da agência humana, e que proporcionam uma influência causal no
processo de estruturação de campos organizacionais.
Retornando às diferentes perspectivas teóricas sobre campo organizacional,
tratadas neste trabalho, pode-se partir para duas posições em termos de sua
avaliação: (a) análise de seu poder explicativo; ou (b) relativização epistemológica.
A primeira posição inicia o debate, mas cria uma busca pela proeminência, numa
lógica de exclusão. A segunda sugere que cada uma das perspectivas indica uma
direção na relação social, o que poderia expressar a faceta parcial delas e, mais
do que isso: o constructo campo organizacional constitui um corpo de
conhecimento em permanente desenvolvimento, apresentando uma dimensão
intransitiva ontologicamente; assim, as abordagens alternativas operam no nível
do conhecimento científico (de interpretação dos mecanismos gerativos) e não
se exluem necessariamente, mas definem seu caráter provisório e contingente.
Nessa linha de raciocínio, qualquer enunciado sobre um sentido proeminente
das relações que definem o grau de estruturação de um campo não deixa de ser
arbitrário.
Portanto, em concordância com as idéias de Bhaskar (1998), afirmamos que a
análise de campos organizacionais deve pressupor o surgimento de estruturas ou
mecanismos pré-existentes, com propriedades gerativas que potencializam os
eventos observáveis, que, por sua vez, podem ser experimentados empiricamente.
Cada uma dessas dimensões analíticas está dialeticamente relacionada às demais
e umas não podem ser reduzidas às outras. Ademais, dispostas dessa maneira,
tais considerações só podem fazer sentido diante da natureza relacional dos
sistemas sociais e de um pressuposto de ontologia potencial. Assim, a dualidade
da estrutura, referente à mútua constituição entre estrutura e agência, bem como
a dualidade da práxis, enquanto produção propositada e (re)produção não
consciente das propriedades estruturais da sociedade(8), são aspectos presentes
no arcabouço analítico proposto.
Uma das conseqüências dessa abordagem é o fato de não fundir agência e
estrutura, abrindo uma janela temporal para a análise - um dualismo analítico
(Archer, 1982, 1998), conforme está ilustrado na Figura 2 - que possibilita e
viabiliza a pesquisa, sem abandonar a recursividade estruturacionista. A
Campos Organizacionais: Seis Diferentes Leituras e a Perspectiva de Estruturação
137RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
estratificação de níveis de realidade (estruturas, eventos observáveis e experiência
empírica), explicitado anteriormente, envolve um componente temporal na análise
de campo. Desse modo, o esforço de explicação da estruturação do campo
organizacional passa a admitir um ponto de partida analítico composto por
condições estruturais (Archer, 1982, 1998), ou padrões e mecanismos pré-
existentes, incluindo regras, recursos e estruturas de relacionamentos ou sistemas
de posição-prática, que exercem implicações causais sobre um momento posterior
de interação social, em que a produção ou reestruturação social é promovida
pelos agentes, dadas a natureza e as condições estruturais pré-existentes com
as quais interagem.
Figura 2. Dualismo Analítico
Fonte: Archer, M. S. (1998). Realism and morphogenesis (p. 376). In M. Archer, R. Bhaskar, A.
Collier, T. Lawson, & A. Norrie (Eds.), Critical realism: essential readings (pp. 356-381). London:
Routledge.
Em tempo: a idéia de se propor como recurso metodológico o dualismo analítico
não implica afirmar que há uma relação de causalidade empírica ou mecânica
entre estrutura e agência, embora se reconheça o relacionamento e algum grau
de condicionamento estrutural. Como já salientamos, isso não deve ser interpretado
num sentido ahistórico, determinista ou de reificação estrutural. A significância
causal e analítica das estruturas sociais nessa abordagem deve ser compreendida
como operante a partir dos motivos e ações dos atores, intrinsecamente
relacionada com sua capacidade de agência, influenciando, mas não determinando,
sua atividade social em favor da reprodução ou transformação das relações,
regras e recursos institucionalizados (ver dualidade da práxis e ontologia dos
potenciais, que discutimos anteriormente). Campos e organizações podem,
C. L. Machado-da-Silva, E. R. Guarido Filho, L. Rossoni
138 RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
portanto, ser conceituados como instituições (Ackroyd, 2000) ou formas estruturais
duradouras, que podem ser produzidas, reproduzidas e transformadas a partir
das relações sociais em curso (Reed, 2000), embora, ao mesmo tempo,
representem o processo de engajamento social a um sistema de posição-prática
que possibilita sua própria transformação ou reprodução.
Tendo em vista que os integrantes de um campo estão relacionados aos demais
e que todos eles exercem mútua influência num contexto social, que define as
bases de significação (Scott, 1987), não seria demasiado afirmar que as redes de
relacionamentos, tais como são vislumbradas por seus integrantes, jamais possam
ser completamente apreendidas, uma vez que a perspectiva de análise e o menu
de opções para ação são socialmente influenciados. Para DiMaggio e Powell
(1983) trata-se do reconhecimento de condicionantes estruturais, que influenciam
a amplitude de escolhas que os atores percebem como racionais ou prudentes.
Na visão da teoria da estruturação de Giddens (2003): “o que o ‘indivíduo’ é não
pode ser considerado óbvio. ... História não significa ‘práticas humanas sem
mestre’. É a temporalidade de práticas humanas, modelando e sendo modelada
por propriedades estruturais” (p. 258-259).
Em decorrência desse raciocínio, um dos aspectos mais contraditórios acerca
do estudo de campos organizacionais passa a ter condições de ser equalizado.
Trata-se do problema da definição de fronteiras. Bourdieu (2003) afirma que,
pelo fato de sempre ser conhecido a posteriori, um campo é sempre considerado
caso particular do possível. Na linha de argumentação que adotamos neste
trabalho, essa afirmação de Bourdieu converge com a noção de que o
conhecimento científico é, também, sempre produzido a posteriori e sem condições
de ser equacionado com a experiência direta (Bhaskar & Lawson, 1998).
Pressupõe a existência de estruturas e mecanismos gerativos subjacentes ao
campo em seu nível ontológico mais profundo; porém, ao se considerar o aspecto
analítico, é uma questão lógica aceitar a impossibilidade de se alcançar essa
realidade social em toda a sua complexidade. Assim, qualquer análise é sempre
uma projeção; ou seja, é epistemologicamente relativa por sua dependência de
conceitos construídos e da própria especificidade espaciotemporal. Portanto, a
definição de fronteiras é sempre tratada analiticamente, em razão do delineamento
de pesquisa selecionado, estando, então, comprometida com o pressuposto
ontológico e sendo epistemologicamente limitada na própria medida que
mecanismos ou estruturas que explicam certas regularidadespossam ser
revelados.
No que se refere ao debate sobre estruturação na perspectiva de Giddens ou
de Bourdieu, a argumentação que desenvolvemos neste trabalho considera
estrutura não apenas como regras e recursos, mas também como relações
Campos Organizacionais: Seis Diferentes Leituras e a Perspectiva de Estruturação
139RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
posições-prática. Tal entendimento pode conduzir ao engano de se concluir que
estamos colocando em nova roupagem a perspectiva de campos sociais de
Bourdieu por ele também enfatizar que a aparência opera sobre posições relativas
de espaços de relações, ainda que invisíveis, e que se constituem na realidade
primeira e última (Misoczky, 2003). No entanto, cabe uma ressalva: o mecanismo
gerativo subjacente, que orienta essas diferenças de posição aparente, está
associado à estrutura de distribuição de formas de poder, localizados no tempo e
espaço. O enfoque que adotamos pretende suplantar essa perspectiva em dois
movimentos: (i) revisando a abordagem de poder; e (ii) ampliando, em paralelo,
as possibilidades de estruturas ou mecanismos gerativos subjacentes – regras,
recursos e relações. Entendemos que a capacidade explicativa é maior sob uma
ontologia potencial, sustentada em noção mais abrangente de poder, localizado
na agência. Embora, sob esse prisma, não se rejeite as conseqüências apresentadas
por Bourdieu em sua explicação sobre a estruturação social, elas são colocadas
tão somente como possibilidade na complexidade do mundo social.
À guisa de finalização, procuramos com as formulações apresentadas ao longo
deste artigo reposicionar o debate sobre campos organizacionais. De acordo
com os argumentos traçados, as implicações vão além de preferências teóricas.
A escolha de uma ou outra perspectiva sobre campos organizacionais pode
favorecer linhas de análise institucional que dêem preferência a determinados
tipos de interpretação. Dessa forma, no que se refere ao propósito deste artigo,
refletir sobre diferentes possibilidades analíticas e metodológicas deve constituir
preocupação que atinge o cerne da abordagem institucional nos estudos
organizacionais. O aspecto fundamental a ser considerado trata da plausibilidade
de se utilizar diferentes conceitos, dependendo dos objetivos de pesquisa, com o
risco de vieses nas interpretações ou incoerência entre pressupostos ontológicos
e epistemológicos e a abordagem institucional adotada.
As considerações precedentes sobre campo organizacional sugerem certos
princípios analíticos, especialmente aqueles associados à recursividade e à
historicidade. No processo de estruturação de um campo organizacional estrutura
e agência se pressupõem mutuamente. Assim, a ação intencional, seja por disputa
de poder ou de alcance de objetivos, está enquadrada em uma dinâmica que não
separa diferentes dimensões da interação social. Os relacionamentos dispostos
num campo, mesmo que se submetam em primeira instância àqueles aspectos
associados, por exemplo, a recursos ou dominação, não estão desvinculados de
outras ordens sociais ligadas à sua legitimação e significação. Além disso, enquanto
arena institucional recursivamente definida, um campo representa parâmetros
para a ação, ou um sistema de referências em constante elaboração, significativo
para os atores sociais. Portanto, todo o conjunto de possíveis relacionamentos,
passíveis de serem representados por meio de redes sociais, precisa também ser
C. L. Machado-da-Silva, E. R. Guarido Filho, L. Rossoni
140 RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
reconhecido enquanto significado, o que torna de difícil aceitação, pelo menos
conceitualmente, as perspectivas discutidas anteriormente, já que todas elas
atribuem, isoladamente e a priori, o sentido envolvido nas relações sociais. Campos
são fenômenos históricos e sua localização espaciotemporal é relevante para a
compreensão longitudinal de processos de institucionalização, reconhecendo que
neles estão associadas a criação de ordens simbólicas e modelos de
relacionamento social, de modo que, sem a compreensão dessa especificidade
institucional e histórica, qualquer proposta de análise é limitada.
Artigo recebido em 21.02.2006. Aprovado em 30.05.2006.
NOTAS
1 
Versão preliminar deste artigo foi apresentada e publicada nos anais do EnEO 2006 - 4º Encontro
de Estudos Organizacionais da ANPAD -Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Administração, realizado no Brasil, em junho de 2006.
2
 Os autores agradecem aos Professores Charles Kirschbaum, João Marcelo Crubellate e Valéria
Silva da Fonseca os valiosos comentários feitos com base em versão preliminar do artigo. A
consideração desses comentários resultou em aperfeiçoamentos relevantes, mas ressaltamos que
a responsabilidade pela versão final é exclusivamente dos autores do artigo.
3 
Os artigos sobre campo organizacional foram selecionados dos anais do EnANPAD (1998 a
2005) e do EnEO (2000 a 2004), além de todos os números dos seguintes periódicos: RAC, RAE,
RAE Eletrônica, RAUSP, REAd, Cadernos Ebape, Cadernos de Pesquisa em Administração da
USP. Da RAP foi considerado apenas o período 2000 a 2005, e da O&S foram considerados
somente os números disponíveis on-line. Foram identificados 25 artigos, escritos por 23 autores
distintos. No que diz respeito às referências, verificou-se a citação a 17 autores internacionais,
com um total de 149 referências nos 25 artigos. Para a elaboração da rede ilustrada na Figura 1 foi
utilizado o software UCINET 6 (Borgatti, S. P., Everett, M. G., & Freeman, L. C. (2002).
UCINET for Windows: Software for social network analysis. Boston: Harvard Analytic
Technologies) no formato 2-mode para redes de filiação entre artigos e referências específicas ao
conceito de campo.
4 
A análise de Ackroyd (2000) acerca do caráter especial do nível organizacional na estruturação
social é considerada adequada para os fins deste artigo; no entanto, não compartilhamos sem
ressalvas de seu posicionamento crítico sobre organizações.
5 
A abordagem defendida nesse artigo reconhece que o isomorfismo possa ser um indicador do grau
de estruturação de um campo organizacional, mas não o considera com exclusividade. A
complexidade e a multiplicidade de interação no campo proporcionam diferentes contextos de
referência que se influenciam mutuamente. Assim, mais do que promover o isomorfismo, as
relações dentro de um campo podem e são em grande medida contraditórias, embora enquadradas
em lógicas de ação que possibilitam alguma regularidade e continuidade.
6 
Giddens (1978, 2003) define estrutura como regras e recursos gerativos presentes na interação
social ao longo de sua (re)produção recursiva nas práticas sociais. Assim, relações, inerentes a
esse processo de estruturação, bem como as posições sociais ocupadas, seriam decorrentes de
Campos Organizacionais: Seis Diferentes Leituras e a Perspectiva de Estruturação
141RAC, Curitiba, Edição Especial 2010, art. 5, pp. 109-147
propriedades ou princípios estruturais de sistemas sociais. Nesse artigo, em concordância com as
críticas de Cohen (1999), Mingers (2003) e com preceitos do realismo crítico, admite-se que os
próprios relacionamentos pré-existentes e estruturalmente representados nas relações sociais
atuam sobre o processo de (re)produção social (de regras e recursos potencializados na agência).
7 
Nesse ponto, resgata-se uma crítica a teoria da estruturação referente a sua incapacidade de
justificar comportamentos divergentes no sistema social. Na abordagem defendida no artigo, isso
decorre da influência causal do sistema de relacionamentos estabelecido que acomoda potenciais
de transformação, como interesses, nas posições em relações sociais (ver Porpora, 1998).
8 
De acordo com Bhaskar, R. (1983). Beef, structure and place: notes from a critical naturalist
perspective (p. 84). Journal for the Theory of Social Behavior, 13(1), 81-96, “It is because the
social structure is always a given, from the perspective of intentional human agency, thatI prefer
to talk about reproduction and transformation than of structuration as Giddens does (although I
believe our concepts are very close). For me structuration still retains voluntaristic connotations
- social practice is always, so to speak, restructuration”.
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