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Clínica Médica 2 – Hemorragia Digestiva Alta · Hematêmese: vômitos de sangue vivo; · Melena: fezes enegrecidas, pastosas e de odor fétido (sangue digerido) · Enterorragia: fezes com sangue vivo >> sangramento volumoso. Etiologia e fisiopatologia · Causas mais comuns: úlcera péptica, lesão aguda da mucosa gastroduodenal, varizes de esôfago e síndrome de Mallory Weiss (laceração da transição esofagogástrica – atinge mucosa e submucosa e tem vômitos incoercíveis). · Causa varicosa: complicação da cirrose. As varizes se formam com pressão portal acima de 10mmHg > aumentam de diâmetro conforme aumento da pressão. Ruptura: aumento da tensão na parede da variz e plop. · Não varicosa: úlcera gastroduodenal: sangramento autolimitado. · Critérios prognósticos de maior gravidade: 1. Idade acima de 60 anos 2. Choque e instabilidade hemodinâmica (FC>100 e PAsistólica magnitude perda sanguínea. Sinais de hepatopatias: palidez, ascite, ginecomastia e eritema palmar. Diagnóstico e Exames complementares: · Endoscopia digestiva alta -> Diagnóstico, estratificação do risco de sangramento e tratamento de hemorragia digestiva alta. · OBS: Escala de Forrest · Úlcera péptica: sangramento ativo em jato (arterial), vaso visível, ou sangramento em porejamento (venoso) > maior chance de ressangramento (chances diminuem se tiver base limpa). Abordagem Inicial e Tratamento: - Ressuscitação volêmica e endoscopia. · HDA varicosa: terapia endoscópica + farmacológica. Falência: balão esofágico, TIPS ou cirurgia. · HDA não varicosa: sangramento ativo ou recente? Sim (terapia endoscópica, falência ou recorrência – cirurgia); Não (conservador). · Causa não identificada: sangramento menor (tratamento conservador), sangramento importante: angiografia, colonoscopia ou cápsula endoscópica. Doenças do Refluxo Gastroesofágico · Afecção crônica, recidivante e remitente, decorrente do refluxo do conteúdo gastroduodenal para o esôfago e órgãos adjacentes. - Erosiva: com erosões (soluções de continuidade da mucosa esofágica), identificadas pela EDA. - Não erosiva: NERD, sem alterações na endoscopia. Etiopatogenia e fisiopatologia: quebra da barreira antirrefluxo. · Esôfago tem mecanismo de defesa contra reflux de ácido gástrico (como mucosa resistente com junções celulares firmes, matriz intracelular, secreção de bicarbonato pela submucosa, adequada depuração esofágica – peristaltismo eficaz e salivação). · Junção gastroesofágica (JEG) impede que acido reflua para o esôfago por meio do esfíncter esofágico inferior. a) Tem dois componentes: intrínseco (barreira de musculo liso) e extrínseco (cúpula diafragmática e ligamento frênico esofágico). b) Funções: válvula unidirecional, produz gradiente de pressão com fechamento e permite ventilação do estomago proximal durante relaxamento transitório. · Relaxamento transitório do esfíncter: - Mais longos que relaxamentos ligados a deglutição, sem relação com distensão ou peristalse esofágica. - Ocorrem no período pos prandial, desencadeados pela distensão do fundo gástrico por alimentos ou presença de gordura no bulbo duodenal (libera CCK que relaxa o esfíncter) - Comuns no decúbito lateral direito - Fisiológicos, de curta duração e rápida depuração. · Hipotonia do esfíncter: - Casos + graves - > pacientes tem pressão normal · Depuração ineficiente: - Depuração esofágica do material refluído a) peristalse (não mais 100% efetiva): alterações de motilidade gástrica > esclerodermia b) pequena quantidade de secreção lavada e tamponada pela saliva e bicarbonato esofágico > reduz produção salivar: medicamentos anticolinérgicos, radioterapia para CA de cabeça e pescoço, síndrome de Sjogren e tabagismo. · Hipersensibilidade do esôfago > variação individual · Alterações anatômicas: hérnia hiatal (migração proximal da JEG > estômago na posição intratorácica) – perda do fator protetor da cúpula diafragmática, o suco gástrico fica armazenado na bolsa herniada e forma um reservatório de acido que a aumenta a intensidade e tempo de exposição do esôfago ao ácido gástrico > “refluxo”. · Esvaziamento gástrico lentificado: aumenta tempo de exposição do tecido ao acido sobre a mucosa esofágica > lentifica o esvaziamento esofágico também · Aumento da pressão intra-abdominal: obesidade central > aumenta pressão sobre a JEG proximalmente e pode levar a herniação. · H. pylori > não tem efeito sobre a gravidade ou recorrência de sintomas ou eficácia do tratamento da DRGE. Manifestações Clínicas · Típicas: pirose e regurgitação · Atípicas: ação direta do material refluído sobre a via aérea, ou refluxo vagal causado por irritação mucosa. a) Esofágicas: dor retroesternal não cardíaca e globus faríngeo; b) Extraesofágicas: orais (erosão dentária), otorringolaringo (otite) e pulmonares (tosse); · Sintomas de alarme: (predizem complicações) 1. Disfagia e odinofagia 2. Perda de peso 3. Sangramento TGI 4. Anemia crônica 5. Náuseas e vômitos 6. Idade > 40 anos 7. História familiar de neoplasias malignas do TGI superior Diagnóstico: · Basicamente clínico; · Preditivo > pirose e regurgitação presentes + de 2x na semana por período de 4 – 8 semanas > indicação de teste terapêutico com IBP. · Ausência de sintomas não exclui DRGE. · Endoscopia digestiva alta: primeiro exame indicado na suspeita. Tem boa especificidade e baixa sensibilidade. Avalia a presença e intensidade da esofagite erosiva e faz biopsia > DD com esofagite eosinofílica; não é indicada em EE não complicada (não tem alteração endoscópica) · DRGE > aumento dos espaços intercelulares, causa hiperplasia de células das camadas basais e alongamento das papilas + complicações como estenose, metaplasia e adenocarcinoma. OBS: Classificação de Savary-Miller e Los Angeles. Complicações: · Forma NERD não tem forma erosiva. · Úlceras, hemorragia digestiva, estenose péptica, EB e adenocarcinoma; · Estenose péptica: estreitamento luminal persistente do esôfago por inflamação crônica e posterior fibrose, causa mais comum de estenose benigna do esôfago, vai ter disfagia progressiva. · Esôfago de Barret: substituição do epitélio escamoso estratificado por colunar (fundico, cárdico ou intestinalizado), em pacientes com EB > fazer biopsia em 4 quadrantes. · OBS: exames complementares: radiografia contrastada com bário, manometria, phmetria, impedanciometria. Tratamento · Mudanças dos hábitos + medicação; · Antiácidos > ação quase imediata, melhora dos sintomas, mas não cicatriza mucosa com evita complicações · Bloqueadores H2 da histamina: ranitidina e companheiros, inibem secreção acida pela ligação do receptor da histamina localizada na membrana basolateral das células parietais; controle dos sintomas + cicatrização. · IBP: omeprazol e companheiros, 20mg/dia por 8 semanas, atuam sobre a bomba na membrana apical da célula, usar de 30-60min antes da primeira refeição diária. · Procinéticos: aumentam tônus do esfíncter, o peristaltismo esofagiano e o esvaziamento gástrico. Agonistas do receptor de 5-HT dos receptores GABA e antagonista dos receptores de dopamina. · Fundoplicadura a Nissen: recolocação do esôfago na cavidade abdominal + hiatoplastia + fundoplicadura. Doença Ulcerosa Péptica · Soluções de continuidade com mucosa gastrointestinal estendendo através da muscular da mucosa e atingindo muscular e muscular própria. · Lesões mais superficiais são erosão e não atingem submucosa. Epidemiologia · Causas mais comuns AINE e H. pylori · Declínio relacionado a redução das taxas de infecção pelo H.pylori · Taxa de úlcera péptica complicada com hemorragia por perfurações não teve redução – crescente uso de AINE · Causa mais comum de HDA, sangramento é a complicação mais frequenteda úlcera. · Perfurações são complicações mais graves e ocorrem mais na pequena curvatura gástrica e na parede anterior do bulbo duodenal · Antro: local mais frequente de úlcera péptica do estomago > em epitélio gástrico não secretor de ácido e próxima a transição para o epitélio secretor no corpo do estomago > gástrica + complicada; · Úlcera duodenal: principal forma de úlcera péptica + mais primeira porção: bulbo duodenal. Etiologia e fisiopatologia · Lesão: aumento dos fatores agressivos e redução dos defensivos e de reparação · Hipersecreção de ácido, gastrina e pepsina > produção de ácido aumentada na úlcera duodenal e reduzida na úlcera gástrica (?) · Aumento da secreção ácida (na úlcera duodenal) explicada por: a) Aumento da população parietal e aumento da sensibilidade da célula b) Parietal > ativada pela histamina da célula ECS, gastrina e CCK (vago) > produz ATPase c) Sensibilidade menor da célula G aos mecanismos inibitórios > células D, produtoras de somatostatina, estão próximas às células G no antro: somatostania se difunde e ocupa seu receptor nas células G (via parácrina), onde tem ação inibitória >>>> células G menos sensíveis aos freios. d) Na úlcera duodenal há produção mais prolongada de HCL e esvaziamento gástrico mais rápido > maior frequência de metaplasias colonizadas por H. pylori que estabelece a inflamação > mais passível de agressão. · Fatores ambientais e secreção gástrica: alimentação, medicamentos, tabagismo, estado emocional e H. pylori · Pepsinogênio: elevado e com maior atividade proteolítica nas úlceras. · H. pylori: citocinas inflamatórias + resposta imune do hospedeiro > agressão - Diminui disponibilidade endógena de prostaglandinas e dos fatores de crescimento epitelial > debilita a mucosa. - Pacientes com úlcera duodenal > inflamação se restringe do antro gástrico, corpo e poupado, produção de gastrina aumentada mucosa do corpo normal produz muito ácido, afetando em maior quantidade o bulbo duodenal – aumento de gastrina por redução de produção de somatostatina. - Peptídeo liberador de gastrina > neuropeptídio presente principalmente no antro é liberado na presença de alimentos: distúrbios relacionados a hipergastrinemia tendem a exacerbação com ingestão de alimentos. - Pacientes predestinados a desenvolver úlcera estão infectados por cepas cag-A positivas e em geral vac-A+. Úlcera gástrica: relacionada com AINE. - Pangastrite com redução de massa funcional de células parietais. - Mesmo com hipergastrinemia não há hipersecreção gástrica - Fragilidade da mucosa – inflamação e redução de mecanismos de defesa da mucosa (camada de mucobicarbonato, redução da capacidade surfactante do muco, redução da vitalidade da mucosa por alterações na microcirculação e redução na capacidade de regeneração) Quadro Clínico · Dor epigástrica em queimação · Úlcera duodenal: dor 2-3h ap´s refeição, aliviada por ingestão alimentar ou antiácidos, pacientes pode ter ganho ponderal por comer para melhorar a dor; pode ter caráter periódico com despertares noturnos. · Úlcera gástrica: dor simular a duodenal, agravada com alimentação, perda ponderal e anorexia, menos responsiva a antiácidos. · Complicada: melena, hematêmese, náuseas e vômitos, distensão abdominal, sinais de peritonite, instabilidade hemodinâmica. Diagnostico e exames complementares: Endoscopia digestiva alta (faz diagnostico, mostra natureza e etiologia da úlcera, o aspecto varia conforme ciclo vital das úlceras pépticas) OBS: Classificação de Sakita (ao lado) · Após cicatrização pode surgir traves de fibrose que podem diminuir a luz por retração e formar pseudodivertículos. - Obrigatório realizar biópsia das bordas de toda a lesão ulcerada gástrica! >>>> Diagnóstico de fatores etiológicos: 1. H. Pylori: métodos invasivos: teste da urease ou análise histológica com material de biopsia. Não invasivos: teste sorológico (Igg aumentada não significa infecção ativa), teste respiratório de atividade da urease (positivo e sempre infecção ativa) e pesquisa do antígeno fecal; repetir exames após 6 – 8 semanas após tratamento. 2. Medicamentos anti-inflamatórios: úlcera gástrica resistente ao tratamento e suspeita de AINE > solicitar nível sérico de salicilatos ou atividade de cliclooxigenase das plaquetas; 3. Gastrinoma: diagnostico com quadro compatível (múltiplas úlceras refratarias e recorrentes, aumento da concentração sérica de gastrina em jejum acima de 1000pg/ml e hipersecreção gástrica de acido positivo teste de secretina – aumento). Tratamento: · Fortalecer a integridade da mucosa (pro-secretores) e diminuir secreção cloropeptica (anti-secretores). · Pro-secretores: antiácidos (neutralizam conteúdo acido e liberam prostaglandinas endógenas, sucralfato: película protetora sobre base da ulceração), sais de bismuto coloidal (ação bactericida e liberação de PG endógena). · Anti-secretores: cicatrização. Bloqueadores H2, IBP (se tiver H. pylori usa IBP + azitromicina 500mg + amoxicilina 1000mg de 7 – 14 dias). Condutas Importantes 1. Hemorragia Digestiva Alta: Estabilização clínica: máscara de 02 + 2 acessos venosos calibrosos com ringer lactato aquecido 39ºC; Se causa for úlcera péptica > tratamento clínico endoscópico. a) 30mg de IBP em bolus IV e depois 8mg/h em bomba de infusão continua b) EDA: eletrocoagulação e epinefrina Se causa for varizes esofágicas: a) Profilaxia 1ª: propranolol ou ligadura elastica b) Profilaxia 2ª: propranolol e ligadura elastica c) Evento agudo: estabilização hemodinâmica, EDA (ligadura ou eletrocoagulação), vasoconstritor esplênico, balão de Sangastaken-Blakemore – TIPS. d) Antibioticoprofilaxia para PBE. 2. Doenças do RGE a) Diagnóstico: clínico + prova terapêutica (IBP 40mg por 2 semanas se típica e 2 – 3 meses se atípica); TTO: IBP 40mg por 4 – 8 semanas e antibiótico se tiver H. pylori image3.png image1.png image2.jpeg