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1 2 3 OBSERVAÇÕES INICIAIS A prova objetiva do TRF-1 foi aplicada dia 15/06/2025. Assim que tivemos acesso ao gabarito preliminar iniciamos a tradicional prova comentada do Mege e aceleramos para entregar tudo dentro do prazo recursal. Mais uma vez, missão cumprida! A intenção neste material é auxiliar nossos alunos e seguidores na análise da elaboração de seus recursos, além de possibilitar, em formato conclusivo, a revisão de temas cobrados no certame e verificação de maiores chances de avanço para 2ª fase. O arquivo aqui apresentado trata de versão preliminar elaborada com as finalidades informadas e concluído por nosso time específico de 1ª fase de magistratura, sem maiores pretensões de aprofundamento ou trabalho editorial neste momento, que é de puro apoio (e não foca na detectação de questões antecipadas em nossas várias formas de atuação). No Clube da Magistratura, o Mege revisa um edital completo em 1 ano de estudo, ou seja, a produção é realmente vasta. O corte, neste momento, segue estimado em 68/69 acertos para ampla concorrência. Os(as) candidatos(as) que concorrem às vagas destinadas ao sistema de cotas precisam acertar 60 pontos. Os nossos professores entendem que 9 (nove) questões, em especial, estão envolvidas em maior polêmica a serem apreciadas (21, 38, 42, 48, 63, 94, 96, 98 e 99). Portanto, podem ter suas situações alteradas na fase recursal, o que deixa em aberto a nota de corte para outras possibilidades. É claro que podem ter mais questões que venham a ser anuladas ou alteradas com o gabarito oficial (mas, como a prova foi bem elaborada, não entendemos que a surpresa seja maior que 1 ou 2 a mais que a nossa previsão). De todo modo, levamos esse pensamento de probabilidade no mapa mental dos caminhos indicados, que apresentamos nas páginas seguintes. Diante disso, em nosso sentimento, ainda é possível sonhar com a aprovação na ampla concorrência com até 66/67 acertos (tendo como parâmetro o corte atual e uma margem de erro razoável sobre a quantidade de anulações). A sua maior ou menor probabilidade dependerá do aproveitamento das questões mais polêmicas. Trata-se de mera opinião de parâmetro circunstancial de tudo que temos de informação neste momento. Em cotas, o desempenho nas questões que apontamos com maior probabilidade de mudança passam a ter chances (notas entre 54/55 passam a ter chances). Em nossa experiência, constatamos um parâmetro de que a cada 2 (duas) questões anuladas a pontuação oficial de corte aumenta em 1 (um) ponto. Essa dica deve seguir como norte para definição de maiores chances de avanço no certame. Não temos como cravar quantas questões efetivamente serão afetadas, mas guardem esta informação de parâmetro para verificarem suas chances reais! 4 É importante mencionar que o Clube da Magistratura, a nossa turma mais completa, é extremamente decisiva em qualquer prova (especialmente por tratar de um edital completo ao longo de 1 ano – e aqui falamos, sem qualquer receio, em todas as fases). Não fizemos maiores apontamentos sobre sua produção neste material por conta do curto tempo de comparativo temático entre a sua produção e as questões de prova (ainda dentro do prazo recursal – objetivo maior). ESTUDE PARA TODAS AS FASES AO LADO DO MEGE SUA APROVAÇÃO OU SEU DINHEIRO DE VOLTA! APROVEITEM PARA CONHECER EM DETALHES SOBRE O PLANO ATÉ PASSAR (que libera turmas do Mege para todas as fases: Clube da Magistratura, Retas Finais, 2ª fases e Provas Orais) e seus benefícios de economia, praticidade e garantia, para quem realmente está comprometido com o projeto de se tornar Juiz/Juíza de Direito. É válido citar que, neste momento, estamos com inscrições abertas para Clube da Magistratura 2025.2, TJCE (reta final), turmas de 2ª fase para TJSC e TJSE. Próximas turmas: TRF 1ª região (2ª fase). Clube da Magistratura 2025.2 (+ Plano Até Passar) CAMINHOS POSSÍVEIS APÓS A PROVA OBJETIVA DO TRF-1 Em nossa análise, sobre caminhos pós-prova no TRF-1, entendemos que esse direcionamento esquematizado pode orientar da melhor forma, analisamos abaixo https://lp.mege.com.br/clube-da-magistratura-ate-passar/ 5 possíveis caminhos. Na sequência, preparamos um quadro esquematizado para facilitar sua compreensão. SE VOCÊ NÃO FOI TÃO BEM NO TRF-1, NÃO SE DESESPERE! O Clube da Magistratura foi pensado para ajudar nos próximos desafios Aos colegas que não estão dentro das faixas mencionadas, indicamos, conforme o caso, entrar imediatamente no Clube da Magistratura (turma 2025.2). Nossa turma mais completa para quem se prepara para carreira (inclusive assinante premium ganha acesso a todas as retas finais de magistratura que atuamos). Se você presta concursos de magistratura em outros estados, o Clube da Magistratura conta com tudo que você precisa para preparação em todas as fases do concurso. Em 2025, temos a sua melhor versão da história! Com muitas novidades sobre o apoio de Inteligência Artificial. Uma preparação completa: desde o estudo voltado para 1ª fase até correções de provas de 2ª fase de forma personalizada (com opção de acompanhamento personalizado). Vale a pena conferir! 6 A SEGUNDA FASE É LOGO ALI Nós criamos um grupo de whatsapp para ajudar nos debates dos candidatos sobre este desafio. GRUPO ABERTO DE DISCUSSÕES DO TRF-1 Agora é com vocês, vamos para análise de tudo que caiu na objetiva do TRF-1 em detalhes. Seguiremos firmes em um trabalho realmente específico também para 2ª fase deste desafio! Arnaldo Bruno Oliveira1 Equipe Mege 1 Insta: @prof.arnaldobruno (fiquem à vontade para o envio de mensagens sobre o Mege). https://chat.whatsapp.com/DAygCct4OpLLEgDOqL58N2 7 SUMÁRIO BLOCO I ..................................................................................................................... 8 DIREITO CONSTITUCIONAL ........................................................................................... 8 DIREITO PREVIDENCIÁRIO .......................................................................................... 19 DIREITO PENAL ............................................................................................................ 28 DIREITO PROCESSUAL PENAL ...................................................................................... 40 DIREITO ECONÔMICO E DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR ........................................ 50 BLOCO II .................................................................................................................. 66 DIREITO CIVIL .............................................................................................................. 66 DIREITO PROCESSUAL CIVIL ........................................................................................ 78 DIREITO EMPRESARIAL ............................................................................................... 93 DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO ......................................................................... 100 BLOCO III ............................................................................................................... 116 DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................................ 116 DIREITO AMBIENTAL ................................................................................................. 130 DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO ........................................................ 136 NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E FORMAÇÃO HUMANÍSTICA ..................................... 142 DIREITOS HUMANOS................................................................................................. 150 8 BLOCO I DIREITO CONSTITUCIONAL 1. Em razão do exponencial crescimentoseja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. À pessoa jurídica, assim como a qualquer acusado na esfera penal, também se aplicam os princípios penais constitucionais, como o da intranscendência da pena, que dispõe que nenhuma pena passará da pessoa do acusado (art. 5º, XLV, da CF). Nesse sentido: O princípio da intranscendência da pena, previsto no art. 5º, XLV da Constituição Federal, tem aplicação às pessoas jurídicas, de modo que, extinta legalmente a pessoa jurídica - sem nenhum indício de fraude -, aplica-se analogicamente o art. 107, I, do Código Penal, com a consequente extinção de sua punibilidade. STJ. 3ª Seção. REsp 1.977.172-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/08/2022 (Info 746). (B) INCORRETA. As sanções criminais não se equiparam às sanções civis. A Lei n. 9.605/1998 possui um rol expresso das sanções criminais a serem aplicadas às pessoas jurídicas (arts. 21 a 24). (C) INCORRETA. O posicionamento anterior da jurisprudência era no sentido de ser obrigatória a imputação simultânea de crime à pessoa jurídica e à pessoa física, pela chamada Teoria da Dupla Imputação. Todavia, esse entendimento foi ultrapassado, conforme é possível perceber no seguinte julgado: PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA 36 POR CRIME AMBIENTAL: DESNECESSIDADE DE DUPLA IMPUTAÇÃO CONCOMITANTE À PESSOA FÍSICA E À PESSOA JURÍDICA. 1. Conforme orientação da 1ª Turma do STF, "O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma constitucional não impõe a necessária dupla imputação." (RE 548181, Relatora Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 6/8/2013, acórdão eletrônico DJe-213, divulg. 29/10/2014, public. 30/10/2014). 2. Tem-se, assim, que é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome. Precedentes desta Corte. 3. A personalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de artifício para a prática de condutas espúrias por parte das pessoas naturais responsáveis pela sua condução. 4. Recurso ordinário a que se nega provimento. (STJ, RMS n. 39.173/BA, relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 6/8/2015, DJe de 13/8/2015.) (D) INCORRETA. Confira-se o seguinte julgado do STJ: PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ESPECIAL. CRIME DE POLUIÇÃO (ART. 54, § 2º, V, DA LEI 9.605/1998). CONDUTA PRATICADA POR SOCIEDADE EMPRESÁRIA POSTERIORMENTE INCORPORADA POR OUTRA. EXTINÇÃO DA INCORPORADA. ART. 1.118 DO CC. PRETENSÃO DE RESPONSABILIZAÇÃO PENAL DA INCORPORADORA. DESCABIMENTO. PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA DA PENA. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 107, I, DO CP. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE MANTIDA. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. [...] 4. O princípio da intranscendência da pena, previsto no art. 5º, XLV, da CR/1988, tem aplicação às pessoas jurídicas. Afinal, se o direito penal brasileiro optou por permitir a responsabilização criminal dos entes coletivos, mesmo com suas peculiaridades decorrentes da ausência de um corpo biológico, não pode negar-lhes a aplicação de garantias fundamentais utilizando-se dessas mesmas peculiaridades como argumento. 5. Extinta legalmente a pessoa jurídica ré - sem nenhum indício de fraude, como expressamente afirmou o acórdão recorrido -, aplica-se analogicamente o art. 107, I, do CP, com a consequente extinção de sua punibilidade. 6. Este julgamento tratou de situação em que a ação penal foi extinta pouco após o recebimento da denúncia, muito antes da prolação da sentença. Ocorrendo fraude na incorporação (ou, mesmo sem fraude, a realização da incorporação como forma de escapar ao cumprimento de uma pena aplicada em sentença definitiva), 37 haverá evidente distinção em face do precedente ora firmado, com a aplicação de consequência jurídica diversa. É possível pensar, em tais casos, na desconsideração ou ineficácia da incorporação em face do Poder Público, a fim de garantir o cumprimento da pena. 7. Diversamente, a responsabilidade civil pelos danos causados ao meio ambiente ou a terceiros, bem como os efeitos extrapenais de uma sentença condenatória eventualmente já proferida quando realizada a incorporação, são transmissíveis à incorporadora. 8. Recurso especial desprovido. (REsp n. 1.977.172/PR, relator Ministro Ribeiro Dantas, Terceira Seção, julgado em 24/8/2022, DJe de 20/9/2022.) (E) INCORRETA. Vide comentários da alternativa A. _______________________________________________________________________ 24. Considerando a jurisprudência dos Tribunais Superiores acerca da pena de multa, é CORRETO afirmar que: (A) a atualização do valor da multa pelos índices de correção monetária dar-se-á a partir da data da sentença condenatória; (B) cumprida a pena privativa de liberdade, o inadimplemento da pena de multa não obsta a extinção da punibilidade para o condenado economicamente hipossuficiente; (C) a requerimento do condenado, o juiz pode permitir que o pagamento da multa se realize em parcelas mensais, vedado o desconto no vencimento ou salário do condenado; (D) na execução da pena de multa, observar-se-ão as causas interruptivas e suspensivas da prescrição previstas no Código Penal; (E) cabe habeas corpus contra decisão condenatória à pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena seja a única cominada. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Conforme entendimento do STJ: PENAL. MULTA. CORREÇÃO MONETÁRIA. TERMO INICIAL. Consoante o § 1º, do art. 49, do Código Penal, o cálculo da correção monetária da pena de multa imposta por decisão penal condenatória deve ser feito tomando-se como termo inicial a data do fato criminoso. Precedente da 3ª Seção. Recurso conhecido mas desprovido. (REsp n. 256.606/RS, relator Ministro José Arnaldo da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 17/8/2000, DJ de 2/10/2000, p. 181.) 38 (B) CORRETA. É o que decidiu o STJ, conforme Tema 931 (revisado), divulgado no informativo n. 803: “O inadimplemento da pena de multa, mesmo após o cumprimento da pena de prisão ou da pena restritiva de direitos, não impede a extinção da punibilidade, desde que o condenado alegue hipossuficiência, salvo se o juiz competente, em decisão devidamente fundamentada, entenda de forma diferente, indicando especificamente a capacidade de pagamento da penalidade pecuniária” (STJ, REsp 2.090.454-SP, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, por unanimidade, julgado em 28/02/2024, DJe 1/3/2024). (C) INCORRETA. De acordo com o STJ, “A Lei de Execução Penal (art. 168 e 170) autoriza a retenção de valores recebidos pelo condenado para o pagamento da multa penal, limitando o desconto mensal a 25% da remuneração ou pecúlio, como forma de garantir o cumprimento da condenação”. (STJ, REsp n. 2.113.263/SP, relatora Ministra Daniela Teixeira, Quinta Turma, julgado em 18/2/2025, DJEN de 25/2/2025.) (D) INCORRETA. De acordo com o divulgado no informativo n. 833, do STJ, “a nova redação do art. 51 do Código Penal não retirou o caráter penal da multa, de modo que, embora se apliquem as causas suspensivas da prescrição previstas na Lei n. 6.830/1980 e as causas interruptivas disciplinadas no art. 174 do Código Tributário Nacional, o prazo prescricional continua regido pelo art. 114, II, do Código Penal, inclusive quanto ao prazo de prescrição intercorrente” (STJ, REsp 2.173.858-RN, Rel. Ministro Afrânio Vilela,Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 5/11/2024, DJe 11/11/2024). (E) INCORRETA. Nos termos da Súmula n. 693, do STF, “Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória à pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada”. Assim, correta a alternativa B. _______________________________________________________________________ 25. A respeito da prescrição, considere as situações a seguir. (i) A Fazenda Pública, em 10/01/2015, constituiu definitivamente crédito tributário que tem como devedor Antônio, profissional liberal de 45 anos. Em 10/03/2019, a Justiça recebeu denúncia que imputou a Antônio o crime de declaração falsa às autoridades fazendárias. Em 10/01/2023, publicou-se sentença que condenou Antônio à pena mínima, isto é, 2 anos de reclusão, cujo prazo prescricional é de 4 anos, e multa. A condenação transitou em julgado para a acusação, mas pende recurso interposto pela defesa. Em 10/12/2024, o crédito tributário foi declarado prescrito na esfera administrativa. (ii) O Ministério Público Federal ofereceu denúncia em face de duas pessoas em razão de fato criminoso ocorrido há mais de 40 anos. Sustenta que a imprescritibilidade decorre de norma prevista em tratado internalizado pelo ordenamento jurídico brasileiro. À luz do entendimento do Superior Tribunal de Justiça, é CORRETO afirmar que: (A) no caso (i), a prescrição da pena de multa, cujo prazo é de 2 anos e regulado autonomamente em relação à prescrição da pena privativa de liberdade, ocorreu entre o recebimento da denúncia e a publicação da sentença condenatória; 39 (B) no caso (i), a apreciação do recurso de apelação, em 02/06/2025, deverá declarar a prescrição da pretensão punitiva em concreto retroativa, ocorrida entre a constituição definitiva do crédito e o recebimento da denúncia; (C) no caso (i), a apreciação do recurso de apelação, em 02/06/2025, deverá declarar a prescrição da pretensão punitiva como decorrência da prescrição do crédito tributário; (D) no caso (ii), afastar-se-á a imprescritibilidade quando o agente completar 70 anos; (E) no caso (ii), a denúncia deverá ser rejeitada, porque a imprescritibilidade, norma de direito penal, exige a existência de lei em sentido formal. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Conforme disposto no art. 114, do CP, a prescrição da pena de multa terá o prazo de 2 anos apenas quando ela for a única cominada. Sendo cominada pena de multa e pena privativa de liberdade, o prazo prescricional da pena de multa será o mesmo da pena privativa de liberdade. Nesses termos: Art. 114 - A prescrição da pena de multa ocorrerá: I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única cominada ou aplicada; II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena privativa de liberdade, quando a multa for alternativa ou cumulativamente cominada ou cumulativamente aplicada (B) INCORRETA. Não é possível retroagir o cálculo do prazo prescricional para antes do recebimento da denúncia, nos termos do art. 110, § 1º, do CP. Confira-se: Art. 110 [...] § 1º A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. (C) INCORRETA. De acordo com o STJ, “as instâncias administrativo-tributária, cível e penal são independentes, o que reflete no reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva estatal. Desse modo, a extinção do crédito tributário pela prescrição não implica, necessariamente, a extinção da punibilidade do agente”. (STJ, AgRg no AREsp 202.617/DF, Rel. Ministro CAMPOS MARQUES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PR), QUINTA TURMA, julgado em 11/04/2013, DJe 16/04/2013) (D) INCORRETA. O crime não deixa de ser imprescritível em razão da idade do agente, uma vez que as causas de imprescritibilidade estão previstas na Constituição Federal. Quando o agente completa 70 anos antes da sentença, ocorrerá a redução do prazo prescricional pela metade, nos termos do art. 115, do CP. (E) CORRETA. Esse é o entendimento do STF. Confira-se: 40 [...] 3. A circunstância de o Estado requerente ter qualificado os delitos imputados ao extraditando como de lesa-humanidade não afasta a sua prescrição, porquanto (a) o Brasil não subscreveu a Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade, nem aderiu a ela; e (b) apenas lei interna pode dispor sobre prescritibilidade ou imprescritibilidade da pretensão estatal de punir (cf. ADPF 153, Relator(a): Min. EROS GRAU, voto do Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, Dje de 6.8.2010). STF. Plenário. Ext 1362/DF, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, julgado em 9/11/2016 (Info 846). Dessa forma, correta a alternativa E. _______________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL PENAL 26. Fernando e Dorival, funcionários públicos federais e no exercício de suas funções, foram vítimas do crime de injúria racial cometido por Carlos. Após a conclusão do inquérito policial, o Ministério Público não exerceu a ação penal no prazo legal, tampouco se manifestou, e Fernando ajuizou ação penal subsidiária, tendo Dorival se quedado inerte. No decorrer da ação, Fernando, apesar de intimado, deixou de dar andamento ao processo por mais de 30 dias seguidos, abandonando-o. Diante disso, Dorival requereu seu ingresso como assistente de acusação de Fernando para poder dar o devido andamento ao feito. No contexto narrado, é CORRETO afirmar que: (A) não será admissível a habilitação de Dorival como assistente, pois este já tinha renunciado ao direito de queixa; (B) se verificou o perdão tácito por parte de Fernando e a renúncia tácita ao direito de queixa por parte de Dorival; (C) será admissível a habilitação de Dorival como assistente de Fernando, após parecer favorável do Ministério Público; (D) deverá o Ministério Público retomar a ação como parte principal diante da negligência de Fernando; (E) se verificou a perempção do direito de queixa, devendo o juízo extinguir o feito sem exame do mérito. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS 41 (A) INCORRETA. O fato de Dorival ter se mantido inerte ao direito de queixa em ação penal privada subsidiária da pública não o torna impedido de figurar como assistente de acusação em ação penal pública, uma vez que, mesmo tendo quedado inerte, mantém o “status” de vítima, o que é suficiente para seu ingresso no feito. Não há sequer renúncia por parte de Dorival, uma vez que esta é caracterizada quando a vítima, de forma expressa ou tácita, demonstra não ter interesse no ajuizamento da ação, o que não ocorreu no caso em tela. (B) INCORRETA. O fato de Fernando deixar de dar andamento ao processo por mais de 30 dias caracteriza perempção (art. 60, I, do CPP), e não perdão tácito. (C) INCORRETA. No caso, havendo perempção por parte de Fernando (art. 60, I, do CPP), ocorre a chamada “ação penal indireta”, com a retomada do processo por parte do Ministério Público. É um caso impróprio em que, mesmo havendo perempção, não haverá a extinção da punibilidade (art. 107, IV, do CP), mas, sim, a retomada do feito por parte do Ministério Público. Não é possível, então, que Dorival seja assistente de acusação de Fernando. (D) CORRETA. Vide comentários da alternativa C. (E) INCORRETA. Vide comentários da alternativa C. Assim, correta a alternativa D. _______________________________________________________________________ 27. A partir de prorrogação de interceptação telefônica não autorizada judicialmente, a autoridade policial descobriu o paradeiro de Paulo Roberto e constatou que ele praticava os crimesde tráfico de armas e de drogas com o exterior, guardando, em sua residência, arsenal bélico e substâncias entorpecentes. Com tais informações, a autoridade policial representou ao juízo no sentido da busca e apreensão na residência de Paulo Roberto, o que foi encampado pelo Ministério Público e deferido judicialmente. Com base nos elementos colhidos na busca e apreensão, o Ministério Público ofereceu denúncia em face de Paulo Roberto pelos crimes de tráfico de entorpecentes e de armas. Diante desse cenário, é CORRETO afirmar que a denúncia se baseia em provas: (A) lícitas, devendo ser recebida, pois a decisão judicial relativa à busca e apreensão supre a ausência de decisão quanto à prorrogação da interceptação telefônica; (B) lícitas, devendo ser recebida, pois a guarda de armas e substâncias entorpecentes configura situação de flagrante, o que autoriza a entrada na residência e a apreensão; (C) ilícitas por derivação, devendo ser rejeitada, pois o resultado da busca e apreensão decorre diretamente da prorrogação da interceptação telefônica não autorizada judicialmente; (D) ilegítimas por derivação; contudo, não havendo nexo de causalidade entre a busca e apreensão e a interceptação telefônica, poderá ser recebida; (E) ilegítimas por derivação; contudo, como poderia ser obtida por uma fonte independente da interceptação telefônica, poderá ser recebida. _______________________________________________________________________ 42 GABARITO: C COMENTÁRIOS O enunciado começa alertando que houve uma interceptação telefônica não autorizada judicialmente. Assim, de início, percebe-se que se trata de prova ilícita, nos termos do art. 5º, XII, da CF, e do art. 1º, da Lei n. 9.296/1996. Então, por meio dessa prova ilícita foi descoberto o paradeiro de Paulo Roberto, bem como foi descoberto que ele praticava crimes de tráfico de armas e de drogas com o exterior. Como decorrência dessa descoberta, a autoridade policial representou por busca e apreensão, sendo que os elementos colhidos embasaram, assim, a denúncia oferecida pelo Ministério Público. Em outras palavras: de uma interceptação ilícita se chegou ao paradeiro do agente e aos crimes praticados, o que levou a uma busca e apreensão, que, enfim, resultou em elementos que embasaram o oferecimento da denúncia. Como se sabe, a prova ilícita é inadmissível, conforme art. 5º, LVI, da CF e art. 157, do CPP. Assim, chegamos à conclusão de que a interceptação telefônica é inadmissível. Por outro lado, as provas derivadas das ilícitas também são inadmissíveis, conforme art. 157, § 1º, do CPP: Art. 157 [...] § 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. Assim, tudo que foi produzido com base na interceptação telefônica ilícita também é inadmissível, ou seja, a busca e apreensão que embasou a denúncia é igualmente inadmissível, mesmo tendo sido autorizada judicialmente, pelo simples fato de decorrer de uma prova ilícita. É a famosa “Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada”. (A) INCORRETA. Como explicado, a denúncia se baseia em prova ilícita. Não há falar, nesse caso, em convalidação da prova ilícita pela autorização judicial da busca e apreensão. (B) INCORRETA. Como explicado, a busca e apreensão ocorreu em decorrência das informações obtidas em interceptação telefônica ilícita, motivo pelo qual as provas colhidas são ilícitas. Ainda que caracterizada situação de flagrante, somente seria possível a entrada na residência e a apreensão das armas e drogas nos casos de “fundada suspeita” do cometimento de crime, o que ocorreu com base em provas ilícitas, contaminando todas as provas encontradas. (C) CORRETA. Vide comentários anteriores. (D) INCORRETA. No caso, em que pese a CF e o CPP não tenham feito distinção entre provas ilícitas e ilegítimas, entende-se por provas ilegítimas aquelas que violam normas procedimentais (processuais). Por outro lado, as provas ilícitas são aquelas que possuem 43 natureza material, violando princípio ou norma constitucional. Como explicado anteriormente, houve violação de normas constitucionais (art. 5º, XII e LVI, da CF), sendo a prova ilícita, e não ilegítima. Ainda que assim não fosse, há claro nexo de causalidade entre a busca e apreensão e a interceptação telefônica, ao contrário do afirmado pela alternativa. (E) INCORRETA. Sobre a prova ilícita e ilegítima, vide comentários da alternativa D. Sobre a fonte independente, não é o caso. Não há qualquer evidência no enunciado de que a prova seria descoberta pelo desdobramento natural da investigação. Pelo contrário, o enunciado deixa claro que somente houve a descoberta da prova em razão da prorrogação de uma interceptação telefônica ilícita, evidenciando claro nexo causal necessário. Dessa forma, correta a alternativa C. _______________________________________________________________________ 28. Maximiliano, policial militar em serviço durante um evento esportivo, cometeu crime de lesão corporal com resultado morte em coautoria com Décio, este servidor público que estava de folga. A vítima, Juan Pablo, era de nacionalidade argentina e visitava o Brasil apenas para assistir ao evento esportivo. Nessa hipótese, em relação à competência para processar e julgar os autores do delito em questão, é CORRETO afirmar que: (A) Maximiliano e Décio serão julgados conjuntamente no juízo militar, em razão da continência; (B) Maximiliano será julgado no juízo militar e Décio será julgado no juízo comum, havendo separação de processos; (C) Maximiliano e Décio serão julgados conjuntamente no Tribunal do Júri, em razão da conexão; (D) Maximiliano será julgado no Tribunal do Júri e Décio será julgado no juízo comum; (E) Maximiliano será julgado pelo juízo comum, por não haver crime de lesão corporal com resultado morte no Código Penal Militar. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS De acordo com entendimento antigo e pacífico do STF, não é caso de julgamento conjunto, mas, sim, de separação de processos. Vejamos: HABEAS-CORPUS. Competência originária do Supremo Tribunal Federal. Coação decorrente de decisão do Superior Tribunal Militar, proferida em "habeas corpus" e transitada em julgado. Crime praticado por militar e civil, em coautoria. Continência de causa - cumulação subjetiva entre crime comum e militar (art. 44 100, "a", CPPM, art. 77, do CPP). Hipótese em que não se justifica a unidade de processo e julgamento (art. 102, "a", CPPM, e o art. 79, I, do CPP). Competência da jurisdição castrense para o julgamento do militar e da jurisdição comum para o civil. No mesmo sentido, inclusive, é o disposto no art. 79, I, do CPP: Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar; Importante registrar, ainda, que a coautoria caracteriza continência, nos termos do art. 77, I, do CPP, e não conexão. Assim, passemos à análise das alternativas. (A) INCORRETA. Vide comentários anteriores. (B) CORRETA. Vide comentários anteriores. (C) INCORRETA. Não há julgamento pelo Tribunal do Júri, uma vez que não houve crime doloso contra a vida. Além do mais, vide comentários anteriores. (D) INCORRETA. Não há julgamento pelo Tribunal do Júri, uma vez que não houve crime doloso contra a vida. Além do mais, vide comentários anteriores. (E) INCORRETA. Há expressa previsão no art. 209, § 3º-A, do CPM, introduzido pela Lei n. 14.688/2023: Art. 209. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. [...] § 3º-A. Se da lesão resultar morte e as circunstâncias evidenciarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo: (Incluído pelaLei nº 14.688, de 2023) Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 14.688, de 2023) Dessa forma, correta a alternativa B. _______________________________________________________________________ 29. Tito foi indiciado em inquérito policial pela prática de homicídio culposo, tendo a autoridade policial relatado o inquérito e representado no sentido da decretação de sua prisão temporária, a fim de assegurar a aplicação da lei penal, pois não havia elementos na investigação que o vinculassem ao distrito da culpa. O Ministério Público não encampou a representação da autoridade policial, ofereceu denúncia e requereu em desfavor de Tito a decretação da medida cautelar de comparecimento periódico em juízo para informar e justificar suas atividades. Diante desse cenário, o juiz: 45 (A) poderá decretar a prisão temporária de Tito, acolhendo a representação da autoridade policial, ainda que esta não tenha sido encampada pelo Ministério Público; (B) não poderá decretar a prisão temporária de Tito, mas poderá decretar a sua prisão domiciliar a fim de assegurar a aplicação da lei penal; (C) não poderá decretar seja a prisão temporária, seja a prisão preventiva de Tito, pois ambas não são cabíveis no caso concreto; (D) não poderá decretar a prisão temporária de Tito, mas poderá decretar a sua prisão preventiva substituindo a cautelar requerida pelo Ministério Público; (E) poderá decretar a prisão temporária de Tito e substituí-la pela medida cautelar de comparecimento periódico em juízo para informar e justificar suas atividades. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS Tema recorrente em provas da FGV. Nunca se esqueça: não existe prisão preventiva (ou domiciliar) ou temporária para crimes culposos, em nenhuma hipótese. Em relação à prisão preventiva, há necessidade de cumprir os pressupostos do art. 312 e os requisitos do art. 313, ambos do CPP. O art. 313, I, do CPP, é expresso ao trazer, como um dos requisitos, a necessidade de que haja crime doloso com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 anos. Em relação à prisão temporária, há um rol de crimes específicos no art. 1º, III, da Lei n. 7.960/1989, em que é cabível a referida constrição cautelar, não havendo previsão de prisão para nenhum crime culposo. Não sendo possível a prisão preventiva, não há falar, então, em prisão domiciliar, uma vez que esta, nos termos do art. 318, do CPP, se trata de modalidade de cumprimento de prisão preventiva em domicílio. Assim, correta a alternativa C. _______________________________________________________________________ 30. Bell e Anna foram condenados, pela prática do crime de estelionato praticado contra o idoso Osmar, à pena de quatro anos de reclusão, tendo o juiz fixado na sentença o valor mínimo de reparação dos danos causados à vítima. Anna, de 50 anos de idade, recorreu alegando nulidade por incompetência do juízo, e Bell pleiteou em seu recurso a prescrição de seu delito, pois era maior de 70 anos na data da sentença, o que não foi considerado. O Ministério Público, por sua vez, recorreu apenas para aumentar o valor mínimo da reparação dos danos causados à vítima, e Osmar, por sua vez, não se habilitou como assistente de acusação, mas interpôs recurso de apelação 10 dias após o prazo do Ministério Público, visando ao aumento da pena de Bell e Anna. Diante desse cenário, é CORRETO afirmar que o recurso interposto por: 46 (A) Bell poderá aproveitar a Anna, e o recurso de Osmar não poderá ser conhecido, pois intempestivo; (B) Osmar não poderá ser conhecido, pois, além de não ter se habilitado como assistente, o Ministério Público recorreu; (C) Bell poderá aproveitar a Anna, e o recurso do Ministério Público não impede o conhecimento do recurso de Osmar; (D) Bell, se provido, poderá aproveitar a Anna, e o recurso interposto por esta, se provido, poderá aproveitar a Bell; (E) Anna, se provido, poderá aproveitar a Bell, e o recurso de Osmar, apesar de este não ter se habilitado como assistente, poderá ser conhecido. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS A questão pode ser dividida em duas partes: 1) efeito extensivo dos recursos (art. 580, do CPP); 2) legitimidade recursal do assistente de acusação. 1) Efeito extensivo dos recursos (art. 580, do CPP): Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso interposto por um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros. Interpretando o referido dispositivo, é possível que o resultado do recurso de um corréu seja aproveitado pelo corréu que sequer recorreu, desde que não se trate de algo que tenha caráter exclusivamente pessoal, ou seja, desde que diga respeito a uma circunstância objetiva. No caso da questão, foram interpostos dois recursos: [a] o recurso de Anna teve como objeto nulidade por incompetência do juízo (circunstância objetiva) – pode ser aproveitado por Bell. [b] o recurso de Bell teve como objeto a redução do prazo prescricional em razão de sua idade (circunstância exclusivamente pessoal) – não pode ser aproveitado por Anna. Assim, já é possível concluir que Bell poderá se aproveitar do recurso de Anna, e Anna não poderá se aproveitar do recurso de Bell. 2) Legitimidade recursal do assistente de acusação Omar foi vítima de estelionato, não tendo se habilitado como assistente de acusação durante o processo. O Ministério Público apresentou recurso apenas para aumentar o 47 valor mínimo de reparação dos danos causados à vítima. A vítima, então, recorreu 10 dias após o prazo do Ministério Público, visando o aumento da pena de Bell e Anna. Sobre o tema, vejamos o disposto no art. 271, do CPP: Art. 271. Ao assistente será permitido propor meios de prova, requerer perguntas às testemunhas, aditar o libelo e os articulados, participar do debate oral e arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio, nos casos dos arts. 584, § 1º, e 598. A legitimidade recursal do assistente de acusação é suplementar, ou seja, somente é possível apresentar recurso se não houver recurso do Ministério Público. Em outras palavras, somente é possível ao assistente de acusação impugnar aquilo que não foi impugnado pelo Ministério Público. Assim, havendo recurso do Ministério Público impugnando todos os pontos da sentença, não haverá legitimidade recursal ao assistente de acusação. Por outro lado, não havendo recurso ministerial, há legitimidade recursal do assistente de acusação para impugnar qualquer ponto da sentença. A discussão surge quando há recurso do Ministério Público, mas sem impugnar todos os pontos da sentença. Nesse caso, o entendimento pacífico da jurisprudência é no sentido de existir legitimidade do assistente de acusação, mas apenas para impugnar os pontos não impugnados no recurso ministerial. Confira-se: O assistente de acusação tem legitimidade para recorrer nos casos de absolvição, impronúncia e extinção da punibilidade (arts. 584, § 1.º, e 598 do Código de Processo Penal), em caráter supletivo, ou seja, somente quando o Ministério Público abstiver-se de fazê-lo, como no caso, ou, ainda, quando o seu recurso for parcial, não abrangendo a totalidade das questões discutidas. [...] (HC n. 580.662/MG, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em 22/3/2022, DJe de 29/3/2022.) No caso em tela, o Ministério Público impugnou apenas o valor mínimo de reparação dos danos causados à vítima, podendo, assim, o assistente de acusação, recorrer para requerer o aumento da pena de Bell e Anna, pois se trata de objeto não impugnado pelo Ministério Público. O prazo recursal para o assistente de acusação recorrer é de 5 dias, caso tenha se habilitado nos autos, e de 15 dias, caso não tenha sehabilitado nos autos. Assim, é possível que Omar recorra mesmo não tendo requerido anteriormente sua habilitação, sendo seu recurso tempestivo. Dessa forma, correta a alternativa E, uma vez que o recurso de Anna poderá aproveitar a Bell (circunstância objetiva) e o recurso de Omar poderá ser conhecido, por haver legitimidade (possibilidade de recorrer mesmo não estando habilitado, e a impugnação foi de ponto não impugnado no recurso ministerial) e tempestividade (como não estava habilitado, o prazo era de 15 dias, e o recurso foi interposto 10 dias após o transcurso do prazo ministerial). _______________________________________________________________________ 48 31. Osmilton, Eugênio, Ruy, Lázaro e Alessandro foram indiciados em inquérito policial pelo crime de constituir organização criminosa para a prática de crimes de estelionato contra instituições financeiras, de usura e de extorsão. Alessandro, que não era o líder da organização, por intermédio de seu advogado, entabulou acordo de colaboração premiada com o delegado de polícia prevendo o perdão judicial, sendo o acordo submetido ao juízo, que não ouviu o Ministério Público e o homologou. Em seguida, Osmilton, líder da organização criminosa, mesmo não sendo o primeiro a colaborar, entabulou acordo de colaboração premiada diretamente com o Ministério Público. Desse acordo constou o não oferecimento de denúncia contra Osmilton, pois este, além da estrutura da organização, também revelou crimes que não eram do conhecimento do Ministério Público. Tal acordo foi igualmente submetido à homologação judicial, tendo o juízo igualmente o homologado. Diante desse contexto, o juiz: (A) não poderia homologar o acordo de colaboração premiada de Alessandro, tampouco o acordo de colaboração de Osmilton; (B) poderia homologar o acordo de colaboração de Alessandro sem ouvir o Ministério Público, pois o prêmio envolvia o perdão judicial; (C) poderia homologar o acordo de colaboração de Osmilton, pois o não oferecimento de denúncia é de atribuição do Ministério Público; (D) não poderia homologar o acordo de colaboração premiada de Osmilton, por ele ser o líder da organização, mas poderia homologar o acordo de Alessandro; (E) poderia homologar o acordo de colaboração de Osmilton, mas não o de Alessandro sem a oitiva do Ministério Público. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS Vamos analisar cada um dos autores e suas colaborações: 1) Alessandro: não era o líder e fez acordo com o delegado, prevendo perdão judicial. O juiz homologou o acordo sem a oitiva do Ministério Público. Acordo equivocado. ▪ Somente o juiz pode conceder o perdão judicial, a requerimento das partes, não sendo possível ao delegado acordar o perdão diretamente com o colaborador (art. 4º, § 2º, da Lei n. 12.850/2013) ▪ É necessária a oitiva do Ministério Público no acordo celebrado com o delegado de polícia (art. 4º, § 6º, da Lei n. 12.850/2013). Sobre o tema, o STF entende que a manifestação ministerial é condição de eficácia para o acordo celebrado pelo Delegado de Polícia: [...] 1. Nos termos do entendimento formado no julgamento da ADI 5.508, a autoridade policial tem legitimidade para celebrar autonomamente acordo de colaboração premiada. Em voto 49 vencido, assentada a negativa dessa faculdade. 2. Matéria novamente suscitada, em menor extensão, pela PGR. Considerada a estrutura acusatória dada ao processo penal conformado à Constituição Federal, a anuência do Ministério Público deve ser posta como condição de eficácia do acordo de colaboração premiada celebrado pela autoridade policial. (...) STF. Plenário. Pet 8482 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 31/05/2021. 2) Osmilton: líder da organização, não foi o primeiro a colaborar e fez acordo com o Ministério Público, prevendo o não oferecimento da denúncia. Acordo equivocado. ▪ Sendo líder da organização e não sendo o primeiro a colaborar, não pode se beneficiar do não oferecimento da denúncia (art. 4º, § 4º, I e II, da Lei n. 12.850/2013). Dessa forma, correta a alternativa A. _______________________________________________________________________ 32. Fabrício, funcionário público federal, foi indiciado em inquérito policial pela prática de vultosos crimes de estelionato contra Floriano, bem como do crime de lavagem de dinheiro. Contudo, durante a investigação, constatou-se que o proveito ou produto dos crimes se encontrava no exterior. Diante desse contexto, e levando em conta as medidas assecuratórias possivelmente aplicáveis à espécie, é CORRETO afirmar que poderá: (A) o delegado de polícia requerer o sequestro alargado dos bens de Fabrício para assegurar a reparação do dano; (B) o juiz de ofício decretar o sequestro alargado dos bens de Fabrício para assegurar a reparação do dano; (C) Floriano requerer ao juízo o sequestro pelo equivalente dos bens de Fabrício; (D) o Ministério Público decretar o sequestro pelo equivalente dos bens de Fabrício; (E) Floriano requerer ao juízo o sequestro alargado dos bens de Fabrício para assegurar a reparação do dano. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS Antes de qualquer coisa, anote: não existe sequestro alargado, arresto alargado, penhora alargada. O que existe é o confisco alargado (às vezes chamado de perda alargada). Só com essa informação, já eliminamos as alternativas A, B e E. O art. 91, § 1º, do CP, dispõe que poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime [a] quando estes não forem encontrados ou [b] quando se localizarem no exterior. 50 Sobre a legitimidade para requerer e para decretar o sequestro, destaca-se o art. 127, do CPP: Art. 127. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou do ofendido, ou mediante representação da autoridade policial, poderá ordenar o sequestro, em qualquer fase do processo ou ainda antes de oferecida a denúncia ou queixa. Assim, o sequestro é decretado pelo juiz, e isso pode ocorrer: ▪ De ofício ▪ Mediante requerimento do Ministério Público ▪ Mediante requerimento do ofendido ▪ Mediante representação da autoridade policial Correta, então, a alternativa C. _______________________________________________________________________ DIREITO ECONÔMICO E DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR 33. A Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica analisou notícia de que a sociedade empresária Alfa tinha uma posição dominante na produção e correlata comercialização do produto alimentício X, posição esta que alcançava a integralidade do território nacional. A notícia estava associada à constatação de que o aumento dos preços desse produto, em um largo período de tempo, tinha se distanciado da oscilação dos preços dos respectivos insumos, não restando ao consumidor maiores alternativas para a sua substituição. Ao avaliar a referida notícia à luz da Lei nº 12.529/2011, com o objetivo de verificar a juridicidade dessa posição dominante, a referida estrutura orgânica concluiu corretamente que: (A) o teste do monopolista hipotético pode ser realizado para avaliar a possibilidade de Alfa impor um significativo aumento de preços; (B) a notícia não indica nenhuma conduta anticoncorrencial praticada por Alfa, não havendo justificativa para uma apuração pela Superintendência-Geral; (C) a notícia não apresenta informações suficientes para o delineamento do conceito de mercado relevante, para fins de avaliação da posição dominante de Alfa; (D) o fato de Alfa maximizar seus lucros, distanciando o preço de venda do custo de produção, somente seria ilícito se fosse direcionado a inviabilizar a atuação de um concorrente, o que não é o caso; (E) o menor número de alternativas do consumidor para a substituição do produto alimentício X não afasta a existência de uma elasticidadecruzada, o que é incompatível com a noticiada posição dominante de Alfa. _______________________________________________________________________ 51 GABARITO: A COMENTÁRIOS A questão aborda a temática da posição dominante em mercado relevante de bens ou serviços. Portanto, cumpre conceituar e correlacionar os institutos do direito concorrencial abordados, quais sejam: a) mercado relevante; e b) posição dominante. Conforme a doutrina, a expressão mercado relevante nada mais é do que a tradução literal da língua inglesa de relevant market, cujo sentido é determinar o mercado em questão, o locus pertinente à análise concorrencial de determinada prática ou operação2. Ademais, segundo o Guia Para Análise de Atos de Concentração Horizontal do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), [a] delimitação do MR é o processo de identificação do conjunto de agentes econômicos (consumidores e produtores) que efetivamente reagem e limitam as decisões referentes a estratégias de preços, quantidades, qualidade (entre outras) da empresa resultante da operação. Desta maneira, a definição de um “mercado relevante” tem o escopo de delimitar o espaço geográfico e material onde se estabelece a concorrência, para reunir as empresas cujas produções tenham efeitos imediatos e substanciais no comportamento dos diversos agentes econômicos daquele mercado em análise. Trata-se, portanto, de uma relação dialética, que provoca uma reação em cadeia no mercado de consumo, de forma que a alteração de um processo na cadeia de consumo resulta em diversas consequências no campo concorrencial do recorte analisado. Tal delimitação é de suma importância para o direito econômico, tendo em vista que só há falar em infração ou limitação da concorrência relativamente a um mercado específico (o mercado relevante). Por outro lado, posição dominante consiste na participação que determinada empresa tem num certo mercado. Em outras palavras, trata-se da “fatia de mercado” (market share) que aquela empresa detém em determinado referencial. De se destacar, contudo, que essa participação pode ser resultado da eficiência concorrencial da empresa, que lhe garantiu posição de destaque em decorrência da opção dos consumidores, de modo que, por si só, não configura ilícito anticoncorrencial. Assentadas tais premissas, é necessário destacar que, ainda que não verificada, de pronto, qualquer irregularidade, compete à Superintendência-Geral do CADE o acompanhamento permanente das pessoas físicas ou jurídicas que detiverem posição dominante em mercado relevante de bens e serviços, nos termos da Lei n.º 12.529/2011: Art. 13. Compete à Superintendência-Geral: 2 Direito Econômico e Concorrencial - Ed. 2022. Vicente Bagnoli. Revista dos Tribunais. Direito da Concorrência. Conceito de mercado relevante. https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/126254278/v9/page/RB-5.6%20 52 (...) II - acompanhar, permanentemente, as atividades e práticas comerciais de pessoas físicas ou jurídicas que detiverem posição dominante em mercado relevante de bens ou serviços, para prevenir infrações da ordem econômica, podendo, para tanto, requisitar as informações e documentos necessários, mantendo o sigilo legal, quando for o caso; Assim, não basta posição dominante em mercado (genérico), sendo necessário, para configurar o monopólio, que se esteja diante de posição dominante em mercado relevante (específico). Para a definição do mercado relevante, é comum a utilização do teste do monopolista hipotético. Tal ferramenta, proposta e consagrada no sistema de concorrência estadunidense e incorporado na quase totalidade de outros sistemas de defesa da concorrência, inclusive o brasileiro, consiste na delimitação do mercado relevante como o menor grupo de produtos ou serviços e a menor área geográfica, que são necessários para um suposto agente monopolista dispor de condições para impor um pequeno, porém significativo e não transitório, aumento de preços. Ademais, para se enquadrar um fornecedor como “suposto monopolista” é necessário que o consumidor não possa desviar uma parcela significativa da demanda para bens substitutos ou bens provenientes de outra região3. No caso concreto, o enunciado indica que a sociedade empresária Alfa (fornecedora) possuía posição dominante em mercado relevante, o que, conforme fundamentação acima lançada, não é suficiente a, por si só, configurar infração concorrencial. Todavia, como também adiantado, competia à Superintendência-Geral do CADE o acompanhamento permanente do fornecedor, tendo em vista que configurada a sua posição dominante no mercado. Ademais, o enunciado indica que não restava ao consumidor maiores alternativas para a substituição do produto a partir do aumento de preços, de modo que plenamente aplicável o teste do monopolista hipotético para verificação da juridicidade do aumento de preços praticado. Correta, assim, a alternativa A. (B) INCORRETA. A alternativa B está errada, uma vez que, por mais que não se possa afirmar categoricamente a ocorrência de conduta anticoncorrencial, a mera posição dominante justifica a apuração da situação pela Superintendência-Geral, diante do caráter precaucional das suas atividades. (C) INCORRETA. A alternativa C está errada, tendo em vista que o mercado relevante é definido como o menor grupo de produtos ou serviços e a menor área geográfica, que são necessários para um suposto agente monopolista dispor de condições para impor 3 Portaria Conjunta SEAE/SDE Nº 50, de 1 º de agosto de 2001 53 um pequeno, porém significativo e não transitório, aumento de preços. Assim, como a fornecedora em questão tinha posição dominante na produção e correlata comercialização do produto alimentício X, a realização do teste do monopolista hipotético é que definiria o recorte espacial correlato para a análise da existência ou não de infração anticoncorrencial. (D) INCORRETA. A alternativa D está incorreta, tendo em vista que o direito econômico visa proteger não só a concorrência, mas também os consumidores, de modo que o aumento de preços pode configurar ilícito, ainda que não busque inviabilizar a atuação de concorrente. (E) INCORRETA. A alternativa E, por fim, também está errada, tendo em vista que a elasticidade cruzada, no contexto do Direito Econômico, refere-se à relação de dependência entre a demanda de um bem e o preço de outro bem. É um conceito utilizado para analisar como a variação no preço de um produto afeta a quantidade demandada de outro produto (o aumento no preço de determinado produto ou serviço leva ao aumento da procura de outro, seu sucedâneo). Esse fato demonstra que o consumidor está disposto a substituir um produto ou serviço por outro, colocando-os num mesmo mercado relevante material. Ou seja, quanto maior for a elasticidade da demanda, maior será a possibilidade de substituição do produto ou serviço em análise pelos compradores, que estariam dispostos a trocar um produto ou serviço por outro equivalente em propriedades e preço. Todavia, o enunciado apontou que não restaram alternativas ao consumidor, de modo que não se verifica a elasticidade cruzada no caso concreto. _______________________________________________________________________ 34. Constatou-se que, em determinada esfera territorial, sociedades empresárias envolvidas no processo produtivo e no processo de distribuição do respectivo produto, atuando em mercados apartados entre si, decidiram unir esforços, de maneira participativa, sem perder a sua personalidade jurídica, mas com participação no capital umas das outras, com o objetivo de expandir o mercado em que atuam. A situação descrita é compatível com uma: (A) holding; (B) fusão de empresas; (C) incorporação material; (D) concentração econômica vertical; (E) concentração econômica horizontal. _______________________________________________________________________GABARITO: A COMENTÁRIOS 54 O Art. 81 do Código Civil preceitua que [c]elebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Vê-se, pois, que a expressão “pessoas” abrange tanto as pessoas físicas quanto as pessoas jurídicas, o que permite com que uma sociedade seja sócia de outra sociedade. A essa prática, comum na praxe empresarial, dá-se o nome de holding. O Art. 2º da Lei das Sociedades Anônimas (n.º 6.404./76), por sua vez, determina: Art. 2.º. Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes. (...) § 3º A companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades; ainda que não prevista no estatuto, a participação é facultada como meio de realizar o objeto social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais. Assim, uma vez que o enunciado afirma que sociedade empresárias decidiram unir esforços, de maneira participativa, sem perder a sua personalidade jurídica, mas com participação no capital umas das outras, a única alternativa que cumpre tais características é a que se refere ao holding. Correta, assim, a alternativa A. (B) INCORRETA. Na fusão de empresas há o surgimento de nova sociedade, resultado da união das sociedades fundida, de modo que as personalidades jurídicas anteriores dão lugar a uma nova personalidade; (C) INCORRETA. A incorporação material é a operação prevista no art. 227 da Lei das SAs, por meio da qual “uma ou mais sociedades são absorvidas por outras, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações”, de modo que as empresas incorporadas perdem sua personalidade jurídica; (D) INCORRETA. A concentração econômica fica configurada quanto incidente algum dos suportes fáticos alternativos previstos no Art. 90. da Lei n.º 12.529/2011: Art. 90. Para os efeitos do art. 88 desta Lei, realiza-se um ato de concentração quando: I - 2 (duas) ou mais empresas anteriormente independentes se fundem; II - 1 (uma) ou mais empresas adquirem, direta ou indiretamente, por compra ou permuta de ações, quotas, títulos ou valores mobiliários conversíveis em ações, ou ativos, tangíveis ou intangíveis, por via contratual ou por qualquer outro meio ou forma, o controle ou partes de uma ou outras empresas; III - 1 (uma) ou mais empresas incorporam outra ou outras empresas; ou IV - 2 (duas) ou mais empresas celebram contrato associativo, consórcio ou joint venture. 55 No caso da concentração econômica vertical, ocorre alguma das hipóteses previstas entre duas empresas em níveis distintos da cadeia produtiva (ou seja, não há concorrência, mas pode haver relação de fornecimento de insumos); (E) INCORRETA. Na concentração econômica horizontal, há uma das hipóteses do art. 90, porém entre empresas de um mesmo nível (concorrentes). _______________________________________________________________________ 35. A sociedade empresária Alfa, que produz o aparelho eletrônico X no território brasileiro, elaborou um programa de sedimentação e expansão da marca baseado na associação do referido aparelho às classes sociais de maior poder aquisitivo. Para a realização desse objetivo, inseriu em seu contrato padrão, a ser celebrado com distribuidores e varejistas, a cláusula de que a concessão de descontos não poderia acarretar a prática de preço de revenda, ao consumidor, inferior ao preço pelo qual o produto foi adquirido. À luz da sistemática vigente, é CORRETO afirmar, consoante os balizamentos da Lei nº 12.529/2011, que o proceder de Alfa: (A) evita práticas anticompetitivas por distribuidores e revendedores do aparelho eletrônico X; (B) se ajusta aos princípios da livre iniciativa, incluindo a liberdade contratual que a caracteriza, por não se tratar de conduta unilateral de Alfa; (C) configura ato ilícito, pois consubstancia imposição de condições contratuais nos ajustes a serem celebrados por distribuidores e varejistas com terceiros; (D) se harmoniza com a regra da razão, considerando o seu planejamento econômico, vinculante para os sujeitos econômicos que decidam se relacionar com ela; (E) é expressamente admitida pela ordem jurídica, agregando a sua liberdade contratual com o tratamento igualitário entre distribuidores e revendedores, o que preserva a competição. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Conforme expressa previsão legal, a prática de Alfa é vedada pelo ordenamento jurídico, justamente por consistir em conduta anticompetitiva. Vide comentários à alternativa (C). (B) INCORRETA. Diante da expressa vedação legal, inexiste a liberdade contratual afirmada pela alternativa. Vide comentários à alternativa (C). (C) CORRETA. Conforme previsão expressa do Art. 36 da Lei 12.529/2011: 56 § 3º As seguintes condutas, além de outras, na medida em que configurem hipótese prevista no caput deste artigo e seus incisos, caracterizam infração da ordem econômica: (...) IX - impor, no comércio de bens ou serviços, a distribuidores, varejistas e representantes preços de revenda, descontos, condições de pagamento, quantidades mínimas ou máximas, margem de lucro ou quaisquer outras condições de comercialização relativos a negócios destes com terceiros; (D) INCORRETA. A prática é expressamente vedada, conforme comentário anteriores. Vide comentários à alternativa (C). (E) INCORRETA. A prática é expressamente vedada, conforme comentário anteriores. Vide comentários à alternativa (C). _______________________________________________________________________ 36. João, deputado federal, almejava apresentar proposição legislativa com o objetivo de ajustar certos aspectos da legislação infraconstitucional aos princípios estruturais do General Agreement on Tariffs and Trade (GATT). Ao analisar os balizamentos estabelecidos por esse ajuste, João concluiu corretamente que a proposição legislativa deve necessariamente se ajustar ao princípio ou cláusula: (A) da autodeterminação econômica, permitindo a proteção aduaneira em prol dos interesses nacionais; (B) do tratamento nacional mais favorecido, que permite que os produtos nacionais sejam beneficiados em relação aos estrangeiros; (C) da discriminação razoável, com a concessão de subsídios estatais a produtos específicos, com prévia comunicação ao órgão competente do GATT; (D) do tratamento da nação mais favorecida, de modo que o benefício aduaneiro concedido a um Estado-membro do GATT deve ser estendido aos demais; (E) da liberação aduaneira, reduzindo-se a zero as alíquotas de importação para os Estados-membros do GATT, decorrendo a reciprocidade dos próprios termos do tratado. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS Acordo Geral de Tarifas e Comércio (em inglês, General Agreement on Tariffs and Trade) é um Tratado multilateral de comércio internacional firmado em Genebra, Suíça, em 1947, tendo por princípio básico o livre-comércio. 57 Os Acordos da Organização Mundial de Comércio (OMC) — entidade fundada posteriormente— incluem o “Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio de 1994 (GATT 94)”, o qual incorpora o “Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio de 1947 (GATT 47)”. (A) INCORRETA. O propósito do Tratado objeto de análise é justamente o contrário da afirmada “autodeterminação econômica”, consistindo em padrões acordados de livre- comércio, aplicáveis de forma geral aos signatários do acordo. (B) INCORRETA. Conforme o art. III, parágrafo 2 do GATT: Os produtos do território de qualquer Parte Contratante, importados por outra Parte Contratante, não estão sujeitos, direta ou indiretamente, a impostos ou outros tributos internos de qualquer espécie superiores aos que incidem, direta ou indiretamente,sobre produtos nacionais. Além disso nenhuma Parte Contratante aplicará de outro modo, impostos ou outros encargos internos a produtos nacionais ou importados, contrariamente aos princípios estabelecidos no parágrafo 1. Assim, o tratamento nacional mais favorecido vai de encontro ao que dita o acordo em análise. (C) INCORRETA. Inexiste tal previsão normativa no referido acordo. (D) CORRETA. Conforme o art. I do referido Tratado (GATT): Qualquer vantagem, favor, imunidade ou privilégio concedido por uma Parte Contratante em relação a um produto originário de ou destinado a qualquer outro país, será imediata e incondicionalmente estendido ao produtor similar, originário do território de cada uma das outras Partes Contratantes ou ao mesmo destinado. Portanto, trata-se de previsão expressa do referido acordo internacional. (E) INCORRETA. Inexiste tal previsão normativa no referido acordo. Ademais, pende de julgamento Recurso Repetitivo afetado no que se refere [à] possibilidade de exigência das contribuições ao PIS - Importação e COFINS - Importação nas operações de importação de países signatários do GATT, sobre mercadorias e bens destinados ao consumo interno ou industrialização na Zona Franca de Manaus - ZFM. _______________________________________________________________________ 37. Afonso aderiu a um sistema de consórcio para aquisição de máquinas agrícolas, mas não conseguiu pagar as parcelas até o final do contrato e não foi contemplado com o bem pretendido nos sorteios realizados, restando inadimplente. Diante do fato narrado e considerando as disposições do Código de Defesa do Consumidor, é CORRETO afirmar que Afonso: 58 (A) incorrerá na perda total das prestações pagas diante da resolução do contrato por inadimplemento, exceto se o credor optar por outra forma de compensação dos prejuízos; (B) terá direito à compensação ou à restituição das prestações pagas em caso de resolução do contrato por inadimplemento, monetariamente atualizada; (C) incorrerá na perda total das prestações pagas e deverá suportar os prejuízos causados ao grupo consorcial pelo seu inadimplemento; (D) não poderá incorrer na perda total das prestações pagas, mas deverá suportar os prejuízos causados ao grupo consorcial pelo seu inadimplemento; (E) terá direito à restituição das prestações pagas em caso de resolução do contrato e não responderá pelos prejuízos causados ao grupo consorcial decorrentes do inadimplemento. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS Conforme previsão expressa da Lei dos Consórcios (n.º 11.795/2008): Art. 30. O consorciado excluído não contemplado terá direito à restituição da importância paga ao fundo comum do grupo, cujo valor deve ser calculado com base no percentual amortizado do valor do bem ou serviço vigente na data da assembléia de contemplação, acrescido dos rendimentos da aplicação financeira a que estão sujeitos os recursos dos consorciados enquanto não utilizados pelo participante, na forma do art. 24, § 1º. E a Súmula 35 do STJ: Incide correção monetária sobre as prestações pagas, quando de sua restituição, em virtude da retirada ou exclusão do participante de plano de consórcio. O Código de Defesa do Consumidor, por sua vez, prevê a necessidade de compensação pelos prejuízos causados pela desistência ou inadimplência: Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado. § 2º Nos contratos do sistema de consórcio de produtos duráveis, a compensação ou a restituição das parcelas quitadas, na forma deste artigo, terá descontada, além da vantagem econômica auferida com a fruição, os prejuízos que o desistente ou inadimplente causar ao grupo. 59 Dessa maneira, Afonso não poderá incorrer na perda total das prestações pagas, mas deverá suportar os prejuízos causados ao grupo consorcial pelo seu inadimplemento. Por fim, cumpre destacar recente precedente do STJ relacionado ao caso (não relacionado diretamente com a questão, porém com tendência de cobrança nas próximas provas): A taxa de administração a ser deduzida do valor que será devolvido ao consorciado desistente incide sobre as parcelas efetivamente pagas, e não sobre o valor total do contrato. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 2.267.326-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 4/12/2024 (Info 23 - Edição Extraordinária). (A) INCORRETA. Conforme exposto acima, não se aplica a perda total das prestações pagas, inclusive a fim de evitar o enriquecimento sem causa do credor. (B) INCORRETA. A alternativa, embora não esteja de todo incorreta — tendo em vista que, após os valores a serem devolvidos ao contratante devam, de fato, ser atualizados monetariamente —, não aponta a responsabilidade de Afonso com relação aos prejuízos causados. Assim, o valor pago pelo contratante não será totalmente devolvido. (C) INCORRETA. Embora seja obrigado a compensar o grupo pelos prejuízos causados pelo inadimplemento, não perderá a totalidade dos valores pagos. (D) CORRETA. (E) INCORRETA. Terá direito à devolução do montante pago, porém, após abatimento dos prejuízos causados pelo inadimplemento. _______________________________________________________________________ 38. Carmésia teve sua bagagem despachada extraviada em voo internacional no trajeto para o Brasil. A viagem foi realizada no dia 12 de janeiro de 2022, data da chegada ao destino e constatação do extravio. Carmésia não aceitou as compensações propostas pela transportadora aérea e, em 15 de janeiro de 2025, ajuizou ação em face dela pleiteando danos materiais e morais. Infrutífera a conciliação, a ré ofereceu sua contestação. Em preliminar, alegou a prescrição da pretensão indenizatória e, no mérito, a limitação do valor indenizatório a 1.000 DES (mil Direitos Especiais de Saque). Sendo certo que a relação entre Carmésia e a transportadora aérea é de consumo, é CORRETO afirmar que: (A) não se verificou ainda a prescrição da pretensão indenizatória diante de não terem ainda decorrido cinco anos da data da ocorrência do dano no momento da propositura da ação e, quanto ao mérito, deve ser reconhecido à autora o direito a reparação integral dos danos, ainda que o valor exceda a 1.000 DES (mil Direitos Especiais de Saque); 60 (B) está prescrita a pretensão indenizatória da autora pelo decurso de mais de dois anos da data da ocorrência do dano no momento da propositura da ação e, quanto ao mérito, o pedido deve ser julgado improcedente; (C) não se verificou ainda a prescrição da pretensão indenizatória diante de não terem ainda decorrido dez anos da data da ocorrência do dano no momento da propositura da ação e, quanto ao mérito, deve ser reconhecido à autora o direito a reparação dos danos limitada ao valor de 1.000 DES (mil Direitos Especiais de Saque); (D) está prescrita a pretensão indenizatória da autora pelo decurso de mais de um ano da data da ocorrência do dano no momento da propositura da ação e, quanto ao mérito, o pedido deve ser julgado improcedente; (E) não se verificou ainda a prescrição da pretensão indenizatória, pois a apresentação da reclamação à transportadora aérea interrompeu o prazo prescricional de quatro anos, e, quanto ao mérito, deve ser reconhecido à autora o direito a reparação integral dos danos, ainda que o valor exceda a 1.000 DES (mil Direitos Especiais de Saque). _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS QUESTÃO PASSÍVEL DE RECURSO. A questão tem potencial de anulação, tendo em vista que apresenta resposta incompleta, conforme análiseque segue. Conforme o enunciado da questão, a autora ajuizou ação em face da companhia aérea, pleiteando danos materiais E morais. A banca examinadora apontou como resposta no gabarito preliminar a alternativa (B): está prescrita a pretensão indenizatória da autora pelo decurso de mais de dois anos da data da ocorrência do dano no momento da propositura da ação e, quanto ao mérito, o pedido deve ser julgado improcedente. Contudo, tal lógica aplica-se somente no que se refere aos danos materiais, em relação aos quais fica afastada a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, incidindo as normas previstas nas Convenções de Varsóvia e Montreal. Tal entendimento foi encampado pelo STF em julgamento de recurso extraordinário com repercussão geral: Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor. 61 STF. Plenário. RE 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes e ARE 766618/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 25/05/2017 (repercussão geral) (Info 866). Em embargos de declaração, o STF fez um esclarecimento quanto a essa tese: Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor. O presente entendimento não se aplica às hipóteses de danos extrapatrimoniais. STF. Plenário. ARE 766618 ED/SP, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, julgado em 30/11/2023 (Repercussão Geral – Tema 210) (Info 1119). Dessa maneira, quanto aos danos patrimoniais, aplicar-se-ia o Art. 22, parágrafo 2, da Convenção de Montreal (internalizada pelo Decreto 5.910/2006), limitando-se a responsabilidade: 2. No transporte de bagagem, a responsabilidade do transportador em caso de destruição, perda, avaria ou atraso se limita a 1.000 Direitos Especiais de Saque por passageiro, a menos que o passageiro haja feito ao transportador, ao entregar- lhe a bagagem registrada, uma declaração especial de valor da entrega desta no lugar de destino, e tenha pago uma quantia suplementar, se for cabível. Neste caso, o transportador estará obrigado a pagar uma soma que não excederá o valor declarado, a menos que prove que este valor é superior ao valor real da entrega no lugar de destino. Ademais, aplicar-se-ia o prazo prescricional previsto no art. 29 da Convenção de Varsórvia (internalizado pelo Decreto 20.704/34): ARTIGO 29º 1 – A acção de responsabilidade deve ser intentada, sob pena de prescrição, no prazo de dois anos a contar da chegada ao destino ou no dia em que a aeronave deveria ter chegado ou da interrupção do transporte. Por outro lado, especificamente quanto aos danos extrapatrimoniais, conforme o entendimento inequívoco do STF, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor, de modo que o prazo prescricional fica regulado pelo artigo relativo ao fato do serviço: 62 Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. Assim, a alternativa (B) é incompleta, uma vez que generaliza os pedidos da autora, afirmando que “está prescrita a pretensão indenizatória da autora pelo decurso de mais de dois anos”. Tal afirmativa é verdadeira somente em parte, uma vez que os danos extrapatrimoniais (que também integram a pretensão indenizatória) não são afetados pela mesma norma referente à prescrição. Ademais, a afirmação no sentido de que, “quanto ao mérito, o pedido deve ser julgado improcedente” é contraditória, tendo em vista o acolhimento da prejudicial de mérito (prescrição), que extingue o processo com julgamento de mérito, impedindo a análise dos pedidos em si. Descabe, ademais, afirmar que a prescrição a que se refere a alternativa é relativa aos danos patrimoniais e o julgamento improcedente de mérito é relativo aos danos extrapatrimoniais, tendo em vista que sequer há elementos a permitir tal conclusão de mérito, e a redação da questão não é clara quanto ao ponto. Assim, sugere-se a formulação de recurso para a anulação da questão. _______________________________________________________________________ 39. Olímpio, produtor rural, adquiriu equipamentos de medição de água para a irrigação de suas plantações da sociedade empresária Panorama S/A. A contratação foi mediada por Cláudio, representante comercial da companhia, que prestou as informações sobre os equipamentos durante a oferta. Quando os equipamentos começaram a ser utilizados, verificou-se sua inadequação para as finalidades pretendidas pelo produtor rural e danos às plantações pelo excesso de água acumulada. Olímpio apresentou reclamação à vendedora após 75 dias da data da entrega do produto. A fornecedora apurou que a causa do problema foram as informações equivocadas e incompletas prestadas por Cláudio durante a oferta do produto, exonerando-se de qualquer responsabilidade. Olímpio acionou tanto a sociedade empresária fornecedora quanto o representante comercial pedindo indenização pelos prejuízos sofridos, devidamente comprovados. A sociedade fornecedora alegou que não houve defeito de fabricação dos produtos e que não prestou as informações erradas ao autor, invocando o fato exclusivo de terceiro como causa dos danos. Cláudio, por sua vez, invocou sua ilegitimidade passiva, já que atuou apenas como mediador da oferta, não tendo sequer participado da contratação como mandatário ou preposto. Considerados os fatos narrados, é CORRETO afirmar que o pedido deve ser julgado: 63 (A) procedente e devem ser reconhecidas a legitimidade e a responsabilidade tanto da fornecedora quanto do representante comercial, pois a primeira é solidariamente responsável pelos atos praticados pelo segundo; (B) improcedente em relação a ambas as partes, pois não ficou comprovado defeito de fabricação do produto e o representante comercial não atuou na contratação nem na condição de mandatário; (C) procedente e deve ser reconhecida a responsabilidade apenas em relação ao representante comercial, pois foi ele quem prestou as informações erradas ao produtor rural; a fornecedora está isenta de responsabilidade pelo fato exclusivo de terceiro; (D) improcedente em relação a ambas as partes, em razão de não ter sido observado o prazo legal de 30 dias para a apresentação de reclamação à fornecedora, operando-se, portanto, a decadência; (E) procedente apenas em relação à fornecedora em razão da responsabilidade objetiva pelo vício do produto; o representante comercial não deve ser responsabilizado porque não atuou na contratação nem na condição de mandatário. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS (A) CORRETA. Conforme o Art. 265 do Código Civil, [a] solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. E nos termos do Código de Defesa do Consumidor: Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos. Correta, assim, alternativa A, uma vez que há legitimidade dos réus e solidariedade da fornecedora com seu representante comercial. (B) INCORRETA. Nos termos do Art. 12 do CDC, O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientesou inadequadas sobre sua utilização e riscos. (C) INCORRETA. Conforme fundamentação anterior, há solidariedade, de modo que não há exclusão da responsabilidade por fato de terceiro. 64 (D) INCORRETA. Não houve decadência, tendo em vista que, em se tratando de bem durável, o prazo para reclamação é de 90 dias, nos termos do Art. 26 do CDC (O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em: (...) II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.). (E) INCORRETA. Vide comentários anteriores. _______________________________________________________________________ 40. Laticínios Manhuaçu ajuizou ação em face do Banco de Naque S/A pleiteando a declaração de nulidade de cláusulas do contrato de abertura de crédito firmado pela sociedade com a instituição financeira. Um dos aspectos controvertidos da lide é a aplicação ou não das disposições do Código de Defesa do Consumidor (CDC) na relação contratual, bem como a licitude da cobrança de juros remuneratórios acima do limite de 12% ao ano em caso de utilização do crédito disponibilizado pela instituição à cliente. Acerca desses temas, é CORRETO afirmar que as instituições financeiras: (A) estão submetidas, como fornecedores de serviços, às disposições do CDC; no entanto, compete ao Conselho Monetário Nacional limitar, sempre que necessário, as taxas de juros de operações e serviços bancários ou financeiros, que podem ser superiores a 12% ao ano; (B) integram o Sistema Financeiro Nacional e não se submetem às disposições do CDC, mas às normas do Banco Central do Brasil; assim, compete ao Conselho Monetário Nacional limitar as taxas de juros de operações e serviços bancários ou financeiros ao dobro da taxa máxima fixada pela Lei da Usura (Decreto nº 22.626/1933); (C) estão submetidas, como fornecedores de serviços, às disposições do CDC, e as taxas de juros de operações e serviços bancários ou financeiros devem observar o limite fixado pela Lei da Usura (Decreto nº 22.626/1933), sob pena de nulidade da cláusula contratual por ser abusiva; (D) estão submetidas, como fornecedores de serviços, às disposições do CDC, e as taxas de juros de operações e serviços bancários ou financeiros devem observar o limite fixado pelo Código Civil (taxa referencial Selic), sob pena de nulidade da cláusula contratual por ser abusiva; (E) integram o Sistema Financeiro Nacional e não se submetem às disposições do CDC, mas às normas do Conselho Monetário Nacional; assim, compete ao Banco Central do Brasil fixar as taxas de juros de operações e serviços bancários ou financeiros, que podem ser superiores a 12% ao ano. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS (A) CORRETA. Conforme a Súmula 297 do STJ, "O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras". 65 Ademais, conforme o STF, em precedente paradigmático no julgamento da ADI 2591: 1. As instituições financeiras estão, todas elas, alcançadas pela incidência das normas veiculadas pelo Código de Defesa do Consumidor. 2. “Consumidor”, para os efeitos do Código de Defesa do Consumidor, é toda pessoa física ou jurídica que utiliza, como destinatário final, atividade bancária, financeira e de crédito. 3. Ação direta julgada improcedente. Também o CDC: Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. (...) § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Assentada tal premissa, ficam excluídas, de pronto, as alternativas (B) e (E), que afastam a incidência do CDC. Por outro lado, o enunciado da Súmula 596 do STF sintetiza que: As disposições do Decreto 22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional. Deste modo, aplica-se às instituições financeiras a Lei 4.595/64, que determina: Art. 4º Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente da República: (...) IX - Limitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos, comissões e qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços bancários ou financeiros, inclusive os prestados pelo Banco Central da República do Brasil [...]. Assim, estão submetidas, como fornecedores de serviços, às disposições do CDC; no entanto, compete ao Conselho Monetário Nacional limitar, sempre que necessário, as taxas de juros de operações e serviços bancários ou financeiros, que podem ser superiores a 12% ao ano. 66 Correta, portanto, a alternativa (A). (B) INCORRETA. Conforme fundamentação anterior, aplica-se o CDC aos contratos de consumo envolvendo instituições financeiras. (C) INCORRETA. Conforme entendimento sumulado pelo STF, não se aplica a Lei de Usura às instituições financeiras. (D) INCORRETA. Aplica-se a Lei n.º 4.595/64, não o Código Civil, no que se refere ao limite de juros. (E) INCORRETA. Vide comentários anteriores. _______________________________________________________________________ BLOCO II DIREITO CIVIL 41. Edital de bolsas para o mestrado XPTO previu a reserva de 5% das vagas a pessoas com deficiência, que definiu como aquelas que, comprovadamente por laudo médico, tivessem qualquer grau de comprometimento laboral ou funcional, nos termos da lei estadual própria da unidade federativa em que haveria o certame. Tício impugnou essa cláusula editalícia, notadamente a definição de pessoa com deficiência, com base na Convenção de Nova York e na Lei Brasileira de Inclusão. Nesse caso, sua impugnação: (A) não vinga, porque a definição adotada é ainda mais abrangente do que aquela prevista pela Convenção de Nova York e pela Lei Brasileira de Inclusão; (B) não vinga, porque, embora a definição adotada seja mais restritiva do que a da Lei Brasileira de Inclusão, é compatível com os termos da Convenção da Nova York e tem respaldo em legislação estadual própria; (C) não vinga, porque a Convenção de Nova York e a Lei Brasileira de Inclusão definem pessoa com deficiência apenas para definir seu escopo de aplicação, sem paralisar a atividade normativa dos entes federados e muito menos a dos agentes privados; (D) vinga, porque, embora compatível com a Convenção de Nova York, a definição adotada é mais restritiva do que a definição da Lei Brasileira de Inclusão, que ampliou a proteção das pessoas com deficiência e passou a constituir um núcleo irredutível de tutela desse grupo hipervulnerável; (E) vinga, porque a definição adotada é mais restritiva do que as definições de Convenção de Nova York e da Lei Brasileira de Inclusão, cujo escopo de aplicação não pode ser reduzido sequer normativamente. _______________________________________________________________________ GABARITO: E 67 COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (C) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (D) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (E) CORRETA. A alternativa E está correta porque a definição adotada pelo edital é de fato mais restritiva que as definições presentes tanto na Convenção de Nova York quanto na Lei Brasileira de Inclusão (LBI), e essas normas estabelecem parâmetros mínimos de proteção que não podem ser reduzidos, nem mesmo por via normativa. A Convenção de Nova York (Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência): Adota um modelo social de deficiência,da dívida pública em todos os níveis federativos, com o comprometimento da capacidade de investimento dos entes públicos, o Presidente da República editou a Medida Provisória nº Z (MPZ), na qual especificou, para a União e os entes subnacionais, os níveis de compatibilidade dos resultados fiscais com a trajetória da dívida, bem como as condicionantes e os limites a serem observados para a concessão de incentivo ou benefício tributário, que seriam influenciados pela referida compatibilidade. Tão logo foi editada a MPZ, o governador do Estado Alfa ingressou com ação direta de inconstitucionalidade sustentando a sua desconformidade constitucional. À luz da sistemática vigente, é CORRETO afirmar que a MPZ: (A) foi editada no exercício da competência legislativa concorrente da União, sendo, portanto, constitucional; (B) deve ser objeto de interpretação conforme a Constituição, por afronta à autonomia dos demais entes federativos, sendo aplicada apenas à União; (C) é parcialmente inconstitucional, ao estabelecer balizamentos para a trajetória da dívida, matéria de competência privativa do Senado Federal, que deve ser objeto de resolução; (D) é inconstitucional, não podendo ser aplicada a nenhum ente federativo, considerando a natureza da matéria versada, embora a União tenha competência legislativa para discipliná-la; (E) é parcialmente inconstitucional, ao estabelecer condicionantes e limites para a concessão de incentivo ou benefício tributário pelos demais entes federativos, em razão da afronta à sua autonomia. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. A matéria não se insere no campo da competência legislativa concorrente (art. 24 da CF), mas sim da competência privativa da União, inclusive com necessidade de lei complementar conforme art. 163 da CF/88. (B) INCORRETA. A interpretação conforme não é aplicável quando o vício é formal e absoluto, como ocorre no caso da edição de MP sobre matéria reservada à lei complementar (art. 62, §1º, I, “c”, CF). (C) INCORRETA. Ainda que o Senado tenha competência para dispor sobre limites de endividamento (art. 52, VI e VII, CF), a MPZ padece de inconstitucionalidade formal por tratar de matéria reservada à lei complementar. 9 (D) CORRETA. A MPZ é inconstitucional, pois trata de matéria que exige lei complementar (finanças públicas, dívida, limites fiscais – art. 163, CF), sendo vedada sua disciplina por medida provisória (art. 62, §1º, I, “c”, CF). (E) INCORRETA. A inconstitucionalidade da MPZ não é apenas parcial, pois a forma de veiculação (MP) é inadequada para todo o conteúdo normativo versado, dada a reserva de lei complementar exigida pelo texto constitucional. _______________________________________________________________________ 2. O chefe do Poder Executivo de determinado ente federativo editou decreto promovendo a declaração de utilidade pública de certo imóvel urbano, objetivando a construção de uma escola. Frustradas as tentativas de desapropriação consensual, foi ajuizada a ação judicial de desapropriação em 1998. Ato contínuo, foi deferida a imissão provisória da posse após a realização do depósito prévio. Ao fim do processo expropriatório, que ocorreu no presente exercício, foi constatada divergência entre o valor inicialmente indicado pelo ente federativo e o valor real do imóvel expropriado. O expropriante, que possui uma elevada dívida pública e está em atraso com os seus precatórios, foi condenado a complementar o valor da indenização. Na situação descrita, o complemento da indenização: (A) deve ser realizado pelo regime geral de precatórios; (B) deve ser realizado via depósito judicial direto, a exemplo do que foi feito em relação ao depósito prévio; (C) deve seguir a regra geral que determina a sua realização em dinheiro, em razão da exigência de que a indenização seja prévia e justa; (D) deve ser realizado pelo regime especial de precatórios introduzido pela Emenda Constitucional nº 30/2000, sendo cabível o sequestro na hipótese de atraso no pagamento; (E) deve ser realizado pelo regime especial de precatórios introduzido pela Emenda Constitucional nº 62/2009, não sendo cabível o sequestro na hipótese de atraso no pagamento. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. O pagamento não deve seguir o regime geral de precatórios. De acordo com o STF, deve ser feito por depósito judicial direto, dada a natureza da indenização por desapropriação. (B) CORRETA. Conforme decidido pelo STF no Tema 865 de Repercussão Geral, quando o ente expropriante está inadimplente com precatórios, o pagamento da diferença entre 10 o valor inicial e final da indenização deve ser feito por depósito judicial direto ao expropriado, em respeito à exigência de indenização prévia (art. 5º, XXIV, CF). (C) INCORRETA. A regra geral da indenização prévia em dinheiro se aplica ao momento da imissão na posse. O complemento da indenização será feito por depósito judicial, nos termos do STF. (D) INCORRETA. A EC nº 30/2000 é posterior à ação expropriatória, e o valor complementar não será incluído em regime especial de precatórios, devendo ser pago por depósito judicial. (E) INCORRETA. Não se aplica o regime da EC nº 62/2009, pois a indenização complementar não será objeto de precatório, mas sim de depósito judicial direto, conforme decidido pelo STF. _______________________________________________________________________ 3. De acordo com a Lei Distrital nº X, os policiais civis do Distrito Federal são regidos pelo regime próprio de previdência social afeto à generalidade dos servidores públicos civis desse ente federativo. Essa disciplina, no entanto, foi considerada inconstitucional por um legitimado à deflagração do controle concentrado de constitucionalidade, o que o levou a submeter a matéria ao Supremo Tribunal Federal. De acordo com a sistemática constitucional, a Lei Distrital nº X é: (A) inconstitucional, por disciplinar o regime previdenciário afeto a servidores públicos da União; (B) inconstitucional, pois compete privativamente à União legislar sobre previdência social; (C) inconstitucional, por não estatuir um regime próprio de previdência social para servidores que integram carreiras da segurança pública do Distrito Federal; (D) constitucional, desde que seja assegurado o direito de opção aos policiais civis, de modo que possam permanecer vinculados à União ou ao Distrito Federal; (E) constitucional, pois os policiais civis integram a estrutura orgânica do Poder Executivo distrital e é vedada a existência de mais de um regime próprio em cada ente federativo. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. A norma não é inconstitucional por violação de competência, pois a Constituição não reserva exclusivamente à União o tratamento previdenciário para os policiais civis do DF. 11 (B) INCORRETA. A matéria de previdência social é de competência legislativa concorrente, conforme art. 24, XII, da CF/88, cabendo à União e ao DF legislar sobre o tema. (C) INCORRETA. A Constituição, no art. 40, § 20, exige unicidade de regime próprio por ente federativo, o que autoriza o DF a vincular seus servidores — inclusive os da segurança pública — ao seu RPPS, desde que respeitada a unicidade. (D) INCORRETA. A regra não prevê direito de opção. A vinculação dos servidores ao RPPS do DF decorre da norma distrital válida, desde que respeitado o princípio da unicidade. (E) CORRETA. Conforme decidido pelo STF na ADI 5801/DF, é constitucional lei distrital que vincule os policiais civis ao RPPS do DF, observada a unicidade de regime previdenciário (art. 40, § 20, CF), sem violar a competência da União. _______________________________________________________________________ 4. Em determinadadefinindo pessoas com deficiência como "aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas" (art. 1º). Esta Convenção tem status de emenda constitucional no Brasil (Decreto nº 6.949/2009, aprovada conforme procedimento do art. 5º, §3º da CF). A Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015): Também adota o modelo social, considerando "pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas" (art. 2º). Por fim, destacamos que na ADI 7028, o STF analisou dispositivos da Lei nº 2.151/2017, do Estado do Amapá, que estabelece prioridade em escolas públicas para pessoas com deficiência. No julgamento, restou decidido que os conceitos estabelecidos no art. 1º, caput, e § 4º, da Lei estadual nº 2.151/2017 divergem da definição nacional de pessoa com deficiência, constante de tratado internacional de direitos humanos (Decreto nº 6.949/2009) e da Lei Federal nº 13.146/2015, e excluem os alunos com deficiência intelectual do rol de destinatários da política pública. A lei estadual não pode se desviar da definição fixada em convenção internacional, incorporada ao direito interno como norma constitucional (CF/1988, art. 5º, § 3º), e desconsiderar a previsão de lei federal que exige avaliação biopsicossocial, a ser realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar (Lei nº 13.146/2015, art. 2º, § 1º), foi firmada a seguinte tese: “É inconstitucional lei estadual que (a) reduza o conceito de pessoas com deficiência previsto na Constituição, na Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de estatura constitucional, e na lei federal de normas gerais; (b) desconsidere, para a aferição da deficiência, a avaliação biopsicossocial por equipe 68 multiprofissional e interdisciplinar prevista pela lei federal; ou (c) exclua o dever de adaptação de unidade escolar para o ensino inclusivo”. Logo, a alternativa E é a correta. _______________________________________________________________________ 42. Mévio, funcionário federal aposentado, era casado com Maria. Quando ele foi diagnosticado com demência, seu filho, Mévio Jr., requereu judicialmente sua curatela, o que obteve liminarmente. Antes da sentença, contudo, Mévio faleceu, e o juiz intimou as partes a indicarem a subsistência do interesse de agir. Mévio Jr., então, respondeu à intimação indicando que tinha interesse em ser confirmado como curador de seu pai para requerer o divórcio, diante da descoberta de que Maria maltratava o falecido, de modo que não seria justo que ficasse com sua substancial pensão. Nesse caso, o juiz deve: (A) reconhecer a perda do interesse de agir, porque o divórcio é ato personalíssimo que não pode ser requerido por curador; (B) reconhecer a perda do interesse de agir, porque o curador provisório já tinha poderes para requerer o divórcio, considerando ainda que a morte do curatelado leva, de todo modo, à extinção do vínculo matrimonial, uma vez que a morte extingue todos os direitos personalíssimos; (C) reconhecer a perda do interesse de agir, porque Mévio Jr., como curador provisório, já poderia ter requerido o divórcio, embora a morte não extinga, por si só, todos os direitos personalíssimos; (D) reconhecer a perda do interesse de agir, porque, por expressa disposição legal, o herdeiro tem legitimidade ativa para requerer o divórcio do de cujos; (E) prosseguir à sentença para confirmar Mévio Jr. como curador, de modo que só então ganhará legitimidade para requerer o divórcio póstumo, possível em tese, considerando que a morte não extingue, por si só, todos os direitos personalíssimos. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS QUESTÃO PASSÍVEL DE RECURSO. (A) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (C) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (D) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. 69 (E) CORRETA. A questão aborda a temática da curatela após o falecimento do curatelado e a possibilidade de divórcio póstumo, especialmente quando existem efeitos previdenciários relevantes em discussão. Para analisá-la adequadamente, é necessário compreender a evolução jurisprudencial sobre o tema e seus fundamentos legais. No caso apresentado, Mévio Jr. obteve liminarmente a curatela de seu pai, Mévio, diagnosticado com demência. Antes da sentença definitiva, o curatelado faleceu, e o filho manifestou interesse em ser confirmado como curador para requerer o divórcio póstumo, alegando maus-tratos praticados por Maria e pretendendo impedir que ela recebesse a substancial pensão do falecido. A alternativa E estaria correta com base no entendimento do STJ que reconhece a possibilidade do divórcio póstumo em circunstâncias específicas, principalmente quando há efeitos previdenciários envolvidos - exatamente o caso de Mévio Jr., que busca evitar que Maria receba a pensão do pai falecido. A partir da Emenda Constitucional 66/2010, o divórcio tornou-se um direito potestativo dos cônjuges, dispensando qualquer requisito prévio e dependendo exclusivamente da vontade da parte interessada. A jurisprudência do STJ reconhece a legitimidade dos herdeiros para figurarem no processo de divórcio após a morte de uma das partes, especialmente quando há interesses patrimoniais em discussão. Um ponto crítico, no entanto, é que não fica evidenciada no enunciado a vontade prévia do cônjuge falecido de se divorciar. O recente precedente do STJ (REsp 2.022.649-MA, julgado em 16/5/2024) estabelece que "é possível a decretação do divórcio na hipótese em que um dos cônjuges falece após a propositura da respectiva ação, notadamente quando manifestou-se indubitavelmente no sentido de aquiescer ao pedido". No caso em análise, não houve ação de divórcio em curso nem manifestação prévia de Mévio, o que pode questionar a correção do gabarito. Considerando o contexto de maus-tratos e potencial prejuízo patrimonial aos herdeiros, o juiz deve prosseguir à sentença para confirmar Mévio Jr. como curador, conferindo- lhe legitimidade para requerer o divórcio póstumo, possível em tese, considerando que a morte não extingue, por si só, todos os direitos personalíssimos. Diante disso, a questão é passível de recurso, pois a aplicação do entendimento jurisprudencial atual do STJ exige a manifestação prévia de vontade do falecido para o divórcio póstumo, elemento ausente no caso concreto apresentado. Esta inconsistência entre o gabarito e o precedente mais recente da Corte Superior pode comprometer a validade da alternativa indicada como correta. (A, B, C e D) INCORRETAS. Estas alternativas desconsideram a jurisprudência atual do STJ sobre divórcio póstumo, seja por afirmarem que o divórcio é ato exclusivamente personalíssimo sem exceções, por atribuírem poderes excessivos ao curador provisório, por ignorarem que a morte não extingue todos os direitos personalíssimos, ou por criarem regras sem respaldo legal sobre a legitimidade para requerer o divórcio do falecido. _______________________________________________________________________ 70 43. É CORRETO afirmar que autarquia federal, pessoa jurídica de direito público: (A) pode, em regra, sofrer danos morais, desde que relativos a abalos a sua honra objetiva; (B) pode sofrer apenas danos morais coletivos, quando titularizar, por designação constitucional, o bem jurídico lesionado pela conduta antijurídica; (C) pode, excepcionalmente, sofrer danos morais relacionados à violação da honra ou da imagem, quando a credibilidadeinstitucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre os demais jurisdicionados em geral for evidente; (D) não pode sofrer danos morais, na medida em que o direito não tutela o bom nome ou a honra objetiva de entes que, embora desfrutem de autonomia, estão fora de comércio, isto é, não têm colocação comercial ou lucrativa, de sorte a ficarem impassíveis de prejuízos a sua reputação no mercado; (E) não pode sofrer danos morais, porque o reconhecimento de direitos fundamentais — ou faculdades análogas a eles — a pessoas jurídicas de direito público não pode jamais conduzir à subversão da própria essência desses direitos, que é o feixe de faculdades e garantias exercitáveis principalmente contra o Estado, sob pena de confusão ou de paradoxo consistente em se ter, na mesma pessoa, idêntica posição jurídica de titular ativo e passivo, de credor e, a um só tempo, devedor de direitos fundamentais. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Vide comentários alternativa C. (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa C. (C) CORRETA. A alternativa C é a correta porque afirma que a autarquia federal "pode, excepcionalmente, sofrer danos morais relacionados à violação da honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre os demais jurisdicionados em geral for evidente". Esta posição está diretamente respaldada pela jurisprudência do STJ, que reconheceu expressamente que a pessoa jurídica de direito público pode pleitear indenização por danos morais relacionados à violação de sua honra ou imagem, nas hipóteses em que a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre a sociedade for evidente.4 Este entendimento foi fixado pelo STJ ao julgar viável pedido de reparação por danos morais ajuizado pelo INSS. O relator que a credibilidade institucional da autarquia 4 https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/19032021-Fraude-pode- gerar-indenizacao-de-danos-morais-em-favor-do-INSS--decide-Segunda-Turma.aspx https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/19032021-Fraude-pode-gerar-indenizacao-de-danos-morais-em-favor-do-INSS--decide-Segunda-Turma.aspx https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/19032021-Fraude-pode-gerar-indenizacao-de-danos-morais-em-favor-do-INSS--decide-Segunda-Turma.aspx 71 previdenciária foi fortemente agredida, e o dano reflexo sobre os segurados da Previdência e os jurisdicionados em geral é evidente. O STJ reconheceu que a honra objetiva é mais abrangente do que a mera credibilidade comercial, envolvendo também os chamados "danos institucionais" que afetam a reputação de pessoas jurídicas sem fins lucrativos. Ademais, o tribunal chamou atenção para o conceito de "dano social", configurado como lesão que, embora dirigida a uma pessoa específica, repercute em prejuízo para toda a comunidade. As demais alternativas estão incorretas por generalizarem indevidamente (alternativa A), limitarem incorretamente o alcance da reparação (alternativa B), ou negarem totalmente a possibilidade de reparação (alternativas D e E), contrariando o entendimento jurisprudencial consolidado no caso paradigmático julgado pelo STJ (REsp 1722423). (D) INCORRETA. Vide comentários alternativa C. (E) INCORRETA. Vide comentários alternativa C. _______________________________________________________________________ 44. Caio pediu antecipação de tutela contra o plano de saúde Durma Tranquilo S/A, o que fora concedido pelo juiz. O plano, intimado, recorreu da decisão, que foi revertida em agravo de instrumento. Após a instrução, o juiz julgou improcedentes os pedidos, e a sentença foi confirmada em todas as instâncias. Nesse caso, considerada a teoria actio nata, a pretensão de indenização pelas despesas incorridas por força do cumprimento da tutela de urgência prescreve em: (A) três anos a contar do trânsito em julgado da ação de conhecimento; (B) três anos a contar do trânsito em julgado do acórdão em agravo de instrumento que revogou a tutela; (C) dez anos a contar do trânsito em julgado da ação de conhecimento; (D) dez anos a contar da decisão do acórdão que revogou a tutela de urgência; (E) dez anos a contar do trânsito em julgado do acórdão em agravo de instrumento que revogou a tutela. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS (A) CORRETA. A alternativa A é a correta porque estabelece o prazo prescricional de três anos a contar do trânsito em julgado da ação de conhecimento para a pretensão de indenização pelas despesas incorridas devido ao cumprimento da tutela de urgência. 72 Esta resposta baseia-se na aplicação conjunta da natureza jurídica da pretensão e da teoria da actio nata. A pretensão em questão tem natureza de responsabilidade civil, pois se trata de reparação por danos materiais decorrentes do cumprimento de tutela de urgência posteriormente revogada, enquadrando-se no Art. 206, §3º, V, do Código Civil, que estabelece prazo prescricional de três anos para "a pretensão de reparação civil". É forçoso concluir que, na específica hipótese de revogação de decisão liminar, o termo a quo do prazo prescricional é a data do trânsito em julgado do provimento jurisdicional em que se confirma a revogação da liminar, pois esse é o momento em que o credor toma conhecimento de seu direito à restituição, pois não mais será possível a reversão do aresto que revogou a decisão precária. É imprescindível aguardar-se o trânsito em julgado, pois, se a tutela provisória concedida ao autor for revogada, mas a pretensão autoral for, ao final, julgada procedente, nada haverá que ser restituído, uma vez que aquilo que foi pago a título precário revelou-se, ao final, realmente devido. Em síntese, se nada deve ser restituído, sequer seria necessário discutir acerca da prescrição da pretensão restitutória. O STJ5 tem firmado entendimento de que, nestes casos, a pretensão ressarcitória surge apenas com o trânsito em julgado da decisão que confirma a improcedência do pedido, e não a partir da revogação da tutela provisória pelo tribunal. Isso porque, até o trânsito em julgado, ainda existia a possibilidade de a decisão final ser favorável ao autor, o que afastaria o dever de indenizar. Em síntese, tendo em vista tratar-se de hipótese de responsabilidade civil, não incide o prazo prescricional geral de dez anos disposto no art. 205 do Código Civil, mas sim o prazo específico de três anos previsto no art. 206, §3º, V do mesmo diploma legal. As demais alternativas estão incorretas porque a alternativa B erra ao considerar o termo inicial como sendo a data do acórdão que revogou a tutela provisória, e não o trânsito em julgado da ação principal. Já as alternativas C, D e E erram ao indicar o prazo prescricional de dez anos, aplicável apenas para pretensões que não tenham prazo específico previsto em lei, o que não é o caso da pretensão de reparação civil, que tem prazo específico de três anos. Assim, a alternativa A contempla corretamente tanto o prazo prescricional (três anos) quanto o termo inicial para sua contagem (trânsito em julgado da ação principal). (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa A. (C) INCORRETA. Vide comentários alternativa A. (D) INCORRETA. Vide comentários alternativa A. (E) INCORRETA. Vide comentários alternativa A. 5 REsp 1.939.455-DF 73 _______________________________________________________________________ 45. Ao dispor sobre provas, o Código Civil traz regra importante: “Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa.” Esse dispositivo densifica o seguinte conceito parcelar da boa-fé objetiva: (A) nemo potest venire contra factum proprium; (B) dever de mitigar os próprios prejuízos (dutyto mitigate the loss); (C) excepcio doli; (D) tu quoque; (E) supressio. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Vide comentários alternativa D. (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa D. (C) INCORRETA. Vide comentários alternativa D. (D) CORRETA. A alternativa D é a correta porque o Art. 231 do Código Civil ("Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa") densifica o conceito parcelar da boa-fé objetiva conhecido como "tu quoque". O "tu quoque" (expressão latina que significa "tu também") é um princípio que veda o comportamento contraditório, impedindo que alguém que viole uma norma jurídica possa posteriormente beneficiar-se dessa violação. Desse modo, está vedado que alguém faça contra o outro o que não faria contra si mesmo (regra de ouro), conforme ensina Cláudio Luiz Bueno de Godoy (Função...,2004, p. 87-94). No caso específico do Art. 231, a aplicação do "tu quoque" manifesta-se quando a pessoa que se recusa a submeter-se a um exame médico necessário fica impedida de depois aproveitar-se dessa mesma recusa para obter vantagem jurídica. Não se permite que alguém tire proveito da própria torpeza ou contradição. Se a parte se recusou a colaborar com a produção de uma prova relevante, ela não pode depois alegar em seu benefício a ausência dessa mesma prova ou quaisquer consequências derivadas de sua própria recusa. Em resumo: o "tu quoque" foca na incoerência de alguém que viola uma norma e depois tenta se beneficiar dessa violação, enquanto o "venire contra factum proprium" 74 (alternativa A) foca na proibição de comportamentos contraditórios que frustrem expectativas legítimas criadas na outra parte. O "venire contra factum proprium" proíbe que alguém adote um comportamento que contrarie uma conduta anterior na qual se criou uma legítima expectativa em outrem. No caso do Art. 231, não está em jogo a frustração de uma expectativa legítima, mas sim a vedação a que alguém se beneficie diretamente de sua própria recusa indevida. As demais alternativas também não se aplicam adequadamente ao dispositivo em análise: o "duty to mitigate the loss" (alternativa B) refere-se ao dever de mitigar os próprios prejuízos; a "exceptio doli" (alternativa C) é uma exceção oponível contra quem age com dolo; e a "supressio" (alternativa E) refere-se à perda de um direito pelo seu não exercício prolongado no tempo. (E) INCORRETA. Vide comentários alternativa D. _______________________________________________________________________ 46. Bianca, Carina e Denise obrigaram-se contratualmente a elaborar e entregar um projeto arquitetônico para a reforma do salão principal da ABC Ltda. Fixou-se prazo para o cumprimento da prestação, com a previsão de multa pecuniária em caso de atraso. Entretanto, faltando duas semanas para o término do prazo previsto no contrato, Denise decidiu aceitar uma proposta de trabalho mais vantajosa e abandonou Bianca e Carina sozinhas para concluir o projeto. Apesar dos esforços dessas duas, não foi possível a elas concluir o projeto a tempo: a parte faltante dependia essencialmente das habilidades de Denise (e a parte até então elaborada era inútil sem o que faltava), e não foi possível a elas encontrar alguém para substituí-la no curto prazo faltante. Diante do ocorrido, a ABC Ltda. pode exigir a multa contratual: (A) integralmente de qualquer uma das três; (B) integralmente, mas apenas de Denise; (C) apenas proporcionalmente de cada uma das três; (D) apenas proporcionalmente e apenas de Denise; (E) integralmente de Denise ou proporcionalmente de cada uma das três. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Vide comentários alternativa E (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (C) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. 75 (D) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (E) CORRETA. A questão trata de uma obrigação contratual conjunta entre três profissionais para elaboração de um projeto arquitetônico, com previsão de multa em caso de atraso. A análise da alternativa correta demanda a compreensão de dois aspectos: a natureza da obrigação e a responsabilidade pela multa contratual frente ao inadimplemento. O caso apresenta uma obrigação que possui natureza dúplice: é divisível quanto à sua execução (cada profissional responsável por uma parte específica) e indivisível quanto ao resultado (o projeto só tem utilidade se entregue completo). Esta característica influencia diretamente a forma como a multa contratual pode ser exigida. Denise, ao abandonar voluntariamente o projeto faltando duas semanas para o prazo, cometeu inadimplemento. Sua conduta impossibilitou o cumprimento da obrigação pelas demais partes, já que a conclusão dependia essencialmente das habilidades específicas dela, sem possibilidade de substituição no prazo remanescente. O Código Civil, em seu art. 279, estabelece que "Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado." A multa contratual, como cláusula penal moratória, constitui perdas e danos prefixados, podendo ser exigida integralmente de Denise por sua culpa exclusiva no inadimplemento. Por outro lado, considerando a divisibilidade da execução da obrigação, também é possível a cobrança proporcional da multa de cada uma das três contratadas, com base no princípio da equidade e no art. 413 do Código Civil, que permite a redução proporcional da penalidade. Esta abordagem reconhece que Bianca e Carina cumpriram suas partes e se esforçaram para concluir o projeto, mas não conseguiram devido à falta da contribuição essencial de Denise. Deste modo, a alternativa E é a correta por contemplar as duas possibilidades juridicamente válidas para a exigência da multa contratual no caso específico: integralmente de Denise (devido à sua culpa pelo inadimplemento) ou proporcionalmente de cada uma das três contratadas (considerando a divisibilidade da execução). _______________________________________________________________________ 47. Seu Hermenegildo ficou muito satisfeito com o trabalho que sua nora, a advogada Iara, lhe prestou, assessorando-o na compra de um imóvel e recusando-se a cobrar-lhe honorários pelo serviço. Diante disso, depois de alguma insistência, ela aceitou que ele lhe doasse um quadro de sua coleção, em retribuição à assessoria prestada e de valor equivalente a ela. Entretanto, algum tempo depois, Hermenegildo veio a descobrir que a postagem em redes sociais que alardeava que sua ora falecida esposa, Lucrécia, havia se embriagado e dado um vexame na festa de 30 anos de casamento de ambos tinha sido divulgada por Iara. Diante disso, Hermenegildo ajuizou ação em face de Iara, pretendendo a revogação da doação para reaver o quadro. No entanto, já muito idoso, veio a falecer no curso da ação, de modo que agora é Adalberto (filho de Hermenegildo 76 e cunhado de Iara), na condição de seu herdeiro e inventariante, quem prossegue na ação. A pretensão à revogação da doação, nesse caso, deve ser rejeitada pelo juiz porque: (A) o fato relatado configura difamação, e a legislação admite a revogação somente por injúria grave ou calúnia; (B) não houve condenação na esfera criminal para autorizar a revogação da doação no âmbito cível; (C) falta ao herdeiro legitimidade ativa, devendo extinguir-se a ação pela morte do doador; (D) a ofensa não foi feita à pessoa do doador, de modo que não poderia ele revogar a doação; (E) a doação em questão é remuneratória, o que impede a revogação por ingratidão. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Vide comentários alternativa E.(B) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (C) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (D) INCORRETA. Vide comentários alternativa E. (E) CORRETA. A questão envolve a revogação de doação por ingratidão do donatário, especificamente relacionada a uma doação remuneratória. Para sua correta análise, é necessário examinar a natureza jurídica da doação realizada e as hipóteses legais de revogação. No caso apresentado, Seu Hermenegildo doou um quadro de sua coleção à sua nora Iara, advogada, como forma de retribuição pelos serviços jurídicos prestados na compra de um imóvel, pelos quais ela se recusou a cobrar honorários. Esta caracterização configura uma doação remuneratória, prevista no art. 540 do Código Civil: "A doação feita em contemplação do merecimento do donatário não perde o caráter de liberalidade, como não o perde a doação remuneratória, ou a gravada no excedente ao valor dos serviços remunerados ou ao encargo imposto." Posteriormente, Hermenegildo descobriu que Iara havia divulgado em redes sociais informações depreciativas sobre sua falecida esposa, o que o levou a ajuizar ação de revogação da doação por ingratidão. No entanto, conforme expressamente previsto no art. 564 do Código Civil, "Não se revogam por ingratidão: I - as doações puramente remuneratórias; [...]". 77 Esta vedação legal à revogação das doações remuneratórias por ingratidão fundamenta- se na própria natureza deste tipo de doação, que possui um caráter misto: parte liberalidade (doação propriamente dita) e parte pagamento pelos serviços prestados. Como o quadro foi doado especificamente em retribuição à assessoria jurídica prestada e com valor equivalente a ela, conforme informado no enunciado, trata-se de uma doação puramente remuneratória, não sujeita à revogação por ingratidão. Assim, sendo a doação remuneratória, resta impedido a revogação por ingratidão. _______________________________________________________________________ 48. André vendeu sua motocicleta para seus vizinhos: os irmãos Bernardo e Caetano. Cada um deles pagou-lhe metade do preço por transferência eletrônica, mas, quando ele foi entregar a motocicleta, somente Bernardo compareceu para recebê-la. Diante disso, é CORRETO afirmar que André pode fazer a entrega a Bernardo: (A) pois presume-se a existência de procuração para receber a motocicleta em vista das circunstâncias descritas; (B) em virtude da solidariedade ativa entre ele e Caetano decorrente da natureza do bem vendido; (C) já que a omissão de Caetano produz os efeitos exoneratórios próprios da mora do credor; (D) se Bernardo lhe der caução de ratificação da parte de Caetano, em razão da indivisibilidade da bicicleta; (E) somente se Caetano houver dado a Bernardo poderes para receber a motocicleta em seu nome. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS QUESTÃO PASSÍVEL DE RECURSO. (A) INCORRETA. Vide comentários alternativa D. (B) INCORRETA. Vide comentários alternativa D. (C) INCORRETA. Vide comentários alternativa D. (D) CORRETA. A questão aborda a entrega de um bem indivisível (motocicleta) adquirido conjuntamente por dois compradores, onde apenas um deles comparece para recebê- lo. Para analisar corretamente a situação, é necessário compreender os conceitos de obrigações indivisíveis e os requisitos para pagamento quando há pluralidade de credores. 78 No caso apresentado, André vendeu sua motocicleta para os irmãos Bernardo e Caetano, recebendo metade do preço de cada um. Isso configura uma situação de concurso de credores em uma obrigação que tem por objeto uma prestação indivisível (a entrega da motocicleta). A motocicleta, por sua natureza, não pode ser entregue parcialmente - é um bem indivisível. O Código Civil, em seu art. 260, estabelece que "Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a totalidade da prestação indivisível; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: I - a todos conjuntamente; II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores". Aplicando este dispositivo ao caso concreto, André (devedor) pode entregar a motocicleta a Bernardo (um dos credores) desde que este lhe forneça caução de ratificação da parte de Caetano (o outro credor). A caução de ratificação é uma garantia que assegura que o outro credor não exigirá novamente a prestação, protegendo assim o devedor contra o risco de ter que pagar duas vezes. Esta exigência de caução justifica-se pela natureza indivisível da obrigação e pela ausência de solidariedade ativa presumida entre os credores. Sem esta caução, André correria o risco de que Caetano viesse posteriormente exigir a entrega da motocicleta, alegando não ter autorizado Bernardo a recebê-la em seu nome. De tal sorte, a alternativa D é a correta porque indica precisamente a condição necessária e suficiente para que André possa fazer a entrega da motocicleta a apenas um dos compradores, em conformidade com o disposto no art. 260, II, do Código Civil. Ressalte-se que a questão é passível de recurso, uma vez que a alternativa D, tida como correta, contém um erro de digitação e, ao invés de constar "motocicleta", consta "bicicleta". Apesar de não alterar a essência jurídica da questão, pois ambos são bens indivisíveis, trata-se de um objeto distinto do mencionado no enunciado, o que eventualmente pode ser questionado por criar confusão na interpretação do item. (E) INCORRETA. Vide comentários alternativa D. _______________________________________________________________________ DIREITO PROCESSUAL CIVIL 49. O Ministério Público do Estado de São Paulo ajuizou ação civil pública em face da Brinquedos Legais, distribuída a uma das Varas Cíveis da Comarca da Capital de São Paulo. Em sua causa de pedir, o Parquet argumentou que o brinquedo “Brinque Bom” tem defeito de projeto, o qual pode ocasionar queimaduras no usuário se mantido por curto período à exposição solar. Assim, pediu a condenação da empresa a retirar o brinquedo de circulação e a promover as adaptações necessárias para evitar a repetição do defeito. Três meses depois da distribuição do processo, após a oferta de contestação pela ré, o Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública em face da mesma pessoa jurídica, 79 em que, fundado na mesma causa de pedir, além dos pedidos já formulados pelo Parquet estadual, pleiteou a condenação da Brinquedos Legais ao pagamento de danos morais coletivos e individuais em favor de cada vítima, a serem apurados em liquidação de sentença, e à reparação de todos os brinquedos vendidos. Nesse caso, à luz das disposições da Lei nº 8.078/1990, da Lei nº 7.347/1985 e da jurisprudência dos Tribunais Superiores, é CORRETO afirmar que: (A) requerida a produção de prova pericial pelo Ministério Público em qualquer das ações civis públicas, caberá ao respectivo órgão de execução promover o adiantamento dos honorários periciais; (B) a coisa julgada formada em ambas as ações civis públicas terá efeitos erga omnes em caso de procedência ou improcedência do pedido; (C) é inadmissível o litisconsórcio entre o Ministério Público do Estado e o Ministério Público Federal na hipótese, razão pela qual se fez necessária a propositura da segunda ação civil pública; (D) reconhecida a continência da ação proposta pelo Ministério Público Federal, as ações civis públicas deverão ser reunidas na Justiça Federal; (E) em caso de procedência da ação, a condenação deverá ser específica, individualizando as vítimas do evento e suas respectivas indenizações, vedada a prolação de sentença genérica. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. O art. 18 da Lei 7.347/85 veda qualquer adiantamento de custas, emolumentos ou honorários periciais por parte do MP, finalizando que essa despesa será suportada pela Fazenda Pública vinculada.Ademais, nas perícias requeridas pelo Ministério Público nas ações civis públicas, cabe à Fazenda Pública à qual se acha vinculado o Parquet arcar com o adiantamento dos honorários periciais. STJ. 1ª Turma. AgInt-RMS 61.877/SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/12/2019.” (B) INCORRETA. Segundo o art. 16, parte final, da Lei 7.347/85 e art. 103, incisos I e III , a coisa julgada em ACP só é erga omnes em caso de procedência, sendo que, se improcedente por insuficiência de provas, não impede novo ajuizamento . (C) INCORRETA. O STJ (EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL 2017/0326733-9)6 reconhece que é possível o litisconsórcio facultativo entre MP Estadual e MPF, desde que justificado, não sendo vedado constitucionalmente. Ademais, o art. 5º, §5º, da Lei 7.347, de 1985, assevera que admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos 6 https://scon.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp?O=RR&b=ACOR&p=true&preConsultaPP=000006685% 2F0&thesaurus=JURIDICO&tp=T&utm_source=chatgpt.com https://scon.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp?O=RR&b=ACOR&p=true&preConsultaPP=000006685%2F0&thesaurus=JURIDICO&tp=T&utm_source=chatgpt.com https://scon.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp?O=RR&b=ACOR&p=true&preConsultaPP=000006685%2F0&thesaurus=JURIDICO&tp=T&utm_source=chatgpt.com 80 interesses e direitos de que cuida esta lei. Porém, entende que precisa de alguma razão específica para tanto. STJ, REsp 1.254.428-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, d.j. 2/6/16. “Diante da pluralidade de direitos que a presente demanda visa proteger, quais sejam: direitos à ordem econômica, ao trabalho, à saúde e ao consumidor, é viável o litisconsórcio ativo entre o MPF, MPE e MPT. 7. Recurso especial provido. STJ. 1ª T. REsp 1.444.484-RN, Rel. Min. Benedito Gonçalves, d.j. 18/9/14.” (D) CORRETA. A Súmula 489 do STJ determina: Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações civis públicas propostas nesta e na Justiça Estadual. (E) INCORRETA. Na ACP, cabe sentença genérica, conforme art. 95 do CDC, com liquidação posterior, não sendo obrigatória a individualização na sentença: “Art. 95. Em caso de procedência do pedido, a condenação será genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos causados.” _______________________________________________________________________ 50. A União, por meio da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), ajuizou execução fiscal em face da Carros Bonitos, fabricante de veículos automotores, para cobrança de valores devidos a título de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Por equívoco do sistema eletrônico da Receita Federal, a certidão de inscrição em dívida ativa não indicou o CNPJ da Carros Bonitos, contendo apenas, para fins de qualificação, o nome e o endereço da pessoa jurídica. Tomando o caso acima como premissa, é CORRETO afirmar que: (A) o juízo deverá extinguir de plano a execução fiscal, pois o CNPJ do executado é requisito essencial da certidão de dívida ativa, nos termos da Lei nº 6.830/1980; (B) regularmente citada, a Carros Bonitos terá o prazo de três dias úteis para efetuar o pagamento do débito, com os juros e multa de mora e encargos, ou garantir a execução; (C) a União poderá substituir a certidão de dívida ativa até eventual sentença de embargos à execução para incluir o CNPJ da Carros Bonitos em sua qualificação; (D) a competência territorial para o processo e julgamento da execução fiscal é o foro do domicílio da Carros Bonitos, com exclusão de qualquer outro; (E) como garantia da execução, a Carros Bonitos poderá oferecer fiança bancária ou seguro garantia, os quais poderão ser liquidados independentemente do trânsito em julgado de decisão de mérito favorável à executada. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS 81 (A) INCORRETA. Embora o CNPJ ou CPF seja importante para a qualificação, a ausência não causa nulidade absoluta da CDA. A lei (art. 2º, § 8º, da Lei 6.830/80) permite que se emende ou substitua a CDA até a sentença de primeiro grau (nos embargos). Art. 2º - Constitui Dívida Ativa da Fazenda Pública aquela definida como tributária ou não tributária na Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964, com as alterações posteriores, que estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. § 8º - Até a decisão de primeira instância, a Certidão de Dívida Ativa poderá ser emendada ou substituída, assegurada ao executado a devolução do prazo para embargos. O STJ, por meio da Súmula 392, confirma que a Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo da execução. (B) INCORRETA. O prazo para pagamento ou garantia da execução fiscal é de 5 dias úteis, conforme art. 8º da Lei 6.830/80, e não 3 dias como afirma a alternativa. Art. 8º - O executado será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar a dívida com os juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa, ou garantir a execução, observadas as seguintes normas: I - a citação será feita pelo correio, com aviso de recepção, se a Fazenda Pública não a requerer por outra forma; II - a citação pelo correio considera-se feita na data da entrega da carta no endereço do executado, ou, se a data for omitida, no aviso de recepção, 10 (dez) dias após a entrega da carta à agência postal; III - se o aviso de recepção não retornar no prazo de 15 (quinze) dias da entrega da carta à agência postal, a citação será feita por Oficial de Justiça ou por edital; IV - o edital de citação será afixado na sede do Juízo, publicado uma só vez no órgão oficial, gratuitamente, como expediente judiciário, com o prazo de 30 (trinta) dias, e conterá, apenas, a indicação da exeqüente, o nome do devedor e dos co- responsáveis, a quantia devida, a natureza da dívida, a data e o número da inscrição no Registro da Dívida Ativa, o prazo e o endereço da sede do Juízo. (C) CORRETA. Base legal: art. 2º, § 8º, da Lei 6.830/80 — permite emenda ou substituição da CDA até ser proferida sentença de primeiro grau (nos embargos) Jurisprudência: Súmula 392/STJ: 82 “A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo da execução.” A omissão do CNPJ é erro formal, e a substituição é permitida para qualificá-lo antes da sentença que analise os embargos. (D) INCORRETA. A competência territorial das execuções fiscais não é fixada exclusivamente pelo domicílio. A Lei 6.830/80, art. 10, estabelece que não ocorrendo o pagamento, nem a garantia da execução de que trata o artigo 9º, a penhora poderá recair em qualquer bem do executado, exceto os que a lei declare absolutamente impenhoráveis. Assim, o foro pode ser diverso do domicílio da empresa executada. (E) INCORRETA. Fiança bancária ou seguro garantia são formas válidas de caução (art. 15 da LEF), mas só suspendem os efeitos da execução enquanto estiverem válidos. ART. 15 - EM QUALQUER FASE DO PROCESSO, SERÁ DEFERIDA PELO JUIZ: I - AO EXECUTADO, A SUBSTITUIÇÃO DA PENHORA POR DEPÓSITO EM DINHEIRO, FIANÇA BANCÁRIA OU SEGURO GARANTIA; E II - À FAZENDA PÚBLICA, A SUBSTITUIÇÃO DOS BENS PENHORADOS POR OUTROS, INDEPENDENTEMENTE DA ORDEM ENUMERADA NO ARTIGO 11, BEM COMO O REFORÇO DA PENHORA INSUFICIENTE. A liquidação do débito (pagamento) ocorre pelo executado, e tais garantias não dispensam o trânsito em julgado para exonerar a empresa, pois a discussão de mérito só é encerrada com decisão final. _______________________________________________________________________51. Joana, domiciliada em Brasília/DF, foi citada em ação de cobrança movida por João, domiciliado em Anápolis/GO, distribuída à 2ª Vara Cível da Comarca do Rio de Janeiro/RJ. Como fundamento, João sustentou que Joana deve lhe pagar a quantia de 200 mil reais, conforme contrato de mútuo feneratício assinado na cidade de Anápolis/GO, o qual elegeu o foro da capital do Estado do Rio de Janeiro como competente para apreciar qualquer litígio envolvendo os contratantes. Nem Joana nem João possuem domicílio ou bens na cidade do Rio de Janeiro. Nesse caso, à luz das disposições do Código de Processo Civil sobre o tema, é CORRETO afirmar que: (A) Joana poderá arguir a incompetência relativa do foro da Comarca do Rio de Janeiro a qualquer tempo, desde que antes do trânsito em julgado; (B) a propositura da ação na Comarca do Rio de Janeiro constitui eleição abusiva de foro, sendo cabível o declínio de competência em favor da Comarca de Brasília/DF; (C) eventual alegação de incompetência relativa deverá ser realizada na contestação como questão prejudicial de mérito; 83 (D) reconhecida a incompetência da Comarca do Rio de Janeiro, todos os atos processuais praticados serão declarados nulos, em razão de a competência ser vício insanável; (E) o juízo é relativamente incompetente, devendo haver a remessa dos autos à Comarca de Anápolis/GO, por ser o domicílio do autor e a ação versar sobre direito pessoal. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. De acordo com os arts. 64, §4º; e 343, CPC, a incompetência relativa somente pode ser suscitada pelo réu antes do saneamento ou da instrução, sob pena de preclusão. Portanto, não pode ser arguida a qualquer momento antes do trânsito em julgado, mas sim até o prazo fixado em lei (impugnação prévia no processo): “Art. 63, § 4º Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão.” (B) CORRETA. O art. 63, §5º, CPC, determina que a eleição de foro só produz efeitos se guardada pertinência com domicílio ou local da obrigação. Nesse caso, eleger um foro no RJ, sem qualquer conexão existente, representa foro aleatório, considerado abusivo pela legislação e jurisprudência recente. Art. 63, “§ 5º O ajuizamento de ação em juízo aleatório, entendido como aquele sem vinculação com o domicílio ou a residência das partes ou com o negócio jurídico discutido na demanda, constitui prática abusiva que justifica a declinação de competência de ofício. (Incluído pela Lei nº 14.879, de 4 de junho de 2024)” O juiz pode declinar de ofício a competência nestes termos, redirecionando o processo ao foro adequado, que seria o domicílio da ré — Brasília/DF. (C) INCORRETA. Embora seja verdade que a incompetência relativa deve ser arguida na contestação, de acordo com o art. 337, II, do CPC. Competência relativa trata de preliminar processual, e não de mérito. Ela trata de vício no juízo competente, não implicando análise de mérito do pedido. Art. 63, § 4º Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão.” (D) INCORRETA. A competência relativa enseja apenas declínio (remessa dos autos ao juízo competente), e os atos não praticados no foro competente não são nulos — existe apenas a correção mediante remessa, sem nulidade automática, consoante art. 64, §4º, do CPC: “Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo juízo competente.” (E) INCORRETA. O foro competente nos contratos é geralmente o domicílio do réu, conforme regra geral do arts. 46 e 53, III, "a", CPC. No caso, Joana, ré, reside em Brasília, não Anápolis. Logo, se eventual remessa deve ocorrer, será para Brasília, e não Anápolis. _______________________________________________________________________ 84 52. O estudo da Fazenda Pública em juízo constitui um dos principais pontos envolvendo as funções essenciais à justiça no Código de Processo Civil e na legislação extravagante. A respeito do tema, é CORRETO afirmar que: (A) se aplica o benefício da contagem em dobro para a advocacia pública ainda que a lei estabeleça, de forma expressa, prazo próprio para o ente público; (B) o membro da advocacia pública será civil e regressivamente responsável quando agir com dolo ou culpa no exercício de suas funções; (C) a Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 15 dias e nos próprios autos, impugnar a execução; (D) a Fazenda Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal; (E) a ação monitória em face da Fazenda Pública não é cabível, em razão da incompatibilidade de seu procedimento com a formação de precatório. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. O art. 183, caput e §2º, do CPC estabelece que a Fazenda tem prazo em dobro, exceto quando houver previsão legal expressa que fixar prazo próprio. Portanto, não se aplica o prazo dobrado nesses casos: “Art. 183, § 2º Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o ente público.” (B) INCORRETA. Embora exista responsabilidade civil da Fazenda – e eventual regresso do erário, o art. 184: O membro da Advocacia Pública será civil e regressivamente responsável quando agir com dolo ou fraude no exercício de suas funções. (C) INCORRETA. A intimação da Fazenda pelas vias indicadas está correta (art. 183, §1º), mas o prazo não é de 15 dias. Para impugnação de execução, o CPC prevê prazo específico de 30 dias úteis (art. 535), não se aplicando o prazo em dobro previsto no art. 183, porque há prazo próprio previsto “ Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir:” (D) CORRETA. Art. 183, caput, do CPC: 85 “A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal.” (E) INCORRETA. O CPC admite ação monitória contra a Fazenda Pública, segundo expressa previsão do art. 700, §6º, do CPC: É admissível ação monitória em face da Fazenda Pública. _______________________________________________________________________ 53. O mandado de segurança, enquanto remédio constitucional, é um instrumento processual célere e destinado ao combate de atos lesivos ou que ameacem lesar direitos individuais e coletivos que sejam líquidos e certos. A seu respeito, tomando como premissa as disposições da Lei nº 12.016/2009, bem como a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça na matéria, é CORRETO afirmar que: (A) é vedada a concessão de medida liminar em mandado de segurança individual ou coletivo que determine, dentre outras providências, a compensação de créditos tributários ou a reclassificação de servidores públicos; (B) o pagamento de vencimentos e vantagens pecuniárias assegurados em sentença concessiva de mandado de segurança a servidor público pode ser efetuado relativamente a todas as prestações vencidas e vincendas, ainda que anteriores ao ajuizamento da ação, respeitada a prescrição; (C) a impetração de mandado de segurança coletivo por associação privada depende de autorização assemblear, por se tratar de hipótese de representação processual, em que a associação pleiteia em nome próprio direito dos associados; (D) a sentençaou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o mérito, impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais; (E) a eficácia subjetiva da coisa julgada formada em mandado de segurança coletivo impetrado por associação beneficia o associado independentemente de ele haver se filiado antes ou após a impetração do writ. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. A Lei 12.016/2009 previa vedação para liminares com esses efeitos (art. 7º, §2º), mas o STF declarou esse dispositivo inconstitucional na ADI 4.296/DF, por maioria, reconhecendo o amplo poder do juiz na tutela de direitos líquidos e certos. Portanto, decidiu-se que não há mais vedação, podendo-se conceder tais medidas liminares. 86 “Artigo 7º, § 2º da Lei nº 12.016/2009 Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza. (Vide ADIN 4296)” (B) INCORRETA. A jurisprudência exige cautela quanto às prestações vincendas — especialmente as anteriores à citação — para evitar repercussão orçamentária e legalidade no gasto público. Embora se reconheça o pagamento retroativo das vencidas, há limites práticos e jurisprudenciais à extensão automática às vincendas. Essa alternativa extrapola o entendimento consolidado: Súmula 269 STF: “O mandado de segurança não é substituto de ação de cobrança.” Súmula 271 STF : “Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.” Também, o TRF 3, no AI 1.009.863‑6/2016, reconheceu que o mandado de segurança não pode substituir ação de cobrança quanto a valores anteriores à impetração, mas reconheceu o direito ao pagamento das parcelas vencidas após a impetração até o início do pagamento, via precatório. E, no AI 1.947.813‑2/2016, seguiu entendimento semelhante: não se paga valores anteriores à impetração, mas parcelas posteriores podem ser quitadas por meio de precatórios, confirmando a súmula e o RE 889.173/Tema 831 (C) INCORRETA. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por associação em substituição processual (art. 5º, LXX, CF), sem necessidade de autorização assemblear nem relação nominal dos filiados. A jurisprudência reafirma que não há representação, mas sim substituição processual, por isso a autoridade legitimada atua em nome próprio (AgInt Resp 1841604-RJ). Súmula 629 do STF: “A impetração de mandado de segurança coletiva por entidade de classe em favor dos associados independe da autorização destes.” (D) INCORRETA. A decisão denegatória no MS é negativa e não constitutiva. Não faz coisa julgada material impeditiva. O requerente pode manejar outras ações posteriormente (inclusive ações principais) para buscar reconhecimento de direito ou efeitos patrimoniais não alcançados pelo writ, na melhor forma do art. 19 da Lei 12.016, de 2009: “A sentença ou o acórdão que denegar mandado de segurança, sem decidir o mérito, não impedirá que o requerente, por ação própria, pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais.”; e da súmula 304 do STF: Decisão denegatória de mandado de segurança, não fazendo coisa julgada contra o impetrante, não impede o uso da ação própria. (E) CORRETA. O STJ consolidou, no julgamento do AgInt no REsp 1.841.604, que há substituição processual e não representação. Assim, os efeitos da decisão se estendem a todos os associados, mesmo os filiados após a propositura do writ, desde que estejam integrados à associação no momento da execução ou cumprimento. Tema 1119 do STF: “É desnecessária a autorização expressa dos associados, a relação nominal destes, bem como a comprovação de filiação prévia, para a cobrança de valores 87 pretéritos de título judicial decorrente de mandado de segurança coletivo impetrado por entidade associativa de caráter civil.” _______________________________________________________________________ 54. Gustavo ajuizou ação em face da União. Como causa de pedir, sustentou que é ocupante do cargo de advogado da União e que, no ano de 2020, não houve a revisão geral anual de sua remuneração. Assim, pediu a condenação do ente público a promover a revisão de seu salário, aplicando-se o IPCA como índice de correção, o qual foi utilizado para a revisão da remuneração dos servidores do Estado de São Paulo, e ao pagamento dos valores devidos a contar de janeiro de 2021. O valor atribuído à causa, a qual foi distribuída ao XX Juizado Especial Federal da 1ª Subseção Judiciária de São Paulo, foi de 30 mil reais. Sabendo-se que, pela Súmula Vinculante 37, o Judiciário não pode aumentar os vencimentos de servidores públicos com base no princípio da isonomia, nem o Executivo é obrigado a conceder revisões gerais anuais no vencimento de servidores públicos, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal com repercussão geral reconhecida, é CORRETO afirmar que: (A) eventual sentença de procedência do pedido estará sujeita ao reexame necessário; (B) diante do valor atribuído à causa, a demanda poderia ter sido distribuída ao Juízo Federal comum, pois a competência dos Juizados Especiais Federais é relativa; (C) a União gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, por aplicação do Código de Processo Civil aos Juizados Especiais Federais; (D) o juízo poderá julgar liminarmente improcedente a pretensão de Gustavo, por se tratar de pedido contrário a enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal; (E) é cabível a concessão de medida liminar em favor de Gustavo para conceder o reajuste pretendido, a qual somente poderá ser deferida mediante requerimento do autor. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Reexame necessário (art. 496 do CPC) aplica-se apenas a sentenças condenatórias contra a Fazenda Pública em juízo comum, com valor superior a R$ 1.000 — e não se aplica aos Juizados Especiais Federais, onde essa exigência é expressamente excluída. “Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença: 88 § 4º Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em: I – súmula de tribunal superior; II – acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; (B) INCORRETA. A competência dos Juizados Especiais Federais até R$ 60 mil (art. 3º da Lei 10.259/2001) é absoluta, e a distribuição à sua vara é correta, não se limitando à competência relativa. Conforme Art. 3º, § 3º da Lei nº 10.259/2001: “Art. 3º, § 3º No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é absoluta.” (C) INCORRETA. Embora o princípio possa ser aplicável via analogia, os Juizados Especiais Federais têm regramento próprio e célere, e não há previsão expressa de prazo em dobro para a Fazenda nesses juizados. “Art. 9º Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação para audiência de conciliação ser efetuada com antecedência mínima de trinta dias.” (D) CORRETA. Conforme o art. 332, I, do CPC/15, nas causas que dispensam fase instrutória, o juiz pode julgar liminarmente improcedente pedidos que contrariem enunciado de súmula do STF ou STJ, sem a necessidade de citação ou instrução. A Súmula Vinculante 37 preceitua que “não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidorespúblicos sob o fundamento de isonomia.” Sendo o pedido de Gustavo contrário a esse entendimento, o juiz pode extinguir o processo liminarmente por improcedência, poupando atos desnecessários. Ainda, conforme entendimento do Enfam 43 “O art. 332 do CPC se aplica ao sistema de juizados especiais e o inciso IV também abrange os enunciados e as súmulas dos seus órgãos colegiados”. (E) INCORRETA. O pedido de revisão salarial por isonomia é vedado pela Súmula Vinculante 37 — portanto, não é cabível liminar que conceda tal revisão. Além disso, mesmo que cabível, liminar via mandado de segurança exige requerimento específico, e não seria aplicável em Juizado Especial. _______________________________________________________________________ 55. As ações possessórias são uma das principais espécies de procedimento especial codificado, dado o grande volume de litígios possessórios no Brasil. Sobre o tema, é CORRETO afirmar que: (A) no litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmada na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido 89 de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 60 dias; (B) na pendência de ação possessória, é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio em face de sua parte adversa ou de terceira pessoa; (C) a propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados; (D) é lícito ao réu, em reconvenção, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor; (E) concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 15 dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no mesmo prazo. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. O art. 565 do CPC trata da mediação no litígio coletivo, porém estabelece prazo de até 30 dias, e não 60. Também é irrelevante o tempo de “ano e dia” — nesse caso aplica-se procedimento comum, sem liminar inequivocamente prevista. “Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2º e 4º.” (B) INCORRETA. O art. 557, caput, do CPC proíbe essa cumulação somente entre autor e réu, exceto se for contra terceira pessoa. Ou seja, proibir ação petitória contra terceiros é incorreto, pois essa exceção expressamente existe. “Art. 557. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa.” (C) CORRETA. Essa previsão está no art. 554 do CPC: se um autor ajuíza a ação possessória incompleta ou equivocada, o juiz ainda pode converter ou aplicar a medida correta — desde que os pressupostos da ação adequada estejam presentes “Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados.” 90 (D) INCORRETA. Embora o art. 556 do CPC permita ao réu formular pedido de proteção possessória na contestação, isso não ocorre via reconvenção, mas sim na própria contestação — cabendo sim pedido pessoal, mas não formalizado por reconvenção. “Art. 556. É lícito ao réu, na contestação, alegando que foi o ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.” (E) INCORRETA. O art. 564 do CPC prevê citação em até 5 dias, não 15, após deferimento ou indeferimento da liminar. O prazo para contestar é de 15 dias, mas contado da citação — o enunciado mistura e eleva o prazo de forma equivocada. “Art. 564. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias subsequentes, a citação do réu para, querendo, contestar a ação no prazo de 15 (quinze) dias.” _______________________________________________________________________ 56. O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação civil por ato de improbidade administrativa em face de João, procurador federal, Nestor, juiz federal, Thiago e Ronaldo, advogados privados, e Jonas, contador. Como causa de pedir, o MPF sustentou que os réus, se valendo de sofisticado esquema de corrupção e fraudes documentais, se apropriaram ilicitamente de cerca de dez milhões de reais da Previdência Social, com a concessão judicial de benefícios previdenciários fraudulentos, lesando o Instituto Nacional do Seguro Nacional (INSS). Em seu pedido, o Parquet requereu, liminarmente, a indisponibilidade de bens suficientes para assegurar o ressarcimento ao erário, assim como o pagamento de multa civil pelos réus. No mérito, pediu a condenação dos demandados a ressarcirem o erário no montante integral desviado, assim como a perda do cargo para João e Nestor e a aplicação de multa civil e suspensão dos direitos políticos de todos os réus. No curso do processo, João foi aprovado, nomeado e tomou posse no cargo de juiz de direito do Estado Alfa. Tomando o caso acima como premissa, é CORRETO afirmar que: (A) a indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem exclusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, sem incidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade lícita; (B) o Ministério Público poderá tipificar o mesmo ato de improbidade administrativa em mais de um dos tipos elencados na lei, cabendo ao juiz definir o melhor enquadramento legal aplicável à hipótese; (C) ainda que necessária à melhor instrução processual, é vedado ao juiz desmembrar o litisconsórcio, por se tratar de litisconsórcio unitário e necessário; 91 (D) julgado improcedente o pedido, o juiz deverá submeter a sentença obrigatoriamente ao reexame necessário, sob pena de ineficácia da sentença absolutória; (E) a homologação de eventual acordo de não persecução cível independe de oitiva da União ou do INSS, entes públicos lesados, por não serem os autores da ação de improbidade. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS (A) CORRETA. Art. 17, § 10, da Lei 8.429/92 (alterado pela Lei 14.230/21): “A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem exclusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, sem incidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade lícita.” A nova redação impactou entendimento anterior (Tema 1.055/STJ), e jurisprudência atual exige que o bloqueio alcance apenas o valor do ressarcimento, preservando patrimônio lícito e valores de multa civil. (B) INCORRETA. Cabe ao MP definir qualificação jurídica na petição inicial. O juiz deve julgar com base nessa fundamentação, sem exercer função de tipificação. O juiz não pode mudar o "tipo" escolhido pelo MP — isso é atribuição do autor, conforme o artigo 17, § 10-D da LIA: “Art. 17, § 10-D. Para cada ato de improbidade administrativa, deverá necessariamente ser indicado apenas um tipo dentre aqueles previstos nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei.” (C) INCORRETA. Não existe previsão de litisconsórcio unitário obrigatório em ações de improbidade. O juiz pode autuar, desmembrar ou reunir processos conforme o caso. O litisconsórcio não é obrigatório e o juizpode ajustar dinâmica processual para melhor instrução e eficiência. O juiz pode desmembrar o litisconsórcio, nos termos do artigo 17, § 10-B da LIA: “§ 10-B. Oferecida a contestação e, se for o caso, ouvido o autor, o juiz: I – procederá ao julgamento conforme o estado do processo, observada a eventual inexistência manifesta do ato de improbidade; II – poderá desmembrar o litisconsórcio, com vistas a otimizar a instrução processual.” (D) INCORRETA. A exigência de reexame necessário (CPC, art. 496) aplica-se apenas a sentenças condenatórias que envolvem verificação de valor ou obrigações. Sentenças de improcedência em ações de improbidade não ensejam remessa obrigatória, conforme artigo 17, §19, inciso IV da LIA: 92 “§ 19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa: IV – o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou de extinção sem resolução de mérito.” (E) INCORRETA. O acordo de não persecução cível exige oitiva dos entes públicos lesados, conforme jurisprudência e entendimento doutrinário. União e INSS, como titulares do interesse, devem ser consultados e concordar com os termos antes da homologação judicial, conforme artigo 17-B § 1º da LIA: “Art. 17-B § 1º A celebração do acordo a que se refere o caput deste artigo dependerá, cumulativamente: I – da oitiva do ente federativo lesado, em momento anterior ou posterior à propositura da ação;” _______________________________________________________________________ 57. Analise as competências a seguir. I. causas que versem sobre anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal; II. demandas sobre bens imóveis da União, ressalvadas as demandas de natureza possessória; III. ações de mandado de segurança e de desapropriação. Nos termos da Lei nº 10.259/2001, NÃO são da competência dos Juizados Especiais Federais: (A) I, apenas; (B) I e II, apenas; (C) I e III, apenas; (D) II e III, apenas; (E) I, II e III. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS I. CORRETA. Pois está expressamente excluído da competência dos Juizados, conforme art. 3º, § 1º, III, da Lei 10.259, de 2001. Art. 3º Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças. § 1º Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas: 93 III – para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal;” II. CORRETA. Pois está taxativamente excluído, conforme art. 3º, § 1º, II, da Lei 10.259, de 2001. “Art. 3º Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças. § 1º Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas: II – sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais;” III. CORRETA. Certo, pois também expurgadas da competência, conforme art. 3º, § 1º, I, da Lei 10.259, de 2001. Art. 3º Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças. § 1º Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas: I – referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade administrativa e as demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos;” _______________________________________________________________________ DIREITO EMPRESARIAL 58. Em execução fiscal ajuizada pela Fazenda Nacional em face da Transportadora Envira S/A, em recuperação judicial, foi realizada a penhora de veículos utilizados para transporte de carga pela executada a seus clientes. A ré recorreu da decisão alegando a incompetência do juízo da execução fiscal para a penhora e sustentou a essencialidade dos bens penhorados para sua empresa, porém ofereceu outros bens para garantir o pagamento do débito exequendo. Acerca dos fatos narrados, é CORRETO afirmar que: (A) procede o argumento da ré, pois qualquer ato de constrição, judicial ou extrajudicial, sobre bens do devedor em recuperação judicial deve ser decidido e decretado pelo juízo da recuperação judicial, sendo o juízo da execução fiscal incompetente; (B) improcede o argumento da ré quanto à incompetência do juízo da execução fiscal, pois não se aplica às execuções fiscais a proibição de atos de constrição durante a 94 recuperação judicial; também compete ao mesmo juízo decidir sobre a substituição de bens de capital constritos e essenciais à empresa até a aprovação do plano de recuperação judicial; (C) procede o argumento da ré, pois os atos de constrição sobre bens de capital do devedor em recuperação judicial e essenciais à manutenção de sua empresa devem ser decididos e decretados pelo juízo da recuperação judicial, inclusive em execuções fiscais; (D) improcede o argumento da ré quanto à incompetência do juízo da execução fiscal, pois não se aplica às execuções fiscais a proibição de atos de constrição durante a recuperação judicial; compete ao juízo da recuperação judicial decidir sobre a substituição de bens de capital constritos e essenciais à empresa até o encerramento da recuperação judicial; (E) procede o argumento da ré, pois é proibido, desde o deferimento do processamento da recuperação judicial, qualquer ato de constrição, judicial ou extrajudicial, sobre bens do devedor, inclusive em execuções fiscais, até o julgamento do pedido. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS A questão exige do candidato o conhecimento sobre créditos tributários em execução fiscal, em sede de recuperação judicial. Apesar de o deferimento do processamento da recuperação judicial implicar a suspensão das execuções, das prescrições e da proibição de importunação patrimonial do devedor, nos termos do art. 6º, da Lei nº 11.101/05, tal não se aplica às execuções fiscais, de acordo com o art. 6º, §7º-B, da Lei nº 11.101/05: § 7º-B. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica às execuções fiscais, admitida, todavia, a competência do juízo da recuperação judicial para determinar a substituição dos atos de constrição que recaiam sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até o encerramento da recuperação judicial, a qual será implementada mediante a cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), observado o disposto no art. 805 do referido Código. _______________________________________________________________________ 59. Guarinos e Israel integraram, como acionistas, o Conselho de Administração de Itapuranga Corretora de Títulos e Valores Mobiliários S/A até 30 de abril de 2024, data em que se encerraram seus mandatos. Em 22 de janeiro de 2025, ato da Presidência do Banco Central do Brasil decretou a liquidação extrajudicial da instituição e a indisponibilidade dos bens dos administradores e ex-administradores até a apuração e a liquidação final de suas responsabilidades. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art69 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art69 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm#art805 95 Guarinos e Israel questionam em juízo a legalidade da decisão do Banco Central do Brasil em relação a eles com os seguintes fundamentos: (i) como ex-integrantesdo Conselho de Administração, não poderiam ter seus bens indisponíveis, visto que não exerciam atividade administrativa no momento da decretação da liquidação extrajudicial; (ii) a indisponibilidade atingiu um imóvel de copropriedade dos autores que lhes fora alienado pela companhia e cujo instrumento público já tinha sido levado ao registro imobiliário em 07 de dezembro de 2024, portanto, antes da data da decretação da liquidação extrajudicial. Considerados os fatos narrados e as disposições legais sobre os efeitos da liquidação extrajudicial sobre os bens dos administradores da instituição liquidanda, é CORRETO afirmar que: (A) não procede o argumento de que a indisponibilidade só atinge os bens dos atuais administradores, pois estão sujeitos a ela todos aqueles que estavam no exercício do cargo de administrador nos 24 meses anteriores à data da liquidação; por outro lado, é procedente o argumento quanto à não incidência da indisponibilidade sobre o imóvel alienado e cujo instrumento tenha sido levado a registro antes da decretação da liquidação; (B) devem ser acatados os argumentos apresentados pelos ex-administradores haja vista que a indisponibilidade não atinge aqueles que não estavam no exercício de cargo na administração da companhia antes da decretação da liquidação extrajudicial, tampouco são alcançados os bens alienados pela instituição a terceiros quando o instrumento tenha sido levado ao competente registro público antes da data da decretação da liquidação; (C) é procedente o argumento de que a indisponibilidade só atinge os bens dos atuais administradores, pois estão sujeitos a ela apenas os que estavam no exercício do cargo nos seis meses anteriores à data da liquidação; por outro lado, as prenotações ou registros de direitos reais relativos a imóveis da sociedade nos 60 dias anteriores à data da decretação da liquidação são objetivamente ineficazes em relação à massa liquidanda; (D) não procedem os argumentos apresentados pelos ex-administradores porque estavam no exercício do cargo de conselheiro de administração nos 12 meses anteriores ao ato que decretou a liquidação da instituição, bem como o imóvel atingido pela indisponibilidade integra o patrimônio deles, independentemente de ter sido registrada a alienação antes da data da decretação da liquidação; (E) deve ser acatado o argumento quanto à não incidência da indisponibilidade sobre os bens dos administradores que não estavam no exercício de cargo na administração da companhia antes da decretação da liquidação extrajudicial; por outro lado, as alienações de bens da sociedade a terceiros nos 90 dias anteriores à data da decretação da liquidação são objetivamente ineficazes em relação à massa liquidanda. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS 96 A questão exige do candidato conhecimento acerca da Lei nº 6.024/74, que trata da liquidação e intervenção extrajudicial de instituições financeiras, especificamente sobre a responsabilidade e indisponibilidade de bens dos administradores, questão clássica em preparação para provas de magistratura federal. Com efeito, estando a instituição financeira passando por liquidação extrajudicial e, nessa linha, prescreve o art. 36, da Lei nº 6.024/74: Art. 36. Os administradores das instituições financeiras em intervenção, em liquidação extrajudicial ou em falência, ficarão com todos os seus bens indisponíveis não podendo, por qualquer forma, direta ou indireta, aliená-los ou onerá-los, até apuração e liquidação final de suas responsabilidades. Por sua vez, o §2º, do mesmo art. 36 estende a indisponibilidade nos seguintes termos: § 2º Por proposta do Banco Central do Brasil, aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, a indisponibilidade prevista neste artigo poderá ser estendida: a) aos bens de gerentes, conselheiros fiscais e aos de todos aqueles que, até o limite da responsabilidade estimada de cada um, tenham concorrido, nos últimos doze meses, para a decretação da intervenção ou da liquidação extrajudicial, b) aos bens de pessoas que, nos últimos doze meses, os tenham a qualquer título, adquirido de administradores da instituição, ou das pessoas referidas na alínea anterior desde que haja seguros elementos de convicção de que se trata de simulada transferência com o fim de evitar os efeitos desta Lei. _______________________________________________________________________ 60. Em ação de nulidade de registro de marca feito em detrimento do direito de precedência de sociedade com atividade empresarial idêntica à da titular do registro, que usava a marca anteriormente há mais de cinco anos e na mesma base territorial de atuação da ré, foram alegados como matéria de defesa: (i) pelo INPI, que a ausência de oposição, na esfera administrativa, ao pedido do registro de marca tem o condão de inviabilizar o exercício judicial do direito de precedência no uso de marca; e (ii) pela titular do registro da marca, que a análise de eventual colidência entre as marcas se restringe à análise do critério da anterioridade, sendo irrelevante a base territorial de atuação das litigantes e a semelhança entre as marcas. Considerados os fatos narrados, é CORRETO afirmar que: (A) procede a matéria de defesa do INPI, pois o prazo de 60 dias para oposição ao pedido, contado da data de sua publicação, é decadencial, atingindo o direito de precedência; deve ser rejeitada a defesa da titular da marca quanto à aferição da colidência entre 97 marcas ser restrita ao critério da anterioridade, porque deve ser considerado o princípio da especificidade; (B) procede tanto a matéria de defesa do INPI quanto a da titular do registro da marca, pois a ausência de oposição administrativa ao pedido de registro implica renúncia tácita ao direito de precedência, assim como a aferição de colidência entre as marcas é restrita ao critério da anterioridade, diante do sistema atributivo decorrente do registro; (C) não procede a matéria de defesa do INPI nem da titular do registro da marca, pois a ausência de oposição administrativa ao pedido não impede a ação de nulidade, por se tratar de violação ao direito de precedência; a aferição de colidência entre marcas deve levar em consideração os princípios da territorialidade e da especificidade; (D) procede tanto a matéria de defesa do INPI quanto a da titular do registro da marca, pois o prazo de 90 dias para oposição ao pedido, contado da data de sua publicação, é decadencial, atingindo o direito de precedência; deve ser rejeitada a defesa da titular da marca porque a aferição de colidência não é restrita ao critério da anterioridade, porque deve ser considerado o princípio da territorialidade; (E) não procede a matéria de defesa do INPI, pois a ausência de oposição administrativa ao pedido não impede a ação de nulidade, por se tratar de violação ao direito de precedência; deve ser acatada a defesa da titular da marca, pois a aferição de colidência é restrita ao critério da anterioridade, diante do sistema atributivo decorrente do registro. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS No caso concreto, tem-se ação de nulidade fundamentada na violação do direito de precedência. Nessa linha estabelece o art. 129, §1º, da Lei nº 9.279/96: Art. 129. A propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente expedido, conforme as disposições desta Lei, sendo assegurado ao titular seu uso exclusivo em todo o território nacional, observado quanto às marcas coletivas e de certificação o disposto nos arts. 147 e 148. § 1º Toda pessoa que, de boa fé, na data da prioridade ou depósito, usava no País, há pelo menos 6 (seis) meses, marca idêntica ou semelhante, para distinguir ou certificar produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, terá direito de precedência ao registro. Por outro lado, sabe-se que a ação deação de controle concentrado de constitucionalidade submetida à apreciação do Supremo Tribunal Federal em 2024, foi sustentada a inconstitucionalidade da Lei Estadual nº X/1989. Esse diploma normativo disciplinou certa temática de competência legislativa concorrente entre os estados e a União, em momento no qual este último ente federativo ainda não tinha editado lei sobre a matéria. Ainda de acordo com a petição inicial, em 2020 foi editada a Lei Federal nº Y, que disciplinou a matéria, em caráter nacional, em sentido diametralmente oposto ao da Lei Estadual nº X/1989, o que, ao ver do autor da ação, reforçava a inconstitucionalidade da norma impugnada. Por fim, cumpre observar que a Lei Federal nº Y/2020 foi expressamente revogada pela Lei Federal nº W/2023, que não dedicou nenhum preceito à referida matéria. À luz da sistemática vigente, é CORRETO afirmar que o Supremo Tribunal Federal: (A) deve conhecer a ação, por se tratar de ato normativo estadual e por haver interesse de agir do autor; (B) não deve conhecer a ação, por inexistir interesse de agir na apreciação da conformidade constitucional da Lei Estadual nº X/1989; (C) deve conhecer a ação, pois a revogação da Lei Federal nº Y/2020 produziu efeitos repristinatórios em relação à Lei Estadual nº X/1989; (D) não deve conhecer a ação, pois a revogação da Lei Federal nº X/2020 somente acarretaria a repristinação da Lei Estadual nº X/1989 se houvesse preceito expresso nesse sentido; (E) deve conhecer a ação, considerando que a posterior revogação do diploma normativo não afasta a necessidade de ser apreciada a sua constitucionalidade, considerando as situações concretas constituídas durante sua vigência. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS 12 (A) CORRETA. O controle concentrado analisa a validade da norma, e não sua eficácia. A revogação da lei federal que suspendera os efeitos da norma estadual não prejudica o conhecimento da ADI, pois esta pode ser julgada quanto à validade do ato normativo estadual (art. 24, § 4º, CF/88). (B) INCORRETA. A revogação da lei federal restabelece a aplicabilidade da lei estadual, que apenas teve seus efeitos suspensos enquanto vigorava norma geral da União. O interesse de agir subsiste, já que se discute a validade da norma estadual. (C) INCORRETA. Não houve efeitos repristinatórios, pois a lei estadual nunca foi revogada, apenas teve sua eficácia suspensa pela superveniência de norma federal geral, nos termos do art. 24, § 4º, CF. (D) INCORRETA. A suspensão da eficácia não se confunde com revogação. A lei estadual permanece válida e pode voltar a produzir efeitos com a revogação da lei federal. Por isso, a ADI continua viável. (E) INCORRETA. Não houve revogação da norma estadual, mas sim suspensão de eficácia pela superveniência de norma federal geral. A revogação desta reativa os efeitos da lei estadual, justificando a continuidade do controle de constitucionalidade. _______________________________________________________________________ 5. Com o objetivo de ampliar as unidades hospitalares destinadas ao atendimento de pacientes em determinadas regiões do país que apresentavam desequilíbrio entre o quantitativo de unidades disponíveis e a respectiva densidade demográfica, foram iniciados estudos no âmbito do ministério competente para identificar as medidas passíveis de serem adotadas para contornar esse quadro. Ao fim dos estudos, concluiu-se corretamente que, na perspectiva constitucional: (A) não podem ser adotadas políticas públicas direcionadas à atração de sociedades empresárias estrangeiras, pois é vedada a sua atuação na assistência à saúde no país; (B) podem ser destinadas dotações orçamentárias específicas, a serem computadas nas despesas públicas com saúde, às instituições privadas que atuem na área, com o compromisso de atendimento às metas estabelecidas; (C) pode ser ampliado o Sistema Único de Saúde, permitindo que instituições privadas participem de forma complementar, o que exige a edição de convênio, pressupondo a demonstração da convergência de interesses; (D) podem ser celebrados ajustes de direito público mesmo com instituições privadas com fins lucrativos, visando à sua participação complementar no Sistema Único de Saúde, embora seja vedado destinar-lhes subvenções; (E) pode ser concedido tratamento tributário diferenciado a empresas ou capitais nacionais e estrangeiros, observado o necessário à construção do equilíbrio entre o quantitativo de unidades e a respectiva densidade demográfica. 13 _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. A vedação à participação de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde não é absoluta, pois a Constituição admite exceções previstas em lei, nos termos do art. 199, § 3º, CF/88. (B) INCORRETA. A Constituição veda expressamente a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções a instituições privadas com fins lucrativos, conforme art. 199, § 2º, CF/88. (C) INCORRETA. A participação complementar pode ocorrer por convênio ou contrato, nos termos do art. 199, § 1º, CF. Além disso, não é exigida convergência de interesses públicos e privados, sendo admitida a atuação de entidades com fins lucrativos. (D) CORRETA. A Constituição admite ajustes de direito público com instituições privadas com fins lucrativos para participação complementar ao SUS, mas veda o repasse de subvenções, conforme art. 199, § 2º, CF/88. (E) INCORRETA. Não há autorização constitucional para concessão de tratamento tributário diferenciado com base em critérios de política de saúde, e o art. 173, § 2º, CF, veda discriminação entre empresas brasileiras e estrangeiras. _______________________________________________________________________ 6. No âmbito da comissão de proteção ao patrimônio cultural da Assembleia Legislativa do Estado Alfa, foram iniciados estudos com o objetivo de ser apresentada proposição legislativa estabelecendo o tombamento de determinados imóveis, situados nos municípios do território estadual, cujo projeto arquitetônico tivesse sido assinado por um arquiteto nascido no estado, de renome nacional. Apesar de reconhecer a relevância da medida na perspectiva do interesse público, alguns deputados estaduais sustentavam a incompatibilidade da proposição alvitrada com a sistemática constitucional. Em relação à apresentação da proposição, é CORRETO afirmar que: (A) como o tombamento é medida de típico interesse local, ela é inconstitucional; (B) como apenas a Lei Federal pode dispor sobre tombamento, ela é inconstitucional; (C) como o tombamento é medida de competência do Poder Executivo, ela é inconstitucional; (D) como a proteção do patrimônio cultural é de competência comum entre os entes federados, ela é constitucional; (E) como é da essência da separação dos poderes a vinculação do Poder Executivo à lei, esta última deve sempre disciplinar os atos daquele; logo, a proposição é constitucional. _______________________________________________________________________ 14 GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. A proteção ao patrimônio cultural é de competência comum dos entes federativos, conforme dispõe o art. 23, III, da CF/88, não sendo restrita ao interesse local. (B) INCORRETA. A Constituição prevê competência comum para proteção de bens culturais, não sendo exclusiva da União. Estados e municípios também podem legislar e atuar nessa área (art. 23, III, CF). (C) INCORRETA. O tombamento não é ato exclusivo do Poder Executivo. O art. 216, § 1º, da CF prevê a atuação do Poder Público em geral, com a colaboração da comunidade, incluindo ações do Legislativo. (D) CORRETA. É constitucional a apresentação de proposição legislativa estadual com objetivo de tombamento, diante da competência comum (art. 23, III, CF) e da possibilidadenulidade de registro de marca será viável sempre que houver concessão de registro desacordo com a Lei, de acordo com o art. 165, da mesma Lei nº 9.279/96. 98 Por sua vez, é jurisprudência consolidada, nos TRFs em geral a adoção dos critérios da territorialidade e da especialidade, uma vez que o consumidor não pode ser levado a erro, querendo consumir de um empresário e, por engano, acaba consumindo de outrem. Segue, de exemplo, jurisprudência do próprio TRF1: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. REGISTRO DE MARCA JUNTO AO INSTITUTO NACIONAL DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL (INPI). ARTIGOS 123 E SEGUINTES DA LEI N. 9.279/1966. ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO QUE CONCEDEU O REGISTRO DE MARCA A OUTRA SOCIEDADE EMPRESÁRIA. PREJUDICIAL DE MÉRITO DE PRESCRIÇÃO REJEITADA. APELAÇÕES DESPROVIDAS. 1. Conforme consta do parecer técnico emitido pelo INPI, a decisão de concessão de registro da marca à segunda ré foi objeto de impugnação pela autora em 10.01.2012, cuja decisão final proferida pelo Presidente da autarquia somente ocorreu em 17.05.2016, sendo que a ação foi ajuizada em 02.08.2016. Assim, não ocorreu a prescrição da pretensão da autora de requerer a nulidade do registro da marca em nome da segunda ré. 2. O art. 123 da Lei n. 9.279/1996 define três espécies de marcas: I - marca de produto ou serviço: aquela usada para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa; II - marca de certificação: aquela usada para atestar a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natureza, material utilizado e metodologia empregada; e III - marca coletiva: aquela usada para identificar produtos ou serviços provindos de membros de uma determinada entidade. No caso dos autos, discute-se a espécie descrita no inciso I. 3. O 128 e § 1º da Lei n. 9.279/1996 estabelecem que as pessoas de direito privado só podem requerer registro de marca relativo à atividade que exerçam efetiva e licitamente, de modo direto ou através de empresas que controlem direta ou indiretamente, declarando, no próprio requerimento, esta condição, sob as penas da lei. Tal disciplinamento tem por finalidade a proteção de marca de produto ou serviço (art. 130 da Lei n. 9.279/1996), observados os princípios da territorialidade, especialidade e do sistema atributivo, conforme art. 129 da LPI, segundo o qual, a propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente expedido, conforme as disposições desta Lei, sendo assegurado ao titular seu uso exclusivo em todo o território nacional, observado quanto às marcas coletivas e de certificação o disposto nos arts. 147 e 148. 99 4. A Resolução n. 142, de 27.11.2014, que dispõe sobre a criação do Manual de Marcas, em seu item 5.5.2 esclarece que: Os pedidos de registro destinados a assinalar produtos ou serviços que não guardem correspondência literal com a atividade declarada, mas que possam ser enquadrados como atividade acessória, serão examinados, de per se, a fim de verificar se, efetivamente, o produto ou o serviço decorre naturalmente da atividade principal. 5. Hipótese em que a atividade de comércio deve ser considerada como decorrente da atividade de corretagem que foi declarada pela segunda ré, o que está de acordo com o art. 128, § 1º, da LPI e não confronta o art. 722 do Código Civil, segundo o qual, pelo contrato de corretagem, uma pessoa, não ligada a outra em virtude de mandato, de prestação de serviços ou por qualquer relação de dependência, obriga-se a obter para a segunda um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas. 6. Fábio Ulhoa Coelho, em sua obra Manual de Direito Comercial Direito Empresarial (20ª Ed., São Paulo: Editora Saraiva: 2008, p. 89-90), após indicar os requisitos necessários para o registro de uma marca, junto ao INPI (novidade relativa, não-colidência com marca notória, e não impedimento), estabeleceu, quanto à novidade relativa que a proteção da marca se restringe aos produtos e serviços com os quais o marcado pode ser confundido pelo consumidor. Se não houver a possibilidade de confusão isto é, de o consumidor considerar que o fornecedor de certo produto ou serviço é o mesmo de outro com marca igual ou semelhante não decorrerá do registro nenhum direito de exclusividade. 7. No caso dos autos, a permanência de uma mesma marca (Agricampo) para duas sociedades empresárias diferentes poderá ocasionar confusão no mercado, principalmente para o consumidor. 8. Sentença que julgou improcedente o pedido de nulidade do ato administrativo expedido pelo INPI, para cancelar o registro concedido à segunda ré, que se mantém. 9. Apelações interpostas por Agricampo Comércio Varejista de Produtos e Peças Agrícolas Ltda. e Agricampo Corretagem de Cereais S/C Ltda. não providas. (AC 0045258-91.2016.4.01.3400, DESEMBARGADOR FEDERAL DANIEL PAES RIBEIRO, TRF1 - SEXTA TURMA, PJe 22/03/2022 PAG.) 100 _______________________________________________________________________ DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO 61. Em ação de repetição de indébito cumulada com perdas e danos ajuizada em face de instituição financeira pública federal, a controvérsia cinge acerca da licitude de descontos de parcelas de mútuo bancário (empréstimo consignado) contratado por servidor público de autarquia federal em conta-corrente utilizada para recebimento de salários (conta-salário). Consoante a orientação jurisprudencial pacificada no STJ a respeito do tema, é CORRETO afirmar que: (A) são lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns em conta- corrente, ainda que utilizada para recebimento de salários, desde que previamente autorizados pelo mutuário e enquanto a autorização perdurar, não sendo aplicável, por analogia, o limite de 40% de desconto previsto atualmente na lei sobre empréstimos consignados em folha de pagamento; (B) não são lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns em conta- corrente por representarem prática comercial abusiva de apropriação indébita dos valores do correntista por parte da instituição financeira; (C) são lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns em conta- corrente desde que sejam previamente autorizados pelo mutuário de forma irrevogável e irretratável; (D) não são lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns em conta- corrente, exceto se a conta-corrente do mutuário não for utilizada para recebimento de salários; (E) são lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns em conta- corrente, seja ou não para recebimento de salários, desde que haja autorização prévia do mutuário, passível de revogação, e que seja observado o limite máximo de 35% por cento de desconto, previsto atualmente na lei sobre empréstimos consignados em folha de pagamento. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS A questão exige o conhecimento do Tema Repetitivo nº 1085 julgado pelo STJ em 09/03/2022: São lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns em conta-corrente, ainda que utilizada para recebimento de salários, desde que previamente autorizados pelo mutuário e enquanto esta autorização perdurar, não sendo 101 aplicável, por analogia, a limitação prevista no § 1º do art. 1º da Lei n. 10.820/2003, que disciplina os empréstimos consignados em folha de pagamento. TEMA REPETITIVO 1085 O art. 1º, §1º, da Lei 10820/2003 prevê esse limite de 40%: § 1º O desconto mencionado neste artigo também poderá incidir sobre verbas rescisórias devidas pelo empregador, se assim previsto no respectivo contrato de empréstimo, financiamento, cartão de crédito ou arrendamento mercantil, até o limite de 40% (quarenta por cento), sendo 35% (trinta e cinco por cento) destinados exclusivamente a empréstimos, financiamentos e arrendamentos mercantis e 5%(cinco por cento) destinados exclusivamente à amortização de despesas contraídas por meio de cartão de crédito consignado ou à utilização com a finalidade de saque por meio de cartão de crédito consignado. (Redação dada pela Lei nº 14.431, de 2022) _______________________________________________________________________ 62. Suponha que o chefe do Poder Executivo Federal pretenda realizar aportes financeiros destinados ao fortalecimento das operações de policiamento nas rodovias federais e de investigação, repressão e combate ao crime organizado. Considere, ainda, que não havia dotação orçamentária específica para as despesas atinentes aos referidos programas. Nesse contexto, diante do que estabelecem a Constituição Federal de 1988 e a Lei nº 4.320/1964, assim como em consonância com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal acerca do tema, poderá ser aberto crédito: (A) extraordinário, por medida provisória, para atender a despesas relevantes e urgentes, dispensada a prévia autorização legislativa para a sua abertura, a qual também independe da existência de recursos disponíveis e de exposição justificativa; (B) especial, por medida provisória, para suprir despesas decorrentes de novos programas, podendo a própria Lei Orçamentária Anual autorizar a sua abertura até determinada importância ou percentual, condicionada à existência de recursos disponíveis para o atendimento da despesa e devendo ser precedida de exposição justificativa; (C) suplementar, por decreto do Poder Executivo, para fazer frente a despesas para as quais inexiste dotação orçamentária específica, podendo a própria Lei Orçamentária Anual autorizar a sua abertura até determinada importância ou percentual, condicionada à existência de recursos disponíveis e precedida de exposição justificativa; (D) extraordinário, por decreto do Poder Executivo, que dele dará imediato conhecimento ao Poder Legislativo, para suprir despesas imprevisíveis e urgentes, dispensada a prévia autorização legislativa para a sua abertura, a qual também independe da existência de recursos disponíveis e de exposição justificativa; (E) especial, por decreto do Poder Executivo, para fazer frente a despesas para as quais inexiste dotação orçamentária própria, devendo a sua abertura ser autorizada por lei 102 específica para tal fim, condicionada à existência de recursos disponíveis para o atendimento da despesa e precedida de exposição justificativa. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS A Lei 4.320/1964 classifica os créditos adicionais em suplementares, especiais e extraordinários: Art. 41. Os créditos adicionais classificam-se em: I - suplementares, os destinados a refôrço de dotação orçamentária; II - especiais, os destinados a despesas para as quais não haja dotação orçamentária específica; III - extraordinários, os destinados a despesas urgentes e imprevistas, em caso de guerra, comoção intestina ou calamidade pública. O enunciado afirma que “não havia dotação orçamentária específica para as despesas atinentes aos referidos programas”, logo, deve ser utilizado o crédito especial, o que torna incorretas as alternativas A, C e D. Em seguida, a Lei 4.320/1964 especifica como deve ser autorizada e realizada a abertura do referido crédito: Art. 42. Os créditos suplementares e especiais serão autorizados por lei e abertos por decreto executivo. Art. 43. A abertura dos créditos suplementares e especiais depende da existência de recursos disponíveis para ocorrer à despesa e será precedida de exposição justificativa. Diante de tais dispositivos legais, a alternativa B está incorreta e correta a alternativa E. _______________________________________________________________________ 63. Joana, servidora pública federal aposentada, ajuizou ação em face da União postulando a conversão em pecúnia de licença-prêmio por ela não usufruída durante sua atividade funcional. O juízo federal proferiu sentença de procedência do pedido, a qual transitou em julgado na data de 31/07/2023. Na fase de cumprimento de sentença, após a regular intimação do representante judicial da Fazenda Pública, não houve impugnação à execução, tendo sido fixado o valor do crédito em R$ 110.000,00. Ao final, foi expedido precatório em favor de Joana na data de 21/02/2024, quando ela tinha 59 anos de idade. De acordo com a Constituição Federal de 1988 e com a jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores sobre a matéria, é CORRETO afirmar que: 103 (A) Joana poderá, independentemente da anuência da União, ceder parcialmente o seu crédito a João, pessoa com deficiência, hipótese em que o crédito cedido não gozará das prerrogativas outorgadas pela Constituição Federal de 1988 aos precatórios alimentares especiais; (B) o crédito de Joana deverá ser classificado como superpreferencial, nos termos do Art. 100, §2º, da Constituição Federal de 1988, caso ela venha a completar 60 anos de idade enquanto pendente e ainda não ocorrido o pagamento do precatório; (C) Joana poderá utilizar o seu crédito para a quitação de débitos inscritos em Dívida Ativa da União, inclusive em transação resolutiva de litígio, na forma do Art. 100, §11, da Constituição Federal de 1988, sendo essa norma autoaplicável no âmbito federal; (D) o crédito de Joana deve ser classificado como preferencial, nos termos do Art. 100, §1º, da Constituição Federal de 1988, em virtude da sua natureza alimentar, por constituir remuneração pelos serviços prestados durante a atividade funcional, sendo certo, contudo, que não gozará de superpreferência; (E) Joana poderá ceder o seu crédito ao seu filho David, hipótese em que será mantida a natureza alimentar do crédito, ainda que David não se enquadre nas hipóteses superpreferenciais previstas no Art. 100, §2º, da Constituição Federal de 1988, condicionada a validade do ato à comunicação, por meio de petição protocolizada, ao tribunal de origem e à União. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS QUESTÃO PASSÍVEL DE RECURSO. (A) CORRETA. A conversão em pecúnia de licença-prêmio é considerada verba de natureza alimentar para fins de precatórios, gozando da preferência prevista no §1º do art. 100 da CR: Art. 100, § 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo. Logo, considerando a jurisprudência do STJ, a alternativa A está incorreta: A cessão de crédito não implica alteração da natureza. Desse modo, a cessão não altera a natureza do precatório, podendo o cessionário gozar da preferência de que trata o § 1º do art. 100 da Constituição Federal, quando a origem do débito assim 104 permitir, mantida a posição na ordem cronológica originária. STF. Plenário. RE 631537, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 361) (Info 980). (B) CORRETA. O crédito superpreferencial é aquele previsto no art. 100, §2º, da CR: Art. 100, § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, originários ou por sucessão hereditária, tenham 60 (sessenta) anos de idade, ou sejam portadores de doença grave, ou pessoas com deficiência, assim definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. De fato, com o implemento dos requisitos (crédito alimentar e idade de 60 anos oumais), enquanto pendente e ainda não ocorrido o pagamento do precatório, ele gozará da referida superpreferência, estando correta a alternativa. (C) INCORRETA. A norma do art. 100, §11, da CR, não é autoaplicável nem mesmo no âmbito federal. (D) INCORRETA. Em que pese se trate de um crédito de natureza alimentar, não possui natureza remuneratória, mas sim indenizatória. Esse entendimento de que se trata de natureza indenizatória fundamenta a súmula 136 do STJ que afasta incidência do imposto de renda. (E) INCORRETA. A manutenção da superpreferência do §2º do art. 100 ocorre nos casos de sucessão hereditária, mas não na cessão. Veja que o Tema 361 da RG do STF alude expressão ao §1º do art. 100 da CR. _______________________________________________________________________ 64. O Art. 11 da Lei Complementar nº 101/2000 estatui que são requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos de competência constitucional do ente federativo. Suponha que o município de determinado estado da federação tenha deixado de instituir taxa de coleta de lixo, bem como de arrecadar receita decorrente do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) regularmente instituído. Nesse cenário, tendo em conta o disposto na Constituição Federal de 1988 e na Lei Complementar nº 101/2000, assim como à luz da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal sobre o tema, é CORRETO afirmar que a União: (A) não poderá realizar transferências obrigatórias e voluntárias para o referido município, haja vista a falta de arrecadação da receita oriunda do IPTU, salvo se aquelas forem destinadas ao financiamento de ações de educação, saúde e assistência social; (B) não poderá realizar transferências voluntárias para o referido município, haja vista a falta de arrecadação da receita oriunda do IPTU, sendo certo que a aplicação da aludida 105 sanção obedece a uma lógica de subsidiariedade compatível com o princípio federativo, de modo a desincentivar a dependência de transferências voluntárias; (C) poderá realizar transferências obrigatórias e voluntárias para o referido município, não apenas porque a competência tributária é facultativa, mas também porque a Constituição Federal de 1988 veda expressamente a retenção ou qualquer restrição à entrega de recursos destinados aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios; (D) não poderá realizar transferências voluntárias para o referido município, haja vista a falta de instituição da taxa de coleta de lixo e de arrecadação da receita oriunda do IPTU, sendo certo que a aplicação da aludida sanção representa mecanismo de instigação ao exercício pleno das competências impositivas tributárias por parte dos entes locais; (E) poderá realizar transferências obrigatórias e voluntárias para o referido município, na medida em que houve efetiva instituição do IPTU pelo ente federativo, sendo certo que a falta de instituição da taxa de coleta de lixo e de arrecadação da receita oriunda do mencionado imposto não enseja a aplicação da sanção de vedação da realização de transferências voluntárias. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS O tema é disciplinado pelo art. 11 da Lei de Responsabilidade fiscal. Exige-se a previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos, mas a sanção se restringe à realização de transferências voluntárias quando o descumprimento se refere à previsão e efetiva arrecadação de impostos. Veja: Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação. Parágrafo único. É vedada a realização de transferências voluntárias para o ente que não observe o disposto no caput, no que se refere aos impostos. Assim, somente a alternativa B está correta. _______________________________________________________________________ 65. Suponha que determinada lei federal tenha instituído isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente na aquisição de automóveis por pessoas com deficiência. No dia 01/06/2023, foi publicada medida provisória alterando a referida lei e estabelecendo que, até o final do ano de 2023, a aquisição com isenção somente se aplicaria a veículo novo cujo preço de venda ao consumidor não fosse superior a R$ 100.000,00. No dia 14/10/2023, a aludida medida provisória foi convertida em lei, a qual ampliou o referido limite de valor para até R$ 150.000,00. 106 Considere que João, pessoa com deficiência, tenha formalizado, no dia 25/09/2023, a intenção de adquirir veículo novo no valor de R$ 170.000,00. Diante desse contexto, considerando o disposto na Constituição Federal de 1988 e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal acerca da matéria, é CORRETO afirmar que a cobrança do IPI sobre a transação mencionada é: (A) ilegítima, porquanto houve alteração substancial do texto da medida provisória, de modo que o termo inicial do prazo concernente à anterioridade nonagesimal, aplicável ao caso vertente, somente deverá ser contado a partir da data da conversão da medida provisória em lei; (B) ilegítima, uma vez que a medida provisória que implique instituição ou majoração de imposto, ainda que de forma indireta, somente produzirá seus regulares efeitos no exercício financeiro seguinte, desde que tenha sido convertida em lei até o último dia do exercício em que foi editada; (C) legítima, haja vista que a referida medida provisória, ao limitar o valor para aquisição do veículo por pessoas com deficiência, tão somente modificou as condições para a fruição do benefício fiscal, não implicando instituição ou majoração indireta de tributo, razão pela qual não se aplicam os princípios da anterioridade geral e nonagesimal; (D) legítima, porquanto decorrido o prazo concernente à anterioridade nonagesimal, a qual se aplica ao caso vertente, já que a referida medida provisória, ao restringir a isenção do tributo concedida a pessoas com deficiência com base no preço de venda do veículo, alterou o benefício fiscal com reflexo no aumento da carga tributária; (E) ilegítima, tendo em conta que a referida medida provisória, ao limitar o benefício fiscal de isenção do tributo concedido a pessoas com deficiência com base no preço de venda do veículo, gerou aumento indireto da carga tributária, motivo pelo qual se impõe a observância dos princípios da anterioridade geral e nonagesimal. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS Em primeiro lugar, é necessário ressaltar que a MP pode ser utilizada para a instituição ou majoração de tributo, salvo os que necessitem de LC, por força do art. 62, § 1º, III, CF. Além disso, ressalvados o II, IE, IPI, IOF e os impostos extraordinários de guerra, a MP que implique majoração de impostos só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se for convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada (art. 62, § 2º, CF). Veja que o IPI está na exceção mencionada : Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: 107 III – reservada a lei complementar; § 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada. § 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igualperíodo, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas delas decorrentes. Além disso, a questão exige conhecimento acerca da aplicação do princípio da anterioridade nonagesimal nos casos de instituição ou majoração de imposto. No caso em tela, existia uma isenção que, no entanto, foi restringida por meio de medida provisória. Essa restrição da abrangência da isenção corresponde a uma majoração de imposto, devendo observar, no caso do IPI, a anterioridade nonagesimal: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; III - cobrar tributos: c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; Veja a cronologia dos fatos: Data Anterior Lei Isentiva 01/06/2023 MP restringindo a isenção a veículo cujo preço de venda ao consumidor não fosse superior a R$ 100.000,00 31/08/2023 prazo da anterioridade nonagesimal 25/09/2023 compra do veículo no valor de R$ 170.000,00 14/10/2023 conversão em lei da MP, ampliando valor para R$ 150.000,00 Assim, está correta a alternativa D. _______________________________________________________________________ 66. A entidade fechada de previdência privada ABC, cujo patrimônio é composto por valores provenientes de dotações próprias, contribuições de seus participantes e aportes do patrocinador, foi autuada pelo Fisco para a cobrança de Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) e de Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) 108 sobre os rendimentos decorrentes de suas aplicações financeiras, assim como para a cobrança de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) sobre os resultados do fundo fechado de previdência complementar. Irresignada, a entidade referida ajuizou ação anulatória visando à desconstituição dos lançamentos tributários realizados pelo Fisco. Tendo em vista o disposto na Constituição Federal de 1988 e o entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre o tema, o juiz deverá julgar o pedido: (A) procedente em parte, para anular o lançamento tributário relativo ao IRRF e à CSLL, haja vista que o regime contábil peculiar das entidades fechadas de previdência social privada inviabiliza que elas obtenham lucro, renda ou proventos de qualquer natureza, a evidenciar a ilegitimidade das mencionadas exações; (B) procedente, uma vez que as entidades fechadas de previdência privada não possuem finalidade lucrativa e são restritas a um grupo determinado de pessoas, razão pela qual estão abarcadas pela imunidade tributária conferida às instituições de assistência social sem fins lucrativos, nos termos da Súmula 730 do Supremo Tribunal Federal; (C) procedente, na medida em que as entidades fechadas de previdência social privada são proibidas por lei de obter lucro, submetendo-se a regime contábil particular, no qual se apuram superávits e déficits, motivo pelo qual não há que se falar em acréscimo patrimonial ou em faturamento, o que afasta a higidez das exações impugnadas; (D) procedente em parte, para anular o lançamento tributário relativo à COFINS, haja vista que os rendimentos oriundos das aplicações financeiras realizadas pelas entidades fechadas de previdência complementar não se enquadram no conceito de faturamento previsto no Art. 195, inciso I, alínea “b”, da Constituição Federal de 1988, por não decorrerem de atividades empresariais típicas das referidas entidades; (E) improcedente, porquanto a ausência de finalidade lucrativa das entidades fechadas de previdência privada não inviabiliza a obtenção de acréscimos patrimoniais e de resultados positivos, sendo certo, ainda, que os rendimentos auferidos em aplicações financeiras se enquadram como atividades empresariais típicas das aludidas entidades, a justificar a legitimidade das exações impugnadas. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) e (C) INCORRETAS. As entidades fechadas de previdência complementar são reguladas pela LC 109/01 e não possuem finalidade lucrativa: Art. 31, § 1o As entidades fechadas organizar-se-ão sob a forma de fundação ou sociedade civil, sem fins lucrativos. Ocorre que o fato de uma entidade não ter fins lucrativos não a impede de ter lucros, a previsão legal implica apenas que não poderá haver a distribuição dos lucros obtidos. Isso torna incorretas as alternativas A e C. 109 (B) INCORRETA. A alternativa B está incorreta, pois a Súmula 730 do STF restringe a incidência da imunidade aos casos em que não há contribuição dos beneficiários e o enunciado é claro em afirmar que seu “patrimônio é composto por valores provenientes de dotações próprias, contribuições de seus participantes e aportes do patrocinador”: Súmula 730 STF: a imunidade tributária conferida a instituições de assistência social sem fins lucrativos pelo art. 150, vi, "c", da constituição, somente alcança as entidades fechadas de previdência social privada se não houver contribuição dos beneficiários. (D) INCORRETA. A alternativa D está incorreta porque o STF reconheceu que as receitas financeiras das EFPC integram o conceito de faturamento ou receita bruta para fins de COFINS. É constitucional a incidência de PIS e COFINS em relação a rendimentos auferidos em aplicações financeiras das entidades fechadas de previdência complementar (EFPC). STF. Plenário. RE 722.528/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/12/2024 (Repercussão Geral – Tema 1.280) (Info 1163). (E) CORRETA. A alternativa E está correta, pois está em consonância com a jurisprudência do STF, que entende que entidades fechadas de previdência complementar não gozam de imunidade e que seus resultados e receitas estão sujeitos à incidência de IRRF, CSLL e COFINS, mesmo sem finalidade lucrativa. _______________________________________________________________________ 67. A União ajuizou execução fiscal em face da sociedade empresária Ômega, objetivando a cobrança judicial do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre o desembaraço aduaneiro de bem industrializado e sobre a saída do respectivo produto do estabelecimento importador para outro estabelecimento do mesmo contribuinte. Após a citação da executada, e garantida integralmente a execução, a sociedade empresária Ômega opôs embargos à execução fiscal, postulando a desconstituição das exações tributárias. Consoante o entendimento do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, o juiz deverá julgar o pedido formulado nos aludidos embargos: (A) improcedente, haja vista ser constitucional a incidência do IPI tanto no desembaraço aduaneiro de produto industrializado quanto na saída do respectivo bem do estabelecimento importador, compensando-se o que for devido na segunda operação com o que foi pago na primeira, em observância ao princípio constitucional da não cumulatividade; (B) procedente, uma vez que não restou configurado o aspecto material do IPI, que pressupõe a ocorrência de industrialização no Brasil, entendida esta como a operação que modifique a natureza, o funcionamento, o acabamento, a apresentação ou a 110 finalidade do produto, ou o aperfeiçoe para o consumo, nos termos do Art. 4º do Decreto nº 7.212/2010; (C) procedente em parte, para anular a exação incidente sobre a saída do produto industrializado do estabelecimento importador para outro estabelecimento do mesmo contribuinte, considerando que, em tal hipótese, inexiste mudança de titularidade e onerosidade na transferência do bem, o que afasta a incidência do IPI em relação à segunda operação; (D) improcedente, porque o IPI incide tanto no desembaraço aduaneiro de produto industrializado quanto na saída do respectivobem do estabelecimento importador, o qual se equipara a industrial na segunda operação, sendo irrelevante, para fins de configuração da materialidade do imposto, a onerosidade ou não da transferência de titularidade do produto; (E) procedente em parte, para desconstituir a exação incidente sobre a saída do produto de procedência estrangeira do estabelecimento importador, na medida em que a dupla incidência do IPI, tanto no desembaraço aduaneiro do bem quanto na respectiva saída da importadora, caracteriza bis in idem e viola o princípio da isonomia tributária, notadamente porque o produto importado não sofreu processo de industrialização por parte da importadora. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS No caso em tela, a exigência do IPI se refere a duas operações distintas: a) Operação de importação de mercadorias (desembaraço aduaneiro) b) Saída da mercadoria importada para o estabelecimento do mesmo contribuinte. A hipótese de incidência do IPI está prevista no art. 46 do CTN: Art. 46. O imposto, de competência da União, sobre produtos industrializados tem como fato gerador: I - o seu desembaraço aduaneiro, quando de procedência estrangeira; II - a sua saída dos estabelecimentos a que se refere o parágrafo único do art. 51; III - a sua arrematação, quando apreendido ou abandonado e levado a leilão. Assim, há previsão na lei acerca da incidência do IPI na importação de mercadorias. Essa previsão teve sua constitucionalidade reconhecida pelo STF: É constitucional a incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI no desembaraço aduaneiro de bem industrializado e na saída do estabelecimento importador para comercialização no mercado interno. 111 STF. Plenário. RE 946.648/SC, repercussão geral (tema 906), Rel. para acórdão Ministro Alexandre de Moraes, julgado em 24/08/2020 (Info 842- clipping) Com relação à segunda operação, em regra, como se vê do dispositivo legal e da jurisprudência acima citados, também é possível a incidência do IPI. Porém, há que se realizar distinguish para afastar a incidência do IPI na saída para estabelecimento do mesmo contribuinte, pois, nesse caso, não há mudança de titularidade: Havendo mero deslocamento para outro estabelecimento ou para outra localidade, permanecendo o produto sob o domínio do contribuinte, não haverá incidência do IPI. STJ. 1ª Turma. REsp 1.402.138-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 12/05/2020 (Info 672). Logo, somente a alternativa C está correta. _______________________________________________________________________ 68. A sociedade empresária Beta apurou, no ano de 2022, diferenças nos valores declarados e recolhidos do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) referentes ao ano-base de 2021. Assim, no dia 14/08/2022, a aludida sociedade empresária retificou sua declaração e efetuou o pagamento dos valores que haviam deixado de ser recolhidos, corrigidos monetariamente e acrescidos de juros moratórios. De acordo com o Código Tributário Nacional e com a jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça, é CORRETO afirmar que: (A) não se aplica o instituto da denúncia espontânea à hipótese, porquanto a omissão na declaração de valores relativos ao IRPJ e à CSLL configura descumprimento de obrigação acessória autônoma, em virtude da prestação de informações a destempo, constituindo infração formal de natureza não tributária, razão pela qual devem incidir tanto a multa moratória quanto a multa punitiva; (B) o instituto da denúncia espontânea somente se aplica à hipótese se a retificação da declaração e o pagamento posteriores tiverem sido realizados antes do início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização por parte da Administração Tributária, sendo devida, contudo, a multa moratória em razão do atraso no pagamento dos tributos, excluída apenas a incidência da multa punitiva; (C) não se aplica o instituto da denúncia espontânea à hipótese, tendo em vista que esse benefício legal não alcança as situações em que os tributos sujeitos a lançamento por homologação tenham sido declarados, mas pagos de forma intempestiva, à vista ou parceladamente, ainda que anteriormente à instauração de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização por parte da Administração Tributária; (D) não haverá a incidência de multa moratória ou punitiva, desde que a retificação da declaração e o pagamento posteriores sejam efetuados antes do início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização por parte da Administração Tributária, uma vez que, em tal hipótese, o Fisco estará dispensado de constituir o 112 crédito tributário atinente à parte não declarada, porém quitada por ocasião da retificação; (E) não haverá a incidência de multa moratória ou punitiva se o pagamento posterior for efetuado por meio de depósito judicial integral dos tributos devidos e dos respectivos juros de mora, desde que antes do início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização por parte da Administração Tributária, na medida em que o depósito judicial integral implica relação de troca entre o custo de conformidade suportado pelo contribuinte e o custo administrativo no qual incorre o Fisco para a constituição e a cobrança dos créditos tributários. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS A questão trata do tema da denúncia espontânea e a correta aplicação do entendimento do STJ sobre o tema. A denúncia espontânea está prevista no CTN: Artigo 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração. Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia apresentada após o início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a infração. Sobre o tema, o STJ possui a importante súmula 360: Súmula 360 STJ. O benefício da denúncia espontânea não se aplica aos tributos sujeitos a lançamento por homologação regularmente declarados, mas pagos a destempo. (A) INCORRETA. Não houve omissão no caso em tela. O enunciado deixa claro que a empresa cumpriu a obrigação acessória e apresentou a declaração. O que houve foi posterior retificação em razão da descoberta de erros. (B) INCORRETA. A denúncia espontânea afasta a incidência de multa. O art. 138 do CTN não distingue entre multa moratória e punitiva. Logo, sendo o caso de denúncia espontânea, afasta-se a incidência de ambas. (C) INCORRETA. No caso em tela não houve pagamento de forma intempestiva. Pelo contrário, o enunciado deixa claro que houve o pagamento juntamente com a retificação da declaração. 113 (D) CORRETA. É a opção que se adequa aos já citados art. 138 do CTN e Súmula 360 do STJ. (E) INCORRETA. A denúncia espontânea exige o pagamento integral do tributo devido. Não basta o depósito judicial integral: O depósito judicial integral do débito tributário e dos respectivos juros de mora, mesmo antes de qualquer procedimento do Fisco tendente à sua exigência, não configura denúncia espontânea (art. 138 do CTN). O depósito judicial integral não trouxe qualquer vantagem ou redução de custos para a Administração Tributária. Não houve a chamada "relação de troca entre custo de conformidade e custo administrativo" a atrair caracterização da denúncia espontânea (art. 138 do CTN). STJ. 1ª Seção. EREsp 1.131.090-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 28/10/2015 (Info 576). _______________________________________________________________________ 69. Suponha que a Receita Federal do Brasil tenha lavrado Auto de Infração em face da sociedadeempresária Alfa, com regular notificação do sujeito passivo na data de 12/03/2019, visando à cobrança de débitos de Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) cujos fatos geradores tenham ocorrido no ano de 2016. Posteriormente, constatado o inadimplemento dos créditos tributários mencionados, a Fazenda Pública Federal inscreveu os respectivos débitos em Dívida Ativa da União, bem como ajuizou a correspondente execução fiscal contra a sociedade empresária Alfa, na data de 27/04/2022. No curso da ação, a União tomou conhecimento de que a sociedade empresária Alfa fora incorporada pela sociedade empresária Beta no ano de 2015, tendo os respectivos atos negociais sido registrados na Junta Comercial no mesmo ano. Nesse cenário, considerando o entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça e as disposições do Código Tributário Nacional sobre o tema, é CORRETO afirmar que a execução fiscal: (A) poderá ser redirecionada à sociedade empresária Beta se a operação societária de incorporação empresarial não tiver sido oportunamente informada ao Fisco, desde que modificado o lançamento e retificada a Certidão de Dívida Ativa para fazer constar o nome da incorporadora; (B) poderá ser redirecionada à sociedade empresária Beta, sem necessidade de modificação da Certidão de Dívida Ativa e de alteração do lançamento, se a operação societária de incorporação empresarial não tiver sido informada ao Fisco antes do surgimento da obrigação tributária; (C) não deverá subsistir, uma vez que o lançamento tributário é nulo de pleno direito, por ter o crédito tributário sido constituído contra pessoa jurídica que já havia sido extinta pela incorporação empresarial, presumindo-se a ciência do Fisco quanto à 114 operação societária, porquanto o ato negocial respectivo foi registrado na Junta Comercial; (D) poderá ser redirecionada à sociedade empresária Beta se a sucessão empresarial por incorporação não tiver sido comunicada ao Fisco antes da ocorrência do fato gerador, desde que haja a retificação da Certidão de Dívida Ativa para inclusão do novo sujeito passivo da obrigação tributária, sem necessidade de modificação do lançamento; (E) não deverá subsistir, uma vez que não é possível o redirecionamento da execução fiscal contra a sucessora para a cobrança de créditos lançados em nome de sociedade empresária extinta pela incorporação empresarial, ainda que a respectiva operação societária não tenha sido oportunamente informada ao Fisco, por ser vedada a substituição da Certidão de Dívida Ativa para modificação do sujeito passivo da execução. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS A sucessão por incorporação está prevista no CTN: Art. 129. O disposto nesta Seção aplica-se por igual aos créditos tributários definitivamente constituídos ou em curso de constituição à data dos atos nela referidos, e aos constituídos posteriormente aos mesmos atos, desde que relativos a obrigações tributárias surgidas até a referida data. Art. 132. A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão, transformação ou incorporação de outra ou em outra é responsável pelos tributos devidos até à data do ato pelas pessoas jurídicas de direito privado fusionadas, transformadas ou incorporadas. A sociedade Alfa foi incorporada por Beta em 2015. Os fatos geradores da COFINS ocorreram em 2016. Isso significa que, no momento dos fatos geradores (2016), a sociedade Alfa já não existia mais legalmente; a responsável tributária era a Beta. Ocorre que a operação de incorporação não foi comunicada ao Fisco. Logo, é possível o redirecionamento, para a incorporadora, da execução ajuizada contra a incorporada, sem alteração da CDA: A execução fiscal pode ser redirecionada em desfavor da empresa sucessora para cobrança de crédito tributário relativo a fato gerador ocorrido posteriormente à incorporação empresarial e ainda lançado em nome da sucedida, sem a necessidade de modificação da Certidão de Dívida Ativa, quando verificado que esse negócio jurídico não foi informado oportunamente ao fisco. STJ. 1ª Seção. REsp 1848993- 115 SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 26/08/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1049) (Info 678). Logo, somente a alternativa B está correta. _______________________________________________________________________ 70. A Receita Federal do Brasil instaurou processo administrativo fiscal para apuração da suposta falta de pagamento, por parte da sociedade empresária Beta, de débitos de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) relativos ao ano de 2016. A sociedade empresária Beta, então, ajuizou ação pretendendo obstar o lançamento do crédito tributário, tendo efetuado o depósito integral do valor respectivo, na data de 23/04/2019. Todavia, o processo foi julgado extinto sem resolução de mérito em virtude da homologação da desistência manifestada pela sociedade empresária Beta, a qual levantou o valor depositado na data de 12/07/2021. A sentença de extinção do aludido feito transitou em julgado na data de 05/09/2021. Considerando a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça sobre a matéria, bem como as disposições do Código Tributário Nacional (CTN), é CORRETO afirmar que o levantamento do valor depositado pela sociedade empresária Beta foi: (A) indevido, sendo certo que, como o depósito integral constituiu o crédito tributário, a Fazenda Pública Federal poderá ajuizar execução fiscal para a cobrança da quantia respectiva, desde que observado o prazo prescricional quinquenal, contado a partir da extinção do depósito; (B) devido, sendo certo, contudo, que, afastada a causa obstativa do lançamento, a Fazenda Pública Federal poderá constituir o crédito tributário mediante lançamento de ofício da quantia depositada, desde que observado o prazo decadencial quinquenal, contado a partir de 01/01/2022; (C) indevido, sendo certo que, afastada a causa obstativa do lançamento, a Fazenda Pública Federal poderá constituir o crédito tributário mediante lançamento de ofício da quantia depositada, desde que observado o prazo decadencial quinquenal, contado a partir de 01/01/2022; (D) devido, sendo certo, contudo, que, afastada a causa de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, a Fazenda Pública Federal poderá ajuizar execução fiscal para a cobrança da quantia respectiva, desde que observado o prazo prescricional quinquenal, contado a partir do levantamento do depósito; (E) indevido, sendo certo que, como o depósito integral equivaleu a um lançamento por homologação, a Fazenda Pública Federal poderá ajuizar execução fiscal para a cobrança da quantia respectiva, desde que observado o prazo prescricional quinquenal, contado a partir da data do trânsito em julgado da sentença que extinguiu o processo relativo à ação antiexacional. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS 116 Acerca do crédito tributário, vamos relembrar em linhas gerais sua ordem de constituição: 1) ocorrência do fato gerador 2) constituição do crédito tributário por meio do lançamento 3) posterior suspensão do crédito tributário por algumas das hipóteses do art. 151 do CTN. Veja que, para que se fale em ‘suspensão do crédito tributário’ é necessário que ele tenha sido anteriormente constituído. O depósito judicial integral é uma das hipóteses de suspensão do crédito tributário previstas no art. 151, II, do CTN, não tendo o condão de obstar sua constituição por meio do lançamento. Logo, caso seja realizado o depósito judicial de crédito tributário ainda não constituído, esse depósito equivale a uma declaração do contribuinte que o constitui. Assim, o crédito tributário é constituído pelo depósito judicial integral e tem, pelo mesmo ato, a sua exigibilidade suspensa. Esse raciocínio torna incorretas as alternativas B e C (não há causa obstativado lançamento). Além disso, no caso em tela, o levantamento do depósito foi indevido. Isso porque o STJ entende que, no caso de transitar em julgado uma decisão extinguindo o processo, sem julgamento do mérito, deve ser convertido o depósito em renda, pois a única hipótese que ensejaria o levantamento do depósito seria a decisão judicial favorável ao sujeito passivo. O depósito judicial, realizado nos autos com objetivo de suspender a exigibilidade do crédito tributário, somente pode ser levantado pelo contribuinte no caso de se sagrar vencedor na demanda. Esse raciocínio torna incorretas as alternativas B e D. Resta analisar o termo inicial do prazo prescricional. Nos termos do art. 174 do CTN, o termo inicial é a data da constituição definitiva do crédito tributário. Considerando que o depósito integral, no caso em tela, teve o condão de constituir e, ao mesmo tempo, suspender o crédito tributário, o termo inicial da prescrição é a data da extinção da condição suspensiva de exigibilidade (data da extinção do depósito). Assim, a alternativa correta é a letra A. _______________________________________________________________________ BLOCO III DIREITO ADMINISTRATIVO 71. Lei do Estado Alfa, de iniciativa do respectivo Tribunal de Justiça, prevê o pagamento, aos juízes e desembargadores daquele estado, de gratificações pelo exercício de cargos de chefia e direção, permitindo a incorporação dessas vantagens ao subsídio. De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, essa lei é: 117 (A) constitucional, pois é permitido o pagamento dessas gratificações pelo regime de subsídio; (B) constitucional, desde que se limitem ao teto remuneratório e não sejam incorporadas ao subsídio; (C) inconstitucional, pois o regime de subsídio proíbe a percepção de quaisquer outras parcelas remuneratórias; (D) inconstitucional, pois lei que disponha sobre o subsídio dos magistrados é de iniciativa privativa do governador; (E) inconstitucional, pois lei que disponha sobre o subsídio dos magistrados é de iniciativa privativa do STF. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS O regime de subsídios permite gratificações por cargos em comissão ou funções de confiança, desde que respeitado o teto constitucional e não haja a incorporação dessa gratificação aos vencimentos. O regime de subsídio, adotado para membros do MP, admite gratificações por funções específicas, desde que não se incorporem ao subsídio e que se respeite o teto remuneratório constitucional. Assim, essa norma do Estado do Espírito Santo é constitucional ao permitir o pagamento de gratificações pelo exercício de funções de confiança, desde que não ultrapasse o teto. Contudo, a parte final do dispositivo, que previa a incorporação dessas gratificações aos vencimentos, foi declarada inconstitucional, por contrariar a lógica do regime de subsídio e configurar benefício indevido sem respaldo constitucional. (STF. Plenário. ADI 3.228/ES, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Luís Roberto Barroso, julgado em 19/02/2025 (Info 1166)) _______________________________________________________________________ 72. Após regular abertura de inquérito civil público, o Ministério Público Federal (MPF), por meio do procurador da República com atribuição para o caso, ajuíza ação civil pública contra a sociedade empresária ZZZ Ltda. e José, diretor desta, tendo em vista o comprovado pagamento de valores para que autoridades administrativas beneficiassem a citada empresa. Na petição inicial, o MPF baseia-se nas disposições da Lei Federal nº 12.846/2013 (Lei Anticorrupção) e da Lei Federal nº 8.429/1992 (Lei de Improbidade Administrativa) e pede a condenação de ambos os réus às sanções previstas nas duas mencionadas leis. 118 À luz da jurisprudência atual do Superior Tribunal de Justiça, a aplicação concomitante de ambas as leis: (A) viola o princípio do non bis in idem, previsto no Pacto de San José da Costa Rica; (B) resultaria em punição excessiva, dada a semelhança das sanções previstas em ambas as leis; (C) é vedada, pois as disposições da Lei Anticorrupção são especiais e afastam a incidência da Lei de Improbidade Administrativa; (D) é permitida, pois a aplicabilidade de apenas um dos regimes violaria o princípio da vedação ao retrocesso; (E) é permitida em linha de princípio, pois não configura, de antemão, bis in idem, sendo o excesso punitivo matéria de mérito da ação. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS A Lei Anticorrupção e a Lei de Improbidade Administrativa podem ser usadas simultaneamente para fundamentar uma ação civil pública, desde que não resultem em punições idênticas pelos mesmos fatos. Em julgamento do REsp 2.107.398, o Superior Tribunal de Justiça destacou que o Pacto de San José da Costa Rica não se aplica a pessoas jurídicas e que princípio do non bis in idem só é violado se houver duplicidade de sanções idênticas pelos mesmos atos. Ou seja, o simples uso conjunto das leis não configura violação ao princípio, sendo que a análise sobre eventual sobreposição de penalidades deve ser feita na sentença, e não na fase inicial do processo. _______________________________________________________________________ 73. Maria é servidora pública federal e desde 1995 recebe determinada parcela remuneratória, em decorrência de decisão jurisdicional transitada em julgado, que reconheceu o direito à incorporação dessa vantagem. A Administração Pública Federal, em março de 2020, cessa o pagamento da vantagem, seguindo entendimento do Tribunal de Contas da União (TCU), de acordo com o qual a parcela remuneratória percebida por Maria desde 1995 teria sido absorvida pela Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada (VPNI). Maria ajuíza ação contra a universidade federal alegando, em síntese, a decadência do prazo para a Administração rever ou anular o ato. À luz da jurisprudência atual do Superior Tribunal de Justiça, o pedido deve ser julgado: (A) improcedente, pois o ato de cessação decorreu de decisão do TCU, que não se sujeita à decadência; (B) improcedente, pois o ressarcimento do dano ao erário não se sujeita à decadência, tampouco à prescrição; 119 (C) improcedente, pois Maria, sendo servidora pública federal, deveria estar ciente da ilegalidade do pagamento; (D) procedente, pois no caso não se trata de apreciação de aposentadoria pelo TCU, incidindo a Lei Federal nº 9.784/1999; (E) procedente, pois no caso incide a regra geral do prazo decadencial de dez anos previsto no Código Civil. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS Por meio do Tema de Repercussão Geral 445, o STF firmou o entendimento de que: Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas. STF. Plenário. RE 636553/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2020 (repercussão geral – Tema 445) (Info 967). Esse prazo decadencial de 05 anos foi extraído do art. 1º do Decreto 20.910/1932, que trata do prazo prescricional de pretensões propostas por particulares contra o Poder Público. Para o STF, como não existe uma lei tratando do prazo para que Tribunal de Contas analise a concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, aquela outra norma aplica-se por analogia, com fundamento no art. 4º da LINDB, por força de isonomia: se o administrado tem o prazo de 5 anos para pleitear seus direitos contra a Fazenda Pública, deve-se considerar que o Poder Público, no exercício do controle externo (Tribunal de Contas), também possui o mesmo prazo para rever eventual atoadministrativo favorável ao administrado. A par disso, temos que considerar o entendimento do STF no sentido de que: Direito Administrativo. Agravo regimental em mandado de segurança. TCU. Exclusão de vantagem reconhecida por decisão judicial com trânsito em julgado. Perda de eficácia da sentença. 1. Afastamento da decadência do direito de o TCU rever o ato concessivo da aposentadoria, conforme jurisprudência deste Tribunal. 2. A Corte de Contas não desconsiderou a existência de decisão judicial com trânsito em julgado, mas apenas determinou que a 120 parcela ali reconhecida fosse paga na forma de vantagem pessoal nominalmente identificada VPNI, a ser absorvida por reajustes e reestruturações posteriormente concedidos aos servidores públicos. 3. O Pleno da Corte, em repercussão geral, decidiu que “a sentença que reconhece ao trabalhador ou servidor o direito a determinado percentual de acréscimo remuneratório deixa de ter eficácia a partir da superveniente incorporação definitiva do referido percentual nos seus ganhos” (RE 596.663, Rel. p/ acórdão Min. Teori Zavascki). 4. Cessação de efeitos que se opera, em regra, automática e imediatamente com a alteração das premissas fáticas em que se baseou a sentença, sem a necessidade de ação rescisória ou revisional. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF, Segundo Ag. Reg. em Ms n. 33.399-DF, Relator: Min. Roberto Barroso – Informativo 788, de 1º a 5 de junho de 2015). Ocorre, entretanto, que o enunciado não trata de apreciação de ato de concessão inicial aposentadoria pelo Tribunal de Contas, mas de ato de controle interno, da Administração Pública, no exercício do poder de autotutela administrativa, que determinou a cessação do pagamento de parcela remuneratória percebida por servidora por força de decisão judicial sob o argumento de que ela teria sido absorvida pela VPNI. Embora, sim, o STF entenda que essa absorção é possível (Info 788 acima), a Administração tem o prazo de 05 anos para reconhecer a sua ocorrência e cessar o pagamento da parcela absorvida, sob pena de violação do art. 54 da Lei Federal 9.784/1999. _______________________________________________________________________ 74. Josué, Alexandre e Maurício, líderes do Movimento Libertação Rural, organizam e promovem a invasão violenta de uma fazenda produtiva de 40 hectares e expulsam os proprietários e arrendatários do imóvel. Rapidamente, os invasores matam quase todo o rebanho bovino, destroem 80% da plantação de milho, consomem metade da produção de morango e furtam três tratores e uma colheitadeira. O Movimento Libertação Rural, que inclusive recebe recursos públicos, recusa-se a sair do local e pede que o Incra realize vistoria para fins de desapropriação do imóvel. À luz da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, é CORRETO afirmar que é: (A) inconstitucional norma que proíba a destinação de recursos públicos ao Movimento Libertação Rural, pois a reforma agrária é um dos objetivos da Constituição da República e deve ser fomentada pela União Federal; (B) inconstitucional norma que impeça a vistoria, para fins de desapropriação, em imóvel rural esbulhado, desde que a ocupação seja anterior e atinja porção significativa do imóvel, em prejuízo da utilização da terra; 121 (C) constitucional norma que impeça a vistoria, para fins de desapropriação, em imóvel rural esbulhado, desde que a ocupação seja anterior e atinja porção significativa do imóvel, em prejuízo da utilização da terra; (D) constitucional norma que permita a ocupação social de imóveis rurais, ainda que produtivos, pois o direito à dignidade humana do trabalhador rural prevalece sobre o interesse patrimonialista do produtor rural; (E) inconstitucional norma que permita o exercício de legítima defesa do proprietário de terras rurais em caso de ocupação social, pois a redução das desigualdades sociais é um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS O esbulho possessório impede a desapropriação para fins de reforma agrária, nos termos do art. 2º, §6º, da Lei nº 8.629/93: O imóvel rural de domínio público ou particular objeto de esbulho possessório ou invasão motivada por conflito agrário ou fundiário de caráter coletivo não será vistoriado, avaliado ou desapropriado nos dois anos seguintes à sua desocupação, ou no dobro desse prazo, em caso de reincidência; e deverá ser apurada a responsabilidade civil e administrativa de quem concorra com qualquer ato omissivo ou comissivo que propicie o descumprimento dessas vedações. Com efeito, segundo disposto na Súmula nº 354 do STJ: “A invasão do imóvel é causa de suspensão do processo expropriatório para fins de reforma agrária”. Em 2023, o STF reiterou a constitucionalidade dessa proibição, estabelecendo ser constitucional lei que proíbe a desapropriação de áreas rurais ocupadas em conflitos de terra nos dois anos seguintes à desocupação, desde que a invasão e a ocupação sejam anteriores ou contemporânea à vistoria do Incra e atingir porção significativa: É constitucional norma que cria hipótese de imóvel rural insuscetível de desapropriação para fins de reforma agrária no Programa de Arrendamento Rural, desde que presumido o cumprimento da sua função social e enquanto se mantiver arrendado. É constitucional norma que estabelece o esbulho possessório ou a invasão motivada por conflito agrário ou fundiário de caráter 122 coletivo como impeditivos legais à realização da vistoria para fins de desapropriação, desde que: i) a ocupação seja anterior ou contemporânea aos procedimentos expropriatórios; e ii) atinja porção significativa do imóvel rural, a ponto de alterar os graus de utilização da terra e de eficiência em sua exploração. É constitucional norma que proíbe a destinação de recursos públicos a entidade, organização, pessoa jurídica, movimento ou sociedade de fato que participe direta ou indiretamente de invasões de imóveis rurais ou de bens públicos. (STF. Plenário. ADI 2.213/DF e ADI 2.411/DF, Rel. Min. Nunes Marques, julgados em 19/12/2023 – Info 1121). _______________________________________________________________________ 75. A Defensoria Pública Geral da União ajuíza ação civil pública contra a Caixa Econômica Federal, sustentando, em síntese, que são ilegais a previsão de alienação fiduciária em garantia de imóvel e o procedimento de leilão extrajudicial em contrato de financiamento imobiliário destinado à população de baixa renda. À luz da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o pedido formulado nessa ação deve ser julgado: (A) procedente, pois a alienação fiduciária em garantia e a execução extrajudicial do imóvel restringem o direito de defesa dos mutuários de baixa renda; (B) procedente, pois a alienação fiduciária em garantia de imóvel é um contrato de natureza patrimonialista e que presume o equilíbrio entre a instituição financeira e o mutuário; (C) procedente, pois a legislação de regência não permite a utilização conjunta dos dois institutos na hipótese de contrato de financiamento de imóvel; (D) improcedente, pois a consolidação da propriedade em nome do credor e o leilão extrajudicial do imóvel são hipóteses que ocorrem apenas nos casos mais graves de inadimplemento; (E) improcedente, pois a proibição de utilização dos dois institutos no caso de inadimplência dos contratos de financiamento imobiliário implicaria subsídio estatal ilegal. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS De acordo com o STJ, é possível manter a cláusula de alienação fiduciária nos contratos regidos por empresa pública estadual criada para executar a política de habitação, como também é admissível o leilão público dos imóveis quando houver a execução daquela 123 garantia. STJ. 1ªTurma. AREsp 1.776.983-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 19/9/2023 (Info 14 – Edição Extraordinária). Lembre-se que, nos termos do arts. 26 e 27 da Lei Federal 9.514/97, a consolidação da propriedade em nome do credor fiduciário e a realização do leilão público do imóvel são a ultima ratio, dependendo da constituição do devedor fiduciante em mora e da sua não purgação. _______________________________________________________________________ 76. A pequena Fernanda, criança de 6 anos, portadora de leucemia linfoblástica aguda, submetida a tratamento quimioterápico no Instituto Nacional de Câncer (INCA), apresentou grave reação alérgica ao medicamento padrão, devidamente registrado na Anvisa, fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O pai de Fernanda, agricultor no interior do Rio de Janeiro, e a mãe, pequena comerciante das hortaliças cultivadas na propriedade rural da família, não têm condições financeiras de adquirir o medicamento indicado em substituição ao quimioterápico padrão. Os pais de Fernanda formulam ao SUS o pedido de fornecimento do quimioterápico substituto, com minucioso laudo redigido pela médica do SUS responsável pelo tratamento, esclarecendo a necessidade da substituição, além da efetividade e segurança do remédio, mas é negado o acesso gratuito ao medicamento, sob a alegação de que ele: a) não foi registrado pela Anvisa e b) não foi incorporado à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), pois não há processo administrativo já instaurado para essa finalidade. No laudo mencionado, informa também a médica que todas as tentativas de tratamento padrão foram esgotadas, que o quimioterápico substituto não tem similar na lista de referência do SUS e que já foi registrado pelas agências reguladoras de fármacos do Reino Unido, dos Estados Unidos e do Japão, diante dos ótimos resultados comprovados. Fernanda, devidamente representada por seus pais, ajuíza ação para o fornecimento do remédio contra a União Federal. À luz da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a pequena Fernanda: (A) não tem direito ao quimioterápico, pois o SUS não tem condições de fornecer o medicamento a todos, ainda que o laudo seja favorável à substituição do medicamento; (B) não tem direito ao quimioterápico, pois a União Federal não pode obrigar a Conitec a incorporar o novo medicamento, sendo irrelevante o seu registro em outros países; (C) não tem direito ao quimioterápico, pois se trata de situação excepcional, não comportando solução pelo SUS, que se destina ao atendimento de casos genéricos; (D) tem direito ao quimioterápico, pois este foi negado administrativamente, não tendo sido instaurado processo de incorporação à Conitec, e há laudo médico fundamentado; (E) tem direito ao quimioterápico, independentemente da negativa prévia do SUS e da ausência de incorporação da Conitec, sendo suficiente o laudo fundamentado. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS 124 O paradigmático TEMA 500 de Repercussão Geral do STF delimitou as condições excepcionais para a imposição judicial de medicamentos sem registro na ANVISA: 1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais. 2. A ausência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede, como regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão judicial. 3. É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016) [em seu voto, o Ministro Barroso entendeu que, se a ANVISA negou o registro, não é possível o Judiciário determinar sua dispensação], quando preenchidos três requisitos: i) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras); ii) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e iii) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil. 4. As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na ANVISA deverão necessariamente ser propostas em face da União. (STF. Plenário. RE 657718/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 22/5/2019, repercussão geral, TEMA 500, Info 941). (destacamos) _______________________________________________________________________ 77. Mauro, advogado da União, emite parecer pela regularidade de pagamento de determinada verba indenizatória em favor de servidor público do Ministério da Saúde, tendo o ministro daquela pasta seguido a opinião jurídica de Mauro e efetuado o pagamento da quantia ao servidor. Celso, procurador da República, discorda do parecer e ajuíza ação de improbidade administrativa contra Mauro, alegando, em síntese, que, apesar de o parecer ter sido fundamentado em jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o pagamento da verba indenizatória viola a moralidade administrativa. À luz da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a responsabilização do advogado público pela emissão de pareceres é: (A) objetiva, sendo suficiente a comprovação de nexo de causalidade entre o parecer e o dano; (B) objetiva, sendo suficiente a comprovação do nexo de causalidade entre o ato objeto da opinião favorável e o dano; 125 (C) subjetiva, independentemente da comprovação do nexo de causalidade entre o parecer e o dano; (D) subjetiva, independentemente de o parecer ser facultativo, obrigatório ou vinculante; (E) subjetiva, demandando dolo, culpa grave ou erro grosseiro no caso de parecer facultativo ou obrigatório. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS Facultativo Obrigatório Vinculante O administrador NÃO É obrigado a solicitar o parecer do órgão jurídico. O administrador é obrigado a solicitar o parecer do órgão jurídico. O administrador É obrigado a solicitar o parecer do órgão jurídico. O administrador pode discordar da conclusão exposta pelo parecer, desde que o faça fundamentadamente. O administrador pode discordar da conclusão exposta pelo parecer, desde que o faça fundamentadamente com base em um novo parecer. O administrador NÃO pode discordar da conclusão exposta pelo parecer. Ou o administrador decide nos termos da conclusão do parecer, ou, então, não decide. Em regra, o parecerista não tem responsabilidade pelo ato administrativo. Contudo, o parecerista pode ser responsabilizado se ficar configurada a existência de culpa ou erro grosseiro. Em regra, o parecerista não tem responsabilidade pelo ato administrativo. Contudo, o parecerista pode ser responsabilizado se ficar configurada a existência de culpa ou erro grosseiro. Há uma partilha do poder de decisão entre o administrador e o parecerista, já que a decisão do administrador deve ser de acordo com o parecer. Logo, o parecerista responde solidariamente com o administrador pela prática do ato, não sendo necessário demonstrar culpa ou erro grosseiro. Fonte: https://www.dizerodireito.com.br/2019/06/breves-comentarios-lei-136552018- e-ao.html _______________________________________________________________________ 78. Jonas, detento que cumpria pena de 20 anos de reclusão em presídio federal, é morto por outros detentos durante uma rebelião, quando ainda restavam 15 anos para o cumprimento integral da pena. Joana, companheira de Jonas, e Carlos, único filho de 126 Jonas, que tinha 6 anos quando da morte do pai, ajuízam ação de rito comum contra a União Federal pleiteando indenização por danos morais e a pensão mensal decorrente da morte. À luz da jurisprudência atual do Superior Tribunal de Justiça, é CORRETO afirmar que: (A) Joana terá direito à pensão, sendo necessária a comprovação, por instrumento público, daunião estável com Jonas; (B) Carlos terá direito à pensão até 16 anos, idade a partir da qual ele já pode auferir renda como menor aprendiz; (C) Joana e Carlos terão direito à pensão, sendo esta devida até Joana falecer e Carlos completar 18 anos; (D) Joana e Carlos terão direito à pensão, sendo o termo inicial desta a data da morte de Jonas; (E) Joana e Carlos terão direito à pensão, sendo o termo inicial desta a data em que Jonas cumpriria integralmente a pena. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS Responsabilidade Objetiva Em regra, a morte de detento gera responsabilidade civil objetiva para o Estado em decorrência da sua omissão específica em cumprir o dever especial de proteção que lhe é imposto pelo art. 5º, XLIX, da CF/88.No entanto, a responsabilidade pode ser afastada em casos de força maior, caso fortuito, estado de necessidade ou culpa exclusiva da vítima. Termo Inicial da Pensão O termo inicial da pensão e dos juros é a data do evento danoso, sendo irrelevante o efetivo exercício de atividade laboral pela vítima. Esse é o entendimento pacificado na jurisprudência do STJ: Com relação aos termos iniciais da pensão e dos juros de mora dos danos morais, é pacífico o entendimento jurisprudencial do STJ segundo o qual, tratando-se de responsabilidade extracontratual, os termos iniciais são a data do evento danoso, independentemente de o autor exercer ou não atividade laboral à época. STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.968.131/MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 17/10/2022. O entendimento do STJ é no sentido de que o direito à pensão vitalícia previsto no art. 950 do CC/02 exige apenas a comprovação da redução da capacidade de trabalho, sendo prescindível a demonstração de exercício de atividade remunerada à época do acidente. 127 Se a vítima não auferia renda, o valor da pensão vitalícia deve ser fixado em um salário mínimo. Neste sentido É irrelevante o momento de possibilidade de exercício de atividade laboral de detento que faleceu no presídio, para fixação do termo inicial da pensão por morte em favor de seu dependente, marco que é traçado pela data do evento danoso (óbito). STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 2.529.276-CE, Rel. Min. Afrânio Vilela, julgado em 21/10/2024 (Info 836). Comprovação da União Estável A união estável não exige formalização por escritura pública para ser reconhecida como entidade familiar, embora seja possível fazê-lo. A lei brasileira reconhece a união estável como uma entidade familiar com base em critérios objetivos, como a convivência pública, contínua e duradoura, com o objetivo de constituir família, independentemente de registro formal. _______________________________________________________________________ 79. União Federal pretende celebrar um contrato de pareceria público-privada para a exploração de determinada rodovia federal. À luz da legislação de regência, é CORRETO afirmar que: (A) é facultativa a constituição de sociedade de propósito específico para esse fim; (B) a transferência do controle acionário da concessionária independe de autorização da União Federal; (C) é vedado à sociedade de propósito específico assumir a forma de companhia aberta; (D) é facultado à União Federal assumir a titularidade da maioria do capital votante da sociedade de propósito específico; (E) é permitido à União Federal oferecer a vinculação de receitas como garantia de suas obrigações pecuniárias. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Lei nº 11.079/04 - Art. 9º Antes da celebração do contrato, deverá ser constituída sociedade de propósito específico, incumbida de implantar e gerir o objeto da parceria. (B) INCORRETA. Lei nº 11.079/04 - Art. 9º, § 1º A transferência do controle da sociedade de propósito específico estará condicionada à 128 autorização expressa da Administração Pública, nos termos do edital e do contrato, observado o disposto no parágrafo único do art. 27 da Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995. (C) INCORRETA. Lei nº 11.079/04 - Art. 9º, § 2º A sociedade de propósito específico poderá assumir a forma de companhia aberta, com valores mobiliários admitidos a negociação no mercado. (D) INCORRETA. Lei nº 11.079/04 - Art. 9º, § 4º Fica vedado à Administração Pública ser titular da maioria do capital votante das sociedades de que trata este Capítulo. (E) CORRETA. Lei nº 11.079/04 - Art. 8º As obrigações pecuniárias contraídas pela Administração Pública em contrato de parceria público- privada poderão ser garantidas mediante: I – vinculação de receitas, observado o disposto no inciso IV do art. 167 da Constituição Federal. _______________________________________________________________________ 80. Janaína, moradora do Distrito Federal, pretende viajar de ônibus para Rio Verde, a fim de visitar seus pais e irmãos. Influenciada por uma amiga, Janaína resolve adquirir pela plataforma Buser uma passagem de ida e volta para aquela agradável cidade de Goiás. Receosa, Janaína indaga a seu filho Francisco, juiz federal da Seção Judiciária de Mato Grosso, se o transporte na modalidade de fretamento coletivo oferecido pela plataforma é conforme a lei. Francisco, à luz da jurisprudência atual do Superior Tribunal de Justiça, responde corretamente à sua mãe que a plataforma de tecnologia que, em conjunto com empresas de fretamento, promove anúncio e cobrança individual de passagens: (A) em regime de fretamento aberto não pratica concorrência desleal com o serviço de ônibus regulares; (B) em regime de fretamento aberto pratica concorrência desleal com o serviço de ônibus regulares; (C) em regime de fretamento fechado pratica concorrência desleal com o serviço de ônibus regulares; (D) atua conforme a lei, desde que conceda aos passageiros as gratuidades previstas na legislação; (E) atua conforme a lei, desde que efetue o pagamento das tarifas rodoviárias. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS 129 O serviço oferecido por plataforma de tecnologia, que envolve operações conjuntas com empresas de fretamento, anúncio e cobrança individual de passagens para viagens interestaduais, é um tipo de fretamento em circuito aberto e configura prestação irregular de serviço de transporte rodoviário de passageiros. STJ. 2ª Turma. REsp 2.093.778-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/6/2024 (Info 817). _______________________________________________________________________ 81. Romeu, juiz federal da Seção Judiciária da Bahia, defere liminar em mandado de segurança impetrado contra o Superintendente da Receita Federal daquele belo estado. À luz da legislação de regência, a suspensão de execução dessa decisão liminar: (A) deve ser requerida exclusivamente pelo Ministério Público Federal, sendo processada e julgada por um dos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 1ª Região; (B) pode ser requerida pelo Ministério Público Federal, sendo processada e julgada por um dos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 1ª Região; (C) deve ser requerida exclusivamente pela Advocacia-Geral da União, sendo processada e julgada pelo desembargador presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região; (D) pode ser requerida tanto pelo Ministério Público Federal quanto pela Advocacia- Geral da União, sendo processada e julgada pelo desembargador presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região; (E) pode ser requerida tanto pelo Ministério Público Federal quanto pela Advocacia- Geral da União, sendo processada e julgada por um dos desembargadores federais do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS A Lei Federal nº 8.437/1992 dispõede tombamento por lei, conforme decidido pelo STF na ACO 1208. (E) INCORRETA. O Executivo não depende exclusivamente da lei para atuar. Pode editar decretos e atos administrativos no exercício de sua função normativa secundária, o que não inviabiliza, porém, a legislação de iniciativa parlamentar sobre tombamento. _______________________________________________________________________ 7. Após regular tramitação do processo judicial, sendo asseguradas as garantias do contraditório e da ampla defesa, transitou em julgado a sentença penal que condenou Antônio pela prática de crime contra a honra. A pena privativa de liberdade aplicada foi substituída pela prestação de serviço a entidade de caráter público indicada pelo juízo da execução. À luz da sistemática constitucional, é CORRETO afirmar que, durante o período em que Antônio estiver prestando o referido serviço, ele: (A) pode ajuizar ação popular; (B) está inabilitado para o exercício de qualquer função pública; (C) pode praticar todos os atos que exijam a condição de cidadão; (D) pode ser nomeado e tomar posse em cargo público, caso tenha sido aprovado em concurso público; (E) pode ser considerado inelegível, nos termos da legislação infraconstitucional, mas possui direitos políticos. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS 15 (A) INCORRETA. A condição de cidadão é exigida para o ajuizamento de ação popular (art. 1º da Lei nº 4.717/65), e deve ser comprovada com o título de eleitor válido. Com a suspensão dos direitos políticos em razão da condenação penal, Antônio não pode propor ação popular. (B) INCORRETA. A alternativa generaliza indevidamente. Embora alguns cargos comissionados não exijam regularidade eleitoral, não é possível afirmar que toda e qualquer função pública esteja inacessível. A incompatibilidade não é absoluta. (C) INCORRETA. A suspensão dos direitos políticos impede o exercício de todos os atos que dependam da condição de cidadão, como votar, ser votado, propor ação popular ou exercer cargos eletivos. (D) CORRETA. De acordo com o entendimento do STF, no RE 1282553: “A suspensão dos direitos políticos prevista no artigo 15, III, da Constituição Federal ("condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos") não impede a nomeação e posse de candidato aprovado em concurso público, desde que não incompatível com a infração penal praticada, em respeito aos princípios da dignidade da pessoa humana e do valor social do trabalho (CF, art. 1º, III e IV) e do dever do Estado em proporcionar as condições necessárias para a harmônica integração social do condenado, objetivo principal da execução penal, nos termos do artigo 1º da LEP (Lei nº 7.210/84). O início do efetivo exercício do cargo ficará condicionado ao regime da pena ou à decisão judicial do juízo de execuções, que analisará a compatibilidade de horários”. (E) CORRETA. Nos termos do art. 15, III, CF/88, os direitos políticos são suspensos em caso de condenação criminal transitada em julgado, mesmo que a pena privativa de liberdade tenha sido substituída por restritiva de direitos. É o que reafirmou o STF no RE 601.182/MG (tema 500 da repercussão geral). Portanto, ele não poderá voltar e nem ser votado. _______________________________________________________________________ 8. A reciprocidade e a isonomia são valores fundamentais nas relações jurídicas internacionais. Nesse sentido, e considerando a Constituição de 1988 na temática da nacionalidade, é CORRETO afirmar que: (A) o processo de aquisição da nacionalidade brasileira (nacionalidade derivada) por cidadãos de países da América do Sul é menos rigoroso, bastando a comprovação de residência por 1 ano ininterrupto e idoneidade moral; (B) idoneidade moral, para estrangeiros adquirirem nacionalidade brasileira, é um conceito jurídico determinado com eficácia limitada à existência de norma regulamentadora; (C) brasileiros natos ou naturalizados não podem ter direitos equiparados, sob pena de afronta à isonomia e à soberania nacional; (D) em respeito à soberania e à identidade nacionais, determinados cargos públicos são exclusivos de brasileiros natos, na forma da Constituição brasileira; 16 (E) a naturalização derivada no Brasil é permitida aos portugueses e africanos, estando os demais estrangeiros afastados de tal possibilidade. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. A naturalização facilitada (residência por 1 ano e idoneidade moral) aplica-se apenas aos originários de países de língua portuguesa, conforme art. 12, II, “b”, da CF. Como os países da América do Sul, em sua maioria, não têm o português como idioma oficial, essa previsão não se aplica automaticamente a eles. (B) INCORRETA. O conceito de idoneidade moral não depende de regulamentação para ser aplicado. Trata-se de um conceito jurídico indeterminado, avaliado conforme a imagem pública e conduta do indivíduo, não havendo eficácia limitada. (C) INCORRETA. A Constituição veda distinções entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nas hipóteses expressamente previstas no art. 12, § 3º. Logo, a equiparação não afronta a isonomia, mas a concretiza nos demais casos. (D) CORRETA. O art. 12, § 3º da CF/88 estabelece que certos cargos públicos são privativos de brasileiros natos, como forma de proteção à soberania e identidade nacionais, como os de Presidente da República, Ministro do STF, oficial das Forças Armadas, entre outros. (E) INCORRETA. A Constituição não restringe a naturalização derivada a portugueses e africanos. Qualquer estrangeiro pode adquiri-la, desde que cumpra os requisitos legais. O tratamento especial é concedido exclusivamente aos portugueses, por força do art. 12, § 1º, CF. _______________________________________________________________________ 9. Lei estadual de origem parlamentar previu a distribuição gratuita, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), de análogos de insulina a portadores de diabetes, sem prévia fonte de custeio. Diante do exposto, é CORRETO afirmar que a referida norma é: (A) inconstitucional, pois a lei contestada infringe a proibição constitucional de criar, aumentar ou expandir benefícios ou serviços de seguridade social sem a devida fonte de custeio; (B) constitucional, por não apresentar vício de iniciativa e estar em conformidade com a competência legislativa concorrente dos estados para dispor sobre proteção e defesa da saúde; (C) inconstitucional, pois a competência é da União para controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde e para executar as ações de vigilância sanitária, epidemiológica e de saúde do trabalhador; 17 (D) constitucional, do ponto de vista formal, pois o Estado tem competência exclusiva para editar as normas gerais em matéria de saúde pública; (E) inconstitucional, pois fere as normas relativas ao processo legislativo, já que altera a organização ou a estrutura da administração estadual, conferindo-lhe novas atribuições. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Embora o direito à saúde seja fundamental, o STF entende que não há inconstitucionalidade na criação de políticas públicas por lei estadual de origem parlamentar, mesmo sem prévia fonte de custeio, desde que não se trate de benefício novo, mas de medida de execução dentro da política pública já existente (ADI 5758/S(C). (B) CORRETA. Segundo decidiu o STF na ADI 5758/SC, é constitucional a lei estadual de origem parlamentar que prevê a distribuição gratuita de análogos de insulina pelo SUS, por estar de acordo com a competência concorrente dos Estados (art. 24, XII, CF) e não apresentar vício de iniciativa. (C) INCORRETA. A norma trata de distribuição gratuita de medicamentos, e não de fiscalizaçãosobre a concessão de medidas cautelares contra atos do Poder Público e regula em quais hipóteses caberá medidas liminares/cautelares contra o Poder Público (artigos 1º, 2º e 3º), bem como quando haverá a suspensão de medida liminar/sentença/segurança concedida (artigo 4º). De acordo com a referida lei, a suspensão de liminar ou sentença terá lugar quando o Tribunal respectivo, analisando os requisitos no caso concreto, verificar que a concessão da medida pode ser prejudicial à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas. Para responder a questão em análise, importante ter em mente o que dispõe o art. 4º da referida lei: 130 Art. 4° Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da liminar nas ações movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a requerimento do Ministério Público ou da pessoa jurídica de direito público interessada, em caso de manifesto interesse público ou de flagrante ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas. Competência para apreciação Ao analisarmos o caput do artigo 4º, nota-se que a competência para apreciar a Suspensão de Liminar ou de Sentença é do Presidente do Tribunal ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso. Desse modo, temos que se a decisão liminar (ou sentença) é proferida no primeiro grau de jurisdição da Justiça Federal da Bahia, como no presente enunciado, a competência para a apreciação da SLS será da Presidência do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (que engloba a Bahia, entre outros estados). Legitimidade para requerer O caput do artigo 4º também nos revela que a suspensão de liminar deve advir a requerimento do Ministério Público ou da pessoa jurídica de direito público interessada. Neste ponto, a AGU é a instituição responsável pela defesa judicial e extrajudicial da União e de suas entidades, incluindo a Receita Federal, nos termos do art. 131 da Constituição Federal. _______________________________________________________________________ DIREITO AMBIENTAL 82. Um laboratório de biotecnologia pretende realizar pesquisas com organismos geneticamente modificados (OGMs) para o desenvolvimento de um novo produto agrícola. Durante o planejamento das atividades, surgem dúvidas sobre as competências dos órgãos envolvidos na regulamentação e fiscalização de OGMs. Conforme a Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105/2005), é CORRETO afirmar que: (A) a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança é responsável por formular e implementar políticas nacionais de biossegurança, cabendo a ela a tomada de decisões estratégicas sobre a liberação comercial de OGMs; (B) o Conselho Nacional de Biossegurança tem competência para analisar e emitir pareceres técnicos sobre a segurança de OGMs, além de autorizar pesquisas e liberações comerciais desses organismos; (C) o Ministério do Meio Ambiente é responsável por fiscalizar e monitorar os impactos ambientais decorrentes da liberação de OGMs, enquanto o Ministério da Saúde avalia os riscos à saúde humana; (D) a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança é responsável por avaliar tecnicamente a segurança de OGMs e emitir pareceres sobre pesquisas e liberações 131 comerciais, enquanto o Conselho Nacional de Biossegurança analisa questões socioeconômicas e de interesse nacional relacionadas aos OGMs; (E) o Conselho Nacional de Biossegurança tem a atribuição de fiscalizar diretamente as atividades de pesquisa com OGMs, cabendo ao Ministério da Saúde a avaliação técnica dos riscos ambientais. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS Art. 8º da Lei 11.105/2005 - Fica criado o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, vinculado à Presidência da República, órgão de assessoramento superior do Presidente da República para a formulação e implementação da Política Nacional de Biossegurança – PNB. § 1º Compete ao CNBS: (...) II – analisar, a pedido da CTNBio, quanto aos aspectos da conveniência e oportunidade socioeconômicas e do interesse nacional, os pedidos de liberação para uso comercial de OGM e seus derivados; Art. 10 da Lei 11.105/2005 - A CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), integrante do Ministério da Ciência e Tecnologia, é instância colegiada multidisciplinar de caráter consultivo e deliberativo, para prestar apoio técnico e de assessoramento ao Governo Federal na formulação, atualização e implementação da PNB de OGM e seus derivados, bem como no estabelecimento de normas técnicas de segurança e de pareceres técnicos referentes à autorização para atividades que envolvam pesquisa e uso comercial de OGM e seus derivados, com base na avaliação de seu risco zoofitossanitário, à saúde humana e ao meio ambiente. _______________________________________________________________________ 83. Um empreendedor construiu uma barragem para fins de armazenamento de resíduos industriais. Após a conclusão da obra, o empreendedor foi notificado pelos órgãos ambientais sobre a necessidade de cumprir determinadas obrigações legais para garantir a segurança da estrutura. Considerando a Lei nº 12.334/2010, que estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens, é CORRETO afirmar que o empreendedor de barragens tem a obrigação legal de: (A) realizar vistorias periódicas na barragem, com frequência mínima de seis meses, e elaborar relatórios técnicos que comprovem a estabilidade da estrutura; 132 (B) contratar um seguro que cubra possíveis danos ambientais e materiais decorrentes de acidentes com a barragem, além de apresentar anualmente um relatório financeiro detalhado ao órgão fiscalizador; (C) elaborar e manter atualizado o Plano de Segurança da Barragem, que deve incluir ações de monitoramento, inspeções e procedimentos de emergência, submetendo-o à aprovação do órgão fiscalizador; (D) disponibilizar publicamente, em site próprio, todas as informações técnicas e os relatórios de inspeção da barragem, além de realizar audiências públicas trimestrais para discutir a segurança da estrutura; (E) realizar a desativação da barragem apenas quando houver indícios de risco iminente de rompimento, apresentando um relatório técnico simplificado ao órgão fiscalizador. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS Art. 8o da Lei 12.334/2010 - O Plano de Segurança da Barragem deve compreender, no mínimo, as seguintes informações: (...) IV - manuais de procedimentos dos roteiros de inspeções de segurança e de monitoramento e relatórios de segurança da barragem; Art. 17 da Lei 12.334/2010 - O empreendedor da barragem obriga-se a: (...) VII - elaborar e atualizar o Plano de Segurança da Barragem, observadas as recomendações dos relatórios de inspeção de segurança e das revisões periódicas de segurança, e encaminhá- lo ao órgão fiscalizador; _______________________________________________________________________ 84. Uma empresa foi autuada por despejar resíduos químicos em um rio, causando danos ambientais significativos. Durante o processo administrativo, verificou-se que a empresa já havia sido penalizada por infrações ambientais anteriores. Considerando a Lei nº 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais), é CORRETO afirmar que, no caso acima, as penas devem ser aplicadas: (A) considerando a gravidade do fato, os antecedentes da empresa e a análise dos danos causados ao meio ambiente; (B) sem considerar os antecedentes da empresa, mas levando em conta a gravidade do dano ambiental causado e a capacidade econômica do infrator; 133 (C) após a realização de um estudo de impacto ambiental detalhado, que inclua a análise de alternativas para evitar futuros danos; (D) de forma atenuada, considerando a capacidade econômica da empresa e grau de culpa, sem levar em contaa gravidade do dano ou os antecedentes; (E) de forma proporcional à capacidade técnica da empresa, com base em um relatório de auditoria ambiental independente. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS Art. 6º da Lei de Crimes Ambientais - Para imposição e gradação da penalidade, a autoridade competente observará: I - a gravidade do fato, tendo em vista os motivos da infração e suas consequências para a saúde pública e para o meio ambiente; II - os antecedentes do infrator quanto ao cumprimento da legislação de interesse ambiental; III - a situação econômica do infrator, no caso de multa. _______________________________________________________________________ 85. O Município Z identificou uma área central subutilizada que não atende à função social da propriedade, conforme estabelece o Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001). Para promover a requalificação urbana dessa região, o município propôs aos proprietários locais a formação de um consórcio imobiliário. Com base no Estatuto da Cidade, é CORRETO afirmar que: (A) o consórcio imobiliário permite que o proprietário transfira seu imóvel ao poder público municipal e, após a conclusão das obras, receba unidades imobiliárias urbanizadas ou edificadas como pagamento; (B) para a formação de um consórcio imobiliário, é necessário que o proprietário comprove capacidade financeira para arcar com parte dos custos das obras de urbanização e edificação; (C) o consórcio imobiliário só pode ser estabelecido se a área em questão estiver inserida em uma operação urbana consorciada previamente aprovada pelo município; (D) a implementação de um consórcio imobiliário exige que o proprietário mantenha a posse direta do imóvel durante toda a execução das obras, transferindo a propriedade ao poder público apenas após a conclusão dos trabalhos; (E) o consórcio imobiliário somente pode ser aplicado em áreas destinadas exclusivamente à regularização fundiária de assentamentos informais consolidados há mais de cinco anos. _______________________________________________________________________ 134 GABARITO: A COMENTÁRIOS Art. 46 do Estatuto da Cidade - O poder público municipal poderá facultar ao proprietário da área atingida pela obrigação de que trata o caput do art. 5o desta Lei, ou objeto de regularização fundiária urbana para fins de regularização fundiária, o estabelecimento de consórcio imobiliário como forma de viabilização financeira do aproveitamento do imóvel. § 1o Considera-se consórcio imobiliário a forma de viabilização de planos de urbanização, de regularização fundiária ou de reforma, conservação ou construção de edificação por meio da qual o proprietário transfere ao poder público municipal seu imóvel e, após a realização das obras, recebe, como pagamento, unidades imobiliárias devidamente urbanizadas ou edificadas, ficando as demais unidades incorporadas ao patrimônio público. _______________________________________________________________________ 86. O Município Y está situado em uma região onde diversos outros municípios compartilham sistemas de abastecimento de água e tratamento de esgoto. Diante dessa realidade, os gestores municipais estão avaliando a melhor forma de organizar a prestação dos serviços públicos de saneamento básico. Considerando as disposições da Lei de Diretrizes Nacionais para o Saneamento Básico (Lei nº 11.445/2007), é CORRETO afirmar que: (A) a titularidade dos serviços públicos de saneamento básico em regiões metropolitanas é exercida exclusivamente pelos estados, independentemente da participação dos municípios envolvidos; (B) municípios inseridos em aglomerações urbanas podem formar consórcios intermunicipais para a gestão associada dos serviços de saneamento básico, desde que instituam fundação intermunicipal para a prestação dos serviços; (C) a prestação regionalizada dos serviços de saneamento básico, em microrregiões, deve ser organizada por meio de gestão associada voluntária entre os municípios envolvidos, sem a necessidade de participação do estado; (D) a gestão associada dos serviços públicos de saneamento básico em regiões metropolitanas requer a celebração de convênios entre os municípios e o estado; (E) os municípios, ao integrarem regiões metropolitanas, mantêm sua autonomia plena para gerir individualmente os serviços de saneamento básico, sem necessidade de coordenação com os demais entes federativos. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS 135 Art. 3º da Lei 11.445/2007 - Para fins do disposto nesta Lei, considera-se: (...) II - gestão associada: associação voluntária entre entes federativos, por meio de consórcio público ou convênio de cooperação, conforme disposto no art. 241 da Constituição Federal; Art. 8º, § 4º da Lei 11.445/2007 - Os Chefes dos Poderes Executivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios poderão formalizar a gestão associada para o exercício de funções relativas aos serviços públicos de saneamento básico, ficando dispensada, em caso de convênio de cooperação, a necessidade de autorização legal. _______________________________________________________________________ 87. A empresa ABC submeteu um pedido de licenciamento ambiental para a instalação de uma usina de reciclagem. Devido a pendências na documentação apresentada, o processo foi arquivado pelo órgão ambiental competente. Considerando as disposições da Resolução CONAMA nº 237/1997, é CORRETO afirmar, quanto às implicações desse arquivamento, que: (A) a empresa deve aguardar um período mínimo de 12 meses após o arquivamento para submeter um novo requerimento de licença; (B) a reapresentação do pedido de licença requer que seja realizado um novo Estudo de Impacto Ambiental (EIA), mesmo que o empreendimento permaneça inalterado; (C) a empresa pode protocolar um novo requerimento de licença a qualquer momento, desde que efetuado novo pagamento do custo de análise; (D) o novo requerimento de licença só será aceito se houver alterações significativas nas atividades inicialmente previstas no pedido anterior; (E) a empresa, após o arquivamento, está isenta do pagamento de novo custo de análise se reapresentar o requerimento dentro de 6 meses. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS Art. 17 da RES CONAMA 237/1997 - O arquivamento do processo de licenciamento não impedirá a apresentação de novo requerimento de licença, que deverá obedecer aos 136 procedimentos estabelecidos no artigo 10, mediante novo pagamento de custo de análise. _______________________________________________________________________ DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO 88. Em regra, os juízes brasileiros aplicam a lei brasileira. No entanto, em situações excepcionais, como aquelas previstas na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, é a lei do país em que a pessoa está domiciliada que regulamentará o começo e fim da sua personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família relacionados a ela. Sobre a aplicação do direito estrangeiro no Brasil, é CORRETO afirmar que a lei estrangeira: (A) será equiparada à lei federal; (B) será equiparada a decreto presidencial; (C) terá status correspondente àquele que tem no país de origem; (D) será equiparada à lei municipal ou à lei estadual, a depender da competência; (E) será equiparada à lei federal, com exceção das normas sobre Direitos Humanos, que terão status constitucional. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS (A) CORRETA. Segundo o STF (RE 93.131-MG), a lei estrangeira aplicada no Brasil tem status equivalente ao de lei federal, inclusive para fins de controle de constitucionalidade e recurso extraordinário.(B) INCORRETA. A lei estrangeira não se equipara a decreto presidencial, que é norma infralegal. A equiparação correta é com a lei federal. (C) INCORRETA. O Brasil não adota o critério do status da norma no país de origem. Ao ser aplicada internamente, a lei estrangeira é tratada como lei federal brasileira. (D) INCORRETA. A competência municipal ou estadual não interfere na aplicação da lei estrangeira, que é matéria de direito internacional privado, regulada em âmbito federal. (E) INCORRETA. A questão trata da aplicação de lei estrangeira, e não de tratados internacionais de direitos humanos, os quais podem ter status supralegal ou constitucional, conforme o caso. A lei estrangeira tem equiparação apenas à lei federal. _______________________________________________________________________ 137 89. A Emenda Constitucional nº 45, de 2004, instituiu a possibilidade de que tratados internacionais de direitos humanos sejam submetidos a processo legislativo de aprovação específico para alcançar o status de emenda constitucional. É um exemplo de tratado internacional que passou por esse processo legislativo e tem, hoje, status de emenda constitucional: (A) a Convenção sobre os Direitos da Criança; (B) o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos; (C) a Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos; (D) a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência; (E) a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. A Convenção sobre os Direitos da Criança foi aprovada sem o quórum qualificado previsto no art. 5º, § 3º, da CF. Tem status supralegal, segundo o STF (RE 466.343/CE). (B) INCORRETA. O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos foi incorporado antes da EC 45/2004, possuindo status supralegal (RE 466.343/CE). (C) INCORRETA. A Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica) foi aprovada antes da EC 45/2004, e também tem status supralegal, não constitucional. (D) CORRETA. A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi aprovada com quórum de emenda constitucional, conforme art. 5º, § 3º da CF, sendo o primeiro tratado de direitos humanos com status formalmente constitucional. (E) INCORRETA. A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher também foi aprovada sem o quórum qualificado, tendo, portanto, status supralegal. _______________________________________________________________________ 90. O conceito de jus cogens se refere às normas imperativas de direito internacional geral, definidas pela Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados de 1969 como normas aceitas e reconhecidas pela comunidade internacional dos Estados como um todo. Com relação a esse tema, é CORRETO afirmar que: 138 (A) as normas de jus cogens, uma vez reconhecidas pela Corte Internacional de Justiça, se sobrepõem às normas convencionais, invalidando-as; (B) as resoluções do Conselho de Segurança da ONU aprovadas sob a égide do capítulo VII da Carta da ONU têm status de normas de jus cogens; (C) pelo critério da especialidade, costumes podem se sobrepor às normas de jus cogens quando se caracterizarem como específicos de uma região; (D) as normas de jus cogens se sobrepõem apenas aos tratados internacionais que foram celebrados depois de 1969; (E) o surgimento de uma norma de jus cogens leva à anulação de qualquer tratado internacional que esteja em conflito com ela. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. As normas de jus cogens não dependem de reconhecimento formal pela Corte Internacional de Justiça. Basta que sejam aceitas e reconhecidas pela comunidade internacional dos Estados como um todo, conforme art. 53 da Convenção de Viena. (B) INCORRETA. Embora as resoluções do Conselho de Segurança da ONU sob o Capítulo VII da Carta das Nações Unidas sejam obrigatórias para os Estados-membros (art. 25), não possuem natureza de jus cogens, que exige aceitação universal como norma inderrogável. (C) INCORRETA. Nenhum costume, mesmo regional, pode se sobrepor a norma de jus cogens. Essas normas são inderrogáveis, salvo por outra norma de igual hierarquia (art. 53, Convenção de Viena). (D) INCORRETA. A prevalência das normas de jus cogens não depende da data do tratado. Tanto tratados anteriores quanto posteriores a 1969 podem ser invalidados se violarem norma imperativa (arts. 53 e 64 da Convenção de Viena). (E) CORRETA. De acordo com o art. 64 da Convenção de Viena, o surgimento de norma de jus cogens torna nulo e extingue qualquer tratado que com ela entre em conflito. _______________________________________________________________________ 91. O Brasil reconheceu a competência jurisdicional contenciosa da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) em 2002, e, desde então, a responsabilidade internacional do Estado brasileiro por violações a direitos protegidos pelo Pacto de São José da Costa Rica foi reconhecida em diversos casos. De acordo com o Painel de Monitoramento das Decisões da Corte IDH, entre as 130 medidas de reparação determinadas para casos em que o Brasil foi condenado, 95 restavam pendentes de cumprimento (dados de fevereiro/2025). 139 Sobre a execução de sentenças da Corte IDH em que o Brasil é parte, é CORRETO afirmar que: (A) o Superior Tribunal de Justiça é considerado competente para homologá-las; (B) o governo brasileiro tem o dever de cumpri-las espontaneamente; (C) o governo brasileiro tem obrigação de manter o Painel de Monitoramento atualizado mensalmente; (D) a União tem obrigação de cumprir as determinações relativas à indenização de vítimas, e os entes subnacionais são responsáveis pelo cumprimento das demais medidas de reparação; (E) a Corte informará ao Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos os casos em que há pendência no cumprimento de suas determinações. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. As sentenças da Corte IDH não precisam de homologação pelo STJ, pois decorrem de obrigação internacional assumida pelo Brasil ao reconhecer a competência contenciosa da Corte (Decreto nº 4.463/2002). A execução é direta e vinculante no plano internacional. (B) CORRETA. De acordo com o art. 68.1 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, o Estado-parte se compromete a cumprir a decisão da Corte IDH no caso em que for parte. Logo, o cumprimento deve ser espontâneo e imediato, independentemente de homologação ou provocação interna. (C) INCORRETA. Embora o Painel de Monitoramento (da Secretaria Nacional de Justiça/MJSP) seja relevante para transparência e controle interno, não há norma jurídica internacional ou nacional que imponha sua atualização mensal como obrigação formal do governo brasileiro. (D) INCORRETA. No plano internacional, o Brasil responde como Estado nacional uno. Eventual execução interna contra a União ou entes subnacionais não altera a responsabilidade única e indivisível perante a Corte IDH, que recai sobre a República Federativa do Brasil. (E) INCORRETA. A Corte IDH reporta os casos pendentes de cumprimento à Assembleia Geral da OEA, conforme seu Estatuto e Regulamento, não ao Secretário-Geral. Este não exerce função de controle ou supervisão sobre o cumprimento das sentenças. _______________________________________________________________________ 140 92. Paulo José, brasileiro domiciliado em Lisboa, Portugal, veio a falecer durante a pandemia da covid-19 e deixou como herdeiros apenas três filhos, todos brasileiros, domiciliados também no Brasil. Considerando que ele tinha bens tanto no Brasil quanto em Lisboa, é CORRETO afirmarque: (A) compete à justiça portuguesa decidir sobre a sucessão dos bens de Paulo José no Brasil e em Portugal; (B) a lei de Portugal terá prevalência sobre a brasileira em razão do domicílio do falecido; (C) a lei brasileira não tem aplicação em relação à sucessão dos bens de Paulo José em Portugal; (D) poderá tanto a justiça brasileira quanto a justiça portuguesa decidir sobre os bens de Paulo José, a depender da preferência dos seus três filhos; (E) é competente a justiça brasileira para decidir sobre os bens de Paulo José que se encontram nos dois países, já que no Brasil prevalece o princípio da universalidade sucessória e a lógica da unidade da sucessão. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. A sucessão por morte obedece, em regra, à lei do domicílio do falecido (art. 10, caput, LIND(B). Porém, quanto aos bens situados no Brasil, o art. 23, II do CPC garante competência exclusiva da justiça brasileira, mesmo que o de cujus resida no exterior. (B) INCORRETA. A lei do domicílio do falecido rege a sucessão (art. 10, LIND(B), mas não prevalece sobre a jurisdição nacional quanto aos bens localizados no Brasil, que seguem a competência da justiça brasileira (art. 23, II, CP(C). (C) CORRETA. Segundo o STJ (REsp 2.080.842-SP), a lei brasileira não se aplica à sucessão de bens situados no exterior, inclusive para fins de compensação da legítima. Há reconhecimento de jurisdição limitada ao território nacional, com rejeição da universalidade sucessória absoluta. (D) INCORRETA. A jurisdição não é definida pela vontade dos herdeiros, mas sim por regras legais. A competência é da justiça brasileira para bens no Brasil, e da justiça estrangeira para os bens no exterior. (E) INCORRETA. A doutrina atual adota o modelo misto, no qual a unidade vale apenas para os bens situados no território nacional, havendo pluralidade de juízos sucessórios no contexto internacional. _______________________________________________________________________ 141 93. Os procedimentos especiais do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (CDH) funcionam por meio de especialistas que têm mandatos para defender e promover os Direitos Humanos, seja com relação a um tema específico, seja com relação a um país onde há graves riscos de violações. São dezenas de Relatores Especiais, Especialistas Independentes e Grupos de Trabalho que monitoram a ampla gama de Direitos Humanos internacionalmente reconhecidos e situações específicas que apresentam graves riscos de violação desses direitos. Em relação à atuação desses especialistas, é CORRETO afirmar que: (A) podem atuar apenas em casos individuais, quando houver o esgotamento de recursos domésticos; (B) dependem da aprovação do país em que houve uma violação de Direitos Humanos para se manifestar; (C) realizam visitas in loco para avaliar a situação de Direitos Humanos no nível nacional e emitem recomendações; (D) podem determinar, em casos de graves violação de Direitos Humanos, a suspensão de um país integrante do CDH; (E) se reúnem anualmente em Genebra e definem a agenda de discussões do CDH. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. Os Procedimentos Especiais da ONU não atuam apenas em casos individuais. Sua função é proativa e preventiva, incluindo monitoramento temático e geográfico, emissão de alertas e recomendações sobre tendências ou riscos de violação. (B) INCORRETA. Os especialistas podem emitir relatórios e se manifestar publicamente sobre situações de violação de direitos humanos independentemente da anuência do Estado. No entanto, visitas in loco dependem de autorização prévia do país. (C) CORRETA. Os Relatores Especiais e Grupos de Trabalho podem realizar visitas in loco, mediante anuência do Estado, com o objetivo de avaliar a situação nacional de direitos humanos. Ao final, elaboram relatórios com recomendações, que não têm força coercitiva, mas exercem pressão internacional relevante. (D) INCORRETA. Os Procedimentos Especiais não têm competência para suspender Estados do CDH. Tal medida é de natureza política, cabendo à Assembleia Geral da ONU, conforme previsto na Resolução 60/251 da ONU. (E) INCORRETA. A agenda do CDH é elaborada pelos Estados-membros do Conselho, e não pelos especialistas. Os Relatores apenas alimentam tecnicamente o debate, mas não têm poder deliberativo ou de definição da pauta. 142 _______________________________________________________________________ NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E FORMAÇÃO HUMANÍSTICA 94. Uma organização da sociedade civil, que tem entre seus objetivos o de defender as vítimas de persecução ilícita praticada por quaisquer estruturas estatais de poder, decidiu ingressar em juízo com ação coletiva, em defesa dos seus associados, visando ao reconhecimento da ilicitude do uso de dados pessoais, em processos de responsabilização individual, nas distintas instâncias existentes, à margem dos balizamentos estabelecidos pela Lei Geral de Proteção dos Dados Pessoais (LGPD). O magistrado competente, ao analisar o processo, concluiu corretamente, à luz da LGPD, que: (A) podem ser utilizados dados pessoais na investigação penal, à margem dos balizamentos estabelecidos por esse diploma normativo; (B) é inviável a atuação coletiva da referida organização da sociedade civil, pois os dados pessoais têm natureza personalíssima; (C) não deve ser admitido o uso de dados pessoais, dos próprios indivíduos implicados, em processos de responsabilização individual, qualquer que seja a instância; (D) pode ser admitido o uso de dados pessoais, em todas as instâncias de responsabilização, desde que seja precedido de autorização judicial, observados os balizamentos da LGPD; (E) o uso de dados pessoais importa no seu tratamento, que pode ser realizado por todos os órgãos estatais competentes para promover a responsabilização individual, nos termos da LGPD, desde que a obtenção desses dados decorra de autorização judicial. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS QUESTÃO PASSÍVEL DE RECURSO. A questão trata da aplicação da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei nº 13.709/2018) no âmbito de processos de responsabilização individual promovidos por órgãos estatais, questionando-se a licitude do uso de dados pessoais obtidos sem observância dos parâmetros legais. O tema central é o tratamento de dados pessoais por entes públicos, especialmente em contextos investigativos e sancionatórios, e os limites legais para tanto. Exige-se do candidato o conhecimento técnico dos arts. 4º, 7º, 11, 23 e 26 da LGPD, que regulam as hipóteses de exclusão da lei, o tratamento por órgãos públicos e o dever de observância de garantias ao titular. Temos que essa questão é passível de recurso, à luz da legislação exigida. A Banca FGV indica a Letra A como gabarito, contudo não encontra amparo na legislação. Vejamos por alternativas. 143 (A) INCORRETA (PELO MEGE) – CORRETA (PELA BANCA). A alternativa afirma que seria possível utilizar dados pessoais na investigação penal à margem dos balizamentos da LGPD. Contudo, embora o art. 4º, III da LGPD exclua do seu âmbito de aplicação o tratamento de dados para fins exclusivos de segurança pública, defesa nacional, segurança do Estado e atividades de investigação penal, isso não significa ausência de regulação. O §1º do mesmo artigo determina que tais hipóteses devem ser regidas por legislação específica, a qual deve assegurar os direitos do titular dos dados. Logo, a utilização de dados não pode ocorrer totalmente à margem de qualquer balizamento, mas sim sob regras próprias. Afirmar, nesse contexto, que poderia ser usada “à margem da LGPD” abre espaço para eventuais ilegalidades ou arbitrariedades por parte do juiz ou da juíza.Art. 4º (...) §1º As atividades de que trata o inciso III do caput deverão observar o devido processo legal, os princípios gerais de proteção de dados pessoais e as demais garantias previstas na Constituição. (B) INCORRETA. A alternativa considera inviável a atuação coletiva de organização da sociedade civil em razão da suposta natureza personalíssima dos dados. No entanto, trata-se de erro de conceito: a titularidade dos dados não impede a defesa coletiva quando há interesses homogêneos, individuais e divisíveis, nos termos do art. 5º, inciso V da Lei nº 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública) e do art. 82 do Código de Defesa do Consumidor, aplicável por analogia. Organizações podem atuar em defesa de direitos dos titulares de dados. Art. 18 da LGPD: O titular dos dados pessoais tem direito a obter do controlador (...) acesso facilitado às informações sobre o tratamento de seus dados. E conforme o art. 52 da LGPD, há inclusive previsão de sanções coletivas a controladores que violarem tais direitos, o que demonstra sua dimensão coletiva. (C) INCORRETA. A alternativa afirma ser vedado qualquer uso de dados pessoais pelos próprios órgãos públicos, o que não condiz com a LGPD. O uso de dados pessoais pode ocorrer para o cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo controlador, bem como para execução de políticas públicas, conforme art. 7º, incisos II e III, da LGPD. Portanto, desde que observados os princípios da lei e as bases legais, o uso dos dados pelos órgãos responsáveis pela responsabilização é legítimo. Segundo o art. da LGPD, o tratamento de dados pessoais somente poderá ser realizado nas seguintes hipóteses: (...) II – para o cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo controlador; III – pela administração pública, para o tratamento e uso compartilhado de dados necessários à execução de políticas públicas previstas em leis e regulamentos. (D) INCORRETA. A alternativa traz a exigência de autorização judicial para o uso de dados pessoais em todas as instâncias de responsabilização, mesmo quando amparado pela LGPD. Essa exigência não é exigida pela lei como regra geral. A autorização judicial é exigida apenas em determinadas hipóteses sensíveis ou restritas, como acesso a dados sigilosos em determinadas investigações, mas não como condição geral para o tratamento de dados pelos órgãos públicos. O tratamento pode ocorrer com base legal suficiente, nos termos do art. 23 da LGPD. (E) CORRETA (PELO MEGE) – INCORRETA (PELA BANCA). Temos que este seria o gabarito da FGV nessa questão, contudo não defendemos a alteração alternativa, mas sim a ANULAÇÃO de toda a questão. Essa alternativa reconhece que o uso de dados pessoais 144 importa em seu tratamento, e que esse tratamento pode ser realizado por órgãos estatais competentes, desde que fundado em autorização judicial, o que é compatível com a sistemática da LGPD para dados sensíveis ou em contextos específicos. Ainda que nem todo tratamento de dados pelo Poder Público exija ordem judicial (como vimos), a alternativa não afirma que sempre exige, apenas que a hipótese em questão — responsabilização individual — deve observar esse cuidado adicional, o que pode ser aceito como interpretação conforme os princípios da proporcionalidade e da legalidade. Vamos aos dispositivos que podem ser usados em seu recurso: • Art. 11. O tratamento de dados pessoais sensíveis somente poderá ocorrer nas hipóteses específicas previstas nesta Lei. • Art. 26. Os órgãos do poder público poderão tratar dados pessoais sensíveis nos casos e nas hipóteses previstos no art. 11 desta Lei, desde que respeitados os princípios gerais de proteção de dados pessoais e o interesse público. • Art. 23, §4º. É dispensada a exigência do consentimento previsto no art. 7º desta Lei para o tratamento de dados pessoais pelas pessoas jurídicas de direito público (...), desde que sejam informadas as hipóteses em que, no exercício de suas competências legais, realizam o tratamento. _______________________________________________________________________ 95. A sociedade empresária Alfa, cujo objeto social é a produção e comercialização de peças de vestuário, está há décadas estabelecida no território nacional, tendo influenciado fortemente as tendências da moda em alguns períodos. Com o objetivo de ampliar as chances de êxito de sua próxima coleção de verão, contratou uma agência publicitária para estruturar a propaganda comercial a ser utilizada. Na ocasião, o diretor presidente de Alfa, especialista em economia comportamental, perguntou aos profissionais da agência sobre a relevância das características de Alfa e de sua influência pretérita na moda, na perspectiva das heurísticas, para a estruturação da propaganda comercial. Foi corretamente esclarecido ao diretor presidente que: (A) como as heurísticas instrumentalizam o pragmatismo, que é essencialmente antifundacionalista, a imagem pretérita de Alfa não terá qualquer relevância nessa perspectiva de análise; (B) as heurísticas, por serem direcionadas à obtenção de novas informações a partir de cenários de incerteza, partem da pré-compreensão do público alvo, que levará em consideração a imagem pretérita de Alfa; (C) como as heurísticas direcionam um processo cognitivo de viés estrutural, em que cada fator é detalhadamente analisado, postergando o processo de decisão, a imagem pretérita de Alfa terá grande relevância; (D) a heurística de representatividade tende a direcionar o processo cognitivo de tomada de decisão do público-alvo, que conheça a qualidade pretérita de Alfa, em relação à previsão da qualidade da nova coleção; (E) a heurística de disponibilidade tende a fazer que o indivíduo direcione o seu processo decisório por probabilidades e informações ao seu alcance, de modo que as impressões pretéritas sobre Alfa serão facilmente afastadas. 145 _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS A presente questão trata de economia comportamental, com foco no conceito de heurísticas, que são atalhos cognitivos utilizados pelos indivíduos para tomar decisões sob condições de incerteza. Mais especificamente, a questão exige o conhecimento das principais heurísticas descritas por Daniel Kahneman e Amos Tversky, como representatividade, disponibilidade e ancoragem, aplicadas ao campo da publicidade e comportamento do consumidor. (A) INCORRETA. A alternativa afirma que as heurísticas "instrumentalizam o pragmatismo, que é essencialmente antifundacionalista", razão pela qual a imagem pretérita de Alfa não teria relevância. Trata-se de uma redação conceitualmente confusa e filosoficamente imprecisa. As heurísticas não são “instrumentos do pragmatismo” enquanto corrente filosófica, nem o antifundacionalismo tem implicação direta sobre a cognição publicitária. Pelo contrário: as heurísticas se apoiam justamente em experiências passadas, padrões e associações – como a imagem histórica de uma marca. Assim, a afirmação é conceitualmente incorreta. (B) INCORRETA. Embora pareça correta à primeira vista, pois menciona que heurísticas partem da pré-compreensão do público-alvo (o que é verdadeiro em certo sentido), a justificativa foge do conteúdo técnico exato das heurísticas. As heurísticas não têm como função a obtenção de novas informações a partir da incerteza, mas sim a simplificação de decisões com base em informações disponíveis, associações mentais ou experiências anteriores. A imagem pretérita da empresa pode, sim, influenciar o público, mas não com base na “busca de novas informações”, como sugere a alternativa. Assim, a construção da justificativa está imprecisa, ainda que o enunciado inicial pareça plausível. (C) INCORRETA. Afirmar que heurísticas conduzem a um "processo cognitivo de viés estrutural", com análise detalhada e postergação da decisão, é o oposto do conceito de heurística. As heurísticas, na economia comportamental, são atalhoscognitivos justamente porque permitem decisões rápidas e simplificadas, ainda que com risco de vieses. Portanto, a alternativa incorre ao definir heurística como um processo detalhado e lento, e seu raciocínio é equivocado. (D) CORRETA. Essa alternativa descreve com precisão a heurística da representatividade, segundo a qual o indivíduo tende a avaliar a probabilidade de um evento com base em sua semelhança a um estereótipo ou imagem já conhecida. Assim, se a marca Alfa foi conhecida por sua qualidade no passado, o consumidor tenderá a projetar essa imagem pretérita para avaliar a nova coleção, mesmo sem dados objetivos. É um atalho cognitivo baseado na associação entre passado e presente. Trata-se de conceito clássico da economia comportamental, conforme Daniel Kahneman em Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar (2012): A heurística da representatividade é usada quando se faz julgamentos de probabilidade com base em similaridade. Isso pode levar a erros sistemáticos, especialmente quando se ignora informações estatísticas de base. Portanto, a alternativa (D) está correta e bem fundamentada. 146 (E) INCORRETA. A heurística da disponibilidade diz respeito à facilidade com que algo vem à mente. Isso pode fazer com que eventos mais vívidos ou recentes pareçam mais prováveis ou relevantes. No entanto, dizer que ela afastaria as impressões pretéritas sobre Alfa é incorreto. Pelo contrário, se a imagem antiga da Alfa ainda estiver “disponível” na memória do consumidor (por exemplo, por ter sido marcante ou frequentemente mencionada), ela influenciará a decisão. Assim, a alternativa falha ao afirmar que as impressões pretéritas serão "facilmente afastadas". Está conceitualmente incorreta. _______________________________________________________________________ 96. Em relação às partes, a partir da interpretação do mesmo preceito normativo, alcançavam normas distintas, o que influenciava diretamente na compreensão do objeto da lide. Uma das partes argumentava que o teor da norma que individualizara estava em perfeita harmonia com a lógica do razoável. Afinal: I. referenciais semióticos não são refratários a referenciais axiológicos, pois os últimos concorrem para a atribuição de significado aos primeiros; II. a interpretação jurídica é indissociável da individualização da inferência correta, materializada no conteúdo da norma; e III. a validade da norma jurídica deve ser reconhecida em uma perspectiva extrínseca. Ao analisar a compatibilidade dessas três assertivas com a lógica do razoável, o magistrado concluiu corretamente que: (A) todas são compatíveis; (B) apenas a assertiva I é compatível; (C) apenas a assertiva II é compatível; (D) apenas as assertivas I e III são compatíveis; (E) apenas as assertivas II e III são compatíveis. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS QUESTÃO PASSÍVEL DE RECURSO. Vamos fundamentar esta por afirmações. A FGV considera itens I e III como compatíveis, enquanto o Curso Mege considera todos compatíveis. Vejamos o porquê, atuando diretamente na afirmação II que a FGV desconsidera. O que essa assertiva chama de “inferência correta” deve ser compreendido como a resposta mais razoável dentro do campo das possibilidades jurídicas, considerando a normatividade constitucional, os princípios do ordenamento e os fatos do caso. Robert 147 Alexy, em Teoria da Argumentação Jurídica, defende que a racionalidade jurídica é guiada por critérios de correção prática, em que a “melhor resposta” decorre da justificação adequada à luz dos princípios e do caso concreto. Ipisis litteris: O processo de aplicação do Direito deve ser racional e justificado discursivamente. A inferência jurídica é prática, e não meramente dedutiva. Portanto, a inferência correta na hermenêutica contemporânea não é meramente lógica-formal, mas uma construção normativa que exige ponderação, coerência e argumentação com base em valores jurídicos — o que é exatamente o pressuposto da lógica do razoável. Em uma leitura voltada ao pós-positivismo jurídico, a aplicação do direito também envolve justificação racional de normas e princípios, não se restringindo a uma subsunção lógica. Dessa forma, desconsiderar o item II como incorreto não encontra amparo também. Pela ótima neoconstitucional, a chamada “inferência correta que a FGV cita” corresponde à decisão mais razoável diante das alternativas interpretativas, conforme os parâmetros constitucionais e os direitos fundamentais. Também Ronald Dworkin, em O Império do Direito, concebe a decisão jurídica como uma resposta correta (right answer), que resulta de uma construção interpretativa coerente com a integridade do sistema jurídico, o que significa que não é possível “dissociar a inferência correta da interpretação jurídica”, que é o que a FGV tentou nos fazer crer. I. CORRETO. A assertiva reconhece que a interpretação jurídica não é puramente semântica ou gramatical, mas depende de valores (axiologia) para que o enunciado normativo ganhe densidade de sentido. Isso está em plena sintonia com a hermenêutica jurídica contemporânea e com autores como Robert Alexy, que enfatizam a coexistência entre linguagem e valores. III. CORRETO. A validade jurídica, no modelo tradicional positivista (Kelsen), é interna ao sistema normativo. No entanto, sob a ótica da lógica do razoável e da jurisdição constitucional contemporânea, a validade da norma também exige coerência com valores constitucionais e princípios fundamentais — isto é, uma validade extrínseca, fundada na moral jurídica e na ordem constitucional vigente. É essa perspectiva que permite, por exemplo, o controle de constitucionalidade e a interpretação conforme a Constituição. O próprio STF já reconheceu a superação de uma concepção puramente formal de validade normativa (ADI 3510/DF). _______________________________________________________________________ 97. O Poder Executivo federal, por meio do órgão competente, publicou edital de licitação para a contratação de obra de grande vulto, considerando o valor inicial do contrato. A sociedade empresária Alfa, que almejava concorrer no certame, constatou que uma das cláusulas do edital fazia referência a programa de integridade. Ao analisar a referida cláusula de maneira conjunta com as normas de regência, legais e infralegais, o diretor presidente de Alfa concluiu corretamente que o referido programa deve ser: (A) avaliado por ocasião da fase de habilitação; (B) implantado a posteriori, caso Alfa vença a licitação; (C) certificado, pelo órgão competente, em momento anterior à publicação do edital; 148 (D) considerado como critério de desempate, caso Alfa apresente declaração de que o possui; (E) comprovado por ocasião da adjudicação do objeto da licitação, caso Alfa seja vencedora. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS A questão versa sobre o programa de integridade (compliance) no âmbito das licitações públicas promovidas pelo Poder Executivo federal, especialmente em relação às obras e serviços de grande vulto, nos termos da Lei nº 14.133/2021 (Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos) e dos decretos regulamentadores. Conforme o art. 25, §4º da Lei nº 14.133/2021, e o Decreto nº 11.129/2022, o programa de integridade pode ser exigido como obrigação da empresa vencedora, com prazo para implantação posterior à celebração do contrato, especialmente nos casos de contratações de grande vulto pela administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Vamos à fundamentação jurídica: Lei nº 14.133/2021 Art. 25. A administração poderá exigir, nos termos do edital, a implantação de programa de integridade pelo licitante vencedor, como condição para a assinatura do contrato ou sua execução, nos casos de contratações de grande vulto. § 4º Para os fins do dispostoneste artigo, consideram-se de grande vulto as contratações cujo valor estimado seja superior a R$ 200.000.000,00 (duzentos milhões de reais). Decreto nº 11.129/2022 – Regulamenta a Lei Anticorrupção e o Programa de Integridade Art. 42. O Programa de Integridade poderá ser exigido do licitante vencedor em contratações de grande vulto pela administração pública federal direta, autárquica e fundacional, devendo ser avaliado quanto à sua efetividade até o momento da assinatura do contrato. § 2º O Programa de Integridade poderá ser exigido também após a celebração do contrato, a critério do órgão ou entidade contratante, nos termos do edital. (A) INCORRETA. Avaliação do programa de integridade na fase de habilitação não é prevista na legislação. A habilitação jurídica, fiscal, trabalhista e técnica não exige, de forma geral, o compliance como requisito, exceto se o edital assim dispuser como obrigação para execução contratual posterior. (C) INCORRETA. Certificação prévia ao edital não é exigida nem mencionada na legislação. Não há previsão legal de que o programa de integridade deva estar certificado (nem por entidade oficial, já que a legislação brasileira não exige certificação específica). 149 (D) INCORRETA. Programa de integridade como critério de desempate não está entre os critérios estabelecidos no art. 60 da Lei nº 14.133/2021. Os critérios de desempate envolvem, por exemplo, desenvolvimento nacional sustentável, empresas de menor porte, entre outros – compliance não figura nesse rol. (E) INCORRETA. Comprovação na adjudicação não é o momento adequado segundo a legislação. O programa de integridade deve ser exigido antes da assinatura do contrato ou durante sua execução, conforme previsão editalícia. A adjudicação é apenas o ato de atribuição do objeto ao vencedor, sem gerar obrigações contratuais ainda. _______________________________________________________________________ 98. Ana, Maria e Joana participaram de audiência pública na qual foram debatidos os balizamentos a serem observados pela União na demarcação de uma reserva indígena. Ana sustentava o caráter constitutivo da demarcação nas hipóteses em que a terra era ocupada por particulares, com título de propriedade devidamente registrado, propriedade esta que seria transferida para a União, pois a reserva constitui bem público. Maria defendia que a existência de terras tradicionalmente ocupadas por comunidades indígenas, o que direcionaria a demarcação da reserva, caracterizava uma posse idêntica à civil. Por fim, Joana observou que a tradicionalidade da ocupação indígena se estende, inclusive, às áreas utilizadas para atividades produtivas, de viés essencialmente econômico. Na perspectiva da conformidade constitucional das afirmações de Ana, Maria e Joana, é CORRETO concluir que: (A) somente Ana está certa; (B) somente Maria está certa; (C) somente Joana está certa; (D) somente Ana e Maria estão certas; (E) somente Maria e Joana estão certas. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS QUESTÃO PASSÍVEL DE RECURSO. Ana A afirmação de Ana, ao sustentar que a demarcação de terras indígenas teria caráter constitutivo, revela-se incompatível com a ordem constitucional vigente e frontalmente contrária à jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal. Desde o emblemático julgamento da PET 3.388/RR (Raposa Serra do Sol), o STF firmou entendimento no sentido de que a demarcação é ato administrativo meramente declaratório, cujo objetivo é reconhecer formalmente uma situação de fato e de direito 150 preexistente: a ocupação tradicional das comunidades indígenas sobre determinadas terras. No mesmo sentido, o julgamento do RE 1.017.365/SC, com repercussão geral (Tema 1.031), reiterou que os direitos territoriais indígenas são originários, isto é, anteriores à formação do Estado e independentes de qualquer título dominial outorgado por autoridade pública. Ademais, o art. 231 da Constituição de 1988 não condiciona a titularidade da terra indígena a qualquer forma de constituição registral ou declaratória por parte da União. Ao contrário, o texto constitucional reconhece, de maneira expressa, os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, sendo a demarcação mera formalização administrativa de um direito já existente, oponível inclusive contra terceiros que eventualmente detenham registros de propriedade obtidos de forma conflitante com a ocupação indígena. A fala de Ana, portanto, incorre em erro grave ao inverter a natureza jurídica da demarcação, razão pela qual não poderia ser considerada como correta, sob pena de frontal violação ao art. 231 da CF/88 e ao entendimento do STF sobre a matéria. Maria e Joana A afirmação de Maria, segundo a qual a existência de terras tradicionalmente ocupadas por comunidades indígenas caracteriza uma posse idêntica à civil, encontra amparo direto na jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal. No julgamento do RE 1.017.365/SC, com repercussão geral reconhecida (Tema 1.031), o Plenário da Corte reafirmou o caráter originário, permanente e constitucionalmente protegido da posse indígena, reconhecendo-a como forma legítima de ocupação, dotada de efeitos jurídicos próprios, ainda que distinta das categorias previstas no Código Civil. A decisão foi clara ao destacar que a ocupação tradicional independe de registro formal e deve ser protegida contra terceiros, inclusive o Estado, a partir do vínculo histórico e cultural das comunidades com o território. Ao afirmar que essa posse se assemelha à civil, Maria não incorre em erro jurídico, mas expressa com propriedade a efetividade da proteção possessória conferida aos povos originários. O STF reconheceu que a tradicionalidade não exige a ocupação contínua ou permanente em moldes privados, mas sim a vinculação cultural e espiritual ao território, compreendendo a posse como instrumento de preservação da identidade indígena. _______________________________________________________________________ DIREITOS HUMANOS 99. No curso dos anos, a Corte Interamericana de Direitos Humanos tem se deparado com casos de superlotação carcerária em presídios de diversos países – Estados-Partes signatários da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica). Não poucas vezes, aponta que a presença de presos gira em torno de 200% da capacidade da unidade e assinala, inclusive, que isso se dá com verificação e autorização das autoridades judiciárias locais. Isso claramente se alia a diversos outros riscos e problemas, como, por exemplo, a falta de um plano de extinção de incêndio e a constatação de que presos podem ver o sol uma vez por mês, a comida está estragada e inexistem colchões em número suficiente. À luz do sistema regional interamericano de proteção dos direitos humanos, é CORRETO afirmar que: 151 (A) a Corte Interamericana de Direitos Humanos não possui mecanismo para tentar solucionar casos urgentes, antes da prolação da sentença final, ante a ausência de previsão normativa; (B) a Corte Interamericana de Direitos Humanos pode adotar medidas provisórias, desde que o caso seja urgente e haja necessidade de serem evitados danos irreparáveis a uma coletividade de pessoas; (C) nos assuntos não submetidos ao conhecimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, não é possível a adoção de qualquer medida provisória, seja de ofício, seja por provocação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos; (D) no curso de um processo, a Corte Interamericana de Direitos Humanos não pode tentar solucionar casos urgentes, porque se entende haver uma reserva de jurisdição do Estado-Parte, que não pode ser provocado, com fundamento na soberania; (E) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, nos casos contenciosos de que tiver conhecimento, poderá receber diretamente pedido de medida provisória, quetenha relação com o objeto do caso, veiculado pelas (supostas) vítimas ou seus representantes. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS QUESTÃO PASSÍVEL DE RECURSO. Aqui temos outra questão de interpretação truncada, pois para fins da Convenção Interamericana de Direitos Humanos a Letra B está correta. Então, pensamos que deve ocorrer a ANULAÇÃO dela. O enunciado trata da atuação da Corte Interamericana de Direitos Humanos diante de situações de violação grave e urgente de direitos humanos, com foco na adoção de medidas provisórias, especialmente em contextos de superlotação carcerária, maus-tratos e risco à vida e integridade das pessoas privadas de liberdade. O fundamento jurídico da questão está principalmente na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH) e no Regulamento da própria Corte Interamericana. (B) CORRETA. Fundamentação jurídica: Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica, art. 632) - Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se torne necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, relativamente a um caso de que esteja conhecendo, poderá tomar as medidas provisórias que considere pertinentes. Com relação a um caso ainda não submetido à sua consideração, poderá atuar a pedido da Comissão. Ademais, você deve fundamentar seu recurso com base no Regulamento da Corte Interamericana, conforme art. 271: Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se torne necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte poderá, de ofício ou a pedido de uma parte ou da Comissão, adotar medidas provisórias em casos que ainda não tenham sido submetidos à sua consideração. A jurisprudência da Corte tem reiterado que as medidas provisórias não dependem da sentença final do processo contencioso. Elas são instrumentos 152 autônomos e preventivos, com força obrigatória, podendo ser adotadas em casos graves, urgentes e com risco de dano irreparável — inclusive antes da submissão formal de um caso à Corte, mediante provocação da Comissão. (A) INCORRETA. A afirmação de que não há previsão normativa para medidas urgentes é falsa. O art. 63(2) da CADH é claro quanto à possibilidade de a Corte adotar medidas provisórias, inclusive antes da sentença, desde que preenchidos os requisitos de gravidade, urgência e risco de dano irreparável. (C) INCORRETA. A Corte pode sim adotar medidas provisórias em casos que ainda não lhe foram formalmente submetidos, mediante pedido da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Isso está expressamente previsto no final do art. 63(2) da Convenção. Afirmar que “não é possível” equivale a negar a função preventiva da Corte, em desacordo com a prática jurisprudencial reiterada. (D) INCORRETA. A ideia de que há reserva absoluta de jurisdição dos Estados é incompatível com o sistema interamericano. Ao ratificar a Convenção e reconhecer a competência contenciosa da Corte, o Estado-Parte autoriza a supervisão supranacional. A soberania não é ilimitada: está condicionada aos compromissos internacionais assumidos. Assim, a Corte pode, sim, intervir, inclusive no curso do processo, para preservar direitos fundamentais. (E) CORRETA. Observe-se que, “relativamente a um caso de que esteja conhecendo”, a Corte já está investida da jurisdição contenciosa. Nessas hipóteses, a Convenção não limita o sujeito legitimado a peticionar tais medidas exclusivamente à Comissão. Segundo trecho expresso da Convenção Americana sobre Direitos Humanos – art. 632: Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se torne necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, relativamente a um caso de que esteja conhecendo, poderá tomar as medidas provisórias que considere pertinentes. Valério de Oliveira Mazzuoli, em “Curso de Direito Internacional dos Direitos Humanos” (9ª ed., 2024), afirma que as medidas provisórias podem ser solicitadas tanto pela Comissão Interamericana quanto por qualquer das partes do processo, inclusive pelos representantes das supostas vítimas, uma vez que, no sistema interamericano, esses representantes têm atuação autônoma perante a Corte. Nos casos em que a Corte já estiver conhecendo a causa, é perfeitamente admissível o pedido formulado diretamente pela parte, não havendo exigência de provocação prévia pela Comissão. Flávia Piovesan, no mesmo sentido, afirma em sua obra mais recente que a Corte pode adotar medidas provisórias em processos em trâmite, na linha da própria Convenção Interamericana, a pedido das partes — entre elas, os representantes das vítimas —, ou de ofício, não havendo hierarquia entre os sujeitos processuais após a admissão da causa. _______________________________________________________________________ 100. No trâmite de um processo penal condenatório, o magistrado verificou que o réu já havia sido processado e julgado pelo mesmo fato em outro país. Nesse, observado o devido processo e as demais normas relacionadas à legitimidade do processo, ele foi condenado em processo já transitado em julgado, por transportar 17 quilogramas de 153 cocaína. A defesa, então, dentre outros fundamentos, afirmou a proibição de dupla persecução penal, com base na Convenção Americana sobre Direitos Humanos e no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos. Conclusos os autos ao magistrado, é CORRETO afirmar que: (A) o Brasil, ao aderir a uma convenção ou um tratado internacional, não incorpora a norma à sua ordem jurídica e, por isso, o controle de convencionalidade não pode se utilizar de tais atos como fundamento de validade de normas inferiores; (B) a Corte Interamericana de Direitos Humanos decidiu que o princípio de non bis in idem está inserido na Convenção, garantindo uma proteção mais ampla, por proibir a dupla persecução pelos mesmos fatos e não apenas pelos mesmos crimes; (C) o controle de convencionalidade, tal como o controle de constitucionalidade, é feito com olhos no fundamento de validade da norma da hierarquia interior, e, como as normas sobre direitos humanos são tidas como de status constitucional, apenas o Supremo Tribunal Federal pode levar a efeito; (D) o Brasil ao promulgar o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, que proíbe a dupla persecução penal, tanto em casos de absolvição, como de condenação, com decisão transitada em julgado, promoveu uma declaração interpretativa, para admitir a aludida persecução em hipóteses de tráfico internacional de drogas; (E) a Convenção Americana sobre Direitos Humanos proíbe a dupla persecução penal, sobretudo para os casos de absolvição, com trânsito em julgado; porém o Brasil, ao internalizar o ato internacional, fez expressa reserva ao dispositivo mencionado, o que torna possível, à luz da Convenção, o prosseguimento da persecução penal. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS A questão proposta trata da aplicação do princípio do non bis in idem (proibição da dupla persecução penal pelo mesmo fato) no âmbito do Direito Internacional dos Direitos Humanos, em especial no que se refere à Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH) e ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP), ambos ratificados e promulgados pelo Brasil. Também se insere no contexto do controle de convencionalidade, tema desenvolvido pela jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH). (A) INCORRETA. O Brasil, ao ratificar um tratado internacional, o incorpora à ordem jurídica interna mediante decreto legislativo e decreto executivo. No caso dos tratados de direitos humanos, o STF reconhece sua supralegalidade, e alguns, quando aprovados na forma do art. 5º, §3º da CF/88, ganham status constitucional (ex: Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência). Portanto, a afirmação de que o tratado não é incorporado é manifestamente errada.154 (B) CORRETA. Traduz com precisão o entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos a respeito do princípio do non bis in idem, conforme consagrado no art. 8.4 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. De acordo com a jurisprudência consolidada da Corte, especialmente no caso Mohamed vs. Argentina (2012), esse princípio garante a qualquer pessoa a proteção contra nova persecução penal pelos mesmos fatos, independentemente da qualificação jurídica diversa que venha a ser atribuída pelo Estado. A Corte entendeu que a garantia não se restringe à repetição do processo sob o mesmo tipo penal, mas se estende à identidade material da conduta fática, evitando que o Estado contorne a proibição apenas alterando a tipificação. A interpretação da Corte se orienta pelo princípio da efetividade e da boa-fé na proteção dos direitos humanos, ampliando o alcance protetivo do dispositivo convencional. (C) INCORRETA. O controle de convencionalidade pode e deve ser realizado por qualquer juiz ou tribunal nacional, e não é exclusivo do STF. Desde o caso Gomes Lund vs. Brasil (Guerrilha do Araguaia), a Corte IDH deixou claro que todos os órgãos do Estado estão vinculados à Convenção Americana. O STF também já reconheceu que tratados de direitos humanos possuem status supralegal, conforme RE 466.343/SP. Logo, a competência não é exclusiva do STF. (D) INCORRETA. O Brasil não formulou qualquer reserva ou declaração interpretativa ao ratificar o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos quanto à aplicação do princípio non bis in idem, tampouco para excluir os casos de tráfico internacional de drogas da proteção. A afirmação é factualmente incorreta, não havendo nos arquivos da ONU ou nas fontes oficiais qualquer ato nesse sentido. (E) INCORRETA. Assim como na alternativa anterior, esta afirma que o Brasil teria feito reserva expressa ao dispositivo da CADH que prevê o non bis in idem. Tal reserva não existe. O Brasil ratificou a Convenção sem qualquer ressalva ao art. 8.4. Portanto, a persecução penal por fato já julgado no exterior é vedada, especialmente se tiver havido trânsito em julgado e observância do devido processo legal no outro país. _______________________________________________________________________sanitária ou controle de substâncias, que são de competência federal. Portanto, o argumento não se aplica. (D) INCORRETA. A saúde é matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, XII, CF), e não de competência exclusiva dos Estados. A União edita normas gerais, e os Estados podem suplementá-las. (E) INCORRETA. A lei não altera a estrutura da administração pública estadual. A iniciativa não fere o processo legislativo, pois não invade a reserva de iniciativa do Executivo nem trata de matéria administrativa interna. _______________________________________________________________________ 10. Lei estadual fixou diretrizes e obrigações para o compartilhamento de infraestrutura na exploração de serviços públicos de energia elétrica. Diante do exposto, é CORRETO afirmar que a referida norma é: (A) constitucional, pois, no exercício de suas competências, a União editou a lei federal que autoriza à unidade federativa conveniada exigir de concessionária ou permissionária, sob sua ação complementar de regulação, obrigação não imposta; (B) constitucional, pois há espaço de conformação em âmbito estadual para que o ente local discipline a concessão de energia elétrica de modo a gerar um arcabouço obrigacional estranho aos ditames postos pela agência federal, desde que autorizado previamente por esta; 18 (C) constitucional, pois o Estado detém a competência concorrente de definir, em legislação própria, as condições pelas quais deverá ser prestado o serviço público de fornecimento de energia elétrica; (D) inconstitucional, pois viola a competência dos municípios em disciplinar matéria de interesse predominantemente local, de acordo com a realidade de cada município; (E) inconstitucional, por violar a competência administrativa da União para explorar os serviços e instalações de energia elétrica e a sua competência legislativa privativa para dispor sobre a matéria. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. A lei estadual é inconstitucional, conforme decidido pelo STF na ADI 7722/GO, por invadir a competência da União. Não há autorização válida para o estado impor obrigações adicionais às concessionárias. (B) INCORRETA. Não há “espaço de conformação estadual” para criação de obrigações regulatórias próprias nesse setor. O STF declarou inconstitucional a interferência dos estados nos contratos de concessão do setor elétrico (ADI 7722/GO). (C) INCORRETA. A competência para legislar e explorar os serviços de energia elétrica é privativa da União, nos termos do art. 21, XII, “b” e art. 22, IV, CF/88. Estados não podem legislar nem criar encargos nesse setor. (D) INCORRETA. A matéria não é de interesse predominantemente local, e portanto não é de competência dos municípios, mas sim da União, conforme já expresso nos artigos 21 e 22 da CF. (E) CORRETA. O STF, na ADI 7722/GO, declarou inconstitucional norma estadual sobre compartilhamento de infraestrutura no setor elétrico, por violar a competência administrativa e legislativa da União (arts. 21, XII, “b”; 22, IV; e 175 da CF), além de interferir nos contratos de concessão regulados pela ANEEL, com risco ao equilíbrio econômico-financeiro. _______________________________________________________________________ 11. Norma estadual estabelece, para fins de convocação de suplente, prazo igual ou superior a 60 dias de afastamento ou licença de deputado. Diante do exposto, é CORRETO afirmar que a referida norma é: (A) constitucional, pois, por força dos princípios democrático e da soberania popular, compete ao ente federativo estadual definir as regras de suplência de seus deputados; 19 (B) inconstitucional, pois as regras de perda de mandato, licença e impedimentos dos deputados estaduais estão previstas expressamente na Constituição de 1988 e são diversas das previstas para os deputados federais; (C) constitucional, pois os estados-membros não são obrigados a adotar, em relação aos deputados estaduais, a sistemática federal concernente a sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades e remuneração; (D) inconstitucional, pois afronta os princípios democrático, da soberania popular e da simetria, uma vez que o prazo de 120 dias fixado pela Constituição de 1988 não pode ser objeto de alteração pelos estados; (E) constitucional, pois qualquer alteração no prazo de licença necessário à convocação do suplente produz alterações na dinâmica inerente à formação da Casa parlamentar, devendo ser o menor prazo possível para convocação do substituto. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS (A) INCORRETA. O ente federativo não pode fixar livremente regras de suplência, pois o art. 56, §1º da CF/88 determina que o suplente será convocado apenas em caso de licença superior a 120 dias. Esse prazo deve ser respeitado pelos estados, em razão do princípio da simetria. (B) INCORRETA. A Constituição exige que as regras de funcionamento das Assembleias Legislativas dos estados sigam o modelo do Congresso Nacional, incluindo as relativas à licença e convocação de suplente (art. 27, caput c/c art. 56, §1º da CF/88). (C) INCORRETA. Embora os estados tenham alguma autonomia, o princípio da simetria impõe restrições obrigatórias em matérias estruturais, como sistema eleitoral, inviolabilidades e convocação de suplente. O STF reafirmou isso nas ADIs 7.257/SC e 7.251/TO. (D) CORRETA. O STF decidiu, nas ADIs 7.257 e 7.251 (Info 1172), que é inconstitucional norma estadual que estabeleça prazo distinto do previsto na CF/88 para convocação de suplente. Tal norma viola os princípios da simetria, soberania popular e democracia representativa. (E) INCORRETA. A norma que altere o prazo de convocação de suplente, mesmo com boa intenção de melhorar a representação, afronta o modelo constitucional federal obrigatório para os estados. Portanto, é inconstitucional. _______________________________________________________________________ DIREITO PREVIDENCIÁRIO 20 12. Jorge, jovem advogado, inicia suas atividades remuneradas em janeiro de 2020, na condição de advogado autônomo. Em janeiro de 2025, logra aprovação em concurso público para juiz federal da 1ª Região, iniciando suas atividades em março do mesmo ano. Diante do cenário hipotético apresentado, Jorge terá direito à aposentadoria voluntária com a idade de: (A) 60 anos; (B) 65 anos; (C) 55 anos; (D) 62 anos; (E) 57 anos. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS Jorge, na condição de juiz federal, terá direito a se aposentar, no âmbito da Uniao, aos 65 anos de idade, em consonância com o texto constitucional atualizado pela Emenda Constitucional n.º 103/2019, a saber: Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. § 1.º O servidor abrangido por regime próprio de previdência social será aposentado: (...) III - No âmbito da União, aos 62 (sessenta e dois) anos de idade, se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na idade mínima estabelecida mediante emenda às respectivas Constituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de contribuição e os demais requisitos estabelecidos em lei complementar do respectivo ente federativo. _______________________________________________________________________ 13. Manoel, segurado empregado do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), sofre acidente de trabalho e vem a falecer logo após o início de suas atividades profissionais, sem sequer completar um mês de trabalho. Nessecontexto, é CORRETO afirmar que Maria, sua viúva: 21 (A) não terá direito a pensão por morte, pois Manoel não cumpriu a carência para a concessão do benefício desejado; (B) terá direito a pensão por morte, desde que comprove efetiva dependência econômica junto ao falecido, mesmo que casados e coabitando a mesma residência; (C) não terá direito a pensão por morte, pois o benefício é pago ao cônjuge somente após 18 meses de contribuições mensais; (D) poderá obter o benefício, pela via judicial, desde que comprove que Manoel faleceu por culpa exclusiva do empregador; (E) terá direito ao benefício, pois Manoel já era filiado ao RGPS quando do acidente, sendo que a pensão por morte não possui carência. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS No caso em tela, Manoel sofre acidente de trabalho e morre com menos de um mês de trabalho. Nessa situação, Maria - sua viúva - gozará a pensão por morte por ser um dos benefícios previdenciários que independem de carência (Lei n.º 8.213/1991, Art. 26 e incisos). De forma esquematizada, esses são os períodos de carência para os benefícios previdenciários: Benefício: Carência: Aposentadoria programada 180 Aposentadoria especial (condições especiais - nocivas) 180 Aposentadoria por idade do trabalhador rural 180 Auxílio reclusão 24 Aposentadoria por incapacidade permanente 12 Auxílio por incapacidade temporária 12 Salário Maternidade (C, S, F) 10 Aposentadoria por incapacidade permanente acidentária zero Auxílio por incapacidade temporária acidentário zero 22 Auxílio acidente zero Salário maternidade (E, D, A) zero Salário família zero Pensão por morte zero Reabilitação profissional (serviço) zero _______________________________________________________________________ 14. Júlia, servidora pública federal, ocupante de cargo público de provimento efetivo, iniciou suas atividades em janeiro de 2015, como analista judiciária no TRF1. No momento do ingresso no cargo público, ela não possuía recolhimentos ou vínculos anteriores e, desde 2020, é qualificada como pessoa com deficiência. Nessa situação hipotética, é CORRETO afirmar que: (A) Júlia poderá obter aposentadoria na condição de pessoa com deficiência, a qual poderá ser concedida independente de idade mínima, desde que atendido o tempo de contribuição mínimo previsto em lei complementar; (B) a qualidade de pessoa com deficiência permitirá a Júlia aposentadoria em condições mais favoráveis, sendo irrelevante o grau de deficiência; (C) Júlia poderá aposentar-se na condição de pessoa com deficiência, mas somente aos 55 anos de idade, após tempo mínimo de contribuição de 20 anos; (D) a aposentadoria da pessoa com deficiência, em virtude da EC nº 103/2019, carece de lei complementar para sua regulamentação, de tal maneira que não existe regra distinta em favor de Júlia; (E) caso comprovada a sua deficiência, Júlia poderá obter, no máximo, aposentadoria por incapacidade permanente, e não aposentadoria voluntária com regras particulares. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS Em consonância com o exposto na Emenda Constitucional n.º 103/2019, atualmente, o segurado deficiente se aposentará de forma programada quando cumprido o disposto na Lei Complementar n.º 142/2013. → (D) INCORRETA. A referida Lei Complementar apresenta condições mais favoráveis de aposentadoria para as pessoas com deficiência (PCD). → (B) INCORRETA. A aposentadoria programada (critério idade) da pessoa com deficiência ocorre aos 60 anos de idade, se homem, e 55 anos de idade, se mulher, independentemente do grau de deficiência (leve, moderado ou grave), desde que cumprido tempo mínimo de 23 contribuição de 15 anos e comprovada a existência de deficiência durante igual período. → (C) INCORRETA. Por seu turno, a Aposentadoria programada (critério tempo de contribuição) do segurado com deficiência, cumprida a carência de 180 contribuições mensais, é devida ao segurado Empregado, inclusive o Doméstico, Trabalhador avulso, Contribuinte Individual e facultativo, observado o disposto na legislação previdenciária e os seguintes requisitos: 1. Aos 25 anos de tempo de contribuição, se homem, e 20 anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência grave; 2. Aos 29 anos de tempo de contribuição, se homem, e 24 anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência moderada, ou; 3. Aos 33 anos de tempo de contribuição, se homem, e 28 anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência leve. Esquematicamente: Deficiência Tempo de Contribuição Homem Mulher Grave 25 20 Moderada 29 24 Leve 33 28 Nessa modalidade, ela poderá se aposentar independentemente de idade mínima, desde que atendido o tempo mínimo de contribuição. → (A) CORRETA. Por fim, caso Júlia cumpra os requisitos para se aposentar em outra modalidade, ela pode obter esse benefício, desde que mais benéfico. → (E) INCORRETA. _______________________________________________________________________ 15. Maria das Dores, dona de casa, sem atividade remunerada, requer pensão por morte do seu pretenso companheiro, Mário Jorge, que era segurado empregado do Regime Geral de Previdência Social e faleceu em serviço em janeiro de 2025. A decisão administrativa indefere a pretensão, alegando ausência de prova suficiente de vida em comum. Dentre as opções abaixo, um elemento de prova admitido no processo administrativo previdenciário para fins de prova de vida em comum, sem prejuízo de outros, é(são): (A) as correspondências que comprovem o mesmo endereço, mesmo que datadas de janeiro de 2001; 24 (B) os vizinhos que possam testemunhar sobre a vida em comum do casal, dispensando outras provas; (C) a declaração da companheira, que afirma a existência de vida em comum até o óbito do segurado; (D) o atestado de batismo do filho em comum, atualmente com 18 anos de idade; (E) a conta bancária conjunta, com validade e uso até a data do óbito do segurado. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS No caso em tela, Maria das Dores é dependente de Mário Jorge. Por sua vez, a inscrição do dependente ocorre somente quando for requerido um benefício previdenciário junto ao INSS. Diante da ausência de prova de vida em comum entre eles, conforme dispõe a legislação previdenciária (Decreto n.º 3.048/1999), a comprovação de vínculo entre Maria e Mário ocorrerá com a apresentação de, no mínimo, 2 (dois) documentos, dentre outros: 1. Certidão de nascimento de filho havido em comum; 2. Certidão de casamento religioso; 3. Declaração do imposto de renda (IR) do segurado, em que conste o interessado como seu dependente; 4. Disposições testamentárias; 5. Declaração especial feita perante tabelião; 6. Prova de mesmo domicílio; 7. Prova de encargos domésticos evidentes e existência de sociedade ou comunhão nos atos da vida civil; 8. Procuração ou fiança reciprocamente outorgada; 9. Conta bancária conjunta; 10. Registro em associação de qualquer natureza, onde conste o interessado como dependente do segurado; 11. Anotação constante de ficha ou livro de registro de empregados; 25 12. Apólice de seguro da qual conste o segurado como instituidor do seguro e a pessoa interessada como sua beneficiária; 13. Ficha de tratamento em instituição de assistência médica, da qual conste o segurado como responsável; 14. Escritura de compra e venda de imóvel pelo segurado em nome de dependente; 15. Declaração de não emancipação do dependente menor de 21 anos, ou; 16. Quaisquer outros que possam levar à convicção do fato a comprovar. _______________________________________________________________________ 16. A sociedade XPTO desempenha atividade industrial, mediante confecção de peças de plástico paraencanamento residencial. A referida empresa possui 1.500 empregados, que atuam em regime celetista de trabalho. A Receita Federal do Brasil, em recente fiscalização, autuou a XPTO, apontando ausência de recolhimento do adicional de contribuição ao SAT/RAT/GILDRAT (grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho), devido na forma do Art. 57, §6º da Lei nº 8.213/1991. Na perspectiva do fisco federal, pelo fato devidamente comprovado de que 250 empregados estavam expostos ao agente nocivo “ruído” acima dos limites de tolerância da legislação, haveria imediata obrigação da XPTO de efetuar o recolhimento da referida contribuição adicional sobre toda a massa salarial, referente aos 1.500 empregados. A conduta do fisco federal é: (A) acertada, pois o financiamento dos benefícios decorrentes de riscos ambientais é quantificado sobre a remuneração total de todos os empregados e segurados avulsos do empregador; (B) incorreta, pois a referida contribuição já foi declarada inconstitucional pelo STF, em controle concentrado, haja vista a aposentadoria especial já contar com financiamento próprio; (C) acertada, pois a XPTO, ao expor 250 empregados ao agente nocivo ruído, está gerando excesso de risco previdenciário, o qual deve ser custeado pelo empregador responsável, e não transferido à sociedade; (D) incorreta, pois o adicional de contribuição, na situação exposta, somente possui incidência sobre a remuneração dos segurados efetivamente expostos aos agentes nocivos; (E) acertada, pois a contribuição previdenciária referida tem natureza jurídica de tributo, sendo prestação pecuniária compulsória devidamente aperfeiçoada pela ocorrência do fato gerador. _______________________________________________________________________ GABARITO: D COMENTÁRIOS 26 A contribuição para o GILRAT é uma exação autônoma de 1%, 2% ou 3%, recolhida juntamente com a cota patronal da empresa (20% sobre a folha de salários, em regra). É uma exação em função do ambiente de trabalho. O adicional GILRAT, por sua vez, é um acréscimo de 12%, 9% ou 6% na cota patronal (20%). Não é uma exação autônoma. O adicional, é uma contribuição devida somente nos casos em que o trabalhador exerça atividade especial. É em função do colaborador e não em função do ambiente de trabalho. Em apertada síntese: GILRAT: - É uma contribuição devida em função dos riscos do ambiente de trabalho da empresa. - É uma contribuição autônoma fixa para toda a empresa, incide sobre a folha de salários de todos os trabalhadores. Adicional GILRAT: - É uma contribuição devida somente nos casos em que o trabalhador exerça atividade especial. É em função do colaborador e não em função do ambiente de trabalho. - É um adicional à cota patronal, incide somente sobre a folha do trabalhador que realmente exerça atividade especial. Do exposto, a conduta da RFB está equivocada, uma vez que o adicional incide somente sobre a remuneração dos segurados efetivamente expostos aos agentes nocivos. _______________________________________________________________________ 17. Uma indústria brasileira, empregadora de centenas de empregados, organiza, por meio de acordo coletivo com o sindicato local, negociação coletiva em prol de pagamento de lucros e resultados a seus trabalhadores. Após o término do exercício, a empregadora, uma vez identificada a lucratividade desejada e prevista no acordo coletivo, efetuou os pagamentos aos empregados, em estrita observância às normativas fixadas em norma coletiva. Os referidos valores pagos aos empregados são: (A) dotados de natureza salarial, compondo o salário de contribuição dos empregados; (B) desprovidos de natureza salarial, desde que pagos em estrita conformidade com as previsões da legislação vigente; (C) desprovidos de natureza salarial, haja vista a imunidade tributária que afasta tais pagamentos da incidência tributária; 27 (D) dotados de natureza salarial, mas somente quanto aos empregados vinculados a regime próprio de previdência social; (E) desprovidos de natureza salarial, desde que os pagamentos tenham ocorrido em prol da totalidade de segurados empregados e avulsos da indústria. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS No Direito Previdenciário, a base de cálculo das contribuições previdenciárias é o salário de contribuição (SC). As parcelas recebidas que apresentam natureza salarial são parcelas integrantes do SC e sobre elas incide a tributação previdenciária. Por seu turno, as que não apresentam natureza salarial são parcelas não integrantes do SC e são isentas da tributação previdenciária. No caso, conforme dispõe a legislação previdenciária, a participação do empregado nos lucros ou resultados da empresa, quando paga ou creditada de acordo com lei específica são parcelas não integrantes do SC. _______________________________________________________________________ 18. A Emenda Constitucional nº 103/2019 trouxe diversas alterações nos regimes previdenciários vigentes no Brasil. No aspecto específico dos regimes próprios de previdência dos municípios, é CORRETO afirmar que: (A) todos são submetidos às mesmas regras do Regime Geral de Previdência Social; (B) inexiste a possibilidade de idades mínimas diferentes entre homens e mulheres; (C) não há a fixação da alíquota mínima de contribuição de servidores; (D) os proventos de aposentadoria poderão ser inferiores ao salário mínimo nacional; (E) as regras para cálculo de proventos de aposentadoria serão disciplinadas em lei do respectivo ente federativo. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS A Emenda Constitucional n.º 103/2019 praticamente reescreveu todo o Art. 40 da CF/1988 que trata dos regimes próprios dos servidores públicos (RPPS). 28 Os RPPS observarão as regras contidas no Art. 40 da Constituição e, no que couber, os requisitos e critérios fixados para o Regime Geral de Previdência Social - RGPS (Art. 40, § 12). → (A) INCORRETA. As aposentadorias voluntária dos servidores ocorrem aos 62 anos para mulheres e aos 65 anos para os homens (Art. 40, § 1.º, inciso III). → (B) INCORRETA. Ao adentrar diretamente no texto autônomo da EC n.º 103/2019, tem-se: Art. 9.º (...) § 4.º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios não poderão estabelecer alíquota inferior à da contribuição dos servidores da União, exceto se demonstrado que o respectivo regime próprio de previdência social não possui déficit atuarial a ser equacionado, hipótese em que a alíquota não poderá ser inferior às alíquotas aplicáveis ao Regime Geral de Previdência Social. Do exposto, existe fixação de alíquota mínima para o servidores públicos. → (D) INCORRETA. Os proventos de aposentadoria dos servidores públicos não poderão ser inferiores ao valor mínimo estabelecido para o RGPS, que é de 1 (um) salário mínimo (Art. 40, § 2.º) → (D) INCORRETA. As regras para cálculo de proventos de aposentadoria serão disciplinadas em lei do respectivo ente federativo (Art. 40, § 3.º) → (E) CORRETA. _______________________________________________________________________ DIREITO PENAL 19. João e Pedro entram em uma agência dos Correios, dirigem-se à caixa onde estão duas funcionárias e, mediante tapas e socos no rosto de ambas, subtraem o dinheiro que ali se encontra. Pedro porta um punhal durante a ação. A dupla de roubadores sai da agência e, enquanto monta na motocicleta estacionada em frente ao local, é presa em flagrante pela Polícia Militar. Considerados os fatos e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, é CORRETO afirmar que: (A) o crime praticado não é hediondo; (B) o crime restou tentado, porque João e Pedro não alcançaram a posse mansa, pacífica e desvigiada do dinheiro subtraído; (C) a gravidade inata do crime de roubojustifica a imposição de regime mais severo que o permitido segundo a pena aplicada; 29 (D) João e Pedro responderão por dois crimes de roubo em concurso formal, haja vista o emprego de violência contra duas pessoas; (E) a multiplicidade de majorantes, por si só, constitui fundamento suficiente para aplicar uma elevação superior à fração mínima, na terceira fase de aplicação da pena. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS (A) CORRETA. No caso narrado, João e Pedro praticaram um crime de roubo consumado, o qual não se enquadra nas hipóteses de roubo hediondo, que são: ▪ Roubo praticado com emprego de arma de fogo (permitido, restrito ou proibido); ▪ Roubo com restrição de liberdade das vítimas ▪ Roubo com resultado lesão grave ou morte Como nenhuma das três hipóteses ocorreu no caso em tela, o crime não se enquadra como crime hediondo. (B) INCORRETA. Nos termos da Súmula n. 582, do STJ, “Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada”. É a aplicação da teoria amotio, sendo desnecessária a posse mansa, pacífica e desvigiada. (C) INCORRETA. Nos termos da Súmula n. 440, do STJ, “Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito”. (D) INCORRETA. Para a verificação da quantidade de crimes no roubo, não se analisa quantas pessoas foram vítimas da violência ou da grave ameaça, mas, sim, quantos patrimônios foram atingidos. No caso em tela, foi atingido apenas o “dinheiro que ali se encontrava”, ou seja, o dinheiro da agência dos Correios, motivo pelo qual há crime único de roubo. Nesse sentido: PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. ROUBO. PATRIMÔNIO ÚNICO. CONCURSO DE CRIMES. NÃO OCORRÊNCIA. 1. No delito de roubo, se a intenção do agente é direcionada à subtração de um único patrimônio, estará configurado um único crime, ainda que, no modus operandi, seja utilizada violência ou grave ameaça contra mais de uma pessoa. 2. Se o agente utiliza grave ameaça ou violência (própria ou imprópria) simultaneamente contra duas ou mais pessoas, mas subtrai bens pertencentes a apenas uma delas, responde por um só crime de roubo (MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 2ª ed., rev. atual. e ampl., São Paulo: Método, 2014). 3. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp n. 1.490.894/DF, relator 30 Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 10/2/2015, DJe de 23/2/2015.) (E) INCORRETA. Nos termos da Súmula n. 443, do STJ, “O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes”. Dessa forma, correta a alternativa A. _______________________________________________________________________ 20. Três homens, um deles portando arma de fogo, invadem uma agência da Caixa Econômica Federal, subtraem os valores que estão nas caixas e exigem que o gerente digite a senha de abertura do cofre, de onde subtraem mais dinheiro. No curso da ação, o criminoso armado aponta constantemente a arma de fogo para a cabeça de uma cliente idosa, que, apavorada com a situação, infarta e morre. Alertada, a Polícia Militar invade a agência bancária e encerra a ação. Todo o dinheiro subtraído é recuperado. O criminoso que portava a arma de fogo consegue escapar, razão pela qual a referida arma não é apreendida. Considerados os fatos e a jurisprudência dos Tribunais Superiores a respeito dos crimes de roubo e extorsão, é CORRETO afirmar que: (A) a apreensão e perícia da arma de fogo são imprescindíveis para a incidência da causa de aumento de pena relativa ao seu emprego; (B) a despeito da morte da cliente idosa, não consumada a subtração dos bens, os agentes responderão por latrocínio tentado; (C) os agentes responderão pelos crimes de latrocínio e extorsão, ambos consumados; (D) haverá crime continuado entre o latrocínio e a extorsão, porque são crimes da mesma espécie; (E) não há crime de latrocínio. _______________________________________________________________________ GABARITO: E COMENTÁRIOS Em uma primeira análise, pode parecer que houve latrocínio, uma vez que, durante a execução de um crime de roubo, houve morte. Porém, é importante chamar a atenção para a literalidade do art. 157, § 3º, do CP, que assim dispõe: Art. 157 [...] § 3º Se da violência resulta: I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. 31 Percebe-se que haverá a aplicação do art. 157, § 3º, do CP, apenas se a morte ou a lesão corporal decorrer da VIOLÊNCIA. Não há, na questão, a narração de nenhum ato de violência, apenas de grave ameaça, tendo o agente armado apontado constantemente a arma de fogo para a cabeça de uma cliente idosa. A questão foi clara ao afirmar que a idosa, “apavorada com a situação, infarta e morre”. Assim, tendo a morte ocorrido em razão da ameaça, não há latrocínio. É possível imputar o resultado morte ao agente, porém não como qualificadora do roubo, mas, sim, como crime de homicídio culposo, em concurso formal de crimes. Correta, assim, a alternativa E. _______________________________________________________________________ 21. Carlos, funcionário público de autarquia federal, foi denunciado pelo crime de corrupção passiva. No curso da investigação, ficou claro que, dos R$ 500.000,00 obtidos com a prática criminosa, R$ 100.000,00 foram usados para compras de artigos de luxo, como relógios, joias e objetos de arte, jamais localizados. Os R$ 400.000,00 restantes foram empregados na compra de um imóvel na cidade de Punta del Este, no Uruguai. Além disso, o Ministério Público Federal demonstrou que, do patrimônio do réu, apurado em R$ 2.000.000,00, apenas R$ 1.100.000,00 eram compatíveis com os seus rendimentos lícitos. O juiz, ao proferir a condenação, deverá: (A) decretar a perda de bens ou valores equivalentes ao valor do imóvel situado no exterior, mas não ao valor dos artigos de luxo não localizados; (B) observar que a decretação da perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime somente é possível na hipótese de condenação por crime ao qual a lei comine pena máxima superior a 6 anos; (C) presumir ilícitos bens correspondentes ao valor de R$ 900.000,00 e decretar sua perda; (D) decretar a perda alargada, de ofício, caso o Ministério Público Federal não tenha formulado pedido; (E) incluir no cálculo do patrimônio do réu, para fins de decretar a perda alargada, os bens titularizados pelo cônjuge, se casados nos regimes da comunhão parcial ou total de bens. _______________________________________________________________________ GABARITO: C COMENTÁRIOS QUESTÃO PASSÍVEL DE RECURSO. A questão trata sobre o perdimento de bens como efeito da condenação. 32 (A) INCORRETA. O art. 91, § 1º, do CP, dispõe que poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do crime [a] quando estes não forem encontrados ou [b] quando se localizarem no exterior. Assim, é aplicável o dispositivo tanto para o imóvel situado no exterior quanto para os artigos de luxo não localizados. (B) INCORRETA. A decretação de perda pelo equivalente se aplica de forma genérica, com base no art. 91, § 1º, do CP, e não apenas nos casos de condenação por crime em que a pena máxima seja superior a 6 anos. O examinador quis misturar a previsão de perdimento genérico com o confisco alargado, previsto no art. 91-A, do CP. (C) INCORRETA.O art. 91-A, do CP, dispõe que, na hipótese de condenação por infrações às quais a lei comine pena máxima superior a 6 anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito. É o chamado confisco alargado. No caso em tela, o enunciado destaca que o patrimônio do réu é de 2 milhões de reais, sendo apenas 1 milhão e 100 mil reais compatíveis com seu patrimônio lícito, de modo que 900 mil reais podem, então, ser objeto de perda, pelo confisco alargado. Ocorre que o art. 91-A, § 3º, do CP, dispõe que a perda deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público, por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada. O enunciado, em nenhum momento, menciona que houve esse requerimento, apenas trazendo a informação de que o Ministério Publico Federal demonstrou a existência desse patrimônio, sem qualquer requerimento. Como ao candidato não cabe fazer presunções além do que expressamente disposto no enunciado, não era possível ao candidato presumir que essa demonstração seria um requerimento. E não sendo possível presumir que houve requerimento, a alternativa se mostra equivocada, pois dá a entender que o juiz deverá presumir ilícitos os bens correspondentes ao valor de 900 mil reais e decretar, de ofício, a perda, motivo pelo qual a questão é passível de anulação por não ter resposta correta. (D) INCORRETA. A alternativa deixa mais clara ainda a necessidade de anulação da questão, uma vez que menciona, expressamente, que o pedido a ser formulado pelo Ministério Público não consta no enunciado. Como comentamos ao tratarmos da alternativa C, não é possível a perda de ofício, conforme art. 91-A, § 3º, do CP. (E) INCORRETA. A alternativa vai de encontro com o disposto no art. 91-A, § 1º, do CP, que assim dispõe: Art. 91-A [...] § 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, entende-se por patrimônio do condenado todos os bens: I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do início da atividade criminal. 33 Dessa forma, os bens titularizados pelo cônjuge, por si só, não se enquadram no conceito de “patrimônio do condenado”, motivo pelo qual a alternativa se mostra incorreta. Assim, não há resposta certa para a questão, que deve ser anulada. _______________________________________________________________________ 22. Em determinada rede social, o perfil aberto destinado à promoção do turismo em um estado da Federação faz uma postagem que gera as seguintes reações: (i) Teresa comenta: “cambada de macumbeiro safado”; (ii) nos comentários José xinga Felipe, um homem trans, de “sapatão sem vergonha”; (iii) nos comentários Elisa xinga Maria, idosa, de “velha maluca”. Observada a legislação aplicável e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, é CORRETO afirmar que: (A) todos os crimes são de ação penal pública incondicionada; (B) há duas condutas que tipificam crimes imprescritíveis; (C) se aplica a pena em triplo a todos os crimes, porque praticados em rede social da rede mundial de computadores; (D) em todos os crimes, a pena será aumentada da metade se o crime for cometido mediante concurso de pessoas; (E) há uma conduta atípica. _______________________________________________________________________ GABARITO: B COMENTÁRIOS Vamos tipificar as condutas narradas nos 3 itens. (i) O comentário de Teresa caracteriza o crime de racismo, previsto no art. 20 da Lei n. 7.716/1989. Isso porque o xingamento não possui vítima específica, sendo uma manifestação genericamente preconceituosa (caso houvesse vítima específica, seria caracterizado o crime de injúria qualificada, prevista no art. 140, § 3º, do CP). Em relação às ofensas proferidas em razão da religião, importante ressaltar que o art. 20, da Lei n. 7.716/1989, diferentemente do art. 2º-A, do mesmo diploma, a incluiu nas modalidades de racismo. Vejamos: Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Art. 2º-A Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional. 34 Assim, um xingamento contra uma vítima específica em razão da religião caracteriza o crime de injúria qualificada, prevista no art. 140, § 3º, do CP, enquanto um xingamento genérico (sem vítima específica) em razão da religião, caracteriza o crime de racismo, previsto no art. 20, da Lei n. 7.716/1989. (ii) O xingamento de José contra Felipe caracteriza o crime de injúria racial, previsto no art. 2º-A, da Lei n. 7.716/1989, uma vez que já entendeu o STF, na ADO 26, ser a homofobia e a transfobia espécies de racismo social. (iii) O xingamento de Elisa contra Maria caracteriza o crime de injúria qualificada, prevista no art. 140, § 3º, do Código Penal, por se tratar de injúria em razão da idade da pessoa idosa. Em síntese, temos então um crime de racismo (art. 20, da Lei n. 7.716/1989), um crime de injúria racial (art. 2º-A, da Lei n. 7.716/1989) e um crime de injúria qualificada (art. 140, § 3º, do CP). (A) INCORRETA. São de ação penal pública incondicionada os crimes de racismo (art. 20, da Lei n. 7.716/1989) e de injúria racial (art. 2º-A, da Lei n. 7.716/1989), mas não o crime de injúria qualificada (art. 140, § 3º, do CP), o qual mantém a ação penal sendo pública condicionada à representação (art. 145, parágrafo único, do CP). (B) CORRETA. São imprescritíveis os crimes de racismo (art. 20, da Lei n. 7.716/1989) e de injúria racial (art. 2º-A, da Lei n. 7.716/1989), não o sendo apenas o crime de injúria qualificada (art. 140, § 3º, do CP). (C) INCORRETA. O art. 141, § 2º, do CP, aumenta pelo triplo a pena da injúria qualificada (art. 140, § 3º, do CP). Todavia, no crime de racismo (art. 20, da Lei n. 7.716/1989), o § 2º qualifica o crime caso seja cometido por rede social da rede mundial de computadores. (D) INCORRETA. A pena será aumentada da metade se o crime for cometido mediante concurso de pessoas apenas no caso da injúria racial (art. 2º-A, parágrafo único, da Lei n. 7.716/1989). (E) INCORRETA. Todos os xingamentos caracterizam fatos típicos. Assim, correta a alternativa B. _______________________________________________________________________ 23. O Ministério Público Federal ofereceu denúncia em face de pessoa jurídica e de dois de seus dirigentes, em razão de poluição causada em rio que banha mais de um estado. À luz da jurisprudência dos Tribunais Superiores, o juiz deverá: (A) observar, no que couber, as garantias fundamentais, como, por exemplo, o princípio da intranscendência da pena; (B) observar que as sanções criminais impostas pela sentença equiparam-se a obrigações cíveis; 35 (C) observar que a denúncia somente poderá ser recebida se houver imputação concomitante de crime à pessoa física; (D) observar que, em caso de incorporação, não se admite a transmissão dos efeitos extrapenais da condenação à incorporadora; (E) rejeitar a denúncia no que toca à pessoa jurídica, porque a falta de capacidade natural de ação, a carência de culpabilidade e a ausência de indicação clara dos tipos penais impedem a responsabilidade penal dela. _______________________________________________________________________ GABARITO: A COMENTÁRIOS (A) CORRETA. É possível a responsabilidade criminal de pessoas jurídicas e de seus dirigentes por crime ambiental, nos termos do art. 3º, da Lei n. 9.605/1998: Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração