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PROCESSO CIVIL CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA PERÍCIA Professor Francisco Saint Clair PRAZOS PROCESSUAIS Prazos são intervalos de tempo estabelecidos para que, dentro deles, sejam praticados atos jurídicos. Sendo processual a natureza do ato, ter- se-á um prazo processual. O prazo processual pode ser classificado, segundo sua origem, em legal e judicial. Prazo legal é o fixado em lei; judicial o que é assinado pelo juiz. Estabelece o art. 218 que os atos processuais devem ser praticados nos prazos fixados em lei. Omissa esta, incumbe ao juiz fixar o prazo, levando em consideração a complexidade do ato a ser praticado (art. 218, § 1º). Não havendo prazo legal e não tendo o juiz assinado o prazo, deverá o ato processual ser praticado em cinco dias (art. 218, § 3º). Admite-se que o juiz amplie por até dois meses os prazos legais nos lugares em que seja difícil o transporte (art. 222). Tendo havido cala- midade pública, a ampliação dos prazos legais pode ultrapassar esse limite (art. 222, § 2º). Contam-se os prazos processuais excluindo o dia do começo e incluindo o do vencimento (art. 224). Assim, se o termo inicial do prazo é uma se- gunda-feira, o primeiro dia a ser incluído na contagem é o dia seguinte, a terça-feira. Caso no dia do começo do prazo o expediente forense co- mece depois do horário regular ou se encerre antes, fica o termo inicial do prazo protraído para o dia útil imediato. Também há um prolongamento como este quando no dia do vencimento do prazo o ex- pediente começar ou se encerrar antes do horário regular (art. 224, § 1º). A contagem dos prazos processuais fixados em dias não é contínua, sus- pendendo-se nos dias em que não haja expediente forense (art. 219). Esta regra, porém, só se aplica aos prazos fixados em dias. Quando o prazo for fixado em outra unidade de tempo (como, por exemplo, prazos fixados em meses), os prazos serão contínuos, neles se incluindo os sá- bados, domingos e outros dias em que não haja expediente forense. Outro critério permite classificar os prazos processuais em próprios (ou peremptórios) e impróprios. Prazos próprios são aqueles cujo de- curso implica a perda da possibilidade de praticar o ato processual (art. 223). É o que se dá, por exemplo, com o prazo para a parte oferecer contestação ou interpor recursos. Prazos impróprios são aqueles cujo decurso não acarreta a perda da possibilidade de praticar o ato (como, por exemplo, o prazo de cinco dias de que o juiz dispõe para proferir despachos, nos termos do art. 226, I, sendo válido o despacho profe- rido após esse prazo). Os prazos próprios ou peremptórios não podem ser reduzidos pelo juiz, salvo se houver anuência de todas as partes (art. 222, § 1º). Podem tais prazos, porém, ser ampliados (art. 139, VI), de modo a adequá-los às ne- cessidades do caso concreto, o que só pode ocorrer antes de encerrado o prazo previsto na lei (art. 139, parágrafo único). Encerrado o prazo peremptório (ou próprio) sem que o ato tenha sido praticado, desaparece a possibilidade de praticá-lo. Fica, porém, assegu- rado à parte o direito de realizá-lo se provar que não o fez por justa causa (art. 223), assim considerado qualquer evento alheio à vontade da parte que a tenha impedido de praticar o ato por si ou por mandatário (art. 223, § 1º). Verificada a justa causa, incumbe ao juiz assinar à parte um prazo para que validamente pratique o ato (art. 223, § 2º). Outro critério de classificação dos prazos processuais distingue os pra- zos aceleratórios dos prazos dilatórios. Prazos aceleratórios são aqueles que se destinam a assegurar um “ritmo” para o processo, evitando que ele demore mais do que o necessário para produzir resultados constitu- cionalmente legítimos. Assim, por exemplo, o prazo para contestar ou para interpor apelação. A fixação desses prazos impede a demora exces- siva do processo, evitando que o ato processual demore demais para ser praticado. Sendo aceleratório o prazo, deve-se considerar tempestivo (e, pois, válido), o ato praticado antes de seu termo inicial (art. 218, § 4º). Afi- nal, se o prazo é aceleratório, e a parte foi tão rápida que praticou o ato antes mesmo do início do prazo, não pode ela ser punida por sua con- duta (FPPC, enunciado 22: “O Tribunal não poderá julgar extemporâneo ou intempestivo recurso, na instância ordinária ou na extraordinária, in- terposto antes da abertura do prazo”). De outro lado, prazos dilatórios são aqueles que garantem uma duração mínima para o processo, evitando que ele se desenvolva de forma ex- cessivamente acelerada. É o que se tem, por exemplo, no prazo previsto no art. 334, parte final (que estabelece que o réu deverá, no procedimento comum, ser citado para comparecer à audiência de con- ciliação ou mediação com “pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência”). Este prazo destina-se a assegurar que o demandado te- nha tempo suficiente para preparar-se para participar da audiência e, se for o caso, prosseguir com sua defesa em juízo. Em casos assim, sendo dilatório o prazo, reputa-se inválido o ato praticado antes de seu término (como seria, no exemplo figurado, a audiência realizada menos de vinte dias após a citação do demandado), sendo necessário que o ato só seja praticado após o decurso do prazo. Interessante observar que tanto os prazos aceleratórios (que impedem que o processo demore excessivamente) quanto os dilatórios (que obs- tam o andamento excessivamente rápido do processo) se ligam ao princípio da duração razoável do processo, por força do qual o processo não deve demorar nem mais, nem menos do que o tempo necessário para a produção de resultados constitucionalmente adequados. Tendo sido o prazo processual criado em benefício de parte, poderá ela renunciar – desde que o faça expressamente – ao prazo (art. 225). Todos os prazos processuais ficam suspensos entre os dias 20 de dezem- bro e 20 de janeiro (art. 220), período em que também não serão realizadas audiências ou sessões de julgamento (art. 220, § 2º). Tem-se aí uma regra destinada a assegurar aos advogados o direito a um período anual de férias. Nesse período, porém, os serviços judiciários funciona- rão normalmente (art. 220, § 1º). Também se suspende o prazo processual em razão de obstáculo criado em detrimento da parte ou se ocorrer alguma causa de suspensão do processo, caso em que, identificada a causa de suspensão do prazo, fi- cará ele paralisado até que tal causa cesse. Ultrapassada a causa de suspensão, o prazo voltará a correr pelo que faltava para sua comple- mentação (art. 221). Ficam, ainda, suspensos os prazos durante a execução de programas de políticas públicas, instituídos pelo Judiciário, destinados a promover a autocomposição (como se dá, por exemplo, com a “Semana Nacional de Conciliação”, promovida anualmente pelo Conselho Nacional de Jus- tiça). Nesse caso, deverá o tribunal anunciar, previamente, o período de duração dos trabalhos relativos ao programa (art. 221, parágrafo único), durante o qual ficarão suspensos os prazos referentes aos processos que integrem o aludido programa. Os prazos processuais correm a partir da citação, intimação ou notifica- ção (art. 230). E, como já visto, na contagem do prazo processual deve-se excluir o dia do começo e incluir o do vencimento (art. 224). Considera-se como dia do início do prazo (art. 231): (I) quando a citação ou intimação se der por via postal, a data da juntada aos autos do aviso de recebimento; (II) quando a citação ou intimação se fizer por oficial de justiça (aí incluída a citação com hora certa, nos termos do art. 231, § 4º), a data da juntada aos autos do mandado devidamente cumprido; (III) quando a citação se der por ato do escrivão ou do chefe da secretaria, a data de sua ocorrên- cia; (IV) quando a citação ou intimação se der por edital, o dia útil seguinte aofim da dilação assinada pelo juiz; (V) se a citação ou intimação for eletrônica, o dia útil seguinte à consulta ao seu teor ou ao término do prazo para que essa consulta aconteça; (VI) quando a citação ou intima- ção se realizar em cumprimento de carta, a data de juntada aos autos do comunicado eletrônico de que a carta foi cumprida (art. 232) ou, na sua ausência, a data de juntada da carta cumprida aos autos de origem; (VII) se a intimação se der por Diário Oficial impresso ou eletrônico, a data da publicação (que, no caso do Diário de Justiça Eletrônico será, sempre, o dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no Diário, nos ter- mos do art. 224, § 2º); (VIII) e quando a intimação se der por meio de retirada dos autos de cartório, a data da carga. Caso o ato processual tenha de ser praticado diretamente pela parte ou por quem, de qualquer forma, participe do processo, independente- mente de intermediação por representante judicial (como se dá, por exemplo, no caso de a parte ser intimada a efetuar um pagamento ou desocupar um imóvel), o dia do começo do prazo será o da data da pró- pria intimação (tornando-se irrelevante, para o fim de determinar o termo inicial do prazo, a data da juntada da prova de que a intimação foi realizada), nos termos do disposto no art. 231, § 3º. Havendo mais de um réu, o prazo para contestar será comum a todos, e terá início quando se alcançar o termo inicial do prazo para o último réu a ser citado (art. 231, § 1º). Sendo vários os intimados, seus prazos correm individualmente (art. 231, § 2º). Litisconsortes que tenham advogados diferentes (necessariamente in- tegrantes de escritórios de advocacia distintos) terão prazos processuais em dobro (art. 229), desde que o processo não tramite em autos eletrô- nicos (art. 229, § 2º). No caso de litisconsórcio passivo, tendo apenas um dos réus ofere- cido contestação, cessa a partir do oferecimento da defesa a contagem em dobro (art. 229, § 1º). O juiz dispõe do prazo de cinco dias para proferir despachos, dez dias para decisões interlocutórias e trinta dias para prolatar sentenças (art. 226). Estes prazos podem ser duplicados se houver motivo justificado (art. 227). O auxiliar da justiça terá um dia para remeter os autos à conclusão e cinco dias para executar os atos processuais, contados estes prazos da data em que houver concluído o ato processual anterior, se lhe foi im- posto por lei; ou de quando tiver ciência da ordem, quando determinada pelo juiz (art. 228). Incumbe ao juiz o controle da observância, por seus auxiliares, dos pra- zos processuais (art. 233). Constatada a falta, o juiz ordenará a instauração de processo administrativo (art. 233, § 1º). De outro lado, a inobservância dos prazos pelo serventuário também pode ser controlada por provocação de qualquer das partes, do Ministé- rio Público ou da Defensoria Pública, que estão legitimados a representar ao juiz contra o servidor que injustificadamente tenha ex- cedido os prazos (art. 233, § 2º). Advogados (públicos ou privados), defensor público e membros do Mi- nistério Público têm o dever de restituir os autos que tenham retirado de cartório no prazo do ato a ser por eles praticado (art. 234). Excedido o prazo, qualquer interessado poderá exigir sua devolução (art. 234, § 1º). Caso o advogado, intimado, não restitua os autos em três dias, perderá o direito a vista fora de cartório e incorrerá em multa correspondente à metade do salário mínimo (art. 234, § 2º), a qual será imposta pela Ordem dos Advogados do Brasil (art. 234, § 3º). Caso a demora na devolução en- volva membro do Ministério Público, da Defensoria Pública ou da Advocacia Pública, a multa será aplicada ao agente público responsável, após procedimento administrativo disciplinar instaurado pela institui- ção a que pertence tal agente (art. 234, § 4º). No caso de inobservância de prazos pelo juiz, poderá qualquer das par- tes, o Ministério Público ou a Defensoria Pública oferecer representação ao corregedor do tribunal ou ao Conselho Nacional de Justiça (art. 235). Distribuída esta representação e ouvido previamente o juiz, não sendo caso de arquivamento liminar, será instaurado procedimento para apu- ração da responsabilidade, com intimação do representado para justificar-se no prazo de quinze dias (art. 235, § 1º). Além das sanções ad- ministrativas cabíveis, incumbe ao corregedor (no tribunal a que vinculado o juiz) ou ao relator (no CNJ), em quarenta e oito horas após o decurso do prazo de que dispõe o juiz representado para manifestar-se, determinar sua intimação para que pratique o ato. Mantida a inércia, os autos deverão ser remetidos ao seu substituto legal para que profira o pronunciamento em dez dias (art. 235, § 2º). OBRIGADO Fonte: • Processo Civil Brasileiro, Alexandre Freitas Câmara – 3ª ed., 2017; • Lei Federal nº 13.105/2015.