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Controle Cardiorrespiratório
Visão Global do Capítulo
Em 1934, Sir Joseph Barcroft reconheceu o benefício de forçar um sistema a trabalhar
com altos níveis de funcionamento para compreender melhor como trabalha. No que
concerne à compreensão do controle dos sistemas cardiovascular e respiratório, o exercício
proporciona o meio que "os força" a operarem em um alto nível de funcionamento. Os capítulos
anteriores descreveram as muitas ajustagens respiratórias e circulatórias que ocorrem durante o
exercício, todas as quais se destinam a atender as maiores demandas metabólicas dos
músculos ativos. Para fazê-lo com eficiência, porém, todas essas ajustagens
devem ser iniciadas, controladas e coordenadas reciprocamente.
A difícil tarefa de orquestrar as respostas cardiorrespiratórias é empreendida pelo
sistema nervoso central por meio dos esforços combinados das áreas expiratórias e
cardiovasculares localizadas no cérebro. Essas áreas recebem constantemente informação
do córtex motor ou de uma série de receptores localizados em todo o corpo. A seguir,
usando essa informação como base, eles induzem, se necessário, alterações
reguladoras na ventilação pulmonar e no fluxo sangüíneo.
Resumo do Sistema Cardiorrespiratório Áreas de Controle
Respiratório e Cardiovascular Estimulação das Áreas de Controle
Cardiorrespiratório
Classificação dos Estímulos
Ação sobre as Areas Cardiorrespiratórias Inervação do Aparelho Cardiorrespiratório Controle
Cardiorrespiratório em Repouso e Durante o Exercício
Controle em Repouso
Controle Durante o Exercício Treinamento Físico e Controle Cardiorrespiratório
Resumo
Termos-chave Adrenalina Barorreceptores Bulbo Catecolaminas Cornando Central
Mecanorreceptores
Metabolorreceptores Noradrenalina Parassimpático Reflexo Pressor do Exercício Simpático
Sistema Nervoso Autônomo
Eis os principais conceitos a serem aprendidos neste capítulo:
•
Durante o repouso e o exercício, o controle dos sistemas respirató rio e circulatório é complexo. O
controle da respiração e da circulação envolve as áreas cardiovas culares e respiratórias, que estão
localizadas no bulbo (medula oblongada). A estimulação central, humoral, física e neural
periférica dessas áreas ajuda a regular importantes variáveis cardiorrespiratórias, tais
como pressão arterial e concentração de PO, PCO,, e H* no sangue arte rial. Essa regulação é
empreendida por meio de aumentos ou reduções na freqüência cardíaca, na contratilidade do
miocárdio, na freqüên
Losnou
two four
Controle Cardiorrespiratório
227
Atrio
Sangue arterial
Capilar pulmonar
Ventrículo
Capilar muscular
Coração esquerdo
Alvéolo
Co,
cia e profundidade da respiração e de um aumento ou uma redução no grau de
constrição dentro dos vasos sangüíneos.
A resposta do sistema cardiorrespiratório durante o exercício man tém paralelismo inicialmente com a
intensidade e o tipo de contra ções musculares (estáticas versus dinâmicas), com a quantidade de massa
muscular ativa e, subsequentemente, com a fadiga que pode ria estar ocorrendo.
Durante o exercício, os impulsos neurais primários para as áreas cardiorrespiratórias incluem impulsos
descendentes provenientes do córtex motor, que a seguir são aprimorados por receptores sensíveis a
fatores mecânicos ou químicos localizados nos músculos esquelé ticos, nos tendões,
nas articulações ou nas grandes artérias (caróti da, aorta). As ajustagens cardiovasculares são
obtidas principalmente por meio de um aumento na atividade neural simpática e/ou de uma redução na
atividade neural parassimpática. Isso pode incluir a ativação da parte central da glândula
supra-renal, ou medula, que resulta na li beração de noradrenalina e adrenalina. Os ajustes
ventilatórios são feitos por ativação dos nervos frênicos e intercostais que se dirigem ao
diafragma e aos músculos intercos tais. Essas respostas cardiovasculares e ventilatórias podem
receber, res pectivamente, a denominação de reflexo pressor do exercício e
hiperpnéia induzida pelo exercício. Tenta-se a regulação precisa por meio de impulsos gerados por
um erro de realimentação e enviados dos receptores periféricos (e, pos sivelmente, centrais) para que
seja assinalada a necessidade de ajus tagens sistemáticas adicionais. A regulação nunca
é perfeita.
Fibras musculares
Sangue venoso
Átrio
Ventrículo
Coração direito
Figura 10.1 Os sistemas respiratório e circulatório trabalham juntos inti mamente para atender, em todas as
condições, as demandas de per muta e transporte dos gases por parte das células.
Resumo do Sistema Cardiorrespiratório
Áreas de Controle Respiratório
gases nessa interface tecidual-capilar transforma o sangue arte Comecemos
nossa discussão do controle cardiorrespiratório re
rial em sangue venoso. A seguir, o sangue venoso retorna ao sumindo as
funções desse sistema. Vemos na Fig. 10.1 que o
coração direito e, subsequentemente, aos pulmões, onde todo o sistema
respiratório proporciona em primeiro lugar um meio pelo
processo de permuta e transporte dos gases se repete indefinida qual o ar é
movimentado para dentro e para fora dos pulmões.
mente. Esse movimento rítmico de vaivém do ar é denominado ventila ção
pulmonar. A seguir, o oxigênio trazido a partir do meio ambiente externo pela
ventilação pulmonar é oferecido ao san
gue graças a uma extensa rede de capilares que circundam os - cerca de 600
milhões de minúsculos sacos aéreos ou alvéolos, e Cardiovascular
encontrados nos pulmões. O sangue contido inicialmente dentro dos, capilares é
relativamente pobre em oxigênio e rico em dió xido de carbono. Na membrana
alveolocapilar, o oxigênio di
Como mencionado na introdução a este capítulo, a difícil tare funde-se do ar
presente nos alvéolos para o sangue capilar. Ao fa de receber informação acerca da ventilação
pulmonar e do mesmo tempo, o dióxido de carbono difunde-se na direcão oposta fluxo sangüíneo, de
integrá-la e, a seguir, de iniciar uma res (do sangue capilar para o ar alveolar). Assim sendo,
as membra- posta destinada a equiparar a demanda mecânica e metabólica nas
alveolocapilares representam uma interface funcional entre ocorre nas áreas de
controle respiratório e cardiovascular do os sistemas respiratório e circulatório.
cérebro. Mais especificamente, a ação de processamento cen A segunda tarefa
importante é o transporte do sangue rico em tral ocorre em redes de células nervosas e suas
conexões, loca oxigênio (arterializado para os tecidos corporais. Essa tarefa é lizadas
principalmente no bulbo (medula oblongada) do tron realizada pelo lado esquerdo do
coração e seus vasos sangüíne- co cerebral. Anatomicamente, é bastante difícil
distinguir a área os associados. Observar na Fig. 10.1 que um dos tecidos que de
controle cardiovascular da área de controle respiratório, no recebem sangue do lado
esquerdo do coração é o músculo esque- entanto, fisiologicamente são
entidades separadas. Por exem lético. Convém lembrar do Cap. 6 que o músculo
esquelético é plo, os estudos mostraram que a estimulação elétrica de certas irrigado
abundantemente com leitos capilares, que entram todos áreas afeta principalmente a
respiração, enquanto a estimula em íntimo contato com as fibras musculares
individuais. Na ção de áreas próximas, porém diferentes, afeta principalmente
membrana tecidual-capilar, ocorre uma segunda permuta dos a circulação.
gases. Desta vez, o oxigênio difunde-se dos capilares para as efeito sobre a
respiração consiste principalmente em uma células dos tecidos. E, exatamente
como ocorre nos pulmões, o modificação na ventilação pulmonar (alveolar) (i, e., na
freqüên dióxido de carbono difunde-se na direção oposta. A permuta dos cia
e particularmente na profundidade da respiração). Os efeitos
228
Fox/Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte
se refere ao nosso campo profissional, estimulação significa aumento na
atividade das células nervosas e das conexõesacima influenciam da mesma maneira
a ventilação em repouso e/ou durante o exercício. Quan- do agem em conjunto no ser
humano intacto, alguns desses me- canismos "mascaram" o efeito de outros quando
esses outros agem de uma maneira redundante. Isso é particularmente válido ao
comparar os mecanismos centrais versus periféricos. Como no sistema cardiovascular,
o problema da redundância não é ne- cessariamente um problema prejudicial, em vista
da natureza vital da hiperpnéia do exercício para a sobrevida.
A regulação dessas variáveis ocorre como resultado de ajus tagens na freqüência
cardíaca, contratilidade miocárdica, fre qüência e profundidade da respiração e
reorientação do fluxo sangüíneo através de modificações no tônus arteriolar (mais ou
menos vasoconstrição).
A inervação do aparelho cardiorrespiratório envolve tanto o sistema nervoso voluntário
(responsável pelos músculos respi ratórios) quanto o sistema nervoso involuntário ou
autônomo (responsável pelo coração e vasos sangüíneos).
Durante o exercício, os estímulos predominantes que regulam a ventilação, a pressão
arterial, a PO, a PCO, e a concentração de íons H+ são (1) maior atividade do córtex motor
ou comando central; (2) alterações na bioquímica muscular, na contração, ou na
elaboração de tensão estática; (3) aumento na concentração arterial de H+ e na PCO;
(4) elevação da pressão arterial; e (5) secreção de noradrenalina e adrenalina pela
medula supra-renal.
Durante o exercício, tanto estático quanto dinâmico, as res postas
cardiorrespiratórias (freqüência cardíaca, contratilidade, ventilação) são
acionadas inicialmente por impulsos de coman do central tipo antecipação
(feedforward) que "transbordam" e influenciam o bulbo em sua ação de iniciar a
contração muscu lar. Essa resposta inicial é, portanto, sincronizada magistralmente utilizando
o influxo proveniente de uma ampla variedade de re ceptores encontrados nos músculos
esqueléticos, nos músculos respiratórios ou nas carótidas ou na aorta.
Treinamento Físico e Controle Cardiorrespiratório
Questões
Foi mostrado que o treinamento físico afeta alguns dos mecanis- mos de controle
cardiovascular e respiratório que acabamos de rever. Por exemplo, a conhecidíssima
bradicardia do treinamen to é mediada por meio de mecanismos diferentes em repouso e
durante o exercício.4. 13 (Ver também Cap. 12.) A bradicardia em repouso é devida ao
controle parassimpático exacerbado, enquan to a freqüência cardíaca mais baixa para
determinado VO, (bra dicardia do esforço) representa principalmente o resultado
de um menor impulso simpático. Além disso, o maior impulso sangüí neo para os
músculos ativos por ocasião do exercício máximo após um treinamento físico é
causado provavelmente pela inibi ção dos nervos vasoconstritores simpáticos que
inervam as arte ríolas nos músculos que estão sendo exercitados. Aí o efeito glo bal é um
aumento no fluxo sangüíneo máximo para os músculos ativos.
As diferenças entre indivíduos treinados e destreinados exis tem também na área
do controle voluntário, pois as pessoas trei nadas exibem menores aumentos na ventilação
por unidade de VO, ou VCO,. Isso significa uma menor resposta ventilatória para
determinados estímulos químicos. Ainda mais, foi mostra do que os impulsos
ventilatórios hipóxicos e hipercápnicos es tão relacionados inversamente ao VO, máx.
Como sói aconte cer, essas adaptações ao treinamento apóiam a observação de
uma maior capacidade de suportar o exercício.
1. Onde estão localizados no cérebro os centros que regulam a
função respiratória e circulatória? As respostas geradas por essas duas áreas reguladoras
são separadas ou integradas?
Explicar. 2. Fornecer exemplos descritivos de estímulos centrais, físicos,
neurais periféricos e humorais que participam no controle
cardiorrespiratório. 3. Discutir a inervação do aparelho cardiorrespiratório. Incluir
em sua resposta ambos os braços" do sistema nervoso auto
nomo. 4. Esboçar como a pressão arterial e o fluxo sangüíneo são re
gulados durante o exercício. Não deixe de incluir respostas reguladoras que ocorrem
no início do exercício assim como aquelas que ocorrem durante as fases subsequentes
do exer
cício. 5. Esboçar como a ventilação é regulada durante o exercício. Não
deixe de incluir respostas reguladoras que ocorrem no início do exercício assim como
aquelas que ocorrem nas fases sub
seqüentes do exercício. 6. Discutir as semelhanças e diferenças entre a regulação da res
piração e da circulação durante o exercício baseado em suas respostas para as questões 4
e 5.
Resumo
Referências
O controle nervoso do sistema cardiorrespiratório é essencial para a eficiência
funcional global desse sistema; assim sendo, acaba mos de estudá-lo com alguns detalhes. Os
componentes essenci ais desse controle são encontrados nas áreas respiratórias e circu
latórias localizadas no tronco cerebral. A estimulação por coman do central, humoral,
física e neural periférica dessas áreas ajuda a regular certas variáveis importantes, como
pressão arterial, venti lação e concentração de PO, PCO, e H no sangue arterial.
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veremos adiante, essa maior atividade desencadeia alterações reguladoras na
ventilação e no fluxo san güíneo.
circulatórios incluem alterações na freqüência cardíaca, no vo- lume de ejeção
(força de contração ou contratilidade miocárdi- ca), na distribuição do sangue
para os vários órgãos (vasocons- trição e vasodilatação) e no retorno venoso
(venoconstrição). Embora a estimulação das áreas respiratórias ou
cardiovascula res possam afetar um sistema mais que outro, elas possuem co
nexões neurais, razão pela qual cada uma delas é informada até certo ponto
acerca da atividade da outra. Portanto, a estimula ção de uma área em geral
afetara, por meio de sua conexão com a outra, tanto a ventilação quanto o fluxo
sangüíneo. Isso, evi dentemente, faz sentido, pois as alterações em ambos os siste
mas costumam ser necessárias para que o corpo possa respon der de uma
maneira eficaz e coordenada.
Classificação dos Estímulos
Estimulação das Areas de Controle
Cardiorrespiratório
Agruparemos os muitos estímulos aferentes mostrados na Fig. 10.2 em quatro
classificações funcionais: comando central, hu morais, físicos e neurais periféricos.
Convém estar ciente de que cada um desses estímulos pode não induzir
alterações iguais, ou mesmo nenhuma alteração, na função cardiovascular e na
pul monar. Abaixo é fornecida uma descrição sucinta de cada uma das
quatro classificações dos estímulos.
Comando motor central ou, simplesmente, influxo do coman do central para o
centro cardiorrespiratório ocorre principalmen te por neurônios originados no
cortex motor e que "se irradiam" ou "transbordam" quando passam através do
centro cardiorres piratório em seu trajeto de iniciação de uma ação do músculo
esquelético. Essa ação de transbordamento no bulbo pode dar
As áreas cardiorrespiratórias no tronco cerebral são estimuladas pelo influxo
recebido de uma ampla variedade de localizações dentro do corpo, como
mostrado à esquerda da Fig. 10.2. No que
Estímulos (influxo)
Resposta (exteriorização)
Ventilação (freqüência e profundidade)
Comando
central
(motor) Contração, tensão, bioquímica local (H+)
Músculos ventilatórios
Débito cardíaco (freqüên cia e volume de eje ção)
Pressão venosa
Coração
CO2, O3, H+ arteriais
Áreas de controle cardiorrespiratório
• Ventilação/
vasoconstrição
• Venoconstrição
Pressão arterial
Arteríolas e veias
Músculos ventilatórios
Medula supra-renal
P. ex., dor e temperatura corporal
Secreção
Outra informação
Adrenalina Noradrenalina
Figura 10.2 Controle nervoso do sistema cardiorrespiratório. Vários tipos de informação
(estímulos) de todas as partes do corpo são enviados às áreas respiratórias e circulatórias
localizadas no tronco cerebral. A seguir, utilizando essa informação, as áreas induzem, se
necessário, alterações reguladoras na ventilação pulmonar e no fluxo sangüíneo.
Controle Cardiorrespiratório
229
origem a modificações tanto na ventilação quanto na função reflexos de tosse e
espirro). Apesar de todos esses estímulos cardiovascular. Mais especificamente,
comando central signifi- neurais serem importantes, estamos mais interessados
naqueles ca envolvimento de uma excitação paralela e simultânea de cir- com
origem nos músculos. cuitos neuronais que controlam os sistemas tanto locomotor
quan- Por exemplo, dois mecanismos reflexos neurais têm origem to
cardiorrespiratório. 16 As ações iniciadas pelos centros cardi- nos músculos
esqueléticos e constituem o reflexo pressor do orrespiratórios influenciam a atividade
neural para o coração e exercício.' A informação de realimentação (feedback) do refle
os vasos sangüíneos assim como o fluxo anterógrado neural para xo pressor do
exercício para as áreas cardiorrespiratórias do bulbo os neurônios motores que
inervam os músculos respiratórios. ocorre principalmente através de fibras aferentes
Grupo III e Além disso, o comando central pode ser iniciado por condições Grupo IV.
As terminações nervosas das fibras Grupo III são ati mentais (emoções) integradas
pela região hipotalâmica do siste- vadas principalmente por alterações tipo deformação
(formato) ma límbico.
no músculo em contração e recebem a designação de mecanor Os estímulos
humorais são originados por modificações nas receptores. As terminações nervosas
das fibras Grupo IV são propriedades químicas do sangue ou do líquido cerebrorraqui-
ativadas principalmente por alterações metabólicas* dentro e ao diano, que acabam
influenciando os receptores localizados em redor dos músculos esqueléticos e recebem
a designação de outros locais no corpo. Uma vez ativados, esses receptores pro-
metabolorreceptores. Observar que utilizamos a palavra prin porcionam um influxo
neural aferente para a área cardiorrespi- cipalmente nas duas sentenças anteriores.
Claramente, a separa ratória, que a seguir evoca uma resposta apropriada. Os recepto-
ção entre os dois receptores não é simples, pois uma parte dos res a que estamos nos
referindo são principalmente quimiorre- mecanorreceptores é sensível aos estímulos
metabólicos e, inver ceptores sensíveis a modificações na bioquímica dos líquidos, tais
samente, uma parte dos metabolorreceptores é sensível aos esti como
concentração de PO,, PCO,,K+, e/ou ao pH. Estes quimi- mulos mecânicos.
Abordaremos o reflexo pressor do exercício orreceptores estão localizados no bulbo
(sendo denominados com mais detalhes adiante neste capítulo. quimiorreceptores
centrais) ou em outros locais no corpo, tais Outro possível receptor que pode contribuir
para a regulação como nos corpúsculos aórtico da aorta ou nos corpúsculos caro-
cardiorrespiratória — que é menos compreendido que qualquer tídeos encontrados na
bifurcação das artérias carótidas. Os qui- um dos dois receptores já mencionados — é
o termorreceptor miorreceptores centrais são sensíveis a modificações na bioquí-
muscular.13 Normalmente a temperatura muscular fica abaixo de mica do líquido
cerebrorraquidiano (e do sangue) (principalmente 35° C em repouso e pode ultrapassar
os 40° C durante o exercí PCO, e pH), enquanto os quimiorreceptores aórticos e
carotíde- cio dinâmico — perfeitamente dentro da variação normal de os (denominados
quimiorreceptores periféricos) são sensíveis a acionamento de 24° a 44° C para esses
receptores. Um fato que modificações na bioquímica do sangue (concentrações de
PCO,, justifica nosso desconhecimento acerca dos termorreceptores PO, e H+ ou K).
musculares é a dificuldade de manipular experimentalmente a As alterações nas
características físicas do sangue (por exem
temperatura muscular local enquanto são controlados ao mesmo plo, pressão, volume,
temperatura) são classificadas como es
tempo os efeitos que o sangue, aquecido ao passar através do tímulos físicos. Entre essa
classe de estímulos existem meca- músculo, pode exercer sobre a temperatura corporal
central. norreceptores sensíveis à pressão (os barorreceptores) localiza dos na croça da
aorta e nas artérias carótidas. Os barorrecepto res para uma pressão
baixa-localizados nos átrios, nos ventrí- Açao sobre as Areas
Cardiorrespiratorias culos, na artéria pulmonar e na veia pulmonar —
também parti cipam. Por exemplo, uma queda na pressão arterial ao nível da Como
indicado no Quadro 10.1, os estímulos podem agir aorta altera os barorreceptores,
que irão assinalar ao centro car- sobre as áreas cardiorrespiratórias através de
mecanismos de diovascular que é necessário iniciar ações corretivas destinadas
antecipação (feedforward) e/ou de realimentação (feedback). Os a elevar a
freqüência cardíaca, a contratilidade e a resistência estímulos de antecipação
(feedforward) agem sobre as áreas periférica sistêmica total — que ajudam todas a
aumentar a cardiorrespiratórias diretamente por intermédio do comando pressão arterial.
central (impulsos nervosos provenientes dos centros cerebrais Os estímulos
neurais periféricos independem de modificaçõessuperiores). A estimulação de
realimentação (feedback) das áre nas propriedades químicas ou físicas do
sangue; pelo contrário, as cardiorrespiratórias faz parte de uma resposta reflexa
que têm origem em modificações que ocorrem nos pulmões, nos ocorre através de
nervos sensoriais aferentes com origem em músculos, nas articulações, nos tendões e
na pele, e que résul- receptores especializados localizados em todo o corpo. Neste tam
na geração de uma resposta neural aferente para as áreas caso, o número e a
freqüência de impulsos sensoriais aferentes cardiorrespiratórias. A informação de
realimentação por eles baseiam-se em modificações na pressão arterial; na
tempera proporcionada diz respeito a (1) modificações na bioquímica tura
sangüínea/muscular; nas concentrações sangüíneas/mus local (e,
possivelmente, na temperatura) dentro e ao redor do culares de PO, PCO, e H*;
na contração muscular; e no mo músculo esquelético; (2) contração muscular e
movimento ou vimento dos membros. Os nomes e as localizações dos recepto
elaboração de tensão por parte do membro; e (3) dor intensa, res são resumidos no
Quadro 10.1 e são mostrados esquemati desconforto geral e/ou presença de
irritantes respiratórios (daí oscamente na Fig. 10.2.
*Em geral, as fibras nervosas eferentes são aquelas com origem no sistema ner- voso central (cérebro
ou medula espinhal) com a finalidade de efetuar (daí a palavra eferente) uma ação em outro local dentro
do corpo. Fibras aferentes são fibras sensoriais com origem em tecidos diferentes do sistema nervoso
central e que, uma vez ativadas por vários estímulos (por exemplo, dor), informam ao sistema nervoso
central acerca das condições locais.
*Um suprimento insuficiente de 0, (fluxo sangüíneo precário) aos músculos ativos durante um exercício
extenuante modifica o metabolismo local, de forma que se passa a depender cada vez mais das vias
anacróbicas para a produção de energia. Isso resulta na produção de lactato, que eleva a concentração
de H no intersticio muscular e ativa os metabolorreceptores sensíveis às substâncias quí micas.
230
Quadro 10.1 Ação de Vários Estímulos sobre as Áreas Cardiorrespiratórias
do Tronco Cerebral e seus Efeitos sobre a Respiração e a Circulação
Ação sobre as áreas cardiorrespiratórias
Efeitos
Fox/Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte
Receptor
Estímulos
De antecipação (Feedforward)
De realimentação
(Feedback)
Circulação Freqüência cardíaca Tônus arteriolart
Tipo
Localização
Respiração
hespiraya
Comando central
Humorais (sangue ou LCR)
Aumento de PCO, H+, K+
Químio
Tronco
cerebral, carótida
Redução na PO,
Químio
Artérias, ou
croça da aorta
Maior quantidade de
adrenalina e noradrenalina
Químio
Físicos
Elevação da pressão
Baro
Croça da aorta,
artérias carótidas
Aumento de volume
Pressão ou
estiramento
Átrio direito/artéria
pulmonar
Neurais periféricos
Músculos respiratórios
Estiramento ou
mecano
Músculos, articulações.
tendões
Outros músculos esqueléticos
Mecânicos
Mecano
Músculo
Metabólicos
Metabo
*Não existem receptores envolvidos com o mecanismo de antecipação (feedforward); LCR = líquido
cefalorraquidiano; 1 = mais vasoconstrição; Menos vasoconstrição em geral domina no músculo esquelético
ativo, por causa dos metabólitos vasoativos.
= menos vasoconstrição.
Controle Cardiorrespiratório
231
Inervação do Aparelho Cardiorrespiratório
leradores simpáticos, ou ambos. Durante o exercício,* ocorre tanto uma privação
parassimpática, que é responsável principal mente pelo aumento inicial na
freqüência cardíaca (de até ~ 100
batimentos/min), quanto um aumento no tônus simpático, que se A inervação do
sistema cardiorrespiratório é mostrada esque
torna mais dominante com freqüências acima de 100 batimen maticamente à direita na Fig.
10.2. Os nervos motores conec
tos/min. Inversamente, logo após a parada do exercício, a esti tados aos músculos
ventilatórios (Cap. 7) são denominados
mulação imediata dos nervos vagos obscurece o aumento per nervos motores somáticos
(somático significa "corpo"). Sabe
sistente na atividade simpática que é "induzido pelo exercício mos que, ao serem estimulados,
afetam tanto a freqüência quan
e produz uma queda rápida na freqüência cardíaca. 10 to a profundidade da
respiração. Além disso, pertencem ao sis
Os nervos que inervam os músculos lisos das arteríolas e vei tema nervoso voluntário,
como os que inervam os outros mús
as também pertencem ao sistema nervoso autônomo. Em sua culos esqueléticos. Isso
explica por que temos um certo con
maior parte incluem nervos simpáticos que, quando estimulados, trole voluntário sobre a
ventilação — em outras palavras, por
causam constrição arteriolar e venoconstrição — daí o termo que podemos alterar
voluntariamente nosso comportamento
nervos vasoconstritores simpáticos. Cabe-nos assinalar que exis ventilatório, como
respirar profundamente ou prender a respi
tem alguns nervos simpáticos que agem apenas sobre as arterío ração (apnéia).
las dos músculos esqueléticos e, quando estimulados, causam Os nervos que inervam
o coração e os vasos sangüíneos, por
vasodilatação (nervos vasodilatadores simpáticos). Esses nervos outro lado, são
bastante diferentes. Isso é evidenciado pelo fato
são relativamente menos importantes que os nervos vasocons de, em geral, não exercermos
qualquer controle voluntário so
tritores, e são considerados mais ativos na reação de alarme/de bre o sistema
circulatório. Esses nervos em particular pertencem
fesa ou antes, e no início, de um exercício. ao sistema nervoso autônomo, ou
involuntário, que possui dois
Quando ativados novamente durante o exercício, a "intenção" componentes: a
divisão simpática e a divisão parassimpática.
dos nervos vasoconstritores simpáticos consiste em produzir
dos nervos vasoconstritores sim O sistema simpático estimula as ações
corporais que são neces
vasoconstrição arteriolar. Não obstante, a vasodilatação predo sárias durante uma
situação emergencial ou estressante (consi
mina nos músculos esqueléticos metabolicamente mais ativos, derando-se o
exercício, habitualmente, uma forma positiva de
por causa do acúmulo de agentes vasodilatadores produzidos estresse) — para as
denominadas "respostas de luta, medo e Tocalmente, como adenosina, acido latico, ions
hidrogenio, ions fuga." O sistema nervoso simpático às vezes é denominado sis
potássio, CO, e, possivelmente, óxido nitroso. Assim sendo, tanto tema toracolombar ou
sistema adrenérgico. O primeiro nome os nervos vasoconstritores simpáticos que reduzem o
diâmetro baseia-se no fato de suas fibras nervosas iniciais (pré-ganglio arteriolar (e,
conseqüentemente, o fluxo sangüíneo) para os te nárias) emergirem de todos os níveis
torácicos e dos dois níveis cidos metabolicamente menos ativos (os órgãos viscerais e os
superiores lombares da coluna vertebral. A expressão sistema músculos esqueléticos inativos)
quanto a vasodilatação acima nervoso adrenérgico baseia-se no neurotransmissor liberado por
mencionada nos músculos mais ativos agem em conjunto com a suas fibras terminais
(pós-ganglionares) (isto é, norepenefrina finalidade de redistribuir o sangue para longe dos tecidos inati
ou noradrenalina).
vos e na direção dos músculos ativos. Em contrapartida, o sistema parassimpático está
associado Antes de encerrar nossa discussão acerca da ativação do sis com a conservação e
a restauração dos recursos corporais. Ou- tema cardiorrespiratório, cabe-nos mencionar um
grupo de cé tros nomes atribuídos a esta divisão do sistema nervoso auto- lulas glandulares
especializadas encontradas dentro da região nomo incluem sistema crânio-sacro ou sistema
colinérgico. O medular (porção central) das glândulas supra-renais. Essas cé primeiro
refere-se ao fato de suas fibras iniciais ou pré-gangli- lulas são semelhantes
aos nervos simpáticos, pois elas também onares emergiremseja com vários nervos cranianos,
seja em liberam noradrenalina (norepinefrina). Além disso, liberam uma níveis muito mais baixos da
coluna vertebral sacra. O termo substância química semelhante denominada adrenalina (epine sistema
colinérgico provém do neurotransmissor (i. e., acetil- frina). Essas duas substâncias químicas recebem
a designação de colina) que é secretado por suas fibras terminais ou pós-gan-
catecolaminas e agem como hormônios, pois são lançadas no glionares.
sangue. São secretadas mais freqüentemente pela medula supra Quando estimulados,
os nervos simpáticos que inervam o co- renal quando são estimuladas as fibras
nervosas simpáticas que ração — exatamente todo o coração (com uma quantidade pro-
agem nessa área. Isso ocorre durante o alarme ou o medo e du porcionalmente maior para os
ventrículos) — acarretam uma rante o exercício. maior freqüência e força de contração
(aumento no volume de Em geral, a liberação de adrenalina pela medula supra-re
ejeção). Essa é a razão de serem denominados nervos cardioa- nal é maior que a
liberação de noradrenalina (aproximadamente celeradores. Inversamente, quando
estimulados, os nervos pa- 80% do que é liberado o é na forma de adrenalina);
entretanto, rassimpáticos (i. e., os nervos vagos) induzem uma redução na durante o
exercício, a concentração sangüínea de noradrenali freqüência cardíaca (e, num grau
muito menor, uma redução na na é mais alta que aquela de adrenalina. O nível mais
alto de contratilidade). Os nervos vagos cardíacos inervam predominan- noradrenalina
que de adrenalina durante o exercício resulta do temente os nódulos sinoatrial e
atrioventricular, com algumas fato de que ~ 20% da noradrenalina liberada pelas fibras
sim fibras distribuídas para os dois átrios e um número de fibras muito páticas em todo
o corpo "transborda” a partir das fendas sinap menor distribuído para o músculo
ventricular. O equilíbrio ou a ticas neurais e penetra no sangue — em vez de ser
captada interação entre os nervos cardíacos simpáticos e parassimpáti cos proporciona
um mecanismo de controle extremamente pre ciso.
Por exemplo, os aumentos na freqüência cardíaca podem re
*Em repouso, o coração encontra-se principalmente sob a influência dos nervos
vagos esquerdo e direito. De fato, as freqüências cardíacas mais lentas observa sultar tanto de um
menor ritmo de estimulação dos nervos vagos
das entre atletas bem treinados são devidas, em grande parte, a um aumento no quanto de um maior
ritmo de estimulação dos nervos cardioace- tônus vagal.
232
Fox/Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte
novamente pelas terminações nervosas. Os dois órgãos que ótimos.
Em relação ao sistema de controle cardiorrespiratório, fazem as
maiores contribuições de transbordamento para o esforça-se para manter
a ventilação, a pressão arterial e o fluxo aumento na noradrenalina
plasmática durante o exercício são sangüíneo em níveis ótimos na
condição de repouso, durante o os músculos esqueléticos e os rins. O efeito
da adrenalina e exercício e por ocasião de uma exposição aos extremos térmi
noradrenalina circulantes tanto sobre o coração quanto sobre cos e
gravitacionais. Como se pode conjeturar, essa tarefa não é os músculos
lisos dos vasos sangüíneos e os bronquíolos são simples — complicando-se
ainda mais quando as necessidades quase idênticos aos efeitos produzidos
quando são estimulados metabólicas se modificam de um minuto para outro (por
exem os nervos simpáticos que inervam esses tecidos. Além disso, plo, passar
do repouso em um ginásio com ar condicionado para esses hormônios causam
numerosas outras ações em todo o uma corrida ao ar livre num dia quente). corpo, como um
aumento na taxa metabólica, inibição do trato Explicar de forma detalhada todos os
mecanismos envolvi gastrintestinal, dilatação das pupilas, liberação de glicose e sua dos com a
manutencão de uma funcão cardiorrespiratória ótima penetração no sangue, e a
mobilização de ácidos graxos (ver em repouso e durante o exercício ultrapassa
a finalidade deste também Cap. 17).
capítulo. Além disso, ainda não foram plenamente elucidados os papéis precisos dos
vários estímulos que influenciam a referida função. Portanto, no material que
vem a seguir, apresentamos os fatores e as ações predominantes que
consideramos importantes. Numerosos e excelentes artigos de revisão e
investigações ori
ginais foram publicados acerca desse tópico, muitos dos quais Uma das
funções mais importantes de qualquer sistema de con- foram
utilizados extensamente para apresentar o material que trole fisiológico
consiste em manter certas variáveis em níveis segue.6,9,10,11, 12, 13, 14, 15,
16
Controle Cardiorrespiratório em Repouso e
Durante o Exercício formato
Estudo Avançado
Receptores Adrenérgicos
As ações de noradrenalina e adrenalina não são devidas apenas à nas vísceras. Com a ajuda
dos receptores alfa, testemunhamos a va sua presença na membrana celular. A natureza e a
extensão das soconstrição e a reorientação do fluxo sanguíneo dos tecidos meta ações
causadas por essas duas catecolaminas dependem também bolicamente menos ativos para os
músculos esqueléticos metaboli do tipo e do número de receptores localizados na própria
membrana camente mais ativos. celular. Tentemos explicar.
Nos anos 70, tornou-se disponível uma classe de medicamentos Imagine, se puder, que cada
receptor age como um buraco de fe- denominados agentes bloqueadores beta-adrenérgicos — resumida
chadura, enquanto as catecolaminas agem como uma chave. A mente beta-bloqueadores. Esses
medicamentos (por exemplo, catecolomina (chave) deve encaixar-se corretamente dentro do bu-
inderal, metoprolole atenolol) agem como agentes que bloqueiam si raco da fechadura
devidamente configurado (receptor) antes de po-multaneamente as ações dos receptores beta,,
beta, ou ambos. Sua der exercer sua ação sobre a célula. Existem três tipos principais de
utilização na medicina como meio para bloquear as ações do siste buraco de fechadura que
respondem à noradrenalina ou adrenalina; ma nervoso simpático tornou-se generalizada,
especialmente no tra são denominados receptores alfa, receptores beta, e receptores beta.
tamento da pressão arterial alta (hipertensão) e de certos distúrbios E, apesar de esses
receptores influenciarem inúmeras outras ações cardíacos. Por exemplo, para as pessoas que
sofreram um ataque em todo o corpo, para nossa finalidade é importante saber que a es- cardíaco, o
uso diário de um beta-bloqueador reduz as taxas de ata timulação dos receptores alfa resulta em
vasoconstrição das arterio- ques cardíacos subsequentes em 25%. Paremos por um instante las que
nutrem os músculos esqueléticos e as vísceras (por exem- para investigar como funcionam esses
agentes. plo, trato gastrintestinal), assim como no fracionamento do glicogê- Convém lembrar
da discussão precedente que os receptores beta nio no fígado (glicogenólise). A estimulação
dos receptores beta, encontrados nas membranas celulares agem como buracos de fecha acarreta
aumentos na freqüència cardíaca e na contratilidade e o fra- dura e, quando penetrados pela
chave correta (noradrenalina ou adre cionamento das reservas de gorduras (lipólise). A
estimulação dos nalina), iniciam uma determinada ação dentro da célula. Se, como o receptores
beta, acarreta vasodilatação das arteriolas coronarianas nome implica, os beta-bloqueadores
penetram ou boqueiam os recep e relaxamento dos bronquiolos (broncodilatação).
tores beta cardíacos, impedirão que as catecolaminas "entrem" e pos A noradrenalina, a
substância química que pode tanto ser libera- sam exercer seu efeito pleno. Nesse caso, haverá
um menor aumento da e lançada na circulação pela medula supra-renal quanto ser libe- na
freqüência cardíaca e um menor aumento na contratilidade. Ou seja, rada como um
neurotransmissor pelas terminações nervosas simpá- a ação que as catecolaminas pretendiam realizar
é abafada. ticas pós-ganglionares,estimula apenas os receptores alfa e os re- Os pacientes que sofrem
de um bloqueio aterosclerótico nas ar ceptores beta. A adrenalina, por outro lado, que é liberada e
lança- térias coronarias que fornecem sangue ao coração (doença cardía da na circulação pela
medula supra-renal, estimula todos os três re- ca isquêmica) possuem uma capacidade menor
de proporcionar oxi ceptores — alfa, beta, e beta2.
gênio de maneira adequada ao próprio músculo cardíaco. Esses Durante o exercício
moderado, a noradrenalina é liberada pelos pacientes são tratados amiúde com
beta-bloqueadores. Por qué? nervos simpáticos diretamente para o coração, que a seguir
interage Porque nos períodos de estresse (e de exercício), quando o coração com
(encaixa-se dentro de) os receptores beta, localizados nas cé- está sendo literalmente
"bombardeado" com maiores níveis de adre lulas cardíacas. Com a ajuda dos receptores beta, a
noradrenalina nalina e noradrenalina, o uso de beta-bloqueadores ajuda a minimi torna-se capaz então
de exercer sua ação plena sobre o coração - zar os aumentos na freqüència cardíaca e na
contratilidade respon acarretando um aumento na freqüência e na força de contração. Ao
sáveis pelo "consumo de oxigênio." O resultado final é que a deman mesmo tempo, a
noradrenalina está sendo liberada também pelos da de oxigênio pelo miocárdio é reduzida (até
mesmo durante o exer nervos vasoconstritores simpáticos na direção das células do mús- cício) e,
dessa forma, é mantida dentro dos limites da quantidade que culo liso arteriolar tanto nos músculos
esqueléticos inativos quanto pode ser fornecida pelas artérias coronarias estreitadas.
Controle Cardiorrespiratório
233
Controle em Repouso
Tronco cerebral
Nervo de Hering Corpúsculo carotídeo (quimiorreceptor) Seio carotídeo (barorreceptores)
Nervos vagos
Croça da aorta (barorreceptores)
Figura 10.3 Sistemas de realimentação (feedback) para os barorrecep tores (pressão) e
quimiorreceptores (PO2, PCO, H) arteriais.
Os fatores mais importantes na manutenção de uma ventila ção e de um fluxo
sangüíneo adequados em repouso são as mu danças observadas na pressão
arterial, na PO, na PCO, e nas concentrações dos íons H+. Como já foi mencionado
neste capí tulo, as modificações nas pressões arteriais representam uma forma de
estímulos físicos, enquanto os outros três representam estímulos humorais
(químicos).
Por exemplo, quando um indivíduo passa da posição de de cúbito dorsal para a
postura ereta, o que acarreta uma "estag nação" do sangue nas extremidades
inferiores, observa-se uma queda inicial no fluxo sangüíneo para a cabeça e a
parte supe rior do corpo que está associada com uma redução na pressão arterial (a
Pmedia cai). Eventualmente poderia resultar uma per da de consciência se não
fosse pelo fato de essa queda na pres são ser percebida rapidamente pelos
barorreceptores, encon trados principalmente nas paredes das artérias carótidas
inter nas e na croça da aorta (Fig. 10.3). Esses receptores sensíveis à pressão respondem
com intensidade máxima às modificações no estiramento transluminal (através das paredes).
Como resultado, é alterado o ritmo de acionamento dos sinais neurais aferentes
gerados pelos barorreceptores - aqueles que se dirigem ao bul bo através dos
nervos vagos, dos nervos de Hering e de outros nervos. O resultado final é: (1) inibição do
influxo parassimpá tico para o miocárdio que acarreta o aumento na freqüência car díaca
e, possivelmente, na contratilidade (efeito Treppe) e (2) um aumento na ação dos
nervos vasoconstritores simpáticos eferen tes (que causa um aumento na
resistência periférica sistêmica total).* Mais especificamente, após dois a três
minutos na po sição ereta, pode-se observar que a pressão sistólica, então, é
apenas ligeiramente mais baixa que na posição de decúbito dorsal, e a freqüência cardíaca
pode continuar ligeiramente elevada. In versamente, um aumento na pressão arterial
media (por exemplo, acima de 95 a 100 mm Hg, que é o valor manti do normalmente
em repouso) acarreta uma elevação no tônus parassimpático (queda na freqüência
cardíaca) e inibição dos nervos vasoconstritores simpáticos (menos vasoconstrição).
Esse tipo de controle é denominado mecanismo de controle por realimentação
(feedback).
Além dos barorreceptores aórticos e carotídeos aqui mencio nados, outros
estímulos também podem afetar a pressão arterial e o fluxo sangüíneo. Esses outros
mecanismos incluem (1) os barorreceptores de pressão baixa encontrados no
coração e na árvore vascular pulmonar e (2) os quimiorreceptores encontra dos nos corpúsculos
carotídeos na bifurcação da artéria carótida comum e nos corpúsculos aórticos
localizados junto da aorta (Fig. 10.3). Por si sós, os barorreceptores de pressão
baixa não identi ficam as alterações na pressão com tanta precisão como identi ficam
as modificações bruscas no volume sangüíneo. Entretan to, sua importância durante o
exercício continua obscura e, como resultado, não serão discutidos em mais detalhes.
Os quimiorreceptores são sensíveis a uma redução na PO,, a um excesso na PCO,
ou a um excesso nos íons H. Se o fluxo (e a pressão) para esses receptores
cair, haverá uma queda no con teúdo de O, e um acúmulo de CO, e de íons H+
dentro e ao redor dos receptores. Uma vez estimulados, eles também enviam
si nais aferentes ao bulbo através dos nervos de Hering ou dos ner Vos vagos. Entretanto,
em relação ao controle do fluxo sangüí neo e da pressão arterial, os quimiorreceptores
desempenham um papel menos importante em comparação com os barorrecepto res.
Incontestavelmente, sua função mais importante consiste em ajudar na ajustagem mais
delicada da ventilação.
Por exemplo, se houver uma queda brusca na PO, do sangue K55 mm Hg) —
como aquela que poderia ocorrer na infeliz vítima que está presa no incêndio de
uma casa e que está sujeita à inalação de monóxido de carbono — a resposta consiste
em um aumento na ventilação. Além disso, as modificações na concen tração de
PCO, e Ht no sangue arterial influenciam os quimior receptores carotídeos e aórticos (e
os quimiorreceptores centrais encontrados no bulbo), ocorrendo então alterações
corresponden tes ou corretivas na ventilação (freqüência e profundidade). Di
ferentemente da maneira como os quimiorreceptores carotídeos e aórticos
esperam até que aja uma queda drástica na PO, antes de emitirem sinais aferentes, esses
mesmos receptores são sen síveis a pequenas modificações na PCO, e na concentração dos
íons H.
Controle Durante o Exercício
*Convém lembrar do Cap. 9: Pédia = 0 XT PR Onde: 0 = volume de ejeção X freqüência cardíaca
Portanto, os aumentos na freqüência cardíaca e no volume de ejeção elevam a pressão. Além disso, os
aumentos na resistência periférica nos braços, nas per nas e nas vísceras reorientam parte do sangue destinado a
fluir nessas áreas para o tórax e a cabeça. O efeito global do que foi exposto acima ajuda a evitar que as
pessoas percam a consciência quando ficam de pé.
Enquanto as alterações na pressão arterial, na PO, na PCO, e na concentração de íons
H representam os estímulos regula dores predominantes em repouso, isso pode ou não
ser válido durante o exercício. Mais especificamente, durante o exercício modifica-se o
limiar para ativar alguns desses estímulos.
Primeiro, sabemos por experiência que a freqüência cardía ca e a ventilação
aumentam antes de o exercício começar, muito antes de ocorrerem alterações na
pressão arterial, na PO,, na PCO, e na concentração de íons H+. Por exemplo, em uma
234
Fox/Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte
pessoa que está prestes a ser submetida a um teste de esforço máxima do indivíduo. O
exemplo acima difere do exercício di com exercícios, pode-se observar amiúde que a
freqüência car- nâmico, como nadar, onde o aumento no fluxo sangüíneo (débi díaca
aumenta aproximadamente no mesmo momento em que to cardíaco) equivale à
intensidade do esforço, que está relacioa esteira rolante é ligada — literalmente
enquanto essa pessoa nada diretamente com a quantidade de oxigênio que está sendo
está sentada e esperando para dirigir-se até a máquina. A sim- consumido pelos
músculos esqueléticos metabolicamente mais ples expectativa do exercício e o fato de ver
ou ouvir a correia ativos. Em ambos os casos, essas e outras) respostas cardiovas da esteira
rolante movimentar-se colocam o indivíduo de pron- culares são mediadas por alterações na
atividade dos sistemas tidão para a realização do esforço por meio da inibição dos
nervosos parassimpático e simpático. Além disso, no que con nervos vagos cardíacos.
cerne à atividade dos nervos vasoconstritores simpáticos tanto Segundo, sabemos por
razões fisiológicas que um aumento na para as vísceras quanto para os músculos
esqueléticos inativos, freqüência cardíaca (e no volume de ejeção) eleva a pressão ar-
sabemos que tal atividade também está relacionada ao início e à terial. Se esse aumento
na pressão (que é normal durante o exer- progressão da fadiga nos músculos que estão
sendo exercitados. cício) fosse induzir o reflexo barorreceptor durante o exercício Agora
cabe olhar mais atentamente para a maneira como as ajus da mesma maneira como o
faz em repouso, a freqüência cardía- tagens cardiovasculares são mediadas durante o
exercício. Para ca e o volume de ejeção acabariam diminuindo em vez de au-
compreender melhor o material que vem a seguir, consultar, se mentar. Felizmente, os
barorreceptores são "desligados” tempo- necessário, a Fig. 10.4.8
rariamente — ou, mais especificamente, eles são "reorganizados" mais rapidamente
num limiar mais alto quando o exercício é
Exercício Isométrico iniciado. Isso permite que a freqüência cardíaca e a pressão
arte rial possam aumentar com pouca oposição.
No exercício isométrico (estático), o comando central eleva Terceiro, as
modificações na PO, arterial, na PCO, e na con
principalmente a freqüência cardíaca e o débito cardíaco por centração de íons H+
teriam de ser muito bem pronunciadas para
privação vagal do sistema nervoso parassimpático. Isso resulta que fosse possível
explicar plenamente o grande aumento na
em uma menor liberação de acetilcolina ao nível do nódulo si ventilação pulmonar que
ocorre durante o exercício. De fato,
noatrial, tornando possível um aumento na freqüência cardíaca. essas variáveis
modificam-se muito pouco durante um exercício
Além disso, os mecanorreceptores sensíveis à deformação (ou de leve a moderado,
apesar de a ventilação-minuto aumentar em
sensíveis ao estiramento), que fazem parte do reflexo pressor do cerca de três a cinco
vezes. Durante um exercício muito intenso
exercício dos músculos esqueléticos, também podem participar. ou máximo, a PO,
pode cair ligeiramente e a concentração de íons
Esses receptores são ativados muito mais durante o início do H+ aumenta — esta
última devido principalmente ao acúmulo
exercício, dirigindo-se a seguir, principalmente através de fibras de ácido lático. Neste
caso, estas alterações — particularmente
aferentes Grupo III, para a área cardiovascular do bulbo. Aqui na concentração de íons
H+ — contribui provavelmente para o
eles iniciam a atividade simpática (que foi demonstrada clara aumento na ventilação.
mente em animais) de forma a induzir aumentos na freqüência Assim sendo,
quais são os estímulos que predominam duran
cardíaca e elevações na pressão arterial. Como já foi menciona te o exercício?
Lamentavelmente, até agora nem todos os estí
do, é provável que a ativação desses mecanorreceptores seja mais mulos foram
identificados ou explicados plenamente. No entan
proeminente durante o início e as fases iniciais do exercício es to, existem vários que
são, sabidamente, de importância primá
tático, pois foi mostrado que seus ritmos de acionamento (dis ria no sentido de influenciar a
função cardiorrespiratória. Esses
paro) diminuem com bastante rapidez à medida que o exercício incluem: (1) maior atividade
do córtex motor (comando central),
continua. (2) modificações na bioquímica muscular, na contração e no
Se a atividade isométrica vigorosa for mantida por qualquer
desenvolvimento de tensão estática, (3) alterações na concentra
período de tempo (>1 a 2 min), isso resulta em falta de oxigê ção sangüínea de H e
de PCO, (4) modificações na pressão
nio para os músculos em contração e no acúmulo de metaboli arterial e (5) maior
secreção de noradrenalina e adrenalina pela
tos, como potássio, adenosina, bradicinina e (especialmente) medula supra-renal. Seus efeitos
sobre a ventilação e o fluxo
H'. Esses agentes ativam os barorreceptores musculares sen sangüíneo são revistos no
Quadro 10.1. A maioria desses estí
síveis aos estímulos químicos, que por sua vez desencadeiam mulos (particularmente
os quatro primeiros) fornece informação
impulsos neurais aferentes periféricos na direção do bulbo atra muito mais acerca da intensidade
do exercício que do nível ou
vés das fibras (sensoriais) de condução mais lenta Grupo IV. da magnitude de
qualquer variável cardiorrespiratória em parti
Essas fibras percorrem a raiz dorsal da medula e, a seguir, acom cular. Isso permite que
as ajustagens subsequentes na ventilação
panham as vias ascendentes até o tronco cerebral. Uma razão e no fluxo sangüíneo mantenham
paralelismo com o aumento na
pela ativação retardada do metabolorreflexo muscular é que os permuta gasosa e nas
demandas de transporte de sangue para os
metabolitos devem acumular-se primeiro até alcançarem con músculos ativos.
centrações suficientes dentro e ao redor da célula muscular antes
de os receptores serem acionados. Entretanto, o resultado final Controle
Cardiovascular
é a estimulação dos nervos cardioaceleradores simpáticos que
agem sobre o nódulo sinoatrial (e outras áreas) do coração. A resposta do sistema
cardiovascular durante o exercício cor- Convém lembrar que isso acarreta um aumento na
freqüência responde ao tipo e à intensidade da atividade que está sendo re- e na
contratilidade. Os metabolorreceptores musculares resul alizada. Por exemplo, durante
um exercício tipo estático como tam também em estimulação dos nervos vasoconstritores sim
segurar ou empurrar um objeto pesado, o aumento na pressão páticos tanto dentro das
vísceras quanto do músculo esqueléti arterial está relacionado diretamente com a
quantidade de mas- co inativo, que por sua vez acarreta um aumento na pressão sa
muscular que participa (braços versus pernas) e com o percen- arterial que pode ser, ou não,
tamponado (aperfeiçoado) pelos tual de esforço que representa em relação à contração
voluntária barorreceptores arteriais.
Controle Cardiorrespiratório
235
Mecanismo neural central "Comando central"
Centros motores superiores
Impulsos descendentes
Aferentes vagais
Área cardiovascular
Eferentes vagais (parassimpáticos)
Eferentes simpáticos
Vias
-Nervo de Hering
espinhais ascendentes
SA
Barorreceptores do seio carotideo
Aferentes musculares
III e IV
------KNA
Nervos vagos
Mecanorreceptores III
Barorreceptores aorticos
---RNA
Músculo, rim e
arteríolas esplâncnicas Vasos esplâncnicos de capacitância
Metabolorreceptores IV
----continuar aumentando, pode ocorrer um segundo erro de
equivalência, desta vez entre o fluxo (fornecimento de oxigê Durante o
início do exercício dinâmico, o aumento na fre- nio) e as necessidades de
metabolismo muscular. Esse tipo de qüência cardíaca e no débito cardíaco é
causado primeiro por erro faz com que os músculos esqueléticos passem a
depender uma privação vagal de antecipação (feedforward) mediada pelo muito
mais da glicólise anaeróbica para a produção de energia, comando central.
Ainda mais importante, o comando central o que por sua vez ativa (em virtude
da produção de ácido láti também regula (em segundos) os barorreceptores
para um ní- co) os metabolorreceptores sensíveis a substâncias químicas a vel
ou um ponto operacional mais alto da pressão arterial. En- dispararem sinais
aferentes. Finalmente, ocorrerão ainda mais quanto o aumento na freqüência
cardíaca e no débito cardíaco aumentos de mediação simpática na
freqüência cardíaca, na causado pela privação parassimpática conseguir
elevar rapida contratilidade do miocárdio e na vasoconstrição. mente a
pressão arterial até seu novo ponto operacional, não O papel dos
mecanorreceptores musculares durante o exercí haverá qualquer erro de
equivalência entre a pressão arterial real cio dinâmico continua obscuro nos
seres humanos, o que se ex e o ponto operacional recém-estabelecido
(nenhum erro de pres- plica pelo fato de que nós (seres humanos)
representamos um são). Portanto, não haverá um aumento apreciável na
ativida- “modelo difícil para os cientistas no que diz respeito a isolar de
simpática. No entanto, se os aumentos de mediação paras- experimentalmente a
função apenas dos mecanorreceptores. simpática na freqüência e no débito
cardíaco forem insuficien- Esses receptores parecem ser apenas
ligeiramente ativos, ou até tes para elevar a pressão arterial até seu novo nível
operacio- inativos, durante a transição do repouso para um exercício dinâ nal
(erro de pressão), a atividade simpática será iniciada, o que mico ligeiro, porém
podem contribuir para o aumento no tônus influencia tanto os nervos
cardioaceleradores quanto os nervos simpático que ocorre durante o
exercício extenuante. vasoconstritores. Isso demonstra que o reflexo
barorreceptor é Com base na discussão precedente, parece que tanto o
coman essencial durante o exercício leve (e, possivelmente, também do
central quanto o reflexo pressor do exercício (metabolorre durante um
exercício moderado). Se a intensidade do exercí- ceptores e
mecanorreceptores musculares) desempenham papéis
236
Fox/Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte
Nota Clínica
Exercício e Transplante Cardíaco
Entre as pessoas normais e sadias (Fig. 10.5A), o aumento na fre- qüència cardíaca que
ocorre durante o exercício dinâmico progressi- vo é devido a modificações tanto nos níveis
sangüíneos de catecola minas quanto na atividade do sistema nervoso autônomo. Em repou- so,
a freqüência cardíaca é governada pela atividade parassimpática (vagal), sendo que
imediatamente antes e logo depois que o exercí- cio é iniciado, esse influxo é suprimido,
tornando possível um aumento na freqüência cardiaca. Quando a intensidade do exercício
aumenta e a freqüência cardíaca começa a ultrapassar -100 batimentos/min, a atividade
direta dos nervos simpáticos cardíacos é colocada "em ação" ("on line") para aumentar ainda
mais essa freqüência. Por oca- sião do exercício máximo, a atividade parassimpática está quase
completamente ausente e a atividade simpática predomina. Além disso, existe um aumento nas
catecolaminas plasmáticas relaciona- do com a intensidade do exercício (por exemplo, noradrenalina),
que age no sentido de aumentar a frequência.
Essa descrição dos fatores que regulam a frequência cardíaca du- rante o exercício entre pessoas
sadias é compreendida mais clara mente quanto é feita uma comparação com a resposta da
freqüência cardíaca ao exercício nos pacientes que foram submetidos a um trans- plante
cardíaco. Esses pacientes receberam um coração de um "do- ador consentido" — mais
especificamente, de uma pessoa que foi colocada em apoio vital após ter sido vítima de um
lamentável aci- dente fatal tipo traumatismo. Durante essa operação, os nervos au
tônomos (parassimpáticos e simpáticos) que se dirigiam ao coração original do receptor
são cortados e não podem ser reanastomosados ao coração doador.
Comparar a descrição do que controla a freqüência cardíaca du rante o exercício em
pessoas sadias e normais (Fig. 10.5A) ao que é mostrado na Fig. 10.5B para os receptores de
um transplante car díaco. Observar que, na ausência de controle vagal, a freqüência
cardíaca em repouso nos pacientes transplantados aproxima-se agora da frequência intrinseca do
nódulo sinoatrial ( 100 batimen- tos/min). Como resultado, observa-se pouco aumento na freqüên-
cia cardíaca durante o início do exercício, por causa da supressão vagal. Além disso, levando-se em
conta que não existem nervos simpáticos cardíacos diretos, os aumentos eventuais na
freqüência são causados apenas por elevações nos níveis sangüíneos das catecolaminas. De fato,
não é incomum que os pacientes transplan- tados demonstrem níveis mais altos de
noradrenalina que as pes-
soas normais em repouso, durante todo o período de exercício e por ocasião da
atividade máxima. Essa é uma maneira pela qual os seus corpos compensam a ausência de
inervação autônoma. Apesar desse acentuado aumento na noradrenalina plasmática, a
freqüên cia cardíaca máxima nos pacientes com transplante cardíaco em geral é mais baixa
que aquela conseguida pelas pessoas sadias. Isso é causado pela ausência dos nervos
simpáticos, que agem diretamente sobre o coração.
Nossa comparação entre pessoas sadias e receptores de trans plantes cardíacos não
termina com a cessação do exercício. Obser var na Fig. 10.5A que, entre as pessoas
normais, a freqüência cardi aca adota um padrão de recuperação com duas fases após o encer
ramento do exercício. No início, a freqüência cardíaca diminui rapi damente dentro de segundos a
2 minutos (resposta da Fase I) — sendo acompanhada por um declínio mais lento no
transcorrer dos 2 a 20 minutos seguintes (resposta da Fase II). Essa queda rápida na
freqüência cardíaca resulta principalmente de um enorme aumento no tônus vagal ao nível do nódulo
sinoatrial, quando o comando cen tral é "desligado" (a função motora cessa). Convém estar
ciente de que, após o exercício, a atividade simpática para o coração continua sendo alta em
virtude da ativação dos metabolorreceptores muscu lares por parte dos metabólitos e dos
íons H+ dentro e ao redor da célula muscular esquelética. Entretanto, a atividade simpática é so
brepujada pelo influxo parassimpático mais dominante, que acarreta uma redução na
freqüência cardíaca logo após a parada do exerci cio. A redução mais lenta (Fase II) na
freqüência cardíaca durante a recuperação subsequente é causada em parte pelo realinhamento da
demanda de O, pelo músculo esquelético com o suprimento de O, (0 metabolorreflexo
muscular é "desligado").
Na Fig. 10.5B (pacientes transplantados) observar que, na au sência de influxo parassimpático, a
freqüência cardíaca continua ele vada durante a recuperação. Aqui a ausência de uma resposta
da Fase I não se deve a um aumento persistente no influxo simpático cardíaco (convém lembrar que
esse influxo não existe); pelo con trário, deve-se provavelmente a (1) uma redução nos níveis plas
máticos de noradrenalina mas que ainda continuam elevados e (2) à incapacidade do coração
transplantado de eliminar a noradrena lina de seus tecidos. A frequência cardíaca diminui na
recuperação nesses pacientes, porém com um ritmo muito mais lento que nas pessoas
normais.
importantes na regulação da resposta cardiovascular ao exercí-
Controle Pulmonar ou Ventilatório cio estático e dinâmico nos seres
humanos. Mais especificamente, nenhum mecanismo deve ser escolhido com base
no fato de ser Um objetivo definitivoda ventilação consiste no fato de man o
mais importante. Na realidade, é mais apropriado considerar- ter concentrações
apropriadas de O2, CO, e H+ nos tecidos. E, mos esses dois mecanismos de controle
neural como redundan- felizmente, a capacidade do corpo humano em consegui-lo du tes.
Aqui o termo redundante significa que qualquer um dos rante o exercício é
realmente bastante excepcional. De acordo mecanismos (controle central ou
reflexo pressor do exercício) com Wasserman e al.,17" Apesar de um
aumento múltiplo na pro pode resultar em uma resposta cardiovascular semelhante (
dução de CO, e no consumo de O, durante o exercício, normal freqüência cardíaca, 1
pressão arterial), pois ambos agem in- mente os mecanismos reguladores
ventilatórios que possuímos dependentemente sobre os mesmos nervos
reguladores no bul- mantêm a concentração de PCO, e de H+
extremamente cons bo. Quando ambos os mecanismos estão funcionando
normal- tante por meio de uma ampla gama de taxas metabólicas." mente,
observa-se uma superposição, que demonstra que a ação Os mecanismos de
controle para o sistema pulmonar ou ven evocada pela área
cardiorrespiratória é proporcional a qualquer tilatório durante o exercício
são mostrados na Fig. 10.6. Obser um dos estímulos que seja maior -
comando central ou influxo var primeiro que existem semelhanças
entre esse modelo de con neural periférico. Portanto, esses mecanismos
reguladores são trole e aquele mostrado para a regulação cardiovascular na Fig.
considerados muito mais como redundantes que como aditivos. 10.4. Por
exemplo, as áreas respiratórias e cardiovasculares do Entretanto, essa
redundância não é necessariamente prejudicial, bulbo recebem ambas
impulsos de (1) as regiões motoras supe na medida em que torna-se importante
pelo fato de garantir um riores descendentes do cérebro e (2) impulsos aferentes ascen
bom fluxo sangüíneo aos músculos esqueléticos metabolicamente dentes da
periferia.18 Apesar de continuarmos explicando com ativos durante o
exercício.
mais detalhes os elementos específicos de cada sinal, em linhas
Controle Cardiorrespiratório
237
Atividade parassimpática Atividade simpática NA plasmática
Freqüência cardíaca (batimentos/min)
Repouso
Máximo
Leve Leve Moderado
Moderado Nivel de esforço
Recuperação
NA plasmática
Freqüência cardiaca (batimentos/min)
Repouso
Máximo
Leve Moderado
Nível de esforço
Recuperação
>
Figura 10.5 Fatores que contribuem para o aumento na resposta da freqüência cardíaca
durante o exercício dinâmico e a recuperação entre pes soas normais e sadias (A) e pacientes com
transplantes cardíacos (B). Observar a ausência de atividade parassimpática e simpática nos pacientes
com transplante cardíaco. (NA = noradrenalina.)
gerais podemos explicar que a elevação rápida na ventilação, que
unidades motoras adicionais para a elaboração de tensão. Durante ocorre
por ocasião do início do exercício, deve-se ao "transbor- esse tipo de
exercício (estático), o aumento na ventilação é cau damento" do comando
central (motor) dos neurônios que pas- sado muito mais por um aumento no volume
corrente que por um sam através do bulbo quando vão iniciar a contração
muscular. aumento na freqüência da respiração. Além disso, esse aumento Esse
aumento mediado pelo comando central (controle de ante- na ventilação não parece
ser muito influenciado pelos quimior cipação) na ventilação é, pois, dependendo do
tipo de atividade, receptores periféricos. Quando a contração isométrica é
interrom sintonizado magistralmente por sensores periféricos (controle de
pida, observa-se uma queda significativa e rápida na ventilação.
realimentação ou feedback). Agora voltaremos a explorar a re gulação ventilatória
durante o exercício isométrico e dinâmico. Exercício Dinâmico
Exercício Isométrico
Como foi mencionado previamente, no início do exercício ocorre um aumento na
ventilação (hiperpnéia do exercício) que é causado predominantemente pelo
comando central. Durante o exercício isométrico progressivo (de leve a
cansativo), a venti- lação aumenta ainda mais quando certas unidades motoras
pas- sam a disparar com maior freqüência ou quando são recrutadas
Durante o exercício dinâmico, o comando central (motor) é, novamente, o principal
mediador do aumento dramático na ven tilação (volume corrente e freqüência) que
ocorre no início do exercício. Os aumentos na freqüência e na profundidade da
res piração tornam-se possíveis graças a uma maior atividade neu ral para os
neurônios motores que inervam tanto os músculos intercostais quanto o
diafragma (nervo frênico). O grau de hiperpnéia do exercício às vezes é
proporcional à magnitude da
238
Fox/Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte
Estudo Avançado
Controle Cardiovascular
De toda a discussão na seção 3, e possivelmente em todo o livro, com preender a regulação
cardiovascular durante o exercício dinâmico pode ser literalmente um pesadelo para muito
estudantes. Para eli minar o desconforto representado por este material, resumimos nos sa
apresentação do controle cardiovascular durante o exercício dina mico adaptando um modelo
elaborado por O'Leary.11
1. No início do exercício, observa-se um aumento na freqüència car
díaca (e na contratilidade) quando o comando central inicia, tra- balhando através do bulbo,
uma redução no tônus parassimpá tico. Isso torna possível um aumento no débito cardíaco (e
uma elevação na pressão arterial). Além disso, existe provavelmente alguma— não muita -
atividade vasoconstritora simpática para as vísceras (por exemplo, trato gastrintestinal), de forma
que o sangue pode começar a desviar-se para os músculos esqueléti
cos metabolicamente mais ativos, 2. Ao mesmo tempo, o ponto operacional para os
barorreceptores
carotídeos e aórticos é regulado rapidamente para um nível mais alto, que contribui provavelmente
para uma redução ainda mai- or no tônus parassimpático. Neste ponto, parece não haver uma
participação significativa por parte dos metabolorreceptores
musculares nem dos mecanorreceptores musculares. 3. A medida que a intensidade do
esforço de trabalho aumenta até
além de um nível ligeiro de intensidade (frequências cardíacas
> 100 batimentos/min), o débito cardíaco (freqüência cardíaca e volume de ejeção) aumenta ainda
mais em virtude da privação adicional da atividade parassimpática e de importantes aumen tos no tônus
simpático cardíaco e vasoconstritor. O aumento no tônus simpático é causado pela ativação dos
metabolorrecepto res musculares, provavelmente por uma maior participação dos barorreceptores e,
possivelmente, pela ativação dos mecanorre
ceptores musculares. 4. Nas proximidades do esforço máximo, a atividade parassimpáti
ca quase inexiste e a atividade simpática passa a existir com ni veis grandemente aumentados.
Como resultado, a frequência cardiaca, o volume de ejeção e o débito cardíaco exibem todos o
máximo de funcionamento. Portanto, qualquer aumento adi cional na pressão arterial que seja
necessário somente poderá ocorrer através da vasoconstrição periférica — parte da qual
deverá ocorrer nos músculos esqueléticos ativos, pois estão recebendo agora a maior parte
(> 80%) do fluxo sangüíneo
total. 5. Após um exercício máximo, a freqüência cardíaca cai bruscamen
te à medida que a atividade parassimpática aumenta rapidamente após a eliminação do comando
central. O aumento no tônus va gal obscurece o aumento persistente na atividade simpática, que
persiste por um certo período de tempo, em virtude da ativação continua dos metabolorreceptores
musculares.
produção de força muscular e à taxa metabólica. O comando ração, e
todos possuem fuso muscular, órgão tendinoso de Gol central também
contribui provavelmente durante todo o período gi e fibras aferentes Gupo III e
Grupo IV como os outros mús de exercício, ajudando a manter constante a CO.
Além disso, culos esqueléticos. Apesar de a ativação dos aferentes dos músvários outros mecanismos agem sobre os centros respiratórios culos
respiratórios não proporcionar o impulso primário para a bulbar e ajudam a
realizar uma “sincronização delicada" da res- hiperpnéia do exercício, é provável
que esses nervos influenci posta ventilatoria (Fig. 10.6).
em a ventilação durante o exercício de várias maneiras possíveis. O primeiro
desses “outros mecanismos envolve quimiorre- Para nossas finalidades,
mencionaremos apenas uma: eficiência ceptores tanto centrais (tronco cerebral)
quanto periféricos, dos da respiração. Os elementos específicos responsáveis por esse
quais os últimos são encontrados nas artérias carótidas e na aor- mecanismo
ainda não foram plenamente elucidados, porém as ta. Os quimiorreceptores
centrais são sensíveis a um aumento nas fibras aferentes provenientes
dos mecanorreceptores dos múscu concentrações de PCO, ou H+ no líquido
cerebrorraquidiano. Os los respiratórios (e, possivelmente, dos pulmões)
fornecem in quimiorreceptores carotídeos e aórticos também são sensíveis
às formação ao bulbo destinada a regular a eficiência (custo em 02)
mudanças nas concentrações de PCO, e de H+; no entanto, são da
respiração. Mais especificamente, os aferentes do fuso mus influenciados
também por um aumento no potássio e uma redu- cular e do órgão tendinoso de
Golgi informam ao cérebro acerca ção drástica na PO.. Depois que o comando
central tiver propor- das condições existentes nos músculos respiratórios, que a
seguir cionado o principal impulso para aumentar a ventilação, esses agem
modificando o padrão de disparo dos neurônios assim como quimiorreceptores
(os mais importantes dos quais são os recep- a freqüência e a profundidade da
respiração entre os músculos tores carotídeos) aperfeiçoam a ventilação de
forma a minimi- inspiratórios e expiratórios e os músculos das vias aéreas. O re
zar as alterações na PCO2. De forma que, uma elevação de 1 mm sultado
desejado consiste em minimizar o trabalho da respiração. Hg na PCO, resulta em
um aumento aproximando de 2 L/min Ainda outros mecanismos de realimentação
(feedback) pro na ventilação.2
porcionam um influxo ao bulbo e, como resultado, também po Em sua maior parte, as
alterações (uma redução) na PO, du- dem ajudar a aprimorar a resposta
ventilatória durante o exercí rante o exercício não contribuem muito para a
hiperpnéia do cio. Esses incluem (1) os proprioceptores,
mecanorreceptores e exercício. No entanto, imagine-se o indivíduo que dirige
do ní- metabolorreceptores encontrados nos músculos que estão sendo vel do
mar até uma elevação de 3.070 m. Com essa viagem, a exercitados e (2) os
mecanorreceptores encontrados no ventri pressão parcial de O, inspirado é
reduzida de 150 mm Hg para culo direito. Claramente, os receptores do fuso
muscular, do ór 100 mm Hg — resultando em uma redução da PO, arterial para
gão tendinoso de Golgi e de outras articulações dentro e ao re → 66 mm Hg.
Essa enorme queda na PO, estimula os quimior- dor do músculo
esquelético ativo proporcionam estímulos afe receptores encontrados nos
corpúsculos carotídeos das artérias rentes ao centro respiratório. Além
disso, as fibras aferentes carótidas que irão enviar sinais aferentes ao centro
respiratório Grupo III e Grupo IV ativadas pela deformação mecânica e
por do bulbo, acarretando um aumento na ventilação.
alterações na bioquímica local ao redor dos músculos esqueléti O
diafragma, os músculos intercostais e os músculos expira- cos, respectivamente,
também são conhecidas por participarem tórios abdominais representam os
músculos primários da respi- da ventilação. O que continua obscuro,
porém, é o papel exato
Controle Cardiorrespiratório
239
Centro motor superior Impulsos descendentes
Quimiorreceptores centrais Líquido cefalorraquidiano CO2, [H]
Area respiratória
Receptores pulmonares e das vias aéreas
Quimiorreceptores carotídeos e aorticos PCO, PO,, [H+], [K]
| Músculo respiratório (intercostal)
Nervo
Nervo
frênico
Mecanorreceptores
Tipo III Aferentes
Tipo IV
Metabolorreceptores
Figura 10.6 Controle sobre o sistema ventilatório durante o exercício. A área respiratória é
atingida por impulsos descendentes provenientes da região motora do cérebro (comando
central), dos quimiorreceptores centrais e de uma ampla variedade de impulsos ascendentes
provenientes de receptores especializados destinados a realizar "a sincronização mais
delicada" da hiperpnéia do exercício. Esses receptores incluem os quimior receptores dos
corpúsculos carotídeos e aorticos e os aferentes dos músculos intercostais e do diafragma. Durante o
exercício, a ventilação pode ser aprimorada também por receptores pulmonares e das vias aéreas e/ou
metábolo-e mecanorreceptores dos músculos esqueléticos. Isso resulta em maior atividade neural
para o diafragma e os músculos intercostais através dos nervos frênicos e intercostais, que a
seguir elevam a freqüência e a profundidade da respiração com a finalidade de regular a PO,, a
PCO, e o pH arteriais.
dos sinais aferentes anteriormente mencionados em relação à regulação da
ventilação durante o exercício. É bem aceito que sua influência, se houver
alguma, é certamente menor que aque- la dos quimiorreceptores carotídeos.
Talvez esses receptores proporcionem abundantes mecanismos de controle
quando com- parados ao comando central. Uma das razões que contribui para a
nossa falta de conhecimento preciso acerca desses receptores é a dificuldade
enfrentada pelos cientistas no que concerne à ela- boração de
experiências capazes de isolar adequadamente o re- ceptor específico que
está sendo estudado.
Além disso, alguns investigadores postularam que um recep tor ainda não
identificado existente no pulmão — destinado a identificar as modificações no
fluxo de CO, (definido como o produto de débito cardíaco X concentração de
CO, no sangue venoso misto) — também medeia a hiperpnéia do exercício.
Nesse caso, um aumento no fluxo de CO2, como aquele que ocor re
durante o exercício quando existe um aumento no fluxo san- güíneo pulmonar
e/ou um aumento no conteúdo de CO, venoso, poderia iniciar uma
realimentação (feedback) aferente para o
bulbo e resultar em aumento na ventilação. Entretanto, o pensa mento atual —
apesar de estudos que fornecem evidência tanto a favor quanto contra a
existência de receptores relacionados ao fluxo de CO,— estabelece que um
mecanismo associado ao flu xo de CO, (e a outros receptores pulmonares e das
vias aéreas) não age para mediar a ventilação durante o exercício. Essa con
clusão baseia-se, em parte, em estudos completados em pacien tes que foram
submetidos a um duplo transplante de pulmão, procedimento no qual são
cortadas todas as fibras aferentes para o bulbo. O exercício realizado por
esses pacientes demonstra uma hiperpnéia do exercício extremamente
semelhante (aumento na ventilação minuto ou na ventilação alveolar), quando
compara dos às pessoas com pulmões normais e intactos. Isso sugere que
os aferentes pulmonares simplesmente não desempenham um papel importante
durante o exercício.
Durante o exercício dinâmico, árduo ou intenso, o corpo exi be uma
hiperventilação, pois o aumento na ventilação é despro porcionalmente maior
que o aumento no ritmo de trabalho. Pa rece que o acúmulo de H no sangue
não é o único fator respon
240
Fox/Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte
sável pelo acionamento desse aumento na ventilação induzido pelos quimiorreceptores
carotídeos. É provável também a parti- cipação de outros fatores, como um aumento nas
catecolaminas plasmáticas, um aumento no potássio sangüíneo e o impulso central
(quando mais músculos são recrutados voluntariamente para corresponder ao esforço
de trabalho).
Como a regulação cardiovascular durante o exercício, nossa discussão acerca do controle
respiratório durante o exercício não seria completa sem uma menção ao conceito de
redundância. Por si sós, muitos dos mecanismos