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DIREITO PENAL ESPECIAL E LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE1 
PROF. ALEX RIBEIRO CABRAL 
 
AULA 04.1 – LESÃO CORPORAL 
 
1 – CONCEITO e PREVISÃO LEGAL 
 
Trata-se do crime a partir do qual o agente, com consciência e vontade de 
ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem, adota conduta hábil à consecução de 
tal objetivo. 
 
O crime traz subdivisão entre lesões dolosas e culposas. 
 
No tocante à modalidade dolosa, pode obter quatro resultados diferentes: 
leve, grave, gravíssima ou seguida de morte. 
 
Lesão corporal 
 
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de 
outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano. 
 
Lesão corporal de natureza grave 
 
§ 1º Se resulta: 
 
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 
trinta dias; 
 
II - perigo de vida; 
 
III - debilidade permanente de membro, sentido ou 
função; 
 
 
1 Elaborado com base, precipuamente, nas obras: I. SANCHES, Rogerio. Manual de Direito Penal: Volume 
Único. II. ROQUE, Fabio. Direito Penal Didático. III. GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal 
Esquematizado: Parte Especial. IV. GRECO, Rogério. Código Penal Comentado; V. CAPEZ, Fernando. Curso 
de Direito Penal; VI. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 
 
2 
 
IV - aceleração de parto: 
 
Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
 
§ 2° Se resulta: 
 
I - Incapacidade permanente para o trabalho; 
 
II - enfermidade incuravel; 
 
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; 
 
IV - deformidade permanente; 
 
V - aborto: 
Pena - reclusão, de dois a oito anos. 
 
Lesão corporal seguida de morte 
 
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o 
agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: 
 
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
 
Diminuição de pena 
 
§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de 
relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, 
logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a 
pena de um sexto a um terço. 
 
Substituição da pena 
 
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda 
substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a 
dois contos de réis: 
 
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo 
anterior; 
 
II - se as lesões são recíprocas. 
 
Lesão corporal culposa 
 
§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) 
 
Pena - detenção, de dois meses a um ano. 
 
Aumento de pena 
 
§ 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer 
qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 deste Código. 
(Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012) 
 
3 
 
§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 
121.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990) 
 
Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 
2004) 
 
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, 
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva 
ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações 
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela 
Lei nº 11.340, de 2006) 
 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. 
(Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) 
 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) 
anos. (Redação dada pela Lei nº 14.994, de 2024) 
 
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as 
circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a 
pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004) 
 
§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será 
aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa 
portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006) 
 
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente 
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do 
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no 
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, 
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão 
dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído 
pela Lei nº 13.142, de 2015) 
 
§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões 
da condição do sexo feminino, nos termos do §2º-A do art. 121 deste 
Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021) 
 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Incluído pela 
Lei nº 14.188, de 2021) 
 
§ 13. Se a lesão é praticada contra a mulher, por 
razões da condição do sexo feminino, nos termos do § 1º do 
art. 121-A deste Código: (Redação dada pela Lei nº 14.994, 
de 2024) 
 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) 
anos. (Redação dada pela Lei nº 14.994, de 2024) 
 
 
2 – OBJETO JURÍDICO TUTELADO 
 
A integridade física e a saúde das pessoas (inclusive saúde mental). 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art44
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art44
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art44
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14994.htm#art1
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14994.htm#art1
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14994.htm#art1
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3 – LESÃO CORPORAL LEVE 
 
De início, importante observar que a lei não conceitua o que seria uma lesão 
leve. Teremos, portanto, a presença da lesão leve por mera exclusão, afinal as lesões 
corporais que NÃO se enquadrarem dentre as graves (art. 129, §1º) ou gravíssimas (art. 
129, §2º), serão consideradas leves. 
 
Advém, portanto, a necessidade de o perito, diante da análise de lesão, atestar 
em laudo se há ou não a presença de lesões graves ou gravíssimas. Se o legista não identificar 
as hipóteses de lesão grave ou gravíssima, estaremos diante de lesão leve. 
 
Eis o que ocorre na prática. São esses os quesitos a serem respondidos pelo 
perito (legista) quando lhe é encaminhada vítima que sofreu lesão corporal: 
 
 
Também devemos lembrar que a ofensa à integridade física caracterizadora 
da lesão corporal somente será aferível diante da presença de escoriações, equimoses 
(manchas roxas/azuis ou vermelhas), cortes, fraturas, fissuras, hematomas, queimaduras 
etc, isto porque é necessário que a agressão resulte em rompimento ou dilaceração do 
corpo da vítima, seja externa, seja internamente. 
 
Os chamados eritemas (vermelhidão na pele) decorrentes de beliscões, tapas 
etc não são considerados típicos de lesão corporal, pois não há rompimento ou dilaceração 
do corpo da vítima, mas sim um breve deslocamento sanguíneo que se desfaz na sequência. 
 
5 
 
Os eritemas podem configurar vias de fato (art. 21, da Lei das Contravenções 
Penais (Decreto-Lei 3.688/41))2 ou tentativa de lesão corporal, a depender da intenção do 
agente. 
 
Até mesmo por isso, podemos verificar nos quesitos acima que o primeiro 
deles é voltado a responder se houve, de fato, ofensa à integridade física ou à saúde da 
vítima. Se o perito responder negativamente, estaremos diante de fato atípico ou de vias de 
fato, que serão explicadas mais adiante. 
 
Ademais, não podemos nos esquecer de que lesão corporal também pode ser 
aquela que afeta a saúde da vítima, causando-lhe perturbações fisiológicas ou mentais. 
 
Ex.: ministração de dose elevada de laxante para a vítima a fim de provocar-
lhe desarranjo intestinal. 
 
3.1 Distinção entre Lesão Leve e Vias de Fato 
 
Quando se trata de lesão corporal, o agente tem o dolo de lesionar a vítima, 
isto é, afetar a sua integridade física ou saúde. 
 
Por outro lado, nas vias de fato (art. 21, do Decreto-Lei 3.688/41), o agente 
não tem a intenção de machucar/ferir a vítima. As vias de fato, na grande maioria das 
ocasiões, equivalem aos casos de empurrão, beliscão, tapa, ou seja, incapazes de produzir 
dilaceração ou rompimento no tecido da vítima. 
 
3.2 Distinção para Injúria Real 
 
 
2 Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém: 
Pena – prisão simples, de quinze dias a trêsmeses, ou multa, de cem mil réis a um conto de réis, se o 
fato não constitui crime. 
 
6 
 
Na injúria real (art. 140, §2º, CP3), o agente tem a intenção de humilhar a 
vítima, não de lesioná-la. O caráter humilhante da ação decorre da natureza do ato (raspar 
o cabelo / cuspir no rosto da vítima) ou do meio empregado pelo agente (atirar tomate ou 
ovos em pessoa que está discursando / jogar um copo de água no rosto da vítima para 
causar vexame). 
 
Importante: se da injúria real decorre lesão leve, o agente responderá pelos 
dois crimes, haja vista a parte final do §2º do art. 140 do CP. No caso de injúria real praticada 
mediante vias de fato (ex: empurrão da vítima em piscina para causar-lhe embaraço), as vias 
de fato ficam absorvidas pela injúria real. 
 
3.3 Ação Penal 
 
Os crimes de lesão corporal leve e lesão culposa são de Ação Penal Pública 
Condicionada, vide art. 88, Lei 9.099/954. 
 
Caso se trate de lesão corporal leve no âmbito de violência doméstica ou 
familiar contra a mulher, passa a ser crime de Ação Penal Pública Incondicionada, haja vista 
a redação do artigo 41, da Lei Maria (11.340/2006)5. 
 
*Atenção: as vias de fato são objeto de Ação Penal Pública Incondicionada, 
segundo o artigo 17 da Lei das Contravenções Penais (Decreto-Lei 3.688/41), o que, de 
 
3 Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
[...]. 
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, 
se considerem aviltantes: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. 
 
4 Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a 
ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas. 
 
 
5 Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente 
da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. 
 
ADI 4424 – STF. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9099.htm
7 
 
certo modo, gera um aspecto contraditório, pois trata-se de fato de menor gravidade em 
relação à lesão leve, mas o Estado não precisa da representação da vítima para denunciar o 
agente, diferentemente do que ocorre com a lesão corporal leve, na qual é necessária a 
manifestação de interesse do ofendido. 
 
3.4 Consentimento do Ofendido 
 
Segundo parte minoritária da doutrina, a incolumidade física é bem jurídico 
indisponível, não havendo possibilidade de consentimento da vítima para a prática de lesão 
contra si. 
 
Todavia, o posicionamento que vem sendo adotado pela maior parte da 
doutrina é de que é possível o consentimento da vítima, desde que maior de idade e capaz, 
em se tratando de lesões leves, tanto que, como visto acima, a ação penal relacionada ao 
crime de lesão corporal leve é de natureza condicionada, ou seja, a existência de inquérito 
policial para apuração do fato e da própria ação penal dependem de expressa manifestação 
da vítima. 
 
Ex.: realização de tatuagens, colocação de piercings etc. 
 
3.5 Elemento Subjetivo 
 
Dolo direto ou eventual. 
 
Em se tratando de lesão culposa, veremos mais adiante o art. 129, §6º. 
 
4 – LESÃO CORPORAL GRAVE 
 
Voltemos ao artigo 129, §1º, do CP para passar a analisar as lesões 
consideradas graves pelo legislador, as quais são tidas como circunstâncias qualificadoras e 
merecerão pena mais severa: 
 
8 
 
Lesão corporal de natureza grave 
 
§ 1º Se resulta: 
 
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 
trinta dias; 
 
II - perigo de vida; 
 
III - debilidade permanente de membro, sentido ou 
função; 
 
IV - aceleração de parto: 
 
Pena - reclusão, de um a cinco anos. 
 
 
 
4.1 Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias 
 
 
O legislador trata ocupações habituais como qualquer ocupação do ofendido; 
não há necessidade de se verificar incapacitação necessariamente para o trabalho. Portanto, 
cabe a presença de lesão corporal grave se a vítima fica sem praticar esportes, andar, correr, 
trabalhar ou qualquer outra atividade rotineira que exerça. 
 
Lembra-se que não é necessário que o agente tenha o dolo de causar essa 
específica condição ao ofendido (ficar longe das ocupações habituais por mais de 30 dias). 
Logo, trata-se de crime que pode ou não ser preterdoloso. 
 
O crime é questão também é conhecido como crime a prazo, pois será 
necessária a realização de laudo pericial complementar no 31º dia após a lesão, a fim de se 
verificar se a lesão ainda incapacita o ofendido para suas ocupações habituais. 
 
Atenção ao art. 168, §§2º e 3º, do CPP: 
 
Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o 
primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se- 
á a exame complementar por determinação da autoridade 
policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do 
Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu 
defensor. 
9 
 
 
[...]. 
 
§ 2º Se o exame tiver por fim precisar a 
classificação do delito no art. 129, § 1º, I, do Código Penal, 
deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado 
da data do crime. 
 
§ 3º A falta de exame complementar poderá ser 
suprida pela prova testemunhal. 
 
Por fim, registra-se que a doutrina exige que as ocupações habituais das quais 
a vítima se afasta devem ser lícitas. Logo, se indivíduo que se dedica a uma vida de crimes 
fica impossibilitado de cometê-los por mais de 30 dias em virtude de ter sofrido lesão 
corporal, não será possível a aplicação da qualificadora sob análise (a lei não pode proteger 
aqueles que atentam contra ela). 
 
Por outro lado, admite-se a configuração do art. 129, §1º, I, se a vítima, por 
exemplo, é prostituta, deixando de exercer o meretrício por mais de 30 dias, isto porque, 
não obstante tratar-se de atividade considerada imoral, não é ilícita. 
 
4.2 Se resulta perigo de vida 
 
 
Perigo de vida deve ser entendido como a possibilidade concreta de morte 
da vítima, a qual deve ser atestada por laudo médico, devendo ser especificado no 
documento o motivo pelo qual o ofendido esteve sob real risco de vida, evitando-se análise 
genérica por parte do legista. 
 
Ex.: grande perda de sangue; ferimento de órgão vital; necessidade de cirurgia 
de emergência. 
 
Trata-se de hipótese, necessariamente, preterdolosa. Afinal, se ficar 
verificado que a intenção do agente era, efetivamente, tirar a vida do ofendido, teremos 
homicídio tentado. 
 
4.3 Se resulta debilidade permanente de membro, sentido ou função 
 
10 
 
 
Debilidade deve ser lida como a redução na capacidade de utilização do 
membro, sentido ou função, a qual, todavia, mantém-se, parcialmente, em uso. 
 
Necessário que a debilidade seja irreversível, isto é, permanente. 
 
Se a lesão resultar em inutilização de membro, sentido ou função, teremos a 
lesão corporal gravíssima, prevista pelo art. 129, §2º, III. 
 
Membros: braços e pernas. Ex. de lesão grave: perda de um dedo; diminuição 
na mobilidade de braço; diminuição na mobilidade das pernas, fazendo com que a vítima 
passe a andar mancando. Atenção: caso a vítima fique paraplégica, falar-se-á em lesão 
gravíssima, pois em tal caso não terá ocorrido a debilidade, mas sim a inutilização de 
membro. Em se tratando de perda do dedo polegar, a doutrina também defende que se 
trata de lesão gravíssima, pois o ofendido ficará impossibilitado de segurar ou pegar objetos. 
 
Sentidos: são os mecanismos sensoriais (visão, audição, paladar, olfato, tato). 
Ex.: vítima que perde 30% da capacidade de audição ou visão. 
 
*Importante: segundo majoritária doutrina e jurisprudência, a perda da visão 
total de um dos olhos configura debilidade de sentido e não perda de sentido. Trata-se, 
portanto, de lesão corporal grave e não gravíssima. 
 
Funções: circulatória, respiratória, mastigatória, reprodutora etc.A perda parcial de uma dessas funções também resultará em lesão grave. 
 
4.4 Se resulta aceleração de parto 
 
 
Necessária para a caracterização dessa hipótese que o parto ocorra, de forma 
prematura, advindo o nascimento da criança com vida. 
 
11 
 
Imprescindível que o agente saiba da gravidez da vítima. 
 
Nessa qualificadora, o agente tem a intenção de lesionar, mas surge como 
resultado culposo a aceleração do parto, ou seja, o crime é preterdoloso. 
 
Se o agente tivesse a intenção de provocar o aborto e ocasionasse a aceleração 
do parto, teríamos o crime de aborto tentado sem o consentimento da mãe (art. 125, CP). 
 
5 – LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA 
 
Sobre a lesão corporal gravíssima, devemos alertar que tal classificação foi 
dada pela doutrina, pois a lei chama de lesões graves tanto aquelas previstas no §1º quanto 
as mencionadas no §2º do art. 129 do CP. 
 
A doutrina, no entanto, diferenciou as lesões, chamando de graves as 
previstas no §1º e de gravíssimas aquelas citadas no §2º. Tratam-se de expressões já 
consagradas. 
 
5.1. Se resulta incapacidade permanente para o trabalho 
 
Quando se trata da presente qualificadora, prevista no art. 129, §2º, I, o 
legislador previu incapacidade para o trabalho, não fazendo menção se o trabalho em 
relação ao qual a vítima ficou incapacitada era o anterior por ela exercido ou se qualquer 
outro trabalho. 
 
Entende-se, majoritariamente, que a lei se refere a qualquer trabalho. Assim, 
se a lesão impossibilita que violinista continue a trabalhar em seu respectivo ofício, mas não 
lhe retira total capacidade de trabalho, não poderíamos enquadrar o agente na lesão 
gravíssima sob análise. 
 
De todo modo, a vítima deve ser avaliada por médico perito, tal qual ocorre 
com as pessoas aposentadas por invalidez perante o INSS, e constatando o médico que o 
12 
 
ofendido não mais dispõe de condições de trabalho, poderemos enquadrar o agente nesta 
qualificadora. 
 
5.2. Se resulta enfermidade incurável 
 
Enfermidade incurável será aquela para a qual a atual medicina não disponha 
de métodos curativos. 
 
Também nesse caso, necessário laudo médico para atestar a presença de 
doença incurável decorrente da lesão causada. 
 
* Transmissão Intencional do Vírus da AIDS: lesão corporal gravíssima X 
tentativa de homicídio 
 
Atualmente, entende-se que se trata de lesão corporal gravíssima em virtude 
da transmissão de enfermidade incurável, haja vista que diante da presença de 
medicamentos (coquetéis) que permitem que o portador do vírus viva praticamente de 
forma normal, não será possível inferir que o agente tentou matar a vítima ao transmitir o 
vírus da AIDS. Na época, todavia, em que a medicina ainda não havia criado os chamados 
coquetéis de tratamento da AIDS, a doutrina apontava em direção que permitia concluir 
que se tratava de crime de homicídio (tentado ou consumado). 
 
Ainda há, em minoria, doutrinadores que defendem se tratar de homicídio 
tentado, pois a não obtenção do resultado morte advém de circunstâncias alheias à vontade 
do agente, quais sejam a criação de medicamentos que conseguem controlar a síndrome. 
 
5.3. Se resulta perda ou inutilização de membro, sentido ou função 
 
Trata-se de hipótese mais agravada daquela prevista no art. 129, §1º, III, pois 
naquela situação há debilidade de membro, sentido ou função, enquanto na qualificadora 
ora estudada há perda efetiva ou inutilização de membro, sentido ou função. 
 
13 
 
São os casos de mutilação e amputação quanto aos membros e de perda total 
da visão ou audição, por exemplo, em relação aos sentidos. 
 
Sobre as funções, é possível que da lesão sobrevenha, por exemplo, perda de 
função reprodutora. 
 
5.4. Se resulta deformidade permanente 
 
Sobre tal qualificadora, a doutrina aponta que devem estar conjugados: dano 
estético, de certa monta, permanente, visível, capaz de provocar impressão vexatória 
 
5.5. Se resulta aborto 
 
Sobre a qualificadora em questão, necessário que o agente saiba que a vítima 
está grávida e que o aborto seja um resultado culposo decorrente da lesão dolosa. 
 
Se o dolo do agente era de causar o aborto e lesões foram utilizadas para tal, 
teremos o crime do artigo 125 do CP (aborto provocado sem o consentimento da gestante). 
 
Temos que ficar, atentos, ainda, para o fato de que podem decorrer lesões 
graves ou gravíssimas a partir da prática do aborto, como, por exemplo, incapacidade para 
ocupações habituais por mais de 30 dias, perigo de vida etc. Em tais situações, teremos o 
crime de aborto com a causa de aumento de pena do artigo 127 do CP.6 
 
6 – LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE 
 
Voltemos ao artigo 129, §3º 
 
Lesão corporal seguida de morte 
 
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o 
agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: 
 
6 Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em 
conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de 
natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. 
14 
 
 
Pena - reclusão, de quatro a doze anos. 
 
Temos aqui a denominada lesão corporal seguida de morte, isto é, dolo na 
lesão corporal e resultado morte culposo. 
 
Ex.: agente que dá soco no rosto da vítima com intenção de lesioná-la, vindo 
a vítima a cair e a bater a cabeça em uma pedra, falecendo em razão do impacto com a 
pedra. Agente que atira na perna da vítima, com intenção de lesioná-la, mas acaba atingindo 
artéria femoral, ocasionando muito sangramento e a morte da vítima. 
 
*Atenção: se a conduta antecedente equivale a vias de fato, o agente responde 
por homicídio culposo. Ex.: agente empurra a vítima que cai, bate a cabeça e morre. 
 
Segundo a jurisprudência, a diferença entre lesão corporal seguida de morte 
e homicídio culposo é a de que no primeiro caso há uma conduta antecedente criminosa e 
dolosa da qual resulta uma morte culposa; no segundo a conduta antecedente é indiferente 
ou, se muito, a conduta antecedente é enquadrada como mera contravenção. 
 
7 – LESÃO CORPORAL CULPOSA 
 
Lesão corporal culposa 
 
§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965) 
 
Pena - detenção, de dois meses a um ano. 
 
O crime em questão traz as mesmas perspectivas do homicídio culposo, 
diferenciando-se, é claro, pelo resultado e pena previstos. 
 
Importante dizer que, em se tratando de lesão culposa, não há distinção entre 
lesão leve, grave ou gravíssima. Qualquer lesão na modalidade culposa resultará em 
reprimenda prevista pelo §6º (detenção de dois meses a um ano). 
 
15 
 
*Perdão judicial: Art. 129. [...]. § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no 
§ 5º do art. 121. 
 
8 – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
 
Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 
10.886, de 2004) 
 
§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, 
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva 
ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações 
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela 
Lei nº 11.340, de 2006) 
 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. (Redação 
dada pela Lei nº 14.994, de 2024) 
 
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as 
circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a 
pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004) 
 
§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será 
aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa 
portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006) 
 
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente 
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do 
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no 
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, 
companheiro ou parente consanguíneo até terceirograu, em razão 
dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído 
pela Lei nº 13.142, de 2015) 
 
§ 13. Se a lesão é praticada contra a mulher, por razões da 
condição do sexo feminino, nos termos do § 1º do art. 121-A deste 
Código: (Redação dada pela Lei nº 14.994, de 2024) 
 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. (Redação 
dada pela Lei nº 14.994, de 2024) 
 
O parágrafo 9º trata da lesão leve praticada no âmbito doméstico, elevando 
a pena do caput de 3 meses a 1 ano de detenção para 2 a 5 anos de reclusão, conforme 
alteração da Lei 14.994/2025. Antes dessa alteração, a pena desse crime era de detenção de 
3 meses a 3 anos. 
 
Não se pode esquecer que o §9º protege pessoas do sexo masculino que se 
enquadrem na descrição legal. A vítima desse crime, portanto, pode ser pai, avô, filho, 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.886.htm#art1
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.886.htm#art1
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art44
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art44
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14994.htm#art1
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14994.htm#art1
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.886.htm#art1
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art44
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art142
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13142.htm#art2
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13142.htm#art2
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14994.htm#art1
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14994.htm#art1
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14994.htm#art1
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marido ou companheiro da vítima. Se a vítima for mulher, temos a previsão do §13, com 
pena de reclusão de 1 a 4 anos. 
 
O parágrafo 10 nos apresenta causa de aumento de pena para lesão grave, 
gravíssima ou seguida de morte praticada no âmbito doméstico, podendo ser elevada a pena 
de tais lesões em 1/3. 
 
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as 
circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a 
pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004) 
 
 
Em relação ao §13, sua pena também foi elevada pela Lei 14.994/2024, 
passando de 1 a 4 anos de detenção, para 2 a 5 anos de reclusão.

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