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Psicologia do desenvolvimento: família, aluno e escola SST Cordeiro, Carolina Thomaz Psicologia do desenvolvimento: família, aluno e escola / Carolina Thomaz Cordeiro Ano: 2021 nº de p.: 12 Copyright © 2021. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Psicologia do desenvolvimento: família, aluno e escola 3 Apresentação A responsabilidade da escola é ainda maior quando se trata de alunos cujos pais ou responsáveis têm pouca ou nenhuma escolaridade, possuem pouco conhecimento e recursos escassos. Uma vez que não se pode mudar a realidade, não é possível ficar paralisado diante dela. Reconhecer qual é o papel de cada um contribui sobremaneira para a aprendizagem, entretanto nos casos em que a família se ausenta ou não tem uma estrutura adequada, não se pode abandonar o aluno, é muito importante e fundamental o acompanhamento da família, principalmente dentro da escola, a relação escola e família traz outro olhar para criança. 4 1 Família e escola A Organização Mundial de Saúde (OMS, 1946) define saúde como "um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afecções e enfermidades". Dessa forma, a saúde é mais um valor da comunidade do que do indivíduo. A qualidade de vida e a maneira como se experimenta sua existência também fazem parte dos critérios para classificar um sujeito como saudável. No caso das crianças maiores, os responsáveis são os pais (ou quem possui a sua guarda); entretanto, é também papel da escola e do professor zelar por sua integridade física e psíquica desde seu ingresso na escola até sua saída. José e Coelho (2009) colocam como uma das ferramentas mais importantes, e que deve ser utilizada por toda escola, uma espécie de ficha que denominam ficha cumulativa de observação. Nesse documento ficam todas as informações do aluno, devendo ser registrada toda a ocorrência seja dentro ou fora da escola. Essa ficha deve ser utilizada não só pelo professor, mas por toda a equipe do local, a fim de que haja um registro abrangente acerca do desenvolvimento e evolução da criança. Para mais informações, da ficha acumulativa acesse “A ficha cumulativa e sua utilização pelo serviço de orientação educacional na escola secundária” o link https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/ index.php/abpt/article/view/13907 Saiba mais Anotações importantes de serem feitas incluem os dados da saúde do aluno, bem como se ele é portador de algum tipo de doença crônica que possa afetar sua rotina escolar ou até mesmo sua relação com os colega e/ou professores. https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/abpt/article/view/13907 https://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/abpt/article/view/13907 5 O estudante Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: na imagem vemos uma criança com vários sinais de interrogação ao redor de si, indicando o processo de apren- dizagem. Devem ser anotados todos os aspectos observáveis da criança, desde sua saúde física até como se relaciona com os outros e interage com o meio – como brinca e se expressa, se existe alguma deficiência visual ou auditiva, se sua verbalização está adequada para a idade, como se comporta em sala de aula, dentre tantas outras características que servem para que se conheça o funcionamento de determinado aluno. Esse documento deve acompanhar a criança por todo o seu curso escolar, portanto caso haja necessidade de troca de instituição, os pais devem receber uma cópia dos relatórios e fornecer à nova escola para que se conheça a caminhada do aluno e siga com o processo de registros. Escola e relações afetivas: dentro do ambiente escolar, o professor é o adulto mais próximo da criança, servindo muitas vezes como referência. É importante que o docente entenda o quanto sua figura tem significado no desenvolvimento do aluno, não só nas questões escolares e educacionais, mas também como facilitador do seu crescimento como pessoa. A observação é a ferramenta mais preciosa que o professor tem para intervir positivamente na vida do aluno e identificar possíveis dificuldades e obstáculos que possam impedir que ele tenha um desenvolvimento saudável. É importante frisar que não basta apenas uma observação passiva, a partir do momento em que possíveis 6 complicações surjam na educação da criança, o educador deve adotar uma postura ativa, buscando conhecer as origens do problema, para então abordá-lo da melhor maneira em sala de aula, ou providenciar, junto com a equipe escolar, os devidos encaminhamentos necessários. As necessidades do estudante Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: a imagem mostra quatro crianças, dois meninos e duas meninas, e um adulto, todos olhando para uma miniatu- ra do globo terrestre. José e Coelho (2009) listam algumas razões pelas quais a observação do aluno pelo professor se faz necessária, a saber: identificar problemas de saúde que possam estar influenciando no desenvolvimento da criança e, consequentemente, em seu rendimento escolar; ter êxito na busca de soluções para os problemas encontrados, uma vez que toma conhecimento de aspectos desconhecidos, garantir o não estabelecimento de comparações, já que cada criança tem um ritmo próprio de amadurecimento e suas descobertas são individuais (até mesmo suas limitações poderão ser superadas, se ela for bem observada e receber tratamento adequado). A família (ou o ambiente de referência do convívio da criança) é a maior fonte de informações que se pode ter sobre as características, dificuldades e potencialidades do aluno. Sendo assim, a comunicação entre a escola e a família é um instrumento que nunca deve ser negligenciado, pois pode desde evitar situações que trazem sofrimento à criança até colaborar grandiosamente para sua evolução como cidadão. 7 Professores devem considerar aspectos que atendam às necessidades do aluno que enfrenta dificuldades, a maior parte, simples atitudes de uma rotina escolar. José e Coelho (2009) sugerem que, diante de um aluno que apresenta dificuldades de qualquer espécie, cabe ao professor evitar as seguintes atitudes: ressaltar as dificuldades do aluno, distinguindo-os dos demais. Essa atitude faz surgir ou agravar sentimentos de inferioridade e frustração; corrigir o aluno com frequência perante a classe. Isso pode fazer com que ele se torne alvo de risadas dos colegas e fique exposto ao ridículo; mostrar impaciência com a criança; relegar ou ignorar a criança que não consegue superar sua dificuldade. Por outro lado, é essencial que o professor forneça ao aluno segurança, respeito e consideração. As autoras afirmam que isso pode ser feito por meio de algumas atitudes que devem ser sustentadas: não se esquecer de que, embora cada criança seja diferente uma da outra, todas, conforme sua faixa etária, têm as mesmas necessidades de amor, compreensão e aceitação; evitar que o aluno se sinta inferior pela sua dificuldade; considerar o problema de maneira serena e objetiva; avaliar o desempenho do aluno pela qualidade de seu trabalho, com o mesmo critério que adotou para os outros. Ele não deve receber nota mais baixa por causa de sua dificuldade ou mais alta por compaixão; estimulá-lo a enfrentar o problema. Longe dos outros e com muito tato conversar com ele sobre sua dificuldade, estimulando-o a superá-la; despertar no aluno autoconfiança, demonstrando que não sente desagrado por ele. Encorajá-lo a desenvolver atividades nas quais se distingue, dar- lhe apoio e valorizá-lo sempre que possível. Assim como o professor tem um papel essencial na vida do aluno, acima de tudo por estar em contato direto com ele, a escola, de forma geral, também pode e deve participar ativamente desse acompanhamento e ser uma mediadora entre situações mais complexas que demandem a interferência de outros serviços, como no caso de encaminhamentos para outros profissionais ou serviços de saúde (médico, psicólogo, fonoaudiólogo, Unidade Básica de Saúde, entre outros). Além disso, a escolatransmite cultura e transforma as estruturas sociais, adequando seu trabalho às necessidades do aluno, da família e da comunidade a qual pertence. Junto ao papel da escola, a família também tem um significado fundamental na cena escolar. Porém, é preciso que essa interação ocorra de forma que a escola tenha consciência e reconheça o ambiente de onde provém seu aluno. O mundo atual proporciona uma multiplicidade de contextos sociais, culturais, econômicos, morais e éticos em que uma criança pode estar se desenvolvendo. Nesse sentido é importante que a escola considere essas questões, pois é nelas 8 que estão as maiores elucidações acerca das dificuldades do aluno. É essencial que se compreenda o relacionamento e a dinâmica familiar, seus princípios e seu funcionamento, pois esses atravessamentos serão exteriorizados pela criança. É possível dizer que a forma como vemos o mundo está diretamente ligada à maneira como nos enquadramos no núcleo familiar, à posição que ocupamos, às responsabilidades que assumimos, às experiências que vivenciamos. A família seria então a primeira escola da vida, e é nela que aprendemos como aprender. A partir disso, é imprescindível que haja uma expansão da vida familiar para a vida educacional e vice-versa, buscando integrar as duas realidades de forma espontânea e adaptada. (STOBÄUS; MOSQUERA, 2013). 2 A importância do diálogo entre família e escola A família não educa sozinha, tampouco a escola, independentemente do esforço que façam. A educação é muito importante para ficar apenas nas mãos de uma ou outra. Família e escola são instituições diferentes com objetivos distintos, mas que compartilham a importante tarefa de educar crianças e adolescentes, o que torna o diálogo entre ambas as fundamentais. Entretanto, historicamente, essa relação é marcada principalmente pela culpabilização de uma das partes. LDB: está na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que as escolas têm a obrigação de se articular com as famílias, e os pais têm direito de ter ciência do processo pedagógico, bem como de participar da definição das propostas educacionais. No entanto, essa não parece ser a realidade vigente na maioria das escolas. Uma comunicação clara e direta deve estar na base dessa parceria e não apenas nos anos iniciais como se observa com frequência. Envolver as famílias no dia a dia da escola sem misturar as responsabilidades não é uma tarefa fácil. No tocante às responsabilidades da família, esta deve: escolher uma escola baseando-se em critérios que lhe assegurem a confiança da forma como procede em situações importantes; conversar sempre com o(s) filho(s) sobre os conteúdos desenvolvidos na escola; estar presente, quando possível, enquanto fazem as tarefas 9 escolares; cumprir com as regras estabelecidas pela instituição; evitar se envolver em conflitos do filho que ocorram dentro da escola, estimulando a autonomia e confiando no posicionamento da escola; valorizar o contato com a escola, fazendo o possível para participar das reuniões e atividades propostas, momentos nos quais poderá informar-se da caminhada do filho, bem como das dificuldades apresentadas nesse percurso. Muitos pais se queixam que os professores só se reportam a eles para relatar mau comportamento. Além de comunicar os pais (descrevendo o que acontece, sem julgamento) sobre atitudes inadequadas do aluno no ambiente escolar, a escola deve mostrar como age nessas situações e o que espera que os pais façam a respeito para que juntos possam contornar o problema. É preciso ouvir e orientar esses pais, afinal é dentro da escola que estão os especialistas em educação. Apesar dos esforços, a realidade nos mostra que muitas famílias não têm condições ou mesmo não se mostram dispostas a participar. Nesses casos é fundamental que a escola se fortaleça e que o professor atue em conjunto com os demais profissionais da instituição para que o aluno não seja prejudicado. É preciso antes de tudo respeitar o aluno, garantir sua dignidade e assegurar sua oportunidade de aprender, mesmo que longe das condições ideais, já que, para muitos estudantes, a escola é o único recurso de que dispõem. A atitude do adulto para com a criança, aceitando-a, confiando nela, preocupando-se em ajudá-la, transparecerá em seu estilo de comunicação e a levará à formação de um autoconceito positivo. (BARROS, 2007, p. 169). O próprio tema família e suas múltiplas apresentações pode ser o ponto de partida para atividades na escola e para casa. Os alunos podem ser estimulados a investigar seus antepassados, de onde vieram, particularidades, hábitos e costumes para que se estreite cada vez mais o laço entre as instituições. Valorizar os pais e familiares pelo esforço e dedicação e pelo conhecimento que possuem também é muito importante. Outra forma de incluí-los é convidá-los a compartilhar experiências com as turmas. Gestos simples, mas cheios de significado para todos os envolvidos. Para mais informações, A importância da família na escola. Acesse “Aproximação das famílias aumentou autoestima dos estudantes e melhorou indisciplina” o link https://educacaointegral.org.br/ experiencias/aproximacao-das-familias-aumentou-autoestima- melhorou-indisciplina/ Saiba mais https://educacaointegral.org.br/experiencias/aproximacao-das-familias-aumentou-autoestima-melhorou-indisciplina/ https://educacaointegral.org.br/experiencias/aproximacao-das-familias-aumentou-autoestima-melhorou-indisciplina/ https://educacaointegral.org.br/experiencias/aproximacao-das-familias-aumentou-autoestima-melhorou-indisciplina/ 10 3 Família e escola na Educação Especial Se o diálogo entre família e escola já é controverso na Educação de modo geral, no âmbito da Educação Especial ele ganha uma série de particularidades, inspirando novas práticas e despertando resistências a serem contornadas. Quando família e escola são parceiras de fato, não só no discurso, a escola tem melhores condições de implementar a inclusão com sucesso. A Declaração de Salamanca (ONU, 1994) sobre necessidades educativas especiais, principal referência no assunto, redigida há mais de 20 anos, por um grupo de especialistas internacionais, enfatiza: § 57 A educação de crianças com necessidades educacionais especiais é uma tarefa a ser dividida entre pais e profissionais. Uma atitude positiva da parte dos pais favorece a integração escolar e social. Pais necessitam de apoio para que possam assumir seus papéis de pais de uma criança com necessidades especiais. O papel das famílias e dos pais deveria ser aprimorado através da provisão de informação necessária em linguagem clara e simples; ou enfoque na urgência de informação e de treinamento em habilidades paternas constitui uma tarefa importante em culturas aonde a tradição de escolarização seja pouca. (...) § 59 Uma parceria cooperativa e de apoio entre administradores escolares, professores e pais deveria ser desenvolvida e pais deveriam ser considerados enquanto parceiros ativos nos processos de tomada de decisão. Pais deveriam ser encorajados a participar em atividades educacionais em casa e na escola (aonde eles poderiam observar técnicas efetivas e aprender como organizar atividades extracurriculares), bem como na supervisão e apoio à aprendizagem de suas crianças. (ONU, 1994, p. 13-14) Para mais informações, acesse o link para ver o vídeo “Dialogo sobre escola e família” em: https://novaescola.org.br/conteudo/2362/ dialogo-sobre-escola-e-familia Saiba mais https://novaescola.org.br/conteudo/2362/dialogo-sobre-escola-e-familia https://novaescola.org.br/conteudo/2362/dialogo-sobre-escola-e-familia 11 Fechamento A educação inclusiva é um importante caminho consiga abranger a diversidade a partir de uma escola que oferece uma proposta para o grupo como um todo e atende as particularidades de cada um. A família é a principal fonte de informações para o professor sobre as necessidadesespecíficas da criança, portanto, é essencial que se estabeleça uma relação de confiança e cooperação entre ela e a escola, a fim de possibilitar o desenvolvimento e a aprendizagem do aluno de acordo com as suas capacidades e potencialidades. 12 Referências BARROS, C. S. G. Pontos de Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Ática, 2007. JOSÉ, E. da A.; COELHO, M. T. Problemas de Aprendizagem. São Paulo: Ática, 2009. NOVA ESCOLA. Escola e Família – Hangouts Nova Escola. Nova Escola, São Paulo, 1º maio 2013. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/2362/dialogo- sobre-escola-e-familia> Acesso em: 2 ago. 2021. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO). 1946. Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br>. Acesso em: 2 ago. 2021. ONU. Declaração de Salamanca. Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais. Salamanca, Espanha, 1994 Disponível em:<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>. Acesso em: 2 ago. 2021. PILETTI, N.; ROSSATO, S. M.; ROSSATO, G. Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Contexto, 2014. STOBÄUS, C. D.; MOSQUERA, J. J. M. Educação e inclusão - Perspectivas desafiadoras. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2013.