Prévia do material em texto
USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 1 I - NICCOLÒ MACHIAVELLI (1469 - 1527) "É necessário ser príncipe para conhecer perfeitamente a natureza do povo, e pertencer ao povo para conhecer a natureza dos príncipes". Se ensinei aos príncipes de que modo se estabelece a tirania, ao mesmo tempo mostrarei ao povo os meios para dela se defender". Mais de quatro séculos nos separam da época em que viveu Maquiavel. Muitos leram e comentaram sua obra, mas um número consideravelmente maior de pessoas evoca seu nome ou pelo menos os termos que aí tem sua origem. "Maquiavélico e maquiavelismo" são adje�vo e substan�vo que estão tanto no discurso erudito, no debate polí�co, quanto na fala do dia-a-dia. Seu uso extrapola o mundo da polí�ca e habita sem nenhuma cerimônia o universo das relações privadas. Em qualquer de suas acepções, porém, o maquiavelismo está associado à idéia de per�dia, a um procedimento astucioso, velhaco, traiçoeiro. Assim, hoje em dia, na maioria das vezes, Maquiavel é mal interpretado. Ao escrever sua principal obra, O PRÍNCIPE, criou um "manual da polí�ca", que pode ser interpretado de muitas maneiras diferentes. Talvez por isso sua frase mais famosa, (que ele nunca escreveu): -"Os fins jus�ficam os meios"- seja tão mal interpretada. Maquiavel não quis dizer que qualquer a�tude é jus�ficada dependendo do seu obje�vo. Seria totalmente absurdo. O que Maquiavel quis dizer foi que os fins determinam os meios. É de acordo com o seu obje�vo que você vai traçar os seus planos de como a�ngi-los. É possível perceber que "Maquiavel, fingindo ensinar aos governantes, ensinou também ao povo". E é por isso que até hoje, e provavelmente para sempre, ele será reconhecido como um dos maiores pensadores da história do mundo. Maquiavel viveu durante a Renascença Italiana, o que explica boa parte das suas ideias. Na Itália do Renascimento reina grande confusão. A �rania impera em pequenos principados, governados despo�camente por casas reinantes sem tradição dinás�ca ou de direitos contestáveis. A ilegi�midade do poder gera situações de crise instabilidade permanente, onde somente o cálculo polí�co, a astúcia e a ação rápida e fulminante contra os adversários são capazes de manter o príncipe. Esmagar ou reduzir à impotência a oposição interna, atemorizar os súditos para evitar a subversão e realizar alianças com outros principados cons�tuem o eixo da administração. Como o poder se funda exclusivamente em atos de força, é previsível e natural que pela força seja deslocado, deste para aquele senhor. Maquiavel nasceu em Florença em 3 de maio de 1469, numa Itália "esplendorosa, mas infeliz", segundo o historiador Garin. Sua família não era aristocrá�ca, nem rica. Seu pai, advogado como um �pico renascen�sta era um estudioso das humanidades, tendo se empenhado em transmi�r uma aprimorada educação clássica para seu filho. Maquiavel com 12 anos, já escrevia no melhor es�lo e, em la�m. Mas apesar do brilhan�smo precoce, só em 1498, com 29 anos Maquiavel exerce seu primeiro cargo na vida pública. Foi nesse ano que passou a ocupar a segunda chancelaria na república floren�na (espécie de ministro do interior e das relações exteriores). Nessa a�vidade, cumpriu uma série de missões, tanto fora da Itália como internamente, destacando-se sua diligência em ins�tuir uma milícia nacional. Com a queda de Soverine, em 1512, a dinas�a Médici volta ao poder, desesperando Maquiavel, que é envolvido em uma conspiração, torturado e deportado. É permi�do que se mude para São Cassiano, cidade pequena próxima de Florença, onde escreve sobre a Primeira USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 2 Década de Tito Lívio , mas interrompe esse trabalho para escrever sua obra prima: O Príncipe, segundo alguns , des�nado a que se reabilitasse com os aristocratas, já que a obra era nada mais que um manual da polí�ca. Maquiavel viveu uma vida tranqüila em S. Cassiano. Pela manhã, ocupava-se com a administração da pequena propriedade onde está confinado. À tarde, jogava cartas numa hospedaria com pessoas simples do povoado. E à noite ves�a roupas de cerimônia para conviver, através da leitura com pessoas ilustres do passado. A obra de Maquiavel é toda fundamentada em sua própria experiência, seja ela com os livros dos grandes escritores que o antecederam, ou seja os anos como segundo chanceler, ou até mesmo a sua capacidade de olhar de fora e analisar o complicado governo do qual terminou fazendo parte A par�r de 1519, recupera Maquiavel certo favor dos Médicis, mas devido sua reputação de funcionário prudente, de hábil polí�co, e não por causa de O Príncipe. Recebe uma pensão para escrever a sua História de Florença. Em 1527 os Médicis são de novo expulsos de Florença, restabelecendo-se a República, Maquiavel que achava estarem findos os seus problemas, viu-se iden�ficado por jovens republicanos como alguém que �nha ligações com os �ranos depostos. Esgotaram-se suas forças. Foi a gota d’água que estava faltando. A república considerou-o seu inimigo. Desgostoso, adoece e morre em Junho. Maquiavel faleceu sem ter visto realizados os ideais pelos quais se lutou durante toda a vida. A carreira pessoal nos negócios públicos �nha sido cortada pelo meio com o retorno dos Médici e, quando estes deixaram o poder, os cidadãos esqueceram-se dele, "um homem que a fortuna �nha feito capaz de discorrer apenas sobre assuntos de Estado". Também não chegou a ver a Itália forte e unificada. Para Maquiavel, como renascen�sta que era, quase tudo que veio antes estava errado. Esse tudo deve incluir os pensamentos e as idéias de Aristóteles. Ao contrário deste, Maquiavel não acredita que a prudência seja o melhor caminho. Para ele, a coerência está con�da na arte de governar. Maquiavel procura a prá�ca. A execução fria das observações me�culosamente analisadas, feitas sobre o Estado, a sociedade. Maquiavel, ao refle�r sobre a liberdade de sua época, elaborou não uma teoria do Estado moderno, mas sim uma teoria de como se formam os Estados, de como na verdade se cons�tui o Estado moderno. Isso é o começo da ciência polí�ca; ou, se quisermos, da teoria e da técnica da polí�ca da polí�ca entendida como uma disciplina autônoma, separada da moral e da religião. O Estado, para Maquiavel, não tem mais função de assegurar a felicidade e a virtude, segundo afirmava Aristóteles. Também não é mais - como para os pensadores da Idade Média - uma preparação dos homens ao Reino de Deus. Para Maquiavel o Estado passa a ter suas próprias caracterís�cas, faz polí�ca, segue sua técnica e suas próprias leis. Logo no começo de O príncipe, Maquiavel escreve: "Como minha finalidade é a de escrever coisa ú�l para quem a entender, julguei mais conveniente acompanhar a realidade efe�va do que a imaginação sobre esta". Trata-se já da linha do pensamento experimental, na mesma senda de Leonardo da Vinci: as coisas como elas são, a realidade polí�ca e social como ela é, a verdade efe�va. Isso significa que devemos estudar as coisas como elas são e devemos observar o que se pode e é necessário fazer, e não aquilo que seria certo fazer. Maquiavel afirma: "Há uma dúvida se é melhor sermos amados do que temidos, ou vice-versa. Deve-se responder que gostaríamos de ter ambas as coisas, sendo amados e temidos; mas, como é di�cil juntar as duas coisas, se �vermos que renunciar a uma delas, é muito mais seguro sermos temidos do que amados... pois dois homens, em geral, podemos dizer o seguinte: eles são ingratos, volúveis, simuladores e deses�muladores; eles furtam-se aos perigos e são ávidos de lucrar. Enquanto você fizer o bem para eles, são todos teus, oferecem-te seu próprio sangue, suas posses, suas vidas, seus filhos. Isso tudo até o USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 3 momento que você não tem necessidade. Mas, quando você precisar, eles viram as costas.não se encaixam em quaisquer dos sistemas acima. V - DEMOCRACIA Origem da Democracia - Grécia Atenas, a mais próspera das cidades-estados da Grécia Ocidental, no decorrer do século IV A.C., estava sendo governada por um regime �rânico. Em 560 A.C. Pisístrato, um líder popular, havia tomado o poder por meio de um astucioso estratagema, tornando-se o homem-forte da polis. Apesar da ilegalidade da sua ascensão, isso não o impediu de fazer uma administração que muito impulsionou a prosperidade e o bem-estar da capital da Á�ca. Seus filhos, Hípias e Hiparco, que o sucederam em 527 a. C., não �veram o talento paterno para manter a fidelidade dos cidadãos, e foram perseguidos e mortos. A queda da �rania abriu caminho para que os dois par�dos tradicionais da cidade, o dos ricos, chefiado por Iságoras, e o dos populares, liderado por Clístenes, passassem a disputar o controle de Atenas. Iságoras, apoiado pelo rei espartano Cleômenes, conseguiu desterrar Clístenes. Mas o povo se sublevou e conseguiu trazer o líder de volta, dando-lhe plenos poderes para elaborar uma nova cons�tuição. A �rania havia perseguido os par�dários da aristocracia, enfraquecendo a nobreza urbana, criando-se assim as condições para a implantação de um regime novo. Abriam-se as portas, depois da expulsão do descendente do �rano, para uma experiência inédita: o regime governado diretamente pelo povo, a democracia. Com poderes delegados pelo povo, Clístenes implementou uma profunda reforma polí�ca que �nha como obje�vo deslocar o poder das mãos dos nobres para as dos demos, palavra que significava não apenas povo, como também os bairros e comunidades habitados. Considerava-se cidadão (thetes) qualquer ateniense maior de 18 anos que �vesse prestado serviço militar e que fosse homem livre. A base da democracia é a igualdade de todos os cidadãos. Igualdade perante a lei (isonomia), e igualdade de poder se pronunciar na EKKLESIA (Assembleia/ Isagoria), quer dizer, direito à palavra. Essas duas liberdades são os pilares do novo regime, estendidos a ricos e pobres, a nobres e plebeus. O sistema de sorteio evitava, em parte, a formação de uma classe de polí�cos profissionais que atuassem de uma maneira separada do povo, procurando fazer com que qualquer um se sen�sse apto a manejar os assuntos públicos, eliminando-se a alienação polí�ca dos indivíduos. Sob o ponto de vista grego, o cidadão que se negasse a par�cipar dos assuntos públicos, em nome da sua privacidade, era moralmente condenado. Cri�cavam-no por sua apa�a ou idio�a. Quem par�cipava efe�vamente da vida democrá�ca da cidade de Atenas? Es�ma�vas calculam que sua população, no apogeu da cidade, nos séculos V-IV a. C., dificilmente USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 23 ultrapassava 400 mil habitantes 130 mil cidadãos (thètes), 120 mil estrangeiros (métoikion) e 120-130 mil escravos (andrapoda)]. A sociedade ateniense vivia em parte do trabalho dos escravos, sendo esses estrangeiros, visto que, desde os tempos das leis de Sólon (cerca de 594 a.C.), gregos não podiam escravizar gregos. Além dos escravos, tanto os públicos como os domés�cos (oikétès) - ex-prisioneiros de guerra ou comprados nos mercados de escravos - excluídos da cidadania, contavam-se os estrangeiros (métoikion) e seus filhos, que igualmente não eram considerados cidadãos. As mulheres, independentemente da sua classe social ou origem familiar, encontravam-se afastadas da vida polí�ca. A grande parte da população, dessa forma, não par�cipava dos des�nos públicos, es�mando-se que os direitos de cidadania estavam à disposição, no máximo, de 30-40 mil homens, mais ou menos um décimo da população total. A par�r da Grécia, a democracia evoluiu de diferentes maneiras em diferentes Estados, com a famosa REPÚBLICA em Roma, onde os Senadores que de�nham o poder eram votados pelo povo (ou parte dele), a democracia liberal, produto do avanço e desenvolvimento da burguesia, o Estado Racional Burocrá�co de Weber, a democracia liberal burguesa, o Estado de Direito, etc. ESTADO MODERNO E DEMOCRACIA São pontos fundamentais que caracterizam o moderno Estado Democrá�co: 1) Sufrágio Universal - Não existe sufrágio completamente universal, todo sufrágio sofre algum �po de restrição. Define-se o sufrágio universal como aquele em que a par�cipação não fica adstrita às condições de riqueza, instrução, nascimento, raça e sexo. As limitações feitas à capacidade do eleitor , em regime de sufrágio universal, se prendem mais às condições de nacionalidade, residência (por exemplo, tempo de residência), sexo, idade, capacidade �sica ou mental, grau de instrução, serviço militar e alistamento, indignidade (prá�ca de delitos). Embora muitas vezes u�lizados como sinônimos, voto, escru�nio e sufrágio possuem significados diferentes. Sufrágio é o direito de votar e de ser votado; voto é a forma de exercer o direito ao sufrágio; e escru�nio é a forma como se pra�ca o voto, seu procedimento. De acordo com a Cons�tuição Federal, ar�go 14, A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos. Isso significa o direito ao sufrágio é completamente desligado de qualquer forma de discriminação, sendo, portanto, um direito universal, de todos, exceto os estrangeiros e os conscritos, durante o período do serviço militar obrigatório, nos termos do 2º do disposi�vo supra. O voto será, ainda, secreto e direto, ou seja, não há qualquer �po de intermediação entre eleitor e candidato. De acordo com a Cons�tuição, há alistamento eleitoral e voto obrigatórios para os maiores de dezoito anos e faculta�vos para os analfabetos, maiores de setenta anos e maiores de dezesseis e menores de dezoito anos (art. 14, 1º). 2) Supremacia da vontade popular - O obje�vo do sistema como um todo é fazer valer e preservar a vontade da população na escolha de seus representantes, e na gestão do Estado. Trata-se a da predominância daquilo que Rousseau chama de VONTADE GERAL, ou VONTADE COLETIVA, em subs�tuição do conjunto de vontades individuais, ou seja o conjunto de desejos populares que visam o bem comum da sociedade. 3) Igualdade de direitos – proibição de dis�nguir gozo de direitos por situação econômica, raça, etc., (isonomia jurídica) 4) Pluralismo polí�co - O direito da população se organizar poli�camente, seja na forma de par�dos, ou outra forma de agremiação, militância polí�ca, emissão de opiniões, etc. USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 24 5) Autonomia do parlamento - Os órgãos legisla�vos eleitos são o principal fórum para deliberar, debater e aprovar leis em uma democracia representa�va. Não são Parlamentos que se limitam a por o carimbo, simplesmente aprovando as decisões de um líder autoritário. Os poderes de supervisão e inves�gação permitem aos legisladores ques�onar publicamente os membros do governo por atos e decisões e servir de controle ao poder dos vários ministérios -especialmente no sistema presidencialista de governo em que o Legisla�vo é independente do Execu�vo. Os legisladores podem aprovar orçamentos nacionais, interrogar testemunhas sobre questões prementes e confirmar os nomeados pelo Poder Execu�vo para os tribunais e ministérios. Em algumas democracias, as comissões parlamentares fornecem aos legisladores um fórum para esses exames públicos de questões de interesse nacional. Os legisladores podem apoiar o governo no poder ou podem fazer parte duma oposição leal que apresenta polí�cas e programas alterna�vos. Os legisladores têm a responsabilidade de ar�cular as suas opiniões da forma mais eficiente possível. Mas têm que trabalhar dentro da é�ca democrá�ca de tolerância, respeito e colaboração para chegarem a consensos que beneficiem o bem-estar geral de todos - e não apenas daqueles que lhes dão apoio polí�co. Cada legislador deve decidir sozinho como equilibrar o bem-estar geral com as necessidades de uma base eleitoral. O parlamentodeve possuir total autonomia frente aos demais poderes e às demais ins�tuições (exército, jus�ça, etc.), bem como total isenção legisla�va, não podendo legislar em nome de grupos específicos da população, ou sofrer qualquer forma de coação, inclusive por parte de grupos organizados da sociedade. 6) Liberdades públicas - Direito Cons�tucional brasileiro, assim como o de outras nações, não prescinde da verificação do real sen�do da palavra liberdade. Apesar da Cons�tuição republicana do Brasil não conter conceito explícito do que sejam as liberdades públicas, estas se espraiam por todo o corpo da mesma, tendo como nascedouro a dignidade da pessoa humana, e como berço natural o ar�go 5º da norma jurídica em referência. Os direitos do homem são prerroga�vas legais que aquele detém em face do Estado, bem como de outros indivíduos. Nestes termos pondera Israel Jean-Jacques, ao tratar dos mesmos: Trata-se de direitos que são a fonte de liberdade do homem. (...) Dar ao homem direitos é colocar o Direito a serviço de sua liberdade. As prerroga�vas humanas tornam-se, portanto, direitos do homem quando elas têm um estatuto jurídico. Neste diapasão, infere-se que para que haja direitos do homem é preciso um Estado de Direito, pois apenas neste é possível encontrar garan�as de observância e respeito essenciais para a efe�vidade e aplicabilidade daqueles. E é a par�r do somatório de todos estes mencionados conceitos (direitos do homem, liberdades, Estado de Direito) que se chega à ideia de liberdades públicas como sendo aquelas garan�das e limitadas dentro de um Estado de Direito. É neste sen�do (garan�sta) que se u�liza o adje�vo "públicas" atrelado ao conceito de liberdade. Trata-se, em verdade, de um superprincípio, como pondera Flávia Piovesan: (...) é no valor da dignidade humana que a ordem jurídica encontra seu próprio sen�do, sendo seu ponto de par�da e seu ponto de chegada, na tarefa de interpretação norma�va. Consagra-se, assim, a dignidade humana como verdadeiro superprincípio a orientar o Direito Internacional e Interno, (...) porque seja no âmbito internacional, seja no âmbito interno (à luz do Direito Cons�tucional Ocidental), a dignidade da pessoa humana é princípio que unifica e centraliza todo o sistema norma�vo, assumindo especial prioridade. A dignidade humana simboliza, deste modo, um verdadeiro superprincípio cons�tucional, a norma maior a orientar o cons�tucionalismo contemporâneo, nas esferas local e global, dotando-lhe especial USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 25 racionalidade, unidade e sen�do. 2 7) Liberdade de voto - Todo cidadão cons�tucionalmente apto, poderá exercer seu direito de voto, isento de qualquer �po de constrangimento. 8) Alternância de governo - Poderão se suceder livremente no poder polí�co, quaisquer correntes de pensamento e organização polí�ca sem que ocorram constrangimentos ou cerceamentos de qualquer espécie. Para melhor desenvolvimento do sistema democrá�co, as diferentes visões de Estado e poder, deverão se alternar no poder, caso seja essa a vontade soberana da população. 9) Regra da maioria - Nenhuma decisão tomada por maioria deve limitar os direitos da minoria, de um modo especial o direito de tornar-se a maioria em paridade de condições. Par�ndo dessa premissa que a vontade da maioria não é absoluta e realmente sofre diversas limitações. A democracia e a regra da maioria são dois conceitos que atravessaram a história do pensamento polí�co mundial permanecendo numa constante tensão. Durante séculos vários filósofos e juristas se dedicaram sobre teorias que tentavam responder as indagações sobre um conflito; a regra da maioria é o pressuposto para a democracia? Afinal, a democracia é o governo da maioria? E a decisão majoritária é absoluta? É a melhor forma de se auferir a decisão cole�va? E, por fim, a maioria tem sempre a razão? Responder tais questões ainda é um desafio a cumprir. Assim nos sistemas polí�cos democrá�cos a regra da maioria é aplicada tanto para eleger os que serão detentores do poder de tomar decisões que afetarão a sociedade, como para fixar das deliberações dos órgãos colegiados supremos e, assim, conferir condição necessária e suficiente à regularidade (ou validade) dos sistemas. Saber qual o sistema democrá�co efe�vamente se caracteriza pela presença da regra da maioria fez com que muitos estudiosos entendessem que a democracia e a regra da maioria fossem semelhantes, e guardassem iden�dade em seu significado, limite de validade da regra da maioria ques�ona se esta vale em qualquer caso, ou seja, se possui uma validade absoluta. Quem aceita par�cipar da formação de certa decisão ou eleição deve aceitar a regra da maioria como um procedimento, que faz parte das regras do jogo. Os limites da aplicação da regra da maioria, por sua vez, devem ser entendidos, tendo em vista que existem algumas matérias sobre as quais o princípio da maioria não pode ser aplicado na decisão, sob pena de promover uma decisão injusta, ou inadequada (como no caso de pessoas não possuem necessidades especiais, legislando em nome das que possuem...).. Já os limites de eficácia da regra da maioria são todas aquelas promessas que a sua aplicação pretendia, mas que acabou não podendo ser cumprida. Uma das promessas não cumpridas seria a possibilidade de reversão das decisões tomadas. Assim, caso a minoria se tornasse a maioria, seria possível esta nova maioria modificar as decisões anteriores tomadas por aquela outra. 3 Mas, a regra majoritária não deve ser entendida como algo absoluto e nem tampouco como um pressuposto para a democracia, fazendo-se necessário deter-se a atenção para seus limites e aporias. Pode não haver uma resposta única a como são resolvidas as diferenças das minorias em termos de opiniões e valores — apenas a certeza de que só através do processo democrá�co de tolerância, debate e disposição para negociar é que as sociedades livres � AMARAL, Luciana Maria Oliveira - Liberdades Públicas: Conceito, Proteção e Limites dentro da perspec�va do cons�tucionalismo aplicada no Brasil, disponível em www.jornaljurid.com.br/no�cias/liberdades-publicas-conceito-protecao-e-limites-dentro-da-perspec�va-do-cons�tucionalismo-apli cada-no-brasil � Leite, Gisele - Democracia e regra da maioria, disponível em: h�p://professoragiseleleite.jusbrasil.com.br/ar�gos/124681864/democracia-e-regra-da-maioria USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 26 podem chegar a acordos que abranjam os pilares gêmeos do governo da maioria e dos direitos das minorias. 10) Respeito ao direito das minorias e de setores da população portadores necessidades específicas (raça, gênero, orientação sexual, faixa etária,necessidades especiais, etc.) As minorias — seja devido à sua origem étnica, convicção religiosa, localização geográfica, nível de renda ou simplesmente por ter perdido as eleições ou o debate polí�co — desfrutam de direitos humanos fundamentais garan�dos que nenhum governo e nenhuma maioria, eleita ou não, podem �rar. As minorias devem acreditar que o governo vai proteger os seus direitos e a sua iden�dade própria. Feito isto, esses grupos podem par�cipar e contribuir para as ins�tuições democrá�cas do seu país. As democracias entendem que proteger os direitos das minorias para apoiar a iden�dade cultural, prá�cas sociais, consciências individuais e a�vidades religiosas é uma de suas tarefas principais. A aceitação de grupos étnicos e culturais, que parecem estranhos e mesmo esquisitos para a maioria, pode ser um dos maiores desafios que um governo democrá�co tem que enfrentar. Mas as democracias reconhecem que a diversidade pode ser uma vantagem enorme. Tratam estas diferenças na iden�dade, na cultura e nos valores como um desafio que pode reforçar e enriquecê-los e não como uma ameaça. 11) Preservação da liberdade – Entendida de forma ampla, como dispor de bens etc. Entre os direitos humanos fundamentais que qualquer governodemocrá�co deve proteger estão a liberdade de expressão; a liberdade de religião e de crença; julgamento justo e igual proteção legal; e liberdade de organizar, denunciar, discordar e par�cipar plenamente na vida pública da sua sociedade. 12) Autonomia do Judiciário - Nas democracias, a independência das pressões polí�cas dos eleitos e do poder legisla�vo garante a imparcialidade dos juízes. As decisões judiciais devem ser imparciais, baseadas nos fatos de um caso, no mérito individual, em argumentos legais e nas leis relevantes, sem quaisquer restrições ou influência imprópria pelas partes interessadas. Estes princípios asseguram proteção legal igual para todos. O poder dos juízes de rever as leis públicas e de declarar que violam a cons�tuição do país atua como um controle potencial do abuso do poder por parte do governo — mesmo que o governo seja eleito por uma maioria popular. Este poder, contudo, exige que os tribunais sejam considerados independentes e capazes de basear as suas decisões na lei e não em considerações de caráter polí�co. Quer tenham sido concursados ou nomeados, os juízes devem ter segurança no emprego, ou no mandato, garan�da por lei, para que possam tomar decisões sem se preocuparem com pressões ou perseguições pelos que ocupam o poder. Uma sociedade civil reconhece a importância de juízes profissionais dando-lhes formação e remuneração adequadas. A confiança na imparcialidade dos tribunais — em serem vistos como o ramo "não polí�co" do governo — é a fonte principal da sua força e legi�midade. Os tribunais de um país, contudo, não são mais imunes ao comentário público, exame e crí�ca do que qualquer outra ins�tuição. A liberdade de expressão pertence a todos: tanto aos juízes como aos que os cri�cam. Para assegurar sua imparcialidade, a é�ca judicial requer que os juízes se abstenham de (ou se recusem a) julgar casos nos quais têm conflito de interesses. Os juízes numa democracia não podem ser afastados devido a pequenas queixas ou em resposta a crí�cas de caráter polí�co. Em vez disso, podem ser afastados por crimes ou infrações graves através dum processo longo e demorado de impugnação (acusação) e julgamento — quer no Parlamento, quer perante um grupo independente de juízes. Um Poder judiciário independente garante às pessoas que as decisões dos tribunais se basearão nas leis do país e na cons�tuição, não na mudança de poder polí�co nem nas pressões de USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 27 uma maioria temporária. Dotado de independência, o sistema judiciário em uma democracia serve de salvaguarda aos direitos e liberdades pessoais. DEMOCRACIA DIRETA, INDIRETA, SEMI-DIRETA, E REPRESENTATIVA Numa democracia direta, o cidadão vota e expressa sua opinião sem intermediários. No entanto, trata-se de um modelo aplicável apenas a populações e territórios pequenos. Por este mo�vo a maioria dos governos democrá�cos u�liza uma forma de democracia indireta, a democracia representa�va, em que as decisões polí�cas não são tomadas diretamente pelos cidadãos, mas por representantes eleitos por eles. Apenas os representantes têm direito a voto e depende das leis de cada país democrá�co se o voto dos cidadãos é obrigatório (como no Brasil) ou faculta�vo (como nos Estados Unidos). Em tese, as opiniões, demandas e interesses dos cidadãos são representados pelos polí�cos eleitos nas assembleias, câmaras e parlamentos do país. No entanto, as relações entre os polí�cos e os cidadãos são movidas geralmente por tensões e ques�onamentos. Algumas formas de acentuar a par�cipação popular nas decisões polí�cas são, por exemplo, a existência de referendos e plebiscitos, onde os cidadãos votam em relação a determinado assunto de interesse público (desarmamento, aborto, pesquisas com células tronco etc.). Em todo caso, para o aperfeiçoamento dos regimes democrá�cos é imprescindível a manutenção da liberdade de expressão e da imprensa, do livre acesso à informação por parte da população, do direito ao voto e de eleições transparentes para os cargos no Execu�vo e Legisla�vo e da garan�a do uso pleno dos direitos da cidadania. Democracia Direta O cidadão exerce seu voto sem intermediários. U�lizada na an�ga Grécia, os cidadãos votavam pessoalmente, propostas para a cidade, questões financeiras e leis. Uma democracia direta é qualquer forma de organização na qual todos os cidadãos podem par�cipar diretamente no processo de tomada de decisões. As primeiras democracias da an�guidade foram democracias diretas. O exemplo mais marcante das primeiras democracias diretas é a de Atenas (e de outras cidades gregas), nas quais o Povo se reunia nas praças e ali tomava decisões polí�cas. No mundo atual o sistema que mais se aproxima dos ideais da democracia direta é a democracia semidireta da Suíça. Por outras palavras podemos dizer que o conceito da Democracia Direta significa que é o Povo que governa o próprio País onde habita. O povo é soberano, fazendo leis e administrando-as. Na Democracia direta o Povo exerce por si os poderes governamentais, fazendo as leis, administrando e julgando. Diz Bonavides: Segundo Ni�, os gregos consideravam democracia aquelas formas de governo que garan�ssem a todos os cidadãos a ISONOMIA, a ISOTIMIA, e a ISAGORIA, e fizessem da liberdade e da sua observância a base sobre a qual repousava toda a sociedade polí�ca. Com a isonomia proclamava o gênio polí�co da Grécia a igualdade de todos perante a lei, sem dis�nção de grau classe ou riqueza. Dispensava a ordem jurídica aí, o mesmo tratamento a todos os cidadãos , conferindo-lhes direitos iguais e unindo-os sem foro privilegiado. Toda discriminação de ordem jurídica em proveito de classes ou grupos sociais, equivaleria à quebra do princípio da isonomia. Com a iso�nia, abolia a organização democrá�ca da Grécia os �tulos ou funções hereditárias, abrindo a todos os cidadãos o livre acesso ao exercício das funções públicas, sem mais dis�nção ou requisito que o merecimento, a honradez e a confiança depositada no administrador pelos cidadãos. Quanto a isagoria, trata-se do direito de palavra, da igualdade reconhecida a todos de falar nas assembleias populares, de debater publicamente os negócios do governo. Correspondeu USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 28 esse princípio essencial da democracia an�ga, àquilo a que chamamos liberdade de imprensa.(BONAVIDES, 2010,p. 291) Democracia indireta A democracia indireta surge em decorrência da ampliação das caracterís�cas dos Estados e Nações. O crescimento populacional, o aumento da complexidade e das dimensões, dos novos estados impossibilita qualquer forma de avaliação individual da ação polí�ca de gestores de governo, ou do poder polí�co em si mesmo. assim surge a necessidade da representação, ou de outras formas de consen�mento tácito, por parte da população a ação dos governantes e a formulação de suas polí�cas de estado. A própria república romana �nha como caracterís�ca a representação (o povo vota em seus representantes), ou seja, a atribuição dos representados de governar e tomar decisões, em nome da maioria sufragante. Para Bonavides: A moderna democracia ocidental, de feição tão dis�nta da an�ga democracia, tem por bases principais a soberania popular, como fonte de todo poder legí�mo que se traduz através da vontade geral; o sufrágio universal , com pluralidade de candidatos e par�dos ; a observância cons�tucional do principio da dis�nção de poderes , com a separação ní�da do regime presidencial e aproximação ou colaboração mais estreita do regim parlamentar ; a igualdade de todos perante a lei; a manifesta adesão ao principio da fraternidade social ; representação como base das ins�tuições polí�cas ; a limitação da prerroga�va dos governantes; o Estado de direito, com a proteção das liberdades públicas por parte do Estado e da ordem jurídica, abrangendo todas as manifestações de pensamento livre: liberdade de opinião, de reunião,de associação e de fé religiosa; a temporariedade dos mandatos ele�vos; e por fim , a existência plenamente garan�da das minorias polí�cas, com direitos e possibilidades de representação , bem como as minorias nacionais, onde porventura exis�rem. (BONAVIDES, 2010, 295) Democracia semidireta: Nos dias atuais, poucos países u�lizam de maneira integral a chamada democracia semi direta, como por exemplo, a Suíça. No entanto, alguns dos ins�tutos da democracia semi direta são u�lizados em vários países. A população pode intervir no mandato de seus representantes, ou em assuntos de interesse cole�vo, através de instrumentos como: Inicia�va Popular, Referendum, Plebiscito, Recall. Uma democracia semidireta é um regime de democracia em que existe a combinação de representação polí�ca com formas de Democracia direta. No mundo atual o sistema que mais se aproxima dos ideais da democracia direta é a democracia semidireta da Suíça . A Democracia semiereta, conforme Bobbio, é uma forma de democracia que possibilita um sistema mais bem-sucedido de democracia frente às democracias Representa�va e Direta, ao permi�r um equilíbrio operacional entre a representação polí�ca e a soberania popular direta. A prá�ca desta ação equilibrante da democracia semidireta, segundo Bonavides, limita a “alienação polí�ca da vontade popular”, onde “a soberania está com o povo, e o governo, mediante o qual essa soberania se comunica ou exerce, pertence ao elemento popular nas matérias mais importantes da vida pública”. Enquanto a democracia par�cipa�va pretende que existam efe�vos mecanismos de controle da sociedade civil sob a administração pública, pressupondo assim uma prevalência da administração sobre os administrados, a democracia semidireta não pretende ser apenas mais um meio de controle da administração, mas ser a própria administração pública conduzida pela soberania popular. Diz Bonavides: Com a democracia semidireta a alienação polí�ca da vontade popular faz-se apenas parcialmente. A soberania está com o povo , e o governo, mediante o qual essa USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 29 soberania se comunica ou exerce, pertence por igual ao elemento popular nas matéria mais importantes da vida pública... O povo na democracia semidireta não se cinge (limita) apenas a eleger, senão que chega do mesmo passo a estatuir... não é apenas colaborador polí�co, como se dá na democracia indireta, mas também colaborador jurídico. O povo não só elege como legisla.(BONAVIDES, 2010, p.296) São ins�tutos da democracia semidireta: a) O Referendum - A população adquire o poder de sancionar leis. Após a aprovação no Congresso, o povo vota pelo sim ou pelo não, pela aceitação da lei , ou sua rejeição. Temo o referendum post legem (depois da lei aprovada) e o ante legem, isto é antes da lei ser aprovada. b) O Plebiscito - O povo pode definir se um determinado tema deve ser objeto de apreciação legal, antes mesmo da confecção do ins�tuto. Não se restringe apenas à leis, mas a amplos temas de interesse nacional, como o sistema de governo, ou por exemplo a proibição universal ao us de armas. c) A Inicia�va - No Brasil definiu-se cons�tucionalmente o ins�tuto da Inicia�va Popular. Segundo o ar�go 61, §2 da Cons�tuição brasileira de 1988, regulamentado pela lei 9.709 de 1998 , é permi�da a apresentação de projetos de lei pelos poderes Legisla�vo, Execu�vo e pela inicia�va popular. Neste úl�mo caso, a cons�tuição exige como procedimento a adesão mínima de 1% da população eleitoral nacional, mediante assinaturas, distribuídos por pelo menos 5 unidades federa�vas e no mínimo 0,3% dos eleitores em cada uma dessas unidades. Como segundo o TSE o número de eleitores do Brasil em julho de 2010 era de 135,8 milhões , o número mínimo de assinaturas para um projeto de inicia�va popular seria, portanto, 1,36 milhão.Após ser apresentado o projeto será votado, e se for o caso, modificado pelo Congresso Nacional. d) O direito de revogação - Comumente chamado de Recall. Em alguns casos os deputados e Senadores (como nos EUA, por exemplo, onde a ins�tuição existe apenas no plano municipal, e não no federal), ficam obrigados a prestar conta aos ele itores de seu trabalho, e até podem ter o mandato revogado a qualquer momento (como na an�ga União Sovié�ca, por exemplo.O mesmo ins�tuto pode se estender aos funcionários públicos e até mesmo aos Juízes e decisões judiciais. Dentro das possíveis concepções de direito de revogação, existe ainda um instrumento mais radical chamado Abberunfungsrecht, trata-se da des�tuição não só de um indivíduo ou grupo, mas de toda a Assembleia. Sete cantões da Suíça, admitem o Abberunfungsrecht e) O Veto - Instrumento de par�cipação popular, , o veto é a faculdade que permite ao povo manifestar-se contrário a um medida ou lei, já devidamente elaborada pelos órgãos competentes, e em vias de ser posta em execução. Democracia Representa�va Pela democracia representa�va, o cidadão se encontra numa espécie de polo passivo do poder público, ou seja, seu poder se limita ao voto. Assim possuía permissão de escolher um representante que, se eleito por maioria dos votos, tomará as decisões polí�cas em consonância com sua vontade.E, essa escolha passa a obrigar a todos os demais, inclusive os que �nham opiniões divergentes, que não escolheram o representante eleito. De qualquer forma a par�cipação do cidadão é condição fundamental da democracia, sendo simbólico de autên�cos ideais, sen�do estes per�nentes à regra da maioria e da democracia e que não ressente da "arte do governo" de que nos alertou Bobbio e que não cansam de ressurgir: "o polí�co, tal como o médico, o comerciante, o padre, não poderia exercer seu o�cio sem obedecer a um código". USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 30 O primeiro significado posi�vo para a par�cipação de todos os cidadãos seria em estabelecer um diálogo constante com seus representantes eleitos, chamando-os a responder de maneira precisa pelas decisões tomadas. Afinal, o que qualifica o sistema representa�vo, a relação polí�ca fundamental, é o eixo ver�cal de baixo par cima, estabelecido entre o eleito e o eleitor. Assim a soberania do cidadão acaba sendo levada em consideração somente na hora do voto, à qual se seguem períodos breves ou longos, mas eivados de verdadeira alienação polí�ca. O mecanismo indireto de democracia trouxe a conhecida regra da maioria que corresponde exatamente à manifestação do indivíduo colocado na cena da vida pública. No caso, ao menos de forma indireta, o poder público fica nas mãos de uma maioria de cidadãos que escolheram seus representantes para que estes ajam e decidam de acordo com seus interesses. Contudo, no sistema representa�vo no momento que eleito, o representante se desvincula dos seus eleitores/representados e passa a ter autonomia para decidir conforme a sua consciência até o término de seu mandato. Assim então, as pessoas possuem duas caracterís�cas: na medida em que tem confiança do corpo eleitoral: a) uma vez eleito não é mais responsável perante os próprios eleitores e seu mandato, portanto, não é revogável[6]; b) não é responsável diretamente perante os seus eleitores exatamente porque convocados a tutelar os interesses gerais da sociedade civil e não os interesses par�culares desta ou daquela categoria. O conceito de mandato ou mandatário tem origem em Roma, e é conhecido como “Manus da�o”. Portanto mandato, segundo os romanos é “o contrato pelo qual alguém cons�tui a outrem seu representante inves�ndo-o de poderes para executar um ou mais de um ato jurídico”. Atualmente as caracterís�cas mais importantes do mandato popular são: ⦁ O mandatário apesar de eleito por parte do povo, expressa a vontade de todo o povo. ⦁ Embora o mandato seja ob�do mediante determinado número de votos, não está vinculados a esses eleitores. ⦁ O mandatário tem absoluta autonomia e independência. ⦁ Os eleitores estão obrigados a acataras decisões dos mandatários, mesmo que se oponham a elas. ⦁ O mandato é de caráter geral conferindo poderes a todos os atos pra�cados na esfera de competência do cargo. ⦁ Em regra o mandato é irrevogável exceto pelos países que adotem o recall. VI - REPRESENTAÇÃO POLÍTICA, PARTIDOS POLÍTICOS, PARTIDOS POLITICOS NO BRASIL REPRESENTAÇÃO POLÍTICA Na polí�ca, representação descreve como alguns indivíduos atuam por outros, ou por um grupo, por determinado período de tempo. Representação normalmente se refere a democracias representa�vas, em que os oficiais eleitos nominalmente falam por seus cons�tuintes na legislatura. Geralmente, apenas a cidadãos é garan�da a representação no governo na forma de direito a voto. Contudo, algumas democracias aumentaram esse direito USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 31 ainda mais.4 Vivemos atualmente uma crise sem precedentes da representação polí�ca. A credibilidade dos representantes é frequentemente ques�onada, bem como sua efe�va representação da vontade dos eleitores. São crí�cas frequentes ao sistema representa�vo, segundo Alkmim: O paradoxo da representação, como uma crí�ca aos sistemas que se fortaleceram a par�r do final do século XIX, foi formulado de diferentes maneiras, mantendo-se um argumento vigoroso, embora boa parte dos pensadores polí�cos contemporâneos adote uma linha de sobreposição e/ou combinação dos modelos existentes. Podemos resumir em alguns pontos as linhas de argumentação expostas ao longo deste ar�go, sobre o paradoxo da representação polí�ca: • A formulação lógica da representação polí�ca não se sustenta, sendo impossível B representar A, pois a vontade não se representa; • A iden�dade dos representados não coincide com a iden�dade dos representantes, do ponto de vista tanto da opinião como da segmentação social; • A obscuridade do sufrágio universal secreto, que não pode ser considerado um pacto diretamente formado pelos cidadãos; • Qualquer pacto polí�co firmado não pode ter valor para as gerações seguintes; • O processo polí�co, na forma da representação parlamentar, atende interesses dentro da estrutura de classes da sociedade, mas não é aí o centro de gravidade do poder; • Atomização e serialização do eleitorado como efeito do sufrágio universal, através do voto secreto, dificulta ou impede a formação de uma consciência cole�va, não alienada.5 PARTIDOS POLÍTICOS Recebe o nome de par�do polí�co a organização burocrá�ca que tem por obje�vo conquistar e exercer o poder polí�co. Dotados de uma ideologia, ainda que tênue, (ponto de crí�cas frequentes no caso do Brasil), o par�do polí�co é uma organização que defende o interesse de uma parcela da população, e buscando promovê-la, organiza-se para disputar eleições, conquistar cargos e assim, fazer valer seus projetos. O termo par�do polí�co é aplicado a pra�camente todos os grupos organizados que buscam conquistar o poder, seja por meio de eleições democrá�cas ou de revoluções. Par�do polí�co é um grupo organizado, legalmente formado, com base em formas voluntárias de par�cipação numa associação orientada para influenciar ou ocupar o poder polí�co. Para preservar e proteger os direitos e as liberdades individuais, um povo democrá�co deve trabalhar em conjunto para modelar o governo que escolher. E a maneira principal de fazer isso é através dos par�dos polí�cos. Os par�dos polí�cos são organizações voluntárias que ligam as pessoas a seu governo. Os par�dos recrutam candidatos e fazem campanha para os elegerem a cargos públicos e mobilizam as pessoas para par�ciparem na escolha dos governantes. O par�do da maioria (ou o par�do eleito para controlar os ministérios do governo) procura decretar leis sobre muitas polí�cas e programas diferentes. Os par�dos de oposição são livres para cri�car as ideias polí�cas do par�do da maioria e apresentam as suas próprias propostas. Os par�dos polí�cos proporcionam uma forma dos cidadãos responsabilizarem os dirigentes do par�do pelas suas ações no governo. Os par�dos polí�cos democrá�cos acreditam nos � WIKIPEDIA � Alkmim, Antonio Carlos - O Paradoxo do Conceito de Representação Polí�ca, disponível em h�p://www.teoriaepesquisa.ufscar.br/index.php/tp/ar�cle/viewFile/337/229 USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 32 princípios da democracia de modo que reconhecem e respeitam a autoridade do governo eleito, mesmo que os seus líderes par�dários não estejam no poder. Como qualquer democracia, os membros dos vários par�dos polí�cos refletem a diversidade de culturas de onde provêm. Alguns são pequenos e construídos em torno de um conjunto de convicções polí�cas. Outros são organizados em torno de interesses econômicos ou de uma história comum. Outros ainda são alianças livres de vários cidadãos que podem juntar-se apenas em período eleitoral. Os par�dos democrá�cos reconhecem que as opiniões polí�cas são flexíveis e variáveis e que o consenso pode, com frequência, surgir de um confronto de ideias e valores em um debate pacífico, livre e público. SISTEMAS PARTIDÁRIOS Sistema bipar�dário: Apesar de em grande parte dos países onde vigora o bipar�darismo não ser vedada a formação de novos par�dos polí�cos, dois grandes par�dos dominam de tal forma a polí�ca nacional que não se tem no�cia de um pequeno par�do haver ganho qualquer eleição em qualquer tempo. Normalmente esses par�dos representam pensamentos polí�co ideológicos diametralmente opostos, levando caminhos diferentes para a administração do Estado. Como exemplo, temos na Inglaterra os Par�dos Conservador e Trabalhista que a anos dominam o cenário eleitoral. Enquanto os conservadores propõe uma menor intervenção do Estado na economia e na vida dos cidadãos, tendo um viés liberal, os trabalhistas propõe um Estado mais intervencionista com programas sociais mais amplos. O mesmo cenário ocorre nos EUA, com os par�dos Democrata e Republicano. No Brasil por exemplo, apesar de não termos um legí�mo bipar�darismo, o cenário polí�co naciponal há anos é dominado pela disputa entre o Par�do dos Trabalhadores e o PSDB. O bipar�darismo também pode no entanto, ser uma imposição nos regimes totalitários tanto quanto o unipar�darismo. No Brasil, durante o período dos governos militares, o regime de exceção impôs a existência de dois únicos par�dos, um representando a situação (apoio ao regime) ba�zado de ARENA (Aliança Renovadora Nacional), e outro de oposição denominado MDB (Movimento Democrá�co Brasileiro). Sistema Mul�par�dário: Vários par�dos importantes disputam o poder polí�co, sendo facilitada a criação de novos par�dos. Para Benevides: "Os adeptos do pluralismo par�dário amplo louvam-no como a melhor forma de colher e representar o pensamento de variadas correntes de opinião, emprestando às minorias polí�cas o peso de uma influência que lhes faleceria tanto no sistema bipar�dário como unipar�dário. Afirma-se ademais que o sistema mul�par�dário é de cunho profundamente democrá�co, pois confere auten�cidade ao governo , �do por centro de coordenação ou compromisso dos dis�ntos interesses que se movem no mosaico das várias classes da sociedade, classes cuja voz de par�cipação, através do par�do polí�co, se alça assim a esfera do poder."6 A crí�ca que se faz ao sistema mul�par�dário em geral, é que a proliferação de par�dos, como ocorre por exemplo no Brasil, leva a que surjam par�dos de conveniência, que tem como finalidade exclusiva, auferir vantagens pessoais para seus membros,a par�r da estrutura par�dária, como conquistar cargos nos órgãos de governo, vender tempo televisivo, apoio polí�co, etc. Além disso, torna-se confuso para o eleitor (em especial em países como o Brasil, onde a ideologia dos par�dos não é muito clara, nem existem programas par�dários divulgados), � BONAVIDES, 2010, p.391/392 USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 33 compreender a real diferença entreos par�dos existentes, suas ideia, programas, propostas, etc. Sistema unipar�dário (par�do único) - Trata-se de sistema usado tradicionalmente em regimes totalitários. Para Bonavides: "As ditaduras do Século XX, com raras exceções, fizeram porém do par�do único o instrumento máximo de conservação do poder".7 O par�do único tem sido assim, instrumento contumaz de ditadores e regimes ditatoriais. Existe apenas um par�do, é apenas a ele é facultado disputar as eleições e, consequentemente o poder. Todos os debates e disputas em torno de ideias só podem se dar no interior da agremiação par�dária, e entre os integrantes formais do par�do. É o caso da China por exemplo. PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL No século XX, os par�dos polí�cos espalharam-se pelo mundo inteiro, seja por meios democrá�cos ou, algumas vezes, pelos grupos no poder em regimes totalitários. A configuração atual de par�do polí�co surgiu na Europa e nos Estados Unidos no século XIX, sendo influenciado pelos sistemas parlamentares e eleitorais que surgiram desde a época. No Brasil, os principais disposi�vos que regulam a formação, composição e funcionamento dos par�dos polí�cos são o ar�go 17 da Cons�tuição Federal, que sozinho compõe o Capítulo V do Título II do documento; além deste ar�go cons�tucional, há uma lei específica tratando do assunto, a lei 9096, de 19 de setembro de 1995. Assim, de acordo com os dois disposi�vos, temos que, para ser instalado, o par�do polí�co necessita de um registro, que é encaminhado a um cartório do Registro Civil das Pessoas Jurídicas, em Brasília. Este documento precisa da assinatura de pelo menos 101 fundadores com domicílios eleitorais distribuídos em, no mínimo, nove estados. Passada esta etapa inicial, ele necessita de assinaturas de apoio, cuja quan�dade mínima corresponde a 0,5% dos votos válidos dados na úl�ma eleição para a Câmara dos Deputados, o equivalente a cerca de 490 mil assinaturas. O apoio dos eleitores deve estar distribuído em pelo menos nove estados e deve corresponder a, no mínimo, 10% do eleitorado de cada uma das unidades da federação escolhidas. Estas assinaturas terão sua veracidade atestada pelo escrivão eleitoral. A seguir, os fundadores do par�do protocolam o pedido de registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e caso não haja nenhuma falha no processo, o registro da legenda é concedido. Para par�cipar de eleições, o par�do deve registrar seu estatuto no Tribunal Superior Eleitoral, o que lhe permite ainda receber recursos do fundo par�dário e ter acesso a tempo no rádio e televisão des�nado à propaganda eleitoral gratuita. Além da criação de novos par�dos, a Cons�tuição prevê a liberdade que os brasileiros possuem para fundir, incorporar, bem como ex�nguir par�dos polí�cos, algo que constantemente se assiste no cenário polí�co, principalmente no caso de par�dos apelidados de "nanicos". VII - ELEIÇÕES E SISTEMAS ELEITORAIS Eleição é o processo mediante o qual um grupo social escolhe seu governante ou seu representante polí�co por meio do voto. Nos países democrá�cos, O exercício do voto é um dos direitos fundamentais dos cidadãos. É por meio dele que o indivíduo par�cipa do poder público e manifesta sua vontade. � BONAVIDES, 2010, p.394 USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 34 No Brasil, o voto é obrigatório para os maiores de 18 anos e faculta�vo para os analfabetos, maiores de 70 anos e para os jovens que tenham entre 16 e 18 anos. As pessoas que deixam de votar, em qualquer eleição, devem jus�ficar-se diante da Jus�ça Eleitoral para conservar seus direitos sociais. ORIGENS - O voto teve origem na escolha dos chefes militares da an�guidade, por meio da aclamação dos guerreiros. Como esses chefes passaram a governar também em tempo de paz, surgiu a necessidade de organizar a escolha. As referências mais an�gas sobre o processo eleitoral remontam à Grécia do século IX A.C., com Licurgo, o lendário legislador de Esparta, que definiu as regras para escolha da assembleia, e ao século VI A.C., com Sólon, legislador ateniense que, mediante a expressão da vontade popular, conseguiu um maior equilíbrio do poder, antes exercido quase com exclusividade pela aristocracia. Na mesma época, em Roma, a reforma de Sérvio Túlio favoreceu a formação de um corpo eleitoral e de processos de votação. SISTEMAS ELEITORAIS Os Sistemas Eleitorais são definidos pelas regras de apuração, contagem, agregação de votos e sua conversão em mandatos. O �po de regra define os sistemas e o número de variações em uso na atualidade é rela�vamente pequeno. A expressão "sistema eleitoral" designa o modo, os instrumentos e os mecanismos empregados nos países de organização polí�ca democrá�ca para cons�tuir seus Poderes Execu�vo e Legisla�vo. No Brasil, chamamos de sistemas eleitorais o conjunto de normas que rege e organiza as eleições. O Código Eleitoral prevê a coexistência de dois sistemas eleitorais: majoritário e proporcional. No sistema majoritário os candidatos mais votados são eleitos . Pelo sistema majoritário, são escolhidos o Presidente e o Vice-Presidente da República, os Governadores e Vice-Governadores dos Estados, os Senadores da República e seus dois suplentes e os Prefeitos e Vice-Prefeitos Municipais. No caso de eleição para Prefeito e Vice, estará eleito o candidato que ob�ver o maior número de votos válidos (maioria simples, excluídos os em branco e nulos). Entretanto, nos municípios com mais de 200 mil eleitores, aplica-se a mesma regra da eleição para Presidente e Governador: será eleito Prefeito, em primeiro turno, aquele que ob�ver a maioria absoluta (metade mais um) dos votos válidos. Caso contrário, realizar-se-á o segundo turno, concorrendo os dois candidatos mais votados. Em que pese à eleição para Senador, será eleito em primeiro turno aquele que ob�ver a maioria simples dos votos válidos, lembrando que o Senador é eleito conjuntamente com os dois suplentes, pois forma-se uma chapa única. Sendo assim, o eleitor não vota no suplente, porém ele poderá vir a subs�tuir ou suceder o Senador eleito. Pelo sistema eleitoral proporcional, são escolhidos os Deputados Federais, Deputados Estaduais e Distritais e Vereadores. Diferentemente da eleição majoritária, serão eleitos tantos candidatos quantos os lugares a serem preenchidos na Câmara dos Deputados, nas Assembleias Legisla�vas e nas Câmaras Municipais. Para se apurar a quan�dade de vagas des�nada a cada par�do e/ou coligação, será necessário executar um cálculo matemá�co, por meio do qual se obterá o “quociente eleitoral” e o “quociente par�dário”. Esses quocientes serão a base para a apuração dos candidatos eleitos pelo sistema proporcional. A par�r dos votos apurados para determinada legenda, as vagas nas casas legisla�vas serão preenchidas pelos candidatos mais votados que foram registrados pelos par�dos ou coligações, até o limite das vagas ob�das, segundo o cálculo do quociente par�dário e distribuição das sobras. USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 35 Os deputados federais representam a população de cada estado no Congresso, mas a Cons�tuição limita o número de representantes por unidade da federação em no mínimo oito e no máximo 70. Dessa forma, não há uma verdadeira proporcionalidade. Assim, o estado de São Paulo precisou nas eleições de 1998 de mais de 333 mil votos para eleger um deputado federal, enquanto em Roraima são necessários apenas 17 mil - uma diferença de quase 20 vezes. O voto proporcional procura incluir na representação não as maiorias locais ou regionais, mas todos os compe�dores, na proporção dos votos ob�dos. Opções: a) Sistema proporcional com listas fechadas e bloqueadas: nesses casos a lista é definida pelo par�do, normalmente em convenção, e o eleitor pode apenas sufragá-la ou recusá-la. b) Sistema proporcional com listas flexíveis: nessa variante, os par�dos apresentam suas listas e os eleitores podem contribuir, de diversas maneiras,para a alteração dessa ordem. c) Sistema proporcional de lista aberta: com a lista aberta, a ordem dos candidatos é definida pelo número de votos ob�do por cada um deles. O Brasil adotou essa regra de forma pioneira e a emprega desde 1945. Coeficiente eleitoral / Cálculo do quociente eleitoral Exemplo: Divisão de 17 cadeiras em um município onde votaram 50.037 eleitores. 1ª operação Determinar o nº de votos válidos, deduzindo do comparecimento os votos nulos e os em branco (art. 106, § único do Código Eleitoral e art. 5º da Lei nº 9504 de 30/09/97). Comparecimento (50.037) - votos em branco (883) - votos nulos (2.832) = votos válidos (46.322) 2ª operação Determinar o quociente eleitoral, dividindo-se os votos válidos pelos lugares a preencher (art. 106 do Código Eleitoral). Despreza-se a fração, se igual ou inferior a 0,5, arredondando-a para 1 se superior. Votos válidos (46.322) ÷ número de cadeiras (17) = 2.724,8 = quociente eleitoral ( 2.725) 3ª operação Determinar os quocientes par�dários, dividindo-se a votação de cada par�do (votos nominais + legenda) pelo quociente eleitoral (art. 107 do Código Eleitoral). Despreza-se a fração, qualquer que seja. 8 Cálculo do quociente par�dário Par�dos Votação Quociente eleitoral Quociente par�dário A 15.992 ÷ 2.725 = 5,8 = 5 B 12.811 ÷ 2.725 = 4,7 = 4 C 7.025 ÷ 2.725 = 2,5 = 2 D 6.144 ÷ 2.725 = 2,2 = 2 E 2.237 ÷ 2.725 = 0,8 = 0* F 2.113 ÷ 2.725 = 0,7 = 0* � h�p://www.tre-pe.jus.br/eleicoes/calculo-do-quociente-eleitoral USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 36 Total = 13 (sobram 4 vagas a distribuir) CÁLCULO DO QUOCIENTE PARTIDÁRIO: 1) PARTIDO/COLIGAÇÃO “A” OBTEVE = 172.800 VOTOS 2) PARTIDO/COLIGAÇÃO “B” OBTEVE = 100.000 VOTOS 3) PARTIDO/COLIGAÇÃO “C” OBTEVE = 80.000 VOTOS 4) PARTIDO/COLIGAÇÃO “D” OBTEVE = 65.000 VOTOS 5) PARTIDO/COLIGAÇÃO “E” OBTEVE = 14.200 VOTOS Votação mínima que deverá obter um PARTIDO/COLIGAÇÃO para concorrer à distribuição dos lugares na Câmara. QUOCIENTE PARTIDÁRIO : (Código Eleitoral, ART. 107). 1) PARTIDO / COLIGAÇÃO “A”: QP = VOTOS VÁLIDOS PA /QE = 172.800 /14.896 = 11,6004 2) PARTIDO / COLIGAÇÃO “B”: QP = VOTOS VÁLIDOS PB /QE = 100.000 /14.896 = 06,7132 3) PARTIDO / COLIGAÇÃO “C”: QP = VOTOS VÁLIDOS PC /QE = 80.000 /14.896 = 05,3705 4) PARTIDO / COLIGAÇÃO “D”: QP = VOTOS VÁLIDOS PD /QE = 65.000 /14.896 = 04,3635 OBS: PARTIDO / COLIGAÇÃO “E” Obteve votação inferior ao QE, logo não par�cipa da distribuição9 importante: a diferença entre votar nulo e votar em branco O voto em branco ocorre quando, ao usar a urna eletrônica, o eleitor escolhe a opção da tecla específica denominada “BRANCO” e aperta a tecla “CONFIRMA”. Já o voto nulo ocorre quando, ao usar a urna eletrônica, o eleitor digita um número que não corresponde a nenhum candidato ou par�do polí�co oficialmente inscrito junto ao TSE. O voto nulo é apenas registrado para fins de esta�s�cas e não é computado como voto válido, ou seja, não vai para nenhum candidato, par�do polí�co ou coligação. Portanto, os votos em branco e nulos não são contabilizados como votos válidos, por isso não afetam o resultado final das eleições. Ao votar nulo o eleitor estará, em linhas gerais, beneficiando o candidato que ob�ver mais votos válidos, tendo em vista que, o candidato que for eleito precisará ter um número menor de votos, por isso, acaba-se elegendo um candidato sem representação polí�ca. Logo, com essa abstenção do voto, o cidadão deixa de par�cipar daquele momento polí�co, e em consequência não elege, de forma consciente, um candidato que possa representar os interesses da comunidade onde vive. Deixar de par�cipar da vida polí�ca do seu país poderá acarretar uma realidade polí�ca prejudicial a todos. É comum ouvir dizer que votar em branco ou nulo irá anular a eleição. Ouve-se dizer também que se em uma eleição mais de 50% (cinquenta por cento) dos votos apurados forem nulos, a eleição será anulada e o pleito será repe�do. Isso é pura falácia, pois os votos em branco e nulos não são computados, ou seja, não terão nenhuma validade. O art. 224 do Código Eleitoral dispõe: Art. 224. Se a nulidade a�ngir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias. É verdade que o art. 224 do Código Eleitoral prevê a realização de nova eleição caso haja anulação de mais da metade dos votos em uma determinada eleição, porém esses votos deverão ser � h�p://www.jus�caeleitoral.jus.br/arquivos/tre-pi-eleicoes-simulacao-calculo-do-quociente-eleitoral USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 37 declarados nulos pela Jus�ça Eleitoral em um processo regular, no qual será oportunizado o contraditório e a ampla defesa. Portanto, a ocorrência de nova eleição não se deve ao fato de os eleitores terem votado em branco ou anulado os votos.10 Sistema misto Chamado no Brasil de sistema distrital misto, trata-se, na verdade, de um sistema em que parte dos deputados é eleita pelo voto proporcional e parte pelo voto majoritário. Financiamento eleitoral e par�dário Hoje vige o sistema misto de financiamento eleitoral e par�dário (formado por recursos públicos e privados). O financiamento público é formado por recursos do fundo par�dário repassados aos par�dos e indiretamente pela compensação fiscal a que as emissoras de rádio e televisão têm direito pela cedência do horário eleitoral gratuito. A proposta de alteração mais significa�va tem sido a de tornar o financiamento das campanhas eleitorais exclusivamente público. Também há proposta no sen�do de se adotar o financiamento público exclusivo para as eleições para o Execu�vo, mantendo-se o sistema atual nas eleições para o Legisla�vo. VOTO DISTRITAL O sistema do Voto Distrital Misto foi criado na Alemanha, logo depois da II Guerra Mundial. Neste sistema metade das vagas é distribuída pela regra proporcional e a outra metade, pelo sistema distrital. O eleitor tem dois votos para cada cargo: um para a lista proporcional (lista fechada) e outro para a disputa em seu distrito. O país ou o estado (se houver) é dividido em distritos eleitorais: regiões com aproximadamente a mesma população. Cada distrito elege um deputado e, assim, completam-se as vagas no parlamento e nas assembléias legisla�vas. Dentro do sistema do voto distrital, a eleição pode ser feita pelo processo de maioria absoluta ou não, ou seja, pode haver vários candidatos no distrito e será eleito o mais votado ou pode-se exigir a maioria absoluta: depois da eleição, os dois mais votados disputam em um segundo turno. O voto distrital dificulta a radicalização polí�ca, já que, pelo sistema distrital, o candidato precisa ter maioria em seu distrito. Em qualquer comunidade, dificilmente a maioria é radical, e, assim, a polí�ca do país tende a criar e fortalecer lideranças mais estáveis e menos passionais. Por outro lado, o voto distrital pode criar legisladores que estejam sempre voltados aos problemas locais, relegando assuntos internacionais ou que não dizem respeito ao seu distrito e criando uma con�nuidade de cargo, com as mesmas pessoas nos mesmos cargos por várias eleições seguidas. Além disso, um problema grave do voto distrital é a prá�ca do Gerrymandering, em que o legislador distorce o traçado dos distritos de modo a favorecer um determinado par�do polí�co ou candidato. Tendo em vista essas considerações, os teóricos e estudiosos especializados no trato da matéria têm defendido a maior viabilidade da adoção de uma espécie temperada, em que uma fração dos candidatos é eleita de acordo com a lógica proporcional, referente ao mecanismo da apresentação par�dária de listas fechadas, de sorte a proporcionar a seleção na escala dos votos recebidos; e a outra é eleita de acordo com aCom isso, Maquiavel contradiz profundamente o que ele próprio havia escrito sobre a primeira década de Tito Lívio: isto é, que o poder baseia-se na democracia, no consen�mento do povo, entendendo-se como povo a burguesia do seu tempo. Mas agora Maquiavel pensa na construção de um Estado unitário e moderno, portanto do Estado absoluto, e descreve o que será o processo real da formação dos Estados unitários. Maquiavel funda uma nova moral que é a do cidadão, do homem que constrói o Estado; uma moral imanente, mundana, que vive no relacionamento entre os homens. Não é mais a moral da alma individual, que deveria apresentar-se ao julgamento divino "formosa" e limpa. O Príncipe "O Príncipe" consiste de um manual prá�co dado ao Príncipe Lorenzo de Médici como um presente, o qual envolve experiência e reflexões do autor. Lourenço de Médici recebeu O Príncipe em manuscrito. Não lhe dispensou atenção alguma. Nas mãos de contemporâneos onde circulou o manuscrito, o interesse foi medíocre. Quatro anos após a morte de Maquiavel, O Príncipe é publicado, com um breve de autorização do Papa Clemente VI (1531); a edição é dedicada a um cardeal. Inicialmente inofensiva, as edições vão se mul�plicando. A Renascença pagã sucedeu a Reforma protestante, que obrigou a própria Igreja a reformar-se interiormente. Assim o livro de Maquiavel achou-se envolvido nos turbilhões de vastas contendas. O Cardeal - Arcebispo de Canteerbury, Reginald Pole, católico, julga O Príncipe escrito “pela mão do Demônio”. Em1557, o escrito indigno e celerado denunciado pelo Papa Paulo IV; é condenado pelo Concílio de Trento, e muitas outras acusações. Também os protestantes abominam Maquiavel como jesuíta. Os jesuítas o denunciam à indignação católica. A obra é dividida em 26 capítulos. PONTOS IMPORTANTES DA TEORIA DE MAQUIAVEL SOBRE O ESTADO E O PODER A) a verdade efe�va das coisas O foco para Maquiavel sempre foi o Estado, não aquele imaginário e que nunca exis�u; mas aquele que é capaz de impor a ordem! O ponto de par�da e de chegada é a realidade corrente, ou seja: ver e examinar a realidade como ela é e não como se gostaria que fosse. O que Maquiavel se ques�ona incessantemente é: como fazer reinar a ordem – como instaurar um estado estável – como resolver o ciclo de estabilidade e caos. Ele chega a algumas conclusões interessantes – A ordem deve ser construída para evitar a barbárie. Uma vez alcançada, não é defini�va. B) natureza humana e história Fiel ao conceito da verdade efe�va, Maquiavel estuda a história, sobretudo a an�guidade clássica. Conclui que qualquer que seja o tempo e o espaço o homem tem traços humanos imutáveis quais sejam: ingratos, volúveis, simuladores, covardes e ávidos de lucro – O Príncipe cap. XVII. Destes atributos nega�vos temos os fundamentos para o conflito e a anarquia. Para Maquiavel o estudo do passado indicará os acontecimentos que se sucederão em qualquer estado e também quais os meios empregados para solucionar problemas pela coincidência ou similaridade. C) Dos �pos de principado Segundo Maquiavel, os principados são dois os �pos de principados: REPUBLICA ou PRINCIPADOS. Os Principados podem ser hereditários ou novos. Principados mistos: Quando não são inteiramente novos. Quando se conquista um pais acostumado a viver segundo as suas próprias leis e em liberdade, três maneiras ha de proceder para conservá-lo : DESTRUI-LO; ou IR MORAR NELE; ou DEIXA-LO VIVER COM SUAS LEIS. Quando o príncipe reside em seu domínio, dificilmente acontece de vir a perde-lo. USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 4 Outro meio igualmente eficaz e mandar colonizar algumas regiões que sejam como chaves do novo Estado. Neste caso, os lesados por ficarem pobres e dispersos, nunca poderão acarretar-lhe embaraços. Note-se, dizia Maquiavel, que os homens devem ser suprimidos ou lisonjeados, pois se vingam das ofensas leves, mas não podem faze-lo das graves. Por conseguinte, a ofensa que se faz ao homem deve ser tal, que o impossibilite de �rar desagravo. D) Virtú e fortuna Os conceitos de virtù e fortuna são empregados várias vezes por Maquiavel em suas obras. Para ele, a virtù seria a capacidade de adaptação aos acontecimentos polí�cos que levaria à permanência no poder. A virtù seria como uma barragem que deteria os desígnios do des�no. Mas segundo o autor, em geral, os seres humanos tendem a manter a mesma conduta quando esta fru�fica e assim acabam perdendo o poder quando a situação muda. A idéia de fortuna em Maquiavel vem da deusa romana da sorte e representa as coisas inevitáveis que acontecem aos seres humanos. Não se pode saber a quem ela vai fazer bens ou males e ela pode tanto levar alguém ao poder como �rá-lo de lá, embora não se manifeste apenas na polí�ca. Como sua vontade é desconhecida, não se pode afirmar que ela nunca lhe favorecerá. A crença na predes�nação ou fatalidade dominava há muito tempo. A fortuna era uma deusa que possuía os bens que o homem deseja possuir: honra, riqueza, glória e poder. Era importante seduzi-la antes que outros o fizessem. Como era deusa - mulher era necessário mostrar-se vir homem de inques�onável coragem. Desta forma o homem que possuísse uma virtú no mais alto grau seria agraciado com a fortuna. Maquiavel na sua obra O Príncipe monta um cenário para comprovar que é possível se estabelecer uma aliança com a virtú pois parece haver um sen�do de complementaridade e não de sobreposição. Virtú é, como vimos, energia, vontade dirigida para um obje�vo. Fortuna é sorte (boa ou má), acaso ou oportunidade (propícia ou desfavorável). No caso do príncipe é o momento certo, antecipadamente calculado por ele; momento no correr do tempo, porém o momento com certeza de êxito garan�da pela perspicácia do príncipe. Outro aspecto marcante de sua obra é quando são tratados os meios de se tornar príncipe, que podem ser dois: pelo valor ou pela fortuna. Entretanto ele adverte que aqueles que se tornaram príncipes pela fortuna têm muita dificuldade para se manter no poder. O poder que nasce da própria natureza humana encontra sua base na força, mas o importante é a sabedoria no uso da força; ao governante para se manter no poder não basta ser simplesmente o mais forte – ele deve possuir virtú para manter o domínio adquirido. Segundo Maquiavel, existem ainda duas outra maneiras de um simples cidadão chegar ao poder que não por meio da fortuna ou da virtude – através da pra�ca de ações celeradas e nefastas ou favor dos outros concidadãos. Quando um cidadão chega ao poder por meio da ajuda dos seus concidadãos, o principado pode ser chamado de civil e para alguém governá-lo, não precisa Ter exclusivamente VIRTUDE ou FORTUNA, mas sim ASTUCIA AFORTUNADA. Conseguir reunir a “fortuna” e a “virtú” cons�tui uma situação ideal para a manutenção do poder polí�co. Diz Maquiavel: "Minha opinião é de que é melhor ser ousado que prudente". Con�nua Maquiavel: "Sou de parecer de que é melhor ser ousado do que prudente, pois a fortuna (oportunidade) é mulher e, para conservá-la submissa, é necessário (...) contrariá-la. Vê-se , que prefere, não raramente, deixar-se vender pelos ousados do que pelos que agem friamente. Por isso é sempre amiga dos jovens, visto terem eles menos respeito e mais ferocidade e subjugarem-na com mais audácia". E) Chegar e manter o poder com ajuda dos poderosos ou do povo? USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 5 O Príncipe elevado pelos grandes – que se julgam seus iguais, que são insaciáveis, e aos quais não domina – encontra uma dificuldade em manter-se do que um Príncipe elevado pelo povo. Quem chega ao poder com o auxilio dos grandes, tem maiores dificuldades do que aquele que chega com o apoio dos vulgos. Desejo do povo e ficar livre de opressão enquanto os grandes querem oprimir o povo. F) Como se devem medir as forças dos principados? Deve-se verificar se o príncipe tem condições de oferecer resistência sozinho a quemlhe ataca, isto é, dinheiro e exército para resis�r. Se necessita de ajuda alheia para defender seu trono, ou seja, refugia-se dentro dos muros de sua cidade para defender estes. Um príncipe para ter um estado forte é necessário que ele tenha um bom exército e boas leis. G) Das coisas pelas quais um homem ou príncipe são louvados ou censurados Faça o que for necessário para não cair em ruína o seu trono, mesmo que seja censurado. O príncipe deve aprender a não ser sempre bom, a ser ou não ser bom “conforme a necessidade”. O príncipe deve conservar o seu reino. Na escolha, do que se deve fazer, encontrará algo com aparência de virtude, que cuja adoção lhe trará a ruína, e algo com aparência de defeito que o conduzirá a uma situação de segurança e bem-estar. Diz Maquiavel: “Pois o homem que queira professar o bem por toda parte é natural que se arruíne entre tantos que não são bons." H) De que maneira os príncipes devem cumprir suas promessas Só deverá cumpri-las se forem benéficas. Um príncipe sábio não pode e nem deve manter-se fiel as suas promessas quando ex�nta a causa a que o levou fazê-las. Este preceito não servia se todos os homens fossem bons, como são maus por isso faltariam com a palavra que deram e nada impede que venhamos faltar com a nossa também. “Os homens em geral formam suas opiniões guiando-se pela vista, do que pelo tato; vê o que parecemos ser, e não sentem o que realmente somos. Os homens são tão simplórios e obedecem de tal forma as necessidades presentes que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe enganar. Quando se é príncipe, pode-se “deixar de encontrar razões legí�mas para colorir a falta de cumprimento” do que se prometeu. Como se deve evitar o desprezo e o ódio O príncipe deve em geral abster-se de pra�car o que o torne malquisto ou desprezível. O que acarreta ódio dos súditos é usurpar os seus bens e as suas mulheres, pois os homens vivem contentes enquanto ninguém lhes toca nos haveres e na honra. O desprezo incorre quando os seus governados o julgam, inconstante, leviano e irresoluto. Tem de ter o máximo de cuidado, esta reputação é perigosa, seus atos devem ser de grandeza, coragem, austeridade e vigor. Diz Maquiavel: "A um príncipe pouco devem importar as conspirações se é amado pelo povo, mas, quando este é seu inimigo e o odeia, deve temer tudo e a todos". J) Como deve portar-se um príncipe para ser es�mado e manter o apoio do povo Torna-se es�mado quando sabe ser verdadeiro amigo ou inimigo, isto é, quando abertamente se declara a favor de alguém e contra outrem, é sempre melhor que manter-se neutro. O príncipe deve fazer com que seus súditos necessitem sempre do Estado e dele porque a ele se submeterão. É necessário a um príncipe que ele tenha um espírito pronto adaptar-se as variações das circunstâncias e da fortuna e manter-se quanto possível no caminho do bem, mas pronto igualmente a enveredar pelo do mal, quando for necessário. Deve mostrar-se também USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 6 amante da virtude, premiando os homens que se sobressaiam. Para um príncipe ser considerado liberal, generoso é bom, todavia ser parcimonioso é um dos vícios que fazem reinar. Mais vale ser amado que temido, ou temido que amado? É melhor ser temido. Por quê? Os homens são ingratos. O vínculo do amor rompem-no ao sabor do próprio interesse, enquanto o temor se conserva por um medo do cas�go, que jamais os abandona. Ser temido não significa ser odiado. Há uma singela receita para evitar o ódio: é abster-se de atentar, seja contra os bens dos súditos, seja contra a honra de suas mulheres. Diz Maquiavel : "Os homens hesitam menos em ofender aos que se fazem amar do que aos que se fazem temer, porque o amor é man�do por um vínculo de obrigação, o qual, devido a serem os homens pérfidos é rompido sempre que lhes aprouver, ao passo que o temor que se infunde é alimentado pelo receio de cas�go, que é um sen�mento que não se abandona nunca. Deve, portanto o príncipe fazer-se temer de maneira que, se não se fizer amado, pelo menos evite o ódio". O príncipe deve escolher por modelo a raposa e o leão. Deve tratar de ser simultaneamente a raposa e leão, pois, se for apenas leão, não perceberá as armadilhas; se for apenas raposa, não se defenderá contra os lobos. Diz Maquiavel: Tendo o príncipe necessidade de saber usar bem a natureza do animal, deve escolher a raposa e o leão, pois o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não sabe se defender da força bruta dos lobos. Portanto é preciso ser raposa, para conhecer as armadilhas e leão, para aterrorizar os lobos." O novo príncipe deve observar em jamais tornar poderoso outro príncipe, pois seria trabalhar para sua própria ruína. Também o novo príncipe não se deve permanecer neutro, pois os que abraçam esta posição quase sempre vão à ruína. Somente um príncipe já sábio por si mesmo pode ser bem aconselhado. Deve tomar conselho quando quer e não quando outros o querem. Jamais se deixar dominar por aqueles que o aconselham. Um bom ministro é aquele que nunca pensa em si mesmo, mas sempre no príncipe. Mas o príncipe também deve pensar neste seu ministro, cumulando-o de riquezas, de consideração, de honras e dignidades, para que receie toda mudança. K) Como conquistar o estado “O desejo de conquistar é sem dúvida algo de ordinário e natural, e todo aquele que se entrega a tal desejo, quando possui os meios para realizá-lo é antes louvado que censurado; mas formar o desígnio sem poder executá-lo é incorrer na censura e cometer um erro”. Para todo Estado an�go, novo ou misto, “as principais bases são: boas leis e boas armas.” Não há boas leis onde não há boas armas. • Diz Maquiavel: "Toda ação é designada em termos do fim que se procura a�ngir". TEXTO COMPLEMENTAR USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 7 NOTAS SOBRE A POLITICA E O ESTADO EM MAQUIAVEL1 - Hannah Arendt O primeiro capítulo do Príncipe contém o quadro conceitual principal de toda a obra. O Príncipe é como a condensação dos Discorsi [os Comentários à Primeira Década de Tito Lívio], os Discorsi são um comentário do Príncipe; a ênfase do Príncipe incide nas “monarquias”, nos Discorsi, sobre as “repúblicas”, mas a monarquia e a república estão presentes nas duas obras. Para Maquiavel é decisivo que ele tenha achado uma nova palavra para designar ambas. Essa palavra é Estado. O Estado: pouco importa de onde vem a palavra – ela designa o que é estável, sua fazenda (Burkhardt) – concebido como um “novo sistema” (capítulo 26) que deve ser “introduzido”. Mas, por outro lado, é algo que já existe. O que é o Estado? Os franceses não compreendiam o “Estado”, do contrário jamais teriam permi�do á Igreja tornar-se tão poderosa (capítulo 3). Em primeiro lugar, pois: o Estado contra a Igreja. Isso significa duas coisas: a ascensão do secular contra o cris�anismo e a ascensão da nação contra as ingerências internacionais. (O grande pecado da Igreja foi permi�r que os estrangeiros se instalassem na Itália. A Itália dividida entre Milão, Nápoles. Veneza, Florença e os estados pon��cios). Significa também: a ascensão do “homem novo” – os condo�eri que sabem como bem fundar um Estado e dar às coisas a sua “grandeza” (capítulo 26). Esse homem será o fundador de algo novo. Em consequência, aparece o conceito de fundação. Ele libertará o seu país; portanto, aparece o conceito de liberdade. A ação desse homem novo, que funda uma nova organização, um corpo polí�co, deve seguir certas normas que são igualmente “novas”: uma nova moralidade, mas não uma razão de Estado. Não é o Estado, uma ins�tuição, que raciocina, mas os homens. É a necessidade, e não a razão, que “constrange” os estados a “numerosas coisas a que a razão não nos impele” (Discorsi, I, 6). Mas a razão não é a necessidade, e a necessidade não é razoável. Se a necessidade está do seu lado, ela pode impor-lhe a razão ou a não razão. Que a necessidade talvezpudesse ser ela própria razoável, racional, é uma ideia alheia a Maquiavel. A primeira frase: “Todos os estados, todos os domínios, que �veram poder sobre os homens eram ou são seja repúblicas seja principados”. As repúblicas e as monarquias são estados. Elas são meras formas de governo, e os governos podem ir e vir, o que deveria permanecer é o Estado. Com esse termos ele não designa a administração ou a maquinaria estatal. Por exemplo: a Rússia é tanto o Estado czarista quanto a Rússia bolchevista. Esse “governo” que permanece não é governo, mas o território e o povo, representado pelo Estado. Enquanto exis�r o povo sobre o território, a Itália, o Estado – o Estado nação – existe. Dois �po de monarquia: hereditária, como a dos reis e dos imperadores; aqueles que reinam também sobre territórios que herdaram mas nos quais não nasceram. Ou então recente – são os condo�eri, pessoas que surgem durante períodos turbulentos e se tornam dirigentes. E pode-se esperar dos condo�eri, as quais só Maquiavel presta atenção, que eles fundem um novo sistema, pois eles são “homens novos”. Eles adquiriram essas monarquias pela força das armas ou pela fortuna e pela virtú. Temos aqui todos os conceitos. Desde logo temos o Estado, a nova organização que Maquiavel queria ver fundada. Temos as principais formas de governo, as repúblicas e as monarquias, às quais devemos juntar a aristocracia (Veneza), mas elas não são muito interessantes para Maquiavel. Pensa ele que, seja qual for a forma de governo que o Estado assuma, o principal é que dure. Ou ainda: � Extrato de texto para curso de história das teorias polí�cas pronunciado por Hannah Arendt em 1955 na Universidade de Berkeley, que integra a massa de escritos inéditos da autora. Foi u�lizada para a presente publicação a tradução francesa por Marie Gaille-Nikodimov publicada no número 397 (abril de 2001) de Magazine Li�éraire. Tradução, �tulo e acréscimos entre colchetes por Gabriel Cohn. Publicado na Revista Lua Nova, SOBRE MAQUIAVEL, Nº 55-56— 2002, p. 298/302 USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 8 ainda que os governos possam mudar, o Estado deve durar; ele pode passar de uma forma a outra. O Estado só é destruído quando o país é dividido, vale dizer, quando há muitos governos no mesmo país, quando o mesmo povo vive sob diferentes �pos de regras, ou quando um estrangeiro penetra no país. O conceito de estrangeiro é muito novo. Ele significa que não são idên�cos todos os cristãos, que um novo princípio de dis�nção entre os homens se introduz, um princípio que não é religioso mas secular: onde vocês nasceram, que língua falam, quais as suas lembranças históricas? Maquiavel �nha razão: o Estado nacional podia desenvolver-se sob a forma da monarquia e da república. Maquiavel contempla ambas, não do ponto de vista do desenvolvimento histórico mas como igualmente possíveis. Em consequência, sua discussão das formas de governo, embora muito importante na sua obra, não nos ocupará. Ela é secundária em relação ao seu principal tema: o Estado. Discu�remos as formas de governo em Montesquieu, quem, sob muitos aspectos, lembra Maquiavel. Isso nos deixa com os seguintes conceitos: O Estado; a ascensão de homens novos capazes de fundar – a fundação; virtú e fortuna como as forças maiores encerradas nesta úl�ma; a grandeza como critério úl�mo. O Estado: o Estado é um termo para o secular, contra a Igreja e o cris�anismo. Entre os numerosos estrangeiros a Igreja é a mais perigosa, não somente porque sempre apela aos estrangeiros para manter seu poder temporal mas porque enquanto poder temporal, e somente como tal, ela atravessa as fronteiras. Se a Igreja se restringisse à religião isso não seria problema. A religião como crença cristã é an�polí�ca. E é somente pela comparação das duas – a religião e a polí�ca – que podemos compreender o que Maquiavel entendia por ser polí�co, por viver numa esfera polí�ca. Maquiavel não é um ateu moderno, que não crê em Deus. Ele quer por em risco sua alma e enfrentar a danação eterna pelo seu país (ver Kant a propósito do orgulho: desprezo pelos que são bons porque esperam ser recompensados no céu). Talvez haja egoísmo naqueles que vivem por sua própria salvação ao invés de redimir seu país. Aqueles que não amam o mundo mas amam sua própria alma são maus para o mundo: a maldade do mundo e a bondade das almas puras. (Este argumento está sempre presente na fórmula “os que não querem sujar as mãos para permanecer limpos”, que se ouve em todas as revoluções). Mas essas pessoas [os cristãos] permanecem fora da esfera pública e não pronunciam exortação nessa esfera, então há um certo respeito. (Cf. o tratamento de Savonarola). Há uma razão mais profunda: a Igreja, se fosse aceitável, o que não é o caso, ensinaria os homens como serem bons (se não faz isso a Igreja é o pior de todos os poderes temporais). E os italianos tornaram-se tão maus porque a Igreja não cumpre mais o seu dever. Como ela não sabe ensinar aos homens como serem bons (...) ela os tornou maus. O verdadeiro problema é então o seguinte: que é a bondade? É possível ser ao mesmo tempo bom e agir na esfera polí�ca? O principal conceito da ação polí�ca é a glória, que é alcançada pela fortuna e pela virtú: a glória para um povo ou um príncipe ou quem quer que esteja envolvido nos negócios mundanos. A glória brilha – doxa [aparência, louvor], aparece, é vista e se faz ver. O príncipe realiza grandes empresas pela glória eterna e a glória presente. A fama é o prolongamento da glória, é a glória tornada durável. A glória brilha por si mesma graças a todas as grandes ações e empreendimentos. Ela se difunde. O homem aparece e se mostra. Em consequência, surge a questão da dis�nção entre aparecer e ser. Em polí�ca: devemos aparecer, ver e ser vistos, ouvir e ser ouvidos, o que mostramos é o que somos e não o inverso. O que somos não é importante, é privado. A glória é o apogeu da aparência e ela só é possível onde outros veem e onde eu sou visto. A bondade: em sen�do absoluto ela não existe nessa esfera, pois uma boa ação se dissimula. Uma vez conhecida ela não é mais boa mas vaidade, desejo de aparecer como boa. O conceito de bondade é o agathon. Jesus: não dizei que sou bom, só nosso pai que está nos céus é bom. O homem não pode ser bom no sen�do de que tão logo parece sê-lo a bondade se vai; a bondade desaparece no processo de sua aparição. O embaraço quando a bondade aparece: o príncipe em O Idiota [de Dostoiévski]. No mundo o homem bom é um idiota, vale dizer, bom no sen�do cristão. Idiota no an�go sen�do do termo [isolado, só ele]. Maquiavel ensina não a ser bom mas a agir poli�camente no mundo das aparências, onde nada conta senão o que aparece. O mundo. Eis alguém que ama verdadeiramente o mundo. Um outro problema está envolvido nisso, é a questão da imortalidade. A “boa nova” do cris�anismo USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 9 é que a vida, enquanto bios individual, é eterna, que a morte está superada. É a nova mensagem bem sucedida em face do mundo an�go e, com ele, do pessimismo, e essa mensagem se apodera desse mundo. Os an�gos acreditavam na eternidade – aei on – da natureza e do universo e na potencial permanência do mundo. Em consequência buscava sempre o melhor, vale dizer, o governo mais estável. No seio deste, na polis, na cidade eterna, o homem pode deixar o seu traço e tornar-se eterno, mas o que ele faz são grandes obras. As ins�tuições polí�cas existem em parte para tornar possível esse athana�dzein [ ser imortal]. Assim, Aquiles troca sua vida breve por proezas que serão lembradas para sempre (ele precisa de Homero). A polis ateniense dispensa Homero. Temos assim, por este lado, as ideias seguintes: os homens são mortais, eles desaparecem e aparecem, o mundo con�nua se os homens são bons para o mundo, e o cosmos é aei on [permanente]. O cosmos é aei porque não foi criado, ele não tem fim porque não tem começo. Dolado do cris�anismo: o universo é criado, tem um começo, está sujeito a perecer. Mas o homem é criado à imagem de Deus e par�lha da sua imortalidade. Mas tudo que criam os homens, que são mortais e criam num mundo mortal, perece. Temos portanto aqui a concepção seguinte: o mundo está condenado à morte, o universo poderia não durar, são eternos Deus e a vida do homem. A a�tude em face da polí�ca: os an�gos poderiam tornar-se imortais somente ao juntar algo ao mundo, que con�nua após a morte. Os cristãos, pelo contrário, estão seguros da imortalidade façam o que fizerem, e só devem então escolher a “boa vida” para estarem certos da vida além. Os an�gos: a vida como tal, sendo mortal, nada é senão uma oportunidade para tornar-se imortal. Para os cristãos: a vida como tal é imortal, e portanto ela é tudo. A vida e o mundo. Vivemos no mundo: a vida con�nua após ter-se ex�nto o mundo; ou o mundo con�nua após ter-se ex�nta a vida. Maquiavel não pergunta jamais: para que serve a polí�ca? Isto é muito surpreendente. Ninguém salvo ele põe inteiramente de lado essa questão. A polí�ca não tem fim mais elevado do que ela própria. O cris�anismo: a polí�ca deve ser organizada de tal modo que o homem e sua alma possam estar certos da salvação eterna. Este é o critério úl�mo. Platão e Aristóteles pensavam que a polí�ca devesse ser organizada de tal modo que a filosofia – o cuidado com as coisas eternas – fosse possível. Ou: a polí�ca existe para possibilitar a “boa vida” (Aristóteles), enquanto que as necessidades da mera existência são sa�sfeitas no âmbito domés�co. Ou mais tarde: a polí�ca deve ser ins�tuída para assegurar uma existência pacífica e prevenir a “morte violenta” (Hobbes). Maquiavel menciona numa ocasião a necessidade dos homens de se defenderem e que esse é provavelmente o primeiro mo�vo para os homens juntarem-se em corpos polí�cos. Mas isso não lhe interessa. A polí�ca não tem fim em si mesma, ela não é um meio. Mas tudo na polí�ca regula-se por esta máxima: o fim jus�fica os meios. II - FORMAS DE GOVERNO O QUE SÃO FORMAS DE GOVERNO A teoria das formas de governo se deriva de duas questões básicas: quem governa e como se governa. Formas de Governo são representações do Poder do Estado (Governo) da maneira como a sociedade a percebe através da história da humanidade. Em ciência polí�ca, chama-se forma de governo (ou sistema polí�co) o conjunto de ins�tuições polí�cas por meio das quais um Estado se organiza a fim de exercer o seu poder sobre a sociedade. Cabe notar que esta definição é válida mesmo que o governo seja considerado ilegí�mo. Tais ins�tuições têm por obje�vo regular a disputa pelo poder polí�co e o seu respec�vo exercício, inclusive o relacionamento entre aqueles que o detêm (a autoridade) com os demais membros da sociedade (os administrados). A forma de governo adotada por um Estado não deve ser confundida com a forma de Estado (unitária ou federal) nem com seu sistema de governo (presidencialismo, parlamentarismo, dentre outros). USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 10 Outra medida de cautela a ser observada ao estudar-se o assunto é ter presente o fato de que é complicado categorizar as formas de governo. Cada sociedade é única em muitos aspectos e funciona segundo estruturas de poder e sociais específicas. Assim, alguns estudiosos afirmam que existem tantas formas de governo quanto há sociedades. As formas de Governo podem variar conforme o número de pessoas que ocupa o poder como queria Aristóteles, pela forma como são escolhidos os governantes, pela maneira como governam, etc. CLASSIFICAÇÃO DAS FORMAS DE GOVERNO A primeira classificação sistemá�ca das diferentes Formas de Governo foi realizada por Aristóteles, que organizou-as tendo em vista a quan�dade de pessoas que governavam: a) ANARQUIA – Ausência total do governo e do Estado. Segundo a teoria anarquista, os homens formam comunidades, e se autogovernam. Não deve haver qualquer �po de imposição de vontade entre os grupos humanos. b) REALEZA – Governo de um só, o rei. Para Aristóteles, quase sempre a realeza transforma-se em Monarquia, onde todo o poder emanava dos interesses par�culares do governante (Monarca). O governo resume-se ao poder e a vontade do soberano. Forma de governo muito comum na An�guidade e na Idade Média. c) ARISTOCRACIA – Governo de poucas pessoas, da elite. Para Aristóteles, um grupo de pessoas assume o poder,pelo costume ou pela força,e vincula seus interesses e opiniões, aos interesses do Estado. Muitos pensadores polí�cos ques�onaram se a elite intelectual de uma sociedade não seria o corpo ideal para governá-la. Aristóteles aponta entre outros problemas, que quase sempre é inevitável a degeneração (deterioração) do sistema aristocrá�co, quando o grupo que está no poder deixa de governar em nome do interesse de todos (bem comum) e passa a governar em nome dos interesses do próprio grupo transformando-se em Oligarquia (Governo um grupo). Os interesses do grupo prevalecem sobre os cole�vos. É por exemplo o que ocorreu com o governo dos grandes la�fundiários brasileiros durante a polí�ca do café com leite até 1929. d) DEMOCRACIA – Nasceu em Atenas na Grécia, cerca de 500 anos antes de Cristo. Os atenienses cansados de serem governados por pessoas ou grupos que não representavam diretamente seus interesses, (caso da Oligarquia, quando foram escolhidos trinta dos mais destacados cidadãos atenienses para governar o país, e foram chamados dos “30 Tiranos”), resolveram. Através de um sistema de eleições e sorteios escolhiam os “administradores execu�vos” da cidade, mas as decisões eram tomadas em praça pública, pelo voto direto. Sócrates, Platão e Aristóteles nunca foram muito simpá�cos a esse sistema, pois acreditavam que os líderes populares se u�lizariam de seu carisma e pres�gio para cooptar o povo a acatar seus pontos de vista. Com o passar do tempo, conforme aumentasse seu pres�gio, esses líderes conseguiram impor seus interesses sobre os demais, gerando a TIRANIA ou DITADURA, e quando esta não mais conseguisse se impuser restaria a anarquia. Apesar das crí�cas a DEMOCRACIA se transformou na forma de governo mais u�lizada e pres�giada dos úl�mos dois séculos. MAQUIAVEL Depois de Aristóteles, Maquiavel, sempre cé�co quanto a possibilidade de uma forma polí�ca ideal, afirmou que os governos funcionavam por ciclos, cada forma de governo dando origem a outra subsequente: No início das sociedades, como não existe governo prevalece a ANARQUIA. Necessitando de USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 11 uma liderança, os homens recorrem a REALEZA OU MONARQUIA. Com o passar do tempo as monarquias quase sempre, transformam-se em TIRANIAS (DITADURAS), gerando descontentamento. Um grupos da elite toma o poder, tendo como forma de governo a ARISTOCRACIA. A aristocracia (governo da elite), com o tempo tende a transformar-se em OLIGARQUIA (Governo de um grupo, que visa apenas seus próprios interesses). O povo descontente escolhe livremente seu próximo governante, criando a REPÚBLICA ou DEMOCRACIA. O governante eleito, ao sen�r-se fortalecido pelo apoio popular começa a defender apenas seus próprios interesses, sem ouvir a sociedade, e é deposto. Então temos novamente a ANARQUIA e o ciclo recomeça. MONARQUIA E REPÚBLICA Nos tempos modernos, costuma-se agrupar as formas de governo contemporâneas, em duas grandes classificações que englobam todas as demais: MONARQUIA e REPÚBLICA. Estas são as formas de governo u�lizadas na quase totalidade dos Estados contemporâneos. CARACTERÍSTICAS DA MONARQUIA Monarquia o governo é representado por uma única personalidade. An�gamente o poder do rei era total, não havendo divisão de poderes, por isso esta forma de governo era chamada de MONARQUIA ABSOLUTA. Com o tempo, muitos países evoluíram para a MONARQUIA CONSTITUCIONAL, ou seja, os poderes do Rei e suas atribuições estão limitados pela Cons�tuição, que é a lei maior de um Estadosoberano. As principais caracterís�cas da MONARQUIA são: a) HEREDITARIEDADE – Transmissão do cargo por consangüinidade (parentesco). Não há escolha popular, ou mesmo de um grupo. b) VITALICIDADE – Permanência no cargo até a morte ou doença grave. c) IRRESPONSABILIDADE – o Rei não é responsabilizado pelos seus atos administra�vos, pois não existe nenhum �po de controle externo sobre seu governo. Não existem órgãos superiores ao Rei que possam fiscalizá-lo. CARACTERÍSTICAS DAS REPÚBLICAS As Repúblicas são governos eleitos, direta ou indiretamente pelo conjunto da sociedade, e expressam a vontade popular na escolha do governante. Tem como caracterís�ca a proibição de privilégios no exercício do poder polí�co. Além disso, uma das mais importantes conquistas do sistema republicano é o acesso do cidadão comum as esferas de poder do Estado. Qualquer cidadão, desde que preenchidos os requisitos, pode ocupar os cargos ele�vos ou técnico-operacionais do Governo. Ao deixar o cargo, o cidadão volta a seus “status” anterior perdendo toda autoridade, ou privilégios decorrentes do período em que ocupou cargo público. a) TEMPORARIEDADE – Mandatos com prazo pré-determinado, ninguém pode exercer o poder vitaliciamente. b) ELETIVIDADE – Par�cipação popular na escolha do chefe de governo (presidente, ou primeiro ministro). O governante é sempre escolhido através do poder ele�vo da população, através de diferentes sistemas eleitorais. c) RESPONSABILIDADE – Tanto o Chefe de Estado, como o Chefe de Governo, tem de prestar contas de seus atos, quando no exercício do mandato popular, ou ao ocupar cargos públicos. A tripar�ção de poderes, o controle popular, o judiciário, etc., são diferentes formas encontradas para fiscalizar o exercício do poder. USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 12 PAÍSES DO MUNDO DE ACORDO COM SUA FORMA DE GOVERNO EM 2011 Repúblicas presidencialistas Repúblicas semipresidencialistas Repúblicas parlamentaristas Estados unipar�dários Monarquias cons�tucionais parlamentares Monarquias absolutas Ditaduras militares Monarquias cons�tucionais onde o monarca exerce poder pessoalmente Repúblicas com um presidente execu�vo dependente do parlamento Países que não se encaixam em nenhum dos sistemas polí�cos acima CHARLES DE MONTESQUIEU - 1689 - 1755 Charles-Louis de Secondat, ou simplesmente Charles de Montesquieu, senhor de La Brède ou barão de Montesquieu (castelo de La Brède, próximo a Bordéus, 18 de Janeiro de 1689 — Paris, 10 de Fevereiro de 1755), foi um polí�co, filósofo e escritor francês. Ficou famoso pela sua Teoria da Separação dos Poderes, atualmente consagrada em muitas das modernas cons�tuições internacionais. Aristocrata, filho de família nobre, nasceu no dia 18 de Janeiro de 1689 e cedo teve formação iluminista USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 13 com padres oratorianos. Revelou-se um crí�co severo e irônico da monarquia absolu�sta decadente, bem como do clero católico. Adquiriu sólidos conhecimentos humanís�cos e jurídicos, mas também frequentou em Paris os círculos da boêmia literária. Em 1714, entrou para o tribunal provincial de Bordéus, que presidiu de 1716 a 1726. Fez longas viagens pela Europa e, de 1729 a 1731, esteve na Inglaterra. Proficiente escritor, concebeu livros importantes e influentes, como Cartas persas (1721), Considerações sobre as causas da grandeza dos romanos e de sua decadência (1734) e O Espírito das leis (1748), a sua mais famosa obra. Contribuiu também para a célebre Enciclopédia. Morreu em Paris, no dia 10 de Fevereiro de 1755. O ESPÍRITO DAS LEIS (L'ESPRIT DES LOIS) Montesquieu elaborou uma teoria polí�ca, que apareceu na sua obra mais famosa, O Espírito das Leis (L'Esprit des lois, 1748), inspirada em John Locke e no seu estudo das ins�tuições polí�cas inglesas. É uma obra volumosa, dividida em 6 partes, cada qual em vários livros, composta de muitos capítulos. Nela, ele discute a respeito das ins�tuições e das leis, e busca compreender as diversas legislações existentes em diferentes lugares e épocas. Esta obra inspirou os redatores da Cons�tuição de 1791 e tornou-se na fonte das doutrinas cons�tucionais liberais, que repousam na separação dos poderes legisla�vo, execu�vo e judiciário. A per�nência das observações e a preocupação com o método permitem encontrar no seu trabalho elementos que prenunciam uma análise sociológica. Eis algumas das principais ideias de Montesquieu expressas nesta obra tão importante: As leis escritas ou não, que governam os povos, não são fruto do capricho ou do arbítrio de quem legisla. Ao contrário, decorrem da realidade social e da História concreta própria ao povo considerado. Não existem leis justas ou injustas. O que existe são leis mais ou menos adequadas a um determinado povo e a uma determinada circunstância de época ou lugar. O autor procura estabelecer a relação das leis com as sociedades, ou ainda, com o espírito dessas. Pontos fundamentais da obra de Montesquieu Sua preocupação central foi a de compreender, em pri meiro lugar, as razões da decadência das monarquias, os conflitos intensos que minaram sua estabilidade, mas também os mecanis mos que garan�ram, por tantos séculos, sua estabilidade, e que Montesquieu iden�fica na noção de moderação. Essa busca das condições de possibilidade de um regime está vel, está pre sente em dois aspectos da obra de Montesquieu: a �pologia dos go vernos, ou a teoria dos princípios e da natureza dos regimes; e a teoria dos três poderes, ou a teoria da separação (tripar�ção) dos poderes. a) Das leis em geral Até Montesquieu, a noção de lei compreendia três dimensões essencialmente ligadas à ideia de lei de Deus. As leis ex primiam uma certa ordem natural, resultante da vontade de Deus. Elas exprimiam também um dever-ser, na medida em que a ordem das coisas estava direcionada para uma finalidade divina. Finalmen te, as leis �nham uma conotação de expressão da autoridade. As leis eram simultaneamente legí�mas (porque expressão da autorida de), imutáveis (porque dentro da ordem das coisas) e ideais (porque visavam uma finalidade perfeita). Montesquieu introduz o conceito de lei no início de sua obra fundamental, O espírito das leis, para escapar a uma discussão USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 14 vi ciada que, dentro da tradição jurídica sua contemporânea, ficaria limitada a discu�r as ins�tuições e as leis quanto à legi�midade de sua origem, sua adequabilidade à ordem natural, e a perfeição de seus fins. Uma discussão fadada a confundir, nas leis, concepções de natureza polí�ca, moral e religiosa. Definindo lei como "relações necessárias que derivam da natureza das coisas", Montesquieu estabelece uma ponte com as ciên cias empíricas, e par�cularmente com a �sica newtoniana, que ele parafraseia. Montesquieu está dizendo, em primeiro lugar, que é possível encontrar uniformidades, constâncias na variação dos comportamentos e formas de organizar os homens, assim como é possível encon trá-las nas relações entre os corpos �sicos. Tal como é possível esta belecer as leis que regem os corpos �sicos a par�r das relações entre massa e movimento, também as leis que regem os costumes e as ins�tuições são relações que derivam da natureza das coisas. Com o conceito de lei, Montesquieu traz a polí�ca para fora do campo da teologia e da crónica, e a insere num campo propria mente teórico. As ins�tuições polí�cas são re gidas por leis que derivam das relações polí�cas. As leis que regem as ins�tuições polí�cas, para Montesquieu, são relações entre as di versas classes em que se divide a população, as formas de organiza ção econômica, as formas de distribuição do poder etc. b) Das leis posi�vas Mas o objeto de Montesquieu não são as leis que regem as re lações entre os homens em geral, mas as leis posi�vas, isto é, as leis e ins�tuiçõescriadas pelos homens para reger as relações entre os homens. Montesquieu observa que, ao contrário dos outros se res, os homens têm a capacidade de se furtar às leis da razão (que deveriam reger suas relações), e além disso adotam leis escritas e costumes des�nados a reger os comportamentos humanos. O objeto de Montesquieu é o espírito das leis, isto é, as rela ções entre as leis (posi�vas) e "diversas coisas", tais como o clima, as dimensões do Estado, a organização do comércio, as relações en tre as classes etc. Montesquieu tenta explicar as leis e ins�tuições hu manas, sua permanência e modificações, a par�r de leis da ciência polí�ca. C) Do poder e do governo Retoma a problemá�ca de Maquiavel, que discute essencial mente as condições de manutenção do poder. Para Montesquieu: “Há três espécies de governo: o REPUBLICANO, o MONÁRQUICO e o DESPÓTICO. Para descobrir-lhes a natureza, basta a ideia que deles tem os homens menos instruídos. Suponho três definições ou, antes, três fatos: a) O Governo Republicano é aquele em que todo o povo, ou apenas uma parte do povo, tem o poder soberano; b) O monárquico, aquele em que uma só pessoa governa, mas por meio de leis fixas e estabelecidas; c) No despó�co, uma só pessoa, sem lei e sem regra, tudo conduz, por sua vontade e por seus caprichos. Eis o que denomino a natureza de cada governo. É preciso que se examine quais as leis que decorrem diretamente dessa naturezae que, consequentemente, são as primeiras USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 15 leis fundamentais.” No que concerne a República, por exemplo, Montesquieu lembra que, por tratar-se de um governo em que o poder é do povo, é fundamental dis�nguir a fonte do exercício do poder, e estabelecer criteriosamente a divisão da sociedade em classes com relação à origem e ao exercício do poder. O povo, diz ele, sabe escolher muito bem, mas é incapaz de governar porque é movido pela paixão e não pode decidir. Portanto, na natureza dos governos republicanos está compreendida a relação entre as classes e o poder. Curiosa paixão, que tem três modalidades: o princípio da monarquia é a honra; o da república é a virtude; e o do despo�smo é o medo. Esta é a única paixão propriamente dita, o único móvel psicológico dos comportamentos polí�cos, razão por que o regime que lhe corresponde é um regime que se situa no limiar da polí�ca: 0 despo�smo seria menos do que um regime polí�co, quase uma extcnsão do estado de natureza, onde os homens atuam movidos pe los ins�ntos e orientados para a sobrevivência. A honra é uma paixão social. Ela corresponde a um sen�men to de classe, a paixão da desigualdade, o amor aos privilégios e prerroga�vas que caracterizam a nobreza. O governo de um só basea do cm leis fixas e ins�tuições permanentes, com poderes intermediários c subordinados — tal Montesquieu caracteriza a monarquia — só pode funcionar se esses poderes intermediários orientam sua ação pelo princípio da honra. É através da honra que a arrogância e os ape�tes desenfreados da nobreza, bem como o par�cularismo dos seus interesses se traduzem em bem público. Só a virtude é uma paixão propriamente polí�ca: ela nada mais é do que o espírito cívico, a supremacia do bem público sobre os interesses par�culares. É por isso que a virtude é o princípio da república. Onde não há leis fixas nem poderes intermediários, on de não há poder que contrarie o poder como a nobreza contraria o rei e este à nobreza, somente a prevalência do interesse público poderia moderar o poder e impedir a anarquia ou o despo�smo eternamente a espreita dos regimes populares. No governo republicano o regime depende dos homens. Sem republicanos não se faz uma república. Os grandes não a querem e o povo não sabe mante-la. Trata-se de um regime muito frágil, porque repousa na virtude dos homens. Em todo povo existem ho mens virtuosos, capazes de colocar o bem público acima do bem próprio, mas as circunstâncias — isto é, essas famosas "relações que derivam da natureza das coisas" — nem sempre ajudam. É possível agora redefinir a natureza dos três governos: o despo�smo é o gover no da paixão; a república é o governo dos homens; a monarquia é o governo das ins�tuições. O despo�smo está condenado à autofagia: ele leva necessaria mente à desagregação ou às rebeliões. A república não tem princí pio de moderação: ela depende de que os homens mais virtuosos contenham seus próprios ape�tes e contenham os demais. Na mo narquia, são as ins�tuições que contêm os impulsos da autoridade execu�va e os ape�tes dos poderes intermediários. Na monarquia, em outras palavras, o poder está dividido e, portanto, o poder con traria o poder. Essa capacidade de conter o poder, que só outro po der possui, é a chave da moderação dos governos monárquicos. Para Montesquieu, a república é o regime de um passado em que as cidades reuniam um pequeno grupo de homens moderados pela própria natureza das coisas: uma certa USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 16 igualdade de riquezas e de costumes ditada pela escassez. Com o desenvolvimento do co mércio, o crescimento das populações e o aumento e a diversifica ção das riquezas ela se torna inviável: numa sociedade dividida em classes a virtude (cívica) não prospera. Trata-se, dentro dessa ordem de ideias, de assegurar a existên cia de um poder que seja capaz de contrariar outro poder. Isto é, trata-se de encontrar uma instância independente capaz de moderar o poder do rei (do execu�vo). É um problema polí�co, de correla ção de forças, e não um problema jurídico-administra�vo, de orga nização de funções. Na sua versão mais divulgada, a teoria dos poderes é conheci da como a separação dos poderes ou a equipotência. De acordo com essa versão, Montesquieu estabeleceria, como condição para o Esta do de direito, a separação dos poderes execu�vo, legisla�vo e judi ciário e a independência entre eles. A ideia de equivalência consiste em que essas três funções deveriam ser dotadas de igual poder. Para que haja moderação é preciso que a instância moderado ra (isto é, a ins�tuição que proporcionará os famosos freios e con trapesos da teoria liberal da separação dos poderes) encontre sua força polí�ca em outra base social. Montesquieu considera a existên cia de dois poderes — ou duas fontes de poder polí�co, mais preci samente: o rei, cuja potência provém da nobreza, e o povo. É pre ciso que a classe nobre, de um lado, e a classe popular, de outro la do (na época "o povo" designa a burguesia), tenham poderes inde pendentes e capazes de se contrapor. Em outras palavras, a estabilidade do regime ideal está em que a correlação entre as forças reais da sociedade possa se expres sar também nas ins�tuições polí�cas. Isto é, seria necessário que o funcionamento das ins�tuições permi�sse que o poder das forças so ciais contrariasse e, portanto, moderasse o poder das demais. Lida desta forma, como propõe Althusser, a teoria dos pode res de Montesquieu se torna ver�ginosamente contemporânea. Para Montesquieu a essência do equilíbrio entre os poderes, é que a tripar�ção desenvolve um sistema de freios e contrapesos, ou seja, nenhum poder possui autonomia para governar ilimitadamente. A liberdade de cada um dos poderes é limitada pela competência de seu igual. Frases de Montesquieu • A injus�ça que se faz a um, é uma ameaça que se faz a todos. • Liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem. • A sisudez é a armadura dos tolos. • Todos os homens são bestas; os príncipes são bestas que não estão atreladas. • A adversidade é nossa mãe; a prosperidade é apenas uma madrasta. • A maioria dos homens é mais capaz de grandes ações do que de boas. • Quando vou a um país, não examino se há boas leis, mas se as que lá existem são executadas, pois boas leis há por toda a parte. • A liberdade, esse bem que nos permite desfrutar dos outros bens. USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA- 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 17 • Qualquer homem é capaz de fazer bem a outro homem; mas contribuirmos para a felicidade de uma sociedade inteira é parecermo-nos com os deuses. • Não gosto de Deus, porque não o conheço, nem do próximo, porque o conheço. • O que não for bom para a colmeia também não é bom para a abelha. • A ignorância é a mãe das tradições. • Normalmente, são tão poucas as diferenças de homem para homem que não há mo�vo nenhum para sermos vaidosos. • Se quiséssemos ser apenas felizes, isso não seria di�cil. Mas como queremos ficar mais felizes do que os outros, é di�cil, porque achamos os outros mais felizes do que realmente são. • A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção dos seus princípios. IV - SISTEMAS DE GOVERNO PRESIDENCIALISMO E PARLAMENTARISMO As Repúblicas podem ser PARLAMENTARISTAS ou PRESIDENCIALISTAS. No Presidencialismo o governante é eleito diretamente pelo povo, em votação específica para este fim, e tem como função chefiar o execu�vo, com todos os poderes administra�vos que lhe são delegados pela Cons�tuição. Os integrantes do Poder Legisla�vo são eleitos separadamente, e tem com atribuição aprovar leis e fiscalizar o execu�vo. O Brasil e os EUA são exemplos de Repúblicas Federa�vas Presidencialistas. Já o regime parlamentarista foi inventado na Inglaterra, num período em que o pais era governado por reis estrangeiros. Assim, fez-se necessária a existência de um conselho local, organizar a sociedade e zelar por seus interesses. Com o tempo, mesmo quando man�da formalmente a figura do monarca, o poder administra�vo era exercido pelos conselheiros, que posteriormente foram eleitos deputados. O Rei �nha como função somente representar a unidade e os obje�vos do país. PRESIDENCIALISMO Desde a proclamação da República (1889), o Brasil adotou o presidencialismo, regime tão só interrompido por breve período, quando con�ngências polí�cas impuseram o parlamentarismo (EC nº 4 – após renúncia do cargo de Presidente da República subscrita pelo professor e advogado (eleito) Jânio da Silva Quadros). Teve essa Emenda Cons�tucional breve duração, pois, fora revogado por plebiscito nacional, que se formalizou através da EC nº 6, restabelecedora do presidencialismo. Tem suas origens na Cons�tuição dos Estados Unidos da América de 1787. No presidencialismo, exerce o Presidente da República, concomitantemente, as funções de Chefe de Estado e as de Chefe de Governo, isto é, tem não só as atribuições inerentes à função polí�ca e administra�va, como ainda é ele o representante legi�mo do Estado inclusive nas aproximações com os Estados Estrangeiros (o exercício da chefia do Estado e o exercício da chefia do Governo são entregue a uma mesma pessoa – dizemos ser monocrá�co–). É o sistema mais rígido, centralizado, tendo em vista, que eleito o Presidente da República será di�cil �rá-lo do cargo, a não ser por “impeachment” (afastamento defini�vo) pela prá�ca de crime de responsabilidade. No sistema, o Presidente da República, é o responsável pela USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 18 fixação dos princípios e ação do Poder Execu�vo, auxiliado pelos Ministros de Estado e (especialmente quando convocado) pelo Vice-Presidente da República. O Presidente da República é eleito, direta ou indiretamente, por um prazo determinado (atualmente é de quatro anos, com direito a uma recondução pelo mesmo período = reeleição). Tem poder de veto. É unipessoal. Sobre os princípios básicos do presidencialismo, assim escreve Paulo Bonavides (in Ciência Polí�ca): “... Cumprem por consequência buscar os verdadeiros traços que nos permitem dis�nguir ou separar, sem maior equívoco, os conceitos de presidencialismo e parlamentarismo. Vejamos, pois o que pertence ao presidencialismo, em ordem a emprestar-lhe a nota configura�va. Três aspectos principais se destacam na fisionomia do presidencialismo: 1º ASPECTO = Historicamente é o sistema que perfilhou de forma clássica o princípio da separação de poderes, que tanta fama e glória granjearam para o nome de Montesquieu na idade áurea do Estado liberal. O princípio valia como esteio máximo das garan�as cons�tucionais da liberdade. A Cons�tuição americana o recolheu, tomando-o por base de todo o edi�cio polí�co. Da separação rígida passou-se com o tempo para a separação menos rigorosa, branda, atenuada, à medida que o velho dogma evolveu, conservando-se sempre e invariavelmente”. Entre os traços dominantes de todo o sistema presidencial; 2º ASPECTO = A seguir, vai deparar no presidencialismo a forma de governo onde todo o poder execu�vo se concentra ao redor da pessoa do Presidente, que o exerce inteiramente fora de qualquer responsabilidade polí�ca perante o poder legisla�vo. Via de regra, essa irresponsabilidade polí�ca total do Presidente se estende ao seu ministério, instrumento da imediata confiança presidencial, e demissível “ad nutum” do Presidente, sem nenhuma dependência polí�ca do Congresso. 3º ASPECTO = Enfim, terceiro e úl�mo aspecto na caracterização do presidencialismo: o Presidente da República deve derivar seus poderes da própria Nação; raramente do Congresso, por via indireta. Os poderes do Presidente da República conhecem a mais larga extensão. São considerados assoberbantes e esmagadores e con�nuam em expansão nos dis�ntos sistemas presidenciais. O presidencialismo tem sido até cri�cado como o regime de um homem só. Com efeito, os encargos presidenciais abrangem sumariamente: (a) a chefia da administração, através de ministérios e serviços públicos federais, entregue a pessoa da confiança do Presidente, responsáveis perante este, que livremente os escolhe e demite; (b) o exercício do comando supremo das forças armadas; (c) a direção e orientação da polí�ca exterior com atribuições de celebrarem tratados e convenções, declararem guerra e fazer a paz, debaixo das ressalvas do controle exercido pelo poder legisla�vo, nos termos estatuídos pela Cons�tuição. PARLAMENTARISMO No PARLAMENTARISMO o par�do que obtém a maior bancada (de parlamentares) tem o direito de escolher um dentre eles para exercer a função de PRIMEIRO-MINISTRO (Chefe de Governo) com poderes equivalentes pra�camente ao de Presidente da República. Entretanto, quando um par�do perde a maioria no congresso, o Primeiro-Ministro é subs�tuído por outro parlamentar escolhido pelo par�do que conquistou o maior número de cadeiras. Também é possível ao parlamento, des�tuir o primeiro ministro caso ele não esteja correspondendo às expecta�vas. Para isso é necessário que o parlamento aprove um VOTO DE DESCONFIANÇA, que depõe o Primeiro-Ministro em exercício. Não existe período de mandato fixo para o USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 19 Primeiro-Ministro. Enquanto seu par�do �ver a maioria no parlamento, caso seus pares desejem, ele pode prosseguir exercício do mandato. Após as eleições, o par�do polí�co ou a coligação que teve a maioria dos votos escolhe um primeiro-ministro e os que vão ocupar os diferentes ministérios e levam esses nomes ao chefe de Estado, que os submete ao Parlamento. Melhor explicando, se os nomes forem aprovados pela maioria, esse ministério ou gabinete é empossado e governa até que haja novas eleições (quatro ou cinco anos depois) ou que perca a confiança da maioria parlamentar. Se a maioria, em algum momento, discordar do gabinete, vota uma moção de desconfiança e o governo cai. A maioria vitoriosa no Parlamento indica ao chefe de Estado o nome dos novos ministros, que são subme�dos à votação. Se forem aprovados, começam a governar; se não forem, novos ministros têm de ser escolhidos até que o gabinete indicado tenha o apoio da maioria dos deputados. Se a maioria aprovar uma moção de desconfiança contra o gabinete, mas o primeiro-ministro achar que ele representa a vontade da maioria do povo, dissolve-se o Parlamento e realizam-se eleições imediatamente (prazo depoucas semanas). O povo então decide a quem dá maioria. Se ele der maioria aos par�dários do gabinete, este se mantém. Se der aos seus adversários, cai o governo, e seus oponentes submetem ao Parlamento um novo ministério. No parlamentarismo, o Execu�vo é um mero delegado da maioria parlamentar. Em um regime parlamentarista puro, só parlamentares podem ser ministros, e eles comparecem normalmente às sessões do Parlamento, dando contas de sua atuação e sendo interpelados por seus pares. Talvez a caracterís�ca mais destacada do Parlamentarismo seja a separação entre CHEFE DE ESTADO e CHEFE DE GOVERNO. Isto ocorre, porque alguns países não aboliram formalmente a Monarquia ou man�veram o cargo de Presidente, mesmo tendo optado pelo regime PAARLAMENTARISTA. Nestes casos o Rei ou o Presidente, exercem funções não apenas simbólicas, mas com finalidades específicas.Cada um destes governantes exerce suas funções de maneira diferenciada: a) CHEFE DE ESTADO – é responsável pela unidade polí�ca do Estado, encarna os valores e a finalidade (obje�vos maiores) da sociedade. Representa o País, enquanto símbolos da unidade nacional, por isso dizemos que tem por caracterís�ca principal a função de REPRESENTAÇÃO DO ESTADO. O mandato do Chefe de Governo pode ser vitalício. É o caso do Rei em países como a Inglaterra e Espanha, e do Presidente, em países como a França. b) CHEFE DE GOVERNO – exerce efe�vamente a administração execu�va do Estado e a implementação das polí�cas publicas. São as atribuições do PRIMEIRO MINISTRO. Normalmente seu mandato é sempre temporário. O chefe de Estado apenas simboliza a Nação, mas não tem poderes administra�vos. Pode ser um monarca ou presidente escolhido pelo Parlamento ou eleito diretamente pelo povo. A rainha da Inglaterra, por exemplo, reina, mas não governa: ela é apenas chefe de Estado. O chefe do governo é quem governa e administra. Ele é sempre escolhido pelo Parlamento, que pode des�tuí-lo. No Brasil, ainda que presidencialista, também temos cons�tucionalmente a dis�nção entre Chefe de Estado e Chefe de Governo. Ainda que ambos os cargos sejam exercidos conjuntamente pela mesma pessoa, cabe ao Presidente, segundo a CF: Como CHEFE DE GOVERNO: (a) exercer, com o auxilio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 20 federal (inciso II); (b) iniciar o processo legisla�vo, na forma e nos casos previstos nesta Cons�tuição (inciso III); (c) sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução (inciso IV); (d) vetar projetos de lei, total ou parcialmente (inciso V); (e) dispor, mediante decreto, sobre:...(inciso VI); (f) ainda os (incisos IX a XII). Como CHEFE DE ESTADO: (a) manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomá�cos (inciso VII); (b) celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional (inciso VIII); (c) celebrar a paz, autorizada ou com referendo do Congresso Nacional (inciso XX); (d) conferir condecorações e dis�nções honoríficas (inciso XXI); (e) ainda os (incisos XIV (somente quanto à nomeação), XV e XVI (somente primeira parte), XVIII (segunda parte); (f) permi�r, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente (inciso XXII)). São muito raros os sistemas parlamentaristas puros, que subsis�ram, sobretudo, nas Monarquias (Reino Unido, Suécia, Holanda, etc.). Na França, por exemplo, embora o regime seja chamado de parlamentarista, o chefe de Estado (presidente da República) tem várias funções de governo, às vezes até superiores às do primeiro-ministro. O poder é dividido entre os dois. No Brasil, as formas de parlamentarismo sempre foram impuras. Na Monarquia, �nhamos um regime parlamentarista, mas o imperador dispunha do "Poder Moderador", o que lhe permi�a até nomear primeiros-ministros que não dispusessem do apoio da maioria parlamentar. Em 1962, tentou-se criar um sistema parlamentarista, com João Goulart como presidente da República. O sistema nunca funcionou porque o presidente era quem indicava ao Parlamento o nome do primeiro-ministro. Os chefes de governo que o presidente indicava eram seus aliados polí�cos, e a direção do país, na prá�ca, con�nuava nas mãos do chefe de Estado. Foi realizado um plebiscito e o povo resolveu voltar ao presidencialismo. A Cons�tuição de 1988 é presidencialista, mas repleta de ins�tuições parlamentaristas. Quando a Cons�tuinte começou a votar a Cons�tuição, pensava-se em estabelecer o regime parlamentarista, e vários ar�gos foram votados com esse espírito. Depois, aprovou-se o presidencialismo, mas aqueles ar�gos já estavam na Cons�tuição. No parlamentarismo, quando há problemas, o governo simplesmente cai. Cabe aos congressistas formar uma nova maioria, com um novo governo. Quando não conseguem, o próprio Congresso é dissolvido, e eleições são antecipadas. O sistema permite que governos considerados bons durem o necessário e que os duvidosos terminem antes do prazo previsto. No parlamentarismo, todo o poder concentra-se no Parlamento, que é, de fato, o único USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 21 poder. Se o governo execu�vo discordar do Parlamento, a maioria dos deputados dissolve esse governo. A Jus�ça não se opõe ao Parlamento, até porque, em um sistema parlamentarista puro, a Cons�tuição não é rígida: se uma lei for considerada incons�tucional, o Parlamento simplesmente altera a Cons�tuição. No Reino Unido, o exemplo mais puro de parlamentarismo, não há sequer uma Cons�tuição escrita. As funções parlamentares são exercidas em sua plenitude por uma casa legisla�va que se pode chamar, por exemplo, de Câmara dos Deputados, Parlamento, Câmara dos Comuns (Reino Unido) ou Assembleia Nacional (França). Esse poder não pode ser dividido com outra casa legisla�va que não tenha as caracterís�cas populares do Parlamento. No Reino Unido, por exemplo, existe a Câmara dos Lordes, mas suas funções são pra�camente decora�vas na elaboração das leis. Os lordes não des�tuem gabinetes. SEMI-PRESIDENCIALISMO O semi-presidencialismo é um sistema de governo no qual o chefe de governo (geralmente com o �tulo de primeiro-ministro) e o Chefe de Estado (geralmente com o �tulo de presidente) compar�lham em alguma medida o poder execu�vo, par�cipando, ambos, do co�diano da administração pública de um Estado. Difere do parlamentarismo por apresentar um chefe de Estado, geralmente eleito pelo voto direto, com prerroga�vas que o tornam mais do que uma simples figura protocolar; difere, também, do presidencialismo por ter um chefe de governo com alguma medida de responsabilidade perante o legisla�vo . Cenários possíveis: a) Presidente e Primeiro Ministro do mesmo par�do: Cons�tuição "material"; b) Presidente e Primeiro Ministro de par�dos contrários: Cons�tuição "formal". -Presidente da República: Chefe de Estado; -Primeiro Ministro: Chefe de Governo. Legenda laranja – Repúblicas Parlamentaristas; verde – Repúblicas Presidencialistas, presidência execu�va ligada a um parlamento; USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 22 amarelo – Repúblicas Presidencialistas, sistema Semi Presidencialista; azul – Repúblicas Presidencialistas, sistema presidencialista pleno; vermelho – Monarquias Cons�tucionais Parlamentares, em que o monarca não exerce o poder pessoalmente; magenta – Monarquias Cons�tucionais em que o monarca exerce o poder pessoalmente, muitas vezes (mas nem sempre) ao lado de um parlamento fraco; púrpura – Monarquias Absolutas; castanho – Repúblicas em que o papel dominante de um par�do único é codificado na cons�tuição; verde escuro – Países em que as disposições cons�tucionais para o governo estejam suspensas; cinzento – Países quedinâmica do voto distrital. Com o voto distrital e o distrital misto, os legisladores dariam mais representa�vidade aos candidatos regionais. Toda região estaria representada nos parlamentos estadual e federal. Atualmente, um distrito pode ter dois ou mais representantes e outro, nenhum. O voto distrital é o que existe na Inglaterra, por exemplo. O país é dividido em pequenas regiões, onde cada par�do lança seus candidatos. O mais votado em cada uma é eleito. O voto distrital misto é o que existe na Alemanha e, como o nome diz, é uma mistura dos outros dois � h�p://www.tse.jus.br/arquivos/tre-mg-sistemas-eleitoais USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 38 sistemas: uma porcentagem é eleita pelos distritos e outra, por eleições proporcionais. Alguns países que adotam o voto distrital: ⦁ Estados Unidos - A Câmara dos Representantes possui 435 membros, escolhidos pelo sistema distrital puro. Cada distrito elege um deputado por maioria simples. Os parlamentares têm mandato de dois anos. ⦁ Reino Unido - Os 646 membros do Parlamento britânico são eleitos por voto distrital com maioria simples, como nos Estados Unidos. A diferença é que o mandato é maior (5 anos) e pode ser interrompido se o primeiro-ministro convocar eleições. ⦁ Itália - Há uma lista para cada uma das 26 circunscrições em que os distritos são organizados. ⦁ França - O voto é distrital puro, mas há dois turnos na eleição dos deputados. No primeiro, ganha quem conseguir mais da metade dos votos, desde que a votação seja equivalente a pelo menos 25% do eleitorado inscrito. No segundo turno, só concorre quem teve pelo menos 10% dos votos no primeiro e ganha o mais votado. ⦁ Alemanha - O sistema é misto. Os deputados são eleitos pelos distritos, onde ganha o mais votado. Os eleitores também votam em listas dos par�dos. O voto na legenda serve para calcular o espaço a que cada par�do terá direito no Parlamento A PRIMEIRA ELEIÇÃO NO BRASIL Em 7 de março de 1821, D. João VI, assinou decreto convocando o povo brasileiro a escolher os seus representantes, em eleições gerais, para comporem as " Cortes Gerais de Lisboa", com a finalidade de ser redigida e aprovada a primeira Carta Cons�tucional da monarquia portuguesa. Juntamente com o decreto anteriormente citado, foram expedidas as "Instruções para as eleições dos deputados das Cortes do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve". Como no Brasil, até então, as eleições eram realizadas apenas para se eleger os governos locais e as câmaras, estas eleições abrangeriam todo o território brasileiro e teriam como finalidade eleger representantes do povo para um parlamento: as Cortes de Lisboa. Para que se possa entender o processo eleitoral promulgado pelo Decreto de 7 de março de 1821 [10] e as Instruções para as eleições dos deputados das Cortes do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve faz-se necessário a transcrição de alguns trechos do referido Decreto: O capítulo I dispunha o modo de formar as Cortes, e seu art. 32 determinava: " (...) cada província há de dar tantos deputados quanto con�ver em sua povoação o número de 30.000 almas e que se por fim restar um excesso que chegue a 15.000 almas, dará mais um deputado, e não chegando o excesso da povoação a 15.000 almas, não se contará com ele." Já o capítulo II pode-se dividir em duas partes básicas: a)o art. 34, que estabelecia a forma: "... se deverão formar Juntas Eleitorais de Freguesias, Comarcas e Províncias... "; b)e o art. 35, que estabelecia o eleitorado: "... As juntas eleitorais de freguesias serão compostas de todos os cidadãos domiciliados e residentes no território da respec�va freguesia (...)". A revisão bibliográfica dos três ar�gos acima citados [11] revelam: 1) A representação do povo se faria de forma proporcional à população existente; 2) A eleição seria de forma indireta e em quatro turnos e; USJT - UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU DIREITO - CIÊNCIA POLÍTICA - 2016 – PROF. IRINEU BAGNARIOLLI JUNIOR 39 3) O exercício da cidadania através do voto do povo dava legi�midade aos eleitos, já que no primeiro turno o voto era exercido por todos não havendo qualquer restrição quanto ao eleitorado. Finalmente, deve-se esclarecer que a província se dividia em comarcas e estas, em freguesias e, como já foi dito, todos do povo votavam, não havendo nenhum �po de restrições.