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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES AVA

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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES – AULA 1 
 
1.3 Acepções de obrigação 
 
Segundo o doutrinador Caio Mario da Silva Pereira (2018), o ordenamento social 
é repleto de obrigações, deveres e imposições, sejam estas advindas da relação 
do indivíduo com o Estado, ou até mesmo dentro de seu núcleo familiar, por 
exemplo. 
Nem todos os deveres penetram o ordenamento jurídico, como é o caso 
do dever moral ou do dever social, que, ainda que relevantes, não podem ser 
exigidos judicialmente, possuindo mero repúdio social como mecanismo para 
seu cumprimento. Por sua vez, o dever jurídico é justamente aquele que pode 
ser exigido judicialmente, pois possui sanções coercitivas, ou seja, possíveis 
interferências do Estado para o seu cumprimento (PEREIRA, 2018). Dever 
jurídico não é sinônimo de obrigação, pois permeia outros ramos do direito, como 
o Direito Penal, onde temos como exemplo o dever jurídico de não matar. 
Contudo, o dever jurídico costuma estar no bojo da obrigação. 
Toma-se como exemplo dois sujeitos, João e Carlos. João decide vender seu 
automóvel para Carlos. Então, João deve entregar o veículo a Carlos, que, por 
sua vez, deve pagar pelo bem adquirido. Se Carlos decide não pagar pelo 
veículo, ou seja, não cumprir com o débito que satisfaz sua prestação, nascerá 
para este a responsabilidade, que tem como consequência afetar o patrimônio 
de quem não satisfez sua prestação, conforme preceitua o artigo 391 do Código 
Civil. 
Em síntese, conforme ensinamento de Gonçalves, a responsabilidade é “a 
consequência jurídica patrimonial do descumprimento da relação obrigacional” 
(2019, p. 51). Em outras palavras, a responsabilidade no Direito das Obrigações 
é uma garantia contra eventual inadimplemento de um dever obrigacional, 
trazendo consequências em caráter coercitivo, visando o adimplemento da 
obrigação (FARIAS; ROSENVALD, 2017). 
 
1.4 Sanção e coação 
 
No âmbito do Direito das Obrigações, as sanções se apresentam como 
mecanismos de coação, que visam, inicialmente, o cumprimento das prestações 
ajustadas por sujeitos que contraem uma obrigação. Diretamente relacionada 
com o conceito de responsabilidade, a sanção se dá dentro da esfera do 
patrimônio da parte. Nesse sentido, destaca-se a redação do artigo 389, do 
Código Civil: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e 
danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente 
estabelecidos, e honorários de advogado.” (BRASIL, 2002, on-line). 
Neste ponto, é importante destacar o caráter patrimonial da sanção e, 
consequentemente, da responsabilidade para o Direito das Obrigações. Esta 
natureza patrimonial possui embasamento constitucional, pois a Constituição da 
República impossibilita a chamada “prisão civil” no Brasil” em seu artigo 5º, 
LXVII: “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo 
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do 
depositário infiel” (BRASIL, 1988, on-line). Assim, veda-se a possibilidade da 
responsabilização pessoal do devedor. 
Destaca-se que a regra da responsabilização patrimonial no Direito das 
Obrigações não possui exceções no ordenamento brasileiro. Apesar do 
dispositivo constitucional acima apontado permitir a prisão civil do devedor de 
alimentos, esta não possui caráter punitivo e nem visa satisfazer a obrigação, 
sendo, portanto, um mero mecanismo de coerção pessoal dentro da esfera da 
responsabilidade patrimonial (FARIAS; ROSENVALD, 2017). 
 
2 Conceito, elementos e sujeitos da obrigação 
 
Primeiramente, apresenta-se o conceito de obrigação. Segundo Carlos 
Gonçalves (2019, p. 37), obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito 
ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada 
prestação. Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de 
caráter transitório (extingue-se com o cumprimento), cujo objeto consiste numa 
prestação economicamente aferível. 
No mesmo sentido, é a definição dada pelo doutrinador Washington de Barros 
Monteiro (1997, p. 8 apud GONÇALVES, 2019, p. 27), que diz que obrigação é 
“a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e 
cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, 
devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através de seu 
patrimônio.” 
Ainda, suscintamente, segundo Orlando Gomes (2005, p. 15), a obrigação é “um 
vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa fica adstrita a satisfazer uma 
prestação em proveito de outra” (apud FARIAS; ROSENVALD, 2017). Tendo 
como base as definições consonantes acima apresentadas, identificam-se três 
elementos principais que compõem a obrigação: 
 
 Elemento objetivo ou material 
A prestação propriamente dita. 
 Elemento subjetivo 
Sujeitos da relação, sendo eles o sujeito ativo e o sujeito passivo. 
 Elemento imaterial ou abstrato 
O vínculo jurídico. 
2.1 Elemento objetivo ou material: a prestação 
 
A prestação é o elemento palpável da obrigação, que também é chamado pela 
doutrina de “elemento material”. O elemento objetivo nada mais é que a 
prestação, que, por sua vez, se traduz em uma conduta ou ato 
humano: dar, fazer ou não fazer. Dar e fazer são condutas positivas, enquanto 
não fazer é uma conduta negativa (GONÇALVES, 2019). 
Conforme o artigo 104 do Código Civil, o objeto da obrigação deve 
ser lícito, possível (possibilidade jurídica e 
física), determinado ou determinável (ainda que inicialmente indeterminado, 
deve ser possível determina-lo no momento da execução). Por fim, o objeto da 
obrigação deve ser economicamente mensurável, ou seja, deve ter 
capacidade de se traduzir patrimonialmente (PEREIRA, 2018). 
 
2.2 Elemento subjetivo: os sujeitos da 
obrigação 
 
Toda obrigação é composta de, ao menos, dois sujeitos, sendo que um exercerá 
o papel de sujeito ativo (credor) e o outro de sujeito passivo (devedor). 
Ambos sujeitos podem ser pessoas naturais ou jurídicas, determinados ou 
determináveis. Ainda, em uma mesma obrigação, podem existir múltiplos 
credores e/ou devedores. O sujeito ativo, o credor, é a quem se deve a 
prestação, podendo exigir o cumprimento desta. Por sua vez, o sujeito passivo, 
o devedor, é quem deve satisfazer a pretensão do credor (GONÇALVES, 2019). 
 
2.3 Elemento imaterial ou abstrato: o vínculo 
jurídico 
 
O vínculo jurídico é elemento imaterial que une os sujeitos da obrigação, ou seja, 
que une credor e devedor, possibilitando que o primeiro possa exigir a prestação 
do segundo. É este o elemento que garante a sujeição do devedor ao credor, 
tanto na esfera do débito quanto na responsabilidade, criando uma coerção para 
que o sujeito passivo cumpra a prestação que é devida. Nas palavras de Farias 
e Rosenvald (2017, p. 82), é exatamente o vínculo jurídico que confere a 
coercibilidade à relação obrigacional. Assim sendo, garante-se o cumprimento da 
prestação avençada, porque, se não cumprida voluntariamente, enseja a atividade 
substitutiva da vontade do devedor, através da atuação do Estado-juiz, que vai se 
imiscuir no patrimônio do devedor para retirar a quantidade de patrimônio suficiente para 
solver a dívida. 
Percebe-se que o vínculo jurídico é, na verdade, formado pelo binômio débito e 
responsabilidade - conceitos já trabalhados anteriormente - afinal, o débito é o 
dever do devedor de cumprir a prestação, enquanto a responsabilidade é a 
possibilidade do credor de exigir a prestação do devedor, caso este não a 
cumpra voluntariamente. 
 
2.4 Obrigações naturais 
 
Para compreender as obrigações naturais, categoria especial de obrigação, 
deve-se antes entender o conceito de obrigação perfeita e obrigação imperfeita. 
A obrigação perfeita é obrigação civil, reunindo em um mesmo sujeito, o débito 
e a responsabilidade. Em outras palavras, trata-se da obrigação em que é devida 
uma prestação ao credor pelo devedor, sendo que o credor pode exigir esta do 
devedor, se não for cumprida voluntariamente.Por sua vez, obrigação 
imperfeita é aquela em que ou não há débito, ou não há responsabilidade, ou 
então em que ambos elementos estão presentes, mas recaem sobre sujeitos 
distintos. 
Na esfera das obrigações imperfeitas, quando há responsabilidade sem 
débito, tem-se as garantias prestadas por terceiros, como ocorre na fiança, por 
exemplo. Já quando há débito sem responsabilidade, tem-se as 
chamadas obrigações naturais, onde há prestação, mas não há possibilidade 
de que esta seja exigida judicialmente. Como exemplo, tem-se as dívidas de jogo 
ou de aposta, disciplinadas pelo artigo 814 do Código Civil (FARIAS; 
ROSENVALD, 2017). As obrigações naturais não são um mero dever moral, que 
é externo à esfera jurídica. Ao mesmo tempo, não possuem responsabilidade, 
portanto, se diferem das obrigações civis (PEREIRA, 2018). Assim, trata-se de 
uma entidade intermediária, de uma situação anômala externa à obrigação civil, 
que é perfeita. 
 
2.5 Distinção entre direitos obrigacionais e 
direitos reais 
 
Os direitos obrigacionais e o os direitos reais possuem como ponto de interseção 
o fato de serem ramos do Direito Privado que tratam de patrimônio, todavia, são 
ramos muito distintos. 
Como já conceituado, os direitos obrigacionais são aqueles em que há um 
vínculo entre dois sujeitos, no qual o credor tem o direito de exigir determinada 
prestação economicamente mensurável do devedor, podendo pleitear 
judicialmente a prestação, se necessário. No que diz respeito aos direitos reais, 
também conhecidos como direito das coisas, estes trabalham com a relação 
entre sujeito e coisa. Em outras palavras, segundo Carlos Gonçalves (2019, p. 
23): “é poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com 
exclusividade e contra todos”. 
Quanto à duração, os direitos obrigacionais são temporários, se extinguindo com 
o cumprimento da prestação. Já os direitos reais são perpétuos, só se 
extinguindo com as hipóteses previstas em lei, como a desapropriação. Quanto 
ao exercício, os direitos obrigacionais são mediatos, pois há a presença do 
devedor, enquanto os direitos reais são imediatos, pois seu exercício se dá 
diretamente na coisa (FARIAS; ROSENVALD, 2017). 
Por fim, aponta-se que os direitos reais são numerus clausus (rol taxativo), ou 
seja, todos os direitos existentes nesse ramo do Direito Civil estão previstos em 
lei (art. 1.225, CC). Já os direitos obrigacionais são numerus apertus (rol 
exemplificativo), pois são inúmeros e nem todos estão previstos em lei (FARIAS; 
ROSENVALD, 2017). 
Como vimos, os direitos das obrigações são diferentes dos direitos reais. Contudo, 
existem obrigações híbridas, que integram tanto os direitos das obrigações quanto os 
direitos reais: são as chamadas obrigações propter rem. Segundo Gonçalves (2019, p. 
30), essas obrigações “têm características de direito obrigacional, por recair sobre uma 
pessoa que fica adstrita a satisfazer uma prestação, e de direito real, pois vincula 
sempre o titular da coisa”. Existem várias obrigações propter rem espalhadas pelo 
Código Civil, como, por exemplo, a obrigação dos condôminos de não alterar a 
fachada do prédio (art. 1.336, III, CC). 
3 Princípios do Direito das Obrigações 
 
Como ramo do Direito Privado, o Direito das Obrigações se sujeita aos princípios 
gerais do Direito Civil, como a boa-fé, função social, autonomia privada, dentre 
outros. Para além destes, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2017) 
apontam três princípios de excepcional importância para o Direito Obrigacional 
disciplinado no Código Civil de 2002: socialidade, eticidade e operabilidade. 
 
 
 
4 Fontes das obrigações 
 
Segundo Maria Helena Diniz (2007, p. 40), as fontes das obrigações são “os 
reguladores de relações particulares, entre duas ou mais pessoas, tendo por 
objeto determinada prestação”. A doutrinadora aponta duas fontes: a lei e o fato 
jurídico, que por sua vez se decompõe em fato jurídico voluntário (ato jurídico 
e negócio jurídico) e fato jurídico involuntário (ato ilícito). 
Importante destacar que ambas as fontes dialogam, pois em todas as obrigações 
há a presença do fato humano e a atuação do ordenamento jurídico (PEREIRA, 
2018). 
 
4.1 Lei como fonte das obrigações 
 
Pereira (2018) preconiza que a lei é fonte primária de todo direito. No mesmo 
sentido é o entendimento de Maria Helena Diniz (2007), que afirma que é o 
direito que dá significação jurídica aos fatos humanos e, especificamente no 
Direito das Obrigações, é a lei que garante a formação do vínculo obrigacional. 
Sempre presente como fonte, a lei ora atua como fonte imediata, ora atua como 
fonte mediata da obrigação. A lei é fonte imediata nas situações em que a 
obrigação decorre, exclusivamente, da vontade do Estado, ou seja, nos casos 
em que a obrigação é determinada diretamente pela lei, a exemplo da obrigação 
alimentar (art. 1.696, CC). Já o papel de fonte mediata da lei se dá quando a 
obrigação decorre do fato jurídico, pois aqui a fonte imediata será a vontade dos 
sujeitos manifesta no fato jurídico, e a lei agirá respaldando esse fato 
(GONÇALVES, 2019). 
Neste sentido, "pode-se, assim, resumidamente, dizer que a obrigação resulta 
da vontade do Estado, por intermédio da lei, ou da vontade humana, por meio 
do contrato, da declaração unilateral da vontade ou do ato ilícito. No primeiro 
caso, a lei atua como fonte imediata, direta, da obrigação, nos demais, como 
fonte mediata ou indireta" (GONÇALVES, 2019, p. 50). 
 
4.2 Fato jurídico voluntário como fonte das 
obrigações: ato jurídico e negócio jurídico 
 
Por fato jurídico voluntário, entende-se ser o fato que produz efeitos queridos 
pelo sujeito. Tal categoria de fato jurídico abrange os atos jurídicos e os negócios 
jurídicos. 
Ato jurídico, em sentido estrito, “é o que gera consequência jurídica prevista em 
lei e não pelas partes interessadas, não havendo regulamentação da autonomia 
privada” (DINIZ, 2007, p. 42). Já negócio jurídico é quando “se procura criar 
normas para regular interesses nas partes, harmonizando vontades 
aparentemente antagônicas” (DINIZ, 2007, p. 42). Resumidamente, negócio 
jurídico possui efeitos oriundos das vontades das partes, previamente 
negociadas entre elas, enquanto o ato jurídico em sentido estrito é aquele que 
só possui os efeitos previstos em lei, mas que também eram pretendidos pelo 
sujeito. 
 
4.3 Fato jurídico involuntário como fonte das 
obrigações: ato ilícito 
 
Ainda seguindo o entendimento de Maria Helena Diniz, define-se fato jurídico 
involuntário como aquele que gera efeitos alheios à vontade do agente, o que 
ocorre nos casos de ato ilícito. Aqui, tem-se apenas consequências indesejadas 
pelo agente, previstas em lei, como as sanções (DINIZ, 2007). Os atos ilícitos 
foram definidos expressamente no Código Civil, em seus artigos 186 e 187, 
sendo que suas consequências se encontram previstas nos artigos 927 e 
seguintes. 
 
5 Atos unilaterais 
 
Como regra geral no Direito das Obrigações, as declarações unilaterais de 
vontade de um sujeito são fatos irrelevantes do ponto de vista da constituição de 
uma obrigação. Normalmente, o Direito das Obrigações trata de situações onde 
há convergência de declarações de vontades de mais de um sujeito, que formam 
um vínculo obrigacional entre si. 
Todavia, excepcionalmente, atos unilaterais (declarações unilaterais de 
vontade) constituem obrigações para o sujeito, seja colocando-o como sujeito 
ativo ou passivo de uma obrigação (COELHO, 2012). O Código Civil apresenta, 
em seu Título VII, quatro tipos de atos unilaterais geradores de 
obrigação: promessa de recompensa (arts. 854 a 860), gestão de 
negócios (arts. 861 a 875), pagamento indevido (arts. 876 a 883) 
e enriquecimento sem causa (arts. 884 a 886). 
 
5.1 Promessa de recompensa 
 
A promessa de recompensa ocorre quando um sujeito se compromete a 
recompensar ou gratificar um terceiro que preencher certos requisitos pré-
estabelecidos. Este sujeito que promete a recompensa é chamado de 
“promitente”e, ao se comprometer, fica vinculado aos termos de sua declaração, 
se tornando devedor desta (COELHO, 2012). Nesse sentido, ressalta-se o artigo 
855 do Código Civil, que estabelece que quem preencher os requisitos 
estabelecidos pelo promitente tem direito de exigir a recompensa. Por fim, 
ressalta-se que, como pontua Coelho (2012), pode-se prometer recompensa por 
qualquer ato, fato, coisa, fazer ou condição, basta que recompense-se algo lícito. 
 
5.2 Gestão de negócios 
 
Como regra geral, uma pessoa pratica atos só em nome próprio, ou em nome de 
terceiro através de representação (uma procuração, por exemplo). Todavia, 
existem situações em que um sujeito pratica atos sem ser representante legal ou 
contratual de outro sujeito, mas que geram obrigações para o último. É o caso 
da gestão de negócios. Conforme o artigo 861 do Código Civil, a gestão de 
negócios ocorre quando “aquele que, sem autorização do interessado, intervém 
na gestão de negócio alheio, dirigi-lo-á segundo o interesse e a vontade 
presumível de seu dono, ficando responsável a este e às pessoas com que 
tratar” (BRASIL, 2002, on-line). O dono do negócio deve ser imediatamente 
comunicado (art. 864, CC). 
 
5.3 Pagamento indevido 
 
É a hipótese em que alguém recebe algo que não lhe era devido, nascendo 
assim a obrigação de restituir (art. 876, CC). Por exemplo, se Amanda paga a 
pessoa errada, quem receber o pagamento de Amanda tem dever de restituir o 
valor recebido. Todavia, conforme artigo 877, cabe a Amanda provar que 
realizou o pagamento indevido em razão de um erro. 
Observa-se na redação desse artigo que, na verdade, o dono do negócio só fica 
vinculado em relação a atos praticados em atenção aos seus interesses e, ainda 
segundo o Código Civil (art. 862), se a gestão for contrária aos interesses do 
dono, caberão sanções contra aquele que interviu em seu negócio. 
 
5.4 Enriquecimento sem causa 
 
O Código Civil conceitua o enriquecimento sem causa de maneira clara e 
objetiva em seu artigo 884: “Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa 
de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização 
dos valores monetários.” (BRASIL, 2002, on-line). Assim, quando um sujeito 
adquirir vantagem patrimonial em função de terceiro sem fundamento jurídico 
para isso, nasce a obrigação de compensar o sujeito prejudicado (COELHO, 
2012). 
 
6 Classificação das obrigações 
 
São várias as classificações possíveis para as obrigações, que variam de 
doutrinador para doutrinador. Para fins didáticos, apresentam-se aqui as 
classificações utilizadas pelo Código Civil expressamente, ou seja: obrigações 
de dar (arts. 233 a 246), obrigações de fazer (arts. 247 a 249), obrigações de 
não fazer (arts. 250 e 251), obrigações alternativas (arts. 252 a 
256), obrigações divisíveis e indivisíveis (arts. 257 a 263) e obrigações 
solidárias (arts. 264 a 285). 
 
6.1 Obrigações de dar 
 
Nas obrigações de dar, o devedor tem o dever de entregar um bem móvel ou 
imóvel para seu credor. O cumprimento da obrigação de dar bem móvel ocorre 
com a tradição, enquanto o cumprimento da obrigação de dar bem imóvel se dá 
com o registro (GONÇALVES, 2019). 
Segundo Diniz (2007, p. 70), "são consideradas como prestações de coisa as 
obrigações do vendedor e comprador, do locador e locatário, do doador e do 
depositário (CC, art. 627), do segurador e do segurado (CC, art. 757), do 
comodatário, do rendeiro ou censuário (CC, art. 810), do mutuário (CC. 586) etc." 
A obrigação de dar pode se referir a dar coisa certa ou incerta. Coisa certa é a 
coisa individualizada, perfeitamente determinada em gênero, quantidade e 
quantidade. Por exemplo, ao comprar uma obra de arte de um certo artista, tem-
se coisa certa, pois nenhuma outra obra poderá substituir aquela precisamente. 
Já a coisa incerta é a coisa desprovida de individualidade, apenas definida 
quanto ao seu gênero e quantidade, logo, desprovida de sua qualidade. Por 
exemplo, um restaurante ao comprar uma caixa de cebolas, sem especificação 
de qualidade (GONÇALVES, 2019). 
 
6.2 Obrigações de fazer 
 
A obrigação de fazer é aquela em que o credor busca um ato ou serviço a ser 
executado pelo devedor. Ao contrário do que ocorre na obrigação de dar, aqui 
busca-se a conduta do devedor, não o bem que possa resultar dessa conduta. 
Para avaliar se uma obrigação é de dar ou de fazer, deve-se analisar o que 
prepondera: se é a coisa em si, ou se o a coisa é uma mera consequência do 
fazer (FARIAS; ROSENVALD, 2017). 
 
A obrigação de fazer pode ser fungível ou infungível. Veja a seguir: 
 
Fungível 
 
É aquela substituível, impessoal, em que o ato ou serviço pretendido pode ser executado 
por terceiro, sem prejuízo ao cumprimento da obrigação (art. 249, CC). 
Infungível 
É aquela insubstituível, de caráter personalíssimo - que só pode ser executada pela 
pessoa do devedor para que ocorra o adimplemento (art. 247, CC). 
 
No caso de obrigação infungível, se o devedor inadimplir com sua obrigação, o 
que torna a obrigação impossível por ser a prestação personalíssima, deverá 
indenizar o credor por perdas e danos, salvo se não teve culpa no 
inadimplemento (arts. 247 e 248, CC). Noutro giro, em caso de obrigação 
fungível, se o devedor inadimplir com culpa, o credor poderá contratar terceiro 
para cumprir a prestação e os custos serão suportados pelo devedor, que ainda 
poderá incorrer em perdas e danos (art. 249, CC). 
O cumprimento de uma obrigação de dar coisa só é possível se a coisa for certa. 
Então, a coisa incerta deve se tornar certa no momento do adimplemento da 
prestação, através da chamada concentração da obrigação, que nada mais é 
que a individualização da coisa que acontece através da escolha. Em regra, a 
escolha da qualidade cabe ao devedor, mas as partes podem determinar em 
contrato que o credor pode ser o responsável por realizar a individualização da 
coisa, conforme artigo 244, CC (DINIZ, 2007). 
O Código Civil, ao disciplinar as obrigações de dar, se preocupou com 
a possibilidade de perda ou deterioração da coisa, pois são situações que 
impossibilitam o cumprimento da obrigação do modo em que tenha sido 
pactuada entre as partes. A perda ou deterioração ocorre antes da tradição do 
bem do devedor para o credor e suas consequências dependem da presença ou 
não de culpa do devedor. 
No caso das obrigações de dar coisa certa, se houver perda total, ou 
seja, perecimento da coisa, a obrigação se torna impossível e o contrato se 
resolve por inadimplemento. Contudo, se houver culpa, a obrigação também se 
resolve, mas o devedor responderá pelo equivalente do valor da coisa, mais 
perdas e danos (art. 234, CC). Em caso de perda parcial de coisa certa, ou seja, 
de deterioração, caberá ao credor decidir se aceita a coisa no estado em que se 
encontra, ou se a obrigação se torna impossível. Caso escolha receber a coisa 
deteriorada, haverá o devido abatimento do valor do bem, para que o credor não 
fique prejudicado (art. 240, CC). Já no caso das obrigações de dar coisa 
incerta, como o objeto não é individualizado até o momento do adimplemento 
da obrigação, não é possível que o devedor alegue perda do objeto (art. 246, 
CC). 
Por fim, observa-se a obrigação de restituir, subespécie da obrigação de dar, 
prevista nos artigos 238 a 240 do Código Civil. São as hipóteses que se 
caracterizam “pela existência de coisa alheia em poder do devedor, a quem 
cumpre devolvê-la ao dono. Tal modalidade impõe àquele a necessidade de 
devolver coisa que, em razão de estipulação contratual, encontra-se 
legitimamente em seu poder” (GONÇALVES, 2019, p. 72). É o que ocorre, por 
exemplo, quando um sujeito aluga um automóvel, contraindo a obrigação de 
devolver o veículo para a locadora em uma determinada data. Aqui, se a coisa 
se perder antes de ser devolvida para o credor, sem culpa do devedor, a 
obrigação se resolve e o credor sofre a perda (art. 238, CC). Contudo, se houver 
culpa do devedor, este responderá pelo equivalente, mais perdas e danos(art. 
239, CC). O mesmo vale para a hipótese de deterioração, pois só caberá 
indenização em favor do credor se houver culpa do devedor (art. 240, CC). 
 
6.3 Obrigações de não fazer 
 
Enquanto as obrigações de dar e de fazer são consideradas 
obrigações positivas, por exigirem uma conduta do devedor, as obrigações de 
não fazer são chamadas de negativas, pois exigem uma omissão por parte do 
devedor. A obrigação de não fazer tem como foco um dever de 
abstenção (GONÇALVES, 2019). Em caso de obrigação impossível, sem culpa 
do devedor, a obrigação de não fazer se extingue (art. 250, CC). Já em caso de 
descumprimento da obrigação de não fazer com culpa do devedor, o credor pode 
exigir que este desfaça o ato praticado, quando possível, e ainda há 
possibilidade de incidência de perdas e danos (art. 251, CC). 
 
6.4 Obrigações alternativas 
 
Quando uma obrigação possui apenas um objeto, chama-se essa de obrigação 
simples. Já quando uma mesma obrigação possui múltiplos objetos tem-se 
uma obrigação composta. Uma obrigação composta pode 
ser cumulativa, alternativa ou facultativa. 
Obrigação cumulativa é aquela em que há mais de uma prestação e a obrigação 
só será cumprida se todas as prestações forem solvidas. Por sua vez, 
na obrigação alternativa existem múltiplas prestações, mas basta o 
cumprimento de uma delas para que a obrigação se dê por cumprida. Para 
facilitar a memorização, basta lembrar que as prestações da obrigação 
cumulativa são interligadas por “e” (dar um boi e uma galinha e um porco), 
enquanto as prestações da obrigação alternativa são interligadas por “ou” (dar 
um boi ou uma galinha ou um porco) (GONÇALVES, 2019). 
Conforme previsão expressa no Código Civil, em seu artigo 252, como regra, a 
escolha da prestação que bastará para sanar a obrigação será realizada pelo 
devedor. Quando a prestação é escolhida, ocorre a concentração da 
obrigação. A presença de um objeto definido fruto da concentração torna a 
obrigação simples. Segundo Gonçalves (2019), o fundamento por trás da 
existência das obrigações alternativas é favorecer o cumprimento da obrigação, 
pois permite ao devedor mais possibilidades de prestações capazes de sanar 
seu dever. 
Devido à multiplicidade de possíveis prestações, deve-se ter atenção com as 
previsões do Código Civil para o caso de perda do objeto em obrigação 
alternativa. Se apenas uma das prestações se perder, a obrigação se concentra 
na prestação restante (art. 253, CC). Se todas as prestações se perderem, sem 
culpa do devedor, a obrigação se extingue (art. 256, CC). Agora, se todas as 
prestações se perderem com culpa do devedor, o devedor terá de pagar ao 
credor o valor correspondente à última prestação que se perdeu e ainda há 
possibilidade de perdas e danos (art. 254, CC). 
Na hipótese de, por estipulação contratual, ter-se estabelecido que a escolha da 
prestação cabe ao credor, afastando-se assim a regra geral prevista no 
artigo 252 do Código Civil, se houver perda de uma prestação, o credor poderá 
escolher se quer que esta seja substituída por uma das prestações alternativas, 
ou se quer receber o valor da prestação que se perdeu, podendo ainda exigir 
perdas e danos (art. 255, CC). 
 
6.5 Obrigações alternativas com faculdade de 
substituição da prestação 
 
Existe uma subespécie de obrigação alternativa chamada obrigação 
facultativa, que é uma “obrigação simples, em que é devida uma única 
prestação, ficando, porém, facultado ao devedor, e só a ele, exonerar-se 
mediante o cumprimento de prestação diversa e predeterminada. É obrigação 
facultativa de substituição.” (GONÇALVES, 2019, p. 108) 
As obrigações facultativas não possuem previsão no Código Civil. Aqui, há a 
estipulação de objeto principal e objeto substitutivo (secundário ou subsidiário) e 
caberá ao devedor, e somente a ele, escolher qual objeto pagará para cumprir 
com a obrigação. Esta é a diferença fundamental entre as obrigações 
alternativas genéricas e as obrigações alternativas com faculdade de 
substituição da prestação, pois naquelas pode-se estipular que a escolha da 
prestação caberá ao credor (FARIAS; ROSENVALD, 2017). 
Outra diferença fundamental reside no fato de a obrigação alternativa ser 
composta, enquanto a obrigação facultativa é simples. Apesar de a obrigação 
facultativa ter mais de uma prestação possível, do ponto de vista do devedor, 
para o credor a prestação é só uma e, por isso, simples. 
Como aqui todo processo de escolha emana do devedor, caso haja perda do 
objeto, a obrigação se extingue sem possibilidade de o credor exigir qualquer 
outra prestação, ou então o devedor poderá meramente realizar o pagamento 
através de um objeto substitutivo (GONÇALVES, 2019). 
 
6.6 Obrigações divisíveis e indivisíveis 
 
Nas obrigações divisíveis e indivisíveis, há multiplicidade de sujeitos, ou no 
polo ativo da obrigação, ou no polo passivo, ou em ambos os polos. Obrigações 
divisíveis (fracionárias) são aquelas em que é possível que haja cumprimento 
fracionado, ou seja, a obrigação pode ser dividida entre as partes, sem que a 
prestação fique prejudicada (art. 257, CC). Por sua vez, as obrigações 
indivisíveis são aquelas em o objeto é uma coisa ou fato que não pode ser 
fracionado (art. 258, CC). 
Como regra, toda obrigação é divisível, então, obrigações indivisíveis são 
excepcionais. Quanto à divisibilidade do bem propriamente dito, o Código Civil, 
em seu artigo 87, define que “bens divisíveis são os que se podem fracionar sem 
alteração na sua substância, diminuição considerável do valor, ou prejuízo do 
uso a que se destinam” (BRASIL, 2002, on-line). Ainda, em seu artigo 88 
esclarece que “os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por 
determinação da lei ou por vontade das partes” (BRASIL, 2002, on-
line). Também se destaca aqui a redação do artigo 258, que define que “a 
obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato 
não suscetível de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou 
dada razão determinante do negócio jurídico” (BRASIL, 2002, on-line). Assim, 
em resumo, pode-se concluir que a indivisibilidade pode ocorrer por três 
razões distintas: 1) pela natureza da coisa; 2) por vontade das partes; ou 3) 
por determinação da lei. 
Como exemplo de obrigação indivisível pela natureza da coisa, tem-se a 
obrigação de dar um gato, pois não é possível repartir um animal sem que esse 
morra (COELHO, 2012). Já como exemplo de indivisibilidade por determinação 
da lei, tem-se o artigo 1.791, que determina que até que ocorra a partilha, a 
herança será indivisível para os co-herdeiros. 
Analisa-se agora, os efeitos da divisibilidade e da indivisibilidade da prestação. 
Se a obrigação for divisível e houver pluralidade de devedores, cada devedor 
será responsável apenas por sua quota-parte da prestação. Havendo pluralidade 
de credores, cada credor só tem direito a sua parte (art. 257, CC). Assim, por 
exemplo, em uma obrigação onde duas pessoas devem 200 reais para um 
credor, cada pessoa só está obrigada a pagar 100 reais, que é sua quota-parte. 
Agora, em outro exemplo, se uma pessoa deve duas sacas de café para dois 
credores, cada credor só pode exigir uma saca de café do devedor, o que 
equivale a sua parte (GONÇALVES, 2019). 
Se a obrigação for indivisível, o Código Civil prevê regras distintas para o 
cumprimento da obrigação. Segundo o artigo 259, no caso de pluralidade de 
devedores, todos são responsáveis pela dívida toda e, caso apenas um devedor 
pague a dívida sozinho, poderá cobrar dos demais, sub-rogando-se no direito do 
credor (ou seja, assumindo o papel de credor). Esta regra decorre justamente da 
indivisibilidade da prestação. Nas palavras de Gonçalves (2019, p. 122), 
O devedor, demandado por obrigação indivisível, não pode exigir que o credor acione 
conjuntamente todos os codevedores. Qualquer deles, à escolha do autor, pode ser 
demandado isoladamente pela dívida inteira. Ressalva-se apenas ao devedor, que 
solve sozinho o débito por inteiro,sub-rogação dos direitos creditórios, a fim de reaver 
dos consortes as quotas respectivas. 
Havendo pluralidade de credores, cada credor só terá direito a sua parte. Então, 
se um devedor decidir pagar a dívida inteira a apenas um credor, ainda assim 
este poderá ser demandado pelos demais cocredores. Assim, o devedor só 
cumpre a obrigação se pagar todos os credores, ou se pagar um credor com 
caução de ratificação dos demais credores (art. 260, CC). Caso apenas um 
credor receba a prestação inteira, os outros cocredores poderão cobrar sua parte 
deste credor (art. 261, CC). 
Segundo o artigo 262 do Código Civil, se um dos credores remitir a dívida, ou 
seja, perdoar a dívida, esta remissão só vale para sua parte da prestação, então, 
os outros cocredores ainda poderão exigir sua parte da dívida, sem, é claro, 
poderem exigir a quota-parte da dívida que era do credor que realizou a remissão 
da dívida. Então, por exemplo, se João deve dez sacas de café para cinco 
credores (duas sacas para cada) e um dos credores decide remir a dívida, João 
ainda deve um total de oito sacas de café (duas sacas para cada um dos quatro 
credores que não perdoaram a dívida). 
Por fim, aponta-se que, nas obrigações indivisíveis com mais de um devedor, 
caso haja inadimplemento, deve-se observar a culpa de cada um. Se todos forem 
culpados pelo descumprimento da obrigação, todos responderão pelo 
equivalente da prestação, mais perdas e danos. Contudo, se a culpa for de 
apenas um devedor, todos respondem pelo valor equivalente, mas apenas o 
culpado responderá por perdas e danos (art. 263, CC). 
 
6.7 Obrigações solidárias e obrigações 
Indivisíveis 
 
Uma obrigação é solidária quando há multiplicidade de credores e/ou devedores 
e todos os credores têm direito à dívida toda, enquanto cada devedor é 
responsável pelo adimplemento da dívida toda. As obrigações solidárias estão 
disciplinadas no Código Civil, nos artigos 264 a 285. Quando há multiplicidade 
de devedores, há solidariedade passiva. Quando há multiplicidade de 
credores, há solidariedade ativa (PEREIRA, 2018). Nesse sentido, as principais 
características da obrigação solidária são, segundo Gonçalves (2019, p. 132): 
a) pluralidade de sujeitos ativos ou passivos; b) multiplicidade de vínculos, sendo distinto 
ou independente o que une o credor a cada um dos codevedores solidários e vice-versa; 
c) unidade de prestação, visto que cada devedor responde pelo débito todo e cada 
credor por exigi-lo por inteiro. A unidade de prestação não permite que esta se realize 
por mais de uma vez; se isto ocorrer, ter-se-á repetição (CC, art. 876); 
d) corresponsabilidade dos interessados, já que o pagamento da prestação efetuado 
por um dos devedores extingue a obrigação dos demais, embora o que tenha pago 
possa reaver dos outros as quotas de cada um. 
É muito importante diferenciar as obrigações solidárias das obrigações 
indivisíveis, pois as duas se assemelham pela pluralidade de sujeitos e pela 
possibilidade de a obrigação ser demandada de apenas um devedor. A primeira 
diferença consiste no fato de que, na obrigação indivisível, um devedor só poderá 
ser demandado pela dívida toda em razão da impossibilidade de se dividir a 
prestação, enquanto que, na obrigação solidária, a prestação até pode ser 
divisível, mas, mesmo assim, cada devedor será responsável pelo todo. Em 
outras palavras, na obrigação indivisível, ainda que o devedor possa ser 
demandado individualmente pelo todo, este só deve sua quota-parte. Já na 
obrigação solidária, o devedor pode ser demandado pelo todo porque deve o 
todo. Nesse sentido, diz-se que a obrigação solidária é uma relação subjetiva 
(recai sobre os sujeitos), enquanto que a obrigação indivisível é objetiva (tem a 
ver com o objeto da obrigação, que é a prestação) (PEREIRA, 2018). 
Por fim, Pereira (2018) aponta outra diferença: na obrigação indivisível, caso 
essa se converta em perdas e danos, a obrigação perde sua indivisibilidade, 
pois, conforme preceitua o artigo 263 do Código Civil, todos os devedores 
responderão igualmente por estas. Por sua vez, na obrigação solidária, esta 
perdura mesmo se convertida em perdas e danos, afinal, não guarda relação 
com o objeto da obrigação, mas sim com seus sujeitos. 
 
A diferenciação das obrigações solidárias e das obrigações indivisíveis é tema 
recorrente em provas de concursos públicos, por exemplo. Assim, é essencial 
realizar uma leitura comparativa dos artigos que tratam de ambas as 
modalidades de obrigação no Código Civil. 
6.8 Obrigações solidárias ativas, passivas e 
seus efeitos 
 
Agora, passa-se para uma análise aprofundada das obrigações solidárias. 
Primeiramente, observa-se que os artigos 265 e 266 do Código Civil trazem dois 
princípios comuns à solidariedade. O primeiro deles é que solidariedade não 
se presume, pois deve advir da lei ou da vontade das partes (art. 265, CC). O 
segundo princípio trata da possibilidade de uma obrigação solidária poder 
apresentar diferentes modalidades de obrigação dentro de si, variando entre 
os devedores e credores (art. 266, CC). In verbis: “A obrigação solidária pode 
ser pura e simples para um dos cocredores ou codevedores, e condicional, ou a 
prazo, ou pagável em lugar diferente para o outro” (BRASIL, 2002, on-
line). Assim, o artigo 266 demonstra que a obrigação solidária pode ser distinta 
entre os sujeitos sem que, contudo, a obrigação perca sua unidade. Por exemplo, 
para facilitar o cumprimento da obrigação, pode-se definir que cada devedor 
pode cumprir sua prestação em um local distinto. O artigo 266 se comunica, 
diretamente, com uma das principais características da obrigação solidária, que 
é a multiplicidade de vínculos (GONÇALVES, 2019). Quanto aos efeitos da 
solidariedade, estes diferem a depender da obrigação solidária ser ativa (quanto 
aos credores) ou passiva (quanto aos devedores). Conforme preceitua o artigo 
267 do Código Civil, na obrigação solidária ativa cada um dos credores pode 
exigir do devedor a prestação por inteiro e, assim, a obrigação se resolve. 
Posteriormente, basta que os cocredores realizem acerto com o credor que 
recebeu a prestação (art. 272, CC). Noutro giro, se nenhum credor solidário 
demandar a obrigação do devedor, o devedor poderá escolher a quem quer 
pagar (art. 268, CC). 
Caso ocorra perda do objeto da obrigação, esta se converterá em perdas e 
danos e a solidariedade continuará a existir (art. 271, CC). Se um dos cocredores 
remitir a dívida em uma obrigação solidária, a remissão valerá para todos os 
demais, ou seja, a obrigação fica extinta para o devedor em relação a todos os 
credores. Nesse caso, o cocredor que realizou a remissão deverá ressarcir os 
demais (art. 272, CC). 
O artigo 273 do Código Civil trata da possibilidade de um devedor opor exceções 
pessoais a um dos credores. “Exceção” é uma palavra técnica utilizada pelo 
legislador que quer dizer defesa contra uma pretensão, ou seja, um ataque que 
o devedor pode utilizar contra um credor. Uma exceção pode ser objetiva (aponta 
vícios da própria prestação) ou pessoal (aponta vícios na relação dos sujeitos da 
obrigação). Como exemplo de exceções pessoais, tem-se, por exemplo, o caso 
em que um devedor aponta que o credor não está devidamente representado 
em um processo. Assim, o que o artigo acima preceitua é que, se o devedor 
opuser uma exceção pessoal contra um dos credores, esta não afeta os demais 
credores. Novamente, trata-se da individualização de cada um dos múltiplos 
vínculos que existem em uma mesma obrigação solidária (GONÇALVES, 2019). 
Por fim, ainda tratando da obrigação solidária ativa, observa-se que a coisa 
julgada em relação a um dos credores beneficia todos os demais, caso seja 
favorável a eles. Todavia, caso a coisa julgada traga prejuízos, valerá apenas 
para o credor que participou da causa (art. 274, CC). 
Agora, analisam-se os efeitos da solidária passiva, ou seja, nos casos em que 
há múltiplos devedores, que podem ser executados em conjunto, ou 
separadamente,sendo que cada um responde pelo todo da prestação (art. 275, 
CC). Caso um dos devedores solidários venha a falecer, preceitua o Código Civil, 
em seu artigo 276, que, havendo herdeiros “nenhum destes, será obrigado a 
pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a 
obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um 
devedor solidário em relação aos demais devedores.” (BRASIL, 2002, on-line). O 
que o artigo em questão diz, em outras palavras, é que se um devedor morrer, a 
solidariedade se extingue para seus herdeiros. O conjunto de herdeiros substitui 
o falecido devedor e os herdeiros entre si não são solidários, ou seja, só podem 
ser demandados em conjunto. Nenhum herdeiro poderá ser cobrado 
individualmente pela prestação. (GONÇALVES, 2019). 
Caso um devedor tenha sua dívida perdoada, ou seja, remitida, tal fato não será 
aproveitado pelos demais codevedores (art. 277, CC). Para clarificar o conteúdo 
desse artigo, tem-se o seguinte exemplo: uma obrigação com três devedores, 
em que cada um deve uma quota-parte de cinco reais, totalizando-se uma dívida 
de quinze reais entre eles. Um dos três devedores obtém remissão da sua dívida. 
Essa remissão não vale para os demais, no sentido de que eles continuam sendo 
devedores. Todavia, a quota-parte remida não poderá ser exigida deles, então, 
agora devem em conjunto um total de dez reais. 
Ainda nesse exemplo, observa-se que o devedor que adquiriu perdão de sua 
dívida, continua podendo ser demandado da dívida total – que agora é de dez 
reais. Isso porque continua sendo devedor solidário. Então, em resumo, “a 
remissão ou perdão pessoal dado pelo credor a um dos devedores solidários 
não extingue a solidariedade em relação aos codevedores, acarretando tão 
somente a redução da dívida, em proporção ao valor remitido” (GONÇALVES, 
2019, p. 159). Então, observa-se que o efeito da remissão na solidariedade 
passiva é diferente da remissão da solidariedade ativa, pois na última a remissão 
exonera o devedor (art. 272, CC). 
Há ainda a possibilidade de que o credor exonere um devedor da solidariedade. 
Nesse caso, diferentemente do que ocorre na remissão da dívida, o devedor não 
mais responderá pela obrigação total, mas apenas por sua quota-parte. Os 
outros devedores se beneficiam da exoneração de um devedor, pois a dívida 
total da solidariedade diminui (art. 282, CC). 
Assim, como ocorre na solidariedade ativa, na solidariedade passiva o legislador 
também ressaltou a individualidade de cada um dos vínculos obrigacionais da 
solidariedade. Neste sentido, o artigo 278 do Código Civil determina que 
“Qualquer cláusula, condição, condição ou obrigação adicional, estipulada entre 
um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros 
sem consentimento destes” (BRASIL, 2002, on-line). 
Quanto a impossibilidade da prestação, o artigo 279 do Código Civil apresenta 
as consequências do inadimplemento da obrigação por culpa de um dos 
devedores solidários. Quando isso ocorre, todos os demais devedores solidários 
respondem pelo encargo de pagar o equivalente, ou seja, arcam com o valor da 
quota-parte que não foi paga. Contudo, as perdas e danos só são devidas pelo 
devedor culpado. 
Caso o cumprimento da obrigação esteja em mora, se a culpa for de todos os 
devedores, todos são responsáveis pelo pagamento de juros da mora. Se a culpa 
for de apenas um devedor, ainda assim responderão pelos juros da mora, 
contudo, o culpado deverá ressarcir seus codevedores posteriormente (art. 280, 
CC). Quanto à possibilidade de oposição de exceções por um dos devedores 
solidários, ressalta-se que não é possível opor ao credor uma exceção pessoal 
de outro codevedor. Só é possível opor uma exceção pessoal que seja do próprio 
devedor demandado, ou então uma exceção comum (art. 281, CC). O devedor 
que for demandado da dívida da solidariedade por inteiro, terá direito de regresso 
contra os demais codevedores, conforme preceitua o artigo 283 do Código Civil 
(GONÇALVES, 2019). 
Por sua vez, o artigo 284 do Código Civil trata da hipótese de insolvência de um 
dos codevedores solidários. Quando essa hipótese ocorre, todos os 
codevedores responderão pela quota deste, ainda que tenham sido exonerados 
da solidariedade pelo credor. Isso ocorre porque é de pleno direito do credor 
exonerar um devedor da solidariedade em relação ao crédito, contudo, a 
exoneração não pode prejudicar direito alheio, que é o que ocorre caso o 
devedor exonerado não pudesse responder pela eventual insolvência de um 
codevedor da solidariedade (GONÇALVES, 2019). Para melhor compreensão, 
tem-se o seguinte exemplo: 
Lucas, Eduardo e Pedro são devedores solidários pela quantia de R$ 30.000,00. O 
credor decide exonerar Lucas da obrigação, que, na ocasião, pagou o correspondente 
a sua quota-parte (R$ 10.000,00). 
 
 
 Finalmente, preceitua o artigo 285 do Código Civil: “Se a dívida solidária 
interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com 
aquele que pagar” (BRASIL, 2002, on-line). Aqui, segundo o doutrinador Caio Mario 
Pereira (2018), tem-se situação em que, por algum motivo, na solidariedade existe um 
devedor principal, como ocorre no caso de fiança, onde há o direito de reembolso do 
fiador contra o afiançado (devedor principal).

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