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MÉTODOS PARA INICIAÇÃO À APRENDIZAGEM DOS ESPORTES Ricardo Catunda Lívia Marques Quixadá 5 Copyright @ 2024 by Fundação Demócrito Rocha Presidente Luciana Dummar Gerente-Geral Marcos Tardin Gerente Educacional Deglaucy Jorge Teixeira Gerente de Criação de Projetos Raymundo Netto Gestores Editoriais Interinos Marcos Tardin Deglaucy Jorge Teixeira Juliana Oliveira Gerente de Audiovisual Chico Marinho Gerente Técnico Ronald Almeida Coordenadora de Operações Juliana Oliveira Coordenadora de Projetos e Relacionamento Fabrícia Gois Analista de Contas Narcez Bessa Analista Financeiro Lecinda Mesquita Analista de Licitação Aurelino Freitas UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE – UANE Gerente Pedagógica Josy Cavalcante Coordenaora de Cursos Marisa Ferreira Secretária Escolar Márcia Maria Doudement Desenvolvedora Front-End Isabela Marques Assistentes educacionais Alisson Aragão Ana Lívia Cavalcante Estagiários Bianka Silva Lucas Gomes Matheus Andrade MARKETING E DESIGN Gerente de Marketing e Design Andrea Araujo Designers Gráficos Kamilla Damasceno Welton Travassos Analista de Mídia Social Beatriz Araújo PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA PRÁTICA ESPORTIVA Coordenadora Geral Valéria Xavier Analista de Operações Alexandra Carvalho Coordenador de Conteúdo Ricardo Catunda Analista de Projetos Daniele Andrade Editora Lia Leite Projeto Gráfico e Design Welton Travassos Ilustrador Rafael Limaverde Revisora Daniele Andrade Este fascículo é parte integrante do projeto Programa de capacitação dos Princípios da Prática Esportiva em decorrência do Contrato de Patrocínio celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Secretaria do Esporte do Estado do Ceará, sob o nº 000114038-15201900. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE2 Sumário Introdução .........................................................................4 1. Literacia Física para a aprendizagem dos esportes .........5 2. Organização do Processo de Ensino e Aprendizagem .....8 3. Técnicas de ensino adaptadas para situações nos esportes .......................................................9 Modelo de Educação Desportiva .................................. 11 Teaching Games for Understanding ............................. 13 Modelo Ativo e Reflexivo de Ensino (MARE ................... 14 Considerações Finais ........................................................ 15 Referências ...................................................................... 15 CURSO PRINCÍPIOS DA PRÁTICA ESPORTIVA 3 Quando você se reporta aos métodos de ensino, pensa em aplicar estra- tégias eficientes já experimentadas, com base em um processo sistemático de pesquisa, organizado e rigoroso. Na promo- ção de aprendizagens no esporte onde os espaços de prática são geralmente livres, manter a disciplina pedagógica se trans- forma em desafio permanente pelos dife- rentes agentes externos a que esta ação é submetida, dentre outras, a estrutura física, os materiais, a formação contínua e atu- alizada do professor e o foco nas tarefas pelos participantes. Neste cenário, como princípio é fundamental que os gestores, os profissionais de Educação Física e técni- cos desportivos, compreendam o esporte para além das aulas de educação física, do treino, do lazer e do espetáculo, alargando seus conhecimentos do esporte como fator de desenvolvimento humano e ferramenta de educação. Como exemplos, a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (PNUD, UNI- CEF, UNESCO) reconhece o potencial do es- porte para aproximar culturas e sociedades, promover uma cultura de paz, prevenir a violência, mobilizar públicos diferenciados, favorecendo a tolerância e o respeito entre as pessoas, empoderando especialmente as mulheres, os jovens e as comunidades. A Organização Mundial da Saúde (OMS), reco- nhecendo o papel importante da educação física e do esporte na promoção da ativi- dade física para a saúde, lançou em 2018 o Plano de Ação Global para Promover a Ativi- dade Física. A Constituição Federal do Brasil (CF/1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) preconizam o esporte como direito as- segurados à população infanto-juvenil, sen- do ferramenta eficaz, desde que utilizado por profissional qualificado, para a inclusão so- cial, igualdade de gênero, o respeito à diver- sidade cultural e étnico-racial, e direitos da Pessoa com Deficiência. Para que o esporte cumpra com a sua nobre função social, é ne- cessário que as crianças tenham oportunida- des de aprendizagem segura no tempo certo. Pelo contexto apresentado, visando a qualifi- cação profissional no que refere ao ensino e aprendizagem, este fascículo tem a intenção de trazer conhecimentos e experiências para o aprendizado da prática esportiva, partindo de um processo pedagógico com base em modelos, metodologias e estratégias de en- sino ativos e inclusivos. Me refiro de imedia- to, a um processo que deve ser desenvolvido em um ambiente seguro e capaz de prover os participantes de técnica e confiança, por meio de uma intervenção profissional atual e qualificada. Para que seja um percurso po- sitivo, serão apresentados os princípios que regem as condições de uma aprendizagem exitosa em literacia para o esporte; Técnicas e apropriação de modelos eficazes de ensino para a compreensão da educação desporti- va; Aprendizagem ativa e reflexiva na prática e da inclusão dos diversos grupos, em espe- cial as meninas, os menos habilidosos e as Pessoas com Deficiência. Por fim, identificar e fazer uso das competências para o ensino necessárias para a melhor gestão do tempo potencial de aprendizagem. Introdução Ao final do módulo esperamos que você esteja capacitado para os desafios do ensino e da aprendizagem, conhecendo e aplicando com intencionalidade os mé- todos e estratégias adequadas aos diver- sos públicos. Também deverá apresentar conhecimentos técnicos-pedagógicos que permitam variar as aulas e treinos com cria- tividade e em conformidade com os objeti- vos e níveis de desenvolvimento dos diver- sos grupos a serem atendidos. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE4 1 Você sabe o que é literacia física? Veja que todos nós podemos desenvolver esta competência, quando participa- mos de experiências motoras diversificadas e sob orientação técnica qualificada. Para que isto se concretize no esporte - que é uma ferramenta - e para ser eficaz necessita da ação humana intencional. O profissional deverá ter conhecimentos e efetivá-los na prática. Esta afirmação se ancora na seguin- te premissa: para que as crianças pratiquem um esporte são necessárias, primeiramente, desenvolver as habilidades motoras funda- mentais e especializadas, possibilitando que demonstrem a percepção de competência motora aplicada em um contexto esportivo. Leia o conceito a seguir e verifique o quanto esta ação carece da sua intervenção. LITERACIA FÍSICA é o conhecimento, a motivação, a confiança, a compreen- são e a competência motora para manter a atividade física ao longo da vida (WHITEHEAD, 2019). Diz respeito ao alcance de habilidades e capacidades, pois envolve o desenvolvimento e a conquista da saúde, da aptidão física e domínio de habilidades motoras, ou seja, além de conquistar competências físicas, saber utilizá-las de forma integral, trabalhando o corpo e o cogniti- vo (CAROLO; ONOFRE; MARTINS, 2023). Ser fisicamente letrado significa que uma pessoa possui um catálogo de habilidades técnicas, juntamente com a confiança e a motivação para participar de diferentes tipos de esportes e atividades físicas em todas as fases de suas vidas (SPORTS WALES, 2019). Literacia Física para a aprendizagem dos esportes CURSO PRINCÍPIOS DA PRÁTICA ESPORTIVA 5 FIQUE ATENTO! Se você observar os princípios da atividade física será possível iden- tificar aspectos norteadores do esporte, que têm a atividade física constante na prática esportiva, ouseja, o esporte é uma atividade físi- ca, tendo como diferença a existên- cia de regras e competição. Objetivos da Literacia Física: • Auxiliar no desenvolvimento de habili- dades que os permitam praticar varia- das atividades físicas e esportivas; • Promover e incentivar a conquista e manutenção de níveis de atividade e aptidão física que promovam saúde e qualidade de vida; • Contribuir para que as pessoas tenham uma visão abrangente do esporte como importante fator para interação social, saúde, autoexpressão, supera- ção e diversão; • Fazer com que o participante saiba co- locar em prática tudo que envolve a ati- vidade física, utilizando os conceitos, os princípios e as estratégias; • Conquistar uma atitude crítica, sendo responsável consigo mesmo e com a sociedade tendo uma visão individual e coletiva. É aconselhável trabalhar por um de- senvolvimento holístico dos participantes, utilizando de métodos e estratégias que proporcionem aprendizados físicos, como habilidades motoras mais complexas, apti- dão física e competência motora, mas tam- bém recebem os benefícios do esporte para a saúde mental. Para a aprendizagem futura do espor- te, é fundamental o trabalho para formar a base para a literacia física na infância, pro- porcionando um clima acolhedor, positivo, inclusivo e desafiador, independente dos níveis que estes apresentem, estimulando- -os a buscarem desenvolver suas capacida- des. Os jovens, aos desenvolverem a litera- cia física, se movimentam com harmonia e confiança em uma ampla variedade de situações fisicamente desafiadoras; se an- tecipam à necessidades e possibilidades de movimento, respondendo adequadamente com inteligência e imaginação; apresentam autoexpressão fluente, comunicação não verbal, interação perceptiva e empática com os outros (WHITEHEAD, 2019), sendo estes comportamentos aspectos positivos para a aprendizagem dos esportes FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE6 A bola está com você! Para que se consolide o desenvolvimento da literacia física você deverá desenvolver a capacidade de aplicar uma abordagem in- clusiva, visando o aumento da participação de todos, o tempo todo e de todas as formas, tendo atenção especial aos seguintes grupos: • Pessoas com deficiência: motivando a participação, descobrindo potencia- lidades, treinando, adaptando ativida- des, materiais e espaços. • Meninas: zelando pela equidade com igualdade de oportunidades, respeito à coeducação e aprendizagem indivi- dualizada que ofereça multi-êxitos em multiespaços. • Crianças que não desenvolveram habilidades motoras especializadas que são necessárias para praticar um esporte: oportunizando uma recu- peração por meio de revisão de conhe- cimentos práticos específicos. • Crianças com sobrepeso e obesi- dade: dedicando maior atenção para evitação do bullying e propagação de estereótipos, e adotando estratégias adaptadas, ampliando as oportunida- des e níveis de complexidade de forma progressiva na mesma atividade. PARA SABER MAIS A base para a formação da lite- racia física precisa de estímu- los que devem caracterizar a aplicação das atividades: 0 - 3 Anos Incentivar prematuramente o movimento. 3 - 5 Anos Expandir o jogo e manter as ca- racterísticas lúdicas. 5 - 8 Anos Aumentar o foco nas habilida- des motoras fundamentais. 8 - 12 Anos Introduzir as habilidades mais complexas ou especializadas para o ensino dos esportes, à medida em que as crianças es- tejam confiantes e preparadas. CURSO PRINCÍPIOS DA PRÁTICA ESPORTIVA 7 2 Organização do Processo de Ensino e Aprendizagem Para ser exitoso em suas ações você po- derá refletir inicialmente em aspectos como: qual a intencionalidade e obje- tivos em cada aula ou treino? Quais estraté- gias metodológicas, ações e comportamen- tos didáticos devo aplicar nas atividades visando produzir altos níveis de participa- ção, desafios, engajamento e aprendiza- gens? As decisões que tomo estão sendo eficazes e os participantes estão aprenden- do o que foi proposto como objetivo? Agin- do com este nível de interação você opor- tuniza experiências que gradativamente se tornarão mais complexas e desafiadoras, gerando aprendizado e evolução técnica dos aprendizes. Para que se efetive o Tempo Potencial de Aprendizagem, que é o tempo susce- tível de promover a aprendizagem, você deve proporcionar atividades desafiantes e ajustadas às capacidades de cada partici- pante. É seu papel criar condições para que haja um elevado tempo de empenhamento motor, que por sua vez é fundamental para que o indivíduo passe no mínimo 50% das aulas/treinos realizando atividade física na perspectiva da aprendizagem do esporte. Isto você aprenderá quando abordarmos os métodos de ensino. Mas, antes, vamos apresentar as técnicas de ensino que irão potencializar os níveis de aprendizagem dos participantes em suas aulas/treinos. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE8 3 Técnicas de ensino adaptadas para situações nos esportes Informação inicial – É o início da aula/ treino, onde você deve transmitir aos parti- cipantes os objetivos, a estrutura e a organi- zação da atividade. • Começar no horário. • Informação inicial breve e concisa, con- sumindo o menor tempo possível. • Estabelecer relação com aulas/treinos anteriores e com o trabalho que você vai desenvolver. • Garantir a atenção e concentração de todos durante a informação inicial. • Posicionar-se de forma a ser visto e a ver todos. • Certificar-se que a mensagem é com- preendida, privilegiando o questiona- mento. CURSO PRINCÍPIOS DA PRÁTICA ESPORTIVA 9 Instrução – Consiste na apresentação das atividades de aprendizagem ao grupo e representa entre 15 e 25% das interações entre você e os participantes. O quê? Para quê? Como? O quê? A atividade a ser realizada. Para quê? Apresentar o objetivo e a fi- nalidade da atividade. Como? Descrever a atividade escolhida para alcançar os objetivos. Organização - Gerencie a formação de grupos; a transição e circulação dos parti- cipantes nas situações de aprendizagem; a distribuição e arrumação de materiais e equipamentos, os momentos de interrup- ção, transição e início das atividades. Como potencializar a dinâmica da atividade reduzindo o tempo de organização: • Criar rotinas a partir das primeiras au- las/treinos; • Responsabilizar os alunos proporcio- nando atividades organizativas; • Ter clareza, consistência e positividade nas intervenções; • Correta e segura montagem e desmon- tagem do material; • Rapidez na formação de grupos de tra- balho; • Rapidez nas transições entre atividades evitando dispersões ou que se sentem; • Gestão adequada do fluxo das ativida- des. Controle das atividades dos par- ticipantes - O objetivo aqui é regular as atividades para obter o máximo de envol- vimento dos participantes, garantindo sua segurança e um clima propício ao trabalho. • A disciplina pode ser definida por pon- tos de vista diferentes, positivo e nega- tivo. Os participantes vão experimen- tando e aprendendo o que é correto ou não, seja seguindo as regras ou falhan- do com as mesmas. Garantir uma prática adequada, empenhada nas tarefas e segura: • Deixar clara as regras das aulas/treinos; • Definir e ensinar para um comporta- mento apropriado; • Variar métodos de intervenção, preve- nindo e não remediando; • Utilizar interações verbais dissuasivas (repreensões), imediatas e eficazes; • Ignorar o comportamento inapropria- do quando possível; • Utilizar de correções específicas, justas e eficazes; • Não utilizar a atividade física como for- ma de castigo. ATENÇÃO! Planejar cuidadosamente a expla- nação de instruções é de suma im- portância para otimizar o tempo disponível à prática da atividade, devendo serem observadas as se- guintes questões: • Qualidade da informação em pouco tempo; • Visualização da demonstração pelos participantes; • Demonstrar corretamente a ha- bilidade;• Contextualizar onde a habilida- de será utilizada; • Demonstrar diferentes veloci- dades e formatos até atingir o objetivo; • Diversificar os participantes que demonstram; • Destacar os critérios de êxito; • Planejar com cuidado a de- monstração. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE10 Clima relacional Relação professor-aluno/ atleta • Conhecer e interagir com os alunos/ atletas. • Demonstrar entusiasmo com a ativida- de e o aprendizado dos alunos/atletas. • Garantir coerência e consistência na in- teração com os alunos/atletas. • Ser honesto, íntegro e respeitoso com os alunos/atletas. Relação aluno/atleta-aluno/ atleta • Promover a convivência, empatia, ami- zade e tolerância. • Garantir o respeito pela diferença, in- clusão e equidade. • Garantir a colaboração e a busca de so- luções envolvendo todos do grupo. Relação aluno/atleta-tarefa • Assegurar que os alunos/atletas atribu- am significado às propostas de apren- dizagem. • Proporcionar uma prática motora di- versificada. • Garantir atividades técnicas desafian- tes. • Adaptar atividades para gerar inclusão. • Garantir que os alunos/atletas tomem decisões e consentir quando apropria- do. • Garantir que os alunos/atletas se sin- tam seguros, apoiados e sem receio de errar. Apresentaremos agora sugestões de mé- todos e modelos de ensino para sua apre- ciação. Você terá a liberdade de promover adaptações em conformidade com as ca- racterísticas do seu grupo, recursos mate- riais, espaço físico e intencionalidade das aulas ou treinos. Modelo de Educação Desportiva Para pensarmos uma formação esporti- va que proporcione uma prática duradoura e marcada pela motivação e protagonismo dos participantes, as primeiras experiên- cias práticas devem promover sentimen- tos positivos, despertar confiança, serem vivenciadas em ambientes seguros e sob a supervisão de um profissional qualificado para uso eficaz do esporte como ferramenta de desenvolvimento humano. Como você interpreta esta afirmativa? Para Mesquita (2012), independente do contexto da práti- ca desportiva e do nível de habilidade dos praticantes, a formação desportiva deve ser capaz de responder a essas prerrogativas, contribuindo para tal, e em definitivo, com os procedimentos didáticos implementa- dos pelos professores ou treinadores. A transferibilidade para a vida das aprendizagens vivenciadas no esporte é considerada um aspecto importante para o caráter formativo e educativo. Para que ocorra esta ação, além de um planejamen- to calcado em uma intencionalidade e clara definição de objetivos, o profissional apli- ca estratégias de instrução mais informais, valorizando a dimensão humana e cultural do esporte. Um ponto de atenção nesta afirmativa, será você enfrentar o desafio de manter o rigor dos pressupostos existentes nos modelos de ensino e ao mesmo tempo reconhecer a importância de democratizar a competição, assumindo o compromisso pedagógico entre inclusão, competição e aprendizagem. CURSO PRINCÍPIOS DA PRÁTICA ESPORTIVA 11 O Modelo de Educação Desportiva tem como premissa um esporte plural, no qual cada um participa de acordo com suas pos- sibilidades e interesses. Entende que a com- petição tem um valor esportivo insubstituí- vel, sendo esta uma prioridade natural para quem treina. Na prática, o impacto se efe- tiva por meio de cinco domínios (desenvol- vimento das habilidades; consciência tática e competência para jogar; aptidão física; desenvolvimento pessoal e social: atitudes dos alunos e valores) (HASTIE, 2011). Como estratégias pedagógicas, você deve promover situações em que os prati- cantes aprendam a analisar, perceber e agir para a tomada de decisões acertadas. Esse estado de compreensão é determinante e depende da forma como ocorre a comuni- cação professor aluno/atleta. Durante as atividades em grupo acres- cente desafios menos e mais complexos de forma progressiva e em conformidade com o nível dos participantes, de modo que eles possam reunir, discutir melhores soluções e praticarem para verificar se as decisões to- madas são as melhores Como aplicar a técnica do Modelo de Educação Desportiva: 1. Delimite o campo de prática dividindo em três espaços para os participantes em defesa, meio e ataque, incluindo grupos A e B juntos em cada espaço para o jogo. 2. Inicie a experimentação e realize rodí- zios de modo que todos possam ex- perimentar aplicação de habilidades de defesa, linha de passe, troca de passes e lançamentos (meio) e atacar. 3. Defina tempos para que os grupos se reorganizem e retornem à atividade observando se há progressão em ní- vel técnico e tático. 4. Finalize a atividade deixando os alu- nos reorganizarem suas equipes e praticarem o jogo sem as delimita- ções de espaço. 5. Ofereça ao final uma roda de conversa para escuta dos participantes e reco- mendações de sua parte. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE12 Teaching Games for Understanding (TGFU) A proposta do Teaching Games for Unders- tanding (TGFU) compreende os jogos redu- zidos como um princípio para a iniciação esportiva. Para autores que seguem essa li- nha teórica, a prática destes jogos contribui para a compreensão da lógica tática do jogo formal. Para Light (2007), aulas de iniciação esportiva que se baseiam no ensino de ha- bilidades técnicas, estruturadas a partir da repetição de gestos, geram pouco interesse nos alunos. Esta afirmativa faz você pensar sobre suas práticas? Consegue refletir so- bre o nível de motivação e engajamento de seus alunos/atletas nas atividades que você propõe? Como vimos, o processo de apren- dizagem esportiva requer que sejam desen- volvidas competências para a resolução de problemas e tomadas de decisão em situa- ções de tensão como no jogo. Para apresentar uma outra opção ao exercício monótono das repetições de téc- nicas esportivas isoladas do contexto de sua aplicação, ou seja, do jogo, recorremos aos autores Bunker e Thorpe (1982). Estes autores propuseram na Inglaterra a imple- mentação de uma proposta pedagógica a partir da insatisfação com os modelos peda- gógicos esportivos que tinham o tecnicismo como principal característica. Neste cenário, apresentaram uma nova concepção para o ensino baseado no entendimento, compre- ensão, reflexão e problematização de ele- mentos estruturais dos próprios jogos. Os estudos de Mitchell, Oslin e Griffin (2003) afirmaram com base no TGFU, que as crianças aprendem a solucionar os pro- blemas táticos durante a vivência do jogo. Para que a intervenção atinja os objetivos propostos, você deverá analisar as ações dos alunos durante os jogos e manter o foco em como lidam com os aspectos táticos do jogo, para em seguida preparar uma sequ- ência de atividades que possam solucionar possíveis problemas por você identificados. Como aplicar a técnica do TGFU na prática: 1. De acordo com o nível dos alunos, será introduzida uma forma comple- ta ou simplificada do jogo a fim de promover uma maior apropriação de seu funcionamento e o envolvimento inicial dos praticantes com os seus problemas. 2. Corresponderá à reflexão sobre lógica interna do jogo (regras, dinâmica, fun- cionamento), na qual os próprios alu- nos/atletas fariam suas considerações sobre a prática. 3. Referente à conscientização tático- -estratégica, os alunos/atletas seriam estimulados a refletir, identificar e propor soluções práticas para os pro- blemas de ataque e defesa do jogo. 4. Compreenderá a contextualização da tomada de decisão, como, por exem- plo, definições sobre o que se fazer com ou sem a posse da bola, onde se colocar em determinada situação, como fazer determinados movimen- tos, etc. 5. Indicará o desenvolvimento das técni- cas de jogo necessárias para um bom desempenho a partir dos problemas encontrados em etapas anteriores. 6. Será realizada a avaliação da perfor- mance dos alunos e a preparação de um jogo, com maior complexidade,para o início de um novo ciclo. CURSO PRINCÍPIOS DA PRÁTICA ESPORTIVA 13 Modelo Ativo e Reflexivo de Ensino (MARE) Criado por meio de experimentações no campo de prática com base no Ensino Aber- to e na problematização de situações e suas superações pelos alunos/atletas. As estraté- gias utilizam pressupostos das Metodolo- gias Ativas com a intenção de aplicação a todos os conteúdos da educação física, em particular no ensino do esporte (CATUNDA, 2019). O Modelo apresenta como objetivo capacitar os participantes para a prática vi- talícia das atividades físicas, promovendo a competência motora pelo desenvol- vimento das habilidades motoras fun- damentais e especializadas, esta última, necessária para que as crianças aprendam a praticar esportes. O Modelo foi criado após rigorosa investi- gação que promoveu intervenção prática em escolas por meio de atividades controladas, propostas em ambiente educativo, adequa- do e desafiador. Os resultados permitiram concluir, que a interação aplicada pelos professores durante as atividades (instru- ção eficiente, controle da atividade, gestão do tempo, motivação, foco na tarefa, cria- ção permanente de novos desafios durante a prática, transição rápida, atenção para a participação dos alunos corrigindo se neces- sário) promoveram a literacia para o esporte. Por ocasião do desenvolvimento das atividades foi constatado que o uso da co- municação positiva, a aplicação das Técni- cas de Ensino, a atenção para a adaptação dos espaços, a variedade de material peda- gógico e o conhecimento de estratégias de ensino ativas, aumentaram os níveis de par- 5. Inclusão de todos, o tempo todo e de todas as formas no processo de aprendizagem. Faça as devidas adap- tações às atividades de modo que haja participação em conformidade com os níveis de competência motora do grupo 6. Organização das atividades priorita- riamente em grupos, com variações no número de participantes e condi- ções de amadurecimento motor. 7. Aprendizagem por times incluindo a escolha de lideranças pelos alunos. Crie times permanentes nas ativida- des para que os participantes se co- nheçam e se ajudem mutuamente. 8. Oportunidade permanente para a to- mada de decisão e resolução de pro- blemas. Inclua nas transições de ativi- dades um problema a ser resolvido. 9. Controle do tempo e manutenção do foco para realização das tarefas. 10. Possibilidade aberta e híbrida de estra- tégias, métodos e técnicas de ensino, mantendo os objetivos a serem alcan- çados na aula ou treino. Misture as es- tratégias e métodos. Não existe fórmu- la certa ou única, você decide a sua. 11. Atenção aos níveis de atividade física e aprendizagem declarada pelos alu- nos ou atletas. Segundo a Organiza- ção Mundial da Saúde, a maioria dos jovens não cumprem o mínimo de 60 minutos de atividade física diária. As aulas e treinos são importantes para que sejam ativos. Faça sua parte! ticipação e o engajamento nas tarefas por parte dos alunos/atletas. Na conclusão do estudo foi constatado avanços na técnica e tomada de decisão na execução das habilidades e demonstração de competência motora para a prática es- portiva. Você considera possível que a apli- cação do modelo de ensino ora apresen- tado, possa prover seus alunos/atletas de motivação, compreensão e confiança para aprender, praticar e treinar o esporte que desejar com segurança? Como aplicar a técnica o MARE na prática: 1. É um modo de ensinar por trilhas flexíveis e criativas misturando estra- tégias de ensino e modificando per- manentemente a atividade, sempre que baixar o nível de interesse ou os participantes já demonstrarem ter aprendido. 2. Alta interação do professor/técnico desportivo junto aos participantes, promovendo a motivação e amplian- do o interesse nas atividades. Se co- munique com os participantes du- rante a execução das tarefas, fazendo correções e destacando os êxitos. 3. Centrado na realização e cocriação, o aluno também é criador de tarefas mediadas pelo professor. Permita e in- centive os participantes a utilizarem a criatividade na realização das tarefas. 4. Valorização de desafios constantes a professores e alunos. Desafie os parti- cipantes e imponha desafios manten- do a atividade renovada. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE14 Considerações Finais Você recebeu conhecimentos neste fascículo de como aplicar métodos de ensino e promover aprendizagem dos esportes em seus alunos/atletas. Os métodos são um conjunto de ações que utilizamos para alcançar os objetivos traçados para as aulas ou treinos e re- querem atenção, compromisso, respei- to, criatividade, adaptabilidade e flexi- bilidade de pensamento. Além de uma base teórica para suas intervenções, pro- pomos formas de aplicação e exemplos de atividades, mas somente você será capaz de aplicar este conhecimento em uma in- tervenção profissional de qualidade, trans- formando as pessoas e promovendo apren- dizagem esportiva em que os participantes aprendam e utilizem para toda a vida. Referências BUNKER, D., & THORPE, R. A model for the te- aching of games in secondary schools. Bul- letin of Physical Education, 18(1), 5-8. 1982. CAROLO, D.; ONOFRE, M.; MARTINS, J. Origens e definição do constructo de literacia física: da compreensão conceptual à criação coleti- va de um referencial europeu. Retos: nuevas tendencias en educación física, deporte y recreación, n. 48, p. 761-774, 2023. CATUNDA, R. Relatório de Estágio Pós-Dou- toral. Universidade de Lisboa, Pt. 2019. CATUNDA, R.; MARQUES, A. Educação Física Escolar: referenciais para o ensino de qua- lidade. Belo Horizonte, Casa da Educação Fí- sica, 2017. HASTIE, P. The Nature and Porpose of Sport Education na as Educational Experience. In Hastie, P. (Eds.) Sport Education: Internatio- nal Perspectives (pp.1-12). London: Routledge. LIGHT, R. Accessing the inner world of chil- dren: The use of student drawings in re- search on children’s experiences of Game Sense Proceedings In: The Asia Pacific Conference on Teaching Sport and Physi- cal Education for Understanding. 2007. p. 72-83. Disponível em: http://www.proflearn. edsw.usyd.edu.au/resources/papers/Procee- dings_TGfU_06_AsiaPacificSport.pdf. MESQUITA, I.; BENTO, J. Professor de Educa- ção Física: Fundar e Dignificar a Profissão. In. Subsídios para a aplicação do Modelo de Educação Desportiva no ensino do des- porto nas aulas de educação física. Rolim, R., Mesquita, I. Belo Horizonte,: Instituto Casa da Educação Física, 2012. MITCHELL, S.; OSLIN, J.; GRIFFIN, L. Sport fundations for elementary Physical Edu- cation: a tactical games approach. Kent, Ohio: Human Kinetics, 2003. SPORTS WALES. Esporte e estilos de vida ativos – relatório sobre o estado da nação. 2019. WHITEHEAD, M. (Org.) Letramento Corporal: atividades físicas e esportivas para toda a vida. Porto Alegre, Penso, 2019. CURSO PRINCÍPIOS DA PRÁTICA ESPORTIVA 15 http://www.proflearn.edsw.usyd.edu.au/resources/papers/Proceedings_TGfU_06_AsiaPacificSport.pdf http://www.proflearn.edsw.usyd.edu.au/resources/papers/Proceedings_TGfU_06_AsiaPacificSport.pdf http://www.proflearn.edsw.usyd.edu.au/resources/papers/Proceedings_TGfU_06_AsiaPacificSport.pdf ILUSTRADOR Rafael Limaverde Nascido em Belém/PA, naturalizado cearense, formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE), é xilogravurista, grafiteiro, curador, pesquisador e ilustrador. Possui mais de 40 livros ilustrado em diversas editoras do país. É um dos organizadores do “Festival de Ilustração de Fortaleza”, evento realizado dentro da Bienal do Livro do Ceará. É curador das seguintes exposições: “Eco Barroco” no Centro Cultural Banco do Nordeste – Fortaleza/CE (2011) e “Bestiário Nordestino” com 8 edições. Lei de Incentivo ao Esporte do Ceará Patrocínio Apoio Realização AUTORES Ricardo Catunda Graduado em Educação Física pela Universidade de Fortaleza. Mestre em Educação e Saúde (UNIFOR). Doutorem Ciências da Educação, no ramo da Didática do Ensino da Educação Física e do Desporto pela Universidade de Lisboa. Pós-Doutor na especialidade de Educação para a Saúde, pelo Centro de Estudos de Educação e Promoção da Saúde da Universidade de Lisboa, Portugal. Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Desenvolve estudos e pesquisas em Educação Física escolar e Metodologias Ativas. Criador do Modelo Ativo e Reflexivo de Ensino na Educação Física. Líder do Núcleo de Investigação em Atividade Física na Escola (NIAFE/CNPq). Lívia Marques Quixadá Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Especialista em Educação Física Escolar (UECE). Professora pesquisadora do Núcleo de Investigação em Atividade Física na Escola (NIAFE - UECE) com pesquisas e trabalhos na área de Educação Física Escolar, Atividade Física e Saúde e Comportamento Sedentário. Professora de Educação Física e de Karatê no Ensino Infantil e Fundamental. Referências Considerações Finais Técnicas de ensino adaptadas para situações nos esportes Organização do Processo de Ensino e Aprendizagem Literacia Física para a aprendizagem dos esportes Introdução