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<p>Saúde Mental</p><p>Sumário</p><p>CLIQUE NO CAPÍTULO PARA SER REDIRECIONADO</p><p>Dispositivos da saúde mental</p><p>O que são dispositivos da saúde mental</p><p>Unidades Básicas de Saúde</p><p>Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)</p><p>Centros de Convivência e Cultura</p><p>Programa “De Volta para Casa”</p><p>Serviço Residencial Terapêutico (SRT)</p><p>Hospital-Dia</p><p>Leitos de retaguarda em Hospitais Gerais (noturno/feriado/</p><p>final de semana)</p><p>Unidades de Pronto-Atendimento (UPA)</p><p>Integração e redes sociais em saúde mental</p><p>Conceito de redes sociais</p><p>Mapa de redes sociais</p><p>Redes sociais em saúde mental</p><p>Importância das redes sociais em saúde mental</p><p>Rede social no auxílio ao tratamento</p><p>Atenção e cuidado em saúde mental</p><p>A relação familiar no passado</p><p>A importância da relação familiar</p><p>Dificuldades na inserção da família no cuidado</p><p>6</p><p>18</p><p>30</p><p>Sumário</p><p>CLIQUE NO CAPÍTULO PARA SER REDIRECIONADO</p><p>O cuidado com o cuidador</p><p>Matriciamento em saúde mental</p><p>O que é matriciamento em saúde mental</p><p>Instrumentos do processo de matriciamento em saúde</p><p>mental</p><p>Elaboração do projeto terapêutico singular no apoio matricial de</p><p>saúde mental</p><p>Interconsulta como instrumento do processo de matriciamento</p><p>Dificuldades na implantação da equipe de apoio matricial</p><p>Referências</p><p>40</p><p>50</p><p>Objetivos Definição</p><p>Explicando Melhor Você Sabia?</p><p>Acesse Resumindo</p><p>Nota Importante</p><p>Saiba Mais Reflita</p><p>Atividades Testando</p><p>Para o início do</p><p>desenvolvimento de uma</p><p>nova competência;</p><p>Se houver necessidade</p><p>de se apresentar um novo</p><p>conceito;</p><p>Algo precisa ser melhor</p><p>explicado ou detalhado;</p><p>Curiosidades indagações</p><p>lúdicas sobre o tema em</p><p>estudo, se forma necessárias;</p><p>Se for preciso acessar um</p><p>ou mais sites para fazer</p><p>download, assistir vídeos, ler</p><p>textos, ouvir podcast;</p><p>Quando for preciso se fazer</p><p>um resumo acumulativo</p><p>das últimas abordagens;</p><p>Quando forem necessárias</p><p>observações ou</p><p>complementações para o</p><p>seu conhecimento;</p><p>As observações escritas</p><p>tiveram que ser priorizadas</p><p>para você;</p><p>Textos, referências</p><p>bibliográficas e links para</p><p>aprofundamento do seu</p><p>conhecimento;</p><p>Se houver a necessidade</p><p>de chamar a atenção</p><p>sobre algo a ser refletido ou</p><p>discutido sobre;</p><p>Quando alguma atividade</p><p>de autoaprendizagem for</p><p>aplicada;</p><p>Quando o desenvolvimento de</p><p>uma competência for concluído</p><p>e questões forem explicadas.</p><p>@faculdadelibano_</p><p>1</p><p>Dispositivos da</p><p>saúde mental</p><p>Saúde Mental Capítulo 1</p><p>Dispositivos da saúde</p><p>mental</p><p>Objetivos</p><p>O movimento pela luta antimanicomial levou a uma progressiva</p><p>substituição por uma rede de atenção em saúde mental composta</p><p>de uma série de serviços e ações de saúde mental no Sistema de</p><p>Saúde. Neste capítulo, vamos conhecer melhor essas ações, como são</p><p>realizadas, de que forma são integradas ao Sistema Único de Saúde (SUS)</p><p>e à Estratégia de Saúde da Família (ESF) e como substituem a internação</p><p>por longa permanência. Pronto para aprofundar seu conhecimento?</p><p>Então vamos lá!</p><p>O que são dispositivos da saúde mental</p><p>A Reforma Psiquiátrica no Brasil aconteceu, e ainda acontece, de forma lenta, porém,</p><p>tendo a desinstitucionalização como principal vertente levando à construção de outras</p><p>estruturas para tratamento das pessoas com sofrimento psíquico. Este processo foi</p><p>viabilizado pela Lei n.º 10.216/2001 garantindo a proteção e os direitos das pessoas com</p><p>transtornos mentais, redirecionando o modelo assistencial em saúde mental.</p><p>Com esse redirecionamento se tornou necessário modificar as ações e os serviços de</p><p>saúde mental, por meio de um conjunto de atividades capazes de oferecer condições</p><p>amplas à recuperação dos indivíduos, para neutralizar os efeitos da doença e das</p><p>internações psiquiátricas sucessivas.</p><p>A reabilitação acontece por meio de uso de recursos individuais, familiares e da</p><p>comunidade, dando ao indivíduo oportunidade para a restituição da identidade pessoal,</p><p>social e a autonomia.</p><p>Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1</p><p>A Lei n.º 10.216/2001 estabelece que essa reabilitação deve acontecer em base</p><p>comunitária e próximo ao convívio com a família e a sociedade. Para isso, foram criados</p><p>equipamentos e dispositivos em saúde mental ou serviços substitutivos, os quais são</p><p>chamados os serviços de atendimento em saúde mental na comunidade, formando</p><p>uma rede de atendimento psicossocial.</p><p>Cada município deve determinar suas ações e seus serviços de saúde mental baseados</p><p>em processos coletivos garantindo o direito ao acesso à atenção em saúde mental e</p><p>aos programas existentes. Esses serviços fazem parte da Rede de Atenção Psicossocial</p><p>(Raps), responsável pela articulação desses serviços. Entre eles estão: Unidades Básicas</p><p>de Saúde; Centros de Atenção Psicossocial (Caps); Centros de Convivência e Cultura;</p><p>Unidades de Pronto-Atendimento (UPA); Serviço Residencial Terapêutico (SRT); leitos de</p><p>retaguarda em Hospitais Gerais (noturno/feriado/ final de semana); Programa “de Volta</p><p>para Casa”; Hospital-Dia; grupos de Produção; ações intersetoriais; mobilização; controle</p><p>social e a desconstrução do Hospital Psiquiátrico.</p><p>FIGURA 1</p><p>Atendimento psicossocial</p><p>FONTE</p><p>Freepik</p><p>Definição</p><p>Esses serviços substitutivos são um conjunto de dispositivos sanitários e</p><p>socioculturais para a integração das várias áreas da vida do indivíduo,</p><p>como educação, assistencial e de reabilitação.</p><p>Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1</p><p>Entendendo quais são os dispositivos e como eles funcionam, conseguimos entender</p><p>melhor o processo de cuidado do paciente com transtornos mentais. Por isso, vamos</p><p>conhecer os principais dispositivos da saúde mental (FIGUEIREDO; CAMPOS, 2009;</p><p>ZAMBENEDETTI, 2009).</p><p>Unidades Básicas de Saúde</p><p>A Atenção Básica teve, e ainda tem, um papel importante no processo da Reforma</p><p>Psiquiátrica, pois, é por meio dela que se estrutura a rede de atendimento à saúde mental</p><p>principalmente em municípios pequenos. Isso porque municípios com menos de 20 mil</p><p>habitantes não dispõem de serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico, tais como: os</p><p>Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), leitos</p><p>em hospitais gerais e Ambulatórios. Dessa forma, a Atenção Básica se torna responsável</p><p>por organizar e desenvolver o atendimento a esses pacientes com o objetivo de acolher</p><p>e estabelecer vínculos terapêuticos.</p><p>Nesses casos, o médico da equipe de ESF deve ser generalista com capacitação em</p><p>saúde mental e deve dispor de um técnico de saúde mental, de nível superior, para</p><p>desenvolvimento do apoio matricial que é essencial no acompanhamento do paciente.</p><p>O atendimento central da Atenção Básica acontece nas Unidades Básicas de Saúde</p><p>(UBSs), e o acompanhamento dos pacientes com transtornos mentais está vinculado</p><p>às ações e aos serviços das equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF), isso para</p><p>se fazer um acompanhamento não apenas de consultas, mas também verificando o</p><p>convívio desse indivíduo com a família e a sociedade. Dessa forma, torna-se um campo</p><p>de práticas e de produção de novos modelos de cuidado em saúde mental, tendo como</p><p>proposta os cuidados dentro dos princípios da integralidade, da interdisciplinaridade,</p><p>da intersetorialidade e da territorialidade, que são princípios do SUS.</p><p>Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1</p><p>Nos casos mais graves, a equipe presta o atendimento ao paciente e é responsável pelo</p><p>controle e, algumas vezes, pela aplicação da medicação juntamente com a avaliação</p><p>médica e acompanhamento psicológico. Nos demais casos, o controle e aplicação são</p><p>responsabilidade do próprio paciente ou responsável, isso porque entende-se que ele é</p><p>capaz desse autocuidado.</p><p>Entre as atividades da equipe, está a visita domiciliar, a qual é definida como instrumento</p><p>de realização da assistência domiciliar, sendo constituída pelo conjunto de ações para</p><p>viabilizar o cuidado às pessoas com algum nível de alteração no estado de saúde</p><p>(dependência física ou emocional) ou para realizar atividades vinculadas aos programas</p><p>de saúde.</p><p>Para isso, à equipe de saúde da família cabe reconhecer</p><p>DOMITTI apud Penido et al. 2010, p. 472). Por sua vez, o</p><p>termo apoio indica uma relação horizontal, sem autoridade, baseada em</p><p>procedimentos dialógicos. Os mesmos autores destacam que o apoio</p><p>matricial pode ser desenvolvido através da troca de conhecimentos, do</p><p>fornecimento de orientações, de intervenções conjuntas e de intervenções</p><p>complementares realizadas pelo apoiador, mas sempre com a equipe de</p><p>referência com a responsabilidade pelo caso, ainda que apoio especializado</p><p>se faça necessário em diferentes momentos.</p><p>Saúde Mental Matriciamento em Saúde Mental Capítulo 4</p><p>Instrumentos do processo de matriciamento em saúde mental</p><p>Os instrumentos utilizados pelos profissionais da equipe de apoio para a realização</p><p>do matriciamento consistem na elaboração do projeto terapêutico singular no apoio</p><p>matricial de saúde mental, a interconsulta, a visita domiciliar conjunta, o contato a</p><p>distância, o genograma, o ecomapa, a educação permanente em saúde mental e a</p><p>criação de grupos na atenção primária à saúde.</p><p>Por meio do matriciamento, a ESF passa a ter instrumentos e conhecimento suficientes</p><p>para a assistência em situações de crise atuando além dos cuidados básicos de</p><p>prevenção aos agravos em saúde. Vamos conhecer alguns desses instrumentos</p><p>(AOSANI; NUNES, 2013; SILVA, 2014; CHIAVERINI et al., 2011; CAMPOS; DOMITTI, 2007).</p><p>Elaboração do projeto terapêutico singular no apoio matricial de</p><p>saúde mental</p><p>Os projetos elaborados podem ser territoriais, coletivos, familiares ou até o individual,</p><p>exigindo um foco abrangente incluindo o entorno. Chiaverini et al. (2011) descreve um</p><p>guia prático de matriciamento em saúde mental, é possível encontrar um roteiro para a</p><p>discussão de casos para orientar a coleta de informações com a equipe da ESF.</p><p>O autor recomenda aos matriciadores abordarem a equipe referência reforçando as</p><p>atitudes positivas, além disso, é importante que as discussões busquem formulação</p><p>diagnóstica, mas principalmente compreendam a situação em suas várias faces de</p><p>maneira a abrir uma agenda interdisciplinar.</p><p>Importante</p><p>No momento da interação entre as equipes, os profissionais da ESF</p><p>podem descrever sintomas que não chegam a configurar diagnósticos</p><p>psiquiátricos, mas a equipe de apoio deve reforçar a capacidade</p><p>da equipe referência de identificar quadros mesmo sem precisão</p><p>psicopatológica potencializando o que pode ser feito dentro da atenção</p><p>primária.</p><p>Saúde Mental Matriciamento em Saúde Mental Capítulo 4</p><p>Na construção do projeto terapêutico singular, deve conter:</p><p>• Abordagens biológica e farmacológica.</p><p>• Abordagens psicossocial e familiar.</p><p>• Apoio do sistema de saúde.</p><p>• Apoio da rede comunitária.</p><p>• Trabalho em equipe: quem faz o quê.</p><p>Esse projeto auxilia e direciona a equipe referência, mas não busca a total autossuficiência</p><p>dela, tendo a retomada periódica para atualizar o caminhar de cada caso para repactuar</p><p>e reformular novos projetos terapêuticos e avaliar o que deu certo e o que deixou a</p><p>desejar (AOSANI; NUNES, 2013; SILVA, 2014; CHIAVERINI et al., 2011; CAMPOS; DOMITTI, 2007).</p><p>Interconsulta como instrumento do processo de matriciamento</p><p>A interconsulta é considerada o principal instrumento do apoio matricial na atenção</p><p>primária; por definição, é uma prática interdisciplinar para a construção do modelo</p><p>integral do cuidado, isto é, uma ação colaborativa entre profissionais de diferentes áreas.</p><p>Essa modalidade envolve desde discussão de caso por parte da equipe como consulta</p><p>e visitas domiciliares conjuntas permitindo a construção de uma compreensão integral</p><p>do processo saúde-doença devido à interdisciplinaridade da equipe.</p><p>As discussões de casos são uma das etapas do processo que sempre devem estar</p><p>presente, deve-se entender o motivo pelo qual aquele caso deve ser discutido, a situação</p><p>atual analisa o contexto e verifica os recursos positivos disponíveis além do principal</p><p>objetivo do cuidado (AOSANI; NUNES, 2013; SILVA, 2014; CHIAVERINI et al., 2011; CAMPOS;</p><p>DOMITTI, 2007).</p><p>Dificuldades na implantação da equipe de apoio matricial</p><p>Entre as dificuldades que a equipe de apoio matricial pode encontrar, uma das mais</p><p>relevantes está no fato de as equipes referência não possuírem uma definição clara</p><p>sobre o apoio matricial, apresentando dúvidas referentes ao conceito e dificuldades</p><p>Saúde Mental Matriciamento em Saúde Mental Capítulo 4</p><p>para empregar a metodologia. Isso porque, sem entender o que é o apoio matricial, não</p><p>é possível identificar a percepção e as experiências com o matriciamento.</p><p>Além disso, a falta de entendimento de como funciona o matriciamento faz com que</p><p>a equipe de ESF compreenda que a atividade da equipe de apoio esteja relacionada a</p><p>trocas de favores, mas a real função é suporte às atividades da equipe referência.</p><p>Entre os desafios encontrados pela equipe de apoio, está a política de saúde mental</p><p>infanto-juvenil, pois, historicamente, a criança ainda possui pouca visibilidade no cenário</p><p>da saúde mental, além dos profissionais da ESF não possuírem formação para atuar com</p><p>problemas de saúde mental nessa faixa etária apare cendo dificuldades de identificar</p><p>casos que seriam importantes de ser estudados (CHIAVERINI et al., 2011; SALVADOR; PIO,</p><p>2016).</p><p>Resumindo</p><p>E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho?</p><p>Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o</p><p>tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você</p><p>deve ter aprendido que o matriciamento é uma ferramenta de auxílio</p><p>para a atenção básica que contribui para identificar e acompanhar</p><p>pacientes com transtornos mentais. Além disso, é considerado de</p><p>grande importância, mas, muitas vezes, é desconhecido pelos próprios</p><p>profissionais da equipe referência que não conseguem atuar de formar</p><p>eficaz.</p><p>Saúde Mental</p><p>Referências</p><p>AOSANI, T.; NUNES, K. A saúde mental na atenção básica: a percepção dos profissionais</p><p>de saúde. Revista Psicologia e Saúde, [s. l.], v. 5, p. 71-80, jul./dez. 2013. Disponível em: http://</p><p>pepsic.bvsalud.org/pdf/rpsaude/v5n2/v5n2a02.pdf. Acesso em: 3 jun. 2023.</p><p>BARROS, R.; TUNG, T.; MARI, J. Serviços de emergência psiquiátrica e suas relações com a</p><p>rede de saúde mental brasileira. 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Acesso em: 3 jun. 2023.</p><p>quando o núcleo familiar</p><p>precisa de apoio, além de entender que a família tem o papel fundamental para o bom</p><p>desenvolvimento do cuidado ao paciente (AOSANI; NUNES, 2013; CORREIA, 2011).</p><p>Reflita</p><p>Sabemos da necessidade do acompanhamento dos pacientes com</p><p>transtornos mentais e que a ESF é de extrema importância, mas, sabendo</p><p>que este perfil de paciente deve ter um cuidado mais especializado</p><p>como o CAPS, será que a ESF dos municípios pequenos tem estrutura</p><p>para isso? Em contrapartida, será que em uma população pequena ter</p><p>essa estrutura não afetaria financeiramente as demais ações e serviços</p><p>de saúde?</p><p>Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1</p><p>Esses centros têm como objetivos não apenas o atendimento médico e psicológico,</p><p>mas também a atenção na rede de cuidados à saúde mental garantindo o acesso e a</p><p>equidade, levando direito e autonomia aos pacientes por meio da assistência realizada</p><p>por equipe multidisciplinar. Dessa forma, essa equipe é baseada em um trabalho</p><p>comunitário, humanizador e reintegrador do ser humano no contexto social, trazendo</p><p>novo significado individual e social para os usuários desses serviços.</p><p>As atividades são desenvolvidas por intermédio de Projeto Terapêutico Singular (PTS)</p><p>estando relacionados com a equipe, o indivíduo e a família, assim, o PTS acaba sendo</p><p>individualizado de acordo com as necessidades do paciente.</p><p>É importante que a estrutura do CAPS, independente da modalidade, seja acolhedor,</p><p>remetendo ao convívio em casa e com a família, para que seja atrativo ao paciente</p><p>para ser possível acompanhar o usuário, em sua história, cultura, projetos e vida</p><p>cotidiana indo além do próprio serviço, sendo também um suporte social, saberes e</p><p>recursos dos territórios. Apesar de serem individualizadas, não são, necessariamente,</p><p>individuais, algumas dessas ações são coletivas, outras junto com as famílias e ainda</p><p>ações voltadas para as famílias.</p><p>Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)</p><p>Segundo o Ministério da saúde, os CAPS podem ser definidos como:</p><p>Definição</p><p>São pontos de atenção estratégicos da Rede de Atenção Psicossocial</p><p>(RAPS): serviços de saúde de caráter aberto e comunitário constituído</p><p>por equipe multiprofissional e que atua sobre a ótica interdisciplinar e</p><p>realiza prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou</p><p>transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do</p><p>uso de álcool e outras drogas, em sua área territorial, seja em situações</p><p>de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial e são substitutivos</p><p>ao modelo asilar.</p><p>Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1</p><p>Até aqui entendemos de forma superficial as ações e os serviços do CAPS, mas</p><p>posteriormente aprofundaremos este tema com mais detalhes, por isso, vamos agora</p><p>conhecer os próximos dispositivos da saúde mental (LEAL; ANTONI, 2013; BRASIL, 2015;</p><p>RIBEIRO, 2018).</p><p>Centros de Convivência e Cultura</p><p>A partir de uma avaliação dos profissionais responsáveis pelo paciente, é importante</p><p>que o tratamento tenha continuidade em outros dispositivos, e o Centro de Convivência</p><p>e Cultura é considerado um dispositivo potente e efetivo na inclusão social dos pacientes</p><p>em tratamento.</p><p>Nestes centros, as pessoas da comunidade têm a liberdade para se reunir livremente,</p><p>com a finalidade de socialização para construírem, juntas, espaços de lazer, trabalho,</p><p>saúde, cultura, entretenimento, inclusão social, além da possibilidade de discussões</p><p>sobre problemas de sua comunidade, dessa forma, é uma alternativa de socialização</p><p>para as pessoas com transtornos mentais, base do conceito da Reforma Psiquiátrica.</p><p>Esse espaço permite a interação de grupos muitas vezes discriminados pela sociedade,</p><p>como dependentes químicos, idosos, pessoas com algum tipo de deficiência física e</p><p>pessoas com transtornos mentais, tendo como característica a participação voluntária</p><p>sem controle de frequência ou prontuários médicos.</p><p>Definição</p><p>Os Centros de Convivência e Cultura foram definidos pela Portaria</p><p>n.º 396/2005 como “dispositivos componentes da rede de atenção</p><p>substitutiva em saúde mental, onde são oferecidos às pessoas espaços</p><p>de sociabilidade, produção e intervenção na cidade” e, posteriormente,</p><p>pela Portaria nº 3.088 de 2011/2014 como “unidade pública, articulada às</p><p>Redes de Atenção à Saúde, em especial à Rede de Atenção Psicossocial,</p><p>onde são oferecidos, em geral, espaços de sociabilidade, produção e</p><p>intervenção na cultura e na cidade”.</p><p>Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1</p><p>Programa “De Volta para Casa”</p><p>Esse programa, criado pelo Ministério da Saúde, tem como seu objetivo a “inserção social</p><p>de pessoas acometidas de transtornos mentais, incentivando a organização de uma</p><p>rede ampla e diversificada de recursos assistenciais e de cuidados” (BRASIL, 2003b, p. 1).</p><p>Para que o município possa participar desse programa, deve ser acompanhado por</p><p>meio de Comissão de Acompanhamento do Programa “De Volta para Casa”, constituída</p><p>pelo Ministério da Saúde, cujas responsabilidades são:</p><p>• Elaborar e pactuar as normas aplicáveis ao programa e submetê-las ao Ministério</p><p>da Saúde.</p><p>Saiba Mais</p><p>É possível encontrar dissertações e teses que descrevem um mapa</p><p>territorial da quantidade de Centros de Convivência e o número de</p><p>pessoas que utilizam esse espaço, além de estudos descrevendo a</p><p>implantação desses centros em algumas cidades. Entre eles, está a</p><p>dissertação de Ferreira (2014), utilizada como referência neste capítulo.</p><p>Vale a pena a leitura!</p><p>Saiba Mais</p><p>O Ministério da Saúde, na cartilha “Mostra Fotográfica Programa De Volta</p><p>para Casa”, elaborada em 2008, descreve que o Programa de Redução de</p><p>Leitos Hospitalares de Longa Permanência em conjunto com os Serviços</p><p>Residenciais Terapêuticos e o Programa De Volta para Casa formam</p><p>o tripé essencial para o efetivo processo de desinstitucionalização</p><p>e resgate da cidadania das pessoas acometidas por transtornos</p><p>mentais submetidas à privação da liberdade nos hospitais psiquiátricos</p><p>brasileiros.</p><p>Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1</p><p>• Pactuar a definição de municípios prioritários para habilitação no programa.</p><p>• Ratificar o levantamento nacional de clientela de beneficiários em potencial do</p><p>programa.</p><p>• Acompanhar e assessorar a implantação do programa.</p><p>A Lei n.º 10.708/2003 regulamenta o auxílio-reabilitação psicossocial para pacientes</p><p>acometidos de transtornos mentais egressos de internações, atualmente esse valor</p><p>pago mensalmente é de R$ 412,00, por um ano, podendo ser renovado pelo tempo</p><p>necessário para a reintegração social do paciente.</p><p>Para que o paciente possa ser incluído no programa e se beneficiar com o auxílio-</p><p>reabilitação, é necessário que esteja de alta hospitalar, sendo acompanhado por</p><p>um CAPS ou outro serviço de saúde do município onde passará a residir, além do</p><p>acompanhamento por uma equipe de profissionais encarregada de prover e garantir a</p><p>atenção psicossocial e apoiá-lo em sua integração ao ambiente familiar e social. Entre</p><p>os serviços do CAPS que esse paciente pode participar, há o Serviço Terapêutico que</p><p>vamos ver a seguir (BRASIL, 2003b; BRASIL, 2003a).</p><p>Serviço Residencial Terapêutico (SRT)</p><p>Segundo a Portaria nº 3.588, de 21 de dezembro de 2017, entende-se como Serviços</p><p>Residenciais Terapêuticos (SRT):</p><p>Definição</p><p>Moradias inseridas na comunidade, destinadas a cuidar dos portadores</p><p>de transtornos mentais crônicos com necessidade de cuidados de longa</p><p>permanência, prioritariamente egressos de internações psiquiátricas e</p><p>de hospitais de custódia, que não possuam suporte financeiro, social e/</p><p>ou laços familiares que permitam outra forma de reinserção.</p><p>Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1</p><p>Esse serviço surge com a proposta de acolher os egressos ou não de hospitais</p><p>psiquiátricos, em geral sem suporte familiar, que não têm condições de garantia de</p><p>espaço adequado de moradia. Tem por objetivo ajudar o paciente a ressocializar,</p><p>resgatar a autonomia e incentivá-lo a assumir uma posição de agente ativo de</p><p>produção de</p><p>vida. Essas moradias, inseridas em espaço urbano, podem alojar de um</p><p>a oito pacientes necessitando de um profissional de nível médio capacitado por uma</p><p>equipe de referência como cuidador, além de ter suporte garantido pelo CAPS, pela ESF</p><p>ou outros serviços de saúde, caracterizando a interdisciplinaridade.</p><p>Na transição entre a hospitalização de longa permanência e a luta antimanicomial, esse</p><p>serviço foi essencial como serviço intermediário dos pacientes que já estavam por anos</p><p>internados e iniciariam seu convívio com a sociedade novamente. Essa reestruturação</p><p>levou à diminuição do repasse de recursos aos hospícios e ao aumento de recursos</p><p>para os serviços residenciais terapêuticos.</p><p>De acordo com o descrito na Portaria n.º 106/2000, “a cada transferência de paciente</p><p>do Hospital Especializado para o Serviço de Residência Terapêutica, deve-se reduzir ou</p><p>descredenciar do SUS igual nº de leitos naquele hospital”. Dessa forma, é considerado</p><p>um facilitador do processo de desospitalização e um operador da substituição da</p><p>hospitalização (FONSÊCA, 2018; MASSA; MOREIRA, 2019; WEBER, 2018).</p><p>Hospital-Dia</p><p>Definição</p><p>Regime de Hospital Dia prevê a assistência intermediária entre</p><p>a internação e o atendimento ambulatorial, para realização de</p><p>procedimentos clínicos, cirúrgicos, diagnósticos e terapêuticos, que</p><p>requeiram a permanência do paciente na Unidade por um período</p><p>máximo de 12 horas (BRASIL, 2001a).</p><p>Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1</p><p>Para se implantar esse programa, é necessário que haja uma área específica,</p><p>independente da estrutura hospitalar, com áreas para atividades em grupo, área</p><p>externa, leitos para repouso eventual e ambiente para refeições. Deve ter uma equipe</p><p>multiprofissional atuando cinco dias na semana (segunda a sexta-feira) com carga</p><p>horária de oito horas por dia de forma que atenda à população de uma área geográfica</p><p>definida, para facilitar o acesso do paciente à unidade assistencial sendo integrada à</p><p>rede hierarquizada de assistência à saúde mental (BRASIL, 2001b).</p><p>Com uma equipe multiprofissional avalia a necessidade de cada paciente e inclui</p><p>atividades como:</p><p>• Atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros).</p><p>• Atendimento grupal (psicoterapia, grupo operativo, atendimento em oficina</p><p>terapêutica, atividades socioterápicas, entre outras).</p><p>• Visitas domiciliares.</p><p>• Atendimento à família.</p><p>• Atividades comunitárias visando trabalhar a integração do paciente mental na</p><p>comunidade.</p><p>• Inserção social.</p><p>Leitos de retaguarda em Hospitais Gerais (noturno/feriado/final de</p><p>semana)</p><p>Os leitos de Saúde Mental em Hospitais Gerais são componentes da Rede de Atenção</p><p>Psicossocial (Raps), porém, não devem ser considerados como um ponto de atenção</p><p>isolado, mas complementar aos demais serviços da Atenção à Saúde Mental. Trata- se</p><p>de um componente de urgência e emergência para garantir acesso dos usuários à</p><p>tecnologia hospitalar, particularmente no manejo do cuidado às intercorrências clínicas,</p><p>pois os serviços extra-hospitalares nem sempre dispõem de uma estrutura que ofereça</p><p>agilidade para esse tipo de atendimento.</p><p>São considerados um ponto estratégico para fortalecimento da Raps, devendo ser bem</p><p>localizados em vários municípios, de fácil acesso, com propostas de intervenções breves</p><p>e acesso a recursos clínicos multidisciplinares diferentemente do que ocorre no Hospital</p><p>Psiquiátrico.</p><p>Saúde Mental Dispositivos da saúde mental Capítulo 1</p><p>Contribuem para a diminuição do estigma do transtorno mental e propiciam práticas de</p><p>cuidado mais transparentes, associadas a uma integração efetiva entre as equipes de</p><p>profissionais, sendo utilizados principalmente para o manejo do paciente com transtorno</p><p>mental em crises que necessitem de internamento (BARROS; TUNG; MARI, 2010; PARANÁ,</p><p>2016).</p><p>Unidades de Pronto-Atendimento (UPA)</p><p>A procura pelas Unidades de Pronto-Atendimento tem como principal motivo o</p><p>atendimento psiquiátrico de emergência, em geral, com sintomas de agitação</p><p>psicomotora e/ou agressividade. Casos em que é indispensável a intervenção imediata</p><p>da equipe multiprofissional, adequadamente treinada, com o intuito de evitar maiores</p><p>prejuízos à saúde do indivíduo, ou possíveis riscos à sua vida ou a de terceiros.</p><p>No momento do atendimento, é realizado uma triagem para verificar a necessidade</p><p>e a duração de internamento, ou se é possível estabilizar e instituir o tratamento de</p><p>casos agudos, isso de forma rápida e ágil, buscando caracterizar aspectos diagnósticos,</p><p>etiológicos e psicossociais do quadro apresentado pelo paciente.</p><p>Além disso, proporcionam suporte psicossocial, podem ser consideradas uma porta</p><p>de entrada do paciente da rede de atenção à saúde mental, organizando o fluxo</p><p>das internações e reduzindo as admissões hospitalares desnecessárias, além de</p><p>possibilitarem uma melhor comunicação entre as diversas unidades do sistema de</p><p>saúde (BARROS; TUNG; MARI, 2010; SOUZA, 2017).</p><p>Resumindo</p><p>E então? Gostou do tema trabalhado? Vimos os principais serviços</p><p>e ações voltados à saúde mental, com foco principal na substituição</p><p>das instituições de longa permanência por atividades que incluam este</p><p>paciente na sociedade a partir de uma Rede de Atenção em Saúde Mental.</p><p>Mas é importante destacar que isto vai além do simples deslocamento</p><p>dos espaços de cuidado, está relacionado a uma complexa mudança</p><p>de paradigmas e de práticas no campo da saúde mental.</p><p>@faculdadelibano_</p><p>2</p><p>Integração e redes</p><p>sociais em saúde</p><p>mental</p><p>Saúde Mental Capítulo 2</p><p>Integração e redes sociais</p><p>em saúde mental</p><p>Objetivos</p><p>Neste capítulo, vamos conhecer o conceito de redes sociais, refletir sobre</p><p>sua importância nos cuidados da saúde mental e como pode auxiliar</p><p>o tratamento do paciente com transtornos mentais. Além disso, vamos</p><p>discutir acerca da importância dessa rede social do indivíduo participar</p><p>de ações e serviços voltados ao tratamento deste transtorno. Motivado</p><p>para ampliar seu repertório? Então vamos lá!</p><p>Conceito de redes sociais</p><p>Desde o início da vida, o ser humano participa de grupo social, uma trama interpessoal</p><p>que os molda e contribui para moldar a seu grupo social futuro. Trata-se do conjunto</p><p>de pessoas com quem esse indivíduo interage, conversa e troca sinais regularmente.</p><p>Essa experiência ajuda a constituir a própria identidade, que se constrói e reconstrói</p><p>constantemente durante a vida com base na interação com os outros, tornando-se</p><p>parte intrínseca da identidade de cada indivíduo. Como afirma Brusamarello et al. (2011,</p><p>p. 34)</p><p>Importante</p><p>Na literatura, não há um consenso quanto à utilização do termo “rede</p><p>social”, por isso, quando você for aprofundar seus conhecimentos nesta</p><p>área, pode deparar-se com termos como “rede social significativa”,</p><p>“rede social de apoio”, “redes comunitárias” ou “redes de suporte”, todos</p><p>eles possuem a mesma ideia de relação entre indivíduos na sociedade.</p><p>Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2</p><p>As redes sociais são definidas como teias de relações que circundam o</p><p>indivíduo e, desta forma, permitem que ocorra união, comutação, troca</p><p>e transformação. Ao integrá-la, existe a possibilidade de se organizar</p><p>socialmente como uma estrutura descentralizada, em que todos podem,</p><p>simultaneamente, ocupar diferentes e distintas posições, dependendo dos</p><p>interesses e dos temas tratados.</p><p>A rede microssocial que o indivíduo integra contribui de maneira significativa para gerar</p><p>suas práticas sociais e a visão do mundo e de si, também é parte crucial da própria</p><p>identidade e evolui ao longo da vida. Além disso, as mudanças nas redes sociais são</p><p>consideradas um marcador para os diversos períodos do ciclo da vida, sendo causa e</p><p>efeito das contínuas transformações do indivíduo.</p><p>Dessa forma, podemos dizer que a rede social é um grupo de pessoas, membros da</p><p>família, amigos, vizinhos e outras pessoas, com capacidade de ajudar e apoiar a um</p><p>indivíduo ou família.</p><p>Correspondendo, assim, ao nicho interpessoal da pessoa e contribuindo para</p><p>seu próprio</p><p>reconhecimento como indivíduo e para sua autoimagem. As pessoas que compõem</p><p>essa rede, são todas as pessoas que o indivíduo considera significativas no universo</p><p>relacional no qual está inserido (MORE, 2005; UBER; BOECKEL, 2014).</p><p>Importante</p><p>O termo “redes sociais” é encontrado hoje como “estruturas virtuais”</p><p>em que pessoas ou empresas se relacionam por meio de conteúdos e</p><p>mensagens diretas ou postadas na internet, mas vale lembrar que esse</p><p>conceito é mais amplo e vai além da web. Rede no seu conceito amplo</p><p>pode designar comunicar, interligar ou distribuir, e, quando falamos</p><p>de rede social, estamos descrevendo a comunicação ou interligação</p><p>entre os indivíduos da sociedade. Apenas para não confundir: em nosso</p><p>estudo, estamos falando da comunicação direta entre os indivíduos da</p><p>sociedade.</p><p>Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2</p><p>Nos últimos anos, como parte da Reforma Psiquiátrica brasileira, os padrões da atenção</p><p>psiquiátrica hospitalar têm sido questionados, levando a novas formas de cuidar das</p><p>pessoas com transtornos mentais, pautadas na inclusão e na reabilitação psicossocial.</p><p>O atual modelo de atuação visa substituir o atendimento exclusivo que tem levado ao</p><p>abandono e à marginalização por uma rede de saúde mental inclusiva que promova a</p><p>integração social e familiar das pessoas com transtornos mentais.</p><p>O cuidado em saúde mental tem evidenciado a necessidade de focar a</p><p>atenção para intervenções que ofereçam alternativas de se trabalhar a</p><p>realidade social a fim de promover suporte mútuo, democracia participativa</p><p>e movimentos sociais. Nessa perspectiva, as redes sociais são de extrema</p><p>significância “tanto do ponto de vista da reconstrução de um cotidiano,</p><p>muitas vezes perdido pelo sofrimento psíquico, como importante suporte</p><p>no tratamento a partir dos diversos dispositivos de apoio e de solidariedade.</p><p>Dessa forma, elas ganham relevância na reinserção e reabilitação do</p><p>portador de transtorno mental na sociedade, bem como no resgate de sua</p><p>autonomia. (BRUSAMARELLO et al., 2011, p. 34)</p><p>O apoio social que as pessoas recebem e percebem é essencial para a manutenção</p><p>da saúde mental, pois redes sociais aprimoradas ajudam os indivíduos a lidarem com</p><p>situações estressantes, como ter um membro da família com transtorno mental ou</p><p>que foi diagnosticado com uma doença crônica. Nesse sentido, quanto mais diversa e</p><p>contextual for uma relação, maiores e mais diversos serão os recursos psicossociais à</p><p>disposição da pessoa.</p><p>Uma rede social que é pessoal e consegue ser estável, ativa e confiável pode proteger</p><p>a vida diária de uma pessoa, promover a construção e manutenção da autoestima e</p><p>acelerar o processo de recuperação.</p><p>Como tal, é essencial para promover o bemestar físico, mental e emocional. Por outro</p><p>lado, existe uma rede que não oferece suporte suficiente, portanto, sua fragilidade e</p><p>inadequação são fatores de fragilidade da saúde, o que contribui para o aumento dos</p><p>níveis de transtornos emocionais e físicos como depressão, hipertensão e obesidade.</p><p>Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2</p><p>É importante observar que a rede social de um indivíduo é um reflexo do contexto histórico,</p><p>cultural, social e político em que as pessoas têm interesses, aspirações, intenções e</p><p>desejos. Por isso, a respeito deste aspecto, Brusamarello et al. (2011, p. 34) afirma:</p><p>Compreender o modo de viver das pessoas, reconhecer suas percepções</p><p>acerca do mundo e identificar seus relacionamentos possibilita aos</p><p>profissionais de enfermagem, na organização e na prestação do cuidado,</p><p>contribuir para o alcance do bem-estar destes sujeitos. Com esta</p><p>investigação pretende-se contribuir para a ampliação do conhecimento</p><p>científico da equipe de enfermagem com vistas à qualificação do cuidado</p><p>a pessoas com transtorno mental e familiares. Assim, considerasse</p><p>importante que o enfermeiro e demais profissionais da área da saúde</p><p>conheçam as redes sociais de pessoas com transtorno mental e familiares</p><p>e as utilizem para proporcionar um cuidado a essa população de acordo</p><p>com suas necessidades e realidades cotidianas.</p><p>Mapa de redes sociais</p><p>A rede social de um indivíduo pode ser registrada em forma de “mapa mínimo” o</p><p>qual inclui todos os indivíduos que determinada pessoa interage. É constituído por um</p><p>diagrama formado por três círculos concêntricos dividido em quatro quadrantes:</p><p>• Família.</p><p>• Amizades.</p><p>• Relações de trabalho ou escolares (companheiros de trabalho e ou de estudos).</p><p>• Relações comunitárias, de serviços (exemplo, serviços de saúde) ou de credos.</p><p>O círculo interno representa as relações mais íntimas consideradas pelo indivíduo, seja</p><p>da família ou de amizades. O círculo intermediário registra as relações com menor grau</p><p>de relacionamento (relações sociais ou profissionais ou familiares), e o círculo externo</p><p>as relações ocasionais (tais como conhecidos de escola ou trabalho, familiares mais</p><p>distantes, vizinhos).</p><p>Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2</p><p>Esse registro é específico do momento atual ou situação vivenciada pelo indivíduo e só</p><p>terá importância se realizado e avaliado da forma correta. Para isso, pode-se observar</p><p>os seguintes aspectos:</p><p>• Tamanho – quantidade de pessoas que constituem a rede. Redes muito pequenas</p><p>são menos efetivas quando o indivíduo se sente sobrecarregado ou em situações de</p><p>tensão de longa duração, a fim de poupar-se pode evitar contatos; da mesma forma,</p><p>redes muito numerosas podem não ser efetivas, pois parte-se do pressuposto de</p><p>que o “outro” está cuidando do problema, dessa forma, as redes de maior efetividade</p><p>são as de tamanho médio.</p><p>• Densidade – qualidade da relação entre seus membros e o quanto de influência que</p><p>podem exercer no indivíduo. • Composição ou distribuição – qual posição que cada</p><p>membro ocupa nos quadrantes.</p><p>• Dispersão – distância geográfica entre a pessoa e os membros de sua rede.</p><p>• Homogeneidade/heterogeneidade – variáveis como idade, sexo, cultura e nível</p><p>socioeconômico, que podem favorecer trocas ou evidenciar tensões entre os</p><p>membros e o indivíduo.</p><p>Outra análise que pode ser feita, diz respeito às funções dos vínculos estabelecidos,</p><p>como de companhia social, de apoio emocional, de guia cognitivo e de conselhos, de</p><p>FIGURA 2</p><p>Mapa de rede social</p><p>FONTE</p><p>Freepik</p><p>Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2</p><p>regulação social, de ajuda material e de serviços e de acesso a novos contatos. Cada</p><p>membro pode estar relacionado a mais de um desses vínculos.</p><p>Dessa forma, é possível perceber o tipo de interação que o indivíduo acompanhado tem</p><p>com sua rede social, entender quais são relevantes efetivamente e de que forma esses</p><p>membros podem auxiliar no tratamento e nas atividades do indivíduo.</p><p>Redes sociais em saúde mental</p><p>Sempre que falamos sobre o cuidado de pacientes com transtornos mentais,</p><p>comparamos os modelos atuais com os utilizados antes da Reforma Psiquiátrica, pois é</p><p>a necessidade de fazer diferente que nos impulsiona à melhoria dos novos modelos de</p><p>cuidados.</p><p>Por isso, vamos lembrar que a Reforma Psiquiátrica propõe substituir o modelo</p><p>asilar por um modelo de atenção baseado no convívio com a comunidade, tendo o</p><p>acompanhamento do tratamento dentro do Sistema de Saúde, e os Centros de Atenção</p><p>Psicossocial (Caps) sãos seus dispositivos estratégicos com prioridade na reinserção</p><p>social e no fortalecimento de vínculo dos usuários com a sociedade, incentivando-o na</p><p>busca da construção da autonomia e cidadania.</p><p>Quando utilizamos o termo “redes sociais” na saúde mental, estamos falando sobre</p><p>o conjunto de todas as relações que circundam o indivíduo e levam a interações</p><p>interpessoais, não apenas na questão de tratamento, mas de reconhecimento enquanto</p><p>sujeito, para a construção de identidade, para o sentimento de bem-estar, pertença e</p><p>autonomia.</p><p>No momento em que integramos essas redes sociais, possibilitamos que se organizem</p><p>socialmente como uma estrutura descentralizada,</p><p>em que todos podem ocupar</p><p>diferentes e distintas posições, dependendo dos interesses e dos temas tratados.</p><p>Para isso, é importante que essa rede seja diversificada para poder atender, ao menos, a</p><p>maioria dessas demandas. Por ser um sistema aberto, permite ao paciente, aos membros</p><p>da família ou à própria comunidade o benefício das múltiplas relações, estabelecendo e</p><p>favorecendo seu desenvolvimento (BRUSAMARELLO et al., 2011; UBER; BOECKEL, 2014).</p><p>Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2</p><p>Importância das redes sociais em saúde mental</p><p>O convívio social, em geral, leva o paciente ao entendimento da sua inserção como</p><p>indivíduo e sua importância para o desenvolvimento da sociedade na qual está inserido.</p><p>Entendendo que desempenha funções essenciais na vida dos sujeitos e na sociedade,</p><p>auxiliando nas soluções de problemas e oferecendo orientações e companhia.</p><p>Dessa forma, as redes sociais se tornam um dos principais recursos que um sujeito dispõe</p><p>referente ao apoio recebido e percebido, havendo associação entre desenvolvimento</p><p>humano saudável e qualidade das redes sociais que um sujeito mantém. São uma das</p><p>chaves centrais da experiência individual de identidade, competência, bem-estar e</p><p>autoria, incluindo os hábitos de cuidado de saúde e a capacidade de adaptação em</p><p>uma crise.</p><p>Importante</p><p>Vale ressaltar que as redes sociais incluem o conjunto de vínculos</p><p>interpessoais que abrangem a vida de uma pessoa contribuindo</p><p>para a autoimagem do indivíduo. Dessa forma, podemos perceber a</p><p>relevância da desinstitucionalização do tratamento psiquiátrico para o</p><p>autoconhecimento do paciente perante sua real situação e seu processo</p><p>de autocuidado. Com isso, notamos que os dispositivos de saúde mental</p><p>são fundamentais para a integração e permanência do paciente nas</p><p>redes sociais.</p><p>Muitas vezes, o sofrimento psíquico afasta o indivíduo do convívio social, por isso, a</p><p>reconstrução de um cotidiano com convívio social torna-se um imprescindível suporte</p><p>no tratamento a partir dos diversos dispositivos de apoio e de solidariedade. A reinserção</p><p>e reabilitação do portador de transtorno mental na sociedade, bem como o resgate de</p><p>sua autonomia são essenciais. Assim, os suportes sociais percebidos e recebidos das</p><p>pessoas significativas são primordiais para a manutenção da saúde mental, pois uma</p><p>rede social fortalecida ajuda o indivíduo a enfrentar situações estressantes, como uma</p><p>doença própria ou de algum familiar.</p><p>Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2</p><p>Quando essa rede social é estável, ativa e confiável o indivíduo se sente protegido em sua</p><p>vida diária, além de favorecer a construção e manutenção da autoestima, acelerando</p><p>os processos de recuperação da saúde.</p><p>Em contrapartida, se esse indivíduo permanece em uma rede social que não proporciona</p><p>suporte adequado, sua fragilidade e seu sentimento de insuficiência contribuem para</p><p>a vulnerabilidade do indivíduo podendo elevar o nível de doenças emocionais e físicas</p><p>como depressão, hipertensão arterial e obesidade (BRUSAMARELLO et al., 2011; UBER;</p><p>BOECKEL, 2014).</p><p>O apoio da rede social é um aspecto fundamental da inclusão social de pessoas com</p><p>transtornos mentais. Em situações em que muitas vezes encontram dificuldades de</p><p>inserção no mercado de trabalho, outros meios de promover a inclusão social são ainda</p><p>mais valorizados.</p><p>O conceito de redes implica um processo de construção permanente, individual e</p><p>coletivamente. É um sistema aberto que permite a utilização dos recursos existentes por</p><p>meio da troca dinâmica de seus membros com outros grupos sociais. Salles e Barros</p><p>(2013, p. 2130) afirmam:</p><p>As redes sociais são de extrema importância para todos, elas proporcionam</p><p>a organização da identidade através do olhar e das ações de outras pessoas.</p><p>A rede de relações que oferece suporte a uma pessoa na sociedade não se</p><p>restringe à família, mas incluem todos os vínculos interpessoais significativos</p><p>do sujeito: amigos, relações de trabalho, de estudo e na comunidade. Na</p><p>construção das redes sociais é importante que o sujeito possa estabelecer</p><p>relações de trocas não apenas com sua família, mas também com outras</p><p>pessoas, compondo uma rede social ampliada e diversificada e sem</p><p>sobrecarregar o núcleo familiar.</p><p>Um indivíduo não faz parte apenas de uma comunidade, mas de várias comunidades. Sua</p><p>identidade é expressa nesta propriedade. Na comunidade à qual pertence, o indivíduo</p><p>se reconhece, percebe seus interesses e comunica seus afetos. Essas interações podem</p><p>ser formalizadas em bairros, igrejas e locais de trabalho.</p><p>Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2</p><p>Mas também podem não ser formalizadas, ainda assim, são essas interações que</p><p>medem a participação e a inclusão social. Você pode obter uma imagem refletida de</p><p>si mesmo a partir de suas interações com os outros. Este autorretrato baseia-se em ter</p><p>algo a oferecer aos outros.</p><p>Apesar da importância das redes sociais na vida cotidiana das pessoas,</p><p>nem sempre aquelas com transtornos mentais têm acesso a novos</p><p>contatos, ou não conseguem manter e formar as redes, devido ao contexto</p><p>social em que imperam a discriminação e o preconceito. A forma como</p><p>os usuários se relacionam com os outros reflete a maneira da sociedade</p><p>aceitar e incluir essa população, e tem efeitos em como as pessoas com</p><p>transtornos mentais se percebem acolhidas e pertencendo a sociedade.</p><p>Considerando a importância das redes sociais para a inclusão social</p><p>das pessoas com transtornos mentais, esta é uma questão que deve ser</p><p>tratada pelos profissionais e serviços de saúde mental. (SALLES; BARROS,</p><p>2013, p. 2130).</p><p>Os relacionamentos na comunidade permitem que as pessoas, independentemente do</p><p>transtorno mental, redefinam-se. A maioria das pessoas com esses transtornos precisa</p><p>de encorajamento e da oportunidade de fazer amigos. Na prática, a inclusão social</p><p>significa que a sociedade deve acolher e aceitar as pessoas com transtornos mentais.</p><p>Este não é apenas um trabalho para famílias e serviços de saúde mental, é preciso</p><p>adotar uma atitude de engajamento ativo de toda a comunidade. Isso indica que a</p><p>maneira como essas pessoas se veem como “outros” precisa mudar.</p><p>Com o processo da Reforma Psiquiátrica e as novas possibilidades de</p><p>tratamento para as pessoas com transtornos mentais, a sociedade se</p><p>depara com a questão de como se relacionar com essa população. Algumas</p><p>vezes velhos modelos são retidos, mas também ocorre a reinvenção de</p><p>novas formas de ver, tratar, se aproximar, colocar limites, ajudar, se afastar;</p><p>enfim, de lidar no dia a dia com as pessoas com transtornos mentais que</p><p>estão a sua volta, em um processo dialético de exclusão e inclusão social.</p><p>(SALLES; BARROS, 2013, p. 2130).</p><p>Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2</p><p>Rede social no auxílio ao tratamento</p><p>Quando o indivíduo com transtorno mental se conscientiza de sua rede social de apoio</p><p>e do seu papel nas suas relações, tende a mudar de comportamentos, ampliar sua</p><p>capacidade de enfrentar situações dolorosas e difíceis, além de melhorar sua autoestima,</p><p>isso ajuda a aumentar a possibilidade de uma vida melhor, contribui para a promoção</p><p>da saúde, favorece a autonomia desse indivíduo e seus familiares, bem como modifica</p><p>sua posição em relação às intervenções.</p><p>Porém, vale ressaltar que a rede social pode gerar benefícios ao indivíduo, mas isso</p><p>depende da postura dos membros, pois, mesmo querendo dar suporte ao indivíduo,</p><p>podem não ter conhecimentos e habilidade para isso. Nesses casos, é de extrema</p><p>importância o acompanhamento desses membros, que em geral são familiares, para</p><p>garantir a melhora do paciente e evitar problemas aos demais membros da família. Nos</p><p>casos de pacientes envolvidos com drogas ilícitas e álcool, os membros de sua rede, em</p><p>geral, estão relacionados com o problema e, dessa forma, acabam levando o indivíduo</p><p>a recaídas, nesses casos, ou ocorre o afastamento do indivíduo, ou o tratamento dos</p><p>demais</p><p>membros.</p><p>Nas intervenções terapêuticas desenvolvidas pelos profissionais de saúde mental, é</p><p>imprescindível a presença e o acionamento das redes sociais do indivíduo. Primeiro</p><p>porque o modelo existente não atende somente o paciente, mas também auxilia a</p><p>família com ações e intervenções terapêuticas. Em segundo lugar, pela intervenção nas</p><p>redes de suporte social, organizadas no âmbito comunitário, o que tem um papel de</p><p>destaque no contexto de programas de reabilitação, prevenção e promoção da saúde</p><p>dos indivíduos.</p><p>Você Sabia?</p><p>Estudos mostram que indivíduos com transtornos mentais severos são</p><p>quatro vezes mais propensos a não terem um amigo mais próximo, e</p><p>mais de um terço deles relatam não ter ninguém a quem recorrer em</p><p>um momento de crise (MURAMOTO; MÂNGIA, 2011).</p><p>Saúde Mental Integração e redes sociais em saúde mental Capítulo 2</p><p>A variabilidade dos tipos de atendimento possíveis para pacientes com transtornos</p><p>mentais, como psicoterapia, visita domiciliar, atividades de apoio social etc., vai depender</p><p>da necessidade de cuidados à saúde mental do paciente, das condições concretas de</p><p>intervenção da equipe multiprofissional e dos recursos terapêuticos disponíveis. O que</p><p>permite que os atendimentos sejam realizados de forma complementares é a interligação</p><p>profissional entre eles (VIEIRA; NÓBREGA, 2004; MORE; CREPALDI, 2012; MURAMOTO; MÂNGIA,</p><p>2011).</p><p>Resumindo</p><p>Esse capítulo foi muito importante, certo? Vimos que redes sociais</p><p>compreendem os membros que fazem parte do convívio de indivíduos</p><p>na sociedade, como a família, os amigos, vizinhos, colegas de trabalho,</p><p>colegas de estudos, entre outros. Vimos, também, a importância de uma</p><p>rede social sólida e disponível para apoiar o paciente com transtornos</p><p>mentais e a necessidade de acompanhamento desses indivíduos</p><p>também. Além disso, aprendemos que a relação entre as pessoas auxilia</p><p>no desenvolvimento do paciente, e por esta razão as ações e atividades</p><p>em grupo são tão importantes quanto a desinstitucionalização do</p><p>tratamento psiquiátrico.</p><p>@faculdadelibano_</p><p>3</p><p>Atenção e cuidado</p><p>em saúde mental</p><p>Saúde Mental Capítulo 3</p><p>Atenção e cuidado em saúde</p><p>mental</p><p>Objetivos</p><p>O cuidado em saúde mental não se restringe ao cuidado do profissional</p><p>da saúde. A família, como parte da reinserção social do paciente, torna-</p><p>se essencial para a evolução da condição de saúde do indivíduo. Neste</p><p>capítulo, vamos entender como a família era vista em relação aos</p><p>transtornos mentais e qual sua importância atuando com os profissionais</p><p>da saúde para a atenção e o cuidado do paciente.</p><p>A relação familiar no passado</p><p>Nem sempre a família foi vista como uma instituição capaz de acolher e cuidar de um</p><p>indivíduo que está mentalmente adoecido. Antes do capitalismo, o cuidado com o</p><p>indivíduo era responsabilidade da família, quando não havia quem o amparasse, esse</p><p>indivíduo era considerado uma questão pública, ficando sob responsabilidade do rei e</p><p>seus auxiliares. Borba et al. (2011, p. 443) afirmam:</p><p>A família historicamente foi excluída do tratamento dispensado às pessoas</p><p>com transtorno mental, pois os hospitais psiquiátricos eram construídos</p><p>longe das metrópoles, o que dificultava o acesso dos familiares a essas</p><p>instituições. Outro fator que permeava a relação da família com o portador</p><p>de transtorno mental era o entendimento de que ela era a produtora da</p><p>doença, uma vez que o membro que adoecia era considerado um bode</p><p>expiatório, aquele que carregava todas as mazelas do núcleo familiar</p><p>e deveria ser afasta do daqueles considerados responsáveis pela sua</p><p>doença. Desse modo, restava à família o papel de encaminhar seu familiar</p><p>à instituição psiquiátrica para que os técnicos do saber se incumbissem do</p><p>tratamento e da cura.</p><p>Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3</p><p>Com os avanços e as transformações da Psicanálise no século XX, a família começa</p><p>a ser vista de forma negativa sendo culpabilizada pelo surgimento de um portador de</p><p>transtorno mental.</p><p>Dessa forma, o saber psiquiátrico procura afastar o paciente do ambiente familiar por</p><p>entender que esse ambiente, responsável pelo surgimento de sua doença, irá adoecê-</p><p>lo ainda mais, iniciando a cultura do isolamento social.</p><p>Ainda no século XX, principalmente com a influência das teorias freudianas, a família</p><p>entra para o rol das intervenções dos especialistas por se destacar a importância das</p><p>relações familiares sobre o psiquismo dos sujeitos. Ao conhecer o universo familiar,</p><p>esses especialistas buscam identificar e determinar a causa da doença na maneira</p><p>como os pais conduzem a educação dos seus filhos, entendendo que o inadequado</p><p>comportamento da criança como má educação ou o próprio transtorno mental</p><p>acontecem por culpa dos pais.</p><p>Importante</p><p>Existe outra vertente histórica, que justifica o procedimento de isolamento</p><p>como necessário para proteger a família da loucura e prevenir possíveis</p><p>contaminações do outros membros.</p><p>Reflita</p><p>Quem nunca olhou uma criança fazendo “birra” e disse, ou pelo menos</p><p>pensou: “Cadê os pais dessa criança?”; ou “Nossa, esses pais de hoje em</p><p>dia são muito ‘frouxos’ na educação dessa criança”; ou ainda “Se fosse</p><p>meu filho não estaria fazendo isso”. Se você já tem filho talvez compreenda</p><p>melhor, mas é importante lembrar que o entendimento sobre os</p><p>sentimentos acontece aos poucos, o que nós adultos chamamos de</p><p>birra é, na verdade, a forma que a criança encontra de mostrar que tem</p><p>algo errado, assim, ela ainda não sabe expressar em palavras, o que está</p><p>sentindo pode ser sono, fome, tristeza, raiva etc. Além disso, o sentimento</p><p>Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3</p><p>A observação sistemática da família começa a acontecer nos anos 1950, pela pesquisa</p><p>e intervenção direta no meio familiar, ganhando destaque o papel da mãe. Para alguns</p><p>autores, há a importância da função da patologia dentro do grupo familiar e o paciente</p><p>com transtorno mental passa a ser considerado o porta-voz da enfermidade de toda</p><p>a família tendo, agora, um papel positivo, pois é considerado um agente catalizador</p><p>que adoece para proteger o grupo familiar e manter sua homeostase. Mas essa</p><p>caracterização do indivíduo sendo invalidado impede os processos de mudanças nos</p><p>padrões de relacionamento do grupo.</p><p>Os estudos inserindo a família no contexto de saúde mental ganham visibilidade no Brasil</p><p>na década de 1970, quando surgem as terapias familiares que favorecem as mudanças</p><p>nos padrões de relacionamento e comunicação dentro do sistema familiar.</p><p>A partir da Reforma Psiquiátrica no Brasil, é que esses conceitos são incorporados ao</p><p>trabalho dos profissionais de saúde, dando maior atenção à relação da família com o</p><p>portador de sofrimento psíquico. Além disso, o processo de desinstitucionalização atribui</p><p>à família a responsabilidade do cuidado do indivíduo. Inserida como objeto de estudos,</p><p>surgem diferentes visões sobre a família, conforme sua relação com o paciente, entre</p><p>elas, podemos destacar:</p><p>• A família como mais um recurso, uma estratégia de intervenção.</p><p>• A família como provedora de cuidado, com auxílio dos serviços de saúde,</p><p>principalmente nos momentos de crise.</p><p>• A família como um lugar de possível convivência para o paciente, mas não exclusivo</p><p>e nem obrigatório.</p><p>• A família como sofredora necessitando de suporte e assistência social.</p><p>• A família como um sujeito de ação política e coletiva, construtor de cidadania e</p><p>avaliador dos serviços de saúde.</p><p>de frustração é um dos últimos a ser entendido pela criança, por isso,</p><p>quando não consegue o que quer, tende a chorar descontroladamente</p><p>para demonstrar que está insatisfeita. Percebe que, neste caso, estamos</p><p>falando de um processo natural de desenvolvimento psicoemocional e</p><p>mesmo após anos de estudos sobre o funcionamento da mente humana,</p><p>ainda colocamos a culpa nos pais para justificar o comportamento de</p><p>seus filhos?</p><p>Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3</p><p>A inserção do paciente na sociedade e o apoio familiar no provimento de cuidados do</p><p>indivíduo</p><p>são um dos focos da atenção à saúde mental elaborado nos Caps, fazendo</p><p>parte da estratégia de cuidado da equipe multidisciplinar (SANTIN; KLAFKE, 2011; CARDOSO;</p><p>GALERA, 2011; ROSA, 2005). Borba et al. (2011, p. 443) afirmam:</p><p>Esse distanciamento da família esteve presente na relação sujeito-loucura</p><p>até aproximadamente a década de 80 do século passado, quando emergem</p><p>novas possibilidades referentes ao papel e ao relacionamento da família</p><p>com o portador de transtorno mental. Essas perspectivas ocorrem em face</p><p>das novas políticas na área da saúde mental, consequência do movimento</p><p>da reforma psiquiátrica que acontece no país e orienta a transição dos</p><p>espaços de tratamento da instituição coercitiva e restritiva para serviços</p><p>comunitários de atenção à saúde.</p><p>A importância da relação familiar</p><p>O novo modelo de cuidado em saúde mental volta seu olhar para o indivíduo como um</p><p>todo, como um ser que sofre e enfrenta momentos desestabilizadores, como separação,</p><p>perda de emprego, luto, carência afetiva, entre outros problemas cotidianos que podem</p><p>levá-lo a procurar ajuda.</p><p>Por isso, a atenção à saúde está voltada à integração social do sujeito, procurando</p><p>mantê-lo em seu contexto familiar e comunitário, servindo como suporte fundamental</p><p>para que o sujeito mantenha vínculos, principalmente afetivos, revertendo o modelo</p><p>manicomial. Com isso, o cuidado envolve também questões pessoais, emocionais,</p><p>financeiras e sociais, relacionadas à convivência do paciente levando em consideração</p><p>as inúmeras dificuldades vivenciadas tanto pelos pacientes e seus familiares quanto</p><p>pelos profissionais e a sociedade em geral.</p><p>Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3</p><p>A atenção e o cuidado em saúde mental é decorrente de uma intrínseca relação</p><p>entre os serviços de saúde, seus profissionais, o paciente e sua família, considerando</p><p>as particularidades de cada contexto cultural, social e econômico. Em muitos casos, o</p><p>cuidador está inserido no núcleo familiar deste paciente, por isso, é primordial conhecer</p><p>melhor quem são estes familiares cuidadores, uma vez que se tornam parceiros da</p><p>assistência em saúde mental.</p><p>Apesar do aspecto positivo da promoção dos laços familiares e sociais, a responsabilidade</p><p>pelo cuidado do paciente é marcada, muitas vezes, pela sobrecarga do cuidador, em</p><p>geral, devido à falta de orientação e de apoio necessários para o desempenho do papel</p><p>que assumem no dia a dia.</p><p>Observa-se ainda que as associações de familiares são compostas preponderantemente</p><p>por mães, em geral, com idade em que também podem estar precisando de cuidados.</p><p>O que leva ao desgaste emocional e a consequente necessidade de cuidado com o</p><p>cuidador (SANTIN; KLAFKE, 2011; CARDOSO; GALERA, 2011; MARTINS; LORENZI, 2016; ROSA, 2005).</p><p>Portanto, a família deve ser vista como ator social fundamental para a efetividade da</p><p>psicoterapia e compreendida como um grupo com grande potencial para acolher e</p><p>reassentar seus membros. Exemplos de transformações da saúde mental que exigem</p><p>o envolvimento da família no planejamento do cuidado incluem a criação e expansão</p><p>de redes comunitárias para cuidar de pessoas com transtornos mentais e a redução de</p><p>internações em instituições mentais.</p><p>Saiba Mais</p><p>O que caracteriza o cuidador: ser uma pessoa, membro ou não da</p><p>família, que, com ou sem remuneração, cuida do doente ou dependente</p><p>no exercício das suas atividades diárias, tais como alimentação, higiene</p><p>pessoal, medicação de rotina, acompanhamento aos serviços de saúde</p><p>e demais serviços requeridos no cotidiano como a ida a bancos ou</p><p>farmácias, excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados</p><p>com profissões legalmente estabelecidas, particularmente na área da</p><p>enfermagem.</p><p>Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3</p><p>Dificuldades na inserção da família no cuidado</p><p>Alguns pesquisadores argumentam sobre a inclusão da família em tratamentos</p><p>terapêuticos como sendo decisiva e essencial para a resposta de pacientes psiquiátricos.</p><p>Entretanto, é um processo que ocorre com tensões e contradições, pois, em alguns</p><p>casos, há a simples devolução do paciente para a família, em razão da desarticulação</p><p>dos manicômios, sem que tenha havido a criação efetiva de recursos de assistência</p><p>substitutivos e sem considerar adequadamente a estrutura social para a qual se</p><p>devolviam os pacientes.</p><p>Uma dificuldade encontrada nesse modelo é deixar claro para os familiares e cuidadores</p><p>os benefícios das mudanças em curso, pelo temor de terem que assumir sozinhos as</p><p>sobrecargas no ambiente doméstico. Além disso, o familiar, exausto e estigmatizado,</p><p>muitas vezes teme tornar pública a condição de sua família, sendo exposto como</p><p>representante da “saúde mental” e conviver com o rótulo de “familiar de louco”.</p><p>Esse estereótipo sobre os transtornos mentais, muitas vezes, leva a família a tentar</p><p>resolver o problema internamente primeiro e, quando não consegue, chega a um serviço</p><p>psiquiátrico com sentimento de impotência, exaustão, culpa e desespero.</p><p>Outra dificuldade encontrada vem da própria equipe de saúde sobre a forma de inclusão</p><p>da família e o lugar que ela poderia ocupar que nem sempre corresponde ao seu desejo</p><p>e às possibilidades reais principalmente nos casos de famílias com possibilidades</p><p>limitadas. Além disso, poucos profissionais são capacitados academicamente para</p><p>trabalhar com a família, e os que são, na grande maioria, estão preparados para lidar</p><p>com famílias de classe média não com famílias de baixa renda, em geral, com baixa</p><p>escolaridade e dificuldade de relatar os acontecimentos. Esse profissional está pouco</p><p>Importante</p><p>Os avanços da assistência à saúde mental são consideráveis, porém,</p><p>a dificuldade dos familiares em conviver com o indivíduo leva a um</p><p>processo de sucessivas internações, esse fenômeno é conhecido como</p><p>porta giratória.</p><p>Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3</p><p>habilitado para entender códigos culturais, comportamentais e linguísticos dessa</p><p>população, confundindo, muitas vezes, pobreza econômica e material com pobreza</p><p>cultural (SANTIN; KLAFKE, 2011; CARDOSO; GALERA, 2011; MARTINS; LORENZI, 2016; ROSA, 2005).</p><p>Além disso, deve-se ter em mente que a convivência de uma família com uma pessoa</p><p>com transtorno mental nem sempre é harmoniosa, caracteriza-se por tensões e conflitos,</p><p>pois nesse espaço é mais fácil expressar sentimentos. Como um grupo vivo, a família</p><p>requer, portanto, a capacidade de seus membros de repensar e reajustar continuamente</p><p>suas estratégias e dinâmicas internas. Isso exige respeito à individualidade do sujeito,</p><p>afinal, as pessoas existem no mundo, pensam, interpretam os fatos e agem de forma</p><p>diferente mesmo morando na mesma casa.</p><p>A família é uma unidade social complexa e fundamental para o processo</p><p>de viver de todo ser humano, que se concretiza por meio da vivência, que é</p><p>dinâmica e singular. Ela não é formada apenas por um conjunto de pessoas,</p><p>mas pelas relações e ligações entre elas. E, ao longo da trajetória familiar,</p><p>seus integrantes passam por situações de crise, sejam estas previsíveis ou</p><p>não, ligadas aos processos de transição como nascimento, mudança de</p><p>emprego, casamento, saída de casa dos filhos, ou a situações adversas,</p><p>como a doença. A capacidade da família de ajustar-se a novas situações,</p><p>como a de conviver com um membro com doença crônica, depende</p><p>das fortalezas que possui, dos laços de solidariedade que agrega e da</p><p>possibilidade de solicitar apoio das outras pessoas e instituições. (BORBA et</p><p>al., 2011, p. 443).</p><p>O cuidado com o cuidador</p><p>Quando se identifica o aparecimento de um paciente com transtorno mental na família,</p><p>acontece um momento de crise, modificação da rotina familiar e até conflito entre os</p><p>membros.</p><p>Além disso, o cuidado com uma pessoa adulta, principalmente se for considerado</p><p>líder da família (pai ou mãe, por exemplo), gera a necessidade da reconstrução da</p><p>unidade familiar, torna- se importante que todos os membros aprendam a se relacionar</p><p>com o transtorno mental, com os serviços</p><p>de saúde mental e com a linguagem dos</p><p>Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3</p><p>profissionais que, muitas vezes, não estão preparados para conversar com a população</p><p>sem a educação na área e, muitas vezes, com baixo grau de instrução.</p><p>Entre as ações e os serviços realizados pelos Centros de Atenção Psicossocial, está o</p><p>acompanhamento dos familiares do paciente. Em geral, há reuniões semanais nas quais</p><p>se trocam experiências com familiares de outros pacientes, e eles recebem suporte</p><p>para tirarem dúvidas sobre o tratamento e o manejo do paciente, além de este ser</p><p>um momento para que o familiar (em geral o cuidador) possa desabafar acerca de</p><p>suas angustias e seu cansaço e também falar sobre si enquanto pessoa. Normalmente,</p><p>esses grupos não têm número de participantes definidos por não ser uma obrigação</p><p>relacionada ao tratamento.</p><p>É importante ressaltar que a sobrecarga do cuidador pode implicar em graves</p><p>consequências ao cuidador e até mesmo ao paciente e toda a família. Essa sobrecarga</p><p>caracteriza-se como uma experiência de fardo a carregar descrita por mudanças</p><p>no cotidiano relacionadas ao processo de cuidado, implementação de hábitos e</p><p>principalmente às maiores responsabilidades. Estas mudanças, muitas vezes, exigem</p><p>adaptações de toda a família e podem interferir nas necessidades do cuidador, gerando</p><p>acúmulo de responsabilidades que levam ao estresse e até ao adiamento de planos</p><p>pessoais do cuidador.</p><p>Saiba Mais</p><p>Existem dois tipos de cuidadores: os cuidadores formais que são</p><p>profissionais de saúde, geralmente enfermeiros ou técnicos de</p><p>enfermagem com competências centradas na manutenção deste</p><p>perfil de paciente, que são pagos, geralmente, pela própria família,</p><p>para cuidarem do paciente. Já os cuidadores informais são, muitas</p><p>vezes, familiares, principalmente do sexo feminino, não remunerados,</p><p>orientados pelos serviços de saúde. Mas em ambos os casos, a</p><p>sobrecarga emocional é e’vidente devido à proximidade com o paciente</p><p>emocionalmente instável.</p><p>Saúde Mental Atenção e cuidado em saúde mental Capítulo 3</p><p>As maiores dificuldades que os cuidadores informais relatam são relativas a condições</p><p>financeiras, pois, muitas vezes, o cuidador tem que parar de trabalhar para cuidar de</p><p>seu parente. Mas também são relatadas dificuldades como falta de suporte social, baixo</p><p>nível de funcionamento dos pacientes, baixa escolaridade dos pacientes e familiares,</p><p>estratégias ineficientes de enfrentamento, entre outras.</p><p>Uma característica marcante encontrada por Cardoso (2015), quando fez uma análise</p><p>de vários estudos sobre o perfil do cuidador de paciente em saúde mental, é a presença</p><p>feminina no papel de cuidador principal. Mostrando que o cuidado à saúde está ligado</p><p>a questões socioculturais que incorporam à mulher o papel de principal provedora</p><p>de cuidados à família e aos necessitados, o que muitas vezes é entendido como uma</p><p>obrigação moral.</p><p>Nesse estudo, o autor descreve que a sobrecarga relacionada ao cuidado favorece o</p><p>adoecimento do próprio cuidador o qual negligencia o autocuidado a favor do cuidado</p><p>ao próximo; é observada menor qualidade de vida do cuidador com maior risco de</p><p>desenvolvimento de doenças emocionais como depressão, diretamente relacionadas</p><p>à dependência do paciente, além da redução da atenção com os demais membros da</p><p>família. Cardoso (2015) relata que a atenção ao cuidador ainda necessita de maiores</p><p>estudos para observar suas necessidades e intervenções por parte dos profissionais e</p><p>serviços da área da saúde.</p><p>Resumindo</p><p>E então? Conseguiu compreender mais profundamente as temáticas</p><p>relacionadas à atenção e ao cuidado em saúde mental? Vimos até</p><p>aqui a importância da família como suporte social para o paciente, e a</p><p>necessidade, principalmente do cuidador, da integração e participação</p><p>das ações e dos serviços de saúde para conseguir entender melhor o</p><p>processo da doença e do cuidado sendo um elemento adicional no</p><p>tratamento. Aprendemos que outro aspecto importante é a saúde física</p><p>e mental do cuidador, para que ele esteja bem para poder exercer sua</p><p>função de cuidador sem sobrecarregar-se.</p><p>@faculdadelibano_</p><p>4</p><p>Matriciamento em</p><p>Saúde Mental</p><p>Saúde Mental Capítulo 4</p><p>Matriciamento em Saúde</p><p>Mental</p><p>Objetivos</p><p>Entendendo que a atenção básica, em geral, é a porta de entrada</p><p>dos indivíduos para o atendimento no Sistema Único de Saúde, vamos</p><p>aprender neste capítulo sobre a equipe de apoio matricial. Essa equipe</p><p>foi criada para dar suporte para a unidade básica para que ela possa</p><p>identificar casos que necessitam de um acompanhamento mais</p><p>específico e especializado. Então, animado para conhecer mais acerca</p><p>desta temática?</p><p>O que é matriciamento em saúde mental</p><p>Tradicionalmente, o Sistema Único de Saúde se organizava de uma forma vertical</p><p>(hierárquica), com diferença de autoridade entre quem encaminha um caso e quem o</p><p>recebe, e consequente transferência de responsabilidade ao encaminhar. A comunicação</p><p>entre os níveis hierárquicos ocorre, muitas vezes, de forma precária e irregular sem uma</p><p>boa resolubilidade. A nova proposta integradora, conhecida como Redes de Atenção à</p><p>Saúde, traz um novo modelo horizontalizado no qual a Unidade de Saúde é, em geral,</p><p>porta de entrada, responsável pelo fluxo e contrafluxo de cada paciente, integrando os</p><p>componentes e seus saberes nos diferentes níveis assistenciais.</p><p>Definição</p><p>O matriciamento, também chamado de apoio matricial, é um novo</p><p>modelo de produzir saúde em que duas ou mais equipes, em um processo</p><p>de construção compartilhada, criam uma proposta de intervenção</p><p>pedagógico-terapêutica.</p><p>Saúde Mental Matriciamento em Saúde Mental Capítulo 4</p><p>Na horizontalização decorrente do processo de matriciamento, o sistema de saúde se</p><p>reestrutura em dois tipos de equipes:</p><p>• Equipe de referência;</p><p>• Equipe de apoio matricial</p><p>Nessa estrutura, a Atenção Primária à Saúde (APS), por exemplo, a equipe de Estratégia em</p><p>Saúde da Família (ESF), funciona como equipes de referência interdisciplinares, atuando</p><p>com uma responsabilidade, incluindo o cuidado longitudinal, além do atendimento</p><p>especializado que realiza concomitantemente.</p><p>Quanto à estas equipes, Gazignato e Silva (2014, p. 297) afirmam que:</p><p>O Programa de Saúde da Família (PSF) foi criado em 1994 pelo Ministério</p><p>da Saúde, visando a modificar a prática da atenção básica. O PSF passa a</p><p>ser denominado Estratégia de Saúde da Família (ESF) quando deixa de ser</p><p>apenas um programa para se tornar a estratégia principal de organização</p><p>da atenção básica. Assim, trabalha numa perspectiva de saúde amplia-</p><p>da e integral, com equipes multiprofissionais responsabilizadas por um</p><p>número de pessoas de uma região delimitada. A ESF foi elaborada como</p><p>uma estratégia de reorientação do modelo assistencial à saúde, baseado</p><p>até então no modelo biomédico, na prática hospitalocêntrica e no uso</p><p>inapropriado dos recursos tecnológicos disponíveis. Nessa estratégia,</p><p>propõe-se que a atenção básica se configure como porta de entrada do</p><p>sistema de saúde.</p><p>E a equipe de apoio matricial é uma equipe específica de saúde mental, caracterizada</p><p>como um suporte técnico especializado ofertado a uma equipe interdisciplinar em</p><p>saúde a fim de ampliar seu campo de atuação e qualificar suas ações como o Caps.</p><p>Gazignato e Silva (2014, p. 297) ressaltam:</p><p>Conforme a perspectiva da inserção da pessoa com transtorno mental</p><p>nos equipamentos comunitários, num contexto de rede social, aos poucos,</p><p>começa a implantação dos equipamentos substitutivos: os Centros de</p><p>Atenção Psicossocial (Caps), as Residências Terapêuticas, os Centros de</p><p>Convivência, as Oficinas de Trabalho e as Enfermarias Psiquiátricas em</p><p>Saúde Mental Matriciamento em Saúde Mental Capítulo 4</p><p>Hospital Geral (GAMA; CAMPOS, 2009). O Caps é um serviço estratégico para</p><p>promover a desospitalização e a reinserção social, com- patíveis com os</p><p>princípios da Reforma Psiquiátrica e com as diretrizes da Política Nacional</p><p>de Saúde Mental. Porém, os Caps e os outros equipamentos substitutivos</p><p>não são, ainda,</p><p>suficientes para a cobertura da demanda de saúde mental</p><p>nas diversas realidades do País.</p><p>Os profissionais matriciadores em saúde mental na atenção primária podem ser</p><p>psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, assistentes sociais e</p><p>enfermeiros de saúde mental.</p><p>Dessa forma, existem áreas de atuação específicas de cada especialidade ou profissão</p><p>(área de saber e de prática profissional), chamada de núcleo, e um espaço de limites</p><p>imprecisos em que cada disciplina ou profissão buscaria em outras o apoio para cumprir</p><p>suas tarefas teóricas e práticas, chamada de campo.</p><p>Portanto, o processo de cuidado não é monopólio nem ferramenta exclusiva de nenhuma</p><p>especialidade, pertencendo a todo o campo da saúde, assim, o matriciamento é um</p><p>processo multidisciplinar por natureza para a construção do conhecimento.</p><p>Importante</p><p>A equipe de apoio não é responsável pelo encaminhamento ao</p><p>especialista, nem pela intervenção psicossocial coletiva ou atendimento</p><p>individual, pois isso faz parte da atividade da equipe de referência.</p><p>Funciona como a retaguarda especializada da assistência e um suporte</p><p>técnico pedagógico para maior qualificação do cuidado na unidade</p><p>básica sendo um dispositivo para a formação continuada, por meio de</p><p>discussões de textos, casos e situações, contribuindo para a ampliação</p><p>da clínica. Assim, torna-se possível compartilhar casos e situações</p><p>com a equipe de saúde local, favorecendo a corresponsabilização, a</p><p>horizontalização do cuidado.</p><p>Saúde Mental Matriciamento em Saúde Mental Capítulo 4</p><p>A inserção das práticas de saúde mental na atenção primária à saúde demonstra a</p><p>busca pela regionalização da atenção à saúde e seu direcionamento para as questões de</p><p>acordo com a integralidade e humanização do cuidado, conectando-se a especialistas</p><p>e serviços já localizados nas regiões.</p><p>Gazignato e Silva (2014, p. 298) destacam que:</p><p>Nunes et al. (2007) identificaram os princípios da integralidade e da</p><p>participação social, além das propostas de ampliação do concei- to de</p><p>saúde-doença, da interdisciplinaridade no cuidado e da territorialização</p><p>das ações, como questões que orientam tanto o modelo psicossocial da</p><p>saúde mental como a ESF. Esta última funcionaria como um importante</p><p>articulador da rede de saúde mental, na tentativa de superar o</p><p>modelo hospitalocêntrico e centrar o cuidado na família. Entretanto, a</p><p>implementação de ações de saúde mental na saúde da família ainda está</p><p>em processo de consolidação, uma vez que a ESF pode ser entendida como</p><p>uma tecnologia de produção do cuidado em saúde mental a ser explorada</p><p>e mais bem desenhada como possibilidades de atenção comunitária.</p><p>A saúde mental é um tema bastante complexo e pouco desenvolvido pelas equipes da</p><p>ESF, principalmente, junto às famílias, devido à falta de treinamento ou conhecimento</p><p>específico dos profissionais sobre o assunto.</p><p>Entretanto, a ESF constitui uma estratégia ideal para trabalhar a saúde mental, pois, suas</p><p>equipes apresentam-se engajadas no dia a dia da comunidade, com a perspectiva</p><p>de melhorar as condições de vida da população, incorporando ações de promoção e</p><p>educação para a saúde. Para isso, o suporte técnico e de conhecimento da equipe de</p><p>apoio matricial se torna uma ferramenta eficaz para o acompanhamento dos pacientes</p><p>com transtornos mentais e seus familiares.</p><p>Seguindo este caminho, o Ministério da Saúde conseguiu propor uma estratégia do</p><p>Apoio Matricial (AM), ou Apoio Matricial em Saúde Mental, para facilitar o direcionamento</p><p>do fluxo na rede e facilitar a integração entre os equipamentos de saúde mental e a ESF.</p><p>De acordo com a Unidade Coordenadora de Saúde Mental, nos documentos</p><p>apresentados às conferências regionais sobre a reforma dos serviços de saúde mental,</p><p>Saúde Mental Matriciamento em Saúde Mental Capítulo 4</p><p>o AM é: “um arranjo organizacional que viabiliza o suporte técnico em áreas específicas</p><p>para equipes responsáveis pelo desenvolvimento de ações básicas de saúde” (BRASIL,</p><p>2008, p. 34).</p><p>É a partir deste arranjo que a equipe de saúde mental consegue compartilhar alguns</p><p>casos com a equipe de cuidados primários. Esse compartilhamento se dá na forma</p><p>de correspon- sabilização dos casos, seja por meio de revisões conjuntas de casos,</p><p>intervenções conjuntas com famílias e comunidades, ou cuidado compartilhado,</p><p>podendo ser na forma de supervisão e treinamento.</p><p>O Apoio Matricial surgiu a partir da constatação de que a reforma</p><p>psiquiátrica não pode avançar se a atenção básica não for incorporada ao</p><p>processo. Concentrar esforços somente na rede substitutiva não é suficiente,</p><p>é preciso estender o cuidado em saúde mental para todos os níveis de</p><p>assistência, em especial, da atenção básica. Entretanto, sabe-se que as</p><p>equipes de atenção básica se sentem desprotegidas, sem capacidade de</p><p>enfrentar as demandas em saúde mental que chegam cotidianamente ao</p><p>serviço, especialmente os casos mais graves ou crônicos. O matriciamento</p><p>visa a dar suporte técnico a essas equipes, bem como a estabelecer a</p><p>corresponsabilização. (GAZIGNATO; SILVA, 2014, p. 298).</p><p>Uma equipe de referência de profissionais da ESF são responsáveis pela gestão</p><p>individual, familiar ou comunitária, com uma metodologia de trabalho voltada para</p><p>garantir o suporte profissional tanto na enfermagem quanto na educação profissional e</p><p>apoiadores. Especialistas agregam conhecimento às equipes de referência e contribuem</p><p>para intervenções que melhoram as habilidades de resolução de problemas.</p><p>O Apoio Matricial às equipes da atenção bá- sica deve partir dos Caps,</p><p>dado que são serviços que ocupam lugar central na proposta da reforma</p><p>psiquiátrica e seus dispositivos principais. São considerados ordenadores da</p><p>rede de saúde mental, direcionando o fluxo e servindo de retaguarda tanto</p><p>para as residências terapêuticas como para a atenção básica (DIMENSTEIN</p><p>et al., 2009). O matriciamento pode ser entendido como uma estratégia de</p><p>trabalho em rede, ou seja, mediante a integralidade dos serviços de saúde,</p><p>uma das diretri- zes do SUS. (GAZIGNATO; SILVA, 2014, p. 298).</p><p>Saúde Mental Matriciamento em Saúde Mental Capítulo 4</p><p>O matriciamento constitui-se em uma ferramenta de transformação, não só do processo</p><p>de saúde e doença, mas de toda a realidade dessas equipes e da comunidade. A equipe</p><p>de apoio matricial pode ser acionada para participar ativamente do projeto terapêutico:</p><p>• Nos casos em que a equipe de referência percebe a necessidade de apoio da saúde</p><p>mental para conduzir e abordar um caso que exige esclarecimento de diagnóstico,</p><p>estruturação de um projeto terapêutico e abordagem da família.</p><p>• Quando há necessidade de suporte para realizar intervenções psicossociais</p><p>específicas da atenção primária, como grupos de pacientes com transtornos mentais.</p><p>• Para integração do nível especializado com a atenção primária no tratamento</p><p>de pacientes com transtorno mental, apoiando na adesão ao projeto terapêutico</p><p>de pacientes com transtornos mentais graves e persistentes em atendimento</p><p>especializado em um Caps.</p><p>• Quando a equipe de referência sente necessidade de apoio para resolver problemas</p><p>relativos ao desempenho de suas tarefas, como dificuldades nas relações pessoais</p><p>ou nas situações especialmente difíceis encontradas na realidade do trabalho diário.</p><p>(AOSANI; NUNES, 2013; SILVA, 2014; CHIAVERINI, 2011; CAMPOS; DOMITTI, 2007).</p><p>Assim, uma das principais estratégias desenvolvidas pelo Caps para o desenvolvimento</p><p>de uma rede de atenção é a implantação do matriciamento ou apoio matricial,</p><p>entendido como “um novo método de geração de saúde em que duas ou mais equipes,</p><p>em processo de construção conjunta, criam uma proposta de intervenção terapêutica</p><p>educativa” (CHIAVERINI et al., 2011, p. 13). Pegoraro, Cassimiro e Leão (2014, p. 622) afirmam</p><p>que:</p><p>No campo da saúde, a palavra matricial indica a possibilidade de “sugerir</p><p>que profissionais de referência e especialistas mantenham uma relação</p><p>horizontal e não vertical, como recomenda a tradição dos sistemas de</p><p>saúde” (CAMPOS;</p>