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EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO UX AULA 6 Profª Lilian Barbosa 2 CONVERSA INICIAL Anteriormente, estudamos as etapas, diretrizes e recursos necessários de um plano do teste de usabilidade. Agora, iremos dialogar sobre a etapa de finalização do processo, além de conversarmos sobre onde depositar os dados e resultados de análises dos testes – que servirão para direcionar a equipe de implantação do projeto, e também como repositório para consultas futuras pela equipe. Todas as informações coletadas farão parte do acervo de soluções que você e sua equipe estão construindo, e que finalizam o processo. Nesta aula, vamos abordar os seguintes temas: 1. Materiais e métodos; 2. Ambiente e banco de dados; 3. Gravação; 4. Condução do estudo; 5. Organização dos resultados. CONTEXTUALIZANDO Método é o caminho para se atingir uma finalidade e, para isso, há várias técnicas. Para cada uma delas, é possível usar diferentes ferramentas, de acordo com o contexto ou etapa. Como metáfora, vamos usar o exemplo da fixação de um quadro na parede. Você pode usar diferentes métodos para fixá-lo: usar fita dupla-face, um prego, ou um parafuso com bucha. A escolha do método vai depender, por exemplo, do tamanho do quadro. Se for um quadro pequeno, uma fita dupla face de alta fixação pode resolver a questão sem furos, barulho etc. No entanto, se for um quadro pesado, talvez você precise usar um ou mais parafusos e buchas. Além disso, você precisará de diferentes ferramentas. Para fixar as buchas para pendurar um quadro com mais peso, você precisará de uma furadeira, e não um martelo. Os métodos e materiais necessários dependerão, portanto, do tipo de projeto e de seu contexto. A mesma analogia vale para testes de usabilidade com usuários. A diferença é que, neste contexto, existem regras definidas por normas e 3 heurísticas para planejamento, coleta, análise, síntese e arquivamento das informações coletadas. TEMA 1 – MATERIAIS E MÉTODOS Para a área de UX, os métodos de testes para validação de artefatos ou sistemas têm a função de determinar como a testagem será realizada, com descrição detalhada de todas as suas etapas e ações. Para o profissional que deseja atuar com excelência neste segmento, uma soft skills necessária é a organização pessoal e clareza no pensamento e nas ações. Para sua organização pessoal, você pode criar uma planilha no modelo 5W, como vimos anteriormente, para que você possa providenciar a infraestrutura e materiais necessários e não esquecer nada na etapa de testes de usabilidade. Por exemplo: você pode prever o número de participantes e número de avaliadores (quem); listas de checagem (o que); se os testes serão presenciais ou remotos (onde); individuais ou em grupo (como); o tempo previsto para cada uma das ações (quando); entre outras questões que você julgar necessárias. Pergunte-se também, de acordo com o conhecimento sobre os usuários selecionados se, antes do teste, será necessário fazer com eles algum pré- treinamento. Em conteúdo anterior, trouxemos e indicamos, como referência, o Nielsen e Norman Group (NN/g), que é uma das fontes mais confiáveis quando se trata de UX Design, por conta dos estudos realizados na instituição desde os anos 1980 e por ter cunhado o termo “usabilidade”, quando era um dos líderes de pesquisa na Apple. Além disso, o NN/g é usado como referência por diversos autores que abordam este tema. São credenciais suficientes para você conhecer mais a respeito do trabalho do grupo e, sempre que tiver dúvidas e precise de uma fonte confiável, recorra a eles, pois aqui damos apenas pinceladas sobre o vasto conhecimento que a UX já possui e que ainda está desenvolvendo, pois novas tecnologias surgem todos os dias. Lembre-se sempre da LGPD: mantenha os dados seguros. Limite o acesso aos dados de pesquisa e aos dados confiados à empresa pelos clientes. Dê acesso limitado de acordo com a hierarquia e posição das pessoas na equipe, 4 principalmente se o tipo de pesquisa coletar dados sensíveis, como questões relativas à saúde (Brasil, 2018). Na dúvida sobre o que é ou não um dado sensível, consulte a LGPD ou o setor jurídico de sua empresa ou organização. Uma violação de dados é uma experiência traumática para o usuário. Sobre a analogia da fixação do quadro, de acordo com o tipo de produto, tipo de teste de avaliação, ambiente de aplicação do teste e usuário, você vai definir o método e as ferramentas a serem utilizadas. Para isso, sugerimos fortemente que você prepare um roteiro escrito. Não confie em sua memória ou no improviso. Portanto, aconselhamos que você faça uma simulação do dia do teste e pratique antes de aplicar o estudo com o usuário usando todos os equipamentos, verificando quanto tempo você leva para cada ação. Anote tudo, para identificar possíveis questões que possa ter esquecido ou que sejam desnecessárias. Reavalie a condução, se for o caso. Além disso, prepare-se com seus instrumentos de trabalho. Como já sugerimos, escreva um checklist, para sua organização, com itens como um cronômetro, bloco de notas, gravador, câmeras e tudo mais que for necessário. Alguns autores sugerem que, para não distrair o usuário com suas anotações e interferir de alguma forma no resultado dos testes cronometrados, você deve conduzir o estudo, preferencialmente, posicionando-se atrás do usuário, para ficar fora do seu campo de visão dele. Após cada tarefa, considere aplicar um questionário, concluindo a documentação da avaliação de cada etapa antes de passar para a próxima tarefa. Desse modo, o usuário ainda está com a memória recente de suas percepções. Logo após receber os resultados do teste, calcule as métricas e organize seus comentários para não perder suas percepções do momento. Todos os dados ajudarão a justificar suas decisões de projeto. A Cartilha de usabilidade, do Governo Federal, descreve as etapas ideais para um teste de usabilidade (BRASIL, 2010). • Planejamento do teste; • Escolha do ambiente de teste; • Seleção de participantes; 5 • Preparo do material de teste; • Condução da sessão; • Questionamento final; • Análise dos dados coletados; • Relato e recomendações; • Implementação das alterações e reteste. Saiba mais Para mais informações sobre usabilidade e testes, acesse: • Cartilha de usabilidade, do Governo Federal: . Acesso em: 21 set. 2021. • Roteiro de testes de usabilidade: . Acesso em: 21 set. 2021. TEMA 2 – AMBIENTE E BANCO DE DADOS Quando falamos de ambientes no contexto de UX, podemos considerar o ambiente físico e o digital. Neste tema, vamos abordar os aspectos destes ambientes e a organização dos testes de avaliação em banco de dados. 2.1 Ambiente físico Depois de você definir as metas de estudo, o formato e a configuração da avaliação, o número de usuários, todas as tarefas de acordo com o objetivo da pesquisa e validação, as métricas e tem planejado em um script tudo o que o usuário deverá fazer durante a atividade, pergunte a si mesmo se ainda falta algo e se está tudo pronto para iniciar os testes. Em relação ao ambiente físico onde o teste irá acontecer, verifique se há em sua empresa, uma sala especialmente destinada a testes presenciais e se será necessário que outros usuários estejam juntos no mesmo espaço, além de verificar quantas pessoas a sala comporta confortavelmente. A fim de preparar o ambiente da melhor forma possível, observe se os testes serão realizados com outros usuários simultaneamente. Se sim, verifique se o tipo de teste que você agendou pode ser realizado no local. 6 Outro questionamento: Se os usuários, no momento doteste, irão falar, há algum problema se todos ouvirem? Será que o que um usuário relatar influenciará a percepção dos outros? Uma opção conveniente seria usar baias isoladas para acomodar todos os usuários ao mesmo tempo. Se outros membros da equipe de design estiverem junto, poderão auxiliar durante o teste. Essas são apenas algumas questões que podem ser levantadas sobre o local físico dos testes, mas não podemos nos limitar apenas a elas. Observe a ergonomia das cadeiras, se são confortáveis; se o ambiente possui boa iluminação; se é protegido de ruídos externos que possam interferir nos testes; se a temperatura é adequada. Faça do momento do teste presencial uma boa experiência para o usuário, para você e sua equipe. Outra modalidade de avaliação presencial são as pesquisas contextuais, que são parecidas com as entrevistas, mas ocorrem no ambiente do usuário. Essa é uma prática comum em levantamentos de questões ergonômicas de postos de trabalho. Você pode estar desenvolvendo um sistema para ser usado em um local específico – como uma fábrica – e é necessário que você vá até lá para realizar testes de usabilidade do sistema com o funcionário que será o usuário da sua solução. Nesse caso, sua atenção deve ser redobrada e seu planejamento mais acurado. Você precisa ser detalhista e verificar desde as configurações dos equipamentos disponíveis, até a exploração do ambiente como um todo. Isso é necessário para identificar se há fatores que irão afetar a interação do usuário com seu sistema no momento do teste. É possível que você descubra questões que diminuem a percepção de usabilidade do sistema, mas que não estão necessariamente relacionadas ao seu produto. É imprescindível visitar o local previamente e verificar questões que possam, de alguma maneira, prejudicar a aplicação, como ruídos, iluminação, distrações etc., levantar o que depende de você e o que depende do cliente, para que você possa deixar tudo pronto para o dia do teste. Mostre profissionalismo, diferencie com cuidado o que é de sua responsabilidade e o que não é, em situações como essa. 2.2 Ambiente digital 7 Ambiente digital é um conjunto de interações para comunicação e acesso a informações em meio digital, usado para diferentes objetivos, como lazer, trabalho, estudos, compras, entre outros. No contexto do UX Design, como já comentamos, há inúmeras plataformas e softwares que permitem a realização de testes de usabilidade de maneira remota. Algumas possuem opções de uso de inteligência artificial, os chamados chat bots, que podem desempenhar algumas das funções de facilitador. Whitenton (2019), fez uma síntese de diferentes tipos de avaliação. Selecionamos cinco tipos que podem ser usados em ambiente digital. 1. Remoto: os participantes podem estar em qualquer lugar, pois o estudo é todo realizado on-line. 2. Sem moderação: os participantes recebem o link de um teste e concluem por conta própria, sem um pesquisador orientando a sessão. 3. Baseado em tarefas: os participantes recebem instruções para concluir tarefas específicas on-line. 4. Comportamental: as ações dos usuários são registradas por um aplicativo ou plataforma. Você pode saber o que as pessoas fizeram e também se concluíram as tarefas com sucesso. 5. Interativo: os participantes podem realizar os testes em sites ativos ou protótipos interativos, em vez de apenas ver uma imagem estática. 2.3 Banco de dados Podemos armazenar nossos arquivos em pastas dentro de nosso computador, ou em um drive físico externo ou, ainda, em um drive na nuvem, como no Google Drive ou Dropbox. Esses são modelos de repositórios e de bancos de dados. Em se tratando de um banco de dados pessoal, um caderno, uma planilha, ou nossos celulares são repositórios ou bancos de dados. No contexto de UX Design, quando estamos desenvolvendo um produto, precisamos criar um repositório para os dados que são gerados durante todo o projeto, para armazenar e organizar todas as informações sobre as pesquisas e avaliações que desenvolvidas ao longo do projeto, até a versão final. 8 Como já comentamos, repositório (ou banco de dados) é o local onde ficam todas as informações relativas aos projetos, disponíveis para todos os participantes e, de acordo com o perfil da empresa, com diferentes níveis de acesso e permissões. O local de arquivamento varia de empresa para empresa, como servidores próprios, internos ou em serviços de hospedagem na nuvem. Lowdermilk (2013, p. 28) sugere uma estrutura enxuta de documentação com os seguintes componentes principais: • Declaração de missão da equipe; • Detalhes do projeto; • Requisitos do usuário; • Requisitos funcionais; • Diagramas de banco de dados/fluxo de dados; • Capturas de tela de protótipos. Estudamos acerca da importância de documentar o projeto em todas as suas etapas. Ser produtivo, principalmente com trabalhos em equipe, exige padronização de processos e organização pessoal e coletiva, pois em algum momento você pode ser solicitado a ajudar em projetos de colegas. Imagine o tempo que você levaria para se achar no meio de tantas informações. Com uma estrutura organizada, é mais fácil para você e a equipe revisarem a documentação e contribuírem de maneira mais ágil e eficiente. O tamanho de tal estrutura deverá variar em função da quantidade de dados de entrada dos usuários. Os dados são processados pela empresa que os guarda em um banco de dados que pode estar alocado em servidores na nuvem. Este processo está ilustrado na Figura 1. Figura 1 – Banco de dados testes de usabilidade 9 A forma de organização dos dados pode variar de uma empresa para outra. Por exemplo, pode ser criado um diretório apenas para arquivamento de testes de usabilidade, que vai conter os documentos descritivos do plano de teste, que podem ser divididos em modelos de teste e testes aplicados. Se na sua empresa não há esta organização, talvez você possa iniciá-la com autorização de seus superiores. Se não for possível, comece pela sua própria organização pessoal e de seu trabalho, pois isso o ajudará a aumentar sua produtividade. TEMA 3 – GRAVAÇÃO Você provavelmente já se preparou para esse momento, ao fazer todo o roteiro da entrevista, mas, em respeito ao seu tempo e ao do usuário, tenha clareza de aonde pretende chegar, ou melhor, do que deseja descobrir. Para isso, faça perguntas bem elaboradas e com objetivos definidos. Sabemos que, em uma entrevista, a quantidade de informações colhidas é enorme; em contrapartida, a memória humana é limitada para administrar a quantidade de informações que devemos coletar, organizar e analisar. Por isso, utilizamos o recurso de gravação em diferentes contextos e, em especial, em testes de usabilidade. O propósito de gravar o teste é permitir que você faça anotações de insights durante os testes. Depois você poderá verificar a gravação e comparar com o ponto anotado que chamou sua atenção naquele momento, possibilitando validar suas observações e ter novos insights. Como já comentamos, determinados testes sugerem que você induza os usuários a “pensarem em voz alta”, pois isso ajudará você a entender o processo de pensamento deles, permitindo que você perceba coisas de que não havia se dado conta. Para isso, é muito importante que você grave todas as entrevistas, para assistir depois e rever detalhes não percebidos no momento por estar acompanhando as ações do usuário. Em muitas situações, os usuários não conseguem relatar os detalhes de como usaram um site ou um aplicativo, e acabam fazendo relatos sem uma sequência lógica. Por isso, a gravação de testes e a realização de entrevistas com usuários são necessárias e recorrentes. 10 O objetivo de gravar uma entrevista é, geralmente, poder analisar o discurso do usuário e examinar suas reações, comparandoo que foi dito às reações do usuário às perguntas. Gravações também servem para fazer esclarecimentos durante a análise das respostas e geração de insights que não foram percebidos no momento. As gravações de telas são usadas para identificar questões relacionadas ao sistema. A opção por gravação em vídeo ou apenas áudio é opcional, e irá depender do propósito da entrevista. Se o objetivo é analisar o comportamento dos entrevistados, a gravação em vídeo é necessária. Se for apenas para análise do discurso, só o áudio já resolve. Outras situações de gravação permitem o uso de webcams. Para registrar as ações do usuário manipulando o smartphone, é recomendada a gravação com webcam. Para isso, deve-se restringir o local onde o participante vai testar o aplicativo e conectar o dispositivo a um notebook ou desktop, de maneira que o usuário não visualize a gravação, para que não se distraia vendo as próprias ações. Se for colocado sobre a mesa, o smartphone ficará a maior parte do tempo imóvel, o que facilita a filmagem. No entanto, essa não é a forma natural de se utilizar o celular, o que acaba restringindo alguns movimentos, por exemplo, estar deitado navegando no aplicativo. (Stati; Sarmento, 2021, p. 221) Se a análise do comportamento do usuário não é relevante, considere fazer a gravação apenas em áudio, pois é mais fácil de conduzir. Quando se trata apenas de áudio, a tendência é que as pessoas se sintam mais à vontade e, em dado momento, podem até esquecer que a entrevista está sendo gravada, deixando as respostas mais espontâneas. Além do usuário saber que está sendo gravado e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para uso de sua imagem e som, é necessário deixar o usuário à vontade diante da presença da câmera. Se você considera que a câmera é necessária, procure deixá-la em uma posição discreta e levar o foco do usuário para outro ponto. É bom lembrar também das questões técnicas que envolvem gravações em vídeo, como iluminação, ruídos etc. TEMA 4 – CONDUÇÃO DO ESTUDO Como citamos antes, ter um roteiro é imprescindível (para não cair no improviso), assim como o checklist com todos os itens que devem constar para 11 execução da atividade com o usuário, com linguagem apropriada para ele. Evite usar jargões da área de TI. Sem um script de perguntas, o facilitador, se não tiver se organizado, pode se perder, impactando os resultados no levantamento de dados. Deve-se criar um roteiro separado para os analistas e para o usuário. O plano de quem está observando é o geral, em que cada etapa está resumida, já que os detalhes devem ficar com o usuário. Na condução do estudo, a equipe tem a ideia geral do teste por meio do roteiro macro, com o mínimo de detalhamento. Para o participante, os detalhes são importantes porque refletem o passo a passo da execução da tarefa. (Stati; Sarmento, 2021, p. 222) Um script serve para checar as atividades que medem quanto tempo os indivíduos levam para concluir uma tarefa. Você deve ficar atento às métricas que você estabeleceu. Cuide de comportamentos sutis que podem interferir na relação com usuário nesta etapa. Se o usuário, por acaso, não concluir uma tarefa no tempo determinado, observe e identifique o que pode ter ocorrido. Independentemente do que o usuário relate, tire suas impressões. No entanto, você não deve pressioná-lo ou demonstrar impaciência. Por isso, o ideal é ter um bloco de notas e uma caneta pois é possível fazer registros rapidamente. Você pode, inclusive, usar desenhos ou diagramas para anotar suas percepções durante os testes. Com certeza um laptop, tablet ou smartphone podem ser mais usuais. Porém, você pode perder detalhes do que o usuário está fazendo enquanto digita sua percepção, pois as tarefas em uma interface gráfica são realizadas de forma rápida, e os usuários podem ser ágeis. Algumas vezes, os testes são complementados com uma entrevista. Nesse caso, elas devem ocorrer logo após o término dos testes de usabilidade. Algumas são realizadas antes dos testes ou, até mesmo, dependendo do método de análise, podem ser feitas antes e depois do teste. O formato, a quantidade e o momento da entrevista vão depender método usado na coleta de dados. Não podemos confundir o método de entrevista com usuário com o de teste de usabilidade. Apesar de possuírem pontos em comum, ambos diferem na estrutura e no propósito. Uma entrevista com o usuário segue um roteiro pré- estabelecido e, de acordo com o propósito, pode ser estruturada com perguntas fechadas (perguntas com apenas uma resposta), ou abertas, como: Pode contar 12 mais sobre isso? Você pode me dar um exemplo disso? Por que você pensa assim? Por que isso é importante para você? (Rosala, 2019). Podemos conduzir uma entrevista apenas com perguntas fechadas, guiadas por um script em formato de questionário, dependendo do método e propósito da coleta de dados. Modelos de entrevistas com perguntas fechadas servem para medir o nível de percepções do usuário em relação ao produto. Neste caso, o uso de uma escala de Likert pode ser usada. Esta é uma ferramenta usada em vários tipos de estudos, para avaliar opiniões (Rosala, 2020). A escala Likert tem esse nome por ter sido desenvolvida pelo psicólogo Rensis Likert na década de 1930. A escalas Likert mede concordância. Com ela, os entrevistados são questionados sobre o quanto eles concordam ou discordam de um conjunto de afirmações. Uma posição geral é obtida após a análise de todas as respostas às perguntas relacionadas (Rosala, 2020). A escala Likert baseia-se em uma pontuação de 1 a 5, em que a menor nota simboliza a discordância com o que está sendo questionado e, a maior, simboliza a concordância com o que está sendo questionado. Podemos utilizar também, opcionalmente, ilustrações gráficas para representar esta pontuação, deixando o questionário mais intuitivo para responder, como ilustrado na Figura 2. Figura 2 – Escala Likert Alguns autores usam um número maior de variáveis. No entanto, a escala Likert se popularizou com cinco critérios. Em relação à condução dos estudos, selecionamos dez dicas e boas práticas para condução de sessões de testes de usabilidade e avaliação de 13 produtos, com base em nossa percepção na prática profissional e também pela leitura de vários autores que usamos como referência em nossas aulas e que compilamos, para você incluir em seu roteiro quando estiver interagindo com os usuários: 1. Receba cordialmente o usuário. Lembre-se de que ele é um convidado especial. Demonstre calma e tranquilize o usuário, pois há pessoas que ficam ansiosas. Reveja o conteúdo sobre tipos de usuários e aprenda a reconhecê-los para saber qual estratégia usar. 2. Certifique-se de apresentar o conceito do estudo e o propósito do teste de avaliação. Esclareça pausadamente todas as etapas e leia os termos de autorização para o usuário; lembre-se da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e, antes de iniciar, peça ao usuário para assinar o TCLE. 3. Esclareça que você está testando o aplicativo, não o usuário. Caso os testes sejam de avaliação de usuários, é fundamental proporcionar uma boa experiência para eles. Explique que os resultados serão anônimos e pergunte se há alguma dúvida quanto a isso. 4. Ouça os usuários com empatia. Mesmo tendo diretrizes ou regras a serem cumpridas, é necessário que cada um esteja ciente de seu papel neste momento. 5. Sua função é fazer a condução e facilitação da avaliação. Espera-se que você deixe os usuários à vontade para expressar suas percepções sem serem constrangidos. Explique as tarefas que serão a base do seu estudo de usabilidade, quais as etapas e como elas serão realizadas, com clareza, seriedade e ética. 6. Ao usuário, cabe realizar o teste, conforme orientações passadas e esclarecimentos, com responsabilidade,ética e seriedade. 7. Reserve um tempo, ao final do estudo, para esclarecer pontos que você não entendeu e, se o usuário pedir, passe mais informações sobre o projeto, até onde for permitido. Geralmente eles têm interesse genuíno e se sentem parte do processo, por isso, caso eles perguntem como se saíram, compartilhe suas observações, pois, muitas vezes, após o teste, quando todos estão descontraídos, alguns comentários ou explicações adicionais sobre o assunto podem gerar insights extraordinários. 14 8. Fale sobre a previsão de lançamento do produto. O usuário pode tornar- se um fã e, dependendo do projeto, irá colaborar na divulgação, pois todos gostam de divulgar que colaboraram com um produto bem-sucedido. Além disso, você pode vir a precisar fazer atualizações, e poderá contar com esses usuários para avaliar a evolução do produto. 9. Ao final, agradeça a colaboração e, se for permitido, ofereça um brinde da empresa em agradecimento pelo tempo dedicado ou sirva café, suco ou água aos usuários, se o teste for presencial. 10. Adote uma rotina organizada em seu trabalho, fazendo uso de checklist, listas de tarefas, scripts para participar de reuniões ou conduzir sessões de avaliações com usuários (Lowdermilk, 2013; Teixeira, 2014; Nielsen, 2020). TEMA 5 – ORGANIZAÇÃO DOS RESULTADOS Resultados são dados. Por isso, antes de abordar a organização de resultados, gostaríamos de apresentar dois breves conceitos necessários para a classificação dos dados levantados: os dados primários e os dados secundários. 5.1 Dados primários Os dados primários são o resultado de pesquisas primárias. A pesquisa primária é a que você realiza quando está fazendo o levantamento das percepções dos usuários nos testes de usabilidade destinados exclusivamente para o produto que você está desenvolvendo e avaliando. dados primários são aqueles que não foram antes coletados, estando ainda em posse dos pesquisadores e que são coletados com o propósito de atender as necessidades específicas da pesquisa em andamento. (Mattar, 2001, p. 134) Você está fazendo o levantamento relacionado exclusivamente a um produto que ainda está sendo criado e, apesar de ter uma noção sobre os possíveis resultados, nem você, nem o usuário ou a equipe de projeto, sabem exatamente qual será o resultado efetivo. É uma pesquisa customizada para atender às questões e necessidades do projeto no qual você está trabalhando. Os resultados dos dados coletados 15 pertencem à sua empresa, mas são estudados e manipulados por você e pela equipe de projeto envolvida. Podemos dizer que são dados crus, que serão analisados e tratados especificamente para ajustes em seu projeto. 5.2 Dados secundários Os dados secundários são coletados por meio de pesquisas de produtos, processos, nichos e mercados que já existem. São dados resultantes, por exemplo, de benchmarking (processo de levantamento de dados sobre produtos similares ao que você pretende desenvolver). São chamados secundários porque alguém já cumpriu a etapa de levantamento de dados, a de testes com usuários e já lançou o produto no mercado. Essa pesquisa de dados secundários também é conhecida como desk research, e é uma etapa inicial no desenvolvimento de um produto ou projeto. Pesquisa secundária é assim chamada porque envolve acesso a dados de "segunda-mão" ou fontes secundárias e é também chamada de "pesquisa de gabinete" (ou desk research) [...] A pesquisa de gabinete é uma etapa básica, porém importante, que um pesquisador toma inicialmente, antes de se comprometer à cara tarefa de gerar dados primários a partir do nada, seja através de pesquisas ou de trabalho de campo. Faz sentido acessar e utilizar estes dados – particularmente agora que bases de dados on-line possibilitam encontrar informações, tais como o tamanho de um mercado, dados gerais sobre um mercado, tendências de mercado, dados demográficos sobre rendas, despesas e população com um clique do mouse. (Hamilton, 1989, p. 48) Estes dados servem para você avaliar a concorrência, identificar lacunas deixadas pelo concorrente e analisar quais estratégias você pode agregar ao seu produto, sem copiar, mas melhorar o que já existe. 5.3 Organização dos dados Agora você tem um panorama dos tipos de dados que você precisa armazenar. Entretanto, apesar da nomenclatura, você deve entender que a coleta de dados em um projeto acontece primeiro com dados secundários e, por último, são gerados dados primários. 5.4 Princípios FAIR Uma boa organização e gestão de dados é essencial para facilitar a condução de um projeto de pesquisa com usuários. Muitos profissionais de 16 diferentes áreas utilizam os princípios FAIR como critério de qualidade para organizar os dados de pesquisa. FAIR é o acrônimo em inglês das seguintes palavras: Findable, Accessible, Interoperable e Reusable (“Achável” ou “Localizável”, “Acessível”, “Interoperável” e “Reutilizável”. Observe a Figura 3. Figura 3 – Princípios FAIR Findable localizáveis Acessible acessíveis Interoperable interoperável Reusable reutilizável Portanto, os dados coletados nos testes de usabilidade podem ser organizados seguindo os princípios FAIR, tornando fácil a memorização desse padrão para a equipe, como sugerido na sequência, mas não se limitando a esses exemplos: 1. Localizáveis – Os dados devem ser encontrados por qualquer pessoa da equipe ou departamento autorizado que precise de informações a respeito dos dados coletados com os usuários nos testes de usabilidade. 2. Acessíveis – Os dados devem ser acessíveis por mecanismos internos de busca e por funcionários autorizados de diferentes níveis de hierarquia dentro da empresa. Por exemplo, os dados podem ficar disponíveis para os departamentos de Design e de Marketing, que podem desenvolver campanhas direcionadas para o público-alvo, baseado nos dados de usabilidade coletados. Contudo, o acesso a esses dados, não precisa ser compartilhado com o departamento administrativo. 3. Interoperáveis – Os dados devem ser nomeados com vocabulário padrão comum, conhecido e compartilhado por todos; por exemplo, a empresa pode criar padrões de nomeação de pastas e arquivos. Todos da empresa, departamento ou equipe devem estar cientes deste padrão, 17 para que, a cada novo arquivo, saibam nomear e salvar o arquivo de maneira correta. 4. Reutilizáveis – Os dados devem ser compatíveis com diferentes sistemas para serem compartilhados em diferentes ambientes. Se você usa um arquivo em Adobe Illustrator, e outro departamento da empresa ou fornecedor não tem acesso ao programa, mas precisa das informações desse arquivo, a empresa, por padrão, salvará diferentes tipos de arquivo, como os formatos PDF ou JPEG, ou, ainda, caso a versão atualizada de um software tenha sido disponibilizada apenas para um departamento da empresa, os arquivos serão salvos em formatos nos quais outros interessados autorizados tenham acesso. Retomando os dados primários, ou seja, que você está coletando por meio de testes de usabilidade. Uma sugestão para organizar os resultados de testes de avaliação é criar uma pasta modelo contendo a descrição e a ordem em que as tarefas devem ser executadas pelos usuários, com a descrição detalhada dos passos que a sessão de teste deve contemplar, as etapas e questões relacionadas com cada tarefa ou atividade planejada que não podem faltar de acordo com as normas da empresa, LGPD etc. Pense também a respeito das premissas e orientações sobre as habilidades do participante conforme o nicho de mercado para o qual o produto foi desenvolvido, como área de saúde, turismo etc. Talvez seja interessante separar pastas para o que for relativo ao sistema especificamente. Por exemplo: uma pasta com as diretrizes de funcionalidade do sistema e material de apoio, como planilhas,checklists etc., diferenciando esse conteúdo dos dados relativos aos usuários e o roteiro das falas do condutor do teste. É necessário testar tudo, experimentando categorias e hierarquias para organização dos dados coletados e documentação do projeto. É necessário verificar o que é mais adequado à sua realidade Como citamos anteriormente, para cada tipo de produto, há questões peculiares e customizáveis no projeto. Por isso, planos de avaliação de usabilidade podem sofrer ajustes, mas se o material-modelo estiver pronto, proporcionará maior tranquilidade para a preparação dos testes. Além disso, é uma forma de padronizar e orientar outros membros da equipe que está 18 aplicando testes com você, sobre o modo como os resultados devem ser arquivados. Quando repositórios de arquivos estão organizados em uma ordem lógica, as informações são acionadas com agilidade por todos da equipe. Esta premissa pode ser aplicada em todos os estágios do projeto. Saiba mais Leia o artigo “Os princípios FAIR como diretrizes para maximizar o uso e (re)uso dos dados de pesquisa: traçando um paralelo com a gestão de documentos arquivísticos digitais”, de Bárbara Carvalho Diniz, Guilherme Ataíde Dias e Alzira Karla Araújo da Silva (disponível em: . Acesso em: 20 set. 2021. TROCANDO IDEIAS Como você tem organizado seus arquivos de estudo? Qual hierarquia você tem utilizado? Faça um print das suas pastas de estudo no computador e compartilhe com seus colegas de curso. Pergunte como eles organizam seus materiais. Comece com este exercício e vá, gradualmente, ampliando a organização de outras pastas de trabalho. NA PRÁTICA Sabe aquele checklist visual que você fez em conteúdo anterior? Vamos ampliá-lo agora. Imprima, no topo de uma folha em formato paisagem e escreva, abaixo de cada etapa, quais as ferramentas, formulários e recursos que você usará em cada uma destas etapas do teste de usabilidade (veja a Figura 4). 19 Figura 4 – Checklist condução testes Pronto, você tem um padrão para organizar seus dados. Agora é só escolher onde irá armazená-lo. Este formulário será o seu mapa para organizar e encontrar o que você precisa. Você pode também usá-lo como uma capa para cada projeto, anotando quais as ferramentas, formulários e recursos que você está usando no projeto em andamento. Desse modo, você poderá fazer um histórico das ferramentas usadas em cada projeto e, com o tempo, poderá identificar quais recursos são mais usados em cada etapa e quais as de que você mais gosta de trabalhar. Lembre-se, cada projeto é diferente e, por isso, ferramentas e recursos também mudam. Lembra da analogia da fixação do quadro na parede? Esse formulário é uma base, um formulário padrão para você manter organizada suas pastas de projetos. Mantenha ele simples, minimalista e deixe- o em um local de fácil visualização. FINALIZANDO Ao longo das aulas dessa disciplina, sempre salientamos a importância da organização pessoal e do trabalho como fator de produtividade e excelência na interação entre a equipe de trabalho e com os usuários. Agora, reforçamos a necessidade de organização dos dados como um fator de sucesso do projeto. 20 Essa disciplina tem características teóricas, e fornece contextualização e base para outras disciplinas, com abordagens técnicas. Apresentamos aqui alguns tópicos do vasto conteúdo sobre Experiência do Usuário. Nosso objetivo foi abordar os aspectos teóricos sobre UX, mas sempre na tentativa de sensibilizar os aspectos da interação humana e do respeito ao usuário. Nunca esqueça o propósito e para quem você está desenvolvendo um produto. Por isso, acreditamos no design centrado no usuário, ou seja, no design centrado no ser humano. Desejamos a você boa sorte e perseverança em seus estudos. Esperamos nos encontrar em breve, onde estiverem os bons profissionais de UX. 21 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei 13.709 de 14 de agosto de 2018. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 ago. 2018. Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2021 BRASIL. Ministério do planejamento, orçamento e gestão. Padrões web em governo eletrônico e-PWG: Cartilha de usabilidade. abr. 2010. Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2021. GO FAIR. GO FAIR initiative. Leiden, 2018. Disponível em: . Acesso em: 20 set. 2021. HAMILTON, J. Pesquisa de mercado explicada. São Paulo: Esomar, 1989. LOWDERMILK, T. User-Centered Design. 1st Edition. Newton: O’Reilly Media, 2013. LIKERT, R. A technique for the measurement of attitudes. In: Archives of Psychology, n. 140, p. 44-53, 1932. MATTAR, F. N. Pesquisa de marketing: edição compacta. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001. 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