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FRENTE 77Editora Bernoulli MÓDULOLÍNGUA PORTUGUESA REGRAS GERAIS A concordância verbal é aquela que se faz entre o sujeito de uma oração e o verbo que a ele se relaciona. Conhecemos anteriormente a regra geral desse tipo de concordância, ao estudarmos a função de sujeito. Como sabemos, esse termo comanda a flexão do verbo, ou seja, o verbo concorda com o sujeito, em harmonia com as seguintes regras: Sujeito simples O verbo concorda em número e pessoa com o substantivo (ou termo de natureza substantiva) núcleo do sujeito, sendo este anteposto ou posposto. Exemplos: – As formigas subiam em fila pelo pilar de sustentação da casa. – Tu pagarás por tudo que me fizestes sofrer. – Ocorrerão ainda muitas catástrofes climáticas. – Existiriam habitantes em terras tão inóspitas? Sujeito composto anteposto 1. O verbo concorda no plural. Exemplo: – Carro e bicicleta não atrapalham o tráfego. 2. Em alguns casos, o verbo pode ficar no singular, mesmo que o sujeito composto esteja anteposto. A) Quando os núcleos do sujeito são sinônimos ou quando pertencem a um mesmo plano de significação. Exemplo: – Medo e temor nos acompanha sempre. (A concordância no plural também é aceitável.) B) Quando há uma gradação sequencial dos núcleos do sujeito. Exemplo: – Uma brisa, um vento, o maior furacão não os inquietava. (A concordância no plural também é aceitável.) C) Quando os núcleos vierem resumidos por tudo, nada, alguém, ninguém, cada um. Exemplo: – Carro e bicicleta não atrapalham o tráfego. (Nesse caso, a concordância no plural não é aceitável.) D) Sujeito formado por verbos no infinitivo: o verbo fica no singular (salvo se os infinitivos estiverem determinados ou se forem antônimos). Exemplos: – Escrever e ler é a base do bom conhecimento da língua. – O escrever e o ler são a base do bom conhecimento da língua. Sujeito composto posposto O verbo vai para o plural. Exemplo: – De tudo, só restaram a casa velha e o curral abandonado. ou Concorda com o núcleo mais próximo. – De tudo, só restara a casa velha e o curral abandonado. Concordância Verbal 10 C 78 Coleção Estudo Sujeito composto de pessoas diferentes O verbo vai para o plural na pessoa gramatical de menor número. Assim, quando ocorrer 1ª e 2ª – o verbo fica na 1ª pessoa do plural. Exemplo: – Tu e eu somos parecidos. 2ª e 3ª – o verbo fica na 2ª pessoa do plural. Exemplo: – Tu e ele sois parecidos. 1ª e 3ª – o verbo fica na 1ª pessoa do plural. Exemplo: – Eles e eu somos parecidos. ac TOME NOTA! No português brasileiro, quando o sujeito é constituído pelo pronome “tu” mais um elemento de terceira pessoa, o verbo pode ir tanto para a segunda pessoa do plural quanto para a terceira. Isso se deve ao pouco uso da segunda pessoa em grande parte do território nacional. CONCORDÂNCIA LÓGICA, ATRATIVA E IDEOLÓGICA Observe as frases a seguir: – Um bando de aves voava alto. – Um bando de aves voavam alto. – Um bando de aves voavam alto. Na verdade, existem três modos de se efetuar a concordância verbal. Conforme visto anteriormente, deve-se, logicamente, concordar o verbo com o núcleo do sujeito. É isso o que ocorre na primeira frase. A esse tipo de concordância chamamos concordância lógica. Na segunda e na terceira frases, temos uma pequena ambiguidade. Pode-se, num primeiro momento, imaginar que a forma verbal “voavam” concorda com o substantivo “aves”. Como a palavra “aves” vem depois de uma preposição, ela não pode ser o núcleo do sujeito da frase em questão. Por isso mesmo, pode-se dizer que, neste caso específico, está acontecendo uma concordância atrativa, ou seja, o verbo está concordando com o substantivo mais próximo. Outra possibilidade de se compreender a frase é a seguinte: o verbo “voavam” concorda com a ideia de plural contida na palavra “bando”. Se o verbo concorda com a ideia, temos uma concordância ideológica, também chamada de silepse. A silepse, aceita há pouco tempo pela Gramática Normativa, é um tipo de concordância figurada, na qual se privilegiam as relações semânticas, ideológicas de uma sentença. Apresenta-se em três modalidades. Silepse de gênero Exemplos: – Vossa Senhoria está muito enganado. – Seu marido é um banana. Silepse de número Exemplos: – A maioria dos homens ficaram resfriados. – Um grande grupo de alunos estão empenhados nesse trabalho. Silepse de pessoa Exemplos: – Os mineiros somos inteligentes. – Os três já íamos saindo. CASOS ESPECIAIS DE CONCORDÂNCIA VERBAL No quadro a seguir, apresentam-se os mais importantes casos especiais de concordância verbal. As regras apresentadas têm, muitas vezes, valor relativo, portanto, a escolha desta ou daquela concordância depende, frequentemente, do contexto, da situação e da predisposição do falante. Frente C Módulo 10 LÍ N G U A P O R TU G U ES A 79Editora Bernoulli Alguns casos de concordância verbal Caso Concordância Exemplo Cada um(a) Verbo no singular Cada uma das pessoas comentou o assunto. A maior parte de, uma porção de + nome no plural Verbo no singular ou no plural A maior parte das pessoas colaborou / colaboraram. Nome coletivo + adjunto no plural Verbo no singular ou no plural Um bando de ladrões invadiu / invadiram a loja. Um dos que Verbo no singular ou no plural Meu professor foi um dos que colaborou / colaboraram. Assim como, tanto...quanto, com Verbo no singular ou no plural Tanto a criança quanto o adulto merece / merecem um espaço para o lazer. Um e outro, nem um nem outro Verbo no singular ou no plural Nem um nem outro quis / quiseram comentar o assunto. Mais de, menos de, perto de + numeral Verbo concorda com o numeral Mais de um aluno saiu da sala. Menos de 10 alunos saíram da sala. Cerca de + numeral Verbo concorda com o numeral Cerca de dez alunos faltaram. Sujeito expresso em porcentagem Verbo concorda com o número 32% roubam. 1% é honesto. Sujeito em forma de porcentagem, seguido de expressão com sentido Verbo, preferencialmente, concorda com a expressão 25% do grupo se machucou. 25% das pessoas se machucaram. Porcentagem antecedida de palavra ou expressão determinante Verbo concorda com o número e com o determinante Aqueles 87% do Congresso defendem a si próprios. Verbos dar, bater, soar, na indicação de horas O verbo concorda com o número de horas Deu uma hora. Deram duas horas. sujeito sujeito Quais de nós, muitos de nós (os dois pronomes no plural) Verbo concorda com o primeiro ou com o segundo pronome Quais de nós diriam / diríamos semelhante asneira? Qual de nós, nenhum de vós (1º pronome no singular) Verbo concorda com o primeiro pronome Qual de nós reconhecerá o erro? Pronome relativo que como sujeito O verbo concorda com o antecedente Não fui eu que comprei o livro. Pronome relativo quem como sujeito O verbo concorda com o antecedente ou fica na terceira pessoa do singular Não fui eu quem comprei / comprou o livro. Sujeito: pronomes de tratamento Verbo na terceira pessoa do singular ou plural Vossa Excelência se enganou. Vossas Excelências se enganaram. “Ou” com sentido de um ou outro (exclusão) Verbo no singular José ou Francisco ficará na loja. “Ou” com sentido de retificação de número O verbo concorda com o núcleo mais próximo O artista ou os artistas devem aguardar o terceiro sinal. “Ou” com sentido de adição O verbo fica no plural Matemática ou Física exigem um raciocínio bem formado. Nomes próprios no plural O verbo concorda com o artigo Os Andes ficam na América do Sul. Santos localiza-se no litoral paulista. VTD + SE Verbo concorda com o sujeito Aluga-se carro. – (carro = sujeito) Alugam-se carros. – (carros = sujeito) VTI + SE e VI + SE Verbo na terceira pessoa do singular Precisou-se de bons argumentos. Verbos impessoais (exceto ser na indicação de dias e horas) Verbo na terceira pessoa do singular Há anos não o vejo. Ainda há pessoas na sala. Sujeito oracionalVerbo na terceira pessoa do singular Não adianta chorar. Concordância Verbal 80 Coleção Estudo ac TOME NOTA! • Também fica invariável na 3ª pessoa do singular o verbo que forma locução com os verbos impessoais haver ou fazer. – Deverá haver cinco anos que ocorreu o incêndio. – Vai haver grandes festas. • O verbo chover, no sentido figurado (= cair ou sobrevir em grande quantidade), deixa de ser impessoal e, portanto, concordará com o sujeito. – Choviam elogios a meu trabalho. – Têm chovido comentários e palpites a respeito destas mudanças. VERBO SER A) Quando sujeito e predicativo não se referem a pessoa e pertencem a números diferentes, concorda, preferencialmente, com o que está no plural. Exemplo: – Tua vida são essas ilusões. B) Quando um dos dois se refere a pessoa, a concordância se faz com a pessoa. Exemplo: – Seu orgulho eram os velhinhos. C) Concorda com o pronome pessoal, seja este sujeito ou predicativo. Exemplos: – O professor sou eu. – Eu sou o professor. D) Quando o sujeito é representado por uma expressão de sentido coletivo ou partitivo, concorda com o predicativo. Exemplos: – Eu sabia que o mais eram lorotas. suj. suj. – O resto foram reclamações sem fim. suj. – A maioria foram espetáculos sem graça. E) Quando o sujeito é isto, isso, aquilo, tudo ou o (= aquilo), concorda com o predicativo. Exemplos: suj. – O que espero são glórias. suj. – Isso são apenas intrigas! F) Quando aparecem expressões indicativas de quantidade (é muito, é pouco, é bastante), fica invariável. Exemplo: – Quinze quilos é pouco. G) Quando as frases são iniciadas pelos interrogativos que e quem, concorda com a palavra seguinte. Exemplos: – Que são problemas? – Quem somos nós? H) Quando indicar dias e horas, deve concordar com o numeral, ainda que, nesse caso, seja classificado como verbo impessoal, constituindo orações sem sujeito. Exemplos: – São três horas. predicativo predicativo – É primeiro de janeiro. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01. (Mackenzie-SP) Assinale a alternativa INCORRETA. A) Dois cruzeiros é pouco para esse fim. B) Nem tudo são sempre tristezas. C) Quem fez isso foram vocês. D) Era muito árdua a tarefa que os mantinham juntos. E) Quais de vós ainda tendes paciência? Frente C Módulo 10