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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNICARIOCA BULLYING impactos e possibilidades de intervenção no contexto escolar LORRANY BATISTA DE OLIVEIRA Rio de Janeiro 2019 LORRANY BATISTA DE OLIVEIRA BULLYING impactos e possibilidades de intervenção no contexto escolar Orientadora: Marcia de Medeiros Aguiar Rio de Janeiro 2019 Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário Carioca, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia. DEDICATÓRIA Dedico este trabalho, primeiramente a Deus, que é meu porto seguro, o nosso amor maior. Aos meus pais, Iolanda e Wilson, às minhas avós, Geralda e Simildes (em memória), aos meus tios Bernadete e Hélio, minha prima Juliana, por todo amor, carinho e todos ensinamentos ao longo da vida. Ao meu noivo Marcelo que foi meu apoio e fortaleza. “Tudo posso naquele que me fortalece”. [Felipenses 4:13]. AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a Jesus Cristo, por essa importante conquista, com sabedoria, paciência, luta e amor. Agradeço ao anjo que Jesus colocou em meu caminho e mudou minha vida, meu noivo, sinto-me imensamente grata por todo seu apoio, incentivo e prestabilidade ao longo dessa caminhada. Agradeço aos meus pais, minha avó, meus irmãos, meus sobrinhos, meus tios e meus primos. Agradeço a minha professora e orientadora Marcia de Medeiros Aguiar pela sua dedicação e apoio, contribuindo de forma afetiva e efetiva que tornaram possível a realização e conclusão desta pesquisa. E agradeço a professora Lana Barbosa e a todos os meus professores da UniCarioca ao qual tive o prazer de estudar com cada um. RESUMO Esta pesquisa teve como objeto de estudo abordar o bullying no campo educacional. Com o objetivo de identificar os impactos que o bullying pode causar em suas vítimas e os possíveis meios de contribuir no combate desse fenômeno no contexto escolar. Desta forma, é possível afirmar que a realização da pesquisa tem grande relevância e destaca-se por contribuir para o conhecimento do fenômeno, a fim de apresentar os papéis das escolas e das famílias nas ocorrências de bullying, as formas de manifestação, as características de suas vítimas e dos seus agressores, as suas consequências, e como esse grave problema pode afetar a vida das crianças e jovens no ambiente escolar. A partir das informações coletadas, foram analisados e discutidos relatos de pessoas que vivenciaram o mal que esse fenômeno pode causar e concluiu-se que é necessário ter um olhar mais atento ao bullying, a não identificação precoce ou a omissão do problema pode ocasionar consequências graves às vidas das vítimas. Sugerem-se propostas para contribuir na intervenção, de maneira que busque uma postura de esclarecimento para os alunos, família e toda comunidade escolar, desenvolvendo ações de prevenção, trabalhando a conscientização do bullying, inserindo valores como respeito, ética e tolerância, visando criar uma saudável interação social e qualidade de vida de todos os indivíduos. Palavras–chave: bullying – escola - família. SUMÁRIO Nº da página 1 – INTRODUÇÃO 7 2 – REFERENCIAL TEÓRICO 13 3 – RESULTADOS E DISCUSSÕES 31 4 - CONCLUSÃO 39 5 - REFERÊNCIAS 42 7 1. INTRODUÇÃO “Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”. Paulo Freire O presente projeto de pesquisa tem como foco principal o bullying, um ato constante e presente no contexto escolar, mas também pode ocorrer dentro ou fora do cotidiano escolar. Embora não se fale tanto sobre o assunto quanto deveria, alguns ainda desconhecem a gravidade do problema e suas possíveis consequências psicológicas e emocionais para quem sofre repetidas e intencionais atitudes agressivas e constantes intimidações. Lembrando que, nem tudo que desagrada uma criança é caracterizado bullying. Existe naturalmente empatias e antipatias. Pode-se mencionar que o Brasil, segundo dados do órgão do MEC, aproximadamente um em cada dez estudantes é vítima frequente de bullying nas escolas, e ainda segundo o Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF, 2017), o Brasil é o quarto país com maior prática de bullying no mundo, 43% dos estudantes de 11 a 12 anos foram vítimas de violência na escola. São vítimas que sofrem diariamente seja por piadas, boatos maldosos, que causam constrangimentos e tristeza, são excluídos pelos colegas, e sofrem agressões físicas ou psicológicas. Já, o cyberbullying, o bullying virtual, é apontado no Brasil, segundo o instituto Ipsos, como 2º país no mundo com mais casos de bullying virtual contra crianças e adolescentes. Levando em consideração esses aspectos, situações como essas podem ser prejudiciais para o desenvolvimento integral das crianças, trazendo problemas comportamentais, dificuldades na aprendizagem e socialização, evasão escolar, podendo também agravar problemas pré-existentes, transtornos psíquicos, depressão, fatores que podem ser irreversíveis, levando o indivíduo ao ponto mais extremo, o suicídio. A família e a escola são peças fundamentais para que se encontre uma solução para superar ou intervir para o problema do bullying. Faz-se necessário que as duas estejam muito atentas para a identificação do problema e juntas 8 caminhem na busca da superação dos problemas, mudando a vida das crianças e adolescentes. A educação está ligada à ética e à democracia, a base para uma boa estrutura de vida do ser humano. A escola é um espaço democrático onde se encontra a diversidade e a interação entre todos a fim de que ocorra a aprendizagem que propicia a formação de alunos críticos, capazes de enfrentar as diversas situações e problemas que surgem em seu cotidiano. 1.1. Objetivos 1.1.1. Objetivo geral Identificar os impactos causados pela prática de bullying no processo de ensino-aprendizagem e os possíveis meios de contribuir na intervenção do combate desse fenômeno no contexto escolar. 1.1.2. Objetivos específicos • Identificar as características apresentadas pelo bullying no contexto escolar. • Analisar as possíveis consequências que o bullying pode causar em suas vítimas e como os agressores podem ser responsabilizados por seus atos. • Analisar a percepção da escola e da família nas ocorrências de bullying e como elas podem ajudar na intervenção da prática desse problema. 1.2. Justificativa O bullying é um fenômeno universal, que parte de agressões físicas ou verbais, causadas por um ou mais indivíduos, feitas de maneira repetitiva e intencional. É um problema que aflige há anos crianças e adolescentes pelo mundo. Em 1970, o pesquisador sueco Dan Olweus passou a estudar o assunto, que ganhou notoriedade nos anos 1980, chegando ao Brasil no final dos anos 1990. 9 Devido à sua relevância, buscar e trazer pesquisas, além de mostrar os impactos e possibilidades de intervenção do bullying, é algo fundamental e evidente diante de inúmeros casos e inúmeras vítimas do bullying no ambienteauxiliar em projetos de combate ao bullying, pode-se utilizar uma variedade de histórias, por exemplo, O Patinho Feio, A Cigarra e a Formiga. Essas histórias podem ser modificadas de acordo com a proposta pedagógica, integrando junto a elas mensagens de reflexão, trabalhando atitudes de tolerância, respeito, amizade, cultura e solidariedade. A literatura é um amplo caminho de conhecimento e que tem o poder de transformar vidas através da leitura. Muitos livros podem influenciar de maneira positiva a questão do bullying, as escolas 38 podem buscar nesse amplo mundo da literatura livros como: Ernesto, de Blandina Franco e José Carlos Lollo, que apresenta a importância de aceitar o outro como ele é; Pedro e o menino valentão, de Ruth Rocha; Flicts, de Ziraldo, e Romeu e Julieta, de Ruth Rocha, que mostram a individualidade, onde um não pode se misturar com o outro, mas nasce uma amizade, que no fim acontece a união, socialização e aceitação das diferenças. 39 4. CONCLUSÃO “Se nada ficar destas páginas, algo, pelo menos, esperamos que permaneça: nossa confiança no povo. Nossa fé nos homens e na criação de um mundo em que seja menos difícil amar”. Paulo Freire A escola é um dos principais espaços de convivência da criança. Na escola, elas terão encontro com o outro, passam pela socialização e por diversas formas de expressão corporal e cultural. As crianças se adaptam a uma nova realidade e passam a conviver com jeitos e costumes diferentes, a convivência não é uma experiência sempre fácil. Muitas vezes surgem problemas de convivência que afetam a vida de muitas crianças. A escola deve prezar pela integridade física e emocional de seus alunos. O bullying é uma problemática crescente que pode ser identificado e combatido, o trabalho não é fácil, é um trabalho de muita atenção, dedicação e muito comprometimento. Se comprometer a disponibilizar para as crianças uma tranquilidade necessária para que elas possam estudar de maneira segura e sem nenhum trauma ou transtornos psicológicos. Somente punir quem comete o bullying não irá acabar com a situação. O problema é maior do que apenas uma punição. É preciso que a educação esteja presente não apenas para os que praticam o fenômeno, mas para a escola como um todo. Quem comete os atos também necessita de ajuda da escola e da família. Deve-se encontrar meios, alternativas e métodos educativos para auxiliar quem comete o bullying. A coordenação e toda equipe pedagógica devem estar atentos não somente aos alunos, mas também aos professores, auxiliando e dando todo suporte necessário. Deve-se estabelecer uma reflexão sobre o papel do educador, suas práticas pedagógicas e as relações que estabelece com os alunos e a comunidade escolar, pois são os professores que acompanham a rotina diária e estão em sala de aula com os alunos, buscando sempre alternativas para que todo e qualquer problema seja solucionado da melhor maneira possível. Sempre pensando no bem-estar dos alunos e na melhor qualidade na educação. 40 Os profissionais devem ser equilibrados, seguros, que demonstrem confiança e transmita valores, conciliando o intelectual com o emocional, deixando prevalecer seu lado ético e pedagógico, a fim de demonstrar sempre acessível ao aluno. Assegurar a ele que a escola o acolherá e o ajudará da melhor maneira possível, para que com isso, os atos de violências sejam relatados e as vítimas possam usufruir da ajuda oferecida pela escola. (SOARES, 2014, p. 7) A escola deve estar preparada para qualquer caso de bullying que venha acontecer no seu âmbito. É importante e primordial saber explorar o tema com os alunos e preparar os professores para que eles possam dar o apoio, necessário às vítimas. Quanto mais cuidado e preparação a escola tiver, menos danos físicos, emocionais ou psicológicos as vítimas sofrerão. Dentro desse contexto, é fundamental que as escolas desenvolvam políticas de prevenção, partindo da constituição de uma equipe pedagógica preparada, capacitada para receber e atender as possíveis situações sociais ocorrentes e também para uma melhor atuação em programas preventivos, buscando o apoio e a parceria da família, podendo discutir ações que estejam ligadas ao fenômeno no ambiente escolar, obtendo soluções eficazes e evitando assim os riscos e as consequências. A educação deve ser transformadora, uma vez que possui um papel importantíssimo na vida do ser humano. É na escola onde se aprende a se socializar, o trabalho em grupo, a troca de experiências, a interação, é o local onde se realiza grandes aprendizados. Para tanto o bullying, como qualquer outro tipo de violência, é de difícil extinção, mas pode vir a ocorrer gradualmente a sua redução. É a função do coordenador, orientar, aconselhar e acompanhar alunos, professores, funcionários e pais ou responsáveis nesse processo. A minimização desses atos de violências só irá ocorrer com o conhecimento, aprimoramento e amadurecimento de todos. E para isso o trabalho deve ser desenvolvido com todos os profissionais da educação em conjunto com a família. (SOARES, 2014, p. 8) O diálogo deve ocorrer de maneira diária, buscando incentivar a comunicação. Assim como as vítimas precisam ter a autoestima fortalecida, sentir que está em um lugar seguro e precisam sentir-se confortáveis para poder 41 falar sobre o assunto e mais seguras, consequentemente, terão mais confiança para dialogar e encontrar auxílio. Ainda é preciso lembrar que o agressor também necessita de ajuda, pode- se propor que a escola também o acolha, pois toda violência deixa suas marcas e tem raízes profundas. É importante também se atentar em ajudar o agressor com projetos pedagógicos que o auxiliem com a maneira de lidar um com o outro no mesmo nível, sem hierarquia, ajuda a ouvir e agir com paciência, respeitar as ideias dos outros e trabalhar em grupo. Observa-se que é preciso buscar meios de intervenção deste problema, os professores, funcionários e a família, precisam ter um preparo para lidar com a questão do bullying, ter um olhar atento as ocorrências, e não tomar providências precipitadas, pois essas atitudes acabam por agravar o problema. Necessita-se Inserir práticas pedagógicas que esclareça, conscientize o problema e incentive a uma convivência saudável, controlando qualquer prática de preconceito ou desrespeito, ofertando aos agressores a possibilidade de restauração, aprendizagem e mudança, trabalhando a convivência dentro e fora do ambiente escolar, desenvolvendo a empatia a solidariedade, a cooperação, e o respeito entre as crianças, buscando assim caminhos para ressignificar as relações humanas, inserindo-se em uma sociedade justa e democrática. 42 5 REFERÊNCIAS ARAÚJO, Carla Patrícia da Silva e SILVA, Luciana Rios. Bullying na escola: essa brincadeira não tem graça. Educação e Contemporaneidade (EDUCON). São Cristóvão: V colóquio internacional, 2014, p. 1 - 16. Disponível em: . Acesso em: fev.2019. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: Texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais, nos 1/92 a 38/2002 e pelas Emendas Constitucionais de Revisão nos 1 a 6/94. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2002. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91 _2016.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: set/2019. BRASIL. Lei 13.185 de 6 de novembro de 2015. Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). Diário Oficial da República Federativa do Brasil: Brasília. Disponível em: .Acesso em novembro/2015. BRASIL. Bullying: especialistas indicam formas de combate a atos de intimidação. Brasília: Ministério da Educação, 2017. Disponível em: . Acesso em fev/2019. CALHAU, Lélio Braga. Bullying, o que você precisa saber: identificação, prevenção e repressão. 2a ed. Niterói: Impetus, 2010. CNJ, Conselho Nacional de Justiça. 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Alexandre Saldanha Tobias. Bullying e Direito. Editora Online Corujito, 2013. Disponível em http://alexandresaldanhaadvogadoantibullying.blogspot.com.br/2013/08/livrobull ying-e-direito-download. Acesso em: set/2019. SOARES, Kelly Cristine da Cruz. O bullying no contexto escolar. Revista Científica Semana Acadêmica. Fortaleza, ano MMXIV, N. 000064, 2014, p. 1 - 11. Disponível em: . Acesso em: fev/2019. http://alexandresaldanhaadvogadoantibullying.blogspot.com.br/2013/08/livrobullying-e-direito-download http://alexandresaldanhaadvogadoantibullying.blogspot.com.br/2013/08/livrobullying-e-direito-downloadescolar do Brasil e do mundo. A grande extensão que as atitudes antissociais, discriminatórias e desrespeitosas associadas ao bullying, torna-se importante trazer para o centro dos cursos de Licenciatura essa temática, e propor discussões sobre possibilidades de intervenções no contexto escolar, além de mostrar os impactos que este problema pode causar e de como ele está diretamente relacionado ao dia a dia de muitas pessoas e em diversos ambientes. Discutir sobre esse fato social desperta o interesse e leva ao conhecimento do tema, na identificação do problema, nas consequências, nos danos físicos, psicológicos e morais que os ataques de maiores ou menores intensidades podem causar às vítimas. Negar as discussões sobre a importância do bullying no contexto escolar é dar as costas para a educação e para a ética, é colocar as vítimas em situações de risco, sem apoio, ajuda e proteção, ficando ainda mais vulneráveis, podendo levar o problema a uma esfera mais grave, como a esquizofrenia, o homicídio e o suicídio. Os impactos do bullying no ambiente escolar possuem consequências amplas e trazem reflexos na vida pessoal e escolar das crianças. Afeta o desenvolvimento cognitivo e afetivo, e o desempenho escolar pode ficar comprometido, visto que para as vítimas o ambiente escolar não é mais algo prazeroso e sim algo que as fazem sentir medo, insegurança, desespero e sofrimento. Para o curso de Pedagogia é necessário e pertinente que projetos, pesquisas e trabalhos como esse venham a ser implementados para um maior conhecimento sobre a importância do bullying na escolas, seus impactos sociais, educacionais e como esse problema pode ser trabalhado, discutido e combatido, promovendo assim, caminhos de reflexões sobre o respeito, a tolerância e a ética, valores a serem transmitidos para toda a vida. 10 1.3. Metodologia A presente pesquisa se insere no modelo de pesquisa qualitativa. Segundo Severino (2007), essa abordagem qualitativa tem um caráter mais subjetivo, com um amplo campo de pesquisa que emprega métodos de coleta de dados menos estruturados. É uma forma de coleta de informações que visa descrever e não prever. De acordo com Severino (2007, p. 119), São várias metodologias de pesquisa que podem adotar uma abordagem qualitativa, modo de dizer que faz referência mais a seus fundamentos epistemológicos do que propriamente a especificidades metodológicas. Por este motivo, tende a ser mais participativa e é importante que o roteiro seja elaborado com clareza, para orientar as atividades da pesquisa, evitar desvios de foco e assim garantir que se chegue ao objetivo estabelecido. Com relação aos fins dessa pesquisa, está se caracteriza como uma pesquisa exploratória, pois procura explorar um problema, de modo a fornecer informações para uma investigação mais precisa, realizando levantamento de informações, visando uma maior proximidade com o tema. Considera passo inicial de qualquer pesquisa a busca por meio dos seus métodos e critérios, uma proximidade da realidade do objeto estudado. Segundo Severino (2007, p. 123), “a pesquisa exploratória busca apenas levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto”. Neste sentido, esse estudo trata-se de uma observação, que consiste em recolher e registrar os fatos da realidade, tendo a possiblidade de aprimoramento de ideias e pensamentos. A pesquisa utiliza procedimentos que se considera como um modelo de pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica conta com autores como: Cleo Fante (2011), José Augusto Pedra (2008), Jane Middelton-Moz e Mary Lee Zawadski (2007). Esse modelo de estudo corresponde geralmente ao primeiro passo de toda pesquisa científica, ao levantamento, coleta de dados e referências teóricas já analisadas, através de livros, artigos, teses, documentos monográficos, jornais, revistas, e em locais que apresentam documentações confiáveis que 11 servirão para a construção da pesquisa, considerando as observações dos depoimentos coletados e que desta forma possam colaborar para aprofundar-se no assunto abordado. Nesse sentido Severino (2007, p. 123) nos informa que: A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos. Com relação aos instrumentos de coleta de dados inseridos na pesquisa, serão utilizados a observação e depoimentos que são procedimentos que servem de mediação prática para a realização das pesquisas. Os depoimentos têm como base fundamental para o entendimento do componente histórico e análise documental de pessoas que se insere no tema e em seu contexto social. Para Severino (2007, p. 125), "coleta as informações da vida pessoal de um ou vários informantes. Pode assumir formas variadas: autobiografia, memorial, crônicas em que se possa expressar as trajetórias pessoais do sujeito". O ato de observar no estudo é algo que possui finalidade, sentido pedagógico, é fundamental instrumento de análise crítica sobre determinada realidade e compreende as relações dos sujeitos entre si e com o meio em que vivem. De acordo com Severino (2014, p. 125), “é todo procedimento que permite acesso aos fenômenos estudados. É etapa imprescindível em qualquer tipo ou modalidade de pesquisa”. A prática de observação pode ser entendida como uma ferramenta fundamental para relacionar a teoria com a prática, ao que leva a uma percepção mais profunda acerca da percepção dos problemas. 1.4. Organização do Trabalho A organização da pesquisa se encontra da seguinte forma: Introdução, Referencial teórico, Resultados e discussões, Conclusão e Referências bibliográficas. A Introdução é a parte inicial, na qual se apresenta a pesquisa, demonstrando a importância e relevância do tema, apresentando também o 12 objetivo geral e específicos, justificativa, metodologia e a organização da pesquisa. A próxima etapa é o Referencial teórico, na qual se exploram as teorias que embasam a pesquisa. Em seguida, os Resultados e discussões, onde se discute os dados coletados e os seus resultados. Logo após, apresenta-se a Conclusão, onde se encontram as considerações finais sobre a pesquisa e sobre os principais resultados obtidos, e por fim, as Referências bibliográficas, onde são citadas as referências utilizadas no desenvolvimento ao longo da pesquisa. 13 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Características do bullying no contexto escolar O bullying é um ato constante e presente no contexto escolar, e pode ocorrer dentro ou fora do cotidiano escolar. Por não se falar tanto sobre o assunto quanto deveria, alguns ainda desconhecem a gravidade do problema e suas possíveis consequências psicológicas e emocionais para quem sofre repetidas e intencionais atitudes agressivas e constantes intimidações. Lembrando que nem tudo que desagrada uma criança é caracterizado bullying. Existe naturalmente empatias e antipatias. É de fundamental importância citar que as brigas ou discussões pontuais, conflitos entre professor e aluno ou gestor não são consideradas atos de bullying. De acordo com Silva (2010, p. 22), “o termo bullying pode ser adotado para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, proposital e sistemático inerente às relações interpessoais”. Bullying é uma palavra de origem inglesa, no Brasil ainda não possui uma traduçãoespecífica desse termo, mas é entendida como ameaça, humilhação, intimidação, agressão. Segundo Silva (2015), bullying é um termo que foi atribuído no fim da década de 1970 pelo professor de Psicologia, da Universidade de Bergen, na Noruega, Dr. Dan Olweus. O pesquisador é reconhecido mundialmente como pioneiro sobre problemas de bullying. Foi ele que criou os primeiros critérios para a identificação do fenômeno. Na década de 1980, o Dr. Olweus realizou o primeiro estudo sistemático de intervenção contra o bullying no mundo. O interesse pelo fenômeno intensificou-se, quando ocorreu o suicídio de três crianças entre 10 e 14 anos na Noruega, os suicídios foram relacionados a possíveis atos de violência praticados intencionalmente, com objetivo de agressões, intimidações, humilhações. O fenômeno bullying Segundo Fante (2011), corresponde à prática de atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidas, cometidos por um ou mais agressores, contra uma determinada vítima. As vítimas de agressões física ou verbal, carregam marcas, cicatrizes e feridas que podem permanecer ou não por toda a vida. Os comportamentos dos envolvidos no bullying são 14 caracterizados como: vítima típica, vítima provocadora, vítima agressora, agressor e espectador. A vítima típica baseia-se, em pessoas que têm dificuldades de relacionamento e de socialização. Possuem características típicas de pessoas sensíveis, fragilizadas, tímidas, submissas e inseguras. Essas vítimas podem surgir de alunos novatos, de alunos que têm traços físicos que fogem dos padrões. A vítima típica é um indivíduo (ou grupo de indivíduos), geralmente pouco sociável, que sofre repetidamente as consequências dos comportamentos agressivos de outros e que não dispõe de recursos, status ou habilidades para reagir ou cessar essas condutas prejudiciais. Suas características mais comuns são: aspecto físico mais frágil que o de seus companheiros; medo de que lhe causem danos ou de ser fisicamente ineficaz nos esportes e nas brigas, sobretudo, no caso dos meninos; coordenação motora deficiente, especialmente entre os meninos; extrema sensibilidade, timidez, passividade, submissão, insegurança, baixa autoestima, alguma dificuldade de aprendizado, ansiedade e aspectos depressivos. (FANTE, 2011, p. 71 – 72) A vítima provocadora poderá possuir a capacidade de inspirar reações agressivas contra si e, em muitas situações, não estão preparados para se revidarem, então, sempre que são atacados discutem ou brigam. São vítimas geralmente imaturas, que manifestam dificuldade de concentrar-se, possuem hiperatividade e irritação, são provocadoras, agitadas, inquietas, costumam fazer ofensas e ser intolerantes. A vítima agressora é característica daqueles alunos que sofrem ou já sofreram com os ataques de bullying e reproduzem as agressões para compensar seu sofrimento. Buscam vítimas mais vulneráveis e frágeis para repetirem todas as agressões recebidas, o que impulsiona atos constantes de violência, gerando problemas difíceis de ser controlados. O bullying poderá afetar crianças e adolescentes, mas principalmente, tende a ser àqueles que são de alguma forma discriminados pela cor, peso, altura, deficiência, religião entre outras coisas. Na maioria das vezes, se a criança faz parte de um determinado grupo e o grupo faz bullying, quem não 15 pratica o ato acaba sendo motivo de “zoação” pelos colegas e daí começa também a ser uma vítima, sofrendo diversos ataques de seus colegas. É um comportamento ligado à agressividade física, verbal ou psicológica. É uma ação de transgressão individual ou de grupo, que é exercida de maneira continuada, por parte de um indivíduo ou de um grupo de jovens definidos como intimidados nos confrontos com a vítima predestinada. (CONSTANTINI, 2004, p. 69) Soares (2014) salienta que para que se possa identificar uma vítima de bullying, os pais e a escola precisam estar bastante atentos e terem cautela a tudo que se passa com as crianças. As características estão ali perceptíveis, porém, não se pode precipitar em identificar uma possível vítima. As ações praticadas pelo sexo masculino podem, muitas vezes, caracterizar-se de maneira mais agressiva, por atos mais expansivos, com chutes, gritos, empurrões e são mais fáceis de identificar. Já no sexo feminino, o problema é apresentado de maneira mais retraída, através de olhares, sussurros, exclusão, criando fofoca, inventando boatos com intuito de denigrir a imagem de alguém. São efeitos característicos: alunos com baixo rendimento escolar, falta de interesse pela escola, alunos que fingem estar doentes para faltarem às aulas ou sentem-se mal perto da hora de sair de casa, alunos que demonstram alterações extremas de humor, alunos que apresentam dificuldades de relacionamentos sociais, alunos com ansiedade, alunos que apresentam falta de atenção, alunos que geralmente querem ficar isolados e apresentam um perfil bastante triste. O aluno que sofre bullying pode também apresentar comportamento agressivo, irritação, estresse elevado, impulsividade, psicológico afetado, sinais de melancolia, sem interação social, baixa autoestima, frustração, insegurança e tendem achar que são incapazes de realizar qualquer coisa. De acordo com Fante (2011), a prática de bullying poderá ocorrer por meio de agressões diretas, físicas (bater, chutar, empurrar, beliscões, pontapés, entre outros), e agressões indiretas, verbais ou psicológicas (insultos, insinuações, apelidos pejorativos, exclusão social, xingamentos, fofocas, amedrontar, aterrorizar, desqualificar, ameaçar, entre outros). 16 Os agressores, por sua vez, apresentam como características: comportamentos agressivos, atitudes hostis, tendem a ser bastante convincentes quando tentam sair de situações difíceis, estão sempre tentando ou sendo autoritário sobre outra pessoa, são muitas vezes alunos que se acham superiores aos demais. Constantini (2004) salienta que as vítimas e os agressores possuem algumas características semelhantes, ambos podem possuir baixa autoestima, isolamento, distúrbios psicológicos, distúrbios alimentares. Ao cometer atos agressivos e hostis, os agressores almejam um reconhecimento social, de poder e estão em uma constante tensão. O agressor possui ainda uma insatisfação contínua, não aprendeu a transformar sua raiva em diálogo, não sensibiliza com a dor ou sofrimento do outro, acumulando um sentimento de inutilidade que os levam a comportamentos problemáticos, causando a violência verbal ou física, podendo ocasionar em uso de fármacos ou drogas para aliviar a ansiedade, as frustrações, as carências afetivas. No bullying, o autor das ofensas ou agressões é geralmente uma pessoa conhecida e que se encontra no mesmo espaço físico que sua vítima. Em casos de cyberbullying, de acordo com Maldonado (2011), o agressor pode não estar no mesmo espaço físico que a vítima, este atua anonimamente, realizando ataques em momentos inesperados, de forma avassaladora, perdendo os freios morais, com calúnias, insultos, boatos cruéis, difamações, pode postar mensagens desagradáveis, fotos ou vídeos constrangedores e comprometedores, por meio de celulares, redes sociais e sites. Os agressores, para permanecerem no anonimato, podem se passar por outras pessoas ou até criar apelidos como forma de camuflar e esconder sua imagem, por um tempo bastante prolongado. Maldonado (2011, p. 27) salienta que, “revela o lado sombrio com uma agressividade mal canalizada, colocando em prática as fantasias que não ousa realizar no contato pessoal e atacando com crueldade, surpreendendo a todos quando descoberto”. 2.2. Consequências do bullying 17 Segundo Fante e Pedra (2008), a elevada frequência do bullying, com as suas diversas consequências negativas sob crianças e jovens, contribui para que a violênciaadentre a escola, reconhecendo assim que se trata de um problema social. As possibilidades de intervenção no contexto escolar são extremamente fundamentais, podendo ser aplicadas na busca de meios de trabalhos com projetos pedagógicos visando a compreensão do tema. De acordo com Fante e Pedra (2008), pode-se obter identificação do fenômeno através das observações na sala de aula e fora dela. A sala de aula é o local destinado ao desenvolvimento e aprendizagem, é onde o professor constrói conhecimentos, orienta, auxilia e encaminha a interação social. Observa-se, na sala ou no recreio o isolamento de alguns alunos, que são introspectivos, e possuem dificuldades de relacionamento. Durante a vivência escolar, muitas atitudes são consideradas brincadeiras, zoações, como apelidos nos colegas, vaiar, esconder o material do colega, são classificadas atitudes com a intenção de magoar ou ferir, física e/ou psicologicamente um ou mais alunos. E as vítimas passam pelo medo, e assim sem motivos aparentes, passam a não querer mais frequentar a escola. O bullying surge nessa perspectiva de que aparentemente pode ser um probleminha de convivência entre colegas, mas, no entanto, não é algo normal, corriqueiro ou tolerável: humilhação, constrangimentos e violência não são brincadeirinhas. Esse tipo de fenômeno afeta o relacionamento social, o desempenho escolar e a saúde de crianças, adolescentes e adultos. Algumas crianças e adolescentes não encontram condições para estabelecer um vínculo significativo social e amigável com os colegas, e então, geralmente, essas dificuldades de socialização, estão relacionadas com seres humanos que apresentam traços específicos de identidade: magro, gordo, alto, baixo, negro, óculos de grau, problema físico, problema psicológico, problema cognitivo. Os agressores passam a explorar essas características marcantes para humilhar o outro. Segundo Fante (2011), a prática de bullying poderá desenvolver consequências imediatas ou a longo prazo, causando danos emocionais, psicológicos e físicos. As vítimas poderão apresentar possíveis consequências como: queda no desempenho escolar, desinteresse em ir para a escola, conflitos 18 nas aulas, dificuldade na tomada de decisões, atrasos no desenvolvimento, evasão escolar, falta de confiança, dor de cabeça, dor de estômago, tendência ao isolamento, falta de apetite, distúrbios alimentares, baixa autoestima, bloqueio mental, ataques de pânico, manifestações de sentimento de medo, insegurança, angústia, ansiedade, estresse, comportamentos violentos, consumo de álcool, drogas ilícitas e em casos mais graves e prolongados, podendo desenvolver um histórico de depressão e outros transtornos mentais. A superação dos traumas causados pelo fenômeno poderá ou não ocorrer, dependendo das características individuais de cada vítima, bem como da sua habilidade de se relacionar consigo mesma, com o meio social e, sobretudo, com sua família. A não superação do trauma poderá desencadear processos prejudiciais ao seu desenvolvimento psíquico, uma vez que a experiência traumatizante orientará inconscientemente o seu comportamento, mais para evitar novos traumas do que para buscar sua autossuperação. Isso afetará o seu comportamento e a construção dos seus pensamentos de vingança, baixa autoestima, dificuldades de aprendizagem, queda do rendimento escolar, podendo desenvolver transtornos mentais e psicopatologias graves, além de sintomatologia e doenças de fundo psicossomático, transformando-a em um adulto com dificuldades de relacionamento e com outros graves problemas. Poderá também desenvolver comportamentos agressivos e depressivos e, ainda, sofrer ou praticar bullying no seu local de trabalho, em fases posteriores da vida. (FANTE, 2011, p. 79) No ambiente escolar algumas atitudes e problemas podem agravar-se e evoluir, podendo assim responsabilizar as crianças e adolescentes por atos cometidos infracional ou indisciplinar. No caso de ato infracional for praticado por uma criança com até 12 anos incompletos, a mentalidade é aplicar medidas com caráter sobretudo de proteção, preservação e de orientação, para o desenvolvimento da criança e seus potenciais. Considerando a sua formação mental, a baixa idade e o desenvolvimento incompleto de crianças até os 12 anos, a lei optou por não lhes aplicar punições semelhantes às dos adolescentes, e sim aplica-se, medidas como programas comunitários, que possam fazê-las retornar ao bom convívio. No caso de adolescente que cometa ato infracional, as medidas aplicáveis podem ser mais severas. A lei classifica-as como medidas socioeducativas, pois, embora tenham algum caráter de punição, a finalidade delas também é de levar 19 o adolescente a reintegração e a boa socialização. Se o ocorrido for um ato de indisciplina, pode decorrer de desobediência e possui solução no ambiente escolar, sendo caracterizada pelo descumprimento das normas da escola, regimento de legislações aplicadas. Nesse sentido, Fante e Pedra (2008, p. 111 - 112) salienta que, […] Se o ato ilícito for praticado por criança menor de 12 anos, o ECA determina a aplicação de medidas protetivas, como encaminhamento aos pais ou responsáveis; orientação, apoio e acompanhamento temporário; matrícula e frequência obrigatória em estabelecimentos de ensino; inclusão em programas comunitários ou oficiais de auxílio à família, à criança e ao adolescente; requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico. […] Os atos ilícitos praticados por adolescentes são mais graves e, portanto, o ECA prevê a aplicação de medidas socioeducativas. Trata-se de atuações mais rigorosas, diretamente dirigidas ao adolescente e a sua família. Tais medidas são: advertência, obrigação de reparação do dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação por tempo indeterminado. Ambas têm caráter pedagógico e educativo, visam à reintegração familiar e comunitária do adolescente infrator. O ato de indisciplina se caracteriza pelo descumprimento das normas fixadas pela escola. Portanto, a solução está restrita ao âmbito escolar e as punições, de caráter pedagógico e educativo, estão previstas no regimento interno escolar. Seguindo esse contexto, aplicando fundamentação ao bullying, segundo à Presidência da República do Brasil (2015), foi instituída no dia 6 de novembro de 2015, a Lei de nº 13.185 - Programa de Combate à Intimidação Sistemática, mais conhecido como bullying propósito desencorajar atos de violência no âmbito educacional. A referida lei possui oito artigos e entrou em vigor 90 dias após a publicação, dia 7 de fevereiro de 2016. Sendo instituída uma definição própria para agressões, considerando bullying, em seu art. 1º, § 1o: § 1o No contexto e para os fins desta Lei, considera-se intimidação sistemática (bullying) todo ato de violência física ou psicológica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivação evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, em uma relação de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas. (BRASIL. Lei 13185, 2015, art. 1º) 20 A lei traz um grande benefício, um alerta sobre esse fenômeno que cresce a cada dia, reconhecendo sua importância. É de grande valor para a sociedade, aplicando-se o reconhecimento e promovendo credibilidade às vítimas. A lei ainda inclui a responsabilidade das escolas na promoção de medidas de combate ao bullying e obrigatoriedade de implementação de ações para a promoção da cultura de paz, na atualização da Lei 13.663, de 14 de maio de 2018: Altera o art. 12 da lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, para incluir a promoção de medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência e a promoção da cultura de paz entre as incumbênciasdos estabelecimentos de ensino. (BRASIL. Lei 9.394, 2018, art. 12º). Na atualização da Lei de 2018, insere-se, o Art. 1º O caput do art. 12 da lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescido dos seguintes incisos IX e X: Art. 12. IX - Promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito das escolas; X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura de paz nas escolas. Nos atos de bullying é preciso estar atento quanto à abordagem dos supostos envolvidos, é necessário mediar a conversa e evitar acusações precipitadas de ambos os lados. Deve ser apresentado aos pais que alguns comentários simples, que se julgam inofensivos e engraçados, são, na verdade, carregados de ideias preconceituosas e de comportamentos inadequados. De acordo com Fante e Pedra (2008), em decorrência do medo de denunciar ou relatar o bullying as vítimas, então, sofrem consequências alguns de alguns distúrbios psicológicos que são carregados adiante, em outras fases da vida. Com isso a escola precisa discutir com toda a comunidade o problema e definir ações coletivas para resolução do problema. As instituição de ensino tem a responsabilidade de promover campanhas de conscientização e desenvolver planos de ações para combater as intimidações, pois, a escola como um todo é prejudicada e deve ainda agir para 21 impedir qualquer violência física ou verbal, pois as práticas de intimidações, podem causar danos a formação das crianças como cidadãos, comprometimento a integridade física do aluno, evasão escolar, consequências judiciais, sequelas psicológicas e a saúde da vítima. Segundo Silva (2010), os agressores tendem a escolher os alunos que apresentam baixa autoestima e encontram-se em uma considerável desigualdade de poder. A prática de bullying pode gerar traumas, que poderá se intensificar ao longo do tempo. No entanto, é importante ressaltar que o problema preexistente poderá ocasionar prejuízos irreversíveis a saúde mental e física, em casos mais graves de transtornos psíquicos ou comportamentais, tais como, sintomas insônia, náuseas, tonturas, transtorno do pânico, fobia escolar que é um medo intenso de frequentar a escola, fobia social, ansiedade, anorexia, bulimia, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), esquizofrenia e, em casos mais avassaladores, que por suas perversidades tornam-se um problema que ultrapassa os limites suportáveis pelo ser humano, ocasiona o homicídio e suicídio. Nesse sentido Silva (2015, p. 23 - 31) nos informa que: Os resultados dessas constantes humilhações para a ordem psíquica de uma pessoa podem ser desde sintomas psicossomáticos como cefaleia, insônia, dificuldades de concentração, diarreia, palpitações etc., até transtorno do pânico, fobia escolar e social, transtorno de ansiedade generalizada, depressão, anorexia e bulimia, transtorno obsessivo- compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático, e em casos menos comuns esquizofrenia, suicídio e homicídio. 2.3 Papel da escola e da família nas ocorrências e intervenções do bullying No Brasil o enfrentamento do bullying foi ganhando seu espaço com “Educar para a Paz”, um programa antibullying, realizado através de pesquisas. Fóruns, debates e tragédias ocorridas dão conta da falta de preparação dos centros educacionais. Algumas escolas e educadores não têm preparo suficiente para lidar com as questões recorrentes do problema, seja por omissão, despreparo, comodismo ou por falta de conhecimento, atenção e observação, não tomam as providências cabíveis e acabam agravando o tipo de violência. 22 O combate ao bullying deve ser pensado como algo possível a ser implementado. Para se enfrentar esse fenômeno, primeiramente são necessários o conhecimento e o reconhecimento de que esse fato existe. Não se pode ignorar as manifestações de violência, seja na sala de aula ou fora dela, sua negligência pode causar danos de socialização, de aprendizagem e de desenvolvimento. A própria instituição também pode ser responsabilizada, já que se considera que ela falhou em seu dever de observação e cuidado com seu aluno. Além de ser fundamental a capacitação dos profissionais de ensino, também se faz necessário estabelecer parcerias com órgãos que cuide dos direitos das crianças e adolescentes e buscar ajuda de pessoas especializadas nesse tema. Acreditamos que a prevenção começa pelo conhecimento. É preciso que a escola reconheça a existência do fenômeno e, sobretudo, esteja consciente de seus prejuízos, para a personalidade e o desenvolvimento socioeducacional dos estudantes. A escola também precisa capacitar seus profissionais para observação, identificação, diagnóstico, intervenção e encaminhamentos corretos, levar o tema à discussão com toda a comunidade escolar e traçar estratégias preventivas que sejam capazes de fazer frente ao fenômeno. Além do engajamento de todos, é preciso contar com a ajuda de consultores externos, como especialistas no tema, psicólogos e assistentes sociais. É imprescindível o estabelecimento de parcerias com conselhos tutelares, delegacias da Criança e do Adolescente, promotorias públicas, varas da Infância e da Juventude, promotorias da Educação, dentre outros. (FANTE e PEDRA, 2008, p. 106) A escola muitas vezes trata de forma inadequada os casos relatados por pais e alunos, responsabilizando a família pelo problema. E diversas vezes as famílias também transferem a culpa para a escola se eximindo. A prática de bullying pode ser um reflexo da relação familiar da criança, um convívio ruim, que compromete o comportamento dos alunos, portanto, agressões praticadas em ambientes escolares podem ser algumas vezes o resultado da forma como a criança ou o adolescente se sente dentro ambiente familiar. O desgaste e o comprometimento da relação causam a distância familiar, gerando fracassos e dificuldades. É fundamental para a criança e adolescente um ambiente familiar favorável, com afetividade e convivência saudável. É papel 23 dos educadores com filhos ou alunos sempre buscar compreender e dialogar sobre os conflitos, seja a criança alvo ou autor do bullying, pois ambos precisam de ajuda e apoio psicológico. Sabemos que o mundo moderno e suas transformações vêm afetando diversos cenários, dentre eles o das relações interpessoais. As diversas demandas do cotidiano têm comprometido o relacionamento familiar, proporcionando certo distanciamento entre seus integrantes. Porém, é imprescindível encontrar tempo para a convivência saudável, especialmente com os filhos, manter diálogo constante, conversar sobre os diversos aspectos da vida, conhecer o mundo deles e deixar que conheçam o seu. É importante que os filhos encontrem em casa um ambiente de amor e aceitação, favorável a que se expressem, tanto sobre seus triunfos e suas conquistas como sobre seus fracassos e suas dificuldades nos relacionamentos, nos estudos ou em relação a si mesmos. É importante os pais e educadores considerarem que, antes de repreender os filhos ou alunos, é preciso ouvi-los sem animosidades, com disposição de ajuda ao fortalecimento da autoestima na resolução de seus conflitos. (FANTE e PEDRA, 2008, p. 123) O bullying está ganhando espaço nos ambientes escolares, sendo, assim, uma responsabilidade social. Diante do comportamento agressivo, tem um caráter emergencial. De acordo com Fante (2011, p. 81): O fenômeno bullying passou a ser considerado como um problema de saúde pública, devendo ser reconhecido pelos profissionais de saúde em razão dos danos físico-emocionais sofridos por aqueles que estão envolvidos nele. Fante (2011) salienta que o fenômeno bullying tem uma ligação entre a família e escola que são pilares que norteiam a educação. No âmbito familiar, cabe aos pais ou responsáveisos princípios básicos do processo de socialização e inserção da criança na sociedade. Segundo à Constituição Federal (1988), existem alguns direitos de fundamental importância para a criança, como a educação um direito que é essencial na vida de toda criança e adolescente, a convivência familiar e comunitária. Mesmo com diferentes formas de viver, com diferentes famílias, é imprescindível que a criança e o adolescente convivam em um ambiente saudável de harmonia e de respeito com vizinhos, família e toda comunidade em 24 que ela se relaciona. A saúde, o lazer, a dignidade, a liberdade são importantes direitos, daí a necessidade e a pertinência de se respeitar a opinião, fazendo uso do diálogo ao invés da violência, dispondo de carinho, atenção e paciência. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá- los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, Constituição, 1988, p. 131) Visando este processo, a falta de afetividade e a falta de atenção em relação às crianças tendem a estreitar os laços que ligam à família. As relações familiares e o ambiente familiar tumultuados sem a presença dos pais podem influenciar direta ou indiretamente no envolvimento da criança ao bullying. Os limites não impostos pelos responsáveis, o excesso de liberdade e mimo dão margem a práticas de violências e agressões que predominam os atos de bullying. Ainda nessa perspectiva, segundo Araújo; Silva (2014), família e escola são dois pilares que devem e precisam andar juntos e isso não é algo apenas voltado para o bullying, essa parceria deve existir independente dos problemas. As crianças e jovens são quase sempre inseridos na escola ainda muitos pequenos, bem novos. A maioria pelo fato de os pais trabalharem e não terem com quem deixar os filhos. Para suprir a falta que fazem aos filhos, muitos pais tendem a permitir que eles façam o que querem, mas essa maneira permissiva nem sempre é a melhor para esses casos, nada que ultrapasse os limites de valores é algo saudável, não é visto de forma positiva. Seria adequado que a permissão viesse acompanhada da boa educação. Os primeiros passos do bullying podem iniciar dentro da própria casa. Eximir-se das responsabilidades, ignorar o que está a sua frente trazem consequências futuras para os próprios filhos e a família. Muitas vezes o fenômeno começa em casa, entretanto, para que os filhos possam ser mais empáticos e possam agir com respeito ao próximo, é necessário primeiro a revisão do que ocorre dentro 25 de casa. Os pais, muitas vezes, não questionam suas próprias condutas e valores, eximindo-se da responsabilidade de educadores. O exemplo dentro de casa é fundamental. O ensinamento de ética, solidariedade e altruísmo inicia ainda no berço e se estende para o âmbito escolar, onde as crianças e adolescentes passarão grande parte do seu tempo. (CNJ, 2010 apud ARAÚJO e SILVA, 2014, p. 13) Problemas como esses se mostram maiores a cada dia, e atingem cada vez mais os lares e o âmbitos escolares. Por isso é necessário que a família, a escola e até mesmo os amigos se atentem aos problemas apresentados. Precisam perceber desde cedo as características de quem comete o bullying. Em casa, pais e familiares precisam ter um olhar mais observador, cauteloso e atento, pois às crianças e jovens se mostram a todo tempo, chamam a atenção para muitos aspectos, é sempre e quer ser sempre o centro das atenções. Nada é por acaso, tudo acontece ali, querer se enganar ou enganar as outras pessoas, tentando esconder o problema, só irá causar mal, se negligenciadas, as agressões tendem a aumentar, a violência se torna ainda mais grave, e assim poderá se tornar um adulto problema. Nesse sentido Calhau (2009, apud ARAÚJO e SILVA, 2014, p. 6) nos informa que: O agressor (de ambos os sexos) envolvido no fenômeno estará propenso a adotar comportamentos delinquentes, agressão sem motivo aparente, uso de drogas, porte ilegal de armas, furtos, indiferença à realidade que o cerca, crença de que deve levar vantagem em tudo, crença de que é impondo-se com violência que conseguirá obter o que quer na vida... afinal foi assim nos anos escolares. É necessário que não exista o sentimento de culpa por parte dos pais ou responsáveis por não dar a devida atenção que o filho merece ter. Se o tempo que você dispõe, for bem aproveitado, não terá problema algum suprirá muito bem a sua ausência. O tempo que permanecem juntos deve dispor de amor, atenção, carinho, cuidado e sempre colocando o respeito como base da educação e da estrutura familiar. Seguindo sobre o papel familiar, de acordo com Middelton-Moz; Zawadski (2007), família é uma base importante no processo de aprendizagem social das crianças e se relaciona diretamente com as instituições de ensino. Algumas 26 crianças saem de casa e vão para a escola com algumas importantes ferramentas que farão parte do seu desenvolvimento. As crianças que carregam essas ferramentas fazem parte de uma denominada família saudável, onde os familiares cuidadosamente participam da educação, da socialização e da vida escolar, promovendo também a formação das estruturas básicas da personalidade e da identidade das crianças. Uma boa educação e um relacionamento de afetividade dentro de casa promovem o crescimento, no que diz respeito à formação de caráter, estabelecimento de regras sociais, interação com os outros; garantem uma base mais sólida e segura no contato com as adversidades culturais e sociais; permitem que as crianças aprendam mais e vivenciem uma estrutura positiva dentro e fora de casa. As crianças de famílias saudáveis e funcionais recebem apoio, afeto e carregam caixas de ferramentas de aprendizagem que as condicionam a lidar com as inseguranças, os desafios, as decisões, os erros, os acertos, os sonhos, a criatividade, o ouvir e o respeitar. Por terem sido aceitas pelo que são, também sabem aceitar outras pessoas pelo que elas são. E aprenderam a tratar os outros como gostariam de ser tratadas e receberam afeto físico saudável e espelhos que refletem seu amor próprio. Aprendendo que podem confiar em seus cuidadores adultos, aprenderam a confiar em si mesmas e estão preparadas em termos de desenvolvimento para confiar em outras pessoas. Foram ensinadas a enfrentar algumas situações difíceis, a pedir ajuda e a estar ciente das escolhas. Essas crianças podem tomar decisões com alguma ajuda e assumir responsabilidades pelas escolhas que tenham feito. Elas montaram uma caixa de ferramentas que as equipou para novas experiências sociais e cognitivas que terão que enfrentar na escola. (MIDDELTON- MOZ e ZAWADSKI, 2007, p. 79 - 80) O papel desempenhado pela família é de suma importância para a vida social das crianças. A distância, a falta de tempo, a falta de interação, a falta de auxílio e a falta de afetividade na relação com os filhos interferem no papel dos pais e, quando esse papel não possui um bom desenvolvimento e desempenho, as crianças não irão dispor das caixas de ferramentas que as condicionam a boa 27 educação e socialização. Em consequência, essas crianças podem se tornar alvos de bullying no ambiente escolar. Essas crianças que não têm famílias saudáveis costumam ser crianças com baixa autoestima, se isolam em casa e na escola, não se valorizam, criticam-se a todo tempo e acreditam serem incapazes de realizar uma tarefa ou atender a um pedido. São retraídos tanto na escola quanto no lar, se sente abaladas, com baixa autoestima, inseguras e frustradas, apresentam dificuldades de atenção, aprendizageme interação social. Outras crianças que saem para a escola não dispondo de caixas de ferramentas apropriadas para novas experiências. Muitas viveram em famílias que não lhe dão apoio, são superprotetora ou não equiparam suas crianças com os controles e os limites internos necessários para interações sociais saudáveis. Algumas dessas crianças aprenderam a ter medo de fazer escolhas erradas, então não fazem escolha alguma, têm pouca confiança em si mesmas e tem medo de cometer erros. Lidam com problemas de forma indireta ou simplesmente não lidam. Através da experiência, aprenderam a negar, a culpar os outros ou a distorcer a realidade de novas situações. Essas crianças podem se sentir vitimizadas por qualquer situação nova ou pela vida em geral. Temem ser confrontadas ou ser o foco da atenção, e muitas vezes são hipervigilantes e desconfiadas das pessoas e da vida em geral. Muitas podem seguir regras e se saem bem em termos sociais. Algumas - particularmente as que vêm ambientes superprotetores e possuem poucas ferramentas para interações sociais - tornam-se alvos constantes dos bullies de escola. (MIDDELTON-MOZ e ZAWADSKI, 2007, p. 80) Algumas crianças vivem, presenciam, vivenciam ou testemunham o bullying familiar. O clima familiar, nesse sentido, é entendido como um dos elementos básicos para se explicar alguns comportamentos de bullying na escola. Essas crianças convivem muitas vezes com uma desestruturação familiar, onde sofrem com pais autoritários, superprotetores, apego inseguro, violência doméstica, abuso. Esse clima familiar conflituoso vem de uma série de interações negativas, sem ou má comunicação, falta de envolvimento e apoio. Os ambientes familiares marcados pela violência ou seu testemunho estimulam pouco o desenvolvimento das crianças e acabam trazendo às famílias uma desestruturação no desenvolvimento e a manutenção da saúde metal. O medo e os traumas da violência levam ao silêncio das crianças, pois ele é muitas 28 vezes entendido como única solução. Mantém-se caladas, para não passarem mais constrangimentos e ridicularização sob a exposição. Nessa falta de estrutura familiar e experimentando o bullying em casa, as crianças carregam para a escola a exclusão, adquirem experiências de poder e apresentam comportamento de agressividade e reação com valentia, sendo cometidos atos por opção própria ou por ensinamentos. A família e a escola possuem papel fundamental na implementação de diversas formas de abordagens de discutir e enfrentar o problema do bullying. Se omitir, achar bonito, enaltecer e se orgulhar de comportamentos e atitudes que levam a desvantagem que uma criança possui sobre a outra, sofrimento causado a alguém ou agressão física com ou sem motivos são posturas que os pais e a escolas não devem ter e exercer. Através de algumas entrevistas e relatos, as autoras descrevem a importância de compartilhar histórias e implementação dos planos de intervenção para os problemas do fenômeno. Segundo Middelton-Moz e Zawadski (2007), existem vários programas e sistemas contra os atos de bullying que estão sendo criados e implantados nos Estados Unidos e na Europa. Nas escolas esses programas apresentam objetivos de prevenção à violência escolar, bem como dar assistência às vítimas e autores, através da sustentação de comportamentos positivos. Assim como acontece com a maioria dos problemas na sociedade, infelizmente é necessária uma grande quantidade de perda humana para que as pessoas comecem a se importar. Recentemente, os problemas criados pelo bullying têm recebido atenção suficiente para criar consciência necessária para a ação. Espera-se que todos aqueles adultos preocupados e responsáveis em escolas e em comunidades no mundo todo estejam abertos a escutar e a aprender, de forma que as intervenções eficazes possam ser a regra, em lugar de a exceção. (MIDDELTON-MOZ e ZAWADSKI, 2007, p. 94) O âmbito educacional poderá buscar possíveis meios de combate e intervenção ao bullying, apresentando os valores necessários, para que se oponha à violência, com foco na melhoria da qualidade de vida e de ensino a criança e ao adolescente. Buscando uma formação de todos os profissionais da escola, encontrando caminhos para direcionar as ações a serem implementadas. 29 Apresentando também, projetos que visem à diminuição e ao fim da violência, que promovam respeito entre toda a comunidade escolar e transmitam a sociedade, a cultura da paz em sua convivência. Diante desse cenário, as escolas não têm mais como ignorar o bullying. Para prevenir as agressões e construir uma cultura de paz, na opinião dos especialistas, não basta apenas instituir regras ou punições, é preciso compreender melhor esse fenômeno social, suas causas e a importância do processo educacional no aprendizado da convivência. (SOARES, 2013, p. 508) Incentivos voltados para a formação de valores, tolerância e respeito com formas de ensino e de aprendizagem mais colaborativas e participativas, em práticas de solidariedade entre os alunos, família e escola, na criação ou formulação de projetos interdisciplinares, na criação de formas efetivas de comunicações e de motivações às mudanças. É necessário que a escola faça uma pesquisa com os alunos, a fim de ouvi-los para saber quais são as suas experiências com o bullying e os sentimentos despertados por ele. Em diversos países, o referencial é o questionário desenvolvido pelo norueguês Dan Olweus. Em nossas pesquisas, não é diferente: utilizamos o Questionário sobre Bullying - Modelo TMR (Training and Mobility af Researchers), adaptado por Ortega, Mora- Mérchan, (página 106) Lera, Singer, Pereira e Menesini (1999) do questionário original desenvolvido por Dan Olweus (1989). Aplicamos também uma atividade em forma de redação onde os alunos são estimulados a falar anonimamente sobre a sua vida na escola, ou seja, seu relacionamento com os colegas, uma espécie de autobiografia. Essa atividade ajuda a romper o silêncio e possibilita a expressão de emoções e sentimentos. Desenvolvemos oficinas temáticas com dinâmicas de grupo, que favorecem a compreensão do fenômeno. As discussões têm por objetivo encontrar soluções para as dificuldades nas relações interpessoais. (FANTE e PEDRA, 2008, p. 106 – 107) A escola poderá tomar conhecimento dos casos de bullying ocorridos em seu âmbito educacional e assim repassá-los às famílias. Esconder os problemas, para não sofrer punições, prejudica ainda mais o comportamento de quem pratica o bullying, por isso, enfrentar o problema envolve estratégias que estimulem a fala, o diálogo, apresentando compreensão do problema, atitudes 30 importantes para dar segurança às vítimas. Os alunos precisam de um ambiente escolar que os estimule, os apoie e os ajude a ganhar confiança, tornando-os menos vulneráveis, pois quando os alunos têm censo de autoestima, eles estarão menos propensos a intimidar-se. 31 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 Os danos causados pelo bullying Segundo Fante e Pedra (2008), os atos de bullying são cometidos através de agressões físicas, psicológicas ou verbais que ocorrem de forma intencional e repetitiva. Os alvos típicos podem ser os ansiosos, os frágeis emocionalmente, os que apresentam isolamento, fragilidade, imaturidade e insegurança. Os agressores costumam ter autoestima fraca, são impulsivos, egocêntricos e apresentam resultados escolares ruins. A ausência de afetividade, limite, permissividade dos pais, mostra que os agressores não aprenderam a gerar empatia e não foram educados com valores necessários para se respeitar as diferenças. Carência afetiva, ausência de limites, afirmação dos pais sobre os filhos através de maus-tratos e explosões emocionais violentas, excessiva permissividade, exposição prolongada às inúmeras cenas de violência exibidaspela mídia e pelos games, facilidade de acesso às ferramentas oferecidas pelos modernos meios de comunicação e informação. Além desses, existe a alta competitividade, que acaba gerando o individualismo e a dificuldade de empatia, a crise ou ausência de modelos educativos baseados em valores humanos, capazes de alicerçar a vida do indivíduo. (FANTE, PEDRA, 2008, p. 41). O bullying desenvolve danos a curto ou longo prazo, acredita-se que a vítima pode apresentar baixa autoestima, dificuldade de relacionamento social, fobia escolar, tristeza, crises de ansiedade, transtornos alimentares, bulimia, estresse, sensações de medo, síndrome do pânico, automutilação, quadros de depressão, transtornos mentais, atos de violência extrema contra a escola. Esses danos podem se agravar de forma devastadora, levando-o ao ponto mais extremo, o suicídio. Infelizmente o bullying pode gerar consequências que levam a atitudes estremas, como o suicídio. Segundo o relato de Amy Briggs, mãe do garoto Daniel, de La Farge que sofreu bullying durante nove anos e não se adaptou à escola, o bullying matou o seu filho, aos 16 anos. Ele deu um tiro em sua cabeça, após receber uma mensagem de um menino da escola que o induzia a tirar sua 32 própria vida. Matt, um amigo da vítima, sabia que ele cometeria tal ato, tentou mantê-lo ao telefone, enquanto mandava mensagens para a irmã dele para que tentasse entrar em contato com os pais. Os pais de Daniel receberam ligações do pai de um amigo do filho. No momento do suicídio, eles estavam assistindo ao jogo de basquete de Michael, seu outro filho. Infelizmente, quando chegaram em casa, já era tarde demais. Segundo sua mãe, Daniel era um garoto amável, cuidava do vizinho com câncer, e acolheu amavelmente a esposa do vizinho, após seu falecimento, e gostava de caçar. Em seu relato Amy Briggs (2015), diz que: Ele não gostava de esportes, gostava de caçar, o que não era algo muito comum entre as crianças na idade dele. Ele tinha dificuldade em achar pessoas que tivessem interesses em comum com ele e isso fez dele um alvo a maior parte do tempo. Começou com palavras, ele era chamado de nomes horríveis. Depois, progrediu para pessoas jogando lixo nele. Daniel levava socos no estômago, era obrigado a lamber a janela do ônibus, era atacado por trás ao entrar no ônibus, era ridicularizado pelas músicas que ouvia. Tudo possível. Eles procuravam qualquer coisinha apenas para fazer a vida dele extremamente infeliz. Um dos garotos com quem Daniel tinha muitos problemas mandou uma mensagem para ele, eu mesma vi a mensagem, o SMS dizia: Por que você não pega uma das suas preciosas armas e faz um favor para o mundo e se mata? Ele respondeu para aquele mesmo garoto: Você não precisa mais se preocupar comigo, eu vou para casa e vou me matar. E o garoto respondeu: Vai logo ou cala a boca. Daniel contou o ocorrido ao amigo Matt que tentou ligar para nós. E ele disse: Por favor, não ligue para a minha mãe, ela tentará me levar para o hospital. Ele tentava manter Daniel ao telefone e mandava mensagens para a sua irmã, tentando entrar em contato conosco. Estávamos no jogo de basquete do outro filho, Michael, quando recebemos ligações do pai de amigo do Daniel. Liguei para a nossa vizinha ir até lá ver como ele estava, ela entrou e disse: nós amamos você, e então ela escutou um tiro, cheguei e corri para o quarto dele e vi uma imagem horrível. Eu gritei, corri para fora. Michael pedia o irmão de volta e eu pedi para os paramédicos meu filho vivo. Queria que ele soubesse o quanto ele importa para tantas pessoas. Quando alguém disser que vai se matar, conte para alguém, dê a ele seus 15 minutos, leve a sério. Porque todo mundo precisa ser levado a sério. Quando você souber que alguém está sofrendo bullying não fique só observando, você é tão culpado quanto quem comete o bullying quando você não faz nada. Se você vir precisa fazer algo a respeito. Se você não quiser interferir, então fale com um adulto e fale até que alguém faça alguma coisa. (PRAGMATÍSMO POLÍTICA, 2015) 33 Como se pode observar no relato de Amy, o bullying pode ocasionar danos devastadores tanto às vítimas quanto à família, vai massacrando a autoestima e os leva a quadros de transtornos psíquicos e depressão, sendo portanto, um grave problema social, é uma questão de política pública, que afeta diversos aspectos da vida da crianças e dos adolescentes. 3.2. Discussão e enfrentamento do bullying no ambiente escolar A ausência de diálogo sobre o bullying é prejudicial e pode apresentar aumento nas ocorrências. Segundo Fante (2011), para combater os atos, é preciso dialogar sobre o problema, tomar conhecimento do tema, apresentar seus sinais, e seria relevante a discussão sobre a educação dos pais e do âmbito educacional, buscando evitar que os agressores se tornem os valentões que pratica o bullying. As crianças precisam de ajuda, apoio, transmissão de valores que serão base para sua educação. Para discutir sobre o problema, é necessário que a criança seja estimulada a falar sobre os problemas e não queiram omitir o ocorrido por vergonha ou medo. Incentivar a criança a comunicar qualquer tipo de agressões à escola, que deverá tratar o caso com respeito e vigor, sendo cobrada sobre isso; incentivar a criança a não revidar as agressões; reconhecer e valorizar as atitudes das crianças; e caso necessário, oferecer ajuda psicológica, para ajudá-las nesse momento difícil. Falar aos alunos que todos somos diferentes e que devemos respeitar as diferenças físicas, raciais, religiosas, culturais, socioeconômicas de cada um; falar-lhes da importância de ir adquirindo hábitos e atitudes solidárias com as pessoas que vivem ao seu redor; conversar com os alunos sobre a importância de assumir compromissos concretos com os companheiros de classe, para desenvolver atitudes de ajuda e de solidariedade diante dos problemas que possam apresentar. (FANTE, 2011, p. 125) No relato de experiência de bullying, Mirella de 14 anos, nos conta o seu enfrentamento do bullying, todo o seu sofrimento e como ela conseguiu superar o problema. Segunda Mirella, em seu terceiro ano escolar, seus colegas começaram a fazer agressões verbais, chamando-a por apelidos que a ofendia. 34 Após essa fase, piorou, vieram também as agressões físicas. Mirella chorava todas as manhãs ao ir para a escola, pois além do bullying que sofria, ainda não recebia ajuda de quem precisava ajudá-la nesse momento doloroso. A orientadora educacional achava que tudo não passava de manha. No sexto ano, o quadro de funcionários da escola mudou e Mirella começou a receber ajuda da coordenação, da orientação, dos psicólogos e assistentes sociais do colégio. Hoje pelo ocorrido, sabendo que por trás de uma pessoa pode existir um problema, ela tenta ser mais atenciosa com as pessoas, demonstrando assim, valores de respeito, tolerância e a necessidade de importar-se com o outro. Em seu relato Mirela 14 anos, diz que: “Bom, acho que a primeira situação em que sofri bullying foi no terceiro ano do colégio. Um grupo tanto de meninas quanto de meninos ficava me chamando de "baleia", "rolha", "gorda", "quatro- olhos" (quando comecei a usar óculos), mas isso era o de menos. Por mais que machucasse um pouco ouvir coisas assim, depois vieram as agressões mais físicas: chutavam minha lancheira, mochila, quebravam alguns materiais meus e um dia acabei apanhando de um desses grupos de meninas. Esse foi só o começo. Isso ocorreu desde o terceiro ano até o sétimo. Em determinado momento, eu cheguei ao ponto de chorar todas as manhãs só de lembrar em ter de ir pra escola de novo e quando ia, não via a hora de ir embora. Algumas das situações mais sérias acabei esquecendo porque foi tão ruim para a minha vida que acabei apagando da minha memória sem perceber. Na época, tinha uma orientadora educacional queatualmente está aposentada. Ela não dava a menor importância para o que estava acontecendo. Nem a Lei Antibullying ela conhecia. Dizia que era manha minha e que nada estava acontecendo. Depois no sexto ano, mudou a coordenação, orientação e tudo, e os psicólogos e assistentes sociais do colégio me ajudaram, tentando fazer com que isso parasse, até que funcionou porque depois disso continuou só por mais um ano. Durante uns três anos eu não tocava nesse assunto com meus pais e tentava demonstrar que estava tudo bem, mas depois eles perceberam que tinha sim algo errado, até porque esse bullying fugiu das fronteiras da escola e começou a ser presente em outros lugares, como um acampamento que frequentávamos. Eles iam conversando comigo e depois com a escola. No começo eu tinha um certo medo de falar alguma coisa porque acabava botando a culpa em mim mesma. Eu perdia completamente a vontade de ir à escola, às vezes não comia, tentava emagrecer para ver se essas coisas paravam, tinha vontade de fugir da escola. Uma época cheguei até a praticar bulimia por um tempo. Quando estava perto do fim disso, mas eu não sabia, pensei até em desistir de tudo, desistir da vida. Não dormia um dia sequer sem chorar. Hoje em dia, por 35 conta disso tudo que passei acabei mudando a forma de tratar as pessoas. Tento ser o mais atenciosa possível, não tratar com grosseria nem indiferença porque não sabemos pelo que cada pessoa está passando e eu sei como a indiferença pode machucar mais do que palavras. (MINISTÉRIO PÚBLICO DE SANTA CATARINA, 2017.) Diante desta situação, deve-se conscientizar aos pais, professores e demais profissionais da educação sobre a importância de medidas preventivas, diagnósticas e de atuação a comportamentos de bullying nas escolas. A escola deve buscar uma visão da realidade e do cotidiano do aluno, a fim de estabelecer ideais de comportamentos qualitativos, observando-se a realidade cultural e social desse aluno. Pode-se propor medidas de enfrentamento do problema, como fazer autoavaliação, apresentando seus defeitos, qualidades e assim propondo a modificação de alguns comportamentos que estejam inadequados. Dinâmica e trabalhos em grupos, a fim de trabalhar os diferentes grupos, o respeito às diferenças que é um dos valores mais importantes do ser humano, que tem grande influência na interação social e na democracia, o respeito mútuo que representa uma das formas mais básicas e essenciais para uma convivência saudável, a reciprocidade, a amizade e o convívio harmonioso. Dessa forma, as escolas integrantes do grupo, de modo independente, traçaram suas estratégias e planos, resultados em diversas formas de ação, que iam desde a abordagem feita aos alunos pelos professores sala de aula até a participação ativa destes em atividades práticas. Em algumas escolas o tema foi trabalhado de maneira específica, enquanto em outras ele foi inserido em outros contextos mais amplos como a paz, o amor e a amizade. (FANTE, 2011, p. 90) 3.3. Os possíveis meios de combate ao bullying É relevante que o fenômeno bullying torne-se conhecido e que ocorra a orientação sobre esse problema às crianças e aos adolescentes, apresentando suas características, seus riscos e suas consequências, tornando-se um ato de políticas públicas que não pode ser ignorado pelos educadores, familiares, coordenadores e toda a comunidade escolar. De acordo com Middelton-Moz; Zawadski (2007), a educação é papel de todos, a participação da família precisa 36 ser efetiva e integral, é necessário integrá-los em todo o processo escolar, não apenas em reuniões esporádicas, mas inserindo-se e participando nas pesquisas, programas e ações que visam à prevenção, à redução e à intervenção do bullying. O jovem Hugo, de 22 anos, em seu relato de experiência com o bullying, afirma que foi vítima de bullying, mas, ao ir para o ensino médio, encontrou na prática do fenômeno sua maneira de se defender. Ele realizou essas ações por três anos e ao final do ensino médio seus pensamentos começaram a mudar, devido a campanhas, palestras que sua escola realizava em apoio ao bullying, além de contar com psicólogos e assistentes sociais. Esse posicionamento da escola o ajudou na relação social, a conhecer seus colegas e respeitar as particularidades que cada indivíduo possui. Eu sofria bullying quando era criança e assim que fui para o ensino médio, mudei de escola e decidi que ninguém mais praticaria bullying comigo. A maneira que encontrei foi praticar bullying com os outros. Foi uma "defesa" errada. Fiz bullying por três anos, durante o ensino médio. Eu tinha colegas de aula que participavam de uma religião na qual existiam algumas regras, como não poder cortar os cabelos e só usar saias compridas. Aquilo fugia do que era "normal", no meu ponto de vista do tempo. Piadas e deboche com outros colegas eram recorrentes. Eu já sabia o que era bullying, mas, ainda assim, fazia comentários pejorativos com amigos. A escola na qual estudava tinha campanhas de combate ao bullying e participação frequente de assistentes sociais e psicólogas. A minha atitude em relação às colegas mudou mais próximo do final do ensino médio, quando passei a conhecê-las melhor e a aceitar a religião. Se alguém fizesse comigo o que eu fiz com elas, eu me sentiria muito mal. Era algo diferente aos meus olhos, de alguma maneira me chamava a atenção porque fazia parte de um costume que era diferente do que a maioria da turma tinha. (MINISTÉRIO PÚBLICO DE SANTA CATARINA, 2017) No ambiente escolar, é preciso buscar o bem-estar físico e mental dos alunos, às vezes, eles vivenciam momentos em que necessitam de equilíbrio emocional, pois não sabem se expressar e expor o que estão vivenciando, seja problemas familiares, que não são digeridos de forma adequada, ou problemas escolares. Assim, se necessário, a escola poderá buscar ajuda de profissionais que os auxiliem nessas questões. Para uma educação de qualidade, a escola 37 sendo um agente de transformação na vida dos alunos, poderá criar um espaço escolar participativo com diálogo, socialização de experiências. Ainda segundo Middelton-Moz; Zawadski (2007), é necessário buscar medidas preventivas ao bullying, fazer com que os professores, família, alunos, tenham envolvimento, engajamento, sensibilizando a comunidade escolar, apresentar com clareza todos os pontos principais do fenômeno, reforçando sempre que a vítima não deve se envergonhar ou se calar, incentivando a denunciar seus agressores e buscar por apoio na escola e na família. Pode-se também implementar suporte de apoio como debates que mostrem as consequências negativas desses atos, palestras, vídeos e filmes educativos que retratem o assunto, desenvolvendo assim projetos pedagógicos que valorizem a diversidade, buscando ajudar e auxiliar aqueles que praticam os atos de bullying, trabalhando assim as diversas formas de preconceito existentes, o individualismo, a intolerância, o egoísmo, o desrespeito, ensinando-os a ter uma melhor socialização, desenvolvendo uma consciência crítica, reflexiva com uma pedagogia que trabalha a coletividade, interação social, o respeito às diferenças, a ética, a solidariedade, a cooperação, a harmonia e afeto. A intolerância, a ausência de parâmetros que orientem a convivência pacífica e a falta de habilidade para resolver os conflitos são algumas das principais dificuldades detectadas no ambiente escolar. Atualmente, a matéria mais difícil da escola não é a matemática ou a biologia; a convivência, para muitos alunos e de todas as séries, talvez seja a matéria mais difícil de ser aprendida. (FANTE, 2005, p.91) A escola tem por missão preparar seus alunos para a cidadania. Pedagogicamente, pode-se explorar livros de literatura, histórias infantis que apresentam algum tipo de diferença, seja ela racial, da fisionomia ou social. Para