Prévia do material em texto
98 Unidade III Unidade III 7 REAÇÕES QUÍMICAS As propriedades físicas dos compostos são devidas às suas características, como: tipo de ligação atômica (covalente apolar, covalente polar ou iônica) e tipos de forças envolvidas entre as moléculas (força íon‑íon, força dipolo‑dipolo, ligações de hidrogênio, forças de Van der Walls). A química é a ciência da transformação. Podemos dizer que toda a atividade dos químicos consiste em estudar as propriedades das substâncias e as transformações químicas, ou seja, as reações químicas. Reação química é um processo de mudanças químicas em que ocorre a conversão de uma substância, ou mais, em outras substâncias. Em uma reação química, há rupturas de ligações químicas nos reagentes e a formação de novas ligações, gerando os produtos. Em todas as reações químicas ocorrem rearranjos de átomos, mas o número de átomos se conserva. Antes e depois da reação química, a soma das massas dos produtos é igual à soma das massas dos reagentes. Em geral, as reações químicas podem ser descritas de duas formas: quanto ao tipo de reação química (substituição, adição, eliminação e rearranjo) e como elas ocorrem (mecanismos reacionais). 7.1 Tipos de reações • Reações de substituição: substituição de um grupo por outro. Tais reações são características de compostos saturados, tais como alcanos e haletos de alquila. H3C–Cl + Na+OH‑ H2O H3C–OH + Na+Cl‑ • Reação de adição: soma de um composto em outro. Essa reação é característica de compostos com ligações múltiplas. Eteno Bromo 1,2‑dibromoetano H H HCC Br H Br H H CC H H CCl4 + Br2 Figura 138 99 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL • Reação de eliminação: é o oposto da reação de adição. Método de preparo de compostos de dupla e tripla ligação. H H HCC H H Br H H CC H H KOH + HBr Figura 139 • Reações de rearranjo: a molécula sofre uma reorganização de suas partes substituintes. H+ CCH3C CH3 CH3 CH2 H CC H3C H3C CH3 CH3 Figura 140 Lembrete As principais reações químicas são: substituição, adição, eliminação e rearranjo. 7.2 Mecanismos das reações Aqui são determinadas quais ligações são realizadas ou quebradas e em que ordem isso se dá, ou seja, toda reação química envolve a quebra de ligações e posterior formação de novas ligações entre os átomos envolvidos nas ligações. A ligação covalente, que é a principal ligação existente nas moléculas químicas, pode ser quebrada de duas maneiras: • Simetricamente: cisão homolítica, em que cada átomo fica com um elétron produzindo fragmentos com elétrons desemparelhados chamados de radicais. • Assimetricamente: cisão heterolítica, em que um dos átomos fica com o par de elétrons produzindo um cátion e um ânion. A B A+ + B– Heterolítica A B A • + • B Homolítica Figura 141 100 Unidade III Da mesma forma, a recombinação da quebra (ligação) pode ser: A+ + B– A B Heterogênea A • + • B A B Homogênea Figura 142 7.3 Reações radicalares Ocorrem principalmente em alguns processos industriais e em alguns processos metabólicos. Os radicais formados pela quebra homolítica da ligação são muito reativos, porque possuem uma deficiência de elétrons na camada de valência e procuram fazer novas ligações químicas para se estabilizar (regra do octeto). Os radicais se estabilizam realizando principalmente reações de substituição e de adição. • Reações de substituição via radical: substitui um átomo de uma outra molécula, dando origem a um novo radical. Esse novo radical formado pode reagir com outros compostos, criando novos radicais e assim por diante em uma reação contínua (reação em cadeia). Rad • + A B Rad A + •B Radical reagente Produto de substituição Radical produto Figura 143 • Reações de adição via radical: um radical liga‑se a um composto (geralmente com múltiplas ligações), formando um novo radical. Rad • + CC Radical reagente Alceno Radical produto C •C Rad Figura 144 7.3.1 Reações de halogenação Nessas reações, um ou mais átomos de hidrogênio são substituídos por um halogênio (Cl, Br, I = X). CH4 + Cl2 CH3Cl + CH2Cl2 + CHCl3 + CCl4 + HCl Aquecimento ou Radiação UV Possuem propriedades físicas diferentes Podem ser separadas por destilação Figura 145 101 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL O mecanismo para essa reação envolve três etapas fundamentais: iniciação, propagação e término. Aquecimento ou Radiação UV Iniciação Cl2 2Cl • Propagação Cl • + CH4 Substituição • CH3 + HCl • CH3 + Cl2 Substituição CH3Cl + Cl • Cl • + Cl • Cl2 Cl • + • CH3 CH3Cl • CH3 + • CH3 CH3 CH3 Término Vários produtos possíveis CH2Cl2 (diclorometano) CCl4 (tetracloreto de carbono) Figura 146 Os demais alcanos também reagem da mesma forma com os halogênios, só que quanto mais carbono, maior o número de produtos possíveis. 7.3.2 Rancidez oxidativa É a principal responsável pela deterioração de alimentos ricos em lipídeos, pois resulta em alteração indesejável de cor, sabor, aroma e consistência do alimento. A rancidez ocorre em razão de uma série de reações extremamente complexas que ocorrem entre o oxigênio e os ácidos graxos insaturados dos lipídeos. Essas reações geralmente se desenvolvem em três etapas (iniciação, propagação e terminação). Iniciação Formação de um radical livre a partir de uma fonte energética (calor, radiação UV). A fonte energética quebra a ligação química do carbono como o hidrogênio adjacente à dupla ligação C‑C. Essa quebra ocorre porque a ligação dupla estericamente está mais exposta e suscetível à radiação. 102 Unidade III Radiação UV H H H C C C C CH = CH CH = CH H H H H CH3(CH2)4 CH3(CH2)4 (CH2)5COOH (CH2)5COOH = R • • Figura 147 Propagação O radical livre formado pela radiação UV pode reagir com o oxigênio presente, formando novos radicais livres, principalmente o radical peróxido, muito reativo. R • + 02 R–OO • ROO • + R1H ROOH + • R1 ROOH RO • + • OH ROOH ROO • + • H Exemplo de alguns produtos das reações radicalares Figura 148 Terminação Os radicais constituídos podem se ligar entre si, formando os mais diversos produtos, como hidrocarbonetos, aldeídos, álcoois, ésteres etc. R • + R • R–R ROO • + • H ROOH 7.4 Reações de oxidação – redução (reações redox ou oxidorredução) Uma reação de oxidação corresponde a um aumento do número de oxidação, devido à perda de elétrons, e a reação de redução a uma diminuição do número de oxidação, devido ao ganho de elétrons. Em compostos orgânicos é, por vezes, difícil reconhecer o número de oxidação dos elementos e saber, numa reação, qual ganha ou perde elétrons. Reações orgânicas de redução são fenômenos químicos que ocorrem sempre que determinados compostos orgânicos oxigenados (formados por carbono, hidrogênio e oxigênio) e nitrogenados 103 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL (formados por carbono, hidrogênio e nitrogênio) sofrem ataque de átomos de hidrogênio ([H]) provenientes da substância gás hidrogênio (H2) em meio a níquel metálico (Ni) ou das substâncias hidreto de lítio e alumínio (LiAlH4) e boro hidreto de sódio (NaBH4) aquosos (misturados à água). Assim, em química orgânica aplicam‑se geralmente as seguintes regras, mais práticas: • Oxidação é a remoção de hidrogênio (H) ou a adição de oxigênio (O) em uma molécula orgânica. • Redução é a adição de hidrogênio (H) ou a remoção de oxigênio (O) em uma molécula orgânica. As reações de oxidação das substâncias orgânicas devem ser catalisadas por agentes oxidantes. São simbolizados por [O] e podem ser: permanganato de potássio (KMnO4), dicromato de potássio (K2Cr2O7) ou o tetraóxido de ósmio (OsO4). Já as reações de redução das substâncias orgânicas devem ser catalisadas por agentes redutores. São simbolizados por [H] e podem ser: hidreto de lítio e alumínio (LiAlH4) ou boro hidreto de sódio (NaBH4). 7.4.1 Oxidação dos álcoois A oxidação de álcoois fornece diferentes produtosprocessos de transferência de elétrons envolvidos na produção de energia. As ubiquinonas, também chamadas coenzimas‑Q, são componentes das células de todos os organismos aeróbicos, desde a bactéria mais simples até os seres humanos. Elas possuem esse nome em virtude de sua ocorrência ubíqua, onipresente na natureza. 150 Unidade III CH3CH3O CH3O O O (CH2CH CCH2)nH Ubiquinona (n = 1‑10) CH3 Figura 251 As ubiquinonas atuam dentro da mitocôndria das células para mediar o processo respiratório no qual os elétrons são transportados a partir de um agente redutor biológico, no NADH, para o oxigênio. Por meio de várias etapas complexas, o resultado final é um ciclo em que o NADH é oxidado a NAD+, O2 é reduzido em água e energia é liberada. A ubiquinona age apenas como intermediária e, portanto, não sofre alteração. Etapa 1 Etapa 2 Resultado final CH3 CH3CH3O CH3O CH3O CH3O O OH OHO R R Forma reduzida NADH + H+ + + NAD+ Forma oxidada CH3CH3 CH3OCH3O CH3OCH3O OOH OH O RR + 1/2 O2 + H2O NADH + 1/2 O2 + H+ NAD+ + H2O Figura 252 Sistemas que possuem um orbital p em um átomo adjacente a uma ligação dupla – moléculas como ligações π deslocalizadas – são chamados sistemas insaturados conjugados. Esse fenômeno geral é chamado conjugação. E essas conjugações dão a esses sistemas propriedades especiais. Veremos, por exemplo, que radicais conjugados, íons ou moléculas, são mais estáveis que os não conjugados. A conjugação permite também que as moléculas sofram reações anormais, a exemplo da reação Diels‑Alder, importante para a formação de anéis. 151 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL 7.14 Reações em compostos aromáticos (SEAr) Como comprovado experimentalmente, a aromaticidade confere uma estabilidade adicional. Portanto a perda da aromaticidade representa a formação de um produto menos estável e não ocorre. Assim, reações de adição não ocorrem em sistemas aromáticos, pois haveria a formação de um produto não aromático. Já em reações de substituição, ocorre a perda da aromaticidade para formação de um intermediário, porém a aromaticidade é restituída para constituição do produto. Portanto sistemas aromáticos reagem somente por substituição. Nesse caso, o anel aromático age como nucleófilo, atacando uma espécie eletrofílica. O anel aromático utiliza os elétrons π para o ataque nucleofílico. O mecanismo ocorre em duas etapas: • etapa 1: ataque ao eletrófilo, originando um intermediário catiônico; • etapa 2: perda de um próton e restauração da eletrofilicidade. A etapa lenta é a formação do intermediário carregado (interrupção da aromaticidade/ intermediário carregado). E E H E ProdutoIntermediário catiônico Adição de eletrófilo Perda do próton Figura 253 A reação mais comum de um composto aromático é a de substituição aromática eletrofílica, ou seja, um eletrófilo (E+) reage com o anel aromático e substitui um dos seus átomos de hidrogênio. H HH H H H H E H H H H + E+ + H+ Figura 254 152 Unidade III Vários substituintes diferentes podem ser introduzidos no anel aromático por meio das reações de substituição eletrofílica. Pela escolha adequada dos reagentes, tem‑se: R H C O R X NO2 SO3H Nitração Sulfonação Alquilação Halogenação Acilação Figura 255 Começando com alguns materiais simples, é possível preparar diversos compostos aromáticos substituídos. 7.14.1 Reação de halogenação aromática Um anel benzênico, com seis elétrons π em um sistema cíclico conjugado, é um local de densidade eletrônica. Além disso, os elétrons π do benzeno são acessíveis aos reagentes que se aproximam por causa de sua localização acima e abaixo do plano do anel. Assim, o benzeno age como um doador de elétrons (uma base de Lewis ou nucleófilos) em grande parte da sua química e a maioria das reações ocorre com reagentes receptores de elétrons (ácido de Lewis ou eletrófilos). Por exemplo, o benzeno reage com o Br2 na presença do catalisador FeBr3 para formar um produto de substituição, bromo benzeno. Br Benzeno Bromobenzeno + Br2 + HBr FeBr3 Figura 256 As reações de substituição eletrofílica são características de todos os anéis aromáticos, não apenas do benzeno e de seus análogos substituídos. De fato, a habilidade de um composto em sofrer uma substituição eletrofílica é um bom teste de aromaticidade. Quando um reagente como o HCl é adicionado a um alceno, o átomo de hidrogênio eletrofílico se aproxima dos orbitais p da ligação dupla e forma uma ligação com o átomo de carbono, deixando a carga positiva no outro átomo de carbono. Esse intermediário carbocátion então reage com o íon nucleófilo Cl‑ para formar o produto de adição. 153 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL H Cl H Cl‑ C C C H Cl + Alceno CC C Carbocátion Produto de adição Figura 257 Uma reação de substituição aromática eletrofílica começa de maneira semelhante, porém existem algumas diferenças. Uma delas é que os anéis aromáticos são menos reativos que os alcenos em relação aos eletrófilos. Por exemplo, o Br2 reage instantaneamente com a maioria dos alcenos, mas não reage com o benzeno à temperatura ambiente. Para que ocorra a bromação do benzeno, é necessária a presença de um catalisador como o FeBr3. O catalisador age sobre a molécula de Br2, tornando‑a mais eletrofílica devido à formação da espécie FeBr4—Br+, que reage como se fosse o Br+. – + Cargas momentâneas – + Br Br Bromo (eletrólito fraco) FeBr3 Br3Fe3 – ‑ – Br – ‑ – Br Bromo polarizado (eletrólito forte) Figura 258 Então a molécula de Br2 polarizada é atacada pelos elétrons π do anel benzênico nucleofílico em uma etapa lenta, determinante da velocidade da reação, para formar um intermediário carbocátion não aromático. Esse carbocátion é duplamente alílico e tem três formas de ressonância: Br Br Br + + + Benzeno + Br Br FeBr3 Figura 259 Ainda que o intermediário dessa reação de substituição aromática eletrofílica seja estável em comparação com um típico carbocátion alquílico, ele é muito menos estável que o próprio anel benzênico 150 kJ mol‑1 de estabilidade aromática. Assim, a reação eletrofílica com o benzeno é endergômica, com uma energia de ativação relativamente alta e, portanto, uma reação lenta. Outra diferença entre a reação de adição e a de substituição eletrofílica ocorre após a formação do intermediário carbocátion. Em vez de ocorrer o ataque do Br‑ para formar um produto de adição, o intermediário carbocátion perde H+ do átomo de carbono vizinho ao átomo que sofreu o ataque para formar um produto de substituição. Observe que a perda de H+ é semelhante ao que acontece na segunda etapa de 154 Unidade III uma reação E1. O efeito líquido da reação de Br2 com o benzeno é a substituição de H+ por Br+, como mostra o mecanismo global da reação: Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Br Br FeBr3 Br Br FeBr3 Br+ + FeBr4 ‑ – – + + O bromo se combina com FeBr3 para formar um complexo que se dissocia para formar um íon bromo positivo e FeBr4 – Br H H H Br Br + + + Br+ Lenta Carbocátion não aromático, íon arênio O íon bromo positivo ataca o benzeno para formar um íon arênio Um próton é removido do íon arênio para tornar‑se bromobenzeno Br H + Br + HBr + FeBr3 Br FeBr3 Figura 260 O mecanismo de cloração é análogo ao da bromação utilizando cloreto férrico. O flúor reage rapidamente com o benzeno. O iodo, por outro lado, tem tão pouca reatividade que é necessário usar um agente oxidante para que a iodação ocorra. I2 + 2Cu+2 2I‑ + 2Cu+ 7.14.2 Reação de nitração aromática Os anéis aromáticos podem sofrer reações de nitração pela reação com uma mistura de ácido nítrico e sulfúrico concentrada. O eletrófilo nessa reação é o íon nitrônio, NO2 +, gerado a partir de HNO3 pela protonação e perda de água. O íon nitrônio reage com o benzeno para formar um intermediário carbocátion da mesma maneira que o eletrófiloBr+. A perda de H+ do intermediário forma um produto de substituição neutro, o nitrobenzeno. • Etapa 1: o ácido nítrico aceita um próton do ácido mais forte, o ácido sulfúrico. O O + + + HSO4 ‑H N NH H O O O O‑ HO3SO H + Figura 261 155 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL • Etapa 2: agora que está protonado, o ácido nítrico pode se dissociar para formar o íon nitrônio. O + + H2O +NH H O O‑ N+ O O Íon nitrônio Figura 262 • Etapa 3: o íon nitrônio é o eletrófilo real na nitração, ele reage com o benzeno para formar um íon arênio estabilizado por ressonância. N+ O O Íon arênio Lenta NO2 H Outras formas de ressonância + Figura 263 • Etapa 4: o íon arênio perde um próton para uma base de Lewis (nucleófilo) e torna‑se nitrobenzeno. + H3O + NO2 NO2H+ H HO Figura 264 A nitração de um anel aromático é uma reação particularmente importante para a produção de corantes e agentes farmacêuticos. NH2NO2 SnCl2 H3O + OH‑ AnilinaNitrobenzeno Figura 265 7.14.3 Reação de sulfonação aromática Os anéis aromáticos podem sofrer reação de sulfonação pela reação com o ácido sulfúrico fumegante, uma mistura de H2SO4 e SO3. O eletrófilo reativo pode ser tanto o HSO3 + quanto o SO3, dependendo das condições de reação. A reação de sulfonação também ocorre por um mecanismo de várias etapas, como já discutido para as reações de nitração e bromação. Observe, entretanto, que a reação de sulfonação é reversível, pois pode ocorrer em ambos os sentidos, dependendo das 156 Unidade III condições da reação. A sulfonação é favorecida na presença de ácidos fortes, mas a dessulfonação é favorecida em solução ácida diluída a quente. Etapa 1 2 H2SO4 SO3 + H3O + + HSO‑ 4 Esse equilíbrio produz SO3 em H2SO4 concentrado Etapa 2 Etapa 3 O O O O‑ O O S S H + Outras estruturas de ressonância SO3 é o eletrólito real que reage com benzeno para formar o íon arênio Um próton é removido do íon arênio para formar o íon benzenossulfonato O O O O O‑ O‑S S H + HSO4 ‑ Rápida H2SO4 Etapa 4 O íon benzenossulfonato aceita um próton para tornar‑se ácido benzenossulfônico O O O O O‑ O HS S Rápida H2O+ + H O+ HH Figura 266 Os ácidos sulfônicos aromáticos também são muito úteis porque sofrem várias outras reações químicas. Por exemplo, uma reação com NaOH a quente forma o fenol. Ácido p‑toluenossulfônico P‑cresol (fenol) NaOH, H3O + 300 ºC O O O HSH3C OHH3C Figura 267 7.14.4 Reação de alquilação aromática (alquilação de Friedel‑Crafts) Uma das mais importantes reações de substituição aromática eletrofílica é a alquilação, a reação de acoplamento de um grupo alquila no anel benzênico. Charles Friedel e James Crafts relataram em 1877 que os anéis de benzeno podem sofrer alquilação pela reação com um cloreto de alquila na presença de cloreto de alumínio como catalisador. Por exemplo, o benzeno reage com o 2‑cloropropano e AlCl3 para formar o isopropil benzeno, também conhecido como cumeno. 157 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL CHCH3 CH3 Benzeno Isopropilbenzeno (cumeno) + + HCl AlCl3CH3CHCH3 Cl 2‑cloropropeno Figura 268 A reação de alquilação Friedel‑Crafts é uma substituição aromática eletrofílica em que o eletrófilo é um carbocátion, R+. O cloreto de alumínio catalisa a reação auxiliando na dissociação do haleto de alquila da mesma forma que o FeBr3 catalisa as reações de bromação aromática polarizando a molécula de Br2. A perda de um próton completa a reação como mostra o mecanismo a seguir: • Etapa 1: essa é uma reação de ácido e base de Lewis. O composto se dissocia para formar um carbocátion e AlCl4 ‑ Cl Cl Cl Cl Al‑ Al‑Cl Cl H3C H3C + H3C H3C H3C H3C Cl Cl+ ClCH CH CH Cl Cl Cl Al Figura 269 • Etapa 2: o carbocátion, atuando como um eletrófilo, reage com benzeno para produzir um íon arênio. CH CH3 CH3 CH3 CH3 H + Outras estruturas de ressonância HC + Figura 270 • Etapa 3: o íon arênio reage finalmente com AlCl4 ‑ (o produto halogenado), liberando ácido clorídrico e cloreto de alumínio. CH CH3 CH3 H + Cl CH3 CH CH3 Cl Al‑ ClCl + HCl + AlCl3 Figura 271 158 Unidade III Ainda que a reação de alquilação de Friedel‑Crafts seja muito ampla para a síntese de alquilbenzenos, ela apresenta algumas limitações, as quais destacaremos a seguir. • Somente podem ser usados haletos de alquila, e haletos de arila e vinila não reagem. Haleto de vinil Cl Cl Haleto de arila Figura 272 • A reação não ocorre quando o anel aromático é substituído por um grupo amino ou por um grupo retirador de elétrons forte (‑NO2, ‑CN, ‑SO3H, ‑CHO, ‑CO2H, ‑CO2CH3). • Há dificuldade para cessar a reação após ter ocorrido uma única substituição. + +(CH3)3CCl C(CH3)3 C(CH3)3 C(CH3)3 AlCl3 Figura 273 • Frequentemente ocorre um rearranjo do grupo alquila durante a reação, em especial quando é empregado um haleto de alquila primário. CHCH2CH3 CH2CH2CH2CH3 CH3 Benzeno Sec‑butilbenzeno Butilbenzeno + AlCl3 0 ºC CH3CH2CH2CH2Cl Figura 274 7.14.5 Reação de acilação aromática (acilação de Friedel‑Crafts) Um grupo acila, ‑COR, é introduzido no anel quando um composto aromático reage com um cloreto de ácido, RCOCl, na presença de AlCl3. Por exemplo: 159 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL C O Benzeno AcetofenonaCloreto de acetila + 80 ºC AlCl3 O Cl CH3 HClCH3 + C Figura 275 O mecanismo da reação de acilação de Friedel‑Crafts é semelhante ao da alquilação. O eletrófilo reativo é um cátion acila estabilizado por ressonância, formado na reação entre o cloreto de acetila e o AlCl3, como indicam as estruturas de ressonância na figura a seguir: O O+ Cátion acila R RC+ C Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 R RCl Cl++ O O C CAlCl3 Al‑Cl3 O O+R RC+ C R Cl+ O C Al‑Cl3 Al‑Cl4 Cátion acila ressonância R C O+ C O R H + Outros compostos de ressonância O C C O R R H + + + +Al‑Cl4 HCl AlCl3 Figura 276 Lembrete Os principais tipos de reações de substituição eletrofílica em aromáticos (SEAr) são: nitração; sulfonação; halogenação; alquilação de Friedel‑Crafts e acilação de Friedel‑Crafts. 160 Unidade III 7.14.6 Orientação dos grupos substituintes (entrada do segundo substituinte) Grupos doadores de elétrons orientam orto‑para, porque quando o eletrófilo entra nessas posições, a carga positiva formada atinge o carbono que contém o grupo doador. Assim, uma das estruturas de ressonância vai ter a carga positiva no carbono vizinho ao grupo doador, o que ajuda a estabilizar. Além disso, quando esse grupo tem pares de elétrons (doador por efeito mesomérico), existe uma estrutura de ressonância a mais que pode ser desenhada. Isso ocorre com grupos como –OR ou –NR2, em que tanto oxigênio quanto nitrogênio possuem pares de elétrons não compartilhados (R = H ou alquila). Com grupos retiradores, a situação é oposta ao que ocorre com grupos doadores de elétrons. Se a carga positiva no intermediário alcançasse o carbono ligado ao grupo retirador, levaria a um intermediário muito instável. Isso ocorre porque teríamos uma deficiência eletrônica perto de um grupo que retira elétrons. A solução é a substituição ocorrer em posição meta, que leva a um intermediário mais estável. Usando com o exemplo a segunda substituição que ocorre no fenol (hidroxibenzeno): E E E E H H H H OH OH OH OH + + + + Figura 277 – Estruturas de ressonância do intermediário formado no ataque do eletrófilo (E+) em orto A última estrutura em destaque na figura anterior trata‑se de uma estrutura de ressonância adicional que estabiliza o intermediário. E E E H H H OH OH OH + + + Figura 278 – Estruturas de ressonância do intermediário formado no ataque do eletrófilo (E+) em meta Em nenhuma dessas estruturas a carga positiva está no carbono ligado ao grupo hidroxila (‑OH). Por isso o par de elétrons do grupo hidroxila (–OH) não contribui para a possibilidade de uma nova estrutura de ressonância. E E EEH H HH OH OH OHOH + + + + Figura 279 – Estruturasde ressonância do intermediário formado no ataque do eletrófilo (E+) em para 161 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Assim como no ataque eletrofílico na posição orto, a última estrutura em destaque na figura anterior trata‑se de uma estrutura de ressonância adicional que estabiliza o intermediário. Grupos alquilas (por exemplo, metila, etila, propila) não têm par eletrônico livre no carbono ligado ao anel para poder contribuir para mais uma estrutura de ressonância. Contudo, por efeito indutivo eletrodoador, eles ajudam a estabilizar os intermediários dos ataques em orto ou para. Por isso são também orto‑para dirigentes. E H CH3 CH3 + EH + Figura 280 Exemplos de grupos orientadores orto‑para: H CH3 CH3 CH3 N N OH CH3 NH2 CH2CH3 O F Cl Br ICH2CH2CH3 CH3 Figura 281 – Grupos orto‑para‑dirigentes Os principais grupos orientadores são listados a seguir: Tabela 16 Orientadores orto/para Orientadores meta Ativadores fortes: ‑NH2, ‑NHR, ‑NR2, ‑OH, ‑O‑, ‑OMe, ‑OR Desativadores moderados: ‑CN, ‑SO3H, ‑CO2H, ‑CO2R, ‑CHO, ‑COR Ativadores moderados: ‑NHCOCH, ‑NHCOR Desativadores fortes: ‑NO2, ‑N+R3, ‑CF3, ‑CCl3 Ativadores fracos: ‑CH3, ‑C2H5, ‑R (hidrocarbonetos em geral) Desativadores fracos: halogênios Lembrete Grupos orientadores orto‑para são ativantes do anel aromático, e os grupos orientadores meta são desativantes do anel aromático. Grupos ativantes (o, p) efeito (+R, +I) se sobrepõem aos grupos desativantes (m) efeito (‑R,‑I). 162 Unidade III A seguir, destaca‑se o resumo das principais reações de substituição eletrofílica aromática (SEAr). Tabela 17 Reação Reagente Eletrófilo Produto Bromação Br2 + ácido de Lewis + Br MXn Br Br Nitração HNO3 + H2SO4 N + O O NO2 Sulfonação H2SO4 (conc.) ou H2SO4 + SO3 +OH O O S O O O S SO2OH Alquilação de Friedel‑Crafts RX + ácido de Lewis R+ R Acilação de Friedel‑Crafts RCOCI + ácido de Lewis O+ R R O Fonte: USP (s.d., p. 15). Lembrete Alquilação e acilação de Friedel‑Crafts usam como catalisador um ácido de Lewis, sendo mais utilizado o cloreto de alumínio (AlCl3). 163 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL 7.14.7 Reações na cadeia lateral dos compostos aromáticos Reações de redução NO2 NO2 NH2 NH2 NH2 NH2 CO2CH2CH3 CH3 CO2CH2CH3 CH3 H2 Pt Fe HCl SnCl2 HCl (100%) (81%) NO2 NO2 CH O CH O Figura 282 Reação de oxidação Br Br CH3 CO2H 1) KMnO4, NaOH ∆ 2) H3O + (83%) Figura 283 164 Unidade III 7.15 Reações gerais de compostos carbonílicos A maioria das reações envolvendo os grupos carbonílicos ocorrem por um dos quatro mecanismos gerais: • adição nucleofílica; • substituição nucleofílica em grupamento acila; • substituição alfa; • condensação carbonílica. 7.15.1 Reações de aldeídos e cetonas Um nucleófilo, :Nu‑, aproxima‑se de um ângulo de cerca de 45º para o plano do grupo carbonila e adiciona‑se ao átomo de carbono eletrofílico C=O. Ao mesmo tempo ocorre a re‑hibridização do carbono do grupo carbonila a partir de sp2 para sp3: um par de elétrons move‑se a partir da ligação dupla carbono‑oxigênio em direção ao átomo de oxigênio negativo e é produzido um íon alcóxido tetraédrico intermediário. Nu Negativos Neutros HO‑ HOH ROH H3N RNH2 R3C ‑ H‑ RO‑ N C‑ H H O+ H C C O‑ OH H HH3C H3C H3C H3C + H2O O H‑ H3C CH3 C Cetona ou aldeído Íon alcóxido Álcool Figura 284 Os aldeídos são geralmente mais reativos que as cetonas em reação de adição nucleofílica por razões estéricas e eletrônicas. Estericamente, a presença de apenas um grande substituinte ligado ao carbono C=O em um aldeído versus dois grandes substituintes em uma cetona significa que um nucleófilo está apto a se aproximar de um aldeído mais prontamente. Assim, o estado de transição leva a um intermediário tetraédrico menos empacotado e de menor energia para o aldeído que para uma cetona. 165 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL H H H C O H C Nu H H H H H H C O C C Nu Aldeído Cetona Maior impedimento estérico Figura 285 Eletronicamente, os aldeídos são mais reativos que as cetonas por causa da maior polarização dos grupos carbonilas dos aldeídos. Para ver essa diferença de polaridade, relembre a ordem de estabilidade de carbocátion. Um carbocátion primário tem maior energia e, dessa forma, é mais reativo que um secundário porque possui apenas um grupo alquila introduzindo a estabilidade na carga positiva, preferencialmente a duas. Um aldeído é um pouco mais eletrofílico e mais reativo que uma cetona. H R H C+ H R R’ C+ Carbocátion 1º (menos estável, mais reativo) Aldeído (menos estabilizado, mais reativo) Carbocátion 2º (mais estável, menos reativo) Cetona (mais estabilizado, menos reativo) O R H C O R R C Figura 286 Uma comparação adicional: os aldeídos aromáticos, como o benzaldeído, são menos reativos em reações de adição nucleofílicas que os aldeídos alifáticos. O efeito de ressonância na doação de elétrons do anel aromático torna o grupo carbonila menos eletrofílico que o grupo carbonila de um aldeído alifático. A reação mais comum de aldeídos e cetonas é a reação de adição nucleofílica, mas reações de oxidação também podem ocorrer. Observe as principais reações: • adição nucleofílica de água: reação de hidratação; • adição nucleofílica de hidreto: reação de redução; • adição nucleofílica de aminas; 166 Unidade III • adição nucleofílica de álcoois; • adição nucleofílica conjugada a aldeídos e cetonas; • oxidação de aldeídos e cetonas; • reação de Canizzarro: redução biológica. Carbono sp2 Carbono carbonílico Carbono sp3 Intermediário tetraédrico Nu C O‑ Nu O C Figura 287 Adição nucleofílica de água – reação de hidratação Os aldeídos e as cetonas reagem com a água para produzir 1,1‑diois ou diois geminais (Gem). A reação de hidratação é reversível e um diol‑Gem pode eliminar a água para regenerar um aldeído e uma cetona. + H2O CH3 Acetona (99,9%) Diois geminais Acetona hidratada (0,1%) C OH OH O C H3C H3C H3C + H2O H Formaldeído (0,1%) Formaldeído hidratado (99,9%) C OH OH O C H H H Figura 288 A adição nucleofílica de água é lenta em água pura, mas é catalisada por ácidos e bases. 167 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL + ‑OHC OH OH O C ‑OH C O OH Base H O H C OH + H3O + C OH OH O C +O H C Ácido H H HO O O+ H H H H O+ HH Figura 289 Adição nucleofílica de hidretos: formação de álcoois Os aldeídos e as cetonas reagem com íons hidretos (:H‑), provenientes do NaBH4 e LiAlH4, para formar um álcool. + H2OC OH OH O R R’ C ‑H C O‑ OHR’ R R’ R H +O H H Aldeído ou cetona Íon alcóxido tetraédrico Álcool Figura 290 Adição nucleofílica de aminas primárias (RNH2) As aminas primárias reagem com os aldeídos ou cetonas e formam iminas (R2C=NR), um composto importante em muitos caminhos metabólicos. 168 Unidade III Mecanismo da reação: + H3O + C C OH O+ H H O R R’ C NH2R N+HR NHR NHR C O‑ R’ R R’ R’ R R H +O O N H H R H H H R N+ H C C Carbinolamina Íon imínio Imina Figura 291 Adição nucleofílica de aminas secundárias (R2NH) As aminas secundárias reagem com os aldeídos e as cetonas e formam enamidas, também conhecidas como aminas insaturadas (R2N‑CR=CR2). Mecanismo da reação: C O C NH2R H +O H C +N C O‑ R’R H C N C OH R’R C N C +O R’R H H H O H H H + H3O +CC R R’ N CC R R’ +N Enamina Figura 292 169 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Essa reação tem um papel crítico nas sínteses biológicas e na degradação de muitas moléculas vitais. O aminoácido alanina, por exemplo, é metabolizado no corpo pela reação com o aldeído fosfato pirodoxal, um derivado da vitamina B6, para produzir uma imina que será posteriormente degradada. C CC C H H H2N CH3 CH3 CO2 ‑ CO2 ‑H H O N H H ‑O3POCH2 ‑O3POCH2 CH3 CH3 OH OH + H2O N N Figura 293 Adição nucleofílica de álcoois: formação de acetais Os aldeídos e as cetonas reagem reversivelmentecom dois álcoois na presença de um catalisador ácido para formar os acetais (R2C(OR’)2) (algumas vezes chamados de cetais, se derivados de cetonas). É uma importante reação em processos de formação de oligossacarídeos e polissacarídeos. Mecanismo de reação: H Cl ‑H3O +O C +O C H H Cl O+ O O R H HH H H HOR Álcool Hemiacetal C C O O H O H R O H O+C + H3O + R +O OO R HH C O + O CC C R R RR H Acetal Figura 294 170 Unidade III Adição nucleofílica conjugada a aldeídos e cetonas α,β‑insaturados Todas as reações que discutimos até agora têm envolvido a adição de um nucleófilo diretamente no grupo carbonila, assim denominado 1,2‑adição. Muito próxima a essa adição está a adição conjugada, ou 1,4‑adição, de um nucleófilo a uma ligação dupla C=C de um aldeído ou uma cetona α,β‑insaturados. O C C C Carbono beta Carbono alfa Assim por diante, denominação grega dos carbonos conjugados Figura 295 O C C C O‑ O‑ C C +C CC C+ Carbono eletrofílico Figura 296 – Estruturas de ressonância para os aldeídos e cetonas conjugados O C Nu C O‑ Nu C OH Nu H3O + Figura 297 – Adição direta do nucleófilo ao carbono da carbonila (adição 1,2) Oxidação de aldeídos e cetonas Os aldeídos são facilmente oxidados para produzir os ácidos carboxílicos, mas as cetonas são normalmente inertes à oxidação por não possuir um hidrogênio ligado à carbonila, o que diminui sua reatividade. [ O ] [ O ] O R H C O R R’ C O R OH C Não ocorre Figura 298 171 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Muitos agentes oxidantes, incluindo KMnO4 e HNO3 a quente, convertem os aldeídos em ácidos carboxílicos, mas CrO3 em ácidos aquosos é uma escolha mais comum no laboratório. A oxidação ocorre rapidamente à temperatura ambiente e resulta em bons rendimentos. Ácido hexanoico (85%) CH3(CH2)4CH O O Hexanal CrO3, H3O + Acetona CH3(CH2)4COH Figura 299 Uma desvantagem nessa oxidação com CrO3 é que ela ocorre sob condições ácidas, e as moléculas sensíveis algumas vezes sofrem reações laterais. Nesse caso, a oxidação no laboratório de um aldeído pode ser executada usando‑se uma solução de óxido de prata, Ag2O, em amônia aquosa, o então conhecido reagente de Tollens. Os aldeídos são oxidados pelo reagente de Tollens com alto rendimento, sem danificar as ligações duplas carbono‑carbono ou outros grupos funcionais sensíveis ao ácido, em uma molécula. O O H OH C CAg2O NH4OH, H2O Benzaldeído Etanol Ácido benzoico + Ag Espelho de prata Figura 300 As cetonas são inertes para a maioria dos agentes oxidantes, mas sofrem uma lenta reação de clivagem quando tratadas com KmnO4 alcalino a quente. A ligação C‑C próxima ao grupo carbonila é quebrada e os ácidos carboxílicos são produzidos. A reação é útil primariamente para as cetonas simétricas, como a cicloexanona, porque o produto de mistura é formado a partir de cetonas assimétricas. Ciclo hexanona O KMnO4, H2O, NaOH H3O + Ácido hexanodioico CO2H CO2H Figura 301 Reação de Cannizzaro: reduções biológicas A reação de Cannizzaro ocorre pela adição nucleofílica de –OH no aldeído para produzir um intermediário tetraédrico, o qual expele íon hidreto como grupo de saída. Uma segunda molécula de aldeído aceita o íon hidreto em outra etapa de adição nucleofílica, resultante em uma simultânea oxidação e redução ou desproporcionamento. 172 Unidade III Uma molécula de aldeído sofre a substituição de H‑ pelo –OH, portanto, é oxidada a um ácido carboxílico, enquanto uma segunda molécula de aldeído sofre a adição de H‑ e é então reduzida a um álcool. O O O O‑ H OH H OH H C C C C‑OH H3O + Intermediário alcóxido H OH H C Ácido benzoico (oxidado) Álcool benzílico (reduzido) Figura 302 A reação de Cannizzaro é interessante porque serve como uma simples analogia a um importante caminho biológico (as reduções carbonílicas ocorrem em organismos vivos). Na natureza, um dos mais importantes agentes redutores é uma substância chamada dinucleotídeo adenina nicotinamida reduzido, abreviado como NADH. O CH2 O P O P CH2 O O‑ O‑ O NADH NH2 NH2OH OH OH OH H H C N N O O N NN Figura 303 O NADH doa H‑ para aldeídos e cetonas (portanto, os reduz) da mesma forma que o intermediário alcóxido. 173 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL O R R’ C O O NH2 NH2 + H H C C N R’’ N+ R’’ NADH NAD+ Aldeído ou cetona Álcool C R H R’ OH Figura 304 7.15.2 Ácidos carboxílicos e derivados O grupo carboxila é um dos grupos funcionais mais amplamente encontrados na química e na bioquímica, não apenas os próprios ácidos carboxílicos são importantes, mas o grupo carboxila é o grupo gerador de uma família enorme de compostos relacionados, conhecidos como compostos acíclicos ou derivados de ácidos carboxílicos. O R NH2 C O R NHR C O R NRR’ C Amida CR N O R CL C O O R O R C C O R O C R’ Cloreto de acila Anidrido de ácido Éster Nitrila Figura 305 Um grande número de compostos, que possuem o grupo funcional ácido carboxílico, é encontrado na natureza. Observe os seguintes exemplos: CH3CO2H – ácido acético (vinagre). CH3CH2CH2CO2H – ácido butanoico (odor de ranço da manteiga). CH3(CH2)4CO2H – ácido hexanoico (ácido caproico – odor de cabras). CH3(CH2)14CO2H – ácido palmítico (precursor biológico de gorduras e lipídeos). 174 Unidade III Conforme o nome indica, os ácidos carboxílicos são ácidos. Portanto, reagem com “bases” como o NaOH e o NaHCO3 para gerar os sais de carboxilatos metálicos, RCO2 ‑M+ (reação utilizada para produção de sabões). Os ácidos carboxílicos com mais de seis carbonos são apenas levemente solúveis em água, mas os sais de álcali metálicos de ácidos carboxílicos são em geral completamente solúveis em água porque são iônicos. O R OH C O R O‑Na+ C Ácido carboxílico (insolúvel em água) + NaOH + H2O H2O Sal de ácido carboxílico (solúvel em água) Figura 306 Como ácidos de Bronsted‑Lowry, os ácidos carboxílicos dissociam‑se em água para gerar o H3O + e os ânions carboxílatos, RCO2 ‑. A extensão exata da dissociação é dada pela constante de acidez, ka: O R OH C O R O‑ C + H2O + H3O + Ka= [H3O +] [RCO2 ‑] [RCO2H] Figura 307 Para a maioria dos ácidos carboxílicos, Ka é aproximadamente 10‑5. O ácido acético, por exemplo, ka = 1,76 x 10‑5 (pKa = 4,75). Em termos práticos, um valor de ka próximo de 10‑5 significa que apenas cerca de 0,1% das moléculas são dissociadas. Embora muito mais fraco que os ácidos minerais, os ácidos carboxílicos são ainda muito mais fortes que álcoois. O ka do etanol, por exemplo, é de aproximadamente 10‑16. Então, pode vir à tona a seguinte questão: por que os ácidos carboxílicos são mais ácidos que álcoois, embora ambos contenham o grupo–OH? O álcool dissocia‑se formando o íon alcóxido, no qual a carga negativa está localizada em cima de um simples átomo eletronegativo. 175 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL H H C O C H HH H H H C O‑ C HH H Álcool H2O + H3O + Íon alcóxido (carga localizada) Figura 308 Já o ácido carboxílico, ao contrário, gera um íon carboxilato, no qual a carga negativa está deslocalizada sobre dois átomos de oxigênio equivalentes (efeito de ressonância). C O C H HH H Álcool H2O + H3O + Íon carboxilato (carga deslocalizada) OO O‑ C CO‑ O C C H HH H H H Figura 309 Como um íon carboxilato é mais estável que um íon alcóxido, ele possui energia mais baixa e mais altamente favorecida no equilíbrio de dissociação. 7.15.3 Efeitos do substituinte sobre a acidez Como a dissociação de um ácido carboxílico é um processo em equilíbrio, qualquer fator que estabilize o ânion carboxilato irá deslocar o equilíbrio para o aumento de dissociação, resultando no aumento de acidez. Por exemplo, um grupo retirador de elétrons ligado a um íon carboxilato deslocalizará a carga negativa, estabilizando o íon e, portanto, aumentando a acidez. O C O C H HH H O C O C H HH Cl O C O C H HCl Cl O C O C H ClCl Cl pKa = 4,75pKa = 2,85 pKa = 1,48 pKa = 0,64 Ácido fraco Ácido forte Figura 310 Como essa estabilização é dada por um efeito indutivo, quanto mais afastado o substituinte, menor a acidez. 176 Unidade III O Cl O Cl O CH3CHCH2COHClCH2CH2CH2COH CH3CH2CHCOH pKa = 4,52 pKa = 4,05 pKa = 2,86 Ácido mais fraco Ácido mais forte Figura 311 7.15.4 Reação do ácido carboxílico produzindo um cloreto de acila Como os cloretos de acila são os mais reativos dos derivados de ácidos, devemos usar reagentes especiais para prepará‑los. Os principais reagentes são o PCl5 (pentacloreto de fósforo), um cloreto ácido derivado do ácido fosfórico; SOCl2 (cloreto de tionila), derivado do ácido sulfuroso; e o PCl3 (tricloreto de fósforo), derivado do ácido fosfórico. Reações gerais + SOCl2 RCCl + SO2 + HCl RCOH O O + PCl5 RCCl + POCl3 + HCl RCOH O O + PCl3 3 RCCl + H3PO3 3 RCOH O O Figura 312 Mecanismos R O‑ Cl Cl H H C O + + + S O Cl Cl‑ R O O O C S Cl H HCl + SO2+ O S O R Cl O C H Cl Cl Cl O‑ Cl H S O O R RO O C C S O Figura 313 177 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL 7.15.5 Reação do ácido carboxílico produzindo um anidrido ácido Os ácidos carboxílicos reagem com os cloretos de acila e produzem anidridos de ácidos carboxílicos. Reação geral O R O‑ C O O R O R’ C C O R Cl C + + NaCl Figura 314 Mecanismo H C + HCl ‑OH O O O O OO‑ R’ O O R R R RR RO O‑ O O R’Cl Cl O‑ C C C C CC C Íon carboxilato Anidrido ácido Figura 315 7.15.6 Reação do ácido carboxílico produzindo um éster Os ácidos carboxílicos reagem com álcoois para formar ésteres através de uma reação de condensação conhecida como esterificação. Reação geral H + +R’ O O R RO O C CHO R’ H3O +HA Éster Figura 316 178 Unidade III Mecanismo H H O+ HO H R’ H H O O+ R R H O O C C + H3O + Éster R’ O R O C R H R R H O H O H H H O+ O + O R’ R’ R’ C O C CO O OH H H Figura 317 7.15.7 Reação do ácido carboxílico produzindo uma amida Os ácidos carboxílicos reagem com amônia aquosa para formar sais de amônio. Devido à baixa reatividade do carboxilato, a reação normalmente não se desenvolve em solução aquosa. Contudo, se evaporarmos a água e, subsequentemente, aquecermos o sal, a desidratação vai gerar uma amida. H NH3 + H2O+ O O O R R RO O‑NH4 + NH2 C C C Evaporação Secagem Figura 318 Todavia, o melhor método para obtenção de amidas é a partir da conversão de um cloreto de acila. H O O O R R RO Cl NH2 C C C NH3 Amida SOCl2 Figura 319 179 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL 7.15.8 Reações dos derivados de ácido carboxílicos O ácido carboxílico pode ser convertido em quatro produtos principais, os cloretos de acila, os anidridos ácidos, os ésteres e as amidas. Esses produtos, derivados do ácido carboxílico, podem formar novos compostos químicos, como visto no esquema a seguir: O OH R C SOCL2 PCL3 PCL5 a) HO‑ b) COCl a) H3O + b) ROH O R Cl C Cloreto de acila O R OR’ C Éster Secagem O R NHR’ C Amida Amidas O O R O R’ C C Anidrido ácido O R OR’ C Éster O R NH2 C O R NHR’ C O R NR’R” C Amidas O O R O R’ C C Anidridos ácidos O R OH C Ácido carboxílico H2O R’COO‑ R’OH NH3 ; R’NH2 ; R’R’’NH O R OR’ C Éster O R OH C Ácido carboxílico O R OH C Ácido carboxílico O R’ OH C Ácido carboxílico + + O R NH2 C O R O‑NH4 + C + H2O R’OH NH3 ; R’NH2 ; R’R’’NH O R NR’R’’ C Amida O R O‑Na+ C Carboxilato de sódio NaOH R’R’’NH H3O + O R’ OH C Ácido carboxílico + NH4 + ‑OH O R O‑ C Carboxilato + NH3 P4O10 R C ≡ N + H3PO4 Figura 320 Apesar do grande número de reações que os derivados do ácido carboxílico podem fazer, todos seguem o mesmo mecanismo de reação, uma reação do tipo adição‑eliminação nucleofílica. 180 Unidade III R Nu+ Nu+ Nu H H L C C C + HLO‑ L‑ C O L R Nu H R Nu+ H L C O‑ R RO O Adição nucleofílica Eliminação nucleofílica L = ( Cl OR’ NRR’ ) O CO R’ Figura 321 Exemplo: O O R O R’ C C H R’’ O O + R O C R’’ O R O C R’’ O HO R’ C R H O‑ C O+ H R’’ O O‑C C O O R’ R’ Éster Ácido carboxílico Figura 322 7.15.9 Exemplo de aplicação das reações do ácido carboxílico Como o próprio nome já indica, os aminoácidos são ácidos carboxílicos que apresentam pelo menos um grupo amina na estrutura. Eles constituem as unidades básicas formadoras de proteínas. Uma estrutura geral de um α – aminoácido é a seguinte. R H O NH3 + C C O‑ Carbono alfa Figura 323 Considerando o exposto, R pode ser um grupo alquila, arila ou hidrogênio, a substituição que irá determinar a característica e o nome do aminoácido: 181 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL H NH2 CHCO2H H3C NH2 CHCO2H HSCH2 NH2 CHCO2H Glicina Alanina PbCH2 NH2 CHCO2H Fenilalanina Cisteína CH2 NH2 CHCO2H N H Triptofano CH2 NH2 CHCO2H HO Tirosina Figura 324 Sob a ação de enzimas, dois aminoácidos se ligam, formando uma amida ou um dipeptídio. Essa reação pode prosseguir resultando a formação de produtos poliméricos denominados polipeptídio ou proteínas. R R’ H3N H H H H HO O O O NH3 + Enzima NH3 + R R’ C C C NC C C CO‑ O‑ O C O‑+ Ligação peptídica Figura 325 7.15.10 Reações no carbono alfa (α) dos compostos carbonílicos Ânion enolato O O O CH3 NaOH ‑ ‑ HH H H C C CC C CH H+ Ânion enolato Na+ + H2O Figura 326 Ânions enolatos são formados quando uma base reage com um aldeído, uma cetona ou éster que tenha pelo menos um hidrogênio em carbono α. São nucleófilos em reações SN2 e em reações de adição a carbonila: 182 Unidade III Br ‑ R R R R R R R’ +R’ +‑ SN2 O O Br Ânion enolato Haleto de alquila R R R R R R R’ R’ R’ R’ +‑ OOO O Ânion enolato Intermediário tetraédrico Cetona Adição a carbonila ‑ Figura 327 Reação de condensação aldólica Ocorrem em aldeídos e cetonas com pelo menos um hidrogênio em carbono alfa (α). O produto formado é chamado de aldol, que é muito facilmente desidratado para aldeído ou cetona α,β‑insaturado. Mecanismo da reação aldólica catalisada por base (bom nucleófilo) • Etapa 1: formação de um ânion enolato estabilizado por ressonância. O O O H O + H CH2 C H H O H + CH2 C H CH2 C H pKa 20 pKa 15.7 Ânion enolato ‑ ‑ ‑ Figura 328 • Etapa 2: adição de carbonila dá um ânion intermediário. O O OO ‑ CH3 C H + CH2 C H CH3 CH CH2 C H ‑ Figura 329 • Etapa 3: transferência de prótons para ‑O‑ completa a reação aldólica e forma como produto β‑hidroxialdeído. • Etapa 4: o composto β‑hidroxialdeído sofre desidratação e gera um aldeído α, β‑insaturado. 183 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Mecanismo da reação aldólica catalisada por ácido (bom eletrófilo) • Etapa 1: catalisada por ácido equilíbrio de formas ceto e enol. HA CH3 C H CH2 C H OHO Figura 330 • Etapa 2: transferência de próton HA ao grupo carbonila de uma segunda molécula de aldeído ou cetona. O H O CH3 C H + H A CH3 C H + A‑ + Figura 331 • Etapa 3: ataque do enol de uma molécula no grupo carbonila protonada da outra molécula. OO OH CH3 C H + CH2 C H + A‑ CH3 CH CH2 C H + H A HH O Racêmico + Figura 332 • Etapa 4: transferência de prótons para A‑ completa a reação, formando como produto final uma β‑hidroxicetona, que sofre desidratação a cetona α, β‑insaturado. Lembrete Reações aldólicas são reversíveis e muitas vezes a β‑hidroxicarbonila está presente em pequena concentração no estado de equilíbrio. Reação de condensação aldólica cruzada Em uma reação aldólica cruzada, um tipo de molécula fornece o ânion enolato e outro tipo fornece o grupo carbonila, portanto, reações aldólicas cruzadas são mais bem‑sucedidas se um dos reagentes não tiver hidrogênio em carbono α e, consequentemente, não formar um aníon enolato. Exemplos de reações aldólicas envolvendo mistura de cetonas e aldeídos:184 Unidade III O O C6H5CH + CH3CCH3 C6H5CH CHCCH3 4‑fenil‑3‑buten‑2‑ona (70%) OH‑ 100 ºC O O C6H5CH + CH3CC6H5 C6H5CH CHCC6H5 1‑difenil‑2‑propen‑1‑ona (85%) OH‑ 20 ºC O O Figura 333 Exemplos de reações aldólicas cruzadas envolvendo dois aldeídos diferentes que não são práticas, pois geram misturas de produtos: O OOH CH3CH + CH3CH2CH CH3CHCH2CH + CH3CH2CHCHCH OH‑ H2O O OOH CH3 O CH3CHCHCH + CH3CH2CHCH2CH OOHOH CH3 + Figura 334 Reações aldólicas cruzadas praticas entre dois aldeídos diferentes são aquelas em que um dos aldeídos não possui hidrogênio em carbono α. O aldeído sem hidrogênio no carbono α é adicionado em meio básico e depois se adiciona o segundo aldeído. Observe alguns exemplos: C6H5 C6H5CH + C6H5CH2CH C6H5CH CCH O O O OH‑ 20 ºCBenzaldeído Fenilacetaldeído 2,3‑difenil‑2‑propenal C6H5CH + CH3CH2CH C6H5CH C CH O O OCH3 OH‑ 10 ºCBenzaldeído Propanol 2‑metil‑3‑fenil‑2‑propenal (68%) CH2OH HCH + CH3CH CH CH3 C CH O OCH3 O Na2CO3 40 ºCFormaldeído 2‑metilpropanal 3‑hidroxi‑2,2‑dimetilpropanal (>64%) CH3 Figura 335 185 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Reação de condensação de Claisen: substituição de éster Ésteres também formam ânions enolato que participam na substituição nucleofílica. O produto de uma condensação de Claisen é um β‑cetoéster. β‑cetoéster O O C C C C OR β α Figura 336 Exemplo da condensação Claisen do propanoato de etila: O OO O OEt OEt OEt + EtOH 1. EtO‑ Na+ 2. H2O, HCI + Propanoato de etila Propanoato de etila 2‑metil‑3‑oxopentanoato de etila (racêmico) Esta é a parte do enolato do éster que substitui o grupo alcóxi da molécula de éster Figura 337 Mecanismo de ação da condensação de Claisen: • Etapa 1: formação de um ânion enolato. O O O Et O + H CH2 COEt EtOH + CH2 COEt CH2 COEt pKa = 22 Ácido fraco pKa = 16 Ácido forte Ânion estabilizado por ressonância ‑ ‑‑ Figura 338 • Etapa 2: ataque do ânion enolato em um carbono carbonila forma um intermediário tetraédrico. O O ‑ OO OEt CH3 C OEt + CH2 COEt CH3 C CH2 C OEt ‑ Figura 339 186 Unidade III • Etapa 3: intermediário dá uma β‑cetoéster e um íon alcóxido. O OO OEt CH3 C CH2 C OEt CH3 C CH2 C OEt + EtO O ‑ ‑ Figura 340 • Etapa 4: uma reação ácido‑base leva ao produto. Esse consumo de base deve ser neutralizado. H + CH3 C CH C OEt CH3 C CH C OEt + EtOH O O O O pKa = 10,7 Ácido forte pKa = 16 Ácido fraco EtO ‑ Figura 341 Saiba mais Para saber mais sobre adição nucleofílica ao grupo carbonila, leia o capítulo 16 do livro: SOLOMONS, T. W. G.; FRYHLE, C. Química orgânica. 8. ed. São Paulo: LTC, 2005. 8 AMINAS, TIÓIS, SULFETOS E FOSTATOS 8.1 Aminas Aminas são compostos orgânicos que possuem um, dois ou três grupos orgânicos (alquila ou arila) ligados a um átomo de nitrogênio. Elas são classificadas como primárias (RNH2), secundárias (R2NH) e terciárias (R3N). Deve‑se observar que os termos primários, secundários e terciários têm um significado diferente do já usado em outros grupos. No caso das aminas, eles se referem ao número de grupos orgânicos ligados ao nitrogênio, independentemente da natureza destes. A química das aminas é denominada pelo par de elétrons isolados do átomo de nitrogênio. Por causa desse par de elétrons isolados, as aminas são básicas ou nucleofílicas. Essas aminas reagem com os ácidos para formar sais ácidos‑bases e também com os eletrófilos em muitas reações polares que vimos nos grupos anteriores. 187 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL N N+ H+ +H A A‑ Figura 342 As aminas são bases mais fortes que os alcoóis, os éteres ou a água. Quando uma amina é dissolvida em água, é criado um equilíbrio no qual a água se comporta como um ácido, transferindo um próton à amina. Da mesma forma que a força de um ácido carboxílico pode ser medida pela definição da constante de acidez Ka, a força de uma base pode ser estabelecida definindo‑se a constante de basicidade, Kb. Quanto maior o valor de Kb, mais favorável será o equilíbrio para a transferência de prótons e, portanto, a base será mais forte: RNH2 + H2O RNH3 + + OH‑ Kb = [RNH3 +] [OH‑] [RNH2] Uma amina fortemente básica retém o próton mais firmemente, de maneira que o seu íon amônio conjugado é menos ácido. Ao contrário, uma amina fracamente básica retém o próton menos firmemente, assim, o íon amônio correspondente é muito mais ácido. A tabela a seguir exibe os valores de pKb de alguns íons derivados do amônio, indicando que existe uma ampla faixa de basicidade e aminas. As alquilaminas mais simples apresentam valores de basicidade semelhantes, cujos valores de pKb para os íons amônio correspondentes estão em uma faixa estreita que varia de 3 a 4. As arilaminas, entretanto, são consideradas menos básicas que as alquilaminas, que, por sua vez, são mais básicas que as aminas heterocíclicas. Tabela 18 Nome Estrutura pKb Alquilaminas primárias CH3CH2NH2 CH3NH2 3,19 3,34 Alquilaminas secundárias (CH3)2NH (CH3CH2)2NH 3,27 3,51 Alquilaminas terciárias (CH3CH2)3N (CH3)3N 2,99 4,19 Arilaminas Ar‑NH2 9,37 Adaptada de: USP (2006, p. 187). A ausência de basicidade no pirrol (última estrutura, pKb 0,14) deve‑se porque o par de elétrons isolados do átomo de nitrogênio faz parte do sexteto aromático. Como resultado, esse par de elétrons não está disponível para ligação com um ácido sem interromper a estabilidade aromática do anel. 188 Unidade III Em contraste com as aminas, as amidas (RCONH2) não são básicas. As amidas não sofrem protonação quando tratadas com uma solução aquosa ácida e são nucleófilos muito fracos. A principal razão para essa diferença de basicidade entre as aminas e amidas está no fato de que uma amida é estabilizada pela deslocalização do par de elétrons isolado do nitrogênio por meio de uma sobreposição com o orbital do grupo carbonila. H H3C H N O H H H3C N C O‑ + H H H3C N C Amina Amidas elétrons deslocalizados Mais estáveis, menos reativas Figura 343 8.2 Reações químicas das aminas A característica das aminas que fundamenta a maior parte das reações é a capacidade do nitrogênio de compartilhar um par de elétrons. Dentro das reações químicas das aminas, é possível destacar três, as quais serão estudadas a seguir. 8.2.1 Reação ácido‑base Em reações de ácido‑base, as aminas atuam como uma base de Lewis, tendo a capacidade de doar um par de elétrons, reagindo com ácidos de Lewis e formando um sal de amônio quaternário e um nucleófilo. N N+ H+ +H A A‑ Figura 344 8.2.2 Reação de alquilação Na reação de alquilação, a amina atua como um nucleófilo, reagindo com um haleto de alquila e formando um sal de amônia quaternário. N N+ CH2 R + Br‑R CH2 Br Figura 345 189 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Mecanismo da reação R H HH H N N+ ‑OH H H R X H2NR + H2O Amônia R R RH H N N+ ‑OH H H R X HNR2 + H2O Primária R R RH H N N+ ‑OH R’ R’ R X NR3 + H2O Secundária R R RR’’ R’’ N N+ R’ R’ R X Terciária Figura 346 O sal de amônia quaternário pode sofrer uma reação de eliminação do tipo E2. C C H HH H H HO‑ R R’’ N+ R’ + N(CH3)3 + H2O Alceno Amina terciária E2 CC Figura 347 8.2.3 Reação de acilação Na reação de acilação, a amina atua como um nucleófilo: ao reagir com um derivado do ácido carboxílico, produz uma amida e um ácido. C+ RN N O O R Cl C Amida Figura 348 190 Unidade III Mecanismo da reação N+ N+ O‑ ClH H C CR R C+ RN N O OO R Cl Cl‑ C Amida Figura 349 Esse mecanismo de reação de acilação é bastante importante biologicamente, pois é a partir dela que ocorre a junção dos mais diversos aminoácidos para formar as proteínas, sendo conhecida como ligação peptídica. O O O OH2N H2N R RN+H NH H R’ R’ CH CHC C C CCH CHOHOH ‑OH Ligação peptídica O O‑O OH2N H2NH2N R R N+H H R’ R CH CHCHC CC C OH OH CH OH OH Figura 350 8.2.4 Reação de aminas com ácido nitroso Apesar dessa reação não ser muito importante em processos biológicos, para estudos envolvendo alimentos, ela merece um destaque. O ácido nitroso (HNO2) é um ácido fraco, instável. É sempre preparado in situ, geralmente pelo tratamento de nitrito de sódio (NaNO2) com uma solução aquosa de um ácido forte: HCl (aq) + NaNO2 (aq) → HNO2 (aq) + NaCl (aq) O ácido nitroso reage com todas as classes de aminas, primárias, secundárias e terciárias (alifáticas ou aromáticas). Contudo, quando a reação ocorre com aminas secundárias, o produto obtido é o n‑nitrosaminas. (CH3)2NH + HCl + NaNO2 → (CH3)2N‑N=O Dimetilamina N‑nitrosodimetilamina (n‑nitrosamina) 191 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Os n‑nitrosaminas são agentes carcinogênicos poderosos que cientistas temem que possam estar presentes em muitos alimentos, especialmente nas carnes cozidas que tenham sido curadas com nitrito de sódio. O nitrito de sódio é adicionado a muitas carnes (bacon, presunto, linguiça, salsicha, carne salgada) para inibir o crescimento de Clostridium botulinum (bactéria que produz a toxina do botulismo) e para impedir que a coloração da carne passe do vermelho para o marrom. 8.3 Tióis e sulfetos Os tióis (RSH), algumas vezes chamados mercaptanas, são os análogos sulfurados dos álcoois; e os sulfetos (RSR’), os análogos sulfurados dos éteres. Os tióis são nomeados pelo mesmo sistema de nomenclatura dos álcoois, com o sufixo –tiol no lugar do sufixo –ol. O grupo –SH por si só é denominado grupo mercapto. CO2H CH3CH2SH Etenotiol SH SH Ácido m‑mercaptobenzoicoCiclo‑hexanotiol Figura 351 Os sulfetos são nomeados pelas mesmas regras utilizadas para os éteres, com a palavra sulfeto substituindo o termo éter no caso de compostos simples. Para substâncias mais complexas, a palavra alquiltio substitui a palavra alcóxi. CH3 S CH3 S CH3 S CH3 Dimetilsulfeto 3‑(metiltio) ciclo‑hexeMetilfenilsulfeto Figura 352 8.3.1 Tióis A característica mais marcante dos tióis é seu odor terrível. O odor do gambá, por exemplo, é decorrente principalmente de tióis simples, como o 3‑metil‑1‑butanotiol e o 2‑buteno‑1‑tiol. Os tióis voláteis, como o metanotiol (metil mercaptana), são adicionados aos cilindros ou butijões de gases naturais para alertar em caso de vazamento. Os tióis são geralmente preparados a partir dos haletos de alquila por um deslocamento Sn2 por um nucleófilo contendo enxofre, por exemplo, o ânion hidrossulfeto, ‑SH. 192 Unidade III CH3(CH2)6CH2‑Br CH3(CH2)6CH2SHNa+‑SH NaBr+ + 1‑bromo‑octano 1‑octanotiolHidrossulfeto de sódio Figura 353 Os rendimentos das reações são normalmente baixos, a menos que seja adicionado um excesso de nucleófilo, uma vez que o produto tiol pode sofrer uma nova reação Sn2 com o haleto de alquila, dando origem a um sulfeto simétrico como produto. Para solucionar esse problema, a tioureia, (NH2)2C=S, é utilizada usualmente como nucleófilo na preparação de um tiol a partir de um haleto de alquila. A reação ocorre por meio de um deslocamento do íon haleto para formar o sal intermediário alquilisotioureia, que é posteriormente hidrolisado por meio de uma reação em solução aquosa básica. CH3(CH2)6CH2‑Br CH3(CH2)6CH2SH CH3(CH2)6CH2‑S+= C–NH2H3N–C–NH2 NH2 S H2N–C–NH2 O = + + 1‑bromo‑octano 1‑octanotiol Ureia Sal alquilsotioureiaTioureia Figura 354 Os tióis podem ser oxidados por Br2 ou I2 para dar origem aos dissulfetos (RSSR’). A reação é reversível, e um dissulfeto pode ser reduzido novamente a tiol pelo tratamento com ácido e zinco metálico. Um dissulfetoUm tiol 2 R R R 2 HI Zn, H+ +S SSH I2 Figura 355 A conversão tiol‑dissulfeto é importante em bioquímica: as “pontes” formadas pelos dissulfetos agem como agentes de reticulação entre as cadeias de proteínas, ajudando na estabilização da conformação dessas estruturas em três dimensões. 8.3.2 Sulfetos O tratamento de um tiol com uma base, como o NaOH, leva à formação do íon tiolato (RS‑) correspondente, que sofre reação com um haleto de alquila primário ou secundário para dar origem ao sulfeto. A reação ocorre por um mecanismo Sn2 semelhante à síntese de éteres. Os ânions tiolatos estão entre os melhores nucleófilos conhecidos e os rendimentos dessa reação Sn2 são geralmente elevados. 193 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL CH3CH3 + +I SS‑Na NaI Benzenotiolato de sódio Metilfenilsulfeto (96%) Figura 356 Uma vez que os elétrons de valência do enxofre estão mais afastados do núcleo e menos fortemente atraídos que os elétrons do oxigênio (elétrons 3p versus elétrons 2p), os compostos de enxofre são mais nucleofílicos que seus compostos análogos de oxigênio. Diferentemente dos éteres dialquílicos, os sulfetos são excelentes nucleófilos e reagem rapidamente com os haletos de alquila primários por um mecanismo Sn2 para dar origem aos sais de trialquilsulfônio (R3S +). CH3 CH3 CH3 THF CH3 CH3 CH3 SS I‑+ + + I Dimetilsulfeto Iodeto de trimetilsulfônio Iodometano Figura 357 Os sais de trialquilsulfônio são muito úteis como agentes quelantes, uma vez que um nucleófilo pode atacar um dos grupos ligados ao átomo de enxofre carregado positivamente, deslocando um sulfeto neutro como grupo de saída. A natureza usa extensivamente um sal de trialquilsofônio, a S‑adenosilmetionina, como agente quelante biológico (envolvido no mecanismo de reação da adrenalina). CH3 CH2S + NH2 HOCCHCH2CH2 O N O OH S‑adenosilmetionina (um sal sulfônio) OH N NH2 N N Figura 358 Outra diferença entre os sulfetos e os éteres é que os sulfetos são facilmente oxidados. O tratamento de um sulfeto com o peróxido de hidrogênio, H2O2 à temperatura ambiente leva à formação do sulfóxido (R2SO) correspondente, e a posterior oxidação do sulfóxido com os peroxiácidos dá origem a uma sulfona (R2SO2). 194 Unidade III MetilfenilsulfonaMetilfenilsulfóxidoMetilfenilsulfeto S S S O O O H202 CH3CO3H CH3 CH3 CH3 Figura 359 8.4 Fosfatos Uma das principais reações do grupo fosfato em processos bioquímicos é a formação de fosfatos de alquila (uma reação entre o ácido fosfórico e um álcool). Hidrogenofosfato de dialquila Fosfato de trialquila Álcool Ácido fosfórico Di‑hidrogenofosfato de alquila ‑H2O ‑H2O ‑H2O OH OH RO OH OH O P RO ROH OR OH O P RO OR OR O P HOROH + ROH O P Figura 360 Os ésteres dos ácidos fosfóricos são importantes nas reações bioquímicas. Os trifosfatos de alquila participam diretamente dos ciclos de energia do organismo, produzindo a adenosina trifosfato (ATP) e seus derivados. 8.4.1 Reações do grupo fosfato lenta Ligação éster Ligação anidrido RO OH OH OH OH H2OO O O OO P P P HOROH + + + RO OH OH OH HO RO OH OH HO OH OH OH OH OH OH OH OH OHO O O O O O O O O O O O O P P P P P P P P P Figura 361 195 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL 8.4.2 Molécula de ATP (adenosina trifosfato) Adenina Ribose Adenosina 5’‑trifosfato (ATP) Adenosina 5’‑difosfato (ADP) Adenosina 5’‑monofosfato (AMP) N N N N NH2 CH2 HOHO OH O O O O‑ O‑ O O OP P P O‑ O Figura 362 Saiba mais Para entender um pouco mais sobre a importância da síntese envolvendo o grupo fosfato, leia o seguinte artigo: DOMINGOS, J. B.; LONGHINOTTI, E.; MACHADO, V. G. A química dos ésteres de fosfato. Química Nova, São Paulo, v. 26, n. 5, set./out. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S0100‑40422003000500019. Acesso em: 10 abr. 2020. Resumo As reações químicas de um modo geral podem ser descritas de duas formas: quanto ao tipo de reação química (substituição, adição, eliminação e rearranjo) e como elas ocorrem (mecanismos reacionais). A ligação covalente, que é a principal ligação existente nas moléculas químicas, pode ser quebrada nas reações de duas maneiras: cisão homolítica e cisão heterolítica. As reações radicalares ocorrem principalmenteem alguns processos industriais e em alguns processos metabólicos. Os radicais formados pela quebra homolítica da ligação são muito reativos, porque possuem uma deficiência de elétrons na camada de valência e procuram fazer novas ligações químicas para se estabilizar (regra do octeto). 196 Unidade III Vimos que a reação de oxidação corresponde a um aumento do número de oxidação, devido à perda de elétrons, e a reação de redução a uma diminuição do número de oxidação, devido ao ganho de elétrons. Em compostos orgânicos é, por vezes, difícil reconhecer o número de oxidação dos elementos e saber, numa reação, qual ganha ou qual perde elétrons. Ressaltou‑se que as reações de oxidação das substâncias orgânicas devem ser catalisadas por agentes oxidantes. São simbolizados por [O] e podem ser: permanganato de potássio (KMnO4), dicromato de potássio (K2Cr2O7) ou o tetraóxido de ósmio (OsO4). Já as reações de redução das substâncias orgânicas devem ser catalisadas por agentes redutores. Estes são simbolizados por [H] e podem ser: hidreto de lítio e alumínio (LiAlH4) ou boro hidreto de sódio (NaBH4). Os principais compostos orgânicos que podem sofrer reação de oxidação são: álcoois primários e secundários, e os alcenos (oxidação enérgica e ozonólise). Já os principais compostos orgânicos que sofrem redução são: aldeídos, cetonas, compostos carboxílicos e amidas. As principais reações de adição são as seguintes: adição de hidrácidos, halogênios, água, hidrogênio em alcenos e alcinos. Ilustramos, ainda, que as reações de substituição nucleofílica ocorrem por mecanismos SN1 (unimolecular) e SN2 (bimolecular), assim como as reações de eliminação ocorrem por mecanismos E1 (unimolecular) e E2 (bimolecular), cada uma com características, condições e aplicações específicas na química orgânica. Como comprovado experimentalmente, a aromaticidade confere uma estabilidade adicional. Portanto a perda da aromaticidade representa a formação de um produto menos estável e não ocorre. Já em reações de substituição, ocorre a perda da aromaticidade para formação de um intermediário, porém ela é restituída para a criação do produto. Assim, sistemas aromáticos reagem somente por substituição e, nesse caso, o anel aromático age como nucleófilo, atacando uma espécie eletrofílica. As maiorias das reações envolvendo os grupos carbonílicos ocorrem por um dos quatro mecanismos gerais: adição nucleofílica, substituição nucleofílica em grupamento acila, substituição alfa e condensação carbonílica. A reação mais comum de aldeídos e cetonas é a reação de adição nucleofílica, mas reações de oxidação também podem ocorrer. Nesse contexto, as principais reações são: adição nucleofílica de água (reação 197 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL de hidratação); adição nucleofílica de hidreto (reação de redução); adição nucleofílica de aminas primárias; adição nucleofílica de aminas secundárias; adição nucleofílica de álcoois; adição nucleofílica conjugada a aldeídos e cetonas; oxidação de aldeídos e cetonas; e reação de Canizzarro (redução biológica). Os ácidos carboxílicos podem produzir os seguintes compostos orgânicos: cloreto de acila, anidrido acético, éster e amida. As reações que ocorrem no carbono alfa dos compostos carbonílicos são: condensação aldólica, condensação aldólica cruzada e condensação de Claisen. Destacou‑se que a característica das aminas que fundamenta a maior parte das reações é a capacidade do nitrogênio de compartilhar um par de elétrons. Por fim, em todas as reações mencionadas apresentamos os seus respectivos mecanismos de reação em cada tópico específico, deixando mais claro como elas realmente ocorrem, o que facilita o bom entendimento dessas reações, que serão necessárias para o desenvolvimento de fármacos novos, uma importante área de atuação para os farmacêuticos. Exercícios Questão 1. (FURG 2007, adaptada) Observe o esquema reacional a seguir: CH3–CH = CH2 H2O/H+ A B C HCl H2/Pt Figura 363 Sobre esses compostos, é correto afirmar que todas as reações são de: A) Adição, sendo os produtos, respectivamente: A = 1‑propanol; B = 1‑cloro‑propano; C = propano. B) Substituição, sendo os produtos, respectivamente: A = 1‑butanol; B = 2‑cloropropano; C = propano. C) Substituição, sendo os produtos, respectivamente: A = 1‑hidróxi‑2‑propeno; B = 2‑ cloro‑1‑propeno; C = propeno. D) Adição, sendo os produtos, respectivamente: A = 1,2‑propanodiol; B = 1,2‑dicloropropano; C = propano. 198 Unidade III E) Adição, sendo os produtos, respectivamente: A = 2‑propanol; B = 2‑cloro‑propano; C = propano. Resposta correta: alternativa E. Análise da questão As condições que o exercício traz sobre as setas no esquema são as que caracterizam reações de adição, e não de substituição. Podemos observar que a dupla está entre um carbono com um hidrogênio e outro com dois; assim, no produto A, o OH da água vai para o que tem um hidrogênio (número 2) e no produto B o Cl também, pois de acordo com a regra de Markovnikov, esses grupos são adicionados ao carbono com menos hidrogênio da dupla. Questão 2. (UEPB 2005, adaptada) Os alcenos são importantes compostos nas sínteses orgânicas. O esquema a seguir mostra compostos que podem ser obtidos a partir do alceno de fórmula molecular C4H8. Hidratação C4H10O 2C2H4O2 (Ácido) (Alceno) C4H8O oxidação Oxidação (Cetona)(Álcool) C4H8 Figura 364 Assinale a alternativa que corresponde ao nome e à massa (em gramas) do alceno C4H8 necessária para produzir 60 gramas do ácido C2H4O2. Dados: massas moleculares em g/mol: C = 12.0; H = 1.0; O = 16.0 A) Etanoico; 30 g. B) Etanoico; 28 g. C) Butanoico; 56 g. D) Etanoico; 14 g. E) Butanoico; 14 g. Resposta correta: alternativa B. 199 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Análise da questão Como o alceno oxidado apresenta quatro carbonos e produz dois ácidos carboxílicos iguais, podemos afirmar que a ligação dupla está localizada entre dois carbonos secundários. Por essa razão, o alceno em questão é o but‑2‑eno. Para determinar a massa do alceno, devemos fazer o seguinte: Passo 1: calcular a massa molar do alceno. Para isso, multiplicaremos a quantidade de carbonos pela massa atômica desse elemento, que é 12. Em seguida, somaremos com o resultado da multiplicação da quantidade de hidrogênios pela massa atômica desse elemento, que é 1: Massa = 2 . 12 + 4 . 1 + 2 . 16 Massa = 24 + 4 + 32 Massa = 60 g/mol Passo 2: construir uma regra de três. 1 C4H8 ‑‑‑‑‑‑‑‑‑ 2 C2H4O2 56 g ‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑ 2 . 60g x ‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑ 60 g 120 . x = 56 . 60 x = 3360/120 x = 28 g 200 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 99 COLLINS, C. H.; BRAGA, G. L.; BONATO, P. S. (coord.). Introdução a métodos cromatográficos. 7. ed. Campinas: Editora da Unicamp, 1997. p. 153. Adaptada. Figura 109 SILVERSTEIN, R. M.; WEBSTER, F. X.; KIEMLE, D. J. Identificação espectrométrica de compostos orgânicos. São Paulo: LTC, 2000. Adaptada. Figura 110 SILVERSTEIN, R. M.; WEBSTER, F. X.; KIEMLE, D. J. Identificação espectrométrica de compostos orgânicos. São Paulo: LTC, 2000. Adaptada. Figura 121 SOLOMONS, T. W. G.; CRAIG, B. F. Química orgânica. 8. ed. São Paulo: LTC, 2005. p. 159. Figura 136 SOLOMONS, T. W. G.; CRAIG, B. F. Química orgânica. 8. ed. São Paulo: LTC, 2005. p. 159. REFERÊNCIAS Textuais ALLINGER, N. Química orgânica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1978. ATKINS, P. W.; PAULA, J. Físico‑Química. 9. ed. São Paulo: LTC, 2012. ATKINS, P. W.; PAULA, J.; KEELER, J. Physical Chemistry. 11. ed. EUA: Oxford, 2017. BARBOSA, L. C. A. Introdução à química orgânica. São Paulo: Prentice Hall, 2004. BARBOSA, L. C. A. Química orgânica, uma introdução para as ciências agrárias e biológicas. Minas Gerais: UFV, 2003. BRAIBANTE, H. Química orgânica básica: reações substituição nucleofílica. Rio Grande do Sul: UFSM, [s.d.]. Disponível em: http://coral.ufsm.br/quimica_organica/images/SubstNuGeral.pdf. Acesso: em: 5 fev. 2020. 201 BRUICE, P, Y. Química orgânica. 4. ed. SãoPaulo: Pearson, 2006. CAREY, F. A. Química orgânica. 7. ed. São Paulo: McGraw Hill, 2011. CAREY, F. A.; SUNDBERG, R. J. Advanced organic chemistry – part A: structure and mechanisms. 5. ed. New York: Springer, 2007. CLAYDEN, J.; GREEVES, N.; WARREN, S. Organic chemistry. 2. ed. EUA: Oxford, 2012. COELHO, F. A. S. Fármacos e quiralidade. Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola, São Paulo, n. 3, maio 2001. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/03/quiral.pdf. Acesso em: 5 fev. 2020. COSTA, P.; FERREIRA, V.; ESTEVES, P. Ácidos e bases em química orgânica. Porto Alegre: Bookman, 2005. DEGANI, A. L. G.; CASS, Q. B.; VIEIRA, P. C. Cromatografia: um breve ensaio. Química Nova na Escola, n. 7, maio 1998. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc07/atual.pdf. Acesso em: 20 fev. 2020. DOMINGOS, J. B.; LONGHINOTTI, E.; MACHADO, V. G. A química dos ésteres de fosfato. Química Nova, São Paulo, v. 26, n. 5, set./out. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext &pid=S0100‑40422003000500019. Acesso em: 10 abr. 2020. MCMURRY, J. Química orgânica. 6. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2004. MORRISON, R. T.; BOYD, R. Química orgânica. 4. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1995. MORRISON, R. T.; BOYD, R. Química orgânica. 16. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. PACHECO, S. et al. História da cromatografia líquida. Revista Virtual de Química, v. 7, n. 4, p. 1.225‑1.271, jul./ago. 2015. PAVIA, D. L. et al. Introdução à espectroscopia. São Paulo: Cengage Learning, 2010. PETER, K.; VOLHARDT, C. Química orgânica. 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. QUÍMICA orgânica. Universidade Federal de Santa Maria, [s.d.]. Disponível em: http://coral.ufsm.br/ quimica_organica/. Acesso: em: 5 fev. 2020. SKOOG, D. A.; HOLLER, F. J.; NIEMAN, T. A. Princípios de análise instrumental. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2002. SILVERSTEIN, R. M.; WEBSTER, F. X.; KIEMLE, D. J. Identificação espectrométrica de compostos orgânicos. São Paulo: LTC, 2000. 202 SINGH, A. K.; KEDOR‑HACKMANN, É. R. M.; SANTORO, M. I. R. M. Cromatografia líquida com fase quiral aplicada na separação enantiomérica de fármacos cardiovasculares. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas (RBCF), v. 42, n. 4, out./dez. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbcf/v42n4/ a11v42n4.pdf. Acesso em: 5 fev. 2020. SOLOMONS, T. W. G.; CRAIG, B. F. Química orgânica. 8. ed. São Paulo: LTC, 2005. SOLOMONS, T. W. G.; FRYHLE, C. B. Química orgânica. 8. ed. São Paulo: LTC, 2012. USP. Química orgânica. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. São Paulo: USP, 2006. USP. Substituição eletrolítica aromática (SEAr). São Paulo: USP, [s.d.]. Disponível em: https://edisciplinas.usp. br/pluginfile.php/2225822/mod_resource/content/0/07%20Rea%C3%A7%C3%B5es%20de%20SEAr.pdf. Acesso em: 19 fev. 2020. VOGEL, A. Análise química quantitativa. 5. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1981. VOLLHARDT, K. P. C.; SCHORE, N. E. Química orgânica: estrutura e função. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004. WADE JR., L. G. Organic chemistry. 7. ed. New Jersey: Prentice Hall, 2009. Exercícios Unidade I – Questão 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA (UFV‑MG). Vestibular 1999: Química. Unidade I – Questão 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL VIÇOSA (UFRGS). Vestibular 1997: Química. Unidade II – Questão 1: FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS (FGV). Farmacêutico Legista 2012: Farmacologia Legal. Questão 40. Disponível em: https://fgvprojetos.fgv.br/sites/fgvprojetos.fgv.br/files/concursos/ policia_civil_farmaceutico_legista_caderno_02.pdf. Acesso em: 26 fev. 2020. Unidade II – Questão 2: UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ (UESPI). Vestibular. Unidade III – Questão 1. FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE (FURG). Processo seletivo 2007: Química. Questão 42. Unidade III – Questão 2. UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA (UEP). Vestibular 2005: Química. Questão 17. Disponível em: https://cpcon.uepb.edu.br/downloads/2005/uepb_2005_quimfis.pdf. Acesso em: 27 fev. 2020. 203 204 Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000que dependem da estrutura inicial do álcool. Álcoois primários resultam em ácidos carboxílicos, majoritariamente, ou aldeídos com determinados reagentes; e álcoois secundários oxidam para cetonas. Já os terciários, cujo carbono está ligado a outros três, dificilmente sofrem oxidação, devido à ausência de hidrogênio para ser removido, isto é, para que ocorra uma oxidação, é necessária a quebra de uma ligação carbono‑carbono. Observação A escolha do reagente é baseada em fatores como o custo, a conveniência, o rendimento e a sensibilidade do álcool. Oxidação de álcoois primários Os álcoois primários sofrem, na realidade, duas oxidações seguidas: a primeira resulta em um aldeído, porém os oxidantes que geralmente são utilizados na reação fazem com que esta prossiga e oxide o aldeído, formando o ácido carboxílico. Observe o exemplo a seguir: OH H2O [O] [O] H H3C H3C H3CC C CH H OH O O Álccol primário (etanol) Aldeído (etanal) Ácido carboxílico (ácido etanoico) Figura 149 104 Unidade III O símbolo [O] significa oxidação. Já a flecha apontando para baixo com H2O na ponta indica a água que foi produto da reação, ou seja, a reação também gerou água, que foi retirada. No esquema, os hidrogênios em vermelho reagiram com o oxigênio do agente oxidante, formando a água que foi retirada. Portanto diz‑se que a oxidação é um processo de “retirada de hidrogênio”. A reação de um álcool com KMnO4 é realizada em meio aquoso básico com aquecimento e, por fim, tratamento ácido para produzir o ácido carboxílico. A reação gera precipitado de MnO2, que é retirado no fim por filtração. Quando se deseja obter o aldeído produzido nesse processo, primeiro é necessário que tal composto tenha ponto de ebulição menor que o da água, pois o processo laboratorial se trata da lenta adição do álcool na solução oxidante em ebulição, assim, o aldeído formado é destilado para fora da mistura. Entretanto, a estratégia ilustrada não funciona para álcoois de cadeia maior, sendo necessário recorrer a agentes oxidantes em meio anidro, ou seja, na ausência de água. Isso ocorre porque não é o aldeído que sofre a oxidação, mas sim a sua forma hidratada. A própria oxidação dos álcoois produz água. Apesar da indesejada formação de ácido carboxílico na reação, os reagentes utilizados ainda resultam em bons rendimentos. Quanto ao processo inverso, podemos resumir que a redução de um ácido carboxílico gerará um aldeído, e a redução deste gerará um álcool primário. Oxidação de álcoois secundários Os álcoois secundários, diferente dos primários, são oxidados em apenas uma forma, gerando sempre como produto uma cetona. Essa reação ocorre rapidamente e possui um alto rendimento. Veja o exemplo a seguir: OH O [O] H H3C H3CCH3 CH3C C Propanol‑2 Álcool secundário Propanona Cetona Figura 150 Para a oxidação de álcoois secundários, geralmente são utilizados reagentes de cromo, como óxido de cromo (VI) (CrO3) ou dicromato de sódio (Na2Cr2O7) em ácido sulfúrico aquoso (reagente de Jones), mistura que é adicionada à solução do álcool em acetona ou ácido acético para que se proceda a oxidação. Tal estratégia oxida o álcool, e o cromo (VI) é reduzido a cromo (III). O rendimento da reação será excelente se a temperatura for controlada. 105 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Oxidação de álcoois terciários A generalização feita para álcoois terciários é a de que a sua oxidação não ocorre. O processo envolve duas etapas, sendo a segunda uma reação de eliminação sobre o éster cromato formado na primeira etapa. Porém, em se tratando de um álcool terciário, a reação de eliminação não é possível, pois não há hidrogênio disponível para realizá‑la, logo, não há oxidação. Lembrete Álcoois primários se oxidam a ácidos carboxílicos; os secundários, a cetonas; e os terciários não oxidam. 7.4.2 Oxidações dos alcenos Os alcenos também sofrem reações de oxidação, nas quais a ligação dupla é oxidada e pode formar um diol ou quebrar, dependendo do método. Há três métodos principais para a oxidação de alcenos: di‑hidroxilação sin, quebra oxidativa e ozonólise. Di‑hidroxilação sin A di‑hidroxilação é uma reação feita com agente oxidante que causa uma quebra na dupla ligação do alqueno e a entrada de duas hidroxilas (OH), formando um diol (álcool com duas hidroxilas). Um agente oxidante muito usado nesse caso é o tetróxido de ósmio (OsO4). Veja o exemplo a seguir: H2O OH OH [O] branda CH3 CH3 H3C H3CC CCH CHCH3 CH3 2‑metil‑buteno (alceno) 2‑metil‑2,3‑butanodiol (diálcool) Figura 151 O mecanismo pode ser resumido pela adição sin dos átomos de oxigênio do reagente OsO4, formando um intermediário cíclico de ósmio, e este, com o tratamento por NaHSO3, tem as ligações de oxigênio rompidas e a adição de hidrogênios para a formação das hidroxilas. Quebra oxidativa (oxidação enérgica) Na quebra oxidativa, ou oxidação enérgica, o agente oxidante quebra a molécula na dupla ligação e, caso se forme um aldeído, ele é oxidado a ácido carboxílico. O agente oxidante mais comum nesse caso é o permanganato de potássio (KMnO4) a quente em meio básico. Observe: 106 Unidade III [O] energética CH3 H3C C CH CH3 H3C C O OH O C CH3CH3 2‑metil‑buteno (alceno) Propanona (cetona) Ácido etanoico (ácido carboxílico) + Figura 152 Observação Sempre que um composto que tem a dupla ligação na ponta da cadeia sofre oxidação enérgica, um dos produtos que se formam é o ácido carbônico (H2CO3), e este, por ser um ácido instável, transforma‑se em gás carbônico (CO2) e água (H2O). Ozonólise A ozonólise é a quebra de um alqueno causada pelo ozônio (O3), gerando como produtos uma cetona e/ou um aldeído. Consiste na borbulhação de ozônio em temperaturas muito baixas (‑78 ºC) em CH2Cl2, seguida pelo tratamento com zinco e ácido acético ou sulfeto de dimetila (Me2S). A molécula do alqueno é quebrada na dupla ligação e dois átomos de oxigênio (O) se adicionam. Veja o exemplo a seguir: O3 Zn / H2O CH3 H3C C CH CH3 H3C C O H H2O2 O C CH3CH3 2‑metil‑buteno (alceno) Propanona (acetona) Etanal (aldeído) Peróxido de hidrogênio + + Figura 153 Os alcanos, como todo hidrocarboneto, são combustíveis. Do ponto de vista químico, a oxidação dos alcanos tem pouca importância, uma vez que a molécula é destruída. Porém, do ponto de vista prático, é muito importante, pois é a base da utilização dos alcanos como fonte de energia. CnH2n+2 + 3n + 1 2 � � � � � � O2 nCO2 + (n + 1)H2O + Energia (55 kJ por grama de hidrocarboneto) 107 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL 7.4.3 Reações de aldeídos e cetonas Adição de hidreto, seguido de protonação CH3CH2CH2CH 1. NaBH4 2. H+, H2O Álcool primárioAldeído O CH3CH2CH2CH2 OH CH3CH2CH2CCH3 1. NaBH4 2. H+, H2O Álcool secundárioCetona O CH3 CH2 CH2 CHCH3 OH Figura 154 Redução seletiva de aldeídos e cetonas: NaBH4 CH3CCH2COCH3 1. NaBH4 2. H+, H2O O OO CH3CHCH2COCH3 OH Figura 155 – Cetona/aldeído na presença de éster CH3CH=CHCH2CCH3 1. NaBH4 2. H+, H2O O CH3CH=CHCH2CHCH3 OH Figura 156 – Cetona/aldeído na presença de ligação C=C 7.4.4 Redução de compostos carboxílicos: LiAlH4 1. LiAIH4 2. H+, H2O H2O Ácido carboxílico Álcool primário + O OH OH 1. LiAIH4 2. H+, H2O H2O Éster Álcool primário + O OCH3 OH Figura 157 LiAlH4 é um agente redutor mais forte que NaBH4. É utilizado para reduzir compostos menos reativos. O mecanismo da redução de ésteres com hidreto ocorre conforme representado a seguir: 108 Unidade III CH3CH2 CH3CH2 OCH3 H H ‑ O OO O H H C CCH3CH2 C CH3CH2CH CH3CH2 C CH3CH2CH2OH H3O + OCH3 + CH3O –AIH3 AIH3 ‑ ‑ ‑ + H ‑ Éster Aldeído Álcool primário Produto de substituição acílica Produto de adição Figura 158 Observe o mecanismo da redução de ácidos carboxílicos com hidreto: CH3C H O O O O H HH O O O O O CH3C CH3CH CH3CHCH3C CH3CH2OCH3CH2OH AIH3 AIH3H3O + AIH2 + AIH2O – AIH3 AI‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ + H H Álcool Aldeido + H2 Figura 159 7.4.5 Formaçãode aminas por redução de amidas 1. LiAIH4 2. H20 Amida Amina O NH2 NH2 Figura 160 O mecanismo dessa reação está ilustrado a seguir: CH3C NCH3 NCH3 NCH3 O H HH O O O CH3C H + H2 CH3C CH3CH HO–+ CH3CH2NHCH3 AIH3 AIH3H2O AIH2 AI + H + AIH2O – H NCH3 CH3CH = NCH3CH3CH2NCH3 Segunda adição de hidreto Novo doador de hidreto Hidreto remove um próton AIH3 ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ ‑ Figura 161 109 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL 7.4.6 Resumo das reações de oxidação e redução em compostos orgânicos Redução Oxidação Alcano Álcool Aldeído Ácido carboxílico Dióxido de carbono H H H C H H H H C OH O O H HH OH O = C = O (CO2) C C [ox] [ox] [ox] [ox] [red] [red] [red] [red] Figura 162 Lembrete O agente oxidante promove a reação de oxidação e se reduz. O agente redutor promove a reação redução e se oxida. 7.5 Reações de adição 7.5.1 Reações de adição de HX Os alcenos se comportam como nucleófilos (bases de Lewis) em reações polares. A ligação dupla carbono‑carbono é rica em elétrons e pode doar um par de elétrons para um eletrófilo (ácido de Lewis). Exemplo: CC H3C H3C H H + HBr Br H CH3 H H3C C CC H 2‑metilpropeno 2‑Bromo‑2‑metilpropano Figura 163 A figura a seguir destaca o mecanismo da reação de adição de HX: C CCC CC+ H3C H3C H3C H3C H3C BrH3C H Br Br– H HH H HH HH Alceno Carbocátion intermediário Haleto de aquila Figura 164 110 Unidade III O eletrófilo HBr é atacado pelos elétrons π da ligação dupla, formando uma nova ligação σ (C‑H). Isso leva a outro átomo de carbono com uma carga positiva e a um orbital p vazio. O Br‑ doa um par de elétrons para o átomo de carbono carregado positivamente, formando uma ligação σ (C‑Br) e criando o produto de adição neutro. A orientação de adição nucleofílica segue a regra de Markovnikov. Observe cuidadosamente as reações apresentadas no mecanismo anterior. Um alceno substituído assimetricamente produz um único produto de adição, preferencialmente a uma mistura. Por exemplo, o 2‑metilpropeno poderia ter reagido com o HCl para produzir o 1‑cloro‑2‑metilpropano (cloreto de isobutila), além do 2‑cloro‑2‑metilpropano, mas não o faz. Diz‑se que tais reações são regioespecíficas, quando apenas uma das duas possíveis orientações de adição ocorre. CH2 + HClC H3C H3C Cl H CH3 H H3C C CC H Cl H CH3 H H3C C CC Cl Único produto Não ocorre Figura 165 Depois de examinar os resultados de muitas dessas reações, o químico russo Vladimir Markovnikov propôs uma regra que ficou conhecida como regra de Markovnikov: • Na adição de HX a um alceno, o H liga‑se ao carbono com menos substituintes alquila e o X liga‑se ao carbono com mais substituintes alquila. CC H3C H3C H H CH3 CH3 H H H + HBr Br Nenhum grupo alquila (H) 2 grupos alquila (X) Figura 166 • Quando ambos os átomos de carbono da dupla ligação possuem o mesmo grau de substituição, o resultado é uma mistura de produtos de adição: 111 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL CC H H3CH2C CH3CH2CH2CHCH3 e CH3CH2CHCH2CH3 CH3 H + HBr Br Br 2‑penteno 2‑bromopentano 3‑bromopentano Figura 167 A formação de uma ligação regioespecífica pode ser explicada pela estabilidade relativa dos carbocátions formados durante a reação: Exemplo: CH2 + HClC H3C H3C H H Cl H CH3 CH3 CH3 CH3 H3C H3C H3C H3C C+ C C C CH2 +CH2 CH3 CH2Cl Carbocátion 3º (tert‑butila) Carbocátion 1º (isobutila) 2‑cloro‑2‑metilpropano 1‑cloro‑2‑metilpropano Não formado Figura 168 A estabilidade dos carbocátions é a seguinte: H C + H H R C + H H R C + R H R C + R R Metil primário secundário terciário são sintetizadas através de alimentos como carboidratos. Um problema potencial que surge do uso da hidrogenação catalítica para produzir óleos vegetais parcialmente hidrogenados é que os catalisadores usados para hidrogenação causam isomerização de algumas das ligações duplas de ácidos graxos (algumas não absorvem o hidrogênio). Na maioria dos óleos e gorduras naturais, as duplas ligações têm configuração cis. Durante o processo, algumas dessas configurações cis podem se converter em trans não naturais. Os efeitos de ácidos graxos trans na saúde ainda estão em estudos, mas experimentos indicam que eles causam aumento nos níveis de colesterol e de triacilgliceróis no soro, o que, por sua vez, eleva o risco de doenças cardiovasculares. 7.5.5 Reações de adição de HX e X2 em alcinos De modo geral, as reações de alcenos e alcinos são semelhantes, porém existem algumas diferenças significativas. A adição de HX ou X2 a um alcino, de modo geral, produz um alceno ligado a um halogênio; dando sequência à reação, o produto formado é um alcano dissubstituído, um di‑halogênio. 115 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL 2,2‑dibromoexano CH3(CH2)3C ≡ CH HBr HBr CH3(CH2)3C = CH Br H CH3(CH2)3C – CH Br Br H H 1‑hexino 2‑bromo‑1‑hexeno Figura 178 Nos alcenos, a adição dos átomos de hidrogênio e halogênio segue a regra de Markovnikov: halogênio adicionado no carbono mais substituído e o hidrogênio no carbono menos substituído. A estereoquímica trans de H e X é normalmente encontrada no produto de reação. Os halogênios (X2), como o bromo (Br2) e o cloro (Cl2), também se adicionam a alcinos para produzir compostos com uma estereoquímica trans. 1,1,2,2‑tetrabromobutano CH3CH2C ≡ CH Br2 Br2 1‑butino (E)‑1,2‑dibromo‑1‑buteno CC Br CH3CH2 Br H CH3CH2CBr2CHBr2 Figura 179 7.5.6 Reações de hidratação em alcinos Assim como os alcenos, os alcinos podem ser hidratados por dois métodos. A adição direta de água é catalisada por íon mercúrio (II), produzindo um composto que segue a regra de Markovnikov. Já a adição indireta de água por hidroboração/oxidação constitui como produto um composto com adição anti‑Markovnikov (que não será discutida). Quando hidratados, os alcinos têm como produto final a formação de uma cetona. 2‑hexanona1‑hexino Enol intermediário CH3(CH2)3C ≡ CH CH3(CH2)3C CH3 O CH3(CH2)3C = CH OH H Figura 180 7.5.7 Reações de hidrogenação dos alcinos Os alcinos são facilmente hidrogenados a alcanos pela adição de H2 sobre um catalisador metálico, com mecanismo idêntico ao já visto nos alcenos. A reação ocorre em duas etapas, por meio de um alceno intermediário. HC ≡ CH H2 H2C = CH2 H2 H3C CH3 116 Unidade III Lembrete Nas reações de adição, ocorre inicialmente um ataque eletrofílico à dupla ligação, produzindo um intermediário denominado carbocátion, que depois sofre ataque nucleofílico. 7.6 Reações de substituição 7.6.1 Reações de substituição nucleofílica (SN) As reações de substituição nucleofílica na presença de base estão entre as reações mais versáteis e utilizadas em química orgânica. Substituição + X‑C CX NuNu + Figura 181 O mecanismo geral das reações de substituição nucleofílica está representado a seguir. Exemplos: HO– + CH3 Cl CH3 OH + Cl‑ CH3O ‑ + CH3CH2 Br CH3CH2 OCH3 + Br‑ Geral Nu + R–X R–Nu + X‑ Nucleófilo Haleto de alquila (substrato) Produto Íon haleto Figura 182 Nesse tipo de reação, um nucleófilo, uma espécie com um par de elétrons não compartilhados, reage com um haleto de alquila (chamado de substrato) pela reposição do halogênio substituinte. Acontece uma reação de substituição, e o halogênio substituinte, chamado de grupo retirante, se afasta como um íon haleto. Como a reação de substituição é iniciada por um nucleófilo, ela é chamada de reação de substituição nucleofílica (SN). Nas reações SN, a ligação C‑X do substrato passa por uma heterólise, e o par não compartilhado do nucleófilo é usado para formar uma nova ligação para o átomo de carbono: 117 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Grupo retirante Nu: + R–X R–Nu + X‑ Nucleófilo Heterólise Produto Íon haleto Figura 183 Os haletos de alquila não são as únicas substâncias que podem agir como substratos nas reações SN. Para ser reativo, isto é, para ser capaz de agir como substrato em uma reação SN, uma molécula precisa possuir um bom grupo retirante. Nos haletos de alquila, o grupo retirante é o halogênio, que se afasta como um íon haleto. Para ser um bom grupo retirante, o substituinte deve ser capaz de se afastar como um íon ou uma molécula básica fraca, relativamente estável. Os melhores grupos retirantes são aqueles que se tornam os íons mais estáveis depois que se desprendem. Como a maioria dos grupos se desprende como um íon com carga negativa, os melhores grupos retirantes são aqueles íons que estabilizam uma carga negativa mais eficazmente. Como as bases fracas executam isso melhor, os melhores grupos retirantes são as bases fracas. XC X C δ+ δ‑ H H H H H H Intermediário Carbocátion + X‑ SN1C+ H HH XC X C δ+ δ‑ H H H H H H Intermediário Nu + X‑ SN2 C H H H Nu Nu‑ Figura 184 Nucleófilo maior é mais forte, apesar de sua basicidade ser menor. Dos halogênios, o íon iodeto é o melhor grupo retirante, e o íon fluoreto o mais fraco: I‑ > Br‑ > Cl‑ >> F‑ I‑ > Br‑ > Cl‑ >> F‑ Outras bases fracas que são bons grupos retirantes: os íons alcanossulfonatos, o íon sulfato de alquila e o ptoluenosulfonato. 118 Unidade III SO R O O S‑O O R O O S‑O O O CH3 P‑toluenossulfonatoÍon alcanossulfonato Sulfato Figura 185 Íons muito básicos raramente atuam como um grupo retirante. O íon hidróxido, por exemplo, é uma base forte, assim, uma reação como a apresentada a seguir não ocorre. X‑ + R OH R X + HO‑ Tal reação não ocorre porque OH‑ é uma base forte. Entretanto, quando um álcool é dissolvido em um ácido forte, ele pode reagir com o íon haleto (H+). Como o ácido protona, o grupo hidroxila (–OH) do álcool, o grupo retirante não necessita mais ser um íon hidróxido, ele agora é uma molécula de água, uma base muito mais fraca que o íon hidróxido. X‑ + R O+ H R X + H20 H Bases muito poderosas, tais como os íons hidretos (H:‑) e os íons alcanido (R:‑), quase nunca atuam como grupos retirantes, portanto, reações do tipo acentuado a seguir não são possíveis: Nu: + CH3CH2 H CH3CH2 Nu + :H‑ Nu: + CH3 CH3 CH3 Nu + :CH3 ‑ Comparação entre basicidade e nucleofilicidade Bases fortes são tipicamente bons nucleófilos. Entretanto existe uma diferença fundamental entre as duas propriedades: Basicidade é uma propriedade termodinâmica A‑ + H20 K HA + HO‑ K = constante de equilíbrio Nucleofilicidade é um fenômeno cinético Nu‑ + R‑X K Nu R + X‑ K = constante de velocidade Figura 186 119 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL O mecanismo das reações SN pode ocorrer de duas maneiras: • Reações do tipo SN2 (ou bimolecular): é necessário o choque do nucleófilo com o haleto de alquila. As ligações carbono‑halogênio se rompem ao mesmo tempo em que uma nova ligação se forma entre o nucleófilo e o carbono. XC X C δ+ δ‑ H H H H H H Intermediário Nu + X‑ SN2 C H H H Nu Nu‑ Figura 187 CH3Cl + NaOH H2 O/Aquecimento CH3OH + NaCl V = k [CH3Cl] [OH]‑ Figura 188 A reação de substituição nucleofílica bimolecular é um processo de segunda ordem: a velocidade é proporcional à concentração do substrato e do nucleófilo. • Reações do tipo SN1 (primeira ordem): é necessário apenas o haleto de alquila. A ligação carbono‑halogênio se rompe e forma um carbocátion, que posteriormente reage com o nucleófilo. XC X C δ+ δ‑ H H HH H H Intermediário Carbocátion + X‑ SN1C+ H HH CH3 CH3 CH3 CH3 H3C H3CC CBr + NaOH OH + Br‑ Velocidade = k1 [RBr] k1 = 0,010 litros/mol‑seg. 80% etanol 20% água 55 ºC Figura 189 Lembrete Compostos que têm carbonos sp2 (dupla ligação) ou sp (tripla ligação) geralmente não sofrem reação de substituição nucleofílica. 120 Unidade III 7.6.2 Reações do tipo SN2 São reações de segunda ordem global. É razoável concluir, portanto, que para que a reação se realize, um íon hidróxido e uma molécula de cloreto de metila precisam colidir. Dizemos também que a reação é bimolecular (duas espécies estão envolvidas na reação) ou do tipo SN2, que significa substituição nucleofílica bimolecular. Nu: + CH3CH2 (grupo retirante) CH3CH2 Nu + (grupo retirante) Mecanismo das reações SN2 De acordo com esse mecanismo (Hughes‑Ingold), o nucleófilo aborda o carbono que carrega o grupo retirante por trás, isto é, pelo lado diretamente oposto ao grupo retirante. Com a ligação do nucleófilo, ocorre uma inversão da configuração. O mecanismo Hughes‑Ingold para a reação SN2 envolve apenas uma etapa e não há intermediários. A reação prossegue através da formação de uma disposição instável de átomos, o que recebe o nome de estado de transição. XC X C δ+ δ+ H H H H H H Estado de transição Nu + X‑ SN2 C H H H Nu Nu‑ Figura 190 ∆H Energia Estado de transição [ET] Substrato Produto Ea SN2 Figura 191 121 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL As reações de SN2 ocorrem com inversão de configuração. Exemplo: C Br BrC δ‑ δ‑ H CH3 CH3 C6H13 C6H13 C6H13H HO + Br‑C CH3 HHO ‑ HO + + Figura 192 Evidências experimentais para o mecanismo da reação SN2 • A velocidade de reação depende da concentração do haleto de alquila e do nucleófilo (segunda ordem). • A velocidade de reação depende da reatividade do nucleófilo (nucleofilicidade). • A velocidade de reação com certo nucleófilo diminui com o aumento do tamanho substrato. • A velocidade de reação depende da qualidade do grupo de partida. • A configuração do produto de substituição é invertida quando comparada com a configuração do substrato quiral, utilizado como reagente. Impedimento estérico nas reações SN2 Impedimento estérico é quando um substituinte volumoso no substrato reduz a reatividade (velocidade). Lembrete Compostos primários sofrem reações SN2 com cinética de segunda ordem. SN2: velocidade = k2 [RBr] [NaOH] 7.6.3 Reações SN1 Quando os íons hidróxido não participam no estado de transição da etapa que controla a velocidade da reação e apenas moléculas de cloreto de terc‑butila são envolvidas, trata‑se de uma reação unimolecular (reação de SN1, substituição nucleofílica unimolecular). As reações SN1 são reações multietapas, em que existe uma etapa determinante da velocidade. 122 Unidade III Se uma reação acontece em uma série de etapas, e se uma etapa é intrinsecamente mais lenta que todas as demais, então a velocidade da reação global será essencialmente a mesma velocidade dessa etapa mais lenta. Consequentemente, essa etapa lenta será chamada de etapa limitante da velocidade. Reagente Intermediário 1 Intermediário 2 Produto Etapa lenda Etapa rápida Etapa rápida Figura 193 Exemplo: (CH3)3C–Cl + HO‑ Intermediários (CH3)3C–OH + Cl‑ ∆H Energia Carbocátion intermediário Etapa 1 Etapa 2 Material partida Produto Ea1 Ea2 SN1 TS2 TS1 Figura 194 Evidências experimentais para o mecanismo da reação SN1 • A velocidade de reação depende somente da concentração do haleto de alquila. • A velocidade de reação é aumentada pela presença de grupos volumosos no haleto de alquila. • Na substituição de haletos de alquila quirais, obtém‑se uma mistura racêmica como produto de reação. 123 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Mecanismo para a reação SN1 CH3 CH3 H3C C ClEtapa 1) Lenta H2O H3C + Cl‑C+ CH3 CH3 H O H Etapa 2) Rápida H3C C+ CH3 CH3 H3C CH3 CH3 C O+ H H H O H Etapa 3) Rápida H3C H3C H CH3 CH3 CH3 CH3 H C C O+O+ O HH + H H Figura 195 Carbocátions A partir de 1920, muita evidência começou a se acumular, sugerindo simplesmente que os cátions de alquila fossem os intermediários em uma variedade de reações iônicas. Em 1962, o pesquisador George A. Clah comprovou a existência do carbocátion, elucidando diversos mecanismos de reação. A estabilidade relativa dos carbocátions se refere ao número de grupos alquila ligados ao átomo de carbono trivalente carregado positivamente. > > >R C+ R R R C+ H R R C+ H H H C+ H H Carbocátion terciário (+ estável) Carbocátion secundário Carbocátion primário Metila (‑ estável) Figura 196 Lembrete Compostos terciários sofrem reações SN1 com cinética de primeira ordem. SN1: velocidade = k2 [RBr] 124 Unidade III Estereoquímica das reações SN1 O carbocátion formado na primeira etapa de uma reação SN1 é plana triangular. Quando reage com um nucleófilo, ele pode reagir tanto pelo lado da frente quanto por trás. Com o cátion terc‑butila não faz diferença, pois o produto formado é o mesmo, independentemente do modo de ataque. O O H H H H C+ C C H3C H3C H3C H2O + O+H2 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 Mesmo produto Figura 197 A seguir, destaca‑se a estereoquímica de uma reação SN1 envolvendo 3‑bromo‑3‑metilexano e moléculas de água: C C+Br CH3CH2CH2 CH2CH2CH3 CH3CH2 CH2CH3 CH3 CH3 Lenta + Br‑ C CH2CH2CH3 CH2CH3 1 1 2 CH3 H H O C CH2CH2CH3 CH2CH3CH3 H H O+ 2 C CH2CH2CH3 O+H3CH2C H3C H H Rápida 1 2 Produto 1 Produto 2 H H O H H O C+ CH2CH2CH3 CH2CH3CH3 H H O+ C CH2CH2CH3 O+H3CH2C H3C C CH2CH2CH3 CH2CH3 H3C HO C CH2CH2CH3 H3CH2C H3C OH H H Rápida Figura 198 125 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL 7.6.4 Solvólise É uma substituição nucleofílica na qual o nucleófilo é uma molécula do solvente. Quando o solvente é água, a reação também é chamada de hidrólise. Se for metanol, é metanólise, e assim por diante. Exemplo: (CH3)3C–Br + H2O (CH3)3C–OH + HBr (CH3)3C–Cl + CH3OH (CH3)3C–OCH3 + HCl (CH3)3C–Cl + HC–OH (CH3)3C–OCH + HCl O O Figura 199 O mecanismo da solvólise ocorre por substituição nucleofílica unimolecular: Etapa 1) H3C CH3 CH3 C Cl Lenta C+ CH3 CH3H3C + Cl‑ H O O CH Etapa 2) H3C H3C CH3 CH3 CH CH H H CH3 CH3 C C O O+ ORápido Ressonância C+ CH3 CH3H3C O+ Etapa 3) H3C H3C CH3 CH3 CH Cl‑ CH H + HCl CH3 CH3 C C O+ O ORápido O Figura 200 7.6.5 Fatores que podem afetar a velocidade das reações de substituição nucleofílica do tipo SN1 e SN2 • O efeito da estrutura do substrato. • O efeito da concentração e da força do nucleófilo (SN2). 126 Unidade III • Efeitos do solvente sobre as reações SN2: solventes polares próticos e apróticos (com ou sem átomos de hidrogênio). • Efeito do solvente sobre as reações SN1: a capacidade de ionização do solvente. • A natureza do grupo retirante. 7.6.6 O efeito da estrutura do substrato nas reações SN1 e SN2 Nas reações SN2, haletos de alquila simples mostram a seguinte ordem de reatividade nas reações bimoleculares: Metila > carbono primário > carbono secundário > carbono terciário A metila é bastante reativa, já o carbono terciário dificilmente reage por SN2. Nas reações SN1, o fator primário que determina a reatividade de substratos orgânicos é a estabilidade relativa do carbocátion que se forma: > > >R C+ R R R C+ H R R C+ H H H C+ H H Carbocátion terciário (+ estável) Carbocátion secundário Carbocátion primário Metila (menos estável) Figura 201 Lembrete A natureza de um nucleófilo só é importante para reação SN2, pois na SN1 não está envolvido na etapa determinante da velocidade. 7.6.7 Efeitos da concentração e da força do nucleófilo A influência da concentração e da força do nucleófilo só ocorre em reações do tipo SN2, pois é necessário o choque de duas moléculas parahaver a substituição. Observe: • Um nucleófilo com carga negativa é sempre um nucleófilo mais reativo que seu ácido conjugado. Exemplo: HO‑ é melhor que H2O; RO‑ é melhor que ROH. 127 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL • Em um grupo de nucleófilos, no qual o átomo nucleofílico é o mesmo, a força dos nucleófilos acompanha as basicidades respectivas. Exemplo: composto de oxigênio. (base forte) RO‑ > HO‑ >> RCO2 ‑ > ROH > H2O (base fraca) 7.6.8 Efeitos do solvente sobre as reações SN2: solventes polares próticos e apróticos Solventes polares próticos são aqueles com um átomo de hidrogênio ligado a um átomo de um elemento fortemente eletronegativo (reage mais rápido) SH‑ > CN‑ > I‑ > OH‑ > NH3 ‑ > CH3CO2 ‑ > Cl‑ > F‑ > H2O Solventes polares apróticos são aqueles que em solução não liberam um íon H+ em solução, por exemplo: N,N‑dimetilformamida (DMF) Dimetilsulfóxido (DMSO) Dimetilacetamida (DMA) H C O N CH3 CH3 H3C S O CH3 C O N CH3 H3C CH3 Hexametilfosfosamida (HMPA) P O (CH3)2N N(CH3)2 N(CH3)2 Figura 202 7.6.9 Efeitos do solvente sobre as reações SN1: a capacidade de ionização do solvente Devido à capacidade de solvatar cátions e ânions tão eficazmente, o uso de um solvente polar prótico irá aumentar em muito a velocidade da ionização de um haleto de alquila em qualquer reação SN1. Isso acontece porque a solvatação estabiliza o estado de transição que leva ao carbocátion intermediário e ao íon haleto mais do que com os reagentes, assim a energia livre de ativação é mais baixa, ou seja, quanto mais polar é o solvente, mais eficaz é a ionização. (+ polar) H2O > ácido fórmico > DMSO > DMF > acetonitrila > metanol > HMPA > etanol > acetona > ácido acético (‑ polar) 7.6.10 Natureza do grupo retirante O melhor grupo retirante são as bases fracas, pois são mais estáveis depois de se desprenderem da molécula. Lembrete Reações SN1 preferem solventes próticos polares que podem solvatar o ânion e o cátion formados na etapa determinante da velocidade. Reações SN2 preferem solventes “não polares” ou solventes polares apróticos que não solvatam o Nu. 128 Unidade III 7.6.11 Resumo: reações SN1 versus SN2 Na tabela a seguir, há um breve resumo dos principais fatores que favorecem reações do tipo SN1 ou SN2. Tabela 11 Fator SN1 SN2 Substrato Compostos de carbono terciário (formação de carbocátion estável) Metila > 1º > 2º (substratos com pequeno bloqueio estérico) Nucleófilo Bases fracas de Lewis, moléculas neutras; o nucleófilo pode ser solvente (solvólise) Base Lewis forte; a velocidade é favorecida pela alta concentração do nucleófilo Solvente Solvente polar prótico (álcool, água) Solvente polar aprótico (DMF, DMSO) Grupo retirante I‑ > Br‑ > Cl‑ > F‑ para ambos: SN1 e SN2 (quanto mais fraca a base, depois da partida do grupo, melhor será o grupo retirante) 7.6.12 Comparações entre reações SN1 e SN2 Tabela 12 SN1 SN2 Cinética Segunda ordem Primeira ordem Estereoquímica Inversão Racemização Rearranjo Não ocorre Pode ocorrer Reatividade CH3W > 1º > 2º > 3º 3º > 2º > 1º > CH3W Aplicações em síntese Muito útil Pouco útil 7.6.13 Reações SN1 e SN2 na síntese Algumas transformações importantes: uma ampla seleção de nucleófilos torna possível a síntese de muitos tipos de compostos orgânicos, conforme segue: Haletos de alquila Álcoois Éteres Nitrilas Ésteres Alcinos Tióis R‑Y + Nu Nucleófilos R‑Nu + Y Produto Classe Cl‑, Br‑, I‑ OH‑ RO‑ C≡N ‑ R’ C O O‑ R’ C≡C ‑ SH‑ R X R OH R O R’ R C≡N: R’ R C O O R’ C≡C R R SH Figura 203 R’ 129 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL 7.7 Reação de troca de haletos Trata‑se o haleto de alquila com NaI/acetona. Como o brometo e o cloreto de sódio são menos solúveis, ocorre uma precipitação do sal. Isso permite a remoção de NaCl ou NaBr com uma simples filtração. Br l O ONal Acetona Figura 204 7.8 Reações de álcoois, éteres e epóxidos A ativação dos grupos de partida ruins HO‑ e RO‑ ocorre através da protonação. Já a formação de haletos de alquila, a partir de álcoois, e de éteres, a partir de álcoois e haletos de alquila. 7.8.1 Transformação de álcoois haletos de alquila CH3CH2CH2OH + Hl ∆ CH3CH2CH2l + H2O Álcool primário Álcool secundário OH Br + HBr ∆ + H2O Figura 205 Álcoois secundários e terciários reagem pelo mecanismo SN1. CH3 CH3 CH3CH3 CH3 CH3 CH3 HBr CH3 CH3 CH3 CH3 CH3CH3 CH2 C C CC+ CH3 C HOH OH Br H + + H2OBr+ Br Produto de eliminação T‑butanol (álcool terciário) Produto de substituição ‑ H+ ‑H+ Figura 206 R’ 130 Unidade III Álcoois secundários podem sofrer rearranjos na reação SN1. CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 + + CH3CHCHCH3 + HBr CH3CHCHCH3 CH3CCH2CH3 CH3CHCHCH3 CH3CHCHCH3 CH3CCH2CH3 ‑H2O OH Br Br +OH H Carbocátion secundário Rearranjo Carbocátion terciário Br‑ Br‑ Figura 207 Álcoois primários reagem via SN2. A transformação de álcoois secundários e terciários em haletos de alquila é difícil, e em muitos casos essa transformação é acompanhada pela formação de produtos de eliminação. + Etanol (álcool primário) CH3CH2 OHCH3CH2OH + H Br CH3CH2Br + H2O H Br ‑ Figura 208 7.8.2 Reações de éteres pelo mecanismo SN1 Como no caso da reação de álcoois, o éter é “ativado” por protonação, formando o bom álcool (CH3OH no caso) em vez do alcoolato. CH3C CH3C CH3C + CH3C CH3 CH3 CH3 CH3 + CH3 CH3 CH3 CH3 H+OCH3 CH3OH OCH3 SN1H + + I‑ I Figura 209 7.9 Substituição alílica e o radical alila Quando o propeno reage com o bromo ou cloro a baixas temperaturas, a reação que ocorre normalmente é a adição de halogênio a uma ligação dupla. 131 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL CH2 = CH CH3 + X2 Baixa temperatura CCl4 (Reação de adição) CH2CH–CH3 X X Figura 210 Contudo, quando o propeno reage com o cloro ou o bromo a temperaturas muito elevadas ou sob condições em que a concentração de halogênio é muito pequena, a reação que ocorre é uma substituição. Esses dois exemplos ilustram como podemos mudar o curso de uma reação orgânica, muitas vezes, simplesmente alterando as condições. Alta temperatura ou baixa concentração do X2 (Reação de substituição) CH2 CH–CH3 + X2 CH2–CH–CH2X + HX Figura 211 Nessa substituição, um átomo de halogênio substitui um dos átomos de hidrogênio do grupo metila do propeno. Esses átomos de halogênio são chamados de átomos de hidrogênio alílico, e a reação de substituição é conhecida por substituição alílica. H H HH H H C C C Átomos de hidrogênio alílico Figura 212 Esses são também os termos gerais; trata‑se de átomos de hidrogênio de qualquer carbono saturado adjacente a uma ligação dupla. São chamados átomos de hidrogênio alílico. Qualquer reação na qual um átomo de hidrogênio alílico é substituído, é chamada substituição alílica. H C C C Figura 213 7.9.1 Cloração alílica (temperatura elevada) O propeno sofre cloração alílica quando o propeno e o cloreto reagem em uma fase gasosa a 400 ºC. Esse método para sintetizar o cloreto de alila é denominado “processo Shell”. 132 Unidade III CH2 CH2 CH2ClCHCH3 + Cl2 + HCl Fase gasosa 3‑cloropropeno (cloreto de alila) 400 °CCH Figura 214 O mecanismo para a substituição alílica é o mesmo do mecanismo de cadeia para as halogenações do alcano. Na etapa de iniciação da cadeia, a molécula de cloro se dissocia em átomos de cloro. Cl Cl Cl2 Luz Etapa de iniciação da cadeia Radical cloro Figura 215 Na primeira etapa de propagação da cadeia, o átomo de cloro abstrai um dos átomos de hidrogênio alílico. H HH H H HH H H + HCl Cl H H C C C C C C Radical alila Primeira etapa de propagação da cadeia Figura 216 O radical que é produzido nessa etapa é denominado radical alílico. Na segunda etapa, o radical alila reage com uma molécula de cloro. H HH H + Cl Cl ClClH H C C CH2 CH2 C C Cloreto de alila Segunda etapa de propagação da cadeia Figura 217 Essa etapa promovea formação de uma molécula de cloreto de alila e um átomo de cloro. Então, o átomo do cloreto provoca uma repetição da primeira etapa de propagação da cadeia, cuja reação continua até que as etapas normais de terminação da cadeia consumam os radicais. 133 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL O motivo para a substituição nos átomos de hidrogênio alílico do propeno será mais claro se examinarmos a energia de dissociação de ligação de uma ligação carbono‑hidrogênio alílica e a compararmos às energias de dissociação de ligação de outras ligações carbono‑hidrogênio, conforme a tabela a seguir. Tabela 13 A:B → A∙ + ∙B Ligação rompida kJ mol‑1 Ligação rompida kJ mol‑1 H‑H 435 (CH3)2CH‑Br 285 F‑F 159 (CH3)2CH‑I 222 Cl‑Cl 243 (CH3)2CH‑OH 385 Br‑Br 192 (CH3)2CHOCH3 337 I‑I 151 (CH3)2CH2CH‑H 410 H‑F 569 (CH3)3C‑H 381 H‑Cl 431 (CH3)3C‑Cl 328 H‑Br 366 (CH3)3C‑Br 264 H‑I 297 (CH3)3C‑I 207 CH3‑H 435 (CH3)3C‑OH 379 CH3‑F 452 (CH3)3COCH3 326 CH3‑Cl 349 C6H5CH2‑H 356 CH3‑Br 293 CH2=CHCH2‑H 356 CH3‑I 234 CH2=CH‑H 452 CH3‑OH 383 C6H5‑H 460 CH3‑OCH3 335 H‑C≡C‑H 523 CH3‑CH2‑H 410 CH3‑CH3 368 CH3‑CH2‑F 444 CH3‑CH2‑CH3 356 CH3‑CH2‑Cl 341 CH3‑CH2‑CH2‑CH3 356 CH3‑CH2‑Br 289 CH3‑CH2‑CH2‑CH3 343 CH3‑CH2‑I 224 (CH3)2CH‑CH3 351 CH3‑CH2‑OH 383 (CH3)3C‑CH3 335 CH3‑CH2OCH3 335 HO‑H 498 CH3‑CH2‑CH2‑H 410 HOO‑H 377 CH3‑CH2‑CH2‑F 444 HO‑OH 213 CH3‑CH2‑CH2‑Cl 341 (CH3)3CO‑OC(CH3)3 157 CH3‑CH2‑CH2‑Br 289 C6H5COO‑OOC6H5 139 CH3‑CH2‑CH2‑I 224 CH3CH2O‑OCH3 184 CH3‑CH2‑CH2‑OH 383 CH3CH2O‑H 431 CH3‑CH2‑CH2O‑CH3 335 CH3OC‑H 364 (CH3)2CH‑H 395 (CH3)2CH‑F 439 (CH3)2CH‑Cl 339 134 Unidade III Observe alguns exemplos: CH2 CHCH2 H CH2 CHCH2• + •H ∆H = 360 kJ mol‑1 Propeno Radical alila (CH3)3C H (CH3)3C• + •H ∆H = 380 kJ mol‑1 Isobutano Radical terciário (CH3)2C H (CH3)2CH• + •H ∆H = 395 kJ mol‑1 Propano Radical secundário CH3CH2CH2 H CH3CH2CH2• + •H ∆H = 410 kJ mol‑1 Propano Radical primário CH2 CH H CH2 CH• + •H ∆H = 452 kJ mol‑1 Eteno Radical vinila Nota‑se que uma ligação carbono‑hidrogênio alílica é até mais facilmente fragmentada que a ligação carbono‑hidrogênio terciária do isobutano e muito mais facilmente fragmentada que a ligação carbono‑hidrogênio vinílica. CH2 CH CH2 H X CH2 CH CH2 + HX Energia de ativação baixa Radical alila X + H–CH CH–CH3 CH CH–CH3 + HX Energia de ativação alta Radical vinílico Figura 218 A facilidade com que uma ligação carbono‑hidrogênio alílica é fragmentada significa o seguinte: com relação a radicais livres primários, secundários, terciários e vinílicos, o radical alila é o mais estável. Estabilidade relativa alílica ou alila > terciário > secundário > primário > vinílica 7.10 Reações de eliminação As reações de eliminação na presença de base estão entre as reações mais versáteis e utilizadas em química orgânica. C CC C H X Eliminação Nu‑ + Nu H + X‑ Figura 219 135 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL CH3CH2CH2 X + Y‑ CH3CH CH2 + H Y + X‑ X = Cl, Br, I (desidroalogenação) X = OH (desidratação) 7.10.1 Reações de eliminação dos haletos de alquila (desidroalogenação) As reações de eliminação de haletos de alquila podem ser representadas pela reação geral: C Y C Z CC Alceno eliminação (‑YZ) Figura 220 A eliminação de HX de um haleto de alquila é um excelente método de preparação de alcenos (reação de desidroalogenação), porém esse assunto é muito complexo, porque as reações de eliminação ocorrem por meio de vários mecanismos diferentes, da mesma maneira que as reações de substituição. CH3 CH2CH3 CH3HO‑ H2O Br‑ CH3 CH3 Br C C+ + + 2‑metilpropeno Figura 221 Nas reações de desidroalogenação, as bases mais utilizadas são o hidróxido de potássio (KOH) ou um alcóxido de sódio (RO‑Na+), solubilizado em álcool. O álcool é apenas um solvente. 7.10.2 Reação de eliminação bimolecular (E2) A reação E2 ocorre quando um haleto de alquila é tratado com uma base forte, como um íon hidróxido ou alcóxido (RO‑). Esse é o caminho de eliminação mais comum e pode ser formulado como descrito a seguir. C C R R R R R R R R R R R R CC C C H H X X Nu Nu + Nu H + X‑ Figura 222 A base (nucleófilo: Nu) ataca um hidrogênio vizinho e inicia a remoção do H ao mesmo tempo em que a ligação dupla do alceno se forma e o grupo X deixa a molécula. 136 Unidade III O alceno neutro é produzido quando a ligação C‑H estiver completamente rompida e o grupo X partir com o par de elétrons da ligação C‑X. Do mesmo modo que as reações SN2, a reação E2 ocorre em uma única etapa, sem intermediários. À medida que a base começa a abstrair o H+ do carbono, próximo ao grupo de saída, a ligação C‑H inicia o rompimento, uma ligação C=C começa a se formar e o grupo de saída inicia sua saída, levando com ele o par de elétrons da ligação C‑X. CH2 CH2 CH3 CH3H CH3 CH3 Br C C HO‑ + H2O + Br‑ Figura 223 A velocidade da reação depende do [substrato] e da [base]. Velocidade = k . [haleto de alquila] . [base] A reação é consertada e não há formação de intermediário de reação. O estado de transição formado envolve ambos os reagentes (substrato e base). Mecanismo geral: reação de eliminação bimolecular (E2) C C + +C H HB H X Xδ‑ C B X‑ δ‑B CC Estado de transição Figura 224 A reação E2 ocorre em uma única etapa (sincronizada), sem intermediários: • A base começa a abstrair o próton do carbono. • A ligação C–H inicia o rompimento. • Uma ligação C=C começa a se formar. • O grupo de saída leva com ele o par de elétrons da ligação C–X. Exemplo: eliminação no 2‑bromopropano com etanol. V= k [CH3CHBrCH3] [C2H5O ‑] 137 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Efeito do solvente sobre a velocidade de E2 Em um mecanismo bimolecular, em regra, o aumento da polaridade diminui a velocidade da reação, pois uma intensa solvatação da base dificulta o ataque desta sobre o H. Entretanto, é necessário o uso de solventes próticos polares, que têm cargas desenvolvidas, para estabilizar o estado de transição, diminuir a energia de ativação e, por consequência, aumentar a velocidade da reação. Cada situação deve ser avaliada especificamente, mas é muito comum utilizar sistemas mistos, como etanol/água, metanol/água, entre outros. Ordem decrescente de polaridade de alguns solventes: água > ácido fórmico > dimetil sulfóxido (DMSO) > N, N‑dimetilformamida (DMF) > acetonitrila > metanol > etanol > acetona > ácido acético. Regiosseletividade das reações E2 Regra de Zaitsev: será formado o alceno mais substituído quando um próton for removido do carbono β que estiver ligado ao menor número de hidrogênios. Exemplos de reações. Equação da reação do 2‑bromo propano: Br CH3CHCH3 + CH3O ‑ CH3CH CH2 + CH3OH + Br‑ Propeno Carbonos β Figura 225 Equação da reação do 2‑bromobutano: H3C CH2 CH CH3 H3C CH CH CH3 + H3C CH2 CH CH2 2‑bromobutano 2‑buteno (80%) 1‑buteno (20%) Br Figura 226 138 Unidade III Observe o diagrama da coordenada de reação do 2‑bromobutano: Energia Marcha da reação 2‑bromobutano + CH3O ‑ 1‑butano + CH3OH + Br‑ 2‑butano + CH3OH + Br‑ Figura 227 A reação que leva ao alceno mais estável ocorre mais rápido do que a reação que leva ao alceno menos estável: δ‑OCH3 CHCH3CH3CH H Br δ‑ δ‑OCH3 CHCH2CH3CH2 H Br δ‑ Estado de transição que leva ao 2‑buteno Mais estável Estado de transição que leva ao 1‑buteno Menos estável Figura 228 Reatividade relativa de haletos de alquila em uma E2 Haleto terciário > Haleto secundário > Haleto primário R R Br RCH2CR RCH CR Br RCH2CHR RCH CHR RCH2CH2Br RCH CR 3 substituintes alquila 2 substituintesalquila 1 substituinte alquila Figura 229 139 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Lembrete Reação E2: eliminação bimolecular, relacionada com SN2, uma etapa, sem intermediário. 7.10.3 Reação de eliminação unimolecular (E1) Da mesma forma que a reação E2 é semelhante à reação SN2, a reação SN1 possui um análogo próximo chamado reação E1. A reação E1 pode ser formulada como indicada no mecanismo a seguir, para eliminação de HCl a partir de 2‑cloro‑2‑metilpropano. Mecanismo geral E1 C C + +C H HB H X Xδ‑ C B X‑ δ‑B CC Estado de transição (ET) CH3 CH2 CH3 CH3 CH3 CH3 Br C C + H3O + + Br‑+ H2O Brometo de terc‑butila 2‑metilpropeno Figura 230 A velocidade da reação depende somente do [substrato]: Velocidade = k. [haleto de alquila] A reação ocorre em duas etapas. Apenas o haleto de alquila está envolvido na etapa lenta da reação. Há formação de um intermediário de reação – um carbocátion. CH3 CH2 CH2 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 Br H C C C + H3O + + Br‑ + lenta rápidaO haleto de alquila se dissocia, formando o carbocátion H2O A base captura um próton do carbono beta Figura 231 140 Unidade III A base participa apenas da segunda etapa de reação, portanto, sua concentração não influencia na velocidade. Utilizam‑se bases fracas, como água ou álcool. Efeito do solvente sobre a velocidade de E1 Como o intermediário da reação é uma espécie iônica, fatores que o estabilizam aumentam a velocidade da reação. Por isso, o aumento da polaridade do solvente, em regra, eleva a velocidade de uma reação que segue um mecanismo E1. Por esse motivo, é frequente o uso de solventes binários em E1, onde um dos componentes é a água. Regiosseletividade das reações E1 Equação da reação do 2‑cloro‑2‑metilbutano com água: CH3CH2CCH3 + H2O CH3CH CCH3 CH3 + CH3CH2C CH2 + H3O + + Cl‑ CH3 CH3 CH3 Cl Figura 232 Observe o diagrama da coordenada de reação do 2‑cloro‑2‑metilbutano: Energia Marcha da reação CH3CH2CCH3 CH3 Cl + H2O CH3CH2CCH3 CH3 Cl‑ + + H2O CH3 CH3CH2C CH2 + H3O + + Cl‑ CH3 CH3CH CCH3 + H3O + + Cl‑ Figura 233 Assim, forma‑se o alceno mais estável. Reatividade relativa de haletos de alquila em uma E1 Haleto terciário > haleto secundário > haleto primário (E1) (E1) (E2) 141 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Está diretamente relacionada à estabilidade do carbocátion – intermediário de reação. Reatividade relativa de álcoois em uma E1 Álcool terciário > Álcool secundário > Álcool primário (E1) (E1) (E2) Álcoois primários: ácido concentrado e temperatura elevada; álcoois secundários: condições amenas; e álcoois terciários: desidratação fácil e condições extremamente amenas. Lembrete Reação E1: eliminação unimolecular, parecido com SN1, com carbocátion como intermediário. 7.11 Resumo das reatividades: SN1, SN2, E1 e E2 SN1, SN2, E1 e E2: como você pode se orientar? Como prever o que acontecerá em cada caso? Ocorrerá substituição ou eliminação? A reação será bimolecular ou unimolecular? Não há respostas rígidas para essas questões, mas é possível reconhecer algumas tendências e fazer algumas generalizações. Tabela 14 Tipo de haleto SN1 SN2 E1 E2 RCH2X (primário) Não ocorre Altamente favorecido Não ocorre Ocorre quando bases fortes são utilizadas R2CHX (secundário) Pode ocorrer com haletos de benzina e alila Ocorre em competição com a reação E2 Pode ocorrer com haletos de benzina e alila Favorecido quando bases fortes são utilizadas R3CX (terciário) Favorecido em solventes hidroxílicos Não ocorre Ocorre em competição com a reação SN1 Favorecido quando as bases são utilizadas Haletos de alquila primários A substituição SN2 ocorre se um bom nucleófilo, como RS‑, I‑, CN‑, NH3 ou Br‑, for usado. A eliminação ocorre se uma base forte, volumosa, como tert‑butóxido, for utilizada. Haletos de alquila secundários A substituição SN2 e a eliminação E2 ocorrem juntas, frequentemente levando à mistura de produtos. Se um nucleófilo fracamente básico for usado em um solvente aprótico polar, predomina a substituição SN2. Se uma base forte como CH3CH2O‑, OH‑ ou NH2‑ for usada, predomina a eliminação E2. 142 Unidade III Haletos de alquila terciários A eliminação E2 ocorre quando uma base como OH‑ ou RO‑ for usada. A reação sob condições neutras (aquecimento em etanol puro) leva a uma mistura de produtos, resultante de ambas, substituição SN1 e eliminação E1. Lembrete Reações de eliminação (E1 e E2) geralmente têm maior energia de ativação (são mais difíceis) do que as de substituição (SN1 e SN2). Temperaturas mais elevadas costumam favorecer reações de eliminação. 7.12 Reações dos álcoois Como a água, os álcoois são fracamente ácidos (eletrófilos) e básicos (nucleófilos). Como bases fracas, os álcoois são reversivelmente protonados pelo tratamento com ácidos fortes, formando o íon oxônio, ROH2 +: O O+ R RH H H + +XH X‑ Álcool Íon oxônio Figura 234 Como ácidos fracos, os álcoois se dissociam fracamente em solução aquosa diluída, doando um próton para a água, formando H3O + e um íon alcóxido, RO‑, ou um íon fenóxido, ArO‑: R O‑O O O+ R H HH H H H + + Álcool Íon hidrônio Íon alcóxido Figura 235 A força de um ácido é a capacidade com que esse composto tem de se dissociar em solução, e essa propriedade pode ser expressa pela constante de acidez, Ka: HA Ka = H2O H3O + A‑+ pKa = ‑log Ka [A‑] [H3O +] [HA] Os compostos com valores de Ka baixos (ou valores de pKa elevados) são menos ácidos, enquanto os compostos com valores de Ka elevados são mais ácidos. A tabela a seguir mostra a acidez de alguns álcoois: 143 QUÍMICA ORGÂNICA EXPERIMENTAL Tabela 15 Álcool pka Característica (CH3)3COH 18,00 Fraco CH3CH2OH 16,00 Fraco HOH (Água) 15,74 Fraco CH3OH 15,54 Fraco CF3CH2OH 12,43 Médio Fenol 9,89 Forte Fonte: USP (2006, p. 107). O efeito da substituição de grupos alquílicos na acidez dos álcoois deve‑se principalmente à solvatação do íon alcóxido resultante da dissociação. Quanto mais facilmente o íon alcóxido é solvatado pelas moléculas de água, mais estável e mais energeticamente favorável é sua formação e, consequentemente, maior sua acidez. Por exemplo, o átomo de oxigênio de um íon alcóxido desprotegido, como o metanol, é estericamente acessível e facilmente solvatado pela água, como o álcool terc‑butila, é menos facilmente solvatado e, portanto, menos estabilizado. C O H H H Estericamente acessível; mais facilmente solvatado C O H3C H3C H3C Estericamente menos acessível; menos facilmente solvatado Figura 236 Os efeitos indutivos também são importantes na determinação da acidez dos álcoois. Os substituintes retiradores de elétrons, como os halogênios, estabilizam o íon alcóxido, pois distribuem a carga negativa sobre toda a molécula, tornando o álcool mais ácido. Compare, por exemplo, a acidez do etanol (pKa = 16,00) com o 2,2,2‑trifluoroetano (pKa = 12,43). C H H H C F F F CH2 CH2OH OH Figura 237 Uma vez que são muito menos ácidos em comparação aos ácidos carboxílicos ou ácidos minerais, os álcoois não reagem como bases fracas, a exemplo das aminas ou do íon bicarbonato. Também reagem + 144 Unidade III de maneira limitada como os hidróxidos metálicos, como NaOH. Os álcoois, entretanto, reagem com os metais alcalinos e com as bases fortes, como o hidreto de sódio (NaH), o amideto de sódio (NaNH2) e os reagentes de Grignard (RMgX). Os alcóxidos são bases e, portanto, muito usados como reagentes em química orgânica. As reações dos álcoois dividem‑se em dois grupos – aquelas que ocorrem na ligação C‑O e as que ocorrem na ligação O‑H. Uma das reações mais valiosas envolvendo a ligação C‑O é a reação de desidratação de álcoois na formação de alcenos. A ligação C‑O e a ligação vizinha C‑H são rompidas e uma ligação pi no alceno é formada: C C H OH H3O + + H2OCC H3O + THF, 50 ºC +H3C CH3 OH C CH2CH3 2‑metil‑2‑butanolH3C H3C CHC CH3 H2C H3C CH2 C CH3 2‑metil‑2‑buteno Majoritário 2‑metil‑1‑buteno Minoritário OHH3C 1‑metilcicloexanol 1‑metilcicloexeno H3O + THF, 50 ºC CH3 Figura 238 Apenas os álcoois terciários são rapidamente desidratados com ácido. Os secundários podem reagir, porém as condições são mais drásticas (75% H2SO4, 100 ºC). Os álcoois primários são ainda menos reativos que os álcoois secundários, sendo necessárias condições ainda mais severas (95% H2SO4, 150 ºC). Reatividade R OH H C H R OH R C H R OH R C R