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1 ERGONOMIA E FISIOLOGIA DO TRABALHO 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA ........................................................................................................... 2 A ORIGEM E EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA .................................................................. 3 CONCEITO .................................................................................................................... 11 INTERVENÇÃO ERGONÔMICA .................................................................................... 12 ANTROPOMETRIA ........................................................................................................ 14 BIOMECÂNICA .............................................................................................................. 17 ANÁLISE DOS POSTOS DE TRABALHO ..................................................................... 19 ERGONOMIA COGNITIVA ............................................................................................ 20 MÉTODOS/FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO ERGONÔMICA .................................... 23 ABORDAGEM ERGONÔMICA MODERNA ................................................................... 28 A NOÇÃO DE VARIABILIDADE ..................................................................................... 30 A INTEGRAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO .................................... 34 UNIDADE III – FISIOLOGIA DO TRABALHO ................................................................ 38 REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 49 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 A origem e evolução da ergonomia A origem e a evolução da ergonomia estão relacionadas às transformações sociais, econômicas e, sobretudo, tecnológicas, que vêm ocorrendo no mundo do trabalho. A ergonomia surge de modo mais sistematizado por volta de 1940, sua origem prática está, em parte, associada às necessidades de guerra, basicamente ligadas à construção de aviões e armas mais adaptados às características dos seres humanos e, portanto, mais facilmente manejáveis por uma quantidade maior de pessoas. Segundo Iida (2005, p. 6): Com o avanço da II Guerra Mundial (1939-1945), foram utilizados conhecimentos científicos e tecnológicos disponíveis para construir instrumentos bélicos relativamente complexos como submarinos, tanques, radares e aviões. Estes exigiam habilidade do operador, em condições ambientais bastante desfavoráveis e tensas, o campo de batalha. Os erros e acidentes eram frequentes e muitos tinham consequências fatais. Todo este contexto fez com que se redobrassem os investimentos em pesquisas com o objetivo de adaptar esses instrumentos bélicos às características e capacidades do operador/militar, melhorando o desempenho e reduzindo a fadiga e por efeito, os acidentes. Nesta fase inicial da ergonomia, o foco estava em desenvolver projetos e pesquisas voltados para os aspectos microergonômicos definidos como: Antropometria que é o processo ou técnica de mensuração do corpo humano ou de suas várias partes; análise e definição de controle, de painéis, do arranjo de espaço físico e dos ambientes de trabalho; questões fisiológicas de esforço físico, higiene nos postos de trabalho e interface com a máquina, equipamentos, ferramentas, mobiliário e instalações. Sempre houve preocupação com a adaptação do homem ao meio ambiente, quer natural ou construído, abordando os aspectos físico-ambientais, como ruído, ventilação, iluminação, vibração, aerodispersóides, temperatura, mobiliário e as questões posturais. No início da década de 1960, a ergonomia estava voltada para a área de softwares, envolvendo-se em pesquisas sobre questões do conhecimento relacionadas a aspectos específicos da interface com o usuário. E na década de 1980, a ergonomia passa a se preocupar com o grau de repetitividade, monotonia, desempenho, turnos de trabalho, segurança, higiene, layout e biorritmo. Nesse contexto, o caráter participativo do funcionário/cliente/usuário serve como base para as avaliações ergonômicas. Paralelamente às questões específicas do trabalho, de acordo com Rio e Pires (2001) “os princípios e técnicas ergonômicas têm-se expandido para fora dos ambientes de trabalho, visando maior conforto e adequação anatômica pelas pessoas. Isto se aplica 4 aos sapatos, colchões, carros, etc.”. Rio (1999, p. 22-23) distingue três fases históricas dos estudos e pesquisas relacionados ao trabalho: 1ª. A adaptação do homem à máquina - os estudos se concentram sobre a máquina, procurando formar e selecionar os operadores de acordo com as exigências da máquina; 2ª. O erro humano - que pode levar aos acidentes e a custos econômicos. Surge a consciência de que os estudos devem se concentrar no homem, a fim de respeitar e conhecer seus limites; 3ª. O sistema homem-máquina - as investigações se reconduzem aos sistemas determinados pelo homem e pela máquina, buscando a mútua adaptação e operacionalidade. A crescente globalização da economia e dos processos produtivos desencadeou um forte sentimento de competitividade, o trabalho vem enfrentando situações inusitadas para a ergonomia, como apontam Rio e Pires (2001, p. 75): Novas exigências de produtividade e desempenho que trazem desafios crescentes, exigindo que as concepções e práticas aliem de maneira mais incisiva as questões de saúde e produtividade. A progressiva falta de exercício físico no trabalho exige não apenas a redução de cargas físicas, mas também a oferta de cargas mínimas necessárias para a manutenção da saúde de sistemas orgânicos. Como o músculo-esquelético e o cardiovascular. A intensificação e globalização do estresse psíquico exigem novas abordagens, para as quais a ergonomia ainda não desenvolveu metodologias eficazes e necessita solicitar apoio de outras áreas como a psicologia, sociologia e antropologia do trabalho. Você sabe quais são os principais objetivos da ergonomia? Ela atua para garantir o bom funcionamento do sistema produtivo das empresas ou se preocupa também com a saúde dos trabalhadores? Devemos entender que a ergonomia como ciência não é um estudo independente, mas sim comum a diversas outras disciplinas, como a Medicina do Trabalho: estudo da biomecânica, antropometria e fisiologia; Engenharia da produção: EPIs e CIPA; Ciências Humanas e Sociais: psicologia, sociologia, antropologia; e, com a Economia: administração, relações sindicais. Todas estas áreas do conhecimento buscam criar a ergonomia com uma diretriz ética e técnica fundamental: Adaptar o trabalho ao ser humano e nunca o contrário! Entretanto, na prática, nem sempre isto é possível em função das dificuldades operacionais,com o coletivo de trabalho, usos de si por si e uso de si pelos outros, entre vários outros elementos envolvidos na complexidade do trabalho. A análise da atividade possibilita a identificação dos mecanismos de regulação, em tempo real pelo trabalhador, que auxiliarão para compreensão do trabalho, e assim transforma-lo (GUÉRIN, 2001). Uma análise dos mecanismos funcionais da organização do trabalho possibilita, em grande parte, a compreensão da atividade desenvolvida pelo trabalhador. Conhecer como se dá a comunicação dos serviços na empresa, a relação entre gestão e operação, entender os procedimentos de manutenção, as ferramentas de segurança, a engenharia de projetos, contribuem para esclarecer muito da realidade de trabalho enfrentada pelo indivíduo. Entender se há reconhecimento e valorização do agir competente dos trabalhadores por parte dos gestores, e se o sujeito possui certa autonomia para desenvolver seu trabalho, auxilia a decifrar a complexidade da atividade de trabalho. Na obra “Compreender o Trabalho Para Transformá-lo”, Guérin (2001) propõe que a atividade possui um papel integrador no trabalho, pois é nela que as contradições entre o prescrito e o real se materializam; é onde trabalhador mobilizará conhecimentos para driblar as variabilidades; é o local onde os valores dos indivíduos são projetados e histórias são construídas. Portanto, para que uma análise ergonômica tenha bons resultados é de suma importância uma compreensão significativa da atividade de trabalho. Segundo Mendes (2014, p.49), "a análise da atividade pode ser feita, a partir da observação e apreensão de comportamentos, e de verbalizações ligadas diretamente à realização do trabalho ou que se fazem durante a realização do mesmo". Portanto, na construção deste estudo foi utilizada a análise ergonômica do trabalho para fazer emergir da atividade, a variabilidades que os indivíduos estão susceptíveis, a materialização do confronto de diversas 30 dimensões do trabalho, os mecanismos de regulação adotados pelos mecânicos, que garantem que atinjam os objetivos da produção, de saúde e segurança. A Noção de Variabilidade As empresas, na organização do processo de trabalho, planejam e fornecem os meios necessários à produção, na medida em que dividem tarefas, estabelecem critérios, normas e regras definindo, assim, os objetivos a serem alcança- dos no processo de trabalho. Muitas vezes, adotam como referência um pressuposto herdado de Taylor, cuja máxima reside na concepção de um “operário médio”, bem treinado e que trabalha em um posto estável (Wisner, 1987). Porém, o que se observa no cotidiano é que esta estabilidade não corresponde à realidade. Os estudos demonstram uma diferença entre o que é previsto e o que é realizado, entre o desejável e o real, pois nas situações de trabalho ocorrem variações frequentes, em decorrência de vários fatores. Dentre eles, vale ressaltar a organização do trabalho bem como aqueles relacionados às características do trabalhador. Na perspectiva da organização do trabalho, devem ser incluídos desde os materiais, os equipamentos e os procedimentos, até a gestão dos incidentes. Quanto às características do trabalhador, a literatura aponta as fontes de variabilidade do indivíduo como as de natureza inter e intra individuais, levando- se em conta os aspectos físicos, psíquicos e cognitivos, neles inseridos, a experiência como história das representações mentais, o envelhecimento como história biológica e outras intrinsecamente ligadas à história do trabalho. É neste contexto do real que a atividade realmente ocorre e não naqueles previstos, malgrado os esforços da organização na sua tentativa de estabilização do processo ou ainda da normatização. A atividade compreende vários artefatos tais como instrumentos, signos, procedimentos, máquinas, métodos, regras e formas de organização do trabalho. Entretanto, uma das características importantes destes artefatos é o seu papel de mediação entre o trabalhador e o objeto do trabalho (Wisner, 1997; Rabardel, 1995 e Monoud, 1970). A mediação entre o objeto e objetivo, segundo Engeström (1987), é estabelecida através de um terceiro elemento - artefato. Portanto, a relação entre 31 o sujeito e o objeto tem como mediador os artefatos que podem ser instrumentais utilizados no processo de transformação, sejam eles, mate- riais ou intelectuais. Por exemplo, a relação entre o sujeito e o coletivo tem como mediador as regras que compreendem as normas explicitas ou implícitas, as convenções e as relações sociais no seio do coletivo. A relação entre o objeto e o coletivo tem como mediador a divisão de trabalho que qualifica a organização explicita e implícita em relação ao processo de transformação do objeto em produto. Cada um destes mediadores é constituído historicamente e de forma diferente. Muitas vezes, os artefatos são criados e transformados durante o desenvolvimento da atividade e trazem em si uma cultura particular, resíduo histórico deste desenvolvimento. Assim sendo, a atividade constitui por si só o contexto significativo mínimo para a compreensão das ações de trabalho. Neste sentido, é possível que o objeto e o objetivo só se revelem no processo do fazer. Nesta perspectiva, podemos constatar que na situação real de trabalho, a variabilidade está sempre presente e de forma estrutural. Este cenário é o espaço onde se confrontam as características do indivíduo, as exigências da produção e a organização do trabalho. Portanto, é necessário integrar estas variações de maneira a facilitar a qualidade de vida no trabalho e a favorecer, a contento, o funciona- mento da produção. Perrow (1967) e Wisner (1994a), em períodos distintos, ressaltam que a variabilidade das tarefas pode ser avaliada segundo o número de exceções verificadas para o funcionamento normal do sistema. Outro aspecto destacado pelos autores está relacionado ao grau de dificuldade que o trabalhador encontra, para identificar as alterações e variações dos parâmetros que ocorrem durante o processo de trabalho e que afetam o funcionamento do sistema. Estes fatos, na prática, têm grande importância para a ergonomia que, há muito tempo, tem se empenhado em demonstrar que as tarefas aparentemente mais monótonas e as estritamente organizadas exigem uma adaptação permanente dos trabalhadores às variações das máquinas e da matéria prima (Wisner, 1994a, p.166). É por isto que os ergonomistas tendem a recomendar uma organização mais flexível, quando se fala na inserção de novas tecnologias, com o objetivo de permitir ao trabalhador responder adequadamente a essas variações no decorrer do seu trabalho. 32 A resposta dos operadores a esta variabilidade era entendida anteriormente como o afastamento do trabalho prescrito e, portanto, como um risco à qualidade da produção e aos equipamentos. Entretanto, com os avanços da psicologia cognitiva, este afastamento é hoje entendido como uma forma de gestão desta variabilidade. Wisner (1996) afirma que o operador constitui a todo momento, o problema que ele tem a resolver. Esta construção se apoia tanto nas variações da máquina, do ambiente, da matéria prima e das relações sociotécnicas, quanto nas competências do próprio operador. A compreensão da competência dos trabalhadores está relacionada à sua capacidade de regulação, ou seja, gerir a variabilidade de acordo com as situações. Quanto maior a variabilidade das situações, menor a probabilidade de antecipação, exigindo assim, maior competência dos trabalhadores para a passagem de uma operação prescrita à uma ação situada (contextualizada). Esta competência possibilita, também, redefinir a atividade, favorecendo a reconstituição de situações anteriores por meio de reformulações, utilizando para isto recursos do próprio contexto como, por exemplo, o apelo à competênciade outros trabalhadores, a elaboração de novos parâmetros para esta atividade ou, até mesmo, a utilização eventual de uma estratégia operatória antiga. Esta capacidade de regulação constitui uma competência, que é necessário considerar nas diferentes etapas de um projeto industrial ou organizacional, objetivando atingir um funcionamento que possibilite uma produção estável em quantidade e qualidade. A análise ergonômica do trabalho permite identificar, por intermédio da observação do contexto real de trabalho, quais são as variáveis que o operador busca para compreender os problemas aos quais ele é confrontado e, desta forma, associar os processos cognitivos que ele mobiliza na execução do seu trabalho. Estes dados são fundamentais para a melhoria do dispositivo técnico, da organização e da formação. Segundo Laville (1976/1977), o objetivo do estudo da atividade do trabalhador é conhecer as funções que este mobiliza e compreender as modalidades de utilização destas funções. Os modelos que habitualmente são utilizados nas intervenções ergonômicas buscam estabelecer uma relação entre a atividade e a multiplicidade de fatores que a determina, ou seja, procuram integrar a atividade 33 com estes fatores. Por exemplo, compreender como se processa a inter- relação entre as características da população (variabilidade intra e inter-individual) com aquelas oriundas do contexto do trabalho (organização, tecnologia, gerenciamento, dentre outros). Por que é importante considerar estas características no projeto, seja no momento da concepção ou da introdução de novas tecnologias? Em outros termos, para que de- veria servir uma análise das características da população em um projeto industrial/organizacional? Às vezes, o modo de funcionamento deteriorado de uma unidade é caracterizado pela multiplicidade e diversidade entre o prescrito (o que é estabelecido pela organização do trabalho) e o real (atividade). Perrow (1967), sociólogo americano da área organizacional, realizou um estudo onde, já naquela época, demonstrou a importância da variabilidade das atividades nas contingências da organização do trabalho, bem como a importância das empresas considerarem este elemento nas etapas de um projeto industrial/ organizacional. Os erros da produção atribuídos, muitas vezes, à incompetência dos trabalhadores, são frutos do desconhecimento da empresa sobre as reais situações do trabalho, assim como à variabilidade das atividades às quais os operadores são confrontados. Neste enfoque, a literatura é consensual e aponta para a importância de se considerar, nas diferentes etapas de um projeto industrial/organizacional, as características da população e as competências exigidas para cada situação a fim de prevenir o risco de um funcionamento técnico de forma degradada, comprometendo as competências já estabelecidas. A atividade de trabalho, entendida neste contexto, como o modo segundo o qual cada um dos indivíduos se relaciona com os objetivos propostos, com a organização do trabalho e com os meios que ele dispõe para realizá-los. Este modo configura um conjunto sempre singular de determinações, denominado modo operatório, ou seja, sequências de ação, de gestos, de sucessivas buscas e tratamento de informações, de comunicações verbais ou gráficas e de identificação de incidentes. Enfim, significa a mobilização de suas representações mentais, de suas estratégias operatórias e das suas competências. Este fazer, reafirmamos, é o que caracteriza a atividade efetivamente realizada pelo sujeito. 34 Neste sentido, a atividade atua como um agente integrador desta multiplicidade de fatores no processo de trabalho, em especial, da integração das características diferenciadas e variáveis. Portanto, ao considerar a variabilidade, busca-se um equilíbrio entre as características dos sujeitos e o seu ambiente de trabalho visando obter os resultados esperados pela produção, dentro das melhores condições possíveis. Segundo Weill-Fassina (1990), o trabalho é considerado uma conduta finalística que o sujeito apreende e é dirigida por uma meta cuja consecução deve se adaptar às exigências do ambiente material e social. A análise ergonômica do trabalho possibilita o estabelecimento das relações entre a atividade e os seus diferentes níveis de determinantes. Como integrar a noção de variabilidade, se considerarmos a singularidade de cada situação estudada, a variabilidade natural do homem e, por vezes, a volatilidade da ação? Quais as consequências desta integração para o processo de trabalho? A Integração das Características da População O trabalho é uma atividade desenvolvida por homens e mulheres, para suprir o que não é determinado pela organização do trabalho. Por isto, não é suficiente o trabalhador seguir somente as prescrições, é necessário interpretar, corrigir, adaptar e às vezes criar. Para atender às exigências da situação de trabalho, ele está constantemente submetido a um processo de regulação interna. A sua inteligência se manifesta ao suprir as lacunas da prescrição e ao transitar pela variabilidade da situação de trabalho, das ferramentas, do objeto de trabalho e da organização real do trabalho. Ao transitar nestas situações, o trabalhador utiliza estratégias individuais, denominadas modos operatórios, bem como estratégias coletivas, caracterizadas pelo compartilhar da atividade de trabalho com a hierarquia e com os seus pares. A atividade de um operador de processo contínuo, por exemplo, consiste, basicamente, em obter, processar e armazenar informações oriundas de pontos diferentes, de natureza diversa e de conteúdos distintos. A partir disso, ele constrói seu problema para, posteriormente, agir sobre o funcionamento do processo. Para que esta ação seja eficiente é preciso que ele tenha acesso à uma representação atualizada (tempo real) do estado funcional do sistema. 35 Esse operador, raramente, age sozinho. Ele confronta seus indicadores e indícios com as representações mentais que outros operadores constroem do processo, para assim efetivar o seu diagnóstico. Nesse sentido, o trabalho de equipe, regulado por um coletivo de trabalho, constitui um dos fatores determinantes para a execução do trabalho. Esse coletivo, se apoia, de um lado, na competência dos operado- res e de outro, tão importante quanto o primeiro, nos limites impostos pelas práticas de segurança. Segundo Vigotsky (1996), um princípio regulatório amplamente difundido no comportamento humano é o da siginificação através do qual as pessoas, no contexto de seus esforços para solucionar um problema, criam ligações temporári- as e dão significado a estímulos previamente neutros (p. 98). A competência permite ao indivíduo atribuir um significado para a ação nas situações de trabalho. Segundo Vergnaud (1985), a competência de um indivíduo pressupõe um repertório de procedimentos ou métodos alternativos, que lhe permite se adaptar de forma mais fina às diferentes situações que se apresentam. Isto ocorre em função do valor que ele atribui às diferentes variáveis da situação. Assim, o operador é capaz de adotar o procedimento correto em menor espaço de tempo, com menor custo operacional e de forma menos aleatória, o que lhe permite transitar com maior ou menor grau de dificuldade na diversidade das situações às quais é confrontado. Nessa perspectiva, as competências são descritas do ponto de vista da atividade, possibilitando a compreensão da própria ação. Se nós admitirmos que toda a ação é inscrita no tempo e que ela sofre evolução contínua, podemos afirmar que a experiência favorece a reconstituição de um novo evento a partir de situações vivenciadas anteriormente. Este fato é o que é visível e passível de formalização. A experiência permite, inclusive, a regulação dos efeitos das más condições do trabalho, na medidaem que contribui no processo de antecipação dos incidentes. Desta forma, ele modifica procedimentos, elabora soluções e avalia alternativas, realizando a gestão de eventuais incidentes que podem ser previstos, evitados, identificados e até corrigidos. Este processo, exige condutas de regulação interna, que podem resultar em aumento da carga de trabalho que varia em função, dentre outros fatores, daqueles decorrentes da experiência. 36 Assim, a atividade, como fio condutor da análise ergonômica, adota como base de sustentação o fundamento e a gênese das experiências e das competências solicita- das no processo do fazer e que estruturam as tarefas no contexto organizacional. Quando integramos no projeto de trabalho a noção de variabilidade (experiências, formação) a distância entre o prescrito e o real toma um outro significado, o de campo de atividade de construção de resposta relevante, especialmente no que concerne ao processo de aprendizagem e à melhoria das condições de trabalho. A prescrição polariza uma forma de agir. A ausência do reconhecimento da interação, entre os planos do trabalho prescrito e do trabalho real, é um fator negativo para a produtividade, pois, além de não favorecer um espaço adequado para o processo de aprendizagem necessária, nega todos os processos de regulação executados pelos operadores quando estes são os meios que permitem aos operadores estabelecerem relações privilegiadas entre as informações presentes no ambiente, suas próprias ações e seus resultados. Neste sentido, a integração dos resultados da aná- lise ergonômica constitui um suporte muito importante para os processos de capacitação/qualificação dos operadores. A análise ergonômica, quando abordada sob a ótica do processo de aprendizagem e articulada com os diferentes níveis de competência, nos fornece subsídios para a com- preensão das exigências de qualificação dos indivíduos, pois permite descrever e explicar as condutas de regulação dos indivíduos, considerando o contexto sociotécnico no qual está inserido. As competências podem ser analisadas sob dois ângulos, aqueles exigidos pelas tarefas (formalizadas) e aqueles operacionalizados em função das condições reais da realização do trabalho (vivenciadas). Weill-Fassina, Rabardel e Dubois, (1993) chama a atenção para o fato de que o nível de complexidade de uma tarefa para determinado operador depende de sua competência. As abstrações, as antecipações, o tratamento de um número elevado de dados, as interferências e as coordenações, segundo a mesma autora, constituem algumas das dimensões da complexidade das tarefas. A passagem à antecipação é uma atividade de natureza cognitiva, o que significa esquematização, diagnóstico, teste de hipóteses, enfim, abstrações em situação. 37 A transição do pensamento situacional para o pensa- mento taxonômico conceitual, segundo Vigotsky, citado por Luria (1994), está relacionada a uma mudança básica no tipo de atividade que o indivíduo está envolvido (p. 70). Ele afirma, no seu trabalho sobre a formação de conceitos, que o “pensamento categorial” e a “orientação abstrata” são consequências de uma reorganização fundamental da atividade cognitiva que ocorre sob o impacto de um fato novo, social. A característica principal do pensamento categorial ou abstrato, segundo Luria (1994), está relacionada com a capacidade dos sujeitos transitarem livremente de uma categoria para outra. Já no pensamento concreto ou situacional, os sujeitos classificam os objetos não em categorias lógicas, mas os incorporam às situações gráfico-funcionais reproduzidas de memória. Vigotsky (1996) distinguiu duas formas fundamentais de experiência que deram origem a dois grupos de conceitos diferentes, contudo interdependentes, o “científico” e o “espontâneo”. O grupo dos conceitos “científicos” tem sua origem nas atividades altamente estruturadas e especializa- das da instrução escolar e são conceitos logicamente definidos. O grupo dos conceitos “espontâneos” emerge da reflexão do sujeito sobre a sua experiência cotidiana. Os conceitos “espontâneos”, segundo Vigotsky, seguem um caminho ascendente em direção a uma maior abstração, delineando assim o caminho para os conceitos científicos no seu desenvolvimento descendente em direção ao concreto. Nesta perspectiva, distinguimos duas formas possíveis de aprendizagem na formação de conceitos: uma sistematizada pela via da instituição escolar e, a outra, a aprendizagem espontânea, decorrente das vivências do sujeito. A compreensão destes conceitos quando da introdução de novas tecnologias, é importante, pois torna-se difícil não considerarmos neste processo os conceitos espontâneos dos operadores, quando são submetidos às novas tecnologias. Se tal dinâmica não é considerada, o processo de aprendizagem se inicia tendo como base os conceitos científicos que exigem maior capacidade de abstração. Entretanto, quando da introdução de uma nova tecnologia, o processo de formação deve se iniciar tomando como base o repertório oriundo dos “conceitos espontâneos”, retidos pela população de trabalhadores, fazendo com que a 38 passagem à abstração seja facilitada. O processo conduzido desta forma permite ao operador transitar do concreto ao abstrato e facilita a elaboração de ligações preferenciais nas situações de resolução de problemas. Esta possibilidade de abstração contribui favoravelmente para a capacidade de antecipar os incidentes durante o processo, demonstrando, assim, o papel essencial dos opera- dores para gerir a distância entre o trabalho prescrito e aquele efetivamente realizado. Assim, face a uma situação anormal, os operadores constroem e resolvem problemas de características singulares, mediante processos, muitas vezes de natureza heurística, que combinam uma certa criatividade com anos de experiência socialmente distribuída e compartilhada entre os demais participantes. Para compreender as modalidades de atividades cognitivas presentes na situação real de trabalho e, eventualmente, transformá-las, é indispensável dispor de um instrumento metodológico que possibilite, especialmente, apreender a forma segundo a qual os operadores constituem os problemas, antes de resolvê-los. A abordagem adotada como referencial neste material- a ergonomia, através da metodologia de AET em um sentido mais geral, permite descrever a alternância das fases de constituição e resolução dos problemas, fornecendo parâmetros não só para a transformação de sistemas técnicos, como também para a organização do trabalho, a formação e a transferência de tecnologia. UNIDADE III – FISIOLOGIA DO TRABALHO O corpo humano é um organismo complexo que pode ser amplamente afetado por riscos químicos e físicos; o corpo também possui muitas maneiras de regular a si mesmo quando exposto aos riscos. Para controlar os riscos para o corpo é necessário entender como ele funciona e os tipos de danos que podem ocorrer como resultado da exposição. PELE A pele é a camada externa que cobre o corpo, também conhecida como epiderme. É o maior órgão do corpo e é formada por múltiplas camadas de tecidos epiteliais e protege os músculos, ossos e órgãos internos subjacentes. Uma vez que a pele entra em contato com o ambiente, ela tem um papel importante na proteção (do corpo) contra patógenos. A pele desempenha múltiplas funções: 39 ▪ Proteção: uma barreira anatômica contra patógenos e danos entre o interior e o ambiente externo na defesa do corpo. ▪ Sensação: contém uma variedade de terminações nervosas que reagem ao calor, frio, toque, pressão, vibração e lesão do tecido. ▪ Regulagem de calor: a pele contém um suprimento sanguíneo muito maior que sua necessidade, o que permite controle preciso da perda de energia por radiação, convecção e condução. Vasos sanguíneos dilatados aumentam aperfusão e a perda de calor enquanto vasos contraídos reduzem muito o fluxo sanguíneo cutâneo e conservam o calor. ▪ Controle de evaporação: a pele fornece uma barreira relativamente seca e impermeável contra a perda de líquidos. A perda de função contribui para a perda massiva de fluidos em queimaduras. ▪ Armazenagem e síntese: age como um centro de armazenagem para lipídeos, assim como um meio de síntese da vitamina D. ▪ Excreção: o suor contém ureia, no entanto, sua concentração é de 1/130 a da urina, portanto a excreção pelo suor é no máximo uma função secundária para regulagem da temperatura. ▪ Absorção: Enquanto a pele age como uma barreira, alguns químicos são prontamente absorvidos por ela. ▪ Resistência à água: A pele age como uma barreira resistente contra a água, de forma que nutrientes essenciais não sejam lavados para fora do corpo. A pele pode ser afetada por agentes químicos, físicos e biológicos e os transtornos cutâneos são responsáveis por uma proporção substancial de doenças industriais. Os tipos de efeitos podem ser classificados em: dermatite, dano físico, câncer, biológico ou outros efeitos. DERMATITE O transtorno mais comum é a dermatite de contato e 70% dos casos se devem a irritação primária, isto é, ação direta na pele, mais frequentemente nas mãos e antebraços. Um irritante é um agente que danifica diretamente as células se aplicado à pele em concentração e por tempo suficientes (isto é, todos os efeitos são relacionados à dose), levando a dermatite de contato por irritante. Álcalis dissolvem a queratina e alguns solventes removem o sebo. Quaisquer efeitos diretos na pele podem tornar a superfície mais vulnerável a outros agentes e reduzem as defesas de entrada na pele. 40 A outra forma de dermatite de contato é a dermatite por contato alérgico. Isto resulta da sensibilização da pele por contato inicial com uma substância e subsequente repetição do contato. Um sensibilizante (alergênico) é uma substância que pode induzir uma sensibilidade imunológica especifica a si mesmo. A dose inicial pode precisar ser bem alta e leva a uma resposta de hipersensibilidade retardada mediada por linfócitos e envolvendo a produção de anticorpos. A primeira dose não produz nenhum efeito visível, mas exposições subsequentes, frequentemente de um minuto, podem levar a dermatite. Irritantes comuns incluem detergentes, sabões, solventes orgânicos, ácidos e álcalis. Sensibilizantes comuns são plantas (jardinagem), antibióticos (indústria farmacêutica), corantes (indústria de tintas e cosméticos), metais (níquel (geralmente não-industrial) e cromados (indústria de cimentos)), borrachas e resinas. Pessoas que trabalham com óleos de corte podem apresentar dermatite de contato irritante e alérgica, sendo irritadas pelo óleo em si e alérgicas aos biocidas nele presentes. DANOS FÍSICOS Agentes físicos que podem danificar a pele incluem o clima, fricção e lesão. Frio, vento e chuva podem causar pele rachada e o sol pode queimar ou causar tumores de pele, então ocupações expostas a esses elementos (pesca, agricultura) apresentam risco. Lesões por fricção são comuns em trabalhos manuais pesados (construção e mineração) e equipamentos cortantes usados em muitas ocupações podem levar a abrasões e lacerações. AGENTES BIOLÓGICOS A pele está sujeita aos efeitos de agentes biológicos tais como infecções virais de animais, infecções por leveduras e fungos quando contato prolongado com água ocorre e infecções por antraz onde produtos animais são manuseados. CÂNCER Tumores de pele benignos e cânceres podem resultar de contato com creosoto, óleos minerais e radiação ultravioleta e radiação ionizante (trabalho com radioisótopos, radiologistas) podem causar câncer de pele. Exposição à radiação ultravioleta ao trabalhar em áreas externas também é uma causa comum de câncer de pele. OUTROS EFEITOS 41 Trabalhos que envolvem óleos minerais podem levar a acne oleosa particularmente nos antebraços e coxas. Poros obstruídos que se tornam infectados produzem cravos e pústulas. Cloracne, com cravos e cistos na face e pescoço resulta dos efeitos de alguns hidrocarbonetos aromáticos policlorinados nas glândulas sebáceas. Alterações na pigmentação da pele podem resultar do contato químico. Fortes soluções alcalinas e ácidas causam queimadura. SISTEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO O sistema músculo esquelético fornece forma, estabilidade e movimento ao corpo humano. Ele é formado por ossos do corpo, o esqueleto, músculos, cartilagem, tendões, ligamentos e articulações. As funções primárias do sistema músculo esquelético incluem suportar o corpo, permitir o movimento e proteger órgãos vitais. A porção esquelética do sistema serve como sistema de armazenamento principal para cálcio e fósforo e contém componentes essenciais envolvidos na produção do sangue. Há, no entanto, doenças e transtornos que podem afetar adversamente a função e eficácia geral do sistema. Estas doenças podem afetar o diagnóstico em decorrência da relação próxima do sistema músculo esquelético com outros sistemas internos. O sistema músculo esquelético se refere ao sistema que tem seus músculos conectados a um sistema músculo esquelético interno e é necessário para que os seres humanos de movimentem para uma posição mais favorável. O sistema esquelético tem muitas funções importantes; ele estabelece o formato e forma de nossos corpos, além de suporte, proteção, permitindo o movimento corporal, produzindo sangue para o corpo e armazenando minerais. Outra função dos ossos é a armazenagem de certos minerais. Cálcio e fósforo estão entre os principais minerais armazenados. A importância deste “dispositivo” de armazenagem ajuda a regular o equilíbrio mineral na corrente sanguínea. Esta capacidade de armazenagem pode ser importante durante a exposição a substâncias perigosas. Por exemplo; chumbo é armazenado no sangue por longos períodos após a exposição, este pode ser liberado de forma seletiva posteriormente e gera problemas com envenenamento por chumbo no corpo, por exemplo, durante a gravidez. SISTEMA NERVOSO 42 O sistema nervoso é uma rede de células especializadas que comunicam informações sobre o ambiente dos nossos corpos e nós mesmos. Ele processa estas informações e causa reações em outras partes do corpo. O sistema nervoso está dividido, grosso modo, em duas categorias: o sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico. O sistema nervoso central (SNC) é a parte maior do sistema nervoso e inclui o cérebro e a medula espinhal. O sistema nervoso periférico é um termo para as estruturas nervosas coletivas que não estão no SNC. Toxinas industriais podem afetar o sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal) ou sistema nervoso periférico (nervos motores e sensoriais) ou ambos e as condições resultantes dependem do local do ataque. O sistema nervoso é semelhante ao fígado uma vez que agentes solúveis em gordura têm muito mais probabilidade de causar danos. Elas também podem cruzar a barreira hematoencefálica. Danos no sistema nervoso central podem produzir narcose, psicose orgânica tóxica, epilepsia, Parkinsonismo e alterações comportamentais. Provavelmente, o efeito sobre o sistema nervoso central mais facilmente reconhecido é a perda aguda de consciência produzida por agentes narcóticos tais como clorofórmio, tetracloreto de carbono e tricloroetileno (todos hidrocarbonetos halogenados solúveis em gordura) e solventes tais como acetona, tolueno e dissulfeto de carbono. Descobriu-se que alterações comportamentais, demonstradas por testes de inteligência, destreza e vigilância, resultam em níveis muito mais baixos que os normalmente aceitos como seguros na exposição ao tricloroetileno, benzina, monóxido de carbono e cloreto de metileno. SISTEMA ENDÓCRINO O sistema endócrino é o nome coletivodado a um sistema de pequenos órgãos que liberam moléculas sinalizadoras extracelulares conhecidas como hormônios. O sistema endócrino é essencial para regular o metabolismo, crescimento, desenvolvimento, puberdade e função dos tecidos. Também tem um papel importante na determinação de nosso humor. O sistema endócrino é um sistema de sinalização de informação muito similar ao sistema nervoso. No entanto, o sistema nervoso utiliza os nervos para transportar as informações, 43 enquanto o sistema endócrino utiliza principalmente vasos sanguíneos como canais de informações por meio dos quais transporta os hormônios. Trabalhadores farmacêuticos que manuseiam fármacos endócrinos como estrogênio (na “pílula') ou tiroxina (usada para o tratamento da tireoide) apresentam risco de perturbar seu próprio equilíbrio endócrino e o dietilestilbestrol (DES) levou a tumores em crianças de trabalhadores de ambos os sexos. Gases anestésicos (anestésicos femininos) e a exposição de cloreto de vinila durante a gravidez foi associada a parto de natimorto ou defeitos congênitos. Radiação ionizante pode danificar as gônadas reduzindo a fertilidade ou aumentando os riscos de más-formações congênitas e câncer nos filhos. O SISTEMA CIRCULATÓRIO O sistema circulatório move nutrientes, gases e resíduos de e para as células para ajudar a combater doenças e ajudar a estabilizar a temperatura e o pH do corpo. Este sistema pode ser visto estritamente como uma rede de distribuição de sangue, mas algumas pessoas podem considerar o sistema circulatório como composto pelo sistema cardiovascular, que distribui o sangue e o sistema linfático, que distribui a linfa. Os principais componentes do sistema circulatório humano são o coração, o sangue e os vasos sanguíneos. O sistema circulatório inclui: ▪ Circulação pulmonar: onde o sangue passa pelos pulmões e se torna oxigenado. ▪ Circulação sistêmica: onde o sangue oxigenado passa pelo resto do corpo. Um adulto médio contém 4,7 a 5,7 litros de sangue, que consiste de plasma, glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Também, o sistema digestivo trabalha com o sistema circulatório para fornecer os nutrientes que o sistema precisa para manter o coração bombeando. O sistema linfático é responsável pela remoção do fluido intersticial dos tecidos assim como a absorção e transporte de gorduras e ácidos graxos. O sistema linfático também é responsável pelo transporte de células que possuem antígeno (APCs). O sistema cardiovascular é exposto a qualquer agente transportado no sangue. Acredita-se que o monóxido de carbono e muitos metais (incluindo cromo, manganês e chumbo) causem danos ao músculo cardíaco, mas a única associação comprovada é com o cobalto. Hidrocarbonetos clorinados como 44 CFCs, tricloroetileno e 111- tricloroetano podem induzir arritmias (ritmos cardíacos anormais em decorrência de defeitos na condução elétrica no coração). O tricloroetileno causa morte súbita desta forma. Dissulfeto de carbono (setor de viscose rayon) acelera a aterosclerose (endurecimento das artérias). O trabalho em temperatura alta ou baixa afeta a circulação periférica e pode prejudicar o coração. O SANGUE A produção de hemoglobina, o pigmento vermelho que transporta oxigênio nas células, é inibida pelo chumbo inorgânico que interfere com os sistemas de enzimas. O resultado é anemia caracterizada por pele e membranas mucosas pálidas, fadiga e algumas vezes dispneia de esforço. Arsina e estibina causam o rompimento dos glóbulos vermelhos (hemólise) e o resultado novamente é anemia. Radiação X (acidentes nucleares) ou benzeno pode causar leucemia (crescimento excessivo das células sanguíneas), provavelmente por ação na síntese do DNA. O transporte de oxigênio pode ser afetado de duas formas, ambas sendo formas de asfixia. Em atmosferas onde o ar normal é deslocado pelos gases inertes como nitrogênio, metano, hélio e dióxido de carbono, o conteúdo de oxigênio (normalmente 21%) é diluído resultando em hipóxia (baixa tensão de oxigênio no sangue). Isto inicialmente levará a um aumento compensatório na frequência cardíaca e respiratória. Se a hipóxia continuar, o julgamento será prejudicado e a pessoa ficará inconsciente e eventualmente morrerá. Respirar 100% de gás inerte (colocar a cabeça em uma câmara cheia de gás) causará inconsciência instantânea. A outra forma industrial de asfixia é a asfixia química. Anilina e nitrobenzeno, como líquidos absorvidos por meio da pele intacta e monóxido de carbono inalado, interferem com a habilidade do sangue de transportar oxigênio associada com oxigênio, como oxihemoglobina. Anilina e nitrobenzeno se associam com hemoglobina para formar metahemoglobina levando a cianose (uma coloração azul nas membranas mucosas, especialmente os lábios). O monóxido de carbono combina com a hemoglobina competindo com o oxigênio para formar carboxihemoglobina, uma coloração carmim brilhante, fazendo com que a pessoa afetada pareça ter cor de cereja. SISTEMA RESPIRATÓRIO 45 A principal função do sistema respiratório é a troca de gases entre o ambiente externo e o sistema circulatório. Isto envolve retirar o oxigênio do ar e levar para o sangue e liberar o dióxido de carbono (e outros resíduos gasosos) do sangue de volta para o ar. Na inalação, a troca gasosa ocorre nos alvéolos, as pequenas bolsas que são o componente funcional básico dos pulmões. As paredes alveolares são extremamente finas (aprox. 0,2 micrômetros). Essas paredes são compostas de uma única camada de células epiteliais próximas dos capilares sanguíneos que, por sua vez, são compostos de uma única camada de células endoteliais. A proximidade desses dois tipos de células permite a permeabilidade para gases e, portanto, a troca gasosa. O oxigênio é levado para o sangue enquanto o excesso de dióxido de carbono é liberado. Como a pele e os olhos, os pulmões são afetados por irritantes e alergênicos. Eles também respondem na forma de pneumoconiose fibrótica e doença maligna a uma variedade de agentes industriais. Partículas maiores que 10 µm de diâmetro são filtradas pelo nariz. A estrutura ramificada das vias aéreas encoraja a deposição de partículas de 2-10 µm que podem então ser eliminadas pelo escalador mucociliar. Nos alvéolos, as partículas remanescentes passam de volta na árvore brônquica livremente ou são fagocitadas pelos macrófagos e levadas para o escalador mucociliar ou sistema linfático adjacente. A despeito de sua eficiência, grandes volumes de partículas podem sobrecarregar estes mecanismos de defesa. A irritação causada pelos gases e vapores produz inflamação do trato respiratório e os sintomas tendem a ser agudos ou retardados, dependendo da solubilidade do agente tóxico. Também pode haver efeitos crônicos. Efeitos crônicos da exposição prolongada podem ser bronquite crônica e danos permanentes nos pulmões. Reações alérgicas a substâncias podem causar asma ocupacional. Os sintomas incluem insuficiência respiratória grave assim como chiado, tosse e aperto no peito. Certas substâncias tais como isocianatos (usado em tintas), pó de farinha e vários vapores podem causar asma. Estas substâncias são chamadas de “sensibilizantes respiratórios” ou asmagênicos. Eles podem causar uma mudança nas vias aéreas das pessoas, conhecida como 'estado hipersensível'. Nem todos que se tornem sensíveis passam a sofrer de asma. Mas, uma vez que os pulmões se tornam hipersensíveis, 46 exposição adicional à substância, mesmo em níveis muito baixos, pode gerar um ataque. Pneumoconiose é a reação dos pulmões à poeira mineral inalada e a alteração resultante em sua estrutura. As principais causas são pó de carvão, sílica e amianto e todos eles levam a cicatrização do pulmão conhecida como fibrose colagenosa. A pneumoconiose pode não produzir qualquer sintoma por anos.No entanto, à medida que os pulmões se tornam menos flexíveis e porosos sua função é amplamente reduzida. Os sintomas incluem insuficiência respiratória, tosse e mal-estar geral. A insuficiência respiratória geralmente começa apenas com esforço severo. À medida que a doença progride, a insuficiência respiratória pode estar presente todo o tempo. A tosse geralmente não está associada com catarro, mas pode eventualmente estar associada com sangue. Em decorrência da baixa oxigenação do sangue pelos pulmões danificados, as unhas e lábios podem parecer pálidos ou azulados. Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) se refere a bronquite crônica e enfisema. Estas são duas doenças pulmonares que com frequência ocorrem simultaneamente e resultam no estreitamento das vias aéreas. Isto leva a uma limitação do fluxo de ar de e para os pulmões causando insuficiência respiratória. Diferente da asma ocupacional, o estreitamento das vias aéreas não é fácil de reverter e geralmente piora progressivamente com o tempo. A DPOC pode ser ativada por uma variedade de partículas e gases que fazem com que o corpo produza uma inflamação anormal dos tecidos. Tumores malignos de origem industrial podem afetar os pulmões e tecidos subjacentes. Câncer do pulmão foi descoberto em pessoas que trabalham com amianto (mineiros, insuladores) e o risco é aumentado pelo fumo, arsênico (pesticidas), cromo (fabricantes de pigmentos), hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (manufatura de gás de carvão, trabalhadores de tabaco) e radiação ionizante (mineradores de urânio). Pó de madeira (fabricantes de móveis de madeira), pó de couro e pó de níquel causaram câncer dos seios nasais. O TRATO GASTROINTESTINAL O trato gastrointestinal é o sistema usado pelo corpo para ingerir, quebrar e absorver nutrientes, assim como excretar resíduos. Ingestão como uma rota tóxica de entrada na indústria é improvável, mas pode ocorrer se as pessoas puderem comer ou fumar em suas estações de trabalho, arriscando, dessa 47 forma, a contaminação pelas mãos ou a partir de superfícies contaminadas. Vômito e diarreia são mecanismos naturais de defesa contra toxinas ingeridas e o ácido gástrico neutraliza os invasores alcalinos até certo ponto e também mata bactérias. Absorção de toxinas é relativamente menos eficiente do que via inalação, também limitando a entrada no corpo. No entanto, qualquer agente irritante ou corrosivo que afetaria as membranas mucosas do trato respiratório também pode causar edema nos lábios, boca e epiglote (causando engasgo) e ulceração do esôfago e estomago. O FÍGADO O fígado é um dos principais órgãos metabólicos usados para processar nutrientes que foram absorvidos no sangue a partir do trato gastrointestinal ou via outras rotas tais como inalação. O fato de que é usado para quebrar materiais significa que é particularmente suscetível a quaisquer toxinas no corpo. As células do fígado podem se regenerar após danos tóxicos, sendo que a causa mais comum é o álcool. No entanto, a absorção contínua pode interromper o processo de regeneração e causar dano permanente no fígado. Doença hepática pré-existente pode tornar isso mais provável. Industrialmente, álcoois solúveis em gordura e hidrocarbonetos halogenados são particularmente conhecidos por seus danos nas células hepáticas. O sinal mais óbvio de dano hepático é a icterícia. Dano hepático, geralmente cirrose, é um precursor importante de hepatomas (tumores no fígado) e, portanto, danos hepáticos a longo prazo industrialmente induzidos predispõem os funcionários a tumores no fígado. O fígado em si é um órgão protetor, uma vez que seu processo de desintoxicação normal altera toxinas potenciais para formas seguras (e algumas vezes ocorre o contrário). SISTEMA EXCRETOR O rim tem um papel importante na manutenção do equilíbrio de fluidos e eletrólitos por meio de filtragem e sua reabsorção seletiva no sangue. Ele excreta (por meio da urina) resíduos indesejados (incluindo toxinas), que se tornaram solúveis em água por meio do metabolismo no fígado. Toxinas podem danificar os rins os quais, por sua vez, afetam o metabolismo do cálcio, equilíbrio ácido-base e reabsorção de água. Na falha renal aguda, o fluxo de urina cessa totalmente. A radiação ionizante pode causar danos na célula renal e fibrose. Uma vez que a urina é concentrada e 48 armazenada na bexiga, a exposição a este órgão é bem mais longa do que ao restante do trato urinário. Portanto, ele é bem mais suscetível aos cânceres industrialmente induzidos. OS OLHOS Não há necessidade de explicação quanto à função dos olhos. Também está claro que eles são relativamente frágeis. Os olhos são protegidos até certo ponto pelos ossos frontais acima deles e pelas pálpebras, juntamente com o reflexo de piscar. Os cílios mantêm as partículas de poeira longe dos olhos e as lágrimas fornecem um fator de diluição para químicos invasores e esterilização contra agentes infecciosos. Em decorrência de sua construção frágil os olhos são particularmente suscetíveis a lesões. Feridas perfuro-cortantes podem levar a danos na córnea, catarata e descolamento da retina, todos levando a cegueira. Danos à íris podem provocar uma reação simpática no outro olho e cegueira total. Ácidos e álcalis queimam a córnea. Álcalis são especialmente perigosos, pois a dor é menor e quando a vítima percebe e os lava, a frente do olho pode ter sido dissolvida. Qualquer gás irritante, como dióxido de enxofre e amônia, pode causar conjuntivite (caracterizada por vermelhidão, desconforto e lacrimejamento dos olhos). Alergênicos, como plantas e tinturas, algumas vezes produzem uma reação semelhante. Uma conjuntivite extremamente dolorosa incluindo fotofobia (desconforto ao olhar para a luz) ocorre algumas horas após exposição à radiação ultravioleta usada em soldagem. A condição é conhecida como olho de arco e geralmente envolve a córnea assim como a conjuntiva (ceratoconjuntivite). Catarata (opacidade do cristalino) resulta de trauma (uma ferida penetrante ou golpe grave), calor (olho do vidraceiro) e irradiação (lasers e micro-ondas). Queimaduras da retina podem ser causadas por radiação infravermelha e lasers. Cataratas podem ser removidas e substituídas por cristalinos artificiais ou lentes de contato. Queimaduras e lacerações da retina produzem danos irreparáveis naquela área de visão (pontos cegos). 49 REFERÊNCIAS Abrahão, J., & Pinho, D. L. M. (1999). Teoria e prática ergonômica: seus limites e possibilidades. In M. G. T. Paz & A. Tamayo (Orgs.), Escola, saúde e trabalho: estudos psicológicos (pp. 229-240). Brasília: Editora Universidade de Brasília. Ambardar, A. K. 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A forma de encaminhar soluções ou perspectivas para uma ação ergonômica efetiva, o autor denomina de modalidades, e assim os campos de atuação das ergonomias para ele podem ser: 1. Quanto ao objeto – Ergonomia de Produto e de Produção. 2. Quanto à perspectiva – Ergonomia de Intervenção e de Concepção. Moraes e Mont’Alvão (2000) indicam alguns métodos e técnicas para este processo de intervenção. As autoras recomendam as pesquisas participantes, onde o usuário/cliente/consumidor/funcionário expressa sua opinião sobre a forma de executar a tarefa, o funcionamento do posto, as dificuldades pertinentes às ferramentas em uso, ou mesmo, o desconforto proveniente de alguma situação. Deste modo, nas pesquisas descritivas o pesquisador/ ergonomista procura conhecer e interpretar a realidade, sem nela interferir, somente descreve, classifica e interpreta os dados, eventos, fatores, situações ou problemas. Para tanto, os métodos recomendados pelas autoras para fazer uma exploração ergonômica são: 1. Observação: direta (pessoalmente), indireta (registro através de fotografia, filmagem, binóculo, etc.), assistemática (ocasional, sem agendamentos, não segue nenhum padrão sequencial) ou de forma sistemática (estruturada, controlada, planilhas de registro, fichas de entrevista, etc.). 2. Registro de comportamento: anotações expressões verbais e não-verbais em relação a posturas, deslocamentos, comunicações, exploração visual, tomada de informação, movimento do corpo em geral: cabeça, braços, pernas, olhos, etc. 3. Inquirição: entrevistas tanto abertas como fechadas (questionário), testes, enquetes, escalas de avaliação, etc. Seguindo estas técnicas e métodos, podemos estabelecer parâmetros para aplicar uma intervenção ergonômica dentro de uma organização, seja no chão de fábrica, no operacional, seja nos escritórios, no setor administrativo. Diversas etapas são descritas por diferentes autores para explicarem a maneira apropriada para a análise ergonômica. Moraes e Mont’Alvão(2000) dividem este processo em cinco etapas: A primeira etapa é o mapeamento dos problemas ergonômicos denominada por Apreciação ergonômica, que consiste de um levantamento sobre situações problemas. Na segunda etapa, a da Diagnose ergonômica, podemos aqui entrevistar o trabalhador, filmar e fotografar para depois comparar com as melhorias feitas. O importante é ouvir as 6 queixas para focar no problema. A terceira etapa busca adaptar as condições de trabalho na promoção da qualidade de vida, gerando assim maior segurança ao trabalhador. Na quarta etapa, Avaliação ou Validação é o momento de testar o projeto incialmente proposto através de simulações ou outras formas pertinentes. A última etapa Detalhamento ergonômico e otimização consiste de uma revisão durante o acompanhamento do projeto na busca de falhas para novas melhorias. A ergonomia objetiva, através de sua ação, “resolver os problemas da relação entre homem/trabalhador, máquina, equipamentos, ferramentas, programação do trabalho, instruções e informações, solucionando os conflitos entre o humano e o tecnológico, entre a inteligência natural e a artificial nos sistemas homem-máquina- produção” (Moraes; Mont’alvão, 2000, p. 35). Da mesma forma, é válido repetir que a ação do ergonomista dentro de uma organização, busca melhorar as condições ambientais; aumentar a motivação, a segurança, o conforto e a satisfação do trabalhador; evitar riscos de acidentes de trabalho; reduzir o retrabalho e o absenteísmo, como também, atua diretamente na saúde ocupacional. PRIMEIRA DEFINIÇÃO DE ERGONOMIA A primeira definição de Ergonomia foi feita em 1857 na égide do movimento industrialista europeu. Esta definição foi feita por um cientista polonês, Wojciech Jarstembowsky numa perspectiva típica da época, de se entender a Ergonomia como uma ciência natural em um artigo intitulado “Ensaios de ergonomia, ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”. Esta primeira definição estabelecia que: A ergonomia como uma ciência do trabalho requer que entendamos a atividade humana em termos de esforço, pensamento, relacionamento e dedicação (Jastrzebowski, 1857). KARWOWSKY (1991), assim descreve o texto pioneiro: A partir de que Wojciech Jastrzebowski da Polônia (1857) definiu ergonomia juntando dois termos gregos ergon= trabalho e nomos= leis naturais, os pesquisadores têm procurado estabelecer as leis fundamentais baseadas nas quais este disciplina em desenvolvimento pode ser classificada como uma ciência6 . O conceito de Jastrzebowski para esta proposta trata da maneira de mobilizar quatro aspectos da natureza anímica, quais seriam a natureza físico-motora, a natureza estéticosensorial, a natureza mental-intelectual e a natureza espiritual- moral. Esta ciência do trabalho portanto significava a ciência do esforço, jogo, pensamento e devoção. Uma das ideias básicas de Jastrzebowski é a proposição 7 chave de que estes atributos humanos deflacionam-se e declinam devido a seu uso excessivo ou insuficiente. ERGONOMIA NO PERÍODO CLÁSSICO Na antiguidade aparecem algumas referências como as alusões às deformações posturais apontadas por Plaute. Neste mesmo período, anotam-se trabalhos no campo da toxicologia e da patologia do trabalho, abordando particularmente riscos físicos como os impactos do temperatura e da umidade (Villeneuve, Idade Média; Coulomb e Lavoisier, séc. XVIII), riscos ergonômicos como a adoção de posturas inadequadas (Villeneuve, Idade Média,). Entretanto, é no período dito moderno onde mais elementos podem ser aludidos dada a existência de fontes históricas mais consistentes como os estudos de manuseio inadequado de cargas (Vauban e Bélidor, séc XVII), riscos químicos como inalação de vapores e poeiras (Fourcroy, séc XVIII). Existem, também, registros de estudos de biomecânica e antropometria (Leonardo Da Vinci), trabalhos de higiene industrial, basicamente sobre ventilação e iluminamentos dos locais (Désargulires, Hales e Camus, séc XVI; D’Arret, séc. XIX) e de medicina do trabalho, tanto num âmbito específico de afecções profissionais (Ramazzini e Tissot, séc XVIII), como na epidemiologia (Villermé e Patissier, séc. XIX). Este último século é também a origem da higiene do trabalho (D’Arret, regras de higiene nas fábricas; Patissier, mentor do movimento para criação da inspeção do trabalho na França). Importante menções cabem ser feitas ao período que circundou a chamada Revolução Industrial, que não pode ser limitada a avanços nos processos técnicos, mas a toda uma evolução das formas de divisão do trabalho e das formas de interação entre pessoas e equipamentos técnicos. A passagem do putting-out system para as manufaturas engendrou a criação de postos de trabalho que rapidamente se diferenciaram das instalações da produção doméstica. Em seguida a instrumentação de energia possibilitada pelo sucesso da Spinning Jenny de James Watt cria novas possibilidades. Mais adiante as propostas de Adam Smith significaram postos e métodos de trabalho distintos de seus antecessores. E é nesse bojo que aparece a proposição de Wojciech Jastrzebowski, autor da primeira definição de ergonomia. ERGONOMIA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO A virada do século XIX para o século XX caracterizou-se pela passagem dos fisiologistas aos engenheiros como os principais agentes ergonômicos. Já no início do século a proposta de F.W. Taylor não se limitava a um novo projeto organizacional. Seu 8 estudo sobre as pás - de capacidade maior para o manuseio do carvão, material mais leve, e de menor capacidade para o minério,material mais pesado e, sem sombra de dúvida um dos primeiros trabalhos empíricos de Ergonomia publicados que temos notícia. Isto não se deu por acaso, pois já haviam alguns estudos que permitiam esse tipo de concepção. Os fisiologistas do final do século XIX já haviam desenvolvido uma série de métodos, técnicas e equipamentos que permitiam, finalmente, mensurar efetivamente o desempenho físico do ser humano: o esfigmógrafo, o cardiógrafo, o pneumógrafo (Marey), ao mesmo tempo que se aprofundava o estudo teórico acerca do desgaste fisiológico e da energética muscular. Em relativa contemporaneidade a Taylor, J. Amar verificava, de forma experimental os princípios apontados por Taylor, então acusados de falta de embasamento. O trabalho de J. Amar, é, nesse sentido, um verdadeiro clássico sobre a fisiologia experimental do trabalho. Suas formulações constituem-se no primeiro dos paradigmas da ergonomia: o homem como transformador de energia, o motor humano, como o próprio autor denomina. Esta interpretação mecânica serviu de paradigma científico do início do século até o início da segunda metade deste século, portanto o período de expansão da base material da produção industrial no planeta. Ela se consolida a partir de 1915 quando, na Inglaterra, foi formado um comitê destinado a estudar a saúde dos trabalhadores empregados na indústria de guerra, uma espécie de assistência técnica ao fator humano na indústria. Esse comitê, formado por médicos, fisiologistas e engenheiros, atacou, na época, uma ampla variedade de questões de inadaptação entre trabalho e trabalhadores envolvidos nessa produção. Estes resultados se mantiveram nos tempos (breves) de paz entre as duas grandes guerras. Forma-se a ergonomia clássica imediatamente após a segunda guerra, enquanto uma disciplina estruturada a partir da atividade dos grupos citados. A definição de ergonomia adotada por estas pessoas foi a seguinte: ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia, e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento. Esta ergonomia com seu paradigma mecânico/termodinâmico do ser humano foi o desaguar de atividades, portanto milenares a partir de diversas disciplinas científicas como mostra o quadro abaixo. Quadro 1 - Principais disciplinas formadoras do pensamento ergonômico clássico 9 A ERGONOMIA NA II GUERRA MUNDIAL : IMPORTÂNCIA DOS FATORES HUMANOS Na II guerra mundial, a falta de compatibilidade entre o projeto das máquinas e dispositivos e os aspectos mecânico-fisiológicos do ser humano se agravou com o aperfeiçoamento técnico dos motores. Foram registradas situações terríveis, agora atingindo tropas e material bélico em pleno uso. Os aviões, por exemplo, passaram a voar mais alto e mais rápido. Os pilotos, porém, sofriam da falta de oxigênio nas grandes altitudes, perda de consciência nas rápidas variações de altitude exigidas pelas manobras aéreas, e vários outros "defeitos" no sub-sistema fisiológico. Os projetistas não consideraram o funcionamento do organismo em diversas altitudes e submetidos a acelerações importantes! Como consequência, muitos aviões se perderam. A perda do material bélico era importante, vultosa e por si só justificaria esforços. No entanto, dado que o treinamento de um piloto levava dois a quatro anos, a perda de um piloto treinado se constituía em perda irreversível na duração da guerra. Nessas novas circunstâncias foram formados, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos, novos grupos interdisciplinares, agora com a participação de psicólogos somados aos engenheiros e médicos. Os objetivos eram os de "elevar a eficácia combativa, a segurança e o conforto dos soldados, marinheiros e aviadores". Os trabalhos desses grupos foram voltados para a adaptação de veículos militares, aviões e demais equipamentos militares às características físicas e psicofisiológicas dos soldados, sobretudo em situações de emergência e de pânico. E o que nos interessa particularmente, estes estudos se baseavam na análise e nos estudos dos materiais que retornavam e no relato de seus problemas operacionais. Assim sendo, em seu nascedouro, a Ergonomia se alimentou profundamente de dados e estudos de manutenção bélica. Segundo nos relata Iida (1990), os cientistas que haviam participado desse esforço de guerra decidiram continuar a empreitada voltando-se para a produção civil, utilizando os métodos, técnicas e dados obtidos para a indústria. Numa precursora forma de 10 extensão universitária, são formados laboratórios universitários para atender a demandas industriais, com sucesso. Em decorrência é formada em 1947 a primeira sociedade de Ergonomia do planeta, a Ergonomics Research Society. Nasce a corrente de ergonomia chamada de fatores humanos (Human Factors Engineering ou HFE ), como uma continuidade da prática acima mencionada em operações civis. Desde então a corrente HFE tem buscado responder à seguinte pergunta: o que se sabe acerca do ser humano e que pode ser empregado nos projetos de instrumentos, dispositivos e sistemas. Em suas interfaces com o operador humano a HFE, até o presente, tem sido baseada em procedimentos experimentais que vão do laboratório clássico para o estudo de fatores humanos em si mesmo até às modernas técnicas de simulação, buscando uma melhor conformação das interfaces entre pessoas e sistemas técnicos. Os principais tratados de ergonomia foram produzidos nos anos 60 tendo como dominante a abordagem HFE. Os mais interessantes a nosso ver são Woodson e Conover, (USA, 1966) e Grandjean (Suiça, 1974), aqui lançado pela Editora Qualimark sob o título “Ergonomia”. Uma compilação acessível destes livros pode ser obtida em Iida, (1991). Para um uso prático de especialistas recomendamos o “Ergonomic Checkpoints” editado pela International Labour Office, em Genebra, com o apoio da International Ergonomics Association – IEA. A ERGONOMIA NA RECONSTRUÇÃO EUROPÉIA: A ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO No período do pós-guerra surgiu uma outra vertente da ergonomia, ensejada pelas necessidades da reconstrução do parque industrial europeu dizimado. No bojo de um amplo pacto social, o projeto de reconstrução abria uma janela para o estudo de condições de trabalho, tendo como emblema a fábrica de automóveis Renault que, dadas suas características peculiares tornar-se-ia um modelo da nova política industrial francesa7 . Esta segunda vertente partiu da seguinte questão: como conceber adequadamente os novos postos de trabalho a partir do estudo da situação existente? Desta preocupação nasce em 1949 com Suzanne Pacaud, a análise da atividade em situação real, resgatada em 1955 por Obrendame & Faverge como análise do trabalho. Estes autores preconizavam que o projeto de um posto de trabalho deveria ser precedido por um estudo etnográfico da atividade e mostravam o distanciamento entre as suposições iniciais e o auferido nas análises. A proposta veio a ser formalizada somente em 1966 por Alain Wisner8 já como Análise Ergonômica do Trabalho (AET). 11 AS ERGONOMIAS CONTEMPORÂNEAS A década de 1970 marca a passagem definitiva da análise situada para o campo da ação com uma crescente integração da ergonomia na prática industrial, para o que, foi decisivo o mesmo ambiente que engendra o movimento pela gestão da qualidade. Surge em especial na Europa um conceito novo, a intervenção ergonômica, hoje expressão corrente nos EUA, Japão, França, Alemanha, Canadá, Suécia e Brasil, apenas para citar os países onde existe um maior avanço da ergonomia. As mudanças de paradigmas econômicos, no limiar dos anos 80, ampliaram este quadro fazendo brotar duas novas considerações que dão à ergonomia seu formato atual da ação ergonômica. A primeira delas nos Estados Unidos ePaíses Nórdicos, preconiza que os projetos de melhoria ergonômica são mais bem-sucedidos numa perspectiva maior e inseridas na estratégia organizacional, e que foi chamada a partir de 1990 de Macroergonomia (Brown Jr., 1990). A segunda nova vertente amplia este mesmo debate para o nível das contingências sociais e culturais, a que uma empresa está afeita no seu ambiente mediato e que foi cunhada por seu autor em 1974 de Antropotecnologia(Wisner, 1974, 1980). Examinemos, pois, estes três formatos da ação ergonômica contemporânea. Conceito O conceito de ergonomia é derivado das palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (lei ou regra). “Pode-se dizer que a ergonomia se aplica ao projeto de máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas, com o objetivo de melhorar a segurança, saúde, conforto e eficiência no trabalho” (DUL; WEERDMEESTER, 1995, p. 17). Muitos autores buscam conceituar a ergonomia como uma ciência associando-a a diversos enfoques. O termo ergonomia data de 1857, quando o polonês W. Jastrzebowski nomeou como título de uma de suas obras o “Esboço da Ergonomia ou Ciência do Trabalho baseada sobre as Verdadeiras Avaliações das Ciências da Natureza”. Oficialmente o termo Ergonomia foi adotado na Inglaterra em 1949, ano da fundação da Ergonomic Research Society - Sociedade de Pesquisa Ergonômica. Vejamos alguns conceitos: “Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamentos e ambiente, e particularmente, a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse relacionamento” (IIDA, 2005, p. 54). “Ergonomia é o conjunto dos conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos 12 que possam ser utilizados com o máximo de conforto, de segurança e de eficácia” (WISNER, 1987, p. 25). “Ergonomia é uma nova ciência que transcende a abordagem médica ortodoxa focada no indivíduo, para, com a coparticipação da psicologia, engenharia industrial, desenho industrial, etc., conceber, transformar ou adaptar o trabalho às características humanas” (GUIMARÃES, 1999, p. 43). “Ergonomia é o estudo do comportamento do homem no seu trabalho, convertendo-se o mesmo homem no sujeito-objeto, ou ainda, como o estudo das relações entre o homem no trabalho e seu ambiente” (KROEMER, 2005, p. 28). Há muitos outros autores que tratam desse tema e também vários outros modos de conceituar ergonomia, mas independentemente do autor, o enfoque desta ciência está no homem, no seu processo de trabalho para a eliminação de riscos e esforços, na constante busca da maximização do conforto e da eficiência do sistema. Para Kroemer (2005) as contribuições dos estudos ergonômicos auxiliam no ajuste das exigências do trabalho em relação do ajuste de carga física e mental, a concepção de máquinas, ferramentas ou instrumentos que ofereçam maior eficácia, precisão com segurança, buscando sempre adaptar o ambiente às necessidades do trabalhador. Intervenção ergonômica O conceito de intervenção ergonômica inicialmente desenvolvido pela escola francesa de Ergonomia (Wisner, 1974, Duraffourg et al. 1977; Guérin et al. 1991) é hoje uma forma internacional de atuação do profissional que trabalha com a ergonomia. A efetividade da ergonomia consiste no fato de resultar em transformações positivas no ambiente de trabalho (ambiente aqui tomado em seu sentido amplo, o que inclui a tecnologia e a organização como seus componentes). Segundo um consultor norte- americano contemporâneo (Burke, 1998), o trabalho de preparar um diagnóstico é irrelevante se este não criar mudanças positivas. Isto significa que a intervenção ergonômica é uma tecnologia da prática que objetiva modificar a situação de trabalho para torná-la mais adequada às pessoas que nela operam. Diferencia-se desta forma de estudos e análises de caráter apenas descritivo ou sem comprometimento de fato com as mudanças no trabalho, como a produção de laudos ou diagnósticos puramente acadêmicos. O que caracteriza uma intervenção ergonômica é a construção que vai viabilizar a mudança necessária, e que possa inserir os resultados da ergonomia nas crenças e valores das organizações que as demandam e recebem os seus resultados. Esta 13 construção divide a intervenção e se realiza em distintas etapas: a instrução da demanda, a análise da atividade e dos riscos ergonômicos, a concepção de soluções ergonômicas e a implementação ergonômica (figura 1). Figura 3 : Esquema de uma intervenção ergonômica (Vidal, 1999) A instrução da demanda compreende todo o encaminhamento contratual da intervenção, o que passa pelo ajuste e foco do problema, identificação do processo de tomada de decisão na organização, levantamento dos recursos humanos para formar a consultoria interna, e determinação das formas de apresentação de resultados. A análise da atividade e dos riscos ergonômicos consiste no conjunto de coletas de dados e informações que permitem ao ergonomista realizar as modelagens necessárias para prover mudanças no ambiente de trabalho. Por risco ergonômico entenderemos a condição ou a prática que traga obstáculos à produtividade, que desafie a boa qualidade ou que traga prejuízos ao conforto, segurança e bem-estar do trabalhador. A etapa de concepção de soluções ergonômicas varia de acordo com a natureza do problema e da forma com a demanda foi instruída e ainda dos resultados da fase anterior. A implementação ergonômica se constitui na fase final de uma intervenção. Os trabalhos em ergonomia têm uma dupla vertente: cientifica e prática. Os resultados práticos se traduzem nas mudanças implantadas nas organizações onde as intervenções são realizadas. Do ponto de vista científico os resultados das intervenções ergonômicas vão interagir nos diversos campos e áreas do conhecimento. Numa intervenção em uma agência de notícias (Pavard et al.,1980), a finalidade era realizar um rearranjo das instalações para torná-la compatível com os procedimentos de editoração eletrônica em redes e da estrutura dinâmica de uma grande redação de jornal. O resultado da intervenção foi efetivamente um rearranjo, porém o estudo no qual 14 se baseou permitiu uma discussão conceitual em arquitetura (Dejean, 1981), teórica em psicolinguística (Pavard, 1982) e mesmo metodológica em ergonomia (Guérin et al.,1981). A ergonomia é uma disciplina para a ação sobre o real, e, como tal, se expressa de forma especialmente pertinente para os projetos de mudanças na tecnologia física e de gestão. Os desdobramentos de uma intervenção ergonômica, no âmbito científico e tecnológico podem ser muitos, mas o que confere a uma ação no ambiente de trabalho, o caráter de intervenção ergonômica é o resultado materializado num projeto implantado de mudanças para melhor. Assim, uma intervenção cujo resultado aparentemente pífio seja a redefinição de especificações da compra de mobiliário (Santos e Palmer, 1992) é ergonômica na medida em que atinge um resultado em termos de boas modificações da situação de trabalho; inversamente, uma profunda reflexão detalhada e interessante sobre as dimensões psíquicas dos maquinistas ferroviários sem repercussões concretas (Moscovici, 1977) não caracteriza uma intervenção ergonômica. Antropometria A etimologia da palavra vem do grego e significa anthropos, homem, e, metron, medida, ou seja, forma de mensurar as medidas físicas do corpo humano ou de suas partes. Inicialmente parece ser uma tarefa muito simples, mas, se você considerar que cada indivíduo tem um biótipo específico para altura, peso, medida de mãos, dedos, braços, pernas, peito do pé, coxas, quadril, ombros, etc., então é preciso ter cuidado para dimensionar postos de trabalho, uniformes, calçados entre outros Equipamentos de Proteção Individual. As variações das medidas diferem entresexo, homens e mulheres; faixa etária entre crianças, jovens, adultos e idosos; etnia; genótipo; região climática, etc. Na figura 2 podemos observar algumas diferenças nas proporções corporais para diversas etnias. O homem americano branco e negro, o japonês e o brasileiro. Os movimentos migratórios fazem com que hábitos alimentares, locais de convívio, clima e culturas se mesclem gerando descendentes miscigenados, ou seja, mistura de etnias em decorrência de fatores externos. Figura 2: Proporções corporais típicas das etnias 15 Estas questões antropométricas reiteram que a ergonomia não trabalha com médias corporais, pois conforme o relato do autor uma máquina, layout ou posto de trabalho deve ser projetado e desenvolvido para cada indivíduo em particular, sob medida ou de forma personalizada para gerar conforto, segurança e bem-estar. Claro que para não se ter tanta especificidade a ergonomia busca o ajuste, a adaptação ou regulagem dos postos e do layout para que cada trabalhador faça as devidas adaptações do seu local de trabalho para as suas proporções físicas. As diferenças inter-individuais, dentro de uma mesma população foram apresentadas por William Sheldon (1836-1915), arquiteto americano, que realizou um minucioso estudo com estudantes americanos e acabou por definir três tipos físicos básicos, cada um com certas características bem específicas. Ectomorfo: tipo físico de formas alongadas. Tem corpo e membros longos e finos, com um mínimo de gorduras e músculos. Os ombros são mais largos, mas caídos. O pescoço é fino e comprido, o rosto é magro, queixo recuado e testa alta e abdômen estreito e fino. Mesomorfo: tipo físico musculoso, de formas angulosas. Apresenta cabeça cúbica, maciça, ombros e peitos largos e abdômen pequeno. Os membros são musculosos e fortes. Possui pouca gordura subcutânea. Endomorfo: tipo físico de formas arredondadas e macias, com grandes depósitos de gordura. Em sua forma extrema, têm características de uma pêra (estreita em cima e larga em baixo). O abdômen é grande e cheio e o tórax parece ser relativamente pequeno. Braços e pernas são curtos e flácidos. Os ombros e a cabeça são arredondados. Os ossos são pequenos. O corpo tem baixa densidade, podendo flutuar na água. A pele é macia. 16 Outra forma de análise antropométrica é pertinente à maneira de execução das tarefas. Iida (2005) apresenta a antropometria estática, dinâmica e funcional. Mas o que o autor quer dizer com estes termos? Que há um diferencial caso a pessoa tenha a sua atividade laborativa parada, em movimento e as relacionadas com a execução de tarefas específicas. Vamos detalhar. A antropometria estática se refere ao corpo parado ou com poucos movimentos onde as medições a serem feitas serão através de pontos anatômicos claramente identificados. Por exemplo, o comprimento entre ombro e cotovelo ou entre o quadril e joelho. A antropometria dinâmica mede os alcances dos movimentos. “Os movimentos de cada parte do corpo são medidos mantendo-se o resto do corpo estático” (IIDA, 2005, p. 110). O autor sugere como exemplo o alcance máximo das mãos com a pessoa sentada. Todos os autores sugerem que, quando necessário, se façam ajustes para acomodar os movimentos corporais. A antropometria funcional refere- se às medidas na execução de uma tarefa, como ao acionar uma manivela ao fechar uma comporta. Nesta situação a extensão do braço será acompanhada por uma inclinação do tronco para frente ou para o lado, sem estes movimentos integrados não há como executar a tarefa prescrita. Sempre que a adaptação não for possível entre as dimensões corporais e a realidade dos postos de trabalho a eficácia da tarefa estará comprometida. Muitas decorrências podem advir desta situação como: falhas, retrabalho, acidentes, desencadeamento ou agravamento de doenças ocupacionais, ou seja, custos que são acrescidos ao produto ou ao serviço, mas que não devem ser repassados ao consumidor/cliente/usuário. Para que ocorram as adaptações necessárias e se garanta um trabalho seguro e produtivo Iida (2005) comenta sobre cinco princípios para a aplicação das medidas antropométricas. São eles: Os projetos são dimensionados para a média da população: a ideia é ter um produto de uso coletivo para servir vários usuários/ clientes/consumidores, como um banco, uma altura de pia ou bancada de recepção. Já comentamos sobre a ergonomia não ser utilizada para uma média de pessoas e neste caso este banco ou bancada não será ótimo para todos. Haverá inconvenientes e dificuldades para a grande maioria das pessoas. Os projetos são dimensionados para um dos extremos da população: boa parte dos produtos industrializados é dimensionada para acomodar e satisfazer até 95% da população, muito em função de questões 17 econômicas. Aumentar ou reduzir o tamanho, tornar ajustável o produto implica em aumentar custos e nem sempre as indústrias se dispõe a isto. Os projetos são dimensionados para faixas da população: os produtos são fabricados em diversos tamanhos e números que vão desde o PP (muito pequeno) ao GG (extragrande), como também a numeração dos calçados que é muito variável se for calçado masculino (números maiores) ou femininos (numeração menor). Uma diversidade maior de tamanhos e numerações tornariam o produto no mercado, então as pessoas buscam se adaptar à numeração vigente. Você deve conhecer alguém que gostaria de comprar para o pé direto uma numeração e para o pé esquerdo outra; ou mesmo pessoas que sempre compram calçados com cadarço, pois o peito do pé direito é maior do que o esquerdo, ou vice-versa, e comprar um calçado não ajustável significa ter algum desconforto ao usar aquele produto. Os projetos que apresentam dimensões reguláveis: as dimensões variáveis não abrangem o produto como um todo, ou que ergonomicamente seria ideal, mas são ajustáveis algumas variáveis consideradas críticas para o desempenho: altura do assento, do apoio para braços e pés ou mesmo ângulo do encosto. Os projetos são adaptados ao indivíduo: aqui se encontra a ação ergonômica ideal, pois o produto projetado é feito especificamente para o indivíduo como uma roupa feita pelo alfaiate, uma cadeira de rodas específica para o cadeirante ou o cockpit de um carro de fórmula 1. Biomecânica A biomecânica ocupacional implica no estudo dos movimentos corporais e das forças relacionadas ao trabalho. Quando um operador de máquinas vai utilizar determinada ferramenta ou transportar algum material qual a postura adotada? Que músculos estão presentes nesta atividade? Este operador conhece as consequências de posturas inadequadas? Há possibilidade de ele desenvolver doenças ocupacionais ou mesmo se acidentar em função do estresse muscular? A ergonomia também está presente em todas estas situações e objetiva encontrar soluções para eliminar ou minimizar alguns distúrbios decorrentes de uma biomecânica ocupacional incorreta ou inadequada. Mas quais ações ergonômicas são cabíveis? As pausas, ajustes de 18 mobiliário, melhoria no layout, redução de jornada de trabalho, avaliação do biorritmo, melhorias na organização do trabalho, etc. Esta preocupação não é recente como possa parecer para alguns. Bernardino Ramazzini, médico italiano, considerado o “Pai da Medicina do Trabalho”, já realizava estudos sobre este tema desde 1700. Este estudioso analisou diversas categorias profissionais (mineiros, químicos, ferreiros, parteiras, coveiros, joalheiros) com o objetivo de sistematizar e classificar as doenças segundo a natureza e o grau de nexo com o trabalho. Ramazzini associou que certos movimentos violentos ou irregulares, bem como, o constante posicionamento inadequado da coluna ou de outras regiões do corpo levavam ao adoecimento de muitos artesões. Em alguns postos de trabalho não há como se ter uma posturaadequada, por exemplo, os trabalhadores que permanecem agachados, submersos ou em altura. É preciso redesenhar postos, ferramentas, equipamentos, melhorar posturas para a promoção da redução da fadiga, dores corporais, adoecimentos, acidentes com lesões permanentes ou afastamentos. Para Iida (2005, p. 165) existem três situações principais em que a má postura pode produzir consequências danosas: Trabalhos estáticos que envolvem uma postura parada por longos períodos. Trabalhos que exigem muita força. Trabalhos que exigem posturas desfavoráveis, como o tronco inclinado e torcido. (Grifo meu). Algumas posturas são básicas para todas as pessoas e para todas as profissões: posições sentada, deitada e em pé. Para cada uma destas posturas há o esforço de feixes musculares específicos para manter a posição do corpo na execução das tarefas laborativas. A permanência prolongada de uma determinada postura pode provocar dores localizadas naquele conjunto de músculos solicitados na manutenção da mesma. Permanecer muito tempo em pé pode levar a problemas de dores nos pés e pernas como varicose, varizes ou trombose. E sentar-se sem encosto compromete os músculos extensores do dorso, fazer rotações do corpo independente de estar sentado ou em pé com certeza levará a problemas de coluna em geral e utilizar ferramentas com pegas inadequadas decorre em problemas no antebraço. Mas também há posições quase inconscientes que causam transtornos para a saúde do trabalhador/operador, como por exemplo, a inclinação da cabeça em decorrência de um assento muito alto, ou de uma mesa muito baixa, ou de estar sentado 19 em uma cadeira distante do posto ou do painel, ou utilizar alguma ferramenta como microscópio ou lupa. Se o tempo de exposição for grande, as dores no pescoço, ombros, braços e até mesmo na coluna são inevitáveis. A fadiga muscular pode ser reduzida distribuindo-se o tempo de pausa durante a jornada de trabalho. Paradas curtas e mais frequentes são mais adequadas do que uma única parada longa. Outra situação muito comum para algumas atividades laborativas é o levantamento de peso ou carga. Para minimizar ou até eliminar os problemas decorrentes deste trabalho é preciso estabelecer condições favoráveis para sua realização, respeitando os princípios da fisiologia e da biomecânica que estabelecem alguns parâmetros de levantamento tolerável de carga máxima: na posição agachada é de 15 Kg; para a posição dobrada aumenta para 18Kg; e conforme a NR 17 – Ergonomia, todo o conteúdo referente ao item 17.2 se reporta ao levantamento, transporte e descarga individual de materiais de carga A ergonomia prescreve como ações preventivas a alternância de posturas e movimentos. As articulações devem buscar posições neutras, tanto quanto possível, como também, evitar curvar o corpo ou cabeça para frente, torcer tronco, evitar movimentos bruscos e, para o levantamento de carga, manter o objeto de trabalho o mais próximo possível ao corpo. Mãos e cotovelos devem sempre permanecer abaixo do nível dos ombros, mas se isso não for possível, em decorrência do posto inadequado, o tempo de exposição deve ser controlado e pausado. Análise dos postos de trabalho Ao longo do estudo sobre ergonomia analisamos diversas áreas e métodos que otimizem melhorias nos postos de trabalho. Mas qual o significado técnico deste termo tão utilizado em segurança do trabalho? Para Iida (2005, p. 17) a análise dos postos de trabalho: É o estudo de uma parte do sistema onde atua um trabalhador. A abordagem ergonômica ao nível do posto de trabalho faz a análise da tarefa, da postura e dos movimentos do trabalhador e das suas exigências físicas e cognitivas. Considerando um posto mais simples, onde o homem opera apenas uma máquina, a análise deve partir do estudo da interface homem-máquina- ambiente, ou seja, das interações que ocorrem entre o homem, a máquina e o ambiente. O mesmo autor ainda afirma que ao se analisar um posto de trabalho é possível se ter dois enfoques: o taylorista e o ergonômico. Frederick Winslow Taylor (1856 - 1915) engenheiro mecânico estadunidense, é considerado o “Pai da Administração Científica” 20 por propor a utilização de métodos científicos na administração de empresas. Seu foco está na eficiência e eficácia operacional na administração industrial através do controle de tempos e movimentos. Seu modelo de gestão prescreve a centralização do poder; a limitada mobilidade ou flexibilidade para mudanças no ambiente de trabalho; a baixa participação ou envolvimento dos trabalhadores nas decisões administrativas; valorização das normas, rotinas; a restrita comunicação entre as pessoas. Sua ênfase está na produtividade, na valorização da tecnologia e não nas pessoas. O enfoque ergonômico busca desenvolver postos de trabalho que reduzam as exigências biomecânicas e cognitivas, colocando o trabalhador/ operador em uma postura confortável e segura de trabalho. Para Iida (2005, p. 192): No enfoque ergonômico, as máquinas, equipamentos, ferramentas e materiais são adaptados às características do trabalho e capacidades do trabalhador, visando promover o equilíbrio biomecânico, reduzir as contrações estáticas da musculatura e o estresse geral. Assim, se pode garantir a satisfação e segurança do trabalhador e a produtividade do sistema. Procura-se também eliminar tarefas altamente repetitivas, principalmente aquelas de ciclo menores a 1,5 minuto. Fica claro que a diferença entre os enfoques está na valorização do potencial humano, na forma de execução das tarefas e nas implicações para a saúde ocupacional do trabalhador. Diferentes aspectos podem ser adotados para se avaliar um posto de trabalho que vão desde o tempo gasto na execução até o percentual de falhas, erros, incidentes e acidentes. A ergonomia busca priorizar a postura, o esforço, as tensões, as pausas. É bem verdade que todos os aspectos abordados em nosso estudo são relevantes, pois os fatores físicos ambientais, a organização do trabalho, os fatores cognitivos na execução das tarefas, o layout, a biomecânica, etc., todos devem estar presentes ao se fazer uma análise ergonômica, pois deve-se ter um “olhar” macro para que se possa contemplar a soma dos fatores que viabilizam um posto de trabalho ergonomicamente correto, e não apenas a altura de um monitor ou de uma cadeira. Ergonomia Cognitiva A ergonomia cognitiva é para Guimarães (2000, p. 4.3-1) uma área que “engloba os processos perceptivo, mental e de motricidade”. Pense agora o que você mais utiliza mentalmente para executar suas tarefas diárias: memória? Cálculos? Raciocínio lógico? Criatividade? Alguns destes aspectos mais que outros? Todos ao mesmo tempo? Qual é a carga mental que você precisa “gastar” para ser produtivo/competente? 21 Para Fonseca (1999, p. 43), “é o ato de conhecer ou de captar, integrar, elaborar e exprimir informação, para a resolução de problemas”. Está diretamente relacionada aos processos pelos quais um indivíduo percebe (input), elabora e comunica (output) a informação para se adaptar ao meio em que vive. O input está associado aos órgãos dos sentidos que captam os estímulos do meio externo. Esses estímulos de cores, sons, texturas, sabores, odores são processados sob a forma de informações no cérebro, através das percepções do indivíduo. O resultado final de processamento será observado pelos comportamentos, ações ou movimentos, aqui denominados de output. O raciocínio do ser humano pode ser comparado a um sistema aberto, flexível às mudanças ao longo de toda a sua vida. O conhecimento é obtido através do desenvolvimento das potencialidades ou aptidões inerentes a qualquer pessoa. O nível ou grau de conhecimento que um indivíduo apresenta denomina-se inteligência. Sendo assim, inteligência é o conjunto de habilidades para a resolução de problemas, ou, se preferir,a capacidade que uma pessoa tem de criar alternativas que visem alcançar seus objetivos. Para Abbad e Borges-Andrade (2004), a aprendizagem, para ser realizada, precede de três domínios pessoais e intransferíveis: cognitivo, afetivo e psicomotor: Domínio cognitivo: aborda a resolução de tarefas mediante aprendizagem escolar ou de treinamentos profissionais (princípio organizador). Domínio afetivo: está associado aos interesses, apreciações, atitudes, valores que estão presentes durante o ato de aprender, as relações emocionais pertinentes entre o aprendiz e a instrução ou conhecimento a ser assimilado (princípio de internalização). Domínio psicomotor: diz respeito às ações motoras ou musculares decorrentes da manipulação de objetos, ferramentas, instrumentos durante o processo de aprendizagem (princípio de automatização). Vamos imaginar um trabalhador que executa a tarefa de movimentação de cargas e mercadorias. Ele precisa montar um sistema de rotas de transporte, níveis de estoque, processar pedidos, ou seja, vai planejar geograficamente o aspecto espacial, o tempo, estratégias e custos operacionais. Todo este processo logístico exige domínios cognitivo, afetivo e psicomotor. A preocupação da ergonomia cognitiva está em saber se o trabalhador em questão executa com habilidade os três domínios ou se há uma deficiência em algum deles e claro, investigar qual é a mais comprometida para partindo desta análise oferecer uma capacitação mais específica para este trabalhador. Por 22 exemplo, o trabalhador compreende a tarefa a ser realizada, mas apresenta algum tipo de comprometimento motor, de lateralidade, de percepção visual, de atenção ou de concentração, de memória, ou ainda, tem dificuldade em se adequar a ferramentas, equipamentos de proteção e não simpatiza muito com a tarefa. Seu desempenho nesta situação está comprometido não somente na produtividade, mas também pode levar a algum acidente em função da carência de atenção, concentração, lateralidade ou outro comprometimento que o trabalhador possa ter. As empresas buscam profissionais competentes que saibam aplicar suas qualificações, transformando-as em resultados e ações valiosas. Estes são os chamados trabalhadores multifuncionais ou polivalentes, capazes de aprender, de se autoavaliar constantemente, de buscar novas soluções, resolver problemas complexos, assumir riscos e enfrentar desafios sem medo de errar. Além das qualificações técnicas e tecnológicas para a função, ainda devem guardar características de automotivação, com valores internos bem arraigados e uma aprendizagem flexível para toda a alteração que se faça necessária. É preciso que as empresas se estruturem para que haja mudanças e novas aprendizagens por meio da criação de programas de TD&E, ou seja, a importância de investirem financeiramente em programas de Treinamento, Desenvolvimento e Educação. O conhecimento é um processo, e como tal exige tempo, dedicação, motivação, investimentos, e, principalmente, a participação integrada de ações da diretoria, gestores e trabalhadores. Para os autores Abbad e Borges-Andrade (2004, p. 256) para que o desempenho seja eficaz, as pessoas precisam saber e fazer a tarefa de acordo com certo padrão de excelência. Para isso, precisam, obrigatoriamente, do suporte organizacional (máquinas, equipamentos, ferramentas), terem o domínio da tarefa através de treinamento oferecido pela empresa, como também do fator motivacional, relacionado à organização do trabalho (comunicação, relacionamento interpessoal, relações de poder harmoniosas). É fundamental um clima organizacional sinergético para que esses aspectos possam ocorrer. O conceito de desempenho compreende, além do conjunto de habilidades, conhecimentos, atitudes, capacidades, inteligência e experiências pessoais, componentes de saber fazer a motivação e as condições de trabalho. Isso implica criar condições pelas quais o trabalhador possa expressar sua subjetividade, suas características individuais e pessoais nos ambientes de trabalho. Dessa forma, os inputs e outputs precisam ser direcionados de acordo com as características de cada um e não de forma generalizada, pois cada trabalhador apresenta 23 uma característica particular de aprendizagem e de execução da tarefa a ele determinada. O conhecimento deve ser estimulado de forma contínua e sequencial, iniciando pelos elementos mais simples até alcançar os mais complexos. E sendo acompanhada pelos gestores, os quais devem apresentar características mediadoras, ou seja, ações gerenciais mais flexíveis, participativas, solidárias e empáticas, de tal forma que o processo de aprendizagem organizacional não se torne uma luta pelo poder ou elemento de obrigatoriedade por parte dos trabalhadores. Métodos/Ferramentas de Avaliação Ergonômica Desde a década de 70 vêm sendo desenvolvidos roteiros para execução de uma análise ergonômica, alguns dos quais se converteram em modelos e serviram de base para outras propostas metodológicas (LIMA, 2004). Wisner (1987) fez referência aos métodos como protocolos de avaliação das condições de trabalho. Para Iida (2005), o método é um procedimento para estabelecer a relação entre causa e efeito, sendo composto pelas etapas que vão da hipótese ao resultado. Na prática, a avaliação ergonômica do trabalho é realizada através de métodos/ferramentas e normas, que consideram um grupo de condições de trabalho e um foco específico, melhor definida por Másculo e Vidal (2011): “O método ergonômico consiste no uso de recursos dos campos de conhecimento que possibilitem averiguar, levantar, analisar e sistematizar o trabalho e suas condições, através de instrumentos qualitativos e quantitativos”. Essa definição é alinhada com o significado da palavra “método”, definindo-o como o conjunto dos meios dispostos convenientemente para alcançar um fim e chegar a um conhecimento científico (MICHAELIS, 2009). Essa definição embasará a classificação dos métodos para o desenvolvimento deste material; entretanto, é válida para este estudo e não representa um novo conceito. No intuito de contribuir para a fluidez, e ainda, respeitar as diferentes nomenclaturas, o termo ferramenta será utilizado como sinônimo de método de avaliação ergonômica. Nos quadros de 1 a 5 são apresentados os 24 métodos/ferramentas de avaliação ergonômica revisados neste material, e suas características fundamentais, classificados como métodos com base nas definições adotadas e agrupados por tipo de avaliação. 24 Quadro 1 - Métodos/ferramentas ergonômicas para avaliação de riscos posturais e posto de trabalho. Elaborado pelo autor a partir de múltiplas fontes (Continua) FERRAMENTAS PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS POSTURAIS E POSTO DE TRABALHO Método Definições Procedimentos Checklist de Couto São utilizados para avaliação de riscos para trabalhos manuais, DORT, lombalgias, trabalhos informatizados, condição ergonômica e condição biomecânica. Em observação ao checklist, percebe-se que a ferramenta permite uma avaliação simplificada do fator biomecânico no risco para distúrbios musculoesqueléticos de membros superiores relacionados ao trabalho. Neste checklist, as perguntas avaliam seis aspectos: sobrecarga física, força com as mãos, postura no trabalho, posto de trabalho e esforço estático, repetitividade e organização do trabalho e ferramenta de trabalho. Constitui-se de perguntas que são avaliadas percentualmente em intervalos, indicando resultados de péssimo – alto risco (abaixo de 31%) à excelente – ausência de risco (próximo a 100%) (SOARES; SILVA, 2012) Avaliação das condições ergonômicas em postos de trabalho e ambientes informatizados – Versão 2013. Este checklist avalia os aspectos relacionados à estação de trabalho, sistema de trabalho e ambiente. EWA, também chamado de FIOH O EWA (ErgonomicsWorkplace Analysis) é uma metodologia criada pelo Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional (FIOH) utilizada para identificar riscos ergonômicos do local de trabalho. Tem como base a fisiologia do trabalho, biomecânica ocupacional, aspectos psicológicos, higiene ocupacional e um modelo participativo de organização do trabalho (PACOLLA; SILVA, 2009). Avalia os seguintes aspectos: espaço de trabalho, atividade física geral, levantamento de cargas, posturas de trabalho e movimentos, risco de acidente, satisfação com o trabalho, restrições, comunicação entre trabalhadores, tomada de decisão, repetitividade, atenção, iluminação, temperatura ambiente e ruído. LUBA - Loading on the Upper Body Assessment Avalia cargas relacionadas à postura da parte superior do corpo (mão, braço, pescoço e costas), sendo a postura de uma parte do corpo classificada de acordo com os ângulos das articulações (ROMAN-LIU, 2014). Considera os índices de desconforto, expressos através de pontuação numérica, e o número máximo de movimentos em posturas estáticas, no intuito de avaliar estresse postural e atuar na prevenção de distúrbios osteomusculares (KEE; KARWOWSKI, 2001). OCRA Método desenvolvido pela Dra. Daniela Colombini e Dr. Enrico Occhipinti, na Clínica de Lavoro de Milão em 2000, que por meio de um checklist avalia e recomenda ações para prevenção de riscos decorrentes de esforços repetitivos. Também considera fatores mecânicos, ambientais e organizacionais que forneçam evidências da relação de causalidade com DORT (COLOMBINI; OCCHIPINTI, 2006). Também chamado de índice OCRA, baseia-se na relação entre Ações Reais Técnicas (ATA), obtidos por meio da análise de tarefas e ações de Referência Técnica (RTA). O valor RTA é obtido levando-se em conta a frequência e repetitividade de movimentos dos membros superiores, uso excessivo da força, tipo de postura inadequada ou falta de variação postural, períodos de recuperação insuficientes e fatores adicionais, tais como vibração e compressão do tecido localizado. O método OCRA fornece dois índices separados (ombro e cotovelo / pulso / mão) para cada um dos lados direito e esquerdo do corpo (CHIASSON, 2012). 25 Quadro 1 - Métodos/ferramentas ergonômicas para avaliação de riscos posturais e posto de trabalho (Continuação) FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO PARA RISCOS POSTURAIS E POSTO DE TRABALHO Método Definições Procedimentos OREGE Desenvolvido na França pelo INRS (Instituto Nacional de Pesquisa de Segurança), é um método de identificação e avaliação cujo objetivo é quantificar tensões biomecânicas representadas por forças, posturas constrangedoras e movimento repetitivo, sendo baseado na observação do operador, sua percepção das demandas e indicações. É realizada a partir da avaliação de força, vigor e repetitividade (APTEL, 2008). Para cada ação considerada, à força atribui-se um valor de 0 a 10 em uma ficha de avaliação, preenchidas uma pelo pesquisador e outra pelo operador, separadamente, sendo a avaliação realizada com base nas duas fichas. Para cada aspecto preocupante, o pesquisador observa os movimentos dos membros superiores do operador (pescoço, ombro, cotovelo e punhos), atribuindo valores de 1 (aceitável), 2 (não recomendado) e 3 (a evitar) para cada articulação, considerando a lateralidade, impressas em figuras que representam as pontuações e os respectivos ângulos. Já os movimentos repetitivos dos membros superiores são avaliados numa escala de 0 a 10, num período de tempo, duplamente e separadamente avaliados em fichas, cuja pontuação também é representada por figuras. OWAS - Ovako Working Posture Analysing System Foi desenvolvido na Finlândia entre 1974 e 1978, no intuito de analisar as posturas corporais durante as atividades no trabalho. Os dados para a aplicação desse método podem ser coletados através de observação direta (em campo) ou indireta (por vídeo), e as fases da atividade podem ser categorizadas em um código de seis dígitos. Após a categorização, o método calcula e classifica a carga de trabalho em quatro categorias, determinando ainda as medidas a serem adotadas (MÁSCULO; VIDAL, 2011). A partir de análises fotográficas, foram colecionadas 72 posturas típicas (dorso, braços e pernas e carga/força) que ocorrem em uma indústria pesada, sendo codificadas de 1 a 4, onde 1 é não patológico e 4 indica que providências imediatas devem ser tomadas. Também se considera a frequência e o tempo despendido em cada postura, a fim de avaliar o efeito resultante sobre o sistema musculoesquelético. QEC - Quick Exposure Check Baseia-se na postura, onde a combinação da avaliação do observador com respostas do trabalhador para questões fechadas, permite que os fatores de risco MSD para as costas, braços, pescoço e extremidades superiores a uma estação de trabalho sejam avaliados (CHIASSON, 2012). Avalia a postura, a força aplicada, a frequência, a duração, os movimentos e os fatores psicológicos relacionados à tarefa. É aplicado em duas etapas: 1) avaliação das posturas por meio de checklist, 2) questionário aplicado ao trabalhador. Os níveis de exposição são obtidos através do cruzamento das etapas. Questio- nário Bipolar O questionário bipolar de fadiga foi elaborado pelo médico Hudson Couto em 1995. Ele é composto por 3 questionários/etapas, sendo o primeiro aplicado no início da jornada, o segundo na hora de saída para o almoço e o terceiro no final da jornada (COSTA; SOUZA, 2014). A pontuação varia de 1 a 7, sendo 1 a esquerda e 7 à direita; quanto mais à direita, maior a fadiga. A análise dos questionários é realizada de forma qualitativa, observando: a fadiga acumulada (4 pontos ou mais em dor nos músculos do pescoço e ombros e dor nos braços, e continuidade das queixas durante a jornada) e o nível de fadiga (intensa quando 6 ou 7 em alguns itens). R.N.U.R / Renault Régie Nationale des Usines Renault R.N.U.R. ou job profile method (método de perfil de trabalho), com origem nos anos 50, Renault, França, onde especialistas procuravam soluções para definir de forma objetiva as variáveis que definem as condições de um posto de trabalho (CALLEJÓN-FERRE, 2009). Analisa oito fatores através de vinte e três critérios, pontuados em cinco níveis de satisfação (onde 1 é muito satisfatório e 5 é muito perigoso). 26 Quadro 1 - Métodos/ferramentas ergonômicas para avaliação de riscos posturais e posto de trabalho (Conclusão) FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO PARA RISCOS POSTURAIS E POSTO DE TRABALHO Método Definições Procedimentos REBA É derivado dos métodos de avaliação postural RULA e OWAS (CARDOSO JR, 2006). Estabelece uma tabela relacionada ao Fator de “Pega”, onde são estabelecidos cinco níveis de ação (ao invés dos quatro propostos no RULA). Avalia o nível do risco, de muito baixo a muito alto e indica a ação da investigação, de não necessária à necessária e urgente. É uma ferramenta de análise de posturas de corpo inteiro desenvolvido para avaliar posturas de trabalho imprevisíveis (GUIMARÃES, 2004). ROSA – Rapid Office Strains Assessment Foi criado com base nas posturas descritas nas orientações da CSA (Canadian Standarts Association) e da CCOHS (Centro Canadense de Saúde Ocupacional e Segurança), onde especialistas chegaram a um consenso sobre a configuração da estação de trabalho adequada (SONNE et al., 2012). Os fatores de risco no uso do computador foram identificados, diagramados e agrupados nas seguintes áreas: cadeira, monitores, telefone, teclado e mouse. Uma pontuação foi atribuída, variando de 1 a 10 (quanto maior a pontuação, maior o desconforto). Em testes realizados por Sonne et al. (2012), este método provou ser eficaz e confiável para a identificação de fatores de desconforto no uso do computador. RULA - Rapid Upper Limb Assessment Método de observação rápida para análise postural, desenvolvidopelos Prof. McAtammey e Corlett, da Universidade de Ohio, para investigações ergonômicas de postos de trabalho onde é possível desenvolver lesões por esforços repetitivos em membros superiores (DOCKRELL, 2012). Na prática, utiliza-se de figuras de diferentes posturas corporais, que recebem um valor numérico que indica o grau de intervenção necessário. Essa pontuação vai de 1 a 7, com níveis de ação de 1 a 4, onde o nível 1 é postura aceitável, e 4 sugere mudanças imediatas. O RULA baseia-se na metodologia OWAS, onde as posturas adotadas são representadas através de escores, que associados a critérios biomecânicos e de função muscular classificam a postura de acordo com a carga (BARROS et al., 2014). Suzzane Rodgers Quantificação numérica, com pontuação indicativa de risco da ocorrência de LER/DORT, para os diversos seguimentos corpóreos, como os punhos, pescoço, ombros, cotovelos, tronco, mãos e membros inferiores (GUIMARÃES, 2004). Avalia o nível de esforço em baixo (1), moderado (2) e pesado (3); o tempo de esforço de 0 a 6 segundos (1), 6 a 20 (2), 20 a 30 (3) e maior que 30 (4); e o número de esforços por minuto de 0 a 1 minuto (1), 1 a 5 minutos (2), 5 a 15 minutos (3) e maior que 15 minutos (4). Essa avaliação contempla os segmentos do pescoço, ombros, tronco, braços, punho, mão e dedos, pernas, joelhos, tornozelos, pés e dedos. ERGO/ IBV Desenvolvido pelo Instituto de Biomecânica de Valência – Espanha, avalia os riscos laborais associados à carga física (COSTA, 2011). Classifica os riscos laborais associados à carga física em quatro níveis, de ergonomicamente aceitável (nível 1) à prioridade de investigação (nível 4) (COSTA, 2011). Permite analisar tarefas repetitivas dos membros superiores com ciclos de trabalho claramente definidos, a fim de avaliar o risco de lesão musculoesquelética (INSHT, 2009). Fonte: Elaborado pelo autor a partir de múltiplas fontes 27 Quadro 2- Métodos/ferramentas ergonômicas para avaliação de carga física (continua) FERRAMENTAS PARA AVALIAÇÃO DA CARGA FÍSICA Método Definições Procedimentos NIOSH - Método que avalia a carga levantada O NIOSH considera: National pelos trabalhadores sem causar lesões, LPR: Limite de Peso Recomendado, ou seja, o Institute of foi concebido em 1981, e revisado ao peso da carga suportada por trabalhadores sadios Occupa- longo dos anos, tornando-se uma num período de tempo, sob determinadas tional Safety equação que fornece métodos para a condições, sem aumentar o risco de lombalgia. and Health avaliação de tarefas de levantamento Sua fórmula considera a distância horizontal entre assimétrico de cargas e levantamento de o indivíduo e a carga, a distância vertical entre objetos com pegas não ideias com ambos, o deslocamento, o ângulo de assimetria, a ambas as mãos (ERGO, 2006). frequência média de levantamentos e a qualidade da pega. IL: Índice de Levantamento, fornece uma estimativa do nível de estresse físico em levantamento manual; Terminologia e Definições de Dados: Define os parâmetros do levantamento, peso da carga, distância horizontal, altura vertical, altura vertical percorrida, ângulo de assimetria, posição do corpo, frequência e duração do levantamento, classificação da pega e controle motor significativo. INSHT (Inst. É um método de avaliação de riscos na Considera severidade do dano (ligeiramente Nac. MMC (Manipulação Manual de Cargas) prejudicial, prejudicial, extremamente prejudicial) Seguridad (CCOO, 2015). e a probabilidade de ocorrência do dano (alta, Higiene em média, baixa). Entretanto, por ser de el Trabajo aplicabilidade individual e subjetiva, recomenda- se combinar os resultados técnicos com as condições de trabalho e a opinião dos trabalhadores. JSI – JOB O método JSI, também conhecido como Utiliza como parâmetros a intensidade, duração e STRAIN critério semi-quantitativo, criado em 1995 frequência do esforço, postura, ritmo e duração do INDEX ou SI por Moore & Garg, quantifica a exposição trabalho e avalia o índice de sobrecarga para os ou a fatores de risco MSD (desordens membros superiores, sendo baseado no campo MOORE musculoesqueléticas) para as mãos e da fisiologia, biomecânica e epidemiologia, e vem AND GARG pulsos, fornecendo um índice que leva sendo amplamente aplicado na indústria. Vários em conta o nível de percepção de estudos validam a ferramenta, em termos de esforço, tempo de esforço como uma conteúdo relevante e consistente, validade percentagem do tempo de ciclo, número preditiva (identifica corretamente um perigo), e de esforços, mão e postura de pulso, validade externa (eficaz em diferentes cenários) velocidade de trabalho e tempo de (CABEÇAS, 2007). deslocamento (CHIASSON, 2012). É um aprimoramento do método de Rodgers, feita com base em vídeos. Se propõe a avaliar mãos e pulso. Sugere a avaliação de 6 fatores, dividindo-a em hemicorpo direito e esquerdo (GUIMARÃES, 2004). 28 Quadro 2- Métodos/ferramentas ergonômicas para avaliação de carga física (Conclusão) FERRAMENTAS PARA AVALIAÇÃO DA CARGA FÍSICA Método Definições Procedimentos KIM – Key Indicator Method É utilizado para avaliar tarefas que envolvem operações de movimentação manual (DOUWES, KRAKER, 2014). Segundo o ETUI - Instituto Sindical Europeu (2014), duas ferramentas KIM foram desenvolvidas para a avaliação dos riscos no caso de tarefas de: levantar, manter, colocar; e empurrar ou puxar uma carga. Considera o número de levantamentos ou transporte de carga por dia de trabalho, a sua duração total no dia (