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<p>AULA 6</p><p>AUDITORIA CONTÁBIL</p><p>Prof. Luiz Jenkins</p><p>2</p><p>TEMA 1 – A FORMAÇÃO DA OPINIÃO NA AUDITORIA</p><p>Os trabalhos de auditoria não se resumem apenas a apresentar uma</p><p>opinião final acerca da adequação das demonstrações contábeis de uma</p><p>organização em termos de sua correta apresentação e respeitabilidade aos</p><p>princípios contábeis geralmente aceitos no Brasil.</p><p>É importante destacar que existem diversas formas de o auditor expressar</p><p>a sua opinião por meio dos relatórios de asseguração e, consequentemente,</p><p>essas formas de expressão estão diretamente relacionadas aos diversos tipos</p><p>de atividade que o auditor poderá executar nos diversos tipos societários</p><p>existentes, por conta de determinações legais expressas para que utilize uma</p><p>abordagem mais complexa ou menos complexa.</p><p>Esta etapa se propõe a apresentar ao aluno as diferenças básicas</p><p>existentes entre a utilização de um trabalho de auditoria de asseguração</p><p>razoável, e um de auditoria limitada ou de procedimentos previamente</p><p>acordados.</p><p>1.1 Estrutura padrão do Relatório de Auditoria Independente</p><p>No relatório de auditoria independente, ou relatório de asseguração,</p><p>consta a opinião dos auditores em relação ao objeto auditado ou ao escopo</p><p>estabelecido para a condução do trabalho de asseguração, dispondo de alguns</p><p>elementos básicos, que são:</p><p>• Título;</p><p>• Destinatário;</p><p>• Parágrafo introdutório:</p><p>o Identificação da entidade cujas demonstrações contábeis foram</p><p>auditadas;</p><p>o Afirmação de que as demonstrações contábeis foram auditadas;</p><p>o Identificação dos títulos de cada demonstração que compõe as</p><p>demonstrações contábeis;</p><p>o Referenciação quanto ao resumo das principais práticas contábeis</p><p>e demais notas explicativas;</p><p>o Especificação da data ou do período de cada demonstração que</p><p>compõe as demonstrações contábeis;</p><p>• Responsabilidade da administração sobre as demonstrações contábeis;</p><p>3</p><p>• Responsabilidade do auditor;</p><p>• Opinião do auditor;</p><p>• Assinatura;</p><p>• Data.</p><p>Os elementos pré-textuais (título e destinatário) auxiliam o leitor ou</p><p>usuário das informações a identificar sob qual tipo de trabalho e para quem o</p><p>documento é direcionado internamente na organização auditada.</p><p>Os relatórios devem ser geralmente direcionados para a Alta Gestão</p><p>organizacional, ou seja, para aqueles que têm o poder decisório e sobre os quais</p><p>reside a responsabilidade institucional. Por mais que os principais interlocutores</p><p>da auditoria externa nas empresas sejam a equipe do departamento de</p><p>contabilidade, os relatórios não devem ser direcionados a diretores ou gerentes</p><p>de contabilidade, de controladoria ou financeiro, mas sim à presidência, ao</p><p>conselho de administração ou ao comitê de auditoria da organização.</p><p>O parágrafo introdutório contém, entre outras informações, a identificação</p><p>da entidade cujas demonstrações contábeis foram auditadas, a afirmação de</p><p>que as demonstrações contábeis foram efetivamente auditadas, a identificação</p><p>dos títulos de cada demonstração que compõe as demonstrações contábeis</p><p>(cada uma das peças contábeis), a referenciação quanto ao resumo das</p><p>principais práticas contábeis e demais notas explicativas e a especificação da</p><p>data ou o período de cada demonstração que compõe as demonstrações</p><p>contábeis.</p><p>Está disposta no relatório de asseguração também a responsabilidade da</p><p>administração sobre as demonstrações contábeis, bem como a responsabilidade</p><p>a cargo do auditor. A seguir, o auditor expressa sua opinião acerca do trabalho</p><p>executado, podendo a mesma ser: sem ressalva, com ressalva, adversa ou com</p><p>abstenção de opinião, em razão das evidências colhidas. Os elementos pós-</p><p>textuais são a assinatura e a data de entrega do relatório.</p><p>1.2 Observações do auditor independente quanto à estrutura das</p><p>demonstrações financeiras</p><p>A NBC TA 700 (Brasil, 2016) destaca em seu parágrafo 13 que o auditor</p><p>deverá avaliar se alguns requisitos da estrutura das demonstrações contábeis</p><p>foram adotados para fins de sua divulgação. São eles:</p><p>4</p><p>• As demonstrações contábeis divulgam apropriadamente as principais</p><p>políticas contábeis selecionadas e aplicadas. Ao realizar essa avaliação, o</p><p>auditor deve considerar a relevância das políticas contábeis para a</p><p>entidade e se elas foram elaboradas de forma compreensível;</p><p>• As políticas contábeis selecionadas e aplicadas são consistentes com a</p><p>estrutura de relatório financeiro aplicável e se são apropriadas;</p><p>• As estimativas contábeis feitas pela administração são razoáveis;</p><p>• As estimativas contábeis e divulgações relacionadas feitas pela</p><p>administração são razoáveis;</p><p>• As informações apresentadas nas demonstrações contábeis são</p><p>relevantes, confiáveis, comparáveis e compreensíveis. Ao realizar essa</p><p>avaliação, o auditor deve considerar se as informações que deveriam ter</p><p>sido incluídas foram incluídas e se essas informações estão</p><p>adequadamente classificadas, individualmente ou em conjunto, e</p><p>caracterizadas; se a apresentação geral das demonstrações contábeis foi</p><p>prejudicada pela inclusão de informações que não são relevantes ou que</p><p>obscurecem o devido entendimento dos assuntos divulgados;</p><p>• As demonstrações contábeis fornecem divulgações adequadas para</p><p>permitir que os usuários previstos entendam o efeito de transações e</p><p>eventos relevantes sobre as informações incluídas nas demonstrações</p><p>contábeis;</p><p>• A terminologia utilizada nas demonstrações contábeis, incluindo o título</p><p>de cada demonstração contábil, é apropriada.</p><p>Observa-se a importância do conhecimento e divulgação das políticas</p><p>contábeis adotadas pela empresa auditada, pois os critérios utilizados para</p><p>mensuração de valores de ativos e passivos, dos critérios aplicados para</p><p>reconhecimento e registro tempestivos de bens e dos direitos e obrigações</p><p>revelam a possibilidade de a empresa estar exposta a riscos por conta de</p><p>critérios e escolhas contábeis utilizados.</p><p>A norma aplicada à opinião do auditor independente também revela a</p><p>importância da avaliação realizada sobre as estimativas contábeis realizadas</p><p>pelo cliente, tendo em vista que, em diversas situações, não existem ainda</p><p>documentos que suportem os registros contábeis pelo seu real valor de</p><p>realização.</p><p>5</p><p>Também não existe ainda uma evidência plena de que o fato que</p><p>ocasionou a estimativa irá realmente se concretizar. Aí reside o desafio da</p><p>mensuração e registro das estimativas contábeis.</p><p>A avaliação da estrutura de divulgação leva em conta ainda a observação</p><p>por parte dos auditores independentes acerca da nomenclatura e classificação</p><p>das contas contábeis para fins de apresentação. Por se tratar de um item com</p><p>características qualitativas e quantitativas, quando da realização dos</p><p>procedimentos de auditoria, o auditor deverá observar se as informações</p><p>apresentadas pelo cliente auditado são relevantes, confiáveis, comparáveis e</p><p>compreensíveis.</p><p>A relevância está relacionada à materialidade e à importância da conta</p><p>contábil em razão da sua natureza. A confiabilidade está relacionada ao aspecto</p><p>de integridade das informações preparadas e divulgadas pela empresa. A</p><p>comparabilidade é o aspecto que permite que as informações prestadas auxiliem</p><p>o processo de avaliação da situação patrimonial e econômica da organização</p><p>em relação a concorrentes ou a outras empresas de setores distintos, auxiliando</p><p>ainda no processo de tomada de decisão. A comparabilidade permite, também, a</p><p>realização de uma avaliação em relação a períodos anteriores, se a situação</p><p>patrimonial melhorou ou piorou em comparação a outros exercícios. A</p><p>compreensibilidade permite que o público em geral tenha o entendimento do que</p><p>está sendo apresentado, não apenas os usuários que atuam especificamente na</p><p>área financeira.</p><p>TEMA 2 – AS MODIFICAÇÕES NA OPINIÃO DO AUDITOR INDEPENDENTE</p><p>As opiniões modificadas são aquelas que apresentam um posicionamento</p><p>diferente da opinião sem ressalva. Elas se classificam em opiniões com</p><p>ressalva, opinião</p><p>adversa e abstenção de opinião.</p><p>As limitações impostas ao trabalho do auditor e a restrição de acesso a</p><p>informações relevantes que afetam as demonstrações contábeis são</p><p>justificativas a serem consideradas pelas equipes de auditoria a fim de</p><p>determinar a modificação da opinião de asseguração nas demonstrações</p><p>contábeis. A NBC TA 705 (Brasil, 2016) discorre sobre as situações em que o</p><p>auditor deverá emitir uma opinião modificada.</p><p>6</p><p>2.1 Opinião com ressalva</p><p>A opinião com ressalva ocorre quando o auditor conclui que as distorções</p><p>identificadas, de modo individual ou em conjunto, nas demonstrações contábeis</p><p>auditadas são relevantes a ponto de não permitir a emissão de uma opinião sem</p><p>ressalva. Em resumo, os erros são significativos a ponto de serem divulgados,</p><p>mas não desqualificam as demonstrações contábeis em termos de sua</p><p>apresentação e representatividade. Neste sentido, o auditor conclui que as</p><p>distorções identificadas, apesar de relevantes, não são generalizadas, mas</p><p>acontecem em grupos contábeis específicos.</p><p>2.2 Opinião adversa</p><p>A opinião de auditoria adversa ocorre quando o auditor, em função dos</p><p>procedimentos de auditoria executados, conclui que as distorções identificadas</p><p>são relevantes e se apresentam de forma generalizada por todo o conjunto das</p><p>demonstrações contábeis. Portanto, basicamente o que difere a opinião com</p><p>ressalva da adversa é a percepção das distorções em diversas partes do</p><p>conjunto das demonstrações contábeis, e não apenas em algumas áreas</p><p>específicas.</p><p>2.3 Abstenção de opinião</p><p>O auditor deve renunciar a emissão de uma opinião quando, diante da</p><p>situação verificada junto ao cliente, não é possível obter evidências de que as</p><p>transações de fato refletem a posição patrimonial da entidade.</p><p>Conforme disposto na Norma Brasileira de Contabilidade Técnica de</p><p>Auditoria 705 (NBC TA 705), o auditor deve identificar as incertezas verificadas</p><p>relevantes e analisar se é possível emitir uma opinião de auditoria acerca das</p><p>demonstrações contábeis, verificando se essas incertezas ocorrem de forma</p><p>generalizada, não sendo algo específico e pontual em relação a determinado</p><p>grupo contábil, mas sim aplicável ao conjunto das demonstrações contábeis.</p><p>7</p><p>TEMA 3 – INTRODUÇÃO AO RELATÓRIO-COMENTÁRIO</p><p>O relatório-comentário é um documento apresentado à parte do parecer</p><p>ou relatório de asseguração, não sendo obrigatório quando da contratação dos</p><p>serviços de auditoria. A sua função é agregar valor e apresentar algo a mais por</p><p>parte dos auditores independentes. Em algumas firmas de auditoria, são</p><p>também denominados de relatórios de recomendações, relatórios sobre</p><p>controles internos ou comentários sobre controles internos.</p><p>Os relatórios-comentário não possuem uma estrutura fixa e normatizada</p><p>como o relatório de asseguração, que dispõe de normas de contabilidade</p><p>específicas sobre a sua forma de apresentação. Os relatórios-comentário podem</p><p>ser apresentados antes da entrega do relatório de asseguração, em etapa</p><p>preliminar do trabalho de auditoria, ou em conjunto com o relatório de</p><p>asseguração.</p><p>Em que pese a individualidade das firmas de auditoria na construção dos</p><p>relatórios-comentário, esses documentos geralmente apresentam em sua</p><p>estrutura três elementos fundamentais:</p><p>• Situação identificada (ou constatação);</p><p>• Impactos (ou consequências);</p><p>• Sugestões de melhoria (ou recomendação).</p><p>3.1 Situação identificada (ou constatação)</p><p>Neste item, o auditor faz uma breve descrição da situação observada,</p><p>com base na aplicação dos procedimentos de auditoria (indagação, observação,</p><p>confirmação, diligência, avaliação, recálculo, entre outros), em que relata as</p><p>deficiências observadas e que podem impactar significativamente as</p><p>demonstrações contábeis, em função dos riscos inerentes e residuais que</p><p>podem afetar a organização, em que os controles internos apresentados não são</p><p>suficientes para minimizar o impacto desses riscos.</p><p>3.2 Impactos (ou consequências)</p><p>A fim de agregar valor à organização auditada, não basta ao auditor</p><p>apenas apontar falhas ou inconsistências. Cabe a esse profissional, com base</p><p>em sua experiência em outras auditorias realizadas e no seu senso crítico,</p><p>8</p><p>apresentar os potenciais impactos que podem afetar a organização por conta da</p><p>exposição a situações de risco identificadas. A experiência vivenciada em outras</p><p>organizações, sejam elas de setores similares ou mesmo setores distintos em</p><p>relação à organização auditada, é de grande valia para que a organização se</p><p>mobilize para corrigir os problemas identificados.</p><p>3.3 Sugestões de melhoria (ou recomendações)</p><p>Após apontar os riscos aos quais a organização encontra-se exposta e</p><p>avaliar a magnitude destes para as demonstrações contábeis do cliente, os</p><p>auditores deverão apresentar sugestões de melhoria ou ferramentas de</p><p>controles internos que devem ser implementadas pela organização para suavizar</p><p>ou eliminar os impactos decorrentes das fragilidades observadas nos processos</p><p>e atividades.</p><p>TEMA 4 – O PARECER DO AUDITOR INDEPENDENTE DAS</p><p>DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS</p><p>O parecer se apresenta como o ápice do trabalho de asseguração, o seu</p><p>desfecho, a conclusão dos trabalhos, na qual o auditor sintetiza todo o conjunto</p><p>de procedimentos que foram executados no decorrer do processo de auditoria.</p><p>Dada a sua importância, possui tratamento específico em termos de</p><p>normatização e padronização quanto à estruturação e à apresentação. A seguir,</p><p>são apresentados os tipos de opinião em função das situações identificadas na</p><p>condução dos trabalhos de auditoria.</p><p>4.1 O parecer aplicado ao trabalho de asseguração razoável</p><p>Os trabalhos de asseguração razoável são os projetos de auditoria</p><p>realizados em relação às empresas que, por força normativa, necessitam</p><p>apresentar suas demonstrações contábeis devidamente analisadas por auditores</p><p>independentes. Classificam-se nesta categoria, entre outras empresas, as</p><p>entidades organizadas na forma de sociedades por ações de capital aberto e as</p><p>de capital fechado, além das instituições financeiras e suas equiparadas.</p><p>9</p><p>Conforme disposto na NBC TA Estrutura Conceitual, o trabalho de</p><p>asseguração razoável visa reduzir o risco do trabalho de asseguração razoável a</p><p>um nível aceitavelmente baixo nas circunstâncias do trabalho, como base para</p><p>forma positiva de expressão da conclusão do auditor independente (item 11).</p><p>Na abordagem de asseguração razoável, os trabalhos são realizados</p><p>tomando por base estrita e rigorosamente as normas e procedimentos de</p><p>contabilidade e auditoria. Nos trabalhos de asseguração razoável, o auditor</p><p>independente expressa a conclusão de forma positiva, por exemplo: “Em nossa</p><p>opinião, os controles internos são eficazes, em todos os aspectos relevantes, de</p><p>acordo com os critérios XYZ”. Essa forma de expressão conduz à “asseguração</p><p>razoável”. Os trabalhos de asseguração razoável se caracterizam pelo volume e</p><p>extensão dos exames de auditoria aplicados pelos auditores independentes,</p><p>além da obrigatoriedade de emissão de um parecer ou opinião independente.</p><p>A avaliação do ambiente de controle interno é uma premissa imperativa,</p><p>sendo executada em todo trabalho dessa natureza, avaliando riscos e controles</p><p>existentes nas empresas auditadas e emitindo uma opinião acerca da qualidade</p><p>dos controles internos. Existem também procedimentos que, cumpre-se</p><p>ressaltar, não podem deixar de ser realizados (são mandatórios), entre os quais</p><p>o acompanhamento do inventário físico e a realização de procedimentos de</p><p>confirmação de saldos e informações junto a terceiros, denominados de</p><p>procedimento de circularização.</p><p>Além disso, são realizados procedimentos de auditoria denominados de</p><p>testes de liquidação subsequente, nos quais os auditores verificam se passivos a</p><p>pagar registrados até a data base da auditoria foram liquidados no exercício</p><p>posterior a testes de verificação documental (também</p><p>conhecidos como testes</p><p>de “voucher”) para fins de evidenciação da opinião a ser elaborada pelo auditor</p><p>independente, nas análises realizadas em cada grupo de contas contábeis</p><p>auditadas.</p><p>O trabalho de asseguração razoável é conceitualmente estabelecido</p><p>como sendo</p><p>[o] trabalho de asseguração no qual o auditor independente reduz o</p><p>risco do trabalho para um nível aceitavelmente baixo nas</p><p>circunstâncias do trabalho como base para a sua conclusão. A</p><p>conclusão do auditor independente é emitida de forma que o possibilite</p><p>expressar sua opinião sobre o resultado da mensuração ou avaliação</p><p>de determinado objeto de acordo com os critérios aplicáveis.</p><p>10</p><p>4.2 O parecer aplicado ao trabalho de asseguração limitada</p><p>Em trabalhos de auditoria, na modalidade de asseguração limitada, o</p><p>auditor independente expressa a conclusão de forma negativa, por exemplo:</p><p>Com base em nosso trabalho, descrito neste relatório, não temos</p><p>conhecimento de nenhum fato que nos leve a acreditar que os</p><p>controles internos não são eficazes, em todos os aspectos relevantes,</p><p>de acordo com os critérios XYZ.</p><p>Trabalhos dessa natureza levam a um nível de “asseguração limitada”, o</p><p>qual é proporcional ao nível dos procedimentos aplicados a fim de se obter</p><p>evidência por parte dos auditores independentes, em função do escopo do</p><p>trabalho, das características do objeto e da organização auditada, além de</p><p>outras circunstâncias do trabalho estabelecidas no relatório de opinião do</p><p>auditor.</p><p>Os trabalhos de revisão limitada ou asseguração limitada consistem em</p><p>examinar as demonstrações financeiras da organização de forma global ou</p><p>analítica, buscando obter uma segurança razoável para emissão da sua opinião</p><p>em relação às demonstrações financeiras e à situação patrimonial da empresa.</p><p>Os principais fatores que levam as empresas a buscarem um trabalho de</p><p>auditoria com abordagem de revisão limitada, em contrapartida a um trabalho</p><p>mais complexo, como o de asseguração razoável, são: a não obrigatoriedade de</p><p>realização de uma auditoria completa, por conta da sua forma de organização</p><p>societária; o custo de uma auditoria completa; a estrutura organizacional e</p><p>complexidade da empresa; e a tempestividade na realização do trabalho.</p><p>As empresas organizadas na forma de sociedades limitadas não possuem</p><p>a obrigatoriedade de terem suas demonstrações financeiras auditadas (Lei n.</p><p>6.404/76, art. 177, parágrafo 3º), o que leva muitos administradores a optarem</p><p>por procedimentos mais simplificados de obtenção de opinião independente</p><p>acerca de suas demonstrações contábeis.</p><p>Os gastos a serem alocados com processos mais complexos de auditoria</p><p>também levam as organizações a optarem por processos mais simples de</p><p>auditoria independente, como as revisões limitadas. É sabido que o mercado de</p><p>auditoria no Brasil e no mundo em geral é dominado e praticamente restrito às</p><p>firmas multinacionais de contabilidade e auditoria, conhecidas como “Big Four”</p><p>(PwC, Deloitte, KPMG e E&Y), sobrando pouco espaço para outras</p><p>organizações internacionais ou firmas locais competirem neste mercado.</p><p>11</p><p>Dessa forma, os preços da taxa-hora dos serviços, por conta da baixa</p><p>concorrência, tornam-se relativamente elevados quando comparados a outros</p><p>tipos de serviços relacionados à área de finanças empresariais, fazendo com</p><p>que os administradores optem por procedimentos mais simplificados, que</p><p>resultarão em menor volume de horas e consequente redução dos honorários a</p><p>pagar.</p><p>Outro fator que merece destaque é que empresas que dispõem de</p><p>estrutura operacional menos complexa optam por realizar procedimentos mais</p><p>simplificados para fins de emissão de opiniões sobre suas demonstrações, já</p><p>que reconhecem não dispor de recursos materiais e humanos para a realização</p><p>de uma auditoria de forma mais completa.</p><p>Além disso, existem empresas que optam por realizar trabalhos de</p><p>auditoria fora dos prazos estabelecidos para a divulgação de suas</p><p>demonstrações contábeis, ou ainda dispõem de um curto espaço de tempo para</p><p>a realização do mesmo, o que inviabilizaria a realização de uma auditoria</p><p>completa. E, por conta disso, adotam procedimentos mais simplificados de</p><p>auditoria.</p><p>E o que difere a auditoria de asseguração razoável da auditoria com</p><p>abordagem de asseguração limitada? Basicamente o volume e a extensão dos</p><p>testes ou procedimentos de auditoria a serem executados. É enganoso pensar</p><p>que a auditoria de asseguração limitada realiza menor quantidade de</p><p>procedimentos ou deixa de realizar procedimentos básicos como o exame</p><p>documental, o recálculo e a confrontação de informações com suas</p><p>sustentações e evidências.</p><p>O que fundamentalmente difere as abordagens de auditoria é o volume e</p><p>a extensão de testes a serem executados. Destacamos, a seguir, algumas</p><p>abordagens que são aplicadas de modo específico em trabalhos de asseguração</p><p>limitada:</p><p>• Circularizações: serão efetuadas com menor quantidade de clientes e</p><p>fornecedores circularizados;</p><p>• Acompanhamento de inventário: os auditores irão realizar diligências e</p><p>acompanhar a execução dos procedimentos de realização do inventário</p><p>físico, mas com uma materialidade menor e, consequentemente, uma</p><p>quantidade amostral menor de itens a serem acompanhados e auditados;</p><p>12</p><p>• Exames documentais: para fins de obter evidências de auditoria quanto</p><p>à posição patrimonial dos saldos contábeis, as equipes de auditoria</p><p>executam análise de documento, contudo, em extensões menores que</p><p>executariam em trabalhos de auditoria mais completos e complexos. O</p><p>volume de documentos analisados torna-se menor em decorrência do</p><p>estabelecimento de emissão de um parecer de forma mais limitada,</p><p>relacionado ao escopo determinado em seus papéis de trabalho.</p><p>Além disso, os trabalhos de auditoria de revisão limitada utilizam, de</p><p>forma mais contundente, procedimentos de revisão analítica, em que analisam</p><p>contas e saldos contábeis por meio da perspectiva das variações mais</p><p>significativas ocorridas no período sob análise, bem como variações</p><p>significativas existentes quando comparadas com saldos apresentados em</p><p>exercícios anteriores.</p><p>Os trabalhos preliminares de avaliação de riscos inerentes, residuais e</p><p>avaliação de controles internos serão executados com escopo reduzido em</p><p>relação à abordagem aplicada em trabalhos de asseguração razoável. Em</p><p>termos conceituais, o trabalho de asseguração limitada é descrito como sendo</p><p>o trabalho de asseguração no qual o auditor independente reduz o risco do</p><p>trabalho a um nível que é aceitável nas circunstâncias do trabalho, mas</p><p>onde o risco é maior do que o risco para o trabalho de asseguração</p><p>razoável como base para emissão de uma conclusão na forma que</p><p>expresse-se, com base nos procedimentos executados e nas evidências</p><p>obtidas, algum assunto tenha chegado ao conhecimento do auditor</p><p>independente de forma a levá-lo a acreditar que a informação do objeto</p><p>esteja distorcida de forma relevante. A natureza, a época e a extensão dos</p><p>procedimentos executados em trabalho de asseguração limitada são</p><p>restritos (menos extensos) quando comparados com o que são</p><p>necessários em trabalho de asseguração razoável, mas são planejados</p><p>para obter um nível de segurança que seja, no julgamento profissional do</p><p>auditor independente, significativo.</p><p>4.3 O parecer aplicado aos procedimentos de asseguração previamente</p><p>acordados</p><p>Os procedimentos pré-acordados de auditoria são uma categoria</p><p>específica e singular no ramo da auditoria, tendo em vista que sua forma de</p><p>contratação e delimitação do escopo difere do que é estabelecido nos demais</p><p>tipos de trabalho de asseguração.</p><p>13</p><p>Nos trabalhos de auditoria previamente acordados, os auditores definem</p><p>em conjunto com os auditados qual o escopo, a extensão e o volume dos testes.</p><p>Inclusive, nos trabalhos de auditoria previamente acordados, não</p><p>necessariamente todos os elementos das demonstrações financeiras serão</p><p>analisados. Nestes</p><p>casos, os auditores poderão ser contratados para avaliar</p><p>áreas específicas das organizações, sem necessariamente ter que emitir uma</p><p>opinião sobre o conjunto de demonstrações financeiras como um todo.</p><p>Uma firma de auditoria poderá ser contratada por uma empresa para</p><p>realizar procedimentos de auditoria em uma área ou informação específica</p><p>naquela organização. Por exemplo, uma entidade firma um acordo com</p><p>auditores para avaliar um relatório de gestão interno ou mesmo analisar um</p><p>relatório gerencial da área de vendas, da área comercial, da área de marketing,</p><p>entre outros.</p><p>Com o impulso das privatizações ocorridas no Brasil, a partir de meados</p><p>dos anos 1990, ocorreu um boom de organizações governamentais</p><p>fiscalizadoras e reguladoras que culminou com a criação da Agência Nacional de</p><p>Energia Elétrica (ANEEL), da Agência Nacional de Telecomunicações</p><p>(ANATEL), da Agência Nacional de Águas (ANA), da Agência Nacional de</p><p>Aviação Civil (ANAC), além do fortalecimento e expansão das atribuições do</p><p>Banco Central (BACEN), dentre outras agências. Essas organizações, além de</p><p>regular e fiscalizar, estabelecem parâmetros e metas de desempenho a serem</p><p>seguidas pelas empresas públicas e privadas.</p><p>Dessa forma, o contrato estabelecido pelas firmas de auditoria junto aos</p><p>seus clientes deverá ser extremamente minucioso e detalhista para que não</p><p>surja margem para questionamentos futuros acerca da responsabilidade dos</p><p>auditores frente à situação de irregularidades, erros e fraudes por ventura</p><p>observados futuramente. As opiniões apresentadas pelos auditores</p><p>independentes deverão estar alinhadas aos normativos estabelecidos pelas</p><p>agências reguladoras, no que se refere ao cumprimento de normativos</p><p>específicos para o setor.</p><p>14</p><p>4.4 O parecer aplicado a outros trabalhos de asseguração utilizados por</p><p>auditores externos</p><p>Os demais trabalhos realizados por auditores independentes (ou</p><p>auditores externos) encontram-se estabelecidos na NBC TO 3000 – Trabalho de</p><p>Asseguração Diferente de Auditoria e Revisão, e enquadram nessa categoria</p><p>também os trabalhos de atestação, mensuração ou avaliação. Segundo</p><p>estabelece a NBC TO 3000, em seu capítulo 6º, esses outros trabalhos de</p><p>asseguração incluem:</p><p>• Trabalhos abrangidos pelas Normas de Serviços Correlatos, tais como os</p><p>trabalhos de procedimentos previamente acordados (NBC TSC 4400) e</p><p>os de compilação (NBC TSC 4410);</p><p>• Elaboração de declarações de imposto de renda em que nenhuma</p><p>conclusão de asseguração é expressa;</p><p>• Trabalhos de consultoria (ou assessoria), tais como gerenciamento e</p><p>consultoria tributária.</p><p>Entretanto, a mesma norma, em seu capítulo 8º, descreve aquelas</p><p>atividades que não são consideradas trabalho de asseguração:</p><p>• Trabalhos para prestar declarações em processos judiciais sobre</p><p>contabilidade, auditoria, tributação ou outros assuntos;</p><p>• Trabalhos que incluem opiniões, pontos de vista ou declarações</p><p>profissionais dos quais o usuário pode extrair alguma segurança, se todos</p><p>os seguintes itens forem aplicáveis:</p><p>o Essas opiniões, pontos de vista ou declarações são meramente</p><p>fortuitos para o trabalho como um todo;</p><p>o Qualquer relatório por escrito que seja emitido com uso</p><p>expressamente restrito aos usuários previstos especificados no</p><p>relatório;</p><p>o Mediante acordo formal com os usuários previstos especificados,</p><p>não se pretende que seja trabalho de asseguração;</p><p>o O trabalho não seja relatado como de asseguração no relatório do</p><p>auditor independente.</p><p>15</p><p>TEMA 5 – EXEMPLO DE EMISSÃO DO RELATÓRIO DO AUDITOR</p><p>INDEPENDENTE SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES CONDENSADAS</p><p>5.1 Apresentação do caso prático</p><p>O aluno deverá pesquisar pelo menos um exemplo verídico de relatórios</p><p>de asseguração com opinião sem ressalvas, opinião com ressalvas e opinião</p><p>adversa, efetuar uma leitura criteriosa e apontar as diferenças entre os três tipos</p><p>de opinião. Adicionalmente, o aluno deverá apontar as justificativas para</p><p>apresentação da opinião com ressalva e da opinião adversa.</p><p>5.2 Sugestão de resolução</p><p>Relatório de asseguração com ressalva:</p><p>Demonstrações Financeiras da Celulose Irani S.A. em 31 de dezembro</p><p>de 2017. Motivo da opinião modificada: Interpretação incorreta de</p><p>prática contábil relacionada à operação de venda de terras, que, por</p><p>ainda manter o risco do negócio sob a responsabilidade da empresa,</p><p>deveria ser classificada como financiamento e não como uma venda.</p><p>5.2.1 Relatório de asseguração com negativa de opinião (opinião adversa)</p><p>Demonstrações Financeiras da Eternit S.A. em 31 de dezembro de</p><p>2018</p><p>Motivo da opinião modificada: Processo de recuperação judicial. A</p><p>Auditoria Independente considerou incerta a aprovação do pedido na</p><p>Assembleia Geral de Credores. Além disso, auditores observaram</p><p>mudança de critério contábil das unidades geradoras de caixa, com</p><p>isso, ativo imobilizado foi apresentado em posição superior ao correto</p><p>e, consequentemente, prejuízo líquido menor do que o que seria</p><p>correto.</p><p>5.2.2 Relatório de asseguração com abstenção de opinião</p><p>Demonstrações Financeiras da CCX Carvão da Colômbia S.A. em 31</p><p>de dezembro de 2019</p><p>Motivo da opinião modificada:</p><p>A Empresa encontrava-se em processo de dissolução. Empresa estava</p><p>em situação de insolvência. Controles internos com fraquezas</p><p>relevantes: ausência de controles adequados de funções que garantem</p><p>a integralidade e correta apresentação das informações financeiras</p><p>como um todo, análise do impacto do processo de liquidação de suas</p><p>controladas e, principalmente, no que tange [à] apresentação e</p><p>mensuração dos passivos contingentes em virtude da complexidade</p><p>das leis e regulamentos (principalmente na Colômbia), e relevância das</p><p>ações em andamento naquele País (além do elevado grau de</p><p>julgamento requerido na interpretação das leis e regulamentos) e não</p><p>recebimento do balanço estatutário final das controladas CCX Viena</p><p>GmbH e CCX Áustria GmbH.</p><p>16</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo. 8. ed. São Paulo:</p><p>Atlas, 2012.</p><p>ATTIE, W. Auditoria: Conceitos e Aplicações. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011.</p><p>BRASIL. NBC TA 700. Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas de</p><p>Auditoria 700. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 jun. 2016.</p><p>______. NBC TA 705. Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas de</p><p>Auditoria 705. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 jun. 2016.</p><p>CREPALDI, S. A.; CREPALDI, G. S. Auditoria contábil: teoria e prática. 10. ed.</p><p>São Paulo: Atlas, 2016.</p>