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Histórico e Preceitos Legais da BNCC
Base Nacional 
Comum Curricular
Diretor Executivo 
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial 
ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS
Projeto Gráfico 
TIAGO DA ROCHA
Autoria 
MAYCON SILVA AGUIAR
AUTORIA
Maycon Silva Aguiar
Olá. Sou bacharel em Letras – Português e Literaturas e em 
Letras – Português e Latim pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, 
e licenciado em Letras pela Universidade Federal Fluminense. Sou 
mestre em Linguística (2018) e em Filosofia (2019) pela Universidade do 
Estado do Rio de Janeiro. Atualmente, sou doutorando em Linguística 
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e atuo como professor 
colaborador no curso de Especialização em Gramática Gerativa e Estudos 
de Cognição – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez 
que:
OBJETIVO:
para o início do 
desenvolvimento 
de uma nova 
competência;
DEFINIÇÃO:
houver necessidade 
de apresentar um 
novo conceito;
NOTA:
quando necessárias 
observações ou 
complementações 
para o seu 
conhecimento;
IMPORTANTE:
as observações 
escritas tiveram que 
ser priorizadas para 
você;
EXPLICANDO 
MELHOR: 
algo precisa ser 
melhor explicado ou 
detalhado;
VOCÊ SABIA?
curiosidades e 
indagações lúdicas 
sobre o tema em 
estudo, se forem 
necessárias;
SAIBA MAIS: 
textos, referências 
bibliográficas 
e links para 
aprofundamento do 
seu conhecimento;
REFLITA:
se houver a 
necessidade de 
chamar a atenção 
sobre algo a ser 
refletido ou discutido;
ACESSE: 
se for preciso acessar 
um ou mais sites 
para fazer download, 
assistir vídeos, ler 
textos, ouvir podcast;
RESUMINDO:
quando for preciso 
fazer um resumo 
acumulativo das 
últimas abordagens;
ATIVIDADES: 
quando alguma 
atividade de 
autoaprendizagem 
for aplicada;
TESTANDO:
quando uma 
competência for 
concluída e questões 
forem explicadas;
SUMÁRIO
Legislação Educacional Brasileira ....................................................... 12
A Educação e as Legislações Educacionais ............................................................... 12
As Principais Legislações Educacionais Nacionais Anteriores à Base 
Nacional Comum Curricular .................................................................................................... 17
Políticas Públicas Educacionais de Inclusão Social .....................28
Histórico, Objetivos e Práticas da BNCC ........................................... 37
Definição de Base Nacional Comum Curricular .......................................................37
A BNCC e o Currículo Escolar .................................................................44
9
UNIDADE
01
Base Nacional Comum Curricular
10
INTRODUÇÃO
Caro aluno, a Base Nacional Comum Curricular foi instituída, por 
completo, em 2018, mas descende de uma longa trajetória de batalhas 
travadas no âmbito das políticas educacionais brasileiras. Trata-se de um 
documento normativo que arrola quais aprendizagens devem ser obtidas 
pelos alunos no decorrer da Educação Básica, à vista dos princípios e dos 
propósitos acionados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
(BRASIL, 1996), a qual, por sua vez, visou a regulamentar, de maneira mais 
específica, os direitos garantidos à área pela Constituição Federal de 1988.
No decorrer das quatro unidades que compõem esta disciplina, 
abordaremos, juntos, os principais estabelecimentos da Base Nacional 
Comum Curricular, atribuindo grande destaque às três etapas da 
Educação Brasileira: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Novo Ensino 
Médio. Para isso, nesta unidade, discutiremos as bases legais do sistema 
educacional brasileiro; o histórico de iniciativas legais que culminou na 
Base Nacional Comum Curricular; a relação entre esse documento e os 
currículos escolares; e os conceitos básicos adotados pelo documento.
Para que você seja capaz de participar mais ativamente de nosso 
diálogo, é muito importante que tenha lido, previamente, dois dos mais 
importantes marcos da educação brasileira: o texto integral da Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação, promulgada em 1996 e modificada 
posteriormente; e o texto integral da Base Nacional Comum Curricular. 
Esses documentos estão disponíveis, respectivamente, nos seguintes 
endereços eletrônicos:
 • http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
 • http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_
EF_110518_versaofinal_site.pdf
Se desejar, realize uma pesquisa sobre outros documentos 
normalizadores da Educação Brasileira, sobretudo o que citarmos no 
decorrer deste material. Nestas escassas páginas, por muitas vezes, 
tivemos de decidir quais assuntos abordar; quais assuntos apresentar de 
maneira bastante resumida; e quais assuntos omitir. Portanto, quanto mais 
você agir autonomamente em relação à sua aprendizagem, maior será 
o proveito desta disciplina no futuro desempenho de profissão. Pronto? 
Então, vamos lá!
Base Nacional Comum Curricular
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
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OBJETIVOS
Caro aluno, seja bem-vindo à Unidade 1 – Histórico e preceitos 
legais da BNCC. Nosso objetivo é auxiliar você a desenvolver as seguintes 
competências profissionais:
1. Compreender o contexto histórico e as diversas formas de 
aplicação dos principais normativos educacionais instituídos 
desde a Constituição Federal de 1988.
2. Entender como a legislação educacional brasileira trata de questões 
étnico-raciais e ampara portadores de necessidades especiais no 
âmbito das políticas públicas relacionadas à Educação.
3. Entender o contexto de formação e os objetivos da Base Nacional 
Comum Curricular (BNCC), verificando sua importância para o 
desenvolvimento da eficiência educacional.
4. Identificar as diferenças e as aderências da Base Nacional Comum 
Curricular (BNCC) aos currículos escolares, definindo até que 
ponto existe liberdade, flexibilidade e autonomia curricular por 
parte das instituições de ensino.
Preparado? Vamos em frente!
Base Nacional Comum Curricular
12
Legislação Educacional Brasileira
OBJETIVO:
Neste capítulo, conheceremos parte relevante dos 
documentos que regulam o sistema educacional brasileiro. 
Faremos isso com vistas a mensurar a estratificação de 
nosso sistema educacional; a reconhecer todas as etapas 
que o formam; e a descobrir como as políticas públicas 
se sucederam na trajetória rumo à Base Nacional Comum 
Curricular..
A Educação e as Legislações Educacionais
As capacidades de educar-se e de educar semelhantes é inerente 
aos seres humanos. Por seu intermédio, temos acesso a heranças 
culturais, por um lado, e a bens e a serviços disponíveis e valorizados 
em sociedade, por outro lado. Considerando esse papel fundamental 
associado à educação, justifica-se a sua inclusão no conjunto de direitos 
fundamentais dos brasileiros reconhecido pela Constituição Federal de 
1988 e regulamentado, mais especificidade, pela Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação (BRASIL, 1996) – e por leis que a modificaram.
Figura 1 – Legislação
Fonte: Freepik.
Base Nacional Comum Curricular
13
Portanto, embora isso pareça óbvio, na medida em que o direito 
à educação é assegurado em lei, todos os brasileiros têm direito a 
aprender. De acordo com Gadotti (2005), quando evidenciamos essa 
constatação, reconhecemos que o direito à educação não se limita 
à possibilidade de frequentar a Educação Básica; envolve, para além 
disso, primordialmente, o direito a receber educação de qualidade, de 
modo a consolidar aprendizagens relevantes para uma atuação ética 
em sociedade. Nesse sentido, a escola é elevada à posição de principal 
centro de desenvolvimento dos âmbitos cognitivo, ético, social e cultural 
dos indivíduos.
DEFINIÇÃO:
Entendemos comoRio de Janeiro: Forense, 1984. 
Base Nacional Comum Curricular
	Legislação Educacional Brasileira
	A Educação e as Legislações Educacionais
	As Principais Legislações Educacionais Nacionais Anteriores à Base Nacional Comum Curricular
	Políticas Públicas Educacionais de Inclusão Social
	Histórico, Objetivos e Práticas da BNCC
	Definição de Base Nacional Comum Curricular
	A BNCC e o Currículo Escolareducação, na esteira de Raposo 
(2005), o “ato ou efeito de educar-se; o processo de 
desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral 
do ser humano, visando a sua melhor integração individual 
e social” (RAPOSO, 2005, p. 1). Portanto, trataremos, em 
todo este livro, de uma vertente de educação dinâmica 
e integradora, com o intuito de formar alunos capazes de 
intervir nas questões que mobilizam (os diversos contextos 
da) a sociedade brasileira.
A prática de educação – isto é, a execução de atividades que 
propiciem a aprendizagem de outrem – pode ser formal e não formal. 
Uma das diferenças fulcrais entre essas modalidades é o seu caráter 
institucional. No Quadro 1, elencamos as principais características 
associadas a cada modalidade.
Quadro 1 – Diferenças entre educação formal e não formal
Fonte: Adaptado de Gadotti (2005).
Base Nacional Comum Curricular
14
A importância da institucionalidade das práticas educacionais 
está em sua sistematização. Não considere que essa afirmação é 
tautológica. Utilizamo-la para ressaltar que, se são institucionalizadas, as 
práticas educacionais facilitam o trabalho dos agentes que as executam, 
influenciando todos os níveis de organização – as mencionadas etapas 
– de nosso sistema educacional, das salas de aula às escolas e ao país 
como um todo; e facilita, ainda, a participação ativa dos alunos em seus 
processos de ensino-aprendizagem.
Os principais representantes das práticas de educação formal 
são, em nosso país, as escolas públicas e as escolas particulares, que 
correspondem à Educação Básica; e as universidades, também públicas 
e particulares, que estão ligadas à Educação Superior. Não é difícil 
identificar, tomando essas instituições como exemplos, que as atividades 
pedagógicas que realizam são organizadas, intencionais e, normalmente, 
sequenciais.
Figura 2 – Educação Superior
Fonte: Freepik.
Como base da educação formal brasileira, há um conjunto de 
leis as quais expandem, fundamentalmente, os posicionamentos sobre 
educação da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases 
Base Nacional Comum Curricular
15
da Educação Nacional. A legislação educacional envolve desde as práticas 
pedagógicas até a maneira como são incorporadas às esferas municipal, 
estadual e federal do Estado.
Logo, dominar o conteúdo dos principais documentos 
normalizadores da educação brasileira impactará tanto nas suas práticas 
pedagógicas que assumirá em seu cotidiano quanto na forja do seu perfil 
enquanto docente. Você perceberá, mediante as reflexões que faremos, 
que ter conhecimento a respeito de legislação educacional fornece 
credibilidade à sua atuação como professor.
NOTA:
Dentre os elementos pelos quais a legislação educacional 
se responsabiliza estão as diretrizes curriculares, elementos 
em que as instituições se espelharão para montar seus 
próprios currículos. São exemplos de diretrizes curriculares 
as Diretrizes Curriculares Nacionais e a Base Nacional 
Comum Curricular. Enquanto as Diretrizes Curriculares 
Nacionais focam na forma de estruturar currículos, a Base 
Nacional Curricular visa ao detalhamento dos conteúdos 
mínimos que os currículos montados devem conter. 
Portanto, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e 
a Base Nacional Comum Curricular não são currículos 
fechados e passíveis de serem adotados pelas instituições 
escolares.
Tendo comentado rapidamente sobre a educação formal, veremos 
agora o que são práticas de educação não formal. Como se pode imaginar, 
trata-se de atividades pedagógicas menos hierarquizadas e, por isso, mais 
flexíveis. Costumeiramente são realizadas em espaços desvinculados do 
sistema formal de ensino, embora possam acontecer, também, nesses 
espaços, ao contrário do que estipula o senso comum dos educadores.
O conceito de educação não formal se baseia na ideia de que, apesar 
de as escolas serem essenciais para a formação e para o desenvolvimento 
dos indivíduos, não são os únicos ambientes que propiciam experiências 
de aprendizagem. Assim sendo, os contextos cultural e social, que estão 
presentes, também, na construção de práticas de educação formal, são 
Base Nacional Comum Curricular
16
os elementos mais fundamentais da caracterização dos espaços não 
formais de educação, como são os casos, dentre outros, de museus, de 
movimentos sociais e de igrejas.
Figura 3 – Museu do Amanhã, Rio de Janeiro
Fonte: Pixabay.
Considerando que a evasão escolar – a ausência de indivíduos 
em idade escolar nos estabelecimentos educacionais – é um problema 
prevalente em nosso país, os espaços não formais de educação assumem 
uma importância ímpar para a transmissão de conhecimentos. Ainda 
que crianças e adolescentes estejam afastados das escolas, poderão, 
em outros ambientes de seus contextos social e cultural, adquirir 
conhecimentos importantes – por exemplo, um indivíduo que tenha 
abandonado a escola aos 14 anos com o intuito de se inserir no mercado 
de trabalho, trocará, durante o convívio com seus colegas, informações 
sobre o cenário político brasileiro; e fará isso mesmo sem ter estudado, 
formalmente, conceitos como os de partido político e de democracia.
Base Nacional Comum Curricular
17
SAIBA MAIS:
Educadores brasileiros como Rubem Alves, José Carlos 
Libâneo, Paulo Freire e Moacir Gadotti focam a educação 
não formal e apresentam possibilidades de transformação 
dos indivíduos e da sociedade advindas dessa prática. 
Paulo Freire, por exemplo, afirma que o “homem não 
pode participar ativamente na história, na sociedade, na 
transformação da realidade se não for ajudado a tomar 
consciência da realidade e da sua própria capacidade 
de transformar” (FREIRE, 1977, p. 48). Em seu sistema de 
pensamento, a educação não formal cumprirá, à sua 
maneira, os objetivos da educação formal, quando o acesso 
às instituições que a execução não for possível.
As Principais Legislações Educacionais 
Nacionais Anteriores à Base Nacional 
Comum Curricular
Uma das principais preocupações da pedagogia é a definição das 
funções de aluno e de professor. Com o decorrer do tempo, conforme 
os contextos e as demandas histórico-sociais se sucederam, aluno e 
professor tiveram seus papéis nos processos de ensino-aprendizagem 
ressignificados. De acordo com Gadotti (2007, p. 41), atualmente:
O professor precisa saber de muitas coisas para ensinar. 
Mas, o mais importante não é o que é preciso saber para 
ensinar, mas como devemos ser para ensinar. O essencial 
é não matar a criança que existe ainda dentro de nós. 
Matá-la seria uma forma de matar o aluno que está à nossa 
frente. O aluno só aprenderá quando tiver um projeto de 
vida e sentir prazer no que está aprendendo. O aluno 
quer saber, mas nem sempre quer aprender o que lhes 
é ensinado.
A caracterização apresentada por Gadotti (2005) é, ao mesmo 
tempo, fruto de desenvolvimentos do pensamento pedagógico e da 
fermentação política e social ocorridos, nas últimas décadas, em nosso 
país.
Base Nacional Comum Curricular
18
NOTA:
Devemos ter grande atenção às vertentes pedagógicas 
práticas no Brasil. Certamente, recebemos influências 
de vertentes pedagógicas e de pensadores estrangeiros, 
troca que é comum no âmbito das áreas de conhecimento. 
Porém, sobretudo a partir da década de 1980, encontramos, 
aqui, vertentes pedagógicas que podem ser consideradas 
tupiniquins, concentradas na análise e na solução de 
problemas educacionais típicos do território brasileiro.
Nesse sentido, nesta seção, conheceremos alguns dos produtos 
mais concretos da associação entre pensamento pedagógico e 
fermentação política e social, produtos esses que culminariam na Base 
Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018): a legislação educacional de 
meados da década de 1980 até o início da década de 2010.
Figura 4 – Documentos legais
Fonte: Freepik.
Base Nacional Comum Curricular
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Constituição Federal de 1988
A Constituição Federal de 1988, documento maisimportante de 
nosso regimento jurídico, demarca o fim do período ditatorial e o início da 
reabertura democrática. No início da década de 1980, depois de intensa 
resistência ao regime militar por parte de vários setores da sociedade 
brasileira e depois de considerável pressão internacional, conquistou-se 
o espaço necessário para que o país retornasse à democracia plena.
Em 1983, com o recrudescimento da mobilização popular, 
desencadeou-se o episódio conhecido como Diretas Já, dentre cujas 
principais reivindicações estava a participação popular nas eleições 
para cargos públicos. Políticos, cientistas, professores, personalidades 
e pessoas comuns saíram às ruas, protestando, abertamente, contra a 
manutenção de militares nos cargos do Poder Executivo. Embora não 
possa ser declarado vitorioso, foi um movimento essencial para o fim da 
ditadura militar.
Coube à Constituição Federal de 1988 garantir que o retorno 
à democracia fosse feito sobre bases equânimes, de acordo com as 
proposições da Declaração Universal de Direitos Humanos (ONU, 1948). 
Para que isso fosse possível, diversos direitos sociais foram garantidos, 
sem possibilidade de alienação, independentemente das razões alegadas, 
à população brasileira, dentre os quais está a educação.
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a 
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a 
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade 
e à infância, a assistência aos desamparados, na forma 
desta Constituição [...].
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e 
da família, será promovida e incentivada com a colaboração 
da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da 
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho. (BRASIL, 2021, on-line).
Na Constituição de 1988, uma seção inteira do capítulo terceiro 
é dedicada à educação, de que o artigo 205, citado anteriormente, faz 
parte. Está claro, nesse artigo, o estatuto universal associado à educação 
– até a promulgação do documento, existia, em nosso país, direito à 
Base Nacional Comum Curricular
20
escolaridade, com limitação da gratuidade do serviço aos indivíduos cuja 
carência pudesse ser atestada.
Como uma consulta a essa seção revela sem grandes dificuldades, 
todas as disposições a respeito da Educação partem da obrigatoriedade, 
por parte do Estado, de permitir que seus cidadãos usufruam de um sistema 
educacional de qualidade, ainda que seja admitido o funcionamento de 
escolas particulares.
Uma mudança considerável da constituição cidadão, no que tange 
à educação, em relação a outras constituições brasileiras, está nos anos 
de escolaridade considerados mínimos: basicamente, são incluídos a 
Educação Infantil, que incumbia às políticas de assistência social, e o 
Ensino Médio. No entanto, a regulação mais específica de nosso sistema 
educacional, conforme aconteceu com inúmeros tópicos presentes na 
carta magna, viria alguns anos depois, com a Lei de Diretrizes e Bases 
da Educação Nacional, em 1996, em que surge, também, a expressão 
Educação Básica.
Figura 5 – Comício a favor das “Diretas Já”, no Largo da Prefeitura de Porto Alegre
Fonte: Agência Senado.
Base Nacional Comum Curricular
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Estatuto da Criança e do Adolescente
O Estatuto da Criança e do Adolescente foi incluído em nosso 
ordenamento jurídico como resposta às reinvindicações sociais em prol 
da proteção da infância e da adolescência. Sancionado em 13 de julho de 
1990, trata-se da principal normalização das condutas estatais a respeito 
de atos lesivos praticados contra e por crianças e por adolescentes. Logo 
em seu artigo 1º, são identificados os segmentos populacionais que 
formam o público-alvo do documento:
 • Crianças, que correspondem aos indivíduos de até 12 anos de 
idade (incompletos);
 • Adolescentes, que são os indivíduos de 12 a 18 anos de idade 
(incompletos); e
 • Casos excepcionais, que se referem a indivíduos de 18 a 21 anos 
de idade, mediante à ocorrência de um dos casos expressos.
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar 
à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o 
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, 
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, 
à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além 
de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão 
(BRASIL, 1990).
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional é, até hoje, 
quanto à educação, a mais importante de nosso regimento jurídico. Em 
seu âmbito, encontramos não somente a regulamentação da Educação 
Básica, mas também a da Educação Superior.
Base Nacional Comum Curricular
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SAIBA MAIS:
Como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
(BRASIL, 1996) não inclui a Educação Superior no rol da 
Educação Básica, o Estado não é obrigado a oferecer 
esse segmento gratuitamente. Por outro lado, a Educação 
Superior pública é uma realidade em nosso país e é 
reconhecida, internacionalmente, por sua qualidade.
A origem da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 
remonta, como vimos, à Constituição Federal de 1988 e reflete a luta, por 
décadas, de educadores brasileiros, dentre os quais se destaca Darcy Ribeiro, 
por um sistema educacional mais equânime e mais eficiente. É a segunda Lei 
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – a primeira é a de 1971.
De modo geral, o documento reitera os direitos relacionados à 
educação garantidos à população brasileira pela Constituição Federal 
de 1988; estipula, mais claramente, questões apontadas na carta magna, 
como são casos da educação de portadores de necessidades especiais 
e de povos originários de nosso território; e define as competências do 
poder público quanto à educação.
Figura 6 – Sistema educacional brasileiro e competências do poder público
Educação Infantil
Inclui creches para crianças de 0 a 3 anos de idade; e pré-escolas para crianças 
de 4 e 5 anos de idade. Apenas a oferta de pré-escolas é obrigatória. É de 
competência dos municípios.
Ensino Fundamental
Divide-se em anos iniciais (do 1ª ao 5ª ano), destinado a crianças a partir dos 
6 anos de idade; e em anos finais (do 6º ao 9º ano). É de competência dos 
municípios, mas pode, suplementarmente, ser oferecido pelos estados. Em 
geral, os municípios oferecem escolas de anos iniciais, enquanto os estados 
cuidam de escolas de anos finais, mas isso não é uma regra. Não exige que os 
alunos tenham concluído a Educação Infantil.
Ensino Médio
Compreende três séries (1º , 2º e 3º ano) e se direciona a adolescentes 
concluintes do Ensino Fundamental. É de competência dos estados.
Educação Superior
Mesmo que não seja obrigatória, a Educação Superior é de competência 
da União. Pode ser oferecida, também, por estados e por municípios, com a 
condição que tenham atendido, com eficiências, as demandas dos níveis pelos 
quais são responsáveis. Exige a conclusão do Ensino Médio.
Fonte: Elaborada pelo autor (2022).
Base Nacional Comum Curricular
23
Além do ensino regular, que corresponde à organização presente 
na Figura 6, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional prescreve 
cinco diferentes modalidades de ensino:
 • Educação Especial, que visa ao atendimento de portadores 
de necessidades especiais, estipulando que frequentarão, 
preferencialmente, as escolas de Ensino Regular, como fomento à 
sua integração e à quebra de paradigmas sociais eugenistas.
 • Educação Profissional e Tecnológica, que, incluindo o Ensino 
Regular, prepara os estudantes para atuarem no mercado de 
trabalho, dotando-os de profissão de nível técnico reconhecida 
pelo Ministério da Educação.
 • Educação a Distância, que visa ao atendimento de públicos 
diversos de estudantes, garantindo-lhe condições específicas de 
tempo e de acesso às aulas, com intermédio de tecnologiascom 
esse fim.
 • Educação de Jovens e Adultos, que visa ao atendimento de 
indivíduos que não tiveram acesso à Educação Básica na idade 
apropriada, respeitando suas necessidades específicas de ensino-
aprendizagem.
 • Educação Indígena, que visa ao oferecimento de Educação Básica 
a comunidades originárias do território brasileiro, garantindo-lhes 
o direito de estudar sua língua materna e de ter a própria cultura 
respeitada.
Dos Princípios e Fins da Educação Nacional
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada 
nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade 
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do 
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho.
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes 
princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência 
na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a 
cultura, o pensamento, a arte e o saber;
Base Nacional Comum Curricular
24
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V - coexistência de instituições públicas e privadas de 
ensino;
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos 
oficiais;
VII - valorização do profissional da educação escolar;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma 
desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
IX - garantia de padrão de qualidade;
X - valorização da experiência extraescolar;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as 
práticas sociais.
XII - consideração com a diversidade étnico-racial (Incluído 
pela Lei nº 12.796, de 2013);
XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao 
longo da vida (Incluído pela Lei nº 13.632, de 2018);
XIV - respeito à diversidade humana, linguística, cultural 
e identitária das pessoas surdas, surdo-cegas e com 
deficiência auditiva (Incluído pela Lei nº 14.191, de 2021) 
(BRASIL, 1996, on-line)
Parâmetros Curriculares Nacionais
Os Parâmetros Curriculares Nacionais são diretrizes curriculares e 
auxiliam tanto as instituições escolares, visto que influenciam a construção 
de Projetos Político-Pedagógicos e de currículos escolares; quanto os 
docentes, visto que subsidiam seus planejamentos pedagógicos, suas 
estratégias didáticas e sua seleção de conteúdos curriculares.
Criado entre 1997 e 1998, o documento se estrutura de acordo 
com as seguintes disciplinas: língua portuguesa, matemática, ciências 
naturais, história e geografia; arte; educação física; apresentação dos 
temas transversais e ética; meio ambiente e saúde e pluralidade cultural e 
orientação sexual (BRASIL, 1997).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, referenciais para 
a renovação e reelaboração da proposta curricular, 
reforçam a importância de que cada escola formule seu 
projeto educacional, compartilhado por toda a equipe, 
para que a melhoria da qualidade da educação resulte da 
Base Nacional Comum Curricular
25
corresponsabilidade entre todos os educadores. A forma 
mais eficaz de elaboração e desenvolvimento de projetos 
educacionais envolve o debate em grupo e no local de 
trabalho.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, ao reconhecerem 
a complexidade da prática educativa, buscam auxiliar o 
professor na sua tarefa de assumir, como profissional, o 
lugar que lhe cabe pela responsabilidade e importância no 
processo de formação do povo brasileiro (BRASIL, 1997).
Direcionados, igualmente, às redes pública e privada de ensino, 
os Parâmetros Curriculares Nacionais selecionam e apresentam os 
elementos considerados fundamentais de cada disciplina escolar de 
acordo com três critérios: a faixa etária dos alunos; a necessidade de 
normalizar os conteúdos escolares em todo o território nacional; e guiar 
os educadores na elaboração de currículos.
Diferentemente do que acontece com os documentos de 
que falamos até aqui, os Parâmetros Curriculares Nacionais não são 
obrigatórios, mas são uma referência muito importante para as práticas 
pedagógicas da Educação Básica. Isso acontece, sobretudo, porque a 
maneira como foi concebido, muito inovadora para padrões brasileiros, 
possibilita que sejam adotados em realidades escolares muito diferentes.
SAIBA MAIS:
Os Parâmetros Curriculares Nacionais consistem em um 
assunto complexo. Para conhecer suas propostas de forma 
mais abrangente, leia o artigo Parâmetros Curriculares 
Nacionais do Ensino Médio, formação docente e a gestão 
escolar, de Oliveira et al. (2013). Quando for possível, reserve 
um tempo e leia o documento na íntegra, disponível aqui. 
Base Nacional Comum Curricular
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf
26
Diretrizes Curriculares Nacionais
As Diretrizes Curriculares Nacionais são fundamentadas na Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996) e normalizam o 
planejamento curricular (propostas pedagógicas, estruturação, articulação 
e avaliação) no âmbito do sistema educacional brasileiro. São obrigatórias 
para a Educação Básica, o que as tornam conhecidas como Diretrizes 
Curriculares Nacionais da Educação Básica. Atualmente, mesmo após 
a existência da Base Nacional Comum Curricular, mantêm-se válidas: 
são documentos complementares, não documentos mutuamente 
excludentes.
Em que pese, entretanto, a autonomia dada aos vários 
sistemas, a LDB, no inciso IV do seu artigo 9º, atribui à 
União estabelecer, em colaboração com os Estados, o 
Distrito Federal e os municípios, competências e diretrizes 
para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino 
Médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos 
mínimos, de modo a assegurar formação básica comum.
A formulação de Diretrizes Curriculares Nacionais constitui, 
portanto, atribuição federal, que é exercida pelo Conselho 
Nacional de Educação (CNE), nos termos da LDB e da 
Lei nº 9.131/95, que o instituiu. Esta lei define, na alínea 
“c” do seu artigo 9º, entre as atribuições de sua Câmara 
de Educação Básica (CEB), deliberar sobre as Diretrizes 
Curriculares propostas pelo Ministério da Educação. 
Esta competência para definir as Diretrizes Curriculares 
Nacionais torna-as mandatórias para todos os sistemas. 
Ademais, atribui-lhe, entre outras, a responsabilidade de 
assegurar a participação da sociedade no aperfeiçoamento 
da educação nacional (artigo 7º da Lei nº 4.024/61, com 
redação dada pela Lei nº 8.131/95), razão pela qual as 
diretrizes constitutivas deste Parecer consideram o exame 
das avaliações por elas apresentadas durante o processo 
de implementação da LDB” (BRASIL, 2013).
Base Nacional Comum Curricular
27
RESUMINDO:
Nesta seção, demos os primeiros passos em direção a 
um conhecimento abrangente da Base Nacional Comum 
Curricular, foco desta disciplina. Inicialmente, diferenciamos 
o conceito de educação formal do de educação não formal 
e discutimos o direito universal à educação por parte dos 
brasileiros. Em seguida, destacamos alguns dos marcos 
legais da educação anteriores à Base Nacional Comum 
Curricular mais importantes, como são os casos da Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, dos Parâmetros 
Curriculares Nacionais e das Diretrizes Curriculares 
Nacionais para a Educação Básica. Por fim, tivemos a 
oportunidade de ler e de analisar, com um razoável grau 
de aprofundamento, alguns textos dos documentos 
selecionados.
Base Nacional Comum Curricular
28
Políticas Públicas Educacionais de 
Inclusão Social
OBJETIVO:
Neste capítulo, conheceremos parte das políticas 
públicas educacionais de inclusão social. Deter-nos-
emos, especificamente, em como os documentos 
legais estudados no capítulo anterior e documentos 
complementares contemplam as relações étnico-raciais, a 
educação escolar indígena e a inclusão das pessoas com 
deficiência, resguardando o caráter universal de nosso 
sistema de educação.
Desde antes da invasão portuguesa ao território indígena brasileiro 
(AGUIAR,2019; AGUIAR; SOUZA; PEREIRA, 2020; BONFIM; DURAZZO; 
AGUIAR, 2021), a convivência entre diferentes etnias e diferentes culturas 
descreve nosso território, que era compartilhado por centenas de povos 
originários. O aporte de europeus e a escravidão de povos originários do 
continente europeu tornou esse cenário mais complexo: sob a chancela 
do governo português, a supremacia branca e o extermínio da diversidade 
étnica se transformaram em políticas de Estado.
Por essa razão, a história do Brasil, sobretudo a partir de 1888, ano 
em que finalmente reconhecemos a liberdade de afrodescendentes, é 
marcada por movimentos sociais em prol do fim da segregação étnico-
racial, do preconceito estrutural e de condições equânimes de acesso aos 
direitos constitucionais.
SAIBA MAIS:
Durante boa parte do século XIX, houve um intenso 
movimento abolicionista no país, que envolvia, inclusive, 
uma filha do Imperador Dom Pedro II, a Princesa Isabel. 
Caso deseje saber mais sobre isso, leia o breve artigo As 
camélias do Leblon e a abolição da escravatura, disponível 
aqui. 
Base Nacional Comum Curricular
http://antigo.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/o-z/FCRB_EduardoSilva_Camelias_Leblon_abolicao_escravatura.pdf
http://antigo.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/o-z/FCRB_EduardoSilva_Camelias_Leblon_abolicao_escravatura.pdf
29
Em decorrência de uma valorização exacerbada da branquitude 
e das raízes europeias, assistimos, ainda hoje, à desvalorização das 
heranças culturais africanas e indígenas, ampliando a desigualdade 
inscrita em nossa sociedade. Contudo, apesar de todo o desestímulo que 
as causas étnico-raciais e indígena sofrem no país, algumas conquistas 
foram obtidas em períodos recentes, que são os casos da Lei nº10.639 e 
nº 11.645, aprovadas, respectivamente, em 2003 e em 2008.
115 anos após a abolição da escravidão, a Lei nº 10.639, de 9 de 
janeiro de 2003, determinou a obrigatoriedade do ensino da(s) história(s) e 
da(s) cultura(s) afrodescendentes na Educação Básica. Esse foi um passo 
sem precedentes na legislação educacional brasileira, uma vez que, ao 
serem inseridas nos currículos escolares, essas questões são visibilizadas 
e reconhecidas como legítimas.
Na prática, a Lei nº 10.639 ampliou os currículos escolares, de modo 
a contemplar as diversidades culturais, raciais, sociais e econômicas 
existentes no Brasil e a propiciar a reformulação de práticas pedagógicas 
ultrapassadas. Portanto, avaliamos que esse seja um exemplo de política 
pública afirmativa modelar, porque não incutiu mudanças despropositadas 
no sistema educacional brasileiro, mas, em vez disso, permitiu que a 
história do maior grupo étnico de nossa sociedade seja contada com 
fidedignidade.
Base Nacional Comum Curricular
30
NOTA:
É importante destacar que reeducar a sociedade para as 
relações étnico-raciais é tentar desenraizar o racismo e 
o preconceito com que convivemos há muitos séculos. 
A noção de raça está ligada à ideia de traços biológicos 
definitivos, como são os casos de cor de pele, de cabelo e 
de olhos. Por sua vez, o conceito de etnia é, principalmente, 
de base social. Assim:
Para reeducar as relações étnico-raciais, 
no Brasil, é necessário fazer emergir as 
dores e medos que têm sido gerados. 
É preciso entender que o sucesso de 
uns tem o preço da marginalização e 
da desigualdade impostas a outros. E 
então decidir que sociedade queremos 
construir daqui para frente (BRASIL, 
2003, on-line).
Como a Diretriz para Educação das Relações Étnico-Raciais nos 
apresenta, documento que explicita como a Lei nº 10.639 deveria ser 
praticada, essa reeducação fará com que diferentes grupos étnico-
raciais compartilhem vivências, para, então, construir a sociedade justa 
preconizada pela Constituição Federal de 1988. Nesse processo, as 
instituições escolares são essenciais, visto que são responsáveis por aos 
cidadãos o entendimento de nossa história e de nossa formação social; 
e os professores devem estar preparados para desfazer os equívocos 
corriqueiros sobre os conceitos de raça, de etnia e de racismo, de forma 
que o aluno compreenda sua própria história.
Base Nacional Comum Curricular
31
SAIBA MAIS:
Compreender bem os conceitos de raça, de etnia 
e de racismo é um passo fundamental para o seu 
desenvolvimento enquanto ser humano, enquanto cidadão 
brasileiro e, principalmente, enquanto educador. Para 
conhecer mais sobre esses assuntos, leia o artigo Uma 
abordagem conceitual das noções de raça, racismo, 
identidade e etnia, de Kabengele Munanga, professor da 
Universidade de São Paulo. Acesse-o clicando aqui. 
Em 2008, outro avanço marcou a legislação educacional brasileira 
no que tange à inclusão de grupos sociais vulneráveis: a Lei nº 11.645, 
de 10 de março de 2008, que, como a Lei nº 10.639 modifica o texto 
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, adicionando-lhe a 
obrigatoriedade do ensino da(s) história(s) e da(s) cultura(s) indígenas na 
Educação Básica:
Torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-
brasileira e indígena. 
§ 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo 
incluirá diversos aspectos da história e da cultura que 
caracterizam a formação da população brasileira, a partir 
desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história 
da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos 
indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira 
e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, 
resgatando as suas contribuições nas áreas social, 
econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
§ 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-
brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão 
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em 
especial nas áreas de educação artística e de literatura e 
história brasileiras.” (BRASIL, 2008, on-line).
Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, a educação 
escolar indígena é assegurada por lei: “o ensino fundamental regular será 
ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas 
também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios 
de aprendizagem” (BRASIL, 1988, on-line). Amparados, ainda, pela 
Base Nacional Comum Curricular
https://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=59
32
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e pelo Plano Nacional 
de Educação, os povos originários de nosso território conquistaram, 
igualmente, o direito à educação diferenciada, bilíngue e intercultural. 
Contudo, como aconteceu no caso dos afrodescendentes, para 
que suas tradições e suas línguas fossem afirmadas frente aos estigmas 
sociais, era necessário que os currículos escolares abaixassem a 
seletividade em relação às nossas narrativas históricas. A Lei nº 11.645, de 
2008, cumpriu esse papel.
Figura 7 – Povos originários do território brasileiro
Fonte: Wikimedia Commons.
A garantia de educação escolar diferenciada e de qualidade surge e 
se reflete em valorização das línguas maternas, dos saberes da formação 
de professores oriundos das comunidades originárias. Por exemplo: 
quando pensamos no processo de ensino-aprendizagem de povos 
indígenas, devemos, primordialmente, discutir se lhes servirá o material 
didático confeccionado para alunos de uma metrópole. 
Base Nacional Comum Curricular
33
Certamente, a questão que vimos acima não é possível: mudam-
se os contextos socioculturais, mudam-se, igualmente, as demandas 
educacionais e das funções sociais dos conteúdos curriculares. Sem 
material didático direcionado à realidade dos povos originários, os 
processos de ensino-aprendizagem são comprometidos e podem ser 
inviabilizados.
SAIBA MAIS:
Reserve um tempo para ler e estudar o Referencial 
Curricular Nacional para as Escolas Indígenas e as Diretrizes 
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações 
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana, que estão disponíveis nosseguintes 
endereços eletrônicos, respectivamente:
 • https ://www.uel .br/projetos/leafro/pages/
arquivos/DCN-s%20-%20Educacao%20das%20
Relacoes%20Etnico-Raciais.pdf
 • https://www.ufmg.br/copeve/Arquivos/2017/fiei_
programa_ufmg2018.pdf
Não se furte a essas leituras. São materiais indispensáveis 
para a sua atuação como educador!
Antes de encerrarmos este capítulo, destacaremos a Educação 
Especial, prevista na Constituição Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e 
Bases da Educação Nacional. O contexto histórico subjacente à educação 
de pessoas com necessidades especiais – indivíduos que, de acordo 
com o Estatuto da Pessoas com deficiência, apresentam incapacitação 
permanente física, mental, intelectual e/ou sensorial –, até chegar à 
garantia legal de Educação Especial, é longo e árduo, perpassando por 
quatro fases:
 • Exclusão, fase em que os portadores de necessidades especiais 
eram considerados inválidos e não eram excluídos do sistema 
formal de educação.
Base Nacional Comum Curricular
https://www.uel.br/projetos/leafro/pages/arquivos/DCN-s%20-%20Educacao%20das%20Relacoes%20Etnico-Raciais.pdf
https://www.uel.br/projetos/leafro/pages/arquivos/DCN-s%20-%20Educacao%20das%20Relacoes%20Etnico-Raciais.pdf
https://www.uel.br/projetos/leafro/pages/arquivos/DCN-s%20-%20Educacao%20das%20Relacoes%20Etnico-Raciais.pdf
https://www.ufmg.br/copeve/Arquivos/2017/fiei_programa_ufmg2018.pdf
https://www.ufmg.br/copeve/Arquivos/2017/fiei_programa_ufmg2018.pdf
34
 • Segregação, fase em que os portadores de necessidades especiais 
começaram a ter acesso à alfabetização, relegados à clausura de 
instituições específicas.
Figura 8 – Pessoa com deficiência
Fonte: Freepik.
 • Integração, fase em que os portadores de necessidades especiais 
deveriam adequar-se às condições do Ensino Regular caso 
desejassem ter acesso ao sistema formal de educação.
 • Inclusão, fase em que os portadores de necessidades especiais 
foram, finalmente, acolhidos pelo sistema educacional brasileiro, 
em meio às classes regulares, tendo suas necessidades 
respeitadas.
A Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação 
Inclusiva nos trouxe, em 2008, concepções de atuação da Educação 
Especial nos sistemas de ensino inéditas. Uma dessas concepções é a 
de atendimento educacional especializado, modalidade complementar 
ou suplementar à formação dos portadores de necessidades especiais.
Esclareçamos que a permanência de portadores de necessidades 
especiais em salas de aula regulares não foi substituída pelo atendimento 
Base Nacional Comum Curricular
35
educacional especializado, que é realizado no contraturno das aulas 
regulares como forma de reduzir as barreiras e as dificuldades de 
aprendizagem específicas dos indivíduos.
Figura 9 – Inclusão de pessoas com deficiência
Fonte: Pixabay.
Para que a inclusão dos portadores de necessidades especiais 
no sistema educacional brasileiro seja universal, é premente que nosso 
paradigma educacional seja modificado. Isso deve acontecer com vistas 
à superação das desigualdades e das diferenças e ao desenvolvimento 
integral dos alunos – social, afetivo, moral, político e físico, por exemplo –, 
independentemente de suas possíveis condições.
Mais recentemente, em 2020, o Decreto nº 10.502 instituiu a Política 
Nacional de Educação Especial: equitativa, inclusiva e com aprendizado 
ao longo da vida, considerado, por educadores e por cientistas, um 
pernicioso retrocesso. O documento prevê a circunscrição de portadores 
de necessidades a instituições especializadas, ignorando os avanços 
relativos à inclusão e retornando à era da segregação.
O último marco sobre educação inclusiva de que falaremos é o 
reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio de 
Base Nacional Comum Curricular
36
comunicação legal dos surdos, com a promulgação da Lei nº 10.436, de 
24 de abril de 2002. Mas não deixemos que isso engane, caro aluno: dessa 
lei resulta que situações oficiais de comunicação devem prever o uso de 
Libras, enquanto a língua portuguesa permanece como a única oficial do 
Brasil.
Por outro lado, desde 2005 o ensino de Libras se tornou obrigatório 
nos cursos superiores de licenciatura, de pedagogia e de fonoaudiologia 
de nosso país, como forma de assegurar que os profissionais dessas 
áreas, críticos para o desenvolvimento de surdos, saibam como tratá-los 
adequadamente.
VOCÊ SABIA?
Portadores de necessidades especiais não são apenas 
pessoas com deficiências. Essa categoria engloba, também, 
portadores de transtornos globais do desenvolvimento, 
como é o caso de autistas, e portadores de altas habilidades 
e de superdotação.
RESUMINDO:
Neste capítulo, descobrimos como a legislação brasileira 
ampara as relações étnico-raciais, a educação escolar 
indígena e o processo de inclusão das pessoas com 
deficiência, elementos que foram invisibilizados pelos 
detentores de poder durante a maior parte da história de 
nosso país.
Inicialmente, abordamos as Leis nº 10.639, de 2003, e nº 
11.645, de 2008, responsáveis por converter as histórias e 
as culturas de afrodescendentes e de povos originários 
de nosso território em tópicos obrigatórios dos currículos 
escolares brasileiros, democratizando o acesso a essas 
informações e combatendo a discriminação baseada na 
ignorância. Por fim, tratamos das políticas de inclusão de 
portadores de necessidades especiais.
Base Nacional Comum Curricular
37
Histórico, Objetivos e Práticas da BNCC
OBJETIVO:
No decorrer deste capítulo, compreenderemos o que a 
Base Nacional Comum Curricular é e ficaremos a par de 
como foi criada. Embora seja mais curto do que os demais, 
seu conteúdo não é menos importante..
Definição de Base Nacional Comum 
Curricular
Caro aluno, apesar de, nos capítulos anteriores, mencionarmos 
a Base Nacional Comum Curricular, a famosa BNCC, em diversos 
contextos, você conseguiria, a esta altura, definir o que esse documento 
é? Demos-lhe uma pista quando abordamos as Diretrizes Curriculares 
Nacionais: afirmamos que se trata de uma referência para a construção 
dos currículos escolares. Isso, porém, não é suficiente para esclarecer as 
verdadeiras dimensões da Base Nacional Comum Curricular.
Figura 10 – Base Nacional Comum Curricular
Fonte: Brasil (2018).
Base Nacional Comum Curricular
38
Com o intuito de lhe apresentar uma definição clara e concisa 
do que seja a Base Nacional Comum Curricular, recorremos ao próprio 
documento:
A Base Nacional Comum Curricular] é um documento 
de caráter normativo que define o conjunto orgânico 
e progressivo de aprendizagens essenciais que todos 
os alunos devem desenvolver ao longo das etapas 
e modalidades da Educação Básica, de modo a que 
tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e 
desenvolvimento (BRASIL, 2017, p. 7).
Temos, a partir de agora, um terreno sólido em que nos apoiar: 
trata-se de um documento cujo objetivo é garantir que, durante a 
permanência dos estudantes na Educação Básica (Educação Infantil, 
Ensino Fundamental e Ensino Médio), adquiram todas as habilidades e 
as competências consideradas relevantes para a sua vida em sociedade. 
Por essa razão, o documento elenca conhecimentos de várias naturezas 
(científicos, artísticos, culturais, sociais e emocionais), defendendo uma 
perspectiva integradora e transdisciplinar de construção de aprendizagens.
O caráter da Base Nacional Comum Curricular, além de ser 
compulsório, é unificador, ao menos no nível da idealização dos 
currículos, como forma de evitar que a qualidade da Educação Básica 
varie em função de variáveis geográficas e sociais. Contudo, não é 
correto supor que o documento defina um mesmo currículo para todo o 
país. Em vez disso, é elencado um conjunto mínimo de habilidades e de 
competências que devem ser ensinados aos alunos brasileiros, e, a partir 
desse conjunto, estados, municípios e instituições escolares criarão seus 
currículos autonomamente.Base Nacional Comum Curricular
39
Figura 11 - Unificação da qualidade educacional
Fonte: Elaborada pelo autor (2022).
A Base Nacional Comum Curricular está dividida em quatro partes:
 • Na primeira, “Textos introdutórios”, localizamos uma apresentação 
do documento e dos fundamentos pedagógicos;
 • Na segunda, “Competências gerais”, encontramos um conjunto 
de dez habilidades e saberes que, de acordo com o Ministério da 
Educação, os estudantes devem adquirir e aprimorar ao longo da 
Educação Básica; 
 • Na terceira, “Competências específicas”, somos apresentados 
aos conjuntos de habilidades e de saberes das diferentes áreas 
do conhecimento, em função das suas diferentes etapas e dos 
componentes curriculares; 
Base Nacional Comum Curricular
40
 • Na quarta, “Direitos de Aprendizagem ou Habilidades”, nos 
deparamos com um conjunto de saberes associados à prática dos 
objetos de conhecimento de cada etapa da Educação Básica, os 
quais podem ser conteúdos, conceitos e processos.
Apesar de ter sido finalizada em 2018, não é uma proposta recente. 
De acordo com Arnhold e Martins (2021), desde a promulgação da 
Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional, pelo menos, existe a previsão de que um documento dessa 
natureza fosse desenvolvido.
Art. 210. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino 
fundamental, de maneira a assegurar formação básica 
comum e respeito aos valores culturais e artísticos, 
nacionais e regionais (BRASIL, 1988, on-line).
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino 
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional 
comum, a ser complementada, em cada sistema de 
ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma 
parte diversificada, exigida pelas características regionais 
e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos 
educandos (BRASIL, 1996, on-line).
Figura 12 – Educação Infantil
Fonte: Pixabay.
Base Nacional Comum Curricular
41
Nas Diretrizes Curriculares Nacional, o intento está, se isso for 
possível, mais claro do que nos documentos citados:
Artigo 14. A base nacional comum na Educação Básica 
constitui-se de conhecimentos, saberes e valores 
produzidos culturalmente, expressos nas políticas públicas 
e gerados nas instituições produtoras do conhecimento 
científico e tecnológico; no mundo do trabalho; no 
desenvolvimento das linguagens; nas atividades 
desportivas e corporais; na produção artística; nas formas 
diversas de exercício da cidadania; e nos movimentos 
sociais. § 1º Integram a base nacional comum nacional: 
a) a Língua Portuguesa; 
b) a Matemática; 
c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realidade 
social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o 
estudo da História e das Culturas Afro-Brasileira e Indígena, 
d) a Arte, em suas diferentes formas de expressão, 
incluindo-se a música; 
e) a Educação Física; 
f) o Ensino Religioso (BRASIL, 2013, on-line).
O Plano Nacional de Educação referente ao decênio 2014-2024 
reforça, mais ainda, a criação de um documento regulador universal:
15.6) promover a reforma curricular dos cursos de 
licenciatura e estimular a renovação pedagógica, de 
forma a assegurar o foco no aprendizado do (a) aluno (a), 
dividindo a carga horária em formação geral, formação 
na área do saber e didática específica e incorporando as 
modernas tecnologias de informação e comunicação, em 
articulação com a base nacional comum dos currículos da 
educação básica, de que tratam as estratégias 2.1, 2.2, 3.2 e 
3.3 deste PNE (BRASIL, 2014, on-line).
Além dos documentos legais a que fomos apresentados no capítulo 
anterior, a elaboração da Base Nacional Comum Curricular está associada 
à realização de uma série de conselhos, de seminários e de consultas 
públicas, passando por sucessivas etapas de idealização, de esboço e de 
redação, até sua versão atual ter sido obtida.
Base Nacional Comum Curricular
42
Durante todo o processo de construção da Base Nacional Comum 
Curricular, tanto especialistas em educação quanto leigos foram ouvidos, 
de modo que as propostas concretizassem, de fato, os anseios do país. 
Nas Figuras 13, 14 e 15 estão alguns dos principais marcos de cada uma 
das três versões da Base Nacional Comum Curricular.
Figura 13 – Marcos da primeira versão da Base Nacional Comum Curricular
06/2015
Seminário Interinstitucional com vistas à formulação 10 da Base 
Nacional Comum Curricular.
07/2015
Instituição da Portaria nº 592 pelo Ministério da Educação, a fim de 
elaborar a primeira versão da Base Nacional Comum Curricular .
09/2015
Publicação da primeira versão da Base Nacional Comum Curricular 
sem a inclusão do Ensino Médio.
Fonte: Elaborada pelo autor (2022).
Figura 14 – Marcos da segunda versão da Base Nacional Comum Curricular
03/2015
Fim da consulta pública sobre a primeira versão da Base Nacional 
Comum Curricular. 
03 a 055/2015
Especialistas da Universidade de Brasília analisam as contribuições 
da consulta pública.
05/2016
Publicação da segunda versão da Base Nacional Comum Curricular. 
Fonte: Elaborada pelo autor (2022).
Figura 15 – Marcos da terceira versão da Base Nacional Comum Curricular
05/2016
Consulta pública sobre a segunda versão da Base Nacional Comum 
Curricular. 
04/2017
Publicação da terceira versão da Base Nacional Comum Curricular.
07/2016
Circulação nacional e preparação das orientações da Base Nacional 
Comum Curricular para as instituições de ensino.
Fonte: Elaborada pelo autor (2022).
Base Nacional Comum Curricular
43
A versão final da Base Nacional Comum Curricular concernente 
ao Ensino Fundamental foi concluída em 2017, enquanto a referente ao 
Ensino Médio foi concluída em 2018 e reestruturou, completamente, essa 
etapa de ensino. 
RESUMINDO:
Neste capítulo, percebemos que a criação da Base 
Nacional Comum Curricular não é uma iniciativa pontual; 
está prevista, ao contrário, em uma série de documentos 
legais mais antigos, como são os casos da Constituição 
Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional. 
Em seguida, exploramos, mesmo que o tenhamos 
feito de maneira abreviada, os marcos da elaboração 
desse documento, que demandou o comprometimento 
de diversos segmentos sociais. Por fim, destacamos 
a importância que a proposta de realinhamento dos 
fundamentos teóricos e metodológicos para a Educação 
Básica feita pela Base Nacional Comum Curricular alcança 
no contexto sociopolítico atual.
Base Nacional Comum Curricular
44
A BNCC e o Currículo Escolar
OBJETIVO:
Agora que temos uma noção ampla do que é a Base 
Nacional Comum Curricular e de como influenciou o sistema 
educacional brasileiro, discutiremos, neste capítulo, razões 
pelas quais a Base Nacional Comum Curricular difere de 
um currículo escolar.
Considerando que no capítulo anterior contemplamos a definição 
do que é a Base Nacional Comum Curricular, iniciaremos este com 
a definição de currículo. De acordo com Saviani (2016), o conceito 
de currículo é tomado, em sentido amplo, ou como um conjunto de 
disciplinas que formam o repertório de um curso ou como um conjunto 
de conteúdos que perfazem uma disciplina.
A primeira acepção do termo, ainda que remeta a abordagens 
pedagógicas de cunho tradicional, está muito próxima da que temos 
assumido nesta disciplina. Por sua vez, a segunda acepção é sinônima do 
conceito de programa de disciplina.
Figura 16 – Currículo escolar e práticas educacionais
Fonte: Freepik.
Base Nacional Comum Curricular
45
No sentido que currículo tem para nós, é verdadeiro afirmar que 
reúne, além de um conjunto de disciplinas, toda uma gama de elementos 
teóricos e práticos necessários à construção dos Projetos Político-
Pedagógicos e das práticas educacionais das instituições de ensino. 
Podemos concluir, então, que cada currículo escolar é único, na medida 
em que descenda de demandas socioculturais atreladas à realidade das 
instituições de ensino e dos alunos queas frequentam.
Se refletirmos um pouco sobre o que acabamos de ler, 
perceberemos que a Base Nacional Comum Curricular não é compatível 
com o conceito de currículo. Ao folheá-la, você deve ter notado que 
não existe, em nenhuma de suas mais de 500 páginas, a imposição de 
estratégias didático-pedagógicas e de conteúdo. Ao contrário, você deve 
ter reparado, certamente, que o documento propõe um caminho lógico, 
sustentado por aprendizagens essenciais e por competências, que deve 
ser seguido pelas instituições de ensino no processo de elaboração de 
seus currículos.
Embora simples, a pergunta “o que é currículo?” não tem 
encontrado uma resposta fácil. Desde o início do século 
passado ou mesmo desde um século antes, os estudos 
curriculares têm definido “currículo” de formas muito 
diversas, e várias dessas definições permeiam o que tem 
sido denominado currículo no cotidiano das escolas. Indo 
dos guias curriculares propostos pelas redes de ensino 
àquilo que acontece em sala de aula, currículo tem 
significado, entre outros, a grade curricular com disciplinas/
atividades e cargas horárias, o conjunto de ementas e os 
programas das disciplinas/atividades, os planos de ensino 
dos professores, as experiências propostas e vividas pelos 
alunos. Há, certamente, um aspecto comum a tudo isso 
que tem sido chamado currículo: a ideia de organização, 
prévia ou não, de experiências/situações de aprendizagem 
realizadas por docentes/redes de ensino, de forma a levar 
a cabo um processo educativo. Sob tal “definição”, no 
entanto, se esconde uma série de outras questões que 
discutiremos ao longo deste e dos demais capítulos, e que 
vêm sendo objeto de disputas na teoria curricular (LOPES; 
MACEDO, 2003, p. 15).
Base Nacional Comum Curricular
46
A construção curricular das instituições de ensino, por sua vez, como 
não é segredo para nós, tem de seguir uma série de orientações legais, 
seja de seus municípios, seja de seus estados, seja da União. Nesse ponto, 
reside o caráter obrigatório da Base Nacional Comum Curricular: quando 
estipula um conjunto de aprendizagens essenciais e de competências a 
ser adotado em toda a amplitude de nossa federação, o documento não 
limita a construção de curriculares e garante – teoricamente, ao menos 
– que todos os estudantes brasileiros tenham acesso a processos de 
ensino-aprendizagens de qualidade idêntica.
Do outro lado da equação, para além das normas jurídicas e das 
instituições de ensino, há, ainda, os professores, que criarão objetivos de 
aprendizagem e decidirão com quais conteúdos curriculares trabalhar a 
partir das orientações da Base Nacional Comum Curricular, a partir dos 
demais documentos educacionais normalizadores e a partir do currículo 
e do Projeto Político-Pedagógico vigentes em suas escolas. Na Figura 
17, esquematizamos as várias camadas envolvidas na elaboração de um 
currículo e no planejamento e na prática docente.
Figura 17 – Camadas envolvidas na elaboração de um currículo e no planejamento e na 
prática docente
Fonte: Adaptada de Brasil (2018).
Base Nacional Comum Curricular
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Conforme está estipulado nessa configuração, para além de 
orientações e de atribuições pedagógicas adaptáveis à realidade de cada 
instituição de ensino, os currículos estaduais e municipais funcionam como 
uma espécie de ferramenta intermediária de gestão para a implementação 
e para o acompanhamento de políticas públicas de educação, dentre as 
quais se incluem, obviamente, a Base Nacional Comum Curricular.
Quando explicamos, há pouco, que a Base Nacional Comum 
Curricular reverte o foco no conteúdo, algo típico de abordagens 
pedagógicas tradicionais, em foco nas capacidades dos alunos, além 
de os processos de ensino-aprendizagem adquirirem funções sociais 
inequívocas, a ideia de currículo escolar sofre, também, uma mudança 
radical. 
De conjunto de disciplinas e de estratégicas didático-pedagógicas, 
o currículo escolar se torna algo íntegro e cíclico, fundamentado na 
transversalidade de conteúdos e de áreas de conhecimento. Arriscamo-
nos a defender que o documento aposta na “indisciplina”, considerando 
que esse termo acione a ausência de lacunas entre as disciplinas escolas.
NOTA:
A Base Nacional Comum Curricular demonstra claramente a 
compreensão de que currículos escolares são construções 
socioculturais, o que os torna sujeitos às volatilidades de 
nossa sociedade e, consequentemente, a reformulações. 
Nesse contexto, não temos nenhuma margem para 
considerá-los um mero elenco de disciplinas, de estratégias 
pedagógicas e conteúdo.
Na Base Nacional Comum Curricular são apresentadas ações 
essenciais para a prática dos currículos escolares. São essas ações 
os elementos que nos permitem, na condição de educadores, ajustar 
as orientações do documento ao contexto sociocultural de nossas 
instituições escolares e de nossos alunos.
Base Nacional Comum Curricular
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Quadro 2 – Ações direcionadas à prática dos currículos escolares
Contextualizar os conteúdos dos componentes curriculares, identificando 
estratégias para apresentá-los, representá-los, exemplificá-los, conectá-los e 
torná-los significativos, com base na realidade do lugar e do tempo nos quais 
as aprendizagens estão situadas.
Decidir sobre formas de organização interdisciplinar dos componentes 
curriculares e fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares 
para adotar estratégias mais dinâmicas, interativas e colaborativas em relação 
à gestão do ensino e da aprendizagem.
Selecionar e aplicar metodologias e estratégias didático-pedagógicas 
diversificadas, recorrendo a ritmos diferenciados e a conteúdos complementares, 
se necessário, para trabalhar com as necessidades de diferentes grupos de 
alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades, seus grupos de 
socialização etc.
Conceber e pôr em prática situações e procedimentos para motivar e engajar 
os alunos nas aprendizagens.
Construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de processo ou de 
resultado que levem em conta os contextos e as condições de aprendizagem, 
tomando tais registros como referência para melhorar o desempenho da 
escola, dos professores e dos alunos.
Selecionar, produzir, aplicar e avaliar recursos didáticos e tecnológicos para 
apoiar o processo de ensinar e aprender.
Criar e disponibilizar materiais de orientação para os professores, bem como 
manter processos permanentes de formação docente que possibilitem 
contínuo aperfeiçoamento dos processos de ensino e aprendizagem.
Manter processos contínuos de aprendizagem sobre gestão pedagógica e 
curricular para os demais educadores, no âmbito das escolas e sistemas de 
ensino.
Fonte: Brasil (2018).
Na forma dessas ações, encontramos outro valioso instrumento 
que converte a Base Nacional Comum Curricular em um documento 
que, de fato, apresenta a potencialidade de ser comum. Não se trata de 
instruções complexas e específicas de quais conhecimentos ensinar e 
quais estratégias usar para fazer isso, mas, sim, de práticas passíveis de 
implementação no cotidiano de grande parte das escolas brasileiras:
Base Nacional Comum Curricular
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 • Fala-se em selecionar e aplicar metodologias e estratégias 
didático-pedagógicas diversificadas, não em utilizar metodologias 
e estratégias didático-pedagógicas tecnológicas.
 • Fala-se em construir e aplicar procedimentos de avaliação 
formativa de processo ou de resultado que levem em conta os 
contextos e as condições de aprendizagem, não em construir 
e aplicar procedimentos de avaliação de dependam de uma 
ferramenta específica.
 • Fala-se em criar e disponibilizar materiais de orientação para 
os professores, bem como manter processos permanentes de 
formação docente, não em criar e disponibilizar materiais de 
formação continuada que sejam de um tipo único.
Portanto, às instituições escolares, está resguardado o direito de 
se apropriar das orientações da Base Nacional Comum Curricularque for 
mais adequada às suas capacidades.
Figura 18 – Instituição escolar
Fonte: Pixabay.
Base Nacional Comum Curricular
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De acordo com as concepções da Base Nacional Comum Curricular, 
a formação em nível de Educação Básica deve ser abrangente e abarcar 
as dimensões acadêmica, social e emocional. Para que esse objetivo seja 
cumprido, o documento se vale de uma mudança de orientação teórico-
metodológica, sobretudo em relação às orientações curriculares, a partir 
da assunção de um conjunto de aprendizagens essenciais – saberes 
baseados em competências que devem ser adquiridos e desenvolvidos 
pelos estudantes ao longo da Educação Básica.
Com a substituição do “saber saber” pelo “saber fazer”, a Base 
Nacional Comum Curricular obsta, diretamente, contra a manutenção de 
currículos de orientação tradicional que não questionam a relevância dos 
conteúdos curriculares para os objetivos de aprendizagem das aulas e 
para a atuação dos alunos em sociedade. Isso nada tem que ver com 
o negligenciamento de conhecimentos que costumavam ser ensinados 
no passado; trata-se, ao contrário, de apresentar aos alunos as funções 
sociais dos seus novos conhecimentos.
Ao adotar esse enfoque, a BNCC indica que as 
decisões pedagógicas devem estar orientadas para o 
desenvolvimento de competências. Por meio da indicação 
clara do que os alunos devem “saber” (considerando a 
constituição de conhecimentos, habilidades, atitudes 
e valores) e, sobretudo, do que devem “saber fazer” 
(considerando a mobilização desses conhecimentos, 
habilidades, atitudes e valores para resolver demandas 
complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da 
cidadania e do mundo do trabalho), a explicitação das 
competências oferece referências para o fortalecimento 
de ações que assegurem as aprendizagens essenciais 
definidas na BNCC (BRASIL, 2018, p. 13).
As aprendizagens essenciais e as competências gerais são 
acionadas durante todas as etapas da Educação Básica. Isso significa 
que não se esgotam depois de terem sido exploradas ao longo de um 
segmento. Na verdade, são elementos cíclicos e funcionam como eixo 
das competências específicas e dos currículos escolares. Na Figura 19, 
indicamos as competências gerais propostas pela Base Nacional Comum 
Curricular.
Base Nacional Comum Curricular
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Figura 19 – Competências gerais propostas pela Base Nacional Comum Curricular
Fonte: Elaborada pelo autor (2022).
Quando analisamos a Figura 19, concluímos, sem grande esforço, 
que a Base Nacional Comum Curricular mobiliza seus esforços em prol 
de uma extensa transformação social, elegendo as instituições escolares 
como o ponto de partida para mudanças.
Outra evidência de realinhamento de orientação teórico-
metodológica está no conceito de competência, que atravessa todas as 
proposições da Base Nacional Comum Curricular. Trata-se da capacidade 
dos estudantes de mobilizar elementos das dimensões acadêmica 
(conceitos e procedimentos), social (práticas e habilidades) e emocional 
(capacidades cognitivas) em favor da resolução de problemas de seu 
cotidiano (BRASIL, 2018).
Base Nacional Comum Curricular
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Em outros países, a estruturação de diretrizes curriculares e de 
currículos mínimos se fundamenta no conceito de competência há 
mais tempo, como recomendam a Organização para a Cooperação 
e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que coordena o Programa 
Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) e a Organização das Nações 
Unidas (BRASIL, 2018).
RESUMINDO:
Neste capítulo, cumprimos o propósito de acentuar as 
diferenças entre a noção de currículo e o conteúdo da Base 
Nacional Comum Curricular. Para isso, definimos o que 
são esses elementos e os cotejamos, recorrendo a vários 
teóricos. Em seguida, evidenciamos que o documento 
apresenta uma série de orientações direcionadas à 
elaboração de currículos por parte das instituições 
escolares e dos professores. Por fim, mencionamos as 
aprendizagens essenciais e as competências gerais 
postuladas pela Base Nacional Comum Curricular, critérios 
que devem ser acionados, ciclicamente, durante todas as 
etapas da Educação Básica, como meio de garantir uma 
educação de qualidade para os estudantes brasileiros.
Base Nacional Comum Curricular
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REFERÊNCIAS
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