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ABORDAGEM DA EDUCAÇÃO FINANCEIRA EM LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL II Luciana Morais de Freitas 1 Mario Sergio Taranto 2 RESUMO A Educação Financeira tem sido cada vez mais necessária nos dias atuais em que grande parte da população brasileira encontra-se endividada. É uma temática importante no âmbito escolar e deve ser leva em consideração por políticas públicas educacionais. São diversos os meios pelos quais essas informações podem chegar à população em geral, porém, sem dúvidas a educação é uma forma eficaz de disseminar essas informações e inseri-las no cotidiano do indivíduo. No ambiente escolar, um dos principais recursos utilizados por professores e alunos são os livros didáticos. Os livros didáticos muitas vezes são o único recirso tido pelo professor no processo de ensino-aprendizagem. Nesse contexto, buscamos nessa pesquisa analisar os livros didáticos de Matemática dos anos finais do ensino fundamental aprovados no PNLD (2020-2023) na busca por atividades que apresentem potencial para trabalhos com educação financeira. Foram analisadas quatro coleções com todos os volumes do 6º ano ao 9º ano. Foram encontradas atividades com a temática da educação financeira em todas as coleções analisadas sendo que a maior parte das atividades se encontram concentradas nos volumes do 7º ano e do 9º ano. Concluímos que embora não seja uma obrigatoriedade a presença de atividades que tenham essa temática nos livros didáticos, a presença delas é importante e proveitosa no sentido de conscientizar os discentes para questões relacionadas às finanças. PALAVRAS-CHAVE: Educação financeira. Livro didático. Matemática financeira INTRODUÇÃO A Educação Financeira tem sido uma temática frequentemente abordada em artigos, conferências, teses e dissertações acadêmicas. Esse crescimento na abordagem do tema se dá pela necessidade de se discutir o equilíbrio entre o consumo e o controle dos gastos, principalmente no cenário atual onde a falta de regramento com o orçamento tem levado grande parte dos brasileiros ao endividamento. O que se observa é uma enorme dificuldade das pessoas em lidar com as questões financeiras principalmente aquelas inseridas na rotina diária. Essas dificuldades poderiam ser amenizadas se o conhecimento a respeito de finanças fosse disseminado nas escolas a partir do ensino infantil fazendo com que a população incluísse em sua vida o hábito do controle de gastos. De acordo com pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) em parceria com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), no ano de 2018 foi constatado que quase metade da população brasileira não tem controle financeira e que as classes C, D e E são as mais endividadas. Ainda segundo a pesquisa, dos 59% que afirmaram ter dificuldades no controle financeiro, 34% dizem ter disciplina para isso, 12% afirmam que a falta de tempo é um impedimento para a organização da vida financeira e 5% relataram não ter aptidão com operações matemáticas necessárias para o controle financeiro. A inclusão da Educação Financeira na vida escolar é muito importante, principalmente no atual cenário pós pandemia do coronavírus e o quanto antes as crianças tiverem acesso a assuntos relacionados a esse tema, melhores serão as condições para inserir esse conhecimento em suas rotinas além de se tornarem adultos mais conscientes financeiramente. Nesse contexto, compreendemos que os conteúdos de matemática financeira são necessários e de grande relevância na vida escolar e que a forma como esses conteúdos são abordados e trabalhados também devem ser levados em consideração. Assim, o objetivo do presente trabalho foi avaliar e discutir as temáticas da Educação Financeira inseridas em quatro coleções de livros de matemática dos anos finais do ensino fundamental aprovadas pelo PNLD 2020 – 2023. As coleções foram escolhidas de forma aleatória de acordo com a disponibilidade dos livros para Dowland. Neste artigo serão apresentados os conceitos essenciais para a compreensão da temática da educação financeira e a sua importância no ensino regular. REFERENCIAL TEÓRICO EDUCAÇÃO FINANCEIRA e a escola Nos últimos anos, o tema Educação Financeira tem se tornado cada vez mais corriqueiro e abordado em diversos meios de comunicação e até em redes sociais. Isso se deve principalmente à crise financeira que assola o Brasil e o mundo como um todo onde se tem grande número de pessoas endividadas e desempregadas além de um percentual considerado de pessoas que estão na linha da pobreza e pobreza extrema. Segundo Claudino (2009), a educação financeira está relacionada à capacidade de ler e compreender os números e transformar isso em informação que seja capaz de auxiliar em um planejamento financeiro que garanta o consumo sustentável e que não comprometa o futuro das finanças pessoais. De acordo com Pereira et al., (2009), a Educação Financeira seria a forma didática pela qual se fornece dicas de como utilizar o dinheiro de forma inteligente. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (2005), define Educação Financeira como sendo “um processo em que o indivíduo faz escolhas conscientes e se mantém bem informado a respeito da economia, para, desta forma, elaborar a melhor maneira de lidar com o dinheiro”. Podemos observar de acordo com os conceitos descritos que um ponto importante é o acesso aos conhecimentos relacionados à temática da educação financeira para a sociedade em geral com o intuito de fazer com que elas saibam exatamente o quanto ganham e o quanto podem gastar sem que fiquem em situação de endividamento. Harv (2006, p.136) relata que “Os ricos não são mais inteligentes do que os indivíduos de mentalidade pobre, apenas tem hábitos diferentes e mais positivos em relação às finanças”. O autor faz uma discussão interessante a respeito das crenças que cada um de nós alimenta desde a infância e que molda o nosso destino financeiro nos levando a situações difíceis. Isso se deve muitas vezes à falta de conhecimento a respeito de questões financeiras. De acordo com Matta (2007), a educação financeira passa pela compreensão das decisões sobre investimentos e poupança e também pelo entendimento sobre cargas tributárias, juros e inflação e também sobre economia doméstica. Messy (2012), relata que a educação financeira contempla também a compreensão a respeito do funcionamento do mercado financeiro e suas transações. De acordo com Ribeiro (2020) a Educação Financeira visa proteger e beneficiar as pessoas na medida em que estas aprendem a conhecer melhor sua renda, seus gastos e a escolher as melhores formas de investir o dinheiro com menor risco. É no ambiente familiar que se tem a oportunidade dos primeiros ensinamentos a respeito de finanças, as finanças domésticas são um prato cheio para discutir pontos importantes principalmente com as crianças e adolescentes. Cerbasi (2019, p.41) relata que “Os pais devem ter consciência da importância de cada fonte de inspiração e explorar ao máximo as ferramentas disponíveis para fazer do aprendizado um processo natural, agradável para quem ensina e para quem aprende” Além do ambiente familiar, a comunidade e a escola também são importantes no processo da Educação financeira. Freitas (2011) chama a atenção para o fato de que cabe à escola formar cidadãos críticos, reflexivos e autônomos que sejam conscientes de seus direitos e deveres e capazes de compreender a realidade em que vivem, preparados para participar da vida econômica, social e política do país. Segundo Modernell (2011, p.1) “Educação Financeira é um conjunto amplo de orientações sobre posturas e atitudes adequadas no planejamento e uso dos recursos financeiros pessoais”. Em seu livro, Peretti (2007, p.1) fala da importância da promoção da Educação Financeira afirmando que: A pessoa alfabetizada financeiramente sabe onde quer chegar, sabe lidar com situações que estão fora da sua área de autoridade e lidar com o dinheiro, sabe como ganhar, gastar, investir, poupar e doar. Por esta razão que chamamosde Educação Financeira um instrumento capaz de proporcionar às pessoas melhor bem estar e melhor qualidade de vida. No Brasil a Educação Financeira passou a fazer parte dos debates governamentais em 2006 com a formação do Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiros, de Capitais, de Seguros, de Previdência e de Capitalização (COREMEC). Esse comitê tinha a finalidade de promover a coordenação e o aprimoramento da atuação de entidades da administração pública federal que regulavam e fiscalizavam as atividades relacionadas à captação pública da poupança popular. Uma outra atribuição do Coremec era a criação de grupos de trabalho para tratar de assuntos específicos. Como resultado das várias discussões promovidas pelo grupo de trabalho constituído pelo Coremec tem-se a instituição formal da Estratégia Nacional de Educação financeira (ENEF) através da publicação do Decreto nº 7.397 de 22 de dezembro de 2010 que tem sua finalidade descrita no Art. 1º Art. 1º. Fica instituída a Estratégia Nacional de Educação Financeira – ENEF, com a finalidade de promover a educação financeira e previdenciária e contribuir para o fortalecimento da cidadania, a eficiência e solidez do sistema financeiro nacional e a tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores. A Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF) foi anunciada no ano de 2010 como um guia de políticas e ações de promoção da educação financeira para a população em geral. Entre 2010 e 2011 ocorreram as primeiras ações da ENEF no Brasil com o objetivo de disseminar a educação financeira nas escolas através de um projeto piloto chamado “Educação Financeira nas Escolas para o Ensino Médio”. Esse projeto foi executado em parceria com o Banco Mundial em 891 escolas públicas de seis Unidades da Federação. Como produto dessa parceria, foram produzidos três livros com orientações de atividades para professores de português, ciências, história, geografia e matemática, com conteúdos de temáticas financeiras associadas ao dia a dia dos alunos (Cunha, 2020). De acordo com Pereira (2015), as iniciativas da ENEF para crianças e jovens em idade escolar são fundamentais pois incentivam a disseminação dos conteúdos com a temática em questão nos núcleos familiares atingindo assim as famílias como um todo. Para o Ensino Fundamental também houveram ações de disseminação do projeto com estruturação do material didático no sentido de despertar o interesse sobre educação financeira desde cedo. Os materiais foram produzidos por ciclo com a integração dos conteúdos financeiros às situações cotidianas levando em consideração a faixa etária dos alunos (AEF-Brasil, 2020). Uma das ações de grande importância na disseminação e conscientização a respeito da temática da educação financeira nas escolas foi a implementação do curso de formação a distância chamado “Educação Financeira nas Escolas”, direcionado para professores dos ensinos médio e fundamental. Esse curso atualmente recebe o nome de “Finanças sem Segredos” e tem como objetivo principal a inserção da temática da educação financeira na comunidade escolar e também no cotidiano da comunidade. No mesmo Decreto nº7.397, de 22 de dezembro de 2010, também é citado a criação do Comitê Nacional de Educação Financeira – CONEF que é formado por representantes de vários ministérios dentre eles o Ministério da Educação e órgãos reguladores, instituições financeiras e também representantes da sociedade civil. O CONEF tem a responsabilidade de promover a ENEF através de programas e ações de Educação Financeira. Para auxiliar o CONEF, o decreto em questão prevê a criação de um grupo de apoio pedagógico, responsável pela elaboração de planos para programas e ações de Educação Financeira em âmbito nacional. No ano de 2011, o Comitê Nacional de Educação Financeira foi responsável pela criação da Associação de Educação Financeira do Brasil – AEF-Brasil, mantida por importantes instituições do mercado financeiro, tendo como objetivo a implementação de ações e programas de estratégia nacional de educação financeira. Essa associação tem como missão contribuir para o fortalecimento da cidadania, promovendo e poiando ações que contribuam para que indivíduos possam tomar decisões autônomas e conscientes. Em 09 de junho de 2020, foi promulgado o Decreto nº 10.393 que instituiu a nova Estratégia Nacional de Educação Financeira tendo como finalidade a promoção da educação financeira, securitária, previdenciária e fiscal no país e também a criação do Fórum Brasileiro de Educação Financeira revogando assim o Decreto anterior do ano de 2010. A nova ENEF diferencia-se da anterior por não incluir representantes da sociedade civil em seu colegiado; não tem o foco na formação do indivíduo como cidadão capaz de adotar atitudes conscientes com relação ao consumo, enfatizando apenas a finalidade de promover a educação financeira, securitária e fiscal no país; mantém apenas o Ministério da Educação como participante do FBEF, excluindo os demais ministérios. Outro fato marcante foi que no ano de 2017 a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) incluiu a educação financeira como temática transversal obrigatória devendo ser trabalhada de forma contextualizada juntamente com os componentes curriculares (Brasil, 2017). No documento oficial da BNCC publicado em 2018, encontra-se a expressão “Educação Financeira” em diferentes momentos. Na parte introdutória do documento o termo Educação Financeira é citado como um dos temas contemporâneos que devem permear o currículo de forma transversal e integrada conforme descrito a seguir: Por fim, cabe aos sistemas e redes de ensino, assim como às escolas, em suas respectivas esferas de autonomia e competência, incorporar aos currículos e às propostas pedagógicas a abordagem de temas contemporâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global, preferencialmente de forma transversal e integrada. Entre esses temas, destacam-se: educação para o consumo, educação financeira e fiscal. (BNCC, p.18). Também se encontra referência à Educação Financeira nas habilidades destacadas para o Ensino Fundamental no documento da BNCC. Nessas habilidades cita-se o “Compromisso do Letramento Matemático” através das competências de raciocínio, comunicação e argumentação matemática, auxiliando na tomada de decisão e resolução de problemas cotidianos. Em outro trecho do documento encontra-se referência à Educação Financeira nas áreas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas conforme descrito a seguir: Há hoje mais espaço para o empreendedorismo individual, em todas as classes sociais, e cresce a importância da educação financeira e da compreensão do sistema monetário contemporâneo nacional e mundial, impascindíveis para uma inserção crítica e consciente no mundo atual (BNCC, p.568). A Educação Financeira vem se popularizando cada vez mais principalmente com a atividade de profissionais que tratam do assunto de forma acessível utilizando a internet. Diversos consultores financeiros têm usado as redes sociais como meio para a disseminação da Educação Financeira. É possível encontrar perfis em diferentes redes sociais que abordam o assunto de maneiras distintas e que podem se adequar melhor a necessidades específicas dos seguidores. A difusão da Educação Financeira na educação regular também tem sido muito discutida como mais uma possibilidade de popularização desse conhecimento. Segundo (2012), discutir a Educação Financeira no ensino é ter a possibilidade de atingir vários segmentos da população. Melo (2019) relata que por muito tempo o assunto foi tratado apenas em instituições financeiras, privadas e públicas, por consultores financeiros que orientavam as pessoas para o uso do dinheiro a fim de evitar o endividamento e o comprometimento de renda. O PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO (pnld) O livro didático tem um papel de grande importância mesmo na atualidade onde tem-se acesso a diversos outros materiais e recursos pedagógicos digitais. O livro ainda é visto como um dos mais essenciais materiais de ensinoe aprendizagem no contexto escolar. De acordo com Costa e Allevedo (2010), o livro didático tem a função de contribuir para o ensino-aprendizagem além de ser considerado “um interlocutor” que dialoga tanto com o professor quanto com os alunos. O livro é uma importante ferramenta que aliada ao trabalho do professor serve como um guia para um trabalho pedagógico mais eficiente. Segundo Trindade e Ferreira (2016), o livro didático tem participação importante no material escolar com o objetivo de contribuir para o processo de aprendizagem e em muitos casos é usado como único material de apoio ao ensino, devido às condições precárias do sistema educacional público. O livro didático também contribui para que o professor se mantenha atualizado. Dante (1996, p.63) relata que “para professores com formação insuficiente em matemática, um livro didático correto e com enfoque adequado pode ajudar a suprir essa eficiência”. Vale ressaltar que o livro didático deve ser escolhido com muito cuidado e cautela a fim de alcançar os objetivos do professor ou daquele aluno que terá acesso ao mesmo, conforme descreve Lajolo (1996): Nenhum livro didático, por melhor que seja, pode ser utilizado sem adaptações. Como todo e qualquer livro, o didático também propicia diferentes leituras para diferentes leitores, e é em função da liderança que tem na utilização coletiva do livro didático que o professor precisa preparar com cuidado os modos de utilização dele, isto é, as atividades escolares através das quais um livro didático vai se fazer presente no curso em que foi adotado (LAJOLO, 1996, p.8). O livro didático além de ser fonte de pesquisa para o professor, também gera muitos benefícios para o discente conforme descrito por Dante a seguir: Em geral, só a aula do professor não consegue fornecer todos os elementos necessários para a aprendizagem do aluno, uma parte deles com problemas, atividades e exercícios pode ser coberta recorrendo-se ao livro didático (Dante, 1996, p.63). Um fato importante no acesso ao livro didático foi a criação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) que têm por objetivo prover as escolas públicas de ensino fundamental e médio, urbanos e rurais, federais, estaduais e municipais, com livros didáticos e acervos de obras literárias, obras complementares e dicionários. O PNLD sem dúvidas representa um avanço no que diz respeito a políticas públicas principalmente quando se leva em consideração que a desigualdade social é um problema para a inclusão educacional do cidadão em todas as esferas do ensino (Infantil, Fundamental, Médio ou na Educação de Jovens e Adultos). O processo de seleção das obras para o programa é feito através de um edital no qual as editoras interessadas submetem suas obras que devem atender a todas as exigências descritas no edital, sejam elas físicas, gráficas, metodológicas ou outras. Após a avaliação, as obras aprovadas são disponibilizadas para a escolha dos professores naquelas escolas que aderiram ao programa. O PNLD foi implantado no Brasil em 1985 e de acordo com Romanini (2013, p.6) desde o ano de 1997, o programa vem sendo considerado como um dos maiores programas do mundo em volumes distribuídos e também em recursos gastos. Este é um programa de Estado que de certa forma permite o acesso ao conhecimento de maneira democrática, beneficiando a uma quantidade considerada de alunos embora em muitos casos esses exemplares tenham dificuldades logísticas para chegar nas mãos dos discentes. O PNLD constitui-se em uma política pública educacional relevante. A respeito da eficiência desse programa Caimi (2018, p.23) descreve que: Em seu percurso, o PNLD atravessou diversas gestões presidenciais mantendo a concepção básica de que o Estado deve dedicar atenção aos processos de avaliação, aquisição e distribuição de livros didáticos e, ao fazê-lo, estabelece critérios que incidem também sobre os processos de produção e editoração assegurando as condições para que os estudantes da educação básica recebam livros cada vez mais qualificados. A história do PNLD inicia-se no ano de 1929 com a criação do Instituto Nacional do Livro (INL). Com o passar dos anos o programa passou por críticas e ajustes que ocasionaram diversas transformações até chegar ao modelo que temos hoje. Devido à sua universalização, o PNLD ficou conhecido como um dos maiores programas de distribuição de livros. Essa expansão ocorreu de forma gradativa com maior intensidade na década de 2000 (ZAMBOM; TERRAZZAN, 2013). Segundo Santos & Bomfim (2019), a qualidade dos materiais contidos no PNLD é aferida por docentes das universidades públicas que realizam a avaliação dos livros didáticos de cada componente curricular e a relação daqueles tidos como adequados é disponibilizado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) que divulga os resultados nos seus portais digitais. De acordo com dados estatísticos divulgados no site do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no ano de 2019 foram investidos cerca de R$ 1.102.571.912,18 na aquisição de mais de 126 milhões de exemplares provenientes de 25 diferentes editoras. O fato de se ter altos números nos valores gastos com a aquisição de livros didáticos, não se configura no fato de que esses livros realmente chegaram às salas de aula. Sabemos que o caminho para que esses livros sejam de fato entregues aos discentes e docentes é longo e muitas vezes tortuoso. Muitas vezes os livros chegam às escolas com atraso ou não chegam e ficam estocados em galpões por anos. É necessário que haja um engajamento tanto por parte do governo federal como os estaduais e municipais no sentido de fazer com que os livros adquiridos no programa realmente cheguem a tempo aos alunos no ano escolar. Na matemática, o livro didático se constitui como um instrumento principal que orienta o conteúdo a ser ministrato, a sequência dos conteúdos, as atividades de aprendizagem e avaliação para o ensino. É de grande importância que os livros aprovados no PNLD tragam conteúdos atuais e que reflitam o dia a dia dos alunos como é o caso dos conteúdos relacionados à educação financeira. 3 METODOLOGIA A proposta metodológica do trabalho consiste em analisar as atividades de quatro coleções de livros didáticos de matemática aprovados no Programa Nacional do Livro – PNLD (2020 – 2023), identificando aqueles que tratam da temática da Educação Financeira. Primeiramente foi realizada uma extensa revisão bibliográfica sobre o tema em questão partindo dos artigos, livros, teses e dissertações publicadas nos últimos 10 anos. Após a revisão foram realizados fichamentos dos mateais mais importantes. Foi realizada uma análise quantitativa nos volumes das coleções de matemática de todos os anos (6º, 7º, 8º e 9º anos) finais do Ensino Fundamental totalizando quatro livros analisados por coleção. Foram utilizadas quatro coleções (C1, C2, C3 e C4), escolhidas de forma aleatória entre as coleções aprovadas no PNLD (2020 – 2023) e por estarem disponíveis para download no site e-docente do Ministério da Educação. Analisamos todas as atividades das coleções escolhidas, no livro do aluno, e identificamos aquelas com potencial para trabalho com a temática educação financeira. De cada coleção foram catalogadas todas as atividades. Após a análise foi confeccionada uma tabela com os resultados para cada coleção e cada ano. 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO A seguir estão descritos os resultados encontrados após a análise dos volumes das quatro coleções de livros de matemática aprovados no PNLD (2020 – 2023). Tabela1. Número de Atividades de Educação Financeira por coleção analisada e por volume. Coleções Volumes 6º Ano 7º Ano 8º Ano 9º Ano Total C1 3 5 4 21 33 C2 5 20 0 53 78 C3 9 42 0 23 74 C4 8 27 1 32 68 Total 25 94 5 129 253 Total % 9,88 37,15 1,98 50,98 100 Fonte: A autora A tabela acima nos mostra algumas informações importantes. Foram encontradas 33 atividades na coleção C1, 78 na coleção C2, 74 na coleção C3 e 68 na coleção C4 totalizando 253 atividades.É possível notar que a coleção C2 propõe o maior quantitativo de atividades envolvendo a educação financeira, enquanto que a coleção C1 é a que menos apresenta atividades com a temática em questão. A discussão aqui não tem a finalidade de afirmar que uma coleção é melhor ou pior do que a outra, as afirmações descritas acima servem de parâmetro exclusivamente em relação à temática pesquisada. Quando se analisa por ano, observa-se um total de 25 atividades para o 6º ano, 94 atividades para o 7º ano, 5 atividades para o 8º ano e 129 atividades para o 9º ano. Em termos percentuais o 9º ano corresponde a 50,98% do total de atividades e o 8º ano com o menor percentual de 1,98% do total de atividades com a temática da educação financeira. É possível observar que dentro do nosso entendimento sobre educação financeira nas coleções C2 e C3 no volume do 8º ano não foram encontradas atividades que envolvem contextos relacionados à educação financeira. Observa-se também que as atividades sobre EF estão mais concentradas nos volumes do 9º ano nas coleções C1, C2 e C4. Somente na coleção C3 observa-se uma concentração maior de atividades sobre educação financeira no volume do 7º ano. É possível que essa concentração do número de atividades nos volumes do 7º ano e 9º ano tenham referência aos conteúdos vigentes nesses anos destacando-se a matemática financeira. Santos (2015) avaliando 23 coleções de Alfabetização Matemática e 17 coleções de Matemática, observou que apenas 32 livros aprovados pelo PNLD do ano de 2016 apresentavam alguma atividade com a temática da educação financeira. Embora não tenha sido foco do trabalho analisar de forma profunda as atividades com a temática da educação financeira em uma análise suscinta observou-se que a maioria das atividades era superficial sem levar o aluno a uma discussão profunda a respeito da temática. Campos, Teixeira e Coutinho (2015) destacam que a matemática financeira é essencial no trabalho com a matemática em sala de aula e ressaltam que as discussões devem ir além dos conteúdos teóricos. Não foram observadas indicações de como direcionar as atividades contidas nos livros didáticos no livro do professor e no manual. O professor precisa estar muito atento para direcionar os conteúdos e atividades para a temática da educação financeira. É importante que os alunos do Ensino Fundamental tenham contato com conteúdos e atividades dentro da temática da Educação Financeira desde cedo e para isso é necessário que os livros didáticos sejam adaptados e que sejam inseridas atividades e discussões a respeito da temática. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Mesmo não sendo obrigatória a inclusão de atividades com a temática da educação financeira em livros didáticos, conseguimos observar e encontrar atividades com essa temática em todas as coleções analisadas pertencentes ao PNLD (2020-2023). É importante ressaltar que algumas coleções apresentam mais atividades do que outras o que nos mostra que não existe um padrão do quantitativo de atividades relacionadas a essa temática que devem estar inseridas nos livros de cada volume. As atividades encontradas são em grande parte pequenas com pouca possibilidade de discussões mais profundas a respeito do tema. Encontramos atividades muito superficiais, em que o professor precisa estar atento para utiliza-las no contexto da educação financeira. Concluímos que é de extrema importância que a temática da educação financeira esteja cada vez mais presente nos livros didáticos e nas atividades propostas pelo professor em sala de aula. Outros trabalhos como esse devem ser realizados no sentido de avaliar outras coleções de outras séries como Educação Infantil, Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos e fazer um comparativo cronológico para saber se estamos melhorando em termos de inserção da temática na educação. 6 Referências AEF-Brasil. (2020). Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF): em busca de um Brasil melhor (C. Forte (ed.)). Riemma Editora ANDRINI. A; Vasconcellos, M. J. Praticando matemática. Ed. Editora do Brasil. 4ª Edição – 2015 AZEVEDO, S. S.; MELO, D. P. Educação Financeira e Educação Matemática Crítica: análise de roteiros elaborados por professores da educação básica. 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