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1
AÇÃO PENAL
4a EDIÇÃO/2024
1. ASPECTOS GERAIS 3
2. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE AÇÃO PENAL 3
3. CONDIÇÕES DA AÇÃO 4
3.1. CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL
5
3.1.1. LEGITIMIDADE AD CAUSAM OU
LEGITIMIDADE PARA AGIR 5
3.1.1.1. LEGITIMIDADE ATIVA 6
3.1.1.2.LEGITIMIDADE PASSIVA 7
3.1.2. INTERESSE DE AGIR 8
3.1.3. JUSTA CAUSA 9
3.2. CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PARA
A CORRENTE MINORITÁRIA (AURY LOPES
JÚNIOR) 10
3.3. CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DA AÇÃO
(CONDIÇÕES DE PROCEDIBILIDADE) 11
3.4. CONDIÇÕES DE PROSSEGUIBILIDADE
(CONDIÇÃO SUPERVENIENTE DA AÇÃO) 11
3.4. CONDIÇÕES OBJETIVAS DE
PUNIBILIDADE E ESCUSAS ACUSATÓRIAS 12
4. CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES PENAIS 13
4.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA 13
4.1.1. TITULARIDADE 13
4.1.2. PEÇA ACUSATÓRIA 14
4.1.3. ESPÉCIES 14
4.1.3.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA
INCONDICIONADA 14
4.1.3.2. AÇÃO PENAL PÚBLICA
CONDICIONADA 14
4.2. AÇÃO PENAL PRIVADA 15
4.2.1. TITULARIDADE 16
4.2.2. PEÇA ACUSATÓRIA 16
4.2.3. ESPÉCIES 16
4.2.3.1. AÇÃO PENAL PRIVADA
EXCLUSIVA 16
4.2.3.2. AÇÃO PENAL PRIVADA
PERSONALÍSSIMA 17
4.2.3.3. AÇÃO PENAL PRIVADA
SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA OU AÇÃO
PENAL ACIDENTALMENTE PRIVADA
OU AÇÃO PENAL SUPLETIVA 17
5. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À AÇÃO PENAL 19
5.1. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À AÇÃO PENAL
PÚBLICA E À AÇÃO PENAL PRIVADA 19
5.1.1. PRINCÍPIO DA INÉRCIA DA
JURISDIÇÃO (NE PROCEDAT IUDEX EX
OFFICIO) 19
5.1.2. PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM
PROCESSUAL OU INADMISSIBILIDADE DA
PERSECUÇÃO PENAL MÚLTIPLA 20
5.1.3. PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA
20
5.2. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA 21
5.2.1. PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE
OU LEGALIDADE PROCESSUAL 21
5.2.2. PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE
OU INDESISTIBILIDADE 31
5.2.3. PRINCÍPIO DA DIVISIBILIDADE 32
5.3. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PRIVADA 32
5.3.1. PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE OU
CONVENIÊNCIA 32
5.3.2. PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE 33
5.3.3. PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE 34
5.4. QUADRO COMPARATIVO DOS PRINCÍPIOS
DA AÇÃO PENAL 35
6. AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA 38
7. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA 38
7.1. AÇÃO PENAL CONDICIONADA À
REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO 39
7.1.1. REPRESENTAÇÃO 39
7.1.2. PRAZO 40
7.1.3. RETRATAÇÃO 40
7.2. AÇÃO PENAL CONDICIONADA À
REQUISIÇÃO DOMINISTRO DA JUSTIÇA 41
8. AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA 41
8.1. AÇÃO PENAL EXCLUSIVAMENTE PRIVADA
42
8.2. AÇÃO PENAL PRIVADA PERSONALÍSSIMA
42
8.3. AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA
PÚBLICA 42
8.3.1. CABIMENTO 43
8.3.2. HIPÓTESES NA LEGISLAÇÃO PENAL
ESPECIAL 43
8.3.3. PRAZO 44
8.3.4. PODERES DOMINISTÉRIO PÚBLICO
NA AÇÃO PÚBLICA SUBSIDIÁRIA 44
9. EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE E AÇÃO PENAL DE
INICIATIVA PRIVADA 45
9.1. DECADÊNCIA 45
9.2. RENÚNCIA 45
9.3. PERDÃO DO OFENDIDO 46
9.4. PEREMPÇÃO 47
10. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DOUTRINÁRIAS 47
10.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA SUBSIDIÁRIA DA
PÚBLICA 47
10.2. AÇÃO PENAL POPULAR 48
10.3. AÇÃO PENAL ADESIVA 48
10.4. AÇÃO DE PREVENÇÃO PENAL 48
10.5. AÇÃO PENAL SECUNDÁRIA 48
10.6. AÇÃO PENAL INDIRETA 49
10.7. AÇÃO PENAL EXTENSIVA 49
11. PEÇA ACUSATÓRIA 49
2
11.1. REQUISITOS 49
11.1.1. EXPOSIÇÃO DO FATO CRIMINOSO E
CIRCUNSTÂNCIAS 49
11.1.2. QUALIFICAÇÃO DO ACUSADO 52
11.1.3. CLASSIFICAÇÃO DO CRIME 52
11.1.4. ROL DE TESTEMUNHAS 53
11.2. PROCURAÇÃO NA QUEIXA-CRIME 53
11.3. PRAZO PARA OFERECIMENTO DA
DENÚNCIA - Art. 46, CPP 54
11.4. PRAZO PARA OFERECIMENTO DA QUEIXA
55
12. PONTOS IMPORTANTES NA JURISPRUDÊNCIA 55
3
1. ASPECTOS GERAIS
Ação penal é tema cujo fundamento legal
encontra-se nos arts. 24 a 62, do CPP e 100 a 106, do
CP, nos quais se busca disciplinar a segunda fase da
persecução penal. Isso porque, o Direito Penal não é
um direito de aplicação imediata, já que ninguém será
levado à prisão para cumprir uma pena sem o devido
processo legal. Além dos dispositivos acima
elencados, destaca-se que o direito de ação também
encontra fundamento constitucional no art. 5º, inc.
XXXV, que prevê que a lei não excluirá da apreciação
do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
Art. 5.º, XXXV - a lei não excluirá da apreciação
do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Adentrando ao conceito do direito de ação,
pode-se afirmar que é o direito ao julgamento do
mérito da causa (TEORIA ECLÉTICA).
Assim, é o direito que a parte tem de pedir
ao juiz um pronunciamento sobre o mérito da
demanda, conforme estejam presentes ou não as
condições da ação. Ou seja, somente é possível o
pronunciamento jurisdicional sobre o mérito da
causa, se estiverem presentes determinadas
condições (condições da ação).
Noutras palavras, trata-se do direito público
subjetivo de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito
penal objetivo ao caso concreto. Vale ressaltar que há
corrente minoritária que sustenta que a ação penal
não seria um direito, mas sim um poder, porque a
contrapartida seria uma sujeição do Estado-Juiz, que
está obrigado a se manifestar.
🚩 NÃO CONFUNDA: Direito de ação ≠ Ação
(propriamente dita)
A AÇÃO PROPRIAMENTE DITA “é o ato
jurídico, ou mesmo a iniciativa de se ir à justiça, em
busca do direito, com efetiva prestação da tutela
jurisdicional, funcionando como a forma de se
provocar o Estado a prestar a tutela jurisdicional.”1
2. CARACTERÍSTICAS DO
DIREITO DE AÇÃO PENAL2
a) DIREITO PÚBLICO
A atividade jurisdicional é de natureza pública
(ação penal é um direito público), mesmo quando o
Estado transfere ao ofendido a possibilidade de
ingressar em juízo.
b) DIREITO SUBJETIVO
Possibilidade de exigir do Estado-juiz a
prestação jurisdicional.
c) DIREITO AUTÔNOMO
Não se confunde com o direito material que
se pretende tutelar.
d) DIREITO ABSTRATO
Independe do resultado da pretensão
acusatória.
e) DIREITO DETERMINADO
Por visar solucionar uma pretensão de direito
material, é instrumentalmente conexo a um fato
concreto.
f) DIREITO ESPECÍFICO
Apresenta um conteúdo, que é o fato
delituoso atribuído ao acusado.
2 LIMA, Renato Brasileiro de.Manual de Processo Penal. 8ª ed.
Juspodivm, 2020, p.294.
1 LIMA, Renato Brasileiro de.Manual de Processo Penal. 8ª ed.
Juspodivm, 2020, p.291.
4
3. CONDIÇÕES DA AÇÃO
As condições da ação consistem nos
requisitos necessários e condicionantes ao
exercício regular do direito de ação.
A análise das condições da ação é feita
unicamente com fundamento nas afirmações
contidas na petição inicial do autor (TEORIA DA
ASSERÇÃO ou TEORIA DELLA PROSPETTAZIONE),
sem aprofundamento probatório.
As condições da ação, dentre elas o interesse
processual e a legitimidade ativa, definem-se
da narrativa formulada inicial, não da análise
do mérito da demanda (teoria da asserção),
razão pela qual não se recomenda ao
julgador, na fase postulatória, se aprofundar
no exame de tais preliminares. STJ. 3ª Turma
REsp 1561498/RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro,
julgado em 01/03/2016.
As condições da ação devem ser analisadas,
pelo juiz, no momento do juízo de admissibilidade
da peça acusatória. Estando presentes, o juiz
RECEBERÁ a peça (Art. 396, CPP). Todavia, se
quaisquer das condições da ação estiver ausente,
deverá o juiz REJEITAR a peça acusatória (Art. 395, inc.
II, CPP).
Art. 395.  A denúncia ou queixa será rejeitada
quando:
I - for manifestamente inepta;  
II - faltar pressuposto processual ou condição
para o exercício da ação penal.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Juiz de Direito Substituto do
Estado do Espírito Santo (Ano: 2023, Banca: FGV), a
questão trouxe o presente enunciado “Luíz foi
denunciado pelo Ministério Público em razão da
prática do delito de roubo agravado pelo uso de arma.
Contudo, a denúncia não expôs a conduta criminosa
de Luíz com todas as suas circunstâncias, tampouco
especificou a arma utilizada para o cometimento do
delito”, seguido da afirmativa considerada correta
pela banca: “Diante desse cenário, é correto afirmar
que a denúncia deve ser rejeitada liminarmente pelo
juiz, em razão da sua manifesta inépcia”.
⚠ ATENÇÃO
Recebida a peça acusatória, percebendo o juiz
a AUSÊNCIA de condição da ação, deverá declarar a
NULIDADE ABSOLUTA do processo (Art. 564, inc. II,
CPP).
Segundo Renato Brasileiro (2020, p.296):iv) pagar prestação pecuniária, a ser estipulada
nos termos do art. 45 Código Penal, a entidade
pública ou de interesse social, a ser indicada pelo
juízo da execução, que tenha, preferencialmente,
como função proteger bens jurídicos iguais ou
semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito;
ou v) cumprir, por prazo determinado, outra condição
indicada pelo Ministério Público, desde que
proporcional e compatível com a infração penal
imputada.
Também, por força do art. 28-A, §2º, do CPP,
está vedada a proposta de acordo nas seguintes
hipóteses (requisitos negativos do ANPP):
1. se for cabível transação penal de competência
dos Juizados Especiais Criminais;
2. se o investigado for reincidente ou se houver
elementos probatórios que indiquem conduta
criminal habitual, reiterada ou profissional,
exceto se insignificantes as infrações penais
pretéritas;
3. ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco)
anos anteriores ao cometimento da infração,
em acordo de não persecução penal,
transação penal ou suspensão condicional do
processo; e
4. nos crimes praticados no âmbito de violência
doméstica ou familiar, ou praticados contra a
mulher por razões da condição de sexo
feminino, em favor do agressor.
O juiz não deve se imiscuir no mérito do
acordo, devendo apenas verificar a regularidade, a
27
legalidade e a sua voluntariedade. Por meio desse
acordo, o autor do delito confessa e aceita o
cumprimento de condições não privativas de
liberdade. Em contraprestação, o Ministério Público se
compromete a não oferecer a denúncia. Após o
cumprimento das condições impostas, dar-se-á o
arquivamento do inquérito policial.
O acordo de não persecução penal consiste
em um negócio jurídico pré-processual entre o MP e o
investigado, juntamente com seu defensor, como
alternativa à propositura de ação penal para certos
tipos de crimes, principalmente no momento
presente, em que se faz necessária a otimização dos
recursos públicos. Cabe ao MP justificar
expressamente o não oferecimento do ANPP, o que
poderá ser, após provocação do investigado, passível
de controle pela instância superior do Ministério
Público, nos termos do art. 28-A, § 14, do CPP. O
instituto é resultante de convergência de vontades
(MP e acusado), não podendo afirmar que se trata de
um direito subjetivo do acusado. Quando o ANPP é
negado pelas duas instâncias do Ministério Público,
não há possibilidade legal de intervenção do Poder
Judiciário nesse tema. (STJ, HC 584.843, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, decisão monocrática de
24.06.2020).
Sobre a eficácia no tempo do ANPP, tem-se
algumas correntes:
● 1ª CORRENTE (minoritária): Como o ANPP
possui natureza mista (versa sobre direito
penal e processual penal), deve retroagir para
atingir fatos passados em benefício do
investigado/imputado, na forma do art. 5,
inciso XL, da CRFB/88 (a lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu) e art.
2º, parágrafo único, do CP (Art. 2º - Ninguém
pode ser punido por fato que lei posterior
deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da
sentença condenatória. Parágrafo único - A lei
posterior, que de qualquer modo favorecer o
agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda
que decididos por sentença condenatória
transitada em julgado). Assim, essa corrente
entende que deve ser oferecido o ANPP
inclusive a casos com sentença já transitada
em julgado, diante da natureza também
material que o ANPP possui.
● 2ª CORRENTE: A corrente que era defendida
pelo Min. Nefi Cordeiro era no sentido de que
era cabível ANPP em todos os processos,
desde que não possuíssem trânsito em
julgado. Vejamos: É reconsiderada a decisão
inicial porque o cumprimento integral do
acordo de não persecução penal gera a
extinção da punibilidade (art. 28-A, § 13, do
CPP), de modo que como norma de natureza
jurídica mista e mais benéfica ao réu, deve
retroagir em seu benefício em processos não
transitados em julgado (art. 5º, XL, da CF).
AgRg no HC 575395/RN, 6ª Turma, rel. Min.
Nefi Cordeiro, j. 08/09/2020, DJe 14/09/2020.
● 3ª CORRENTE: A 6ª Turma dp STJ, no AgRg no
HC 628.647, Min. Rel. Nefi Cordeiro, Min. Rel.
para acórdão Laurita Vaz, j. 09/03/2021,
pacificou o entendimento e, por maioria, a 6ª
Turma do STJ entendeu que deve o ANPP
retroagir aos processos cuja denúncia não
tenha sido recebida.
O STF, hoje, possui o mesmo entendimento
da 6ª Turma/STJ:
Embora cabível acordo de não persecução
penal considerado fato anterior à Lei nº
28
13.694/2019, a natureza mista da norma
conduz à retroação tendo como limite o
recebimento da denúncia, quando
inaugurada a fase processual. STF, HC
199.950, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª Turma, j.
10.06.2021.
A Lei nº 13.964/2019 (“Pacote Anticrime”)
inseriu o art. 28-A ao CPP, criando, no
ordenamento jurídico pátrio, o instituto do
acordo de não persecução penal (ANPP). A Lei
13.964/2019, no ponto em que institui o
ANPP, é considerada lei penal de natureza
híbrida, admitindo conformação entre a
retroatividade penal benéfica e o tempus regit
actum. O ANPP se esgota na etapa
pré-processual, sobretudo porque a
consequência da sua recusa, sua não
homologação ou seu descumprimento é
inaugurar a fase de oferecimento e de
recebimento da denúncia. O recebimento da
denúncia encerra a etapa pré-processual,
devendo ser considerados válidos os atos
praticados em conformidade com a lei então
vigente. Dessa forma, a retroatividade penal
benéfica incide para permitir que o ANPP seja
viabilizado a fatos anteriores à Lei
13.964/2019, desde que não recebida a
denúncia. Assim, mostra-se impossível
realizar o ANPP quando já recebida a
denúncia em data anterior à entrada em vigor
da Lei nº 13.964/2019. STJ. 5ª Turma. HC
607003-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 24/11/2020 (Info 683).
STF. 1ª Turma. HC 191464 AgR, Rel. Roberto
Barroso, julgado em 11/11/2020.
Há alguns membros do Ministério Público que
sustentam sustentando que a intenção do legislador é
de que o ANPP tenha aplicação apenas na fase
pré-processual, isto é, antes do oferecimento da
denúncia e direcionado apenas ao indiciado, e não ao
já imputado. No entanto, majoritariamente,
defende-se que, se a intenção do legislador fosse
essa, a norma não seria inserida no título referente à
“AÇÃO PENAL”, mas sim no Título II do CPP, que trata
“DO INQUÉRITO POLICIAL”. Assim, dúvidas não há de
que se o ANPP foi incluído no quadro normativo
relacionado à ação penal, é claro que se aplica não
apenas ao indiciado, mas também ao
imputado/acusado (já denunciado).
Não se nega que a primeira intenção do ANPP
seja impedir a deflagração da ação penal, mas,
ultrapassada esta questão, caso durante o curso do
processo ocorra uma desclassificação, deve ser
oferecido o ANPP, se presentes os requisitos. No caso
da suspensão condicional do processo e na transação
penal, se no decorrer do processo ou na sentença
ocorre uma desclassificação para um crime mais
brando em que incida a suspensão condicional ou
transação penal, tais institutos devem ser ofertados
ao acusado, evitando-se uma condenação (conforme
se depreende do do art. 383, §1º, do CPP e da súmula
337/STJ). Assim, se tais mecanismos valem para os
outros institutos despenalizadores, também devem
valer para o ANPP.
Além disso, a jurisprudência tem se
consolidado no sentido de que o ANPP não se trata de
direito subjetivo do réu, já que o MP possui
discricionariedade no exercício de suas funções e no
oferecimento do acordo. Defende esta corrente que,
se fosse um direito público subjetivo, o próprio juiz
poderia propor o acordo no lugar do MP, o que seria
vedado, pois é uma iniciativa apenas do órgão do MP.
No entanto, caso o magistrado não concorde
com a não-oferta do ANPP, poderá invocar o art. 28 e
remeter ao órgão superior, assim como previsto para
o investigado: §14. No caso de recusa, por parte do
29
Ministério Público, em propor o acordo de não
persecução penal,o investigado poderá requerer a
remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28
deste Código.
As condições descritas em lei são requisitos
necessários para o oferecimento do Acordo de Não
Persecução Penal (ANPP), importante instrumento de
política criminal dentro da nova realidade do sistema
acusatório brasileiro. Entretanto, não obriga o
Ministério Público, nem tampouco garante ao
acusado verdadeiro direito subjetivo em realizá-lo.
Simplesmente, permite ao MP a opção, devidamente
fundamentada, entre denunciar ou realizar o acordo,
a partir da estratégia de política criminal adotada pela
Instituição. O art. 28-A do Código de Processo Penal,
alterado pela Lei 13.964/19, foi muito claro nesse
aspecto, estabelecendo que o Ministério Público
“poderá propor acordo de não persecução penal,
desde que necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime, mediante as seguintes
condições”. A finalidade do ANPP é evitar que se inicie
o processo, não havendo lógica em se discutir a
composição depois da condenação, como pretende a
defesa. (STF, AgR no HC 191.124, Rel. Min. Alexandre
de Moraes, 1ª Turma, j. 07.04.2021).
Em caso de descumprimento, o Ministério
Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua
rescisão e posterior oferecimento de denúncia.
Também, esse descumprimento pode ser utilizado
pelo Ministério Público como justificativa para o
eventual não oferecimento de suspensão condicional
do processo (art. 28-A, §§ 10 e 11, do CPP).
Ainda, havendo descumprimento dos termos
do acordo, a denúncia a ser oferecida poderá utilizar
como suporte probatório a confissão formal e
circunstanciada do investigado (prestada
voluntariamente na celebração do acordo). A
confissão, nesse caso, se trata de mero indício, obtido
extrajudicialmente. Note-se que a homologação pelo
juízo não se refere à confissão em si, mas ao próprio
conteúdo do acordo e se a voluntariedade da
manifestação foi feita de forma voluntária. Base legal:
(i) art. 155, CPP (confissão é mero elemento
informativo), (ii) art. 197 do CPP (necessidade de ser
corroborada por outros elementos, pois o juiz não
pode basear a condenação exclusivamente na
confissão), e (iii) art. 93, IX, CF/88 (princípio da
persuasão racional).
Quanto à possibilidade de sua aplicação em
crimes hediondos, há aqui 2 correntes:
● 1ª CORRENTE: Não é cabível a oferta de ANPP
aos crimes hediondos e equiparados, pois em
relação a estes o acordo não é suficiente para
a reprovação e prevenção do crime;
● 2ª CORRENTE: Como não há vedação legal,
não se pode deixar de propor o acordo
exclusivamente sob a justificativa de que se
trata de crime hediondo. Não se pode olvidar
que o STF entende que os crimes hediondos e
equiparados admitem a fixação de regime
inicial aberto e a substituição da pena
privativa de liberdade por restritiva de
direitos, preenchidos os requisitos legais,
razão pela qual, do mesmo modo, o fato de
ser hediondo ou equiparado não pode, ser
empecilho para o oferecimento do acordo de
não persecução penal.
Ainda, é importante salientar que a
celebração desse acordo não constará de certidão de
antecedentes criminais.
Caberá RESE da decisão, despacho ou
sentença que recusar homologação à proposta de
acordo de não persecução penal, previsto no art. 28-A
desta Lei.
30
Outro conceito interessante é o do ANPP
adesivo/bifurcado. Isso porque, a ação penal adesiva
é caracterizada quando há conexão entre um crime
de ação penal pública e um crime de ação penal
privada. Assim, há um litisconsórcio entre o
querelante e o MP. De acordo com Mauro Messias,
este fenômeno também pode ocorrer, de certa forma,
em relação à legitimidade para o oferecimento do
ANPP. Em relação à ação penal, o autor explica que o
termo correto deveria ser “ação penal bifurcada”, uma
vez que não há uma bifurcação narrativa fática e da
consequente persecução, em um único processo
crime, respeitando-se as regras de legitimidade. O
autor menciona uma primeira situação: quando o
crime de ação pública admite acordo, assim como
delito de ação privada, querelante e MP devem
oferecer propostas separadas, o que se denominou
de ANPP adesivo. Uma segunda hipótese seria
quando o crime de ação pública admitir acordo e o
crime de ação privada não (ou vice-versa): nessa
situação, um legitimado oferece o ANPP e o outro
ajuíza a ação penal. Assim, percebe-se que o autor
admite a possibilidade de o querelante oferecer ANPP
na ação penal privada.
Por fim, veja alguns julgados relevantes sobre
o tema:
O Poder Judiciário não pode impor ao
Ministério Público a obrigação de ofertar
acordo de não persecução penal. Não cabe ao
Poder Judiciário, que não detém atribuição
para participar de negociações na seara
investigatória, impor ao MP a celebração de
acordos. Não se tratando de hipótese de
manifesta inadmissibilidade do ANPP, a
defesa pode requerer o reexame de sua
negativa, nos termos do art. 28-A, § 14, do
CPP não sendo legítimo, em regra, que o
Judiciário controle o ato de recusa, quanto ao
mérito, a fim de impedir a remessa ao órgão
superior no MP. Isso porque a redação do art.
28-A, § 14, do CPP determina a iniciativa da
defesa para requerer a sua aplicação.
Tem-se, portanto, que se o MP se recusar a
oferecer o acordo e a defesa requerer a
remessa dos autos ao órgão superior, o juiz é
obrigado a remeter. No entanto, o STF já
afirmou que o juiz não precisa remeter ao
órgão superior do MP em caso de manifesta
inadmissibilidade do ANPP. STF. 2ª Turma. HC
194677/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 11/5/2021 (Info 1017).
A finalidade do ANPP é evitar que se inicie o
processo, não havendo lógica em se discutir a
composição depois da condenação, como
pretende a defesa. STF, AgRg no HC 191.124,
Rel. Min. Alexandre de Moraes, 1ª Turma, j.
08.04.2021.
Impossibilidade de impetrar HC para discutir
ausência de justa causa após aceitar ANPP.
São inúmeros os argumentos a não se dar
guarida ao pleito defensivo de aplicação do
princípio da insignificância, após a aceitação
do acordo de não persecução penal. O
primeiro deles parte do próprio instituto
utilizado, haja vista a inexistência de risco
iminente à liberdade de locomoção no caso,
pois o debate de falta de justa causa a um
eventual oferecimento de denúncia somente
ocorrerá em caso de descumprimento do
acordo, em outras palavras, por evento futuro
e incerto. Não obstante, o revolvimento
fático-probatório aqui almejado sequer foi
realizado na origem, sem se olvidar que a
dilação probatória no caso vertente foi
dispensada pela defesa quando da aceitação
31
do benefício do acordo de não persecução
penal, configurando nítido nemo potes
vender contra fartum proprium afirmar a
ausência de tipicidade material neste
momento. STJ, HC 619.751, Rel. Min. Felix
Fischer, decisão monocrática de 11.12.2020.
É incabível o oferecimento de acordo de não
persecução penal pelo Ministério Público nos
casos de tráfico ilícito de entorpecentes – cuja
pena mínima é superior a 4 anos –, em razão
do não preenchimento de um dos requisitos
objetivos do art. 28-A, caput, do CPP. STJ, AgRg
no HC 584.807, Rel. Min. João Otávio de
Noronha, 5ª Turma, j. 13.10.2020.
A atuação, por força do art. 28-A, § 14, do CPP,
da Câmara de Coordenação e Revisão do
Ministério Público Militar, por meio dos
Sub-Procuradores Gerais de Justiça Militar
que a integram, em ação penal militar em
trâmite no primeiro grau de jurisdição, por si
só, não desloca a competência diretamente
para o Superior Tribunal de Justiça para o
processamento e julgamento de habeas
corpus contra a decisão que manteve o não
oferecimento do acordo de não persecução
penal no âmbito da Justiça Militar. STJ, AgRg
no HC 628.595, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, 5ª Turma, j. 15.12.2020.
O instituto do acordo de não persecução
penal, previsto no art. 28-A do CPP, não se
aplica aos crimes militares previstos na
legislação penal militar, tendo em vista sua
evidenteincompatibilidade com a Lei Adjetiva
castrense, opção que foi adotada pelo
legislador ordinário, ao editar a Lei nº 13.964,
de 2019, e propor a sua incidência tão
somente em relação ao Código de Processo
Penal comum. Inexiste violação dos preceitos
constitucionais, insculpidos no art. 5º, caput, e
incisos LIV e LXVIII, da Constituição Federal de
1988, e art. 467, “b” e “c”, do CPPM, uma vez
que a negativa dos Órgãos judicantes da JMU,
afastando a incidência do acordo de não
persecução penal em relação aos delitos
previstos na legislação penal militar, por
óbvio, não pode ser considerada violação de
formalidade legal e tampouco se configura
constrangimento ilegal em relação ao
acusado. STM, HC 7000374-06.2020.7.00.0000,
Rel. Min. José Coelho Ferreira, Plenário, j.
26.08.2020.
Ao final, importa lembrar que uma vez
cumprido integralmente o acordo de não persecução
penal, o juízo competente decretará a extinção da
punibilidade.
5.2.2. PRINCÍPIO DA
INDISPONIBILIDADE OU
INDESISTIBILIDADE
Decorre logicamente do primeiro, não
podendo o MP desistir da ação penal, conforme o
Art. 42 do CPP:
Art. 42.  O Ministério Público não poderá
desistir da ação penal.
Da mesma forma, não pode o MP desistir
de recurso por ele mesmo interposto. Salienta-se
que o MP não é obrigado a recorrer, mas uma vez
recorrido, não é possível desistir.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargos e Promotor de Justiça do
Estado de Santa Catarina (Ano: 2023, Banca:
CESPE/CEBRASPE), foi considerada incorreta a
32
seguinte afirmativa: “De acordo com o Código de
Processo Penal, é facultada ao Ministério Público a
desistência da ação penal na hipótese de
convencimento da inexistência de razões para a
condenação do réu”.
Art. 576.  O Ministério Público não poderá
desistir de recurso que haja interposto.
Obviamente isso não impede o MP de pedir
a absolvição do acusado, ao final do processo.
Conforme o Art. 385, CPP:
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz
poderá proferir sentença condenatória, ainda
que o Ministério Público tenha opinado pela
absolvição, bem como reconhecer
agravantes, embora nenhuma tenha sido
alegada.
EXCEÇÃO
INDISPONIBILIDADE MITIGADA ou
DISCRICIONARIEDADE REGRADA: suspensão
condicional do processo, prevista na Lei 9.099/95.
É possível a formalização, pelo Ministério
Público, de acordo de não continuidade da ação
penal?
Parcela minoritária da doutrina aponta tal
hipótese como exceção ao princípio da
indisponibilidade de ação penal pública. Seria uma
hipótese facultada ao Promotor de Justiça após o
ajuizamento do processo criminal. Ressalta-se que o
STF e o STJ entendem que “o instituto do acordo de
não persecução penal torna-se inviabilizado após o
recebimento da denúncia”.13
5.2.3. PRINCÍPIO DA DIVISIBILIDADE
Para esse princípio nós temos duas correntes:
1.ª CORRENTE (Divisibilidade -
MAJORITÁRIA): O MP pode denunciar alguns autores
e prosseguir as investigações em relação aos demais.
É a posição que prevalece no STJ e STF.
O MP não tem a absoluta discricionariedade
para escolher quem vai processar ou não. Na
verdade, o princípio diz que o MP poderá denunciar
aqueles contra quem haja indícios de autoria já
sedimentados, e prosseguir as investigações contra
aqueles contra os quais ainda não haja elementos de
autoria e materialidade.
2.ª CORRENTE (Indivisibilidade -
MINORITÁRIA): Havendo justa causa, o MP deverá
denunciar todos os investigados. É o entendimento de
Renato Brasileiro, Fernando da Costa Tourinho Filho,
Aury Lopes Jr. e outros.
Conclusão: Perceba que, na verdade, as duas
correntes dizem a mesma coisa de formas distintas.
5.3. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL
PRIVADA
5.3.1. PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE
OU CONVENIÊNCIA
O ofendido ou seu representante legal
podem optar pelo oferecimento ou não da
queixa-crime, atendendo a critérios próprios de
conveniência e oportunidade. Contrasta com o
princípio da obrigatoriedade.
13 Avena, Norberto. Processo Penal. Disponível em: Minha Biblioteca,
(14th edição). Grupo GEN, 2022.
33
Se o ofendido não tiver interesse em propor a
ação penal privada, há duas possibilidades:
a) RENÚNCIA AO DIREITO DE QUEIXA: o
ofendido abre mão do direito de queixa (explícita ou
implicitamente). Independe de aceitação do agente.
b) DECADÊNCIA: O ofendido deixa escoar o
prazo de 6 MESES, da data do conhecimento da
autoria, para propor a queixa-crime.
📌 OBSERVAÇÕES
■ Tanto a renúncia ao direito de queixa
quanto a decadência se aplicam antes do início do
processo penal, ainda na fase pré-processual, por
isso se relacionam ao princípio da oportunidade ou
conveniência.
■ Em ambos os casos (decadência e renúncia)
temos causas extintivas da punibilidade.
5.3.2. PRINCÍPIO DA
DISPONIBILIDADE
O querelante poderá desistir da ação penal
privada em andamento (desistência). Temos 3
formas de desistência:
a) PERDÃO DO OFENDIDO - Art. 51, CPP: O
querelante perdoa o querelado, que precisa ACEITAR
o perdão. É causa de extinção de punibilidade .
Art. 51. O PERDÃO concedido a um dos
querelados aproveitará a todos, sem que
produza, todavia, efeito em relação ao que
o recusar.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do
Estado da Bahia (Ano: 2023, Banca CESPE/CEBRASPE),
foi considerada correta a seguinte afirmativa: “O
perdão, se recusado pelo agente do crime, não
produz efeito”.
b) PEREMPÇÃO - Art. 60, CPP: Se o querelado
não aceitar o perdão, é possível desistir do processo,
deixando o querelante de dar andamento à ação
penal privada (negligência).
Art. 60. Nos casos em que somente se
procede mediante queixa, considerar-se-á
PEREMPTA a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar
de promover o andamento do processo
durante 30 dias seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou
sobrevindo sua incapacidade, não
comparecer em juízo, para prosseguir no
processo, dentro do prazo de 60 dias,
qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo,
ressalvado o disposto no art. 36 - CADI;
III - quando o querelante deixar de
comparecer, sem motivo justificado, a
qualquer ato do processo a que deva estar
presente, ou deixar de formular o pedido de
condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa
jurídica, esta se extinguir sem deixar
sucessor.
c) CONCILIAÇÃO NOS CRIMES CONTRA A
HONRA - Arts. 520 e 522, CPP
Art. 520. Antes de receber a queixa, o juiz
oferecerá às partes oportunidade para se
reconciliarem, fazendo-as comparecer em
juízo e ouvindo-as, separadamente, SEM A
PRESENÇA DOS SEUS ADVOGADOS, não se
lavrando termo.
Art. 522.  No caso de reconciliação, depois de
34
assinado pelo querelante o termo da
desistência, a queixa será arquivada.
📌 OBSERVAÇÃO
Os institutos que se relacionam ao princípio
da Disponibilidade ocorrem após o início do processo
penal, isto é, já na fase processual, diferentemente do
que ocorre no princípio da Conveniência ou
Oportunidade.
5.3.3. PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE
Nas Lições de Renato Brasileiro: “(...) se
optar pelo oferecimento da queixa, uma coisa é certa:
o querelante não pode escolher quem vai
processar; ele está obrigado a processar todos os
autores do delito, por força do princípio da
indivisibilidade.”14
Conforme o Art. 48, CPP:
Art. 48. A queixa contra qualquer dos
autores do crime obrigará ao processo de
todos, e o Ministério Público velará pela sua
INDIVISIBILIDADE.
Perceba que o MP é o fiscal do princípio da
indivisibilidade na ação penal privada. Constatada a
inobservância do princípio em comento surgem duas
possibilidades:
a) OMISSÃO VOLUNTÁRIA (DELIBERADA): Se
a omissão em incluir determinado autor/partícipe foi
proposital - considera-se renúncia ao direito de
queixa, o que se estende aos demais.
14LIMA, Renato Brasileiro de.Manual de Processo Penal. 8ª ed.
Juspodivm, 2020, p.311.
Não oferecida a queixa-crime contra todos os
supostos autores ou partícipes da prática
delituosa, há afronta ao princípio da
indivisibilidade da ação penal, a implicar
renúnciatácita ao direito de querela, cuja
eficácia extintiva da punibilidade estende-se a
todos quantos alegadamente hajam
intervindo no cometimento da infração penal.
STF. 1ª Turma Inq 3526/DF, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 2/2/2016 (Info 813).
b) OMISSÃO INVOLUNTÁRIA: o MP deve se
manifestar para que o querelante adite a inicial para
incluir os demais autores/partícipes. Caso o
querelante se recuse expressamente ou permaneça
inerte, o juiz deverá entender que houve renúncia
(art. 49, CP), bem como deverá extinguir a
punibilidade em relação a todos os envolvidos.
Decorrem do princípio da indivisibilidade as
seguintes regras:
a) Renúncia concedida a um dos acusados
estende-se aos demais;
Art. 49. A RENÚNCIA ao exercício do direito
de queixa, em relação a um dos autores do
crime, a todos se estenderá.
b) Perdão concedido a um dos querelados
estende-se aos demais, desde que haja aceitação.
Art. 51. O PERDÃO concedido a um dos
querelados aproveitará a todos, sem que
produza, todavia, efeito em relação ao que
o recusar.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Juiz Federal - TRF 1ª Região
(Ano: 2023, Banca: FGV), o enunciado trouxe o
35
seguinte caso “Mateus oferece queixa-crime contra
João, alegando, supostamente, que o querelado,
juntamente com Tiago, teria feito postagens nas redes
sociais, afirmando ser o querelante corrupto e
fraudador de licitações”. Diante da hipótese narrada,
é correto afirmar que o crime praticado é o de “injúria,
e João deverá ter extinta a sua punibilidade, ante a
aplicação do princípio da indivisibilidade.”
5.4. QUADRO COMPARATIVO DOS
PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL15
PRINCÍPIOS DA AÇÃO
PENAL PÚBLICA
PRINCÍPIOS DA AÇÃO
PENAL DE INICIATIVA
PRIVADA
Princípio do ne
procedat iudex ex
officio: com a adoção
do sistema acusatório
pela Constituição
Federal, ao juiz não é
dado iniciar um
processo de ofício. O
denominado processo
judicialiforme, por meio
do qual o juiz dava início
a um processo por meio
de portaria, não foi
recepcionado pela
Constituição Federal.
Princípio do ne
procedat iudex ex
officio: também se
aplica à ação penal de
iniciativa privada.
Princípio do ne bis in
idem: ninguém pode ser
processado duas vezes
pela mesma imputação.
Previsto expressamente
Princípio do ne bis in
idem: também se aplica
à ação penal de
iniciativa privada.
15 LIMA, Renato Brasileiro de.Manual de Processo Penal. 8ª ed.
Juspodivm, 2020, p.331/332
na Convenção
Americana sobre
Direitos Humanos (Dec.
678/92, art. 8º, nº 4)
Princípio da
intranscendência: a
ação penal pública só
pode ser proposta em
relação ao provável
autor do delito.
Princípio da
intranscendência: a
ação penal de iniciativa
privada só pode ser
proposta em relação ao
provável autor do delito.
Princípio da
Obrigatoriedade (ou
legalidade processual):
presentes as condições
da ação penal e
havendo justa causa
para a deflagração de
um processo criminal, o
Ministério Público é
obrigado a oferecer
denúncia. Deriva do art.
24 do CPP e do art. 30
do CPPM.
Exceções ao princípio da
obrigatoriedade:
1) Transação penal (art.
76 da Lei nº 9.099/95);
2) Acordo de leniência
(Lei nº 12.529/11, arts.
86 e 87 );
3) Termo de
ajustamento de conduta
(Lei nº 7.347/85, art. 5º,
§ 6º);
Princípio da
oportunidade ou da
conveniência:
mediante critérios
próprios de
oportunidade ou
conveniência, o
ofendido pode optar
pelo oferecimento (ou
não) da queixa-crime.
Caso não pretenda
exercer seu direito,
pode permanecer inerte
durante o curso do
prazo decadencial, ou
renunciar (expressa ou
tacitamente) ao direito
de queixa, situações que
darão ensejo à extinção
da punibilidade em
relação aos crimes de
ação penal
exclusivamente privada
e de ação penal privada
personalíssima, nos
36
4) Parcelamento do
débito tributário (Lei nº
9.430/96, art. 83, § 2º,
com redação dada pela
Lei nº 12.382/11);
5) Colaboração
premiada na nova Lei
das Organizações
Criminosas (Lei nº
12.850/13, arts. 4º a 7º);
6) Acordo de não
persecução penal
(Resolução n. 181 do
CNMP, art. 18);
termos do art. 107,
inciso IV e V, do Código
Penal.
Princípio da
indisponibilidade: se,
por conta do princípio
da obrigatoriedade, o
Ministério Público é
obrigado a oferecer
denúncia, não pode
desistir da ação penal
pública, nem tampouco
do recurso que haja
interposto (CPP, arts. 42
e 576). Isso, todavia, não
significa dizer que o
Ministério Público não
possa pedir a absolvição
do acusado. Exceção ao
princípio da
indisponibilidade:
1) suspensão
condicional do processo
(Lei nº 9.099/95, art. 89);
Princípio da
disponibilidade: se a
ação penal de iniciativa
privada está sujeita a
critérios próprios de
oportunidade ou
conveniência do
ofendido ou de seu
representante legal, isso
significa dizer que o
querelante poderá
dispor do processo
penal em andamento.
Formas de disposição:
1) perdão do ofendido:
tem natureza jurídica de
causa extintiva da
punibilidade nos crimes
de ação penal
exclusivamente privada
ou personalíssima,
porém, ao contrário da
renúncia, depende de
aceitação do querelado;
2) perempção: é a perda
do direito de prosseguir
com o exercício da ação
penal exclusivamente
privada ou
personalíssima em
virtude da desídia do
querelante, com a
consequente extinção
da punibilidade;
3) conciliação e
assinatura de termo de
desistência, no
procedimento dos
crimes contra a honra
de competência do juiz
singular (CPP, art. 522).
Princípio da (in)
divisibilidade: parte da
doutrina entende que
vigora na ação penal
pública o princípio da
indivisibilidade. Logo,
havendo lastro
probatório contra todos
os coautores e
partícipes, o Ministério
Público é obrigado a
oferecer denúncia
contra todos (nossa
posição). Outra parte da
doutrina e a
Princípio da
indivisibilidade: o
ofendido não é obrigado
a agir (princípio da
oportunidade ou
conveniência). Porém,
se quiser exercer seu
direito de queixa-crime,
é obrigado a exercê-lo
em relação a todos os
coautores e partícipes
do fato delituoso. Como
dispõe o art. 48 do CPP,
o processo de um
obriga ao processo de
37
jurisprudência
majoritária entende que
vigora o princípio da
divisibilidade,
significando que o
Parquet pode oferecer
denúncia contra certos
agentes, sem prejuízo
do aprofundamento das
investigações quanto
aos demais envolvidos.
todos.
Como consequência
desse princípio, a
renúncia ao exercício do
direito de queixa em
relação a um dos
autores do crime
estende-se aos demais
(CPP, art. 49). Da mesma
forma, o perdão
concedido a um dos
querelados aproveita a
todos, salvo se um deles
não o aceitar (CPP, art.
51). O fiscal desse
princípio é o Ministério
Público, que não tem
legitimidade ad causam
para aditar a queixa
crime para incluir
coautores.
Verificando-se que a
omissão do querelante
fora voluntária, haverá
renúncia tácita,
extensiva a todos os
envolvidos. Afinal, se
sabia da existência de
outros coautores e
partícipes, e deixou de
inclui-los no polo
passivo da demanda, é
porque renunciou ao
direito de ação quanto a
eles, renúncia esta que
se estende aos demais,
nos termos do art. 48 do
CPP. Se, todavia, a
omissão do querelante
foi involuntária, deve o
MP instar o querelante a
aditar a queixa-crime
para incluir os demais
envolvidos, sob pena de
caracterização de
renúncia tácita,
acarretando a extinção
da punibilidade de
todos os envolvidos.
Princípio da
oficialidade: a
legitimidade para a
persecução penal recai
sobre órgãos do Estado,
tanto na fase
pré-processual, quanto
na fase processual.
Princípio da
oficialidade: aplica-se à
ação penal de iniciativa
privada, porém apenas
na fase pré-processual.
Princípio da
autoritariedade: o
órgão responsável pela
persecução criminal é
autoridade pública,
tanto na fase
pré-processual, quanto
na fase processual.
Princípio da
autoritariedade:
aplica-se à ação penal
de iniciativa privada,
porém apenas na fase
pré-processual.Princípio da
oficiosidade: nos
crimes de ação penal
pública incondicionada,
às autoridades estatais
Princípio da
oficiosidade: não se
aplica à ação penal de
iniciativa privada, já que,
mesmo na fase
38
são obrigadas a agir de
ofício,
independentemente de
provocação do ofendido
ou de terceiros.
investigatória, a atuação
da polícia investigativa
depende de prévio
requerimento do
ofendido ou de seu
representante legal.
Postas as características gerais do tema, voltaremos
agora a trabalhar com alguns assuntos que já
adiantamos, mas que, neste momento, consideramos
relevante aprofundar e fixar.
6. AÇÃO PENAL PÚBLICA
INCONDICIONADA
A ação penal pública incondicionada é a
regra, conforme o art. 100, caput, do CP:
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo
quando a lei expressamente a declara
privativa do ofendido.
O titular da ação é o Ministério Público e a
peça acusatória é denominada de denúncia,
conforme estabelece o art. 129, inc. I, CF:
Art. 129. São funções institucionais do
Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal
pública, na forma da lei;
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do
Estado de Santa Catarina (Ano: 2023, Banca:
CESPE/CEBRASPE), foi considerada correta a seguinte
afirmativa: O texto constitucional vigente prevê
expressamente ser função institucional do Ministério
Público promover, privativamente, a ação penal
pública, na forma da lei“
EXCEÇÃO: Titularidade na ação penal de
iniciativa privada subsidiária da pública.
O Ministério Público não depende de
nenhuma manifestação da vítima ou de terceiros
quanto à iniciativa da ação penal. Desta forma, se a lei
não estabelecer sentido diverso, a ação será pública
incondicionada.
⚠ IMPORTANTE
Em regra, as lesões corporais leves e culposas
são crimes de ação penal pública condicionada à
representação, conforme estabelece o art. 88 da Lei
nº 9.099/95.
A EXCEÇÃO para essa regra é no caso de
lesão corporal praticada contra mulher no âmbito
das relações domésticas, sendo de ação penal
pública incondicionada, uma vez que a Lei nº 9.099/95
não se aplica nos casos de violência doméstica (art. 41
da Lei nº 11.340/06).
Súmula 542, STJ: A ação penal relativa ao
crime de lesão corporal resultante de
violência doméstica contra a mulher é pública
incondicionada.
7. AÇÃO PENAL PÚBLICA
CONDICIONADA
Existem crimes que afetam diretamente
interesses particulares, cabendo ao ofendido decidir
sobre iniciar ou não o processo.
39
Desta forma, a promoção da ação penal
pública pelo Ministério Público depende da
representação do ofendido ou de requisição do
Ministro da Justiça.
A lei vai dispor quando a ação for pública
condicionada.
7.1. AÇÃO PENAL CONDICIONADA À
REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO
7.1.1. REPRESENTAÇÃO
A representação nada mais é do que a
manifestação do ofendido ou de seu representante
no sentido de que possui interesse na persecução
penal do autor do fato criminoso.
Trata-se de uma CONDIÇÃO DE
PROCEDIBILIDADE. Necessário, portanto, que as
condições genéricas estejam presentes e a
representação. Em outras palavras, sem o seu
implemento a ação penal não pode ter início.
Não há necessidade de maiores
formalidades para a representação. Basta que a
vítima demonstre de forma clara que ela tem
interesse na persecução penal. Assim, o Art. 39
dispõe:
Art. 39. O direito de representação poderá
ser exercido, pessoalmente ou por
procurador com poderes especiais,
mediante declaração, escrita ou oral, feita ao
juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à
autoridade policial.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Delegado de Polícia Civil do
Estado de Alagoas (Ano: 2023, Banca
CESPE/CEBRASPE), foi considerada incorreta a
seguinte afirmativa: “A representação do ofendido é
imprescindível à propositura da ação penal, em se
tratando de crime de ação penal pública condicionada
à representação, não o sendo, todavia, para a
instauração do respectivo inquérito policial”.
São destinatários da representação o Juiz,
Ministério Público e a Autoridade Policial. Já a
titularidade (quem pode representar) é de:
1. OFENDIDO MAIOR E CAPAZ: Essa
representação pode ser realizada
pessoalmente ou por meio de procurador
COM PODERES ESPECIAIS.
2. OFENDIDO MENOR DE 18 ANOS OU MAIOR
COM ANOMALIA MENTAL: Aqui o
REPRESENTANTE LEGAL oferecerá a
representação.
3. OFENDIDO MENOR DE 18 ANOS OU MAIOR
COM ANOMALIA MENTAL SEM
REPRESENTANTE LEGAL OU COM
REPRESENTANTE COM INTERESSES
COLIDENTES: Neste caso, nomear-se-á um
CURADOR ESPECIAL para oferecer
representação.
Conforme o Art. 33, CPP:
Art. 33. Se o ofendido formenor de 18 anos,
ou mentalmente enfermo, ou retardado
mental, e não tiver representante legal, ou
colidirem os interesses deste com os daquele,
o direito de queixa poderá ser exercido por
curador especial, nomeado, de ofício ou a
requerimento do Ministério Público, pelo
juiz competente para o processo penal.
⚠ ATENÇÃO: Essa norma se aplica por analogia à
queixa-crime.
40
4. MORTE OU AUSÊNCIA DA VÍTIMA - Art. 31,
CPP: O direito de representação será
transmitido para o cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão.
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou
quando declarado ausente por decisão
judicial, o direito de oferecer queixa ou
prosseguir na ação passará ao cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão (CADI)
📌 OBSERVAÇÕES
■ A doutrina inclui aqui o companheiro.
Todavia, esse dispositivo diz respeito ao direito de
punir e isso acaba ampliando o poder punitivo estatal,
gerando assim uma verdadeira “analogia in malam
partem”. O STJ entendeu que o companheiro possui
legitimidade para ajuizar ação penal privada.
A companheira, em união estável homoafetiva
reconhecida, goza do mesmo status de
cônjuge para o processo penal, possuindo
legitimidade para ajuizar a ação penal
privada. STJ. Corte Especial. APn 912-RJ, Rel.
Min. Laurita Vaz, julgado em 07/08/2019 (Info
654).16
■ Ordem preferencial para o oferecimento da
representação. Assim, seguimos a ordem elencada.
■ Aplica-se essa ordem de preferência à
queixa crime.
■ Em caso de divergência no CADI, prevalece a
vontade de quem deseja dar início ao processo.
16 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Apesar de o § 1º do art. 24 do CPP
falar apenas em “cônjuge”, a companheira (hetero ou homoafetiva)
também possui legitimidade para ajuizar ação penal privada. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
.
7.1.2. PRAZO
a) PRAZO DECADENCIAL PARA O
OFERECIMENTO DA REPRESENTAÇÃO: Aplica-se
tanto à representação quanto à queixa. O prazo para
exercer o direito de representação é decadencial de
6 meses contados do dia em que vier a ser quem é
o autor do crime, conforme o art. 38 do CPP:
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o
ofendido, ou seu representante legal, decairá
no direito de queixa ou de representação,
se não o exercer dentro do prazo de 6
meses, contado do dia em que vier a saber
quem é o autor do crime, ou, no caso do art.
29, do dia em que se esgotar o prazo para o
oferecimento da denúncia.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência
do direito de queixa ou representação, dentro
do mesmo prazo, nos casos dos arts. 24,
parágrafo único, e 31.
b) PRAZO DO SUCESSOR: O sucessor terá
direito ao prazo restante. Assim, morrendo o
ofendido ou sendo declarado ausente, seu sucessor
não terá restituído o prazo para oferecer
representação. Exemplo: Já se passaram 2 meses do
prazo decadencial e a vítima morre, o sucessor terá
mais 4 meses para representar.
📌 OBSERVAÇÃO: Isso também se aplica à queixa.
7.1.3. RETRATAÇÃO
No tocante à retratação da representação,
uma vez oferecida a representação, é possível
retratar-se (voltar atrás) dela até o OFERECIMENTO
da denúncia.
41
Art. 25. A representação será irretratável,
DEPOIS DE OFERECIDA a denúncia.
⚠ ATENÇÃO
LEI MARIA DA PENHA - É permitida a
retratação (equivocadamente chamadade renúncia)
até o RECEBIMENTO da denúncia.
Art. 16. Nas ações penais públicas
condicionadas à representação da ofendida
de que trata esta Lei, só será admitida a
renúncia à representação perante o juiz, em
audiência especialmente designada com tal
finalidade, ANTES DO RECEBIMENTO da
denúncia e ouvido o Ministério Público.
É possível fazer retratação da retratação?
Feita a representação, a vítima se retrata (não deseja
mais representar). Depois, a vítima se arrepende de
retratar-se, querendo representar novamente. Sim, é
POSSÍVEL, desde que respeitado o prazo decadencial
de 6 meses.
EFICÁCIA OBJETIVA DA REPRESENTAÇÃO:
Feita a representação contra apenas um dos
coautores ou partícipes, ela se ESTENDE aos demais
autores.
⚠ ATENÇÃO
Uma vez realizada a representação em
relação a um fato criminoso, ela NÃO SE ESTENDE
aos demais fatos criminosos.
7.2. AÇÃO PENAL CONDICIONADA À
REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA
JUSTIÇA
É a manifestação de vontade do Ministro da
Justiça no sentido de que possui interesse na
persecução penal do fato delituoso, vigorando o
princípio da oportunidade e conveniência.
Trata-se de condição específica da ação penal
(condição de procedibilidade). Em outras palavras,
sem o seu implemento a ação penal não pode ter
início.
NÃO VINCULAÇÃO (INDEPENDÊNCIA
FUNCIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO): A requisição
não vincula o MP (independência funcional). O MP
somente deverá denunciar se houver justa causa.
Quanto ao prazo, não há prazo decadencial
para requisição, o crime se sujeita apenas ao prazo
prescricional.
A doutrina majoritária defende que também é
cabível a retratação da requisição, nos mesmos
moldes da representação, ou seja, enquanto não
oferecida a denúncia.
8. AÇÃO PENAL DE INICIATIVA
PRIVADA
Há situações em que o Estado, titular do
direito de punir, transfere ao particular o direito de
PERSEGUIR a pena, legitimando-o à propositura da
ação penal (privada).
Na ação penal privada, temos como peça
inicial acusatória a QUEIXA-CRIME, que deverá ser
proposta por intermédio de um profissional da
advocacia, inscrito na OAB, com capacidade
postulatória.
42
DIREITO DE PUNIR DIREITO DE PERSEGUIR A
PENA
Estado (indelegável) O Estado pode delegar ao
particular (ação penal
privada).
⚠ ATENÇÃO
Lembre-se que no silêncio da lei, a ação penal
será pública incondicionada. Somente quando a lei
expressamente mencionar que “somente se procede
mediante queixa” é que a ação penal será privada.
8.1. AÇÃO PENAL EXCLUSIVAMENTE
PRIVADA
Nesta que é a REGRA, em caso de morte ou
ausência do ofendido, ocorre a SUCESSÃO
PROCESSUAL, assumindo o polo ativo o CADI.
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou
quando declarado ausente por decisão
judicial, o direito de oferecer queixa ou
prosseguir na ação passará ao cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão (CADI)
Importante ressaltar que a legitimidade
pertence também a(o) companheiro(a), tendo em
vista a equiparação da união estável ao casamento, é
o entendimento da doutrina majoritária e do STJ:
A companheira, em união estável homoafetiva
reconhecida, goza do mesmo status de
cônjuge para o processo penal, possuindo
legitimidade para ajuizar a ação penal
privada. STJ. Corte Especial. APn 912-RJ, Rel.
Min. Laurita Vaz, julgado em 07/08/2019 (Info
654).
8.2. AÇÃO PENAL PRIVADA
PERSONALÍSSIMA
O direito de ação só pode ser exercido pelo
ofendido. Em caso de morte do ofendido, não haverá
sucessão processual: haverá extinção da punibilidade,
seja pela decadência (queixa ainda não proposta), seja
pela perempção (queixa já em trâmite).
Aqui, não caberá atuação do representante
legal ou de curador especial.
⚠ ATENÇÃO
Temos aqui UM ÚNICO EXEMPLO:
Induzimento a erro essencial ou ocultação de
impedimento (Art. 236, CP). Assim, somente o
contraente enganado pode propor a queixa-crime.
8.3. AÇÃO PENAL PRIVADA
SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA
Inicialmente, trata-se de um direito
fundamental da vítima, conforme o Art. 5º, LIX
da CF:
Art. 5º (...) LIX - será admitida ação privada nos
crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal;
Assim, diante da inércia do Ministério
Público em oferecer a denúncia, em crime de ação
penal pública, a vítima passa a ser COLEGITIMADA à
propositura da ação penal, mediante queixa-crime
substitutiva.
Perceba que esta ação penal é
essencialmente pública. Todavia, esgotado o prazo
para o Ministério Público oferecer a denúncia, a vítima
passa a ser colegitimada. Isso não significa,
entretanto, que o MP deixa de ser legitimado, mas a
43
vítima também passa a ter legitimidade ativa
concorrente.
⚠ ATENÇÃO
O direito de ação privada subsidiária é
inaplicável nos CRIMES VAGOS, pois delitos sem
vítima determinada, v.g. crime de perigo abstrato.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do
Estado de Roraima (Ano: 2023, Banca: Instituto AOCP),
foi considerada correta a seguinte afirmativa: “A
vítima poderá, em hipótese específica, provocar a
prestação da tutela jurisdicional, mesmo em crime de
ação pública incondicionada”.
8.3.1. CABIMENTO
A ação privada subsidiária só é cabível em
caso de inércia do Ministério Público, após o prazo
legal para oferecimento da denúncia (no CPP: 15
dias, se solto; 05 dias, se preso).
Art. 29. Será admitida ação privada nos
crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal, cabendo ao
Ministério Público aditar a queixa,
repudiá-la e oferecer denúncia
substitutiva, intervir em todos os termos
do processo, fornecer elementos de prova,
interpor recurso e, a todo tempo, no caso
de negligência do querelante, retomar a
ação como parte principal (AÇÃO PENAL
INDIRETA)
Art. 46. O prazo para oferecimento da
denúncia, estando o réu preso, será de 5
dias, contado da data em que o órgão do
Ministério Público receber os autos do
inquérito policial, e de 15 dias, se o réu
estiver solto ou afiançado. No último caso, se
houver devolução do inquérito à autoridade
policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data
em que o órgão do Ministério Público receber
novamente os autos.
⚠ ATENÇÃO
ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO: Em caso de arquivamento,
não houve inércia do Ministério Público, logo, não
caberá a propositura de queixa subsidiária.
8.3.2. HIPÓTESES NA LEGISLAÇÃO
PENAL ESPECIAL
a) CRIMES DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR: Temos aqui entidade e órgãos da
Administração direta ou indireta e Associações podem
propor ação privada subsidiária da pública (Art. 80 e
82 do CDC).
Art. 80. No processo penal atinente aos
crimes previstos neste código, bem como a
outros crimes e contravenções que envolvam
relações de consumo, poderão intervir,
como assistentes do Ministério Público, os
legitimados indicados no art. 82, inciso III e
IV, aos quais também é facultado propor ação
penal subsidiária, se a denúncia não for
oferecida no prazo legal.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo
único, são legitimados concorrentemente:
III - as entidades e órgãos da Administração
Pública, direta ou indireta, ainda que sem
personalidade jurídica, especificamente
destinados à defesa dos interesses e direitos
protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas
44
há pelo menos 1 ano e que incluam entre
seus fins institucionais a defesa dos interesses
e direitos protegidos por este código,
dispensada a autorização assemblear
b) CRIMES FALIMENTARES: Temos aqui a
possibilidade de o administrador judicial ou o credor
habilitado.
Art. 184. Os crimes previstos nesta Lei são de
ação penal pública incondicionada.
Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se
refere o art. 187, § 1º, sem que o
representante do Ministério Público ofereça
denúncia, qualquer credor habilitado ou o
administrador judicial poderá oferecer
ação penal privada subsidiária da pública,
observado o prazo decadencial de 6 (seis)
meses.
8.3.3. PRAZO
O prazo DECADENCIAL para o oferecimento
da queixa subsidiária é de 6 meses.
a) INÍCIO DO PRAZO: O prazodo ofendido
para propor a queixa subsidiária começa a ser
contado assim que se esgota o prazo para o
oferecimento da denúncia do Ministério Público.
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o
ofendido, ou seu representante legal, decairá
no direito de queixa ou de representação,
se não o exercer dentro do prazo de 6
meses, contado do dia em que vier a saber
quem é o autor do crime, ou, no caso do art.
29, do dia em que se esgotar o prazo para o
oferecimento da denúncia.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência
do direito de queixa ou representação, dentro
do mesmo prazo, nos casos dos arts. 24,
parágrafo único, e 31.
Se o investigado for solto, o Ministério
Público terá o prazo de 15 dias. Assim, a partir do 16º
dia, começa a correr o prazo da vítima para oferecer a
queixa substitutiva.
b) DECADÊNCIA IMPRÓPRIA: Findo o prazo
decadencial para que a vítima ofereça queixa
subsidiária, não ocorrerá extinção da punibilidade,
porque o MP ainda poderá oferecer a denúncia até o
término do prazo prescricional.
A decadência do direito de queixa
subsidiária, portanto, não extingue a punibilidade.
Vejamos o seguinte quadro:
ATÉ O 15º DIA
EM CASO DE
INVESTIGADO
SOLTO
Somente o MP pode oferecer a
denúncia.
A PARTIR DO
16º DIA E ATÉ 6
MESES DEPOIS
Teremos legitimidade
concorrente em que a vítima
pode propor a ação privada
subsidiária e o MP a denúncia.
PASSADOS OS
6 MESES
Ocorre a decadência imprópria
em relação à vítima, mas o MP
continua a ser legitimado para
oferecer a denúncia até o
término do prazo prescricional.
8.3.4. PODERES DO MINISTÉRIO
PÚBLICO NA AÇÃO PÚBLICA
SUBSIDIÁRIA
Art. 29. Será admitida ação privada nos
crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal, cabendo ao
Ministério Público aditar a queixa,
repudiá-la e oferecer denúncia
45
substitutiva, intervir em todos os termos
do processo, fornecer elementos de prova,
interpor recurso e, a todo tempo, no caso
de negligência do querelante, retomar a
ação como parte principal (AÇÃO PENAL
INDIRETA)
Temos, portanto, os seguintes poderes:
✓ Aditar a queixa-crime (v.g. querelante não
incluiu um crime);
✓ Repudiar a queixa, oferecendo denúncia
substitutiva (v.g. queixa inepta);
✓ Intervir em todos os termos do processo
(v.g. participar de audiências);
✓ Fornecer elementos de prova (v.g. arrolar
testemunhas e juntar documento);
✓ Interpor recurso;
✓ Retomar a titularidade da ação, em caso de
negligência do querelante (AÇÃO PENAL INDIRETA).
9. EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE
E AÇÃO PENAL DE INICIATIVA
PRIVADA
Há hipóteses previstas em lei que haverá a
extinção da punibilidade do autor do delito caso
configuradas na ação penal de iniciativa privada. São
elas a decadência, a renúncia, o perdão e a
perempção.
9.1. DECADÊNCIA
É a perda do direito de ação penal privada
ou de representação em virtude de seu não exercício
no prazo legal.
a) NATUREZA JURÍDICA: Tem natureza de
causa extintiva de punibilidade (Art. 107, IV, CP).
Além disso, trata-se de um prazo FATAL e
improrrogável: Não se suspende, nem se interrompe.
b) CONTAGEM: Como causa extintiva da
punibilidade, o prazo é de natureza MATERIAL.
Assim, conta-se conforme o Art. 10 do CP:
Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo
do prazo. Contam-se os dias, os meses e os
anos pelo calendário comum.
c) INÍCIO DO PRAZO: O prazo de 6 meses
será contado a partir do momento do conhecimento
da autoria da infração penal. Aplicamos aqui a
TEORIA DA ACTIO NATA.
9.2. RENÚNCIA
Ato unilateral pelo qual o ofendido abre
mão do direito de queixa. Logo, não há necessidade
de que haja concordância do agente criminoso. A
renúncia materializa o PRINCÍPIO DA
OPORTUNIDADE (o ofendido ou seu representante
legal podem optar pelo oferecimento ou não da
queixa-crime).
a) NATUREZA JURÍDICA: Causa extintiva da
punibilidade (Art. 107, V, CP).
b) CABIMENTO: Apenas na ação penal
exclusiva e na personalíssima. Não cabe na
subsidiária. Lembre-se que a ação subsidiária é
essencialmente pública.
📌 OBSERVAÇÃO
O fato de o ofendido receber a indenização
do dano causado pelo crime não implica em
renúncia tácita - art. 104, parágrafo único, CP.
46
Art. 104. Parágrafo único - Importa renúncia
tácita ao direito de queixa a prática de ato
incompatível com a vontade de exercê-lo; não
a implica, todavia, o fato de receber o
ofendido a indenização do dano causado
pelo crime.
c) COMPOSIÇÃO CIVIL DOS DANOS (JECRIM):
Trata-se de renúncia ao direito de queixa. Conforme
o Art. 74, §único da Lei 9.099/95:
Art. 74 (...) Parágrafo único. Tratando-se de
ação penal de iniciativa privada ou de ação
penal pública condicionada à representação,
o acordo homologado acarreta a renúncia ao
direito de queixa ou representação.
9.3. PERDÃO DO OFENDIDO
Ato bilateral pelo qual, no curso do
processo, o querelante resolve perdoar o querelado.
Temos aqui a materialização do PRINCÍPIO DA
DISPONIBILIDADE (o querelante poderá desistir da
ação penal privada em andamento (DESISTÊNCIA). O
perdão exige a aceitação do querelado (pois é ato
bilateral). Conforme o Art. 58, CPP:
Art. 58. Concedido o perdão, mediante
declaração expressa nos autos, o querelado
será intimado a dizer, dentro de 3 dias, se o
aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser
cientificado de que o seu SILÊNCIO
IMPORTARÁ ACEITAÇÃO.
a) NATUREZA JURÍDICA: Trata-se de causa
de extinção da punibilidade (Art. 107, V, CP).
b) CABIMENTO: Só terá cabimento na ação
privada exclusiva e na personalíssima.
Se o querelado não aceitar o perdão, o que
poderá o querelante fazer? Poderá provocar a
perempção.
Qual o limite do perdão do ofendido? É
possível o perdão até o trânsito em julgado da
sentença penal condenatória (Ver. 106, §3º, CP).
🚩 NÃO CONFUNDA17: RENÚNCIA ≠ PERDÃO DO
OFENDIDO
RENÚNCIA PERDÃO DO OFENDIDO
Causa extintiva da
punibilidade nas
hipóteses de ação penal
exclusivamente privada
e de ação penal privada
personalíssima.
Causa extintiva da
punibilidade nas
hipóteses de ação penal
exclusivamente privada
e de ação penal privada
personalíssima.
Decorre do princípio da
oportunidade ou
conveniência
Decorre do princípio da
disponibilidade.
Ato unilateral: não
depende de aceitação
Ato bilateral: depende
de aceitação do
querelado
É concedida antes do
início do processo (até o
oferecimento da
queixa-crime).
É concedido durante o
curso do processo.
Por força do princípio da
indivisibilidade, a
renúncia concedida a
um dos coautores ou
Por força do princípio da
indivisibilidade, o
perdão concedido a um
dos querelados
17 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed.
Juspodivm, 2020, p.355/356
47
partícipes do delito
estende-se aos demais.
estende-se aos demais,
mas desde que haja
aceitação.
9.4. PEREMPÇÃO
Perda do direito de prosseguir na ação, em
virtude de negligência do querelante.
Art. 60. Nos casos em que somente se
procede mediante queixa, considerar-se-á
PEREMPTA a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar
de promover o andamento do processo
durante 30 dias seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou
sobrevindo sua incapacidade, não
comparecer em juízo, para prosseguir no
processo, dentro do prazo de 60 dias,
qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo,
ressalvado o disposto no art. 36 - CADI;
III - quando o querelante deixar de
comparecer, sem motivo justificado, a
qualquer ato do processo a que deva estar
presente, ou deixar de formular o pedido de
condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa
jurídica, esta se extinguir sem deixar
sucessor.
a) NATUREZA JURÍDICA: Trata-se de causa
de extinção da punibilidade (Art. 107, IV, CP).
b) CABIMENTO: ação privada exclusiva e
personalíssima
10. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES
DOUTRINÁRIAS
10.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA
SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA
Diante da inércia de um órgão estatal, outro
órgão estatal oferecerá a ação penal, em substituição.
Sua inserção como espécie de ação penal pública não
é pontopacífico na doutrina.18
a) CRIME DE RESPONSABILIDADE DE
PREFEITOS (DECRETO-LEI 201/67): Se o MPE (PGJ)
permanecer inerte em oferecer a ação penal contra o
prefeito, será possível pedir providências ao PGR
(MPF). A doutrina entende que este dispositivo atenta
contra a autonomia dos ministérios públicos
estaduais, sendo não recepcionado pela CF.
b) CÓDIGO ELEITORAL (ART. 357, §§ 3º E 4º):
Se o promotor eleitoral não oferecer denúncia, o juiz
poderá solicitar ao procurador regional eleitoral a
designação de outro promotor para oferecer a
denúncia ou oferecer pessoalmente denúncia.
Vejamos:
Art. 357 (...)
§ 3º Se o órgão do Ministério Público não
oferecer a denúncia no prazo legal
representará contra ele a autoridade
judiciária, sem prejuízo da apuração da
responsabilidade penal.
§ 4º Ocorrendo a hipótese prevista no
parágrafo anterior o juiz solicitará ao
Procurador Regional a designação de outro
promotor, que, no mesmo prazo, oferecerá a
denúncia.
18 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed.
Juspodivm, 2020, p.318.
48
c) INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE
COMPETÊNCIA (violação a direitos humanos):
Conforme o Art. 109, §5º da CF:
Art. 109 (...) § 5º Nas hipóteses de grave
violação de direitos humanos, o
Procurador-Geral da República, com a
finalidade de assegurar o cumprimento de
obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais
o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o
Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase
do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça
Federal.
10.2. AÇÃO PENAL POPULAR
Parcela da doutrina discute a possibilidade de
qualquer do povo propor uma ação penal. Hipóteses:
a) HABEAS CORPUS: O CPP prevê que o HC
pode ser proposto por qualquer pessoa. Assim,
parcela da doutrina aponta o HC como exemplo
possível de ação penal popular. Todavia, outra parcela
critica no seguinte sentido: Não se trata de ação penal
CONDENATÓRIA popular.
b) CRIME DE RESPONSABILIDADE DO
PRESIDENTE DA REPÚBLICA OU MINISTRO DE
ESTADO (Art. 14, Lei 1.079/50)
Art. 14. É permitido a qualquer cidadão
denunciar o PR ou Ministro de Estado, por
crime de responsabilidade, perante a câmara
dos deputados.
🔔 Crítica: A expressão “denúncia” é, na
verdade, uma “notitia criminis” dirigida à Câmara dos
deputados e não a peça acusatória de uma ação penal
condenatória. Além disso, a Lei 1.079/50 não tipifica
crimes, mas sim infrações político-administrativas.
Assim, não se trata de ação penal condenatória
popular.
10.3. AÇÃO PENAL ADESIVA
1ª CORRENTE
(MAJORITÁRIA)
2ª CORRENTE
(MINORITÁRIA)
O Ministério Público
oferece denúncia em
crimes de ação penal
privada, desde que haja
interesse público.
Seria um litisconsórcio
ativo entre o MP, em
crime de ação penal
pública, e o querelante,
em crimes de ação
penal privada.
10.4. AÇÃO DE PREVENÇÃO PENAL
Ação penal ajuizada com o objetivo de
aplicar medida de segurança ao inimputável. O
objetivo é a prolação de uma sentença absolutória
imprópria. Para Tourinho Filho, a ação penal
condenatória é gênero com duas espécies: a ação
penal propriamente dita, tendo por finalidade a
aplicação a pena privativa de liberdade, e a ação de
prevenção penal, visando à imposição de medida de
segurança.19
10.5. AÇÃO PENAL SECUNDÁRIA
Ocorre na hipótese em que a lei estabelece
uma espécie de ação penal para determinado crime,
porém, em virtude do surgimento de circunstâncias
especiais, passa a prever, secundariamente, uma nova
espécie de ação penal para essa infração.20
20 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed.
Juspodivm, 2020, p.359.
19 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 31ª ed. São
Paulo: Editora Saraiva, 2009. p. 515.
49
Exemplo: Furto – ação pública
incondicionada. O furto cometido contra as pessoas
do Art. 182, CP, será de ação penal pública
condicionada à representação.
Art. 182 - Somente se procede mediante
representação, se o crime previsto neste
título é cometido em prejuízo: 
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente
separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente
coabita.
10.6. AÇÃO PENAL INDIRETA
Quando o querelante abandona a ação
penal privada subsidiária da pública e o MP reassume
o polo ativo da ação penal.
10.7. AÇÃO PENAL EXTENSIVA
Segundo Norberto Avena, “relativa aos crimes
complexos, esta modalidade de ação penal decorre
do art. 101, do CP, dispondo que “quando a lei
considera como elemento ou circunstâncias do tipo
legal fatos que, por si mesmos, constituem crimes,
cabe ação pública em relação àquele, desde que, em
relação a qualquer destes, se deva proceder por
iniciativa do Ministério Público”. Por crime complexo
entende-se aquele que surge da conjugação de dois
ou mais crimes. Exemplo clássico é o crime de roubo,
correspondente à junção dos crimes relativos à
ameaça ou à violência com o delito de furto. Pois bem,
de acordo com o referido art. 101 do CP, se, na
formação do crime complexo, um dos delitos, na
sua forma autônoma, deva ser apurado mediante
ação penal privada e o(s) remanescente(s), por
meio de ação penal pública, esta última
modalidade deverá prevalecer, abrangendo toda a
conduta do agente.21”
11. PEÇA ACUSATÓRIA
AÇÃO PENAL PÚBLICA AÇÃO PENAL PRIVADA
Denúncia (Ministério
Público)
Queixa-crime
(querelante/ofendido)
11.1. REQUISITOS
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a
EXPOSIÇÃO DO FATO criminoso, com todas
as suas circunstâncias, a QUALIFICAÇÃO DO
ACUSADO ou esclarecimentos pelos quais se
possa identificá-lo, a CLASSIFICAÇÃO do
CRIME e, quando necessário, o ROL DAS
TESTEMUNHAS.
11.1.1. EXPOSIÇÃO DO FATO
CRIMINOSO E CIRCUNSTÂNCIAS
A peça acusatória deve narrar
pormenorizadamente a conduta imputada, sob pena
de cerceamento de defesa.
⚠ ATENÇÃO
CRIPTOIMPUTAÇÃO: Trata-se da peça
acusatória com DEFICIÊNCIA na narrativa do fato
criminoso (inépcia). Em virtude disso, a peça
acusatória será REJEITADA (juízo de admissibilidade
negativo).
4. Pontue-se a necessária distinção conceitual
entre denúncia geral e genérica, essencial
para aferir a regularidade da peça acusatória
21 Avena, Norberto. Processo Penal. Disponível em: Minha Biblioteca,
(14th edição). Grupo GEN, 2022.
50
no âmbito das infrações de autoria coletiva,
em especial nos crimes societários (ou de
gabinete), que são aqueles cometidos por
representantes (administradores, diretores ou
quaisquer outros membros integrantes de
órgão diretivo, sejam sócios ou não) da
pessoa jurídica, em concurso de pessoas. A
denúncia genérica caracteriza-se pela
imputação de vários fatos típicos,
genericamente, a integrantes da pessoa
jurídica, sem delimitar, minimamente, qual
dos denunciados teria agido de tal ou qual
maneira. Patente, pois, que a
criptoimputação da denúncia genérica
vulnera os princípios constitucionais da
ampla defesa e do contraditório, bem
como a norma extraída do art. 8º, 2, "b" e
"c", da Convenção Americana de Direitos
Humanos e do art. 41 do CPP, haja vista a
indevida obstaculização do direito
conferido ao acusado de preparar
dignamente sua defesa. (STJ, RHC n.
45.872/MG, relator Ministro Ribeiro Dantas,
Quinta Turma, julgado em 17/8/2017, DJe de
28/8/2017.)
🚩 NÃO CONFUNDA: DENÚNCIA GENÉRICA ≠
DENÚNCIA GERAL
DENÚNCIA GENÉRICA DENÚNCIA GERAL
Aponta fato incerto e
imprecisamente descrito.
Caracteriza-se pela
imputação de vários
fatos típicos,
genericamente, a
integrantes da pessoa
jurídica, sem delimitar,
minimamente, qual dos
Há acusação da prática
de fato específico
atribuído a diversas
pessoas, ligadas por
circunstâncias comuns,
mas sem a indicação
minudente da
responsabilidade interna
e individual dos
imputados.
denunciados teria agido
de tal ou qual maneira
Segundo o STF, “2. Não há abuso de acusação
na denúncia que, ao tratar de crimes de
autoria coletiva, deixa, por absoluta
impossibilidade, de esgotar as minúcias do
supostocometimento do crime. 3. Há
diferença entre denúncia genérica e geral.
Enquanto naquela se aponta fato incerto e
imprecisamente descrito, na última há
acusação da prática de fato específico
atribuído a diversas pessoas, ligadas por
circunstâncias comuns, mas sem a
indicação minudente da responsabilidade
interna e individual dos imputados. 4. Nos
casos de denúncia que verse sobre delito
societário, não há que se falar em inépcia
quando a acusação descreve minimamente o
fato tido como criminoso.” (HC 118891-SP).
De igual maneira, para o STJ:
Pontue-se a necessária distinção conceitual
entre denúncia geral e genérica, essencial
para aferir a regularidade da peça acusatória
no âmbito das infrações de autoria coletiva,
em especial nos crimes societários (ou de
gabinete), que são aqueles cometidos por
representantes (administradores, diretores ou
quaisquer outros membros integrantes de
órgão diretivo, sejam sócios ou não) da
pessoa jurídica, em concurso de pessoas. A
denúncia genérica caracteriza-se pela
imputação de vários fatos típicos,
genericamente, a integrantes da pessoa
jurídica, sem delimitar, minimamente, qual
dos denunciados teria agido de tal ou qual
maneira. STJ, RHC 96.507/PE, Rel. Ministro
51
RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
17/10/2019, DJe 29/10/2019.
Na hipótese dos autos, assevera o recorrente
ser inepta a denúncia, uma vez que não
descreve de forma adequada sua participação
nos fatos imputados na denúncia. Importante
esclarecer que não se pode confundir a
denúncia genérica com a denúncia geral, pois
o direito pátrio não admite denúncia genérica,
sendo possível, entretanto, nos casos de
crimes societários e de autoria coletiva, a
denúncia geral, ou seja, aquela que, apesar de
não detalhar minudentemente as ações
imputadas ao denunciado, demonstra, ainda
que de maneira sutil, a ligação entre sua
conduta e o fato delitivo. STJ, RHC 54.075/RS,
Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
27/06/2017, DJe 01/08/2017.
🚩 NÃO CONFUNDA: IMPUTAÇÃO IMPLÍCITA ≠
IMPUTAÇÃO ALTERNATIVA
IMPUTAÇÃO IMPLÍCITA IMPUTAÇÃO
ALTERNATIVA
A imputação deve ser
clara, precisa e
completa.
O art. 41 do CPP
estabelece que a
denúncia deve proceder
à exposição do fato
criminoso, com todas as
suas circunstâncias,
dessa forma, a
imputação implícita
acarreta evidente
prejuízo ao exercício
do direito de defesa.
Afrânio Silva Jardim
pontua que ocorre
imputação alternativa
“quando a peça
acusatória vestibular
atribui ao réu mais de
uma conduta
penalmente relevante,
asseverando que
apenas uma delas
efetivamente terá sido
praticada pelo
imputado, embora todas
se apresentem como
prováveis, em face da
prova do inquérito”22.
Segundo Renato
Brasileiro (2020, p.391), a
maioria da doutrina “se
posiciona contrariamente
a ela, já que, ainda
quando houver
compatibilidade entre os
fatos imputados, seu
oferecimento quase
sempre acarreta
dificuldades ao
exercício do direito de
defesa.”
IMPUTAÇÃO
ALTERNATIVA
OBJETIVA23
“Refere-se à
alternatividade quanto
aos dados objetivos do
fato narrado, podendo
ser de duas espécies:
a) imputação
alternativa objetiva
ampla: é aquela que
incide sobre a ação
principal, furto ou
receptação;
b) imputação
alternativa objetiva
restrita: é aquela que se
refere a uma
23 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed.
Juspodivm, 2020, p.390.
22 JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 11ª ed. Rio de Janeiro:
Editora Forense, 2002. p. 149.
52
circunstância
qualificadora.”
IMPUTAÇÃO
ALTERNATIVA
SUBJETIVA24
“diz respeito ao sujeito
passivo da imputação,
subdivide-se em:
a) simples: a
alternatividade decorre
de dúvida sobre a autoria
do crime, como ocorre
nos exemplos em que os
investigados se acusam
reciprocamente, sendo
contraditórios os
elementos de informação
colhidos no inquérito
(v.g., briga em bares);
b) complexa: é aquela
que abrange não só o
autor do delito, como
também a própria
infração penal.”
IMPUTAÇÃO
ALTERNATIVA
ORIGINÁRIA
“Na denúncia ou na
queixa, os fatos
delituosos já são
atribuídos de maneira
alternativa ao agente
(imputação alternativa
objetiva ampla
originária).”
24 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed.
Juspodivm, 2020, p.391.
IMPUTAÇÃO
ALTERNATIVA
SUPERVENIENTE
“Resultava do aditamento
da peça acusatória nos
casos de mutatio libelli,
prevista na redação
original do parágrafo
único do art. 384 do CPP,
antes das alterações
produzidas pela reforma
processual de 2008 (...)
De acordo com a nova
redação do art. 384, § 4º,
do CPP, havendo
aditamento, ficará o juiz,
na sentença, adstrito
aos termos do
aditamento.”
11.1.2. QUALIFICAÇÃO DO ACUSADO
O acusado deverá ser qualificado ou
deverão ser indicadas suas características físicas.
Art. 259. A impossibilidade de identificação
do acusado com o seu verdadeiro nome ou
outros qualificativos não retardará a ação
penal, quando certa a identidade física. A
qualquer tempo, no curso do processo, do
julgamento ou da execução da sentença, se
for descoberta a sua qualificação, far-se-á a
retificação, por termo, nos autos, sem
prejuízo da validade dos atos precedentes.
11.1.3. CLASSIFICAÇÃO DO CRIME
Trata-se da tipificação penal da conduta
imputada. O acusado se defende dos fatos
53
imputados (não da capitulação jurídica). Assim, é
possível a aplicação do Art. 383 do CPP (Emendatio
libelli).
Art. 383. [EMENDATIO LIBELLI] O juiz, sem
modificar a descrição do fato contida na
denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe
definição jurídica diversa, ainda que, em
consequência, tenha de aplicar pena mais
grave
11.1.4. ROL DE TESTEMUNHAS
O Ministério Público e o querelante devem
arrolar as testemunhas na peça acusatória, sob pena
de PRECLUSÃO consumativa. Quanto ao número de
testemunhas, vejamos o quadro:
PROCEDIMENTO COMUM Até 8 (por fato criminoso)
PROCEDIMENTO
SUMÁRIO
Até 5
PROCEDIMENTO
SUMARÍSSIMO
Até 3
1ª FASE DO JÚRI Até 8
PLENÁRIO DO JÚRI Até 5
DROGAS Até 5
Sem prejuízo das testemunhas arroladas
pelas partes, o juiz poderá ouvir as chamadas
“testemunhas do juízo”.
11.2. PROCURAÇÃO NA QUEIXA-CRIME
PODERES ESPECIAIS: nome do querelado e
menção do fato criminoso. Conforme o Art. 44, CPP:
Art. 44. A queixa poderá ser dada por
procurador com poderes especiais,
devendo constar do instrumento do mandato
o nome do querelante e a menção do fato
criminoso, salvo quando tais esclarecimentos
dependerem de diligências que devem ser
previamente requeridas no juízo criminal.
Na Jurisprudência:
Não se desconhece a existência de
precedentes desta Corte Superior de
Justiça no sentido de que a exigência
contida no artigo 44 do Código de Processo
Penal, consistente na menção do fato
criminoso no aludido documento, é
cumprida com a indicação do dispositivo
de Lei no qual o querelado é dado como
incurso.
Para que reste atendido o comando contido
no art. 44 do CPP, é indispensável que a
procuração contenha uma descrição, ainda
que sucinta, dos fatos a serem abordados na
queixa-crime. Doutrina. Precedentes do STJ e
do STF. No caso dos autos, a procuração
ofertada pela querelante não contém a
descrição, ainda que sucinta, dos fatos a
serem apurados com o oferecimento de
queixa-crime, não estando atendida a
exigência contida no artigo 44 da Lei Penal
Adjetiva. Eventual defeito na representação
processual da querelante só pode ser sanado
dentro do prazo decadencial previsto no art.
38 do CPP. O intuito de abrigar o pleito
acusatório e determinar que a inicial seja
recebida, in casu, exige o revolvimento do
material fático-probatório, providência
exclusiva das instâncias ordinárias, vedada a
este Sodalício em sede de Recurso Especial,
ante o óbice do Enunciado Nº (STJ; AgRg-REsp
1.673.988; Proc. 2017/0128746-9; SP; Quinta
Turma; Rel. Min. Jorge Mussi; Julg. 22/05/2018;
54
DJE 28/05/2018; Pág. 2559)25
Para que o advogado proponha
queixa-crime em nome do seu cliente, eleprecisa ter recebido procuração com
poderes especiais para praticar esse ato. Se
o cliente outorga procuração sem conferir
poderes ao advogado para ajuizar
queixa-crime, este advogado não pode
oferecer substabelecimento a outro
advogado mencionando que este terá
poderes para propor queixa-crime. Ora, se
o advogado originário não recebeu poderes
para ajuizar queixa-crime, ele não poderá
substabelecer para outro advogado poderes
para propor queixa-crime. Em palavras mais
simples, o advogado não pode substabelecer
poderes que não recebeu. Apenas os poderes
originariamente outorgados podem ser
transferidos. Assim, deve ser tida por
inexistente a inclusão, ao substabelecer, de
poderes especiais para a propositura de ação
penal privada, se eles não constavam do
mandato originário. Portanto, cabe
reconhecer a nulidade da queixa-crime, por
vício de representação, tendo em vista que a
procuração outorgada para a sua propositura
não atende às exigências do art. 44 do CPP.
STJ. 6ª Turma. RHC 33790-SP, Rel. originário
Min. Maria Thereza De Assis Moura, Rel. para
Acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado
em 27/6/2014 (Info 544).26
Para que seja protocolizada queixa-crime é
necessária capacidade postulatória. A
procuração outorgada pelo querelante ao seu
26 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Poderes especiais para advogado
propor queixa-crime. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
25 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Procuração para queixa-crime.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2022
advogado para o ajuizamento de queixa-crime
é uma procuração com poderes especiais.
Nesta procuração deve constar o “nome do
querelado” e a “menção ao fato criminoso”.
Para o STJ, “menção ao fato criminoso”
significa que, na procuração, basta que seja
mencionado o tipo penal ou o nomen iuris do
crime, não precisando identificar a conduta.
Para o STF, “menção ao fato criminoso”
significa que, na procuração, deve ser
individualizado o evento delituoso, não
bastando que apenas se mencione o nomen
iuris do crime. Caso haja algum vício na
procuração para a queixa-crime, esse vício
deverá ser corrigido antes do fim do prazo
decadencial de 6 meses, sob pena de
decadência e extinção da punibilidade. STF. 2ª
Turma. RHC 105920/RJ, Rel. Min. Celso de
Mello, julgado em 8/5/2012 (Info 665).
O vício na representação processual do
querelante é sanável, desde que dentro do
prazo decadencial. STJ. 5ª Turma. AgRg no
REsp 1392388/MG, Rel. Min. Felix Fischer,
julgado em 18/08/2015.27
11.3. PRAZO PARA OFERECIMENTO DA
DENÚNCIA - Art. 46, CPP
Art. 46. O prazo para oferecimento da
denúncia, estando o réu preso, será de 5
dias, contado da data em que o órgão do
Ministério Público receber os autos do
inquérito policial, e de 15 dias, se o réu
estiver solto ou afiançado. No último caso, se
houver devolução do inquérito à autoridade
policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data
27 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Procuração para queixa-crime.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
55
em que o órgão do Ministério Público receber
novamente os autos.
§ 1o Quando o Ministério Público dispensar o
inquérito policial, o prazo para o oferecimento
da denúncia contar-se-á da data em que tiver
recebido as peças de informações ou a
representação
RÉU PRESO RÉU SOLTO
CPP 5 DIAS 15 DIAS
DROGAS 10 DIAS
ECONOMIA
POPULAR
2 DIAS
CÓDIGO
ELEITORAL
10 DIAS
11.4. PRAZO PARA OFERECIMENTO DA
QUEIXA
O prazo será sempre de 6 meses. Todavia,
questão importante é saber sobre o início da
contagem do prazo:
INÍCIO DA CONTAGEM DO PRAZO DE 6 MESES
AÇÃO PRIVADA
EXCLUSIVA E
PERSONALÍSSIMA
AÇÃO PRIVADA
SUBSIDIÁRIA DA
PÚBLICA
A partir do conhecimento
da autoria (“actio nata”)
Esgotamento do prazo
do MP para oferecer
denúncia.
LEMBRE-SE: na ação exclusiva e na
personalíssima teremos uma decadência própria caso
não seja cumprido o prazo, gerando a extinção da
punibilidade. No caso da subsidiária, a decadência é
imprópria.
12. PONTOS IMPORTANTES NA
JURISPRUDÊNCIA
a) Inexistindo a demonstração do mínimo
vínculo entre o acusado e o delito a ele imputado,
impossibilitado está o exercício do contraditório e
da ampla defesa.
Inexistindo a demonstração do mínimo
vínculo entre o acusado e o delito a ele
imputado, impossibilitado está o exercício do
contraditório e da ampla defesa. STJ. 6ª
Turma. RHC 154.162-DF, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 22/03/2022 (Info
730).28
b) Recebimento da denúncia e princípio do
in dubio pro societate.
No momento da denúncia, prevalece o
princípio do in dubio pro societate. STF. 1ª
Turma. Inq 4506/DF, rel. Min. Marco Aurélio,
red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em
17/04/2018 (Info 898).29
⚠ ATENÇÃO
Para o STJ, é possível ao Juiz reconsiderar a
decisão de recebimento da denúncia, para rejeitá-la,
quando acolhe matéria suscitada na resposta
preliminar defensiva relativamente às hipóteses
29 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Princípio do in dubio pro societate.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
.
28 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Inexistindo a demonstração do
mínimo vínculo entre o acusado e o delito a ele imputado, impossibilitado
está o exercício do contraditório e da ampla defesa. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2022
56
previstas nos incisos do art. 395 do Código de
Processo Penal.
🚨 JÁ CAIU
Na prova de juiz do TJ-SC (Ano: 2022 Banca: FGV), foi
considerada correta a seguinte afirmação: De acordo
com a doutrina e a jurisprudência dominantes nos
Tribunais Superiores, no tocante ao exercício da ação
penal, suas condições e o respectivo controle
jurisdicional, é correto afirmar que não poderá o juiz,
de ofício, fora dos casos de absolvição sumária, rever
a decisão que recebeu a denúncia para rejeitá-la.
c) Trancamento de inquérito policial por
excesso de prazo e oferecimento de denúncia
O eventual trancamento de inquérito policial
por excesso de prazo não impede, sempre e
de forma automática, o oferecimento da
denúncia STF. 2ª Turma. HC 194023 AgR, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/09/2021.30
d) Denúncia e Teoria do Domínio do Fato
Não há óbice para que a denúncia invoque a
teoria do domínio do fato para dar suporte à
imputação penal, sendo necessário, contudo,
que, além disso, ela aponte indícios
convergentes no sentido de que o Presidente
da empresa não só teve conhecimento do
crime de evasão de divisas, como dirigiu
finalisticamente a atuação dos demais
acusados. Assim, não basta que o acusado se
encontre em posição hierarquicamente
30 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O eventual trancamento de
inquérito policial por excesso de prazo não impede, sempre e de forma
automática, o oferecimento da denúncia. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em:
superior. Isso porque o próprio estatuto da
empresa prevê que haja divisão de
responsabilidades e, em grandes
corporações, empresas ou bancos há
controles e auditorias exatamente porque
nem mesmo os sócios têm como saber tudo o
que se passa. STF. 2ª Turma. HC 127397/BA,
Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/12/2016
(Info 850).31
e) Denúncia e lastro probatório
Deve ser rejeitada a queixa-crime que,
oferecida antes de qualquer procedimento
prévio, impute a prática de infração de menor
potencial ofensivo com base apenas na
versão do autor eEm sede processual penal, a presença dessas
condições da ação deve ser analisada por
ocasião do juízo de admissibilidade da peça
acusatória. A denúncia ou queixa deve ser
rejeitada pelo magistrado quando faltar
condição para o exercício da ação penal (CPP,
art. 395, II). Se, no entanto, isso não ocorrer
por ocasião do juízo de admissibilidade da
peça acusatória, é perfeitamente possível o
reconhecimento de nulidade absoluta do
processo, em qualquer instância, com
fundamento no art. 564, inciso II, do CPP – o
dispositivo refere-se apenas à
ilegitimidade de parte, mas, por analogia,
também pode ser aplicado às demais
condições da ação penal. Há quem entenda
que também seria possível a extinção do
processo sem julgamento do mérito,
aplicando-se, por analogia, o disposto no art.
485, VI, do NCPC.
5
As condições da ação classificam-se em duas
ordens: i) as condições gerais ou genéricas e ii) as
condições especiais ou específicas. Quando ausentes,
segundo o CPP, implicarão em rejeição da denúncia
ou queixa pelo Estado-Juiz.
São condições genéricas aquelas que devem
estar presentes em qualquer ação penal,
independente da natureza ou do tipo penal infringido.
Neste grupo, encontram-se: i) o interesse de agir, ii) a
legitimidade “ad causam” ativa e passiva e iii) a justa
causa.
Quanto às condições especiais ou específicas
da ação – também chamadas de condições de
procedibilidade, ao contrário das condições genéricas
que são exigidas para todas as espécies de ação
penal, elas devem estar presentes apenas em
determinadas ações penais. É que, as condições
específicas dizem respeito ao próprio exercício da
ação penal e são exigidas a partir de previsão
expressa.
Incluem-se neste rol de hipóteses i) a
representação do ofendido, que é exigida nas ações
penais públicas condicionadas à representação
daquele; ii) a requisição do Ministro da Justiça, que é
exigida nas ações penais públicas condicionadas à sua
requisição; iii) a presença de provas novas quando o
inquérito policial tiver sido arquivado com base na
ausência de elementos probatórios; iv) a presença de
provas novas após a preclusão da decisão de
impronúncia em crimes dolosos contra a vida (art.
414, do CPP); v) a presença de laudo pericial nos
crimes contra a propriedade imaterial (art. 525, do
CPP); vi) a autorização por 2/3 dos membros da
Câmara dos Deputados para instauração de processo
contra o Presidente e o Vice-Presidente da República
e os Ministros de Estado (art. 51, I, da CF/88) e vii) o
trânsito em julgado da sentença que anule o
casamento por motivo de erro ou impedimento nos
crimes de induzimento a erro essencial e de ocultação
de impedimento de casamento (art. 236, parágrafo
único, do CP).
Abaixo, aprofundaremos melhor todas elas.
3.1. CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO
PENAL
No tocante às condições genéricas da ação
penal, temos duas correntes doutrinárias:
1ª CORRENTE
(MAJORITÁRIA)
2ª CORRENTE (AURY
LOPES JUNIOR)
As condições seriam as
mesmas do processo
civil, adicionando-se a
“justa causa”. Assim,
teríamos legitimidade,
interesse e justa causa
para a ação penal.
Portanto, aplicamos
aqui o Art. 17 do CPC.
O processo penal tem
peculiaridades que
demandam condições
próprias do processo
penal, quais sejam:
a) Fato
aparentemente
criminoso;
b) Punibilidade
concreta;
c) Legitimidade e
justa causa.
3.1.1. LEGITIMIDADE AD CAUSAM OU
LEGITIMIDADE PARA AGIR
Através da terceira condição genérica,
legitimidade “ad causam” (ou legitimidade para agir)
ativa e passiva, diz-se que é necessário que a
propositura da inicial acusatória (denúncia ou queixa)
seja patrocinada pelos respectivos legitimados ativos
– Ministério Público, ofendido ou pessoas do art. 31
do Código de Processo Penal, conforme o caso.
6
Já o legitimado passivo deve ser o provável
autor do delito, maior de idade no momento da
conduta, já que os menores de idade são inimputáveis
(art. 228, da CF/88), sujeitos à disciplina dos atos
infracionais do Estatuto da Criança e do Adolescente.
A legitimidade, portanto, é a pertinência
subjetiva para a ação, ou seja, é a capacidade de
constar do polo ativo ou do polo passivo da ação
penal.
Há legitimidade quanto o autor é titular do
direito subjetivo material que se pretende proteger,
assim como quando o demandado é o titular da
obrigação correspondente ao seu direito.
⚠ CUIDADO
A ilegitimidade ad causam consiste em
nulidade absoluta do processo penal, nos termos do
art. 564, II, do CPP.
3.1.1.1. LEGITIMIDADE ATIVA
a) Ação penal pública: Ministério Público
(dominus littis), conforme o Art. 129, I da CF.
b) Ação penal privada: O querelante (sujeito
passivo da infração).
Em termos de legitimidade, a regra geral está
consagrada no art. 18 do CPC, que prevê que somente
o titular do alegado direito poderá pleitear em nome
próprio seu próprio interesse. É o que se denomina
de legitimação ordinária. Portanto, em regra, alguém
só pode agir, em nome próprio, na defesa de
interesse próprio. É o que ocorre no âmbito
processual penal, nas hipóteses de ação penal
pública, pois, na medida em que a Constituição
Federal outorga ao Ministério Público a titularidade da
ação penal pública, é evidente que o parquet age em
nome próprio na defesa de interesse próprio.
Mas, se a regra é a legitimação ordinária,
excepcionalmente, e desde que autorizado por lei, o
ordenamento jurídico prevê situações em que alguém
pode pleitear, em nome próprio, direito alheio. É o
que se denomina de legitimação extraordinária ou
substituição processual.
Aqui, a doutrina costuma citar como exemplo
a ação penal de iniciativa privada. Nessa espécie de
ação penal, o Estado, titular exclusivo do direito de
punir, transfere a legitimidade para a propositura da
ação penal à vítima ou ao seu representante legal, a
eles concedendo o jus persequendi in judicio. Cuida-se,
portanto, de hipótese de legitimação extraordinária,
já que o ofendido age, em nome próprio, na defesa de
um interesse alheio, pois o Estado continua sendo o
titular da pretensão punitiva.
⚠ CUIDADO
Súmula 714-STF: É concorrente a legitimidade
do ofendido, mediante queixa, e do Ministério
Público, condicionada à representação do
ofendido, para a ação penal por crime contra
a honra de servidor público em razão do
exercício de suas funções.
Com o teor da Súmula n.º 714 do STF, pois,
conforme a doutrina e jurisprudência majoritárias,
trata-se de uma LEGITIMIDADE ALTERNATIVA, isto é,
ou o ofendido representa e o MP oferece a denúncia
ou o ofendido resolve, por si só, oferecer a
queixa-crime. Não é possível, portanto, que, ao
mesmo tempo, o ofendido represente e ofereça a
queixa-crime, devendo optar por uma das opções.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do
7
Estado da Bahia (Ano: 2023, Banca CESPE/CEBRASPE),
foi considerada correta a seguinte afirmativa: “De
acordo com a jurisprudência do STF, a propositura da
ação penal por crime contra a honra de servidor
público em razão do exercício de suas funções é de
legitimidade concorrente do ofendido, mediante
queixa, e do Ministério Público, mediante ação penal
condicionada à representação do ofendido”.
Na prova de técnico do TRT - 13ª Região (PB) (Ano:
2022 Banca: FGV), foi considerada correta a seguinte
afirmação: Cristiano é servidor público do Tribunal
Regional do Trabalho há mais de 10 anos e, no
exercício de suas funções, foi vítima de crime contra a
honra praticado por Rodrigo, um jurisdicionado.
Nessa hipótese, é correto afirmar que Cristiano,
mediante queixa-crime, e o Ministério Público,
mediante representação do ofendido, possuem
legitimidade concorrente.
3.1.1.2.LEGITIMIDADE PASSIVA
Pode ser acusado do cometimento de
infração penal:
● Pessoa física com 18 anos completos,
inclusive o inimputável por anomalia
mental;
● Pessoa jurídica, em crimes
ambientais.
📌 OBSERVAÇÃO
A jurisprudência pátria superou a TEORIA DE
DUPLA IMPUTAÇÃO, não sendo mais condicionante
da responsabilizaçãona indicação de rol de
testemunhas, desacompanhada de Termo
Circunstanciado ou de qualquer outro
documento hábil a demonstrar, ainda que de
modo indiciário, a autoria e a materialidade
do crime. STJ. 5ª Turma. RHC 61822-DF, Rel.
Min. Felix Fischer, julgado em 17/12/2015 (Info
577).32
f) Denúncia e Norma Penal em Branco
A denúncia que deixa de mencionar a
legislação complementar a que se refere o
tipo penal não atende o disposto no art. 41 do
CPP porque não descreve por completo a
conduta delitiva, dificultando a compreensão
da acusação e, por conseguinte, o exercício do
32 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Rejeição de queixa-crime
desacompanhada de documentos hábeis a demonstrar, ainda que de
modo indiciário, a autoria e a materialidade do crime. Buscador Dizer o
Direito, Manaus. Disponível em:
31 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Inépcia caso a denúncia se baseie
apenas no fato de que o réu era Diretor-Presidente da empresa.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
57
direito de defesa. STJ. 5ª Turma. RHC
64430/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado
em 19/11/201533.
g) Queixa-crime e elemento subjetivo
Deve ser rejeitada a queixa-crime que impute
ao querelado a prática de crime contra a
honra, mas que se limite a transcrever
algumas frases, escritas pelo querelado em
sua rede social, segundo as quais o
querelante seria um litigante habitual do
Poder Judiciário (fato notório, publicado em
inúmeros órgãos de imprensa), sem
esclarecimentos que possibilitem uma análise
do elemento subjetivo da conduta do
querelado consistente no intento positivo e
deliberado de lesar a honra do ofendido. STJ.
Corte Especial. AP 724-DF, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 20/8/2014 (Info 547).34
34 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Queixa-crime deverá demonstrar o
elemento subjetivo do agente. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em:
33 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em caso de norma penal em
branco, a denúncia deverá explicitar qual é o complemento, sob pena de
ser considerada inepta. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
da pessoa jurídica que a pessoa
física também seja responsabilizada. Assim,
atualmente, é possível a responsabilização penal da
pessoa jurídica por delitos ambientais
independentemente da responsabilização
concomitante da pessoa física que agia em seu
nome.3
Segundo o entendimento atual da
jurisprudência, é possível a
responsabilização penal da pessoa jurídica
por delitos ambientais
independentemente da responsabilização
concomitante da pessoa física que agia em
seu nome. A jurisprudência não mais adota a
chamada teoria da "dupla imputação". STJ.
6ª Turma. RMS 39.173-BA, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 6/8/2015 (Info
566). STF. 1ª Turma. RE 548181/PR, Rel. Min.
Rosa Weber, julgado em 6/8/2013 (Info 714)4.
🚩 NÃO CONFUNDA5
■ “Legitimidade ad causam não se confunde
com legitimatio ad processum, fenômeno
relacionado à capacidade de estar em juízo, tida
como pressuposto processual de validade. Essa
capacidade processual refere-se à capacidade de
exercer direitos e deveres processuais, ou seja, de
praticar validamente atos processuais. É o que
ocorre com um ofendido menor de 18 (dezoito)
anos, que não tem capacidade processual para
oferecer queixa-crime, razão pela qual sua
incapacidade é suprida por seu representante
legal.”
■ “Capacidade processual, por sua vez, não se
confunde com capacidade postulatória, assim
compreendida a aptidão para postular perante
órgãos do Poder Judiciário. Supondo, assim,
5 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed.
Juspodivm, 2020, p.299.
4 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Responsabilidade penal da pessoa
jurídica e abandono da dupla imputação. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em:
.
3
https://www.dizerodireito.com.br/2015/10/e-possivel-responsabilizacao-p
enal-da.html
8
ofendido que não seja advogado inscrito nos quadros
da Ordem dos Advogados do Brasil, o ajuizamento da
queixa-crime deverá ser feito por advogado com
poderes especiais (CPP, art. 44).”
■ “Não se pode confundir o conceito de
legitimidade ad causam com o de capacidade de ser
parte, pressuposto de existência de um processo. A
capacidade de ser parte deriva da personalidade,
consistindo na capacidade de adquirir direitos e
contrair obrigações (CC, art. 1º). No âmbito
processual penal, além de pessoas físicas e jurídicas, é
interessante perceber que alguns “entes” também são
considerados como pessoas formais.”
3.1.2. INTERESSE DE AGIR
É composto por 3 elementos: necessidade,
adequação e utilidade.
a) NECESSIDADE DE OBTENÇÃO DA TUTELA
JURISDICIONAL PLEITEADA
No processo penal, a ação penal é sempre
necessária para obtenção de uma sentença
condenatória definitiva (nulla poena sine judicio), ante
o devido processo penal.
Segundo Renato Brasileiro (2020, p. 302):
A ressalva à possibilidade de aplicação de
pena sem processo no âmbito processual
penal fica por conta da transação penal no
âmbito dos Juizados Especiais Criminais (Lei nº
9.099/95, art. 76). Presentes os pressupostos
objetivos e subjetivos, deverá o titular da ação
penal formular proposta de aplicação
imediata de pena restritiva de direitos ou
de multa. Nesse caso, ainda não há processo.
O ato compositivo ocorre por ocasião da
audiência preliminar, logo, antes do
oferecimento da denúncia.
b) ADEQUAÇÃO ENTRE O PEDIDO E A
PROTEÇÃO JURISDICIONAL QUE SE PRETENDE
OBTER
No processo penal, a ação penal condenatória
sempre será adequada à obtenção da tutela
jurisdicional pretendida (sentença condenatória).
A relevância da adequação se fará presente
nas ações penais não condenatórias (HC). Vejamos a
súmula 693, STF:
Não cabe habeas corpus contra decisão
condenatória a pena de multa, ou relativo a
processo em curso por infração penal a que a
pena pecuniária seja a única cominada.
c) UTILIDADE
Só será útil a ação penal em que haja a
possibilidade concreta de aplicação de uma sanção
penal (v.g. prescrição virtual – Não é aceita pelos
tribunais superiores).
📌 OBSERVAÇÃO
O STF e o STJ consideram inadmissível a
extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão
punitiva com fundamento em pena hipotética,
também denominada de prescrição virtual, em
perspectiva, por prognose”, “projetada” ou
“antecipada” (Súmula 438-STJ). Mas, como ressalta
Renato Brasileiro (2020, p. 305) ao falar sobre o
interesse de agir, “qual seria a utilidade de um
processo penal, com grande desperdício de atos
processuais, de tempo, de trabalho humano, etc., se,
antecipadamente, já se pode antever que não haverá
resultado algum?”
3.1.3. JUSTA CAUSA
9
No que se refere à justa causa, temos que ela
não é condição da ação pacífica na doutrina. Ainda
assim, consta no art. 395, do CPP, como uma das
causas de rejeição da denúncia ou queixa, se ausente.
Quanto ao seu conteúdo, a justa causa representa o
lastro probatório mínimo, indicativo da autoria e
da materialidade da infração penal, necessário
para o oferecimento da denúncia ou queixa.
Funciona, pois, como uma condição de garantia
contra o uso abusivo do direito de acusar, evitando a
instauração de processos levianos ou temerários, ou
seja, evita-se que sejam ajuizadas ações penais
infundadas.
Esse lastro probatório mínimo que dá
suporte à acusação evita a instauração de processos
criminais temerários. Por isso, para a deflagração da
ação exige-se que haja, cumulativamente:
✓ Certeza da existência da infração penal;
✓ Indícios suficientes de autoria.
A justa causa para a ação penal é obtida,
como regra, pelos elementos de informação
produzidos na fase investigatória no bojo do inquérito
policial ou de outro procedimento investigatório
preliminar à ação penal.
📌 OBSERVAÇÃO
Com a reforma do CPP pela Lei nº 13.964/19,
o inquérito não poderá mais acompanhar a denúncia
quando do seu encaminhamento do juiz das garantias
ao juiz da instrução e julgamento. Nos termos do art.
3º-C, § 3º, do CPP: os autos que compõem as matérias
de competência do juiz das garantias ficarão
acautelados na secretaria desse juízo, à disposição do
Ministério Público e da defesa, e não serão apensados
aos autos do processo enviados ao juiz da instrução e
julgamento, ressalvados os documentos relativos às
provas irrepetíveis, medidas de obtenção de provas
ou de antecipação de provas, que deverão ser
remetidos para apensamento em apartado.
A peça acusatória oferecida sem justa
causa deverá ser REJEITADA pelo juiz.
Art. 395.  A denúncia ou queixa será rejeitada
quando:
III - faltar justa causa para o exercício da
ação penal.
O STJ, no HC 193254, pontuou que “A justa
causa é exigência legal para o recebimento da
denúncia, instauração e processamento da ação
penal, nos termos do artigo 395, III, do Código de
Processo Penal, e consubstancia-se pela somatória de
três componentes essenciais: (a) TIPICIDADE
(adequação de uma conduta fática a um tipo penal);
(b) PUNIBILIDADE (além de típica, a conduta precisa
ser punível, ou seja, não existir quaisquer das causas
extintivas da punibilidade); e (c) VIABILIDADE
(existência de fundados indícios de autoria)”.
⚠ ATENÇÃO
JUSTA CAUSA DUPLICADA: Trata-se de um
instituto inerente à Lei de Lavagem de Dinheiro. É
necessário instruir a denúncia com lastro probatório
mínimo do crime de lavagem de dinheiro e
também do crime antecedente (Art. 2º, §1º da Lei
9.613/98).
4. No caso do delito previsto no art. 1º da Lei
n. 9.613/98, a aptidão da denúncia é aferida a
partir da verificação da presença de
elementos informativos suficientes que
sirvam de lastro probatório mínimo que
apontem a materialidade e ofereçam indícios
10
da autoria da prática de atos de ocultação ou
de dissimulação da origem dos bens ou
valores. Além disso, a inicial acusatória deve
trazer elementos que sinalizem a
existência de infração penal antecedente,
demonstrando a chamada justa causa
duplicada.
5. Neste caso, não se pode falar em inépcia da
peça acusatória,já que esta descreve uma
conduta, em tese, criminosa, embora
apresente capitulação jurídica inadequada. De
fato, o crime antecedente está corretamente
narrado, tendo a acusação demonstrado que
o recorrente tinha pleno conhecimento a
respeito da origem ilícita dos valores
convertidos.
(STJ, RHC n. 150.451/TO, relator Ministro
Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma,
julgado em 13/12/2021, DJe de 16/12/2021.)
ÓTICA RETROSPECTIVA E PROSPECTIVA DA
JUSTA CAUSA: Entende a jurisprudência do STJ que a
justa causa não deve ser analisada tão somente com
um ótica voltada para o passado, baseada nos
elementos de informação colhidos em procedimentos
investigativos - ótica retrospectiva -, mas também com
um ótica voltada para o futuro - ótica prospectiva -,
para a instrução processual que ocorrerá, nos
seguintes termos:
A ocorrência dos fatos narrados na denúncia
está indicada, nos autos, por inúmeros
elementos indiciários - oriundos de buscas e
apreensões, quebras de sigilo e outras
medidas investigativas -, a justificar a
presença de justa causa para a deflagração da
ação penal.
Além disso, tradicionalmente, a justa causa
é analisada apenas sob a ótica
retrospectiva, voltada para o passado, com
vista a quais elementos de informação
foram obtidos na investigação preliminar
já realizada. Todavia, a justa causa
também deve ser apreciada sob uma ótica
prospectiva, com o olhar para o futuro,
para a instrução que será realizada, de
modo que se afigura possível incremento
probatório que possa levar ao
fortalecimento do estado de simples
probabilidade em que o juiz se encontra
quando do recebimento da denúncia.
STJ. Corte Especial. APn 989/DF, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 16/02/2022 (Info
726).6
3.2. CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO
PARA A CORRENTE MINORITÁRIA
(AURY LOPES JÚNIOR)
Para esta corrente, as condições deveriam ser
buscadas no antigo Art. 43 do CPP (revogado em
2008).
a) FATO APARENTEMENTE CRIMINOSO
O fato imputado deve ser, aparentemente,
típico, ilícito e culpável.
EXCEÇÃO: inimputabilidade por anomalia
mental.
b) PUNIBILIDADE CONCRETA
Para que o mérito da ação seja julgado, a
punibilidade não pode ter sido extinta. Ou seja,
nenhuma das hipóteses do Art. 107 do CP podem
estar presentes para que o mérito da ação possa ser
julgado.
c) LEGITIMIDADE DE PARTE
Mesma da primeira corrente.
6 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Ótica retrospectiva e ótica
prospectiva da justa causa. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em:
. Acesso em: 26/10/2023
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/fe87435d12ef7642af67d9bc82a8b3cd
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/fe87435d12ef7642af67d9bc82a8b3cd
11
d) JUSTA CAUSA
Mesma da primeira corrente.
3.3. CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DA
AÇÃO (CONDIÇÕES DE
PROCEDIBILIDADE)
Além das condições genéricas, são aquelas
exigidas pela lei para que o mérito de uma ação penal
possa ser julgado. São exemplos:
● Representação do ofendido (Art. 147, §único);
● Requisição do Ministro da Justiça (crimes
contra a honra do PR);
● Laudo pericial nos crimes contra a
propriedade imaterial (Art. 525, CPP);
● Provas novas, quando o inquérito policial tiver
sido arquivado com base na ausência de
elementos probatórios;
● Autorização da Câmara dos Deputados, por
dois terços de seus membros, para a
instauração de processo contra o Presidente
e o Vice-Presidente da República e os
Ministros de Estado (CF, art. 51, I).
🚩 NÃO CONFUNDA: Condições de Procedibilidade
≠ Condições de Prosseguibilidade
CONDIÇÕES DE
PROCEDIBILIDADE
CONDIÇÕES DE
PROSSEGUIBILIDADE
Devem estar presentes
para que a ação penal
tenha início.7
Devem estar presentes
para que a ação penal já
em curso possa
prosseguir.
7 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed. Juspodivm,
2020, p.311.
3.4. CONDIÇÕES DE
PROSSEGUIBILIDADE (CONDIÇÃO
SUPERVENIENTE DA AÇÃO)
As condições da ação diferenciam-se das
condições de prosseguibilidade. Aquelas são
necessárias para o próprio início da ação penal,
enquanto estas, para o seu prosseguimento, sua
continuação. Ou seja, o processo já está em
andamento e uma condição deverá ser implementada
para que ele siga seu curso normal.
É o caso dos crimes de lesão corporal leve e
culposa, os quais, antes da Lei nº 9.099/95 eram de
ação pública incondicionada e passaram a ser de ação
pública condicionada à representação (art. 88, do
CPP). Nesses casos, nos processos já em andamento,
foi necessária a intimação do ofendido ou
representante legal para oferecerem a representação
no prazo de trinta dias.
🚩 NÃO CONFUNDA: Condições da ação ≠
Condições objetivas de punibilidade
CONDIÇÕES DA AÇÃO CONDIÇÕES OBJETIVAS
DE PUNIBILIDADE
“Relacionadas ao direito
processual penal,
sendo exigidas para o
exercício regular do
direito de ação,
subdividindo-se em
condições genéricas e
específicas”. 8
“Referem-se ao direito
penal, funcionando
como fatos externos ao
tipo penal, que devem
ocorrer para a formação
de um injusto culpável
punível, sendo
chamadas de objetivas
porquanto independem
do dolo ou da culpa do
agente.”
8 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed. Juspodivm,
2020, p.312.
12
“Se não estiver presente
uma condição de
procedibilidade, ocorre
a anulação do processo
e não a absolvição do
agente, pois não há, em
regra, análise do mérito,
ou seja, nada impede a
renovação do processo,
desde que seja
removido o
impedimento
processual. Em outras
palavras, tal decisão só
faz coisa julgada
formal.”
“A ausência de uma
condição objetiva de
punibilidade impede o
início da persecução
criminal; porém,
proposta a ação penal,
haverá decisão de
mérito e, portanto,
formação de coisa
julgada formal e
material.”
3.4. CONDIÇÕES OBJETIVAS DE
PUNIBILIDADE E ESCUSAS
ACUSATÓRIAS
As condições objetivas de punibilidade são
circunstâncias nas quais a punibilidade do crime
depende do aperfeiçoamento de certos elementos, os
quais não são elementos normativos do tipo penal.
São chamadas objetivas porque não dependem do
dolo ou culpa do agente, tratando-se de
acontecimento futuro e incerto.
A ausência de condição objetiva de
punibilidade impede o próprio início da
persecução penal e, caso proposta a ação penal
quando ausente, dará ensejo a uma decisão de
mérito, que fará coisa julgada formal e material.
Possuem natureza jurídica de excludente de
punibilidade.
Exemplos:
● Circunstância de o fato ser punível no país em
que foi praticado e estar incluído entre
aqueles que a lei brasileira permite a
extradição nos crimes praticados fora do
território nacional (art. 7º, § 2º, “b” e “c”, do
CP);
● Decisão final do procedimento administrativo
nos crimes materiais contra a ordem
tributária:
Súmula Vinculante 24-STF: Não se tipifica
crime material contra a ordem tributária,
previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei
8.137/90, antes do lançamento definitivo do
tributo.
1. É firme a jurisprudência desta Corte no
sentido de que, "nos termos da Súmula
Vinculante n. 24, o termo inicial da prescrição
dos crimes materiais tributários é a data do
lançamento definitivo, após o encerramento
do procedimento administrativo-fiscal, visto
que, somente a partir daí, consoante
entendimento do Supremo Tribunal Federal,
está caracterizado o elemento normativo do
tipo penal e preenchida a condição objetiva
de punibilidade" (AgRg no REsp n.
1.430.892/PB, relator Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
15/3/2018, DJe 27/3/2018).
Já as escusas acusatórias são as condições
de punibilidade negativamente formuladas, que
excluem a punibilidade do crime em relação a
determinadas pessoas quando presentes. Segundo
Avenda, “compreendem as situações em que,
conquanto exista o crime, não se impõe pena em
razão de circunstâncias pessoais do agente. É o que
ocorre no caso de furtopraticado por descendente
13
contra ascendente menor de 60 anos (art. 181, II, c/c o
art. 183, III, do CP), em que, pela condição pessoal do
agente (filho da vítima), considerou-o o legislador
isento de pena.9”
Exemplo: Isenção de pena prevista nos arts.
181, I e II, e 348, § 2º, do CP.
4. CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES
PENAIS
4.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA
Como regra, a ação penal é pública, salvo
quando a lei expressamente declara privativa do
ofendido.
Conforme veremos melhor a seguir, a ação
penal pública pode ser incondicionada, que é a regra,
ou condicionada à requisição do Ministro da Justiça ou
à representação do ofendido.
4.1.1. TITULARIDADE
A titularidade é do Ministério Público,
conforme o Art. 129 da CF.
Havendo conflito de atribuições entre
membros do Ministério Público Federal e do
Ministério Público Estadual o Supremo Tribunal
Federal entende que compete ao Conselho Nacional
do Ministério Público - CNMP, vejamos:
1. Incompetência originária do SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL para conhecer e dirimir
conflito de atribuições entre membros de
ramos diversos do Ministério Público.
Inaplicabilidade do art. 102, I, f, da CF, por
ausência de risco ao equilíbrio federativo.
9 Avena, Norberto. Processo Penal. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th
edição). Grupo GEN, 2022.
2. Impossibilidade de encaminhamento do
conflito de atribuição para o Procurador-Geral
da República, enquanto autoridade
competente, pois é parte interessada na
solução da demanda administrativa, uma vez
que acumula a Chefia do Ministério Público da
União com a chefia de um de seus ramos, o
Ministério Público Federal, nos termos da LC
75/1993.
3. Os membros do Ministério Público
integram um só órgão sob a direção única de
um só Procurador-Geral, ressalvando-se,
porém, que só existem unidade e
indivisibilidade dentro de cada Ministério
Público, inexistindo qualquer relação de
hierarquia entre o Ministério Público Federal e
os dos Estados, entre o de um Estado e o de
outro, ou entre os diversos ramos do
Ministério Público da União.
4. EC 45/2004 e interpretação sistemática da
Constituição Federal. A solução de conflitos
de atribuições entre ramos diversos dos
Ministérios Públicos pelo CNMP, nos
termos do artigo 130-A, § 2º, e incisos I e II,
da Constituição Federal e no exercício do
controle da atuação administrativa do
Parquet, é a mais adequada, pois reforça o
mandamento constitucional que lhe
atribuiu o controle da legalidade das ações
administrativas dos membros e órgãos dos
diversos ramos ministeriais, sem ingressar
ou ferir a independência funcional.
5. Não conhecimento da Ação Cível Originária
e encaminhamento dos autos ao Conselho
Nacional do Ministério Público para, nos
termos do artigo 130-A, incisos I e II, da
Constituição Federal, dirimir o conflito de
atribuições. (ACO 843, Relator(a): MARCO
AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE
DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em
14
08/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-263
DIVULG 03-11-2020 PUBLIC 04-11-2020)
Essa posição se trata do acolhimento pelo
Supremo Tribunal Federal, de uma tese institucional
defendida pelos Ministérios Públicos Estaduais, os
quais não concordavam com o entendimento anterior
que afirmava que a competência para dirimir esse
conflito era do PGR.
CONFLITO ENTRE MEMBROS DO MINISTÉRIO
PÚBLICO
MPE X MPF ■ Conselho Nacional do
Ministério Público -
CNMP.
MPE ESTADO “A” X
MPE DO ESTADO “N”
■ Conselho Nacional do
Ministério Público -
CNMP.
4.1.2. PEÇA ACUSATÓRIA
Conforme o Art. 24 do CPP, a ação penal
pública será promovida por DENÚNCIA do Ministério
Público.
4.1.3. ESPÉCIES
4.1.3.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA
INCONDICIONADA
A ação penal pública incondicionada é
promovida privativamente pelo Ministério Público
sem a interferência de quem quer que seja, sendo
irrelevante, para a sua promoção, a vontade do
ofendido. Sobre o tema, veja o que diz os arts. 24, do
CPP, 100, do CP e 129, da CF/88:
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será
promovida por denúncia do Ministério
Público, mas dependerá, quando a lei o exigir,
de requisição do Ministro da Justiça, ou de
representação do ofendido ou de quem tiver
qualidade para representá-lo.
CÓDIGO PENAL
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo
quando a lei expressamente a declara
privativa do ofendido.
§ 1º - A ação pública é promovida pelo
Ministério Público, dependendo, quando a lei
o exige, de representação do ofendido ou de
requisição do Ministro da Justiça.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Art. 129. São funções institucionais do
Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal
pública, na forma da lei;
4.1.3.2. AÇÃO PENAL PÚBLICA
CONDICIONADA
Quanto à ação penal pública condicionada,
diz-se que se trata de ação penal pública, pois é
promovida pelo órgão do Ministério Público – que
permanece sendo o titular da ação; de outro lado,
diz-se que é condicionada, pois o parquet não poderá
promovê-la sem que haja o implemento de condição
imposta por lei: a representação do ofendido ou a
requisição do Ministro da Justiça.
A representação do ofendido, nos termos do
art. 39, do CPP, poderá ser exercida pessoalmente ou
por procurador com poderes especiais. Trata-se, pois,
de manifestação daquele ou de seu representante
legal no sentido de que possui interesse na
persecução penal do autor do fato delituoso.
Outrossim, a representação pode ser feita por
escrito ou de forma oral, não se exigindo nenhuma
formalidade, bastando o elemento volitivo, ou seja, a
15
manifestação de vontade. Sobre o tema, confira as
disposições legais:
Art. 39. O direito de representação poderá
ser exercido, pessoalmente ou por
procurador com poderes especiais,
mediante declaração, escrita ou oral, feita ao
juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à
autoridade policial.
§ 1o A representação feita oralmente ou por
escrito, sem assinatura devidamente
autenticada do ofendido, de seu
representante legal ou procurador, será
reduzida a termo, perante o juiz ou
autoridade policial, presente o órgão do
Ministério Público, quando a este houver sido
dirigida.
§ 2o A representação conterá todas as
informações que possam servir à apuração do
fato e da autoria.
§ 3o Oferecida ou reduzida a termo a
representação, a autoridade policial
procederá a inquérito, ou, não sendo
competente, remetê-lo-á à autoridade que o
for.
§ 4o A representação, quando feita ao juiz ou
perante este reduzida a termo, será remetida
à autoridade policial para que esta proceda a
inquérito.
§ 5o O órgão do Ministério Público
dispensará o inquérito, se com a
representação forem oferecidos elementos
que o habilitem a promover a ação penal,
e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo
de 15 dias.
Em regra, a representação possui natureza
jurídica de condição de procedibilidade. Todavia, se o
processo estiver em andamento e a lei passar a
condicionar seu prosseguimento à representação, a
natureza jurídica será de condição de
prosseguibilidade. Importa anotar, também, que em
relação àquela vigora o princípio da oportunidade ou
conveniência, uma vez que o ofendido pode escolher
representar ou não.
Ainda, de acordo com o CPP a representação
tem como destinatário o delegado de polícia, o juiz ou
o membro do Ministério Público (art. 39, do CPP) e
deve conter todas as informações que possam servir
à apuração do fato e de sua autoria.
Também, a representação é retratável até
o oferecimento da denúncia, desde que não se
trate da Lei Maria da Penha, pois, nesta, a
retratação pode ser feita até o recebimento da
denúncia. Neste ponto, prevalece na doutrina o
entendimento de que, ainda que tenha ocorrido a
retratação do direito de representação, o ofendido
poderá oferecer nova representação, desde que
respeitado o prazo decadencial.
Já a requisição do Ministro da Justiça, que é
condição sine qua non para a instauração de
inquérito policial e para o oferecimento da ação penal
pública nos crimes em que a leia exigir, não é muito
comum na prática, mas é possível, por exemplo, nas
seguintes hipóteses: a) crime cometido por
estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7º, §
3º, “b”, do CP); b) crimes contra a honra do Presidente
da República ou chefe de governo estrangeiro (art.
141, I, do CP).
O Ministro da Justiça não está condicionado
ao prazo decadencial de 6 meses, previsto para a
representação e para a ação penal de iniciativa
privada, por falta de previsão legal. No entanto, a
doutrina entende que ele deve observar o prazo
prescricional do delito cometido.
4.2. AÇÃO PENAL PRIVADA
16
A ação penal privada pode ser intentada pelo
ofendido ou por quem tenha qualidade para
representá-lo (art. 30, do CPP). Quando um crime for
processado por meio de ação penal de iniciativa
privada, a lei expressamente o dirá: “somente se
procede mediante queixa”.
Não esqueça que o direito de punir (jus
puniendi) é do Estado, seu titular único e exclusivo. Há
casos, todavia, em que ele concede ao ofendido, ou
ao seu representante legal, o jus persequendi in judicio,
ou seja, o direito de dar início à persecução penal em
juízo – o que ocorrerá por meio de uma queixa-crime.
Nesses casos, o Estado transfere o direito de
ação penal ao particular. Diz-se, então, que aqui o
particular atua como um substituto processual
(legitimação extraordinária), porque vai a juízo, em
nome próprio, defender interesse do Estado (direito
de punir).
Na hipótese de morte do ofendido ou quando
ele for declarado ausente por decisão judicial, o
direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação
passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou
irmão (art. 31, do CPP). Esta regra também se aplica à
ação penal pública condicionada à representação.
Neste ponto, uma observação importante é
necessária. É que, conquanto o art. 31, do CPP, fale
apenas em “cônjuge”, o(a) companheiro(a) hetero ou
homoafetivo(a) também possui legitimidade para
ajuizar ação penal privada. Neste sentido, o STJ:
A companheira, em união estável homoafetiva
reconhecida, goza do mesmo status de
cônjuge para o processo penal, possuindo
legitimidade para ajuizar a ação penal
privada. STJ. Corte Especial. APn 912-RJ, Rel.
Min. Laurita Vaz, julgado em 07/08/2019 (Info
654).
Outrossim, se o ofendido for menor de 18
anos, ou mentalmente enfermo, e não tiver
representante legal, ou colidirem os interesses deste
com os daquele, o direito de queixa poderá ser
exercido por curador especial, nomeado, de ofício
ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz
competente para o processo penal (art. 33, do CPP).
4.2.1. TITULARIDADE
Como adiantamos, de acordo com o Art. 30
do CPP, a titularidade é do ofendido ou de seu
representante.
Art. 30.  Ao ofendido ou a quem tenha
qualidade para representá-lo caberá intentar
a ação privada.
4.2.2. PEÇA ACUSATÓRIA
Conforme o Art. 100, §2º do CP: a ação de
iniciativa privada é promovida mediante QUEIXA do
ofendido ou de quem tenha qualidade para
representá-lo.
4.2.3. ESPÉCIES
4.2.3.1. AÇÃO PENAL PRIVADA
EXCLUSIVA
A ação penal exclusivamente privada é aquela
na qual se possibilita que tanto o ofendido quanto o
seu representante legal (art. 31, do CPP) possam
ajuizar a ação penal.
É a regra nas ações penais de iniciativa
privada.
17
4.2.3.2. AÇÃO PENAL PRIVADA
PERSONALÍSSIMA
A ação penal personalíssima, ao contrário da
exclusivamente privada, prevê a legitimidade
exclusiva do ofendido e de mais ninguém, não
havendo, portanto, representante legal, curador, nem
sucessão processual em caso de morte ou ausência.
Segundo Norberto Avena, “trata-se de subtipo
de ação penal privada em que a titularidade compete
única e exclusivamente ao próprio ofendido, sendo o
seu exercício vedado, até mesmo, ao seu
representante legal, cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão. Destarte, falecendo a
vítima, nada haverá a ser feito a não ser
aguardar-se a extinção da punibilidade do réu.10”
Atualmente, com a revogação do delito de
adultério (art. 240 do CP) pela Lei n. 11.106/2005,
persiste em nosso ordenamento apenas um delito de
iniciativa personalíssima: o crime de induzimento a
erro essencial e ocultação de impedimento, previsto
no art. 236 do CP. Nesse crime, exige o parágrafo
único do art. 236 que a ação penal somente poderá
ser ajuizada pelo contraente enganado, de modo que
não se opera a sucessão prevista no art. 31 do CPP e,
por consequência, com a morte do ofendido,
extinguem-se a punibilidade e a ação penal. Além
disso, se o cônjuge enganado for menor de 18 anos, a
queixa somente poderá ser prestada após cessada a
menoridade. Lembrando que a emancipação pelo
casamento não gera nenhum efeito no processo
penal.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Delegado de Polícia do
Estado de São Paulo (Ano: 2022 Banca: VUNESP), foi
10 Avena, Norberto. Processo Penal. Disponível em: Minha Biblioteca,
(14th edição). Grupo GEN, 2022.
considerada correta a seguinte afirmativa: “Nos
termos do Código de Processo Penal, é correto
afirmar que a ação penal privada personalíssima só
pode ser intentada pela vítima e, em caso de
falecimento antes ou depois do início da ação, não
poderá haver substituição para sua propositura ou
seu prosseguimento”.
4.2.3.3. AÇÃO PENAL PRIVADA
SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA OU AÇÃO
PENAL ACIDENTALMENTE PRIVADA
OU AÇÃO PENAL SUPLETIVA
Seu cabimento está subordinado à inércia do
Ministério Público. Ou seja, quando o parquet não
observa o prazo legal para a propositura da ação,
nasce para o particular o direito de apresentá-la
através da ação penal privada subsidiária da pública,
que também possui prazo decadencial de 6 meses,
findo o qual se produz a decadência imprópria, assim
chamada porque haverá a perda do direito de queixa,
mas não haverá extinção da punibilidade – já que o
MP segue legitimado para oferecer a denúncia.
Para Avena, “corresponde a uma ação penal
privada ajuizada em relação a crime de ação pública,
justificando-se quando, esgotado o prazo do
Ministério Público, este não ofereceu a competente
denúncia. O início do processo criminal, neste caso,
ocorrerá mediante a dedução de queixa-crime
subsidiária11”.
⚠ ATENÇÃO
Na ação penal privada subsidiária da pública,
o Ministério Público atua como verdadeiro
interveniente adesivo obrigatório (ou parte adjunta),
11 Avena, Norberto. Processo Penal. Disponível em: Minha Biblioteca,
(14th edição). Grupo GEN, 2022.
18
devendo intervir em todos os termos do processo,
sob pena de nulidade (art. 564, III, “d”, do CPP).
Sobre o tema, confira as disposições do CPP:
Art. 29. Será admitida ação privada nos
crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal, cabendo ao
Ministério Público aditar a queixa,
repudiá-la e oferecer denúncia
substitutiva, intervir em todos os termos
do processo, fornecer elementos de prova,
interpor recurso e, a todo tempo, no caso
de negligência do querelante, retomar a
ação como parte principal (AÇÃO PENAL
INDIRETA)
Finalmente, quanto ao prazo, importa
acrescentar que as peças acusatórias nas ações
penais públicas e privadas possuem prazos. De
acordo com o art. 40, do CPP, o prazo para
oferecimento da denúncia (peça acusatória da ação
penal pública), estando o réu preso, será de 5 dias,
contado da data em que o órgão do Ministério Público
receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se
o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se
houver devolução do inquérito à autoridade policial
(art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o órgão
do Ministério Público receber novamente os autos.
Mas, quando o Ministério Público dispensar o
inquérito policial, o prazo para o oferecimento da
denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as
peças de informações ou a representação.
Já no caso da queixa (peça acusatória da ação
penal privada) e da ação penal pública condicionada à
representação, salvo disposição em contrário, o
ofendido, ou seu representante legal, decairá no
direito de queixaou de representação, se não o
exercer dentro do prazo de seis meses, contado do
dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou,
no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo
para o oferecimento da denúncia (art. 38, CPP).
No entanto, no caso da ação penal pública
condicionada à representação, se o ofendido
representar dentro do prazo legal, não haverá
decadência para buscar apuração do delito, pois é
irrelevante que a denúncia do órgão do Ministério
Público tenha sido apresentada após os seis meses
fatais.
A inobservância do prazo acima acarreta a
extinção da punibilidade do agente (art. 107, IV, do
CP). Tendo natureza jurídica de direito material, o
prazo para representar inclui o dia do começo e exclui
o dia do vencimento, nos termos da regra do art. 10
do CP.
VOCÊ JÁ OUVIU FALAR NA AÇÃO PENAL
PÚBLICA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA?
Pois é. Segundo o professor e promotor de
justiça Márcio Gondim:
“A classificação mais comum das ações penais
leva-se em consideração a legitimidade, ou
seja, a pertinência subjetiva do direito de ação
e, desse modo, as ações penais são
classificadas em públicas e privadas, com as
respectivas subdivisões.
A ação pública é subdividida em
incondicionada e condicionada, consoante a
necessidade ou não da condição de
procedibilidade para que o membro do
Ministério Público possa pedir ao Estado-juiz a
aplicação da reprimenda penal. De outra
banda, a ação penal privada pode ser
classificada em exclusiva (ou propriamente
dita), personalíssima e subsidiária da pública,
esta última quando há inércia no
19
representante do ‘parquet’ deixando escoar
‘in albis’ seu prazo para o oferecimento da
denúncia.
Pois bem, afora as mencionadas classificações
surge a classificação da ação penal pública
subsidiária da pública, quando em corolário
da inação do membro do membro do
Ministério Público a titularidade da ação passa
a outro órgão, entrementes, ainda
pertencente à instituição, como ocorre no art.
2°, § 2° do Decreto-lei n° 201/06, que trata
dos crimes de responsabilidade de prefeitos e
vereadores.
Ademais, também entendo se enquadrar na
referenciada classificação o incidente de
deslocamento de competência, anunciado no
art. 109, § 5° da Carta da República, pois o
deslocamento de competência/atribuição tem
por base grave violação de direitos humanos
em corolário da inação ou deficiência dos
órgãos Estaduais a fim de assegurar o
cumprimento de tratados de direitos
humanos dos quais o Brasil seja parte.
Destaque-se, todavia, que a precitada
classificação e mecanismos de controle de
atribuição do Ministério Público Estadual, ao
meu sentir, viola a atribuição bem como a
independência de cada órgão, pois é cediço
não haver hierarquia entre os Ministérios
Públicos e, portanto, sem razão a remessa
dos autos e/ou modificação de titularidade na
ação penal em tais casos.”
A doutrina aponta que o deslocamento da
competência está subordinado à presença de dois
requisitos: i) crime com grave violação aos direitos
humanos e ii) risco de descumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos
humanos dos quais o Brasil seja parte, em virtude da
inércia do Estado-membro em proceder à persecução
penal. Registre-se, no entanto, que o STJ acrescentou
um terceiro requisito, consistente na incapacidade –
oriunda de inércia, omissão, ineficácia, negligência,
falta de vontade política, de condições pessoais e/ou
materiais etc. – de o Estado-membro, por suas
instituições e autoridades, levar a cabo, em toda a sua
extensão, a persecução penal.
Assim, portanto, como o IDC importa em
deslocamento da competência da Justiça Estadual,
onde atua o Ministério Público dos Estados, para a
Justiça Federal, onde funciona o Ministério Público
Federal, tem-se aí uma espécie de ação penal pública
subsidiária da pública.
5. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À
AÇÃO PENAL
Há princípios que são exclusivos da ação
penal pública e outros exclusivos da ação penal
privada, bem como há princípios que são comuns a
ambas.
5.1. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À AÇÃO
PENAL PÚBLICA E À AÇÃO PENAL
PRIVADA
5.1.1. PRINCÍPIO DA INÉRCIA DA
JURISDIÇÃO (NE PROCEDAT IUDEX EX
OFFICIO)
Ao juiz não é dado iniciar uma ação de
ofício. Não poderá o magistrado deflagrar uma ação
penal sem que ele tenha sido provocado pela parte
legítima. Ao adotar o sistema acusatório, a
Constituição não permite que o juiz dê início à ação
penal de ofício, sem provocação da parte.
20
📌 OBSERVAÇÃO
■ PROCEDIMENTO JUDICIALIFORME: Não
recepção pela CF/88.
Art. 26. A ação penal, nas contravenções,
será iniciada com o auto de prisão em
flagrante ou por meio de portaria expedida
pela autoridade judiciária ou policial
Trata-se de norma materialmente
incompatível com a Constituição Federal. Isso pelo
fato de que a titularidade da ação penal pública é do
MP.
■ O juiz não pode iniciar ação penal de
CONHECIMENTO de ofício, mas a fase de EXECUÇÃO
pode ser iniciada de ofício, conforme o art. 195,
LEP:
Art. 195. O procedimento judicial iniciar-se-á
de ofício, a requerimento do Ministério
Público, do interessado, de quem o
represente, de seu cônjuge, parente ou
descendente, mediante proposta do Conselho
Penitenciário, ou, ainda, da autoridade
administrativa.
5.1.2. PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM
PROCESSUAL OU INADMISSIBILIDADE
DA PERSECUÇÃO PENAL MÚLTIPLA
Ninguém pode ser processado mais de uma
vez pela mesma imputação. Apesar de não constar
expressamente da Constituição Federal, o princípio do
ne bis in idem consta da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos:
Art. 8, item 4 do pacto de São José da Costa
Rica: “O acusado absolvido por sentença
passada em julgado não poderá ser
submetido a novo processo pelos mesmos
fatos”.
Assim, ainda que novas provas sejam
colhidas, não poderá ser novamente processado.
Segundo Renato Brasileiro (2020, p. 321), o
bis in idem só pode ser aplicado se o fato delituoso
atribuído ao agente for idêntico em ambos
processos.
Em caso de imputações idênticas contra o
mesmo acusado tramitando em países diversos,
não há o que se falar no princípio do bis in idem se o
julgamento do litígio no exterior estiver pendente. Ou
seja, apenas sentença definitiva oriunda de países
distintos pode obstar a formação, continuação ou
sobrevivência da relação jurídica processual que
configuraria a litispendência.
5.1.3. PRINCÍPIO DA
INTRANSCENDÊNCIA
A ação penal só pode ser oferecida contra o
suposto autor do fato delituoso, não podendo
alcançar terceiros não relacionados ao fato. Trata-se
de um princípio consectário do princípio da
pessoalidade da pena, previsto no art. 5º, XLV, da
Constituição Federal.
Art. 5º (...) XLV - nenhuma pena passará da
pessoa do condenado, podendo a obrigação
de reparar o dano e a decretação do
perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido;
21
⚠ ATENÇÃO
O presente princípio somente se aplica
quanto às consequências penais do fato típico, de
modo que, diante de uma responsabilidade não
penal, é possível que haja sua transferência aos
sucessores na hipótese de morte do condenado,
respondendo eles até as forças da herança. Ex.:
Reparação de dano.
5.2. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL
PÚBLICA
5.2.1. PRINCÍPIO DA
OBRIGATORIEDADE OU LEGALIDADE
PROCESSUAL
Havendo justa causa, o MP está obrigado a
oferecer denúncia, não havendo nenhuma
discricionariedade para decidir se irá ou não atuar,
conforme o Art. 24, CPP:
Art. 24.  Nos crimes de ação pública, esta
SERÁ promovida por denúncia do Ministério
Público, (...).
EXCEÇÕES: OBRIGATORIEDADE MITIGADA ou
DISCRICIONARIEDADE REGRADA
a) TRANSAÇÃO PENAL (infrações penais de
menor potencial ofensivo – Art. 76, Lei 9.099/95):
preenchidos os requisitos e aceito os termos da
transação penal, haverá imediata aplicação das penas
restritivas de direito ou multa.
b) ACORDO DE LENIÊNCIA, BRANDURA OU
DOÇURA (crimes contra a ordemtributária econômica
– Lei 12.529/11): celebrado pelo CADE com pessoas
físicas ou jurídicas autoras de crime contra a ordem
econômica, o acordo de leniência impede o
oferecimento da denúncia e, cumprido, extingue a
punibilidade.
c) PARCELAMENTO DO DÉBITO TRIBUTÁRIO
(Art. 83, §§1º e 2º, Lei 9.430/96): é previsto como causa
de suspensão da pretensão punitiva, desde que o
parcelamento tenha sido formalizado antes do
recebimento da denúncia. Haverá também a
suspensão da prescrição criminal, extinguindo-se a
punibilidade dos crimes quando houver o pagamento
integral dos débitos tributários.
d) COLABORAÇÃO PREMIADA (organizações
criminosas – Art. 4º, §4º, Lei 12.850/12): celebrado o
acordo de colaboração premiada, o MP pode deixar
de oferecer a denúncia e, cumprido, extingue a
punibilidade.
e) ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL
(Art. 28-A, CPP): preenchidos os requisitos, aceito os
termos do acordo e homologado pelo juiz, o MP deixa
de oferecer a denúncia.
Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 185
Tese 1: O acordo de não persecução penal –
ANPP, previsto no art. 28-A do Código de
Processo Penal, aplica-se a fatos ocorridos
antes da Lei n. 13.964/2019, desde que não
recebida a denúncia.
Tese 2: O acordo de não persecução penal -
ANPP não constitui direito subjetivo do
investigado, assim pode ser proposto pelo
Ministério Público conforme as peculiaridades
do caso concreto, quando considerado
necessário e suficiente para reprovar e
prevenir infrações penais.
Tese 3: O controle do Poder Judiciário quanto
ao pedido de revisão do não oferecimento do
acordo de não persecução penal - ANPP deve
se limitar a questões relacionadas aos
requisitos objetivos, não é, portanto, legítimo
22
o exame do mérito a fim de impedir a
remessa dos autos ao órgão superior do
Ministério Público.
Tese 4: O Ministério Público não é obrigado a
notificar o investigado no caso de recusa de
oferecimento de acordo de não persecução
penal - ANPP.
O Poder Judiciário não pode impor ao
Ministério Público (MP) a obrigação de ofertar
acordo de não persecução penal (ANPP).
Não cabe ao Poder Judiciário, que não detém
atribuição para participar de negociações na
seara investigatória, impor ao MP a
celebração de acordos. Ademais, o acordo de
persecução penal não constitui direito
subjetivo do investigado. STJ. AgRg no RHC
152.756/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES
DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
14/09/2021, DJe 20/09/2021.
📌 OBSERVAÇÕES
A assinatura de TAC impede a instauração de
ação penal? Não.
Impende ressaltar entendimento desta
Superior Corte de Justiça no sentido de que a
assinatura de termo de ajustamento de
conduta, com a reparação do dano ambiental,
são circunstâncias que possuem relevo para a
seara penal, a serem consideradas na
hipótese de eventual condenação, não se
prestando para elidir a tipicidade penal.
Outrossim, a lavratura do referido termo,
com a extinção de ação civil pública, não
implica a extinção da ação penal
correspondente, haja vista a
independência da esfera penal em relação
às esferas cível e administrativa.
Precedentes. (STJ, AgRg no RHC n. 121.611/SP,
relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca,
Quinta Turma, julgado em 5/3/2020, DJe de
13/3/2020.)
A assinatura do termo de ajustamento de
conduta, firmado entre o Ministério Público
estadual e o suposto autor de crime
ambiental, não impede a instauração da
ação penal, pois não elide a tipicidade penal.
Ademais, há independência entre as esferas
administrativa, cível e penal. (STJ, REsp n.
1.154.405/MG, relator Ministro Rogerio
Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em
18/5/2017, DJe de 25/5/2017.)
A existência de excludente de ilicitude pode
justificar o não oferecimento da denúncia?
Tecnicamente não impede o oferecimento de
denúncia, mas em havendo juízo de certeza quanto às
excludentes de de ilicitude, o Ministério Público pode
requerer o arquivamento do inquérito policial.
1. A par da atipicidade da conduta e da
presença de causa extintiva da punibilidade, o
arquivamento de inquérito policial
lastreado em circunstância excludente de
ilicitude também produz coisa julgada
material. 2. Levando-se em consideração que
o arquivamento com base na atipicidade do
fato faz coisa julgada formal e material, a
decisão que arquiva o inquérito por
considerar a conduta lícita também o faz, isso
porque nas duas situações não existe crime e
há manifestação a respeito da matéria de
mérito. (STJ, RHC n. 46.666/MS, relator
Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma,
julgado em 5/2/2015, DJe de 28/4/2015.)
🗯 TRANSAÇÃO PENAL – APROFUNDAMENTO
23
O instituto da transação penal é cabível nas
infrações de menor potencial ofensivo – que são as
contravenções penais e os crimes com pena de até
dois anos, quando não for o caso de arquivamento e
ressalvadas as hipóteses da Lei Maria da Penha,
hipóteses nas quais a aplicação do instituto é vedada.
Nos termos do art. 76, da Lei nº 9.099/95:
havendo representação ou tratando-se de crime de ação
penal pública incondicionada, não sendo caso de
arquivamento, o Ministério Público poderá propor a
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou
multas, a ser especificada na proposta. De acordo com
o §1º: Nas hipóteses de ser a pena de multa a única
aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade.
Ademais, nos termos do art. 76, §2º, da Lei
9099/95, não se admitirá a proposta se ficar
comprovado:
● ter sido o autor da infração condenado, pela
prática de crime, à pena privativa de
liberdade, por sentença definitiva;
● ter sido o agente beneficiado anteriormente,
no prazo de cinco anos com o instituto da
transação penal ou
● não indicarem os antecedentes, a conduta
social e a personalidade do agente, bem
como os motivos e as circunstâncias, ser
necessária e suficiente a adoção da medida.
O descumprimento da transação penal tem
como consequência a possibilidade do MP poder
oferecer a denúncia, isso porque, a sua homologação
não faz coisa julgada material. Neste sentido, a
Súmula Vinculante 35: a homologação da transação
penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz
coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas,
retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao
Ministério Público a continuidade da persecução
penal mediante oferecimento de denúncia ou
requisição de inquérito policial.
Outro ponto relevante neste tema diz
respeito ao fato de que a transação penal não
suspende nem interrompe o lapso prescricional, por
ausência de previsão legal. Nas palavras do professor
Marcio André Lopes: o prazo prescricional iniciou-se
com a consumação do crime e continuou correndo
normalmente, mesmo o autor tendo aceitado a
transação. Enquanto se aguarda que ele cumpra as
obrigações assumidas na transação, o prazo
permanece fluindo regularmente. Mesmo que ele
descumpra as condições, o prazo está tramitando12.
🗯 ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL –
APROFUNDAMENTO
Até a edição da Lei 13.964/2019 (“Pacote
Anticrime”), o Acordo de Não-Persecução Penal
(ANPP) estava previsto apenas no art. 18 da Resolução
181 do Conselho Nacional do Ministério Público.
Assim, muito se questionava a respeito da sua
legitimidade como instrumento jurídico capaz de
ocasionar a extinção da punibilidade do agente. Com
a Lei 13.964/2019, grande parte do conteúdo da
resolução foi transformado em lei (art. 28-A do CPP).
Vejamos:
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e
tendo o investigado confessado formal e
circunstancialmente a prática de infração
penal sem violência ou grave ameaça e
com pena mínima inferior a 4 anos, o
Ministério Público poderá propor ACORDO DE
NÃO PERSECUÇÃO PENAL, desde que
necessário e suficiente para reprovação e
12 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Homologação da transação penal
não faz coisa julgada material. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em:
. Acesso em: 08/12/202224
prevenção do crime, mediante as seguintes
condições ajustadas cumulativa e
alternativamente: (LEI 13964/19)
I - reparar o dano ou restituir a coisa à
vítima, exceto na impossibilidade de
fazê-lo; (LEI 13964/19)
II - renunciar voluntariamente a bens e
direitos indicados pelo Ministério Público
como instrumentos, produto ou proveito
do crime; (LEI 13964/19)
III - prestar serviço à comunidade ou a
entidades públicas por período
correspondente à pena mínima cominada
ao delito diminuída de 1/3 a 2/3, em local a
ser indicado pelo juízo da execução, na forma
do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal); (LEI
13964/19)
IV - pagar prestação pecuniária, a ser
estipulada nos termos do art. 45 do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 (Código Penal), a entidade pública ou
de interesse social, a ser indicada pelo juízo
da execução, que tenha, preferencialmente,
como função proteger bens jurídicos iguais ou
semelhantes aos aparentemente lesados pelo
delito; ou (LEI 13964/19)
V - cumprir, por prazo determinado, outra
condição indicada pelo Ministério Público,
desde que proporcional e compatível com a
infração penal imputada. (LEI 13964/19)
§ 1º Para aferição da pena mínima
cominada ao delito a que se refere o caput
deste artigo, serão consideradas as causas
de aumento e diminuição aplicáveis ao caso
concreto. (LEI 13964/19)
§ 2º O disposto no caput deste artigo NÃO SE
APLICA nas seguintes hipóteses: (LEI
13964/19)
I - se for cabível transação penal de
competência dos Juizados Especiais Criminais,
nos termos da lei; (LEI 13964/19)
II - se o investigado for reincidente ou se
houver elementos probatórios que
indiquem conduta criminal habitual,
reiterada ou profissional, exceto se
insignificantes as infrações penais pretéritas;
(LEI 13964/19)
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 anos
anteriores ao cometimento da infração,
em acordo de não persecução penal,
transação penal ou suspensão condicional
do processo; e (LEI 13964/19)
🚨 JÁ CAIU
Na prova de Defensor Público da DPE-CE (Ano: 2022
Banca: FCC), foi considerada correta a seguinte
afirmação: O acordo de não persecução penal não
será cabível se o agente tiver realizado outro acordo
de não persecução penal no período de 5 (cinco) anos
anteriores ao cometimento da infração.
IV - nos crimes praticados no âmbito de
violência doméstica ou familiar, ou
praticados contra a mulher por razões da
condição de sexo feminino, em favor do
agressor. (LEI 13964/19)
🚨 JÁ CAIU
Na prova de Promotor de Justiça do MPE-PE (Ano:
2022 Banca: FCC), foi considerada correta a seguinte
afirmação: são causas que impedem o acordo de não
persecução penal: II. Se o investigado for reincidente
ou se houver elementos probatórios que indiquem
conduta criminal habitual, reiterada ou profissional,
exceto se insignificantes as infrações penais
pretéritas. IV. Crimes praticados no âmbito de
25
violência doméstica ou familiar, ou praticados contra
a mulher por razões da condição de sexo feminino.
§ 3º O acordo de não persecução penal será
formalizado por escrito e será firmado pelo
membro do Ministério Público, pelo
investigado e por seu defensor. (LEI
13964/19)
§ 4º Para a homologação do acordo de não
persecução penal, será realizada audiência
na qual o juiz deverá verificar a sua
voluntariedade, por meio da oitiva do
investigado na presença do seu defensor, e
sua legalidade. (LEI 13964/19)
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas,
insuficientes ou abusivas as condições
dispostas no acordo de não persecução penal,
devolverá os autos ao Ministério Público para
que seja reformulada a proposta de acordo,
com concordância do investigado e seu
defensor. (LEI 13964/19)
§ 6º Homologado judicialmente o acordo de
não persecução penal, o juiz devolverá os
autos ao Ministério Público para que inicie
sua execução perante o juízo de execução
penal. (LEI 13964/19)
§ 7º O juiz poderá recusar homologação à
proposta que não atender aos requisitos
legais ou quando não for realizada a
adequação a que se refere o § 5º deste artigo.
§ 8º Recusada a homologação, o juiz
devolverá os autos ao Ministério Público para
a análise da necessidade de complementação
das investigações ou o oferecimento da
denúncia. (LEI 13964/19)
§ 9º A vítima será intimada da
homologação do acordo de não persecução
penal e de seu descumprimento. (LEI
13964/19)
§ 10. Descumpridas quaisquer das
condições estipuladas no acordo de não
persecução penal, o Ministério Público
deverá comunicar ao juízo, para fins de sua
rescisão e posterior oferecimento de
denúncia. (LEI 13964/19)
§ 11. O descumprimento do acordo de não
persecução penal pelo investigado também
poderá ser utilizado pelo Ministério
Público como justificativa para o eventual
não oferecimento de suspensão
condicional do processo. (LEI 13964/19)
🚨 JÁ CAIU
Na prova de juiz do TJ-SC (Ano: 2022 Banca: FGV), foi
considerada correta a seguinte afirmação:
Relativamente aos acordos no processo penal,
segundo a jurisprudência predominante nos Tribunais
Superiores, é correto afirmar que poderá o
descumprimento do acordo de não persecução penal
ser utilizado pelo Ministério Público como justificativa
para o não oferecimento de suspensão condicional do
processo.
§ 12. A celebração e o cumprimento do
acordo de não persecução penal não
constarão de certidão de antecedentes
criminais, exceto para os fins previstos no
inciso III do § 2º deste artigo. (LEI 13964/19)
§ 13. Cumprido integralmente o acordo de
não persecução penal, o juízo competente
decretará a extinção de punibilidade. (LEI
13964/19)
§ 14. No caso de recusa, por parte do
Ministério Público, em propor o acordo de
não persecução penal, o investigado poderá
requerer a remessa dos autos a órgão
superior, na forma do art. 28 deste Código.
(LEI 13964/19)
Assim, na sistemática adotada pelo art. 28-A,
26
do CPP, tem-se que o ANPP é negócio jurídico de
natureza extrajudicial, necessariamente homologado
pelo juiz, celebrado entre o Ministério Público e o
autor do fato delituoso – devidamente assistido por
seu defensor –, que confessa formal e
circunstancialmente a prática do delito, sujeitando-se
ao cumprimento de certas condições não privativas
de liberdade, em troca do compromisso do parquet
de não perseguir judicialmente o caso penal extraído
da investigação penal, leia-se, não oferecer denúncia,
declarando-se a extinção da punibilidade caso a
avença seja integralmente cumprida.
Trata-se de um instrumento que mitiga a
obrigatoriedade da ação penal e revela o caráter cada
vez mais tendencioso do ordenamento jurídico
brasileiro em privilegiar a justiça penal
negociada/consensual, como a transação penal, o
sursis processual e a colaboração premiada,
otimizando recursos públicos e efetivando o conceito
da Justiça Multiportas.
Como vimos, nos termos do art. 28-A, do CPP:
não sendo caso de arquivamento e tendo o
investigado confessado formal e circunstancialmente
a prática de infração penal sem violência ou grave
ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos,
o Ministério Público poderá propor acordo de não
persecução penal, desde que necessário e suficiente
para reprovação e prevenção do crime.
Para a aferição da pena mínima cominada ao
delito a que se refere o caput do artigo 28-A, do CPP,
devem ser consideradas as causas de aumento e
diminuição aplicáveis ao caso concreto.
As seguintes condições podem ser ajustadas
isolada ou cumulativamente no acordo de não
persecução: i) reparar o dano ou restituir a coisa à
vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo; ii)
renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados
pelo Ministério Público como instrumentos, produto
ou proveito do crime; iii) prestar serviço à
comunidade ou a entidades públicas por período
correspondente à pena mínima cominada ao delito
diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado
pelo juízo da execução, na forma do art. 46 do Código
Penal;

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