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AÇÃO PENAL
4a EDIÇÃO/2024
1. ASPECTOS GERAIS 3
2. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE AÇÃO PENAL 3
3. CONDIÇÕES DA AÇÃO 4
3.1. CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL 6
3.1.1. LEGITIMIDADE AD CAUSAM OU LEGITIMIDADE PARA AGIR 6
3.1.1.1. LEGITIMIDADE ATIVA 6
3.1.1.2.LEGITIMIDADE PASSIVA 8
3.1.2. INTERESSE DE AGIR 9
3.1.3. JUSTA CAUSA 10
3.2. CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PARA A CORRENTE MINORITÁRIA (AURY LOPES JÚNIOR) 11
3.3. CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DA AÇÃO (CONDIÇÕES DE PROCEDIBILIDADE) 12
3.4. CONDIÇÕES DE PROSSEGUIBILIDADE (CONDIÇÃO SUPERVENIENTE DA AÇÃO) 12
3.4. CONDIÇÕES OBJETIVAS DE PUNIBILIDADE E ESCUSAS ACUSATÓRIAS 13
4. CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES PENAIS 14
4.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA 14
4.1.1. TITULARIDADE 14
4.1.2. PEÇA ACUSATÓRIA 15
4.1.3. ESPÉCIES 16
4.1.3.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA 16
4.1.3.2. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA 16
4.2. AÇÃO PENAL PRIVADA 17
4.2.1. TITULARIDADE 18
4.2.2. PEÇA ACUSATÓRIA 18
4.2.3. ESPÉCIES 18
4.2.3.1. AÇÃO PENAL PRIVADA EXCLUSIVA 18
4.2.3.2. AÇÃO PENAL PRIVADA PERSONALÍSSIMA 19
4.2.3.3. AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA OU AÇÃO PENAL
ACIDENTALMENTE PRIVADA OU AÇÃO PENAL SUPLETIVA 19
5. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À AÇÃO PENAL 21
5.1. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À AÇÃO PENAL PÚBLICA E À AÇÃO PENAL PRIVADA 22
5.1.1. PRINCÍPIO DA INÉRCIA DA JURISDIÇÃO (NE PROCEDAT IUDEX EX OFFICIO) 22
5.1.2. PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM PROCESSUAL OU INADMISSIBILIDADE DA PERSECUÇÃO
PENAL MÚLTIPLA 22
5.1.3. PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA 23
5.2. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA 23
5.2.1. PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE OU LEGALIDADE PROCESSUAL 23
5.2.2. PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE OU INDESISTIBILIDADE 34
5.2.3. PRINCÍPIO DA DIVISIBILIDADE 35
5.3. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PRIVADA 35
5.3.1. PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE OU CONVENIÊNCIA 35
5.3.2. PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE 35
5.3.3. PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE 37
5.4. QUADRO COMPARATIVO DOS PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL 38
6. AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA 41
7. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA 42
7.1. AÇÃO PENAL CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO 42
2
7.1.1. REPRESENTAÇÃO 42
7.1.2. PRAZO 44
7.1.3. RETRATAÇÃO 44
7.2. AÇÃO PENAL CONDICIONADA À REQUISIÇÃO DOMINISTRO DA JUSTIÇA 45
8. AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA 45
8.1. AÇÃO PENAL EXCLUSIVAMENTE PRIVADA 46
8.2. AÇÃO PENAL PRIVADA PERSONALÍSSIMA 46
8.3. AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA 46
8.3.1. CABIMENTO 47
8.3.2. HIPÓTESES NA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 47
8.3.3. PRAZO 48
8.3.4. PODERES DOMINISTÉRIO PÚBLICO NA AÇÃO PÚBLICA SUBSIDIÁRIA 49
9. EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE E AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA 49
9.1. DECADÊNCIA 49
9.2. RENÚNCIA 50
9.3. PERDÃO DO OFENDIDO 50
9.4. PEREMPÇÃO 51
10. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DOUTRINÁRIAS 52
10.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA 52
10.2. AÇÃO PENAL POPULAR 53
10.3. AÇÃO PENAL ADESIVA 53
10.4. AÇÃO DE PREVENÇÃO PENAL 53
10.5. AÇÃO PENAL SECUNDÁRIA 54
10.6. AÇÃO PENAL INDIRETA 54
10.7. AÇÃO PENAL EXTENSIVA 54
11. PEÇA ACUSATÓRIA 54
11.1. REQUISITOS 55
11.1.1. EXPOSIÇÃO DO FATO CRIMINOSO E CIRCUNSTÂNCIAS 55
11.1.2. QUALIFICAÇÃO DO ACUSADO 58
11.1.3. CLASSIFICAÇÃO DO CRIME 58
11.1.4. ROL DE TESTEMUNHAS 58
11.2. PROCURAÇÃO NA QUEIXA-CRIME 59
11.3. PRAZO PARA OFERECIMENTO DA DENÚNCIA - Art. 46, CPP 60
11.4. PRAZO PARA OFERECIMENTO DA QUEIXA 60
12. PONTOS IMPORTANTES NA JURISPRUDÊNCIA 61
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1. ASPECTOS GERAIS
Ação penal é tema cujo fundamento legal encontra-se nos arts. 24 a 62, do CPP e 100 a 106, do CP,
nos quais se busca disciplinar a segunda fase da persecução penal. Isso porque, o Direito Penal não é um
direito de aplicação imediata, já que ninguém será levado à prisão para cumprir uma pena sem o devido
processo legal. Além dos dispositivos acima elencados, destaca-se que o direito de ação também encontra
fundamento constitucional no art. 5º, inc. XXXV, que prevê que a lei não excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito.
Art. 5.º, XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Adentrando ao conceito do direito de ação, pode-se afirmar que é o direito ao julgamento do
mérito da causa (TEORIA ECLÉTICA).
Assim, é o direito que a parte tem de pedir ao juiz um pronunciamento sobre o mérito da demanda,
conforme estejam presentes ou não as condições da ação. Ou seja, somente é possível o pronunciamento
jurisdicional sobre o mérito da causa, se estiverem presentes determinadas condições (condições da ação).
Noutras palavras, trata-se do direito público subjetivo de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito
penal objetivo ao caso concreto. Vale ressaltar que há corrente minoritária que sustenta que a ação penal não
seria um direito, mas sim um poder, porque a contrapartida seria uma sujeição do Estado-Juiz, que está
obrigado a se manifestar.
🚩 NÃO CONFUNDA: Direito de ação ≠ Ação (propriamente dita)
A AÇÃO PROPRIAMENTE DITA “é o ato jurídico, ou mesmo a iniciativa de se ir à justiça, em busca do
direito, com efetiva prestação da tutela jurisdicional, funcionando como a forma de se provocar o Estado a
prestar a tutela jurisdicional.”1
2. CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE AÇÃO PENAL2
a) DIREITO PÚBLICO
A atividade jurisdicional é de natureza pública (ação penal é um direito público), mesmo quando o
Estado transfere ao ofendido a possibilidade de ingressar em juízo.
b) DIREITO SUBJETIVO
Possibilidade de exigir do Estado-juiz a prestação jurisdicional.
2 LIMA, Renato Brasileiro de.Manual de Processo Penal. 8ª ed. Juspodivm, 2020, p.294.
1 LIMA, Renato Brasileiro de.Manual de Processo Penal. 8ª ed. Juspodivm, 2020, p.291.
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c) DIREITO AUTÔNOMO
Não se confunde com o direito material que se pretende tutelar.
d) DIREITO ABSTRATO
Independe do resultado da pretensão acusatória.
e) DIREITO DETERMINADO
Por visar solucionar uma pretensão de direito material, é instrumentalmente conexo a um fato
concreto.
f) DIREITO ESPECÍFICO
Apresenta um conteúdo, que é o fato delituoso atribuído ao acusado.
3. CONDIÇÕES DA AÇÃO
As condições da ação consistem nos requisitos necessários e condicionantes ao exercício regular
do direito de ação.
A análise das condições da ação é feita unicamente com fundamento nas afirmações contidas na
petição inicial do autor (TEORIA DA ASSERÇÃO ou TEORIA DELLA PROSPETTAZIONE), sem
aprofundamento probatório.
As condições da ação, dentre elas o interesse processual e a legitimidade ativa, definem-se da narrativa
formulada inicial, não da análise do mérito da demanda (teoria da asserção), razão pela qual não se
recomenda ao julgador, na fase postulatória, se aprofundar no exame de tais preliminares. STJ. 3ª Turma REsp
1561498/RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 01/03/2016.
As condições da ação devem ser analisadas, pelo juiz, no momento do juízo de admissibilidade da
peça acusatória. Estando presentes, o juiz RECEBERÁ a peça (Art. 396, CPP). Todavia, se quaisquer das
condições da ação estiver ausente, deverá o juiz REJEITAR a peça acusatória (Art. 395, inc. II, CPP).
Art. 395.  A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
I - for manifestamente inepta;  
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Juiz de Direito Substituto do Estado do Espírito Santo (Ano: 2023, Banca: FGV), a
questão trouxe o presente enunciado “Luíz foi denunciado pelo Ministério Público em razão da prática do delito
de roubo agravado pelo uso de arma. Contudo, a denúncia não expôs a conduta criminosa de Luíz com todas as
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suas circunstâncias, tampouco especificou a arma utilizada para o cometimento do delito”, seguido da
afirmativa considerada correta pela banca: “Diante desse cenário, é correto afirmar que a denúncia deve ser
rejeitada liminarmente pelo juiz, em razão da sua manifesta inépcia”.
⚠ ATENÇÃO
Recebida a peça acusatória, percebendo o juiz a AUSÊNCIA de condição da ação, deverá declarar a
NULIDADE ABSOLUTA do processo (Art. 564, inc. II, CPP).
Segundo Renato Brasileiro (2020, p.296):
Em sede processual penal, a presença dessas condiçõesanteriores ao cometimento da infração, em acordo de
não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e
4. nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por
razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.
O juiz não deve se imiscuir no mérito do acordo, devendo apenas verificar a regularidade, a legalidade e
a sua voluntariedade. Por meio desse acordo, o autor do delito confessa e aceita o cumprimento de condições
não privativas de liberdade. Em contraprestação, o Ministério Público se compromete a não oferecer a
denúncia. Após o cumprimento das condições impostas, dar-se-á o arquivamento do inquérito policial.
O acordo de não persecução penal consiste em um negócio jurídico pré-processual entre o MP e o
investigado, juntamente com seu defensor, como alternativa à propositura de ação penal para certos tipos de
crimes, principalmente no momento presente, em que se faz necessária a otimização dos recursos públicos.
Cabe ao MP justificar expressamente o não oferecimento do ANPP, o que poderá ser, após provocação do
investigado, passível de controle pela instância superior do Ministério Público, nos termos do art. 28-A, § 14, do
CPP. O instituto é resultante de convergência de vontades (MP e acusado), não podendo afirmar que se trata de
um direito subjetivo do acusado. Quando o ANPP é negado pelas duas instâncias do Ministério Público, não há
possibilidade legal de intervenção do Poder Judiciário nesse tema. (STJ, HC 584.843, Rel. Min. Reynaldo Soares
da Fonseca, decisão monocrática de 24.06.2020).
Sobre a eficácia no tempo do ANPP, tem-se algumas correntes:
● 1ª CORRENTE (minoritária): Como o ANPP possui natureza mista (versa sobre direito penal e
processual penal), deve retroagir para atingir fatos passados em benefício do investigado/imputado, na
forma do art. 5, inciso XL, da CRFB/88 (a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu) e art. 2º,
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parágrafo único, do CP (Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar
crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo
único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda
que decididos por sentença condenatória transitada em julgado). Assim, essa corrente entende que
deve ser oferecido o ANPP inclusive a casos com sentença já transitada em julgado, diante da natureza
também material que o ANPP possui.
● 2ª CORRENTE: A corrente que era defendida pelo Min. Nefi Cordeiro era no sentido de que era cabível
ANPP em todos os processos, desde que não possuíssem trânsito em julgado. Vejamos: É
reconsiderada a decisão inicial porque o cumprimento integral do acordo de não persecução penal gera
a extinção da punibilidade (art. 28-A, § 13, do CPP), de modo que como norma de natureza jurídica
mista e mais benéfica ao réu, deve retroagir em seu benefício em processos não transitados em julgado
(art. 5º, XL, da CF). AgRg no HC 575395/RN, 6ª Turma, rel. Min. Nefi Cordeiro, j. 08/09/2020, DJe
14/09/2020.
● 3ª CORRENTE: A 6ª Turma dp STJ, no AgRg no HC 628.647, Min. Rel. Nefi Cordeiro, Min. Rel. para
acórdão Laurita Vaz, j. 09/03/2021, pacificou o entendimento e, por maioria, a 6ª Turma do STJ
entendeu que deve o ANPP retroagir aos processos cuja denúncia não tenha sido recebida.
O STF, hoje, possui o mesmo entendimento da 6ª Turma/STJ:
Embora cabível acordo de não persecução penal considerado fato anterior à Lei nº 13.694/2019, a natureza
mista da norma conduz à retroação tendo como limite o recebimento da denúncia, quando inaugurada a fase
processual. STF, HC 199.950, Rel. Min. Marco Aurélio, 1ª Turma, j. 10.06.2021.
A Lei nº 13.964/2019 (“Pacote Anticrime”) inseriu o art. 28-A ao CPP, criando, no ordenamento jurídico pátrio, o
instituto do acordo de não persecução penal (ANPP). A Lei 13.964/2019, no ponto em que institui o ANPP, é
considerada lei penal de natureza híbrida, admitindo conformação entre a retroatividade penal benéfica e o
tempus regit actum. O ANPP se esgota na etapa pré-processual, sobretudo porque a consequência da sua
recusa, sua não homologação ou seu descumprimento é inaugurar a fase de oferecimento e de recebimento
da denúncia. O recebimento da denúncia encerra a etapa pré-processual, devendo ser considerados válidos os
atos praticados em conformidade com a lei então vigente. Dessa forma, a retroatividade penal benéfica incide
para permitir que o ANPP seja viabilizado a fatos anteriores à Lei 13.964/2019, desde que não recebida a
denúncia. Assim, mostra-se impossível realizar o ANPP quando já recebida a denúncia em data anterior à
entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019. STJ. 5ª Turma. HC 607003-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 24/11/2020 (Info 683). STF. 1ª Turma. HC 191464 AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/11/2020.
Há alguns membros do Ministério Público que sustentam sustentando que a intenção do legislador é de
que o ANPP tenha aplicação apenas na fase pré-processual, isto é, antes do oferecimento da denúncia e
direcionado apenas ao indiciado, e não ao já imputado. No entanto, majoritariamente, defende-se que, se a
intenção do legislador fosse essa, a norma não seria inserida no título referente à “AÇÃO PENAL”, mas sim no
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Título II do CPP, que trata “DO INQUÉRITO POLICIAL”. Assim, dúvidas não há de que se o ANPP foi incluído no
quadro normativo relacionado à ação penal, é claro que se aplica não apenas ao indiciado, mas também ao
imputado/acusado (já denunciado).
Não se nega que a primeira intenção do ANPP seja impedir a deflagração da ação penal, mas,
ultrapassada esta questão, caso durante o curso do processo ocorra uma desclassificação, deve ser oferecido o
ANPP, se presentes os requisitos. No caso da suspensão condicional do processo e na transação penal, se no
decorrer do processo ou na sentença ocorre uma desclassificação para um crime mais brando em que incida a
suspensão condicional ou transação penal, tais institutos devem ser ofertados ao acusado, evitando-se uma
condenação (conforme se depreende do do art. 383, §1º, do CPP e da súmula 337/STJ). Assim, se tais
mecanismos valem para os outros institutos despenalizadores, também devem valer para o ANPP.
Além disso, a jurisprudência tem se consolidado no sentido de que o ANPP não se trata de direito
subjetivo do réu, já que o MP possui discricionariedade no exercício de suas funções e no oferecimento do
acordo. Defende esta corrente que, se fosse um direito público subjetivo, o próprio juiz poderia propor o
acordo no lugar do MP, o que seria vedado, pois é uma iniciativa apenas do órgão do MP.
No entanto, caso o magistrado não concorde com a não-oferta do ANPP, poderá invocar o art. 28 e
remeter ao órgão superior, assim como previsto para o investigado: §14. No caso de recusa, por parte do
Ministério Público, em propor o acordo de não persecução penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos
a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código.
As condições descritas em lei são requisitos necessários para o oferecimento do Acordo de Não
Persecução Penal (ANPP), importante instrumento de política criminal dentro da nova realidade do sistema
acusatório brasileiro. Entretanto, não obriga o Ministério Público, nem tampouco garante ao acusado
verdadeiro direito subjetivo em realizá-lo. Simplesmente, permite ao MP a opção, devidamente fundamentada,
entre denunciar ou realizar o acordo, a partir da estratégia de política criminal adotada pela Instituição. O art.
28-A do Código de Processo Penal, alterado pela Lei 13.964/19, foi muito claro nesse aspecto, estabelecendo
que o Ministério Público “poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente
para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições”. A finalidade do ANPP é evitar que se
inicie o processo, não havendo lógica em se discutir a composiçãodepois da condenação, como pretende a
defesa. (STF, AgR no HC 191.124, Rel. Min. Alexandre de Moraes, 1ª Turma, j. 07.04.2021).
Em caso de descumprimento, o Ministério Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão
e posterior oferecimento de denúncia. Também, esse descumprimento pode ser utilizado pelo Ministério
Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional do processo (art. 28-A, §§
10 e 11, do CPP).
Ainda, havendo descumprimento dos termos do acordo, a denúncia a ser oferecida poderá utilizar
como suporte probatório a confissão formal e circunstanciada do investigado (prestada voluntariamente na
celebração do acordo). A confissão, nesse caso, se trata de mero indício, obtido extrajudicialmente. Note-se que
a homologação pelo juízo não se refere à confissão em si, mas ao próprio conteúdo do acordo e se a
voluntariedade da manifestação foi feita de forma voluntária. Base legal: (i) art. 155, CPP (confissão é mero
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elemento informativo), (ii) art. 197 do CPP (necessidade de ser corroborada por outros elementos, pois o juiz
não pode basear a condenação exclusivamente na confissão), e (iii) art. 93, IX, CF/88 (princípio da persuasão
racional).
Quanto à possibilidade de sua aplicação em crimes hediondos, há aqui 2 correntes:
● 1ª CORRENTE: Não é cabível a oferta de ANPP aos crimes hediondos e equiparados, pois em relação a
estes o acordo não é suficiente para a reprovação e prevenção do crime;
● 2ª CORRENTE: Como não há vedação legal, não se pode deixar de propor o acordo exclusivamente sob
a justificativa de que se trata de crime hediondo. Não se pode olvidar que o STF entende que os crimes
hediondos e equiparados admitem a fixação de regime inicial aberto e a substituição da pena privativa
de liberdade por restritiva de direitos, preenchidos os requisitos legais, razão pela qual, do mesmo
modo, o fato de ser hediondo ou equiparado não pode, ser empecilho para o oferecimento do acordo
de não persecução penal.
Ainda, é importante salientar que a celebração desse acordo não constará de certidão de antecedentes
criminais.
Caberá RESE da decisão, despacho ou sentença que recusar homologação à proposta de acordo de não
persecução penal, previsto no art. 28-A desta Lei.
Outro conceito interessante é o do ANPP adesivo/bifurcado. Isso porque, a ação penal adesiva é
caracterizada quando há conexão entre um crime de ação penal pública e um crime de ação penal privada.
Assim, há um litisconsórcio entre o querelante e o MP. De acordo com Mauro Messias, este fenômeno também
pode ocorrer, de certa forma, em relação à legitimidade para o oferecimento do ANPP. Em relação à ação penal,
o autor explica que o termo correto deveria ser “ação penal bifurcada”, uma vez que não há uma bifurcação
narrativa fática e da consequente persecução, em um único processo crime, respeitando-se as regras de
legitimidade. O autor menciona uma primeira situação: quando o crime de ação pública admite acordo, assim
como delito de ação privada, querelante e MP devem oferecer propostas separadas, o que se denominou de
ANPP adesivo. Uma segunda hipótese seria quando o crime de ação pública admitir acordo e o crime de ação
privada não (ou vice-versa): nessa situação, um legitimado oferece o ANPP e o outro ajuíza a ação penal. Assim,
percebe-se que o autor admite a possibilidade de o querelante oferecer ANPP na ação penal privada.
Por fim, veja alguns julgados relevantes sobre o tema:
O Poder Judiciário não pode impor ao Ministério Público a obrigação de ofertar acordo de não persecução
penal. Não cabe ao Poder Judiciário, que não detém atribuição para participar de negociações na seara
investigatória, impor ao MP a celebração de acordos. Não se tratando de hipótese de manifesta
inadmissibilidade do ANPP, a defesa pode requerer o reexame de sua negativa, nos termos do art. 28-A, § 14,
do CPP não sendo legítimo, em regra, que o Judiciário controle o ato de recusa, quanto ao mérito, a fim de
impedir a remessa ao órgão superior no MP. Isso porque a redação do art. 28-A, § 14, do CPP determina a
iniciativa da defesa para requerer a sua aplicação.
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Tem-se, portanto, que se o MP se recusar a oferecer o acordo e a defesa requerer a remessa dos autos ao
órgão superior, o juiz é obrigado a remeter. No entanto, o STF já afirmou que o juiz não precisa remeter ao
órgão superior do MP em caso de manifesta inadmissibilidade do ANPP. STF. 2ª Turma. HC 194677/SP, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/5/2021 (Info 1017).
A finalidade do ANPP é evitar que se inicie o processo, não havendo lógica em se discutir a composição depois
da condenação, como pretende a defesa. STF, AgRg no HC 191.124, Rel. Min. Alexandre de Moraes, 1ª Turma, j.
08.04.2021.
Impossibilidade de impetrar HC para discutir ausência de justa causa após aceitar ANPP. São inúmeros os
argumentos a não se dar guarida ao pleito defensivo de aplicação do princípio da insignificância, após a
aceitação do acordo de não persecução penal. O primeiro deles parte do próprio instituto utilizado, haja vista
a inexistência de risco iminente à liberdade de locomoção no caso, pois o debate de falta de justa causa a um
eventual oferecimento de denúncia somente ocorrerá em caso de descumprimento do acordo, em outras
palavras, por evento futuro e incerto. Não obstante, o revolvimento fático-probatório aqui almejado sequer foi
realizado na origem, sem se olvidar que a dilação probatória no caso vertente foi dispensada pela defesa
quando da aceitação do benefício do acordo de não persecução penal, configurando nítido nemo potes vender
contra fartum proprium afirmar a ausência de tipicidade material neste momento. STJ, HC 619.751, Rel. Min.
Felix Fischer, decisão monocrática de 11.12.2020.
É incabível o oferecimento de acordo de não persecução penal pelo Ministério Público nos casos de tráfico
ilícito de entorpecentes – cuja pena mínima é superior a 4 anos –, em razão do não preenchimento de um dos
requisitos objetivos do art. 28-A, caput, do CPP. STJ, AgRg no HC 584.807, Rel. Min. João Otávio de Noronha, 5ª
Turma, j. 13.10.2020.
A atuação, por força do art. 28-A, § 14, do CPP, da Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público
Militar, por meio dos Sub-Procuradores Gerais de Justiça Militar que a integram, em ação penal militar em
trâmite no primeiro grau de jurisdição, por si só, não desloca a competência diretamente para o Superior
Tribunal de Justiça para o processamento e julgamento de habeas corpus contra a decisão que manteve o não
oferecimento do acordo de não persecução penal no âmbito da Justiça Militar. STJ, AgRg no HC 628.595, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 5ª Turma, j. 15.12.2020.
O instituto do acordo de não persecução penal, previsto no art. 28-A do CPP, não se aplica aos crimes militares
previstos na legislação penal militar, tendo em vista sua evidente incompatibilidade com a Lei Adjetiva
castrense, opção que foi adotada pelo legislador ordinário, ao editar a Lei nº 13.964, de 2019, e propor a sua
incidência tão somente em relação ao Código de Processo Penal comum. Inexiste violação dos preceitos
constitucionais, insculpidos no art. 5º, caput, e incisos LIV e LXVIII, da Constituição Federal de 1988, e art. 467,
“b” e “c”, do CPPM, uma vez que a negativa dos Órgãos judicantes da JMU, afastando a incidência do acordo de
não persecução penal em relação aos delitos previstos na legislação penal militar, por óbvio, não pode ser
considerada violação de formalidade legal e tampouco se configura constrangimento ilegal em relação ao
34
acusado. STM, HC 7000374-06.2020.7.00.0000, Rel. Min. José Coelho Ferreira, Plenário, j. 26.08.2020.
Ao final, importa lembrar que uma vez cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o
juízo competente decretará a extinção da punibilidade.
5.2.2. PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE OU INDESISTIBILIDADE
Decorre logicamente do primeiro, não podendo o MP desistir da ação penal, conforme o Art. 42 do
CPP:
Art.42.  O Ministério Público não poderá desistir da ação penal.
Da mesma forma, não pode o MP desistir de recurso por ele mesmo interposto. Salienta-se que o
MP não é obrigado a recorrer, mas uma vez recorrido, não é possível desistir.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargos e Promotor de Justiça do Estado de Santa Catarina (Ano: 2023, Banca: CESPE/CEBRASPE),
foi considerada incorreta a seguinte afirmativa: “De acordo com o Código de Processo Penal, é facultada ao
Ministério Público a desistência da ação penal na hipótese de convencimento da inexistência de razões para a
condenação do réu”.
Art. 576.  O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto.
Obviamente isso não impede o MP de pedir a absolvição do acusado, ao final do processo. Conforme
o Art. 385, CPP:
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério
Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido
alegada.
EXCEÇÃO
INDISPONIBILIDADE MITIGADA ou DISCRICIONARIEDADE REGRADA: suspensão condicional do
processo, prevista na Lei 9.099/95.
É possível a formalização, pelo Ministério Público, de acordo de não continuidade da ação penal?
Parcela minoritária da doutrina aponta tal hipótese como exceção ao princípio da indisponibilidade de
ação penal pública. Seria uma hipótese facultada ao Promotor de Justiça após o ajuizamento do processo
35
criminal. Ressalta-se que o STF e o STJ entendem que “o instituto do acordo de não persecução penal torna-se
inviabilizado após o recebimento da denúncia”.13
5.2.3. PRINCÍPIO DA DIVISIBILIDADE
Para esse princípio nós temos duas correntes:
1.ª CORRENTE (Divisibilidade - MAJORITÁRIA): O MP pode denunciar alguns autores e prosseguir as
investigações em relação aos demais. É a posição que prevalece no STJ e STF.
O MP não tem a absoluta discricionariedade para escolher quem vai processar ou não. Na verdade, o
princípio diz que o MP poderá denunciar aqueles contra quem haja indícios de autoria já sedimentados, e
prosseguir as investigações contra aqueles contra os quais ainda não haja elementos de autoria e
materialidade.
2.ª CORRENTE (Indivisibilidade - MINORITÁRIA): Havendo justa causa, o MP deverá denunciar todos
os investigados. É o entendimento de Renato Brasileiro, Fernando da Costa Tourinho Filho, Aury Lopes Jr. e
outros.
Conclusão: Perceba que, na verdade, as duas correntes dizem a mesma coisa de formas distintas.
5.3. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PRIVADA
5.3.1. PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE OU CONVENIÊNCIA
O ofendido ou seu representante legal podem optar pelo oferecimento ou não da queixa-crime,
atendendo a critérios próprios de conveniência e oportunidade. Contrasta com o princípio da obrigatoriedade.
Se o ofendido não tiver interesse em propor a ação penal privada, há duas possibilidades:
a) RENÚNCIA AO DIREITO DE QUEIXA: o ofendido abre mão do direito de queixa (explícita ou
implicitamente). Independe de aceitação do agente.
b) DECADÊNCIA: O ofendido deixa escoar o prazo de 6 MESES, da data do conhecimento da autoria,
para propor a queixa-crime.
📌 OBSERVAÇÕES
■ Tanto a renúncia ao direito de queixa quanto a decadência se aplicam antes do início do processo
penal, ainda na fase pré-processual, por isso se relacionam ao princípio da oportunidade ou conveniência.
■ Em ambos os casos (decadência e renúncia) temos causas extintivas da punibilidade.
5.3.2. PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE
O querelante poderá desistir da ação penal privada em andamento (desistência). Temos 3 formas de
desistência:
13 Avena, Norberto. Processo Penal. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022.
36
a) PERDÃO DO OFENDIDO - Art. 51, CPP: O querelante perdoa o querelado, que precisa ACEITAR o
perdão. É causa de extinção de punibilidade .
Art. 51. O PERDÃO concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito
em relação ao que o recusar.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do Estado da Bahia (Ano: 2023, Banca CESPE/CEBRASPE), foi
considerada correta a seguinte afirmativa: “O perdão, se recusado pelo agente do crime, não produz efeito”.
b) PEREMPÇÃO - Art. 60, CPP: Se o querelado não aceitar o perdão, é possível desistir do processo,
deixando o querelante de dar andamento à ação penal privada (negligência).
Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á PEREMPTA a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias
seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para
prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado
o disposto no art. 36 - CADI;
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que
deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.
c) CONCILIAÇÃO NOS CRIMES CONTRA A HONRA - Arts. 520 e 522, CPP
Art. 520. Antes de receber a queixa, o juiz oferecerá às partes oportunidade para se reconciliarem,
fazendo-as comparecer em juízo e ouvindo-as, separadamente, SEM A PRESENÇA DOS SEUS ADVOGADOS,
não se lavrando termo.
Art. 522.  No caso de reconciliação, depois de assinado pelo querelante o termo da desistência, a queixa será
arquivada.
📌 OBSERVAÇÃO
Os institutos que se relacionam ao princípio da Disponibilidade ocorrem após o início do processo
penal, isto é, já na fase processual, diferentemente do que ocorre no princípio da Conveniência ou
Oportunidade.
37
5.3.3. PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE
Nas Lições de Renato Brasileiro: “(...) se optar pelo oferecimento da queixa, uma coisa é certa: o
querelante não pode escolher quem vai processar; ele está obrigado a processar todos os autores do delito,
por força do princípio da indivisibilidade.”14
Conforme o Art. 48, CPP:
Art. 48. A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério
Público velará pela sua INDIVISIBILIDADE.
Perceba que o MP é o fiscal do princípio da indivisibilidade na ação penal privada. Constatada a
inobservância do princípio em comento surgem duas possibilidades:
a) OMISSÃO VOLUNTÁRIA (DELIBERADA): Se a omissão em incluir determinado autor/partícipe foi
proposital - considera-se renúncia ao direito de queixa, o que se estende aos demais.
Não oferecida a queixa-crime contra todos os supostos autores ou partícipes da prática delituosa, há afronta
ao princípio da indivisibilidade da ação penal, a implicar renúncia tácita ao direito de querela, cuja eficácia
extintiva da punibilidade estende-se a todos quantos alegadamente hajam intervindo no cometimento da
infração penal. STF. 1ª Turma Inq 3526/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 2/2/2016 (Info 813).
b) OMISSÃO INVOLUNTÁRIA: o MP deve se manifestar para que o querelante adite a inicial para
incluir os demais autores/partícipes. Caso o querelante se recuse expressamente ou permaneça inerte, o juiz
deverá entender que houve renúncia (art. 49, CP), bem como deverá extinguir a punibilidade em relação a todos
os envolvidos.
Decorrem do princípio da indivisibilidade as seguintes regras:
a) Renúncia concedida a um dos acusados estende-se aos demais;
Art. 49. A RENÚNCIA ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se
estenderá.
b) Perdão concedido a um dos querelados estende-se aos demais, desde que haja aceitação.
Art. 51. O PERDÃO concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que produza, todavia, efeito
em relação ao que o recusar.
14LIMA, Renato Brasileiro de.Manual de Processo Penal. 8ª ed. Juspodivm, 2020, p.311.
38
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Juiz Federal - TRF 1ª Região (Ano: 2023, Banca: FGV), o enunciado trouxe o seguinte
caso “Mateus oferece queixa-crimecontra João, alegando, supostamente, que o querelado, juntamente com
Tiago, teria feito postagens nas redes sociais, afirmando ser o querelante corrupto e fraudador de licitações”.
Diante da hipótese narrada, é correto afirmar que o crime praticado é o de “injúria, e João deverá ter extinta a
sua punibilidade, ante a aplicação do princípio da indivisibilidade.”
5.4. QUADRO COMPARATIVO DOS PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL15
PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL DE INICIATIVA
PRIVADA
Princípio do ne procedat iudex ex officio: com a
adoção do sistema acusatório pela Constituição
Federal, ao juiz não é dado iniciar um processo de
ofício. O denominado processo judicialiforme, por
meio do qual o juiz dava início a um processo por
meio de portaria, não foi recepcionado pela
Constituição Federal.
Princípio do ne procedat iudex ex officio: também
se aplica à ação penal de iniciativa privada.
Princípio do ne bis in idem: ninguém pode ser
processado duas vezes pela mesma imputação.
Previsto expressamente na Convenção Americana
sobre Direitos Humanos (Dec. 678/92, art. 8º, nº 4)
Princípio do ne bis in idem: também se aplica à
ação penal de iniciativa privada.
Princípio da intranscendência: a ação penal pública
só pode ser proposta em relação ao provável autor
do delito.
Princípio da intranscendência: a ação penal de
iniciativa privada só pode ser proposta em relação ao
provável autor do delito.
Princípio da Obrigatoriedade (ou legalidade
processual): presentes as condições da ação penal e
havendo justa causa para a deflagração de um
processo criminal, o Ministério Público é obrigado a
oferecer denúncia. Deriva do art. 24 do CPP e do art.
30 do CPPM.
Exceções ao princípio da obrigatoriedade:
1) Transação penal (art. 76 da Lei nº 9.099/95);
Princípio da oportunidade ou da conveniência:
mediante critérios próprios de oportunidade ou
conveniência, o ofendido pode optar pelo
oferecimento (ou não) da queixa-crime. Caso não
pretenda exercer seu direito, pode permanecer
inerte durante o curso do prazo decadencial, ou
renunciar (expressa ou tacitamente) ao direito de
queixa, situações que darão ensejo à extinção da
15 LIMA, Renato Brasileiro de.Manual de Processo Penal. 8ª ed. Juspodivm, 2020, p.331/332
39
2) Acordo de leniência (Lei nº 12.529/11, arts. 86 e 87
);
3) Termo de ajustamento de conduta (Lei nº 7.347/85,
art. 5º, § 6º);
4) Parcelamento do débito tributário (Lei nº 9.430/96,
art. 83, § 2º, com redação dada pela Lei nº 12.382/11);
5) Colaboração premiada na nova Lei das
Organizações Criminosas (Lei nº 12.850/13, arts. 4º a
7º);
6) Acordo de não persecução penal (Resolução n. 181
do CNMP, art. 18);
punibilidade em relação aos crimes de ação penal
exclusivamente privada e de ação penal privada
personalíssima, nos termos do art. 107, inciso IV e V,
do Código Penal.
Princípio da indisponibilidade: se, por conta do
princípio da obrigatoriedade, o Ministério Público é
obrigado a oferecer denúncia, não pode desistir da
ação penal pública, nem tampouco do recurso que
haja interposto (CPP, arts. 42 e 576). Isso, todavia,
não significa dizer que o Ministério Público não possa
pedir a absolvição do acusado. Exceção ao princípio
da indisponibilidade:
1) suspensão condicional do processo (Lei nº
9.099/95, art. 89);
Princípio da disponibilidade: se a ação penal de
iniciativa privada está sujeita a critérios próprios de
oportunidade ou conveniência do ofendido ou de seu
representante legal, isso significa dizer que o
querelante poderá dispor do processo penal em
andamento. Formas de disposição:
1) perdão do ofendido: tem natureza jurídica de
causa extintiva da punibilidade nos crimes de ação
penal exclusivamente privada ou personalíssima,
porém, ao contrário da renúncia, depende de
aceitação do querelado;
2) perempção: é a perda do direito de prosseguir com
o exercício da ação penal exclusivamente privada ou
personalíssima em virtude da desídia do querelante,
com a consequente extinção da punibilidade;
3) conciliação e assinatura de termo de desistência,
no procedimento dos crimes contra a honra de
competência do juiz singular (CPP, art. 522).
Princípio da (in) divisibilidade: parte da doutrina
entende que vigora na ação penal pública o princípio
da indivisibilidade. Logo, havendo lastro probatório
contra todos os coautores e partícipes, o Ministério
Público é obrigado a oferecer denúncia contra todos
Princípio da indivisibilidade: o ofendido não é
obrigado a agir (princípio da oportunidade ou
conveniência). Porém, se quiser exercer seu direito
de queixa-crime, é obrigado a exercê-lo em relação a
todos os coautores e partícipes do fato delituoso.
40
(nossa posição). Outra parte da doutrina e a
jurisprudência majoritária entende que vigora o
princípio da divisibilidade, significando que o Parquet
pode oferecer denúncia contra certos agentes, sem
prejuízo do aprofundamento das investigações
quanto aos demais envolvidos.
Como dispõe o art. 48 do CPP, o processo de um
obriga ao processo de todos.
Como consequência desse princípio, a renúncia ao
exercício do direito de queixa em relação a um dos
autores do crime estende-se aos demais (CPP, art.
49). Da mesma forma, o perdão concedido a um dos
querelados aproveita a todos, salvo se um deles não
o aceitar (CPP, art. 51). O fiscal desse princípio é o
Ministério Público, que não tem legitimidade ad
causam para aditar a queixa crime para incluir
coautores. Verificando-se que a omissão do
querelante fora voluntária, haverá renúncia tácita,
extensiva a todos os envolvidos. Afinal, se sabia da
existência de outros coautores e partícipes, e deixou
de inclui-los no polo passivo da demanda, é porque
renunciou ao direito de ação quanto a eles, renúncia
esta que se estende aos demais, nos termos do art.
48 do CPP. Se, todavia, a omissão do querelante foi
involuntária, deve o MP instar o querelante a aditar a
queixa-crime para incluir os demais envolvidos, sob
pena de caracterização de renúncia tácita,
acarretando a extinção da punibilidade de todos os
envolvidos.
Princípio da oficialidade: a legitimidade para a
persecução penal recai sobre órgãos do Estado, tanto
na fase pré-processual, quanto na fase processual.
Princípio da oficialidade: aplica-se à ação penal de
iniciativa privada, porém apenas na fase
pré-processual.
Princípio da autoritariedade: o órgão responsável
pela persecução criminal é autoridade pública, tanto
na fase pré-processual, quanto na fase processual.
Princípio da autoritariedade: aplica-se à ação penal
de iniciativa privada, porém apenas na fase
pré-processual.
Princípio da oficiosidade: nos crimes de ação penal
pública incondicionada, às autoridades estatais são
obrigadas a agir de ofício, independentemente de
provocação do ofendido ou de terceiros.
Princípio da oficiosidade: não se aplica à ação penal
de iniciativa privada, já que, mesmo na fase
investigatória, a atuação da polícia investigativa
depende de prévio requerimento do ofendido ou de
seu representante legal.
41
Postas as características gerais do tema, voltaremos agora a trabalhar com alguns assuntos que já adiantamos,
mas que, neste momento, consideramos relevante aprofundar e fixar.
6. AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA
A ação penal pública incondicionada é a regra, conforme o art. 100, caput, do CP:
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido.
O titular da ação é o Ministério Público e a peça acusatória é denominada de denúncia, conforme
estabelece o art. 129, inc. I, CF:
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do Estado de Santa Catarina (Ano: 2023, Banca:
CESPE/CEBRASPE), foi considerada correta a seguinte afirmativa: O texto constitucional vigente prevê
expressamente ser função institucional do Ministério Público promover, privativamente,a ação penal pública,
na forma da lei“
EXCEÇÃO: Titularidade na ação penal de iniciativa privada subsidiária da pública.
O Ministério Público não depende de nenhuma manifestação da vítima ou de terceiros quanto à
iniciativa da ação penal. Desta forma, se a lei não estabelecer sentido diverso, a ação será pública
incondicionada.
⚠ IMPORTANTE
Em regra, as lesões corporais leves e culposas são crimes de ação penal pública condicionada à
representação, conforme estabelece o art. 88 da Lei nº 9.099/95.
A EXCEÇÃO para essa regra é no caso de lesão corporal praticada contra mulher no âmbito das
relações domésticas, sendo de ação penal pública incondicionada, uma vez que a Lei nº 9.099/95 não se aplica
nos casos de violência doméstica (art. 41 da Lei nº 11.340/06).
Súmula 542, STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a
mulher é pública incondicionada.
42
7. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA
Existem crimes que afetam diretamente interesses particulares, cabendo ao ofendido decidir sobre
iniciar ou não o processo.
Desta forma, a promoção da ação penal pública pelo Ministério Público depende da representação do
ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça.
A lei vai dispor quando a ação for pública condicionada.
7.1. AÇÃO PENAL CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO
7.1.1. REPRESENTAÇÃO
A representação nada mais é do que a manifestação do ofendido ou de seu representante no sentido
de que possui interesse na persecução penal do autor do fato criminoso.
Trata-se de uma CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE. Necessário, portanto, que as condições genéricas
estejam presentes e a representação. Em outras palavras, sem o seu implemento a ação penal não pode ter
início.
Não há necessidade de maiores formalidades para a representação. Basta que a vítima demonstre de
forma clara que ela tem interesse na persecução penal. Assim, o Art. 39 dispõe:
Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes
especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade
policial.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Delegado de Polícia Civil do Estado de Alagoas (Ano: 2023, Banca CESPE/CEBRASPE),
foi considerada incorreta a seguinte afirmativa: “A representação do ofendido é imprescindível à propositura
da ação penal, em se tratando de crime de ação penal pública condicionada à representação, não o sendo,
todavia, para a instauração do respectivo inquérito policial”.
São destinatários da representação o Juiz, Ministério Público e a Autoridade Policial. Já a titularidade
(quem pode representar) é de:
1. OFENDIDO MAIOR E CAPAZ: Essa representação pode ser realizada pessoalmente ou por meio de
procurador COM PODERES ESPECIAIS.
2. OFENDIDO MENOR DE 18 ANOS OU MAIOR COM ANOMALIA MENTAL: Aqui o REPRESENTANTE
LEGAL oferecerá a representação.
43
3. OFENDIDO MENOR DE 18 ANOS OU MAIOR COM ANOMALIA MENTAL SEM REPRESENTANTE LEGAL
OU COM REPRESENTANTE COM INTERESSES COLIDENTES: Neste caso, nomear-se-á um CURADOR
ESPECIAL para oferecer representação.
Conforme o Art. 33, CPP:
Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver
representante legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser exercido
por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente
para o processo penal.
⚠ ATENÇÃO: Essa norma se aplica por analogia à queixa-crime.
4. MORTE OU AUSÊNCIA DA VÍTIMA - Art. 31, CPP: O direito de representação será transmitido para o
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de
oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (CADI)
📌 OBSERVAÇÕES
■ A doutrina inclui aqui o companheiro. Todavia, esse dispositivo diz respeito ao direito de punir e isso
acaba ampliando o poder punitivo estatal, gerando assim uma verdadeira “analogia in malam partem”. O STJ
entendeu que o companheiro possui legitimidade para ajuizar ação penal privada.
A companheira, em união estável homoafetiva reconhecida, goza do mesmo status de cônjuge para o
processo penal, possuindo legitimidade para ajuizar a ação penal privada. STJ. Corte Especial. APn 912-RJ, Rel.
Min. Laurita Vaz, julgado em 07/08/2019 (Info 654).16
■ Ordem preferencial para o oferecimento da representação. Assim, seguimos a ordem elencada.
■ Aplica-se essa ordem de preferência à queixa crime.
■ Em caso de divergência no CADI, prevalece a vontade de quem deseja dar início ao processo.
7.1.2. PRAZO
16 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Apesar de o § 1º do art. 24 do CPP falar apenas em “cônjuge”, a companheira (hetero ou homoafetiva) também
possui legitimidade para ajuizar ação penal privada. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
.
44
a) PRAZO DECADENCIAL PARA O OFERECIMENTO DA REPRESENTAÇÃO: Aplica-se tanto à
representação quanto à queixa. O prazo para exercer o direito de representação é decadencial de 6 meses
contados do dia em que vier a ser quem é o autor do crime, conforme o art. 38 do CPP:
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa
ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de 6 meses, contado do dia em que vier a saber
quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da
denúncia.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou representação, dentro do mesmo prazo,
nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31.
b) PRAZO DO SUCESSOR: O sucessor terá direito ao prazo restante. Assim, morrendo o ofendido ou
sendo declarado ausente, seu sucessor não terá restituído o prazo para oferecer representação. Exemplo: Já se
passaram 2 meses do prazo decadencial e a vítima morre, o sucessor terá mais 4 meses para representar.
📌 OBSERVAÇÃO: Isso também se aplica à queixa.
7.1.3. RETRATAÇÃO
No tocante à retratação da representação, uma vez oferecida a representação, é possível retratar-se
(voltar atrás) dela até o OFERECIMENTO da denúncia.
Art. 25. A representação será irretratável, DEPOIS DE OFERECIDA a denúncia.
⚠ ATENÇÃO
LEI MARIA DA PENHA - É permitida a retratação (equivocadamente chamada de renúncia) até o
RECEBIMENTO da denúncia.
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só
será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal
finalidade, ANTES DO RECEBIMENTO da denúncia e ouvido o Ministério Público.
É possível fazer retratação da retratação? Feita a representação, a vítima se retrata (não deseja mais
representar). Depois, a vítima se arrepende de retratar-se, querendo representar novamente. Sim, é POSSÍVEL,
desde que respeitado o prazo decadencial de 6 meses.
45
EFICÁCIA OBJETIVA DA REPRESENTAÇÃO: Feita a representação contra apenas um dos coautores ou
partícipes, ela se ESTENDE aos demais autores.
⚠ ATENÇÃO
Uma vez realizada a representação em relação a um fato criminoso, ela NÃO SE ESTENDE aos demais
fatos criminosos.
7.2. AÇÃO PENAL CONDICIONADA À REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA
É a manifestação de vontade do Ministro da Justiça no sentido de que possui interesse na persecução
penal do fato delituoso, vigorando o princípio da oportunidade e conveniência.
Trata-se de condição específica da ação penal (condição de procedibilidade). Em outras palavras, sem o
seu implemento a ação penal não pode ter início.
NÃO VINCULAÇÃO (INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO): A requisição não
vincula o MP (independência funcional). O MP somente deverá denunciar se houver justa causa.
Quanto ao prazo, não há prazo decadencialpara requisição, o crime se sujeita apenas ao prazo
prescricional.
A doutrina majoritária defende que também é cabível a retratação da requisição, nos mesmos
moldes da representação, ou seja, enquanto não oferecida a denúncia.
8. AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA
Há situações em que o Estado, titular do direito de punir, transfere ao particular o direito de
PERSEGUIR a pena, legitimando-o à propositura da ação penal (privada).
Na ação penal privada, temos como peça inicial acusatória a QUEIXA-CRIME, que deverá ser proposta
por intermédio de um profissional da advocacia, inscrito na OAB, com capacidade postulatória.
DIREITO DE PUNIR DIREITO DE PERSEGUIR A PENA
Estado (indelegável) O Estado pode delegar ao particular (ação penal privada).
⚠ ATENÇÃO
Lembre-se que no silêncio da lei, a ação penal será pública incondicionada. Somente quando a lei
expressamente mencionar que “somente se procede mediante queixa” é que a ação penal será privada.
46
8.1. AÇÃO PENAL EXCLUSIVAMENTE PRIVADA
Nesta que é a REGRA, em caso de morte ou ausência do ofendido, ocorre a SUCESSÃO PROCESSUAL,
assumindo o polo ativo o CADI.
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de
oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (CADI)
Importante ressaltar que a legitimidade pertence também a(o) companheiro(a), tendo em vista a
equiparação da união estável ao casamento, é o entendimento da doutrina majoritária e do STJ:
A companheira, em união estável homoafetiva reconhecida, goza do mesmo status de cônjuge para o
processo penal, possuindo legitimidade para ajuizar a ação penal privada. STJ. Corte Especial. APn 912-RJ, Rel.
Min. Laurita Vaz, julgado em 07/08/2019 (Info 654).
8.2. AÇÃO PENAL PRIVADA PERSONALÍSSIMA
O direito de ação só pode ser exercido pelo ofendido. Em caso de morte do ofendido, não haverá
sucessão processual: haverá extinção da punibilidade, seja pela decadência (queixa ainda não proposta), seja
pela perempção (queixa já em trâmite).
Aqui, não caberá atuação do representante legal ou de curador especial.
⚠ ATENÇÃO
Temos aqui UM ÚNICO EXEMPLO: Induzimento a erro essencial ou ocultação de impedimento (Art.
236, CP). Assim, somente o contraente enganado pode propor a queixa-crime.
8.3. AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA
Inicialmente, trata-se de um direito fundamental da vítima, conforme o Art. 5º, LIX da CF:
Art. 5º (...) LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;
Assim, diante da inércia do Ministério Público em oferecer a denúncia, em crime de ação penal
pública, a vítima passa a ser COLEGITIMADA à propositura da ação penal, mediante queixa-crime
substitutiva.
Perceba que esta ação penal é essencialmente pública. Todavia, esgotado o prazo para o Ministério
Público oferecer a denúncia, a vítima passa a ser colegitimada. Isso não significa, entretanto, que o MP deixa de
ser legitimado, mas a vítima também passa a ter legitimidade ativa concorrente.
47
⚠ ATENÇÃO
O direito de ação privada subsidiária é inaplicável nos CRIMES VAGOS, pois delitos sem vítima
determinada, v.g. crime de perigo abstrato.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do Estado de Roraima (Ano: 2023, Banca: Instituto AOCP), foi
considerada correta a seguinte afirmativa: “A vítima poderá, em hipótese específica, provocar a prestação da
tutela jurisdicional, mesmo em crime de ação pública incondicionada”.
8.3.1. CABIMENTO
A ação privada subsidiária só é cabível em caso de inércia do Ministério Público, após o prazo
legal para oferecimento da denúncia (no CPP: 15 dias, se solto; 05 dias, se preso).
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal,
cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em
todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso
de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal (AÇÃO PENAL INDIRETA)
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em
que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou
afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo
da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.
⚠ ATENÇÃO
ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO: Em caso de arquivamento, não houve
inércia do Ministério Público, logo, não caberá a propositura de queixa subsidiária.
8.3.2. HIPÓTESES NA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
a) CRIMES DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: Temos aqui entidade e órgãos da
Administração direta ou indireta e Associações podem propor ação privada subsidiária da pública (Art. 80 e 82
do CDC).
Art. 80. No processo penal atinente aos crimes previstos neste código, bem como a outros crimes e
contravenções que envolvam relações de consumo, poderão intervir, como assistentes do Ministério
Público, os legitimados indicados no art. 82, inciso III e IV, aos quais também é facultado propor ação penal
subsidiária, se a denúncia não for oferecida no prazo legal.
Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
48
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade
jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 ano e que incluam entre seus fins institucionais
a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear
b) CRIMES FALIMENTARES: Temos aqui a possibilidade de o administrador judicial ou o credor
habilitado.
Art. 184. Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se refere o art. 187, § 1º, sem que o representante do Ministério
Público ofereça denúncia, qualquer credor habilitado ou o administrador judicial poderá oferecer ação
penal privada subsidiária da pública, observado o prazo decadencial de 6 (seis) meses.
8.3.3. PRAZO
O prazo DECADENCIAL para o oferecimento da queixa subsidiária é de 6 meses.
a) INÍCIO DO PRAZO: O prazo do ofendido para propor a queixa subsidiária começa a ser contado
assim que se esgota o prazo para o oferecimento da denúncia do Ministério Público.
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa
ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de 6 meses, contado do dia em que vier a saber
quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da
denúncia.
Parágrafo único. Verificar-se-á a decadência do direito de queixa ou representação, dentro do mesmo prazo,
nos casos dos arts. 24, parágrafo único, e 31.
Se o investigado for solto, o Ministério Público terá o prazo de 15 dias. Assim, a partir do 16º dia,
começa a correr o prazo da vítima para oferecer a queixa substitutiva.
b) DECADÊNCIA IMPRÓPRIA: Findo o prazo decadencial para que a vítima ofereça queixa subsidiária,
não ocorrerá extinção da punibilidade, porque o MP ainda poderá oferecer a denúncia até o término do
prazo prescricional.
A decadência do direito de queixa subsidiária, portanto, não extingue a punibilidade. Vejamos o
seguinte quadro:
ATÉ O 15º DIA EM CASO DE
INVESTIGADO SOLTO
Somente o MP pode oferecer a denúncia.
A PARTIR DO 16º DIA E ATÉ 6
MESES DEPOIS
Teremos legitimidade concorrente em que a vítima pode propor a ação
privada subsidiária e o MP a denúncia.
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PASSADOS OS 6 MESES
Ocorre a decadência imprópria em relação à vítima, mas o MP continua a
ser legitimado para oferecer a denúncia até o término do prazo
prescricional.
8.3.4. PODERES DO MINISTÉRIOPÚBLICO NA AÇÃO PÚBLICA SUBSIDIÁRIA
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal,
cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em
todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso
de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal (AÇÃO PENAL INDIRETA)
Temos, portanto, os seguintes poderes:
✓ Aditar a queixa-crime (v.g. querelante não incluiu um crime);
✓ Repudiar a queixa, oferecendo denúncia substitutiva (v.g. queixa inepta);
✓ Intervir em todos os termos do processo (v.g. participar de audiências);
✓ Fornecer elementos de prova (v.g. arrolar testemunhas e juntar documento);
✓ Interpor recurso;
✓ Retomar a titularidade da ação, em caso de negligência do querelante (AÇÃO PENAL INDIRETA).
9. EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE E AÇÃO PENAL DE INICIATIVA
PRIVADA
Há hipóteses previstas em lei que haverá a extinção da punibilidade do autor do delito caso
configuradas na ação penal de iniciativa privada. São elas a decadência, a renúncia, o perdão e a perempção.
9.1. DECADÊNCIA
É a perda do direito de ação penal privada ou de representação em virtude de seu não exercício no
prazo legal.
a) NATUREZA JURÍDICA: Tem natureza de causa extintiva de punibilidade (Art. 107, IV, CP). Além
disso, trata-se de um prazo FATAL e improrrogável: Não se suspende, nem se interrompe.
b) CONTAGEM: Como causa extintiva da punibilidade, o prazo é de natureza MATERIAL. Assim,
conta-se conforme o Art. 10 do CP:
50
Art. 10. O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo
calendário comum.
c) INÍCIO DO PRAZO: O prazo de 6 meses será contado a partir do momento do conhecimento da
autoria da infração penal. Aplicamos aqui a TEORIA DA ACTIO NATA.
9.2. RENÚNCIA
Ato unilateral pelo qual o ofendido abre mão do direito de queixa. Logo, não há necessidade de que
haja concordância do agente criminoso. A renúncia materializa o PRINCÍPIO DA OPORTUNIDADE (o ofendido
ou seu representante legal podem optar pelo oferecimento ou não da queixa-crime).
a) NATUREZA JURÍDICA: Causa extintiva da punibilidade (Art. 107, V, CP).
b) CABIMENTO: Apenas na ação penal exclusiva e na personalíssima. Não cabe na subsidiária.
Lembre-se que a ação subsidiária é essencialmente pública.
📌 OBSERVAÇÃO
O fato de o ofendido receber a indenização do dano causado pelo crime não implica em renúncia
tácita - art. 104, parágrafo único, CP.
Art. 104. Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível com a
vontade de exercê-lo; não a implica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano causado
pelo crime.
c) COMPOSIÇÃO CIVIL DOS DANOS (JECRIM): Trata-se de renúncia ao direito de queixa. Conforme o
Art. 74, §único da Lei 9.099/95:
Art. 74 (...) Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública
condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou
representação.
9.3. PERDÃO DO OFENDIDO
Ato bilateral pelo qual, no curso do processo, o querelante resolve perdoar o querelado. Temos aqui
a materialização do PRINCÍPIO DA DISPONIBILIDADE (o querelante poderá desistir da ação penal privada em
andamento (DESISTÊNCIA). O perdão exige a aceitação do querelado (pois é ato bilateral). Conforme o Art. 58,
CPP:
51
Art. 58. Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos autos, o querelado será intimado a dizer,
dentro de 3 dias, se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu SILÊNCIO
IMPORTARÁ ACEITAÇÃO.
a) NATUREZA JURÍDICA: Trata-se de causa de extinção da punibilidade (Art. 107, V, CP).
b) CABIMENTO: Só terá cabimento na ação privada exclusiva e na personalíssima.
Se o querelado não aceitar o perdão, o que poderá o querelante fazer? Poderá provocar a
perempção.
Qual o limite do perdão do ofendido? É possível o perdão até o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória (Ver. 106, §3º, CP).
🚩 NÃO CONFUNDA17: RENÚNCIA ≠ PERDÃO DO OFENDIDO
RENÚNCIA PERDÃO DO OFENDIDO
Causa extintiva da punibilidade nas hipóteses de
ação penal exclusivamente privada e de ação penal
privada personalíssima.
Causa extintiva da punibilidade nas hipóteses de
ação penal exclusivamente privada e de ação penal
privada personalíssima.
Decorre do princípio da oportunidade ou
conveniência
Decorre do princípio da disponibilidade.
Ato unilateral: não depende de aceitação Ato bilateral: depende de aceitação do querelado
É concedida antes do início do processo (até o
oferecimento da queixa-crime).
É concedido durante o curso do processo.
Por força do princípio da indivisibilidade, a renúncia
concedida a um dos coautores ou partícipes do delito
estende-se aos demais.
Por força do princípio da indivisibilidade, o perdão
concedido a um dos querelados estende-se aos
demais, mas desde que haja aceitação.
9.4. PEREMPÇÃO
Perda do direito de prosseguir na ação, em virtude de negligência do querelante.
Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-á PEREMPTA a ação penal:
17 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed. Juspodivm, 2020, p.355/356
52
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias
seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para
prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado
o disposto no art. 36 - CADI;
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que
deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.
a) NATUREZA JURÍDICA: Trata-se de causa de extinção da punibilidade (Art. 107, IV, CP).
b) CABIMENTO: ação privada exclusiva e personalíssima
10. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DOUTRINÁRIAS
10.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA
Diante da inércia de um órgão estatal, outro órgão estatal oferecerá a ação penal, em substituição.
Sua inserção como espécie de ação penal pública não é ponto pacífico na doutrina.18
a) CRIME DE RESPONSABILIDADE DE PREFEITOS (DECRETO-LEI 201/67): Se o MPE (PGJ) permanecer
inerte em oferecer a ação penal contra o prefeito, será possível pedir providências ao PGR (MPF). A doutrina
entende que este dispositivo atenta contra a autonomia dos ministérios públicos estaduais, sendo não
recepcionado pela CF.
b) CÓDIGO ELEITORAL (ART. 357, §§ 3º E 4º): Se o promotor eleitoral não oferecer denúncia, o juiz
poderá solicitar ao procurador regional eleitoral a designação de outro promotor para oferecer a denúncia ou
oferecer pessoalmente denúncia. Vejamos:
Art. 357 (...)
§ 3º Se o órgão do Ministério Público não oferecer a denúncia no prazo legal representará contra ele a
autoridade judiciária, sem prejuízo da apuração da responsabilidade penal.
§ 4º Ocorrendo a hipótese prevista no parágrafo anterior o juiz solicitará ao Procurador Regional a designação
de outro promotor, que, no mesmo prazo, oferecerá a denúncia.
c) INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA (violação a direitos humanos): Conforme o
Art. 109, §5º da CF:
Art. 109 (...) § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a
18 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed. Juspodivm, 2020, p.318.
53
finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos
humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer
fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.
10.2. AÇÃO PENAL POPULAR
Parcela da doutrina discute a possibilidade de qualquer do povo proporuma ação penal. Hipóteses:
a) HABEAS CORPUS: O CPP prevê que o HC pode ser proposto por qualquer pessoa. Assim, parcela da
doutrina aponta o HC como exemplo possível de ação penal popular. Todavia, outra parcela critica no seguinte
sentido: Não se trata de ação penal CONDENATÓRIA popular.
b) CRIME DE RESPONSABILIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA OU MINISTRO DE ESTADO (Art.
14, Lei 1.079/50)
Art. 14. É permitido a qualquer cidadão denunciar o PR ou Ministro de Estado, por crime de responsabilidade,
perante a câmara dos deputados.
🔔 Crítica: A expressão “denúncia” é, na verdade, uma “notitia criminis” dirigida à Câmara dos
deputados e não a peça acusatória de uma ação penal condenatória. Além disso, a Lei 1.079/50 não tipifica
crimes, mas sim infrações político-administrativas. Assim, não se trata de ação penal condenatória popular.
10.3. AÇÃO PENAL ADESIVA
1ª CORRENTE (MAJORITÁRIA) 2ª CORRENTE (MINORITÁRIA)
O Ministério Público oferece denúncia em crimes de
ação penal privada, desde que haja interesse
público.
Seria um litisconsórcio ativo entre o MP, em crime de
ação penal pública, e o querelante, em crimes de
ação penal privada.
10.4. AÇÃO DE PREVENÇÃO PENAL
Ação penal ajuizada com o objetivo de aplicar medida de segurança ao inimputável. O objetivo é a
prolação de uma sentença absolutória imprópria. Para Tourinho Filho, a ação penal condenatória é gênero com
duas espécies: a ação penal propriamente dita, tendo por finalidade a aplicação a pena privativa de liberdade, e
a ação de prevenção penal, visando à imposição de medida de segurança.19
19 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal. 31ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009. p. 515.
54
10.5. AÇÃO PENAL SECUNDÁRIA
Ocorre na hipótese em que a lei estabelece uma espécie de ação penal para determinado crime,
porém, em virtude do surgimento de circunstâncias especiais, passa a prever, secundariamente, uma nova
espécie de ação penal para essa infração.20
Exemplo: Furto – ação pública incondicionada. O furto cometido contra as pessoas do Art. 182, CP,
será de ação penal pública condicionada à representação.
Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em
prejuízo: 
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.
10.6. AÇÃO PENAL INDIRETA
Quando o querelante abandona a ação penal privada subsidiária da pública e o MP reassume o polo
ativo da ação penal.
10.7. AÇÃO PENAL EXTENSIVA
Segundo Norberto Avena, “relativa aos crimes complexos, esta modalidade de ação penal decorre do
art. 101, do CP, dispondo que “quando a lei considera como elemento ou circunstâncias do tipo legal fatos que,
por si mesmos, constituem crimes, cabe ação pública em relação àquele, desde que, em relação a qualquer
destes, se deva proceder por iniciativa do Ministério Público”. Por crime complexo entende-se aquele que surge
da conjugação de dois ou mais crimes. Exemplo clássico é o crime de roubo, correspondente à junção dos
crimes relativos à ameaça ou à violência com o delito de furto. Pois bem, de acordo com o referido art. 101 do
CP, se, na formação do crime complexo, um dos delitos, na sua forma autônoma, deva ser apurado
mediante ação penal privada e o(s) remanescente(s), por meio de ação penal pública, esta última
modalidade deverá prevalecer, abrangendo toda a conduta do agente.21”
11. PEÇA ACUSATÓRIA
AÇÃO PENAL PÚBLICA AÇÃO PENAL PRIVADA
Denúncia (Ministério Público) Queixa-crime (querelante/ofendido)
21 Avena, Norberto. Processo Penal. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022.
20 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed. Juspodivm, 2020, p.359.
55
11.1. REQUISITOS
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a EXPOSIÇÃO DO FATO criminoso, com todas as suas circunstâncias, a
QUALIFICAÇÃO DO ACUSADO ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a CLASSIFICAÇÃO do
CRIME e, quando necessário, o ROL DAS TESTEMUNHAS.
11.1.1. EXPOSIÇÃO DO FATO CRIMINOSO E CIRCUNSTÂNCIAS
A peça acusatória deve narrar pormenorizadamente a conduta imputada, sob pena de cerceamento
de defesa.
⚠ ATENÇÃO
CRIPTOIMPUTAÇÃO: Trata-se da peça acusatória com DEFICIÊNCIA na narrativa do fato criminoso
(inépcia). Em virtude disso, a peça acusatória será REJEITADA (juízo de admissibilidade negativo).
4. Pontue-se a necessária distinção conceitual entre denúncia geral e genérica, essencial para aferir a
regularidade da peça acusatória no âmbito das infrações de autoria coletiva, em especial nos crimes
societários (ou de gabinete), que são aqueles cometidos por representantes (administradores, diretores ou
quaisquer outros membros integrantes de órgão diretivo, sejam sócios ou não) da pessoa jurídica, em
concurso de pessoas. A denúncia genérica caracteriza-se pela imputação de vários fatos típicos,
genericamente, a integrantes da pessoa jurídica, sem delimitar, minimamente, qual dos denunciados teria
agido de tal ou qual maneira. Patente, pois, que a criptoimputação da denúncia genérica vulnera os
princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, bem como a norma extraída do art. 8º, 2,
"b" e "c", da Convenção Americana de Direitos Humanos e do art. 41 do CPP, haja vista a indevida
obstaculização do direito conferido ao acusado de preparar dignamente sua defesa. (STJ, RHC n.
45.872/MG, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 17/8/2017, DJe de 28/8/2017.)
🚩 NÃO CONFUNDA: DENÚNCIA GENÉRICA ≠ DENÚNCIA GERAL
DENÚNCIA GENÉRICA DENÚNCIA GERAL
Aponta fato incerto e imprecisamente descrito.
Caracteriza-se pela imputação de vários fatos típicos,
genericamente, a integrantes da pessoa jurídica, sem
delimitar, minimamente, qual dos denunciados teria
agido de tal ou qual maneira
Há acusação da prática de fato específico atribuído a
diversas pessoas, ligadas por circunstâncias comuns,
mas sem a indicação minudente da responsabilidade
interna e individual dos imputados.
Segundo o STF, “2. Não há abuso de acusação na denúncia que, ao tratar de crimes de autoria coletiva, deixa,
por absoluta impossibilidade, de esgotar as minúcias do suposto cometimento do crime. 3. Há diferença
entre denúncia genérica e geral. Enquanto naquela se aponta fato incerto e imprecisamente descrito,
na última há acusação da prática de fato específico atribuído a diversas pessoas, ligadas por
56
circunstâncias comuns, mas sem a indicação minudente da responsabilidade interna e individual dos
imputados. 4. Nos casos de denúncia que verse sobre delito societário, não há que se falar em inépcia
quando a acusação descreve minimamente o fato tido como criminoso.” (HC 118891-SP).
De igual maneira, para o STJ:
Pontue-se a necessária distinção conceitual entre denúncia geral e genérica, essencial para aferir a
regularidade da peça acusatória no âmbito das infrações de autoria coletiva, em especial nos crimes
societários (ou de gabinete), que são aqueles cometidos por representantes (administradores, diretores ou
quaisquer outros membros integrantes de órgão diretivo, sejam sócios ou não) da pessoa jurídica, em
concurso de pessoas. A denúncia genérica caracteriza-se pela imputação de vários fatos típicos,
genericamente, a integrantes da pessoa jurídica, sem delimitar, minimamente, qual dos denunciados teria
agido de tal ou qual maneira. STJ, RHC 96.507/PE, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
17/10/2019, DJe 29/10/2019.
Na hipótese dos autos, assevera o recorrente ser inepta a denúncia, uma vez que não descreve de forma
adequada sua participação nos fatos imputados na denúncia. Importante esclarecer que não se pode
confundir a denúncia genérica com a denúncia geral, pois o direito pátrio não admite denúncia genérica,
sendo possível, entretanto, nos casos de crimes societários e de autoria coletiva, a denúncia geral, ou seja,
aquela que, apesar de não detalhar minudentemente as ações imputadas ao denunciado,demonstra, ainda
que de maneira sutil, a ligação entre sua conduta e o fato delitivo. STJ, RHC 54.075/RS, Rel. Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe 01/08/2017.
🚩 NÃO CONFUNDA: IMPUTAÇÃO IMPLÍCITA ≠ IMPUTAÇÃO ALTERNATIVA
IMPUTAÇÃO IMPLÍCITA IMPUTAÇÃO ALTERNATIVA
A imputação deve ser clara, precisa e completa.
O art. 41 do CPP estabelece que a denúncia deve
proceder à exposição do fato criminoso, com todas
as suas circunstâncias, dessa forma, a imputação
implícita acarreta evidente prejuízo ao exercício
do direito de defesa.
Afrânio Silva Jardim pontua que ocorre imputação
alternativa “quando a peça acusatória vestibular
atribui ao réu mais de uma conduta penalmente
relevante, asseverando que apenas uma delas
efetivamente terá sido praticada pelo imputado,
embora todas se apresentem como prováveis, em
face da prova do inquérito”22.
Segundo Renato Brasileiro (2020, p.391), a maioria da
doutrina “se posiciona contrariamente a ela, já que,
ainda quando houver compatibilidade entre os fatos
imputados, seu oferecimento quase sempre
22 JARDIM, Afrânio Silva. Direito Processual Penal. 11ª ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2002. p. 149.
57
acarreta dificuldades ao exercício do direito de
defesa.”
IMPUTAÇÃO ALTERNATIVA OBJETIVA23
“Refere-se à alternatividade quanto aos dados
objetivos do fato narrado, podendo ser de duas
espécies:
a) imputação alternativa objetiva ampla: é aquela
que incide sobre a ação principal, furto ou receptação;
b) imputação alternativa objetiva restrita: é aquela
que se refere a uma circunstância qualificadora.”
IMPUTAÇÃO ALTERNATIVA SUBJETIVA24
“diz respeito ao sujeito passivo da imputação,
subdivide-se em:
a) simples: a alternatividade decorre de dúvida sobre
a autoria do crime, como ocorre nos exemplos em
que os investigados se acusam reciprocamente,
sendo contraditórios os elementos de informação
colhidos no inquérito (v.g., briga em bares);
b) complexa: é aquela que abrange não só o autor do
delito, como também a própria infração penal.”
IMPUTAÇÃO ALTERNATIVA ORIGINÁRIA
“Na denúncia ou na queixa, os fatos delituosos já são
atribuídos de maneira alternativa ao agente
(imputação alternativa objetiva ampla originária).”
IMPUTAÇÃO ALTERNATIVA SUPERVENIENTE
“Resultava do aditamento da peça acusatória nos
casos de mutatio libelli, prevista na redação original
do parágrafo único do art. 384 do CPP, antes das
alterações produzidas pela reforma processual de
2008 (...) De acordo com a nova redação do art. 384, §
24 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed. Juspodivm, 2020, p.391.
23 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed. Juspodivm, 2020, p.390.
58
4º, do CPP, havendo aditamento, ficará o juiz, na
sentença, adstrito aos termos do aditamento.”
11.1.2. QUALIFICAÇÃO DO ACUSADO
O acusado deverá ser qualificado ou deverão ser indicadas suas características físicas.
Art. 259. A impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos
não retardará a ação penal, quando certa a identidade física. A qualquer tempo, no curso do processo, do
julgamento ou da execução da sentença, se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a retificação, por termo,
nos autos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes.
11.1.3. CLASSIFICAÇÃO DO CRIME
Trata-se da tipificação penal da conduta imputada. O acusado se defende dos fatos imputados (não
da capitulação jurídica). Assim, é possível a aplicação do Art. 383 do CPP (Emendatio libelli).
Art. 383. [EMENDATIO LIBELLI] O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa,
poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais
grave
11.1.4. ROL DE TESTEMUNHAS
O Ministério Público e o querelante devem arrolar as testemunhas na peça acusatória, sob pena de
PRECLUSÃO consumativa. Quanto ao número de testemunhas, vejamos o quadro:
PROCEDIMENTO COMUM Até 8 (por fato criminoso)
PROCEDIMENTO SUMÁRIO Até 5
PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO Até 3
1ª FASE DO JÚRI Até 8
PLENÁRIO DO JÚRI Até 5
DROGAS Até 5
Sem prejuízo das testemunhas arroladas pelas partes, o juiz poderá ouvir as chamadas
“testemunhas do juízo”.
59
11.2. PROCURAÇÃO NA QUEIXA-CRIME
PODERES ESPECIAIS: nome do querelado emenção do fato criminoso. Conforme o Art. 44, CPP:
Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento
do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos
dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal.
Na Jurisprudência:
Não se desconhece a existência de precedentes desta Corte Superior de Justiça no sentido de que a
exigência contida no artigo 44 do Código de Processo Penal, consistente na menção do fato criminoso
no aludido documento, é cumprida com a indicação do dispositivo de Lei no qual o querelado é dado
como incurso.
Para que reste atendido o comando contido no art. 44 do CPP, é indispensável que a procuração contenha
uma descrição, ainda que sucinta, dos fatos a serem abordados na queixa-crime. Doutrina. Precedentes do STJ
e do STF. No caso dos autos, a procuração ofertada pela querelante não contém a descrição, ainda que
sucinta, dos fatos a serem apurados com o oferecimento de queixa-crime, não estando atendida a exigência
contida no artigo 44 da Lei Penal Adjetiva. Eventual defeito na representação processual da querelante só
pode ser sanado dentro do prazo decadencial previsto no art. 38 do CPP. O intuito de abrigar o pleito
acusatório e determinar que a inicial seja recebida, in casu, exige o revolvimento do material fático-probatório,
providência exclusiva das instâncias ordinárias, vedada a este Sodalício em sede de Recurso Especial, ante o
óbice do Enunciado Nº (STJ; AgRg-REsp 1.673.988; Proc. 2017/0128746-9; SP; Quinta Turma; Rel. Min. Jorge
Mussi; Julg. 22/05/2018; DJE 28/05/2018; Pág. 2559)25
Para que o advogado proponha queixa-crime em nome do seu cliente, ele precisa ter recebido
procuração com poderes especiais para praticar esse ato. Se o cliente outorga procuração sem conferir
poderes ao advogado para ajuizar queixa-crime, este advogado não pode oferecer substabelecimento a
outro advogado mencionando que este terá poderes para propor queixa-crime. Ora, se o advogado
originário não recebeu poderes para ajuizar queixa-crime, ele não poderá substabelecer para outro advogado
poderes para propor queixa-crime. Em palavras mais simples, o advogado não pode substabelecer poderes
que não recebeu. Apenas os poderes originariamente outorgados podem ser transferidos. Assim, deve ser tida
por inexistente a inclusão, ao substabelecer, de poderes especiais para a propositura de ação penal privada,
se eles não constavam do mandato originário. Portanto, cabe reconhecer a nulidade da queixa-crime, por vício
de representação, tendo em vista que a procuração outorgada para a sua propositura não atende às
exigências do art. 44 do CPP. STJ. 6ª Turma. RHC 33790-SP, Rel. originário Min. Maria Thereza De Assis Moura,
Rel. para Acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 27/6/2014 (Info 544).26
26 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Poderes especiais para advogado propor queixa-crime. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
25 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Procuração para queixa-crime. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2022
60
Para que seja protocolizada queixa-crime é necessária capacidade postulatória. A procuração outorgada
pelo querelante ao seu advogado para o ajuizamento de queixa-crime é uma procuração com poderes
especiais. Nesta procuração deve constar o “nome do querelado” e a “menção ao fato criminoso”. Para o
STJ,“menção ao fato criminoso” significa que, na procuração, basta que seja mencionado o tipo penal ou o
nomen iuris do crime, não precisando identificar a conduta. Para o STF, “menção ao fato criminoso” significa
que, na procuração, deve ser individualizado o evento delituoso, não bastando que apenas se mencione o
nomen iuris do crime. Caso haja algum vício na procuração para a queixa-crime, esse vício deverá ser corrigido
antes do fim do prazo decadencial de 6 meses, sob pena de decadência e extinção da punibilidade. STF. 2ª
Turma. RHC 105920/RJ, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 8/5/2012 (Info 665).
O vício na representação processual do querelante é sanável, desde que dentro do prazo decadencial. STJ.
5ª Turma. AgRg no REsp 1392388/MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 18/08/2015.27
11.3. PRAZO PARA OFERECIMENTO DA DENÚNCIA - Art. 46, CPP
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em
que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou
afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo
da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.
§ 1o Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o prazo para o oferecimento da denúncia
contar-se-á da data em que tiver recebido as peças de informações ou a representação
RÉU PRESO RÉU SOLTO
CPP 5 DIAS 15 DIAS
DROGAS 10 DIAS
ECONOMIA POPULAR 2 DIAS
CÓDIGO ELEITORAL 10 DIAS
11.4. PRAZO PARA OFERECIMENTO DA QUEIXA
O prazo será sempre de 6 meses. Todavia, questão importante é saber sobre o início da contagem do
prazo:
27 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Procuração para queixa-crime. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
61
INÍCIO DA CONTAGEM DO PRAZO DE 6 MESES
AÇÃO PRIVADA EXCLUSIVA E PERSONALÍSSIMA AÇÃO PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA
A partir do conhecimento da autoria (“actio nata”) Esgotamento do prazo do MP para oferecer
denúncia.
LEMBRE-SE: na ação exclusiva e na personalíssima teremos uma decadência própria caso não seja
cumprido o prazo, gerando a extinção da punibilidade. No caso da subsidiária, a decadência é imprópria.
12. PONTOS IMPORTANTES NA JURISPRUDÊNCIA
a) Inexistindo a demonstração do mínimo vínculo entre o acusado e o delito a ele imputado,
impossibilitado está o exercício do contraditório e da ampla defesa.
Inexistindo a demonstração do mínimo vínculo entre o acusado e o delito a ele imputado, impossibilitado está
o exercício do contraditório e da ampla defesa. STJ. 6ª Turma. RHC 154.162-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 22/03/2022 (Info 730).28
b) Recebimento da denúncia e princípio do in dubio pro societate.
No momento da denúncia, prevalece o princípio do in dubio pro societate. STF. 1ª Turma. Inq 4506/DF, rel. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/04/2018 (Info 898).29
⚠ ATENÇÃO
Para o STJ, é possível ao Juiz reconsiderar a decisão de recebimento da denúncia, para rejeitá-la,
quando acolhe matéria suscitada na resposta preliminar defensiva relativamente às hipóteses previstas nos
incisos do art. 395 do Código de Processo Penal.
🚨 JÁ CAIU
Na prova de juiz do TJ-SC (Ano: 2022 Banca: FGV), foi considerada correta a seguinte afirmação: De acordo com
a doutrina e a jurisprudência dominantes nos Tribunais Superiores, no tocante ao exercício da ação penal, suas
29 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Princípio do in dubio pro societate. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
.
28 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Inexistindo a demonstração do mínimo vínculo entre o acusado e o delito a ele imputado, impossibilitado está o
exercício do contraditório e da ampla defesa. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2022
62
condições e o respectivo controle jurisdicional, é correto afirmar que não poderá o juiz, de ofício, fora dos casos
de absolvição sumária, rever a decisão que recebeu a denúncia para rejeitá-la.
c) Trancamento de inquérito policial por excesso de prazo e oferecimento de denúncia
O eventual trancamento de inquérito policial por excesso de prazo não impede, sempre e de forma
automática, o oferecimento da denúncia STF. 2ª Turma. HC 194023 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
15/09/2021.30
d) Denúncia e Teoria do Domínio do Fato
Não há óbice para que a denúncia invoque a teoria do domínio do fato para dar suporte à imputação penal,
sendo necessário, contudo, que, além disso, ela aponte indícios convergentes no sentido de que o Presidente
da empresa não só teve conhecimento do crime de evasão de divisas, como dirigiu finalisticamente a atuação
dos demais acusados. Assim, não basta que o acusado se encontre em posição hierarquicamente superior.
Isso porque o próprio estatuto da empresa prevê que haja divisão de responsabilidades e, em grandes
corporações, empresas ou bancos há controles e auditorias exatamente porque nem mesmo os sócios têm
como saber tudo o que se passa. STF. 2ª Turma. HC 127397/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/12/2016
(Info 850).31
e) Denúncia e lastro probatório
Deve ser rejeitada a queixa-crime que, oferecida antes de qualquer procedimento prévio, impute a prática de
infração de menor potencial ofensivo com base apenas na versão do autor e na indicação de rol de
testemunhas, desacompanhada de Termo Circunstanciado ou de qualquer outro documento hábil a
demonstrar, ainda que de modo indiciário, a autoria e a materialidade do crime. STJ. 5ª Turma. RHC 61822-DF,
Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 17/12/2015 (Info 577).32
f) Denúncia e Norma Penal em Branco
A denúncia que deixa de mencionar a legislação complementar a que se refere o tipo penal não atende o
disposto no art. 41 do CPP porque não descreve por completo a conduta delitiva, dificultando a compreensão
da acusação e, por conseguinte, o exercício do direito de defesa. STJ. 5ª Turma. RHC 64430/SP, Rel. Min. Gurgel
32 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Rejeição de queixa-crime desacompanhada de documentos hábeis a demonstrar, ainda que de modo indiciário, a
autoria e a materialidade do crime. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
31 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Inépcia caso a denúncia se baseie apenas no fato de que o réu era Diretor-Presidente da empresa. Buscador Dizer
o Direito, Manaus. Disponível em: 
30 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O eventual trancamento de inquérito policial por excesso de prazo não impede, sempre e de forma automática, o
oferecimento da denúncia. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
63
de Faria, julgado em 19/11/201533.
g) Queixa-crime e elemento subjetivo
Deve ser rejeitada a queixa-crime que impute ao querelado a prática de crime contra a honra, mas que se
limite a transcrever algumas frases, escritas pelo querelado em sua rede social, segundo as quais o querelante
seria um litigante habitual do Poder Judiciário (fato notório, publicado em inúmeros órgãos de imprensa), sem
esclarecimentos que possibilitem uma análise do elemento subjetivo da conduta do querelado consistente no
intento positivo e deliberado de lesar a honra do ofendido. STJ. Corte Especial. AP 724-DF, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 20/8/2014 (Info 547).34
34 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Queixa-crime deverá demonstrar o elemento subjetivo do agente. Buscadorda ação deve ser analisada por ocasião do juízo de
admissibilidade da peça acusatória. A denúncia ou queixa deve ser rejeitada pelo magistrado quando faltar
condição para o exercício da ação penal (CPP, art. 395, II). Se, no entanto, isso não ocorrer por ocasião do
juízo de admissibilidade da peça acusatória, é perfeitamente possível o reconhecimento de nulidade
absoluta do processo, em qualquer instância, com fundamento no art. 564, inciso II, do CPP – o dispositivo
refere-se apenas à ilegitimidade de parte, mas, por analogia, também pode ser aplicado às demais
condições da ação penal. Há quem entenda que também seria possível a extinção do processo sem
julgamento do mérito, aplicando-se, por analogia, o disposto no art. 485, VI, do NCPC.
As condições da ação classificam-se em duas ordens: i) as condições gerais ou genéricas e ii) as
condições especiais ou específicas. Quando ausentes, segundo o CPP, implicarão em rejeição da denúncia ou
queixa pelo Estado-Juiz.
São condições genéricas aquelas que devem estar presentes em qualquer ação penal, independente da
natureza ou do tipo penal infringido. Neste grupo, encontram-se: i) o interesse de agir, ii) a legitimidade “ad
causam” ativa e passiva e iii) a justa causa.
Quanto às condições especiais ou específicas da ação – também chamadas de condições de
procedibilidade, ao contrário das condições genéricas que são exigidas para todas as espécies de ação penal,
elas devem estar presentes apenas em determinadas ações penais. É que, as condições específicas dizem
respeito ao próprio exercício da ação penal e são exigidas a partir de previsão expressa.
Incluem-se neste rol de hipóteses i) a representação do ofendido, que é exigida nas ações penais
públicas condicionadas à representação daquele; ii) a requisição do Ministro da Justiça, que é exigida nas ações
penais públicas condicionadas à sua requisição; iii) a presença de provas novas quando o inquérito policial tiver
sido arquivado com base na ausência de elementos probatórios; iv) a presença de provas novas após a
preclusão da decisão de impronúncia em crimes dolosos contra a vida (art. 414, do CPP); v) a presença de laudo
pericial nos crimes contra a propriedade imaterial (art. 525, do CPP); vi) a autorização por 2/3 dos membros da
Câmara dos Deputados para instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os
Ministros de Estado (art. 51, I, da CF/88) e vii) o trânsito em julgado da sentença que anule o casamento por
6
motivo de erro ou impedimento nos crimes de induzimento a erro essencial e de ocultação de impedimento de
casamento (art. 236, parágrafo único, do CP).
Abaixo, aprofundaremos melhor todas elas.
3.1. CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PENAL
No tocante às condições genéricas da ação penal, temos duas correntes doutrinárias:
1ª CORRENTE (MAJORITÁRIA) 2ª CORRENTE (AURY LOPES JUNIOR)
As condições seriam as mesmas do processo civil,
adicionando-se a “justa causa”. Assim, teríamos
legitimidade, interesse e justa causa para a ação
penal. Portanto, aplicamos aqui o Art. 17 do CPC.
O processo penal tem peculiaridades que demandam
condições próprias do processo penal, quais sejam:
a) Fato aparentemente criminoso;
b) Punibilidade concreta;
c) Legitimidade e justa causa.
3.1.1. LEGITIMIDADE AD CAUSAM OU LEGITIMIDADE PARA AGIR
Através da terceira condição genérica, legitimidade “ad causam” (ou legitimidade para agir) ativa e
passiva, diz-se que é necessário que a propositura da inicial acusatória (denúncia ou queixa) seja patrocinada
pelos respectivos legitimados ativos – Ministério Público, ofendido ou pessoas do art. 31 do Código de Processo
Penal, conforme o caso.
Já o legitimado passivo deve ser o provável autor do delito, maior de idade no momento da conduta,
já que os menores de idade são inimputáveis (art. 228, da CF/88), sujeitos à disciplina dos atos infracionais do
Estatuto da Criança e do Adolescente.
A legitimidade, portanto, é a pertinência subjetiva para a ação, ou seja, é a capacidade de constar
do polo ativo ou do polo passivo da ação penal.
Há legitimidade quanto o autor é titular do direito subjetivo material que se pretende proteger, assim
como quando o demandado é o titular da obrigação correspondente ao seu direito.
⚠ CUIDADO
A ilegitimidade ad causam consiste em nulidade absoluta do processo penal, nos termos do art. 564, II,
do CPP.
3.1.1.1. LEGITIMIDADE ATIVA
a) Ação penal pública: Ministério Público (dominus littis), conforme o Art. 129, I da CF.
b) Ação penal privada: O querelante (sujeito passivo da infração).
7
Em termos de legitimidade, a regra geral está consagrada no art. 18 do CPC, que prevê que somente o
titular do alegado direito poderá pleitear em nome próprio seu próprio interesse. É o que se denomina de
legitimação ordinária. Portanto, em regra, alguém só pode agir, em nome próprio, na defesa de interesse
próprio. É o que ocorre no âmbito processual penal, nas hipóteses de ação penal pública, pois, na medida em
que a Constituição Federal outorga ao Ministério Público a titularidade da ação penal pública, é evidente que o
parquet age em nome próprio na defesa de interesse próprio.
Mas, se a regra é a legitimação ordinária, excepcionalmente, e desde que autorizado por lei, o
ordenamento jurídico prevê situações em que alguém pode pleitear, em nome próprio, direito alheio. É o que
se denomina de legitimação extraordinária ou substituição processual.
Aqui, a doutrina costuma citar como exemplo a ação penal de iniciativa privada. Nessa espécie de ação
penal, o Estado, titular exclusivo do direito de punir, transfere a legitimidade para a propositura da ação penal à
vítima ou ao seu representante legal, a eles concedendo o jus persequendi in judicio. Cuida-se, portanto, de
hipótese de legitimação extraordinária, já que o ofendido age, em nome próprio, na defesa de um interesse
alheio, pois o Estado continua sendo o titular da pretensão punitiva.
⚠ CUIDADO
Súmula 714-STF: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,
condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em
razão do exercício de suas funções.
Com o teor da Súmula n.º 714 do STF, pois, conforme a doutrina e jurisprudência majoritárias, trata-se
de uma LEGITIMIDADE ALTERNATIVA, isto é, ou o ofendido representa e o MP oferece a denúncia ou o
ofendido resolve, por si só, oferecer a queixa-crime. Não é possível, portanto, que, ao mesmo tempo, o
ofendido represente e ofereça a queixa-crime, devendo optar por uma das opções.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do Estado da Bahia (Ano: 2023, Banca CESPE/CEBRASPE), foi
considerada correta a seguinte afirmativa: “De acordo com a jurisprudência do STF, a propositura da ação
penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções é de legitimidade
concorrente do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, mediante ação penal condicionada à
representação do ofendido”.
Na prova de técnico do TRT - 13ª Região (PB) (Ano: 2022 Banca: FGV), foi considerada correta a seguinte
afirmação: Cristiano é servidor público do Tribunal Regional do Trabalho há mais de 10 anos e, no exercício de
suas funções, foi vítima de crime contra a honra praticado por Rodrigo, um jurisdicionado. Nessa hipótese, é
correto afirmar que Cristiano, mediante queixa-crime, e o Ministério Público, mediante representação do
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ofendido, possuem legitimidade concorrente.
3.1.1.2.LEGITIMIDADE PASSIVA
Pode ser acusado do cometimento de infração penal:
● Pessoa física com 18 anos completos, inclusive o inimputável por anomalia mental;
● Pessoa jurídica, em crimes ambientais.
📌 OBSERVAÇÃO
A jurisprudência pátria superou a TEORIA DE DUPLA IMPUTAÇÃO, não sendo mais condicionante da
responsabilização da pessoa jurídica que a pessoa física também seja responsabilizada. Assim, atualmente, é
possível a responsabilização penal da pessoa jurídicaDizer o Direito, Manaus. Disponível
em: 
33 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em caso de norma penal em branco, a denúncia deverá explicitar qual é o complemento, sob pena de ser
considerada inepta. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
por delitos ambientais independentemente da
responsabilização concomitante da pessoa física que agia em seu nome.3
Segundo o entendimento atual da jurisprudência, é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica
por delitos ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa física que
agia em seu nome. A jurisprudência não mais adota a chamada teoria da "dupla imputação". STJ. 6ª Turma.
RMS 39.173-BA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 6/8/2015 (Info 566). STF. 1ª Turma. RE
548181/PR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/8/2013 (Info 714)4.
🚩 NÃO CONFUNDA5
■ “Legitimidade ad causam não se confunde com legitimatio ad processum, fenômeno relacionado à
capacidade de estar em juízo, tida como pressuposto processual de validade. Essa capacidade processual
refere-se à capacidade de exercer direitos e deveres processuais, ou seja, de praticar validamente atos
processuais. É o que ocorre com um ofendido menor de 18 (dezoito) anos, que não tem capacidade
processual para oferecer queixa-crime, razão pela qual sua incapacidade é suprida por seu representante
legal.”
■ “Capacidade processual, por sua vez, não se confunde com capacidade postulatória, assim
compreendida a aptidão para postular perante órgãos do Poder Judiciário. Supondo, assim, ofendido que
não seja advogado inscrito nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil, o ajuizamento da queixa-crime
deverá ser feito por advogado com poderes especiais (CPP, art. 44).”
■ “Não se pode confundir o conceito de legitimidade ad causam com o de capacidade de ser parte,
pressuposto de existência de um processo. A capacidade de ser parte deriva da personalidade, consistindo
na capacidade de adquirir direitos e contrair obrigações (CC, art. 1º). No âmbito processual penal, além de
5 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed. Juspodivm, 2020, p.299.
4 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Responsabilidade penal da pessoa jurídica e abandono da dupla imputação. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: .
3 https://www.dizerodireito.com.br/2015/10/e-possivel-responsabilizacao-penal-da.html
9
pessoas físicas e jurídicas, é interessante perceber que alguns “entes” também são considerados como pessoas
formais.”
3.1.2. INTERESSE DE AGIR
É composto por 3 elementos: necessidade, adequação e utilidade.
a) NECESSIDADE DE OBTENÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL PLEITEADA
No processo penal, a ação penal é sempre necessária para obtenção de uma sentença condenatória
definitiva (nulla poena sine judicio), ante o devido processo penal.
Segundo Renato Brasileiro (2020, p. 302):
A ressalva à possibilidade de aplicação de pena sem processo no âmbito processual penal fica por conta
da transação penal no âmbito dos Juizados Especiais Criminais (Lei nº 9.099/95, art. 76). Presentes os
pressupostos objetivos e subjetivos, deverá o titular da ação penal formular proposta de aplicação imediata
de pena restritiva de direitos ou de multa. Nesse caso, ainda não há processo. O ato compositivo ocorre
por ocasião da audiência preliminar, logo, antes do oferecimento da denúncia.
b) ADEQUAÇÃO ENTRE O PEDIDO E A PROTEÇÃO JURISDICIONAL QUE SE PRETENDE OBTER
No processo penal, a ação penal condenatória sempre será adequada à obtenção da tutela jurisdicional
pretendida (sentença condenatória).
A relevância da adequação se fará presente nas ações penais não condenatórias (HC). Vejamos a
súmula 693, STF:
Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por
infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.
c) UTILIDADE
Só será útil a ação penal em que haja a possibilidade concreta de aplicação de uma sanção penal (v.g.
prescrição virtual – Não é aceita pelos tribunais superiores).
📌 OBSERVAÇÃO
O STF e o STJ consideram inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva
com fundamento em pena hipotética, também denominada de prescrição virtual, em perspectiva, por
prognose”, “projetada” ou “antecipada” (Súmula 438-STJ). Mas, como ressalta Renato Brasileiro (2020, p.
305) ao falar sobre o interesse de agir, “qual seria a utilidade de um processo penal, com grande desperdício de
atos processuais, de tempo, de trabalho humano, etc., se, antecipadamente, já se pode antever que não haverá
resultado algum?”
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3.1.3. JUSTA CAUSA
No que se refere à justa causa, temos que ela não é condição da ação pacífica na doutrina. Ainda assim,
consta no art. 395, do CPP, como uma das causas de rejeição da denúncia ou queixa, se ausente. Quanto ao seu
conteúdo, a justa causa representa o lastro probatório mínimo, indicativo da autoria e da materialidade
da infração penal, necessário para o oferecimento da denúncia ou queixa. Funciona, pois, como uma
condição de garantia contra o uso abusivo do direito de acusar, evitando a instauração de processos levianos
ou temerários, ou seja, evita-se que sejam ajuizadas ações penais infundadas.
Esse lastro probatório mínimo que dá suporte à acusação evita a instauração de processos criminais
temerários. Por isso, para a deflagração da ação exige-se que haja, cumulativamente:
✓ Certeza da existência da infração penal;
✓ Indícios suficientes de autoria.
A justa causa para a ação penal é obtida, como regra, pelos elementos de informação produzidos na
fase investigatória no bojo do inquérito policial ou de outro procedimento investigatório preliminar à ação
penal.
📌 OBSERVAÇÃO
Com a reforma do CPP pela Lei nº 13.964/19, o inquérito não poderá mais acompanhar a denúncia
quando do seu encaminhamento do juiz das garantias ao juiz da instrução e julgamento. Nos termos do art.
3º-C, § 3º, do CPP: os autos que compõem as matérias de competência do juiz das garantias ficarão acautelados na
secretaria desse juízo, à disposição do Ministério Público e da defesa, e não serão apensados aos autos do processo
enviados ao juiz da instrução e julgamento, ressalvados os documentos relativos às provas irrepetíveis, medidas
de obtenção de provas ou de antecipação de provas, que deverão ser remetidos para apensamento em
apartado.
A peça acusatória oferecida sem justa causa deverá ser REJEITADA pelo juiz.
Art. 395.  A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.
O STJ, no HC 193254, pontuou que “A justa causa é exigência legal para o recebimento da denúncia,
instauração e processamento da ação penal, nos termos do artigo 395, III, do Código de Processo Penal, e
consubstancia-se pela somatória de três componentes essenciais: (a) TIPICIDADE (adequação de uma conduta
fática a um tipo penal); (b) PUNIBILIDADE (além de típica, a conduta precisa ser punível, ou seja, não existir
quaisquer das causas extintivas da punibilidade); e (c) VIABILIDADE (existência de fundados indícios de
autoria)”.
11
⚠ ATENÇÃO
JUSTA CAUSA DUPLICADA: Trata-se de um instituto inerente à Lei de Lavagem de Dinheiro. É
necessário instruir a denúncia com lastro probatório mínimo do crime de lavagem de dinheiro e também
do crime antecedente (Art. 2º, §1º da Lei 9.613/98).
4. No caso do delito previsto no art. 1º da Lei n. 9.613/98, a aptidão da denúncia é aferida a partir da
verificação da presença de elementos informativos suficientes que sirvam de lastro probatório mínimo que
apontem a materialidade e ofereçam indícios da autoria da prática de atos de ocultação ou de dissimulação da
origem dos bens ou valores. Além disso, a inicial acusatória deve trazer elementos que sinalizem a
existência de infração penal antecedente, demonstrando a chamada justa causa duplicada.
5. Neste caso, não se pode falar em inépcia da peça acusatória, já que esta descreve uma conduta, em tese,
criminosa, embora apresente capitulação jurídica inadequada. De fato, o crime antecedente está corretamente
narrado, tendo a acusação demonstrado que o recorrente tinha pleno conhecimentoa respeito da origem
ilícita dos valores convertidos.
(STJ, RHC n. 150.451/TO, relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 13/12/2021,
DJe de 16/12/2021.)
ÓTICA RETROSPECTIVA E PROSPECTIVA DA JUSTA CAUSA: Entende a jurisprudência do STJ que a justa
causa não deve ser analisada tão somente com um ótica voltada para o passado, baseada nos elementos de
informação colhidos em procedimentos investigativos - ótica retrospectiva -, mas também com um ótica voltada
para o futuro - ótica prospectiva -, para a instrução processual que ocorrerá, nos seguintes termos:
A ocorrência dos fatos narrados na denúncia está indicada, nos autos, por inúmeros elementos indiciários -
oriundos de buscas e apreensões, quebras de sigilo e outras medidas investigativas -, a justificar a presença de
justa causa para a deflagração da ação penal.
Além disso, tradicionalmente, a justa causa é analisada apenas sob a ótica retrospectiva, voltada para o
passado, com vista a quais elementos de informação foram obtidos na investigação preliminar já
realizada. Todavia, a justa causa também deve ser apreciada sob uma ótica prospectiva, com o olhar
para o futuro, para a instrução que será realizada, de modo que se afigura possível incremento
probatório que possa levar ao fortalecimento do estado de simples probabilidade em que o juiz se
encontra quando do recebimento da denúncia.
STJ. Corte Especial. APn 989/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/02/2022 (Info 726).6
3.2. CONDIÇÕES GENÉRICAS DA AÇÃO PARA A CORRENTE MINORITÁRIA
(AURY LOPES JÚNIOR)
Para esta corrente, as condições deveriam ser buscadas no antigo Art. 43 do CPP (revogado em 2008).
6 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Ótica retrospectiva e ótica prospectiva da justa causa. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 26/10/2023
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/fe87435d12ef7642af67d9bc82a8b3cd
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a) FATO APARENTEMENTE CRIMINOSO
O fato imputado deve ser, aparentemente, típico, ilícito e culpável.
EXCEÇÃO: inimputabilidade por anomalia mental.
b) PUNIBILIDADE CONCRETA
Para que o mérito da ação seja julgado, a punibilidade não pode ter sido extinta. Ou seja, nenhuma das
hipóteses do Art. 107 do CP podem estar presentes para que o mérito da ação possa ser julgado.
c) LEGITIMIDADE DE PARTE
Mesma da primeira corrente.
d) JUSTA CAUSA
Mesma da primeira corrente.
3.3. CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DA AÇÃO (CONDIÇÕES DE PROCEDIBILIDADE)
Além das condições genéricas, são aquelas exigidas pela lei para que o mérito de uma ação penal possa
ser julgado. São exemplos:
● Representação do ofendido (Art. 147, §único);
● Requisição do Ministro da Justiça (crimes contra a honra do PR);
● Laudo pericial nos crimes contra a propriedade imaterial (Art. 525, CPP);
● Provas novas, quando o inquérito policial tiver sido arquivado com base na ausência de elementos
probatórios;
● Autorização da Câmara dos Deputados, por dois terços de seus membros, para a instauração de
processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado (CF, art. 51, I).
🚩 NÃO CONFUNDA: Condições de Procedibilidade ≠ Condições de Prosseguibilidade
CONDIÇÕES DE PROCEDIBILIDADE CONDIÇÕES DE PROSSEGUIBILIDADE
Devem estar presentes para que a ação penal tenha
início.7
Devem estar presentes para que a ação penal já em
curso possa prosseguir.
3.4. CONDIÇÕES DE PROSSEGUIBILIDADE (CONDIÇÃO SUPERVENIENTE DA
AÇÃO)
As condições da ação diferenciam-se das condições de prosseguibilidade. Aquelas são necessárias para
o próprio início da ação penal, enquanto estas, para o seu prosseguimento, sua continuação. Ou seja, o
processo já está em andamento e uma condição deverá ser implementada para que ele siga seu curso normal.
7 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed. Juspodivm, 2020, p.311.
13
É o caso dos crimes de lesão corporal leve e culposa, os quais, antes da Lei nº 9.099/95 eram de ação
pública incondicionada e passaram a ser de ação pública condicionada à representação (art. 88, do CPP). Nesses
casos, nos processos já em andamento, foi necessária a intimação do ofendido ou representante legal para
oferecerem a representação no prazo de trinta dias.
🚩 NÃO CONFUNDA: Condições da ação ≠ Condições objetivas de punibilidade
CONDIÇÕES DA AÇÃO CONDIÇÕES OBJETIVAS DE PUNIBILIDADE
“Relacionadas ao direito processual penal, sendo
exigidas para o exercício regular do direito de ação,
subdividindo-se em condições genéricas e específicas”.
8
“Referem-se ao direito penal, funcionando como fatos
externos ao tipo penal, que devem ocorrer para a
formação de um injusto culpável punível, sendo
chamadas de objetivas porquanto independem do dolo
ou da culpa do agente.”
“Se não estiver presente uma condição de
procedibilidade, ocorre a anulação do processo e não
a absolvição do agente, pois não há, em regra, análise
do mérito, ou seja, nada impede a renovação do
processo, desde que seja removido o impedimento
processual. Em outras palavras, tal decisão só faz coisa
julgada formal.”
“A ausência de uma condição objetiva de punibilidade
impede o início da persecução criminal; porém,
proposta a ação penal, haverá decisão de mérito e,
portanto, formação de coisa julgada formal e
material.”
3.4. CONDIÇÕES OBJETIVAS DE PUNIBILIDADE E ESCUSAS ACUSATÓRIAS
As condições objetivas de punibilidade são circunstâncias nas quais a punibilidade do crime depende
do aperfeiçoamento de certos elementos, os quais não são elementos normativos do tipo penal. São chamadas
objetivas porque não dependem do dolo ou culpa do agente, tratando-se de acontecimento futuro e
incerto.
A ausência de condição objetiva de punibilidade impede o próprio início da persecução penal e,
caso proposta a ação penal quando ausente, dará ensejo a uma decisão de mérito, que fará coisa julgada
formal e material.
Possuem natureza jurídica de excludente de punibilidade.
Exemplos:
● Circunstância de o fato ser punível no país em que foi praticado e estar incluído entre aqueles que a lei
brasileira permite a extradição nos crimes praticados fora do território nacional (art. 7º, § 2º, “b” e “c”, do
CP);
8 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed. Juspodivm, 2020, p.312.
14
● Decisão final do procedimento administrativo nos crimes materiais contra a ordem tributária:
Súmula Vinculante 24-STF: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos
I a IV, da Lei 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.
1. É firme a jurisprudência desta Corte no sentido de que, "nos termos da Súmula Vinculante n. 24, o termo
inicial da prescrição dos crimes materiais tributários é a data do lançamento definitivo, após o encerramento
do procedimento administrativo-fiscal, visto que, somente a partir daí, consoante entendimento do Supremo
Tribunal Federal, está caracterizado o elemento normativo do tipo penal e preenchida a condição objetiva
de punibilidade" (AgRg no REsp n. 1.430.892/PB, relator Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
julgado em 15/3/2018, DJe 27/3/2018).
Já as escusas acusatórias são as condições de punibilidade negativamente formuladas, que
excluem a punibilidade do crime em relação a determinadas pessoas quando presentes. Segundo Avenda,
“compreendem as situações em que, conquanto exista o crime, não se impõe pena em razão de circunstâncias
pessoais do agente. É o que ocorre no caso de furto praticado por descendente contra ascendente menor de 60
anos (art. 181, II, c/c o art. 183, III, do CP), em que, pela condição pessoal do agente (filho da vítima),
considerou-o o legislador isento de pena.9”
Exemplo: Isenção de pena prevista nos arts. 181, I e II, e 348, § 2º, do CP.
4. CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES PENAIS
4.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA
Como regra, a ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente declara privativa doofendido.
Conforme veremos melhor a seguir, a ação penal pública pode ser incondicionada, que é a regra, ou
condicionada à requisição do Ministro da Justiça ou à representação do ofendido.
4.1.1. TITULARIDADE
A titularidade é do Ministério Público, conforme o Art. 129 da CF.
Havendo conflito de atribuições entre membros do Ministério Público Federal e do Ministério
Público Estadual o Supremo Tribunal Federal entende que compete ao Conselho Nacional do Ministério
Público - CNMP, vejamos:
9 Avena, Norberto. Processo Penal. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022.
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1. Incompetência originária do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL para conhecer e dirimir conflito de atribuições
entre membros de ramos diversos do Ministério Público. Inaplicabilidade do art. 102, I, f, da CF, por ausência
de risco ao equilíbrio federativo.
2. Impossibilidade de encaminhamento do conflito de atribuição para o Procurador-Geral da República,
enquanto autoridade competente, pois é parte interessada na solução da demanda administrativa, uma vez
que acumula a Chefia do Ministério Público da União com a chefia de um de seus ramos, o Ministério Público
Federal, nos termos da LC 75/1993.
3. Os membros do Ministério Público integram um só órgão sob a direção única de um só Procurador-Geral,
ressalvando-se, porém, que só existem unidade e indivisibilidade dentro de cada Ministério Público,
inexistindo qualquer relação de hierarquia entre o Ministério Público Federal e os dos Estados, entre o de um
Estado e o de outro, ou entre os diversos ramos do Ministério Público da União.
4. EC 45/2004 e interpretação sistemática da Constituição Federal. A solução de conflitos de atribuições
entre ramos diversos dos Ministérios Públicos pelo CNMP, nos termos do artigo 130-A, § 2º, e incisos I e
II, da Constituição Federal e no exercício do controle da atuação administrativa do Parquet, é a mais
adequada, pois reforça o mandamento constitucional que lhe atribuiu o controle da legalidade das
ações administrativas dos membros e órgãos dos diversos ramos ministeriais, sem ingressar ou ferir a
independência funcional.
5. Não conhecimento da Ação Cível Originária e encaminhamento dos autos ao Conselho Nacional do
Ministério Público para, nos termos do artigo 130-A, incisos I e II, da Constituição Federal, dirimir o conflito de
atribuições. (ACO 843, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal
Pleno, julgado em 08/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-263 DIVULG 03-11-2020 PUBLIC 04-11-2020)
Essa posição se trata do acolhimento pelo Supremo Tribunal Federal, de uma tese institucional
defendida pelos Ministérios Públicos Estaduais, os quais não concordavam com o entendimento anterior que
afirmava que a competência para dirimir esse conflito era do PGR.
CONFLITO ENTRE MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO
MPE X MPF ■ Conselho Nacional do Ministério Público - CNMP.
MPE ESTADO “A” X MPE DO ESTADO “N” ■ Conselho Nacional do Ministério Público - CNMP.
4.1.2. PEÇA ACUSATÓRIA
Conforme o Art. 24 do CPP, a ação penal pública será promovida por DENÚNCIA do Ministério Público.
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4.1.3. ESPÉCIES
4.1.3.1. AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA
A ação penal pública incondicionada é promovida privativamente pelo Ministério Público sem a
interferência de quem quer que seja, sendo irrelevante, para a sua promoção, a vontade do ofendido. Sobre o
tema, veja o que diz os arts. 24, do CPP, 100, do CP e 129, da CF/88:
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
Art. 24. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá,
quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver
qualidade para representá-lo.
CÓDIGO PENAL
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido.
§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de representação
do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;
4.1.3.2. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA
Quanto à ação penal pública condicionada, diz-se que se trata de ação penal pública, pois é promovida
pelo órgão do Ministério Público – que permanece sendo o titular da ação; de outro lado, diz-se que é
condicionada, pois o parquet não poderá promovê-la sem que haja o implemento de condição imposta por lei: a
representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça.
A representação do ofendido, nos termos do art. 39, do CPP, poderá ser exercida pessoalmente ou por
procurador com poderes especiais. Trata-se, pois, de manifestação daquele ou de seu representante legal no
sentido de que possui interesse na persecução penal do autor do fato delituoso.
Outrossim, a representação pode ser feita por escrito ou de forma oral, não se exigindo nenhuma
formalidade, bastando o elemento volitivo, ou seja, a manifestação de vontade. Sobre o tema, confira as
disposições legais:
Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes
especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade
policial.
§ 1o A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura devidamente autenticada do ofendido, de
seu representante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade policial, presente o
órgão do Ministério Público, quando a este houver sido dirigida.
§ 2o A representação conterá todas as informações que possam servir à apuração do fato e da autoria.
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§ 3o Oferecida ou reduzida a termo a representação, a autoridade policial procederá a inquérito, ou, não
sendo competente, remetê-lo-á à autoridade que o for.
§ 4o A representação, quando feita ao juiz ou perante este reduzida a termo, será remetida à autoridade
policial para que esta proceda a inquérito.
§ 5o O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos
elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de 15
dias.
Em regra, a representação possui natureza jurídica de condição de procedibilidade. Todavia, se o
processo estiver em andamento e a lei passar a condicionar seu prosseguimento à representação, a natureza
jurídica será de condição de prosseguibilidade. Importa anotar, também, que em relação àquela vigora o
princípio da oportunidade ou conveniência, uma vez que o ofendido pode escolher representar ou não.
Ainda, de acordo com o CPP a representação tem como destinatário o delegado de polícia, o juiz ou o
membro do Ministério Público (art. 39, do CPP) e deve conter todas as informações que possam servir à
apuração do fato e de sua autoria.
Também, a representação é retratável até o oferecimento da denúncia, desde que não se trate da
Lei Maria da Penha, pois, nesta, a retratação pode ser feita até o recebimento da denúncia. Neste ponto,
prevalece na doutrina o entendimento de que, ainda que tenha ocorrido a retratação do direito de
representação, o ofendido poderá oferecer nova representação, desde que respeitado o prazo decadencial.
Já a requisição do Ministro da Justiça, que é condição sine qua non para a instauração de inquérito
policial e para o oferecimento da ação penal pública nos crimes em que a lei a exigir, não é muito comum na
prática, mas é possível, por exemplo, nas seguintes hipóteses: a) crime cometido por estrangeiro contra
brasileiro fora do Brasil (art. 7º, § 3º, “b”, do CP); b) crimes contra a honra do Presidente da República ou chefe
de governo estrangeiro (art. 141, I, do CP).
O Ministro da Justiça não está condicionado ao prazo decadencial de 6 meses, previsto para a
representação e para a ação penal de iniciativa privada, por falta de previsão legal. No entanto, a doutrina
entende que ele deve observar o prazoprescricional do delito cometido.
4.2. AÇÃO PENAL PRIVADA
A ação penal privada pode ser intentada pelo ofendido ou por quem tenha qualidade para
representá-lo (art. 30, do CPP). Quando um crime for processado por meio de ação penal de iniciativa privada, a
lei expressamente o dirá: “somente se procede mediante queixa”.
Não esqueça que o direito de punir (jus puniendi) é do Estado, seu titular único e exclusivo. Há casos,
todavia, em que ele concede ao ofendido, ou ao seu representante legal, o jus persequendi in judicio, ou seja, o
direito de dar início à persecução penal em juízo – o que ocorrerá por meio de uma queixa-crime.
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Nesses casos, o Estado transfere o direito de ação penal ao particular. Diz-se, então, que aqui o
particular atua como um substituto processual (legitimação extraordinária), porque vai a juízo, em nome
próprio, defender interesse do Estado (direito de punir).
Na hipótese de morte do ofendido ou quando ele for declarado ausente por decisão judicial, o direito
de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 31, do
CPP). Esta regra também se aplica à ação penal pública condicionada à representação.
Neste ponto, uma observação importante é necessária. É que, conquanto o art. 31, do CPP, fale apenas
em “cônjuge”, o(a) companheiro(a) hetero ou homoafetivo(a) também possui legitimidade para ajuizar ação
penal privada. Neste sentido, o STJ:
A companheira, em união estável homoafetiva reconhecida, goza do mesmo status de cônjuge para o
processo penal, possuindo legitimidade para ajuizar a ação penal privada. STJ. Corte Especial. APn 912-RJ, Rel.
Min. Laurita Vaz, julgado em 07/08/2019 (Info 654).
Outrossim, se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente enfermo, e não tiver representante
legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser exercido por curador
especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o processo
penal (art. 33, do CPP).
4.2.1. TITULARIDADE
Como adiantamos, de acordo com o Art. 30 do CPP, a titularidade é do ofendido ou de seu
representante.
Art. 30.  Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo caberá intentar a ação privada.
4.2.2. PEÇA ACUSATÓRIA
Conforme o Art. 100, §2º do CP: a ação de iniciativa privada é promovida mediante QUEIXA do ofendido
ou de quem tenha qualidade para representá-lo.
4.2.3. ESPÉCIES
4.2.3.1. AÇÃO PENAL PRIVADA EXCLUSIVA
A ação penal exclusivamente privada é aquela na qual se possibilita que tanto o ofendido quanto o seu
representante legal (art. 31, do CPP) possam ajuizar a ação penal.
É a regra nas ações penais de iniciativa privada.
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4.2.3.2. AÇÃO PENAL PRIVADA PERSONALÍSSIMA
A ação penal personalíssima, ao contrário da exclusivamente privada, prevê a legitimidade exclusiva do
ofendido e de mais ninguém, não havendo, portanto, representante legal, curador, nem sucessão processual
em caso de morte ou ausência.
Segundo Norberto Avena, “trata-se de subtipo de ação penal privada em que a titularidade compete
única e exclusivamente ao próprio ofendido, sendo o seu exercício vedado, até mesmo, ao seu representante
legal, cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Destarte, falecendo a vítima, nada haverá a ser feito a
não ser aguardar-se a extinção da punibilidade do réu.10”
Atualmente, com a revogação do delito de adultério (art. 240 do CP) pela Lei n. 11.106/2005, persiste em
nosso ordenamento apenas um delito de iniciativa personalíssima: o crime de induzimento a erro essencial e
ocultação de impedimento, previsto no art. 236 do CP. Nesse crime, exige o parágrafo único do art. 236 que a
ação penal somente poderá ser ajuizada pelo contraente enganado, de modo que não se opera a sucessão
prevista no art. 31 do CPP e, por consequência, com a morte do ofendido, extinguem-se a punibilidade e a ação
penal. Além disso, se o cônjuge enganado for menor de 18 anos, a queixa somente poderá ser prestada após
cessada a menoridade. Lembrando que a emancipação pelo casamento não gera nenhum efeito no processo
penal.
🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Delegado de Polícia do Estado de São Paulo (Ano: 2022 Banca: VUNESP), foi
considerada correta a seguinte afirmativa: “Nos termos do Código de Processo Penal, é correto afirmar que a
ação penal privada personalíssima só pode ser intentada pela vítima e, em caso de falecimento antes ou depois
do início da ação, não poderá haver substituição para sua propositura ou seu prosseguimento”.
4.2.3.3. AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA OU AÇÃO PENAL
ACIDENTALMENTE PRIVADA OU AÇÃO PENAL SUPLETIVA
Seu cabimento está subordinado à inércia do Ministério Público. Ou seja, quando o parquet não observa
o prazo legal para a propositura da ação, nasce para o particular o direito de apresentá-la através da ação penal
privada subsidiária da pública, que também possui prazo decadencial de 6 meses, findo o qual se produz a
decadência imprópria, assim chamada porque haverá a perda do direito de queixa, mas não haverá extinção da
punibilidade – já que o MP segue legitimado para oferecer a denúncia.
Para Avena, “corresponde a uma ação penal privada ajuizada em relação a crime de ação pública,
justificando-se quando, esgotado o prazo do Ministério Público, este não ofereceu a competente denúncia. O
início do processo criminal, neste caso, ocorrerá mediante a dedução de queixa-crime subsidiária11”.
11 Avena, Norberto. Processo Penal. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022.
10 Avena, Norberto. Processo Penal. Disponível em: Minha Biblioteca, (14th edição). Grupo GEN, 2022.
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⚠ ATENÇÃO
Na ação penal privada subsidiária da pública, o Ministério Público atua como verdadeiro interveniente
adesivo obrigatório (ou parte adjunta), devendo intervir em todos os termos do processo, sob pena de nulidade
(art. 564, III, “d”, do CPP).
Sobre o tema, confira as disposições do CPP:
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal,
cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em
todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso
de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal (AÇÃO PENAL INDIRETA)
Finalmente, quanto ao prazo, importa acrescentar que as peças acusatórias nas ações penais públicas e
privadas possuem prazos. De acordo com o art. 40, do CPP, o prazo para oferecimento da denúncia (peça
acusatória da ação penal pública), estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do
Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No
último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que
o órgão do Ministério Público receber novamente os autos. Mas, quando o Ministério Público dispensar o
inquérito policial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em que tiver recebido as peças
de informações ou a representação.
Já no caso da queixa (peça acusatória da ação penal privada) e da ação penal pública condicionada à
representação, salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de
queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a
saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da
denúncia (art. 38, CPP).
No entanto, no caso da ação penal pública condicionada à representação, se o ofendido representar
dentro do prazo legal, não haverá decadência para buscar apuração do delito, pois é irrelevante que a denúncia
do órgão do Ministério Público tenha sido apresentada após os seis meses fatais.
A inobservância do prazo acima acarreta a extinção da punibilidade do agente (art. 107, IV, do CP).Tendo natureza jurídica de direito material, o prazo para representar inclui o dia do começo e exclui o dia do
vencimento, nos termos da regra do art. 10 do CP.
VOCÊ JÁ OUVIU FALAR NA AÇÃO PENAL PÚBLICA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA?
Pois é. Segundo o professor e promotor de justiça Márcio Gondim:
“A classificação mais comum das ações penais leva-se em consideração a legitimidade, ou seja, a pertinência
subjetiva do direito de ação e, desse modo, as ações penais são classificadas em públicas e privadas, com as
respectivas subdivisões.
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A ação pública é subdividida em incondicionada e condicionada, consoante a necessidade ou não da condição
de procedibilidade para que o membro do Ministério Público possa pedir ao Estado-juiz a aplicação da
reprimenda penal. De outra banda, a ação penal privada pode ser classificada em exclusiva (ou propriamente
dita), personalíssima e subsidiária da pública, esta última quando há inércia no representante do ‘parquet’
deixando escoar ‘in albis’ seu prazo para o oferecimento da denúncia.
Pois bem, afora as mencionadas classificações surge a classificação da ação penal pública subsidiária da
pública, quando em corolário da inação do membro do membro do Ministério Público a titularidade da ação
passa a outro órgão, entrementes, ainda pertencente à instituição, como ocorre no art. 2°, § 2° do Decreto-lei
n° 201/06, que trata dos crimes de responsabilidade de prefeitos e vereadores.
Ademais, também entendo se enquadrar na referenciada classificação o incidente de deslocamento de
competência, anunciado no art. 109, § 5° da Carta da República, pois o deslocamento de
competência/atribuição tem por base grave violação de direitos humanos em corolário da inação ou
deficiência dos órgãos Estaduais a fim de assegurar o cumprimento de tratados de direitos humanos dos quais
o Brasil seja parte.
Destaque-se, todavia, que a precitada classificação e mecanismos de controle de atribuição do Ministério
Público Estadual, ao meu sentir, viola a atribuição bem como a independência de cada órgão, pois é cediço
não haver hierarquia entre os Ministérios Públicos e, portanto, sem razão a remessa dos autos e/ou
modificação de titularidade na ação penal em tais casos.”
A doutrina aponta que o deslocamento da competência está subordinado à presença de dois requisitos:
i) crime com grave violação aos direitos humanos e ii) risco de descumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, em virtude da inércia do
Estado-membro em proceder à persecução penal. Registre-se, no entanto, que o STJ acrescentou um terceiro
requisito, consistente na incapacidade – oriunda de inércia, omissão, ineficácia, negligência, falta de vontade
política, de condições pessoais e/ou materiais etc. – de o Estado-membro, por suas instituições e autoridades,
levar a cabo, em toda a sua extensão, a persecução penal.
Assim, portanto, como o IDC importa em deslocamento da competência da Justiça Estadual, onde atua
o Ministério Público dos Estados, para a Justiça Federal, onde funciona o Ministério Público Federal, tem-se aí
uma espécie de ação penal pública subsidiária da pública.
5. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À AÇÃO PENAL
Há princípios que são exclusivos da ação penal pública e outros exclusivos da ação penal privada, bem
como há princípios que são comuns a ambas.
22
5.1. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS À AÇÃO PENAL PÚBLICA E À AÇÃO PENAL
PRIVADA
5.1.1. PRINCÍPIO DA INÉRCIA DA JURISDIÇÃO (NE PROCEDAT IUDEX EX
OFFICIO)
Ao juiz não é dado iniciar uma ação de ofício. Não poderá o magistrado deflagrar uma ação penal sem
que ele tenha sido provocado pela parte legítima. Ao adotar o sistema acusatório, a Constituição não permite
que o juiz dê início à ação penal de ofício, sem provocação da parte.
📌 OBSERVAÇÃO
■ PROCEDIMENTO JUDICIALIFORME: Não recepção pela CF/88.
Art. 26. A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de
portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial
Trata-se de norma materialmente incompatível com a Constituição Federal. Isso pelo fato de que a
titularidade da ação penal pública é do MP.
■ O juiz não pode iniciar ação penal de CONHECIMENTO de ofício, mas a fase de EXECUÇÃO pode ser
iniciada de ofício, conforme o art. 195, LEP:
Art. 195. O procedimento judicial iniciar-se-á de ofício, a requerimento do Ministério Público, do interessado,
de quem o represente, de seu cônjuge, parente ou descendente, mediante proposta do Conselho
Penitenciário, ou, ainda, da autoridade administrativa.
5.1.2. PRINCÍPIO DO NE BIS IN IDEM PROCESSUAL OU INADMISSIBILIDADE DA
PERSECUÇÃO PENAL MÚLTIPLA
Ninguém pode ser processado mais de uma vez pela mesma imputação. Apesar de não constar
expressamente da Constituição Federal, o princípio do ne bis in idem consta da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos:
Art. 8, item 4 do pacto de São José da Costa Rica: “O acusado absolvido por sentença passada em julgado não
poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos”.
Assim, ainda que novas provas sejam colhidas, não poderá ser novamente processado.
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Segundo Renato Brasileiro (2020, p. 321), o bis in idem só pode ser aplicado se o fato delituoso
atribuído ao agente for idêntico em ambos processos.
Em caso de imputações idênticas contra o mesmo acusado tramitando em países diversos, não há
o que se falar no princípio do bis in idem se o julgamento do litígio no exterior estiver pendente. Ou seja, apenas
sentença definitiva oriunda de países distintos pode obstar a formação, continuação ou sobrevivência da
relação jurídica processual que configuraria a litispendência.
5.1.3. PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA
A ação penal só pode ser oferecida contra o suposto autor do fato delituoso, não podendo alcançar
terceiros não relacionados ao fato. Trata-se de um princípio consectário do princípio da pessoalidade da pena,
previsto no art. 5º, XLV, da Constituição Federal.
Art. 5º (...) XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas,
até o limite do valor do patrimônio transferido;
⚠ ATENÇÃO
O presente princípio somente se aplica quanto às consequências penais do fato típico, de modo que,
diante de uma responsabilidade não penal, é possível que haja sua transferência aos sucessores na hipótese
de morte do condenado, respondendo eles até as forças da herança. Ex.: Reparação de dano.
5.2. PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA
5.2.1. PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE OU LEGALIDADE PROCESSUAL
Havendo justa causa, o MP está obrigado a oferecer denúncia, não havendo nenhuma
discricionariedade para decidir se irá ou não atuar, conforme o Art. 24, CPP:
Art. 24.  Nos crimes de ação pública, esta SERÁ promovida por denúncia do Ministério Público, (...).
EXCEÇÕES: OBRIGATORIEDADE MITIGADA ou DISCRICIONARIEDADE REGRADA
a) TRANSAÇÃO PENAL (infrações penais de menor potencial ofensivo – Art. 76, Lei 9.099/95):
preenchidos os requisitos e aceito os termos da transação penal, haverá imediata aplicação das penas
restritivas de direito ou multa.
b) ACORDO DE LENIÊNCIA, BRANDURA OU DOÇURA (crimes contra a ordem tributária econômica –
Lei 12.529/11): celebrado pelo CADE com pessoas físicas ou jurídicas autoras de crime contra a ordem
econômica, o acordo de leniência impede o oferecimento da denúncia e, cumprido, extingue a punibilidade.
24
c) PARCELAMENTO DO DÉBITO TRIBUTÁRIO (Art. 83, §§1º e 2º, Lei 9.430/96): é previsto como causa de
suspensão da pretensão punitiva, desde que o parcelamento tenha sido formalizado antes do recebimento da
denúncia. Haverá também a suspensão da prescrição criminal, extinguindo-se a punibilidade dos crimes
quando houver o pagamento integral dos débitos tributários.
d) COLABORAÇÃO PREMIADA (organizações criminosas – Art. 4º, §4º, Lei 12.850/12): celebrado o
acordo de colaboração premiada,o MP pode deixar de oferecer a denúncia e, cumprido, extingue a
punibilidade.
e) ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL (Art. 28-A, CPP): preenchidos os requisitos, aceito os termos
do acordo e homologado pelo juiz, o MP deixa de oferecer a denúncia.
Jurisprudência em Teses do STJ, Ed. 185
Tese 1: O acordo de não persecução penal – ANPP, previsto no art. 28-A do Código de Processo Penal,
aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei n. 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia.
Tese 2: O acordo de não persecução penal - ANPP não constitui direito subjetivo do investigado, assim pode
ser proposto pelo Ministério Público conforme as peculiaridades do caso concreto, quando considerado
necessário e suficiente para reprovar e prevenir infrações penais.
Tese 3: O controle do Poder Judiciário quanto ao pedido de revisão do não oferecimento do acordo de não
persecução penal - ANPP deve se limitar a questões relacionadas aos requisitos objetivos, não é, portanto,
legítimo o exame do mérito a fim de impedir a remessa dos autos ao órgão superior do Ministério Público.
Tese 4: O Ministério Público não é obrigado a notificar o investigado no caso de recusa de oferecimento de
acordo de não persecução penal - ANPP.
O Poder Judiciário não pode impor ao Ministério Público (MP) a obrigação de ofertar acordo de não
persecução penal (ANPP).
Não cabe ao Poder Judiciário, que não detém atribuição para participar de negociações na seara investigatória,
impor ao MP a celebração de acordos. Ademais, o acordo de persecução penal não constitui direito subjetivo
do investigado. STJ. AgRg no RHC 152.756/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 14/09/2021, DJe 20/09/2021.
📌 OBSERVAÇÕES
A assinatura de TAC impede a instauração de ação penal? Não.
Impende ressaltar entendimento desta Superior Corte de Justiça no sentido de que a assinatura de termo de
ajustamento de conduta, com a reparação do dano ambiental, são circunstâncias que possuem relevo para a
seara penal, a serem consideradas na hipótese de eventual condenação, não se prestando para elidir a
tipicidade penal. Outrossim, a lavratura do referido termo, com a extinção de ação civil pública, não
implica a extinção da ação penal correspondente, haja vista a independência da esfera penal em
relação às esferas cível e administrativa. Precedentes. (STJ, AgRg no RHC n. 121.611/SP, relator Ministro
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Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 5/3/2020, DJe de 13/3/2020.)
A assinatura do termo de ajustamento de conduta, firmado entre o Ministério Público estadual e o suposto
autor de crime ambiental, não impede a instauração da ação penal, pois não elide a tipicidade penal.
Ademais, há independência entre as esferas administrativa, cível e penal. (STJ, REsp n. 1.154.405/MG, relator
Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 18/5/2017, DJe de 25/5/2017.)
A existência de excludente de ilicitude pode justificar o não oferecimento da denúncia?
Tecnicamente não impede o oferecimento de denúncia, mas em havendo juízo de certeza quanto às
excludentes de de ilicitude, o Ministério Público pode requerer o arquivamento do inquérito policial.
1. A par da atipicidade da conduta e da presença de causa extintiva da punibilidade, o arquivamento de
inquérito policial lastreado em circunstância excludente de ilicitude também produz coisa julgada
material. 2. Levando-se em consideração que o arquivamento com base na atipicidade do fato faz coisa
julgada formal e material, a decisão que arquiva o inquérito por considerar a conduta lícita também o faz, isso
porque nas duas situações não existe crime e há manifestação a respeito da matéria de mérito. (STJ, RHC n.
46.666/MS, relator Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 5/2/2015, DJe de 28/4/2015.)
🗯 TRANSAÇÃO PENAL – APROFUNDAMENTO
O instituto da transação penal é cabível nas infrações de menor potencial ofensivo – que são as
contravenções penais e os crimes com pena de até dois anos, quando não for o caso de arquivamento e
ressalvadas as hipóteses da Lei Maria da Penha, hipóteses nas quais a aplicação do instituto é vedada.
Nos termos do art. 76, da Lei nº 9.099/95: havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal
pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata
de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. De acordo com o §1º: Nas hipóteses de ser a
pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade.
Ademais, nos termos do art. 76, §2º, da Lei 9099/95, não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
● ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por
sentença definitiva;
● ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos com o instituto da transação penal
ou
● não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e
as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida.
O descumprimento da transação penal tem como consequência a possibilidade do MP poder oferecer a
denúncia, isso porque, a sua homologação não faz coisa julgada material. Neste sentido, a Súmula Vinculante
35: a homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e,
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descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a
continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial.
Outro ponto relevante neste tema diz respeito ao fato de que a transação penal não suspende nem
interrompe o lapso prescricional, por ausência de previsão legal. Nas palavras do professor Marcio André
Lopes: o prazo prescricional iniciou-se com a consumação do crime e continuou correndo normalmente,
mesmo o autor tendo aceitado a transação. Enquanto se aguarda que ele cumpra as obrigações assumidas na
transação, o prazo permanece fluindo regularmente. Mesmo que ele descumpra as condições, o prazo está
tramitando12.
🗯 ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL – APROFUNDAMENTO
Até a edição da Lei 13.964/2019 (“Pacote Anticrime”), o Acordo de Não-Persecução Penal (ANPP) estava
previsto apenas no art. 18 da Resolução 181 do Conselho Nacional do Ministério Público. Assim, muito se
questionava a respeito da sua legitimidade como instrumento jurídico capaz de ocasionar a extinção da
punibilidade do agente. Com a Lei 13.964/2019, grande parte do conteúdo da resolução foi transformado em lei
(art. 28-A do CPP). Vejamos:
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e
circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima
inferior a 4 anos, o Ministério Público poderá propor ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL, desde que
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições
ajustadas cumulativa e alternativamente: (LEI 13964/19)
I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo; (LEI 13964/19)
II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos,
produto ou proveito do crime; (LEI 13964/19)
III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima
cominada ao delito diminuída de 1/3 a 2/3, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do art.
46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal); (LEI 13964/19)
IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da
execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos
aparentemente lesados pelo delito; ou (LEI 13964/19)
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada peloMinistério Público, desde que
proporcional e compatível com a infração penal imputada. (LEI 13964/19)
§ 1º Para aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput deste artigo, serão
consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto. (LEI 13964/19)
§ 2º O disposto no caput deste artigo NÃO SE APLICA nas seguintes hipóteses: (LEI 13964/19)
12 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Homologação da transação penal não faz coisa julgada material. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
. Acesso em: 08/12/2022
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I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos termos da lei; (LEI
13964/19)
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal
habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas; (LEI 13964/19)
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 anos anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não
persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo; e (LEI 13964/19)
🚨 JÁ CAIU
Na prova de Defensor Público da DPE-CE (Ano: 2022 Banca: FCC), foi considerada correta a seguinte afirmação:
O acordo de não persecução penal não será cabível se o agente tiver realizado outro acordo de não persecução
penal no período de 5 (cinco) anos anteriores ao cometimento da infração.
IV - nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher
por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor. (LEI 13964/19)
🚨 JÁ CAIU
Na prova de Promotor de Justiça do MPE-PE (Ano: 2022 Banca: FCC), foi considerada correta a seguinte
afirmação: são causas que impedem o acordo de não persecução penal: II. Se o investigado for reincidente ou
se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se
insignificantes as infrações penais pretéritas. IV. Crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou
familiar, ou praticados contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
§ 3º O acordo de não persecução penal será formalizado por escrito e será firmado pelo membro do
Ministério Público, pelo investigado e por seu defensor. (LEI 13964/19)
§ 4º Para a homologação do acordo de não persecução penal, será realizada audiência na qual o juiz
deverá verificar a sua voluntariedade, por meio da oitiva do investigado na presença do seu defensor, e sua
legalidade. (LEI 13964/19)
§ 5º Se o juiz considerar inadequadas, insuficientes ou abusivas as condições dispostas no acordo de não
persecução penal, devolverá os autos ao Ministério Público para que seja reformulada a proposta de acordo,
com concordância do investigado e seu defensor. (LEI 13964/19)
§ 6º Homologado judicialmente o acordo de não persecução penal, o juiz devolverá os autos ao Ministério
Público para que inicie sua execução perante o juízo de execução penal. (LEI 13964/19)
§ 7º O juiz poderá recusar homologação à proposta que não atender aos requisitos legais ou quando
não for realizada a adequação a que se refere o § 5º deste artigo.
§ 8º Recusada a homologação, o juiz devolverá os autos ao Ministério Público para a análise da necessidade de
complementação das investigações ou o oferecimento da denúncia. (LEI 13964/19)
§ 9º A vítima será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu
descumprimento. (LEI 13964/19)
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§ 10. Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo de não persecução penal, o Ministério
Público deverá comunicar ao juízo, para fins de sua rescisão e posterior oferecimento de denúncia. (LEI
13964/19)
§ 11. O descumprimento do acordo de não persecução penal pelo investigado também poderá ser utilizado
pelo Ministério Público como justificativa para o eventual não oferecimento de suspensão condicional
do processo. (LEI 13964/19)
🚨 JÁ CAIU
Na prova de juiz do TJ-SC (Ano: 2022 Banca: FGV), foi considerada correta a seguinte afirmação: Relativamente
aos acordos no processo penal, segundo a jurisprudência predominante nos Tribunais Superiores, é correto
afirmar que poderá o descumprimento do acordo de não persecução penal ser utilizado pelo Ministério Público
como justificativa para o não oferecimento de suspensão condicional do processo.
§ 12. A celebração e o cumprimento do acordo de não persecução penal não constarão de certidão de
antecedentes criminais, exceto para os fins previstos no inciso III do § 2º deste artigo. (LEI 13964/19)
§ 13. Cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente decretará a extinção de
punibilidade. (LEI 13964/19)
§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução penal, o
investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28 deste Código. (LEI
13964/19)
Assim, na sistemática adotada pelo art. 28-A, do CPP, tem-se que o ANPP é negócio jurídico de natureza
extrajudicial, necessariamente homologado pelo juiz, celebrado entre o Ministério Público e o autor do fato
delituoso – devidamente assistido por seu defensor –, que confessa formal e circunstancialmente a prática do
delito, sujeitando-se ao cumprimento de certas condições não privativas de liberdade, em troca do
compromisso do parquet de não perseguir judicialmente o caso penal extraído da investigação penal, leia-se,
não oferecer denúncia, declarando-se a extinção da punibilidade caso a avença seja integralmente cumprida.
Trata-se de um instrumento que mitiga a obrigatoriedade da ação penal e revela o caráter cada vez
mais tendencioso do ordenamento jurídico brasileiro em privilegiar a justiça penal negociada/consensual, como
a transação penal, o sursis processual e a colaboração premiada, otimizando recursos públicos e efetivando o
conceito da Justiça Multiportas.
Como vimos, nos termos do art. 28-A, do CPP: não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado
confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena
mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde
que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.
Para a aferição da pena mínima cominada ao delito a que se refere o caput do artigo 28-A, do CPP,
devem ser consideradas as causas de aumento e diminuição aplicáveis ao caso concreto.
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As seguintes condições podem ser ajustadas isolada ou cumulativamente no acordo de não
persecução: i) reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo; ii) renunciar
voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do
crime; iii) prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente à pena mínima
cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma do
art. 46 do Código Penal; iv) pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 Código Penal, a
entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha, preferencialmente,
como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito; ou v)
cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde que proporcional e
compatível com a infração penal imputada.
Também, por força do art. 28-A, §2º, do CPP, está vedada a proposta de acordo nas seguintes hipóteses
(requisitos negativos do ANPP):
1. se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais;
2. se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal
habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas;
3. ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos

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