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W BA 01 11 _V 4. 0 CONSULTORIA E PROCESSOS EM RH 2 Janaina Priscila Rodrigues Firmino Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2023 CONSULTORIA E PROCESSOS EM RH 1ª edição 3 2023 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR Homepage: https://www.cogna.com.br/ Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Coordenador Ana Carolina Gulelmo Staut Revisor Renato Cividini Matthiesen Editorial Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Firmino, Janaina Priscila Rodrigues Consultoria e processos em RH/ Janaina Priscila Rodrigues Firmino, – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2023. 32 p. ISBN 978-65-5903-376-8 1. Consultoria interna e externa. 2. Ambiente organizacional. 3. Jornada do colaborador. I. Título. CDD 355.223 _____________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 8/10534 F525c © 2023 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. https://www.cogna.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Fundamentos da Consultoria em RH ________________________ 07 A resolução de problemas em consultoria ___________________ 16 HRBP e os processos de RH __________________________________ 25 Tópicos emergentes da consultoria em RH ___________________ 34 CONSULTORIA E PROCESSOS EM RH 5 Apresentação da disciplina Caro estudante, esta disciplina apresentará conhecimentos e práticas de consultoria que são realizadas de modo externo ou interno à área de RH. Para isso, você percorrerá uma jornada de assuntos orientados para a resolução de problemas partindo do ponto da identificação de situações que serão abordadas em cada processo de consultoria. Em seguida, você conhecerá um conjunto de metodologias que poderão oferecer uma caixa de ferramentas às pessoas consultoras, além de temas voltados para gestão, negócios e condução de pessoas, considerando cenários e ambientes organizacionais. Os temas que você estudará estão organizados da seguinte maneira: Na Unidade 1, estarão os fundamentos da consultoria, o perfil do consultor e a resolução de problemas. Você perceberá como nem sempre os problemas estão estruturados conforme são percebidos, e a capacidade investigativa do consultor é fará a diferença em sua atuação. Já na Unidade 2, que trará os métodos e caixas de ferramentas, ambientes e cenários, você aprenderá a importância de conhecer metodologias para análise de problemas e como essas técnicas poderão apoiar os consultores em cada projeto. Além disso, você entenderá como compor uma proposta de consultoria, seja ela externa ou interna. A Unidade 3 abordará os processos em RH e suas atividades em nível operacional, tático e estratégico, incluindo o papel o BP (Business Partner), como consultor interno de RH. E, por fim, a Unidade 4 apresentará as tendências e mudanças do RH e os drivers 6 (facilitadores) como ESG, transformação digital e competências socioemocionais, e sociedade 5.0. A intenção desta disciplina é proporcionar a você, caro estudante, abordagens teóricas e práticas para que a sua atuação profissional seja aprimorada e que você possa compreender a importância de se atualizar e se sentir seguro diante de situações em que a sua atuação deverá ser técnica e assertiva. 7 Fundamentos da Consultoria em RH Autoria: Janaina Priscila Rodrigues Firmino Leitura crítica: Renato Cividini Matthiesen Objetivos • Apresentar os conceitos essenciais de consultoria interna e externa. • Conhecer os papéis e as funções do HRBP (Human Resources Business Partner) como parceiro de negócios nas organizações. • Correlacionar as ações da consultoria com os contextos apresentados. 8 1. Os fundamentos da consultoria A consultoria é uma atividade que pode ser devolvida por profissionais com um certo grau de experiência e conhecimentos, e que apresenta como elementos essenciais em sua dinâmica a capacidade de identificar problemas e analisar cenários, e a habilidade na elaboração de propostas de melhoria ou de soluções para a situação avaliada. Para que uma pessoa atue prestando serviços com este tipo de atividade também é necessária, ao profissional de consultoria, uma postura segura, assertiva e de aprendizagem contínua, considerando que seu desempenho e entrega de resultados na resolução de problemas dependem da sua performance. De acordo com Crocco (2017), o consultor é um agente de mudanças que pode atuar externa ou internamente em uma organização, e que usa sua bagagem de experiências e conhecimentos para a investigação e solução de problemas enfrentados em diversos cenários organizacionais. Destacamos que, além de demonstrar postura, capacidades e habilidades já pontuadas até o momento, espera-se do profissional de consultoria também a expertise, que é a especialização em alguns assuntos, o que permitirá ao consultor visualizar as situações-problema de modo único e enriquecido, em comparação a outros profissionais envolvidos em um determinado contexto. A expertise pode ser desenvolvida e incrementada com estudos, porém, uma fonte relevante para esta especialização provém de vivências experimentadas por este profissional ao longo da sua trajetória de vida e de trabalho. Considerando sua aprendizagem até este momento, caro estudante, deve ter sido possível compreender que a consultoria é, portanto, uma atividade especializada e de apoio e suporte para a resolução de problemas e para a preparação de tomadas decisórias. 9 No entendimento de Crocco (2017, p. 8), a atividade do profissional pode ser observada da seguinte maneira: Consultoria é um processo interativo, executado por uma ou mais pessoas, independentes e externas ao problema em análise, com o objetivo de fornecer aos executivos da empresa-cliente um ou mais conjuntos de opções de mudanças que proporcionem a tomada de decisão mais adequada ao atendimento das necessidades da organização. Para o autor, a consultoria é um processo “externo ao problema” que é vivenciado pelas pessoas envolvidas na situação em que ele existe. Isso, portanto, não se relaciona à necessidade de que o profissional de consultoria seja externo à organização em que aquele problema está sendo observado. Por isso, neste sentido, existem duas modalidades de consultoria: a consultoria externa e a consultoria interna, de acordo com Crocco (2017) e Oliveira (2017). No caso da consultoria externa, o profissional é uma pessoa que não faz parte daquela organização, portanto, desconhece, a princípio, o problema e todo o contexto cultural, técnico, tecnológico e de processos que existe naquele ambiente. Diante desta situação, cabe ao profissional consultor compreender o cenário em que o problema está acontecendo e incluir em seus estudos diagnósticos todas as informações ambientais necessárias para sua análise (Oliveira, 2017). Em geral, a contratação deste profissional ou de uma empresa especializada pode estar atrelada a alguma indicação ou divulgação deste serviço feita à empresa em um momento oportuno. Nestetipo de contratação, existem vantagens e desvantagens que a organização deveria conhecer. Uma vantagem de se contratar um consultor externo pode ser a necessidade de contar com uma visão especializada acerca de 10 uma situação-problema que poderia ser considerada inédita para todos da organização, porém, não seria tão nova assim, de acordo com a expertise da consultoria escolhida. Outra vantagem seria uma maneira de se compreender a situação-problema em outra perspectiva de mercado, de processos ou mesmo cultural em que todos estão inseridos. Exemplos de desvantagens seriam o custo dos serviços, que poderia ser elevado em relação aos custos internos de trabalhos especializados, e uma possível resistência dos colaboradores em receber e aceitar a presença de um profissional externo à organização. Este tipo de situação pode causar (às vezes inicialmente) a sensação de medo ou de ameaça às pessoas que já trabalham naquele ambiente empresarial (Oliveira, 2017). Já a consultoria interna é caracterizada pela atuação de um profissional que já trabalha na organização, porém, não tem contato com a situação-problema analisada. Neste caso, a recepção e a aceitação ao colaborador consultor poderia acontecer de modo mais acolhedor, mas nem sempre será, dependendo dos motivos pelos quais a consultoria está sendo chamada (Crocco, 2017). Ainda que a atividade de consultoria apresente um caráter investigativo e voltado para a resolução de problemas, no contexto atual, a consultoria interna tem exercido uma função especializada para alguns colaboradores, de modo que eles possam atuar como um elo entre a alta gestão e a gestão tática e operacional, criando links entre as diretrizes de negócios e o cumprimento de objetivos e metas definidos em perspectiva estratégica. Ao consultor interno cabe, sempre que possível, a adoção das suas habilidades de planejamento, organização, execução e acompanhamento de planos e projetos de aprimoramento no contexto organizacional. 11 2. Os ambientes de negócios Na prática da consultoria, seja ela interna ou externa, compreender o contexto ou o cenário em que a situação-problema está sendo analisada é uma das primeiras atividades a ser planejada e desenvolvida. Os cenários ambientais, por exemplo, são compostos pelo levantamento de dados e informações e suas respectivas análises a respeito dos aspectos determinantes que se relacionam com o ambiente organizacional. Nos estudos de ambiente organizacional ou de negócios, na área de estratégia empresarial, são conhecidos pelo menos dois tipos de ambientes, que, de acordo com Lucena (2017), são o ambiente interno e o externo. Outras literaturas da área propõem três tipos de ambientes com variáveis (ou forças de influências) próprias e que afetam o comportamento das organizações. A Figura 1 apresenta cada um deles e suas características: Figura 1 – Os ambientes organizacionais Fonte: adaptada de Lucena (2017). Na Figura 1 é possível observar que o ambiente geral e o ambiente externo são compostos por variáveis que influenciam a organização de fora para dentro, com pouca possibilidade de um controle dessas variáveis pela empresa. Já as variáveis do ambiente interno fazem 12 parte da organização e são mais conhecidos e, de certa forma, mais controláveis pela gestão da empresa. De acordo a situação analisada em um determinado momento, a interação das forças que influenciam um ambiente pode alterar o comportamento do outro; consequentemente, pessoas e organizações são afetadas por isso. Esta informação deve ser a base para o início dos processos de consultoria, pois a cada momento a leitura do ambiente organizacional pode ser diferente e a identificação do problema no contexto adequadamente mapeado trará mais precisão ao projeto de melhoria a ser desenvolvido. Outra questão relevante acerca da análise ambiental é a compreensão de que o contexto mundial em relação a algumas variáveis está contido em um cenário BANI, como é conhecida a análise da atualidade e do futuro do mundo. O acrônimo BANI – do inglês Brittle, Anxious, Non- linear and Incomprehensible (em tradução livre: frágil, ansioso, não linear e incompreensível) – foi proposto por Jamais Cascio, um importante pensador futurista que aponta que os acontecimentos do mundo passaram de complexos para caóticos da seguinte maneira: Figura 2 – Contexto BANI Fonte: Cascio (2021, p. 103). 13 Tomando todas essas características apresentadas a respeito da importância da análise ambiental, compreendemos que os conhecimentos e as habilidades analíticas e criativas do profissional de consultoria devem estar em desenvolvimento constante para que sejam aplicados nos processos de resolução de problemas. 3. Novos papéis: o HRBP, ou Business Partner em RH Uma nova função no quadro de colaboradores na área de recursos humanos é conhecida como Human Resources Business Partner (HRBP ), em tradução livre, parceiro de negócios em RH ou consultor interno de RH, conforme aponta Molina (2019). O Business Partner (BP), como é conhecido na prática do mercado, é um profissional responsável por atuar como um elo entre as operações de RH das empresas e alinhá-las às estratégias definidas por ela. Este conceito surgiu com os estudos de Dave Ulrich com a intenção de transformar o papel dos profissionais de RH: que sejam não apenas pessoas responsáveis pelos processos internos do RH (que são importantes), mas que antes de pensar no que deve ser feito internamente, esses profissionais pensam pelo “lado de fora” – como o autor diz, de fora pra dentro –, transformando a visão dos parceiros de negócios e entendendo o contexto e como a empresa em que ele está inserido faz seus negócios (Ulrich, 2011, p. 17). Diante deste entendimento, Ulrich (2011, p. 18) enfatiza que a transformação do RH “precisa ser feita de modo que se concentre em agregar valor ao negócio, em vez de simplesmente otimizar o RH como uma função”. 14 Muito embora seja importante tratar a área de RH como estratégica, ou seja, diretamente atuante entre os objetivos de negócios da empresa e a condução dos processos de RH em direção a esses objetivos, essa não é a realidade da maioria das organizações brasileiras, considerando que nem todas as empresas contam com planejamento estratégico desenvolvido. Enquanto a visão da gestão das empresas considerar o RH como uma área “meio” ou “prestadora de serviços operacionais”, essa transformação não acontecerá, e o diferencial competitivo da empresa em relação às outras será atrelado aos seus produtos ou à sua logística. Quando se investe em pessoas – neste caso, nos profissionais de RH parceiros de negócios –, até os produtos e serviços são impactados, pois a inovação e a capacidade de aprimorar processos está nas competências que as pessoas têm e aplicam em seu trabalho. Há empresas que atualmente já contam com os BPs como realidade de atuação de profissionais de RH, e que efetivamente desenvolvem ações estratégicas e voltadas para o negócio; existem outras realidades em que a empresa até contrata ou desenvolve BPs, porém, eles ainda atuam em nível operacional, oferecendo apoio e suporte aos processos de RH, nem sempre alinhados estrategicamente como deveriam estar. De acordo com Molina (2019, p. 8 e 9), são algumas funções do consultor interno ou parceiro de negócios em RH: • apoiar e promover processos de mudança organizacional e direcionamento estratégico; • alinhar a gestão das pessoas às estratégias do negócio e aos objetivos organizacionais; • alinhar as pessoas, seus respectivos desempenhos e competências às estratégias do negócio e das metas organizacionais; 15 • desenvolver e capacitar gestores. Percebe-se, portanto, que as funções destacadas pelo autor preconizam ao mesmo tempo um olhar para o ambiente interno e outro para o ambiente externo, relacionando cenários, oportunidades, ameaças e alinhamentos do RH para o sucesso dos negócios empresariais. ReferênciasCASCIO, J. A educação em um mundo cada vez mais caótico. Boletim Técnico Do Senac, v. 47, n. 1, p. 101–105, 2021. https://doi.org/10.26849/bts.v47i1.879. Disponível em: https://bts.senac.br/bts/article/view/879. Acesso em: 10 maio 2023. CROCCO, L. Consultoria empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017. LUCENA, M. D. da S. Planejamento Estratégico de Recursos Humanos. 2. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2017. OLIVEIRA, L. O. Consultoria organizacional. São Paulo: Grupo A, 2017. MOLINA, F. M. C. Entendendo o negócio: o Consultor Interno de Recursos Humanos (CIRH) e o contexto atual. In: CAMILO, J. A. de O.; CASTELHANO, L. M.; PENHABEL, J. L. S. Gestão de pessoas: consultoria interna de recursos humanos. São Paulo: Senac, 2019. ULRICH, D. et al. A Transformação do RH. São Paulo: Grupo A, 2011. https://doi.org/10.26849/bts.v47i1.879. Disponível em: https://bts.senac.br/bts/article/view/879 https://doi.org/10.26849/bts.v47i1.879. Disponível em: https://bts.senac.br/bts/article/view/879 16 A resolução de problemas em consultoria Autoria: Janaina Priscila Rodrigues Firmino Leitura crítica: Renato Cividini Matthiesen Objetivos • Aprender a função dos métodos para a solução de problemas. • Compreender a racionalização como prática da solução de problemas. • Entender como elaborar propostas e planejar sua execução. • Analisar a maneira de acompanhar a execução e prestar contas dos resultados. 17 1. Os métodos de resolução de problemas Considerando que a consultoria é uma prática que tem como fundamento a opinião especializada, seja ela de um consultor interno ou de um consultor externo, e que tem como objetivo a resolução de problemas ou o aprimoramento de situações, a utilização de métodos para lidar com esses desafios é uma estratégia importante. Ainda que um consultor seja um profissional experiente em seu campo de trabalho, ele poderia usar a sua intuição como principal mecanismo para a análise e a resolução de um problema. A intuição é reconhecida como um tipo de raciocínio que utiliza conhecimentos gerais e especializados e que confere a uma pessoa a capacidade de tomada decisória considerando esses conhecimentos e o modo como a pessoa raciocina. Segundo Oliveira (2017, p. 120): Ao consultor cabe estabelecer um diálogo com os colaboradores da organização envolvidos nos processos a serem avaliados. Cabe a ele, também, buscar informações sobre a história da empresa, sua cultura, estrutura e atuação e confrontar essas informações com as que obteve na análise que deveria realizar antes da sua contratação. Mesmo assim, a intuição por si só poderia ser insuficiente para encontrar detalhes na análise de um problema, ou no ato da geração de alternativas para abordá-lo, principalmente porque, se o consultor se apoiasse apenas em suas próprias experiências, estaria desconsiderando os conhecimentos e experiências vividas pelos profissionais da empresa que estão atuando diretamente com a situação. O apoio de um método para garantir um desempenho melhor e mais apurado em relação à prática da consultoria seria o mais adequado, portanto. Uma metodologia é capaz de sistematizar etapas, organizá-las em uma sequência lógica e promover a racionalização da resolução de 18 problemas, ora se apoiando em dados e informações quantitativas, ora se apoiando na participação das pessoas envolvidas, conferindo também o caráter qualitativo para abordar o assunto em questão. Observe na Figura 1 o esquema conhecido como método racional de tomada decisória: Figura 1 – Método racional de tomada decisória Fonte: elaborada pela autora. Uma das fases mais importantes em processos de consultoria é a identificação do problema. Por se tratar da primeira etapa deste método, imagine se um problema fosse identificado incorretamente ou com falhas: todas as etapas subsequentes seriam desenvolvidas a partir deste recorte, ou seja, provavelmente a decisão estaria enviesada e não trataria o motivo principal da análise, que é o fato que está acontecendo. A partir da coleta de dados e informações acerca da situação a ser analisada, o problema pode ser mapeado e, então, as próximas etapas seguiriam seu curso de resolução. Uma sugestão de técnicas que poderiam ser aplicadas para a identificação de problemas são: análises documentais (relatórios, planilhas, indicadores), entrevistas, grupos de discussão, pesquisas de clima organizacional ou de pulso, avaliações de desempenho, pesquisas de satisfação de clientes etc. Alguns métodos comparativos de causas e efeito também poderiam ser utilizados, como os 5 Porquês, o diagrama de Ishikawa (espinha de peixe) e o Benchmarking. 19 Quanto mais sabe a respeito de um problema, possivelmente se torna mais objetiva a ação para tratá-lo, pois algumas das suas causas são conhecidas, a princípio. Quando não se sabe muito acerca do problema, as técnicas de levantamento de dados e de informações devem ser orientadas para compor cenários e chegar em alguma hipótese diagnóstica do fato. A composição de cenários também é uma técnica que favorece as análises do profissional de consultoria, tendo em vista que permite a criação de situações possíveis, positivas ou não, e que poderão ser tratadas de maneira diferente sempre que necessário. De acordo com Cavalcanti, Farah e Marcondes (2018, p. 80), cenários são suposições a respeito de algum acontecimento futuro e que “permite à organização aumentar suas possibilidades de ação e desempenho com vistas ao sucesso em um futuro distante.” Pode ser considerado um cenário uma situação projetada que é composta por todas as variáveis e informações levantadas e organizadas como uma proposta para a resolução de um problema. Dependendo da situação a ser analisada, pode ser possível elaborar mais de um cenário, considerando possibilidades reais, ideais, otimistas e pessimistas. Esta técnica possibilita análises situacionais que poderiam servir como “plano A”, “plano B” ou outros disponíveis ao consultor nos momentos decisórios. 2. A elaboração de propostas e o planejamento em consultoria A proposta é um documento essencial para a apresentação das intenções do projeto de consultoria. Ela pode ser registrada e apresentada em forma de documento impresso ou digital, ou mesmo em apresentações por slides ou vídeos, dependendo do projeto e da cultura da organização. De acordo com Schoetti e Stern (2018), existem 20 oito etapas para elaborar uma proposta de consultoria. Observe quais são elas no esquema a seguir: Figura 2 – Etapas da proposta de consultoria Fonte: Schoetti e Stern (2018, p. 5). Neste modelo, é possível apresentar às pessoas responsáveis que solicitaram o projeto, seja ele interno ou externo, o contexto e o problema apresentado inicialmente, e como o projeto de consultoria poderá lidar com ele em uma trajetória de resolução ou de melhoria da situação. A proposta, após ser entregue aos profissionais responsáveis, será avaliada e validada, de acordo com o que foi solicitado. É importante ressaltar que além dos assuntos a respeito da proposta em si, a inclusão de informações das atividades que serão realizadas e as condições necessárias para que elas se realizem também são importantes. Observe uma sugestão de campos essenciais para a formatação de uma proposta: 21 • Situação apresentada: histórico e análise do problema. • Objetivo da consultoria: aquilo que se pretende realizar. • Atividades previstas: cursos, treinamentos, mentorias, orientações, implantações ou melhoria de processos etc. • Público-alvo: quais e quantos profissionais serão atendidos, aproximadamente. • Local de execução: para fins de agendamento e deslocamentos. • Recursos necessários: informações a respeito de infraestrutura, apoio tecnológico e materiais (didáticos, de uso). • Cronograma proposto: com atividades, duração, início e término. • Orçamento: custos ou valor do investimento (quando a consultoria é externa). • Condições de pagamento: maneira de fazer os pagamentos, nocaso de consultoria externa. • Observações adicionais: para o caso de informar exclusões do projeto (aquilo que não está previsto na proposta e não será alterado); informar as limitações do projeto etc. Crocco (2017, p. 85) ressalta que “a proposta é o elemento tangível de tudo o que foi dito, levantado, discutido e analisado anteriormente entre o consultor e o cliente”. É muito importante que o consultor saiba apresentar muito bem tais informações e estar à disposição par esclarecer dúvidas e até negociar tópicos apresentados. 22 Nem sempre a negociação de propostas abarcará apenas o preço dos serviços. Ela também pode abordar o prazo, as atividades, o público-alvo e as condições de pagamento. É sempre interessante observar todos esses tópicos para uma eventual necessidade de adaptações por parte do cliente ou por parte da própria empresa. Ainda que a proposta de consultoria seja interna, os campos que você conheceu anteriormente também podem fazer parte de uma proposta, e poderão ser adaptados de acordo com a realidade de cada consultor. A partir da avaliação e aceitação da proposta de trabalho, principalmente para os casos de consultoria externa, é importante que seja elaborado um contrato entre as partes, para formalizar a prestação de serviços. É o contrato o instrumento administrativo com as cláusulas de acordo entre as partes e que regulará as responsabilidades de cada uma desde o início dos serviços, durante a execução e ao término da prestação de serviços. Há empresas que já oferecem o suporte jurídico adequado para isso, e há outras situações em que o próprio consultor poderá contar com o apoio de um profissional jurídico por sua conta, para lhe orientar neste processo. É uma boa prática a formalização do contrato antes de iniciar o serviço de consultoria, para garantia e proteção de ambas as partes em relação ao serviço que está sendo iniciado. Algumas dicas importantes acerca da informação das horas trabalhadas em um serviço de consultoria: há horas em que o consultor estará à disposição da empresa, seja presencialmente ou remotamente, e há horas em que o consultor se dedicará à análise do projeto, preparação dos materiais e estudo do problema. Essas horas geralmente não são visualizadas pelo cliente, porém, são horas de trabalho que devem ser contabilizadas em um projeto de consultoria, e essa informação deve fazer parte do instrumento de contrato para a execução. 23 3. A execução e avaliação da consultoria Para o início da execução dos projetos de consultoria, o aceite do contrato é o primeiro passo. A partir deste procedimento administrativo, as atividades previstas em cronograma podem ser realizadas. Existe uma questão delicada para este início de projeto, que é a aproximação com a equipe envolvida na consultoria – tanto a equipe da consultoria quanto a equipe da empresa que receberá os serviços. Esta aproximação pode ocorrer por meio de uma reunião inicial e apresentação dos consultores e do plano de trabalho definido, ou com a apresentação das pessoas da empresa. Uma visita inicial também pode ser um método de “quebra-gelo” em que o acolhimento aos profissionais acontece. Isso é necessário, pois nem sempre os ambientes de trabalho se abrem em favor da consultoria logo no início. Pode acontecer a resistência de alguma pessoa ou de grupos de pessoas quanto ao que será realizado. Pode existir a sensação de desconfiança e medo das pessoas em se dispor a prestar informações ou mesmo ter que demonstrar processos de trabalho. As pessoas podem demonstrar essa resistência por vários motivos, e faz parte do trabalho dos profissionais de consultoria conhecer esse comportamento e aprender a lidar com ele. Técnicas de mediação de conflitos, técnicas de diálogo ou mesmo de negociação podem ajudar muito nestes momentos, em que se aproximar e ser acolhido fará toda a diferença para que a atividade seja feita com o melhor desempenho possível. Outra estratégia para vencer a resistência é propor, desde o momento em que a consultoria tem início, a formação de pessoas multiplicadoras que poderão atender aos consultores e intermediar situações com os colegas de trabalho. 24 Para Crocco (2017, p. 47): Em determinadas situações, caso a responsabilidade e a transparência não forem consideradas, algumas das atividades podem ser imputadas à consultoria, aumentando a resistência a seu trabalho. Caso contrário, a aceitação será incrementada à proporção que os limites forem claramente estabelecidos e bem divulgados ao corpo funcional. Definindo este momento de acolhimento, então, os consultores poderão estabelecer objetivos e metas para serem atingidos e elaborar alguns indicadores de desempenho que servirão como métricas (uma espécie de termômetro) para acompanhar a execução. A partir da análise dos resultados em execução, pode haver orientações e redirecionamentos necessários para que as atividades aconteçam de modo alinhado ao planejamento do projeto. Algumas reuniões de follow-up (acompanhamento) e de prestação de contas podem ocorrer durante o período de execução, para alinhar com os profissionais envolvidos no projeto suas expectativas, os resultados que já estão sendo alcançados e possíveis ajustes de rota. O trabalho em consultoria é basicamente a gestão de um projeto com forte abordagem em gestão de pessoas, e essas competências devem fazer parte do perfil do consultor. Referências CAVALCANTI, M.; FARAH, O. E.; MARCONDES, L. P. Gestão estratégica de negócios: estratégias de crescimento e sobrevivência empresarial. 3. ed. revista e ampliada. São Paulo: Cengage Learning Brasil, 2018. CROCCO, L. Consultoria empresarial. São Paulo: Saraiva, 2017. OLIVEIRA, L O. Consultoria organizacional. São Paulo: Grupo A, 2017. SCHOETTI, J.-M.; STERN, P. Coleção caixa de ferramentas: Consultoria. São Paulo: Saraiva, 2018. 25 HRBP e os processos de RH Autoria: Janaina Priscila Rodrigues Firmino Leitura crítica: Renato Cividini Matthiesen Objetivos • Conhecer os processos de RH: dos tradicionais aos contemporâneos. • Compreender o papel do HRBP e os processos de RH. • Entender o que é a experiência do colaborador e sua relação com a cultura, clima organizacional e diversidade. • Reconhecer o desenvolvimento de pessoas como estratégia de alinhamento organizacional. 26 1. Mapeando os processos de RH Para um profissional assumir uma consultoria em RH, seja ela interna ou externa, ele deverá conhecer todos os processos que são realizados na organização em questão. Nem sempre é a realidade de uma organização a aplicação de todos os processos de RH; assim, cabe aos consultores conhecer as possibilidades dentro da realidade de cada organização, e depois identificá-las em cada situação, para que os projetos de consultoria sejam realizados de maneira factível e realista. Vamos observar no Quadro 1, a seguir, os processos mais conhecidos atualmente e praticados pelas organizações, utilizando como referencial teórico os estudos de Madruga (2021): 27 Quadro 1 – Processos de RH Fonte: adaptado de Madruga (2021). 28 No Quadro 1 estão os processos de RH, desde os mais tradicionais, como a provisão ou o recrutamento e a seleção de pessoas, as rotinas trabalhistas e as atividades de departamento pessoal, até os processos mais contemporâneos, como programas de cargos, carreiras e salários, o monitoramento de indicadores, análise de dados e informações na área de gente e gestão, como se denomina em algumas empresas. Em determinados projetos de consultoria, é necessário mapear e identificar todos os processos existentes e como as atividades de cada processo são realizadas com a intenção de aprimorá-las, ou mesmo de se inserir algum procedimento que ainda não existe naquela realidade, visando à aplicação de melhores práticas de gestão da área. Neste mapeamento também será possível identificar a tendência da empresa em atuar com os processos de RH apenas em nível operacional, ou se seriaimportante que os processos de níveis tático e estratégicos fossem implementados. De acordo com a cultura e os objetivos que a empresa declare, os projetos de consultoria podem considerar a implantação dos processos de RH ou mesmo ajustes em alguns deles já implantados, conforme nos ensina Pereira (2020). Considerando o porte da empresa ou a necessidade da gestão de pessoas, os processos de RH podem não ser implantados de modo integral, porém, algumas das suas práticas já seriam um diferencial e uma estratégia para oferecer ao gerenciamento das pessoas o atendimento a algumas necessidades existentes. Quando a empresa dispõe do profissional HRBP em sua estrutura de RH, a atuação deste profissional já incluirá atividades e ações que dialogarão com os níveis táticos e estratégicos da organização, como orienta Pereira (2020). Essas ações certamente deverão estar alinhadas à estratégia de negócios da empresa. 29 2. A experiência do colaborador sob a ótica estratégica Uma abordagem contemporânea e estratégica para cuidar dos processos de manutenção de pessoas tem sido a experiência do colaborador, ou employee experience, conforme Madruga (2021). Nesta abordagem, a intenção das ações de RH tem como prerrogativa proporcionar experiências positivas durante a jornada do colaborador na empresa, ou seja, o período em que ele pertencerá ao quadro de colaboradores desde sua entrada, integração ou onboarding, nos momentos de desenvolvimento, de acompanhamento de performance e de oportunidades de progresso e promoção salarial. A Figura 1 apresenta a seguir essa concepção proposta por Madruga (2021), tendo como base os processos de RH, e como perspectiva a cultura e a liderança, também como fatores-chave e de apoio para a experiência positiva no trabalho. Figura 1 – A jornada de experiência do colaborador Fonte: Madruga (2021, p. 46). 30 A ideia da jornada do colaborador como uma estratégia é acompanhar todos os pontos de contato que o colaborador tenha em relação aos serviços do RH e em relação à liderança, e que em cada experiência a comunicação seja assertiva, e o tratamento seja humanizado e acolhedor. Nestes casos, ainda que o colaborador não seja atendido plenamente em suas solicitações, se ele receber um bom tratamento, respostas e feedbacks respeitosos e adequados, terá como experiência positiva este relacionamento. Uma maneira de se conhecer de modo objetivo se a experiência do colaborador está acontecendo de modo satisfatório ou não é por meio de pesquisas de satisfação ou de clima organizacional. Essas pesquisas são instrumentos reconhecidos e validados por profissionais de RH, como nos apresentam Camilo, Castelhano e Penhabel (2020). Algumas organizações têm adotado como prática para conhecer o nível de satisfação do colaborador a técnica NPS (Net Promoter Score), ou o índice de satisfação e promoção, em que o colaborador responde a uma pesquisa de 0 a 10, indicando o quanto satisfeito e promotor em relação à experiência ele tem se apresentado. Para os casos em RH, o indicador se chama e-NPS ou Employee Net Promoter Score (Madruga, 2021). 3. Desenvolvimento de pessoas e alinhamento estratégico aos objetivos organizacionais Dentre os processos de RH, possivelmente o processo de desenvolvimento de pessoas seja um dos mais procurados e feitos pelas consultorias internas ou externas. Este comportamento deve-se às necessidades das organizações de estabelecerem práticas de aprendizagens que em muitas situações são especializadas e, por isso, apresentam como requisitos a atuação de profissionais experientes nesta área. 31 Uma das questões relevantes para quem desenvolve projetos de consultoria em desenvolvimento de pessoas é saber que este trabalho representa um elo entre os objetivos organizacionais, que são estratégicos para a empresa, e a motivação das pessoas colaboradoras em se disponibilizarem para aprender e praticar aquilo que adquirem. Os estudos motivacionais, portanto, são como a matéria-prima para os consultores, pois são deles que geralmente partimos para o desenho do processo de aprendizagem a ser estabelecido. Para isso, é importante ressaltar alguns conceitos que podem ser aprofundados por profissionais consultores. Quadro 2 – Motivação e satisfação humana Motivação Satisfação Forças para agir. É do indivíduo, depende de seus próprios interesses, crenças e desejos. “Ninguém motiva ninguém” (Bergamini, 2018, p. 8) A sensação de prazer quando uma necessidade ou um desejo é atendido. A experiência de se conquistar ou adquirir algo confere ao indivíduo o sentimento de satisfação (Bergamini, 2018). Liderança e motivação: cabe aos líderes incentivar e estimular as pessoas, dialogando com elas, mas motivá-las é praticamente impossível, pois os motivos são próprios a cada indivíduo. Compreender os motivos pelos quais as pessoas estão dispostas a aprender e a realizar objetivos é uma das tarefas da liderança, tanto do ponto de vista individual quanto do ponto de vista coletivo. É importante não confundir satisfação com motivação. A relação entre elas também pode não ser proporcional, por exemplo, uma pessoa satisfeita pode não estar motivada a mudar, pois uma determinada situação está boa para ela. Uma pessoa poderia se motivar a partir do momento de conquistar algo, pois gostaria de ir além da conquista. Por exemplo: você recebeu uma promoção e já está pensando nos motivos para ganhar uma próxima, adiante. Insatisfação e desmotivação já são problemas difíceis de lidar quando acontecem ao mesmo tempo. Fonte: adaptado de Bergamini (2018). 32 Para que um programa de desenvolvimento de pessoas seja realista e produza os efeitos esperados, é preciso compreender a relação dele com a motivação das pessoas colaboradoras em direção aos objetivos da empresa, da equipe e dos indivíduos. Programas motivacionais atrelados a experiências de aprendizagem poderiam, portanto, ser propostas estratégias para o desenvolvimento, principalmente quando estão estabelecidos em longo prazo. Observando a prática aplicada por empresas, existem dois exemplos destes programas: o programa de desenvolvimento individual (PDI) e o programa de desenvolvimento de liderança. Nos dois casos, a ideia é criar trilhas de aprendizagem com objetivos e metas distribuídos ao longo de um período, por exemplo, anualmente, e o protagonismo do colaborador ou do líder é a principal via de participação. Nestes programas, cada profissional faz uma avaliação das suas competências e suas lacunas de aprendizagem, e com o acompanhamento do seu líder direto estabelece uma proposta de busca para o autodesenvolvimento. Após a definição da proposta, que poderá ser composta por cursos, capacitações técnicas, técnicas de desenvolvimento como coaching ou mentoring e conforme o alinhamento entre líder e liderado, o acompanhamento dos resultados (ganhos e perdas) poderá ser feito. Há casos em que o acompanhamento ocorre mensalmente; em outros casos, a cada dois meses. A dinâmica dependerá do alinhamento estabelecido. Para os casos em que os programas de desenvolvimento não representem a necessidade ou mesmo a realidade da empresa, há estratégias de aprendizagem que podem acontecer em médio ou longo 33 prazos, como o caso da universidade corporativa ou mesmo a educação continuada. A intenção do desenvolvimento de pessoas, seja para grandes empresas ou micro e pequenas, é manter as pessoas em um estado de aprendizagem contínua, pois, para momentos de adaptação a mudanças, por exemplo, ou mesmo para inovação, a capacidade e a disponibilidade para aprender são os meios mais naturais e potentes para uma organização obter os melhores resultados. Referências BERGAMINI, C. W. Motivação nas Organizações. 7. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2018. CAMILO, J. A. de O.; CASTELHANO, L. M.; PENHABEL, J. L. S. Gestão de pessoas: consultoria interna de recursos humanos. São Paulo: Senac, 2020. MADRUGA, R. Employee Experience,Gestão de Pessoas e Cultura Organizacional. São Paulo: Grupo GEN, 2021. PEREIRA, M. C. B. RH essencial. 2. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. 34 Tópicos emergentes da consultoria em RH Autoria: Janaina Priscila Rodrigues Firmino Leitura crítica: Renato Cividini Matthiesen Objetivos • Compreender como os períodos de mudanças afetam a dinâmica gerencial e os processos de gestão. • Aprender quais são os principais drivers (facilitadores) que estão conduzindo mudanças. • Conhecer os cenários em que a transformação digital tem produzido novos olhares para o gerenciamento de pessoas. • Entender como o desenvolvimento humano tem sido a tendência para fortalecer as estratégias empresariais. 35 1. Mudanças e resistência às mudanças: desafios para a consultoria de RH Prezado estudante, é praticamente impossível adentrarmos ao tema mudanças sem comentar ao menos os seus fundamentos e o quanto os processos de mudanças afetam o comportamento humano e, consequentemente, o comportamento organizacional. Para iniciar esses estudos, o ponto de partida é compreender que as mudanças fazem parte da vida, logo, sempre haverá algo novo ou diferente, a partir de um contexto já conhecido, pois é sabido que estamos sempre em transformação: a natureza, o clima, as pessoas, a sociedade. Entendendo esta primeira ideia, é momento de seguirmos para as próximas concepções. Geralmente as mudanças ocorrem por meio de um processo, sendo precedidas em muitas vezes, por momentos de crises. Uma crise acontece quando algo que estava organizado de uma maneira se desorganiza e se rearranja de outra maneira. Nem sempre esse processo é algo confortável ou agradável às pessoas, porém, precisa ser reconhecido e enfrentado para que uma situação seja aprimorada (Forni, 2019). Veja alguns exemplos de processos de mudanças conduzidos em organizações: implantação de sistema de informação ou alteração do sistema existente; inovação em processos de trabalho, isto é, novas maneiras de se fazer algo; alteração na alta gestão e mudanças de cargos e pessoas em níveis gerenciais, culminando em mudanças culturais; mudanças de marca, layout, comunicação interna, uniformes e benefícios para os colaboradores. Para cada exemplo deve existir um motivo que propôs as mudanças. Alguns motivos podem ser a necessidade de mudar, e outros, oportunidades de negócios, se fosse esse o caso. 36 A questão que nos importa neste momento é entender que as mudanças são processos, ou seja, elas têm início, momentos de adequações e encerramento, portanto, em muitas situações de consultoria, o seu papel como consultor é conduzir tais processos com as organizações e suas equipes. Um fator importante que deve ser conhecido da consultoria é a resistência às mudanças – um comportamento inerente a este processo, e que pode ter suas raízes em variadas motivações; o medo do desconhecido, por exemplo, é uma destas raízes (Hollembeck; Wagner III, 2020). Como as pessoas nem sempre sabem para que ponto o processo de mudança as levará, podem reagir às alterações com medo e resistência em aceitar o que é novo. Outro motivo pode ser o hábito, ou seja, o modo automático com que se faz as coisas, o que pode causar desconforto ou mais esforços para se aprender e realizar o que é novo. A premissa, portanto, caro estudante, é de que existem mudanças acontecendo todo o tempo nos ambientes organizacionais, e estar atento a elas e aprender como conduzir tais processos será uma habilidade muito valiosa para compor seu rol de conhecimentos e práticas. No ambiente externo, principalmente as variáveis incontroláveis – aquelas em que intervenções ou negociação não são possíveis – são fontes de processos de mudanças, e que devem ser acompanhadas e adequadas às realidades organizacionais sempre que necessário. Observe no Quadro 1 a seguir algumas dessas variáveis, que poderíamos denominar também como drivers de mudanças, ou “facilitadores” para a mudança, que têm promovido uma alteração global no modo como as organizações (sejam elas públicas, privadas ou de terceiro setor) têm sido conduzidas. 37 Quadro 1 – Transformações organizacionais ESG Transformação digital Diversidade e segurança A sigla Environmental, Social and Governance, ou ASG, em português, para ambiente, responsabilidade social e governança, propõe que ações estratégicas e operacionais sejam adotadas pelas organizações visando atender os objetivos para o desenvolvimento sustentável (ODS), preconizados em acordo global entre grandes corporações e a ONU (Pacto Global, [s. d.]). A transformação digital pode ser compreendida como um processo de mudança de mentalidade que as empresas e seus colaboradores precisam internalizar, visando ir além de digitalização de processos. A intenção é resolver problemas, propor inovações e atuar de modo fluido, ágil e assertivo, utilizando a tecnologia de informação e de comunicação a favor dessa transformação (Borges, 2021). As questões humanas na gestão das pessoas estão em alta, principalmente a necessidade da prática da diversidade e da inclusão de pessoas no mundo do trabalho, garantindo a elas as condições necessárias para o bem-estar, a segurança do trabalho e a segurança psicológica, proporcionando um ambiente saudável e favorável à realização de um bom trabalho (Madruga, 2021). Fonte: elaborado pela autora. Diante de tantas transformações, é papel da pessoa consultora atuar de modo a estar conectada aos drivers e necessidades de mudanças, e alinhar tais conexões em seus projetos da maneira mais adequada e possível para cada realidade organizacional. Para os casos de ESG, por exemplo, existem exigências postas por fornecedores ou cobradas por clientes para que as empresas atuem de maneira responsável em relação às três linhas estratégicas: as ambientais, as de responsabilidade social e as de governança. Dentro do contexto ambiental, todas as ações preventivas ou corretivas que podem diminuir ou eliminar impactos ambientais são bem-vindas. Já no contexto da responsabilidade social estão as ações internas, ou seja, voltadas para os colaboradores, e o cumprimento dos requisitos legais trabalhistas e sociais, além do respeito às normas de saúde e 38 de segurança no trabalho e a prática de ações efetivas em relação a diversidade e inclusão de pessoas (Soler; Palermo, 2023). Externamente, a responsabilidade social se configura em ações orientadas para a comunidade local, oferecendo contribuições para os bairros ao entorno e para a mobilidade urbana, além de ofertas de vagas de empregos e cursos de capacitação profissional. Em relação aos clientes, é agir com ética e responsabilidade na fabricação de produtos, prestação dos serviços e atendimento assertivo em todos os momentos de relacionamento cliente-empresa. A respeito da governança, que é o sistema de gestão da empresa, as ações de conformidade ou compliance preconizam canais de denúncia acerca de fraudes ou atitudes incoerentes com as normas da empresa. As políticas anticorrupção também fazem parte desta abordagem, relacionada às boas práticas de gestão e de responsabilidade com acionistas, fornecedores, clientes e colaboradores. 2. Transformação digital e inovação A transformação digital tem relação com os avanços tecnológicos obtidos com a globalização das tecnologias de informação e de comunicação, considerando um cenário que está sempre inovando e buscando vantagens competitivas entre os negócios. Na visão de Borges (2021), a transformação digital é um processo contínuo de exploração e mudança de mentalidade ao lidar com as tecnologias e com a dinâmica das relações de negócios em um contexto digital e hiperconectado. Além disso, o autor também destaca que o modo de criar e entregar valor para o cliente faz parte desta mudança de mentalidade, e o modo de utilizar as tecnologias para a criação de experiências diferenciadas agregam o valor pretendido. 39 Para conduzira transformação digital em processos de consultoria, é necessário que a pessoa consultora compreenda todas as particularidades, tanto em relação às questões técnicas, por exemplo, das tecnologias emergentes utilizadas em determinado segmento ou mercado, quanto na capacidade da organização (incluindo estrutura e pessoas) em se adequar à nova mentalidade. Alguns dos exemplos de tecnologias emergentes aplicadas principalmente à área de gestão de pessoas no contexto da Indústria 4.0, por exemplo, são: Figura 1 – Tecnologias emergentes da Indústria 4.0 Fonte: adaptado de Borges (2021). De acordo com os estudos de Borges (2021), compreende-se por Indústria 4.0 o contexto social e econômico em que as tecnologias estão fazendo parte das atividades de trabalho e de negócios para além do que é esforço humano. Algumas destas tecnologias citadas são Big data, Cloud computing, impressões 3D e blockchain, como evidencia Borges (2021). Para esse autor, a quarta Revolução Industrial, ou a Indústria 4.0, apresenta como marco: 40 […] os sistemas ciberfísicos (cyber-physical systems), isto é, a integração de dispositivos mecânicos com o poder computacional em máquinas capazes de reconhecer seu ambiente e agir de forma inteligente. Essa revolução está assentada sobre os avanços da tecnologia digital e dos sistemas computadorizados, além de toda uma gama de novas tecnologias que sustentam os pilares desta Indústria 4.0 (Borges, 2021, p. 142). A quarta Revolução Industrial é precedida por três revoluções anteriores, consideradas marcos importantes no desenvolvimento da sociedade global. A primeira revolução veio com o advento das máquinas e ferramentas para o trabalho humano na produção; a segunda revolução foi caracterizada pelas linhas de montagem e o uso da energia elétrica e dos motores de combustão; e a terceira revolução, pela aplicação das tecnologias de informação e da internet no mundo do trabalho (Borges, 2021). Uma das grandes preocupações e desafios da Indústria 4.0 se conecta com a aplicabilidade da inteligência artificial (IA) e a sua relação com a empregabilidade das pessoas, considerando que a potencialidade desta tecnologia ainda está sendo conhecida e substitui muitas atividades rotineiras e de complexidades variadas (baixa, média e alta) realizadas por humanos. Outra questão relevante a ser pontuada é a qualidade de vida das pessoas neste cenário em que tudo está conectado, colocando o ser humano (dependendo da abordagem ou interpretação) em segundo plano. Neste contexto, já existem alguns estudos iniciais do que se denomina sociedade 5.0, que representa um olhar para o bem-estar e a qualidade de vida humana considerando a reunião de todas as tecnologias oriundas da Indústria 4.0 e suas aplicações. De acordo com os estudos de Sott, Baum e Bender (2022), a origem do conceito de sociedade 5.0 surgiu no Japão no ano de 2016, com a proposta de “desenvolver uma sociedade mais próspera e centrada no ser-humano, capaz de solucionar problemas sociais crônicos através da integração entre os espaços físico e virtual (Roblek et al., 2021, apud Sott; Baum; Bender, 2022, p. 5). 41 Para os autores, a sociedade passou por diversas transformações, segundo a história e sob a ótica do trabalho, conforme apresenta a Figura 2: Figura 2 – Transformações sociais e as eras industriais Fonte: Sott, Baum e Bender (2022, p. 3). A intenção da sociedade 5.0, que é um tema muito recente e em pesquisas iniciais, é de colocar o ser humano como ponto central do desenvolvimento social, em uma abordagem humano-centrada, e que as tecnologias sejam o apoio para a resolução de problemas sociais e a criação de ecossistemas sustentáveis e favoráveis ao bem-estar das pessoas. Ainda existem divergências acerca do conceito da sociedade 5.0, pois os estudos são iniciais e precisam ser aprofundados. Os autores ainda reforçam que o contexto urbano não constitui o que se reconhece por sociedade. Nesta perspectiva, “O conceito de sociedade inclui as cidades, as comunidades, as indústrias, as tecnologias e as pessoas, ou seja, os diversos elementos bióticos e abióticos que a compõem” (Sott; Baum; Bender, 2022, p. 7). 3. Habilidades socioemocionais e formação de lideranças A abordagem humanizada para a gestão de organizações é uma pauta sempre presente quando se discutem processos de melhorias. Como 42 você já observou, caro estudante, os drivers de mudanças implicam diretamente a vida humana, o contexto ambiental em que a vida está inserida e como as relações sociais acontecem. Por causa da influência dos fatores tecnológicos, ambientais, econômicos e políticos que uma sociedade vivencia, a humanização é algo que deve estar no radar das decisões, nas esferas pública e privada. Há alguns anos, os estudos das habilidades humanas têm sido desenvolvidos neste sentido, observando-se as necessidades de formação humana e de aptidão para o trabalho, no contexto econômico e na manutenção da melhor condição de vida possível, tanto do colaborador quanto de suas famílias. Um destes estudos, promovido pelo CASEL (Collaborative for Academic, Social and Emotional Learning), uma organização composta por pesquisadores de aprendizagem socioemocional, considera aspectos de como crianças e adultos podem aprender e desenvolver um gerenciamento de suas habilidades humanas, por exemplo, o gerenciamento emocional. Nesta perspectiva, os estudos do CASEL propõem cinco competências para este desenvolvimento. São elas: Autoconhecimento: reconhecimento de emoções, valores, potencialidades, limitações. Autogestão: capacidade de gerenciar emoções e comportamentos, de ter perseverança e resiliência para alcançar objetivos e de controlar impulsos etc. Habilidades de relacionamento: capacidade de criar e manter relações sociais saudáveis e positivas e que abrangem a cooperação, boa comunicação, escuta ativa, resolução de conflitos etc. 43 Consciência social: discernimento de sentimentos e emoções de outras pessoas, e capacidade de se colocar no lugar delas, mesmo que venham de diferentes contextos, culturas e origens. Tomada de decisões responsáveis: tomada de boas decisões nos âmbitos individual e social, comportamentos pautados na ética e em valores (Cavalcanti, 2023, p. 31). Os profissionais de RH, consultorias e organizações precisam estar cientes destas habilidades, pois existe um diálogo entre a formação das pessoas em fase escolar e o que se espera da sua atuação no mundo do trabalho, considerando principalmente a necessidade de adaptação constante dos colaboradores diante dos cenários dinâmicos devido a mudanças. A capacidade de se adaptar é uma das características relevantes neste contexto, e cabe aos gestores de pessoas conduzirem os processos de mudança da melhor maneira possível, de acordo com cada realidade institucional. Hollembeck e Wagner III (2020, p. 63) apontam um entendimento acerca da adaptabilidade como uma habilidade, da seguinte maneira: […] a adaptabilidade reconhece variações nos comportamentos de uma pessoa. Pessoas altamente adaptáveis podem lidar com emergências e tratar com eficácia de situações incertas e imprevisíveis. Elas também tendem a ser criativas, solucionadoras de problemas e aprendem rapidamente novas tarefas, tecnologias e procedimentos. Como apoio às ações do RH e alinhados aos objetivos organizacionais há uma força de apoio estratégica nas empresas, que são as lideranças. É por meio do trabalho do líder que as equipes são orientadas, estimuladas e conduzidas, por isso, são um elo importantíssimo nos processos de consultoria. Considerar a formação e o desenvolvimento continuado das lideranças é necessidade primordial para os momentos atuais na gestão das 44 organizações. O desenvolvimento de líderes deve focar as habilidades técnicas e gerenciais (de planejamento, de organização, de execução e acompanhamento de resultados) e as habilidades humanas, como o trabalho em equipe e o engajamento depessoas, o fomento à criatividade e inovação e a orientação e formação de novos líderes. Os tópicos que você estudou serão sempre relevantes para a gestão de pessoas e para a área de RH, portanto, recomendamos que você esteja sempre em aprendizagem no tocante a esses assuntos, para estar atualizado e preparado para propor e conduzir processos de melhorias sempre que for necessário. Referências BORGES, F. R. Transformação digital: um guia prático para liderar empresas que se reinventam. São Paulo: Grupo GEN, 2021. CAVALCANTI, C. C. Aprendizagem socioemocional com metodologias ativas: um guia para educadores. São Paulo: Saraiva, 2023. FORNI, J. J. Gestão de Crises e Comunicação. São Paulo: Grupo GEN, 2019. HOLLENBECK, J. R.; WAGNER III, J. W. Comportamento organizacional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. MADRUGA, R. Employee Experience, Gestão de Pessoas e Cultura Organizacional. São Paulo: Grupo GEN, 2021. PACTO GLOBAL. ESG. Pacto Global, [s. d.]. Disponível em: https://www.pactoglobal. org.br/pg/esg. Acesso em: 1 ago. 2023. SOLER, F.; PALERMO, C. ESG (ambiental, social e governança): da teoria à prática. São Paulo: Saraiva, 2023. SOTT, M. K.; BAUM, K. da S.; BENDER, M. S. Sociedade 5.0: explorando os dilemas do ecossistema social do futuro. REVES – Revista Relações Sociais, [S. l.], v. 5, n. 4, p. 14920–14921e, 2022. Disponível em: https://periodicos.ufv.br/reves/article/ view/14920. Acesso em: 14 ago. 2023. https://www.pactoglobal.org.br/pg/esg https://www.pactoglobal.org.br/pg/esg https://periodicos.ufv.br/reves/article/view/14920 https://periodicos.ufv.br/reves/article/view/14920 45 Sumário Apresentação da disciplina Fundamentos da Consultoria em RH Objetivos 1. Os fundamentos da consultoria 2. Os ambientes de negócios 3. Novos papéis: o HRBP, ou Business Partner em RH Referências A resolução de problemas em consultoria Objetivos 1. Os métodos de resolução de problemas 2. A elaboração de propostas e o planejamento em consultoria 3. A execução e avaliação da consultoria Referências HRBP e os processos de RH Objetivos 1. Mapeando os processos de RH 2. A experiência do colaborador sob a ótica estratégica 3. Desenvolvimento de pessoas e alinhamento estratégico aos objetivos organizacionais Referências Tópicos emergentes da consultoria em RH Objetivos 1. Mudanças e resistência às mudanças: desafios para a consultoria de RH 2. Transformação digital e inovação 3. Habilidades socioemocionais e formação de lideranças Referências