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UNIVERSIDADE SALVADOR - UNIFACS
CURSO DE NUTRIÇÃO
NATHALIA INGRID PIANCÓ SANTOS LIMA
A IMPORTÂNCIA DA INTRODUÇÃO ALIMENTAR ADEQUADA PARA O
DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Feira de Santana - BA
2023
UNIVERSIDADE SALVADOR - UNIFACS
CURSO DE NUTRIÇÃO
NATHALIA INGRID PIANCÓ SANTOS LIMA
A IMPORTÂNCIA DA INTRODUÇÃO ALIMENTAR ADEQUADA PARA O
DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao
curso de Nutrição da Universidade Salvador
(UNIFACS), como requisito parcial para a
obtenção de seus créditos e, por conseguinte, do
título de Bacharel em Nutrição.
Orientadora: Profª Mestre Samylle Santos
Oliveira
Feira de Santana - BA
2023
RESUMO
A alimentação complementar é caracterizada pela introdução de alimentos classificados como
nutritivos, com objetivo de associar novas fontes de nutrição ao leite materno que é
consumido pelos lactentes. É indicado que esta introdução seja iniciada aos 6 meses de idade,
a fim de evitar que seja realizada precocemente. O presente estudo teve como objetivo
identificar a importância da introdução alimentar adequada, e sua influência na promoção do
crescimento e desenvolvimento da criança. Este estudo teve como metodologia a revisão
sistemática, para a qual foram selecionadas publicações científicas inseridas nos critérios de
inclusão. Sete artigos foram selecionados segundo as temáticas exploradas, texto na íntegra e
ano de publicação. A partir do presente estudo foi possível compreender que a introdução da
alimentação complementar precoce tem sido predominante, como a oferta de água, chás,
sucos, entre outros. Estudos mostraram a necessidade de realizar ações para evidenciar os
riscos associados à complementação alimentar precoce em lactentes, e também salientar a
importância da amamentação até os 2 anos de vida, que se mostra essencial para manter a
saúde e qualidade de vida da criança. Nota-se a necessidade da divulgação de informações
relacionadas a esta temática, e implementação de políticas para apoiar a promoção à
amamentação e à alimentação complementar adequada, de forma a contribuir para que as
famílias recebam melhores instruções. Desse modo, evidencia-se a importância da atuação do
profissional Nutricionista, a fim de auxiliar positivamente no bem estar da criança, no seu
crescimento e desenvolvimento.
Palavras-chave: Introdução alimentar. Desenvolvimento da criança. Nutrição
ABSTRACT
Complementary feeding is identified by the introduction of foods classified as nutritious, with
the aim of associating new sources of nutrition with the breast milk that is consumed by
infants. The recommendation for such introduction is that it happens at the age of six months
old, so to prevent it from being carried out too early. This study aimed to identify the
importance of adequate food introduction, and its influence in promoting the child's growth
and development. The methodology used in the present study was the systematic review, for
which scientific publications inserted in the inclusion criteria were selected. Seven articles
were used according to the topic explored, containing the full text and year of publication.
From the study, it was possible to understand that the introduction of early complementary
feeding has been predominant, such as the offer of water, teas, juices, among others. Studies
have felt the need to carry out actions to highlight the risks associated with early food
supplementation in infants, and have also emphasized the importance of breastfeeding up to
two years of age, which is essential to maintain a child’s health and life quality. There is a
need to disseminate information related to this issue, implementing policies to support the
promotion of breastfeeding and adequate complementary feeding, in order to help families
receive the best instructions. Thus, the importance of the professional Nutritionist’s
performance stays evident, in order to positively assist in the well-being of the child, in its
growth and development.
Keywords: Food introduction. Child development. Nutrition
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................05
2 METODOLOGIA.................................................................................................07
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................................09
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................17
5 REFERÊNCIAS....................................................................................................18
5
1. INTRODUÇÃO
O leite materno possui uma composição única, capaz de atender às necessidades
nutricionais da criança conforme sua idade, além de conferir proteção contra doenças e
auxiliar no desenvolvimento cerebral. Recomenda-se o aleitamento materno até os dois anos
de idade ou mais, porém, a amamentação deve ser ofertada de forma exclusiva até os seis
meses de vida, sem necessidade de oferecer água, chá ou outros alimentos (BRASIL, 2019)
A partir dos seis meses, o aleitamento materno exclusivo não é mais suficiente para
atender as necessidades da criança, sendo necessário a complementação da dieta, desta forma,
deve ser realizada a introdução alimentar de forma lenta e gradual (WHO, 2002). A
alimentação complementar é caracterizada pela introdução de alimentos classificados como
nutritivos, com objetivo de associar novas fontes de nutrição com o leite materno que é
consumido. Recomendações sugerem que esta introdução seja iniciada no período indicado, a
fim de evitar que seja realizado precocemente (GIUGLIANI; VICTORA., 2000). A oferta de
novos alimentos além do leite materno se torna necessária para acompanhar o crescimento e
desenvolvimento da criança, porém, aconselha-se que estes alimentos sejam saudáveis, in
natura, e minimamente processados (BRASIL, 2019)
A introdução de uma alimentação saudável pode proporcionar desenvolvimento e
crescimento apropriados, influenciando na otimização do funcionamento de órgãos e
sistemas, e também na prevenção de doenças (WEFFORT et al., 2012). Os movimentos e
estímulos musculares realizados durante os atos de sucção e mastigação estão diretamente
ligados ao processo de desenvolvimento motor oral, iniciados nos primeiros meses de vida
(CASTRO et al., 2017). Além disso, outros estímulos relacionados aos hábitos alimentares
incentivados à criança, como o tipo do utensílio utilizado no momento da alimentação e a
consistência do alimento oferecido são importantes para a adequação de funções como a
deglutição, respiração, mastigação e fonoarticulação (SCHAURICH; DELGADO, 2014).
Segundo Caetano et al. (2010) no primeiro ano de vida os lactentes estão expostos a
um elevado risco nutricional, com potenciais complicações, relacionado a introdução
alimentar precoce e ao consumo de alimentos inadequados como leite de vaca e produtos
industrializados ricos em sódio e açúcar. Esta introdução de alimentos inadequados para o
consumo influencia diretamente na baixa ingestão de micronutrientes, provocando
deficiências, e também elevando o risco de desenvolvimento de doenças crônicas
futuramente.
Neste sentido, os hábitos alimentares inadequados são considerados uma das
6
principais causas que influenciam diretamente no desenvolvimento da desnutrição em
crianças. Na maioria dos países o índice de casos de desnutrição apresenta aumento
considerável na fase de 6 a 18 meses de idade, e as deficiências adquiridas neste período são
difíceis de recompensar nas outras fases na infância (WHO, 2002). Além disso, a prevalência
de obesidade infantil cresce a cada ano no Brasil, sendo fundamental evitar o ganho de peso
desnecessário, através de uma alimentação saudável e adequada (BRASIL, 2019).
Desta forma, pode-se identificar a importância da introdução alimentar adequada, de
acordo com as recomendações, para a promoçãoda saúde da criança. Além de influenciar
diretamente na formação do hábito alimentar saudável desde o primeiro contato com o
alimento.
O presente estudo teve como objetivo geral identificar a importância da introdução
alimentar adequada, e sua influência na promoção do desenvolvimento da criança, através de
uma revisão sistemática. Teve-se como objetivos específicos, identificar como a introdução
alimentar é importante para a formação dos hábitos alimentares das crianças, e discutir como
os hábitos alimentares podem interferir no desenvolvimento da criança.
7
2. METODOLOGIA
Este estudo teve como metodologia a revisão sistemática, a partir de publicações
científicas previamente selecionadas. A revisão sistemática consiste em uma forma de
pesquisa que utiliza a literatura como fonte de dados sobre determinado tema (SAMPAIO;
MANCINI; 2007). A busca do conteúdo foi realizada no mês de março de 2023 por meio das
bases de dados da Scielo (Scientific Electronic Library Online), PubMed
(MEDLINE/PubMed – Biomedical Literature Citations And Abstracts e BVS (Biblioteca
Virtual em Saúde), utilizando os descritores: “introdução alimentar”, “desenvolvimento da
criança”, “nutrição”, combinados a partir do operador booleano "AND".
Para a seleção dos estudos foram utilizados os seguintes critérios de inclusão:
a) publicados a partir do ano 2000
b) artigos disponíveis na íntegra
c) artigos com abordagens voltadas para introdução alimentar
Foram excluídos os artigos duplicados, comunicações curtas, resumos, e artigos com
títulos que não se enquadravam no tema. A partir dos critérios adotados foram selecionados
13 estudos na base de dados da SciElo, 1 estudo na PubMed, e 22 estudos na BVS,
totalizando 36 trabalhos (Figura 1). Após leitura dos títulos, resumos e trabalhos completos,
obteve-se uma amostra de 7 artigos que se enquadravam neste estudo. O sistema utilizado no
processo de identificação e seleção dos artigos é evidenciado na figura 1. Por se tratar de uma
revisão da literatura não é necessário que o estudo seja submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa, contudo, pressupostos éticos foram considerados buscando a devida citação de
ideias de outros autores, utilizadas na construção do presente trabalho.
8
Figura 1. Modelo esquemático do fluxograma de identificação e seleção de artigos.
Fonte: Autoria Própria
9
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A presente revisão selecionou 7 artigos, de acordo com os critérios de inclusão, os
quais estão identificados na Tabela 1.
Tabela 1. Caracterização dos artigos selecionados sobre a introdução alimentar
AUTOR
(ANO) TÍTULO
OBJETO DE
ESTUDO IDIOMA
OBJETIVO
DO ESTUDO
MODESTO;
DEVINCENZI;
SIGULEM,
2007
Práticas
alimentares e
estado
nutricional de
crianças no
segundo
semestre de
vida
atendidas na
rede pública de
saúde
Crianças no
segundo
semestre de
vida
Português
Avaliar o estado
nutricional e as
práticas
alimentares de
crianças no
segundo
semestre de
vida atendidas
na rede pública
de saúde do
município de
Taboão da
Serra, SP
SIMON;
SOUZA;
SOUZA, 2010
Aleitamento
materno,
alimentação
complementar,
sobrepeso e
obesidade em
pré-escolares
Crianças de até
2 anos Português
Analisar a
associação do
sobrepeso e da
obesidade com
o aleitamento
materno e a
alimentação
complementar
em
pré-escolares
10
CAETANO et
al., 2010
Alimentação
complementar:
práticas
inadequadas em
lactentes
Lactentes Português
Avaliar o
consumo
alimentar de
lactentes entre 4
e 12 meses
SCHAURICH;
DELGADO,
2014
Caracterização
do
desenvolvimen-
to da
alimentação em
crianças de 6 a
24 meses
Crianças de 6 a
24 meses Português
Caracterizar a
alimentação de
crianças de seis
a vinte e quatro
meses
MOREIRA, et
al., 2019
Introdução de
alimentos
complementares
em lactentes
Lactentes Português
Analisar a
frequência, a
idade e a
tendência
temporal da
introdução da
alimentação
complementar
em lactentes
SANTOS et al.,
2019
Práticas
alimentares
entre crianças
menores de um
ano internadas
em hospital
público
Crianças de até
12 meses Português
Conhecer a
alimentação
complementar
praticada por
crianças
menores de um
ano, internadas
em um hospital
público
BECKER et al.,
2023
A introdução
precoce de
sucos pode
influenciar
desfechos
antropomé-
tricos e
consumo
alimentar em
idade
pré-escolar?
Crianças até 2
anos Português
Avaliar o
impacto do
consumo de
sucos antes dos
6 meses de
idade no IMC/I
e no consumo
alimentar em
pré-escolares
Fonte: Autoria Própria
11
O presente estudo é uma revisão sistemática que teve como objetivo compreender
como a introdução alimentar pode exercer influência sobre o desenvolvimento infantil. Desta
forma, buscou-se obter respostas para alguns questionamentos como: a introdução alimentar,
em momentos temporais não recomendados, pode ser prejudicial para a criança? Qual a
importância da introdução alimentar para a formação dos hábitos alimentares da criança?
Como os hábitos alimentares podem influenciar no desenvolvimento da criança? Mediante os
questionamentos levantados, foram selecionados artigos para melhor compreensão do tema.
Um dos artigos selecionados, escrito por Modesto, Devincenzi e Sigulem, publicado
no ano de 2007, e intitulado como “Práticas alimentares e estado nutricional de crianças no
segundo semestre de vida atendidas na rede pública de saúde”, teve como objetivo avaliar o
estado nutricional e as práticas alimentares de crianças no segundo semestre de vida atendidas
em uma rede pública de saúde. Na metodologia utilizada pelos autores realizou-se aplicação
de questionários, pelos quais foram coletadas informações sobre a criança, sobre os pais,
moradia e histórico da introdução dos alimentos. O consumo alimentar foi registrado pelo
método recordatório de 24 horas, e a amostra estudada foi selecionada de forma espontânea,
entre crianças de 6 a 11 meses que frequentavam Unidades Básicas de Saúde (UBS) para
acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento.
Os resultados obtidos, por meio da avaliação das práticas alimentares de cada criança
participante, mostraram que a prevalência da amamentação é baixa em todas as crianças,
independente da sua condição socioeconômica, evidenciando que o desmame precoce é
comum na população estudada. Os autores identificaram a introdução precoce de
determinados alimentos, como água, chá, frutas, sopas, e a maioria das crianças avaliadas
fazem uso do leite de vaca, associados ou não com o leite materno. A partir da alimentação
ofertada, a ingestão de ferro, e de vitaminas A e C foram avaliadas, desta forma, pode-se
constatar o consumo inadequado de alimentos fontes de ferro, e consequentemente, a
identificação de crianças anêmicas, atingindo 30,6% da amostra estudada. Estudos apontam
que os casos de anemia por deficiência de ferro, em crianças menores de dois anos, possuem
uma alta prevalência em todo o país (BRASIL, 2005).
Os autores também observaram um valor mediano para a ingestão de vitamina C, o
que pode indicar possíveis deficiências na alimentação, ressaltando a necessidade de uma
alimentação infantil de qualidade, rica em nutrientes, e salientam a importância da
suplementação, se necessário. Isto é, a introdução da alimentação complementar de qualidade,
e de maneira adequada, pode ser decisiva para a saúde da criança nos primeiros anos de vida,
de modo a permitir um crescimento e desenvolvimento satisfatórios. Quanto ao estado
12
nutricional, poucas crianças foram identificadas em déficit nutricional, sendo a maioria da
amostra composta por crianças eutróficas.
O segundo artigo, escrito por Simon, Souza e Souza, publicado no ano de 2010, e
intitulado como “Aleitamento materno, alimentação complementar, sobrepeso e obesidade em
pré-escolares”, teve como objetivo avaliar a relação do sobrepeso e da obesidade com o
aleitamento materno e a alimentação complementar em pré-escolares. Na metodologia
utilizada foi realizada avaliação antropométrica, e aplicação de questionários com os
responsáveis de crianças de2 a 6 anos de idade, a fim de obter informações específicas como:
condições socioeconômicas da criança e sua família, duração do aleitamento materno,
alimentação complementar e alimentação atual, dados que foram utilizados para fortalecer a
base da pesquisa.
Os autores identificaram, a partir dos resultados obtidos, que a alimentação
complementar vem sendo introduzida precocemente. Dentre os alimentos, água e chá foram
os mais consumidos de forma precoce para maior proporção de crianças, com 72,1%, seguido
das frutas com 66,4% e leite não materno com 53,2%. Outros alimentos também foram
introduzidos no mesmo período, como preparações adocicadas, achocolatados, iogurtes, entre
outros. Na avaliação antropométrica observou-se que 60,2% eram eutróficas, 34,4%
apresentavam sobrepeso ou obesidade, um índice considerado elevado para a faixa etária das
crianças estudadas, e 5,3% tinham baixo peso.
Pode-se observar que o aleitamento materno exclusivo por seis meses ou mais e o
aleitamento prolongado por mais de dois anos de vida, são fatores de proteção contra o
sobrepeso e obesidade, assim como a introdução de alimentos ricos em açúcar, no período em
que a criança está formando seus hábitos alimentares, pode levar ao maior consumo desses
alimentos, por possuírem sabor agradável para as crianças, e consequentemente, elevando o
risco do desenvolvimento de sobrepeso e obesidade.
Sugere-se que açúcares e preparações adocicadas não devem ser ofertadas às crianças
menores de dois anos. A oferta de açúcares precocemente elevam as possibilidades de ganho
excessivo de peso na infância e consequentemente, o desenvolvimento de doenças no futuro.
Ainda, o consumo de açúcares pode interferir na aceitação de outros alimentos como verduras
e legumes, ou seja, evitar esta oferta contribui diretamente para a formação de hábitos
alimentares mais saudáveis (BRASIL, 2019).
O artigo escrito por Caetano et al., publicado no ano de 2010, intitulado “Alimentação
complementar: práticas inadequadas em lactentes”, teve como objetivo avaliar o consumo e as
práticas alimentares de lactentes, utilizando a metodologia de análise quantitativa e qualitativa
13
dos registros alimentares, e aplicação de questionários.
Pode-se observar neste estudo que a introdução da alimentação complementar tem
sido iniciada em média aos 4 meses de idade. Cerca de 50,3% das crianças não consumiam
mais o leite materno, e a maioria fazia uso do leite de vaca integral. Foi identificado alto
percentual no consumo de alimentos processados, principalmente refrigerantes e sucos
artificiais, e elevada frequência no acréscimo de açúcar, cereais e achocolatado nas
preparações, mesmo para crianças menores de 6 meses. Os autores evidenciaram o possível
risco nutricional aos quais os lactentes estão expostos, visto que é frequente a introdução
precoce de alimentos processados, ricos em sódio, açúcares, e gorduras, associados a curta
duração do aleitamento materno, ao uso do leite de vaca, e baixa ingestão de micronutrientes.
Este consumo alimentar inadequado, e a redução do período de amamentação, podem
influenciar diretamente no aumento do risco de desenvolvimento de doenças crônicas no
futuro. Os autores também verificaram inadequações quanto ao consumo de ferro, zinco e
vitamina A, evidenciando as deficiências de zinco em 75%, e ferro em 45% da amostra
estudada.
O artigo escrito por Schaurich e Delgado, publicado em 2014, e intitulado
“Caracterização do desenvolvimento da alimentação em crianças de 6 a 24 meses”, teve como
objetivo caracterizar a alimentação de crianças de seis a vinte e quatro meses, seguindo a
metodologia de estudo descritivo, com aplicação de entrevistas com as famílias das crianças
que frequentavam uma determinada Unidade Básica de Saúde (UBS).
Neste estudo, os autores constataram que 86,4% das crianças receberam Aleitamento
Materno Exclusivo (AME) com duração média de três meses e meio, mas, 55,7% da amostra,
já não consumia mais o leite materno. Cerca de 82,9% dos casos analisados realizaram a
introdução alimentar complementar de forma precoce, principalmente líquidos como água,
chá e outro tipo de leite, chamando atenção a média de 45,0% das crianças que consumiram o
chá antes do terceiro mês de vida. Foi identificado que as crianças que realizaram o consumo
de chá e água realizaram o desmame mais cedo, comparando-as às crianças que não
receberam estes líquidos.
Em relação a qualidade da alimentação, foi identificado que 80,7% das crianças
faziam consumo de refrigerantes, e 76,1% possuíam salgadinhos industrializados em sua
dieta, sendo estes alimentos introduzidos antes dos 12 meses. Uma alta incidência da
introdução alimentar complementar precoce, assim como, a oferta inadequada de alimentos
ultraprocessados, como refrigerantes e salgadinhos, foi constatado entre as crianças avaliadas.
O artigo escrito por Moreira et al., publicado em 2019, e intitulado “Introdução de
14
alimentos complementares em lactentes”, teve como objetivo analisar a frequência, a idade e
o período da introdução da alimentação complementar em lactentes, seguindo a metodologia
de estudo retrospectivo, realizado entre os anos de 2012 a 2015, avaliando dados de lactentes
atendidos no setor de nutrição em uma comunidade. Formulários e entrevistas aplicadas com
os responsáveis também consolidaram a base da pesquisa.
Os autores identificaram neste estudo a introdução alimentar sendo ofertada de forma
precoce, sendo a água, a fórmula infantil e o chá os primeiros alimentos introduzidos, no
período de três meses de vida, em média. Alimentos processados também foram identificados
no consumo alimentar destes lactentes, sendo engrossantes e biscoitos os mais frequentes,
porém, este consumo apresentou redução considerável ao decorrer dos anos avaliados pelo
estudo, passando de 30,8%, em 2012, para 15,6%, em 2015, entretanto, as amostras avaliadas
foram diferentes, o que pode ter influenciado nos resultados.
O artigo escrito por Santos et al., publicado no ano de 2019, e intitulado como
“Práticas alimentares entre crianças menores de um ano internadas em hospital público”, teve
como objetivo conhecer a alimentação complementar e o histórico do aleitamento materno
ofertado às crianças menores de um ano internadas em um hospital público. A metodologia
seguiu por um modelo de estudo descritivo, com abordagem quantitativa, e aplicação de
formulários.
Os autores observaram que a alimentação complementar foi ofertada às crianças antes
dos seis meses de idade, de forma precoce. Alimentos como sucos, mingau e frutas foram os
mais frequentes, e também alimentos adoçados com açúcar. Foi identificado, dentre as 174
crianças estudadas, que apenas 20,1% receberam AME até o sexto mês, e a amostra restante
recebeu outros alimentos antes do sexto mês. A maioria das crianças no período de seis a doze
meses não recebiam mais o leite materno, e consumiam apenas outros alimentos.
Foi apontado um aumento crescente no consumo de alimentos não recomendados
para a faixa etária, como refrigerantes, salgadinhos, biscoitos, e sucos industrializados,
evidenciando as práticas alimentares inadequadas, seguindo em contraposição às
recomendações que orientam dar preferência para alimentos in natura e minimamente
processados.
O artigo escrito por Becker et al., publicado no ano de 2023, e intitulado como “A
introdução precoce de sucos pode influenciar desfechos antropométricos e consumo alimentar
em idade pré-escolar?“ possuiu como objetivo avaliar o impacto do consumo de sucos antes
dos seis meses de idade no Índice de Massa Corporal e no consumo alimentar de
pré-escolares. A metodologia deste estudo foi realizada em duas fases, onde a primeira fase
15
selecionou uma amostra de 400 pares mãe-filho, em três hospitais públicos, coletando
informações por meio de entrevistas no pós-parto e aos seis meses. Na segunda fase do
estudo, realizada nos anos seguintes, a amostra foi constituída por mães e filhos, entretrês e
seis anos, que haviam participado da primeira fase, nesta ocasião foi realizada a aplicação de
questionários identificando o estado nutricional da criança, e seus hábitos alimentares.
Os autores identificaram alta prevalência da introdução de sucos naturais e artificiais
em lactentes menores de seis meses de vida. Pode-se verificar que a ingestão precoce de sucos
esteve associada ao consumo de alimentos industrializados, como alimentos ricos em açúcar,
e bebidas açucaradas, na idade pré-escolar. Também foi observado que o momento da
introdução dos sucos estava associado a um maior consumo de biscoitos recheados e
refrigerantes, em crianças na idade pré-escolar, e constatou que as crianças que receberam
suco artificial antes dos seis meses apresentaram maior prevalência no consumo destes
alimentos. Desta forma, compreende-se que os primeiros alimentos expostos às crianças nos
primeiros meses de vida são capazes de moldar as suas preferências alimentares e influenciar
também na sua frequência alimentar ao longo dos anos. Em relação à avaliação
antropométrica, não foi possível observar associação entre introdução de suco de forma
precoce e alterações do estado nutricional na idade pré-escolar.
Pode-se observar nos artigos selecionados, que a introdução alimentar e a interrupção
do aleitamento materno de forma precoce, é uma prática comum e recorrente. Os alimentos
mais ofertados para as crianças antes dos seis meses foram a água, o chá, os sucos e outros
leites. Foi possível identificar também a frequente introdução de alimentos não
recomendados, como biscoitos, salgadinhos e refrigerantes, e alimentos adocicados, assim
como, a percepção de que os primeiros alimentos ofertados à criança podem influenciar nas
escolhas de suas preferências alimentares ao decorrer dos anos.
O período de introdução da alimentação complementar é considerado um fator de
risco para a criança, além de ser recorrente a oferta de alimentos com pouca qualidade
nutricional, que não são recomendados, há também alto risco de contaminação por práticas
inadequadas no momento de preparo e manipulação dos alimentos ofertados, influenciando na
incidência de doenças diarréicas e desnutrição (WEFFORT et al., 2012).
Neste contexto, os estudos mostram a necessidade de realizar ações para evidenciar os
riscos associados à complementação alimentar precoce em lactentes, e também salientar a
importância da amamentação até os dois anos de vida, que se mostra essencial para manter a
saúde e qualidade de vida da criança. Segundo Mercês et al. (2022) a introdução precoce de
alimentos e até mesmo líquidos, como água e chás, promove desvantagens para a saúde da
16
criança. Além disso, a oferta de alimentos antes dos seis meses pode aumentar as chances de
cólicas e do desenvolvimento de alergias e/ou infecções (BRASIL, 2019). Ademais, a criança
que é amamentada, ao receber outros alimentos além do leite materno, antes do período
recomendado, tende a diminuir a frequência da amamentação, e como nos primeiros seis
meses o leite é capaz de suprir todas as suas necessidades nutricionais, não deve ser realizada
a introdução de outros alimentos que façam a criança reduzir a ingestão do leite materno
(BRASIL, 2019).
As crianças que recebem o aleitamento materno exclusivo até os seis meses, não
necessitam consumir nenhum outro tipo de alimento, nem líquidos, como água, chá, suco ou
outros leites. Do mesmo modo, a criança que recebe fórmula infantil, preparada de forma
adequada, também não necessita da oferta de água e outros alimentos, antes dos seis meses.
Entretanto, para as crianças que fazem uso do leite de vaca, as recomendações e período da
introdução alimentar são diferentes, a oferta de novos alimentos pode ser iniciada a partir dos
quatro meses a fim de evitar deficiências nutricionais, visto que o leite de vaca não possui os
nutrientes que a criança necessita (BRASIL, 2019).
Na maioria dos artigos estudados, as mães ou responsáveis pelas crianças, relataram
seguir orientações do profissional de saúde, principalmente do pediatra, da própria família, ou
de conhecidos, em relação ao tempo de oferta do leite materno, o período do início da
introdução alimentar e práticas alimentares adotadas para a criança. Pode-se observar também
nos estudos selecionados, que a situação socioeconômica do indivíduo influencia diretamente
nas decisões da mãe e dos responsáveis a respeito das práticas da amamentação e dos
alimentos ofertados na alimentação complementar. Desta forma, nota-se a necessidade e
importância da atuação do profissional Nutricionista, principalmente em redes públicas, para
orientar as mães e as famílias de forma adequada.
17
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do presente estudo é possível compreender que a introdução da alimentação
complementar precoce tem sido predominante. Neste contexto, nota-se a necessidade da
divulgação de informações relacionadas a esta temática, e a implementação de políticas
públicas para apoiar não apenas a promoção à amamentação até os dois anos, mas também
para promover a introdução alimentar adequada, respeitando o período, qualidade e
consistências recomendadas, visando obter resultados positivos destas práticas na saúde e no
estado nutricional das crianças. Se mostra essencial também, uma ampla distribuição e
divulgação do material didático “Guia Alimentar para crianças brasileiras menores de dois
anos" elaborado pelo Ministério da Saúde, para que as mães ou responsáveis possam ter à sua
disposição como instrumento de consulta e orientação.
Desse modo, evidencia-se a importância da atuação do profissional Nutricionista, e do
contato destes profissionais com as famílias desde o primeiro momento do nascimento da
criança, para que as mães ou responsáveis sejam orientados da forma adequada, a fim de
auxiliar positivamente na promoção à saúde e desenvolvimento da criança.
Sugere-se que novos estudos sejam realizados a fim de avaliar outras possíveis
consequências que a introdução de alimentos precocemente pode ocasionar no estado
nutricional das crianças.
18
5. REFERÊNCIAS
BECKER, P. C. et al. A introdução precoce de sucos pode influenciar desfechos
antropométricos e consumo alimentar em idade pré-escolar?. Ciência & Saúde Coletiva, v.
28, n. 1, p. 269–280, jan. 2023.
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/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. -
Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2009.
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Brasília : Ministério da Saúde, 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para crianças menores de 2 anos / Ministério
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2005.
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GIUGLIANI, E. R. J.; VICTORA, C. G. Alimentação complementar. J Pediatr. 2000; 76
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