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<p>1</p><p>PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO E SERVIÇO SOCIAL</p><p>1</p><p>Sumário</p><p>NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2</p><p>INTRODUÇÃO ................................................................................................. 3</p><p>ANTECEDENTES DO PLANEJAMENTO NO BRASIL .................................... 7</p><p>BRASILEIRO .............................................................................................. 11</p><p>O PLANEJAMENTO E SERVIÇO SOCIAL .................................................... 18</p><p>PERCEPÇÕES SOBRE O PLANEJAMENTO NA INTERVENÇÃO</p><p>PROFISSIONAL ....................................................................................................... 22</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 26</p><p>REFERÊNCIAS: ............................................................................................ 29</p><p>2</p><p>NOSSA HISTÓRIA</p><p>A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,</p><p>em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-</p><p>Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo</p><p>serviços educacionais em nível superior.</p><p>A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de</p><p>conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação</p><p>no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.</p><p>Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que</p><p>constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de</p><p>publicação ou outras normas de comunicação.</p><p>A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma</p><p>confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base</p><p>profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições</p><p>modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,</p><p>excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.</p><p>3</p><p>INTRODUÇÃO</p><p>Há três décadas o Serviço Social rompeu com o conservadorismo. Contudo,</p><p>ainda está fortemente com a discussão sobre a descontinuidade entre teoria e a</p><p>prática. Segundo Carvalho (1994), „‟o cotidiano não tem sido objeto de estudos e</p><p>investigações por parte dos Assistentes Sociais, mesmo sendo estas questões</p><p>fundamentais devido ao fato de ser neste âmbito que se realiza sua prática‟‟.</p><p>Sendo o Serviço Social uma profissão de intervenção na realidade social, logo</p><p>sua lógica está voltada essencialmente para a sua operacionalização. Deste modo, é</p><p>na prática profissional que se processa uma constante organização e reorganização</p><p>de conhecimentos com vistas a uma imediata transformação em ação.</p><p>É a metodologia que vai garantir ao Serviço Social o conhecimento e a</p><p>transformação de um dado objeto construído idealizado através de técnicas e</p><p>instrumentos, de forma a oferecer uma visão que permita uma ação sobre o objeto.</p><p>Assim não deveria, em tese, haver esta dissociação entre método, teoria e objeto.</p><p>O método abre o caminho para o conhecimento da realidade, mas sua</p><p>transformação depende da proposta de ação que é operacionalizada pelos</p><p>instrumentos e técnicas (THIOLENT, 1998). Nesse sentido, o presente texto</p><p>compreende o planejamento como um instrumental que, em potencial, contribui para</p><p>uma intervenção sistematizada, crítica, que tem usuários como colaboradores</p><p>essenciais, ou seja, mais qualificada.</p><p>4</p><p>O trabalho almeja compreender como os Assistentes Sociais o utilizam em sua</p><p>dimensão operativa, destacando a visão destes profissionais, sua ação interventiva e</p><p>sua concepção acerca deste instrumental. O planejamento na atualidade é reduzido</p><p>e estigmatizado por, na maioria das vezes, estar associado à função política de</p><p>instrumentos de legitimação da dominação.</p><p>Esta visão que reduz o planejamento a mero instrumental está relacionada à</p><p>prática voltada para uma espécie de racionalização econômica e a lógica do mercado</p><p>capitalista. Esta concepção é intensificada com o início da reestruturação produtiva,</p><p>que a partir de 1990, teve como um de seus pilares a redução e o enfraquecimento</p><p>do Estado.</p><p>Assim, apesar de algumas forças se revoltarem contra o pensamento</p><p>dominante e hegemônico, a ideia do fatalismo neoliberal, calcada na primazia das</p><p>forças produtivas, na anulação do político e no abandono do social, passam a</p><p>impregnar a maioria dos discursos. Nessa perspectiva, o planejamento de governo,</p><p>em particular, é relegado a um patamar secundário e o próprio planejamento</p><p>governamental.</p><p>Ouve-se dizer por toda a parte, o dia inteiro – ai reside a força desse discurso</p><p>dominante – que não há nada a opor à visão neoliberal, que ela consegue se</p><p>apresentar como evidente, como desprovida de qualquer alternativa. Se ela comporta</p><p>essa espécie de banalidade, é porque há todo um trabalho de doutrinação simbólica</p><p>do qual participaram passivamente os jornalistas ou os simples cidadãos e, sobretudo,</p><p>ativamente, certo número de intelectuais (BOURDIEU, 1998, p.42 apud</p><p>GONÇALVES, 2005).</p><p>É com base nos marcos dessa problemática que emergem novos modelos de</p><p>planejamento, alternativo ao padrão considerado tradicional e normativo, largamente</p><p>utilizado nos planejamentos governamentais, sobretudo na América Latina durante as</p><p>décadas de 1960 e 1970.</p><p>Na década de 1980, porém uma nova perspectiva de planejamento</p><p>governamental surge a partir dos trabalhos de Carlos Matus, economista chileno,</p><p>ministro de Salvador Allende e exilado após o golpe militar que se abateu sobre o</p><p>Chile em 1973.</p><p>5</p><p>Carlos Matus trouxe para o planejamento uma nova lógica na qual está</p><p>presente uma perspectiva política desconsiderada pelos modelos normativos. Além</p><p>da perspectiva política também estão presentes no planejamento tal como proposto</p><p>por Carlos Matus, a “flexibilidade referenciada” e a “perspectiva situacional” que,</p><p>ao contrário dos antigos “diagnósticos”, considera a dinâmica da realidade. Tais</p><p>elementos fazem do planejamento estratégico situacional uma ferramenta importante</p><p>para o planejamento social, principalmente o planejamento de governo, mas, também</p><p>para diversos setores onde o componente político possui relevância.</p><p>É nessa perspectiva que consideramos o planejamento, em sua concepção</p><p>estratégica e dentro da abordagem situacional proposta por Carlos Matus, como um</p><p>instrumental de suma importância da eficácia do processo de trabalho do profissional</p><p>de Serviço Social.</p><p>Porém, historicamente, o planejamento não tem assumido um papel de</p><p>destaque nas discussões sobre os dilemas teóricos práticos do Serviço Social. Isto</p><p>pode ser verificado ao se constatar que, no âmbito do Serviço Social existem</p><p>pouquíssimas obras relacionadas a este assunto. A maior parte são teses de</p><p>mestrado e doutorado da área da saúde.</p><p>Desde 1980 com Barbosa e mais atualmente com Myrian Veras Baptista,</p><p>através do livro Planejamento Social: intencionalidade e instrumentalização, não se</p><p>têm publicações no sentido de sistematizar o planejamento no Serviço Social. Essa</p><p>escassez bibliográfica sobre o tema dificultou o desenvolvimento deste projeto.</p><p>Se o modelo normativo foi rejeitado pelo Serviço Social a partir da consolidação</p><p>da ruptura com as referências da profissão, a perspectiva estratégica situacional de</p><p>Carlos Matus, por sua vez, não se tornou suficientemente conhecida e</p><p>satisfatoriamente assimilada, predominando, no momento contemporâneo a</p><p>concepção de planejamento como instrumento da reprodução do capital, com foco no</p><p>mercado. O universo de pesquisa de campo escolhido foi o de profissionais que</p><p>realizaram, no primeiro e segundo semestres de 2014, a supervisão de estágio no</p><p>campo da UPA de Araruama, dos estudantes de Serviço Social da Universidade</p><p>Federal Fluminense.</p><p>6</p><p>Isto porque, o estágio e a supervisão são componentes fundamentais no</p><p>processo de formação dos Assistentes Sociais e momentos privilegiados da</p><p>concretização da relação teoria-prática (Rodrigues, 1997).</p><p>Assim sendo, o estágio e a supervisão se constituem atividades que, por</p><p>definição, exigem organização, que por sua vez, devem refletir a intencionalidade que,</p><p>necessariamente deve ser inerente à atitude profissional (Faleiros, 1981).</p><p>Logo, o critério para escolher esses entrevistados foi que eles tivessem feito a</p><p>supervisão de campo dos estagiários em Serviço Social do primeiro e segundo</p><p>semestre de 2014, conforme mencionado anteriormente. Tive também uma outra</p><p>base de critério para selecionar estes entrevistados, pois uma vez que 02 (dois), no</p><p>universo destes 06 (seis) supervisores, eram também professores da Universidade</p><p>Federal Fluminense Campus Rio das Ostras, estes não foram considerados, pelo fato</p><p>de que já poderiam ter uma opinião formada sobre planejamento, até mesmo porque</p><p>uma destas já atuava na área do planejamento/administração.</p><p>Nessa linha, o presente trabalho pontua inicialmente os marcos em que</p><p>historicamente o planejamento é implementado, distinguindo o enfoque do mercado</p><p>e do Estado. Posteriormente, apresenta o contexto histórico em que Carlos Matus</p><p>inicia sua crítica acerca das limitadas versões de planejamento usadas e sua proposta</p><p>na busca por um conceito mais amplo e pertinente a complexidade inerente à</p><p>sociedade.</p><p>Logo depois contextualizamos o planejamento de governo no contexto</p><p>brasileiro. Contemplamos no título “Planejamento e o Serviço Social e a ruptura</p><p>com o tradicionalismo”, como o planejamento é apropriado pelo Serviço Social.</p><p>Nessa perspectiva, no capítulo I</p><p>procuramos fundamentar nossa</p><p>compreensão sobre o caráter histórico</p><p>do planejamento e seus antecedentes.</p><p>Sendo assim, no capítulo II,</p><p>fazemos um apanhado de como o</p><p>Serviço Social incorpora o planejamento à intervenção profissional e a ruptura com o</p><p>tradicionalismo na profissão e sintetizamos características de como os profissionais</p><p>7</p><p>de Serviço Social que atuam na supervisão de estágio, utilizam o planejamento,</p><p>pontuando com base no que foi absorvido de suas falas (através da aplicação de</p><p>entrevistas semi-estruturadas a Assistentes Sociais que por meio de convênio junto a</p><p>Universidade Federal Fluminense, presta supervisão de estágio para o curso de</p><p>Serviço Social da UFF em rio das Ostras), às convergências e divergências no que</p><p>se refere ao planejamento estratégico.</p><p>Nas considerações finais apresentamos a reflexão acerca do que se foi</p><p>discutido e do que se foi interpretado junta a orientação, destacando aspectos</p><p>relevantes dos resultados encontrados em nossa pesquisa.</p><p>Partindo desse pressuposto, no presente trabalho nos propusemos verificar e</p><p>analisar como o planejamento se faz (ou não) presente, enquanto instrumental que</p><p>possibilita a intervenção e dá intencionalidade à ação profissional, em alguns espaços</p><p>sócio-ocupacionais que funcionam como campo de estágio e possuem supervisores</p><p>de estágio.</p><p>ANTECEDENTES DO PLANEJAMENTO NO BRASIL</p><p>Para melhor compreendermos como o planejamento surge no contexto</p><p>brasileiro e no Serviço Social, em particular, faz-se necessário realizar um breve</p><p>apanhado sobre sua trajetória histórica para classificar a perspectiva em que foi criado</p><p>e implementado.</p><p>8</p><p>Segundo Lígia Giovanella, (1991) pesquisadora assistente do departamento de</p><p>administração e planejamento em saúde da Ensp/Fiocruz, as primeiras elaborações</p><p>teóricas sobre planejamento, apresentadas de forma sistematizada referem-se à</p><p>organização da produção industrial, coloca a previsão como um dos elementos da</p><p>administração.</p><p>Previsão é entendida ai enquanto projeção, cálculo de futuro e a programação</p><p>que objetiva facilitar a utilização de recursos e a escolha dos melhores meios a</p><p>empregar para atingir o objetivo desejado de máxima eficiência, máximo lucro.</p><p>Posicionamento fortemente marcado pelo liberalismo da ideologia dominante, neste</p><p>período. Nesse contexto, a própria revolução soviética resulta de um processo onde</p><p>o cálculo e a previsão estão presentes.</p><p>O planejamento é apresentado (agora com a especificidade de planejamento</p><p>social) como a alternativa para construção de um futuro diferente. O planejamento,</p><p>neste cenário vem dar racionalidade às transformações almejadas para toda</p><p>sociedade.</p><p>Deste modo, a primeira proposta de planejamento social surge na forma de um</p><p>plano setorial na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas quando, em 1918, é</p><p>declarado o primeiro Plano Nacional de Eletrificação. Porém, somente após uma</p><p>década de governo socialista é elaborado o primeiro plano global: 1º Plano</p><p>Quinquenal (1928 a 1932).</p><p>Na sociedade socialista, com a instituição da propriedade social dos meios de</p><p>produção, o plano vem para substituir o mercado como instrumento de alocação de</p><p>recursos e distribuição de produtos e estabelecer justas proporções entre produção e</p><p>consumo, oferta e demanda e entre os vários ramos da economia, com o propósito</p><p>de satisfazer as necessidades de todos os membros dessas sociedades (GIORDANI,</p><p>1974 apud GIOVANELLA, 1991).</p><p>Para melhor compreendermos como o planejamento surge no contexto</p><p>brasileiro e no Serviço Social, em particular, faz-se necessário realizar um breve</p><p>apanhado sobre sua trajetória histórica para classificar a perspectiva em que foi criado</p><p>e implementado.</p><p>9</p><p>Segundo Lígia Giovanella, (1991) pesquisadora assistente do departamento de</p><p>administração e planejamento em saúde da Ensp/Fiocruz, as primeiras elaborações</p><p>teóricas sobre planejamento, apresentadas de forma sistematizada referem-se à</p><p>organização da produção industrial, coloca a previsão como um dos elementos da</p><p>administração.</p><p>Previsão é entendida ai enquanto projeção, cálculo de futuro e a programação</p><p>que objetiva facilitar a utilização de recursos e a escolha dos melhores meios a</p><p>empregar para atingir o objetivo desejado de máxima eficiência, máximo lucro.</p><p>Posicionamento fortemente marcado pelo liberalismo da ideologia dominante, neste</p><p>período.</p><p>Nesse contexto, a própria revolução soviética resulta de um processo onde o</p><p>cálculo e as previsões estão presentes. O planejamento é apresentado (agora com a</p><p>especificidade de planejamento social) como a alternativa para construção de um</p><p>futuro diferente.</p><p>O planejamento, neste cenário vem dar racionalidade às transformações</p><p>almejadas para toda sociedade. Deste modo, a primeira proposta de planejamento</p><p>social surge na forma de um plano setorial na União das Repúblicas Socialistas</p><p>Soviéticas quando, em 1918, é declarado o primeiro Plano Nacional de Eletrificação.</p><p>Porém, somente após uma década de governo socialista é elaborado o primeiro</p><p>plano global: 1º Plano Quinquenal (1928 a 1932). Na sociedade socialista, com a</p><p>instituição da propriedade social dos meios de produção, o plano vem para substituir</p><p>o mercado como instrumento de alocação de recursos e distribuição de produtos e</p><p>estabelecer justas proporções entre produção e consumo, oferta e demanda e entre</p><p>os vários ramos da economia, com o propósito de satisfazer as necessidades de todos</p><p>os membros dessas sociedades (GIORDANI, 1974 apud GIOVANELLA, 1991).</p><p>10</p><p>O estado desenvolvimentista teve lugar na América Latina a partir da década</p><p>de 1930 principalmente</p><p>em decorrência da crise</p><p>iniciada em 1929, a qual</p><p>teria aberto a</p><p>possibilidade de romper</p><p>com o modelo</p><p>agroexportador, até</p><p>então dominante em</p><p>vários países do</p><p>continente e colaborado para incrementar uma nova fase cujo foco é a</p><p>industrialização.</p><p>Diante disso, segundo Giovanella (1991) o planejamento é introduzido a partir</p><p>da década de 40, por influência da ONU e de um pensamento próprio que entende</p><p>ser necessário superar as diferenças econômicas</p><p>com os países capitalistas centrais.</p><p>Permeado pelo ideário desenvolvimentista o planejamento é compreendido como um</p><p>instrumental que possibilita avançar rumo a grandes realizações, isso mediado pela</p><p>industrialização e a racionalidade do cálculo econômico.</p><p>Esta conotação dada ao planejamento será difundida principalmente através</p><p>da comissão econômica para a América Latina (CEPAL) organismo internacional</p><p>ligado a ONU.</p><p>A Revolução Cubana, que foi um movimento popular que derrubou a ditadura</p><p>de Fulgêncio Batista em janeiro de 1959. Antes da revolução, Cuba vivia sob</p><p>influência dos EUA. A Revolução Cubana representou um momento de grande</p><p>importância para o povo cubano, onde se despertou a consciência nacional e</p><p>passaram a desprezar o imperialismo norte americano e o governo autoritário de</p><p>Fulgêncio Batista.</p><p>O movimento revolucionário foi tomando grandes proporções até a efetiva</p><p>retirada do ditador Batista do poder. Nessa perspectiva o planejamento implementado</p><p>na América Latina esteve voltado para a economia, contudo, gradativamente, vai</p><p>sendo apropriado pelos setores sociais.</p><p>11</p><p>Em 1961 os EUA, através da Organização dos Estados Americanos – OEA,</p><p>promovem uma reunião de Ministros do Interior dos países das Américas, em Punta</p><p>Del Este, no Uruguai, onde é lançado o “Programa Aliança para o Progresso”. Este</p><p>programa é parte da política norteamericana</p><p>do período Kennedy que colocava ênfase</p><p>nos obstáculos internos ao desenvolvimento</p><p>(CARDOSO, 1980, apud GIOVANELLA,</p><p>1991).</p><p>Esta aliança surge sobre o discurso</p><p>do desenvolvimento, mas com explícita</p><p>intenção de que, por meio do controle social,</p><p>estariam se prevenindo acerca do avanço do</p><p>socialismo. Ou seja, abarcando as questões sociais neste planejamento que</p><p>promoveria o desenvolvimento, estariam reduzindo as brechas (miséria,</p><p>desemprego, fome, etc) para disseminação do pensamento socialista.</p><p>O PLANEJAMENTO DE GOVERNO NO CONTEXTO</p><p>BRASILEIRO</p><p>Do final dos anos cinquenta à queda do governo João Goulart, ao menos três</p><p>programam mais ambiciosos de estabilização monetária foram tentados pelos</p><p>governos do período, todos sem êxito. Porém, ao analisar estas iniciativas, segundo</p><p>Ricardo Silva (2000), podemos fazer uma profunda inflexão em relação à estratégia</p><p>12</p><p>da política econômica adotada durante os anos de auge do desenvolvimento, no qual,</p><p>um novo consenso ideológico estava se formando.</p><p>A estabilidade monetária se unia ao discurso de que por meio do</p><p>desenvolvimento industrial, seriam superadas todas as mazelas sociais. Esse slogan</p><p>foi muito presente, principalmente nos Governos de Vargas e de Kubitschek.</p><p>Por mais que o Brasil nesse momento tenha avançado, no que se refere à</p><p>produção industrial, em relação ao social e à economia não seguia a mesma trajetória,</p><p>uma vez que se intensificam as desigualdades sociais, o processo inflacionário e a</p><p>dívida externa. Problemas em parte decorrentes da própria estratégia</p><p>desenvolvimentista de Kubitschek.</p><p>Os movimentos sociais de esquerda se organizam reivindicando reformas de</p><p>base, com caráter distributivista, enquanto à direita crescia o apelo à recomposição</p><p>da ordem econômica (fim da inflação) e da ordem política (contenção das</p><p>mobilizações sociais).</p><p>No que se refere à evolução da política econômica, o que se observa é a</p><p>crescente aceitação, pelos governantes e tecnocratas, da ideia de que o combate à</p><p>inflação deveria ser prioritário e precedente a qualquer outro objetivo</p><p>políticoeconômico.</p><p>Isso fica evidente não somente nos experimentos do PEM (Plano de</p><p>Estabilização Monetária) do Governo Kubitschek e da Reforma Cambial do Governo</p><p>Quadros, mas também, embora de modo menos evidente, no Plano Trienal do</p><p>Governo Goulart (SILVA, 2000).</p><p>Esta primazia dada aos aspectos econômicos, em detrimento do social</p><p>permanece mesmo durante o desenvolvimento do Plano Trienal, do governo de</p><p>João Goulart. Isso merece destaque pelo fato de estar sob comando de Celso</p><p>Furtado, principal expressão do pensamento reformista da Cepal (Comissão</p><p>Econômica para a América Latina).</p><p>Ou seja, como é comum acontecer, as elites estatais pediam ao povo o</p><p>sacrifício do presente para o suposto regozijo do futuro. Mas esse era um argumento</p><p>político pouco convincente do quadro da crise. O Plano Trienal não obteve o apoio</p><p>13</p><p>dos trabalhadores e o Governo Goulart não conquistou a confiança das classes</p><p>dominantes, que esperavam a contenção da inflação e o controle governamental das</p><p>greves e das mobilizações sociais.</p><p>A frustação da tentativa de conciliação de classes, presente neste plano,</p><p>agravou o isolamento do Governo Goulart e, de alguma maneira, contribuiu para o</p><p>trágico desfecho da crise em março de 1964.</p><p>“A crise política e econômica que caracterizou os Governos de</p><p>Jânio Quadros e João Goulart (1961 – 64) apresentava três facetas</p><p>particularmente importantes”. Em primeiro lugar, ela exprimia o</p><p>agravamento dos antagonismos entre diferentes estratégias ou opções</p><p>políticas de desenvolvimento. Em segundo lugar, ela exprimia o</p><p>aprofundamento dos antagonismos entre os poderes da República, em</p><p>especial o Executivo e o Legislativo. E, em terceiro lugar, à medida que</p><p>se estendia e aprofundava a crise políticoeconômica, politizavam-se</p><p>ainda mais as urbanas e rurais, acentuando-se as condições entre as</p><p>classes sociais “(IANNI, 1971,</p><p>p.217 apud GONÇALVES, 2005)”.</p><p>Podem definir a Ditadura Militar como sendo o período da política brasileira em</p><p>que os militares governaram o Brasil. Esta época vai de 1964 a 1985. Caracterizouse</p><p>pela falta de democracia, supressão de direitos constitucionais, censura, perseguição</p><p>política e repressão aos que eram contra o regime militar. A partir da instalação do</p><p>regime militar em 1964, observa-se o fortalecimento do Poder Executivo, a</p><p>interferência crescente do poder público em praticamente todos os setores do sistema</p><p>econômico nacional e a expansão da tecnoestrutura estatal, consubstanciada na</p><p>grande elaboração de planos, programas, criação de órgãos públicos e de fundos de</p><p>financiamento.</p><p>Sem a intenção de um maior</p><p>aprofundamento na análise dos serviços,</p><p>programas, órgãos públicos, planos e demais</p><p>políticas urbanas do período militar, é</p><p>importante destacar, resumidamente que,</p><p>durante este período, a atividade de</p><p>planejamento teve um grande desenvolvimento no Brasil.</p><p>14</p><p>São desse período as seguintes iniciativas de planejamento: o Poder de Ação</p><p>Econômica do Governo (PAEG) (1964-1966), o Plano Estratégico de desenvolvimento</p><p>(PED) (1968-1970), que foi complementado por planos setoriais e regionais dirigidos</p><p>nitidamente ao Nordeste e à Amazônia (Cadernos nae, 2004).</p><p>Mas, na opinião de Moraes (Moraes, 1994 apud BONFIM, 2006) a iniciativa</p><p>mais completa de planejamento viria com o Plano Nacional de Desenvolvimento</p><p>(PND), que conheceu duas versões implementadas (1972-1974 e 1975-1979) e uma</p><p>terceira (1980-1985) nunca posta em prática.</p><p>”Uma quantidade inédita de Planos Diretores foi elaborada no</p><p>período [de 1964 até os anos 1980]. Escritórios técnicos de</p><p>consultoria e planejamento se multiplicam. Álibi ou convicção</p><p>positivista, o planejamento foi tomado como solução para o</p><p>„caos urbano‟ e o „crescimento descontrolado‟. Essas idéias</p><p>dissimulavam os conflitos e os reais motores desse plano que</p><p>foi elaborado por especialistas pouco engajados na realidade</p><p>sociocultural local. A população não foi ouvida e,</p><p>frequentemente, nem mesmo os técnicos municipais”</p><p>(MARICATO, 2000, p.139 apud GONÇALVES, 2005).</p><p>Segundo MATUS (1997a, p.312) Como toda técnica, é simplesmente uma ajuda</p><p>para sistematizar o conhecimento de uma realidade. Essa ajuda é, por vezes,</p><p>desnecessária para pessoas experientes e com mente bem organizada. Mas se o</p><p>planejamento deve sustentar-se numa análise dos problemas que afetam a</p><p>população, são necessários métodos</p><p>simples para que todos compreendam a</p><p>gestação e o desenvolvimento dos problemas. Naturalmente, os métodos de</p><p>explicação situacional devem ser praticados com assessoria técnica de pessoas</p><p>com experiência nos problemas. As pessoas que conhecem a técnica de explicação</p><p>situacional, mas não conhecem os problemas não podem obter resultados úteis</p><p>(MATUS, 1997a, p.312 apud GONÇALVES, 2005).</p><p>É importante destacar, porém, que se há uma intensa atividade na elaboração de</p><p>planos, isto não significa que sua efetivação estivesse garantida. Isto porque o</p><p>modelo de planificação adotado, nem sempre tinha na realidade para a qual se</p><p>destinava a sua fundamentação.</p><p>15</p><p>De fato, em consonância com o autoritarismo vigente, o planejamento amplamente</p><p>adotado como instrumento de operacionalização da máquina pública, tinha por</p><p>característica central, no dizer de Carlos Matus ser uma “camisa de força” que</p><p>tentava adequar a realidade às decisões que, por estarem envolvidas no discurso</p><p>da racionalidade técnica, não eram passíveis de questionamentos.</p><p>O período militar autoritário, vivenciado por vários países da América Latina, e</p><p>também no Brasil, representa o auge do chamado “planejamento normativo”, ou</p><p>“planejamento tradicional”. O Planejamento normativo ou planejamento econômico</p><p>normativo tem como característica ser um tipo de planejamento que se limita ao</p><p>âmbito econômico, desconsiderado sua viabilidade política ou a ausência dela</p><p>(MATUS, 1996). É um planejamento de caráter “prescritivo”, ou seja, aponta um</p><p>“dever ser”, sem levar em conta o movimento da realidade.</p><p>É um planejamento que se coloca “técnico” e “neutro”. Cabe ressaltar que o</p><p>Planejamento Normativo foi o modelo amplamente utilizado pelos governos militares</p><p>no Brasil no período pós-64.</p><p>Os Assistentes Sociais que se identificavam com as diretivas institucionais que</p><p>Netto (1993) denomina “modernização conservadora” eram adeptos desse tipo de</p><p>planejamento. Podendo dizer que o Planejamento Normativo fica limitado à</p><p>“aparência imediata dos fatos”, desconsiderando sua essência (realidade</p><p>concreta).</p><p>Isso por supervalorizar o aspecto técnico e o cálculo econômico, desconsidera os</p><p>possíveis adversários, por ser calcado em “certezas”, por ser um planejamento de</p><p>“médio prazo”, por não fazer a relação “história-plano” e, por isso, é um planejamento</p><p>inconsistente, por ser meramente discursivo e não “opcional”, por ser considerada</p><p>uma ferramenta meramente administrativa, por ser oficialista, uma vez que é feito a</p><p>partir de governos e para governos, ignorando outras forças sociais (ou, no caso de</p><p>uma ação profissional, feito a partir da instituição e para a instituição,</p><p>desconsiderando outras forças institucionais), por se tratar de um planejamento</p><p>dissimulado, pois os formalismos técnicos são utilizados para ocultar as verdadeiras</p><p>causas dos problemas e por não possuir flexibilidade, pois atua em tempos rígidos,</p><p>16</p><p>desconsiderando os “diferentes tempos” dos atores sociais envolvidos (Matus,</p><p>1993).</p><p>O modelo normativo, muitas vezes identificado como sinônimo de planejamento</p><p>provocou - e ainda provoca – equívoco, ao reduzir o planejamento a procedimentos.</p><p>Contudo, rompendo com esse estigma reducionista, que, tendo como referência</p><p>apenas o planejamento normativo, desqualifica o planejamento em si, Carlos Matus,</p><p>resgata o planejamento como ferramenta útil, flexível e eficaz para lidar com as</p><p>necessidades da direção em cada lugar da administração pública.</p><p>Matus destaca, entretanto, que o plano não pode ser constituído de uma simples</p><p>agregação de problemas, que nesse sentido, devem se inter-relacionar.</p><p>Com esse intuito é recomendada a construção de um “fluxograma situacional global,</p><p>que conheça a unidade da realidade como um grande problema” (MATUS, 1997a,</p><p>p.324 apud GONÇALVES, 2005).</p><p>Após o momento em que são detectados os problemas surge, na concepção de</p><p>Matus, o momento normativo que determinaria o desenho do conteúdo propositivo</p><p>do plano, ou seja, é o momento de pôr no papel o que se pretende com o plano.</p><p>O desenho do plano abrange diversos níveis de generalidade e especificidade.</p><p>Começa com o programa (linhas e critérios), continua com o programa direcional</p><p>(precisão global em nível de projetos de ação), prossegue com a desagregação do</p><p>plano na matriz geral problemas-operacionais, passa à subdivisão do plano em sub-</p><p>planos (os módulos OP), para em seguida desagregar as operações em ações e as</p><p>ações em sub-ações.</p><p>Essas partições derivam da necessidade de descentralizar para que o</p><p>planejamento seja criativo e democrático, embora se deva ao mesmo tempo</p><p>respeitar certos critérios de coerência global, indispensável para a eficácia da</p><p>condução (MATUS, 1997a, p.336 apud GONÇALVES, 2005).</p><p>A ordem lógica e formal não deve ser, necessariamente, seguida, mas é importante</p><p>que se busque, na visão de Matus, um equilíbrio entre os critérios de coerência</p><p>global e a criatividade descentralizada.</p><p>17</p><p>Ressalta-se que o programa, além de buscar o enfrentamento de alguns problemas,</p><p>também representa uma convocação à ação. “Em nível político, pode ter a forma de</p><p>um programa eleitoral; no nível de um dirigente, ou pode ser uma proposta de</p><p>desenvolvimento da empresa; para um dirigente sindical, a sua plataforma de luta</p><p>por novas conquistas para os trabalhadores” (MATUS, 1997a, p.337 apud</p><p>GONÇALVES, 2005).</p><p>A análise da viabilidade do programa direcional do plano passa, a ser a</p><p>preocupação central do momento estratégico. Deve-se considerar tanto a viabilidade</p><p>política, quanto econômica, a tecnológica e a industrial-organizacional. O momento</p><p>estratégico concentra-se, dessa forma, na análise de viabilidade que aponta para a</p><p>dialética entre o necessário, o possível e a criação de possibilidades.</p><p>Após analisar e conhecer e realidade, desenhar o futuro e definir as possibilidades</p><p>de realização do plano, o planejamento deve-se converter em ação concreta. A</p><p>mediação entre o conhecimento e a ação representa a tarefa do momento tático-</p><p>operacional. Ressalta-se que “a ação é sempre o produto final de um cálculo, mas</p><p>não necessariamente o produto final do plano formalizado. Tal divergência deve ser</p><p>resolvida pelo momento tático-operacional” (MATUS, 1997a, p.485 apud</p><p>GONÇALVES, 2005).</p><p>18</p><p>O PLANEJAMENTO E SERVIÇO SOCIAL</p><p>Na segunda metade da década de 1950, o ideário desenvolvimentista chega</p><p>com força a América Latina trazendo o discurso modernizador e o desenvolvimento</p><p>como estratégia fundamental para impedir que o continente torne-se terreno fértil para</p><p>as ideologias socialistas.</p><p>Um povo “desenvolvido” estaria menos susceptível a participar de</p><p>movimentos reivindicatórios e lutas sociais. Dentro do ideário desenvolvimentista, o</p><p>planejamento econômico de governo assume papel preponderante, incorporando-se</p><p>aos discursos e às práticas de diversos agentes governamentais, como símbolo da</p><p>racionalidade técnica, da eficiência e da eficácia da ação estatal.</p><p>O Serviço Social face à política desenvolvimentista e ao apelo à participação</p><p>das massas trabalhadoras, herança da política de massas do getulismo, se contrapõe</p><p>à tendência conservadora hegemônica da profissão, tendência esta que é respaldada</p><p>pela posição da igreja naquele momento.</p><p>Numa sociedade burguesa, é sempre difícil legitimar a participação política das</p><p>massas trabalhadoras, e os setores mais conservadores da sociedade brasileira</p><p>sempre combateram com violência o populismo, por verem nele o prenuncio da</p><p>destruição do poder burguês. Diante dessa realidade o Serviço Social, inicialmente,</p><p>segundo Iamamoto (1983, p. 343) se mostra relativamente alheio, à temática</p><p>desenvolvimentista.</p><p>O que não o impediu de beneficiar-se da expansão econômica; das novas</p><p>pressões pela ampliação de seu consumo desencadeado pelas classes</p><p>19</p><p>subordinadas;</p><p>de desenvolver-se enquanto instituição, absorver e aprofundar novas</p><p>experiências e institucionalizar-se enquanto profissão.</p><p>O Serviço Social aos poucos logra maior sistematização técnica e teórica de</p><p>suas funções, alcançando definir áreas preferenciais de atuação técnica.</p><p>Aprofundase, no plano do ensino, a influência norte-americana, voltando-se ao</p><p>Serviço Social de Grupo, que há tempo vinha sendo utilizado de forma tradicional</p><p>(recreação e educação), na década de 1950 começa a fazer parte dos programas</p><p>nacionais do SESI, LBA, SESC, em hospitais, favelas etc.; iniciando-se uma nova</p><p>abordagem, que se generaliza na década de 1960, que relaciona estudos</p><p>psicossociais do participante com os problemas da estrutura social e utilização da</p><p>dinâmica de grupo.</p><p>As iniciativas vinculadas ao Desenvolvimento de Comunidade apresentam</p><p>nesse período franco desenvolvimento, com o surgimento de uma série de</p><p>organismos e a realização de importantes Seminários. Esses organismos</p><p>desenvolverão programas que buscam sua inspiração na experiência</p><p>norteamericana. Estarão essencialmente, baseados em técnicas de Desenvolvimento</p><p>de Comunidade e perseguem a modernização da agricultura brasileira, tendo por</p><p>estratégia a Educação de Adultos.</p><p>Três (03) Seminários realizados nesse período desempenham papel</p><p>extremamente importante para que o Desenvolvimento de Comunidade se solidifique</p><p>enquanto nova opção de política social para atuar nos meios sociais marginalizadas</p><p>pelo desenvolvimento econômico e, portanto, como nova disciplina. Realiza-se em</p><p>1961, tendo também o caráter de ato preparatório de um encontro internacional, no</p><p>caso, a XI Conferência Internacional de Serviço Social, marcada para a cidade de</p><p>Petrópolis (RJ), em 1962.</p><p>Com um intervalo de quatorze (14) anos em relação ao último Congresso, este</p><p>segundo encontro abrange do meio profissional dos Assistentes Sociais irá ocorrer</p><p>numa conjuntura bastante modificada.</p><p>Após mais de uma década de desenvolvimentismo sustentado em estratégias</p><p>políticas populistas, a vitória do “janismo” representa a possibilidade de um novo</p><p>começo (MATUS, 1993).</p><p>20</p><p>A preocupação central do que poderia ser caracterizado como projeto</p><p>desenvolvimentista janista estaria na formação de uma nação forte e uma economia</p><p>globalmente forte. Desse eixo central decorre uma atenção especial ao social; a meta</p><p>prioritária é o homem e não o crescimento econômico em si mesmo. A ênfase no</p><p>social não é, assim, um alvo demagógico no projeto janista.</p><p>Dá grande importância à saúde, propondo, além da perspectiva de uma</p><p>melhora no nível de vida, campanhas e enriquecimento do sistema alimentar, contra</p><p>a desnutrição infantil e contra as insalubridades. E seu projeto educacional situa-se</p><p>outro ponto de destaque: a educação não é vista apenas a partir do prisma</p><p>economicista de aumento da produtividade.</p><p>E sim numa perspectiva de reestruturação da sociedade, de “redenção do país</p><p>pela educação”, a visão da educação como um dos esteios do projeto de</p><p>desenvolvimento para integração nacional.</p><p>O projeto janista propõe, enfim, em desenvolvimento harmônico e humano.</p><p>Percebendo a causa da crise na crise moral e político-social, propõem soluções</p><p>moralizantes, justiça social solidariedade. Preocupando com a racionalidade, exige</p><p>um planejamento democrático e a integração nacional.</p><p>A vitória do “janismo” representa, assim, a colocação na ordem do dia de uma</p><p>nova estratégia desenvolvimentista, que, mantendo os grandes eixos do crescimento</p><p>econômico, passaria a centrar-se no homem, no pleno florescimento de suas</p><p>capacidades, tudo dentro da ordem e do respeito à dignidade da pessoa humana.</p><p>Diante dessa realidade, o Serviço Social deve urgentemente re-situar-se.</p><p>Readaptar-se, procurando sintonizar seu discurso e métodos com as</p><p>preocupações das classes dominantes e do Estado em relação à questão social e sua</p><p>evolução.</p><p>A organização do II</p><p>Congresso</p><p>Brasileiro de</p><p>Serviço Social aparece</p><p>como um exemplo bastante</p><p>21</p><p>claro de uma estratégia de atualização em relação à ideias que agitam os setores</p><p>dominantes e às demandas objetivas que fazem à instituição Serviço Social. De</p><p>acordo com o momento, o tema central do Congresso será: “Desenvolvimento</p><p>Nacional para o Bem-estar Social”, sendo os trabalhos organizados, segundo as</p><p>modernas técnicas, em torno desse tema e sua particularização para o Serviço Social.</p><p>Representa também um desafio. O governo solicita da instituição o</p><p>cumprimento de determinadas funções, dentre elas: estar em sintonia com a atual</p><p>conjuntura; estar presente junto a outros técnicos, se pondo a serviço do</p><p>desenvolvimento nacional; reaparelhamento das escolas de Serviço Social; a</p><p>organização de cursos específicos de pós-graduação; reforma universitária;</p><p>aproximação das escolas em relação a comunidades etc.</p><p>No campo profissional, reivindica-se a fixação de uma série de direitos, entre</p><p>os quais carga horária reduzida (máximo de 30 horas semanais), remuneração</p><p>condigna (fixação do salário profissional), e a estimulação da organização gremial.</p><p>Criticam-se as práticas paternalistas das grandes instituições assistenciais,</p><p>constata-se a inadequação das estruturas político-administrativa às exigências do</p><p>desenvolvimento sócio-econômico e a necessidade de medidas corretivas, verificase</p><p>a necessidade de medidas corretivas; verifica-se a necessidade de uma reforma</p><p>universitária, ao mesmo tempo em que se aplaude a Lei de Diretrizes e Bases da</p><p>Educação Nacional, que é combatida pela parcela da comunidade universitária que</p><p>mais se bate pela reforma.</p><p>Pede-se melhor qualidade e pontualidade nos serviços prestados pela</p><p>Previdência, Salário-Família e Auxílio Desemprego. Reafirma-se a necessidade de</p><p>uma legislação agrária, de uma revisão de legislação social e sua extensão às</p><p>populações rurais.</p><p>Assim que o Serviço Social não ficou imune a este movimento, mesmo porque,</p><p>ao longo de sua história, esta profissão é tencionada sintonizar seu discurso e</p><p>métodos às preocupações das classes dominantes e do Estado em relação à questão</p><p>social e sua evolução.</p><p>Dentro destas novas exigências é colocada a reformulação do currículo do</p><p>Assistente Social, situando como matérias básicas para o curso de Serviço Social a</p><p>22</p><p>economia, sociologia urbana e rural, planejamento e psicologia social e o</p><p>desenvolvimento de estudos sobre pesquisa social, cooperativismo, planejamento</p><p>etc, procurando reforçar os aspectos técnicos na formação do Assistente Social.</p><p>Os governos militares, a partir de 1964, reforçaram os discursos</p><p>desenvolvimentistas, atrelando-o à doutrina da “segurança nacional” no qual a</p><p>racionalidade técnica vinha acompanhada de práticas altamente pelo aparato estatal</p><p>da ditadura. O planejamento enquanto conjunto de procedimentos técnicos visando</p><p>uma dada racionalidade operativa somente chegada ao Serviço Social com as</p><p>transformações políticas e sociais provocadas pelos governos militares.</p><p>A autocracia burguesa provoca uma profunda alteração no quadro institucional</p><p>brasileiro, seja nos espaços institucionais já configurados como espaços de trabalho</p><p>para o Serviço Social seja nos espaços que, nesse contexto passarão a demandar a</p><p>presença profissional do Assistente Social.</p><p>PERCEPÇÕES SOBRE O PLANEJAMENTO NA INTERVENÇÃO</p><p>PROFISSIONAL</p><p>Foi Optado por aplicar a técnica de entrevista semi-estruturada junto aos</p><p>Assistentes Sociais que por meio de convênio junto a Universidade Federal</p><p>Fluminense, presta supervisão de estágio. Considerando que o universo destes</p><p>supervisores era restrito do ponto de vista quantitativo, por trabalhar com 04 (quatro)</p><p>supervisores, sendo que 01 (um) deles não deu retorno ao meu convite para realizar</p><p>a entrevista.</p><p>Cabe ressaltar que mesmo se tratando de um universo restrito do ponto de</p><p>vista quantitativo, do ponto de vista qualitativo este</p><p>universo é muito significativo, por</p><p>23</p><p>se tratar de profissionais que atuam em diferentes áreas e em diferentes tempos de</p><p>atuação.</p><p>A pesquisa foi desenvolvida com base em entrevistas abertas, na qual as</p><p>perguntas foram respondidas dentro de uma conversação informal, onde a</p><p>interferência do entrevistador foi mínima. As entrevistas foram orientadas por dois</p><p>eixos: O primeiro se refere à importância que estes profissionais atribuem ao</p><p>planejamento de ações na prática do Serviço Social e o segundo, refere-se à</p><p>utilização do planejamento na sua prática.</p><p>Estendi este segundo eixo para que, caso o profissional utilizasse o</p><p>planejamento em sua prática, que explicasse a forma e em caso negativo que</p><p>apresentassem uma causa. Desta forma foi possível obter o maior número de</p><p>informações sobre o tema, segundo a visão do entrevistado, e também obter um maior</p><p>detalhamento do assunto em questão.</p><p>Para análise dos dados colhidos nas entrevistas utilizamos a proposta do</p><p>método hermenêutico-dialético (O método hermenêutico-dialético é uma técnica de</p><p>entrevistas que permite a interação dos entrevistados entre si (sujeitos da pesquisa)</p><p>e destes com o pesquisador. Nesta técnica, o pesquisador, mesmo realizando</p><p>entrevistas individuais com cada sujeito da pesquisa, possibilita que suas falas</p><p>possam ser lidas pelos outros entrevistados, que elaboram uma síntese da sua e das</p><p>demais respostas, conduzindo ou não modificações na sua resposta original.),</p><p>mencionado na obra de Minayo (1994), que me possibilitou situar as falas dos</p><p>entrevistados no seu contexto.</p><p>Com base nos eixos que nortearam as entrevistas podemos observar que é</p><p>unanimemente mencionada entre os entrevistados a importância que dão ao</p><p>planejamento. Contudo dentre as falas dos 03 (três) entrevistados, apenas o primeiro</p><p>esmiuçou sua compreensão acerca desta importância que é conferida ao</p><p>planejamento.</p><p>Em sua visão, o planejamento é de suma importância por lhe permitir organizar</p><p>suas ações nos mais variados momentos, com base na sistematização de suas ações,</p><p>documentação, ou seja, aqui fazem referência ao planejamento como uma importante</p><p>24</p><p>técnica, um instrumento que quando apropriado por determinadas categorias</p><p>profissionais, lhes confere maior possibilidade de concretização de suas metas.</p><p>Este primeiro entrevistado completa, que do ponto de vista profissional, como</p><p>Assistente Social, ele vê o planejamento como “[...] um dos principais instrumentos,</p><p>que o trabalho do Assistente Social tem”.</p><p>E que, em relação a outras categorias profissionais, com as quais já trabalhou,</p><p>percebe que “[...] o Serviço Social tem em sua formação, essa preocupação com o</p><p>planejamento [...]”, e que em sua opinião “[...] isso é algo que nos qualifica e diferencia</p><p>de outras categorias profissionais”. Enfatiza ainda que os demais profissionais têm</p><p>hábito de criticamente dizer que “[...] para o Assistente Social, tudo tem que planejar,</p><p>fazer projeto [...]”, mas ele defende dizendo que “[...] isso é algo que caracteriza nossa</p><p>profissão”.</p><p>Segundo VASQUEZ (1977) classifica esse tipo de prática como práxis</p><p>reiterativa: nela, há um projeto, preexistente à ação (modelo) – o real só se justifica</p><p>por adequação a ele. É uma prática limitada ao existente: não produz uma nova</p><p>realidade, nem mudanças qualitativas, não transforma, embora possa ampliar a área</p><p>do já criado, multiplicando quantitativamente o produzido.</p><p>Não faz emergir uma nova realidade humana. Por outro lado, esse</p><p>entendimento revela uma compreensão da prática profissional onde o Assistente</p><p>Social, dentro das características da planificação normativa, é um mero executor das</p><p>determinações ou do planejamento desenvolvido pela instituição que trabalha.</p><p>Cabe ressaltar que esta visão de planejamento reflete a compreensão de uma</p><p>realidade estática que deverá ser adequada a um plano previamente estabelecido.</p><p>Uma realidade onde os procedimentos pré-fixados resumem o “fazer” profissional.</p><p>Deste modo o horizonte da apreensão do real é limitado às categorias relacionadas</p><p>imediatamente ao seu objeto, as quais, por vezes, separam a vida social em</p><p>compartimentos estanques, isolados entre si.</p><p>Iamamoto (2002) indica que o exercício da profissão passa a exigir uma ação</p><p>de um sujeito profissional que tenha competência para propor, negociar e construir os</p><p>25</p><p>seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções</p><p>profissionais sempre na busca de equidade.</p><p>Requer, pois, ir além das rotinas institucionais, do ativismo e buscar apreender</p><p>o movimento da realidade. Traduzindo, significa repensar o Serviço Social na sua</p><p>contemporaneidade, com vistas a traduzir o mundo moderno. O planejamento</p><p>normativo não leva em conta os diferentes atores sociais, grupos da sociedade,</p><p>setores de uma mesma empresa etc.</p><p>Que detentores de interesses e comportamentos próprios fazem esta relação</p><p>ser permeados por conflitos. Neste ponto por vezes esse tipo de planejamento</p><p>estagna, por não possuir viabilidade política, por não ter levado, nem conseguir levar</p><p>em consideração a importância da existência de forças oponentes que, caso tivessem</p><p>sido envolvidas, mesmo com os desafios de abarcar suas demandas, na elaboração</p><p>do plano, se revelariam potenciais forças de apoio ao planejamento.</p><p>A grande problemática é que, em se tratando de um profissional que presta</p><p>supervisão de estágio, esta visão apresenta problemas na medida em que o</p><p>supervisor espera que o estagiário apenas “aprenda” tais procedimentos prédefinidos.</p><p>Nessa perspectiva são comuns as queixas de supervisores, que, com concepções</p><p>semelhantes, lamentam que o estagiário chega ao campo de estágio “sem saber fazer</p><p>nada”.</p><p>Nesse sentido, tanto as concepções de planejamento, como de estágio,</p><p>revelam uma concepção da prática profissional, que por sua vez, revela uma</p><p>concepção de mundo e de sociedade.</p><p>26</p><p>CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>O objetivo desse trabalho foi apresentar algumas reflexões sobre planejamento</p><p>enquanto ferramenta de trabalho para o Assistente Social. Evidentemente, não</p><p>tivemos a intensão de esgotar esta análise, mas sim de iniciar um debate sobre as</p><p>dificuldades paradigmáticas deste tema e dar continuidade ao projeto de uma</p><p>intervenção qualificada e crítica do Serviço Social.</p><p>Também buscamos realizar um levantamento bibliográfico com autores que se</p><p>identificam com o tema, fazendo uma comparação das diversas ideias por eles</p><p>declaradas. Procuramos abordar um breve histórico sobre o desenvolvimento do</p><p>planejamento, e como se faz (ou não) presente, enquanto instrumental que possibilita</p><p>a organização e dá intencionalidade à ação profissional.</p><p>Porém, junto a Carvalho e Netto (1994), como a situação atual que aloca os</p><p>Assistentes Sociais como prestadores de serviços, executores de atividades</p><p>finalísticas, visa descaracterizar a profissão como um trabalho, e a exclui da</p><p>intermediação direta da relação capital-trabalho.</p><p>Além disso, esta prática obscurece a natureza política da profissão, limitando</p><p>sua intervenção a ações instrumentais, determinando a própria representação que os</p><p>profissionais têm das suas funções. Também, de acordo com os autores, é preciso</p><p>romper com o hiato entre o passado conservador do Serviço Social e os indicativos</p><p>práticos de uma nova racionalidade e instrumentalidade. As escolas de Serviço Social</p><p>vêm se multiplicando e colocando um grande número de profissionais no mercado de</p><p>trabalho.</p><p>27</p><p>O Serviço Social como profissão, sofre alterações nas suas formas</p><p>interventivas e operativas, onde lhe são demandados competências e procedimentos</p><p>inerentes às novas tecnologias e das últimas novidades administrativas. Esta</p><p>modernidade está de fato ditando o perfil profissional dos novos Assistentes Sociais.</p><p>Neste cenário, o que se verifica é o desenvolvimento de tensões no processo</p><p>de formação profissional que são intensificadas à medida que existe a dificuldade de</p><p>se debater conhecimentos que definem os procedimentos operacionais da</p><p>intervenção social.</p><p>A título de conclusão, cabe enfatizar que a discussão em torno do</p><p>planejamento enquanto instrumentalidade do Serviço Social traz uma inegável</p><p>contribuição para o redimensionamento da profissão. Esta constatação, aliada ao</p><p>aparato metodológico e técnico operativo no Serviço Social, oferece aos profissionais</p><p>uma possibilidade concreta de tornar visível o compromisso do Serviço Social com</p><p>uma consciência ética que viabilize a proposta presente na cultura profissional.</p><p>Se por um lado avaliam que a pesquisa ainda carece de aprofundamento</p><p>teórico para dar conta de suas diversas lacunas, por outro ela nos possibilitou concluir</p><p>que urge recolocar o planejamento nas discussões, problematiza-lo tanto nos espaços</p><p>acadêmicos (suporte teórico) como nos campos de intervenção do profissional de</p><p>Serviço Social.</p><p>Fica claro que é necessário ter no planejamento a superação de mero</p><p>instrumento tecnocrático, enfatizando suas possibilidades de garantir uma ação</p><p>competente. Os entraves que surgem devem ser analisados e incorporados em</p><p>propostas mais flexíveis e compatíveis com as exigências que vêm sendo feitas ao</p><p>Serviço Social, que possibilitem atender às exigências de articular planejamento e</p><p>intervenção profissional.</p><p>Este é um desafio colocado ao Assistente Social. Os resultados de nossa</p><p>pesquisa de campo, ainda que tematizando um universo limitado, revelam que a visão</p><p>de planejamento ainda permanece atrelada a referências formais, uma espécie de</p><p>“roteiro” a ser seguido e que tem sua eficácia e sua efetividade mensuradas a partir</p><p>da capacidade do profissional em “ajustar a realidade ao que foi especificado no</p><p>documento-plano”.</p><p>28</p><p>O planejamento, assim, não é visto como um instrumental que possibilite</p><p>imprimir alterações concretas na realidade, dando um contorno definido e identificável</p><p>à ação profissional. Isto porque, entre os entrevistados, o planejamento não é</p><p>pensado como instrumento político que exige um cuidadoso processo de negociações</p><p>em diferentes níveis, articulando e compatibilizando diferentes posições, prioridades,</p><p>exigências políticas e propostas de diversos segmentos e de sujeitos sociais</p><p>envolvidos.</p><p>Nessa direção, o planejamento situa-se como um processo de compreensão</p><p>da realidade e opções estratégicas, que tem tempo e espaço bem definidos,</p><p>consubstanciados em ações encadeadas e tendo em vista determinados objetivos.</p><p>Sua implementação deverá produzir uma alteração sensível no real, alterações que</p><p>são incorporadas à nova situação, o que dá a dinâmica e flexibilidade do processo.</p><p>Todo o plano necessita, por isso mesmo, de revisões sistemáticas, e exige um</p><p>acurado sistema de monitoramento, controle e acompanhamento para permitir a</p><p>avaliação.</p><p>O plano ganha relevância política quando supera sua condição de simples</p><p>instrumento formal burocrático, o que ocorre quando se consegue, durante sua</p><p>elaboração, ampliar a discussão e participação dos interessados, produzir um</p><p>conhecimento sobre as necessidades sociais dos grupos e segmentos aos quais se</p><p>destina e colocar em evidência os responsáveis pela gestão dos setores que estão</p><p>sendo planejados.</p><p>29</p><p>REFERÊNCIAS:</p><p>BOURDIEU, e A Nova Sociologia Econômica Tempo Social, revista de</p><p>sociologia da USP, v. 19, n. 2 Texto recebido em 16/ 2/2006 e aprovado em</p><p>4/12/2006. Disponível em</p><p>http://www.gabinetec.com.br/lista/arquivos/backup/obs/OBS_2006_09_06.pdf -</p><p>Acesso em: 17/06/2014</p><p>CARVALHO, M. C. B.; NETTO, J. P. Cotidiano: conhecimento e crítica. São</p><p>Paulo: Cortez, 1994.</p><p>IAMAMOTO, Marilda V. O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e</p><p>Formação Profisional. São Paulo: Cortez, 1998.</p><p>IAMAMOTO, Marilda Vilela. Renovação e Conservadorismo no Serviço Social:</p><p>Ensaios Críticos. 5 ed. São Paulo: Cortez, 2000.</p><p>MATUS, C. Política, planejamento & governo. Tomos I e II. Instituto de</p><p>Pesquisa Econômica Aplicada, Brasília. 1993.</p><p>MATUS, C. O líder sem Estado-Maior. São Paulo: Fundap, 2000.</p><p>NETTO, José Paulo. Transformações Societárias e Serviço Social. Serviço</p><p>Social e Sociedade, nº50, abril 1996, p.87-132.</p>