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<p>FLUXO MIGRATÓRIO EM PORTUGAL: POR QUE CADA VEZ MAIS</p><p>BRASILEIROS EMPREENDEM NO EXTERIOR?</p><p>1. ANÁLISE DAS NAÇÕES-IRMÃS</p><p>Não é de hoje que Brasil e Portugal possuem uma estreita relação. Desde a</p><p>vinda dos portugueses às terras brasileiras em 1500 e operando até meados de</p><p>1800, as duas nações passaram a dividir diversas particularidades. A</p><p>semelhança linguística é a principal delas. Muitos brasileiros despertam o desejo</p><p>de conhecer o pequeno país da Península Ibérica pela sua compatibilidade com</p><p>o país de origem. As heranças históricas deixadas pelos lusitanos, o fácil acesso</p><p>à documentação e o Estatuto da Igualdade são alguns fatores estimulantes para</p><p>a mobilidade dos brasileiros.</p><p>Mas por que esse interesse em abandonar um país tão rico como o Brasil? Com</p><p>sua vasta biodiversidade e riquezas naturais, além de altamente atrativo para os</p><p>turistas? Grande parte da população conclui que não consegue, de fato, se</p><p>beneficiar disso e demonstra um descontentamento com o modo de viver no</p><p>país. Responsável por 98% do mineral existente na terra, pelo “pulmão do</p><p>mundo”, a Amazônia, e sendo o terceiro maior exportador agrícola,</p><p>lamentavelmente, conforme o Datafolha (2022), 76% dos brasileiros, com perfis</p><p>diversificados, desejam largar o país e o destino mais procurado seria Portugal.</p><p>Com as semelhanças culturais, a promulgação</p><p>dos Tratados de Amizade e os processos de</p><p>imigração cada vez acessíveis, o Brasil se</p><p>torna, atualmente, a maior comunidade</p><p>estrangeira dentro do território português,</p><p>contando com 233.138 habitantes, conforme o</p><p>Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), em</p><p>2021.</p><p>E ao desembarcarem no país europeu, quais</p><p>seriam as maiores diferenças que os imigrantes</p><p>notam? O que um país tão pequeno tem que o</p><p>quinto maior país do mundo deixa a desejar?</p><p>Para quem se encontra em solo português, as</p><p>respostas estão facilmente explícitas:</p><p>1. a segurança: o país que antes ocupava a 18ª colocação no ranking de</p><p>lugar mais seguro do mundo segundo o Global Peace Index, em 2022</p><p>passou a ocupar o 6º lugar, perdendo apenas para Áustria, Dinamarca,</p><p>Irlanda, Nova Zelândia, e a primeira colocada Islândia;</p><p>2. o transporte público: habitantes - especialmente das grandes cidades</p><p>como Lisboa e Porto - conseguem usufruir de quatro opções de</p><p>mobilidade: o ônibus ou autocarro, o metropolitano, os trens ou comboio,</p><p>e barcos. Os comboios portugueses disponibilizam rotas tanto domésticas</p><p>quanto internacionais, com preços acessíveis, facilitando também a</p><p>locomoção para fora do país. Ares condicionados, calefações e a</p><p>pontualidade são fatores marcantes do sistema de transporte português;</p><p>A comunidade brasileira está no topo da lista</p><p>de imigração em Portugal.</p><p>3. a educação: grande parte dos imigrantes levam suas famílias e isso inclui</p><p>os filhos em idade escolar. A boa estrutura das instituições, sejam elas</p><p>públicas ou privadas, é um fator de destaque, no qual o Brasil ainda possui</p><p>um baixo desempenho. A partir do Ensino Médio ou Ensino Secundário,</p><p>os alunos devem realizar um exame para determinarem a sua área de</p><p>interesse, para que, ao ingressarem no Ensino Superior, terem uma visão</p><p>mais nítida sobre os seus próximos passos</p><p>4. a empregabilidade: muitos brasileiros percebem que suas ocupações e</p><p>as demais áreas são mais valorizadas na nação irmã. Atualmente, a força</p><p>de trabalho em Portugal se encontra bastante estagnada, o que serve</p><p>como uma grande oportunidade para quem vem de fora. Trabalhos em</p><p>restaurantes, supermercados e construção civil são os empregos mais</p><p>comuns para os recém-chegados que, muitas vezes, não exige</p><p>experiência. Isso é o que alavanca a economia do país. O fato da moeda</p><p>oficial de Portugal, o Euro, ser umas das mais fortes do mundo também é</p><p>um ponto importante para os estrangeiros, visto que muitos abandonam</p><p>sua terra natal para trazer um maior suporte a quem ficou.</p><p>As migrações internacionais estão cada vez mais evidentes no cenário global.</p><p>No ano de 2022, a Organização das Nações Unidas (ONU) revelou que o mundo</p><p>já atingiu a marca 281 milhões de pessoas que se deslocaram para um novo</p><p>país, equivalendo a 3,6% da população global. A emigração pode ser incentivada</p><p>por diversos fatores, sendo eles: econômicos, sociais, políticos, religiosos ou</p><p>ambientais. A comunidade brasileira conta com 4,2 milhões de imigrantes ao</p><p>redor do mundo. A maioria se encontra na América do Norte e na Europa,</p><p>conforme o Ministério das Relações Exteriores (MRE, 2021). Deste modo, esta</p><p>grande reportagem pretende apresentar uma contextualização histórica em</p><p>relação ao Brasil, ao seu povo e suas relações com Portugal: o porquê das</p><p>imigrações em massa, complementando aspectos positivos e negativos e</p><p>trazendo entrevistas com cinco brasileiros residentes em Portugal.</p><p>2. FATORES HISTÓRICOS</p><p>Para entendermos melhor esse fenômeno de imigração, ou migração externa, é</p><p>necessário enfatizar alguns acontecimentos que motivaram todo esse processo.</p><p>As migrações estão sempre relacionadas a fatores atrativos ou fatores</p><p>repulsivos. Assim dizendo, as pessoas abandonam suas origens porque</p><p>enfrentam fatores repulsivos onde vivem e encontraram algum fator atrativo em</p><p>outro lugar. A partir disso, cria-se o chamado fluxos migratórios. Esses</p><p>movimentos migratórios se caracterizam de duas linhas de pensamento: os</p><p>fatores micro e macro. Os fatores de ordem micro, ou individual, se caracterizam</p><p>pela busca de melhores oportunidades de emprego, pela melhor qualidade de</p><p>vida, pelos estudos – programas de intercâmbio ou se inserir em renomadas</p><p>instituições - e pela vontade de reencontrar familiares que já migraram para outro</p><p>lugar. Os fatores de ordem macro, ou histórico-cultural, baseia-se nos contextos</p><p>políticos, sociais e econômicos do lugar, sendo assim, os altos índices de</p><p>violência e insegurança, as condições econômicas (as taxas de desemprego, a</p><p>inflação crescente, a insuficiência salarial, a falta de oportunidades), as políticas</p><p>migratórias, as redes de migração e, em alguns casos, o clima.</p><p>No Brasil, em meados de 1950, a mobilidade migratória se tornou crescente,</p><p>principalmente pela população provinda do Nordeste. Neste período, a</p><p>industrialização era um fator atrativo das regiões Sul e Sudeste, trazendo mais</p><p>oportunidades de emprego para uma população que sofre de desigualdade</p><p>social. O que mais faz o nordestino querer sair do Nordeste são a escassez de</p><p>trabalho e as condições climáticas: as secas desfavoreciam a agricultura, em um</p><p>país onde a economia era predominantemente agrícola. A industrialização do</p><p>Sul e Sudeste trouxe o aumento da produção industrial, a melhoria da qualidade</p><p>de vida e até mesmo a participação do país no mercado internacional. Isso levou</p><p>ao desafio das populações rurais nordestina a se deslocarem para as áreas</p><p>urbanas.</p><p>Outra época que impulsionou fortemente a decisão de muitos brasileiros a</p><p>abandonarem suas origens, só que dessa vez, de abandonar o seu país por</p><p>completo, foi a década de 1980. Conhecida como “década perdida”, esse termo</p><p>foi criado para descrever o período sombrio para quem vivia não só no Brasil,</p><p>mas em toda a América Latina. O agravamento das crises econômicas, as</p><p>inflações, o déficit na produção industrial, o alto desemprego e as altas dívidas</p><p>externas impactaram negativamente a vida de muitos brasileiros, aumentando</p><p>cada vez mais o índice de pobreza.</p><p>3. A IMIGRAÇÃO E O EMPREENDEDORISMO</p><p>O empreendedorismo ganhou um lugar de destaque no cenário global nas</p><p>últimas décadas. Milhares de pessoas ao redor do mundo identificam</p><p>oportunidades de negócio e procuram transformá-las em empreendimentos</p><p>lucrativos. Uma empresa só é criada porque alguém teve uma iniciativa</p><p>empreendedora, seja ela por oportunidade ou por necessidade, sendo assim o</p><p>empreendedorismo é a base da economia, porque sem as empresas e suas</p><p>movimentações, o emprego não existe. A tabela abaixo é um levantamento</p><p>elaborado pelo Global Entrepeneurship Monitor(GEM) e revela a motivação dos</p><p>empreendedores iniciais, mostrando as duas</p><p>iniciativas empreendedoras</p><p>existentes no Brasil e suas numerações.</p><p>Relatório Executivo 2017. Global Entrepeneurship Monitor (GEM).</p><p>A taxa de empreendedorismo no Brasil é de 34%, entre a população de 18 a 64</p><p>anos, equivalente a quase 52 milhões de pessoas, considerando</p><p>empreendedores iniciais e empreendedores já estabelecidos. Mas seria o Brasil</p><p>um país que incentiva o empreendedorismo ou se empreende muito por</p><p>consequência das crises?</p><p>A linha tênue entre o incentivo ao empreendedorismo e a necessidade de</p><p>empreender são fatores que influenciam a taxa de empreendedorismo e essa</p><p>motivação varia de pessoa em pessoa. Por conta das instabilidades econômicas</p><p>e as grandes taxas de desemprego, muitas pessoas passaram a buscar no</p><p>empreendedorismo uma forma de sustento próprio. Isso faz com que o</p><p>empreendedorismo por necessidade seja bastante comum. Em contrapartida,</p><p>existe no país uma cultura empreendedora arraigada, visto que há uma gama de</p><p>políticas e programas que incentivam o empreendedorismo e o desenvolvimento</p><p>de pequenas e médias empresas. Porém, aparentemente, para muitos</p><p>brasileiros, isso pode não ser o suficiente:</p><p>“As coisas no Brasil me incentivaram a procurar absolutamente qualquer lugar</p><p>que me fizesse prosperar mais e foi em Portugal que eu tive essa oportunidade.”</p><p>Conta Juliana, uma profissional do setor da estética, que migrou do nordeste</p><p>brasileiro para Portugal em 2020. “Em Portugal vi que a minha especialização</p><p>seria mais em conta. Eu teria maior poder aquisitivo para poder comprar as</p><p>minhas formações, para poder me especializar e lembro que no Brasil, para ter</p><p>os materiais era muito difícil, muitas vezes eu me via dividida entre pagar uma</p><p>conta pessoal ou para comprar o material.”</p><p>Assim como Juliana, muitos outros brasileiros encontraram dificuldades para</p><p>progredirem em seus negócios. O peso é ainda maior para aqueles que estão</p><p>nos primeiros estágios de desenvolvimento, porque dificilmente possuem um</p><p>modelo de negócio válido. Os empreendedores iniciais correm maior risco e</p><p>incertezas, tem uma limitação de recursos e não possuem uma rede de contatos</p><p>concreta.</p><p>Outro relato que esclarece a vontade dos brasileiros de empreender fora do país</p><p>é o de Victor, um barbeiro goiano que desembarcou em Portugal em 2019: “No</p><p>Brasil eu até tinha um bom salário e boas condições, mas quando se trata de</p><p>guardar dinheiro não sobrava muito. Lá se paga muito imposto e os custos são</p><p>altos. Em 2018 eu vendi minha barbearia, trouxe meu dinheiro todo pra cá e abri</p><p>minha barbearia em 1 ano.”</p><p>Concluindo, os empreendedores brasileiros possuem um menor poder aquisitivo</p><p>se comparado com Portugal e isso torna o processo de negócio ainda mais difícil.</p><p>A infraestrutura do país europeu é mais moderna e sua qualidade de vida é</p><p>superior e isso acaba atraindo talentos internacionais para o país.</p><p>4. CONHECENDO MENTES BRILHANTES</p><p>4.1 EMPREENDEDORISMO GASTRONÔMICO</p><p>Conforme mencionado anteriormente, não é raro ver que brasileiros -</p><p>especialmente do Norte, Nordeste e Minas Gerais - saem de suas origens em</p><p>busca de melhores condições em áreas mais desenvolvidas. As desigualdades</p><p>regionais justificam a chamada migração interna, existente desde o período</p><p>colonial, mas que se intensificou no século XX por conta da diversificação das</p><p>atividades econômicas, que estimulou os habitantes das áreas rurais a</p><p>marcharem para áreas urbanas, a fim de melhores oportunidades de empregos,</p><p>além de outros fatores imprescindíveis para o cotidiano do indivíduo, como:</p><p>saúde, educação, transporte e segurança.</p><p>São Paulo é a cidade mais populosa, contando com 46,6 milhões de habitantes,</p><p>segundo dados do IBGE de 2021 e é, atualmente, o maior polo econômico do</p><p>país. Isso levou Deivide Silva, um baiano de 27 anos, a se mudar para as terras</p><p>paulistanas em busca de uma vida digna, no ano de 2012, quando tinha 16 anos.</p><p>Foi lá que ele começou a sua primeira jornada laboral: em um lava-jato no bairro</p><p>de Jardim Boa Esperança, na zona leste. Foram quatro anos que o jovem rapaz</p><p>de Itororó, cidade situada a 293 quilômetros de Salvador, levou no sudeste</p><p>brasileiro, juntamente com sua irmã, sua mãe e sua namorada. Seu pai já</p><p>morava em Portugal, então, para ele, por que não ter mais impulso para viver</p><p>em um lugar mais desenvolvido? Dessa vez em outro país, outro continente,</p><p>outro lado do oceano. Portugal é o país mais procurado por brasileiros, já</p><p>constava o SEF, seja pelo ensejo de estudantes de melhorar currículo, ou de</p><p>profissionais que querem alavancar sua carreira internacionalmente ou todo o</p><p>mesmo motivo que pessoas provindas de áreas rurais e precárias procuram em</p><p>áreas urbanizadas.</p><p>Foi com 20 anos que Deivide decidiu</p><p>imigrar para Portugal, juntamente com</p><p>sua mãe e sua então esposa Glauciane,</p><p>com quem está há 8 anos, e em 6 meses</p><p>conseguiu realizar os primeiros passos do</p><p>seu novo negócio. Até realizar essa</p><p>grande conquista, foi necessário muito</p><p>esforço, teve de superar obstáculos,</p><p>manter a fé e abrir mão dos momentos de</p><p>lazer. Ao desembarcar em Lisboa,</p><p>começou trabalhando como pizzaiolo e</p><p>iniciou os estudos em Administração em</p><p>Empresas no Instituto do Emprego e</p><p>Formação Profissional (IEFP), onde</p><p>obteve formação e conhecimentos</p><p>necessários para ser um empreendedor</p><p>de excelência. Juntou capital necessário</p><p>para poder tirar seu maior plano do papel</p><p>e foi no dia 16 de junho de 2018 que</p><p>finalmente conseguiu abrir o tão sonhado</p><p>Espaço 351.</p><p>Localizado no coração de Setúbal, o Espaço 351 é um restaurante que apresenta</p><p>todas as raízes nordestinas para os portugueses e demais residentes:</p><p>apresentações de pagode, axé e forró semanalmente, comidas típicas do</p><p>Nordeste, além de hambúrgueres, pizzas e cervejas geladas, e futebol brasileiro</p><p>ao vivo no telão. Como diz aquele famoso ditado de imigrante: “A gente sai do</p><p>Brasil, mas o Brasil não sai da gente.”</p><p>Deivide Silva é proprietário do Restaurante Espaço</p><p>351, em Setúbal.</p><p>O Espaço 351 abre todos os dias da semana e Deivide concilia muito bem o seu</p><p>trabalho com a sua vida pessoal. Conta com uma equipe de funcionários</p><p>totalmente brasileira e cuida das redes sociais junto com um designer.</p><p>"Sou muito agradecido por até onde eu cheguei. E tenho muito ainda para</p><p>chegar. Acho que todos podem fazer o mesmo, é só correr atrás e ter humildade,</p><p>essa é a palavra certa. A humildade de falar com todo mundo, ser simpático com</p><p>todo mundo, porque são eles que pagam nosso aluguel, nosso salário... Para a</p><p>gente chegar em um patamar legal, a gente tem que ser humilde, meter a cara,</p><p>lutar por aquilo que é nosso e, assim, todos vão te respeitar. Então é isso, quer</p><p>ser empresário de restaurante? Seja humilde!" - declarou o baiano.</p><p>4.2 OS GÊNIOS DA MODA E BELEZA</p><p>4.2.1 UM HOMEM INOVADOR</p><p>Das profissões mais interessantes para brasileiros que vivem no exterior, as do</p><p>mercado da estética são as mais reconhecidas. O Portal EuRio estima que há</p><p>cerca de 10 mil cabeleireiros, barbeiros, esteticistas, manicures, maquiadores e</p><p>depiladores brasileiros, sendo assim, o mercado mais valorizado para os</p><p>brasileiros atuarem no exterior. E essa foi uma oportunidade ímpar para o</p><p>goianiense Victor Anderson, de 28 anos, que vive em Portugal há 4 anos.</p><p>O ano era 2012. Victor iniciou sua jornada profissional aos 18 anos no exército</p><p>brasileiro em São Paulo. Lá ele tinha o costume de cortar o seu e o cabelo dos</p><p>colegas de quartel. Foi ali que descobriu</p><p>um diferencial: produzir cortes e</p><p>penteados masculinos.</p><p>Simultaneamente, fazia o curso de</p><p>Segurança do Trabalho, em Jundiaí,</p><p>mas percebeu que não era exatamente</p><p>isso o que queria. Se via mesmo no setor</p><p>da beleza, onde improvisava cortes em</p><p>si e seus amigos, buscando referências</p><p>para aprimorar ainda mais suas</p><p>experiências nesse âmbito. Os cuidados</p><p>com a pele, com a barba e os cabelos</p><p>estão cada vez mais presentes no</p><p>mundo masculino e Victor se dedicou,</p><p>então, à formação de barbearia</p><p>profissional. A partir dali, surgiu o ímpeto</p><p>de criar o seu próprio negócio.</p><p>Victor</p><p>inaugurou seu estabelecimento</p><p>Fio a Fio Barbearia em 2013 ainda em</p><p>Jundiaí. Até 2018, tinha um número razoável de clientes, mas sentia que queria</p><p>mais: “Eu tinha trabalho o suficiente para poder me manter, mas eu queria sair</p><p>em busca de algo maior. Queria atender pessoas de outras nacionalidades,</p><p>expandir meus conhecimentos, até mesmo conhecimentos culturais”. Dito e feito,</p><p>fez as malas e no ano seguinte trouxe o seu empreendimento para Almada,</p><p>Victor é proprietário da Fio a Fio Barbearia, em Almada.</p><p>cidade localizada na região</p><p>Metropolitana de Lisboa.</p><p>Atualmente, conta com, no</p><p>mínimo, 10 clientes diários e</p><p>uma equipe de profissionais</p><p>totalmente brasileira.</p><p>Victor relata que, para abrir a</p><p>sua barbearia, teve que passar</p><p>por duros desafios: “Enfrentei</p><p>um grande problema, que foi a</p><p>pandemia. Ou seja, quando</p><p>vendi a minha loja no Brasil e</p><p>trouxe o dinheiro pra cá, foi</p><p>uma troca muito injusta, porque</p><p>os 5 reais que eu tinha virava 1</p><p>euro”.</p><p>Durante o período de mudança de Victor, Portugal passou por fortes medidas de</p><p>restrição, levando ao fechamento de instituições e comércios, impactando</p><p>imensamente a economia lusitana. Outra regra rígida implementada pelo</p><p>governo, que dificultou cada vez mais a vida de imigrantes recém-chegados, foi</p><p>a proibição de se locomover em bairros vizinhos. Era preciso uma “carta de</p><p>permissão” caso precisassem sair.</p><p>No final das contas, Victor abriu a Fio a Fio Barbearia em um ano e mesmo com</p><p>os obstáculos da pandemia, alega que: “Todos os nossos sonhos podem</p><p>recomeçar do zero novamente. E foi isso que eu aprendi. Hoje, graças a Deus,</p><p>eu me mantenho. Tenho a minha casa e moro sozinho. E tudo isso do meu</p><p>trabalho, da minha consistência!”</p><p>4.2.2 MÃOS DE FADA</p><p>Juliana Duarte é uma renomada profissional de microblanding e extensão de</p><p>cílios na cidade de Setúbal. Dona do salão Doctors Beauty, localizado em</p><p>Almada e inaugurado em 2021, a maranhense de 28 anos iniciou sua carreira na</p><p>área da estética em 2014 ainda no Brasil e de uma maneira um tanto arrojada.</p><p>A jovem nascida em Riachão - município a 872 quilômetros da capital São Luís</p><p>- teve o sonho inicial em ser médica. Vinda de uma família humilde, sempre foi</p><p>condicionada ao pensamento de que “para dar certo na vida é preciso ser médico</p><p>ou advogado”, ou seja, estudar muito e ser valorizado.</p><p>“Por ter vindo de uma família que não tinha muita condição, eu sempre fui uma</p><p>pessoa muito esforçada nos estudos. Sempre me dediquei bastante porque</p><p>nossos pais falam que nossa obrigação é estudar e tirar notas boas. Concordo</p><p>com eles e fiz por onde para chegar nesse lugar de aprovação. Com 16 anos</p><p>passei para medicina na CEUMA (Centro Universitário do Maranhão”</p><p>Victor conta com uma equipe de colaboradores 100% brasileira.</p><p>Vale ressaltar que Juliana fazia de seus</p><p>conhecimentos um empreendimento. No</p><p>ensino médio, dava aulas particulares</p><p>para alguns de seus colegas cobrando</p><p>R$10 a hora e havia vezes que</p><p>conseguia chegar a R$100 juntando dez</p><p>alunos. “A mente empreendedora já</p><p>estava alí, mas eu ainda não tinha</p><p>entendido que o meu negócio era o</p><p>empreendedorismo, era apenas os</p><p>negócios.” afirma.</p><p>Juliana cursou apenas seis meses de</p><p>medicina, visto que foi obrigada a passar</p><p>por alguns contratempos: a falta de</p><p>verbas para conseguir o Fundo de</p><p>Financiamento Estudantil (FIES) e o</p><p>divórcio dos pais. A ausência de um</p><p>apadrinhamento de um familiar atuante na área também favoreceu a desistência.</p><p>Com 17 anos, retornou para a cidade natal com sua mãe e sua primeira jornada</p><p>de trabalho foi como vendedora do Boticário.</p><p>“Sempre me esforcei muito para vender. Eu queria me destacar. Com as</p><p>maquiagens não foi diferente. Se eu tivesse que demonstrar o produto no rosto</p><p>da pessoa, eu ia. Em vez de ser meio rosto, para a pessoa ver o antes e depois,</p><p>eu fazia o rosto inteiro. Já perdi as contas de quantas vezes fiz maquiagem de</p><p>graça (risos). Neste negócio de testar produtos no rosto das pessoas, eu sempre</p><p>entreguei a mais do que pediam. Ao testar um corretivo nos olhos, havia sempre</p><p>alguns pelinhos na sobrancelha. Eu tirava para que nada desvalorizasse o</p><p>corretivo nele. Não queria que nada atrapalhasse o resultado do corretivo na</p><p>pele. Os clientes sempre acabavam levando e as coisas começaram a tomar</p><p>outras proporções nesse trabalho. As pessoas queriam começar a fazer</p><p>sobrancelha comigo”</p><p>Embora não tivesse nenhum certificado que comprove experiência alguma com</p><p>sobrancelha, Juliana sempre foi marcada por seu olho clínico e seu jeito artístico.</p><p>Sempre gostou de desenhar, pintar quadros e tinha noção de alinhamento. A</p><p>partir desse esforço a mais, a maranhense conseguiu gerar uma grande</p><p>demanda de clientes, passou a cobrar pelo seu serviço e seu trabalho autônomo</p><p>chegou a superar o salário que recebia do Boticário.</p><p>Mudou-se para Palmas posteriormente com seu pai com a proposta de retomar</p><p>o curso de medicina, mas como já estava inserida no mercado de trabalho,</p><p>Juliana já tinha uma noção do que é ter independência financeira. Conciliou os</p><p>estudos com o trabalho e concluiu que “Se eu me dedicar 50% nos estudos e</p><p>50% no trabalho, eu atingirei apenas 50% dos meus objetivos. Eu preciso me</p><p>Juliana Duarte é referência em micropigmentação em</p><p>sua região.</p><p>dedicar 100% e escolhi a</p><p>minha profissão” Juliana se</p><p>dedicou, então, apenas na</p><p>área da beleza e começou</p><p>trabalhando de freelancer em</p><p>um conhecido salão da capital</p><p>tocantinense, o Lady & Lord.</p><p>Juliana se mudou para</p><p>Portugal em 2020, após</p><p>inúmeras conversas com o</p><p>seu amigo e atual marido</p><p>Dantonie, que a incentivou a</p><p>visitar o país apenas por lazer.</p><p>“Eu vim pra cá através do meu esposo. Na época éramos amigos e ele já morava</p><p>aqui, então ele me falou como as coisas funcionam. Ele disse que se eu fosse</p><p>para Portugal e passasse uma temporada, a experiência seria muito boa.</p><p>Quando cheguei, não quis ficar só os 3 meses, eu quis ficar mais tempo.”</p><p>Juliana conseguiu um emprego em um pequeno salão no bairro de Laranjeiro,</p><p>em Setúbal. Percebeu que o setor da estética é bastante valorizado pelos</p><p>portugueses. “Eu não achava que iria trabalhar logo de cara na minha área, mas,</p><p>felizmente o mercado aqui estava necessitando de pessoas que fizessem o meu</p><p>serviço, ou seja, a mão de obra especializada em sobrancelhas.” Obteve retorno</p><p>financeiro logo no início da sua trajetória e conseguiu financiar os seus primeiros</p><p>cursos com certificado de especialização em micropigmentação. Ela ainda</p><p>aponta que: “Se eu quiser fazer um curso diferente eu consigo. É muito mais</p><p>acessível, inclusive, se eu for comprar cursos online do Brasil, o Euro me permite</p><p>isso, simplesmente pelo seu poder de compra.”</p><p>Juliana já atingiu a marca de 13 mil seguidores no Instagram. Além de cuidar da</p><p>beleza de seus clientes, ela ministra cursos e formações para quem quer iniciar</p><p>a carreira na área, palestras sobre o assunto e cria conteúdos interativos para</p><p>seus seguidores. Uma verdadeira referência em sua região.</p><p>4.3 EMPREENDER, DOCE EMPREENDER</p><p>Mas será que, de fato, é necessário ser experiente em algo para poder se</p><p>estabilizar no exterior? A confeiteira Laísa Gisele nos prova que não, ainda que</p><p>a assiduidade e a determinação sejam fundamentais. Nascida no ano de 2000,</p><p>a goiana entrou no mundo do empreendedorismo aos 17 anos, vendendo doces</p><p>para moradores da região. Aos 18 anos, migrou para Portugal em 2019 já</p><p>iniciando suas atividades laborais como garçonete e balconista de um</p><p>restaurante chinês no Alentejo. Seu sonho era cursar Gastronomia, mas por falta</p><p>de apoio, não conseguiu.</p><p>Juliana realizando uma palestra sobre nanoblanding, em Setúbal.</p><p>(2022)</p><p>“Terminando o colegial, claro que eu sabia</p><p>que o que eu mais queria era me formar em</p><p>Gastronomia! Infelizmente não tive apoio</p><p>para realizar este sonho, então surgiu a</p><p>oportunidade de ir para Portugal. Eu vim,</p><p>com coragem e sonho nos olhos.”</p><p>Nos mais tradicionais cursos de</p><p>Gastronomia é comum que o estudante</p><p>aprenda as regras básicas de</p><p>armazenamento e higienização</p><p>antes de</p><p>atuar no campo. Laísa passou a adquirir</p><p>esses conhecimentos na prática,</p><p>trabalhando em mercados e frutarias no</p><p>estrangeiro. Teve formação pela renomada</p><p>empresa Jerônimos Martins sobre</p><p>armazenamento, cuidados e distribuição,</p><p>no qual serviu de impulso para continuar</p><p>vendendo seus doces.</p><p>Após dois anos no Alentejo, chegou a hora de se deslocar para a grande Lisboa,</p><p>cidade mais procurada por imigrantes quando o assunto é trabalho, boa</p><p>remuneração e amizades. Laísa já vendia seus doces no Alentejo, porém de</p><p>forma reduzida. Não conhecia muita gente. A capital portuguesa sempre foi uma</p><p>grande alavanca para os estrangeiros em busca de sucesso e uma vida social</p><p>mais movimentada. Claro que tudo é um processo, às vezes rápido, às vezes</p><p>lento.</p><p>Chegando em Lisboa, Laísa teve de cessar, novamente, as atividades na</p><p>doceria, visto que ainda não tinha contatos concretos. Enquanto isso, trabalhou</p><p>em uma padaria do El Corte Inglés, conhecidíssimo centro comercial na</p><p>Península Ibérica. Desde então, obteve um vasto conhecimento sobre a</p><p>pastelaria portuguesa e panificações no geral. Posteriormente, trabalhou no</p><p>turístico LX Factory, em um restaurante italiano. Trocava de emprego</p><p>sistematicamente, sempre levando um pouco do que executou para si.</p><p>“Eu aprendi tanto! Primeiro, a não desistir dos meus sonhos. Segundo, eu tive a</p><p>oportunidade de pela primeira vez ir trabalhar em uma cozinha profissional. Eu</p><p>vi, aprendi e entendi como funciona uma cozinha profissional. Foi a partir do LX</p><p>Factory que tudo voltou aos eixos. Pude voltar a fazer meus doces!”</p><p>Uma trajetória de quatro anos vivendo e aprendendo por conta própria no</p><p>estrangeiro, em meio a incertezas e a saudade da falecida mãe, que partiu</p><p>enquanto já morava fora, Laisa finalmente conseguiu voltar ao normal. Dona do</p><p>Doce Amor Gourmet, seu Instagram comercial já atingiu a marca de 4 mil</p><p>seguidores e conta com inúmeras encomendas e pronta-entrega semanalmente.</p><p>Todavia, a brasileira de 22 anos trabalha de casa, com motoboys à sua</p><p>Laísa Gisele criou o Doce Amor Gourmet.</p><p>disposição, produzindo conteúdo para o</p><p>seu Instagram e tem como grande meta</p><p>alugar um espaço e comprar seu próprio</p><p>transporte.</p><p>Seu último grande passo foi a adesão do</p><p>Doce Amor ao Glovo, aplicativo de entrega</p><p>de refeições em maio de 2023. Quem</p><p>acompanha o @pt_doceamor no Instagram</p><p>está sempre atualizado: Laísa diariamente</p><p>compartilha os bastidores do processo de</p><p>produção, das prontas-entregas, das</p><p>novidades e suas dedicações. Quando não</p><p>está com a mão na massa, está aquecendo</p><p>os neurônios. Frequentemente divide com</p><p>seus seguidores os conteúdos que estuda</p><p>e leva para si.</p><p>"A minha meta agora é estudar mais empreendedorismo, para abrir a minha</p><p>empresa e poder abrir atividade. Depois de entender tudo que preciso, vou</p><p>trabalhar com delivery e, quando tudo der certo, vou abrir a minha loja" conta</p><p>animada. "Quando digo que quero estudar mais é porque eu me vejo sendo uma</p><p>professora. Tenho muito amor pelo que faço e quero inspirar outras pessoas, ser</p><p>alguém de nome na minha área, assim como me inspiro na Bruna Rabelo, da</p><p>Cake Lovers."</p><p>4.4 EMPREENDEDORISMO SUSTENTÁVEL</p><p>Ao passo que os mercados consumidores foram se expandindo nos últimos anos</p><p>globalmente, o empreendedorismo trouxe novas reflexões e discussões, desta</p><p>vez acerca da geração de resíduos e poluição na atmosfera que as indústrias</p><p>causam. Para Noemy Maria, os cuidados mundiais em relação às questões</p><p>ecológicas são sempre pertinentes e requerem mais atenção.</p><p>Noemy Maria Alves Rodrigues, uma</p><p>cuiabana de 21 anos, teve sua primeira</p><p>jornada de trabalho bem precoce: com</p><p>13 anos. Sua mãe era dona de uma loja,</p><p>então já tinha a desenvoltura de como</p><p>trabalhar em um caixa e atender</p><p>clientes. O empreendedorismo sempre</p><p>esteve presente em sua vida:</p><p>“Estou nesse mundo empreendedor</p><p>desde quando eu me conheço por</p><p>gente. Há muito tempo eu já tinha noção</p><p>de cálculo de faturação e minha mãe</p><p>tinha muita confiança em mim nesse</p><p>aspecto. Ela me ensinou muito. O</p><p>empreendedorismo sempre esteve dentro da minha família. Agora estou criando</p><p>Laísa na Feira da Ladra, em Lisboa. (2022)</p><p>Noemy passeando com sua bolsa ecobag em Londres.</p><p>(2022)</p><p>a minha marca, que é a Lotus Ecobag. Quero</p><p>contribuir em prol do meio ambiente, produzindo</p><p>menos lixo e quero muito que as pessoas</p><p>comecem a abraçar a causa. Usando a minha</p><p>marca, claro. (risos) Uma bolsa ecobag pode ser</p><p>usada em vários lugares: no mercado, na praia,</p><p>no shopping. Você pode dobrá-la e colocar na</p><p>sua bolsinha de sair. É um objeto para qualquer</p><p>hora.”</p><p>Noemy é residente de Portugal desde 2019.</p><p>Terminou o Ensino Secundário e agora tem o</p><p>desejo de cursar Design Gráfico. Gosta de</p><p>desenhar e pretende fazer bolsas com desenhos</p><p>de autoria própria. Paralelamente, trabalha como</p><p>garçonete em dois restaurantes na Costa de</p><p>Caparica e está em processo de tirar a sua</p><p>Carteira de Habilitação.</p><p>Com uma rotina agitada e cheia de sonhos, Noemy desenvolveu a ideia de criar</p><p>a marca de sacolas sustentáveis em um simples momento de lazer: assistindo a</p><p>um documentário sobre sustentabilidade. Esse plano surgiu há quase dois anos</p><p>e em maio de 2022 foi dado os primeiros passos. Nas etapas iniciais do seu</p><p>plano de negócio, ela identificou uma oportunidade e desenvolveu a sua ideia.</p><p>Seu Instagram (@lotus_ecobag) ainda está em construção, seguido apenas por</p><p>amigos próximos, mas com produtos prontos para serem vendidos. Como sua</p><p>relação com o empreendedorismo e a noção de gestão não é de hoje, ela tem a</p><p>ciência de que tudo requer tempo e planejamento: “Para criar um negócio não é</p><p>só abrir, você precisa ter um capital, você ter uma noção se pode lucrar, se pode</p><p>perder dinheiro”.</p><p>Além de publicar o seu trabalho, Noemy faz do</p><p>seu Instagram profissional um incentivo a</p><p>outras pessoas para aderirem essa ideia de</p><p>sustentabilidade.</p><p>“Os efeitos da globalização aumentam cada</p><p>vez mais a poluição e isso é um tanto</p><p>preocupante. 700 mil toneladas de lixo são</p><p>produzidas por ano e esse lixo não é</p><p>reutilizável para nada, então eu comecei a</p><p>pensar nesses embates. Quem mais me</p><p>inspirou nesses assuntos foi uma “criança”</p><p>(risos). A Greta Tumberg me fez ter outra visão</p><p>de mundo!”.</p><p>via Instagram.</p><p>Bolsa ecobag - via Instagram (@lotus_ecobag)</p><p>5. A DISCRIMINAÇÃO EM PORTUGAL</p><p>Para o governo português, é muito importante a presença de imigrantes da no</p><p>país, em razão de, assim como no Brasil, muitos portugueses também</p><p>embarcam no processo de migração em busca de melhores oportunidades de</p><p>trabalho. Isso leva o país a uma escassez de mão de obra. Destacou o atual</p><p>presidente Marcelo Rebelo de Sousa, em um discurso realizado na sessão</p><p>solene comemorativa do aniversário de 49 anos do 25 de abril neste ano em</p><p>Lisboa: “O novo tempo pós-colonial é um tempo que a partilha envolve, aqui</p><p>entre nós, centenas de milhares de irmãos da língua portuguesa. Aqui são quase</p><p>meio milhão de mulheres e homens incansáveis no que tem feito por Portugal”.</p><p>E embora Marcelo tenha um pensamento positivo sobre a comunidade</p><p>estrangeira em sua nação e se predisponha a defender políticas de inclusão na</p><p>sociedade portuguesa, quando falamos de brasileiros em Portugal, há um tema</p><p>indispensável para pontuar: a xenofobia. “Como podemos nós, pátria de</p><p>emigração, sermos egoístas perante os dramas dos emigrantes dos outros?”</p><p>ressalta o presidente. Lamentavelmente, a discriminação contra imigrantes é um</p><p>grande alerta para quem deseja visitar ou morar em Portugal e as queixas contra</p><p>a xenofobia são cada vez mais recorrentes no país. Alguns entrevistados trazem</p><p>consigo um caso de xenofobia que enfrentaram dentro ou fora do seu ambiente</p><p>de trabalho:</p><p>“Um caso marcante de xenofobia que sofremos foi nosso salão, onde uma</p><p>senhora portuguesa entrou, deu ‘bom dia’ e ao perceber que os ‘bons dias' que</p><p>a responderam era do português brasileiro, ela falou ‘não tem nenhum português</p><p>para me atender? Só tem vocês?'. Meu esposo foi cumprimentá-la cordialmente</p><p>e ela ‘nossa, você também é brasileiro? Eu quero falar com um português”.</p><p>(nome do marido) explicou que não havia nenhum português, se apresentou</p><p>como dono do estabelecimento e perguntou em que podia ajudá-la. A senhora</p><p>declarou: “Vou ser bem sincera, eu tenho preconceito contra brasileiro, mas o</p><p>serviço foi muito bem recomendado então eu vou ‘arriscar’ fazer meu</p><p>procedimento com vocês porque a minha antiga esteticista faleceu e eu confiava</p><p>muito nela. Só faço com vocês porque vosso serviço foi muito bem recomendado</p><p>porque por mim eu nem entrava aqui”. Ela também fez questão de dizer que meu</p><p>salão era uma “espelunca” e que não era nada atrativo para os olhos dela. Foi</p><p>um atendimento muito complicado de se fazer.” – Juliana Duarte.</p><p>“Um dia eu estava voltando do trabalho e começou a chover muito. Aquelas</p><p>chuvas que em menos de um minuto você fica ensopado. Eu estava a caminho</p><p>do ponto de autocarro e tinha um senhor de uns oitenta e poucos anos correndo</p><p>também. ‘Ainda bem que a gente não é feito de açúcar’ brinquei. O senhor, logo</p><p>em seguida, me ofereceu uma carona no carro dele e não achei nada demais.</p><p>Aceitei. Entrando no carro, ele perguntou se eu ‘gostava de fazer umas</p><p>brincadeirinhas’. Eu fiquei muito nervosa e tentava mudar de assunto o tempo</p><p>todo. Lembro que ele associou brasileiras com prostituição. Não lembro</p><p>exatamente a frase porque fiquei muito nervosa na hora. Certo momento deixei</p><p>claro que não fazia essas coisas e que trabalho com confeitaria. Por fim, cheguei</p><p>ao meu paradeiro e sai correndo. Me senti muito mal esse dia e não cheguei a</p><p>contar para ninguém próximo.” – Laísa Gisele.</p><p>"Não me recordo de uma situação direta de xenofobia. Mas teve alguns</p><p>momentos em meu local de trabalho, principalmente quando estava recém-</p><p>chegada, alguns clientes mal educados já saíam dizendo coisas do tipo: 'volta</p><p>para o teu país'. Certa época eu até discutia com eles, porque é muito chato</p><p>estarmos no nosso trabalho, oferecendo um bom atendimento e a pessoa ir te</p><p>mandar voltar para o seu país. Voltar por que? Nós movimentamos a economia</p><p>daqui! Eles precisam da gente." - Noemy.</p><p>“Nunca sofri nenhuma discriminação direta por ser brasileiro. Também não dou</p><p>abertura e sou bem reativo quando começam a fazer gracinha, mas já ouvi</p><p>muitos portugueses bêbados no meu bar falando coisas como ‘brasileiros do</p><p>car...’ Nem perdi meu tempo porque são só bêbados.” – Deivide.</p><p>Ao contrário das entrevistadas e com um histórico semelhante ao de Deivide,</p><p>Victor nega ter sofrido xenofobia de portugueses. De outro modo, sempre</p><p>recebeu um sentimento acolhedor dos mesmos:</p><p>“Eu nunca sofri nenhum tipo de xenofobia aqui, muito pelo contrário, fui muito</p><p>bem tratado e recebido aqui. Todo lugar que eu fui ninguém nunca me olhou com</p><p>um olhar diferente, mas já ouvi muitos casos e relatos, que eu imagino que tenha</p><p>acontecido mais por comportamentos. Talvez um estilo mais periférico, como o</p><p>uso de gírias e etc. Mas muito pelo contrário, nunca sofri nenhum tipo de</p><p>discriminação pela minha nacionalidade. Eu tenho muitos clientes portugueses,</p><p>até mais que brasileiros, de diferentes faixas etárias. Minha barbearia é bem</p><p>dividida. Eles chegam lá, perguntam como é o Brasil, falam do meu país de forma</p><p>carinhosa. E claro, cada um tem a sua opinião, alguns acham perigoso, diante</p><p>aos relatos que veem no jornal e está tudo bem. Adoro eles e graças a eles que</p><p>eu estou aqui hoje. Já tive uma grande ajuda deles de estarem ali frequentando</p><p>o meu espaço e, querendo ou não, a gente está no país deles.”</p><p>6. CONSIDERAÇÕES FINAIS</p><p>Concluindo esta reportagem, constata-se que, de modo geral, os</p><p>empreendedores brasileiros em Portugal não demonstram arrependimento em</p><p>relação à escolha que fizeram. Apesar da xenofobia que ocorre com certa</p><p>frequência contra os imigrantes em solo português, isso não é motivo suficiente</p><p>para que regressem ao seu país de origem. A vida de um empreendedor em</p><p>Portugal é, sem dúvida, mais fácil do que no Brasil. Além disso, é provável que</p><p>o governo português continue acolhendo outros brasileiros que pretendem</p><p>imigrar no futuro.</p>

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