Prévia do material em texto
<p>A PSICOLOGIA ANALÍTICA DE DONALD WOODS WINNICOTT</p><p>Ivanaldo Gomes De Oliveira</p><p>Jadson Victor Dos Santos Araújo</p><p>Rhuana Ingridy Gomes De Melo</p><p>Lihara Lohany Alencar Morais</p><p>José Lucas Martins Sales</p><p>Rayssa Emanuelly Rodriguês</p><p>RESUMO</p><p>No presente trabalho falaremos um pouco da trajetória de vida e obra de Donald Woods Winnicott, que durante toda sua trajetória abordou a infância como a fase mais importante, suas obras deixaram um grande legado para a história da psicanálise, e também grandes contribuições teóricas, Winnicott foi um dos maiores nomes da história da psicanálise, sempre com grande ênfase no processo de maturação do indivíduo, durante a fase da dependência absoluta entre outros conceitos aqui abordados no presente trabalho.</p><p>Palavras-chave: Vida e obra, Psicanálise, Winnicott.</p><p>1. INTRODUÇÃO</p><p>O legado, a contribuição de Donald Woods Winnicott trouxe para a clínica psicanalítica uma observação importante da relação do bebê ao nascer com o ambiente representado pela mãe ou um substituto trazendo questões inatas, para o seu desenvolvimento na formação do self, na formação do eu, da sua integração consigo mesmo e com o externo apontando, etiologicamente questões de prejuízos psicológicos dado a falta de atenção e cuidados nas fases primárias; dependência absoluta e dependência relativa, podendo ser relacionada com patologias advindo desse período, a sua grande experiência de mais de 40 anos atendendo a pediatria, psiquiatria e psicanálise trouxe o insight para Winnicott observar a importante relação nos períodos primários da vida do ser humano com o ambiente, representado por uma mãe suficientemente boa ou não e nos cuidados representados por 3 fases da dependência; sendo eles a relação com o objeto, holding, handling, contemplou quando há uma falta grave desse ambiente ocasionara condutas por parte da criança de delinquência e condutas antissociais, com observação na clínica descongelar esse prejuízo das estruturas em falta causada por essa relação.</p><p>Existe objetos que temos durante a infância, que por mais insignificantes que sejam, ainda criamos um laço afetivo ou valor emocional, seja um urso de pelúcia que dormia ao nosso lado, ou ate mesmo nossa primeira bola de futebol dada por algum parente. Estes objetos, conforme íamos crescendo, que tomavam um destino não muito edificante, uma vez que eram abandonados empoeirando no armário ou descartados, sem nenhuma pompa, na lata de lixo, foram muito importantes para nosso crescimento emocional. E mais, que todos nós carregamos, até hoje, traços destas primeiras possessões, tão importantes na trajetória de nosso desenvolvimento afetivo.</p><p>Quem primeiro nos chamou a atenção para estes “objetos especiais” foi Winnicott, sempre atento do desenvolvimento de bebês recém-nascidos onde encontrou uma ampla variação na sequência de usos que a criança faz ao colocar o punho ou polegar na boca até as etapas mais tardias em que se liga a um ursinho, a uma boneca ou a outro brinquedo macio. Chamou estes objetos de “Objetos Transicionais”. Essa ideia, entre as outras teorias já citadas, se mostraram bastante eficazes no estudo psicanalítico, contribuindo para uma melhor visão do desenvolvimento humano, onde será mostrado nesse trabalho através de um estudo bibliográfico da vida e obra de D. W. Winnicott explicando como se dava essas teorias.</p><p>2. REFERÊNCIAL TEÓRICO</p><p>2.1. WINNICOTT: VIDA E OBRA</p><p>Donald Woods Winnicott nasceu em sete de abril de 1896, em Plymouth na Inglaterra. Em 1923, obtém o cargo de médico no hospital Paddington Green Children, em Londres. Neste mesmo ano, começou sua análise pessoal com o Dr. James Strachey, tradutor oficial de inglês, das obras completas de Sigmund Freud. Essas duas experiências, o exercício da pediatria e sua análise pessoal, marcaram de maneira fundamental seu trabalho posterior. Em 1927, Winnicott foi aceito para começar sua formação analítica na Sociedad Psicoanalítica Británica.</p><p>Em 1934, concluía sua formação como analista de adultos e em 1935, como analista de crianças, sendo considerado, por três décadas, um fenômeno isolado, pois nenhum outro analista era pediatra. Quando terminou a Segunda Guerra, Winnicott foi nomeado Diretor do Departamento Infantil do Instituto Psicanalítico da Sociedade Britânica, cargo no qual se manteve por 25 anos. Foi ainda, por dois mandatos consecutivos, Presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise. Continuou trabalhando no hospital Paddington Green Children's até os anos 60.</p><p>A partir de 1936, Winnicott começou a ministrar um curso regular sobre crescimento e desenvolvimento humano para professores do Instituto de Educação de Londres, a convite de uma amiga pessoal e colega, a Dra. Susan Isaacs. A partir de 1947, ministrou palestras para estudantes de assistência social na Escola Londrina de Economia e Ciências Políticas. Entre 1940 e 1944 fez supervisão com Melanie Klein. Winnicott tinha uma boa reputação como conferencista interessante e espontâneo, e a British Broadcasting Corporation (BBC) convidou-o a falar para pais e mães pelo rádio. Oliveira (2008) destaca que além dessas conversas individuais pelo rádio, Winnicott preparou ainda dois conjuntos completos de palestras. Janet Quigley produziu a primeira série em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial, e essas palestras apareceram posteriormente sob a forma de um panfleto, sob o título de Getting to Know Your Baby, que continha as transcrições de seis programas radiofônicos e era vendido por um shilling. A capa do pequeno folheto mostrava a reprodução de um entalhe em madeira de uma mãe com seu bebê feito por Alice Winnicott. Entre 1949 e 1950 foram ao ar pela BBC, várias outras palestras sobre o tema "The Ordinary Devoted Mother". Nove transmissões dessa série foram lançadas n o panfleto "The Ordinary Devoted Mother and Her Baby: nine broadcast talks". Essas transmissões atingiram milhões de pessoas. Winnicott foi presidente do comitê de investigações da Associação Psicanalítica Internacional, que investigou a prática clínica de Jacques Lacan. Em 1953, Winnicott e vários colegas (Phyllis Greenacre, Hedwig Hoffer e Jeanne Lampl-de Groot) entrevistaram diversos membros da instituição de Lacan, a Société Française de Psychanalyse, assim como membros da clássica Société Psychanalytique de Paris, que alegavam que Lacan conduzia sessões de psicanálise mais curtas.</p><p>Durante sua vida, Winnicott ocupou vários cargos importantes e recebeu diversas homenagens. Foi presidente da Seção Médica da British Psychological Society, presidente da Seção de Pediatria da Royal Society of Medicine e presidente da Associação para Psicologia e Psiquiatria Infantil. Em 1955, tornou-se também conferencista do Departamento de Desenvolvimento Infantil do Instituto de Educação da Universidade de Londres. Finalmente, em 1968, foi eleito membro honorário da Royal Medico-Psychological Association, e recebeu a cobiçada Medalha James Spence de Pediatria, prêmio que leva o nome de um dos heróis pessoais de Winnicott, o Professor Sir James Spence, ilustre médico de crianças nascido em Newcastle-uponTyne, o qual insistia em que as mães e os bebês recém-nascidos não deviam ser separados no momento do nascimento. A Sociedade Psicanalítica Finlandesa também homenageou Winnicott, convidando-o a tornar-se membro honorário. Recebeu, ainda, o título de Cavaleiro das mãos da rainha Elizabeth II. Winnicott foi um dos primeiros autores a hierarquizar o papel da mãe no funcionamento mental da criança. Morreu em 28 de janeiro de 1971, após o último de uma série de ataques de coração e foi cremado em Londres. Ele considerou que a mãe intervém como ativa construtora do espaço mental da criança. Santos (2008) diz que na teoria psicanalítica de Winnicott o ser humano não é apresentado como um objeto da natureza, mas sim como uma pessoa que para existir precisa do cuidado e atenção de um outro ser humano.</p><p>Para Winnicott o objeto</p><p>externo é muito mais do que um modulador das projeções da criança. A mãe participa de uma verdadeira unidade com o seu filho, ajuda a formar sua mente, fazendo com que este processo seja bem feito. “Ao lhe dar amor, fornece-lhe uma espécie de “energia vital”, que o faz progredir e amadurecer. ” (Bleichmar e Bleichmar, 1992, pág. 246). Winnicott acreditava que a mãe suficientemente boa é aquela que possibilita ao bebê a ilusão de que o mundo é criado por ele, concedendo-lhe, assim, a experiência da onipotência primária, base do fazer criativo. E a percepção criativa da realidade é uma experiência do self, núcleo singular de cada indivíduo. Winnicott afirma que temos uma tendência a integração, porém este processo não acontece de forma autonômica, é construído. O bebê precisa de um ambiente que facilite a construção dessa integração. De acordo com Dias (2008). De acordo com Winnicott, a partir da interação entre o meio e o desenvolvimento psíquico do ser humano se desenrolam as duas primeiras fases da vida, na primeira que vai do nascimento aos 6 meses a criança encontra-se em um momento de dependência absoluta em relação ao meio ou a mãe; na segunda, que vai dos seis meses aos dois anos, a criança se encontra num estado de dependência relativa.</p><p>2.2 A FASE DA DEPENDÊNCIA ABSOLUTA</p><p>O bebê depende inteiramente do mundo que lhe é oferecido pela mãe, porém o mais importante, e que constitui a base da teoria de Winnicott, é o desconhecimento de seu estado de dependência por parte do bebê. Na mente do bebê, ele e o meio são uma coisa só. Ora, idealmente, seria por uma perfeita adaptação às necessidades do bebê que a mãe permitiria o livre desenrolar dos processos de maturação. (ARCANGIOLI, 1995). A dependência é vista como “absoluta” porque não haveriam chances de sobreviver sem os cuidados do ambiente (mãe). Há uma total dependência.</p><p>No início da vida, de acordo com as condições favoráveis ou não, os bebês possuem potencial inato e se diferem uns dos outros. Winnicott, em seu estudo, afirma que os bebês nesta fase de dependência absoluta precisam de uma mãe qualificada para atender suas necessidades. Todo esse cuidado ofertado pela mãe, proporcionando adaptação, autonomia, confiança, entre outros, impactam diretamente na vida da criança, fazendo com que ela vivencie a sua própria continuidade do ser. Ao longo dessas experiências, o bebê deixa de viver uma simbiose (ser um só com a mãe) e passa a viver seus processos de maturação.</p><p>É nesse momento que a mãe age, para o atendimento às necessidades do bebê, através de três funções maternas exercidas como, Objeto, Holding e Handling.</p><p>2.3 AS TRÊS FUNÇÕES MATERNAS</p><p>A apresentação do Objeto seria a função de apresentação do seio ou da mamadeira. Em razão de seu estado vital a criança passa a “esperar” algo, e esse algo surge e ele, naturalmente, aceita o objeto oferecido. É nesse momento que o bebê tem a ilusão de ter “criado” esse objeto para a sua satisfação. Ele estava quase imaginando-o quando o objeto surgiu. É com esta “ilusão” que o bebê tem uma experiência de onipotência. Ou seja, é como se o objeto adquirisse existência real quando desejado e esperado. à medida que a mãe vai sempre estando à sua disposição esta ilusão vai sendo reforçada e, ao mesmo tempo, protegendo-o de fontes de angústia que seriam insuportáveis.</p><p>Holding, trata-se de uma função de “sustentação”, ou seja, a mãe instaura uma rotina de cuidados cotidianos que vão sustentar, não somente corporal, mas psiquicamente, a criança. Desse modo, a realidade externa, para o bebê é muito simplificada e permite que ele crie pontos de referência simples e estáveis, facilitando sua integração no tempo e no espaço.</p><p>E Handling, está relacionado a manipulação do bebê enquanto ele é cuidado, essa função é necessária para o bem estar do bebê, que aos poucos experimenta seu corpo e se percebe vivendo dentro de um corpo, realizando uma união entre sua vida psíquica e seu corpo. A essa união Winnicott chama de personalização.</p><p>2.4 A MÃE SUFICIENTEMENTE BOA</p><p>Esta refere-se àquela que supre como um todo as necessidades do filho para que este possa, por sua vez, desenvolver-se em sua plenitude, sobretudo na saúde psíquica. Vale salientar que essa mãe é a representação física do ambiente, conferindo, mais uma vez ganhos para a saúde do sujeito. A “mãe” que se identifica com os filhos e que, ao menos teoricamente, adapta-se perfeitamente as suas necessidades é chamada por Winnicott de mãe suficientemente boa, ou boa o bastante para que, ao conviver com ela, o bebê não tenha sua saúde psíquica prejudicada. Ela representa o ambiente suficientemente bom, sendo este vital para o ser humano em seu dever. A mãe suficientemente boa permite a criança pequena desenvolver uma vida física e psíquica fundamentada em suas tendências inatas, o que faz com que ela possa experimentar um sentimento de continuidade da vida, de emergência do seu verdadeiro eu, seu verdadeiro self.</p><p>2.5 SELF VERDADEIRO</p><p>Assim, o self será o eu e a integração da totalidade de si mesmo. Isto acontece a partir de um “ambiente suficientemente bom” que possibilite o desenvolvimento das potencialidades de um self rudimentar que já existe desde o nascimento, embora de forma extremamente frágil. (ARCANGIOLI, 1995). Winnicott utiliza a noção de self criada por Hartmann para quem o termo designa a representação da pessoa inteira, incluindo o corpo e a organização mental, contudo propõe distinguir dois aspectos do self, um falso e um verdadeiro, que estariam presentes em todos os seres humanos, mas em proporções variadas.</p><p>De imediato o que nos interessa é o self verdadeiro. De acordo com Winnicott, o verdadeiro self é a pessoa que eu sou e apenas eu, ou seja, a pessoa que se constrói, a partir do emprego de suas tendências inatas. No começo da vida não seria mais do que o somatório da vida sensório-motora. O self verdadeiro se manifestaria nos gestos espontâneos, nas ideias das pessoas, pois apenas este pode ser criador. Portanto, a evolução psíquica do bebê acha-se ligada a presença de uma mãe suficientemente boa.</p><p>“Então, o indivíduo desenvolve-se mais como uma extensão da casca do que do núcleo. O self verdadeiro permanece escondido, e o que temos que enfrentar clinicamente é o self falso, cuja missão é ocultar o self verdadeiro”. Winnicott considera que o verdadeiro self seria o que resulta de a mãe ter aceite os gestos espontâneos da criança. Nos casos em que a mãe não tem capacidade para entender e satisfazer as necessidades do filho, ela submete a criança aos seus próprios gestos e vontades, o que começa a gerar um falso self. (FONTES, 2016)</p><p>2.6 A MÃE INSUFICIENTEMENTE BOA</p><p>A mãe insuficientemente boa pode se tratar de uma situação ou de uma mãe real, trata-se de uma mãe que não tem a capacidade de se identificar com as necessidades do filho, substituindo-as pelas suas próprias necessidades. No entanto, a pior das mães é aquela imprevisível, pois o bebê não consegue prever nenhuma de suas condutas, como, por exemplo, naquela situação em que os cuidados são prestados por diversas pessoas, fazendo com que a criança se depare com uma mãe dividida em pedaços, tendo uma experiência complexa em vez de simples como seria desejável.</p><p>Winnicott assevera que o falso self, especialmente quando se encontra nos extremos mais patológicos da escala, é acompanhado por uma sensação subjetiva de vazio, de futilidade e de irrealidade. Como se constitui às expensas do núcleo autêntico do self, obriga este a renunciar às suas pulsões (que constituem a sua essência) em favor de uma adaptação “bem-sucedida”. Faz-se o que o outro espera de nós e não o que se desejaria. Segundo Zimerman o falso self resulta de um continuado esforço da criança em assegurar o amor dos pais, nem que seja renunciando à espontaneidade e sujeitar-se às expectativas daqueles. Os sujeitos que têm um falso self não devem ser necessariamente considerados como pessoas falsas. É possível que os êxitos conseguidos pelo sujeito sejam devidos às suas reais capacidades,</p><p>embora persista uma sensação de falsidade, devido à dificuldade que se estabeleceu em distinguir o que é falso daquilo que é verdadeiro. (FONTES, 2016)</p><p>2.7 ORIENTAÇÕES TERAPÊUTICAS</p><p>A mãe insuficientemente boa terá efeitos na evolução psíquica da criança. Para compreendermos esses efeitos precisamos inicialmente admitir que as falhas de adaptação da mãe não são sentidas como frustrações ou recusas de satisfações pulsionais, mas provocam carências na satisfação das necessidades e criam obstáculos para o desenrolar dos processos vitais.</p><p>Nessa época o bebê precisa de apoio ao nascimento e desenvolvimento das principais funções do eu, sendo estas: a integração no tempo e no espaço; o encontro com objetos do mundo externo e; a unificação entre a vida corporal e a vida psíquica.</p><p>Quando o bebê é privado da mãe suficientemente boa, a maturação do eu não consegue se efetuar e o desenvolvimento das principais funções fica bloqueado ou distorcido.</p><p>Nessa fase, o bebê é um ser imaturo, a beira de uma angústia inimaginável, a mãe cumpre a função de sustentação do eu, quando isso não ocorre, surge essa angústia impensável, que é portadora de uma ameaça de aniquilação, cujas principais variações são: despedaçar-se, ter a impressão de uma queda infindável, sentir-se levado para alturas infinitas, não ter relação com o próprio corpo e não ter relação espaço-temporal.</p><p>Para Winnicott essas variações constituem a essência das angústias psicóticas, sendo que os graus e variedades das carências de adaptação materna e da maneira como o bebê consegue lidar com isso que vem ou não evoluir para uma forma de organização patológica da personalidade.</p><p>São algumas dessas organizações patológicas:</p><p>- esquizofrenia infantil ou autismo (Winnicott não diferencia essas duas estruturas clínicas);</p><p>- esquizofrenia latente, que pode se manifestar mais tarde em fases de tensão e fadiga;</p><p>- esquizofrenia limítrofe, o núcleo do distúrbio é de natureza psicótica, embora o paciente se apresente como neurótico;</p><p>- a personalidade construída com base num falso self, é o traço principal da reação do bebê as falhas de adaptação da mãe. Diante de uma mãe incapaz de suprir suas necessidades, o bebê renuncia a esperança de vê-las satisfeitas. Assim, o bebê desenvolve uma personalidade construída a partir de um falso self. Em casos extremos esse self artificial é clivado do self verdadeiro que fica bloqueado em sua expressão. A organização da vida psíquica baseada em um falso self leva um sentimento de irrealidade a respeito de si mesmo, dos outros e da vida em geral. Na vida adulta ele se comporta como um camaleão que se funde com o meio e reage especularmente as pessoas do seu círculo, sua capacidade de adaptação ao ambiente é hipertrofiada e o sentimento de irrealidade, de vacuidade, pode acarretar graves descompensações.</p><p>- personalidade esquizoide, trata-se de uma personalidade sadia, na qual encontramos elementos esquizoides (falta de interesse em relacionamentos sociais, apatia, frieza emocional) frutos de mecanismos de clivagens.</p><p>Para distinguir as orientações terapêuticas a esses diferentes distúrbios, Winnicott raciocinou a partir do tratamento analítico elaborado por Freud. Para ele, o tratamento analítico destinava-se a pacientes que durante a sua primeira infância haviam recebido cuidados suficientemente bons, que lhe permitiriam desenvolver seu eu, tornando-se uma entidade e vivenciar as pulsões do isso. Sua organização psíquica seria de ordem neurótica. Contudo, com pacientes cuja etiologia do distúrbio se situassem nos primeiros meses de vida a opção terapêutica seria totalmente distinta, posto ser indispensável considerar a vulnerabilidade e as distorções mais ou menos graves sofridas pelo eu, por causa de carências de adaptação precoces e maciças.</p><p>Nesse último caso a possibilidade de cura ou melhora passaria por um redirecionamento dos processos de maturação da primeira infância. Esse redirecionamento só pode ocorrer no contexto de uma relação de dependência extremamente forte, ou mesmo absoluta com o terapeuta. Quando isso ocorre o analista fica no lugar da mãe suficientemente boa que se supõe atende as necessidades do bebê para o livre desenrolar do processo de maturação.</p><p>“É graças a sua capacidade de identificação com as necessidades do paciente que o analista assegura, no nível simbólico, uma função de sustentação psíquica (holding) que cria uma situação de confiança.” (ARCANGIOLI, 1995). A capacidade do analista de se identificar com as necessidades do paciente libera os processos de maturação e leva ao descongelamento da situação primitiva de carência ambiental. “Ela permite ao eu uma evolução suficiente para que o paciente possa sentir cólera e exprimi-la quando surgir uma inadaptação na situação analítica. Essa cólera vem substituir as angústias inimagináveis da época primitiva, pois o eu adquire a capacidade de utilizar as carências para se enriquecer e a capacidade de vivenciar emoções sem risco de aniquilamento.” (ARCANGIOLI, 1995).</p><p>Ocorre assim, a seguinte sequência:</p><p>- o analista adapta-se as necessidades do paciente;</p><p>- ocorre a liberação do processo de maturação;</p><p>- ocorre a intervenção de uma falta de adaptação;</p><p>- a cólera é sentida e expressa pelo paciente;</p><p>- ocorre um novo progresso do eu.</p><p>Essa sequência repete-se incansavelmente no trabalho terapêutico e em casos mais favoráveis evolui progressivamente para uma análise mais clássica.</p><p>2.8 DEPENDÊNCIA RELATIVA</p><p>A segunda fase da vida se estende dos 6 meses aos 2 anos. Trata-se de uma fase de dependência relativa da mãe e dos substitutos parentais que agora intervêm de maneira mais frequente. A criança agora está consciente de sua sujeição e tolera melhor as falhas de adaptação da mãe, sendo capaz de tirar proveito delas para se desenvolver.</p><p>Nessa fase a criança já reconhece as pessoas e os objetos como parte da realidade externa, já percebe a mãe como separada dela mesma e realiza uma união entre sua vida psíquica e seu corpo. Sua capacidade de se situar no tempo e no espaço já se desenvolveu e já é capaz de se antecipar aos acontecimentos. Na mãe também já se produziu uma evolução psíquica, ela se desliga da identificação total com o filho, retoma sua vida pessoal e profissional e introduz “falhas de adaptação” moderadas, estas são portanto, ajustadas ao desenvolvimento da criança, pois a criança já é capaz de vivenciá-la sem prejuízo e até mesmo tirar proveito delas.</p><p>Apesar disso, a criança ainda precisa resolver muitos problemas e ainda precisa da ajuda da mãe. Uma dessas dificuldades é ver a mãe como uma figura unificada, ela ainda pensa que está se relacionando com duas mães: a terna, que cuida dele, dos momentos de calma e tranquilidade; a segunda mãe, aquela com quem a criança se encontra na hora das refeições, em fase de excitação em que a agressividade está implicada. Em virtude desse componente agressivo, presente na pulsão oral o bebê passa a imaginar que a satisfação de sua fome leva a uma deterioração do corpo da mãe que cava nele um buraco, um vazio.</p><p>Na primeira fase da vida a criança não se preocupava com esse vazio, mas agora se inquieta porque reconhece que depende dela para o seu bem estar. Assim, para reconhecer que a mãe dos momentos de excitação não foi destruída é necessário reconhecer que a mãe dos momentos tranquilos, que ela reencontra após momentos de tensão pulsional, é a mesma pessoa. Assim, para integrar a contento essas duas pessoas ela precisa da mãe suficientemente boa.</p><p>A mãe suficientemente boa é a mãe que sobrevive, portanto ela é a mesma pessoa que cuida dela nos momentos de calma e nos momentos de tensão pulsional. A sobrevivência da mãe também é representada pelo fato de que a mãe dos momentos tranquilos continua a cuidar da criança com a mesma atenção e ternura, portanto, a mãe que sobrevive é aquela que não se ausenta por um tempo que ultrapassa a capacidade da criança de conservar uma representação viva dela, de acreditar na sua existência. “A integração dos diferentes aspectos da mãe numa única e mesma pessoa recoloca, de</p><p>uma outra forma, a questão de sua sobrevivência. A criança passa a experimentar uma angústia depressiva, uma inquietação, pois é a mãe em sua totalidade que ela corre o risco de destruir com seus ataques agressivos.” (ARCANGIOLI, 1995).</p><p>Por outro lado, a criança sente culpa porque a mãe que é objeto de seus ataques é também a mãe amada e amorosa dos momentos tranquilos. A criança é dominada por uma angústia depressiva e uma culpa, se empenhando em atividades de reparação e restauração da mãe quando sente que a danificou ou destruiu, inicialmente em um nível fantasístico, depois na realidade, sob forma de gestos de ternura e presentes. Para suportar a angústia e a culpa, a criança pequena age e repara, para isso ela precisa de uma mãe suficientemente boa que consiga sobreviver.</p><p>A experiência da sobrevivência da mãe permite a criança:</p><p>- aceitar como suas as fantasias e pensamentos ligados a experiência pulsional;</p><p>- progressivamente distinguir essas fantasias e pensamentos do que realmente acontece na realidade externa;</p><p>- experimentar uma realidade de excitação que não é destrutiva nem desestruturante.</p><p>2.9 FENÔMENOS TRANSICIONAIS</p><p>Depois de uma fase em que teve a ilusão de ser onipotente, na qual criava os objetos de sua necessidade, de ser uma só com a mãe, a criança vai, paulatinamente, descobrindo que ela e sua mãe são separadas, que ela depende da mãe para satisfação de suas necessidades e que a fantasia não corresponde a realidade. Após uma fase de ilusão, ela enfrenta a desilusão. Para se sustentar nessa fase difícil geradora de uma angústia depressiva a criança desenvolve algumas atividades, como:</p><p>1. Leva a boca junto com os dedos algum objeto externo;</p><p>2. Segura um pedaço de tecido que chupa ou não;</p><p>3. Desde os primeiros meses começa a puxar fios de lã e fazer uma bolota com a qual se acaricia;</p><p>4. Surgem atividades bucais acompanhadas de sons, balbucios, ruídos anais e as primeiras notas musicais.</p><p>Há uma diversidade de atividades que incluem ou não objetos, estas têm uma característica comum: revestem-se de uma importância vital para a criança, que se dedica a ela em momentos em que poderia surgir a angústia, especialmente por ocasião da separação da mãe. Essa atividades foram chamadas por Winnicott de fenômenos transicionais e quando algum objeto é utilizado, este é chamado de objeto transicional. “O adjetivo “transicional” indica o lugar e a função que esses fenômenos, esses objetos, ocupam na vida psíquica da criança. Eles vêm alojar-se num espaço intermediário entre a realidade interna e a realidade externa.” (ARCANGIOLI, 1995). Eles amortecem o choque causado pela conscientização de uma realidade externa, que é povoada de coisas e pessoas, que se relaciona com uma realidade interna, muitas vezes povoada por fantasias pessoais. Esse espaço, em virtude do lugar que ocupa, também é qualificado de transicional.</p><p>O objeto transicional é um sinal concreto do espaço transicional. Entretanto, o mais importante é a existência do espaço transicional, pois esse pode eventualmente ser habitado por fenômenos transicionais que passam despercebidos ao olhar do observador. O objeto transicional serve de defesa para a angústia depressiva, mas pode ir mais longe em sua descrição, porque é carregado de significações. Representa a mãe, é dotado das qualidades da mãe dos momentos tranquilos, representa a transição do momento da união com a mãe para o momento em que se relaciona com ela como uma coisa externa e separada. Marca o momento do controle onipotente exercido na fantasia e o controle pela manipulação. Esse objeto não é esquecido, mas desinvestido, quando deixa de ser importante para a criança. “Na verdade, perde sua significação quando os fenômenos transicionais tornam-se difusos e se distribuem pelo espaço transicional, que, lembro eu, situa-se entre a realidade interna e a realidade externa”. (ARCANGIOLI, 1995).</p><p>O espaço transicional persiste ao longo de toda a vida, sendo ocupado por atividades lúdicas e criativas extremamente variadas, tais espaços têm como função aliviar o ser humano da constante tensão trazida pela realidade de dentro com a realidade de fora.</p><p>Como em todos os outros campos da realidade psíquica, o ambiente desempenha um papel no aparecimento e na evolução dos fenômenos transicionais. Seu aparecimento é um sinal de que a mãe da primeira fase foi suficientemente boa, quanto à evolução, o ambiente tem por missão respeitar e proteger sua expressão. Para Winnicott os fenômenos transicionais são normais, todavia em alguns casos podem indicar uma psicopatologia. “Os diferentes distúrbios psíquicos ligados ao sentimento de falta de sobrevivência da mãe, no decorrer dessa fase, podem ser agrupados sob o termo “doenças da pulsão agressiva”, dentre as quais encontramos a tendência anti-social, a hipocondria, a paranóia, a psicose maníaco-depressiva e algumas formas de depressão” (ARCANGIOLI, 1995).</p><p>Winnicott chama a atenção para o fato de que no processo de análise esta cuida de acontecimentos ligados a agressividade e a libido, amor e ódio, sendo que a criança se preocupa com as consequências do seu ódio e sente culpa por ele. Nesse sentido, importa que o analista sobreviva, sustente a situação analítica e não faça represálias ao ódio exprimido e atuado pelo paciente.</p><p>O ambiente é assim, o esteio indispensável no qual o ser humano se apoia para construir as bases de sua personalidade, sendo que em sua perspectiva desenvolvimentista Winnicott acredita que o ambiente continua a exercer influência sobre a criança que cresce, no adolescente e mesmo no adulto, ocorre o estabelecimento progressivo de uma interdependência entre indivíduo e ambiente.</p><p>A opção pela influência do ambiente no desenvolvimento psíquico se deu por esta parecer ser a parte mais fecunda e original da obra de Winnicott. Ele acreditava que Freud havia dito o que havia para se dizer no campo das neuroses e havia instaurado uma técnica terapêutica adaptada aos pacientes neuróticos, nesse sentido, acreditava que não tinha nada para acrescentar. Assim, dedicou-se a vida dos recém-nascidos, dos bebês e para os distúrbios cuja etiologia era anterior a fase edipiana. Embora ele reconhecesse a contribuição de Klein, rompia com alguns aspectos da teoria Kleiniana, em particular com o fato desta desconsiderar a influência do ambiente no ser psíquico. Ao considerar o ambiente, Winnicott ampliou o campo de reflexão e aplicação da psicanálise. “Ele passou do estudo dos conflitos intrapsíquicos para o estudo dos conflitos interpsíquicos, das distorções psíquicas provocadas por um ambiente patogênico”. (ARCANGIOLI, 1995). Assim, ele propôs uma nova técnica terapêutica para aqueles pacientes que em sua primeira infância se depararam com um ambiente que fracassara na adaptação a suas necessidades.</p><p>O princípio que norteou o trabalho de Winnicott foi a necessidade de criar um ambiente novo e adaptado a cada paciente</p><p>3. METODOLOGIA</p><p>A metodologia utilizada nesse trabalho, foi a leitura do livro “introdução as obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, inniott, Dolto e Lacan” e algumas discussões de grupo e em sala de aula.</p><p>4.CONCLUSÃO</p><p>Não ha duvidas de que Winnicott contribuiu de forma importante para o ramo da psicanalise, no qual trouxe um melhor entendimento do desenvolvimento psíquico da criança, onde destacou a grande influência que se tem esse período inicial, esse ambiente inicial representado pela mãe ou seu substituto, que serviria como processo de maturação e construção da personalidade da criança, a mãe suficientemente boa, serviria como uma mediação da criança para encontrar o seu “eu”, ou seja, adquirir o self verdadeiro.</p><p>5. REFERENCIAS</p><p>J.-D. Nasio. Introdução às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan. Tradução de Vera Ribeiro. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1995, p. 194.</p><p>D. W. Winnicott, “A criança e o seu mundo”, Rio de Janeiro: LTC, 1982. _ “Tudo começa em casa”, São Paulo: Martins Fontes, 2016.</p><p>image3.png</p><p>image1.png</p><p>image2.png</p>