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<p>W</p><p>BA</p><p>13</p><p>69</p><p>_V</p><p>1.</p><p>0</p><p>PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS –</p><p>QUESTÕES ATUAIS</p><p>2</p><p>Flávia Giorgini Fusco Cammarosano</p><p>Londrina</p><p>Editora e Distribuidora Educacional S.A.</p><p>2023</p><p>PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS –</p><p>QUESTÕES ATUAIS</p><p>1ª edição</p><p>3</p><p>2023</p><p>Editora e Distribuidora Educacional S.A.</p><p>Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza</p><p>CEP: 86041-100 — Londrina — PR</p><p>Homepage: https://www.cogna.com.br/</p><p>Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM</p><p>Silvia Rodrigues Cima Bizatto</p><p>Conselho Acadêmico</p><p>Alessandra Cristina Fahl</p><p>Ana Carolina Gulelmo Staut</p><p>Camila Braga de Oliveira Higa</p><p>Camila Turchetti Bacan Gabiatti</p><p>Giani Vendramel de Oliveira</p><p>Gislaine Denisale Ferreira</p><p>Henrique Salustiano Silva</p><p>Mariana Gerardi Mello</p><p>Nirse Ruscheinsky Breternitz</p><p>Priscila Pereira Silva</p><p>Coordenador</p><p>Gislaine Denisale Ferreira</p><p>Revisor</p><p>Stênio de Freitas Barretto</p><p>Editorial</p><p>Beatriz Meloni Montefusco</p><p>Carolina Yaly</p><p>Márcia Regina Silva</p><p>Paola Andressa Machado Leal</p><p>Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________</p><p>Cammarosano, Flávia Giorgini Fusco</p><p>Princípios Administrativos: Questões Atuais/ Flávia</p><p>Giorgini Fusco Cammarosano, – Londrina: Editora e</p><p>Distribuidora Educacional S.A., 2023.</p><p>32 p.</p><p>ISBN 978-65-5903-302-7</p><p>1. Direito administrativo. 2. Princípios. 3. Serviço público. I.</p><p>Título.</p><p>CDD 658</p><p>_____________________________________________________________________________</p><p>Raquel Torres – CRB 8/10534</p><p>C184p</p><p>© 2023 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.</p><p>Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou</p><p>transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo</p><p>fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de</p><p>informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.</p><p>https://www.cogna.com.br/</p><p>4</p><p>PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS – QUESTÕES ATUAIS</p><p>SUMÁRIO</p><p>Apresentação da disciplina ______________________________________5</p><p>A Gênese do Direito Administrativo e Seus Princípios ___________7</p><p>Os princípios expressos de Direito Administrativo elencados</p><p>no Artigo 37 Caput da Constituição Federal de 1988 __________ 16</p><p>Razoabilidade, proporcionalidade e continuidade</p><p>do serviço público _____________________________________________ 25</p><p>Princípios: Autotutela Administrativa, Participação e</p><p>Consenso na Administração Pública e da Segurança Jurídica __ 36</p><p>5</p><p>Apresentação da disciplina</p><p>O Direito Administrativo é o ramo do direito público que estuda a</p><p>função administrativa, ou seja, é o ramo do direito que estuda a</p><p>atuação da Administração Pública ao cumprir suas obrigações legais e</p><p>constitucionais, que chamamos de deveres, com o objetivo de atender</p><p>aos direitos constitucionais garantidos e assegurados a todos os</p><p>indivíduos que estão sob a proteção constitucional.</p><p>Para tanto, é importante, primeiramente, estudarmos cada uma das</p><p>funções que a Administração Pública deve desempenhar. Assim, iremos</p><p>analisar as funções típicas e atípicas de cada órgão e pessoa jurídica de</p><p>direito público interno a fim de verificar quais as funções do Estado que</p><p>estão presentes nos três Poderes, ou seja, estão presentes nos órgãos</p><p>do Legislativo, Executivo e Judiciário.</p><p>Após essa abordagem, aprofundaremos o estudo nas atividades que são</p><p>peculiares às funções da Administração Pública.</p><p>Inicialmente é necessário estudarmos duas regras básicas do Regime</p><p>Jurídico Administrativo e após, passaremos a estudar os princípios</p><p>da Administração Pública e como eles se apresentam na rotina da</p><p>Administração Pública.</p><p>Analisaremos os princípios explicitados no artigo 37 da Constituição</p><p>Federal e os princípios que decorrem da doutrina, que são os</p><p>chamados explícitos.</p><p>6</p><p>A cada princípio vamos verificar como eles se apresentam na prática</p><p>com exemplos reais de como cada um deles se comporta no exercício da</p><p>função administrativa.</p><p>Estudar o Regime Jurídico Administrativo é estudar o alicerce do</p><p>Direito Administrativo.</p><p>7</p><p>A Gênese do Direito</p><p>Administrativo e Seus Princípios</p><p>Autoria: Flávia Giorgini Fusco Cammarosano</p><p>Leitura crítica: Stênio de Freitas Barretto</p><p>Objetivos</p><p>• A organização do Estado e as funções Legislativa,</p><p>Executiva e Judicial.</p><p>• Direito Administrativo e a Função Administrativa.</p><p>• Regime Jurídico Administrativo e princípios basilares</p><p>desse Regime.</p><p>8</p><p>1. Introdução ao estudo do Direito</p><p>Administrativo</p><p>Você já parou para refletir sobre as atividades que os entes federados</p><p>(União, Estados, Distrito Federal e Municípios) desempenham no</p><p>exercício da função administrativa? Sabia que é exatamente esse o papel</p><p>do Direito Administrativo?</p><p>O Direito Administrativo é o ramo do direito público que estuda</p><p>as normas (regras e princípios) que regulamentam a atuação da</p><p>Administração Pública presente nos entes federados – União, Estado,</p><p>Distrito Federal e Municípios.</p><p>Para estudar a função administrativa é indispensável recordar que</p><p>o Estado Brasileiro é constituído por República Federativa fundada</p><p>no Estado Democrático de Direito, cujas funções institucionais são</p><p>desempenhadas pelos órgãos do Legislativo, Executivo e Judiciário.</p><p>Conforme disposto nos art. 2º e 3º da Constituição Federal, os referidos</p><p>órgãos recebem a denominação de Poder Legislativo, Poder Executivo e</p><p>Poder Judiciário sendo-lhes atribuídas competências (plexo de funções)</p><p>constitucionais típicas e atípicas a fim de cumprir os fundamentos da</p><p>República.</p><p>É nesse contexto que se faz necessário o estudo pormenorizado de cada</p><p>uma dessas funções, quais sejam: legislativa, administrativa e judicial.</p><p>O Direito Administrativo é o ramo do direito público que estuda</p><p>a função administrativa desempenhada pelo Estado, ou quem o</p><p>represente, ao exercer suas atividades em cumprimento à ordem</p><p>normativa previamente estabelecida pela Constituição da República,</p><p>promulgada em 05 de outubro de 1988, e pelas leis que compõem nosso</p><p>ordenamento jurídico.</p><p>9</p><p>Como bem anota Irene Patrícia Nohara (2020), o estudo do direito</p><p>administrativo vem conformando estudo das atividades administrativas</p><p>que vão muito além da rotina de atividades desempenhadas pela</p><p>Administração Pública.</p><p>Veja o que a autora trata a respeito:</p><p>O direito administrativo é uma matéria cujo conhecimento é indispensável</p><p>nos dias atuais. Além de englobar o tratamento de institutos que se</p><p>relacionam com a gestão das atividades rotineiras da Administração</p><p>Pública, como processos administrativos, licitações, contratos</p><p>administrativos, concursos públicos para seleção de pessoal, serviços</p><p>públicos, convênios e consórcios, o estudo do Direito Administrativo</p><p>permite compreender também as variadas formas de restrição que a</p><p>propriedade sofre em nome da realização de interesses coletivos, como</p><p>ocorre em servidões administrativas, tombamentos, desapropriações</p><p>e ainda as limitações da conformação de atividades empresariais ao</p><p>interesse público (NOHARA, 2020, p. 1).</p><p>Nesse sentido, analisar a função administrativa implica estudar questões</p><p>rotineiras que vão além da relação entre Administração Pública,</p><p>administrados e a gestão pública.</p><p>Função Administrativa implica convergir estudo no que concerne</p><p>à organização administrativa, licitações, contratos administrativos,</p><p>servidores públicos, processo administrativo, concessão, permissão</p><p>e autorização de serviço público, poder de polícia, concurso público,</p><p>intervenção do Estado no domínio social e econômico, intervenção do</p><p>Estado na propriedade e a responsabilidade extracontratual do Estado.</p><p>Portanto, o desempenho das funções estatais consagradas na</p><p>Constituição da República, promulgada em 05 de outubro de 1988,</p><p>implica, sobretudo, respeito à ordem jurídica posta e corresponde às</p><p>inúmeras atividades amplas e complexas da administração pública.</p><p>10</p><p>Entretanto, não há na doutrina um conceito exato e claro de função</p><p>administrativa.</p><p>Em que pese a existência dessa indefinição, Celso Antônio Bandeira de</p><p>Mello (2021) chega</p><p>o mais próximo possível de uma definição.</p><p>Assim, o autor conceitua função administrativa como:</p><p>Função que o Estado, ou quem lhe faça as vezes, exerce na intimidade de uma</p><p>estrutura e regime hierárquicos e que no sistema constitucional brasileiro</p><p>se caracteriza pelo fato de ser desempenhada mediante comportamentos</p><p>infralegais ou, excepcionalmente, infraconstitucionais, submissos todos a</p><p>controle de legalidade pelo Poder Judiciário (MELLO, 2021, p. 32).</p><p>Em outras palavras, função administrativa é a competência do Estado, ou</p><p>de quem lhe faça as vezes (compreendidos aqui também os detentores de</p><p>múnus público – concessionário e permissionários), que no desempenho</p><p>de suas atividades realizam comportamentos previamente dispostos na</p><p>ordem jurídica, ou, no caso de omissão legislativa, comportamentos que se</p><p>possam extrair do sistema normativo positivado, em atenção a comandos</p><p>infraconstitucionais e, de forma excepcional, diretamente de comando</p><p>constitucionais, estabelecendo nexo de causalidade entre o ato praticado e</p><p>o interesse público almejado.</p><p>Veja: existe função quando alguém (agente público) está condicionado,</p><p>pela função do cargo que ocupa, a exercer atividade incumbido no</p><p>dever-poder a satisfazer dadas finalidades legais em prol de interesse de</p><p>outrem, necessitando, para tanto, manejar as competências funcionais</p><p>inerentes ao cargo que ocupa para satisfazer interesse público.</p><p>Pense no seguinte: se a Administração Pública administra algo que não</p><p>é dela, mas é interesse da coletividade, deve administrar da melhor</p><p>forma possível a fim de buscar a melhor satisfação do interesse da</p><p>coletividade.</p><p>11</p><p>Mas como ela vai saber como atuar para atingir esse interesse coletivo?</p><p>Em uma República Democrática de Direito, a voz do povo, isto é, a</p><p>vontade popular, é expressa por meio da atuação do legislativo.</p><p>A produção legislativa deve refletir os interesses da sociedade que</p><p>representa. Portanto, a lei é um dos instrumentos normativos que</p><p>expressam a vontade popular.</p><p>Esta é a razão pela qual as prerrogativas públicas (dever-poder) da</p><p>Administração Pública decorrem do ordenamento jurídico, ou seja, de</p><p>comportamentos infralegais ou por expressa previsão constitucional.</p><p>Por fim, toda a atuação da Administração Pública está pautada no</p><p>ordenamento jurídico e poderá ser controlada pelo judiciário.</p><p>Isso porque o controle exercido pelo Poder Judiciário sempre será um</p><p>controle de legalidade da atuação da Administração Pública, uma vez</p><p>que a Administração Pública só faz o que a lei determina.</p><p>2. Regime jurídico administrativo</p><p>Claro que as atividades desempenhadas pela Administração Pública</p><p>precisam estar juridicamente predeterminadas. É por esta razão que o</p><p>estudo do Direito Público compreende análise minuciosa do chamado</p><p>Regime Jurídico Administrativo, ou seja, o estudo sistemático de</p><p>regras e princípios jurídicos que conformam e condicionam a atuação</p><p>da administração pública com os cânones consagradores do Estado</p><p>Democrático de Direito.</p><p>Nesse sentido, a base estrutural do Regime Jurídico Administrativo</p><p>compreende dois princípios:</p><p>• Supremacia do interesse público sobre o privado.</p><p>12</p><p>• Indisponibilidade, pela Administração Pública, do interesse público.</p><p>O primeiro é o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado.</p><p>Trata-se de princípio basilar do Regime Jurídico Administrativo por</p><p>estabelecer ponderação entre interesses privados e públicos e nunca</p><p>com relação a direitos privados e públicos.</p><p>Percebe a diferença sensível entre interesse e direito?</p><p>Observe que o Direito Público nunca terá tratamento diferenciado com</p><p>relação ao direito privado. Isso porquê referido princípio não trata de</p><p>direito, mas de interesse.</p><p>Portanto, para exata compreensão do princípio da supremacia do</p><p>interesse público sobre o privado é indispensável atenção para os</p><p>interesses em questão.</p><p>Deve-se atentar que as prerrogativas inerentes à supremacia do</p><p>interesse público sobre o interesse privado só podem ser manejadas</p><p>legitimamente para o alcance de interesses públicos, não para satisfazer</p><p>interesses do aparelho estatal, ou de seus governantes, ou ainda</p><p>interesses particulares.</p><p>Assim, o interesse público somente prevalecerá ao interesse privado se,</p><p>e somente se, essa prevalência for indispensável para a satisfação do</p><p>interesse público específico, estabelecido pela lei ou pela Constituição.</p><p>O segundo é o princípio da indisponibilidade pela administração de</p><p>interesses públicos.</p><p>Significa que, sendo interesses qualificados como próprios da</p><p>coletividade, não se encontram à livre disposição de quem quer que</p><p>seja, então são inapropriáveis. Os bens e interesses não se encontram à</p><p>disposição do administrador.</p><p>13</p><p>Os administradores não titularizam interesses públicos. Quem o</p><p>titulariza é o Estado.</p><p>Portanto, falar em Regime Jurídico de Direito Público, acima de tudo, é</p><p>considerar dois princípios basilares do Direito Público: supremacia do</p><p>interesse público sobre o interesse privado e indisponibilidade, pela</p><p>administração do interesse público.</p><p>O interesse público é a dimensão pública dos interesses individuais, ou</p><p>seja, dos interesses de cada indivíduo enquanto partícipe da sociedade.</p><p>Quando pensamos em interesse público, devemos ter em mente que</p><p>a sociedade necessita da atuação do Poder Público para gerenciar os</p><p>interesses da sociedade e tornar possível a vida em sociedade.</p><p>Para tornar mais fácil a compreensão de interesse público, basta uma</p><p>reflexão acerca da necessidade ou não de: a) ampliação das linhas</p><p>e a instalação de novas estações de metrô; b) construir estradas ou</p><p>ampliação da malha viária urbana; c) investimento em mobilidade</p><p>urbana para a finalidade de desafogar o trânsito; d) construção de</p><p>pontes, viadutos e estradas; e) infraestrutura de saneamento básico;</p><p>f) ampliação da rede de atendimento de saúde com implantação</p><p>ou melhoria da rede hospitalar; g) implantação ou melhoria na rede</p><p>de ensino principalmente no que tange ao aumento do número de</p><p>vagas em creches e escolas a fim de eliminar as filas de espera anuais</p><p>para matrícula da criança etc. Em suma, dispensar qualidade de vida</p><p>necessária aos administrados.</p><p>Com relação à satisfação dos exemplos de interesses públicos</p><p>acima declinados pelo Poder Público é necessário que este planeje e</p><p>organize sua efetivação.</p><p>Esse é um dos objetivos das chamadas políticas públicas ou políticas</p><p>de governo que muitas vezes precisam se valer do instituto da</p><p>14</p><p>desapropriação para efetivar a satisfação dos interesses da sociedade</p><p>que corresponde aos interesses públicos.</p><p>Dessa forma, a desapropriação é o instituto jurídico com previsão</p><p>constitucional e disposição legal que legitima a atuação do Poder Público</p><p>na expropriação de bem privado para a satisfação de utilidade pública,</p><p>necessidade pública ou interesse social objetivando a satisfação de</p><p>interesse público específico.</p><p>Ocorre que o Poder Público não pode realizar a desapropriação</p><p>aleatoriamente. Deverá comprovar o interesse público existente, quais</p><p>sejam: necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, sob</p><p>pena de, se não observadas essas exigências, incidir abuso de poder,</p><p>arbitrariedade, desvio de finalidade, caracterizando desapropriação</p><p>ilegal e, portanto, passível de nulidades.</p><p>Em que pese a garantia Constitucional que assegura o direito à</p><p>propriedade, como dispõe o art. 5º caput, a própria Constituição</p><p>da República, no inciso XXIV, estabelece a necessidade de lei que</p><p>defina quando caracteriza necessidade pública, utilidade pública ou</p><p>interesse social.</p><p>Para cada uma dessas situações elencadas pela Constituição da</p><p>República existe lei que estabelece quando o Poder Público poderá</p><p>interferir na propriedade para fins de desapropriação para, ao final,</p><p>atender interesses da sociedade.</p><p>Dessa forma, temos:</p><p>O Decreto n. 3.365 de 1941, “dispõe sobre desapropriações por utilidade</p><p>pública.” A lei lista as situações às quais se aplica a justificativa de</p><p>utilidade pública, sem fazer distinções entre utilidade</p><p>e necessidade.</p><p>Já a Lei n. 4.132 de 1962, define os casos de desapropriação por</p><p>interesse social. De acordo com essa lei “a desapropriação por interesse</p><p>15</p><p>social será decretada para promover a justa distribuição da propriedade</p><p>ou condicionar o seu uso ao bem-estar social”.</p><p>Finalmente, o princípio da indisponibilidade, pela Administração Pública,</p><p>do interesse público.</p><p>Por este princípio a Administração Pública não pode dispor daquilo</p><p>que ela não tem. Reflita sobre o seguinte: o interesse público é o</p><p>interesse da coletividade que prevalece na sociedade em certo tempo.</p><p>Se a Administração Pública administra algo que não é dela, mas é da</p><p>sociedade (interesse público), ela não pode dispor do interesse público.</p><p>Portanto, a função da Administração Pública é peculiar e de</p><p>transcendental importância para o cumprimento de seus fins,</p><p>consubstanciado na satisfação do interesse público em respeito à ordem</p><p>jurídica do Estado Democrático de Direito.</p><p>Referências</p><p>DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. O Princípio da Supremacia do Interesse Público:</p><p>Sobrevivência diante dos Ideais do Neoliberalismo. In: DI PIETRO, Maria Sylvia</p><p>Zanella; RIBEIRO, Carlos Vinicios Alves (Coord.). Supremacia do interesse público e</p><p>outros temas relevantes do direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2010.</p><p>MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 35. ed. São</p><p>Paulo: Malheiros, 2021.</p><p>NOHARA Irene Patrícia. LINDB: Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.</p><p>Hermenêutica e Novos Parâmetros ao Direito Público, 2018. Curitiba: Juruá, 2018.</p><p>Disponívelem: https://www.jurua.com.br/shop_item.asp?id=27112. Acesso em: 12</p><p>jun. 2023.</p><p>https://www.jurua.com.br/shop_item.asp?id=27112</p><p>16</p><p>Os princípios expressos de Direito</p><p>Administrativo elencados no</p><p>Artigo 37 Caput da Constituição</p><p>Federal de 1988</p><p>Autoria: Flávia Giorgini Fusco Cammarosano</p><p>Leitura crítica: Stênio de Freitas Barretto</p><p>Objetivos</p><p>• Apresentação dos princípios informadores do Direito</p><p>Administrativo previstos na Constituição Federal.</p><p>• Exposição individual dos princípios constitucionais</p><p>da Administração Pública e sua aplicabilidade.</p><p>• A importância do estudo dos princípios</p><p>constitucionais face ao exercício das funções estatais.</p><p>17</p><p>1. Introdução aos princípios constitucionais</p><p>Você com certeza já notou o quanto a atividade que a Administração Pública</p><p>desempenha é importante para tornar possível a vida em sociedade.</p><p>O objetivo primordial da Administração Pública é atuar a fim de atender,</p><p>satisfazer e preservar interesses coletivos.</p><p>Porém, as atividades desempenhadas pela Administração Pública devem</p><p>sempre estar respaldadas pelos comandos legais ou constitucionais.</p><p>Isso porque as funções que a Administração Pública deve desempenhar</p><p>não são, e nem podem ser, expedidas mediante comportamentos</p><p>aleatórios. Decorrem de comportamentos infralegais ou</p><p>comportamentos diretamente estabelecidos pela Constituição.</p><p>Assim, qualquer atuação da Administração Pública no exercício</p><p>da função administrativa deverá ser desempenhada conforme</p><p>comportamentos predefinidos pelo ordenamento jurídico brasileiro, ou</p><p>seja, em respeito à ordem jurídica.</p><p>2. Administração Pública e os princípios</p><p>implícitos e explícitos</p><p>Antes de estudar os princípios em questão, é importante recordar que</p><p>a Administração Pública está presente nas quatro esferas do governo,</p><p>quais sejam: Federal, Estadual, Distrital e Municipal.</p><p>Outro ponto importante é recordar que a Administração Pública, de</p><p>acordo com o Decreto-Lei n. 200, está organizada em Administração</p><p>Direta (órgãos – ministérios; secretarias e subprefeituras) e</p><p>Administração Indireta (autarquias, fundações públicas, empresas</p><p>públicas e sociedade de economia mista).</p><p>18</p><p>Partindo do pressuposto que o ordenamento jurídico brasileiro é</p><p>composto por regras e princípios, significa dizer que a Administração</p><p>Pública deverá observar sua atuação conforme as regras e os princípios.</p><p>Nosso objeto de estudo são os princípios e, portanto, as regras serão</p><p>estudadas em outra oportunidade.</p><p>Por falar em princípios administrativos, estes se classificam em</p><p>princípios: expressos ou explícitos; e implícitos.</p><p>Essa classificação é importante, pois separa de forma didática os</p><p>princípios constitucionais, ou seja, aqueles dispostos no caput do art. 37,</p><p>e os demais princípios que foram construídos pela doutrina e, portanto,</p><p>não estão no caput do art. 37 da Constituição Federal.</p><p>3. Princípios expressos ou explícitos</p><p>O que nos interessa no presente estudo são apenas os princípios</p><p>explícitos. Vamos estudar cada um dos princípios conforme dispõe a</p><p>Constituição, caput do art. do 37.</p><p>São princípios explícitos: legalidade, impessoalidade, moralidade,</p><p>publicidade e eficiência.</p><p>Vamos começar pelo primeiro princípio, o da legalidade.</p><p>O princípio da legalidade está previsto no caput do art. 37, mas você</p><p>provavelmente teve o primeiro contato com este princípio no artigo</p><p>5º, II e XXXIX:</p><p>Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,</p><p>garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a</p><p>inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à</p><p>propriedade, nos termos seguintes:</p><p>19</p><p>[...]</p><p>II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão</p><p>em virtude de lei;</p><p>[...]</p><p>XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia</p><p>cominação legal.</p><p>Os dois incisos correspondem ao princípio da legalidade sob a ótica do</p><p>direito privado.</p><p>O mesmo princípio da legalidade, sob a ótica do direito público, explicita</p><p>a premissa de que a Administração Pública só pode fazer o que a lei e a</p><p>Constituição autorizar.</p><p>Assim, enquanto o particular pode fazer tudo o que a lei não proíbe, a</p><p>Administração só faz o que a lei determina. Vejamos algumas situações</p><p>em que isso se aplica de forma bem clara.</p><p>Em matéria de licitação, o edital que é o instrumento convocatório de disputa</p><p>para aquisição de bens, serviços ou obras públicas é lei entre as partes.</p><p>Embora o edital seja elaborado pela Administração Pública, não pode</p><p>haver qualquer dispositivo no edital que altera ou inova a lei de licitações</p><p>e contratos administrativos, isso porque o edital é ato administrativo e</p><p>não pode alterar lei exatamente por depender dela para existir.</p><p>Lembre-se: ato administrativo sempre será infralegal ou</p><p>infraconstitucional.</p><p>Agora que já vimos o princípio da legalidade, vamos estudar o segundo</p><p>princípio: impessoalidade.</p><p>A Administração Pública administra algo que não é dela, mas da sociedade</p><p>e para a sociedade, com a finalidade de satisfazer o interesse público.</p><p>20</p><p>Portanto, deve ser o mais transparente possível e atuar de forma</p><p>impessoal, neutra, sem beneficiar um ou outro, mas buscando a melhor</p><p>satisfação do interesse público.</p><p>Um exemplo claro disso é o concurso público para o preenchimento de</p><p>cargos de provimento efetivo (art. 37, II).</p><p>Outro exemplo de impessoalidade ocorre na contratação pública de</p><p>obras, bens e serviços, sendo necessário realizar licitação, como disposto</p><p>no art. 37, XXI, CF.</p><p>O terceiro princípio é o da moralidade administrativa, que obriga todos os</p><p>servidores da administração a atuarem de forma honesta, honrosa e ética.</p><p>O que esse princípio visa proteger é o mal uso intencional da máquina</p><p>estatal por qualquer pessoa que obtenha vantagem econômica ou não</p><p>em decorrência do cargo que ocupa, a fim de prejudicar ou beneficiar</p><p>quem quer que seja.</p><p>Comportamentos imorais são aqueles que fogem ao comportamento</p><p>legal e natural inerente ao cargo ocupado por servidor.</p><p>Um exemplo de imoralidade é o comportamento do servidor que</p><p>beneficia algum administrado em uma fila (exceto em exceções legais).</p><p>Outro exemplo é o servidor que deixa de embargar obra irregular em</p><p>troca de vantagem econômica.</p><p>O quarto princípio é o da publicidade, que consubstancia a</p><p>obrigatoriedade da administração pública a ser transparente no</p><p>exercício de sua função. Precisa tornar acessível toda e qualquer</p><p>informação que esteja ou</p><p>seja vinculada à sua atuação.</p><p>Isto é bem fácil de visualizar. Pense no seguinte: se a Administração</p><p>Pública administra algo que não é dela, mas da sociedade (interesse</p><p>21</p><p>público), ela deve se preocupar em dar satisfação a quem quer que</p><p>seja, a não ser por causas excepcionais, ou seja, muito específicas.</p><p>Por exemplo, em imperativos da segurança nacional, a Administração</p><p>Pública não deve atuar de forma desconhecida ou em desconformidade</p><p>com a lei e a Constituição da República.</p><p>A Administração Pública deve atuar sempre da forma mais transparente</p><p>possível, sendo-lhe vedada qualquer atuação sigilosa, misteriosa ou</p><p>obscura, devendo sempre agir de forma transparente inclusive para fins</p><p>de controle dos atos da Administração Pública.</p><p>Isso porque todos os atos expedidos pela Administração</p><p>Pública estão sujeitos a controle interno (órgãos de controle,</p><p>controladorias e corregedorias) e externo (Tribunais de Contas,</p><p>Ministério Público e Judiciário).</p><p>Além da transparência de seus atos, a Administração Pública deve</p><p>ser transparente quanto às informações em seus bancos de dados,</p><p>observado o sigilo decorrente da legislação em geral (por exemplo: Lei</p><p>Geral de Proteção de Dados; documentos sigilosos como a Declaração</p><p>de Imposto de Renda, dentre outros).</p><p>Esses princípios têm como fundamento constitucional o art. 5º, XXXIII:</p><p>Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu</p><p>interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas</p><p>no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo</p><p>sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.</p><p>O princípio da publicidade é de tamanha importância para a democracia</p><p>brasileira que se eventualmente qualquer pessoa quiser uma</p><p>determinada informação que esteja em poder da Administração Pública</p><p>e esta não fornecer, caberá habeas data para informações de natureza</p><p>personalizada (art. 5º, LXXII) ou se disser respeito à outras informações,</p><p>caberá mandado de segurança (art. 5º, LXIX).</p><p>22</p><p>Portanto, a Administração Pública deve dar publicidade a todos os seus</p><p>atos e também fornecer informação sempre que solicitada, sob pena de</p><p>o Judiciário obrigá-la a fornecer desde que provocado.</p><p>Não se esqueça: o Judiciário pode realizar controle dos atos</p><p>administrativos. Isso é possível devido à inafastabilidade da apreciação</p><p>do Judiciário de lesão ou ameaça a lesão à direito, como disposto na</p><p>Constituição Federal, art. 5º, XXXV.</p><p>Por fim, o quinto princípio explícito é o da eficiência, incluído por</p><p>meio da Emenda Constitucional n. 19/98, pois no texto original da</p><p>promulgação da Constituição Federal em 05 de outubro de 1988 não</p><p>existia o princípio da eficiência.</p><p>A Administração Pública tem como obrigação constitucional prestar suas</p><p>atividade da melhor forma possível.</p><p>Observe o seguinte: mesmo com todas as dificuldades que o Poder</p><p>Público encontra, seja de ordem econômica, planejamento ou</p><p>operacional para prestar um serviço ou realizar uma obra pública, deve</p><p>realizá-lo buscando o melhor interesse público.</p><p>Não basta a Administração Pública cumprir fielmente a letra da lei ou</p><p>seguir à risca o contrato firmado. Deve observar a determinação legal</p><p>ou infraconstitucional (legalidade), deve observar a impessoalidade ao</p><p>desempenhar um serviço (geral e para todos) ou ser imparcial na licitação,</p><p>por exemplo, e buscar a melhor forma de realizar sua atividade.</p><p>Deve ainda atuar sem violar normas ou valores que estão impregnados</p><p>nelas como a moral da Administração Pública, que deve ser fielmente</p><p>observadas pelos servidores.</p><p>Atuar de forma eficiente é dar publicidade aos seus atos, prestar as</p><p>informações necessárias e suficientes de todos os seus atos.</p><p>23</p><p>Assim, a eficiência não é um princípio que a Administração pode ou não</p><p>alcançar; deve!</p><p>Isso significa que a atuação do Poder Público deve buscar a melhor</p><p>satisfação do interesse público.</p><p>Aplicando a lei, ela deve buscar a melhor forma de satisfazer o</p><p>interesse público.</p><p>O objetivo deste princípio é evitar o mau uso do emprego do dinheiro</p><p>público sem contudo desfocar da produtividade e economicidade dos</p><p>gastos públicos que são inevitáveis.</p><p>Um exemplo é a prestação de serviço público atualizado, de qualidade e</p><p>adequado objetivando a atender as necessidades rotineiras e suficientes</p><p>à satisfação do interesse público, como o transporte público que é dever</p><p>de prestação pelo Poder Público.</p><p>Se analisarmos outras atividades desempenhadas pela</p><p>Administração Pública, podemos destacar tanto o exercício da</p><p>função administrativa, como a prestação de serviço público,</p><p>a realização de obra pública, concurso público, licitações e</p><p>contratos administrativos e no exercício do poder de polícia</p><p>que é indispensável à realização de planejamento, organização,</p><p>implementação e controle dessas atividades administrativas a fim</p><p>de observar o princípio da eficiência previsto na Constituição.</p><p>Portanto, os princípios explícitos estão expostos no caput do</p><p>art. 37 da Constituição e funcionam como nortes para a atuação</p><p>da atividade administrativa de forma que o descumprimento de</p><p>quaisquer desses princípios ensejará consequências jurídicas e</p><p>eventuais responsabilidades a quem houver contribuído para o</p><p>descumprimento principiológico.</p><p>24</p><p>Referências</p><p>CAMMAROSANO, Márcio. O princípio constitucional da moralidade e o exercício</p><p>da função administrativa. Belo Horizonte: Fórum, 2006.</p><p>FILHO, José dos Santos Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 36. ed. São</p><p>Paulo: Atlas, 2022.</p><p>MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 35 ed. São Paulo:</p><p>Malheiros, 2021.</p><p>25</p><p>Razoabilidade, proporcionalidade</p><p>e continuidade do serviço público</p><p>Autoria: Flávia Giorgini Fusco Cammarosano</p><p>Leitura crítica: Stênio de Freitas Barretto</p><p>Objetivos</p><p>• Princípios da razoabilidade e proporcionalidade da</p><p>Administração Pública.</p><p>• Princípio da supremacia do interesse público.</p><p>• Princípio da continuidade do serviço público.</p><p>26</p><p>1. Princípio da razoabilidade da</p><p>Administração Pública</p><p>Você já parou para pensar se os princípios da razoabilidade e da</p><p>proporcionalidade são exclusivos do Direito? Refletiu sobre eles no</p><p>âmbito do Direito Administrativo ou sobre todos os ramos do Direito?</p><p>Essa reflexão é muito curiosa.</p><p>O ideal seria que todas as decisões de nossas vidas, mesmo fora do</p><p>âmbito jurídico, fossem razoáveis e proporcionais.</p><p>Qual seria a dimensão do que pretendemos refletir quando estamos</p><p>diante de decisões razoáveis e proporcionais? Qual o sentido e alcance</p><p>de uma decisão razoável e proporcional?</p><p>Se já difícil refletirmos sobre esse assunto na esfera privada,</p><p>imagine avaliar a razoabilidade e a proporcionalidade das decisões</p><p>administrativas expedidas por agentes públicos no exercício das funções</p><p>estatais. Vamos estudar juntos esse ponto importantíssimo.</p><p>Falando no convívio social, pensamos na razoabilidade como bom senso</p><p>e coerência. Já proporcionalidade nos remete à ideia da escolha certa</p><p>dos meios para alcançar determinado fim.</p><p>Tais princípios não são exclusivos do Direito Administrativo, mas devem</p><p>ser observados em várias outras áreas. Essas ideias já nos proporcionam</p><p>parâmetros para a compreensão sobre o papel de cada um deles nas</p><p>atividades decisórias da Administração Pública.</p><p>É muito comum que tais princípios (razoabilidade e proporcionalidade)</p><p>sejam confundidos e tratados como um só, mas vamos aqui deixar claro</p><p>que não são, apesar de se identificarem. Portanto, vamos explicar cada</p><p>um separadamente.</p><p>27</p><p>O princípio da razoabilidade é uma construção lógica de equilíbrio</p><p>entre a medida administrativa e a necessidade do administrado.</p><p>A razoabilidade é inerente ao exercício da função administrativa na</p><p>medida em que o Estado não admite a utilização de prerrogativas</p><p>públicas de forma ilimitada.</p><p>Note que a Administração precisa ter um olhar voltado para o</p><p>objetivo que se busca, mas também deve ter uma preocupação com</p><p>o administrado no sentido de escolher tão somente o meio eficiente,</p><p>menos restritivo</p><p>aos direitos dos administrados, ou seja, deve haver</p><p>coerência na escolha dos meios.</p><p>O objetivo deste princípio é coibir e impedir a atuação abusiva da</p><p>Administração Pública a fim de restringir os administrados de forma</p><p>desarrazoada, sem qualquer justificativa lógico-jurídica entre a atuação</p><p>estatal e o administrado.</p><p>A referência desse princípio é o bom senso em face dos interesses</p><p>públicos, na medida em que situações desequilibradas, abusivas e</p><p>incoerentes, podem gerar invalidação administrativa ou judicial do</p><p>ato administrativo.</p><p>Podemos citar, como exemplo hipotético, uma candidata eliminada de</p><p>um concurso para provimento do cargo de professora de educação</p><p>infantil por ter o cabelo raspado na lateral e pintado de cor-de-rosa.</p><p>Portanto, observe que a razoabilidade diz respeito à maneira pela qual</p><p>as tarefas públicas devem ser realizadas, pois não importa tão somente</p><p>atingir o objetivo final de qualquer jeito, sendo dever do administrador</p><p>observar a coerência, bom senso e aspectos que permeiam a legalidade.</p><p>Em outras palavras, o administrador deve agir sempre com prudência,</p><p>considerando os princípios e valores que regem a sociedade e o</p><p>28</p><p>ordenamento jurídico como um todo, para não tomar decisões absurdas</p><p>a ponto de serem anuladas posteriormente.</p><p>2. Princípio da proporcionalidade da</p><p>Administração Pública</p><p>O princípio da proporcionalidade é composto em sua estrutura por três</p><p>elementos:</p><p>• Adequação.</p><p>• Necessidade.</p><p>• Proporcionalidade em sentido estrito.</p><p>O princípio da proporcionalidade tem como objetivo estabelecer</p><p>sistematicamente a adequação da atuação administrativa e o ato</p><p>administrativo expedido pela Administração Pública.</p><p>Isso significa que além de a Administração ter um fim legítimo, deve</p><p>utilizar meios adequados para alcançar o seu fim e sua utilização deve</p><p>ser realmente necessária.</p><p>Em virtude desse princípio, mais especificamente, da adequação, o</p><p>administrador deve sempre estar atento para verificar se aquela atuação</p><p>ou ato expedido é efetivamente apto para alcançar o objetivo projetado.</p><p>O elemento necessidade diz respeito às hipóteses em que a</p><p>Administração precisa adotar uma medida restritiva. É por causa desse</p><p>princípio que o administrador precisa verificar se a medida adotada é</p><p>realmente necessária ou se haveria outra mais branda, capaz de atingir</p><p>o mesmo fim.</p><p>29</p><p>O princípio da proporcionalidade em sentido estrito diz respeito</p><p>aos meios adequados entre o objetivo e os meios empregados pelo</p><p>administrador público.</p><p>O principal papel desempenhado por esse princípio é de inibir o excesso</p><p>da Administração Pública em face dos administrados e a insuficiência de</p><p>proteção, ou seja, utilização de meios insuficientes para o que se busca.</p><p>O Direito não é ciência exata, mas é possível usar uma fórmula para fixar</p><p>a composição desse princípio.</p><p>Proporcionalidade = adequação + necessidade + proporcionalidade</p><p>em sentido estrito.</p><p>Em que situação e de que forma se pode aplicar esse princípio na prática?</p><p>Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade são aplicáveis,</p><p>sobretudo, no controle dos atos de competência discricionária da</p><p>Administração Pública, que ocasionam alguma restrição de direitos aos</p><p>administrados ou lhe impõem alguma sanção administrativa.</p><p>Para facilitar a fixação da matéria, vale a pena revisitarmos rapidamente</p><p>o que são atos de competência discricionária.</p><p>Atos de competência discricionária são aqueles em que o administrador,</p><p>ao exercer a função administrativa, possui certa margem de liberdade</p><p>na avaliação ou decisão, segundo os critérios de conveniência e</p><p>oportunidade. Isso significa que o administrador decidirá mediante o</p><p>caso concreto em que se apresenta, pois a lei não definiu previamente</p><p>de forma “engessada” o caminho que ele deve seguir para satisfazer o</p><p>interesse público naquela situação.</p><p>Dito isso, podemos avançar para as consequências nos casos de não</p><p>observância dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, que</p><p>é a declaração da nulidade do ato.</p><p>30</p><p>Em outras palavras, sempre que houver imposição de medida intensa de</p><p>forma desnecessária acarretará ilegalidade do ato por abuso de poder.</p><p>A essência desse princípio é de que ninguém é obrigado a se sujeitar</p><p>a restrições que seriam dispensáveis à satisfação do interesse público,</p><p>ou seja, caso a medida tomada pelo administrador para satisfazer o</p><p>interesse público seja desproporcional, será, portanto, ilegal.</p><p>Note que a incidência do princípio da proporcionalidade se dá no campo do</p><p>controle dos atos sancionatórios. Qual a consequência prática disso?</p><p>A aplicação de sanções administrativas deve guardar uma</p><p>proporcionalidade entre a lesividade e a gravidade da conduta que se</p><p>reprime ou se busca prevenir.</p><p>Isto é, nos casos de infrações leves, incidirão sanções mais leves, e nos</p><p>casos de sanções graves, incidirão sanções mais graves.</p><p>Vale observar que tanto o princípio da razoabilidade quanto</p><p>proporcionalidade não estão expressos na Constituição Federal, mas</p><p>implícito e de observância obrigatória.</p><p>Não esqueça: a proporcionalidade é um aspecto da razoabilidade que</p><p>tem o papel de controlar a reação da Administração Pública mediante</p><p>o caso concreto, seja ao aplicar uma sanção ou impor uma obrigação</p><p>aos administrados.</p><p>Podemos citar, como exemplo hipotético, o caso em que uma padaria</p><p>se submete à fiscalização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária</p><p>(Anvisa), cujo agente encontra uma única irregularidade, qual seja,</p><p>algumas barras de chocolate disponíveis no caixa para venda com prazo</p><p>de validade expirado há cinco dias. Quanto a todos os outros aspectos</p><p>inspecionados no estabelecimento, não foi encontrada nenhuma outra</p><p>irregularidade. Mediante o caso, o agente decide então interditar a</p><p>padaria por 30 dias ao aplicar a penalidade mais grave.</p><p>31</p><p>Percebam que há evidente desproporção; o agente exagerou na</p><p>utilização dos meios em face do fato que ensejou a penalidade em</p><p>si. Com isso, cabe recurso de tal decisão invocando os princípios da</p><p>razoabilidade e da proporcionalidade.</p><p>Aprofundando mais sobre o assunto, podemos observar um detalhe fácil</p><p>de compreender e muito importante. O princípio da proporcionalidade</p><p>pode ser analisado sob dois diferentes aspectos, quais sejam:</p><p>• Perante a lei.</p><p>• Na lei.</p><p>Perante a lei significa dizer que o administrador público deverá atentar-</p><p>se a ele ao aplicar a lei ao caso concreto, ou seja, fazer uso dos meios</p><p>adequados para o alcance do objetivo da lei.</p><p>Já em relação ao princípio da proporcionalidade na lei, implica dizer que</p><p>o legislador, ao elaborar as leis, deverá atentar-se à proporcionalidade</p><p>entre a parte dispositiva da lei e sua consequente previsão de sanção, no</p><p>caso de inobservância da lei.</p><p>3. Princípio da supremacia do interesse público</p><p>O princípio da supremacia do interesse público é uma das</p><p>vigas mestras do regime jurídico administrativo, ao lado da</p><p>indisponibilidade, pela Administração Pública do interesse público,</p><p>justamente porque estabelece ponderação de interesses e não de</p><p>direitos privados e públicos.</p><p>A diferença é sutil, mas importantíssima. No direito público falamos</p><p>em interesses, enquanto no direito privado falamos em direitos. O</p><p>que isso significa?</p><p>32</p><p>Significa que para a compreensão correta do princípio, é necessário</p><p>atentar-se aos interesses em questão.</p><p>Com isso, o dever-poder que decorrem da supremacia do interesse</p><p>público sobre o interesse privado se conforma com a satisfação do</p><p>interesse público e jamais com relação à satisfação de interesse alheios</p><p>ao interesse público propriamente ditos.</p><p>Portanto, mediante conflito de interesse público e particular, deverá</p><p>prevalecer o público, tutelado pelo Estado, desde que respeitados</p><p>os direitos e garantias individuais, somente se tal prevalência for</p><p>indispensável para a satisfação do interesse público específico,</p><p>estabelecido pela lei ou pela Constituição Federal.</p><p>Um exemplo que demonstra a aplicabilidade deste princípio é a</p><p>desapropriação de área privada</p><p>mediante justa e prévia indenização</p><p>para construção de obra pública, como o metrô.</p><p>Há interesse público em ampliar estações e linhas de metrô em</p><p>determinada área, que certamente trará benefício à coletividade. Esse</p><p>interesse se sobrepõe ao interesse do particular, ou seja, o proprietário</p><p>daquela área.</p><p>Esse é o exemplo clássico da doutrina quando trata da matéria de</p><p>intervenção do Estado na propriedade privada, ao tratar do princípio da</p><p>supremacia do interesse público sobre o interesse privado.</p><p>4. Princípio da continuidade do serviço público</p><p>Primeiramente, é importante recordar que o serviço público é uma</p><p>das atividades desempenhadas pelo Poder Público no exercício da</p><p>função administrativa, objetivando sempre o cumprimento da ordem</p><p>jurídica eficiente.</p><p>33</p><p>O serviço público está previsto no artigo 175 da Constituição Federal e</p><p>pela Lei n. 8.987/95.</p><p>Portanto, segundo o arcabouço jurídico, temos serviços públicos que</p><p>devem ser desempenhados com exclusividade do Estado e outros</p><p>que podem ser prestados por particulares por meio da concessão ou</p><p>permissão, mas sempre por conta e risco de quem explora o serviço.</p><p>No caso das concessões e das permissões de serviços públicos, é</p><p>importante lembrar que a titularidade do serviço sempre será do</p><p>Poder Público.</p><p>Pense no seguinte: se o Estado sempre será o titular do serviço público,</p><p>quando ele transfere ao particular por meio de concessão ou permissão</p><p>de serviço público, o que é objeto de transferência é somente a atividade</p><p>do serviço e nunca a titularidade.</p><p>Melhor dizendo, o poder concedente (Poder Público) tem a titularidade</p><p>que é intransferível, passando ao particular apenas a exploração do</p><p>serviço por sua conta e risco.</p><p>Portanto, o serviço público deve ser prestado de forma contínua</p><p>sem interrupção. Havendo qualquer eventualidade, o estado deve</p><p>reassumir o serviço concedido ao particular para garantir a prestação</p><p>contínua do serviço.</p><p>O princípio da continuidade do serviço público está diretamente</p><p>relacionado à não interrupção ou suspensão do serviço, seja quem for</p><p>que o explore: Poder Público, concessionário ou permissionário.</p><p>Entretanto, há duas exceções previstas legalmente, desde que seja caso</p><p>de emergência ou com aviso prévio:</p><p>• Quando for necessário suspender o serviço por razões técnicas,</p><p>para manutenção.</p><p>34</p><p>• No caso de inadimplemento.</p><p>Quando for necessário suspender o serviço por razões técnicas, para</p><p>manutenção ou no caso de inadimplemento, o serviço público pode</p><p>ser interrompido.</p><p>Mas o que se entende por serviço público quando estudamos esse princípio?</p><p>Aqui a expressão é utilizada no sentido amplo, e abrange todas as</p><p>atividades administrativas prestadas para o Estado sob o regime jurídico</p><p>de Direito Público.</p><p>Quando você estuda Direito Público, sabe de fato o que está estudando?</p><p>Estudar Direito Público, em especial, Direito Administrativo, é estudar</p><p>os meios e mecanismos de efetivação do bem comum, de interesses da</p><p>coletividade, dos interesses da sociedade, enfim, do interesse público.</p><p>E é por isso que a prestação do serviço não pode ser interrompida, pois</p><p>acarretaria prejuízos muitas vezes irreparáveis para a coletividade, que</p><p>depende destes para a satisfação de suas necessidades e interesses.</p><p>A consequência prática da aplicação desse princípio é muito simples.</p><p>Todos aqueles que prestam serviço público, seja diretamente pelo</p><p>Estado ou mediante concessão ou permissão de serviço público,</p><p>submetem-se ao princípio da continuidade dos serviços públicos.</p><p>Com isso, sofrem restrições de determinados direitos que porventura</p><p>teriam na prestação dos serviços se não estivessem sob tal regime.</p><p>Isso significa, que concessionárias, permissionárias e autorizadas de</p><p>serviços públicos também não podem interromper a prestação dos</p><p>serviços, para o bem e proteção dos interesses da coletividade.</p><p>Um exemplo prático é o direito de greve dos servidores públicos, que</p><p>encontra restrições ao pleno exercício exatamente em decorrência do</p><p>princípio da continuidade dos serviços públicos regidos pelo regime</p><p>jurídico administrativo.</p><p>35</p><p>Apesar de esse princípio não estar expressamente previsto na</p><p>Constituição Federal, dela decorre o seu artigo 175 que atribui a</p><p>prestação de serviços públicos como uma incumbência do Poder</p><p>Público, ou seja, não é uma opção, mas sim um dever constitucional do</p><p>Poder Público</p><p>Referências</p><p>DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 35. ed., São Paulo:</p><p>Forense, 2022.</p><p>CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 36. ed. São</p><p>Paulo: Atlas, 2022.</p><p>MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 35. ed. São</p><p>Paulo: Malheiros, 2021.</p><p>36</p><p>Princípios: Autotutela</p><p>Administrativa, Participação</p><p>e Consenso na Administração</p><p>Pública e da Segurança Jurídica</p><p>Autoria: Flávia Giorgini Fusco Cammarosano</p><p>Leitura crítica: Stênio de Freitas Barretto</p><p>Objetivos</p><p>• Apresentar ao aluno outros princípios norteadores</p><p>das atividades da Administração Pública.</p><p>• Estabelecer a relação entre os princípios explícitos</p><p>e implícitos.</p><p>• Pontuar como esses princípios estão presentes</p><p>no dia a dia da Administração Pública e de seus</p><p>administrados.</p><p>37</p><p>1. Breves considerações</p><p>A atuação da Administração Pública compreende o entrelaçamento de</p><p>atribuições constitucionais e infraconstitucionais que são denominadas</p><p>plexo de competências (funções).</p><p>Para desempenhar essas funções, a Administração Pública deve</p><p>observar os princípios explícitos relacionados expressamente no</p><p>caput do art. 37, da Constituição Republicana, quais sejam: legalidade,</p><p>impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.</p><p>Você já notou que todos esses princípios estão relacionados?</p><p>Se parar para pensar, vai verificar que toda atividade da Administração</p><p>Pública deve ser realizada sob comando legal, devendo ser aplicada pela</p><p>Administração Pública de forma isonômica e impessoal, objetivando a</p><p>melhor satisfação do interesse público e fazê-lo atendendo aos anseios</p><p>da sociedade pautados nos valores positivados que pairam na sociedade</p><p>em dada época.</p><p>Ocorre que embora a Constituição da República decline expressamente,</p><p>no caput do art. 37, os referidos princípios, a atuação da Administração</p><p>Pública não se resume à observância somente dos princípios explícitos.</p><p>A Administração Pública deve atuar observando todo o arcabouço</p><p>de princípios norteadores que compreendem e conformam as</p><p>competências públicas.</p><p>São essas as razões pelas quais a doutrina e a jurisprudência relacionam</p><p>outros princípios oriundos de sólidas construções jurídicas que se</p><p>consolidaram no desdobramento dos princípios explícitos, denominados</p><p>princípios implícitos.</p><p>38</p><p>Dentre os princípios implícitos, vamos dedicar este estudo a apenas</p><p>três deles: autotutela administrativa, participação e consenso na</p><p>Administração Pública e da Segurança Jurídica.</p><p>2. Do princípio implícito da autotutela</p><p>O princípio da autotutela é um dos que resultam da construção jurídica,</p><p>ou seja, proveniente da consolidação doutrinária e jurisprudência.</p><p>Você pode estar se preguntando: qual princípio explícito serve de</p><p>embasamento jurídico ao princípio implícito da autotutela?</p><p>Antes de responder a essa pergunta, é preciso lembrar que a Administração</p><p>Pública deve atuar conforme o estrito cumprimento da lei.</p><p>Isso significa que as atividades da Administração Pública são</p><p>comportamentos infralegais ou infraconstitucionais.</p><p>Portanto, a Administração Pública no exercício da sua função, além de</p><p>atuar conforme a lei, deve também realizar controle dos atos expedidos</p><p>no exercício de sua função ao desempenhar atividades que lhe são</p><p>peculiares. A Administração deve se autocontrolar, e esse autocontrole é</p><p>chamado de autotutela.</p><p>Esclarecido o conceito de autotutela, é preciso agora verificar a sua</p><p>dimensão e seus efeitos.</p><p>A Administração Pública realiza suas atividades por meio de agentes</p><p>públicos, que são pessoas físicas que ocupam cargos públicos, ou seja,</p><p>trata-se de pessoas comuns, que podem errar ou atuar de forma</p><p>diversa</p><p>do que deveria ao realizar suas atividades laborais.</p><p>39</p><p>Isso significa que podem ocorrer equívocos, erros, incongruências ou</p><p>incompatibilidades legais às inúmeras atividades desempenhadas pela</p><p>Administração Pública.</p><p>Essa é a razão pela qual a própria Administração Pública pode e deve</p><p>rever seus próprios atos.</p><p>Isso porque como o princípio da autotutela está intimamente</p><p>relacionado à estrita legalidade dos atos praticados pela Administração</p><p>Pública, temos que o autocontrole de suas atividades é um dever, e não</p><p>mera faculdade.</p><p>Sendo assim, a Administração deve controlar seus próprios atos</p><p>de ofício ou mediante provocação, sempre que verificar qualquer</p><p>ilegalidade, incongruência fática ou jurídica ou inconstitucionalidade.</p><p>Desta forma, além do controle de legalidade, é possível a autotutela</p><p>quando houver provocação pelos administrados por meio do exercício</p><p>do direito de petição previsto no art. 5º, XXXIV da Carta Magna que</p><p>assegura a todo indivíduo o direito de questionar o Poder Público contra</p><p>quaisquer ilegalidades ou abuso de poder.</p><p>Isso porque não se pode perpetuar no tempo atos administrativos que</p><p>violam a ordem jurídica posta e que são conhecidos ou reconhecidos</p><p>pela Administração Pública.</p><p>Não é por acaso que inúmeras questões a respeito da autotutela foram</p><p>encaminhadas para serem decididas pelo judiciário, inclusive sendo</p><p>editada uma das súmulas mais importantes do Direito Administrativo, a</p><p>Súmula 473 do STF:</p><p>a Administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios</p><p>que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-</p><p>los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos</p><p>adquiridos e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.</p><p>40</p><p>Assim, atos ilegais devem ser retirados de imediato para interromper</p><p>os efeitos gerados por ele. Portanto, assim que constatados devem ser</p><p>anulados, seja pela Administração Pública ou por provocação do Judiciário.</p><p>Nesse sentido, a nulidade do ato administrativo guarda relação com a</p><p>validade do ato, ou seja, legalidade do ato administrativo.</p><p>Todos os atos administrativos ou decisões administrativas podem ser</p><p>autocontroláveis,, pois o Poder Público pode rever qualquer ato emitido</p><p>por ele. Isso porque são sindicáveis os atos administrativos vinculados</p><p>e os atos expedidos no exercício da competência discricionária, ou</p><p>seja, além do controle de legalidade, a Administração Pública poderá,</p><p>de ofício ou mediante provocação do interessado, analisar os atos</p><p>expedidos conforme o mérito administrativo, ou seja, analisar a</p><p>conveniência e oportunidade que justificaram a expedição daquele ato</p><p>diante de um caso concreto.</p><p>Caso seja verificado que os motivos de conveniência e oportunidade</p><p>que fundamentaram a expedição do ato não estão mais presentes ou</p><p>foram alterados no caso concreto, a Administração Pública poderá,</p><p>após reavaliar as circunstâncias fáticas e jurídicas que nortearam e</p><p>fundamentaram a decisão, revogar a decisão a fim de interromper</p><p>imediatamente seus efeitos e retirá-la do ordenamento jurídico por</p><p>tornar-se inoportuna ou inconveniente.</p><p>Em resumo, quando o Poder Público revisita o mérito administrativo no</p><p>exercício da autotutela, ocorre a revogação do ato administrativo diante</p><p>do controle dos requisitos de validade do ato.</p><p>Portanto, o Poder Público deverá rever sua decisão, de ofício ou</p><p>mediante provocação a fim de verificar aspectos de legalidade, eficiência,</p><p>segurança jurídica das decisões e também nos casos que envolvam</p><p>questões de mérito administrativo (conveniência e oportunidade)</p><p>sempre em respeito à ordem jurídica.</p><p>41</p><p>3. Participação e consenso na Administração</p><p>Pública</p><p>O princípio da participação e consenso na Administração Pública une</p><p>dois propósitos modernos e rotineiros da gestão pública.</p><p>Um diz respeito à participação mais ativa da sociedade junto às</p><p>competências do Poder Público para satisfação do interesse público e</p><p>o outro diz respeito a uma Administração Pública aberta à solução de</p><p>conflitos consensuais a fim de evitar demandas judiciais.</p><p>Vamos agora analisar o que compreende a participação na</p><p>Administração Pública. Esta administra algo que não é dela, mas da</p><p>sociedade, como bens, serviços e interesses da sociedade ou públicos.</p><p>Embora a Administração Pública atue aplicando a lei, ela deve fazê-lo</p><p>buscando sua melhor forma de atuação com finalidade de satisfazer o</p><p>interesse público da melhor forma.</p><p>Isso significa que para buscar a eficiência de sua atuação, o Poder</p><p>Público deve estar o mais próximo possível de seus administrados</p><p>e a melhor forma de realizar essa aproximação é promovendo a</p><p>participação dos administrados na tomada de decisões administrativas.</p><p>Essa é a importância da gestão pública democrática. A gestão da</p><p>Administração Pública deve estar próxima à sociedade; é dever do</p><p>Poder Público impor mecanismos adequados e suficientes para efetivar</p><p>a referida participação, como audiências públicas, consultas públicas e</p><p>participação popular.</p><p>Os conflitos que envolvem a Administração Pública seguem a mesma</p><p>linha de raciocínio. Sempre que possível, a Administração Pública deverá</p><p>estabelecer mecanismos consensuais de solução de conflitos a fim de</p><p>evitar que demandas administrativas sobrecarreguem o judiciário, seja</p><p>figurando no polo ativo ou passivo da demanda.</p><p>42</p><p>A aplicabilidade da consensualidade da Administração Pública é viável e</p><p>seus mecanismos estão presentes em nosso cotidiano. Existem câmaras</p><p>de solução de conflitos nas esferas administrativas de todos os entes</p><p>federados, nas quais servidores públicos são lotados em cargos que são</p><p>criados para desempenhar esta função conciliatória.</p><p>Qualquer direito disponível pode ser negociado com a Administração</p><p>Pública, exemplo: inadimplementos fiscais, contratuais, reequilíbrio</p><p>econômico e financeiro dos contratos administrativos etc.</p><p>Há também a arbitragem como método de solução de conflito na</p><p>Administração Pública, regulamentada pela Lei n. 13.129/15, a fim de evitar</p><p>a morosidade das decisões judiciais na discussão e resolução de conflitos.</p><p>Isso porque os árbitros e as partes envolvidas no conflito estarão</p><p>voltados pontualmente às questões conflituosas e conhecerão a fundo</p><p>os pontos a serem discutidos, bem como suas especificidades para a</p><p>solução do conflito com as partes envolvidas.</p><p>Portanto, a consensualidade na Administração Pública é uma realidade</p><p>brasileira que decorre dos princípios explícitos da legalidade, eficiência e</p><p>segurança jurídica.</p><p>4. Princípio da segurança jurídica</p><p>Este é um dos princípios implícitos de maior importância, uma vez que</p><p>garante a estabilidade nas relações.</p><p>Dessa forma, a segurança jurídica pode ser analisada sob dois prismas:</p><p>primeiro, o de estabilidade das relações jurídicas, que garante a</p><p>impessoalidade e tratamento isonômico e ao mesmo tempo proporciona</p><p>a confiança nas relações por comportamentos esperados e desejados</p><p>do Poder Público. Assim, a segurança jurídica sob a ótica de estabilidade</p><p>43</p><p>nas relações é a consequência jurídica esperada em decorrência de</p><p>comportamentos infralegais praticados pela Administração Pública.</p><p>Além deste, essa confiança também se revela na certeza de igualdade</p><p>de comportamentos, tratamento isonômico nas situações análogas, e</p><p>representa a reafirmação do princípio da isonomia entre os particulares</p><p>em face das atividades do Poder Público ou de quem com ela trava</p><p>relações especiais, como os contratos administrativos.</p><p>A ótica da confiança está relacionada diretamente à gestão democrática</p><p>e está na democracia propriamente dita.</p><p>Isso porque os particulares ou administrados depositam nos gestores</p><p>públicos a confiança e credibilidade para vivenciar e desfrutar da boa</p><p>administração que caracteriza direito fundamental inerente à pessoa</p><p>humana, garantido constitucionalmente.</p><p>Para a efetividade da segurança jurídica, o Poder Público deve planejar,</p><p>organizar e fiscalizar políticas públicas ou políticas governamentais</p><p>versadas nos princípios norteadores</p><p>do regime jurídico administrativo,</p><p>que compreendem os princípios explícitos e implícitos.</p><p>Vamos analisar o princípio implícito da segurança jurídica com</p><p>os princípios explícitos do caput do art. 37 da Constituição da</p><p>República: o princípio da segurança jurídica sob a ótica do princípio</p><p>da legalidade corresponde a comportamentos infralegais ou</p><p>infraconstitucionais da Administração Pública, proporcionando o</p><p>controle de legalidade dos atos expedidos pela Administração Pública</p><p>no desempenho da função administrativa.</p><p>Sob a ótica do princípio da impessoalidade, a segurança jurídica</p><p>compreende atuação da Administração Pública visando o tratamento</p><p>isonômico da atuação administrativa e a vedação da utilização da</p><p>máquina estatal para perseguir interesses privados ou particulares</p><p>alheios ao interesse público.</p><p>44</p><p>A segurança jurídica da atuação da Administração Pública é pautada</p><p>em comportamentos infralegais, mas que devem ser considerados os</p><p>valores jurídicos que estão presentes na sociedade em dada época, ou</p><p>seja, o interesse público é definido com base em valores morais que</p><p>deverão ser observados pela Administração Pública a fim de satisfazer o</p><p>interesse público por meio da atuação legitimada.</p><p>Só há que se falar em segurança jurídica se a atuação da Administração</p><p>Pública for transparente e clara para fins de controle de legalidade dos</p><p>atos administrativos.</p><p>Por fim, toda a atividade do Poder Público tem por finalidade a</p><p>satisfação do interesse público. Não basta buscar simplesmente</p><p>qualquer interesse público, mas o melhor, aquele que atende da melhor</p><p>forma à necessidade da sociedade, sob aspecto econômico, burocrático</p><p>e virtuoso, ou seja, eficiente.</p><p>Portanto, o princípio da segurança jurídica é multifacetário, implicando</p><p>uma visão abrangente da atuação da Administração Pública, as</p><p>competências desempenhadas e o controle dos atos administrativos.</p><p>Você já refletiu sobre a importância dos princípios implícitos como</p><p>referências balizadoras das atividades da Administração Pública? Já pensou</p><p>também sobre a relação entre os princípios de autotutela administrativa,</p><p>participação e consenso na Administração Pública e da Segurança Jurídica?</p><p>Reflita sobre o seguinte: a Administração Pública pode anular seus</p><p>próprios atos ilegais sem a necessidade da interferência do Judiciário.</p><p>O princípio da segurança jurídica está positivado em nosso ordenamento</p><p>jurídico no art. 54 da Lei n. 9784/99: “O direito da Administração de</p><p>anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para</p><p>os destinatários decai em 5 (cinco) anos, contados da data em que foram</p><p>praticados, salvo comprovada má-fé”.</p><p>45</p><p>Resta, claro, a relação de confiança recíproca e estabilidade das relações</p><p>concomitantes, mas sindicáveis à autotutela da Administração Pública.</p><p>Ademais, tem competência para a autocomposição, ou seja, pode valer-</p><p>se da participação da sociedade na gestão de políticas governamentais.</p><p>Concomitantemente, é possível a Administração Pública buscar a</p><p>composição de pretensão resistida nas relações das quais faz parte</p><p>como uma das faces do autocontrole.</p><p>Por fim, a atuação da Administração Pública em cumprimento à</p><p>legalidade, impessoalidade, publicidade e eficiência permitem segurança</p><p>jurídica, que proporciona confiança recíproca entre administrados e o</p><p>Poder Público.</p><p>Agora você já sabe como a Administração Pública deve atuar, sempre</p><p>observando a lei e a Constituição, por meio de políticas públicas</p><p>construídas em bases legitimamente democráticas, consensuais e</p><p>suficientes para melhor satisfação do interesse público.</p><p>O autocontrole da Administração Pública proporciona e assegura a</p><p>escorreita atuação do Poder Público e a mútua confiança entre as</p><p>atividades desempenhadas e as partes envolvidas, podendo rever seus</p><p>atos a qualquer tempo sempre que ferir a legalidade ou a necessidade</p><p>de reavaliar o mérito do ato expedido no exercício de competência</p><p>discricionária.</p><p>Referências</p><p>CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 36. ed. São</p><p>Paulo: Atlas, 2022.</p><p>MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 35. ed. São</p><p>Paulo: Malheiros, 2021.</p><p>46</p><p>VALIM, Rafael Ramires Araujo. O princípio da segurança jurídica no direito</p><p>administrativo brasileiro. 2009. 145 f. Dissertação (Mestrado em Direito) -</p><p>Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009. Disponível em:</p><p>https://tede2.pucsp.br/handle/handle/8546. Acesso em: 13 jun. 2023.</p><p>ZANCANER, Weida. Da Convalidação e Invalidação dos Atos Administrativos. São</p><p>Paulo: Malheiros, 1996.</p><p>https://tede2.pucsp.br/handle/handle/8546</p><p>47</p><p>SUMÁRIO</p><p>A Gênese do Direito Administrativo e Seus Princípios</p><p>Objetivos</p><p>1. Introdução ao estudo do Direito Administrativo</p><p>2. Regime jurídico administrativo</p><p>Referências</p><p>Os princípios expressos de Direito Administrativo elencados no Artigo 37 Caput da Constituição Feder</p><p>Objetivos</p><p>1. Introdução aos princípios constitucionais</p><p>2. Administração Pública e os princípios implícitos e explícitos</p><p>3. Princípios expressos ou explícitos</p><p>Referências</p><p>Razoabilidade, proporcionalidade e continuidade do serviço público</p><p>Objetivos</p><p>1. Princípio da razoabilidade da Administração Pública</p><p>2. Princípio da proporcionalidade da Administração Pública</p><p>3. Princípio da supremacia do interesse público</p><p>4. Princípio da continuidade do serviço público</p><p>Referências</p><p>Princípios: Autotutela Administrativa, Participação e Consenso na Administração Pública e da Seguran</p><p>Objetivos</p><p>1. Breves considerações</p><p>2. Do princípio implícito da autotutela</p><p>3. Participação e consenso na Administração Pública</p><p>4. Princípio da segurança jurídica</p><p>Referências</p>