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Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário IBET – INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTUDOS TRIBUTÁRIOS XXXXX Questões 1. A respeito da “decadência” no âmbito do direito tributário. (a) Com base na bibliografia indicada para desenvolvimento deste seminário apresente as diferentes acepções do conceito “decadência”. Com base na literatura citada para a elaboração deste seminário, analise as diversas interpretações do termo "decadência". Decadência pode ser entendida como a perda do direito do indivíduo ou da entidade fiscalizadora devido à falta de atividade dentro de um período de tempo específico, conforme estabelecido pela norma aplicável e pelas circunstâncias individuais e concretas. No contexto fiscal, isso pode se manifestar como a perda do direito de constituir um débito tributário por parte da autoridade fiscal e, para o contribuinte, como a perda do direito de reaver valores tributários indevidamente pagos. Com base na literatura de Eurico de Santi e Aurora Tomazini, são apresentadas cinco acepções para a fixação do critério temporal da decadência do direito do fisco e duas acepções para a fixação do critério temporal da decadência do direito do contribuinte. Decadência do direito do fisco: 1. Ausência de previsão de pagamento antecipado, não realização do pagamento antecipado, ausência de dolo, fraude ou simulação, não anulação. 2. Falta de pagamento antecipado (independentemente de previsão), ausência de dolo, fraude ou simulação, recebimento de notificação, não anulação. 3. Realização de pagamento antecipado (com previsão de pagamento), ausência de dolo, fraude ou simulação, falta de notificação, não anulação. 4. Previsão de pagamento antecipado, presença de dolo, fraude ou simulação, recebimento de notificação e não anulação. 5. Existência de decisão administrativa ou judicial que invalide o lançamento anterior. Decadência do direito do contribuinte: 1. Ausência de anulação da decisão anterior que motivou o pagamento. 2. Anulação da decisão anterior que motivou o pagamento, desde que dentro do prazo de cinco anos do pagamento. (b) Construa a respectiva estrutura normativa para cada acepção (ex. NGA, NIC, antecedente, consequente...), indicando quai(s) dessa(s) estrutura(s) normativa(s) são norma em sentido estrito. Decadência do direito do fisco: 1. Norma geral abstrata: Previsão de pagamento antecipado, não ocorrência do pagamento antecipado, não ocorrência de dolo, fraude ou simulação, não ocorrência de anulação. · Normal individual concreto: Perda da competência administrativa do fisco para a constituição do crédito no lapso temporal de 5 anos do primeiro dia do exercício seguinte àquele que ocorreu o evento tributário. 2. Norma geral abstrata: Não ocorrência de pagamento antecipado (independente de previsão), não ocorrência de dolo, fraude ou simulação, existência de notificação, não ocorrência de anulação. · Normal individual concreto: Perda da competência administrativa do fisco para a constituição do crédito tributário no lapso temporal de 5 anos da data da notificação. 3. Norma geral abstrata: Ocorrência de pagamento antecipado (com previsão de pagamento), não ocorrência de dolo, fraude ou simulação, ausência de notificação, não ocorrência de anulação. · Normal individual concreto: Perda de competência administrativa do fisco para a constituição do crédito tributário no lapso temporal do evento tributário. 4. Norma geral abstrata: Previsão de pagamento antecipado, ocorrência de dolo, fraude ou simulação, ocorrência de notificação e não ocorrência de anulação. · Normal individual concreto: Perda da competência administrativa do fisco para a constituição do crédito tributário no lapso temporal de 5 anos a partir do "ato normativo administrativo formalizador do ilícito tributário". 5. Norma geral abstrata: Existência de decisão administrativa ou judicial que anule o lançamento anterior. · Normal individual concreto: Perda da competência administrativa do fisco para a constituição do crédito tributário no lapso temporal de 5 anos da decisão anulatória do lançamento anterior. Decadência do direito do fisco: 1. Não ocorrência de anulação de decisão anterior que motivou o pagamento. Norma individual concreta > Perda do direito de repetir o indébito administrativamente a contar o prazo de 5 anos da data do pagamento. 2. Anulação de decisão anterior que motivou o pagamento, desde que dentro do prazo de 5 anos do pagamento, perda do direito de repetir o indébito administrativamente a contar o prazo de 5 anos da data do pagamento. Norma individual concreta > Perda do direito de repetir o indebito administrativamente a contar o prazo de 5 anos da data da reforma da decisão que havia motivado o pagamento. (c) É correta a afirmação de que a decadência opera automática e infalivelmente? Justifique sua resposta. Quanto à afirmação de que a decadência ocorre de forma automática e infalível, é importante notar que existe divergência doutrinária a respeito. Para Paulo de Barros Carvalho, a decadência não se opera de forma automática e infalível, pois tal ato não se realiza apenas com a ocorrência da hipótese prevista na norma. Ou seja, as normas não incidem por conta própria; é imprescindível a participação do ser humano para demonstrar a efetiva ocorrência concreta da decadência prevista em norma geral e abstrata. Além disso, o jurista afirma que somente o ser humano tem a capacidade de estabelecer a conexão entre norma e acontecimento. (d) Quanto aos efeitos da decadência em relação ao crédito tributário (arts. 150 e 173, do CTN), pode-se afirmar que sejam: (i) extintivos ou (ii) impeditivos? Justifique sua resposta. Os efeitos da decadência, de acordo com o artigo 156 do CTN, consistem na causa de extinção do crédito tributário. Também é correto afirmar que a ocorrência da decadência impede o fisco de lançar o crédito tributário. No entanto, muitas vezes nos deparamos com lançamentos dos quais o fisco não tinha legitimidade para constituí-lo, uma vez operada a decadência. Nesses casos, a obrigação tributária é extinta no momento da desconstituição do lançamento, uma vez que não poderia ter sido iniciada nem lançada. (e) Diferençar, se possível: (i) decadência do direito de lançar: Perda da competência administrativa do fisco de Constituição do crédito tributário. (ii) prescrição do direito do Fisco cobrar o crédito tributário: Aqui, a constituição do crédito tributário e a prescrição ocasiona a perda do direito do fisco de promover a execução fiscal. (iii) decadência do direito do contribuinte pleitear a restituição do indébito tributário: Perda legitimidade do contribuinte de repetição de indébito na esfera administrativa. (iv) prescrição do direito de ação do contribuinte repetir o indébito tributário: Perda da legitimidade do contribuinte de repetição do em débito na esfera judicial. 2. Conjugando o art. 146, III, “b”, da CF e o princípio da autonomia dos entes federativos, responda: A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por meio de lei ordinária, podem estabelecer prazo diverso do constante no CTN para a decadência e prescrição de seus créditos? E mediante lei complementar estadual ou municipal? (Vide anexos I e II). O artigo 146, III, "b" da Constituição Federal de 1988 estabelece que as normas gerais em matéria tributária relativas à prescrição e decadência são reservadas à lei complementar, de modo que não é autorizado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios disciplinarem por lei ordinária prazo diverso para os institutos da decadência e da prescrição constantes no Código Tributário Nacional. Sobre a possibilidade de estabelecimento de prazo diverso por meio de lei complementar estadual ou municipal, destaca-se o previsto no artigo 24, caput, inciso I, bem como o inciso um do mesmo artigo, todos da Constituição Federal de 1988. O mencionado artigo trata da competência ordinária da União para edição de normas gerais em matéria tributária e, em caso de inexistência da norma geral,a competência residual dos estados e do Distrito Federal para legislar. Todavia, apesar do previsto na Constituição Federal Brasileira, ressalta-se nesse ponto que o Código Tributário Nacional foi recepcionado com o status de lei complementar com a promulgação e vigência da Constituição Federal de 1988, motivo pelo qual as regras gerais sobre prescrição e decadência restam fixadas, não podendo ser alteradas pelos estados, Distrito Federal e/ou municípios. 3. Quando começa a contar o prazo de decadência para o Fisco lançar nos tributos sujeitos ao lançamento de ofício? E nos tributos sujeitos ao “lançamento por homologação”? Se não houver o que homologar, o prazo passa a ser o dos tributos sujeitos ao lançamento de ofício? E no caso de fraude? (Vide anexos III, IV e V) Nos tributos sujeitos ao lançamento de ofício e por declaração, a contagem do prazo de decadência está prevista no artigo 173, incisos I e II, do CTN, que estabelecem: I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; II - da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue-se definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. Além disso, o § 1° do mesmo artigo consagra outro termo inicial, nas hipóteses de ciência do sujeito passivo acerca da adoção, pela autoridade administrativa, de procedimento precatório indispensável ao lançamento, ocasionando a antecipação do termo inicial, que deverá ser contado a partir da data em que o contribuinte tomou efetiva ciência do procedimento. Quanto aos tributos sujeitos ao lançamento por homologação, o prazo decadencial aplicado para esses casos tem previsão no artigo 150, § 4º, do Código Tributário Nacional: § 4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação. Ressalta-se nesse ponto que a ocorrência de dolo, fraude ou simulação aplica-se ao previsto no artigo 173, inciso I, do CTN, tendo como termo inicial o primeiro dia útil do ano seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. 4. Como deve ser interpretado o parágrafo único do art. 173 do CTN? Que se entende por “medida preparatória indispensável ao lançamento”? Tal medida tem apenas o condão de antecipar o termo inicial da contagem do prazo prescrito no inciso I ou pode também postergá-lo? Trata-se de causa de interrupção do prazo decadencial? O parágrafo único do artigo 173 trata dos casos em que, no período entre a ocorrência do fato gerador e o termo inicial da contagem do prazo para a prática do ato constitutivo do crédito tributário, a autoridade administrativa competente adota procedimento precatório de lançamento, como o termo de início de fiscalização e ciência ao sujeito ativo. O entendimento exarado pelo Tribunal Superior do Trabalho é no sentido de que a medida debatida apenas tem o condão de antecipar o termo inicial que cuida do inciso I do artigo 173 do CTN, de modo que a estipulação do termo inicial em momento posterior ao disposto no inciso I do mesmo artigo resultaria em indevida prorrogação do prazo em benefício da Fazenda Pública. Portanto, não é possível interpretar a medida como causa interruptiva do prazo decadencial, pois resultaria em um verdadeiro arbítrio da autoridade administrativa quanto à determinação do prazo inicial do prazo decadencial, podendo postergar o envio da notificação ao sujeito ativo com a finalidade de dilatar o prazo. 5. A Lei n. 11.051/04 incluiu ao art. 40 da lei federal 6.830/80 o § 4º [footnoteRef:1], permitindo a decretação de ofício da prescrição intercorrente, depois de ouvida a Fazenda Pública, na hipótese de arquivamento dos autos pela não localização de bens ou do devedor. Pergunta-se: [1: Art. 40. (...) § 4o Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver decorrido o prazo prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato.] (a) Qual é o tratamento a ser dado no caso de falta de intimação da Fazenda Pública sobre o despacho que determina sua manifestação antes da decisão que decreta a prescrição intercorrente? É possível que a decretação da prescrição intercorrente seja ilidida? Justificar sua resposta. (Vide anexo VI) Primeiramente, é importante diferenciar a prescrição e a prescrição intercorrente. A prescrição, ou prescrição consumativa, diz respeito à inércia para ajuizamento da ação pertinente ante a constituição do crédito tributário. Por outro lado, a prescrição intercorrente ocorre quando houve o ajuizamento da respectiva ação, mas em seu curso não ocorreu, dentro do liame temporal, a citação ou a localização de bens do devedor para penhora. Quanto à falta de intimação da Fazenda Pública sobre o despacho que determina sua manifestação antes da decisão que declara a prescrição intercorrente e sobre a possibilidade de que a decretação da prescrição intercorrente seja ilidida, destaca-se que o assunto foi discutido nos temas 571 e 569 do STJ, nos quais foram firmadas as seguintes teses: Tese 571: A Fazenda Pública, em sua primeira oportunidade de falar nos autos (art. 245 do CPC/73, correspondente ao art. 278 do CPC/2015), ao alegar nulidade pela falta de qualquer intimação dentro do procedimento do art. 40 da LEF, deverá demonstrar o prejuízo que sofreu (exceto a falta da intimação que constitui o termo inicial - 4.1., onde o prejuízo é presumido), por exemplo, deverá demonstrar a ocorrência de qualquer causa interruptiva ou suspensiva da prescrição. Tese 569: Havendo ou não petição da Fazenda Pública e havendo ou não pronunciamento judicial nesse sentido, findo o prazo de 1 (um) ano de suspensão inicia-se automaticamente o prazo prescricional aplicável. Assim, entendo que o tratamento mais adequado ao caso é que a Fazenda deverá demonstrar o prejuízo sofrido frente à falta de intimação e, não demonstrado ou não havendo petição da Fazenda, o processo ficará suspenso por 1 ano. Após o decurso desse prazo, iniciará de forma automática a aplicação da prescrição intercorrente, ou seja, essa não será ilidida. 6. É possível falar em prescrição intercorrente em processo administrativo fiscal, ou ela se aplica apenas aos processos judiciais? (Vide anexos VII e VIII). Em meu entendimento a prescrição intercorrente é cabível tanto no processo judicial, inclusive no decorrer do processo executivo fiscal, quanto no âmbito administrativo. Isso porque, apesar da Súmula 11 do CARF [footnoteRef:2], é preciso observância ao princípio da celeridade e da razoável duração do processo, previsto no inciso LXXVIII, art. 5°, CF/88[footnoteRef:3]. De modo que o processo, seja judicial ou administrativo, não pode perdurar eternamente. [2: Não se aplica a prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal.] [3: LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.”] 7. Qual o marco inicial da contagem do prazo para redirecionamento da execução fiscal contra os sócios? Trata-se de prazo decadencial ou prescricional? É possível compreender que o mesmo fato jurídico “dissolução irregular” seja considerado ilícito suficiente ao redirecionamento da execução fiscal de débito tributário e não o seja para a execução fiscal de débito não-tributário. (Vide anexo IX) Na ocasião do julgamento nº 1.201.993, a 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça afirmou o entendimento no sentido de considerar duas situações para fixação do termo inicial doprazo prescricional para redirecionamento da execução fiscal contra os sócios, a saber, (i) cinco anos contados da citação da pessoa jurídica quando o ato inicial previsto no artigo 135, §3º do CTN foi anterior a esse ato processual; ou (ii) não havendo o aludido ilícito ao tempo da citação, a data da prática de ato inequívoco indicador do intuito de inviabilizar a satisfação do crédito tributário, já em curso de cobrança executiva promovida contra a empresa contribuinte, vez que inexistente a prestação contra o sócio gerente ao tempo da citação. Trata-se de prazo prescricional, uma vez que ocorre no curso do processo executivo fiscal em face da pessoa jurídica. Por fim, o entendimento formado pelo STJ sobre a dissolução irregular como ilícito bastante ao redirecionamento da execução fiscal de crédito tributário propõe que a dissolução irregular deve ser considerada como ilícito suficiente ao redirecionamento da execução fiscal de débito não tributário. A corte superior considera como dispositivos análogos os artigos 135, III, do CTN na esfera tributária, o art. 10 do decreto n° 3.078/19 e o artigo 158, da Lei 6.404/78, aplicáveis nos casos de redirecionamento em execuções de créditos não tributários. REFERÊNCIAS CARVALHO, Aurora Tomazini de. Regras para fixação do critério temporal das normas de decadência e prescrição no direito tributário. In: CARVALHO, Aurora Tomazini (Org.). Decadência e prescrição em direito tributário. São Paulo: MP. SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Decadência e prescrição no direito tributário. São Paulo: Max Limonad. Capítulos 8, 9 e 10. image1.jpeg image2.jpeg image3.jpg