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Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Unidade 1 Investimento Aula 1 Conhecimento e educação Introdução Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. A teoria do conhecimento é uma disciplina �losó�ca que busca compreender como acontece a complexa relação entre o sujeito que aprende e o objeto que ele busca aprender, além de esclarecer quais são os múltiplos fatores que estão envolvidos nesse processo. Sendo um dos pilares mais fundamentais da prática pedagógica, entre os seus temas de estudo estão os relacionados à origem dos saberes, isto é, à forma como o ser humano se apropria do conhecimento sobre o mundo físico e social. Por ser uma teoria que trata de elementos mais subjetivos do que objetivos, não é possível encontrarmos uma única abordagem nesse campo de estudo, pois nesse território convivem múltiplas e antagônicas concepções. Assim, o objetivo central dessa disciplina é analisar a questão do conhecimento contido nas práticas pedagógicas do ponto de vista da Filoso�a, a partir das perspectivas de alguns de seus principais epistemólogos (estudiosos do conhecimento). A origem do conhecimento Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Como sabemos o que sabemos, ou conhecemos aquilo que julgamos conhecer? Essa é uma questão que ocupa a mente dos �lósofos desde a Antiguidade, e desde então eles vêm tentando desvendar os aspectos que envolvem a interação do ser humano com o ambiente social, físico e cultural. A Idade Moderna é o marco histórico que de�ne o início da teoria do conhecimento como disciplina autônoma, pois, na Antiguidade e na Idade Média, este tipo de estudo estava vinculado à metafísica (área da Filoso�a que se ocupa de questões como a existência do ser, a causa e o sentido da realidade e a natureza). Na Idade Moderna, portanto, Descartes, Locke e Hume Kant, procuraram sistematizar questões sobre a gênese, a essência e a verdade sobre o conhecimento apontando algumas questões, como por exemplo: qual o critério fundamental para se chegar ao conhecimento? o sujeito pode apreender o objeto? o conhecimento investigado é fechado deixando brecha para a descrença? a fonte (origem) do conhecimento seria a experiência ou a razão? Como consequência dessas indagações, durante a Idade Contemporânea, surgem outras teorias, de natureza menos cientí�ca e de caráter mais próximo do existencialismo, pois percebemos que responder a toda essa complexa estrutura, que envolve o ser humano e o conhecimento, não é tão somente uma possibilidade objetiva. Assim, em decorrência dessa relação imbricada, que Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO envolve o ser humano e suas interações com o meio natural e social, outros estudiosos se posicionam, dando origem a novas formas de entendimento dessa questão. Nesse contexto, um dos estudos teóricos mais complexos é o de Sigmund Freud, considerado o “pai” da Psicanálise. Para este epistemólogo, o ser humano trava, desde o seu nascimento, uma incessante e complexa batalha entre o seu consciente (a parte visível) e o inconsciente (volume invisível). Segundo Freud, a mente consciente é caracterizada pela presença de pensamentos e sentimentos, que possibilitam ao ser humano a capacidade de raciocinar. O pré-consciente seria composto pela memória não acessada pela mente consciente. E o inconsciente é composta por instintos reprimidos, sentimentos e impulsos. Além dessa importante contribuição teórica acerca do conhecimento, destacam-se os estudos da Escola Soviética de Psicologia de L. S. Vygotsky, Luria e Leontiev. De acordo com essa concepção, por meio de uma abordagem semiótica, os estudiosos russos pesquisaram sobre as formas como o ser humano interage com o mundo social no qual nasce e gradativamente se apropria dos elementos da cultura (instrumentos físicos e simbólicos), transformando-os de maneira própria, processo que Vygotsky e seus discípulos chamaram de intersubjetividade e subjetividade. Ainda nesse campo de estudo teórico, um outro epistemólogo que muito in�uenciou a prática pedagógica contemporânea é Jean Piaget, estudioso nascido na Suíça, que elaborou a teoria conhecida por epistemologia genética. De acordo com essa abordagem, o ser humano constrói o próprio conhecimento em interação contínua com o meio, de acordo com os estímulos que esse lhe coloca. Como sabemos o que sabemos? Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A origem do conhecimento sempre foi um enigma para o ser humano. A �loso�a “do ser humano”, praticamente iniciada por Sócrates na Grécia Antiga, já trazia no seu nascedouro a clássica formulação epistemológica “sujeito-objeto”, ou seja, desde que começou a ter consciência de sua existência como algo autônomo em relação aos elementos da natureza, o ser humano passou a se preocupar com a busca da verdade (conhecimento). Esse fato, ocorrido aproximadamente no século V antes de Cristo, passou a ocupar as mentes dos �lósofos da época. Naquele contexto, Sócrates perguntou-se “o que é a verdade”, e ao fazê-lo consultou o famoso oráculo de Delfos, local onde os �lósofos frequentavam para consultarem os deuses. Conduzido pela �gura de Pítia (ou Pitonisa), uma mulher que ali �cava para verbalizar a voz dos deuses, Sócrates observou letras escritas por algumas pedras esparramadas por ali, que �cavam como registro de visitas de outros que por lá passaram para também se consultar. Juntando as referidas letras, o �lósofo construiu a máxima “conhece-te a ti mesmo”, que se tornaria um divisor de águas entre a �loso�a da natureza e a �loso�a do ser humano. Naquele cenário marcado pela dúvida e pelo conteúdo da fala dos deuses vocalizada pela Pítia, Sócrates saiu do oráculo com mais perguntas do que respostas acerca da origem do conhecimento (verdade), a ponto de ter chegado a uma conclusão, que é expressa por uma outra máxima também conhecida dos �lósofos ao longo dos séculos, qual seja “só sei que nada sei”. Dali em diante, Platão, um discípulo contemporâneo de Sócrates, a partir da máxima “conhece-te a ti mesmo”, faz uma re�exão sistemática, rigorosa e de conjunto (como deve ser a verdadeira re�exão �losó�ca) e se pergunta: “se a verdade (conhecimento) está dentro de mim, quem a colocou ali”? Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Na sequência, buscando a resposta a essa pergunta que ele mesmo formulou, elabora sua cosmogonia (estrutura do universo) e cosmologia (funcionamento do universo), apoiando-se numa narrativa que ele cria (alegoria das charretes), a�rmando que o ser humano (condutor), ao procurar a verdade, terá de ir até os céus (Olimpo), utilizando-se de uma charrete conduzida por dois cavalos: a razão e a vontade. Se ao longo do caminho ele perde seu foco e deixa-se guiar pelo cavalo da vontade, perderá a chance de chegar ao Olimpo e voltará à terra na condição eterna de escravo. Ao contrário, se o condutor se guiar pelo cavalo da razão e mantiver o foco na busca da verdade, ele chegará ao Olimpo e, com isso, conhecerá a verdade. Nesse caminho, como consequência, ele retornará à terra na condição de �lósofo e retirará o véu que encobre o conhecimento (descobrirá) e o passará para os que ali �caram. Ou seja, para Platão, o mundo da razão (inteligível) é mais consistente que o mundo da experiência (sensível) e, para chegar até a verdade, o ser humano deve buscar o mundo das ideias e evitar o mundo da matéria física (experiência). No mesmo contexto, Aristóteles, um outro �lósofo grego, defendeu a tese de que a verdade (conhecimento) só pode ser desvelada se, além da razão, o ser humano também considerar a sua experiência vivida no mundo real. En�m, esse conjunto de teorias �losó�cas se alastraram pelo Ocidente e in�uenciaram por todos os séculos subsequentes a maneira de se entender a origem do conhecimento na mente humana e, como consequência, in�uenciaram fortemente a educação. A respeito dos “ismos” Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃOA área educacional é marcada pelos “ismos”, isto é, se analisarmos os projetos curriculares de várias escolas, veremos que eles não são idênticos, e em alguns casos, chegam a ser até profundamente divergentes. Quem de nós já não ouviu falar em positivismo, behaviorismo, construtivismo, gestaltismo, entre tantos outros? No cotidiano da vida familiar, quando a criança chega à idade de matrícula na escola, é comum ouvirmos os pais ou responsáveis preocupados em saber em qual escola irão colocar os seus �lhos, pois sabem que há diferenças e que os “ismos”, muitas vezes, determinam a qualidade da educação oferecida e a construção da personalidade de suas crianças. O �lósofo pragmatista John Dewey a�rmava que “em vez de se perder em ‘ismos’, em discussões abstratas que levam do nada a lugar nenhum, a pedagogia deveria se orientar por pesquisas abrangentes e construtivas sobre necessidades, problemas e possibilidades reais dos aprendizados”, e frequentemente vemos que isso é bem verdadeiro, pois muitas crianças vão às escolas e não aprendem o essencial (DEWEY, 1979, p 17) Tomemos como exemplo dois fragmentos de projetos curriculares de duas instituições, a �m de analisarmos o quão é forte a presença das in�uências epistemológicas na prática educativa. Manteremos o sigilo da fonte por questões éticas: Referencial 1: “As concepções de criança e infância adotadas por esse Referencial, em consonância com as DCNEIs, orientam as práticas pedagógicas que favorecem a aprendizagem e impulsionam o desenvolvimento de bebês, crianças bem pequenas e pequenas. Mais do que uma fase provisória, a infância é uma idade em que a criança, além da intensa capacidade de aprendizagem e desenvolvimento em seus vários campos de atividade, também está em Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO processo de estruturação nos domínios afetivo, cognitivo e motor que constituem sua evolução psíquica”. Referencial 2: “A concepção behaviorista deixa evidente que o professor é visto como peça-chave no processo educativo, pois cabe a ele identi�car o repertório existente, planejar o que precisa ser realizado de acordo com os objetivos almejados; cabe a este promover a transmissão do conhecimento, que tem como foco a preparação para o futuro, e espera-se do aluno a apropriação do que foi transmitido. Espera-se que o professor seja capaz de criar condições que proporcionem a efetivação da aprendizagem. Acrescenta-se que, cabe também ao educador, utilizar reforçadores (positivos e negativos) como estratégias necessárias à aprendizagem. O reforço positivo visando ao fortalecimento de comportamentos desejáveis e ao reforço negativo, tendo como propósito a extinção de comportamentos indesejáveis”. Videoaula: Conhecimento e educação Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Neste módulo, faremos uma re�exão sobre a origem do conhecimento na mente humana. Veremos que, desde a Antiguidade, os �lósofos se preocuparam em responder a essa questão, algumas vezes apoiando-se na experiência (empirismo) e, em outras, na razão (racionalismo). Dessas formas variadas de busca dessa resposta surgiram as diferentes concepções de educação e de metodologias de ensino, que ao longo da história da educação estiveram presentes na prática dos educadores e ainda estão até hoje. Saiba mais Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO https://blog.mackenzie.br/vestibular/materias-vestibular/o-que-e-epistemologia/ https://sociologialiquida.org/o-que-e-epistemologia/ CORTELLA, M. S. A escola e o conhecimento. Fundamentos epistemológicos e políticos. São Paulo, SP: Cortez, 1996. Referências https://blog.mackenzie.br/vestibular/materias-vestibular/o-que-e-epistemologia/ https://blog.mackenzie.br/vestibular/materias-vestibular/o-que-e-epistemologia/ https://sociologialiquida.org/o-que-e-epistemologia/ Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ARANHA, M. G. A. Filosofando. Introdução à Filoso�a. São Paulo, SP: Moderna, 1993. DEWEY, John. Experiência e Educação. Tradução: Anísio Teixeira. São Paulo, SP: Companhia Editora Nacional, 1979. JAPIASSU, H. Introdução à epistemologia da psicologia. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1977. JAPIASSU, H. Nascimento e morte das ciências humanas. Rio de Janeiro, RJ: Francisco Alves, 1978. JAPIASSU, H. O mito da neutralidade cientí�ca. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1975. KANT, l. Crítica da razão pura. São Paulo, SP: Abril Cultural, 1980. Aula 2 Antropologia �losó�ca Introdução Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Dentre os muitos ramos do saber humano que têm por objeto o próprio ser humano, é especialmente importante a antropologia �losó�ca. Esse campo de conhecimento constitui-se como uma re�exão sistemática e bem fundamentada sobre a vida humana e o seu destino, sobre as suas faculdades e operações, suas relações interpessoais, referidas à totalidade do seu ser. As ciências particulares a respeito do ser humano não conseguem dar resposta à pergunta: “O que é o ser humano?”. E a falta de resposta adequada a essa questão é desorientada, pois os estudos são parciais e especializados, daí a importância da antropologia �losó�ca. Entre o essencial e o natural Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A forma como pensamos hoje foi moldada durante milhares de anos, e ainda que falemos no singular (a forma), sabemos que não existe uma única forma de pensar, pois, ao se relacionar com a natureza e viver em grupo, o ser humano vai se deparando com diferentes estímulos e interações, o que o faz desenvolver inúmeras e variadas maneiras de tentar entender e de explicar o funcionamento do mundo físico e social no qual ele está inserido. Nesse contexto, inúmeras concepções surgem, estando, entre elas, a essencialista e a naturalista. De acordo com ambas as concepções, há que se contemplar o princípio da diversidade, e a educação, como consequência, consiste em realizar o que o ser humano deve vir a ser. Um dos primeiros pensadores essencialistas da Antiguidade que realizou uma grande sistematização �losó�ca foi Platão (428 ou 427-347 a.C.), que contribuiu com uma discussão acerca de importantes temas relacionados à perspectiva humana. Entre as perguntas que este �lósofo fazia, havia a que se referia à possibilidade de superação do nível empírico, aquele que circunda o mundo da experiência, a�rmando que havia a necessidade de se alcançar a esfera das essências, ou seja, da verdade. Nessa direção, Platão estabeleceu uma divisão entre o mundo das ideias e o mundo das sombras, dividindo o ser humano entre o “eu empírico” (corpo) e o “eu essencial” (alma). No mundo do corpo, do desejo e dos sentidos, tudo é imperfeito, sombrio e transitório, enquanto, no mundo da alma (ou o espírito pensante), tudo é verdadeiro, necessário, belo, puro e bom. Além de Platão, um outro pensador essencialista, já na Idade Média, Tomas de Aquino (1225- 1274), entendia que educação servia para educar o indivíduo na fé e para a vida após a morte. Segundo a tese desse �lósofo, a alma é a forma essencial do corpo, responsável por dar vida a este. A alma é imortal e única, e por isso, o ser humano se volta naturalmente para Deus. Conhecida como “ética tomista” (de caráter aristotélico), os estudos de Tomás de Aquino se concentram no movimento do ser para Deus, culminando na visão ou contemplação imediata do criador. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO No mesmo contexto dessa forma essencialista de conceber a relação do ser humano com o mundo físico e social, surge o �lósofo Kant (1724-1804), que procurou demonstrar que, a despeito do peso da experiência sobre a construção do conhecimento, aquela nunca ocorre de maneira neutra, pois a ela são impostas, a priori, a sensibilidade que é determinante na estruturação da cognição humana. Do lado oposto ao essencialismo, surge, na Idade Média, a concepção naturalista. Para essa perspectiva, contribuem os estudos do britânico Francis Bacon(1561-1626), que elaborou uma metodologia racional para o trabalho cientí�co, delimitando a linha entre o pensamento medieval e o moderno. Finalmente, há que se destacar ainda, no campo da concepção naturalista, o �lósofo e matemático René Descartes (1596-1650), que, com o seu método �losó�co, trouxe ao campo �losó�co o rigor da matemática com a criação de um plano de coordenadas que até contemporaneamente permite uma aior precisão nos estudos da geometria analítica e da espacial. Pensar ou sentir? Uma das áreas do saber humano que pode contribuir muito para o trabalho dos professores, é a Antropologia. O ser humano produz e transmite cultura para as próximas gerações, garantindo assim um permanente movimento de socialização; no entanto, a aquisição do conhecimento é algo Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO singular, sendo que cada indivíduo o constrói à sua maneira. No entanto, a dinâmica desse rico e complexo processo precisa ser desvelada pela Antropologia, que, ao reunir elementos para a análise da interação do homem com o mundo circundante, trará à educação importantes contribuições. Nesse sentido, a antropologia �losó�ca promove a re�exão sobre os conteúdos que são apresentados aos estudantes por meio do projeto curricular, considerando o contexto cultural, a história de vida e o seu universo simbólico, fatores fundamentais para a aprendizagem, contemplando também, as capacidades oriundas da infância, quais sejam incorporação de experiências, a habilidade sensório-motora, a capacidade de locomoção, função imitativa, lúdica, linguística, intelectual e a estética. O ser humano, desejante por natureza, busca tornar-se participante do seu grupo social, porém esse desejo de participar do mundo dos adultos pode ser estimulado ou bloqueado durante a socialização da criança durante o processo pedagógico. O movimento de internalização do espaço social estruturado, conhecido como socialização, se dá em constante interação entre a história individual e a convivência coletiva. E é esse processo que traz à educação a necessidade de um olhar antropológico. A antropologia e a educação devem ser internalizadas por emoções e crenças. Cabe ao educador uma sensibilidade sobre a diversidade cultural dos educandos, a �m de que possa ter empatia com eles mediante a detecção de suas necessidades que são construídas na interação entre o estudante e sua comunidade de origem. Nesse sentido, a Antropologia histórica traz uma contribuição ao trabalhando docente, pois possibilita uma análise sobre a cultura e os valores dos educandos. Que pessoa queremos/precisamos formar? Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A Pedagogia é uma área de atuação humana responsável pela formação das novas gerações. Por não ser propriamente uma ciência, ela se apoia em vários campos do conhecimento, como a Filoso�a, a Antropologia, a Sociologia, a Psicologia, entre outras. Apesar de ser um campo próprio e distinto das demais ciências, há uma forte e estreita relação entre ela e os diferentes campos epistemológicos. Uma das relações mais básicas é a tentativa de compreender a natureza humana e suas formas de aprendizagem. Assim, é possível a�rmar que toda teoria pedagógica ou prática educacional tem em seu bojo uma determinada concepção de ser humano, ou seja, toda pedagogia pressupõe uma visão de ser humano como sujeito do processo educativo, isto é, toda educação é uma antropologia. A Pedagogia encontra na Filoso�a uma fonte inesgotável de saberes acerca do ser humano e a dinâmica de funcionamento da sociedade. Desde sua origem o saber �losó�co esteve voltado para a preocupação de desvelar os mistérios da existência humana, além a de encontrar o grau zero do conhecimento (Epistemologia). A Filoso�a contempla no escopo de sua produção uma intencionalidade educativa, voltada para a formação e do desenvolvimento do caráter humano. Entre as escolas �losó�cas que contribuíram no passado para essa intenção, destaca-se a Paideia grega, a educação formadora, pois para os gregos educar é humanizar, tendo portanto, um sentido coletivo e comunitário. Os pedagogos encontram na Filoso�a um forte amparo teórico, que lhes fornece segurança para o desenvolvimento da prática de ensino. Nesse sentido, essa área fornece para a educação importantes elementos antropológicos que auxiliam os educadores a compreenderem os Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO contextos culturais dos estudantes e assim desenvolverem estratégias de ensino pedagogicamente sensíveis a esse universo. No início de sua busca pela razão, o ser humano desenvolveu a mitologia, pois ele acreditava ser dependente das forças cósmicas; posteriormente, aplicando a razão em suas análises, de maneira mais radical, rigorosa e de conjunto, construiu a �loso�a, e assim caminhou até culminar no desenvolvimento do conhecimento cientí�co. Essas formas de tentar entender racionalmente a dinâmica de funcionamento da vida trouxeram historicamente re�exos nas formas de ele educar seus sucessores. Educação, portanto, signi�ca formar o ser humano de acordo com o que se espera que ele possa ser. Videoaula: Antropologia �losó�ca Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Neste módulo, faremos uma re�exão sobre as diversas abordagens acerca da prática educacional. Perceberemos que, dentre os muitos campos das ciências humanas, é especialmente importante a antropologia �losó�ca. Essa disciplina nos apresenta elementos sólidos para uma re�exão sistemática e bem fundamentada sobre a natureza do ser humano e as formas como ele aprende. Tentando nos responder à questão “o que é o ser humano?”, a antropologia �losó�ca nos dá uma excelente orientação, a qual é fundamental para nossa prática docente. Saiba mais Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Explore mais o naturalismo e o essencialismo através dos materiais disponíveis nos links abaixo: Antropologia �lóso�ca: a constituição básica do ser humano https://www.youtube.com/watch?v=kYMad5xsucc https://www.stoodi.com.br/blog/historia/antropologia-o-que-e/ Referências https://ensaiosenotas.com/2019/01/09/fundamentos-de-antropologia-filosofica/ https://www.youtube.com/watch?v=kYMad5xsucc https://www.youtube.com/watch?v=kYMad5xsucc https://www.stoodi.com.br/blog/historia/antropologia-o-que-e/ https://www.stoodi.com.br/blog/historia/antropologia-o-que-e/ Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ARANHA, M. G. A. Filosofando. Introdução à Filoso�a. São Paulo, SP: Moderna, 1993. JAPIASSU, H. Introdução à epistemologia da psicologia. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1977. JAPIASSU, H. Nascimento e morte das ciências humanas. Rio de Janeiro, RJ: Francisco Alves, 1978. JAPIASSU, H. O mito da neutralidade cientí�ca. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1975. KANT, l. Crítica da razão pura. São Paulo, SP: Abril Cultural, 1980. MONDIN, B. O ser humano. Quem é ele? São Paulo, SP: Paulus, 2021. Aula 3 O papel da história na formação do sujeito Introdução Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A história é uma ciência humana que estuda o desenvolvimento do homem no tempo, analisando processos históricos, personagens e fatos para promover uma melhor compreensão dos períodos históricos, das diferentes culturas e civilizações. Um dos seus principais objetivos é o resgate dos aspectos culturais de um determinado povo ou região para o entendimento do processo de desenvolvimento. O aprendizado da história traz uma forte contribuição para a formação do sujeito, tendo como objetivo principal a formação cidadã do ser humano, pois essa disciplina apresenta dados sobre o contexto global e multicultural onde se inserem os indivíduos.. A história que nos contam Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Todo ser humano tem em seu interior uma espécie de “moldura”, semelhante à de um quadro, que dá forma à sua forma de ver e entender o mundo. Essa “moldura” começa a serformada desde o nascimento, quando o seu cérebro começa a receber estímulos, inicialmente sensoriais, vindos do meio natural, social e cultural no qual ele se encontra. A partir de uma raiz biológica (cérebro), portanto, vão sendo formadas as estruturas de seu pensamento, que ao longo da vida, por meio das interações com o ambiente externo, vão dando os contornos culturais à sua mente. Nesse contexto, inicialmente familiar, os elementos históricos que caracterizam o grupo social no qual o sujeito nasceu, passam a fazer parte da sua existência, sendo que de acordo com pesquisadores como Piaget e Vygotsky, a mente do sujeito é fruto das ricas interações ocorridas entre ele e os membros do seu grupo social. Nesse sentido, como não poderia ser de outra forma, os diferentes sujeitos, imersos em diferentes contextos sociais e históricos, vão dando voz à suas formas de pensar, dando origem assim a inúmeras e diversas concepções de mundo. Portanto, pensadores em diferentes épocas, por estarem imersos em diferentes contextos culturais e sociais, foram dando forma às maneiras de entender e de explicar o funcionamento e os processos dessa rica dinâmica. Dentre as diferentes “molduras", portanto dos pensadores, �lósofos e pesquisadores destacam- se a concepção essencialista e a naturalista, sendo que para ambas, é necessário que a educação do ser humano deve considerar o princípio da diversidade, uma vez que as “molduras” humanas são diferentes sendo que o processo educacional, teria como consequência, a realização do ser humano como um “vir a ser”. O �lósofo pioneiro da concepção de educação essencialista da Antiguidade foi Platão (428 ou 427-347 a.C.), que pavimentou o pensamento posterior sobre os principais temas relacionados à perspectiva humana. Entre as suas principais preocupações estava a de formular respostas às Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO perguntas sobre a superação do mundo da experiência, defendendo a tese de que seria necessário o alcance da esfera das essências, pois só assim seria possível desvelar a verdade. Numa sequência histórica a essa construção de “molduras”, na Idade Média, há o destaque para o pensador cristão Tomás de Aquino (1225-1274), que entendia a educação como um processo de vivência do sujeito na fé e preparo para a vida pós morte. No contexto dessa “moldura” essencialista, o �lósofo Kant (1724-1804), mostrou que, apesar de experiência estar presente na formulação do conhecimento, ela não é neutra, pois o ser humano dotado dos sentidos da experiência, carrega para a sua cognição essas formas da sensibilidade o que de�ne a sua forma de entender o mundo a sua “moldura". Como consequência desse processo de “emolduramento”, do lado oposto ao essencialismo, no contexto da Idade Média, emerge a concepção naturalista. De acordo com Francis Bacon (1561- 1626), um dos mais importantes �lósofos dessa perspectiva, seria necessária uma metodologia racional para a atividade cientí�ca, tornando-se um marco entre o Ser humano da Idade Média e o Ser humano moderno. Finalmente, no contexto da “moldura” naturalista, René Descartes (1596-1650), �lósofo e matemático, propôs o uso da racionalidade para a Filoso�a, tentando despi-la dos elementos metafísicos que até então predominavam nesse campo, contribuindo com suas re�exões para o avanço dos estudos da geometria analítica e da geometria espacial. Razão ou vontade? Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Até o século XVII predominou nas teorias pedagógicas, o modelo cienti�cista, fato que incomodou pensadores como Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que no século seguinte deslocou o foco central do processo educacional do mestre para o educando. Jean-Jacques Rousseau provocou uma grande revolução na pedagogia e colocou a emoção e a moral no epicentro de sua visão do homem. Segundo o pensador, o homem nasce bom e a sociedade o corrompe. Nesse sentido idealizou a �gura de um educando que seria livre das in�uências sociais Hegel (1770-1831) dá mais uma contribuição ao processo de construção da �loso�a romântica, pois, ao desenvolver a �loso�a do devir; concebe o ser como processo, como vir-a-ser. A dialética colocada como eixo de sua �loso�a transforma o conceito de verdade, não mais um fato, uma essência, uma realidade, mas o resultado de um desenvolvimento do espírito. A própria concepção de contradição como motor interno da história faz com que Karl Marx (1818-1883) inverta o sistema hegeliano e sustente o primado da matéria sobre o espírito, estabelecendo assim a base da construção do materialismo histórico. Só será possível compreender o que os homens fazem e pensam a partir da forma como os homens produzem os bens materiais necessários. Nesse contexto da concepção histórico-social de sujeito, uma outra contribuição às fundamentações do conceito de educação relacionado com a consciência humana é a antropologia sartreana. Esses conceitos foram formulados pelo �lósofo francês Jean-Paul Sartre Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO (1905-1980). Na elaboração desses o conceito de Nada, considerado a base para as obras de Sartre, recebeu forte in�uência de outros �lósofos, entre os quais, Descartes, Kant, Hegel, Russerl e Heidegger. Nesse caso, a concepção de natureza humana defendida por Sartre, está intrinsecamente vinculada ao conceito de Nada como o elemento de�nidor do homem, ou seja, ao mesmo tempo em que é pelo homem que o nada vem ao mundo, o Nada, também, se constitui na essência do homem. Nesse sentido, o Nada habita a consciência humana como aquilo que o constitui como homem. Ainda mais quando uma educação é bem orientada a outro homem com a �nalidade de revelar a realidade da liberdade que todos os humanos se encontram, mas que muitos se negam em aceitá-la e logo vivê-la com responsabilidade. Em síntese, a grande contribuição da concepção histórica social resulta em três aspectos: a preocupação com o processo (nada é estático), com a contradição (não há linearidade no processo) e com o caráter social do engendramento humano (o ser do homem se faz presente nas relações entre os homens ao longo da história). Ainda no conjunto desses fundamentos, porém com ênfase na consciência humana e sua relação com o conhecimento, aparecem as in�uências da crítica de Kant, �lósofo alemão do século XVIII, que abordou questões relevantes que abrangem o campo educacional. Compreender o projeto pedagógico da Modernidade, numa perspectiva kantiana, nos faz re�etir sobre problemas educacionais que atravessaram séculos, e que em plena contemporaneidade ainda não foram solucionados, como por exemplo a questão da indisciplina, como questionamentos acerca da razão e moralidade. Para Kant, a disciplina é o momento de maior tensão no processo pedagógico, por apresentar ao homem uma situação diversa da vida a partir da natureza do ser que muda completamente o seu caminho de vida natural e selvagem para o caminho do pensamento autônomo, levando-o à conquista da sua verdadeira liberdade. Conhecimento é construção social e histórica Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO O conhecimento pedagógico é uma construção social, e é feita pelos especialistas. É pressuposto que alguém formado na área seja indicado para a função. A realidade, no entanto, nos mostra que tem muita gente fora de área na educação brasileira em geral e na história, em particular. Não seria esse um dos fatores por que os alunos, em geral, não gostem de História da Educação? Ou um dos motivos da baixa qualidade do da formação de pedagogos no Brasil? A história da educação é um tipo de conhecimento muito especializado; pensemos por exemplo na seguinte situação: como era uma sala de aula na Idade Média? Será que há semelhanças com a sala de aula contemporânea? Em que aspectos são semelhantes e quais são diferentes? Quando pensamos nessas questões, não sobra dúvidas de que um leigo não conseguirá fazer uma interpretação adequada e isso ocorre porque ele não tem os instrumentos teóricos e metodológicos que permitem essa análise. Portanto, em termos de conhecimentosobre a história da educação, não pode haver “achismos”, mas existe uma interpretação que apresenta certa coerência com o real. O cidadão comum pode até saber que o fato aconteceu, mas não saberá dizer por que ele aconteceu. Esse é um trabalho do especialista, do pro�ssional das ciências humanas, em geral, e, mais precisamente, do pedagogo. Portanto, a história é uma ciência que tem os seus métodos, suas técnicas e sua orientação teórica, que sofre interferência política, porque é humana. O estudo da história da educação nos possibilita entender as formas como outros povos lidam com o encaminhamento educacional de seu povo, e mais especi�camente no Brasil, esse estudo nos esclarece que mesmo que o país tenha avançado de forma substancial no século XX e XXI, a educação nacional ainda sofre de problemas graves e urgentes. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A precariedade de infraestrutura de escolas, a falta de quali�cação de professores, as diferenças regionais na qualidade educacional, o ainda presente analfabetismo, a situação do analfabetismo funcional e o fosso existente entre o ensino público e o ensino privado, são graves problemas sociais, que fazem com que o Brasil esteja nas piores colocações quando o assunto é avaliação internacional do nível de aprendizado dos alunos. Portanto, quando analisamos as de�ciências educacionais na base da população brasileira contemporânea, que provocam sequelas que se estendem a outras esferas, como a econômica, a social e a cultural e escancara as desigualdades entre ricos e pobres, agravando os problemas sociais como violência urbana e corrupção, percebemos que essa problemática tem raízes históricas, ou seja, são a culminância de todo um processo de políticas púbicas mal administradas ao longo do tempo. Nesse sentido, é mister que a formação de educadores no Brasil seja feita com cautela, de forma que os futuros professores, ao se apropriarem do conhecimento do passado da realidade nacional da educação, e ainda das políticas educacionais de outras nações ao longo do tempo, possam olhar para a realidade da sala de aula com referenciais teóricos e históricos sólidos, mudando o paradigma de que o estudo da História da educação é inútil ou “chato”. Videoaula: O papel da história na formação do sujeito Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Neste módulo faremos uma re�exão sobre a história, uma ciência humana que estuda o desenvolvimento do homem no tempo, analisando processos históricos, personagens e fatos para promover uma melhor compreensão das diferentes culturas e civilizações. A história ajuda a resgatar os aspectos culturais de um determinado povo ou região para o entendimento do processo de desenvolvimento humano. Aprender história é fundamental para a formação da cidadania, pois essa disciplina nos apresenta dados sobre o contexto global e multicultural onde se inserem os indivíduos. Saiba mais Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Para complementar os seus estudos, o material a seguir explora mais detalhadamente a biogra�a de Eric Hobsbawm. Arquivo - Eric Hobsbawn Referências https://web.archive.org/web/20131008051740/http://www.spartacus.schoolnet.co.uk/HIShobsbawm.htm Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO HOBSBAWM, et al. Era dos extremos. Ed. Companhia das letras, 1995. LUZURIAGA, L. História da educação e da Pedagogia, ED. Nacional, 1983 Aula 4 Os pressupostos �losó�cos e a educação Introdução Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A educação é uma prática mediadora das práticas históricas sob as quais o ser humano constrói sua existência subjetiva e social, por isso, é fundamental que haja uma re�exão mais elaborada sobre os pressupostos �losó�cos da formação e da atuação prática docente. A qualidade da prática pedagógica só poderá ser garantida se, ao longo de sua formação, o educador tiver acesso a um conjunto articulado de elementos formativos que lhe garantam no futuro uma competência técnica e cientí�ca a ser desenvolvida com criatividade, sensibilidade ética e criticidade política. Nesse sentido, compete à sua formação a presença de subsídios fornecidos pela �loso�a. Prática mediadora Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO O ser humano, ao interagir com seu grupo social, vai se modi�cando, o que o caracteriza como um ser em construção. No âmago dessa interação está a contradição, pois a atividade humana é política por natureza, tendo no con�ito o alimento para sua manutenção. Nesse sentido, a historicidade das experiências humanas torna-se elemento fundamental para o entendimento da natureza humana, pois a todo momento o homem interage de forma dialética com a sua própria história e a estrutura social na qual está inserido. Portanto, o saber produzido num dado momento histórico é edi�cado a partir do pavimento da base material da sociedade na qual se insere. Nesse sentido, vários �lósofos buscam relacionar os fatos históricos e sociais com seus re�exos sobre a educação. Assim, por exemplo, para o �lósofo Theodor Adorno, a questão da emancipação no processo da educação deve, simultaneamente, evitar a “barbárie” e buscar a emancipação pessoal. O �lósofo entende como barbárie, o impulso humano destrutivo, que se manifesta nas diversas formas de agressividade percebidas no cotidiano, podendo chegar a situações extremas, como por exemplo os campos de extermínio nazistas. Nesse sentido, Adorno propõe uma educação “emancipatória”, pois formas autoritárias de educação não conseguem evitar esse caráter impulsivo destrutivo. Uma educação nesse modelo (emancipatório) é preventivo à repressão, e distante da reprodução tecnicista, que mantém o caráter produtivo da vida humana. De acordo com essa perspectiva, o processo educacional pode favorecer a formação de sujeitos críticos e livres, capazes de educar o próprio impulso destrutivo, fortalecendo a autonomia e contribuindo para a extinção da barbárie. Uma outra contribuição nessa perspectiva crítica da educação é da Escola de Frankfurt, surgida no início do século XX. Seus representantes elaboraram importantes teses �losó�cas e Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO sociológicas. Seus pensadores eram marxistas do Instituto para Pesquisa Social, vinculado à Universidade de Frankfurt, na Alemanha. Dentre as principais contribuições produzidas pela Escola de Frankfurt estão a Teoria Crítica e o conceito de Indústria Cultural. A Teoria Crítica se posiciona em relação à construção cartesiana do pensamento positivista e pela leitura crítica acerca do pensamento de Karl Marx e o conceito de indústria cultural, diz respeito à padronização de produtos da cultura. Portanto, ambas as re�exões se dirigem criticamente ao sistema capitalista. No interior de seu conteúdo é observável a denúncia das formas de dominação presentes na política, economia, cultura e psicologia da sociedade desde a modernidade. A Escola de Frankfurt surge no contexto de acontecimentos importantes da história mundial. No século XX, (1920), aconteceu a Primeira Guerra Mundial e, ao �nal da década, aconteceu a crise de 1929. Portanto, os fundamentos �losó�cos da educação cumprem o importante papel de promotores da discussão dos graves e históricos temas sociais, sendo um conjunto de conhecimentos necessários aos professores. O século da morte Ao longo do século XX, vários �lósofos buscaram relacionar os fatos históricos e sociais aos seus re�exos sobre a educação. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO O historiador Eric Hobsbawn referiu-se ao século XX como “breve” no subtítulo de sua obra Era dos Extremos. Os “extremos” de Hobsbawn fazem alusão à formação de ideologias extremadas próprias desse período, que foram implementadas por meio de ditaduras de diversas tendências políticas (comunismo soviético e chinês, militarismos repressores de extrema-direita na América Latina, totalitarismos nacionalistasdo fascismo europeu). A impressão que dá ao lermos os textos da “era dos extremos” é a de que o ser humano voltou para o tempo da barbárie, quando ainda não havia nascido a organização social que conhecemos como “civilização”. Naquele contexto, ganharam relevância o nacionalismo, representado pelo regime nazista de Hitler, na Alemanha; o genocídio armênio, praticado pelo Império Turco-Otomano em 1915 (e até hoje não reconhecido pelo governo turco); a Guerra da Bósnia (1992-1995), no território da ex- Iugoslávia, com fatores marcados por discursos nacionalistas; na África, em Ruanda, com os massacres praticados pela maioria hutu contra a minoria tutsi. No Brasil, Getúlio Vargas tomou diversas medidas contra estrangeiros, em decretos durante o “Estado Novo” que os equiparavam a indigentes, vagabundos, ciganos, estabelecendo regras rígidas para concentração e assimilação de estrangeiros. Além disso, violou direitos de imigrantes e descendentes de italianos, alemães e japoneses após a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, em 1942, ao lado dos Aliados, con�scando os bens de pessoas dessas descendências. Hobsbawn, a�rma ainda que o século XX foi considerado por ele como a “era dos extremos” devido aos acontecimentos ocorridos no período como um todo. Portanto, levando em consideração todo esse cenário de horrores, dá para se compreender o teor das teorias sobre a educação e a emancipação social de Adorno, a Escola de Frankfurt e a perspectiva crítica da educação, que esclarece conceitos sociais importantíssimos, como Indústria Cultural, en�m, os fundamentos �losó�cos da educação cumprem o importante papel de promotores da discussão dos graves e históricos temas sociais, sendo um conjunto de conhecimentos necessários aos professores. Nós que aqui estamos por vós esperamos Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO No �lme brasileiro Nós que aqui estamos por vós esperamos, de Marcelo Masagão, há a sobrepondo imagens com a �nalidade de mostrar o pensamento dos personagens e a memória do século XX. No documentário o autor aborda mudanças mundiais no cotidiano humano no período entre guerras mostrando revoluções, golpes, ditaduras, movimentos e nascimento do atual modelo tecnológico. O autor se inspirou na obra “Era dos Extremos”, do historiador britânico Eric Hobsbawm, mostrando em sua produção, por meio da montagem das imagens produzidas no século XX, ambientadas pelo fundo musical de Wim Mertens, o período de contrastes de um mundo envolvido em duas guerras, colocando ênfase na banalização da violência, no desenvolvimento tecnológico, na esperança e na loucura humanas. Para a construção de sua narrativa, Masagão utilizou imagens que ligaram fatos acontecidos e histórias de pessoas anônimas com toda a revolução e os acontecimentos históricos do tempo em que elas viveram. O título do �lme foi inspirado num letreiro de um cemitério da cidade de Paraibuna (SP), "Nós que aqui estamos por vós esperamos", tentando enfatizar as mortes banalizadas, dos anônimos que ajudaram a escrever a história. Entre os temas principais estão a banalização da morte, a industrialização, as mudanças na comunicação após a invenção do telefone, do rádio e da energia elétrica, a independência feminina, a igualdade dos sexos, a busca dos sonhos e ideais. O �lme revela a vida de pessoas comuns e de celebridades, com a �nalidade de levar ao interlocutor a importância individual para a construção da história. O documentário foi premiado no Festival de Gramado, em 1999, por sua montagem, e no Festival do Recife, como melhor �lme, melhor roteiro e melhor montagem. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Videoaula: Os pressupostos �losó�cos e a educação Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Neste módulo, faremos uma incursão pelo documentário de Marcelo Masagão, que tem o título de Nós que aqui estamos por vós esperamos, com a �nalidade de visitarmos o complexo século XX, que o historiador Hobsbawn chamou de “breve”. Trata-se de um �lme brasileiro que, por meio de imagens e músicas (sem texto escrito nem falado), o autor nos transporta para um cenário de morte (com a Primeira e a Segunda Guerra Mundial), marcado pelo surgimento da sociedade industrial e pelo cenário de barbárie. Saiba mais Para mais informações, acesse: Igreja de São Francisco / Convento de São Francisco de Évora Revisitando Charles Chaplin: tempos modernos na Enap http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/SIPA.aspx?id=2724 https://repositorio.enap.gov.br/handle/1/4398 Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Referências ALTHUSSER, L. Aparelhos Ideológicos de Estado. 10. ed. São Paulo, SP: Graal, 2007. BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. São Paulo, SP: Perspectiva, 2007. NOGUEIRA, M. A. Bourdieu e a Educação. 3. ed. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2009. SILVA, T. T. da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 3. ed. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2010. Aula 5 Revisão da unidade Fundamentos epistemológicos e políticos da educação Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Teorias sobre a origem do conhecimento, também chamadas de epistemologias, nos ajudam a compreender como acontece a complexa relação entre o sujeito que aprende e o objeto que ele busca aprender, além de trazer luz sobre os múltiplos e variados (diversos) fatores que estão envolvidos nesse processo. Baseadas no rigor dos estudos �losó�cos, essa sistematizada gama de conhecimentos, constitui-se como um dos pilares mais fundamentais da prática pedagógica, sendo que, entre os seus temas de interesse e preocupação, estão os relacionados à origem dos saberes, isto é, à forma como o ser humano se apropria do conhecimento sobre o mundo físico e social. Por serem teorias impregnadas de elementos subjetivos, não é possível encontrarmos uma única abordagem nesse campo de estudo, pois nesse território convivem múltiplas e antagônicas concepções. Assim, o objetivo central desse campo do saber é fornecer uma análise rigorosa, radical e de conjunto sobre a questão do conhecimento contido nas práticas pedagógicas dos professores sob ponto de vista da �loso�a, a partir das perspectivas de alguns de seus principais epistemólogos (estudiosos do conhecimento). Nesse contexto, dentre os estudos sobre a natureza humana, encontra-se a antropologia �losó�ca. Esse campo epistemológico é constituído de uma re�exão sistemática sobre a vida humana, o seu destino, sua estrutura psíquica, suas ações no mundo, suas relações com outros seres humanos e a totalidade da sua essência. As ciências como a Psicologia e a Antropologia, por exemplo que abordam o ser humano, não dão conta de responder à pergunta: “o homem, quem é ele?”. E a lacuna encontrada nesse questionamento continua aberta, pois os campos citados são parciais e especializados, daí a importância da antropologia �losó�ca. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Ainda para fornecer um respaldo teórico fundamental para uma prática docente re�exiva, a história surge nesse contexto como um campo do conhecimento cientí�co sólido que, ao estudar o desenvolvimento do homem ao longo do tempo e analisar processos históricos, personagens e fatos, acaba por fornecer aos educadores um corpo substancial de saberes, que consegue promover uma melhor compreensão dos períodos históricos, das diferentes culturas e civilizações e, como consequência, tornar a prática pedagógica mais crítica e re�exiva. Assim, o aprendizado da história traz uma forte contribuição para a formação do sujeito e para o desenvolvimento da sua consciência cidadã, pois essa ciência apresenta dados sobre o contexto global e multicultural onde se inserem os indivíduos. Portanto, por ser a educação uma prática mediadora das práticas históricas sob as quais o ser humano constrói sua existência subjetiva e social, é fundamental que haja uma re�exão mais elaboradasobre os pressupostos �losó�cos da formação e da atuação didática dos professores. A qualidade da prática pedagógica só poderá ser garantida se, ao longo de sua formação, o educador tiver acesso a um conjunto articulado de elementos formativos que lhe garantam no futuro uma competência técnica e cientí�ca, a ser desenvolvida com criatividade, sensibilidade ética e criticidade política. Nesse sentido, compete à sua formação a presença de subsídios fornecidos por esses importantes saberes, desenvolvidos e proporcionados por essas disciplinas. Videoaula: Revisão da unidade Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. A mente dos �lósofos, desde a Antiguidade, vem sendo ocupada com questões que visam desvendar os aspectos que envolvem a interação do homem com o ambiente social, físico e cultural, tentando, há séculos, encontrar respostas para questões, como: Qual o critério para se chegar à verdade? Por exemplo: o conhecimento que se busca é, em si, útil? Qual é a fonte do conhecimento (sua origem)? Ele deriva da experiência ou da razão? Estudo de caso Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A resposta à pergunta “como construímos o conhecimento que temos sobre as coisas”, é buscada desde a Antiguidade pelos �lósofos, que desde lá, vêm tentando explicar o fenômeno da origem do conhecimento fruto das interações do homem com o ambiente social, físico e cultural. Na Antiguidade e Idade Média, esse tipo de re�exão era mantido pela Metafísica, sendo que foi na Idade Moderna que a teoria do conhecimento (Epistemologia) passou a ser um campo próprio de investigação nesse sentido. A partir da Idade Moderna, pensadores como Descartes, Locke, Hume e Kant, procuraram sistematizar as questões sobre a gênese, a essência e a verdade até então aceita como certeza do conhecimento humano, apontando os principais problemas que o circundam Nesse contexto, surge Sigmund Freud, considerado o “pai” da Psicanálise. Para este pesquisador, o ser humano inicia desde o seu nascimento, uma contínua e complexa luta entre o seu consciente e inconsciente. Nesse contexto, surge Sigmund Freud, considerado o “pai” da Psicanálise. Para este pesquisador, o ser humano inicia desde o seu nascimento, uma contínua e complexa luta entre o seu consciente e inconsciente. Segundo Freud, a mente consciente é caracterizada pela presença de pensamentos e sentimentos, que possibilitam ao ser humano a capacidade de raciocinar. O pré-consciente seria composto pela memória não acessada pela mente consciente. E o inconsciente é composta por instintos reprimidos, sentimentos e impulsos. Além dessa importante contribuição teórica acerca da gênese do conhecimento e suas múltiplas formas de manifestação no psiquismo humano, há ainda a contribuição dos estudos da Escola Soviética de Psicologia de L. S. Vygotsky, Luria e Leontiev. De acordo os pesquisadores russos, as formas como o homem interage com o mundo social no qual nasce, é crucial para a estruturação do seu psiquismo, pois ele vai gradativamente se apropriando dos elementos da cultura do seu grupo (instrumentos físicos e simbólicos), Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO transformando-os de maneira própria, à medida que os internaliza, processo esse que Vygotsky e seus discípulos chamaram de intersubjetividade e subjetividade Considerando todo esse contexto, seria possível localizarmos na vida prática do homem comum elementos de toda essa estrutura epistemológica? Analisando algumas notícias veiculadas pela mídia diariamente, conseguiríamos �agrar momentos em que a mente humana surge, lutando internamente com os estímulos sociais? Analisemos, por exemplo, o caso de um con�ito político: de um lado, temos um cidadão que acredita que o governo tem a obrigação de resolver os seus problemas, e no mesmo contexto social temos um outro indivíduo que entende que seu destino lhe pertence e que cabe a ele resolver os seus dilemas simbólicos ou as suas necessidades materiais. Poderíamos dizer que o primeiro está certo e o segundo errado, ou vice-versa? ______ Re�ita Conhecer a si mesmo ou conhecer o outro? Videoaula: Resolução do estudo de caso Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. A resposta para essa questão pode ser encontrada nos estudos da Escola Soviética de Psicologia de L. S. Vygotsky, Luria e Leontiev, pois de acordo os pesquisadores russos, as formas como o homem interage com o mundo social no qual nasce, é crucial para a estruturação do seu psiquismo, pois ele vai gradativamente se apropriando dos elementos da cultura do seu grupo (instrumentos físicos e simbólicos), transformando-os de maneira própria, à medida que os internaliza, processo esse que Vygotsky e seus discípulos chamaram de intersubjetividade e subjetividade Resumo visual Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Referências Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ARANHA, M. G. A. Filosofando. Introdução à Filoso�a. São Paulo, SP: Moderna, 1993. JAPIASSU, H. Introdução à epistemologia da psicologia. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1977. JAPIASSU, H. Nascimento e morte das ciências humanas. Rio de Janeiro, RJ: Francisco Alves, 1978. JAPIASSU, H. O mito da neutralidade cientí�ca. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1975. KANT, l. Crítica da razão pura. São Paulo, SP: Abril Cultural, 1980. , Unidade 2 Fundamentos sociológicos da educação Aula 1 Educação e ideologia Introdução Este conteúdo é um vídeo! Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. A ideologia pode ser de�nida como um conjunto de representações e de normas que prescrevem a priori a forma como o ser humano deve pensar, agir e sentir. O seu objetivo é impor os interesses particulares de uma determinada classe (dominante) sobre a outra (dominada), tornando-os universais. Para ser e�caz, a ideologia depende da sua própria capacidade de produzir um imaginário coletivo para que os indivíduos possam nele se localizar, se identi�car, legitimando involuntariamente a divisão social. Sua coerência está atrelada a uma lógica da lacuna e do silêncio sobre sua própria gênese, isto é, sobre a divisão social das classes. Ideologia: eu quero uma para viver De acordo com Marilena Chauí (2001, p.10), a ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO como devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classes, a partir das divisões na esfera da produção. A ideologia se caracteriza pela naturalização, à medida que são consideradas naturais as situações que, na verdade, são produtos da ação humana e que, portanto, são históricos e não naturais. Por exemplo, dizer que a divisão da sociedade em ricos e pobres faz parte da natureza, ou que é natural que uns mandem e outros obedeçam. A a�rmação "a educação é um direito de todos" é verdadeira e até um dever, já que há obrigatoriedade legal de se completar o curso primário. No entanto, ela se torna abstrata e lacunar ao apresentar como universal um valor que bene�ciaapenas uma classe. Isso é con�rmado pelas estatísticas que mostram a evasão e o baixo índice de frequência escolar por parte das classes desfavorecidas. Por outro lado, há o discurso não-ideológico, que parte do pressuposto de que a ação e o pensamento humanos nunca se acham totalmente determinados pela ideologia, pois sempre haverá espaços de crítica e fendas que possibilitem a elaboração do discurso contraideológico. Se o discurso ideológico é abstrato e lacunar, faz uma análise invertida da realidade e separa o pensar e o agir, o discurso não-ideológico é aquele que visa ao preenchimento das lacunas pela procura da gênese do processo. Isso não signi�ca que se deva contrapor ao discurso lacunar um discurso "pleno", mas, sim, a elaboração da crítica, do contradiscurso, que revele a contradição interna do discurso ideológico e que o faça explodir. O conceito de ideologia tem outros sentidos mais especí�cos, mas é com Marx que a explicitação do conceito enriqueceu o debate em torno do assunto e de sua aplicação. Para ele, diante da tentativa humana de explicar a realidade e dar regras de ação, é preciso considerar também as formas de conhecimento ilusório que levam ao mascaramento dos con�itos sociais. Segundo a concepção marxista, a ideologia adquire um sentido negativo, como instrumento de dominação. O italiano Gramsci (1891-1937) faz uma distinção entre ideologias historicamente orgânicas e ideologias arbitrárias. As primeiras são historicamente necessárias, porque organizam as massas humanas, formam o terreno sobre o qual os homens se movimentam, adquirem consciência de sua posição, lutam etc. Portanto, Gramsci considera que, enquanto concepção de mundo, a ideologia tem a função positiva de atuar como cimento da estrutura social. Quando incorporada ao que chamamos de senso comum, ela ajudará a estabelecer o consenso, o que, em última análise, confere hegemonia a uma determinada classe, que passará a ser dominante. Daí a necessidade da formação de intelectuais surgidos da própria classe subalterna e capazes de organizar coerentemente a concepção de mundo dos dominados. Superando o senso comum Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Em seu cotidiano, o ser humano é desa�ado constantemente a resolver os problemas que surgem em sua vida e ao redor do ambiente em que vive. Na busca para a saída das di�culdades que encontra, ele tem que elaborar respostas, sendo que, para isso, precisa contar com o seu próprio repertório de conhecimentos, sua imaginação, criatividade e linguagem. No entanto, quando paramos para analisar esse repertório, veri�camos que, apesar de ele já o possuir, o conjunto de saberes que utiliza para buscar as respostas não é totalmente dele, uma vez que, no meio desse conjunto de informações, existe um conteúdo que ele extrai da sua vivência com seu grupo familiar, círculo de amigos, mídia, en�m, do coletivo. A esse conjunto de saberes próprios, a �loso�a dá o nome de “senso comum”, que é o primeiro estágio de conhecimento. Isso não signi�ca que podemos desmerecer a forma de pensar do homem comum, mas é necessário pontuar que esse primeiro estágio de conhecimento precisa ser superado em direção a uma abordagem mais coerente, por meio de uma crítica própria, ou Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO seja, o senso comum precisa ser transformado em bom senso, sendo uma elaboração mais coerente do saber. Segundo o �lósofo Gramsci, o bom senso é "o núcleo sadio do senso comum"(ARANHA, 1993, p. 35). Se uma pessoa não for alienada por alguma forma de doutrinação e dominação e se for estimulada a pensar criticamente, ela será capaz de elaborar juízos de valores mais sábios, ou seja, orientados para sua humanização. Em termos educacionais, podemos a�rmar que existem muitos obstáculos que impedem o ser humano de passar do senso comum ao bom senso, pois muitas crianças e muitos jovens são excluídos da escola por processos de evasão e reprovação, conhecidos como “fracasso escolar”. Ao ser excluído da escola, o indivíduo também será excluído de muitas decisões importantes da comunidade em que vive, tornando-se “invisível” e contribuindo para a construção de uma sociedade não democrática, pois as informações não circulam igualmente em todas as camadas sociais nem todos têm igual possibilidade de consumir e produzir cultura. No Brasil, um terço das crianças em idade escolar estão excluídas da educação, e muitos que conseguem �car na escola são submetidos a uma prática pedagógica que divide a formação humanística e cientí�ca para alguns, enquanto outros recebem apenas preparação técnica, mantendo-se a dicotomia trabalho intelectual/trabalho manual. Para piorar um pouco mais esse quadro caótico, não são apenas os trabalhadores comuns que encontram di�culdades para a passagem do senso comum para o bom senso. Outros trabalhadores, de ramos mais prestigiados do mercado, como funcionários de grandes empresas, empreendedores e especialistas de qualquer área, inclusive cientistas, podem se ater a formas fragmentárias do senso comum porque se prendem a preconceitos, a concepções rígidas, quando acreditam sem crítica em tudo o que leem ou assistem nos jornais e em redes sociais. Qualquer pessoa, se não foi atingida em sua liberdade de pensar criticamente, terá a capacidade de elaborar de forma racional o próprio pensamento e de analisar com critérios a situação em que vive. Portanto, percebemos, nesse conjunto problemático, a presença da ideologia, que se comporta como um véu que encobre a realidade dos fatos, tornando-se, assim, um dos maiores obstáculos para a superação do senso comum, �cando garantido à classe hegemônica o domínio sobre aqueles que são submetidos a essa prática violenta. A distorção da realidade Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Segundo Gramsci, as ideologias: “(…) organizam as massas humanas, formam o terreno sobre o qual os homens se movimentam, adquirem consciência de sua posição, lutam, etc.” (Gramsci, 2011a, p. 238). Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Quadro 1| Especi�cações da realidade. Fonte: Produzido pelo autor. Veja o verbete: Rei�cação: o processo de tomar uma ideia ou um conceito e tratá-lo como se fosse algo concreto e real. "Sociedade", por exemplo, é um conceito usado pela maioria dos sociólogos para descrever a organização da vida social. A sociedade não é algo que possamos tocar, no sentido físico, material, nem "ver" ou "experimentar" de alguma forma usando nossos sentidos. A sociedade também não é capaz de pensar, sentir ou agir, mas, sim, os indivíduos que fazem parte de uma determinada sociedade. Videoaula: Educação e ideologia Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Neste módulo, faremos uma re�exão sobre o poder que a ideologia tem de distorcer a realidade, tornando “natural” tudo aquilo que é histórico. Procedendo assim, ela torna o sujeito “cego”, acreditando que os valores singulares de uma situação ou contexto são universais. Além disso, analisaremos como a força da ideologia se in�ltra na escola e nos materiais didáticos utilizados pelos professores, com o intuito de alienar os alunos. Pelo processo denominado Indústria Cultural, ela promove o consumo em massa, atendendo aos interesses do capital. Saiba mais Como complemento para os seus estudos, trouxemos à obra “Eu, etiqueta” de Carlos Drummond de Andrade, que retrata a identidade a�rmada através da imagem. EU, ETIQUETA Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou de cartório, um nome... estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nesta vida. Em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produto que nunca experimentei mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO de alguma coisa não provadapor este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade, trocá-la por mil, açambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser eu que antes era e me sabia tão diverso de outros, tão mim mesmo, ser pensante, sentinte e solidário com outros seres diversos e conscientes de sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro, em língua nacional ou em qualquer língua (qualquer, principalmente). E nisto me comparo, tiro glória de minha anulação. Não sou - vê lá - anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender em bares festas praias pérgulas piscinas, e bem à vista exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser veste e sandália de uma essência tão viva, independente, que moda ou suborno algum a compromete. Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas idiossincrasias tão pessoais, Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO tão minhas que no rosto se espelhavam e cada gesto, cada olhar cada vinco da roupa sou gravado de forma universal, saio da estamparia, não de casa, da vitrine me tiram, recolocam, objeto pulsante mas objeto que se oferece como signo de outros objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial, peço que meu nome reti�quem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente. (ANDRADE, C. D. de. Obra poética. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.) Referências ADORNO, T. W. Educação e emancipação. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1995. ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos �losó�cos. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 1985. ALTHUSSER, L. Ideologia e aparelhos ideológicos do estado. Lisboa: Editorial Presença, 1974. CHAUÍ, M. O que é ideologia. São Paulo, SP: Brasiliense, 2001. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Aula 2 Sociedade e educação Introdução A educação é um processo que integra nossa formação social, que é determinada por regras, normas morais, éticas, costumes e línguas comuns aos nossos antepassados, que receberam antes de nós esse conjunto de valores, para que pudessem nortear a sua vida coletiva. Assim, por meio do ato educacional, as gerações anteriores passam esses valores para as próximas, sendo esse um movimento constante na história de todas as sociedades, diferenciando-se em sua essência, pois os grupos sociais não são idênticos. O processo educacional é uma das várias maneiras de uma sociedade manter sua estrutura e seu fundamento, gerando segurança nos indivíduos. Cultura de massa Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO O século XX foi marcado por muita turbulência, ocasionada por graves acontecimentos sociais, como a primeira guerra mundial e a crise econômica de 1929 Até aquele momento, as concepções iluminista e positivista predominavam entre os �lósofos, mas que aos poucos foram sendo questionadas pelos críticos Theodor Adorno, Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Erich Fromm, Walter Benjamin, Jurgen Habermas, entre outros, representantes de um movimento �losó�co surgido naquele contexto, que �cou conhecido como Escola de Frankfurt. Entre as causas da inquietação dos representantes da referida Escola, estavam as mudanças na sociedade advindas das mudanças tecnológicas em curso naquela época, sendo que para eles, o avanço cientí�co trouxera muito mais problemas do que soluções para a sociedade, conforme pregava o ideal iluminista. Para a teoria crítica estabelecida pelos representantes da Escola de Frankfurt, o marxismo deveria ser levado em conta em suas análises sociais, porém de uma maneira mais crítica e o conteúdo intelectual proposto pelos iluministas também deveria ser revisto. De maneira ampla, a Escola de Frankfurt combateu frontalmente o iluminismo e o positivismo, pois no bojo dessas duas concepções estava uma posição muito positiva de ganho social advindo do avanço cientí�co. Ocorre, no entanto, que dados de uma realidade problemática expostos naquele contexto, diziam o contrário, ou seja, o nazismo e as guerras vieram para mostrar, que o tão propalado avanço cientí�co defendido pelo positivismo e pelo iluminismo, trouxe muito mais barbárie do que conquistas positivas para a sociedade. Os pensadores críticos da Escola de Frankfurt, no período posterior ao �nal da segunda guerra mundial levantaram profundas re�exões sobre o nazismo e suas práticas desumanas, a�rmando que elas eram a prova de um retrocesso social e não de um avanço positivo da ciência. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO No interior da teoria crítica da Escola de Frankfurt, encontra-se o conceito de “indústria cultural”, sendo que seu signi�cado é análogo ao processo industrial praticado pela indústria convencional. Nesse sentido, os �lósofos Adorno e Horkheimar defendiam a tese de que havia uma dupla forma de manifestação cultural: a erudita e a popular. Nesse sentido, a cultura erudita, autêntica em sua natureza, é do âmbito da elite intelectual, sendo mais re�nada do ponto de vista estético, enquanto que a popular, também autêntica, se situa no contexto das tradições vividas pelo povo, sendo menos re�nada tecnicamente e mais intuitiva. Como síntese da fusão desses dois tipos de cultura, os �lósofos da Escola de Frankfurt apresentam a ideia de “cultura de massa”, que segundo eles, é inautêntica e de fácil reprodução técnica. Por ser assim, ela seria um excelente canal para o capitalismo vender entretenimento “embalado” com o rótulo cultural, pois a indústria cultural, o venderia como uma forma inferior de arte, mantendo seu controle sobre a população sem que ela perceba, pois este estaria satisfeito ao consumir elementos estéticos agradáveis aos seus sentidos. Portanto, a sociedade é distinta e diferente nas formas de reação contra as distinções sociais ocorridas durante o processo histórico, e as formas de se organizá-la podem sofrer transformações, e nenhuma delas pode ser vista como natural, uma vez que são resultados da ação humana. Nesse sentido, há que se pensar e se propor práticas educativas que sejam capazes de reduzir as desigualdades sociais ocorridas no interior da escola. Sociedade e educação Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO As relações entre sociedade e educação são diversas e múltiplas, pois a escola sempre buscará na sociedade os temas e as tendências do momento para elaborar e construir sua proposta curricular. Por outro lado, e da mesma forma em termos de expectativa, a sociedade buscará na escola os elementos para se atualizar e se preparar para o mundo do trabalho e da cidadania contemporânea. Nesse sentido, podemos dizer que os acontecimentos históricos (eventos sociais) sempre in�uenciarão a educação, e essa, por sua vez, também será sempre in�uenciada pelos referidos acontecimentos. O século XX foi marcado por muitos acontecimentos trágicos que impactaram a sociedade, sendo que muitos desses fatos afetaram o andamento das re�exões �losó�cas, trazendo para a sociologia novos elementos de análise sobre a complexa relação do homem com o mundo físico, social e cultural. No caso especí�co da �loso�a, tendo como forte viés teórico o marxismo, os �lósofos de nossa época procurarem nele (marxismo) as soluções para os con�itos de origem política e social Foi nesse contexto que surgiu a Escola de Frankfurt (alemã), tendo como um dos seus conceitos principais a Indústria Cultural, um dos mais importantes produzidos pelos teóricos Theodor Adorno e Max Horkheimer. Segundoesses �lósofos, há um fenômeno cultural mundial em curso desde o início do século XX, o capitalismo industrial, que surgiu no contexto da Revolução Industrial, necessitando de uma força de propaganda ideológica para ser assimilado pelas pessoas. Fazendo uma comparação com o processo industrial (fabricação, marketing e venda), os representantes dessa concepção a�rmam que, para que as indústrias produzam muito, é necessário que se venda muito. Para vender muito, as pessoas precisam comprar muito. Nesse caso, a ideologia do consumismo (excesso de consumo sem necessidade) é veiculada por formas de arte também produzidas em escala industrial. Para Walter Benjamin, idealizador desse conceito, o processo de reprodução técnica é o meio pelo qual a produção de arte em escala industrial é possível; é a capacidade de reprodução em massa de uma música, que pode ser gravada e reproduzida in�nitas vezes, ou de uma imagem, que pode ser captada por fotogra�a ou �lmagem e reproduzida. Para Benjamin, esse fenômeno retira da arte a sua aura (autenticidade). O modus operandi da indústria cultural para a produção da cultura de massa, se dá de maneira análoga ao processo de produção de bens materiais, ou seja, durante o processo de produção, elementos da cultura erudita são somados a outros da cultura popular, tendo sobre essa mistura uma pulverização de outros elementos aprovados pelo público. Como resultado dessa engrenagem, tem-se a obra de arte, que passa a ser produzida em escala industrial. Para os críticos da Escola de Frankfurt, entre eles Adorno e Horkheimer, de maneira dialética a indústria cultural foi utilizada pelo capitalismo para gerar o consumo da arte e esta foi criada para alimentar a indústria cultural. Assim, �lmes, músicas e algumas manifestações plásticas, passaram a ser produzidas para serem de fácil assimilação pelo povo, que vê nesse conjunto estético, apenas uma forma de entretenimento. Nesse sentido, a escola e seus educadores têm o importante papel de trazer para o aluno que vive imerso nessa sociedade consumista o esclarecimento sobre esse processo, a �m de quebrar com a alienação imposta pela indústria cultural. Massi�cação: a “gente” não quer só comida Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO De maneira geral, podemos entender a teoria crítica como uma teoria sociológica que busca explorar o que existe nos bastidores da vida social, descobrir os fundamentos e as estratégias dissimuladas que não nos permitem ter uma compreensão ampla e mais próxima da verdadeira dinâmica de funcionamento do mundo. A dinâmica principal do trabalho desse grupo consistia em criticar a vida sob o capitalismo e as maneiras predominantes de explicá-la. Embora o método se fundamentasse no marxismo, eles modi�caram alguns de seus pressupostos básicos e combinaram-no com outros métodos [...] Ao contrário das visões mais divulgadas do marxismo, por exemplo, os membros da Escola da Frankfurt argumentavam que a economia não determinava a forma de vida social. Enfatizavam a importância da cultura e elaboraram um enfoque crítico da arte, da estética e da mídia. Combinaram o marxismo com a análise freudiana para criar uma compreensão da personalidade e do indivíduo em relação à sociedade capitalista. (JOHNSON, 1997, p. 232) Nesse sentido, a indústria cultural tem como característica central a alienação do povo e a produção massi�cada das obras de arte, sendo um conceito crítico de interpretação da produção de bens culturais no mercado capitalista. No entanto, tendo como função a produção do lucro com o trabalho desenvolvido pelo artista, a indústria cultural promove o acesso da população às grandes obras de arte, comprometendo na maioria das vezes, a qualidade original do trabalho. Em que pesem as críticas feitas por Walter Benjamin aos produtos da indústria cultural, o autor leva em consideração o fato de que a massi�cação dos bens culturais promove um acesso mais abrangente da população a esses produtos, pois os meios de comunicação democratizaram Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO esse processo. Assim, frequentar shows musicais e museus, por exemplo, tornou-se uma possibilidade mais concreta para as classes populares. Nesse sentido, considerando que a educação é um direito fundamental do ser humano e uma das maneiras mais e�cientes de forjar cidadãos completos, questionadores, engajados e proativos, capazes de promover mudanças importantes na sociedade, podemos nos perguntar quais seriam as diretrizes “artísticas” contempladas no projeto curricular do Brasil, atualmente representado pelo texto da Base Nacional Comum Curricular. Ao analisar as teorias críticas da educação que a consideram a partir de um referencial capitalista, vemos que elas defendem um currículo que contemple o legado da sociedade ocidental, transmitindo às novas gerações a sua produção �losó�ca, literária, cientí�ca e estética (artística). E isso se expressa pelos conteúdos dos componentes curriculares, no caso da Arte, na área curricular que leva o mesmo nome. Faz parte da BNCC, na área da Arte, um conjunto de saberes advindos do legado ocidental, como apreciação de obras de arte, músicas de gênero erudito, teatro, en�m, linguagens multimodais, que poderiam ser utilizadas pela escola para combater os excessos da indústria cultural massi�cadora. O que compete aos educadores re�etirem é se estão sabendo como desenvolver uma metodologia de trabalho que contemple essa possibilidade de levar à classe trabalhadora esses referenciais, como forma de quebrar o paradigma alienante. Videoaula: Sociedade e educação Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Neste módulo, faremos uma re�exão sobre a fabricação de produtos culturais, à semelhança do processo industrial. Apoiando-nos nos estudos dos representantes da Escola de Frankfurt, como Adorno e Horkheimer, veremos como o capitalismo “invade” até o meio artístico, promovendo uma massi�cação das obras de arte, distorcendo a realidade e aparentando uma falsa democratização do acesso de todos aos bens culturais eruditos. Assim, a indústria cultural leva o entretenimento ao consumidor como sendo arte, e ele se sente satisfeito ao se deparar com elementos aparentemente agradáveis e de fácil consumo. Saiba mais Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO No artigo “Os primeiros anos da Escola de Frankfurt no Brasil” de Silvio Camargo, você explora o primeiro período do desenvolvimento e recepção da Escola de Frankfurt no país. Outro artigo interessante para você ler e complementar os seus estudos é “A teoria crítica dos sistemas da escola de Frankfurt” de Andreas Fisher-Lescano. Neste momento, você verá que mesmo com o seu ceticismo sobre à moralidade e razão universais, a teoria crítica e a teoria crítica dos sistemas têm alguns processos básicos semelhantes Referências https://www.scielo.br/j/ln/a/8TJdgjw4Vrqqt7HtKK7zfqs/ https://www.scielo.br/j/nec/a/g89KRHdSncCbkqNsVqySQJG/ https://www.scielo.br/j/nec/a/g89KRHdSncCbkqNsVqySQJG/ Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DIAS, R. Introdução à sociologia. São Paulo, SP: Pearson Prentice Hall, 2005. DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. 3. ed. Trad. Paulo Neves. São Paulo, SP: Martins Fontes, 2007. JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997. MARX, K. Crítica da educação e do ensino. Lisboa: Moraes, 1978. MARX, K. O capital: crítica da economia política. 2. ed. São Paulo, SP: Nova Cultural, 1985. PILETTI, N. Sociologia da educação. São Paulo, SP: Ática, 2004. Aula 3 Educação e cultura Introdução Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO O ser humano não existe fora da cultura, isto é, cultura pode ser entendida como um elemento inerente à existência humana, sendo que todo indivíduo tem a sua própria cultura, sendo nela criadas e construídas formas de difundi-la. Nestemódulo, buscaremos entender melhor qual é a in�uência da cultura na educação, pois a prática pedagógica deve fundamentar sua base de atuação na responsabilidade social de formar um cidadão com competência para desenvolver-se em suas atividades cotidianas, prezando pelos valores essenciais da vida coletiva. Cultura no plural Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A diferença essencial entre o animal e o homem é que o animal permanece mergulhado na natureza, enquanto o homem é capaz de transformá-la, tornando possível a cultura. O mundo resultante da ação humana não é natural, pois ele o transforma. A palavra cultura tem vários signi�cados, como o de cultura da terra ou cultura de um homem letrado. Em antropologia, cultura signi�ca tudo que o homem produz ao construir sua existência: as práticas, as teorias, as instituições, os valores materiais e espirituais. Se o contato que o homem tem com o mundo é intermediado pelo símbolo, a cultura é o conjunto de símbolos elaborados por um povo em determinado tempo e lugar. Dada a in�nita possibilidade de simbolizar, as culturas dos povos são múltiplas e variadas, portanto podemos falar em culturas no plural. A cultura é, portanto, um processo de autoliberação progressiva do homem, o que o caracteriza como um ser de mutação, um ser de que ultrapassa a própria experiência. Ele se de�ne pelo lançar-se no futuro, antecipando, por meio de um projeto, a sua ação consciente sobre o mundo. Logo, o homem é ser que fala, que trabalha e, por meio do trabalho, transforma a natureza e a si mesmo. No entanto, a ação humana é uma ação coletiva. O trabalho é executado como tarefa social, e a palavra toma sentido pelo diálogo. O mundo cultural é um sistema de signi�cados já estabelecidos por outros, de modo que, ao nascer, a criança encontra o mundo de valores já dados, onde ela se situará. A língua que aprende, a maneira de se alimentar, o jeito de se sentar, andar, correr, brincar, o tom da voz nas conversas, as relações familiares, tudo se acha codi�cado. Nesse sentido, considerando que há diversidade, chegamos ao conceito de pluralidade cultural, que nos proporciona uma análise das origens dos diversos povos. No caso especí�co da legislação e das diretrizes curriculares no Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam que a pluralidade cultural Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO propõe-se a uma concepção que busca explicitar a diversidade étnica e cultural que compõe a sociedade brasileira, compreender suas relações, marcadas por desigualdades socioeconômicas e apontar transformações necessárias, oferecendo elementos para a compreensão de que valorizar as diferenças étnicas e culturais não signi�ca aderir aos valores do outro, mas respeitá-los como expressão da diversidade, respeito que é, em si, devido a todo ser humano, por sua dignidade intrínseca, sem qualquer discriminação. A a�rmação da diversidade é traço fundamental na construção de uma identidade nacional que se põe e repõe permanentemente, tendo a ética como elemento de�nidor das relações sociais e interpessoais (BRASIL, 1997, p. 19) Além disso, também é possível priorizar a abordagem em relação à educação e à cidadania, por meio dos conteúdos que os PCNs indicam, por exemplo, o conceito de pluralidade cultural, que aborda a origem histórica e geográ�ca da diversidade cultural, etnia, arte, linguagem e representações; a vivência da pluralidade cultural, apontando os problemas culturais na escola, como discriminação, estigmatização e omissão cultural; a multiplicidade cultural e as crianças e jovens do Brasil, além dos direitos humanos e de cidadania. Por meio dos estudos sobre pluralidade cultural, é possível mergulhar na rica temática da diversidade social, regional e cultural do país, levando a uma valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais. Cultura produzida e consumida Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Ao considerarmos a cultura como diversa e plural, uma vez que é produto do trabalho humano (ação intencional, consciente e transformadora), podemos nos questionar sobre até que ponto o Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO indivíduo pode a�rmar sua autonomia diante da cultura transmitida. A cultura pode ser traduzida como tudo aquilo que o Homem adiciona à natureza. Tudo o que o ser humano produz durante a vida e que não “brota das árvores” pode ser considerado como ação de cultura, ou seja, podemos entender a cultura como uma construção genuinamente humana. Somos produtores, consumidores e transmissores da cultura e, sob essa condição, dependendo do acesso que temos à educação, podemos ter um maior ou menor grau de autonomia em relação aos produtos fabricados pela indústria cultural que nos cercam em nosso cotidiano. Nesse sentido, conceituando cultura como tudo que o homem faz, aí se inclui a maneira de falar (língua), a maneira de vestir, de morar, de comer, de trabalhar, de rezar, de se comunicar, de interagir, incluindo-se a vivência histórica de signi�cados que um grupo conjuga e com o qual distinguem seus componentes, as linguagens com as quais se manifestam, os identi�cadores e as técnicas signi�cativas, os valores, a fé e o gosto com os quais se coligam e a história que coletivamente constroem. Assim, a cultura não se confunde com as competências que alguns têm e outros não. Nesse sentido, a cultura é viva, �exível e plural, associando até mesmo elementos aparentemente divergentes e díspares. No caso especí�co do Brasil, um país tão vasto e tão amplo, com tantas expressões diferentes, com distintas maneiras de ser, de viver, de conviver e de fé múltipla, que vão se modi�cando de lugar para lugar e a todo o momento, não podemos falar de uma única cultura, mas de culturas plurais que o formam. Aqui, convivem culturas indígenas, africanas, europeias, orientais, entre outras. A cultura é passada de geração em geração por meio de processos educacionais distintos, quando o ser humano socializa seus conhecimentos com seus descendentes. Ocorre que os referidos processos educacionais podem se dar de maneira sistemática (por meio da escola e dos métodos didáticos) ou assistemática (por meio dos eventos sociais ocorridos na família e na comunidade do aluno). No caso da instituição escolar, temos de levar em consideração as diferenças sociais e econômicas que levam à desigualdade social que ocorre no interior das escolas por meio do currículo escolar. Nesse caso, as atividades didáticas em sala de aula devem compreender, além da leitura de textos, a apreciação de materiais procedentes da mídia, proporcionando aos estudantes a possibilidade de análise dos problemas contemporâneos a partir do instrumental teórico oferecido. Ainda, é necessário conscientizar os educadores para uma mudança de paradigma, pois, muitas vezes, atuando em escolas públicas e privadas, eles têm condutas docentes diferenciadas, o que não é nada saudável do ponto de vista ético. Sabemos que os pais colocam seus �lhos na escola com o objetivo de formá-los para o mundo do trabalho para o sucesso na carreira pro�ssional e, nesse sentido, a escola precisa ser sensível às diferentes manifestações culturais de sua clientela, promovendo uma renovação curricular, mais aberta e �exível, pois a cultura é o alimento da educação, sendo a escola um espaço de trocas culturais, propagação, interação, intercâmbios culturais e de ricas trocas de conhecimento. Amala, Kamala e Juma Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente numerosos, descobriram-se, em 1920, duas crianças, Amala e Kamala, vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha um ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu comportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos lobos. Elas caminhavam em quatro patas, apoiando-se sobre os joelhos e cotovelos, para os pequenos trajetos, e sobre as mãos e os pés, para os trajetos longos e rápidos. Eram incapazesde permanecer de pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e bebiam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia acabrunhadas e prostradas numa sombra; eram ativas e ruidosas durante a noite, procurando fugir e uivando como lobos. Nunca choraram ou riram. Kamala viveu durante oito anos na instituição que a acolheu, humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis anos para aprender a andar e, pouco antes de morrer, só tinha um vocabulário de cinquenta palavras. Atitudes afetivas foram aparecendo aos poucos. Ela chorou pela primeira vez por ocasião da morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram dela e às outras crianças com as quais conviveu. A sua inteligência permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos, inicialmente, e depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo a executar ordens simples. O relato desse fato verídico nos leva à discussão a respeito das diferenças entre o homem e o animal. As crianças encontradas na Índia não tiveram oportunidade de se humanizar enquanto viveram com os lobos, permanecendo, portanto, “animais”. Não possuíam nenhuma das características humanas: ação instintiva, não choravam, não riam e, sobretudo, não falavam. O processo de humanização só foi iniciado quando começaram a participar do convívio humano e foram introduzidas no mundo do símbolo pela aprendizagem da linguagem. O psicólogo Paul Guillaume explica que um ato inato não precisa surgir desde o início da vida, pois, muitas vezes, aparece apenas mais tarde, no decorrer do desenvolvimento: andorinhas Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO novas, impedidas de voar até certa idade, realizam o primeiro voo sem grande hesitação; gatinhos não esboçam qualquer reação diante de um rato, mas, após o segundo mês de vida, aparecem reações típicas da espécie. Os animais que se situam nos níveis mais baixos da escala zoológica de desenvolvimento, como os insetos, têm a ação caracterizada sobretudo por re�exos e instintos. A ação instintiva é regida por leis biológicas, idênticas na espécie e invariáveis de indivíduo para indivíduo. Todavia, esses atos não têm história, não se renovam e são os mesmos em todos os tempos, salvo as modi�cações determinadas pela evolução das espécies e as decorrentes de mutações genéticas. E mesmo quando há tais modi�cações, elas continuam valendo para todos os indivíduos da espécie e não permitem inovações, passando a ser transmitidas hereditariamente. O ato humano voluntário, em contrapartida, é consciente da �nalidade, isto é, o ato existe antes como pensamento, como uma possibilidade, e a execução é o resultado da escolha dos meios necessários para atingir os �ns propostos. Quando há interferências externas no processo, os planos também são modi�cados para se adequarem à nova situação. Videoaula: Educação e cultura Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Neste módulo, faremos uma re�exão sobre a importância da educação para o processo de hominização e humanização do ser humano. Não nascemos humanos. Vamos nos tornando humanos durante o processo educacional, quando nosso grupo familiar e a escola nos ensinam o percurso. Se o homem não tiver acesso aos meios educacionais humanos, ele não evoluirá e poderá se tornar um ser próximo dos outros animais, o que a �loso�a e a ciência chamam de “irracionais”. Saiba mais Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Acesse os links para conteúdos extras. Artigo “Pensando a interculturalidade a partir do �lme dança com lobos” REINA. A.; CAMARGO, L. P.; SANTOS, M. L. Pensando a interculturalidade a partir do �lme dança com lobos. Revista Livre de Cinema, Tuiuti do Paraná – PR. v. 4, n. 2, mai-ago, 2017, p. 97-106. Filme “O rei leão”. Direção: Rob Minkoff e Roger Allers. Produção de Don Hahn. Estados Unidos: Walt Disney Pictures, 1994. Referências http://relici.org.br/index.php/relici/article/viewFile/126/153 Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ARANHA, M. G. A. Filosofando. Introdução à �loso�a. São Paulo, SP: Moderna, 1993. BRASIL, Ministério da Educação, (1997). Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Brasília, MEC/SEF. CORTELLA, M. S. A escola e o conhecimento. Fundamentos epistemológicos e políticos. São Paulo, SP: Cortez, 1996. Aula 4 Os pressupostos sociológicos da educação Introdução Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Os estudos sociológicos da educação trazem conteúdos teóricos essenciais para a atuação docente, orientando-a, com o apoio de outras disciplinas, na direção da oferta de instrumentos que lhes possibilitam olhar a sociedade, a escola, os estudantes, seus familiares, sua prática pedagógica e o contexto macrossocial e político no qual a instituição escolar está inserida. O fato de estar comprometido com o desenvolvimento humano torna o ato pedagógico mais exigente em termos de rigor cientí�co. Assim, torna-se fundamental ao docente o domínio de instrumentais teóricos próprios da Sociologia, a �m de tornar a docência menos restrita às experiências empíricas Capital cultural Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Bourdieu desenvolveu uma sociologia que trouxe relevante re�exão crítica em torno das estruturas sociais. Para ele, o papel do sociólogo, enquanto um pesquisador atento das interlocuções sociais, seria o de desvendar o que se passa por trás das estruturas sociais, identi�cando os traços invisíveis que não podemos notar através de um simples olhar de senso comum. Esse pensador elaborou um sistema teórico voltado a mostrar como as condições de participação social dos indivíduos baseiam-se na herança social, que se reproduz constantemente numa determinada sociedade – a qual ele chama de estrutura estruturante. Assim, a sociedade seria uma estrutura estruturante na medida em que suas mais profundas relações estão constantemente sendo reestruturadas a partir das ações dos seus indivíduos. Assim, o acúmulo dos bens simbólicos, dentre eles a educação, concentra-se nas estruturas do pensamento dos indivíduos e nas manifestações externalizadas por suas ações (BOURDIEU, 1989). Em suas pesquisas, ele percebeu a existência de uma relação de interdependência entre o conceito de habitus e o conceito de campo; o conceito de “campo” representa um espaço marcado pela dominação e pelos con�itos. Como exemplo, podemos citar o campo jornalístico, o campo literário, o campo educacional, entre muitos outros. Cada campo teria uma certa autonomia, possuindo suas próprias regras de organização e de hierarquia social. Dentro desses espaços limitados, os indivíduos atuariam segundo seu capital social, ou seja, as possibilidades que possuem de acordo com a rede de contatos da qual fazem parte. Segundo esse ponto de vista, as ações, os comportamentos, as escolhas ou as aspirações individuais não derivam de cálculos ou planejamentos; são, antes, produtos da relação entre um habitus e as pressões e os estímulos de uma conjuntura. O habitus, então, traduz os estilos de vida, julgamentos políticos, morais e estéticos, além de ser também um meio de ação que permite criar ou desenvolver estratégias individuais ou coletivas (BOURDIEU, 1989). Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Outro conceito muito importante do autor para a �nalidade deste artigo consiste no de “capital cultural”, bastante utilizado nos seus trabalhos sobre escolaridade. O capital cultural refere-se, pois, aos dispositivos técnicos e simbólicos adquiridos pelos sujeitos no meio social. É o conjunto de diplomas, nível de conhecimento geral, experiências com teatro, artes, idiomas e boas maneiras (BOURDIEU, 1998). Este conceito distingue-se de outros dois também de suma importância, o “capital econômico” e o “capital social”, sendo aquele relacionado às posses �nanceiras e aos bens portados pelo sujeito, enquanto este se vincula às redesde relações sociais que este sujeito possui com outros agentes. Segundo Bourdieu, os estudantes de classe média ou da alta burguesia, pela proximidade com a cultura “erudita”, pelas práticas culturais ou linguísticas de seu meio familiar, teriam maior probabilidade de obter o sucesso escolar, ou seja, utilizando-se do conceito de “violência simbólica”, o autor busca desvendar os mecanismos que fazem com que os sujeitos aceitem com naturalidade as representações e as ideias dominantes, coordenadas pela burguesia. A violência simbólica, na sua visão, seria desenvolvida pelas instituições e pelos agentes que as põem em prática e sobre a qual se apoiaria o exercício da autoridade. En�m, é por meio da escola, com suas regras, seus valores e seus padrões de comportamento, que a classe dominante revela sua violência simbólica sobre alunos das classes populares. Isso ocorre a partir de conteúdos, métodos didáticos, avaliação, relações pedagógicas, práticas linguísticas e temáticas abordadas. Violência simbólica A produção intelectual de Pierre Bourdieu trouxe uma crítica original e fundamentada para o problema das desigualdades escolares. As ciências sociais naquela época se orientavam por Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO uma concepção positivista da educação e de seu papel na sociedade, sendo que essa perspectiva trazia uma visão otimista, em que a educação e a escolarização tinham a função principal de auxiliar a sociedade a superar o processo de atraso econômico, do autoritarismo e dos privilégios, possibilitando a construção de uma sociedade mais justa democrática. Bourdieu desenvolve um modo distinto dos pensadores da sua época, de interpretar a escola e da educação, mostrando que, ao contrário do discurso otimista, o que se ocorria na realidade era que ambas eram instrumentos de reprodução e legitimação das desigualdades sociais, de forma a se manter e se legitimar os privilégios de determinadas classes sociais. A leitura de suas obras mostra que a escola, por ser conservadora, multiplica as desigualdades sociais, perpetuando uma cultura escolar, que desenvolve estratégias de reprodução dos valores da classe dominante. Em conjunto com Passeron, Bourdieu denuncia a precariedade das políticas de democratização de acesso defendidas pelo sistema francês de ensino. Colocaram em xeque os discursos de que a educação francesa se respaldava em bases igualitárias para todos. Como resultado, a escola tratava de forma idêntica os diferentes estudantes que tinham origens sociais diversas. Neste sentido, para ele, o fracasso escolar não era resultado de uma falha do sistema de ensino, mas, sim, que estava diretamente ligado a ele, trazendo como resultado a reprodução de um sistema que operava pela lógica da dominação, reproduzindo os valores da classe hegemônica. Comentando a obra de Bourdieu, Valle (2008 p. 417) diz que “ao pôr em prática uma série de mecanismos de seleção e de classi�cação, a escola distancia os detentores de capital herdado dos que não o possuem”. A educação e a escola reforçariam e reproduziriam as diferenças sociais, culturais e educacionais de origem. As re�exões de Bourdieu e Passeron evidenciaram a distância entre aquilo que era a realidade escolar e os princípios que orientavam as políticas de educação. Segundo Pierre Bourdieu, sistema de ensino exerce um tipo de poder simbólico, isto é, um tipo de “poder invisível que só pode se exercer com a cumplicidade daqueles que não querem saber que a ele se submetem ou mesmo que o exercem” (BOURDIEU, 2014, p. 31). Assim, para esse pensador, o papel da educação é impor certos valores de forma arbitrária, cometendo um tipo de violência simbólica. Na lógica de Bourdieu, a violência simbólica legitima os discursos e valores dominantes, dissimulando-os como “naturais”. Um exemplo disso é a relação entre conhecimento cientí�co e popular. Na lógica atual, o saber produzido pelas ciências tem mais valor e reconhecimento que aqueles ligados ao senso comum, que são desvalorizados. Assim, pensando a sua discussão sobre herança familiar no sucesso escolar, as classes populares têm maior di�culdades de lidar com o conhecimento escolar, uma vez que este se encontra mais distante e estranho em seu cotidiano. A classe dominante, por outro lado, em razão de sua íntima relação com o habitus escolar e acadêmico, tem maiores chances de sucesso. No contexto dessa concepção, surge o conceito de capital cultural, apresentado por Bourdieu como um conjunto de recursos e competências disponíveis e mobilizáveis pela classe dominante, que tem uma cultura tida como legítima. Currículo e violência Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO No contexto educacional contemporâneo, muito vem se discutindo sobre a função social e pedagógica da escola, uma vez que, pelas políticas públicas de democratização da educação, a escola vem se tornando de pluralidade cultural, propício às diferentes manifestações sociais e humanas, pois agrega uma diversidade de sujeitos com suas histórias singulares. Como consequência, o lado positivo do acesso à escola gera uma sala de aula fértil para vereditos do juízo professoral, que, por meio de sua didática, faz surgir percepções e apreciações manifestadas em diferentes tipos de julgamentos sobre os sujeitos, gerando o que Bourdieu chamou de violência simbólica. Nessa perspectiva, de maneira imposta e vivenciada, a violência simbólica ocorre de forma suave, insensível e, muitas vezes, invisível, e suas vítimas desconhecem a instância em que ocorre, por meio das relações sociais em forma de dominação. No contexto escolar, a violência simbólica ocorre sem a necessidade da força física, manifestando-se de forma velada, praticada de maneira inquestionável pela aceitação legítima do poder simbólico, que, de acordo com Bourdieu, é incorporada pelos sujeitos e se trans�gura de forma dissimulada nas ações mais simples, de tal forma que não é questionada e é reconhecida em sua legitimidade de violência exercida. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Ainda de acordo com o referido pensador, a pedagogia cria mecanismos que mostram a fragilidade dos alunos diante de uma autoridade pedagógica. Nesse sentido, faz-se necessária a revisão dos modelos interativos ocorridos em sala de aula, mediante re�exões docentes sobre o currículo oculto. É evidente que a escola camu�a, por meio da prática pedagógica, a linha tênue que existe entre a origem social da criança e seu êxito escolar. Aparentemente, a escola proporciona uma educação igualitária, no entanto uma análise mais cuidadosa das práticas de ensino percebe-se que muitas crianças não conseguem êxito, devido aos produtos da violência simbólica cometida pelos docentes. Mesmo quando há exceções de crianças que conseguem o “êxito”, é sabido que muitas enfrentam as consequências devido às suas condições de origem familiar precárias. Dessa forma, a escola utiliza casos improváveis de sucesso escolar em meios populares, os quais são vistos como exceções que con�rmam a regra e que a�rmam a autonomia relativa do sistema escolar, alimentando a ilusão, tida como necessária a neutralidade de seu funcionamento. Produzida e reproduzida nas diferentes esferas sociais, a violência simbólica está de forma intrínseca e, inevitavelmente, no sistema escolar em forma de imposição cultural que ocorre por meio da socialização. O modus operandi das intenções pedagógicas se mostra de forma evidente na prática do ensino, que possui uma vasta dimensão social e deve se estender à análise das interações. Evidenciam-se, assim, as diferentes “disposições dos capitais” (BOURDIEU, 2014, p. 16) em sala de aula, que se dividem em crianças com o capital cultural considerado positivo, tornando possível o reconhecimento de forma facilitada dos diferentes conceitos e práticas, e os demais, com capital considerado negativo, sentem uma di�culdade maior nesse tipo de reconhecimento, re�etindo diretamente em seu processo de aprendizagem e sendo decisiva nos julgamentos do professor que cria uma apreciação negativa, tendodiferentes resultados em classe que gera desestímulo, “a incapacidade” e aumenta o índice de repetência dos alunos excluídos em sala de aula. Videoaula: Os pressupostos sociológicos da educação Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Neste módulo, faremos uma re�exão sobre os processos invisíveis de violência ocorridos no interior da escola por meio do currículo oculto, sendo um tipo de violência sutil que utiliza as palavras para se manifestar, e não a força física. De acordo com os estudos sobre as teorias do currículo, existem algumas instâncias onde ele ocorre, sendo a prescrita (BNCC), a informada aos Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO professores (manuais didáticos), a interpretada e aplicada pelos professores (a aula), a avaliada (IDEB) e a oculta (a maneira como o aluno aprende). Saiba mais Acesse os conteúdos extras e aprofunde ainda mais seus conhecimentos. https://www.youtube.com/watch?v=pLyHxutNotI https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/curriculo-oculto.htm Referências https://www.youtube.com/watch?v=pLyHxutNotI https://educador.brasilescola.uol.com.br/trabalho-docente/curriculo-oculto.htm Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ARANHA, M. G. A. Filosofando. Introdução à �loso�a. São Paulo, SP: Moderna, 1993. BOURDIEU, P. Escritos de Educação. Petrópolis: Vozes, 1998. BOURDIEU. P. Sobre o Estado. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. VALLE, I. R. Pierre Bourdieu: a pesquisa e o pesquisador. BIANCHETTI, L.; MEKSENAS, P. (Org.). A trama do conhecimento: teoria, método e escrita em ciência e pesquisa. Campinas: Papirus, 2008. p. 95-117. CORTELLA, M. S. A escola e o conhecimento. Fundamentos epistemológicos e políticos. São Paulo, SP: Cortez, 1996. Aula 5 Revisão da unidade Compreende que a ideologia faz parte da cultura pedagógica Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A ideologia pode ser de�nida como um conjunto de representações e de normas que prescrevem a priori a forma como o ser humano deve pensar, agir e sentir. O seu objetivo é impor os interesses particulares de uma determinada classe (dominante) sobre a outra (dominada), tornando-os universais. Para ser e�caz, a ideologia depende da sua própria capacidade de produzir um imaginário coletivo para que os indivíduos possam nele se localizar, se identi�car, legitimando involuntariamente a divisão social. Sua coerência está atrelada a uma lógica da lacuna e do silêncio sobre sua própria gênese, isto é, sobre a divisão social das classes. (CHAUI, 2016, p. 245-258) Assim, o processo educacional é ideológico por natureza, constituindo-se como uma das maneiras mais genuínas de uma sociedade manter sua estrutura e seu fundamento, gerando segurança nos indivíduos. Como o ser humano não existe fora da cultura, no processo pedagógico é fundamental que o educador entenda melhor qual é a in�uência da cultura na educação, uma vez que sua atuação está pautada na responsabilidade social de formar um cidadão com competência para desenvolver-se em suas atividades cotidianas, prezando pelos valores essenciais da vida coletiva. Nessa direção, um conceito muito importante é o de Capital Cultural, que é bastante utilizado no contexto escolar. O referido conceito foi desenvolvido pelo �lósofo Bourdieu (1998) e refere-se aos dispositivos técnicos e simbólicos adquiridos pelos sujeitos no meio social. Pode ser “traduzido” como o conjunto de diplomas, nível de conhecimento geral, experiências com teatro, artes, idiomas e boas maneiras, entre outros. Este conceito distingue-se de dois também de suma importância, o “capital econômico” e o “capital social”, sendo aquele relacionado às posses Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO �nanceiras e os bens portados pelo sujeito, enquanto este se vincula às redes de relações sociais que este sujeito possui com outros agentes. Nesse sentido, os conceitos de ideologia e cultura “embutidos” no processo educacional devem fazer parte da formação do educador, pois os estudos sociológicos da educação trazem conteúdos teóricos essenciais para a atuação docente, orientando-a, com o apoio de outras disciplinas, na direção da oferta de instrumentos que lhes possibilitam olhar a sociedade, a escola, os estudantes, seus familiares, sua prática pedagógica e o contexto macrossocial e político no qual a instituição escolar está inserida. En�m, é por meio da escola, com suas regras, seus valores e seus padrões de comportamento, que a classe dominante revela sua violência simbólica sobre alunos das classes populares. Isso ocorre a partir de conteúdos, métodos didáticos, avaliação, relações pedagógicas, práticas linguísticas e temáticas abordadas. Portanto, o fato de estar comprometido com o desenvolvimento humano, torna o ato pedagógico mais exigente em termos de rigor cientí�co, tornando fundamental ao docente e a todos que atuam na instituição escolar o domínio de instrumentais teóricos próprios da sociologia, a �m de tornar a docência menos restrita às experiências empíricas. Videoaula: Revisão da unidade Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. A ideologia pode ser de�nida como um conjunto de representações e de normas que prescrevem a priori a forma como o ser humano deve pensar, agir e sentir. O seu objetivo é impor os interesses particulares de uma determinada classe (dominante) sobre a outra (dominada), tornando-os universais. Para ser e�caz, a ideologia depende da sua própria capacidade de produzir um imaginário coletivo, para que os indivíduos possam nele se localizar, se identi�car, legitimando involuntariamente a divisão social. Sua coerência está atrelada a uma lógica da lacuna e do silêncio sobre sua própria gênese, isto é, sobre a divisão social das classes. Estudo de caso Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO No mundo em que a produção e o consumo são alienados, é difícil evitar que o lazer também não o seja. A passividade e o embrutecimento naquelas atividades repercutem no tempo livre. Sabe-se que pessoas submetidas ao trabalho mecânico e repetitivo na linha de montagem têm o tempo livre ameaçado pela fadiga mais psíquica do que física, tornando-se incapazes de se divertir, ou então, exatamente ao contrário, procuram compensações violentas que as recuperem do amortecimento dos sentidos. A propaganda da bem-montada "indústria do lazer" orienta as escolhas e os modismos, manipula o gosto, determinando os programas: boliche, patinação, discotecas, danceterias, �lmes da moda. Até aqui, �zemos referência a determinado segmento social que tem acesso ao tempo de lazer. Resta lembrar que as cidades não têm infraestrutura que garanta aos mais pobres a ocupação do seu tempo livre: lugares onde ouvir música, praças para passeios, várzeas para o joguinho de futebol, clubes populares, locais de integração social espontânea. Isso torna muito reduzida a possibilidade do lazer ativo, não alienado, ainda mais se supusermos que o homem se encontra submetido a todas as formas de massi�cação pelos meios de comunicação. Vimos que o lazer ativo se caracteriza pela participação integral do homem como ser capaz de escolha e de crítica, dessa forma, ele permite a reformulação da experiência. Isso não ocorre com o lazer passivo, no qual o homem não reorganiza a informação recebida ou a ação executada, de modo que elas nada lhe acrescentam de novo, ao contrário, reforçam os comportamentos mecanizados. É bom lembrar que o caráter de atividade ou passividade nem sempre decorre do tipo de lazer em si, mas da postura do homem diante dele. “Assim, duas pessoas que assistem ao mesmo �lme podem ter atitude ativa ou passiva, dependendo da maneira pela qual se posicionam como seres que comparam, apreciam, julgam e decidem ou não” (DUMAZEDIER,1976 p. 34). Considerando esse enunciado de Dumazedier e relacionando o seu conteúdo ao conceito de ideologia, poderíamos pensar que a prática pedagógica seria um antídoto contra essa forma de Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO lazer alienado, ou o lazer é uma prática social que independe do desenvolvimento de uma consciência crítica capaz de enxergar a lacuna deixada pelo conteúdo ideológico? _______ Re�ita Existe ideologia numa atividade de lazer, ou esse conceito não consegue afetar esse tipo de ação genuinamente humana? Videoaula: Resolução do estudo de caso Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. No mundo em que a produção e o consumo são alienados, é difícil evitar que o lazer também não o seja. A passividade e o embrutecimento naquelas atividades repercutem no tempo livre. Sabe-se que pessoas submetidas ao trabalho mecânico e repetitivo na linha de montagem têm o tempo livre ameaçado pela fadiga mais psíquica do que física, tornando-se incapazes de se divertir, ou então, exatamente ao contrário, procuram compensações violentas que as recuperem do amortecimento dos sentidos. A propaganda da bem-montada "indústria do lazer" orienta as escolhas e os modismos, manipula o gosto, determinando os programas: boliche, patinação, discotecas, danceterias, �lmes da moda, portanto a prática pedagógica, uma vez que também não seja alienada, pode quebrar com esse movimento ideológico envolvido nas atividades de lazer do ser humano. Resumo visual Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Figura 1| Funcionamento estratégico das ideologias. Fonte: Elaborado pela autora. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Referências ADORNO, T. W. Educação e emancipação. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra, 1995. ADORNO, T. W; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos �losó�cos. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar, 1985. ALTHUSSER, L. Ideologia e aparelhos ideológicos do estado. Lisboa: Editorial Presença, 1974. BOURDIEU, Pierre.Escritos de Educação. Petrópolis: Vozes, 1998. CHAUI, M. S. Ideologia e educação. Educ. Pesqui. [online]. 2016, vol.42, n.1, pp.245-258. ISSN 1678-4634. Disponpivel em: http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1517- 97022016000100245&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 12 dez. 2022. CHAUÍ, M. O que é ideologia. São Paulo, SP: Brasiliense, 2001. DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e cultura popular. São Paulo: Perspectiva, 1976. , Unidade 3 Fundamentos Históricos na Educação Brasileira Aula 1 A educação brasileira de 1930 a 1964 http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1517-97022016000100245&lng=pt&nrm=iso http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1517-97022016000100245&lng=pt&nrm=iso Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Introdução Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Prezado estudante, falar da educação brasileira é um resgate �losó�co e histórico muito importante para todas as áreas do conhecimento. Nesse momento, é procurar entender as questões históricas e sociais em torno do período de 1930 a 1964 como fonte de conhecimento da história brasileira. É um período de grandes transformações sociais e econômicas para o Brasil. Vargas governou o país entre os anos de 1930 e 1945. O chamado governo populista de Getúlio Vargas foi dividido em três grandes momentos históricos: Governo Provisório, Governo Constitucional e Estado Novo. Governo Provisório foi o momento em que ele criou medidas fortes e centralizadoras, tais como o enfraquecimento do Poder Legislativo e o fortalecimento do Poder Executivo do presidente, criando instituições, como o Ministério do Trabalho. O Governo Constitucional iniciou com a promulgação da Constituição de 1934 e a eleição indireta de Vargas pela Assembleia Nacional Constituinte. O Estado Novo foi a chamada fase ditatorial da Era Vargas, em 1937, quando ele outorgou uma nova Constituição e decretou o fechamento do Congresso. Getúlio Vargas foi obrigado pelos militares a renunciar ao cargo em outubro de 1945. O sentido do Estado Novo e a educação Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO O conceito de Estado Novo é muito importante para compreendermos a fase ditatorial de Getúlio Vargas, de 1930 a 1945. Já chamado golpe do Estado Novo, ocorreu no período de 1937 a 1945. Ele foi �nalizado quando os militares obrigaram Vargas a se retirar da presidência. Getúlio Vargas criou um regime autoritário no Brasil, tomando posturas centralizadoras ao poder, como adiar possíveis eleições, com o intuito de formar uma constituinte no Brasil. Ele criou esforços e posturas autoritárias, que colocaram o Brasil no caminho do autoritarismo, utilizando-se das “ameaças do comunismo” como ideia de ampliar o seu poder no governo. Antes de 1935, ano que �cou marcado como a Intentona Comunista, quando os comunistas tentaram tomar o poder no Brasil a partir de lutas armadas, Vargas já tinha em mente medidas autoritárias para a sociedade, as quais foram realizadas depois das revoltas comunistas. Assim, ele criou, em 1935, a Lei de Segurança Nacional, ampliando os poderes do presidente para combater crimes contra a “ordem social”. Nesse mesmo período, criou também o Tribunal de Segurança Nacional, punindo os réus da lei aprovada em 1935, ampliando a perseguição aos grupos da esquerda. A política de Vargas alinhava-se às ideias e ao interesse do Exército brasileiro. A sociedade brasileira começava a entender a ideia e a força do autoritarismo brasileiro que estava sendo implantado naquele momento. Essa característica do Estado Novo era uma tendência mundial de radicalização dessa política autoritária. A Europa estava vivendo as mesmas situações de radicalismo às frentes populares Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO nos regimes autoritários e fascistas. Nesse sentido, Skidmore (2010, p. 64) a�rma que “o sistema não político do Estado Novo era o veículo perfeito para seus grandes talentos de conciliação e manipulação que por sua vez dependem de um contato extremamente pessoal com advertência e aliados 1”. Nesse período do Estado Novo, Vargas reforçou o nacionalismo falando de “brasilidade”, marcha para o oeste, movimento de habitação e desenvolvimento do interior do país como formas de resgatar os reais valores da nação. No contexto político do Estado Novo, as conquistas do movimento renovador, in�uenciando a Constituição de 1934, foram enfraquecidas na nova Constituição de 1937, que distingue o trabalho intelectual do trabalho manual, levando o ensino pro�ssional para as classes mais desfavorecidas. Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, foram reformados alguns módulos do ensino. Reformas essas chamadas de Leis Orgânicas do Ensino e são entendidas por decretos/leis que criaram o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), valorizando o ensino pro�ssionalizante. O �m do Estado Novo determinou a adoção de uma Constituição liberal e democrática. Na área da educação, por exemplo, determinava a obrigatoriedade do ensino primário e a legislação sobre diretrizes educacionais. Vargas percebeu que seu regime vingaria após o �m da Segunda Guerra Mundial, dando início a uma nova postura política, aproximando-se mais dos trabalhadores. Em 1964, um golpe militar abortou todas as iniciativas de mudanças na educação brasileira, sob o pretexto de que as propostas eram “subversivas”. O olhar sobre as rupturas históricas, educacional e pro�ssional Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Nesse momento, torna-se importante para você, pro�ssional das diversas áreas do conhecimento, perceber a importância das questões históricas para a análise do social e econômico em que está vivenciando e o quanto se torna válida acompreensão do Estado Novo e suas relações com o mundo social e do trabalho e o quanto a história nos permite essas relações. O Estado Novo implantado por Vargas, além de ser desleal com a história, não permitiu um Estado democrático mais cedo no Brasil, di�cultando o desenvolvimento das etapas escolares no país, valorizando mais o trabalho manual em função de um novo conceito de trabalho que estava por vir. Ainda, o Estado Novo de Vargas propôs que a arte, a ciência e o ensino fossem livres à iniciativa do cidadão, ao agrupamento, às associações coletivas públicas e particulares, não atribuindo o direito e o dever do Estado na educação. Dispôs, assim, a obrigatoriedade do ensino de trabalhos manuais a todas as escolas normais, primárias e secundárias no Brasil. A educação no período de Vargas possuía um caráter propedêutico para aqueles de melhor posição na pirâmide social, dessa forma, tinha um olhar pro�ssionalizante que atendesse apenas aos mais pobres, com o desejo de que a classe operária �casse calada, rati�cando a ordem social dominante. Cria-se, assim, uma jornada de trabalho de 44 horas semanais, carteira de trabalho e salário-mínimo. A educação no Estado Novo foi uma forma de propagar e a�rmar o seu regime. Ineditamente, o programa educacional apoiou os exercícios físicos no ambiente escolar e nas fábricas, evitando a entrada de ideias externas vindo da Europa, com um olhar anarquista, as quais eram avançadas para o período de Vargas. Nesta perspectiva, o homem e o mundo que o rodeia são considerados em processos de mudanças e de organização política. Assim, esse conhecimento nos permite compreender as diferentes rupturas vividas pelo povo brasileiro. Ainda percebendo as rupturas existentes, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, escrito durante o governo Vargas, consolidava um olhar de um segmento da elite intelectual, em prol de mudanças signi�cativas na implementação de um modelo educacional, afrontando o ideal nacionalista de Vargas. Reivindicava-se ensino público laico (desvinculado da educação religiosa), gratuidade, obrigatoriedade e coeducação – meninos e meninas estudando no mesmo ambiente escolar, conforme conta a historiadora Maria Luiza Marcílio, em seu livro História da Escola em São Paulo e no Brasil. Aprendendo com os fundamentos históricos Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A cada pro�ssional, será sempre importante olhar o outro a partir da sua história social, política e econômica. Para um país como o Brasil, que passou por tantas mudanças severas, torna-se importante analisar, em todos os instantes, os símbolos da sociedade, no olhar sociológico, �losó�co e psicológico, para podermos emitir um juízo que signi�que um resultado plausível para a �gura humana, não de separatista ou mesmo preconceituoso, mas, sim, no sentido de percebermos as diferentes formas de vivências e aceitação do outro. Compreender esses conceitos e estar no lugar do outro, na própria existência humana, nos ajuda a pensar no outro como pro�ssional, aluno, amigo, cidadão pleno. Pensar na condição humana e re�etir sobre a pessoa humana e sua ação na sociedade, na família e no convívio social e pro�ssional, assim como entender as oportunidades dadas a um povo, o acesso ao ensino e à cultura e a participação política democrática contribuem para o processo de aprendizagem. Compreende-se a leitura dos pioneiros da educação como uma constante de mudanças na história vivida por nós. Sempre haverá na história precursores de mudanças. Os fundamentos tornam-se importantes devido ao seu poder re�exivo, formativo e cognitivo, ou seja, o estudo tem a capacidade de fazer com que o homem raciocine de forma a compreender o porquê de se estudar determinado conteúdo e temas. O governo Vargas não possibilitou esse acesso pela forma de governar e pensar sobre o outro na sociedade brasileira, não atribuindo a empatia da compreensão, e sim uma prática de conduta para as elites em geral. Assim, o regime militar disseminou na educação o caráter antidemocrático de sua proposta inicial de governo; educadores e trabalhadores foram presos e demitidos; houve invasão de universidades; estudantes presos e feridos nos confrontos com a polícia e com os ideais de repressão de Vargas; alguns foram mortos. Videoaula: A educação brasileira de 1930 a 1964 Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta aula, você poderá ter uma maior compreensão das questões da história social do Brasil e uma melhor análise das contribuições para a interpretação dos fundamentos históricos da educação, tendo, principalmente, uma leitura crítica do momento mais trágico da nossa história, no que tange à era de Getúlio Vargas como um presidente austero em sua relação política. Saiba mais Caro aluno, aprofundaremos ainda mais nossos conhecimentos com os seguintes textos: FERRAZ, F. C. Os Brasileiros e a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Editor, 2005. NETO, L. Getúlio (1930-1945): Do governo provisório à ditadura do Estado Novo. São Paulo, SP: Cia das Letras, 2013 Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Referências MARCÍLIO, M. L. História da escola em São Paulo e no Brasil. São Paulo, SP: Imprensa O�cial do Estado de São Paulo; Instituto Fernand Braudel, 2005. SKIDMORE, T. E. Brasil: de Getúlio a Castello (1930-1964). São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2010. Aula 2 A educação brasileira entre 1964 e 1988 Introdução Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Compreender a educação brasileira no período de 1964 a 1988 é entender o objetivo dos fundamentos da educação brasileira durante o período da ditadura, resultando em um modelo tanto social quanto educacional, em uma rigorosa imposição de leis e modelos de vivência frente à sociedade brasileira, em um domínio e uma prática de conduta autoritária, revoltando intensamente a educação brasileira. Reformas voltadas à transformação da educação tradicional para uma educação tecnicista criaram revoltas estudantis e uma insatisfação social muito grande no povo brasileiro quanto aos aspectos culturais e políticos que estavam envolvidos naquele momento. Considerações importantes se �zeram do ponto de vista de garantir a instalação da ditadura no Brasil. A Segunda Guerra Mundial interveio nas leis educacionais brasileiras naquele momento, com uma prática ideológica voltada a uma educação técnico- pro�ssionalizante para uma mão de obra a serviço de uma elite industrial que ali surgia. Ditadura militar e novos caminhos: abertura política em 1980 e a Constituição de 1988 Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Quais foram as reais causas para o período de 1964 a 1985 ser uma ditadura? Em 31 de março de 1964, aconteceu o golpe militar, que visava evitar o avanço das organizações populares do governo de João Goulart, tido como comunista, sendo seu ponto central a renúncia de Jânio Quadro em agosto de 1961. Naquele ano, no mês de março, militares contrários a João Goulart (PTB) destituíram-no da presidência e assumiram o poder por meio de um golpe liderado pelas Forças Armadas, implantando um regime ditatorial que durou 21 anos. Cada governante desse período teve uma característica própria e distinta com suas peculiaridades. Houve momentos diferentes, como o disfarce legalista para a ditadura (1964-1968), anos de terror de Estado (1969- 1978) e a reabertura política (1979-1985), os quais tiveram fases e consequências sociais de desigualdade muito grande, falta de acesso da população carente a todos os dados públicos, aumento da concentração de renda a uma elite, in�ação exorbitante e aumento do endividamento externo. Os militares, quando assumiram, em 1964, enfrentaram um período de bastante desordem na economia, com desequilíbrio �scal e fracasso do Plano Trienal para retomar o crescimento econômico. Criou-se, assim, o AI-5, resposta dadapelo regime militar para a crise que a ditadura enfrentou em 1968. Na ocasião, devido às mobilizações de estudantes, operários, artistas e intelectuais, os militares decidiram “endurecer” o regime. A ditadura militar governou o Brasil entre 1964 e 1985, durante os governos de Geisel (1974- 1979) e João Figueiredo (1979-1985), encerrando-se em 1988, com a promulgação da nova Constituição Federal. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Na ocasião, foi necessário o preparo de um processo que �cou conhecido como “abertura política”, que teve o objetivo de realizar uma transição gradual, sistemática e segura para a democracia. Período esse de maior endurecimento e de lenta transição, evitando uma forma bruta, pois existia o perigo de radicais de esquerda ou de direita tomarem o poder e restabelecerem o autoritarismo no país. Quais re�exos da ditadura podemos citar como importantes para a educação nacional? Uma constante repressão instaurada em controlar os professores e o movimento estudantil; alterações nos cursos; in�ltração de agentes em salas de aula, para controle de professores; o movimento estudantil; nas universidades públicas, a instalação de sistemas de vigilâncias e espionagem contra docentes, estudantes e técnicos-administrativos; desaparecimento; privação de trabalhos; interrupção de pesquisas acadêmicas. A educação no regime militar teve sucessivas reformas, como obrigatoriedade curricular e reformulação da disciplina de Educação Moral e Cívica de Sociologia e Filoso�a, reunindo parte da disciplina Organização Social e Política Brasileira (OSPB). Ocorreram reformas a partir da Lei nº 5.540/68, como no ensino superior, com o processo de privatização das instituições e o desenvolvimento de pequeno porte. A Lei nº 5.692/71 vinha como uma “atualização” da estrutura de ensino do país, efetivando a mudança do curso primário e o antigo ginásio para “1º grau”, sendo que, com sua promulgação, o governo militar tinha a intenção de o�cializar a formação do povo para o trabalho ainda na fase da adolescência. Logo, podemos perceber e dizer que fundamentos históricos da educação têm um princípio, meio e �m bem demarcados e facilmente observáveis. Fundamentos são rupturas marcantes, em que cada período determinado teve características próprias. As reformas educacionais no contexto da sociedade brasileira Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO As reformas educacionais em diferentes contextos históricos mostram que projetos e políticas públicas educacionais sofrem interferências do empresariado nacional e internacional, pois o mercado local e global dita as regras para o setor educacional. Nesse sentido, sempre atenderá a uma elite empresarial e cultural econômica da sociedade em que os indivíduos estiverem. Essas reformas foram elaboradas sem a participação social, fazendo com que haja ainda no país um elevado número de pessoas não alfabetizadas, baixa qualidade do aprendizado na sociedade e di�culdade de cumprir o papel de minimizar as desigualdades cultural, política e econômica aos mais desfavorecidos. Políticas educacionais baseadas em propostas de organismos internacionais compõem um des�guramento da escola como lugar de formação cultural e cientí�ca, o que gera um quadro de desvalorização do estudo e do conhecimento escolar signi�cativo, uma vez que “os documentos produzidos por esses organismos nos últimos anos associam o funcionamento do sistema educacional a programas de alívio à pobreza e de redução da exclusão social, entre os quais se inclui o currículo instrumental ou de resultados imediatos” (LIBÂNEO, 2016, p. 42). Assim, a escola pública perde seu lugar de instituição formativa e de transmissão de conhecimentos historicamente acumulados para se tornar um lugar de formação de mão de obra que atende ao interesse do mercado, além da possibilidade de ser um paliativo para a pobreza, em especial, em países pobres e emergentes. Nesse sentido, torna-se cada vez menos democrático o processo educacional com reformas impostas pelo estadista em seu exercício político. A cada reforma e saída das disciplinas de Sociologia ou Filoso�a, deixa-se para trás a oportunidade de um processo socioeducativo, não sendo avaliada com a sociedade e com os responsáveis por elas. Nesse sentido, como podemos utilizar os recursos de aprendizagem social dessas disciplinas no conjunto de nossas atividades pro�ssionais, independentemente Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO das áreas de conhecimento? Qual o interesse estadista ao elaborar e concluir as reformas educacionais? Não nos debruçaremos no debate sobre conceito de re�exividade, mas acreditamos que nosso movimento neste trabalho pretende re�etir sobre as relações sociais de dominação, presentes como supostas verdades históricas contingentes e travestidas como ordenamentos naturais das coisas para a consciência comum. Caminhamos para investigar o ensino de Sociologia dentro dos marcos, seja questionando a construção de seus sentidos, seus padrões normativos, seu processo de construção de “verdade”, sua passagem, sua construção enquanto ciência, sua forma de enxergar sua relação de ensino-aprendizagem, o próprio espaço escolar, entre outros, principalmente da sociedade contemporânea. Nesse sentido, temos que perceber que toda reforma passará sempre por um momento de transformação para todos no processo de ensino-aprendizagem, portanto temos que sempre observar aquilo que será melhor para a sociedade em geral. Assim, sempre teremos um favorecimento satisfatório para a sociedade. Aprendendo com os fundamentos históricos A Orientação Educacional, que reforça o aconselhamento vocacional e o ajustamento ao ensino pro�ssionalizante, foi instituída pelo texto da LDB nº 5.692/71. A partir daí, houve adaptação do currículo dos cursos de formação de Orientador Educacional e Pedagogia, tendo como ênfase as reformas educacionais para o ensino superior no Brasil nos anos de 1968 (Reforma do Ensino Superior) e a Lei nº 5.691/71 (Reforma dos Ensinos de Primeiro e Segundo Grau). Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A função principal da educação, naquele contexto, era a de manter o modelo econômico vigente em sintonia com o domínio militar. O capitalismo não liberal era o epicentro, e sua consequência era vivida pela dinâmica cotidiana da população brasileira. A teoria que fundamentava o sistema educativo brasileiro naquela época era a teoria do capital humano, que foi disseminada entre os setores da economia, do planejamento e da educação. Nesse sentido, faz-se necessário compreender todo o processo das reformas em uma situação lógica do conhecimento da força e do poder das reformas, no sentido de buscar compreender as rupturas mediante um interesse popular e familiar dos menos favorecidos em uma sociedade desigual. Assim, torna-se importante o processo de construção do conhecimento a partir disso, percebe-se essa aplicação a favor de uma sociedade justa e plena. Não podemos desvincular a história social de uma nação ou sociedade, dos próprios fundamentos históricos existentes nela. Logo, cada re�exão precisa ser favorável a uma sociedade justa. A cada conquista no processo alcançado das reformas, um ser humano realiza um sonho, e assim deve ser a caminhada. Cada momento deve ser compreendido. Para que cada prática educativa seja bem realizada, é preciso ter uma formação em desenvolvimento com as normas e reformas educacionais. É muito importante compreender, na história da educação, que o desenvolvimento da educação sempre se dará pelo desenvolvimento da história social de uma sociedade. A nova história da educação não foi diferente, será sempre um desenrolar das questões políticas, sociais e econômicas que farão ocorrer essa mudança tão necessária. Outro fator importante também é entender que a sociedade civil precisa estar sempre organizada em seus grupos. Isso pressionará o Estado para as mudanças e criará, assim, políticas educacionais coerentes para atender a um só interesse: o povo. É importante também compreender que os estudos feitos pelas pastasresponsáveis pela educação têm sempre um papel de mediar essas políticas educacionais, para atender a uma demanda de interesses em prol de uma educação ao desenvolvimento cidadã. Todas as atividades em questão serão uma forma de fundamentar os conceitos e o desenvolvimento da educação, seja ela desde a educação infantil até o ensino superior. E somente assim teremos como fundamento da compreensão histórica da educação, como elemento transformador de um povo. Só assim teremos as mudanças. Videoaula: A educação brasileira entre 1964 e 1988 Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta aula, você poderá ter uma maior compreensão dos temas da educação brasileira nesse período tão conturbado que foi a ditadura, a qual tirou todos os direitos do povo brasileiro em suas expressões e falas do cotidiano, em função de uma ideologia dominante do Estado. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Saiba mais Para complementar os seus estudos, leia os seguintes artigos: Lei nº 5.692 (Reforma Educacional de 1971) Vinte anos de reformas educacionais Referências http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5692.htm#:~:text=L5692&text=LEI%20No%205.692%2C%20DE%2011%20DE%20AGOSTO%20DE%201971.&text=Fixa%20Diretrizes%20e%20Bases%20para,graus%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5692.htm#:~:text=L5692&text=LEI%20No%205.692%2C%20DE%2011%20DE%20AGOSTO%20DE%201971.&text=Fixa%20Diretrizes%20e%20Bases%20para,graus%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias https://rieoei.org/historico/documentos/rie31a03.htm Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO BOURDIEU, P. et al. A pro�ssão de sociólogo: preliminares epistemológicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999. LIBÂNEO, J. C. Políticas educacionais no Brasil: des�guramento da escola e do conhecimento escolar. Cadernos de Pesquisa, v. 46, n. 159, p. 38-62, 2016. LIMA, V. C. Sentidos do ensino de Sociologia nas reformas educacionais e suas relações com a conjuntura sócio-política brasileira: possíveis caminhos para entender dinâmicas da disciplina no século XXI. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS, 44., 2020, [S. l.]. Anais [...]. [S. l.]: ANPOCS, 2020. Disponível em: https://www.anpocs2020.sinteseeventos.com.br/atividade/view? q=YToyOntzOjY6InBhcmFtcyI7czozNjoiYToxOntzOjEyOiJJRF9BVElWSURBREUiO3M6MzoiMTQwIj t9IjtzOjE6ImgiO3M6MzI6IjM3MjU5Nzg1YmZjNzc2ZTAwYTU3NzYwZjJkODIyMTc3Ijt9&ID_ATIVID ADE=140. Acesso em: 6 dez. 2022. SAVIANI, D. A pedagogia no Brasil: história e teoria. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. Aula 3 A educação brasileira nos governos Collor, FHC, Lula e Dilma Introdução http://aboutblank/ http://aboutblank/ http://aboutblank/ http://aboutblank/ Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Compreender o processo histórico torna-se importante no sentido de que, nos governos de Collor, FHC, Lula e Dilma, a gestão democrática da educação foi mostrada por meio da descentralização dos processos decisórios, com a participação de segmentos da sociedade, de uma forma a contribuir, acompanhar, controlar e avaliar as ações feitas por esses governantes, como a utilização de verbas públicas na política educacional, criando projetos sociais de práticas pedagógicas, visando a uma modernidade nas políticas de acesso a todos da sociedade brasileira nas áreas de economia, educação, saúde e desenvolvimento social. O governo de Fernando Collor de Mello (1991-1995), na área da educação, criou o Projeto de Reconstrução Nacional (1991) para compartilhar as responsabilidades entre governo, sociedade e iniciativas privadas, porém �cou apenas no papel. Enquanto outros governos, como de Fernando Henrique, Lula e Dilma, as políticas públicas foram presentes na sua efetivação para a sociedade brasileira. Mesmo que em algum momento a política neoliberal existisse, nada impediu que questões sociais e econômicas também caminhassem, mesmo que lentamente. O neoliberalismo na educação brasileira Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Nos princípios norteadores do neoliberal estava presente a ideia de uma prática produtivista, tendo como conceito a acumulação de capital humano que concebe educação como preparação dos homens para um determinado mercado de trabalho, cuja principal preocupação é com a capacidade humana enquanto capital, o que coloca o homem como um simples objeto no processo produtivo na sociedade de economia de mercado. Assim, destaca-se a importância da educação como solução para as desigualdades econômicas, como forma e mecanismo de ascensão social (MIRANDA, 1997; RAMOS, 2003). Os governos que surgem nesse período �caram conhecidos pelos nortes neoliberais. Qual era o principal objetivo do Plano Collor? O Plano Collor foi um plano econômico lançado em 1990, cujo objetivo era controlar a in�ação no Brasil. O governo Collor, também denominado como a Era Collor, foi um período da história política brasileira iniciado pela posse do presidente Fernando Collor de Mello, em 15 de março de 1990, e encerrado por sua renúncia da presidência em 29 de dezembro de 1992. A proposta do Plano Collor era minimizar e estabilizar a economia, congelando depósitos em contas corrente e poupança. Collor era chamado de “caçador de marajás”, termo utilizado entre os alagoanos para descrever as pessoas que se bene�ciavam da burocracia estatal e envolvidas em escândalo de corrupção, impeachment e renúncia. Fernando Collor (1990-1992) iniciou um período da nova ordem mundial, e o mercado passou a regular as relações humanas, tomando os direitos dos cidadãos, como saúde, educação e cultura, assim as políticas educacionais, nesse governo, foram atualizadas por um forte clientelismo. A privatização na educação mantinha políticos conservadores e uma política de muitos discursos e pouca ação. De acordo com Palmas Filho (2005), no Brasil, o neoliberalismo começa a ascender no início dos anos de 1990, com a posse de Fernando Collor de Mello, tendo sofrido certa descontinuidade durante a presidência de Itamar Franco e uma aceleração na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, principalmente no seu primeiro mandato (1995-1998). No governo de FHC, tivemos propostas de valorização da educação; valorização do magistério; gestão democrática; criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9.394/96); regulamentação, de modo a garantir maior autonomia à escola; ênfase na avaliação de resultados, como forma de controle mais e�ciente (SAEB, ENEM, ENC, PROVÃO e CAPES); um Ministro da Educação em seus dois mandatos, Paulo Renato de Souza, que determinou novas formas de �nanciamento, gestão e avaliação da educação básica. O primeiro mandato do governo Lula foi marcante no campo da educacional, muito mais por permanência do que por rupturas em relação ao governo anterior, ações esparsas e uma grande diversidade de programas especiais, em sua maioria, em um público focalizado entre os mais vulneráveis. O Bolsa Família tem sido apontado como um importante projeto no setor de distribuição de tais políticas, como programas dirigidos à juventude, tais como a educação. É Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO importante colocar que, no governo Lula, voltou-se a fazer escolas técnicas e pro�ssionalizante por todo o Brasil. O governo Dilma reconstruiu a gestão da educação brasileira, corrigiu a política da indiferença e organizou novas práticas: uma política integrada de ensino, da creche à universidade, com educação básica de qualidade; democratização do acesso ao ensino público ao ensino e garantia de permanência dos alunos na escola. In�uência neoliberal na América Latina e no Estado brasileiro No �nal da década de 1980, alguns países da América Latina estavam em dé�cit econômico, e o papel do Estado passava por rede�nição, como consequência da crise e do esgotamento do Estado, assim, as reformase o aparato de funcionamento do Estado consolidavam-se nos anos de 1990, por meio de um processo de desregulamentação na economia da privatização das empresas produtivas estatais, da abertura de mercados e das reformas de sistemas de previdência social e saúde e educação, descentralizando seus serviços e otimizando seus recursos (SOUZA; FARIA, 2004). Na educação, as reformas efetivas tiveram por paradigma os diagnósticos e os princípios em que estavam os pressupostos da teoria do capital humano (MIRANDA, 1997; RAMOS, 2003). Princípio neoliberal enfatiza a educação como uma relação de poderes, incentivando o desenvolvimento de atitudes de competitividade, de acordo com as suas necessidades do mercado, transformando a educação em uma mercadoria, diminuindo sua atenção dentro do campo social. Outro ponto que se aproxima da governabilidade neoliberal é a conversão de escolas e universidades. “A prática e a relação do neoliberalismo com a educação se dão em diversos aspectos, tais como: as concepções pedagógicas, a avaliação escolar, a municipalização da educação, a exclusão violenta dentro das escolas, a ideologia dos conteúdos: qualidade, quantidade distribuição, privatização de educação.” (CAPRIOGLIO et al., 2000) Em poucas Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO palavras, percebe-se que o neoliberalismo é um conjunto de ideias políticas e econômicas capitalistas que defende a não participação do estado na economia. Segundo Galvão (1997), toda prática neoliberal é o mercado e, por conseguinte, o consumo; nasceu na chamada Escola de Chicago, através dos postulados de dois economistas, Milton Friedmann e Frederic Hayek, na crise econômica dos anos 1960, com a acusação de o Estado ser o responsável pela crise. No discurso neoliberal, a educação deixa de ser parte do campo social e político para ingressar no mercado e funcionar sua semelhança. Vale ressaltar três objetivos relacionados ao que a retórica neoliberal atribuiu ao papel estratégico da educação: 1. Atrelar a educação escolar à preparação para o trabalho e a pesquisa acadêmica ao imperativo do mercado ou às necessidades da livre iniciativa. O mundo empresarial tem interesse na educação porque deseja uma força de trabalho quali�cada, apta para a competição no mercado nacional e internacional. [...] 2. Escola um meio de transmissão dos seus princípios doutrinários. [...] 3. Fazer da escola um mercado para os produtos da indústria cultural e da informática, o que, aliás, é coerente com ideia de fazer a escola funcionar de forma semelhante ao mercado, mas é contraditório porque, enquanto, no discurso, os neoliberais condenam a participação direta do Estado no �nanciamento da educação, na prática, não hesitam em aproveitar os subsídios estatais para divulgar seus produtos didáticos e paradidáticos no mercado escolar. (MARRACH, 1996, p. 46-48) Para Cacciamali (2000), na dimensão do mercado, o processo de informalidade na América Latina revelou, por meio da destruição, adaptação e rede�nição, um conjunto de instituições, regras e normas envolvendo as relações entre as empresas, a �m de organizar sua produção, distribuição, processos de produção de trabalho, formas de inserção, relações de trabalho e conteúdos dessas ocupações. Ainda conforme a autora, essas características provocaram dois fenômenos: (1) a reorganização do trabalho assalariado e um consequente aumento da vulnerabilidade nas situações de trabalho e (2) um aumento do emprego por conta própria e estratégias de sobrevivência, associadas ao setor informal, em atividades de baixa produtividade, que revelam uma precarização do trabalho. Trabalho, pobreza e sociedade Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO É o trabalho que nos diferencia de todos os demais seres existentes e apresenta-se como atividade constitutiva do indivíduo, o ato gênese. É na relação do indivíduo com o mundo, mediada pelo trabalho, que surgem os demais complexos sociais, como a linguagem, a ciência, a educação, a ética, o direito etc. Destes destacamos, nesta pesquisa, o complexo da educação como responsável pela elevação humana do ser social, considerando sua função primordial de possibilitar ao indivíduo singular a apropriação e a reelaboração do acervo produzido e acumulado pelo coletivo da humanidade e prepará-lo para o convívio em sociedade. (SANTOS, 2018, p. 7) Desse modo, a educação em sentido restrito passa a servir como estratégia de validação das classes dominantes e assume perspectiva dualista, pois apresenta um modelo para a classe burguesa, cuja função é a elevação intelectual, e outro para as classes populares, voltada à preparação de mão de obra barata para o mercado. Nesse âmbito, a educação, tanto em sentido amplo como em sentido estrito, tende a caminhar mais na direção de dar respostas à sobrevivência e expansão do capital do que na perspectiva de atendimento às necessidades humanas. O trabalho tornou-se um paradoxo: possui o poder de engendrar o mundo e o ser humano ao mesmo tempo que estrati�ca e exclui; é capaz de colocar em interação indivíduos numa mesma atividade, enquanto separa a sociedade em abismos; produz valores de uso para satisfazer necessidades humanas, ao passo que serve para a acumulação e má distribuição de riqueza por meio da produção do excedente; enquanto ação criadora que produz beleza, fabrica também a miséria do mundo; ao mesmo tempo que afasta o indivíduo das barreiras naturais, pode, sem constrangimento algum, subjugá-lo. O trabalho garante ao trabalhador apenas o su�ciente para mantê-lo vivo, para preservar sua força vital necessária à atividade produtiva. Nessas condições, deixa de ser atividade constitutiva e engrandecedora do ser para se tornar atividade estranhada, degradante, na medida em que suga do indivíduo sua força e vitalidade e Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO nega sua dimensão humana, como tempo para a família, para o lazer, investimento na sua formação intelectual etc. De modo que somente fora do trabalho o trabalhador se sente verdadeiramente realizado, enquanto no trabalho sente-se oprimido, aviltado (MARX, 2006). Nesta sociedade, o trabalhador não tem como objetivo da sua ação o produto do seu trabalho, mas um salário pago no �nal da sua jornada. Salário esse que não o coloca na condição de consumidor, já que, para sê-lo, é necessário estar em condição de custear o produto. Nesse sentido, apenas uma pequena parcela da sociedade é chamada ao consumo, enquanto a outra é, através do depauperamento, privada não apenas do produto mas também de sentir determinadas necessidades que estão vinculadas a determinados estilos de vida, alheios à sua condição (SANTOS, 2018). Videoaula: A educação brasileira nos governos Collor, FHC, Lula e Dilma Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta aula, os conteúdos trabalhados servirão para a compreensão dos conceitos de uma prática neoliberal e suas consequências sociais e políticas para uma nação e seu povo, observando o efeito dela na América Latina de um modo geral. Assim, você poderá ter uma melhor leitura do que o povo, em especial o brasileiro, viveu de forma amarga nesse período. Além disso, você entenderá a prática neoliberal e saberá como foi o governo do presidente Fernando Collor de Mello e sua saída, terá um olhar para a abertura democrática com o presidente Fernando Henrique Cardoso como um estadista respeitado, mas com uma visão em determinado momento neoliberal. Finalizará esse período da história com Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma como os democratas da história. Saiba mais Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO https://www.youtube.com/watch?v=r4e2fuO5yVM https://www.youtube.com/watch?v=X9fyHEoM7dk Referências https://www.youtube.com/watch?v=r4e2fuO5yVM https://www.youtube.com/watch?v=X9fyHEoM7dk Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO CACCIAMALI, M. C. Globalização e processo de informalidade. Economiae Sociedade, Campinas, SP, v. 9, n. 1, p. 153–174, 2016. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8643124. Acesso em: 9 dez. 2022. CAPRIOGLIO, C. A. et al. Análise da L.D.B. da Educação Nacional Lei nº 9394/96. Visão Filosó�co- política dos pontos principais. Revista Eletrônica Metavnoia, São João Del Rei, n. 2, jul. 2000. GALVÃO, A. M. A crise da ética: o neoliberalismo como causa da exclusão social. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1997. MARRACH, S. A. Neoliberalismo e Educação. In: GUIRALDELLI JUNIOR, P. (org.). Infância, Educação e Neoliberalismo. São Paulo, SP: Cortez, 1996. p. 42-56. MARX, K. Processo de trabalho e processo de produzir mais-valia. In: O capital: crítica da economia política. Livro I. 24 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p. 209-231. MIRANDA, M. G.de. Novo paradigma de conhecimento e políticas educacionais na América Latina. Caderno de Pesquisa, São Paulo, n. 100, p. 37-48, mar. 1997. PALMA FILHO, J.C. Política educacional brasileira: educação brasileira numa década de incerteza (1990-2000): avanços e retrocessos. São Paulo: Cte, 2005. RAMOS, A. M. P. O �nanciamento da educação brasileira no contexto das mudanças político- econômicas pós-90. Brasília: Plano, 2003. SANTOS, M. E. de M. Relações históricas entre trabalho, educação e pobreza. Teresina, PI: EDUFPI, 2018. 124p. 2004. S. D. B. de; FARIA, L. C. M. Políticas de �nanciamento da educação municipal no Brasil (1996-2002): das disposições legais equalizadoras às práticas político-institucionais excludentes. Ensaio: avaliação e políticas públicas em educação, Rio de Janeiro, v. 12, n. 42, p. 564-582, jan./mar. 2004. Aula 4 A educação brasileira após 2015 Introdução https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/ecos/article/view/8643124 Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO É necessário compreender que, em 2015, �cou na história da educação brasileira um grande momento histórico de transformação. O Brasil �cou conhecido como a chamada “Pátria Educadora”. Assim, �ca claro para a sociedade que a nação está muito distante de uma educação exemplar e uni�cada ao modelo honesto que o povo merece. Nesse processo, o protagonista ainda não foi o povo; em uma sociedade tão desorganizada, a educação e o educando �carão sempre de fora do próprio protagonismo educacional. A sociedade civil e os estudantes secundaristas organizados lutaram contra uma proposta de “reorganização do ensino” em São Paulo, muito bem divulgada pelo Portal Aprendiz, do UOL, em dezembro de 2015, quando o estado pretendia fechar algumas escolas e transferir outros tantos alunos, criando um transtorno para cerca de 300 mil alunos da rede escolar. O movimento organizado pelos estudantes secundaristas, com o apoio da sociedade civil, foi criando força e entusiasmo pela sociedade, lutando também pela não privatização do ensino público. Diante disso, depois de algumas reuniões com o governo e um mês de grande mobilização intensa e lutas claras e objetivas, frente ao estado, a ideia se espalhou pelo Brasil, criando mais força de luta. Assim, após encontros entre as autoridades da educação, o governo Geraldo Alckmin se viu obrigado a revogar o decreto da reorganização. Políticas educacionais atuais e seus desa�os Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO É importante que a sociedade civil entenda que a política educacional será sempre uma arma conduzida pelo Estado, para a criação de posturas, como as práticas pedagógicas exigidas em seus protocolos. As políticas públicas de educação ou de qualquer outra pasta do governo sempre estarão a favor de um modelo de sociedade e de desenvolvimento social e político que o Brasil ou outra nação possa estar em processo. O que alguns governos não compreendem é que toda política educacional deve ter a participação coletiva da sociedade. Para a construção do projeto transformador de educação, ouvir o povo é necessário. No Brasil, a educação passa por uma construção constante em todos os governos, mas sempre sem ouvir o povo. Veremos, agora, o que são as políticas públicas da educação, como são implementadas e quais são as vigentes no Brasil. Nesse sentido, serão apresentados elementos utilizados pelo poder público para compreender as políticas públicas educacionais vigentes no país. O estado de São Paulo sempre teve o interesse de expandir o acesso às escolas públicas, procurando oferecer a todos, tanto na educação infantil, na educação básica, no ensino fundamental, no ensino médio e na Educação de Jovens e Adultos (EJA). O que sempre foi difícil de combater é a saída de alunos em tempo de escola, a chamada evasão escolar. O governo tem como objetivos maximizar o acesso à escola pública; oferecer uma educação de qualidade; alfabetizar cada vez mais crianças, jovens, adultos e idosos; reduzir e combater a evasão escolar; minimizar a subnutrição e a miséria; alargar a digitalização do ensino; repassar recursos públicos para instituições de ensino. Criadas pelo Poder Legislativo e em propostas enviadas pelo Poder Executivo, as políticas educacionais são adotadas a partir de leis federais, estaduais e municipais. As leis educacionais contam com o apoio de representantes da sociedade civil e de classes da educação, através de Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO conselhos e outras formas de organização. A iniciativa popular, como um modelo garantido pela democracia participativa, contribui para que as demandas de parte ou de toda a população sejam ouvidas e efetivadas. O que se espera da educação no século XXI? A educação deste século traz a necessidade de um olhar mais apurado sobre a sala de aula e, em especial, sobre a relação entre docente e aluno. Devemos construir coletivamente e dinamicamente a aprendizagem, para que os estudantes compartilhem experiências e busquem métodos de ensino ativos. São alguns desa�os atuais da educação: O excesso de alunos na escola. Aspectos econômicos. Con�itos relacionados à convivência escolar. Pertinência da legislação. A educação exigirá dos educadores futuros um olhar e uma prática diferenciados aos novos modelos de entendimento do conhecimento. Preparar cada vez mais o educando para a vida em sociedade e para as práticas do mundo do trabalho. É sempre bom entender que, a partir do novo currículo escolar, os jovens terão oportunidades de informação futuras para ingressarem em atividades mais produtivas e artísticas, com um olhar para um futuro pro�ssional criativo e atuante. A cada tempo histórico social, a sociedade capitalista exige saberes diferentes e práticas mais atuantes, para melhor atender ao corpo social vigente. É sempre importante compreender que, em tempos modernos que estamos vivendo, exige-se uma sociedade com conteúdos e preparada para as relações humanas pessoais e interpessoais. Hoje, o mundo do trabalho continua exigindo tudo isso e mais preparo com as habilidades e competências desenvolvidas, e é aí que entra a escola, como ponte desses saberes, criando a interlocução com a sociedade do trabalho, preparando o aluno e cidadão para novos enfrentamentos e exigências. Juventude e mudanças no ensino médio – Um novo olhar Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A nova proposta de ensino será um modelo que contará com áreas de conhecimento, permitindo ao educando fazer algo diferenciado para sua carreira e conhecimento universal. Ele terá a oportunidade de estar em um processo constante de aprendizagem dos novos componentes do Inova Educação e Aprofundamentos Curriculares, tendo a chance de trilhar outros caminhos, chamados de itinerários formativos, que fornecerão ao jovem estudante a oportunidade de construir uma carreira ao longo do ensino médio, o chamado projeto de vida, possibilitando a chegada ao ensino superior. A estrutura do novo ensino médio se iniciará a partir de 2022, para a 2ª série, e de 2023, para a 3ª série, sendo a escola responsável por distribuir ao aluno seus itinerários formativos, favorecendo as seguintes áreas de conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias, Matemáticae suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas e Ciências da Natureza e suas Tecnologias – ou formação técnica e pro�ssional. A proposta do Novo Ensino Médio surge após a visualização de uma estagnação dos índices de desempenho dos estudantes brasileiros. É sabido que o ensino médio é a etapa de ensino que tem as maiores taxas de evasão, reprovação e distorção idade-série com atraso escolar de dois anos ou mais. Essa reformulação justi�ca-se por um ensino de baixa qualidade, generalista, com número excessivo de disciplinas, alto índice de evasão e de reprovação e muito aquém das necessidades dos estudantes e dos problemas do mundo contemporâneo. De acordo com o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2020 (PORTAL DA INDÚSTRIA, 2022), apenas 65,1% dos brasileiros concluíram o ensino médio na idade esperada, até os 19 anos – percentual que chega a 51,2% entre os mais pobres. E 12% dos brasileiros com idades entre 15 e 17 anos estão fora das salas de aula. A escola precisa, portanto, conversar com a realidade atual, Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO promover um ensino alinhado com as necessidades dos estudantes e os preparar para viver em sociedade e enfrentar os desa�os de um mercado de trabalho dinâmico. Quais são os benefícios do Novo Ensino Médio? A implementação do Novo Ensino Médio traz benefícios para alunos e professores. Como ponto principal, ele disponibilizará mais tempo para os estudantes aperfeiçoarem conhecimentos especí�cos importantes para o futuro pro�ssional escolhido por cada um. Também, contribuirá com o desenvolvimento da carreira dos alunos, assim como seu projeto de vida. As escolas priorizarão atividades que promovem a cooperação, a resolução de problemas, o desenvolvimento de ideias, o entendimento de novas tecnologias, o pensamento crítico, a compreensão e o respeito. O que muda na rotina das escolas? A educação maker, conceito que foca na aprendizagem por meio de atividades e soluções práticas (“mão na massa”) aliadas à inovação, à criatividade, à sustentabilidade e à autonomia, ganha ainda mais força. A matriz de referência curricular pode ser organizada por disciplina ou por área de conhecimento e haverá a oferta de cinco itinerários. A carga horária de ensino também sofrerá alteração e, de maneira progressiva, todas as escolas de ensino médio passarão a ter ensino integral. Estudo e conhecimento No início do processo de conhecimento da implantação do projeto do Novo Ensino Médio, ocorreu uma resistência muito grande por parte de professores e alunos, mas, ao entenderem o desenvolvimento e como tudo seria, através de informações e materiais didáticos, o processo foi mais aceito. Materiais educacionais e conteúdos informativos, como infográ�cos e e-books, trouxeram dados relevantes e dicas práticas para toda comunidade escolar. Pensando nas novas estruturas da educação, caso a Secretaria da Educação de São Paulo, junto aos secundaristas e à sociedade civil, aceite o acordo da nova opção do ensino por itinerários por áreas de conhecimento, pensaremos em uma formação técnica e pro�ssional para os nossos educandos, ou optaremos por uma prática de ensino integrado, como já vem ocorrendo em algumas escolas do estado. É importante colocar que a direção da escola, junto à sua equipe de gestão e pedagógica, terá a livre escolha para os chamados itinerários na formação do educando, devendo ter, no mínimo, dois, contemplando todas as áreas do conhecimento. Quanto às mudanças para 2022 no Ensino Médio Já, teremos alterações já na estrutura de ensino médio, por exemplo, disciplinas terão que cumprir parte do conhecimento por itinerários e Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO por área de conhecimento, como ocorre hoje na divisão do Enem. Obedecendo, assim, à matriz curricular existente por disciplinas que já são ministradas em sala de aula com o educando, sendo que as disciplinas permanecerão com os seus professores especialistas, como está hoje, apenas com um olhar e uma prática interdisciplinares. O que se espera de cada pro�ssional de educação é que tenha em sua prática o incentivo à utilização da tecnologia como ferramenta e metodologias ativas ao novo currículo do estado de São Paulo, a �m de facilitar o processo de ensino-aprendizagem dos alunos e ser um facilitador ao professor, criando e desenvolvendo um maior incentivo motivacional ao educando com seus novos itinerários informativos. Essas mudanças só terão sucesso com a participação da sociedade civil, dos conselhos de classe e da escola, frente à gestão e coordenação pedagógica, assim teremos um exercício não somente da cidadania mas também a construção de uma educação �el àquela que os estudantes necessitam. Quando falamos da participação, referimo-nos à construção de uma atividade em prol da educação que vise a melhores resultados, os quais serão satisfatórios à medida que participarmos e opinarmos para resultados construtivos para uma sociedade transformadora. É importante compreender que o conhecimento na formação do jovem do ensino médio é muito construtivista na sua postura humana e nos processos intelectuais que ocorrerão nesse momento. Nesse sentido, o acompanhamento da escola é um processo sempre de construção em conjunto com alunos, gestão e coordenação, sempre em mudança para a sociedade. Videoaula: A educação brasileira após 2015 Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nesta aula, a partir dos conteúdos trabalhados, você compreenderá o que representa uma sociedade e um povo organizado em um só propósito de educação e cultura, o grande movimento de reorganização da escola pública e seus efeitos para o jovem estudante pobre e desprovido de bens culturais e sociais. O movimento secundarista em 2015 chacoalhou a educação brasileira, tornando-se algo histórico. Saiba mais Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO FAQ do Novo Ensino Médio Em caso de dúvidas, acesse o Atendimento Educação. Referências https://novoensinomedio.educacao.sp.gov.br/assets/docs_ap/FAQ-Novo_ensino_medio_.pdf https://atendimento.educacao.sp.gov.br/ Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 28 ago. 2022. CAVALIERE, A. M. Escolas públicas de tempo integral: uma ideia forte, uma experiência frágil. In: CAVALIERE, A. M.; COELHO, L. M. C. Educação brasileira e(m) tempo integral. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. INSTITUTO AYRTON SENNA. Modelo Pedagógico: princípios, metodologias integradoras e avaliação da aprendizagem. Diretrizes para a política de educação integral - Solução educacional para o ensino médio. São Paulo, SP: Instituto Ayrton Senna, 2015. INSTITUTO AYRTON SENNA. Manual de aplicação do instrumento de avaliação formativa para o desenvolvimento socioemocional. São Paulo, SP: Instituto Ayrton Senna, 2016. MACHADO, N. J. A vida, o jogo e o projeto. In: MACHADO, N.; MACEDO, L.; ARANTES, V. Jogo e Projeto: pontos e contrapontos. São Paulo, SP: Summus, 2006. PORTAL DA INDÚSTRIA. Novo Ensino Médio 2022: entenda tudo que muda. Portal da Indústria, 2022. Disponível em: https://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/novo-ensino-medio/. Acesso em: 30 nov. 2022. SÃO PAULO. Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Currículo Paulista. São Paulo, SP: SEDUC/SP, 2019. VALENTE, J. A. A sala de aula invertida e a possibilidade do ensino personalizado: uma experiência com a graduação em midialogia. In: BACICH, L.; MORAN, J. Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre, RS: Penso, 2015. Aula 5 Revisão da unidade Conhece e compreende os principais conceitos de História para análise crítica da educação http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ https://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/novo-ensino-medio/ Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃOA história é uma ciência humana que estuda o desenvolvimento do homem ao longo do tempo, analisando processos históricos, personagens e fatos para promover uma melhor compreensão dos períodos históricos, das diferentes culturas e civilizações. Um dos seus principais objetivos é o resgate das características culturais de um povo e seu contexto para que seja possível entender as formas como ele se desenvolveu ao longo do tempo. O aprendizado da história traz uma forte contribuição para a formação do sujeito, tendo como objetivo principal a formação cidadã do ser humano, pois essa disciplina apresenta dados sobre o contexto global e multicultural onde se inserem os indivíduos. Para cuidar da oferta e do acesso dos estudantes aos programas de ensino e projetos curriculares, o Estado atua nesse âmbito por meio de políticas públicas destinadas à população em idade escolar. Portanto, o Estado norteia seus projetos com vistas a resolver as grandes demandas sociais, como a redução dos índices de analfabetismo, a democratização do ensino, o preparo para o mundo do trabalho e o acesso à tecnologia, entre outros. Como forma a atender e resolver essas demandas, cabe ao Estado construir suas políticas educacionais em diálogo franco e aberto com a sociedade, promovendo e praticando a pedagogia da escuta, permitindo que comunidade escolar, por meio dos conselhos legalmente constituídos, tenha voz nas decisões. Atualmente, entre os objetivos do governo em relação à educação, destacam-se a ampliação do acesso à escola pública, a oferta de níveis elevados de qualidade, a superação do quadro crônico de analfabetismo infanto-juvenil, a Educação de Jovens e Adultos, o controle da fome, e a oferta de saúde de qualidade. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Na atual conjuntura, o que se espera da educação é a capacidade de um olhar diferente sobre a sala de aula, em especial, sobre a relação entre docente e aluno. Cada vez mais, há uma construção coletiva e dinâmica da aprendizagem, com estudantes compartilhando experiências buscando métodos de ensino ativos. A escola e seus agentes enfrentam muitos desa�os derivados das grandes mudanças ocorridas no século XXI. Hoje há a necessidade de se preparar o estudante para a vida e o trabalho num mundo que traz muitas inovações e incógnitas. Para isso, será necessário um ensino que valorize mais a compreensão e o raciocínio do que a memória meramente mecânica, além do desenvolvimento de habilidades socioemocionais, cognitivas e capacidade de trabalhar em grupo, por meio de aprendizagem colaborativa. Portanto, para projetar um futuro incerto, os educadores deverão conhecer bem a história das gerações precedentes, buscando no conhecimento que essa área nos fornece, elementos de compreensão que possam contribuir para o desenho de cenários por ora inimagináveis. Videoaula: Revisão da unidade Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. A história é uma ciência humana que estuda o desenvolvimento do homem no tempo, analisando processos históricos, personagens e fatos para promover uma melhor compreensão dos períodos históricos, das diferentes culturas e civilizações. O aprendizado da história traz uma forte contribuição para a formação do sujeito, tendo como objetivo principal a formação cidadã do ser humano, pois essa disciplina apresenta dados sobre o contexto global e multicultural onde se inserem os indivíduos Estudo de caso Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO No contexto do cenário educacional contemporâneo, encontramos medidas que são de fundamental importância para o avanço da democratização do ensino no Brasil. Um deles é a atual reforma do Ensino Médio. Considerando o conteúdo do texto abaixo, podemos dizer que a reforma do Ensino Médio tem de fato características tão positivas? A necessidade de reformulação da atual estrutura do Ensino Médio, adveio de análises estatísticas que vêm há mais de uma década monitorando os resultados de desempenho de estudantes dessa etapa da educação nacional. De acordo com pesquisas recentes, advindas da consolidação de dados coletados pelo governo federal sobre os resultados do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), tem havido uma cristalização dos índices de aprendizagem por parte dos estudantes, além do aumento das taxas de abandono, reprovação e atraso escolar com média de dois anos ou mais. Nesse sentido, surgiram por parte das autoridades um rol de justi�cativas que levaram à proposta de reformulação desse modelo, que no entender de especialistas educacionais vem se esgotando em termos de qualidade, organização curricular sobrecarregada com um grande número de componentes curriculares e distante da realidade concreta vivida pelos alunos. Decorre dessa propositura de reforma, a necessidade de a escola se aproximar mais da realidade, procurando aproximar os conteúdos contemplados pelo currículo do Ensino Médio, com os grandes temas sociais contemporâneas. Nessa perspectiva, uma das prioridades no entendimento dos técnicos responsáveis pela nova organização do Ensino Médio, é a ampliação do tempo destinado aos estudantes, para que possam se aprofundar em temas especí�cos do currículo que certamente trarão contribuição para o seu futuro desempenho pro�ssional. Assim, ao poder usufruir de um tempo maior para a dedicação e foco em assuntos acadêmicos, os estudantes poderão se bene�ciar da possibilidade de vislumbrarem temas que servirão de norte para projetos de vida que poderão planejar enquanto estiverem frequentando a escola. Por Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO meio da cooperação, trabalho em grupo, estratégia de resolução de problemas, os estudantes poderão desenvolver durante esse período da sua escolaridade, habilidades mais próximas do atual mercado de trabalho, além de se aproximarem dos instrumentos tecnológicos contemporâneos ao mesmo tempo em que desenvolvem o pensamento crítico e a ética. Além desses benefícios, com a presença de novas metodologias de ensino, a aprendizagem será mais contextualizada e motivadora. ______ Re�ita Podemos dizer que a reforma do Ensino Médio tem, de fato, características tão positivas, conforme o anunciado? Videoaula: Resolução do estudo de caso Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. No contexto do cenário educacional contemporâneo, encontramos medidas que são de fundamental importância para o avanço da democratização do ensino no Brasil. Um deles é a atual reforma do Ensino Médio. Considerando o conteúdo do texto abaixo, podemos dizer que a reforma do Ensino Médio tem de fato características tão positivas, conforme o anunciado? A proposta do Novo Ensino Médio surgiu após a percepção de uma estagnação dos índices de desempenho dos estudantes brasileiros, além do agravante de ter essa etapa educacional, grandes taxas de abandono, índices altíssimos de reprovação e um atraso escolar de dois anos ou mais. Foram muitas as justi�cativas para reformular a última etapa da educação básica: a baixa qualidade de um ensino genérico, com uma quantidade excessiva de disciplinas, evasão, de reprovação, além de distante das demandas cotidianas e reais do aluno. De acordo com o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2020, apenas 65,1% dos brasileiros concluíram o Ensino Médio na idade esperada, até os 19 anos percentual que chega a 51,2% entre os mais pobres. E 12% dos brasileiros com idades entre 15 e 17 anos estão fora das salas de aula. Nesse sentido, cabe à instituição escolar promover o diálogo entre os conteúdos curriculares e a realidade contemporânea, por meio de um ensino que esteja alinhado com as necessidades dos estudantes, preparando-os assim para a vida em sociedade e o enfrentamento dos desa�os de um mercadode trabalho altamente dinâmico. A implementação do novo ensino médio traz benefícios para alunos e professores. Primeiramente, destacado como ponto principal, que será possível disponibilizar mais tempo Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO para os estudantes aprofundarem em conhecimentos especí�cos que vão agregar e são importantes para o futuro pro�ssional que cada um escolher. O Novo Ensino Médio contribui ainda com o desenvolvimento do projeto de vida e carreira dos alunos, já que as escolas deverão priorizar atividades que promovam a cooperação, a resolução de problemas, o desenvolvimento de ideias, o entendimento de novas tecnologias, o pensamento crítico, a compreensão e o respeito. A forma como o Ensino Médio será implementado, trará muitos ganhos para docentes e discentes. Primeiramente, destacado como ponto principal, que será possível uma dilatação do tempo a �m de que os alunos tenham mais oportunidades para aprofundarem em temas de seu interesse e em assuntos mais especí�cos, que muitos contribuirão para o seu futuro pro�ssional. A reforma do Ensino Médio vai auxiliar os estudantes no desenvolvimento de projetos de vida e carreira, já que as escolas irão propor uma programação promotora de habilidades socioemocionais, cognitivas, incentivando a criatividade e o manejo de tecnologias contemporâneas Outro benefício da nova metodologia é o de proporcionar menos aulas expositivas e focar mais em projetos, o�cinas, cursos e atividades práticas e signi�cativas. Nessa perspectiva, em resposta ao estudo de caso aqui proposto, podemos considerar que o que a justi�cativa de reforma do Ensino Médio poderia ser positiva caso as autoridades governamentais respeitassem as etapas do processo de implementação dessa proposta, o que infelizmente não ocorreu, pois, a reforma pensada foi “atropelada” por uma Medida Provisória decretada pelo governo de Michel Temer. Como responsáveis pelo Ensino Médio, conforme dispõe a LDB em vigor, os estados e o Distrito Federal deveriam ser consultados sobre a proposta de reforma desse nível de ensino. No entanto, nem mesmo foram informados, sendo surpreendidos com a entrada em vigor da referida reforma uma vez que, sendo baixada por medida provisória, passou a valer imediatamente após sua promulgação. Logo que foi promulgada a medida provisória foi alvo de uma avalanche de críticas provenientes do Fórum Nacional de Educação, dos Conselhos e Secretarias estaduais de educação, assim como de diversas entidades representativas dos pro�ssionais da educação. No entanto, o governo, em lugar de levar em conta as críticas revendo a orientação impressa à reforma, ignorou-as e lançou uma agressiva campanha publicitária com muitas inserções diárias nos meios de comunicação. Resumo visual Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Figura 1 | Principais problemas do ensino médio. Fonte: Ministério da Educação, Tribunal de Contas da União e Movimento Todos pela Educação Referências Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO RIBEIRO, D. “Velha e sábia serpente” (Entrevista). Presença Pedagógica. v. 2, n. 8, p. 5-13, mar./abr. 1996. SAVIANI, D. A lei da educação (LDB): trajetória, limites e perspectivas. 13. ed. rev., atual. e ampl. com um novo capítulo. Campinas: Autores Associados, 2016a. SAVIANI, D. Da LDB (1996) ao novo PNE (2014-2024): por uma outra política educacional, 5. ed. rev., atual. e ampl. Campinas: Autores Associados, 2016b. SAVIANI, D. PDE – Plano de desenvolvimento da educação: análise crítica da política do MEC. Campinas: Autores Associados, 2009. , Unidade 4 Fundamentos teóricos da educação Aula 1 A ciência como promotora da educação Introdução Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Desde o Iluminismo, no século XVIII, quando surgiu, a ciência vem passando por transformações e in�uenciando o mundo e a vida do ser humano. Atualmente, o volume de elementos que ela produz por meio da atividade humana conduziu a sociedade a uma nova ordem: a tecnológica. Nesse sentido, a educação vem sendo in�uenciada por esse acervo, trazendo para os professores muitas di�culdades de acompanhar o novo ritmo, pois são migrantes digitais. O ideal da educação em ciência seria observar os comportamentos e as práticas que devem ser formadas, a �m de se produzir propostas que articulem a ciência e os dilemas naturais, sociais e culturais, em nível coletivo e individual. Do “achismo” à razão Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO O conhecimento advindo dos avanços cientí�cos e tecnológicos afeta toda a estrutura de nossa existência material e de nossas instituições sociais, principalmente a escola, local onde ocorre a transmissão do conhecimento. Nesse processo, o conhecimento divulgado precisa ser compreendido e interpretado pelo aluno, que traz para a sala de aula as suas vivências empíricas e culturais. Nesse sentido, com a intensa dinâmica tecnológica vivida pela sociedade nos dias atuais, o ensino dos conteúdos contidos nos componentes curriculares passa a enfrentar um novo desa�o, qual seja o de apresentar a ciência como produto de uma sociedade e de uma cultura, necessitando, portanto, de contextualização com a realidade do aluno em um processo permanente de ação e re�exão. Os educadores precisam compreender o processo dialético que envolve a cognição e a afetividade, a �m de que tenham condições de criar situações didáticas que levem o aluno à compreensão de que a ciência não é apenas algo que se situa na escola, mas uma ação humana que altera a natureza, a sociedade e o meio-ambiente no qual o estudante está inserido. Para Morin (2004, p. 57), O duplo fenômeno da unidade e da diversidade das culturas é crucial. A cultura mantém a identidade naquilo que a vida humana tem de especí�co; as culturas mantêm identidades sociais naquilo que têm de especí�co; as culturas são aparentemente fechadas em si mesma para salvaguardar sua identidade singular. Mas, na realidade, são também abertas: integram nelas, indivíduos não somente com os saberes e técnicas, mas também ideias, costumes, alimentos, indivíduos vindo de fora. Assim, a cultura do aluno não pode ser ignorada, e sua opinião a respeito dos elementos do conhecimento curricular precisa ser considerada em um processo pedagógico que precisa ser humanizado. Sem um processo didático que contextualize o conteúdo escolar com o conteúdo da vida que o aluno experimenta fora da escola, o ensino se torna prejudicial e sem sentido para o aluno que interage. Dessa forma, um conhecimento cientí�co apresentado na escola de forma descontextualizada é encarado pelos estudantes como um processo de simples acúmulo de informações e nada mais, permanecendo no nível do senso comum. Logo, a escola tem o importante papel de elevar o nível do conhecimento discente, pois o senso comum que ele vive e traz para a escola é baseado no “achismo”, chamado pelos �lósofos de “doxa” (opinião), um conhecimento empírico, “ingênuo”, popular, que se sustenta na super�cialidade. O senso comum se baseia em opiniões fundamentadas em hábitos do cotidiano, espontâneos e sincréticos. O saber adquirido empiricamente é fortuito, sem sistematização, fragmentado, que tem como objetivo atender às demandas do dia a dia. Sua característica principal é o imediatismo, sem profundidade. A educação escolar tem, portanto, nesse contexto, o papel de retirar o aluno desse estágio de conhecimento e levá-lo para o universo do conhecimento cientí�co, sem descuidar da relação dialética entre cognição e afetividade. A tarefa educacional nesse contexto, é a de desenvolver uma concepção e uma práxis mais coerente com as demandas sociais contemporâneas, tanto dos educadores quanto das famílias dos educandos, de forma a respeitar o legado ocidental do conhecimento produzido e sistematizado. Disciplina FUNDAMENTOSDA EDUCAÇÃO O valor da compreensão No cenário educacional contemporâneo, é fundamental o desenvolvimento de uma prática pedagógica que incentive a construção da capacidade crítica do educando, entendendo por ela: “[…] uma educação crítica, transformadora e emancipatória, que tem como �nalidade contribuir para a construção de uma sociedade justa, democrática e sustentável e […] a intervenção quali�cada” (QUINTAS, 2008, p. 31). Nesse sentido, é necessário apontar para uma educação que considere o cenário social e como os seres humanos são capazes de modi�car hábitos com base em novas experiências, para obter um aprimoramento sobre a vida. Para que isso seja possível, o currículo surge como um elemento primordial; e mais do isso, urge a construção de uma proposta pedagógica pautada na ética e que que parta de um trabalho coletivo, em que todas as necessidades e orientações educacionais estejam voltadas para o alcance de objetivos compartilhados pelo coletivo da escola. Portanto, para que essa metodologia de trabalho, fundamentada em um currículo dialético construído coletivamente, seja desenvolvida, o educador precisa conhecer e investigar o contexto cultural vivido pelos estudantes, além de re�etir a seu respeito, a �m criar condições para que eles criem e recriem os saberes cientí�cos contidos no projeto curricular. O processo de ensino e aprendizagem, portanto, deve ser capaz de relativizar os conteúdos contidos no currículo, colocando-os em relação com os conhecimentos prévios que os estudantes adquirem ao longo do processo educacional, reconhecendo a necessidade de se desenvolver um senso crítico sustentado nas demandas humanas. Nesse sentido, a educação passa a ser essencial para o desenvolvimento do cidadão, tendo a consciência do seu papel fundamental no processo de formação histórica e cultural dos alunos. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Educar de forma mais próxima do pensamento cientí�co signi�ca praticar um ensino que permita ao aluno o entendimento do papel que a ciência desempenha na sociedade, identi�cando-a como um processo histórico e dinâmico, e não como um conhecimento “mágico” que subestima a inteligência humana e a própria transformação histórica da sociedade. Assim, educar o aluno para o conhecimento cientí�co signi�ca formar um sujeito inserido de forma consciente no contexto social concreto, pois, como explica Carvalho (2012, p. 77), “o educador é por ‘natureza’ um intérprete, não apenas porque todos os humanos o são, mas por ofício, uma vez que educar é ser mediador, tradutor de mundos”. Nessa direção, é preciso mostrar ao aluno de forma permanente, mediada pelo conteúdo e prática do currículo, que a dinâmica da ciência e a da sociedade não são dois processos distintos, pois existe uma interação entre a ciência e as condições sociais nas quais ela se desenvolve, sendo que tentar isolar de alguma forma essa relação dialética que evidencia a ação das forças sociais e econômicas é negar ao estudante o conhecimento do poder de ação humana sobre a natureza. Segundo Morin (2007, p. 32), A compreensão entre sociedade e ciência supõe sociedades democráticas abertas, o que signi�ca que o caminho da compreensão entre culturas, povos e nações passa pela generalização das sociedades democráticas. Mas não nos esqueçamos de que, mesmo nas sociedades democráticas abertas, permanece o problema epistemológico da compreensão: para que possa haver compreensão entre as estruturas de pensamento, é preciso passar à metaestrutura do pensamento que compreenda as causas da incompreensão de uma em relação às outras, e que possa superá-las. Compreender para atuar Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO “Os descobrimentos até agora feitos de tal modo são que quase só se apoiam nas noções vulgares. Para que se penetre nos estratos mais profundos e distantes da natureza, é necessário que tanto as noções quanto axiomas sejam abstraídos das coisas por um método mais adequado e seguro, e que o trabalho do intelecto se torne melhor e mais correto”. (BACON, 1973, P. 22, AFORISMO XVIII). Quando o pesquisador se dedica a uma investigação cientí�ca, ele se apoia em algum método, que lhe possibilita fazer antecipações mentais. Estas por sua vez, se constituem como meios de racionalizar o agir, auxiliando-o a fazer uma melhor adequação entre os meios e os �ns, impedindo-o de guiar-se apenas por aquilo que é ocasional. Em certas circunstâncias, o pesquisador não pode contar apenas com os seus sentidos, pois muitas vezes, eles são insu�cientes para a observação cientí�ca, tornando-se necessário, nesse caso, o uso de instrumentos, pois os mesmos fornecem maior rigor à observação, tornando-a mais objetiva. Nesse sentido, uma primeira di�culdade a ser considerada é a de que a observação cientí�ca não é uma mera observação dos fatos, pois quando o pesquisador observa a realidade, ele já seleciona aspectos que chamam mais a sua atenção, fazendo “recortes” na realidade observada. Portanto, como asseveram Aranha e Martins (1995, p.156): Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Quando se trata do olhar de um cientista, este se acha impregnado por pressupostos que lhe permitem ver o que o leigo não percebe. Se olhamos uma lâmina ao microscópio, quando muito percebemos cores e formas. Precisamos estar de posse de uma teoria para "aprender a ver”. Em outras palavras, ao fazer a coleta de dados, o cientista seleciona os mais relevantes para o encaminhamento da solução do problema. O critério para a seleção dos fatos obviamente já orienta a observação. A posição empirista da ciência parte da premissa de que ela sempre partirá da observação de dados sensíveis ao humano. No entanto, em que pese a importância da observação para o desenvolvimento da ciência, é importante considerar que os fatos são resultados dela (da observação). Videoaula: A ciência como promotora da educação Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Nessa videoaula, vamos abordar as in�uências do iluminismo na educação, perpassando pelos principais aspectos históricos da modernidade. Saiba mais Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Explore os conteúdos extras e aprofunde ainda mais os conhecimentos já adquiridos. Resenha crítica sobre o documentário “ponto de mutação”, de Fritjof Capra e suas perspectivas para o mundo contemporâneo ambientalmente sustentável em tempos de pandemia O ponto de mutação. Dirigido por Bernt Amadeus Capra. Produzido por Klaus Lintschinger. Estados Unidos: Triton Pictures. 9 de setembro de 1990. Referências https://www.atenaeditora.com.br/post-artigo/42170 https://www.atenaeditora.com.br/post-artigo/42170 https://www.atenaeditora.com.br/post-artigo/42170 Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ARANHA, M.L.A.; MARTINS, M.H.P. Temas de �loso�a . São Paulo: Moderna, 1992. CARVALHO, I. Educação ambiental: a formação de sujeito ecológico. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2012. SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. Editora Cortez Autores Associados, 2013. MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 13. ed. São Paulo: Bertrand Brasil, 2007. MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Brasília, DF: UNESCO, 2000. QUINTAS, J. S. Educação no processo de gestão ambiental pública: a educação ambiental no contexto da gestão ambiental pública. Em formação,Rio de Janeiro, v. 3, 2008. Aula 2 Re�exões sociológicas sobre a educação Introdução Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A educação é direito fundamental previsto na Constituição de 1988, e para que a escola cumpra o seu objetivo de criar as condições de autonomia para todos os seres humanos, durante o processo educacional, ela deve oferecer além das condições físicas de acesso a todas as pessoas, também condições de permanência e aprendizagem, por meio do estímulo a todas as diferenças, considerando aspotencialidades individuais. Assim, professores e funcionários devem estar bem preparados, inclusive para dialogar de forma construtiva com todos os familiares dos alunos, o que implica cursos de formação continuada para que aprendam a lidar com a diversidade. Educação e cidadania Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A globalização da economia, dos costumes e dos valores é um fenômeno muito recente na história da humanidade, que veio potencializar os níveis de degradação humana por meio de um gigantesco processo de exclusão social. Fundamentada no fortalecimento do capital, esse processo tem trazido para os países menos desenvolvidos do planeta grandes desa�os de toda ordem, principalmente os relativos à saúde e à educação dos povos. Nesse sentido, o fenômeno da globalização vem contaminando diversos segmentos da sociedade, principalmente os que possuem a hegemonia do capital �nanceiro, trazendo como consequência o que Santos (2000) denomina de “tirania do dinheiro”. Nesse cenário, o Banco Mundial, o FMI e outras instituições estão, no cenário social contemporâneo, ditando as regras no mundo globalizado, o que afeta o epicentro da política educacional brasileira. É notório que as diretrizes do mercado �nanceiro vêm in�uenciando as propostas de política de educação básica, formação técnico-pro�ssional e de quali�cação, defendendo um ensino pautado no desenvolvimento de habilidades e competências voltadas para a empregabilidade, reforçando, assim, uma ideologia capitalista de natureza fordista ou pós-fordista que, como é visível, leva à legitimidade da exclusão social. No contexto do mundo globalizado, a educação aparece como um dos mais importantes �os dessa complexa tessitura, auxiliando na consolidação do capitalismo neoliberal em dimensões cada vez mais abrangentes. As con�gurações assumidas pelo capitalismo na contemporaneidade se traduzem em uma organização social caracterizada pelo incentivo à acumulação desmesurada do capital, fundada na lógica do mercado livre em suas proporções globais e fortalecida pela emergente revolução Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO tecnológica, o que vem exigindo um novo per�l de mão-de-obra quali�cada que possa, de maneira cada vez mais alienada, atender às demandas do mercado. Nesse emaranhado maquiavelicamente arquitetado, o discurso pedagógico se reveste de uma narrativa e prática cotidiana legitimadora da preparação e adequação dessa mão-de-obra quali�cada por meio da oferta de uma formação geral e pro�ssional. Nesta direção, as re�exões na área educacional acontecem em torno da questão da qualidade de ensino como articuladora do papel da escola diante das recorrentes e emergenciais exigências do capitalismo global, dando o tom da produção das políticas públicas de educação. Neste contexto, as tecnologias de educação surgem de maneira cada vez mais forte, introduzindo novos elementos que demonstram o atual per�l dos usuários do cenário contemporâneo. Por outro lado, ao mesmo tempo em que essas tecnologias de comunicação e informação têm servido de material e ideologia para a distribuição dos males da globalização pautada pela lógica capitalista, elas possibilitam também a pulverização de novos arranjos sociais, com a retomada do fenômeno do multiculturalismo. A horizontalidade da rede tecnológica contemporânea apresenta um grande potencial de um intercâmbio de conexões entre os diversos grupos humanos, abrindo espaço para participação destes, não apenas como consumidores de bens materiais (produtos), mas também como criadores e recriadores conhecimento (moeda do momento histórico atual). Portanto, a inclusão será desconstruída, pois toda a humanidade será capaz de produzir e consumir diferentes saberes, possibilitando que o rico entrecruzamento de culturas entre todos os povos do planeta de tal forma que acabará a hegemonia de único grupo e isso trará como consequência a necessidade de se pensar e de se construir um novo paradigma educacional. Globalização e exclusão Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Para Santos (2000), quando as pessoas estão juntas, elas criam cultura e, paralelamente, criam uma economia, um discurso e uma política que têm as características do seu território, o que aparentemente parece uma fraqueza, mas, na realidade, é uma força. Seguindo nessa linha de análise, o autor a�rma que é deste modo que, quando formada no interior do território, essa cultura serve como um alimento da política dos pobres, e que, por sua vez, acontece de forma autônoma, isto é, sem depender de partidos políticos ou de outras organizações. A sociedade em que vivemos ainda é caracterizada fortemente pelo modelo capitalista, que insiste em disseminar os valores da modernidade. Entretanto, há sinais indicativos de que estamos entrando numa nova fase histórica que começa a surgir e a demonstrar que a superação desse modelo econômico não será feita pela substituição de uma outra forma de poder hegemônico, mas sim pela capacidade de indignação humana de contestar e questionar a ideologia que sustenta essa lógica. O esforço coletivo dos pesquisadores de analisar e nos fazer re�etir sobre a problemática da globalização e suas consequências para a educação é fundamental para colocar em evidência a tensão existente entre dois movimentos, aparentemente contrários, mas que convivem no contexto social contemporâneo: a globalização e seus interesses políticos e econômicos, e a visibilidade cada vez maior que os movimentos dos diversos grupos sociais minoritários vêm conquistando nas últimas décadas. A sociedade brasileira precisa de uma nova educação, um modelo renovado, que seja mais inclusivo e menos excludente. Para tanto, esse modelo precisa ser capaz de reconstruir a educação, de forma que ela consiga compreender os diferentes interesses dos movimentos sociais. Formar indivíduos com competências e habilidades especi�cas para viver no mundo globalizado é muito importante, porém, também é necessária a criação de oportunidades que consigam desenvolver a sua sensibilidade, pois as pessoas precisarão desenvolver a capacidade de conviverem com a multiculturalidade, com a diversidade, com as diferenças e com as incertezas e a instabilidade do mundo contemporâneo. Nesse sentido, a quebra da ideologia faz-se urgente e, para isso, os alunos precisam compreender o conceito de hegemonia, pois, de acordo com o �lósofo Antonio Gramsci, “toda relação de ‘hegemonia’ é necessariamente uma relação pedagógica, que se veri�ca não apenas no interior de uma nação, entre as diversas forças que a compõem, mas em todo campo internacional e mundial, entre conjuntos de civilizações nacionais e continentais” (GRAMSCI, 1978, p. 37). Tendo como suporte o pensamento de Gramsci sobre hegemonia, pode-se dizer que a função educativa se torna relevante e imprescindível, já que a educação faz parte do processo para a concretização de uma nova concepção de mundo e para a construção da hegemonia da classe trabalhadora, desde que dirigida para os seus interesses. Portanto, uma vez que a sociedade brasileira precisa de uma nova educação, efetivada por meio de um projeto curricular renovado, que seja mais inclusivo e menos excludente, é de suma importância que a educação nacional atinja não somente o âmbito individual, mas principalmente o coletivo. Assim, irá se tornar um mecanismo de extrema relevância para os processos de lutas que visam à transformação da sociedade, isto é, uma educação voltada aos interesses dos trabalhadores e que ensine conhecimentos vivos, críticos e transformadores, contribuindo para a construção da conscientização da classe trabalhadora como classe dominada que precisa lutar para que outro modelo seja construído. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Escola double face Para entender melhor a forma como a globalização afetou a educação no Brasil, é importante saber o que ela signi�ca exatamente. Esse fenômeno histórico tem na década de 80 a sua denominação e pode ser entendido como uma descrição do movimento uni�cador da economia e da política.Suas origens podem ser remontadas ao século XV por ocasião do movimento histórico das grandes navegações na Europa. No cenário contemporâneo, a globalização encontra nos meios de comunicação, de transporte e tecnológicos fortes aliados, que potencializam o seu poder, pois agilizam as trocas informacionais que ocorrem de forma simultânea e em escala mundial Em relação à educação, é importante considerar de quais formas a globalização a impacta, principalmente na escola brasileira. No entanto, ainda que a globalização possibilite o acesso à tecnologia, à ciência e à pesquisa a nível mundial, não é possível compreender a ação educativa fora do contexto da alienação, uma vez que os valores da sociedade moderna capitalista atravessam as políticas públicas educacionais. Ainda que seja um direito constitucional, o acesso à educação no Brasil não ocorre da mesma forma para todas as classes sociais, principalmente no contexto social contemporâneo, pois o Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO índice de desempenho da escola nacional é um dos piores do mundo. Nesse sentido, governos têm adotado projetos educacionais padronizados pelo mercado internacional e, no caso do Brasil, podemos citar como exemplos dessa nova realidade, a adoção e reformas na escola pública de Ensino Médio, bem como em seu projeto curricular. Em que pese a resistência de alguns segmentos da população, essas mudanças no currículo, que oferecem novas possibilidades aos alunos de optarem por caminhos formativos (projetos de vida), ocasionaram nos estudantes o exercício do autoconhecimento, podendo concentrar-se de maneira mais autônoma nos componentes curriculares, nas áreas de conhecimento e na formação técnica ligadas à pro�ssão que desejam exercer. No entanto, por trás dessa aparente naturalidade de poder escolher disciplinas que queiram cursar, é sempre bom lembrarmos e levarmos em consideração o fato de que a sociedade é dividida por classe diferentes e que, sob o critério do capital, gera-se um antagonismo a ser reproduzido e reforçado pelo sistema educacional. Nesse sentido, os �lhos da classe trabalhadora estão sempre em defasagem, pois raramente alcançam níveis superiores de ensino, sendo encaminhados para atividades manuais. A escola, neste caso, tem a função de reproduzir a divisão social já existente. Assim, a instituição escolar continua praticando a dualidade, qual seja, aquela que mantém a cisão entre o acadêmico e o manual, sendo que, graças a essa dicotomia, a manutenção da lógica capitalista continua sendo garantida. Portanto, a globalização e o modelo econômico capitalista afetam a vida da população proletária de maneira cruel e “malvada”, pois, por trás de uma aparente inclusão social, esconde-se uma maneira perversa de manutenção no status quo da classe dominante, tendo a educação como uma ferramenta estratégica. Nessa direção, é urgente a necessidade de se conscientizar os estudantes sobre essa terrível artimanha, principalmente os �lhos da classe trabalhadora, alunos da escola pública, os que mais precisam dela para emancipação e formação crítica. Videoaula: Re�exões sociológicas sobre a educação Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. O ser humano é dotado da capacidade de linguagem, diferentemente dos outros animais. Graças a essa faculdade psíquica de ordem superior, o homem age de forma intencional diante do meio e, com isso, promove transformações no mundo. Essa ação intencional e transformadora que é o trabalho possibilita ao ser humano a produção de bens materiais e culturais. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Nesse sentido, a instituição escolar, ao planejar e executar o seu projeto curricular, deve levar em conta a pluralidade e a diversidade cultural, buscando caminhos efetivos de contemplar as diferenças que existem na sociedade e estão presentes no interior da escola. Tratar sobre a diversidade e a pluralidade cultural é considerar que não existe uma única cultura, mas sim, inúmeras culturas, diferentes entre si. Nesse sentido, a escola precisa buscar caminhos efetivos de consolidar uma prática educacional inclusiva, que alcance a todos, de forma indistinta. Saiba mais Aprofunde ainda mais seus conhecimentos fazendo a leitura dos seguintes artigos: O acesso universal à Educação no Brasil: uma questão de justiça social Cidadania desde a infância e educação para a democracia: da negação da fala à perspectiva de fortalecimento da voz da criança Referências https://www.scielo.br/j/ensaio/a/HMMGnHxD4d3763DMh9ZShsr/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rbedu/a/NTccBByqp94d3FmCszMhSTj/?lang=pt https://www.scielo.br/j/rbedu/a/NTccBByqp94d3FmCszMhSTj/?lang=pt Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO EAGLETON, T. A ideia de cultura. São Paulo: Ed. Unesp, 2005. GADOTTI, M. Diversidade cultural e educação para todos. Rio de Janeiro: Graal, 1992. GRAMSCI, A. Concepção dialética da História. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978. MESQUITA, D. L. de. Cidadania desde a infância e educação para a democracia: da negação da fala à perspectiva de fortalecimento da voz da criança. Revista Brasileira de Educação, v. 27, 2022. SANTOS, J. L. dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2006. Coleção primeiros passos. SILVA, M. J. A. da; BRANDIM, M. R. L. Multiculturalismo e educação: em defesa da diversidade cultural. Diversa, ano 1, p. 51-66, jan./jun. 2008. TREZZI, C. O acesso universal à Educação no Brasil: uma questão de justiça social. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, v. 30, p. 942-959, 2022. UNESCO. Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural. In: BRANT, L. (Org.). Diversidade cultural. Globalização e culturas locais: dimensões, efeitos e perspectivas. São Paulo: Escritura/Instituto Pensarte, 2005, p. 207-214. VALENTE, A. L. Educação e diversidade cultural: um desa�o da atualidade. São Paulo: Moderna, 1999. Aula 3 A educação do século XXI Introdução Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Até um passado recente, o papel do professor era reproduzir conhecimento, enquanto os alunos recebiam lições e se preparavam para provas. Hoje, o ambiente escolar valoriza mais a prática, e coloca o estudante como protagonista de seu próprio aprendizado. Além disso, busca proporcionar uma formação mais ampla, pois o estudante é considerado o responsável pelo seu progresso. Com a transformação digital, a democratização do conhecimento veio trabalhando intensamente. Na mesma medida, o mercado de trabalho passou a buscar habilidades diferentes, forçando os sistemas de ensino a pensarem em desenvolvimento cognitivo, comportamental e intelectual, tendo o desenvolvimento da cidadania como eixo central. Pensamento complexo Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO O pensador e sociólogo francês Edgar Morin elaborou, em sua obra “os sete saberes necessários à educação do futuro”, re�exões a respeito de qual seria a educação adequada ao novo cenário mundial. Ele parte de uma análise inicial, remontando às origens do homem, na condição de homo sapiens, mostrando que ele é resultado da vida natural que interage com a cultura, alertando-nos sobre a necessidade de construção da educação do futuro, pois o atual modelo educacional ainda se respalda no passado, modelo este que se caracteriza principalmente pela fragmentação do conhecimento. Morin assevera sobre o pensamento complexo, aquele capaz de fornecer às novas gerações uma educação integral. De acordo com o �lósofo, a pedagogia atual fragmenta o conhecimento, despertando no educando a falsa ideia de que o universo é fragmentado, sem conexão com o universal. Assim, há uma ruptura na interação entre local e global, o que resulta na resolução das questões existenciais de forma desvinculada do contexto em que elas se situam. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Ao considerar a classe escolar como local de complexidade, pois a mesma agrega osdiferentes estratos socioeconômicos, a multiplicidade de emoções e culturas, o �lósofo a�rma ser este o espaço ideal para o início a uma transformação de paradigmas, pois a sala de aula precisa ser local de signi�cado para os estudantes. A trajetória proposta por Morin é aquela que rompe com o âmbito estreito da disciplina e compreende o contexto que tem o poder de encontrar a sua conexão com a existência. Nesse sentido, ele defende a necessidade de ruptura com a fragmentação do conhecimento em campos restritos, e também a eliminação da estrutura que determina uma hierarquia rígida entre as disciplinas. Neste esforço de proposta de uma mudança de paradigma educacional, Morin estabelece os sete saberes indispensáveis para o futuro da educação. O primeiro nos alerta sobre as cegueiras do conhecimento, aquela que nos induz ao erro e à ilusão: propõe a valorização do erro como instrumento de aprendizagem, pois a�rma ser impossível conhecer alguma coisa primeiro se cair nos equívocos ou nas ilusões. O segundo saber se relaciona ao conhecimento, à necessidade de se a unir os mais diversos campos do conhecimento para combater a fragmentação; nessa direção, a educação deve deixar a bem claras o contexto de conexões que existem entre os diferentes campos dos saberes. O terceiro saber é ensinar a condição humana, mostrar ao educando que o ser humano é multidimensional, sendo que à pedagogia do futuro necessita, prioritariamente, privilegiar a compreensão da natureza do ser humano. A identidade terrena é o quarto saber, sendo fundamental que o aluno conheça o lugar no qual ele habita, reconhecendo suas necessidades de sustentabilidade, criatividade, as novas tecnologias, os problemas sociais e econômicos que tudo isso contempla. O quinto saber refere-se à urgência de enfrentar as incertezas, que tem como ponto de partida a certeza da existência de a dúvida existe e é companheira de viagem do ser humano, pois, apesar do progresso da humanidade, não é possível, ainda, fazer previsões sobre o futuro. O sexto saber aponta para a necessidade do ensino da compreensão, como ponto fundamental na interação humana, sendo que a mesma deve estar presente em todos os campos de atividade humana ocorridos no cotidiano escolar. O sétimo saber refere-se à ética do gênero humano, correspondendo ao que Morin de�ne como “antropo-ética”, que aponta para a ideia de empatia. A cabeça bem-feita Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A sociedade atual atravessa uma crise global profunda, sendo que a tomada de consciência sobre a existência dessa crise, leva-nos à percepção do caos que vivenciamos, o que nos impulsiona para a busca outro caminho, aquele que seja superado do individualismo que há muito tempo tem causado inúmeros males para a nossa existência. No contexto atual, as relações sociais, culturais e educacionais, entre outras, parece ser um modelo falido, pois a despeito de termos alcançado um desenvolvimento social e tecnológico considerável, que nos possibilita um certo conforto material, esse é privilégio de uma minoria. Nesse sentido, se faz necessária a quebra desse paradigma, contemplando o conjunto de re�exões que vimos construindo já há um bom tempo. O referido modelo falido de educação, amparado na valorização do método mecanicista e materialista de ensino, vê o aluno como recipientes vazios que precisam ser preenchidos com os valores contidos num modelo de sociedade que tem um currículo descontextualizado, fragmentado e in�exível, que não contempla a emoção e nem os saberes originais dos estudantes. No lado oposto ao de uma educação fragmentada, a partir da década de 70 do século passado, de maneira interdisciplinar, estudiosos de diversos campos do conhecimento passaram a se manifestar, e de maneira organizada, passaram a estabelecer princípios norteadores de um caminho mais equilibrado para a interação entre a essência e a existência humanas. Acreditando que o homem integral tem a capacidade de criar uma sociedade saudável, a abordagem holística prega um modelo de educação mais íntegra, respeitadora das habilidades e percepções individuais que contempla o ser humano como ser singular e valioso, que tem a Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO capacidade de aprender com sua subjetividade, amparado pelas artes, pelo diálogo e por momentos de re�exão. O cartesianismo prevalece na da trajetória escolar do indivíduo, pois o sistema educacional contemporâneo, fruto do iluminismo, vem trazendo a razão como única possibilidade de educação do ser humano. Pistas desta premissa são encontradas na organização do sistema educacional em forma de turnos, horários, seriações e grade curricular, entre outros aspectos inerentes à arqueologia da cultura escolar. Nesse sentido, como nos adverte Edgar Morin, urge reformar o pensamento moderno, tendo a Universidade como ponta de entrada e o respeito à natureza humana dos estudantes, que originariamente é integrada e complexa. Evolução ou involução? Desde os primórdios da existência humana na terra, fenômenos naturais vêm ocorrendo, ligando as histórias de vida do homem e do Universo. Pesquisadores e �lósofos, vêm de longa data buscando o entendimento de que a vida humana faz parte de uma manifestação mais abrangente e harmoniosa. A forma como o ser humano se vê e enxerga o mundo circundante, vem se modi�cando continuamente. Ao longo da história diferentes formas de entender a sua origem e a dinâmica da sua existência, vão surgindo pensamentos e percepções, cada vez mais múltiplas e divergentes do modelo iluminista. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A compreensão de mundo e o modo como se materializou essa compreensão, relaciona-se diretamente com o modelo racional de produzi-los. A consciência crescente, capacidade genuinamente humana, coloca o homem como ser singular, com um alto grau de complexidade e superior às outras formas de vida existentes na natureza. Essas características, que nos permite uma maior compreensão acerca dos fenômenos existenciais, baseiam-se na concepção cartesiana mecanicista de mundo e de ciência, que é substancialmente diferente do paradigma sistêmico, complexidade e da autopoiese. Estes últimos nos apresentam uma situação diferente de concepção da realidade, pois caminham para um princípio de complementaridade. O modo de pensar sistêmico mostra que todos os organismos que habitam o planeta são probabilidades de existência e manifestação. O paradigma holístico traz desdobramentos para vários campos de análises e compreensão da ciência, especialmente para as da vida. Ele exige abordagens orgânicas, dos sistemas vivos, das relações existenciais em interação harmoniosa com a natureza. Videoaula: A educação do século XXI Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. A prática educativa, tem desde a sua origem, a centralidade na função do mestre como um transmissor do conhecimento, e na do aluno um reprodutor passivo que se utiliza de sua memória e retórica. No contexto contemporâneo, esse modelo não faz mais sentido, e nos lugares que ele ainda ocorre, traz como resultados alunos desmotivados e evasão escolar. Atualmente, o contexto escolar valoriza muito mais a prática, posicionando o estudante como protagonista de seu próprio aprendizado. Além disso, procura oferecer e realizar uma formação mais integral, pois o estudante passa a ser considerado parte do processo educacional. A transformação digital, a universalização do acesso à escola e a democratização do conhecimento vêm interferindo substancialmente nas abordagens pedagógicas. Da mesma forma e de maneira intensa, o mercado de trabalho bem buscando trabalhadores com habilidades diferentes, o que tem forçado os sistemas de ensino a refazerem seus projetos curriculares, considerando o desenvolvimento cognitivo, comportamental, intelectual e o desenvolvimento da cidadania como eixos fundamentais.Saiba mais Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Para complementar ainda mais os seus estudos, que tal dar uma olhada nessas dicas de conteúdo? Edgar Morin: "A escola mata a curiosidade" Entrevista Mário Sérgio Cortella - Educação x Escolarização Referências https://novaescola.org.br/conteudo/894/edgar-morin-a-escola-mata-a-curiosidade http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=19605 Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ASSMANN, H. Metáforas novas para reencantar a educação: epistemologia e didática. Piracicaba: UNIMEP, 1996. ASSMANN, H. Paradigmas Educacionais e Corporeidade. Piracicaba: UNIMEP, 1994. BOFF, L. Tempo de Transcendência. Rio de Janeiro: Sextante, 2000. CAPRA, F. O Ponto de Mutação: A ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo: Cultrix, 1994. CARDOSO, C. M. A canção da inteireza: uma visão holística da educação. São Paulo: Summus, 1995. MORIN, E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2002. Aula 4 A educação na atualidade Introdução Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A escola, como entidade socializadora, deve promover a formação do caráter dos educandos. Diferentemente da educação tribal, onde todos tinham o dever de participação desde a formação do caráter das crianças até a preparação para a vida, atualmente observa-se certa falta de comprometimento e envolvimento por parte da família e, em parte, falta mais empenho da escola no que se refere a intervenções sociais na comunidade local, visando à preparação e à formação do caráter social dos alunos, o que aumenta a sua responsabilidade quanto ao seu verdadeiro papel na sociedade. Escola e família Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Existe um casamento que nunca passará por divórcio. Trata-se do elo que liga a escola e a sociedade. No âmbito social, encontra-se a família, que sempre buscará na escola um “porto seguro”, no sentido de ajudá-la a educar os seus �lhos. No contexto escolar, sempre haverá entre os seus agentes a preocupação em atender às demandas familiares e às da sociedade como um todo. Nesse sentido, à escola enquanto instituição cabe a tarefa de cumprir com a sua função social de articular os conceitos espontâneos dos indivíduos com os conceitos cientí�cos contemplados e salvaguardados pelo projeto curricular, sendo, portanto, a mediadora desse processo. Assim, enquanto “guardiã” do conhecimento produzido e sistematizado pelas gerações precedentes, compete à escola a de�nição de metas e estratégias de aprendizagem para que as novas gerações possam dele se apropriar e utilizá-lo como referência na edi�cação da sua personalidade e futuro desempenho pro�ssional. Para cumprir com esse propósito, a escola, por meio dos seus professores, deverá fazer a seleção de conteúdos, que por sua vez estarão contidos no currículo, sendo que este é uma das instâncias do projeto político pedagógico da instituição Assim, ao dar início a seu trabalho na unidade escolar, o professor deverá conhecer a priori o conjunto desses documentos e ter preparo acadêmico condizente com a área e o componente curricular em que atuará. Nesse sentido, a gestão escolar deve estar atenta ao desempenho dos professores e, caso haja alguma intercorrência, a equipe gestora deverá proporcionar formação continuada para os docentes, pois há uma grande heterogeneidade nas formas como as universidades os formam, e isso muitas vezes traz re�exos não muito favoráveis na prática docente. Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Nessa direção, a equipe gestora pode oferecer uma gama de atividades de formação, incluindo nesse conjunto seminários, fóruns, palestras, o�cinas, grupos de estudo, pesquisas, estudos de caso, entre outras alternativas. Nessa perspectiva, evidencia-se a prioridade do planejamento das ações pedagógicas, pois será a partir dele que os caminhos metodológicos voltados para a aprendizagem serão de�nidos, selecionados e aplicados. A equipe pedagógica, respaldada pela gestão da escola, construirá um percurso favorável ao desenvolvimento e à aprendizagem dos alunos, à medida em que for conhecedora da legislação educacional, das teorias que fundamentam a aprendizagem, bem como de como se dá o processo de construção de conhecimento por parte do aprendiz. Além do domínio desse conjunto de saberes relativos à dinâmica do processo pedagógico, deverá também contribuir com a elaboração do projeto curricular da instituição e buscar uma constante comunicação com a família e a comunidade do estudante. Agindo assim, o professor contribuirá para o processo de construção da cultura e identidade da unidade educacional onde atua. Portanto, tendo oportunidade de re�exão no contexto da prática pedagógica, o docente desenvolverá gradualmente a habilidade de se posicionar criticamente diante dos fatos ocorridos no cotidiano da instituição, colocando em ação pontos importantes que planejou no sentido de aperfeiçoar o seu trabalho. Nessa direção, é fundamental manter viva uma comunicação com a comunidade de origem do aluno, bem como com seus familiares, pois, agindo de maneira preventiva e organizada, a instituição escolar evitará problemas de comunicação ou a origem de demandas mais graves relativas ao contexto extraescolar. Portanto, intercalando ações de formação continuada para os docentes com uma constante e assertiva comunicação com as famílias dos estudantes, a instituição escolar conseguirá desenvolver sem percalços o seu trabalho, cumprindo com sua função social, qual seja a de atender aos anseios da sociedade no que tange à formação acadêmica, cidadã e humana dos alunos. Utopia promissora Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A educação nacional é regida pela LDB 9394/96, que traz em seu artigo 3º, XI os princípios norteadores do ensino que será oferecido pelas instituições escolares, sendo eles “vinculação entre educação escolar, o trabalho e as práticas sociais”. Isso signi�ca que a escola brasileira deve estar comprometida com a formação humana e crítica dos indivíduos, preparando-os para a transformação do mundo e para o exercício consciente da cidadania. É preciso superarmos a ideia ingênua de que a educação seja a panaceia para todas as mazelas sociais, mas, por outro lado, urge reconhecer que, sem ela, pouco poderá ser feito para a transformação da sociedade num mundo mais justo e igualitário. Essa utopia promissora que a educação representa precisa estar viva na consciência de todos aqueles que executam a prática pedagógica, pois ela é o alimento que sustenta a constância pedagógica cotidiana rumo à consolidação dos propósitos contidos na legislação educacional. O ser humano, gregário por natureza, em termos históricos, no início de sua existência, vivia em bandos, tendo o coletivo como referência prática para sua interação com os pares e tomadas de decisões. Nesse sentido, as novas gerações iam sendo moldadas pela “argila” social, sendo que a estrutura da personalidade era o resultado dessa modelagem. Nesse cenário, surgiu a escola, local concebido originalmente para auxiliar os grupos sociais nesse processo de edi�cação do caráter e da personalidade dos seus descendentes. Assim, o pressuposto inicial é o de que a função social da escola é a educação, sendo coadjuvante da família nesse processo. Nessa perspectiva, assim a escola seguiu, fazendo valer a sua atuação rumo à consolidação de uma estrutura funcional favorável à convivência humana e ao desenvolvimento econômico e social dos indivíduos. Assim, entre as atividades essenciais que a escola veio historicamente Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO acumulando, destacam-se as de ordem de monitoramento (cuidado) dos alunos, a seletividade, a formação do pensamento crítico, o ensino e o auxílio na educação dos indivíduos. A consequência desse fenômeno social traz para os educadores a necessidade de um claro propósito institucional e uma sólida formação cientí�ca, pois para ensinar é preciso conhecer em profundidade dois pontos: o conteúdo do componente curricular que lecionae o conhecimento de como se dá o processo de aprendizagem. No entanto, com o passar do tempo e a reformulação nas formas de a universidade preparar as novas gerações de professores, o conhecimento acadêmico passou a sofrer uma super�cialidade, não permitindo aos docentes o acesso a uma sólida base cientí�ca, o que se agravou com as mudanças ocorridas na sociedade, dentre elas as transformações pelas quais passaram as famílias. Nesse sentido, começaram a se constituir em ameaças ao trabalho docente a frágil base cientí�ca sobre os componentes curriculares e o processo de aprendizagem, somadas ao comportamento indisciplinado dos estudantes. Assim a educação escolar enquanto fenômeno social passou a ameaçar a utopia promissora da instituição em continuar contribuindo com as famílias dos estudantes para a realização de uma prática pedagógica que efetivamente possa contribuir para a consolidação de uma sociedade mais justa e equilibrada para todos. Educar para a consciência Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO A instituição escolar, como qualquer outra, é regida por uma estrutura interna que a caracteriza e determina historicamente um modus operandi nem sempre democrático. Situada no seio de uma sociedade capitalista, onde poucos têm muito e muitos têm pouco, a lógica de domínio e manutenção do poder prevalece. No entanto, em que pese essa realidade incontestável, é possível imaginarmos um movimento social que vá ao encontro do questionamento dessa engrenagem, trazendo à baila a necessidade da construção de uma escola mais democrática, qual seja aquela pautada na equidade e não apenas na igualdade. Nessa perspectiva, ainda que a realidade social seja multifacetada e diversa, por meio de um movimento social organizado, com pautas assertivas a respeito das injustiças, poderá ocorrer uma transformação social liderada por agentes cônscios do papel fundamental da instituição educacional. No cenário educacional contemporâneo, principalmente depois da promulgação da atual LDB (9394/96), é possível notar diferenças na forma como a escola brasileira vem se comportando em relação aos modos como operava no passado. Nesse sentido, nota-se na pedagogia atual uma maior sensibilidade e respeito em relação ao multiculturalismo. Leis posteriores à Constituição Federal e à LDB surgiram em decorrência dos movimentos sociais organizados, que trouxeram à tona temas fundamentais para o funcionamento mais equitativo da sociedade. Entre eles podemos mencionar os relativos a etnia, raça, gênero e de�ciência. Esses exemplos vêm corroborar a tese tradicional de que o processo educacional, quando conduzido de forma ética e consciente, pode auxiliar no processo de transformação social. No caso do racismo, por exemplo, a lei 10639/03 veio obrigar a instituição escolar a inserir no currículo o�cial o estudo da história da África e da cultura africana, sendo que, ao ter acesso a esse conhecimento, os alunos afrodescendentes e os brancos passam a ter uma visão mais realista e integradora a respeito do assunto, contribuindo assim para a prevenção da prática desumana e criminosa do racismo. Nascida a partir dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, a escola pública, desde a sua origem, teve como fundamento a edi�cação de uma sociedade mais justa e igualitária, conforme os iluministas pregavam, sendo que, a partir daquele momento, deveria ser garantido a todos os cidadãos o acesso à educação. Nessa perspectiva, a escola surgia como a responsável pelo seu próprio percurso histórico, disseminando entre os aprendizes as sementes do conhecimento e da humanização. E é justamente por essa responsabilidade que cabe aos educadores uma prática educativa ética e consciente, que da mesma forma seja capaz de despertar a consciência de todos aqueles que passam pela escola e se bene�ciam de sua prática social. Videoaula: A educação na atualidade Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. No Brasil, a formação do caráter humano tradicionalmente foi tida como responsabilidade exclusiva da família. No entanto, essa situação se modi�cou a partir dos anos 30 do século passado, quando se iniciou o processo de democratização do acesso à escola. Nesse sentido, a escola, como entidade socializadora, passou também a acumular, além da transmissão do conhecimento acadêmico, a função de auxiliar a família na formação do caráter dos educandos. No contexto familiar atual, há uma certa di�culdade dos pais em colocar limites nos seus �lhos e muita demanda que é própria da família em termos educacionais acaba sendo levada para a escola. Nesse sentido, existe um impasse de ambas as instituições (família e escola) quanto à compreensão de qual é o seu real papel na formação do caráter e no desenvolvimento humano do aprendiz (�lho e aluno). Saiba mais Invista em seus estudos e faça essa leitura complementar: Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO CASTRO, J. M.; REGATTIERI, M. Interação escola-família: subsídios para práticas escolares. Brasília: MEC, 2009. Referências CASTRO, J. M.; REGATTIERI, M. Interação escola-família: subsídios para práticas escolares. Brasília: MEC, 2009 LOPES, E. M. T. Perspectivas históricas da educação. 4 ed. São Paulo: Ática, 1995. NOBRE, F. E.; SULZART, S. O papel social da escola. Revista Cientí�ca Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento, ano 03, ed. 08, v. 3, pp. 103-115, agosto de 2018. ISSN: 2448-0959. OLIVEIRA, I. B. de. Democracia no cotidiano da escola. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora DP&A, SEPE, 2001. Aula 5 Revisão da unidade Superação de uma prática educativa pautada no senso comum http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=4807-escola-familia-final&Itemid=30192 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=4807-escola-familia-final&Itemid=30192 Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Desde o Iluminismo, no século XVIII, a ciência vem passando por transformações e in�uenciando o mundo e a vida do ser humano. Atualmente, o volume de elementos que ela produz, por meio da atividade humana, conduziu a sociedade a uma nova ordem: a tecnológica. Nesse sentido, a educação vem sendo in�uenciada por esse acervo, trazendo para os professores muitas di�culdades de acompanhar o novo ritmo, pois são migrantes digitais. Até um passado recente, o papel do professor era transmitir conhecimento e o do aluno era reproduzi-lo e comunicá-lo ao mestre por meio das tarefas que dele recebia. Hoje, o ambiente escolar valoriza mais a prática e busca no discente um protagonismo de�nidor de sua autonomia intelectual, além de fomentar o preparo para a cidadania. No cenário contemporâneo, marcado pelo avanço da tecnologia e da cultura digital, as formas de acesso ao conhecimento foram democratizadas. Como resposta e reação imediata a essa nova realidade, empresas passaram a valorizar o trabalhador que soma um conjunto de novas habilidades, o que obriga a instituição escolar a rever seus projetos curriculares, priorizando o desenvolvimento cognitivo, o comportamental, o intelectual, além de colocar como eixo central do processo pedagógico o desenvolvimento da cidadania. Portanto, o ideal da educação em ciência, marcada por um cenário tecnológico e cada vez mais veloz, seria observar os comportamentos e quais práticas devem ser formadas, a �m de se produzir propostas que articulem a ciência, os dilemas naturais, sociais e culturais, em nível coletivo e individual. Nessa direção, sendo a educação um direito fundamental previsto na Constituição de 1988, e para que a escola cumpra o seu objetivo de criar as condições de autonomia para todos os seres Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO humanos, durante o processo educacional, deve oferecer além das condições físicas de acesso a todas as pessoas, também condições de permanência e aprendizagem,por meio do estímulo a todas as diferenças, considerando as potencialidades individuais. Assim, professores e funcionários devem estar bem preparados, inclusive para dialogar de forma construtiva com todos os familiares dos alunos, o que implica cursos de formação continuada para que aprendam a lidar com a diversidade. Ademais, a escola, como entidade socializadora, deve promover a formação do caráter dos educandos. Nas sociedades primitivas, uma característica marcante em relação à educação dos seus membros era o sentido coletivo desse compromisso, aspecto esse que se perdeu nas sociedades contemporâneas tanto em relação ao grupo familiar como ao da instituição escolar, principalmente no que tange ao desenvolvimento do caráter e à formação da personalidade dos indivíduos. Isso tem sido questionado por entidades, instituições, pela própria família, o que tem aumentado a sua responsabilidade quanto ao seu verdadeiro papel na sociedade. Outrossim, a escola tem a função de cumprir socialmente sua função de possibilitar aos alunos o domínio do conhecimento cientí�co, sendo isso prerrogativa docente. A instituição escolar, historicamente, tem sido designada pela sociedade como o locus privilegiado de mediação entre o aluno e o conhecimento acadêmico, incluindo-se aí a ciência, a �loso�a, as artes, a literatura e todos os outros ramos do saber produzido pela humanidade. A função da escola então é a de mediadora entre o conhecimento prévio dos alunos e o conhecimento formal, sistematizado, possibilitando formas de acesso ao conhecimento cientí�co. Videoaula: Revisão da unidade Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. Até um passado recente, o papel do professor era reproduzir conhecimento, enquanto os alunos recebiam lições e se preparavam para provas. Hoje, o ambiente escolar valoriza mais a prática e coloca o estudante como protagonista de seu próprio aprendizado e, ainda, tenta proporcionar uma formação mais ampla, pois o estudante é visto como o responsável pelo seu avanço. Com a transformação digital, a democratização do conhecimento veio a todo vapor. Na mesma medida, o mercado de trabalho passou a buscar habilidades diferentes, forçando os sistemas de ensino a pensarem em desenvolvimento cognitivo, comportamental, intelectual, tendo o desenvolvimento da cidadania como eixo central. Estudo de caso Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Num modelo educacional mais coerente com o atual cenário globalizado, multicultural e altamente tecnológico, a função da escola passa a ser a de realizar a mediação entre o conhecimento prévio dos alunos e o conhecimento formal, sistematizado, possibilitando formas de acesso ao conhecimento cientí�co. Logo, a de�nição de objetivos, a seleção de conteúdo, a proposta metodológica e o processo avaliativo devem ser alicerçados na re�exão �losó�ca. Dessa re�exão e seleção é que se con�gurará a prática educativa mediada pela ação pedagógica do professor com os alunos, ou seja, é a ação que faz com que o currículo escolar se efetive. Assim, a escola deve manter uma lógica, uma coerência entre os documentos que manifestam a ação re�etida do conjunto de pessoas que ali atuam. Para que tudo isso ocorra de maneira favorável ao aprendizado dos alunos, os professores precisam conhecer e re�etir a priori, ao elaborarem seus planos de ensino, as formas como o sujeito aprende, sendo, portanto, um mediador na relação do aluno com o objeto de conhecimento. Considere os dois casos a seguir: CASO 1 Marcos é um aluno graduando em Zootecnia e, durante um dos módulos do curso que frequenta, deve aprender a técnica de inseminação arti�cial. Para dar conta da tarefa, esse aluno assiste atentamente às aulas teóricas e procura ler artigos cientí�cos e capítulos de livros técnicos a respeito desse tipo de inseminação. À medida em que estuda, internaliza o referencial teórico e cria um plano mental sobre os procedimentos práticos da referida técnica. Além disso, o estudante procurou assistir a algumas demonstrações práticas de inseminação antes de praticá-la. Quando começou a tentar, fracassou algumas vezes, mas não desistiu; foi observando os pontos que o professor lhe apontava e tentando evitar repetir os erros. Finalmente, depois de várias tentativas, o aluno Marcos conseguiu realizar com êxito a técnica de inseminação arti�cial, o que lhe rendeu um elogio do mestre: “muito bem”! Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO CASO 2 O aluno José é graduando de primeiro ano em Agronomia. Tem uma origem social no meio agrícola e sua família tem um baixo nível de escolaridade. Durante as aulas, ele apresenta di�culdade de entendimento acerca do conteúdo dos enunciados dos professores. Em seguida, aos poucos ele anotava as palavras cujo signi�cado não conhecia e, posteriormente, consultava os colegas. Quando tentava usá-las, algumas vezes o seu emprego era equivocado, provocando risadas de colegas de turma e até de alguns professores. Finalmente, após muito insistir e treinar, o aluno José aprendia os termos e sua correta aplicação sem mais ser ridicularizado pelos colegas, o que o estimulava cada vez mais a dominar e a aplicar adequadamente o vocabulário especí�co. ______ Re�ita Considere os casos e destaque: Quem é o sujeito da aprendizagem? Qual é o objeto da aprendizagem envolvido? Videoaula: Resolução do estudo de caso Este conteúdo é um vídeo! Para assistir este conteúdo é necessário que você acesse o AVA pelo computador ou pelo aplicativo. Você pode baixar os vídeos direto no aplicativo para assistir mesmo sem conexão à internet. A sociedade contemporânea, veloz, altamente tecnológica e multifacetada do ponto de vista cultural, exige um novo modelo de educação. A função social da escola nesse contexto, portanto, é a de preparar indivíduos capazes de re�etir sobre as informações que assimilam e transformá-las em conhecimento sólido e bem- fundamentado. Desde a Antiguidade, quando os primeiros �lósofos ocidentais iniciaram um caminho de re�exão acerca da origem do conhecimento na mente humana, uma fórmula clássica surgiu, qual seja, aquela que expressa o movimento do psiquismo humano em direção ao objeto de conhecimento a ser construído. A partir dessa possibilidade de análise, a educação das novas gerações precisa levar em conta a forma como se dá a interação entre o aprendiz e o objeto que ele busca aprender, pois esse entendimento é fundamental para que os professores possam construir estratégias didáticas favoráveis ao aprendizado. Nesse sentido, a resposta às questões dos dois sujeitos apresentados aqui no estudo de caso �ca assim con�gurada: Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO CASO 1: Sujeito – Marcos Objeto de conhecimento – Inseminação arti�cial CASO 2: Sujeito – José Objeto – Vocabulário técnico Resumo visual Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO Figura 1 | Síntese dos conteúdos abordados durante os estudos. Fonte: elaborado pelo autor. Referências Disciplina FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO ARANHA, M. L. de A. História da Educação. São Paulo: Moderna, 2001. BORDENAVE, J.D. Estratégias de ensino-aprendizagem. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 1984 OLIVEIRA, I. B. de. Democracia no cotidiano da escola. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora DP&A, SEPE, 2001. REIMER, E. A escola está morta: alternativas em educação. Trad. Tony Thompson. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 1979.