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Os rins têm o formato de um grão de feijão, com uma borda convexa e outra côncava, na qual se situa o hilo. Neste, entram e saem vasos sanguíneos, entram nervos e saem os ureteres. No hilo, há, geralmente, tecido adiposo. A porção interna do rim, junto à superfície côncava e adjacente ao hilo, é chamada de seio renal. Este é ocupado por espaços denominados cálices menores e cálices maiores e pela pélvis renal, um tubo com formato de funil do qual se origina o ureter. O rim é envolvido por uma cápsula de tecido conjuntivo denso, que envolve o interior do órgão denominado parênquima renal, a porção funcional do órgão. O parênquima é composto de duas camadas facilmente reconhecidas em cortes histológicos: - O córtex ou região cortical contínua e situada abaixo da cápsula; - A medula ou região medular mais interna, apoiada sobre o seio renal e a pélvis. A medula é descontínua porque porções da cortical, chamadas colunas renais, interpõem-se entre segmentos da medula. A medula é composta das pirâmides renais (pirâmides de Malpighi) – na espécie humana, são encontradas de 4 a 18 pirâmides renais, sendo mais comum de 7 a 9. As bases das pirâmides estão voltadas para a cortical, e junto à base de cada pirâmide há os raios medulares, extensões da medular formadas por conjuntos de túbulos renais paralelos que penetram na cortical. Os vértices das pirâmides fazem saliência nos espaços representados pelos cálices menores e constituem as papilas renais. A superfície da extremidade de cada papila renal (a ponta da pirâmide) é perfurada por 10 a 25 orifícios formando a estrutura denominada área crivosa. Por meio dos orifícios, a urina deixa o sistema de túbulos renais e passa para os cálices e para a pélvis renal. Esquema da estrutura do rim observado em um corte longitudinal do órgão. Um lobo renal está delineado em azul. LOBULAÇÃO DO RIM O rim de animais de maior porte é dividido em lobos. Cada lobo renal é formado pelos seguintes componentes: uma pirâmide renal; a porção da cortical situada sobre a base da pirâmide; e as duas metades das colunas renais adjacentes à pirâmide. Em cada rim há, portanto, tantos lobos quanto pirâmides. Os lobos não têm bordas definidas, porque, ao contrário dos lobos existentes em outros órgãos, não são delimitados por tecido conjuntivo. Os lóbulos renais são conceituados por serem formados por um raio medular e pelo tecido cortical situado ao seu redor, sendo delimitado pelas artérias interlobulares. Do mesmo modo que os lobos, os lóbulos não têm limites observáveis em cortes histológicos. ESTRUTURA DO PARÊNQUIMA RENAL É constituído dos túbulos uriníferos, formados por dois componentes: os néfrons e os ductos coletores. Em cada rim da espécie humana, há mais de 1 milhão de néfrons, cujos componentes se distribuem no córtex e na medula. Cada néfron é formado por uma porção inicial dilatada, o corpúsculo renal ou corpúsculo de Malpighi, e por uma sequência de túbulos: o túbulo contorcido proximal; as duas porções espessas da alça de Henle, entre as quais se situa a porção delgada da alça de Henle; e o túbulo contorcido distal. Os corpúsculos, os túbulos proximais e distais situam-se no córtex; as alças de Henle e os ductos coletores, no córtex e na medula. Esquema de uma pirâmide renal da medula e da região do córtex que recobre a pirâmide. Fora de proporção estão mostrados os componentes de um dos milhares de túbulos uriníferos e suas localizações no córtex e na medula. INTERSTÍCIO RENAL O epitélio dos túbulos uriníferos está apoiado sobre uma lâmina basal, a qual é envolvida pelo escasso tecido conjuntivo do interior do rim denominado interstício renal, no qual há vasos sanguíneos e linfáticos. O interstício renal é muito reduzido na cortical, mas existe em quantidade maior na medular. Seu tecido conjuntivo tem fibroblastos, fibras reticulares e, principalmente na medula, uma substância fundamental muito hidratada e rica em proteoglicanos. No interstício da medula, há células secretoras chamadas células intersticiais, que contêm gotículas lipídicas no citoplasma e participam da produção de prostaglandinas e prostaciclinas. As células do interstício do córtex renal produzem 85% da eritropoetina do organismo, um hormônio glicoproteico que estimula a produção de eritrócitos pelas células da medula óssea hematopoética. O fígado sintetiza os 15% restantes da eritropoetina necessária para o bom funcionamento do erítron. CORPÚSCULOS RENAIS Os corpúsculos renais, os primeiros componentes dos néfrons, são pequenas esferas localizadas no córtex, que medem de 200 a 300μm de diâmetro. Conforme as suas localizações, originam: néfrons justamedulares, intermediários ou superficiais. Os primeiros são cerca de 25% do total e seus corpúsculos estão localizados próximos da medula; os superficiais situam-se próximos à cápsula; e os intermediários entre os dois. A localização dos glomérulos tem importantes consequências para a transformação do filtrado glomerular em urina. Os corpúsculos renais são formados por uma rede de capilares sanguíneos, o glomérulo renal, e pela cápsula de Bowman, a parede do corpúsculo. Os corpúsculos têm dois polos: o polo vascular, pelo qual penetra uma arteríola aferente e sai uma arteríola eferente, e o polo urinário, pelo qual sai o túbulo contorcido proximal. Sangue chega pela arteríola aferente, que, no interior do corpúsculo, divide-se em vários capilares sanguíneos com formato de alças; as extremidades finais de cada alça se reúnem para formar a arteríola eferente, por onde o sangue sai do corpúsculo. Os capilares glomerulares são do tipo fenestrado, sem diafragmas fechando os poros das células endoteliais. Somando-se o fluxo sanguíneo nos dois rins (cerca de 1 ℓ de sangue por minuto), a cada 4 a 5 minutos passa por eles a totalidade do sangue circulante no corpo. A pressão hidrostática no interior dos capilares glomerulares é regulada principalmente pela arteríola eferente, que tem maior quantidade de músculo liso em sua parede do que a aferente. A pressão hidrostática no interior dos capilares glomerulares é elevada (da ordem de 45 mmHg) em comparação com outros capilares do corpo. Essa pressão hidrostática promove a filtração do plasma através da parede dos capilares, resultando na formação do filtrado glomerular. À pressão hidrostática se opõem a pressão osmótica dos coloides do plasma (20 mmHg) e a pressão do líquido contido no espaço da cápsula de Bowman (10 mmHg). Ela envolve o glomérulo. É formada por dois folhetos de células: o folheto parietal e o folheto visceral. O primeiro reveste a superfície interna da parede da cápsula e o segundo está disposto em torno dos capilares glomerulares. O espaço no interior do corpúsculo, situado em torno da rede de capilares, é denominado espaço de Bowman (ou espaço capsular). Esse espaço recebe o filtrado glomerular do plasma e se continua com o lúmen do túbulo contorcido proximal, para onde o filtrado se dirige. O folheto parietal da cápsula de Bowman é constituído de um epitélio simples pavimentoso, que se apoia sobre uma lâmina basal envolvida externamente por uma fina camada de fibras reticulares, e ambos constituem uma membrana basal bem visível ao microscópio de luz. O epitélio, a lâmina basal e as fibras formam a parede do corpúsculo. As células do folheto visceral adquirem características muito peculiares durante o desenvolvimento embrionário. Chamadas de podócitos, colocam-se sobre os capilares glomerulares. Os podócitos são formados por um corpo celular de onde partem diversos prolongamentos primários que dão origem a prolongamentos secundários. Os prolongamentos abraçam os capilares, colocando-se sobre a lâmina basal dos capilares e aderindo a ela por meio de várias proteínas, entre as quais se destacam as integrinas. A microscopia eletrônica revelou que entre os prolongamentos secundários dos podócitos há delgados espaços denominados fendas de filtração. As fendas são obstruídas por uma membrana muito delgada que faz parte da barreira de filtração. A membrana é constituídade um conjunto de proteínas (p. ex., a nefrina) e tem cerca de 6 nm de espessura. As proteínas da membrana atravessam a membrana plasmática dos podócitos e se ligam a filamentos de actina do citoplasma. Esquema tridimensional de capilar glomerular conforme observado por microscopia eletrônica de varredura. Sua parede é formada por células endoteliais fenestradas envolvidas por uma lâmina basal. Podócitos são células do folheto visceral da cápsula de Bowman que abraçam o capilar por meio de seus prolongamentos primários e secundários. Nos espaços entre os secundários, situam-se as fendas de �ltração. As células endoteliais dos capilares estão apoiadas sobre uma espessa lâmina basal (de 215 a 430 nm de espessura em seres humanos), resultado da fusão da lâmina basal do endotélio com a dos podócitos. Ela contém fibronectina, que estabelece ligações com as membranas plasmáticas das células endoteliais. A lâmina basal é um componente importante da barreira de filtração glomerular. Sua estrutura se assemelha a um feltro formado por colágeno tipo IV e laminina em uma matriz que contém proteoglicanos eletricamente negativos (aniônicos), que retêm moléculas carregadas positivamente. Esses componentes constituem um filtro de macromoléculas, que atua como uma barreira física. Partículas com mais de 10 nm de diâmetro e proteínas de massa molecular maior que a albumina (69 kDa) atravessam essa membrana basal com dificuldade e quase não fazem parte do filtrado glomerular. A barreira de filtração glomerular é, portanto, formada pelos seguintes componentes: células endoteliais (fenestradas) dos capilares glomerulares, lâmina basal, prolongamentos dos podócitos e membranas das fendas de filtração. CÉLULAS MESANGIAIS Nos glomérulos, há as células mesangiais internas, localizadas principalmente nos espaços do glomérulo em que a lâmina basal envolve duas ou mais alças capilares adjacentes. São células contráteis e têm receptores para angiotensina II, um vasoconstritor de arteríolas, e a ativação desses receptores reduz o fluxo sanguíneo glomerular. Contêm ainda receptores para o fator natriurético atrial, produzido pelas células musculares dos átrios cardíacos, um hormônio vasodilatador que relaxa as células mesangiais e aumenta o volume de sangue que passa pelos capilares. As células mesangiais têm ainda outras funções: oferecer suporte estrutural ao glomérulo, sintetizar matriz extracelular, fagocitar e digerir substâncias normais e patológicas (p. ex., complexos de antígenos com anticorpos) retidas pela barreira de filtração e produzir moléculas biologicamente ativas, como prostaglandinas e endotelinas, fatores de crescimento e citocinas. As endotelinas causam contração da musculatura lisa das arteríolas aferentes e eferentes do glomérulo. O esquema indica a localização de podócitos e de uma célula mesangial entre capilares glomerulares. A célula mesangial e os dois capilares são envolvidos pela mesma lâmina basal. TÚBULOS CONTORCIDOS PROXIMAIS No polo urinário do corpúsculo renal, as células do folheto parietal da cápsula de Bowman se continuam com o epitélio cuboide ou colunar baixo do túbulo contorcido proximal; dessa maneira, o espaço de Bowman se continua com o lúmen dos túbulos proximais. A maior parte do trajeto desse túbulo é tortuosa. Como ele é mais longo que o túbulo contorcido distal, as secções dele são vistas mais frequentemente em cortes histológicos que secções de túbulos distais. Os núcleos esféricos dos túbulos proximais se situam na porção basal das células. Essas células são relativamente largas e, por esse motivo, nos cortes transversais do túbulo costumam ser vistos poucos núcleos. A superfície apical das células dos túbulos proximais tem grande quantidade de microvilos, que formam uma orla em escova bastante evidente. Os microvilos oferecem um grande aumento da superfície apical, na qual há uma intensa atividade de reabsorção de substâncias do filtrado glomerular. Os limites entre as células desses túbulos são dificilmente observados ao microscópio óptico. Uma razão para isso é porque as células têm grande quantidade de projeções laterais que se interdigitam com projeções das células adjacentes. Há muitas mitocôndrias no interior dessas projeções para fornecer ATP para a atividade de bombas de sódio (Na+/K+-ATPase), presentes na membrana basolateral das células e importantes para o transporte de íons do citoplasma para o interstício renal. ↳ As células do túbulo proximal secretam para o lúmen do túbulo creatinina e outras substâncias, tais como os ácidos úrico e para-amino-hipúrico, retirando essas moléculas do plasma do interstício renal. É um processo ativo com gasto de energia. Células epiteliais da parede dos túbulos contorcidos proximais. São cuboides e têm na superfície apical uma orla em escova constituída de numerosos microvilos. Suas expansões laterais (setas) se imbricam com expansões das células adjacentes. Note o acúmulo de mitocôndrias no interior das expansões celulares. ALÇA DE HENLE A alça de Henle está intercalada entre o túbulo proximal e o túbulo distal. Ela é composta de um ramo delgado, em forma de letra U, formado por um ramo descendente e um ramo ascendente. O ramo delgado está interposto entre dois ramos espessos (descendente e ascendente), com trechos curvos e trechos retilíneos. Em cortes histológicos, os ramos espessos são formados por um epitélio simples cúbico e têm aspecto semelhante ao dos túbulos contorcidos distais. O ramo espesso descendente, após penetrar na medula, estreita-se para um diâmetro de cerca de 12μm, transformando-se no ramo delgado descendente. Este, após a curvatura, retorna em direção do córtex sob forma do ramo delgado ascendente que se continua com o ramo espesso ascendente, que penetra no córtex. O lúmen da alça delgada é relativamente amplo e sua parede é muito delgada, pois passa abruptamente a ser formada por um epitélio simples pavimentoso. Os ramos delgados se situam na medula, enquanto a localização dos ramos espessos depende da posição ocupada pelo glomérulo de onde se originaram (justamedulares, intermediários ou superficiais). TÚBULOS CONTORCIDOS DISTAIS Esse túbulo, que é continuação do ramo espesso ascendente da alça de Henle, situa-se no córtex e tem um trajeto tortuoso. Sua parede é um epitélio simples cúbico. Em cortes histológicos, a distinção entre esse túbulo e o proximal baseia-se nas seguintes características: as células dos túbulos distais são mais estreitas e mais baixas que as dos túbulos proximais; consequentemente, o lúmen dos túbulos distais é mais amplo que o dos proximais. Além disso, suas células não têm orla em escova e são menos coradas e menos acidófilas, em parte por conterem menos mitocôndrias. MÁCULA DENSA A região final do ramo espesso ascendente da alça de Henle ou a região inicial do túbulo contorcido distal têm uma característica muito importante: esses túbulos voltam a se aproximar do corpúsculo renal do qual se originaram. Os núcleos das células epiteliais da parede do túbulo na região de grande proximidade se situam muito próximos entre si, e, por esse motivo, esse segmento se cora com mais intensidade, sendo denominado mácula densa, em geral de fácil reconhecimento em cortes histológicos. As células da mácula densa são sensíveis ao conteúdo iônico e ao volume de água do fluido presente no lúmen do túbulo. Seu complexo de Golgi se situa na região basal das células e elas produzem moléculas sinalizadoras que promovem a liberação da enzima renina na circulação. A mácula densa faz parte do aparelho justaglomerular. DUCTOS COLETORES No córtex, grupos de seis a oito túbulos contorcidos distais de diferentes néfrons se unem para formar os ductos coletores corticais por meio de curtos túbulos de conexão (muitos dos quais têm forma de arcos). Os ductos coletores são revestidos por epitélio simples cúbico. Têm núcleos esféricos e se caracterizam pelo citoplasma pouco corado, pelos limites celulares bem distintos e pela superfície apical em forma de abóboda. Eles se unemem ductos mais calibrosos que se dirigem para a medula, na qual são denominados ductos coletores medulares, que se distinguem por terem um halo claro em torno dos núcleos esféricos. Os ductos coletores medulares se reúnem em cerca de 20 ductos mais calibrosos chamados ductos papilares (também denominados ductos de Bellini). Eles se dirigem para os vértices das papilas renais e terminam nos orifícios da área crivosa das papilas, pelos quais a urina é transferida para os cálices renais. O epitélio dos ductos coletores tem dois tipos de células: claras ou principais e menor quantidade de células escuras ou intercaladas. As células claras têm um cílio isolado em sua superfície apical, que poderia estar relacionado com a detecção do fluxo de líquido no interior do ducto e na indução de excreção de potássio. Em suas membranas plasmáticas, estão inseridas grandes quantidades de moléculas de aquaporinas-2, moléculas que têm poros e que são canais de água. A atividade dessas moléculas é regulada pelo hormônio antidiurético secretado pela neuro-hipófise. Têm também receptores para o hormônio aldosterona, secretado pelas adrenais. Características ultraestruturais mais relevantes das células epiteliais de túbulos renais. As células da parte espessa da alça de Henle e as do túbulo distal são semelhantes em sua ultraestrutura, mas têm atividades funcionais diferentes. A superfície apical de cada célula está voltada para cima. Os rins recebem sangue por intermédio das artérias renais, ramos diretos da aorta abdominal. As artérias renais dividem-se, penetram no órgão pelo seu hilo e se ramificam nas artérias interlobares, com trajeto entre as pirâmides renais em direção à cápsula. Na altura da junção corticomedular (nas bases das pirâmides), as artérias interlobares originam as artérias arciformes, em forma de arcos, no trajeto entre medula e córtex. As arciformes dão origem às artérias interlobulares, perpendiculares à cápsula do rim, com trajeto entre os raios medulares (lembrando que os raios medulares e o parênquima cortical adjacente formam os lóbulos do rim). Em seu trajeto em direção à cápsula, as artérias interlobulares originam as arteríolas aferentes dos glomérulos que se ramificam nas alças dos capilares glomerulares, as quais se reúnem nas arteríolas eferentes. Trata-se de uma situação pouco comum no corpo: uma arteríola se capilariza e os capilares se reúnem em uma arteríola em vez de se reunirem em uma vênula. As arteríolas eferentes originam capilares. Nos néfrons intermediários e superficiais (situados próximo à cápsula), esses capilares formam as redes de capilares peritubulares, dispostas em torno dos túbulos, responsáveis pela nutrição e pela oxigenação das células da cortical. Em outro tipo de arranjo, as arteríolas eferentes dos glomérulos de néfrons justamedulares – situados próximo da medula – originam vasos longos e retilíneos – os vasos retos –, que se dirigem para a medula ao longo das alças de Henle. Na extremidade dessas, formam alças que retornam para a cortical sob a forma de delgadas vênulas. O endotélio do ramo descendente dessas alças é do tipo contínuo, porém as células endoteliais do ramo ascendente são fenestradas. O sangue dos vasos retos fornece nutrientes e oxigênio à medular do rim. Esses vasos participam do importante sistema contracorrente multiplicador do rim. Os capilares da região superficial do córtex se reúnem para formar as veias estreladas, assim chamadas por seu aspecto quando observadas na superfície do rim. Elas se unem às veias interlobulares, que formam as veias arciformes, dando origem às veias interlobares. Estas convergem para formar as veias renais, tributárias da veia cava inferior, pela qual o sangue de cada rim retorna à circulação sistêmica. Os cálices, a pélvis renal, os ureteres e a bexiga têm a mesma estrutura básica, embora suas paredes se tornem gradualmente mais espessas na direção da bexiga. A mucosa dessas estruturas é revestida internamente por um urotélio ou epitélio de transição, que forma uma barreira entre a urina e o fluido presente no tecido conjuntivo subjacente, dificultando a passagem de água e de íons. Além disso, esse epitélio se adapta ao estado de distensão dos órgãos que reveste. A mucosa da bexiga e dos ureteres é pregueada quando o órgão está vazio, o que facilita a sua distensão quando a bexiga está cheia e durante a passagem de urina pelos ureteres. A espessura do epitélio aumenta desde os cálices até a bexiga. O urotélio da bexiga repousa sobre uma lâmina própria de tecido conjuntivo, que varia do frouxo ao denso, e em torno da mucosa há feixes de tecido muscular liso em várias direções, enquanto em torno do urotélio do ureter a lâmina própria é delgada. A túnica muscular do ureter na espécie humana é formada por uma camada longitudinal interna e uma circular externa, ambas de tecido muscular liso. A partir da porção inferior do ureter aparece uma camada longitudinal externa. Nos ureteres, a musculatura lisa exibe peristaltismo, que ajuda a impelir a urina em direção da bexiga. Os ureteres atravessam a parede da bexiga obliquamente, formando uma estrutura semelhante a uma válvula que impede o refluxo de urina. A parte do ureter colocada na parede da bexiga mostra apenas músculo longitudinal, cuja contração abre a válvula e facilita a passagem de urina do ureter para a bexiga. Na parte proximal da uretra, a musculatura da bexiga forma um esfíncter interno. Para a micção, são necessários a contração da musculatura da bexiga e o concomitante relaxamento do esfíncter. As vias urinárias são envolvidas externamente por uma camada adventícia de tecido conjuntivo, exceto a parte superior da bexiga, que é recoberta por folheto parietal do peritônio. Corte transversal de ureter. Observe o urotélio delimitando o lúmen, a camada de músculo liso e a adventícia de tecido conjuntivo. É um tubo que transporta a urina da bexiga para o exterior para a micção. No sexo feminino, é um órgão exclusivamente do sistema urinário. Tem 4 a 5 cm de comprimento e é revestido internamente por epitélio pseudoestratificado colunar e por epitélio estratificado pavimentoso. Próximo à sua abertura exterior, a uretra feminina contém um esfíncter de músculo estriado, o esfíncter externo da uretra. No sexo masculino, além de conduzir urina, a uretra dá passagem ao esperma durante a ejaculação. A uretra masculina é formada pelas porções prostática, membranosa e cavernosa ou peniana. A porção prostática atravessa o interior da próstata e os ductos que transportam a secreção da próstata abrem-se na uretra prostática. Na parte dorsal da uretra prostática, há uma elevação que provoca saliência para o interior da uretra, o verumontanum, em cujo ápice abre-se um tubo em fundo cego de cerca de 1 cm de comprimento sem função conhecida, o utrículo prostático. Nos lados do verumontanum abrem-se os dois ductos ejaculadores, pelos quais chega o líquido espermático. A uretra prostática é revestida por urotélio. A uretra membranosa tem apenas cerca de 1 cm de extensão e é revestida por epitélio pseudoestratificado colunar. Nessa parte da uretra, há um esfíncter de músculo estriado: o esfíncter externo da uretra. A uretra esponjosa é a porção mais longa da uretra. Percorre longitudinalmente o pênis no interior de uma estrutura erétil, o corpo esponjoso. Próximo à sua extremidade externa, o lúmen da uretra esponjosa dilata-se, formando a fossa navicular. O epitélio da uretra esponjosa é pseudoestratificado colunar, com áreas de epitélio estratificado pavimentoso. Além do corpo esponjoso, o pênis possui duas outras estruturas eréteis denominadas corpos cavernosos. As glândulas de Littré, de tipo mucoso, encontram-se em toda a extensão da uretra, embora predominem na uretra peniana. Algumas dessas glândulas têm suas porções secretoras fazendo parte do epitélio de revestimento da uretra, enquanto outras contêm ductos excretores. As principais atividades dos rins consistem na produção do filtrado glomerular, na reabsorção de substâncias filtradas ena secreção de hormônios. Pela filtração do plasma ocorre a eliminação de água e de íons em excesso no organismo, além de moléculas de diversas naturezas, desde hormônios, antibióticos, resíduos do metabolismo e muitos outros produtos. O filtrado glomerular tem concentrações de cloreto, glicose, ureia e fosfato semelhantes às do plasma sanguíneo, porém quase não contém proteínas, pois as macromoléculas de maior massa molecular não atravessam a barreira de filtração glomerular. Para recuperar água, íons e outras substâncias que foram filtradas, mas que são necessárias para o organismo, a retenção dessas substâncias é feita por meio de sua reabsorção nos túbulos renais. Esse segmento do néfron reabsorve do filtrado glomerular quase toda glicose e aminoácidos do filtrado glomerular e mais de 70% da água. Bicarbonato, cloreto de sódio, além de cálcio e fosfato, entre outros, também são reabsorvidos. A glicose, os aminoácidos e os íons são reabsorvidos por proteínas transportadoras e por transporte ativo. Moléculas de água acompanham passivamente o transporte dessas substâncias. Moléculas intramembranosas da família das aquaporinas, situadas nas superfícies apical e basolateral das células desses túbulos, são responsáveis por grande parte do transporte de água entre o lúmen tubular e o interstício renal. Há endocitose de moléculas maiores suspensas no líquido presente no lúmen dos túbulos, as quais podem ser digeridas por atividade lisossômica. Água, íons, glicose, aminoácidos resultantes da digestão de proteínas e outras substâncias são transportados através da membrana basolateral dos túbulos e colocados no interstício renal, no qual são captados por capilares sanguíneos para serem reaproveitados. O volume do filtrado é reduzido após a sua passagem pelos túbulos proximais. As alças de Henle participam da reabsorção de água do filtrado principalmente pelo fato de criarem um gradiente de osmolaridade no interstício medular. A alça delgada descendente é permeável à água pela presença de aquaporinas nas membranas apicais e basolaterais de suas células. É também permeável a ureia, mas impermeável a outros solutos presentes no filtrado. Por outro lado, a alça delgada ascendente torna-se cada vez mais impermeável à água à medida que retorna para o córtex, e nela há intensa atividade de transporte de íons do lúmen para fora do túbulo. Em virtude dessas propriedades da alça, o filtrado se torna hiperosmolar à medida que passa pelo ramo descendente e, em seguida, gradativamente, hipo-osmolar, ao passar pelo ramo ascendente. Devido à diferença no transporte de água e íons por meio dos vários segmentos da alça, a osmolaridade do interstício renal situado em torno das alças, dos vasos retos e dos ductos coletores é diferente nas várias alturas da medula: a osmolaridade do interstício renal da medula é mais baixa próxima ao limite com o córtex, e mais alta próxima aos ápices das pirâmides. Os segmentos delgados das alças de Henle criam um mecanismo denominado contracorrente multiplicador, capaz de reabsorver e economizar água com dispêndio relativamente pequeno de energia, mecanismo do qual participam, além das alças de Henle, os ductos coletores da medula e os vasos retos da circulação sanguínea. O comprimento dos segmentos delgados depende da localização dos glomérulos no córtex – glomérulos de néfrons subcorticais, intermediários ou justamedulares. Esses últimos têm alças delgadas mais longas e, por esse motivo, são os néfrons que têm maior atuação no sistema contracorrente multiplicador. Os néfrons justamedulares têm alças de Henle longas, importantes para a produção de urina hipertônica, enquanto os néfrons intermediários e subcorticais têm alças curtas. Nesses túbulos, há reabsorção de cloreto de sódio e bicarbonato do lúmen para o interstício e, em sentido contrário, excreção de potássio e de íons hidrogênio e amônia para a urina, atividades essenciais para a manutenção do equilíbrio ácido-básico do sangue. Sua porção inicial é alvo de atuação do hormônio da paratireoide, que promove a reabsorção de cálcio pelos túbulos. Nesse local, a urina é acidificada por meio da excreção de íons H+ para o interior dos ductos. Além disso, por reabsorção de água do filtrado é estabelecida a densidade final da urina. Próximo ao corpúsculo renal, as células musculares da parede da arteríola aferente (às vezes, também da eferente) são células modificadas. São chamadas células justaglomerulares, têm núcleos esféricos e seu citoplasma contém grânulos de secreção que participam da regulação da pressão sanguínea. A mácula densa do túbulo distal (ou da porção ascendente espessa da alça de Henle) se localiza próximo às células justaglomerulares, formando com elas um conjunto chamado aparelho justaglomerular. Também estão associadas ao aparelho justaglomerular células com citoplasma claro, de função pouco conhecida, denominadas células mesangiais extraglomerulares. Ao microscópio eletrônico, as células justaglomerulares apresentam características de células secretoras de proteínas, tais como retículo endoplasmático rugoso abundante e complexo de Golgi desenvolvido. Os grânulos de secreção medem cerca de 10 a 40 nm e reúnem-se em aglomerados. As células da mácula densa são sensíveis à concentração de sódio no interior do túbulo e estimulam as células justaglomerulares a secretarem renina. De maneira indireta, a renina age sobre a secreção de aldosterona, um hormônio da camada cortical da glândula adrenal que aumenta a pressão arterial, da seguinte maneira: a renina atua sobre o angiotensinogênio (uma globulina do plasma), o qual libera um decapeptídeo – a angiotensina I. Uma enzima do plasma remove dois aminoácidos da angiotensina I, formando a angiotensina II. Os principais efeitos fisiológicos da angiotensina II são: aumentar a pressão sanguínea e induzir a secreção pela glândula adrenal de aldosterona, hormônio que inibe a excreção do sódio pelos rins. A diminuição da concentração de sódio no sangue é um estímulo para a liberação da renina, que acelera a secreção de aldosterona. Inversamente, o excesso de sódio no sangue deprime a secreção de renina, que inibe a produção de aldosterona, aumentando, então, a excreção de sódio pela urina. O aparelho justaglomerular exerce, portanto, um importante papel no controle do balanço hídrico (já que água é retida ou eliminada junto ao sódio) e do equilíbrio iônico do meio interno.