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ISBN 978850262394-1 Miltons, Michelle Merética Microeconomia / Michelle Merética Miltons ; coordenador Fabiano Távora. - São Paulo : Saraiva, 2016. - (Coleção diplomata) 1. Microeconomia I. Távora, Fabiano. II. Título. III. Série. 15-09315 CDD-338.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Microeconomia 338.5 Diretor editorial Luiz Roberto Curia Gerente editorial Thaís de Camargo Rodrigues Gerência de concursos Roberto Navarro Editoria de conteúdo Iris Ferrão Assistente editorial Thiago Fraga | Verônica Pivisan Reis Coordenação geral Clarissa Boraschi Maria Preparação de originais Maria Izabel Barreiros Bitencourt Bressan e Ana Cristina Garcia (coords.) | Liana Ganiko Brito | Luciana Cordeiro Shirakawa Projeto gráfico Isabela Teles Veras Arte e diagramação Know-how editorial Revisão de provas Amélia Kassis Ward e Ana Beatriz Fraga Moreira (coords.) | Daniele Debora de Souza | Willians Calazans de Vasconcelos de Melo Conversão para E-pub Guilherme Henrique Martins Salvador Serviços editoriais Elaine Cristina da Silva | Kelli Priscila Pinto | Marília Cordeiro Capa Aero Comunicação / Danilo Zanott Data de fechamento da edição: 1-10-2015 Dúvidas? Acesse www.editorasaraiva.com.br/direito Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora Saraiva. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. http://www.editorasaraiva.com.br/direito SUMÁRIO AGRADECIMENTOS PREFÁCIO APRESENTAÇÃO EVOLUÇÃO DAS QUESTÕES POR ANO 1 - Noções Preliminares Economia: conceito Alocação de recursos escassos: o cerne da economia Quanto à raridade Quanto ao destino Quanto à posse Curva de Possibilidades de Produção ou Curva de Transformação Modelos Econômicos Ingredientes dos Modelos Econômicos Variáveis Constantes Parâmetros Equações e Identidades Estática Comparativa Eficiência de Pareto 2 - Fundamentos da Microeconomia: oferta e demanda Teoria elementar da demanda 1. Demanda em função do preço do bem Deslocamentos da Curva e ao Longo da Curva 2. Demanda em função do preço dos outros bens 3. Demanda em função da renda do consumidor 4. Demanda em função dos gostos do consumidor 5. Demanda em função das expectativas do consumidor Demanda de mercado Teoria elementar da oferta 1. Oferta em função do preço do bem 2. Oferta em função do preço dos demais bens 3. Oferta em função do preço dos fatores de produção 4. Oferta em função da tecnologia 5. Oferta em função das expectativas Teoria elementar do funcionamento do mercado Alterações no equilíbrio 3 - Elasticidades Elasticidade-preço da demanda Elasticidade-renda da demanda Elasticidade preço-cruzada da demanda Elasticidade-preço da oferta Casos extremos 4 - Teoria do Consumidor Teoria da Utilidade Excedente e Equilíbrio do Consumidor O comportamento do consumidor As preferências do consumidor Preferências do consumidor: premissas básicas Curvas de Indiferença Mapas de Indiferença Propriedades das Curvas de Indiferença Taxa Marginal de Substituição - TMS Substitutos Perfeitos Complementos Perfeitos Males Restrição Orçamentária Escolha do Consumidor Solução de Canto Mudanças no Equilíbrio do Consumidor: Efeitos preço, renda e substituição Mudança nos preços Alteração no preço de um dos bens Alteração no preço dos dois bens Efeito-Preço Efeito-Renda e Efeito-Substituição Efeito-Renda Efeito-Substituição Análise do Efeito-Preço Derivando a Curva de Demanda a partir do Efeito-Preço Efeito-preço total Efeito-renda superior ao Efeito-Substituição: os Bens de Giffen Preferência Revelada Demanda de Mercado Excedente do Consumidor Considerações Finais 5 - Teoria da Firma I - Produção Introdução As decisões da firma sobre a produção A Função de Produção Curto e Longo Prazos Análise de Curto Prazo: As decisões da firma quando um insumo é fixo e outro variável As Curvas de Produto Total, Médio e Marginal A relação entre as curvas de produto total, médio e marginal Lei dos Rendimentos Marginais Decrescentes14 Análise de Longo Prazo: Produção com dois insumos variáveis Isoquantas Rendimentos Marginais Decrescentes Taxa Marginal de Substituição Técnica (TMST) Propriedades das Isoquantas Casos especiais da Função de Produção Rendimentos de Escala Avanços tecnológicos 6 - Teoria da Firma II - Custos de Produção Introdução Que custos são estes? Custos Irreversíveis ou Irrecuperáveis Custos de Oportunidade Custos Implícitos e Explícitos Economia X Contabilidade: a diferença entre os conceitos de custos Custos Fixos e Variáveis Lucro Custo Médio e Marginal Análise de Curto Prazo As Curvas de Custo Curva de custo total Curvas de custo fixo, variável e total Curvas de custo médio Curva de custo marginal Comparando as curvas de custo Relação entre custo marginal e médio Custos no Longo Prazo Custo de Utilização dos Ativos de Capital Minimização de Custos Linhas de Isocusto otimização Caminho de Expansão Custo Total e Médio de Longo Prazo Escala mínima eficiente Custo Médio e Marginal Custos Marginais no Longo Prazo Economias e Deseconomias de Escala 7 - Intervenção do Estado na Economia Política de Controle de Preços Política de preços mínimos Programa de compras Programa de subsídios Primeiro caso: demanda preço-inelástica - programa de compras Segundo caso: demanda preço elástica - programa de subsídios A ineficiência da Política de Preços Mínimos Aplicação - Salário Mínimo Política de Preços Máximos Política de Controle de Quantidades Impostos Como a imposição de um imposto afeta o equilíbrio de mercado Imposto específico ou seletivo Exemplo Imposto ad valorem Exemplo 7.2 Quem paga o imposto? A Incidência Tributária Impostos sobre os compradores Incidência Tributária e Elasticidade - preço A influência advinda do imposto 8 - Estruturas de Mercado I - Concorrência Perfeita Maximização de Lucros Nível ótimo de produção no curto prazo Regra de Suspensão das Atividades Curva de Oferta no Curto Prazo Curva de oferta de mercado no curto prazo Definição do nível de produção no longo prazo Equilíbrio no Longo Prazo: Lucro Econômico21 Zero Equilíbrio competitivo de longo prazo Eficiência A Eficiência dos Mercados Perfeitamente Competitivos 9 - Estruturas de Mercado II - Monopólio Concorrência Imperfeita O Poder de Mercado do Monopólio Surgimento dos Monopólios Monopólio Natural Receita Média e Marginal Definição do nível de produção do monopolista Exemplo algébrico e numérico A ineficiência do Monopólio O custo do monopólio para o bem-estar Captura da Renda (Rent Seeking) Reação ao monopólio: políticas públicas Comportamento monopolista Excedente do Produtor Discriminação de preços de 1º grau Discriminação de preços de 2º grau Discriminação de preços de 3º grau Discriminação de preços intertemporal Preço de pico Tarifa em duas partes Venda em pacote Venda casada Propaganda 10 - Estruturas de Mercado III - Oligopólio Características dos mercados oligopolizados Oligopólio de Conluio Equilíbrio de Nash Lucros do Oligopólio Cartel Teoria dos Jogos O Dilema dos Prisioneiros Referências Bibliográficas 1. Noções Preliminares 2. Fundamentos da Microeconomia: oferta e demanda 3. Elasticidades 4. Teoria do Consumidor 5. Teoria da Firma I - Produção 6. Teoria da Firma II - Custos de Produção 7. Intervenção do Estado na Economia 8. Estruturas de Mercado I - Concorrência Perfeita 9. estruturas de mercado ii - Monopólio 10. estruturas de mercado Iii - Oligopólio Exercícios de Fixação 1. Noções Preliminares 2. Fundamentos da Microeconomia: oferta e demanda 3. Elasticidades 4. Teoria do Consumidor 5. Teoria da Firma I - Produção 6. Teoria da Firma II - Custos de Produção 7. Intervenção do Estado na Economia 8. Estruturas de Mercado I - Concorrência Perfeita 9. estruturas de mercado ii - Monopólio 10. estruturas de mercado iii - Oligopólio Gabarito Comentado 1. Noções Preliminares 2. Fundamentos da Microeconomia: oferta e demanda 3. Elasticidades 4. Teoria do Consumidor 5. Teoria da Firma I - Produção 6. Teoria da Firma II - Custos de Produção 7. Intervenção do Estadona Economia 8. Estruturas de Mercado I - Concorrência Perfeita 9. estruturas de mercado ii - Monopólio 10. estruturas de mercado iii - Oligopólio Exercícios Resolvidos do CACD - Teste de Pré-Seleção (TPS) 1. Noções Preliminares 2. Fundamentos da Microeconomia: oferta e demanda 3. Elasticidades 4. Teoria do Consumidor 5. Teoria da Firma I - Produção 6. Teoria da Firma II - Custos de Produção 7. Intervenção do Estado na Economia 8. Estruturas de Mercado I - Concorrência Perfeita 9. Monopólio 10. Oligopólio AUTORA Michelle Merética Miltons Bacharel em ciências econômicas pela UFPR, com mestrado em Teoria Econômica pela UEM-PR. Prepara alunos para o Concurso de Admissão à Carreira Diplomática há sete anos, lecionando microeconomia, macroeconomia, economia internacional, formação econômica do Brasil e economia brasileira contemporânea. Atuou em cursinhos preparatórios - presenciais e on-line -, grupos pequenos e por meio de videoaulas. Atualmente é Professora e Coordenadora da Ciclo EAD, curso on-line preparatório para concursos públicos, notadamente para a carreira diplomática. Coordenador Fabiano Távora Graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC) - Turma do Centenário - 2003. Especialista em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas (FGV) - 2005. Mestre em Direito dos Negócios pelo Ilustre Colégio de Advogados de Madri (ICAM) e pela Universidade Francisco de Vitória (UFV) - 2008. Mestre em Direito Constitucional aplicado às Relações Econômicas pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR) - 2012. Advogado. Diretor-geral do Curso Diplomata - Fortaleza/CE. Foi Coordenador do único curso de graduação em Relações Internacionais do Estado do Ceará, pertencente à Faculdade Stella Maris. Professor de Direito Internacional para o Concurso de Admissão à Carreira Diplomática. Professor de Direito Internacional Público, Direito Internacional Privado, Direito do Comércio Exterior e Direito Constitucional em cursos de graduação e pós-graduação. AGRADECIMENTOS Primeiramente, a Deus. Por meio desta obra, Ele me ensinou o valor da perseverança. À minha mãe, Lúcia, e à minha irmã Aline, que me incentivaram da primeira palavra ao último “ponto final”. Amo vocês. Ao meu querido esposo, Cesar, que aguentou firme ao meu lado, apesar das ausências intensas em função do trabalho extensivo de pesquisa. À minha linda e princesa filha Sarah, que tantas vezes teve que abrir mão da companhia da mamãe “só mais um pouquinho” para que esta obra fosse finalizada. Te amo, sua maravilhosa! À minha querida filha Mariana, que esteve feliz e saltitante em minha barriga durante boa parte da confecção desta obra. Na outra parte, feliz e saltitante ao meu lado, aprendendo a conviver com uma mãe bem atarefada! Te amo sua fofucha, preciosa e linda! À minha querida prima Ceres, pelo incentivo, carinho e encorajamento. À Lélia, cunhada e assistente incansável pela parceria e encorajamento: “quem tem fé, tem fé”! Ao Fabiano Távora, organizador, pela imensa paciência, longanimidade, incentivo e consideração. Estendo os agradecimentos ao Davi e à Mávila. Vocês merecem o melhor! À Giuliane Paulista, pela colaboração direta na obra. Ao Rodrigo Goyena Soares, professor, pelo estímulo firme e decidido. Ao Bruno Blanco, candidato ao CACD, pelo encorajamento contínuo. À Daniela Marques Medeiros, professora, pela amizade, palavras de encorajamento e parceria. A todos os guerreiros candidatos à vaga na Diplomacia! E a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para que esta obra fosse finalizada. Recebam, de coração, meu muito obrigada! PREFÁCIO* Dez anos atrás, recebi a notícia de que havia sido aprovado no concurso do Instituto Rio Branco para a carreira diplomática. Era difícil acreditar que meu nome estava na lista de aprovados, que o meu antigo sonho tornara-se realidade. Aquele momento deu-me a impressão de ser um divisor de águas, o primeiro passo da carreira que por tantos anos me fascinara. Hoje, percebo que o primeiro passo para a carreira diplomática havia sido dado em um momento anterior, quando comecei meus estudos de preparação para o concurso. A preparação para a carreira diplomática exige o desenvolvimento da capacidade de analisar politicamente a combinação de diferentes fatores da sociedade. Essa capacidade pode ser adquirida pela leitura atenta de diferentes pensadores e exposição a diferentes manifestações artísticas, o que requer uma caminhada de constantes descobertas. Essa caminhada é feita em direção às mais profundas e fundamentais características da sociedade brasileira, percorrendo a longa estrada que lentamente mostra as cores que delineiam o multifacetado cenário que é o Brasil. A preparação para a carreira diplomática requer este (re)encontro com o Brasil, este momento em que o futuro diplomata reflete sobre seu país e sobre seu povo. Eu diria que o processo de preparação é uma caminhada para dentro. Ao caminhar em direção às profundezas do Brasil, o futuro diplomata se defrontará com perspectivas históricas, geopolíticas, econômicas e jurídicas da realidade brasileira que lhe proporcionarão o arcabouço intelectual para sua contínua defesa dos interesses do Brasil e do povo brasileiro no exterior. Essa observação de quem somos como povo e como país é fundamental para o trabalho cotidiano dos diplomatas brasileiros, principalmente porque também pressupõe as relações do Brasil com outros países. Ao compreender a história política externa brasileira, o candidato poderá perceber características do Brasil que explicam como o país percebe sua inserção no mundo. É interessante notar que essa caminhada para dentro é o início de uma carreira feita para fora, em contato com o mundo. Os diplomatas são os emissários que também contam para o mundo o que é o Brasil e o que é ser brasileiro. A aprovação no concurso do Instituto Rio Branco não é, portanto, o primeiro passo da carreira. É o momento em que a caminhada para dentro do Brasil se completou e passa a ser uma viagem para fora, para relatar ao mundo o que nós somos e o que pensamos. Devo confessar que a minha caminhada foi bem difícil. Quando comecei a me preparar para o concurso, poucas cidades brasileiras tinham estruturas que guiassem os estudos dos candidatos para o concurso. Apesar de ter certeza de que nunca nenhuma leitura é inútil, estou certo de que a imensidão de pensadores e artistas que conformam o pensamento brasileiro é difícil de ser abordada no momento de preparação para o concurso. Lembro-me de que sempre busquei obras que me guiassem os estudos, mas não tive a sorte de naquele momento haver publicações neste sentido. Foi com muita alegria que recebi o convite para escrever sobre minha experiência pessoal como jovem diplomata brasileiro em uma coleção que ajudará na caminhada preparatória dos futuros diplomatas. Esta coleção ajudará meus futuros colegas a seguir por caminhos mais rápidos e seguros para encontrar o sentido da brasilidade e a essência do Brasil. Congratulo- me com a Editora Saraiva, com os autores e com o organizador da coleção, Fabiano Távora, pela brilhante iniciativa e pelo excelente trabalho. Aos meus futuros colegas diplomatas, desejo boa sorte nessa caminhada. Espero que se aventurem a descobrir cada sabor deste vasto banquete que é a brasilidade e que se permitam vivenciar cada nota da sinfonia que é o Brasil. Espero também que possamos um dia sentar para tomar um café e conversar sobre o que vimos e, juntos, contar aos nossos amigos de outros países o que é o Brasil. Pequim, novembro de 2014. Romero Maia APRESENTAÇÃO** Indubitavelmente, o concurso para o Instituto Rio Branco, uma das escolas de formação de diplomatas mais respeitadas do mundo, é o concurso mais tradicional e difícil do Brasil. Todos os anos, milhares de candidatos, muito bem preparados, disputam as poucas vagas que são disponibilizadas. Passar nessa seleção não é só uma questão de quem estuda mais, envolve muitos outros fatores. Depois de muito observar essa seleção, nasceu a ideia de desenvolver um projetoímpar, pioneiro, que possibilitasse aos candidatos o acesso a uma ferramenta que os ajudasse a entender melhor a banca examinadora, o histórico dos exames, o contexto das provas, o grau de dificuldade e aprofundamento teórico das disciplinas, de forma mais prática. Um grupo de professores com bastante experiência no concurso do IRBr formataria uma coleção para atender este objetivo. Os livros foram escritos com base nos editais e nas questões dos últimos 13 anos. Uma análise quantitativa e qualitativa do que foi abordado em prova foi realizado detalhadamente. Cada autor tinha a missão de construir uma obra que o aluno pudesse ler, estudar e ter como alicerce de sua preparação. Sabemos, e somos claros, que nenhum livro consegue abordar todo o conteúdo programático do IRBr, mas, nesta coleção, o candidato encontrará a melhor base disponível e pública para os seus estudos. A Coleção Diplomata é composta dos seguintes volumes: Direito internacional público; Direito interno I - Constituição, organização e responsabilidade do Estado brasileiro; Direito interno II - Estado, poder e direitos e garantias fundamentais (no prelo); Economia internacional e brasileira (no prelo); Espanhol (no prelo); Francês (no prelo); Geografia I - Epistemologia, política e meio ambiente; Geografia II - Geografia econômica; História do Brasil I - O tempo das Monarquias; História do Brasil II - O tempo das Repúblicas; História geral; Inglês; Macroeconomia; Microeconomia; Política internacional I - A política externa brasileira e os novos padrões de inserção no sistema internacional do século XXI; Política internacional II - Relações do Brasil com as economias emergentes e o diálogo com os países desenvolvidos; Português. Todos os livros, excetuando os de língua portuguesa e inglesa, são separados por capítulos de acordo com o edital do concurso. Todos os itens do edital foram abordados, fundamentados numa doutrina ampla e atualizada, de acordo com as indicações do IRBr. Os doutrinadores que mais influenciam a banca do exame foram utilizados como base de cada obra. Junte-se a isso a experiência e a sensibilidade de cada autor, que acumulam experiências em sala de aula de vários locais (Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Curitiba, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Teresina ...). Cada livro, antes da parte teórica, apresenta os estudos qualitativos e quantitativos das provas de seleção de 2003 até 2014. Por meio de gráficos, os candidatos têm acesso fácil aos temas mais e menos cobrados para o concurso de Diplomata. Acreditamos que esse instrumento é uma maneira inteligente de entender a banca examinadora, composta por doutrinadores renomados, bastante conceituados em suas áreas. No final de cada livro, os autores apresentam uma bibliografia completa e separada por assuntos. Assim, o candidato pode ampliar seus conhecimentos com a segurança de que parte de uma boa base e sem o percalço de ler textos ou obras que são de menor importância para o concurso. As questões são separadas por assunto, tudo em conformidade com o edital. Se desejar, o aluno pode fazer todas as questões dos últimos anos, de determinado assunto, logo após estudar a respectiva matéria. Dessa forma, poderá mensurar seu aprendizado. Portanto, apresentamos aos candidatos do IRBr, além de uma coleção que apresenta um conteúdo teórico muito rico, bastante pesquisado, uma verdadeira e forte estratégia para enfrentar o concurso mais difícil do Brasil. Seguindo esses passos, acreditamos, seguramente, que você poderá ser um DIPLOMATA. Fortaleza, 29 de julho de 2015. Fabiano Távora EVOLUÇÃO DAS QUESTÕES POR ANO*** 1. Noções Preliminares Economia: conceito A economia é uma ciência social que se ocupa do estudo de como os indivíduos fazem uso de recursos produtivos escassos para produzir bens e serviços e distribuí-los entre as pessoas a fim de satisfazer suas necessidades1. Por “necessidade”, entende-se um desejo que envolva a escolha de um bem econômico que possa realizar socialmente uma pessoa ou colaborar para sua sobrevivência2. Dois são os ramos centrais da teoria econômica: a microeconomia e a macroeconomia. O primeiro cuida em como consumidores, produtores e empresas se comportam e interagem na economia, enquanto o segundo estuda os agregados econômicos - consumo, investimento, taxa de juros, nível de preços e de emprego. Este livro segue, em linhas gerais, a ordem apresentada no edital do Concurso de Admissão à Carreira Diplomática - CACD, já que almeja ser uma importante ferramenta nesta difícil preparação3. Alocação de recursos escassos: o cerne da economia Todos os indivíduos têm necessidades. Pode-se dizer até que elas são ilimitadas. Por outro lado, os recursos necessários para supri-las são limitados. E aqui está o dilema que deu origem à ciência econômica: como alocar recursos limitados no atendimento de necessidades ilimitadas? O objeto de estudo da ciência econômica fica assim definido, portanto: como economizar os recursos disponíveis4. Já que não há como atender às necessidades de todos os indivíduos, famílias e empresas, a sociedade deve buscar formas de maximizar sua satisfação a partir da alocação dos recursos disponíveis, escassos por natureza5. Cuide para não confundir escassez com pobreza. Esta significa a posse de poucos bens, ao passo que aquela informa que há mais desejos do que bens para satisfazê-los, mesmo que haja muitos bens. Da mesma forma, escassez não se confunde com limitação. Bens podem ter uma oferta limitada, mas se não forem demandados, não é possível afirmar que são escassos6. Nem todos os bens são escassos. Entendendo bem como algo que permite a satisfação de uma ou mais necessidades humanas7, podemos classificá-los quanto à raridade, quanto ao destino e quanto à posse. Quanto à raridade Os bens podem ser livres ou econômicos. Os bens livres são aqueles cuja quantidade disponível é ilimitada (no sentido de que atende a todos os seres humanos, sem a necessidade de alocação). Além disso, não há relações econômicas envolvidas em seu uso e, por conseguinte, não apresentam preço de mercado. Exemplos são o ar, a luz do sol e o mar. Bens econômicos - que são os que nos interessam - são aqueles cuja quantidade é limitada, ou seja, são escassos, gerando, dessa forma, a necessidade de serem alocados por meio do sistema de preços. É a escassez de recursos disponíveis que gera a escassez dos bens econômicos. Quanto ao destino Os bens econômicos podem ser de consumo ou de capital. Os bens de consumo são aqueles usados diretamente na satisfação de necessidades humanas e se subdividem em duráveis (como os eletrodomésticos) e não duráveis (como os alimentos). Os bens de capital são aqueles usados na fabricação de outros bens, como as máquinas e as instalações. Os bens intermediários são transformados ou incorporados ao processo produtivo de outros bens, sendo ali consumidos. São exemplos os insumos, as matérias-primas e os componentes. A diferença entre os bens finais e os intermediários é que os primeiros são comercializados para uso ou consumo final e os últimos ainda serão transformados. Dessa forma, já que os bens de capital não são “consumidos” ao longo do processo de produção, enquadram-se como bens finais8. Quanto à posse Os bens econômicos também podem ser privados ou públicos. Os privados são aqueles produzidos e possuídos por particulares, como os móveis e os eletrodomésticos, ao passo que os públicos são os bens fornecidos pelo setor público, como a educação, os serviços de saúde, a segurança e os transportes. A questão da escassez é subjetiva. O que tem algum valor para mim não necessariamente o tem para você. Apesar de essencial, não é necessário pagar mais que R$ 4,00 por uma garrafa de meio litro de água no Brasil. No Norte da África, por outro lado, provavelmente o preço seja maior. Essa não é a realidade no norte da África e essa diferença de preço se explica, em grande medida, pela disponibilidade do bem nos diferentes locais. Além disso, as próprias necessidadesse alteram com o tempo. Há quinze anos, os correios e o telefone pareciam atender muito bem às demandas de comunicação a longa distância. Não é necessário dizer que hoje tais meios estão longe de ser os escolhidos pela maior parte da população que tem acesso à internet. Assim, os problemas da economia permanecem os mesmos, mas adquirem diferentes roupagens com o passar dos anos. Diante de todas essas questões, torna-se possível definir a economia como sendo o estudo da alocação de recursos escassos entre fins competitivos e usos alternativos, a fim de satisfazer as diferentes e ilimitadas necessidades humanas. Os problemas econômicos que surgem a partir do conceito de economia se resumem em: o que e quanto produzir? Como e para quem produzir? Produzir bens que atendam às necessidades em quantidade adequada, minimizando custos e maximizando os resultados - entendam-se lucros para as firmas e bem-estar para os consumidores - para indivíduos, empresas e governos. Especificar melhor esta resposta genérica também é tarefa da economia. As questões acima parecem referir-se mais às decisões das empresas. Mas é importante destacar que as empresas tomam decisões baseadas nos comportamentos previstos dos consumidores. E como são estes comportamentos? É possível generalizar ao menos os aspectos comuns? Comecemos com uma pergunta simples: o que o leva a adquirir um bem? Salvo em casos excêntricos, adquire-se um bem pela utilidade por ele proporcionada: satisfação de uma necessidade, geração de bem-estar ou prazer. Dada a questão da escassez de recursos, todos precisam escolher. Uma calça ou uma bolsa? Um livro ou uma videoaula? Esse tipo de escolha ou trade off9 se estende também a decisões que, não necessariamente, implicam a aquisição de um bem: estudar economia ou inglês? Distribuição de renda ou crescimento econômico? Conhecer as opções auxiliam os agentes na tomada de decisões. Há formas de lidar com a escassez de um país e seu estudo ajuda a nortear o entendimento da economia. Entre elas, destacam-se: a) garantir que os recursos escassos sejam plenamente empregados; b) cuidar para que o emprego dos recursos seja feito de maneira economicamente eficiente; c) promover o crescimento econômico; d) reduzir o impacto da escassez sobre os indivíduos afetados pela pobreza por intermédio da melhor distribuição dos recursos10. Assim, a escassez pode ser administrada e seu problema minimizado via pleno emprego, eficiência econômica, crescimento e redistribuição de renda. Em economia, não somente o que se deseja fazer ou comprar é importante. O que se deixa de fazer ou comprar também é. Na tomada de decisões, faz- se necessário comparar custos e benefícios e isso envolve não só o dinheiro, mas também o tempo, as emoções, as expectativas e tantos outros aspectos objetivos e subjetivos. E aqui entra o conceito de custo de oportunidade11: é o que se abre mão para a obtenção da coisa desejada. Ao ler este livro e optar por dedicar este tempo ao estudo da economia, você pode estar abrindo mão de assistir a um bom filme ou de sair com os amigos. Assim, o custo de oportunidade de estudar economia para você, neste caso, é deixar de assistir a seu filme ou de sair. Outro aspecto interessante sobre nosso comportamento, como consumidores, é de cunho quantitativo e diz respeito a tomada de decisões baseada em pequenas variações, ou melhor, em alterações marginais. Suponha uma dona de casa, fazendo compras na feira e decidindo a quantidade de tomates que irá adquirir. Ela pensa na salada, no molho e na pizza e fica na dúvida se leva 8 ou 10 unidades, e não se levará 10 quilos ou absolutamente nenhum tomate. Sua decisão será mais bem tomada se ela levar em consideração as próximas refeições e não, por exemplo, se ela pensar nos tomates para o mês inteiro (o que, salvo mediante algum processo de congelamento, não seria recomendado). E assim ocorre com quase todas as decisões dos consumidores e dos produtores racionais: a tomada de decisão que envolve algum tipo de gasto, em geral, é feita assumindo-se a ideia de margem, de acréscimos pequenos ou unitários. O comportamento do consumidor será estudado com mais detalhes em capítulo específico, destinado ao tema. As noções vistas até aqui serão úteis e importantes para a compreensão dos fundamentos da oferta e da demanda. Curva de Possibilidades de Produção ou Curva de Transformação A escassez e as alternativas de produção podem ser estudadas a partir do conceito de curva ou fronteira de possibilidade de produção ou curva de transformação. Esta curva delimita a fronteira máxima que uma economia é capaz de produzir, considerando seus limitados recursos disponíveis e o nível de conhecimento tecnológico12. A sociedade deve determinar de antemão quais as possíveis combinações de produtos. A Figura 1.1 apresenta opções de produção disponíveis para uma economia hipotética. Aqui a noção de escassez é evidenciada. O modelo da FPP adota algumas premissas: a) Os recursos produtivos são fixos ou constantes. b) O conhecimento tecnológico (know-how) é constante. c) Dois produtos, grupos ou classes de produtos(ex: milho e soja; produtos agrícolas e industriais ou arroz tipo 1 e arroz tipo 2) são produzidos (tal simplificação permite análise a partir da leitura de um gráfico bidimensional)13. Dados os recursos limitados, o aumento da produção do bem B só será possível se houver redução na produção do bem A. As combinações possíveis desses dois bens são mostradas nos pontos da curva - como em A e em C - e nos pontos situados na área sob a curva - como em B. O conjunto de pontos que compõem a curva é denominado fronteira de possibilidades de produção, pois delimita e separa as possíveis combinações daquelas não disponíveis14 (toda a área fora da curva, como o ponto D). Figura 1.1. Curva de possibilidades de produção Pontos abaixo da curva indicam que há recursos ociosos, ou seja, desemprego de parte dos fatores de produção ou que os recursos da economia estão sendo usados de forma ineficiente, resultando em uma combinação que não é a máxima que se pode alcançar em termos de produção. Assim, uma “economia que produz num ponto abaixo da curva de possibilidades de produção sempre pode aumentar sua produção e melhorar sua condição”15. Se a economia, por outro lado, estiver operando num ponto sobre a curva de possibilidade de produção, não lhe será possível aumentar a produção de um dos bens sem reduzir ou sacrificar a produção do outro. Este aspecto da curva deixam claras as noções de escassez e de custo de oportunidade. Observe que, se a economia estiver operando de maneira eficiente, ou seja, em algum ponto sobre a fronteira de possibilidades de produção, ela estará em pleno emprego. Todos os recursos disponíveis para produzir estão sendo eficientemente empregados e estes existem em quantidade fixa (escassez). Para produzir mais de um, é necessário produzir menos de outro. Este sacrifício na produção de um em prol do aumento da produção de outro é o custo de oportunidade16. O custo de oportunidade é crescente, ou seja, quanto mais nos deslocarmos ao longo da fronteira, maior será o sacrifício exigido em termos do quanto se deixará de produzir do bem A para incrementar a produção do bem B17. Por esta razão, a curva de possibilidades de produção é côncava em relação à origem dos eixos cartesianos. A fronteira de possibilidades de produção não é necessariamente estática. Se a economia adquirir mais recursos produtivos - mão de obra, recursos naturais, know-how tecnológico - ela poderá produzir mais de ambos os bens. Graficamente, a situação é representada por um deslocamento para fora da curva (Figura 1.2). Figura 1.2. Deslocamento da curva de possibilidade da curva de produção A economia em questão também pode sofrer um revés capaz de deslocar sua fronteira para dentro. É o caso de desastres naturais, que destruam parte do estoque disponível de recursos naturais ou guerras, que reduzam a população economicamente ativa. Esta economia terá menos fatores e suas opçõesde produção serão, assim, restringidas18. As mudanças tecnológicas podem afetar a produção de um dos bens produzidos de forma mais intensa do que a do outro19. Uma inovação no processo de seleção de grãos, por exemplo, terá impacto na produção agrícola maior do que na produção de bens industriais em geral. Neste caso, o deslocamento da curva será maior em relação ao eixo que representa o bem cuja produção foi mais impactada pela inovação (Figura 1.3). Figura 1.3. Deslocamento da curva de possibilidades de produção Modelos Econômicos O estudo da teoria econômica faz uso de modelos, que nada mais são do que simplificações da realidade, representações grosseiras de situações que são muito complexas. Assuntos difíceis podem assim ser estudados isolando-se apenas as variáveis mais significativas. Um modelo econômico é relevante justamente porque elimina detalhes de menor importância, permitindo ao pesquisador focar nas características essenciais da realidade econômica estudada20. A teoria econômica, neste sentido, é uma simplificação, uma abstração da realidade, já que a economia real é muito complexa. É impossível conhecer todas as inter-relações de uma vez só. Além disso, nem todas as inter- relações possuem a mesma importância. Assim, é necessário selecionar os fatores julgados mais importantes, focando a atenção apenas nesses elementos. Considera-se que os demais permanecem constantes. Via de regra, procura-se adotar o modelo mais simples possível, suficiente para descrever a situação econômica em análise. Em seguida, são-lhe acrescentadas complicações - necessárias - para torná-lo mais coerente com a realidade. Os modelos econômicos são usados tanto na economia positiva - aquela que procura descrever como a economia funciona - como na normativa - que descreve como a economia deveria funcionar. Ingredientes dos Modelos Econômicos Os modelos são estruturas teóricas não necessariamente matemáticas. Mas se forem matemáticas, em geral, serão constituídas por equações que descreverão sua estrutura. Ao relacionar de forma definida algumas variáveis entre si, as equações dão forma matemática ao conjunto de supostos analíticos do modelo. Em seguida, por meio da aplicação de operações matemáticas relevantes, inferências e conclusões podem ser tiradas de forma lógica21. Passemos à definição dos “ingredientes” dos modelos econômicos matemáticos: as variáveis, as constantes, os parâmetros, as equações e as identidades. Variáveis A variável é, como seu próprio nome indica, algo que pode assumir diferentes valores, devendo ser representada por um símbolo. Há inúmeros exemplos na economia: preços (P), custos (C), receitas (R), importações (M), investimento (I), entre outros. Um modelo econômico, desde que construído de forma apropriada, pode ser resolvido gerando-se os valores das soluções de um determinado número de variáveis22. Há dois tipos de variáveis: as endógenas, ou dependentes, e as exógenas, ou independentes. Variáveis endógenas são aquelas cujos valores pretende-se encontrar ao solucionar o modelo (são originadas dentro ou internamente ao modelo). Variáveis exógenas são aquelas cujos valores são, por hipótese, determinados por forças externas ao modelo (originadas exteriormente). Em uma função genérica do tipo y = ax + b, a variável y é a endógena, porque será determinada pela solução do modelo indicado por ax + b. A variável x é exógena, já que a explicação sobre sua determinação encontra-se fora deste modelo em análise. Uma variável considerada endógena em um modelo pode ser exógena em outro. A variável preço, por exemplo, é uma variável endógena na determinação do equilíbrio do mercado de arroz. Já na teoria do consumidor, ela á um dado e, portanto, deve ser considerada exógena. Constantes A constante é uma magnitude que não varia. As variáveis, muitas vezes, aparecem combinadas com números fixos ou constantes. Ex.: 7P ou 20Q. Quando a constante estiver associada a uma variável, ela será chamada de coeficiente. O coeficiente pode ser numérico - por exemplo 8P - ou simbólico - como aP. Quando utilizamos um coeficiente simbólico, conferimos-lhe maior grau de generalidade, já que ele pode assumir qualquer valor. Parâmetros Em uma expressão ou equação, o parâmetro é uma letra distinta da variável, cujo valor numérico pode ser fixado arbitrariamente. É uma constante variável e, por este comportamento específico, recebe também o nome especial de parâmetro ou constante paramétrica. O parâmetro é uma constante que se encontra associada a uma variável, mas pode assumir mais de um valor. Por isso, o parâmetro é uma “constante variável”. Mesmo podendo assumir diferentes valores, ele deve ser interpretado como um dado no modelo. Por essa razão, usa-se a palavra constante, mesmo que seja paramétrica. Os parâmetros, de certa forma, se parecem com as variáveis exógenas, já que ambos são tratados como dados no modelo. A diferença é que os parâmetros são constantes - ainda que paramétricas -, ao passo que as variáveis variam23. Equações e Identidades Em um modelo, as variáveis devem se relacionar entre si por meio de equações ou desigualdades. Há três tipos de equações: as equações de definição, as equações de comportamento e as condições de equilíbrio. a) Equações de definição: são aquelas que estabelecem uma identidade entre duas expressões alternativas que possuem exatamente o mesmo significado. Um exemplo seria a função lucro, que o apresenta como sendo a diferença entre receitas e custos: L = R - C. b) Equações de comportamento: especificam a maneira pela qual uma variável se comporta em resposta a mudança em outras variáveis. Pode envolver comportamento humano, como, por exemplo, a variação do consumo de sorvete em função do aumento da renda no mês de dezembro ou não, como quando se analisa a alteração da produtividade em razão de uma inovação tecnológica. c) Condição de equilíbrio: é relevante sempre que o modelo envolver a noção de equilíbrio. A condição de equilíbrio é uma equação que descreve o pré-requisito para o equilíbrio. Exemplo seria a equação que iguala a quantidade ofertada com a demandada no mercado: Qd = Qs. Estática Comparativa Ao longo dos próximos capítulos, estudaremos a oferta e a demanda de mercado, bem como a determinação dos preços e das quantidades que o equilibra. Em algum momento, poderemos indagar como o preço de equilíbrio se altera diante de variações nas condições de mercado. Este importante exercício é chamado de estática comparativa, pois compara duas situações estáticas de equilíbrio, sem se ocupar na dinâmica24 da movimentação das variáveis entre um equilíbrio e outro. A estática comparativa preocupa-se, portanto, com a comparação entre os equilíbrios25. Eficiência de Pareto Eficiência econômica ou eficiência de Pareto é um importante conceito. Segundo GOLBERG, “um arranjo social é definido como Pareto - ótimo se, e somente se, o bem-estar de alguém não possa ser aumentado sem a diminuição do bem-estar de outrem”26. Nesse sentido, se for possível melhorar a situação de uma pessoa sem piorar a de nenhuma outra, diz-se que houve uma melhoria de Pareto. Assim, se uma alocação de recursos permitir que a melhoria de Pareto aconteça, então ela não atingiu o ótimo, ou seja, ela é ineficiente no sentido de Pareto. Por outro lado, se a alocação não possibilita tal melhoria, ela será considerada eficiente no sentido de Pareto27. Bens e serviços são alocados de forma eficiente se “todos as trocas que beneficiam ambas as partes são feitas, até o ponto em que necessariamente alguém perderá com uma troca adicional”28. 2. Fundamentos da Microeconomia: oferta e demanda1 Várias questões importantes podem ser estudadas a partir dos fundamentos da oferta e da demanda de mercado. Como as firmas determinam a quantidade a ser vendida de determinado produto e por que alteram suas decisões de acordo com o comportamento de seus consumidores? Quais são as consequências da interferência do governo no mercado com a adoção de políticas de preços mínimosou de incentivos à produção? Como a imposição de tributos afeta produtores e consumidores? Na tentativa de descrever o comportamento dos agentes econômicos, faz-se necessária a adoção de uma estrutura que oriente a análise. É comum, em economia, basear esta estrutura em dois princípios: a) Otimização; b) Equilíbrio. O princípio da otimização afirma que as pessoas procuram escolher o melhor padrão de consumo disponível e as empresas, a maior lucratividade. A noção de equilíbrio sugere que os preços ajustam-se para igualar a quantidade demandada à ofertada2. As curvas de oferta e demanda são excelentes ferramentas para descrever o mecanismo de mercado. Mas o que é mercado? Cada bem ou serviço, salvo algumas exceções, conta com vários ofertantes e vários demandantes. O grupo de compradores e vendedores de um determinado bem ou serviço compõe seu mercado. Assim, os consumidores, juntos, determinam a demanda total daquele bem ou serviço e os ofertantes, juntos, a oferta total. Supondo que não haja interferência do governo, a oferta e a demanda de determinado bem entrarão em equilíbrio e, neste ponto, preços e quantidades ofertadas e demandadas serão determinados. A reação às outras variáveis determinará a alteração deste equilíbrio3. Os mercados podem apresentar formas diferentes, com mais ou menos compradores e vendedores, com semelhanças profundas ou importantes diferenças entre os produtos comercializados. Em capítulos posteriores, serão estudados os três tipos de mercado solicitados no edital para o CACD4: concorrência perfeita, monopólio e oligopólio. Para o estudo da teoria elementar do funcionamento do mercado, por simplificação, vamos considerar que os mercados estão em concorrência perfeita. Neste tipo de mercado, supõe-se que os bens ofertados são todos iguais e que há tantos compradores e vendedores que sua influência sobre o preço é nula, ou seja, ambos devem aceitar o preço determinado pelo mercado, sendo, por isso, chamados de tomadores de preço ou price takers. Lembre-se de que, ao elaborar uma questão discursiva de cunho teórico na prova, o candidato deverá iniciá-la apresentando as hipóteses do modelo adotado. A teoria que será discutida a partir de agora considera a prevalência de mercados em concorrência perfeita. Teoria elementar da demanda A demanda não é uma aquisição. Não é efetivamente uma compra. É um desejo, uma aspiração por determinado bem ou serviço. Ao analisar o edital para o Concurso de Admissão à Carreira Diplomática - CACD, um candidato pode desejar adquirir toda a bibliografia, montando uma invejável biblioteca. Ele demanda livros para o concurso, mas não necessariamente adquire todos os que gostaria. Se determinada livraria divulgasse uma queima de estoque, este candidato poderia transformar sua aspiração - demanda - em realidade - compra. Tal atitude permite descrever o comportamento deste consumidor como sendo àquele definido pela teoria econômica: quanto menor o preço, maior a quantidade demandada. Se a demanda converter-se efetivamente em compra, tanto melhor. Mas, se não, pelo menos saberemos que preços menores o convidarão a fazê-lo. Em resumo, a demanda representa o quanto os consumidores desejam comprar e não necessariamente o que eles realmente compram5. A demanda individual é também um fluxo por unidade de tempo, expressando-se por uma certa quantidade em dado período6. Por exemplo, um candidato ao CACD demanda aproximadamente 40 horas de aula das matérias exigidas no edital em cursinhos preparatórios por mês (e não simplesmente 40 horas de aula). A teoria da demanda foi construída a partir de hipóteses sobre o comportamento dos consumidores. Estes possuem orçamentos restritos - recursos limitados - e precisam tomar decisões, fazer escolhas entre as alternativas disponíveis. A combinação escolhida primará pelo máximo de satisfação ou utilidade, respeitando o limite imposto pela renda. Os fundamentos da demanda têm por base o conceito de utilidade, que nada mais é do que o grau de satisfação atribuído pelos consumidores aos bens que desejam adquirir. Aqui, cabe uma distinção entre duas teorias: a do valor-utilidade e a do valor-trabalho. A teoria do valor-utilidade, representante da visão utilitarista, assume que o valor de um bem é definido pela satisfação que este representa para o consumidor. Já a teoria do valor-trabalho, adotada por economistas clássicos com Adam Smith, David Ricardo, Thomas Malthus e também por Karl Max, considera que o valor dos bens é determinado pelo lado da oferta, por meio dos custos a eles incorporados, sendo a mão de obra o mais representativo. A teoria do valor-utilidade permitiu que se definissem os conceitos de valor de uso e valor de troca. O valor de uso indica o quanto de utilidade ou bem- estar o bem representa para o consumidor, ao passo que o valor de troca é definido pelo preço de mercado7. A teoria da demanda, que estudaremos neste capítulo, tem por base a teoria do valor-utilidade. Avançaremos no conceito de utilidade no capítulo sobre a teoria do consumidor. Que variáveis determinam a demanda de um consumidor por um bem? Certamente, o preço está no topo da lista. Mas escolher comprar ou não uma calça jeans também depende de outros fatores, dos quais os principais seriam: o preço da bermuda jeans, a renda do indivíduo e as preferências pessoais. A opinião dos amigos, a temperatura no dia, o resultado do jogo de futebol, tudo isso também pode pesar na decisão. Mas, certamente, muito menos do que as primeiras variáveis mencionadas. Como é da essência da teoria o simplificar a realidade, deixemos de lado as infinitas variáveis com peso menor e analisemos somente as mais recorrentes e realmente importantes. Nesse sentido, diz-se que a demanda por um bem é uma função de seu preço, do preço de outros bens que lhe guardem alguma relação - seja de substitutibilidade, seja de complementaridade - da renda do consumidor, de seus gostos pessoais e da expectativa que ele tem quanto ao comportamento futuro do mercado. Matematicamente: Dx = f (Px, P1, P2, …, Pn, R, G, E) A demanda Dx de um bem x é uma função de seu preço Px, do preço dos demais bens, P1, P2, ... Pn, da renda do indivíduo R, de seus gostos G e de suas expectativas E. A influência dessas variáveis sobre a demanda deve ser estudada de forma separada. Para tanto, faz-se uso da hipótese simplificadora coeteris paribus - cada variável será considerada isoladamente - ou melhor, será analisado o efeito de uma variável sobre a outra, ou da alteração de uma variável sobre o comportamento da outra, considerando tudo o mais constante. Diz-se, por exemplo, que, coeteris paribus, a demanda por um bem é uma função de seu preço. Vejamos a influência de cada uma dessas variáveis sobre a demanda. 1. Demanda em função do preço do bem A relação entre quantidade demandada e preço de um bem pode ser expressa matematicamente da seguinte forma: Dx = f (Px) A demanda D de um bem x é uma função de seu preço Px, coeteris paribus. A demanda por um bem, em geral, guarda relação negativa com seu preço, ou seja, quanto maior o preço, menor a quantidade demandada. Esta relação é a mais fundamental e, por esta razão, dá-se o nome de curva de demanda8 o gráfico que a representa: Figura 2.1. Curva de Demanda A curva de demanda relaciona preços e quantidades que os consumidores desejam adquirir. Um preço mais baixo estimula os consumidores que já tenham adquirido certo bem a comprá-los em quantidades maiores. No entanto, esta teoria admite duas exceções: os bens de Giffen e os bens de Veblen. Bens de Giffen são aqueles que têm sua demanda aumentada quando há aumento no preço. Esse comportamento é diferente da maioria dos produtos, que são mais procurados à medida que seu preço cai. A elasticidade-preço da demanda é positiva (quanto maior o preço, maior a demanda) e sua curva de demanda é crescente. Ex.: pão9. Bens de Veblen são bens de consumo ostentatório, tais como joias, objetos de arte e automóveis de luxo. Quando o preço aumenta, aumenta também a quantidadedemandada. Deslocamentos da Curva e ao Longo da Curva Quando uma das variáveis que influenciam a demanda se altera, há mudanças na própria demanda representadas por deslocamentos da própria curva ou ao longo da curva. Os deslocamentos ao longo da curva ocorrem quando uma das variáveis representadas nos eixos cartesianos se altera. Como no caso da curva de demanda a variável dependente é a quantidade e a variável independente é o preço, espera-se que, quando os preços se alterarem, haja, consequentemente, mudança nas quantidades. Suponha que o preço de determinado bem x aumente de P1 para P2. Pela relação fundamental, sabemos que a demanda por ele - considerando que se trata de um bem normal - diminuirá, da quantidade Q 1 para Q 2. Assim, há um deslocamento ao longo da curva de demanda, do ponto A para o ponto B. Graficamente: Figura 2.2. Deslocamento ao longo da curva de demanda Por outro lado, considerando a função demanda, quando alguma das outras variáveis que a influenciam se altera - preços dos demais bens, renda ou gostos do consumidor - haverá um deslocamento da própria curva. Suponha, por exemplo, que uma inovação tecnológica tenha propiciado o surgimento de uma nova linha de adoçantes dietéticos, cujo sabor se assemelha de tal forma ao açúcar que determinado consumidor (ou mesmo muitos consumidores) decida reduzir drasticamente seu consumo em prol do aumento do consumo do novo produto. A curva de demanda deste consumidor por açúcar sofrerá um deslocamento para trás, em função da mudança no gosto do consumidor, considerando o preço do açúcar constante: Figura 2.3. Deslocamento da Curva de Demanda O deslocamento da curva ocorrerá sempre que as variáveis que a influenciam se alterarem. A direção do deslocamento segue um raciocínio intuitivo: para a frente e para a direita quando tal alteração provocar aumento da quantidade demandada; para trás e para a esquerda, quando o resultado for uma redução nesta quantidade. Quando ocorrem deslocamentos da curva de demanda, diz-se que houve uma mudança na demanda. Quando os deslocamentos ocorrem ao longo da curva, diz que que houve mudança na quantidade demandada. 2. Demanda em função do preço dos outros bens A relação entre quantidade demandada e preço de outros bens pode ser expressa matematicamente da seguinte forma: Dx = f (Pi) A demanda D de um bem x é uma função do preço dos demais bens, Pi, coeteris paribus. Quando o preço do bem i aumenta, a demanda do bem x poderá aumentar ou diminuir, dependendo da relação existente entre ambos. Quando o aumento do preço do bem i provoca aumento na demanda pelo bem x, os bens x e i são substitutos ou concorrentes. O exemplo clássico de bens substitutos é a manteiga e a margarina. Quando o preço da manteiga aumenta, espera-se que a demanda da margarina aumente. Por outro lado, se o aumento do preço do bem i provocar redução na demanda do bem x, diz-se que ambos são complementares entre si. Estes bens são consumidos conjuntamente, como as lanternas e as pilhas. Podemos expressar essas relações matematicamente e graficamente10. Seja: • qid = a quantidade demandada do bem i num período t; • pi = preço do bem i num período t; • ps = preço do bem substituto ou concorrente/t. • pc =preço do bem complementar/t. Temos que: ; coeteris paribus, os bens serão substitutos ou concorrentes. Caso ocorra um aumento em ps, a curva de demanda de i se deslocará para a frente e para a direita. Admitamos o exemplo da manteiga (i) e margarina (s) na Figura 2.4. Figura 2.4. Deslocamento da curva de demanda por manteiga: bens substitutos Caso haja um aumento no preço da margarina (s), a curva de demanda por manteiga se deslocará para a direita, o que indica aumento da quantidade demandada deste bem em substituição àquele. Por outro lado: ; coeteris paribus, os bens serão complementares. Diante de um aumento dos preços das pilhas (i), espera-se que a demanda por lanternas (c) se reduza (Figura 2.5). Figura 2.5. Deslocamento da curva de demanda por lanternas: bens complementares Havendo um aumento no preço das pilhas, a curva de demanda desloca-se para baixo e para a esquerda, reduzindo a quantidade demandada deste bem, acompanhando a redução observada na demanda das pilhas. 3. Demanda em função da renda do consumidor Depois do preço, certamente a influência da renda sobre a demanda é a mais importante: Dx = f (R) A demanda D de um bem x é uma função da renda do consumidor, R, coeteris paribus. Na maioria das vezes, a relação entre renda e demanda é positiva, ou seja, quando a renda do consumidor aumenta, a demanda por um bem também aumenta. Esse caso geral ocorre com os chamados bens normais. Há bens cuja demanda cessa quando o consumidor dá-se por satisfeito, os chamados bens de consumo saciado ou neutro. Por fim, há ainda os bens que têm sua demanda reduzida quando a renda aumenta, os bens inferiores. Graficamente: Figura 2.6. Tipos de bens, de acordo com a relação entre a renda e a quantidade demandada Matematicamente, temos: • ; os bens são normais; • ; os bens são inferiores; • ; os bens são de consumo saciado ou neutros11. 4. Demanda em função dos gostos do consumidor Essa relação é bem intuitiva. Se um consumidor apresentar preferência por um bem, quando comparado a outro, alternativo, sua demanda por ele será superior à demanda pelo bem menos preferido. Dx = f (G) A demanda D de um bem x é uma função dos gostos do consumidor G, coeteris paribus. 5. Demanda em função das expectativas do consumidor As expectativas que os consumidores fazem com respeito ao futuro influenciam suas decisões de compra hoje. Por exemplo, um grupo de consumidores é informado de que, no final de semana, haverá uma queima de estoques em certa loja de departamento, eles podem preferir aguardar a data para fazer suas compras, o que diminuirá a demanda pelos produtos ali comercializados hoje. Dx = f (E) A demanda D de um bem x é uma função das expectativas E, coeteris paribus. Demanda de mercado A soma das demandas individuais fornece a demanda de mercado. Se, ao preço de R$ 1,00, um consumidor demande 2 maçãs e outro consumidor demande 5, e ambos sejam os únicos consumidores de determinado mercado, a demanda de mercado por maçãs, ao preço de R$ 1,00, será composta de 7 unidades. A curva de demanda de mercado é, dessa forma, a soma horizontal das curvas de demanda individuais, já que se somam somente as quantidades e não os preços. Outra “variável” que também desloca a demanda - mas que não é mencionada claramente nos livros-textos - é a própria demanda. Como assim? Às vezes, questões sugerem que a demanda por determinado bem, digamos, um livro, aumentou, mas não há uma explicação clara sobre o que gerou essa alteração. O fato é que se houver uma questão que indique a alteração da demanda, salvo pela mudança de preços - o que geraria alterações apenas ao longo da curva - a demanda se deslocará! Teoria elementar da oferta Do outro lado da história, encontra-se o ofertante. Este, em geral, deseja oferecer mais de determinado bem quando seu preço se eleva. A oferta não é efetivamente uma venda. Da mesma forma que a demanda, é uma vontade, uma aspiração. Há vários fatores que determinam a oferta, mas, assim como ocorre com a demanda, o preço é a variável mais importante. Daí ser a curva de oferta justamente a representação gráfica desta relação. Esta curva mostra a quantidade de mercadorias que os ofertantes estão dispostos a vender a cada preço, coeteris paribus. As outras variáveis que influenciam a oferta são o preço de outros bens que lhe guardem alguma relação (substitutibilidade ou complementaridade), o preço dos fatores de produção, a mudança tecnológica e as expectativas. Matematicamente: Sx = f (Px, P1, P2, …, Pn, p1, p2, ..., pn, T, E) A oferta Sx de um bem x é uma função de seu preço Px, do preço dos demais bens, P1, P2, ... Pn, do preço dos fatores de produção p1, p2, ..., pn, da tecnologia T e das expectativas E. A influência de cada uma das variáveis acima sobre a ofertaserá vista separadamente. 1. Oferta em função do preço do bem Quando aumenta o preço de um bem, a oferta também aumenta. Matematicamente: Sx = f (Px) A oferta S de um bem x é uma função de seu preço Px, coeteris paribus. A curva de oferta mostra esta relação. Sua inclinação é ascendente, demonstrando a relação positiva entre as variáveis: quanto mais altos os preços, mais os ofertantes desejam produzir e vender. Figura 2.7. Curva de oferta 2. Oferta em função do preço dos demais bens Para entender essa relação, suponha um agricultor que, iniciando a época da semeadura, precisa decidir entre plantar milho ou feijão. Se o preço do feijão no mercado aumentar, sua produção se tornará mais interessante do que a de milho e, em se efetivando a decisão, a oferta de milho no mercado se reduzirá. Sx = f (P1, P2, ..., Pn) A oferta S de um bem x é uma função do preço dos demais bens, P1, P2, ..., Pn, coeteris paribus. 3. Oferta em função do preço dos fatores de produção O preço dos fatores de produção - terra, capital e trabalho - determina, junto com a tecnologia utilizada no processo produtivo, os custos de produção. Assim, caso haja um aumento do preço de um ou mais fatores, os custos aumentarão, alterando a lucratividade relativa das diferentes opções de produção, provocando deslocamentos nas curvas de ofertas dos respectivos produtos. Sx = f (p1, p2, ..., pn) A oferta S de um bem x é uma função do preço dos fatores de produção (p1, p2, ..., pn), coeteris paribus. 4. Oferta em função da tecnologia Quando uma inovação tecnológica reduz o custo de produção das empresas, a lucratividade relativa aumenta, provocando deslocamentos da curva de oferta para frente. Sx = f (T) A oferta S de um bem x é uma função da tecnologia T empregada na produção, coeteris paribus. Exemplo recente no Brasil foram as inovações na agricultura, graças às pesquisas da Embrapa, que permitiram o desenvolvimento de variedades da soja no cerrado com êxito e produtividade. Tal descoberta trouxe como resultado o aumento da produção e das exportações brasileiras desta commoditie e um deslocamento da curva de oferta agregada de soja para a frente e para a direita. 5. Oferta em função das expectativas As expectativas também exercem seu papel na oferta. Caso um ofertante de um bem verifique que os preços de sua mercadoria estão em ascensão, ele poderá optar por acumular estoques e aguardar o momento mais propício, para, então, disponibilizar seus produtos no mercado. Sx = f (E) A oferta S de um bem x é uma função das expectativas E dos ofertantes em relação ao comportamento futuro do mercado, coeteris paribus. Da mesma forma que ocorre com a demanda, quando os preços se alteram, há uma alteração ao longo da curva de oferta. Quando a alteração se dá nas demais variáveis que a influenciam - preço dos demais bens, preço dos fatores de produção ou tecnologia -, ocorre um deslocamento da curva. Fenômenos da natureza também podem provocar alterações na oferta. Uma tempestade que destrua a plantação, uma chuva de pedras que amasse toda uma frota de veículos, um terremoto que destrua as estruturas de uma cidade. Essas alterações podem ser muito significativas e provocam deslocamentos da curva de oferta desses bens para trás. Teoria elementar do funcionamento do mercado Como visto, a relação mais fundamental, tanto do lado da demanda quanto do lado da oferta é entre preços e quantidades demandadas e ofertadas. A Figura 2.8 apresenta a representação gráfica do equilíbrio de mercado, que é o ponto em que as curvas de oferta e demanda se cruzam (ponto A)12. Figura 2.8. Curvas de oferta e demanda Px representa o preço que iguala as quantidades ofertadas e demandadas no mercado. A teoria econômica preconiza que os preços se ajustam para equilibrar ambas as forças, e tal tendência é chamada de mecanismo de mercado. Nesse ponto, não há escassez nem excesso de oferta, não havendo pressão para que o preço se modifique. O equilíbrio nem sempre é verificado na prática, sendo que tal tendência serve para indicar a direção da mudança, até que o equilíbrio aconteça. Quando o mercado está em desequilíbrio, as forças de oferta e demanda entram em ação. Suponha que os preços de um bem qualquer estivessem acima do preço de equilíbrio. Essa situação provocaria certa atratividade por parte dos produtores, que passariam a produzir quantidades maiores do que as que os consumidores estariam dispostos a adquirir. Assim, haveria um excesso de oferta sobre a demanda. Observando a formação de estoques indesejados, os produtores dariam início a uma redução de preços, até que o preço de equilíbrio fosse novamente atingido. A Figura 2.9 mostra essa situação. As setas indicam a direção da tendência ao equilíbrio. Figura 2.9. Desequilíbrio Da mesma forma, se, por qualquer razão, o preço estiver abaixo do preço de equilíbrio, configurar-se-á uma situação de escassez. A pressão se dará no sentido do aumento dos preços, até que o equilíbrio se restabeleça. Alterações no equilíbrio Quando ocorrem deslocamentos nas curvas de oferta ou demanda, o equilíbrio também se altera. Suponha, inicialmente, que o crescimento do PIB per capita tenha aumentado a renda da classe C. Tal situação provocará, por exemplo, um deslocamento da curva de demanda por carne bovina de primeira para a frente e para a direita, supondo ser a carne um bem normal. A Figura 2.10 apresenta esta situação: Figura 2.10. Deslocamento da curva de demanda por carne bovina A demanda mais alta, representada pelo deslocamento da curva de Dx1 para Dx2, trará, como resultado, uma quantidade de equilíbrio maior, Q x2, e um preço de equilíbrio Px2 também maior. O ponto de equilíbrio passa de A para B. Os consumidores, agora, estão pagando um preço maior e as empresas estão produzindo uma quantidade maior, em decorrência do aumento da renda. Na prática, as curvas de oferta e demanda sempre se deslocam. A economia é dinâmica, e a renda da população está sempre sofrendo alterações, seja para cima, seja para baixo. A demanda por vários bens é sazonal, aumentando em determinados períodos - no Natal, no verão, por ocasião de inovações tecnológicas ou descobertas científicas - e reduzindo em outros. Tudo isso altera a posição das curvas, alterando o equilíbrio de mercado. Também é possível ocorrer alteração em ambas as curvas em um mesmo momento. Supondo que uma campanha televisiva apresente os benefícios do consumo do leite, e, sendo bem-sucedida, teria como resposta uma alteração na demanda com consequente deslocamento da curva para a frente e para a direita. Suponha, ainda, que, poucos dias após tal campanha, uma seca aumente os custos de produção do leite, provocando um deslocamento da curva de oferta de leite para trás e para a esquerda (Figura 2.11). Nesta situação, em que estamos supondo, por simplificação, que o montante dos deslocamentos é igual, a campanha televisiva provocaria o deslocamento da curva de demanda Dx1 para Dx2, alterando o ponto de equilíbrio de A para B, resultando quantidade maior, Q x2, e preços maiores, Px2. A subsequente mudança na curva de oferta para trás, de Sx1 para Sx2, resultante do aumento dos custos de produção em função da seca, teria como resultado o aumento ainda maior dos preços, de Px2 para Px3, mas o retorno da quantidade de equilíbrio ao valor inicial, Q x2. Figura 2.11. Deslocamento da oferta e da demanda por leite Essa análise deixa clara a necessidade de saber a dimensão dessas mudanças. O próximo capítulo cuidará de qualificar a dependência da oferta e da demanda em relação aos preços e às demais variáveis que as afetam. 3. Elasticidades1 Vimos no capítulo 2 que a oferta e a demanda respondem às alterações nas variáveis que as influenciam, resta saber: quanto? Essa resposta passa pelo conceito de elasticidade. A elasticidade mede a resposta que consumidores e produtores dão às alterações das condições de mercado. As ferramentas estudadas até aqui ganharão muito mais importância e precisão com este conceito. Elasticidade-preçoda demanda A elasticidade-preço da demanda mostra o quanto a demanda responde a variações no preço dos bens. Quanto mais ela o fizer, mais elástica será a demanda. Se a resposta for pequena, diz-se que a demanda é preço- inelástica. A elasticidade-preço da demanda é determinada pelo comportamento do consumidor, regido por suas preferências pessoais. Tais preferências são formadas com base em diversos aspectos, objetivos e subjetivos. Apesar desta aproximação genérica, podemos enumerar alguns comportamentos típicos importantes. O primeiro diz respeito ao grau de substitutibilidade. Se um bem tiver vários substitutos próximos, o aumento de seu preço provocará grande redução na quantidade demandada, ou seja, ele apresentará uma alta elasticidade-preço. O segundo relaciona-se com a necessidade: bens necessários - remédios, consultas ao dentista, escola -, em geral, são inelásticos. Mesmo que seus preços subam, a demanda não costuma cair muito. Claro que essa noção varia de pessoa para pessoa, já que aquilo que é indispensável para um não necessariamente o é para outro. Outro fator que deve ser levado em consideração é o período de tempo compreendido na análise. Se considerarmos um horizonte temporal curto, os bens tenderão a apresentar menos elasticidade-preço do que em períodos mais longos. Os consumidores, acostumados a utilizar o serviço de telefonia de determinada operadora, podem demorar a perceber que o uso de novas tecnologias, igualmente eficientes, reduz seus gastos. Neste primeiro momento, a demanda pelo serviço de telefonia é preço-inelástica. Com o tempo, mais e mais pessoas migrarão para o novo serviço, tornando a demanda pelo primeiro preço-elástica. A elasticidade-preço da demanda é, assim, a variação percentual da quantidade demandada do bem x, para cada unidade de variação percentual no preço bem x. A elasticidade varia ao longo da curva de demanda. Assim, para seu cálculo, há que se definir dois pontos no gráfico, a fim de se calcular corretamente seu valor. O valor das elasticidades será diferente se considerarmos o ponto A, o ponto B ou mesmo o ponto médio entre eles. Considere a seguinte curva de demanda: Figura 3.1. Curva de demanda Para o cálculo da elasticidade no ponto A, basta utilizar a seguinte fórmula: (1) A variação (D) de Q corresponde a Q B - Q A, e a variação de P, PB-PA: (2) Da mesma forma, a elasticidade no ponto B é: (3) A elasticidade entre os pontos A e B é diferente da elasticidade entre os pontos B e A. Uma forma de resolver esse inconveniente é calcular a elasticidade no ponto médio ou no arco AB. Esse cálculo é chamado de método do ponto médio. A elasticidade no arco AB ou elasticidade no ponto médio é dada por: (4) O resultado deste cálculo será, necessariamente, um número negativo, já que estamos tratando da curva de demanda, cuja inclinação é negativa. Mas, a fim de facilitar a interpretação, ele deve ser tomado em termos absolutos, ou seja, em módulo. O valor variará de zero a infinito. Quando hD > |-1|, a demanda é preço-elástica; quando hD = |-1|, a demanda é chamada preço- unitária; e finalmente, quando hD < |-1|, a demanda é preço-inelástica. Considere a seguinte curva de demanda: Figura 3.2. Cálculo da elasticidade-preço da demanda A elasticidade-preço no ponto A é: Já que , a demanda no ponto A é preço-unitária. No ponto B, a elasticidade-preço da demanda é: No ponto B, , ou seja, a demanda é preço-elástica. Por último, no arco AB, temos: No arco AB, , ou seja, a demanda é preço-elástica. Observe que este valor está entre os valores encontrados nos pontos A e B, o que era esperado. O que significam, exatamente, esses valores? Quando a demanda é preço- elástica, a quantidade varia mais que proporcionalmente ao preço. Ao contrário, quando ela é preço-inelástica, a mudança da quantidade é proporcionalmente menor do que a variação do preço. A partir desta conclusão, é possível analisar o efeito sobre a receita total das firmas. Tal ferramenta será útil na decisão de aumentar ou não os preços dos produtos das empresas. A receita total é definida como sendo o preço vezes a quantidade vendida, RT = P x Q. O Quadro 3.1 apresenta um resumo de qual é a reação da receita total diante de alterações nos preços de acordo com a elasticidade- preço da demanda. Quadro 3.1. Relação entre a elasticidade-preço da demanda e a receita total das firmas Valor da Elasticidade Interpretação Preço de X Receita Total ηD > |-1| Demanda preço-elástica Aumenta Diminui ηD = |-1| Demanda preço-unitária Aumenta Permanece constante ηD < |-1| Demanda preço- Aumenta Aumenta inelástica O exemplo estudado anteriormente permite dizer que se uma firma estiver diante de uma demanda com tais características, terá aumento em seu lucro se reduzir seus preços, já que a demanda responderá a tal estímulo de forma mais que proporcional. Sua receita total irá aumentar. Há alguns fatores que influenciam na elasticidade-preço da demanda: a) existência de bens substitutos: quanto melhores substitutos tiver o bem, maior deverá ser sua elasticidade; b) o peso do bem no orçamento: se for pouco substituível, quanto menor seu peso no orçamento, menor sua elasticidade; c) essencialidade do bem: quanto mais essencial o bem, menor sua elasticidade. Elasticidade-renda da demanda A elasticidade-renda informa qual é a sensibilidade do consumidor em resposta a variações na renda. Por definição, é a variação percentual da quantidade demandada dividido pela variação percentual da renda: (5) Bens normais têm elasticidades-renda positivas, já que a relação entre renda e quantidade demandada é direta. No caso dos bens inferiores, a elasticidade-renda é negativa, já que o aumento da renda provoca redução da quantidade demandada. Bens essenciais são, em geral, renda-inelásticos, ao passo que os bens supérfluos apresentam elasticidade-renda alta. Elasticidade preço-cruzada da demanda Quando se deseja analisar o efeito do aumento do preço de um bem na demanda de outro bem que lhe guarde alguma relação - substitutibilidade ou complementaridade - deve-se utilizar o conceito de elasticidade cruzada. Aqui, comparam-se variações percentuais de quantidade demandada de um bem com variações percentuais no preço de outro bem, coeteris paribus. A Figura 3.3 apresenta, no eixo y, os preços do bem y e, no eixo x, as quantidades demandadas do bem x. Figura 3.3. Curva de demanda de y em função do preço de x A elasticidade cruzada pode variar de menos infinito (- ∞) a mais infinito (+ ∞)2. Bens complementares terão elasticidade cruzada negativa e bens substitutos, positiva. A fórmula para o cálculo da elasticidade-preço cruzada da demanda é: (6) Se hxy < 0, os bens são complementares, e se hxy > 0, os bens são substitutos. Suponha que dois bens x e y têm relação entre si. Supondo que, no ponto A, a quantidade demandada de x seja de 10 unidades quando o preço de y é 20 e que, no ponto B, a quantidade demandada de x seja de 25 unidades quando o preço de y é 40. O gráfico já revela importantes informações sobre essa relação: Figura 3.4. Curva de demanda de x em função do preço de y A elasticidade-preço cruzada da demanda pode ser calculada por meio da fórmula: Como a demanda tem elasticidade-preço cruzada positiva, os bens são substitutos. Quando o preço muda de 20 para 40, ou seja, dobra, a demanda aumenta de 10 para 25 - mais do que dobra, indicando que a sensibilidade dessa mudança é alta ou elástica. A demanda pode ter também elasticidade-preço unitária, quando hd= (1), indicando uma proporcionalidade rigorosa na variação de preços e quantidades. Uma curva com elasticidade unitária em toda sua extensão é representada por uma hipérbole retangular (Figura 3.5). Figura 3.5. Curva de Demanda de elasticidade preço-unitária em toda a extensão Os retângulos opostos por qualquer dos pontos da curva (A ou B) representam a quantidade demandada multiplicada pelo preço unitário, ou seja, as despesas totais naquele ponto. A hipérbole retangular apresenta a propriedade deter os pontos que se localizam sobre ela opondo-se a um retângulo de área igual3. A demanda pode apresentar características extremas em relação à elasticidade. Quando a elasticidade tender ao infinito, está-se diante de uma demanda perfeitamente elástica4. Figura 3.6. Demanda perfeitamente elástica (hD → ∞) Uma demanda com a característica apresentada na Figura 3.6 representa uma situação de sensibilidade infinita. Ao preço Px, os demandantes estão dispostos a demandar qualquer quantidade. Se o preço for maior que Px, no entanto, não haverá demanda e, se menor, a demanda será infinita. Por outro lado, quando o valor de h tender a zero, a curva de demanda será vertical, definindo um caso de procura anelástica, rígida ou plenamente inelástica em relação ao preço. Neste caso, a qualquer preço, a quantidade demandada será rigorosamente a mesma. Elasticidade-preço da oferta Já vimos que a relação fundamental da oferta - preços e quantidades - é positiva, ou seja, quando o preço aumenta, aumenta a quantidade que os ofertantes desejam oferecer. A elasticidade medirá a sensibilidade dessa variação. A elasticidade-preço da oferta é a variação percentual na quantidade ofertada do bem x para cada unidade de variação percentual em seu preço. A fórmula é semelhante à elasticidade-preço da demanda, com a diferença de ser, o resultado, necessariamente um número positivo, dada a inclinação ascendente da curva de oferta. Se a elasticidade for maior que 1 (ES>1), a oferta é preço-elástica. Se ES = 1, a oferta é de elasticidade unitária e, por fim, se ES< 1, a oferta é preço- inelástica. Casos extremos Quando a elasticidade-preço da oferta é igual a zero, a curva de oferta é uma reta vertical. A Figura 3.7 ilustra essa situação. Figura 3.7. Oferta perfeitamente inelástica ou anelástica (ES = 0) Uma curva de oferta vertical indica que não há qualquer sensibilidade da oferta à variação de preços. Assim, a qualquer preço a quantidade ofertada será a mesma. Um exemplo um tanto imperfeito seria a extração de um metal precioso. Sua oferta depende de fatores como sua disponibilidade na natureza, a habilidade dos mineradores em extraí-lo, a eficiência do maquinário empregado, mas não do preço5. No outro extremo, encontra-se a elasticidade-preço da oferta infinita, representada por uma curva de oferta horizontal. Figura 3.8. Oferta perfeitamente elástica (ES =∞) Uma oferta com elasticidade infinita indica uma sensibilidade à variação de preços também infinita. Ao preço Px, os produtores estão dispostos a ofertar qualquer quantidade. Se o preço for inferior a Px, não há interesse por parte dos ofertantes em comercializar o bem, ou seja, a quantidade ofertada é igual a zero. Um exemplo também um tanto imperfeito seriam as commodities. Os ofertantes são tomadores de preço e colocam seus produtos à venda ao preço do mercado. Não há interesse em vender a preços menores, já que, ao preço de mercado, toda sua produção é adquirida. O domínio do conceito - e fórmulas - da elasticidade é fundamental para o CACD. Em geral, ele aparece como parte da compreensão de problemas envolvendo conceitos mais amplos e pode comprometer toda a resposta, caso seja mal calculado ou interpretado. 4. Teoria do Consumidor Os consumidores tomam suas decisões de consumo baseados em variáveis estudadas no capítulo sobre a demanda: preços, renda, gostos, alternativas e expectativas. O estudo da função demanda permitiu uma análise interessante, porém não completa. Quais são as decisões que estariam por trás da curva de demanda? Como a renda restringe o consumo dos consumidores? Como as alterações na renda modificam as preferências? Todas essas perguntas precisam ser respondidas satisfatoriamente se queremos entender a Teoria do Consumidor. Esse é o propósito deste capítulo1. Teoria da Utilidade Vamos expandir um pouco mais a questão da utilidade, tratada preliminarmente no Capítulo 2. A razão principal pela qual as pessoas desejam adquirir mercadorias é a satisfação que aquela compra lhe trará. Não seria razoável supor que consumidores demandassem mercadorias indesejáveis. A satisfação que um bem proporciona pode ser medida, ainda que de forma teórica - já que não há como dizer quanto um sorvete satisfaz em dias de intenso verão ou como um chá quente o faz no inverno rigoroso. Sabe-se que, em ambos os casos, o prazer proporcionado é considerável -, com o uso do conceito de utilidade. Os consumidores obtêm a utilidade quando se apropriam de bens que lhes fornecem algum prazer e evitando os que lhes trazem insatisfação2. A utilidade é uma noção importante, pois simplifica a explicação sobre a ordenação das preferências. Suponhamos que um candidato ao CACD deseje adquirir um livro de introdução à economia, sabedor de que, para ser bem-sucedido no certame - e supondo que até o momento, seja leigo -, precisará de, no mínimo, três livros distintos e, no máximo, dez livros. A compra do primeiro livro trará grande utilidade, bem como a do segundo e terceiro. A aquisição do quarto, quinto e sexto livro será também bem vista. A do nono livro, embora traga ainda satisfação, não trará tanta empolgação, já que, para dar conta de tanta leitura, o candidato provavelmente tenha que abrir mão de fazer outras atividades, como o estudo de outras matérias, de maior peso na primeira fase do concurso. Chegará um ponto em que o acréscimo de mais um livro trará um benefício muito pequeno ao candidato, já que, neste ponto, ele sentir-se-á “satisfeito” - sua meta será, agora, somente concluir as leituras. Assim, pode-se dizer que a utilidade total da compra de livros de economia cresce à medida que aumenta o número de títulos adquiridos, mas a utilidade acrescentada à utilidade total vai diminuindo conforme se aumenta a quantidade, ou seja, a utilidade marginal é decrescente. A utilidade marginal é, assim, o acréscimo à utilidade total que ocorre quando do consumo de uma unidade a mais do bem. Conforme se aumenta o consumo de uma mesma mercadoria, menor é a satisfação que o indivíduo tem pela nova compra, quando comparada com a compra anterior, comportamento sintetizado pela seguinte lei: Lei da Utilidade Marginal Decrescente: à medida que o consumo de determinado bem aumenta, sua utilidade marginal diminui. Graficamente, podemos representar a relação entre a utilidade total e o consumo dos livros de noções de economia na Figura 4.1. Figura 4.1. Utilidade total na compra de livros de economia Observe que a utilidade total é crescente, mas a taxa de crescimento é cada vez menor. A utilidade proporcionada pela compra do primeiro livro - representada no ponto A e igual a 12 - é maior do que a obtida pela aquisição do segundo - representada pelo ponto B e igual a 22 menos 12, ou seja, 10. A soma das utilidades marginais 12 e 10 nos fornece a utilidade total no ponto B, 22. Veja que, conforme se avança na curva de utilidade total, menor é o acréscimo gerado por uma unidade a mais, até o ponto em que a compra de um livro adicional torna-se indiferente ao consumidor: do ponto I ao ponto J, a utilidade total permanece em 45, não havendo utilidade marginal. Se optarmos por uma representação gráfica esquemática da curva de utilidade marginal, a lei da utilidade marginal decrescente ficará bem mais clara (Figura 4.2). Vimos que a aquisição de seis livros acrescentava três unidades de utilidade em relação à aquisição de cinco títulos (ponto A). A curva de utilidade marginal tem inclinação descendente e a área abaixo da curva representa a utilidade total do consumo. Figura 4.2. Utilidade marginal na compra de livros de economia Excedente e Equilíbrio do Consumidor Para avançarmos na teoria, será necessário adotarmos uma simplificação. Tratei acima dos livros de economia em um pacote, pois o sentido da explicação se manteve. Mas, na realidade, a teoria do consumidor considera um bem único, homogêneo (não faria sentido supormos que um candidato adquiriu 10 livros iguais), tal como uma garrafa de gasosa de framboesa de 2 litros (este será nossoexemplo, a partir de agora). Pela lei da utilidade marginal decrescente, sabemos que a primeira garrafa de gasosa trará uma utilidade maior do que a segunda, e assim por diante. Assim, é razoável supor que um consumidor deste tipo de refrigerante estará disposto a pagar mais pela primeira garrafa, dada sua intensa vontade e sede, quem sabe, uns R$ 6,00. Pela segunda garrafa, o mesmo comprador estará disposto a pagar um pouco menos, já que a vontade não é tão grande, talvez R$ 5,00. Pela terceira, menos ainda, algo como R$ 3,00. A partir da sexta garrafa, não haverá mais interesse pela compra de gasosas. O preço máximo que o consumidor está disposto a pagar por uma unidade adicional de determinada mercadoria é chamado de preço marginal de reserva e é tanto maior quanto maior for a utilidade marginal. Assim, pode- se dizer que o preço marginal de reserva é uma medida da utilidade marginal3. A Figura 4.3 mostra a relação entre o preço marginal de reserva e a quantidade consumida de garrafas de gasosa. Suponha que o preço de mercado da gasosa seja igual a R$ 3,00. O ponto de equilíbrio é aquele onde o preço marginal de reserva iguala-se ao preço de mercado (ponto A). Figura 4.3. Preço marginal de reserva e quantidade consumida de gasosa Quando da aquisição da primeira garrafa de gasosa, o consumidor se depara com um preço de mercado inferior ao que estava disposto a pagar. Isso se repete na segunda unidade. A diferença entre o preço marginal de reserva e o preço de mercado é chamada de excedente do consumidor. Qual será, então, a quantidade efetivamente adquirida pelo consumidor? Aquela representada pelo ponto A, onde o preço marginal de reserva se iguala ao preço de mercado. Este ponto representa o equilíbrio do consumidor. Assim, um consumidor está em seu equilíbrio no ponto de interseção entre a curva de demanda e o preço de mercado. Observe que o equilíbrio “envolve compras crescentes de um bem até que sua utilidade marginal caia exatamente ao nível de seu preço”4. A Figura 4.3 representa, dessa forma, a própria curva de demanda do consumidor. O excedente do consumidor, representado pela área em cinza situada abaixo da curva de demanda e acima do preço de mercado, é a “diferença entre o montante máximo que o consumidor estaria disposto a pagar e o que ele efetivamente paga”5. Observe que no ponto de equilíbrio não há excedente, pois aqui houve uma coincidência entre o que o consumidor está disposto a pagar e aquilo que o mercado cobra6. O comportamento do consumidor Já sabemos que uma mercadoria é demandada se possuir utilidade e também já estudamos como “medir”, ainda que de forma subjetiva, esta utilidade. Passaremos agora a analisar o aspecto comportamental do consumidor, sabendo que este precisa alocar sua renda, limitada, entre bens e serviços diversos com diferentes utilidades. Analisaremos o comportamento do consumidor em três etapas: a) as preferências ou gostos pessoais; b) a limitação da renda; e c) as escolhas. Na primeira etapa, procuraremos descrever as razões pelas quais um indivíduo prefere um bem a outro, analisando premissas gerais que se encaixam no comportamento geral dos consumidores. Na segunda, veremos como a restrição orçamentária limita a quantidade de bens e faz com que os consumidores aloquem seus recursos entre as diferentes alternativas. Com estas ferramentas em mãos, poderemos finalmente analisar como os consumidores, limitados por sua renda, farão escolhas que maximizem sua utilidade. A teoria econômica é uma representação da realidade. Todos nós já fizemos compras com base em variáveis que não foram citadas aqui: impulso, empolgação, raiva e outros sentimentos que talvez substituam nossa atitude racional por uma atitude impetuosa. Considerar esses elementos na teoria dificultaria demais a tarefa de descrever uma regra geral, que é o que nos interessa. Assim, adotaremos simplificações a fim de compreendermos o comportamento geral de todos os consumidores, o que nos dará ferramentas suficientes para entender o funcionamento do mercado. As preferências do consumidor Dada a infinidade de bens e serviços disponíveis e interessantes no mercado, não faria muito sentido analisarmos as preferências dos consumidores entre dois ou três bens. Em vez disso, estudaremos suas preferências entre duas cestas de bens ou cestas de mercado. Uma cesta de mercado é um conjunto de bens com quantidades determinadas de cada um, podendo conter, por exemplo, peças de vestuário, produtos alimentícios, itens de limpeza ou uma combinação de todos, requerida pelos consumidores em certo período - mensalmente ou semanalmente, por exemplo. Os consumidores escolherão cestas de bens que lhe satisfaçam da melhor forma possível. A Tabela 4.1 apresenta algumas cestas de mercado, compostas de itens de alimentação e vestuário. Tabela 4.1. Cestas de bens Cestas Alimento (unidade) Vestuário (unidade) A 25 35 B 15 55 C 45 25 E 35 45 F 15 25 G 15 45 A cesta de mercado A contém 25 unidades de alimento e 35 unidades de vestuário. A cesta B tem apenas 15 unidades de alimento, mas tem 55 unidades de vestuário. Como saber qual das cestas é a preferida? Qual delas o consumidor irá adquirir? O comportamento do consumidor é descrito a partir de suas preferências reveladas. Assim, precisamos dirigir-lhe algumas perguntas, como, por exemplo, qual das cestas, A ou B, ele prefere? Para o traçado de uma teoria coerente, supõe-se que suas preferências são coerentes e racionais. Preferências do consumidor: premissas básicas Na maior parte das situações, três premissas descrevem satisfatoriamente as preferências dos consumidores: 1. As preferências são completas ou integrais. Preferências completas significam que os consumidores podem comparar e ordenar todas as cestas de mercado. Para quaisquer cestas de bens, A e B, o consumidor manifesta se prefere A a B, B a A ou se é indiferente a qualquer delas, ou seja, se ambas as cestas o deixariam igualmente satisfeito, com o mesmo nível de utilidade. Este tipo de preferência não considera os preços, pois, se assim fosse, essa influência certamente modificaria sua preferência. Assim, embora certo consumidor prefira McDonalds do que Hamburgueres Fominha, se o preço fosse considerado, ele compraria a segunda opção. 2. Transitividade. Preferências transitivas significam que, se um consumidor revela que prefere a cesta A a B e que prefere a cesta B a C, então, pode-se afirmar que ele também prefere A a C. Tal premissa garante consistência às escolhas do consumidor. 3. Quantidades maiores são sempre melhores do que quantidades menores. Essa premissa só faz sentido se admitirmos que todas as mercadorias consideradas são desejáveis, de maneira que ter mais de cada um dos bens é preferível a ter menos. Estas três premissas auxiliarão na compreensão do comportamento do consumidor, já que dão lógica e consistência à análise. Curvas de Indiferença As preferências do consumidor podem ser representadas graficamente por meio das chamadas curvas de indiferença, que nada mais são do que a representação de todas as combinações de cestas de mercadorias que conferem ao consumidor o mesmo nível de utilidade ou satisfação. Todos os pontos da curva de indiferença representam combinações de cestas para as quais o consumidor é indiferente. A ordenação das preferências deve ser feita observando-se as premissas da transitividade, integralidade e da quantidade (mais é melhor que menos). A Figura 4.4 apresenta todas as opções de cestas descritas na Tabela 4.1. Figura 4.4. Representação das preferências do consumidor Pela terceira premissa das preferências do consumidor, sabemos que mais é sempre melhor que menos. Assim, cestas de mercadorias que possuírem mais de ambas serão preferíveis às cestas que possuírem menos. Sabemos que a cesta E é preferível à cesta A e à cesta F, pois tem mais unidades de alimento e de vestuário. Todas as cestas de mercado que estiverem localizadas acima e à direita de determinada cesta lhe serão preferíveis. Para facilitar a visualização,vejamos a mesma representação geométrica das cestas na Figura 4.5, que apresenta todas as cestas preferíveis à cesta A na área cinza-escura e as menos preferíveis na área cinza-clara. Figura 4.5. Ordenação das preferências Todas as cestas localizadas na área em cinza-escuro são preferíveis à cesta A, e não somente a cesta E, explícita na figura. Da mesma forma, todas as cestas abaixo e à esquerda da cesta A, identificadas pela área em cinza- claro, são menos preferíveis, já que contêm menos unidades de alimento e de vestuário por semana. A comparação entre as cestas A e B já é mais difícil. A cesta B possui mais unidades de vestuário e a cesta A, mais unidades de alimento. Semelhante fato ocorre na comparação da cesta C com a da cesta E, por exemplo. Como saber qual delas é a preferida? A curva de indiferença é a ferramenta gráfica adequada para nos auxiliar nessa tarefa. Sabendo que ela indica combinações de cestas em que o consumidor é indiferente, quaisquer cestas localizadas acima e à direita da curva serão preferíveis à cesta localizada na curva e quaisquer cestas que estiverem abaixo e à esquerda serão menos preferíveis. A Figura 4.6 apresenta a curva de indiferença. Figura 4.6. Curva de indiferença A curva de indiferença revela que o consumidor é indiferente às cestas B, A e C. Isso significa que, ao reduzir o consumo de 55 para 35 unidades de vestuário, desde que haja o aumento de 15 para 25 unidades de alimento, o alimento confere ao consumidor o mesmo nível de satisfação. O mesmo ocorre quando nos movemos da cesta A, com 35 unidades de vestuário e 25 unidades de alimento, para a cesta C, com 25 unidades de vestuário e 45 de alimento. A cesta E continua sendo preferível à cesta A e, como agora, a curva de indiferença revelou que as cestas C e B se equiparam a A; sabe-se que a cesta E também é preferível a elas. É por esta razão que a curva de indiferença tem inclinação negativa, da esquerda para a direita, pois, se a inclinação fosse ascendente ligando, por exemplo, na mesma curva as cestas F, A e E, estaríamos afirmando que o consumidor seria indiferente a estas combinações. No entanto, a cesta A tem mais dos dois bens do que a cesta F e a E tem mais dos dois bens do que ambas. Observe esta representação na Figura 4.7. Figura 4.7. Curva de Indiferença com inclinação positiva: situação impossível Fica claro que a cesta E é preferível à cesta F e não indiferente a ela. Assim, cestas com inclinação positiva não fazem sentido teórico. Mapas de Indiferença Considerando todas as combinações possíveis entre unidades de alimento e vestuário, podemos traçar um conjunto de curvas de indiferença, o chamado mapa de indiferença. Cada curva de indiferença representa combinações as quais o consumidor é indiferente. Os mapas de indiferença apresentam infinitas curvas, sendo que as mais altas ou mais distantes da origem apresentam combinações preferíveis. A Figura 4.8 apresenta um mapa de indiferença com quatro curvas. A curva U4 representa um nível de satisfação superior à curva U3 e assim por diante. Figura 4.8. Mapa de Indiferença Observe que a cesta A possui mais unidades de alimento e de vestuário do que a cesta B e, portanto, é-lhe preferível. Mas mesmo uma cesta que possua, por exemplo, menos unidades de alimento que a cesta B, como a cesta D, por exemplo, é-lhe preferível em razão de estar situada na curva de indiferença U4, mais distante da origem7. Tal fato se explica porque este consumidor acha-se mais do que compensado pela maior quantidade de unidades de vestuário presentes na cesta D. Propriedades das Curvas de Indiferença Em razão de as curvas de indiferença refletirem preferências, é possível delimitar quatro importantes propriedades: 1. Curvas de indiferença mais distante da origem são preferíveis às curvas mais próximas. Como visto, considerando que os bens que compõem a cesta são desejáveis, os consumidores sempre preferirão quantidades maiores do que menores. Curvas de indiferença mais distantes da origem apresentam quantidades maiores dos bens do que curvas mais próximas à origem. 2. As curvas de indiferença têm inclinação negativa. Propriedade já estudada anteriormente, necessária para a coerência da teoria. 3. As curvas de indiferença não se cruzam nem se tangenciam. Esta propriedade pode ser melhor visualizada na Figura 4.9, que mostra a situação contrária, na hipótese delas se cruzarem. Figura 4.9. Curvas de indiferença que se cruzam: situação impossível Se a situação descrita na figura acima fosse possível, diríamos que o consumidor é indiferente às cestas A e B, por estarem situadas na curva de indiferença U1. Da mesma forma, diríamos que este consumidor é indiferente às cestas B e C, por estarem situadas na curva de indiferença U2. Assim, de acordo com a premissa da transitividade, o consumidor também seria indiferente às cestas A e C, o que contraria a premissa de que mais é sempre melhor que menos, já que a cesta C tem mais de ambos os bens, quando comparada com A. 4. As curvas de indiferença são convexas em relação à origem. A inclinação da curva de indiferença fornece a taxa marginal de substituição, ou seja, a taxa a qual o consumidor está disposto a trocar um dos bens da cesta de mercadorias por outro. Este tema merece um tópico à parte. Taxa Marginal de Substituição - TMS A TMS de um bem y por um bem x equivale à quantidade máxima que um consumidor está disposto a renunciar de y para obter uma unidade adicional de x. Uma TMS igual a 3, por exemplo, indica que o consumidor abriria mão de 3 unidades de y para obter 1 unidade a mais de x. A TMS, dessa forma, mede o valor que o consumidor confere a uma unidade adicional de um bem em termos de outro. A fim de evitar confusões, vamos definir a TMS em termos de quantidade de bens representadas no eixo y (vertical) de que o consumidor está disposto a abrir mão para obter uma unidade adicional do bem representado no eixo x (horizontal). Figura 4.10. Taxa marginal de substituição Podemos indicar a variação em unidades de vestuário por DV e a variação em unidades de alimento por DA. Assim, a TMS é: (1) Como a variação em V é sempre negativa, já que se admite que o consumidor está desistindo de unidade de vestuário para obter mais unidades de alimento, a inserção no sinal negativo na fórmula tem o objetivo de tornar a TMS positiva, facilitando a análise. Ao informar a TMS com um número positivo, lembre que estamos considerando seu valor em termos absolutos, ou em módulo8. A taxa marginal de substituição em qualquer ponto da curva de indiferença tem seu valor, em módulo, igual à inclinação da curva de indiferença naquele ponto. Na Figura 4.7, a TMS entre os pontos A e B é 5, entre os pontos B e C é 2 e, entre os pontos C e D, 1. Está claro que a TMS cai conforme nos movimentamos para baixo na curva de indiferença. Isso ocorre devido a uma importante premissa relativa às preferências do consumidor: a convexidade das curvas de indiferença. A premissa da convexidade implica que a inclinação da curva de indiferença torna-se menos negativa à medida que nos movemos para baixo ao longo da curva, indicando que a TMS está diminuindo. É o que ocorre com a curva U1, da Figura 4.10. Essa premissa tem um sentido intuitivo muito claro: conforme quantidades maiores de alimento são consumidas, é esperado que o indivíduo esteja cada vez menos disposto a abrir mão de unidades de vestuário para adquirir mais alimentos. À medida que nos movemos ao longo da curva de indiferença, a utilidade marginal do alimento vai caindo, estando o consumidor cada vez menos disposto a abrir mão de unidades de vestuário. Será que um consumidor típico está realmente igualmente satisfeito com uma cesta com muito alimento e pouco vestuário ou com muito vestuário e pouco alimento? A TMS indica que os consumidores parecem apresentar um nível de utilidade maior com cestas mais balanceadas, tais como a cesta C, com 4 unidades de vestuário e 5 de alimento, do que com cestas com uma pequena quantidade de um bem e grande de outro,como a cesta A, com 11 unidades de vestuário e 3 de alimento. As curvas de indiferença podem ser mais ou menos inclinadas, indicando o grau de disposição do indivíduo em substituir um bem por outro. Substitutos Perfeitos Quando um consumidor é completamente indiferente a dois bens - café e chá, por exemplo - diz-se que estes bens são substitutos perfeitos (para este consumidor). A Figura 4.11 apresenta esta situação extrema. Observe que, para aumentar o consumo de chá em 1 unidade (de 1 para 2, por exemplo), o indivíduo está disposto a abrir mão de 1 unidade de café. Na verdade, este consumidor sempre está disposto a trocar um pelo outro, indicando sua indiferença com respeito a esta escolha. A TMS é igual a 1. Figura 4.11. Substitutos perfeitos: TMS constante O que identifica um mapa de indiferença como sendo representativo de substitutos perfeitos, não é o fato de a TMS ser igual a 1, e sim, ser constante. Se ela for sempre 2 ou sempre 5, também estaremos diante de substitutos perfeitos. Assim, por exemplo, um consumidor pode estar sempre disposto a substituir 2 fatias de torrada por uma 1 fatia de pão ou 5 aulas de um cursinho presencial de economia, com duração de 1 hora cada, por 1 videoaula de 5 horas da mesma matéria. Isso significa que a inclinação não precisa ser igual a -1. Complementos Perfeitos Quando, para um consumidor, só é interessante consumir um bem juntamente com outro e essa é uma condição para seu uso, como ocorre com o sapato direito e o esquerdo9, diz-se que os bens são complementos perfeitos. Figura 4.12. Complementos perfeitos: TMS igual a zero ou a infinito Observe que um sapato direito adicional não representaria nenhuma satisfação a mais para um consumidor. Só lhe interessa o consumo de ambos os lados conjuntamente. Neste caso, a taxa marginal de substituição entre eles será zero quando houver mais sapatos direitos do que esquerdos, pois o consumidor não abrirá mão de nenhuma unidade adicional do sapato esquerdo para obter uma unidade a mais do direito. Por outro lado, a taxa será infinita quando houver mais sapatos esquerdos do que direitos, pois o consumidor está disposto a abrir mão de todos os excessos esquerdos menos um para conseguir uma unidade a mais do sapato direito. Assim, dois bens são chamados de complementos perfeitos quando um não é consumido sem o outro. As curvas de indiferença tem formato de L, formando ângulos retos. Na prática, são poucos os exemplos de substitutos perfeitos ou complementos perfeitos. O mais comum são curvas de indiferença convexas10 que não chegam a formar ângulos de 90º11. Males Um “bem” é considerado um mal quando o consumidor prefere quantidades menores do que maiores. Para inserir adequadamente os males no estudo das preferências, basta considerar sua ausência como um bem. Por exemplo, se a radiação é considerada um mal, a ausência dela será considerada um bem. Esta simplificação permite que as premissas básicas da teoria do consumidor permaneçam úteis e válidas. Restrição Orçamentária Compreendida a teoria da ordenação das preferências, vejamos agora como os consumidores definem suas aquisições considerando a limitação da renda. Sendo Q A a quantidade de itens alimentícios consumida por Carlos, e PA seu preço, Q V a quantidade de peças de vestuário e PV seu preço, o gasto total de Carlos com itens de sua cesta de consumo pode ser representado por: Gasto Total = PAQ A + PVQ V (2) Sendo R a renda de Carlos, temos que: PAQ A + PVQ V ≤ R (3) Essa expressão indica que o gasto de Carlos com alimentos e roupas está sujeito a uma restrição orçamentária, sendo-lhe igual ou menor. Como estamos conduzindo essa análise no sentido da maximização da utilidade do consumidor, considere que não há interesse em que se sobre algum recurso, ou seja, toda a renda de Carlos deverá ser usada na aquisição de alimentos e vestuário. Assim: PAQ A + PVQ V= R (4) Essa expressão representa a linha do orçamento e mostra todas as combinações de alimentos e vestuário para os quais o total gasto seja equivalente à renda. Observe que, enquanto a curva de indiferença diz respeito ao conjunto de bens e serviços que o consumidor aspira comprar, considerando suas preferências, a restrição orçamentária mostra quantos bens e serviços o consumidor realmente pode adquirir12. Suponha que Carlos perceba renda mensal de R$ 1.200,00 e que o preço de uma unidade de alimento seja igual a R$ 30,00. Para encontrarmos a linha do orçamento, precisamos de pelo menos dois pontos. Assim, se toda a renda de Carlos for alocada na aquisição de alimentos (ou seja, V = 0), ele poderá comprar 120 unidades (1.200/10 = 120). Se Carlos gastar toda sua renda na aquisição de roupas, ele poderá adquirir 40 unidades (1.200/30 = 40). Com estes dois pontos, chamados de notáveis, é possível traçar o gráfico13: Figura 4.13. Linha do orçamento Para determinar as outras combinações possíveis que resultam na mesma renda gasta, devemos encontrar a equação da linha do orçamento. Lembre que retas com inclinação descendente são expressões gráficas das funções de primeiro grau com inclinação - ou coeficiente angular - negativa e que a expressão genérica correspondente a este tipo de função é Y = ax + b, sendo a o coeficiente angular (inclinação da reta) e b o coeficiente linear (intercepto). A reta desta função passa pelos pontos (0,40) e (120,0). Substituindo estes pares ordenados na função genérica, temos: Y = ax + B 40 = 0a + b b = 40 Y = ax + b 0 = 120a + b Substituindo b: 120 a + 40 = 0 a = Para encontrarmos a equação da reta, basta substituirmos a e b na forma genérica Y = ax + b: Definida a função, o leitor poderá brincar com os números, atribuindo valores à variável x para encontrar os valores de Y. A Tabela 4.1 apresenta algumas combinações possíveis para a distribuição da renda de Carlos, dada sua restrição orçamentária. Tabela 4.2. Cestas de Consumo de Carlos Cesta de Consumo Alimentos (unidades) Vestuário (unidades) A 0 40 B 30 30 C 45 25 D 60 20 E 90 10 F 120 0 Graficamente: Figura 4.14 Cestas de consumo de Carlos A inclinação da linha do orçamento é igual ao coeficiente angular da equação da reta, . Ela representa a razão dos preços das duas mercadorias em termos relativos (ou seja, o preço de um bem em termos do outro), mostrando-nos a proporção pela qual os dois itens podem ser trocados sem alteração no gasto. Escolha do Consumidor Considerando as preferências e as restrições no orçamento de Carlos, é possível determinar como ele definirá a melhor alocação de seus recursos limitados na aquisição da cesta que maximiza sua utilidade. Tal cesta deve satisfazer as seguintes condições: a) Situar-se sobre a linha do orçamento. Para compreender esta condição, observe as cestas representadas pelos pontos A, B e C de Carlos na figura abaixo. Figura 4.15. Cestas de mercado de Carlos Partindo da hipótese de que o consumidor não poupa14 - ou seja, gasta toda sua renda no consumo presente - a aquisição da cesta A representaria uma subutilização da renda disponível. Como, por hipótese, sempre é preferível mais do que menos, essa escolha não representa a maximização da utilidade de Carlos, pois alguns bens deixaram de ser adquiridos. A cesta C, embora claramente preferível, não pode ser adquirida por Carlos em virtude da restrição orçamentária. Assim, a cesta escolhida necessariamente deve estar sobre a linha do orçamento, tal qual a cesta B. b) Proporcionar ao consumidor a combinação preferida dos bens. Considerando o mapa de indiferença, faz-se necessário determinar não somente qual a curva de indiferença abrigará a combinação preferida de Carlos, como também qual ponto desta curva representará sua escolha ótima. O problema da escolha do consumidor será resolvido ao se analisar o mapa de indiferença de Carlos no mesmo gráfico da restrição orçamentária. A Figura 4.16 apresenta o mapa de indiferença de Carlos. Sabemos que a curva de indiferença que lhe confere o maior grau de satisfação é aquela mais distante da origem, U3. Noentanto, todos os pontos desta curva estão localizados acima da linha do orçamento, sendo-lhe, portanto, inacessíveis. Assim, a cesta C não corresponde à sua escolha ótima, mesmo estando situada sobre a curva de indiferença preferível. Figura 4.16. O Ótimo do consumidor A curva de indiferença U1 representa as combinações menos preferíveis a Carlos e, por esta razão, mesmo cruzando a linha do orçamento (como no ponto D), não constitui sua escolha ótima. A cesta B une o útil ao financeiramente possível, pois representa uma combinação preferível às cestas localizadas em U1, como a D, e coerentes com a restrição orçamentária de Carlos. Lembre-se que a linha de restrição orçamentária e o mapa de indiferença são construídos de forma independente. O mapa de indiferença apresenta o que o consumidor deseja comprar e a linha de orçamento, o que ele pode. Quando ambos são combinados, a escolha do consumidor é definida15. Assim, podemos, finalmente, concluir: A cesta de mercado que maximiza a utilidade do consumidor é aquela situada sobre a curva de indiferença mais elevada que tangencia a linha de orçamento. Observe que a cesta B representa o ponto de tangência entre a curva de indiferença U2 e a linha do orçamento. Neste ponto, as inclinações coincidem. Como a TMS corresponde à inclinação da curva de indiferença, a maximização da utilidade ocorre no ponto em que a TMS é igual à razão entre os preços relativos: (5) O consumidor desfrutará da maximização da utilidade ao ajustar o consumo dos dois bens de tal forma que a TMS se iguale à razão entre os preços. Em outras palavras, o ótimo é atingido quando o custo de uma unidade adicional do bem se iguala ao benefício proporcionado pelo consumo desta unidade adicional, ou seja, quando o custo marginal é igual à utilidade marginal. Solução de Canto Dependendo dos bens considerados na análise das preferências, alguns consumidores podem adotar soluções extremas. Suponha, por exemplo, que Blenda tenha que decidir alocar sua renda entre chocolate light ou chocolate normal, bens claramente substitutos. Se Blenda estiver de dieta, poderá optar por adquirir apenas chocolates light insossos (L) e nada de chocolates gordurosos e saborosos (C). Tal decisão pode ser representada no gráfico, e representa uma solução de canto. Figura 4.17. Solução de canto O ponto B representa a escolha ótima de Blenda. Observe que a TMS de chocolate light por chocolate normal é maior do que a inclinação da linha de restrição orçamentária, indicando que Blenda já atingiu o limite possível. Na solução de canto, a TMS é diferente da razão entre os preços. Na verdade, ela é igual ou maior que esta razão: (6) Assim, conclui-se que: A condição UMg = CMg só ocorre quando todos os bens são consumidos, sendo inválida na solução de canto. Mudanças no Equilíbrio do Consumidor: Efeitos preço, renda e substituição Suponha que Carlos receba uma boa notícia: uma promoção no emprego que lhe renderá 20% de aumento salarial. A renda maior permitirá a Carlos o consumo de mais unidades de ambos os bens e é representada por um deslocamento paralelo da linha de restrição orçamentária para frente (direita), conforme a Figura 4.18. Figura 4.18. Deslocamento da linha de restrição orçamentária Quando o aumento da renda traduzir-se em aumento no consumo de ambos os bens, diz-se que estes bens são normais. Se, por outro lado, o aumento da renda provocar redução no consumo, diz-se que este bem é inferior. A Figura 4.19 foi traçada considerando dois bens: presunto e mortadela, sendo este último um bem inferior para este consumidor. Observe que, com o aumento da renda, o consumidor reduz sua quantidade consumida de mortadela. Figura 4.19. Bens normais e inferiores Mudança nos preços Para avaliarmos como os deslocamentos da linha de restrição orçamentária ocorrem diante de variações nos preços, consideremos duas situações: a) quando o preço de um dos dois bens considerados se modifica; b) quando ambos os bens têm seu preço alterado. Alteração no preço de um dos bens Suponhamos que o vestuário sofra um aumento de preço de R$ 30,00 para R$ 50,00 a unidade, e o preço dos alimentos permaneça o mesmo. Sendo a renda de Carlos constante e igual a R$ 1.200,00, agora, se ele optar por gastá-la toda com vestuário, poderá adquirir somente 24 unidades em vez das 40 anteriores. Como não houve alteração no preço dos alimentos, a linha do orçamento ainda cruza o eixo x em 120, mas sofrerá uma rotação para baixo, a partir de seu ponto de interseção com o eixo y. Figura 4.20. Deslocamento da linha de restrição orçamentária Se Carlos manifestar preferência pela aquisição somente de alimentos, ele não será afetado pela alteração dos preços das roupas. Mas se ele usar boa parte de sua renda na compra de peças de vestuário, verá seu poder de compra reduzido pelo aumento de preços. Alteração no preço dos dois bens Suponhamos agora que haja uma redução proporcional nos preços em 10% de ambos os bens, de tal maneira que a razão entre eles não se altere. Neste caso, independentemente das preferências individuais de Carlos, seu poder aquisitivo aumentou, pois agora, com a mesma renda, é possível adquirir mais de ambos os bens. A linha do orçamento se desloca para frente e a interseção com os eixos muda. A inclinação da linha do orçamento era de -1/3. A nova inclinação, obtida pela razão -44,4/133,3 também é -1/3. Assim, a nova linha de orçamento será paralela à anterior (Figura 4.21). O poder aquisitivo de Carlos aumentará, seja porque sua renda aumentou, seja porque os preços dos bens caíram. Figura 4.21. Aumento da renda Se tanto os preços dos bens quanto a renda de Carlos aumentarem em 10%, a linha do orçamento não sofrerá alteração alguma, já que o aumento da renda apenas compensou o aumento do nível de preços. Efeito-Preço É a variação no equilíbrio do consumidor decorrente de alteração nos preços dos bens. Ele se decompõe em efeito-renda e efeito-substituição. Efeito-Renda e Efeito-Substituição Estudamos o que acontece com a linha do orçamento quando a renda do consumidor ou o preço dos bens se altera. Veremos agora a reação do consumidor diante dessas alterações. Ele pode alterar seu comportamento consumindo mais ou menos dos bens ou pode substituir o consumo de certa quantidade de um bem por uma quantidade maior do outro. Estes comportamentos descrevem os efeitos-renda e substituição. Efeito-Renda Ocorre quando, diante de variações no poder aquisitivo do consumidor - seja pela mudança nos preços ou pela alteração na renda - o consumo se modifica como fruto do deslocamento do consumidor para outra curva de indiferença. Suponha novamente que o preço do vestuário tenha subido para R$ 50,00 e a linha do orçamento tenha sofrido uma rotação para baixo, a partir do eixo y, como na Figura 4.22. Figura 4.22. Aumento da renda Em virtude da queda do poder aquisitivo, o equilíbrio do consumidor ocorrerá em uma curva de indiferença inferior CI2. Efeito-Substituição Ocorre quando, diante de uma alteração no poder aquisitivo do consumidor, este dê preferência a uma combinação diferente entre os bens, substituindo, em parte, um pelo outro. Diferentemente do que ocorre no efeito-renda, onde o consumidor migra para uma nova curva de indiferença, no efeito- substituição, a preferência do consumidor se desloca ao longo da mesma curva, para um ponto diferente, com outra inclinação e, portanto, outra TMS. Para melhor definição, considere dois bens substitutos: cachorro-quente e pastéis de carne e que, inicialmente, o primeiro custe R$ 5,00 e o segundo, R$ 3,00. Considere que Carlos dispõe de R$ 60,00 por mês para consumo desses produtos (Figura 4.23). Figura 4.23. Consumo de Carlos O ponto A apresenta a combinação ótima de Carlos: nove cachorros- quentes e cinco pastéis por mês. Suponha que o cachorro-quente tenha seu preço reduzido para R$ 4,00. A linha do orçamento sofrerá uma rotação a partir do eixo das ordenadas para uma nova interseção em 12 unidades (Figura 4.24). Figura 4.24. Efeito-substituiçãoO efeito-substituição é visto no gráfico através da movimentação ao longo da curva de indiferença CI1, do ponto A para o ponto C, com outra inclinação (paralela à nova linha de restrição orçamentária). Análise do Efeito-Preço Agora veremos o efeito-preço decomposto em seu efeito-renda e efeito- substituição em uma única análise gráfica16, mantendo o exemplo anterior, onde Carlos escolhe entre cachorros-quentes e pastéis de carne e considerando a queda do preço do cachorro-quente para R$ 4,00. O deslocamento do consumidor ocorre do ponto A até o ponto C e pode ser compreendido em duas partes: 1º movimento: ocorre do ponto A até o ponto B e representa a alteração na composição da escolha do consumidor, onde ele deixa de consumir alguns pastéis de carne para usufruir da promoção, adquirindo mais cachorros- quentes. Figura 4.25. Efeito-Renda e Efeito-Substituição Observe que, em razão de o consumidor situar-se na mesma curva de indiferença, não houve alteração do bem-estar, mas tão somente na TMS, indicando variação dos preços relativos. 2º movimento: Dá-se do ponto B ao ponto C. Veja que não faria sentido teórico o consumidor “conformar-se” com a combinação representada em B, pois ela está em uma curva de indiferença posicionada aquém de sua nova restrição orçamentária que, portanto, não é maximizadora de utilidade. Assim, ele se deslocará para o ponto C, em curva de indiferença preferível, já que localizada mais distante da origem, no ponto em que ela tangencia a nova linha de restrição orçamentária. Observe que a inclinação da CI1 no ponto B é idêntica à CI2 no ponto C. Assim, o deslocamento de A para B explicita o efeito-substituição, e o de B para C, o efeito-renda. Derivando a Curva de Demanda a partir do Efeito-Preço Retomando o exemplo das escolhas de Carlos, suponha agora que o pastel de carne tenha seu preço reduzido para $ 2,00 e, em um segundo momento, para $ 1,00. Suponha também que tanto a renda de Carlos quanto o preço do cachorro-quente tenham se mantido constantes. Sabemos que essa alteração nos preços do pastel de carne provocará uma rotação na linha de restrição orçamentária para a direita e Carlos terá novos pontos de equilíbrio. A Figura 4.26 ilustra a situação. Observe que, para cada preço do pastel de carne, há uma quantidade demandada correspondente. Como vimos, a demanda de um bem é uma função de seu preço, coeteris paribus: Dx = f(Px) Figura 4.26. Alteração na renda e no preço de um dos bens Assim, ao determinarmos a quantidade a ser consumida para cada nível de preços, podemos construir a curva de demanda do consumidor. Figura 4.27. Derivação da curva de demanda Mesmo sem o cálculo dos respectivos pontos de ótimo A, B e C, é possível traçar a curva de demanda de Carlos por pastel de carne, sabendo que PA (3,00)> PB (2,00) > PC (1,00) e que, portanto, Q A < Q B < Q C. A linha de preço-consumo representa as combinações dos bens considerados que maximizam a utilidade e que estão associadas a cada preço possível do pastel de carne O gráfico construído a partir da linha de preço-consumo17 relaciona os preços às quantidades demandadas de pastel de carne, sendo a curva resultante denominada curva de demanda do consumidor. Ela apresenta duas propriedades: 1. Conforme nos movemos ao longo da curva de demanda, a utilidade associada a cada preço varia, pois quanto mais barato for o produto, maior sua utilidade (à medida que cai o preço do bem, o consumidor migra para uma curva de indiferença mais distante da origem). 2. O consumidor atingirá o ótimo em cada ponto da curva de demanda quando a TMS de pastel por cachorro-quente for igual à razão entre seus preços. O sentido é intuitivo: o valor relativo do pastel cai conforme o consumidor adquire maiores quantidades deste alimento. Finalmente, observe que a curva de demanda pode ser derivada de duas formas distintas: a primeira, utilizando a noção de utilidade marginal e a segunda, a de curvas de indiferença. Esta última abordagem também contribuiu para explicar os fatores que tendem a aumentar ou a reduzir a variação da quantidade demandada em relação ao preço, ou seja, a elasticidade-preço da demanda. Para uma análise qualitativa do efeito rendimento, basta verificarmos o valor da elasticidade-renda da demanda por um bem. Lembre-se que ela pode ser calculada como a variação percentual da renda. Quando a elasticidade-renda for elevada, a demanda por esses bens crescerá conforme se verifica aumento de renda. É o caso dos automóveis luxuosos. Já bens com baixa elasticidade-renda indicam que a mudança na renda não alterará muito seu consumo. Exemplo são os alimentos básicos18. Algumas características dos bens podem ser entendidas a partir da análise dos efeitos-renda e substituição. Por exemplo, quando a curva de demanda, derivada do efeito-preço, tiver alta elasticidade-preço, veremos que os efeitos-renda e substituição são fortes, indicando que o bem em questão tem substitutos próximos. Por outro lado, bens de difícil substituição e que representam pouco no orçamento do consumidor, como a pimenta, apresentarão, diante de alterações de renda, efeitos renda e substituição pequenos e a demanda tenderá a ser inelástica em relação ao preço. Efeito-preço total Resumindo o que foi dito sobre efeito-renda e efeito-substituição até agora, uma redução no preço de um bem provoca: a) um efeito-substituição, representado pela tendência do consumidor em adquirir uma quantidade maior do bem que se tornou relativamente mais barato e uma quantidade menor do bem relativamente mais caro; b) um efeito-renda, traduzido no aumento do poder de compra do consumidor. O efeito total é dado pela soma de ambos: Efeito total = efeito-renda + efeito-substituição A direção do efeito-substituição é sempre a mesma: uma queda no preço de um bem provoca um aumento no consumo de seu substituto. Mas o efeito- renda pode provocar variações positivas ou negativas: a) se o efeito-renda for positivo, o bem é normal; b) se o efeito-renda for negativo, ou seja, se diante do aumento da renda o consumo se retrair, o bem é inferior. É importante destacar que mesmo no caso de bens inferiores, dificilmente o efeito-renda superará o efeito-substituição, de maneira que mesmo se o preço que cair for o do bem inferior (havendo na cesta considerada um bem normal e outro inferior), seu consumo quase sempre aumentará. A Figura 4.28 ilustra esta situação.19 Figura 4.28. Bens inferiores19 Carlos parte do equilíbrio inicial em X1, na linha do orçamento LO1. Com a queda nos preços dos pastéis de carne, a linha do orçamento se desloca para LO2 e o novo ótimo de Carlos passa a ser representado pelo ponto B, na tangência com a nova curva de indiferença CI2. Essa alteração no equilíbrio de Carlos pode ser decomposta no efeito- substituição X1E positivo, ligado ao deslocamento do ponto A ao ponto C e no efeito-renda negativo, EX2(representando o movimento de C para B). Como o efeito-renda é negativo, o pastel de carne é considerado um bem inferior. Mas, apesar disso, Carlos ainda vai optar por demandar mais pastel de carne, pois o efeito-substituição supera o efeito-renda. Efeito-renda superior ao Efeito-Substituição: os Bens de Giffen Se acontecer de o efeito-renda ser realmente maior que o efeito- substituição, a curva de demanda também será atípica: terá uma inclinação positiva. É o caso dos Bens de Giffen. A Figura 4.29 ilustra este raro episódio. Suponha que Carlos tenha duas opções em ir para faculdade, metrô ou ônibus, e opte pelo ônibus em função do preço da passagem. O ótimo inicial é representado pelo ponto A. Após a redução do preço das passagens de ônibus, a maioria dos passageiros do metrô migra para este meio de transporte, tornando seu uso desagradável para Carlos. Por esta razão, Carlos move-se para B, adquirindo menos passagens de ônibus. Figura 4.29. Bens de Giffen Como o efeito-renda EX2 é maior que o efeito-substituição X1E, a queda no preço das passagens de ônibus faz a demanda de Carlos por elas cair. A Figura 4.33 apresentaduas possíveis curvas de indiferença de Carlos. Preferência Revelada Até aqui vimos como as preferências de um indivíduo, representadas por curvas de indiferença e restringidas pelo orçamento, conduzem às escolhas do consumidor. Se conhecermos as escolhas de um consumidor diante de mudanças nos preços e na renda poderemos, de modo inverso, determinar suas preferências. Suponha duas cestas de mercado, A e B, sendo B mais cara do que A. Se o consumidor escolher adquirir B em vez de A, mesmo sendo ela mais cara, isso significa que este consumidor realmente prefere a cesta B. A Figura 4.30 apresenta duas linhas de orçamento de Carlos e cestas formadas por pastéis de carne e cachorro-quente. Figura 4.30. Preferência Revelada Se, diante das possibilidades descritas pelas cestas A e B, Carlos escolhesse a cesta A, diríamos que A é preferível a B, pois ambas podem ser compradas com o mesmo orçamento. Mas como comparar as cestas A e C, considerando que elas estão situadas em linhas de orçamento distintas? Para isso, precisamos saber o que acontece se uma mudança nos preços relativos (aqui, um aumento do preço dos cachorros-quentes e uma redução no preço dos pastéis de carne) fizer a linha do orçamento deslocar-se para LO2. Digamos que Carlos, diante do novo orçamento, prefira C à B. Como A é preferível à B e B é preferível à C, é possível inferir que A é preferível a C. Já que A é preferível a B e a C, infere-se que A é também preferível a todas as cestas localizadas abaixo de ambas as linhas do orçamento, representado pela área hachurada na Figura 4.31. A esta informação pode-se acrescentar uma das propriedades das preferências: é sempre preferível mais do que menos. Assim, todas as cestas localizadas acima e à direita de A lhe são preferíveis (área escura da Figura 4.32). Figura 4.31. Preferências de Carlos Figura 4.32. Preferências de Carlos Conclui-se que a curva de indiferença de Carlos está localizada na área não hachurada nem escura da Figura 4.32. Se dispusermos de informações sobre as preferências reveladas, poderemos confirmar se as escolhas do consumidor dão fundamento empírico às hipóteses da Teoria do Consumidor, aumentando o nível de consistência do estudo. Figura 4.33. Curva de Indiferença de Carlos Demanda de Mercado Ao considerarmos o mercado como um todo, faz-se necessário tão somente somar as curvas de demanda dos consumidores individuais. Assim, considere quatro consumidores: Carlos, Blenda, Reinaldo e Fernanda. Todos gostam de pastel de carne, mas diante dos diferentes preços, demandam quantidades distintas. A Tabela 4.3 relaciona a demanda individual para cada preço do pastel: Tabela 4.3. Demanda por pastéis de carne Preço do Pastel de Carne Carlos Blenda Reinaldo Fernanda Demanda de Mercado 1 20 8 6 2 36 2 15 4 5 1 25 3 10 1 4 0 15 A soma das demandas individuais fornece a demanda de mercado e esta pode ser representada graficamente pela soma vertical das curvas. Figura 4.34. Demanda de Mercado Observe que sempre que novos consumidores entram no mercado, a curva de demanda agregada (demanda de mercado) se desloca para a direita. Excedente do Consumidor Definimos o excedente do consumidor como sendo a diferença entre o preço marginal de reserva e o preço de mercado. Quando se tem informações sobre a curva de demanda, é possível calcular o excedente do consumidor. Considere a curva de demanda de Carlos por pastéis de carne conforme dados da Tabela 4.2. O excedente do consumidor pode ser calculado pela área situada abaixo da curva de demanda e acima do preço de mercado (aqui, igual a 2). Tabela 4.4. Demanda de Carlos Preço do pastel de carne Demanda de Carlos 1 20 2 15 3 10 4 5 5 0 Figura 4.35. Excedente do Consumidor Por ser um triângulo retângulo, a área é calculada pela seguinte fórmula: (7) O excedente de Carlos é, portanto, $ 22,50. Considerações Finais O estudo da Teoria do Consumidor fornece importante fundamento teórico para a compreensão do comportamento dos agentes diante das opções de consumo, considerando suas limitações orçamentárias. Nos próximos capítulos, voltaremos nossa atenção ao estudo da firma, procurando compreender como os produtores e vendedores se comportam diante de diferentes combinações de insumos, no intuito de maximizar seus lucros, seja pela maximização do produto, seja pela minimização dos custos. 5. Teoria da Firma I - Produção Introdução Tendo estudado o lado da demanda, vimos o comportamento dos consumidores diante das opções de consumo, dadas suas restrições orçamentárias. Agora, resta-nos estudar o comportamento da firma e o faremos utilizando-nos da Teoria da Firma, sendo este capítulo dedicado à Teoria da Produção1 e o próximo, à Teoria dos Custos de Produção. A capacidade produtiva de uma nação é determinada pelo tamanho e pelas características da população economicamente ativa, pela qualidade e quantidade do capital disponível e pelo nível tecnológico2. Uma firma é uma entidade que adquire fatores de produção ou insumos e os transforma em produtos (bens ou serviços) para a comercialização. Essa transformação do insumo em produto é descrita pela função de produção. Como as empresas transformam insumos em produtos atrativos? Como as empresas gerenciam as atividades de produção? Como uma firma toma estas decisões com base na minimização de custos e como eles variam com o volume produzido? Estas e outras questões são nosso objeto de estudo a partir de agora. As decisões da firma sobre a produção As decisões da firma sobre a produção envolvem, basicamente, três aspectos: 1) Tecnologia disponível: para produzir certa quantidade de bens, a empresa precisa combinar diferentes quantidades e tipos de insumos. Tal combinação está intimamente ligada à tecnologia, pois empresas com menor automatização, por exemplo, necessitarão de mais mão de obra para produzir do que outras do mesmo setor, que disponham de mais equipamentos, por exemplo. 2) Custos de produção: com o objetivo de maximizar seus lucros, as empresas procuram minimizar seus custos. 3) Insumos: dada a tecnologia e definido o preço dos insumos, a quantidade a ser usada de cada insumo passa a ser fundamental. É a partir da análise destes três importantes aspectos da Teoria da Firma que assentaremos as discussões deste e do próximo capítulo. Independentemente do tipo de atividade econômica ou das características específicas de cada empresa, a Teoria da Firma pressupõe que o produtor objetiva produzir de forma eficiente, ou seja, produzir o máximo possível, dada uma quantidade de fatores de produção, evitando desperdícios e com o menor custo, a fim de gerar o máximo em lucros3. A definição acerca do processo de produção a ser adotado depende da eficiência, tecnológica ou econômica. Do ponto de vista da eficiência técnica ou tecnológica, a firma deve escolher o processo que lhe permitir uma mesma quantidade de produto, usando da menor quantidade física de fatores de produção. Já o ponto de vista econômico leva a firma a preferir o processo que lhe permita produzir a mesma quantidade com o menor custo de produção4. A Função de Produção Os insumos de produção podem ser divididos em trabalho, matérias-primas e capital. O primeiro considera os trabalhadores de tempo integral ou parcial, qualificados ou não. As matérias-primas são inúmeras e vão desde a água até suprimentos diversos que serão transformados em produto final. O capital inclui o terreno, as construções, o maquinário e os estoques5. Para que se defina quanto de produto se obterá a partir de uma quantidade fixa de insumos ou fatores de produção, é necessário conhecer o estado da tecnologia disponível6. A relação entre a quantidade de fatores de produção e a quantidade máxima de produto final a ser obtido dada uma certa tecnologia é chamada de função de produção. Para simplificar, suponha que haja apenas dois insumos: trabalho (L) e capital (K). A função pode ser expressa matematicamente como: q = F(K,L) (1) Esta expressão nos informa que a quantidade de produtoq é uma função da quantidade utilizada dos insumos capital e trabalho. Ela revela qual é a quantidade máxima do produto q que pode ser produzido a partir de uma combinação dos insumos K e L7. Para cada produto ou serviço existente na economia há, teoricamente, uma função de produção diferente. Assim, elas são incontáveis e, muitas vezes, não são escritas ou utilizadas, de fato. Mesmo assim, representam uma forma relevante de descrição da capacidade produtiva de uma empresa8. Como insumos e produtos variam ao longo do tempo, eles são considerados fluxos por período. Adotaremos aqui o período de um ano. A função de produção só pode ser definida em termos positivos, tanto dos insumos quanto do produto9. Assim: q > 0; x1> 0; x2> 0 Conforme o nível tecnológico se modifique, a composição da função de produção também se alterará. Essa noção é bastante intuitiva pois, diante de avanços tecnológicos, as empresas podem optar, por exemplo, por usar mais de um fator de produção (ex.: capital) em detrimento de outro (ex.: trabalho), a fim de se obter maior quantidade de produto final. Não confunda a função de produção com a função oferta. Enquanto a função oferta relaciona a quantidade produzida com os preços dos fatores de produção, a função de produção relaciona fatores de produção à quantidade física do bem produzido10. Curto e Longo Prazos Os avanços tecnológicos, os conhecimentos específicos e o treinamento da mão de obra são fundamentais para firmas que pretendem crescer e ocupar posição de relevo no mercado. Mas nada disso é conquistado do dia para a noite. As firmas passam por longos processos de aprendizagem e, por tentativas e erros, melhoram seus produtos e processos. Se considerarmos um horizonte temporal relativamente curto, como um ou dois meses, é bem provável que as empresas não consigam realizar importantes alterações na combinação dos insumos de produção. Quando pelo menos um insumo não pode ser modificado ou quando pelo menos um fator de produção é fixo, diz-se que a análise é de curto prazo. Quando todos os insumos tornam-se variáveis, diz-se que a análise é de longo prazo11. A função de produção de curto prazo é, portanto, definida considerando que pelo menos um fator é fixo. Assim: q = f(x1, x2*), (2) sendo: q = quantidade produzida x1 = insumo variável x2*= insumo fixo Para alterar a quantidade produzida, a firma só poderá modificar a quantidade do insumo variável, contando com a proporção determinada do fator fixo. As firmas podem, por exemplo, contratar mais trabalhadores ou utilizar a capacidade ociosa das máquinas já adquiridas no curto prazo. Ampliar as instalações já caracteriza uma decisão de longo prazo. É importante salientar que o curto e o longo prazos, embora apresentem aspectos temporais, são diferentes para cada caso. Não podemos limitá-los a um determinado período de tempo, pois uma pequena empresa pode considerar o prazo de doze meses como curto prazo, pois o aluguel de sua sede é considerado fixo, e doze meses mais um dia como longo prazo, já que, a partir daí, pode-se optar por uma mudança para maiores instalações. Já uma montadora de automóveis pode considerar longo prazo como o período de dez anos quando, após crescimento populacional razoável, a empresa decida ampliar suas fábricas. Assim, no longo prazo, todos os insumos de produção podem ser modificados a fim de se obter um custo mais baixo de produção. Antes de analisarmos as decisões da firma no longo prazo, vamos considerar o curto prazo. Análise de Curto Prazo: As decisões da firma quando um insumo é fixo e outro variável Na análise de curto prazo, a firma pode alterar a quantidade do insumo variável a fim de obter um produto final maior. Considerando apenas capital e trabalho, a empresa só conseguirá aumentar a quantidade produzida contratando mais mão de obra. Suponha uma firma que fabrique um tipo de tênis. A Tabela 5.1 apresenta os níveis de produção para cada combinação entre capital fixo e insumo variável (trabalho), bem como o produto médio e marginal, calculados com base nas informações das três primeiras colunas. Tabela 5.1. Produção de Tênis (1 insumo fixo, 1 insumo variável) No de costureiras (L) Quantidade de capital, em termos monetários (K) Produto Total (Q) Produto Médio (PMe) Produto Marginal (PMg) 0 20 0 - - 1 20 20 20 20 2 20 60 30 40 3 20 120 40 60 4 20 160 40 40 5 20 190 38 30 6 20 216 36 26 7 20 224 32 8 8 20 224 18 0 9 20 216 24 -8 10 20 200 20 -16 A primeira coluna da tabela mostra a quantidade de costureiras, o insumo variável. A segunda mostra a quantidade fixa de capital, em termos monetários (indicando o valor dos equipamentos de costura em mil unidades monetárias). A terceira coluna apresenta o produto total, sendo a multiplicação do número de costureiras contratadas pela quantidade de capital. A quarta coluna mostra o produto médio do trabalho12, ou seja, a produção por unidade de trabalho. Ele pode ser calculado da seguinte forma: (3) O produto médio fornece um importante indicador do processo produtivo: a produtividade do fator trabalho. Ele indica qual a quantidade de bens cada trabalhador produz, em média, dado o capital fixo disponível. O comportamento desta variável indica que, a partir da quarta costureira, a produtividade individual começa a declinar. Por que isso ocorre? É fácil visualizar mentalmente um galpão, com três máquinas de costura e três costureiras trabalhando eficientemente. Mas, em seu “exercício mental”, imagine este galpão recebendo mais e mais costureiras, sem o concomitante investimento em capital fixo. O ambiente ficará prejudicado por vários motivos: algumas costureiras poderão cortar os moldes, enquanto outra verifica os acabamentos. Mas alguma trabalhadora ficará ociosa e aproveitará o tempo para contar as últimas novidades para as demais, que reduzirão seu ritmo de trabalho. Haverá um momento em que a contratação de novas costureiras tornará o trabalho contraproducente. A quinta coluna da tabela apresenta outro importante indicador da contribuição do trabalho ao processo produtivo: o produto marginal do trabalho13 (PMgL). Ele representa a quantidade adicional de produto final gerado ao se adicionar uma unidade do insumo trabalho. A pergunta que esta variável responde é: quanto a contratação da última costureira representou no produto final?. Observe, por exemplo, que a contratação da terceira trabalhadora representou um acréscimo de 60 pares de tênis à produção total (120 - 60). O produto marginal do trabalho é calculado, portanto, da seguinte forma: (4) Caso o insumo fixo venha a ser alterado - o que tornará a análise de longo prazo - o PMgL provavelmente aumentará, já que as novas costureiras possivelmente serão mais produtivas se dispuserem de mais máquinas para trabalhar. Na Tabela 5.1, é possível visualizar o comportamento da PMgL. A contratação das primeiras três costureiras proporciona um produto marginal do trabalho crescente. A partir da contratação da quarta, o produto marginal começa a declinar, indicando que a contribuição das novas costureiras ainda acrescenta ao produto total, mas de forma decrescente. Na contratação da oitava costureira, o produto marginal chega a zero, indicando que já não há acréscimo no produto total com a variação do insumo trabalho. A partir daí, o produto marginal torna-se negativo, indicando que novas contratações atrapalharão o processo produtivo e reduzirão o produto total. As Curvas de Produto Total, Médio e Marginal A Figura 5.1 apresenta gráficos contendo as informações da Tabela 5.1, sendo o primeiro representativo do produto total e o segundo, dos produtos médio e marginal. Como todas essas variáveis são expressas como funções da produção total e da quantidade de trabalho (número de costureiras contratadas), é possível analisar o comportamento das curvas comparando alguns pontos específicos. Vejamos então o comportamento de cada uma das curvas separadamente e, depois, comparativamente. Curva de Produto Total: apresenta o total produzidoconforme o insumo trabalho é adicionado. Do ponto de origem até o ponto B, a curva apresenta crescimento a taxas crescentes. A partir do ponto B até o ponto D, a curva continua ascendendo, porém com inclinação cada vez menor, indicando um crescimento a taxas decrescentes. No ponto D, equivalente à contratação da oitava costureira, a curva atinge seu ponto máximo, com inclinação igual a zero, a partir do qual passa a decrescer. Curva de Produto Médio: é uma curva, em geral, menos acentuada, que cresce até atingir um ponto máximo, em E, e depois decresce. Como a função de produção é sempre definida em valores positivos, o produto médio decresce, mas não atinge números negativos. Curva do Produto Marginal: esta curva é essencial na decisão da firma sobre quanto contratar. Observe que ela atinge seu ponto máximo antes das curvas de produto médio e total e cai de forma acentuada logo em seguida. Figura 5.1. Produto total, médio e variável A relação entre as curvas de produto total, médio e marginal Várias inferências podem ser feitas a partir da leitura dos gráficos com respeito à relação entre as curvas de produto total, médio e marginal. Vamos explorar algumas delas: 1) O produto marginal é positivo quando a produção está crescendo, zero quando está constante e negativo quando está decrescendo. 2) A curva do produto marginal cruza o eixo das abcissas no ponto onde a inclinação da curva de produto total é zero, ou seja, quando esta atinge seu pico. 3) A curva de produto marginal torna-se negativa quando a curva de produto total começa a decrescer, significando que novas contratações provocarão queda na produção. 4) Quando o produto marginal é maior que o produto médio, ou seja, antes do ponto E no segundo gráfico, o produto médio está crescendo. Nesta fase, a contratação de novas costureiras está aumentando a produção total a um ritmo interessante, pois a média por trabalhador está crescendo. 5) Quando o produto marginal é menor que o produto médio, este é decrescente. 6) Quando o produto médio atinge seu máximo, a curva de produto marginal cruza com a do produto médio. Neste ponto (E), ambas são iguais. Na curva do produto total, observa-se que a produção, até ali (ponto C), crescia a taxas crescentes e, a partir dali, passa a crescer a taxas decrescentes. 7) A inclinação da curva de produto total fornece, a cada ponto, o produto marginal do fator variável. 8) A inclinação da linha traçada entre o ponto de origem e o ponto correspondente sobre a curva de produto total fornece o produto médio do trabalho. Lei dos Rendimentos Marginais Decrescentes14 Conforme o uso do fator de produção variável aumenta em incrementos iguais, mantendo-se os demais fixos, a produção adicional cresce cada vez menos, a partir de determinado ponto. Observe novamente a Tabela 5.1. Até a contratação da terceira costureira, o produto marginal do trabalho cresceu. A partir da quarta costureira, a lei dos rendimentos marginais decrescentes começa a vigorar e o produto marginal cai até atingir valores negativos. A lei dos rendimentos marginais decrescentes pode ser assim descrita: Lei dos rendimentos marginais decrescentes: ao aumentar a quantidade do fator de produção variável, mantidos os outros constantes, o produto total inicialmente crescerá a taxas crescentes. A partir de certa quantidade utilizada do fator variável, crescerá a taxas decrescentes até que, a um dado nível de utilização do fator variável, ele sofrerá decréscimo. Análise de Longo Prazo: Produção com dois insumos variáveis No longo prazo, todos os insumos de produção são variáveis e a firma pode definir várias formas de combinar os fatores para atingir um produto total maior. A função de produção de longo prazo pode ser expressa, em termos genéricos, como: q = f(x1, x2, x3,...xn), sendo q a quantidade produzida e x1, ...xn os fatores de produção associados às respectivas quantidades. Considerando, por simplificação, apenas dois fatores de produção, temos que: q = f(x1, x2), sendo x1, x2 fatores variáveis, capital (K) e trabalho (L). Ou: q = f(K, L) A diferença fundamental entre o curto e o longo prazo é que não existem retornos decrescentes no longo prazo. Os retornos decrescentes acontecem porque um insumo é fixo enquanto o outro varia. No longo prazo, a firma pode modificar todos os fatores de produção, incluindo o tamanho de suas instalações15. Isoquantas Isoquantas são curvas que representam todas as combinações possíveis de insumos de produção que geram o mesmo produto final. A Tabela 5.2 apresenta informações sobre a produção de uma firma hipotética, com diferentes combinações de capital e trabalho. Tabela 5.2. Produto Total, considerando capital e trabalho variáveis Trabalho (no de trabalhadores contratados/ano) Capital/ano 1 2 3 4 5 1 40 80 110 130 150 2 80 120 150 170 180 3 110 150 180 200 210 4 130 170 200 220 230 5 150 180 210 230 240 A Tabela mostra, por exemplo, que quando a firma opta por contratar um trabalhador e cinco unidades de capital, 150 unidades do produto final serão fabricadas. Outras combinações são possíveis e representam este mesmo produto final (150): dois trabalhadores e três unidades de capital; três trabalhadores e duas unidades de capital ou cinco trabalhadores e uma unidade de capital. Estas combinações podem ser representadas por uma isoquanta, conforme a Figura 5.2. Figura 5.2. Isoquantas As isoquantas apresentam duas importantes características: a) possuem inclinação negativa: o que indica que, para a mesma quantidade produzida, se aumentar a quantidade de um dos insumos de produção, deverá haver redução da quantidade do outro insumo. Esta substituição é representada pela TMST. b) são convexas em relação à origem dos eixos cartesianos: observe na Figura 5.2 que, à medida que aumentamos a quantidade de trabalhadores e reduzimos a de capital, a TMST diminui, evidenciando a dificuldade crescente de substituição de um fator por outro16. Quando, no mesmo gráfico, um conjunto de isoquantas é apresentado, temos o mapa de produção17. Observe, na Figura 5.3, que cada isoquanta está associada a uma quantidade produzida distinta, de modo que as isoquantas mais distantes da origem representam níveis de produção mais elevados18. No ponto A, a combinação de duas unidades de capital com três trabalhadores proporciona à empresa um produto total igual a 150 (ponto A). Na isoquanta mais próxima da origem, todas as combinações dos insumos K e L fornecem uma quantidade produzida igual a 110, tal como visto no ponto B, com três trabalhadores e uma unidade de capital. Figura 5.3. Mapa de produção As isoquantas dão aos tomadores de decisão das firmas flexibilidade para definir a contratação dos insumos, visando atingir certo nível de produção. Esta flexibilidade se mostrará muito útil quando incorporarmos à teoria a questão dos custos de produção. Rendimentos Marginais Decrescentes Mesmo na análise de longo prazo, a lei dos rendimentos marginais decrescentes está em vigor19. Mas, para analisar seus efeitos, é necessário verificar o que acontece com o produto quando um dos insumos varia, permanecendo o outro constante20. Considere o seguinte mapa de isoquantas, traçado a partir de alguns dados da Tabela 5.2. Figura 5.4. Mapa de Produção Suponha o capital constante em três unidades/ano. Conforme a quantidade do insumo trabalho se eleva, incrementos cada vez menores no produto total são observados. Repare que, ao aumentar a contratação de trabalhadores de uma para duas unidades, a quantidade produzida se eleva em 40 unidades (150-110). Ao contratar um terceiro trabalhador, o produto total aumenta, mas menos do que antes (180-150 = 30). Conclui-se que a lei dos rendimentos decrescentes é válida tanto no curto quanto no longo prazo. Análise semelhante pode ser feita considerando o trabalho constante e o capital variável. Perceba que, conforme o capital é adicionado no processo produtivo, mantendo-se constante o número de trabalhadores, o produto total é incrementado a taxas decrescentes.Figura 5.5. Mapa de produção Observe que o produto marginal decresce de 40 para 30 e, por fim, para 20. Taxa Marginal de Substituição Técnica (TMST) Vimos até aqui como diferentes insumos de produção podem ser combinados no processo produtivo para resultar num determinado produto total. Para manter o produto total igual, o acréscimo de um insumo requer a redução em outro. A inclinação da isoquanta mostra quanto um insumo pode ser substituído por outro, mantendo-se constante o nível de produção. A taxa marginal de substituição técnica do insumo trabalho pelo capital, apresentada em termos positivos, representa, portanto, a queda máxima possível na quantidade de um dos insumos de produção quando uma unidade a mais do outro é adicionada, sendo o produto total mantido constante. para um nível constante de q. (5) A Figura 5.6 apresenta o cálculo da TMST para o nível de produção 150. Figura 5.6. TMST Note que, ao se passar do ponto A para o ponto B, o fator capital é reduzido em três unidades e o fator trabalho, aumentado em duas e essa alteração na composição não modificou o produto final, que permanece 150. A TMST é igual a 1,5. A maior parte dos bens originados na economia é produzida com insumos que estão em algum ponto entre substitutos perfeitos e complementos perfeitos: um insumo pode substituir outro, mas a TMST não é constante. A substituição de um insumo por outro é cada vez mais difícil, o que faz bastante sentido intuitivo (acrescentar cada vez mais costureiras, abrindo mão de máquinas de costura será uma opção cada vez menos recomendada). Isso significa que a TMST fica cada vez menor, ou decresce da esquerda para a direita ao longo de uma isoquanta21. Propriedades das Isoquantas As isoquantas têm comportamento característico descrito pelas seguintes propriedades: 1) são convexas em relação à origem; 2) são negativamente inclinadas; 3) em um mapa de produção, não se cruzam nem há pontos de tangência entre elas. Conforme nos deslocamos ao longo da curva de indiferença, a TMST cai, indicando a limitação da produtividade dos insumos de produção. Conforme se adiciona mais de um insumo à custa da redução do outro, menor a produtividade do primeiro. Isso sinaliza que um processo produtivo, para ser eficiente, pede uma combinação equilibrada entre os insumos. Se considerarmos o acréscimo marginal de um dos insumos, ou seja, quanto se reduz no uso do capital, por exemplo, para, acrescentando uma unidade do fator trabalho, a produção manter-se constante, é possível expressar a TMST como uma função dos produtos marginais do capital e do trabalho: (6) Para compreendermos melhor esta relação, basta lembrar que o aumento do produto total, fruto do acréscimo de uma unidade do insumo trabalho (ou seja, o produto marginal do trabalho) é igual ao PMgL multiplicado pela variação do insumo trabalho: (PMgL)(DL). O mesmo se dá com o capital: (PMgK)(DK). Como a produção é constante ao longo de uma mesma isoquanta, a produção deve ser igual a zero. Assim: (PMgL)(∆L) + (PMgK)(∆K) = 0 Manipulando um pouco a equação, temos que: (7) Assim, a TMST entre os insumos capital (K) e trabalho (L) é igual à razão entre os produtos marginais destes insumos. Casos especiais da Função de Produção O que acontece quando os insumos de produção são substitutos perfeitos entre si? A Figura 5.7 mostra esta possibilidade. As isoquantas são linhas retas paralelas, com inclinação descendente, indicando que a produção de um certo bem - por exemplo, pães de forma - pode ser feita quase toda só com o capital, no ponto A - por exemplo, uma máquina de fazer pães - quase toda só com trabalho, no ponto C - um padeiro - ou com uma combinação equilibrada de ambos, no ponto B. Figura 5.7. Substitutos perfeitos E se, por outro lado, a substituição entre os insumos for impossível? A Figura 5.8 ilustra o formato destas isoquantas. Figura 5.8. Função de produção com substituição impossível entre os insumos Este tipo de função - a função de produção de proporções fixas ou de Leontief22 - mostra que só é possível aumentar o produto total - ou seja, migrar de uma isoquanta para outra - mantendo uma combinação proporcional e específica entre os insumos. Uma serra elétrica, por exemplo, só pode ser operada por um trabalhador. Seria muito perigoso um colega querer ajudá-lo ou dar a um único corajoso a possibilidade de manusear duas máquinas por vez! Assim, para dobrar a produção (corte de madeira), seria necessário dobrar ambos os insumos. A proporção fixa não precisa ser de um para um. Uma firma pode produzir um litro de suco de laranja com 10 unidades de laranja e 300 ml de água23. Rendimentos de Escala No longo prazo, quando todos os insumos são variáveis, a empresa dispõe de maior flexibilidade para decidir as combinações de insumos no objetivo de produzir mais a um menor custo. Se ela resolver aumentar a utilização de todos os fatores de produção na mesma proporção, estará alterando a escala de produção24. Os rendimentos à escala mostram, portanto, quanto o produto total crescerá diante do aumento proporcional de todos os fatores de produção. Rendimentos Crescentes de Escala: ocorrem quando um aumento de todos os fatores de produção proporciona um aumento mais que proporcional no produto total. Rendimentos Constantes à Escala: ocorrem quando um aumento de todos os insumos de produção leva a um aumento proporcional da produção. Rendimentos Decrescentes à Escala: neste caso, se os insumos de produção forem dobrados, por exemplo, o produto total menos que dobrará (ou seja, a variação será menos que proporcional). A Figura 5.9 ilustra essas três situações. A presença de rendimentos decrescentes de escala revela que os aumentos da escala de produção da empresa reduzirão a eficiência com que os fatores de produção são utilizados. Já os rendimentos constantes de escala indicam que as alterações do volume de produção da empresa não terão qualquer influência sobre a eficiência da utilização dos fatores25. Em geral, as empresas, ao longo de seu processo de crescimento, experimentam fases com rendimentos crescentes, constantes e decrescentes de escala. Para visualizar esta evolução, suponha uma pequena empresa de cosméticos que, no início de suas atividades, conte com poucos boticários e instalações modestas. Com o sucesso do produto, os empresários optam por ampliar instalações, contratar funcionários e dividir melhor as tarefas na empresa. A compra de materiais no atacado, a contratação de novos funcionários com salários coerentes aos pisos de mercado e o melhor aproveitamento do espaço conduzirá a empresa a ganhos de escala. Com o tempo, as vendas se estabelecem e o ritmo de crescimento pode manter-se constante. Já não haverá tanta economia pelas compras no atacado (pois mesmo em grandes quantidades, há um custo mínimo dos produtos que não pode mais ser reduzido) e a empresa pode apresentar rendimentos constantes à escala. Figura 5.9. Rendimentos de escala Agora suponhamos que um diretor novo assuma o controle da empresa e, por sua falta de prática diante da já grande empresa, se atrapalhe na tarefa administrativa e isso provoque algumas perdas nas negociações com fornecedores. Essa dificuldade pode se traduzir em menor fiscalização das atividades dos funcionários, redundando em queda da produtividade. Enfim, é o momento em que a empresa está crescendo de forma menos que proporcional ao aumento dos insumos. Assim, embora a tecnologia e a melhoria da produtividade possam, inicialmente, trazer rendimentos constantes ou crescentes à escala, as dificuldades de gestão e controle podem acabar conduzindo as empresas - principalmente as muito grandes - a rendimentos decrescentes de escala. Avanços tecnológicos Quando uma empresa usufrui do progresso científico, talvez pelo desenvolvimento de novas máquinas, e isto lhe traz melhorias no processo de produção, a função de produção da firma se desloca para cima. A Figura 5.10 apresenta esta situação. Figura 5.10. Avanços na tecnologia A Figura 5.10 apresentao que acontece com a função de produção de uma firma diante de um avanço tecnológico. A produção se modifica para níveis mais elevados, considerando a mesma quantidade de insumos. Há inúmeros exemplos de inovações tecnológicas que trouxeram expansão da produção em vários setores: celulares, computadores, descobertas na área agrícola, farmacêutica, entre outros. A inovação tecnológica pode se dar no produto ou no processo. Inovações de produto ocorrem quando há alterações na qualidade, composição ou características do produto. E inovações no processo, quando um novo conhecimento técnico faz com que as técnicas de produção melhorem. 6. Teoria da Firma II - Custos de Produção Introdução Dando continuidade ao estudo da Teoria da Firma, neste capítulo daremos ênfase ao outro lado das decisões da empresa em sua busca pela maximização de lucros: os custos de produção1. Assim como a firma procura maximizar a produção para dado custo total, a ela também interessa minimizar o custo total para dado nível de produção2. Que custos são estes? Soa um tanto genérico afirmar que as firmas buscam minimizar seus custos de produção. Afinal, de quais custos nos referimos? Custos Irreversíveis ou Irrecuperáveis Como o nome sugere, são os dispêndios feitos pela firma que não podem ser recuperados. É o caso das máquinas e equipamentos desenvolvidos para objetivos específicos, não tendo qualquer utilidade em outras tarefas. Por esta razão, têm custo de oportunidade igual a zero e, dessa forma, não deveriam exercer qualquer influência nas decisões da empresa, tampouco seu gasto ser considerado como parte da estrutura de custos da empresa3. A ideia por trás do conceito de custo irreversível é que, como ele já foi despendido tendo sido uma boa decisão de investimento ou não, já não há influência sobre as decisões atuais. Custos de Oportunidade Referem-se aos custos pelas oportunidades perdidas, ou por aquilo que se deixou de fazer em função de uma escolha alternativa. Os custos de oportunidade são considerados custos econômicos, pois devem influenciar nas decisões da empresa. Aplicar recursos no aumento da capacidade produtiva em vez de mantê-los rendendo juros no mercado financeiro é uma decisão que envolve importante oportunidade alternativa e deve ser levada em conta. Assim, o custo de oportunidade de algo consiste naquilo que se abre mão para adquiri-lo4. Custos Implícitos e Explícitos Os custos de oportunidade que não exigem gastos monetários são um tipo de custo implícito. Este tipo de custo é medido pelo valor, em termos monetários, de todos os benefícios dos quais se teve que abrir mão5. É possível calcular o custo de oportunidade, por exemplo, calculando o que se teria ganhado com um uso alternativo dos recursos disponíveis. Os custos explícitos, por outro lado, representam custos que necessitam desembolsos monetários. Economia X Contabilidade: a diferença entre os conceitos de custos Existe uma importante diferença entre os conceitos relativos a custos considerados pelos economistas e pelos contadores. Enquanto os primeiros preocupam-se com os custos relacionados ao uso dos fatores de produção (custos econômicos), os últimos consideram as despesas correntes e a depreciação do capital. A Tabela 6.1 faz uma comparação didática entre os custos considerados por economistas e contadores. Tabela 6.1. Custos Econômicos x Custos Contábeis 1 - Custos de oportunidade x custo contábil Economia Contabilidade Custo de oportunidade considerado importante, pois revela os custos relacionados às oportunidades alternativas perdidas quando a empresa não otimiza o uso das reservas. Custo contábil: despesas correntes + depreciação do capital. 2 - Depreciação do Capital Considera o desgaste real dos bens de capital, respeitando as diferenças entre os ativos. A legislação fiscal define a percentagem de depreciação, que pode ser lançada como custo das empresas. 3 - Custos Irreversíveis Não devem ser considerados como custos, e, portanto, não podem influenciar nas decisões da empresa. Por representarem despesas correntes, são considerados lançamentos contábeis tanto sua aquisição quanto seu desgaste (depreciação). Custos Fixos e Variáveis No curto prazo, a maior parte dos custos da empresa são fixos, ou seja, existem independentemente do nível de produção6. Essa inflexibilidade decorre de: a) rigidez do mercado de trabalho - não se contrata ou demite uma equipe de um dia para o outro; e b) necessidade de aquisição de um nível mínimo de insumos e matérias-primas. No longo prazo, a maior parte dos custos da firma é variável, ou seja, os custos variam como o nível de produção, pois o nível de compras dos insumos é mais bem adaptado à produção e à venda da empresa, os trabalhadores podem ser desligados, o maquinário desnecessário pode ser vendido e outros adquiridos. O custo total é a soma do custo fixo e o variável. A classificação dos custos como fixos e variáveis é importante na tomada de decisão das empresas, pois, quando há intenção de ampliar ou reduzir o nível de operação, as medidas são diferentes de acordo com o horizonte temporal considerado. Por exemplo, no curto prazo pode-se negociar preços dos insumos e realizar programas de aumento de produtividade; no longo, estabelecer com mais clareza a real necessidade de equipamentos, instalações ou contratações e demissões. Lucro O objetivo principal das empresas é maximizar lucros. A definição de lucro é a diferença entre a receita total - montante recebido pela empresa pela venda de seus produtos - e a despesa total - gastos totais, sejam custos fixos, sejam variáveis. LucroTOTAL = Receita TOTAL - Despesa TOTAL L = RT - CT (1) A receita é calculada a partir da multiplicação do preço pela quantidade vendida. Já o custo total é a soma dos custos fixos com os variáveis. Na determinação dos custos totais é importante que se certifique que todos os fatores de produção usados pela empresa foram considerados, incluindo o pro labore do administrador. Todos os insumos e produtos devem ser avaliados em termos de custo de oportunidade7. Custo Médio e Marginal O custo marginal (CMg) é o custo incremental gerado pela produção de uma unidade adicional de produto. Como o custo fixo - como o próprio nome sugere - não se altera, o custo marginal representa o aumento incremental do custo variável quando a produção aumenta em uma unidade. O custo marginal pode ser apresentado em termos algébricos: (2) Observe que como ∆CF=0 (o custo fixo não se modifica com o nível de produção), ∆CV=∆CT (a variação do custo variável é igual à variação do custo total). O custo médio (CMe) ou custo total médio (CTMe) é o custo total dividido pelo volume de produção, representando o custo por unidade de produto. Ele se divide em: Custo Fixo Médio (CFMe): custo fixo dividido pelo nível da produção: (3) Custo variável médio (CVMe): custo variável dividido pelo nível da produção: (4) A Tabela 6.2 apresenta uma estrutura de custos hipotética de uma pequena empresa fabricante de tênis, a Delta Shoes. Tabela 6.2. Estrutura de Custos da Delta Shoes Quantidade produzida de pares de tênis/dia Custo Fixo (u.m.) Custo Variável (u.m.) Custo Total (u.m.) CFMe (u.m. por unidade) CVMe CTMe CMg (u.m. por unidade) 0 5 0 5 - - - - 1 5 10 15 5,00 10,00 15,00 10 2 5 18 23 2,50 9,00 11,50 8 3 5 24 29 1,67 8,00 9,67 6 4 5 28 33 1,25 7,00 8,25 4 5 5 32 37 1,00 6,40 7,40 4 6 5 38 43 0,83 6,33 7,17 6 7 5 46 51 0,71 6,57 7,29 8 8 5 56 61 0,63 7,00 7,63 10 9 5 68 73 0,56 7,56 8,11 12 10 5 82 87 0,50 8,20 8,70 14 Análise de Curto Prazo No curto prazo, pelo menos um fator de produção é fixo, de maneira que o nível de produto final só pode ser aumentado ou diminuído modificando-se o uso do fator variável. Supondo x1F o fator fixo - instalações da empresa - e x2 o fator variável - mão de obra - a função de produção pode ser assim representada: q = f(x1F, x2) Aqui entra em vigor a lei dos rendimentos decrescentes do fator variável. Como visto no capítuloanterior, quando o produto marginal do fator variável apresenta trajetória de queda - situação inevitável e comum quando a firma só pode ampliar sua capacidade aumentando a contratação de novos funcionários - ocorrem rendimentos decrescentes. Em decorrência disto, o custo total e o custo variável subirão conforme o nível de produção aumenta. Considerando que o custo do trabalho é sua remuneração (salário, w), o custo marginal pode ser assim calculado: (5) (6) sendo ∆L a variação ao fator trabalho (ou a quantidade extra de mão de obra). As expressões acima informam que o custo marginal é a variação do custo variável gerada pela variação do produto total, ou, ainda, que o custo marginal é o custo unitário do trabalhador adicional, a saber, seu salário variável multiplicado pela quantidade adicional de mão de obra ∆L. No capítulo anterior, vimos o conceito de produto marginal do trabalho, PMgL, como sendo a mudança no produto total trazido pelo aumento em uma unidade de insumo trabalho (ou seja, a contratação de uma pessoa a mais):8 (7) Para que uma unidade adicional seja produzida: (8) Substituindo (4) em (2): (9) A equação 9 diz que, considerando a existência de apenas um insumo variável, o custo marginal é igual ao seu preço (aqui, salário) dividido por seu produto marginal. Se o PMgL for baixo, muito trabalho adicional será necessário para que o produto total aumente, resultando em alto custo marginal. Se o PMgL for alto, poucas contratações são necessárias para elevar o nível de produção e o custo marginal é baixo. A lei dos rendimentos marginais decrescentes diz que conforme se aumenta o insumo trabalho, o produto marginal cai e, por conseguinte, os custos marginais aumentam. Na Tabela 6.2, observe que o custo marginal cai entre os níveis de produção entre 0 e 4 unidades, aumentando em seguida, atestando a validade da lei dos rendimentos marginais decrescentes. As Curvas de Custo Curva de custo total A Figura 6.1 apresenta os dados da quarta coluna da Tabela 6.2. Figura 6.1. Curva esquemática de custo total da Delta Shoes Observe que a inclinação da curva aumenta à medida que o nível de produção se eleva, indicando a presença da lei dos rendimentos marginais decrescentes. A contratação de novos trabalhadores tem um custo cada vez maior. Curvas de custo fixo, variável e total A Figura 6.2 apresenta os dados das colunas 2, 3 e 4 da Tabela 6.2. A curva de custo fixo é uma linha reta pois, como visto, ele não se altera com a variação da quantidade produzida. Figura 6.2. Curvas de custo fixo, variável e total Como o custo variável depende do nível de produção, quando este é zero, o custo variável também é. À medida que o nível de produção aumenta, o custo variável também cresce. O custo total é a soma vertical das curvas de custo variável e custo fixo. Ela começa em 5, indicando que mesmo com produção igual a zero, os custos fixos devem ser considerados. Seu formato acompanha a curva de custo variável, mantendo uma distância vertical de 5 unidades monetárias. Observe que a partir de determinado ponto, as curvas de CV e CT crescem a taxas crescentes. Isso significa que, considerando a planta de operação da firma como fixa, o aumento da produção, até certo ponto, ocorre a custos decrescentes. Mas uma expansão mais intensa da produção pode saturar os equipamentos e o crescimento dos custos se fará a taxas crescentes, refletindo a lei dos custos crescentes. Produtividades crescentes estão ligadas a custos decrescentes e vice-versa9. Curvas de custo médio A Figura 6.3 apresenta os interessantes formatos das curvas de custo médio (total, variável e fixo). Figura 6.3. Custos Médios - Fixo, Variável e Total A curva de custo fixo médio (CFMe) é declinante em toda sua extensão, indicando que, conforme a produção aumenta, menor é o custo fixo por unidade produzida. A curva de custo variável médio inicia declinando porque as primeiras contratações resultam em um produto marginal positivo, reduzindo o custo por unidade produzida. Mas na medida em que apenas o insumo trabalho é modificado, a lei dos rendimentos marginais decrescentes entra em vigor e os custos começam a subir. A curva de custo total médio tem o formato de “U”10. Para compreendermos melhor, vamos a um exemplo. Suponha que uma pequena empresa “recém-nascida”, a Alfa Shoes, pretenda competir futuramente com a Delta Shoes e inicie sua produção de tênis. Ela começará produzindo apenas uma unidade por semana e seus custos variáveis médios corresponderão ao custo variável da produção deste único par de tênis. Bem-sucedida, a empresa aumenta sua produção para duas unidades por semana. Como ainda não é necessário contratar uma nova costureira para fabricar apenas duas unidades, os custos variáveis médios caem. Supondo que Alfa Shoes permaneça em sua trajetória expansiva, passando a contratar mais funcionários e, como não poderá alterar suas instalações no curto prazo, os fatores fixos acabam restringindo o processo produtivo. Já os custos fixos do Alfa Shoes caem conforme ela expande sua produção. Por essa razão, a curva de CFMe é declinante. A Figura 6.4 abaixo mostra, de forma esquemática, a construção da curva de custo médio11. Figura 6.4. Curvas de custo Em A, o custo fixo médio diminui quando a produção aumenta. Em B, a curva de custo variável começou declinante, mas em seguida ascende, indicando que os custos variáveis médios podem crescer com o aumento da produção. Em C, a curva do custo total médio é construída a partir da combinação das duas anteriores, resultando numa curva em forma de U. O declínio inicial dos custos médios ocorre em função da queda dos custos fixos médios. O aumento que se verifica a seguir resulta do crescimento dos custos variáveis médios. E o resultado é a curva em U do custo total médio. Curva de custo marginal A maioria das curvas de custo marginal de curto prazo também tem a forma de U, já que, graças aos ganhos de produtividade observados na contratação dos primeiros funcionários, o custo marginal das primeiras unidades de produção é decrescente. Para níveis superiores de produção, o custo marginal torna-se crescente. Figura 6.5. Custo marginal Comparando as curvas de custo Os gráficos abaixo foram construídos a partir dos dados da Tabela 6.2 e representam as curvas estudadas até aqui. Figura 6.6. Curvas de custo Várias são as considerações e relações entre as curvas representadas nos gráficos acima. Para efeitos didáticos, a apresentação será feita por etapas para, em seguida, ser resumida em uma tabela. Relação entre custo marginal e médio Estas curvas são intimamente relacionadas. Eis algumas importantes inferências: • Quando o custo marginal é menor que o custo total médio, o custo médio está declinando. • Quando custo médio é menor que o custo marginal, o custo médio está aumentando. • No ponto em que o custo marginal é igual ao custo médio, a curva de custo médio tem inclinação igual a zero12. • A curva de custo marginal cruza a curva de custo total médio e a curva de custo variável médio em seu ponto de mínimo13. Neste ponto, a curva de custo marginal encontra-se em sua fase crescente. • No ponto inferior da curva de custo médio em forma de U, CMg=CMe, no ponto de mínimo do CMe. Esta relação é essencial, pois uma firma, ao procurar o menor custo médio de produção, deve saber qual o nível de produção em que os custos marginais sejam iguais aos custos médios (variáveis ou totais)14. Custos no Longo Prazo A flexibilidade da empresa na tomada de decisões relativas aos gastos aumenta consideravelmente no longo prazo15, pois torna-se possível intensificar o uso de todos os insumos de produção na ampliação da capacidade produtiva. Vejamos como a empresa define a combinação dos insumos visando minimizar os custos totais de produção, analisando a relação entre o volume de produção e os custos no longo prazo. Custo de Utilização dos Ativos de Capital No processo produtivo, as empresas necessitam realizar investimentos na aquisição ou locação de máquinas,equipamentos e instalações. Para uma análise sobre este tipo de gasto - os custos de uso do capital - será necessário presumir que todo capital é alugado. O valor dos bens de capital adquiridos deve ser amortizado ao longo de sua vida útil. Essa amortização, feita periodicamente (a cada ano, por exemplo), corresponde à depreciação econômica do capital. Além da depreciação, o custo de oportunidade também deve ser considerado, ou seja, o quanto se deixou de ganhar por não usar o recurso despendido em outros investimentos com risco similar. Assim, o custo de uso do capital consiste na soma da depreciação econômica mais o custo de oportunidade, medido pela multiplicação da taxa de retorno esperado com a aplicação financeira alternativa pelo valor do capital16. O custo de uso do capital pode ser expresso como uma taxa por unidade monetária investida em capital: r = taxa de depreciação + taxa de juros Para ilustrar, suponha que uma papelaria tenha adquirido uma máquina fotocopiadora automática por R$ 100.000,00, prevista para durar dez anos. Se a papelaria tivesse usado aquele recurso em aplicações no mercado financeiro, teria tido um retorno médio de 5% ao ano. O custo de uso do capital no primeiro ano17 é de: Minimização de Custos Uma das decisões mais cruciais das empresas consiste em definir a melhor combinação de insumos que resulte em um certo nível de produção com o menor custo possível. Por simplificação, considere dois insumos: trabalho (em horas trabalhadas por ano) e capital (em horas de uso do equipamento por ano). A quantidade a ser empregada destes insumos depende de seus preços, seja a remuneração do trabalho (salário), seja o custo de uso do capital. O custo de uso tanto pode ser o equivalente à taxa de juro, conforme explicado no item anterior, quanto a taxa de locação, definida como o custo de seu arrendamento anual. Considera-se que o mercado de ambos os fatores de produção - mercado de trabalho e mercado de capital - são competitivos, ou seja, que seus preços não são afetados pelas decisões da empresa em análise. Feitas estas colocações, algumas simplificações serão adotadas para facilitar o estudo a partir deste ponto: 1. Não faremos distinção entre capital adquirido ou alugado. Todo capital adquirido será considerado como se tivesse sido arrendado, com uma taxa equivalente ao custo de uso do capital. 2. As empresas tratam todo custo irreversível como um custo fixo que é dispersado com o passar dos anos. Linhas de Isocusto As linhas de isocusto mostram todas as combinações possíveis de trabalho e capital que representam, para afirma, o mesmo custo total18. Recorde que a curva de custo total representa a soma dos custos de trabalho wL e capital rK (sendo w, salários, L, mão de obra; r, taxa de uso do capital, e K, capital): c = wL + rK (10) Para cada nível de custo total, há uma linha de isocusto distinta representada pela equação (10). A Figura 6.7 apresenta linhas de isocusto. Cada uma delas indica combinações possíveis de capital e trabalho que podem ser adquiridas com o respectivo custo total. Figura 6.7. Linhas de Isocusto Observe que a combinação indicada no ponto A representa uma certa combinação de insumos que resulta na quantidade produzida q1, a um custo total C2. Já as combinações B e C representam a mesma quantidade produzida q1, mas a custos superiores, indicados pela isocusto C3. Como os preços dos fatores de produção são dados, isocusto tem inclinação negativa, o que significa que se a empresa optar por aumentar a contratação de um dos insumos de produção, deverá reduzir a quantidade utilizada do outro, mantendo constante o gasto total19. Retomemos a equação do custo total e vamos manipulá-la convenientemente: Nesta apresentação, fica mais simples compreendermos a representação gráfica da isocusto: (11) • Coeficiente linear ou intercepto: • Coeficiente angular ou inclinação: , que equivale à , a razão entre a remuneração do trabalho (w) e o custo do uso do capital (r). Tal inclinação nos mostra que o custo total não se modifica quando a empresa deixa de gastar w com uma unidade de trabalho para aumentar o equivalente a r unidades monetárias em capital. Confuso? Então vamos a um exemplo. Suponha que a remuneração diária de um trabalhador fosse R$ 80,00 e o custo diário de locação da máquina necessária à produção fosse de R$ 20,00. A empresa pode reduzir a contratação de um trabalhador naquele dia e quadruplicar o número de máquinas sem alteração do custo total. otimização Definido o nível de produção, como encontrar o ponto nesta isoquanta que representa uma combinação de insumos cujo custo total seja o menor possível? Em outras palavras, como atingir um nível de produção minimizando os custos totais? Vejamos a Figura 6.8. Figura 6.8. Minimização de custos Ao nível do orçamento C1, a firma não é capaz de adquirir uma combinação de insumos que resulte no nível de produção q1. Este só é possível em isocustos iguais ou superiores (mais distantes da origem) a C2. Isocustos mais elevadas que C2, no entanto, representam custos totais maiores. Como o intuito é atingir o nível de produção q1 com o menor custo, a isocusto escolhida será a C2. A minimização de custos será obtida no ponto em que a isoquanta q1 tangenciar a isocusto, ou seja, no ponto A. Note que, neste ponto, as inclinações da isocusto e da isoquanta - esta medida pela TMST - coincidem. Este ponto é também chamado de Equilíbrio do Produtor. Há uma combinação ótima dos fatores de produção, já que, dados os custos, a quantidade produzida é maximizada20. Quando o preço de um dos insumos se altera, muda também a relação entre eles, de maneira que a inclinação da isocusto se modifica. A lógica é a mesma utilizada na teoria do consumidor, quando a reta de restrição orçamentária ficava mais ou menos inclinada, de acordo com o preço dos bens que compunham a cesta do consumidor. A Figura 6.9 mostra esta alteração, considerando um aumento no insumo trabalho. Figura 6.9. Aumento do preço do insumo trabalho Observe que, como o gasto com o trabalho aumentou, a firma opta racionalmente pela redução do uso do insumo trabalho (de L1 para L2), substituindo-o por mais unidades de capital (de K1 para K2) e, desta forma, mantém o mesmo nível de produção q1. E, falando em substituição de insumos, recorde que a TMST de capital por trabalho equivale à inclinação da isoquanta com sinal negativo21: (12) E, como visto no capítulo anterior, a TMST equivale à razão entre os produtos marginais do trabalho e do capital: (13) Visto que a inclinação da isocusto é dada por ou , quando uma empresa minimiza o custo de produção, temos que: Inclinação da isocusto = Inclinação da isoquanta = No ponto de tangência entre a isoquanta e a isocusto, as inclinações de ambas se igualam. Logo: Ou, rearranjando: (14) O que representa esta equação? 1) indica o produto marginal do trabalho (PMgL), ou seja, o produto adicional resultante do gasto de uma unidade monetária adicional com o insumo trabalho (w). 2) indica o produto marginal do capital (PMgK), ou seja, o produto adicional resultante do gasto de uma unidade monetária adicional com o insumo capital (r). Supondo w = 50 e PMgL, em determinado nível de produção, igual a 100, ou seja, a contratação de um trabalhador adicional por $ 50,00 gera um aumento na produção em 100 unidades. Assim, o produto adicional por unidade monetária gasta em trabalho será: Considere ainda que r = 25 e que uma unidade a mais de capital proporcione um aumento do produto também de 100 unidades. Então, temos que: Já que uma unidade monetária adicional gasta em capital produz duas vezes mais que a unidade gasta em trabalho, a empresa escolherá uma combinação de insumos com mais capital e menos trabalho. Ocorre que essa relação se modifica com o tempo, pois o uso de menos unidades de trabalho torna a PMgL maior, o que fará a empresa, num segundo momento, optar por uma quantidade menor de capital e maior de trabalho. A conclusão é que a empresa minimizaráseu custo de produção no ponto onde a produção de uma unidade adicional custará o mesmo, independentemente do insumo a ser acrescentado22. Uma empresa minimizadora de custos escolhe a combinação de insumos de produção de tal maneira que a última unidade monetária despendida em qualquer um dos insumos adicionados ao processo produtivo resulte na mesma quantidade de produto marginal, ou seja, . Caminho de Expansão Como os custos da empresa dependem do nível de produção? Para responder a esta pergunta e sabendo que a empresa minimiza seus custos no ponto de tangência entre a isoquanta e a isocusto, considere a Figura 6.10, representativa de diferentes isoquantas e isocustos, cada uma mostrando um nível diferente de produção e custos. Figura 6.10. Caminho de expansão Os pontos A, B e C representam a minimização de custos para cada nível de produção q1, q2 e q3. O caminho de expansão é a reta que passa pelos pontos A, B e C, mostrando as combinações de trabalho e capital para os quais a empresa minimiza seus custos em cada nível de produção no longo prazo. Custo Total e Médio de Longo Prazo O comportamento das curvas de custo total e médio de longo prazo está diretamente ligado ao tamanho da planta adotada para a operação. Para cada tamanho escolhido, haverá um custo total de curto prazo (CTCP) e um custo total de longo prazo (CTLP), bem como um custo médio de curto prazo (CMeCP) e um custo médio de longo prazo (CMeLP) que otimizarão a quantidade produzida. Veremos que, para cada nível ótimo de produção, os custos totais e médios de curto e longo prazos serão iguais23. A relevância do estudo das curvas de custo médio é maior do que as de custo total e, por essa razão, daremos mais ênfase à primeira. Vimos que, no curto prazo, a curva de custo médio tem formato de U. No longo prazo, o formato de U permanece24, mas por razões distintas25. A diferença entre o curto e o longo prazo está na flexibilidade da empresa. No curto prazo, ela poderá alterar seus insumos variáveis. No longo prazo, poderá alterar ambos. Assim, o caminho de expansão de longo prazo é uma linha reta que passa pela origem, como visto na Figura 6.10. A Figura 6.11 apresenta o caminho de expansão para o curto e o longo prazo. Figura 6.11. Caminho de expansão no curto e no longo prazo No curto prazo, o capital (K) é fixo e o custo de produção não pode ser minimizado. O nível de produção original está representado pela isoquanta q1. No curto prazo, a expansão só pode ocorrer se o insumo trabalho subir de L1 para L3, pois K está fixo em K1. Observe que este novo nível representa um custo igual a C3, a isocusto mais distante da origem. Já no longo prazo, como ambos os insumos são flexíveis, o mesmo nível de produção q2 pode ser atingido com o menor custo, equivalente à isocusto C2, com capital igual a K2 e trabalho igual a L2. Escala mínima eficiente É possível quantificar a extensão das economias de escala na produção de determinado bem a partir da definição de sua escala mínima eficiente de produção. A escala mínima eficiente é conceituada como o nível de produção em que as economias de escala são esgotadas26. Graficamente, é a quantidade na qual a curva de custo médio de longo prazo se torna horizontal27(ponto D na Figura 6.12). Figura 6.12. Curva de custo médio de longo prazo com escala mínima eficiente evidenciada Quando uma empresa inicia seus trabalhos produzindo uma quantidade inferior que a escala mínima eficiente, como no ponto A, um aumento na produção - para B - reduz seu custo médio de longo prazo. Uma vez atingida a escala mínima eficiente - ponto D - um aumento na produção não diminui mais o custo médio de longo prazo. Custo Médio e Marginal Estando convencidos de que a flexibilidade da empresa aumenta no longo prazo, permitindo que ela reduza seus custos unitários, passemos à análise das curvas de custo médio (CMe) e custo marginal (CMg) no longo prazo. A escala de operação da firma e a quantidade necessária de insumos capital e trabalho para minimizar custos são os principais determinantes do formato das curvas de longo prazo. Situações possíveis: 1) Produção com rendimentos constantes de escala em todos os níveis: a duplicação dos insumos resulta na duplicação da produção. Com preços constantes dos insumos, o custo médio é o mesmo, independentemente da quantidade produzida. 2) Produção com rendimentos crescentes de escala: a duplicação dos insumos gera um crescimento de mais do que o dobro do nível de produção. O custo médio cai com o aumento da produção. 3) Produção com rendimentos decrescentes de escala: a duplicação dos insumos leva a um crescimento de menos do que o dobro do nível de produção e o custo médio se eleva com o aumento da produção. No longo prazo, a maioria das empresas dispõe de tecnologia de produção que inicialmente apresenta rendimentos crescentes de escala, depois rendimentos constantes e, depois, decrescentes de escala. A curva de custo médio de longo prazo (CMeLP), assim como a de curto prazo, tem formato de U em razão dos rendimentos crescentes (fase declinante da curva) e decrescentes (fase ascendente da curva) de escala. Curvas de Custo Médio: • A curva de custo médio de curto prazo (CMeCP) tem formato de U em razão, principalmente, da vigência da lei dos rendimentos decrescentes do fator variável. • A curva de custo médio de longo prazo (CMeLP) tem formato de U por causa dos rendimentos crescentes e decrescentes de escala. A Figura 6.13 apresenta a curva de custo médio de curto prazo e a de longo prazo28. Figura 6.13. Curvas de custo médio A curva de custo médio de curto prazo deve tangenciar a curva de custo médio de longo prazo. Como há vários tamanhos possíveis de fábricas, é necessário escolher, no curto prazo, qual curva apresenta o menor custo de produção. Suponha que um empresário, tentando definir sua curva de custo, disponha de apenas cinco escolhas diferentes. A Figura 6.14 apresenta cinco curvas de CMe associadas a diferentes tamanhos de fábricas. Figura 6.14. Curvas de custo médio para diferentes tamanhos de fábricas Para encontrarmos a curva de custo médio de longo prazo, basta verificarmos qual das curvas equivale ao custo mínimo associado à obtenção de um determinado nível de produção. A curva de custo médio de longo prazo será a envoltória inferior das curvas de custo médio de curto prazo (Figura 6.15). Figura 6.15. Curva de custo médio de longo prazo Observe que no ponto A, a curva de CMeCP tangencia a curva de CMeLP no ponto mínimo desta. Essa “coincidência” revela algo importante: o nível de produção q* é tanto a dimensão ideal para a fábrica quanto o nível de produção ótimo para esta dimensão ideal, já que, nestes pontos mínimos, o CTMeCP é igual ao CTMeLP29. Custos Marginais no Longo Prazo A curva de custo marginal de longo prazo (CMgLP) mede a variação dos custos totais de longo prazo conforme a produção aumenta. Dessa forma, ela não é, como a curva de CMeLP, uma envoltória das curvas de custo marginal de curto prazo (CMgCP). Para construirmos a curva de CMgLP, observamos primeiro as curvas de CMeCP e cada CMgCP a elas associado30. O CMgLP, para qualquer nível de produção, deve ser igual ao CMgCP associado à dimensão ideal da fábrica que objetiva produzir y. Em outras palavras, a curva de CMgLP é formada pelos pontos das curvas de CMgCP que indicam o nível ótimo de produção relativo a cada tamanho ideal de fábrica31. O traçado das curvas de CMgCP, CMgLP e CMeCP associados a apenas um tamanho da firma, para facilitar a compreensão, é apresentado na Figura 6.1632. Figura 6.16. Curvas de custo médio e marginal de curto e longo prazos Economias e Deseconomias de Escala Na análise da relação entre custos e escala de produção, é importante considerar que, ao se modificar as proporções entre os insumos, o caminho de expansão não é uma linha reta e os conceitos relativos a rendimentos de escala não são aplicáveis33. Em vez disso nos referimos a economias ou deseconomias de escala. O formato da curva de custo médiode longo prazo nos traz informações acerca da tecnologia aplicada na produção34. Quando o CMeLP cai para níveis crescentes de produção, há economias de escala. Nesta situação, a empresa consegue duplicar a produção menos que dobrando seus custos35. Quando o CMeLP aumenta quando a produção aumenta, há deseconomias de escala. Neste momento, a duplicação da produção representa custos mais do que dobrados36. As economias de escala podem abranger rendimentos de escala, mas atenção para a diferença dos conceitos. As economias de escala permitem que as combinações entre insumos se modifiquem, conforme o nível de produção cresça. Isso condiz com o formato de U da curva de custo, pois a firma pode desfrutar de economias de escala para níveis menores de produção e deseconomias para níveis mais elevados. Os rendimentos de escala ocorrem quando os insumos são dobrados e isso resulta em aumento de mais do que o dobro da produção. Já as economias de escala ocorrem quando é possível dobrar a produção com um aumento de menos do que o dobro dos custos. 7. Intervenção do Estado na Economia Até aqui, estudamos o funcionamento das forças de oferta e demanda. Vimos como chegar ao equilíbrio onde preços e quantidades são determinados. Neste capítulo, passaremos a estudar a intervenção do governo na economia via política de controle de preços, e de quantidades e impostos. A primeira pergunta que o leitor atento deve-se fazer neste momento é: é conveniente que o Estado intervenha na economia? Para os teóricos clássicos, a resposta seria negativa. Segundo eles, a presença do Estado impõe distorções. Neste capítulo, porém, veremos que, apesar da imposição de distorções, a intervenção governamental pode ajudar a corrigir ou pelo menos a minimizar flutuações econômicas que trazem efeitos indesejados para o mercado. Política de Controle de Preços Estudamos nos capítulos anteriores que o mercado se move para o equilíbrio, ou seja, o preço se ajusta para igualar a oferta e a demanda de bens. O equilíbrio, no entanto, nem sempre é sinônimo de satisfação. Os consumidores, se pudessem, pagariam menos pelos produtos demandados, ao passo que os vendedores desejariam receber mais. Se estes agentes tiverem argumentos morais ou políticos convincentes (como, por exemplo, reduzir o impacto da especulação imobiliária, melhorar o nível de salários, aumentando o consumo agregado da economia, etc.), podem pressionar o governo para que este realize algum tipo de intervenção. Quando o governo intervém na economia, regulando seus preços, ele está impondo uma política de controle de preços. Esta política pode ser no sentido de impor os preços mínimos, ou seja, um piso para os preços, ou preços máximos, um teto1. Veremos que ao intervir na economia, efeitos indesejados são inevitáveis. O estudo que se seguirá assume, por hipótese, que os mercados estão em concorrência perfeita2. Política de preços mínimos A fixação ou a garantia de preços mínimos ou de pisos para preços tem por objetivo proteger o produtor - em geral o produtor agrícola - das flutuações econômicas que possam provocar, por exemplo, queda intensa nos preços de seus produtos ou simplesmente garantir-lhe uma renda mínima3. Suponha, inicialmente, que, por qualquer razão, o preço de um determinado produto agrícola tenha sofrido forte redução. Caso não haja intervenção do governo neste mercado, a receita dos agricultores pode vir a diminuir consideravelmente, dependendo da elasticidade da demanda. Se, como em geral acontece, a demanda deste produto for inelástica em relação ao preço, o agricultor que dependa da venda deste produto pode vir a sofrer perdas. Essa variação nos preços deste bem agrícola específico, dependendo do tamanho do mercado que este produtor ou este grupo de produtores atende, pode também influenciar outros mercados agrícolas. Ao observar a queda de sua renda, os produtores deste primeiro bem provavelmente pensarão duas vezes antes de insistir na continuidade da produção. No momento da decisão acerca do que plantar, eles poderão migrar para outra cultura. A consequência será a redução da oferta do primeiro bem, o que causará aumento de seu preço. Haverá, por outro lado, aumento da oferta deste outro produto. Se todo grupo de agricultores pensar da mesma forma, haverá escassez no mercado do primeiro bem e excesso do segundo bem, com queda de preços. Essa movimentação caracteriza a flutuação econômica de curto prazo. É aqui que, muitas vezes, há pressão para a intervenção governamental4. Com o objetivo de minimizar tais flutuações o governo pode intervir no mercado fixando preços mínimos para um determinado bem, por exemplo, a soja. Dessa forma, garantirá aos produtores uma remuneração mínima. A Figura 7.1 apresenta esta situação. O preço de equilíbrio é representado por P* e o preço mínimo por PMín. Figura 7.1. Preço mínimo abaixo do preço de equilíbrio Quando o preço mínimo é menor que o preço de mercado, como na Figura 7.1, a política de preços mínimos não é efetivamente utilizada, pois, neste caso, o produtor é convencido a vender diretamente ao mercado para receber um preço maior por unidade vendida em vez de recorrer ao governo para receber PMín por unidade. Não há vantagem prática da política de preços mínimos nesta situação, salvo por algum tipo de efeito psicológico, já que se garante certa proteção contra uma queda acentuada nos preços. Caso o preço mínimo estabelecido pelo governo seja maior que o preço de mercado, a política apresentará seus efeitos. Observe na Figura 7.2 que haverá excesso de oferta. Nesta situação, os produtores evidentemente vão preferir vender ao preço estabelecido pelo governo, já que ele é superior ao de equilíbrio de mercado. A este preço, a quantidade ofertada será Q S. Já a quantidade demandada será Q D. Verifica-se, portanto, um excesso de oferta dado pela diferença Q S-Q D. Figura 7.2. Preço mínimo acima do preço de equilíbrio O excedente é um efeito indesejado desta política. Não basta ao governo determinar a imposição de um preço mínimo. Ele precisará garantir que aquela oferta de produtos será efetivamente vendida, para que os produtores recebam a renda almejada. Nova intervenção, portanto, se fará necessária. Ela poderá assumir a forma de um programa de compras ou de um programa de subsídios. Vejamos cada um deles. Programa de compras Aqui, o governo intervém no mercado adquirindo o excedente indicado na Figura 7.3 ao preço mínimo por ele determinado. Observe as alterações na curva de demanda decorrentes desta intervenção. Como o próprio governo tornou-se, junto com a população, um comprador do bem, ele vai provocar um deslocamento da curva de demanda para cima e para a direita. Lembre- se que a curva de demanda de mercado é a somatória das curvas de demanda individuais, que, aqui, são representadas pela demanda da população e pela demanda do governo. Um novo equilíbrio é estabelecido no ponto B com uma quantidade Q S e um preço PMín. Figura 7.3. Programa de compras Como medir o benefício gerado aos produtores? Por meio do cálculo da área delimitada pelos pontos PMín, Q S e o ponto de origem do gráfico. Assim: RT = PMínQs A área que representa a receita total dos produtores está representada na Figura 7.4 e, se representada por todos os pontos que delimitam a área, será dada por: RT = OPMínBQ S Figura 7.4. Receita total dos produtores - Programa de compras Esta política trouxe apenas benefícios? Não. Também há gastos do governo que antes da política não havia, representados pela área Q DABQ S (Figura 7.5). Figura 7.5. Gastos do governo - Programa de compras Observe ainda que ao preço PMín há menos consumidores dispostos a comprar o produto (Q D<Q*), pois o preço está superior ao de equilíbrio de mercado. O resultado da política é que o produtor aumentou seu excedente, o consumidor teve seu excedente reduzido e o governo efetuou gastos com a compra dos excessos. Programa de subsídios Neste tipo de intervenção, os preços serão comercializados conforme as regras do mercado, ouseja, se sofreram redução brusca ou não, será este o preço efetivamente comercializado. Os consumidores adquirirão o produto a um preço menor, portanto, que o preço de equilíbrio inicial, conforme mostra a Figura 7.6. O governo, a fim de manter a receita dos produtores, lhes pagará um subsídio, sendo este calculado pela diferença entre o preço de mercado e o preço mínimo por ele estabelecido anteriormente. Figura 7.6. Gastos do governo - Programa de subsídios A receita total dos produtores será representada pela área hachurada da Figura 7.7 que liga os pontos O, PMín, B e Q S. O governo terá gastos representados pela área P1PMínBA, ao passo que os consumidores gastarão o equivalente à área O P1AQ S5. Figura 7.7. Receita total - Programa de subsídios Neste tipo de política, os consumidores adquirem quantidades maiores do que no programa de compras, os produtores recebem quantia equivalente e o governo também necessita realizar gastos que serão tanto maiores quanto mais inelástica for a demanda. O governo deve decidir qual o programa adotar. Para isso, respeitando a lógica da economicidade, deverá analisar a elasticidade da demanda pelo produto cujo preço foi protegido, para definir o tipo de programa a ser adotado. Evidentemente, deverá optar pelo programa que lhe represente menor despesa. Primeiro caso: demanda preço-inelástica - programa de compras Na presença de uma demanda preço-inelástica, o governo deverá optar pelo programa de compras. Observe a Figura 7.8 para verificar, visualmente, que seus gastos serão menores com a adoção do programa de compras do que com a opção pelo programa de subsídios. Figura 7.8. Gastos do governo - Programa de compras e de subsídios Uma demanda preço-inelástica significa, na prática, que os consumidores não são tão sensíveis a variações nos preços do produto. Assim, manter o preço em PMín não reduzirá tão bruscamente a demanda dos consumidores e, portanto, não causará tantos gastos ao governo. A receita total dos produtores com o aumento do preço é representada pela área P1, PMín PA (Figura 7. 9). Figura 7.9. Receita total dos produtores com demanda preço-inelástica: programa de compras Segundo caso: demanda preço elástica - programa de subsídios Aqui, os consumidores se mostram muito mais sensíveis à variação de preços. Portanto, insistir num programa de compras que mantenha o preço ao nível PMín representará uma queda considerável das compras da população, aumentando muito a despesa governamental. Fica claro, portanto, que a adoção do programa de subsídios aqui será mais conveniente. A redução dos preços terá o efeito de estimular a demanda, que passará a ocorrer no nível Q S. A Figura 7.10 apresenta os gastos do governo representados pela área P1PMínBA e os gastos dos consumidores, pela área OP1AQ S. A receita dos produtores é representada por toda a área OPMínBQ S. Figura 7.10. Gastos do governo e dos consumidores com demanda elástica: programa de subsídios A ineficiência da Política de Preços Mínimos Vimos que a imposição de preços mínimos em patamares superiores ao preço de equilíbrio ao de mercado gera excedentes de produção. A menos que nova intervenção aconteça (caso que acabamos de estudar), haverá ineficiências: a) alocação ineficiente das vendas entre os ofertantes6; b) desperdício de recursos; c) possível burla de um grupo de vendedores, que eventualmente comercializem seus produtos por preços menores que o estabelecido pelo governo para abocanhar uma fatia maior do mercado7. Aplicação - Salário Mínimo Uma aplicação interessante à política de preços mínimos é o salário mínimo. Sabemos que o salário mínimo é determinado pelo governo para garantir aos trabalhadores uma remuneração mínima. Na ausência de salário mínimo, o mercado de trabalho funciona como um mercado qualquer sujeito a ação das forças de oferta e demanda por mão de obra. Na teoria clássica, o sistema de preços é flexível e se ajusta para garantir o equilíbrio entre oferta e demanda. Aqui também o preço da mão de obra, ou seja, sua remuneração, se ajusta para determinar o nível de emprego de equilíbrio. A determinação, por parte do governo, de um salário mínimo acima do ponto de equilíbrio de mercado resulta na geração de um excedente de mão de obra, já que, a este salário, haverá mais pessoas ofertando mão de obra do que vagas de emprego8. Conforme a Figura 7.11, o resultado da obrigatoriedade do salário mínimo é o aumento da remuneração dos trabalhadores que conseguem vagas, representados pela quantidade Q D, com o consequente desemprego do grupo de trabalhadores que não conseguem vagas a este nível de salário9. O salário mínimo traz, portanto, vantagens e desvantagens. Se, por um lado, garante uma remuneração mínima adequada ao trabalhador ou pelo menos suficiente para a sua subsistência - já que em geral o salário mínimo é calculado a partir das necessidades básicas de consumo de um indivíduo - ele também traz o inconveniente de aumentar o nível de desemprego da economia. Por esta razão, há um debate a respeito da eficácia de se estipular este tipo de proteção trabalhista. Grupos de trabalhadores podem preferir receber um salário menor, em vez de correrem o risco de ficar desempregados. Figura 7.11. Salário mínimo Política de Preços Máximos Enquanto a política de preços mínimos objetiva defender o produtor das flutuações intensas de preços, a política de preços máximos ou de teto para os preços visa a defesa do consumidor. Se o governo perceber que o preço de equilíbrio está muito alto, prejudicando os consumidores, pode optar pela intervenção, fixando um preço teto, sendo que este deve, evidentemente, ser menor que o preço de equilíbrio. De outra sorte, será não compulsório e o preço de equilíbrio é o que efetivamente prevalecerá no mercado. A política de preços máximos é representada na Figura 7.12. PMáx é o preço tabelado estipulado pelo governo. A este preço, há mais pessoas demandando do que ofertando. A demanda é representada por Q D e a oferta, por Q S. Figura 7.12. Política de preços máximos Observe que essa diferença entre a quantidade ofertada e a demandada provoca uma situação de escassez. Diferentemente daquilo que estudamos na política de preços mínimos, aqui não há um programa governamental que possa ser aplicado para garantir aos consumidores o fornecimento da quantidade requerida, salvo a importação deste mesmo bem. Supondo, porém, que tal não seja possível, algumas situações, como a cobrança de ágios ou surgimento de filas, poderão acontecer. Outras ineficiências poderão acontecer: a) alocação ineficiente das compras pelos consumidores10; b) desperdício de recursos; c) formação de mercados paralelos (negros). Uma forma de tentar minimizar os prejuízos decorrentes destas consequências da escassez do produto é a determinação, por parte do governo, do racionamento. O governo, por meio de critérios diferenciados, pode estipular uma quantidade máxima por pessoa ou família a ser adquirida num determinado período de tempo. Embora o racionamento seja uma maneira de equacionar os problemas da distribuição, o fato é que a imposição da política de preços máximos, apesar da prometida proteção conferida ao consumidor, limita quantitativamente o consumo. Quando esta limitação se dá em virtude de problemas climáticos, como seca, enchentes, geadas ou outros, o racionamento se mostra uma opção inteligente de efetuar a distribuição dos relativamente poucos bens disponíveis. Porém, cada situação deve ser cuidadosamente analisada pelo governo. Dependendo das características do bem, uma flexibilização da política pode regular o mercado sem que traga tanta restrição às quantidades consumidas11. Política de Controle de Quantidades O governo pode escolher a adoção de uma política de controle de quantidades ou cotas e, assim, regular a quantidade de um bem comercializado, em vez do preço. Em geral, a limitação é feita pela adoção de licenças, sendo que somente os agentes que dispuserem delas poderão atender a demanda pelo bem ou serviçode maneira legal. Exemplo desse tipo de política seria a limitação da quantidade em quilos ou toneladas que se pode pescar de determinado peixe. Os controles de quantidades estabelecem apenas limites superiores (e não inferiores) para as quantidades12. Considere os dados da Tabela 7.1: Tabela 7.1. Efeitos das cotas no mercado de salmão Preço(por kg) Quantidade demandada (kg/ano) Quantidade ofertada (kg/ano) R$ 30,00 2 10 R$ 25,00 4 8 R$ 20,00 6 6 R$ 15,00 8 4 R$ 10,00 10 2 A Figura 7.13 mostra os efeitos da imposição de cotas no mercado de salmão no Brasil. Considere que há 1.000 pescadores do produto no país: Figura 7.13. Efeito das cotas no mercado de salmão A Tabela 7.1 apresenta os preços da demanda e da oferta para cada quantidade, ou seja, o preço pelo qual tal quantidade seria demandada e ofertada, respectivamente. Caso o governo, por razões ambientais, imponha uma cota de 2 kg de salmão por pescador por ano, emitindo licenças correspondentes, o preço pago pelos consumidores (preço de demanda) aumentará para R$ 30,00 o quilo, conforme o ponto A da Figura 7.13. O preço de oferta de 2 kg de salmão por quilo é de apenas R$ 10,0013, conforme o ponto B. A diferença entre o preço de demanda e o de oferta (R$ 20,00) vai para o dono da licença. Assim, a renda da cota introduz uma cunha entre os preços, gerando ineficiências e estimulando a atividade ilegal. Observe que se as cotas fossem fixadas em 8 kg, ou seja, acima da quantidade de equilíbrio, ela não teria efeito algum. Impostos Os impostos são a principal forma de geração de receitas por parte dos governos, que os utilizam para fazer frente às suas inúmeras despesas. Nesta seção, analisaremos os efeitos da imposição da tributação sobre o mercado. Veremos o estudo do ônus no imposto, ou seja, como ele recai sobre compradores e vendedores e também a geração de distorções no mercado. Os impostos podem ser diretos ou indiretos: são diretos quando incidirem diretamente sobre a renda dos contribuintes, e indiretos, se forem cobrados sobre o preço dos bens ou serviços. No Brasil, os impostos indiretos como o ICMS, ISS ou IPI são regressivos em relação à renda, já que penalizam as classes sociais mais pobres, ao passo que os diretos, como o Imposto de Renda, são progressivos, já que o percentual da alíquota do imposto é tanto maior quanto maior for a renda14. Os impostos podem ser também específicos ou ad valorem. Imposto específico é aquele cobrado por unidade, não sendo, necessariamente, proporcional ao valor do bem. Exemplo: Pode-se cobrar, por exemplo, R$ 100,00 por unidade de uma geladeira frost-free importada. Diferencia-se do imposto ad valorem, já que este cobra um percentual fixo sobre o valor monetário de cada unidade vendida. Assim, o valor do imposto aumenta conforme aumenta o preço do bem. Como a imposição de um imposto afeta o equilíbrio de mercado Imposto específico ou seletivo A partir da imposição de um imposto específico, definem-se duas curvas de oferta: S = f(p); a oferta S como função do preço p, de um bem qualquer, sem a incidência de impostos; S’ = f(p’); a oferta S’ como função do preço p’, considerando o imposto. Assim, p é o preço de mercado pago pelo consumidor e p’ é o preço relevante para o produtor (preço de mercado menos o imposto T), ou seja15: p’ = p - T O preço recebido pelo produtor é a diferença entre o que foi pago pelo consumidor e o imposto pago ao governo. Note que a imposição do imposto equivale a um custo adicional para o produtor e, como tal, provocará um deslocamento da curva de oferta para trás em distância vertical equivalente ao valor do imposto. Por que isso acontece? Porque o imposto é um custo adicionado, aumentando o custo marginal das empresas, fazendo com que produzam menos a qualquer preço dado16. Exemplo Admita que a curva de oferta de determinado bem seja dada pela função S = 30 + 6p. Se o governo impuser um imposto específico no valor de R$ 15,00 a unidade, como ficaria a nova curva de oferta e como esta variação pode ser representada graficamente? A nova curva de oferta será assim representada: S’ = -30 + 6p’ p’ = p - T T = 15 S’ = -30 + 6 (p - T) S’ = -30 + 6 (p - 15) S’ = -30 + 6p - 90 S’ = 6p - 120 Observe que o coeficiente angular de ambas as curvas é o mesmo, 6. Isso significa que a inclinação das curvas é igual, alterando-se apenas o ponto de interseção com o eixo dos preços (intercepto), conforme a Figura 7.14. Figura 7.14. Curvas de oferta com e sem imposto específico Um imposto coloca uma cunha entre o valor pago pelo consumidor e o valor recebido pelo produtor17. Isso fica mais claro na Figura 7.15. Figura 7.15. Cunha Tributária A inserção da curva de demanda no gráfico deixa mais evidente a visualização da cunha tributária18. Imposto ad valorem No caso de um imposto colocado como um percentual do preço do bem, teremos: p’ = p-tp =p(1-t), sendo t a alíquota ou percentual do imposto, p o preço de mercado e p’ o preço recebido pelo produtor. Exemplo 7.2 Suponha que a curva de oferta de determinado produto seja dado pela mesma equação do exemplo anterior: S = 30+6p. Se o governo impuser um imposto ad valorem de 10% (t = 0,1), como ficaria a nova curva de oferta? Como representar graficamente esta mudança? A nova curva ficará assim: S’ = -30 + 6p’ p’ = p - pt ou p’ - p(1 - t) S’ = -30 + 6p(1 - t) S’ = -30 + 6p(1 - 0,1) S’ = -30 + 6p(0,9) S = 5,4p - 30 Note que o intercepto é o mesmo para ambas as curvas, ao passo que a inclinação, dada pelo coeficiente angular, reduziu de 6 para 5,4 conforme ilustrado na Figura 7.16. Figura 7.16. Curvas de Oferta com e sem imposto ad valorem A distância entre S e S’, na vertical, é assim como ocorre com o imposto específico, o valor em $ do imposto (T). A diferença é que, no caso do imposto ad valorem, o valor de T aumenta quando o preço aumenta19. Quem paga o imposto? A Incidência Tributária O ônus do imposto é compartilhado por compradores e revendedores, já que os primeiros pagam preços acima do ponto de equilíbrio sem imposto e os últimos recebem menos20. O conceito de incidência tributária aqui discutido diz respeito ao seu sentido econômico - sobre quem recai o ônus - e não em seu sentido legal - quem recolhe o imposto aos cofres públicos21. A Figura 7.17 apresenta graficamente a imposição de um imposto específico cobrado dos vendedores, sendo p o preço de equilíbrio na ausência de impostos, p1 o preço pago pelos consumidores e p’ o preço recebido pelo vendedor, estes dois últimos já considerando a incidência do imposto. Figura 7.17. Incidência de um imposto específico Algumas inferências podem ser feitas a partir da leitura do gráfico: a) O consumidor arca com o montante equivalente à diferença entre o que paga com o imposto (p1) menos o que pagaria sem o imposto (p*), vezes a quantidade adquirida: (p1 - p*).q1 b) O vendedor paga o valor correspondente à diferença entre o que receberia sem o imposto (p*) e o que recebe após o imposto (p’), vezes a quantidade vendida: (p* - p’).q1 c) Por fim, o governo arrecada uma receita (A) igual à soma das duas parcelas anteriores, ou o valor do imposto vezes a quantidade vendida, ou seja: A = T.q1 Em termos teóricos, a diferença entre impostos lançados sobre compradores e vendedores é que, no primeiro caso, será a curva de demanda que se deslocará para trás, em distância vertical equivalente ao valor do imposto e, no segundo, como visto, é a curva de oferta que se desloca22. Observe que a receita arrecadada pelo governo, no caso do imposto específico, equivale à área do retângulo com altura correspondente à cunha introduzida entre as curvas de oferta e demanda pelo imposto e cuja largura equivale à quantidade comprada e vendida em sua vigência23. Impostos sobre os compradores Caso o imposto seja cobrado dos consumidores, ou melhor, dos compradores de determinado produto, observaremos um deslocamento na curva de demanda deste mercado específico. Segundo o descrito na Figura 7.18, a imposição de um imposto sobre o ladoconsumidor provoca um deslocamento para trás da curva de demanda. Este deslocamento é exatamente da magnitude do imposto cobrado, ou seja, a distância vertical entre a nova curva de demanda e a anterior corresponde ao valor do imposto, quando este for um imposto específico. Figura 7.18. Imposto sobre os compradores Incidência Tributária e Elasticidade - preço Entendendo que compradores e vendedores repartem o ônus do imposto, cabe indagar se tal partição se dá sempre em montantes iguais. A resposta é nem sempre. O lado do mercado mais sensível à variação de preços, ou seja, mais preço elástico, se adaptará melhor à variação de preços e, portanto, arcará menos com o imposto. A Figura 7.19 apresenta duas situações: em (a), a demanda é mais rígida do que a oferta e em (b), a oferta é mais rígida do que a demanda. Observe que em (a), os consumidores arcam com uma parcela bem maior do que os vendedores [(p - p*) > (p* - p’)], ao passo que em (b), o oposto acontece [(p - p*) < (p* - p’)]. Assim, o lado mais rígido ou inelástico do mercado arca mais com o ônus do imposto. O raciocínio é simples: quanto mais elástica for a demanda, menos dispostos estarão os compradores a pagar preços maiores por quantidades menores (observe que a quantidade comercializada se reduz de q* para qT, outra distorção trazida pelo imposto)24. Por outro lado, se a oferta for muito inelástica, os vendedores estão diante da falta de alternativas razoáveis para a produção do bem25. Figura 7.19. Elasticidade e Incidência Tributária A influência advinda do imposto A imposição de imposto sobre produtos provoca uma distorção na alocação dos recursos. A Figura 7.20 ilustra este fato. Figura 7.20. O peso-morto dos impostos Se a incidência de um imposto provoca o aumento do preço de mercado de p* para p1, o excedente do consumidor se reduzirá no montante equivalente à área A+B. Situação paralela ocorre do lado do produtor, que tem seu excedente diminuído em C+D. Como o governo arrecada o equivalente à área A+C, pode-se inferir que o efeito líquido da imposição dos impostos é a geração de uma perda, denominada peso-morto e representada pelas áreas dos triângulos B e D. Esta área ilustra a piora na alocação de recursos e, portanto, no bem-estar geral da sociedade26. Quanto mais elásticas forem as curvas de oferta e demanda, maior será o peso-morto dos impostos27. 8. Estruturas de Mercado I - Concorrência Perfeita Os primeiros capítulos desta obra se ocuparam em analisar o comportamento de dois importantes agentes da microeconomia: o consumidor e a firma. A partir de agora, passaremos ao estudo das estruturas de mercado, com o objetivo principal de entender sua organização e os aspectos essenciais da oferta e da demanda1. Há três tipos de estruturas de mercado2: 1) Estruturas básicas clássicas: concorrência perfeita e monopólio. Aqui e na próxima classificação, pressupõe-se que as firmas sejam maximizadoras de lucros e que haja informação perfeita. 2) Outras estruturas clássicas: concorrência monopolística, oligopólio, monopsônio e monopólio bilateral. Como esta obra pretende atender ao CACD, só estudaremos o oligopólio3. 3) Modelos marginalistas de oligopólio. Estudaremos apenas alguns aspectos genéricos dentro da classificação anterior. Os principais modelos marginalistas são: Cournot, Swezy, o cartel perfeito e os modelos de liderança-preço. Neste capítulo, ocupar-nos-emos do estudo da primeira das estruturas clássicas: a concorrência perfeita4. O modelo de concorrência perfeita5 vinha sendo adotado implicitamente nos capítulos deste livro que trataram das questões relacionadas à oferta e à demanda. As principais características do modelo de competição perfeita são as seguintes: a) os agentes são tomadores de preços; b) não há barreiras para a livre entrada e saída de empresas (permeabilidade); e c) os produtos são homogêneos e substitutos perfeitos entre si. Além dessas características, outras também distinguem a concorrência perfeita das demais estruturas: a) não há nenhum tipo de coalizão entre produtores e vendedores, já que todos atuam de maneira independente6. b) os preços são estabelecidos pelas forças de oferta e demanda, livres de influências. Eles podem modificar-se, mas tão somente como fruto de alterações nas variáveis que definem as funções de oferta e demanda7. Nesta estrutura de mercado, há muitas empresas concorrentes entre si e cada uma responde pela oferta de uma pequena parcela da produção, de tal maneira que suas decisões não exercem qualquer influência sobre o mercado. Todas as empresas aceitam esse preço, sendo chamadas de tomadoras ou aceitadoras de preços. Os consumidores também não exercem, individualmente, influência sobre preços, sendo também considerados aceitadores de preços8. Cada empresa só se preocupa com a quantidade de bens que deseja produzir, pois qualquer que seja esta quantidade, ela só poderá vendê-la ao preço de mercado9. A aceitação de preços se dá em mercados onde as empresas produzem produtos homogêneos. O exemplo mais usual é o das commodities agrícolas. Um produtor de arroz não precisa se preocupar com a determinação do preço do seu produto, já que ele deverá vendê-lo ao preço de mercado assim como seus concorrentes. Em um mercado em concorrência perfeita, tanto compradores quanto vendedores são compelidos a aceitar os preços como dados, sendo responsáveis apenas pela fixação das quantidades. Assim, os agentes consideram o preço como inalterável e reagem definindo a quantidade que desejam comprar ou vender a este preço10. Neste mercado, não há barreiras à entrada, o que significa dizer que não há custos exagerados ou diferenciados que tornem a entrada muito difícil ou a saída penosa. Assim, tanto os vendedores podem entrar ou sair com facilidade do setor quanto os compradores podem mudar de fornecedor sem dificuldades. São poucos os mercados, na prática, perfeitamente competitivos. É muito mais recorrente a existência de mercados altamente competitivos, com empresas se defrontando com curvas de demanda muito elásticas em relação ao preço e poucas barreiras à entrada e saída11. Já que há poucos - ou inexistentes - mercados nesta condição no mundo real, por que estudá- los? Há pelo menos três razões12: a) a concorrência perfeita é um modelo que conduz à alocação ótima dos recursos; b) o estudo do comportamento de empresas sob a estrutura perfeitamente competitiva, ainda que abstrato, serve como uma referência para intervenções governamentais corretivas ou políticas de defesa à concorrência; c) as estruturas de mercado são definidas a partir da comparação com o modelo de concorrência perfeita. O estudo da concorrência perfeita, portanto, serve-nos como um modelo referencial para o estudo de todas as demais estruturas. A curva de demanda no mercado perfeitamente competitivo pode ser representada pela Figura 8.1. Figura 8.1. A curva de demanda de empresa e de mercado Observe que o gráfico é representado em duas partes. Na primeira, a curva de demanda com que se defronta a empresa é perfeitamente elástica, pois a firma em concorrência perfeita entende que, se aumentar o preço para um nível superior ao preço de mercado, não venderá nada. Se vender ao preço de mercado, suas vendas são certas, bastando definir a quantidade. Se vender abaixo dos preços de mercado, toda a demanda do mercado será dela13. A curva de demanda de mercado apresenta a relação entre o preço de mercado e a produção comercializada total. Já a curva de demanda com que se defronta a empresa mostra a relação entre preço de mercado e a produção daquela empresa. Como a curva de demanda com que se defronta a empresa é horizontal, ela pode vender uma unidade a mais de produto sem variar o preço. Isso significa que a receita total aumenta em uma quantidade equivalente ao preço. A receita marginal é a variação na receita quanto uma unidade a mais é vendida e também será igual ao preço. Assim, a curva de demanda com que se defronta uma empresa competitiva coincide com suas curvas de receitamédia e marginal. Isso significa que o preço, a receita média e a marginal serão idênticos ao longo de toda esta curva de demanda. Assumindo que as empresas competitivas buscam maximizar seus lucros e lembrando que os lucros são equivalentes às receitas menos os custos, analisemos agora as receitas. A função lucro pode ser assim apresentada: L(q) = R(q) - C(q) (1) Ou, omitindo (q), que indica que as variáveis dependem do nível de produção: L = R - C (2) Quando a diferença entre as receitas e os custos for máxima, a empresa estará maximizando lucros. A Figura 8.2 apresenta as curvas de custo, receita e lucro da empresa. Figura 8.2. Custo, lucro e receita Algumas importantes considerações podem ser feitas sobre essas curvas: 1. A inclinação da curva de receita total é a receita marginal. Ela mostra o quanto varia a receita quando a produção aumenta em uma unidade. Dada uma função receita total, a receita marginal pode ser calculada como a derivada da função receita total. 2. A inclinação da curva de custo total é o custo marginal, que indica o quanto varia o custo quando a produção é aumentada em uma unidade. Dada uma função custo total, o custo marginal é calculado pela derivada daquela função. 3. A receita é zero quando o produto é zero, pois nada foi produzido e, portanto, nada foi vendido. 4. O custo é positivo quando o produto é zero, pois no curto prazo há custos fixos. 5. Para níveis de produção que variam de zero a q1, os custos são maiores que as receitas e o lucro é negativo. 6. Para níveis de produção entre q1 e q2, as receitas são maiores que os custos e o lucro é positivo. 7. Para níveis elevados de produção, a saber, valores superiores a q2, os custos são mais elevados que as receitas e o lucro torna-se negativo. 8. No ponto onde as receitas são iguais aos custos, ou seja, nos níveis de produção q1 e q2, o lucro é zero. 9. No ponto onde a distância entre custos e receitas é maior, o lucro é máximo, no nível de produção q*. 10. No ponto de lucro máximo q*, as inclinações das curvas de receita e custo - que representam a receita marginal e o custo marginal - são iguais. 11. A empresa maximiza os lucros, portanto, quando o custo marginal é igual à receita marginal, ou seja, CMg = RMg. Maximização de Lucros Como a curva de demanda com que se defronta a empresa competitiva é perfeitamente elástica, coincidindo com a receita média, a receita marginal e o preço, e como a empresa maximiza seus lucros no ponto onde a receita marginal é igual ao custo marginal, então a empresa competitiva deve escolher o nível de produção correspondente ao ponto onde o custo marginal seja igual ao preço: RMg = CMg = P. O preço de equilíbrio em um mercado perfeitamente competitivo é aquele que, após estabelecido pelas forças de oferta e demanda, tende a manter-se enquanto os fatores de produção que tiverem determinado as posições das curvas de oferta e procura de mercado não alterarem14. O ponto de equilíbrio neste tipo de mercado, portanto, situa-se na interseção das curvas de oferta e demanda de mercado, uma vez que é esse o único ponto em que demanda e oferta coincidem. Nível ótimo de produção no curto prazo No curto prazo, seguindo a lógica adotada nos capítulos anteriores, o capital constitui-se no insumo fixo e o trabalho, no variável. Passemos a considerar que também as matérias-primas são insumos variáveis e ambos devem ser combinados para se chegar ao nível ideal de produção. A Figura 8.3 apresenta as curvas de custo e lucro da empresa competitiva. Como visto, a curva de demanda coincide com a de receita média e marginal e o preço de mercado, sendo representada por uma reta horizontal que corta o eixo y em 50 (preço de mercado de um bem qualquer). Figura 8.3. Curva de custo marginal e o lucro da empresa Algumas inferências podem ser feitas a partir da análise desta figura: 1. A maximização dos lucros ocorre no ponto em que CMg = RMg = P, ou seja, no ponto A, com o produto total igual a 10 e preço igual a 50. A receita total é RT = pq, ou seja, 50 × 10 = 500. 2. Se a empresa competitiva produzir menos que 10, digamos 7, a receita marginal será maior que o custo marginal. Mas, neste ponto, apenas 7 unidades estão sendo produzidas e vendidas a um preço menor. Portanto, a receita é 7 × 40 = 280. Convém que se aumente a produção para ampliar os lucros. A área hachurada entre os níveis de produção 7 e 10 mostra a perda de lucros associada à produção de um nível menor. 3. Se a empresa optar por produzir 13 unidades, por exemplo, o custo marginal será maior que a receita marginal. A área hachurada entre q = 10 e q = 13 apresenta o lucro perdido quando o nível de produção é 13. 4. O ponto de maximização ocorre onde a receita marginal é igual ao custo marginal, estando esta última curva em sua fase ascendente. 5. A condição de maximização de lucros no ponto onde RMg = CMg é válida para qualquer estrutura de mercado. Regra de Suspensão das Atividades Nem sempre a empresa está usufruindo de lucros iguais a zero ou positivos. Por vezes, ela enfrenta períodos de prejuízo que podem levá-la a tomar algumas decisões: 1. No curto prazo, a empresa em prejuízo deve optar por continuar suas atividades ou suspendê-las temporariamente, visando minimizar seus gastos. 2. No longo prazo, a empresa em prejuízo deve optar por manter suas atividades ou sair do mercado15. A diferença principal consiste no fato de, no curto prazo, as empresas terem custos fixos, mas não os terem no longo prazo. A empresa que paralisa temporariamente suas atividades deve continuar pagando seus custos fixos, ao passo que a que se retira do mercado deixa de gastar com todos os custos envolvidos no processo de produção16. O que aconteceria se uma empresa optasse por paralisar suas atividades temporariamente? Seria o caso de uma loja de veraneio que fabrique roupas de banho no litoral paranaense a R$ 35,00 a peça17. O custo do aluguel da fábrica onde se confeccionaram os trajes se mantém durante o inverno, mas nada é gasto com costureiras free lancer ou com matérias-primas caso a empresa opte em só trabalhar a partir dos dois meses que antecedem o verão (outubro e novembro) até o final da estação (fevereiro). Se a confecção paralisar suas atividades entre março e setembro, ela perderá a (pouca) receita da venda de seu produto, mas, ao mesmo tempo, não gastará na compra de matérias-primas nem nas diárias das costureiras. O gasto que permanecerá será referente ao custo fixo: o aluguel das instalações das fábricas, por exemplo. A Figura 8.4 ilustra a situação. Se a empresa de trajes de banho vender seus produtos no inverno, só atrairá clientes se o fizer a preços menores e isso será percebido pelo setor. Assim, o preço de mercado será menor, digamos, R$ 20,00. Figura 8.4. Definição do preço No ponto C, o custo marginal é igual a P2 (R$ 20,00), sendo ambos menores do que o custo total médio. Assim, a empresa, ao cobrar este preço, está amargando um prejuízo. Mas ela deve optar por continuar produzindo, pois outra forma de otimizar os resultados é minimizando as perdas. Se a empresa parar de produzir, ela deverá arcar com os custos fixos da mesma forma, pois assinou um contrato de aluguel. Assim, será melhor continuar a produzir desde que as receitas sejam maiores que os custos variáveis. A Figura 8.5 ilustra esta análise. Figura 8.5. Ponto de Encerramento Se o preço de mercado cair ainda mais, para R$ 15,00, por exemplo18, uma dura realidade para a empresa virá à tona: a situação onde as receitas não cobrem nem os custos variáveis médios - talvez a remuneração da única costureira freelancer contratada e as poucas matérias-primas adquiridas. Nesta situação, a empresa está literalmente “pagando para trabalhar”, já que gasta mais com a fabricação do produto do que com o que pode ser reembolsado por sua venda. Assim, para preços abaixo do ponto de encerramento, a empresa deve encerrar suas atividades, minimizando prejuízos que se reduzirão aos custos fixos19 (neste caso, o aluguel, cujo contrato aindanão vencera). Regra de Encerramento: o nível de encerramento equivale ao ponto onde P = CMg = CVMe mínimo. Aqui, as receitas cobrem apenas os custos variáveis ou os prejuízos equivalem aos custos fixos. Quando P < CVMe, a empresa deve encerrar suas atividades para minimizar seus prejuízos. Curva de Oferta no Curto Prazo A regra de encerramento é útil para descrever o formato da curva de oferta da empresa no curto prazo. Como ela encerrará suas atividades quando o preço de seu produto for menor que o custo variável médio mínimo, a curva de oferta acompanhará a curva de custo marginal apenas em sua porção ascendente, acima do ponto de encerramento, conforme a Figura 8.6. Figura 8.6. Curva de oferta da empresa no curto prazo A empresa escolherá um nível de produção em que o custo marginal seja igual ao preço e esteja acima do custo variável médio mínimo. Assim, a curva de oferta de curto prazo é apresentada como a linha tracejada na Figura 8.6. Curva de oferta de mercado no curto prazo A quantidade total de cada bem ofertado no mercado corresponde à soma das quantidades ofertadas individualmente, ao nível de preços do mercado. A curva de oferta de mercado, portanto, é a soma horizontal das curvas de oferta de todos os produtores individuais daquele bem. Suponha que haja três empresas ofertantes de maiôs de praia vermelhos no litoral paranaense, comercializados ao preço unitário de $ 35,00. A curva de oferta individual, como visto, corresponde ao trecho da curva de custo marginal que se situa acima do custo variável médio. A Figura 8.7 ilustra tanto as três curvas de oferta individual quanto a curva de oferta do mercado. Figura 8.7. A curva de oferta do mercado Observe que a terceira empresa apresenta uma curva de custo variável médio mais baixa que as outras e, por esta razão, a curva de mercado S inicia no preço P1 e continua até o preço P2, quando, em razão do aumento da oferta a este nível de preços, ela muda de direção20. Como todas as empresas tem seus pontos críticos acima de P2, a quantidade ofertada total do mercado é a soma das quantidades ofertadas pelas três empresas. Definição do nível de produção no longo prazo No longo prazo, quando todos os fatores de produção são variáveis e a empresa dispõe de maior flexibilidade, definir o nível de produção que maximiza o lucro se resume em adotar a mesma regra geral que a válida para o curto prazo, mas agora tomando por referência as curvas de custo médio e marginal de longo prazo. A Figura 8.8 compara os níveis ótimos de produto total no curto e longo prazos. Figura 8.8. Níveis ótimos do produto no curto e longo prazos Considerando o preço de mercado igual a $ 35,00, algumas inferências podem ser feitas: 1. No curto prazo, a empresa maximiza lucros ao definir sua produção no nível que iguala o custo marginal ao preço. Isso ocorre no ponto mínimo da curva de custo total médio, o ponto B do gráfico, com nível de produção igual a q1. 2. No longo prazo, a curva de custo médio de longo prazo reflete a presença de economias de escala em sua porção descendente - até o nível de produção q2 - e deseconomias de escala em sua porção ascendente - a partir de q2. 3. A curva de custo marginal de longo prazo cruza a curva de custo total médio de longo prazo em seu ponto mínimo, no nível de produção q2. 4. O nível de produção de longo prazo que proporciona a maximização de lucros para a empresa corresponde ao nível onde o custo marginal de longo prazo é igual ao preço (CMgLP = P). Equilíbrio no Longo Prazo: Lucro Econômico21 Zero A análise da condição de encerramento é de curto prazo e informa que as empresas devem encerrar suas atividades quando não conseguirem cobrir seus custos variáveis. Mas, no longo prazo, todos os custos são variáveis. Desta forma, as empresas só produzirão no longo prazo quando o preço de mercado estiver igual ou acima do ponto crítico, quando CTMe = P22. O preço, no longo prazo, deve cobrir os custos totais das empresas do setor, incluindo os gastos com a remuneração do trabalho, com as matérias- primas, equipamentos e instalações, além do custos de oportunidade. Assim, o preço de longo prazo deve também ser igual ou maior que o preço médio de longo prazo. Neste ponto, o lucro será zero. Se os preços caírem para níveis abaixo do ponto crítico, as empresas deixarão o setor e a curva de oferta de mercado se retrairá, deslocando-se para a esquerda e conduzindo-as ao aumento de preços até o nível em que o setor encontre-se novamente com lucros normais (iguais a zero). Se, por outro lado, os preços subirem para acima do ponto crítico, as empresas serão estimuladas a entrar no setor, provocando um deslocamento da curva de oferta de mercado para frente com consequente redução de preços até o nível de equilíbrio de lucro zero. Conclui-se que, no longo prazo, o preço tende para o nível do ponto crítico, onde as empresas cobrem a totalidade de seus custos. Lembre-se que estes custos incluem, além dos já especificados, a remuneração dos proprietários e todos os outros custos implícitos23. Ter lucro zero24 é, portanto, suficientemente interessante às empresas perfeitamente competitivas. Equilíbrio competitivo de longo prazo Em uma situação em que todas as empresas do setor estejam usufruindo de lucro econômico zero, não há estímulos para entrada nem saída de novas empresas. No equilíbrio competitivo de longo prazo, todas as empresas do setor estão, portanto: a) maximizando seus lucros; b) desestimuladas a sair; c) com um preço que iguala a oferta do setor com a demanda dos consumidores. Eficiência Tendo concluído o estudo sobre mercados perfeitamente competitivos, passemos à análise da alocação eficiente de recursos (ou simplesmente eficiência). Uma economia é eficiente se puder proporcionar aos seus consumidores a maior quantidade possível de bens e serviços, dados a tecnologia disponível e os recursos limitados. Como estudado no Capítulo 1, a eficiência ou o ótimo de Pareto acontece quando não é possível reorganizar a produção de forma a melhorar a situação de um indivíduo sem que se piore a situação de outro. Sob condições de eficiência, a utilidade de uma pessoa só pode ser aumentada se a utilidade de outra diminuir25. Em termos agregados, o conceito de eficiência está relacionado ao de fronteira de possibilidade de produção (FPP)26. Pontos localizados no interior da FPP, como o ponto A na Figura 8.9, indicam que esta economia tem capacidade ociosa e, portanto, é ineficiente. Ao nos movermos para a fronteira, como, por exemplo, para o ponto B, ninguém precisa arcar com redução de utilidade. A economia eficiente encontra-se em sua FPP. Bens e serviços ofertados devem estar maximizando as utilidades dos consumidores. Figura 8.9. Fronteira de Possibilidade de Produção A Eficiência dos Mercados Perfeitamente Competitivos A alocação de recursos na estrutura de mercado perfeitamente competitiva é eficiente27. Para melhor compreensão acerca desta afirmação, considere uma situação ideal, onde os produtores concorrenciais ofertem alimentos a um preço dado de mercado. Considere, ainda, as seguintes hipóteses restritivas: 1. Todos os consumidores são idênticos, agem racionalmente e dispõem de informação perfeita. 2. As pessoas exigem salários crescentes ao trabalharem por mais tempo, pois aumentar as horas de trabalho as obriga a reduzir as horas de lazer e essa escolha torna as horas de trabalho adicionais cada vez mais penosas e desgastantes. 3. Os consumidores adquirem alimentos e cada unidade adicional resulta em níveis decrescentes de utilidade marginal. 4. Como os alimentos são plantados em áreas fixas de terra, cada trabalhador adicional representa uma produção incremental de alimentos cada vez menor, dada a vigência da lei dos rendimentos decrescentes. A Figura 8.10 apresenta o equilíbrio nesta economia em concorrência perfeita. Figura 8.10. Equilíbrio em Concorrência Perfeita Na estrutura perfeitamente competitiva, há muitos compradores e muitos vendedores. Todos os produtores ofertamseus produtos no mercado. A curva ascendente da Figura 8.10 representa a soma das curvas de custo marginal, ao passo que a curva descendente mostra a utilidade dos consumidores pelo consumo de unidades adicionais de alimento. No equilíbrio de concorrência perfeita, representado pelo ponto E, o ganho marginal da última unidade de alimentos é exatamente igual ao custo marginal do trabalho exigido para produzir a última unidade de alimento. O custo de produção dos alimentos, representado pela desutilidade marginal do trabalho é mostrada na área em cinza escuro da Figura 8.10. A porção em cinza claro acima da curva de custo marginal e abaixo da curva de demanda representam o ganho econômico líquido do equilíbrio em concorrência perfeita. Observe que não é possível reorganizar a produção dos alimentos de forma a obter um ganho líquido maior do que a representada pelo mercado concorrencial. Admite-se que, se todos os mercados estiveram estruturados e operando nos moldes da concorrência perfeita, o ponto de equilíbrio deve corresponder à eficiência social por quatro razões: a) Eficiência produtiva: a alocação eficiente dos recursos se verificará, pois os interesses dos produtores serão atendidos, o que aqui implica a operação a custos mínimos. Tal otimização tende a se estender para todos os outros mercados. b) Conciliação de interesses: os interesses privados e públicos não divergem e soluções socialmente eficientes são encontradas. c) Eficiência alocativa: a combinação final dos produtos resultantes da adoção da concorrência perfeita em todos os mercados conduz a uma eficiência alocativa ótima. d) Pleno emprego: não há desemprego involuntário dos fatores de produção em mercados perfeitamente competitivos. A economia estará operando sobre suas possibilidades máximas de produção28. Dada a relevância do assunto, vamos explorar um pouco mais esta conclusão. No ponto de ótimo: 1. O preço é igual à utilidade marginal (P = UMg): os consumidores demandam alimentos até o ponto em que P = UMg. 2. O preço é igual ao custo marginal (P=CMg): os produtores ofertam alimentos até o ponto em que seu preço é igual ao custo da última unidade ofertada. O custo marginal representa o custo em termos de desutilidade do trabalho, pois, para a produção de alimentos, foram necessárias penosas horas de atividade. 3. A utilidade marginal é igual ao custo marginal (UMg = CMg): esta assertiva deriva das anteriores e significa que a utilidade gerada com o consumo da última unidade de alimento é igual à utilidade perdida com o trabalho exigido para a sua produção. A condição da UMg = CMg indica que o ganho marginal para a sociedade da última unidade consumida é igual ao custo marginal para a sociedade da última unidade produzida. Esta condição assegura que o equilíbrio em concorrência perfeita seja eficiente. A análise para um mercado específico ilustra de forma simplificada o que aconteceria numa economia composta por muitos consumidores e produtores e também com produtos diferentes. Desde que se adote a premissa de que todos os mercados estão em concorrência perfeita, é possível conceituar a eficiência produtiva como sendo um ponto sobre a fronteira de possibilidades de produção. Nesta situação, não há reorganização produtiva que possibilite que o mesmo nível de produção de cada setor seja produzido com um custo menor. Para “arredondar” melhor essas análises, faz-se necessário acrescentar uma condição: os consumidores maximizadores de utilidade distribuem seus recursos entre os diferentes bens até que a utilidade marginal da última unidade monetária seja igual para todos os bens consumidos. Se as condições ideais estão presentes, uma economia concorrencial é eficiente mesmo para um número ilimitado de bens e fatores de produção. Quando os custos e as utilidades marginais se igualam na economia concorrencial, ela é eficiente. Todos os diferentes setores devem igualar os custos marginais às utilidades marginais. Para finalizar, é importante destacar que os mercados competitivos eficientes nem sempre são sinônimos de equidade na repartição destes recursos. Eficiência é um conceito de otimização: melhor alocação de recursos no sentido de menores custos de produção e maiores utilidades marginais. Mas isso não assegura melhor repartição desses benefícios. Cabe à sociedade a atuação para modificar a distribuição dos rendimentos, corrigindo os problemas que as forças de oferta e demanda por si sós não podem resolver. 9. Estruturas de Mercado II - Monopólio1 Concorrência Imperfeita A concorrência perfeita, como o nome sugere, é muito mais a descrição de um modelo teórico do que aquilo que frequentemente visualizamos na prática. Há, na verdade, muitos mercados altamente competitivos, com características semelhantes às estudadas, mas não exatamente iguais. Ainda assim, o estudo do caso extremo é sempre relevante, pois permite a compreensão do que aconteceria nos limites possíveis, facilitando o estudo dos casos “intermediários”. O mais comum, no entanto, é a presença de algumas poucas empresas liderando diferentes segmentos. Quando num setor houver a presença de ofertantes individuais que tenham alguma influência na determinação dos preços - o que não significa total controle - esse setor é de concorrência imperfeita2. O poder discricionário sobre os preços varia entre os indivíduos e é tanto maior quanto mais concentrada for a estrutura. A rivalidade existe na concorrência imperfeita, pois todos desejam aumentar sua participação no mercado. Esta competição pode assumir a forma de publicidade, melhoria da qualidade dos produtos ou outras estratégias para conquistar mais clientes. A Figura 9.1 apresenta a diferença principal entre a concorrência perfeita e a imperfeita: o formato da curva de demanda com que se defronta a empresa competitiva é uma reta horizontal, refletindo o fato de a empresa poder vender tudo o que deseja ao preço de mercado e para o competidor imperfeito, a curva de demanda é negativamente inclinada. Assim, para aumentar a quantidade vendida é necessário que o preço de mercado se reduza. Figura 9.1. Curvas de Demanda Para um concorrente perfeito, a demanda é perfeitamente elástica, ao passo que, para o concorrente imperfeito, a demanda tem elasticidade finita. Há três estruturas de mercado que se enquadram como concorrência imperfeita: o monopólio, o oligopólio e a concorrência monopolística. No monopólio, há apenas um fornecedor de um produto sem substitutos próximos no mercado. Seu poder de mercado - ou seja, sua influência na determinação dos preços - é bem significativo, embora não seja total. O oligopólio é uma estrutura que conta com poucos fornecedores - talvez 2,5 ou mesmo 10, dependendo do tamanho do mercado considerado - onde cada empresa pode, individualmente, influenciar os preços de mercado. A concorrência monopolística3 representa um mercado com muitos vendedores produzindo produtos diferenciados. Este capítulo se ocupará do estudo do monopólio. O Poder de Mercado do Monopólio O monopolista é o único produtor de determinado produto, sendo que ele mesmo controla diretamente a quantidade ofertada. Isso não significa que ele pode cobrar qualquer preço em suas mercadorias, pois valores exorbitantes expulsariam muitos consumidores e a lucratividade da empresa cairia. Definir a quantidade a ser produzida é uma questão crucial para o monopolista, e isso deve ser feito com base na análise dos custos e das características da procura pelo produto. O preço de venda será definido de acordo com a curva de demanda do mercado4. Assume-se implicitamente que o monopolista não supõe que seus lucros elevados sejam suficientes pra atrair concorrentes ou que seus altos preços reduzam o interesse de seu mercado consumidor, ou seja, ele acredita que permanecerá como monopolista mesmo no longo prazo. Essa “segurança” lhe é dada pela característica dos produtos que oferece, sem substitutos próximos5. Surgimento dos Monopólios Uma das principais causas para a existência de monopólios são asbarreiras à entrada, como leis e regulamentações governamentais que limitam o número de empresas no setor ou ainda a presença de custos muito elevados6 na geração de uma nova empresa7. O monopólio também pode surgir caso o governo da região conceda a uma empresa o direito de exclusividade sobre a produção e a comercialização de algum bem, seja por influência política, seja por um interesse público observado pelo governo, como ocorre na legislação de patentes e direitos autorais. Pode ser benéfico para a população que o governo garanta a tal proteção, ainda que temporária, dando à empresa a lucratividade necessária para continuar investindo em pesquisa e desenvolvimento8. É claro que esta atitude traz consequência sobre os preços dos produtos, mais elevados do que seriam na ausência dos monopólios9. Outro tipo de barreira à entrada ocorre quando uma empresa monopolista controla um insumo crucial na produção de determinado bem ou serviço, o que pode impedir a entrada de concorrentes. Um exemplo hipotético seria o controle de jazidas de determinado minério10. Monopólio Natural Um monopólio natural existe quando uma empresa consegue, sozinha, ofertar seu produto no mercado a um custo menor do que faria um número maior de empresas. Tal situação ocorre quando o monopólio apresenta economias de escala. No monopólio natural, a empresa conta com custos médios e marginais sempre decrescentes, desfrutando de economias de escala de forma permanente11. A Figura 9.2 ilustra o comportamento dos custos de um monopólio natural. Figura 9.2. Monopólio Natural Observe que a curva de custo total médio (CTMe) é declinante em toda a sua extensão. Isto nos informa que, caso a produção seja dividida entre mais empresas, cada uma delas produzirá uma quantidade menor, aumentando os custos médios. A empresa em monopólio natural consegue, portanto, produzir qualquer quantidade a um custo menor12. É possível prever quando um setor será competitivo ou monopolizado a partir da análise das curvas de custo médio e de demanda. O ponto chave é o tamanho da escala mínima de eficiência, que é aquela que indica qual é o nível de produção que minimiza o custo médio em relação ao tamanho da demanda13. A Figura 9.3 mostra as relações entre as curvas de custo médio e marginal e as curvas de demanda do mercado para o monopólio natural (a), o oligopólio (b) e a concorrência perfeita (c). Observe que em (c), a curva de demanda da indústria encontra-se tão distante da escala eficiente de uma única empresa que é possível coexistirem muitos concorrentes perfeitos. Em (b), os custos permitem que o nível de produção seja maior em relação à demanda total da indústria, de forma que é possível apenas a presença de umas poucas empresas oligopolizadas ofertando no setor. Já em (a), observa-se a presença de economias de escala e a formação do monopólio natural, graças à queda rápida e contínua de custos14. Figura 9.3. Curvas de custo médio e marginal e de demanda Receita Média e Marginal A receita média do monopolista coincide com a curva de demanda do mercado. Para definir qual é o nível de produção que maximiza os lucros, a receita marginal - obtida a partir da variação na receita total ao se variar a produção em uma unidade - também deve ser conhecida. Suponha que uma empresa monopolista se depare com uma curva de demanda representada pela seguinte função: P = 8 - Q. A partir desta equação, os dados sobre as receitas média, marginal e total podem ser calculados. Eles estão representados na Tabela 9.1. Tabela 9.1. Receitas total, média e marginal Preço unitário (u.m.) Quantidade produzida (un) Receita Total (P × Q) (u.m.) Receita Média (RT/q) Receita Marginal (DRT/Dq) 8 0 0 0 - 7 1 7 7 7 6 2 12 6 5 5 3 15 5 3 4 4 16 4 1 3 5 15 3 -1 2 6 12 2 -3 Quando o preço é igual a 8, nada é produzido (q = 0). Quando o preço cai para 7, uma unidade é vendida e a receita total, assim como a marginal, é 7. A venda da segunda unidade gera uma receita marginal de 5 e uma receita média de 6. Conforme novas unidades vão sendo vendidas, menor é a receita marginal. A venda da quinta unidade em diante resulta numa receita marginal negativa. Outra importante consideração diz respeito à relação entre a receita marginal e o preço. Como a curva de demanda tem inclinação descendente, o preço (que equivale à receita média) é maior que a receita marginal pois, ao se reduzir o preço do produto, com o objetivo de aumentar a quantidade vendida, todas as unidades são comercializadas a este novo preço. Assim, ao se reduzir o preço de $ 5,00 u.m. para $ 4,00 u.m., a quantidade sobe de 3 para 4 e a receita total sobe de $ 15,00 para $ 16,00. A receita marginal cai de 3 para 1, ou seja, RMg < P. Os dados presentes na Tabela 9.1 permitem o traçado das curvas de receita marginal e média, está equivalente à curva de demanda do monopolista (Figura 9.4). Figura 9.4. Curvas de demanda e receita marginal do monopolista Definição do nível de produção do monopolista De uma coisa já sabemos: que o nível de produção que maximiza os lucros para qualquer estrutura de mercado, inclusive para o monopólio, corresponde ao ponto em que o custo marginal é igual à receita marginal. A Figura 9.5 apresenta a definição do nível de produção do monopolista. Nela estão representados: • a curva de demanda com que se defronta o monopolista, ou seja, a curva de demanda de mercado D, negativamente inclinada e equivalente à receita média. Esta curva mostra o preço unitário para cada nível de produção; • as curvas de custo: CMe e CMg; • a curva de receita marginal. Figura 9.5. Maximização de lucros no monopólio Para a quantidade Q*, RMg = CMg. Para a definição do preço, basta verificar, na curva de demanda, o preço condizente com esta quantidade15. Caso o monopolista resolva aumentar a quantidade produzida para Q 2, por exemplo, o custo marginal será maior que a receita marginal. O lucro do monopolista seria ampliado se o nível de produção se reduzisse para Q*. E se o monopolista diminuísse seu nível de produção para Q 1, RMg > CMg mas, embora o preço seja maior, a quantidade vendida seria menor e o lucro não seria maximizado16. Assim, o ponto onde o monopolista maximiza seus lucros é aquele onde RMg = CMg e P > CMg. Em termos algébricos, podemos demonstrar a razão pela qual a quantidade Q* é a que maximiza o lucro do monopolista. Comecemos pela definição de lucro (L): L(Q) = R(Q) - C(Q) (1) Conforme Q aumenta, partindo do zero, o lucro começa a subir até alcançar um pico e depois passa a diminuir. A quantidade que maximiza o lucro é a que corresponde ao ponto onde o lucro adicional gerado por um pequeno aumento em Q seja igual a zero (DL/DQ = 0). Assim, dividindo (1) por Q: L = R - C Em termos de variação, temos que: (2) Sabemos que DR/DQ é a receita marginal e DC/DQ é o custo marginal. Assim, para que o lucro seja maximizado, RMg - CMg = 0 ou RMg = CMg. Exemplo algébrico e numérico Suponha uma empresa monopolista com custo total de produção representado pela seguinte função: C(Q) = 100 + Q2. Como o custo total é dividido em uma parte fixa e outra variável, podemos inferir que o custo fixo é 100 - pois não depende da quantidade produzida - e o variável, Q2. Assuma que a demanda seja dada pela seguinte função: P(Q) = 80 - Q. Para determinarmos o ponto de maximização de lucros, é necessário encontrarmos a receita marginal e o custo marginal. A receita total é dada por RT = PQ. Substituindo P na equação da demanda, temos que: RT = PQ RT = (80 - Q)Q RT = 80Q - Q2 A receita marginal é dada pela derivada da função receita total: O custo marginal, por sua vez, é dado pela derivada da função custo total: CT(Q) = 100 + Q2 CMg = 2Q O lucro é maximizado quando RMg = CMg: 80 - 2Q = 2Q 4Q = 80 Q = 20 Para encontrarmos o preço, basta substituir a quantidade encontrada na função demanda: P(Q) = 80 - Q P(Q) = 80-20 P(Q) = 60 O lucro é maximizado, portanto, no nível de produção 3 e a um preço de 9. A Figura 9.6 apresenta graficamente os resultados encontrados.Figura 9.6. Maximização dos Lucros Observe que quando a produção é zero, o lucro é negativo e equivalente aos custos fixos.Conforme o nível de produção aumenta de 0 a 20, o lucro aumenta até atingir o máximo. A Figura 9.7 apresenta as curvas de custo, receita e lucro. As curvas de custo e lucro se cruzam em Q = 20. O preço respectivo é de 60 a unidade e o custo médio é 500/20 = 25 a unidade. O lucro médio é 60 - 25 = 35. Uma vez que 20 unidades são comercializadas, o lucro total é 20 × 35 = 700. Figura 9.7. Curvas de custo, receita e lucro A ineficiência do Monopólio O monopólio cobra preços maiores do que o custo marginal, ao contrário do que ocorre em concorrência perfeita, onde o preço é igual ao custo marginal. Assim, o preço do monopólio é mais alto e a quantidade inferior ao que seria se a empresa fosse competitiva. Os consumidores são prejudicados, mas os produtores beneficiados. Em termos da sociedade, há ganhos ou perdas de bem-estar na estrutura monopolista? A Figura 9.8 representa a determinação do nível de produção para o monopólio. Figura 9.8. Determinação do nível de produção para o monopólio No ponto onde CMg = RMg, determina-se a quantidade a ser produzida Q M e, na curva de demanda, define-se o preço PM. Admita, por hipótese, que esta empresa experimente comportar-se competitivamente, considerando o preço de mercado como dado. A Figura 9.9 apresenta o nível de produção e o preço competitivos. Figura 9.9. Determinação dos preços e das quantidades no monopólio e na concorrência perfeita Assim, se a empresa agir competitivamente, terá preço igual a PCP e nível de produção equivalente a Q CP. Se agir como monopólio, terá preços iguais a PMon (>PCP) e quantidades equivalentes a Q Mon(<Q CP). A pergunta que se pretende responder é se o nível de produção do monopólio é eficiente no sentido de Pareto. Precisamos recordar que a área de demanda negativamente inclinada mostra quanto os consumidores estão dispostos a pagar para cada unidade adicional de um bem. Observe que o preço é maior que o custo marginal na Figura 9.9 para todos os níveis de produção entre Q Mon e Q CP. Isso mostra que, neste trecho da curva de demanda, os consumidores estão dispostos a pagar mais por uma unidade adicional do bem do que o custo de sua produção. Isso mostra que o nível eficiente de produção pode melhorar! Diante disso, por que o monopolista simplesmente não reduz seu preço para algum nível entre PMon e PCP, a fim de aumentar sua quantidade demandada também de Q Mon para Q CP?O monopolista venderia unidades adicionais por preços melhores se não tivesse que reduzir o preço de todas as unidades à venda. Ao caminhar de Q Mon em direção a Q CP, o preço se reduz para todas as unidades, fazendo a lucratividade do monopolista também cair. Por esta razão, ele mantém sua produção em Q Mon e seu preço em PMon, de modo que podemos afirmar que a estrutura monopolista é ineficiente no sentido de Pareto. O custo do monopólio para o bem-estar Quanto o monopólio é ineficiente17? A forma de analisar as alterações de bem-estar é analisando as variações nos excedentes do produtor e consumidor. A Figura 9.10 mostra as alterações nos excedentes do consumidor e produtor quando se altera a estrutura de mercado, passando de monopólio para concorrência perfeita. Analisemos a situação pelo lado do consumidor e do monopolista. Figura 9.10. Excedente do consumidor no monopólio e na concorrência perfeita O excedente do produtor monopolista reduz-se em A em função do preço mais baixo nas unidades anteriores. Por outro lado, o excedente sobe em C graças ao aumento da quantidade vendida. O excedente do consumidor aumenta em A, pois os consumidores podem comprar as unidades que já adquiriam a preço inferior. Ainda, o excedente sobe em B, pois mais unidades são vendidas. Feitas estas considerações, conclui-se que: a) A presença do monopólio transfere a área A do consumidor para o monopolista18. Aqui não há alteração no bem-estar total. b) As áreas B + C representam o ônus devido ao monopólio19 ou o peso morto20, indicando quanto piorou a situação dos consumidores que arcam com os preços de monopólio em vez dos competitivos. Em suma, o ônus do monopólio surge porque a empresa produz e comercializa uma quantidade de produto menor que o nível que maximiza o excedente total. O ônus ou peso morto indica a redução de quantidade comercializada, dado o preço maior21. Captura da Renda (Rent Seeking) O peso morto gerado pelo monopólio pode ser ainda maior do que o representado pelas áreas B e C da Figura 9.11. Isso acontece porque a empresa, para manter-se um monopólio, pode envolver-se na chamada captura de renda, gastando muito com esforços não relacionados à produção. Este comportamento varia desde atividades de lobby (negociações políticas, contribuições em campanhas eleitorais, entre outros) para influenciar na elaboração de normas que impeçam a entrada de concorrentes, passando pelo uso de propagandas que desencorajem a legislação antitruste, até o não uso de parte da capacidade instalada da empresa para mostrar aos prováveis concorrentes que não vale a pena entrar no mercado, já que eles não conseguirão vender o suficiente para gerar lucros compensadores. O estímulo que os monopolistas têm em gastar com a captura de renda está relacionado, portanto, aos ganhos de ser um monopólio (a diferença entre o retângulo A e a área C na Figura 9.10). Quanto maior for a transferência do excedente do consumidor para o monopolista (retângulo A), maior o custo social gerado pelo monopólio22. Reação ao monopólio: políticas públicas Uma vez que o equilíbrio do monopólio ocorre num ponto socialmente ineficiente, o governo pode atuar no sentido de reduzir sua frequência nos mercados ou limitando sua ação. As políticas podem ser: 1) regulamentação de preços; 2) legislação antitruste; 3) estatização de monopólios privados23. A regulamentação de preços em uma estrutura de mercado eficiente gera um peso morto. A alteração numa situação de ótimo só pode gerar piora, distanciando o mercado dos níveis de produção socialmente eficientes. No entanto, o monopólio é um ineficiente de Pareto24 e, portanto, pode ser regulamentado no sentido de redução de seu poder de mercado. A regulamentação de preços pode reduzir o peso morto trazido pelo monopólio, pois estabelece um teto que diminui o excedente do produtor e diminui as perdas de excedente do consumidor. No entanto, determinar preços-teto para monopólios não é uma tarefa tão simples, pois se o preço for estabelecido ao nível do custo marginal em monopólios com custo médio declinante (monopólios naturais), os preços também estarão abaixo dos custos médios e a empresa sofrerá prejuízos25. A Figura 9.11 ilustra esta situação. Figura 9.11. Regulamentação de preços no monopólio Observe que o CTMe é declinante em razão de ser este um monopólio natural (CMg26< CTMe). O prejuízo corresponde à área hachurada, presente se a empresa for obrigada a cobrar um preço igual ao custo marginal. O governo pode minimizar o problema do prejuízo concedendo um subsídio ao monopolista ou fixando um preço acima do custo marginal. Em ambos os casos, porém, há geração de peso morto. Por estas e outras razões, em geral o que se assiste é a permissão de que monopolistas mantenham seus lucros mais elevados sem a presença da fixação de preços pelo custo marginal27. A legislação antitruste é outra forma de atuação do governo no sentido de limitar o poder de monopólio. O governo pode, finalmente, para reduzir os danos sociais do monopólio, tornar-se seu proprietário e administrador. No entanto, se mal gerenciado, o monopólio pode representar ineficiências caras à sociedade, já que consumidores e contribuintes perdem. Comportamento monopolista As estruturas estudadas até aqui - concorrência perfeita e monopólio - são os casos extremos da teoria. Mas a maior parte das indústrias está em algum ponto entre estes dois extremos. As empresas costumam apresentar características que as aproximam maisde um ou outro extremo. Se uma empresa dispuser de algum grau de “poder de monopólio”, influenciando significativamente os preços de mercado dos produtos por ela vendidos, ela poderá adotar estratégias para aumentar ainda mais este poder. Estudaremos, a partir de agora, algumas estratégias adotadas pelos monopólios para aumentar seus ganhos: a discriminação de preços de 1º, 2º e 3º graus, a discriminação de preços intertemporal, a tarifa em duas partes, a venda em pacote, a venda casada e o marketing. Excedente do Produtor As estratégias adotadas pelos monopolistas para aumentar seu poder de mercado são, na prática, formas de transferir o excedente do consumidor para o produtor28. A Figura 9.12 apresenta a definição do nível de produção do monopolista. Figura 9.12. Determinação do nível de produção do monopolista Se, na tentativa de vender uma quantidade maior, o monopolista estabelecesse seu nível de produção em Q 1, ele forçaria para baixo - para P1 - o preço de toda sua produção. E é por esta razão que ele trabalha num nível ineficiente (Q*, P*), limitando sua produção a um nível em que os consumidores possam pagar por seus produtos mais do que seu custo de produção. Mas, e se o monopolista mantivesse o preço P* para a quantidade Q* e também vendesse Q 1 - Q* à porção de consumidores dispostos a pagar P1 pela quantidade Q 1? Ou, melhor ainda, se ele pudesse cobrar P2 pela venda ao grupo de consumidores localizados entre os pontos D e C da curva de demanda? Ora, este pequeno grupo está disposto a pagar mais por seus produtos, mas acaba se beneficiando do preço P* estabelecido pelo monopolista. Em outras palavras, poderia o monopolista capturar uma parcela maior do excedente do consumidor para si? Sim, ele poderia. A venda de diferentes unidades do mesmo produto a diferentes preços é denominada discriminação de preços. O problema para o monopolista torna-se, então, como identificar os clientes dispostos a pagar mais e conseguir aplicar-lhes preços diferenciados. Há três tipos de discriminação de preços: 1) A venda de diferentes unidades do produto a preços diferentes. Esta prática é chamada de discriminação de preços de 1º grau ou discriminação perfeita de preços. 2) A venda a diferentes preços conforme a quantidade adquirida. Ocorre, por exemplo, nos descontos das compras no atacado. Esta modalidade é denominada discriminação de preços de 2º grau. 3) A venda do mesmo produto para pessoas diferentes a preços diferentes. Esta é a discriminação de 3º grau, onde grupos específicos desfrutam de preços melhores, como, por exemplo, os descontos para estudantes29. Todos os esquemas de discriminação de preços apresentam a mesma estratégia subjacente: a segmentação de mercado e a cobrança de preços diferenciados30. Vejamos com mais detalhes como funciona cada uma dessas estratégias monopolistas. Discriminação de preços de 1º grau Se, ao visitar a loja do monopolista, cada consumidor pusesse uma placa na testa dizendo o quanto está disposto a pagar por cada unidade dos produtos à venda, o monopolista pacientemente venderia a cada um ao respectivo preço, até o preço-limite equivalente o ponto onde o custo marginal iguala- se à receita marginal. Essa captura do excedente seria tão completa que tal estratégia mereceria o nome que adotamos na teoria: discriminação perfeita de preços. Nesta situação, o preço cobrado ao consumidor é seu preço marginal de reserva máximo. Com este tipo de discriminação, a quantidade comercializada aumenta para o nível da concorrência perfeita, mas o excedente do consumidor, sendo completamente capturado pelo monopolista, passa a ser zero. Figura 9.13. O excedente do consumidor e a discriminação de preços O monopólio que pratica a discriminação de preços de 1º grau apresenta uma curva de demanda coincidente com a curva de receita marginal. O monopolista se apropria de todo o excedente do consumidor e seu lucro é igual ao excedente econômico total. Assim, o benefício social total é maior, pois o volume de produção maximiza o excedente econômico total. A eficiência é máxima, mas não a equidade, já que o monopolista se apropria dos excedentes do produtor e consumidor31. A discriminação perfeita de preços é um conceito teórico e idealizado, muito raro na prática. Sua compreensão, no entanto, tem relevância teórica, pois fornece um exemplo de uma outra forma de alocar recursos que também se enquadra no conceito de eficiência ou ótimo de Pareto, ainda que a distribuição dos excedentes seja benéfica apenas para o monopolista, que se apropria de todo o excedente32. Discriminação de preços de 2º grau A discriminação de preços de 2º grau também é chamada de fixação não linear de preços, pois o preço por unidade produzida não é constante e, sim, depende da quantidade adquirida. As empresas que prestam serviços de utilidade pública, em geral, praticam este tipo de discriminação33. Outros o fazem concedendo descontos pela compra do mesmo produto em diferentes quantidades. Exemplo seriam os xampus: paga-se, por exemplo, R$ 10,00 num frasco de 250ml (corresponde a R$ 40,00 o litro) e R$ 16,00 num de 500ml (corresponde a R$ 32,00 o litro). Discriminação de preços de 3º grau A discriminação de preços de 3º grau é a mais comum e consiste em segmentar os consumidores em grupos com curvas de demanda separadas, cobrando preços diferenciados para cada um deles34. Esta prática garante que a última unidade vendida do bem em cada mercado proporcione a mesma receita marginal35. Exemplo são os produtos “normais” e os da “série ouro” ou os da “série especial comemorativa”, as tarifas aéreas (primeira classe e classe econômica), a água mineral normal e a água light36, entre outros. Se verificado que a discriminação de preços de 3º grau é possível e uma vez divididos os consumidores em grupos, de acordo com as características da demanda, o preço deve ser estipulado para cada um deles37. A empresa discriminadora de preços fixará preços menores para os grupos mais sensíveis aos preços, ou seja, com demanda preço-elástica e preços mais altos para os grupos mais insensíveis, com demanda preço-inelástica. É o caso da concessão de descontos para estudantes e idosos. Em geral, estes grupos têm renda menor e, por isso, pesquisam mais antes de comprar, sendo mais sensíveis com demanda mais elástica. A empresa aumenta seus lucros ao discriminar preços a seu favor, já que captura um grupo de consumidores que provavelmente não compraria se vigorasse, para os bens ou serviços em questão, o preço de monopólio. Discriminação de preços intertemporal Este tipo de discriminação de preços separa os consumidores em grupos de demanda alta e baixa. Altos preços são cobrados inicialmente e depois, preços mais baixos. É o caso dos lançamentos de TVs a led, Ipads, tablets e outros produtos de ponta. Um grupo pequeno de consumidores, com pressa em adquirir o lançamento, paga um preço elevado. Depois, o preço começa a cair e atingir grupos maiores. A Figura 9.14 apresenta dois grupos de demanda, representados por D1 e D2. O grupo D1 é mais preço-inelástico e seu preço de reserva é mais elevado. A empresa capta o excedente dos consumidores ao cobrar P1, que mostram alta demanda pelo bem e não querem esperar para comprá-lo. Depois que estes consumidores adquirem o produto, o preço cai para P2, atraindo um grupo bem maior de consumidores, representado pela curva de demanda D238. Figura 9.14. Discriminação de preços intertemporal Preço de pico Neste caso de discriminação de preço, preços diferentes são cobrados em períodos diferentes. O resultado aqui é um aumento da eficiência econômica, pois o preço cobrado é próximo ao custo marginal de produção. A prestação de alguns serviços de utilidade pública, como o fornecimento de água e luz, por exemplo, tem demandas diferentes ao longo do dia, atingindo o pico no início da noite, por exemplo. O custo marginal também aumenta nestes horários, dadas as restrições de capacidade. Por esta razão, a prática de preços diferenciados nestes períodos é lucrativae mais eficiente do que a cobrança do mesmo preço durante todo o dia. A eficiência maior acontece porque os preços se aproximam do custo marginal e a soma dos excedentes do produtor e do consumidor são maiores também. Tarifa em duas partes Muito utilizada em bares e em parques de diversão, a tarifa em duas partes é uma estratégia que precifica o bem ou serviço com uma taxa de entrada e uma de uso. A empresa precisa definir como aplicar a precificação: se cobra um preço alto de entrada e um mais baixo pelo uso dos serviços ou compra de bens, ou vice-versa39. Venda em pacote A venda em pacote consiste na prática de vender dois ou mais produtos em conjunto, como um pacote. Esse tipo de estratégia costuma funcionar bem quando um ofertante de dois bens tem demandas diferentes para cada um deles para os mesmos consumidores. Por exemplo, um consumidor pode adquirir um pacote turístico com direito a passagens aéreas mais hotel mais guia turístico, mesmo sem fazer nenhuma questão do guia. Se a empresa vendesse os serviços separadamente e o comportamento desse consumidor fosse típico, as vendas do serviço de guia turístico cairiam muito. Então, para esta empresa, a venda em pacotes é uma estratégia mais lucrativa40. Venda casada A venda em pacote é um tipo de venda casada. Mas o termo é genérico e refere-se a qualquer tipo de exigência por parte da empresa de que um produto seja vendido seguindo certa combinação. O exemplo mais comum são os pacotes de softwares. Trata-se de vários produtos vendidos como se fosse um. Esta vinculação nas vendas pode ser praticada: a) em função do comportamento do consumidor; b) pela economia de custos; c) pelo fato de os bens vendidos em pacote serem complementares entre si41. Como exemplo da questão do comportamento do consumidor, considere uma caixa de bombons com três tipos diferentes de chocolate. Os consumidores do tipo A preferem o chocolate A e os do grupo B preferem os chocolates B e C. Suas preferências estão diretamente relacionadas aos seus preços de reserva, ou seja, cada grupo se mostra disposto a pagar mais pelo chocolate preferido. Se a empresa separar os chocolates, o grupo A provavelmente só adquirirá A e o grupo B, apenas o B e o C. Se os consumidores só puderem comprar a caixa toda, a empresa lucrará mais. Propaganda A propaganda faz parte da estratégia de venda das empresas com poder de mercado. As decisões de quanto gastar, com o objetivo de aumentar os lucros, dependem das características da demanda. Quando a empresa investe em propaganda, sua curva de demanda se desloca para cima e para a direita, pois a demanda é influenciada por esta estratégia. As receitas média e marginal também se deslocam para a direita. A propaganda é considerada um custo fixo42 e, por isso, a curva de custo fixo também se desloca, aumentando o custo médio. Mas o custo marginal permanece o mesmo (pois não houve variação do custo variável, que modifica o custo marginal). A Figura 9.15 apresenta os efeitos da prática da propaganda. Figura 9.15. Propaganda e seus efeitos A empresa produzirá a quantidade Q 1 (onde RMg’ = CMg). O preço cobrado será mais alto, P1, e o lucro total L1, representado pela área sombreada em cinza claro, é maior. A empresa, portanto, tem benefícios maiores quando investe em propaganda43. 10 10. Estruturas de Mercado III - Oligopólio A terceira e última estrutura de mercado que passaremos a estudar, o oligopólio1, representa um mercado com poucos produtores competindo entre si. Há barreiras à entrada de novas empresas e os produtos são diferenciados ou não. Empresas oligopolistas detêm poder de mercado, ou seja, influenciam na determinação do preço de seus bens. O quanto elas o exercem e portanto, qual sua lucratividade, depende da interação entre as empresas de cada setor, que podem adotar um comportamento cooperativo ou competitivo. As empresas agem de forma estratégica, ou seja, tomam decisões sobre níveis de preços e produção levando em conta as possíveis reações dos concorrentes. Características dos mercados oligopolizados Existem pelo menos três aspetos em comum presentes nas empresas em mercados oligopolizados: as barreiras à entrada, os altos custos de implantação e a interação estratégica2. Se um ramo de atividade exigir altos gastos com a implantação de novas empresas, como o setor de aviação, a escala mínima eficiente de funcionamento ocorre num nível alto de produção. Por essa razão, poucas empresas conseguem manter-se no setor de forma lucrativa e é provável que um oligopólio se estabeleça. Havendo elevadas economias de escala ou outros tipos de barreiras à entrada, como exigências por parte do governo, poucas empresas conseguem se estabelecer e a concorrência diminui. Por fim, poucas empresas atuando no mercado conhecem - ou procuram conhecer - melhor seus concorrentes, dando ocasião à interação estratégica. Aqui, as empresas dependem das ações de suas rivais para tomar suas próprias decisões. Como concorrentes imperfeitos, os oligopólios cobram preços acima dos custos marginais, condição suficiente para a alocação ineficiente de recursos. Quanto mais concentrada a indústria, maior a chance das empresas obterem lucros acima do normal (ou seja, diferente de zero), embora, por vezes, sejam lucros apenas ligeiramente maiores que os normais. Uma das vantagens dos ramos mais concentrados é que são deles os maiores gastos com pesquisa e desenvolvimento. E eles o fazem tentando superar seus rivais e permitindo importantes inovações que beneficiarão a sociedade. Oligopólio de Conluio Quando há poucas empresas atuando num setor, seu comportamento é determinado pelas ações de seus concorrentes e, diante delas, pode-se optar pela cooperação ou pela competição (não cooperação): Comportamento não cooperativo: acontece quando a empresa adota ações e estratégias de vendas sem a realização de acordos com seus concorrentes, originando uma briga por uma fatia maior do mercado e guerra de preços. Comportamento cooperativo: ocorre quando as empresas desejam reduzir a competição entre si e passam a agir de forma colaborativa, estabelecendo seus preços de forma conjunta ou repartindo o mercado. Como esse comportamento é danoso ao consumidor, as leis antitruste proíbem o conluio entre empresas que objetivam determinar preços ou repartir mercados entre si. Por essa razão, os conluios são, muitas vezes, tácitos. Nada é dito ou acordado explicitamente, mas a reação do concorrente diante da mudança de preços do primeiro, por exemplo, demonstra a cooperação. Se o conluio for bem-sucedido, os lucros podem ser bem razoáveis3 e o excedente do consumidor se reduz. Suponha que três empresas aéreas que ofertem voos para o mesmo trecho estejam agindo de forma não cooperativa e a guerra de preços seja estabelecida, para a alegria dos consumidores. De um dia para outro, após a fixação de um preço maior para o respectivo trecho pela empresa A, a empresa B opte por agir cooperativamente, acompanhando o aumento de preços. A empresa C observa o comportamento das rivais e considera interessante também ajustar seus preços, já tão defasados pela guerra estabelecida até ali. Está posta a situação do conluio tácito: agora, as três concorrentes podem chegar ao equilíbrio do oligopólio de conluio com um preço mais alto, maximizando seus lucros totais4. Equilíbrio de Nash A partir do comportamento cooperativo, as empresas procurarão fazer o melhor possível, considerando as ações de seus concorrentes. E seus concorrentes, por sua vez, atuando também cooperativamente, procurarão fazer o melhor que podem a partir das ações dos demais. A partir daí, cada empresa passa a levar em conta as ações de seu concorrente e pressupõe que ele aja da mesma forma5. Este comportamento lógico dá o embasamento para a determinação do equilíbrio do oligopólio. Este, explicado pela primeira vez em 1951 pelo matemático John Nash, recebeu o nome de Equilíbrio de Nash. O Equilíbrio de Nash é uma situação em que os agentes econômicos, interagindo entre si, definem a melhorestratégia baseados nas estratégias escolhidas pelos concorrentes6. Cada empresa faz o melhor possível em resposta às ações de seus concorrentes. Lucros do Oligopólio Voltemos ao exemplo das empresas A, B e C que começaram a atuar, de forma tácita, cooperativamente. A Figura 10.1 apresenta a situação da empresa oligopolista A. Figura 10.1. Curva de demanda do oligopolista A O oligopolista A traça sua curva de demanda admitindo que as concorrentes B e C seguirão suas modificações de preços. Com base nesta suposição, admite-se que a curva de demanda tem a mesma elasticidade que a curva de demanda por passagens aéreas do trecho ofertado pelas três empresas. A empresa A terá 1/3 do mercado enquanto as concorrentes acompanharem seus preços7. O equilíbrio do oligopólio, onde os lucros são maximizados, está representado no ponto E da Figura 10.1, onde a curva de custo marginal cruza a de receita marginal, assim como ocorre em todas as estruturas. O preço é determinado admitindo-se que a curva de demanda traçada corresponde à demanda total do mercado atendido pelas três empresas, estando representado pelo ponto A. Note que o preço P corresponde ao preço de monopólio, sendo bem superior ao custo marginal8. Quando empresas oligopolistas trabalham cooperativamente - de forma tácita ou explícita - conluiando-se para maximizarem os lucros conjuntos, a quantidade produzida, os preços praticados e os lucros resultantes são os de monopólio. Apesar da atratividade dos altos lucros, a prática do conluio é dificultada por barreiras óbvias: a) o conluio é ilegal; b) nada impede que, após um tempo agindo cooperativamente, uma empresa “quebre” o acordo e ofereça preços melhores aos clientes para abocanhar uma maior fatia de mercado, passando a agir, portanto, competitivamente; c) quando os mercados oligopolizados têm mais do que umas cinco ou seis empresas, os preços não são públicos e a tecnologia se modifica rapidamente, é bem mais recorrente a “quebra” do conluio tácito e as empresas tornam a agir agressivamente para conquistar mais mercados; d) a concorrência externa (produtos importados) combate contra os conluios. Se os oligopolistas agirem de forma não cooperativa, não alcançarão o preço de monopólio, pois estarão “guerreando” entre si por fatias maiores do mercado. Para que um oligopólio de conluio funcione bem e os preços sejam mantidos altos, é necessário reduzir o volume da produção. Mas diante de uma guerra de preços, cada oligopolista aumenta sua produção individual para capturar uma parcela maior de mercado. Visto que este comportamento tende a ser adotado por todos os concorrentes, a produção aumenta e o preço cai9. Mas os oligopolistas sabem que se continuarem aumentando a produção, os preços cairão até níveis de concorrência perfeita, que implicam em lucros econômicos normais (iguais a zero), o que não lhes atrai. Dessa forma, eles não prosseguem nesse aumento de produção até o ponto onde o preço for igual ao custo marginal. Assim: Quando as empresas oligopolistas agem de forma não cooperativa, definindo individualmente seu nível de produção com o objetivo de maximizarem seus lucros, a quantidade produzida será maior que a quantidade do monopólio e menor do que a da concorrência perfeita. O preço será menor do que o de monopólio, mas maior do que o de concorrência perfeita. E, portanto, os lucros serão positivos, mas menores do que os de monopólio. A Tabela 10.1 apresenta a comparação esquemática entre as estruturas estudadas até aqui: concorrência perfeita, monopólio e oligopólio. Tabela 10.1. Estruturas de Mercado - comparação esquemática Concorrência Perfeita Monopólio Oligopólio (não cooperativo) Definição da quantidade a ser produzida No ponto onde RMg = CMg No ponto onde RMg = CMg No ponto onde RMg = CMg. Como a demanda é dividida entre um grupo de empresas, a quantidade é menor do que a do monopólio Definição do preço CMg = P P>CMg Como há concorrência entre poucas empresas, o preço é menor do que o de monopólio Bem-estar Socialmente eficiente Socialmente ineficiente. Exceção: discriminação de preços perfeita. Aqui, a alocação é eficiente no Socialmente ineficiente sentido de Pareto, mas quem se apropria da totalidade do excedente é o monopolista Lucro Lucro normal (ou lucro econômico zero no longo prazo) Lucro positivo Lucro positivo, mas inferior ao de monopólio Poder de mercado Não há. Empresas são tomadoras de preços (price takers) Grande. Empresas são determinadoras de preços (price makers). O que limita os preços é a demanda de mercado Exercem poder de mercado menor do que o monopólio, já que enfrentam concorrência Cartel Enquanto o conluio é um acordo - explícito ou tácito - entre empresas num ramo oligopolizado que definem preços e quantidades a serem praticados no mercado, o cartel representa o grupo de empresas que age em conluio ou coalizão. Quando o cartel - que é proibido nas legislações antitruste - é formado, o mercado é atendido da mesma forma que um monopólio. O cartel procura formas de limitar a ação das forças de mercado da livre concorrência para garantir lucros maiores10. Teoria dos Jogos Creio que parece claro ao leitor que, visando a maximização de lucros, os oligopolistas talvez preferissem agir em conluio, desfrutando dos resultados do monopólio. Mas isso só acontece se todos os concorrentes agirem cooperativamente, condição nem sempre presente, pois, dada sua ilegalidade, a maioria das empresas prefere não ter motivos para ser penalizada. No entanto, sem a presença de acordos explícitos, por muitas vezes espera-se que o concorrente aja cooperativamente. Por exemplo, se uma empresa e seu concorrente puderem estimar um preço que maximize lucros com o qual estariam concordes se realizassem um acordo, poderia parecer bem a uma delas determinar este preço e esperar que o concorrente faça o mesmo. Uma vez que este o faça, ambos gozarão de lucros superiores11. A teoria dos jogos estuda o comportamento das pessoas - e evidentemente pode ser aplicado ao comportamento empresarial - em situações estratégicas, ou seja, quando um dos envolvidos, ao tomar decisões sobre como agir, deve levar em conta as possíveis reações do outro. Esta teoria é bem útil no estudo do comportamento das empresas oligopolistas, pois, nesta estrutura, toda decisão sobre a determinação de preços e quantidades a serem produzidas depende da reação dos rivais. Em linhas gerais, a teoria apresenta “jogadores” que definem estratégias para maximizar seus resultados. Se as empresas forem os jogadores - como em geral ocorre, já que a teoria foi desenvolvida para explicar o seu comportamento diante dos concorrentes -, elas podem, então, escolher preços ou quantidades a serem produzidas como sua estratégia. A lista de estratégias, para cada jogador, é chamada de combinação de estratégias. O problema central da Teoria dos Jogos é a previsão do que os jogadores farão. Em outras palavras, o problema central da teoria dos jogos é prever a combinação de estratégias que será escolhida pelo outro jogador12. O Dilema dos Prisioneiros O Equilíbrio de Nash ocorre em mercados oligopolistas não cooperativos. Cada empresa, objetivado maximizar seus lucros, toma suas decisões baseadas nas ações dos rivais. O lucro obtido é maior que o de concorrência perfeita e menor do que o de monopólio ou o de oligopólio de conluio. O exemplo clássico da teoria dos jogos é o Dilema dos Prisioneiros, que retrata bem o impasse vivido pelos oligopolistas. A história é a seguinte. Dois prisioneiros13 foram acusados de ter cometido um crime. Ambos foram capturados pela polícia e colocados em celas diferentes. Foi pedido a cada um deles a colaboração, no sentido de confessarem seus atos. Os resultados possíveis seriam os seguintes: 1) Se ambos os prisioneiros confessarem seus crimes, cada um será condenado a cinco anos de prisão. 2) Se nenhum dos dois criminosos confessarem o crime, um processo jurídico mais complexo se instaurará. Os advogados trabalharão para provar suas inocências, entrandocom recursos e eles receberão uma condenação de dois anos. 3) Se um dos dois prisioneiros confessar o crime e o outro não, o que confessou sofrerá pena mínima de 1 ano e o outro será condenado a 10 anos de prisão. Diante destas possibilidades, está instaurado o dilema: confessar ou não? A Tabela 10.2 apresenta a chamada Matriz de Payoff e resume os possíveis resultados. Observe que o Dilema dos Prisioneiros é um jogo e seu objetivo é mostrar o quão difícil é obter a cooperação mesmo quando ela for mutuamente benéfica14. Os payoffs (resultados possíveis) são negativos, pois estão retratando perdas (anos de prisão). Os prisioneiros não podem conversar entre si, entrando num acordo explícito pois, se o fizessem, combinariam em não confessar e ambos ficariam na prisão por dois anos. Mas sem poder se falar, e sem saber se podem ou não confiar no outro, os riscos são maiores ao não confessar. Se A não confessar, poderá beneficiar B e ficar preso por 10 anos. Se A confessar, será preso por no máximo 5 anos, ou se B não confessar, A ficará apenas 1 ano na prisão. Assim, independentemente do que faça B, A estará melhor se confessar. B pensará da mesma forma e provavelmente acabará confessando. O resultado do jogo é que ambos provavelmente confessarão, sendo condenados a cinco anos de prisão. Tabela 10.2. Matriz de Payoff do Dilema dos Prisioneiros Prisioneiro B Confessa Não confessa Prisioneiro A Confessa -5, -5 -1, -10 Não confessa -10, -1 -2, -2 Referências Bibliográficas 1. Noções Preliminares MANKIW, G. N. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Trad. da 2. ed. original Maria José Cyhar Monteiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. Cap. 1. PINDICK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Trad. Eleotério Prado, Thelma Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. Cap. 1. PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de economia. Equipe de Professores da USP. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. Cap. 1. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro: teoria e exercícios. 4. ed., 6. reimpr. São Paulo: Atlas, 2009. Cap. 1. VICECONTI, P. E.; NEVES, S. Introdução à economia. 2. ed. São Paulo: Frase Editora, 1996. Cap. 1. 2. Fundamentos da Microeconomia: oferta e demanda MANKIW, G. N. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Trad. da 2. ed. original Maria José Cyhar Monteiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. Cap. 4. PINDICK, R. S., RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Trad. Eleotério Prado, Thelma Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. Cap. 2. PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de economia. Equipe de Professores da USP. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. Cap. 6. 3. Elasticidades MANKIW, G. N. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Trad. da 2. ed. original Maria José Cyhar Monteiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. Cap. 5. PINDICK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Trad. Eleotério Prado, Thelma Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. Cap. 2. PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de economia. Equipe de Professores da USP. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. Cap. 6. 4. Teoria do Consumidor MANKIW, G. N. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Trad. da 2. ed. original Maria José Cyhar Monteiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. Cap. 21. PINDICK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Trad. Eleotério Prado, Thelma Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. Cap. 3. PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de economia. Equipe de Professores da USP. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. Cap. 5. 5. Teoria da Firma I - Produção PINDICK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Trad. Eleotério Prado, Thelma Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. Cap. 6. PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de economia. Equipe de Professores da USP. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. Cap. 7. SAMUELSON, P. A.; NORHAUS, W. D. Economia. 16. ed. Altragide (Portugal): McGraw Hill, 1999. Cap. 6. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia. Micro e macro: teoria e exercícios. Glossário com os 300 principais conceitos econômicos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. Cap. 5. 6. Teoria da Firma II - Custos de Produção MANKIW, G. N. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Trad. da 2. ed. original Maria José Cyhar Monteiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. Cap. 13. PINDICK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Trad. Eleotério Prado, Thelma Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. Cap. 7. PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de economia. Equipe de Professores da USP. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. Cap. 7. 7. Intervenção do Estado na Economia KRUGMAN, P. R.; WELLS, R. Introdução à economia. Trad. Helga Hoffmann. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. Cap. 4. MANKIW, G. N. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Trad. da 2. ed. original Maria José Cyhar Monteiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. Cap. 6. PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de economia. Equipe de professores da USP. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. Cap. 6. 8. Estruturas de Mercado I - Concorrência Perfeita MANKIW, G. N. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Trad. da 2. ed. original Maria José Cyhar Monteiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. Cap. 14. PINDICK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Trad. Eleotério Prado, Thelma Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. Cap. 8. PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de economia. Equipe de Professores da USP. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. Cap. 8. 9. estruturas de mercado ii - Monopólio KRUGMAN, P. R.; WELLS, R. Introdução à economia. Trad. Helga Hoffmann. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. Cap. 14. MANKIW, G. N. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Trad. da 2. ed. original Maria José Cyhar Monteiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. Cap. 15. PINDICK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Trad. Eleotério Prado, Thelma Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. Cap. 10. 10. estruturas de mercado Iii - Oligopólio MANKIW, G. N. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Trad. da 2. ed. original Maria José Cyhar Monteiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. Cap. 16. PINDICK, R.S.; RUBINFELD, D.L. Microeconomia. Trad. Eleotério Prado, Thelma Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. Cap. 12. SAMUELSON, P. A.; NORHAUS, W. D. Economia. 16. ed. Altragide (Portugal): McGraw Hill, 1999. Cap.10. Exercícios de Fixação 1. Noções Preliminares 1. Acerca do objeto de estudo da economia e seus desdobramentos, assinale a alternativa incorreta. a) A lei da escassez informa que a economia deve procurar produzir o máximo possível em bens e serviços, dados os recursos escassos disponíveis. b) A escassez dos recursos existentes e disponíveis provoca a escassez dos bens econômicos. c) A escassez para a economia tem o mesmo sentido da pobreza, ou seja, posse de um número limitado de bens diante da necessidade ilimitada dos agentes. d) A economia pode ser definida como uma ciência social que estuda de que forma as pessoas utilizam seus recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, com vistas a satisfazer as necessidades humanas. e) Se um bem não tiver procura, não se pode dizer que é escasso. 2. Sobre a modelagem econômica e os elementos que a compõe, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) Por representar uma simplificação da realidade, a elaboração de um modelo econômico exige que se considere inicialmente o máximo de variáveis explicativas para, em seguida, proceder com a simplificação e eliminação daquelas que se mostrarem de importânciasecundária. b) ( ) Os modelos econômicos podem ser resolvidos quando são encontrados os valores das variáveis exógenas. c) ( ) O parâmetro e as variáveis endógenas recebem o mesmo tratamento na modelagem econômica. d) ( ) Os parâmetros são constantes variáveis. 3. Suponha que uma economia produza apenas dois bens: calças e geladeiras. A curva de possibilidades de produção está representada pela Figura 1.4. Figura 1.4. Curva de possibilidades de produção A este respeito, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) O custo de oportunidade para o ponto B é zero. b) ( ) Diante de um avanço tecnológico, haverá um deslocamento ao longo da curva de possibilidade de produção, como, por exemplo, ponto A para o ponto D. c) ( ) Quanto maiores forem os recursos produtivos disponíveis, mais afastada da origem a curva de transformação estará. d) ( ) A curva de transformação é convexa em relação à origem, indicando a escassez dos recursos disponíveis. 4. O conceito de eficiência econômica é relevante na determinação da alocação dos recursos escassos da economia. A este respeito, é correto afirmar: a) Somente se o aumento do bem-estar de um indivíduo representar uma redução menos que proporcional no bem-estar de outro é que o arranjo Pareto-ótimo é verificado. b) Se for possível melhorar a situação de um indivíduo sem alterar a de outro, diz-se que esta economia atingiu o ótimo de Pareto. c) Quando a alocação de recursos na economia não permitir uma melhoria de Pareto, ela será considerada eficiente no sentido de Pareto. d) A alocação de bens e serviços em uma economia será eficiente se e somente se for possível realizar trocas adicionais sem perdas para nenhuma das partes. e) O ótimo de Pareto é frequentemente verificado em mercados oligopolizados. 2. Fundamentos da Microeconomia: oferta e demanda 1. O estudo do comportamento da demanda do consumidor é essencial na compreensão dos fundamentos da microeconomia. Sobre este tema, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) A demanda por um bem ou serviço representa a quantidade consumida para diferentes níveis de preço. b) ( ) A demanda por um bem é uma função de seu preço e do preço de outros bens que lhe guardam relações de complementaridade ou substitutibilidade. c) ( ) Caso a elasticidade-preço da demanda seja positiva, a curva terá inclinação crescente. d) ( ) Caso um aumento no preço de um bem qualquer x provoque a redução na quantidade demandada de outro bem y, pode-se afirmar que x e y são concorrentes. 2. Sobre a relação entre a demanda por um bem e a renda do consumidor, julgue C ou E as sentenças abaixo. a) ( ) Sejam dois bens quaisquer. Se estes forem substitutos, o aumento no preço de um provocará um deslocamento da curva de demanda do outro para trás. b) ( ) A elasticidade-renda da demanda por bens de consumo neutro é zero. c) ( ) A maior parte dos bens econômicos disponíveis é normal. d) ( ) A classificação de bens como inferiores ou normais pode variar entre os indivíduos, a depender de suas preferências. 3. Admita que o governo de Pirapó, preocupado com os problemas ósseos verificados na população, resolva adotar medidas que estimulem o consumo de alimentos ricos em cálcio e em vitamina D. Para o primeiro objetivo, adota um campanha televisiva, focada na divulgação dos benefícios do leite. E para garantir o consumo da vitamina D, subsidia a produção de suplementos vitamínicos. A este respeito, assinale a alternativa incorreta. a) Espera-se que a campanha televisiva modifique os gostos do consumidor, contribuindo para que a curva de demanda do mercado local do leite se desloque para frente. b) A adoção da política de subsídios, se bem-sucedida, deslocará a curva de demanda por suplementos vitamínicos para a direita e para cima. c) O enunciado da questão deixa implícito que o leite e a vitamina D são bens complementares e, no sentido propagado pelo governo de Pirapó, devem ser consumidos conjuntamente. d) Se os consumidores forem muitos sensíveis à variação dos preços dos suplementos vitamínicos, a política de subsídios adotada pelo governo deverá ser muito bem-sucedida. e) Está implícito no enunciado que o governo considera que o suplemento se comporta como um bem normal. 4. Acerca da teoria elementar da oferta, julgue C ou E os itens a seguir. a) ( ) Diferentemente da demanda, que é um desejo, uma aspiração, a oferta é, efetivamente, a venda de quantidades em função do preço, S(x) = f(px). b) ( ) A oferta de um bem é negativamente relacionada aos custos de produção. c) ( ) A oferta de um bem necessariamente sofrerá alterações se os preços de outros bens quaisquer variarem. d) ( ) Um avanço tecnológico que aumente a produtividade marginal do trabalho na produção de motores a álcool provocará um deslocamento na curva de oferta de veículos movidos a este combustível para a direita e para baixo. 5. O equilíbrio de mercado é uma situação em que a oferta e a demanda se igualam. Sobre este tema, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) O equilíbrio de mercado ocorre em apenas um ponto da curva de oferta. b) ( ) O equilíbrio de mercado descreve uma situação em que há coincidência de desejos entre produtos e consumidores. c) ( ) Caso o preço vigente seja, por qualquer razão, superior ao preço de mercado, poderá haver formação indesejada de estoques e pressão para o retorno do preço ao ponto de equilíbrio. d) ( ) Segundo os clássicos, a economia está sempre em seu ponto de equilíbrio. 3. Elasticidades 1. O estudo das elasticidades é fundamental para a compreensão do comportamento da oferta e da demanda. Acerca deste tema, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) Quanto mais a demanda responder às variações de preço de um determinado bem, mais elástica ela é. b) ( ) É impossível que a curva de demanda apresente elasticidade preço- unitário em toda a sua extensão. c) ( ) O horizonte temporal de análise em nada influencia a elasticidade- preço da demanda. d) ( ) A elasticidade entre dois pontos de uma curva de demanda é a mesma, se a considerarmos de um ponto A para outro ponto B, ou se o fizermos do ponto B para o A. 2. A Figura 3.9 apresenta a curva de demanda de Jonas por sabonetes/mês. Admitindo que o mercado em questão é perfeitamente competitivo, julgue C ou E as assertivas seguintes, acerca das informações contidas no gráfico. Figura 3.9. Curva de demanda por sabonetes de Jonas a) ( ) A demanda por sabonetes de Jonas é preço-elástica no ponto A. b) ( ) A demanda no ponto médio tem elasticidade-preço menor em relação do que no ponto A. c) ( ) É possível inferir que, se os preços do sabonete aumentarem muito, Jonas deixará de consumi-los. d) ( ) Para Jonas, os sabonetes são facilmente substituíveis. 3. Acerca da relação entre a demanda e a receita total, é correto afirmar: a) Se a elasticidade-preço da demanda for maior que -1, a receita total diminui com o aumento dos preços. b) Diante de uma demanda preço-elástica, os produtos são encorajados a aumentar seus preços para maximizar seus lucros. c) Quando, diante de uma redução de preços, for observado crescimento na receita, é possível que o bem em análise seja essencial. d) Quanto mais substitutos tiver um bem, maior será a receita total quando houver queda de preços. e) Se a demanda por um bem for preço-unitária, a receita total e o preço variarão no mesmo sentido. 4. O estudo da elasticidade cruzada da demanda fornece importantes informações sobre a classificação dos bens. A esse respeito, julgue C ou E as assertivas seguintes. a) ( ) A elasticidade-cruzada da demanda permite que se comparem variações percentuais da quantidade de um bem com variações percentuais no preço de outro bem. b) ( ) Se a elasticidade-cruzada for um número negativo, os bens serão substitutos. c) ( ) A elasticidade-preço cruzada pode variar de -1 a +1. d) ( ) Bens como café e leite têm elasticidade-preço cruzada da demanda positiva. 5. Julgue C ou E os itens a seguir, que versam sobre a elasticidade da oferta. a) ( ) Quando a elasticidade-preçoda oferta é zero, a curva de oferta é uma reta horizontal. b) ( ) Uma oferta anelástica tem elasticidade tendente ao infinito. c) ( ) Se a elasticidade-preço da oferta for infinita, a sensibilidade à variação de preços também será. d) ( ) A oferta de bens agrícolas é, em geral, preço-inelástica no longo prazo. 4. Teoria do Consumidor 1. Acerca da noção de utilidade, julgue C ou E os itens a seguir. a) ( ) A utilidade marginal de um bem qualquer decresce à medida que seu consumo aumenta, movimento oposto ao verificado na utilidade total. b) ( ) A taxa de crescimento da utilidade total de um bem é tanto menor quanto menores forem os incrementos marginais da utilidade. c) ( ) Quanto maior for a utilidade marginal de um bem, maior será o preço marginal de reserva do consumidor. d) ( ) Quanto mais essencial for um bem, maior será o preço marginal de reserva máximo e menos inclinada será a curva de demanda daquele bem. 2. São premissas das preferências do consumidor, exceto: a) Integralidade. b) Completude. c) Transitividade. d) Convexidade. e) Quantidades maiores são preferíveis às menores. 3. A noção acerca do custo de oportunidade implícita nas escolhas do consumidor é importante para bem compreender seu comportamento. A este respeito, julque C ou E as assertivas seguintes. a) ( ) A taxa marginal de substituição entre dois bens quaisquer é sempre negativa. b) ( ) A inclinação da curva de indiferença é a mesma em toda sua extensão. c) ( ) A taxa marginal de substituição indica que, em geral, os consumidores tendem a apresentar níveis maiores de utilidade com cestas mais balanceadas do que com cestas que possuem poucas unidades de um bem e muitos de outro. d) ( ) Se um consumidor é completamente indiferente entre uma barra de chocolate ou uma porção de sorvetes, a taxa marginal de substituição das curvas de indiferença que representam seu mapa de indiferença é constante. 4. Acerca da maximização da utilidade pelo consumidor, julgue C ou E os itens a seguir. a) ( ) O maior grau de satisfação de um consumidor é obtido pela curva de indiferença mais distante da origem dos eixos cartesianos. b) ( ) O consumidor maximizará sua utilidade quando ajustar o consumo de dois bens de tal forma que a taxa marginal de substituição se iguale à razão entre os preços. c) ( ) Na solução de canto, a taxa marginal de substituição é diferente da razão entre os preços. d) ( ) A condição de igualdade entre a utilidade marginal e custo marginal é válida na solução de canto. 5. Acerca da mudança no equilíbrio do consumidor, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) Se o consumo de um bem se modificar em razão de variações no poder aquisitivo de um consumidor, haverá deslocamento deste para uma nova curva de indiferença. b) ( ) Diferentemente do que ocorre no efeito-renda, no efeito-substituição o consumidor migra para um ponto na mesma curva de indiferença. c) ( ) Quando a curva de demanda tiver elevada elasticidade-preço, o efeito- renda e substituição serão fortes. d) ( ) Bens de difícil substituição que representam pouco orçamento do consumidor terão, diante de variações na renda, efeitos-renda e substituição pequenos e a demanda tenderá a ser preço-inelástica. 5. Teoria da Firma I - Produção 1. A função de produção de uma empresa descreve a combinação de insumos necessários que resultam em determinado produto total. Sobre este importante aspecto da Teoria da Firma, julgue C ou E os itens a seguir. a) ( ) A função de produção revela qual é a quantidade máxima de produto que pode ser produzida a partir de uma combinação dos insumos. b) ( ) Caso o nível tecnológico relevante para a firma se modifique, a composição da função de produção também tende a se alterar. c) ( ) A função de produção onde pelo menos um fator é fixo necessariamente alude ao curto prazo. d) ( ) No curto prazo, a firma só pode modificar a quantidade do insumo variável se desejar ampliar seu produto total final. 2. Acerca da relação entre curvas de produto total, médio e marginal, julgue C ou E as assertivas. a) ( ) O produto marginal é positivo quando a produção está crescendo, unitário se o produto não sofrer alteração no ponto de decrescimento da curva de produto total. b) ( ) A curva do produto marginal cruza o eixo das abscissas no ponto em que a inclinação da curva de produto total é máxima. c) ( ) A inclinação da curva de produto total informa o produto marginal do fator variável. d) ( ) Quando o produto marginal é maior que o produto médio, este é decrescente. 3. Sobre a teoria da firma no longo prazo, assinale a opção incorreta. a) No longo prazo não existem retornos decrescente. b) As isoquantas são ferramentas importantes do estudo da Teoria da Produção apenas no longo prazo. c) A TMST da isoquanta deixa evidente que à medida que nos movemos ao longo de uma isoquanta, mais difícil é a substituição de um fator produtivo por outro. d) A lei dos rendimentos marginais decrescentes não é válida no longo prazo. e) As isoquantas fornecem aos empresários flexibilidade para decidir o quanto empregar de cada insumo, visando atingir certo nível de produção. 4. Sobre os casos especiais da função de produção, julgue C ou E os itens a seguir. a) ( ) Processos produtivos que possam ser desenvolvidos por um único fator de produção, seja capital, seja trabalho. Terão isoquantas representadas por linhas retas paralelas. b) ( ) Se a substituição entre insumos de produção for impossível, as isoquantas terão inclinação igual a zero. c) ( ) Uma função de produção de proporções fixas tem, necessariamente, TMST = 1. d) ( ) Quando o aumento do produto total só se faz com o aumento proporcional dos insumos, a função de produção é de Leontief. 5. Ao alterar a escala de produção, a firma pode experimentar rendimentos à escala. Sobre este assunto, julgue C ou E os itens abaixo. a) ( ) Quando um aumento de todos os insumos de produção conduzem a um aumento proporcional da produção, a firma não está usufruindo de rendimentos à escala. b) ( ) Quando a variação no produto total é menos que proporcional à variação nos insumos, diz-se que há rendimentos decrescentes à escala. c) ( ) Em geral, ao longo da expansão das empresas, elas experimentam fases com rendimentos crescentes, constantes e decrescentes de escala. d) ( ) Se o aumento dos insumos de produção provocar queda no produto total, a empresa está diante de rendimentos decrescentes. 6. Teoria da Firma II - Custos de Produção 1. A decisão de obter lucros da firma passa tanto pela maximização do produto total dada a combinação de insumos possível e descrita pela função de produção quanto pela minimização dos custos. A respeito da questão dos custos, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) Os custos irreversíveis exercem pouca influência sobre as decisões das empresas. b) ( ) Os custos irreversíveis têm custo de oportunidade zero. c) ( ) Custos de oportunidade representam tanto custos contábeis quanto custos econômicos. d) ( ) Por não exigirem dispêndios monetários, os custos de oportunidade são custos implícitos. 2. A respeito dos custos total, médio e marginal das empresas, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) Se o produto marginal do trabalho for alto, muito trabalho adicional se fará necessário para que o produto total aumente, o que implica em elevado custo marginal. b) ( ) Segundo a lei dos rendimentos marginais decrescentes, conforme novas unidades de um insumo variável forem sendo adicionados ao processo produtivo, o produto marginal e os custos marginais movem-se em direções opostas. c) ( ) A curva de custo fixo médio (CFMe) é declinante em toda a sua extensão. d) ( ) A queda inicial observada nos custos médios ocorre em função da queda dos custos fixos médios, ao passo que o aumento verificado em seguida resulta do crescimento dos custos variáveis médios. 3. Acerca da relação entre custo variável e médio, assinale a alternativa correta. a) Quando o custo marginal é maior que o custo médio, este está declinando. b)A curva de custo marginal cruza a curva de custo total médio na fase crescente desta última. c) No ponto em que a curva de custo marginal cruza com a curva de custo variável médio, a primeira está em sua porção declinante. d) No ponto inferior da curva de custo médio, o custo marginal iguala-se a ela. e) No ponto em que o custo marginal é igual ao custo médio, a curva de custo médio está completamente inclinada, ou seja, tem inclinação igual a 1. 4. Considere os dados da Tabela 6.4 para julgar as assertivas (C ou E) a seguir. Tabela 6.4a - Custos de Produção da Gama Shoes (custos em unidades monetárias) Quantidade produzida de pares de tênis por dia Custo Fixo (CF) Custo Variável (CV) Custo Total (CT) Custo Variável Médio (CVMe) Custo Total Médio (CTMe) Custo Marginal (CMg) 0 6 0 a g m s 1 6 8 b h n t 2 6 13 c i o u 3 6 17 d j p v 4 6 22 e k q x 5 6 32 f l r z a) ( ) Os custos marginais da Gama Shoes indicam a presença da lei dos rendimentos decrescentes do fator variável. b) ( ) As letras d, k, r e v correspondem, respectivamente, a 23; 3,67; 7,67 e 4. c) ( ) A curva de custo total tem o mesmo formato da curva de custo variável. d) ( ) Quando o custo marginal é menor que o custo total médio, este está declinando. 5. Acerca de Teoria dos Custos, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) A curva de custo médio de longo prazo tem formato de U em função dos rendimentos de escala. b) ( ) O custo marginal de longo prazo, para qualquer nível de produção, deve ser igual ao custo marginal de curto prazo associado à dimensão ideal da fábrica. c) ( ) Quando o custo médio de longo prazo aumenta diante do aumento da produção, diz-se que há economias de escala. d) ( ) Os rendimentos de escala ocorrem quando é possível dobrar a produção com um aumento de menos do que o dobro dos custos. 7. Intervenção do Estado na Economia 1. Diante de flutuações bruscas nos preços internacionais de algumas commodities, o governo de Soropá opta por intervir no mercado, garantindo preços mínimos aos produtores de trigo. Com base nestas informações, julgue C ou E as assertivas abaixo. a) ( ) Como a demanda por trigo o é, em geral, preço-elástica, o governo deverá garantir que o produto seja vendido no mercado e, para tanto, deverá também adotar um programa de compras. b) ( ) A adoção de um programa de compras ou de subsídios não se faz necessária neste caso, dadas as características presumíveis da demanda. c) ( ) Se a população de Soropá for, em sua maioria, de baixa renda, espera- se que o governo adote também um programa de subsídios pra compensar a queda nas vendas do trigo. d) ( ) Dada a essencialidade do produto, o governo de Soropá será indiferente à adoção de um programa de compras ou de subsídios. 2. Acerca da intervenção do governo na economia via política de preços máximos, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) Quando o preço-teto é estabelecido em patamar superior ao preço de equilíbrio, ele torna-se compulsório. b) ( ) A imposição de tetos de preço provoca uma situação de escassez geradora de novas distorções. c) ( ) Um exemplo típico deste tipo de política é a lei do salário mínimo. d) ( ) O governo pode tentar minimizar os problemas gerados pela política de preços máximos pela adoção de um programa de compras. 3. Acerca da política de cotas, julgue C ou E as assertivas seguintes: a) ( ) A política de controle de quantidades é uma forma alternativa de intervenção governamental, onde o governo, através da emissão de licenças, limita a quantidade comercializável de um bem. b) ( ) A política de cotas estabelece limites - pisos e tetos - para as quantidades comercializáveis de um bem. c) ( ) A introdução de cotas de produção impõe uma cunha entre os preços de demanda e oferta, gerando ineficiência alocativa e estimulando a atividade ilegal. d) ( ) Caso as cotas sejam fixadas abaixo da quantidade de equilíbrio, elas não terão efeitos no mercado. 4. Caso a curva de oferta de certo bem for representada pela equação S = 10 + 2p e o governo determinar um imposto ad valorem de 20%, a nova curva de oferta será expressa por a) S’ = -12 + 2,4p b) S’ = 3,2p - 20 c) S’ = 1,6p + 10 d) S’ = 10 + 1,6p e) S’ = 1,6p - 10 5. Os impostos representam para os governos sua principal fonte de receitas. Acerca deste assunto, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) Se o governo impor um imposto específico sobre determinado bem, sua oferta retrairá, mas o intercepto da curva de oferta antes e depois de sua incidência não modificará. b) ( ) O ônus do imposto é compartilhado entre compradores e vendedores, sendo que os últimos recebem preços abaixo do ponto de equilíbrio sem imposto. c) ( ) Quanto mais elástica for a demanda, mais os compradores arcarão com o ônus do imposto. d) ( ) O efeito líquido da imposição de imposto é a geração de peso morto, que representa uma ineficiência alocativa. Este pelo morto tenderá a ser maior quanto mais inelásticas forem as curvas de oferta e demanda. 8. Estruturas de Mercado I - Concorrência Perfeita 1. Sobre as características dos mercados em concorrência perfeita, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) Os agentes são tomadores de preço. b) ( ) Cada empresa se ocupa em determinar a quantidade de bens a ser ofertada, sem preocupar-se com os preços. c) ( ) Os produtos ofertados neste mercado são similares e complementares entre si. d) ( ) O mercado é permeável, ou seja, não há barreiras para entrada e saída de empresas. 2. Acerca das curvas de custo, lucro e receita nos mercados em concorrência perfeita, assinale a alternativa correta. a) No ponto do gráfico representativo das curvas de custo, receita e lucro totais, quando a distância entre custos e receitas é máxima, o lucro é maximizado. b) A inclinação da curva de custo marginal fornece o valor do custo total naquele ponto. c) O custo é positivo mesmo com produto igual a zero, pela presença de insumos variáveis no curto prazo. d) No ponto de lucro máximo, as inclinações das curvas de receita e custo são zero. e) Quando as receitas são iguais aos custos, o lucro é maximizado. 3. Uma firma em concorrência perfeita, diante de uma situação de prejuízos, deve tomar decisões acerca de sua permanência ou não no mercado. Acerca deste tema, julgue C ou E os itens a seguir. a) ( ) Quando as receitas de uma empresa apenas cobrirem seus custos variáveis ou os prejuízos forem iguais aos custos fixos, a empresa deve encerrar suas atividades. b) ( ) Quando os preços forem iguais ao custo marginal, mas abaixo do custo total médio mínimo, a empresa deve encerrar suas atividades. c) ( ) Se o custo total médio for maior que o custo marginal, a empresa deve continuar produzindo, a despeito dos prejuízos. d) ( ) As opções que uma empresa competitiva em prejuízo dispõe no curto prazo são somente continuar ou encerrar sua atividades. 4. Acerca da oferta da empresa competitiva no curto prazo, julgue C ou E os itens a seguir. a) ( ) A curva de oferta acompanha a curva de custo marginal apenas acima do ponto de encerramento. b) ( ) O nível de produção escolhido pela empresa, representado na curva de oferta, atenderá à igualdade CMg =P. c) ( ) A curva de oferta é sempre ascendente. d) ( ) No trecho entre o ponto crítico e o ponto de encerramento, a curva de oferta é descontinuada. 5. Os mercados em concorrência perfeita são eficientes no sentido de Pareto. Assinale a alternativa que não descreve ou desenvolve corretamente esta informação. a) O ganho marginal para a sociedade da última unidade consumida é igual ao custo marginal para a sociedade da última unidade produzida. b) Os consumidores distribuem seus recursos entre diferentes bens até que a utilidade marginal da última unidade monetária seja igual para todos os bens consumidos. c) A eficiência dos mercados competitivos implica em equidade e bem-estar social. d) A concorrência perfeita é a forma mais eficiente, economicamente falando, de alocação dos recursos escassos entre necessidades ilimitadas. e) O preçoé igual ao custo marginal, o que indica que produtores ofertarão seus bens até o ponto em que seu preço for igual ao custo da última unidade ofertada. 9. estruturas de mercado ii - Monopólio 1. Sobre a concorrência imperfeita, é incorreto afirmar: a) São mais comuns casos empíricos de monopólio puro do que de concorrência perfeita. b) Os ofertantes têm influência na determinação de preços. c) A concorrência imperfeita convive com a rivalidade, embora possa haver comportamentos cooperativos. d) A curva de demanda tem o mesmo formato da curva da concorrência perfeita, considerando o setor como um todo. e) O poder de mercado do monopólio é total. 2. Acerca do monopólio, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) Se uma empresa for capaz de ofertar um produto no mercado a um custo inferior do que faria um maior número de empresas, ele será um monopólio puro. b) ( ) Um monopólio natural apresenta economias de escala de forma permanente. c) ( ) O monopólio natural apresenta curva de custo total médio em formato de U. d) ( ) Quando a curva de demanda da indústria encontra-se muito distante da escala eficiente de uma única empresa, a curva de custo médio será decrescente em toda sua extensão. 3. Suponha que uma empresa monopolista apresente a seguinte função de custo total: CT(Q) = 25 + Q2 e que a demanda neste mercado é representada pela função P(Q) = 60 - Q. Com base nestas informações, julgue os itens seguintes (C ou E): a) ( ) A receita marginal é igual a RMg = 60 - 2Q. b) ( ) O lucro é maximizado quando a quantidade produzida é igual a 10. c) ( ) O lucro é maximizado a um preço de 50. d) ( ) Conforme o nível de produção aumenta de 0 a 10, o lucro aumenta até atingir seu máximo. 4. Acerca da relação entre o bem-estar social e o monopólio, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) O nível de produto no monopólio é menor e o preço maior do que em concorrência perfeita. b) ( ) O monopolista captura o excedente do consumidor, sendo tanto maior tal captura quanto maior for a discriminação de preços por ele praticado. c) ( ) O monopólio gera peso morto, inexistente no caso da concorrência perfeita. d) ( ) É possível que o monopólio apresente uma alocação Pareto-eficiente. 5. A respeito do comportamento do monopolista maximizador de lucros, julgue C ou E as assertivas seguintes: a) ( ) A fixação não linear de preços é uma estratégia que visa segmentar o mercado e ofertar produtos a preços diferentes para cada grupo. b) ( ) O lançamento recente das televisões a LED no Brasil contou com forte discriminação intertemporal de preços. c) ( ) Parques aquáticos no Brasil atuam como monopolistas que praticam a tarifa em duas partes. d) ( ) A venda em pacote se diferencia da venda casada por só ocorrer com três ou mais produtos ou serviços conjuntamente. 10. estruturas de mercado iii - Oligopólio 1. Acerca das características dos mercados oligopolizados, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) Estão presentes nos mercados em oligopólio as seguintes características: barreiras à entrada, altos custos de implantação e interação estratégica. b) ( ) Um dos motivos que pode favorecer a implantação de oligopólios são os altos gastos de implantação, que exigem que a escala mínima eficiente ocorra num alto nível de produção. c) ( ) Apesar de apresentar ineficiências alocativas, os oligopólios também trazem benefícios à sociedade, como investimentos consideráveis em pesquisa e desenvolvimento. d) ( ) Em mercados oligopolizados, as empresas dependem das ações de suas rivais para tomar sua próprias decisões. 2. Quando empresas em mercados oligopolizados atuam de forma cooperativa, forma-se o chamado oligopólio de conluio. A este respeito, julgue C ou E os itens. a) ( ) Se um conluio tácito for estabelecido, o excedente do consumidor se reduzirá. b) ( ) O Equilíbrio de Nash pode ocorrer quando há cooperação estratégica e interação entre empresas oligopolistas. c) ( ) A prática do conluio é facilitada quando houver um número maior de empresas, e quando os preços não são públicos. d) ( ) Quando empresas oligopolistas agem de forma cooperativa, em conluio, os lucros resultantes são os de monopólio. 3. Se empresas em mercados oligopolizados optarem por agir de forma não cooperativa, apresentarão as seguintes características, exceto: a) Maximização de lucros. b) Quantidade produzida maior que a da concorrência perfeita. c) Lucros positivos e menores que os de monopólio. d) Preços maiores que os de concorrência perfeita. e) As empresas definem individualmente preços e quantidades, procurando minimizar custos. 4. Comparando as estruturas de mercado oligopolizadas com as de monopólio e concorrência perfeita, é possível tirar importantes conclusões. A este respeito, julgue C ou E as assertivas a seguir. a) ( ) Em todas as estruturas, o preço é igual ao custo marginal. b) ( ) Pelo fato de enfrentarem concorrência, o oligopólio não cooperativo não tem poder de mercado relevante. c) ( ) Há um caso específico onde o monopólio, assim como a concorrência perfeita, é eficiente no sentido de Pareto. O mesmo não se pode dizer do oligopólio. d) ( ) Em todas as estruturas citadas, no enunciado, o lucro é maximizado quando RMg = CMg. 5. Julgue C ou E as assertivas acerca da Teoria dos Jogos. a) ( ) O problema central da Teoria dos Jogos é a previsão acerca do comportamento do rival. b) ( ) O objetivo do jogo denominado Dilema dos Prisioneiros é mostrar quão dificultoso é conseguir a cooperação, mesmo quando ela é mutuamente benéfica. c) ( ) O Dilema dos Prisioneiros mostra que as empresas podem confiar nas ações de seus concorrentes, pois apesar das dificuldades de cooperação, todas almejam lucros maiores. d) ( ) Na estrutura descrita pela Teoria dos Jogos, toda a determinação de preços e quantidades a serem produzidas depende da reação dos rivais. Gabarito Comentado 1. Noções Preliminares Questão 1 Resposta: letra C É importante não confundir escassez - quando há mais desejos do que bens para satisfazê-los - com a posse de poucos bens. Trata-se de conceitos distintos, pois a escassez pode existir mesmo quando houver muitos bens. Questão 2 a) E A regra geral é oposta: procura-se adotar um modelo inicial simples para, em seguida, acrescentar-lhe as complicações necessárias para torná-lo mais coerente com a realidade por ele descrita. b) E Lembre-se que as variáveis exógenas são aquelas cujos valores são determinados por forças externas ao modelo. A variável endógena é que será determinada por sua solução. c) E Os parâmetros são constantes associadas a uma variável, podendo assumir diferentes valores. Diferentemente da variável endógena, cujo valor é dado pela solução do modelo, os parâmetros são tratados como dados. Neste sentido, assemelham-se à variáveis exógenas. d) C O valor numérico do parâmetro pode ser arbitrariamente fixado. Por ser uma constante variável, recebe também o nome de constante paramética. Questão 3 a) C Observe que como o ponto B encontra-se dentro da área limitada pela curva de possibilidades de produção, não há sacrifício algum para aumentar a produção de ambos os bens. b) E Variações tecnológicas deslocam a curva de possibilidade de produção para fora. c) C A afirmativa é válida para quaisquer variações nos fatores considerados constantes. d) E A curva de transformação é côncava em relação à origem dos eixos cartesianos. É também decrescente, em razão da limitação dos recursos disponíveis. Questão 4 Resposta: letra C a) E O ótimo paretiano não traz consigo a noção de proporcionalidade, sendo simplesmente definido como a situação em que não é possível aumentar o bem-estar de um sem reduzir o de outro. b) E Enquanto tal situação for possível, não se atingiu a otimização. Cada vez que se melhora a situação de um indivíduo sem piorar a de outro, houve uma melhoria de Pareto. c) C Nesta situação, não será possível alocar os recursos de forma mais eficiente, pois qualquer melhoria na situação de um indivíduo necessariamentepiorará a situação de outro. d) E Se esta situação se verificar, o ótimo de Pareto ainda não terá sido atingido, sendo, portanto, possível melhorar a alocação dos recursos nesta economia. e) E A alocação de recursos em mercados oligopolizados não pode ser considerado Pareto-eficiente, pela presença de excedentes do produtor, já que preços são estabelecidos acima do custo marginal. O ótimo de Pareto é observado em mercados de concorrência perfeita, quando estes se encontram no ponto de equilíbrio nulo de longo prazo. 2. Fundamentos da Microeconomia: oferta e demanda Questão 1 a) E A demanda é uma aspiração, um desejo, e não efetivamente uma compra. É determinada por um conjunto de variáveis, das quais a mais relevante é o preço do bem demandado. b) C O candidato pode ter sido levado a erro neste item por entender que a assertiva está incompleta. Mas tal como aparece nas provas elaboradas pelo Cespe, fato de estar incompleta não torna a assertiva incorreta. Fica a dica! c) C Esta sentença descreve um caso extremamente raro chamado Paradoxo (ou bens) de Giffen. A inclinação da curva, neste caso, é positiva, indicando que um aumento no preço aumenta a demanda pelo bem. d) E Neste caso, os bens são complementares entre si. Questão 2 a) E A curva de demanda do segundo bem se deslocará para a direita e para a frente. b) C Bens de consumo saciado ou neutro são aqueles em que não se verifica a alteração no consumo diante do aumento da renda, o que equivale afirmar que a elasticidade-renda da demanda é zero. c) C A maioria dos bens econômicos apresenta um comportamento normal no tocante à relação renda-demanda: diante de aumentos de renda, verifica-se aumento na quantidade demandada. d) C O que pode ser um bem inferior para mim (ex.: mortadela de frango) pode não o ser para outrem. Questão 3 Resposta: letra B a) C Dispensa comentários. b) E A política de subsídios fará com que o preço do suplemento caia pra o consumidor final, provocando um deslocamento ao longo da curva de demanda. c) C Esta é exatamente a ideia que o governo quer transmitir à população. d) C Neste caso, a elasticidade-preço será alta, e reduções no preço tenderá a aumentar fortemente o consumo. e) C Espera-se que o aumento da renda real dos consumidores, graças ao aumento do poder de compra resultante da queda do preço do suplemento, provoque aumento na demanda. Assim, fica implícito que o governo assumiu que o suplemento é um bem normal. Questão 4 a) E Assim como ocorre com a demanda, a oferta é um desejo, uma aspiração, um plano. b) C Quanto maiores os preços dos fatores de produção, menor tende a ser a oferta. A relação é, pois, negativa. c) E É importante destacar que a relação S(x) = f (Py, P2z,...Pi) é válida se y, z e i tiverem alguma relação com o bem x. A assertiva é coerente se x e y forem substitutos, por exemplo: Mas não há razão para supor que o aumento dos preços do trigo provoque alguma relação direta na produção de sabonetes. d) C A oferta é uma função da tecnologia (t), coeteris paribus: S(x) = F (t). Mudança em T provoca deslocamento da curva de oferta para frente (para a direita e para baixo). Questão 5 a) C Como a curva de demanda é decrescente e a de oferta, crescente, o ponto de interseção entre elas é único. Somente ali haverá o equilíbrio, com um preço p* e uma quantidade q*. b) C No ponto de equilíbrio, os consumidores desejam comprar exatamente a mesma quantidade que os produtores desejam vender. c) C A situação descreve um excesso de oferta. d) E O equilíbrio é a tendência do mercado, mas não necessariamente sua regra. O item C, inclusive, descreveu uma situação de desequilíbrio temporário. 3. Elasticidades Questão 1 a) C A elasticidade-preço da demanda é conceituada como sendo a sensibilidade da demanda diante das variações de preço. b) E Trata-se de um caso típico, mas possível. c) E Em geral, em intervalos mais curtos de tempo, os bens tendem a apresentar elasticidade-preço menores do que em períodos mais amplos. d) E A elasticidade entre os pontos A e B é diferente da elasticidade entre os pontos B e A. Questão 2 a) C Resolução: Os pontos são os seguintes: PA = 1 PB = 1,2 Q A= 6 Q B = 4 |-1,67| > 1. A demanda é preço-elástica no ponto A. b) A Resolução: A elasticidade no ponto médio ou no arco é dada por: |-2,2| > |-1,67|. c) E As elasticidades-preço variam ao longo da curva de demanda. A própria inclinação do início da curva mostra que, para quantidades menores, Jonas pagaria preços mais elevados, o que evidencia uma maior inelasticidade- preço neste trecho da curva. d) E As informações presentes no gráfico, inclusive sua curvatura, mostram uma inelasticidade-preço para quantidades baixas, o que indica que a substituição não é tão simples (a informação é intuitiva, principalmente porque a questão fala de sabonetes em geral). Questão 3 Resposta: letra D a) E Observe que o item não fala “em módulo”, o que torna o item errado. Se hD = -0,5, por exemplo, -0,5>-1 (para não se confundir, pense na temperatura). E -0,5 representa uma demanda preço-inelástica. Se o preço do bem aumentar, a receita total aumentará também. b) E Se a demanda é preço-elástica, os produtores vão preferir segurar seus preços, evitando queda na receita total. c) E Quanto mais essencial o bem, menor sua elasticidade. E diante de baixas elasticidades-preço da demanda, a receita total diminui com a redução de preços. d) C Quanto melhores (ou mais) substitutos tiver um bem, maior deverá ser sua elasticidade-preço. Por isso, a receita total aumenta com a queda de preços. e) E Se a demanda for preço-unitária, a receita total permanecerá constante diante da variação de preços. Questão 4 a) C Conceitual. b) E Se hxy < 0, os bens são complementares. Isso significa que o aumento nos preços de x faz a quantidade demandada de y cair. c) E Ela pode variar de -∞ a +∞. d) E Por serem bens complementares, a elasticidade-preço cruzada é negativa. Questão 5 a) E Neste caso, a curva é uma reta vertical. b) E Oferta anelástica ou perfeitamente inelástica tem elasticidade igual a zero. c) C Isso significa que ao preço Px da Figura 3.10, os produtores estarão dispostos a ofertar qualquer quantidade. Figura 3.10. Oferta perfeitamente elástica (ES= ∞) d) E No longo prazo, a rigidez da oferta tende a ceder e os agricultores optam pela produção do bem cujo preço de mercado é mais vantajoso. Sua oferta é, portanto, preço-elástica. 4. Teoria do Consumidor Questão 1 a) C A utilidade total cresce conforme mais unidades do bem vão sendo consumidas. Mas os incrementos marginais na utilidade são cada vez maiores, como preconiza a Lei da Utilidade Marginal Decrescente. b) C A utilidade total tem comportamento crescente até atingir seu pico (quando a UMg = 0), e seus acréscimos vão ocorrendo a taxas cada vez menores. c) C Subentende-se que o item refere-se a um ponto específico da curva de demanda. Em um ponto qualquer onde a utilidade marginal for alta, o preço marginal de reserva - o máximo que um consumidor está disposto a pagar - será também alto. d) E Bens essenciais têm demanda preço-inelástica, o que significa que os consumidores são pouco sensíveis à variação nos preços. Quanto mais essencial, mais inelástica a demanda e, portanto, mais inclinada (vertical) será a curva. Questão 2 a) C As preferências são completas ou integrais, ou seja, para quaisquer cestas A e B, o consumidor manifesta se prefere A a B, B a A ou se é indiferente a qualquer delas. b) C Completude e integralidade aqui têm o mesmo sentido. Vale a justificativa do item anterior. c) C Preferências transitivas significam que se um consumidor manifesta preferência pela cesta A em vez da B, e B em vez da C, então ele também prefere A a C. d) E Não há sentido em falar de convexidade das preferências. Haveria sentido se estivéssemos nos referindo à curvas de indiferença, mas não às preferências em geral. e) C Considerando que todos os bens são desejáveis,assume-se que ter mais é sempre preferível a ter menos. Questão 3 a) C Pelo fato de a taxa marginal de substituição ser calculada a partir da curva de indiferença, que tem inclinação negativa, ela mede o sacrifício requerido pelo consumidor, ou seja, o quanto se deixa de consumir de um bem A para elevar em uma unidade o consumo do bem B. Aqui, a noção de custo de oportunidade está implícita. b) E A inclinação modifica-se ao longo da curva. c) C Este é o comportamento típico, geral. A regra, no entanto, admite exceções (fato que não é suficiente para tornar a assertiva errada). d) C O item descreve o caso dos substitutos perfeitos, onde as curvas de indiferença são representadas por linhas retas paralelas. Questão 4 a) C À primeira vista, o candidato pode ter julgado o item como incompleto, já que ele não fala nada sobre a restrição orçamentária. Mas não esqueça que esse tipo de assertiva é muito recorrente nas provas do Cespe. O fato de estar incompleto não torna o item errado. Maior satisfação o consumidor terá com as cestas localizadas em curvas de indiferença mais distantes da origem pelo simples fato de elas terem mais unidades do que menos de ambos os bens. b) C A maximização da utilidade ocorre no ponto em que a taxa marginal de substituição é igual à razão entre os preços relativos: TMS = PA/PB. c) C Neste caso, a taxa marginal de substituição será maior ou igual a esta razão: TMS ≥ PA/PB. d) E A taxa marginal de substituição de um bem por outro, no caso da solução de canto, é maior que a inclinação da linha de restrição orçamentária. Assim, a condição UMg = CMg é inválida na solução de canto. Questão 5 a) C O item descreve o efeito-renda. b) C Ao fazer isso, o consumidor estará em um ponto diferente da curva de indiferença, com nova inclinação e, portanto, outra taxa marginal de substituição. c) C Isso significa que o bem em análise tem substitutos próximos. d) C Para ficar mais fácil a compreensão, pense em um item com estas características como o sal. Efeito-renda e substituição pequenas e baixa elasticidade-preço da demanda. 5. Teoria da Firma I - Produção Questão 1 a) C Conceitual. b) C Diante de avanços tecnológicos, as firmas podem optar por usar mais de um insumo e reduzir o uso de outro, por exemplo, visando obter um produto final maior. c) C Se há insumos fixos, a análise é de curto prazo. d) C Como o nome sugere, insumos fixos não podem ser alterados. Doutra sorte, já não serão fixos, e a análise será considerada de longo prazo. Questão 2 a) E O item está quase todo correto. O erro é que o produto marginal é zero quando a produção está constante. b) E A curva do produto marginal cruza o eixo das abscissas (eixo x) no ponto em que a inclinação da curva de produto total é zero, ou seja, quando esta atinge seu pico. c) C Da mesma forma, a derivada de função produto total fornece o produto marginal. d) E Quando o produto marginal é menor que médio, este é decrescente. Questão 3 Resposta: letra D a) C Os retornos crescentes acontecem no curto prazo, já que são verificados quando um insumo é fixo enquanto o outro varia. Mesmo assim, a lei dos rendimentos marginais decrescentes é válida. b) C Como as isoquantas são curvas que representam todas as combinações possíveis de insumos que geram o mesmo produto final, admite-se que ambos são variáveis. Assim, a análise é de longo prazo. c) C O item descreve uma das propriedades da isoquanta, a saber, a convexidade em relação à origem. Ela mostra que a TMST diminui ao longo da curva, o que mostra que a substituição de um fator por outro é cada vez mais difícil. d) E A lei dos rendimentos decrescentes, por prever pelo menos um fator de produção fixo, é um fenômeno tipicamente de curto prazo. No entanto, mesmo na análise de longo prazo, a lei permanece válida, como visto nas Figuras 5.4 e 5.5. e) C Este é um dos objetivos da construção de isoquantas: mostrar combinações possíveis de insumos de produção que forneçam o mesmo produto final. Questão 4 a) C O item descreve a função de produção para substitutos perfeitos. b) E Se a substituição entre insumos for impossível, está-se diante de uma função de produção de proporções fixas, cujas isoquantas têm formato de “L”. c) E A proporção fixa não precisa ser de um para um. O importante é que a proporção entre insumos seja fixa (ainda que 1 para 2, 1 para 10, etc.). d) C Neste caso, só se migra de uma isoquanta para outra mantendo-se uma combinação específica e proporcional entre os insumos. As isoquantas têm formato de “L”. Questão 5 a) E No caso descrito, o processo produtivo está na fase dos rendimentos constantes à escala. b) C Conceitual. c) C Trata-se de uma característica comum entre as empresas, ao longo de seu processo de crescimento. d) E Situação incomum, não? Se ocorrer, é porque há algum tipo de problema com estes insumos. Os rendimentos não estão decrescentes, eles estão negativos! 6. Teoria da Firma II - Custos de Produção Questão 1 a) E Tais custos, como o nome já diz, já foram feitos e não podem ser recuperados. Por isso, não exercem (ou não deveriam exercer) influência sobre as decisões atuais da empresa. b) C Recorde que este é o caso, por exemplo, de máquinas adquiridas para objetivos específicos, não apresentando utilidade para outras coisas. Assim, tem custo de oportunidade zero. c) E Custos de oportunidade são custos econômicos e devem ser considerados nas decisões da empresa, pois engloba a questão das oportunidades alternativas de investimento. d) C Acrescente-se que, embora não exija o dispêndio monetário, ele é medido pelo valor monetário dos benefícios dos quais se teve que abrir mão. Questão 2 a) E Se o PMgT for baixo é que muito trabalho adicional se fará necessário. O restante da assertiva está correto. b) C Neste caso, o produto marginal cai e o custo marginal aumenta. c) C O fato indica que menor é o custo fixo por unidade produzida conforme o nível de produção aumenta. d) C O item explica o formato e U da curva de custo total médio. Questão 3 Resposta: letra D a) E Quando o custo marginal é menor que o custo médio, este está declinando. b) E A curva de custo marginal cruza a curva de custo total médio em seu ponto de mínimo. c) E A curva de custo marginal está em sua fase crescente ao cruzar com a curva de custo variável médio. d) C O ponto inferior da curva de custo médio é seu ponto de mínimo. É ali que a curva de custo marginal cruza a curva de custo médio. Assim, CMg = CMe em seu ponto mínimo. e) E No ponto em que o custo marginal é igual ao custo médio, a curva de custo médio tem inclinação igual a zero. Questão 4 a) C Será útil refazermos a tabela, completando as letras indicadas. Tabela 6.4b - Custos (completos) de Produção da Gama Shoes Quantidade produzida de pares de tênis por dia Custo Fixo (CF) Custo Variável (CV) Custo Total (CT) Custo Variável Médio (CVMe) Custo Total Médio (CTMe) Custo Marginal (CMg) 0 6 0 6 0 0 0 1 6 8 14 8 14 8 2 6 13 19 6,5 9,5 5 3 6 17 23 3,67 7,67 4 4 6 22 28 5,5 7 5 5 6 32 38 6,4 7,6 10 Observe que o custo marginal decresce nas primeiras três unidades, mas volta a crescer a partir da quarta unidade do produto. Isso confirma a vigência da lei dos rendimentos decrescentes do fator variável a partir da quarta unidade. b) E Conforme dados da tabela completa, as letras correspondem, respectivamente, a 23; 5,5; 7,6 e 5. c) C A diferença existente entre elas é apenas a distância vertical, correspondente ao custo fixo e igual a 6. d) C O custo marginal é menor que o custo médio total nas unidades 0 a 4. Observe que neste trecho, o custo total médio está declinando. O fato é coerente com a teoria econômica estudada. Questão 5 a) C Na fase declinante da curva, há rendimentos crescentes e na fase ascendente, rendimentos decrescentes de escala. b) C Conceitual. c) E O item descreve as deseconomias de escala. d) E O conceito descrito no item é o de economias de escala. Os rendimentosde escala ocorrem quando, ao dobrarem-se os insumos, a produção mais do que dobra. 7. Intervenção do Estado na Economia Questão 1 a) E A demanda por bens considerados essenciais costuma ser preço-inelástica, salvo se houver substitutos próximos. Dada a característica deduzida da demanda, o governo deve adotar realmente um programa de compras. Caso o enunciado afirmasse que tal demanda é preço-elástica, então o governo deveria adotar o programa de subsídios. b) E A imposição de preços mínimos estabelece um preço superior ao preço de equilíbrio de mercado. Por esta razão, sem nova intervenção governamental, haverá excedente de produção, quase que independentemente das características da demanda (exceção para o caso extremo de demanda completamente inelástica). Se a demanda for inelástica, a redução nas quantidades demandadas será menor, mais ainda acontecerá, sendo justificável a nova intervenção governamental via adoção de um programa de compras. c) C O que garante a resposta afirmativa é a expressão “espera-se que”, ou seja, não obrigatoriamente isso ocorrerá, mas é bem provável que sim. Uma população de baixa renda costuma ter elasticidade-preço da demanda alta, sendo muito sensível, portanto, à variação de preços. Espera-se que o governo adote o programa de subsídios para não prejudicá-la com os preços mais altos. d) E A escolha entre o programa de compras e o de subsídios é uma questão de economicidade e deverá ser definida a partir da análise da elasticidade- preço da demanda. Questão 2 a) E Neste caso, o que prevalecerá no mercado é o próprio preço de mercado. b) C Alguns exemplos dessas distorções seriam a cobrança de ágios, o surgimento de filas e mercado negro ou paralelo. c) E A imposição de um salário mínimo é exemplo de uma política de preços mínimos. d) E Muito pelo contrário, isso só agravaria o problema da escassez! Questão 3 a) C Conceitual. b) E Não há sentido em definir um limite quantitativo inferior. c) C Outro efeito é o aumento dos preços. d) E As cotas são fixadas, em geral, abaixo da quantidade de equilíbrio, gerando ineficiências alocativas. Se fixadas acima do equilíbrio, e não surtirão efeitos no mercado. Questão 4 Resposta: letra D Resolução: S = - 10 + 2p t = 0,2 p’ = p(1 - t) p’ = p (1 - 0,2) p’ = 0,8p S’ = - 10 + 2p’ S’ = 10 + 2 (0,8p) S’ = - 10 + 1,6p Questão 5 a) E O item está certo até “sua oferta retrairá”. O intercepto modificará. O que permanecerá é o coeficiente angular (inclinação). b) C Por outro lado, os compradores pagam preços acima do ponto de equilíbrio. c) E O lado mais inelástico arca mais com o ônus do imposto. d) E A primeira sentença está correta. O peso morto será maior, no entanto, quanto maiores forem as elasticidades-preço da oferta e da demanda. 8. Estruturas de Mercado I - Concorrência Perfeita Questão 1 a) C Tanto consumidores quanto produtores neste mercado não têm poder de influenciar preços. b) C Os preços são dados e as empresas devem definir o quanto ofertar. c) E Os produtos são homogêneos, substitutos perfeitos entre si. d) C Não há barreiras à entrada, ou seja, os custos para tal não são exagerados. Não impedem a movimentação de empresas atraídas por lucros normais ou repelidas por prejuízos. Questão 2 Resposta: letra A a) C Neste ponto, CMg = RMg também. b) E A inclinação da curva de custo total é que fornece o custo marginal a cada ponto. c) E O custo é positivo mesmo com produto igual a zero pela presença dos custos fixos no curto prazo. d) E Não necessariamente. Neste ponto, as inclinações são iguais, mas podem apresentar valores diferentes de zero. e) E O lucro é maximizado quando a receita marginal é igual ao custo marginal. Questão 3 a) C O item descreve a regra de encerramento. b) E Quando os preços estiverem abaixo do custo total médio, não necessariamente a empresa deverá encerrar suas atividades. Ela deverá fazê-lo se o preço estiver abaixo do custo variável médio. c) E O item está incompleto e aqui a ausência de detalhamento tornou o item errado. Observe a Figura 8.11, que apresenta o ponto de encerramento: Figura 8.11. Ponto de encerramento Preços abaixo do ponto B indicam uma situação em que a empresa deve encerrar suas atividades. Mas pontos entre A e B, a empresa continua, a despeito dos prejuízos. d) E Lembre-se que, no curto prazo, há custos fixos e variáveis. Então, a empresa pode optar por paralisar temporariamente suas atividades, visando minimizar seus gastos. Questão 4 a) C Abaixo deste ponto, a empresa não está mais ofertando, pois encerrou suas atividades. b) C O preço é sempre igual ao custo marginal em concorrência perfeita. c) E Há uma porção horizontal da curva de oferta, conforme a Figura 8.12. Figura 8.12. Curva de oferta da empresa no curto prazo d) E A curva de oferta continua, evidentemente, entre estes dois pontos, pois há produção com prejuízos, mas positiva. Questão 5 Resposta: letra C a) C O item descreve a condição UMg = CMg, que garante a eficiência dos mercados perfeitamente competitivos. b) C Esta é mais uma forma de descrever a eficiência em concorrência perfeita. c) E Lembre que o conceito de eficiência aqui tratado é no sentido de Pareto e, portanto, nem sempre é sinônimo de equidade. d) C Correto, porque é esta estrutura que garante o ótimo de Pareto. e) C Esta condição (P = CMg) está presente no ponto de ótimo (embora também esteja presente quando a empresa está em prejuízo) e, portanto, é um desenvolvimento coerente da noção de eficiência alocativa da concorrência perfeita. 9. estruturas de mercado ii - Monopólio Questão 1 a) C Alguns autores afirmam que a concorrência perfeita, nos moldes exatos apresentados pela teoria microeconômica, não existe na prática. b) C E a influência é tanto maior quanto mais concentrada for a estrutura de mercado. c) C No caso do oligopólio de conluio, por exemplo; o comportamento é cooperativo. d) C A curva de demanda é negativamente inclinada e isso é uma regra geral para qualquer estrutura de mercado. No caso da concorrência perfeita, para a firma individual, ela é completamente elástica, pois a fatia de mercado que lhe cabe é tão pequena que faz-se necessário apenas definir a quantidade a ser ofertada. e) E Seu poder de mercado é bem significativo, mas não é total, pois ele se depara com uma curva de demanda negativamente inclinada que limita sua capacidade de determinar preços. Questão 2 a) E O item descreve um monopólio natural. b) C No monopólio natural, a empresa tem custos médios e marginais sempre decrescentes e, por esta razão, desfruta permanentemente de economias de escala. c) E A curva de custo total médio, neste caso, é declinante em toda sua extensão. d) E Presentes as características da primeira parte do item (até “única empresa”), será possível coexistirem muitos concorrentes perfeitos e, portanto, a curva de custo médio das empresas terá formato de “U”. Questão 3 a) C A receita total é dada por RT = PQ. Substituindo P na equação de demanda, temos: RT = PQ RT = (60 - Q)Q RT = 60Q - Q2 A receita marginal é calculada a partir da derivada da função receita total: b) E O lucro é maximizado quanto RMg = CMg. Resta-nos calcular o CMg, dado pela derivada da função custo total. CMg = 2Q CMg = RMg 60 - 2Q = 2Q 4Q = 60 Q = 15 c) E Para encontrarmos o preço que maximiza o lucro, basta substituirmos o Q encontrado na função demanda: P(Q) = 60 - Q P(Q) = 60 - 15 P(Q) = 45 d) E Como calculado no item B, o lucro é maximizado apenas com Q = 15. Questão 4 a) C Essa é a conclusão acerca da perda de bem-estar no monopólio. b) C No limite, o monopolista captura totalmente o excedente do consumidor se a discriminação de preços for perfeita. c) C Eis outra evidência da ineficiência alocativa do monopólio. d) C Esta situação é possível no caso da discriminação perfeita de preços, mas quem se apropria da totalidade do excedente é o monopolista. Questão 5 a) E A fixação não linearde preços, também chamada de discriminação de preços de 2º grau, é uma estratégia utilizada que consiste em estipular preços distintos dependendo da quantidade adquirida. b) C Neste tipo de discriminação os consumidores são divididos em demanda alta e baixa. Inicialmente altos preços são cobrados (ex.: lançamentos de produtos de alta tecnologia, como as televisões a LED) para depois serem cobrados preços mais baixos. c) C A tarifa em duas partes é uma estratégia que divide o preço em duas partes: uma parte pela entrada e outra pelo uso. d) E A venda em pacote é um tipo de venda casada, referindo-se à exigência da empresa no sentido de que um produto será vendido segundo certa combinação. Não há limite quantitativo específico, pois o nome refere-se a uma estratégia. 10. estruturas de mercado iii - Oligopólio Questão 1 a) C Conceitual. b) C É o que acontece no setor de aviação, por exemplo. c) C Aí está uma das vantagens do oligopólio que dificilmente se veria em mercados mais competitivos. d) C A partir do comportamento das rivais, optar-se-á pela competição ou pela cooperação. Questão 2 a) C Nesta situação, as empresas optaram por atuar de forma cooperativa, aumentando seus preços e, portanto, seus lucros às custas do excedente do consumidor. b) C Este equilíbrio efetivamente ocorrerá se estas empresas definirem a melhor estratégia possível baseadas nas estratégias escolhidas pelos concorrentes. c) E Neste caso, o conluio é dificultado. A “quebra” do conluio tácito será bem mais recorrente. d) C Se agirem em conluio - seja tácito, seja explicito -, a quantidade produzida, os preços praticados e os lucros equivalem aos de monopólio. Questão 3 Resposta: letra B a) C A maximização de lucros, por si só, é objetivo de todas as firmas e, dentro das características e limitações de cada estrutura de mercado, é atingido sempre no ponto onde CMg = RMg. b) E A quantidade produzida é menor que a da concorrência perfeita. c) C Correto, pois não houve acordo e a guerra de preços foi estabelecida. d) C Lembrando que há poder de mercado nos oligopólios. e) C Como o comportamento é não cooperativo, a prática de maximizar lucros ou minimizar custos é feita individualmente. Questão 4 a) E O preço é igual ao custo marginal somente em concorrência perfeita. Nas demais, P>CMg. b) E Os oligopólios têm poder relevante de mercado, mas, se não cooperativo, inferior ao do monopólio. c) C O caso específico que o item se refere é o da discriminação de preços perfeita. Quem se apropria da totalidade do excedente, neste caso, é o monopólio. d) C Neste ponto, definem-se as quantidades a serem produzidas. Questão 5 a) C Este é justamente seu dilema. Uma empresa ou jogador precisa prever o que o oponente fará. b) C O dilema vivido pelos prisioneiros deixa clara esta dificuldade. c) E O Dilema mostra o oposto, que as empresas não podem agir confiando plenamente no oponente, já que nem sempre ele agirá de forma cooperativa. d) C Daí a utilidade da Teoria no estudo do comportamento das empresas oligopolistas. Exercícios Resolvidos do CACD - Teste de Pré-Seleção (TPS) 1. Noções Preliminares 1. (Prova 2003 - Questão 27) Considerando os conceitos básicos da análise econômica e de sua evolução, julgue os itens a seguir. 1. ( ) A recente retomada econômica nos Estados Unidos da América (EUA) contribuiu pra reduzir os níveis de desemprego naquele país. Como consequência, a cura de possibilidades de produção da economia americana foi deslocada para a direita. Resposta: A curva de possibilidades de produção representa as combinações possíveis de produção para uma determinada economia, admitindo-se, por simplificação, que somente dois bens econômicos (ou grupos de bens) sejam produzidos. A economia estará sobre esta curva ou fronteira se estiver em pleno emprego dos fatores de produção. Observe que o item descreve a presença de desemprego nos Estados Unidos, que teria sido reduzido em função da retomada econômica. Assim, antes do fato, o país encontra-se em algum ponto sob a área de curva de possibilidades de produção (como no ponto A da Figura 1.5) e deslocou-se pra algum outro ponto mais próximo à fronteira (como o ponto B). O fato de os níveis de desemprego terem sido reduzidos e não eliminados indica que o país ainda não se encontra sobre sua fronteira. Figura 1.5. Curva de Possibilidades de Produção dos EUA O item está errado. 2. ( ) Quando as datas do concurso de admissão à carreira de diplomata coincidem com aquelas do concurso para assessor legislativo, o custo de oportunidade de fazer a segunda seleção aumenta substancialmente para os candidatos que tencionam submeter-se aos dois certames. Resposta: O custo de oportunidade mostra o sacrifício da oportunidade perdida, ou o custo daquilo não foi escolhido. O item afirma que a coincidência de datas do certame aumenta o custo de oportunidade dos candidatos. De fato, ele será obrigado a sacrificar uma das oportunidades em prol da outra. Seu custo de oportunidade aumentou muito, portanto. O item está correto. 3. ( ) A crítica marxista considerava que as leis econômicas, em vez de proposições gerais, estavam associadas a estágios históricos específicos, coincidindo, nesse aspecto, com a análise de John Stuart Mill. Resposta: Karl Marx1 (1818-1883) criticou os processos analíticos e suas conclusões. Preocupou-se com épocas históricas específicas contestando os casos hipotéticos dos clássicos, as construções abstratas que não levavam em conta a dinâmica interna do processo histórico, nem as leis econômicas peculiares aos estágios históricos. Neste ponto, sua análise não coincide com a de John Stuart Mill (1806- 1873). Apesar de contemporâneos, Mill é um representante do pensamento clássico, o qual sistematiza e consolida. Acompanha de perto o pensamento de David Ricardo e alerta para os perigos da competição no futuro. Interpreta a evolução dos acontecimentos de forma um pouco diferente da de Malthus, mas reconhece seu trabalho. O item está errado. 2. (Prova de 2004, questão 123) O postulado marxista de que cada estágio da história é governado por leis econômicas distintas corrobora a visão clássica, que exclui a existência de leis universais, como ilustrado no princípio malthusiano do crescimento populacional. Resposta: Item muito parecido com anterior, da prova de 2003. De fato, Marx faz uso do método histórico-dialético e considera que cada estágio da história é governado por leis econômicas diferentes. Neste sentido, critica as generalizações universais dos economistas clássicos. Em tempo, Marx critica a teoria malthusiana do crescimento populacional. O item está errado. 2. Fundamentos da Microeconomia: oferta e demanda 1. (Prova de 2003 - Questão 27) Considerando os conceitos básicos da análise econômica e de sua evolução, julgue o item a seguir. ( ) O pacote recente do governo brasileiro que injetou crédito de R$ 400 milhões para a compra de eletrodomésticos deslocará a curva de demanda de eletroeletrônicos para cima e para a direita, e a curva de oferta desses bens, para baixo e para a esquerda. Resposta: O efeito direto do aumento do crédito na economia é o aumento do consumo. Em termos microeconômicos, a variável afetada é a renda do consumidor, R. Em termos macroeconômicos, o agregado diretamente impactado é o consumo, C. Como D (x) = f (R), coeteris paribus, uma alteração na renda (ainda que seja na forma de um empréstimo, observe que a injeção de crédito aumentou temporariamente o poder de compra dos consumidores, sendo tal variação equivalente a uma alteração de renda) desloca a curva de demanda para a frente (Figura 2.12). Figura 2.12. Deslocamento da curva de demanda por eletrodomésticos Em termos macroeconômicos, a injeção de crédito representa um aumento no consumo. Como a demanda agregada2 é dada pela soma dos gastos com consumo, investimento e despesas do governo3, a curva se deslocará para a frente (para a direita e para cima), conforme Figura 2.13. Figura 2.13. Deslocamentoda curva de demanda agregada por eletrodomésticos E qual seria a resposta da oferta? No curto prazo, a oferta de bens tende a ser mais inelástica, ou seja, as fábricas precisam ajustar sua produção para atender a esta expansão repentina da demanda. Então, inicialmente, a resposta da oferta traduz-se em um deslocamento ao longo da curva, do ponto A para o ponto B da Figura 2.14. Figura 2.14. Resposta da oferta ao estímulo dado pela política de expansão do crédito No curto prazo, o preço dos eletrodomésticos aumentará para P2 e a quantidade aumentará relativamente pouco. No médio e longo prazos, espera-se que as firmas adaptem-se à expansão da demanda, aumentando a produção de eletrodomésticos, o que tornará a curva de oferta mais elástica. O deslocamento é, portanto, ao longo da curva4 (Figura 2.15). Figura 2.15. Resposta da oferta no longo prazo Os preços são mais baixos do que no curto prazo e as quantidades maiores. O item está errado, na parte relativa à oferta. 2. (Prova de 2004) A microeconomia estuda o comportamento individual dos agentes econômicos e, por essa razão, constitui sólido fundamento à análise dos agregados econômicos. A esse respeito, julgue os itens seguintes. 1. ( ) (Questão 125) O recrudescimento, na Ásia, da gripe do frango, conhecida cientificamente como influenza aviária, abre novos mercados para o produto brasileiro e desloca, para cima e para a direita, a curva por demanda de carne de frango no Brasil. Resposta: Para desenvolvermos corretamente a análise deste item, é importante atentar para o fato de haver dois mercados produtores e dois mercados consumidores bem definidos, a saber: • produtores brasileiros de carne de frango (“produto brasileiro”); • produtores asiáticos de carne de frango (informação implícita na assertiva acerca da gripe aviária); • consumidores brasileiros de frango (“curva de demanda de carne de frango no Brasil”); • consumidores de frango do resto do mundo (“novos mercados”). O recrudescimento da gripe do frango na Ásia provoca redução da oferta do produto, representado por um deslocamento da curva de oferta para trás (Figura 2.16). Figura 2.16. Retração na oferta asiática de frango Caso a doença não tenha atingido todas as aves, a oferta asiática sofrerá redução, com aumento de preço de p1 para p2. A demanda por carne de frango no resto do mundo, por sua vez, não é afetada, já que há outros produtores, como o Brasil, do produto. Assim, graças à concorrência internacional, o fato abre novos mercados para os produtores não asiáticos, deslocando a curva de demanda para cima e para a direita. É intuitivo admitir que os próprios consumidores brasileiros, ao que tudo indica, atendidos parcialmente pelo mercado asiático, terão parte de sua demanda deslocada para os produtos brasileiros. O aumento da demanda por carne de frango no Brasil é, assim, verificado, conforme Figura 2.17. Figura 2.17. Curva de demanda de carne de frango no Brasil O item está correto. 2. ( ) (Questão 126) A comercialização dos bilhetes das companhias aéreas realizada por via eletrônica, ao reduzir os custos dessas empresas, desloca, para baixo e para a direita, a curva de oferta de passagens aéreas. Resposta: Para afirmarmos com segurança que a curva de oferta sofre algum tipo de deslocamento, é útil recordar sua função: Sx = f(px, p1, p2 ... pn, p1, p2, ... pn, T, E), ou seja, a oferta S, de um bem x, é uma função de preço Px, dos preços dos demais bens, P1, P2 ... Pn, do preço dos fatores de produção p1, p2, ... pn, da tecnologia T e das expectativas E. A redução dos custos de produção das companhias aéreas afeta p, melhorando a situação das empresas deslocando a curva de oferta de passagens aéreas para a direita e para baixo, conforme a Figura 2.18, resultando em preços menores e quantidades maiores (ponto B). Figura 2.18. Deslocamento da curva de oferta de passagens aéreas O item está correto. 3. (Prova de 2008 - Questão 59, Caderno Norte) Considere-se que, em determinado mercado, a curva de demanda de um bem seja dada por Qd = 10 - 3p, e a curva de oferta desse mesmo bem seja dada por Qo = 5 + 2p, em que p seja o preço do bem. Nessas condições, é correto concluir que o equilíbrio nesse mercado será atingido para a) p = 1 b) p = 2 c) p = 3 d) p = 5 e) p = 10 Resposta: Essa questão é muito simples. Sabe-se que, no ponto de equilíbrio, Qd=Qo. Assim, para encontrarmos preços e quantidades, basta igualarmos as duas equações: Qd = 10 - 3p Qo = 5 + 2p Qd = Qo 10 - 3p = 5 + 2p -5p = -5 P = 1 (Q = 7) Figura 2.19. Equilíbrio entre oferta e demanda O ponto de equilíbrio está representado por A na Figura 2.19. A resposta correta é a letra “a”. 4. (Prova de 2012 - Questão 61, Tipo I) Com base na teoria microeconômica, julgue (C ou E) os itens que seguem. 1. ( ) (Item 3) Suponha que o aumento substancial dos preços cobrados para o estacionamento de veículos nas grandes cidades eleve a quantidade demandada de corridas de táxi nesses locais. Dessa forma, conclui-se que esse aumento de preços provoca um deslocamento ao longo da curva de demanda por serviços de táxi. Resposta: O serviço de estacionamento de veículos nas grandes cidades e as corridas de táxi podem ser classificados como substitutos. Assim, espera-se que o aumento dos preços do primeiro provoque aumento da demanda pelo segundo. Haverá um deslocamento da curva de demanda por serviços de táxi, conforme Figura 2.20. Figura 2.20. Deslocamento da curva de demanda por serviços de táxi O resultado serão preços maiores para este serviço (P2) e quantidades também maiores (q2). O item está errado. 2. ( ) (Item 4) Mudanças legislativas que facilitem a entrada de mão de obra estrangeira especializada na área de eletrônica contribuem para deslocar - para baixo e para a direita - a curva de oferta de longo prazo da indústria eletrônica. Resposta: Lembre que a função oferta é definida como S = f(px, p1, p2,...pn, p, T, E), sendo p os custos de produção. Se a oferta de mão de obra aumentar, o custo por unidade cai (pressionando salários para baixo). Custos menores contribuem para deslocar, para baixo e para a direita, a curva de oferta, conforme a Figura 2.21. Figura 2.21. Oferta na indústria eletrônica O item está certo. 3. Elasticidades 1. (Prova de 2003 - Questão 27) Considerando os conceitos básicos da análise econômica e de sua evolução, julgue o item a seguir. ( ) (Item 3) Supondo que a criminalidade e os gastos com o consumo de drogas são positivamente relacionados e que a demanda de drogas é preço- inelástica, políticas antidrogas fundamentadas no combate ao tráfico elevarão o preço das drogas e aumentarão os gastos com esses produtos, agravando, assim, os níveis de criminalidade. Resposta: O objetivo da repressão ao tráfico é reduzir o consumo de drogas. Mas o impacto direto da política atinge mais os vendedores do que os consumidores. As políticas antidrogas, se bem-sucedidas, retirarão parte do “produto” do mercado. A curva de oferta de drogas se deslocará pra trás (Figura 3.11). Figura 3.11. Oferta de drogas após a política de repressão ao tráfico O resultado será um preço maior (p2) e a quantidades menores (q1). O fato de a demanda ser preço-inelástica influencia em muito o gasto total com as drogas que aumenta. O gasto total dos consumidores antes da política é representado pela Figura 3.12 (a) e o gasto total (preço x quantidade) após a repressão, pela Figura 3.12 (b). Os gastos com estes produtos aumentarão e, por esta razão, espera-se que aumentem também os níveis de criminalidade, dada a estreita correlação5 existente entre estas variáveis. Figura 3.12. Gasto com drogas O item está correto. 2. (Prova de 2008-Questão 60, Caderno Norte) A elasticidade-preço de demanda de um bem é fundamental para se compreender a reação da quantidade demandada a mudanças em seu preço. Com relação a esse tema, julgue (C ou E) os itens seguintes. 1. ( ) Quando o módulo da elasticidade-preço de demanda de um bem é superior a 1, esse bem tem demanda elástica, e a receitatotal se reduz quando seu preço se eleva. Resposta: Antes de respondermos ao item, vamos recordar a relação entre elasticidade-preço da demanda e receita total. Observe o Quadro 3.2: Quadro 3.2. Elasticidade e Receita Total Valor da Elasticidade Interpretação Preço de X Receita Total ηD > |-1| Demanda preço-elástica Aumenta Diminui ηD = |-1| Demanda preço-unitária Aumenta Permanece constante ηD < |-1| Demanda preço- inelástica Aumenta Aumenta A primeira linha da tabela mostra a relação descrita no item: quando o módulo da elasticidade-preço é maior que 1, ou seja, hD>|-1|, esse bem tem demanda preço-elástica. Se seu preço aumentar, os consumidores, muito sensíveis a esta variação, reduzirão consideravelmente sua demanda. O resultado será uma queda na receita total. A queda na receita pode ser visualizada na Figura 3.13. Figura 3.13. Demanda preço-elástica: queda na receita total decorrente de aumento do preço O item está certo. 2. ( ) Quando o módulo da elasticidade-preço da demanda de um bem é igual a 1, a receita total não se altera quando há variação no preço. Resposta: Esse item descreve a segunda linha do Quadro 3.2: módulo da elasticidade-preço igual a 1, ou seja, hD = |-1|. Neste caso, a receita total permanece constante diante de variações no preço. O item está correto. 3. ( ) Bens que têm pequena participação no orçamento tendem a ter uma demanda inelástica em relação ao preço. Resposta: Bens que representam pouco no orçamento do consumidor, quando sofrem alterações de preços, quase passam desapercebidas. Tomemos como exemplo o sal. Se o quilo custa R$ 0,80, um consumidor comprará um pacote. Se no mês seguinte o preço quintuplicar para R$ 4,00 o quilo, o consumidor típico muito provavelmente ainda comprará um pacote. A demanda desse tipo de bem é, portanto, preço-inelástica. Item correto. 4. ( ) Bens essenciais têm demanda elástica em relação ao preço. Resposta: Quanto mais essencial for um bem, menor será a elasticidade- preço da demanda. Considere que certo consumidor necessite adquirir uma caixa de um remédio tarja preta, necessário para controlar alguma função vital de seu organismo: Se o preço do remédio sofrer alteração, o consumidor muito provavelmente não modificará a quantidade demandada. O item está errado. 3. (Prova de 2010 - Questão 54, Caderno D) A análise das demandas individuais e de mercado constitui um dos pilares da teoria microeconômica. Acerca desse assunto, julgue C ou E. ( ) (Item 4) Campanhas publicitárias bem-sucedidas, além de deslocarem, para cima e para a direita, a curva de demanda de mercado do produto anunciado, contribuem, quando promovem a fidelização do cliente, para tornar essa curva mais preço-inelástica. Resposta: Ao analisar o efeito das alterações em uma variável sobre a outra nas curvas de oferta e demanda, é importante recordar a respectiva função: D(x) = f(px, p1, p2,...pn, R, G, E). Isolando a variável relevante do item, D(x) = f(G), coeteris paribus, ou seja, a demanda é uma função dos gostos do consumidor. Campanhas publicitárias, se bem-sucedidas, modificarão os gostos dos consumidores, provocando o deslocamento da curva de demanda pelos bens objetos da propaganda para cima e para a direita. Se, além disso, a campanha promover a fidelização dos clientes, eles se tornarão menos sensíveis à variação dos preços. A curva de demanda também se tornará, portanto, mais preço-inelástica (Figura 3.14). Figura 3.14. Efeitos de uma campanha publicitária bem-sucedida sobre a demanda 4. Teoria do Consumidor 1. (Prova de 2010 - Questão 54, Caderno D) A análise das demandas individuais e de mercado constitui um dos pilares da teoria microeconômica. Acerca desse assunto, julgue C ou E. ( ) (Item 1) Nos mercados competitivos, a escolha ótima a ser feita por determinado consumidor corresponde à escolha em que a taxa marginal de substituição entre dois bens quaisquer é igual para todos os consumidores. Resposta: A taxa marginal de substituição (TMS) entre dois bens x e y é a quantidade máxima de um bem que um consumidor está disposto a deixar de consumir para obter uma unidade adicional de um outro bem. Assim, se a TMS for 4, o consumidor estará disposto a desistir de 4 unidades de y para conseguir uma unidade adicional de x. E a escolha ótima do consumidor é a escolha racional da quantidade de cada bem visando maximizar o grau de satisfação que poderá obter, considerando o orçamento limitado de que dispõe. A cesta maximizadora de utilidade deve satisfazer duas condições: a) deverá estar sobre a linha do orçamento; b) deverá dar ao consumidor sua combinação preferida de bens e serviços. Assim, a cesta de mercado que maximiza a satisfação deve estar sobre a curva de indiferença mais elevada com a qual a linha de restrição orçamentária tenha contato. A Figura 4.36 ilustra esse ponto de equilíbrio. A escolha ótima é representada no ponto A, onde a curva de indiferença tangencia a linha orçamentária. Neste ponto, as inclinações de ambos são iguais e representam a taxa marginal de substituição (TMS) de x por y. Figura 4.36. Equilíbrio do consumidor Como a TMS (-DV/DA) é igual à inclinação da curva de indiferença (sinal negativo), o grau de satisfação é maximizado no ponto em que TMS = PA/PV A satisfação é maximizada quando a TMS (de V por A) é igual à razão entre os preços (de A sobre V). Recorde que a condição TMS = PA/PV é um exemplo de situação de otimização. A maximização é atingida quando o benefício marginal - o benefício associado ao consumo de uma unidade adicional de alimento - é igual ao custo marginal - o custo da unidade adicional de alimento (UMg = CMg). Em mercado competitivo, todos os consumidores estão no ponto de alocação eficiente de recursos. Assim, como todas as empresas têm lucro normal (nulo) de longo prazo (CMg = RMg), todos os consumidores estão no ponto ótimo (UMg = CMg). O item está certo. 2. (Prova de 2010 - Questão 54, Caderno D) A análise das demandas individuais e de mercado constitui um dos pilares da teoria microeconômica. Acerca desse assunto, julgue C ou E. ( ) (Item 3) Supondo-se que, no Brasil, o uso de transporte coletivo seja um bem inferior, conclui-se que o efeito renda decorrente do aumento do preço das passagens de ônibus contribui para reforçar o efeito substituição, o que reduz a demanda por esse tipo de transporte. Resposta: É importante atentar para alguns detalhes deste item. Em primeiro lugar, repare que ele menciona “o uso de transporte coletivo”. Como não está especificado, entende-se qualquer tipo de transporte coletivo. Recorde que a classificação dos bens no tocante à relação renda e quantidade demandada é entre bens normais, de consumo saciado e inferiores. Estes são caracterizados por terem sua demanda reduzida quando aumenta o nível de renda, o que implica que há substitutos para o bem. Para substituir o transporte público por outro meio de transporte (carro), a renda teria que aumentar bastante. Se o bem/serviço em questão tivesse substitutos próximos, teríamos a situação descrita pela Figura 4.37.6 Figura 4.37. Efeito-renda e efeito-substituição de um bem inferior6 Mas como não há7 - pois não seria razoável admitir o carro ou o serviço diário de táxi como substitutos próximos ao transporte público -, a demanda por este serviço permanece. O item está errado. 3. (Prova de 2012 - Questão 61, Tipo I) Com base na teoria microeconômica, julgue C ou E o item que segue. ( ) Considere que um consumidor gaste toda a sua renda com a compra de bens e serviços. Nessa hipótese, não é possível que todos os bens da cesta de consumo desse consumidor sejam bens inferiores. Resposta: Bens inferiores são bens cujo consumo diminui diante do aumento da renda. A elasticidade da demanda é negativa (a relação entre renda e demanda é negativa). Se todos os bens de uma cesta forem inferiores, diante do aumento da renda, o consumo de todos eles diminuiria, não havendo substitutos “normais”. Assim, não seria possível completar a cesta após o aumento da renda. É obrigatóriohaver, portanto, nas cestas dos consumidores, bens normais. O item está correto. 5. Teoria da Firma I - Produção 1. (Prova de 2010 - Questão 55, Caderno D) Considerando a teoria da produção e dos custos, que fornece importantes elementos para a análise da formação de preços em distintos ambientes de mercado, julgue C ou E. ( ) (Item 2) Se, para determinada empresa, trabalhadores sem qualificação específica e máquinas executam exatamente o mesmo tipo de tarefa, então, para essa empresa, as isoquantas entre esses dois insumos podem ser representadas como linhas retas paralelas. Resposta: O item descreve a função de produção quando os insumos (K, L) são substitutos perfeitos. Neste caso, a TMST é constante em todos os pontos da isoquanta. Figura 5.11. Função de produção para insumos substitutos perfeitos Quando as isoquantas são linhas retas, a TMST é constante. Isso significa que a taxa em que capital e trabalho podem substituir um ao outro é a mesma, não importando o nível de insumos que esteja sendo utilizado. O item está correto. 2. (Prova de 2012 - Questão 61, Tipo I) Com base na teoria microeconômica, julgue C ou E o item que segue. ( ) (Item 2) Sabendo-se que a função de serviços administrativos de determinado órgão público exige um computador para cada funcionário, conclui-se que as isoquantas entre esses dois insumos são formadas por linhas retas paralelas, cuja inclinação é igual a -1. Resposta: O item descreve uma função de produção de proporções fixas ou função de produção de Leontieff. Aqui a substituição de insumos de produção é impossível. Cada nível de produção exige uma combinação específica de trabalho e capital. Não se pode obter produção maior, salvo se forem incluídos mais capital (computadores) e mais trabalho (funcionários) na proporção especificada. As isoquantas apresentam formato em L (Figura 5.12). Figura 5.12. Função de produção de proporções fixas Os pontos A, B e C representam combinações tecnicamente eficientes dos insumos. Níveis maiores de produção ocorrerão apenas se houver acréscimo tanto de trabalho quanto de capital. O item está incorreto. 6. Teoria da Firma II - Custos de Produção 1. (Prova de 2009 - Questão 54, Caderno Verde) Para produzir Q unidades de certo bem, uma firma arca sempre com um custo fixo (CF) de R$ 100,00, além de um custo variável (CV) que depende da quantidade produzida, sendo marginalmente crescente e assim definido: CV = 2 Q2. Nessa situação hipotética, o custo médio total (CMT) da firma na produção de 10 unidades é igual a: a) R$ 12,00 b) R$ 20,00 c) R$ 30,00 d) R$ 50,00 e) R$ 100,00 Resposta: Para resolver esta questão simples, basta lembrar que o custo total (CT) é dado pela soma do custo fixo (CF) com a variável (CV). Ainda, que o custo total médio (CTM) é calculado a partir da divisão do custo total (CT) pela quantidade produzida (Q). Assim: CF = 100 CV = 2Q2 CT = CF + CV CT = 100 + 2Q2 Q = 10 CT = 100 + 2(100) CT = 100 + 200 CT = 300 CTM = 300/10 CTM = 30 A resposta correta é a letra C. 2. (Prova de 2012 - Questão 62, Tipo I) Com base na análise das estruturas de mercado, crucial para o entendimento da formação dos preços nos diferentes setores da economia, julgue C ou E o item subsequente. ( ) (Item 2) Alegar que as escolas públicas brasileiras, por serem muito pequenas, apresentam custos médios elevados é um raciocínio consistente com a existência de economia de escala na produção do ensino público. Resposta: As economias de escala indicam que a produção de uma firma pode dobrar sem que para isso seja necessário dobrar os custos. A estrutura de uma escola pequena no Brasil tem custos médios elevados pois, mesmo com o tamanho reduzido, exige a presença de salas, laboratórios, bibliotecas, pátios e áreas que são aproveitadas por uma quantidade relativamente pequena de alunos. O custo médio tende a ser elevado. Se as escolas fossem maiores, certamente o custo médio reduziria, pois a porção fixa seria distribuída entre um número mais elevado de alunos. Assim, os argumentos são consistentes. O item está correto. 7. Intervenção do Estado na Economia 1. (Prova de 2013 - Questão 65, Tipo I) Supondo que o governo adote um novo imposto específico sobre a venda de um bem em um mercado de concorrência perfeita e considerando a distribuição da incidência tributária entre vendedores e consumidores, julgue C ou E os itens a seguir. 1. ( ) Se a elasticidade-preço da demanda for infinita, os vendedores abandonarão o mercado. Resposta: A Figura 7.21 apresenta um caso de elasticidade-preço da demanda infinita, com a incidência de um imposto específico. Figura 7.21. Demanda com elasticidade-preço infinita: incidência de imposto específico O imposto específico desloca a curva de oferta ou de demanda para trás. Admitindo-se que ele foi lançado sobre os vendedores, a curva de oferta se deslocará de S para S’. O preço de equilíbrio não sofrerá alteração, permanecendo em Px. A quantidade, no entanto, se reduzirá de q* para qT. O produtor receberá o preço p’, ao passo que o consumidor pagará o mesmo preço de antes do imposto. Apesar da cunha tributária existente entre oferta e demanda, não há qualquer razão para supor que os vendedores abandonarão o mercado. O item está incorreto. 2. ( ) Vendedores e consumidores arcarão com o peso do imposto, conforme a sensibilidade das curvas de oferta e demanda às variações de preço. Resposta: O item é conceitual e está correto. O ônus do imposto é dividido entre consumidores e vendedores, sendo que o lado mais inelástico arca com proporção maior. Este fato ficou evidente na relação do item anterior. No limite, uma demanda infinitamente elástica fez os consumidores ficarem isentos do pagamento do imposto. Isso até poderia confundir o candidato no item que agora estudamos. Mas fique atento. Assertivas genéricas e conceituais, via de regra, valem para os casos gerais. Exceções são tratadas à parte e costumam ser explicitadas no comando das questões. A Figura 7.22 mostra a regra geral, válida para o item. Ali, admitiu-se que o imposto foi lançado sobre os consumidores. Se a cobrança fosse feita diretamente sobre os vendedores, a curva de oferta é que se deslocaria para trás, em distância vertical equivalente ao valor do imposto. Figura 7.22. Incidência Tributária O item está correto. 3. ( ) Vendedores irão transferir aos compradores o valor relativo a toda incidência do novo imposto, o que aumentará o preço do bem. Resposta: Como visto no item anterior, o ônus do imposto recai sobre os dois lados do mercado. O preço do bem aumenta e o lado mais inelástico arcará com proporção maior deste custo. O item está errado. 4. ( ) Quanto menor for a elasticidade-preço da demanda, maior será a incidência do tributo para os consumidores. Resposta: Como vimos, o lado mais inelástico arca com proporção maior do ônus do imposto. Assim, se a elasticidade-preço da demanda for pequena, serão os consumidores que pagarão maior parcela do tributo. O item está correto. 2. (Prova de 2010 - Questão 54, Caderno D) A análise das demandas individuais e de mercado constitui um dos pilares da teoria microeconômica. Acerca desse assunto, julgue C ou E. ( ) (Item 2) A fixação de um preço mínimo para determinado produto agrícola resulta em excedentes agrícolas, que serão tanto mais elevados quanto mais inelástica for a curva de oferta de mercado do produto beneficiado por esse tipo de política. Resposta: Sabe-se que a política de preços mínimos, para ser compulsória, deve estabelecer preços acima do ponto de equilíbrio de mercado (Figura 7.23). O resultado imediato, dada a diferença entre a quantidade demandada e ofertada (Qs>Qd), é a formação de excedentes. Figura 7.23. Política de preços mínimos Se a oferta for muito preço-inelástico, no entanto, ela não se ajustará tão rapidamente ao estímulo governamental. Como mostra a Figura 7.24, os excedentes serão tanto menores quanto mais inelástica for a curva de oferta. Figura 7.24. Política de preços mínimos com oferta preço-inelásticaO item está errado. 8. Estruturas de Mercado I - Concorrência Perfeita 1. (Prova de 2012 - Questão 62) Com base na análise das estruturas de mercado, crucial para o entendimento da formação dos preços nos diferentes setores da economia, julgue C ou E o item subsequente. ( ) (Item 3) Nos mercados competitivos, a maximização dos lucros no curto prazo, que exige que o preços seja superior ao custo médio de produção, impede uma firma de operar com perdas. Resposta: Nos mercados competitivos, a maximização de lucros ocorre no ponto em que o preço é igual ao custo médio, no ponto mínimo deste último. É possível, no entanto, que as empresas usufruam de lucros positivos ou prejuízos no curto prazo, situação que logo tende a reverter-se em favor do equilíbrio. O preço pode, portanto, estar temporariamente acima do custo médio, mas isso não impede que, em algum outro momento, a firma opere com perdas. As situações de lucro, prejuízo e equilíbrio são apresentadas na Figura 8.13. Figura 8.13. Lucro e prejuízo em concorrência perfeita no curto prazo O item está incorreto. 2. (Prova de 2014 - Questão 68) Com relação a características dos mercados e comportamento de produtores e consumidores, julgue C ou E o item subsequente. ( ) Em um mercado em que há muitos produtores e muitos consumidores de tal modo que um produtor isoladamente não pode fixar o preço de seu produto, é a igualdade entre receita e custo marginais que determinará a quantidade que o produtor deverá produzir para maximizar o lucro. Resposta: O item está correto e é conceitual. Descreve o caso da concorrência perfeita, onde o lucro normal (lucro econômico zero) é obtido no ponto em que RMg = Cmg. 9. Monopólio 1. (Prova 2004 - Questão 127) Contrariamente ao que ocorre com empresas monopolistas, a curva de receita marginal de firmas que atuam em mercados competitivos situa-se abaixo da curva de receita média. Resposta: Para elucidar a questão, vejamos as curvas de receita marginal (RMg) e de receita média (RMe) para mercados em concorrência perfeita e em monopólios: Figura 9.16. Curvas de receita média e marginal nos mercados em concorrência perfeita Figura 9.17. Curvas de receita média e marginal no monopólio Observe que, no caso da concorrência perfeita, as curvas de RMg e RMe coincidem, ao passo que, no monopólio, a curva de RMg situa-se abaixo da curva de RMe. O item está errado. 2. (Prova de 2009 - Questão 57, Caderno Verde) Considere as condições de equilíbrio de mercados em concorrência perfeita, de um lado, e, de outro, de mercados sujeitos ao monopólio. Considere, também, que, em ambas as condições, os produtores visem ao lucro (L), que resulta da maximização do excedente da receita total (RT) em relação ao custo total da produção (CT). Considere, ainda, que, ao maximizar o lucro, os produtores levem em consideração, entre outras variáveis, o preço (P), a quantidade produzida (Q), a receita marginal (RMg) e o custo marginal (CMg). Com base nessas considerações, julgue C ou E os itens que seguem. 1. ( ) Em ambas as condições citadas, os preços equivalem ao custo marginal. Resposta: Em concorrência perfeita, os preços equivalem ao custo marginal, P = CMg. Mas, no caso do monopólio, os preços são maiores do que o custo marginal, P>CMg. Essa condição lhe garante lucros econômicos positivos. O item está incorreto. 2. ( ) Na condição de mercados sujeitos ao monopólio, a receita marginal (RMg) equivale ao custo marginal (CMg), ou seja, RMg = CMg. Resposta: Essa é uma assertiva válida para qualquer uma das estruturas de mercado, embora esteja incompleta. A condição RMg = CMg é verificada no ponto de maximização de lucros, onde as quantidades a serem produzidas são determinadas. O item, ainda que incompleto, está correto. 3. ( ) Em concorrência perfeita, o preço é igual à receita marginal, mas inferior ao custo marginal, ou seja, P = RMg<CMg. Resposta: Mais uma vez, o item está incompleto, pois não identifica a identidade como sendo válida para o ponto de maximização de lucros. Na ausência desta informação, admite-se que o candidato fará tal inferência. Recordemos o gráfico do equilíbrio nulo de longo prazo (Figura 9.18). Figura 9.18. Equilíbrio em concorrência perfeita O ponto A representa o equilíbrio. Observe que, neste ponto, P = RMg = CMg. O item está errado, portanto. 4. ( ) Em concorrência perfeita, o custo total médio (CT/Q) equivale ao custo marginal (CMg). Resposta: Novamente a redação do item está incompleta, porque o CMg corresponde ao CTMe no ponto mínimo deste último apenas no ponto crítico (ou de equilíbrio). Diferentemente dos itens anteriores, este foi anulado. Figura 9.19. Concorrência perfeita: o custo médio e marginal 3. (Prova de 2010 - Questão 55, Caderno D) Considerando a teoria da produção e dos custos, que fornece importantes elementos para a análise da formação de preços em distintos ambientes de mercado, julgue C ou E. ( ) Políticas de dumping adotadas por empresas que vendem seus produtos nos mercados internacionais a um preço inferior ao praticado no mercado doméstico podem ser consideradas ações próprias de monopolista discriminador de preços que visa à maximização de lucros. Resposta: A política do dumping, descrita corretamente no enunciado do item, é uma ação que só pode ter êxito se seu executor tiver considerável poder de mercado. Tal ação é conhecida como discriminação de preços de terceiro grau, conceituada como a prática de dividir os consumidores em dois ou mais grupos com curvas de demanda separadas e cobrar preços diferentes de cada grupo. Assim, este tipo de atitude é própria de monopolistas que praticam a discriminação de preços e que, evidentemente, visam maximizar seus lucros. O item está certo. 4. (Prova de 2012 - Questão 62, Tipo I) Com base na análise das estruturas de mercado, crucial para o entendimento da formação dos preços nos diferentes setores da economia, julgue C ou E o item subsequente. ( ) (Item 4) O fato de as passagens aéreas compradas com antecedência serem, em geral, mais baratas que as compradas de última hora é compatível com a suposição de que as companhias aéreas atuam como monopólios que praticam discriminação de preços. Resposta: Como já vimos, a discriminação de preços é a prática de cobrar preços diferentes de clientes diferentes, sendo possível nos monopólios, já que estes possuem poder de mercado. Os consumidores de passagens aéreas apresentam dois tipos característicos de comportamento: a) compram com antecedência, buscando melhores preços. Sua demanda é preço-elástico. É o caso dos turistas e de passageiros com viagens programadas antecipadamente; b) compram nas vésperas ou mesmo no dia da viagem. A demanda deste grupo é mais inelástica em relação ao preço, como acontece com passageiros que viajam a negócios, em virtude de imprevistos ou urgências. Assim, os argumentos apresentados no item são compatíveis. O item está correto. 5. (Prova de 2014 - Questão 68) Com relação a características dos mercados e comportamento de produtores e consumidores, julgue C ou E os itens subsequentes. 1. ( ) (Item 2) Entre as condições que contribuem para impedir a entrada de produtores concorrentes em um mercado monopolista, inclui-se a capacidade do produtor de diferenciar seu produto, criando e mantendo, por exemplo, uma imagem de tradição e estabilidade, ou mesmo, inversamente, de renovação e inovação. Resposta: A princípio, o item parece estar errado porque o monopólio pressupõe a presença de um único ator como ofertante: o monopolista. Porém, é importante salientar que a condição de monopólio não necessariamente perdurará para sempre. Apesar do setor contar com relevantes barreiras à entrada, muitas vezes os monopolistas investem em propaganda, em inovação e em diferenciação dos produtos para garantir a manutenção de sua posição exclusiva. A ideia de tradição e estabilidade pode garantir que seu mercado consumidor mantenha-se fiel diante de possível quebra do monopólio. A inovação e a renovação, por outro lado, são conceitosrelacionados à pesquisa e ao desenvolvimento, em geral mais praticados por empresas com lucros positivos. O item está, portanto, correto. 2. ( ) (Item 4) Uma das características de um mercado competitivo ou de concorrência perfeita é a homogeneidade do produto, ainda que as marcas acentuem diferenças nas qualidades do produto; nesse caso, os consumidores irão preferir marcas de menor preço. Resposta: A concorrência perfeita admite, como hipótese, que os produtos são idênticos ou substitutos perfeitos. Se houver qualquer tipo de diferenciação que permita a ordenação das preferências por parte dos consumidores, a hipótese não é atendida. O item está errado, pois descreve a competição ou concorrência monopolística. 10. Oligopólio 1. (Prova de 2010 - Questão 55, Caderno D) Considerando a teoria da produção e dos custos, que fornece importantes elementos para a análise da formação de preços em distintos ambientes de mercado, julgue C ou E. ( ) (Item 4) O êxito de um cartel depende não apenas das similaridades - considerando-se tamanho e poder de mercado - entre as diferentes firmas que o compõem, mas também da demanda do mercado em que o cartel opera, a qual deve ser elástica em relação ao preço. Resposta: O cartel é formado quando os produtores concordam explicitamente em agir em conjunto na determinação de preços e níveis de produção. Deve haver espaço para poder de monopólio. Quanto mais inelástica for a curva de demanda, mais o cartel tem condições de elevar os preços a níveis bem superiores aos de concorrência perfeita. Se a demanda for muito elástica em relação ao preço, provavelmente o mercado conta com substitutos ou o bem não é tão essencial, já que as variações para cima dos preços tenderão a reduzir muito a quantidade demandada. Assim, um dos requisitos do sucesso do cartel é que seu mercado apresente alta inelasticidade-preço da demanda. O item está errado. 2. (Prova de 2012 - Questão 62) Com base na análise das estruturas de mercado, crucial para o entendimento da formação dos preços nos diferentes setores da economia, julgue C ou E o item subsequente. ( ) A cartelização de determinado mercado é facilitada quando as firmas que o compõem são do mesmo tamanho e se confrontam com demandas elásticas. Resposta: Como já vimos, o cartel ocorre quando os produtores concordam explicitamente em agir em conjunto na determinação de preços e níveis de produção. Para que tenha êxito, o cartel deve cumprir duas condições: a) formação de uma organização estável, cujos membros consigam realizar acordos relativos a preços e níveis de produção e, depois, cumprirem com o combinado; b) deve haver espaço para o poder de monopólio. O tamanho das empresas não é uma condição indispensável, portanto. Quanto mais inelástica for a curva de demanda, mais o cartel tem condições de elevar os preços a níveis bem superiores aos de concorrência perfeita. O item está errado. 3. (Prova de 2010 - Questão 55, Caderno D) Considerando a teoria da produção e dos custos, que fornece importantes elementos para a análise da formação de preços em distintos ambientes de mercado, julgue C ou E. ( ) (Item 3) A presença de substanciais economias externas de escala em determinada indústria é compatível com a existência de uma curva de oferta de longo prazo positivamente inclinada. Resposta: As economias de escala estão presentes quando é possível dobrar a produção menos que dobrando os custos. Elas se referem mais ao curto prazo, pois a redução de custos unitários, em geral, ocorre por causa da diluição do custo fixo em um maior número de unidades produzidas. A curva de oferta tende a ser mais rígida no curto prazo do que no longo prazo e, na maioria dos casos, tem inclinação positiva no longo prazo. Ocorre que, se a firma estiver usufruindo de substanciais economias de escala, significa que sua produção está crescendo a uma taxa mais rápida do que o crescimento de seus custos. Nesta fase, o custo marginal está em queda. No caso do monopólio natural, por exemplo, as firmas usufruem de consideráveis rendimentos externos de escala e sua curva de custo marginal é apenas descendente. No caso dos oligopólios, ela entra em sua fase ascendente mais tardiamente do que ocorre em concorrência perfeita. A Figura 10.2 apresenta estes casos: Figura 10.2. Curvas de custo médio e marginal e de demanda Como a curva de custo marginal representa a curva de oferta no caso da concorrência perfeita e dos mercados de concorrência imperfeita, à exceção do monopólio (que não apresenta curva de oferta), observa-se uma inclinação descendente da curva de oferta neste caso específico. Em resumo, a porção da curva de custo marginal que está em queda nos casos (b) e (c) representam a presença de economias de escala na produção, momento em que há inclinação descendente da curva de oferta, portanto. Como o item fala em “substanciais economias externas de escala”, ele descreve melhor o caso (b). Portanto, os argumentos apresentados no comando do item são válidos para situações distintas, não sendo compatíveis entre si. O item está errado. 4. (Prova de 2014 - Questão 68) Com relação a características dos mercados e comportamento de produtores e consumidores, julgue C ou E o item subsequente. ( ) (Item 3) Mercados com poucos atores, em que a interdependência de ações é uma característica marcante, podem ser representados como um jogo, cujo resultado, associado a uma estratégia, é denominado playoff. Considera-se relativamente mais fácil utilizar a forma estratégica em situações em que um jogador (empresa) deva agir sem o conhecimento da ação de seu concorrente. Resposta: O gabarito preliminar deste item o apresentou como correto, mas foi alterado para errado em função do uso do termo playoff em vez de payoff. O restante do item, no entanto, está correto, já que a forma estratégica é utilizada quando o jogador desconhece a ação do concorrente, o que impossibilita um acordo tácito ou explícito. * As opiniões deste Prefácio são de cunho pessoal, não refletindo necessariamente as posições do Ministério das Relações Exteriores. ** Os textos publicados nesta obra, bem como as informações fornecidas nas tabelas de incidência e nos seus respectivos gráficos, são de responsabilidade exclusiva dos autores e do coordenador da Coleção. A finalidade desta obra é publicar teoria e questões relevantes para os candidatos ao concurso de Diplomata, cabendo à Editora respeitar a liberdade de pensamento e manifestação de cada autor. *** Nas tabelas, o “0” significa que não foi cobrada nenhuma questão do assunto e o “-” significa que a disciplina não constava no Edital. Atenção! Muitas questões do Teste de Pré-seleção do IRBr abordam mais de um tópico do Edital. As questões de múltipla escolha foram consideradas como uma única questão e cada um dos itens das questões do tipo Certo ou Errado é contabilizado como uma questão. 1 VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro: teoria e exercícios. 4. ed., 6. reimpr. São Paulo: Atlas, 2009, Cap. 1. 2 PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. Manual de economia. Equipe de Professores da USP. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, Cap. 1. 3 Conforme os temas solicitados em edital forem aparecendo no texto, serão inseridas notas de rodapé com a indicação respectiva. 4 VASCONCELLOS, M. A. S. Op. cit. 5 A escassez pode ser definida como sendo uma “situação na qual os recursos - tudo aquilo que usamos para produzir bens e serviços - são limitados em quantidade, mas podem ser usados de diferentes maneiras”. O’ SULLIVAN, A; SHEFFRIN, S., Introdução à economia: princípios e ferramentas. Trad. Maria Lúcia G. L. Rosa. Revisora e coautora: Marislei Nishijima. São Paulo: Prentice Hall, 2004, Cap. 1. 6 PASSOS, C. R. M.; NOGAMI, O. Princípios de economia. 5. ed. rev. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005, Cap. 1. 7 PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. (orgs.). Op. cit. 8 VASCONCELLOS, M. A. S.; GARCIA, M. E. Fundamentos da economia. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004, Cap. 1. 9 Um trade off é uma decisão ou um conflitode escolha. É a renúncia de uma coisa, aspecto ou qualidade de algo para se obter outra. 10 TISDELL, C. A. Microeconomia: a teoria da alocação econômica. Trad. Carmem Terezinha Santoro. São Paulo: Atlas, 1978, Cap. 1. 11 PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. Op. cit. 12 VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro: teoria e exercícios. Glossário com os 300 principais conceitos econômicos. 4. ed., 6. reimpr. São Paulo: Atlas, 2009, Cap. 1. 13 VICECONTI, P. E.; NEVES, S. Introdução à economia. 2. ed. São Paulo: Frase Editora, 1996, Cap. 1. 14 O’SULLIVAN, A.; SHEFFRIN, S. Op. cit. 15 O’ SULLIVAN, A.; SHEFFRIN, S. Op. cit. 16 Também chamado, neste caso, de custo de transformação (VICECONTI, P. E.; NEVES, S. Op. cit.). 17 O motivo pelo qual o custo de oportunidade é crescente é que, à medida que fatores de produção são deslocados de um produto para outro, estes fatores mostram-se cada vez mais ineficientes. Aqui se observa a vigência da lei dos rendimentos crescentes, objeto de estudo posterior. 18 O’ SULLIVAN; SHEFFRIN, S. Op. cit. 19 PINHO, D. B.; VASCONCELLOS, M. A. S. Op. cit. 20 VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos. 7. ed. Trad. Maria José Cyhlar Monteiro e Ricardo Doninelli. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006, Cap. 1. 21 CHIANG, A. Matemática para economistas. Trad. Roberto Campos Moraes. Revisor técnico Luiz Salvador Lopes. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil: Ed. USP, 1982, Cap. 2. 22 CRESPO, A. A. Estatística fácil. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. Apêndice. Instrumental Matemático. 23 MURELO, A. C.; BONETTO, G. A. Matemática aplicada à administração, economia e contabilidade. São Paulo: Thomson, 2004, Caps. 1, 2 e 3. 24 A dinâmica trata da trajetória das variáveis e do processo de ajustamento em si. Esta obra tratará apenas da estática. SALVATORE. D. Microeconomia. Trad. e rev. Marco Antonio Sandoval de Vasconcellos. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1984. 25 VARIAN, H. R. Op. cit. 26 GOLDBERG, D. K. Controle de políticas públicas pelo Judiciário: welfarismo em um mundo imperfeito. In: SALGADO, L. H.; MOTTA, R. S. (eds.). Regulação e concorrência no Brasil: governança, incentivos e eficiência. Rio de Janeiro: IPEA, 2007, Cap. 3. 27 VARIAN, H. R. Op. cit. 28 GOLDBERG, D. K. Op. cit. 1 Este capítulo atende aos seguintes tópicos do Edital 2015: 1.1. Demanda do Consumidor e 1.2. Oferta do Produtor. 2 VARIAN, H. R. Microeconomia: princípios básicos. 7. ed. Trad. Maria José Cyhlar Monteiro e Ricardo Doninelli. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006, Cap. 1. 3 VARIAN (op. cit.) reconhece que a noção de equilíbrio é de compreensão menos indutiva, já que é esperado que, em algum momento, não haja compatibilidade entre a oferta e a demanda. O autor pondera que, embora as alterações de mercado que justifiquem esse desequilíbrio possam levar tempo para acontecer e que, por essa razão, estas e outras mudanças possam introduzir distorções ou desequilíbrios, isso, em geral, não acontece. O que é relevante na análise econômica é o equilíbrio e não a maneira que o mercado atinge ou modifica este equilíbrio. 4 Conforme Edital do Concurso de 2015. 5 LIPSEY, R. G.; STEINER, P. O. Economics. 2. ed. New York, 1969, Cap. 6. 6 VASCONCELLOS, M. A. S. Economia. micro e macro: teoria e exercícios. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009, Cap. 2. 7 VASCONCELLOS, M. A. S. Op. cit. 8 Assim, pode-se definir a curva de demanda como “uma curva que expressa a relação entre a quantidade demandada e os preços” (VARIAN, H. R. Op. cit.). 9 O “caso dos bens de Giffen” ou o Paradoxo de Giffen descreve uma situação extremamente excepcional em que a baixa do preço de um bem conduz a uma redução das compras. O economista Robert Giffen observou este comportamento nas compras de pão, feitas por famílias muito pobres, no século XIX. O caso, portanto, não se aplicava à demanda por pão, em geral, mas especificadamente à demanda por pão por famílias extremamente pobres (MORGAN, E. V. Introdução à economia. Trad. Augusto Reis. Revisor técnico Breno Granja C. Filho. São Paulo: Saraiva, 1979). 10 Conforme VASCONCELLOS, M. A. S. Op. cit. 11 VASCONCELLOS, M. A. S. Op. cit. 12 Neste ponto, VARIAN (op. cit.) pondera que a definição dos preços e quantidades de equilíbrio depende, até certo ponto, do horizonte temporal considerado na análise, sendo que, para determinados bens, a oferta tende a ser mais rígida no curto do que no longo prazo. A curva pode, inclusive, ser apresentada com uma reta vertical, indicando a total rigidez da oferta (elasticidade zero) no curto prazo. 1 Este capítulo atende ao seguinte tópico do Edital 2015: 1.1. Elasticidade- preço e elasticidade-renda. 2 LIPSEY, R. G.; STEINER, P. O. Economics. 2. ed. New York, 1969, Cap. 7. 3 MORGAN, E. V. Introdução à economia. Trad. Augusto Reis. Revisor técnico Breno Granja C. Filho. São Paulo: Saraiva, 1979, Cap. 4. 4 ROSSETTI, J. P. Introdução à economia. 20. ed., 9. reimpr. São Paulo: Atlas, 2012, Cap. 8. 5 É evidente que o preço será mais alto quanto mais tal metal seja requisitado pelo mercado e quanto maior a dificuldade em extraí-lo da natureza. Mas mesmo que seu preço atinja patamares muito elevados, sua oferta não aumentará, pois está limitada aos demais fatores mencionados. 1 Este capítulo atende aos seguintes tópicos do Edital 2015: 1.1. Demanda do Consumidor. Preferências. Equilíbrio do Consumidor. Curva de Demanda. 2 PINDICK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Microeconomia. Trad. Eleotério Prado, Thelma Guimarães e Luciana do Amaral Teixeira. 7. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010, Cap. 3. 3 Segundo VARIAN, “o preço de reserva de uma pessoa é o preço em relação ao qual essa pessoa é indiferente entre comprar ou não comprar o bem” (Microeconomia: princípios básicos. Trad. Maria José Cyhlar Monteiro e Ricardo Doninelli. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006). 4 WONNACOTT et al. Economia. Tradução, revisão e adaptação de Yeda Rorato Crusius et al. São Paulo: McGraw - Hill do Brasil, 1982, Cap. 18, p. 438. 5 WONNACOTT et al. Op. cit., p. 439. 6 Simonsen critica o uso do conceito de excedente do consumidor - formulado graficamente por Marshall - pelo fato de existirem certos produtos e serviços extremamente úteis aos consumidores, mas que não podem ser mantidos de forma exclusiva por consumidores que estão dispostos a pagar por eles, como, por exemplo, bens e serviços de uso coletivo e outros bens ou serviços indivisíveis. Para estes casos específicos, o conceito marshalliano de excedente do consumidor mostra-se inadequado (SIMONSEN, M. H. Teoria microeconômica. Rio de Janeiro: FGV, 1967, Cap. 2). 7 Eis uma vantagem da abordagem da curva de indiferença: não há a necessidade de nos preocuparmos com a medida das utilidades, bastando entender que as curvas mais distantes da origem são preferíveis às mais próximas. Não é preciso saber o quanto o são. Evitar problemas com as medidas de utilidade marginal foi um dos principais argumentos favoráveis à abordagem das curvas de indiferença apresentadas no livro Valor e capital, pelo Nobel de Economia J. R. Hicks (WONNACOTT, P. et al. Op. cit.). 8 Convém fazer essa ressalva em uma eventual questão discursiva que aborde o tema. 9 Esse exemplo, embora bem ilustrativo, costuma ser muito questionado pelos alunos, pelo simples fato de que os pares de sapato são vistos, corretamente, como um único bem. Mas a suposição adotada aqui - e na maioria dos livros-texto sobre o tema - esclarece bem a total rejeição do consumidor em ter mais unidades de um dos dois pares ao custo de ter menos do outro. 10 Lembre-se de que a concavidade ou convexidade das curvas é definida em relação à origem dos eixos cartesianos. 11 MANKIW, G. N. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. Trad. da 2. ed. original de Maria José Cyhar Monteiro. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. 12 VASCONCELLOS, M. A. S. Economia. Micro e macro. Teoria e exercícios. Glossário com os 300 princípios conceitos econômicos. 4. ed. 6. reimpr. São Paulo: Atlas, 2009, Cap. 2. 13 Pontos notáveis são os pontos que cortam os eixos cartesianos.