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MÓDULO 
1
EDUCAÇÃO 
POLÍTICA PARA 
CIDADANIA
Política, uma questão 
nossa de todo dia
EMANUEL FREITAS SILVA
CLÊNIA TRINDADE LUCENA CAVALCANTE
Copyright @ 2023 by Fundação Demócrito Rocha
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)
Presidente
Luciana Dummar
Diretor Administrativo-Financeiro
André Avelino de Azevedo
Gerente-Geral
Marcos Tardin
Gerente Editorial
Lia Leite
Gerente de Marketing e Design
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Gerente de Audiovisual
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Gerente de Projetos
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Analistas de Projetos
Aurelino Freitas e Fabrícia Góis
Analista de Contas
Narcez Bessa
UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)
Gerente Educacional
Prof. Dr. Deglaucy Jorge Teixeira
Coordenadora Pedagógica
Profa. Ms. Jôsy Braga Cavalcante
Coordenadora de Cursos
Esp. Marisa Ferreira
Secretária Escolar
Márcia Doudement
Desenvolvedora Front-End
Isabela Marques
Estagiários(as) em Mídias e Tecnologias para Educação
Ágata Ribeiro e Alisson Aragão
Estagiários(as) em Letras
Bianka Silva, Lucas Gomes Gonçalves e 
Wesley Militão Fernandes Mendes
Este fascículo digital é parte integrante do projeto Político Eu?!: Programa de Educação Cidadã, em atendimento ao 
Termo de Fomento Nº 01/2023, celebrado entre a Câmara Municipal de Fortaleza e a Fundação Demócrito Rocha.
Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora 
Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará 
Tel.: (85) 3255.6006 - 3255.6276
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fundacao@fdr.org.br
POLÍTICO, EU!?! – PROGRAMA DE 
EDUCAÇÃO POLÍTICO-CIDADÃ
Concepção e Coordenadora Geral
Valéria Xavier
Coordenadora de Conteúdo
Monalisa Soares
Coordenadora Editorial
Lia Leite
Revisor 
Daniel Oiticica
Projeto Gráfico e Editora de Design
Andrea Araujo
Designer Gráfico
Mariana Araujo e Welton Travassos
Ilustrador
Carlus Campos
Analista de Projetos
Daniele de Andrade
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
P769 Político, Eu!?! - Programa de Educação Político-Cidadã [recurso eletrônico] / organizado por 
Monalisa Soares ; ilustrado por Carlus Campos. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2023.
 96 p. ; PDF ; 7.500 KB. – (6v.)
 ISBN: 978-65-5383-069-1 (MÓDULO 1 – Política, Democracia e Cidadania)
 ISBN: 978-65-5383-070-7 (MÓDULO 2 – Estado brasileiro: estrutura e funcionamento)
 ISBN: 978-65-5383-071-4 (MÓDULO 3 – Poder Legislativo: conhecendo a Câmara Municipal)
 ISBN: 978-65-5383-072-1 (MÓDULO 4 – Cidadania participativa: a participação política na socie-
dade democrática)
 ISBN: 978-65-5383-073-8 (MÓDULO 5 – Educação política e cidadania: práticas pedagógicas no 
ensino fundamental e médio)
 ISBN: 978-65-5383-074-5 (MÓDULO 6 – O papel da escola para a aprendizagem dos/as jovens 
sobre participação política e cidadania)
 1. Educação. 2. Política. 3. Cidadania. 4. Democracia. 5. Práticas pedagógicas. I. Soares, Mon-
alisa. II. Campos, Carlus. III. Título. 
 CDD 370
2023-2500 CDU 37
2 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
SUMÁRIO
1. Apresentação ...................................................................... 4
2. A vida cotidiana e a política do dia a dia ................................. 6
3. Em busca de uma definição de política ................................... 9
 Referências ....................................................................... 14
EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 3
1
APRESENTAÇÃO
EXERCÍCIO DE REFLEXÃO
EXPRESSÃO O QUE 
SIGNIFICA
EM QUE 
SITUAÇÕES PODE 
SER UTILIZADA
EXPRESSÃO 
QUE PODE 
SUBSTITUÍ-LA
“isso é uma 
indicação política”
“não é uma 
indicação técnica, 
mas política”
“politicamente 
correto”
“politização do 
Judiciário”
Nossa comunicação, na vida cotidiana, 
por vezes se vale do uso de palavras que, 
fugindo de uma definição ideal, tornam 
incompreensíveis seus sentidos mais au-
tênticos. Com isso, as palavras passam a 
significar diversas coisas ao mesmo tem-
po, muitas delas, inclusive, contraditórias. 
Se fizéssemos uma rápida enquete para 
saber o que aqueles(as) que estão perto 
de nós entendem por política que respos-
tas obteríamos? Com toda certeza, muitas! 
Diversas e, possivelmente, contraditórias!
Política, para alguns, poderia apare-
cer com o sentido de “aquilo que um(a) 
político(a) faz”, restringindo a Política 
Você já deve ter feito a si mesmo(a) 
a pergunta que nomeia este Pro-
jeto: “Político, eu?”, “Política, eu?”; 
provavelmente, ela se seguiu 
às respostas do tipo “deus me livre!”, “sai 
dessa!”, “tô fora!”, “jamais”. Ou, quem sabe, 
embora não tenha feito a si tal questão, já 
deve ter escutado tais respostas de outras 
pessoas.
Esses tipos de resposta, muitas vezes, 
evocam um sentido pejorativo do termo 
“política” que se constrói à medida em que 
a Política, com P maiúsculo, tem sua ima-
gem corroída por práticas que a mobilizam 
para justificar os mais diversos interesses e 
finalidades. Cotidianamente, ouvimos di-
versas expressões que são utilizadas para, 
de um modo ou outro, definir ou dar senti-
do ao termo “política”, como as seguintes:
“isso é uma decisão política”
“não é indicação técnica, mas política”
“politicamente incorreto”
“politização do Judiciário”
Antes de prosseguirmos, gostaria de 
convidar você a relembrar situações em 
que tais expressões são utilizadas. Você 
verá que elas estão mais presentes em 
nosso dia a dia do que poderíamos imagi-
nar. Agora, com isso em mente, complete o 
exercício a seguir:
àqueles(as) que exercem mandatos eleti-
vos no Estado; para outros, política também 
poderia ser um qualificativo usado para en-
tender uma nomeação para um cargo em 
que não tivesse sido observado o critério da 
competência. Se falarmos de Democracia, 
ela seria, talvez, definida como a mera esco-
lha de uma maioria ou uma escolha produ-
zida após escutar várias pessoas; Cidadania, 
por sua vez, constaria como alguma coisa 
que diz respeito aos cidadãos, termo tam-
bém confuso e impreciso nos usos cotidia-
nos que dele se fazem. Os diferentes termos 
relacionados à política são, muitas vezes, 
usados com significados diversos. 
4 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
Um exemplo para refletirUm exemplo para refletir
Vamos pensar, por exemplo, sobre o significado do termo “populismo”.
Sempre que um governante adota medidas populares, como a redução de im-
postos com o intuito de baixar preços de mercadorias, ou sempre que se anun-
ciam políticas públicas de auxílio aos que mais necessitam, os(as) políticos(as) são 
taxados(as), sobretudo pela imprensa especializada (mas também, por intelectu-
ais, economistas e adversários políticos), de “populistas”. 
Ou seja, não se consideram os conteúdos das decisões, suas motivações, ou 
mesmo suas repercussões. E, assim, a expressão vai sendo mobilizada para nome-
ar práticas e decisões diversas, abarcando uma vastidão que, consequentemente, 
esvazia seu significado.
Partindo desses exemplos, nós, os auto-
res deste fascículo, e você temos a seguin-
te tarefa: compreender o que significam os 
termos “política, democracia e cidadania”, 
identificando os modos como eles se re-
lacionam entre si e como moldam a vida 
em sociedade, dando forma ao nosso coti-
diano. Um desafio que enfrentamos nessa 
jornada é o fato de a política ser apresenta-
da e identificada com ações e práticas que 
despertam sentimentos de desconfiança, 
desinteresse, descrença. Assim, para al-
cançarmos sucesso em nosso percurso de 
aprendizagem, precisamos conhecer me-
lhor esse tema, tanto em suas definições 
teóricas quanto em suas práticas, de modo 
que possamos assumir nossa condição de 
sujeitos políticos (no sentido pleno da pa-
lavra), cidadãos e democratas. 
Neste fascículo, refletiremos sobre os 
sentidos do termo política, seus usos coti-
dianos e o significado mais preciso possível 
em que podemos empregá-lo; por associa-
ção, compreenderemos também sobre 
democracia e cidadania. Esperamos, ao 
final dessa jornada compreensiva da polí-
tica, levar você à resposta que se espera à 
pergunta que nomeia o Projeto. Que você 
possa dizer “sim,sou político!”, “sim, sou 
política!”, e possa compartilhar esta res-
posta em tom propositivo e compreensivo 
a outros(as), sobretudo aos jovens, com o 
intuito de que também possam responder 
positivamente à questão. Por isso, convida-
mos você a participar ativamente do curso, 
convidar outras pessoas e compartilhar a 
iniciativa. Vamos juntos(as)?
EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 5
T odos os dias, ao levantarmos, 
encontramos uma rotina a 
ser cumprida, dentro ou fora 
de casa. Ir à escola num horá-
rio predeterminado, realizar atividades 
próprias a este espaço social; ir ao tra-
2
A VIDA COTIDIANA E A 
POLÍTICA NO DIA-A-DIA
balho sem chegar atrasado e lá realizar 
as tarefas que nos cabem; comparecer 
a uma entrevista de emprego; ir ao mé-
dico para uma consulta agendada, den-
tre outras coisas que podemos fazer em 
nossa vida cotidiana.
VIDA COTIDIANA
Vamos de dica de leitura?Vamos de dica de leitura?
A vida cotidiana pode ser compreendida como o espaço temporal em que se 
desenrola a vida de todos nós, homens e mulheres. É nela, na vida cotidiana, que 
existimos, que nossa biografia e nossas possibilidades se constroem. Não é possí-
vel existir sem experienciar a vida cotidiana. Uma boa reflexão sobre a ideia de co-
tidiano e como ele se estrutura pode ser encontrada na obra da socióloga húngara 
Agnes Heller (1929-1919). A autora possui dois livros sobre o tema: “Sociologia da 
Vida Cotidiana” e “O Cotidiano e a História”. No primeiro livro, de caráter mais teóri-
co, ela nos apresenta uma caracterização dos elementos que organizam nossa exis-
tência enquanto um “cotidiano”. Já no segundo livro, encontramos as discussões 
delineadas na primeira obra, apresentadas numa forma mais didática, esmiuçando 
e tornando menos complexo para nosso entendimento. Te convidamos a conhecer 
as ideias de Heller, iniciando por este último livro, para que, articulando a leitura 
com suas vivências, você possa exercitar a empreitada de analisar a vida cotidiana. 
Que tal?
6 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
Consideremos os três exemplos dados 
acima: ir à escola, ir ao trabalho e ir a uma 
consulta médica. Fatos do cotidiano de 
muitos(as) brasileiros(as). Exatamente por 
isso, tidos como “banais”, no sentido de “cor-
riqueiros”. Nada excepcional, ou seja, nada 
fora do cotidiano. Elas revelam ações que re-
alizamos além de nossas casas, correto?
necessários para a vida em sociedade? A 
resposta é: essa mesma sociedade, através 
de diversos mecanismos. 
Pensemos, de maneira geral não fomos 
consultados(as) sobre o que queríamos 
aprender na escola, nem mesmo se quería-
mos ir a uma escola A definição do conjunto 
de saberes a serem apreendidos nas esco-
las é realizada por meio de representantes 
do povo que votam projetos de lei como a 
chamada Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação (LDB) e seus ajustes, tornando disci-
plinas obrigatórias aquelas que foram apro-
vadas como tais. Uma definição política, 
portanto. E quanto aos anos que devemos 
passar na chamada escola básica, é decisão 
diretamente feita por cada um(a) de nós? 
Também não! Tudo é matéria de “projeto 
de lei”, que envolve um amplo processo que 
Mas, se pararmos para pensar detalha-
damente o que significa cada uma delas, 
quais são seus elementos constituintes, 
será que encontraremos algum elemento 
da política nelas? Antes de prosseguirmos 
com essa reflexão, que tal você mesmo 
preencher o quadro abaixo? Vamos lá?
Análise de Situações 
Complete a tabela escrevendo na coluna 2, os elementos políticos presentes na situ-
ação da coluna 1:
ANALISE A SITUAÇÃO ESCREVA OS ELEMENTOS POLÍTICOS 
PRESENTES NA SITUAÇÃO
1. Ir à escola
2. Ir ao Trabalho
3. Ir a uma entrevista de emprego
Agora que você já completou o qua-
dro com suas respostas, vamos pensar 
juntos(as) acerca de cada uma das situa-
ções. A começar, o que significa ir à escola? 
Ora, todos(as) nós passamos, um dia, por 
essa atividade cotidiana, enquanto éramos 
estudantes. Você que nos lê, inclusive, pode 
ainda o ser, ou pode trabalhar em uma es-
cola, sendo esse o seu cotidiano atual. Es-
tamos tratando, contudo, da ação realizada 
por crianças, adolescentes e jovens de irem 
cotidianamente a um estabelecimento de 
ensino apreender conhecimentos tidos 
como necessários para sua vida em socie-
dade. Sendo a escola uma instituição so-
cial, que reúne duas gerações distintas com 
o intuito de socializar conhecimentos, cabe 
uma pergunta: quem define esse conjunto 
de saberes e conhecimentos tidos como 
EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 7
se inicia com uma proposição e passa por 
diversos debates, seja em espaços políticos 
propriamente ditos (como os Parlamentos 
– Câmaras Municipais, no caso das cida-
des, Assembleias Legislativas, no caso dos 
estados ou Congresso Nacional), seja em 
espaço técnicos, como grupos criados por 
secretarias de educação. Logo, educação é 
política! Fruto de decisões políticas, no me-
lhor sentido do termo, certo?
Mas, sair de casa para trabalhar, o que 
isso tem a ver com política? Ora, podemos 
aqui pensar em alguns termos que relacio-
nam mundo do trabalho e política. Vejamos: 
trabalhar de carteira assinada ou por con-
trato envolve relações trabalhistas regidas 
por leis (há, inclusive, um ramo do direito 
intitulado “direito do trabalho” e mesmo um 
“Tribunal Superior do Trabalho”, incluindo a 
ideia de um “salário mínimo”, uma jornada 
de trabalho que não pode ser excedida, di-
reitos de contratação e de demissão dentre 
tantas outras coisas que, da política, regem 
seu trabalho). Isso sem falar naqueles(as) 
que, estando desempregados(as), necessi-
tam de políticas públicas, as mais diversas, 
para reduzir os prejuízos pela falta de ocu-
pação, como o seguro desemprego. Assim, 
trabalho inclui política!
Agora você deve estar pensando: “tudo 
bem, ir à escola e trabalhar envolvem uma 
série de decisões políticas que, tomadas 
por outras pessoas, permitiram que eu 
encontrasse um Sistema Escolar e uma 
Justiça do Trabalho aptas a conduzirem re-
lações escolares e de trabalho. Ok! Mas, o 
que ir ao médico tem a ver com política? Aí 
já é demais, não é?”
Não, não é! Ir ao médico, mesmo que 
para uma consulta na rede privada, envol-
ve ser atendido por um profissional que 
estudou, realizou estágios, possui um re-
gistro em um Conselho Regional, tudo isso 
regulamentado pela... decisão política! 
Isso sem falar que, em caso de um atendi-
mento na rede pública, estaríamos a falar 
de um Ministério da Saúde, de um Sistema 
Único de Saúde, de redes de assistência 
básica, de unidade de pronto atendimento 
etc. Ou seja, olhando para a saúde vemos 
muita... política!
Poderíamos continuar nossa reflexão 
falando de segurança pública e violência, 
de preços de combustíveis e do transporte 
público, qualidade e preço dos alimentos, 
da situação de ruas e avenidas, de sanea-
mento básico, relações entre os gêneros e 
de tantas outras coisas que, embora não 
pareçam à primeira vista, são permeadas 
por decisões políticas. Nosso percurso até 
aqui destaca, portanto, o lugar da Política, 
em nossa vida cotidiana. 
8 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
Estamos agora em condições de 
propormos a você um passo a 
mais em nossa caminhada, um 
passo não tão fácil assim de reali-
zar. Queremos encontrar uma definição, a 
mais precisa possível, do que vem a ser po-
lítica. Será que conseguiremos?
De partida, convém dizer que a Política 
é um objeto de estudo polissêmico, variá-
vel, presente em diversas disciplinas aca-
dêmicas – Filosofia, História das Ideias, 
Sociologia, Direito, Ciência Política e 
mais. Vários saberes dedicam-se à tarefa 
que também nos pomos aqui: a de tentar 
encontrar uma definição o mais precisa e 
objetiva de “política”.
Assim sendo, é preciso dizer sempre em 
que sentido o termo está sendo emprega-
do, ou seja: quando falamos de “política” 
do que estamos falando? Logo, quando 
nos pomos a estudar a política estamos es-
tudando o quê?
Para qualquer cidadão(ã)comum o ter-
mo “política” parece familiar, faz parte de 
sua linguagem cotidiana, pois o emprega 
para descrever a conduta de vários sujei-
tos, sobretudo daqueles(as) que têm na 
política sua principal atividade.
Na Universidade, e também na escola, 
aprendemos que um dos primeiros movi-
mentos a serem feitos quando se estuda 
algo é buscar compreender sua etimologia, 
ou seja, as origens dos termos em questão. 
Para fazer isso com o termo “política”, fo-
mos em busca de uma importante obra, 
organizada pelo cientista político italiano 
Norberto Bobbio (1909-2004), intitulada 
Dicionário de Política (2004). Precisamen-
te no verbete “política”, vemos as seguin-
tes considerações, que transcrevemos de 
modo livre: 
O termo “política” provém dos vocábu-
los gregos:
1- ê polis: a Cidade, a região, a reu-
nião dos cidadãos que formam a 
cidade (portanto, em sua origem, 
diz respeito à citè, à sua gestão, 
seus cuidados; 2- ê politeia: o Es-
tado, a Constituição, o regime 
político, a República, a cidadania; 
3- ta politica: plural de políticos, 
as coisas políticas, tudo o que 
diz respeito ao Estado, ao regime 
político; 4- ê politikè (techné): a 
arte política (atividade); 5- politica 
pragmateia: estudo da vida dos 
homens em comum.
Como vemos, política significa, ao mes-
mo tempo, cidade, gestão, Estado, consti-
tuição, cidadania, políticos, arte, técnica, 
vida em comum. Certamente, você conhe-
cia alguns desses sentidos, não é mesmo? 
Se não, eles apresentam alguma dificulda-
de de compreensão para você? Caso sim, 
você pode consultar diretamente a obra 
que citamos, tudo bem?
3
EM BUSCA DE UMA 
DEFINIÇÃO DE POLÍTICA
EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 9
QUADRO 2 POLÍTICA
Opa, vamos a outras dicas?Opa, vamos a outras dicas?
Então, sei que você deve estar ansioso(a) para nossas “dicas de leitura”, comuns em 
um curso como este, não é mesmo? Quando se trata de um tema tão complexo como 
o nosso, temos tantas opções que fica até difícil escolher quais sugerir. Mas vamos lá: 
se você prefere uma discussão mais “clássica”, ou seja, uma obra que seja considerada 
como referência e tenha, ao mesmo tempo, o peso da “autoridade” reconhecida do 
autor, você poderia partir da obra “A Política”, escrita por Aristóteles (384 aC-322). Nela 
você encontrará definições do que seja a política em termos de exercício de poder. Ou-
tra obra tida como “clássica”, e na qual você já deve ter pensado, é “O príncipe” de 
Maquiavel (1469-1527), na qual o italiano, ao escrever diversos conselhos ao soberano, 
nos vai mostrando o que é a política em suas dimensões internas, dando ênfase aos 
elementos que compõem uma decisão política. Filmes e séries também são excelentes 
meios através dos quais podemos compreender o que seja a Política. Você pode sentar 
e ver, por exemplo, a série “The family” (Netflix) ou mesmo “O Conto da Aia” (Globo 
Play). Que tal?
Vamos, então, prosseguir em nossa 
busca. Para isso, faremos aqui referência a 
outra importante obra, O que é política? 
(1993), da filósofa alemã Hannah Arendt 
(1906-1975). Você pode pesquisar um pou-
co sobre a vida dela, uma mulher judia que 
esteve presente em diversas discussões im-
portantes do seu tempo (sobretudo aquelas 
que diziam respeito ao avanço dos totalita-
rismos – nazismo, fascismo e stalinismo) e 
cuja obra filosófica abrange uma infinidade 
de temas que, por isso mesmo, falam direta-
mente às questões que enfrentamos.
No livro O que é política? há um capí-
tulo que guarda muita relação com o nosso 
tema (como, aliás, grande parte da obra de 
Arendt), em que a autora discute se, diante 
de um mundo destruído por guerras entre 
nações e a liberdade ceifada por regimes 
totalitários, poderia haver ainda algum 
sentido para a política, compreendendo 
esta como a relação primordial entre os 
indivíduos na vida em sociedade. Para res-
ponder a essa questão, a autora começa 
por nos admoestar o seguinte:
Em nosso tempo, ao se preten-
der falar sobre política, é preciso 
começar por avaliar os precon-
ceitos que todos temos contra a 
política – visto não sermos políti-
cos profissionais [...] os preconcei-
tos contra a política, a concepção 
de a política ser, em seu âmago 
interior, uma teia feita de velhaca-
ria, de interesses mesquinhos e de 
ideologia mais mesquinha ainda. 
(ARENDT, 2002, p. 08).
Como lembra o que se passa em nosso 
tempo, não é? O que a autora está nos di-
zendo, com uma atualidade precisa, é que 
um dos primeiros movimentos a ser rea-
lizado por aqueles(as) que, como nós, se 
aventuram na compreensão daquilo que 
seja a política é tomar ciência dos diversos 
preconceitos, das imagens prévias, visões 
estereotipadas que circulam sobre ela. Es-
sas imagens, mesmo que sejam construídas 
mentalmente e que circulem pela socieda-
de com bastante força por estarem apoiadas 
10 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
nas ações dos governos, na classe política, 
adquirem força de verdade, formando-se 
uma tradição, um modo de pensar a polí-
tica que não possibilita a transposição des-
sa limitação, ocasionando o descrédito e a 
apatia que tão bem conhecemos.
Isso se deve, conforme vimos acima, 
tanto às práticas daqueles que são os(as) 
políticos(as) profissionais, que por vezes 
se assemelha a “uma teia feita de velhaca-
rias”, como à confusão e pouca precisão das 
ideologias, que parecem expressar, em 
diversas ocasiões, mais interesses particu-
lares e pouco de interesses coletivos, nem 
mesmo guardando relação com aquilo que 
deveriam representar: visões de mundo 
com projetos coletivos de sociedade. 
Tais preconceitos, nos lembra Arendt, 
são perigosos porque, em se tratando da 
atividade política, ou seja, daquela ativida-
de que diz respeito à condução de nossas 
vidas em coletividade, podem levar ao fim 
dela mesma, jogando fora “a criança junto 
com a água do banho”. De modo que, ao 
mirarmos nas práticas que não condizem 
com o que se espera da política, acabamos 
por atingir a própria política em si, desacre-
ditando-a e deslegitimando-a. Não é justa-
mente assim que se sentem muitos(as) de 
nós, sem expectativa nenhuma em relação 
à política? Isso posto, a autora argumenta:
O perigo é a coisa política de-
saparecer do mundo. Mas os pre-
conceitos se antecipam; jogam 
fora a criança junto com a água 
do banho, confundem aquilo que 
seria o fim da política com a políti-
ca em si, e apresentam aquilo que 
seria uma catástrofe como ineren-
te à própria natureza da política e 
sendo, por conseguinte, inevitável 
(ARENDT, 2002, p. 10).
Juntando o diagnóstico que a autora 
faz quando escreve o texto, nos anos 1960, 
com o diagnóstico que podemos também 
elaborar de modo similar ao nosso tempo, 
qual alternativa nos restaria? Será que você 
e nós poderíamos fazer algo? O que nos 
caberia nessa tarefa de lidar com os pre-
conceitos em relação à política? Caso haja 
alguma coisa a se fazer, cabe a nós, sujeitos 
que não lidamos profissionalmente com a 
política, ou caberia somente àqueles(as) 
que são dela “empregados(as)”? 
Não haverá outra saída senão lidar com 
a natureza daquilo que são os preconcei-
tos, ou seja, visões deturpadas das coisas 
e dos indivíduos. Um preconceito é uma vi-
são prévia, anterior, independente de qual-
quer experiência que mostre o contrário 
daquilo que o costume ou a tradição dizem 
sobre algo. Daí a necessidade de, como diz 
a autora, a política ter de “lidar sempre 
e em toda a parte com o esclarecimen-
to e com a dispersão de preconceitos” 
(ARENDT, 2002, p. 13). É o movimento que 
estamos fazendo aqui, correto? Saber que 
existem os preconceitos em relação ao que 
EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 11
seria a política e saber da necessidade de enfrentá-los, para o bem da cidadania. 
PARA SABER MAIS:
POLÍTICOS 
PROFISSIONAIS IDEOLOGIAS VISÕES DE MUNDO CLASSE POLÍTICA
Políticos(as) profissionais 
podem ser entendidos(as) 
como aqueles(as) que “vivem 
da política”, no sentido de 
fazerem dela sua atividade 
profissional, dela retirando 
seu sustento. Uma importantecaracterização destes(as) e de 
como se diferem daqueles(as) 
que vivem “para a política”, que 
seriam os(as) “políticos(as) por 
vocação”, pode ser encontrado 
numa importante obra da 
Ciência Política, escrita- pelo 
alemão Max Weber (1864-1920), 
intitulada Ciência e Política: 
duas vocações.
Ideologias políticas podem 
ser definidas como um con-
junto sistemático de ideias 
sobre elementos da vida 
social (tais como: economia, 
trabalho, educação, relação 
entre os gêneros, segurança 
pública, etc.), a partir dos 
quais decisões políticas são 
tomadas por governantes que 
se identificam com uma ou 
outra dessas ideologias, sendo 
as mais conhecidas aquelas 
que nomeamos, vagamente, 
como “esquerda” e “direita”, 
mas sendo em número de três 
aquelas que mais representam 
as correntes surgidas no sé-
culo XIX e que ainda regem os 
movimentos políticos: social-
ismo, liberalismo e conserva-
dorismo. Sobre o assunto, ler 
a recente obra da advogada 
Gabriela Prioli, Ideologias, 
lançada em 2022.
Visões de mundo, muito 
próximas das ideologias, se 
estruturam como sistemas que 
orientam a vida dos indivíduos 
em sociedade. Formuladas 
a partir de valores, crenças e 
interesses, elas se legitimam 
por portarem um status de 
naturalidade ou obviedade, 
pondo-se como inegociáveis 
por serem admitidas como 
no plano da “essência” ou da 
“verdade das coisas”. Uma 
discussão importante sobre o 
tema é trabalhada por Thomas 
Swoell (1930-...) em Conflito 
de visões: origens ideológi-
cas das lutas políticas.
Uma das mais importantes 
definições da Ciência Política 
é a de “classe política”, defin-
ida como o conjunto de indi-
víduos que, dentre todos(as) 
os(as) cidadãos(ãs), são os(as) 
responsáveis pelas decisões 
políticas propriamente ditas, 
ou seja, o grupo governante. 
Uma excelente caracteriza-
ção desse grupo pode ser 
encontrada na obra A Classe 
Política, do italiano Gaetano 
Mosca (1858-1941).
12 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
Agora parece que temos condições de 
avançar em busca da nossa definição, não 
é mesmo? Antes disso, porém, convém con-
versarmos um pouco sobre os elementos 
que constituem a política. O primeiro deles, e 
talvez o mais importante, seja o “poder”, uma 
vez que a política é muitas vezes definida 
como “exercício de alguma forma de poder”.
Quando um governo, de qualquer uma 
das três esferas (municipal, estadual ou 
federal), decreta um novo imposto de pa-
gamento obrigatório, isso é expressão de 
um poder que detém. Ao decidir, depois de 
muita discussão (técnica e política), pela 
imposição de um novo tributo, o governo 
influencia comportamentos de diversas 
pessoas (no caso em questão, o compor-
tamento será o pagamento do imposto). 
A política, assim, é o terreno das diversas 
implicações de relações de poder!
Mas, se a política tem a ver com o poder 
e se o poder visa a alterar o comportamen-
to das pessoas, é evidente que o ato polí-
tico de poder possui dois aspectos: a) um 
interesse; b) uma decisão. E aqui nos va-
lemos das ideias de outro importante autor, 
desta vez brasileiro, para avançarmos nessa 
definição: João Ubaldo Ribeiro (1941-2014), 
que talvez você conheça não como pensa-
dor político, mas como romancista, autor 
de obras como O Sorriso do Lagarto (1989) 
e Viva o Povo Brasileiro! (1984).
Para o autor (RIBEIRO, 1998), a política 
diz respeito a algo que responde a três per-
guntas: “quem manda? Por que manda? 
Como manda?”. Mando é igual a poder. 
Logo, quem tem o poder, como o tem e por 
que o tem? Ou, se quisermos, podemos 
formular assim: quem decide? Por que de-
cide? Como decide?
Assim pensando, definimos a política 
como a arte de exercer o poder de decidir! 
Política é tomada de decisão e esta pode, 
ou deseja, influenciar ou modificar com-
portamentos (seja por meio de impos-
tos, leis, comportamentos, padrões etc.). 
Logo, essas decisões não são tomadas no 
vazio, mas estruturadas a partir de inte-
EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 13
resses coletivos, de grupos diversos pre-
sentes na sociedade, que almejam, por 
meio da decisão política, fazer com que 
seus interesses sejam transformados em 
decisões políticas. Você pode estar lem-
brando do primeiro artigo de nossa Cons-
tituição Federal, promulgada em 1988, 
que em parágrafo único diz: “todo poder 
emana do povo, que o exerce por meio 
de representantes eleitos ou diretamente, 
nos termos desta Constituição”. Você lerá 
mais sobre a Constituição nos próximos 
fascículos, certo?
Avançando mais um pouco em nossa 
definição, podemos dizer que a política 
pode ser compreendida como um processo 
através do qual interesses são transforma-
dos em objetivos e os objetivos são condu-
zidos à formulação e tomada de decisões 
efetivas. Isso quer dizer que a política é um 
processo por meio do qual, partindo-se 
de interesses diversos, se busca formular 
ações e tomar decisões que dirão respeito 
a todos. Este fato está, como diz o autor, no 
centro da política. 
Contudo, importa deixar claro que a po-
lítica não se ocupa de todos os processos 
de formulação e tomada de decisões, mas 
somente daqueles que afetem, de alguma 
forma, a coletividade. O processo decisó-
rio mais importante em uma democracia, 
como a nossa, é a eleição, ou seja, o pro-
cesso que nos leva ao voto. Candidatos(as) 
disputam a nossa decisão para, a partir 
disso, decidirem muitas coisas por/para 
nós, pelos quatro anos seguintes. Interes-
sante, não é? Nossa escolha na urna refe-
rendará um conjunto de outras decisões 
que regerão nossas vidas por um tempo. É 
a condução de nossa própria existência co-
letiva, com reflexos imediatos sobre nossa 
existência individual, nossa prosperidade 
ou pobreza, nossa educação ou falta de 
educação, nossa felicidade ou infelicidade, 
como lembra Ribeiro (1998). 
Dito tudo isso, temos agora condições 
de afirmar que: a política envolve o co-
mum, a coletividade, a pólis; ela não é algo 
solitário, individual, intra-humano, ou pró-
prio do “si mesmo”; ela está na cidade, está 
fora, está nos outros e com os outros; seria, 
portanto, em seus próprios termos, algo 
do plano do “nós”. Ela constitui-se como 
o conjunto daquilo que é coletivamente 
demandado, dentro de uma organização 
territorial, congregando formas de vida, 
maneiras de pensar e horizontes. 
A política, como atividade humana, 
requer e produz interação, diálogo, argu-
mentação, persuasão, cálculo, planeja-
mento. Isso ocorre, especialmente, quando 
falamos de política em uma democracia. 
Um aspecto a ser destacado é que tudo 
isso requer de nós, e não apenas dos(as) 
políticos(as) profissionais, uma disposição 
para participar dos processos de tomada 
de decisões e organização da sociedade, 
ou seja, ao exercício do poder de que fala a 
Constituição. É isso que nos permite exer-
citar nossa cidadania, agindo em defesa de 
direitos e interesses, conferindo direção e 
orientação a todos(as) nós, como sujeitos 
e membros de grupos, coletividades, clas-
ses sociais, entre outros. Somente assim é 
possível conquistar e manejar o poder que, 
nos termos constitucionais, pertence a to-
dos e a cada um(a) de nós. 
Por isso mesmo, podemos concluir esse 
primeiro módulo dizendo que a política é 
constituída pelos seguintes atores: pesso-
as, cidadãos(ãs), grupos, mercado, associa-
ções, políticos(as) e técnicos(as). Nessa lis-
ta, onde você está? Onde gostaria de estar? 
Sabemos que, como sujeito e brasileiro(a), 
você já está nos dois primeiros lugares; com 
este Curso esperamos que se reconheça 
como um importante ator político, um(a) 
cidadão(ã) pleno(a), que responda positiva-
mente à pergunta: “Político(a), eu? Sim, 
sou! E há como não ser?”. 
14 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
REFERÊNCIAS:
ARENDT, Hannah. O que é política? 3. ed. 
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
BOBBIO, Norberto et al. Dicionário de Po-
lítica. 11.ed. Ed. UNB: Brasília, 1998. 
RIBEIRO, João Ubaldo. Política: quem 
manda, por que manda, como manda. 
3.ed.rev. por Lucia Hippolito.Rio de Janei-
ro: Nova Fronteira, 1998.
EDUCAÇÃO POLÍTICA PARA CIDADANIA 15
AUTORES:
Clênia Trindade Lucena 
Cavalcante
Doutoranda em Políticas Públicas (UECE), 
mestre em Sociologia (UFC) e Bacharel em 
Direito (UFMA).
Emanuel Freitas da Silva
Bacharel e mestre em Ciências Sociais 
(UECE, UFRN) e doutor em Sociologia 
(UFC). Desenvolve pesquisas nas áreas de 
teoria política, eleições e religiões, sendo 
Bolsista de Produtividade (BPI-FUNCAP). 
Professor de Teoria Política da UECE, 
atuando nos cursos de Pós-Graduação em 
Sociologia e em Políticas Públicas e na Gra-
duação em Ciências Sociais. Autor do livro 
Carisma e renovação da tradição católica 
em Fortaleza (Edições Waldemar Alcânta-
ra) e organizador dos livros Eleições Muni-
cipais 2020: cenários, disputas e resultados 
políticos e Atores Políticos e Dinâmicas 
Eleitorais, ambos pela EdMeta/UECE. 
Apoio: Parceria: Realização:

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