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EDUCAÇÃO, APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO Maria Amélia de Castro Cotta Uniube EAD Maria Amélia de Castro Cotta EDUCAÇÃO, APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO Catalogação elaborada pelo Setor de Referência da Biblioteca Central UNIUBE Cotta, Maria Amélia de Castro. C827e Educação, aprendizagem e desenvolvimento [livro eletrônico] / Maria Amélia de Castro Cotta. – Uberaba : Universidade de Uberaba, 2018. 79 p. : il. color. Programa de Educação a Distância – Universidade de Uberaba. Inclui bibliografia. ISBN 1. Educação inclusiva. 2. Educação especial. 3. Educação. I. Universidade de Uberaba. Programa de Educação a Distância. II. Título. CDD 371.9046 © 2018 by Universidade de Uberaba Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade de Uberaba. Universidade de Uberaba Reitor Marcelo Palmério Pró-Reitor de Educação a Distância Fernando César Marra e Silva Coordenação de Pós-Graduação a Distância Renata Maria de Almeida e Borges Editoração e Arte Produção de Materiais Didáticos-Uniube Preparação dos originais Maria Barbara Soares e Abrão Revisão ortográfica, gramatical, textual e de estilos Erika Fabiana Mendes Salvador Raul Sérgio Reis Rezende Editoração eletrônica Rafael Jesus do Prado Projeto da capa Roberto Silva Araújo Assis Edição Universidade de Uberaba Av. Nenê Sabino, 1801 – Bairro Universitário Maria Amélia de Castro Cotta Doutorado em Educação na área de Psicologia, Desenvolvimento Humano e Educação pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Mestrado em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP. Pós-Graduação Lato Sensu em Saúde e Integração Profissional pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM - Uberaba (MG). Pós-Graduação Lato Sensu em Metodologia do Ensino pela Universidade de Uberaba - UNIUBE. Graduação em Pedagogia - Faculdades Integradas de Uberaba - FIUBE. Experiência em cargos de gestão, tais como: Direção, Vice-Direção, Supervisão Educacional, Orientação Educacional, Coordenação Pedagógica e assessorias. Experiência como Professora de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio (Cursos de Magistério) e Ensino Superior. Atuação em cursos de Pós-Graduação Lato Sensu em diversas universidades e centros universitários. Elaboração e Implantação de Brinquedotecas. Coordenação de estágios supervisionados obrigatórios. Implantação e coordenação do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Educação Infantil - UNIVALE. Professora de cursos de Pós-Graduação Lato Sensu na modalidade a distância. Elaboração de materiais didáticos para cursos de Pós-Graduação Lato Sensu na modalidade a distância. Atua nas áreas: Infância, Educação Infantil, Formação de Professores, Estágio Supervisionado, Psicologia do Desenvolvimento Humano. Sobre a autora Sumário Apresentação .......................................................................................IX Capítulo 1 Concepções inatistas, ambientalistas e interacionistas .................................................................... 1 1.1 Considerações iniciais ............................................................................................. 3 1.2 Inatismo .................................................................................................................... 4 1.2.1 Alfred Binet e Gesell ....................................................................................... 5 1.2.2 Implicações educacionais ............................................................................. 7 1.3 Ambientalismo ......................................................................................................... 8 1.3.1 Implicações educacionais ............................................................................ 12 1.4 Interacionismo ........................................................................................................ 13 1.4.1 A teoria de Jean Piaget ................................................................................ 14 1.4.2 Lev Vygotsky ................................................................................................ 17 1.5 Reflexões finais ...................................................................................................... 20 1.6 Referências ............................................................................................................ 22 Capítulo 2 Epistemologia genética de Jean Piaget ........................ 23 2.1 Considerações iniciais ........................................................................................... 25 2.2 Jean Piaget (1896-1980) ....................................................................................... 25 2.3 Epistemologia genética ......................................................................................... 28 2.3.1 Esquema ....................................................................................................... 28 2.3.2 Assimilação ................................................................................................... 30 2.3.3 Acomodação ................................................................................................. 31 2.3.4 Equilibração ................................................................................................. 32 2.4 Ação e conhecimento ........................................................................................... 33 2.4.1 Conhecimento físico .................................................................................... 34 2.4.2 Conhecimento lógico-matemático ............................................................... 35 2.4.3 Conhecimento social ................................................................................... 36 2.5 Estágios do desenvolvimento humano .................................................................. 37 2.5.1 Período sensório-motor ............................................................................... 38 2.5.2 Estágio pré-operatório ................................................................................. 39 2.5.3 Estágio operatório-concreto ......................................................................... 40 2.5.4 Estágio operatório-formal ............................................................................. 41 2.6 Reflexões finais ...................................................................................................... 43 2.7 Referências ............................................................................................................ 44 Capítulo 3 Perspectiva histórico-cultural: Lev Vygotsky e contribuições de Wallon ................................................. 45 3.1 Considerações iniciais ........................................................................................... 47 3.2 Lev Vigotsky ........................................................................................................... 47 3.2.1 Perspectiva histórico-cultural ....................................................................... 50 3.2.2 As relações entre aprendizagem e desenvolvimento ................................. 59 3.3 Henri Wallon: a concepção dialética de desenvolvimento infantil......................... 61 3.3.1 Desenvolvimento infantil .............................................................................. 62 3.4 Reflexões finais ......................................................................................................67 3.5 Referências ............................................................................................................ 67 Capítulo 4 Repercussões teóricas na educação especial numa perspectiva inclusiva ............................................ 69 4.1 Considerações iniciais ........................................................................................... 71 4.2 As abordagens de desenvolvimento e a prática pedagógica ............................... 71 4.3 Referências ............................................................................................................ 79 Prezado(a) aluno(a), Hoje damos início ao módulo “Educação, Aprendizagem e Desenvolvimento”. Antes de tudo, cumprimentamos a sua iniciativa e a sua preocupação com um tema tão importante na nossa sociedade: a educação inclusiva. Apresentação Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. O nosso primeiro capítulo intitulado “Teorias de Aprendizagem: ação pedagógica na escola inclusiva” tem por objetivo trazer as concepções inatistas, ambientalistas, interacionistas, seus principais representantes, suas implicações e repercussões na área educacional. Para isso você estudará alguns teóricos, tais como: Alfred Binet e Gesel, Watson e Skinner, Jean Piaget, Lev Vygotsky e Henri Wallon. Além dos textos principais de cada capítulo, há também outros textos recomendados para leitura. Não deixe de lê-los, pois eles são importantes para o seu aprofundamento. Fique atento(a). Observe as datas para a realização da avaliação do módulo. Mantenha em dia seus estudos. Anote suas dúvidas e incertezas. Abra uma pasta em seu computador e organize os textos lidos. Seja bem-vindo(a) e um ótimo estudo para você. Agradecimento Agradecemos à Profa. Lúcia Helena Borges de Oliveira pela elaboração e gravação das videoaulas constantes deste ebook. 1 Concepções inatistas, ambientalistas e interacionistas Uniube 3 Considerações iniciais1.1 Figura 1 Fonte: Acervo Depositphotos / EAD- Uniube. Neste capítulo você compreenderá as diferentes concepções e psicologias científicas que explicam determinadas práticas educacionais. De um modo geral, os profissionais da Educação são influenciados em suas práticas por uma ou mais concepções, mesmo sem saber ou explicar a opção por esta ou aquela prática. Abordaremos então as concepções inatistas, ambientalistas e interacionistas, que nos trazem uma concepção de desenvolvimento, de mundo e de homem. Desde a Antiguidade, discute-se sobre o desenvolvimento humano. Essa discussão recebe a contribuição de diversas áreas como a filosofia, a psicologia, a biologia, a sociologia, a ecologia, entre outras. De modo geral, podemos caracterizar três maneiras de pensar o desenvolvimento no campo do pensamento científico: inatismo, ambientalismo e interacionismo. Iniciaremos pelo conceito de inatismo. 4 Uniube Inatismo1.2 Figura 2: Concepções Fonte: Acervo Depositphotos / EAD- Uniube. A concepção inatista compreende o desenvolvimento como sendo parte da estrutura biológica do homem, ou seja, é regulado por mecanismos codificados no DNA. Nesse caso, as experiências e o meio em que o indivíduo vive ativam o aparecimento dessas características. Assim se um aluno possui uma capacidade de desenhar ou de escrever bem é porque foi herdada. A ideia de “dom” está estreitamente relacionada a essa concepção. Se uma pessoa recebeu aulas de violão, por exemplo, e não aprendeu, significa que ela não possui dom para tal. É como se a estrutura do cérebro não permitisse que o indivíduo aprendesse a tocar violão. Pensando nessa concepção na Educação Inclusiva, o aluno é concebido como alguém com poucas chances de desenvolvimento, já que sua personalidade, seus valores, hábitos e crenças, sua forma de pensar e suas reações emocionais estão basicamente prontas. Esta concepção está fundamentada na filosofia racionalista, idealista e apriorista, que tem como representantes autores como René Descartes, Melebranche, Espinosa, Leibniz, Woolf e Kant. No campo da psicologia, psicólogos como Francis Galton, Gesell e Alfred Binet e no campo da psicolinguística Chomsky e outros mais. Uniube 5 As autoras Fontana e Cruz (1997, p.12) contribuem para a definição de inatismo: “[...] do mesmo modo que a cor dos olhos, aptidões individuais e inteligência são características herdadas dos pais e, portanto, já estão determinadas biologicamente quando a criança nasce”. Alfred Binet e Gesell1.2.1 Parada Para reflexão Antes de trazermos tais implicações, refletiremos sobre algumas questões: O que faz com que uma criança tenha inclinação para o desenho, se não vive em um ambiente de desenhistas? Por que algumas pessoas de uma mesma família vivem e possuem habilidades tão diferentes umas das outras? E aquele aluno que vive em uma comunidade pobre, com poucos recursos para leitura, que se destaca em literatura? Ou então qual a razão de dois alunos terem o mesmo tipo de deficiência e um se desenvolver mais do que o outro? Foi por meio de indagações semelhantes que os primeiros psicólogos preocuparam-se em compreender e avaliar a inteligência do sujeito, pois o papel do meio social, na perspectiva inatista, restringiria-se a impedir ou a permitir que determinadas aptidões manifestassem. Um dos primeiros estudiosos foi Alfred Binet, um médico interessado na psicologia da criança e do deficiente. 6 Uniube A ideia e o método central desenvolvidos por Alfred Binet é o estabelecimento da escala métrica da inteligência que permitia, por meio de testes, medir a inteligência, preocupando-se com a correlação entre o desenvolvimento físico e mental. Fontana e Cruz (1997, p.14) citam o conceito de inteligência de Alfred Binet: Figura 3: Cérebro e máquina. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD- Uniube. Parece-nos que na inteligência existe uma faculdade fundamental [...]. Essa faculdade é o julgamento, também chamado bom senso, senso prático, iniciativa, a faculdade de adaptar- se às circunstâncias. Julgar bem, compreender bem, raciocinar bem; essas são as atividades essenciais da inteligência. (BINET; SIMON, 1916, p. 42-43). As capacidades citadas por Binet são biologicamente determinadas, fixadas por meio da hereditariedade. Outro autor que se interessou pelo padrão do desenvolvimento humano foi Gesell, psicólogo, médico e pesquisador norte-americano, que desenvolveu teorias do desenvolvimento com ênfase na maturação. A sua defesa recaiu sobre a prioridade dos fatores maturacionais sobre os fatores de aprendizagem. Nesse caso, a criança é determinada biologicamente, do mesmo modo que o crescimento do feto no útero materno. Assim, ele estabeleceu escalas de desenvolvimento. Uniube 7 Figura 4: Human Embryonic and Foetal Development. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Implicações educacionais 1.2.2 Afirmativas como “A criança não tem maturidade para aprender.” ou “A criança não tem prontidão” advêm de tal concepção. Nesse sentido, a aprendizagem depende do desenvolvimento. Você já deve ter ouvido falar que, outrora, havia o período preparatório realizado quando a criança ingressava no 1º ano do Ensino Fundamental, com o objetivo de prepará-la para a alfabetização. Ou, ainda, testes de prontidão para a leitura. Então o objetivo é constatar se a criança possui maturidade para ler, escrever etc. Com isso muitas crianças ficavam retidas na Pré-Escola ou eram submetidas a inúmeros exercícios preparatórios, tendo como base o treinamento. Logo, para que a criança aprendesse determinados conteúdos escolares, ela deveria ter definidas algumas capacidades e a função Desenvolvimento humano embrionário e fetal 8 Uniube da escola estaria limitada, justificando o “fracasso do aluno” pela sua hereditariedade e maturação. Assista à videoaula 1 em que discutiremos os principais aspectos da concepção inatista, apriorista, racionalista. Ambientalismo1.3 A concepçãoambientalista também conhecida como comportamentalista ou behavorista atribui um poder ao ambiente no desenvolvimento humano. É uma concepção que deriva do empirismo, corrente filosófica que enfatiza a experiência sensorial como fonte do desenvolvimento. Nesse caso, o papel do ambiente é mais importante que a maturação biológica. O autor John B. Watson foi um dos mais representativos na prática do comportamentalismo, sendo considerado o pai do behaviorismo. As autoras Fontana e Cruz (1997, p. 25) dizem que: “Na perspectiva de Uniube 9 Watson, podemos dizer que comportamento é sempre uma resposta do organismo (humano ou animal) a algum estímulo do meio ambiente”. À psicologia, segundo essa concepção, cabe o estudo das respostas do organismo aos estímulos do meio. Baseando-se nesse postulado, surge, então, a crença de que é possível controlar e modificar quase todos os aspectos do comportamento humano. Logo a criança é formada pelo meio e este é controlado pelos pais. Parada Para reflexão O ambientalismo propõe que o nosso comportamento pode ser influenciado pelo ambiente em que estamos inseridos. Será que é possível? Pense um pouco na sua própria história. Consegue identificar alguma característica ou algum comportamento que tenha sido aprendido no ambiente em que foi cuidado e criado? Você acredita que é possível moldar uma pessoa? E os fatores individuais? Outro representante dessa concepção é o psicólogo norte-americano Burrhus Frederic Skinner, que deu continuidade aos estudos de Watson. No entanto distingue a aprendizagem por condicionamento clássico da aprendizagem por condicionamento operante. O condicionamento clássico envolve uma reação do organismo sobre o meio. Ter sono e piscar os olhos são respostas a um estímulo. É um tipo de resposta não aprendida, um reflexo do organismo. 10 Uniube Já o condicionamento operante não se traduz em comportamentos automáticos e não se relaciona a estímulos conhecidos previamente. É a partir de um determinado estímulo que se espera a resposta. Para Skinner, a grande maioria do comportamento das pessoas é aprendido por meio do condicionamento operante. Fontana e Cruz (1997, p. 27) exemplificam: Figura 5: Condicionalmento clássico = bocejo. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD- Uniube. A birra de uma criança, por exemplo, é um comportamento aprendido. Se a criança chora e esperneia e a mãe (ou outro adulto) lhe dá algo que ela deseja (como um doce, um brinquedo, um refrigerante), o comportamento da criança é reforçado e tende a se repetir em outras ocasiões. Skinner interessou-se no seu estudo pelo condicionamento operante, realizando pesquisas com animais como ratos, pombas e posteriormente com pessoas. Uma das suas pesquisas mais conhecidas é a pesquisa com ratos colocados em uma caixa com uma barra de metal, que quando acionada liberava água e comida. Essas caixas ficaram conhecidas como “caixas de Skinner”. Um rato era colocado dentro de uma dessas caixas, que tinha em seu interior uma alavanca especial. Toda vez que se pressionava a alavanca, o animal recebia uma porção de comida. Com o tempo, o animal aprendia que, para se obter a comida, era sempre necessário que a alavanca fosse acionada, passando a acioná-la de propósito, para ganhar o alimento. Uniube 11 Esse comportamento foi chamado de reforço positivo. Com isso, Skinner concluiu que os animais são condicionados pelas respostas que recebem por suas ações e do ambiente. Vídeo Saiba mais sobre as pesquisas de Skinner, clicando no link e assistindo ao vídeo Skinner-Modelagem. Nesse vídeo você terá acesso ao modo como Skinner, um psicólogo de Harvard, pesquisou sobre a engenharia da natureza humana. Demonstra os experimentos feitos por ele com pombos e ratos. Explica ainda sobre as ideias herdadas de Watson e apresenta as diferenças entre as concepções dos dois (Watson e Skinner). Skinner acreditou que com o behaviorismo ele podia influenciar o mundo para uma humanidade melhor. O link em que você poderá ter acesso a essas informações é: https://www.youtube.com/watch?v=cFoDe9KoK74 As conclusões de Skinner a partir de experiência com animais tiveram implicações em diversas áreas do comportamento humano. Os conceitos de reforço positivo e de reforço negativo, muito especialmente, influenciaram o modo de educar as crianças. O reforço positivo, para o pesquisador, configurava comportamentos com mais eficiência. Já o reforço negativo poderia ser contraproducente, fazendo o indivíduo continuar a esperar por respostas positivas a determinado comportamento. https://youtu.be/cFoDe9KoK74 12 Uniube Implicações educacionais1.3.1 A influência do behaviorismo na educação foi e é expressiva. Uma das práticas é a individualização do ensino, com ênfase ao ensino programado, apresentando conteúdos por etapas. Nesse caso, caberia ao docente apresentar a matéria ao aluno, partindo do simples para o complexo, dependendo do sucesso do aluno na etapa proposta. O desenvolvimento e a aprendizagem são entendidos como processos idênticos, decorrentes do condicionamento do meio. Tanto o desenvolvimento como a aprendizagem são frutos do condicionamento do meio. Na Educação Inclusiva, podemos pensar na interferência dessa abordagem quando constatamos práticas pedagógicas, predominantemente, comportamentais, elegendo o treinamento de habilidades para que o aluno aprenda. A seguir, apresentamos a videoaula 2 na qual o tema abordado acima será aprofundado. Uniube 13 Interacionismo1.4 Figura 6: Interações num contexto. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Na concepção interacionista, há a defesa de que o organismo e o meio, em interação, acarretam mudanças no sujeito. Algumas ideias-chave estão associadas a essa concepção, entre elas, o papel do aluno na construção do saber e a importância das interações sociais na aquisição do conhecimento, muito especialmente no contexto escolar. Essa abordagem nos diz sobre a maneira pela qual o sujeito elabora o conhecimento e constrói o seu pensamento. Dois grandes nomes estão associados ao interacionismo: Piaget e Vygotsky. Jean Piaget e Vygotsky são contemporâneos, no entanto a carreira de Vygotsky foi bruscamente interrompida por uma morte prematura e a de Piaget estendeu-se por mais de meio século. 14 Uniube A teoria de Jean Piaget1.4.1 Vídeo JEAN PIAGET Antes de falar da teoria da Jean Piaget, conheça esse autor, assistindo ao vídeo sugerido. Nesse vídeo você terá a oportunidade de conhecer a origem do pensamento de Jean Piaget e a sua busca pelas respostas às perguntas: • Como se constrói o conhecimento? • Como se desenvolve a inteligência? Aos 11 anos de idade, olhando para um pardal, Jean Piaget resolveu tornar-se um cientista. Para conhecer toda essa história, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=n0UZT1UCzec Jean Piaget é considerado por muitos como o maior psicólogo do século XX, mas antes de tudo, ele é um epistemólogo, biólogo de formação, que voltou o seu estudo para o conhecimento, com o objetivo de fornecer uma explicação biológica das formas de conhecimento. Embora os trabalhos sobre o desenvolvimento da criança ocupem uma parte considerável da sua obra, a psicologia genética representava para ele um dos métodos privilegiados da epistemologia. Ele não escreveu uma teoria do ensino e não tinha como preocupação a pedagogia, embora o seu pensamento educativo apareça em grande https://youtu.be/n0UZT1UCzec Uniube 15 parte dos seus escritos, tornando-se referência tanto para a pedagogia como para a didática. A sua preocupação fundamental foi compreender como os conhecimentos aumentam e por que processos eles passam de um nível de complexidade para o outro. Piaget considera essencial o estudo sobre o desenvolvimento nos níveis individual (psicogênese) e coletivo (sociogênese). Assim esclarece Legendre (2010, p. 432): Esses dois níveis de estudo são suscetíveis deesclarecerem-se mutuamente, pois o primeiro permite compreender as condições psicológicas de formação dos conhecimentos elementares, enquanto o segundo ajuda a conhecer os patamares superiores do pensamento, isto é, as noções construídas e utilizadas por um pensamento já elaborado, dos próprios cientistas. Piaget insiste na complementaridade dos métodos psicogenético e histórico-crítico. Assim o objetivo de Piaget é compreender como a criança constrói o seu conhecimento interagindo com o meio ambiente, abordando a inteligência de um modo bem diferente das abordagens anteriores. Não considera a inteligência como uma faculdade inata, mas como um processo adaptativo em constante evolução e procura compreender como o sujeito aprende. Para que a inteligência se desenvolva, é necessário que haja ações que sejam gradualmente interiorizadas, que se transformam em operações que Piaget chamará de esquemas de assimilação. O desenvolvimento de tais esquemas traduz-se na construção de estruturas operatórias da inteligência e a evolução dessas estruturas, associadamente, seria representada pelas seguintes etapas: 16 Uniube a) pensamento pré-operatório; b) pensamento operatório concreto; c) pensamento operatório formal. Essas estruturas da inteligência se elaboram gradualmente em um certo número de estágios e de períodos do desenvolvimento. As estruturas às quais Piaget se refere não são pré-formadas ou hereditárias no sujeito e também não são extraídas do meio. São construídas a partir das ações do sujeito e de seus resultados sobre o objeto. 1.4.1.1 Implicações educacionais Muitas são as influências da teoria de Piaget na Educação. Uma delas é a necessidade de que o processo educativo se apoie no desenvolvimento da criança, permitindo a ela o desenvolvimento pleno da personalidade em seus aspectos intelectual, afetivo, social e moral. Quanto ao ensino, teria como finalidade a formação da inteligência ativa. Para isso, caberia à escola desenvolver as funções mentais e garantir a aquisição do conhecimento. Como lembra a autora Legendre (2010, p.438), contribuir para a educação intelectual da criança não é “mobiliar” a sua memória, mas favorecer o desenvolvimento do seu pensamento. Participar de sua educação moral não é transmitir regras, mas favorecer a cooperação e a reciprocidade, com um espírito de solidariedade em que a criança não procure abolir pontos de vista particulares e tente realizar a unidade da diversidade. Com relação aos conceitos de aprendizagem e desenvolvimento, Piaget coloca a aprendizagem como subordinada ao desenvolvimento e o ensino à maturação, concluindo que o processo educativo deve seguir a formação dos processos psicológicos. Uniube 17 Lev Vygotsky 1.4.2 Vídeo LEV VYGOTSKY - DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM O vídeo a seguir conta quem foi Lev Vygotsky e quais são as ideias que influenciaram o pensamento sobre a educação, principalmente sobre o desenvolvimento da linguagem. O autor fundou a Psicologia Histórico-Cultural também conhecida como Psicologia Interativista Sociocultural ou Psicologia Sociointeracionista ou Teoria Histórico- Social. Você verá a biografia do autor e os principais conceitos desenvolvidos por ele no vídeo a seguir. https://www.youtube.com/watch?v=_BZtQf5NcvE O princípio orientador da abordagem de Vygotsky é a dimensão sócio-histórica do psiquismo. Na sua concepção, a relação entre o biológico e o cultural constitui-se como uma interação permanente em que os aspectos psíquicos ou subjetivos exercem influência sobre o ambiente, recebendo destes seus elementos constitutivos. Figura 7: A criança e o seu ambiente. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. https://youtu.be/_BZtQf5NcvE 18 Uniube A abordagem histórico-cultural, ao conceber o homem como “um conjunto das relações sociais internalizadas”, traz uma nova concepção do processo de desenvolvimento e aprendizagem, vista como uma construção social. Assim, o homem constrói o conhecimento a partir da interação mediada pelo cultural. Vygotsky também introduz um conceito importante para as discussões sobre o desenvolvimento e aprendizagem: o conceito de “zona de desenvolvimento proximal” (ZPD), que se articula com as categorias “desenvolvimento real” e “desenvolvimento potencial”. O desenvolvimento real indica o nível de desenvolvimento das funções mentais da criança, caracterizado pelo que ela consegue realizar por si própria, sem auxílio dos adultos ou de crianças mais experientes. É o que caracteriza retrospectivamente o nível de desenvolvimento alcançado. O desenvolvimento potencial é tudo aquilo que uma criança ainda não consegue realizar de forma independente, mas que realiza quando em colaboração com outras pessoas mais experientes. A zona de desenvolvimento proximal indica a distância entre o desenvolvimento real e o desenvolvimento potencial. Para a criança atingir o desenvolvimento potencial, é necessário que se instaure um processo de colaboração e ajuda mútua com outros sujeitos, por meio de ações partilhadas na zona de desenvolvimento proximal (WERNER, 2005). Os processos de desenvolvimento e aprendizagem incluem-se no conceito de zona de desenvolvimento proximal, vistos como um processo interdependente, ou seja, influenciam-se mutuamente. Esse conceito nos permite que vejamos o desenvolvimento prospectivamente. Logo uma criança que se relaciona com outras pessoas, adultas ou não, mantém-se num espaço de interação, podendo participar de atividades, e, em alguns momentos, necessitará da ajuda do outro mais experiente e, em outros, será capaz de realizar tarefas sozinha. Uniube 19 Essa abordagem traz implicações importantes para a prática educativa, ao conceber a pessoa que se desenvolve culturalmente por meio das relações sociais. 1.4.2.1 Implicações educacionais Muitas são as contribuições de Vygotsky para diferentes áreas e temas: linguagem, o brincar e o jogo imaginário, literatura, artes, deficiência, entre outros. Em especial, nos estudos sobre deficiências, o autor deu importantes contribuições. Uma das contribuições é a visão de que há uma relação entre homem e meio que é mediada por produtos culturais humanos. A constituição do homem não é só resultado dos processos biológicos e nem tão somente dos aspectos culturais e sociais. Para explicar essa proposição, desenvolveu o conceito de processos psíquicos superiores e processos psíquicos inferiores, que abordaremos no terceiro capítulo. Fontana e Cruz (1997, p. 61) contribuem para esse conceito com a seguinte afirmativa: [...] a abordagem histórico-cultural considera que toda função psicológica se desenvolve em dois planos: primeiro, no da relação entre indivíduos e, depois, no próprio indivíduo. O processo de desenvolvimento vai do social para o individual, ou seja, as nossas maneiras de pensar e agir são resultado da apropriação de formas culturais de ação e de pensamento. Logo, para Vygotsky, as origens e as explicações do funcionamento psicológico do homem devem ser buscadas nas interações sociais. Sem dúvida, os conceitos desenvolvidos por Vygotsky, ao estudar o desenvolvimento da criança, as patologias e a deficiência mental, trouxeram um “outro lugar” para a criança no mundo e na escola e, em especial, para as que sofrem de algum tipo de deficiência. 20 Uniube Reflexões finais1.5 Esta apresentação rápida das abordagens tem o intuito de fazer você pensar sobre como compreender determinadas práticas educativas e o modo de conceber a pessoa com quem você trabalha ou convive. A fim de pensar na caracterização de cada uma dessas abordagens e suas possíveis influências sobre a educação especial, apresentamos um quadro a seguir. • As práticas pedagógicas são expressivas, baseadas no interesse (Jean Piaget). • A explicação para o fracasso escolar está na imaturidade do aluno (Jean Piaget). • O desenvolvimento da criança é visto de modo prospectivo (Vygotsky).• As práticas pedagógicas valorizam as relações sociais, a cultura e a história da pessoa (Vygotsky). INTERACIONISMO • As práticas pedagógicas são por condicionamento e treinamento. • Mensuração padronizada de comportamentos, habilidades e conteúdos. • O fracasso escolar é explicado por mecanismos biológicos ou psíquicos. AMBIENTALISMO • As práticas pedagógicas são por condicionamento e treinamento. • Mensuração padronizada - ênfase à hereditariedade. • O fracasso escolar é explicado por mecanismos biológicos ou psíquicos. INATISMO Uniube 21 A opção de estudar e realizar um curso implica uma busca constante por novas leituras e aprofundamentos. Para compreender ainda melhor a proposta piagetiana, assista à videoaula 3 a seguir. IndIcação de leItura No capítulo seguinte, continuaremos os nossos estudos, iniciando por um maior aprofundamento sobre a teoria de Jean Piaget. Mas, se você está interessado em aprofundar-se nas temáticas abordadas aqui, seria muito interessante que também assistisse à apresentação intitulada Concepções sobre desenvolvimento e aprendizagem segundo a psicogênese piagetiana, que poderá ser encontrada no link a seguir: <http://www.pgsskroton.com.br/seer/index. php/educ/article/viewFile/1910/1814> http://www.pgsskroton.com.br/seer/index.php/educ/article/viewFile/1910/1814 http://www.pgsskroton.com.br/seer/index.php/educ/article/viewFile/1910/1814 Referências1.6 BINET, A; SIMON, T. The development of intelligence in children. Baltimore: Williams e Williams Company, 1916. FONTANA, Roseli; CRUZ, Nazaré. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual, 1997. LEGENDRE, Marie-Françoise. Jean Piaget e o construtivismo na educação. In: GAUTHIER, Clermont; TARDIF, Maurice (Org). A Pedagogia. Teorias e práticas da Antiguidade aos nossos dias. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. WERNER, Jairo. Saúde & educação: desenvolvimento e aprendizagem do aluno. Rio de Janeiro: Gryphus, 2005. 2 Epistemologia genética de Jean Piaget Uniube 25 Considerações iniciais2.1 Figura 1: Abordagem interacionista. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Neste texto, abordaremos com mais profundidade um dos autores da abordagem interacionista, vista no capítulo anterior: Jean Piaget. Ao longo da leitura, você encontrará muitas reflexões sobre a prática educativa, mais especificamente na Educação Especial e Educação Inclusiva. Leia com atenção e reflita sobre a sua prática cotidiana. Jean Piaget (1896-1980)2.2 Jean Piaget nasceu em 9 de outubro de 1896, em Neuchâtel, pequena cidade da Suíça e capital do Neuchâtel. Pertencia a uma família de tradição moral, intelectual e social própria de uma certa ética protestante francesa do fim do século XIX. Na escola primária, Jean Piaget revelou-se um excelente aluno, entrando para o Colégio Latino aos 11 anos de idade para dar continuidade aos estudos secundários, tendo uma afinidade com a História Natural. Após o término dos estudos secundários, frequentou o ginásio cantonal, onde obteve o seu bacharelado em Letras, no ano de 1915. Naturalista, Jean Piaget já era reconhecido como especialista na classificação de moluscos quando aderiu, com a idade de 15 anos, ao clube “Amigos da Natureza”. Na adolescência, preocupou-se com a ordem moral e filosófica, interessando-se pela Evolução criadora de Bergson (a teoria do 26 Uniube conhecimento é inseparável de uma teoria da vida). Em 1915, Piaget se inscreveu na Faculdade de Ciências de Neuchâtel, que frequentou durante cinco semestres. Obteve o prêmio Léon du Pasquier, em 1917, concedido pela Sociedade Acadêmica, organismo independente da universidade, fundado em 1889, que organizou um concurso para recompensar os melhores trabalhos dos estudantes. O trabalho premiado foi: “Realismo e nominalismo segundo as ciências da vida”. Em 1918, pediu o reconhecimento de seu título em Ciências ao conselho da Faculdade de Letras, a fim de poder se apresentar ao doutorado em Filosofia. Embora o tema de sua tese, intitulado Ensaio sobre o julgamento de valor e o método biológico nas ciências do espírito, tivesse sido aceito, Piaget não foi até o fim com o seu projeto em Filosofia. Foi para Paris (1919) fazer um curso de Psicologia, Lógica e Filosofia. Participou também de pesquisas realizadas no laboratório de Psicologia da criança, criado por Alfred Binet, autor citado em nosso primeiro capítulo. Foi em 1921 que obteve o grau de doutor em Ciências com uma tese sobre moluscos. Durante esse mesmo período, foi para Genebra, ocupando-se dos trabalhos do instituto Jean-Jacques Rousseau, oferecido por Claparède. Quatro etapas marcaram a carreira de Jean Piaget, a partir de então. A primeira delas foi sobre um conjunto de trabalhos acerca do pensamento infantil, com publicações de várias obras sobre linguagem, os intercâmbios sociais entre as crianças e suas relações com a inteligência lógica e representativa. Piaget ressaltou o caráter egocêntrico da criança e o fato de uma socialização progressiva levar ao pensamento lógico e objetivo. Na segunda fase, Piaget concentrou os seus trabalhos na Psicologia, na Epistemologia genética e na Lógica. A partir desse estudo, é que Uniube 27 demonstrou as etapas do desenvolvimento da inteligência da criança. Paralelamente aos estudos de Psicologia genética, elaborou uma epistemologia construtivista. Em 1950, publicou três volumes da Introdução à Epistemologia Genética, dedicando-se ao pensamento matemático, físico, biológico, psicológico e sociológico. Inicia-se assim a terceira etapa da carreira de Piaget, com a criação do Centro Internacional de Epistemologia Genética, com pesquisas coordenadas por ele, com a colaboração de cientistas de diferentes áreas. Uma última etapa importante de sua carreira de pesquisador nessa área foi marcada pela criação do modelo construtivista, que expôs na obra A equilibração das estruturas cognitivas. Dessa obra, surgiram outros escritos sobre os processos implicados na construção do conhecimento. Jean Piaget faleceu, em 1980, aos 84 anos de idade. Dessa breve biografia, é possível compreender as bases teóricas de Jean Piaget e a construção de um método de pesquisa. Assim, não nos parece cuidadoso reduzir a biografia do autor ao fato dele ser biólogo e, posteriormente, escrever sobre a inteligência e a construção do conhecimento. A trajetória de Jean Piaget como estudioso e pesquisador nos diz sobre alguns pontos de ancoragem de sua teoria. Uma delas é a sua constante preocupação com os aspectos morais e éticos e sua base teórica na filosofia, o que fez dele o maior psicólogo do século XX, reconhecido por muitos autores. Contudo Jean Piaget é antes de tudo um epistemólogo, biólogo de formação, que se voltou para o estudo do conhecimento, com o objetivo de fornecer uma explicação biológica das formas de conhecimento. 28 Uniube Epistemologia genética 2.3 Convém lembrar que Jean Piaget é psicólogo por método e que muitos dos seus estudos sobre a elaboração do pensamento se realizam numa reflexão epistemológica sobre a natureza do conhecimento. A epistemologia genética é um método que propõe a descoberta das raízes das diversas formas de conhecimento, desde a sua forma mais elementar, seguindo sua evolução, até os níveis seguintes, incluindo o pensamento científico. Há vários conceitos que compõem a Epistemologia Genética, entre eles a Teoria da Equilibração. É sobre esse conceito que nos debruçaremos agora. Esquema2.3.1 Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Figura 2: Estruturas. Jean Piaget entendeu a mente como composta por estruturas, assim como o nosso corpo. O sistema urinário possui uma estrutura, o sistema nervoso outra e, assim, a mente também possui uma estrutura própria. Utilizou o termo esquema para explicar tal funcionamento. “Como estruturas, esquemas são correlatos mentais dos mecanismos biológicos de adaptação. [...] esquemas são estruturas que se adaptame se modificam com o desenvolvimento mental. ” (WADSWORTH, 1998, p.16). Uniube 29 As crianças, ao nascerem, apresentam poucos esquemas, que se desenvolvem e tornam-se mais generalizados e diferenciados em relação aos dos adultos. Os esquemas modificam-se continuamente. Esses esquemas são os conceitos, as categorias e as estruturas intelectuais que se organizam a partir da relação com as experiências, com os estímulos, fazendo com que cada criança classifique a natureza dos conceitos aprendidos. Por exemplo, imagine que uma criança pequena conheça um cachorro de uma determinada raça. Com o tempo, ela conhecerá outros cachorros de diferentes raças. Também conhecerá outros animais, como gato, vaca, galinha etc. A natureza do seu esquema, que apenas conhecia um cachorro, modifica-se, levando-a a classificar cachorros e vacas por similaridade, por exemplo. Ao nascer, os esquemas das crianças são de natureza reflexa, por exemplo o ato de sugar. Para Piaget, esses primeiros reflexos são os precursores das atividades mentais. Assim, à medida que a criança se desenvolve, os esquemas se diferenciam, tornam-se mais complexos por serem estruturas do desenvolvimento cognitivo que se transformam. Os processos responsáveis pelas mudanças ocorridas são chamados assimilação e acomodação. 30 Uniube Assimilação2.3.2 Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Figura 3: Criança assimilando novo conceito. Por assimilação, podemos entender como sendo um processo cognitivo, em que uma pessoa integra um novo dado ou conceito aos esquemas já existentes. Uma criança, à medida que se desenvolve, ganha novas experiências e avança no seu conhecimento. Descreveremos a mesma criança do exemplo anterior de acordo com a autora Wadsworth (1998, p. 19): Pode-se dizer que uma criança tem experiências: vê coisas novas (vacas), ou vê coisas velhas de novas formas e ouve coisas. A criança tenta adaptar esses novos eventos ou estímulos nos esquemas que ela possui naquele momento. [...] um menino passeando numa estrada campestre com seu pai, e o pai aponta para uma vaca no campo e diz: “O que é aquilo? ” A criança olha para a vaca (estímulo) e diz: “É um cachorro”. O que aconteceu? O menino, vendo o objeto (vaca) no campo, examinou a sua coleção de esquemas até encontrar um que lhe pareceu apropriado para nele incluir o objeto. Para a criança, o objeto (vaca) tem todas as características de um cachorro – e assim a criança concluiu que aquele objeto era um cachorro. O estímulo (vaca) foi assimilado ao esquema cachorro. Assim, assimilação pode ser vista como o processo cognitivo de colocar (classificar) novos eventos em esquemas existentes. Observando o exemplo, concluímos que a assimilação ocorre continuamente e os esquemas se transformam. No entanto, para explicar tais transformações, Jean Piaget introduziu o conceito de acomodação. Uniube 31 Acomodação2.3.3 Figura 4: Novo estímulo. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Pensemos na situação de uma criança sendo confrontada por um novo estímulo, em que ela tenta assimilá-lo de acordo com os seus esquemas já existentes. No entanto nem sempre isso é possível pelo fato de ela ainda não ter uma estrutura cognitiva com o esquema necessário para que o encaixe em seu pensamento. Nesses casos, a criança poderá criar novos esquemas em que possa encaixar a informação ou o conhecimento recebido ou modificar um conhecimento prévio. Ambas as situações são formas de acomodação, que, quando ocorre, acontece uma mudança da estrutura cognitiva da criança. Os esquemas construídos, ou seja, as ações e os conhecimentos necessitam da ampliação de experiências da criança. No entanto Wadsworth (1997, p. 21) esclarece: Nenhum comportamento é só assimilação ou só acomodação. Todo comportamento reflete ambos os processos, embora alguns comportamentos expressem, relativamente, mais um processo do que o outro. [...] A acomodação é responsável pelo desenvolvimento (uma mudança qualitativa) e a assimilação pelo crescimento (uma mudança quantitativa); juntos eles explicam a adaptação intelectual e o desenvolvimento das estruturas mentais. 32 Uniube Equilibração 2.3.4 Jean Piaget chamou o balanço entre assimilação e acomodação de equilíbrio. “Ele é o mecanismo autorregulador, necessário para assegurar uma eficiente interação da criança com o meio ambiente” (WADSWORTH, 1997, p. 22). Para melhor compreendermos esse conceito, pensemos em todo o processo. A criança recebe uma informação (esquema), o que significa que ela assimilou tal conceito. No entanto, com a sua experiência e contato com os seus pares e adultos, por exemplo, ela receberá outras informações, adquirirá novos conhecimentos e tentará incluir essa nova informação no seu raciocínio já construído sobre um determinado tema. Mas ocorre que ela talvez não consiga fazer relação entre o conhecimento anterior e o atual – acomodação. Nesse caso, ela criará novas situações mentais para incluir o novo conhecimento ou colocá-lo em outro espaço do seu pensamento ou estrutura cognitiva. Com a equilibração, há a modificação do pensamento anterior. PesquIsando na web Vejamos o esquema no link a seguir: <https://piagetvygostky.files.wordpress.com/2012/09/zdp-2.jpg> Esses conceitos nos explicam como se processa o crescimento e o desenvolvimento cognitivo, do nascimento até a vida adulta. “Do mesmo modo que nós nos adaptamos biologicamente ao mundo que nos cerca, o desenvolvimento da mente - desenvolvimento intelectual - também é um processo de adaptação. ” (WADSWORTH, 1997, p. 24). https://piagetvygostky.files.wordpress.com/2012/09/zdp-2.jpg Uniube 33 Ação e conhecimento 2.4 Figura 5: Construindo o conhecimento. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Como já dito, Jean Piaget tem por objetivo compreender como a criança constrói o conhecimento interagindo com o meio ambiente, diferenciando- se de outras perspectivas de seus contemporâneos. A inteligência não é uma faculdade inata, mas sim um processo adaptativo em constante evolução. Não se interessou em medir a inteligência e nem em compreender as diferenças individuais, e sim em entender o que há em comum em relação a todos os sujeitos de um mesmo nível de desenvolvimento. Assim, a inteligência é uma ferramenta que nos serve para conhecer e aprender. Ressaltamos que Jean Piaget admite a influência de alguns fatores sobre o desenvolvimento, tais como: maturação orgânica, a experiência do sujeito, a transmissão social e educativa. A equilibração tem um papel central no processo de construção interna do conhecimento. Para que ocorra o desenvolvimento, são necessárias ações muito maiores do que as físicas. Ações aqui entendidas como comportamentos que estimulam o intelecto, que produzem desequilíbrio e que permitem o acontecimento da assimilação e acomodação. De acordo com Jean Piaget, há três tipos de conhecimento: o conhecimento físico, o conhecimento lógico-matemático e o conhecimento social. Vejamos cada um deles. 34 Uniube Conhecimento físico 2.4.1 Figura 6: Manipulando objetos. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. O conhecimento físico é adquirido por meio da manipulação de objetos ou eventos. Borges (2003, p. 41) explica: Assim, uma experiência física permite ao sujeito a descoberta de propriedades de objetos e situações, através da abstração empírica. Essa abstração não se confunde com uma simples cópia do real. É uma atividade cognitiva, na qual o sujeito aplica as competências de seu estágio evolutivo, obtendo uma leitura de seu mundo, fundamental à estruturação do conhecimento lógico – matemático. Muitas são as possibilidades de se trabalhar o conhecimento físico com a criança, a partir dos seus órgãos do sentido. Apresentaremos a seguir o quadro apresentado pela autora Borges (2003), que também faz o alerta de que nenhuma atividade deve ser descontextualizada. Uniube 35 Área perceptiva ConhecimentoFísico Ações Audição Intensidade, duração, altura e timbre dos sons. Cantar, assoviar, bater em algo ou com algo, tocar instrumentos de percussão etc. Olfato e paladar Odores e sabores. Cheirar, provar, mastigar, comer, beber etc. Tato Forma, tamanho, peso, espessura, textura, con- sistência, temperatura. Apertar, pegar, tocar, carregar, morder, pres- sionar. Visão Forma, cor, tamanho, espessura. Olhar ou manusear, co- lorir, procurar, misturar, identificar etc. Quadro 1: Possibilidade de se trabalhar o conhecimento físico com a criança, a partir dos seus órgãos do sentido Fonte: BORGES (2003). É por meio das ações exemplificadas no quadro que a criança descobre e constrói o conhecimento. Conhecimento lógico-matemático 2.4.2 Figura 7: Conhecimento lógico-matemático. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. 36 Uniube O conhecimento lógico-matemático é o conhecimento construído e desenvolvido por meio da ação mental da criança sobre os objetos. Esse tipo de conhecimento não é inerente ao objeto, como no conhecimento físico, e sim construído a partir da ação sobre os objetos. É uma abstração reflexiva. Assim, quando uma criança está brincando com carrinhos de diversos tamanhos e cores, por exemplo, é possível que você observe que, em um dado momento, ela começa a fazer tentativas de organização desses carrinhos. Há momentos em que ela coloca um atrás do outro intercalando cores, em outros, ela coloca todos os vermelhos na frente, os azuis atrás e assim por diante. Está acontecendo aí uma ação mental sobre o objeto. Dessa forma, caberá ao professor criar situações que favoreçam a aquisição de novas estruturas mentais, desafiando as crianças em suas hipóteses em relação aos mais diversos conceitos. Conhecimento social 2.4.3 Figura 8: Conhecimento pela cultura. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Uniube 37 O conhecimento social é um conhecimento adquirido por meio da transmissão de acordo com a cultura e os diferentes grupos sociais. Trata-se de regras, leis, valores etc. Sendo assim, ele é adquirido por meio da interação da criança com as outras pessoas. Mas lembre-se: os conceitos de conhecimento não estão indissociados. De acordo com Piaget, todo conhecimento é conhecimento físico, conhecimento lógico-matemático e conhecimento social. Conhecimento lógico-matemático Invenção Conhecimento Social Transmissão Vivência Conhecimento Físico Descoberta Estágios do desenvolvimento humano2.5 Apresentaremos agora o estudo de Jean Piaget sobre os estágios de desenvolvimento humano, caracterizado por fases ou períodos, com início e término, variando de acordo com as características biológicas e fatores educacionais e sociais de cada sujeito. 38 Uniube O modelo de desenvolvimento apresentado por Jean Piaget destaca quatro períodos principais: • estágio sensório-motor (do nascimento até aproximadamente os 2 anos de idade); • o pré-operatório (dos 2 aos 7 anos); • operatório-concreto (dos 7 aos 11 anos) • operatório-formal (dos 11 aos 15 anos). Vejamos cada um deles: Período sensório-motor 2.5.1 Figura 9: Estágio sensório-motor Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. No início, as ações da criança recém-nascida são reflexos inatos que respondem ao estímulo do meio. Mas como lembra Fontana e Cruz (1997, p. 49): “O reflexo inato de sugar assimila, incorpora, novos elementos do meio (dedo, a roupa) e ao mesmo tempo vai sendo transformado por eles (acomodação), pois sugar o seio é diferente de chupar o dedo, que também é diferente de sugar a própria roupa”. Nesse período, a consciência da criança sobre o meio se expande lentamente, por meio de suas ações que envolvem o seu corpo (agarrar, empurrar, puxar etc) e posteriormente desloca as suas ações para os objetos (pegar, amassar etc). Uniube 39 Quando a criança age sobre o objeto, ou seja, quando, por exemplo, ao engatinhar, pega uma bolinha, olha para ela, empurra-a etc. está manipulando elementos do meio. Somente com o tempo é que as suas ações ganham intencionalidade e os movimentos ficam mais complexos, percebendo que as pessoas e os objetos continuam existindo mesmo quando estão fora do seu campo de visão. Acrescentam Fontana e Cruz (1997, p. 50): Formam-se as primeiras imagens mentais dos objetos ausentes do meio imediato. São eles que possibilitam o desenvolvimento da função simbólica, mecanismo comum aos diferentes sistemas de representação (jogo, imitação, imagens, interiores, simbolização). Com o desenvolvimento da função simbólica a partir do segundo ano de vida, o eu e o mundo reorganizam-se num novo plano: o plano representativo. Podemos dizer que, nesse estágio, a criança evolui, integrando-se ao ambiente, compreendendo algumas palavras, imitando regras, além de ser caracterizado por um desenvolvimento físico acelerado que dará suporte para que a criança adquira novas habilidades. Estágio pré-operatório 2.5.2 Figura 10: Estágio pré-operatório. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Um dos aspectos mais importantes nesse período é o aparecimento da linguagem, que acarretará modificações nos aspectos intelectual, afetivo e social da criança. É também nesse período que a criança constrói símbolos e tem uma maior aquisição das palavras. 40 Uniube A criança é centrada no seu próprio ponto de vista, tendo dificuldade de se colocar no lugar do outro, devido à sua dificuldade de relativizar, estabelecer maiores relações, compreender que uma situação pode ser interpretada de diferentes maneiras. Como afirma Fontana e Cruz (1997, p. 51): Como a noção de permanência dos objetos leva muito tempo para ser elaborada no nível sensório-motor, os processos de raciocínio lógico e os conceitos demoram também um longo tempo para se desenvolver, a partir desses primeiros raciocínios (pré-lógicos) de que a criança se torna capaz com a representação. Com relação às regras, mesmo nas brincadeiras, concebe as regras como imutáveis. Somente mais tarde é que consegue ter uma compreensão mais elaborada da regra. É importante ainda lembrar que, nesse estágio, a maturação neurofisiológica completa-se, permitindo a expansão das habilidades que envolvem também a coordenação motora fina. Estágio operatório-concreto2.5.3 Figura 11: Estágio operatório-concreto. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Esse estágio é marcado pela construção lógica, a superação do egocentrismo intelectual e social, pela capacidade da criança estabelecer relações entre diferentes pontos de vista. Após equilibrações sucessivas, o pensamento da criança assume a força de Uniube 41 operações intelectuais. Portanto é nessa fase que se estabelecem as bases para o pensamento lógico. O sentimento de pertencer a um grupo, ter amigos e colegas, é mais forte, sendo que no início desse estágio o agrupamento de crianças de sexos diferentes é mais comum e, ao final do estágio, o agrupamento torna-se mais seletivo, ou seja, meninas com meninas e meninos com meninos. Esse fortalecimento de grupo traz modificações no comportamento da criança, no início do período as ideias e opiniões dos adultos prevalecem e no final essas são enfrentadas. Outra característica desse período é que a criança é capaz de exercer suas habilidades e capacidades a partir de objetos reais, concretos. Reflete antes de agir, considera vários pontos de vista simultaneamente, recupera o passado e antecipa o futuro (BARBOSA et al., 2013). Essas ações e comportamentos caracterizam a reversibilidade do pensamento que possibilita também às crianças trabalharem com conceitos e noções de conservação, classificação e seriação de modo operatório. E assim o conhecimento construído pela criança vai se transformando em conceitos. Figura 12: Estágio preparatório-formal. Estágio operatório-formal2.5.4 Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. É nesse estágio que ocorre a passagem do pensamento concreto para o pensamentoformal abstrato, ou seja, o adolescente realiza operações no plano das ideias, sem necessitar de manipulação. Conceitos como de justiça, violência, amor, liberdade, 42 Uniube escravidão etc. agora são claros para ela. Enfim, torna-se capaz de pensar com o seu próprio pensamento. As relações sociais também se modificam, sendo que, inicialmente, o adolescente passa por uma fase de interiorização, o que faz às vezes as pessoas do seu entorno pensarem que ele está se afastando da família, não aceitando conselhos dos adultos, mas o alvo de suas reflexões é a sociedade. Posteriormente atinge o equilíbrio entre pensamento e realidade quando compreende a importância da reflexão para a sua ação no mundo real. E, para que as ideias de Piaget fiquem ainda mais claras para a sua compreensão, assista à videoaula 4 a seguir. Uniube 43 Reflexões finais2.6 Devido à extensão da teoria de Jean Piaget, não há como esgotá-la aqui. No entanto a principal razão para conhecê-la é a de você poder refletir sobre como a teoria poderá auxiliá-lo(a) na sua prática. Pensamos ter ficado evidente que na concepção piagetiana “o desenvolvimento da criança depende essencialmente da equilibração. As estruturas cognitivas da criança são elaboradas e reelaboradas continuamente a partir de sua ação física ou mental sobre o meio. ” (FONTANA, 1997). saIba maIs Para maior aprofundamento, sugerimos que acesse, nos links a seguir, os textos indicados, leia-os e analise-os: 1. A epistemologia genética de Jean Piaget, de Gelson Luiz Daldegan Pádua: <http://maratavarespsictics.pbworks.com/w/file/ fetch/74473316/A%20EPISTEMOLOGIA%20GENETICA.pdf> 2. O desenvolvimento humano na teoria de Piaget, de Márcia Regina Terra: <http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/ publicacoes/textos/d00005.htm> http://maratavarespsictics.pbworks.com/w/file/fetch/74473316/A%2520EPISTEMOLOGIA%2520GENETICA.pdf http://maratavarespsictics.pbworks.com/w/file/fetch/74473316/A%2520EPISTEMOLOGIA%2520GENETICA.pdf http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/d00005.htm%0D http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/d00005.htm%0D 44 Uniube Referências2.7 BARBOSA, Brenda et al. Psicologia da aprendizagem e desenvolvimento. Belém: IFPA, 2013. BORGES, Teresa Maria Machado. A criança em idade pré-escolar. Rio de Janeiro: T.M Machado Borges, 2003. FONTANA, Roseli; CRUZ, Nazaré. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual, 1997. WADSWORTH, Barry J. Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget. São Paulo: Pioneira, 1998. 3 Perspectiva histórico- cultural: Lev Vygotsky e contribuições de Wallon Uniube 47 Considerações iniciais3.1 Figura 1 Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Em nosso terceiro capítulo temos como objetivo apresentar a perspectiva histórico-cultural e seu autor central, o russo Lev Vygotsky, e posteriormente apresentar alguns princípios do pensamento de Wallon. Ambos os autores incluem-se na abordagem interacionista ou sociointeracionista. Ao ler, anote as ideias centrais e também as suas indagações. Lev Vygotsky3.2 Figura 2: Lev Vygotsky. Fonte: Lev Vygotsky 1896-1934.jpg (2013). Lev Vygotsky nasceu no mesmo ano do autor Jean Piaget – 1896, na cidade do interior de Osha, situada nos arredores de Minsk, capital da Bielorrússia. Mudou-se para Gomel, juntamente com a sua família, no início de sua vida, local em que haviam se instalado os judeus na Rússia Czarista. Nesse local passou a sua infância e adolescência e também iniciou a sua carreira. A sua família era numerosa, e ele era o segundo dos oito filhos. Pertencia a uma 48 Uniube família economicamente abastada e instruída que mantinha um clima intelectual rico e altamente estimulante. Vygotsky logo se apaixonou pela literatura e pelo teatro, possivelmente influenciado pela mãe, que era uma pessoa culta e interessava-se muito pela poesia. Posteriormente, o seu campo de interesse ampliou- se, perpassando pelas áreas de psicologia, pedagogia e educação. Mostrou-se também interessado pelos aspectos internos e psicológicos da linguagem, especialmente pela relação entre essa e o pensamento. A sua instrução primária foi por um preceptor, antes de entrar num liceu reservado para crianças judias. Terminou os estudos secundários, com medalha de ouro, em 1913, aos 16 anos de idade. Apesar de ser um aluno brilhante, encontrou muitas dificuldades por ser judeu, dificultando-lhe, inclusive, ingressar em uma universidade de sua escolha. Ainda assim, terminou os seus estudos em Direito na Universidade de Moscou, frequentando ao mesmo tempo a Universidade Chaniavski, onde estudou história, filosofia, psicologia, literatura e publicou várias críticas literárias. Após os seus estudos universitários, retornou para a cidade de Gomel. A abolição, pelo governo russo, resultante da Revolução de Outubro, das medidas discriminatórias contra os judeus deu-lhe acesso ao ensino. Assim, foi ocupar o cargo de professor em uma escola do Estado, lecionando também em várias instituições, até 1924, data do seu casamento. Teve duas filhas. O período de 1917 a 1924 marca o início de sua carreira e, segundo Veer e Valsiner (1999), é o menos conhecido pelos biógrafos, em razão da falta de documentos nessa época. “Mas sabemos muito pouco sobre o conteúdo do seu pensamento na época. Essa falta de conhecimento Uniube 49 é causada por enorme e intrigante intervalo na lista conhecida de obras publicadas de Vygotsky” (Ibid., p.21). Segundo os mesmos autores “há uma hipótese mais provável para a explicação desse intervalo: as atrocidades da guerra civil e a ocupação dos alemães” (Ibid., p. 21). No entanto a personalidade de Vygotsky é sempre evidenciada em sua biografia, por ter tido uma vida cultural ativa, organizando feiras literárias onde eram discutidas obras de escritores e poetas; redigiu críticas literárias e teatrais e conheceu muitos artistas e intelectuais da época. Também lecionou em diversos estabelecimentos (escolas e universidades), entre eles o Instituto de Formação de Professores de Gomel, onde criou um pequeno laboratório de psicologia para efetuar as suas primeiras experiências. Foi nesse local que preparou a sua primeira grande obra. No entanto esse foi um período difícil para Vygotsky sob o ponto de vista econômico e de saúde. Em 1920, teve a sua primeira tuberculose. O período em que Vygotsky viveu em Gomel também marcou o início do seu pensamento psicológico por meio de experiências e conferências realizadas sobre temas relacionados à psicologia e à pedagogia. Preparou também grande parte da obra Psicológica. Em 1924, Vygotsky apresentou uma comunicação com o seguinte título: Os métodos de pesquisa em reflexologia e em psicologia, criticando a reflexologia de Pavlov e Bekhterev, por considerá-la reducionista e por excluir os fenômenos da consciência humana. Nesse mesmo ano, realizou uma conferência em Moscou com o título A consciência como problema da psicologia do comportamento. Essas duas conferências foram basilares para os seus estudos em sua carreira. Ao final do ano de 1924, Vygotsky deixou Gomel juntamente com a sua família para trabalhar no Instituto de Psicologia Experimental de Moscou, juntando-se a vários psicólogos, entre eles Leontiev e Luria. 50 Uniube Em Moscou, Vygotsky dedicou parte importante de seus estudos à educação de crianças deficientes, especialmente as surdas e cegas. Fundou o Instituto de Defectologia e, em 1925, apresentou uma comunicação ao 25º Congresso Internacional sobre educação de surdos- mudos, em Londres. Ao retornar, novamente foi acometido pela tuberculose, ficando internado em um sanatório, local onde redigiu o seu manuscrito sobre a significação histórica da crise de psicologia. Nos seus últimos anos de vida, Vygotsky redigiu muitos textos teóricos e científicos sobre áreas e temas variados, tais como psicologia da arte, defectologia, pedagogia, formaçãodos conceitos, relações entre pensamento e linguagem e desenvolvimento e aprendizagem. Ao final do ano de 1933, ele reuniu, na sua obra Pensamento e Linguagem, os textos a que se dedicara em 1929. Faleceu no ano seguinte aos 38 anos de idade. Suas ideias marcaram fortemente a psicologia do século XX, inspirando muitas correntes de pesquisa nessa área. Perspectiva histórico-cultural 3.2.1 A perspectiva histórico-cultural tem como fundador Lev Vygotsky que se ancora no materialismo histórico-dialético, por influência de autores como Hegel (concepção de dialética), Engels, que é o seu interlocutor em várias obras, além de colaborador e amigo. Ao tomar a filosofia marxista como base de seus estudos, Vygotsky pretendeu buscar um método geral de investigação científica. Fittipaldi (2006, p. 76) esclarece: Uniube 51 Portanto, para Vygotsky (1994), o método deve dar ênfase no processo e não no produto. O processo é visto como algo dinâmico (entendido como movimento) que causa mudança no decorrer da história. Este movimento é constituído por pontos que se articulam. Os pontos são fenômenos num dado momento do tempo/história. Cada fenômeno é um produto e o processo, a articulação destes pontos. Assim, mais do que descrever, é preciso explicar porque o fenótipo nem sempre coincide com o genótipo. Sendo assim, inspirou-se no materialismo dialético para explicar a origem social e cultural do pensamento, mas não se mostrou submisso ao marxismo como ideologia. Ao se inspirar em Marx e Engels, a sua busca era pelas origens das formas de comportamento consciente nas relações sociais que as pessoas mantêm com o mundo exterior. Vygotsky reconhece a universalidade da dialética. Dessa forma, ele se filia à perspectiva de Marx e Engels, que defendem a ideia de que a dialética está presente em todos os fenômenos da realidade objetiva e sua expressão no pensamento humano é a lógica da dialética. Com essa afirmação, Vygotsky vislumbra a possibilidade de se criar uma psicologia geral que subsidia na dialética e no alcance da sua universalidade. (MARTINS, 2006, p. 30). O autor considera que há quatro grandes linhas de desenvolvimento: filogenético, sociogenético, ontogenético e microgenético. Vejamos: 52 Uniube É principalmente nos planos ontogenético e filogenético que vão situar as pesquisas empíricas de Vygostsky a respeito das funções mentais elementares e superiores. Sem negar o papel dos fatores biológicos, ele compreende a influência do desenvolvimento cultural no desenvolvimento natural, encarando a relação entre essas duas linhas do desenvolvimento sob uma perspectiva de interação dialética. Nesse sentido, as categorias social, cultural e histórica são fundamentais na obra do autor. Com relação à história, possui dois sentidos para Vygotsky: amplo e restrito. Uniube 53 A história, segundo Pino (2000, p.47), “é uma questão-chave na análise da natureza do social e do cultural na obra de Vygotsky”. [...] Em sentido amplo, a história é uma “abordagem dialética geral das coisas” e no sentido restrito significa “história humana”. (Ibid., p. 48). Figura 3: Categoria histórica. O social para Vygotsky constitui o sujeito e por ele é constituído, assim como para Marx: “não é a consciência que determina a vida, mas é a vida que determina a consciência.” (MARX, 1958, p. 27). O homem é social e individual sempre e o plano individual não preexiste ao plano social. O conceito de social não está desvinculado do cultural. E nesse sentido Pino (2000, p. 59) comenta: “o social é, ao mesmo tempo, condição e resultado do aparecimento da cultura. É condição porque, sem essa sociabilidade natural, a sociabilidade humana seria historicamente impossível e a emergência da cultura seria impensável”. Aquilo que é parte de uma cultura também é parte da história humana e das relações sociais (COTTA, 2014). Vygotsky (1982 - 1983) apresentou uma teoria dos processos humanos em que é reconhecida a importância do biológico, porém sem aderir à explicação do desenvolvimento pelas disposições ou restrições de natureza genética e pela maturação. O pensamento de Vygotsky foi construído por uma concepção de homem que vive em uma sociedade composta de diferentes grupos, que possui uma história individual e singular vinculada a uma história social. O homem é um ser que transforma o mundo e que é transformado nas relações produzidas em uma determinada cultura (COTTA, 2014). Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. 54 Uniube Na videoaula 5 a seguir, vamos retomar as principais ideias da teoria vygotskyana. Para compreender o humano, deve-se levar em conta sua inserção na rede de suas relações sociais. Como membro de uma espécie, no plano biológico, ele apresenta necessidades que precisam ser satisfeitas para garantir a sobrevivência. Contudo, ao se relacionar com a natureza, busca satisfação e desenvolve suas necessidades tanto naturais como sociais. Uma das bases para Vygotsky (1983) elaborar suas teses sobre a especificidade humana está nos processos psíquicos superiores, que são formados no desenvolvimento cultural da criança. Esse desenvolvimento depende das constantes interações com o meio social. Para que a criança aprenda e se desenvolva, é preciso que esteja em um ambiente social, em intercâmbio com outras crianças e adultos, participando de práticas sociais historicamente construídas, internalizando experiências vividas que lhe propiciam dominar conceitos, valores e formas de Uniube 55 comportamento. Os processos psicológicos mais complexos começam a se formar pela mediação de outros participantes do grupo social. Para Vygotsky (1983, p. 150 apud BARBOSA, 2005), [...] quando dizemos que um processo é “externo” queremos dizer que é “social”. Toda função psíquica superior foi externa por ter sido social antes que interna; a função psíquica superior propriamente dita era antes uma relação social entre as pessoas. O meio influencia sobre si mesmo e é inicialmente o meio que influencia sobre os outros, o meio de influência dos outros sobre o indivíduo. O desenvolvimento cultural de uma criança se dá nos planos social e psicológico, ou interpsíquico e intrapsíquico. Desta forma, as funções psíquicas superiores se encontram geneticamente nas relações humanas, que são interiorizadas a partir da vida social e estruturam a personalidade do sujeito. Na ontogênese, os processos de apropriação dos modos de atividade e dos instrumentos da cultura se sobrepõem ao desenvolvimento físico e orgânico das crianças, que são desafiadas pelas mediações que acontecem no decorrer de sua história. “Ambos os planos de desenvolvimento - o natural e o cultural - coincidem e se confundem entre si. As duas linhas de mudança penetram uma na outra formando basicamente uma única linha de formação sociobiológica da personalidade da criança.” (WERTSCH, 1988, p. 58). Essa perspectiva não ignora as forças biológicas que o sujeito traz em sua história, mas ressignifica essas forças, dando ao homem a possibilidade de alcançar avançados níveis de desenvolvimento, reafirmando sua capacidade de viver e sobreviver de acordo com as suas condições sociais e materiais oferecidas pela cultura. Pela internalização, o sujeito apropria-se de sua cultura ao mesmo tempo em que a cultura também o constitui. Vygotsky (2000, p. 75) refere-se ao processo de interiorização como sendo uma série de transformações: 56 Uniube Uma operação que inicialmente representa uma atividade externa se reconstrói e começa a suceder internamente; um processo interpessoal se transforma num processo intrapessoal; a transformação de um processo interpessoal num processo intrapessoal é o resultado de uma longa série de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento. Esse processo não implica que o sujeito esteja realizando uma cópia da realidade vivida, mas sim desenvolvendo sua individualidade, transformando seus comportamentos e formando suaconsciência. Para tanto, a mediação semiótica ocupa um papel central no desenvolvimento e na construção das funções psíquicas superiores. No percurso ontogenético, os homens internalizam os signos próprios dos contextos nos quais vão se construindo as histórias individuais. Cada signo interage com muitos outros signos provocando e sofrendo transformações ao dialogar com o contexto histórico e cultural em que o indivíduo se encontra. Na definição de Vygotsky (2000, p. 70), “o signo age como um instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel de um instrumento de trabalho”. Entretanto, mesmo admitindo uma analogia básica entre o signo e o instrumento técnico, o autor enfatiza a distinção entre eles. Ambos são mediadores, mas cada um envolve uma orientação específica na estrutura do comportamento (COTTA, 2014). Os instrumentos técnicos se orientam externamente, isto é, atuam sobre as propriedades dos objetos e permitem ao sujeito transformar coisas. Os signos dirigem-se para sujeitos, quando internalizados para si próprios. Pode-se dizer ainda que os instrumentos são recursos exclusivamente humanos, utilizados em diferentes culturas para materializar as ações sobre o meio. Mas, ao mesmo tempo, eles não são empregados independentemente dos signos; entrelaçam-se com os signos, que Uniube 57 são indispensáveis para as significações constitutivas do psiquismo. Por isso a mediação semiótica é uma noção central para explicar o desenvolvimento e a formação da consciência. A criança apropria-se dos signos e, assim, vai se formando como indivíduo e aprimorando sua capacidade para comunicar-se. “A linguagem como meio de comunicação nos obriga a designar e a expressar verbalmente os nossos estados internos.” (VYGOTSKY, 1983, p. 379). E ela apoia-se em experiências anteriores para significar as experiências atuais. Na visão vygotskyana, o signo é, a princípio, um meio de comunicação e posteriormente um meio de conduta da personalidade. A linguagem é estruturante da atividade consciente do homem. Por meio dela é possível analisar, abstrair e generalizar as características dos objetos, Figura 4: A criança apropria-se dos signos. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. eventos, situações presentes no cotidiano. A palavra generaliza o objeto e o inclui em alguma categoria ou em modos de ordenar o real conceitualmente; possui um significado relativamente estável, mas produz sentidos diversos, dependendo dos interlocutores e das condições contextuais da interação verbal (COTTA, 2014). A conquista da linguagem significa um marco no desenvolvimento humano, pois é ela que fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Por meio dela, as funções mentais superiores são socialmente formadas e culturalmente transmitidas, portanto sociedades e culturas diferentes produzem estruturas diferenciadas. 58 Uniube É por meio da linguagem que assimilamos a história social e a cultura que nos envolve e que foi criada por gerações antecedentes. Para Luria (1979), o surgimento da linguagem traz, pelo menos, três mudanças na atividade consciente do homem. A primeira delas é que o homem é capaz de nomear objetos estando na presença deles ou não, dirigir atenção a eles e conservá- los na memória. “A linguagem duplica o mundo perceptível, permite conservar a informação recebida do mundo exterior e Figura 5: A linguagem. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD- Uniube. cria um mundo de imagens interiores.” (LURIA, 1979, p. 80). A segunda mudança trazida pela linguagem na formação da consciência humana é a possibilidade de abstração e generalização que a palavra de uma língua oferece, dando à linguagem não somente a possibilidade de comunicação, como também de veículo do pensamento. E, finalmente, “a linguagem é o veículo fundamental de transmissão de informação, que se formou na história da humanidade.” (LURIA, 1979, p. 81). Esses destaques nos permitem compreender a centralidade ocupada pela linguagem no desenvolvimento da consciência e nas relações estabelecidas entre o homem e o mundo, já que ela traz a informação, o conhecimento, os diferentes comportamentos culturais. “A linguagem penetra em todos os campos da atividade consciente do Figura 6: A linguagem. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Uniube 59 homem.” (LURIA, 1979, p.82). Reorganiza os processos de percepção do mundo, modifica os processos de atenção e memória do homem, amplia a sua informação, assegura o surgimento da imaginação; reorganiza as vivências emocionais e se processa de forma interdependente com o pensamento (COTTA, 2014). As relações entre aprendizagem e desenvolvimento 3.2.2 Figura 7: A linguagem Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Para Vygotsky, a aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas. A relação do indivíduo com o mundo está sempre mediada pelo outro. Quanto ao desenvolvimento, não é pensado como algo natural, nem produto da maturação do organismo, e sim como um processo que se dá de fora para dentro. A relação entre aprendizagem e desenvolvimento é indissociável. Os processos de desenvolvimento e aprendizagem incluem o conceito de zona de desenvolvimento proximal, abordado em nosso primeiro capítulo. É a distância entre o desenvolvimento real e o desenvolvimento potencial. Isso significa que para uma criança atingir o desenvolvimento potencial necessita de colaboração, de ajuda mútua. O conceito de desenvolvimento proximal caracteriza o desenvolvimento prospectivamente. Alguns exemplos podem ser dados para indicar a diferença entre uma visão retrospectiva e prospectiva. Numa visão retrospectiva do desenvolvimento, a preocupação dos professores e pais 60 Uniube recai sobre aquilo que o indivíduo “não tem”, não conquistou. É comum ouvirmos frases como: “João não sabe contar até 10. ”, “José não sabe amarrar o tênis.” etc. Uma visão prospectiva do desenvolvimento parte do que o sujeito já conquistou. “José sabe dar um nó no barbante.”; “João calça os sapatos sozinhos.”. É na atividade conjunta e no esforço partilhado que a criança se apropria de habilidades e conhecimentos culturais. Nessa perspectiva, os problemas de aprendizagem e desenvolvimento não são analisados de maneira isolada, com ênfase no individual, e sim a partir do contexto sociocultural. Aprender, para o autor, é fazer história, é transformar, tarefa que se realiza no coletivo. Vamos fazer uma paradinha e assistir à videoaula 6, em que apresentamos um pouco mais da teoria de Vygotsky e de suas pesquisas, em relação à pessoa deficiente. Uniube 61 saIba maIs Para o seu maior aprofundamento, sugerimos que acesse o link a seguir e faça a leitura do texto Contribuições de Vygotsky para pessoas com deficiência visual, de Adriano Henrique Numberg: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v13n2/a13v13n2> A seguir veremos sobre o autor Henri Wallon, que tem um interesse em comum com Vygotsky: o desenvolvimento do ser humano. Henri Wallon também utilizou o materialismo histórico-dialético como fundamento filosófico e como método de análise. Por essa razão, consideramos importante conhecer brevemente as ideias centrais desse autor. Iniciaremos pela sua trajetória. 3.3 Henri Wallon: a concepção dialética de desenvolvimento infantil Henri Wallon é francês, nasceu no ano de 1879 e faleceu em 1962. Psicólogo, filósofo e médico. Viveu num período marcado pela instabilidade social: “duas guerras mundiais (1914-18 e 1939-45). O avanço do fascismo no período entre guerras, revoluções socialistas e as guerras de libertação das colônias da África atingiram boa parte da Europa, em espacial a França.” (GALVÃO, 2002, p.17). Formou-se em filosofia no ano de 1902 e posteriormente ministrou aulas no ensino secundário. Tinha uma afinidade com o social, demonstrada por meio de seu compromisso ético e engajamento político. Envolveu- se commovimentos contra o fascismo, participou de manifestações, http://www.scielo.br/pdf/pe/v13n2/a13v13n2 62 Uniube atuou na Resistência Francesa e foi perseguido por nazistas, o que o levou a viver na clandestinidade. Contudo não interrompeu sua atividade científica. Em 1931, Wallon foi convidado para integrar o Círculo da Rússia Nova, grupo formado por intelectuais que se reuniam para se aprofundar nos estudos sobre o materialismo histórico-dialético. O marxismo discutido não era como sistema de governo, e sim como corrente filosófica. Henri Wallon também cursou Medicina, formando-se no ano de 1908. Até 1931 atuou como médico em hospitais psiquiátricos e posteriormente no Hospital Salpetrière, onde se dedicou ao atendimento de crianças com deficiências neurológicas e distúrbios de comportamento. Assim paralelamente à atuação como médico e psiquiatra consolidou o seu interesse pela psicologia da criança. Fundou o laboratório destinado à pesquisa e ao atendimento clínico de crianças ditas “anormais”, no ano de 1925, e nesse mesmo ano publicou a sua tese de doutorado intitulada A criança turbulenta. Em 1948 criou a revista “Enfance”, dedicada aos educadores. A sua atuação como psicólogo tornou-o próximo da educação, participando de debates sobre os problemas educacionais da época, interessando-se em afirmar as especificidades da psicologia como ciência. Desenvolvimento infantil 3.3.1 Uma grande contribuição do autor reside na compreensão do humano como pessoa integral, superando a concepção que divide a mente do corpo. Concebe a influência do ambiente e da cultura no desenvolvimento, esclarecendo que os fatores orgânicos são responsáveis pela sequência fixa que se verifica nos estágios do desenvolvimento, mas que podem Uniube 63 ser transformados pela circunstância social de cada indivíduo. “Por isso a duração de cada estágio e as idades a que correspondem são referências relativas e variáveis, em dependência de características individuais e das condições de existência.” (GALVÃO, 2002, p. 40). Wallon, diferentemente de Piaget, enfatiza o desenvolvimento infantil como um processo descontínuo e eminentemente social, afirmando assim que o simples amadurecimento do sistema nervoso não garante o desenvolvimento de habilidades intelectuais mais complexas. Baseou suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. O desenvolvimento infantil é um processo que se compõe por conflitos, que se sucedem por fases, com predominância dos aspectos afetivos e cognitivos. Esses estágios a que Wallon se refere são divididos em cinco fases. São eles: • estágio impulsivo-emocional; • estágio sensório-motor e projetivo; • estágio do personalismo; • estágio categorial; • estágio da adolescência. Vejamos as características de cada um deles. 64 Uniube 3.3.1.1 Estágio impulsivo-emocional Figura 8: Estágio impulsivo-emocional. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Ocorre no primeiro ano de vida e tem como principal característica a indiferenciação da criança em relação ao outro. Predomina a afetividade que orienta as primeiras reações do bebê para com as pessoas que estão ao seu redor e estas são os mediadores da relação do bebê com o mundo físico. 3.3.1.2 Estágio sensório motor e projetivo Figura 9: Estágio sensório-motor e projetivo Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. A duração aproximada desse estágio é até os 3 anos de idade. A aquisição da marcha e da preensão oferece à criança maior autonomia na manipulação de objetos e na exploração dos espaços. Os objetos passam a ter significado. Também, nesse estágio, a criança entra no mundo dos signos e da linguagem. O termo projetivo significa que a ação do pensamento precisa dos movimentos para se exteriorizar. [...] o pensamento precisa do auxílio dos gestos para se exteriorizar, o ato mental “projeta-se” em atos motores (GALVÃO, 2002, p. 44). O ato mental se desenvolve a partir do ato motor. Uniube 65 3.3.1.3 Estágio do personalismo Figura 10: Estágio do personalismo. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. O estágio do personalismo ocorre entre os 3 e 6 anos de idade. A criança desenvolve a construção da consciência de si mesma mediante as relações sociais. 3.3.1.4 Estágio categorial A criança passa a ter maior domínio do universo simbólico. Consegue relacionar-se com os objetos que não estejam necessariamente presentes, operando e pensando sobre eles usando apenas a representação. Os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para as coisas, para o conhecimento e para a conquista do mundo exterior. A afetividade torna-se mais racionalizada. 3.3.1.5 Estágio da adolescência Figura 12: Adolescência. Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Há uma nova definição dos aspectos que compõem a personalidade. É um período marcado por modificações fisiológicas, alterações corporais, amadurecimento psíquico com preponderância do afetivo. Os estágios apresentados por Henri Wallon não carregam uma visão determinista, pois, em cada um deles, a criança incorpora as conquistas realizadas no estágio anterior, constituindo-se em um processo que se amplia. 66 Uniube O ritmo descontínuo que Wallon assinala no processo de desenvolvimento infantil assemelha-se ao movimento de um pêndulo, que, oscilando entre os polos opostos, imprime características próprias a cada etapa do desenvolvimento. Aliás, se pensarmos na vida adulta, vemos que esse movimento pendular continua presente. Faz-se visível no permanente pulsar a que está sujeito cada um de nós: ora mais voltado para a realidade exterior, ora voltado para si próprio; alternando fases de acúmulo de energia às fases mais propícias ao dispêndio. (GALVÃO, 2002, p. 47). Henri Wallon trouxe grande contribuição para o estudo sobre o afeto e as emoções, concebendo a afetividade como a chave para o crescimento e a formação da personalidade do indivíduo historicamente determinado. Para o seu maior aprofundamento, sugerimos a leitura do texto: Contribuições de Henri-Wallon à relação cognição e afetividade na educação, no link a seguir. <http://www.scielo.br/pdf/er/n36/a03n36.pdf> Vídeo HENRI WALLON Ao ver o vídeo a seguir, você terá a oportunidade de se informar mais sobre Henri Wallon. Conhecerá também Isabel Galvão, uma das autoras citadas neste capítulo. Ela nos explica sobre o campo de estudo de Henri Wallon, a psicogênese da pessoa, isto é, o estudo da gênese dos processos que constituem a psique humana. Ao estudar a criança, o seu objetivo era entender o psiquismo, dando destaque à consciência. <https://www.youtube.com/watch?v=5yBj9H3FFgI> http://www.scielo.br/pdf/er/n36/a03n36.pdf https://youtu.be/5yBj9H3FFgI Uniube 67 Na videoaula 7 a seguir, vamos conversar sobre a relevância dos estudos de Wallon sobre o desenvolvimento da criança e os principais aspectos de sua teoria. Vamos lá? Reflexões finais3.4 No próximo capítulo veremos as repercussões teóricas na Educação Especial numa perspectiva inclusiva. O objetivo é perceber como as teorias e concepções vistas até aqui repercutem sobre o modo de se perceber a pessoa com a deficiência. Referências3.5 BARBOSA, T. F. L. S. O Protagonismo Infantil nas Práticas Pedagógicas de uma Escola Municipal de Educação Infantil do Interior do Estado de São Paulo. 2005. Disponível em: <http://www.unimep.br/phpg/ mostraacademica/anais/4mostra/pdfs/183.pdf>. Acesso em: fev. 2018. 68 Uniube COTTA, Maria Amélia de C. O brincar de meninas– órfãs. São Carlos: Pedro & João, 2014. FITTIPALDI, Claúdia Bertoni. A influência que as ideias marxistas exerceram sobre Vygotsky. Revista Educação, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 74-78, 2006. Disponível em: <http://revistas.ung.br/index. php/educacao/article/view/20/9>. Acesso em: 22 jan. 2015. GALVÃO, Isabel. Henri Wallon. Uma concepção dialética do desenvolvimentoinfantil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. LEV VYGOTSKY 1896-1934.JPG. 2013. Altura: 321 pixels. Largura: 225 pixels. 8 KB. Formato JPEG. Disponível em: <https://commons.wikimedia. org/wiki/File:Lev_Vygotsky_1896-1934.jpg>. Acesso em: fev. 2018. LURIA, A R. A atividade consciente do homem e suas raízes histórico-sociais. In: ______. Curso de Psicologia Geral, v. 1, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. MARTINS, João Batista. Vygotsky e a Educação. São Paulo: Autêntica, 2006. MARX, K; ENGELS, F. A ideologia alemã. Berlin: Dietz Verlag, 1958, v. 3, p. 27. PINO, Angel. O social e o cultural na obra de Lev S. Vygotsky. Educação & Sociedade: revista quadrimestral de Ciência da Educação/ Centro de Estudos Educação e Sociedade (Cedes), Campinas, n. 71, p. 45-78, 2000. VEER, René Van Der; VALSINER, Jaan. Vygotsky. Uma síntese. São Paulo: Loyola, 1999. VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: 2000. VYGOTSKY, L.S. Problemas da Psicologia infantil. Obras Escolhidas IV: Visor 1983. WERTSCH, J. V. Vygostky y la formación social de la mente. Barcelona: Paidós, 1988. 4 Repercussões teóricas na educação especial numa perspectiva inclusiva Uniube 71 Considerações iniciais4.1 Figura 1 Fonte: Acervo Depositphotos / EAD-Uniube. Neste último capítulo, reuniremos as abordagens e teorias vistas até o momento, analisando as suas repercussões na Educação Especial, no modo de conceber a pessoa com deficiência. Esperamos contribuir para as suas reflexões e busca de caminhos para essa área tão importante. 4.2 As abordagens de desenvolvimento e a prática pedagógica Ao conhecer as diferentes abordagens e teorias da aprendizagem e do desenvolvimento, você deve ter observado que cada uma delas tem uma concepção de indivíduo, de sociedade, de escola, de aluno etc. Elas também influenciaram o modo de ver a pessoa deficiente, a educação especial. Assim, o primeiro desafio do professor é verificar de qual perspectiva ele mais se aproxima, a fim de ajudá-lo a compreender melhor o processo de desenvolvimento e aprendizagem e os problemas dos alunos. A abordagem inatista, que defende que o sujeito já traz pronta, em sua bagagem hereditária, a estrutura conceitual necessária para compreender o mundo, ou seja, as ideias nascem com o sujeito, influenciou muitos modelos da educação tradicional. 72 Uniube Essa tendência trouxe-nos uma dificuldade de se relacionar com a heterogeneidade, tendo como ideia o aluno-padrão. Surge daí também a classificação dos alunos em “fortes” e “fracos” e a organização do ensino por níveis de aprendizagem. Qual seria o lugar da criança deficiente/com dificuldades de aprendizagem? Quais as possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento da criança deficiente/com dificuldade, se essa é determinada por sua bagagem hereditária? O que o professor e a escola poderão fazer por esse aluno? “Dificilmente encontraríamos hoje em dia um epistemólogo ou um pedagogo que defendesse este modelo tal e qual definido acima.” (DALBOSCO, 2012, p. 269). Sob o ponto de vista pedagógico, essa perspectiva considera que o aluno deve ser conduzido do começo ao fim, sem poder formular suas próprias perguntas ou mesmo mudar a rota do diálogo. Destaca-se aí um papel de total subserviência do aluno em relação ao professor (DALBOSCO, 2012). Lembrando-nos de várias deficiências à luz dessa abordagem, pensemos no que temos hoje. Seria possível um indivíduo surdo ou cego aprender e desenvolver-se? Seria possível pensar nos avanços em relação à deficiência intelectual? Seria possível pensar na criança autista? Seria possível pensar na criança com dificuldade de aprendizagem? Como pensar, se o princípio para entendê-la já está determinado pela sua própria deficiência/dificuldade? Com a abordagem ambientalista, o desenvolvimento e a aprendizagem são entendidos como processos idênticos, decorrentes do condicionamento do meio, da formação de hábitos. A relação professor e aluno fica reduzida ao condicionamento do sujeito, enquanto repetidor de conteúdos a serem memorizados e reprodutor de comportamentos Uniube 73 destituídos de significado. Em relação à Educação Especial/Educação Inclusiva, Werner (2001, p. 69) diz que: constata-se como práticas pedagógicas, predominantemente comportamentais, elegendo como pedagógico o treinamento de habilidades e comportamentos e [...] mecanismos biológicos e/ou psíquicos podem apresentar deficiências que impeçam a reprodução de comportamentos esperados. Na teoria piagetiana, os problemas de aprendizagem deixaram de ser entendidos como deficiência e passaram a ser vistos como decorrentes da imaturidade. A criança com deficiência ou problemas de aprendizagem vivencia os mesmos estágios de desenvolvimento, previstos por Piaget. Werner (2001, p. 134) alerta: “No método-clínico piagetiano, na prática, corre-se o risco de considerar o indivíduo que não atingiu certos estágios, não como deficiente (método psicométrico), mas como imaturo”. Já os autores Vygotsky e Wallon permitem-nos compreender a relação entre o plano social e o plano individual no desenvolvimento humano, portanto, a importância das interações sociais nesse processo. Para se discutir a inclusão, é necessário que pensemos no risco que as instituições podem causar ao considerar o aluno com necessidades especiais como alguém “menor”. Um trabalho que se compromete com a inclusão necessita de um projeto na escola e não é de responsabilidade única do professor. Como lembra Góes (2004, p. 72): As determinações oficiais – desde o âmbito da Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) até o das legislações e documentos específicos relativos às necessidades especiais ou portadores de deficiência – sugerem ou propõem formas flexíveis desse atendimento educacional, insistindo na adequação de recursos e procedimentos de ensino. Alertam para o risco de se implementar a inclusão por meio, simplesmente, das matrículas na classe comum, ignorando necessidades específicas. 74 Uniube Nesse sentido, é preciso investir numa visão dinâmica e prospectiva do desenvolvimento do indivíduo, é preciso compreender as suas potencialidades existentes e possibilidades emergentes, como assinala Góes (2004, p. 74), “superando a noção de que as ações educativas devem apenas investir nos limites estabelecidos pelos diagnósticos clínicos ou educacionais tradicionais”. Ao considerar tal superação, é preciso questionar as interações no molde de abordagens que mantêm as interações no modelo tradicional, com visão patologizante das dificuldades de aprendizagem ou centrando-se toda culpa no aluno. A medicalização ou patologização dos problemas de aprendizagem inserem-se num processo histórico-ideológico, que acabou por influenciar negativamente a Educação, como no caso de conceitos como normalidade e patologia, desvios etc. “É preciso reconhecer que os conceitos médicos sobre normal e patológico apresentam significados diferentes, em função das concepções de saúde e doença que lhes são subjacentes.” (WERNER, 2001, p. 85). O autor Jairo Werner realizou um estudo que tinha por objetivo criticar a fragilidade dos critérios diagnósticos e categorias médicas sobre os problemas de escolaridade que são geralmente relacionados ao fracasso escolar, tais como Retardo Mental e os Transtornos de Aprendizagem. Esse estudo pode ser conferido no livro Saúde e Educação, Rio de Janeiro: Gryphus, 2001. Com esse estudo, Werner (2001) ressalta a importância da perspectiva sociointeracionista, recorrendo aos autores Vygotsky e Wallon, que nos levam ao reconhecimento da importância da interação e das atividades coletivas no desenvolvimento do sujeito humano. E como enfatiza Góes (1991, p. 19), “o plano intersubjetivo não é o plano ´do outro`, mas o da relação do sujeito com o outro”. Uniube 75 A importância do ambiente coletivo, bem como o papel do meio escolar também ressaltadopor Wallon, enfatiza a importância do grupo para o desenvolvimento da criança, não somente para a aprendizagem, como também para o desenvolvimento de sua personalidade. Os estudos de Vygotsky e Wallon trouxeram possibilidades de “mudança de olhar” para as pessoas e para as práticas educativas com sujeitos com “transtornos de aprendizagem”, deficientes ou com necessidades especiais, conforme destaca Monteiro (1998, p.73). Para Vygotsky (1989 apud MONTEIRO, 1998), desde os primeiros anos de vida a criança que apresenta uma deficiência ocupa uma certa posição social especial, e as suas relações com o mundo começam a transcorrer de maneira diferente das que envolvem as crianças normais. Junto com as características biológicas (núcleo primário da deficiência), começa a constituir-se um núcleo secundário, formado pelas relações sociais. As interações que constituem o núcleo secundário são responsáveis pelo desenvolvimento das funções especificamente humanas e surgem das transformações das funções elementares (biológicas). Esse pensamento rompe com concepções estereotipadas e abordagens deterministas sobre a deficiência, desafiando-nos a conhecermos as características positivas da pessoa com deficiência, reconhecendo como significativo não a deficiência em si mesma, não o que falta, e sim como apresenta-se o seu processo de desenvolvimento e a sua interação com o mundo. Na videoaula 8 a seguir, vamos realizar juntos um exercício de compreensão da importância das concepções de desenvolvimento do sujeito e também as possibilidades de intervenção para a aprendizagem de todos. 76 Uniube Vários estudos a partir de tal abordagem e desses autores têm nos oferecido um outro modo de ver a pessoa deficiente. Neles, há a compreensão de que a exclusão do meio social traz um desenvolvimento social insuficiente, um prejuízo para a aprendizagem e consequentemente para o desenvolvimento. A escola tem um importante papel no desenvolvimento, oportunizando a integração social, impulsionando a aprendizagem, criando zonas de desenvolvimento proximal, propiciando as compensações às deficiências. Destacamos alguns destes estudos: • PADILHA, Anna Maria Lunardi. Práticas Pedagógicas na Educação Especial. A capacidade de significar o mundo e a inserção cultural do deficiente mental. Campinas: Autores Associados, 2005. • SILVA, Daniele Nunes Henrique. Como brincam as crianças surdas. São Paulo: Plexus, 2002. • SILVA, Ivani Rodrigues, KAUCHAKJE, Samira. GESUELI, Zilda Maria. Cidadania, Surdez e Linguagem. São Paulo: Plexus, 2003. Uniube 77 IndIcação de leItura Convidamos você para acessar o link e ler o texto A proposta da educação inclusiva: contribuições da abordagem vygotskyana e da experiência alemã. <http://www.abpee.net/homepageabpee04_06/ artigos_em_pdf/revista9numero2pdf/4beyer.pdf> Leia também o texto Concepções de aprendizagem e práticas pedagógicas, da profa. Agnela da Silva Giustam, professora Adjunta do Departamento de Ciências Aplicadas à Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0102-46982013000100003> Possivelmente, nesse texto, você melhor compreenderá as contribuições de Vygotsky para a Educação Especial numa perspectiva inclusiva. Por fim, deixamos aqui alguns trechos do texto O que fazer para não excluir David, Hilda, Diogo, da autora Ana Maria Padilha: [...] quem são estas crianças e jovens de quem se diz com necessidades educativas especiais? Quem mais tem necessidades especiais? A escola? Os administradores? Os políticos? As políticas públicas? De que precisam estas crianças e jovens http://www.abpee.net/homepageabpee04_06/artigos_em_pdf/revista9numero2pdf/4beyer.pdf http://www.abpee.net/homepageabpee04_06/artigos_em_pdf/revista9numero2pdf/4beyer.pdf http://www.scielo.br/scielo.php%3Fscript%3Dsci_arttext%26pid%3DS0102-46982013000100003 http://www.scielo.br/scielo.php%3Fscript%3Dsci_arttext%26pid%3DS0102-46982013000100003 78 Uniube para aprender? Como aprendem? Como aprenderão melhor? De que precisamos para ensiná-los? Como virão à escola? Quem vai trazê-los? Quem virá buscá-los? Onde mais eles aprendem? Quem são os seus pais? Quem são os responsáveis por eles? O que pensam? O que sabem? O que desejam? [...] O que já sabem estes nossos alunos? Como sabem? O que ainda não sabem e é indispensável que saibam para continuar aprendendo? Como vivem? Como deveriam viver para que a vida deles fosse mais humana, mais digna? [...] Onde vamos ensiná-los? Quando? Por quanto tempo? Quem? [...] Que concepção de homem, de mundo, de história, de escola, de aprendizagem, de desenvolvimento, de deficiência, temos nós? [...] Que inclusão queremos? Que exclusão queremos? Que exclusão não queremos? Por quê? (PADILHA, 2005, p. 118). IndIcação de leItura Para finalizar, sugerimos a leitura dos seguintes textos sobre as concepções estudadas. 1. Piaget, Vygotsky e Wallon: contribuições para os estudos da linguagem , disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v17n2/v17n2a10 2. Contribuições de Henri Wallon à relação cognição e afetividade na educação, disponível em: http://www.redalyc.org/html/1550/155015820003/ Bom estudo! http://www.scielo.br/pdf/pe/v17n2/v17n2a10 http://www.redalyc.org/html/1550/155015820003/%0D Uniube 79 Referências4.3 DALMBOSCO, C. A. Educação e formas de conhecimento: do inatismo antigo (Platão) e da educação natural moderna (Rousseau). Educação, Porto Alegre, v. 35, n. 2, p. 268-276, maio/ago. 2012. GÓES, M. C. R. A natureza social do desenvolvimento psicológico. Cadernos Cedes, n. 24, Papirus, 1991. GÓES, M. C. R. de. Desafios da inclusão de alunos especiais: a escolarização do aprendiz e sua constituição como pessoa. In: GÓES, Maria Cecília Rafael; LAPPLANE, Adriana Lia Frizzman (Orgs.). Políticas e Práticas de Educação Inclusiva. Campinas: Autores Associados, 2004. MONTEIRO, Mariângela da Silva. A educação especial na perspectiva de Vygotsky. 1998. Disponível: <http://xa.yimg.com/kq/ groups/18448977/522470771/name/Monteiro>. Acesso: 27 jan. 2015. PADILHA, Anna Maria Lunardi. O que fazer para não excluir David, Hilda, Diogo. In: GÓES, Maria Cecília Rafael e LAPPLANE, Adriana Lia Frizzman (Orgs.). Políticas e Práticas Pedagógicas na Educação Especial. Campinas: Autores Associados, 2005. WERNER, Jairo. Saúde & Educação. Rio de Janeiro: Gryphus, 2001.