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ESTRUTURAS Diego da Luz Adorna Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 A241e Adorna, Diego da Luz. Estruturas / Diego da Luz Adorna ; revisão técnica: Shanna Trichês Lucchesi. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 128 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-200-3 1. Engenharia civil - Estruturas. I. Título. CDU 624.04 Revisão técnica: Shanna Trichês Lucchesi Mestre em Engenharia de Produção Treliças I Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar o conceito de treliças. Reconhecer os tipos mais comuns de treliças. Analisar como é a estrutura das treliças. Introdução Neste capítulo, você vai conhecer o conceito de treliças, reconhecendo seus componentes e suas aplicações. Além disso, você será capaz de identificar as treliças de acordo com sua formação e sua disposição no espaço, bem como os principais tipos de estruturas treliçadas. Por fim, você vai estudar o comportamento estrutural das treliças, com ênfase nas hipóteses consideradas no momento do projeto. Conceito de treliças As treliças são estruturas formadas por elementos retilíneos e esbeltos, de- nominados barras, interligados entre si por meio de suas extremidades. As ligações entre os elementos, denominadas nós, são realizadas por meio de soldagem ou aparafusamento, resultando em uma estrutura rígida. Para fi ns de projeto, contudo, os nós são considerados perfeitos, ou seja, as forças de atrito são desconsideradas. Deste modo, as barras que compõem a estrutura transmitem apenas forças axiais de tração e de compressão (Figura 1). Figura 1. Forças atuantes nas barras de uma treliça: (a) tração e (b) compressão. Fonte: Beer et al (2012, p. 290). A Figura 2 mostra que, nas treliças, o carregamento é realizado somente nos nós. A aplicação de cargas ao longo das barras resultaria em momentos fletores, que são indesejáveis para este tipo de estrutura. Figura 2. Carregamento em uma treliça. Fonte: Beer et al (2012, p. 289). Quando a treliça está submetida à ação de uma carga distribuída, ou de uma carga concentrada aplicada no intervalo entre dois nós, é necessário distribuir essa carga por meio de longarinas e vigas transversais, que descarregam diretamente nos nós da estrutura (Figura 3). Treliças I62 Figura 3. Distribuição de cargas em uma estrutura treliçada. Fonte: Beer et al (2012, p. 290). As treliças geralmente são compostas por padrões triangulares, conforme apresentado na Figura 4(a), em função da maior estabilidade conferida à estrutura frente à ação de forças laterais. O padrão retangular, por exemplo, apresenta grande instabilidade frente à aplicação de forças laterais, como você pode ver na Figura 4(b). Figura 4. Padrões estruturais: (a) triangular e (b) retangular. Fonte: Leet, Uang e Gilbert (2010, p. 126). De modo geral, as barras das treliças possuem seções transversais pequenas, resultando em estruturas mais leves, quando comparadas às vigas maciças. Por serem elementos delgados, projetados para sustentar cargas que atuam no seu plano, as treliças podem ser consideradas estruturas bidimensionais. A união de diversas treliças forma estruturas espaciais. 63Treliças I Normalmente, as treliças são construídas com aço ou madeira. Suas princi- pais aplicações na construção civil incluem a construção de pontes e telhados. A estabilidade das treliças depende do sentido de atuação das ações. Quando estas atuam no plano da treliça, a estrutura apresenta elevada rigidez, contudo, quando estas atuam fora do plano, a treliça apresenta muita flexibilidade. Com o objetivo de garantir a estabilidade da estrutura, devem ser previstos reforços estruturais na treliça, denominados contraven- tamentos. O contraventamento atua limitando os deslocamentos das estruturas, inibindo o aparecimento de efeitos de segunda ordem e absorvendo as forças excepcionais, como sismos e ventos. Nos casos de estruturas formadas por um conjunto de treliças paralelas entre si, elas podem ser interligadas, a partir de seus nós, por meio de barras, formando uma estrutura tipo caixa rígida, que garante estabilidade para o sistema. Tipos mais comuns de treliças Treliças simples, compostas e complexas As treliças são classifi cadas em simples, compostas e complexas, de acordo com a sua lei de formação. As treliças simples são obtidas a partir de um triângulo inicial indefor- mável, composto por três barras e três nós − veja a Figura 5(a). Este triângulo inicial recebe a adição de duas novas barras, concorrentes para um único nó, conforme as Figuras 5(b), 5(c), 5(d), resultando na treliça que você vê na Figura 5(e), denominada simples. Figura 5. Formação de uma treliça simples. Fonte: Gomes (2016, p. 18). Treliças I64 As treliças compostas são obtidas pela ligação de duas treliças simples por meio de um nó comum e uma barra − veja a Figura 6(a) −, ou por meio de três barras não paralelas entre si, tampouco concorrentes em um mesmo nó, como ilustrado na Figura 6(b). Figura 6. Formação de uma treliça composta. Fonte: Gomes (2016, p. 19). Por fim, as treliças complexas são aquelas que não podem ser classifi- cadas nem como simples, nem como compostas. Como você pode observar na Figura 7, as treliças complexas são constituídas por uma combinação de elementos triangulares, quadriláteros ou mesmo poligonais. Figura 7. Treliças complexas. Fonte: Gomes (2016, p. 21). 65Treliças I Treliças planas e espaciais As treliças planas consistem em estruturas bidimensionais, compostas por barras rígidas dispostas em um mesmo plano vertical. Nas treliças espaciais, por outro lado, as barras rígidas podem apresentar qualquer orientação, for- mando uma estrutura tridimensional. O processo de formação das treliças espaciais é semelhante ao visto para as treliças simples. A partir de um tetraedro padrão, apresentado na Figura 8(a), são adicionadas três barras rígidas, concorrentes a um mesmo nó, resultando em uma estrutura denominada treliça espacial simples − Figura 8(b). Figura 8. Treliça espacial simples. Fonte: Beer et al (2012, p. 296). As treliças espaciais estão submetidas às mesmas condições de carrega- mento que as treliças planas, ou seja, as cargas devem ser aplicadas apenas nos nós da estrutura, de modo a evitar o surgimento de esforços fletores. Treliças I66 Configurações típicas de treliças As treliças podem ser construídas com diferentes confi gurações, materiais e dimensões. Em função da reconhecida estabilidade conferida à estrutura, algumas destas confi gurações possuem uso difundido na construção civil. Veja na Figura 9 as confi gurações típicas das treliças utilizadas em telhados e pontes. Figura 9. Configurações típicas de treliças: (a) para telhados e (b) para pontes. Fonte: Gomes (2016, p. 5). 67Treliças I Quando utilizadas em telhados, as treliças são denominadas tesouras. Os telhados são sustentados por um conjunto de tesouras espaçadas entre si. As peças que compõem um telhado recebem diferentes nomenclaturas, como você pode ver na Figura 10. Figura 10. Terminologia dos telhados. 1 a 5: trama – conjunto formado por ripas, caibros e terças, que servem de lastro ao material da cobertura. 6: frechal. 7: chapuz – pedaço de madeira, geralmente de forma triangular, pregado na asna da tesoura, destinado a suster ou apoiar a terça. Conjunto de peças 8 a 12: tesoura – viga em treliça plana vertical, formada de barras dispostas de maneira a compor uma rede de triângulos, tornando o sistema estrutural indeslocável. 8: asna, perna empena ou membrura superior. 9: linha, rochante, tirante, tensor, olivel ou membrura inferior. 10: pendural ou pendural central. 11: escora. 12: pontalete, montante, suspensório ou pendural. 13: ferragens ou estribos. 14: ferragem ou cobrejunta. Fonte: Moliterno (2010, p. 3 apud FLACH, 2012, p. 28). Análise estrutural das treliças Na análise estrutural das treliças, você precisa determinara intensidade, a direção e o sentido das forças que atuam nas barras, bem como as reações de apoio da estrutura. A análise estrutural das treliças se baseia em três hipóteses, apresentadas a seguir, de acordo com Leet; Uang e Gilbert (2010): 1. As barras são retas e transmitem apenas carga axial. As forças são transmitidas longitudinalmente ao longo do eixo das barras, concen- tradas no centro das respectivas seções. 2. Os membros são conectados nos nós por pinos sem atrito. As arti- culações não oferecem resistência à rotação, desse modo, não existe a transmissão de momento fletor entre a extremidade de uma barra e o nó no qual ela se conecta. Treliças I68 3. As cargas são aplicadas somente nos nós. A aplicação das cargas diretamente nos nós da estrutura impede a geração e transmissão de momentos fletores, decorrentes da aplicação da carga ao longo das barras da treliça. As forças que atuam na barra podem ser de tração ou de compressão. As forças de tração atuam alongando a barra, e são consideradas positivas, enquanto as forças de compressão atuam comprimindo a barra, e são consi- deradas negativas. A atuação das forças é representada por setas localizadas na extremidade das barras, de acordo com a Figura 11. As forças possuem a mesma intensidade, atuando em sentidos opostos em cada extremidade da barra. Figura 11. Representação das forças (a) de tração e (b) de compressão, que atuam nas barras da treliça. Fonte: Leet, Uang e Gilbert (2010, p. 128). Existem três tipos de apoios estruturais: os móveis, os fixos e os engastes. O apoio móvel introduz um vínculo na estrutura, impedindo, deste modo, o deslocamento na direção perpendicular à base de apoio. O apoio fixo, por sua vez, introduz dois vínculos na estrutura, impedindo o deslocamento em qualquer direção do plano. Por fim, o engaste introduz três vínculos na estrutura, impedindo o deslocamento em qualquer direção e também a rotação. Como as treliças não estão submetidas a momentos fletores, em sua estrutura serão considerados apenas apoios móveis e fixos. 69Treliças I 1. Para a análise estrutural de treliças, como devem ser consideradas as cargas? a) Concentradas nos nós. b) Distribuídas de maneira uniforme nas barras. c) Distribuídas de forma triangular nas barras. d) Distribuídas de forma trapezoidal nas barras. e) Concentradas exatamente no meio do vão das barras. 2. Calcule as reações de apoio da treliça a seguir: a) VA=30kN(↓);VC=30kN (↓);HC=30kN(←) b) VA=30kN(↑);VC=30kN (↑);HC=30kN(→) c) VA=90kN(↑);VC=150k N(↑);HC=30kN(→) d) VA=90kN(↑);VC=150k N(↓);HC=30kN(←) e) VA=90kN(↓);VC=150kN (↑);HC=30kN(←) 3. Calcule as reações de apoio da treliça a seguir: a) VA=30kN(↑);HA=20kN (←);VG=30kN(↑) b) VA=30kN(↑);HA=10kN (←);VG=30kN(↑) c) VA=52,5kN(↑);HA=10k N(←);VG=7,5kN(↑) d) VA=7,5kN(↑);HA=10kN (←);VG=52,5kN(↑) e) VA=7,5kN(↓);HA=10kN (←);VG=52,5kN(↑) 4. Calcule a força que passa no trecho ED da treliça a seguir: a) FED=−22kN (compressão) b) FED=−17,5kN (compressão) c) FED=−27,5kN (compressão) d) FED=17,5kN (tração) e) FED=22kN (tração) 5. Calcule a força que passa no trecho AB da treliça a seguir: a) FAB=−22,86kN (compressão) b) FAB=−23,04kN (compressão) c) FAB=22,86kN (tração) d) FAB=23,04kN (tração) e) FAB=−20kN (compressão) Treliças I70 BEER, F. P. et al. Mecânica vetorial para engenheiros: estática. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. FLACH, R. S. Estruturas para telhados: análise técnica de soluções. 2012. Monografia (Graduação em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012. GOMES, M. I. S. Estudo e análise de treliças: unidade curricular de estática. Lisboa: Instituto Politécnico de Lisboa, 2016. Disponível em: <https://www.researchgate. net/profile/Idalia_Gomes/publication/301298120_Estudo_e_Analise_de_Trelicas/ links/5710e65608ae846f4ef05472/Estudo-e-Analise-de-Trelicas.pdf/>. Acesso em: 07 jul. 2017. LEET, K. M.; UANG, C.; GILBERT, A. M. Fundamentos da análise estrutural. 3. ed. Porto Alegre: AMGH, 2010. Leituras recomendadas HIBBELER, R. C. Estática: mecânica para engenharia. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. REBELLO, Y. C. P. Estruturas de aço, concreto e madeira: atendimento da expectativa dimensional. 6. ed. São Paulo: Zigurate, 2005. 71Treliças I https://www.researchgate/ Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: