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Estratégia MED GINECOLOGIA 2Prof. Alexandre Melitto|Miomatose Uterina APRESENTAÇÃO PROF. ALEXANDRE MELITTO Meu nome é Alexandre Santos Melitto, somos colegas de profissão. Fiz minha graduação na Escola Paulista de Medicina – UNIFESP e, após a graduação, fui aprovado para a Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia da mesma instituição. Na época, fui aprovado também na UNICAMP, FCMSCSP (Santa Casa), Santos (Lusíadas) e FMABC. Após o término da Residência de Ginecologia e Obstetrícia, fui aprovado para a Residência Médica em Mastologia da Escola Paulista de Medicina – UNIFESP. Tendo concluído as duas residências, continuei a pós-graduação defendendo minha tese de Mestrado também na UNIFESP, e Estratégia MED GINECOLOGIA 3Prof. Alexandre Melitto|Miomatose Uterina @estrategiamed /estrategiamed Estratégia Med t.me/estrategiamed cursando atualmente o Doutorado. Cursei o MBA em gestão de Saúde da Fundação Getúlio Vargas. Atualmente, sou docente e coordenador da disciplina de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Anhembi Morumbi – Laureate Universities, lecionando há mais de 10 anos e ocupo cargo efetivo de médico assistente do Centro de Referência em Saúde da Mulher – Hospital Pérola Byington. Também já fui preceptor da Residência Médica de Mastologia da UNIFESP – EPM durante 5 anos. Minha formação e o exercício profissional trouxeram-me competência e experiência para desenvolver este curso e garantir a melhor performance para as provas de Residência Médica. Neste curso tenho uma missão: fazê-lo conquistar sua vaga de Residente! Seu sonho é a minha meta! Conte comigo como um parceiro nesta jornada!!! Todos que passaram na prova de Residência lembram-se deste período como um tempo de privação, seja de tempo livre, lazer, hobbies, viagens, descanso e até mesmo convivência familiar. Posso dizer que é temporário, passageiro e que, no final, a conquista supera qualquer sacrifício!!! https://www.instagram.com/estrategiamed/?hl=pt https://www.facebook.com/estrategiamed1/ https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw https://t.me/estrategiamed Estratégia MED 4 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 6 METODOLOGIA DO CURSO 6 1.0 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 8 2.0 DEFINIÇÃO 8 2.1EPIDEMIOLOGIA 9 2.2 CLASSIFICAÇÃO 10 3.0 FISIOPATOLOGIA 11 3.1 HISTOLOGIA 11 3.2 INFLUÊNCIA HORMONAL 11 3.3 DEGENERAÇÕES 13 4.0 FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO 15 5.0 QUADRO CLÍNICO 18 5.1 SINTOMAS 18 5.2 EXAME FÍSICO 20 6.0 DIAGNÓSTICO 23 6.1 ULTRASSONOGRAFIA 23 6.2 HISTEROSSONOGRAFIA 25 6.3 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA 25 6.4 HISTEROSCOPIA 26 7.0 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 27 8.0 TRATAMENTO 28 8.1 TRATAMENTO CLÍNICO 28 8.2 TRATAMENTO CIRÚRGICO 32 8.2.1 TRATAMENTO CIRÚRGICO CONSERVADOR 33 8.2.1.1 MIOMECTOMIA LAPAROSCÓPICA 35 Estratégia MED 5 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 8.2.1.2 MIOMECTOMIA LAPAROTÔMICA 36 8.2.1.3 MIOMECTOMIA HISTEROSCÓPICA 37 8.2.1.4 EMBOLIZAÇÃO DAS ARTÉRIAS UTERINAS 42 8.2.1.5 LIGADURA DAS ARTÉRIAS UTERINAS 46 8.2.1.6 ABLAÇÃO ENDOMETRIAL 46 8.2.1.7 MIÓLISE POR ULTRASSOM FOCALIZADO DE ALTA INTENSIDADE (HIFU) GUIADO POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA 47 8.2.2 TRATAMENTO CIRÚRGICO DEFINITIVO 48 9.0 RESUMO 51 9.1 FLUXOGRAMA 52 10.0 LISTA DE QUESTÕES 54 11.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 54 12.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 55 Estratégia MED 6 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 INTRODUÇÃO Caro Candidato(a) e Colega! A equipe do Estratégia MED tem a missão de ajudar e acompanhar sua jornada rumo a sonhada vaga de Residência Médica. Este material faz parte do Curso de Ginecologia, com teoria e exercícios resolvidos e comentados. Existem atualmente no Brasil 337 Faculdades de Medicina, estando nosso país em segundo lugar no ranking mundial em número de Escolas Médicas. Temos um grande déficit de vagas de Residência Médica ofertadas para os egressos dessas Universidades. Ou seja, é notório que o desafio de ser aprovado em um concurso de Residência Médica será cada vez maior. A finalidade deste curso é oferecer conteúdo teórico e, sobretudo, assertivo para os estudos, contribuindo para atingir seu objetivo de ser aprovado em um programa de Residência Médica. O conhecimento médico cresce de maneira exponencial, existindo inúmeros tratados para cada especialidade, atualizados através de artigos científicos publicados em periódicos. O recém-formado tem a necessidade de tornar seus estudos mais objetivos, concentrando-se e focando nas informações realmente importantes e frequentes nas provas de Residência Médica. Este material segue esta lógica. METODOLOGIA DO CURSO Para cumprirmos a nossa missão de prepará-lo para os concursos de Residência Médica e entregar a você um material completo, nosso curso de Ginecologia seguirá a seguinte metodologia: Estudaremos a TEORIA de Ginecologia por completo; Resolveremos QUESTÕES de provas recentes e inéditas, comentadas, alternativa por alternativa; Demonstraremos o posicionamento da BANCA; E realizaremos SIMULADOS; Assim sendo, você terá um curso que contemplará o que o candidato realmente precisa para obter sua aprovação: teoria (com as mais recentes atualizações científicas), muitas questões resolvidas e alguns simulados para testar seu progresso. Tudo isso da maneira mais prática possível, através de textos escritos e videoaulas. Através de uma análise ampla das questões de concursos de Residência Médica de todo o país nos últimos 5 anos, fizemos um levantamento dos temas cobrados em Ginecologia. O gráfico abaixo mostra a frequência com que estes temas aparecem nas provas: Estratégia MED 7 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 0,00% 1,00% 2,00% 3,00% 4,00% 5,00% 6,00% 7,00% 8,00% 9,00% 10,00% PERCENTUAL DE QUESTÕES POR TEMA PLANEJAMENTO FAMILIAR E ANTICONCEPÇÃO RASTREAMENTO DE CÂNCER DE COLO UTERINO/ LESÕES PRÉ-NEOPLÁSICAS CLIMATÉRIO E TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL VULVOVAGINITES AMENORREIA PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA ENDOMETRIOSE SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL CÂNCER DE OVÁRIO/ AVALIAÇÃO DE TUMORES RASTREAMENTO DE CÂNCER DE MAMA SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP) INCONTINÊNCIA URINÁRIA/ SÍNDROME DA BEXIGA DOLOROSA INFERTILIDADE CONJUGAL E ÉTICA EM REPRODUÇÃO ASSISTIDA ISTs (INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS) CERVICITES E DOENÃ INFLAMATÓRIA PÉLVICA MOMATOSE UTERINA DOENÇAS BENIGNAS DAS MAMAS CÂNCER DE COLO UTERINO CÂNCER DE MAMA HIPERPLASIA ENDOMETRIAL, CÂNCER DE ENDOMÉTRIO E OUTROS TUMORES DISTOPIAS GENITAIS CICLO MENSTRUAL ASSISTÊNCIA A VÍTIMA DE VIOLÊNCIA SEXUAL DOR PÉLVICA, DISMENORREIA E SÍNDROME PRÉ MENSTRUAL/ TDPM ANATOMIA, FISIOLOGIA E EMBRIOLOGIA DOS ÓRGÃOS REPRODUTORES FEMININOS ÚLCERAS GENITAIS PUBERDADE NORMAL, PRECOCE E TARDIA PRÉ E PÓS-OPERATÓRIO ADENOMIOSE LESÕES DA VULVA E DA VAGINA ÉTICA EM GINECOLOGIA PÓLIPOS ENDOMETRIAIS DINFUNÇÕES SEXUAIS ABDOME AGUDO EM GINECOLOGIA CÂNCER DE VAGINA E VULVA ANATOMIA DO ASSOALHO PÉLVICO INFECÇÕES URINÁRIAS OUTRAS NEOPLASIAS GENITAIS É fundamental para você, que está se preparando para a prova de Residência Médica, saber a importância de cada tema, para orientar-se e focar em seus estudos. Estratégia MED 8 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 CAPÍTULO 1.0 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Nesta aula estudaremos o Mioma Uterino, também denominado Leiomiomatose uterina. Este é um dos temas mais frequentes em provas de Residência Médica. Sempre gosto de começar uma aula com algumas perguntas que irão despertar curiosidade, direcionar o aprendizado e tornar o entendimento mais intuitivo e lógico. PROVOCAÇÕES INTRODUTÓRIAS 1. O que é o Mioma Uterino? 2. Qual é a prevalência da miomatose uterina? 3. Qual é a fisiopatologia da miomatose uterina? 4. Quais são os fatores de risco paradesenvolver a miomatose uterina? 5. Qual é o quadro clínico do mioma uterino? 6. Como diagnosticamos a miomatose uterina? 7. Quais são as possíveis complicações da miomatose uterina? 8. Qual é o tratamento clínico da miomatose uterina? 9. Qual é o tratamento cirúrgico da miomatose uterina? Ao buscarmos as respostas para essas questões, estaremos encadeando uma sequência lógica, facilitando assim nosso estudo, com melhor aproveitamento do tempo. Lembre-se disso: “Quem entende não precisa decorar!” CAPÍTULO 2.0 DEFINIÇÃO O mioma uterino é um tumor benigno, formado por fibras musculares lisas e tecido conectivo. Na maioria dos casos, são múltiplos (2/3 dos casos). Os miomas são classificados de acordo com sua localização no útero. A quase totalidade dos miomas localiza-se no corpo do útero (98% dos casos), havendo poucos casos de miomas no colo do útero. Dividimos os miomas do corpo do útero em submucosos, intramurais e subserosos. Existem alguns tipos raros de mioma, como o mioma parido, que se exterioriza através do colo do útero, e o mioma parasita, que se desprende do útero e se adere em outro órgão, recebendo sua vascularização. Estrategista, os miomas são muito frequentes! É essencial que você saiba esse assunto! Você irá deparar-se com os miomas tanto nas provas de Residência quanto em sua prática clínica, sendo ginecologista ou não. Os miomas são a indicação mais frequente de histerectomias (sendo 2/3 das indicações). Estratégia MED 9 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Figura 1: Miomatose uterina 2.1EPIDEMIOLOGIA A incidência dos miomas dá-se em 50% a 80% das mulheres durante o período reprodutivo, sendo os tumores pélvicos mais comuns. Os miomas são mais prevalentes na faixa etária entre 35 e 50 anos de idade. Como foi dito anteriormente, os miomas são a indicação mais frequente de histerectomias (aproximadamente 2/3 dos casos). Estratégia MED 10 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 2.2 CLASSIFICAÇÃO A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) propôs em 2011 uma classificação para os miomas. Figura 2: Classificação dos Miomas Uterinos (FIGO) Essa classificação é muito importante e costuma ser cobrada em algumas questões nos concursos de Residência Médica. CAI NA PROVA (SURCE 2020) Mulher, 35 anos, com desejo de engravidar, comparece preocupada com ultrassom transvaginal com útero de 200cm³ com presença de nódulo hipoecogênico de 4 cm, tipo 7 pela classificação da FIGO. Ela refere ciclos regulares com fluxo de 4 dias sem coágulos. Nega dor. Qual a melhor conduta? A) Expectante. B) Análogo do GnrH. C) Miomectomia laparoscópica. D) Miomectomia histeroscópica. COMENTÁRIO Correta a alternativa A trata-se de uma paciente com mioma subseroso pediculado (tipo 7 pela classificação da FIGO), assintomática. A paciente encontra-se com o fluxo menstrual regular, com duração normal. A conduta indicada para esse caso é a expectante. Estratégia MED 11 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 CAPÍTULO 3.0 FISIOPATOLOGIA 3.1 HISTOLOGIA Os miomas são tumores benignos monoclonais e têm origem nas células do músculo liso do útero. Cada mioma tem origem em um único miócito, ou seja, nos casos de miomas múltiplos, observamos que cada mioma teve uma origem independente. São tumores arredondados, de consistência fibroelástica e cor esbranquiçada. Apresentam uma pseudocápsula fina, que proporciona um plano de clivagem (separação) com o miométrio, facilitando a sua exérese (Miomectomia) Os miomas apresentam raras mitoses e essa característica é muito importante para sua diferenciação com o leiomiossarcoma. 3.2 INFLUÊNCIA HORMONAL Os miomas apresentam receptores de estrógeno e progesterona. Por isso, os miomas desenvolvem-se durante a vida reprodutiva da mulher e costumam regredir após a menopausa, devido ao hipoestrogenismo. Os miomas são capazes de criar, por si só, um ambiente estrogênico, que favorece seu crescimento através de 3 mecanismos: • Os miomas apresentam mais receptores de estrógeno que as células do miométrio; • Os miomas apresentam níveis mais altos de aromatase, sendo capazes de converter andrógenos em estrógenos. • Os miomas convertem menos estradiol em estrona (que é 13 vezes menos potente que o estradiol). Isso acontece porque os miomas têm a enzima 17 beta hidroxidesidrogenase do tipo 2 diminuída. Além disso, os miomas também são capazes de fazer o caminho inverso e converter a estrona em estradiol, porque apresentam a enzima 17 beta hidroxiprogesterona do tipo 1 aumentada. Como dissemos, os miomas apresentam receptores de estrógeno e progesterona, por isso esses dois hormônios têm a capacidade de estimular o desenvolvimento dos miomas. Além disso, observamos alguns fatores de crescimento aumentados nas células dos miomas, como o fator de crescimento epidermoide (EGF) e o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF). Esses fatores de crescimento estão relacionados ao estímulo estrogênico. Os miomas apresentam expressão aumentada de proteína Bcl-2 (responsável pela inibição da apoptose celular), PCNA (antígeno nuclear de proliferação celular) e Ki-67 (proliferação celular). Essa expressão está relacionada ao estímulo da progesterona. Por tudo isso, podemos entender que a fisiopatologia dos miomas está muito relacionada ao estímulo hormonal do estrógeno e da progesterona. É muito importante lembrar que os miomas são tumores sensíveis a esses hormônios! Com isso, podemos entender sua fisiopatologia, bem como seus fatores de risco e de proteção, e a lógica de seu tratamento. Estratégia MED 12 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 CAI NA PROVA (UFES 2017)Sobre o papel dos estrogênios na formação e crescimento dos leiomiomas, observe as afirmações: I- Os leiomiomas têm maior densidade de receptores estrogênicos que o miométrio normal. II- Os leiomiomas convertem mais o estradiol em estrona. III- Os leiomiomas apresentam níveis mais baixos da aromatase citocromo P450 que os miócitos normais. É correto o que se afirma em: A) I, apenas. B) I e II, apenas. C) II e III, apenas. D) I e III, apenas. E) I, II, III. COMENTÁRIO Vamos analisar as afirmativas: Correta a afirmativa “I”: os leiomiomas têm maior densidade de receptores estrogênicos que o miométrio normal, isso segue a lógica de que os miomas precisam do estrógeno para seu desenvolvimento e manutenção. Incorreta a afirmativa “II”: porque os leiomiomas convertem menos estradiol em estrona. O estradiol é muito mais potente que a estrona, sendo assim, o mioma converte menos estradiol para seu desenvolvimento e manutenção. Incorreta a afirmativa “III”: porque os leiomiomas apresentam níveis mais altos da aromatase citocromo P450 em comparação com os miócitos normais. Com isso, os miomas convertem mais androgênios em estrogênios, garantindo seu desenvolvimento e manutenção. Correta a alternativa A (SES DF 2017) Paciente de 40 anos de idade, G2C2, casada, ciclos menstruais regulares, MAC laqueadura tubária em 2014. Aflita, consulta o médico generalista, trazendo ecografia transvaginal, na qual se evidenciou imagem nodular de 2,3 cm x 2,5 cm, sugestiva de leiomioma subseroso. Apresenta endométrio homogêneo de 0,5 cm e ovários sem particularidades. Com base nesse caso clínico, e considerando os conhecimentos médicos a ele relacionados, julgue o item a seguir: deve-se tranquilizar a paciente, pois a maioria dos leiomiomas são assintomáticos e tendem a regredir na pós-menopausa, visto que são estrógenos dependentes. A) CERTO B) ERRADO Estratégia MED 13 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 A afirmativa está certa, porque a paciente apresenta um mioma subseroso assintomático. Deve-se tranquilizara paciente, pois a maioria dos leiomiomas tendem a regredir na pós-menopausa, visto que são estrógenos dependentes. COMENTÁRIO Os miomas uterinos são sensíveis ao estrogênio e à progesterona. Por isso, eles desenvolvem-se durante o menacme e regridem após a menopausa. Sabendo disso, podemos entender a fisiopatologia dos miomas e seu tratamento. Os miomas criam, por si mesmos, um ambiente hiperestrogênico para seu crescimento. Correta a alternativa A 3.3 DEGENERAÇÕES Em alguns casos, os miomas podem transformar-se, ocorrendo a substituição de seu tecido “normal” por outro tipo de tecido. Isso chama-se degeneração e pode acontecer devido ao crescimento dos miomas sem aumento correspondente da irrigação sanguínea, ocorrendo necrose ou hemorragia. Existem tipos diferentes de degeneração e sua denominação é feita de acordo com o tecido ou substância que substitui o tecido miomatoso: • Hialina: é a degeneração mais comum. • Calcificada: comum após a menopausa, devido ao hipoestrogenismo e à falta de suprimento sanguíneo do mioma. • Cística: ocorre pela liquefação da degeneração hialina, formando cistos. • Mixoide - ou mucoide: apresenta cistos de material gelatinoso. • Rubra ou vermelha (necrobiose asséptica): é o infarto hemorrágico do mioma. Ocorre mais frequentemente no ciclo gravídico puerperal, ou durante o uso de pílula anticoncepcional, ou de análogos do GnRH. • Gordurosa: substituição pelo tecido gorduroso. É menos frequente que as outras degenerações. • Sarcomatosa: será abordada mais detalhadamente no livro sobre tumores do corpo uterino. Felizmente é rara (0,1 a 0,6%), porque apresenta mau prognóstico. Por enquanto, saiba que, nesses casos, ocorre crescimento rápido dos tumores, além disso, acontece mais frequentemente em pacientes pós-menopausa. Sua confirmação depende do estudo histopatológico do tumor e, nesses casos, observa-se aumento das mitoses e atipia celular. Estratégia MED 14 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 CAI NA PROVA (UNIFESP2016) Qual é a degeneração mais frequente que o mioma uterino pode sofrer durante a gestação? A) Calcificação B) Sarcomatosa C) Hialina D) Gordurosa E) Necrose asséptica COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque os miomas regridem e podem se calcificar, geralmente após a menopausa. Incorreta a alternativa B, porque a degeneração sarcomatosa é rara (0,1 a 0,6%), apresenta mau prognóstico e ocorre mais frequentemente em pacientes pós-menopausa. Incorreta a alternativa C, porque a degeneração hialina, branca, ou também chamada de liquefação tumoral, não é frequente na gravidez. Incorreta a alternativa D, porque a degeneração gordurosa ou amarela também não é frequente na gestação. Correta a alternativa E a degeneração mais frequente durante a gravidez é a degeneração vermelha ou rubra, também chamada de necrobiose asséptica. (SES DF 2017) Paciente de 40 anos de idade, G2C2, casada, ciclos menstruais regulares, MAC laqueadura tubária em 2014. Aflita, consulta o médico generalista, trazendo ecografia transvaginal, na qual se evidenciou imagem nodular de 2,3 cm x 2,5 cm, sugestiva de leiomioma subseroso. Apresenta endométrio homogêneo de 0,5 cm e ovários sem particularidades. Com base nesse caso clínico, e considerando os conhecimentos médicos a ele relacionados, julgue o item a seguir. Deve-se orientar a paciente que o crescimento rápido, especialmente na pós-menopausa, tem indicação cirúrgica mesmo nos assintomáticos. A) CERTO B) ERRADO COMENTÁRIO A afirmativa está certa, porque o mioma é um tumor benigno, dependente de estrógeno. Em caso de crescimento após a menopausa, deve-se suspeitar de uma possível degeneração sarcomatosa (maligna). Os sarcomas são tumores raros e de mau prognóstico. Apresentam crescimento rápido. O quadro clínico é caracterizado por sangramento uterino anormal, dor pélvica e aumento do volume uterino. A ressonância magnética é o exame recomendado para tentar diferenciar o mioma do sarcoma, mas a confirmação diagnóstica só pode ser feita com o estudo histológico. Estratégia MED 15 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Correta a alternativa A (UNIFESP 2019) Mulher, 73 anos de idade, tercigesta, secundípara, procura o Posto de Saúde preocupada com o resultado de ultrassonografia endovaginal solicitado pelo geriatra. Refere ser hígida, nega sangramento genital e queixas climatéricas. Não faz uso de medicação diária. Laudo da Ultrassonografia = nódulo sólido uterino intramural com área calcificada medindo 15x13mm, espessura do endométrio: 2 mm, ovários não observados. Qual o provável diagnóstico e qual a conduta? A) Leiomiossarcoma uterino; histerectomia. B) Teratoma uterino; histerectomia. C) Mioma uterino calcificado; tranquilizar a paciente. D) Mioma uterino; miomectomia. E) Nódulo uterino a esclarecer; biópsia percutânea. COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque o quadro de leiomiossarcoma uterino está mais comumente relacionado a tumor de grande volume, endurecido e de crescimento rápido, que provoca sangramento vaginal. Trata-se de neoplasia maligna rara e de mau prognóstico. Incorreta a alternativa B, porque não existe teratoma uterino! O teratoma é um tipo de tumor de células germinativas do ovário. Correta a alternativa C porque esse nódulo calcificado trata-se de um mioma uterino que se calcificou após a menopausa, sem nenhuma implicação clínica relevante. Basta orientar e tranquilizar a paciente. Incorreta a alternativa D, porque se trata de mioma uterino calcificado assintomático, sem indicação de abordagem cirúrgica. A conduta para esse caso é expectante. Não existe indicação de miomectomia. Incorreta a alternativa E, porque o nódulo não apresenta características que sugiram suspeita de malignidade. Não há indicação de biópsia nesse caso. Além disso, não existe biópsia percutânea do útero! CAPÍTULO 4.0 FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO São fatores de risco para a miomatose uterina: ser da raça negra, apresentar história familiar de miomatose, menarca precoce, obesidade, nuliparidade, ingesta de álcool ou carnes vermelhas e hipertensão arterial. Estratégia MED 16 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 • Idade: a idade é um importante fator de risco, com maior incidência entre 35 e 50 anos e regressão dos miomas após a menopausa. • Raça Negra: Ser da raça negra confere um risco relativo de duas a três vezes maior para o desenvolvimento da miomatose uterina. Não se sabe a etiologia envolvida nesse aumento de risco. A história natural dos miomas é diferente nessas mulheres. As mulheres negras costumam desenvolver os sintomas da miomatose com menos idade que as mulheres brancas, sendo mais frequente em pacientes de 30 anos de idade da raça negra. Os miomas costumam crescer mais em mulheres negras depois dos 45 anos, em comparação com as mulheres brancas. A taxa de histerectomias e miomectomias também é maior nas mulheres negras. • História Familiar: apresentar antecedente familiar de miomatose, em parente de primeiro grau (mãe ou irmã), confere um aumento do risco em 2,5 vezes. • Obesidade: a obesidade aumenta a incidência de miomatose em 20% a cada 10 kg de ganho de peso. Isso acontece por causa do aumento da produção de estrona proveniente da conversão periférica de androstenediona pela ação da enzima aromatase no tecido adiposo. Como foi dito anteriormente, os miomas são sensíveis aos estrógenos e o aumento da estrona contribui para o aumento do risco no desenvolvimento desses tumores. Além disso, ocorre o aumento da conversão de androgênios provenientes da suprarrenal em estrona na gordura periférica e a diminuição da produção de SHBG pelo fígado, levando ao aumento dos níveis de estrógeno livre (fração ativa do hormônio). Os fatores de risco para o desenvolvimento da miomatose uterina estão, em geral, relacionados com a maior exposiçãoao estrógeno e à progesterona. • Dieta: o consumo de álcool está associado ao aumento de risco no desenvolvimento de miomas. O consumo de carnes vermelhas também está associado ao aumento do risco de miomatose. • Menarca Precoce: a menarca precoce (antes dos 10 anos de idade) está associada a um aumento no risco de desenvolvimento de miomatose uterina. Deve-se levar em consideração que as mulheres negras costumam ter a menarca antes das mulheres brancas. Após a menarca, ocorre o aumento dos níveis de estradiol. Lembre-se de que os miomas são sensíveis ao estrogênio e que o aumento dos níveis do estradiol nos casos de menarca precoce está relacionado ao aumento do risco de miomatose. • Nuliparidade: os estudos demonstram a maior incidência de miomatose uterina em pacientes que nunca engravidaram. • Hipertensão Arterial: a hipertensão arterial está associada ao aumento do risco de desenvolvimento da leiomiomatose uterina. O aumento do risco é proporcional ao tempo e à severidade da doença. • Outros fatores endócrinos: alguns agentes químicos estão relacionados à desregulação hormonal. A exposição pré-natal ao dietilestilbestrol está associada ao aumento do risco no desenvolvimento da miomatose uterina. A exposição ao inseticida difenil- dicloroeteno também aumenta o risco de desenvolver miomatose uterina. Estratégia MED 17 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Fatores de Risco – Miomatose Uterina Idade entre 35 e 50 anos Raça Negra História Familiar Menarca precoce Obesidade Nuliparidade Álcool e carnes vermelhas Hipertensão arterial Exposição intraútero ao dietilestilbestrol Exposição ao inseticida difenil-dicloroeteno Tabela 1 São fatores de proteção para o desenvolvimento da miomatose uterina: • Paridade: diminuição de 15% do risco de desenvolver mioma a cada gestação. • Uso de anticoncepcional oral combinado: redução de cerca de 15% no risco a cada cinco anos de uso. • Tabagismo: produz hipoestrogenismo, devido à inibição da aromatase, e redução de cerca de 15% no risco com o consumo de 10 cigarros por dia. Obviamente, não se deve sugerir para a paciente fumar para prevenir a miomatose. • Prática de atividade física e perda de peso: redução da conversão periférica (gordura) de androgênios em estrona por meio da ação da enzima aromatase. • Prevenção da deficiência de vitamina D e consumo de vitamina A proveniente de fontes animais. • Consumo de vegetais verdes e frutas cítricas diminui o risco da miomatose uterina. CAI NA PROVA (USP RP 2015) Paciente com 54 anos, G3P2A1 com dois partos normais anteriores, negra, usuária por 15 anos de anticoncepcional oral combinado cíclico até 13 anos atrás, no momento em uso de terapia hormonal (valerato de estradiol + noretisterona), tabagista por 20 anos (sem uso há 16 anos), atualmente com hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, dislipidemia, fibromialgia e hipotireoidismo em tratamento, IMC= 32,3 kg/m². Ultrassom com achado sugestivo de leiomioma uterino de 8 cm no maior diâmetro. Na história clínica desta paciente, quais os fatores de risco para leiomiomatose uterina? Estratégia MED 18 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 A) Idade, paridade, tabagismo, fibromialgia e diabetes mellitus. B) Idade, paridade, obesidade, fibromialgia, hipotireoidismo. C) Uso de anticoncepcional oral, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, tabagismo, raça negra. D) Raça negra, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, obesidade e uso de terapia hormonal. COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque, nessa alternativa, somente a idade é fator de risco para a miomatose uterina. Incorreta a alternativa B, porque, nessa alternativa, somente a idade e a obesidade são fatores de risco para a miomatose uterina. Incorreta a alternativa C, porque o uso de anticoncepcional e o tabagismo não são fatores de risco para a miomatose uterina. Correta a alternativa D porque são fatores de risco para a miomatose uterina: raça negra, hipertensão arterial sistêmica, obesidade e uso de terapia hormonal. Essa foi a alternativa considerada como correta pela banca na época, mas, atualmente, a diabetes do tipo II não é considerada um fator de risco. Pode haver uma confusão em relação à diabetes, porque a obesidade e a HAS são fatores de risco para o desenvolvimento da miomatose uterina e a diabetes está fortemente associada a essas patologias. CAPÍTULO 5.0 QUADRO CLÍNICO 5.1 SINTOMAS Cerca de metade das mulheres com mioma são assintomáticas! Nesses casos, os miomas são encontrados durante a rotina ginecológica, através do exame físico ou ultrassonográfico. O sintoma mais frequente da leiomiomatose uterina é o sangramento uterino anormal, com aumento do fluxo menstrual (hipermenorragia) ou sangramento vaginal irregular (metrorragia). Outros sintomas frequentes são dismenorreia, dor pélvica e sintomas compressivos causados pelo aumento do volume uterino. A miomatose uterina também pode manifestar-se com sintomas intestinais, alterações urinárias, infertilidade e abortamento. CAI NA PROVA (SES RJ 2015) O sintoma mais relatado pelas pacientes portadoras de miomas é: A) dismenorreia. B) sinusiorragia. C) menorragia. D) dor pélvica. Estratégia MED 19 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque, embora a dismenorreia possa ser um dos sintomas da miomatose uterina, está mais relacionada à endometriose. Incorreta a alternativa B, porque a sinusiorragia (sangramento genital relacionado à atividade sexual) está mais relacionada aos quadros inflamatórios do colo do útero (cervicites) e neoplásicos (câncer do colo de útero). Correta a alternativa C a queixa mais frequente das pacientes com miomatose uterina é o aumento do fluxo menstrual (sangramento uterino anormal). Incorreta a alternativa D, porque, embora a dor pélvica seja um dos possíveis sintomas da miomatose uterina, ainda é menos frequente do que a menorragia. Estrategista, os sintomas dos miomas estão relacionados a sua localização e tamanho. De maneira geral, os miomas submucosos provocam metrorragia (sangramento uterino irregular), os miomas intramurais provocam hipermenorragia (aumento do fluxo menstrual) e os miomas subserosos, quando sintomáticos, provocam dor pélvica. Os miomas submucosos provocam metrorragia porque estão em contato com o endométrio, provocando uma “ferida” nesse local, que sangra irregularmente. Os miomas intramurais provocam aumento do fluxo menstrual por prejudicarem a contratilidade do miométrio e provocar estase venosa. Os miomas subserosos, em geral, são assintomáticos. Provocam dor pélvica quando são grandes, devido à compressão das estruturas adjacentes. Por isso, podem provocar sintomas urinários, intestinais e lombossacralgia. Figura 3: Relação da localização dos miomas com a vascularização uterina Estratégia MED 20 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Manifestações clínicas dos Miomas Submucoso Metrorragia Intramural Hipermenorragia Subseroso Dor pélvica / Sintomas compressivos Os miomas também podem manifestar-se com a infertilidade (cerca de 5% dos casos). A infertilidade está relacionada principalmente com os miomas submucosos, porque provocam inflamação e distorcem a cavidade endometrial. Além disso, podem aumentar o risco de aborto e de trabalho de parto prematuro. 5.2 EXAME FÍSICO A miomatose pode provocar o aumento do volume abdominal, devido ao aumento do volume do útero, palpável no hipogástrio, de consistência fibroelástica e bocelado (ou lobulado). No toque bimanual, podemos encontrar um útero aumentado, de consistência fibroelástica, bocelado e móvel. É importante mobilizar o colo do útero para confirmar que o tumor palpável está localizado no útero, e não nos anexos.CAI NA PROVA (SUS SP 2016) Paciente de 30 anos queixa-se de aumento do fluxo menstrual, com sangramento intenso que dura 7 dias, com eliminação de coágulos e cólicas importantes. Essa queixa tem cerca de um ano de duração. Refere ter engravidado uma vez, tendo parto normal, sem intercorrências, há 3 anos. Usa preservativo como método contraceptivo. Ao exame físico, observa-se colo normal, com moderada quantidade de sangue coletado na vagina. O toque bimanual mostra útero aumentado a 10 cm da sínfise púbica, superfície irregular, móvel, discretamente doloroso à palpação. Pensando nas causas de sangramento uterino anormal, a primeira hipótese diagnóstica deve ser de: A) Mioma uterino subseroso. B) Mioma uterino intramural. C) Pólipo endocervical. D) Endometriose pélvica. E) Sarcoma uterino. Tabela 2 Estratégia MED 21 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque os miomas subserosos, em geral, são assintomáticos. Quando são muito volumosos, podem causar dor pélvica ou aumento do volume abdominal, não provocando hipermenorragia. Correta a alternativa B a paciente queixa-se de aumento do fluxo menstrual, com sangramento intenso, que dura 7 dias, trata-se de caso de hipermenorragia, compatível com mioma uterino intramural. Incorreta a alternativa C, porque um pólipo endocervical é diagnosticado, na maioria das vezes, no exame ginecológico especular, sendo visibilizado exteriorizando-se pelo orifício externo do colo. Além disso, o pólipo endocervical não provocaria aumento do volume uterino, como nesse caso. Incorreta a alternativa D, porque os sintomas clássicos da endometriose são dismenorreia progressiva, dispareunia e infertilidade, associados ao quadro de dor pélvica crônica. A endometriose não se manifesta com aumento do fluxo menstrual. Apesar de a paciente referir cólicas menstruais, ela não refere dispareunia e não tem história de infertilidade. Além disso, o útero apresenta-se móvel. Tudo isso fala contra o diagnóstico de endometriose. Incorreta a alternativa E, porque o sarcoma uterino é uma neoplasia rara e acomete, mais frequentemente, pacientes na pós-menopausa. (H. Visão Laser 2019) A miomatose uterina não apresenta o seguinte dos sintomas: A) Dor pélvica. B) Hipermenorragia. C) Metrorragia. D) Criptomenorragia. COMENTÁRIO Correta a alternativa A, um dos sintomas manifestados nos casos de miomatose uterina é a dor pélvica, geralmente relacionada a leiomiomas subserosos de grande volume. Correta a alternativa B, os leiomiomas intramurais, em geral, cursam com quadro de hipermenorragia (menstruação aumentada em volume e duração). Correta a alternativa C, os leiomiomas submucosos podem manifestar-se clinicamente através de metrorragia (sangramento volumoso, não cíclico) Incorreta a alternativa D porque a criptomenorragia é a retenção da menstruação por obstrução de alguma parte do canal genital ou por imperfuração do hímen, não fazendo parte do quadro clínico da leiomiomatose uterina. Estratégia MED 22 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 (H.C. Barretos 2018) Em relação à Miomatose Uterina, assinale a alternativa correta: A) É muito rara sua associação com Adenomiose. B) Os miomas subserosos geralmente não causam distúrbios menstruais. C) A localização cervical é mais comum que a localização corporal. D) Geralmente se transforma em carcinoma endometrial. COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque é comum encontrar adenomiose em produtos de histerectomia por miomatose uterina. Os dados da literatura sobre a incidência de adenomiose variam muito (1 a 70%), sendo 20 a 30% dos úteros provenientes de histerectomia. Correta a alternativa B os miomas subserosos em geral são assintomáticos, não causando distúrbios menstruais. Quando apresentam grandes dimensões, podem apresentar os sintomas de dor ou aumento do volume abdominal. Incorreta a alternativa C, porque os leiomiomas cervicais são raros (<1% dos casos). Incorreta a alternativa D, os leiomiomas uterinos não se "transformam" em carcinoma endometrial. É descrita, porém é rara, a degeneração sarcomatosa (leiomiossarcoma - 0,1 a 0,6% dos casos). (SES DF 2017) Paciente de 40 anos de idade, G2C2, casada, ciclos menstruais regulares, MAC laqueadura tubária em 2014. Aflita, consulta o médico generalista, trazendo ecografia transvaginal, na qual se evidenciou imagem nodular de 2,3 cm x 2,5 cm, sugestiva de leiomioma subseroso. Apresenta endométrio homogêneo de 0,5 cm e ovários sem particularidades. Com base nesse caso clínico, e considerando os conhecimentos médicos a ele relacionados, julgue o item a seguir. Deve-se informar a paciente que ela pode apresentar menometrorragia em razão da localização do mioma. A) CERTO B) ERRADO COMENTÁRIO A afirmativa está errada, porque essa paciente tem um mioma subseroso e a menometrorragia está associada aos miomas submucosos e intramurais. Correta a alternativa B Estratégia MED 23 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 CAPÍTULO 6.0 DIAGNÓSTICO O diagnóstico da leiomiomatose uterina deve ser feito baseado em anamnese, exame físico ginecológico e exames subsidiários. 6.1 ULTRASSONOGRAFIA O exame de imagem de primeira escolha para a investigação dos miomas é o ultrassom transvaginal ou pélvico (nas pacientes virgens). Pode ser usado para o acompanhamento dos casos assintomáticos e para a indicação de tratamento cirúrgico. O ultrassom é capaz de avaliar o volume uterino, sendo possível visualizar nódulos miomatosos. Os miomas são hipoecogênicos, bem delimitados e, em alguns casos, apresentam calcificações ou reforços acústicos devido à degeneração cística. Figura 4: Mioma ao ultrassom. Fonte: Shutterstock Os miomas apresentam um contorno periférico da vascularização na avaliação pelo Doppler colorido. Sendo assim, o Doppler pode ser usado para diferenciar um mioma submucoso de um pólipo endometrial (que tem a vascularização central). CAI NA PROVA (FMRP 2016) Paciente com 37 anos, G1P1A0 (1PN), IMC= 31,0 kg/m². Refere estar com sangramento uterino anormal há 8 meses e piora há 3 meses com sangramento excessivo. Exames complementares. Hb: 9,2 g/dl; USTV: útero AVF, centrado, textura miometrial heterogênea, com volume total de 130 cm³, presença de lesão nodular de 4 cm no maior diâmetro conforme fotografia (VER IMAGEM). Qual o diagnóstico mais provável e a melhor conduta para este caso? A) Leiomioma intramural e acetato de medroxiprogesterona injetável. B) Leiomioma submucoso e miomectomia histeroscópica. C) Leiomioma intramural e miomectomia laparoscópica. D) Leiomioma submucoso e acetato de medroxiprogesterona injetável. Estratégia MED 24 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque podemos visibilizar, por meio da imagem ultrassonográfica, que se trata de leiomioma submucoso (dentro da cavidade endometrial), não intramural. Correta a alternativa B porque o quadro clínico de metrorragia e a imagem ultrassonográfica de nódulo intracavitário revelam se tratar de leiomioma submucoso, sendo a miomectomia histeroscópica a melhor opção terapêutica nesse caso. Incorreta a alternativa C, porque, além de não se tratar de leiomioma intramural, conforme visto na imagem ultrassonográfica, a indicação de miomectomia laparoscópica não é a conduta indicada para esses casos em que o mioma se encontra dentro da cavidade uterina. A conduta de primeira escolha indicada para os miomas submucosos é a exérese por meio da histeroscopia cirúrgica. Incorreta a alternativa D, porque a paciente está com quadro de sangramento importante, que está causando anemia. Nesses casos, está indicada a conduta cirúrgica, com exérese do mioma submucoso por meio de histeroscopia. (SMSSP 2018) Uma mulher de 37 anos, negra, nulípara,procura a UBS com queixa de sangramento vaginal irregular, durante quase todo o mês; está assim há seis meses e vem piorando. Ao exame ginecológico, o médico identifica que o útero está aumentado de volume. Frente a esse quadro, qual exame de imagem deve ser realizado e o que se espera dele? A) Ultrassonografia pélvica para avaliar a espessura endometrial, pois há grande possibilidade de se tratar de hiperplasia ou carcinoma endometrial. B) Histerossalpingografia para investigar a existência de pólipo endometrial, que é um fator que justifica a metrorragia. C) Ultrassonografia pélvica para identificar e assim confirmar a hipótese mais provável de mioma subseroso. D) Ressonância nuclear magnética, que é o exame “padrão-ouro” e que melhor identifica e localiza nódulos de mioma. E) Ultrassonografia pélvica para avaliar a presença de mioma submucoso, que é a localização que mais justifica esse padrão de sangramento. COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque se trata de mulher de 37 anos, com aumento uterino ao exame físico. A hipótese diagnóstica mais provável nesse caso é a miomatose uterina, não a hiperplasia ou o carcinoma endometrial, que é mais frequente após a menopausa e não costuma levar ao aumento do volume uterino. Incorreta a alternativa B, porque, apesar de o pólipo endometrial ser uma das causas de sangramento uterino anormal, não ocorre aumento do volume uterino nesses casos, afastando essa hipótese diagnóstica. Incorreta a alternativa C, porque os miomas subserosos em geral são assintomáticos. Quando sintomáticos se manifestam por meio de aumento do volume abdominal ou dor pélvica. Incorreta a alternativa D, porque a ressonância magnética é indicada para casos específicos, devido ao alto custo e à baixa disponibilidade. Pode ser solicitada para casos com úteros muito grandes, na diferenciação entre miomatose uterina com adenomiose ou sarcoma, acompanhamento dos casos após embolização das artérias uterinas e para o planejamento cirúrgico de casos muito complexos. Estratégia MED 25 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Correta a alternativa E porque a paciente apresenta sintoma de metrorragia (sangramento durante todo o mês), sendo mais provável a hipótese de mioma submucoso. 6.2 HISTEROSSONOGRAFIA A histerossonografia é a ultrassonografia realizada após a injeção de soro fisiológico na cavidade endometrial. Com isso, é possível avaliar a existência de miomas submucosos e intramurais, que podem não ser vistos no ultrassom “normal” e abaulam a cavidade uterina. A histerossonografia pode medir a profundidade da lesão e é útil para o planejamento do tratamento cirúrgico histeroscópico dos miomas submucosos. Figura 5: Histerossonografia 6.3 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA A Ressonância Magnética é utilizada para os casos de leiomiomatose uterina com indicação de tratamento cirúrgico conservador, sendo utilizada no planejamento pré-operatório de miomectomia ou da embolização das artérias uterinas. Esse exame pode diferenciar os miomas de outras doenças, como a adenomiose e a endometriose e até mesmo o sarcoma. Estratégia MED 26 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Figura 6: Mioma visto na Ressonância Magnética Uma outra vantagem da ressonância magnética está na avaliação dos casos de miomas muito grandes, com úteros maiores que 375 cm3 e dos úteros com múltiplos miomas. Nesses casos, a avaliação ultrassonográfica é bastante difícil, porque os miomas grandes ou múltiplos produzem sombra acústica posterior, sendo difícil visualizar as lesões. De acordo com a velocidade de seu crescimento, os miomas podem apresentar contornos regulares ou irregulares na ressonância magnética. Apresentam-se com baixo sinal em T2 e intensidade de sinal semelhante ou mais baixa que o miométrio em T1. Vamos resumir quais são as indicações da ressonância magnética na investigação da leiomiomatose uterina: Indicações de Ressonância Magnética na investigação da miomatose uterina Planejamento pré-operatório do tratamento cirúrgico conservador (miomectomia) Planejamento da embolização das artérias uterinas Diferenciar a leiomiomatose da endometriose e da adenomiose Avaliação dos casos com volume uterino grande (> 375 cm3) ou miomas múltiplos Avaliação dos casos com degeneração e possibilidade de diferenciação com sarcomas. 6.4 HISTEROSCOPIA A histeroscopia é o exame de escolha (padrão-ouro) para avaliação da cavidade endometrial, devido a sua elevada acurácia (sensibilidade > 88% e especificidade de aproximadamente 100%). É realizada através da introdução de uma fibra ótica pelo colo do útero para avaliação da cavidade endometrial. Com isso, é possível visibilizar em tempo real os miomas submucosos ou outras lesões cavitárias como os pólipos e as neoplasias de endométrio. Tabela 3 Estratégia MED 27 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Figura 7: Histeroscopia A histeroscopia possibilita o diagnóstico dos miomas submucosos, porém não consegue avaliar a profundidade desses miomas. Para realizar o planejamento do tratamento cirúrgico, é necessário associar o estudo com a ultrassonografia (histerossonografia) e/ou a RNM. CAPÍTULO 7.0 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico diferencial da leiomiomatose uterina deve ser feito com outras patologias que provocam sangramento uterino anormal e dor pélvica (aumento uterino). Diagnóstico diferencial da leiomiomatose uterina Patologias que provocam sangramento uterino anormal Patologias que provocam dor pélvica Pólipos Tumores anexiais Adenomiose Endometriose Tumores malignos do útero Infecção Urinária Aborto/ Gravidez Doenças Intestinais Estratégia MED 28 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Estrategista, questões sobre o diagnóstico diferencial da miomatose uterina são frequentes. É importante saber diferenciar se a causa do aumento do útero é a miomatose ou a adenomiose. Na miomatose uterina, temos um útero aumentado, com contornos irregulares (lobulados ou bocelados), devido aos nódulos miomatosos, de consistência fibroelástica e, na adenomiose, o útero apresenta contornos regulares, superfície lisa e consistência amolecida (macia / esponjosa). CAPÍTULO 8.0 TRATAMENTO 8.1 TRATAMENTO CLÍNICO O tratamento da miomatose uterina deve levar em consideração os seguintes fatores: • Paciente está assintomática ou sintomática • Idade da paciente • Número, tamanho e localização dos miomas • Futuro reprodutivo • Tratamentos prévios • Comorbidades Estrategista, lembre-se, mais da metade das pacientes com miomatose uterina são assintomáticas. A conduta para essas pacientes é expectante, com acompanhamento clínico e ultrassonográfico. CAI NA PROVA (SES DF 2017) Paciente de 40 anos de idade, G2C2, casada, ciclos menstruais regulares, MAC laqueadura tubária em 2014. Aflita, consulta o médico generalista, trazendo ecografia transvaginal, na qual se evidenciou imagem nodular de 2,3 cm x 2,5 cm, sugestiva de leiomioma subseroso. Apresenta endométrio homogêneo de 0,5 cm e ovários sem particularidades. Com base nesse caso clínico, e considerando os conhecimentos médicos a ele relacionados, julgue o item a seguir. Indica-se ACO combinado, pois é o tratamento mais eficaz para a paciente desse caso clínico. A) CERTO B) ERRADO Estratégia MED 29 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 COMENTÁRIO A afirmativa está errada, porque essa paciente tem um mioma subseroso assintomático. A conduta para esse caso é expectante, não estando indicado ACO combinado. Correta a alternativa B (SMS João Pessoa 2014) Paciente, mulher de 32 anos, assintomática, consulta para uma revisão da saúde Ginecológica, porque deseja engravidar. Durante a revisão é detectado um Mioma Uterino de 4 cm em parte intramural e parte subseroso, localizadona cara anterior do Útero e que não produz um efeito deformante na cavidade endometrial. Que atitude recomendaria? A) Miomectomia por via laparoscópica B) Miomectomia por via laparotômica C) Embolização Arterial de Mioma via cateter D) Tratamento com análogos do GnRH durante 3 meses antes de tentar engravidar E) A tentativa de gravidez sem nenhum tratamento prévio COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque a miomectomia por via laparoscópica está indicada para as pacientes sintomáticas, com miomas únicos, de, no máximo, 10 cm, ou até quatro a seis nódulos menores. Incorreta a alternativa B, porque a miomectomia por via laparotômica é indicada para as pacientes sintomáticas, nos casos de miomas muito grandes e múltiplos. Incorreta a alternativa C, porque essa paciente se encontra assintomática. A embolização arterial de mioma via cateter está indicada para os casos sintomáticos, na falha de tratamentos prévios ou em pacientes sem condições para tratamentos cirúrgicos. Incorreta a alternativa D, porque se trata de paciente assintomática, com mioma intramural/subseroso que não deforma a cavidade endometrial. O tratamento com análogos do GnRH é indicado para miomas de grande volume, sintomáticos, com o objetivo de diminuir esses tumores e preparar a paciente para a miomectomia, porque os miomas tendem a crescer novamente após a suspensão dos análogos do GnRH. Correta a alternativa E trata-se de paciente assintomática, com mioma intramural/subseroso, que não deforma a cavidade endometrial. Essa paciente não tem história de perdas gestacionais e está liberada para tentar engravidar, sem nenhum tratamento prévio Nas pacientes sintomáticas, geralmente, pensamos em iniciar pelo tratamento clínico, para o controle do sangramento e da dor pélvica. O tratamento clínico também está indicado para as pacientes que não desejam e não podem ser submetidas ao tratamento cirúrgico. O tratamento clínico pode ser realizado com medicamentos hormonais e não hormonais. Estratégia MED 30 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 As opções de tratamento medicamentoso não hormonal são os anti-inflamatórios não hormonais e os antifibrinolíticos. Os anti-inflamatórios diminuem o sangramento em cerca de 30%, inibindo a síntese de prostaciclinas. Os anti-inflamatórios que apresentam melhores resultados são o ácido mefenâmico e o naproxeno. Os antifibrinolíticos, como o ácido tranexâmico, agem Opções para o tratamento clínico da miomatose uterina Não hormonais Anti-inflamatórios Ácido mefenâmico, naproxeno Antifibrinolíticos Ácido tranexâmico Hormonais ACHO Diversos Progestágenos Orais e injetáveis SIU – levonorgestrel Mirena SPRMs Acetato de Ulipristal Análogos do GnRH Goserrelina, Leuprolide Tabela 4 Os anticoncepcionais combinados e os progestágenos agem induzindo a atrofia endometrial. Com isso, reduzem o fluxo menstrual. O uso da progesterona no tratamento dos miomas é bastante controverso. A progesterona melhora o sintoma de sangramento vaginal, causando a atrofia endometrial, mas não reduz o volume dos miomas. inibindo a fibrinólise do endométrio, reduzindo o sangramento. Podem ser usados isoladamente ou associados com os anti- inflamatórios. As opções de tratamento medicamentoso hormonal são os anticoncepcionais combinados, os progestágenos isolados, o SIU de levonorgestrel, os moduladores seletivos da progesterona (SPRMs) e os análogos do GnRH. Estrategista, vamos nos lembrar da fisiopatologia dos miomas. O crescimento e manutenção dos miomas depende do estrógeno e da progesterona. Você deve estar se perguntando, como a administração de estrógeno e progesterona pode ser uma das formas de tratamento para essa doença? A verdade é que isso ainda não está muito bem esclarecido. Entende-se que o estrógeno e a progesterona agem induzindo a atrofia endometrial, como descrito acima e esse seria o mecanismo de ação envolvido na melhora do sangramento. Uma outra hipótese é a de que a administração exógena de pequenas doses desses hormônios funcionaria como uma inibição para o crescimento dos miomas, mas essa hipótese ainda não foi confirmada. Por tudo isso, algumas pacientes podem responder mal a esses tratamentos, ocorrendo o crescimento dos miomas. Estratégia MED 31 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 O SIU de levonorgestrel age no endométrio diminuindo o sangramento, assim como os outros progestágenos. Os moduladores seletivos da progesterona são representados principalmente pelo acetato de ulipristal. Essa medicação ainda não está disponível em nosso país. Seu mecanismo de ação é a inibição da ovulação e da proliferação celular, bem como a indução da apoptose. O ulipristal causa redução dos miomas e do sangramento. Sua vantagem é não diminuir os níveis de estrógeno e não causar os sintomas do hipoestrogenismo, tais como os fogachos e a atrofia vaginal. Os agonistas do GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas) são os medicamentos mais eficazes para o tratamento da miomatose uterina. Inicialmente, esses medicamentos produzem o aumento da liberação de gonadotrofinas, mas, após 2 semanas, ocorre a saturação e dessensibilização dos receptores (efeito flare up), levando à hipófise a reduzir a produção das gonadotrofinas (LH e FSH), diminuindo a função ovariana, ocorrendo o hipoestrogenismo e a amenorreia. Diminuem o volume dos miomas em cerca de 60%. Em geral demoram de 2 a 3 meses para atingirem seu efeito máximo. Os análogos do GnRH provocam uma “menopausa medicamentosa”, com todas as manifestações do hipoestrogenismo, tais como os fogachos, atrofia vaginal e risco de osteoporose. Por isso, essa opção de tratamento medicamentoso não deve ser prescrito por mais de 6 a 12 meses. É importante frisar que a diminuição do volume dos miomas é temporária, ocorrendo retorno da menstruação e do volume uterino pré-tratamento após a descontinuação dos agonistas do GnRH Uma possível estratégia terapêutica é a utilização dos análogos do GnRH de 2 a 3 meses antes do tratamento cirúrgico. Com isso, ocorre a diminuição dos miomas e do sangramento, melhorando os níveis de hemoglobina e facilitando o tempo cirúrgico. Os agonistas de GnRH podem ser usados, em alguns casos, para fornecer alívio por um curto período de tempo para mulheres próximas à menopausa ou com contraindicações para o tratamento cirúrgico. Os antagonistas do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) agem diretamente nos receptores com efeito antagonista, por isso inibem a secreção de LH e FSH pela hipófise, desde o início do tratamento, sem o efeito flare up. Têm a vantagem de possuir formulação por via oral. São exemplos dessa classe de medicamentos o relugolix e o elagolix. Add-Back Therapy: os efeitos colaterais dos análogos (agonistas e antagonistas) de GnRH a longo prazo podem ser minimizados durante o tratamento, administrando estrogênio e progesterona em baixas doses como terapia de reposição (assim como no climatério). Lembre-se, os miomas são sensíveis ao estrógeno e à progesterona, sendo assim, regridem após a menopausa. Uma estratégia terapêutica comum é empregar o tratamento clínico, com o objetivo de “empurrar” a paciente até a menopausa, livrando-a de uma cirurgia. CAI NA PROVA (SES RJ 2019) O uso dos agonistas do hormônio liberador de gonadotrofina em mulher de 38 anos, com ciclos regulares e miomatose uterina, tem como objetivo: A) melhorar os níveis de hemoglobina no pré-operatório B) diminuir as aderências no pós-operatório C) melhorar a dor no pré-operatório D) evitar o tratamento cirúrgico Estratégia MED 32 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 COMENTÁRIO Correta a alternativa A uma das indicações para a prescrição dos análogos do GnRH é melhorar os níveis de hemoglobina no pré-operatório. Além disso,os análogos do GnRH apresentam o benefício de reduzir temporariamente o volume dos miomas e diminuir o sangramento intraoperatório, facilitando o tempo cirúrgico. Incorreta a alternativa B, porque os análogos do GnRH reduzem o volume dos miomas, podendo facilitar a cirurgia, mas não diminuem as aderências pós-operatórias. Incorreta a alternativa C, porque os análogos do GnRH não possuem propriedades analgésicas e não diminuem a dor no pré-operatório. Incorreta a alternativa D, porque os análogos do GnRH reduzem o volume dos miomas em até 60%, mas de forma temporária. Podem adiar o tratamento cirúrgico, mas não evitar. 8.2 TRATAMENTO CIRÚRGICO Dividimos o tratamento cirúrgico da miomatose uterina em conservador e definitivo. O tratamento cirúrgico conservador é a miomectomia e o tratamento cirúrgico definitivo é a histerectomia (total ou subtotal). Indicações para o tratamento cirúrgico da leiomiomatose uterina Recorrências Falha do tratamento clínico Escolha da paciente Suspeita de Malignidade (Sarcoma) Tratamento da Infertilidade / Abortos recorrentes CAI NA PROVA (UFS 2018) São indicações para tratamento cirúrgico do leiomioma uterino, EXCETO: A) Aumento da duração e do fluxo menstrual não responsivo ao tratamento conservador. B) Perimenopausa com irregularidade de fluxo menstrual. C) Perdas gestacionais recorrentes com distorção importante da cavidade endometrial. D) Compressão de ureter com hidronefrose. Tabela 5 Estratégia MED 33 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 COMENTÁRIO Correta a alternativa A, o aumento da duração e do fluxo menstrual não responsivo ao tratamento conservador medicamentoso é uma das indicações de tratamento cirúrgico para os miomas. Incorreta a alternativa B porque as pacientes na perimenopausa com irregularidade de fluxo menstrual devem ser preferencialmente tratadas por medicamentos, com o objetivo de chegar à menopausa. Os miomas são estrogênio-dependentes e regridem após a menopausa. Correta a alternativa C, casos de perdas gestacionais recorrentes, com distorção importante da cavidade endometrial, são a indicação para tratamento cirúrgico, através de ressecção por histeroscopia. Correta a alternativa D, casos de miomas que provocam compressão de ureter com hidronefrose devem ser tratados cirurgicamente, a fim de desobstruir o trato urinário. 8.2.1 TRATAMENTO CIRÚRGICO CONSERVADOR O tratamento cirúrgico conservador está indicado principalmente para as pacientes que não tem prole constituída, com o objetivo de preservar seu futuro reprodutivo. A miomectomia é a retirada (exérese) dos miomas preservando o útero e é o tratamento de escolha para a paciente que deseja engravidar. A miomectomia pode ser realizada por diferentes vias. Deve- se levar em consideração a localização, o número e o tamanho dos miomas. Para os casos de miomas submucosos, geralmente é indicada a miomectomia histeroscópica, tendo em vista que a histeroscopia é a melhor via para a abordagem da cavidade endometrial. A miomectomia vaginal é indicada para os miomas paridos e cervicais. A miomectomia por via laparoscópica é indicada para as pacientes com miomas únicos, intramurais ou subserosos, de, no máximo, 10 cm, ou até seis nódulos menores. A miomectomia por via laparotômica é indicada para os casos de miomas múltiplos de grande volume (> 10 cm). Indicação da via para realização de miomectomia Mioma Via Submucoso Miomectomia histeroscópica Parido ou cervical Miomectomia vaginal Intramural ou subseroso (até 6 nódulos, mioma < 10 cm) Miomectomia laparoscópica Intramural ou subseroso (múltiplos nódulos > 10cm) Miomectomia laparotômica Tabela 6 Estratégia MED 34 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Aqui, cabe uma ressalva, a taxa de recidiva dos miomas é de cerca de 25% em 10 anos, ou seja, a miomectomia não é o tratamento definitivo para os miomas. CAI NA PROVA (FMABC 2015) Paciente com desejo reprodutivo apresentando 2 nódulos uterinos: um mioma intramural de 4 cm e um submucoso de 2 cm, refere dismenorreia e aumento do fluxo menstrual. Qual a alternativa correta? A) Ela deve ser submetida à miomectomia com exérese dos dois nódulos porque está sintomática, apesar deles não interferirem no desejo reprodutivo. B) Não deve ser submetida à miomectomia porque tem desejo reprodutivo. C) Ela deve ser submetida à miomectomia dos dois nódulos, pois interferem nas chances de gravidez e são responsáveis pelos sintomas. D) Apenas o mioma submucoso deve ser retirado, já que é o único que interfere no desejo reprodutivo. COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque os miomas submucosos e intramurais interferem no desejo reprodutivo, podendo causar infertilidade, aumento da incidência de abortamento, trabalho de parto prematuro, restrição do crescimento intrauterino e apresentação fetal anômala. Incorreta a alternativa B, porque a paciente tem indicação de miomectomia para melhorar suas chances de futuro reprodutivo. Correta a alternativa C essa paciente deve ser submetida à miomectomia. Os miomas submucosos e intramurais interferem nas chances de gravidez e são responsáveis pelos sintomas da paciente. Os índices de gestação pós-miomectomia em pacientes previamente inférteis estão ao redor de 50%. Incorreta a alternativa D, porque os dois miomas devem ser retirados. Ambos os miomas podem interferir no futuro reprodutivo da paciente. (FMABC 2017) As pacientes com leiomiomas apresentam quadros clínicos distintos e nem sempre há indicação de tratamento cirúrgico. Em pacientes com desejo de gravidez há indicação de miomectomia nos seguintes casos: A) Miomas intramurais de dimensões < 2 cm devido a alterações na contratilidade uterina. B) Miomas submucosos, independente do tamanho. C) Não há indicação cirúrgica de miomectomia em pacientes inférteis porque as cicatrizes uterinas representam maior risco que benefício. D) Miomas subserosos de qualquer tamanho, devido às complicações durante a gravidez. Estratégia MED 35 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque a infertilidade está relacionada principalmente com os miomas submucosos. Correta a alternativa B a infertilidade está relacionada com os miomas submucosos, independentemente do tamanho. Os índices de gestação pós-miomectomia em pacientes previamente inférteis situam-se ao redor de 50%. Incorreta a alternativa C, porque há indicação cirúrgica de miomectomia em pacientes inférteis. As cicatrizes uterinas representam um pequeno risco em comparação ao benefício do tratamento da infertilidade. Incorreta a alternativa D, porque os miomas subserosos são em sua maioria assintomáticos e não interferem na gravidez. 8.2.1.1 MIOMECTOMIA LAPAROSCÓPICA A miomectomia laparoscópica é indicada para as pacientes sem prole constituída, com, no máximo, 6 nódulos miomatosos intramurais ou subserosos pequenos ou com nódulo único menor que 10 cm. Consideramos as mesmas indicações para a cirurgia robótica. Figura 8: Videolaparoscopia As cirurgias realizadas através da técnica videolaparoscópica apresentam menor morbidade, recuperação mais rápida no pós-operatório, menor perda sanguínea, menor tempo de internação e maior taxa de gravidez em comparação com a miomectomia laparotômica. Estratégia MED 36 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Os riscos da cirurgia videolaparoscopica são a lesão vascular ou intestinal durante a punção da cavidade abdominal e a ocorrência de hemorragia que exija a conversão para laparotomia. Na miomectomia laparoscópica, é realizada a fragmentação dos miomas (morcelamento) dentro da cavidade abdominal, para que possam ser retirados através das pequenas incisões da videolaparoscopia. Isso pode causar o surgimento de miomas parasitas no peritônio ou órgãos da cavidade abdominal,devido às células do mioma que se desprendem durante o morcelamento. Para evitar essa complicação, deve-se realizar o morcelamento dos miomas dentro de sacos protetores ou pode-se retirar os miomas íntegros pela via vaginal (colpotomia). Indicações para miomectomia laparoscópica Miomas intramurais ou subserosos Número máximo de nódulos = 6 Mioma Único < 10 cm Sem Prole constituída Tabela 7 8.2.1.2 MIOMECTOMIA LAPAROTÔMICA A miomectomia laparotômica é indicada para as pacientes sem prole constituída, com miomas intramurais, ou subserosos múltiplos (> 6 unidades), ou maiores que 10 cm. Figura 9: Técnica cirúrgica da miomectomia Estratégia MED 37 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Figura 10: vários miomas produto de miomectomia múltipla laparotômica Indicações para miomectomia laparotômica Miomas intramurais ou subserosos Múltiplos miomas (> 6 nódulos) Mioma Único > 10 cm Sem Prole constituída 8.2.1.3 MIOMECTOMIA HISTEROSCÓPICA A miomectomia histeroscópica é realizada com um ressectoscópio monopolar ou bipolar. Figura 11: miomectomia histeroscópica A histeroscopia cirúrgica é realizada com a distensão da cavidade endometrial com um meio líquido que possibilite a passagem de corrente elétrica. Podem ser utilizados como meio líquido o soro fisiológico, o manitol, o sorbitol e a glicina. O soro fisiológico exige o uso de corrente bipolar e diminui o risco de sobrecarga hídrica. As outras soluções podem ser usadas com o monopolar, mas envolvem maior risco de sobrecarga hídrica. A sobrecarga hídrica ocorre quando essas soluções hipotônicas são absorvidas rapidamente para o sistema vascular. Com isso, pode ocorrer hiponatremia, insuficiência cardíaca e edema agudo de pulmão. O tratamento desses casos é feito com a interrupção imediata do procedimento, oxigenação, administração de diuréticos de alça (furosemide) e tratamento da hiponatremia. Outra complicação que pode ocorrer durante a histeroscopia cirúrgica é a perfuração uterina. Por isso, é importante uma avaliação detalhada do mioma através da histeroscopia diagnóstica, ultrassonografia ou histerossonografia e, quando possível, Tabela 8 Estratégia MED 38 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 ressonância magnética, para estabelecer um score/grupo e determinar a conduta mais adequada para cada caso. Nesses casos, deve- se interromper o procedimento imediatamente e avaliar a estabilidade hemodinâmica da paciente. Em alguns casos, pode ocorrer lesão intestinal ou vesical, por isso pode ser realizada a laparoscopia, a fim de avaliar a perfuração e a cavidade abdominal. A miomectomia histeroscópica é o tratamento preconizado para os miomas submucosos. A princípio, os miomas dos tipos 0,1 e 2 (FIGO) são passíveis de exérese, mas nem todos os miomas submucosos são passíveis de ressecção pela histeroscopia. Para decidir se a exérese é possível pela histeroscopia, utilizamos o score de Lasmar (Step=W). Vamos ver as tabelas abaixo: Score Penetração no miométrio Tamanho Largura da Base Terço Parede Lateral 0 0 < 2 cm < 1/3 Inferior +1 1 < 50% > 2cm a 5 cm 1/3 a 2/3 Médio +1 2 > 50% >5 cm >2/3 Superior +1 Score Grupo Conduta 0 a 4 I Miomectomia histeroscópica com baixa complexidade 5 e 6 II Miomectomia complexa (considerar preparo com análogo do GnRH e/ou cirurgia em 2 tempos) 7 a 9 III Indicar outra técnica não histeroscópica Tabela 10: Score de Lasmar para decisão de miomectomia histeroscópica O score de Lasmar leva em consideração a penetração no miométrio, o tamanho, a base e a localização do mioma submucoso. A partir dessas características, atribui-se um score e um grupo para o mioma. Os miomas do grupo I podem ser ressecados pela Tabela 9 via histeroscópica sem grande dificuldade, os miomas do grupo II devem ser tratados previamente com análogo do GnRH ou serem ressecados em 2 tempos e os miomas do grupo III devem ser ressecados por outra técnica que não a histeroscópica. Estratégia MED 39 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Uma outra classificação dos miomas submucosos é a da European Society of Gynecological Endoscopy (ESGE) em: • G0: Totalmente intracavitários - tipo 0 (FIGO) • G1: > 50% intracavitário – tipo 1 (FIGO) • G2: < 50% intracavitário – tipo 2 (FIGO) Figura 12: Classificação dos miomas submucosos Tipo (FIGO) Descrição Conduta Tipo 0 (G0) Totalmente intracavitário Miomectomia histeroscópica Tipo 1 (G1) > 50% intracavitário Miomectomia complexa (preparo com análogo do GnRH) Tipo 2 (G2) < 50% intracavitário Indicar outra técnica não histeroscópica Estrategista, questões sobre o tratamento dos miomas submucosos são muito frequentes nas provas de Residência! Guarde bem essa informação: a via preferencial para o tratamento dos miomas submucosos é a via histeroscópica!!! A exérese dos miomas submucosos restaura a fertilidade em até 70% das pacientes sem outras causas de infertilidade. CAI NA PROVA (SURCE 2019) Mulher de 34 anos, G0P0, com desejo de gestar há 4 meses, apresenta quadro de aumento do número de dias de sangramento menstrual e aumento do fluxo há 1 ano. Ao exame físico, apresenta útero aumentado de volume 3 cm acima da sínfise púbica. Solicitado hemograma com Hb = 9.5 g/dl e Ht = 36%; plaquetas = 200.000; coagulograma normal. A ultrassonografia transvaginal mostrou um útero de 140 cm³ commioma submucoso de 4 cm e outro subseroso de 3 cm em parede posterior. À histeroscopia diagnóstica, notouse um mioma submucoso pontuação 5 na classificação de Lasmar (grupo II). Qual a melhor conduta nesse caso? A) Seguimento clínico devido ao desejo de gestar nesse momento. B) Anticoncepcional oral combinado de média dosagem por 2 a 3 meses. C) Análogo do GnRH por 3 a 6 meses seguido de miomectomia histeroscópica. D) Miomectomia laparoscópica devido à impossibilidade de miomectomia histeroscópica. Tabela 11 Os miomas G0 podem ser ressecados pela histeroscopia cirúrgica, os miomas G1podem ser ressecados pela histeroscopia cirúrgica após o uso de análogos de GnRH, e os miomas G2 não são passíveis de ressecção através da histeroscopia cirúrgica. Estratégia MED 40 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque a paciente vem apresentando sangramento importante, evoluindo para anemia. Não podemos optar pela conduta expectante nesse caso. Incorreta a alternativa B, porque não podemos prescrever anticoncepcional para uma paciente que está desejando engravidar. Correta a alternativa C porque, de acordo com a classificação de Lasmar, para miomas submucosos escore 5, grupo II, está indicado o uso prévio de análogos do GnRH e posterior ressecção histeroscópica, por se tratar de miomectomia complexa. Incorreta a alternativa D, porque, pela classificação de Lasmar, está indicada a miomectomia histeroscópica. (UFS 2019) Paciente de 33 anos de idade, nulípara, com aumento progressivo de fluxo menstrual, portadora de mioma uterino de 2,5cm, com deformidade da cavidade endometrial, foi investigada por infertilidade, não sendo encontrada outra causa etiológica. A conduta proposta deve ser: A) Miomectomia laparoscópica. B) Tratamento com análogos do GnRH. C) Miomectomia histeroscópica. D) Expectante com seguimento semestral do mioma por ultrassonografia. COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque a miomectomia por via laparoscópica está indicada para as pacientes com miomas únicos, intramurais ou subserosos de, no máximo, 10 cm, ou até quatro a seis nódulos menores. Incorreta a alternativa B, porque o tratamento com análogos do GnRH é indicado para miomas de grande volume, com o objetivo de diminuir esses tumores e preparar a paciente para a miomectomia, porque os miomas tendem a crescer novamente após a suspensão dos análogos do GnRH.Correta a alternativa C a miomectomia histeroscópica é o tratamento indicado para essa paciente, por se tratar de mioma que deforma a cavidade endometrial. A via histeroscópica é indicada por ser o melhor acesso para a cavidade endometrial. Incorreta a alternativa D, porque se trata de paciente com aumento do fluxo menstrual, que deseja engravidar. A conduta expectante com seguimento semestral do mioma por ultrassonografia é indicada para as pacientes assintomáticas, sem desejo reprodutivo. Estratégia MED 41 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 (SES GO 2020) Leia o caso clínico a seguir. Mulher de 33 anos, nuligesta, apresenta sangramento uterino anormal caracterizado por aumento da quantidade e duração, associado a dismenorreia secundária. A ultrassonografia mostra mioma em parede lateral direita do 1/3 inferior do útero, com maior diâmetro de 2cm, com penetração de 20% no miométrio e base de 1/3 (Score=1, classificação STEP=w). Diante deste quadro, a opção terapêutica é: A) uso de anticoncepcionais orais. B) ressecção histeroscópica. C) análogo do GnRH com posterior ressecção histeroscópica. D) miomectomia tradicional. COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque se trata de paciente nuligesta que provavelmente deseja engravidar. Correta a alternativa B nesse caso, temos um mioma submucoso score I, em paciente nuligesta, estando indicada a ressecção histeroscópica. Incorreta a alternativa C, porque se trata de um mioma de pequenas dimensões e score I. Os análogos do GnRH estão indicados para casos de miomas de grande volume, com maior penetração no miométrio (score II), com o objetivo de reduzir o tamanho desses tumores, facilitando a cirurgia e diminuindo o sangramento operatório. Incorreta a alternativa D, porque a miomectomia tradicional está indicada para miomas score III, ou subserosos, ou intramurais. (UFES 2020) Diante de um diagnóstico de leiomioma submucoso, medindo 1,5 cm no seu maior diâmetro, em uma paciente nuligesta, a melhor conduta terapêutica para o caso é: A) Prescrição de análogo de gonadotrofinas. B) Miomectomia via laparotomia. C) Miomectomia via laparoscopia. D) Miomectomia via histeroscópica. COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque o análogo de gonadotrofinas está indicado para os casos de miomas volumosos, refratários aos outros tratamentos medicamentosos, em que se deseja uma redução tumoral para facilitar a cirurgia e diminuir o sangramento perioperatório. A redução dos miomas é temporária e os tumores costumam crescer novamente após a suspensão do análogo. Incorreta a alternativa B, porque a miomectomia por laparotomia é indicada para os casos de miomas muito grandes e múltiplos. Incorreta a alternativa C, porque a miomectomia por laparoscopia está indicada para os miomas com, no máximo, 7 a 10 cm, únicos ou até quatro a seis nódulos menores. Estratégia MED 42 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Correta a alternativa D a via histeroscópica é a principal via de acesso para tratamento dos miomas submucosos. 8.2.1.4 EMBOLIZAÇÃO DAS ARTÉRIAS UTERINAS A embolização das artérias uterinas é uma técnica endovascular radiointervencionista. Consiste em “entupir” a irrigação sanguínea do útero com micropartículas (microesferas, esponjas ou álcool polivinílico) para provocar a necrose e a redução dos miomas. É uma das opções para o tratamento conservador da leiomiomatose uterina. Figura 13: Embolização das artérias uterinas A embolização das artérias uterinas é uma opção terapêutica com bons resultados, apresentando melhora dos sintomas em até 90% dos casos. Por outro lado, observamos necessidade de novos procedimentos em até 10 anos em 25% dos casos. As indicações para embolização das artérias uterinas são: Estratégia MED 43 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Indicações para embolização das artérias uterinas Falha de tratamentos prévios Recorrências Paciente sem condições para tratamento cirúrgico Escolha da paciente Preservação do futuro reprodutivo (quando a miomectomia não é possível) Casos complexos, com anatomia comprometida e risco considerável na histerectomia A realização da embolização das artérias uterinas compromete o aporte sanguíneo para o útero e o endométrio e pode comprometer a vascularização dos ovários também. Por isso, existe um risco de as pacientes evoluírem com amenorreia e falência ovariana prematura (menopausa precoce). Existe também o risco de necrose isquêmica do útero e necessidade de histerectomia. Por tudo isso, a indicação de embolização é controversa para as pacientes sem prole constituída e o desejo de gravidez futura é uma contraindicação relativa para o procedimento. Observa-se aumento da taxa de aborto e do risco de endometrite. Contraindicações absolutas e relativas para a Embolização das Artérias Uterinas Absolutas Gravidez Infecção ativa em útero ou anexos Suspeita de câncer no trato genital feminino Relativas Razões Coagulopatia Complicações hemorrágicas Disfunção renal Efeitos renais do contraste Desejo de gravidez futura Complicações em gravidez futura Tamanho do útero > 20 a 24 semanas Dificuldade para embolizar Salpingectomia ou salpingooforectomia previa Anatomia arterial alterada Radioterapia pélvica prévia Anatomia arterial alterada Uso concomitante de agonista do GnRH Atrapalha a embolização Leiomioma submucoso ou subseroso pedunculado Necrose causa descolamento Hidrossalpinge volumosa Maior risco de infecção Alergia intensa ao contraste Risco de reação alérgica Tabela 13: (Fonte: Ginecologia de Williams, 2014). Tabela 12 Estratégia MED 44 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 CAI NA PROVA (UNIFESP 2020) Mulher, 40 anos de idade, casada, negra, nuligesta, com desejo reprodutivo, apresenta queixa de sangramento menstrual aumentado há 2 anos. Refere ciclos regulares, fluxo com duração de 10 dias com saída de coágulos, e dismenorreia. Sem comorbidades ou antecedentes cirúrgicos. Exame físico ginecológico: abdome e exame especular sem alterações, toque vaginal evidenciando útero móvel, de superfície bocelada, pouco aumentado de tamanho. Ultrassonografia endovaginal: útero anteversofletido de 120cc, com ecotextura miometrial heterogênea e zona juncional espessada, nódulo intramural de 3,0 cm, eco endometrial de 5,0 mm e anexos sem alterações. Qual é a conduta mais adequada? A) Miomectomia laparoscópica e liberar para engravidar após cirurgia. B) Embolização de artérias uterinas e liberar para engravidar após procedimento. C) Antiinflamatório não hormonal e liberar para engravidar. D) Miomectomia histeroscópica e fertilização in vitro após cirurgia. E) Análogo de GnRH, miomectomia laparoscópica e fertilização in vitro. COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque a miomectomia por laparoscopia está indicada para os miomas intramurais ou subserosos com, no máximo, 7 a 10 cm, únicos ou até quatro a seis nódulos menores. Incorreta a alternativa B, porque as indicações de embolização das artérias uterinas são: falha de tratamentos prévios, recidivas, pacientes sem condições para tratamentos cirúrgicos ou opção pelo procedimento como primeira escolha. Em pacientes com desejo reprodutivo, o procedimento deve ser evitado devido ao risco de comprometimento da vascularização dos ovários e do endométrio. Correta a alternativa C entre a terapêutica não hormonal, os anti-inflamatórios não hormonais (AINHs) diminuem em 30% o sangramento menstrual, inibindo a síntese de prostaciclinas. Estão indicados para esse caso, devido ao desejo de engravidar da paciente. Além do mioma intramural, essa paciente apresenta uma zona juncional espessada, que pode ser um sinal de adenomiose, por isso, o AINH também é uma das opções terapêuticas. Incorreta a alternativa D, porque a miomectomia histeroscópica é a principalvia de acesso para tratamento dos nódulos submucosos, não dos intramurais. Incorreta a alternativa E, porque essa paciente deseja engravidar. Os análogos agonistas do GnRH levam à redução dos esteroides sexuais circulantes, gerando um quadro de "menopausa medicamentosa". Podem causar amenorreia e reduzir temporariamente o volume dos miomas e do útero em até 50%. Entretanto, logo após sua suspensão, os miomas retornam aos padrões prévios. Está indicado para os casos refratários ao tratamento medicamentoso com anticoncepcionais e para os casos de miomas muito volumosos em que se deseja diminuir o sangramento intraoperatório e facilitar a técnica cirúrgica. Estratégia MED 45 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 (SES GO 2018) Mulher de 30 anos, nuligesta, com sangramento menstrual aumentado em relação à quantidade e duração, associado a dismenorreia secundária, apresenta, à ultrassonografia endovaginal, imagem de mioma submucoso com maior diâmetro de 2 cm. A terapêutica adequada é: A) anti-inflamatório não hormonal. B) anticoncepcional hormonal. C) embolização do mioma. D) ressecção histeroscópica. COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque se trata de paciente jovem, nuligesta, que provavelmente deseja engravidar. O mioma submucoso pode dificultar a gravidez. Está indicada a conduta cirúrgica curativa para esse caso. Incorreta a alternativa B, porque se trata de paciente jovem, nuligesta, que provavelmente deseja engravidar. Incorreta a alternativa C, porque se trata de um mioma submucoso de pequenas dimensões e o tratamento de escolha para esses casos é a miomectomia histeroscópica. Além disso, trata-se de uma paciente nuligesta, o que é uma contraindicação relativa para a realização de embolização. Correta a alternativa D trata-se de um mioma submucoso pequeno, com escore de Lasmar baixo, estando indicada a miomectomia histeroscópica com baixa complexidade. (SMS SP 2016) No tratamento dos miomas sintomáticos, devem ser considerados a idade da paciente, o desejo de gestação, os sintomas provocados, o tamanho e a localização dos miomas. Em relação ao tratamento dos miomas sintomáticos, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas. ( ) Os progestágenos são utilizados para diminuir o volume dos miomas. ( ) A histeroscopia é, atualmente, a melhor forma de abordagem dos miomas submucosos. ( ) A laparotomia é indicada para a maioria dos miomas intramurais, geralmente com incisões verticais no útero para evitar secção da vascularização principal. A sequência está correta em: A) V, V, V. B) V, F, F. C) V, F, V. D) F, V, V. COMENTÁRIO Os progestágenos são utilizados para diminuir o volume dos miomas. (Falsa) Justificativa: Os progestágenos são indicados para impedir o crescimento dos miomas e amenizar o sintoma de dor pélvica. A histeroscopia é, atualmente, a melhor forma de abordagem diagnóstica e terapêutica dos miomas submucosos. (Verdadeira) Justificativa: A histeroscopia é o exame padrão-ouro para avaliação da cavidade endometrial e abordagem de lesões intrauterinas, sendo Estratégia MED 46 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 a primeira escolha para a exérese dos miomas submucosos. A laparotomia é indicada para a maioria dos miomas intramurais, geralmente com incisões verticais no útero para evitar secção da vascularização principal. (Verdadeira) Justificativa: A melhor técnica cirúrgica para a realização de miomectomia dos miomas intramurais é por meio de incisões verticais no útero. Dessa maneira, ocorre menos sangramento, porque o útero é vascularizado no sentido horizontal, principalmente por meio das artérias uterinas. 8.2.1.5 LIGADURA DAS ARTÉRIAS UTERINAS A ligadura das artérias uterinas ainda não possui indicações bem estabelecidas para o tratamento da miomatose uterina e deve ser realizada em casos selecionados. Seus resultados são controversos. Pode ser realizada antes de miomectomias, para reduzir o sangramento, ou pode ser realizada como tratamento único. Pode ser feita por via vaginal, laparotômica ou laparoscópica. Figura 14: Ligadura das artérias uterinas 8.2.1.6 ABLAÇÃO ENDOMETRIAL A ablação endometrial é a destruição do endométrio através do calor ou do frio. Essa “cauterização” do endométrio pode ser realizada através de corrente elétrica monopolar ou bipolar, balão térmico, crioterapia, laser, micro-ondas e até mesmo soluções aquecidas. Não se pode realizar a ablação endometrial em úteros muito grandes, com a cavidade uterina maior que 12 cm. Estratégia MED 47 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Figura 15: Ablação endometrial com balão térmico Está indicada para pacientes com prole constituída, nos casos de mioma submucosos, como uma alternativa terapêutica para o sangramento uterino anormal. Não é indicada para o tratamento de miomas intramurais ou subserosos. 8.2.1.7 MIÓLISE POR ULTRASSOM FOCALIZADO DE ALTA INTENSIDADE (HIFU) GUIADO POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA O ultrassom focalizado de alta intensidade guiado pela ressonância magnética é uma outra opção de tratamento conservador da miomatose uterina. É uma opção terapêutica nova, ainda pouco utilizada devido a baixa disponibilidade. O ultrassom de alta intensidade é aplicado nos miomas, aquecendo-os até uma temperatura de 90º C, “cauterizando” o tumor. Figura 16: Miólise por ultrassom guiada por RNM Apresenta 50% de melhora dos sintomas até um ano após a realização do procedimento. A miólise por ultrassom ainda não tem indicações bem definidas e deve ser indicada em casos selecionados. Não está indicada para pacientes sem prole constituída, por não se saber os efeitos sobre o miométrio. Não está indicada para múltiplos nódulos (> 4 nódulos) ou nódulos muito grandes (> 10 cm), devido ao tempo necessário para a realização do procedimento. Os efeitos colaterais em geral são leves. São possíveis efeitos colaterais: febre, náusea, queimaduras na pele e dor abdominal. Estratégia MED 48 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 8.2.2 TRATAMENTO CIRÚRGICO DEFINITIVO O tratamento definitivo para a leiomiomatose uterina é a histerectomia. Indicações para o tratamento cirúrgico definitivo Pacientes com prole constituída Falha do tratamento clínico Escolha da paciente Suspeita de Malignidade (Sarcoma) Sempre deve ser realizada a salpingectomia concomitantemente. A salpingectomia reduz o risco de câncer dos ovários e elimina o risco de uma hidrossalpinge (tuba dilatada e edemaciada, que se confunde com um tumor anexial). A ooforectomia deve ser realizada nas pacientes com risco elevado para o desenvolvimento do câncer de ovário (história familiar ou mutação do BRCA 1 ou 2). Alguns serviços preconizam a ooforectomia em pacientes com mais de 50 anos de idade. Um outro aspecto a ser considerado da histerectomia é a decisão quanto à realização de histerectomia total ou subtotal. A princípio sempre deve ser considerada a histerectomia total, que praticamente elimina os riscos de um câncer de colo no futuro. A histerectomia subtotal deve ser considerada para os casos mais difíceis, com sangramento intraoperatório excessivo ou dificuldade técnica devido a aderências ou características anatômicas da paciente. São possíveis complicações da histerectomia: a formação de hematomas, a deiscência da ferida operatória, a ligadura acidental dos ureteres e as fístulas genitourinárias (vesicovaginais ou ureterovaginais). Existem algumas “lendas” de que a histerectomia prejudica a vida sexual da paciente, mas a histerectomia, tanto total como subtotal, não afeta a vida sexual da paciente, sendo que algumas referem até mesmo uma melhora nesse aspecto, tendo em vista a melhora da dor pélvica e do sangramento vaginal. A histerectomia pode ser realizada pela via abdominal ouvaginal. A via abdominal pode ser realizada pela técnica laparotômica (“a céu aberto”), laparoscópica ou até mesmo robótica. Existe também a opção de associar as técnicas. A indicação da via e da técnica dependerá do tamanho do útero e da história da paciente. Pacientes com história de infecções, endometriose e cirurgias prévias podem ter aderências, portanto está indicado para esses casos a via abdominal. Úteros muito grandes podem ser difíceis de serem retirados pela laparoscopia, pela necessidade de morcelamento. Nesses casos está indicada a via laparotômica. A cirurgia laparoscópica apresenta as vantagens de recuperação pós-operatória mais rápida, com menor tempo de internação. A histerectomia vaginal está indicada para as pacientes com úteros que não são muito grandes (< 300 cm3), sem história de infecções, endometriose e cirurgias pélvicas prévias. As pacientes submetidas à histerectomia vaginal recuperam-se melhor e mais rapidamente que as submetidas à cirurgia abdominal. Ou seja, sempre que possível, devemos optar pela histerectomia vaginal, devido às vantagens em relação a histerectomia abdominal. Não devemos realizar a histerectomia vaginal nas seguintes situações: Tabela 14 Estratégia MED 49 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Contraindicações para a histerectomia vaginal Suspeita de câncer de colo ou endométrio Presença de lesões anexiais Endometriose pélvica ou história de doença inflamatória pélvica (risco de aderências) Útero maior que 300 cm3 A mensagem final é que: sempre devemos pensar na via menos invasiva, mas, em alguns casos, a laparotomia é obrigatória. Figura 17: corpo uterino proveniente de histerectomia subtotal CAI NA PROVA (USP RP 2018) Paciente com 42 anos, G3P3A0 (3PN), submetida à laqueadura tubária há 5 anos, apresenta aumento do fluxo e da duração da menstruação há 6 meses. Refere fraqueza e mal-estar geral durante o sangramento. Ao exame clínico, apresenta útero aumentado de tamanho. US-TV: útero AVF, centrado e com vol: 425 cm³, apresenta nódulo único, intramural, fúndico de 8 cm no maior diâmetro, HB: 9,8 Ht: 27%. Refere que há 10 meses vem tentando controlar o sangramento com medicações hormonais (desogestrel via oral e medroxiprogesterona injetável) sem sucesso. Qual a melhor conduta para esta paciente? A) Histerectomia total vaginal. B) Miomectomia laparoscópica. C) Histerectomia total abdominal. D) Miomectomia histeroscópica. Tabela 15 Estratégia MED 50 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque essa paciente tem indicação de tratamento cirúrgico definitivo, mas apresenta um útero muito grande (> 300 cm3), que é uma contraindicação à histerectomia vaginal. Incorreta a alternativa B, porque a paciente já possui prole constituída, não havendo necessidade de preservar o futuro reprodutivo Correta a alternativa C porque essa paciente já possui prole constituída e foi refratária ao tratamento clínico. Sendo assim, está indicado o tratamento cirúrgico definitivo por meio da histerectomia total abdominal. Incorreta a alternativa D, porque se trata de mioma intramural. A via histeroscópica está reservada para os casos de leiomiomas submucosos. (USP RP 2010) Paciente, 50 anos de idade, nuligesta, queixa de hiperpolimenorreia há 1 ano. Ao exame físico, presença de massa endurecida palpável até o nível da cicatriz umbilical. A ecografia pélvica evidenciou útero de superfície irregular, com múltiplas nodulações miometriais e volume de 976 cm³, endométrio irregular com 5 mm de espessura e ovários normais. O tratamento indicado para essa paciente é: A) histerectomia subtotal abdominal. B) histerectomia total abdominal. C) análogo de GnRH e miomectomia. D) embolização de artérias uterinas. COMENTÁRIO Incorreta a alternativa A, porque a histerectomia subtotal abdominal fica reservada somente para casos em que existe grande dificuldade técnica operatória, como presença de aderências, pacientes obesas ou sangramento importante durante o procedimento cirúrgico. Correta a alternativa B trata-se de caso de miomatose uterina com útero bastante aumentado (976 cm3), hiperpolimenorreica. Nesses casos, a terapêutica medicamentosa costuma ser ineficaz, estando indicado o tratamento cirúrgico. Por se tratar de paciente de 50 anos e com útero muito aumentado, com miomas subserosos, intramurais e submucosos (que abaulam a cavidade endometrial), está indicada a histerectomia total abdominal, que é o tratamento definitivo da miomatose uterina. Incorreta a alternativa C, porque se trata de caso em que o útero está acometido por miomas subserosos (tornando sua superfície irregular), intramurais e submucosos (abaulando a cavidade endometrial). Nesses casos, devido ao grande número e volume de miomas, bem como à sua localização, fica impraticável a execução de miomectomia. Além de tudo isso, trata-se de uma paciente de 50 anos, próxima da menopausa. Incorreta a alternativa D, porque se trata-se de um útero de volume muito grande e a embolização costuma ser realizada para diminuir o tamanho do útero e depois realizar a histerectomia nesses casos. Estratégia MED 51 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 CAPÍTULO 9.0 RESUMO O leiomioma uterino é um tumor benigno, formado por fibras musculares lisas. Em dois terços dos casos, os tumores são múltiplos. Os miomas podem ser subdivididos em subserosos, intramurais e submucosos. Cerca de metade das pacientes com mioma são assintomáticas. Quando sintomáticos, os miomas podem manifestar-se com sangramento uterino anormal, dismenorreia secundária, sintomas compressivos gerados pelo aumento do útero, dor pélvica acíclica, dispareunia, sintomas urinários, sintomas gastrointestinais, infertilidade e abortamento. Os miomas submucosos são, em sua maioria, responsáveis por quadros de sangramento uterino irregular (metrorragia). Já, os subserosos, em sua maioria são assintomáticos. Quando volumosos, podem causar dor pélvica e sintomas de compressão, como lombossacralgia, aumento da frequência urinária, noctúria, retenção ou incontinência urinária e até compressão ureteral, com comprometimento da função renal. Os miomas intramurais podem cursar com aumento da intensidade ou duração do fluxo menstrual. Os miomas uterinos são sensíveis ao estrogênio e à progesterona. Por isso, eles desenvolvem-se durante o menacme e regridem após a menopausa. Os miomas podem causar infertilidade, principalmente os submucosos, devido à distorção da cavidade uterina. Também podem estar relacionados a intercorrências obstétricas, com aumento da incidência de abortamento e trabalho de parto prematuro. O tratamento dos miomas depende da sua sintomatologia e da idade da paciente. Nas pacientes assintomáticas, a conduta é expectante. Para as pacientes sintomáticas, a conduta depende da localização do mioma e do seu futuro reprodutivo. Em geral, a primeira opção é o tratamento clínico, com anti- inflamatórios, antifibrinolíticos (ácido tranexâmico), progesterona, pílulas anticoncepcionais ou análogos do GnRH. Lembre-se de que os miomas regridem após a menopausa, portanto a estratégia é “levar” a paciente até lá, quando a paciente será “curada”. O tratamento cirúrgico geralmente é indicado quando a paciente não responde ao tratamento clínico ou quando a paciente deseja engravidar. O tratamento cirúrgico pode ser conservador (miomectomia), indicado para pacientes sem prole constituída, ou definitivo (histerectomia parcial ou total). O mioma submucoso é o mioma mais frequentemente associado à infertilidade e ao aborto recorrente. A grande maioria dos miomas submucosos é passível de ressecção por meio da histeroscopia cirúrgica. Para os casos de miomas intramurais e subserosos, deve-se analisar otamanho e o número de tumores. Em regras gerais, tumores pequenos em número e tamanho podem ser submetidos a exérese por videolaparoscopia. Caso contrário, está indicada a via laparotômica. A histerectomia deve preferencialmente ser realizada por via vaginal, apresentando menor morbidade e recuperação mais rápida. Está contraindicada em úteros grandes e nos casos com possibilidade de aderências pélvicas (infecções prévias ou endometriose). Estratégia MED 52 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 9.1 FLUXOGRAMA Fluxograma: Conduta na miomatose uterina Estratégia MED 53 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 Baixe na Google Play Baixe na App Store Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ou busque na sua loja de apps. Baixe o app Estratégia MED Preparei uma lista exclusiva de questões com os temas dessa aula! Acesse nosso banco de questões e resolva uma lista elaborada por mim, pensada para a sua aprovação. Lembrando que você pode estudar online ou imprimir as listas sempre que quiser. Resolva questões pelo computador Copie o link abaixo e cole no seu navegador para acessar o site Resolva questões pelo app Aponte a câmera do seu celular para o QR Code abaixo e acesse o app https://bit.ly/2Np7Wx0 https://bit.ly/2Np7Wx0 Estratégia MED 54 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 CAPÍTULO 11.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Tratado de Ginecologia FEBRASGO, 2019. 2. Ginecologia de Williams, 2014. 3. Berek & Novak’s Gynecology, 16th Edition, 2020. Estratégia MED 55 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 CAPÍTULO 12.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro colega, aqui termina nossa aula! Abordamos um dos temas mais importantes da Ginecologia e tenho certeza de que você encontrará muitas questões sobre este assunto nas provas. Apesar de ser uma aula extensa, trata-se de uma pequena parte do conteúdo que abordaremos durante nosso curso. Estou à disposição para ajudá-lo e para responder qualquer questão no Fórum de Dúvidas. Sugestões, críticas e comentários são bem-vindos, o objetivo é melhorarmos sempre! Estratégia MED 56 GINECOLOGIA Miomatose Uterina Prof. Alexandre Melitto | Curso Extensivo | Março 2021 https://med.estrategiaeducacional.com.br/ INTRODUÇÃO Metodologia do Curso 1.0 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 2.0 DEFINIÇÃO 2.1Epidemiologia 2.2 Classificação 3.0 FISIOPATOLOGIA 3.1 Histologia 3.2 Influência Hormonal 3.3 Degenerações 4.0 FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO 5.0 QUADRO CLÍNICO 5.1 Sintomas 5.2 Exame Físico 6.0 DIAGNÓSTICO 6.1 Ultrassonografia 6.2 Histerossonografia 6.3 Ressonância Magnética 6.4 Histeroscopia 7.0 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL 8.0 TRATAMENTO 8.1 Tratamento Clínico 8.2 Tratamento Cirúrgico 8.2.1 Tratamento Cirúrgico Conservador 8.2.1.1 Miomectomia Laparoscópica 8.2.1.2 Miomectomia Laparotômica 8.2.1.3 Miomectomia Histeroscópica 8.2.1.4 Embolização das Artérias Uterinas 8.2.1.5 Ligadura das artérias uterinas 8.2.1.6 Ablação endometrial 8.2.1.7 Miólise por ultrassom focalizado de alta intensidade (HIFU) guiado por ressonância magnética 8.2.2 Tratamento Cirúrgico Definitivo 9.0 RESUMO 9.1 Fluxograma 10.0 LISTA DE QUESTÕES 11.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 12.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS