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6 9CAPÍTULO 2 3 Nas pinturas de gênero, a figura humana é mostrada em contextos domésticos e cotidianos. Converse com os colegas e o professor: Que práticas corporais estão relacionadas a esses contextos? 4 A figura humana não aparece apenas na pintura de gênero. Pelo contrário, esse é um motivo recorrente nas artes visuais, retomado em obras dos mais variados períodos e estilos, independentemente de gêneros e categorizações. Observe a pintura de Anita Malfatti a seguir. Observe o espaço, a decoração, os instrumentos musicais, as vestimentas e os movimentos corporais das personagens retratadas. a) Qual é a situação retratada na obra? Descreva destacando todos os elementos que você conhece e percebe. b) A obra mostra corpos em movimento, dançando. Qual é o estilo de dança que aparece na obra? c) O que você conhece sobre essa manifestação? d) Você já participou desse tipo de manifestação? Compartilhe com os colegas. e) Há, na pintura, dois casais que dançam em posição central. Que elementos da obra permitem identificar essa interação? f) Observe a expressão corporal das personagens. Que movimentos estão sendo executados? g) Que tal reproduzir a ação das personagens da pintura com o próprio corpo? Com os colegas, procure reproduzir os movimentos observados na pintura. Festa junina, de Anita Malfatti, c. 1940 (óleo sobre tela, 47 cm × 33,5 cm – Coleção particular). Autoria desconhec id a/ Ac er vo d a ar tis ta ANITA CATARINA MALFATTI (1889-1964) nasceu na cidade de São Paulo. Começou a pintar em 1909 e realizou vários estudos na Europa e nos Estados Unidos. Em 1917, tornou-se conhecida por causa da polêmica em torno da exposição que foi alvo de críticas de Monteiro Lobato. Expôs na Semana de 1922, mas não aderiu totalmente aos ideais modernistas. Entre algumas de suas principais obras, destacam-se O homem amarelo (1917), A boba (1915- 1916), O homem de sete cores (1915-1916), A estudante russa (1915), O japonês (1915), O farol de Monhegan (1915) e Retrato de Fernanda de Castro (1922). NÃO ESCREVA NESTE LIVRO. BAGAGEM As obras A arte da pintura, de Johannes Vermeer, e O importuno, de Almeida Júnior, podem ser classificadas como exemplos de pintura de gênero. Esse gênero pictórico ganhou força na pintura holandesa, no século XVII, e foi explorado por alguns pintores acadêmicos brasileiros principalmente nos séculos XIX e XX. Caracteriza-se principalmente pelos temas das pinturas, que mostram pessoas em cenas domésticas e cotidianas, realizando ações relacionadas ao trabalho ou à vida íntima. Figurativas, as obras perseguem o ideal da imitação, procurando fazer um registro fiel do que o olho humano é capaz de captar. R ep ro du çã o/ C ol eç ão p ar tic ul ar Resposta pessoal. Incentive os estudantes a citar práticas cor- porais de caráter instrumental, relacionadas às obrigações labo- rais, domésticas e higiênicas, por exemplo. Mais à frente, essas práticas serão comparadas às práticas corporais próprias da Educação Física, vinculadas ao lazer e ao entretenimento, ao cuidado com o corpo e à saúde. 4. f) A expressão corporal dos per- sonagens evidencia a execução de dança (o mover dos pés, das mãos, a movimentação dos casais e o ba- lançar dos vestidos); o manuseio de instrumentos musicais (a postu- ra e o movimento dos braços dos sanfoneiros, além da posição do tocador da viola – sentado, com o instrumento apoiado sobre pernas e os braços em posição de quem executa os acordes). 4. e) É comum, nas festas juninas, a dança ser conduzida por casais. Na pintura, notamos isso por meio da proximidade corporal, da inclinação dos corpos, da maneira como são retratados os pés e as mãos (um pé mais no alto que ou- tro, a posição deles; as mãos para trás como ocorre nas quadrilhas) e dos olhares trocados. 4. a) Os estudantes deverão perceber que a temática da obra é uma festa junina, como revela o título. As bandeirolas, o balão, as roupas características, a maquiagem das personagens, os adereços no cabelo de uma das moças, os instrumentos musicais, os toca- dores, a dança em pares e ainda a posição das personagens que sinaliza uma roda de dança são alguns dos elementos que podem ser apontados. Provavelmente, uma dança realizada em duplas, podendo variar de cordo com a região do país: quadrilha, xote, forró, xaxado, rastapé, baião, entre outros. 4. c) Resposta pessoal. Estimule a dis- cussão entre os estudantes e que compartilhem o que sabem sobre as danças típicas de festa junina. Depois que os estudantes trocarem ideias, você pode contribuir, mencionan- do se tratar de uma manifestação cultural, de um festejo no qual a dança é uma das formas de expressão, ao lado de outras como a música e a culinária. 1. d) 4. g) Use a pintura como ponto de partida, mas se baseie no levantamento realizado com os estudantes para avaliar a prática que os deixa mais confortáveis. O objetivo é que eles possam apreciar e fruir em uma prática que já dominam. Resposta pessoal. Estimule a discussão entre a turma. V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 69V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 69 9/26/20 10:02 AM9/26/20 10:02 AM 7 0 CAPÍTULO 2 5 Agora, observe uma pintura de Vicente do Rego Monteiro (1899-1970). T•nis, Vicente do Rego Monteiro, 1928 (óleo sobre tela, 99 cm × 78,5 cm – Coleção particular). a) Que elementos da obra permitem identificar o esporte que dá título a ela? b) Qual é o tipo de partida mostrada na pintura? Explique. c) Que jogada a personagem feminina está fazendo? 6 Qual é a diferença entre as práticas corporais mos- tradas nas pinturas de Almeida Júnior e Vermeer e as que aparecem nas pinturas de Anita Malfatti e de Vicente do Rego Monteiro? Converse com os cole- gas e o professor. VICENTE DO REGO MONTEIRO (1899-1970) nasceu em Recife (PE). Além de pintor, foi poeta e professor. Iniciou sua formação artística em 1908 e, em 1911, viajou a Paris, onde frequentou academias de arte e participou de exposições. Quando ainda morava na França, teve obras exibidas na Semana de Arte de 1922. Na década de 1940, voltou definitivamente ao Brasil. Reproduçã o/ A ce rv o d o a rt is ta R e p ro d u ç ã o /C o le ç ã o p a rt ic u la r 7 Junte-se a mais dois colegas para procurar outros exemplos de pinturas que tema- tizem a figura humana em práticas corporais esportivas e de dança. Compartilhem com a turma as obras que consideram mais interessantes e comentem quais des- sas práticas vocês costumam realizar ou gostariam de experimentar. 8 Para finalizar, em duplas, vamos pintar corpos em movimento? Siga as orientações. COMO FAZER Material Folhas de papel-cartão ou outro tipo de suporte em que seja possível usar tinta Lápis preto Tinta guache ou aquarela de várias cores Potes para água Pincéis Avental Folhas de jornal Panos para limpeza Pintando os movimentos Conversem sobre os movimentos que vocês querem pintar. Serão movimentos cotidia- nos ou em práticas corporais de esporte ou dança? Cada integrante escolhe o movimento que vai executar e servir de modelo para o co- lega. Usem fotos ou vídeos para registrar a execução do movimento ou repeti-lo várias vezes, caso a pintura seja de observação. O outro integrante da dupla deve decidir a melhor forma de mostrar o movimento realizado pelo colega em uma pintura. Faça alguns esboços. Quando estiver satisfeito com o esboço, faça o movimento escolhido por você para que o colega possa registrar. Passem o esboço para o suporte escolhido e concluam a pintura, inserindo os detalhes que considerarem necessários, como contornos, sombras e volumes. 6. Enquanto nas pinturas de Almeida Júnior e Vermeer as práticas corporais são instrumentais e estão ligadas a obrigações laborais (em ambos os casos, o ofício do pintor), nas de Anita Malfatti e Vicente do Rego temos práticascorporais relacionadas à dança e ao esporte, em contextos de lazer e saúde. 7. Resposta pessoal. Auxilie os es- tudantes na seleção de fontes con- fiáveis para a pesquisa. No caso de pesquisa em meio digital, é neces- sário que eles usem palavras-cha- ve adequadas para chegar a bons resultados. Uma possibilidade é definir algumas práticas que inte- ressam ao grupo e pesquisar obras relacionadas a elas. 8. Além de ser um momento para os estudantes se conhecerem, se apreciarem, reconhecendo suas potencialidades e percepções, esta ativi- dade pode ser um momento de ludicidade, favo- recendo o exercício da empatia, do respeito, da valorização do outro. 5. a) Além do título da obra, é possível dizer que é uma partida de tênis pois a imagem mostra duas pessoas voltadas para a mesma direção com raquetes nas mãos, cujas dimensões se assemelham às raquetes de tênis. Há uma bolinha no chão, cujas dimensões também se assemelham a uma bola de tênis. 5. b) Como há uma mulher e um homem na pintura, presume-se ser uma partida de dupla mista. A cena mostra a jogadora descalça com a ponta dos pés ao chão, enquanto o homem utiliza calçado. Essa dis- crepância dos uniformes nos leva a presumir ser uma cena cotidiana, distante das referências de grandes competições com público e outros elementos. 5. c) A jogada parece ser o forehand, pois a jogadora segura a raquete com a mão direita e está com a perna es- querda à frente do corpo. Nesse tipo de jogada, no caso de um jogador destro como a personagem da pintura, o movimento se inicia no lado direito do corpo. O golpe na bola é executado movimentando a raquete com a palma da mão virada para a frente. O movimento continua à medida que ocorre o contato com a bola, terminando no lado esquerdo do corpo. V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 70V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 70 9/26/20 10:02 AM9/26/20 10:02 AM 7 1CAPÍTULO 2 4ª PARADA NATUREZA-MORTA? IDENTIDADE VIVA! De que forma um artista pode expressar sua cultura e suas raízes em uma obra? É possível fazer isso em gêneros pictóricos tradicionais? Nesta parada, você vai refletir sobre isso ao conhecer obras de natureza-morta de duas importantes artistas brasileiras e experimentar se expressar em uma pintura desse tipo. 1 Observe as obras a seguir. NA BNCC Competências gerais: 1, 3, 4, 8, 9, 10 Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 6 Habilidades de Linguagens: EM13LGG101, EM13LGG102, EM13LGG103, EM13LGG104, EM13LGG201, EM13LGG202, EM13LGG203, EM13LGG204, EM13LGG301, EM13LGG302, EM13LGG303, EM13LGG601, EM13LGG602, EM13LGG603, EM13LGG604 Habilidades de Língua Portuguesa: Todos os campos de atuação social: EM13LP01, EM13LP02, EM13LP03 Campo da vida pessoal: EM13LP20 As margaridas de Mário de Andrade, de Tarsila do Amaral, 1922 (óleo sobre tela, 100 cm × 96 cm – Coleção particular). Natureza-morta, de Djanira da Motta e Silva, 1942 (óleo sobre tela, 53 cm × 65 cm – Coleção particular). a) Que pensamentos, sentimentos e sensações essas obras despertam em você? Comente com os colegas. b) Você gostou mais de alguma obra? Por quê? c) Por que essas obras se enquadram no gênero pictórico natureza-morta? Justifique citando elementos presen- tes em cada uma delas. d) Quais são as principais semelhanças e diferenças entre as obras? 2 Leia os trechos a seguir, que falam um pouco sobre a vida e a obra das duas artistas. O primeiro trecho, sobre Djanira da Motta e Silva (1914-1979), faz parte da divulgação de uma exposição dedicada à artista promovida pelo Museu de Arte de São Paulo (Masp), em 2019. O segundo, sobre Tarsila do Amaral (1886-1973), foi retirado da biografia disponí- vel no site oficial da artista. Após a leitura, responda às questões no caderno. Esta é a primeira grande exposição monográfica dedicada à obra de Djanira da Motta e Silva (Avaré, São Paulo, 1914 - Rio de Janeiro, 1979) desde seu falecimento há quarenta anos. Autodidata e de origem trabalhadora, a artista surgiu no cenário da arte brasileira nos anos 1940. Embora tenha trilhado sólida carreira em vida, nas últimas décadas Djanira foi colocada de lado nas narrativas oficiais da história da arte brasileira. [...] R e p ro d u ç ã o /C o le ç ã o p a rt ic u la r F o to : P e d ro O s w a ld o C ru z/ C o le ç ã o p a rt ic u la r NÃO ESCREVA NESTE LIVRO. Consulte respostas esperadas e mais informações para o trabalho com as atividades desta parada nas Orientações especí�cas deste Manual. Contribua para que os estudantes percebam esses elementos, estimulando a percepção e o pensamento crítico. Para enriquecer a fruição, comente com os estudantes que Tarsila estava pintando em seu ateliê com a amiga, também artista plástica Anita Malfatti, quando começaram a chegar dúzias de margaridas oferecidas pelo amigo e escritor Mário de Andrade. As duas pintoras fizeram obras com versões diferentes da cena do ateliê enfeitado com as flores. 1. c) Porque aparecem elementos tais como flores, objetos como cadeiras, relógio, roupas penduradas, tapetes, frutas, utensílios de cozinha e porcelanas em um cenário cotidiano, um ambiente doméstico. Se necessário, retome a discussão sobre as características do gênero natureza-morta feita na seção Embarque. As duas obras usam cores vibrantes e contrastantes, na composição vemos ambientes internos, que remetem à casualidade do dia a dia: em Tarsila, o ambiente parece ser um ateliê, pois é possível identificar um quadro na parede e uma paleta de tintas; em Djanira, o cenário parece ser o cômodo de uma casa. Em ambas, ele- mentos da natureza são destaque no primeiro plano: em Tarsila, temos flores, em Djanira, frutas. A tela de Tarsila remete a um tipo de registro mais acadêmico. Na obra de Djanira, o estilo é mais solto e livre de academicismos. Resposta pessoal. Resposta pessoal. V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 71V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 71 9/26/20 10:02 AM9/26/20 10:02 AM 7 2 CAPÍTULO 2 O título Djanira: a memória de seu povo – emprestado de uma reportagem dos anos 1970 de Mary Ventura – refere-se à trajetória da artista, à sua história de vida e suas muitas viagens pelo Brasil, bem como sua pintura profundamente engajada com a realidade à sua volta. No caso de Djanira, falar em memória remete ao extraordinário imaginário que a artista criou com base na vida cotidiana, nas paisagens e na cultura popular brasileira, em torno de assuntos frequen- temente marginalizados pelas elites. [...] A obra de Djanira foi por vezes rotulada pela crítica como arte primitiva ou ingênua, classificações que hoje são enten- didas como preconceituosas e perversas, pois refletem uma perspectiva elitista e eurocêntrica segundo a qual todos os trabalhos que não seguem os estilos e gostos eruditos tidos como “oficiais” eram considerados menores – primitivos, ingênuos, naïfs. [...] RJEILLE, Isabella; MOURA, Rodrigo. Djanira: A memória de seu povo. Masp. São Paulo: Masp, 2019. Disponível em: https://masp.org.br/exposicoes/djanira-a-memoria-de-seu-povo. Acesso em: 14 ago. 2020. Tarsila do Amaral nasceu em 1º de setembro de 1886, no Município de Capivari, interior do Estado de São Paulo. Filha do fazendeiro José Estanislau do Amaral e de Lydia Dias de Aguiar do Amaral, passou a infância nas fazendas de seu pai. Estudou em São Paulo, no Colégio Sion e depois em Barcelona, na Espanha, onde fez seu primeiro quadro, Sagrado Coração de Jesus, em 1904. Quando voltou, casou-se com André Teixeira Pinto, com quem teve a única filha, Dulce. Separaram-se alguns anos depois e então iniciou seus estudos em arte. Começou com escultura, com Zadig, passando a ter aulas de desenho e pintura no ateliê de Pedro Alexandrino em 1918, onde conheceu a pintora Anita Malfatti. Em 1920, foi estudar em Paris, na Académie Julien e com Émile Renard. Ficou lá até junho de 1922 e soube da Semana de Arte Moderna(que aconteceu em fevereiro de 1922) através das cartas da amiga Anita Malfatti. Quando voltou ao Brasil, Anita a introduziu no grupo modernista e Tarsila começou a namorar o escritor Oswald de Andrade. Formaram o grupo dos cinco: Tarsila, Anita, Oswald, e os escritores Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Agitaram culturalmente São Paulo com reuniões, festas, conferências. Tarsila disse que entrou em contato com a arte moderna em São Paulo, pois antes ela só havia feito estudos acadêmicos. [...] Tarsila disse que foi em Minas que ela viu as cores que gostava desde sua infância, mas que seus mestres diziam que eram caipiras e ela não devia usar em seus quadros. ‘Encontrei em Minas as cores que adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Mas depois vin- guei-me da opressão, passando-as para as minhas telas: o azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante, …’ E essas cores tornaram-se uma das marcas da sua obra, assim como a temática brasileira, com as paisagens rurais e urbanas do nosso país, além da nossa fauna, flora, folclore e do nosso povo. Ela dizia que queria ser a pintora do Brasil. Biografia – Tarsila do Amaral. Disponível em: http://tarsiladoamaral.com.br/biografia/. Acesso em: 14 ago. 2020. a) O que há de comum e de diferente na trajetória das duas pintoras? b) Os dois trechos mencionam características semelhantes na produção de Djanira e de Tarsila, principalmente em relação aos temas. Identifique essas características e comente essa semelhança. c) Os dois trechos também falam de preconceitos sofridos pelas duas artistas. Ainda que de naturezas diferen- tes, eles se relacionam a um mesmo aspecto da produção de ambas. Comente com os colegas e o professor. 3 Tarsila do Amaral e Djanira da Motta e Silva são importantes representantes do Modernismo no Brasil. Enquanto Tar- sila fez parte da chamada primeira geração modernista, Djanira é identificada como integrante da segunda geração. a) O que você sabe a respeito do Modernismo no Brasil? Converse com os colegas e o professor, considerando seus conhecimentos prévios. b) O Modernismo brasileiro tem seu marco principal na chamada Semana de Arte Moderna, realizada nos dias 15, 17 e 19 de fevereiro de 1922, em São Paulo. Um dos acontecimentos anteriores que impulsionou sua realiza- ção foi uma exposição de Anita Malfatti, em 1917. Após uma temporada de estudos nos Estados Unidos, Anita foi incentivada por amigos a expor suas obras, que não obedeciam aos preceitos acadêmicos dominantes até então. Os trabalhos foram duramente atacados por Monteiro Lobato (1882-1948), que era um importante crítico de arte na época. Leia o trecho a seguir, que comenta os desdobramentos do episódio. O texto sobre a exposição realizada em 2019 no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaurbriand (MASP) foi elaborado por Isabella Rjeille, curadora-assistente, e Rodrigo Moura, curador-adjunto de arte brasileira. viagens pelo Brasil” e a des- creve como “profundamente engajada com a realidade à sua volta”. O trecho sobre Tarsila destaca a temática brasileira em sua obra e cita que ela dizia querer ser “a pintora do Brasil”. 2. b) A produção das duas artistas dialoga principalmente pelo interesse nas paisagens e na cultura brasileiras. O trecho sobre Djanira menciona suas “muitas 2. a) São parecidas pelo fato de terem crescido no campo e quanto ao trabalho que desenvolveram mais tarde: a pintura. A origem social e a formação artística as diferencia: Djanira foi autodidata e de origem trabalhadora, enquanto Tarsila veio de uma família abastada e teve formação acadêmica. 2. c) A predileção por temas nacionais e considerados “populares” motivou preconceitos em relação às duas artistas. No caso de Djanira, à sua obra de forma geral, considerada “primitiva” ou “ingênua” por muitos críticos. No caso de Tarsila, às suas escolhas artísticas, uma vez que seus professores recriminavam o uso das cores consideradas “caipiras”. Resposta pessoal. Incentive os estudantes a se expressarem livremente, compartilhando seus co- nhecimentos prévios uns com os outros. É possível que eles já tenham ouvido falar do Modernismo ou da Semana de Arte de 1922 durante sua trajetória escolar ou em outros contextos. 3. b) Auxilie os estudantes a estabelecerem relações entre os episódios. O Modernismo no Brasil foi fortemente influenciado pelas vanguardas euro- peias e pelo rompimento com o figurativismo e com o academicismo predominante até então. A partir daí, os artistas puderam passar a se expressar de forma muito mais livre e os estilos individuais foram ganhando espaço sobre regras e códigos que dominavam a produção e a apreciação da arte. V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 72V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 72 9/26/20 10:02 AM9/26/20 10:02 AM 7 3CAPÍTULO 2 No caso Anita, estão, pela primeira vez, defrontados publicamente no Brasil dois valores radicalmente distintos. Um é o valor representativo do conservadorismo cultural da época; as palavras de Monteiro Lobato reproduzem os parâmetros de uma estética acadêmica que entendia a pintura como reprodução direta da natu- reza. Outro é o valor absolutamente novo, expresso nos quadros de Anita, de uma arte que atende a seus próprios princípios, não tendo um compromisso fotográfico com os objetos da realidade natural. NASCIMENTO, Evando. A Semana de Arte Moderna de 1922 e o Modernismo brasileiro: atualização cultural e “primitivismo” artístico. Gragoat‡, v. 20, n. 39. Niterói. p. 380. Disponível em: https://periodicos.uff.br/gragoata/article/download/33354/19341. Acesso em: 14 ago. 2020. • Relacione a disputa de valores descrita no trecho à ruptura do abstracionis- mo em relação ao figurativismo no século XX, discutida na seção Embarque. c) Um dos principais objetivos dos modernistas era a afirmação de uma identida- de nacional. Uma das maneiras que os artistas encontraram para fazer isso foi buscar formas e temas próprios, que refletissem as raízes e a cultura brasileiras e rompessem com os modelos europeus tradicionais. • Converse com os colegas e o professor: de que forma a produção de Tarsila e de Djanira refletem esse objetivo do Modernismo? 4 Observe esta outra obra de Tarsila do Amaral, de 1924. A feira, de Tarsila do Amaral, 1924 (óleo sobre tela, 60,8 cm × 73,1 cm – Coleção particular). a) Compare essa obra à natureza-morta produzida por Tarsila em 1921. Por que A feira mostra um diálogo mais consolidado da artista com os princípios modernistas? b) Em sua opinião, Tarsila do Amaral alcançou seu objetivo de ser uma “pintora do Brasil”? Comente com os colegas e o professor. R e p ro d u ç ã o /C o le ç ã o p a rt ic u la r NÃO ESCREVA NESTE LIVRO. 3. c) Auxilie os estudantes na re- flexão. Espera-se que eles perce- bam que a predileção das autoras por temas populares, valorizando as paisagens e o povo brasileiro, dialoga com a afirmação da identi- dade nacional almejada pelo movi- mento modernista. 4. a) Na natureza-morta, Tarsila ainda mostrava uma pintura aca- dêmica, inclusive na escolha do gênero. Em A feira, o tema e a es- tética utilizada dialogam mais com os princípios modernistas, já que apresentam elementos da cultura brasileira, como as frutas tropicais (banana, abacaxi, laranja), aves, palmeiras, a própria feira ao ar li- vre, dentre outros. 4. b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes respondam que sim. Além de ser uma das mais conhecidas artistas brasilei- ras, os temas pintados por Tarsila estão bastante ligados ao país. V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 73V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 73 9/26/20 10:02 AM9/26/20 10:02 AM 7 4 CAPÍTULO 2 5ª PARADA ABSTRAI! O abstracionismo rompeu com os códigos e com as regras que dominavam a produ- ção e a recepção da arte até o século XIX, permitindo que os artistas se expressassem com mais liberdade, valorizando seusestilos individuais. Nesta parada, você vai conhe- cer obras abstratas de duas artistas brasileiras e experimentar criar nas duas principais tendências do abstracionismo. 1 Aprecie as obras a seguir e, depois, responda às questões oralmente. NA BNCC Competências gerais: 1, 3, 4, 8, 9 Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 6 Habilidades de Linguagens: EM13LGG101, EM13LGG103, EM13LGG104, EM13LGG201, EM13LGG202, EM13LGG204, EM13LGG301, EM13LGG601, EM13LGG602, EM13LGG603 Habilidades de Língua Portuguesa: Todos os campos de atuação social: EM13LP01, EM13LP02 Campo da vida pessoal: EM13LP20 Campo artístico-literário: EM13LP54 Cabeça de mulher, de Beatriz Milhazes, 1996 (serigrafia, 101,6 cm × 152,4 cm – Coleção particular). Plano em superfícies moduladas n. 2, de Lygia Clark, 1956 (tinta industrial sobre celotex, madeira e nulac, 90,1 cm x 75 cm – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP). Howard Walker/P A Im ag es / G e tt y I m a g e s BEATRIZ MILHAZES (1960-), nascida no Rio de Janeiro (RJ), é pintora, gravadora, ilustradora e professora. Iniciou-se nas artes visuais na década de 1980, propondo o uso de novas técnicas e materiais, que expressavam a liberdade e a diversidade vivenciadas no período de redemocratização do Brasil. A partir de 1990, seu trabalho teve reconhecimento internacional e museus dos Estados Unidos e da Europa incorporaram, em seus acervos, obras da artista. Nos trabalhos de Beatriz, a cor é um elemento central. LYGIA CLARK (1920-1988) nasceu em Belo Horizonte (MG). Pintora, escultora e psicoterapeuta, iniciou seus estudos artísticos em 1947, no Rio de Janeiro, orientada pelo artista e paisagista paulista Roberto Burle Marx (1909-1994). Ao longo da carreira, dedicou-se de forma mais acentuada à escultura e à psicoterapia, propondo a desmistificação da arte e do artista e a participação do espectador na construção da obra. A partir dos anos 1980, ganhou reconhecimento internacional com exposições em diferentes cidades na Europa e nos Estados Unidos. R e p ro d u ç ã o /C o le ç ã o p a rt ic u la r M u s e u d e A rt e C o n te m p o râ n e a d a U n iv e rs id a d e d e S ã o P a u lo , S ã o P a u lo / C o rt e s ia A s s o c ia ç ã o C u lt u ra l “ O M u n d o d e L y g ia C la rk ” Consulte respostas esperadas e mais informações para o trabalho com as atividades desta parada nas Orientações especí�cas deste Manual. V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 74V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 74 9/26/20 10:02 AM9/26/20 10:02 AM 7 5CAPÍTULO 2 a) O que você pensa quando vê as duas obras? Elas provocam alguma sensação específica ou lembram algo a você? b) Você gosta mais de uma do que de outra? Por quê? c) Considerando o que vimos até aqui, por que essas obras são abstratas e não figurativas? Explique. d) Descreva o que diferencia uma obra da outra, relacionando-as às diferentes tendências da abstração. e) Releia as legendas das obras. Por que você acha que Lygia Clark e Beatriz Milhazes escolheram esses títulos? 2 Leia o texto a seguir para aprofundar a discussão sobre a tendência abstracionista no Brasil. Em seguida, respon- da às questões oralmente. Oito décadas de abstração informal 1. e) Resposta pessoal. Y u m m y B u u m /S h u tt e rs to ck 2. a) Espera-se que os estudantes concluam que os abstracionistas queriam romper com a tradição do fi gurativismo e propor novas concepções artísticas, com mais liberdade. Essa discussão se vincula ao estudo da seção Embarque, pois se relaciona com as mudanças nas concepções a respeito da arte. O advento da fotografia propiciou agilidade e precisão à documenta- ção de lugares, eventos e pessoas; consequência direta foi a conquis- ta de maior autonomia dos artis- tas no aprofundamento de ques- tões plásticas. Um desdobramento desse processo foi o afastamento do mundo natural como referên- cia e um mergulho nas cores, pin- celadas, formas e aspectos essen- ciais das estruturas dos objetos. No Brasil do final dos anos 1940, surgem os primeiros trabalhos de arte abstrata. A eles se opuseram, em prol da arte figu- rativa, pintores e críticos estabelecidos que, além de desapreço estético, denunciavam-lhes falta de brasili- dade e afastamento da geografia e da sociedade locais. Os artistas abstratos no Brasil estiveram, inicialmente, aliados contra o figurativismo, mas, após minimamen- te estabelecidos, subdividiram-se em duas linhas: a abstração informal e a abstração geométrica. A abstração informal caracteriza-se pela expressão de gestos do artista, seja com os materiais da pintura ou da escultura; como resultado, o estilo de cada artista tor- na-se muito singular. A abstração geométrica, por ou- tro lado, parte de princípios universais da matemática e da geometria, criando o que seria percebido como uma identidade mais coletiva. Os artistas que praticaram a abstra- ção informal no Brasil não consti- tuíram grupos permanentes, pois a singularidade do estilo de cada qual se impunha sobre princípios gerais. Assim, não há uma escola da abstra- ção informal, ao contrário da geo- métrica, que levou à formação de grupos como o Ruptura, o Frente e o Neoconcreto. Da mesma forma, nas décadas de 1950 e 1960, foram muito poucos os críticos de arte que, como Sérgio Milliet e Antônio Bento, repre- sentassem os artistas informais, em- bora houvesse aqueles que defendessem a abstração geométrica e acusassem a abstração informal de ex- cessivo subjetivismo. Entretanto, a abstração informal semeou no Brasil um extenso campo de arte gestual e da exploração da matéria da obra de arte. Ao reunirmos duas das cole- ções mais importantes do Brasil, a do Museu de Arte Moderna de São Paulo e a do Instituto Casa Roberto Marinho, exibimos a permanência e a potência da abstração informal ao longo das últimas oito déca- das. Os trabalhos expostos testemunham a coerência dos artistas e de seus estilos singulares, a radicalida- de na exploração da matéria artística e o lirismo vi- sual de suas composições. [...] CHAIMOVICH, Felipe; CAVALCANTI, Lauro. Oito décadas de abstração informal. São Paulo: MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2018. Disponível em: https://mam.org.br/exposicao/oito-decadas-de-abstracao-informal/. Acesso em: 18 ago. 2020. a) Segundo o texto, o que motivou as tensões entre os artistas abstratos e os que defendiam o figurativismo no Brasil? De que forma essas tensões se relacionam com a discussão proposta na seção Embarque? b) De acordo com o texto, na abstração informal, a singularidade de cada artista é mais perceptível. Observando as obras de Lygia Clark e Beatriz Milhazes, você concordaria com essa afirmação? Por quê? c) A que se deve a formação de grupos de artistas como o Ruptura, o Frente e Neoconcreto? Para você, o fato de os abstracionistas geométricos terem feito grupos sinaliza que essa tendência seria “menos singular”? Respostas pessoais. 1. d) Na obra de Lygia Clark, temos uma abstração geométrica, apresentando uma composição mais rígida com formas como quadrados e retângulos. A obra de Beatriz Milhazes é uma abstração informal, com composição mais fl uida e formas arredondadas, que remetem a elementos da natureza como fl ores. 1. c) Relembre com a turma os conceitos abordados no capítulo. Espera-se que eles respondam que as obras são abstratas porque não buscam pintar formas reconhecíveis na natureza, não há fi guração. 1. a) Respostas pessoais. Incentive os estudantes a expor suas ideias e a ouvir as dos colegas, garantindo a eles a oportunidade de conhecer pontos de vista diferentes. 1. b) Resposta pessoal. Estimule os estudantes a justifi carem sua esco- lha para além do “feio” ou “bonito”. Peça que busquem e expressem suas ideias, sentimentos e sensações de forma mais aprofundada, apontando elementosdas obras. 2. c) Trata-se de grupos que se caracterizavam por trabalhos com a abstração geométrica, que, por seu caráter composicional universal matemático, proporcionava a criação de trabalhos com uma identidade coletiva mais marcada. V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 75V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 75 9/26/20 10:02 AM9/26/20 10:02 AM 7 6 CAPÍTULO 2 3 Você já experimentou criar uma obra abstrata? Vamos praticar! COMO FAZER Leve para a sala de aula papéis variados: revistas, jornais, panfletos, papéis de embrulho, folhas coloridas e de texturas diferentes. Sem se esquecer de cola e tesoura com pontas arredondadas. Observe as imagens. Elas podem inspirar sua criação. O caracol, Henri Matisse, 1952 (guaches recortados, 286 cm × 287 cm, Tate, Londres, Inglaterra). Composição (Os veludos), Henri Matisse, 1947 (guaches recortados, 61,8 cm × 239,5 cm, Kunstmuseum Basileia, Suíça). Obra abstrata geométrica Pense no que vai fazer na sua obra. Quais formas geométricas você utilizará? Experimente diferentes composições com os recortes de papéis coloridos diretamente no suporte escolhido, mas sem colar. Depois de definir como será a composição, cole os recortes. Se quiser, faça novos recortes ou acrescente outros tipos de papel à composição. Assine e, se quiser, dê um título à sua obra. Obra abstrata informal Para a obra informal, siga o mesmo passo a passo da obra geométrica, mas, dessa vez, explore linhas curvas e formas mais orgânicas. Além dos recortes de papel, você pode usar outros materiais como lápis de cor e caneta hidrocor para inserir detalhes ou complementar a composição. Se preferir, misture formas geométricas e organize-as em uma mesma composição. Lembre-se de que essas tendências são apenas referências e não devem limitar sua criação! Não se esqueça de assinar e dar um título para a obra, se assim preferir! Apresentação e discussão Apresente as obras para a turma sem mostrar o título e peça que compartilhem as ideias e as sensações evocadas por elas. Informe aos colegas quais são os títulos das obras, se tiver optado por atribuir nome às obras, e comente o que o inspi- rou na criação de cada uma. Discutam as impressões que tiveram e os novos sentidos que eventualmente surgiram no momento da apreciação das obras. Carl Van Vech ten/ Alam y / F ot oa re na HENRI MATISSE (1869-1954), importante artista francês, foi um dos célebres representantes de um dos primeiros movimentos estético-artísticos do século XX: o fauvismo. Por não seguirem os cânones impressionistas vigentes na época, usando cores puras e intensas, sem misturá-las ou matizá-las, foram chamados de les fauves (feras selvagens) – fauvistas em português. A partir dos anos 1940, em função de problemas de saúde, Matisse começou a desenvolver a técnica de colagem com papéis coloridos. Ta te M od er n, L on dr es , I ng la te rr a © S uc ce ss io n H en ri M at is se /A U TV IS B ra si l, 20 20 K un st m us eu m B as ile ia , S uí ça © S uc ce ss io n H en ri M at is se / A U TV IS B ra si l, 20 20 Para essa atividade, que pode ser feita em duplas, reserve o tempo de aproximadamente duas aulas para a concepção e a realização das colagens. Organize-se com os estudantes para providenciar com antecedência o material necessário. Se possível, providencie um suporte mais resistente para o trabalho, de material e tamanho padronizado para todos os estudantes, como papel paraná em uma medida de referência de 30 cm × 20 cm. Como esse papel é naturalmente mais escuro, os estudantes podem criar uma base com tinta na superfície. É necessário esperar secar para iniciar a colagem. Papel-cartão ou color set também podem funcionar bem. Mais importante que o tipo de papel utilizado na colagem, é o empenho dos estudantes ao realizar o trabalho que valorizará o material. Dependendo do tipo de papel a ser utilizado, dê preferência, se possível, à cola em bastão, para evitar que algum trabalho seja acidentalmente rasgado ou fique sujo. 3. É interessante pontuar que as imagens de fundo vermelho são geométricas e as de fundo azul es- curo são informais e que cada um desses pares (geométrico posicionado acima do informal) apresenta exatamente a mesma composição. Você pode pedir que os estudantes, como na imagem a seguir, procurem recriar a mesma composição nas duas ver- tentes – geométrica e informal. Outra opção é permitir que eles criem novas composições, inspirados nas diferentes possibilidades das linhas e formas. Aqui os trabalhos foram feitos com retalhos de papel liso, mas nada impede que sejam estampados inclusive com letras. Promova entre os estudantes uma discussão sobre as intenções de produção e sobre as impressões que os colegas tiveram. Elas coincidiram? Por quê? Quais sentidos foram criados durante o compartilhamento? Além de fruir as produções dos cole- gas, valorizando as potencialidades do grupo, esse momento é uma oportunidade relevante para que os estudantes possam exercitar a empatia, o respeito ao outro, acolhendo a diversidade, sem qualquer tipo de preconceito. V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 76V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 76 9/26/20 10:02 AM9/26/20 10:02 AM 7 7CAPÍTULO 2 6ª PARADA PERCEPÇÕES SOBRE A ARTE: ESTUDO DE RECEPÇÃO Nesta parada, você vai entender um pouco mais sobre a recepção da arte. Para isso, vai entrar no mundo do espectador para refletir sobre como é construído o sentido das obras. Além disso, você vai conhecer um museu virtual e saber mais sobre os espaços de exibição de obras de arte. 1 Leia os trechos a seguir e, depois, converse com os colegas e o professor para res- ponder às questões. [...] Uma forma é uma obra realizada, ponto de chegada de uma produção e ponto de partida de uma consumação que – articulando-se – volta a dar vida, sempre e de novo, à forma inicial, através de perspectivas diversas. ECO, Umberto. Obra aberta: forma e indeterminação nas poéticas contemporâneas. São Paulo: Perspectiva, 1991. p. 28. Uma obra de arte se completa na relação com o espectador, e, cada vez que alguém en- tra em contato com uma obra de arte, está tendo uma nova e única experiência. RAMALDES, Karine. A relação entre espectador e obra de arte. Revista Aspas, vol. 6, n. 1, 2016. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ aspas/article/view/111463/114547. Acesso em: 15 ago. 2020. a) Que relação entre obra e espectador é sugerida nesses trechos? b) Considerando o que dizem os trechos, quando um espectador frui uma obra de arte, sua interpretação deve se limitar àquilo que o artista pretendeu expressar? Por quê? 2 O pintor, escultor e poeta francês Marcel Duchamp (1887-1968) disse certa vez: “É o espectador que faz a obra”. a) Você concorda com ele? Por quê? b) Essa afirmação dialoga com os trechos lidos anteriormente? Considerando o que diz Duchamp, qual serial o papel do artista nesse processo? 3 Na 4a parada da seção Viagem, discutimos a reação violenta de Monteiro Loba- to à exposição de Anita Malfatti, em 1917. Você acha que o trabalho da artista teria sido recebido da mesma forma se tivesse sido exibido hoje? Discuta com os colegas e o professor alguns dos aspectos que podem impactar o processo de recepção de uma obra de arte. 4 Converse com os colegas: Por que é importante que o espectador assuma uma postura crítica em relação à arte? Assumir essa postura pode interferir no processo de recepção? Como construir uma postura diante da arte? 5 Já que a forma como cada espectador interpreta uma obra é determinante para a construção de sentidos, os estudos de recepção focam na perspectiva de quem vê. Por isso, você e a turma vão desenvolver um estudo de recepção com o objetivo de descobrir a relação da comunidade escolar com os gêneros e tendências da pintura abordados neste capítulo. NA BNCC Competências gerais:1, 2, 3, 4 Competências específicas de Linguagens: 1, 2, 3, 6, 7 Habilidades de Linguagens: EM13LGG101, EM13LGG102, EM13LGG103, EM13LGG104, EM13LGG201, EM13LGG202, EM13LGG203, EM13LGG204, EM13LGG301, EM13LGG302, EM13LGG303, EM13LGG305, EM13LGG601, EM13LGG602, EM13LGG604, EM13LGG701, EM13LGG703 Habilidades de Língua Portuguesa: Todos os campos de atuação social: EM13LP01, EM13LP02, EM13LP03, EM13LP14, EM13LP15 Campo das práticas de estudo e pesquisa: EM13LP28, EM13LP30, EM13LP32, EM13LP33, EM13LP34, EM13LP35 Gordon Parks/The LIFE Picture C ol le ct io n /G e tt y I m a g e s MARCEL DUCHAMP (1887-1968) foi um importante artista francês do começo do século XX. Ele foi um dos responsáveis pela criação do movimento dadaísta que, junto com outras vanguardas europeias, revolucionou a maneira de criar e apreciar a arte no mundo ocidental. Consulte respostas esperadas e mais informações para o trabalho com as atividades desta parada nas Orientações especí�cas deste Manual. 1. a) Nos dois trechos, os autores propõem que a obra de arte está em constante ressignificação a cada fruição do espectador. No primeiro trecho, Umberto Eco defende que a obra revive cada vez que o espectador a subme- te a uma nova interpretação. No segundo, a autora destaca que o sentido de uma obra se completa na interação com o espectador. Ajude a turma a compreender os trechos, problematizando-os e discutindo-os com a turma. 1. b) Incentive os estudantes a perceberem que uma obra de arte só tem seu sentido comple- to ao ser apreciada pelo público. Ao ser feita para ser exposta, a obra deixa de pertencer apenas ao artista, cabendo ao espectador interpretá-la de acordo com seu repertório, o que permite recriar e reinventar os sentidos a ela imanentes. 2. b) Estimule a discussão. Ajude os estudantes a perceber que a fala de Marcel Duchamp é mais radical e, ao contrário das outras citações, exclui o artista do processo. Ressalte a interpretação do processo de recepção de forma dialógica, em que os dois pares são igualmente importantes na construção dos sentidos, assim como os elementos da própria obra.Resposta pessoal. Retome o episódio com os estudantes e discuta com eles alguns dos aspectos que podem interferir na forma como uma obra de arte é recebida pelo público, como contexto histórico e cultural, aspectos econômicos, características do público, maneira como a obra chegou até ele, etc. 5. Explique para os estudantes que a Teoria da Recepção foi, originalmente, concebida para ser desenvol- vida em um viés literário. Aqui vamos adaptá-la para a realidade das artes. Respostas pessoais. V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 77V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 77 9/26/20 10:02 AM9/26/20 10:02 AM 7 8 CAPÍTULO 2 COMO FAZER Primeira etapa Leia as informações a seguir para entender o que é uma pesquisa de estudo de recepção de obras de arte. Estudo de recepção de obras de arte na comunidade escolar A pesquisa de estudo de recepção de obras de arte, assim como proposto para a literatura, vai se basear na atitude participativa do espectador em contato com diferentes obras, a fim de ampliar seus horizontes de fruição e leitura. A expectativa é que o espectador, em seu processo de construção de sentidos da obra, seja capaz de relacioná-la ao próprio contexto cultural, que funciona como fator ativo nesse processo. A pesquisa social se dá em cinco passos: 1. Sondagem sobre o interesse do público por certos tipos de pintura: podem ser feitas questões sobre o assunto que se pretende abordar. 2. Atendimento das expectativas: a pintura escolhida deve agradar aos espectadores. 3. Fruição das pinturas do mesmo gênero ou tendên- cia, respeitando as pausas propostas entre elas. 4. Discussão sobre as pinturas e as impressões dos espectadores. 5. Ampliação das expectativas: fruição de uma nova pintura, que exija mais envolvimento e permita aprofundar os conhecimentos adquiridos com as fruições anteriores. Segunda etapa Formem trios e recrutem um grupo de cinco pessoas, com idades entre 15 e 60 anos, para participar de uma reunião de fruição das obras. Convidem colegas, fun- cionários e professores da escola. Se não for possível uma reunião presencial, ela pode ser feita remota- mente por meio de aplicativos gratuitos de reunião on-line. Registrem o nome, a idade e o grau de esco- laridade dos colaboradores. Escolham, com antecedência, o lugar em que o trio vai receber os colaboradores da pesquisa. Deem pre- ferência a um local mais silencioso e com boa ilumi- nação, a �m de potencializar os efeitos esperados. Explique que, durante a reunião, serão realizadas fruições e discussões das obras. Separem uma câmera para �lmagem da reunião. É preciso avisar que será feita a �lmagem e, no mo- mento adequado, solicitar a autorização de uso da imagem. A reunião deve durar de 40 a 60 minutos.* Terceira etapa Passo 1: Sondagem Façam uma sondagem com o grupo sobre o tipo de pintura que mais apreciam: pintura �gurativa (pai- sagem, natureza-morta, retrato) ou pintura abstrata (geométrica e informal). Essa sondagem deve ser fei- ta com certa antecedência ao dia da reunião. Apre- sente as sugestões para que as pessoas escolham pelo menos duas possibilidades. Perguntem o que eles sabem sobre artes visuais, se costumam visitar museus de arte, inclusive os vir- tuais, se gostam de algum artista em especial. Passo 2: Atendimento às expectativas Com base na sondagem, selecionem duas pinturas de diferentes artistas brasileiros. Providenciem reproduções das obras em tamanho grande para que os espectadores possam vê-las no dia da reunião prevista. É importante se atentar para a qualidade da reprodução das obras escolhidas. Se o grupo achar conveniente, pode pesquisar as obras em museus virtuais e disponibilizar o endereço eletrôni- co para os colaboradores. Outra opção é projetar as obras para que todos possam frui-las coletivamente. ** A estética da recepção valoriza a relação que o espectador estabelece com uma obra, destacando a interpretação que esse sujeito constrói sobre ela. O teórico alemão Hans Robert Jauss (1921-1997) desenvolveu a estética da recepção nos anos 1960 para questionar a tradição dos estudos literários centrados nos aspectos cronológicos e biográficos da história da literatura. Em sua teoria, Jauss afirma que o processo de construção de sentidos de uma obra é dinâmico, construído nas leituras e releituras que são feitas da obra ao longo do tempo. Nessa perspectiva, os leitores também são responsáveis por acrescentar novos sentidos a uma obra. Jauss revalorizou, em sua teoria, a experiência humana como condição para compreender e (re)construir os sentidos de um texto. Embora o trabalho de Jauss tenha como foco a literatura, os conceitos da estética de recepção também podem ser aplicados para as artes visuais, o teatro, a dança e a música. A ideia é valorizar o trabalho de (re)construção de sentidos das obras no processo de fruição pelos espectadores. BALCÃO DE INFORMAÇÕES . * A sugestão é que os estudantes façam a pesquisa com diferentes membros da esco- la: professores, direção, pessoal de apoio (limpeza, cozinha, segurança, etc.), estudan- tes. Ajude-os a escolher o local para realização da reunião:. Pode-se também propor a fruição por um aplicativo gratuito de reuniões on-line. Nesse caso, as obras podem ser compartilhadas em uma tela de computador ou celular. Participe ativamente da realização da pesquisa, con- tribuindo com o que for necessário. Inicialmente, você deverá providenciar as reproduções das obras de arte para que os grupos possam fazer a pesquisa. ** Ajude os estudantes a se organizar para a escolha das pinturas. A pesquisa pode ser feita em museus e galerias virtuais. Os sites dos artistas também podem ser uma boa fonte para a pesquisa. V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd78V5_LINGUAGENS_Faccioli_g21At_Cap2_055a088_LA.indd 78 9/26/20 10:02 AM9/26/20 10:02 AM