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Cirurgia - Volume 5 2Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
VÍDEO DE INTRODUÇÃO
Diagnóstico Diferencial
(Hypothesis)
Seção 1:
SínDrome De obStrução InteStInal
Conceitos Iniciais
Classificação
Quadro Clínico
História Clínica
Exame Físico
Exames Complementares
Exames Laboratoriais
Exames de Imagem
Tratamento
Seção 2:
CauSaS De obStrução InteStInal
obStrução meCânICa De DelgaDo
obstruções extrínsecas
Aderências Intestinais (Bridas)
Neoplasias
Hérnias
Abscessos Intra-abdominais
obstruções Intrínsecas
Anomalias Congênitas
Atresia Intestinal
Atresia Colônica
Má Rotação e Volvo de Intestino Médio
Doença de Crohn
Intussuscepção
Lesão Intestinal Pós-actínica
Neoplasias Primárias de Delgado
Endometriose
obstrução Intraluminal
Íleo Biliar
Corpo Estranho / Parasitose
Bezoar
obStrução meCânICa De Cólon
Neoplasias Colorretais
Volvo (Vôlvulo)
Doença de Hirschsprung
Diverticulose e Diverticulite
Fezes (“Fecalomas”)
obStrução InteStInal FunCIonal
Íleo Adinâmico (ou Paralítico)
Síndrome de Ogilvie (Pseudo-Obstrução Colônica
Aguda)
Seção 3:
HÉrnIaS
Introdução
Hérnias Inguinais
Anatomia da Região Inguinal
Formação das Hérnias
Clínica e Diagnóstico
Classificação
Tratamento
Tratamento Eletivo das Hérnias
Tratamento de Emergência das Hérnias
Complicações
Hérnia Femoral
Outras Hérnias
Hérnias Ventrais
Spiegel
Hérnias Lombares
Ciática
Obturadora
Perineal
Internas
Diafragmáticas
meD r3 CIrurgIa geral
Área de treinamento m.e.D
QueStõeS De ConCurSoS
ComentÁrIoS
ObstruçãO IntestInal
cirurgia - VOLuME 5
M.E.D - 2019
2019
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Sra. Maria dos Olhos é uma vidente de 58 anos, acompanhada
regularmente no ambulatório de clínica médica do Hospital de
Clínicas da cidade. Tudo começou há 38 anos quando foi encaminhada
à instituição para tratamento de hipotireoidismo. A partir daí, várias outras
doenças ajudaram a engrossar seu prontuário: HAS, DM tipo II, dislipidemia,
hérnia de disco, artrose em membros inferiores e sobrepeso. A mais recente, há 5
anos, foi um adenocarcinoma de cólon. Na época, o tratamento da neoplasia
foi um sucesso, apesar de uma infecção no sítio cirúrgico que prolongou em 30
dias sua internação. Sempre que abre suas cartas, o desânimo aumenta...
Há 03 dias, a paciente passou a apresentar dor abdominal difusa associada
à parada de eliminação de fezes. Aos poucos, houve piora da dor com o
surgimento de náuseas e vômitos.
Horas atrás, após um episódio de diarreia, resolveu ir à emergência do
Hospital Universitário.
Ao exame:
PA: 120 x 80 mmHg, FC: 110 bpm, desidratada (+/4+), hipocorada
(+/4+), anictérica, acianótica. Tax: 38oC.
Abdome: difusamente doloroso, distendido, timpânico, sem sinais de
irritação peritoneal ou massas.
• Hto: 35%
• Hb:11 g/dl
• Leucócitos: 11.500/m
m3
• Pqt: 250.000/mm
3
• Ur: 20 mg/dl
• Cr: 0,9 mg/dl
• Na: 140 mEq/L
• K: 4,5mEq/L
• Amilase: 240U/L
• Lactato: 2,9 mmol/L
• pH: 7,30
• pO2: 85 mmH
g
• pCO2: 30 mmH
g
• HCO3: 18 mEq/
L
Caso 1
Radiografia de abdome:
(imagem projetada)
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Descreva sucintamente o principal
achado da radiografia.
De acordo com o caso acima, qual o diagnóstico
sindrômico? Justifique.
Baseado no diagnóstico sindrômico, como
você explicaria a presença de diarreia?
Indique uma hipótese etiológica e identifique na
história um fator de risco para justificá-la.
Qual a primeira manobra a ser realizada
para investigação? Justifique.
Em seguida, será necessário realizar algum
exame complementar?
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Caso 2
Rosa, paisagista, 62 anos, sempre se gabou por nunca ter precisado ir ao médico
e nem utilizar remédios, entretanto, hoje, se deu por vencida e procurou assistência
médica emergencial.
Durante o atendimento, ela conta que, há uma semana, apresentou dor abdominal difusa em cólica
de for te intensidade, porém com resolução espontânea. Após este episódio, seguiram-se mais três semelhan-
tes até que, há dois dias, a dor evoluiu com piora progressiva. Na história pregressa, há relato de síndrome
dispéptica há alguns anos, facilmente controlada com chá de erva cidreira e alimentos não gordurosos.
Ao exame, nota-se o abdome bastante distendido, sem descompressão dolorosa. No toque retal, não há sangue,
gases ou fezes. Exames laboratoriais inespecíficos.
Os exames radiológicos são vistos a seguir: (imagens projetadas)
Considerando a radiografia de abdome projetada, qual a sua principal hipótese? Justifique.
Qual o local mais comum de obstrução intestinal nesta doença?
Qual o tratamento mais adequado?
Caso 3 Em uma emergência...
Íris, manicure, 59 anos, refere dor abdominal de início há 03 dias, com piora progressiva, além de dis-
tensão abdominal. Não há eliminação de gases ou fezes nem vômitos, desde o início dos sintomas. Na história
patológica pregressa, destacam-se apenas HAS e DM tipo II tratados de forma regular com hidroclorotiazida
e metformina. Nega patologias ginecológicas, cirurgias prévias ou presença de hérnias.
Exame físico:
Hipocorada (+/4+),desidratada (+/4+), acianótica, anictérica, PA: 120 X 80 mmHg, FC: 105 bpm,
Tax: 37 oC,
Abdome: distendido, doloroso à palpação superficial, sem sinais de irritação peritoneal. Massa palpável em
fossa ilíaca esquerda de aproximadamente 5 cm, irregular, com bordos mal definidos e consistência endurecida.
Enema contrastado:
(imagem projetada)
De acordo com o caso acima, marque a opção correta:
Síndrome de obstrução intestinal →( ) ALTA ( ) BAIXA
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Cite duas hipóteses diagnósticas. Justifique.
Considerando a etiologia mais frequente,
qual o local mais comum de obstrução?
Justifique.
Caso 4
Marinheiros de primeira viagem, Adão e Eva procuram,
desesperados, uma emergência no meio da madrugada, pois seu filho Caim, de 9 meses,
mantém choro incoercível há 03 horas, além de fezes avermelhadas com aspecto mucoso.
Desde o nascimento, a criança nunca tinha ficado doente. Ainda mantém aleitamento materno e o calendário
vacinal está atualizado.
Na ectoscopia, há franca distensão abdominal e postura de flexão das pernas sobre a barriga. Ao palpar o
abdome, nota-se uma massa em formato de salsicha no lado direito do abdome.
Considerando apenas a história, é possível for-
mular alguma hipótese? Justifique.
Cite um exame complementar que pode fechar o diagnóstico.
Qual exame complementar você solicitaria para o diag-
nóstico e qual seria a melhor abordagem terapêutica?
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8
Caso 5
Sr. Mário, encanador aposentado, 87 anos, apresentou,
há cinco dias, IAM, complicado com edema agudo
de pulmão e choque cardiogênico. Felizmente,
com o tratamento intensivo recebido na Uni-
dade Coronariana, houve melhora do quadro
cardíaco. Porém, durante a evolução, uma
impor tante distensão abdominal associada
à dor passou a dominar o quadro clínico.
Nas anotações da enfermagem, não havia
registro de evacuação nas últimas 48 horas.
O toque retal indicava a presença de gases
e fezes sem sinais de sangramento. Colhido
exames laboratoriais:
Baseado somente na história clínica, qual o diagnóstico
sindrômico do paciente? Justifique.
• Hto: 32%
• Hb:10,5 g/dl
• Leucócitos: 7.
500/mm3
• Plaquetas: 25
0.000/mm
3
• Ur: 20 mg/dl
• Cr: 0,9 mg/dl
• Na: 140 mEq/
L
• K: 2,9 mEq/L
De acordo com a história clínica e a tomografia (imagem
projetada), formule uma hipótese diagnóstica.
Indique um achado na história e um
exame laboratorial que possam causar
esta condição. Justifique.
Cite um medicamento que pode ser usado no
tratamento do infar to e que se associa com
o desenvolvimento desta condiçãoclínica.
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9
Caso 6 Sr. Apolo é um halterofilista de 42 anos com o
diagnóstico de uma hérnia na virilha há 01 ano. Apesar da indicação
cirúrgica, nunca desejou operar por medo. Há 12 horas, iniciou dor na região inguinal associada a
um abaulamento não redutível. Procurou um hospi tal próximo a sua casa sendo fei to o diagnósti-
co de hérnia encarcerada. Logo foi encaminhado ao centro cirúrgico, porém durante a indução
anestésica houve redução espontânea da hérnia.
Qual a conduta a ser seguida? Justifique.
Qual das hérnias inguinais tem maior risco de encar-
ceramento? Justifique.
Descreva a fisiopatologia desses dois tipos de hérnias inguinais.
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10
Caso houvesse uma hérnia com pinçamento lateral da borda
antimesentérica de uma alça, como seria o nome e qual hérnia
estaria mais associada a esta situação?
Descreva as principais complicações cirúr-
gicas para correção desta condição.
Caso 7
Em um berçário no Hospital Universitário de Por to Alegre, duas ami-
gas se encontram. Ambas deram à luz no mesmo dia e quase na mesma hora.
Emocionadas, decidem dar aos seus filhos os nomes de Cosme e Damião.
Cosme nasceu de par to normal com 40 semanas e recebeu Apgar de 9 e 10 no primeiro
e quinto minuto, respectivamente. Apresenta-se saudável e possui uma hérnia umbilical de 1 cm.
Damião nasceu com 39 semanas e recebeu a mesma pontuação no Apgar. Apresenta uma
hérnia inguinal do mesmo tamanho à direita.
Qual a conduta frente aos casos apresentados?
Considerando que uma das crianças terá conduta expectante, quais as situ-
ações clínicas que poderiam ser indicação de cirurgia nesta criança?
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Paciente de 32 anos, sexo feminino, sol-
teira, professora universitária, dá entrada no pronto-
-socorro referindo há cerca de 6 horas aparecimento de
vômitos de coloração esverdeada. Relata também que há 24h não apresenta flatos nem evacuação, sen-
do a constipação algo totalmente novo em sua vida. Na história pregressa, encontramos a realização de
histerectomia há dois anos por conta de um leiomioma. Ao exame físico, a paciente se mostra hipoco-
rada+/4+, desidratada ++/4+, FC 130bpm, PA 110 x 60 mmHg, TAx 38oC. ACV e AR sem alterações
significativas. Exame de Abdome mostra discreta distensão abdominal, com ruídos hidroaéreos reduzi-
dos, sem massas palpáveis, com dor à descompressão dolorosa. Toque retal não evidenciou fezes, sangue
ou massa na ampola retal. Exames laboratoriais indicam: Leucócitos 12.000/mm3; Ht 47%; Plaquetas
150.000/mm3; glicose 92 mg/dl; ureia 50 mg/dl; creatinina 1,0 mg/dl; Na 128 mEq/L; K 3,0 mEq/L; pH
7,48; HCO
3
30mEq/L; pCO
2
48 mmHg.
Com base no quadro apresentado e na conduta mais adequada para
esta paciente, qual seria sua prescrição inicial.
Prescrição
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http://#videomiolo=PRESCRICAO_MEDICA_MEDCIR05_2017
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Opash, 53 anos, indiano, casado,
comerciante de iguarias orientais, procura atendimento no
pronto-socorro por conta de dor abdominal de for te intensidade. Relata início do quadro
há 4 meses quando chegou a apresentar febre ocasionalmente, indisposição e dor abdominal tipo cólica, na fossa
ilíaca direita, que aliviava com o uso de analgésicos e antiespasmódicos. Nas últimas 2 horas, o quadro álgico
abdominal apresentou piora impor tante, vindo associado a náuseas e vômitos não-biliosos em moderada quan-
tidade. Evacuou há 1 hora fezes em pequena quantidade e sem alterações na sua consistência. Não é por tador
de nenhuma doença, não é tabagista e nega a utilização de drogas intravenosas. Foi criado em orfanato e não
conheceu seus pais, não sabendo dar qualquer informação sobre a história familiar. Confirmou história sexual sem
utilização de preservativos há mais de um ano, com parceira desconhecida, mas fez questão de reforçar que foram
apenas dois encontros e o segundo muito breve. Ao ser realizada a revisão de sistemas, refere no mesmo período
alguns episódios isolados de cefaleia, dor torácica, tosse seca e diarreia por vezes sanguinolenta.
No mais, encontrava-se febril, eupneico, anictérico, vigil, moderadamente desidratado e hipocorado +/4+. PA
120x 70 mmHg, FC 90bpm. Sem alterações de bulhas ou do ritmo cardíaco. Sem definir muito sobre o caso e
suspeitando apenas da possibilidade de gastroenterite, a equipe que o assiste resolve prescrever alguns analgési-
cos e antieméticos intravenosos, com alta programada para assim que houvesse resolução dos sintomas. No en-
tanto, o paciente apresentava piora progressiva do quadro. Ao ser avaliado novamente, com mais cuidado, obser-
vou-se que uma distensão abdominal impor tante se projetava sob a deslumbrante túnica de seda. Ao exame,
observava-se hiper timpanismo marcante à percussão, dissociado de qualquer sinal de irritação peritoneal.
A peristalse estava exacerbada. Não havia sinais de herniação ou qualquer cicatriz cirúrgica prévia.
Qual o diagnóstico sindrômico de
Opash? Justifique.
Qual impor tante manobra semiológica foi
omitida pela equipe e que informações impor-
tantes poderiam ser obtidas com a técnica?
Quais as suas principais hipóteses diagnósticas?
Como iniciar a investigação do caso?
Qual seria a condição mais associada ao achado
de linfonodomegalia mesentérica heterogênea na
TC e granulomas caseosos à biópsia? Haveria
indicação de cirurgia de urgência para Opash?
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De acordo com as imagens PROJETADAS, de-
screva as alterações radiológicas encontradas e dê
uma hipótese diagnóstica:
treInamento
raDIológICo
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http://#videomiolo=TREINAMENTO_RADIOLOGICO_MEDCIR05_2017
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Cirurgia - Volume 5 15Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
ode-se dizer que a obstrução intestinal é uma das síndromes
mais “democráticas” da medicina, visto que acomete tanto
homens quanto mulheres, desde a infância até a senescência.
Afinal de contas, quem é que nunca viu pelo menos um paciente com
a suspeita de obstrução intestinal?
Na nossa sequência de estudos, este módulo de Obstrução Intestinal
vem para complementar outro – o de dor abdominal – que vimos
anteriormente no curso. Dados americanos, por exemplo, sugerem
que 15% de todas as admissões emergenciais por dor abdominal são
causadas pela síndrome obstrutiva. Assim, nesta primeira seção,
revisaremos alguns conceitos iniciais para, em seguida, partir para as
principais causas da Síndrome Obstrutiva. Neste módulo, condições
importantíssimas e frequentemente cobradas em prova, como as
hérnias, serão abordadas.
Quanto ao tema, também vale a pena lembrar que embora a maior parte
das avaliações e do manejo destes quadros seja feita por cirurgiões,
não devemos encarar como se todos tivessem necessariamente
tratamento cirúrgico. Isso ficará claro por algumas questões de
prova que veremos adiante. Então, vamos começar!
Síndrome de
obStrução InteStInal
15
P
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Cirurgia - Volume 5 16Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Veja que só com esse quadro já consegui-
mos responder algumas questões!!!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
– SP
Mulher de 65 anos de idade, com anteceden-
te de colecistolitíase, apresentou-se com qua-
dro de cólica abdominal difusa, náusea e
vômito, além de distensão e timpanismo
abdominal. O Raio-X simples de abdome
mostrou aerobilia e múltiplos níveis hidroaé-
reos. O estudo tomográfico evidenciou aero-
bilia e dilatação de alças de intestino delgado
até próximo à válvula íleo-cecal, onde se ob-
servou um cálculo biliar na luz intestinal. Qual
é o tipo de abdome agudo nesse caso?
GABARITO UNIFESP: Abdome Agudo Obs-trutivo. Veja, quadro com dor abdominal, náu-
seas e vômitos, com distensão abdominal e
exame de imagem mostrando dilatação de
alças intestinais com níveis hidroaéreos são
achados que permitem o diagnóstico de AB-
DOME AGUDO OBSTRUTIVO, ou “síndrome
de obstrução intestinal aguda”.
Conceitos Iniciais
Procure se recordar dos pacientes obstruídos
que você já encontrou... Qual é a imagem
que lhe surge imediatamente? Um paciente
que vomita, com abdome distendido, reve-
lando não evacuar há algumas horas ou dias,
não é assim? Tudo bem, essa é a clássica
exteriorização do quadro. Mas para entender-
mos melhor a obstrução, vamos nos trans-
portar para o ambiente do trato gastrointes-
tinal, imaginando uma obstrução em qualquer
ponto do seu trajeto.
Assim que ocorre o evento obstrutivo, as alças
proximais ao ponto de oclusão (isto é, as alças
que estão antes da obstrução) passam a acu-
mular fluidos originários da alimentação e do
próprio trato gastrointestinal e gases prove-
nientes da deglutição de ar atmosférico. Este
gás é composto em sua maior parte por nitro-
gênio, que é pouco absorvido. Até aí, nenhum
problema, pois a partir da eructação ou mesmo
da evacuação esses componentes seriam
eliminados aos poucos. No entanto, com a
piora ou a persistência da obstrução, a histó-
ria começa a ser um pouco diferente. Com o
passar das horas, o acúmulo de gás aumenta
a pressão intraluminal que, por sua vez, é
transmitida à parede do intestino. Só para
termos uma ideia, a pressão intraluminal nor-
mal está em torno de 2 a 4 cmH2O. Após 24
horas do início da obstrução, estes valores
chegam a 8-10 cmH2O. Com o desenvolvimen-
to de movimentos peristálticos para “brigar”
com a obstrução, podemos ter picos de 30 a
60 cmH2O nas obstruções em alça fechada.
E qual o grande problema deste aumento de
pressão? Ora, o processo que ocorre logo em
seguida é a compressão dos pequenos vasos
localizados na intimidade da parede intestinal.
Pela compressão, passamos a ter desenvol-
vimento de isquemia e ingurgitamento das
Conceitos Gerais:
O processo inicial do quadro obstrutivo é o
acumulo de fluidos e gases acima do ponto
de obstrução, a princípio aliviado pelos vômi-
tos e passagem residual por uma obstrução
parcial. Nos quadros de obstrução persisten-
te ou total, o aumento da pressão intraluminal
leva à compressão dos vasos da parede in-
testinal cursando com isquemia, edema de
alça, translocação bacteriana e peritonite.
Classificação:
Mecanismo: mecânica x funcional.
Altura: alta (delgado) x baixa (cólon/íleo distal).
Grau de obstrução: parcial (“suboclusão”)
x completa.
Gravidade: simples x complicada (estrangu-
lada).
Obstrução em “alça fechada”: oclusão em
dois pontos simultaneamente: maior risco de
estrangulamento.
Quadro Clínico:
História: dor abdominal em cólica, vômitos
(precoces e biliosos na obstrução alta, tar-
dios e fecaloides na obstrução baixa), desi-
dratação, constipação, diarreia paradoxal.
Exame Físico: hiperperistaltismo (ruídos
de timbre metálico) e distensão abdominal
(pouca na obstrução alta, importante na
obstrução baixa).
Laboratório: depleção de volume, hemocon-
centração, elevação de escórias nitrogena-
das, distúrbios eletrolíticos e acidobásicos
(especialmente a alcalose metabólica hipo-
clorêmica e hipocalêmica). Quadros de es-
trangulamento: leucocitose, elevação de
LDH, fosfato, amilase, leucocitose com des-
vio, acidose metabólica.
Exames de Imagem:
1º Exame = Radiografia simples de abdome
(sensibilidade = 60%).
*Delgado: distensão central, com observação
das pregas coniventes (“empilhamento de
moedas”).
*Cólon: distensão periférica, com observação
das haustrações.
Se não encontrar sítio de obstrução = TC
de Abdome.
Alternativas: USG e exame contrastado.
Tratamento:
- Suporte: Hidratação, correção eletrolítica,
descompressão nasogástrica, avaliar ATB.
- Conservador: Obstruções funcionais, par-
ciais, por doença de Crohn, abscessos ou
carcinomatose.
- Cirúrgico: Obstruções parciais refratárias,
totais ou estranguladas.
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Cirurgia - Volume 5 17Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
vênulas que drenam a parede com a formação
do edema de alças (FIGURA 1). A esse even-
to damos o nome de estrangulamento da alça
(ou sofrimento vascular). Estas alças edema-
ciadas, por sua vez, perdem a capacidade
absortiva e, pelo contrário, passam a secretar
mais líquidos para o lúmen intestinal, levando
ao acúmulo dos mesmos num espaço que não
pode ser aproveitado pelo organismo (perda
de líquidos para “terceiro espaço”).
Reparem então: de um quadro obstrutivo, a
princípio mais simples, podemos migrar para
isquemia de alças e hipovolemia. Nos pacien-
tes que não desobstruem o lúmen intestinal,
dois novos fenômenos ainda podem aconte-
cer: supercrescimento bacteriano e com-
prometimento arterial.
Por um lado, temos a estase de resíduos ali-
mentares e gases formando o ambiente per-
feito para a proliferação de bactérias. Entenda
que mesmo sendo um ambiente previamente
colonizado, a flora intestinal não costuma ser
tão abundante, sendo o jejuno e o íleo quase
livres de bactérias em situações habituais... A
obstrução permite o aumento gritante da flora
intestinal, sobretudo de Gram-negativos enté-
ricos (E. Coli e Klebsiella). Estes micro-orga-
nismos são responsáveis por piorar ainda mais
a distensão e podem gerar translocação bac-
teriana. Embora ainda careça de mais estudos,
esse tipo de translocação aparentemente é
um dos principais causadores de sepse na
obstrução intestinal. Perceba ainda que é jus-
tamente o aumento desproporcional das bac-
térias luminais o responsável pelo aspecto
fecaloide dos vômitos tão característico da
obstrução intestinal.
Fig. 1: Primeiro momento da obstrução in-
testinal. Aumento da pressão intraluminal
e redução do retorno venoso.
Do outro lado, temos alças que, após período
prolongado de estase venosa, passam a sofrer
também isquemia (processo conhecido como
“estrangulamento”). Entenda que o próprio
edema gerado pela congestão venosa é res-
ponsável pela oclusão arteriolar e isquemia
local. Essas alças ficam vulneráveis à necrose
da parede e sua consequente ruptura e peri-
tonite fecal. Os pacientes que se encontram
neste estágio de doença evoluem rapidamente
para sepse e óbito (FIGURA 2).
A própria distensão das alças também pode
assumir grandes proporções. Neste caso, há
transmissão do aumento de pressão intraluminal
para a cavidade abdominal promovendo duas
importantes repercussões hemodinâmicas:
• Diminuição do retorno venoso.
• Restrição à mecânica diafragmática.
Resumindo, a obstrução intestinal é sempre
um quadro de gravidade em potencial. E quem
é que dita o prognóstico?
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
DO NORTE – UFRN
O fator que, isoladamente, está associado a
um pior prognóstico para os pacientes com
obstrução intestinal é:
a) Obstrução de intestino grosso.
b) Estrangulamento de alça intestinal.
c) Obstrução de intestino delgado.
d) Diabetes mellitus.
O estrangulamento de alças promove sofri-
mento arterial do segmento intestinal. Isto tem
duas consequências graves: estase fecal com
proliferação bacteriana e ruptura de alça. Nes-
tes casos a mortalidade é alta. Resposta: B.
Classificação
A obstrução intestinal costuma ser classificada
de diferentes formas, a fim de facilitar a abor-
dagem diagnóstica e terapêutica. A primeira
delas seria de acordo com o mecanismo da
obstrução (mecânica x funcional). As obstru-
ções mecânicas são aquelas que cursam com
uma barreira física ocluindo o lúmen, de modo
a impedir o trânsito normal dos alimentos. Na
obstrução funcional, o paciente não apresen-
ta nenhum ponto físico de oclusão, mas sim
um comprometimento da função motora. Con-
forme veremos abaixo, um grande diferencial
é que as obstruções mecânicas, na tentativa
de vencer o ponto de oclusão, cursam em um
primeiromomento, com intensa peristalse de
luta, enquanto nos distúrbios funcionais a pe-
ristalse está frequentemente diminuída.
Em seguida, podemos dividir ainda as obstru-
ções mecânicas quanto a:
• Altura: alta (delgado) x baixa (cólon). É in-
teressante lembrar apenas que as obstruções
ileais costumam se comportar de forma mui-
to semelhante à obstrução colônica; sendo
Fig. 2: Sofrimento isquêmico de alças com
ruptura e peritonite fecal.
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Cirurgia - Volume 5 18Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
assim consideradas como obstrução “baixa”
por alguns autores.
• Grau de obstrução: parcial (“suboclusão”)
x completa. Pacientes com oclusão intestinal
completa apresentam a síndrome de obstru-
ção clássica que apresentaremos a seguir.
O marco destes pacientes é a parada com-
pleta do trânsito intestinal associada à au-
sência de gases e fezes nas porções distais
à obstrução. Nos casos de obstrução intes-
tinal parcial (ou incompleta), há alguma pas-
sagem de gases e fezes líquidas para o in-
testino distal à obstrução (diarreia paradoxal).
A grande importância de diferenciar as obs-
truções completas das parciais está na con-
duta a ser tomada. Casos de obstrução total
quase sempre são sinônimos de cirurgia de
emergência, enquanto obstruções parciais
podem ter manejo conservador.
• Gravidade: simples x complicada (estran-
gulada). Os casos de obstrução intestinal
nos quais há comprometimento do supri-
mento arterial intestinal são conhecidos
como complicados e requerem intervenção
precoce. O comprometimento vascular
pode ser a causa primária da obstrução
(isquemia enteromesentérica) ou ser cau-
sado secundariamente ao processo obstru-
tivo (hérnia estrangulada).
Agora ATENÇÃO:
Outro termo comum é o de “obstrução in-
testinal em alça fechada”. Ele é utilizado
para identificar uma oclusão que ocorre si-
multaneamente em dois pontos do intestino.
Neste caso, o segmento intestinal contido
entre as duas obstruções desenvolve rápido
acúmulo de gases e líquidos e fica mais su-
jeito à ruptura. Várias patologias podem cur-
sar com obstrução intestinal em alça fechada,
como, por exemplo, volvo e hérnias encarce-
radas. Entretanto, a obstrução intestinal em
alça fechada mais “famosa” é a que ocorre
no cólon de um paciente com a válvula ileo-
cecal competente. Nestes casos, o acúmulo
de gases e líquidos que ocorre na região
proximal à obstrução não pode se difundir
pelo intestino delgado, pois a válvula ileoce-
cal impede o retorno do conteúdo para o íleo
terminal (FIGURAS 3 e 4). Note que se a
válvula for incompetente, o conteúdo conse-
gue refluir através dessa para o intestino
delgado, aliviando a pressão intraluminal.
Guarde este conceito:
“As obstruções intestinais em alça
fechada tendem a gerar altas pressões
intraluminais e são mais propensas a
causar ruptura de alças.”
Fig. 3: Obstrução com válvula ileocecal
competente (maioria dos casos) e incom-
petente.
Quadro Clínico
História Clínica
As questões de prova são extremamente re-
petitivas quando abordam o tema “síndrome
da obstrução intestinal”. No quadro abaixo
você encontra os principais achados descritos
nestas questões:
Fig. 4: Obstrução com válvula compe-
tente. Perceba a intensa dilatação do
cólon sem nenhum sinal de distensão
de delgado.
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Cirurgia - Volume 5 19Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
A dor abdominal é o marco dos pacientes
com síndrome da obstrução intestinal. Graças
às vigorosas contrações (peristalse de luta)
que ocorrem nas oclusões mecânicas de del-
gado para vencer o ponto de obstrução, a dor
é em cólica na região periumbilical e ocorre
em paroxismos a cada 4-5 minutos, aliviando-
-se nos intervalos. Quanto mais alta a obstru-
ção mais intensa será a dor. Como o intestino
grosso é mais complacente, os sintomas álgi-
cos evoluem mais lentamente nos casos de
obstrução deste segmento intestinal. Com o
progredir da obstrução, a dor passa a ser mais
intensa e contínua.
Mas cuidado com as pegadinhas: “Idosos
podem apresentar quadros álgicos atípicos.”
Nos idosos, a dor pode ser pouco pronuncia-
da ou tardia. Em alguns casos, há relato de
dor intermitente que surge nos períodos de
peristalse e melhora entre eles.
Em casos de estrangulamento, a dor tende
a ser intensa, contínua, localizada e despro-
porcional ao quadro clínico do paciente, que
pode apresentar ainda febre, taquicardia e
leucocitose. A clínica, entretanto, não é sufi-
ciente para diferenciar a obstrução intestinal
com ou sem estrangulamento. Nem mesmo
os exames de imagem são precisos para o
diagnóstico, uma vez que a maior parte dos
achados correspondem a manifestações tar-
dias da isquemia visceral!
“Não há dados clínicos confiáveis para
diferenciar pacientes com ou sem estran-
gulamento de alças, logo todos os pacien-
tes suspeitos devem ser submetidos à
imediata investigação e encaminhados
diretamente ao centro cirúrgico.”
Além da dor, outra queixa clássica dos pacien-
tes com síndrome obstrutiva intestinal são os
vômitos. Inicialmente, são biliosos e mucoi-
des. No entanto, com o passar do tempo po-
dem se tornar fecaloides. Quanto mais proxi-
mal no tubo digestivo for uma obstrução, mais
precoces e intensos serão os vômitos. Já nas
obstruções de cólon, os vômitos são tardios e
podem estar ausentes.
Apesar de obstruídos, alguns pacientes (sobre-
tudo aqueles com obstrução parcial), por conta
do aumento inicial da peristalse, podem se
apresentar transitoriamente com um quadro de
diarreia, conhecido como diarreia paradoxal.
Esse evento é mais raro naqueles com obstru-
ção total. Compondo outra queixa, os soluços
(ou singultos) também são comuns em pacien-
tes com síndrome da obstrução intestinal, em-
bora não tenham tanta importância clínica
quanto as demais.
Você percebeu, portanto, que a clínica do
nosso paciente pode ajudar a diferenciar a
“altura” da obstrução. Veja as peculiaridades
clínicas das obstruções de delgado e de cólon
resumidas na tabela abaixo:
Obstrução
de delgado
Dor
Vômitos
Características
dos vômitos
Distensão
abdominal
Alta
Tipo cólica
com maior
frequência de
paroxismos
(a cada qua-
tro a cinco
minutos)
Precoces
Biliosos
Discreta
Baixa
Tipo cólica
com menor
frequência de
paroxismos
ou contínua
Tardios
Fecaloides
Exuberante
Início da dor
Característica
da dor
Localização da
dor
Início dos
vômitos
Características
dos vômitos
Constipação
Obstrução
de delgado
Precoce
Cólicas
(paroxismos)
Mesogastro
Precoce
Biliosos (obs-
trução alta) ou
fecaloides (obs-
trução baixa)
Tardia
Obstrução
de cólon
Tardia
Tende a ser
contínua
Periumbilical
e hipogastro
Tardio ou au-
sente
Fecaloides
Precoce
Dor abdominal
em cólica
Vômitos Diarreia pa-
radoxal
Parada da elimi-
nação de gases
e fezes
Comprometi-
mento hemo-
dinâmico
Desidratação
e distúrbios
eletrolíticos
Complementando ainda mais essa tabela, as
obstruções de delgado podem ser subdividi-
das em “alta” (duodeno-jejuno) e “baixa”
(íleo). Observe que as manifestações ileais
são bastante semelhantes às da obstrução
colônica, o que leva a alguns autores consi-
derarem esta porção do delgado como obs-
trução baixa também:
CONCEITO: A clínica é muito pouco sensível
para diferenciar a altura da obstrução intesti-
nal. É preciso combinar com os achados ra-
diológicos que você revisará adiante.
Resumindo: diante de um quadro de DOR
ABDOMINAL + DISTENSÃO + PARADA de
eliminação de gases e fezes, devemos sempre
nos lembrar da obstrução intestinal.
Vamos treinar?
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDA-
DE ESTADUAL DE LONDRINA – PR
Homem de 72 anos, 70 kg, e com altura = 1,72
m, chegou ao pronto-socorro com história de:
há 12 horas dor abdominal intensa, tipo cólica;
há 4 horas parada de eliminação de flatos e
fezes, com vômitos de líquido amarronzado e
com odor fétido, redução do volumeurinário
e queda importante do estado geral. Refere
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Cirurgia - Volume 5 20Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
alteração do hábito intestinal há cerca de um
mês passando a ficar mais obstipado. Nega
cirurgias abdominais prévias. Ao exame: pres-
são arterial = 100 x 70 mmHg, pulso = frequên-
cia cardíaca = 110 bpm, temperatura = 37,4°C,
descorado, com distensão abdominal impor-
tante. Das alterações de exame físico descri-
tas abaixo será mais compatível com o quadro
clínico deste paciente o achado de:
a) Desaparecimento da macicez hepática.
b) Descompressão positiva em hipocôndrio
direito.
c) Massa compressível em fossa ilíaca es-
querda.
d) Ruídos hidroaéreos metálicos, em salva.
e) Sinal do obturador positivo.
Paciente com quadro clássico de obstrução
intestinal mecânica. Nesses casos, podemos
encontrar inicialmente o aumento da peristal-
se, que se torna mais intensa, assumindo um
timbre metálico. Gabarito letra D.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
ASSOCIAÇÃO FLUMINENSE DE ASSISTÊN-
CIA À MULHER, À CRIANÇA E AO IDOSO – RJ
Quais sinais e sintomas a seguir MAIS suge-
rem um abdome agudo obstrutivo?
a) Vômitos, febre e leucocitose.
b) Dor contínua, tontura e vômitos.
c) Distensão abdominal, dor em cólica, ante-
cedentes de cirurgia no abdome.
d) Distensão Abdominal, febre, dor contínua
e vômitos.
e) Blumberg positivo, hipotensão e taquicardia.
Agora ficou fácil: Dor + Distensão + Parada.
Além disso, ainda temos história de cirurgia
abdominal prévia (fator de risco para brida).
Gabarito letra C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROS-
SO DO SUL – UFMS
Qual dos sinais e sintomas abaixo NÃO é ob-
servado na obstrução intestinal do jejuno baixo?
a) Vômitos precoces.
b) Distensão abdominal.
c) Vômitos fecaloides.
d) Timpanismo abdominal.
e) Níveis escalonados ao RX de abdome.
Obstrução de delgado distal manifesta-se
de forma semelhante às obstruções colônicas:
vômitos tardios e fecaloides associados a uma
distensão abdominal proeminente. Já é pos-
sível perceber que a letra A está incorreta...
Em relação à letra E, sabemos que os exames
de imagem ainda não foram discutidos, mas
aprenda desde já que dilatação de múltiplas
alças com níveis hidroaéreos promovidos pe-
las obstruções baixas de delgado é responsá-
vel pela imagem característica em “níveis
escalonados” na radiografia de abdome. Op-
ção “A” correta.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE
SANTA CATARINA – SC
Sobre o quadro clínico de um abdome agudo
obstrutivo, assinale a alternativa INCORRETA.
a) Os principais sintomas de uma obstrução
intestinal são a dor abdominal em cólica, os
vômitos, a parada da eliminação de gases e
fezes e a distensão abdominal.
b) Nas obstruções altas pode não haver dis-
tensão abdominal.
c) Os vômitos fecaloides ocorrem tipicamente
em obstruções do cólon, principalmente quan-
do a válvula ileocecal é competente.
d) No caso de uma obstrução intestinal alta têm-
-se vômitos precoces e intensos.
e) No início do quadro encontram-se ruídos
hidroaéreos aumentados em intensidade e
frequência.
Analisando as opções:
A) De fato, a dor do tipo cólica, os vômitos e
a distensão abdominal são sintomas clás-
sicos da síndrome de obstrução intestinal.
Correta.
B) Quanto mais alta a obstrução, menos proe-
minente é a distensão abdominal e mais
precoces e proeminentes são os vômitos.
Correta.
C) Os vômitos fecaloides são típicos das obs-
truções baixas. Quando provenientes do
cólon, é necessário que haja uma incom-
petência da válvula ileocecal para que o
conteúdo da obstrução retorne e seja re-
gurgitado. Incorreta.
D) Correta e complementa a letra B.
E) Independentemente do sítio da obstrução,
o primeiro reflexo do trato gastrointestinal
frente a uma obstrução é o aumento da
frequência e intensidade das ondas peris-
tálticas. Correta.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE
JANEIRO – UFRJ
A presença de secreção fecaloide pode ser
explicada por:
a) Obstrução intestinal abaixo do ângulo de
Treitz.
b) SNG mal posicionada.
c) Obstrução intestinal baixa.
d) Válvula ileocecal incompetente.
Ficou em dúvida sobre as opções A, C e D?
Então saiba que esta questão foi muito polê-
mica!!! Aproveite para aprender: tanto as obs-
truções de cólon quanto as de delgado baixa
podem provocar vômitos fecaloides. Nas obs-
truções de delgado baixas, os vômitos feca-
loides ocorrem por supercrescimento bacte-
riano, que metaboliza o conteúdo intraluminal
proximal à obstrução, causando um aspecto
de fezes. Nas obstruções de cólon com válvu-
la ileocecal incompetente, os vômitos fecaloi-
des ocorrem por retorno de fezes do cólon
para o delgado, através da válvula ileocecal
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Cirurgia - Volume 5 21Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
incompetente. O gabarito oficial foi D, mas a
opção C também está correta. Um fato que
fala a favor da opção C é que os vômitos são
muito mais comuns nas obstruções de delga-
do baixas do que nas obstruções de cólon!
Exame Físico
Os principais sinais encontrados ao exame
físico na obstrução são a distensão abdomi-
nal e o hiperperistaltismo (peristalse de luta),
geralmente mais importantes nas obstruções
mais baixas (ex.: íleo distal) do que no delga-
do proximal, quando podem até mesmo estar
ausentes. Com relação ao aumento da peris-
talse, temos o aparecimento de sons de timbre
metálico característicos (borborigmos). Inclu-
sive, nos pacientes mais magros, as ondas de
peristalse podem ser visualizadas (ondas de
Kusmaull). No curso da doença, essas ondas
tendem a ficar mais fracas e a desaparecer,
quando se observa a ausência de ruídos aé-
reos na ausculta do abdome.
Em todo paciente com suspeita de obstrução
intestinal, devemos realizar o toque retal, exa-
me simples que pode ajudar na busca por um
diagnóstico. Devemos avaliar três variantes:
• Presença de gases e fezes na ampola retal;
• Presença ou não de sangue / coagulo;
• Presença de massas que justifiquem a obs-
trução.
Veja como é simples: se durante o toque retal,
palparmos alguma massa (tumor, coágulo ou
fecaloma), devemos pensar nessa massa
como causa da obstrução. Além disso, se
sentirmos a presença de fezes e gases, pen-
saremos a princípio em uma obstrução funcio-
nal. Agora, se durante o toque não sentirmos
nem fezes nem gases, devemos pensar em
obstrução mecânica.
Como vimos, outra importante consequência da
obstrução intestinal seria a desidratação, seja
por vômitos, perdas de líquidos para o lúmen
intestinal ou diminuição do retorno venoso por
aumento da pressão intra-abdominal. O pacien-
te pode então se apresentar com ressecamento
de mucosas, oligúria, taquicardia e hipotensão.
No entanto, taquicardia e hipotensão também
podem ser sinais de estrangulamento de alça e
peritonite. Nestes casos, costuma vir associada
à febre, alteração do nível de consciência, cho-
que e sinais de irritação peritoneal.
Guarde este conceito: Alterações do nível
de consciência, taquicardia e febre são três
sinais de alerta para peritonite num paciente
com síndrome da obstrução intestinal. No
exame físico, estes casos cursam com sinais
de irritação peritoneal (dor intensa à palpação,
descompressão dolorosa, defesa abdomi-
nal...), mas, como já foi dito, não há sinais
clínicos confiáveis para diferenciar obstruções
com ou sem estrangulamento e perfuração.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL ESTADUAL DO ACRE – AC
Paciente feminina, 84 anos, deu entrada na
UPA com queixas de dor abdominal difusa,
tipo cólicas e vômitos com evolução de 48h.
Há 24h com parada de eliminação de fezes e
flatos. Solicitaram RX de abdome em pé e
deitado, que demostrou distensão difusa de
delgado e de todo cólon. Com base apenas
nesses dados, como diferenciar uma obstru-
ção mecânica de um íleo metabólico?
a) Verificar se há macicez móvel.
b) Realizar toque retal.
c) Avaliar se o Sinal de Joubert é positivo.
d) Realizar tonometria do suco gástrico.
Questão interessante que tecobra a abor-
dagem inicial no paciente obstruído. O que
não podemos esquecer durante o exame físi-
co é a realização do toque retal. Se durante o
toque não for sentida a presença de fezes,
gases, muito provavelmente estaremos dian-
te de uma obstrução mecânica, que obstruiu
completamente um segmento intestinal, impe-
dindo a passagem de qualquer conteúdo, por
isso o toque é dito vazio. Já nas obstruções
funcionais, quando realizamos o toque, con-
seguimos sentir a presença de fezes e gases
na ampola retal, uma vez que o problema aqui
é a dismotilidade colônica. Desta forma, con-
seguimos diferenciar o íleo paralítico de uma
obstrução mecânica. Além disso, com o toque
retal, muitas vezes conseguimos dar o diag-
nóstico, por exemplo, nos casos de fecaloma
ou de tumores de reto baixo. Gabarito B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005
FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSI-
DADE DE SÃO PAULO – USP
Mulher de 76 anos de idade, com diagnóstico
de síndrome de Alzheimer, é trazida por fami-
liares que referem que a paciente está inape-
tente e não evacua há 10 dias. A filha refere
que a paciente mantinha hábito intestinal de
uma vez a cada 3 dias nos últimos 3 anos. Ao
exame clínico apresenta-se descorada 2+/4+,
desidratada +/4+, eupneica, afebril, com dor
abdominal difusa à palpação superficial e dis-
tensão abdominal. Antecedente de ressecção
intestinal. O procedimento imediato recomen-
dado para a situação descrita é:
a) Solicitar radiografia de abdome em pé e
deitado.
b) Solicitar enema baritado.
c) Passar uma sonda nasogástrica calibrosa.
d) Realizar toque retal.
e) Prescrever enteroclisma com 200 ml de
solução.
Veja o que a questão da USP fala:
• “não evacua há 10 dias”
• “desidratada +/4+”
• “dor abdominal difusa à palpação superficial”
• “distensão abdominal”
As questões de síndrome da obstrução intes-
tinal são todas repetitivas e simples. Ou seja,
não há dificuldades para o diagnóstico sindrô-
mico... E o que falta para esta paciente então?
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Cirurgia - Volume 5 22Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Aqui vem mais um conceito: você não pode
esquecer nunca que todo paciente com sus-
peita de obstrução intestinal deve ser subme-
tido ao toque retal. Este exame é tão simples
quanto importante. Perceba que ao fazer um
toque retal num paciente com síndrome da
obstrução intestinal você tem que responder
basicamente a três perguntas:
• Há gases e fezes na ampola retal?
• Há sangue na ampola retal?
• Há massas palpáveis ao toque retal?
Embora não seja um achado definitivo, a au-
sência de gases e fezes na ampola retal su-
gere obstrução intestinal total quando verifi-
cada após 6-12 horas do início do quadro.
Mas cuidado!!! Um hábito comum nas emer-
gências é descartar a possibilidade de obs-
trução intestinal nos pacientes que apresen-
tam fezes e gases ao toque retal. Este é um
grave erro. Pacientes com obstrução parcial
podem permanecer eliminando fezes e gases
apesar da obstrução. Além disso, em caso
de obstrução de regiões proximais do tubo
digestivo, a parada de eliminação de gases
e fezes pode ser tardia e só ocorrer após 12
a 24 horas do início dos sintomas. Em alguns
casos, como vimos, o aumento reacional da
motilidade de alças pode, inclusive, causar
diarreia. Resposta D.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP –
RIBEIRÃO PRETO
O sinal que pode ser encontrado em casos de
oclusão ou semioclusão do intestino delgado
e que tem significado diagnóstico desta con-
dição clínica é:
a) Patinhação.
b) Ruído hidroaéreo aumentado e com timbre
metálico.
c) Gargarejo.
d) Dor à descompressão brusca do abdome.
e) Desaparecimento da macicez hepática.
A oclusão ou semioclusão mecânica intes-
tinal se manifesta nas primeiras 24-48h com
a chamada “peristalse de luta”, isto é, o au-
mento dos movimentos peristálticos do intes-
tino proximal à obstrução. Esta é uma respos-
ta do intestino na tentativa de vencer a obs-
trução. O aumento da peristalse está associa-
do a episódios de fortes cólicas abdominais e,
no exame clínico, ao aumento dos ruídos hi-
droaéreos, que passam a apresentar timbre
metálico (hiperperistalse). Resposta: B. Após
as primeiras 24-48h, costuma ocorrer fadiga
da musculatura intestinal. As cólicas diminuem
e a ausculta abdominal pode se tornar abolida.
Exames Complementares
Exames Laboratoriais
Em se tratando de quadros obstrutivos, o la-
boratório é muito inespecífico, porém de
grande importância para avaliar o grau de
desidratação do paciente, principalmente pela
observação de hemoconcentração, distúrbios
eletrolíticos e aumento de escórias nitrogena-
das. Dentre esses distúrbios, dois são bastan-
te frequentes: alcalose metabólica hipoclorê-
mica e hipocalemia. Você lembra como eles
aparecem??
A alcalose metabólica hipoclorêmica decorre
da perda de grandes quantidades de ácido
clorídrico e cloro (H+Cl) pelos vômitos. Contu-
do, a hipocalemia não é explicada pelos vô-
mitos, visto que este íon tem baixas concen-
trações no suco gástrico. A principal causa é
a perda urinária consequente à alcalose me-
tabólica. No néfron distal, a aldosterona, im-
possibilitada de eliminar íons H+, termina por
eliminar na urina o K+, levando à hipocalemia.
Estes pacientes costumam apresentar tam-
bém o fenômeno da acidúria paradoxal. Em-
bora seja esperado, na alcalose metabólica,
como mecanismo compensatório que a urina
se torne alcalina, isso não ocorre pela presen-
ça de dois distúrbios que tornam a urina anor-
malmente ácida:
• A hipovolemia e a hipocloremia impedindo
que o excesso de bicarbonato seja eliminado.
• A hipocalemia aumentando a secreção tu-
bular de H+, promovendo assim a acidúria
paradoxal.
No entanto, é importante percebermos que
esse não é o único distúrbio que pode apare-
cer na obstrução intestinal. Nas fases avan-
çadas de doença, o sofrimento isquêmico
passa a predominar e comprometer a perfusão
tecidual. Neste momento, o metabolismo
anaeróbio produz ácido lático que gera então
acidose metabólica. Assim como a alcalose
metabólica hipoclorêmica, a acidose por desi-
dratação costuma ser revertida após a repo-
sição volêmica adequada. A persistência de
acidose deve sugerir isquemia intestinal!
É importante ainda ressaltar que esses distúrbios
são mais comuns nas obstruções intestinais
altas, nas quais os vômitos são mais proeminen-
tes. Nas baixas, os distúrbios hidroeletrolíticos
são menos comuns, mas a desidratação costu-
ma ser mais grave pelo maior volume de água
perdido para o “terceiro espaço”.
Além dos achados relacionados à depleção de
volume podemos encontrar outros associados
à inflamação e sofrimento da mucosa como a
leucocitose e o aumento de amilase, fosfato e
LDH. Embora os quadros de estrangulamento
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Cirurgia - Volume 5 23Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
cursem frequentemente com leucocitose mar-
cante com desvio para esquerda e aumento de
amilase e lactato com acidose metabólica, não
há nenhum dado com acurácia suficiente para
fazer o diagnóstico de estrangulamento de al-
ças, principalmente em pacientes idosos.
Exames de Imagem
O diagnóstico dos quadros obstrutivos obtido
por dados clínicos é geralmente confirmado
por um método de imagem, capaz de localizar
melhor o sítio de obstrução. O primeiro exame
na avaliação é a radiografia simples de abdo-
me, com uma acurácia diagnóstica de aproxi-
madamente 60%. Este método é geralmente
solicitado na emergência como componente
da famosa rotina de abdome agudo!
Você lembra como é feita a rotina de
abdome agudo?
• Radiografia de tórax.
• Radiografia simples de abdome em decú-
bito dorsal.
• Radiografia simples de abdome em ortos-
tase.
Entenda por que duas radiografias de abdome:
A radiografia em decúbito dorsal permite lo-
calizar e quantificar grosseiramente o proces-
so obstrutivo.
A radiografia de abdome em ortostase visa
avaliar a presença de gás livre na cavidade
abdominal que é um sinal indireto de ruptura
de víscera oca. Outras vantagens destainci-
dência são avaliar comparativamente a dis-
tensão abdominal e também verificar a pre-
sença de ascite. Em pacientes que não tole-
ram ficar de pé, a radiografia em ortostase
pode ser substituída por uma radiografia em
decúbito lateral.
Em muitos casos, os exames da “rotina” são
os únicos necessários na avaliação de um
paciente com obstrução intestinal.
Nas obstruções mecânicas, os achados mais
específicos são:
• distensão de alças.
• níveis hidroaéreos.
• ausência de gás e fezes nas porções distais
do intestino.
Obs.: Em alguns momentos pode ocorrer dú-
vida sobre a presença de gás no reto. Nestes
casos, pode ser útil a realização de uma ra-
diografia em incidência lateral do reto com o
paciente em decúbito lateral direito com raios
verticais.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE –
PARAÍBA – PB
Nos pacientes que são atendidos nas emer-
gências dos hospitais com suspeita de abdo-
me agudo, o exame radiológico (Rx) tem
papel fundamental na avaliação inicial. Quais
dessas incidências devem ser solicitadas
pelo médico?
a) Rx simples de abdome nas incidências
antero-posterior e perfil.
b) Rx de tórax na incidência póstero-anterior
em pé e rx simples de abdome em pé e dei-
tado.
c) Rx de abdome com contraste iodado oral
em pé e deitado.
d) Rx de abdome com contraste baritado em
pé e deitado.
e) Rx tórax com raios horizontais e abdome
póstero anterior e perfil.
Como acabamos de ver, na abordagem
inicial dos pacientes com obstrução intestinal
devemos sempre solicitar a rotina de abdome
agudo em que solicitamos três incidências
radiológicas: Tórax PA e Abdome em ortos-
tase e decúbito. Gabarito B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
RESIDÊNCIA MÉDICA DO ESTADO
DO AMAPÁ – AP
Paciente ictérico, com dor e distensão abdo-
minal, parada na eliminação de gases e fezes,
febril e com episódios de vômito. Qual o exa-
me de imagem você solicitaria inicialmente
neste caso?
a) TC abdome.
b) USG abdome.
c) CPRE.
d) Rotina radiológica para abdome agudo.
e) Colangiorressonância.
Questão que nos apresenta um paciente
com parada de eliminação de gases e fezes
+ distensão abdominal e vômitos, devemos
pensar em um abdome agudo obstrutivo, obs-
trução intestinal. Na avaliação destes pacien-
tes o primeiro exame a ser solicitado é a ra-
diografia: rotina radiológica para abdome
agudo! Gabarito D.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS – HFA
Na avaliação por imagem do abdome agudo,
as radiografias simples continuam desempe-
nhando um importante papel na obtenção de
imagem de pacientes com dor abdominal agu-
da. A(s) radiografia(s) de rotina para abdome
agudo é(são):
a) Radiografia de tórax deitado.
b) Radiografia de bacia.
c) Radiografia de tórax em pé e radiografias
de abdome em pé e deitado.
d) Radiografias de abdome, somente.
e) Radiografia de tórax de perfil.
Conceitos básicos sempre são temas cota-
dos para a prova... Agora que você já revisou,
ficou fácil demais! Opção “C” correta.
Quando a radiografia de abdome não for
elucidativa, a Tomografia Computadorizada
(TC) de abdome deve ser solicitada. A téc-
http://#scrolldown
http://#videomiolo=RCIR206030
Cirurgia - Volume 5 24Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
nica é útil principalmente nas obstruções
completas, para a definição do local e da
causa da obstrução. Além disso, ela poderia
auxiliar no diagnóstico de estrangulamento
de alças, embora os achados sejam de is-
quemia mais tardia e irreversível. Para os
pacientes com obstrução parcial, a sensibi-
lidade da TC é bem mais baixa (< 50%)
quando estudos baritados (ex.: enteróclise)
podem ser utilizados. A ultrassonografia se-
ria uma opção para as gestantes, devido ao
risco da irradiação com os outros métodos
e pacientes graves à beira do leito. Por outro
lado, a ressonância magnética não se mos-
trou até o momento superior à TC, não sen-
do utilizada rotineiramente.
Vamos comparar os métodos?
Comparação de diversos
métodos no diagnóstico de
uma obstrução intestinal
RX simples US TC
Sensibilidade 50% 83% 93%
Especificidade 75% 100% 100%
Aproveite para aprender mais um conceito:
“O diagnóstico de obstrução intestinal deve
ser feito pela clínica e confirmado por radio-
grafias simples de abdome. A tomografia deve
ser usada apenas em casos selecionados
nos quais o diagnóstico é duvidoso”.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE PORTO
ALEGRE – HCPA
Assinale a alternativa que preenche, CORRE-
TA e respectivamente, as lacunas da frase
abaixo. A suspeita clínica de .................... deve
ser inicialmente investigada por ...................,
exame de imagem que caracteristicamente
mostrará ................, confirmando o diagnósti-
co de abdômen agudo.
a) Apendicite aguda - tomografia computado-
rizada - fecalito.
b) Obstrução intestinal - raios x de abdômen
agudo simples - distensão do intestino e pre-
sença de níveis hidroaéreos.
c) Úlcera perfurada - ultrassonografia abdomi-
nal - pneumoperitônio.
d) Diverticulite aguda - enema opaco - este-
nose e sinal da maçã mordida.
e) Colecistite aguda - colangiorressonância
magnética - espessamento das paredes da
vesícula.
Conforme você acabou de revisar, as lacu-
nas se alinham perfeitamente com o gabarito
previsto na alternativa B. E as outras opções?
A colecistite deve ser inicialmente investigada
com USG, a diverticulite com tomografia e a
úlcera perfurada com uma rotina de abdome
agudo, tornando essas opções incorretas. A
apendicite pode ser abordada inicialmente
com uma tomografia de abdome nos casos
duvidosos, porém a presença de fecalito não
é obrigatória para o diagnóstico da mesma!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RIO DE JANEIRO – UFRJ
Sr. Olavo, 80 anos, com dor abdominal em có-
lica, distensão e parada de eliminação de gases
e fezes há 24 horas. Há 6 horas iniciou vômitos
biliosos. Dois episódios semelhantes há 3 e 6
meses, com resolução espontânea após 2 dias
de internação. Exame físico: fácies de dor e
agitação. Tax = 37.8°C; FC = 110 bpm; PA =
150/60 mmHg, FR = 24 irpm; hipocorado ++/4+,
desidratado +++/4+, anictérico. Enchimento
capilar lentificado. Abdome muito distendido,
hipertimpânico com dor difusa à palpação pro-
funda; percebem-se ruídos metálicos ao aus-
cultar o abdome. É necessária investigação por
métodos de imagem. A primeira opção é:
a) Tomografia computadorizada com contras-
te oral.
b) Rotina convencional para abdome agudo.
c) Angiorressonância abdominal.
d) Enema opaco com bário diluído.
Vamos destacar algumas passagens:
• “dor abdominal em cólica” e ainda “dor difusa
à palpação profunda”
• “distensão” e ainda “abdome muito distendi-
do, hipertimpânico”
• “parada de eliminação de gases e fezes”
• “vômitos biliosos”
• “ruídos metálicos”
Não há dúvidas de que se trata de uma sín-
drome de obstrução intestinal, não é? Mas não
é isto que a UFRJ quer saber. A pergunta é:
“Qual o primeiro exame de imagem a ser rea-
lizado num paciente com obstrução intestinal?”
Então, não esqueça este conceito clássico:
“O primeiro exame radiológico a ser solici-
tado em um paciente com suspeita de sín-
drome de obstrução intestinal aguda deve
ser a radiografia simples de abdome”.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DO
ESPÍRITO SANTO – UFES
Homem com 72 anos, dor abdominal em cólica
há 24 horas. Parada de eliminação de gases e
fezes, negando enjoo ou vômitos. Ao exame
clínico, distensão abdominal, timpanismo, com
ausência de descompressão dolorosa e ruídos
peristálticos aumentados. Toque retal descrito
como sem anormalidades. Recebendo este
paciente no Pronto-Socorro, qual procedimen-
to solicitaria para confirmar o diagnóstico?
a) Colonoscopia virtual.
b) Tomografia abdominal.
c) Enema (clister) Opaco.
d) Radiografia simples de abdome.
e) Videocolonoscopia.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
HOSPITAL DE URGÊNCIA
DE GOIÂNIA – HUGO
No abdome agudo obstrutivo qual o primeiro
exame de imagem a ser solicitado?
a) Raios-X derotina de abdome agudo.
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Cirurgia - Volume 5 25Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
b) Tomografia computadorizada do abdome.
c) Ultrassonografia de abdome total.
d) Enema opaco.
O conceito é exatamente o mesmo. Res-
postas: D e A.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
HOSPITAL DE URGÊNCIA DE GOIÂNIA –
HUGO
Caso o exame escolhido não esclareça sua
suspeita diagnóstica, qual a próxima etapa em
relação aos exames de imagem no abdome
agudo obstrutivo?
a) Raios-X de rotina de abdome agudo.
b) Tomografia computadorizada do abdome.
c) Ultrassonografia de abdome total.
d) Enema opaco.
Complementando a questão anterior do
HUGO... Resposta: B.
Tratamento
Ao longo da apostila, falaremos do manejo das
diversas causas de obstrução intestinal. En-
tretanto, alguns aspectos gerais pertinentes a
Como identificar a altura da obstrução
intestinal na radiografia simples de
abdome?
Distensão de estômago: Normalmente, ve-
mos no estômago uma pequena bolha de ar
deglutido conhecido como “bolha gástrica”.
Entretanto, em casos de obstrução ao trato
de saída gástrico podemos perceber um gran-
de acúmulo de gás e alimentos estendendo-
-se através da parte superior do abdome.
Distensão de delgado: Em geral, é vista como
múltiplas alças distendidas organizadas no cen-
tro do abdome. Na maior parte das vezes, a
dilatação não ultrapassa 5 cm. No jejuno são
mais evidentes finas estrias cruzadas enfileira-
das representando as válvulas coniventes. Este
achado clássico é conhecido como padrão de
“empilhamento de moedas”. Um cuidado a ser
tomado é que em situações onde há compro-
metimento vascular, com consequente edema
e gangrena, este padrão de estrias pode desa-
parecer e causar confusão com as haustrações
do cólon. Na radiografia de abdome em pé,
múltiplos níveis hidroaéreos podem ser visuali-
zados, em um padrão conhecido como níveis
“em degraus” ou “escadaria”. Segundo a última
edição do Harrison, a associação desse padrão
Note a distensão de múltiplas alças
com distribuição central e as estrias
cruzadas representando as válvulas
coniventes.
Note o grande acúmulo de gás
no estômago de um paciente com
atresia duodenal.
com a ausência de gás no cólon é patognomô-
nica de obstrução de intestino delgado.
Distensão de cólon: É facilmente identifi-
cável pelas haustrações típicas e a distribui-
ção periférica das alças. Entretanto, em
casos de dilatações de grande monta, este
padrão radiológico pode ser perdido e con-
fundir o observador.
Obs.: A presença de fezes sólidas é um dos
poucos sinais confiáveis de que a obstrução
é do cólon.
No exame contrastado fica evidente a
dilatação de uma alça de delgado com
o padrão clássico de empilhamento de
moedas.
Presença de múltiplos níveis hidroaé-
reos “em degraus” ou “escadarias”.
Perceba as haustrações do cólon.
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Cirurgia - Volume 5 26Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
todos os quadros obstrutivos devem ser leva-
dos em consideração:
* REPOSIÇÃO DE FLUIDOS E ELETRÓLITOS
Antes de realizar qualquer procedimento ci-
rúrgico de emergência é necessário avaliar o
estado hemodinâmico e os possíveis distúr-
bios hidroeletrolíticos associados. A correção
destes fatores é obrigatória. Cateterização
vesical deve ser realizada para quantificar o
débito urinário.
* ANTIBIÓTICOS
Embora não haja nenhum grande estudo clíni-
co controlado que norteie adequadamente a
conduta, normalmente é iniciado antibiótico
profilático de largo espectro pelo risco de trans-
locação bacteriana que pode ocorrer mesmo
nos casos simples. O antibiótico também é útil
caso seja realizada ressecção ou para uma
lesão acidental de delgado durante a cirurgia.
De uma maneira mais prática, podemos pensar
da seguinte maneira: antibioticoterapia se hou-
ver sofrimento de alça ou perfuração, ou anti-
bioticoprofilaxia nos demais casos.
* DESCOMPRESSÃO GÁSTRICA
O paciente deve ser mantido em dieta zero
e uma sonda nasogástrica deve ser instalada
a fim de reduzir sintomas como náuseas,
distensão abdominal e o risco de vômitos e
broncoaspiração. Embora se utilizassem no
passado sondas mais longas para descom-
pressão (ex.: sonda de Baker), não houve
benefício comprovado com esta prática em
relação à sonda nasogástrica (ex.: sonda de
Levine), sendo a preferência atual por esta
última. Em casos de obstrução baixa, uma
sonda retal pode ser usada.
* CIRURGIA
Com exceção de algumas situações, o trata-
mento cirúrgico é a terapia padrão para os
quadros obstrutivos, visando sempre a abor-
dagem dos mesmos antes do desenvolvimen-
to da isquemia (estrangulamento), evento que
piora bastante o prognóstico destes pacien-
tes. Entre essas exceções, encontramos:
- Obstrução funcional: como veremos, são
condições mais transitórias e reversíveis com
a suspensão de fatores desencadeantes,
drogas colinérgicas etc.
- Obstrução parcial: como o risco de evolução
para estrangulamento é menor, a abordagem
conservadora (terapia de suporte) é adequa-
da em até 80% dos quadros. Caso não haja
melhora dos sintomas dentro de 48h, o pro-
cedimento cirúrgico deve ser indicado.
- Doença de Crohn / Enterite actínica: os qua-
dros agudos podem ser manejados com cor-
ticoterapia, sem necessidade de cirurgia, que
fica reservada para os quadros crônicos e
estenóticos.
- Abscessos: podem ser drenados levando ao
alívio da obstrução.
- Carcinomatose: em pacientes com doença
terminal e metástases disseminadas, se pos-
sível, manejar de forma conservadora. A rea-
lização de um by-pass da lesão, por qualquer
meio que seja (ex.: ostomias, stents), é pre-
ferível às abordagens cirúrgicas mais exten-
sas como a ressecção de alças.
Nos demais quadros (obstruções parciais
refratárias, totais ou estranguladas) fica
sempre indicada a cirurgia. O procedimento
dependerá do local e da causa de obstrução
(ex.: ressecção tumoral, lise de aderências,
reparo das hérnias etc.). De qualquer forma,
assim como na abordagem das doenças
vasculares intestinais, toda alça que não
seja viável deve ser ressecada. Os principais
critérios utilizados na avaliação são: cor,
peristalse e pulsação. Outros métodos pos-
síveis para avaliação das alças são a reali-
zação peroperatória de fluxometria com
Doppler na borda antimesentérica e inspe-
ção com lâmpada de Wood após injeção
intravascular de fluoresceína.
Videolaparoscopia na obstrução intestinal,
pode?
Durante muitos anos acreditou-se que a obs-
trução intestinal era contraindicação absoluta
para realização de videolaparoscopia devido
ao grande risco de lesão iatrogênica das al-
ças dilatadas. Recentemente, o método vem
sendo empregado com sucesso em algumas
situações sem que as temidas complicações
ocorram. São elas:
• Distensão abdominal moderada, permitindo
a visualização da cavidade
• Obstrução intestinal proximal
• Obstrução intestinal parcial
• Obstrução “pontual” reconhecida previa-
mente (ex.: brida simples diagnosticada por
tomografia).
Infelizmente, a maior parte dos pacientes com
obstrução intestinal não se enquadra nas si-
tuações descritas... Todavia, naqueles em
que é passível a intervenção videolaparos-
cópica percebemos benefícios claros como
uma menor dor pós-operatória e redução no
tempo de internação. No entanto, durante o
ato operatório, devemos ter cuidado especial
na introdução dos trocateres e também du-
rante a manipulação das alças.
Resumindo...
Tratamento conservador: Obstruções fun-
cionais, parciais, por doença de Crohn, abs-
cessos ou carcinomatose.
Tratamento cirúrgico: Obstruções parciais
refratárias, totais ou estranguladas.
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Cirurgia - Volume 5 27Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Estabelecidos esses passos iniciais, tratare-
mos da abordagem específica de cada causa
de obstrução nos capítulos seguintes. Por ora,
vamos fixar estes últimos conceitos com as
questões abaixo.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO – RJ
Um paciente dá entradano pronto-socorro
com história de dor abdominal em cólica, vô-
mitos fecaloides, parada de eliminação de
gases e fezes e distensão abdominal de gran-
de volume. O quadro clínico se iniciou há dois
dias e está piorando. Nega outras doenças,
mas refere cirurgia para úlcera perfurada três
anos antes. Ao exame físico apresenta cicatriz
mediana supraumbilical, hipertimpanismo,
distensão abdominal sem irritação peritoneal
e ausculta cardiorrespiratória normal. Ele está
desidratado, oligúrico e hipotenso. Tem uma
hérnia inguinal direita pequena, indolor e re-
dutível. A radiografia do abdome mostra níveis
hidroaéreos de delgado. Os exames laborato-
riais mostram 11.000 leucócitos e 2% de bas-
tonemia. Amilase e lipase nos limites da nor-
malidade. Qual sua hipótese diagnóstica e a
melhor conduta imediata indicada?
a) Abdome agudo inflamatório. Antibioticote-
rapia e laparotomia imediata.
b) Hérnia inguinal estrangulada. Laparotomia
imediata.
c) Obstrução intestinal em alça fechada. Co-
lostomia derivativa.
d) Obstrução intestinal por brida. Passagem
de sonda nasogástrica e reposição hídrica.
Paciente apresentando quadro compatível
com obstrução intestinal – dor abdominal em
cólica e parada de eliminação de gases e fezes
– com localização alta – vômitos fecaloides e
níveis hidroaéreos de delgado. Apresenta hér-
nia inguinal, porém sem nenhum sinal de en-
carceramento ou estrangulamento que pudes-
sem justificar a obstrução. Lembrando que o
paciente possui cirurgia prévia e que a ade-
rência intestinal (também conhecida como
brida) é a principal causa de obstrução intes-
tinal de delgado (responsável por 50-75% dos
casos) podemos apontar este diagnóstico
como o mais provável. A conduta inicial deve
ser de suporte, mantendo o paciente em dieta
zero, hidratação e descompressão com sonda
nasogástrica, o que resolve a maioria dos ca-
sos. Os casos de obstrução completa ou re-
fratários irão necessitar posteriormente de
cirurgia com lise de aderências, mas lembrar
de que esta decisão deve ser criteriosa, visto
que novas cirurgias promovem mais aderên-
cias. Gabarito D!!!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
INSTITUTO DE CARDIOLOGIA DO RIO
GRANDE DO SUL – RS
Pablo foi submetido a apendicectomia há 27
dias, chegou no pronto atendimento com dor
abdominal forte, vômitos intensos, abdome
distendido e ruídos hidroaéreos ausentes.
Marque a alternativa que indica o exame com-
plementar indicado para diagnóstico e a hipó-
tese diagnóstica mais provável.
a) Ultrassonografia abdominal, abdome agudo
obstrutivo.
b) RX simples de abdome, abdome agudo
obstrutivo.
c) Tomografia de abdome, abdome agudo in-
flamatório.
d) Tomografia de abdome, abdome agudo
obstrutivo.
e) Ultrassonografia abdominal, abdome agudo
inflamatório.
A questão nos apresenta um paciente que
foi submetido a uma cirurgia abdominal (apen-
dicectomia) há 27 dias, que evoluiu com um
quadro típico de obstrução intestinal alta! Veja:
distensão abdominal, ausência de ruídos hi-
droaéreos e vômitos intensos. Ou seja, esta-
mos diante de um abdome agudo obstrutivo,
e neste contexto, a principal causa seria a
formação de aderência (brida) pós-operatória.
E qual seria o primeiro exame? A radiografia,
que nos ajuda a identificar o padrão deste
processo obstrutivo. A TC fica reservada para
aqueles casos mais duvidosos. Logo, gabari-
to letra B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
PROVA UNIFICADA DE SANTA CATARINA
– SC
Paciente do sexo masculino, 43 anos, apresen-
ta desconforto abdominal epigástrico e, ocasio-
nalmente, cólicas abdominais difusas e inten-
sas. Evolui com vômitos incoercíveis, chegan-
do a apresentar vômitos fecaloides. Os exames
revelam elevação de amilase e leucocitose. O
paciente realiza exames radiológicos que con-
firmam o diagnóstico de obstrução completa de
intestino delgado. Após a adequada estabiliza-
ção do paciente, o tratamento definitivo indica-
do para esse paciente é:
a) Cirurgia.
b) Sonda nasogástrica.
c) Sonda retal.
d) Dieta zero prolongada.
e) Dieta parenteral.
O enunciado “passeia” um pouco pela sua
cabeça, mas, no final, a pergunta é simples e
direta: que conduta deve ser tomada diante
de uma obstrução intestinal COMPLETA (isto
é, não passa nada pelo intestino)? É claro que
não tem outro jeito: o paciente deve ser sub-
metido a uma abordagem cirúrgica, com res-
secção primária do sítio da obstrução.
Resposta certa: A.
Para finalizar, ainda em cima desta ques-
tão...
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JA-
NEIRO – UFRJ
Na avaliação por método de imagem, o forte
indício para cirurgia de emergência é:
a) Tortuosidade e placas ateromatosas em
aorta abdominal.
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Cirurgia - Volume 5 28Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
b) Ausência de gás no reto, distensão do colo
com níveis hidroaéreos.
c) Imagem sugestiva de colelitíase.
d) Aumento da cabeça do pâncreas.
Como vimos acima, a diferenciação entre
obstruções completas e parciais têm grande
importância no manejo do paciente. Neste
caso, a presença de distensão e níveis hi-
droaéreos no cólon, associados à ausência
de gás no reto sugerem uma obstrução total
de intestino grosso, indicando abordagem
cirúrgica imediata.
Resposta: B.
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Cirurgia - Volume 5 29Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
o capítulo anterior, procuramos rever os conceitos mais
importantes sobre a síndrome de obstrução intestinal. A partir
de agora, trataremos especificamente das principais causas que levam a
esta síndrome. De forma didática, separamos inicialmente estas causas em
dois grandes grupos: mecânica e funcional.
As obstruções mecânicas foram ainda divididas em “altas” ou “baixas”.
Veremos que essa padronização do raciocínio será bastante útil nas
questões: primeiro, para definirmos os diagnósticos diferenciais a serem
considerados e, em segundo, para estabelecermos nossa conduta.
CauSaS de obStrução
InteStInal
29
E para que os termos utilizados aqui não
causem confusão, gostaríamos apenas de
recordar que os livros-texto podem apresen-
tar alguma discordância em relação a esta
classificação. Nada que atrapalhe muito as
nossas questões de prova, mas que vale a
pena ser ressaltado.
Classicamente, dividimos as obstruções em
dois grandes grupos: de delgado (alta) e de
cólon (baixa).
Obstrução intestinal alta: acomete as alças
intestinais que se encontram antes da vál-
N
vula ileocecal (obstruções de estômago e
intestino delgado).
Obstrução intestinal baixa: acomete as
alças que se encontram após a válvula ile-
ocecal (obstruções de cólon).
No entanto, alguns autores preferem ainda
subdividir as obstruções de delgado em mais
dois grupos. As obstruções proximais de del-
gado (duodeno e jejuno) são chamadas de
“altas” e, logicamente, as obstruções distais
de delgado (íleo) são chamadas de baixas.
Confira no organograma a seguir:
Alta
(estômago e
jejuno)
Baixa (íleo)
Cólon
Obstrução
Intestinal
Delgado
Só para que tenhamos uma noção completa
do assunto, ainda há aqueles que preferem
uma terceira proposta, menos usada pelos
livros-texto. Apenas “passe o olho”: obstrução
intestinal muito alta (duodeno); alta (jejuno) e
baixa (íleo e cólon).
Agora, o mais importante, independente da
classificação a ser utilizada é que:
Conceito 1: As obstruções de delgado e de
cólon manifestam-se com algumas peculia-
ridades clínicas e radiológicas.
Conceito 2: O delgado e o cólon apresen-
tam diferentes etiologias para obstrução
intestinal.
Conceito 1 + 2: Se você é capaz de reco-
nhecer as peculiaridades da oclusão in-
testinal e assim diferenciar a altura da
obstrução, você será capaz de presumir
as possíveis etiologias e encaminhar me-
lhor o tratamento. Pois é assim, da forma
mais simples e direta possível, que dare-
mos início ao estudo das obstruções in-
testinais...
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Cirurgia - Volume 5 30Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Veja na tabela a seguir as principaiscausas de obstrução intestinal mecânica e seus respec-
tivos mecanismos:
Em seguida, dividiremos estes quadros de acordo com o sítio de obstrução: se delgado ou
cólon. Devido à importância do tema, “Hérnia” será tratada numa seção à parte. Por último
passaremos às obstruções funcionais, com ênfase no íleo paralítico e nos quadros de pseudo-
-obstrução.
Mãos à obra!!!
Brida
Hérnias
Neoplasias (carcinomatose)
Abscessos intra-abdominais
Volvo
Malformações congênitas (atresias,
estenose, duplicação...)
Inflamatórias (Crohn, tuberculose,
actinomicose, diverticulite)
Neoplasias 1as ou metastáticas
Trauma (hematoma, estenose isquê-
mica)
Intussuscepção
Endometriose
Lesão actínica
Íleo biliar
Corpo estranho
Bezoar
Fecaloma
Obstrução do
Extrínseca Intrínseca lúmen
Compressão da parede intestinal
Obstrução Intestinal Mecânica
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Cirurgia - Volume 5 31Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
OBsTruçãO MECâNICA dE dELgAdO
A tualmente, a principal causa de obstrução intestinal de del-
gado é a brida. Mas nem sempre foi assim... No passado, as
cirurgias eletivas (principal fator de risco para bridas) eram
incomuns, assim como a correção eletiva das hérnias. Nesses
tempos, as hérnias dominavam o topo das causas de obstrução a partir
de quadros emergenciais. A história começou a mudar com o aumento do
número de cirurgias eletivas, o que levou à liderança das bridas, enquan-
to as hérnias passaram a ocupar o terceiro lugar. Outras condições bem
menos comuns como a doença de Crohn, íleo biliar e divertículo também
podem ser encontradas. No entanto, não se deixe enganar, pois apesar
de raras na prática são vistas com frequência nas provas.
* O Intestino Delgado é o principal sítio de obs-
trução intestinal.
* De forma geral, costumamos classificar as
causas de obstrução em três grandes grupos:
- compressão intrínseca da parede intestinal;
- compressão extrínseca e
- obstrução intraluminal.
Extrínseca:
- Brida
- Hérnia
- Neoplasia (carci-
nomatose peritoneal
e neoplasias ex-
traintestinais)
- Abscesso
intra-abdominal
Intrínseca:
- Congênita: Atresia ou estenose; Má
rotação; Duplicações/cistos.
- Inflamatória: Doença de Crohn; Infecções
(tuberculose, actinomicose, diverticulite).
- Neoplasia (primária e metastática).
- Trauma: hematoma; estenose isquêmica.
- Diversas: Intussuscepção, Endometriose,
Pós-Actínica.
Intraluminal:
- Íleo biliar
- Corpo estranho
- Bezoar
- Enterólito
Obstrução de delgado
*São três as grandes causas de obstrução de
delgado: brida ou aderência intestinal –
60%, neoplasias – 20% e hérnia – 10%. Veja
na tabela ao lado as principais causas.
* Cada uma dessas causas exige uma abor-
dagem específica que revisaremos neste ca-
pítulo.
31
Para começarmos, observe como ape-
nas estes conceitos já nos fazem acertar
questões importantes.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL CENTRAL DO EXÉRCITO – RJ
A causa mais comum de obstrução intestinal
mecânica é:
a) Aderência.
b) Hérnia estrangulada.
c) Carcinoma de intestino.
d) Volvo intestinal.
e) Bezoar.
Questão clássica de prova! A principal cau-
sa de obstrução intestinal mecânica se deve
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Cirurgia - Volume 5 32Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
à presença de bridas ou aderências devido a
cirurgias abdominais prévias, chegando a 60%
dos casos! Gabarito A.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PROFESSOR
ALBERTO ANTUNES – AL
A causa mais comum de obstrução do intes-
tino delgado é:
a) Hérnia inguinal. d) Doença de Crohn.
b) Hérnia femoral. e) Aderências.
c) Tumores.
Questão direta. O principal sítio de obstru-
ção intestinal é o intestino delgado. E do del-
gado, a principal causa é a presença de ade-
rências intestinais (brida). Gabarito letra E.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
HOSPITAL NAVAL MARCÍLIO DIAS – HNMD
São causas comuns de obstrução do intestino
delgado:
a) Hérnias de hiato.
b) As aderências e as hérnias externas.
c) Prolapsos de reto.
d) Válvulas retais.
e) Abscessos retais.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE
SANTA CATARINA – SES-SC
Assinale a alternativa correta em relação à
causa mais frequente da obstrução do intes-
tino delgado:
a) Neoplasias.
b) Síndrome aderencial.
c) Hérnias estranguladas.
d) Divertículo de Meckel.
e) Enfermidade intestinal inflamatória.
Este tipo de questão irá se repetir... Res-
postas: B e B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CA-
TARINA – UFSC
Na obstrução do intestino delgado do adulto,
podemos afirmar:
a) O tratamento deve ser cirúrgico.
b) A fibrose cística é uma das causas.
c) As hérnias da parede abdominal são res-
ponsáveis por 30% dos casos.
d) A doença inflamatória intestinal não leva à
obstrução.
e) A obstrução alta apresenta vômitos frequen-
tes e distensão abdominal evidente.
Vejamos as opções... Nem sempre o trata-
mento será cirúrgico, a exemplo das obstruções
parciais não complicadas de delgado que po-
dem receber tratamento de suporte – opção A
errada. As hérnias, como acabamos de ver, são
responsáveis por 10% e não 30% dos quadros
obstrutivos (dá para acreditar que cobraram
percentual mesmo???) – opção C errada.
Quanto à doença inflamatória intestinal, ela
pode levar a quadros obstrutivos agudos e crô-
nicos (estenose) – opção D errada. Nas obs-
truções altas de delgado, a distensão é pouco
acentuada, diferente das obstruções mais bai-
xas – opção E errada. Sobrou apenas a opção
B que é a resposta! Agora observem: nem na
lista dos principais manuais de cirurgia ela é
citada, de onde se conclui a raridade desta
condição. Mas tudo bem... Onde mesmo estu-
damos fibrose cística no MED? No módulo de
Dispneia. Lá, revisamos que se trata de uma
doença multissistêmica autossômica recessiva,
que leva à alteração de um canal condutor de
cloreto transmembrana presente em vários
epitélios de glândulas exócrinas no organismo.
Com isto, temos disfunção de diversos órgãos
como pulmão, pâncreas e intestino. Cerca de
20% das crianças com fibrose cística apresen-
tam obstrução intestinal ao nascimento por íleo
meconial. Os adultos portadores de fibrose
cística também podem se apresentar com es-
ses episódios, sendo o mecanismo semelhan-
te ao da obstrução por mecônio espesso...
Perceba que mesmo uma questão da USP
fica muito fácil depois que dominamos os
conceitos iniciais!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011 – R3 – CIRUR-
GIA GERAL
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP
Mulher de 72 anos de idade chega ao pronto-
-socorro com queixa de dor e distensão abdo-
minal progressivas, há quatro dias. Atualmen-
te a dor é intensa (8/10), em cólica, com picos
de piora. Há cinco dias não evacua e há um
dia parou de eliminar gases. Hoje teve três
episódios de vômitos biliosos, que melhoravam
temporariamente a dor. Sempre foi obstipada.
Teve duas cesarianas. Exame clínico: regular
estado geral, consciente, orientada, descorada
2+/4+, desidratada 3+/4+, afebril, P = 116 bpm,
rítmico; PA = 140 X 90 mmHg; FR = 24 ipm,
IMC = 40 kg/m². Abdome globoso, distendido,
tenso, difusamente doloroso à palpação com
cicatriz longitudinal infraumbilical de cerca de
10 cm. Não tem sinais de irritação peritoneal,
ruídos hidroaéreos presentes e claramente
aumentados. Há dificuldade na avaliação da
região inguinocrural devido à obesidade. Res-
tante do exame clínico: sem alterações. Radio-
grafia simples de abdome: apresentada na
FIGURA 1.
Figura 1
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Cirurgia - Volume 5 33Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Cite a conclusão diagnóstica da radiografia
simples de abdome:
Vemos claramente na imagem uma disten-
são central de alças intestinais com padrão
em “empilhamento de moedas”, imagem su-
gestiva de obstrução de intestino delgado.
Cite o diagnóstico sindrômico para o quadro
abdominal.
Dor tipo cólica, parada de evacuação, dis-
tensão abdominal... Estamos diante de uma
síndrome de obstrução intestinal aguda
clássica!
Cite três possíveis causas para o quadro apre-
sentado por esta paciente.Vamos relembrar as três causas mais comuns
para obstrução de intestino delgado? Brida (a
paciente apresenta cirurgias prévias), carcino-
matose peritoneal (paciente idosa) e hérnia
(possível hérnia incisional infraumbilical).
Cite quatro medidas para o tratamento inicial
desta doente.
Vamos relembrar rapidamente as principais
medidas frente a uma obstrução intestinal:
- Dieta zero
- Reposição hidroeletrolítica
- Monitoração da diurese com cateter vesical
- Descompressão com cateter nasogástrico
- Antibióticos venosos
- Analgesia regular
Obstruções Extrínsecas
AdErêNCIAs INTEsTINAIs (BrIdAs)
Fig. 2: Esquema representativo de
adesões intestinais.
É a principal causa de obstrução intesti-
nal de delgado.
Etiologia: pós-operatórias, pós-infecções
intra-abdominais e congênitas.
Fatores de risco para bridas pós-opera-
tórias: infecções, isquemia intestinal, corpo
estranho.
Clínica: síndrome de obstrução intestinal alta
ou baixa dependendo do local de obstrução.
Diagnóstico: suspeita clínica + radiológica;
entretanto, confirma-se durante a cirurgia.
Tratamento: cirúrgico para obstruções com-
pletas.
“A prevenção é a melhor estratégia – Seja
gentil com seu peritônio!”
Figura 3
Introdução
A aderência intestinal (também conhecida como
brida) é a principal causa de obstrução in-
testinal de delgado sendo responsável por
50-75% dos casos. Estudos recentes sugerem
que estas taxas tendem a aumentar visto que
o número de cirurgias eletivas tem crescido em
todo o mundo nas últimas décadas.
Entenda como se formam as bridas...
Durante uma cirurgia abdominal ou pélvica,
o médico precisa romper o peritônio para
acessar as vísceras internas. Entretanto, o
processo de regeneração tecidual muitas
vezes é feito à custa de um infiltrado inflama-
tório que produz fibrose tecidual. São estas
traves fibróticas que determinam a aderência
das alças e sua pior complicação: a obstrução
intestinal. Elas podem se desenvolver entre
quaisquer estruturas intra-abdominais, por
exemplo: entre duas alças intestinais, entre
uma alça e um órgão ou até mesmo com a
parede do abdome.
Estima-se que, após uma cirurgia laparotômi-
ca, 90% das pessoas desenvolvam aderên-
cias; entretanto, apenas 5% serão sintomáti-
cas. Além disto, o risco do desenvolvimento
de uma brida sintomática varia com o tipo de
cirurgia. Veja na tabela abaixo.
Cirurgia risco de adesão
intestinal
sintomática
Cesariana 0.05%
Apendicectomia 1%
Cirurgia colorretal 10 a 18%
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Cirurgia - Volume 5 34Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Como regra geral, as cirurgias laparotômicas
são as principais causadoras de bridas, prin-
cipalmente aquelas que envolvem ressecção
intestinal e anastomose. Mas não pense que
as cirurgias laparoscópicas são inócuas. Ape-
sar de menos associadas ao desenvolvimen-
to de aderências, esta modalidade também
pode provocar bridas. Cabe lembrar que,
apesar de as cirurgias serem o principal fator
indutor de aderências intestinais, estas tam-
bém podem ocorrer após infecções abdomi-
nopélvicas ou, raramente, serem congênitas.
Em termos gerais, pode-se dizer que:
• Cirurgias em abdome superior produzem me-
nos brida do que aquelas no baixo ventre (es-
paço inframesocólico), em que o delgado é
mais móvel e pode obstruir com mais facilidade.
• As cirurgias pélvicas respondem pela maioria
dos casos de obstrução intestinal de intestino
delgado. Como exemplo clássico desse tipo
de cirurgia, podemos citar os procedimentos
ginecológicos, a apendicectomia e as cirurgias
colorretais. É ainda interessante perceber que
as cesarianas possuem um menor índice de
complicação por bridas quando comparadas
às outras cirurgias ginecológicas.
Existem alguns fatores de risco conhecidos
para a formação de bridas pós-operatórias.
Confira na tabela abaixo.
A complicação mais temida das aderências
são as obstruções intestinais agudas. Outras
complicações são: infertilidade e dor abdomi-
nopélvica crônica.
Quadro Clínico
A clínica da obstrução intestinal por brida é
inespecífica, sendo marcada por distensão e
dor abdominal em cólica, associadas a náu-
seas e vômitos. As obstruções podem ser
parciais ou totais. Em casos de oclusão com-
pleta de alças, há também a parada da elimi-
nação de fezes e gases.
O diagnóstico pode ser suspeitado por exames
de imagem, todavia, na maio ria dos casos só
é confirmado durante o ato cirúrgico. A rotina
radiológica de abdome agudo, na maior parte
das vezes, apresenta achados pouco especí-
ficos, como distensão proximal de alças com
nível hidroaéreo e diminuição da presença de
gás nas alças distais à obstrução. Em geral,
a TC só confirma os achados da rotina. Os
exames contrastados são reservados para
casos duvidosos principalmente nas obstru-
ções altas e/ou parciais.
Tratamento
Em casos de obstrução total, o tratamento é
cirúrgico (lise das aderências). Vale ressaltar
que cada cirurgia realizada aumentará a chan-
ce de novas bridas no futuro. Pacientes com
obstruções parciais podem ser submetidos a
tratamento conservador com sondagem naso-
gástrica, hidratação e correção de distúrbios
hidroeletrolíticos. A recidiva de aderências não
é incomum. Os pacientes com bridas de repe-
tição podem se beneficiar de dieta sem resí-
duos para evitar a impactação alimentar em
áreas de estenose.
A prevenção ainda é o melhor método de com-
bate às bridas. Durante as cirurgias eletivas
existem algumas estratégias para reduzir a
ocorrência de aderências no futuro, como por
exemplo:
• Manejo cuidadoso de alças intestinais
• Evitar a dissecção desnecessária de estru-
turas
• Hemostasia completa
• Irrigação abundante
• Profilaxia de infecções
• Evitar reação a corpos estranhos – usar fios
absorvíveis quando possível
• Lavar o talco das luvas
• Preservação e uso do omento ao redor sítio
cirúrgico
Atualmente, as pesquisas concentram-se em
descobrir maneiras de evitar o desenvolvi-
mento de bridas. Novas técnicas como os
métodos de barreira e a instilação de drogas
na cavidade peritoneal foram propostas. No
entanto, nenhuma obteve benefício compro-
Fatores de risco para a formação de
bridas pós-operatórias:
Infecção abdominal
Isquemia de alças
Presença de corpo estranho (ex.: fios de su-
tura)
AprendA um conceito:
“Após uma cirurgia, o risco de obs-
trução intestinal por brida pode per-
manecer por toda a vida.”
O processo inflamatório que resulta na forma-
ção da aderência intestinal se completa em
cerca de cinco a sete dias. Uma vez formada
a brida, o risco de obstrução intestinal perma-
nece pelo resto da vida do indivíduo. A maio-
ria dos casos desenvolve-se nos primeiros
anos após o ato operatório, entretanto, podem
ocorrer precocemente no pós-operatório (fa-
zendo diagnóstico diferencial com as obstru-
ções funcionais) ou várias décadas após os
procedimentos cirúrgicos que desencadearam
sua formação.
Vínculo cerebral: Obstrução intestinal
+ Cirurgia abdominal prévia =
Provável Brida
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Cirurgia - Volume 5 35Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
vado nem consenso entre cirurgiões. No
momento, existem duas barreiras biodegradá-
veis aprovadas pelo FDA: O Interceed® e a
Seprafilm®. O objetivo de ambos é evitar que
estruturas lesadas ou inflamadas criem ade-
rências entre si.
VAMOS FIXAR E APRENDER COM AS
QUESTÕES!!!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA
UNICAMP – SP
Mulher, 45a, procura o serviço de Pronto Aten-
dimento com história de dor em mesogástrio,
em cólica, há quatro dias, acompanhada de
náuseas, vômitos, parada de eliminação de
gases e fezes. Antecedente: histerectomia
total abdominal, por miomatose, há cinco anos.
Exame físico: Regular estado geral, desidra-
tada; Abdome: distendido, ruídos hidroaéreos
aumentados. A HIPÓTESE DIAGNÓSTICA E
O EXAME INDICADO SÃO:
a) Pancreatite aguda, tomografia computado-
rizada de abdome.
b) Hérnia interna, trânsito intestinal.
c) Brida intestinal, radiogramasimples do ab-
dome.
d) Volvo de cólon sigmoide, colonoscopia.
Dor abdominal em cólica persistente, evo-
lutivamente acompanhada por parada na eli-
minação de gases e fezes, além de náuseas,
vômitos e distensão abdominal, com “peristal-
se de luta” (ruídos hidroaéreos aumentados),
são achados que permitem o diagnóstico de
síndrome de obstrução intestinal aguda.
Estatisticamente, a principal etiologia de obs-
trução intestinal aguda como um todo são as
aderências ou bridas intestinais, que promo-
vem tipicamente obstrução do delgado. Ora,
o principal fator de risco para brida é a história
de cirurgia abdominopélvica prévia a qualquer
tempo, como uma histerectomia total abdomi-
nal. Logo, esta é a hipótese mais provável, e
o próximo passo para a elucidação diagnósti-
ca consiste na obtenção de um exame de
imagem do abdome, geralmente uma radio-
grafia simples (mas poderia ser também uma
TC). Resposta certa: C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL MEMORIAL ARTHUR RAMOS – AL
Paciente de 65 anos, sexo masculino, por-
tador de laparotomia prévia (ráfia de úlcera
duodenal perfurada há 15 anos), vem ao
pronto-socorro com queixa de dor abdomi-
nal, náuseas, vômitos (inicialmente com
restos alimentares e depois biliosos), além
da parada de eliminação de gases e fezes
há 24 horas. Ao exame clínico, apresenta
algum grau de desidratação, distensão ab-
dominal e ruídos hidroaéreos presentes e
aumentados. A radiografia do abdome mos-
tra distensão das alças do intestino delgado
com a presença de níveis hidroaéreos. Con-
siderando o diagnóstico de abdome agudo
obstrutivo, sendo uma suboclusão intestinal,
a MELHOR conduta, neste caso, é:
a) Laparotomia exploradora.
b) Descompressão abdominal através de son-
da nasogástrica aberta em sifonagem e cor-
reção hidroeletrolítica.
c) Tomografia abdominal.
d) Êntero-clisma com solução glicerinada.
Temos uma síndrome de obstrução intesti-
nal alta num paciente com relato de cirurgia
abdominal prévia. As bridas são as principais
causas de obstrução de delgado (50-75%) dos
casos, e podem ocorrer muitos e muitos anos
após a cirurgia inicial. Pacientes com obstru-
ção intestinal TOTAL devem ser operados,
lembrando que a cada nova cirurgia o risco de
bridas aumenta. Por isso tentaremos o trata-
mento conservador nos pacientes com obs-
truções parciais, como o enunciado da questão
afirma ser o caso relatado. Logicamente, in-
dependente da indicação ou não da cirurgia,
a terapia inicial envolve a reposição volêmica
e correção de eventuais distúrbios eletrolíticos,
dieta zero, sonda nasogástrica em sinfonagem
para reduzir as náuseas e prevenir broncoas-
piração, e avaliar antibióticos pelo risco de
translocação bacteriana. Gabarito: letra B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO – RJ
Analise o seguinte quadro clínico: Um homem
de 48 anos dá entrada na UPA onde você tra-
balha, queixando-se de dor abdominal tipo
cólica, iniciada há cerca de 24 horas, que piorou
nas 12 horas acompanhada de náuseas e de
vômitos. O paciente é hipertenso controlado
com 75 miligramas de captopril. Relata passa-
do cirúrgico, em regime de urgência, para co-
lecistite aguda há oito anos, realizada com uma
Incisão mediana supra umbilical. Ao exame
físico apresenta-se desidratado, abdome dis-
tendido, hipertimpânico, com peristalse aumen-
tada e presença de ruídos metálicos à auscul-
ta. O toque retal mostra ampola retal sem resí-
duos fecais ou gases. Considerando os dados
acima, a hipótese diagnóstica e a respectiva
sua conduta terapêutica para confirmar sua
hipótese diagnóstica são as seguintes:
a) Diverticulite e ressonância nuclear magnética.
b) Obstrução intestinal por bridas e raios X
para abdome agudo.
c) Infecção urinária e exame de sedimento
urinário com antibiograma.
d) Apendicite aguda e ultrassonografia.
e) Retocolite ulcerativa e colonoscopia.
Paciente com provável quadro de obstrução
intestinal. Dor em cólica, abdome distendido,
timpânico, com peristalse aumentada e ruídos
metálicos, com isso tudo, nem precisou men-
cionar a parada de eliminação de gases e fezes.
Além disso, o toque retal nos mostra uma am-
pola retal vazia, o que nos faz pensar em uma
obstrução mecânica. E com essa história de
cirurgia abdominal prévia, a principal hipótese
é de um abdome agudo obstrutivo por brida, e
o próximo passo na investigação é a realização
de uma rotina de abdome agudo. Gabarito B.
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Cirurgia - Volume 5 36Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL SANTA MARTA – DF
Assinale a alternativa que apresenta a causa
mais comum de abdome agudo obstrutivo no
adulto.
a) Hérnia femoral.
b) Carcinomatose peritoneal.
c) Aderências pós-operatórias.
d) Enterite actínica.
e) Fitobezoar.
O intestino delgado é o principal sítio de
obstrução intestinal, sendo que a grande cau-
sa de obstrução se dá por brida ou aderência
intestinal. C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – HOSPITAIS
MUNICIPAIS – FJG
Paciente de 23 anos deu entrada no setor
emergência com quadro de distensão abdo-
minal, dor tipo cólica e vômitos de odor feca-
loide. Usuário de crack e cocaína com pas-
sado de laparotomia por PAF, HIV positivo
com abandono do tratamento antirretroviral.
A principal hipótese diagnóstica para o qua-
dro descrito é:
a) Lesão do plexo mioentérico por substância
entorpecente.
b) Brida.
c) Apendicite aguda atípica pela infecção do
HIV.
d) Síndrome de abstinência.
Não caia na “pegadinha” do cirurgião... A
principal causa de obstrução intestinal em
todos os grupos, inclusive nos imunossuprimi-
dos, é a formação de bridas. Na questão o
paciente ainda apresenta um fator de risco
importante, evidenciado por uma laparotomia
prévia. Resposta B.
NEOPLAsIAs
HérNIAs
ABsCEssOs INTrA-ABdOMINAIs
Você deve estar se perguntando: neoplasias
seriam um fator extrínseco de compressão
do delgado? Cuidado! Aqui não estamos nos
referindo às raras neoplasias primárias de
delgado, mas sim à carcinomatose peritone-
al e outros tumores intra-abdominais que
acabam comprimindo (por vezes invadindo)
e obstruindo o intestino delgado. Essas ne-
oplasias são responsáveis por 20% das
obstruções de delgado (em contraste com o
que ocorre no cólon) e, segundo algumas
referências, chegam a ser menos comuns
que as hérnias. Entretanto, quando encon-
tramos um paciente com obstrução intestinal
que nunca realizou cirurgia prévia e não
apresenta ao exame físico achados compa-
tíveis com hérnia encarcerada, a chance de
a obstrução intestinal ser causada por neo-
plasia chega a 50%.
A maior parte das neoplasias são lesões me-
tastáticas (ovário, pâncreas, estômago e cólon)
que se implantam no peritônio – carcinomato-
se peritoneal – e obstruem de forma secundá-
ria o trânsito intestinal.
Lesões menos comuns se devem a implantes
peritoneais hematogênicos (mama, pulmão e
melanoma) ou obstrução extraintestinal por
tumores de ceco e cólon ascendente.
Voltaremos a falar das neoplasias onde elas
são, de fato, mais importantes: nas obstruções
baixas...
Devido à importância do assunto e às particu-
laridades que o tema apresenta, as hérnias
serão tratadas num capítulo à parte, ao final
deste módulo.
O ideal, no momento, é que você apenas co-
loque no seu “arquivo mental” este dado: a
hérnia é uma causa importante a ser lembra-
da nas obstruções de delgado... Daqui a pou-
co, quando terminar de ler as duas seções
iniciais sobre obstrução intestinal, estudarei
com toda concentração o tema, já que uma
questão sobre hérnia é mais do que certa na
minha prova!!!
Por ora, continuamos a nossa leitura.
Embora frequentemente esquecidas como
causa de obstrução intestinal (o aspecto infla-
matório e doloroso sempre costuma ser mais
valorizado), as apendicites e diverticulites
complicadas, bem como as deiscências de
anastomoses, devem sempre entrar no diag-
nóstico diferencial para a formaçãode abs-
cessos. A obstrução, nesse caso, pode ser
tanto mecânica pela expansão do abscesso
em si, como funcional, pelo desenvolvimento
de um íleo adinâmico adjacente à inflamação
(veremos mais à frente este tipo de distúrbio).
Dentro do Programa Didático do MED, vimos
a maior parte dessas condições no módulo de
Síndromes Álgicas – Dor abdominal. Sugeri-
mos que você reveja este módulo caso algu-
mas dúvidas lhe surjam.
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Cirurgia - Volume 5 37Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Este é um tema que aparece com frequência
nas provas de pediatria!!! Devemos reconhe-
cer que um grande espectro de anomalias
congênitas pode ser responsabilizado por
obstruções do trato gastrointestinal. Estas
anomalias incluem desde obstruções (atresia/
estenose) até distúrbios da rotação, duplica-
ções e compressões císticas.
De todas estas, atresia e a estenose são as
principais, representando importantes causas
de obstrução intestinal aguda na prática clíni-
ca pediátrica, com necessidade de intervenção
cirúrgica precoce.
Quando o diagnóstico não é feito antes do nas-
cimento, este será realizado com base nos
achados clínicos. Em geral, as crianças com
atresia duodenal nascem próximas ao termo,
possuem uma tendência a serem pequenas
para a idade gestacional. Os sintomas só vão
se desenvolver nas primeiras 24 a 48 horas de
vida. O achado clássico são os vômitos biliosos
precoces e contínuos. Não se deve esperar
uma grande distensão intestinal já que se trata
de uma obstrução proximal. Caso a atresia se
localize antes da papila maior, os vômitos po-
dem ocorrer sem a presença de bile.
Todo recém-nascido com suspeita de atresia
duodenal deve ser submetido a exames de
imagem para confirmar o diagnóstico. O pri-
meiro exame e muitas vezes o único neces-
sário é a radiografia simples de abdome. Em
provas, é muito comum encontrarmos ques-
tões citando o “sinal da dupla bolha” encon-
trado na atresia duodenal.
Entendendo o sinal da dupla bolha
Em radiografias de abdome de pessoas
saudáveis é normal visualizar uma bolha de
gás na topografia do estômago chamada de
bolha gástrica. Esta bolha corresponde ao
ar deglutido que se acumula no estômago.
Entretanto, quando há atresia duodenal, são
visualizadas duas bolhas. A segunda bolha
se desenvolve por acúmulo de gás no duo-
deno proximal à atresia.
Obs.: Em alguns casos, a dupla bolha não é
visível numa primeira radiografia devido ao
excesso de líquidos no estômago. Nestes pa-
cientes, realiza-se a passagem de uma sonda
Obstruções Intrínsecas
ANOMALIAs CONgêNITAs
Atresia Intestinal
Local mais acometido: intestino delgado.
Tipos: duodenal e jejunoileal
Diagnóstico:
• Pré-termo: através de ultrassonografia (po-
lidrâmnio, ascite e a presença de uma alça
dilatada e hiperecoica).
• Pós-termo: duodenal – Vômitos biliares pro-
eminentes com pouca distensão abdominal.
Jejunoileal – pode ser semelhante à duode-
nal, mas com mais distensão abdominal nas
obstruções mais distais.
Achado clássico na atresia duodenal: “si-
nal da dupla bolha”.
Tratamento: cirúrgico.
Atresia duodenal
A atresia duodenal é uma malformação atri-
buída à falência na recanalização duodenal
que ocorre entre 9ª e 11ª semanas gestacio-
nais, que pode levar a uma grande variedade
de apresentações (estenose, membrana mu-
cosa com parede intacta, ou deformidade em
“cata-vento”, dois cotos ligados por um cordão
fibroso e separação completa do duode-
no.). Assim, por uma falha em seu desenvol-
vimento, o duodeno permanece fechado, le-
vando a um bloqueio na passagem do conte-
údo intestinal pelo segmento.
Quadro Clínico e diagnóstico
Como reconhecer a atresia duodenal?
O diagnóstico pode ser realizado antes do
nascimento por meio de exames de imagem
ou após o mesmo através das manifestações
clínicas. O diagnóstico pré-termo é feito pela
ultrassonografia. Os principais achados são:
polidrâmnio, ascite e a presença de uma alça
dilatada e hiperecoica. As lesões proximais
são mais facilmente visualizadas.
Fig. 4: Sinal da dupla bolha.
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http://#videomiolo=RCIR206042
Cirurgia - Volume 5 38Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
nasogástrica com o intuito de retirar este resí-
duo. Em seguida, aplica-se 30 a 60 ml de ar
para evidenciar o achado. O sinal da dupla
bolha é diagnóstico e quando encontrado exclui
a necessidade de qualquer outro exame.
Os exames laboratoriais visam apenas reco-
nhecer os distúrbios hidroeletrolíticos e avaliar
a função renal da criança. Em geral, há deple-
ção de líquidos e hipocalemia sérica. A pre-
sença de leucocitose, acidose metabólica e
trombocitopenia sugerem comprometimento
isquêmico grave da alça.
O diagnóstico diferencial inclui outras doen-
ças que podem cursar de maneira clinica-
mente indistinguível, como a má rotação/
volvo de intestino médio, pâncreas anular e
cisto de duplicação duodenal. Sempre que
houver suspeita de má rotação/volvo de in-
testino médio, um exame contrastado do
tubo digestivo deverá ser realizado!!! Lem-
bre-se: essa entidade consiste em uma ur-
gência médica e não deve ter sua correção
cirúrgica atrasada. Sinais que levam a sua
suspeição são: queda do estado geral da
criança, sinais de abdome agudo inflamató-
rio e presença de ar distalmente à obstrução
na radiografia de abdome.
identificar o local da obstrução. Na ausência
de bile, a obstrução está acima do piloro: esô-
fago e estômago. Caso contrário, se localiza
no duodeno, intestino delgado ou cólon. Como
a questão afirma que há vômitos biliosos, po-
demos eliminar as opções A e E. Como os
vômitos são muito precoces (primeiras 24
horas) e houve eliminação de mecônio, deve-
mos suspeitar de obstrução alta, neste caso
atresia duodenal: gabarito letra D.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
HOSPITAL NAVAL MARCÍLIO DIAS – HNMD
O sinal radiográfico da dupla-bolha ocorre na:
a) Atresia pilórica. d) Onfalocele.
b) Atresia duodenal. e) Atresia ilea.
c) Gastrosquise.
Preste atenção no que você acabou de ler!!
O sinal da dupla bolha refere-se à atresia
DUODENAL. Atresia de outros locais do in-
testino são sugeridos na radiografia simples
de abdome por distensão de alças e níveis
hidroaéreos. Em recém-nascidos normais,
após 18h de vida, já é possível notar gás pre-
enchendo porções mais distais do cólon. A
ausência deste achado radiográfico pode su-
gerir a obstrução intestinal congênita. Casos
duvidosos podem ser elucidados com exames
radiológicos contrastados. Sempre se deve
preferir os contrastes a base de água, princi-
palmente naquelas situações em que não há
certeza quanto à possibilidade de perfuração.
Tratamento
O tratamento inicial visa corrigir distúrbios
hidroeletrolíticos (principalmente a desidra-
tação) e preparar a criança para a cirurgia.
Em pacientes graves, deve-se excluir a pos-
sibilidade de volvo e então a cirurgia pode
ser postergada até a estabilização clínica.
Entretanto, este tempo de espera não deve
ultrapassar 12 a 24 horas. Alguns autores
sugerem o uso de antibióticos de largo es-
pectro no manejo inicial para prevenir infec-
ções pós-operatórias.
O tratamento definitivo é cirúrgico e consiste
no by-pass da obstrução por duodenoduode-
nostomia, seja em uma anastomose laterola-
teral ou em uma anastomose em “diamante”
(técnica de escolha). Durante a cirurgia de
correção da atresia, é preciso procurar por
obstruções sincrônicas.
O prognóstico da atresia é excelente e os
casos com desfecho ruim relacionam-se à
presença de outras comorbidades como, por
exemplo, as malformações cardíacas. Pare-
ce que as síndromes obstrutivas congênitas
determinam o desenvolvimento anormal do
plexo mioentérico. Desta forma, mesmo
após a reconstrução, a mecânica intestinal
pode permanecer alterada para sempre.
não se esqueçA dAs AssociAções:
Nem sempre a atresia duodenal apre-
senta-se como única malformação.
Nesses casos, apenas 30 a 50% das crianças
apresentamesta anomalia isolada. A maioria
das crianças apresenta outras malformações
principalmente gastrintestinais (ex.: atresia
biliar e agenesia da vesícula biliar), cardíacas,
renais e vertebrais.
Aproximadamente 30% das crianças com
atresia duodenal possuem síndrome de
Down. Entretanto, de todas as crianças com
síndrome de Down, apenas 2,5% possuem
atresia ou estenose duodenais.
As atresias de jejuno têm associação menor
com outras doenças. As associações mais co-
nhecidas são: fibrose cística, gastrosquise e a
doença de Hirschsprung.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR
Considere o seguinte quadro clínico: vômitos
biliosos nas primeiras 24 horas de vida, resíduo
gástrico maior que 30 ml, distensão epigástrica,
icterícia, polidrâmnio, eliminação anormal de
mecônio e prematuridade. Esse quadro deve
conduzir a que hipótese diagnóstica?
a) Atresia de esôfago.
b) Megacólon congênito.
c) Atresia de cólon.
d) Atresia duodenal.
e) Volvo gástrico.
É muito importante observarmos, nos casos
de obstrução intestinal em RN, se há menção
a vômitos biliosos. Esta informação permite
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Cirurgia - Volume 5 39Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
REDE D’OR – RJ
Uma criança de 1 semana de vida deu entrada
no hospital devido a vômitos. Um estudo con-
trastado gastrointestinal evidenciou obstrução
duodenal. Durante a laparotomia foi diagnosti-
cado pâncreas anular. Qual afirmação é VER-
DADEIRA em relação ao pâncreas anular?
a) A ressecção é o tratamento de escolha.
b) Está associado à Síndrome de Down.
c) Os sintomas iniciais incluem dor abdominal.
d) Está associado à má rotação intestinal e
obstrução da terceira parte do duodeno.
A síndrome de Down ou trissomia do 21 está
associada a diversas malformações do apa-
relho gastrointestinal, a saber: atresia duode-
nal (a mais comum), pâncreas anular, fístula
traqueoesofágica, doença de Hirschprung e
ânus imperfurado. Gabarito letra B.
Atresia Jejunoileal
Diferentemente da atresia duodenal, a atresia
jejunoileal não é causada por uma falha embrio-
lógica na regressão celular, mas sim por uma
isquemia mesentérica durante o desenvolvimen-
to intrauterino. Por ser um defeito isquêmico
tardio (ocorre no último trimestre), a atresia je-
junoileal possui menos relações com outras
malformações do que a atresia duodenal. Con-
tudo, devemos permanecer atentos para asso-
ciação com a fibrose cística, presente em até
10% dos casos. A atresia jejunoileal é a atresia
mais comum do trato gastrointestinal, estando
presente em até um a cada 2.000 nascidos vivos.
Como o evento isquêmico inicial pode afetar
praticamente qualquer parte do intestino del-
gado, diversos são os defeitos de formação
que podem ocorrer, inclusive a formação de
estenoses. Estas são agrupadas em quatro
tipos principais (além da estenose) na classi-
ficação de Grosfeld, que possui importância
prognóstica e terapêutica. Ela está exemplifi-
cada abaixo. Atenção para o tipo III B, que
possui o aspecto característico em “árvore de
natal” ou “casca de maçã” devido à aparência
espiralada da alça distal em torno da vascu-
larização dos ramos anastomóticos das arca-
das mesentéricas.
Fig. 5: duodenoduodenostomia em “dia-
mante” – A incisão proximal é feita se-
guindo uma linha transversal, enquanto
a distal é feita de forma longitudinal. Ao
serem colocadas em oposição adquirem a
forma losangular do “diamante”.
cuidAdo pArA não confundir:
Durante a sua prova, algumas ques-
tões abordam o diagnóstico diferen-
cial entre a ATRESIA DUODENAL
e a ESTENOSE HIPERTRÓFICA.
ATRESIA
DUODENAL
ESTENOSE
HIPERTRÓFICA
DO PILORO
1. Vômitos biliosos
após o nascimento
1. Vômitos não
biliosos
após a 3a semana
2. Associado
a outras
malformações
2. Alcalose
hipoclorêmica
3. Sinal da dupla
bolha
3. Oliva palpável
em epigástrio
A) Estenose – Estreitamento da parede sem perda da continuidade do intestino.
B) Tipo I – Membrana de mucosa e submucosa com muscular e serosa intactas.
C) Tipo II – Coto proximal dilatado ligado ao coto distal por uma banda fibrosa. Mesenté-
rio intacto.
d) Tipo III(a) – Coto proximal totalmente separado do coto distal. Mesentério com defeito
em “V”.
E) Tipo III(b) – Atresia jejunal proximal, com agenesia dos ramos da mesentérica superior
a partir da cólica médica e ausência de grande parte do mesentério dorsal.
F) Tipo IV – Múltiplas estenoses ou combinações variáveis dos tipos I ao III. Também co-
nhecida como malformação em “sequência da salsicha/linguiça” ou colar de contas.
Classificação de grosfeldFig. 6
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Cirurgia - Volume 5 40Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Na verdade, qualquer segmento do trato gas-
trointestinal pode ser acometido por esta mal-
formação congênita. Entretanto, o delgado é
o principal sítio de atresia intestinal, sendo o
cólon raramente afetado. Confira nas tabelas
ao lado a incidência das atresias do trato gas-
trointestinal e a origem embriológica corres-
pondente de cada segmento.
As manifestações das obstruções mais proxi-
mais se assemelham a um quadro de atresia
duodenal, podendo ser indistinguíveis. No en-
tanto, as atresias mais distais, além dos vômi-
tos biliosos, cursam com distensão abdominal
importante e dilatação de delgado evidente na
radiografia, com ausência de ar no trecho dis-
tal à obstrução. Quanto mais alças dilatadas,
mais distal é a obstrução. O diagnóstico é cli-
nicorradiológico, sem necessidade da realiza-
ção de outros exames. Entretanto, se houver
dúvida diagnóstica e a obstrução for baixa, um
enema baritado deve ser realizado a fim de
excluir outras causas como plugs meconiais,
síndrome do cólon esquerdo pequeno, íleo
meconial e doença de Hirschsprung.
Obs.: Um sinal que pode causar confusão
diagnóstica é a icterícia. Parece que ela se
desenvolve por aumento da circulação entero-
-hepática de bilirrubina.
Tratamento
O tratamento consiste na busca pela recons-
trução de intestino delgado pérvio. Como
existem diversas formas de apresentação, não
há uma cirurgia definitiva. Aqui são emprega-
dos diversos métodos que passam pelas res-
secções com anastomoses primárias, entero-
plastias e colocação de stents endoluminais.
Múltiplas ressecções não devem ser realiza-
das a fim de evitar a síndrome do intestino
curto, principal causa de morbimortalidade
pós-cirúrgica associada a esses casos.
Atresia Colônica
Apesar de ser uma causa de obstrução de
cólon, a atresia colônica é melhor estudada
junto à atresia jejunoileal, já que ambas com-
partilham da mesma fisiopatologia. Dentre
as atresias intestinais, a colônica é a menos
comum, respondendo por cerca de 5 a 10%
dos casos. O quadro clínico é sugerido por
sinais de obstrução (vômitos biliosos, dis-
tensão) associados à falha na defecação de
mecônio. O diagnóstico pode ser sugerido
por radiografias de abdome que evidenciam
obstrução abdominal distal. A confirmação
é feita pelo enema baritado. A classificação
dos achados é exatamente a mesma empre-
gada na atresia jejunoileal. O tratamento de-
pende das condições anatômicas locais, va-
riando de anastomose primária à colostomia
terminal com reconstrução posterior.
Íleo Meconial
É uma complicação exclusiva de indivíduos
portadores de fibrose cística, podendo se
apresentar como primeira manifestação da
doença em 10 a 15% dos casos. Para en-
tender o íleo meconial é preciso relembrar
que na fibrose cística existe uma alteração
na excreção de cloreto responsável pela for-
mação de secreções anormalmente espes-
Fig. 7: Atresia jejunoileal do tipo III(B)
– Aspecto em “casca de maçã”.
Local Incidência
Delgado 1 caso para cada 1500 a 5000
nascidos vivos.
Duodeno 1 caso para cada 20.000 nas-
cidos vivos.
Cólon 1 caso para cada 40.000 nas-
cidos vivos.
Origem Órgãos do
embriológica adulto
Intestino anterior Boca até o primeiro terço
do duodeno.
Intestino médio Desdeo segundo terço do
duodeno até o segundo
terço do transverso.
Intestino posterior Terço distal do cólon
transverso até o ânus.
Quadro Clínico e
diagnóstico
Figura 8
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Cirurgia - Volume 5 41Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
sas e ricas em proteínas. Analogamente às
demais secreções corporais, o mecônio for-
mado nesses casos é extremamente espes-
so e aderente, e literalmente acaba por “en-
tupir” o íleo e o cólon. Assim como na atresia
colônica, as principais manifestações são os
vômitos biliosos, a distensão abdominal e a
falha na defecação de mecônio. O diagnós-
tico pode ser sugerido pela radiografia de
abdome que pode demonstrar dilatação de
alças de delgado sem níveis hidroaéreos e
massa em quadrantes direitos com aspec-
tos de “vidro-moído” ou “bolha de sabão”. O
exame mais acurado é o enema com con-
traste hidrossolúvel, que, além de diagnos-
ticar um cólon atrófico repleto de mecônio,
possibilita, ainda, a terapêutica com mobili-
zação do mecônio. O diagnóstico definitivo
de fibrose cística fica a cargo do teste do
suor. O íleo meconial pode ser considera-
do simples ou complicado dependendo da
presença de perfuração de alça. Os casos
simples são normalmente manejados com
hidratação venosa, N-acetilcisteína por cate-
ter nasogástrico e enema hidrossolúvel. Nos
casos refratários, pode ser realizada uma
enterostomia, irrigação com N-acetilcisteína
e retirada manual do mecônio. Outras op-
ções são as ressecções segmentares das
regiões mais acometidas seguidas ou não
de ileostomia em chaminé para irrigação e
eventual reabordagem. Nos casos compli-
cados a conduta dependerá dos achados da
laparotomia exploradora.
síndrome do Plug Meconial
Ainda que a presença de um plug meconial
não esteja relacionada na maioria das vezes
com a fibrose cística, o quadro clínico em
questão é praticamente idêntico ao íleo me-
conial. Trata-se apenas de um espessamen-
to anormal do mecônio, dissociado de anor-
malidades metabólicas. Como não há doen-
ça estrutural significativa no cólon, grande
parte dos pacientes responde satisfatoria-
mente ao tratamento clínico. Todos os recém-
-nascidos com plug meconial devem ser
avaliados para a presença de megacólon
agangliônico e hipotireoidismo, além de rea-
lizarem o teste do suor.
Embora não seja propriamente uma atresia,
o volvo de intestino médio é um importante
diagnóstico diferencial na obstrução intes-
tinal entre os nascidos vivos. Para que o
volvo de intestino médio ocorra é necessá-
rio que tenha havido um deficit na rotação
embriológica dos segmentos duodenojeju-
má Rotação e VolVo de intestino médio
nal e ceco-colônico. Você dever estar pen-
sando: “Embriologia do trato gastrointesti-
nal? Não vai ser agora que vou aprender
isso!”. Tenha um pouco de paciência, pois
a compressão da fisiopatologia é fundamen-
tal para que você entenda a doença... Va-
mos devagar:
Fig. 9: Rotação anti-horária do intestino médio.
O que é intestino médio?
Nada mais é do que a porção do intestino irri-
gada pela artéria mesentérica superior: duode-
no, jejuno, íleo, cólon esquerdo e transverso.
OK, e o que seria a rotação?
Você está acostumado a pensar no intestino
como um monte de alças dispostas de forma
entrelaçada com alguns pontos fixos, mas
nem sempre ele se organizou dessa manei-
ra. Na sua formação ele não passava de um
tubo retilíneo! Com o crescimento desse
tubo em uma cavidade restrita (abdome),
torna-se inevitável que ele se dobre sobre
si mesmo... O que faz, então, que esse tubo
simplesmente não se embole durante o seu
crescimento? O intestino médio é projetado
para fora da cavidade durante seu desen-
volvimento de forma que ele cresça mais
organizadamente. Após a 10a semana de
desenvolvimento o intestino médio voltará
para dentro da cavidade, de tal maneira que
ele simplesmente não “se enrosca”. Para
isso é necessária uma rotação anti-horária,
que fixa o ângulo de Treitz na parte superior
esquerda do abdome e o ceco na parte in-
ferior direita.
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Cirurgia - Volume 5 42Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
E a má rotação?
Simples, seria a não rotação embriológica do
intestino médio. Dessa maneira, nem o ângu-
lo de Treitz nem o ceco estariam fixos onde
deveriam estar (má rotação mais comum). A
rotação pode ser ainda incompleta, estando
fixos apenas uma dentre as duas regiões.
mento normal. Sonolência, letargia e sinais
de choque costumam acompanhar a isque-
mia mesentérica. Quadros subagudos e crô-
nicos também podem ocorrer e são caracte-
rizados por obstrução intestinal intermitente,
deficit de crescimento, síndrome disabsortiva
e enteropatia perdedora de proteína. Ao con-
trário das atresias estudadas anteriormente,
a radiografia abdominal não é um exame sa-
tisfatório para o diagnóstico de volvo do in-
testino médio. Aqui o exame de escolha é a
seriografia com contraste baritado, capaz de
revelar um ângulo de Treitz ectópico e afila-
mento duodenal sugestivo de obstrução (ima-
gem em bico de pássaro).
Fig. 10: A – Intestino com fixação normal.
B – Intestino com má rotação completa.
E qual seria o problema?
Perceba que a junção duodeno jejunal fica
muito próxima à junção ileocecal, deixando
o mesentério por onde passa a a. mesenté-
rica superior muito estreito. Essa proximida-
de pode promover a torção horária de uma
porção sobre a outra, gerando o volvo de
intestino médio. Note ainda que a a. mesen-
térica superior é envolvida diretamente pela
torção, o que pode ocasionar uma rápida
isquemia intestinal.
Na rotação incompleta, com posicionamento
correto do ângulo de Treitz o risco de volvo é
similar. Quando há somente o posicionamento
adequado do ceco, o volvo não costuma acon-
tecer devido à base mesentérica larga, con-
tudo existe uma obstrução de duodeno grave
pela compressão por bandas peritoniais que
fixam o cólon direito (Bandas de Ladd).
Quadro Clínico e
diagnóstico
O quadro varia de acordo com o grau de obs-
trução e a presença ou não de isquemia me-
sentérica. A maior parte se manifesta de for-
ma aguda no primeiro mês de vida devido à
formação do volvo. O quadro característico
costuma ser a instalação de vômitos biliosos
e obstrução intestinal súbita em uma criança
que até o momento apresentava desenvolvi-
Fig. 11: Volvo de intestino médio – Torção
no sentido horário.
Fig. 12: Procedimento de Ladd.
Tratamento
Devido à possibilidade de isquemia mesenté-
rica, o tratamento do volvo de intestino médio
é emergencial! A cirurgia de escolha é o pro-
cedimento de Ladd. Ele consiste na rotação
anti-horária do intestino para desfazer o volvo,
seguida de análise de viabilidade das alças e
lise das aderências ao peritônio parietal.
dOENçA dE CrOHN
As Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) são
causas relativamente frequentes de síndrome
de obstrução intestinal. Em ambas as DII (Cro-
hn e RCU), a obstrução intestinal pode se
desenvolver por processos benignos ou ma-
lignos. Como estamos falando de obstrução
alta, neste momento nos interessa muito mais
a doença de Crohn. Comparando com a RCU,
as estenoses benignas são muito mais comuns
nos pacientes com DC. Inicialmente a obstru-
ção deve ser manejada com tratamento con-
servador, ficando a cirurgia indicada para os
casos de obstrução total ou obstrução parcial
refratária ao tratamento clínico.
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Cirurgia - Volume 5 43Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Várias opções terapêuticas são oferecidas para
pacientes com DC, dentre elas: dilatação com
balão, colocação de stent, estenosoplastia e
ressecção intestinal com anastomose primária.
A ressecção da área estenosada é o trata-
mento de escolha, entretanto pacientes com
múltiplas estenoses e submetidos a grandes
ressecções correm o risco de desenvolver
síndrome do intestino curto. Nesses casos,
a estenosoplastiafica indicada. Esta técnica
pode ser feita associada ou não à ressecção
intestinal e não é apropriada para pacientes
com inflamação aguda da alça. Os resultados
deste procedimento são satisfatórios e o ris-
co de formação de fístula ou nova estenose
é pequeno comparado com ressecções. O
risco de recidiva local da estenose também
é equivalente. Controvérsias existem quanto
ao fato de a preservação de áreas afetadas
pela doença predispor à formação de neopla-
sias (risco teórico ainda não comprovado).
As estenosoplastias são semelhantes às
piloroplastias (ver boletim operatório da
apostila de síndrome disfágica e dispéptica)
e as técnicas recebem os mesmos epôni-
mos. A plastia de Heinecke-Mikulicz é empre-
gada com sucesso para estenoses até 10 cm.
Em estenoses até 25 cm a plastia em “U”
invertido (Finney) é o procedimento de esco-
lha. Para obstruções maiores (até 50 cm!)
o cirurgião ainda pode realizar uma entero-
-enterostomia laterolateral isoperistáltica.
Quando possível, as estenosoplastias de-
vem ser marcadas com clipes metálicos para
facilitar a sua localização em exames radio-
lógicos e em futuras cirurgias. Elas não
podem ser confeccionadas na vigência de
fístulas ou abscessos.
A colocação de stents e a dilatação com balão
são procedimentos endoscópicos novos que
ainda necessitam de mais estudos. São indi-
cados para pacientes nos quais a cirurgia
precisa ser postergada.
Como você já viu na apostila de diarreias, mais
da metade dos pacientes com DC necessitará
de procedimento cirúrgico ao longo da vida
para o tratamento de suas complicações como
estenoses, fístulas, neoplasias... Entretanto,
a recorrência da doença no local da cirurgia é
um grande problema e pode atingir até 80%
dos pacientes.
INTussusCEPçãO
Definição: evento agudo no qual há a inva-
ginação de uma alça intestinal para dentro
do próprio tubo digestivo.
População alvo: crianças dos três meses
aos seis anos de idade.
Local mais comum: junção ileocecal.
Clínica: dor abdominal + massa palpável +
fezes em geleia de framboesa (ou groselha).
Diagnóstico: clínica + exames radiológicos
(radiografias simples ou contrastadas +/- US
+/- TC).
Tratamento: reversão por exames contras-
tados ou endoscopia.
Principais indicações de cirurgia:
- Não reversão com métodos conservadores.
- Possibilidade de perfuração de alça.
- Suspeita de neoplasia.
Introdução
A intussuscepção intestinal é um evento agu-
do no qual há a invaginação de uma alça
intestinal para dentro do próprio tubo diges-
tivo. Se você tem dificuldades de entender o
que é uma intussuscepção intestinal, imagine
um telescópio de criança.
Para guardar o brinquedo, basta empurrar o
tubo menor para dentro da parte maior, não é
mesmo? Então, a intussuscepção ocorre
quando uma parte do intestino (geralmente
proximal) penetra – desculpem o eufemismo
– por dentro dele mesmo (parte distal), como
um telescópio. Entenda melhor com as FIGU-
RAS 15 e 16 a seguir.
Figura 14
A- Enteroplastia de Heinecke-Miculicz
B- Enteroplastia de Finney
A B
Figura 13
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Cirurgia - Volume 5 44Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
A região do intestino que foi invaginada rece-
be o nome de intussusceptum ao passo que
o intestino circundante recebe o nome de in-
tussuscepiens.
Esta é uma condição de crianças (embora
possa também ocorrer em adultos), concen-
trando a grande maioria dos casos entre os
três meses e os seis anos de idade. O pico de
incidência localiza-se nos primeiros dois anos
(até 80% dos casos). A incidência é discreta-
mente maior em meninos com uma proporção
masculino:feminina de 3:2.
Nas crianças pequenas, a maioria dos casos é
idiopática. Em contrapartida, crianças mais
velhas e adultos geralmente apresentam uma
causa identificável de intussuscepção (“cabeça
de invaginação”) em cerca de 80 a 90% dos
casos. No intestino delgado as causas mais
comuns são os tumores benignos e o divertí-
culo de Meckel. Nas invaginações ileocolônicas
e colônicas o adenocarcinoma é a causa mais
comum. Atualmente, novas evidências sugerem
que os casos anteriormente considerados idio-
páticos estão associados a infecções virais e
hipertrofia do tecido linfoide associado às pla-
cas de Payer. Um dado que corrobora esta
teoria é que em até 30% das crianças é possí-
vel identificar uma história recente de infecção
(trato respiratório, gastrointestinal...).
Os casos de intussuscepção não idiopáticos
se associam a diversas condições clínicas.
Veja na tabela:
A vacina para rotavírus
Durante muito tempo se falou na associação
entre a vacina tetravalente para o rotavírus
e a intussuscepção em crianças. Embora
não tenha sido totalmente esclarecida, esta
relação foi observada apenas com a vacina
anteriormente utilizada (e já retirada do mer-
cado) que era derivada de rotavírus de ma-
caco. Atualmente, ela é derivada de vírus
humanos e mesmo após ter sido amplamen-
te testada (foram quase 64.000 crianças
pré-licenciamento) não se observou aumen-
to de risco para invaginação.
Veja a importância da intussuscepção:
“É a causa mais comum de emergência abdo-
minal em crianças menores de dois anos.”
“É a maior causa de obstrução intestinal em
crianças entre seis meses e três anos.”
Você ainda tem dúvidas de que este tema
aparecerá na sua prova?
Então, vamos começar com uma simples
questão:
Qual o local mais frequente de intussus-
cepção?
Apesar de serem descritos casos desde o je-
juno até o reto, o local mais frequente de intus-
suscepção é na junção ileocecal. A figura abai-
xo ilustra diversos tipos de intussuscepção.
Obs.: A intussuscepção de delgado também
é descrita em alguns pacientes em pós-ope-
ratório, geralmente associada à brida.
A fisiopatologia desta doença é simples. De-
pois de instalada, a intussus cepção progres-
sivamente compromete as drenagens venosa
e linfática intestinais e, aos poucos, a alça
invaginada vai se tornando edemaciada. Com
o tempo, desenvolve-se aumento de pressão
nos tecidos moles e por fim diminuição da ir-
rigação arterial. Se nada for feito, a isquemia
culmina em necrose tecidual e consequente
perfuração.
Fig. 16: Intussuscepção Ileoileal.
Fig. 15: Intussuscepção Ileocecal.
Fatores predisponentes à intussuscepção
Linfoma Cistos de duplicação Fibrose cística
Divertículo de Meckel Parasitas Doença celíaca
Pólipos Inversão de apêndice Doença de Crohn
Malformações vasculares Púrpura de Henoch-Schönlein
Figura 17
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Cirurgia - Volume 5 45Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Quadro Clínico
As provas de residência costumam apresentar
uma tríade clássica:
Dor abdominal + massa palpável +
fezes em geleia de framboesa (ou
groselha)
Apesar de muito divulgada nos livros, na prá-
tica esta tríade está presente em menos de
15% dos pacientes na emergência.
Vamos entendê-la melhor:
Dor abdominal: Possui início súbito e caráter
intermitente marcado por cólicas de intensi-
dade progressiva com intervalos assintomá-
ticos de aproximadamente 20 minutos.
Crianças pequenas manifestam a dor atra-
vés de choro incontrolável e uma postura de
flexão das pernas sobre o abdome.
Fezes em geleia de framboesa: Este termo
muito badalado nas provas teóricas refere-
-se à cor originada da mistura de fezes,
muco e sangue.
Massa abdominal palpável: Muitas vezes
descrita como uma massa em forma de
“salsicha” ou “chouriço” no lado direito do
abdome, mas que pode adquirir diferentes
formatos variando com o local de intussus-
cepção. A presença da massa no quadran-
te superior direito com ausência de alças
no quadrante inferior direito é descrita
como sinal de Dance.
Outros achados: É comum a presença de
vômitos e letargia. Cuidado, pois a altera-
ção do nível de consciência pode chamar
a atenção para um diagnóstico errôneo de
meningoencefalite.
Nos adultos o quadro clínico é diferente, rara-
mente se manifestando com hemorragia di-
gestivae massa abdominal. Os sintomas
clássicos de obstrução intestinal (dor em có-
lica, distensão, vômitos, etc) predominam e
podem ser insidiosos, durando por semanas.
diagnóstico e Tratamento
Em pacientes com sintomas clássicos, o diag-
nóstico pode ser feito apenas pela clínica.
Nestes casos, não se deve perder tempo com
exames complementares. Já nos casos duvi-
dosos, é necessário complementar a investi-
gação com exames de imagem.
As radiografias simples de abdome podem ser
ferramentas muito úteis no diagnóstico em me-
tade dos casos. Os achados mais comuns são
inespecíficos: distensão de alças e ausência de
gás no reto. Entretanto, dois achados sugerem
intussuscepção:
Sinal do alvo: Dois halos radioluscentes
superpostos ao rim direito originados a
partir das alças invaginadas e a gordura
adjacente.
Sinal da crescente ou do menisco: Re-
presenta uma massa arredondada de partes
moles interrompendo a coluna de ar do có-
lon, geralmente localizada no quadrante
superior direito.
Fig. 18: Posição típica e as fezes em geleia
de framboesa.
Fig. 19B: Sinal da
crescente ou me-
nisco em um RX do
quadrante supe-
rior direito.
Fig. 19A: Sinal
do alvo.
Nem sempre as radiografias são suficientes
para o diagnóstico de intussuscepção. Nestes
casos, a ultrassonografia é um método com-
plementar muito útil. Quando realizada por
radiologista experiente, este exame tem sensi-
bilidade e especificidade próximas a 100%. O
achado clássico é de camadas sobrepostas de
intestino representando uma alça “dentro” da
outra. Muitos epônimos existem para diferentes
imagens de intussuscepção encontradas no
US como: sinal do alvo, sinal do pseudo-rim,
sinal dos múltiplos anéis concêntricos, sinal do
crescente, sandwich sign, sinal do garfo, bull’s
eye sign, coiled spring sign...
Fig. 20: US evidenciando a presen-
ça de uma alça dentro da outra.
http://#scrolldown
http://#videomiolo=RCIR206049
Cirurgia - Volume 5 46Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Os exames contrastados são o método padrão
de diagnóstico e tratamento da intussuscepção
ileocolônica. O enema com bário ou ar é capaz
de reverter a intussuscepção sem necessidade
de cirurgia. Isto ocorre por ação da pressão
hidrostática ou pneumática gerada pelo enema.
A reversão com exames contrastados é bem-
-sucedida em mais de 80% dos casos. As taxas
de sucesso são menores em crianças com
menos de seis meses e mais de cinco anos, na
intussuscepção não idiopática e quando há
sinais de obstrução intestinal ao RX. O principal
risco desta abordagem é a perfuração intestinal
que ocorre em 1% dos pacientes. Por isso, o
ideal é que o enema seja monitorado com um
esfigmomanômetro e que a pressão intralumi-
nal não ultrapasse 120 mmHg. As intussuscep-
ções ileoileal, jejunoileal ou jejunojejunal pos-
suem menor chance de serem revertidas com
exames contrastados, já que geralmente são
induzidas por uma cabeça de invaginação.
A tomografia é um exame utilizado nos pacien-
tes em que os demais métodos de imagem ti-
verem sido duvidosos. Este método pode ser
capaz de identificar a causa da intussuscepção,
porém demanda um gasto excessivo de tempo
no manejo do paciente. Em adultos a tomo-
grafia abdominal é o exame de escolha,
sendo as gestantes uma exceção à regra.
A cirurgia é o método de tratamento nos pa-
cientes cuja redução por exame contrastado
não tiver sido completa ou naqueles pacientes
em que se suspeita de intussuscepção asso-
ciada à neoplasia. Como a maior parte das
invaginações é fruto de um fator direto em
adultos, não é necessária a tentativa de redu-
ção da intussuscepção por enema nesses
casos. A cirurgia com ressecção segmentar é
o tratamento de escolha indicado inicialmente.
pica, observa-se inicialmente se a alça é viável
(não isquêmica) e prossegue-se com a orde-
nha da alça. Caso a viabilidade seja incerta,
realiza-se a ressecção por uma ileocolecto-
mia com anastomose primária.
A recidiva da intussuscepção ocorre em 10%
dos pacientes tratados com métodos não
cirúrgicos e em 1% daqueles tratados com
redução manual. É praticamente nula nos
pacientes que realizaram ressecção intesti-
nal. Naqueles que realizaram redução por
enema, a recidiva indica a repetição do pro-
cedimento. A partir do terceiro episódio está
autorizada a investigação da presença de
uma cabeça de invaginação por laparotomia
bem como a sua ressecção.
Fig. 21A: Veja o si-
nal do crescente
representando a fa-
lha de enchimento
causada pela alça
invaginada.
Fig. 21B: Sinal da
mola em espiral
formado por file-
tes de contraste
marcando a alça
invaginada.
Na cirurgia, pode-se optar por abordagem
aberta ou laparoscópica. Na primeira, é rea-
lizada uma incisão no quadrante inferior di-
reito com exposição da massa invaginada
pela ferida operatória. Em geral, é possível
realizar a redução manual (ordenha) da in-
tussuscepção. Não se pode “puxar” a parte
invaginada devido ao risco de lesão da pare-
de! Como o suporte vascular do apêndice
está frequentemente afetado, realiza-se tam-
bém apendicectomia. Na cirurgia laparoscó-
Fig. 22: Descompressão bem-sucedida com
contraste pneumático.
Fig. 23: Intussuscepção ileocolônica.
Veja como este tema é cobrado!!!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JUNDIAÍ –
SP
Lactente de 10 meses com peso de 11 kg é
atendido no pronto-socorro pediátrico com
queixas de que há 12 horas alterna momentos
de irritabilidade e choro com sonolência. Vo-
mitou duas vezes no início do quadro e apre-
sentou uma evacuação amolecida. Há 2 horas
piorou, ficando extremamente letárgico. Ante-
cedentes de que há 10 dias apresentou um
quadro respiratório alto com coriza, tosse e
febre, sendo medicado com dipirona para “dor
de ouvido”. Ao exame físico, observa-se uma
criança com temperatura de 36,3°C, extrema-
http://#scrolldown
Cirurgia - Volume 5 47Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
mente letárgica, que reage a estímulos dolo-
rosos. No exame abdominal, palpa-se uma
massa no quadrante superior direito. Esse
quadro sugere:
a) Meningite.
b) Encefalite.
c) Intussuscepção intestinal.
d) Trombose venosa renal.
e) Apendicite aguda.
A intussuscepção ou invaginação intestinal
é mais comum em lactente e se caracteriza
pela entrada de uma alça intestinal proximal
no interior de sua alça distal, acarretando dor
abdominal súbita, de caráter paroxístico, as-
sociada à diar reia, na maioria das vezes san-
guinolenta, com aspecto em geleia de moran-
go ou framboesa. Pode haver, também, vômi-
tos e alternância entre letargia e irritabilidade.
Ao exame físico pode ser palpada massa
endurecida mais comumente nas regiões su-
periores do abdome. O diagnóstico é baseado
na clínica, podendo a ultrassonografia abdo-
minal auxiliar na definição. A abordagem tera-
pêutica consiste na redução da invaginação
através de enema, podendo haver necessida-
de de intervenção cirúrgica nos quadros mais
graves. Resposta: letra C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE PORTO ALE-
GRE – RS
Assinale a assertiva INCORRETA sobre inva-
ginação intestinal em crianças.
a) Ocorre em crianças bem nutridas, saudá-
veis, sendo aproximadamente 2/3 delas do
sexo masculino.
b) A incidência é maior em crianças com mais
de 12 meses de idade.
c) É incomum em crianças com menos de 3
meses e com mais de 3 anos de idade.
d) Recorrência da invaginação é esperada nos
primeiros 6 meses do quadro inicial, sendo
mais comum quando tiver sido realizada re-
dução não cirúrgica.
e) Invaginação pós-operatória é rara, ocorren-
do usualmente nos primeiros 10 dias após
cirurgias abdominais, retroperitoneais ou rea-
lizadas fora do abdômen.
A intussuscepção, ou invaginação intestinal,
ocorre em crianças saudáveis, de três meses
a seis anos de idade (alternativas A e C corre-
tas), no entanto mais de 2/3 acomete crianças
até um ano (alternativa B incorreta). Geralmen-
te a causa da invaginação é indefinida, apesar
de se observarproliferação de tecido linfoide.
O tratamento de escolha é a redução hidros-
tática, que apresenta recorrência precoce em
até 11% dos casos, principalmente nas primei-
ras 24 horas, mas pode ocorrer em até seis
meses. A cirurgia está indicada na presença
de peritonite, sinais de necrose intestinal ou a
partir do terceiro episódio de recorrência, já
que após a cirurgia esta é bastante incomum
(alternativa D correta).
É uma complicação rara de cirurgias retrope-
ritoneais e abdominais e quase a totalidade
dos casos ocorre nas primeiras duas semanas
de pós-operatório (alternativa E correta). Res-
posta correta: alternativa B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL ANGELINA CARON – PR
Sobre a “intussuscepção ou intuscepção” as-
sinale a correta:
a) Ocorre geralmente em crianças acima de
dois anos.
b) As fezes em tipo de “geleia de groselha” ocor-
rem em todos os pacientes no início do quadro.
c) A localização mais comum é ileocólica.
d) O tratamento é sempre cirúrgico.
e) Tem duas alternativas corretas acima.
Em relação à intussuscepção:
A) Incorreta: o pico de intussuscepção se dá
entre os três meses e seis anos de idade, no
entanto, ocorre mais em menores de dois anos;
B) Incorreta: a presença de fezes em groselha
ou em geleia de framboesa é típico, porém
ocorre em menos de 30% dos casos;
C) Correta: autoexplicativo, a diferença entre
as estruturas facilita a invaginação;
D) Incorreta: o tratamento pode ser tentado
através da realização de um enema, isso mes-
mo, a peristalse retrógrada gerada pela intro-
dução do contraste pode desfazer a invagina-
ção. Gabarito C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN
– SP
Lactente, masculino, 9 meses, chega ao Pron-
to Atendimento às 05:30 da manhã trazido
pelos pais que referem que o paciente há 2
horas mantém choro persistente, associado à
distensão abdominal e vômitos. O pai refere
que houve quadro semelhante no início da
madrugada, mas com melhora espontânea. Ao
exame, o lactente apresenta-se irritado, com
os joelhos fletidos sobre o abdome, sendo que
este se encontra distendido e timpânico, os
ruídos hidroaéreos estão aumentados e com
timbre metálico. Ao retirar a frauda observa-se
fezes amolecidas com secreção mucossangui-
nolenta. A principal hipótese diagnóstica e o
tratamento de primeira escolha são:
a) Enterocolite necrosante – laparotomia ex-
ploradora.
b) Amebíase – ciprofloxacina e hidratação.
c) Intussuscepção intestinal – redução hidros-
tática ou enema baritado.
d) Estenose hipertrófica de piloro – piloromio-
tomia cirúrgica.
História clássica!!! A intussuscepção é a
causa mais comum de obstrução intestinal
em crianças entre três meses e seis anos de
idade e é a emergência abdominal mais co-
mum em crianças com menos de dois anos.
É mais frequente em lactentes jovens e se
manifesta por dor abdominal de início súbito,
intensa, em cólicas, acompanhada de esfor-
ço para evacuar com flexão das pernas e
joelhos e choro intenso. Os pacientes evo-
luem com distensão abdominal, vômitos (que
posteriormente podem ser biliosos), e elimi-
http://#scrolldown
Cirurgia - Volume 5 48Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
nação de fezes em “geleia de morango”.
Exatamente como foi descrito o caso da
questão. A única característica clássica (mas
não obrigatória) que não foi descrita no caso
foi a presente de massa abdominal cilíndrica
palpável ao exame do abdome. O tratamen-
to é a redução da intussuscepção em caráter
de emergência. Em pacientes que estejam
estáveis hemodinamicamente, sem irritação
peritoneal, perfuração intestinal, pode-se re-
alizar a redução hidrostática radiológica sob
visualização fluoroscópica ou ultrassônica
com taxa de 80-95% de sucesso.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RJ
Mãe de lactente de seis meses, que estava
em aleitamento materno exclusivo, referiu
que o filho chorava sem parar, não queria
mamar e vinha apresentando vômitos há 24
horas. Contou ainda, que o abdome do bebê
está “inchado” e notou a presença de “catar-
ro” e sangue junto com pequena quantidade
de fezes quando foi trocar a fralda. Negou
presença de febre. Ao exame físico, os sinais
vitais estavam normais. Foram solicitados
exames, que apresentaram os seguintes re-
sultados: hemograma - ausência de leucoci-
tose; ultrassonografia abdominal - ausência
de coleção ou líquido livre na pelve. O diag-
nóstico mais provável, o sinal ultrassonográ-
fico característico dessa doença e o trata-
mento específico para esse caso, respecti-
vamente, são:
a) Atresia duodenal/ sinal da dupla bolha/ la-
parotomia exploradora.
b) Enterocolite necrotizante/ sinal da dupla
bolha/ laparotomia exploradora.
c) Intussuscepção intestinal/ sinal do alvo ou
sinal do pseudo-rim/ redução hidrostática por
agente de contraste ou enema de ar.
d) Doença de Hirschsprung/ sinal do alvo ou
sinal do pseudo-rim/ redução hidrostática por
agente de contraste ou enema de ar.
Em lactente com vômitos, distensão abdo-
minal e saída de fezes com catarro e sangue
(aspecto de fezes em geleia de groselha, pre-
sente em 60% dos casos), hipótese diagnós-
tica é a de intussuscepção intestinal, a causa
mais frequente de obstrução intestinal no
lactente. O sinal ultrassonográfico sugestivo
é imagem em alvo no corte transversal e
“pseudo-rim” no corte longitudinal. Nas crian-
ças com boas condições gerais, sem sinais de
irritação peritoneal e com evolução em menos
de 24 horas, está indicado o tratamento com
redução hidrostática com contraste ou enema
de ar. Gabarito opção C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VAR-
GAS – AM
Lactente apresentando início súbito de dor em
cólica paroxística intensa, seguida de vômitos.
Mãe refere também eliminação de fezes com
aspecto de geleia de morango. À palpação
abdominal observa-se uma massa em forma
de salsicha. O diagnóstico mais provável é:
a) Cólicas do lactente.
b) Intussuscepção ou invaginação intestinal.
c) Parasitose intestinal.
d) Gastroenterite aguda.
e) Síndrome do cólon irritável.
Lactente com a tríade clássica que é com-
posta de dor, massa abdominal cilíndrica pal-
pável (forma de salsicha) e fezes em geleia
de morango (ou com sangue) da intussuscep-
ção intestinal. Esta ocorre quando uma parte
do trato digestivo se introduz (invagina) em
um segmento adjacente; e é a causa mais
comum de obstrução intestinal em crianças
entre três meses e seis anos de idade. Res-
posta letra B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO
DISTRITO FEDERAL – DF
Um lactente de sete meses de idade está cho-
rando há doze horas seguidas. Sabe-se que
parou de evacuar após ter eliminado fezes
mucossanguinolentas e que, nas últimas três
horas, apresentou dois episódios de vômitos.
No exame físico, foram observadas expres-
sões de dor na criança, além de sinais de
desidratação e sem evidência clínica de cho-
que. Considerando o caso clínico descrito,
julgue o item subsequente. Caso a intussus-
cepção intestinal seja considerada a causa da
obstrução do paciente, a administração de
enema baritado é contraindicada devido ao
risco de perfuração intestinal.
a) CERTO b) ERRADO
ERRADO. A administração de enema pode
ser tanto para corroborar a suspeita clínica
quanto para tratar, ao reduzir a intussuscep-
ção. Resposta B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS – RO-
RAIMA – RR
A tríade clássica que caracteriza a invaginação
íleo-ceco-cólica idiopática do lactente é:
a) Dor abdominal em cólica, massa abdominal
palpável e evacuações com muco e sangue.
b) Dor abdominal contínua, defesa abdominal
e evacuações em geleia de morango.
c) Vômitos em jato, massa abdominal palpável
e evacuações com muco e sangue.
d) Dor abdominal difusa, massa abdominal e
tenesmo.
e) Hematêmese, distensão abdominal e au-
sência de eliminação flatos.
Como acabamos de ver a tríade clássica é
formada por: Dor abdominal em cólica + Massa
palpável (salsicha) + Fezescom muco e sangue
(framboesa ou morango). Resposta: A.
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Cirurgia - Volume 5 49Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
A enterite pós-actínica é uma complicação
do uso de radioterapia para o tratamento de
neoplasias, principalmente os cânceres de
reto, próstata e outros tumores pélvicos. Na
maioria dos casos, os efeitos colaterais da
radioterapia no trato gastrointestinal são de-
pendentes da técnica e quantidade de radia-
ção empregada.
Existem duas formas de lesão intestinal
pós-actínica: aguda ou crônica.
A forma aguda inicia-se geralmente a partir
da terceira semana de um tratamento conven-
cional fracionado (180 a 200 cGy/dia), todavia
pode se manifestar desde as primeiras horas
de radioterapia. A incidência deste tipo de
lesão varia entre 20 a 70% dos pacientes de-
pendendo do método utilizado. O principal
mecanismo fisiopatológico se relaciona com
lesão tecidual direta e inflamação reacional.
As principais manifestações clínicas são diar-
reia, dor abdominal, náuseas e má absorção.
A maioria dos pacientes necessita apenas de
modificação do esquema terapêutico, contudo
alguns desenvolvem sintomas graves que
necessitam de internação hospitalar e suspen-
são do tratamento. O uso concomitante de
quimioterapia (como no tratamento neoadju-
vante do câncer de reto) favorece o surgimen-
to de manifestações severas. O diagnóstico é
feito basicamente pela anamnese. Exames
complementares visam excluir diagnósticos
diferenciais. A colonoscopia deve ser empre-
gada com cautela pelo risco de perfuração
intestinal. Não há tratamento específico. Utili-
zam-se apenas sintomáticos dependendo das
queixas principais. Há a tendência de melho-
ra deste tipo de lesão duas a seis semanas
após o término da radioterapia.
A enterite pós-actínica crônica pode ocorrer
desde alguns meses até muitos anos após a
radioterapia. Em geral, são necessárias altas
doses de radiação como 4.500 a 5.500 cGy.
Diferente da forma aguda, a lesão crônica
caracteriza-se por vasculite e fibrose intesti-
nais além de um discreto grau de atrofia
muscular. A incidência desta complicação
varia entre 5 e 15% dos pacientes, sendo
mais comum em idosos, pessoas que fizeram
uso concomitante de quimioterapia e naque-
les submetidos à cirurgia. As principais com-
plicações são formação de abscessos, su-
percrescimento bacteriano, fístulas e obstru-
ção intestinal. Os sintomas podem surgir de
forma insidiosa após o tratamento e podem
variar dependendo da complicação. Os prin-
cipais achados são náuseas, vômitos, dor
abdominal, diarreia, má absorção, obstrução
intestinal e sangramentos. O diagnóstico é
feito pela clínica com auxílio de exames com-
plementares (ex.: tomografia, ressonância,
seriografia, enteroscopia e colonoscopia). O
tratamento deve ser o mais conservador pos-
sível, visto que a morbidade associada a
procedimentos cirúrgicos é alta. O uso de
tratamentos sintomáticos como drogas cons-
tipantes para pacientes com diarreia e anti-
bióticos para aqueles com supercrescimento
bacteriano é a principal estratégia.
Um dado interessante é que alguns pacientes
com diarreia podem se beneficiar da restrição
à lactose. Muitos outros tratamentos como
compostos 5-asa e oxigenioterapia hiperbárica
estão disponíveis, mas carecem de estudos
científicos de grande porte. Casos graves po-
dem necessitar até de nutrição parenteral total.
Apesar de ser evitada ao máximo, até 30% dos
pacientes necessitará de procedimentos cirúrgi-
cos. A mortalidade e o prognóstico de pacientes
com enterite actínica crônica são ruins. Atual-
mente, prevenção é a melhor estratégia para
evitar este tipo de lesão.
Existe uma forma de prevenir a lesão actíni-
ca nos pacientes submetidos a RT pélvica?
Esse risco pode ser minimizado, embora não
eliminado, graças às novas técnicas de radio-
terapia, como a IMRT (radioterapia de inten-
sidade modulada), que permite o direciona-
mento de maiores doses de radiação aos tu-
mores, causando menor dano aos tecidos
vizinhos. Isso se dá graças aos programas de
computador que estudam profundamente a
distribuição da dose e à presença de um ace-
lerador linear móvel, capaz de se mover sobre
o paciente a fim de buscar a melhor incidência
da radiação sobre o tumor, atingindo o menor
volume possível de tecido sadio. Sempre que
possível, essa técnica deve ser utilizada em
detrimento à radioterapia 3D convencional. A
braquiterapia, que consiste no implante de
“sementes” radioativas no interior do tumor
também é outra técnica descrita, sendo utili-
zada com sucesso em algumas neoplasias,
incluindo o câncer de próstata.
LEsãO INTEsTINAL PÓs-ACTÍNICA
Lesão pós-actínica aguda:
Fisiopatogenia: lesão inflamatória.
Clínica: diarreia, dor abdominal, náuseas e
má absorção.
Tratamento: sintomáticos e ajuste da radio-
terapia.
Lesão pós-actínica crônica:
Fisiopatogenia: vasculite e fibrose.
Clínica: náuseas, vômitos, dor abdominal,
diarreia, má absorção, obstrução intestinal e
sangramentos.
Tratamento: conservador sempre que possí-
vel, e, caso contrário, cirúrgico.
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Cirurgia - Volume 5 50Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Apesar de raras, as neoplasias primárias de
delgado também são causas de obstrução
intrínseca. Elas ocorrem mais frequentemen-
te a partir da 5ª e 6ª décadas de vida e estão
relacionadas a fatores de risco como polipo-
ses familiares, síndrome de Lynch, síndrome
de Peutz-Jeghers, doença de Crohn, doença
celíaca e derivações biliares.
As neoplasias benignas de delgado mais co-
muns são os adenomas, entretanto as mais
sintomáticas são os GISTs – Gastrointestinal
Stromal Tumors (o delgado é 2º sítio mais co-
mum dessa neoplasia, perdendo apenas para
o estômago). O quadro clínico é insidioso e
inespecífico e pode cursar com dispepsia, ano-
rexia, mal-estar e dor abdominal difusa do tipo
cólica (sintoma mais comum). A dor é geralmen-
te resultado da obstrução por intussuscepção.
Os tumores benignos de delgado funcionam
como uma “cabeça de invaginação”. O segundo
sintoma mais comum é o sangramento.
O câncer de delgado é uma doença rara que
responde por apenas 2% das neoplasias ma-
lignas do trato gastrointestinal. O subtipo his-
tológico mais frequente é o adenocarcinoma,
ultrapassado em algumas estatísticas pelo
tumor carcinoide. Outras neoplasias possíveis
são o GIST maligno*, leiomiossarcomas e o
linfoma intestinal. De forma geral, manifestam-
-se com dor abdominal e perda de peso, ocor-
rendo obstrução intestinal em até 35% dos
casos. Aqui o mecanismo obstrutivo é diferen-
te, sendo relacionado com infiltração tumoral
e formação de aderências. Outras manifesta-
ções possíveis são o sangramento oculto/
obscuro e a perfuração intestinal.
* Embora o Sabiston refira-se a “GIST malig-
no” e “GIST benigno”, as referências biblio-
gráficas mais atuais em Oncologia não reco-
mendam essa diferenciação, uma vez que
mesmo os tumores inicialmente de aspecto
benigno podem originar metástases, possuin-
do, assim, comportamento maligno. Assim,
não seria possível diferenciar essas duas
entidades ao diagnóstico.
Não existe um “método ideal” para diagnósti-
co das neoplasias de delgado. Elas podem ser
identificadas através de uma enterografia, TC
com contraste oral ou com enteroscopias (por
EDA ou colonoscopia). Grande parte dos tu-
mores, entretanto, permanece sem diagnósti-
co até que uma laparotomia para resolução
da obstrução seja realizada.
O tratamento cirúrgico é específico para cada
tipo neoplasia. De forma geral, procura-se
extrair o segmento que contém o tumor e con-
feccionar uma reconstrução de trânsito primá-
ria (suficiente para neoplasias benignas). Uma
terapia mais específica é requerida dependen-
do da causa, como, por exemplo, uma linfade-
nectomia nos casos de adenocarcinoma e
linfoma. O tratamento farmacológico da sín-
drome carcinoide já foi visto na apostilade
Síndrome Diarreica, enquanto o dos GISTs
será estudado na apostila de Oncologia.
NEOPLAsIAs PrIMárIAs dE dELgAdO
ENdOMETrIOsE
A endometriose é uma causa rara de obstru-
ção intestinal em mulheres. Este assunto será
mais bem abordado nas apostilas de Gineco-
logia do MED.
Obstrução Intraluminal
ÍLEO BILIAr
Definição: obstrução intestinal por um cálcu-
lo biliar advindo da vesícula após formação de
uma fístula colecistoentérica.
Distribuição: mais comum em idosos e mu-
lheres.
Local mais comum de obstrução: íleo ter-
minal.
Clínica: síndrome da obstrução intestinal com
características baixas na maior parte das vezes.
Achado radiológico clássico: pneumobilia
(não é específico).
• Pneumobilia (30 a 60%) – presença de ar nas
vias biliares.
• Visualização do cálculo (menos de 15%).
• Radiografias seriadas apresentando obstru-
ções intestinais em diferentes locais.
Tratamento: cirúrgico (enterolitotomia). Realizar
colecistectomia num segundo tempo cirúrgico
ou no mesmo tempo em pacientes jovens e hí-
gidos.
Obs.: Síndrome de Bouveret: obstrução in-
testinal alta causada por um cálculo biliar im-
pactado no piloro ou duodeno.
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Cirurgia - Volume 5 51Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Introdução
Íleo biliar é o nome dado à impactação de um
cálculo no intestino após a formação de uma
fístula entre a vesícula biliar e o trato digestivo.
Você já aprendeu sobre esta patologia na
apostila de síndromes ictéricas, mas vamos
revisar alguns detalhes.
Quem pode apresentar obstrução intestinal
por íleo biliar?
O íleo biliar é uma complicação rara da cole-
litíase (0,5%) e corresponde a apenas 1 a 4%
das obstruções intestinais. Os pacientes mais
acometidos são idosos, com predominância
do sexo feminino.
Qual é a história natural do íleo biliar?
Tudo se inicia com um episódio de colecis-
tite. A inflamação pericolecística é respon-
sável pela formação de uma adesão entre a
vesícula e o tubo digestivo (geralmente o
duodeno) que evolui para uma fístula. Esta
comunicação é responsável pelo alívio dos
sintomas da colecistite, porém fica estabe-
lecido um pertuito entre a vesícula e o lúmen
intestinal. Por esta fístula, cálculos biliares
escapam da vesícula e caem diretamente
no tubo digestivo.
Neste momento, a peristalse é responsável por
empurrar os cálculos no sentido do trânsito
intestinal. Aos poucos, eles vão se unindo a
resíduos alimentares e crescendo em tamanho.
Durante o trajeto pelo tubo digestivo, estes
cálculos podem impactar e causar obstrução.
Entretanto, na maioria das vezes, as obstru-
ções são transitórias e não levam o paciente
ao hospital.
Com o tempo, novas obstruções reversíveis
vão ocorrendo até que o cálculo impacta em
uma área de menor diâmetro, causando uma
obstrução fixa. Classicamente, este local é o
íleo terminal, próximo à válvula ileocecal, e
está relacionada à obstrução por cálculos
maiores que 2 cm. Nesta situação, o paciente
é levado ao hospital com uma síndrome de
obstrução intestinal.
Cuidado!!! Você acabou de passar por um
conceito importante e não o fixou direito...
Repare que o local clássico de obstrução pelo
cálculo NÃO é NA válvula ileocecal, mas pró-
ximo a ela... NO íleo terminal!!!
Figura 24
Figura 25
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL ESCOLA LUIZ GIOSEFFI JANNU-
ZZI – RJ
Íleo biliar é a obstrução do trato intestinal de-
vido a cálculo biliar. Assinale dentre as alter-
nativas o sítio mais comum no íleo biliar:
a) Piloro.
b) Duodeno.
c) Jejuno.
d) Íleo terminal.
Conceito simples e batido em prova!!! Ga-
barito D. Detalhe interessante é que também
temos a síndrome de Bouveret, nela, também
existe a fístula biliar para o trato gastrointesti-
nal, mas a impactação do cálculo é mais alta,
ocorrendo a nível de piloro e duodeno.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ – PA
A obstrução intestinal por cálculo biliar ocorre,
mais frequentemente, no:
a) Jejuno.
b) Ângulo de treitz.
c) Cólon.
d) Ileoterminal.
e) Ceco.
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Cirurgia - Volume 5 52Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
UDI HOSPITAL – MA
Obstrução intestinal por cálculo biliar e comum
ocorrer no:
a) Colon sigmoide. d) Ceco.
b) Jejuno. e) Duodeno.
c) Ileoterminal.
Não tem como errar... é sempre a mesma
coisa. Gabarito D e C respectivamente.
Quadro Clínico
Deve-se suspeitar desta condição em todo
idoso que apresenta uma história “arrastada”
(alguns dias) de dor abdominal discreta com
períodos de melhora espontânea e que subi-
tamente apresenta a síndrome de obstrução
intestinal. A alternância de dor com períodos
de melhora refere-se aos diversos episódios
de suboclusão intestinal que ocorrem durante
a passagem do cálculo pelo tubo digestivo e
remitem espontaneamente. Um cuidado a ser
tomado é não descartar a possibilidade de íleo
biliar naqueles pacientes que não possuem
história de colelitíase, já que alguns trabalhos
mostraram que metade dos pacientes desco-
nhece a presença de doença biliar prévia.
A síndrome de Bouveret é uma variável do
íleo biliar. Este epônimo é usado para a obs-
trução intestinal alta causada por um cálculo
biliar impactado no piloro ou duodeno.
Entenda como ocorre a síndrome de Bou-
veret:
Por vezes, a fístula entre a vesícula e o tubo
digestivo pode ocorrer no estômago. Neste
caso, o cálculo pode ficar impactado no piloro
e causar obstrução gástrica. Já no caso de
uma fístula colecistoduodenal, a síndrome de
Bouveret irá ocorrer quando o cálculo impac-
tar no próprio duodeno. A clínica é semelhan-
te à encontrada na estenose pilórica domina-
da por náuseas e vômitos de repetição.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO – UNIRIO
A síndrome de Bouveret é:
a) Obstrução mecânica do duodeno por cál-
culo biliar.
b) Caracterizada por vômitos fecaloides, de-
vido a vólvulo do íleo proximal.
c) A associação de colelitíase e doença diver-
ticular do colo.
d) O sangramento, geralmente oculto, da tu-
berculose intestinal associado à estenose do
íleo terminal.
e) Associação de estenose pilórica com aci-
dúria paradoxal.
A síndrome de Bouveret nada mais é do que
a impactação “alta” de um cálculo biliar após
uma fístula colecistoentérica.
Resposta A.
diagnóstico
O diagnóstico é confirmado através da roti-
na radiológica de abdome agudo. Além dos
sinais clássicos de obstrução intestinal, en-
contraremos:
• Pneumobilia (30-60%) – presença de ar nas
vias biliares.
• Visualização do cálculo (menos de 15%).
• Radiografias seriadas apresentando obs-
truções intestinais em diferentes locais.
Fig. 26: RX simples de abdome
apresentando pneumobilia –
azul – com dilatação de alças.
O cálculo não é visualizado.
Fig. 27: Imagem de US demonstrando
a presença de uma fístula entre a ve-
sícula biliar e o duodeno, além de gás
na vesícula biliar.
Fig. 28: Primeira imagem – observe a presen-
ça de gás na vesícula biliar – seta laranja – e
nas vias biliares – seta amarela.
segunda imagem – observe o cálculo impac-
tado na válvula ileocecal – seta vermelha – e
a presença de alças de delgado dilatadas e
preenchidas por líquidos – seta azul.
Além da radiografia simples de abdome, outros
métodos de imagem podem ser usados como
US, TC, cintilografia e CPRE no diagnóstico
do íleo biliar. A TC é o método complementar
mais popular em casos de dúvida, entretanto
em metade dos pacientes o diagnóstico é fei-
to apenas durante a cirurgia.
http://#scrolldown
http://#videomiolo=RCIR206053
Cirurgia - Volume 5 53Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
HOSPITAL DO CORAÇÃO DE LONDRINA – PR
Mulher, 60 anos, queixa-se de dor abdominal
acompanhada de vômitos e parada de elimi-
nação de gases e fezes há 2 dias. Relata into-
lerância alimentar há vários anos. Nega ante-
cedente cirúrgico. Exame físico dirigido: abdo-
me globoso, distendido, ruídos hidroaéreos
aumentados, sem irritação peritoneal. Radio-
grafia simples de abdome revelaalças intesti-
nais distendidas com sinal de “empilhamento
de moedas”, níveis hidroaéreos e aerobilia. A
hipótese diagnóstica mais provável é:
a) Diverticulite aguda.
b) Trombose mesentérica.
c) Íleo biliar.
d) Obstrução intestinal por bridas.
A presença de obstrução intestinal de del-
gado associada à história compatível com
colelitíase e aerobilia tem como principal hipó-
tese o íleo biliar. Essa condição é decorrente
de uma fístula formada entre a vesícula biliar
e o intestino delgado por processo inflamatório
crônico. A conduta é cirúrgica, com incisão do
íleo e retirada do cálculo. A abordagem direta
da fístula biliar fica reservada para os casos
em que não haja aumento significativo do risco
cirúrgico. Alternativa “C” correta.
Tratamento
O tratamento do íleo biliar é cirúrgico, a partir
da incisão do delgado para retirada do cálculo
(enterolitotomia). Como em todos os casos de
obstrução intestinal, é necessário compensar
a desidratação e os distúrbios hidroeletrolíticos
antes do início da cirurgia. Pacientes com risco
cirúrgico mais elevado devem realizar apenas
esse procedimento num primeiro momento,
com posterior retirada da vesícula e correção
da fístula. A colecistectomia é essencial, pois
os pacientes tratados apenas com enterolitoto-
mia apresentam recorrência do íleo biliar em
17% dos casos. Pacientes com baixo risco ci-
rúrgico devem ser submetidos à retirada do
cálculo obstrutivo seguida da colecistectomia
no mesmo procedimento. Vale lembrar que é
possível ocorrer a presença de cálculos sincrô-
nicos e por isto deve-se realizar a exploração
de todo intestino à procura dos mesmos.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
– SP
Mulher de 65 anos de idade, com anteceden-
tríAde de rigler:
Os autores de prova insistem na
cobrança de alguns epônimos!!! A
tríade de Rigler é característica do
íleo biliar e é composta por:
• Pneumobilia;
• Distensão de intestino delgado;
• Cálculo ectópico.
te de colecistolitíase, apresentou-se com qua-
dro de cólica abdominal difusa, náusea e vô-
mito, além de distensão e timpanismo abdo-
minal. O Raio-X simples de abdome mostrou
aerobilia e múltiplos níveis hidroaéreos. O
estudo tomográfico evidenciou aerobilia e di-
latação de alças de intestino delgado até pró-
ximo à válvula íleo-cecal, onde se observou
um cálculo biliar na luz intestinal. Qual nome
se aplica à doença dessa paciente.
Diante de um quadro de obstrução intes-
tinal aguda num paciente com radiografia de
abdome revelando o clássico achado de ae-
robilia, não há outra hipótese etiológica que
não o famoso ÍLEO BILIAR. Nesta condição,
o paciente (geralmente uma mulher idosa
com história prévia de litíase biliar) desen-
volve uma fístula colecistoentérica (entre o
fundo da vesícula biliar e a parede do intes-
tino delgado adjacente, geralmente o duo-
deno ou mesmo o jejuno) que acaba dando
passagem a um cálculo biliar de grandes
proporções estava alojado dentro da vesí-
cula. Este cálculo ganha o trânsito intestinal,
indo impactar no segmento do intestino del-
gado que possui naturalmente o menor ca-
libre de todos: o íleo terminal, particularmen-
te nas redondezas da válvula ileocecal!
Assim, o íleo biliar é uma forma de obstrução
aguda do delgado. GABARITO UNIFESP:
ÍLEO BILIAR.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL NACIONAL DO CÂNCER – RJ
Mulher de 65 anos de idade, obesa, sem ci-
rurgias abdominais prévias, com passado de
cólica sabidamente biliar, apresenta quadro
de dor abdominal timpanismo difuso. O RX
simples de abdome mostra distensão de alças
do intestino delgado, com ausência de ar nos
cólons e presença de aerobilia. O diagnóstico
provável desta paciente é:
a) Íleo biliar.
b) Divertículo de Meckel perfurado.
c) Obstrução intestinal por tumor de cólon as-
cendente.
d) Íleo paralítico devido à colecistite aguda.
O quadro se repete!!! Gabarito A.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2002
SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO
DISTRITO FEDERAL – SES – DF
Diante de um quadro de obstrução intestinal
alta, qual dos sinais abaixo torna o diagnósti-
co de íleo biliar praticamente certo?
a) Vômitos biliares incoercíveis.
b) Níveis hidroaéreos na região do íleo terminal.
c) Massa palpável na fossa ilíaca direita.
d) Colangiograma aéreo.
e) Parada tardia de eliminação de gases e
fezes.
Opção D. Simples, não é? Então aprenda
um conceito importante: Apesar de muitos mé-
dicos associarem a pneumobilia ao íleo biliar,
este achado também ocorre em outras situações
http://#scrolldown
Cirurgia - Volume 5 54Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
como: disfunção do esfíncter de Oddi; trauma;
após CPRE ou cirurgias da árvore biliar; cole-
cistite enfisematosa. Além disso, o quadro pode
ser confundido algumas vezes com a presença
de gás na veia porta, já que também encontra-
remos ar sobre a topografia hepática.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JA-
NEIRO – UFRJ
Mulher, 65 anos, com dor abdominal difusa há
24 horas, vômitos e parada de eliminação de
fezes. É diabética e hipertensa. USG abdominal
realizada na emergência: distensão de alças de
intestino delgado com peristalse de luta e líquido
livre na cavidade; imagens ecogênicas lineares
intra-hepáticas; vesícula não visualizada (VER
IMAGENS). A TC abdominal com contraste oral
e venoso reproduzida permite identificar:
Imagem 1
Imagem 2
Imagem3
a) Gás no sistema porta e pneumatose intes-
tinal devendo corresponder à isquemia me-
sentérica.
b) Trombose de veia porta e abscesso intra-
-abdominal, devendo corresponder a colecis-
tite aguda complicada.
c) Dilatação de vias biliares intra-hepáticas e
ascite devendo corresponder à pancreatite
litiásica.
d) Gás nas vias biliares com dilatação de alças
de delgado e pobreza de gás no cólon, deven-
do corresponder a íleo biliar.
Você não precisa ser um “Ás” da radiologia
para responder essa questão... Repare nos
achados grosseiros: a imagem 1 demonstra gás
na via biliar (imagens “pretas” dentro do fígado),
a imagem 2 obstrução de delgado (sinal do em-
pilhamento de moedas) e a imagem 3 um cál-
culo bem evidente no íleo terminal. Quando
associamos esses dados a uma clínica de obs-
trução intestinal o íleo biliar deve ser a sua prin-
cipal hipótese diagnóstica. Opção “D” correta.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CA-
TARINA – UFSC
No íleo biliar, o local mais frequente de impac-
tação do cálculo é:
a) Proximal e próximo à válvula ileocecal.
b) Distal à válvula ileocecal.
c) Na transição jejunoileal.
d) Na válvula ileocecal.
e) No ângulo de treitz.
Muita gente embarcou na pegadinha da
questão e marcou a válvula ileocecal como
reposta correta... Atenção! O cálculo geral-
mente impacta no íleo terminal, justamente
quando seu diâmetro se reduz para dar origem
à valva ileocecal. Opção “A” correta.
Fig. 29: Representação de peça cirúrgica
de um íleo biliar.
COrPO EsTrANHO / PArAsITOsE
A obstrução intestinal por corpos estranhos na
maioria das vezes ocorre por ingestão de ma-
teriais não digeríveis. Ela é mais comum em
crianças (80%) e pacientes demenciados. A
faixa etária que concentra a maioria dos casos
vai dos seis meses aos três anos.
As moedas são os objetos mais ingeridos,
seguidos de pilhas e brinquedos. Nos adultos,
a principal causa de obstrução é por grandes
pedaços de alimentos não mastigados.
Os principais achados clínicos são: dor retro-
esternal, disfagia e cianose. No entanto, na
maioria das vezes, os pacientes são assinto-
máticos ou apresentam sintomas transitórios.
O diagnóstico é feito através da avaliação clí-
nica complementada com radiografias sim-
ples, sendo as de tórax e abdome suficientes
para localizar grosseiramente o objeto e ava-
liar sinais de obstrução intestinal. É necessá-
rio sempre realizar radiografias em duas inci-
http://#scrolldown
Cirurgia - Volume 5 55Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
dências diferentes, pois objetos finos podem
passar despercebidos se os raios incidirem
perpendicularmente.Nos casos de materiais
não radiopacos, o diagnóstico pode ser feito
com uma tomografia computadorizada e re-
construção em 3D. Exames contrastados não
são boas opções, pois atrapalham a posterior
realização de endoscopia.
Nos casos duvidosos, a endoscopia pode ser
um bom método para continuar com a investi-
gação. Alguns hospitais de emergência pos-
suem detectores de metais para localizar ob-
jetos metálicos ingeridos. Corpos estranhos de
alumínio são os mais beneficiados por esta
técnica, visto que não são radiopacos. Entre-
tanto, a sensibilidade deste método é baixa.
Nos pacientes cujo objeto não possa ser al-
cançado por meio endoscópico, a conduta vai
depender da presença de obstrução intestinal
e das características do objeto. Obviamente,
quando há obstrução intestinal deve-se reali-
zar retirada imediata do corpo estranho. Na-
queles alcançáveis por EDA, sua retirada deve
ser realizada.
Já nos casos que não se manifestam com
obstrução intestinal, a conduta pode ser ex-
pectante. Entretanto, em alguns pacientes é
necessário realizar cirurgia de urgência. Veja
as indicações:
• ingestão de objetos pontiagudos ou longos
(> 5 cm).
• ingestão de baterias.
Felizmente, na maioria dos casos, o material
ingerido segue o trânsito intestinal e é elimi-
nado espontaneamente sem causar obstru-
ção. Apenas 10-20% necessitam de retirada
por endoscopia enquanto 1% necessitará de
uma abordagem cirúrgica. A mortalidade é
extremamente baixa.
Além de corpos estranhos não digeríveis, em
nosso meio não é incomum a oclusão intesti-
nal por parasitas, principalmente o Ascaris
lumbricoides. Você deve se lembrar que esse
tema já foi abordado no módulo de Síndrome
Diarreica. A obstrução é mais comum junto à
válvula ileocecal e encontrada principalmente
em crianças até os cinco anos de idade. Na
abordagem de um quadro abdominal, eles
podem ser visualizados na radiografia de ab-
dome como alteração em “miolo de pão”. A
USG também pode ser utilizada, evidenciando
inclusive possíveis acometimentos pancreáti-
cos ou da via biliar.
Quanto ao tratamento, apesar de o mesmo
ser baseado nos benzoimidazois, o citrato de
piperazina (50-75 mg/kg, 1x/dia) é utilizado
preferencialmente nos quadros obstrutivos,
pela ação paralisante que facilita a expulsão
do parasita. O tratamento cirúrgico fica indica-
do nos quadros complicados.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
DO NORTE – UFRN
Menina de cinco anos é levada ao atendimen-
to médico desnutrida, com dor abdominal em
cólica de forte intensidade há 24 horas, sem
eliminar fezes, e com vômitos biliosos, e o
abdome apresenta uma massa palpável em
fossa ilíaca esquerda. O RX de abdome reve-
la uma imagem em miolo de pão. O diagnós-
tico provável é:
a) Suboclusão por ascaris.
b) Neuroblastoma.
c) Invaginação intestinal.
d) Linfoma de Burkitt.
Fig. 30: Radiografia de tórax de uma
criança com moeda impactada no esô-
fago.
Fig. 32: Observe duas imagens de US - na
primeira é possível perceber a presença de
dois áscaris no tubo digestivo e na segun-
da há uma obstrução com uma alça dilatada
e áscaris no interior.
Fig. 31: Moeda no estômago.
http://#scrolldown
http://#videomiolo=RCIR206056
Cirurgia - Volume 5 56Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Fig. 33: Peça cirúrgica de uma obs-
trução por áscaris.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO
RIO DE JANEIRO – RJ
Paciente masculino dá entrada no setor de
emergência seis horas após ter ingerido
acidentalmente uma pequena moeda. O
exame físico é completamente normal. A
rotina de abdome agudo mostra que o objeto
encontra-se no intestino delgado, sem outras
alterações.
Neste caso, o tratamento adequado será:
a) Manter a observação.
b) Prescrever agentes catárticos.
c) Realizar laparotomia exploradora.
d) Remover por endoscopia digestiva.
O grande problema aqui é a possibilidade
de obstrução ou perfuração intestinal. Mas
como dito no enunciado, a moeda é pequena,
e por isso, este risco é diminuído. No RX ob-
servamos que está no intestino delgado e
sem nenhuma alteração. Neste caso a con-
duta é expectante.
Logo, gabarito letra A.
BEzOAr
Definição: formação de “massas” intralu-
minais oriundas de materiais ingeridos, mas
não digeridos.
Principais tipos:
• fitobezoar – alimentos vegetais
• tricobezoar – cabelo
• farmacobezoar – medicamentos
• lactobezoar – leite
Clínica: Muitas vezes oligossintomático, e,
apenas ocasionalmente, cursa com síndrome
de obstrução intestinal (principalmente alta).
Diagnóstico: exames de imagem e endos-
cópicos.
Tratamento: dissolução química; manejo
endoscópico ou retirada cirúrgica.
Complicações: formação de úlcera gástri-
ca, perfuração gástrica, esteatorreia, intus-
suscepção, enteropatia perdedora de pro-
teína, constipação, overdose medicamen-
tosa e obstrução intestinal.
Introdução
O significado da palavra bezoar?
Esta patologia de nome estranho e bastante
rara é desconhecida por muitos alunos. Du-
rante as provas, as bancas “malignas” usam
este termo para confundir e desconcentrar os
candidatos. Por isto, vamos começar enten-
dendo o que significa “bezoar”. Este vocábulo
tem origem no termo persa “padzahr” que
significa “antídoto que põe para fora o veneno”.
Mas qual a relação de um antídoto com esta
doença?
Veja que curioso: Povos antigos sabiam que
certos animais, como cabras, acumulam no
interior do estômago materiais sólidos compos-
tos de minerais (ex.: cálcio) e pelos. Estes po-
vos acreditavam que a ingestão de tal material
possuía poder de cura para envenenamentos.
Agora imagine a seguinte situação pito-
resca:
Um médico era chamado para avaliar uma
pessoa envenenada. O tratamento consistia
em matar uma cabra e retirar do interior do
seu estômago restos de pelos e pedras inge-
ridos pelo animal. Em seguida, a pessoa que
tivesse ingerido o veneno era obrigada a co-
mer essa “porcaria” achando que iria se curar.
No mínimo estranho, não?
Definição: formação de “massas” intralumi-
nais oriundas de materiais ingeridos, mas não
digeridos.
Na maior parte das vezes, o bezoar se locali-
za no estômago e apenas raramente se ma-
nifesta com obstrução intestinal.
Muitas substâncias já foram associadas à for-
mação de bezoar e podem ser divididas em
algumas categorias:
• fitobezoar (formado a partir da ingestão de
alimentos vegetais);
• tricobezoar (formados a partir da ingestão de
cabelo);
• farmacobezoar (formada a partir da ingestão
de medicamentos);
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Cirurgia - Volume 5 57Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Fig. 34: Com os avanços da Medicina,
descobriu-se que algumas pessoas acumu-
lavam certos resíduos no tubo digestivo
e que se pareciam com o tal do “padzahr”
das cabras. Com o tempo, o nome “pa-
dzahr” transformou-se em bezoar.
• lactobezoar (formado a partir da ingestão de
leite).
Veja no quadro abaixo as principais causas de
bezoar:
Fitobezoar Caqui (diospirobezoar) – maior
parte dos casos de fitobezoar
Psyllium
Outros alimentos: laranja, tremo-
ços,...
Farmaco- Alguns tipos de comprimidos de
bezoar AAS
Cápsulas de liberação prolonga
da (ex.: nifedipina, teofilina)
Sucralfato
Hidróxido de alumínio
Colestiramina
Fórmulas enterais
Tricobezoar Cabelo
Lactobezoar Leite
Outros Isopor®
Fungos
Cimento
Veja como se formam alguns tipos mais
conhecidos de bezoar:
Caqui – esta formação de bezoar é bem
descrita na literatura.A fruta não madura
possui altas concentrações de uma subs-
tância solúvel chamada de “shibutol”, que
forma coágulos quando exposta à acidez do
estômago.
Tricobezoar – ocorre em pessoas com tri-
cotilomania (hábito de arrancar cabelo) e
associada à tricofagia (hábito de comer ca-
belo). Os fios começam a ficar retidos entre
as pregas gástricas e tornam-se pretos pela
acidez gástrica (independente da cor natu-
ral). Em seguida, restos alimentares ficam
presos aos fios e começam a formar uma
massa apodrecida e malcheirosa colonizada
por bactérias. Esta forma de bezoar é mais
comum em mulheres jovens com distúrbios
psiquiátricos. Uma dica diagnóstica é a pro-
cura por alopecia.
Lactobezoar – ocorre pela formação de um
coágulo de leite que não é digerido. Este
bezoar é mais comum em crianças pré-ter-
mo com uma dieta hipercalórica. Parece ser
uma entidade subdiagnosticada.
Figura 35
Alguns autores associam a formação de be-
zoar à disfunção do estômago (por lentificação
do esvaziamento gástrico). Um fator que cor-
robora esta tese é que pessoas submetidas à
cirurgia gástrica apresentam maior chance de
desenvolver bezoar. Entretanto, tal conceito
tem sido questionado visto que pacientes com
trânsito intestinal normal ou até mesmo ace-
lerado também podem desenvolver bezoar.
Outros fatores associados à formação de bezo-
ar são: doenças psiquiátricas, ausência de den-
tes (mastigação precária), diabetes, doença
mista do tecido conjuntivo e distrofia miotônica.
Fig. 36: Curiosidade – Os casos em que
o tricobezoar é grande o suficiente para
ultrapassar o piloro e se estender pelo
delgado são chamados de Síndrome de
Rapunzel. Nestes pacientes os eventos
obstrutivos são mais comuns.
Quadro Clínico
Na maior parte dos casos, o paciente per-
manece assintomático por longos períodos
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Cirurgia - Volume 5 58Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
e as queixas surgem insidiosamente. A clínica
causada pelos diversos tipos de bezoar é mui-
to variável e inespecífica, incluindo dor abdo-
minal crônica, náuseas, vômitos, anorexia,
saciedade precoce, emagrecimento... O exa-
me físico é pobre e pode, em alguns, casos
revelar massa abdominal e halitose.
Como é muito difícil reconhecer esta entida-
de pela clínica, o diagnóstico é feito com
exames de imagem e endoscópicos. Radio-
grafias simples ou contrastadas de abdome,
US ou TC podem revelar a presença de
bezoar. Confira na imagem:
Fig. 37: Tricotilobezoar – note a pre-
sença de uma massa no estômago en-
tremeada por bário.
Fig. 38: Perceba uma massa flutuando
no bário dentro do estômago.
A endoscopia é o método-ouro para o diag-
nóstico. Este exame além de proporcionar a
visualização direta do bezoar permite a coleta
de amostra e intervenções terapêuticas.
Tratamento
Diversos tipos de tratamento são descritos:
• dissolução química
• tratamento endoscópico
• tratamento cirúrgico
A dissolução química é feita basicamente
para fitobezoares. Como os casos de bezoar
são raros, não há estudos comparativos so-
bre a eficácia de diversas substâncias. Veja
os vários métodos descritos na literatura:
celulase, papaína, acetilcisteína e até mesmo
Coca-Cola®. Uma potencial complicação da
dissolução química é a liberação intestinal de
grandes partes do bezoar causando obstru-
ção intestinal.
Para outros tipos de bezoar, o tratamento en-
doscópico é preferido.
O tratamento cirúrgico é indicado para gran-
des bezoares e aqueles associados a com-
plicações.
As principais complicações são:
• formação de úlcera gástrica
• perfuração gástrica
• esteatorreia
• intussuscepção
• enteropatia perdedora de proteína
• constipação e obstrução intestinal
Em casos de farmacobezoar todo cuidado é
pouco. Já foram descritos casos de overdose
de medicação acumulada dentro do bezoar e
liberada de uma só vez no lúmen intestinal.
Apesar do tratamento satisfatório, em até
20% dos pacientes o sintoma que causou o
diagnóstico do bezoar não desaparece após
o tratamento. A recidiva pode atingir 15%
dos pacientes.
Fig. 39: Passos ci-
rúrgicos para ex-
tração de tricobe-
zoar em paciente
jovem, do sexo fe-
minino.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL ANGELINA CARON – PR
Sobre Bezoares, assinale a alternativa correta:
a) Tricobezoar é o tipo mais comum de bezoar
e ocorre com alimentos como aipo, abóbora,
uva-passa e, mais notoriamente, com caqui.
b) Tricobezoar ocorre principalmente no sexo
feminino (90%) e são mais comuns em crian-
ças e adolescentes.
c) O exame clínico ajuda em muito no diag-
nóstico de bezoar.
d) O diagnóstico é confirmado pela ultrasso-
nografia.
e) Fitobezoar é composto de uma variedade de
material sintético e, quando ocorre após a in-
gestão de caqui, é denominado diospirobezoar.
Os tricobezoares ocorrem mais frequente-
mente em mulheres abaixo dos 30 anos,
sendo mais de 90% deles observados em
crianças e meninas adolescentes. Normal-
mente são formações únicas, mais raramen-
te múltiplas, com peso e dimensões variadas,
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http://#videomiolo=RCIR206059
Cirurgia - Volume 5 59Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
desde pequenos até volumosos. Os tricobe-
zoares têm como sede mais comum de loca-
lização, o estômago, podendo, todavia, loca-
lizarem-se em outras porções do tubo diges-
tivo, como também verificado com os fitobe-
zoares. O diagnóstico de tricobezoar nem
sempre é fácil. A rarefação capilar pode não
ser significativa. Frequentemente, o paciente
omite a tricofagia. Na verdade, o relato de
tricotilomania e tricofagia é obtido em menos
de 50% dos casos. Em um estado inicial, o
exame físico frequentemente é inocente, no
entanto em quadros mais avançados, o pa-
ciente pode apresentar quadros clínicos de
obstrução total ou parcial, acompanhados de
dor epigástrica, especialmente se associados
a episódios de vômitos com a presença de
cabelos e secreção fecaloide são bastante
sugestivos. Outras manifestações que podem
estar associadas são hiporrexia, saciedade
precoce, perda de peso, hematêmese, diar-
reia ou constipação intestinal. O exame físico
evidencia em até 70% dos casos a presença
de massa móvel em região epigástrica, além
de áreas de alopécia. Resposta: B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PRESIDENTE
DUTRA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
MARANHÃO – UFMA
Em relação ao Bezoar, é INCORRETO afirmar:
a) O tricobezoar é mais prevalente na mulher.
b) O fitobezoar é composto de material não
digerível pelo ser humano como celulose e
linina.
c) O lactobezoar é comum em prematuros que
recebem dieta altamente concentrada.
d) O diospyrobezoar é um tipo de tricobezoar.
e) O farmacobezoar está relacionado com
medicações de liberação lenta.
E você achando que uma questão como
essa nunca cairia na sua prova... Pois bem,
apareceu na UFMA! Vamos rever as opções:
a) O tricobezoar é mais prevalente em mulhe-
res jovens com distúrbios psiquiá tricos.
Correta.
b) O fitobezoar é composto de fibras vegetais
não digeríveis. Correta.
c) O lactobezoar é resultado, na maioria dos
casos, da progressão de uma dieta hiper-
calórica em prematuros. Correta.
d) Diospirobezoar é um tipo de fitobezoar,
específico para aglomeração das fibras
advindas do caqui... Opção incorreta.
e) O farmacobezoar está relacionado com
cápsulas de liberação prolongada, como a
nifedipina retard. Correta.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2005
CONCURSO UNIFICADO DE RESIDÊNCIA
MÉDICA – SUS – BAHIA
Paciente, 23 anos de idade, sexo feminino, há
três dias na unidade de emergência com dor
abdominal, parada de eliminação de gás e fezes.
Ao exame físico, palpa-se massa em epigástrio.
Na anamnese, chama atenção distúrbio de
comportamento. Realizou endoscopia digestiva
alta, não tendo o endoscópio progredido além
do estômago, tendo sido retirado fragmento de
corpo estranho.
O diagnóstico mais provável é:
a) Teratoma gigante do estômago.
b) Síndrome de Peyroni.
c) Obstrução intestinalpor tricobezoar.
d) Leiomiossarcoma complicado gástrico.
e) Vólvulo do estômago.
Aqui temos um quadro obstrutivo gástrico
com fragmentos retirados pela endoscopia. O
que seriam esses fragmentos num paciente
com distúrbio de comportamento???? Prova-
velmente o tricobezoar, associado à tricotilo-
mania (hábito de arrancar cabelo) e à tricofagia
(hábito de comer cabelo). Resposta C.
Vamos fechar este capítulo com mais um
exercício mental sobre as obstruções in-
testinais...
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNI-
CIPAL – HSPM
Uma moça de 24 anos chega ao pronto-so-
corro com queixa de dor em cólica e vômitos
esverdeados há um dia. Não está evacuando,
embora refira eliminar flatos. Nega febre ou
outras alterações. Diz que já teve quadros
semelhantes, embora mais leves. Não tem
antecedentes médicos dignos de nota. Está
em bom estado geral, embora desidratada e
taquicárdica. O abdome está distendido e com
ruídos metálicos, mas não tem sinais de irri-
tação peritoneal. Refere que a dor é mais in-
tensa em fossa ilíaca direita. Não tem hérnia
nem cicatriz de incisões na parede abdominal.
O toque retal é normal, mas sem fezes na
ampola. A radiografia evidenciou alças de del-
gado distendidas e ausência de gás nos có-
lons. Muito provavelmente:
a) Trata-se de apendicite perfurada, bloqueada
pelo delgado, levando a obstrução intestinal.
b) A paciente melhorará com jejum, sonda
nasogástrica aberta, hidratação, analgésicos
e corticoide endovenoso.
c) Há obstrução do início do cólon, comumen-
te causada em nosso meio por bolo de áscaris.
d) Trata-se de diverticulite de Meckel, que
causa obstrução intestinal nesta faixa etária.
e) Trata-se de abdome agudo inflamatório,
evoluindo com íleo paralítico.
Questão complicada...
Vamos extrair as informações importantes da
questão:
• “Moça de 24 anos.”
• “Dor em cólica e vômitos esverdeados há um
dia.”
• “Não está evacuando, embora refira eliminar
flatos.”
• “Nega febre ou outras alterações.”
• “Diz que já teve quadros semelhantes, em-
bora mais leves.”
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Cirurgia - Volume 5 60Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
• “Bom estado geral, embora desidratada e
taquicárdica.”
• “O abdome está distendido e com ruídos
metálicos, mas não tem sinais de irritação
peritoneal.” “Refere que a dor é mais intensa
em fossa ilíaca direita.”
• “Não tem hérnia nem cicatriz de incisões na
parede abdominal.”
• “O toque retal é normal, mas sem fezes na
ampola.”
• “Radiografia evidenciou alças de delgado
distendidas e ausência de gás nos cólons.”
Muita informação, não é? Então vamos agru-
pá-las e traduzir para termos médicos:
Temos uma paciente com síndrome da obs-
trução intestinal parcial não complicada de
origem em delgado.
Você já aprendeu que as principais causas de
obstrução intestinal em delgado são brida,
neoplasias e hérnias.
Qual será a etiologia desta moça? Vamos
voltar à questão...
Então qual será a etiologia?
A dica para responder esta questão é: “Diz que
já teve quadros semelhantes, embora mais
leves”. Embora esta informação não seja su-
ficiente para o diagnóstico, ela ajuda a excluir
outras hipóteses como apendicite (opção A),
obstrução intestinal por áscaris (opção C),
diverticulite de Meckel (opção D) e abdome
agudo inflamatório (opção E).
Sobrou a opção B. Ué, mas o que os corti-
coides estão fazendo aí?
O autor considerou que uma mulher jovem
com episódios recorrentes de obstrução intes-
tinal parciais de delgado sem hérnia ou brida
pode ter doença de Crohn e decidiu tratar com
corticoides. Vamos relembrar o autor: Na do-
ença de Crohn, os corticosteroides têm papel
definido na obstrução por inflamação aguda,
mas não têm valor nos quadros decorrentes
de fibrose (inflamação crônica).
Ufa, questão trabalhosa e confusa. Moral
da história:
“Não espere que as provas apresentem
questões perfeitas e politicamente corre-
tas. Aprenda a trabalhar com o que lhe é
oferecido e retirar o maior proveito disso”.
• dor em cólica e vômitos es-
verdeados há um dia
• não está evacuando, embo-
ra refira eliminar flatos
• abdome está distendido e
com ruídos metálicos
• toque retal é normal, mas
sem fezes na ampola
• radiografia evidenciou alças
de delgado distendidas e
ausência de gás nos cólons
• nega febre ou outras altera-
ções
• não tem sinais de irritação
peritoneal
• bom estado geral, embora
desidratada e taquicárdica
Síndrome de
obstrução in-
testinal
Obstrução não
complicada
=
=
Agora ficou mais fácil...
Temos um caso de obstrução intestinal não
complicada.
Dá pra extrair mais alguma coisa? Sim
• “não está evacuando, embora refira eliminar
flatos” = Obstrução parcial?
• “radiografia evidenciou alças de delgado dis-
tendidas e ausência de gás nos cólons” =
Obstrução de delgado?
Mais fácil ainda:
“Não tem hérnia” Não parece ser
hérnia
“Nem cicatriz de incisões Não parece ser
na parede brida
abdominal”
“Moça de 24 anos” Não parece ser
neoplasia
saiba mais:
Existe uma rara causa de obstrução de delgado que pode cair na sua prova: é a síndrome de
Wilkie (pinçamento aortomesentérico). Você já ouviu falar dela? O outro nome seria a síndrome
da artéria mesentérica superior graças à compressão da terceira porção do duodeno por esta
artéria. O quadro clínico característico é o de uma paciente jovem com historia de importante
perda ponderal (emagrecimento rápido/anorexia/cirurgia bariátrica), em que a perda de gordu-
ra local favorece a compressão levando a uma história típica de obstrução alta. Também pode
acontecer em pacientes com escoliose ou imobilização de tronco com aparelhos gessados (body
cast). O diagnóstico é dado por exame contrastado que mostra a interrupção parcial ou total do
contraste entre o duodeno e o jejuno. Essas pacientes são inicialmente submetidas a tratamen-
to conservador e, nos casos refratários, à duodenojejunostomia.
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Cirurgia - Volume 5 61Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
saiba mais (cont.)
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – HOSPI-
TAIS MUNICIPAIS – RJ
A condição, mais frequente, associada à
síndrome de Wilkie (pinçamento duodenal
aortomesentérico) é:
a) Escoliose toracolombar.
b) Emagrecimento substancial.
c) Imobilização em posição supina prolon-
gada.
d) Emergência mais cranial da artéria me-
sentérica superior.
Durante o emagrecimento substancial, vis-
to em condições como o câncer e em pacien-
tes em pós-operatório de cirurgia bariátrica,
uma das regiões em que se perde é o mesen-
tério e as estruturas viscerais. Essa é a prin-
cipal explicação fisiopatológica para a síndro-
me de Wilkie, na qual ocorre uma diminuição
considerável do coxim gorduroso que circunda
a artéria mesentérica superior, causando uma
diminuição da angulação entre essa e o duo-
deno, o que resulta no seu pinçamento.
Gabarito opção B.
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Cirurgia - Volume 5 62Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
OBsTruçãO MECâNICA dE CÓLON
Extrínseca:
- Brida
- Volvo
- Hérnia
- Abscesso
intra-abdominal
- Neoplasias adjacentes
Intrínseca:
- Neoplasia
- Inflamatória: doença de Crohn; diverti-
culite; infecções (tuberculose, linfogra-
nuloma venéreo, esquistossomose)
- Doença de Hirschsprung (aganglio-
nose)
- Diversas: isquemia, intussuscepção,
pós-actínica, pós-anastomose
Intraluminal:
- Corpo estranho
- Contraste baritado
- Fezes (“fecaloma”)
Obstrução de Cólon
*No intestino grosso, as principais causas de obstrução intestinal são as neoplasias, o volvo e os
divertículos. Quando somadas, estas três etiologias correspondem a mais de 90% das obstruções.
*De uma forma geral, a principal causa é a neoplasia colorretal. Na Rússia, África e Europa Oriental,
o volvo de cólon representa a principal causa.
Figura 1
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE
DO SUL – RS
A causa mais frequente de obstrução do in-
testino grosso é a presença de:
a) Tumores pélvicos.
b) Volvo.
c) Complicação de doençadiverticular.
d) Carcinoma de cólon.
e) Hérnia de parede abdominal.
Questão fácil e você não pode errar!!! Ga-
barito D. E veja como é recorrente.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ER-
NESTO – RJ
Os quadros de obstrução intestinal completa
de origem colônica têm como causa principal
a seguinte patologia:
a) Aderências inflamatórias.
b) Fecaloma impactado.
c) Diverticulite crônica.
d) Neoplasia maligna.
O intestino delgado é o principal sítio de
obstrução intestinal. São três as principais
causas: brida ou aderência (60%); neoplasias
(20%); hérnias (10%). Já no intestino grosso,
as principais causas de obstrução são neopla-
sias, volvos e divertículo. Somando essas três,
temos 90% dos casos.
Logo, gabarito letra “D”.
NEOPLAsIAs COLOrrETAIs
As neoplasias colorretais são abordadas no
módulo de Oncologia. Vamos aqui apenas
recordar algumas associações mais importan-
tes. As neoplasias de cólon são responsáveis
por mais de 50% das obstruções intestinais
baixas. De todos os pacientes com adenocar-
cinoma colorretal, estima-se que 20% desen-
volvam síndrome da obstrução intestinal e até
5% obstrução completa com necessidade de
cirurgia de emergência.
Veja mais esta...
Fig. 2: Câncer de cólon descendente
causando estenose da luz intestinal
– sinal da maçã mordida.
62
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Cirurgia - Volume 5 63Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Você atende no ambulatório um paciente di-
zendo que está emagrecendo e que percebeu
que as fezes estão com calibre diminuído pa-
recendo uma “fita”. Para surpreender o staff,
você diz que a principal hipótese diagnóstica
é de uma neoplasia de cólon ou reto. Sentindo-
-se orgulhoso, você continua a consulta até
que o staff lhe interrompe e pergunta:
“Qual é a provável localização do tumor?”
Neste momento uma dúvida cruel interrompe
seus pensamentos...
Então aprenda um conceito:
“Os eventos obstrutivos são mais
comuns nos tumores distais à flexura
esplênica.”
Atualmente supõe-se que isto ocorra por uma
soma de fatores:
1- O cólon esquerdo possui calibre menor do
que o direito, sendo o sigmoide a região
com lúmen mais estreito.
2- As neoplasias do cólon esquerdo tendem
a ser infiltrantes, causando assim redução
do calibre intestinal.
3- No cólon esquerdo, as fezes apresentam
maior consistência (no cólon direito, as
fezes são líquidas).
Vamos somar conceitos:
Conceito 1: Segundo a lei de Laplace a
pressão intraluminal se distribui de forma
heterogênea pela parede, ou seja, apesar
de a pressão intraluminal ser a mesma em
todo intestino, a tensão na parede será maior
nas regiões que possuem maior diâmetro.
Conceito 2: O cólon é o local do intestino
mais complacente e, por isto, atinge maiores
diâmetros.
Somando os conceitos 1 + 2: O cólon é o
local do intestino com maior chance de sofrer
ruptura.
RESIDÊNCIA MÉDICA
HSPM – HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO
MUNICIPAL – SP
Local onde mais frequentemente ocorre lace-
ração, sofrimento vascular e eventual perfu-
ração em doente com neoplasia obstrutiva de
sigmoide e válvula ileocecal continente:
a) Cólon ascendente.
b) Cólon transverso.
c) Cólon descendente.
d) Ceco.
e) Ângulo esplênico.
Resposta: D.
Quando consideramos apenas o intestino
grosso, qual o local com maior chance de
se romper?
Foi justamente isto que o Servidor Público de
São Paulo perguntou. Para responder esta
pergunta basta aplicarmos o que acabamos
de ver. O ceco é o local do intestino grosso
com maior diâmetro e, por isto, mais sujeito a
ruptura. Aproveitando a oportunidade, vamos
relembrar algo do início da aposti la:
Distensões do cólon com a válvula ileocecal
competente permitem o surgimento de gran-
des pressões intraluminais. São as obstruções
em “alça fechada”. E, por isso, aquelas com
maior risco de ruptura!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
SECRETARIA MUNICIPAL DE ADMINISTRA-
ÇÃO DE MACAÉ – RJ
Em pacientes com obstrução intestinal em alça
fechada, qual o segmento com maior risco de
perfuração?
a) Cólon esquerdo. e) Íleo terminal.
b) Cólon Sigmoide. d) Cólon direito.
c) Ceco.
Em uma obstrução em alça fechada, o ceco,
por ser o segmento mais complacente do có-
lon, se distende para diâmetros mais elevados,
sendo geralmente o local de ruptura observa-
do nesses pacientes. Resposta da questão:
alternativa C.
Como tratar?
O tratamento detalhado das neoplasias colô-
nicas será revisado com mais detalhes na
apostila de Oncologia. No entanto, o tratamen-
to das obstruções por neoplasia configura um
capítulo à parte, e merece, desde já, uma
atenção especial.
Ao diagnosticar uma obstrução colônica me-
cânica em um paciente idoso, o cirurgião tem
em mente que a neoplasia colônica é a pro-
vável causa da obstrução se não houver ne-
nhuma evidência radiológica que mostre o
contrário (ex.: vólvulo). O primeiro passo é
identificar qual é o nível da obstrução, já que
esse dado implicará diretamente na cirurgia
a ser realizada. Apesar de pouco comum, a
obstrução do cólon direito por neoplasia pode
ocorrer. Ela pode se comportar clínica e ra-
diologicamente como uma obstrução de del-
gado baixa, devido ao acometimento da vál-
vula ileocecal.
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Cirurgia - Volume 5 64Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Quais seriam as cirurgias empregadas?
No tratamento das obstruções de cólon direi-
to a hemicolectomia direita com reconstrução
primária do trânsito é o procedimento de es-
colha. Aqui não é necessário confeccionar
nenhum tipo de estoma terminal ou para pro-
teção da anastomose, a exceção dos casos
em que há perfuração ou inflamação evidente
da cavidade peritoneal.
A abordagem das obstruções neoplásicas do
cólon esquerdo é, até hoje, motivo de debate
em congressos e na própria literatura. Existem
quatro abordagens “mais aceitas” para esse
tipo de situação:
1) Ressecção segmentar do cólon acome-
tido seguida de um colostomia terminal
e fechamento da bolsa retal (procedi-
mento de Hartmann). Essa cirurgia é mais
aceita entre os cirurgiões gerais mais
“conservadores”. É relativamente rápida e
eficaz na resolução da obstrução e permi-
te que o trânsito seja reconstruído poste-
riormente. O grande problema é que a
ressecção realizada pode não ser correta
do ponto de vista oncológico, precisando
de uma reintervenção após o estadiamen-
to correto do tumor.
2) Outra possibilidade é a realização da mes-
ma ressecção seguida de anastomose
primária. Para evitar as complicações
inerentes da reconstrução do trânsito nes-
sa situação (obstrução com isquemias de
alças, translocação bacteriana, etc.) um
cateter deve ser passado pelo apêndice
ou pelo íleo até o ceco, permitindo o cólon
seja lavado durante a cirurgia.
3) A cirurgia mais defendida pelos tratados
de coloproctologia é colectomia total ou
subtotal com reconstrução primária do
trânsito. Esse procedimento removeria
não só o tumor, como também todo res-
tante do cólon (inclusive possíveis lesões
sincrônicas) e do mesocólon, sendo uma
ressecção correta do ponto de vista on-
cológico. Mas uma cirurgia maior não
implicaria em uma elevação nas taxas de
morbimortalidade pós-operatórias? Em
teoria sim, mas estudos recentes de-
monstraram que a incidência de compli-
cações é semelhante àquelas relaciona-
das a procedimentos menores...
4) Colocação de uma prótese autoexpan-
sível (stent) por colonoscopia, aliviando
a obstrução. Essa opção permite que o
paciente seja corretamente estadiado e
preparado para um procedimento eletivo
posterior, que pode ser efetuado por video-
laparoscopia. Durante essa abordagem
devemos fazer uma monitorização ade-
quada do paciente já que não é infrequen-
te que o tumor perfure (pela colocação da
prótese ou espontaneamente), necessi-
tando de uma intervenção imediata.
5) Para os tumores de reto baixo e médio que
se apresentem inicialmente com obstrução
intestinal podemos realizar uma colosto-
mia em alça. A abordagem permite a des-compressão temporária do cólon para que
o paciente possa ser submetido a radio-
quimioterapia. Assim, a ressecção defini-
tiva do tumor é realizada após a regressão
do mesmo, o que pode garantir margem
suficiente para que uma anastomose retal
primária seja tentada.
Antes de continuar, perceba: você está lendo
a apostila de Obstrução Intestinal, na seção
2: Causas... Neste momento, você já passou
por todas as causas de Obstrução Mecânica
do Intestino Delgado e está começando a en-
tender a Obstrução Mecânica de Cólon... es-
tamos falando de Neoplasias Colorretais!!! Se
a matéria estiver começando a embolar na sua
cabeça, pare! Levante, dê uma volta, tome um
café, um copo d’água, lave o rosto e volte nos
principais tópicos que vimos até agora. Revise
as modalidades cirúrgicas que vimos aqui em
cima e siga, com mais domínio e tranquilidade,
para as questões a seguir...
Vamos fazer uma questão:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
PROCESSO SELETIVO UNIFICADO – MG
MRS, 60 anos, gênero feminino, odontóloga,
encontrava-se em propedêutica pré-opera-
tória para tratamento de adenocarcinoma de
reto, quando procurou o Pronto Atendimen-
to com quadro de dor abdominal de forte
intensidade, em cólica, vômitos incoercíveis
e parada de eliminação de flatos e fezes há
72 horas. Ao exame: consciente, orientada,
desidratada ++/4+, afebril , FR 24 irpm, FC
102 bpm, PA 120/84 mmHg, abdome muito
distendido, timpânico, doloroso à palpação
e com ruídos metálicos à ausculta abdomi-
nal. Toque retal evidenciava lesão obstrutiva
do reto, sem fezes em ampola retal. Foi in-
troduzido cateter nasogástrico calibroso com
retorno de secreção fecaloide. Dentre as
opções abaixo, assinale a MELHOR CON-
DUTA em relação a este caso:
a) Iniciar tratamento clínico para obstrução in-
testinal e, após 72 horas, caso não haja melho-
ra clínica, indicar laparotomia exploradora.
b) Iniciar imediatamente preparo intestinal com
óleo de rícino pelo catéter e lavagem do colo
retal com solução glicerinada e logo em seguida,
realizar tratamento cirúrgico.
c) Realizar hidratação venosa, reservar hemo-
componentes, solicitar revisão laboratorial e in-
dicar tratamento cirúrgico de urgência.
d) Iniciar hidratação venosa, promover analgesia
como opioides, solicitar revisão laboratorial, rea-
lizar reavaliações clínicas frequentes nas próxi-
mas 48 horas para definir evolução.
Questão que nos apresenta um quadro
clássico de obstrução intestinal: veja, pacien-
te com história de adenocarcinoma de reto,
que evoluiu com parada de eliminação de
flatos e fezes, dor e distensão abdominal.
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Cirurgia - Volume 5 65Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Além disso, ele apresenta vômitos incoercí-
veis e ao toque retal, é possível sentir a lesão
do reto e não identifica-se a presença de
fezes na ampola retal, o que nos indica, de
acordo com a suspeita inicial, uma obstrução
mecânica. Ao passar a sonda nasogástrica
identificou-se a saída de vômitos fecaloides,
o que demonstra a gravidade e urgência do
caso! Qual deve ser a conduta? Em um qua-
dro de obstrução completa e mecânica, a
conduta deve ser cirúrgica de urgência,
LAPAROTOMIA. Entre o diagnóstico e a ci-
rurgia, tentamos sempre melhorar o estado
clínico do paciente, com reposição volêmica,
correção de distúrbios hidroeletrolíticos, entre
outros. Gabarito: C.
VOLVO (VôLVuLO)
Volvo = torção intestinal
Locais mais acometidos: cólon sigmoide e
ceco.
Clínica: síndrome de obstrução intestinal de-
pendendo do segmento intestinal acometido.
Na maioria das vezes, ocorre obstrução baixa.
Diagnóstico: clínica + exames radiológicos
(radiografias simples e contrastada de abdo-
me +/- TC).
Achados radiográficos:
• sinal do “U” invertido
• sinal do tubo interno dobrado
• sinal do grão de café
• sinal do bico de pássaro
Tratamento:
• volvo de sigmoide: reversão endoscópica
seguida de tratamento cirúrgico definitivo.
• volvo de ceco: tratamento cirúrgico.
Introdução
Mais uma patologia com nome estranho...
O que é um “volvo”?
A provável origem desta palavra é do latim
volvulus que tem um significado amplo, mas
que neste caso pode ser entendido como:
rotação ou torção. Só pela etimologia da pa-
lavra já ficou mais fácil entender o que é um
volvo. Trata-se de uma torção intestinal. Veja
na FIGURA 3 seguinte.
E onde é mais comum ocorrer o volvo?
Teoricamente, em qualquer parte do trato gas-
trointestinal. Entretanto, há uma preferência
pelo intestino grosso. Dentro do cólon, há duas
áreas que concentram quase todos os casos
de volvo: o sigmoide e o ceco. O sigmoide é
a região mais acometida, respondendo por até
75% de todos os casos. O volvo cecal é o se-
gundo mais comum e volvo de cólon transver-
so é raro tanto na prática quanto nas provas
de residência médica.
A incidência dos volvos do cólon também é
muito variável na literatura e parece depender
do local do planeta onde os dados são obtidos.
Nos EUA, os volvos são responsáveis por
menos de 10% dos casos de obstrução intes-
tinal aguda, ao contrário de países como a
Rússia e o Irã.
O volvo pode ocorrer em praticamente
todo o trato gastrointestinal, entretanto
o sigmoide e ceco são os locais mais
comuns.
Fig. 5: Volvo de
sigmoide.
Fig. 6: Volvo de
ceco.
E o que leva uma pessoa a desenvolver um
volvo?
Esta pergunta ainda não tem resposta defini-
tiva. São conhecidos alguns fatores de risco
para o desenvolvimento do volvo, entretanto
a verdadeira patogênese desta doença per-
Fig. 4: Veja o ponto de torção
do volvo e a impressionante
dilatação de alças.
Figura 3
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Cirurgia - Volume 5 66Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
CASA DE SAÚDE NOSSA SENHORA DO
CARMO – RJ
O sítio mais comum do volvo é o:
a) Ceco. c) Cólon sigmóide.
b) Jejuno proximal. d) Cólon transverso.
Essa não tem como errar. Gabarito C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RJ
Em pacientes que apresentam quadro com-
patível com volvo, pode-se dizer que o seg-
mento intestinal mais envolvido é:
a) Ceco. c) Estômago.
b) Sigmoide. d) Transverso.
Questão “dada” no SES-RJ. Sem dúvidas,
o sigmoide é região intestinal mais acometida
pelos volvos. Resposta “B”.
Agora veja a falta de criatividade!!!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL ESTADUAL DO ACRE – AC
O segmento do cólon mais sujeito torções,
originado quadro de volvo é o:
a) Ceco. d) Sigmoide.
b) Cólon transverso. e) Reto alto.
c) Ângulo esplênico.
Conceito fácil que se repete. Gabarito D.
Quadro Clínico
Antes de pensar na clínica do paciente, lem-
bre-se que o volvo colônico, é um exemplo
clássico de obstrução em alça fechada!!! O
que pode gerar um quadro agudo de compli-
cações!!!
As duas principais consequências do volvo
são:
• obstrução do lúmen.
• comprometimento vascular levando à isque-
mia.
As questões de prova gostam de abordar dois
perfis de pacientes com volvo:
• Perfil 1 – Volvo de sigmoide:
Pacientes idosos principalmente instituciona-
lizados com ou sem doenças neurológicas e
psiquiátricas.
Comentário: Ainda não se sabe qual a exa-
ta relação entre a idade e a ocorrência dos
volvos de sigmoide, mas supõe-se que a dis-
motilidade intestinal seja responsável pelo
aumento da ocorrência deste tipo em idosos.
• Perfil 2 – Volvo de ceco:
Acomete pacientes de meia-idade com fixa-
ção anormal do ceco. A hipermobilidade des-
te segmento intestinal pode explicar a maior
ocorrência do volvo.
Comentário: São descritos dois substratos
anatômicos para a formação dos volvos do
ceco:
- No tipo mais comum, o ceco sofre uma rota-
ção completa em seu próprio eixo axial ge-
rando compressão de vasos sanguíneos. Na
verdade, não se trata de um volvo exclusiva-
mente do ceco... Para que o mesmo ocorra
é necessário que o íleo terminal corra por trás
do ceco, fazendo com que o mesmo gire em
torno de si mesmo (se “enrole”).
- Um segundo tipo conhecido como cecum
bascule (ou báscula de ceco) refere-sea
uma dobradura do ceco e cólon ascendente
na direção cefálica. Parece que esta forma-
ção é responsável por 10% dos volvos de
ceco. Estes casos são associados com baixas
taxas de gangrena, pois o comprometimento
vascular ocorre por distensão dos vasos e
não por obstrução.
Perceba ainda que para que ambos ocorram
é necessário que haja ausência da fusão entre
o peritônio parietal com ceco e cólon ascen-
dente. Na realidade, o cólon direito deve estar
“solto” da parede. Nesses pacientes a goteira
parietocólica direita (linha de Toldt) inexiste ou
está presente somente na parte mais superior
do cólon direito.
Como reconhecer um paciente com volvo?
A maioria dos pacientes apresentará uma sín-
drome da obstrução intestinal. Você já conhe-
ce os principais achados.
manece incerta. Supõe-se que alterações
anatômicas que permitam maior movimenta-
ção de alças intestinais possam se associar
com o desenvolvimento do volvo, mas isto por
si não é capaz de justificar toda a fisiopatoge-
nia da doença. Confira a tabela abaixo:
FATOrEs dE rIsCO
Volvo de sigmoide Volvo do ceco
Sigmoide redundante Fixação anômala do
cólon direito
Idosos (sétima à oitava Meia-idade
década)
Pacientes instituciona- Cirurgias prévias e
lizados brida
Doenças neurológicas Má rotação intestinal
(ex.: Parkinson)
Doenças psiquiátricas Lesões obstrutivas do
(ex.: esquizofrenia) cólon esquerdo
Constipação crônica Sexo masculino
ou induzida por
medicações.
Doença de Chagas Doença de Chagas
Outros: doença de
Hirschsprung, doença
de Crohn, gravidez,
sexo masculino
(questionável)
Outros: gravidez,
malformações congê-
nitas, colonoscopia,
doença de Hirschs-
prung, síndrome da
mobilidade do ceco.
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Cirurgia - Volume 5 67Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Vamos fixar os conhecimentos:
“No volvo, a dor abdominal é contínua com
períodos de exacerbação marcados por dor
tipo cólica”.
“A obstrução intestinal por volvo é marcada
por intensa distensão abdominal”.
Mais um detalhe... Idosos e crianças po-
dem ter uma apresentação atípica: Crian-
ças podem apresentar episódios intermiten-
tes de dor, associados à resolução espontâ-
nea do volvo com posterior recorrência. Já
idosos com doenças neurológicas podem ter
dificuldades de expressar os sintomas.
Uma vez que o volvo está instalado, a doen-
ça tende a progredir. Caso nenhuma atitude
seja tomada, a isquemia intestinal progressi-
vamente compromete a parede intestinal e
pode culminar em gangrena com peritonite
fecal e sepse. Deve-se suspeitar de gangre-
na nos pacientes que se apresentam com
febre, sinais de irritação peritoneal e instabi-
lidade hemo dinâmica.
diagnóstico
O diagnóstico do volvo é suspeitado pela
anamnese e exame físico, e confirmado por
exames de imagem. Como em toda investiga-
ção de pacientes com síndrome de obstrução
intestinal, o primeiro exame a ser realizado é
a “rotina de abdome agudo”.
O volvo de sigmoide é visto como uma alça
intestinal torcida e dilatada que se estende da
pelve ao quadrante superior direito até o dia-
fragma. Esta imagem é conhecida como sinal
do “tubo interno dobrado” ou “U” invertido.
“A imaginação dos
radiologistas vai longe...”
Veja as descrições que você pode encon-
trar em provas:
Fig. 7: Volvo de ceco por rotação
axial.
não se deixe surpreender:
Embora você tenha conhecido os
perfis típicos dos pacien tes com vol-
vo, também encontramos crianças
e adolescentes com esta complica-
ção. Em crianças, o volvo pode ser
a primeira manifestação da doença
de Hirschsprung.
Fig. 8: Cecum bascule.
Vamos aproveitar para revisar...
Dor abdominal
Náuseas
Vômitos (mais tardios no volvo de sigmoide)
Distensão abdominal
Parada da eliminação de gases e fezes
A clínica por si só não é capaz de diferenciar
a obstrução intestinal causada pelo volvo da-
quela causada por outros motivos. Entretanto,
vamos conhecer mais profundamente os acha-
dos do volvo.
Dor abdominal: A isquemia do intestino leva
a uma dor abdominal constante e difusa. En-
tretanto, periodicamente surgem ondas peris-
tálticas que visam desobstruir o fluxo. Nestes
momentos, a dor é exacerbada e adquire ca-
racterísticas de cólicas.
Distensão abdominal: é muito pronunciada.
Exame físico: Em alguns pacientes com vol-
vo de ceco é possível palpar uma massa tim-
pânica no abdome superior.
sinal do grão de café
sinal do “u” invertido
sinal do tubo interno dobrado
Figura 9
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Cirurgia - Volume 5 68Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
O volvo de ceco aparece como uma dilatação
do cólon direito em direção ao quadrante su-
perior esquerdo com um formato de rim. A
dilatação de alças de delgado é comum.
Em alguns casos de volvo de sigmoide e ceco,
as radiografias planas simples e contrastadas
são inconclusivas. Nestes casos, o próximo
exame a ser realizado é a TC. Este método é
capaz de reconhecer com nitidez o volvo.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL DILSON GODINHO – MG
A presença do sinal radiológico do “bico de
pássaro” é importante para o diagnóstico de:
a) Hérnia diafragmática.
b) Tumor dos cólons.
c) Apendicite aguda.
d) Vôlvulo do sigmoide.
e) Diverticulite aguda.
Fácil, fácil... Gabarito D.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO
RIO DE JANEIRO – RJ
Paciente de 45 anos, portador de insuficiência
renal crônica, apresenta distensão abdominal
aguda, vômitos, dor tipo cólica e parada da
eliminação de fezes e flatos. Ao exame, está
estável e o abdome distendido, timpânico e
doloroso à palpação profunda difusamente,
sem descompressão dolorosa. A radiografia
de abdome evidenciou distensão colônica e o
sinal do grão de café, o que colabora com o
diagnóstico de:
a) Colite isquêmica.
b) Vôlvulo colônico.
c) Megacólon tóxico.
d) Pseudo-obstrução colônica.
Paciente com dor abdominal + parada de
eliminação de gases e fezes + distensão apre-
senta uma síndrome de obstrução intestinal.
Mas qual a causa? A radiografia de abdome
mostrou um clássico sinal compatível com
volvo de sigmoide (grão de café). Aqui o que
Fig. 10: Imagem 1: Repare na dilatação do
sigmoide que se estende até o diafragma
– setas verdes. Perceba que a alça dila-
tada forma dois compartimentos com uma
separação no meio – setas azuis. Perceba
a ausência de gás no reto.
Imagem 2: O realce destaca a alça tor-
cida.
Casos duvidosos podem ser esclarecidos pelo
enema baritado. Confira na imagem.
Fig. 11: Veja no enema baritado com con-
traste ascendendo pelo reto e parando
no ponto de torção que forma uma imagem
de bico de pássaro – seta amarela.
Fig. 12: note a dilatação do ceco com
restante do intestino grosso sem ar.
Perceba que a convergência das paredes
intestinais – seta vermelha – aponta para a
direita.
No volvo de ceco, os exames contrastados são
ainda mais importantes para o diagnóstico.
Fig. 13: Note a presença de um afilamento
do contraste na altura do ceco – seta
grande – em forma de “bico de pássaro”
e as paredes dilatadas do ceco – setas
pequenas.
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Cirurgia - Volume 5 69Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
houve foi uma rotação do intestino sobre o seu
próprio eixo. Este sinal também recebe o nome
de U invertido ou bico de pássaro. Logo, ga-
barito letra B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE
DE MEDICINA DE RP DA USP – SP
ID: Homem, 52 anos de idade, procedente da
Bahia, chega ao PS HMA: refere quadro de
distensão abdominal e dor. Não evacua há 10
dias e refere ter hábito intestinal de 1 evacua-
ção por semana. EF: prostrado, taquicárdico
e dispneico. EI: A radiografia de abdome está
representada abaixo (VER IMAGEM). O diag-
nóstico mais provável é:
a) Fecaloma.
b) Volvo do sigmoide.
c) Megacólon toráxico.
d) Hérnia interna.
O manejo dos pacientes com volvo de sig-
moide e ceco é bastante diferente. Vejamos
caso a caso.
No volvo de sigmoide...
A torção do volvo de sigmoide pode ser des-
feita por via endoscópica ou cirúrgica. A
redução endoscópica ébem-sucedida em
mais de 80% dos casos. Entretanto, a taxa de
recorrência em horas a semanas é alta e pode
chegar a 50%. Assim, ela é reservada para
pacientes nos quais não há suspeita de gan-
grena ou peritonite, com o objetivo de aliviar
o quadro agudo para tornar a ressecção um
procedimento eletivo.
Distensão abdominal e dor, já devemos
pensar em obstrução intestinal. Agora veja a
imagem clássica: “U invertido” ou grão de café.
Aí não tem como ter dúvida, estamos diante
de um volvo. Gabarito B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PEDRO ER-
NESTO – RJ
O sinal radiológico conhecido como “bico de
pássaro” é fortemente sugestivo da seguinte
patologia:
a) Ileíte terminal.
b) Volvo de sigmoide.
c) Estenose coledociana.
d) Isquemia mesentérica.
Um clister opaco, demonstrando um ponto
de obstrução em “bico de pássaro”, revelando
a torção que obstrui o lúmen do sigmoide é
achado patognomônico de vólvulo colônico.
Logo, gabarito letra B.
Tratamento
O tratamento do volvo é baseado em dois ob-
jetivos:
• Desfazer o volvo, restaurando a vasculariza-
ção intestinal.
• Localizar possíveis alterações anatômicas
que tenham predisposto ao surgimento do
volvo.
CONCEITO:
Podemos dizer que o objetivo do trata-
mento endoscópico é transformar uma
urgência em uma condição eletiva.
A descompressão pode ser feita inicialmente
com um tubo retal inserido com auxílio de
proctoscópio ou por endoscopia (retossigmoi-
doscopia/colonoscopia), quando o primeiro
não for possível. Logo que realizada, espera-
-se a redução da distensão com uma verda-
deira “explosão” de fezes e gases que deve
ser confirmada pelo RX simples de abdome.
No caso do tubo retal, ele deve permanecer
por 1-2 dias para prevenir a recorrência ime-
diata do vólvulo, enquanto se aproveita para
fazer uma limpeza do cólon com soluções
laxativas (ex.: manitol). Em seguida, com o
cólon mais limpo, prosseguimos com o exame
endoscópico, importante para excluir a conco-
mitância de uma neoplasia colorretal. Ele
permite também a visualização da mucosa.
Caso encontre qualquer área de necrose, deve
ser retirado imediatamente. A torção em geral
é visualizada a 25 cm da margem anal. A pro-
gressão do sigmoidoscópio deve ser gentil de
modo a revertê-la sem traumas. Nas situações
em que é impossível efetuar a descompressão
com a passagem do tubo/procedimento en-
doscópico ou nas isquemias intestinais e per-
furações, a cirurgia de Hartmann de caráter
emergencial deve ser empregada.
Pronto, acabou?
Não!!! Você só transformou uma emergência
em um procedimento eletivo... Na grande
maioria dos casos é necessário evitar futuras
recorrências através de uma sigmoidectomia
eletiva com reconstrução primária do trânsito.
Não se esqueça de que devemos sempre
realizar uma colonoscopia antes do procedi-
mento cirúrgico, caso ainda não tenha sido
realizada, para excluir neoplasia colônica. Nos
casos em que o risco cirúrgico é proibitivo,
uma sigmoidopexia endoscópica pode ser
empregada no lugar da cirurgia, porém sem
as mesmas taxas de sucesso.
Esse é um tema que cai frequentemente nos
concursos... Se você ainda não domina o trata-
http://#scrolldown
Cirurgia - Volume 5 70Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
mento do volvo de sigmoide, releia os parágra-
fos anteriores até a exaustão!
Duvida? Vamos rever o tema com ques-
tões!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL MILITAR DE ÁREA DE SÃO PAU-
LO – SP
O volvo de sigmoide é uma condição incomum,
onde a maioria dos pacientes é idosa e apre-
senta uma elevada incidência de problemas
médicos associados. Em um paciente com
obstrução intestinal por volvo de sigmoide,
cuja resolução endoscópica não foi bem-su-
cedida e havendo indícios de sofrimento co-
lônico, a melhor conduta seria:
a) Destorção cirúrgica com colopexia.
b) Cirurgia de Hartmann.
c) Laparotomia exploradora e apenas drena-
gem da cavidade.
d) Ileostomia terminal com fístula mucosa.
e) Colectomia subtotal com anastomose pri-
mária.
Questão que nos pergunta sobre a aborda-
gem no volvo de sigmoide. Conforme dito no
enunciado, naqueles casos em que não sus-
peitamos de comprometimento vascular, e
nem sofrimento de alça intestinal, em que o
paciente encontra-se estável, podemos tentar
a descompressão endoscópica (colonoscopia
ou retossigomidoscopia). Agora, caso a des-
compressão não seja eficaz ou o paciente
apresente algum sinal de irritação peritoneal,
a conduta deve ser cirúrgica. E como há o
provável comprometimento das alças intesti-
nais e o paciente está grave, devemos fazer
a ressecção e evitar qualquer tipo de anasto-
mose intra-abdominal. Logo a escolha é pela
cirurgia de Hartmann. Gabarito B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE
DOURADOS – MS
Paciente de 70 anos de idade, sexo mascu-
lino, chega ao PS com história de parada de
eliminação de gases e fezes há 1 dia, relata
constipação crônica necessitando do uso
constante de laxativos. Nega vômito e febre.
Encontra-se em bom estado geral, normocár-
dico, normotenso; exame físico abdominal
com abdome distendido, timpânico, flácido e
indolor à palpação. Não havia cicatriz cirúr-
gica abdominal. No toque retal, não havia
fezes ou lesão na ampola retal. Você solicitou
radiografia abdominal e observou imagem
parecida com U invertido. Qual a melhor con-
duta a ser tomada?
a) Realizar colostomia.
b) Realizar laparotomia exploradora.
c) Realizar colonoscopia para descartar neo-
plasia colorretal.
d) Realizar clister glicerinado via retal.
e) Realizar retossigmoidoscopia descompres-
siva.
Diante do enunciado percebemos que es-
tamos diante de um quadro de obstrução
intestinal. Ao exame, não observa-se ao to-
que retal a presença de fezes na ampola
retal, o que nos faz pensar em obstrução
mecânica. Além disso, o enunciado afirmou
que não existe cirurgia abdominal prévia, o
que nos afasta da hipótese de aderências.
Além disso, foi encontrado o sinal do U inver-
tido, que é característico, assim como o sinal
do grão de café, do volvo de sigmoide. O
tratamento inicial pode ser realizado através
de uma colono ou retossigmoidoscopia des-
compressiva com a distorção do volvo. Logo,
gabarito letra E.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DE UBERLÂNDIA – MG
Vitória, 80 anos, procura serviço médico com
queixa de dor e distensão abdominal. Refere
ser portadora de megacólon chagásico com
obstipação crônica. Apresenta-se afebril, ta-
quicárdica, com abdome distendido e som
timpânico à percussão, sem sinais de irritação
peritoneal. A radiografia simples de abdome
sugere a presença de volvo de sigmoide. As-
sinale a alternativa CORRETA com relação ao
tratamento a ser instituído:
a) Administração de laxativos e limpeza com
enemas.
b) Enema baritado.
c) Colostomia transversa.
d) Sigmoidoscopia descompressiva.
e) Ressecção do sigmoide.
Em relação ao volvo de sigmoide, o trata-
mento começa com uma hidratação apropria-
da e, na maioria dos casos, envolve a des-
compressão não operatória. A descompressão
pode ser realizada com a colocação de um
tubo retal ou com o uso de colonoscópio. A
descompressão resulta em um jato súbito de
gás e de líquido, com uma redução da disten-
são abdominal. Eletivamente, realizar ressec-
ção do sigmoide (taxa de recorrência próxima
de 50%). Se não for possível ou não for bem-
-sucedida a descompressão, é indicada uma
laparotomia para a ressecção (cirurgia de
Hartmann). Gabarito D.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE –
UFF
Paciente, sexo masculino, 76 anos, é recebido
no serviço de emergência apresentando qua-
dro clínico de parada de eliminação de gases
e fezes, com quatro dias de evolução, seguida
de vômitos e queda no estado geral. Sinais
vitais: PA: 120-70 mmHg; pulso: 110 bpm; TA:
36.8ºC; resp.: -19 irpm; leucograma: 9.000
leucócitos/mm³, sem desvio para a esquerda.
Após medidas de suporte clínico,é submetido
a estudo radiológico que revela acentuada
distensão gasosa do cólon até o nível da fos-
sa ilíaca esquerda e ausência de distensão do
intestino delgado. Realiza-se um clister opaco
em que se observa “sinal do bico do pássaro”.
A conduta a ser seguida, no caso, é:
a) Colostomia transversa à direita.
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Cirurgia - Volume 5 71Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
b) Descompressão nasogástrica e medidas de
suporte clínico.
c) Laparotomia exploradora.
d) Descompressão endoscópica do intestino
grosso.
e) Descompressão videolaparoscópica do
intestino grosso.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
HOSPITAL SANTA ISABEL – HSI
Mulher, 80 anos, com dor abdominal e obsti-
pação crônica, apresenta-se afebril, taquicár-
dica, abdome distendido com som timpânico
à percussão, sem sinais de irritação peritoneal.
A radiografia simples abdominal sugere a pre-
sença de volvo de sigmoide. A conduta a ser
tomada é:
a) Administração de laxativos e limpeza com
enemas.
b) Hidratação e antibioticoterapia de amplo
espectro.
c) Ressecção do sigmoide.
d) Proctossigmoidoscopia descompressiva.
e) Colostomia transversa.
Questões praticamente idênticas! Idosos
com abdome agudo obstrutivo e diagnóstico
radiológico de volvo. Qual é conduta? Após
estabilização clínica deve ser tentada a des-
compressão do volvo com um tubo retal, por
retossigmoidoscopia ou colonoscopia!
Opções “D” e “D” corretas!
No volvo de ceco...
Neste caso, o tratamento cirúrgico é a primeira
escolha. Exames endoscópicos têm baixa pro-
babilidade de reduzir o volvo de ceco e ainda
apresentam alto risco de perfuração.
As opções cirúrgicas são:
• Cecopexia
• Cecostomia
• Ileocecectomia e colectomia direita
Antigamente, a reversão da torção seguida de
cecopexia era o procedimento com menores
taxas de complicações, mortalidade e recor-
rência. Entretanto, atualmente, com modernas
técnicas cirúrgicas, a ileocolectomia e a colec-
tomia direita com anastomose primária podem
ser realizadas com baixa morbidade e são os
tratamentos de escolha por muitos autores.
Em casos de gangrena é recomendada res-
secção do segmento afetado com realização
de ileostomia.
A mortalidade associada ao volvo depende do
estágio em que a intervenção médica é reali-
zada. Pacientes com gangrena apresentam
alta mortalidade, enquanto aqueles tratados
precocemente possuem mortalidade menor
que 10%.
Fig. 14: Volvo de ceco.
Fig. 15: Dois casos de volvo cecal – na
primeira imagem nota-se uma importante
dilatação do ceco com a seta indicando
o cólon descendente vazio. Na segunda
imagem é possível notar o “whril sign”
que representa as alças de ceco e íleo
colapsadas associadas a vasos sanguíneos
ingurgitados.
e o volvo gástrico?
O volvo gástrico é extremamente incomum, mas já foi abordado
por algumas bancas. A torção pode ser de dois tipos. Ao longo
do eixo longitudinal do estômago (organoaxial), que é a mais
comum, correspondendo por 2/3 dos casos, ou pode ocorrer ao
longo do eixo vertical (mesenteroaxial).
Como vimos o tipo organoaxial é o mais comum, ocorrendo de
forma aguda e geralmente associado a um defeito diafragmático.
Os efeitos diafragmáticos nos adultos são mais relacionados a
traumas ou hérnias paraesofagianas, enquanto que nas crianças,
os defeitos congênitos com o forame de Bochdalek ou a even-
tração estão mais relacionados. Já as torções mesenteroaxial,
são parciais e recorrentes, não associadas a defeitos congênitos.
Os principais sintomas na apresentação são a dor abdominal de
inicio agudo, distensão, vômitos e hemorragia gastrointestinal.
ATENÇÃO!!! O inicio repentino de dor intensa e constante no
abdome superior, regurgitações recorrentes com a produção de
pouco vômito e a impossibilidade de se passar uma sonda na-
sogástrica constituem a TRÍADE DE BORCHARDT.
O diagnóstico pode ser confirmado pelo estudo contrastado ou
por uma EDA. O volvo gástrico agudo é uma emergência cirúr-
gica. Através de uma laparotomia o estomago é reduzido, des-
torcido e fixado. O defeito diafragmático, quando presente, deve
ser corrigido.
Tipos de volvo gástrico:
A. Organoaxial
B. Mesenteroaxial
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Cirurgia - Volume 5 72Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Para finalizar!!!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
FUNDAÇÃO JOÃO GOULART – HOSPITAIS
MUNICIPAIS – RJ
Paciente de 60 anos de idade com diagnósti-
co tomográfico de volvo de ceco sem instabi-
lidade hemodinâmica deve ser abordado pre-
cocemente com:
a) Colonoscopia.
b) Ileostomia descompressiva.
c) Enteropexia.
d) Colectomia direta e anastomose primária.
Diferente dos casos de volvo de sigmoide,
no qual a abordagem inicial de pacientes es-
táveis sem sinais de peritonite consiste na
descompressão não cirúrgica através da co-
lonoscopia, frente a um paciente com volvo
de ceco, a abordagem cirúrgica passa a ser
a conduta de escolha na maioria das vezes
pela impossibilidade de correção clínica da
condição e elevada taxa de recidivia. Gaba-
rito: opção D.
dOENçA dE HIrsCHsPruNg
Introdução
Mais uma doença com epônimo famoso...
Você já sabe que as bancas de residência
adoram os epônimos. Imaginem então uma
doença cujo nome possui dez consoantes e
apenas duas vogais.
A doença de Hirschsprung (também conhe-
cida como megacólon agangliônico congêni-
to) é caracterizada pela contração mantida
de um segmento intestinal causada pela
ausência de células ganglionares (plexo de
Auerbach e Meissner) na área afetada. Esta
hipertonia de alças gera uma obstrução in-
testinal com consequente dilatação de alças
à montante (megacólon).
Entenda o nome da doença
Megacólon agangliônico congênito
ocorre
desde
o nasci-
mento
associado à
ausência de
células gan-
glionares in-
testinais
dilatação
a montan-
te da área
obstruída
Harald Hirschsprung
foi um médico dinamar-
quês nascido em Cope-
nhagen no ano de 1830.
Durante sua vida, ele de-
dicou especial atenção
à pediatria e à gastro-
enterologia fornecendo
valiosas descobertas à
medicina moderna.
Em 1886 no Congresso de doenças pediátricas
de Berlim, o professor Harald Hirschsprung
apresentou uma aula chamada de “Stuhlträgheit
Neugeborener in Folge von Dilatation und
Hypertrophie des Colons” na qual relatou dois
casos de crianças que faleceram com constipa-
ção associada à dilatação e hipertrofia do cólon.
Curiosidade: Um professor contrário a aulas
obrigatórias...
Avesso a aulas compulsórias, ele costumava
lecionar nas manhãs de domingo para tentar
selecionar nas classes apenas alunos realmen-
te interessados.
A principal teoria para explicar a etiologia
desta doença postula que há uma falha na
migração craniocaudal de neuroblastos origi-
nários da crista neural nas primeiras 12 se-
manas de gestação. A extensão do segmento
intestinal afetado depende da intensidade
desta falha.
Entenda bem: se há uma falha na migração
craniocaudal, sempre os neurônios do seg-
mento mais distal do trato gastrointestinal (reto
e esfíncter anal interno) estarão afetados. Na
maioria das vezes, apenas o reto e sigmoide
são acometidos (75%), mas algumas crianças
(10%) podem exibir agangliose de todo o có-
lon. Em raros casos, a doença atinge o intes-
tino delgado.
A doença de Hirschsprung afeta 1 a cada
5.000-8.000 nascidos vivos, sendo três a qua-
tro vezes mais comum em meninos. Já foram
descritas diversas mutações associadas a este
fenótipo, assim como casos familiares. Podem
ser encontradas associações com outras ano-
malias genéticas como a síndrome de Down
e a neoplasia endócrina múltipla do tipo 2A
(síndrome de Sipple).
Quadro Clínico
A doença clássica se manifesta em neonatos
caracterizando uma síndrome de obstrução
intestinal baixa. Três achados são bem des-
critos: distensão abdominal, vômitos e falência
na expulsão de mecônio após 24h do nasci-
mento. Durante o toque retal pode ocorrer
saída explosiva de gases e fezes (blast sign).
A ausência de mecônio por 48h após o nasci-
mento torna obrigatória a investigaçãopara
doença de Hirschsprung. Alguns casos de
doença leve podem ser diagnosticados ape-
nas depois dos primeiros anos de vida. Geral-
mente, são crianças com constipação crônica
e deficit de desenvolvimento. Raramente, a
doença é diagnosticada na vida adulta.
diagnóstico
O diagnóstico pode ser sugerido por métodos
complementares, entretanto o padrão-ouro é
a biópsia retal.
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Cirurgia - Volume 5 73Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Radiografia simples de abdome: evidencia na
maioria das vezes distensão de cólon e au-
sência de fezes e gases no reto.
Enema contrastado: permite a visualização de
uma zona de transição em formato de cone
melhor visto nas incidências lateral e oblíqua.
Este achado representa o local a partir de onde
ocorre a falha de migração neuronal.
A retenção de bário após 24 horas da injeção
de contraste pode corroborar o diagnóstico.
O enema contrastado permite calcular a rela-
ção entre o diâmetro do reto e do sigmoide.
Nos pacientes com doença de Hirschscprung
este valor é menor que 1. Esse exame ainda
permite excluir outras causas de obstrução
colônica em neonatos, como, por exemplo, a
síndrome do cólon esquerdo pequeno, a atre-
sia colônica e síndrome do plug meconial.
A manometria anal é um bom exame para
screening, especialmente em pacientes com
mais idade (raramente utilizado em neonatos).
Quando normal, praticamente exclui a presen-
ça da doença. Além disso, também é impor-
tante para pacientes cuja deficiência afeta
apenas uma extensão ultracurta do ânus e reto.
Agora fique atento, outro dado interessante é
a resposta ao toque retal. Após o toque retal,
e com o relaxamento do esfíncter, temos uma
saída explosiva de fezes, que em um contex-
to de obstrução, é muito sugestivo de mega-
cólon agangliônico.
O método padrão-ouro para o diagnóstico da
doença de Hirschsprung é a biópsia retal as-
pirativa. Pode ser feita à beira do leito sem
necessidade de anestesia geral. Os principais
achados são:
• ausência de células ganglionares (obrigatório)
• hipertrofia de fibras nervosas
• aumento de atividade de acetilcolinesterase
Atualmente, técnicas de imuno-histoquímica
são capazes de melhorar a acurácia do méto-
do. Veja na tabela abaixo a comparação entre
os diversos exames diagnósticos.
Tratamento
O tratamento é cirúrgico e consiste em três
tipos de procedimentos:
- Técnica de Swenson (FIGURA 17): remoção
do intestino agangliônico ao nível do esfíncter
interno com ressecção das porções mais di-
latadas do cólon e reconstrução primária do
trânsito através de uma de anastomose co-
loanal perineal.
Teste sensibilidade Especificidade
Manometria
anal 83% 93%
Enema
contrastado 76% 97%
Biópsia
retal 93% 100%
Fig. 16: Perceba a área de tran-
sição entre a luz estenosada e
o megacólon.
Figura 17
- Técnica de Duhamel (FIGURA 18): deixa-se
o reto agangliônico, com colocação do cólon
normal por trás deste segmento e fixação no
ânus (formação de um “neorreto” com reto
agangliônico na porção anterior e cólon nor-
mal na porção posterior). Essa técnica per-
mite uma dissecção menos extensa da pelve.
- Técnica de Soave (FIGURA 19): dissecção
da mucosa retal (no reto distal agangliônico),
puxando o cólon normal através da camada
muscular remanescente e formação de anas-
tomose coloanal.
Essa abordagem também permite uma menor
exploração da pelve, mas evita que segui-
mentos agangliônicos sejam deixados, ao
contrário do procedimento de Duhamel. Con-
tudo, trata-se de um procedimento mais de-
morado e “trabalhoso”.
Figura 18
Antigamente, as cirurgias eram realizadas em
dois ou mais tempos, entretanto, técnicas mo-
dernas permitem a realização dos procedimen-
tos em apenas um tempo cirúrgico. As vias de
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Cirurgia - Volume 5 74Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
acesso podem ser: abdominoperineal, laparos-
cópica e transanal. No momento, duas técnicas
vêm ganhando destaque por serem realizadas
em apenas um tempo e possuírem técnica mi-
nimamente invasiva. O abaixamento endorretal
de cólon via transanal com auxílio videolapa-
roscópico (LATEP) e o abaixamento transanal
simples (técnica de de la Torre). Ambos con-
sistem na passagem do segmento agangliôni-
co pelo ânus com ressecção do mesmo e
confecção de um “novo reto”. Para construir
uma nova ampola retal é realizada uma secção
do novo cólon distal semelhante a uma piloro-
plastia de Heinecke-Miculicz. A grande diferen-
ça entre as técnicas é que na primeira a video-
laparoscopia possibilita a avaliação da real
extensão da doença e permite a confecção de
uma anastomose relativamente livre de tensão.
As principais complicações da doença incluem
constipação, escape fecal, incontinência e
enterocolite. O prognóstico pós-operatório é
bom. Alguns pacientes podem permanecer
com incontinência fecal no pós-operatório.
Figura 19
Fig. 20: Abaixamento endorretal transanal
seguido de anastomose cólon-anal.
Fig. 21: Megacólon à montante de
área hipertrófica.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ –
BELÉM – PA
Lactente de 5 semanas de vida, com disten-
são abdominal acentuada e evacuação ex-
plosiva ao toque retal. Os pais relatam tam-
bém que o mesmo apresentou retardo de
eliminação do mecônio. O Enema Opaco do
paciente demonstrou a clássica imagem do
“Cone de Transição”. O provável diagnóstico
nesse caso é:
a) Enterocolite Necrotizante.
b) Moléstia de Hirschsprung.
c) Rolha Meconial.
d) Invaginação intestinal.
e) Estenose hipertrófica de Piloro.
Questão tranquila. Inicialmente veja um
quadro de distensão acentuada, o que nos
leva a pensar em uma obstrução distal, caso
contrário não esperaríamos tanta distensão,
mas sim a presença de vômitos precoces.
Além disso, repare a presença de evacuação
explosiva ao toque retal, além do retardo da
eliminação de mecônio. Isso nos leva a pen-
sar na doença de Hirschsprung. O clister
opaco só veio corroborar a possibilidade.
Gabarito B.
dIVErTICuLOsE E dIVErTICuLITE
A obstrução intestinal na doença diverticular
do cólon ocorre principalmente em dois con-
textos:
• Durante a ruptura e inflamação aguda pe-
ridiverticular (diverticulite).
• Após procedimentos cirúrgicos para retirada
dos divertículos (estenose pós-operatória).
Vejamos em números:
• Apenas 10% dos pacientes com doença di-
verticular manifestam-se com obstrução in-
testinal, sendo rara a presença de obstrução
intestinal completa (mesmo nos casos de
diverticulite).
• Menos de 10% de todas as obstruções de
intestino grosso são causadas por doença
diverticular.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO
SANTO – UFES
As complicações mais frequentes da doença
diverticular do cólon direito e do cólon esquer-
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Cirurgia - Volume 5 75Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
do são, respectivamente:
a) Malignização e sangramento.
b) Perfuração e sangramento.
c) Hemorragia e diverticulite.
d) Hemorragia e fistulização.
e) Perfuração e estenose.
Se você marcou a letra E apenas porque
o capítulo é de obstrução intestinal, saiba que
você está redondamente enganado. Você
acabou de ler que apenas 10% dos pacientes
com doença diverticular manifestam-se com
obstrução. A principal complicação desta
doença no cólon direito é o sangramento e
no cólon esquerdo a infecção. Resposta C.
A principal complicação da doença diverticu-
lar quando se considera todo o cólon é a di-
verticulite.
As provas insistem com este tipo de questão:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE –
UFF
Indique a complicação mais frequente da di-
verticulite aguda:
a) Obstrução intestinal.
b) Peritonite purulenta.
c) Fístula colovesical.
d) Abscesso pericólico.
e) Abscesso pélvico.
Cuidado. Resposta: D. A obstrução não é a
complicaçãomais frequente da diverticulose
nem da diverticulite. A principal complicação
da diverticulite é a formação de abscesso pe-
ricólico. A segunda complicação mais frequen-
te é a formação de fístula colovesical.
Você já estudou diverticulose e diverticulite na
apostila de Dor Abdominal. No momento, você
precisa rever um conceito:
“Sempre que um paciente com doença
diverticular manifestar síndrome de
obstrução intestinal é preciso realizar a
pesquisa de neoplasia.”
Esta associação é tão importante que, por
vezes, opta-se por estratégia cirúrgica mesmo
quando exames preliminares não confirmam
a presença de neoplasia.
FEzEs (“FECALOMAs”)
Definição: são formações endurecidas de
fezes desidratadas que impactam no tubo
digestivo.
População alvo: idosos (principalmente nos
institucionalizados), pacientes com constipa-
ção crônica, portadores de megacólon (como
na doença de Chagas) e aqueles com doen-
ça de Hirschsprung.
Clínica: constipação, dor abdominal, descon-
forto retal e diarreia paradoxal.
Diagnóstico: toque retal, exames radiológi-
cos e endoscópicos.
Tratamento: hidratação + fratura digital ou
instrumental da massa + uso moderado de
laxantes e lavagens intestinais.
Os fecalomas são formações endurecidas de
fezes desidratadas que impactam no tubo
digestivo. A população com maior possibili-
dade de desenvolver esta complicação é
composta por idosos (principalmente nos
institucionalizados), pacientes com constipa-
ção crônica, portadores de megacólon (como
na doença de Chagas) e aqueles com doença
de Hirschsprung.
A clínica é inespecífica com constipação as-
sociada a intensidades variáveis de dor abdo-
minal, desconforto retal e diarreia paradoxal.
Na maior parte das vezes (70%), o fecaloma
localiza-se no reto e o diagnóstico pode ser
feito pelo toque. No exame abdominal, o feca-
loma também pode ser palpável dependendo
de sua extensão. A sua maleabilidade com a
pressão dos dedos o diferencia de outras
massas abdominais. A sensação de crepitação
provocada pelo descolamento da parede in-
testinal do fecaloma durante a descompressão
na palpação é dita como característica (sinal
de Gersuny). Nos casos em que o exame fí-
sico for inconclusivo os exames radiológicos
podem ajudar.
Peraí, diarreia paradoxal em obstrução
colônica?
Com certeza você já deve ter ouvido falar no
assunto quando estudou constipação em
pediatria... Aqui, a diarreia paradoxal é dife-
rente daquela descrita nas obstruções e su-
boclusões de delgado. Vamos relembrar? A
presença do fecaloma impede a progressão
das fezes sólidas gerando obstrução intesti-
nal. No entanto, as fezes que ainda não se
formaram completamente se encontram em
estado mais “líquido”, e acabam escorrendo
por entre as fezes sólidas, transpassando o
fecaloma. Esse fenômeno também é conhe-
cido como Soiling. A saída intermitente des-
sa pequena quantidade de fezes líquidas pelo
ânus dá impressão que o paciente apresenta
uma diarreia, quando na realidade o problema
é exatamente o contrário!
Fig. 22: Duas imagens de um mesmo pa-
ciente apresentando um fecaloma em re-
tossigmoide.
http://#scrolldown
http://#videomiolo=RCIR206071
Cirurgia - Volume 5 76Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
E o tratamento do fecaloma?
O tratamento é feito com hidratação e fratura
digital ou instrumental da massa, seguido do
uso moderado de laxantes e lavagens intesti-
nais com água glicerinada. A fratura do feca-
loma deve ser cuidadosa para evitar dor e
traumas, sendo em alguns casos necessárias
sedação e anestesia.
Fecalomas de sigmoide não alcançáveis pela
mão podem ser manejados com clister por
gotejamento. Se esta abordagem não for efi-
caz, podem-se tentar os tratamentos endos-
cópico ou cirúrgico.
Obs.: Não são recomendados laxativos que
aumentem a produção intestinal de gás (como
a lactulose) antes da retirada do fecaloma.
Os fecalomas podem complicar-se com ulce-
ração de mucosa (úlcera estercoral), sangra-
mento e até perfuração do cólon. Retenção
urinária é uma complicação incomum.
Fig. 23: Endoscopia evidenciando um fe-
caloma retal.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE
SANTA CATARINA – SC
Paciente com tórax instável, em ventilação
mecânica (dez dias), sedado com associação
de fentanil e midazolam em infusão contínua,
nutrição enteral através de sonda nasoenteral
posicionada no estômago, apresenta diversas
evacuações ao dia (fezes em pequena quan-
tidade misturadas a muco). Qual a melhor
explicação para a diarreia?
a) Superalimentação.
b) “Falsa diarreia” – fecaloma.
c) Colite pseudomembranosa.
d) Velocidade de infusão acima da capacidade
absortiva.
e) Diarreia devido ao uso de medicamentos
osmóticos.
Vamos começar excluindo as opções absur-
das: não há nenhuma história de emprego de
antibióticos na questão para pensarmos em
colite pseudomembranosa ou mesmo relato de
medicações administradas diretamente no tudo
digestivo que poderiam provocar uma diarreia
osmótica. Opções “C” e “E” erradas...
Além disso, veremos na apostila de medicina
perioperatória que a diarreia é uma complica-
ção frequente da nutrição enteral, seja por
superalimentação, desregulação dos compo-
nentes da dieta ou mesmo por uma alta velo-
cidade de infusão.
No entanto, essa diarreia possui característica
de uma diarreia alta, com episódios menos
frequentes e de maior volume, ao contrário do
descrito no enunciado. Além disso, o uso de
opioides como o fentanil tende a melhorar os
sintomas desse tipo de diarreia...
Opções “A” e “D” incorretas. Resta somente a
opção “B”. Mas o fecaloma explicaria a diar-
reia? Perfeitamente! O fenômeno de Soiling
provocado pela impactação fecal promove um
escape paradoxal com características de uma
diarreia baixa, conforme descrito na questão.
Opção “B” correta!
Antes de seguir, veja se você gravou os
conceitos com essas questões!!! Imagem
para as próximas questões:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP
Chega ao pronto-socorro paciente masculino,
67 anos, que refere estar com dor abdominal
difusa e obstipação há 1 semana, só eliminan-
do flatos. Emagreceu cerca de 5 kg em 4 me-
ses. Conta que já apresentou crises de diver-
ticulite no ano passado, com tratamento satis-
fatório ao utilizar antibióticos. Ao exame clíni-
co encontra-se em regular estado geral, cora-
do, desidratado 1+/4+, eupneico, afebril,
acianótico, anictérico. Semiologia cardíaca e
respiratória sem alterações. Abdome globoso,
distendido, doloroso à palpação profunda di-
fusamente, sem massas palpáveis, sinal de
Blumberg negativo. Realizado toque retal -
ampola retal vazia. (VER IMAGEM). Cite o
diagnóstico radiológico.
Questão que nos apresenta um quadro clás-
sico de obstrução intestinal, veja: parada de
eliminação de fezes, dor e distensão abdominal,
até que se prove o contrário, o diagnóstico é
de obstrução intestinal. Blumberg negativo, o
que nos afasta um pouco a possibilidade de
diverticulite aguda. Além disso, ao toque retal,
a ampola retal está vazia, o que nos faz pesar
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Cirurgia - Volume 5 77Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
em uma obstrução intestinal mecânica. Na ra-
diografia observamos distensão periférica de
quase todo o cólon e não observamos disten-
são de delgado. Ou seja, temos uma obstrução
baixa, muito provavelmente em alça fechada
(note que o delgado não está distendido). O
gabarito USP foi de: Obstrução em alça fecha-
da OU abdome agudo obstrutivo OU suboclu-
são intestinal.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP
Chega ao pronto-socorro paciente masculi-
no, 67 anos, que refere estar com dor abdo-
minal difusa e obstipação há 1 semana, só
eliminando flatos. Emagreceu cerca de 5 kg
em 4 meses. Conta que já apresentou crises
de diverticulite no ano passado, com trata-
mento satisfatório ao utilizar antibióticos. Ao
exame clínico encontra-se em regular esta-
do geral, corado, desidratado 1+/4+, eup-
neico, afebril, acianótico, anictérico.Semio-
logia cardíaca e respiratória sem alterações.
Abdome globoso, distendido, doloroso à
palpação profunda difusamente, sem mas-
sas palpáveis, sinal de Blumberg negativo.
Realizado toque retal - ampola retal vazia
(VER IMAGEM). Cite as duas principais
causas etiológicas para este caso.
Como vimos, estamos diante de uma obs-
trução baixa!!!. A principal hipótese é de tumor
de sigmoide, e mesmo pouco provável pode
ser estenose decorrente de diverticulite. GA-
BARITO USP: Neoplasia de cólon esquerdo/
reto. Diverticulite.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – SP
Chega ao pronto-socorro paciente masculino,
67 anos, que refere estar com dor abdominal
difusa e obstipação há 1 semana, só eliminan-
do flatos. Emagreceu cerca de 5 kg em 4 me-
ses. Conta que já apresentou crises de diver-
ticulite no ano passado, com tratamento satis-
fatório ao utilizar antibióticos. Ao exame clíni-
co encontra-se em regular estado geral, cora-
do, desidratado 1+/4+, eupneico, afebril,
acianótico, anictérico. Semiologia cardíaca e
respiratória sem alterações. Abdome globoso,
distendido, doloroso à palpação profunda di-
fusamente, sem massas palpáveis, sinal de
Blumberg negativo. Realizado toque retal -
ampola retal vazia (VER IMAGEM). De acordo
com o diagnóstico radiológico indique a con-
duta com base nos dados apresentados.
Seguindo o raciocínio, qual é o tratamento?
Nesses quadros de obstrução colônica, o tra-
tamento gira em torno da descompressão
desse cólon. Como observamos, muito prova-
velmente estamos diante de uma obstrução
em sigmoide e a descompressão pode ser
através da ressecção desta lesão ou da sim-
ples realização de uma colostomia. Gabarito
USP: Cirurgia de Hartmann OU retossigmoi-
dectomia com Hartmann OU colostomia em
alça de urgência. Retossigmoidectomia.
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Cirurgia - Volume 5 78Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
OBsTruçãO INTEsTINAL FuNCIONAL
78
N esse capítulo, trataremos de mais duas condições
obstrutivas: a pseudo-obstrução colônica e o íleo paralítico.
E o que elas têm de especial??? Simples, elas fazem obstrução
sem fazer obstrução! Por mais estranho que pareça, é isso
mesmo... Elas são causas de obstrução intestinal, embora não cursem
com nenhum tipo de obstrução física. O problema aqui está na função
motora das alças intestinais. Perceba então a grande diferença.
Diferente do que vimos até agora, o tratamento não será mais a
remoção do obstáculo, mas sim restabelecer a atividade normal do
intestino. Para começar, compare as imagens abaixo.
Radiografia 1 Radiografia 2
Você consegue notar uma diferença gros-
seira entre elas?
Por enquanto, não se preocupe em saber o
diagnóstico. Perceba apenas duas diferenças
essenciais:
Na radiografia 1 é possível ver que há dila-
tação de alças intestinais proximais a um
ponto de obstrução. Todo o intestino grosso
que se localiza após (distal) a obstrução
(incluindo a ampola retal) está “vazio”, isto
é, sem gases ou fezes.
Já na radiografia 2 há uma dilatação difusa de
todas as alças intestinais, incluindo as porções
mais distais do tubo digestivo, como o reto.
Só com estes dados já é possível separar os
quadros em dois grandes grupos.
A Radiografia 1 pertence a um paciente com
obstrução mecânica, isto é, há uma condição
que causa estreitamento da luz intestinal e
a partir daí é impossível prosseguir com o
trânsito normal. Entretanto, na Radiografia
2 não há nenhum ponto de oclusão do lúmen
intestinal, mas sim um comprometimento
difuso da função motora. Trata-se de um
distúrbio funcional!
Vamos ver a seguir os dois tipos principais de
obstrução funcional...
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Cirurgia - Volume 5 79Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Definição: um estado de inibição funcional
à atividade motora intestinal.
Etiologia: pós-operatório, drogas, distúrbios
hidroeletrolíticos...
Clínica: distensão + dor abdominal difusa +
vômitos + dificuldade de eliminar flatos + in-
tolerância à dieta.
Achados radiológicos: distensão de delgado
e cólon e sem sinais de obstrução mecânica.
Tratamento: dieta zero + sonda nasogástrica
+ suspensão de fatores precipitantes + ob-
servação constante.
“A prevenção é o melhor remédio”.
Introdução
O íleo adinâmico (também conhecido como
íleo paralítico) é definido como “um estado de
inibição funcional à atividade motora intesti-
nal”. Este distúrbio manifesta-se como uma
síndrome de obstrução intestinal na ausência
de um processo mecânico obstrutivo.
As principais causas são as cirurgias abdomi-
nais (principalmente laparotômicas). Confira
na tabela a seguir as principais etiologias do
íleo paralítico.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE
DO NORTE – UFRN
O distúrbio eletrolítico mais comumente asso-
ciado a íleo paralítico e vômitos, no pós-ope-
ratório de cirurgia abdominal, é:
a) Hipernatremia. c) Hipocalcemia.
b) Hiponatremia. d) Hipocalemia.
Quando nos lembrarmos de obstrução fun-
cional, devemos sempre checar o potássio
sérico. Resposta: D.
Quadro Clínico
As manifestações do íleo adinâmico são vagas
e inespecíficas:
• Dor abdominal difusa sem cólica
• Distensão abdominal
• Náuseas e vômitos
• Constipação e não eliminação de flatos
• Incapacidade de tolerar dieta
Apesar de não haver critérios diagnósticos
para o íleo pós-operatório prolongado, deve-
-se suspeitar desta etiologia quando um ou
mais dos sintomas acima persistirem por mais
de cinco dias. Embora a diminuição da aus-
culta abdominal não seja um achado essencial
para o íleo adinâmico, a peristalse costuma
estar reduzida ou abolida, ao contrário da
peristalse de luta que ocorre nas obstruções
mecânicas. A presença de peristalse também
não deve excluir obstrução funcional... Como
a peristalse do delgado retorna antes da mo-
tilidade do estômago e do cólon é possível
auscultar sons em um abdome ainda disfun-
cional. O melhor dado para avaliação clínica
do íleo pós-operatório é a pesquisa, na anam-
nese, de flatos ou evacuações.
Os alunos que passaram pelo internato de
cirurgia devem se lembrar dos conceitos
ensinados: “Após uma cirurgia (principal-
mente abdominal) existe um período de íleo
fisiológico. Cada segmento intestinal possui
um tempo diferente para recuperar a sua
motilidade normal. O delgado é o mais rápi-
do necessitando de apenas 24 horas. O
estômago vem em seguida normalizando-se
em 24 a 48 horas e, por último, o cólon, em
48 a 72 horas”.
Esta “regra” é tão importante que frente a
um paciente que não recupera a motilidade
intestinal após este período deve-se iniciar
a investigação de processos patológicos.
Entretanto, atualmente, este conceito tem
sido revisto. Não há dúvidas de que um íleo
“fisiológico” ocorre após grandes cirurgias;
a novidade é que parece que este tempo é
menor do que classicamente se postula.
O íleo metabólico pós-operatório é benigno,
autolimitado e tem duração variável:
• delgado: 24 horas
• estômago: 24 a 48 horas
• cólon: 48 a 72 horas
ÍLEO AdINâMICO (Ou PArALÍTICO)
Laparoscopia ou laparoto-
mia
Opioides, derivados fenotia-
zínicos (ex.: clorpromazina),
clozapina, agentes anticoli-
nérgicos, bloqueadores do
canal de Ca++ (diltiazem) e an-
tidepressivos tricíclicos.
Hipocalemia, hiponatremia,
hipomagnesemia, hipermag-
nesemia, hipocalcemia, hiper-
calcemia.
Trombose/embolia de artéria
mesentérica e isquemia me-
sentérica crônica.
Apendicite, diverticulite,úlcera
duodenal perfurada...
Pancreatite aguda,
pielonefrite,hematomas...
Processos inflamatórios intra-
-abdominais ou sepse.
Fratura vertebral, pneumonia
de loboinferior, infarto agudo
do miocárdio.
Causas de íleo adinâmico
Pós-operatório
Drogas
Distúrbios hi-
droeletrolíticos
Isquemia
intestinal
Processos
inflamatórios
abdominais
Inflamação ou
hemorragia
retroperitoneal
Infecção
Doenças
torácicas
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Cirurgia - Volume 5 80Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
O motivo peloqual ocorre o íleo pós-operató-
rio ainda não é totalmente conhecido. Parece
que não há um único mecanismo capaz de
explicar este fenômeno, mas sim um conjunto
de fatores. Vejamos a seguir:
Reflexos neurais inibitórios: No pós-ope-
ratório, há aumento do estímulo inibitório do
sistema nervoso autônomo diminuindo a
atividade motora intestinal.
Inflamação: A resposta inflamatória ao trauma
e à manipulação intestinal promovem disfun-
ção muscular e diminuição de peristalse.
Peptídeos neuro-humorais: Diversas subs-
tâncias já foram identificadas como inibitó-
rias sobre a motilidade intestinal. Dentre elas
as principais são: óxido nítrico, peptídeo
vasoativo intestinal e substância P.
diagnóstico
Uma vez que as manifestações clínicas são
inespecíficas, a rotina de abdome agudo é o
exame inicial para o diagnóstico diferencial
com obstrução intestinal mecânica. No íleo
paralítico, este exame apresentará gás dis-
tribuído por todo o trato gastrointestinal. Em
casos duvidosos, deve-se utilizar exames
contrastados e/ou tomografia. A TC tem a
vantagem de poder diagnosticar outras con-
dições que estejam perpetuando o íleo, como
abscessos, pancreatite, hemorragias...
Obs.: Em geral, uma rotina de abdome agudo
é recomendada no pós-operatório se houver
manutenção do íleo após 48 a 72h.
(2) Suspender (caso possível) medicações que
possam prolongar o íleo (ex.: opioides).
(3) Excluir a possibilidade de obstrução intes-
tinal mecânica ou pseudo-obstrução colô-
nica. Achados que falam a favor de obstru-
ção intestinal mecânica são: dor abdominal
em cólicas de forte intensidade ou rápida
instalação, vômitos fecaloides, febre, taqui-
cardia, sinais de irritação peritoneal...
Demais condutas para o manejo de pacientes
com íleo paralítico carecem de grandes estu-
dos e variam na literatura. As principais reco-
mendações são:
• Dieta zero (permitir apenas pequenos “goles”
de água) e hidratação venosa.
• Em caso de vômitos persistentes ou disten-
são abdominal importante, é sugerida a co-
locação de um cateter nasogástrico no estô-
mago, cuja remoção deve ser feita o mais
rápido possível após a melhora.
• Reavaliações rotineiras (exame físico várias
vezes durante o dia e laboratório diário).
• Quando o paciente apresentar sinais de me-
lhora, como retorno da fome, presença de
eliminação de gases e fezes, deve-se pron-
tamente iniciar dieta líquida seguida da sus-
pensão de hidratação venosa.
Como em todas as doenças que não possuem
um tratamento simples e eficaz, a prevenção
é o melhor remédio! Vejas as medidas mais
recomendadas:
• O uso de AINE no pós-operatório diminui
náuseas e vômitos além de reduzir a neces-
sidade de opioides. Parece que estes bene-
fícios associados à atividade anti-inflamatória
da medicação auxiliam na recuperação da
motilidade gastrointestinal.
• Controle da dor no pós-operatório com dro-
gas como: inibidores da COX-2 (também
possui efeito anti-inflamatório), gabapentina,
dexametasona, paracetamol...
• Alguns estudos indicam benefício do uso de
infusão contínua de anestésicos no espaço
epidural por até 72 horas no pós-operatório.
radiografia de um paciente com íleo adi-
nâmico pós-operatório evidenciando a
presença de distensão gástrica impor-
tante associada à dilatação de alças de
delgado e cólon moderadamente dilata-
do com fezes misturadas a gás.
Tratamento
Três atitudes são essenciais:
(1) Pesquisar e corrigir distúrbios hidroeletro-
líticos (o laboratório mínimo deve incluir
um hemograma completo, bioquímica: Ur,
Cr, Na+, K+, Cl-, HCO3-, Mg+, hepatograma,
amilase e lipase).
saiba mais:
Há alguns anos, foi lançada no mercado uma
droga chamada alvimopan (nome comercial:
Entereg®). Trata-se de um antagonista opioide
com capacidade de reduzir o íleo pós-opera-
tório. A princípio seria o primeiro medicamen-
to específico para o tratamento deste fenôme-
no. Contudo, em 2007, o medicamento foi
retirado do mercado americano por causa de
seus efeitos adversos (cardiológicos e onco-
lógicos). Desde então, busca-se algum medi-
camento capaz de substituí-lo. O metilnaltre-
xone parece ser um candidato promissor.
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Cirurgia - Volume 5 81Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
• Nutrição enteral precoce.
• Realizar incisões pequenas. Cirurgias lapa-
roscópicas são preferidas.
• Evitar infusão excessiva de fluídos no pero-
peratório.
• Manipulação gentil dos intestinos durante a
cirurgia.
• Uso de analgésicos pré-anestésicos parece
ser benéfico.
• Mobilização precoce.
Vamos treinar?
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNI-
CIPAL – HSPM
Uma paciente de 56 anos foi submetida à
laparotomia exploradora e lise de bridas por
abdome agudo obstrutivo. Operações prévias:
histerectomia por miomas, há 25 anos, e lise
de bridas, há dois anos. Evoluiu bem no pós-
-operatório, sem dor abdominal significativa
ou febre. Começou a tomar líquidos no 3º
pós-operatório e recebeu dieta leve no 4º pós-
-operatório. No 5º dia, passou a apresentar
distensão abdominal e vômitos. Não teve febre
nem taquicardia. O abdome está distendido,
mas flácido e com poucos ruídos hidroaéreos.
A radiografia de abdome mostra distensão de
intestino delgado e de todo o cólon, com níveis
hidroaéreos e sinal de empilhamento de moe-
das. Hipótese mais provável:
a) A doente foi realimentada precocemente,
ainda em íleo adinâmico, e apresenta obstrução
intestinal funcional. Tratamento: passagem de
sonda nasogástrica, hidratação e suporte clínico.
b) Lesão despercebida de alça de delgado
durante a última operação, determinando pe-
ritonite e íleo adinâmico. Deve ser submetida
à laparotomia exploradora.
c) Recidiva da obstrução intestinal por bridas.
Deve-se fazer nova laparotomia exploradora.
d) Obstrução intestinal mecânica, provavel-
mente por tumor de cólon, não percebido du-
rante a última operação. Deve fazer colonos-
copia.
e) A doente apresenta peritonite por etiologia
não relacionada à operação prévia. Deve ser
submetida a tratamento operatório.
Vamos usar a velha técnica de separar do
texto apenas as informações importantes:
• “distensão abdominal e vômitos”
• “abdome está distendido, mas flácido e com
poucos ruídos hidroaéreos”
• “distensão de intestino delgado e de todo o
cólon, com níveis hidroaéreos e sinal de em-
pilhamento de moedas”
Nesta questão os achados negativos são mui-
to importantes:
• “Evoluiu bem no pós-operatório, sem dor
abdominal significativa ou febre”
• “Não teve febre nem taquicardia”
• “Abdome está distendido, mas flácido”
Vamos resumir? É uma paciente que evoluiu
com síndrome de obstrução intestinal não
complicada num pós-operatório.
Qual é o próximo passo? Procurar obstru-
ções mecânicas. O autor da questão dá a dica:
“radiografia apresenta gás em todo o intestino
e com distensão de delgado”. Logo, a principal
hipótese é: íleo paralítico. Resposta A.
sÍNdrOME dE OgILVIE
(PsEudO-OBsTruçãO COLôNICA AgudA)
Definição: obstrução intestinal aguda que
ocorre na ausência de lesões anatômicas in-
testinais associada a patologias de fora do
trato gastrointestinal.
Clínica: síndrome de obstrução intestinal
inespecífica com características baixas.
Achados: dilatação importante de cólon,
principalmente no ceco.
Tratamento:
Recomendações gerais
• Medidas farmacológicas: neostigmina e
eritromicina.
• Procedimentos endoscópicos: colonos-
copia descompressiva e cecostomia
percutânea endoscópica.
• Procedimentos cirúrgicos: cecostomia ou
colectomia total.
Introdução
A pseudo-obstrução colônica corresponde –
como o nome já sugere – a uma condição em
que um distúrbio provavelmente da função
autonômica do cólon simula bastante um qua-
dro de obstrução mecânica, levando a grandes
distensões deste segmento. Ela pode ser pri-
mária (miopatia visceral familiar) ou, mais
comumente, secundária (ver causas abaixo)
à doença metabólica grave, mixedema, dia-
betes, uremia, LES, Parkinson). Também po-
demos classificá-laem crônica ou aguda
(síndrome de Ogilvie). Esta síndrome foi des-
crita em 1948 por um cirurgião nascido no
Chile e morador da Inglaterra chamado Sir
William Heneage Ogilvie, que observou a pre-
sença de pseudo-obstrução intestinal em dois
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Cirurgia - Volume 5 82Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
pacientes com neoplasias metastáticas para
o retroperitônio. Observe a seguir as principais
condições relacionadas.
de Ogilvie de uma obstrução mecânica ou
megacólon tóxico. Para tal, o grande exame
é o enema com contraste hidrossolúvel, que
deve ser realizado em todo quadro suspeito.
A colonoscopia seria uma alternativa, inclu-
sive com funções terapêuticas.
Não existem achados patognomônicos da
síndrome de Ogilvie, o que torna o diagnósti-
co de exclusão. Os principais diagnósticos
diferenciais são com obstrução mecânica e
megacólon tóxico.
Veja duas dicas úteis para o diagnóstico dife-
rencial:
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – PI
Entre os sinais e sintomas da síndrome de
Ogilvie, o que predomina é:
a) Constipação.
b) Distensão abdominal.
c) Náuseas.
d) Diarreia.
e) Febre.
A síndrome de Ogilvie é uma clássica forma
de obstrução intestinal FUNCIONAL ao nível
do cólon, isto é, o paciente apresenta um
abdome agudo obstrutivo sem que exista um
fator mecânico desencadeante. Todas as
manifestações descritas são compatíveis com
este diagnóstico, porém, o que predomina
diante de um quadro de obstrução eminen-
temente colônica (baixa) é a distensão abdo-
minal, que em geral precede e é mais grave
que todas as demais manifestações citadas.
Resposta certa: B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO PRESIDENTE
DUTRA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
MARANHÃO – UFMA
No íleo colônico (Síndrome de Ogilvie), a
dilatação mais acentuada ocorre em:
situações associadas com o
desenvolvimento
de Pseudo-obstrução colônica
Trauma
Infecções (pneumonia, sepse...)
Cirurgia torácica, abdominal ou pélvica
Doença cardíaca (IAM, ICC, arritmias...)
Doença renal
Cirurgia ortopédica de grande porte.
Ventilação mecânica.
Doenças ginecológicas e obstétricas princi-
palmente com tratamento cirúrgico.
Doença neurológica (doença de Parkinson,
lesão medular, esclerose múltipla, doença de
Alzheimer).
Doenças retroperitoniais (neoplasias, hemor-
ragia...)
Medicamentos: opiáceos, derivados fenotia-
zínicos, bloqueadores do canal de cálcio,
anestesia...
Distúrbios reumatológicos: Lúpus.
Distúrbios metabólicos (hipocalemia, hipocal-
cemia, hipomagnesemia, diabetes).
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
CASA DE SAÚDE NOSSA SENHORA DO
CARMO – RJ
A dilatação dos cólons sem obstrução mecâ-
nica chama-se Síndrome de:
a) Guerin.
b) Ogilvie.
c) Gardner.
d) Mallory-Weiss.
Questão clássica. A pseudo-obstrução do
cólon, também chamada de síndrome de
Ogilvie, descreve uma doença com disten-
são do cólon, com sinais de obstrução colô-
nica, na ausência de uma causa física real
para obstrução, sendo classificada como uma
obstrução FUNCIONAL.
Gabarito: letra B.
Quadro Clínico e
diagnóstico
O exame físico revela um abdome timpânico e,
por envolver basicamente o cólon, mantém-se
peristáltico. Ao laboratório é possível encontrar
achados associados à patologia de base e de-
vem-se destacar os distúrbios hidroeletrolíticos.
Uma característica marcante da síndrome é a
presença de dilatação do cólon, principal-
mente no ceco e hemicólon direito, mas que
pode se estender até o reto em alguns casos.
A rotina de abdome agudo apresenta cólon
dilatado principalmente no ceco e cólon as-
cendente, entretanto pode ocorrer distensão
até o reto. Em radiografias simples de ab-
dome é impossível diferenciar a síndrome
Note a intensa dilata-
ção de cólon – princi-
palmente o ceco.
Síndrome de Ogil-
vie X Obstrução
mecânica
Pacientes com obstru-
ção mecânica apresen-
tam dor abdominal em
cólica. Na síndrome
de Ogilvie há uma dor
difusa marcada pela dis-
tensão de alças.
Síndrome de Ogilvie
X Megacólon tóxico
Pacientes com megacó-
lon tóxico apresentam-
-se graves com taqui-
cardia, febre e diarreia
sanguinolenta, enquan-
to aqueles com síndro-
me de Ogilvie estão
mais estáveis.
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Cirurgia - Volume 5 83Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
a) Ceco e cólon ascendente.
b) Ceco e sigmoide.
c) Cólon transverso e sigmoide.
d) Cólon descendente e sigmoide.
e) Sigmoide.
Você já sabe que Ogilvie se trata de uma
pseudo-obstrução colônica. Essa questão é
importante para que você se lembre de que a
distensão, apesar de envolver todo o cólon,
predomina no ceco e cólon direito.
Opção “A” correta.
Tratamento
1) Tratamento não farmacológico
Recomendações gerais:
• dieta zero associada à hidratação venosa
• correção de distúrbios hidroeletrolíticos
• suspender medicações que possam ser de-
sencadeantes (principalmente opiáceos)
• instalar uma sonda nasogástrica em sucção
e um tubo retal (monitorar o débito)
• tratamento da doença de base (pneumo-
nia, ICC...)
Obs.: Alguns autores recomendam a posição
prona com o quadril elevado por um traves-
seiro.
2) Tratamento farmacológico
A neostigmina é a principal droga. Alguns
estudos sugerem taxa de sucesso entre 80 e
100% dos casos com recorrência por volta de
5%. A dose recomendada é de 2,5 mg IV. O
benefício é observado rapidamente e os prin-
cipais efeitos adversos são salivação, vômitos,
dor abdominal em cólica e bradicardia.
Cuidado com a bradicardia: Este é o efeito
colateral mais temido. Por isso, a droga deve
ser administrada sob monitorização eletro-
cardiográfica. Caso a bradicardia se instale,
pode ser revertida com atropina. Pacientes
com bradiarritmias ou em uso de betablo-
queadores estão mais susceptíveis a esta
complicação.
3) Tratamento endoscópico
Em pacientes com dilatação maior que 11 a
13, nos quais o tratamento de suporte e far-
macológico não tenham sido suficientes, pode-
-se tentar a descompressão por colonoscopia.
As taxas de sucesso variam na literatura entre
69 e 90%, embora a recorrência possa ocorrer
em até 40% dos pacientes. A colocação de um
tubo retal pode ajudar a diminuir a recorrência.
Não é necessário realizar o preparo para o
exame como nos casos de exame diagnóstico.
Alguns autores defendem a realização de co-
lostomia esquerda endoscópica percutânea
nos casos refratários.
4) Tratamento cirúrgico
A cirurgia é indicada em casos raros:
- Falha no tratamento conservador.
- Quando há sinais de perfuração intestinal.
As principais complicações associadas à sín-
drome de Ogilvie são: isquemia intestinal
(10%) e perfuração de alças (15%). Nestes
casos a mortalidade pode chegar a 75%.
- Dependendo do caso pode-se indicar desde
cecostomia cirúrgica até colectomia total.
Observe as recomendações da Sociedade
Americana de Endoscopia Gastrointestinal
para o manejo da síndrome de Ogilvie.
recomendações da sociedade
Americana de Endoscopia
gastrointestinal.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE JUNDIAÍ – SP
Na pseudo-obstrução aguda do cólon (síndrome
de Olgivie) qual é a droga usada no tratamento,
depois de afastadas as contraindicações?
a) Atropina. d) Propranolol.
b) Clonidina. e) Paracetamol.
c) Neostigmine.
Sempre ela!!! Além das medidas gerais a
neostigmina é a principal droga. Gabarito C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GETÚLIO VAR-
GAS – AM
Distenção colônica sem fator obstrutivo que
simula abdômen agudo cirúrgico, que é trata-
da com procinéticos ou mesmo descompres-
são através de colonoscopia.
a) Megacolon Tóxico.
b) Síndrome de Ogilvie.
c) Colite Pseudomembranosa.
d) Íleo Paralítico.
Fácil!!! Gabarito B.
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Cirurgia - Volume 5 84Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRAN-
DE DO NORTE – RN
A pseudo-obstrução colônica aguda - também
chamada de Síndrome de Ogilvie - é um dis-
túrbio funcional no qual o cólon se torna ex-
tremamente dilatado na ausênciade obstrução
mecânica. Sobre esta alteração, assinale a
alternativa CORRETA:
a) A administração de opioide é recomendada
para alívio da dor pela distensão abdominal.
b) É recomendada a administração de neos-
tigmina.
c) A descompressão com tubo retal é mais efi-
ciente do que a colonoscopia descompressiva.
d) O sigmoide é a região mais afetada.
A síndrome de Ogilvie é um tipo de obstru-
ção funcional em que temos a obstrução do
cólon. Ou seja, não temos um ponto físico de
obstrução. Ela ocorre em pacientes graves,
geralmente internados em unidades fechadas.
O tratamento consiste na correção de distúr-
bios hidroeletrolíticos, tratamento da doença
de base, suspensão de medicamentos como
opioides, avaliação da necessidade de colo-
noscopia descompressiva e podemos também
utilizar NEOSTIGMINA que é um anticolines-
terásico, e acaba estimulando a contração
colônica. Gabarito B.
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Cirurgia - Volume 5 85Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
HÉrnIaS
N ão é possível falar em Cirurgia Geral sem falar em Hérnias!
Aos que ingressarem na especialidade, certamente terão en-
tre seus primeiros procedimentos, ainda no R1, a correção
destas protrusões viscerais. Procedimentos estes inclusive que tam-
bém o acompanharão pelo resto da jornada médica. O mesmo podemos
dizer em relação às provas, já que é praticamente impossível imaginar
qualquer uma sem questão de hérnia. Embora o assunto não seja
difícil, o entendimento anatômico mais detalhado costuma ser uma
dificuldade para a maioria das pessoas. Mas estamos convictos de
que essa dificuldade logo, logo será transpassada ao longo deste
capítulo. Boa leitura!
Figura 1
Antes de iniciarmos, veja como o tema
pode ser cobrado!!!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO
– SP
Homem, 72 anos de idade, procura o pronto-
-socorro com queixa de abaulamento e dor
inguinal esquerda há um ano. Tem anteceden-
tes de hipertensão arterial e dislipidemia, em
uso de medicações regularmente. Ao exame
físico, apresenta-se em bom estado geral,
corado e com parâmetros hemodinâmicos
normais. No exame específico, o abdome é
flácido, indolor, sem distensão. Nota-se a pre-
sença de abaulamento inguinal esquerdo, com
alças redutíveis em seu interior e massa me-
diana pulsátil com cerca de 7 cm de diâmetro.
O paciente foi encaminhado ao ambulatório e
retorna após um mês com queixa de dor e
rigidez do abaulamento na região inguinal es-
85
querda há 5 horas, associada à distensão
abdominal e parada de eliminação de gases.
Ao exame físico está em bom estado geral,
com distensão abdominal, ruídos hidroaéreos
aumentados, desconforto difuso à palpação
profunda, sem sinais de irritação peritoneal e
com dor à palpação profunda do abaulamen-
to inguinal referido. Qual o provável diagnós-
tico sindrômico?
O paciente apresenta sinais e sintomas
clássicos (distensão abdominal e parada de
eliminação de gases) da síndrome de obstru-
ção intestinal. A presença de hérnia inguinal
irredutível e dolorosa confirma a hérnia ingui-
nal encarcerada como causa (etiologia) da
obstrução intestinal e com provável estrangu-
lamento e isquemia do conteúdo herniário.
(Aproveitando para lembrar... o exame do
abdome inclui a avaliação da região inguinal).
Gabarito UNIFESP: Abdome agudo obstrutivo.
http://#scrolldown
http://#videomiolo=CIR206079
Cirurgia - Volume 5 86Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Introdução
O termo “hérnia” é originário do latim e se re-
fere a qualquer passagem de um órgão para
fora da cavidade ou parede que o contém. Na
Medicina conhecemos diversos tipos de hér-
nias: abdominal, de disco vertebral, diafrag-
mática, de hiato, das meninges (meningoce-
les)... Entretanto, nesta apostila de obstrução
intestinal, ficaremos restritos obviamente ao
estudo das hérnias abdominais. Estima-se que
5% da população mundial seja acometida
por hérnias e esse número, de acordo com as
principais referências, ainda é subestimado.
No Brasil, supõe-se que tenhamos mais de 8
milhões de portadores desta condição.
Toda hérnia é composta por um colo que
corresponde ao orifício mais interno na apo-
neurose, de onde nasce, e pelo saco herniá-
rio, composto pela camada de peritônio que
ultrapassa o colo. Não há qualquer relação
entre o defeito na parede que origina a hérnia
e o tamanho do saco herniário. Como vere-
mos, as hérnias podem receber diferentes
classificações:
- Externa (atravessa todas as camadas da
parede abdominal) x Interna (protrusão den-
tro da cavidade abdominal).
- Redutível (pode ser recolocada na cavidade
abdominal) x Não redutível ou Encarcerada
(não retorna ao seu local de origem) x Es-
trangulada (tem comprometimento vascular).
- Diretas (passam diretamente pela parede
abdominal) x Indiretas (atravessam a pare-
de por um canal – ver mais à frente).
As hérnias abdominais também podem ser di-
ferenciadas por sua localização, como podemos
observar na FIGURA 2. Além desses locais, elas
podem ainda se originar de locais prévios de
incisão, as famosas hérnias incisionais.
O quadro a seguir traz a frequência das prin-
cipais hérnias.
Hérnias Frequência
Inguinais 75-80%
Incisionais 10%
Femorais 3-5%
Umbilicais 3%
Outras 2%
As hérnias mais frequentes são aquelas da
região inguinal e ocorrem mais no sexo mas-
culino (25 vezes mais nos homens do que nas
mulheres). As mulheres apresentam mais hér-
nias femorais e umbilicais que os homens, em-
bora entre elas as hérnias inguinais também são
as mais comuns. A prevalência e a probabilida-
de de estrangulamento aumentam com a idade.
LEMBRE-SE:
As hérnias femorais e umbilicais são
muito mais comuns nas mulheres do
que nos homens... No entanto, tanto nos ho-
mens quanto nas mulheres o tipo mais comum
de hérnia são as inguinais...
Por serem as hérnias inguinais as mais fre-
quentes, é nelas que concentraremos nossos
esforços, passando ao final pelos tipos menos
frequentes, mas que também podem aparecer
nas provas.
Figura 2
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Cirurgia - Volume 5 87Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Quando exploramos a região da virilha, obser-
vamos que ela é composta pelas regiões in-
guinal e femoral, podendo constituir dois sítios
importantes de hérnias. Para facilitar a com-
preensão, vamos começar a entender essa
região “de fora para dentro”, recordando as
estruturas que se encontram entre a pele e a
cavidade abdominal.
1) pele, gordurA subcutâneA e
fásciAs superficiAis
As primeiras camadas da região inguinal cor-
respondem às mesmas de toda região abdo-
minal anterior: a pele e o tecido subcutâneo.
Esse último é composto essencialmente por
gordura, vasos sanguíneos e nervos. É inte-
ressante perceber que essa gordura não fica
simplesmente “solta”... Existem dois espessa-
mentos de tecido conjuntivo que ancoram esse
tecido em seu lugar: as fáscias de Camper e
Scarpa. Elas fazem literalmente um “sanduí-
che” do subcutâneo. Apesar de constantemen-
te citadas, nem sempre conseguimos visuali-
zá-las durante a dissecção da parede abdo-
minal nos adultos, o que é feito geralmente
com maior facilidade nas cirurgias pediátricas.
A fáscia de Camper é mais espessa e mais
superficial, encontrada logo abaixo da pele. É
nela que encontramos o panículo adiposo. Já
a fáscia de Scarpa é mais profunda e mais
membranosa. Por essa característica, a fáscia
de Scarpa é encontrada mais frequentemente,
sendo algumas vezes confundida com apo-
neurose do m. oblíquo externo...
Abaixo da fáscia de Scarpa encontra-se a
primeira fáscia muscular do nosso estudo: a
fáscia do m. oblíquo externo. Apesar de ser
um pouco mais espessa que as outras fáscias
musculares, ela também é dificilmente iden-
tificada durante o procedimento cirúrgico, já
HérNIAs INguINAIs
Anatomia da região Inguinal
Fig. 3: A região inguinofemoral ou virilha.
que está firmemente aderida ao músculo
subjacente. Devido a sua importância histó-
rica e anatômica, muitos cirurgiões gostam
de citá-la, embora sua visualizaçãonão seja
fundamental para realização da cirurgia. É
também conhecida como fáscia inominada
ou fáscia de Gallaudet.
2) músculo oblíquo externo e Aponeurose
Abaixo do tecido subcutâneo, encontramos o
músculo oblíquo externo. Este músculo possui
origem entre a 5ª e a 12ª costelas, caminhan-
do até a crista ilíaca e o tubérculo púbico. Na
sua porção lateral estão as fibras musculares,
indo para baixo e para o meio (sentido infero-
medial, como uma “mão no bolso”) e na porção
anterior sua extensa aponeurose (FIGURA 4).
Fig. 4: Visão frontal e lateral do músculo
oblíquo externo e sua aponeurose.
Aponeurose!?! Você se lembra o que é
isto? Os músculos se fixam aos ossos atra-
vés das aponeuroses. Elas são compostas
de tecido conjuntivo denso, sendo assim
estruturas bem rígidas. Na maioria dos ca-
sos, as aponeuroses são pequenas, todavia
a aponeurose do músculo oblíquo externo é
uma exceção, pois é muito grande.
Na parede abdominal, a aponeurose do m.
oblíquo externo se funde às aponeu roses do
m. oblíquo interno e transverso do abdome
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Cirurgia - Volume 5 88Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
para formar a bainha do músculo reto do ab-
dome (FIGURA 5).
Figura 5
Duas estruturas são muito importantes na
aponeurose deste músculo. A primeira é um
orifício conhecido como anel inguinal externo.
Ele é a “porta de saída” para que o funículo
espermático caminhe desde o interior do abdo-
me até a bolsa escrotal. A segunda estrutura é
uma borda conjuntiva espessada da própria
aponeurose, em sua porção inferior, que vai da
crista ilíaca ao tubérculo púbico conhecida
como ligamento inguinal (ou ligamento de
Poupart) este ligamento nada mais é do que
uma reflexão da própria aponeurose do m.
oblíquo externo. Esse ligamento possui impor-
tância ímpar, já que externamente ele separa
dois importantes canais: acima, o canal inguinal
e abaixo a bainha femoral.
Externamente... e internamente?
Você verá mais adiante que outra estrutura
acaba separando os dois canais internamente.
Por ora, ficaremos com mais alguns detalhes
sobre o ligamento inguinal.
Ele ainda possui algumas reflexões em seu tra-
jeto que são importantes pontos de reparo para
as cirurgias de hérnia. Ao se aproximar da inser-
ção no púbis, parte do ligamento “se espalha”
pelo osso formando uma “tenda”. Essa reflexão
do ligamento ganha um nome à parte e é conhe-
cida como ligamento lacunar (Gimbernat). O li-
gamento lacunar continua subindo o braço no
púbis completando o trajeto em “U”. Essa conti-
nuação se dá por cima da eminência pectínea
(acidente do púbis) e também ganha uma deno-
minação especial: ligamento pectíneo (Cooper).
Acompanhe na FIGURA 6.
Fig. 6: Observe a sequência: Ligamento
inguinal, ligamento lacunar e ligamento
pectíneo.
Fig. 7: Observe o anel inguinal externo
e o ligamento inguinal.
3) músculos oblíquo interno e
trAnsverso do Abdome e Fascia
transversalis
Abaixo do m. oblíquo externo encontramos o
m. oblíquo interno, com suas fibras apontando
para cima e para o lado. Uma parcela de suas
fibras seguirá com o funículo espermático para
formar o m. cremaster. Em seguida teremos o
m. transverso (que, como o nome já indica,
caminha em direção transversa) e a fascia
transversalis. A fascia transversalis não reco-
bre um músculo especificamente, mas se
sobrepõe ao espaço pré-peritoneal. Ela é, na
verdade, parte da fáscia endoabdominal.
Estas estruturas recebem toda a pressão que vem
da cavidade intra-abdominal e têm o papel de
contê-la (ex.: durante a tosse). As hérnias surgem
justamente neste contexto de “pressão x conten-
são”, quando a primeira vence a segunda.
Já está perdido com tantas camadas até ago-
ra? Vamos revê-las de forma esquemática na
FIGURA 8.
Observe na FIGURA 9 que os dois músculos
(oblíquo interno e transverso do abdome) se so-
brepõem cobrindo quase todo o espaço pré-pe-
ritoneal (ou seja, o espaço à frente da gordura).
Entretanto, uma pequena área ficaria mais
“desprotegida”, sendo coberta apenas pela
fascia transversalis que nada mais é que uma
lâmina de tecido fibroso frágil e que, por isso,
está muito vulnerável à pressão intra-abdomi-
nal. Como ela faz então para suportar grandes
pressões e as vísceras não escaparem do
abdome? Simples. Durante movimentos que
aumentem a pressão intra-abdominal, os mús-
culos transverso do abdome e oblíquo interno
deslizam um sobre o outro recobrindo a fáscia.
Com isto, eles não permitem que ela fique tão
vulnerável. Confira na FIGURA 10.
Mas cuidado!!!! Esta cobertura também não é
perfeita. Na fascia transversalis existe uma
porção que ainda permanece totalmente vul-
nerável. É o chamado triângulo de Hessel-
bach. Confira na FIGURA 11 este triângulo,
com especial atenção aos seus limites.
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Cirurgia - Volume 5 89Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Você precisa entender bem os limites do tri-
ângulo de Hesselbach, pois isso é MUI-
TOOOOO perguntado em provas. São eles:
• Inferior: “ligamento inguinal”
• Medial: “bainha ou borda lateral do músculo
reto do abdome”
• Lateral: “vasos epigástricos inferiores”
Pele
Fáscia de Camper / Tecido
Adiposo
Fáscia de Scarpa
Fáscia do m. oblíquo externo
e m. oblíquo externo
Fáscia do m. oblíquo interno
e m. oblíquo interno
Fáscia do m. transverso e m.
transverso
Fascia transversalis
Espaço pré-peritoneal
Peritônio
Figura 8
Fig. 9: Representação dos músculos
oblíquo interno, transverso do abdo-
me e fascia transversalis.
Figura 10
Fig. 11: Preste atenção nos limites do triângulo de Hes-
selbach: ligamento inguinal, vasos epigástricos inferiores
e bainha do músculo reto do abdome.
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Cirurgia - Volume 5 90Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Ao ler essa informação os anatomistas mais
“radicais” vão reparar que parte do músculo
oblíquo interno ainda recobre o assoalho do
triângulo de Hesselbach, desconfigurando a
área de “fraqueza”. É por isso que alguns ci-
rurgiões gostam de se referir a uma área de
vulnerabilidade verdadeira, localizada abaixo
do limite do músculo oblíquo interno, conhe-
cida como triângulo de Hessert. Esse é menos
explorado nas provas e seus limites são se-
melhantes, à exceção da margem lateral.
• Inferior: “ligamento inguinal”
• Medial: “bainha ou borda do músculo reto do
abdome”
• Lateral: “borda inferior do músculo oblíquo
interno”
Mais uma informação sobre a fascia transversa-
lis. Ela não é exatamente uma parede íntegra e
homogênea. Na sua estrutura, observamos um
orifício que é o anel inguinal interno e outro
que é a bainha femoral (contendo artéria e
veia femorais). Alguns livros também chamam
o anel inguinal interno de anel profundo. Entre
os canais existe um espessamento da fascia
transversalis conhecido como trato ileopúbico
ou faixa de Thomson. Ele é o responsável por
separar internamente os dois canais. Estes ca-
nais visam comunicar estruturas do interior do
abdome com o exterior. Confira a FIGURA 12.
Fig. 12: Visão interna da anatomia da região inguinal.
Fig. 13: Na fascia transversalis locali-
zam-se o anel inguinal interno e o canal
femoral.
Perceba um detalhe: o ligamento inguinal é
anterior à fascia transversalis (isto é, eles não
estão no mesmo plano). Entretanto, os cirur-
giões usam o ligamento inguinal para delimitar
a fascia transversalis uma vez que ele a “cru-
za” no meio.
Desta forma pode-se dizer que:
• “o anel inguinal interno é medial à bainha
femoral e superior ao ligamento inguinal”;
• “a bainha femoral é mais lateral e inferior ao
ligamento inguinal”.
Fig. 14: Perceba a relação entre o liga-
mento inguinal e a fascia transversalis.
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Cirurgia - Volume 5 91Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO – RJ
O anel inguinal superficial é uma abertura na
seguinte estrutura:
a) Fáscia de Scarpa.
b) Fáscia transversal.
c) Ligamento inguinal.
d) Músculo oblíquoabdominal interno.
e) Aponeurose abdominal oblíquo externo.
Questão que você não pode errar!!! Como
acabamos de ver, o anel inguinal superficial
ou anel inguinal externo, que marca o final do
canal inguinal, nada mais é do que uma aber-
tura na aponeurose do músculo obliquo exter-
no. Gabarito E.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL DE CÂNCER
DE MATO GROSSO – MT
Que doença abaixo tem como ponto de refe-
rência anatômica o triângulo de Hesselbach?
a) Aneurisma cerebral.
b) Hérnia inguinal.
c) Tromboembolismo pulmonar.
d) Descolamento de retina.
Trígono de Hesselbach! Seus limites são o
ligamento inguinal, os vasos epigástricos in-
feriores e a borda lateral do músculo reto ab-
dominal. Essa é uma estrutura fundamental
na avaliação e classificação das hérnias ingui-
nais. Gabarito letra B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE – SP
O triângulo de Hesselbach é formado por:
a) Ligamento de Cooper, vasos epigástricos e
ligamento inguinal.
b) Tendão conjunto, borda lateral do músculo
reto do abdome e ligamento inguinal.
c) Borda hepática, hepatocolédoco e ducto
cístico.
d) Púbis, ligamento umbilical medial e lateral.
e) Ligamento inguinal, borda lateral da bai-
nha do músculo reto do abdome e vasos
epigástricos.
O Triângulo de Hesselbach é uma região
triangular, limitada pelo ligamento inguinal ou
Poupart (inferiormente), borda do reto abdo-
minal e vasos epigástricos inferiores (supe-
riormente). Corresponde à região de maior
fraqueza da parede posterior e por isso mais
propensa a herniação. Gabarito letra E.
saiba mais:
Se adicionarmos o canal femoral e bainha
dos vasos femorais ao trígono de Hessert
teremos colocado em conjunto todas as áre-
as de fragilidade da região inguinal. Essa
área com formato oval forrada pela fascia
transversalis é conhecida como orifício mio-
pectíneo de Fruchaud.
Seus limites são:
• Superior: “Arco dos músculos oblíquo inter-
no e transverso”
• Medial: “Bainha ou borda do músculo reto
do abdome”
• Lateral: “Músculo iliopsoas”
• Inferior: “Ligamento de Cooper”.
4) cAnAl inguinAl
Este canal é uma via de comunicação entre o
interior do abdome e o exterior da parede abdo-
minal, medindo em torno de 4 cm de extensão
e um trajeto: “de cima para baixo e de lateral
para medial”. Vamos entender como se forma o
canal inguinal... Você deve se lembrar que na
vida embrionária os testículos são formados na
região intra-abdominal e só depois “descem”
para a bolsa escrotal. É exatamente durante este
caminho que se forma o canal inguinal. O testí-
culo ao sair do interior do abdome, passa pelo
anel inguinal interno, cai no “espaço virtual” e
cruza então o anel inguinal externo em direção
à bolsa escrotal formando um canal.
O canal inguinal na vida adulta contém o fu-
nículo (ou cordão) espermático, por onde
passam várias estruturas: músculo cremaster,
vasos cremastéricos, ducto deferente, vasos
deferentes, artéria e veia espermática, ramo
genital do nervo genitofemoral, plexo venoso
pampiniforme e o conduto peritoneovaginal
(normalmente obliterado). No interior do canal
inguinal encontra-se também o nervo ilioingui-
nal. Na mulher, o canal dá passagem ao liga-
mento redondo do útero.
Agora que você já visualizou o trajeto do canal
inguinal, vamos entender os seus limites: ele
se inicia no anel inguinal interno (formado pelo
m. transverso e o trato ileopúbico) e segue até
o anel inguinal externo (aponeurose do
m. oblíquo externo) por sobre o ligamento in-
guinal, assoalho do canal. O “teto” do canal é
composto pelos músculos oblíquo interno e
transverso. Para fechar o canal faltam suas
paredes. A parede posterior, que separa o
canal da cavidade abdominal, é formada pela
fascia transversalis, aponeurose do m. trans-
verso e parte oblíquo interno que “desce” do
teto do canal. A parede anterior é constituída
pela aponeurose do músculo oblíquo externo.
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Cirurgia - Volume 5 92Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
5) gordurA pré-peritoneAl,
peritônio e AlçAs intestinAis
Abaixo da camada muscular temos um “espa-
ço virtual” até alcançarmos o peritônio. Nor-
malmente ele é preenchido somente por gor-
dura, sendo conhecido como espaço pré-pe-
ritoneal (espaço de Bogros). Na sequência
encontramos o peritônio propriamente dito e
as vísceras subjacentes. No caso da virilha,
as mais importantes são aquelas que se en-
contram na região abdominal baixa, sobretudo
as alças intestinais.
Fig. 15: visão frontal.
Fig. 17: Representação ilustrativa do
peritônio recobrindo todo o conteúdo da
cavidade abdominal.
Fig. 16: visão lateral.
Fig. 18: A gordura pré-peritoneal.
Fig. 19: Conteúdo do abdome inferior –
As alças intestinais.
saiba mais:
Agora que você está dominando toda a
anatomia da região inguinal, fica fácil re-
parar que não faltam epônimos para des-
crever a área (Pupart, Gimbernat, Cooper,
etc.). Isso se deve, em grande parte, a dé-
cadas de estudos anatômicos na tentativa
de entender a formação e criar um trata-
mento viável para as hérnias inguinais. Atu-
almente consagraram-se os epônimos dos
principais reparos anatômicos empregados
na correção cirúrgica das hérnias, contudo
algumas estruturas que não apresentam
importância prática por vezes são citadas
ou mesmo fazem parte de questões elabo-
radas por bancas mais “antigas”. Além da-
quelas já citadas no texto, destacamos as
seguintes pela importância histórica:
• Ligamento de Henle: Trata-se de um liga-
mento presente em até 1/3 da população
que liga a bainha dos retos abdominais ao
tubérculo pectíneo no púbis.
• Ligamento de Hasselbach: Também co-
nhecido como ligamento interfoveolar. Nada
mais é do que um espessamento do trato
ileopúbico que forma a borda medial do anel
inguinal interno.
• Ligamento de Colles: É a reflexão do liga-
mento inguinal responsável pela formação
da borda inferior do anel inguinal externo.
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Cirurgia - Volume 5 93Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Formação das Hérnias
Vamos resumir o que vimos até agora. A pro-
teção contra a protrusão das vísceras intra-
-abdominais é dada por um importante apare-
lho muscular que consiste na:
Parede anterior: composta pela aponeu-
rose do músculo oblíquo externo.
Parede posterior: constituída pela tríade
músculo oblíquo interno + músculo trans-
verso do abdome + fascia transversalis.
Veja melhor esta imagem, em que retiramos
a aponeurose do m. oblíquo externo.
Figura 20
Mas como se formam as hérnias então? De
forma muito simples, podemos dizer: pela soma
de um fator predisponente (solução de con-
tinuidade da parede) com um fator desenca-
deante (aumento da pressão intra-abdominal).
O fator predisponente...
A solução de continuidade da parede abdomi-
nal que gera fraqueza das estruturas que su-
portam os órgãos internos pode ser congênita
ou adquirida. Veremos que as hérnias ingui-
nais indiretas se associam com um fator pre-
disponente congênito ao passo que as hérnias
inguinais diretas e as incisionais se associam
com um fator predisponente adquirido.
O fator desencadeante...
São aqueles que promovem aumento da pres-
são intra-abdominal. Podem ser patológicos ou
fisiológicos. A gravidez é o principal fator fisio-
lógico de aumento da pressão intra-abdominal.
Fatores patológicos são: tumores, ascite, obe-
sidade, excesso de exercício físico (no trabalho
ou por lazer), tosse crônica, DPOC, hiperplasia
prostática benigna, constipação crônica...
E são duas as formas possíveis para que esse
fato ocorra. Vejamos a seguir. Mas antes, veja
essa questão e lembre-se deste conceito para
a sua prova.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DO PARANÁ – PR
Os tipos de hérnia inguinal mais comuns no
homem e na mulher são, respectivamente:
a) Direta e femoral. d) Indireta e direta.
b) Indireta e femoral. e) Indireta e indireta.
c) Direta e indireta.
Questão clássica! A hérnia femoral é rela-
tivamente rarae mais comum em mulheres,
em relação aos homens, numa proporção de
10:1. Entretanto, a hérnia da região da virilha
mais comum, é a inguinal, tanto em homens
quanto em mulheres; sendo que a hérnia in-
guinal indireta é a mais frequente, correspon-
dendo a 2/3 das hérnias inguinais. Sendo
assim a resposta certa é mesmo a letra E.
HérniAs indiretAs
Lembra-se daquela história do testículo que
sai da cavidade abdominal e vai até a bolsa
escrotal? Ora, você deve estar pensando en-
tão: “Nesse trajeto, o testículo permitiu que se
forme um conduto permanente entre o abdome
e a bolsa escrotal? Será que isso não é peri-
goso para que algumas vísceras também fu-
jam e possam escapulir, ou seja, formar uma
hérnia??” Sim, você está certo, mas saiba que
esse “caminho”, conhecido como conduto pe-
ritoneovaginal, é obliterado no adulto. No en-
tanto, em algumas situações o “caminho” pode
permanecer aberto, quando se formam as
hérnias ditas indiretas.
CONCEITO:
As hérnias inguinais indiretas se
formam quando o conduto perito-
neovaginal (processus vaginalis)
mantém sua patência. Isto permite
que órgãos abdominais (principalmente as
alças intestinais) desçam pelo canal inguinal.
O conduto peritoneovaginal não obliterado
funciona como um tobogã para as alças in-
testinais... Repare que a alça intestinal neste
tipo de hérnia irá passar pelo anel inguinal
interno, descer pelo canal inguinal e em se-
guida cruzar o anel inguinal externo.
Figura 21
A patência do conduto peritoneovaginal pode
ser total ou parcial. No caso de patência total,
o saco herniário atinge a bolsa escrotal e pro-
duz um tipo de hérnia conhecida como ingui-
noescrotal. A patência do conduto peritônio
vaginal também se associa a outras patologias
como a hidrocele.
Recurso mnemônico:
Hérnia inguinal indireta é aquela que
passa pelo anel inguinal interno.
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Cirurgia - Volume 5 94Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Fig. 22: Hérnia inguinoescrotal.
Então todas as pessoas que possuem pa-
tência do conduto peritoneovaginal pos-
suem hérnias indiretas?
Não é bem assim... Seguindo esse raciocínio,
se o defeito é congênito, todos os indivíduos com
hérnia indireta deveriam apresentar sintomas
desde a infância! O que ocorre é que, além do
variável grau de persistência do conduto (que
por vezes é bem pequeno e fino) existem fatores
desencadeantes que afrouxam a parede (ex.:
deficiências do colágeno) e aumentam a pressão
que as vísceras exercem sobre a passagem (ex.:
aumentos internos e externos da pressão intra-
-abdominal). É claro que existem os casos em
que a pessoa nasce com conduto grande o su-
ficiente para que já ocorra uma hérnia inguinal
que se apresente já na infância. Essas situações
são até mais relacionadas com as hidroceles
comunicantes. No entanto, na maioria das vezes
a hérnia se apresenta de forma tardia, estando
relacionada a fatores como enfraquecimento da
parede posterior e aumento da pressão intra-
-abdominal. Esses são descritos em detalhes a
seguir, já participam diretamente da fisiopatolo-
gia das hérnias diretas.
E nas mulheres, como fica?
O canal inguinal nas mulheres possui a mes-
ma conformação e limites que o canal ingui-
nal masculino. A grande diferença é o con-
teúdo do canal. Analogamente ao processo
vaginal, as mulheres possuem uma extensão
peritoneal conhecida como canal de Nuck. O
canal de Nuck se estende até os grandes lá-
bios e permite passagem e ancoramento do
ligamento redondo do útero. Da mesma forma
que o processo vaginal, o canal de Nuck tam-
bém regride. A falha de sua regressão pode
gerar hidrocele e hérnia inguinal indireta.
HérniAs diretAs
Agora que você já conhece bem a formação
das hérnias inguinais indiretas, vamos enten-
der como surgem as hérnias inguinais dire-
tas. Para compreendê-las você precisa se
lembrar de dois conceitos:
CONCEITO 1: “a fascia transversalis é um
tecido conjuntivo delgado e fraco”.
CONCEITO 2: “os músculos oblíquo interno e
transverso do abdome tentam proteger a fas-
cia transversalis contra a pressão intra-abdo-
minal, mas existe uma área especialmente
vulnerável – triângulo de Hesselbach”.
CONCEITO 1 + 2: as vísceras podem sofrer
protrusão por essa área de fra gilidade.
CONCEITO:
As hérnias diretas se formam
quando uma víscera empurra a
área frágil composta pelo triângulo
de Hesselbach e cai no canal in-
guinal em direção ao anel inguinal
externo. Repare que, nas hérnias
inguinais diretas, a alça intestinal
não passa pelo anel inguinal inter-
no. Elas veem diretamente da
parede posterior.
Recurso mnemônico:
Hérnia inguinal direta é aquela que vem
diretamente da parede posterior.
Ou seja, a hérnia inguinal direta é basicamen-
te uma condição adquirida associada ao en-
fraquecimento da parede posterior do canal
inguinal. A explicação para esta fraqueza vem
de múltiplos fatores associados, como:
• diminuição de hidroxiprolina (componente do
colágeno nas aponeuroses);
• alterações ultraestruturais do colágeno;
• menor atividade de fibroblastos.
Estas alterações microscópicas desenvolvem-
-se no contexto de alterações sistêmicas como
doenças crônicas, desnutrição, tabagismo,
idade avançada, excesso de atividades físicas
e algumas doenças do tecido conjuntivo que
alteram a estrutura do colágeno (ex.: síndrome
Ehlers-Danlos, doença de Marfan).
Outro fator importante relacionado com a forma-
ção das hérnias inguinais é o aumento da pres-
são intra-abdominal. Ele pode ser o principal
componente da formação herniária e, se não for
corrigido, pode levar à recidiva de uma hérnia
previamente operada. São exemplos comuns
as grandes ascites, a gravidez, hiperplasia be-
nigna de próstata e atividades físicas que pro-
voquem o aumento de pressão na cavidade.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS
DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE – UFCSPA
Um paciente de 70 anos notou o aparecimento
de abaulamento em ambas as regiões inguinais.
Ao exame constatou-se hérnia inguinal direta
bilateral, cujo mecanismo fisiopatológico é:
a) Persistência do conduto peritoneovaginal.
b) Enfraquecimento da parede posterior do
triângulo de Hesselbach.
c) Persistência do conduto onfalomesentérico.
d) Inserção alta do músculo oblíquo externo.
e) Inserção baixa do músculo oblíquo interno.
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Cirurgia - Volume 5 95Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Obviamente as hérnias diretas, em sua
grande parte, são secundárias ao enfraqueci-
mento da parede posterior do canal inguinal,
representadas pelos triângulos de Hesselbach
e de Hessert. Opção “B” correta. No entanto
é necessário ressaltar que ainda pode existir
uma causa congênita de hérnias inguinais
diretas. Cerca de 5 a 10% da população geral
possui uma inserção conjunta do m. oblíquo
interno e do m. transverso, denominada ten-
dão conjunto. Raramente esse tendão possui
uma inserção alta, deixando parte da fascia
transversalis na parede posterior do canal
femoral desprotegida e sujeita à pressão das
vísceras abdominais. Esse defeito pode pro-
vocar hérnias diretas em crianças, o que é
extremamente incomum!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER – INCA
Para determinar se a hérnia de Januário é
direta ou indireta, a(s) estrutura(s)
anatômica(s) que deve(m) ser avaliada(s)
é(são):
a) Ducto deferente.
b) Tubérculo púbico.
c) Vasos ilíacos externos.
d) Vasos epigástricos inferiores.
Vamos entender um importante concei-
to com esta questão!!!
Como vimos, as hérnias diretas são aquelas
que se formam através do triângulo de Hes-
selbach. E quais são os limitantes mesmo
desse triângulo??? Reveja na figura: ligamen-
to inguinal, vasos epigástricos inferiores e
bainha do músculo reto do abdome.
Sendo assim, se a protrusão se dá pelo triân-
gulo, ela está medial aos vasos epigástricos
inferiores. Se fosse uma hérnia inguinal indi-
reta, isto é, aquela formada através do anel
inguinal interno, ela estaria lateral aos vasosepigástricos inferiores. Resposta “D”.
HÉRNIA DIRETA = MEDIAL AOS VASOS
EPIGÁSTRICOS
HÉRNIA INDIRETA = LATERAL AOS
VASOS EPIGÁSTRICOS
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – PI
O tipo de hérnia surge lateralmente ao triân-
gulo de Hesselbach é:
a) Hérnia inguinal direta.
b) Hérnia inguinal indireta.
c) Hérnia femoral.
d) Hérnia de Richter.
e) Hérnia de Littré.
A hérnia inguinal indireta situa-se lateral-
mente aos vasos epigástricos inferiores, e é
secundária a alterações congênitas decorren-
tes do não fechamento do conduto peritoneo-
vaginal. Gabarito letra B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO NORTE – RN
A hérnia direta se faz através:
a) De falha na aponeurose do músculo oblíquo
interno.
b) Da parede posterior do canal inguinal late-
ralmente aos vasos epigástricos.
c) Da parede posterior do canal inguinal me-
dialmente aos vasos epigástricos.
d) Da falha na aponeurose do músculo oblíquo
externo.
A hérnia inguinal direta é uma hérnia ingui-
nal que acomete principalmente homens na
fase adulta, através de uma fraqueza nos
músculos abdominais, onde o conteúdo her-
niário penetra no canal inguinal através de sua
parede posterior, medialmente aos vasos epi-
gástricos. Gabarito letra C.
Clínica e diagnóstico
Como vimos no início desta seção, a maior
parte das hérnias são inguinais e ocorrem no
sexo masculino. Dessas, 2/3 são indiretas,
independentemente do sexo. Tanto as hér-
nias inguinais como as femorais são mais
comuns à direita. Isso pode ser justificado por:
- atraso no fechamento do conduto peritoneo-
vaginal à direita.
- tamponamento do canal femoral e anel in-
guinal interno à esquerda pelo cólon sigmoide.
CONCEITO:
As hérnias mais comuns são as in-
guinais indiretas. E são mais co-
muns à DIREITA.
A maioria das hérnias não complicadas são
oligossintomáticas manifestando-se apenas
como uma sensação de peso e dor vaga na
região inguinal (a presença de dor intensa
sugere a ocorrência de complicações – encar-
ceramento/ estrangulamento). Ao exame, fica
evidente um abaulamento na região da virilha
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Cirurgia - Volume 5 96Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
que deve ser diferenciada de outras causas
de massa nessa região (linfonodo, testículo
ectópico, hidrocele, varicocele, lipoma, hema-
toma etc.). Veja a tabela a seguir com os diag-
nósticos diferenciais!
Algumas vezes o paciente pode referir a pre-
sença de abaulamento na região inguinal,
sem que o mesmo seja visualizado ao exame
físico. Nessa situação é recomendável que
permaneça em pé ou deambulando por algum
tempo para após repetir o exame. Se você
não percebeu, fique atento a dica!!! Na ava-
liação das hérnias da região da virilha o pa-
ciente deve ser examinado em posição supi-
na e também em ortostase, o que aumenta a
pressão intra-abdominal, favorecendo a pro-
trusão do conteúdo herniário.
Após a detecção da hérnia, podemos dife-
renciá-la entre direta e indireta pelo exame
físico. Caso não seja possível diferenciá-
-las, não haverá muitos problemas, já que
o procedimento a ser utilizado para corre-
ção terá o mesmo acesso e aí sim, durante
o ato operatório confirmaremos o tipo de
hérnia e, além disso, o reparo cirúrgico é se-
melhante para os dois tipos. Para entender
o exame físico das hérnias vamos relembrar
dois conceitos:
• “a hérnia indireta vem pelo anel inguinal in-
terno em direção ao anel inguinal externo.”
• “as hérnias inguinais diretas vêm do triângulo
de Hesselbach em direção ao canal inguinal”.
A forma clássica de diferenciar as hérnias in-
guinais indireta e direta pelo exame físico é
feita da seguinte maneira:
• O paciente deve ser examinado em posição
supina e ortostática, a partir da inspeção e
palpação da região inguinal.
• Devemos posicionar o dedo no canal inguinal
através do anel inguinal externo e pedir ao
paciente para fazer a manobra de Valsalva
ou tossir.
• Nas hérnias inguinais indiretas, o saco her-
niário se anuncia pelo anel inguinal interno e
desce como um tobogã pelo canal inguinal.
Com isto o conteúdo herniário irá tocar a
ponta do dedo do examinador. Entretanto, as
hérnias inguinais diretas se anunciam no
triângulo de Hesselbach e depois caem no
canal inguinal, dessa forma o examinador
sentirá o saco herniário tocar a polpa do seu
dedo. Confira com a imagem (FIGURA 24).
Existe alguma outra manobra para diferen-
cias as hérnias?
Sim, a manobra de Landivar. Esta manobra,
utilizada em hérnias volumosas que dificultam
a diferenciação entre um toque na ponta ou na
polpa do dedo, inicia-se com a redução da pró-
pria hérnia. Em seguida, o examinador oclui o
anel inguinal interno com o dedo. Então, ele
solicita ao paciente para fazer a manobra de
Valsava. Nos casos de hérnia inguinal indireta
a oclusão do anel inguinal interno não permite
o surgimento da hérnia. Já nos casos de hérnia
inguinal direta, a tumoração será formada nor-
malmente, visto que esta não passa pelo anel.
Fig. 23: Posição para o exame físico
das hérnias.
Fig. 24: Hérnia inguinal indireta - saco her-
niário toca a ponta do dedo do examinador;
hérnia inguinal direta – saco herniário toca
a polpa do dedo do examinador.
Qual o papel dos exames complementares
no estudo das hérnias?
São reservados para casos duvidosos. Os exa-
mes mais indicados são: US e TC. A laparos-
copia pode ser utilizada nos casos mais duvi-
dosos, como método diagnóstico e terapêutico.
Classificação
Existem inúmeras classificações para as hér-
nias inguinais, com o objetivo de facilitar a
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Cirurgia - Volume 5 97Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
comunicação entre os cirurgiões e permitir a
comparação entre diferentes opções terapêu-
ticas. A mais usada (e também a mais cobra-
da) delas é a de Nyhus.
Classificação de Nyhus para hérnia
Tipo I: Hérnia indireta com anel inguinal pro-
fundo normal (até 2 cm)
Tipo II: Hérnia indireta com anel inguinal in-
terno alargado, porém com parede posterior
preservada
Tipo III: Defeito na parede posterior
• A: Hérnia direta
• B: Hérnia indireta com alargamento importan-
te do anel interno ou destruição da parede
posterior (ex.: escrotal maciça, hérnia por des-
lizamento ou hérnia mista)
• C: Hérnia femoral
Tipo IV: Hérnia recidivada
• A: direta • C: femoral
• B: indireta • D: mista
Se você não percebeu a importância desta
classificação, veja como ela é cobrada em
provas de todo o país!!!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL NACIONAL DO CÂNCER – RJ
Segundo a Classificação de Nyhus para hérnias
da região inguinal, um paciente apresentando
uma hérnia femoral é classificado como:
a) Tipo I. c) Tipo IIIB.
b) Tipo IIIA. d) Tipo IIIC.
Classificação de Nyhus, se você não deu a
devida importância volte e grave pois todo ano
cai. Gabarito D.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
FACULDADE DE MEDICINA DE PETRÓPO-
LIS – RJ
O tipo IV da classificação de Nyhus da hérnia
inguinal se refere a:
a) Hérnia inguinal indireta com anel inguinal
profundo normal.
b) Hérnia crural.
c) Hérnia recidivada.
d) Hérnia inguinal indireta com anel inguinal
profundo alargado.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO – SP
Um paciente que apresenta uma herniação
inguinal indireta, apresentando anel inguinal
interno dilatado, porém, com a parede posterior
preservada, seria classificado por Nyhus como:
a) I. d) IV.
b) II. e) Nenhuma das anteriores.
c) III.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL CENTRAL DO EXÉRCITO – RJ
Durante a avaliação inicial de um paciente com
hérnia na região inguinal direita, observou-se
que há evidências de hérnia indireta, mas
também de fragilidade da parede posterior do
canal inguinal. Considerando-se que tal pa-
ciente nunca havia sido diagnosticado e/ou
tratado para hérnias em tal região, o médico
atribuiu a seguinte Classificação de Nyhus à
hérnia apresentada pelo paciente:
a) 1. c) 3b. e) 4d.
b) 2. d) 4c.
Gabaritos: C; B e C, respectivamente!!!! Ain-
danão se convenceu?? Veja mais exemplos...
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2009
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RJ
Segundo a classificação das hérnias inguinais
formulada por Gilbert, a hérnia volumosa que
destrói todo o assoalho do triângulo de Hes-
selbach é do tipo:
a) 2. b) 3. c) 4. d) 7.
Quando você pensa que já viu de tudo, eles
chegam com mais uma novidade. Esta clas-
sificação bem menos utilizada que a de Nyhus
se baseia em três critérios principais: presen-
ça ou ausência de saco peritoneal; tamanho
do anel interno e integridade da parede pos-
terior. No total, existem sete tipos de hérnias
que são exemplificados na tabela a seguir.
Classificação de Gilbert para hérnia
Tipo I: Hérnia indireta, anel interno não dilatado.
Tipo II: Hérnia indireta, anel interno dilatado < 2
cm ou uma polpa digital.
Tipo III: Hérnia indireta ou escrotal, anel dilatado
> 2 cm ou mais de duas polpas digitais.
Tipo lV: Hérnia direta com destruição da pare-
de posterior.
Tipo V: Hérnia direta recorrente no tubérculo
púbico ou diverticular.
Tipo VI: Hérnia combinada direta/indireta.
Tipo VII: Hérnia femoral.
Só para constar, no tipo 4 existem destruição
ou múltiplos defeitos na parede posterior, au-
sência de saco peritoneal e preservação do
anel interno. Resposta: C.
Tratamento Eletivo das Hérnias
Na maioria das vezes em que estivermos
diante de um paciente com hérnia inguinal, o
tratamento será cirúrgico. O objetivo é operar
eletivamente para que não surjam complica-
ções como encarceramento e estrangulamen-
to que requerem cirurgia de emergência. A
exceção fica para os pacientes com elevado
risco cirúrgico assintomáticos ou minimamen-
te sintomáticos em que se pode adotar uma
conduta mais conservadora. Na Europa, é
comum que esses pacientes sejam abordados
com uma cinta abdominal, levando ao contro-
le adequado de 30% deles. Alguns riscos as-
sociados são atrofia testicular, neurite femoral
e encarceramento de hérnias.
A seguir, descreveremos sucintamente a abor-
dagem cirúrgica das hérnias. Para maiores
Tratamento
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Cirurgia - Volume 5 98Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
detalhes sobre os reparos anteriores recomen-
damos fortemente o estudo do boletim opera-
tório ao fim dessa apostila.
As cirurgias clássicas são realizadas pela re-
gião inguinal através de incisão transversa ou
oblíqua, paralela ao ligamento inguinal, 2-3 cm
acima do mesmo.
Figura 25
Em primeiro lugar, deve-se visualizar a aponeu-
rose do músculo oblíquo externo e o anel ingui-
nal externo, que é dissecado para permitir a
exploração do canal inguinal até o anel inguinal
interno. O funículo espermático e os nervos
íleo-hipogástrico e ilioinguinal devem ser sepa-
rados do saco herniário para que durante a
correção da hérnia não sejam danificados.
Neste momento, através da visualização dos
vasos epigástricos inferiores é possível distin-
guir o tipo de hérnia. Os sacos herniários ape-
nas são abertos para avaliação de conteúdo
visceral no caso de hérnias maiores, permane-
cendo intactos nas hérnias pequenas. Eles
podem ser colocados no espaço pré-peritone-
al ou terem seu colo suturado, sendo o exces-
so de tecido excisado. Os vários tipos de cirur-
gia que existem variam pela técnica usada para
reforçar a parede posterior, sendo as principais
aquelas que se dão por acesso anterior, utili-
zando o reparo livre de tensão “tension free”.
Técnica de Lichtenstein: É um modelo de
correção tension free que utiliza telas de
polipropileno (Márlex). Aqui, o reforço da
parede posterior é feito com o auxílio da
tela. Trata-se do método de escolha atual-
mente. Esta tela sintética é suturada ao
longo do ligamento inguinal inferiormente,
no tendão conjunto e sob o oblíquo interno.
Há ainda uma abertura para a passagem
do funículo espermático.
Figura 26
Fig. 27: Técnica de Lichtenstein.
Técnica de Bassini: Diferente da técnica
de Lichtenstein, não usa o reparo livre de
tensão com tela de polipropileno, mas a
correção da parede por sutura do m. trans-
verso do abdome e da aponeurose do m.
oblíquo interno com o ligamento inguinal.
Essa era a técnica mais utilizada antes do
aparecimento das cirurgias tension free,
sendo indicada atualmente para as hérnias
estranguladas com contaminação local, em
que a utilização de tela é contraindicada.
Técnica de Shouldice: Também uma técni-
ca com aumento tensional, realizada pela
superposição parcial de quatro planos mus-
culoaponeuróticos no reforço da parede pos-
terior. É complexa, porém com baixa recidiva.
Fig. 28: Superposição de quatro planos
na técnica de Shouldice.
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Cirurgia - Volume 5 99Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Técnica de Zimmerman: Mais um proce-
dimento possível, baseado na sutura da
fascia transversallis ao trato ileopúbico,
estreitando o anel inguinal interno.
Técnica de Stoppa: É usada principalmen-
te para hérnias bilaterais e recidivadas. É
feita colocando-se uma tela gigante (giant
mesh prothesis repair) no espaço pré-peri-
toneal. Observe que essa técnica, diferen-
te das anteriores, é realizada no espaço
pré-peritoneal, isto é, não de “fora para
dentro”, mas de “dentro para fora”. A van-
tagem seria fugir de possíveis fibroses e
retrações que tenham sido deixadas por
cirurgias prévias.
O termo correto para descrição
da cirurgia é hernioplastia ou herniorrafia?
Apesar de frequentemente empregarmos
ambos como sinônimos, existe uma diferen-
ça de significado entre os termos. Herniorra-
fia consiste no fechamento propriamente dito
do pertuito herniário. Assim é melhor empre-
gado para definir o fechamento do conduto
peritoneovaginal. Já a reconstrução da pare-
de posterior, seja com reparo tecidual ou
prótese, é melhor denominada hernioplastia.
saiba mais:
Técnicas videolaparoscópicas também estão
disponíveis por duas vias principais: Extrape-
ritoneal total (TEP) e Transabdominal Pré-
-Peritoneal (TAAP). A diferença entre elas está
nas etapas que se sucedem até o acesso ao
espaço pré-peritoneal. Apesar de não oferecer
vantagens significativas às técnicas conven-
cionais (menos dor no pós-operatório e retor-
no mais rápido às atividades em contrapartida
ao custo mais elevado e maior risco anestési-
co), a videolaparoscopia seria útil principal-
mente no caso das hérnias recidivadas e bi-
laterais. Cabe ainda ressaltar que para a
correção videolaparoscópica das hérnias é
necessário ter uma noção “invertida” da ana-
tomia inguinal, tendo em vista que o anel in-
guinal interno e a parede posterior são visua-
lizados pela sua face posterior. Nesse sentido,
o cirurgião deve atentar para algumas áreas
específicas para evitar lesões nervosas e vas-
culares que eventualmente pode levar a con-
sequências catastróficas.
São três as principais áreas:
Triângulo de “Doom” (Trígono da conde-
nação / Trígono da morte): O efeito dramá-
tico do nome desse espaço é diretamente
proporcional à importância do seu conteúdo.
Limitados pelos vasos espermáticos e pelo
ducto deferente, encontramos nada menos
do que os vasos ilíacos externos. Além dos
mesmos podemos encontrar a veia ilíaca
circunflexa profunda, o nervo femoral e o
ramo genital do nervo genitofemoral.
Triângulo da Dor: O nome também é bas-
tante sugestivo. Nesse espaço limitado
pelos vasos espermáticos e o trato ileopú-
bico estão contidos três nervos importantes:
o nervo femoral, o nervo femoral cutâneo
lateral e o ramo femoral do nervo genitofe-
moral. Note que o nervo femoral é compo-
nente de ambos os trígonos.
Corona Mortis (Coroa da morte / Círculo
da morte): Trata-se de uma variação ana-
tômica que pode ser responsável por um
intenso sangramento ao longo da cirurgia.
É formada pela comunicação entre as ar-
térias ilíaca comum e interna através de
uma artéria obturatória aberrante, ramo
eventual da artéria obturatória. A artéria
obturatória aberrante localiza-se muito pró-
xima à região dissecadana cirurgia, sendo
a sua lesão responsável por um sangra-
mento arterial de grande monta.
Fig. 29: Corona Mortis.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL CENTRAL DO EXÉRCITO – RJ
Considerando o procedimento cirúrgico apli-
cado no tratamento das hérnias inguinais com
menores taxas de recidiva, este procedimen-
to é classificado como um reparo livre de
tensão. Nele, uma tela protética não absor-
vível é suturada, medialmente, no tecido
aponeurótico que recobre o púbis, continu-
ando a sutura, superiormente, ao longo do
músculo transverso abdominal ou do tendão
conjunto e, inferiormente, ao longo do trato
iliopúbico ou da borda do ligamento de Pou-
part (ligamento inguinal); utiliza-se, para tan-
to, sutura contínua com monofilamento não
absorvível. O nome do procedimento cirúrgi-
co descrito acima é Reparo de:
a) Lichtenstein. d) Stoppa.
b) Shouldice. e) McVay.
c) Bassini.
Fácil né?!!! Gabarito A.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO
RIO DE JANEIRO – RJ
Em paciente masculino de seis meses de vida
foi verificada tumefação em região inguinal
esquerda, sugestiva de hérnia. A conduta cor-
reta nesse caso é:
a) Cirurgia eletiva precoce.
b) Controle ultrassonográfico.
c) Cirurgia após o primeiro ano.
d) Ultrassonografia e cirurgia de acordo com
sintomas.
http://#scrolldown
Cirurgia - Volume 5 100Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Tratamento de Emergência das
Hérnias
Você já viu que a maioria das hérnias são
pouco sintomáticas. Entretanto, alguns pacien-
tes podem se apresentar com dor súbita de
forte intensidade na região da virilha. Nestes
casos, você precisa responder apenas a uma
pergunta: “esta hérnia está encarcerada?”.
Para saber isto, é necessário tentar “reduzir”
o conteúdo herniário, isto é fazê-lo retornar
à cavidade abdominal. Apesar de muitos mé-
dicos usarem “métodos grosseiros” neste
momento, a redução de uma hérnia que se
apresenta com dor aguda deve ser gentil.
Inicialmente, deve-se fornecer analgesia ao
paciente e colocá-lo em posição de Trende-
lenburg, para então tentar a redução manual
(manobra de Taxe).
As hérnias que não são redutíveis apresen-
tam-se encarceradas. Caso nenhuma provi-
dência seja tomada este tipo de hérnia pode
evoluir para o “estrangulamento”, isto é, com-
prometimento vascular e, em seguida, perfu-
ração. Alguns casos de hérnia estrangulada
podem cursar com uma área de eritema na
região abdominal.
Para as hérnias que se apresentem com dor
súbita na emergência e que sejam reduzidas
com a manobra de Taxe, deve-se estabilizar
o paciente e, em seguida, operá-lo eletivamen-
te. Já aquelas que não são reduzidas, devem
ser operadas imediatamente. Nos casos de
hérnias encarceradas, a principal abordagem
é através da região inguinal, entretanto, novas
técnicas permitem a correção de hérnias en-
carceradas pela região pré-peritoneal. Deve-se
sempre checar a viabilidade das alças após a
abertura do saco herniário.
Na abordagem das hérnias estranguladas não
se deve reduzir o saco herniário, já que você
poderá retornar com uma alça infartada e pos-
sivelmente perfurada para dentro da cavidade
abdominal... Para evitar que esse fato ocorra
involuntariamente durante a indução anesté-
sica devido ao relaxamento abdominal, o pa-
ciente deve ser colocado em posição de Tren-
delenburg reversa. Além disso, o saco herni-
ário deve ser reparado antes da abertura dos
anéis inguinais. Durante a cirurgia para a
correção de uma hérnia encarcerada/estran-
gulada, após essas duas medidas, devemos
tentar avaliar a vitalidade das alças herniadas
através desta inguinotomia. Caso haja algum
sinal de sofrimento ou necrose de alça intes-
tinal, a enterectomia pode ser realizada por
este mesmo acesso. Isso justifica todo o cui-
dado em não reduzir uma hérnia com suspei-
ta de sofrimento. O que queremos aqui, é
evitar uma incisão mediana. Caso ocorra a
redução inadvertida das alças, além da ingui-
notomia para a correção da hérnia, devemos
realizar também um acesso mediano para
garantir a viabilidade das alças envolvidas.
Quando houver sinais de comprometimento
de alças com perfuração e contaminação da
Como veremos adiante, as hérnias na infân-
cia são quase que em sua totalidade do tipo
indireta e decorrente de um defeito congênito,
o não fechamento do conduto peritoneovaginal.
E nas crianças o risco de encarceramento e
estrangulamento é mais elevado. Por isso, a
presença de hérnia inguinal em criança, inde-
pendente da idade, é indicativo de cirurgia o
mais precoce possível. Logo, gabarito letra A.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO – RJ
Quando do tratamento cirúrgico de uma hérnia
recorrente inguinoescrotal à direita. O cirurgião
encontra um anel inguinal interno dilatado,
medialmente deformando o assoalho inguinal
e com um componente do saco herniário por
deslizamento do ceco. A conduta adotada foi
a redução do componente por deslizamento e
do conteúdo do saco herniário (omento e seg-
mento do intestino delgado) e a ressecção do
excesso do saco herniário. A reconstrução e
o reforço da parede inguinal são realizados
com a separação dos músculos oblíquos e
colocado em uma tela de polipropileno, sem
tensão, moldando o triângulo inguinal. A des-
crição acima caracteriza uma classificação
para hérnias e a uma técnica que pode ser
usada para o tratamento cirúrgico.
As respostas que as define são:
a) McVay do tipo indireta e reparo à Mayo.
b) Hyhus do tipo II e reparo à Lichtenstein.
c) Bassini do tipo prefunicular e reparo à
McVay.
d) Bassini do tipo obliqua interna e reparo à
McVay.
e) Nyhus do tipo IV B e reparo à Lichtenstein.
Nosso paciente apresenta anel inguinal in-
terno dilatado, deformando o assoalho inguinal
em uma hérnia recorrente. Só de ser recidiva-
da já estamos diante de um Nyhus IV! A melhor
técnica para esses casos é a técnica com
menor taxa de recorrência, que utiliza de tela
para a substituição da parede posterior: téc-
nica de Lichtenstein. Logo, gabarito letra E.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
HOSPITAL DA CRUZ VERMELHA DO PARA-
NÁ – HCV-PR
Principais indicações para que o tratamento
cirúrgico das hérnias inguinocrurais seja rea-
lizado por videocirurgia:
a) Hérnias inguinoescrotais.
b) Hérnias congênitas.
c) Hérnias bilaterais e/ou recidivadas.
d) Hérnias de Spiegel.
A videolaparoscopia permite que uma gran-
de tela seja ancorada na parede abdominal,
proporcionando o tratamento simultâneo de
hérnias bilaterais. O fato de abordar a hérnia
pelo ângulo peritoneal facilita ainda a dissec-
ção e redução do cólon herniário, que se en-
contraria deformado e repleto de fibrose se
realizássemos um acesso direto nas hérnias
recidivadas. Opção “C” correta.
http://#scrolldown
Cirurgia - Volume 5 101Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
inguinotomia, procuramos não utilizar técnicas
que necessitem de tela, devido ao risco de
infecção. Nesses casos, a escolha recairá
sobre os reparos teciduais, a despeito da
maior probabilidade de recidiva.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SP
Um paciente de 42 anos tem hérnia inguinal
direita, redutível, há 3 anos. Chega ao pronto-
-socorro relatando encarceramento há 7 horas.
O exame revela hérnia inguinal direita encar-
cerada, com hiperemia e muita dor local. O
abdome está distendido, mas sem evidência
de peritonismo. O paciente está estável he-
modinamicamente. Conduta:
a) Analgesia e observação clínica.
b) Inguinotomia direita.
c) Redução manual sob sedação.
d) Laparotomia mediana.
e) Analgesia e redução manual.
Paciente com hérnia inguinal com indícios
de estrangulamento (encarceramento há mais
de 6-8 horas e hiperemia). Sendo assim, a
redução manual está contraindicada e o tra-
tamento é cirúrgico de urgência. A via de aces-
so preferencial é a inguinotomia, pois não há
violação e contaminação da cavidade perito-
neal. Resposta: B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL CENTRAL DA POLÍCIA MILITARDO RIO DE JANEIRO – RJ
Paciente idosa com demência senil apresen-
tou emagrecimento moderado nos últimos três
anos. Apresentou quadro de agitação em
casa, seguida de aumento de volume abdo-
minal nas últimas 24 horas. Foi levada por
familiares à emergência do Hospital da Polícia
Militar sendo avaliada por cirurgião geral. Ao
exame físico paciente gemente, reagindo à
palpação abdominal profunda e com massa
palpável em região inguinal esquerda. Rotina
de abdome agudo mostrando padrão de dila-
tação de delgado. Qual provável diagnóstico
e melhor conduta terapêutica?
a) Hérnia femoral estrangulada. Solicitar exa-
mes de sangue e tomografia abdominal, hidra-
tação venosa, antibioticoterapia e solicitar sala
de cirurgia para exploração inguinoabdominal.
b) Tumor de sigmoide perfurado. Solicitar exa-
mes de sangue e tomografia, reposição hidro-
eletrolítica, antibioticoterapia e solicitar sala
de cirurgia para laparotomia exploradora.
c) Doença diverticular complicada de sigmoi-
de. Solicitar exames de sangue e tomografia,
hidratação venosa, antibioticoterapia e internar
para tratamento eletivo.
d) Hérnia inguinal indireta estrangulada. Soli-
citar exames de sangue, efetuar a redução do
conteúdo herniário e dar alta com orientação
aos familiares.
e) Hérnia por deslizamento de sigmoide encar-
cerada. Solicitar exames de sangue e colonos-
copia de urgência para redução do conteúdo.
Paciente idosa evolui com massa palpável
em região inguinal direita, aumento do volume
abdominal nas últimas 24 horas, dor à palpa-
ção e rotina radiológica com padrão obstrutivo.
Qual seria o diagnóstico? Até que se prove o
contrario, esta paciente apresenta uma hérnia
na região da virilha complicada com obstrução
intestinal. Não há dados no exame físico que
nos permitam confirmar o diagnóstico de hér-
nia femoral, mas sabemos que esta é muito
mais frequente em mulheres. E agora, qual
seria o tratamento? Além de medidas de su-
porte, estará indicada TC de abdome e pelve,
para excluir possíveis complicações (perfura-
ção) e tentar identificar o ponto de obstrução,
no caso intestino delgado. Na presença de
uma hérnia complicada com obstrução, o tra-
tamento cirúrgico estará indicado, com abor-
dagem inicial via inguinal para avaliação da
viabilidade da alça herniada e reparo cirúrgico
da mesma. Caso haja extensa área de sofri-
mento vascular e necrose pode ser necessá-
ria uma enterectomia extensa, a qual será
realizada através da conversão para laparo-
tomia mediana (exploração inguinoabdomi-
nal). Portanto, gabarito: opção “A”.
Hérnias x Obstrução Intestinal
Hérnias são a terceira causa cirúrgica de
obstrução intestinal alta (delgado), corres-
pondendo a cerca de 10% de todos os ca-
sos. Parece que o aumento de herniorrafias
eletivas tem diminuído os casos de obstru-
ção intestinal por hérnias. A obstrução in-
testinal pode ocorrer por hérnias externas
(inguinal, femoral, umbilical e incisional) e
internas (paraduodenal, intermesentérica e
obturador). Os casos de obstrução intestinal
por hérnia têm alta chance de estrangula-
mento e recidiva quando tratados de forma
expectante, sendo as hérnias femorais as
de maior risco para estrangulamento. Os
pacientes idosos são os mais susceptíveis
à obstrução intestinal por hérnias.
Hérnias em crianças
Como sabemos, as hérnias inguinais indire-
tas são ocasionadas pelo não fechamento
congênito do conduto peritoneovaginal. Des-
sa forma, pode-se inferir que em crianças,
95% das hérnias inguinais são indiretas. Na
maioria das vezes estas hérnias se manifes-
tam no primeiro ano de vida como uma mas-
sa inguinal redutível intermitente. O exame
clínico é suficiente para o diagnóstico. A
palpação das paredes espessadas do cordão
espermático contra o púbis é conhecida
como sinal da seda de Gross (silk glove sign).
Nas mulheres é mais frequente que o ovário
seja o conteúdo da hérnia, podendo a trom-
pa de Falópio fazer parte do saco herniário
(hérnia por deslizamento).
Você precisa conhecer duas características
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Cirurgia - Volume 5 102Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
das hérnias inguinais indiretas na infância:
Característica 1: “apresentam alto risco
de estrangular”.
Conclusão: devem ser operadas preco-
cemente.
Comentário: Na infância 15-30% das hér-
nias inguinais já se apresentam encarcera-
das no momento do diagnóstico. Nestes
casos, a cirurgia deve ser imediata.
Característica 2: “A história natural do
processus vaginalis é de fechamento até
os 2 meses de idade em 40% das crianças
e até 2 anos em 60% das crianças. Dos
40% restantes, somente metade apresen-
tará uma hérnia”.
Conclusão: A exploração contralateral em
busca de conduto peritoneovaginal patente
ainda é um tema controverso, apesar de ser
uma conduta rotineira para todos os pacien-
tes em muitos serviços de cirurgia pediátri-
ca. Alguns especialistas sugerem que seja
feito nas crianças menores de 1 ano, em-
bora alguns cirurgiões estendam a idade de
corte para 2 ou 5 anos. Outras situações
que normalmente indicam a exploração
contralateral são a prematuridade, a pre-
sença de encarceramento e o sexo femini-
no. O lado contralateral pode ser inspecio-
nado antes da exploração por videolaparos-
copia. Contudo, não estamos diante de uma
conduta bem elucidada, já que a persistên-
cia do conduto peritoneovaginal contralate-
ral não é necessariamente análoga à exis-
tência de hérnia...
A técnica cirúrgica convencional consiste
apenas da ligadura alta do saco herniário,
com ou sem “calibração” do anel inguinal
interno. Ou seja, nas crianças não é neces-
sário o reforço da parede posterior.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
INSTITUTO FERNANDES FIGUEIRA – RJ
A etiologia da hérnia inguinal na infância está
relacionada à:
a) Malformação genital.
b) Fraqueza da parede abdominal.
c) Persistência do conduto peritôneo-vaginal.
d) Má rotação intestinal.
Como sabemos, os defeitos indiretos são
aqueles localizados lateralmente aos vasos
epigástricos, ou seja, FORA do trígono de
Hasselbach, onde o conteúdo abdominal insi-
nua-se por dentro do cordão espermático. O
principal fator associado a esse tipo de hérnia
é um resquício embrionário da descida dos
testículos para a bolsa escrotal: a persistência
do conduto peritôneo-vaginal. Gabarito C!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
CENTRO MÉDICO DE CAMPINAS – SP
Com relação ao tratamento de hérnia inguinal
em recém-nascido, assinale a alternativa
correta:
a) Deve ser operado imediatamente após o
diagnóstico.
b) Deve ser operado somente quando sair
das fraldas.
c) Não deve ser operado, pois geralmente
tem resolução espontânea.
d) Deve se tentar tratamento clínico e se
houver necessidade de operar, esperar até 1
ano de vida.
Como vimos, hérnia inguinal na infância,
sabemos que tipicamente são as indiretas e
que na criança, o risco de encarceramento
é muito maior. Por isso, nesses casos, a
cirurgia deve ser feita o mais precoce pos-
sível, afim de evitar qualquer complicação.
Diferente das hérnias umbilicais que espe-
ramos o fechamento espontâneo do defeito,
nas inguinais, a conduta deve ser cirúrgica.
Gabarito A.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ –
UFPR
Sobre as hérnias inguinais na infância, é
correto afirmar:
a) É mais frequente no sexo feminino.
b) Afeta principalmente o lado direito.
c) Não tem correlação com prematuridade.
d) Assim como nos adultos, o tipo mais fre-
quente é a hérnia inguinal direta.
e) A simples presença do conduto peritoneo-
vaginal é razão suficiente para explicar o de-
senvolvimento da hérnia.
Vejamos cada uma das alternativas. Letra
A: Errada, pois as hérnias inguinais sempre
são mais comuns no sexo masculino. Letra C:
Errada, pois a prematuridade aumenta o risco
de ocorrência de hérnias inguinal, ocorrendo
em até 30% dos casos. Letra D: Errada, pois
as hérnia inguinais nas crianças são pratica-
mente todas do tipo indireta e congênitas.
Letra E: Errada, pois não é a simples presen-ça do conduto peritoneovaginal, mas sim a
sua não obliteração. Ficamos então com a
Letra B. Para 60% ficam do lado direito, 30%
no esquerdo e 10% são bilaterais.
Complicações
São várias as consequências que podem se
seguir às herniorrafias, tanto aquelas relacio-
nadas ao procedimento em si (recorrência, dor
inguinal crônica, lesão testicular ou vesical) ou
a qualquer procedimento cirúrgico (ex.: infec-
ção da ferida operatória, hematoma, seroma,
íleo). Algumas complicações relacionadas à
laparoscopia e ao pneumoperitônio também
podem ser encontradas quando esse for o
procedimento utilizado. A taxa de complica-
ções se situa em torno de 10%, embora a
maioria delas sejam transitórias e facilmente
abordáveis. Observe a taxa de complicações
apresentadas pelo Sabiston, de acordo com
o procedimento:
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Cirurgia - Volume 5 103Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
COMPLICAÇÃO Reparo
Aberto (%)
Laparoscopia
(%)
Intraoperatória 1.9 4.8
Pós-operatória 19.4 24.6
Retenção
Urinária 2.2 2.8
ITU 0.4 1.0
Orquite 1.1 1.4
Infecção de sitio
cirúrgico 1.4 1.0
Neuralgia, dor 3.6 4.2
Graves 0.1 1.1
Longo prazo 17.4 18.0
Seroma 3.0 9.0
Orquite 2.2 1.9
Infecção 0.6 0.4
Dor crônica 14.3 9.8
Recorrência 4.9 10.1
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL ESCOLA LUIZ GIOSEFFI
JANNUZZI – RJ
Paciente J.P., masculino, 35 anos, apresen-
tando hérnia inguinal a direita há 10 anos. Foi
submetido à hernioplastia inguinal à técnica
de Lichtenstein, evoluindo ainda no primeiro
dia de pós-operatório com aumento do volume
testicular importante e queixa álgica no testí-
culo direito. Foi solicitado ultrassom doppler
sendo verificado ausência de fluxo sanguíneo
no testículo direito. Qual o provável diagnós-
tico e a causa mais comum desta complicação
respectivamente?
a) Orquite isquêmica e ligadura da artéria
cremastérica.
b) Manipulação cirúrgica e ligadura da veia
testicular.
c) Epididimite e ligadura da artéria testicular.
d) Orquite isquêmica e trombose do plexo
pampiniforme.
A orquite isquêmica ocorre devido à trom-
bose das pequenas veias do plexo pampini-
forme dentro do cordão espermático. Isso le-
vará a uma congestão venosa e aumento
doloroso do testículo, dentro de 2 a 5 dias após
a cirurgia. Após este período, em cerca de 6
a 12 semanas, pode haver resolução do qua-
dro ou na maioria dos casos, atrofia testicular.
O tratamento é conservador na maioria dos
casos. Resposta: D.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
FACULDADE DE MEDICINA DO ABC – SP
Qual a principal causa de atrofia testicular
após hernioplastia inguinal?
a) Lesão da artéria testicular.
b) Ligadura do ducto deferente.
c) Trombose das veias do plexo pampiniforme.
d) Lesão nervosa.
A orquite isquêmica ocorre pela trombose
das pequenas veias do plexo pampiniforme
dentro do cordão espermático. Isso resulta em
congestão venosa dos testículos, que se tor-
nam entumescidos e sensíveis 2 a 5 dias após
a cirurgia. O processo continua por 6 a 12 se-
manas e, em geral, resulta em atrofia testicular.
A orquiectomia raramente é necessária. A inci-
dência de orquite isquêmica pode ser minimi-
zada evitando-se a dissecção desnecessária
do cordão espermático. Gabarito, letra C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO – UERJ
A complicação mais frequentemente encontrada
no pós-operatório tardio das herniorrafias ingui-
nais, realizadas por via anterior, costuma ser:
a) Infecção.
b) Dor crônica.
c) Osteíte púbica.
d) Orquite atrófica.
Questão baseada na tabela que acabamos
de mostrar. Observe que, a longo prazo, a dor
crônica é a principal complicação. Resposta:
B. Ela é definida como a dor que se mantém
após três meses do procedimento e pode es-
tar associada à cicatrização, reação à prótese
ou envolvimento de algum nervo durante a
sutura. A conduta é na maioria das vezes con-
servadora, com a utilização de anti-inflamató-
rios e anestésicos locais, já que o quadro
tende a se resolver espontaneamente.
Vamos aproveitar para lembrar da dor neuro-
pática que pode surgir pela lesão do ramo
genital do nervo genitofemoral. Ela ocorre
por lesão inadvertida deste nervo através de
tração, aprisionamento ou uso de eletrocau-
tério. A repercussão clínica é hiperestesia
genital com dor na face interna da coxa e bol-
sa escrotal (na mulher, os grandes lábios).
Outros nervos lesados são: nervo ilioinguinal
e ílio-hipogastro. Os reparos videolaparoscó-
picos também podem envolver o nervo cutâ-
neo femoral lateral e o nervo genitofemoral.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE
SANTA CATARINA – SC
Considere um paciente submetido à correção
de hérnia inguinal indireta recidivada, técnica
de Shouldice. Retorna ao ambulatório no pós-
-operatório, com dor testicular e edema no
testículo.
Qual a hipótese provável e a conduta mais
apropriada?
a) Hematoma na túnica vaginal; tratamento
conservador.
b) Dor habitual de pós-operatório; otimização
de analgesia.
c) Neuralgia transitória pelo excessivo manu-
seio; analgesia.
d) Orquite isquêmica; solicitar avaliação da
urologia e submeter a orquiectomia.
e) Orquite isquêmica; orientar o paciente da
possível evolução para atrofia testicular e ma-
nejo clínico da dor.
Ocasionalmente, durante a correção da
hérnia, pode ocorrer trombose do plexo pam-
piniforme. Este plexo é responsável pela dre-
nagem venosa dos testículos. Esta é uma
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Cirurgia - Volume 5 104Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
complicação grave, pois culmina em orquite
isquêmica e atrofia testicular. Os sintomas
iniciais ocorrem nos primeiros dias de pós-
-operatório. O testículo logo fica edemaciado
e isto pode ou não ser acompanhado de dor.
O manejo é clínico e, embora exista o risco de
atrofia testicular, raramente a orquiectomia é
necessária. Resposta E.
FIQuE ATENTO!
Vamos tentar resumir a abordagem das hér-
nias inguinais e discutir um assunto que sem-
pre gera discussão…
De uma maneira geral temos:
• Hérnia inguinal redutível = tratamento eletivo.
• Hérnia inguinal encarcerada = tentar redução.
• Hérnia inguinal estrangulada = cirurgia de
urgência.
Mas como seria bom se as questões e os pa-
cientes se apresentassem sempre dessas
maneiras. O grande problema é saber se
aquela hérnia encarcerada está ou não es-
trangulada, pois, se houver a suspeita, não
devemos tentar a redução e sim, indicar a
cirurgia. Não existe nenhum parâmetro 100 %
aceito e essa conduta sempre gera discussão,
mas vamos tentar facilitar.
Primeiro: hérnias encarceradas há menos de 6-8
horas, dificilmente apresentam sofrimento isquê-
mico. Ou seja, nesses casos, se não tivermos
nenhuma outra alteração, tentamos a redução.
Segundo: nos encarceramentos seguidos de
obstrução intestinal, as chances de estrangu-
lamento são maiores, por isso, nesses casos,
devemos avaliar o paciente com calma e ge-
ralmente a redução não é indicada.
Terceiro: As hérnias estranguladas podem
apresentar ao exame físico sinais de flogose
na região inguinal e isso também vai contrain-
dicar a redução.
Quarto: o estado geral do paciente sempre
deve ser avaliado, naqueles casos em que o
paciente com encarceramento se apresenta
com irritação peritoneal, instabilidade hemo-
dinâmica, ou outro sinal que indique o estran-
gulamento a cirurgia está indicada, em contra
partida, em alguns casos, mesmo com um
tempo de encarceramento maior do que oito
horas, mas com o paciente bem clinicamente,
a redução pode ser tentada.
Realmente o tema é muito controverso, então
muito cuidado no momento de responder as
questões, avalie com calma o quadro apre-
sentado, e o treinamento com questões pré-
vias sempre nos ajuda.
HérNIA FEMOrAL
Para você completar o seu estudo sobre as hér-
nias da região da virilha só falta conhecer a
hérnia femoral. Este tipo é incomum, sendo
mais encontradas em mulheres e obesas. A
formação da hérnia femoral é simples: uma alça
intestinal se anuncia por dentrodo canal femoral.
Quais seriam os limites do canal femoral?
O assoalho do canal é formado pelo ligamento
pectíneo (Cooper) e o teto pelo ligamento ingui-
nal. A parede é limitada medialmente pelo liga-
mento lacunar e lateralmente pela veia femoral.
Mas se a veia femoral está fora do canal, o
que passa nele?
Esse é um conceito que muita gente boa traz
errado na cabeça. Preste atenção: a bainha
femoral possui três compartimentos: um la-
teral, por onde passa a artéria femoral; um
intermediário, por onde passa a veia femoral,
e um compartimento medial que corresponde
ao canal femoral. Por ele passam vasos lin-
fáticos e ali ficam localizados alguns linfono-
dos (ex.: linfonodo de Cloquet, linfonodo de
Rosenmuller). Confira na FIGURA 30 abaixo.
Figura 30
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Cirurgia - Volume 5 105Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Apesar de raras, essas hérnias frequentemen-
te cursam com encarceramento (15-20%) visto
que o canal femoral é estreito e inelástico.
CONCEITOS:
“As hérnias inguinal indireta e femo-
ral possuem maior chance de en-
carcerar, pois se anunciam por um orifício“.
As hérnias inguinais diretas apenas caem no
canal inguinal “enluvadas” pela fascia trans-
versalis e com isto possuem menor chance
de se encarcerar.
“A maioria das hérnias estranguladas, por
frequência, são as inguinais indiretas; no en-
tanto, as que apresentam maior risco de es-
trangular são as femorais.”
Como acabamos de ver as hérnias femorais
são aquelas que apresentam o maior risco
individual de estrangulamento (taxa 15-20%),
por isso é indicado o reparo tão logo sejam
diagnosticadas.
O tratamento cirúrgico das hérnias femorais
é feito pela técnica de Mc Vay, na qual o
reparo é feito com a sutura do tendão con-
junto no ligamento de Cooper, a partir do
tubérculo púbico, lateralmente ao canal fe-
moral, até os vasos femorais. Ou seja, ao
juntarmos o assoalho do canal com uma es-
trutura que fica superior ao seu teto acaba-
mos por obliterar o canal femoral, impedindo
a formação da hérnia. A partir daí a sutura é
feita no ligamento inguinal até o anel inguinal
interno. Atualmente, a técnica de Mc Vay vem
sendo cada vez menos utilizada, já que, na
prática, a modificação da técnica de Lichtens-
tein para hérnias é capaz de tratar as hérnias
femorais de maneira mais eficiente e com um
menor índice de recidivas (mais detalhes na
seção Boletim Operatório).
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL DILSON GODINHO – MG
A hérnia que produz protuberância abaixo do
ligamento inguinal é chamada de:
a) Inguinal direta. d) De Spiegel.
b) Inguinal indireta. e) Femoral.
c) Mista.
ABAIXO DO LIGAMENTO INGUINAL =
Hérnia femoral. Gabarito E.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE
GOIÁS – GO
Durante o tratamento cirúrgico de uma hérnia,
com protrusão de gordura pré-peritoneal e de
um saco herniário através do orifício femoral,
a conduta do cirurgião foi a redução do com-
ponente por deslizamento, tratamento do saco
herniário e reconstrução da parede com apro-
ximação e sutura do arco aponeurótico do
músculo transverso ao ligamento de Cooper,
com pontos separados de nylon 0, até a altura
dos vasos femorais. A descrição acima carac-
teriza uma classificação para hérnias e uma
técnica que pode ser usada para o tratamento
cirúrgico, definidas, respectivamente, como:
a) Nyhus do tipo III B e reparo à Shoudice.
b) Nyhus do tipo III B e reparo à Bassini.
c) Nyhus do tipo III C e reparo à McVay.
d) Nyhus do tipo III C e reparo à Shoudice.
De acordo com a classificação de Nyhus a
hérnia femoral é classificada como tipo IIIC. O
autor da questão descreve a técnica de McVay
para correção de hérnia femoral onde uma
sutura é realizada entre a aponeurose do
transverso do abdome e o ligamento de Coo-
per. Portanto, resposta letra C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO – RJ
Uma mulher de 50 anos refere dor abdominal
e inguinal sobre abaulamento tenso logo abai-
xo da prega inguinal esquerda. Há borborigmo
e pode-se ouvir peristalse aumentada no inte-
rior da massa. Qual sua hipótese diagnóstica?
a) Hérnia de Spiegel. d) Hérnia de Grinfeld.
b) Hérnia Femural. c) Hérnia de Petit.
Ops!!! Abaulamento abaixo do ligamento
inguinal!!! Gabarito B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL ISRAELITA ALBERT
EINSTEIN – SP
Paciente J.L.P., feminino, 35 anos, comparece
em consulta médica ambulatorial com queixa
de abaulamento inguinal à direita e dor local
ao esforço físico. Ao exame clínico observa-se
abaulamento não pulsátil em raiz da coxa, logo
abaixo do ligamento inguinal à direita, que se
intensifica com manobra de Valsava. Qual o
diagnóstico, a classificação e o tratamento
mais adequado para o caso?
a) Hérnia Inguinal indireta, Nyhus II, Hernior-
rafia inguinal a Litcheinstein.
b) Hérnia Femoral Direita, Nyhus III A, Her-
niorrafia inguinal a Litchenstein.
c) Hérnia Inguinal Direta, Nyhus I, Herniorrafia
inguinal a Shouldice.
d) Hérnia Femoral Direita, Nyhus III C, Her-
niorrafia inguinal a Mcvay.
Ótima questão!!! Abaulamento abaixo do
ligamento inguinal, que aumenta com a ma-
nobra de Valsava até que se prove o contrário
é uma hérnia femoral. A técnica mais adequa-
da para o reparo destas hérnias é a de McVay,
onde se sutura o tendão conjunto ou tela no
ligamento de Cooper, corrigindo o defeito da
parede posterior com estreitamento do anel
femoral. Lembrando a classificação de Nyhus
temos, gabarito D.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO
RIO DE JANEIRO – RJ
Paciente de 30 anos, magro, apresenta há um
ano nódulo em região inguinal direita. Ao exa-
me físico, a lesão é pequena, compatível com
http://#scrolldown
Cirurgia - Volume 5 106Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
hérnia, encontra-se abaixo do ligamento ingui-
nal, lateralmente ao tubérculo púbico e é irre-
dutível. Pela descrição acima, pode-se afirmar
se tratar de uma hérnia do tipo:
a) Ciática. c) Inguinal.
b) Femoral. d) Obturatória.
As hérnias que se anunciam abaixo do liga-
mento inguinal, se anunciam através do canal
femoral e são, portanto, hérnias femorais. Ga-
barito letra B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
(ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL ERNESTO DORNELLES – RS
O reparo preferido para correção da hérnia
femoral é:
a) Mc Vay. d) Holsted.
b) Bassini. e) Lichtenstein.
c) Marcy.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2013
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
PEDRO ERNESTO – RJ
As hérnias femorais devem sempre ser ope-
radas, pois apresentam como complicação
frequente:
a) Fístula vesical.
b) Trombose venosa.
c) Neuropatia isquêmica.
d) Estrangulamento entérico.
As hérnias femorais são as que apresentam
a maior probabilidade de estrangulamento,
complicação presente em aproximadamente
15 a 20% dos casos! Sendo assim, todas as
hérnias femorais devem ser reparadas, e
quando já encarceradas, devemos examinar
o conteúdo do saco herniário, avaliando a sua
viabilidade! Curiosamente as hérnias femorais
são mais frequentes em mulheres do que em
homens e acontecem mais comumente do
lado direito do que esquerdo; uma explicação
possível para este fenômeno seria uma espé-
cie de efeito “tamponante” do sigmoide sobre
o canal femoral. Logo, gabarito letra D.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2006
HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO
ESTADUAL – IAMSPE
Mulher de 60 anos deu entrada no pronto-
-socorro com quadro de dor abdominal tipo
cólica, associado a náuseas e vômitos há dois
dias, sem comorbidades e sem cirurgias pré-
vias. Ao exame físico tinha abdome um pouco
distendido com ruídos hidroaéreos aumenta-
dos e o residente notou uma tumoração en-
durecida em região inguinofemoral esquerda
pouco dolorosa, RX de abdome mostrava ní-
veis hidroaéreos. Assinale a alternativa em
que a hipótese diagnóstica e o respectivo
tratamento estejam corretos.
a) Tumor metastático para região inguinal,
devendo ser submetida à laparotomia explo-
radora.
b) Hérnia inguinal encarcerada, sendo indica-
da uma herniorrafia inguinal com tela, já que
tem menor recidiva.
c) Abdome agudoobstrutivo devido a provável
tumor de colo, necessitando de laparotomia
de urgência e retossigmoidectomia.
d) Abdome agudo obstrutivo devido à hérnia
femoral encarcerada, sendo indicada inguino-
tomia com correção da hérnia, podendo ne-
cessitar de laparotomia se tiver sofrimento de
alça intestinal.
e) Hérnia femoral encarcerada, devendo ser
reduzida imediatamente, necessitando de
tratamento cirúrgico posteriormente de ma-
neira eletiva.
Questão difícil. Vamos rever as dicas do
autor?
• “Mulher de 60 anos”.
• “Dor abdominal tipo cólica, associado a náu-
seas e vômitos há dois dias, sem comorbi-
dades e sem cirurgias prévias.”
• “Tumoração endurecida em região inguinofe-
moral esquerda pouco dolorosa”.
• “RX de abdome mostrava níveis hidroaéreos.”
Não há dúvidas que se trata de uma hérnia
da virilha encarcerada complicando-se com
obstrução intestinal, não é? Mas qual hérnia?
Há duas opções principais: hérnia inguinal
indireta e hérnia femoral. Para ajudar na res-
posta o autor dá duas dicas:
• Mulher + dor abdominal tipo cólica.
• Vamos aproveitar para aprender: As hérnias
femorais quase sempre são assintomáticas
até o momento que complicam. Em geral,
quando estão encarceradas cursam com
obstrução intestinal. A dor é referida no ab-
dome (ao invés da virilha como nas hérnias
inguinais) e do tipo cólica.
Resposta “D”.
RESUMINDO ATÉ AQUI...
Quando utilizamos o termo “hérnia da virilha”,
estamos falando de dois tipos de hérnias: in-
guinal (direta ou indireta) e femoral.
Hérnias da virilha
hérnia femoral
Direta
Indireta{ hérnia inguinal
http://#scrolldown
Cirurgia - Volume 5 107Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Para finalizar, vamos aprender um novo con-
ceito. Essas hérnias podem receber nomes
especiais de acordo com seu conteúdo.
Veja como é fácil:
• Hérnia por deslizamento: é aquela em que
parte do saco herniário é formada pela vís-
cera que o ocupa. A aderência é tão eviden-
te que durante a cirurgia, devemos ter extre-
mo cuidado para não lesar essa estrutura
durante a abertura do saco herniário.
• Hérnia de Richter: quando ocorre a herniação
ou o pinçamento da borda antimesentérica da
alça intestinal (observe a figura a seguir). Mais
comum nas hérnias femorais e apresenta uma
característica peculiar, pode evoluir com es-
trangulamento sem obstrução intestinal.
• Hérnia de Littré: aquela que apresenta em
seu conteúdo um divertículo de Meckel.
• Hérnia de Amyand: aquela em que o apên-
dice vermiforme faz parte do conteúdo.
• Hérnia de Pantalona: aquela hérnia mista
(componente direto e indireto).
• Hérnia de Garangeot: hérnia femoral em
que o conteúdo é o apêndice vermiforme.
repare o pinçamento da borda antimesen-
térica. Como ainda mantemos boa parte
da circunferência intestinal não encar-
cerada, o trânsito intestinal é mantido e
somente o seguimento encarcerado evolui
com isquemia!!!
Veja como isso também é cobrado!!!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL ALVORADA – SP
A Hérnia de Littré é a presença do:
a) Divertículo de Meckel dentro de uma hérnia
da região inguinal ou femoral.
b) Apêndice cecal dentro de uma hérnia da
região inguinal ou femoral.
c) Omento dentro de uma hérnia da região
inguinal ou femoral.
d) Sigmoide dentro de uma hérnia da região
inguinal ou femoral.
Gabarito letra A.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2016
HOSPITAL CENTRAL DO EXÉRCITO – RJ
Quando uma pequena porção da parede anti-
-mesentérica do intestino é aprisionada dentro
do saco herniário, podendo ocorrer estrangu-
lamento sem a presença de obstrução intes-
tinal, denominamos como hérnia:
a) De Spiegel. d) Indireta.
b) De Richter. e) Femoral.
c) Direta.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO – RJ
Analise o seguinte quadro médico. No seu am-
bulatório, dá entrada uma paciente de 72 anos,
com queixa de dor abdominal tipo cólica, náu-
seas e vômitos. Quando do exame físico, obser-
va-se abdome levemente distendido e doloroso
à palpação, porém, sem irritação peritoneal e
uma pequena massa com dois centímetros, não
redutível, que é dolorosa à palpação e está abai-
xo da linha inguinal direita. Não há viscerome-
galias ou tumorações palpáveis. A hipótese
diagnóstica mais provável do quadro é:
a) Divertículo de Meckel.
b) Síndrome de Marfan.
c) Hérnia de Spigel.
d) Hérnia de McVay.
e) Hérnia de Richter.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
(ACESSO DIRETO 1)
HOSPITAL PASTEUR – RJ
Uma hérnia que apresenta estrangulamento
de sua borda antimesentérica possui o seguin-
te epônimo:
a) Littré. d) Cloquet.
b) Serafini. e) Rosembaum.
c) Richter.
Sempre a mesma coisa!!! Gabaritos: Hérnia
de Richter!!!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
(ACESSO DIRETO 1)
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA
DE MACEIÓ – AL
A Hérnia de Littré é a presença do:
a) Divertículo de Meckel dentro de uma hérnia
da região inguinal ou femoral.
b) Apêndice cecal dentro de uma hérnia da
região inguinal ou femoral.
c) Omento dentro de uma hérnia da região
inguinal ou femoral.
d) Sigmoide dentro de uma hérnia da região
inguinal ou femoral.
Depois de estudarmos as definições fica
fácil! Gabarito A.
Agora veja como o mesmo conceito pode ser
cobrado de maneira distinta. Fique atento!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL DE CÂNCER DE
MATO GROSSO – MT
A hérnia de Richter ocorre quando existe um
pinçamento da borda antimesentérica, levan-
do a lesão de alça sem obstrução intestinal.
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Cirurgia - Volume 5 108Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Sua ocorrência é mais frequente em qual tipo
de herniação?
a) Hérnia inguinal. c) Hérnia femoral.
b) Hérnia umbilical. d) Hérnia incisional.
Questão direta. Estatisticamente a hérnia
de Richter é mais comum na hérnia femoral.
Gabarito C.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE
DE JOÃO PESSOA – PB
Maria, 58 anos, foi submetida à cirurgia de
hérnia femoral estrangulada e, durante o pro-
cedimento o cirurgião percebeu que somente
parte de borda contramesenterial de uma alça
de delgado sofreu constrição. Podemos afir-
mar que Maria tinha uma hérnia:
a) De Spiegel.
b) De Richter.
c) De deslizamento.
d) Potencialmente redutível.
e) Potencialmente encarcerada.
Mais uma vez, gabarito B.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSI-
DADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – SC
Assinale a alternativa que completa CORRE-
TAMENTE a frase abaixo. Na hérnia inguinal
por deslizamento, as vísceras mais comumen-
te envolvidas são:
a) Cólon e bexiga.
b) Cólon e apêndice cecal.
c) Intestino delgado e bexiga.
d) Cólon e omento maior.
e) Intestino delgado e omento maior.
Conceito recorrente em prova!!! A hérnia por
deslizamento ocorre quando um órgão interno
constitui uma porção da parede do saco her-
niário. A víscera mais comumente acometida
é a bexiga seguida do cólon. Gabarito A.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
PRESIDENTE DUTRA – MA
Paciente com história de aumento de volume
redutível e pouco doloroso em região inguinal
direita há 2 anos com diagnóstico de hérnia
inguinal. Relata que há dois dias apresentou
piora do quadro doloroso e irredutibilidade do
conteúdo herniário, associado a episódios
isolados de náuseas e vômitos, anorexia, febre
e discreta leucocitose. Durante o procedimen-
to cirúrgico, notou-se a presença do apêndice
cecal inflamado no interior do saco herniário.
Trata-se de um caso de:
a) Hérnia de De Garengeot.
b) Hérnia de Petersen.
c) Hérnia de Littré.
d) Hérnia de Spiegel.
e) Hérnia de Amyand.
Veja como isso é cobrado. A presença do
apêndice vermiforme no saco herniário é um
evento raro e, este tipo de hérnia é denomi-
nada hérnia de Amyand. Gabarito letra E.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
UNIVERSIDADE FEDERAL
DO CEARÁ – UFC
Durante herniorrafia inguinal eletiva, um cirur-
gião observa que uma porção da parede do
ceco faz parte do saco herniário. Isto o faz não
ressecar completamente o saco, e sim, redu-
zi-lo. Qual o nome desse tipo de hérnia?
a) Littré.
b) Richter.
c) Deslizamento.
d) Encarcerada.
e) Estrangulada.A hérnia que possui uma víscera como par-
te do saco deve ser classificada como hérnia
por deslizamento. A questão ainda lembrar que
essas hérnias não podem ter seu saco com-
pletamente ressecado! Opção “C” correta.
OuTrAs HérNIAs
Antes de iniciar a leitura desta parte, tenha em
mente que o principal já foi e você tem, nesse
momento, um domínio muito grande do tema!
Pode ter certeza disso... O que colocaremos
a partir de agora será uma sutileza para o seu
aprendizado. Detalhes... Sabemos que os
autores frequentemente “apelam” na elabora-
ção de algumas questões e, por isso, quere-
mos fornecer a você um conteúdo muito com-
pleto em cirurgia. Domine o que vimos acima
e tenha uma noção do que virá a partir de
agora. Quanto maior o seu leque de conheci-
mento, mais tranquilidade terá com questões
anteriormente “estranhas”. Mãos à obra!
Hérnias ventrais
São classificadas como hérnias ventrais toda
hérnia que é formada através das fáscias
anteriores da parede abdominal. As que aco-
metem a região supraumbilical são chama-
das epigástricas, na região infraumbilical,
hipogástricas e na cicatriz umbilical, as hér-
nias umbilicais propriamente ditas. As hérnias
incisionais também são consideradas ventrais
quando acometem a parede anterior do ab-
dome e ocorrem nos sítios onde houve inci-
são cirúrgica prévia.
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Cirurgia - Volume 5 109Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Hérnia umbilical
Definição: Persistência do anel umbilical
sem o fechamento de sua camada aponeu-
rótica após o nascimento.
Clínica: Abaulamento na região umbilical
geralmente contendo tecido gorduroso pré-
-peritoneal.
Em crianças:
• São hérnias congênitas.
• “São mais comuns nas crianças negras”.
• “Em 80% há o fechamento até os 4-6 anos
de idade”.
Indicações cirúrgicas:
• Não fechamento após a idade esperada.
• Grandes hérnias (> 2 cm).
• Hérnias associadas à derivação ventrículo-
-peritoneal.
• Concomitância com hérnia inguinal (corrigir
no mesmo procedimento).
Em adultos:
São adquiridas e secundárias a processos
que aumentam a pressão intra-abdominal,
ex.: gravidez, obesidade, ascite ou trauma.
São mais comuns em mulheres. O defeito
costuma residir em uma falha aponeurótica
periumbilical e não em um alargamento do
anel umbilical propriamente dito.
Indicações cirúrgicas:
• Hérnia sintomática
• Grande anel herniário
• Encarceramento
Em geral a cirurgia é feita com redução da hér-
nia e ressecamento do saco, seguidos de fe-
chamento simples do anel herniário no sentido
transverso. Antigamente utilizava-se a técnica
Mayo (“veste sobre a calça”) que demonstrou
índices de recidiva inaceitáveis. Em grandes
hérnias (> 3 cm) pode-se usar uma tela.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
INSTITUTO DE ASSISTÊNCIA MÉDICA AO
SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL – SP
Um pediatra recebe em seu consultório um
lactente de 1 mês de vida, para a segunda
consulta. A família apresenta uma queixa que
está causando bastante ansiedade: “uma bola”
na região do umbigo. Ao despir a criança, o
médico nota que a família amarrou uma mo-
eda com esparadrapo sobre a região da cica-
triz umbilical. Ao retirar a moeda/esparadrapo,
o pediatra nota uma hérnia umbilical, de apro-
ximadamente 2 cm de diâmetro, redutível e
indolor, sem sinais flogísticos locais. Diante do
exposto, assinale a alternativa que apresenta
a conduta adequada.
a) Tranquilizar a família, explicando que a hérnia
é muito prevalente e que a maioria regride es-
pontaneamente durante o primeiro ano de vida
da criança. Contraindicar a esparadrapagem.
b) Solicitar ultrassonografia para avaliar o
conteúdo da hérnia.
c) Encaminhar ao cirurgião para agendar ci-
rurgia eletiva.
d) Encaminhar ao cirurgião para cirurgia de
urgência.
e) Manter a esparadrapagem para auxiliar a
regressão e fechamento da hérnia.
A hérnia umbilical é um achado comum em
recém-nascidos e lactentes, sendo mais fre-
quente nos pré-termos e no sexo masculino.
Em geral se resolve espontaneamente até os
dois anos de idade. Por isso, o pediatra deve
tranquilizar a família, informando a evolução
esperada, e também alertá-la quanto à indica-
ção cirúrgica e risco de necessitar de interven-
ção de emergência se a hérnia não for redu-
tível. Colocar moedas ou esparadrapos não
tem nenhuma vantagem, sendo contraindica-
dos. Resposta letra A.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
FUNDAÇÃO JOÃO GOULART –
HOSPITAIS MUNICIPAIS – FJG
Paciente do sexo masculino, 21 anos, procu-
ra o ambulatório de cirurgia geral devido a
abaulamento em região inguinal direita diag-
nosticado durante exame físico de rotina. Nega
queixas significativas na região. Ao exame
físico apresenta abaulamento com conteúdo
redutível a pressão externa e com exterioriza-
ção durante manobra de Valsava na região
inguinal direita. Refere ser tabagista 5 maços
/ ano, sem cirurgias prévias. Em relação a
hérnias umbilicais, é correto afirmar que:
a) Na vida adulta, são mais comuns em homens,
sendo a relação com o sexo feminino de 3:1.
b) Uma vez diagnosticadas na infância, devem
ser operadas, pois não há outro tratamento
médico.
c) São raras em prematuros pelo baixo peso
destes e consequente menor pressão intra-
-abdominal.
d) Nos adultos a maioria dos casos não é con-
gênita e sim adquirida na vida adulta.
As hérnias umbilicais congênitas são mais
comuns em prematuros e tendem a regredir
até a idade escolar. Somente nos casos em
que há ausência de regressão, orifício herni-
ário largo (> 2 cm), utilização de DVP ou con-
comitância com hérnia inguinal é que deve ser
indicado o tratamento cirúrgico. As hérnias
inguinais adquiridas são mais comuns nos
adultos, principalmente nas mulheres, e são
secundárias nos aumentos na pressão intra-
-abdominal. Resposta D.
Epigástrica:
Trata-se de pequenos orifícios herniários que
ocorrem devido a defeitos na fusão das apo-
neuroses musculares na linha média. Pelo
tamanho diminuto do orifício, geralmente só a
gordura pré-peritoneal acaba fazendo parte
da hérnia, raramente acompanhada por peri-
tônio e omento. Acometem preferencialmente
homens e tendem a ocorrer na linha média,
sendo múltiplas em até 20% dos casos. Pro-
vocam uma dor desproporcional ao seu tama-
nho! Como o orifício herniário é pequeno, é
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Cirurgia - Volume 5 110Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
comum que a gordura herniada fique estran-
gulada e infarte... O tratamento dessas hérnias
consiste na excisão da gordura e fechamento
simples do defeito aponeurótico.
Incisional:
São aquelas que ocorrem em locais de inci-
sões cirúrgicas. Os principais fatores de risco
são: infecção de sítio cirúrgico, obesidade,
idade avançada, anemia, uso de corticoides e
quimioterapia, hipoalbuminemia e diabetes.
Maiores detalhes podem ser aprendidos no
capítulo de cicatrização de feridas da apostila
de medicina peroperatória. A correção é difícil
e a recidiva é frequente. Recomenda-se o
reparo primário (simples) para defeitos peque-
nos (< 2 cm) e o reparo com uso de tela nos
defeitos maiores (> 2-3 cm). A colocação e o
tipo de reparo também oferecem desafios ao
cirurgião. Normalmente o defeito aponeurótico
é rafiado com colocação posterior da tela so-
bre o mesmo. Contudo, nem sempre é tão
fácil a abordagem desses pacientes...
A destruição e lascidão tecidual podem impli-
car o não fechamento da parede e exigir uma
colocação atípica da tela. Na FIGURA 31A, a
seguir, temos os principais exemplos de posi-
cionamento.
Figura 31A
O material empregado dependerá da localiza-
ção da tela. Quando não houver contato direto
entre as vísceras e a tela, telas macroporosas
de polipropileno (as mesmas utilizadas na cor-
reção de hérnias inguinais) podem ser empre-
gadas. Contudo, quando existe a possibilidade
de contato as mesmas devem se evitadas pelo
risco in aceitável de fístula enterocutânea. Nes-
ses casos telas não aderentes (ex.: PTFE) ou
biológicas (ex.: Surgisis®, derivada de intestino
suíno) devem ser empregadas.
spiegelLocaliza-se entre a borda lateral do músculo
reto do abdome e a linha semilunar, geralmen-
te abaixo da linha arqueada de Douglas. Por
se tratar de uma hérnia interparietal (dentro
da própria parede) é de difícil diagnóstico,
principalmente em obesos. Normalmente, é
necessário o uso de US ou TC para reconhe-
cê-la. O tratamento consiste na aproximação
por sutura simples entre os tecidos adjacentes
ao defeito (FIGURA 31B). Ele está sempre
indicado, uma vez que o colo da hérnia é es-
trito e tem grande chance de encarcerar.
A tela fica indicada nos grandes defeitos ou
em caso de tecidos danificados. A recorrência
é incomum.
Veja essa questão!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
PEDRO ERNESTO – RJ
Maria, 55 anos, procurou o ambulatório de ci-
rurgia geral, referindo ter notado há cerca de
quatro meses uma leve protrusão na linha me-
diana, na topografia da região epigástrica. A
mesma aparecia principalmente durante esfor-
ço físico. Ao exame, apresentava área de abau-
lamento contínuo e indolor que se iniciava
pouco acima da cicatriz umbilical e se estendia
até próximo ao apêndice xifoide. Diante deste
quadro, a principal hipótese diagnóstica é:
a) Hérnia de Spiegel.
b) Hérnia epigástrica.
c) Hematoma da bainha do reto.
d) Diástase dos retos abdominais.
O paciente apresenta abaulamento em re-
gião epigástrica: nestes casos o diagnóstico
diferencial é entre uma hérnia epigástrica e
diástase dos retos. As outras opções não fa-
zem sentido. Hematoma tem apresentação
clássica com alteração da cor (roxa) da pele.
A hérnia de Spiegel não ocorre na linha me-
diana. As hérnias epigástricas são mais co-
muns em homens, se caracterizam pela pre-
sença de saco herniário pequeno, geralmente
localizado entre o processoxifoide e o umbigo,
usualmente logo acima da cicatriz umbilical.
Os defeitos são pequenos e, em geral, produ-
zem dor fora de proporção ao seu tamanho.
Já a diástase dos retos entra no diagnóstico
diferencial, ao passo que apresenta-se como
uma protrusão na linha média. Neste caso, não
temos uma hérnia (não há anel ou saco herni-
ário), mas sim um estiramento da linha alba
resultando em uma convexidade nas margens
mediais dos músculos retos. É bem mais fre-
quente nas mulheres, pode ser congênita ou
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Cirurgia - Volume 5 111Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
adquirida, e se caracteriza por um abaulamen-
to discreto, que ocupa toda a extensão da linha
xifo-umbilical, geralmente assintomática e sem
necessidade de tratamento cirúrgico. Logo,
agora com tranquilidade, fica claro que o diag-
nóstico mais provável é mesmo de diástase
dos retos. Resposta: opção “D”.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2014
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANA BEZERRA
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO
GRANDE DO NORTE – RN
Em relação ao tratamento das hérnias da pa-
rede abdominal, é correto afirmar:
a) As hérnias umbilicais em adultos são, em
sua maioria, de origem congênita.
b) As hérnias epigástricas são mais comuns
em mulheres.
c) Hérnias umbilicais > 4 cm devem ser repa-
radas com próteses.
d) As hérnias de Spiegel, em sua maioria, são
pequenas e ocorrem em pacientes jovens.
Questão conceitual sobre hérnias da pare-
de abdominal. Hérnias umbilicais nas crianças
são congênitas e são comuns. Elas se fecham
espontaneamente na maioria dos casos por
volta dos dois anos de idade. Aquelas que
persistem após cinco anos de idade, com
frequência são reparadas por cirurgia, embo-
ra complicações relacionadas a essas hérnias
sejam incomuns. As hérnias umbilicais em
adultos são adquiridas. Essas hérnias são
mais comuns em mulheres e em pacientes
com condições que resultam em aumento da
pressão intra-abdominal, como gravidez, obe-
sidade, ascite ou distensão abdominal. O es-
trangulamento é incomum. Hérnias pequenas
detectadas no exame físico não precisam de
reparo. Defeitos > 3 cm são fechados usando
Figura 31B
prótese de malha. As hérnias epigástricas são
duas a três vezes mais comuns em homens.
Essas hérnias localizam-se entre o processo
xifoide e o umbigo e em geral distantes 5 a 6
cm do umbigo. Aconselha-se o reparo porque
o defeito é pequeno e a gordura que herniou
da cavidade peritoneal é difícil de reduzir. As
hérnias de Spiegel ocorrem através da fáscia
de Spiegel, que é composta da camada apo-
neurótica entre o músculo reto medialmente e
a linha semilunar lateralmente. Quase todas
as hérnias de Spiegel ocorrem na linha arque-
ada ou abaixo dela. A maioria é pequena e se
desenvolvem durante a quarta até a sétima
década de vida. Deve ser reparada em função
do alto risco de encarceramento associado a
seu colo relativamente estreito. Gabarito C.
Hérnias lombares
Ocorrem na parede abdominal posterior.
Existem duas localizações (FIGURA 32):
Figura 32
• Trígono lombar superior - Grynfelt (borda
inferior da 12ª costela; m. paraespinhais; m.
oblíquo interno).
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Cirurgia - Volume 5 112Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
• Trígono lombar inferior - Petit (borda da crista
ilíaca; m. oblíquo externo; m. grande dorsal).
• São raras. Podem ser congênitas (geralmen-
te bilaterais em meninas) ou adquiridas (uni-
laterais em idoso). A hérnia de Grynfelt é a
mais comum. Seguindo o mesmo raciocínio
das condições anteriores, o tratamento pode
ser feito com reparo por sutura simples, em-
bora a utilização de telas obtenha mais su-
cesso. As hérnias lombares não tendem ao
encarceramento.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2015
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO
ANTÔNIO PEDRO – RJ
O triângulo lombar inferior está relacionado
com a hérnia de:
a) Grynfeld.
b) Spieghel.
c) Douglas.
d) Hasselbach.
e) Petit.
E o que cai é justamente a definição dessas
hérnias!!! Elas podem se formar no triângulo
lombar superior ou no inferior. As que se anun-
ciam no triangulo lombar superior (abaixo da 12a
costela), também são chamadas de hérnia de
Grynfeld; Já as que se anunciam no triângulo
inferior (acima da crista ilíaca), são chamadas
de hérnia de Petit. Logo, gabarito letra E.
Ciática
São hérnias extremamente raras que dificil-
mente são diagnosticadas antes de provoca-
rem obstrução intestinal. Consistem na pas-
sagem de vísceras (principalmente intestino
delgado) pelos forames ciáticos maior ou
menor. O sintoma mais comum é sensação de
desconforto e de crescimento de uma massa
na região glútea ou interglútea. A dor ciática
também é frequente, mas esse tipo de hérnia
não deve ser encarado como uma das causas
comuns de ciatalgia... O tratamento de escolha
consiste na redução transperitoneal com obli-
teração do canal com tela.
Obturadora
Mais comum no sexo feminino e em pessoas
debilitadas. Ocorre devido à fraqueza da
membrana obturadora, fenômeno que permi-
te a passagem do saco herniário contendo
estruturas abdominais pelo trajeto do feixe
vasculonervoso obturatório. Com isto, pode
ocorrer compressão do conteúdo do canal
obturador, principalmente do nervo obturador.
Esta compressão pode levar a dor no trajeto
do nervo, representada por algia na face in-
terna da coxa (sinal de Howship-Romberg).
A via de abordagem preferencial é a posterior
(aberta ou laparoscópica) para ter acesso
direto à hérnia. Deve-se atentar para o fato
de que até metade dos pacientes apresenta
obstrução associada. O forame obturador é
reparado por sutura simples ou por um pe-
queno segmento protético.
Perineal
As hérnias perineais podem ser primárias ou
secundárias. As primárias são um tipo raro de
hérnia e acometem principalmente mulheres.
Apesar de serem consideradas consequências
em longo prazo da gravidez e do parto, devem
ser diferenciadas das distopias genitais, que
não representam hérnias verdadeiras. A her-
niação das vísceras ocorre por dois principais
defeitos no diafragma pélvico: o defeito ante-
rior, que se encontra no trígono urogenital (a
víscera hernia entre o ligamento largo do úte-
ro e a bexiga), e o defeito posterior, localizado
na fossa ísquio-retal (a víscera herniaentre a
bexiga/útero e o reto). Apresenta-se com uma
variedade de sintomas como sensação de
massa perineal, retenção urinária, dificuldade
para o coito, constipação, sensação de evacu-
ação incompleta e dificuldade para sentar. As
hérnias perineais dificilmente geram obstrução
ou estrangulamento devido ao largo anel her-
niário promovido pelo defeito pélvico. As hér-
nias secundárias são complicações pós-ope-
ratórias tardias de cirurgias, como ressecção
abdominoperineal (cirurgia de Miles) ou pros-
tatectomia radical perineal. As manifestações
clínicas são semelhantes à hérnia primária.
Figura 33
Figura 34
O tratamento de escolha é a redução e secção
do saco herniário por via transperitoneal baixa
com colocação de tela.
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Cirurgia - Volume 5 113Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Figura 35
Internas
As hérnias internas costumam conferir uma
dificuldade de entendimento para aqueles que
se aventuram no seu estudo. Para compreen-
dê-las é necessário, antes de tudo, entender
o seguinte conceito: para que as hérnias in-
ternas ocorram é necessário que haja uma
reentrância no peritônio. Essa reentrância
pode ser uma dobra, uma fossa, um defeito,
um canal, ou qualquer acidente que permita a
passagem de uma alça, formando assim o
óstio herniário. Dependendo da origem da
reentrância, podemos classificar a hérnia
como congênita ou adquirida.
As hérnias internas podem possuir caráter
permanente ou intermitente. A principal mani-
festação associada é a obstrução intestinal,
embora sejam uma causa incomum de obs-
trução de delgado... São dificilmente diagnos-
ticadas antes de uma laparotomia explorado-
ra, o que aumenta a gravidade do caso devido
ao risco de estrangulamento das mesmas.
Vamos rever agora os principais tipos de hér-
nias internas:
Congênitas:
• Hérnia paraduodenal
Também conhecida como hérnia parameso-
cólica, é o tipo mais comum de hérnia interna.
Nela o intestino delgado hernia através de
duas pregas de peritônio localizadas ao fim
da 4ª porção duodenal: as fossas paraduo-
denais esquerda (Landzert) e direita (Wal-
dayer). As hérnias paraduodenais esquerdas
são as mais comuns. O tratamento segue o
mesmo princípio que todas as hérnias: redu-
ção, ressecção do saco e reparo do defeito
peritoneal (sem necessidade de tela) – (FI-
GURAS 36 e 37).
• Hérnia transmesentérica
Pode ser congênita ou adquirida. Consiste
na existência de uma falha (“buraco”) no me-
sentério por onde as alças são protruídas. As
formas congênitas são mais comuns em
crianças e frequentemente estão relaciona-
das com as atresias jejunoileais próximas ao
ângulo de Treitz ou válvula ileocecal. As ad-
quiridas são mais frequentes nos adultos e
costumam se formar após cirurgias, traumas
ou peritonite. As hérnias intersigmoides são
uma variação desse tipo de hérnia e ocorrem
através de pequenos defeitos no mesossig-
moide (FIGURAS 38 e 39).
Fig. 36: Hérnia Paraduodenal Esquerda
através da Fossa de Landzert (seta bran-
ca) e localizada posterior à v. mesentérica
inferior e a. cólica esquerda (seta preta).
Fig. 37: Hérnia Paraduodenal Direita
através da Fossa de Waldeyer (seta cur-
va) e localizada posterior à a. mesenté-
rica superior (seta reta) e inferior à 3ª
porção do duodeno (asterisco).
Fig. 38: Hérnia Transmesentérica: defei-
to adquirido após cirurgia de y de Roux
retrocólico.
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Cirurgia - Volume 5 114Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
• Hérnia transomental
Apesar de existirem diversos orifícios no
omento maior, as hérnias transomentais são
raras mesmo entre as hérnias internas. Lo-
gicamente, elas consistem na passagem de
uma alça de intestino delgado por um dos
orifícios naturais do omento.
• Hérnia pericecal
Apesar de existirem seis fossas peritoneais
relacionadas ao ceco, apenas duas pos-
suem relevância clínica: fossas ileocecais
superior e inferior, relacionadas com a re-
flexão do peritônio próximo à junção do íleo
com o ceco. Naturalmente, para que a hérnia
ocorra é necessário que as vísceras se pro-
jetem por essas fossas. O tratamento é se-
melhante ao das hérnias paraduodenais
(FIGURA 40).
Fig. 39: Hérnia Intersigmoide: defeito no
mesocólon sigmoide.
Figura 40
• Hérnia pelo forame de Winslow
O forame de Winslow é abertura natural que
permite comunicação entre a cavidade peri-
toneal e a bursa omental. As margens que
delimitam essa abertura são a veia cava in-
ferior, o lobo caudado do fígado, o omento
menor e o duodeno. As hérnias ocorrem
quando há protrusão de vísceras da cavida-
de peritoneal em direção à bursa omental. O
conteúdo do sano herniário é variável, con-
tendo alças de delgado (2/3 dos casos) ou o
cólon ascendente e o ceco (1/3 dos casos)
– (FIGURA 41)
Fig. 41: Hérnia se anuncia pelo Hiato (ou
forame) de Winslow.
Adquiridas:
As hérnias internas adquiridas são frutos de
defeitos peritoneais criados após cirurgias abdo-
minais que envolvem grandes anastomoses,
como reconstruções pós-gastrectomia, cirurgias
bariátricas, esofagectomias, cirurgia de Whipple
e as derivações hepáticas. De forma geral, as
cirurgias que utilizam o y de Roux são as que
mais frequentemente apresentam essa compli-
cação, sobretudo o by-pass gástrico em y de
Roux, que vem sendo cada vez mais utilizado
para tratamento cirúrgico da obesidade. Os de-
feitos formados após a realização da cirurgia são
abordados no boletim operatório da apostila de
Síndrome Metabólica II, mas é importante des-
tacar o espaço retroanastomótico, conhecido
como espaço de Petersen. Ele é o sítio mais
frequente de localização das hérnias adquiridas
e, por vezes, o epônimo dado ao espaço também
é empregado na denominação da hérnia, co-
nhecida também como hérnia de Petersen.
diafragmáticas
As hérnias diafragmáticas congênitas constituem
um capítulo separado das demais hérnias já que
se apresentam como uma das causas de insu-
ficiência respiratória nos recém-natos. Elas serão
melhor abordadas no módulo de Neonatologia
do MED. A título de curiosidade, adiantaremos
as suas nomenclaturas anatômicas: as hérnias
posteriores são denominadas hérnias de Bo-
chdalek e as anteriores hérnias de Morgagni.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2011
HOSPITAL CENTRAL DA POLÍCIA
MILITAR – HCPM
Quanto às hérnias lombares, marque a afir-
mativa correta:
a) Encarceram com facilidade.
b) As do triângulo de Petit são mais comuns.
c) A de Petit se localiza entre a 12ª costela, a
crista ilíaca e o músculo oblíquo externo.
d) A de Grynfelt se localiza entre a 12ª coste-
la, musculatura paravertebral e músculo oblí-
quo interno.
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Cirurgia - Volume 5 115Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
e) O tratamento cirúrgico é simples e dispen-
sa o uso de telas.
As hérnias lombares dificilmente encarce-
ram devido ao óstio largo e são mais bem
tratadas com uso de telas. As hérnias no
trígono lombar superior (Grynfelt) são mais
comuns. Vamos relembrar os limites dos
trígonos lombares:
Grynfelt: 12ª costela, musculatura paraverte-
bral e oblíquo interno.
Petit: Crista ilíaca, latíssimo do dorso e oblíquo
externo.
Opção “D” correta.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2010
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE – RJ
Uma paciente de 34 procurou o ambulatório de
cirurgia, referindo dor de forte intensidade na
região supraumbilical. Ao ser examinada, evi-
denciou-se uma hérnia epigástrica de conteúdo
irredutível, sugerindo o encarceramento de:
a) Grande epíplon.
b) Jejuno proximal.
c) Intestino grosso.
d) Gordura pré-peritoneal.
Como vimos acima, a hérnia epigástrica se
trata de uma protrusão da gordura pré-peritoneal
ou mesmo do peritônio, através de um defeito na
linha alba e que costuma promover dor despro-
porcional ao seu tamanho. Aqui, a paciente apre-
senta um quadro clássico – opção D correta.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – UFG
A hérnia de Spieghel está localizada:
a) Na projeção da linha semilunar do abdome,
em situação ventral, onde osmúsculos abdo-
minais laterais se fundem à bainha do reto
abdominal.
b) No espaço delimitado pelo arco aponeuróti-
co do músculo transvenoso cranialmente, mús-
culo ileopsoas lateralmente e pelo ligamento
pectíneo (Cooper) medial inferiormente.
c) Na área limitada lateralmente pelos vasos
epigástricos, medialmente pela borda do mús-
culo reto abdominal e inferiormente pelo liga-
mento pectíneo (Cooper) e o púbis.
d) No espaço delimitado anteriormente pelo li-
gamento inguinal, lateralmente pela veia femo-
ral, posteriormente pelo púbis e medialmente
pelo ligamento lacunar.
Decoreba. Opção “A”.
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2007
UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSE – UFF
Com relação às hérnias da parede abdominal,
assinale a afirmativa correta:
a) Hérnia de Laugier é aquela que faz saliên-
cia através da fáscia pectínea.
b) Hérnia lombar superior de Petit é aquela
que ocorre através de um defeito no espaço
limitado posteriormente pelo grande dorsal,
inferiormente pela crista ilíaca e anteriormen-
te pela borda posterior do oblíquo interno.
c) Hérnia lombar inferior de Grynfelt é aquela
cujo defeito situa-se no espaço entre o grande
dorsal, o serrátil póstero-inferior e a borda
posterior do músculo oblíquo externo.
d) Hérnia de Spieghel é aquela que faz pro-
trusão através de uma área de fraqueza late-
ral à bainha do músculo retoabdominal e
abaixo dessa linha.
e) Hérnia de Cloquet é aquela que se projeta
através de um defeito no ligamento lacunar.
As bancas de cirurgia simplesmente amam
os epônimos! Você já sabe que a resposta cor-
reta é a opção D, mas vamos aprender mais
dois tipos de hérnia que a questão menciona:
Hérnia de Laugier: É um tipo raro de hérnia
femoral em que o saco herniário se projeta
pelo ligamento lacunar.
Hérnia de Cloquet: Outra variante rara da
hérnia femoral. Consiste na descida do saco
herniário por cima do músculo pectíneo ao
invés do canal femoral. Existem descrições
em que esse tipo de hérnia se estende até o
joelho do indivíduo!
RESIDÊNCIA MÉDICA – 2002
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO – UERJ
Na gênese das hérnias incisionais, o fator
causal mais comumente encontrado é:
a) Gravidez.
b) Desnutrição.
c) Idade avançada.
d) Infecção de parede.
Todas as condições relacionadas nas alter-
nativas aumentam o risco de desenvolvimen-
to de hérnia incisional. Dentre elas, a presen-
ça de infecção do sítio cirúrgico é o fator mais
importante no desenvolvimento das hérnias
ventrais (incisionais). Resposta: D.
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Cirurgia - Volume 5 116Medgrupo - CiClo 2: M.E.D clínica médica - Volume 2 116medgrupo - ciclo 2: m.e.d
B assini, McVay,Shouldice, Lichtenstein... São nomes que temos
certeza que você irá decorar para sua prova de residência.
Mas você realmente entende o que feito em cada técnica
de herniorrafia? Sabemos que anatomia da região inguinal é
complicada e que a descrição das técnicas é, de fato, abstrata. No
entanto, ao compreender os tempos cirúrgicos você não só terá uma maior
facilidade de guardar as informações que serão cobradas na sua prova
de residência, como também conseguirá, de fato, entender os passos que
seus Staffs vivem tentando lhe demonstrar no centro cirúrgico. Então,
deixe o preconceito de lado e se concentre, pois esse é, definitivamente,
o boletim operatório mais cobrado nas provas de residência.
boletIm operatórIo
Considerações iniciais:
Seja qual for o tipo de hérnia da região in-
guinal ou a técnica escolhida para o reparo
anterior da mesma, alguns tempos são co-
muns a todas as cirurgias. Descreveremos
a seguir esses tempos e, posteriormente,
focaremos na descrição detalhada das prin-
cipais técnicas de herniorrafia.
(1) Incisão
Para traçar a incisão a ser realizada na região
inguinal é necessário localizar seu ponto mais
lateral. Ele fica situado cerca de duas polpas
digitais abaixo e medialmente da espinha ilí-
aca anterossuperior, a 2-3 cm de distância da
topografia do ligamento inguinal. A incisão é
continuada medialmente por aproximadamen-
te 6 a 8 cm, sempre se mantendo paralela ao
ligamento. Após incisar a pele, o subcutâneo
é dividido com o eletrocautério. Aqui nem sem-
pre conseguimos visualizar todas as cama-
das... A fáscia de Camper muitas das vezes
passa despercebida. Já a fáscia de Scarpa,
apesar de mais fina, é mais frequentemente
identificada. Ela é incisada no mesmo sentido
da incisão cutânea, permitindo que a fáscia
do oblíquo externo seja visualizada (Gallau-
det). Ao seccionarmos essa última é possível
observar o anel inguinal externo e parede
anterior do canal inguinal, formada pela apo-
neurose do m. oblíquo externo.
116
diagnóstico:
Procedimento:
Anestesia:
Tempos cirúrgicos:
Hérnia inguinal direta,
indireta ou femoral.
Herniorrafia inguinal
anterior
Local, Bloqueio de neuroeixo
ou Geral
Figura 1
(2) Acesso anterior ao canal inguinal
Traça-se uma linha de incisão que vai desde
o anel inguinal externo seguindo pela parede
anterior. As paredes do canal são afastadas
por divulsão romba com tesouras Metzen-
baum, de forma que se visualize os nervos
íleo-hipogástrico e ilioinguinal sem que eles
sejam cortados. Ao serem identificados eles
são isolados com reparos para que não fiquem
na frente do campo. A fim de facilitar dissecção
das bordas da aponeurose, pinças hemostá-
ticas são aplicadas às margens da aponeuro-
se, levantando-as. A divulsão dos tecidos
prossegue até que o m. oblíquo superior seja
visualizado superiormente e que o ligamento
inguinal esteja definido inferiormente. Ao tér-
mino da dissecção romba é possível visualizar
o cordão espermático no seu leito, percorren-
do seu trajeto até a bolsa escrotal.
Figura 2
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Cirurgia - Volume 5 117Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
(3) Mobilização do cordão
À exceção das hérnias exageradamente gran-
des, o saco herniário ainda não estará eviden-
te nesse momento... Nas hérnias diretas ele
estará encoberto pelo próprio funículo esper-
mático e nas indiretas escondido dentro do
músculo cremaster. É natural, então, que o
próximo tempo consista na mobilização do
cordão. Para isso o cirurgião envolve o mesmo
com indicador e polegar na altura do tubércu-
lo púbico. Ao afastar a ponta do funículo de
seu leito é possível passar um dreno de Pen-
rose (ou mesmo uma gaze) a redor dessa
estrutura, de maneira que ela seja tencionada
por ele e não diretamente pela mão do cirur-
gião ou por uma pinça. Com o ponto de apoio
encontrado, o funículo espermático é afastado
da parede enquanto pequenas fibras do mús-
culo cremaster que se ligam à parede posterior
do canal são quebradas através de dissecção
romba até o limite do anel inguinal interno.
(4) Localização do saco herniário
Nesse ponto é possível identificar a parede
posterior do canal inguinal e todas as suas
estruturas. No caso das hérnias inguinais di-
retas já é possível observar o saco herniário
protuso pelo trígono de Hessert, medialmente
aos vasos epigástricos inferiores.
A visualização do saco herniário nas hérnias
indiretas necessita de um pouco mais de tra-
balho. O cirurgião deve incisar o m. cremaster
paralelamente ao sentido de suas fibras. O
saco herniário será identificado com uma es-
trutura mais “esbranquiçada”, encontrada
numa posição anteromedial ao funículo. De-
vem ser identificados ainda o ducto deferente
e os vasos espermáticos, para evitar que os
mesmos sejam lesados durante a dissecção
da hérnia. O saco herniário é tracionado com
uma pinça e é separado do funículo por divul-
são digital ou com uma dissecção romba com
Figura 3
Por vezes, durante esse tempo, em vez de
encontrar o saco herniário, o cirurgião se de-
para com tecido gorduroso advindo do espaço
pré-peritoneal (“lipoma do funículo”). Esses
tecidos devem ser ligados e seccionados.
(5) Exploração e ligadura do saco herniário
Com o saco herniário isolado existem algumas
condutas que podem ser adotadas. Os sacos
pequenos sãosimplesmente invertidos ligados
em sua base. Os sacos grandes geralmente
são abertos para conferir se não há conteúdo
visceral encarcerado. Antes de efetuar a inci-
são é importante checar se não há nenhuma
víscera que compõe a parede do saco (hérnia
por deslizamento). Após a excisão do tecido
redundante, o saco é ligado na altura do es-
paço pré-peritoneal. Nas hérnias indiretas
essa ligadura se faz através do anel inguinal
interno (ligadura alta do saco).
(6) Confecção do reparo
O manejo da hérnia atual é finalizado com úl-
timo tempo descrito. O próximo passo na ci-
rurgia é a confecção de reparo que evitará a
recidiva da hérnia. Existem dois tipos de repa-
ro: os reparos teciduais (com tensão) e os
reparos com tela (sem tensão/ ”tension free”).
uma tesoura Metzenbaum até a altura do anel
inguinal interno.
rEPArOs TECIduAIs
Devido às baixíssimas taxas de recorrência
associadas aos reparos com tela, os reparos
teciduais deixaram de ser o procedimento de
escolha em grande parte das herniorrafias. No
entanto, ainda existem indicações formais des-
ses procedimentos. Um bom exemplo é a cor-
reção das hérnias estranguladas, onde o risco
de infecção torna inaceitável o uso de próteses.
Descreveremos agora as principais técnicas
de reparo tecidual.
Técnica de Marcy
Em crianças, as hérnias inguinais indiretas são
geralmente desacompanhadas de destruição
da parede posterior ou alargamento do anel
inguinal interno, já que são secundárias direta-
mente à persistência do conduto peritoneova-
ginal. Dessa forma, não há necessidade de se
reconstruir a parede posterior ou realizar qual-
quer procedimento para evitar a recidiva herni-
ária. Assim, após a excisão do tecido redundan-
te, parte restante do saco herniário é torcida,
transfixada e ligada na altura do espaço pré-
-peritoneal através do anel inguinal interno (li-
gadura alta do saco). Os planos são reaproxi-
mados normalmente e a cirurgia é finalizada.
Figura 4
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Cirurgia - Volume 5 118Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
Não se trata de um reparo anterior propria-
mente dito. Utilizada como tempo definitivo ou
complementar, a técnica de Zimmerman con-
siste numa plicatura realizada para diminuir o
diâmetro do anel inguinal interno na aborda-
gem às hérnias indiretas. Não se deve utilizá-
-la, portanto, nos tratamentos das hérnias di-
retas já que não reforça a parede posterior do
canal... A plastia do anel é efetuada através
de suturas que ligam a fascia transversalis
com trato ileopúbico, ou seja, a aproximação
da fáscia com ela mesma, já que o trato ileo-
púbico nada mais é do que um espessamen-
to de sua borda inferior.
Técnica de zimmerman
Técnica de Condon/
reparo do trato ileopúbico
A técnica de Condon pode ser empregada
tanto nos reparos anteriores quanto nas her-
niorrafias pré-peritoneais já que não exige que
o ligamento inguinal seja visualizado. Para sua
realização é necessário incisar a parede pos-
terior do canal inguinal. Nesse momento, todo
tecido redundante é retirado. O trato ileopúbi-
co, agora separado da fascia transversalis, é
suturado com pontos simples ao músculo
transverso e sua aponeurose desde o tubér-
culo púbico (medialmente), até que o anel
inguinal interno seja reconstruído (lateralmen-
te). O reparo do trato ileopúbico costuma gerar
muita tensão na linha de sutura. É por isso que
a técnica original é acompanhada por uma
incisão de relaxamento.
Incisão de relaxamento?
Figura 5
Figura 6
Sim, uma incisão na parede abdominal inferior
de forma que as forças tênseis na aponeurose
muscular sejam diminuídas. Para conseguir
esse efeito é necessário relembrar um pouco
da anatomia abdominal: você já viu ao longo
da apostila que as aponeuroses dos músculos
oblíquo externo, oblíquo interno e transverso
são responsáveis pela formação da bainha dos
retos abdominais, que recobrem esses múscu-
los anteriormente e posteriormente. No entan-
to, abaixo da linha arqueada de Douglas, todas
as fibras aponeuróticas tornam-se anteriores
ao reto abdominal, deixando a sua parte pos-
terior protegida somente pela fascia transver-
salis. Nesse contexto, ainda podemos observar
que a aponeurose do m. oblíquo externo se
junta às outras entre a borda do reto abdominal
(linha semicircular) e a linha Alba. É exatamen-
te antes dessa junção que é feita a incisão,
atravessando todas as aponeuroses e expondo
o músculo anteriormente coberto pela bainha.
A incisão começa na altura do púbis e se es-
tende superiormente (5-8 cm) até que a linha
de sutura do reparo anterior tenha sua tensão
diminuída. É interessante notar que muitos ci-
rurgiões optam por realizar a técnica de Con-
don sem efetuar a incisão de relaxamento.
Técnica de Bassini
A técnica de Bassini possui atualmente mais
importância histórica do que prática. Apesar
de ter sido uma revolução no tratamento das
hérnias, hoje é preterida pelos reparos com
tela e reparos teciduais que apresentam me-
nores taxas de recidiva, como por exemplo, a
técnica de Shouldice. Apresentada em 1889
por Bassini no trabalho intitulado “Nuovo Me-
todo Operativo per la Cura Radicale dell’Ernia
Inguinale”, trouxe um novo horizonte para a
abordagem das hérnias, indicando que o fu-
turo do tratamento dessa patologia residia na
reconstrução da parede posterior do canal
inguinal. A técnica operatória descrita envolve
conceitos anatômicos básicos a todas as her-
niorrafias e deve ser dominada por todo cirur-
gião geral ou candidato à especialidade...
Figura 7
A técnica consiste primeiramente na descons-
trução da parede posterior. É feita uma incisão
na fascia transversalis, separando-a do trato
ileopúbico. A reconstrução da parede poste-
rior é realizada em seguida. Classicamente, a
borda superior da linha de sutura contém 3 ca-
madas: o m. oblíquo interno, o .m transverso e
a fascia transversalis. A borda inferior é cons-
tituída pelo trato ileopúbico e principalmente o
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Cirurgia - Volume 5 119Medgrupo - CiClo 2: M.E.D
ligamento inguinal. As bordas são aproxima-
das através de pontos simples, do púbis até o
anel inguinal interno, reconstruindo-o.
Técnica de shouldice
A técnica de Shouldice consiste na reconstru-
ção da parede posterior do canal inguinal em
camadas. Apesar de ser bem mais trabalhosa
que os outros reparos descritos, é o reparo te-
cidual que apresenta as menores taxas de re-
cidiva, se assemelhando aos reparos com tela.
Para sua realização, similarmente à técnica
de Bassini, é necessário desconstruir a pare-
de posterior do canal inguinal. Para isso é
necessário incisá-la, separando a fascia trans-
versalis do trato ileopúbico. A borda superior
dessa última é presa entre pinças hemostáti-
cas e elevada. A primeira camada de sutura
é efetuada através de um chuleio contínuo
entre a parte mais profunda da borda superior
da fascia transversalis com o trato ileopúbico,
iniciando-se no púbis e terminando próxima
ao funículo espermático, reconstruindo o anel
inguinal interno. É importante ressaltar que o
último ponto da sutura é ancorado, mas o fio
não é cortado. Ele será utilizado para confec-
ção da segunda camada da sutura, que tam-
bém se trata de um chuleio. Ele aproximará a
borda livre da parte elevada da fascia trans-
versalis com o ligamento inguinal, iniciando-se
no anel inguinal interno e seguindo até o púbis.
Para terceira camada, um novo fio é utilizado.
Nesse momento é confeccionada uma sutura
contínua unindo os músculos transverso e oblí-
quo interno junto com suas aponeuroses ao
ligamento inguinal. A sutura é iniciada na altura
do anel inguinal interno se estende até o púbis.
A semelhança da primeira camada, ao término
da linha do chuleio, o ponto é ancorado, mas o
fio não é cortado. Ele será utilizado para con-
fecção da quarta e última camada da parede
posterior. Ela unirá pontos mais distantes das
mesmas estruturas unidas pela 3ª camada,
como se o cirurgião estivesse