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Daniela Pimenta 
1 
 
Bioquímica da avaliação hepática 
Lesão e função hepática – avaliação hepática 
Do ponto de vista clínico, as perturbações que levam a alterações a nível hepático não se 
fazem sentir apenas enquanto perturbação das funções hepáticas, mas também, e talvez a 
maioria dos danos que ocorrem, devido à morte celular. 
Existem dois tipos de células que clinicamente são de uma importância extraordinária para 
podermos estudar como se encontra, do ponto de vista fisiológico, saúde ou doença, o fígado. 
Essas células são os hepatócitos e as células dos canalículos biliares (células das vias biliares). 
Na maior parte das situações, são estas células as afetadas 
por aquilo que causou dano ao fígado. No interior destas 
células existem as enzimas e aquando da ocorrência de 
dano celular, enzimas libertam-se. No entanto estas 
enzimas intracelulares não são específicas de nenhuma das 
células referidas anteriormente. 
As enzimas incluem as aminotransferases (alanina aminotransferase e aspartato 
aminotransferase), a fosfatase alcalina (ALP) e a GamaGT. Contudo, nenhuma destas enzimas 
é específica para o fígado, ou seja, não se libertam para a corrente sanguínea apenas através 
do fígado. O rim, o músculo esquelético e o músculo cardíaco podem produzir também estas 
enzimas. 
Assim, quando estas enzimas estão aumentadas na corrente sanguínea, pode não significar 
lesão hepática, mas sim lesão noutro órgão. Não é possível definir o dano hepático apenas por 
estas enzimas intracelulares. Para saber se a presença destas enzimas na corrente sanguínea 
é devida ao dano hepático, são necessários outros parâmetros que sofram alteração em 
consequência do dano destas células. 
Dentro das alterações que ocorrem a partir do dano destas células temos aquelas que 
dizem respeito à função hepática. Com extrema importância em termos clínicos existem 4 
funções hepáticas: 
Daniela Pimenta 
2 
 
 Testes baseados na função de excreção – avaliada através da capacidade de 
biotransformação da bilirrubina. 
A função de excreção é exclusiva do fígado e é definida pela bilirrubina. Deste modo, se as 
transaminases e γ-GT estiverem aumentadas e se houver aumento da bilirrubina, conclui-se 
que estas alterações se devem a uma alteração da função hepática. No entanto, se não houver 
alteração da bilirrubina, a presença das enzimas na corrente sanguínea deve ser avaliada em 
conjunto com outros biomarcadores que permitem saber se é uma alteração a nível do 
músculo ou rim. 
 Testes baseados na função de síntese – avaliada através da quantificação da albumina, 
trombina e protrombina. 
Este teste é específico da função hepática e pode ser combinado aos anteriores, de forma 
a perceber se as alterações nas transaminases, ALP e γ-GT se devem a perturbações a nível 
hepático. Quando ocorrer uma diminuição da síntese da albumina, para se ter a certeza de 
que a função de síntese de proteínas a nível do fígado está alterada tem de se combinar a 
avaliação da albumina com o tempo de protrombina. Desta forma, a combinação da avaliação 
das transaminases, ALP e γ-GT com os testes de função de síntese permite já alguma 
especificidade. 
 Testes baseados na função de desintoxicação – avaliada através da determinação de 
amónia. 
No metabolismo das proteínas é libertado um grupo amina que não pode permanecer no 
organismo, dado ser altamente neurotóxico, e é o fígado quem o tem que transformar em 
ureia. Para avaliarmos esta capacidade em eliminar moléculas que sejam prejudiciais ao 
organismo, fazemos a determinação da amónia. 
 Testes baseados na função metabólica – medição da glicémia. 
Quando o fígado deixa de produzir energia, deixa de produzir intermediários necessários 
para as nossas células produzirem moléculas essenciais ao seu funcionamento, e morrem. Para 
além da função metabólica energética há também a função metabólica responsável pela 
Daniela Pimenta 
3 
 
cedência de glucose, assim, pela determinação da glicémia podemos avaliar o fígado do ponto 
de vista metabólico. 
São necessários marcadores que sejam específicos e que estejam relacionados com 
alterações da função hepática. Percebe-se que é necessário fazer uma combinação de testes 
de função hepática que nos permitam dizer se a GamaGT e as transaminases são de origem 
hepática → testes de síntese. 
Muitas das funções hepáticas são efetuadas pelos hepatócitos. Se estas células morrerem, 
ocorre alteração nas funções do fígado. Na maioria das vezes, as perturbações nas funções 
hepáticas resultam se uma lesão celular prévia. Se houver uma lesão nos hepatócitos as 
enzimas intracelulares são libertadas e as funções dos hepatócitos também deixam de ser 
desempenhadas. Pelo que a avaliação hepática tem de ser feita pela combinação destes dois 
tipos de testes (lesão celular e função hepática), onde as enzimas nos permitem avaliar o dano 
hepatocelular e os metabolitos nos permitem avaliar a função hepática. 
Alterações nas transaminases, na fosfatase alcalina e na gamaGT devem-se a uma lesão a 
nível hepático quando temos biomarcadores da função que são específicos no fígado, entre 
eles a biotransformação da bilirrubina. Se houver uma alteração nestas enzimas resultantes de 
um dano celular e ao mesmo tempo houver uma alteração na bilirrubina, isto garante-nos que 
o órgão que está a ser afetado é o fígado. 
Se as aminotransferases estiverem presentes na corrente sanguínea e existir também 
bilirrubina, a lesão é a nível hepático, mas se houver apenas as enzimas, não podemos afirmar 
que é uma lesão hepática. Para afirmar alterações da função hepática, podemos recorrer à 
verificação dos níveis de bilirrubina ou de albumina, uma vez que são os mais específicos. A 
glicémia, assim como a quantidade de amónia, não são específicos (por exemplo, a glicémia 
aumenta no pós-prandial, e em casos de falha na síntese de insulina, e a amónia aumenta em 
casos de hemorragia). 
As funções exclusivas do fígado e que conferem especificidade às enzimas intracelulares 
são o aumento da bilirrubina e falhas a nível proteico, nomeadamente na albumina, trombina 
e protrombina. 
Daniela Pimenta 
4 
 
Anatomia e fisiologia hepática 
O fígado é dividido em lobos que são estruturas constituídas por unidades funcionais 
hepáticas, os lóbulos. Os lóbulos são estruturas hexagonais, com fileiras de hepatócitos 
(unidade funcional). Em cada em cada vértice dos lóbulos encontra-se uma tríade portal (em 
cada lóbulo existem 6 tríades) – conjunto da veia porta hepática, da artéria hepática e do ducto 
biliar. No centro de cada lóbulo, onde estas tríades se ligam, à exceção dos canalículos biliares 
(ducto biliar), a veia porta e a artéria hepática 
reúnem-se na artéria central, que permite o 
fluxo sanguíneo. A veia e a artéria formam os 
sinusoides que banham os hepatócitos. Esta 
estrutura permite que os hepáticos estejam 
simultaneamente em contacto com a veia 
porta, a artéria hepática e o canalículo biliar. 
Na veia porta circula o sangue (80%) que transporte tudo o que é absorvido a nível do 
intestino, o fluxo de sangue transporta todos os nutrientes, tóxicos, xenobióticos, fármacos, 
entre outros. Na artéria hepática circula o sangue arterial (20%), rico em oxigénio, que se junta 
com a veia porta hepática e forma os sinusoides. Neste espaço que constitui os sinusoides, 
todas as substâncias anteriormente mencionadas são fornecidas aos hepatócitos. Nos 
sinusoides existem as células de Kupffer que impedem que eventuais microrganismos da flora 
intestinal (foram absorvidos no intestino) atinjam a corrente sanguínea. 
Daniela Pimenta 
5 
 
Os hepatócitos estão em contacto com ambos os constituintes da tríade, o que permite 
que tudo aquilo que é necessário ao organismo segue para a veia central, a partir dos 
sinusoides, e de seguida para a circulação sanguínea. Por outro lado, tudo o que não é 
necessário ao organismo, é eliminado através dabílis. 
Caso ocorra obstrução dos canalículos, ou de outra porção da arvore biliar, aquilo que o 
organismo não consegue eliminar acumula-se, podendo acabar por atingir os hepatócitos, 
causando-lhes toxicidade, culminando na sua morte, e consequentemente ocorre perturbação 
da função hepática. 
Anatomia e fisiologia hepática – arvore biliar 
A arvore biliar é formada pelos canalículos biliares, pelos ductos hepáticos (ductos biliares 
intra-hepáticos) e pelo ducto biliar comum (pós-hepático). 
Os hepatócitos, ao fazerem o seu processo de 
biotransformação, secretam moléculas que não são necessárias 
ao organismo para os canalículos biliares. A nível intra-hepático, 
em contacto com os hepatócitos estão os canalículos biliares 
que fundem nos chamados ductos biliares (esquerdo e direito) 
que depois fundem no ducto biliar comum/ducto colédoco. As 
patologias a nível hepático podem ser de caracter intra-hepático ou pós-hepático. 
Constituição da bílis 
Vai ser com base nas alterações dos constituintes da bílis que podemos também encontrar 
diferentes patologias a nível hepático. Na composição da bílis existe essencialmente: 
 Água – meio aquoso; 
 Sais biliares – derivados do 
colesterol, são drenados pela bílis 
no intestino para a digestão e 
absorção dos lípidos; 
 Pigmentos da bílis (bilirrubina e 
biliverdina); 
 Colesterol da dieta; 
 Eletrólitos. 
Daniela Pimenta 
6 
 
Um dos grandes problemas relacionado com patologias hepáticas está diretamente 
relacionado com o colesterol da dieta. Quando falamos em colesterol temos de pensar nas 
suas duas origens, a sua origem exógena pela dieta (colesterol exógeno), ou endógena 
(colesterol endógeno), aquele que sintetizamos. 
O colesterol proveniente da dieta pouco altera os padrões de colesterolemia, isto porque o 
colesterol absorvido permanece na composição dos quilomícrons remanescentes, sendo, após 
metabolização hepática, secretado na bílis. Para além disso, os esteróis vegetais competem 
com o colesterol para a incorporação nas micelas, reduzindo a entrada de colesterol no 
organismo. Por isso, os padrões de hipercolesterolemia não advêm do consumo direto de 
colesterol da dieta. 
Os lípidos, para serem absorvidos, têm de ser metabolizados, num processo de 
digestão/catabolismo. Esse processo ocorre a nível do lúmen intestinal. Os triglicerídeos, por 
ação das lípases, são degradados em glicerol e ácidos gordos. O colesterol que é esterificado 
(da dieta) tem de ser hidrolisado a ácidos gordos e colesterol livre, processo realizado pela 
colesterol esterase. 
O glicerol, os ácidos gordos e o colesterol livre resultantes do processo de digestão (os 
únicos de natureza lipídica que se formam neste processo) são absorvidos a nível da mucosa 
intestinal e passam para as células intestinais, os enterócitos. 
Como estes lípidos não são solúveis, os enterócitos 
passam a sintetizar apolipoproteínas, as chamadas 
Apo E, C e Apo B-48 (estruturas que garantem a 
estabilidade dos lípidos). Estas Apo B-48 
conseguem formar estruturas, os quilomícrons 
com os triacilgliceróis e o colesterol esterificado 
que foram sintetizados no interior dos enterócitos. 
Estas moléculas, por serem hidrofóbicas, não se podem manter no meio aquoso das células e, 
portanto, têm de ser estabilizadas na forma de lipoproteínas, à custa das Apo B-48. Daí 
resultam moléculas de grande dimensão, os quilomícrons, que, por terem um tamanho muito 
Daniela Pimenta 
7 
 
grande, não entram pela veia porta hepática, como a maior parte das moléculas que são 
absorvidas no intestino, por outro lado, passam para o sistema linfático e é a partir deste 
sistema que atingem a corrente sanguínea. Quando os quilomícrons entram na corrente 
sanguínea, a lipoproteína lípase hidrolisa-os em glicerol e ácidos gordos. Os ácidos gordos, no 
pós-prandial serão utilizados novamente para a síntese de triacilgliceróis que se vão armazenar 
no tecido adiposo, e o colesterol fica agora nos quilomicrons remanescentes. 
O fígado possui os LPR, que são recetores que reconhecem as Apo B-48, e a partir destas 
captam os quilomícrons remanescentes para o fígado. A nível do fígado, este colesterol será 
usado na síntese de moléculas, tais como sais biliares, vitamina D, hormonas esteroides e o 
colesterol endógeno. O colesterol que já não é necessário para a síntese de novas moléculas 
vai fazer parte da bílis e, de seguida, é drenado para o intestino e excretado nas fezes. 
O colesterol endógeno é o responsável pelos mecanismos de aterosclerose, que é fator de 
acidentes cardiovasculares, derrames, enfartes do miocárdio, entre outros. Para que este 
colesterol não seja nefasto ao nosso organismo, existe um mecanismo que capta o colesterol 
que se encontra nas LDL. No fígado existem os recetores das LDL que, ao captarem essas LDL, 
permitem que o colesterol presente no seu interior, suscetível de induzir patologias, passe para 
o fígado, onde segue os mesmos processos do colesterol da dieta. Enquanto houver recetores 
das LDL que captem essas LDL, o colesterol não tem efeitos nocivos para o organismo. 
Um dos processos, e principais causas, dessas patologias ocorre quando temos deficiências, 
sejam elas, ou não, hereditárias. Um exemplo é quando temos deficiências no turnover dos 
recetores das LDL. Uma das causas que pode levar a esta deficiência no turnover dos recetores 
das LDL é o excesso de colesterol da dieta. Este excesso chega ao fígado e impede-o de fazer o 
turnover dos recetores das LDL, resultando numa captação de LDL diminuída. Assim, os níveis 
de colesterol na corrente sanguínea vão aumentando, acabando por atingir os tecidos, onde 
se acumula e desencadeia os processos de obstrução dos capilares, dando origem às doenças 
cardiovasculares. 
Cálculos biliares 
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Os cálculos biliares são a causa de diferentes patologias que iremos encontrar a nível 
hepático. Da informação acima referida, sabemos que na bílis é excretada a água, o colesterol, 
os sais biliares e a bilirrubina. São estas moléculas que são a principal causa da formação de 
cálculos biliares (principal causa da obstrução da rede biliar) seja quer a nível intra-hepático 
quer a nível pós-hepático. As situações de obstrução biliar são conhecidas como colestases, 
tanto podem ocorrer nos canalículos intra-biliares, no ducto hepático ou no ducto biliar 
comum, após a vesícula. Uma das principais causas da colestase é a desidratação, ou seja, 
remoção da água da bílis, o que conduz ao aumento da facilidade de precipitação de sais 
biliares, colesterol e bilirrubina. Existem também fármacos hiperbilirrubinémicos, que ao não 
serem completamente biotransformados (fígado → corrente sanguínea → rins → urina) não 
tornam as moléculas suficientemente hidrofílicas para serem eliminadas, sendo transportados 
pela bilirrubina para a bílis onde precipitam formando cálculos de origem medicamentosa. 
A causa mais comum de colestase é uma dieta rica em colesterol, que leva ao acumulo de 
colesterol na bílis. Quando a bílis é secretada no intestino, a maior parte é reabsorvida (80%) 
e os seus componentes são reciclados voltando a fazer parte da constituição da bílis. Apenas 
20% é eliminada nas fezes. Por isso quando falamos em cálculos hepáticos, devemos lembrar-
nos destes 3 constituintes: colesterol da dieta, bilirrubina e sais biliares. 
Há processos inflamatórios (colecistite) que são originados a partir das colestases que 
interrompem a passagem da bílis, e são detetados com ecografias. Os biomarcadores não nos 
permitem detetar as colestases. 
Classificação das patologias hepáticas 
 Dano citotóxico – Todas as situações hepatocelulares, lesão dos hepatócitos e das células 
dos canalículos biliares. 
 Patologias que envolvem e levam ao aumento da bilirrubina na corrente sanguínea 
(hiperbilirrubinémia – pode levar a icterícia): 
 colestases; 
 hiperbilirrubinémias em quea causa poderá estar relacionada com falhas na 
biotransformação da bilirrubina; 
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 situações em que haja uma desregulação na síntese das proteínas; 
 situações de hemólise (causa pré-hepática). 
 
 Distúrbios da função hepática – capacidade de síntese de proteínas ou da homeostase da 
glucose. 
As patologias que tiverem uma origem hepatocelular hão de ser caracterizadas com base 
nas enzimas intracelulares que existem nas células que sofreram lesão, se forem hepatócitos 
libertar-se-ão transaminases/aminotransferases, se forem células a nível dos canalículos 
biliares aparecerão aumentados na corrente sanguínea gama-GT e fosfatase alcalina. 
No entanto já sabemos que a estes marcadores de lesão celular é necessário adicionar 
testes que avaliem a função hepática. 
A rotina bioquímica inclui a avaliação das bilirrubinas, das aminotransferases (ALT e AST), 
da fosfatase alcalina, da gama-GT, das proteínas totais e da albumina. No entanto, quando não 
existe alteração da bilirrubina, mas existe uma alteração da albumina, só é um problema a nível 
hepático se o tempo da protrombina estiver aumentado, pois significa que o fígado teve 
problemas na sua função de síntese. 
A albumina pode diminuir na corrente sanguínea devido a casos de insuficiência renal, 
catabolismo proteico ou processos carcinogénicos, e por isso, quando é o único marcador da 
função hepática avaliado em separado, não é um indicador específico de problemas na função 
de síntese hepática. 
A lactato desidrogenase (LDH) é uma enzima da via glicolítica, presente em todas as células. 
O seu aumento significa lesão celular, no entanto é um biomarcador inespecífico. 
As enzimas que detetam colestases são as enzimas presentes nas células das vias biliares. 
A fosfatase alcalina está associada a membranas e superfícies celulares, existindo na mucosa 
do intestino, no osso, no fígado (na membrana dos canalículos biliares), no rim e na placenta 
(aumenta no sangue materno no 3º trimestre da gravidez). 
Daniela Pimenta 
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Níveis aumentados desta enzima não significam lesão a nível hepático, no entanto, 
associada à Gama-GT (marcador sensível, mas não específico da doença hepática) pode ser 
indicador de lesão das vias biliares – elevação concomitante de ambas as enzimas. 
As duas enzimas aumentadas não implicam necessariamente lesão hepática, uma vez que 
não possuem elevada especificidade sendo necessário avaliar também a função hepática. 
 
Testes de função hepática 
Testes baseados na função hepática – biotransformação do HEME 
A bilirrubina é um produto da biotransformação do HEME com elevada importância, uma 
vez que é um potente citoprotetor dos tecidos (tecido nervoso e miocárdio), é um forte 
antioxidante scavenger de radicais peroxilo e é um importante biomarcador da função 
excretora hepatobiliar. 
Este processo de biotransformação envolve 4 etapas: Formação da albumina (reações de 
fase I); o transporte no plasma; a fase hepática (reações de fase II) e por fim a excreção no 
intestino. 
Fase I: bilirrubina não conjugada (é insolúvel) é transportada na corrente sanguínea ligada 
à albumina. 
Fase II: ocorrem reações de conjugação. Ligam-se moléculas mais solúveis para tornar a 
bilirrubina solúvel e assim ser mais facilmente excretada 
Hemeproteínas são proteínas que possuem o heme (grupo prostético), que é constituído 
por ferro e quatro anéis pirrólicos. Alguns exemplos destas proteínas são a hemoglobina e a 
mioglobina. 
I. Formação da bilirrubina 
Daniela Pimenta 
11 
 
A hemoglobina dos eritrócitos corresponde a 90% da origem da bilirrubina. Ao fim de 120 
dias o eritrócito é fagocitado pelo 
macrófago, que degrada a hemoglobina. 
As cadeias de aminoácidos são 
recuperadas a nível fisiológico (são 
reutilizados), e o grupo heme é 
transferido para locais onde pode ser 
armazenado ou metabolizado. O grupo 
heme sofre oxidação, obtendo-se o ferro 
e a biliverdina (conjunto de anéis 
pirrólicos). A biliverdina é reduzida pela ação da biliverdina redutase, levando à formação da 
bilirrubina não conjugada. 
II. Transporte da bilirrubina no plasma 
A bilirrubina não conjugada formada na 
fase 1 é secretada para a corrente sanguínea 
e, sendo hidrofóbica, é transportada ligada à 
albumina, que a leva para os hepatócitos que 
possuem recetores específicos. 
 
III. Fase hepática 
Daniela Pimenta 
12 
 
A albumina é identificada a nível hepático, havendo dissociação do complexo bilirrubina-
albumina e posteriormente a sua captação pelos 
hepatócitos, formando a bilirrubina livre. Como a bilirrubina 
não conjugada é insolúvel, tem de ocorrer a sua conjugação 
de maneira a aumentar a solubilidade. A bilirrubina é 
conjugada com 2 moléculas de ácido glucurónico, através de 
uma reação catalisada pela glucuroniltransferase (GT), 
formando a bilirrubina conjugada que já é solúvel. Depois de 
conjugada, a bilirrubina é secretada por transporte ativo 
para os canalículos biliares que a drenam nos ductos biliares. 
IV. Excreção no intestino 
Quando a bilirrubina chega ao intestino, as enzimas das bactérias vão reduzir a bilirrubina 
a urobilinogénio que é incolor. Na presença de oxigénio forma 
urobilina e por ação das bactérias (anaerobiamente) 
forma estercobilina, sendo estas duas moléculas 
coradas e as responsáveis pela cor das fezes 
(pigmentos). Isto é importante porque muitas vezes 
conseguimos detetar o problema pela cor das fezes. 
Nem toda a estercobilina e urobilina é eliminada nas 
fezes. O urobilinogénio que se formou no intestino 
leva à formação de urobilina e estercobilina, só que cerca de 30% deste urobilinogénio é 
reabsorvido pela veia porta (por onde se faz a absorção dos nutrientes a nível do intestino), 
entra novamente no intestino, vai para os hepatócitos, que secretam 20% dele na bílis. 
Contudo, parte do urobilinogénio (10%) fica na corrente sanguínea, vai pela veia central dos 
lóbulos e entra na circulação geral e, desta forma, é filtrado a nível do rim e aparece na urina. 
Deste modo, devido ao circuito entero-hepático do urobilinogénio, a presença de urobilina 
na urina é uma situação normal (se não houver urobilina na urina é sinal que ocorreu uma 
alteração/perturbação e está-se perante uma patologia). 
Daniela Pimenta 
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Resumo da biotransformação do heme 
 
 
 
 
 
 
 
 
Perturbações na biotransformação da bilirrubina - Hiperbilirrubinémia 
Como já descrito acima, perturbações na biotransformação da bilirrubina levam a 
hiperbilirrubinémias. As hiperbilirrubinémias podem ser pré-hepáticas, intra-hepáticas ou pós-
hepáticas e as principais causas incluem: hemólise e défice de albumina ou ligandina (défice 
no transporte); captação hepática prejudicada (geralmente induzida por medicamentos), 
problema com a ação da glucuroniltransferase e a secreção defeituosa da bilirrubina 
(hepáticas); obstrução pós-hepática. 
As hiperbilirrubinémias não são sinónimas de icterícia, mas a primeira pode levar à 
segunda. 
 Hiperbilirrubinémia pré-hepática 
Podem resultar de hemólise ou da captação hepática prejudicada. A hemólise aumenta a 
libertação de hemoglobina dos glóbulos vermelhos – normalmente existe o aumento do 
bilirrubina não conjugada e o fígado tem dificuldade em conjugar quantidades maiores do que 
a normal. Neste caso existe hiperbilirrubinémia não conjugada, mas o fígado continua a 
conjugar a bilirrubina. A bilirrubina conjugada é excretada na bílis, originando urobilinogénio, 
assim apesar desta hiperbilirrubinémia não conjugada existe urobilinogénio nas fezes e urina. 
Daniela Pimenta 
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A captação hepática prejudicada é induzida principalmente por fármacos – através da 
ligação às proteínas ou bloqueio dos recetores de captação (rifampicina, antibiótico) ou devido 
à deficiência na síntese proteica (albumina) → hiperbilirrubinémia não conjugada. Neste caso 
não há entrada da bilirrubina no fígado, logo nãose forma bilirrubina conjugada nem 
urobilinogénio. – Diferente da hiperbilirrubinémia anterior. 
Não há alteração a nível das transaminases, da GGT e da ALP pois os danos são a nível pré-
hepático, não ocorrendo danos a nível hepático. 
 Hiperbilirrubinémia intra-hepática 
Surge devido a alterações no metabolismo hepático da bilirrubina. 
Devido ao défice na captação de bilirrubina pelos hepatócitos → aumento da bilirrubina 
não conjugada. 
Devido ao défice na conjugação hepática → aumento da bilirrubina não conjugada. 
Devido ao défice na secreção de bilirrubina no canal 
biliar → aumento da bilirrubina conjugada. Há uma 
hiperbilirrubinémia conjugada, e a bilirrubina conjugada 
vai acumulando-se, ficando o hepatócito segundo efeito 
citotóxico, havendo lesão celular e aumento de ALT. Este aumento da ALT permite distinguir 
uma hiperbilirrubinémia conjugada intra-hepática de uma pós-hepática. 
Nesta alteração, existe bilirrubina conjugada na urina (devido ao seu acúmulo passa para a 
corrente sanguínea sendo eliminado na urina) e existe também urobilinogénio na urina uma 
vez que, apesar da secreção estar deficiência, ainda ocorre (está presente, mas diminuído). 
 Hiperbilirrubinémia pós-hepática 
Resultam sempre de uma obstrução na arvore biliar. Surge devido a: obstrução dos ductos 
biliares (hepatopatia); por cálculo biliar no ducto cístico, quistos hepáticos, hiperplasias no 
pâncreas, pancreatite ou por colestase (diminuição da libertação da bilirrubina no intestino, 
levando a icterícia colestática). 
Daniela Pimenta 
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Nestes casos não chega bilirrubina conjugada ao intestino e não se forma urobilinogénio 
nas fezes nem na urina. A bilirrubina acumula-se nos ductos e canalículos, acabando por causar 
dano nas células e consequentemente o aumento da GamaGT e da ALP. Á medida que a 
bilirrubina se acumula na arvore biliar, passa para a corrente sanguínea e é secretada na urina 
– hiperbilirrubinémia conjugada. 
O hepatócito não é afetado inicialmente. Quando a bilirrubina atinge os hepatócitos 
provoca dano nos mesmos, ocorrendo também o aumento da ALT e no limite pode originar 
também uma hipebilirrubinémia não conjugada. 
O ducto biliar comum atravessa toda a cabeça do 
pâncreas antes de chegar ao intestino. Em processos 
cancerígenos ocorre proliferação anormal das 
células cancerígenas acabando por causar a 
compressão do ducto biliar. 
A presença de bilirrubina na urina torna-a escura. Nestes casos não há urobilinogénio nas 
fazes (acolia fecal) nem na urina. 
 
Icterícia medicamentosa 
Indivíduos com deficiência CYP350 (glucuroliltranferase) não conseguem efetuar a 
conjugação para tornar as moléculas mais hidrossolúveis – as substâncias permanecem 
hidrofóbicas. 
Esta icterícia deve-se à interferência do transporte, conjugação e excreção. 
Há imensos fármacos que induzem hiperbilirrubinémia por todos os mecanismos já 
estudados (situações de icterícia, colestase e intra-hepático) e isto é tanto mais frequente 
quando o indivíduo tem deficiência na enzima que faz a conjugação (glucoroniltransferase), 
pois esta é muito sensível ao desenvolvimento de icterícias intra-hepáticas e pós-hepáticas de 
origem medicamentosa. 
Daniela Pimenta 
16 
 
A icterícia pré-hepática está relacionada com a hemólise ou o transporte, e este pode estar 
associado a uma deficiência na síntese de albumina pelo fígado (síntese de proteínas ocorre a 
nível hepático). 
A icterícia intra-hepática está relacionada com os mesmos mecanismos que para as 
colestases patológicas de origem não medicamentosa. O mesmo acontece para a icterícia pós-
hepática. 
As colestases de origem medicamentosa podem ser intra ou pós-hepáticas, sendo que não 
têm qualquer diferença relativamente aos processos que as originam. A diferença ocorre 
apenas ao nível dos biomarcadores: se os fármacos precipitarem nos ductos biliares a nível 
intra-hepático temos fosfatase alcalina; se ocorrer a nível pós-hepático só temos fosfatase 
alcalina se essa obstrução já estiver prolongada no tempo. Existem fármacos que ligam à 
bilirrubina não conjugada. Essa bilirrubina pode sofrer conjugação e o fármaco é eliminado na 
bílis juntamente com a bilirrubina. O fármaco precipita e também origina hiperbilirrubinémia 
conjugada. 
Se não ocorrer conjugação da bilirrubina o fármaco precipita a nível intra-hepático (mais 
comum nos indivíduos com deficiência na glucuroniltransferase). 
Um indivíduo com aspeto ictérico (pele e olhos amarelos) é indicador de alguns dias de 
acumulação de bilirrubina. 
Icterícia Neonatal 
A hiperbilirrubinémia não conjugada e icterícia são comuns. Causas fisiológicas: 
 A enzima que conjuga a bilirrubina (UDP-glucuroniltransferase) é ainda deficiente no 
nascimento – principal causa de hiperbilirrubinémia não conjugada; 
 A ligação da bilirrubina à albumina é inferior à do adulto (fígado em 
desenvolvimento); 
 Presença de β-glucuronidase no leite materno desconjuga os glucoronídios da 
bilirrubina. 
Daniela Pimenta 
17 
 
A icterícia causada pelo leite materno deve-se ao facto de haver um aumento da absorção 
da bilirrubina conjugada. Esta passa para o fígado e para a corrente sanguínea onde é 
desconjugada devido à presença de uma enzima do leite. 
 Kernicterus ou encefalopatia bilirrubínica 
A icterícia não afeta o sistema nervoso central em adultos, uma vez que a bilirrubina não 
atravessa a barreira hematoencefálica. Nos recém-nascidos a barreira hematoencefálica é 
imatura e por isso a bilirrubina não conjugada pode entrar no tecido cerebral. A bilirrubina não 
conjugada é tóxica para o sistema nervoso e por isso provoca encefalopatias irreversíveis. 
Tratamento: exposição da pele do recém-nascido à luz fluorescente azul que converte a 
bilirrubina em isómeros hidrossolúveis que podem ser excretados na bílis sem conjugação. 
 Hiperbilirrubinemias genéticas 
A bilirrubina está elevada no sangue devido a defeitos herdados na via metabólica da 
bilirrubina. São classificados 3 tipos de síndromes diferentes. 
Síndrome de Gilbert 
Deficiência na glucoroniltransferase com defeito no transporte para o fígado. Ocorre em 2 
a 7% da população e é mais comum nos homens. Causa hiperbilirrubinémia suave e 
assintomática (flutuante). O facto de ser flutuante é importante para o diagnóstico. Uma vez 
que é causada pela deficiência na enzima glucoroniltransferase percebe-se que se deve a 
bilirrubina não conjugada. Manifesta-se por uma redução da clearance hepática de bilirrubina, 
causado por uma deficiente captação e/ou conjugação. Tende a aumentar por estresse 
emocional e físico, fadiga, consumo de álcool ou doença intercorrente e a diminuir por 
ingestão calórica. Apesar de ser uma patogenia complicada e pouco esclarecida a doença é 
facilmente controlada e benigna, razão pela qual não se recomenda qualquer terapêutica. 
Causa uma hiperbilirrubinémia não conjugada. 
Síndrome de Crigler-Najjar 
Daniela Pimenta 
18 
 
Baixa atividade de glucoriniltransferase (Tipo II). Doença hereditária grave que causa 
hiperbilirrubinemia grave em recém-nascidos. Complicado por Kernicterus e morte prematura 
na infância. Causa uma hiperbilirrubinémia não conjugada. 
Síndrome de Dubin-Johson 
Defeito na transferência de bilirrubina conjugada para os canalículos biliares, causa 
hiperbilirrubinémia conjugada. Ao contrário dos outros 2 síndromes, nesta bilirrubina fica nos 
hepatócitos, e ocorre o aumento da ALT. 
Testes baseados na capacidade de metabolização 
Os níveis normais de glicémia situam-se entre os 70 e os 100 mg/dL. Após uma refeição os 
valores podem subir até 110 mg/dL, mas ao fim de 1h30 volta aos valores normais devido à 
produção de insulina e consequente entrada da glucose nas células diminuindo assim a sua 
concentração no sangue. 
A glucose na célula é degradada pela via glicolítica aeróbica, anaeróbica e pelo shunt das 
pentoses. A glucose pode ser convertida a glicogénio (reserva)e se houver um excesso, poderá 
sem convertida também em lípidos e proteínas. O fígado, em situações de hipoglicémia, é 
estimulado pela glucagina e fornece glucose à corrente sanguínea através da glicogenólise 
(glicogénio → glucose). 
O fígado pode ainda usar os produtos finais de muitas reações e convertê-los a glucose pela 
vai da neoglicogénese. Estes dois mecanismos acontecem em situações normais, desde que 
não haja problema na mitocôndria e na glucose-6-fosfatase. 
Consequências na deficiência da mitocôndria ou na glucose-6-fosfatase 
Há comprometimento da glicogenólise e da neoglicogénese o que provoca alteração dos 
valores da glucose (hipoglicémias). Há um aumento dos produtos finais (ex: lactato, 
aminácidos…) e por isso para além da hipoglicémia há também uma acidose láctica (pois o 
lactato não é usado na via da neoglicogénese para ser convertido a glucose) e cetoacidose. 
Cetoacidose pode levar a falência de órgãos. Há um aumento acentuado dos corpos cetónicos 
devido ao metabolismo dos lípidos. 
Daniela Pimenta 
19 
 
O que controla este metabolismo é o estado de jejum (maior quantidade de glucagina) e o 
pós-prandial (aumento da insulina) e por isso ou temos lipogénese ou lipogenólise, cujos 
órgãos responsáveis são o fígado e ao tecido adiposo. 
Os lípidos de origem exógena passam para a corrente sanguínea libertando-se Acetil-CoA e 
ocorrendo a síntese de ácidos gordos e triglicerídeos. A LDL chega à corrente sanguínea e 
ocorre degradação dos ácidos gordos que podem assim ser armazenados. Em jejum ocorre 
lipolise. Os triacilglicerois são degradados pela lípase e formam-se ácidos gordos que são 
transportados pela albumina até ao fígado para serem ativados, entrarem na mitocôndria e 
formarem Acetil-CoA. 
Como estamos em jejum os níveis de oxaloacetato estão baixos e a Acetil-CoA não é usada 
para formar energia, mas sim para formar os corpos cetónicos. Os cetoácidos, a pH fisiológico 
são ácidos e por isso provocam diminuição do pH sanguíneo o que tem impacto nos órgãos. A 
produção de ácidos cetónicos é inicialmente tamponada pelo bicarbonato. À medida que a 
concentração de H+ excede a capacidade de tampão do bicarbonato, as reversas deixam de ser 
capazes de compensar o excesso de produção e iões H+ resultando daí a cetoacidose. 
A excreção urinária desses ácidos provoca acidez na urina. Os rins produzem amónia para 
neutralizar essa acidez, resultando em diminuição da reserva alcalina (HCO3 -) e um quadro 
denominado “cetoacidose”. 
Testes baseados na capacidade de síntese 
O fígado é o órgão responsável pela síntese de todas as proteínas, com exceção das 
imunoglobulinas. A albumina sérica é um marcador da função sintética e um guia valioso para 
a gravidade da doença hepática crónica. 
Níveis baixos de albumina sérica podem ou não ser devido a uma falha hepática grave. Os 
níveis séricos de albumina são afetados por diferentes fatores, não significa logo que existe 
défice de síntese hepática. Na doença hepática aguda, os níveis iniciais de albumina podem 
ser normais (meia-vida 20 dias). 
Daniela Pimenta 
20 
 
Em situações normais, a albumina encontra-se entre 4-6 g/dL, no entanto quando ocorre a 
sua diminuição não é sinonimo de deficiência na síntese hepática, neste casos é necessário 
saber, em paralelo, o tempo de trombina ou protrombina uma vez que os fatores de 
coagulação são todos sintetizados a nível hepático. A diminuição de albumina pode ser 
também devido ao catabolismo aumentado, processos carcinogénicos ou insuficiência renal. 
Da diminuição da albumina na corrente sanguínea pode ocorrer hiperbilirrubinémia e 
dislipidemias. 
O tempo de protrombina (PT) corresponde ao tempo necessário para formar um coágulo 
de fibrina – teste de coagulação. O fígado sintetiza a maioria dos fatores de coagulação (II, VII, 
IX e X). O tempo de protrombina depende dos fatores I, II,V, VII e X, deste modo o PT é um 
indicador sensível e precoce da doença hepática aguda e crónica (meia-vida curta dos fatores). 
Nestes casos a deficiência de vitamina K deve ser excluída. Os tempos de protrombina 
variam em diferentes laboratórios, e o international normalized ratio (INR) pode ser usado. A 
disfunção hepática como risco de sangramento, e PT aumentado. O PT INR é mais útil no 
controlo de terapêutica com anticoagulantes. 
Para avaliar esta função determina-se SEMPRE a albumina e o tempo de protrombina. 
Testes baseados na função de desintoxicação e metabólica – amónia e ureia 
Se o fígado não for capaz de eliminar o ião amónia e a ureia vai haver consequências para 
o indivíduo. A amónia é proveniente do catabolismo das proteínas, e é hépato e neurotóxica, 
provocando desordens mentais, desenvolvimento retardado, coma e morte. Apenas o fígado 
elimina o ião amónio, e fá-lo sob a forma de ureia. 
Ciclo da ureia 
Os aminoácidos formados pela hidrólise são desaminados e o grupo amina é convertido em 
ião amónia que, por sua vez, é convertido a ureia pelo fígado para ser excretado e não ter 
efeitos tóxicos para o organismo. 
Todos os órgãos têm de fazer renovação proteica e síntese de proteínas logo todos os 
órgãos realizam a síntese do ião amónia, que é transportada para o fígado onde vai originar a 
Daniela Pimenta 
21 
 
ureia. Há duas enzimas essenciais neste ciclo, a nível da mitocôndria, que sofrem mais 
perturbações e onde se encontra a maior parte das deficiências hereditárias a este nível. 
O ciclo da ureia é iniciado na matriz mitocondrial dos hepatócitos, mas 3 das etapas 
subsequentes ocorrem no citosol. O ciclo da ureia está ligado ao TCA, à gliconeogénese. 
Como esta é a via que metaboliza a amónia, defeitos no ciclo da ureia causam 
hiperamonémia, níveis plasmáticos de glutamina e presença de ácido orótico na urina. Estas 
hiperamonémias podem ou não ser hereditárias. Na hiperamonémia tipo I existe deficiência 
na carbamoilfosfato sintetase (CPS), neste caso o ião amónia acumula-se no hepatócito e 
atinge a corrente sanguínea. Este ião atravessa a barreira hematoencefálica causando 
encefalopatia hepática. Na hiperamonémia tipo II há deficiência na ornitina transcarbamoilase 
(OTC), o carbamoil-fosfato não é convertido em citrulina, acumulando-se e dá origem ao ácido 
orótico que é eliminado na urina, originando a acidúria orótica. Todas as situações de 
hiperamonémias são acompanhadas de confusão e vómitos. 
Para alem destas deficiências existe também: citrulinémia, acidúria argino-succínica, 
argininémia, intolerância lisinúrica à proteína. 
O quadro clínico dos defeitos no ciclo da ureia inclui a encefalopatia, a alcalose respiratória 
e a hiperamonémia. 
A encefalopatia hiperamonémica de origem medicamentosa é uma complicação 
caracterizada por um nível decrescente de consciência, défice neurológicos focais, 
desaceleração cognitiva, vômitos, sonolência e letargia. A maioria destas hiperamonémias é 
do tipo I, um exemplo são os antiepiléticos que inibem a carbamoilfosfato sintetase (ácido 
valpróico). 
Como já foi dito, o ião amónio é neurotóxico uma vez que a hiperamonémia leva a um 
aumento da glutamina cerebral, que produz inchaço de astrócitos e edema cerebral. A amónia 
é muito tóxica, provoca desordens metais, desenvolvimento retardado, coma e morte. 
Pode também haver enteropatias com perda de proteínas e hemorragia digestiva que são 
diferentes da encefalopatia hepática. Estas encefalopatias podem ser quer devido a causas 
Daniela Pimenta 
22 
 
patológicas quer a farmacológicas (AINEs, ácido acetilsalicílico). Quando há hemorragia, a flora 
bacteriana leva à produção do ião amónia durante a fermentação. Esta produção está 
aumentada e gera grandes quantidades de ião que o fígado não consegue eliminar. 
As consequências das encefalopatias são as mesmas, independentemente da causa da 
hiperamonémia. 
Testes baseados na função de desintoxicação e metabólica – esteatose 
Muitos fármacos são a causa da esteatose. A esteatose deve-seà acumulação de lípidos no 
citoplasma, devido a não ocorrer a sua metabolização. Normalmente, os lípidos que o fígado 
forma dos excessos (lípidos endógenos) vão para a corrente sanguínea transportados pelas 
VLDL. A lípase degrada os triacilgliceróis em ácidos gordos que no tecido adiposo voltam a 
formar triacilgliceróis. 
Na situação de jejum é necessário utilizar os triacilgliceróis do tecido adiposo. O glucagon 
é a hormona que estimula a lipólise – os triacilgliceróis são degradados e os ácidos gordos 
libertados na corrente sanguínea onde são transportados pela albumina. 
Estes ácidos gordos são transportados para o fígado para sofrer β-oxidação. No entanto, 
para que os ácidos gordos consigam entrar na mitocôndria são ligados à CoA (coenzima A). a 
este processo dá-se o nome de ativação dos ácidos gordos. 
 Se os ácidos gordos forem transformados do citoplasma para a matriz provoca-se a 
esteatose. 
A ligação da CoA à cadeia carbonatada dos ácidos gordos é importante para que seja 
possível a sua passagem para o espaço intermembranar. No espaço intermembranar o ácido 
gordo ligado à CoA passa a 
estar ligado à carnitina, esta 
transferência ocorre por 
ação da carnitina 
Daniela Pimenta 
23 
 
aciltransferase I. O complexo ácido gordo-carnitina é reconhecido por um transportador e 
entra na matriz mitocondrial, onde ocorre a destruição do complexo pela carnitina 
aciltransferase II e o ácido gordo é novamente ligado à CoA. Posteriormente ocorre a β-
oxidação. 
 
 
 
 
 
Mecanismos de esteatose hepática 
As causas de esteatose estão relacionadas com a inibição do transporte dos ácidos gordos 
(sequestro do CoA, sequestro da carnitina, inibição dos transportadores e/ou inibição das 
transferases). Normalmente esta inibição está relacionada com fármacos: existem fármacos 
que fazem o sequestro da CoA e por isso impedem a ativação dos ácidos gordos. 
Outras causas de esteatose incluem a inibição da β-oxidação (muitas vezes causada por 
fármacos), a inibição do transporte dos TAG para fora dos hepatócitos (inibidores da síntese 
de proteínas – VLDL), e o aumento da síntese dos TAG e acumulação dos FA (deficiência no 
armazenamento de glicogénio e/ou deficiência no armazenamento do tecido adiposo). 
Impacto dos medicamentos na esteatose 
Os medicamentos podem inibir a síntese de proteínas, o que inibe o transporte dos ácidos 
gordos para fora dos hepatócitos (triacilgliceróis e ácidos gordos mantêm-se no hepatócito). 
Os triacilgliceróis e colesterol endógenos produzidos no pós-prandial devido aos excessos que 
ingerimos são transportados do fígado para a corrente sanguínea pelas VLDL, pelo que 
moléculas que afetem a síntese das proteínas, comprometem a formação das VLDL e, deste 
modo, os triacilgliceróis ficam acumulados nos hepatócitos. 
Daniela Pimenta 
24 
 
Embora menos frequente, há também situações que levam ao aumento da síntese dos 
triacilgliceróis que estão relacionadas com deficiência no armazenamento do glicogénio ou 
deficiência do armazenamento dos triacilgliceróis no tecido adiposo. 
O ácido valproico é um medicamento que afeta o fígado. As tretaciclinas afetam a β-
oxidação, no transporte e na formação de triacilglicerois. A aspirina sequestra a CoA. 
Não há um quadro clínico de biomarcadores que nos permita saber se estamos perante 
esteatose. Da esteatose resulta um processo inflamatório que altera as funções do hepatócito 
(processos ligeiros não característicos). Normalmente há hipercolesterolemia e 
hipertrigliceridemia associadas à esteatose – há o impedimento da utilização dos triglicéridos 
para obtenção de energia e estes passam a acumular-se na corrente sanguínea. A lípase 
continua a estabelecer a sua ação aumentando ainda mais os níveis sanguíneos dos 
triglicéridos. Este elevado nível na corrente sanguínea, e o facto de não estar a ocorrer 
consumo dos ácidos gordos, fazem com que o excesso de acetil-CoA não seja consumido para 
a síntese dos triacilgliceróis e passe a ser usado na síntese de colesterol. Nestes casos o ideal 
é aconselhar os indivíduos a terem uma dieta hipocalórica, sem excessos de macronutrientes. 
Se existe um aumento da bilirrubina total e uma diminuição da bilirrubina conjugada 
significa que há alteração da função hepática. O facto de haver hipoglicémia demonstra falha 
na função mitocondrial, devido à esteatose. O aumento da amónia demonstra alteração na 
função de desintoxicação e metabólica. a diminuição da albumina e o aumento do tempo de 
protrombina demonstra que a função de síntese está afetada. Ou seja, o aumento de 
triacilglicerois e colesterol na corrente sanguínea nem sempre está relacionado com a 
alimentação, algumas vezes pode estar relacionado com esteatose – se estes níveis estiverem 
aumentados e as funções hepáticas alteradas a probabilidade de ser esteatose é elevada. 
Nestes casos não é o mais correto administrar estatinas. 
Quando existem dislipidemias associadas à esteatose é necessário saber a causa das 
dislipidemias antes de se prescrever a medicação. Nos casos de esteatose não devem ser 
administradas estatinas até porque a sua ativação não ocorre por sobrecarga do hepatócito (já 
se encontra com lípidos no seu interior que afetam as funções dos hepatócitos). 
Daniela Pimenta 
25 
 
As estatinas causam radomiolise, especialmente quando a terapêutica está errada. Desta 
ação liberta-se a CK e juntamente com ela a mioglobina que é nefrotóxica causando falha renal 
por danificar os glomérulos. 
Fazendo a biopsia hepática é possível confirmar a presença ou ausência de esteatose. 
Quando não identificada, o processo de esteatose evolui para cirrose (as células não 
funcionam devido à danificação da função mitocondrial) que origina insuficiência hepática 
fulminante – resulta na morte generalizada das células a nível hepático. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Daniela Pimenta 
26 
 
Proteínas e enzimas plasmáticas no 
diagnostico clínico 
As proteínas plasmáticas possuem funções coletivas e especificas. As funções coletivas 
incluem a manutenção da pressão oncótica e a criação dos sistemas tampão. Já as funções 
específicas incluem funções de transporte, de imunidade humoral, de inibidores de protéases, 
de enzimas, de hormonas e de fatores de coagulação. As proteínas são, do ponto de vista 
clínico, auxiliares no diagnóstico. O primeiro uso das proteínas no diagnóstico é o traçado do 
proteinograma, cuja classificação é baseada na mobilidade electroforética. Neste traçado, 
normalmente a banda da albumina inclui também a pré-albumina e a banda das globulinas 
inclui a α1, α2, β e γ. 
As proteínas do plasma têm pontos isoelétricos que variam entre 4,7-4,9 para a albumina 
e 7-9,5 para a imunoglobulina. A um pH=8,6 as proteínas que possuem um ponto isoelétrico 
inferior a este valor sofrem desprotonação adquirindo uma carga negativa e por isso deslocam-
se para os polos de carga positiva (ânodo), o oposto acontece às proteínas que possuem um 
ponto isoelétrico superior a 8,6 (como acontece com algumas globulinas). 
Assim, numa eletroforese, se colocarmos o pH a 8,6 vamos colocar as proteínas no polo 
negativo uma vez que vão migrar para o polo positivo. Daqui são obtidos picos que 
correspondem à pré-albumina, albumina, alfa 1, alfa 2, beta e as gama (especialmente as IgG, 
IgA e IgM). Cada fração ou banda contém proteínas que são funcionalmente diferentes, mas 
apresentam a mesma mobilidade eletroforética. 
Daniela Pimenta 
27 
 
A pré-albumina ou transtirretina, a albumina e as globulinas (α1, α2, β e γ) são auxiliares 
no diagnostico clínico, mas não moléculas se 
diagnostico. A eletroforese de proteínas séricas 
ajuda na investigação e no diagnóstico de 
diversas doenças (mas é necessário conhecer o 
significado de cada banda proteica). As mais 
importantes encontram-se na seguinte 
imagem: 
Isoladamente estas proteínas não são especificas, mas são de extrema importânciano 
diagnostico clínico. Algumas razões do porquê destas proteínas não serem especificas 
encontram-se descritas abaixo. Observa-se diminuição da concentração da albumina quando 
há perturbação direta ou indireta na sua síntese, quando há consumo (catabolismo) dessa 
proteína ou perda através de proteinúria ou via enteral (hemorragia). 
As frações α-globulinas apresentam níveis aumentados em processos inflamatórios, 
infeciosos, imunes e em neoplasias hepáticas. 
O aumento da β-globulina é observado em situações de perturbação do metabolismo 
lipídico ou dificuldade na excreção biliar verificadas nas colestases. O aumento na taxa de β-
globulina é encontrado, geralmente, nos casos de anemia ferropriva, por aumento da síntese 
de transferrina. 
A ausência ou diminuição da banda γ indica imunodeficiências congénitas ou adquiridas. O 
seu aumento sugere elevação policlonar das imunoglobulinas associada às condições 
inflamatórias, neoplásicas ou infeciosas, além da elevação monoclonal observada no mieloma 
múltiplo e em outras desordens linfoproliferativas, como a macroglobulinemia de 
Waldenstrom. A hipogamaglobulinemia é verificada em anomalias congênitas ou em 
processos patogénicos que trazem a destruição do setor linfoide. 
β-2-microglobulina 
Daniela Pimenta 
28 
 
Forma uma das cadeias do complexo major de histocompatibilidade. É filtrada livremente 
pelo glomérulo, atinge ao tubo proximal onde é reabsorvida, e por isso não aparece na urina. 
Pode ser indicadora de disfunção tubular renal uma vez que se aumentada no plasma 
poderá significar que estamos perante um problema a nível renal – já não está a passar 
livremente nos glomérulos o que pode significar uma diminuição da TFG. Mas, se estiver 
aumentada a nível da urina indica que o tubo proximal não está a efetuar uma reabsorção 
correta das moléculas – rim poderá ser sujeito a diálise. 
Pode ser também indicadora da presença de neoplasias uma vez que o seu aumento 
acontece em situações de neoplasias, tal como, mieloma múltiplo, leucemia e linfoma, mas 
também em processos inflamatórios. 
É uma das proteínas que foi durante muito tempo usada como marcador de previsão 
(embora na realidade não o seja, pois, estes marcadores são libertados para impedir a 
patologia e a β-2-microglobulina não serve para reparo, é produzida quando há alterações 
ainda muito precocemente). 
Proteinogramas – gamopatias 
Há proteinogramas que são característicos de determinadas patologias. Apresenta-se de 
seguida duas situações de gamopatias. Numa são produzidas vários tipos de imunoglobulinas, 
mas noutras são produzidas apenas um tipo de imunoglobulina: 
Policlonal (produção de várias globulinas 
diferentes – associado a processos inflamatórios 
e situações de neoplagias) e monoclonal (há só 
uma globulina, o que poderá indicar mieloma 
múltiplo), respetivamente. 
Proteínas totais – significado total 
Uma célula humana tem entre 3000-5000 proteínas diferentes e no plasma sanguíneo 
existem mais de 300 proteínas diferentes. Há diferentes situações que podem provocar a 
alteração na proteinémia total. Pode dever-se a: 
Daniela Pimenta 
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 Hiperproteinémia 
Pode ser causada por situações de desidratação e nestes casos há o aumento de todas as 
frações proteicas na mesma proporção. Existem também situações de 
hiperglobulinémia/hipergamaglobulinémia devido a síndromes infeciosos ou então situações 
de neoplasias associadas a hiperglobulinémia/hipergamaglobulinémia relacionado com 
policlonal e monoclonal/ Paraporteinémia (M) (plasmócitos). 
 Hipoproteínémia 
Existem diversas razões tais como: Hiper-hidratação (sobre-hidratação), doença hepática 
(diminuição da síntese proteica), aumento da excreção ou degradação (catabolismo/perda 
urinária/enteropatia), imunodeficiência humoral, aumento da permeabilidade capilar, má 
nutrição e má absorção. 
Algumas proteínas são mais específicas para determinadas patologias e mais relevantes 
para diagnostico, tais como: a pré-albumina (é uma das proteínas cuja alteração está 
relacionada com o estado de nutrição do individuo, co entanto há outros fatores que podem 
levar à sua alteração), albumina (indicadora que há deficiência na síntese, aumento da perda, 
processos catabólicos ou hemorrágicos), alfa 1 tripsina e alfa 1 fetoproteina (relacionadas com 
carcinomas), a alfa1 antitripsina aumentada nas fases esta relacionada com enteropatias, 
haptoglobina (estados hemolíticos), ceruloplasmina (importante no diagnostico da doença de 
Wilson), transferrina (relacionada com o estado do ferro), β2-microglobulina (disfunção renal), 
IgG, IgA e IgM. 
 Pré-albumina 
Deficiências na pré-albumina podem levar a situações de confusão e irritação. É uma 
proteína da fase aguda negativa e controversa na avaliação do estado nutricional (vida média 
de 2 dias). É sintetizada no fígado e libertada na circulação antes da excreção pelos rins e trato 
gastrointestinal. 
Transporta a tiroxina e triiodotiromina (T3 e T4) daí haver o impacto no humor da pessoa 
quando há deficiência na pré-albumina. 
Daniela Pimenta 
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Forma complexos com a proteína de ligação do retinol, estabilizando-a e prevenindo a 
perda renal (conhecida por isso como transtrirretina). Assim, havendo deficiências na pré-
albumina há deficiência da vitamina A (retinol). O aumento da pré-albumina também é 
prejudicial ao organismo. Causa aumento da pressão oncótica o que provoca alterações a nível 
do equilíbrio eletrolítico e do equilíbrio ácido-base. 
Atualmente não é usada isoladamente para avaliar um estado nutricional, uma vez que a 
sua diminuição pode não estar relacionada ao estado nutricional. 
Relativamente ao estado nutricional, a diminuição da concentração sérica de proteínas 
sintetizadas nos hepatócitos pode indicar desnutrição, havendo falta de substrato energético 
e proteico para a síntese. Os principais indicadores de proteína visceral são a albumina, 
transferrina, pré-albumina e proteína transportadora de retinol. A pré-albumina é uma 
proteína plasmática que foi usada há muitos para o estudo do estado nutricional, mas pelas 
variações que tem e pelos fatores que levam à sua alteração, deixou de ser usada 
isoladamente. Hoje, para além da pré-albumina, faz-se também o estudo da transferrina e da 
albumina. 
 Albumina 
É a componente maioritária das proteínas totais do soro. É sintetizada no fígado e após a 
sua síntese as moléculas de albumina dirigem-se para o plasma. 
Esta proteína é necessária para a manutenção da pressão coloidosmótica, desempenha 
papel na manutenção do equilíbrio ácido-base e realiza o transporte de ácidos gordos, 
catecolaminas, bilirrubina, esteroides. 
Estados de hiperalbuminémia são pouco comuns, mas podem ocorrer devido a 
desidratação, jejum de 3-5 dias (hemoconcentração), stresse, gravidez e meningites. 
Casos de hipoalbuminémia podem ocorrer devido a diversos fatores, tais como a 
diminuição da síntese, aumento do volume de distribuição, aumento da degradação ou 
aumento da excreção, e cada um destes ocorre devido a diversas situações. 
Daniela Pimenta 
31 
 
 A diminuição da síntese ocorre devido a nutrição e/ou absorção deficientes e devido a 
doenças hepáticas. 
 O aumento do volume de distribuição pode ocorrer em situações de hiper-hidratação, 
de aumento da permeabilidade capilar, de hipoxemia e de septicémia. 
 O aumento da degradação ocorre pelo aumento do catabolismo, por sepsis, febre e 
doenças malignas. 
 Aumento da excreção devido a síndrome nefrótico, enteropatias com perda de 
proteínas, queimaduras e hemorragias. 
A lesão glomerular provoca uma alteração da permeabilidade das membranas 
corpusculares do glomérulo e por isso ocorre albuminúria e proteinúria massiva com 
hipoalbuminémia. 
Em casos de albuminúria a concentração de albumina excretada na urina também tem 
importância clínica. Normalmente é usada para acompanhamento de doentes diabéticos, 
tanto do tipo1 como do tipo 2. Na diabetes mellitus é comum que ocorra nefropatia, com 
redução da filtração glomerular, e o início das complicações renais pode ser previsto pela 
deteção da microalbuminúria. 
Á semelhança da β-2-microglobulina, a albumina também é filtrada a nível renal e é 
totalmente reabsorvida. Se houver alguma patologia a albumina pode aparecer na urina. Antes 
de aparecerem níveis elevados de albumina na urina, sabemos que podemos prever se a 
nefropatia está a desenvolver-se, recorrendo a marcadores de previsão – microalbuminúria. 
Nestes casos são detetadas pequenas quantidades de albumina na urina o que permite saber 
que o doente vai desenvolver futuramente nefropatia. Existem diversas doenças que cursam 
com albuminúria, incluindo Diabetes Mellitus. 
É de extrema importância fazer simultaneamente a deteção da microalbuminuria 
instantânea com a β-2-microglobulina. 
Proteínas como bons indicadores de problema hepático 
Daniela Pimenta 
32 
 
Relativamente às doenças hepáticas, há um conjunto de proteínas que nos dão uma 
indicação quase específica de diferentes perturbações a nível hepático. A albumina, pela sua 
função e papel no organismo, muitas das vezes possui a sua diminuição associada a doenças 
crónicas. 
A grande maioria das patologias, nomeadamente as hiperbilirrubinémias, quando se 
projetam no tempo (em que já há um aumento da ASP e AST), já não ocorre a conjugação da 
bilirrubina, uma vez que hepatócitos perdem as suas capacidades, incluindo a capacidade de 
síntese de albumina (não há quem transporte da bilirrubina para os hepatócitos para que 
ocorra a conjugação). 
A α1-antitripsina e a α1-fetoproteína são proteínas cujo aumento está associado a 
processos cancerígenos a nível hepático. Já as gama globulinas não possuem relevância a nível 
de doenças hepáticas. 
 
α1-antitripsina (AAT) 
Pertence à fração α1 e a sua função é inativar a elastase neutrofílica, que hidrolisa as fibras 
de elastina no pulmão e causa dano tecidular. 
Possui valores elevados em situações de infeção ou inflamação, trauma – uma das proteínas 
da fase aguda. Esta aumentada em processos de carcinomas hepáticos. É eliminada nas fezes 
e quando aumenta significa enteropatia com perda de proteína. 
Quando diminuída acarreta patologias para o organismo (consequências patológicas) como 
cirrose hepática e perturbações a nível respiratório (enfisema, asma, mais sujeitos a ocorrência 
de pneumonia quando sujeitos a variações bruscas de temperaturas). Estas consequências 
devem-se por esta proteína ser inibidora de uma enzima dos neutrófilos, a elastase – defesa 
presente na corrente sanguínea. Se a elastase não for inibida pela α1-antitripsina a corrente 
sanguínea leva a elastase para os pulmões onde ocorre a destruição da elastina (fibra 
pulmonar). 
Daniela Pimenta 
33 
 
Quando acumulada nos hepatócitos provoca hepatopatia crónica, cirrose e colestase 
neonatal 
α1-fetoproteína 
Também pertence à fração α1. É a principal proteína plasmática do feto humano 
(mecanismo de defesa) os valores são iguais ao adulto após 6 a 10 meses do nascimento. É 
uma proteína de relevância no carcinoma hepatocelular, onde a atividade desta proteína está 
extremamente elevada. Para além desta situação, está aumentada também em tumores 
testiculares, carcinomas gástricos e pancreáticos e em pequeno percentual de carcinomas de 
pulmão e cólon. Mas também pode estar aumentada em situações não malignas como 
doenças inflamatórias do fígado (hepatite viral, hepatite crónica e cirrose hepática), doenças 
inflamatórias intestinais (Crohn e colite ulcerativa), e por isso não é um bom marcador de 
processos malignos. 
Haptoglobina 
Pertence à fração α2 e a sua função é transportar a hemoglobina livre para os macrófagos. 
É uma glicoproteína produzida a nível hepático em resposta a situações onde haja libertação 
de hemoglobina. Os macrófagos possuem recetores capazes de reconhecer estes complexos 
entre a Hp-Hb. 
Nestas células a Hb dá origem a ácidos aminados e ao grupo heme que origina bilirrubina 
não conjugada. A nível do macrófago não é apenas metabolizada a Hb, a haptoglobina também 
vai ser degradada. 
Haptoglobina diminuída 
Em situações de hemólise, onde há o aumento de Hb, ocorre a diminuição da Hp na 
corrente sanguínea devido à formação do complexo Hp-Hb, havendo a sua destruição, que se 
sobrepõem à síntese. 
E por isso é um bom biomarcador para as situações de hemólise. Em situações de doença 
hepatocelular grave também há a sua diminuição devido à deficiência na síntese. 
Haptoglobina aumentada 
Daniela Pimenta 
34 
 
Ocorre devido a processos inflamatório e quando há um enfarte do miocárdio. 
Exemplo com caso clínico 
Há uma diminuição da hemoglobina, ou 
seja, está a ocorrer a hemólise e isso 
verifica-se nos valores de haptoglobina 
pois quando há hemólise o fígado não 
tem capacidade de produzir haptoglobina 
suficiente. 
A LDL não é específica, mas permite saber 
que há lesão celular. Situação de origem 
medicamentosa com Tamoxifeno. Com este fármaco há o risco de desenvolver anemia 
hemolítica. Verifica-se uma diminuição da haptoglobina com o aumento dos reticulócitos. 
Aquilo que distingue estas anemias hemolíticas das aplásicas é, precisamente, o nível dos 
reticulócitos (nas aplásicas os reticulócitos diminuem). 
 
Diminuição da haptoglobina e esferocitose medicamentosa 
Na esferocitose hereditária os eritrócitos são esféricos e 
menores, no caso da esferocitose medicamentosa os 
eritrócitos perdem a sua forma concava, mas ficam de maior 
tamanho – sofrem processo de intumescimento. Alguns 
fármacos permeabilizam a membrana ocorrendo a 
libertação do potássio para o plasma e a entrada de água 
para o eritrócito acabando por rebentar devido à sua 
elasticidade máxima ter sido ultrapassada – há libertação gradual de Hb, que não acompanha 
a libertação súbita de potássio (mecanismo coloide-osmótico), e que leva à diminuição de Hp 
face ao turnover visto anteriormente. 
Daniela Pimenta 
35 
 
Relativamente ao diagnostico clínico da hemólise, podemos recorrer ao hemograma, ao 
plasma e à urina. Os biomarcadores no diagnostico clínico de hemólise incluem na análise do 
hemograma a presença de reticulócitos (aumentados em casos de hemólise), esferócitos e 
fragmentos de eritrócitos. 
No plasma sabemos que a haptoglobina está diminuída, LDH e bilirrubina estão presentes 
e que existe hemoglobinémia e coloração castanha. 
Na urina existe urobilinogéneo, está presente hemoglobinúria e hemossiderinúria. 
 
A figura ao lado representa um outro processo de destruição 
dos eritrócitos. Neste caso não há efeito coloide-osmótico 
uma vez que o potássio e a hemoglobina são libertados 
simultaneamente – processo de lise membranar. 
 
Ceruplasmina 
Pertence também à fração α2, é produzida pelas células do parênquima hepático e por uma 
parte pequena de linfócitos e possui como função o transporte de cobre – orienta para a 
doença de Wilson. Em termos de diagnóstico está, essencialmente, associada a patologias em 
que há perturbações no sódio. 
O cobre que chega ao fígado necessita de ser eliminado e é transportado pela 
ceruplasmina. Se há uma deficiência nesta proteína não há saída do cobre nem para a bílis 
nem para a urina. O cobre fica acumulado no fígado onde causa fibrose hepática que evolui 
para cirrose. 
A doença de Wilson, é um caso onde existem baixos níveis desta proteína, e, resulta em 
acumulação do cobre no fígado e em outros órgãos, e por isso nesta doença a fibrose hepática 
evolui para cirrose, parte do cobre é depositada em torno da borda da córnea e da íris, 
causando os aneís de Kayser-Fleischer e o restante cobre que não se acumula nos tecidos é 
excretado na urina. 
Daniela Pimenta 
36 
 
No diagnóstico encontramos baixos níveis de ceruplasmina no soro e alta excreção urinária 
do cobre. 
Nestes casos é necessário efetuar uma alimentação pobreem tudo o que sejam alimentos 
ricos em cobre. 
Níveis elevados desta proteína podem existir em casos de hepatites agudas, 
hemacromatose e doença obstrutiva biliar. 
α2-macroglobulina 
Também pertence à fração α2 e é um inibidor da protease de peso molecular muito 
elevado. A sua função e inibir as enzimas que intervêm nos sistemas do complemento, da 
coagulação ou fibrinolítico, transportador de numerosos pequenos peptídeos e também 
catiões divalente (em particular, o zinco). 
 É de grandes dimensões e por isso dificilmente é filtrada pelos glomérulos, no entanto, 
uma pressão glomerular aumentada pode facilitar esta filtração. 
Pode estar aumentada na corrente sanguínea em casos de diminuição da pressão 
glomerular que é o que ocorre nos síndromes nefróticos. Mas também pode estar aumentada 
com a toma de estrogénios, de contracetivos orais e na gravidez. 
No síndrome nefrótico há perda de proteína na urina, ou seja, proteinuria. O perfil 
eletroforético para além de apresentar uma diminuição do pico de albumina, apresenta 
também uma diminuição das globulinas, indicativo de que elas atravessam o glomérulo e já 
não estão a ser absorvidas. Em paralelo ocorre um aumento do pico das α2 (α2-
macroglobulina está aumentada para fazer a compensação do equilíbrio coloide-osmótico, 
principalmente pela perda de albumina que está a ocorrer). 
Nos processos inflamatórios está diminuída por ser uma proteína negativa da fase aguda. 
Para além disto, está diminuída também em casos de pancreatite e carcinoma da próstata. 
É importante saber que a ação vasodilatadora das prostaglandinas na arteríola aferente 
permite um maior fluxo de sangue no glomérulo e aumenta a perfusão renal. A pressão 
Daniela Pimenta 
37 
 
intraglomerular é mantida pela vasoconstrição da arteríola eferente que é mediada pela ação 
da angiotensina II. 
Transferrina (TRF) 
Pertence à fração β. A sua função é transportar o ferro. Cerca de 75% do ferro ingerido é 
utilizado na eritropoiese, 10-20% é armazenado na ferritina. Quando há uma deficiência no 
ferro, o fígado passa a sintetizar maior quantidade de transferrina, de maneira a compensar a 
deficiência do ferro. Isto traz um problema, ocorre o aumento da quantidade desta proteína, 
no entanto ela fica com menos ferro ligado (percentagem de saturação baixa) – anemia 
ferropriva – a ferritina aumenta, mas a percentagem da sua saturação diminui. 
Para classificar estas anemias, é útil estimar o armazenamento de ferro total e a capacidade 
de ligação de ferro total (TIBC). 
β-2-microglubina 
É filtrada livremente pelo glomérulo, atinge ao tubo proximal onde é reabsorvida, e por isso 
não aparece na urina. Não serve de diagnostico, mas os seus níveis podem ser uteis para 
diagnóstico. 
Pode ser indicadora de disfunção tubular renal uma vez que se aumentada no plasma 
poderá significar que estamos perante um problema a nível renal – já não está a passar 
livremente nos glomérulos o que pode significar uma diminuição da TFG. Mas, se estiver 
aumentada a nível da urina indica que o tubo proximal não está a efetuar uma reabsorção 
correta das moléculas – rim poderá ser sujeito a diálise. 
Pode ser também indicadora da presença de neoplasias uma vez que o seu aumento 
acontece em situações de neoplasias, tal como, mieloma múltiplo, leucemia e linfoma, mas 
também em processos inflamatórios. 
Ainda sem haver sinais das falhas das perturbações renais, esta proteína aparece alterada 
nas análises, sendo por isso um biomarcador precoce de perturbações renais, podendo ser 
utilizada como indicador de previsão. 
Biomarcadores de previsão 
Daniela Pimenta 
38 
 
Existem vários marcadores que são indicativos de problemas a vários locais. O rim é um 
órgão de pequenas dimensões que filtra o sangue e, por isso, concentra as moléculas de 
fármaco, sendo por isso um alvo afetado por fármacos levando a nefrotoxicidade com falha a 
nível renal. 
Existem biomarcadores de previsão para as 
diferentes regiões dos nefrónios (SAI NO EXAME). 
Os valores de clusterina podem manter-se 
normais mesmo havendo disfunção tubular distal. 
Por essa razão utiliza-se preferencialmente o 
EGF/MCP-1 que é um biomarcador que nos 
permite saber que está a ocorrer nefropatia 
obstrutiva. 
Atualmente existem vários fármacos que causam cristalinúria. O rim desenvolveu 
transportadores para muitos dos xenobióticos. A glicoproteína P é capaz de efetuar o 
transporte dos fármacos não biotransformados para fora das células tubulares. Estes 
encontram-se num estado hidrofóbico, e, por isso, ao atingirem o lúmen tubular precipitam. 
O mecanismo de cristalinúria é um dos principais mecanismos de ação nefrotóxica de 
moléculas. 
A Tff3 é uma hormona que está presente em grandes quantidades como molécula para 
restaurar o dano a nível renal. Está presente quando há dano renal uma vez que impede que 
haja desregulação das células. É um biomarcador obrigatório que completa o significado de 
todas as outras. 
Proteínas de fase aguda 
São proteínas que o fígado sintetiza em resposta a citocinas produzidas em processos 
inflamatórios, infeciosos ou em caso de trauma, de 
maneira a proteger as células destas citocinas. Em 
resposta à lesão, as células inflamatórias locais 
Daniela Pimenta 
39 
 
(neutrófilos, granulócitos e macrófagos) secretam citocinas na corrente sanguínea: 
interleucinas IL-1, IL-6, IL-8 e TNF-α. E o fígado responde produzindo um grande número de 
proteínas de fase aguda. 
São denominadas de proteínas positivas de fase aguda se a sua quantidade aumentar 
nestas situações agudas. E negativas se ocorrer o oposto. 
A proteína C reativa é a proteína que se liberta 
mais rápido e que atinge maiores quantidades 
mais rapidamente (é a primeira a ser 
produzida e em maior quantidade). É uma 
proteína de elevada sensibilidade podendo 
ser detetada como previsão da ocorrência de 
patologias onde estão envolvidos processos 
inflamatórios. 
Analisando o perfil farmacocinético da libertação das proteínas de fase aguda positivas, 
verifica-se que a que se liberta mais rapidamente e em maior concentração é a proteína C 
reativa (PCK), sendo essa o biomarcador que mais se utiliza para a avaliação de situações de 
processos inflamatórios. Ocorre também um aumento da concentração de haptoglobina. 
Nas situações de proteínas de fase aguda negativas as concentrações estão abaixo do 
normal porque há uma perda ou o consumo dessas proteínas, como acontece com a 
transtirretina/pré-albumina, albumina, transferrina e α2-macroglobulina. 
Perfis eletroforéticos e correlações patológicas 
 Perfis eletroforéticos de fase aguda 
Daniela Pimenta 
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Numa situação de fase aguda um dos perfis 
mais típicos é aquele em que ocorre uma 
diminuição da albumina e aumento da α1 e da 
α2 (principalmente a haptoglobina e a 
ceruloplasmina – proteínas positivas de fase 
aguda). Quando há diminuição da haptoglobina 
sabe-se que existe hemoglobina livre. Nesta situação a haptoglobina está aumentada, ou seja, 
a sua haptoglobina aumentou em resposta a uma agressão a nível fisiológico, que é o que 
acontece nas situações agudas. 
 Perfis eletroforéticos de inflamação crónica 
Nas situações cronicas de situações inflamatórias a 
banda das gamaglobulinas possui um pico 
extremamente largo e elevado. Este pico é também 
sempre muito próximo do pico beta uma vez que é 
entre estes dois que se localiza a proteína C reativa 
aumentada e em níveis elevados fica na banda entre o 
pico beta e o pico gama. 
Nos síndromes nefróticos, existe um aumento 
substancial da alfa 2 devido à filtração estar 
diminuída, logo a proteína não é filtrada e fica no 
sangue. 
Nas enteropatias com perda de proteína ocorre o 
aumento das alfa 2 uma vez que a macroglobulina 
não é perdida facilmente e por isso o pico das alfa 2 está aumentado. 
Há diminuição da albumina em situações de cirrose hepática e de síndrome nefrótica, masos 
perfis eletroforéticos são distintos permitindo assim distinguir as situações 
 Mieloma múltiplo e Hipergamaglobulinémia monoclonal 
Daniela Pimenta 
41 
 
O aumento da fração gama demonstra mais 
facilmente indica o que está a ocorrer. Em situações 
de neoplasia os plasmócitos passam a produzir 
globulinas de maneira descontrolada (mieloma 
múltiplo/ hipergamaglobulinémia monoclonal). 
Ocorre o aumento da fração gama a nível do soro e 
, em paralelo, o aumento das proteínas (gama-
imunoglobulinas) a nível da urina. 
Nas situações de mieloma múltiplo os plasmócitos produzem apenas um tipo de 
imunoglobulina (daí chamar-se imunoglobulina monoclonal). 
Nas hipergamaglobulinémia monoclonal as células 
plasmáticas (plasmócitos) tornam-se cancerígenas e 
produzem anticorpo (imunoglobulina monoclonal, proteína 
monoclonal, ou paraproteína). Há presença de muitas cópias 
do mesmo anticorpo (gamopatia monoclonal). Há aumento 
homogéneo e fusiforme da fração gama. 
As paraproteinas são toxicas para o túbulo proximal, na presença destas o mesmo perde a 
capacidade de efetuar a reabsorção e aparecem em maiores quantidades na urina (proteínas 
de cadeias leves). 
 
 
 
 
 
 
Daniela Pimenta 
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 Hipergamaglobulinémia policonal 
Há um aumento difuso da fração gama. O Perfil de curva 
de basa larga. Corresponde a várias classes de 
imunoglobulinas. O pico policlonal mais alargado é devido à 
produção de mais que um tipo de imunoglobulinas. 
 
 Hipogamaglobulinémia 
Globulinémia congénita ou secundária. Há ausência de 
anticorpos específicos. Resulta em infeções fatais uma vez que 
não produz imunoglobulinas, havendo um maior risco de morte 
devido a infeções. 
Enzimas plasmáticas no diagnóstico clínico 
Existem enzimas que são específicas no plasma, tais como: renina, lipoproteína lípase e 
fatores de coagulação (plasmina, trombina). Aumento das enzimas no plasma pode ocorrer 
em enzimas intracelulares ou intracelulares de secreção. As enzimas intracelulares são 
marcadores de lesão celular e marcadores de proliferação celular. Já as enzimas intracelulares 
de secreção indicam um aumento da síntese (indução de enzimas, GamaGT) ou obstrução da 
secreção (amílase, lípase). 
As enzimas mais utilizadas no diagnóstico laboratorial são a CK, a AST, a ALT, a GamaGT, a 
ALP, a LDH, a amílase e a lípase. 
Creatinina cinase (CK) 
Esta enzima é um marcador da lesão muscular, incluindo o enfarte agudo do miocárdio. 
Contudo é inespecífico pois ocorre em vários sítios. 
Existem 3 isoenzimas e a sua presença é sugestiva de lesões em locais diferentes: 
 CK-3 (MM): músculo esquelético/cardíaco; 
 CK-2 (MB): mais específica do musculo cardíaco (miocárdio); 
Daniela Pimenta 
43 
 
 CK-1 (BB): cérebro. 
Transaminases/ aminotransferases 
Não são específicas pois são indicativas de lesões em diversos locais. 
Aspartato aminotransferase – AST/GOT 
Pode ser encontrada no músculo cardíaco, músculo esquelético e fígado. É uma marcador 
de lesão hepatocelular e muscular. Encontra-se 10 vezes aumentada em caso de hepatite 
aguda e entre a 5 a 10 vezes no caso de enfarte do miocárdio e colestase. 
Alanina aminotransferase – ALT/GPT 
A sua atividade elevada destaca-se no fígado. É um marcador de lesão hepatocelular. 
Desidrogenase láctica - LD/LDH 
Está distribuída em muitos tecidos. Os aumentos plasmáticos são inespecíficos, mas 
indicativos de lise celular. Pode dever-se a: enfarte do miocárdio, hemólise, doenças hepáticas, 
doenças musculares, doenças renais. 
Ƴ-Glutamil Transpeptidas- ƴGT 
É um marcador sensível, mas não é específico de doença hepática. 
Fosfatase alcalina – ALP 
Está associada a membranas e superfícies celulares, como a mucosa do intestino delgado, 
túbulos proximais do rim e placenta (aumento no sangue maternal no 3º semestre de 
gravidez), como o osso (osteoblastos) e também no fígado – membranas celulares canalículos 
biliares, maior na síntese hepática nas doenças hepatobiliares (resposta à colestase). 
Deste modo podem ter 2 significados clínicos: 
 Doenças ósseas (maior atividade osteoblástica); 
 Doenças hepatobiliares: isoenzimas ou associação com gamaGT. 
Daniela Pimenta 
44 
 
Enzimas pancreáticas 
A amílase, a lípase e tripsina são indicativas de doenças pancreáticas. 
 
Diagnóstico clínico: determinações séricas 
O diagnóstico de alteração das proteínas é feito por determinação da proteína total e, no 
caso de haver, temos de verificar qual a fração que está alterada. 
Dislipidémia 
É a definição do aumento de lípidos e lipoproteínas na corrente sanguínea. As dislipidémias 
são o principal fator da aterosclerose, o que aumenta o risco cardiovascular. 
Os marcadores laboratoriais não são usados no diagnóstico, mas permitem perceber qual 
a terapêutica que tem de ser instituída e fazer o seu controlo. 
O perfil lipídico é usado para avaliar o risco cardiovascular e quantifica o colesterol total, os 
triglicéridos, o HDL colesterol e o LDL colesterol. 
Existem quatro biomarcadores: proteína C reativa de alta sensibilidade (hs-PRC); a 
apolipoproteína B e apolipoproteína A-1; a lipoproteína (a) e a homocisteína. 
A lipoproteína está associada à DAC nas raças brancas e amarela. É um inibidor competitivo 
do ativador do plasminogénio tecidual inibindo a geração de plasmina e a fibrinólise. 
A homocisteína possui elevações associadas à disfunção endotelial, trombose e maior 
gravidade de aterosclerose. 
A razão pela qual se estuda este processo é devido ao facto das dislipidémias serem a causa 
da principal de mortes por doença cardiovascular. Os enfartes do miocárdio e os AVCs são as 
principais causas de morte. 
Fatores bioquímicos da lesão do miocárdio 
Daniela Pimenta 
45 
 
A principal causa de morte no mundo são doenças cardiovasculares, as mais comuns são 
enfarte e derrame. Existem fármacos que levam à confusão com situações de enfarte do 
miocárdio. No EAM existem processos de isquemia que passam rapidamente a hipoxia, 
ocorrendo o acumular de lactato e a necrose celular. E por isso, o que pretendemos é a procura 
de biomarcadores que se libertem na fase mais inicial da patologia – de modo a minimizar o 
processo de necrose. 
Um dos biomarcadores que se liberta mais 
rapidamente é a mioglobina, apresenta elevada 
sensibilidade, mas baixa especificidade por não 
ser exclusiva do miocárdio podendo ser libertada 
em situações de rabdomiólise. Esta proteína 
demora entre 1-4 horas para aparecer. Atinge um 
máximo ao fim de 6-12 horas. 
É importante saber que existem também terapêuticas que induzem rabdomiólise, levando 
também a libertação desta proteína do musculo (esquelético e/ou cardíaco). 
A CK não é especifica do musculo cardíaco, mas há uma isoenzima desta enzima que é 
especifica do miocárdio, o isómero CK-MB. E por isso não tem problemas de especificidade. 
Esta proteína demora cerca de 4-6 horas para aparecer e atinge o pico ao fim de 24 horas. 
As Estatinas afetam os níveis de CK, por provocarem rabsomiólise, e atualmente olhamos 
para esta enzima para detetar destruição celular, muitas das vezes induzida por fármacos. 
LDH e AST – são enzimas sem especificidade cardíaca. Servem apenas como auxiliares de 
diagnostico. 
Troponinas – a nível do coração existe apenas a troponina I (cTnI). Atualmente existe a sua 
deteção por métodos imunológicos de elevada sensibilidade e especificidade (hs-cTnI) e por 
isso pode ser detetada ainda em concentrações muito pequenas (elevada sensibilidade) – bom 
biomarcador de diagnóstico do EAM assim como a CK de elevada sensibilidade (hs-PCR). A 
troponina I demora 4-6 horas para aparecer e atinge o pico ao fim de 18 horas. 
Daniela Pimenta 
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Divisão dos marcadores 
Os biomarcadores vão ser divididos em 2 grandes grupos. Num enfarte do miocárdio há um 
processo de isquémica, ou seja, um bloqueio numa artéria que impede o fluxo sanguíneo e os 
nutrientes não chegam às células cardíacaspara que estas possam produzir energia. Deste 
modo, as células cardíacas passam de um metabolismo aeróbio para anaeróbico. As células 
processam a via glicolítica para produzir a energia necessária e pode encontrar-se 60 vezes 
aumentado. Daqui resulta a produção de lactose e consequentemente acido lático. Assim, a 
seguir à fase de isquemia ocorre uma fase de necrose. 
Os quatro biomarcadores de necrose de cardiomiócitos são: hd-cTnI; cTnI; CK-MB e hs-PCR. 
Fase de isquémica 
Relativamente à H-FABP existem 2 isómeros, sendo que uma existe no fígado e outro no 
coração. Estão envolvidas no metabolismo dos ácidos gordos onde transportam os ácidos 
gordos, da membrana celular para a mitocôndria para que ocorra a sua oxidação. A proteína 
H-FABP existe em elevadas quantidades nas mitocôndrias dos cardiomiócitos, e por isso é um 
biomarcador precoce da necrose cardíaca. É libertada quando há libertação no metabolismo 
dos cardiomiócitos. 
IMA é um marcador formado após a hipoxia, acidose e radicais livres de oxigénio → 
provocam o aumento da IMA. Aumenta dentro de minutos e mantem-se elevados várias horas 
após a situação de isquemia. A IMA corresponde à albumina modificada por isquemia (stress 
oxidativo) – e liberta-se logo na altura da isquemia. É também um biomarcador precoce de 
necrose cardíaca. 
NOTA: o BNP-B aparece bastante elevado em situações de isquemia, libertando-se 
precocemente – tem um valor preditivo, mas não se pode enquadrar nos biomarcadores de 
previsão. 
Existem situações de origem medicamentosa que originam parâmetros analíticos 
semelhantes a EAM. A vasoconstrição, por ação de aterosclerose, é a principal causa de 
Daniela Pimenta 
47 
 
isquemia – situações de hipoxia. Fármacos, e especialmente combinações de fármacos, que 
induzam vasoconstrição podem contribuir para estas situações. 
Existem fármacos que por si só induzem necrose das células – a nível cardíaco, qualquer 
molécula que se acumule e reduza a quantidade de energia produzida, é toxica para o coração 
um exemplo é 
a 
adriamicina (possui afinidade para a cardiolipina) atingindo elevadas concentrações nas 
células, afeta a mitocôndria e impede que estas produzam energia, levando à necrose das 
células. 
 
 
 
 
 
 
 
Daniela Pimenta 
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Atualmente, os ensaios pré-clínicos avaliam a cardiotoxicidade mitocondrial. A maioria das 
moléculas provocam esta toxicidade, e por isso deveriam ser avaliados já na clínica – controlo 
clínico da terapêutica. 
Metabolismo dos lípidos – revisão 
Os lípidos são moléculas insolúveis e para serem transportados na corrente sanguínea, é 
necessária a presença de transportadores, como por exemplo a albumina que transporta 
ácidos gordos. Os restantes transportadores são transportados 
em estruturas denominadas de lipoproteínas (possui a bicamada 
dos fosfolípidos e no seu interior transporta o colesterol 
esterificado e os triacilglicerois; o colesterol livre está em 
contacto com a superfície da bicamada). 
A digestão dos lipídios tem início no intestino delgado, onde os sais biliares emulsificam as 
gorduras formando micelas, para facilitar a ação das enzimas lípases. As lípases hidrolisam as 
ligações éster dos lipídios saponificáveis, libertando ácidos gordos e os outros produtos como 
o glicerol, que atravessam então a mucosa intestinal, sendo convertidos em triacilgliceróis. 
A colesterol esterase hidrolisa o colesterol esterificado a colesterol livre que pode ser 
absorvido pelos enterócitos. Quando estes compostos estão no enterócito, voltam a ser 
esterificados. O colesterol, juntamente com o triacilgliceróis, vão formar os quilomicrons que 
terão na sua estrutura ApoB48. Esta apoproteína, assim como a ApoA-I e a ApoA-IV, é 
produzida no intestino. 
Os quilomicron entram na corrente sanguínea, através do sistema linfático, até chegar aos 
tecidos e órgãos que metabolizam os lipídios, sendo novamente hidrolisados e penetrando nas 
células. O principal órgão que metaboliza os lipídios é o 
fígado, entretanto eles também são metabolizados pelo 
coração para produção de sua própria energia. 
Daniela Pimenta 
49 
 
As diferentes lipoproteínas diferem entre si devido à proteína e ao lípido. Apoproteínas é a 
componente proteica que lhes conferem estrutura, e é característica de cada classe de 
lipoproteínas. 
A lipoproteína (a) é um tipo de LDL de menor dimensão que tem características que lhe 
permitem atravessar os vasos capilares mais facilmente e desencadear os processos de 
aterosclerose. As proteínas destas lipoproteínas são sintetizadas a nível hepático ou intestinal 
(caso das ApoA-I). 
 
 
 
 
 
 
 
As apoproteínas têm múltiplas funções a nível do metabolismo dos lípidos. São fatores de 
extrema importância uma vez que desempenham funções importantes nas enzimas que estão 
envolvidas no metabolismo dos lípidos e nos recetores dos mesmos. 
As VLDL têm de ser reconhecidas para ser eliminadas e para isso é necessário a apoproteína 
B100. Se houver um falha na ApoB100 os recetores não reconhecem estas proteínas e por isso 
continua a haver transporte de colesterol. O colesterol começa assim a ser acumulado o que 
proporciona fenómenos de aterosclerose. Deficiências em apoproteínas e/ou nos seus 
recetores, são uma das grandes causas que das dislipidemias. 
A ApoCII é um cofator da lipoproteína lípase – enzima que efetua a degradação dos 
triacilglicerois, e por isso deficiências neste cofator são a causa de hipertrigliceridémias. As 
Daniela Pimenta 
50 
 
Apo-A1 são importantes na formação das HDL que auxiliam na “limpeza” do colesterol dos 
tecidos extra-hepático. A ApoE e a ApoB100 são importantes para que os recetores a nível 
hepático conseguirem reconhecer as lipoproteínas de maneira que estas sejam metabolizadas 
e evitem a ocorrência de dislipidemias. 
Nos capilares existe uma lipoproteína lípase (que necessita da ApoCII para efetuar a sua 
ação – esta ApoCII faz parte dos quilomicrons) que degradam os triacilglicerois exógenos 
libertando o glicerol e os ácidos gordos (vão para o tecido adiposo voltando a formar 
triacilglicerois). Os quilomicrons remanescentes (formaram-se devido à ação da lípase) 
possuem colesterol, e são reconhecidos pelo recetor das proteínas remanescentes no fígado, 
sendo posteriormente captados, e o colesterol é utilizado para a síntese de compostos 
necessários ao organismo (sais biliares, hormonas esteroides, vitaminas) e se não houver 
utilidade fisiológica é eliminado na bílis e é excretado nas fezes. 
Normalmente o colesterol exógeno não contribui para as hipercolesterolemias, mas há 
situações em que o colesterol exógeno pode originar hipercolesterolemias, como em dietas 
ricas em colesterol, onde o colesterol ingerido ultrapassa a capacidade metabólica do fígado, 
havendo um excesso de colesterol integrado nas VLDL, que posteriormente originam IDL. O 
excesso de colesterol leva à redução do turnover dos recetores das lipoproteínas das LDL. 
Assim, as LDL não são reconhecidas e o colesterol vai para os tecidos. 
Daniela Pimenta 
51 
 
Nestes casos é necessário que o individuo tenha uma alimentação cuidada, com redução 
da ingestão dos excessos. Nestes casos não são necessárias Estatinas. O ideal será não ingerir 
excessos para evitar a formação de colesterol endógeno. Em casos de excessos de glúcidos e 
proteínas há também um excesso de Acetil-Coa que não vai ser utilizado na produção de 
energia, originando colesterol endógeno que vai ser incorporado nas VLDL, juntamente com o 
excesso de triacilglicerois formados. 
 
 
 
 
 
 
 
Quando as VLDL atingem a corrente sanguínea os triacilglicerois são degradados pela 
lipoproteína lípase (VLDL também possuem ApoCII) originando as IDL (possuem apenas 
colesterol no seu interior). As IDLS conseguem receber colesterol das HDL (do transporte 
reverso das HDL) originando as LDL. Se o fígado conseguir reconhecer estas LDL e destruí-las 
nãohá problemas para o organismo. O problema é quando o fígado não consegue efetuar o 
turnover proteico e a destruição de todas as LDL, o que faz com que haja um aumento de LDL 
que vão levar o colesterol para os tecidos extra-hepáticos causando ateroma, aterosclerose, 
fluxo sanguíneo reduzido, hipoxia e EAM. 
Transporte reverso do colesterol 
É o principal fator que contribui para que um individuo não desenvolva hipercolesterolemia. 
As HDL contribuem para a remoção do colesterol dos tecidos extra-hepáticos. Deficiências no 
transporte reverso do colesterol são as causas principais de dislipidemias e do que daí advém. 
Daniela Pimenta 
52 
 
 
 
 
 
 
As HDL são constituídas por ApoA-I (sintetizada pelo fígado e pelo intestino), que possuem 
capacidade para captar colesterol, levando à formação das HDL nascentes. As HDL nascentes 
têm capacidade para captar colesterol da maior parte dos tecidos, das VLDL ou quilomicrons 
e dos macrófagos. Formam-se as HLD que através da LCAT esterificam o colesterol, formam as 
HLD maduras, ricas em ApoAI que são reconhecidas por recetores hepáticos – o fígado 
metaboliza estes esteres de colesterol. O fígado possui também recetores scavenger B1 (SR-
B1) que reconhecem também ApoA-1 permitindo a entrada de colesterol no fígado, e o seu 
metabolismo. Através da CETP (proteína transportadora do colesterol esterificado) parte do 
colesterol nas HDL que não esta a ser destruído, pode ser transportado pelas IDL, originando 
LDL que é reconhecido pelo fígado podendo ser metabolizado. 
As hipercolesterolemias podem ser evitadas se não houver deficiência: Apo-AI, nos seus 
recetores, no SR-B1, na CETP e nos LCAT. Os indivíduos com estas deficiências desenvolvem 
mais rapidamente os mecanismos de aterosclerose e mais facilmente sujeitos a acidentes 
cardiovasculares. 
Se houver um transporte reverso de colesterol correto, o colesterol não é nefasto para o 
organismo. 
Causas das deslipidémias 
Quando há uma hiperlipidémia há também uma lipoproteínémia, o que origina 
dislipidémias. As dislipidémias resultam de distúrbios no metabolismo dos lípidos, 
principalmente nos níveis de colesterol, níveis de triglicerídeos e níveis de HDL. 
Daniela Pimenta 
53 
 
Estas alterações podem levar à aterosclerose que promovem a ocorrência de eventos 
cardíacos. Quanto à origem as deslipidémias podem ser primárias ou secundárias. 
Se forem dislipidémias primárias são hereditárias, recorrentes de distúrbios que afetam as 
apoproteínas ou enzimas intervenientes: 
 LPL – lipoproteína lípase 
 LH – lípase hepática 
 LCAT – lecitina colesterol acetiltransferase 
 Recetores das lipoproteínas circundantes. 
 Deficiência nas apoproteínas. 
Se forem deslipidémias secundárias são devido ao estilo de vida, devido a outras patologias 
e uso de fármacos. O estilo de vida está relacionado com hábitos alimentares, sedentarismo, 
abuso de álcool e tabagismo. Qualquer uma destas causas pode potenciar deficiências 
hereditárias, podendo desencadear dislipidemia primária. 
Na maior parte das situações as dislipidemias são doenças silenciosas, ou seja, 
assintomáticas. Contudo, há alguns casos em que as pessoas podem apresentar sintomas: 
 Xantelasma palpebrais – acumulo de gordura nas pálpebras; 
 Arco corneano – deposição de lípidos na córnea formando um arco acinzentado 
(hipercolesterolemia familiar); 
 Xantomas – deposição de lípidos nos tendões; 
 Xantomas relacionados com as hipertrigliceridémias; 
 Turbidez plasmática (devido ao aumento de lípidos no sangue) – quando são realizadas 
análises e o sangue ao ser centrifugado fica com aspeto turvo há suspeita que existe 
algum problema de saúde (é um diagnóstico ao acaso). 
Atualmente, a classificação das dislipidemias é feita a nível laboratorial e estas podem ser 
classificadas como: 
 Hipercolesterolémia isolada – há apenas o aumento do colesterol. 
Daniela Pimenta 
54 
 
 Hipertrigliceridémia isolada – há apenas o aumento dos triglicéridos – aumento de 
quilomicrons e VLDL. 
 Hiperlipidémia mista – ocorre aumento LDL e VLDL e como consequência há aumento 
do colesterol e dos triglicéridos. 
 HDL-C baixo (baixo nível de Apo-AI) com ou sem elevação de colesterol e/ou triglicéridos. 
Dislipidémias secundárias 
Patologias como o hipotiroidismo, doença renal e diabetes mellitus podem estar na causa 
de dislipidemia. 
No hipotiroidismo há uma redução clearance por diminuição da expressão dos recetores 
hepáticos o que provoca um aumento de LDL. 
Na doença renal, mais propriamente na síndrome nefrótica, há aumento da LDL por 
diminuição da atividade da lipoproteína lípase e há aumento da síntese de colesterol 
(diminuição do mevalonato e aumento da atividade da HMG-CoA redutase). 
A diminuição do catabolismo pode provocar insuficiência renal crónica, onde o mais 
comum é a hipertrigliceridémia (semelhante à diabética por relacionar-se com a deficiência de 
insulina) embora o aumento da IDL e LDL também posso ocorrer. 
A diabetes mellitus é uma situação onde pode ocorrer hipertrigliceridémia com aumento 
das VLDL. O que ocorre na DM mal controlada é que a insulina ausente (DM tipo 1) ou com 
ação diminuída (DM tipo 2) acaba por inibir a ação da lipoproteína lípase, o que faz com que 
as VLDL fiquem mais tempo na circulação. Além disso, há um aumento dos ácidos gordos livres 
(devido a situações percebidas pelo organismo como hipoglicémia) na circulação. Quanto mais 
AGL chegam ao fígado, mais VLDL é produzida. Ou seja, as VLDL são produzidas em maior 
quantidade e degradadas em menor velocidade – isto faz com que seus níveis 
sanguíneos aumentem, culminando num aumento de triacilgliceróis. 
Relativamente aos fármacos, os diuréticos tiazídicos (inibem a absorção de sódio) são os 
principais fármacos responsáveis pelas dislipidémias secundárias uma vez que provocam 
Daniela Pimenta 
55 
 
aumento dos triglicéridos (hipertrigliceridémia), LDL e VLDL, por aumento da síntese, e 
aumento da resistência à insulina (insulina está envolvida também na ativação da lipoproteína 
lípase). Os beta bloqueadores aumentam os níveis de triacilglicerois e diminuem os níveis de 
HDL pois inibem a ação da proteína lípase. 
Dislipidémias primárias – Hipertrigliceridémia 
Resultam de causas hereditárias, que podem ser potenciadas por causas de dislipidémias 
secundárias, especialmente uma dieta rica em excessos. Estão relacionadas com desequilíbrios 
entre a síntese e o catabolismo dos triglicéridos. São situações importantes de detetar uma 
vez que podem causar pancreatite e acidentes cardiovasculares. Nestas há um aumento dos 
quilomicron, das VLDL e dos respetivos remanescentes. 
O aumento de triacilgliceróis resultantes do aumento da síntese resultam de duas 
consequências: o aumento pode ser devido à sua síntese hepática aumentada (a elevada 
ingestão calórica), que leva ao aumento das VLDL; ou pode ser devido ao aumento da sua 
ingestão, que leva ao aumento dos quilomicrons. 
O outro fator está relacionado com defeitos na degradação destes triacilgliceróis, devido a 
deficiência na lipoproteína lípase, ou a deficiência na ApoCII, ou a deficiência de insulina, ou 
deficiência nos LRP (recetores das lipoproteínas remanescentes – capta quer os quilomicrons 
remanescentes quer as VLDL remanescentes. Se estes não forem captados o seu aumento na 
corrente sanguínea impede a ação da lipoproteína lípase). 
Como já foi referido, no caso da diabetes não controlada pode ocorrer hipertrigliceridémia 
devido, por um lado à deficiência na ação da insulina, e por outro devido ao aumento dos 
ácidos gordos livres que irão originar triacilglicéridos endógenos a nível hepático, levando ao 
aumento das VLDL. Nestes doentes, os níveis de lipoproteína (a) estão também aumentados, 
é importante a determinação clínica desta proteína, uma vez que é altamente heterogénia 
sendo um dos principais fatores de risco cardiovascular. 
Dislipidémias primárias– Hipercolesterolémia 
Daniela Pimenta 
56 
 
Aumento do colesterol na corrente sanguínea. 
É essencial para o organismo humano uma vez que é um componente essencial na 
estrutura de biomembranas, é também um precursor de todas as hormonas esteroides e 
precursor dos ácidos biliares. 
A sua acumulação no plasma pode ser nociva pois pode provocar aterosclerose o que 
aumento o risco de doença cardiovascular. O colesterol no organismo provem do colesterol 
exógeno (dieta) e do endógeno. 
 Colesterol da dieta 
O colesterol proveniente da dieta pouco altera os padrões de colesterolémia, uma vez que: 
 ,O colesterol absorvido permanece na composição dos Quilomícrons Remanescentes لا
sendo, após metabolização hepática, excretado na bílis. Este colesterol é captado a 
nível hepático, onde é utilizado na síntese de vitaminas, saias biliares, hormonas 
esteróis. Quando não é necessário é eliminado através da bílis. 
 ,Os esteróis vegetais competem com o colesterol para a incorporação nas micelas لا
reduzindo a entrada do colesterol no organismo. 
Por isso, normalmente, os padrões de hipercolesterolémia não advêm do consumo direto 
de colesterol da dieta. O colesterol da dieta só é responsável por doenças cardiovasculares em 
dietas ricas em colesterol, uma vez que o excesso leva à diminuição dos recetores hepáticos, 
causando o seu aumento na corrente sanguínea (único transportado pelos quilomicrons). 
 Colesterol endógeno e transporte do colesterol 
Os quilomicrons transportam TAG e colesterol da dieta, do intestinos para o sangue. Tanto 
as VLDL, como as LDL, as IDL, os quilomicrons remanescentes e as HDL transportam o 
colesterol. No entanto, destas lipoproteínas existem algumas que transportam também os 
TAG. As LDL são responsáveis pelo transporte para os tecidos, e as HDL do transporte para as 
VLDL, que originam as IDL e LDL (reconhecidas a nível hepático, assim como as HDL). 
Daniela Pimenta 
57 
 
No transporte reverso do colesterol, ocorre o seu transporte de todos os tecidos para o 
fígado (deixando de ser nocivo). O fígado pode utilizá-lo ou excretá-los na forma de sais biliares. 
Os padrões de hipercolesterolemia advêm principalmente da produção de colesterol 
endógeno, devido a dietas hipercalóricas ricas em lípidos e glúcidos. Estes excessos levam ao 
aumento de Acetil-CoA que posteriormente é convertida em triglicéridos e colesterol, sendo 
este último transportado pelas LDL do fígado para os tecidos. A maioria do colesterol 
transportados pelas LDL vai ser transportado para os tecidos, uma vez que é ultrapassada a 
capacidade hepática de destruição do colesterol. 
O organismo desenvolveu um sistema de remoção do colesterol dos tecidos, de maneira 
que este regresse ao fígado para ser destruído – transporte reverso do colesterol. Sendo assim, 
o próprio transporte é também é uma fonte de colesterol endógeno. 
O principal componente de proteína estrutural do HDL é a Apolipoproteina A1 que é 
sintetizado pelo fígado e intestino. A ApoA1 aceita fosfolipídios e colesterol livre do intestino e 
do fígado que leva à formação de HDL nascente. As HDL nascentes aceitam mais colesterol 
livre e fosfolipídios de tecidos periféricos, por exemplo, macrófagos, mas também de VLDL ou 
quilomicrons. 
Essas moléculas de colesterol livre são esterificadas pela enzima LCAT associada ao HDL, 
formando um núcleo hidrofóbico de ésteres de colesterol na partícula HDL. Posteriormente, 
esses ésteres de colesterol são “limpos” no fígado, seja diretamente através da interação do 
HDL com o recetor das ApoA1, ou através da interação da partícula HDL com o recetor 
scavenger B1 (SRB1), ou em uma troca entre LDL através do recetor LDL (LDL-R). 
O primeiro fator de hipercolesterolémia é a síntese endógena, devido aos excessos 
ingeridos (colesterol presente nas VLDL). O segundo fator está relacionado com a incapacidade 
de remoção do organismo. Esta incapacidade resulta da deficiência dos recetores das LDL 
(devido à diminuição do turn over proteico). Há muitas situações onde a deficiência está nas 
ApoB (recetor a nível hepático não as reconhece e o colesterol vai para os tecidos) e com um 
desequilíbrio na PCSK9 havendo um aumento das LDL na corrente sanguínea. 
Daniela Pimenta 
58 
 
O colesterol das LDL que não é metabolizado a nível hepático vai para os tecidos e o 
transporte reverso do colesterol responsável pela remoção deste colesterol. 
O Transporte reverso do colesterol é o principal fator que contribui para que um individuo 
não desenvolva hipercolesterolemia. As HDL contribuem para a remoção do colesterol dos 
tecidos extra-hepáticos. Deficiências no transporte reverso do colesterol são as causas 
principais de dislipidemias e do que daí advém. 
 
 
 
 
 
As HDL são constituídas por ApoA-I (sintetizada pelo fígado e pelo intestino), que possuem 
capacidade para captar colesterol, levando à formação das HDL nascentes. As HDL nascentes 
têm capacidade para captar colesterol da maior parte dos tecidos, das VLDL ou quilomicrons 
e dos macrófagos. Formam-se as HLD que através da LCAT esterificam o colesterol, formam as 
HLD maduras, ricas em ApoAI que são reconhecidas por recetores hepáticos – o fígado 
metaboliza estes esteres de colesterol. O fígado possui também recetores scavenger B1 (SR-
B1) que reconhecem também ApoA-1 permitindo a entrada de colesterol no fígado, e o seu 
metabolismo. Através da CETP (proteína transportadora do colesterol esterificado) parte do 
colesterol nas HDL que não esta a ser destruído, pode ser transportado pelas IDL, originando 
LDL que é reconhecido pelo fígado podendo ser metabolizado. 
As hipercolesterolemias podem ser evitadas se não houver deficiência: Apo-AI, nos seus 
recetores, no SR-B1, na CETP e nos LCAT. Os indivíduos com estas deficiências desenvolvem 
mais rapidamente os mecanismos de aterosclerose e mais facilmente sujeitos a acidentes 
cardiovasculares. 
Daniela Pimenta 
59 
 
Se houver um transporte reverso de colesterol correto, o colesterol não é nefasto para o 
organismo. 
O recetor do colesterol esterificado permite que o colesterol esterificado regresse às VLDL, 
podendo ser metabolizado a nível hepático, e por isso, uma deficiência neste recetor leva 
também ao aumento do colesterol na corrente sanguínea. Uma deficiência na LCAT faz com 
que o colesterol não seja esterificado e consequentemente não é incorporado nas VLDL. Caso 
este colesterol não seja transportado pela CETP ocorre o mesmo que acima. 
Uma deficiência nos recetores da ApoA-1 fazem com que HDL contribua para o aumento 
do colesterol na corrente sanguínea – se houver deficiência nos recetores que reconhecem as 
HDL ricas em colesterol, o colesterol fica na corrente sanguínea, havendo mais uma fonte 
endógena a contribuir para a hipercolesterolemia. Uma deficiência nos SRB1 leva à mesma 
situação das deficiências nos recetores das HDL. 
As causas das hipercolesterolemias são: 
➢ O aumento de síntese de colesterol; 
➢ Deficiências nos recetores das LDL, das ApoA-1 e das SRB1, na CETP e na LCAT. 
Outras alterações ao metabolismo dos lípidos – esteatorreia 
Qual é a causa da esteatorreia? Na esteatorreia a digestão e a absorção de lípidos e 
proteínas é incompleta resultando no aparecimento de fezes com grande teor de lípidos e 
proteínas não digeridas. Deficiência no hepatócito ou pâncreas leva a e esta não digestão. 
Marcadores laboratoriais do risco cardiovascular 
A deteção de hiperlipidémias/dislipoproteinémias permite a avaliação do risco de doença 
cardiovascular. Ambas as anteriores permitem definir a terapêutica, que por sua vez leva ao 
controlo dos doentes sujeitos a terapêutica ou dieta hipolipémica. 
Daniela Pimenta 
60 
 
Os marcadores são importantes pois auxiliam na escolha da terapêutica. Os biomarcadores 
para avaliação do risco cardiovascular não servem apenas para caraterizar as dislipidémias e 
avaliar o risco cardiovascular, mas também paradefinir a terapêutica. 
Os marcadores usados para definir as dislipidémias e o risco cardiovascular e para definir a 
terapêutica fazem parte do perfil lipídico que envolve o colesterol total, HDLc, LDLc e os 
triacilgliceróis. Os triacilgliceróis têm a particularidade de não estarem só associados ao risco 
cardiovascular, mas também a situações de pancreatite (que pode provocar problemas 
generalizados na digestão das moléculas que ingerimos). 
Contudo, o perfil lípido não é suficiente pois no dia a dia nós identificamos indivíduos que 
têm estes valores todos normais, mas que sofrem eventos cardiovasculares muito intensos. 
Por este motivo, a ciência teve a necessidade de “redefinir” o perfil lipídico. Posto isto, o perfil 
lipídico é muito útil para a avaliação das dislipidemias, mas insuficiente para avaliar o risco 
cardiovascular. 
Estes marcadores são importantes principalmente em casos de Enfarte Agudo do Miocárdio 
e AVC relacionadas com obstrução e situações de isquemia. 
Existem fatores que potenciam o processo de aterosclerose, tais como: estilo de vida 
(idade, história de família, excesso de peso, tabagismo, pressão sanguínea alta, dieta, 
alcoolismo, sem exercício/atividade física e colesterol alto) diabetes, hipotiroidismo, 
insuficiência renal e fármacos . 
Outro fator de risco é o perfil lipídico (níveis elevados de colesterol), no entanto é pouco 
importante como previsão de risco cardiovascular uma vez que os marcadores do perfil lipídico 
são marcadores pouco sensíveis. 
As moléculas mais sensíveis de previsão incluem a hs-CRP, a APOB/APOA-1 e a Lp(a). 
Lipoproteína (A) 
Daniela Pimenta 
61 
 
São um tipo de HDL mais pequena (atravessa facilmente as paredes das artérias). É um 
inibidor competitivo do ativador do plasminogénio tecidual inibindo a geração de plasmina e 
a fibrinólise. 
Está associada à doença cardiovascular nas raças brancas e amarela. 
É um dos principais fatores que provoca o processo de aterosclerose: têm à sua superfície 
uma ApoA ligada à ApoB100 por pontes dissulfureto (facilmente oxidável), o que potencia o 
processo de aterosclerose. Passam a parede das artérias mais facilmente e depositam-se, o 
que beneficia o bloqueio das artérias. Quanto os níveis estão aumentados há potenciação de 
vários fatores que aumentam a aterosclerose. 
Coeficiente ApoB/ApoA-1 
Quando falamos de colesterol não HDL, falamos do colesterol associado a lipoproteínas 
com APoB. No entanto, não são apenas estas lipoproteínas que transportam o colesterol, pelo 
que é importante também ter em conta o colesterol das HDL. Para tal, é necessário verificar 
também os níveis de APoA1, uma vez que normalmente, as HDL têm capacidade para captar 
o colesterol, e são reconhecidas a nível hepático para haver a metabolização desse colesterol. 
O coeficiente colesterol total/HDLc corresponde ao coeficiente ApoB/ApoA-1, mas 
individualmente, os valores são mais elucidativos. 
As ApoA1 são características das HDL. Quanto maior for o seu nível maior é a capacidade 
de o indivíduo realizar o transporto reverso do colesterol, ou seja, mais eficiente é a remoção 
do colesterol nos tecidos. 
Posto isto, considera-se ApoB tudo o que não é HDL (colesterol total - HDL). Assim, quanto 
maior o seu valor maior é o risco de se formarem placas ateroscleróticas. Tendo em conta estas 
definições percebe-se que é vantajoso olhar para os valores individualmente. 
O Ratio apoB/ApoA-1 consiste no ratio potencial aterogénico/potencial não aterogénico, 
sendo por isso um coeficiente relacionado com o risco cardiovascular (permite avaliar se as 
terapêuticas estão a funcionar no controlo das deslipidémias). 
Daniela Pimenta 
62 
 
Proteína C reativa de alta sensibilidade (hs-CRP) 
Possui uma natureza não lipídica, e é detetada em concentrações muito baixas (basta 0,5 
mg). 
Associa-se muito a situações de risco cardiovascular pois em todo o risco cardiovascular há 
um processo inflamatório. A libertação em concentrações baixas desta proteína é um indicador 
precoce destas situações. 
A proteína C, ao contrário dos níveis lipídicos, não é afetada pela alimentação o que é uma 
grande vantagem, pois em qualquer altura do dia e independente do estado nutricional do 
indivíduo pode ser feita a sua determinação. 
O teste hs-CRP é uma técnica que permite detetar concentrações bastante baixas desta 
proteína – 0,5mg a 10mg/L. É o melhor biomarcador para o risco cardiovascular uma vez que 
não é afetada pela alimentação, assim como as ApoB e ApoA1. Para além disso, é um teste que 
permite prevenir situações de enfarte do miocárdio. 
Homocisteína 
O seu aumento na corrente sanguínea é um grande indicativo que o indivíduo pode sofrer 
de formação de coágulos o que provoca eventos cardiovasculares. 
Os microRNAs são pequenas moléculas de RNA. A correlação deixa algumas dúvidas, sendo 
que ainda se está a estudar estes mRNAS. 
 
Visão geral da terapia farmacológica para a dislipidemia 
O aumento dos lípidos na corrente sanguínea advém de fontes endógenas e/ou fontes 
exógenas. Do ponto de vista terapêutico, o que se usa são moléculas que fazem sequestro a 
nível intestinal (do colesterol e dos TAG). 
O colesterol da dieta tem baixa contribuição nas hipercolesterolemias, e é por isso que a 
terapêutica, acima descrita, não faz sentido. 
Daniela Pimenta 
63 
 
No caso das hipertrigliceridémias faz sentido utilizar fármacos que impeçam a sua absorção 
intestinal, uma vez que caso haja deficiência na lipoproteína lípase, na AooCII ou nos recetores 
dos quilomicrons, ocorre aumento dos triglicéridos nas corrente sanguínea. 
Estes sequestradores captam essencialmente sais biliares, não havendo absorção dos 
triglicerídeos nem de colesterol uma vez que não há a sua hidrolise. 
Como já foi referido, a terapêutica farmacológica está associada, essencialmente, com a 
absorção dos lípidos a nível intestinal. 
 Resinas (uteis nas hipertrigliceridémias): quanto menor for a quantidade de sais 
emulsificantes (sais biliares), menor é a digestão e assim a quantidade de colesterol e TAG 
que é absorvido é menor. 
 Ezetimiba: inibidor da absorção a nível do intestino. 
 Fibratos ou derivados do ácido fibrico: efeito não só na potenciação da degradação dos 
triacilgliceróis, mas também são considerados moléculas que reduzem o nível do colesterol 
pois potenciam a recaptação da LDL devido à melhor a expressão dos recetores das LDL 
(que são necessários para a captação). 
Resumindo, os derivados do acido fibrico são importantes em ambas as condições uma vez 
que potenciam a ação da lipoproteína lípase (baixam os níveis de triacilgliceróis). As IDL 
(restaram da hidrolise) são convertidas em LDL e potenciam a expressão dos seus recetores 
destas lipoproteínas. 
Se tivermos aumento dos TAG, utilizando os derivados do ácido fibrico favorecemos a 
captação das LDL havendo também aumento da eliminação de colesterol. 
 Estatinas: inibem a HMG-CoA, enzima necessário para converter a HMG-CoA em 
mevalonato (precursor do colesterol). 
 Inibidores da PCKS9: os recetores da LDL necessitam de renovação. A PCKS9 impede essa 
renovação pois capta o recetor e ao fazê-lo leva a que ele sofra endocitose e seja degradado 
Daniela Pimenta 
64 
 
pelos lisossomas. Níveis elevados desta proteína faz com que os indivíduos têm níveis 
elevados de colesterol. 
A terapêutica não farmacológica pode diminuir a quantidade de colesterol endógeno (por 
exemplo dietas hipocalóricas de maneira a evitar excessos). 
Estatinas 
As estatinas têm uma variabilidade interindivudal relacionada com a sua farmacocinética. 
As associações terapêuticas afetam em grande grau a farmacocinética, sendo que a maior 
parte fica retido na corrente sanguínea. Com a toma da estatina verifica-se um aumento da 
AST. O facto da AST estar, normalmente, mais elevada que a ALT não condiz com 
hepatotoxicidade, uma vez que no fígado existe a ALT em maior quantidade. No entanto,no 
músculo existe mais AST, e o seu aparecimento elevado é devido à rabdomiólise. 
Como foi mencionado, a toma das estatinas pode provocar situações de rabdmiólise, que 
consistem na destruição do músculo esquelético e cardíaco. 
A nível das células existe uma grande quantidade de cálcio e de potássio e, se a destruição 
do músculo já provoca enfraquecimento, no caso do músculo cardíaco, o aumento do potássio 
potencia ainda mais o enfraquecimento do músculo (não há capacidade de o músculo 
bombear o sangue e a diminuição do fluxo sanguínea leva à diminuição da chegada de oxigénio 
às células). Nestas situações há aumento da CK e da mioglobina. 
Indivíduos com estas terapêuticas verificou-se que rapidamente desenvolviam situações 
onde havia diminuição da TFG devido ao efeito de vasoconstrição (fluxo sanguíneo no nefrónio 
está diminuído), que pode levar a situações de hipoxia e isquemia, que proporcionam um 
metabolismo anaeróbio e o rim deixa de ter energia para a reabsorção e secreção de 
moléculas. 
Numa situação normal, existem níveis normais de K e Na. Mas, se houver falha na energia 
destas células ocorre hiponatremia (diminuição de Na) e hipercaliémia (aumento de K na 
corrente sanguínea) e também aumento do cálcio (hipercalcémia). 
Daniela Pimenta 
65 
 
Esta situação é o que se verifica com a utilização de estatinas, havendo um efeito tipo de 
síndrome de Fanconi (na urina aparece tudo o que deveria ser reabsorvido a nível renal) onde 
existe uma destruição dos túbulos dos nefrónios. 
Sempre que se façam estas terapêuticas deveremos controlar sempre a β2-microglobulina 
(aumentada na urina) e a microalbuminúria, uma vez que funcionam como marcadores de 
previsão, que podem prevenir o dano total do rim, caso se suspensa a terapêutica a tempo. 
 
Exemplo de caso clínico 
 
 
 
 
 
 
 
 
Senhor de 44 anos, obeso, com história coronária, tem antecedentes familiares e o estilo 
de vida só o prejudica ainda mais, é hipertenso. 
Foram efetuadas as análises e verificou-se que: os níveis de colesterol total nem estão assim 
tão elevados; há um baixo nível de HDL e os níveis de triglicerídeos estão extremamente 
elevados, pelo que se administrou o gemfibrozil, mas a hipertrigliceridemia pode ser resultado 
da terapêutica com o diurético, sendo assim, seria necessário trocar o hipertensor e voltar a 
fazer as determinações lipídicas e avaliar os novos dados. 
Daniela Pimenta 
66 
 
Tem fatores de risco que aumentem os riscos cardiovasculares, tais como: tabagismo, 
sedentarismo e obesidade. 
Os níveis de triacilglicerois estão mais elevados que os de colesterol. O utente usa varfarina 
e hidroclorotiazida (diurético tiazidico), que induzem hipertrigliceridémias (aumentam a 
síntese dos TAG e diminuem a sensibilidade da lipoproteína lípase à insulina). 
Poderiam ser administrados fibratos de maneira a controlar a situação, desde que se 
mantenha a varfarina, deixar de fumar, controlar a hipertensão e deixar de beber (mudar o 
estilo de vida para baixarmos os níveis de colesterol). A diminuição dos níveis de colesterol é 
também potenciada pelo fibrato.

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