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AULA 5 GESTÃO DA DIVERSIDADE Profª Lucimara do Nascimento Numata 2 CONVERSA INICIAL Olá! Seja muito bem-vindo(a)! Esta aula marca nosso encaminhamento para a conclusão da sua trajetória de aprendizado. Estudaremos, neste momento, a diversidade presente na estratégia organizacional. O objetivo é compreendermos a relevância da gestão de pessoas para o alcance de benefícios e resultados econômicos para as organizações por meio da valorização e promoção da diversidade. Para atingirmos tal objetivo, vamos aprofundar os estudos nos temas abaixo: 1. Gestão de pessoas com foco na diversidade; 2. Benefícios para as organizações; 3. Resultados para os negócios; 4. A promoção da diversidade nas organizações; 5. Apropriação do discurso da diversidade. A gestão de pessoas com foco na diversidade faz parte da pauta de debates no contexto mundial e nacional na atualidade. Trata-se de um momento crucial no avanço de práticas de gestão capazes de tornar as organizações mais inclusivas. Preparado para mais esta jornada de conhecimento? O convite para que você seja um agente de transformação segue valendo com mais este conteúdo especialmente preparado para a sua formação. TEMA 1 – GESTÃO DE PESSOAS COM FOCO NA DIVERSIDADE A origem das práticas de gestão da diversidade no contexto das organizações se fortaleceu em decorrência das discussões no campo social. Tais debates revelaram as vantagens da adoção da diversidade, como para atender à crescente demanda da força de trabalho multicultural em face às necessidades de competitividade e a aplicação de ações afirmativas para a inclusão dos grupos minoritários. Camillo et al. (2020 p. 35-36) registra que as ações afirmativas emergiram como uma solução para atenuar o impacto que os fenômenos do racismo e a desigualdade de gênero evidenciadas na década de 1960 nos Estados Unidos. Elas têm por objetivo eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a condição de igualdade de oportunidades e tratamento, bem como 3 compensar perdas provocadas pela discriminação e marginalização, decorrentes de motivos raciais, étnicos, religiosos, de gênero e outros. (Santos et al., 1999, p. 25 citados por Camillo et al., 2020, p. 36) Um exemplo fundante, como estudamos em conteúdo anterior, sobre a diversidade no contexto mundial na realidade estadunidense, foi o Affirmative Action. Promulgado no final desta década, garantiu a regulamentação federal para que as empresas que tinham contratos com o governo ou que dele recebiam recursos e benefícios deviam promover a igualdade de acesso a direitos e oportunidades dos grupos então considerados excluídos. Tais medidas passaram a ser adotadas em diversos países, passando a fazer parte da agenda das políticas públicas e das práticas organizacionais. Sagi (2005) revela em seus estudos que a inserção do tema da diversidade no contexto organizacional conquistou uma relevância na gestão de pessoas, em programas com foco em ações para a diversidade. Em um primeiro momento, as empresas buscavam atender às exigências de foro legal, como, por exemplo, a Lei de Cotas para a inclusão de pessoas com deficiência. Isso passa a ser uma necessidade para a empresa competitiva. Na realidade atual, a incorporação da importância da diversidade nos negócios passa a ser parte da agenda dos estudos organizacionais, bem como da estratégia empresarial. O principal pilar de uma empresa inclusiva é que as diferenças sejam respeitadas, portanto ela precisa instaurar práticas que fomentem o respeito aos talentos e habilidades de todos, uma vez que a reunião de diferentes tipos de competências e perspectivas pode ser uma maneira valiosa de refinar o desempenho das equipes. A inclusão deve ser um processo contínuo que deve permear a cultura da organização e, desse modo, precisa ser constantemente renovado. Uma empresa inclusiva promove a sensibilização de seus gestores sobre a importância da inclusão para a valorização do indivíduo e da diversidade para que a empresa também seja sustentável, até o ponto em que o diverso, o diferente, perpasse naturalmente todos os ambientes e níveis da organização. (Ferreira, 2021, p. 27) É quase impossível que um ambiente organizacional na atualidade não seja constituído de diversidade e interculturalidade. A heterogeneidade da força de trabalho se torna um modelo ideal na estratégia de gestão de pessoas. Cabe então à área de gestão de pessoas a responsabilidade por práticas e programas que tenham foco a diversidade. No Brasil, os debates visando a gestão da diversidade foram iniciados com Fleury (2000), que demarcou que esta gestão deveria difundir a igualdade de condições nas empresas por meio de práticas inclusivas de recursos humanos (Ferreira, 2021). 4 Tais práticas se dariam com atenção especial para a “atração e retenção” dos melhores talentos dos chamados grupos minoritários, sendo a diversidade defendida como uma prática de gestão gerencial de agregação de valor à organização. A administração das empresas está intrinsecamente ligada à gestão da diversidade, que pode referir-se a competências, habilidades, gênero, experiência, idade, origem social ou cultura. O desafio dos gestores é conseguir uma integração organizacional que não anule o potencial das diferenças, ou seja, garantir identidade e coesão, porém respeitando os diferentes grupos presentes na organização. (Chanlat et al., 2013 p. 45) Camillo et al. (2020, p. 37) converge para tal pensamento quando define a gestão da diversidade nas empresas como a forma de “administrar as diferenças, utilizando técnicas adequadas para garantir que a diversidade da força de trabalho seja direcionada para ganhos na administração”. Esta condição implica a adoção de uma proposta permita a conjugação do desenvolvimento do potencial das pessoas na realização dos objetivos da empresa. Em consonância com esta perspectiva, Ferreira (2021, p. 26) afirma que a gestão da diversidade consiste na adoção de “medidas administrativas que garantam que os atributos de pessoas ou de grupos, seus estilos de vida e atitudes sejam considerados estratégicos para aprimorar o desempenho organizacional”. Dessa forma, os atributos individuais e coletivos da força de trabalho heterogênea se reproduzem no ambiente do trabalho. Como já estudamos em conteúdo anterior, sobre o contexto mundial e brasileiro, e a diversidade nas organizações, foi a partir de 1980, em decorrência das filiais brasileiras de empresas multinacionais, especificamente as estadunidenses, em cumprimento à legislação brasileira de inclusão e de políticas próprias baseadas em responsabilidade social para as “minorias”. A transposição de práticas de outros países para a realidade brasileira impôs desafios e obstáculos. O ceticismo com a efetividade, a forte atitude preconceituosa dos próprios funcionários das empresas com colegas e ou gestores beneficiários, conjugada com as dificuldades de implantação dos programas de inclusão, foram questões críticas nas décadas de 1980 e 1990, marco da gestão da diversidade no contexto organizacional. Para alguns autores, como Chanlat et al. (2013, p. 45), mesmo o Brasil tendo construído uma imagem de democracia racial nos últimos anos, ainda “esconde ou nega a vulnerabilidade de grupos minoritários e a perversidade 5 conservadora de uma porcentagem da sociedade brasileira, que se julga representante exclusiva do País”. Assim, ainda que tenha presenciado claras melhorias em vários sentidos, o Brasil continua cego, surdo e mudo, além de injusto e preconceituoso, em relação a parte do seu povo. uma imagem de democracia racial, que esconde ou nega a vulnerabilidade de grupos minoritários e a perversidade conservadora de uma porcentagem da sociedade brasileira, que se julga representante exclusiva do País. Assim, ainda que tenha presenciado clarasmelhorias em vários sentidos, o Brasil continua cego, surdo e mudo, além de injusto e preconceituoso, em relação a parte do seu povo. (Chanlat et al., 2013, p. 46) Isto posto, encontramos em Roosevelt (1989 citado por Sagi, 2005), também citado por Santa Rita (2020), a confirmação de que a gestão da diversidade tem uma força motriz para promover a compreensão de diferenças entre indivíduos por meio da aceitação e a consciência dessa condição. Como resultado, afirmam que se pode esperar a melhoria nas relações pessoais e a minimização do preconceito nas manifestações no ambiente de trabalho. Ferreira (2021, p. 29) afirma sobre a relevância do potencial de cada sujeito em sua singularidade como fonte de vantagem competitiva e soluções inovadoras para as empresas – assunto que será mais bem demonstrado no Tema 3 desta aula, sobre a diversidade e os resultados para os negócios. Na concretização dessa condição, para além dos conceitos norteadores dos autores aqui citados, faz-se importante que conheçamos os pilares essenciais que devem fazer parte da estratégia organizacional da gestão da diversidade. Nesse sentido, citamos Santa Rita (2020, p. 68) a saber no Quadro. 6 Quadro 1 – Pilares da Gestão da Diversidade Fonte: Vitalii Vodolazskyi; Andrey_Popov; Master1305; Andrey_Popov; Nadia Snopek/Shutterstock. Em destaque abaixo, cada pilar da gestão da diversidade demonstrado no Quadro 1 supracitado: a) Inclusão e equidade: a necessidade de inclusão e as diferenças que existem na diversidade devem ser reconhecidas por toda a organização, consolidando assim oportunidades igualitárias para todos. b) Promoção do respeito e combate às discriminações: devem ser criados mecanismos de enfrentamento às discriminações para que o respeito exista em todos os espaços e níveis hierárquicos. c) Foco nas relações e no desenvolvimento humano: reconhecimento e valorização da singularidade de cada um em seus talentos. Apoio ao desenvolvimento profissional e pessoal de todos e promoção de relações saudáveis com atenção à diversidade. d) Engajamento e comprometimento das lideranças: o envolvimento efetivo da alta liderança e de todas as áreas da organização no compromisso com a diversidade. Tais pilares possuem a sua importância em específico, mas é a integração de todos que possibilitará uma que oferte oportunidades iguais para todos (equidade) em um ambiente de respeito e capaz de combater as discriminações, Inclusão e equidade Promoção do respeito e combate às discriminações Foco nas relações e no desenvolvimento humano Foco nos negócios Engajamento e comprometimento das lideranças 7 cujas lideranças estejam comprometidas com a diversidade na valorização e desenvolvimento das pessoas. A busca dessa cultura diversa e inclusiva deve essencialmente contar com o pleno envolvimento da área de gestão de pessoas. Segundo Ferreira (2020, p.30), “não existe uniformidade na compreensão sobre o papel da gestão de pessoas com foco na diversidade”. Fazendo uma releitura de Hanashiro (2007), a mesma autora pontua que existem duas perspectivas importantes: a) a identity-blind tem foco no mérito sem considerar que existem diferenças entre as pessoas, sem a preocupação com a identificação, estímulo e garantia da presença da diversidade nos quadros de pessoas da organização; b) aquela que reconhece, valoriza as distinções e busca criar constantemente ações que respeitem os diversos grupos sociais. Com políticas organizacionais alicerçadas na valorização da diversidade, a gestão de pessoas pautará principalmente as práticas de recrutamento e seleção, seguidas de treinamento e desenvolvimento, processos de coaching e mentoring, programas de recompensa e indicadores de diversidade entre outros em ações concretas que beneficie as pessoas e os negócios. TEMA 2 – BENEFÍCIOS PARA AS ORGANIZAÇÕES A implementação de políticas cujo objetivo seja o estímulo à diversidade nas organizações tem se consolidado na pauta empresarial em todo o mundo, principalmente em razão das diferenças na força de trabalho. Questões como gênero, etnia, orientação sexual, idade, crença religiosa ou deficiências, por exemplo, evidenciam a heterogeneidade (Fleury, 2000; Nkomo; Cox, 1994), demandando práticas que harmonizem lucro e justiça social (Robins; Coulter, 1998). Chanlat et al. (2013), nessa mesma perspectiva, defende que este papel conciliador das organizações na sociedade contemporânea possibilitará o alcance de benefícios que transcendem ao cumprimento da legislação pertinente à diversidade. Contribuindo então para a construção de ambientes organizacionais “mais ricos e estimulantes”, capazes de mobilizar “forças criativas” em seu benefício. 8 Os impactos positivos dessa mobilização se refletem na condução dos negócios (Santa Rita, 2020; Ferreira, 2021) contemplando a saber: a) Criatividade e inovação facilitadas pelo perfil heterogêneo dos colaboradores. b) Aprendizado na assimilação das diferenças e amadurecimento das relações de trabalho. c) Intercâmbio de conhecimento e valores nos relacionamentos entre os colaboradores, intensificando a reflexão e identificação de novos valores pessoais. d) Enriquecimento do clima organizacional positivo nos relacionamentos e retenção de talentos pela valorização da diversidade. e) Melhoria nas estratégias de marketing e fortalecimento da imagem da empresa dada a comunicação com diferentes públicos. f) Cumprimento da legislação e normas em geral integrando comunidade e consumidores. g) Gerenciamento do risco legal dada a criação de mecanismos de combate à discriminação se faz possível identificar, avaliar e dar encaminhamentos a situações que podem gerar ações legais como assédio e discriminações. As autoras reforçam para o fato de que as estratégias de valorização e promoção da diversidade devem ser conjugadas e contempladas com a maior parte dos aspectos aqui citados como benefícios. Dessa forma, a efetividade das práticas serão maximizadas. Nesse sentido, Ferreira (2021) alerta para os possíveis impactos negativos decorrentes das ações em favor da promoção da diversidade. Cox (1993 citado por Fleury, 2000, p. 20) alerta que “a administração da diversidade cultural demanda o planejamento e a execução sistemas e práticas organizacionais de gestão de pessoas com o objetivo de maximizar as vantagens potenciais e minimizar as desvantagens da gestão da diversidade”. Os gerentes em específico devem se e estarem preparados para as possíveis situações de tensão nas relações interpessoais no ambiente de trabalho em função das diferenças. Na edição de número dois do “Guia Exame de Diversidade” o Instituto Ethos (2020) divulgou que 91% das empresas participantes afirmaram promover a diversidade e a inclusão como um meio sustentável de obter resultados positivos nos negócios. Ainda, a maioria delas revela que os resultados esperados estão 9 relacionados à melhoria do clima organizacional, atração e retenção de talentos, aumento da produtividade e pesquisa e desenvolvimento de produtos ou serviços. Na referida pesquisa, 96 empresas participaram: a) 81% se declararam de grande porte; b) 15%, médias; c) 4%, pequenas e micro. As 52 empresas que alcançaram destaque eram de 18 setores, como bens de consumo, tecnologia, serviços, agronegócio, entre outros. Saiba mais O Guia Exame de Diversidade é uma iniciativa do Instituto Ethos e da Exame chegou à sua segunda edição. Elaborado com o objetivo de avaliar as melhores práticas em diversidade e inclusão, considerando aspectos quantitativo e qualitativos, na edição de 2020 um total de 52 empresas foram listadas por apresentarem o melhor desempenho por setor e por categoria — étnico-racial, mulheres, LGBTI+ e pessoas com deficiência. Disponível em: <https://www.ethos.org.br/cedoc/guia-exame-de-diversidade-divulga-resultados/>. Acesso em: 9 dez. 2021. Esta pesquisa revela que há uma parcela significativa de empresas conscientes do seu papel social dada a distinção em suas ações para a inclusão de grupo minoritários. Mesmo com vistas aos resultados de negócio, próximo tema a ser estudado, tais empresas comprovam seu engajamento com iniciativas de promoção da diversidade e inclusão. TEMA 3 – RESULTADOS PARA OS NEGÓCIOS O nosso percurso formativo até aqui nos permite afirmar que a diversidade e inclusão são temas importantes e essenciais para que as organizações possam se desenvolver e serem competitivas em suas áreas de atuação. As empresas que se conscientizaram disso buscam investir em políticas e estratégias. No entanto, obter resultados relevantes e significativos requer foco na diversidade como assunto estratégico. Propomos então o seguinte questionamento: de que forma a diversidade presente na força de trabalho contribui para a competitividade das empresas? Cox Jr. (1991) revela que a gestão da diversidade é uma ferramenta que maximiza a competitividade das empresas, potencializando assim seus negócios. Acredita que a diversidade cultural encontrada no ambiente de trabalho viabiliza o aumento da criatividade e a inovação da equipe, o que permite a formação de 10 uma vantagem competitiva a partir da tomada de decisão ancorada em múltiplas percepções e ideias. Possibilita ainda um melhor atendimento mercadológico aos diferentes consumidores. Nesta perspectiva, Cox (1991) acrescenta que a desvantagem que as empresas podem sofrer em termos de concorrência reside em não manterem uma força de trabalho diversificada e não utilizem essas diferenças com foco em melhorias. Segundo o Instituto Ethos (2021), estudos produzidos pela consultoria americana McKinsey, denominados Diversidade importa (2015) e Diversidade como alavanca de performance (2018), indicam que empresas que adotam boas práticas de diversidade e que possuem equidade de raça na alta liderança são até 33% mais propensas que seus pares a lucratividade. Por sua vez, as empresas que têm equidade de gênero são até 22% mais direcionadas à lucratividade. Hunt (2018) afirma que em pesquisas atuais há evidências de que a íntima relação entre diversidade e o resultado financeiro das empresas são um fato. Em princípio, a motivação se dá com foco na justiça social, mas que com o avanço nas práticas, as empresas percebem que a diversidade pode ser considerada uma fonte de vantagem competitiva. A mesma autora, à frente da pesquisa “Diversidade como Alavanca de Performance” (2018), destaca resultados relevantes que evidenciam a íntima relação de diversidade com resultados para os negócios das organizações, como veremos na Figura 1. 11 Figura 1 – Diversidade como alavanca de performance Fonte: Instituto Ethos, 2021 adaptado da pesquisa “Diversidade como Alavanca de performance”, 2018. Hunt (2018) acredita ainda que a promoção da diversidade deva acontecer a partir dos cargos seniores, nas lideranças da equipe executiva já que aqui é que se encontra a tomada de decisão das estratégias a serem compartilhadas por toda a empresa. A autora afirma da necessidade de as organizações atenderem a quatro imperativos cruciais para que tais estratégias reflitam o engajamento e compromisso com a causa da diversidade. Figura 2 – Diversidade como alavanca de performance Fonte: Elaborado com base em Hunt, 2018. A diversidade de gênero está correlacionada tanto com a lucratividade como com a criação de valor. No caso da diversidade de gênero, a equipe executiva mostra a correlação mais forte. As equipes executivas das empresas de performance superior têm mais mulheres em cargos de liderança do que em outras funções. A diversidade étnica e cultural da equipe de liderança está correlacionada com a lucratividade. 1.Compromisso do CEO (Chief Executive Officer) 2. Diversidade como alavanca estratégica 3. Cultural organizacional 4.Impacto local 12 Com o compromisso do Chief Executive Officer (CEO), para estimular a organização às ações de inclusão da diversidade no engajamento da média gerência, as iniciativas de diversidade podem ter seu propósito assegurado. Tais ações requerem das empresas o investimento em pesquisas internas, em que a diversidade seja prioridade e considerada como uma “alavanca” da estratégia para o crescimento dos negócios. A transformação da cultura organizacional com base na diversidade se soma aos imperativos anteriores. Nesse contexto, as iniciativas de diversidade se baseiam em narrativas e programas coerentes que façam sentido entre funcionários e stakeholders, ajudando a impulsionar mudanças sustentáveis. Isto posto, deve-se considerar como imperativo também fundamental a capacidade de a empresa adaptar-se a cada região e contexto em que se encontram seus negócios, maximizando assim o impacto local para a atenção à diversidade da força de trabalho. A atenção a todos os quatro imperativos acima demonstrados ajudará a garantir que inclusão e diversidade contribuam para a agenda de crescimento da empresa. Saiba mais Confira a íntegra o evento Fórum de diversidade e inclusão 2021, com Liliane Rocha, fundadora e CEO da Gestão Kairós; Paula Jacomo, head de Recursos Humanos da SAP; Rosangela Pazin, diretora Latam de Serviços Profissionais e líder do Comitê de Diversidade da Dell Technologies; Karina Chaves, Gerente de Diversidade e Inclusão da BASF. Disponível em: <https://www.amcham.com.br>. Acesso em: 8 dez. 2021. TEMA 4 – A PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE NAS ORGANIZAÇÕES Você já parou para analisar se a sua empresa é inclusiva? Nossa sociedade é composta por pessoas de diferentes gêneros, etnias, raças, classes sociais, orientações sexuais e tantas outras características que resultam em uma grande pluralidade social e cultural. Contudo, se olharmos atentamente para as organizações, podemos observar que ainda há pouca diversidade nesses ambientes. Com a realização do “ Fórum de Diversidade 2021”, o Instituto Ethos (2021) teve o propósito de favorecer discussões e gerar conexões transformadoras sobre a diversidades nas organizações. Diante dessa premissa, identificou a existência 13 de 4 pilares para a promoção da diversidade: a) liderança; b) comunicação e marketing; c) cultura; d) perspectivas de futuro. A seguir, conheceremos os estudos e pesquisas apresentados no Fórum de Diversidade 2021 pelo Instituto Ethos (2021) que sustentam os referidos pilares. Quadro 2 – Pilares da promoção da diversidade e transformação dos negócios Engajamento da Liderança: os líderes empresariais devem assumir seu papel na gestão da diversidade Um estudo sobre diversidade e inovação, realizado pela Boston Consulting Group (BCG) em 2017, colocou a diversidade sob o fator prioridade estratégica, onde a alta administração e o CEO apoiam a diversidade claramente. Observou-se que 56% dos respondentes consideraram esse fator como um pré-requisito importante para as empresas. Contudo, apenas 35% das corporações realmente tinham a diversidade como prioridade estratégica. O apoio, investimento e engajamento da alta liderança é crucial e urgente para construir empresas diversas e transformar negócios. Comunicação e marketing propagando a diversidade Em 2020, a Pesquisa Global de Diversidade e Inclusão da PricewaterhouseCoopers (PwC) observou que 63% dos líderes acreditavam que suas organizações estavam comunicando as informações e dados sobre diversidade e inclusão com regularidade, mas apenas 42% dos funcionários concordavam com essa afirmação. Investir em estratégias de employer branding e endomarketing contribui para que os colaboradores e clientes se identifiquem com a cultura da empresa, estejam cientes das ações de diversidade e inclusão da organização e priorizem o respeito às diferenças. Cultura: transformandoempresas em comunidades Segundo a pesquisa diversidade nas empresas desenvolvida pela Opinion Box com a HSM Management, 58% dos entrevistados consideram importante que a empresa em que trabalham apoie a diversidade. Diversidade e inclusão são peça chave na construção de uma cultura de tolerância em que o diferente é respeitado e valorizado. Portanto, para transformar negócios, é preciso transformar cultura. Futuro: diversidade e inclusão são o DNA da empresa do amanhã Um estudo de 2015 da Deloitte University afirma que 83% dos Millennials (nascidos após o início da década de 1980 e também conhecidos como Geração Y) são ativamente mais engajados quando acreditam que a empresa promove uma cultura inclusiva. O mesmo estudo aponta ainda que em 2025 esta geração será quase 75% da força de trabalho no mercado. As empresas precisam, com certa urgência, se transformar para receber essa nova geração de colaboradores, mais exigentes no que diz respeito à responsabilidade e posicionamento social das organizações em que trabalham e das marcas que consomem. Fonte: Elaborado com base em Instituto Ethos, 2021. Santa Rita (2020, p. 70) reforça sobre a contribuição que pesquisas e estudos trazem para a ampliação do conhecimento da comunidade empresarial. Devido a ainda terem dúvidas da existência do valor agregado aos negócios que as ações de diversidade possibilitam, tais ações concretas elevam o grau de confiabilidade das lideranças empresariais. 14 Existem inúmeros caso de sucesso como o indicado a seguir para que você tenha maior proximidade com a realidade. Saiba mais Case Avon: o Walk The Talk da Diversidade com 135 anos de história: podcast com Lucas Fajardo, head de comunicação dos consumidores e líder de diversidade LGBTQIA+ da companhia fala sobre o novo posicionamento da marca, mais jovem, inclusiva e ativista. Disponível em: <https://www.amcham.com.br/noticias/gestao/case-avon-o-walk-the-talk-da- diversidade-com-135-anos-de-historia>. Acesso em: 8 dez. 2021. A Amcham Brasil (2021), em seus projetos de orientação da comunidade empresarial, revela que é preciso o envolvimento interno sobre o valor da diversidade, de modo que se efetive a sua promoção. Por meio da sua valorização, os valores universais e os direitos humanos, temas que estudamos em conteúdo anterior, são respeitados, bem como melhora a conexão da empresa com a realidade, seus desafios, tendências e possibilidades, tornando-a mais criativa, inovadora e capacitada para tratar com a diversidade no contexto mundial. Sagi (2005, p. 22) afirma que as práticas das empresas para a promoção da diversidade têm sido por meio de programas corporativos de gestão, cujo objetivo principal é a diversidade com importância estratégica e valor humano. Para essa concretização, então, se faz essencial possibilitar que a organização tenha uma visão global e integrada da sociedade para poder atuar sobre ela. Nesse contexto é que se integra a necessidade de ações constantes para a valorização das diferenças e a apropriação do discurso da diversidade como estudaremos no próximo tema. TEMA 5 – APROPRIAÇÃO DO DISCURSO DA DIVERSIDADE A valorização da diversidade, de acordo Saraiva et al. (2009), é uma proposta complexa mas admirável. Exige que as pessoas “abram mão” de seus valores em função dos direitos comuns na aceitação dos direitos coletivos. Ainda que existam ações concretas de aplicação de políticas de gestão da diversidade, entende-se que ainda há muito por fazer para se desvincular as ações inerentes à obrigação legal e aquelas decorrentes da conscientização do valor da “multiculturalidade” para a organização (Sagi, 2005, p. 22). 15 Como evidenciado no tema anterior, as organizações precisam comunicar sobre as informações e dados da diversidade e inclusão com regularidade no ambiente interno. O Instituto Ethos (2021) esclarece que as estratégias de employer branding e endomarketing contribuem para que a cultura da empresa possa ser reconhecida pelos colaboradores e clientes como um valor no qual se identificam, estando conscientes de que ações de diversidade na organização priorizam o respeito às diferenças. Isto posto, precisamos compreender que muitas iniciativas de inclusão e diversidade feitas por marcas e empresas são aceitas e valorizadas, já que o consumo ocupa um papel privilegiado na sociedade. Contudo, é necessário que não se restrinja à questão econômica, já que cada “causa” não pertence às marcas e empresas. O que é aceitável é a ampliação dos debates e “dar voz às pessoas”. Nesse sentido, o termo diversidade precisa ir além de um discurso – deve se fazer concreta em ações por parte das empresas. Quando as empresas adotam o discurso da diversidade para promover produtos ou para parecer inclusivas, estão praticando o que a literatura atual denomina de diversitywashing, termo que em português é traduzido como “lavagem da diversidade”. É baseado no famoso greenwashing, ou lavagem verde, em tradução literal, prática que remete a organizações que afirmam publicamente ter uma postura voltada para a responsabilidade ambiental, por exemplo, quando na verdade suas práticas não revelam esse compromisso. No livro Como ser um líder inclusivo, a autora Liliane Rocha criou o termo diversitywashing para alertar a comunidade empresarial e os pesquisadores sobre o tema da diversidade, de que muito mais importante do que fazer parte de um “discurso”, a diversidade deve estar presente na realidade em ações. A questão norteadora questiona se todas as marcas que constroem discursos de diversidade valorizam esta condição em suas ações concretas. Seguindo na perspectiva da mesma autora, segundo a consultoria americana McKinsey, muitas empresas ainda se apropriam do conceito de diversidade para a promoção da sua marca sem o real comprometimento com a questão nas ações e programas em seus negócios. 16 Figura 3 – Campanha utilizando diversitywashing Fonte: Elaborado com base em Instituto Ethos, 2021. As instituições formadoras e consultivas (Instituto Ethos, 2021; Endeavor Brasil, 2021; Gestão Kairós) alertam que, atualmente, são identificados inúmeros casos que delatam que colaboradores e clientes estão cada vez mais atentos à prática do diversitywashing, sendo esta ação negativa para a imagem da marca. As consequências da incongruência do posicionamento da organização perante o público e a sua postura interna serão entre outras o descontentamento, baixa da motivação e insegurança entre os colaboradores. Rocha (2020), entretanto, defende que o desconhecimento sobre o tema e o engajamento necessário nesse contexto é uma das causas que levam as organizações a cometeram tal dissonância. Mesmo com a ação em publicidade para o reconhecimento de grupos minoritários, isoladamente não se alcança a efetividade. A mesma autora revela que negros, pessoas com deficiência, idosos, mulheres e comunidade LGBTI+ devem ter acesso igualitário aos demais grupos existentes na sociedade e em específico no contexto organizacional, deixando de ser “meros consumidores”, público-alvo de inúmeras campanhas atuais na promoção das mercas em nome da diversidade. Empresas que adotam esta prática estão cada vez mais sendo criticadas pelos consumidores, os quais estão muito mais informados sobre o tema na atualidade. Com isso, impulsionam ações para a mudança. A saber, existem casos de marcas cuja imagem foi prejudicada por não darem atenção real à diversidade. Em uma perspectiva mais positiva, segundo a Endeavor (2021), existem exemplos em que a diversidade é de fato uma ação estratégica, real e concreta, como podemos observar no exemplo da Figura 4. Campanha motivadora e atual sobre uma marca cujo conteúdo exalta a diversidade — com a participação de pessoas negras ou LGBT+. No quadro de funcionários da empresa não existe representatividadedos grupos tratados na campanha. 17 Figura 4 – Campanha sobre diversidade sobre a mulher negra Fonte: Endeavor, 2021. É preciso diminuir a distância que separa o equilíbrio entre a visibilidade que se dá ao tema publicamente e a atuação concreta da empresa, ampliando a informação sobre o tema para a minimização do desconhecimento que se revela a principal causa de muitas das ações pautadas em diversitywashing. Podemos afirmar que os esforços voltados à diversidade nas organizações são factíveis levam a resultados que beneficiam todos os atores envolvidos. Diferentes estudos ao longo dos últimos anos revelam a consonância entre o discurso corporativo e as práticas, com os dados de gestão e essencialmente aderentes pelos colaboradores, a mudança será possível. A participação de todos na construção de um mundo mais justo e inclusivo é o propósito e a missão de muitas instituições, empresas e profissionais. E você? Que tal ser um agente de transformação em sua realidade? Saiba mais sobre a história inspiradora e de transformação de Liliane Rocha em prol da promoção da diversidade. Saiba mais Como Liliane Rocha está fazendo da diversidade um caminho sem volta para grandes empresas. À frente da Gestão Kairós, consultora atende empresas como Ambev e Gerdau e pretende, em breve, impactar 1 milhão de pessoas. Disponível em: <https://forbes.com.br/forbesesg/2020/09/como-liliane-rocha-esta- fazendo-da-diversidade-um-caminho-sem-volta-para-grandes-empresas/>. Acesso em: 8 dez. 2021. Campanha informativa com conteúdos sobre privilégios, masculinidades negras e o papel de grupos de diversidade racial na construção de empresas com mais inclusão e equidade racial para o mês da Consciência Negra. Campanha “Ela é referência” para posicionar as mulheres da empresa como profissionais referências para toda a empresa, além de sensibilizar sobre comportamentos e micro- agressões cotidianas que as afetam. 18 REFERÊNCIAS AMCHAM BRASIL. Cartilha Diversidade e inclusão: o que você é diversidade e inclusão e o que ela pode fazer por seus negócios. São Paulo: Agosto, 2021. CAMILLO, J., FORTIN, I., AGUERRE, P. Gestão de pessoas: práticas de gestão da diversidade nas organizações. São Paulo: Senac, 2020. CHANLAT, J. F. et al. Estudos organizacionais: desafios da gestão da diversidade nas organizações. Anuário de Pesquisa 2013-2014. Fundação Getúlio Vagas. São Paulo, p. 44-45, 2013. COX, T. J. R. The multicultural organization. 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CONVERSA INICIAL TEMA 1 – GESTÃO DE PESSOAS COM FOCO NA DIVERSIDADE TEMA 2 – BENEFÍCIOS PARA AS ORGANIZAÇÕES TEMA 3 – RESULTADOS PARA OS NEGÓCIOS TEMA 4 – A PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE NAS ORGANIZAÇÕES TEMA 5 – APROPRIAÇÃO DO DISCURSO DA DIVERSIDADE REFERÊNCIAS