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Introdução à Teoria Geral da Administração· IDAlBERTO CHIAVENATO618
Dentro dessas premissas, a teoria administrativa
está temperando seus conceitos básicos em direção
às seguintes tendências:
a. Planejamento
Em sua essência, a função de planejamento nas or­
ganizações sempre foi a de reduzir a incerteza quan­
to ao futuro e quanto ao ambiente. Agora, a nova
função do planejamento é aceitar a incerteza tal
como ela é e se apresenta. Não dá para brigar com
ela. E o que se busca hoje nas organizações para de­
safiar a incerteza é a criatividade e a inovação. A
teoria da complexidade salienta que somente há cria­
tividade quando se afasta do equilíbrio. Assim, a
adaptação a um ambiente instável deve ser feita ­
não mais por meio do retorno cíclico ao equilíbrio
dentro de escolhas limitadas e restritas - mas por
meio de maior liberdade de escolha escapando às li­
mitações impostas pelo ambiente.
Assim, o planejamento deve repousar nos seguin­
tes aspectos dinâmicos: 107
1. A base do novo planejamento muda. O foco
na estrutura organizacional (vertical e hierár­
quica) deve ser substituído por um processo
fluido (horizontal e livre) no qual as informa­
ções, as relações que permitem a troca dessas
informações e a identidade produzida no pro­
cesso sejam mais importantes.
2. O foco na previsão passa para o foco no poten­
cial. O planejamento está deixando de lado a
atenção exclusiva para cenários futuros e se
deslocando decisivamente para a localização
de potencialidades que a organização pode di­
namizar e explorar.
3. A incerteza e a aleatoriedade conduzem à li­
berdade. Liberdade significa a capacidade de
autonomia das organizações para lidar com
um contexto dinâmico e competitivo. A liber­
dade é o resultado de maior complexidade.
Maior complexidade conduz a maior liberda­
de, que por sua vez, leva a maior flexibilidade
e maiores possibilidades de escolha. E, em
conseqüência, a um maior potencial de estra­
tégias.
III DICAS
Ainversão do foco
Oprocesso estratégico está se tornando mais im­
portante do que o conteúdo estratégico. A maneira
como as pessoas lidam com os assuntos adquire
maior importância do que as questões seleciona­
das e discutidas. Antigamente, passava-se a maior
parte do tempo na análise e na montagem do pla­
nejamento detalhado. Agora, o foco está em vincu­
lar pessoas, unidades ou tarefas, embora não se
possa determinar quais os resultados exatos a se­
rem alcançados. Mais vale a união das pessoas do
que os assuntos tratados, embora esses sejam im­
portantes.
4. O mundo imprevisível e caótico no qual pe­
quenas causas podem gerar grandes efeitos.
Fica difícil distinguir antecipadamente quais
aspectos serão táticos e quais serão estratégi­
cos. De um modo geral, em um mundo turbu­
lento, o estratégico e o tático confundem-se
de maneira indissociável.
b. Organização
A organização sempre constituiu a plataforma em
que se sustenta a instituição. Em um ambiente está­
vel e previsível, a estrutura tradicional pode conti­
nuar ainda prestando bons serviços. Mas o ambien­
te estável está se constituindo em uma exceção.
Contudo, em um ambiente instável, a organização
que tem mais chances de sobrevivência deve ser
também instável. E quanto mais instável ela é, tanto
mais ela pode influenciar o ambiente. É neste senti­
do que tanto ambiente como organização podem
co-evoluir paralelamente.
A nova organização deverá levar em conta o se­
guinte:
1. Desmistificar a idéia de controle central a par­
tir do topo. A velha tradição de que deve haver
uma cúpula centralizadora de todas as ativida­
des organizacionais pertence ao passado. Mo­
rin108 afirma que qualquer organização, biológi­
ca ou social, é simultaneamente cêntrica (por
~ DICAS
Em suma, a nova gerência deve assumIr as se­
guintes atribuições: 109
ganizacional e das crenças e valores da organi­
zação. Tudo isso está mudando. O novo papel
da gerência consiste em fomentar a necessária
instabilidade para estimular potencialidades
acêntricas latentes e para que possam surgir as
condições de aprendizado e trocas de infor­
mação por meio das interações. Trata-se de
questionar permanentemente o status quo.
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I
I
619CAPíTULO 19· Para onde Vai a TGA?
Interações e aprendizado
o fluxo de informações deve privilegiar o aprendiza­
do: tanto a criação de novas informações como a cir­
culação de informações já existentes deve produzir
diferentes interpretações que permitam a reflexão
compartilhada e que leve a novas informações. Tra­
ta-se de retroação positiva: uma amplificação por re­
troalimentação do potencial contido nas informa­
ções.11ü A gestão do conhecimento - passando pela
universidade corporativa em direção ao capital inte­
lectual - faz parte integrante desse quadro.
São as interações e conexões entre as pessoas
que permitem novos e mais complexos padrões
globais de comportamento. E esses novos padrões
conduzem a novos desempenhos e a novas dire­
ções estratégicas. Daí o foco em equipes e na am­
PlpRétrtiçipação das pessoas na dinamização
ne9(Íciosda organização.
1. Estímulo à desordem, por meio da introdução
de novas idéias e informações, às vezes, ambí­
guas para gerar criatividade e inovação.
2. Estímulo à autonomia, à iniciativa, à conecti­
vidade, à comunicação e à cooperação.
3. Estímulo à identidade organizacional em per­
manente atualização.
4. Percepção sempre renovada das circunstân­
cias ambientais.
5. Os gerentes passam a comportar-se também
como pesquisadores que estudam suas pró
prias organizações, não se limitando a focali-
1. O papel dos gerentes deve ser redefinido. Com
o abandono da visão tradicional de que o fu­
turo da organização pode e deve ser estabele­
cido e capitaneado pelos gerentes. Isso signifi­
ca um reajustamento das relações de poder. O
empowerment está por trás disso.
2. Não são mais os gerentes os guardiães do espí­
rito de equipe corporativo, da visão comparti­
lhada de futuro, da conservação da cultura or-
dispor de um centro decisório), policêntrica
(por dispor de outros centros de controle) e
acêntrica (por funcionar de maneira anárqui­
ca, a partir das interações espontâneas entre
seus membros). Toda organização é simulta­
neamente ordem e desordem. Ela necessita ao
mesmo tempo de continuidade e de mudança,
de normas e de liberdade, de controle e de au­
tonomia, de tradição e de inovação, de ser e
de devir. Ordem e desordem são mais parcei­
ras do que adversárias na consecução da au­
to-organização.
2. O papel da hierarquia deve ser redefinido. O
modelo tradicional e mecanicista está sendo
substituído por formas de auto-organização
(como a organização em rede). Os mecanis­
mos de integração - que sempre foram assegu­
rados pelo controle hierárquico - também
precisam ser redefinidos. A liberdade concedi­
da aos membros organizacionais - como no
empowerment - deverá acabar por levá-los a
alcançar por si mesmos uma nova forma de in­
tegração. Mas para que isso possa vir a ocor­
rer será necessário que se promova uma estra­
tégia organizacional global adequada que esti­
mule a iniciativa, a cooperação, a criatividade
e a smergla.
c. Direção
A direção - como função administrativa - também
está passando por uma formidável carpintaria. A
maneira de dinamizar a organização, fazer com que
as coisas aconteçam, servir ao cliente, gerar valor e
produzir e distribuir resultados relevantes para to­
dos os envolvidos está passando por mudanças, tais
como:
620 Introdução à Teoria Geral da Administração· IDALBERTO CHIAVENATO
zar apenas os aspectos mais aceitos e reconhe­
cidos da cultura organizacional, mas tentando
compreender o imaginário e o inconsciente da
organização.
6. Legitimar a desordem para mudar padrões de
comportamento vigentes e estacionários e acio­
nar a mudança.
7. Atuar como coaching, impulsionando e dina­
mizando as ações das pessoas em direção a
metas e alvos negociados e consensuais.
d. Controle
o controle é o aspectoadministrativo que mais so­
freu mudanças nos últimos tempos. Melhor dizen­
do: sofreu sérias restrições e limitações em favor da
liberdade e da autonomia das pessoas e da isenção
de regras que balizam comportamentos e decisões.
Ganhou foco na retroação e na realimentação.
9. O profundo impacto da TI
A Tecnologia da Informação está promovendo uma
nova ordem no mundo global. As empresas pon­
to.com definiram os novos padrões da chamada
Nova Economia, revolucionaram a maneira de fa-
~ DICAS
Retroação ecausalidade
A noção cibernética clássica de retroação é que
permitiu chegar ao conceito de autonomia. A retro­
ação - ou repercussão de um efeito sobre a causa
que lhe deu origem - fez evoluir o conceito clássico
de causalidade linear para uma causalidade em
anel (circularidade), permitindo também conceber
a causalidade interna (endocausalidade). É o caso
da homeostasia nos seres vivos, isto é, a regulação
que mantém a constância nos processos internos:
um organismo vivo submetido a baixa temperatura
exterior responde com a produção de calor interno,
mantendo estável sua temperatura. O sistema
emancipa-se das causalidades externas, ainda que
sofra seus efeitos e influências.111 Assim, contnole
está se tornando cada vez mais um auto-controle
pontâneo do que um corltrole e)dernoim~)bsjtb
prganiz.açãoaos seus membros.
~ DICAS
Organização como comunidade
A organização passa a ser uma espécie de comuni­
dade dentro do novo modelo organizacional já co­
nhecido: hierarquias baixas, fronteiras fluídas, ênfa­
se maior nos processos do que na estrutura e equi­
pes autônomas e auto-suficientes. A estratégia or­
ganizacional agora se faz em um teatro de improvi­
sação onde os atores tentam diferentes cenários
para desenvolver a história e criam novas experiên­
cias em cada ato que se sucede por meio da intera-
recíproca. 112 Isso lembra o teatro de Pirandello
seus personagens à procura de um autor.
zer negócios, criaram uma nova maneira de traba­
lhar e uma nova cultura de relacionamento entre as
pessoas. A comunicação é o núcleo central. A Inter­
net, a Intranet, a utilização do computador para in­
tegrar processos internos e externos (como CRM,
SCM, BIM, B2B, B2e) estão modificando com uma
rapidez incrível o formato organizacional e a dinâ­
mica das organizações como nunca se viu antes. A
virtualização crescente das organizações é a decor­
rência disso. O desafio reside agora na busca inces­
sante de novas soluções e a essência da eficácia está
se deslocando para a busca de redes e parcerias em
conexões virtuais dentro de um contexto ambiental
mutável.
10. Simplificar e descomplicar
para enfrentar a complexidade
No fundo, fazer a mudança, viver a mudança e en­
carar a complexidade e a incerteza de frente. Sim­
plificar e descomplicar as organizações. Dar mais
liberdade para as pessoas e desamarrá-las do entu­
lho autocrático para que elas possam utilizar seus
recursos mais importantes: a inteligência, o talento
e o conhecimento. E quem sabe, ajudá-las a con­
quistar e a organizar o tempo livre para melhor vi­
ver a própria vida. l13 Isso significa melhorar a qua­
lidade de vida das pessoas. Aquilo que Taylor cha­
mava de princípio da máxima prosperidade para o
patrão e para o empregado hoje pode ser transferi-
2
CAPíTULO 19· Para onde Vai a TGA? 621
~ DICAS
Qualidade de vida das pessoas
edas organizações
Provavelmente, o foco principal da teoria adminis­
trativa está sendo redirecionado para a melhoria da
qualidade de vida dentro e fora das organizações.
Seja nos aspectos relacionados com o conforto físi­
co e psicológico, com a satisfação pessoal de cada
indivíduo, com a transformação da atividade laboral
individual e solitária em um trabalho de equipe inte­
grado socialmente, com a adoção de aspectos éti­
cos e de responsabilidade social, a Administração
de hoje é completamente diferente daquela de on­
tem e, certamente será diferente daquela que existi­
ráamanhá.
do e atualizado para o princípio da qualidade de
vida nas organizações para melhorar a vida de to­
dos os parceiros envolvidos. Não só beneficiar o
cliente ou o usuário, mas todos os membros que
participam direta ou indiretamente das organiza­
ções: fornecedores, trabalhadores e gerentes, cli­
entes e usuários, investidores e capitalistas, inter­
mediários etc. E se possível também a comunidade
carente ao redor. Não só utilizar o produto ou ser­
viço produzido pela organização, mas envolver to­
dos os processos organizacionais, todos os siste­
mas internos e externos, tecnologias etc. Enfim,
utilizar toda a imensa sinergia organizacional para
melhorar a vida de todas as pessoas. E também da
sociedade e das comunidades. É para isso que ser­
vem as organizações. E esse é o papel fundamental
da Administração.
Esse é o mantra da teoria administrativa: apontar
contínua e gradativamente novos rumos e propor­
cionar novas soluções para melhorar a qualidade de
vida das pessoas e das organizações e, afinal de con­
tas, tornar o mundo cada vez melhor e feliz. Um
mundo melhor para ser vivido e curtido seja por
nós, seja pelas nossas futuras gerações. Um longo
caminho sem fim.
EXERCíCIO A VA Linux Systems1l4
Imagine um jovem que, enquanto está cursando a fa­
culdade, cria uma empresa para vender micros bara·
tos equipados com o Linux, um sistema operacional
alternativo. Nas horas vagas, ele ajuda dois colegas­
Jerry Vang e David Filo - em um projeto chamado Va­
hoo, um banco de dados com endereços Web. Seus
amigos se tornam bilionários em alguns anos. Mas
ele prefere seguir tocando a sua empresa, a VA Linux
Systems. Destino cruel, não é? Nem tanto.
Estamos falando de Larry Agustin, o fundador da
VA Linux Systems, que está sonhando com seus pró­
prios bilhões de dólares. Hoje, o Linux - o sistema
operacional criado pelo finlandês Linus Torvalds,
com código-fonte aberto e distribuição gratuita pela
Internet e que segue o padrão Unix - começa a arregi­
mentar um exército de fãs que preferem o sistema ao
Windows da Microsoft. De acordo com a IDe - uma
empresa americana de pesquisas - a fatia de merca·
do de sistemas operacionais de servidores do Linux
cresceu de 7% para 17% em apenas dois anos, no
mundo todo. É o sistema operacional que mais cres­
ce no mundo. Isso ajudou a fazer da VA Linux um dos
empreendimentos de crescimento mais acelerado do
universo tecnológico. Sua clientela inclui IBM, SGI e
WinStar. Agustin afirma que a receita vem dobrando
a cada trimestre, o que significa uma arrecadação su­
perior a US$1 bilhão em vendas em menos de cinco
anos. O Linux saiu do ambiente da Internet e chegou
às grandes empresas, graças ao seu sistema opera­
cional de maior poder de processamento e facilidade
de uso. É uma opção barata e estável que conquista
mercados.
	INTRODUCAO A TEORIA GERAL DA ADMINISTRACAO - IDALBERTO CHIAVENATO - SETIMA EDICAO, TOTALMENTE REVISTA E ATUALIZADA
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