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1 Sentido da Colonização Formação do Brasil Contemporâneo: a colônia Caio Prado Júnior 2 Caio Prado Jr: 1907-1990 Paulistano e advogado engajamento político PD, ANL e Revolução de 30 1931: ingressa no Partido Comunista Evolução Política do Brasil – 1933 síntese poderosa já com influência marxista Influência marxista diversos livros Formação Econômica em 1942 Deputado pelo PC em 1947 3 Sentido História além de uma sequência de fatos “sem heróis e grandes feitos” Lógica na história: interpretação sentido: orientação que organiza Importância dos fatores econômicos determinismo econômico totalidade Crítica da própria esquerda visão esquemática da luta pelo socialismo aliança com a burguesia contra o regime feudal 4 Sentido da colonização do Brasil Balanço dos três primeiros séculos Busca pelo fundamental, não acidental “desbastar o cipoal” da floresta Herança colonial passado ainda presente em 1942 no interior Povoamento de um território semideserto Condições diversas das de Portugal Não pode ser a mera transposição daquela sociedade 5 Colonização de plantação Criou-se algo novo na colônia Organismo social distinto e próprio: um povo população e economia nacional: identidade Não significa modo de produção específico forma de capital relacionada ao capitalismo em formação na Europa Século XIX: grande transformação da colônia país Transição incompleta: pleno desenvolvimento 6 Sentido de um povo Conjunto essencial desbastar o cipoal: ordem rigorosa, linha mestra Notar o fundamental e permanente Não foi um contato fortuito: três séculos e legado Início com a história européia: + comércio caráter comercial: exploração Portugal: expansão ultramarina - pioneiro Unificação precoce: mouros Geografia Sistema colonial: diferença das 13 colônias 7 Desafio da colonização Desprezo da América pelos portugueses: América portuguesa: não havia riqueza fácil dos metais interesse na Ásia: especiarias dificuldade para feitorias como na Ásia e África Problema de gerar um gênero de grande valor Crítica a inadaptabilidade dos brancos aos trópicos - natureza desafiadora Falta de predisposição tão-somente Empresário de um negócio rendoso: dirigente larga escala e escravidão 8 Como viabilizar a colonização Iniciativa privada Capitanias hereditárias Carta Foral: direitos e deveres do donatário terra é distribuída gratuitamente Garante a Coroa (20%) dos descobertos de metais, 10% dos produtos do solo e monopólio do Pau-Brasil Donatário: moendas, 5% do pau-brasil e dízimos Produção açucareira: Ilha da Madeira: experiência comprovada Doação de terras: sistema de sesmarias de Portugal 9 Espírito comercial da empresa Objetivo: explorar os recursos naturais da colônia em proveito do comércio europeu Constituímos para fornecer açúcar, tabaco, ouro, diamantes, algodão e café Natureza Negócio para fornecer renda para a metrópole Estrutura Grande lavoura: plantação para exportação Mão-de-obra escrava africana: dificuldade com indígenas 10 Feudalismo no Brasil? Tese feudal: Alberto Passos Guimarães Capitanias hereditárias: amplos poderes aos donatários “senhor feudal” Poder jurídico, polícia e distribuição de terras Crítica: como feudal se economia voltada “inteiramente” para fora 11 Críticas Viés exportacionista Prado Jr: diferenciação interna desde o início Dois setores: exportação e mercado interno Importância maior do exportador > interno Exceção apenas a pecuária: será? Circulacionismo Domínio do capital comercial despreza a produção Criação de valor na produção 12 Descobrimentos portugueses Vitorino de Magalhães Godinho Linhares, 1 13 Descobrimentos europeus ou história comum dos povos: séculos XIV e XV Descobrimentos portugueses périplo africano, circunavegar o globo Expansão comercial europeia ocidental + trocas, cidades e menor servidão crescimento da renda mobiliária: letras de câmbio, bancos e sociedades Retorno da cunhagem do ouro: riqueza + demanda por moeda: busca de ouro e prata 14 15 Precedentes aos portugueses Vikings: da Islândia ao norte da América Leif Ericson +- ano 1000 Conquista das Canárias Viagem transatlântica Carta de Toscanelli de 1474: ilhas no Atlântico Franceses: Jean Cousin na foz do Amazonas em 1488 Espanhóis: Diogo Lepe e Alonso Hojeda antes de 1500 Tordesilhas: alteração para 370 léguas de Cabo Verde Tentativas de diminuir o papel de Portugal ≠ descobrimento sem continuidade 16 Dúvidas Escassez de fontes: destruição da Casa de Índia, terremoto de Lisboa etc. Muitas dúvidas sem resposta Cuidado com o nacionalismo Colombo era genovês, mas zarpou de Sevilha e morou na Madeira e em Lisboa Vasco da Gama: rota perfeita para Índia lento processo de aprendizagem: correntes, ventos 17 18 Expansão comercial Pax tartárica: +-1250-1350 avanço mongol abriu rotas de comércio Europa-Ásia Rota da seda: Marco Polo na China – 1271-1295 Gênova e Veneza liderança no comércio com o Oriente especiarias, porcelana e seda Fragmentação e libertação dos mongóis divisão do Império mongol: fechamento da China Império mameluco mantém o comércio: autorização do papa Timur fez um grande centro de comércio em Samarcante Império Otomano e o comércio com o Oriente relações complexas entre cristãos e mulçumanos não só guerra apoios bizantinos e genoveses 19 20 Problema no Levante? Otomanos interromperam o comércio? Domínio otomano: Anatólia e Bálcãs excluíram os cristãos do comércio interior e do trânsito acordos comerciais com os italianos: Florença Longe das principais rotas com o Oriente durante todo o século XV Otomanos controlam a Síria e Egito após 1516-17 Não há preços crescentes das especiarias na Europa durante o século XV 21 Outros condicionantes Mudança na ciência da navegação bússola, cartografia – maiores navios galês mediterrâneas caravelas e naus Precedentes ibéricos de navegação pesca baleeira: Biscaia e sal exportação de lã e navegação dos mouros Portugueses comercializavam desde a Macedônia até países baixos no século XIII Relações comerciais com Inglaterra 22 Tomada de Ceuta: 1415 Planejada desde 1409 e mantida depois 19 mil homens e mais de cem navios dificuldade de abastecimento: isolamento Otomanos só avançaram depois de 1421 Não há documentação que ligue as decisões portuguesas com os otomanos Plano das Índias apenas depois de 1450-60 Iniciativas particulares também Cunhagem de moeda de ouro em 1457 23 24 Fatores da expansão ultramarina Fome de ouro: demanda crescente Quebras da moeda geram inflação Déficit de cereais e divisas para importação Interesses açucareiros: cana no Algarve antes de 1400: influência moura Busca por escravos, tintura da seda tráfico para a metrópole até 1761 Couros e peles para calçados Maior área de pesca Ceuta resulta dos 4 primeiros fatores crescente preocupação comercial, dominante após 1450-60 25 Intencionalidade na descoberta do Brasil 26 Conquista e exploração do novo mundo Unificação: Revolução de Avis (1383-85) Linhares, 1 27 Feudalismo português Sistema dominial menor importância desde o século XIII renda em trabalho produto dinheiro pagamento de renda em dinheiro desde o XIII associação das três formas de renda renda feudal = 27% PNB no final do século XIII desvalorização monetária redução do valor real Lei de sesmarias: 1375 obrigatório o cultivo das terras, dízimos, salários fixos e obrigatoriedadedo trabalho: vadios e mendicantes Menores coerções da nobreza Coroa e Igreja recebem mais do que a nobreza 28 DINASTIAS PORTUGUESAS 1ª Dinastia de Borgonha de 1139 a 1383 2ª Dinastia de Avis de 1385 a 1580 3ª Dinastia de Habsburgo de 1581 a 1640 4ª Dinastia de Bragança de 1640 a 1910 29 Portugal no século XIV Guerra dos Cem Anos: 1337-1453 Interrupção na Rota da Champagne Italianos utilizam o porto de Lisboa como escala para o norte da Europa Lisboa torna-se grande centro comercial Prosperidade da burguesia mercantil portuguesa e, por conseqüência, da monarquia 30 Divisão entre os portugueses: Grande parte da nobreza: União com Castela Ampliação do poder, participação nas Cruzadas e saques contra os mouros “Arraia-miúda”, burguesia e parte da nobreza Defensores da independência de Portugal Maior interesse no desenvolvimento do comércio Vitória da burguesia mercantil Favorecimento da expansão marítima e comercial portuguesa do século XV Assegurar pontos comerciais lucrativos Final do século XIV 31 1383: Morte de D. Fernando D. Beatriz: filha de 12 anos Casada com o Rei de Castela (acordo político) D. Leonor Teles de Menezes: esposa Antipatia popular, principalmente da burguesia de Lisboa Simpática à nobreza, ao Clero e à Coroa de Castela Regente até que um filho de Beatriz completasse 14 anos Romance de D. Leonor com o Conde de Andeiro Sucessão real 32 Aclamação de D. Beatriz como rainha Revoltas em Lisboa, Santarém e Elvas Risco de incorporação ao Reino de Castela Assassinato de João Fernandes Andeiro por D. João, mestre de Avis Mestre de Avis: filho natural de D. Pedro I Irmão bastardo de D. Fernando Ordem de São Bento de Avis: Ordem Religiosa Militar de Cavaleiros Portugueses 33 Povo de Lisboa aclama D. João como “Regedor e Defensor do Reino” em 1383 D. João de Castela invade Portugal Intitula-se “Rei de Portugal” Cerco de Lisboa de vários meses Clero e Nobreza X Povo e Burguesia Derrota dos castelhanos no Alentejo Peste Negra entre as tropas que cercavam Lisboa Retirada Revolução do Mestre de Avis 34 Convocação das Cortes em Coimbra (mar/1385) Aclamação de D. João como Rei de Portugal Participação decisiva do jurista João das Regras Nova invasão dos Castelhanos Batalha de Aljubarrota (ago/1385) Vitória dos portugueses Mosteiro da Batalha Paz definitiva com Castela: 1411 Migração da nobreza fundiária para Castela Consolidação do poder político da burguesia Sentimento nacionalista português 35 Formação Econômica do Brasil Celso Furtado Cap. 1 e 2 36 Celso Monteiro Furtado (1920-2004) Paraibano, Advogado e participou da FEB Doutor pela Sorbone em 1948 Economia colonial no Brasil nos século XVI e XVII 1949: Cepal e em 1953: BNDE/CEPAL Planejamento Plano de Metas 1957/58 King's College de Cambridge: Kaldor BNDE: GTDN SUDENE (1959) 1962 primeiro Ministro do Planejamento: Plano Trienal Professor de Desenvolvimento econômico da Universidade de Paris Ministro da Cultura de 1986-88 37 Expansão Empresa comercial agrícola Primazia portuguesa na constituição de um sistema produtivo colonial Quais razões levaram Portugal a ocupar economicamente o território brasileiro? Economia açucareira muito bem sucedida Ilha da Madeira Quais as razões do êxito desse empreendimento? 38 Ocupação econômica das terras americanas Episódio da expansão comercial européia desde o século XI Expansão portuguesa: fenômeno autônomo Exploração da costa africana Ocupação agrícola das Ilhas do Atlântico Rota para as Índias Quebra dos monopólios venezianos Expansão marítima 39 Espanhóis tiveram muito mais sorte “Descoberta” de ouro e prata Acelerou a ocupação do território americano Despertou a cobiça dos demais países europeus Ocupação econômica do Brasil Pressão política de outras nações: França Risco de perder o território Mesmo a Espanha acaba cedendo parte de suas terras: Antilhas 1ª Colônia de povoamento do continente: França Antártica Brasil: secundário no início 40 Miragem do ouro contou muito Esperança de encontrá-lo em outras partes Necessidade de desviar recursos de outros empreendimentos Exigência de grandes somas Colonização agrícola demanda investimentos: Mão-de-obra, desmatamento e instalações Impossível sem alguma atividade lucrativa Investimentos na empresa 41 Necessidade de alguma atividade econômica para cobrir os custos de defesa Constituição de um sistema produtivo Gerar um fluxo regular de bens para o mercado europeu Qual produto? Fretes e risco elevado: Trigo X Açúcar manufaturas e especiarias Produto de exportação/importação 42 Fatores do êxito da empresa agrícola 1) Conhecimento técnico Experiência anterior dos portugueses nas Ilhas do Atlântico Desenvolvimento de uma indústria de equipamentos para os engenhos em Portugal Participação de genoveses Controle português e restringe a difusão 2) Quebra do monopólio veneziano do açúcar domínio da distribuição e do refino na Europa Redução do preço no final do século XIV 43 3) Comercialização Associação com os flamengos e cristãos- novos portugueses Antuérpia no XVI Amsterdã no XVII Transporte, refino e comercialização Destinos: Báltico, França e Inglaterra Papel fundamental na expansão do mercado 4) Capitais Investimento de capitais flamengos na produção açucareira Financiamento das instalações e da importação de escravos Evaldo Cabral de Mello “Graças ao historiador Eddy Stols, são bem conhecidas as relações comerciais entre os flamengos, a península ibérica e a América hispano-portuguesa. Capitais flamengos, não holandeses, haviam participado em fins do século 15, começos do 16, da instalação do sistema açucareiro da Ilha da Madeira, em concorrência, aliás, com capitais florentinos. No Brasil de Quinhentos, pode- se também detectar, e já Stols o fez, a presença desses flamengos, a começar do célebre engenho dos Erasmos, em São Vicente, e, na segunda metade da centúria, nas capitanias açucareiras do Nordeste. Nada, porém, que possa ser considerado atuação dominante.” Cristão novos portugueses em Antuérpia 44 Holandeses maior espaço no comércio ao final do XVI Guerra de Independência retomada de Antuérpia pelos espanhóis: 1585 migração para Amsterdã Trégua hispano-holandesa (1609-1621) Ausência holandesa no comércio do açúcar brasileira durante os Quinhentos 45 46 5) Mão-de-obra Trabalhador europeu: salários elevados Retribuição com terras: inviabilidade econômica da pequena propriedade Escassez de oferta de trabalho em Portugal estimativa de pouco mais de 1 milhão em 1527 Portugueses: conhecimento do mercado africano de escravos Organização do negócio em grande escala 47 6) Monopólio português do açúcar Falta de interesse da Espanha Abundância de terras de melhor qualidade Maior proximidade da Europa Oferta de trabalho indígena habituada ao trabalho agrícola Poder financeiro Amplas condições de dominar o mercado de açúcar Decadência da produção manufatureira Riqueza fácil propiciada pelos metais preciosos Sistema exclusivamente “extrativista” 48 Carrara, 2011, p. 5