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FISIOLOGIA Graziela Gonzaga Santana INTRODUÇÃO A maioria dos movimentos “voluntários” iniciados pelo córtex cerebral é produzida quando o córtex ativa “padrões” funcionais armazenados nas áreas cerebrais inferiores — medula, tronco cerebral, núcleos da base e cerebelo. Esses centros inferiores, por sua vez, enviam sinais de controle específicos para os músculos. CÓRTEX MOTOR E TRATO CORTICOESPINHAL Anterior ao sulco cortical central, ocupando, aproximadamente, o terço posterior dos lobos frontais, fica o córtex motor. Posterior ao sulco central, existe o córtex somatossensorial, que envia ao córtex motor muitos dos sinais que iniciam as atividades motoras. CÓRTEX MOTOR O córtex motor é o responsável pelo plano motor, que corresponde a colocar em prática uma ação. O córtex motor é dividido em três áreas: Córtex motor primário, Área pré-motora. Área motora suplementar (áreas suplementares e as áreas motoras do cingulado). CÓRTEX MOTOR PRIMÁRIO Se situa na primeira convolução dos lobos frontais, anterior ao sulco central. Começa, lateralmente, na fissura cerebral lateral, estende-se para cima até a parte mais alta do hemisfério cerebral, e, então, mergulha, na profundidade da fissura longitudinal. Essa área é a mesma que a área 4 de Brodmann. ORGANIZAÇÃO MUSCULOTÓPICA DO CÓRTEX CEREBRAL Penfield e Rasmussen formularam um desenho esquemático da representação de qual parte do córtex motor primário é responsável por determinada parte de motricidade do corpo. O desenho do Homúnculo Motor contém “erros”, que só foram percebidos após algum tempo, mesmo ela continuando a ser a representação mais utilizada. Esse mapeamento foi feito por estimulação elétrica das diferentes áreas do córtex motor, em pacientes humanos submetidos a neurocirurgias. Mais da metade do córtex motor primário está relacionada ao controle dos mm. das mãos e da fala. A excitação de um só neurônio do córtex motor, em geral excita um movimento específico e, não, um músculo específico. Entretanto, atualmente existe a visão moderna, onde tem uma divisão em áreas, que mesmo em áreas de uma parte determinada do corpo, existem outras partes. Ou seja, existem algumas áreas no cérebro com predominância de localização de estímulo para um determinado local no corpo, mas não é exatamente aquela parte do corpo apenas. 2 ÁREA PRÉ-MOTORA Situa-se 1 a 3 centímetros anterior ao córtex motor primário, estendendo-se, para baixo, para a fissura de Sylvius e, para cima, na fissura longitudinal, onde tem contato com a área motora suplementar, que tem funções semelhantes às da área pré-motora. A organização topográfica do córtex pré-motor é, aproximadamente, a mesma que a do córtex motor primário, com as áreas da boca e da face localizadas mais lateralmente; à medida que se vai em direção cranial, são encontradas as áreas da mão, do braço, do tronco e da perna. Os sinais neurais gerados na área pré-motora causam “padrões” muito mais complexos de movimento do que os discretos padrões gerados no córtex motor primário. A área pré-motora possui um limiar de ação maior do que a área motora primária. Quando estimulada eletricamente, produz movimentação muscular menos localizada e específica. Isso ocorre porque esta região cortical é responsável pela movimentação de grupos musculares maiores, como os do tronco ou da base dos membros. Funcionalmente, a área pré-motora é responsável por dar origem à via córticoretículo-espinhal que dá ao corpo uma postura básica preparatória para realização de movimentos mais delicados. Além disso, ela integra o sistema de neurônios espelhos, faz projeção para área motora primária, recebe aferências do cerebelo (via tálamo) e de várias áreas de associação do córtex. No entanto, dentre todas suas funções, a mais importante é o planejamento motor. ÁREA MOTORA SUPLEMENTAR Situada na face medial do giro frontal superior, a MAS corresponde à área 6 de Brodmann. Suas principais conexões são com o corpo estriado, via tálamo, área pré-frontal e área motora primária. A sua principal função é o planejamento motor de sequências mais complexas de movimentos através de suas amplas conexões aferentes com o corpo estriado. As contrações desencadeadas pela estimulação dessa área costumam ser bilaterais, e não unilaterais. ALGUMAS ÁREAS ESPECIALIZADAS DO CONTROLE MOTOR ENCONTRADAS NO CÓRTEX MOTOR HUMANO Algumas regiões motoras altamente especializadas, do córtex cerebral humano, controlam funções motoras específicas. ÁREA DE BROCA E A FALA Área pré-motora rotulada de “formação das palavras”, situada imediatamente antes do córtex motor primário e acima da fissura lateral cerebral. A sua lesão não impede a pessoa de vocalizar, mas torna impossível para o indivíduo pronunciar palavras inteiras e expressões vocais isoladas sem coordenação ou palavra simples ocasional, como “não” ou “sim”. Área cortical estreitamente associada também causa função respiratória apropriada. Por isso, as atividades neuronais pré-motoras, relacionadas à fala são altamente complexas. 3 CAMPO DOS MOVIMENTOS OCULARES “VOLUNTÁRIOS” Na área pré-motora, imediatamente acima da área de Broca, fica o local para o controle dos movimentos oculares voluntários. A lesão dessa área impede o indivíduo de movimentar voluntariamente os olhos em direção a diferentes objetos. Em lugar disso, os olhos tendem a travar, involuntariamente, sobre objetos específicos. ÁREA DE ROTAÇÃO DA CABEÇA Pouco mais acima, na área de associação motora, a estimulação elétrica desencadeia a rotação da cabeça. Essa área se associa, estreitamente, ao campo de movimentos oculares; ela direciona a cabeça em direção a diferentes objetos. ÁREA PARA HABILIDADES MANUAIS Na área pré-motora, imediatamente anterior à área do córtex motor primário, relacionada às mãos e dedos. Isso significa que, quando tumores ou outras lesões causam destruição dessa área, os movimentos manuais ficam sem coordenação e sem propósito, patologia chamada apraxia motora. TRANSMISSÃO DE SINAIS DO CÓRTEX MOTOR PARA OS MÚSCULOS Os sinais motores são transmitidos, diretamente, do córtex para a medula espinhal pelo trato corticoespinhal e, de modo indireto por múltiplas vias acessórias que envolvem os núcleos da base, o cerebelo e vários núcleos do tronco cerebral. Em geral, as vias diretas estão mais relacionadas aos movimentos discretos e detalhados, em especial dos segmentos distais das extremidades, particularmente das mãos e dos dedos. TRATO CORTICOESPINHAL (PIRAMIDAL) A via de saída mais importante do córtex motor é o trato corticoespinhal, também chamado trato piramidal. É responsável por ligar o córtex cerebral aos neurônios motores da medula. O trato corticoespinhal se origina, em cerca de 30% das vezes, do córtex motor primário, em 30% das áreas motoras suplementares e da área pré-motora, e em 40% das áreas somatossensoriais posteriores ao sulco central. As fibras seguem o trajeto: depois de saírem do córtex, passam pelo ramo da cápsula interna e, depois, desce pelo tronco cerebral, formando as pirâmides bulbares. A maior parte das fibras piramidais, então, cruza na parte inferior do bulbo e desce pelos tratos corticoespinhais laterais da medula espinhal, para por fim terminarem, em sua maioria, nos interneurônios das regiões intermediárias da substância cinzenta da medula. Algumas fibras terminam em neurônios sensoriais de segunda ordem no corno dorsal, e pouquíssimas terminam, diretamente, nos neurônios motores anteriores que causam a contração muscular. Algumas das fibras não cruzam para o lado oposto no bulbo, mas passam ipsilateralmente, formando os tratos corticoespinhais ventrais da medula espinhal. Muitas acabamcruzando para o lado oposto da medula, seja em regiões cervicais, seja na região torácica alta. Essas fibras podem estar relacionadas ao controle dos movimentos posturais bilaterais, pelo córtex motor suplementar. As fibras mais impressionantes, no trato piramidal, são a população de grandes fibras mielinizadas, as quais se originam de células piramidais gigantes, as chamadas células de Betz, encontradas, apenas, no córtex motor primário. Apesar da função principal deste trato ser motora, cabe ressaltar que ele também atua no controle dos impulsos sensitivos por meio das fibras originadas na área somestésica do córtex. Esta porção de fibras termina no funículo posterior da medula. TRATO RUBROESPINHAL O núcleo rubro, localizado no mesencéfalo, funciona em estreita associação com o trato corticoespinhal. Ele se cruza para o lado oposto, na parte inferior do tronco cerebral, seguindo trajeto imediatamente 4 adjacente e anterior ao trato corticoespinhal, passando pelas colunas laterais da medula espinhal. As fibras rubroespinhais terminam, em sua maioria, nos interneurônios das áreas intermediárias da substância cinzenta da medula, mas algumas das fibras terminam diretamente nos neurônios motores do corno anterior. O núcleo rubro também tem conexões estreitas com o cerebelo, semelhantes às conexões entre o córtex motor e o cerebelo. Possui a função de controlar a motricidade voluntária dos músculos distais dos membros, músculos intrínsecos e extrínsecos da mão, principalmente com excitação de músculos flexores e inibição de extensores. A sua origem é no núcleo rubro do mesencéfalo, depois ele decussa e reúne-se ao trato corticoespinhal lateral. A principal aferência para o núcleo rubro é também a área motora primária (via cortico-rubroespinhal). A via corticorrubroespinhal serve como rota acessória para transmissão de sinais relativamente discretos do córtex motor para a medula espinhal. Quando as fibras corticoespinhais são destruídas, mas a via corticorrubroespinhal fica intacta, ainda podem ocorrer alguns movimentos discretos, exceto os movimentos para controle fino dos dedos e mãos, que ficam consideravelmente comprometidos. SISTEMA "EXTRAPIRAMIDAL” O termo sistema motor extrapiramidal é muito usado nos círculos clínicos para denotar todas as partes do cérebro e do tronco cerebral que contribuem para o controle motor, mas que não fazem parte do sistema corticoespinhal-piramidal direto. Eles incluem vias pelos núcleos da base, pela formação reticular do tronco cerebral, pelos núcleos vestibulares e, muitas vezes, pelo núcleo rubro. De fato, os sistemas piramidal e extrapiramidal são, extensamente, interligados e interagem para o controle dos movimentos. Por essas razões, o termo “extrapiramidal” está sendo cada vez menos usado na clínica e na fisiologia. EXCITAÇÃO DAS ÁREAS DE CONTROLE MOTOR DA MEDULA ESPINHAL PELO CÓRTEX MOTOR PRIMÁRIO E O NÚCLEO RUBRO DISPOSIÇÃO COLUNAR VERTICAL As células, no córtex somatossensorial e no córtex visual, são organizadas em colunas verticais de células. Cada coluna de células funciona como uma unidade, em geral, estimulando grupo de músculos sinérgicos mas, algumas vezes, estimulando apenas um músculo. De igual modo, cada coluna tem seis camadas de células distintas, como ocorre em quase todo o córtex cerebral. Todas as células piramidais que dão origem às fibras corticoespinhais se situam na 5ª camada de células da superfície cortical. Inversamente, os sinais das aferências entram todos por meio das camadas 2 a 4. E a 6ª camada dá origem, principalmente, a fibras que se comunicam com outras regiões do próprio córtex cerebral. Os neurônios de cada coluna operam como sistema de processamento integrativo, usando informações de múltiplas fontes de aferências para determinar a resposta de saída da coluna. Cada coluna pode funcionar como sistema de amplificação, para estimular grande número de fibras piramidais, para o mesmo músculo ou para músculos sinérgicos, simultaneamente. SINAIS DINÂMICOS E ESTÁTICOS Se sinal forte for enviado ao músculo, para causar contração rápida inicial, então, sinal contínuo muito mais fraco pode manter a contração por longos períodos daí em diante. Para fazer isso, cada coluna de células excita duas populações de neurônios de células piramidais, uma chamada neurônios dinâmicos, e a outra, neurônios estáticos. Os neurônios dinâmicos são excitados, em alta velocidade, por curto período, no começo de uma contração, causando o desenvolvimento da força rápido inicial. 5 Depois, os neurônios estáticos descarregam em frequência muito mais lenta, mas continuam a disparar nesta lenta faixa para manter a força de contração, enquanto for necessária a contração. Uma maior porcentagem de neurônios dinâmicos é encontrada no núcleo rubro e porcentagem maior de neurônios estáticos no córtex motor primário. Isso pode estar relacionado ao fato de que o núcleo rubro está aliado estreitamente ao cerebelo, que desempenha papel importante no início rápido da contração muscular. FEEDBACK SOMATOSSENSORIAL Quando os sinais neurais do córtex motor causam contração muscular, sinais somatossensoriais percorrem de volta todo o caminho da região ativada do corpo, para os neurônios no córtex motor que estejam iniciando a ação. A maioria desses sinais somatossensoriais se origina em: Fusos musculares. Órgãos tendinosos dos tendões musculares. Receptores táteis da pele que recobre os músculos. Esses sinais somáticos costumam causar aumento do feedback positivo da contração muscular. ESTIMULAÇÃO DOS NEURÔNIOS MOTORES ESPINHAIS O trato corticoespinhal e o trato rubroespinhal se situam nas partes dorsais das colunas brancas laterais. Suas fibras terminam, principalmente, em interneurônios na área intermediária da substância cinzenta medular. Na intumescência cervical da medula, grande número de fibras corticoespinhais e rubroespinhais também termina, permitindo desse modo a via direta do cérebro para ativar a contração muscular. Isso corrobora o fato de que o córtex motor primário tem grau extremamente alto de representação, para o controle fino de ações da mão, dos dedos e do polegar. PAPEL DO TRONCO CEREBRAL NO CONTROLE DA FUNÇÃO MOTORA O tronco cerebral é formado pelo bulbo, ponte e mesencéfalo. Por um lado, ele é a extensão da medula espinhal, na cavidade craniana, porque contém núcleos motores e sensoriais que realizam as funções motoras e sensoriais da face e da cabeça, do mesmo modo que a medula espinhal é responsável por essas funções, para regiões do pescoço para baixo. Mas por outro lado, o tronco cerebral é, diretamente, responsável por muitas funções especiais de controle, como as seguintes: 1. Controle da respiração. 2. Controle do sistema cardiovascular. 3. Controle parcial da função gastrointestinal. 4. Controle de muitos movimentos estereotipados do corpo. 5. Controle do equilíbrio. 6. Controle dos movimentos oculares. Finalmente, o tronco cerebral serve como estação de passagem para “sinais de comando” dos centros neurais superiores. SUSTENTAÇÃO DO CORPO CONTRA GRAVIDADE — PAPÉIS DOS NÚCLEOS RETICULARES E VESTIBULARES Localizações dos núcleos reticulares e vestibulares, no tronco cerebral: Os núcleos reticulares se dividem em dois grupos principais: Núcleos reticulares pontinhos (posteriores e laterais à ponte, estendendo-se para o mesencéfalo). 6 Núcleos reticulares bulbares (estendem por todo o bulbo, situando-se ventral e medialmente, perto da linha média). Esses dois grupos de núcleos funcionam, principalmente, de maneira antagônica entre si, com os pontinos excitando os músculos antigravitários, e os bulbares relaxandoos mesmos músculos. SISTEMA RETICULAR PONTINO Os núcleos reticulares pontinos transmitem sinais excitatórios descendentes para a medula espinhal pelo trato reticuloespinhal pontino, na coluna anterior da medula. As fibras dessa via terminam nos neurônios motores anteriores mediais, responsáveis pela excitação dos músculos axiais do corpo, que sustentam o corpo contra a gravidade — isto é, os músculos da coluna vertebral (paravertebrais) e os músculos extensores das extremidades. Quando o sistema excitatório pontino fica sem oposição, pelo sistema reticular bulbar, provoca uma excitação poderosa dos músculos antigravitários. SISTEMA RETICULAR BULBAR Os núcleos reticulares bulbares transmitem sinais inibitórios para os mesmos neurônios motores anteriores antigravitários, por meio de trato diferente, o trato reticuloespinhal bulbar, localizado na coluna lateral da medula. Os núcleos reticulares bulbares recebem fortes colaterais de aferência: (1) do trato corticoespinhal, (2) do trato rubroespinhal e (3) de outras vias motoras. Estes, normalmente, ativam o sistema inibitório reticular bulbar para contrabalançar os sinais excitatórios do sistema reticular pontino, assim, sob condições normais, os músculos corporais não ficam, anormalmente, tensos. PAPEL DOS NÚCLEOS VESTIBULARES PARA EXCITAR OS MÚSCULOS ANTIGRAVITÁRIOS Todos os núcleos vestibulares funcionam em associação com os núcleos reticulares pontinos, para controlar os músculos antigravitários. Os núcleos vestibulares transmitem fortes sinais excitatórios para os músculos antigravitários, por meio dos tratos vestibuloespinhais lateral e mediai, nas colunas anteriores da medula espinhal. O papel específico dos núcleos vestibulares, contudo, é o de controlar, seletivamente, os sinais excitatórios para os diferentes músculos antigravitários, para manter o equilíbrio em resposta a sinais do sistema vestibular. SENSAÇÕES VESTIBULARES E MANUTENÇÃO DO EQUILÍBRIO SISTEMA VESTIBULAR É o órgão sensorial para detectar sensações do equilíbrio. Encerrado em sistema de tubos e câmaras ósseos, localizado na parte petrosa do osso temporal, o chamado labirinto ósseo. Dentro desse sistema estão tubos e câmaras membranosos, no chamado labirinto membranoso. Esse é a parte funcional do sistema vestibular. O labirinto membranoso é composto, principalmente, pela cóclea (dueto coclear), três canais semicirculares e duas grandes câmaras (o utrículo e o sáculo). A cóclea é o principal órgão sensorial para a audição e tem pouco a ver com o equilíbrio. No entanto, os canais semicirculares, o utrículo e o sáculo são todos partes integrantes do mecanismo de equilíbrio. “MÁCULAS” Órgãos sensoriais do utrículo e do sáculo para detectar a orientação da cabeça com respeito à gravidade. Localizada na superfície interna de cada utrículo e sáculo existe pequena área sensorial discreta com 2 milímetros de diâmetro, chamada mácula. A mácula do utrículo se situa no plano horizontal e desempenha papel importante na determinação da orientação da cabeça, quando ela está em posição ereta. Inversamente, a mácula do sáculo está localizada, também, em sua maior parte, no plano vertical e sinaliza a orientação da cabeça, quando a pessoa está em decúbito. Cada mácula é coberta por camada gelatinosa, onde ficam imersos muitos pequenos cristais de carbonato de cálcio, chamados estatocônias. Estão, também, na mácula milhares de células ciliadas, as quais projetam cílios para cima, na camada gelatinosa. As estatocônias calcificadas têm gravidade específica duas a três vezes maior que a gravidade do líquido e 7 dos tecidos circunjacentes. O peso das estatocônias curva os cílios na direção da tração gravitacional. FUNÇÃO DO UTRÍCULO E DO SÁCULO NA MANUTENÇÃO DO EQUILÍBRIO ESTÁTICO É especialmente importante que as células ciliadas estejam todas orientadas em direções diferentes, nas máculas dos utrículos e dos sáculos, para que, com diferentes posições da cabeça, células ciliadas distintas sejam estimuladas. Os “padrões” de estimulação das diferentes células ciliadas notificam o sistema nervoso central sobre a posição da cabeça, em relação à tração da gravidade. Por sua vez, os sistemas nervosos vestibular, cerebelar e motor reticular excitam os músculos posturais, apropriados, para manter o equilíbrio. Este sistema de utrículo e sáculo funciona de modo extremamente eficaz para manter o equilíbrio, quando a cabeça está na posição quase vertical. DETECÇÃO DA ROTAÇÃO DA CABEÇA PELOS DUETOS SEMICIRCULARES Quando a cabeça, subitamente, começa a girar em qualquer direção (aceleração angular), a endolinfa, nos canais semicirculares, devido à sua inércia, tende a continuar estacionária, enquanto os canais semicirculares giram. Isso causa fluxo relativo do líquido nos canais na direção oposta à rotação da cabeça. O que ocorre em um animal que é girado por 40 segundos: Mesmo quando a cúpula está em sua posição de repouso, a célula ciliada emite descarga tônica de cerca de 100 impulsos por segundo. Quando o animal começa a girar, as células ciliadas se deformam para um lado, e a frequência de descarga aumenta muito. Com rotação contínua, o excesso de descarga da célula ciliada, gradualmente, retorna de volta ao nível de repouso, durante os segundos seguintes. A razão para essa adaptação do receptor é que, durante os primeiros segundos de rotação, vencida a resistência inercial ao fluxo de líquido no canal semicircular e, após a deformação da cúpula, a endolinfa começa a se deslocar tão rapidamente quanto o próprio canal semicircular; depois, em mais 5 a 20 segundos, a cúpula, de modo lento, retorna à sua posição de repouso, no meio da ampola, devido à sua própria retração elástica. Quando a rotação, de súbito, para, ocorrem precisamente os efeitos opostos: a endolinfa continua a girar, enquanto o canal semicircular para. Nesse momento, a cúpula se deforma na direção oposta, fazendo com que a célula ciliada pare, inteiramente, de descarregar. Depois de alguns segundos, a endolinfa para de se movimentar e a cúpula, gradualmente, retorna à sua posição de repouso, permitindo assim que a descarga das células ciliadas retorne a seu nível tônico normal. Desse modo, o canal semicircular transmite sinal com uma polaridade quando a cabeça começa a girar e da polaridade oposta, quando ele para de girar. FUNÇÃO "PREDITIVA" DO SISTEMA DE CANAIS SEMICIRCULARES NA MANUTENÇÃO DO EQUILÍBRIO A função dos canais semicirculares não é a de manter o equilíbrio estático ou manter o equilíbrio, durante movimentos direcionais ou rotacionais constantes. Ainda assim, a perda da função dos canais semicirculares, realmente, faz com que a pessoa tenha pouco equilíbrio, quando tenta realizar movimentos corporais, com variações intrincadas rápidas. O mecanismo dos canais circulares prediz se o desequilíbrio vai ocorrer, e, assim, faz com que os centros do equilíbrio realizem ajustes preventivos antecipatórios apropriados. Isso ajuda a pessoa a manter o equilíbrio, antes que a situação possa ser corrigida. A remoção dos lobos floculonodulares do cerebelo impede a detecção normal de sinais do canal semicircular, mas tem pouco efeito na detecção dos sinais maculares. É, especialmente, interessante que o cerebelo sirva como órgão “preditivo”, para os movimentos corporais mais rápidos, bem como para os relacionados ao equilíbrio. MECANISMOS VESTIBULARES PARA ESTABILIZAR OS OLHOS A cada vez que a cabeça subitamente é rodada, sinais dos canais semicirculares fazem com que os olhos se 8 desviem em direção igual e oposta à rotação da cabeça. Isso resulta de reflexos, transmitidos pelos núcleos vestibulares e pelo fascículo longitudinal mediai para os núcleos oculomotores. OUTROS FATORES RELACIONADOS AOEQUILÍBRIO PROPRIOCEPTORES DO PESCOÇO O sistema vestibular detecta a orientação e o movimento apenas da cabeça. Portanto, é essencial que os centros nervosos também recebam informações apropriadas, sobre a orientação da cabeça, em relação ao corpo. Essa informação é transmitida, dos proprioceptores do pescoço e do corpo, diretamente para os núcleos vestibulares e reticulares, no tronco cerebral, e, por via indireta, pelo cerebelo. Entre as informações proprioceptivas mais importantes, necessárias para manter o equilíbrio, está a transmitida por receptores articulares do pescoço. Quando a cabeça está inclinada em uma direção, por curvatura do pescoço, impulsos dos proprioceptores cervicais impedem os sinais de dar à pessoa senso de desequilíbrio. Eles fazem isso por transmissão de sinais que se opõem, exatamente, aos sinais transmitidos do sistema vestibular. No entanto, quando o corpo inteiro se inclina em uma direção, os impulsos do aparelho vestibular não recebem oposição dos sinais dos proprioceptores do pescoço; portanto, nesse caso, a pessoa, realmente, percebe alteração do estado de equilíbrio do corpo inteiro. INFORMAÇÕES PROPRIOCEPTIVAS E EXTEROCEPTIVAS DE OUTRAS PARTES DO CORPO As informações proprioceptivas, de outras partes do corpo que não o pescoço, também são importantes na manutenção do equilíbrio. Por exemplo, as sensações de pressão nas plantas dos pés dizem à pessoa (1) se o peso está distribuído, igualmente, entre os dois pés e (2) se o peso nos pés é mais para a frente ou para trás. Informações exteroceptivas são, especialmente, necessárias para a manutenção do equilíbrio, quando a pessoa está correndo. A pressão do ar sinaliza que a força está se opondo ao corpo em direção diferente da causada pela tração gravitacional; como resultado, a pessoa se inclina para a frente, para se opor a isto. A IMPORTÂNCIA DAS INFORMAÇÕES VISUAIS NA MANUTENÇÃO DO EQUILÍBRIO A pessoa pode usar os mecanismos visuais, de modo razoavelmente eficaz, para manter o equilíbrio. Até mesmo, movimento linear ou rotacional discreto do corpo muda, instantaneamente, as imagens visuais na retina, e essas informações são retransmitidas aos centros do equilíbrio. Algumas pessoas, com destruição bilateral do aparelho vestibular, têm equilíbrio quase normal enquanto seus olhos estão abertos e todos os movimentos são realizados lentamente. Mas, quando o movimento é rápido ou, quando os olhos estão fechados, o equilíbrio é imediatamente perdido. CONEXÕES NEURONAIS DO SISTEMA VESTIBULAR COM O SISTEMA NERVOSO CENTRAL A maior parte das fibras nervosas vestibulares termina nos núcleos vestibulares do tronco cerebral (na junção do bulbo e da ponte). Essas fibras azem sinapse com neurônios de segunda ordem, que, também, enviam fibras para o cerebelo, para os tratos vestibuloespinhais, para o fascículo longitudinal mediai e para outras áreas do tronco cerebral, particularmente os núcleos reticulares. Algumas fibras passam, diretamente, para os núcleos reticulares do tronco cerebral, sem fazer sinapse e, também, para os núcleos fastigiais e lobos uvular e floculonodular cerebelares. A via primária para os reflexos do equilíbrio começa nos nervos vestibulares, onde os nervos são excitados pelo sistema vestibular. A via, então, passa para os núcleos vestibulares e para o cerebelo. A seguir, são enviados sinais para os núcleos reticulares do tronco cerebral, bem como para a medula espinhal, por meio dos tratos vestibuloespinhais e reticuloespinhais. Os sinais, para a medula, controlam a inter-relação entre facilitação e inibição dos muitos músculos antigravitários, desse modo controlando, automaticamente, o equilíbrio. Os lobos floculonodulares do cerebelo estão, especialmente, ligados a sinais do equilíbrio dinâmico dos canais semicirculares. De fato, a destruição desses lobos resulta, quase exatamente, nos mesmos sintomas clínicos que a destruição dos próprios canais semicirculares. Isso significa que lesão grave de qualquer dos lobos ou dos canais causa perda do equilíbrio dinâmico, durante 9 alterações rápidas da direção do movimento, mas não perturba, intensamente, o equilíbrio sob condições estáticas.