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MATEMÁTICA Capítulo 2 Princípios de Geometria Plana250 Por isso, é recomendável que se encontrem segmentos de mesmo comprimento com uma extremidade comum na figura apresentada antes de fazer uso desse postula- do, os quais garantem que uma circunferência com centro na extremidade comum e raio igual ao comprimento dos segmentos necessariamente deve passar pelas demais extremidades dos segmentos. Na figura apresentada pelo problema, o conhecimento (I) permite observarmos quatro opções diferentes para a aplicação do terceiro postulado: y O fato de AD e CD terem o mesmo comprimento sugere a possibilidade do traçado de uma circunfe- rência com centro D e que passe pelos pontos A e C. A D B E C AC = DC (raios) y O fato de BC e CD terem o mesmo comprimento sugere a possibilidade do traçado de uma circunfe- rência com centro C e que passe pelos pontos B e D. A D B E C BC = CD (raios) y O fato de AB e BC terem o mesmo comprimento sugere a possibilidade do traçado de uma circun- ferência com centro no ponto B e que passe pelos pontos A e C. A D B E C AB = BC (raios) y O fato de AB , AD e AE terem o mesmo comprimento sugere a possibilidade do traçado de uma circunferên- cia com centro A e que passe pelos pontos B, D e E. A D B E C AB = AD (raios) Como a circunferência de centro A passa pelo vértice E do ângulo procurado, vamos optar por esta última aplicação do postulado da circunferência Assim, os conhecimentos (II) e (III) permitem concluir que o menor arco BD dessa cir- cunferência mede 90°. A 90° 90° D B E C AB = BC = CD = AD Agora basta fazer uso do primeiro postulado e traçar o segmento de reta que une os pontos D e E para poder ob- servar, de acordo com o conhecimento (IV), que a medida x do ângulo BED� é igual à metade da medida do menor arco BD da circunferência. A 90° x D B E C DÊB é ângulo inscrito. = =x 90º 2 45º De acordo com os postulados de Euclides, nenhuma reta ou circunferência aleatória pode ser traçada a não ser que alguma propriedade invariante da geometria justifique essa construção. Assim, dados os pontos A e B, obedecendo ao tercei ro postulado de Euclides, podemos traçar a circunferência de centro em A que passa por B e a circunferência de F R E N T E 3 251 centro em B que passa por A. Uma vez construídas essas circunferências, observamos que elas se interceptam em dois pontos (P e Q), situados em lados opostos do segmento AB . Então, os dois primeiros postulados permi- tem que P e Q sejam ligados por um segmento de reta e que este seja prolongado indefinidamente, determinando uma única reta, denominada mediatriz do segmento AB . B A Q P Circunferências secantes. Discutindo as propriedades dessa construção, Euclides postulou que os quatro ângulos determinados pelas retas AB � e PQ � têm a mesma medida que adotou como unidade para as medidas angulares: o ângulo reto. Assim, para ele, um ângulo raso mede 2 ângulos retos, e a circunferência toda mede 4, por exemplo. Assim, embora o quarto postulado de Euclides enuncie literalmente que “todos os ângulos retos são congruentes”, podemos interpretá-lo como uma garantia de que, dados um ponto P e uma reta r, podemos traçar, pelo ponto P, uma única reta perpendicular a r; e, fazendo isso, obtemos quatro ângulos retos. A mediatriz de um segmentoAB possui uma série de propriedades importantes para a Geometria: y é perpendicular ao segmento; y divide o segmento ao meio; y é o eixo da simetria de reflexão existente entre as extremidades A e B do segmento; y cada um de seus pontos está igualmente afastado das extremi dades A e B do segmento; y contém os vértices de todos os triângulos isósceles de base AB; y contém os centros de todas as circunferências que passam por A e B. Essas são as propriedades invariantes que justificam outras possíveis construções para a mediatriz de um segmento. A B Q P Atenção Há também o quinto postulado da Geometria Eucli- diana, o qual garante que, por um ponto fora de uma reta dada, passe uma única reta paralela a ela. As construções de retas paralelas e perpendiculares em demonstrações de teoremas e resolução de exercícios são provavelmente as mais usadas, como veremos no decorrer do nosso estudo da Geometria Congruência de triângulos Muitas outras formas modernas do pensamento geomé trico não euclidiano foram criadas com base na discussão do quinto postulado (o das paralelas). As geometrias mo- dernas conhecidas como Geometria elíptica e Geometria hiperbólica contestam esse postulado afirmando, a primeira, que não existem retas paralelas e, a segunda, que, por um ponto fora de uma reta dada, passam infinitas retas diferen- tes que são paralelas à reta dada Os postulados válidos em todas as formas do pensamento geométrico clássico e mo- derno são chamados de postulados da Geometria neutra O principal postulado da Geometria neutra trata da congruência de triângulos enunciando que, se dois pa res de segmentos com mesmos comprimentos têm uma extremidade em comum e formam ângulos de mesma me- dida, então os triângulos determinados pelas extremidades desses segmentos são congruentes entre si. A relação de congruência é representada pelo símbolo (≅ ) e significa que os demais lados e ângulos desses triângulos também terão as mesmas medidas. Assim: y Se AB = OQ, AC = OP e  = Ô. P O Q C A B BC = PQ y ...então ∆ABC ≅ ∆OQP e, portanto, B = Q, C = P e BC = PQ. P O Q C A B Triângulos congruentes. Esse postulado descreve apenas um dos muitos casos em que se pode concluir a congruência de dois triângulos. Trata-se do caso LAL da congruência de triângulos, pois parte da congruência de dois dos Lados e do Ângulo que eles formam. Desse postulado, podem ser deduzidos outros casos de congruência MATEMÁTICA Capítulo 2 Princípios de Geometria Plana252 O caso LLL se baseia na congruência entre os três la- dos de dois triângulos para concluir a congruência de seus três ângulos. Assim, se os três lados de um triângulo têm os mesmos comprimentos dos três lados de outro triângulo, então os três ângulos de um dos triângulos também devem ter as mesmas medidas dos três ângulos do outro triângulo O caso ALA parte da congruência entre um lado de cada triângulo e dos ângulos cujos vértices são as extre- midades desses lados para concluir a congruência dos outros dois lados e do terceiro ângulo desses triângulos. Esse é o caso recíproco do postulado LAL. O caso LAAo também se baseia na congruência entre um lado de cada triângulo e entre dois ângulos de cada, mas sendo um desses ângulos oposto ao lado considerado em cada triângulo para concluir a congruência dos outros dois lados e do terceiro ângulo desses triângulos Como a soma das medidas dos ângulos internos de qualquer triângulo é constante e igual a 180°, verificando que dois ângulos de um triângulo têm as mesmas medidas de dois ângulos de outro triângulo, podemos concluir que isso acontece também com o terceiro ângulo de cada triân- gulo. Essa observação faz com que os casos ALA e LAAo possam ser observados simultaneamente na verificação da congruência entre dois triângulos Exercício resolvido 1 Observando o painel composto de 16 pequenos triângulos equiláteros de lados unitários ilustrado na Figura 1, uma pessoa percebeu a existência de triân- gulos equiláteros de diversos tamanhos, como mostra o triângulo ABC de lado 2 em destaque na Figura 2. Figura 2Figura 1 B A C O número de triângulos congruentes ao triângulo em destaque na Figura 2, presentes no painel, in- cluindo o próprio triângulo ABC, é: A 6 b 7 C 8 D 9 E 10 Resolução: Como os triângulos congruentes ao triângulo ABC de- vem possuir lado 2, temos que, com um vértice acima do lado horizontal, há, incluindo o próprio triângulo ABC, 3 triângulos com a base colinear ao segmento AB Ainda com o vértice do lado horizontal, há mais 3 triângulos com a base situada em alguma reta para- lela acima do segmento AB no painel Com um vértice abaixo do lado horizontal, há mais 1 triângulocongruente ao triângulo ABC no painel. Portanto, há 3 + 3 + 1 = 7 triângulos congruentes, in- cluindo o próprio triângulo ABC. Alternativa: B. Também é importante observarmos que, se os três ângulos de um triângulo têm as mesmas medidas dos três ângulos de outro triângulo, isso não é suficiente para garantir a congruência dos triângulos, pois há alguns com os mesmos ângulos internos cujos lados não têm compri- mentos iguais. Essa situação caracteriza, na verdade, um caso de semelhança entre os triângulos, assunto que será estudado no próximo capítulo. A congruência entre dois triângulos também pode ser verificada a partir de transformações geométricas deno minadas isométricas. As transformações isométricas da Geometria são: Translação A translação é a transformação geométrica capaz de levar todos os pontos de uma figura a coincidirem com os pontos de outra segundo o deslocamento representado por um único vetor. A B C C' B' A' Na figura, se os segmentos AA' , BB' e CC' são parale- los e têm o mesmo comprimento, então os triângulos ABC e A'B'C' são congruentes. Rotação A rotação é a transformação geométrica capaz de levar todos os pontos de uma figura a coincidirem com os pontos