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TORCHS ● série de infeções que podem afetar o decurso da gravidez e provocar malformações fetais, caso a mãe as contraia pela primeira vez durante a gravidez ● Toxoplasmose – Outras doenças – Rubéola – Citomegalovírus – Herpes→ TORCHS Toxoplasmose ● agente etiológico: T. gondii ○ parasita intracelular obrigatório que se apresenta em três formas: o esporozoíta, que está presente nos oocistos eliminados nas fezes dos gatos infectados; os taquizoítas (a forma observada na fase aguda da infecção); e os bradizoítas (a forma de multiplicação lenta encontrada nos cistos teciduais) ● felídeos: únicos animais nos quais o T. gondii completa seu ciclo reprodutivo ○ infecção primária: gatos podem eliminar milhões de oocistos, diariamente, durante um período de uma a três semanas → tornam-se infectantes após 5 dias e podem permanecer infecciosos durante + de 1 ano (esp. em ambientes quentes e úmidos) ○ gatos normalmente desenvolvem imunidade após uma infecção primária ● formas de infecção ○ principal fonte de infecção materna: ingestão de bradizoítos presentes na carne ou nos seus produtos crus ou pouco cozidos ○ ingestão materna de esporozoítos durante o consumo de água ou vegetais contaminados é também uma importante fonte de infecção ○ porcos, galinhas, cordeiros e cabras se tornam infectados pelas mesmas vias que os humanos→ carne contendo bradizoítos ○ transplante de órgãos infectados ou transfusão de sangue é uma fonte rara de infecção ● incidência da infecção aguda na gestação: 1,5 caso para cada 1.000 nascidos vivos (OMS) ○ incidência de toxoplasmose congênita depende de cada região do país Manifestação clínica ● materna: geralmente assintomática ● sintomas inespecíficos: febre (duram 2-3 dias), calafrios, suores, dores de cabeça, mialgia, faringite, hepatoesplenomegalia e exantema maculopapular difuso ○ adenopatia cervical: frequente e simétrica, sendo generalizada em aproximadamente 20% a 30% dos pacientes→ pode persistir por semanas Diagnóstico diferencial ● infecção aguda do vírus Epstein-Barr, infecção por citomegalovírus, infecção por HIV, sífilis, infecção por Zika, sarcoidose, doença de Hodgkin e linfoma Rastreamento no pré-natal ● objetivo: identificar as gestantes suscetíveis à toxoplasmose, visando à adoção de medidas de prevenção primária e também diagnosticar os casos de toxoplasmose aguda na gestação, para iniciar o tratamento adequado o mais precocemente possível, com o objetivo de prevenir a transmissão vertical ● sorologia para toxoplasmose é recomendada no início do pré-natal ○ se gestante for suscetível→ repetição da sorologia a cada trimestre ● anticorpos IgM: aparecem 2 semanas após a infecção e podem persistir por anos ● anticorpos IgG: atingem o pico 6-8 semanas após a infecção e depois diminuem nos próximos 2 anos, porém podem permanecer detectáveis em baixos títulos por tempo indeterminado ● maioria dos casos com suspeita de infecção aguda: IgM e IgG reagentes na primeira consulta de pré-natal, sem quadro clínico ○ gestante testada até o fim do 1º trimestre com IgM e IgG positivas: probabilidade da infecção ter ocorrido durante a gravidez é de 1% a 3%, dependendo do teste utilizado ● presença de IgM no soro materno: não é diagnóstico definitivo de infecção aguda (pode também ser reação cruzada com IgM de outras infecções ou persistência dessa, após infecção ocorrida há algum tempo) ● pesquisa de avidez de IgG: avalia a afinidade entre o anticorpo da classe IgG e o antígeno ○ presença de alta avidez: permite definir se a infecção ocorreu há mais de 12 a 16 semanas ○ baixa avidez: pode indicar que a infecção ocorreu mais recentemente ○ afinidade do anticorpo pelo antígeno tende a aumentar com o passar do tempo ○ presença de IgG de baixa avidez não é suficiente para indicar com certeza um quadro agudo, já que há fatores que interferem na maturação da IgG → depende da idade gestacional no momento da infecção, da utilização da espiramicina e de fatores individuais ● ausência de IgG e IgM: gestante suscetível → receber orientações da equipe de saúde de como evitar a doença, reforçando para o grupo de gestantes que desenvolvem diabetes gestacional e que modificarão suas dietas, com a introdução de mais verduras e frutas ○ não ingerir carnes cruas ou mal cozidas ○ toda carne deve ser cozida até atingir temperatura superior a 67 °C ○ água deve ser tratada ou fervida ○ lavar frutas e verduras adequadamente ○ usar luvas para manipular carnes cruas ○ não utilizar a mesma faca para cortar carnes e outros vegetais ou frutas; Ferver e pasteurizar o leite antes do consumo ○ evitar contato com qualquer material que possa estar contaminado com fezes de gatos (solo, gramados e caixas de areia) Infecção fetal ● resulta da transmissão transplacentária de taquizoítos após a infecção materna primária ○ provável que a transmissão ocorra na maioria dos casos durante a fase de parasitemia e antes do desenvolvimento da resposta imune materna ● fatores que influenciam: idade gestacional no momento da infecção, virulência do T. gondii, alta carga de parasitas, fonte do parasita materno (o risco de infecção fetal é maior quando a fonte é esporozoíto em oocistos do que bradizoítos em cistos de tecido), imunodeficiência materna ● risco de infecção fetal aumenta com o avançar da idade gestacional no momento da soroconversão materna porém o risco de desenvolver sequelas clínicas graves diminui ● transmissão vertical do T. gondii em gestantes com quadro de doença aguda no período periconcepcional, até dois meses antes da concepção→ risco de transmissão vertical nesse período é de até 3,8% ● associada a: abortamento, prematuridade, baixo peso ao nascimento, óbito fetal e doença fetal disseminada ● infecção primária no 3º trimestre: não é mais associada com acometimento fetal, resultando em calcificações cerebrais ou hidrocefalia ○ lesões oculares podem ocorrer, aparecendo quadros graves de retinocoroidite mesmo em infecções adquiridas na 2ª metade da gravidez ● maioria dos RN: assintomática ao nascimento ○ pode apresentar sequelas que se manifestam em algum momento: complicações oculares e neurológicas ○ muitos casos de retinocoroidite diagnosticados na infância têm como causa a doença congênita ○ + de 85% desenvolverão retinocoroidite durante a infância ou adolescência ○ 40% apresentarão sequelas neurológicas ● manifestações clínicas no RN: exantema, linfadenomegalia, hepatoesplenomegalia, hiperbilirrubinemia, anemia e trombocitopenia ● infecção materna no 1º trimestre: normalmente provoca a morte do embrião ou feto ● infecção no 2º e 3º trimestres: pode provocar retinocoroidite, calcificações cerebrais, deficiência mental e micro ou macrocefalia ○ pode apresentar hidrocefalia resultante da obstrução do aqueduto cerebral, necrose periventricular no sistema nervoso central e destruição da retina Diagnóstico do acometimento fetal ● USG ○ idade gestacional no momento da infecção influencia no prognóstico fetal e também no diagnóstico de possíveis alterações fetais ○ achados são semelhantes aos de outras infecções congênitas, como a infecção pelo citomegalovírus ○ achados: calcificações ou densidades intracranianas, hidrocefalia; Intestino ecogênico, hepatoesplenomegalia, calcificações/densidades intra-hepáticas, restrição de crescimento fetal, ascites, derrame pericárdico e pleural, hidropisia fetal, óbito fetal, espessamento placentário ○ achados mais comuns: focos hipercogênicas ou calcificações intracranianas e a dilatação dos ventrículos cerebrais (geralmente é bilateral e simétrica) ○ alterações fetais na ultrassonografia relacionadas à toxoplasmose congênita são observadas em aproximadamente 28% dos fetos infectados → mesmo com exame ultrassonográfico normal, não é possível excluir infecção fetal ○ em fetos infectados e em casos suspeitos: importante realizar acompanhamento quinzenal, no sentido de detectar alterações tardias, as quais podem modificar a condução dos casos e a definição domomento do parto ○ avaliação dos casos de infecção fetal: achado de calcificações no sistema nervoso central, sem ventriculomegalia associada, o prognóstico do recém-nascido pode ser favorável Diagnóstico da infecção fetal ● objetivo: orientar a escolha do tratamento, ou seja, mudar o tratamento pré-natal da espiramicina para a combinação de pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico ● diagnóstico pré-natal: teste invasivo com risco de perda de gestação de aproximadamente 0,5% ● confirmação: detecção do T. gondii no líquido amniótico pela técnica da reação em cadeia de polimerase (PCR) ● coleta de líquido amniótico está indicada nos casos de infecção aguda confirmada durante a gravidez, como soroconversão durante o pré-natal, quadro clínico com confirmação sorológica, infecção provável com IgG e IgM reagentes e baixa avidez de IgG com outro teste confirmando a suspeita de doença aguda e quando há alterações ultrassonográficas que sugerem toxoplasmose congênita ● pacientes HIV positivas: contraindicado o procedimento invasivo pelo risco de transmissão vertical do vírus ● PCR negativo: seguimento pós-natal necessário no 1º ano de vida para excluir completamente uma infecção congênita ● doença aguda após 32 semanas de gestação: tratamento deve ser iniciado com as três drogas, imediatamente, mesmo sem a comprovação da infecção fetal Tratamento da infecção fetal ● início precoce do tratamento é um fator importantíssimo na redução da taxa de transmissão vertical e das sequelas neonatais Redução da transmissão vertical ● 1ª linha: espiramicina ○ usada em casos suspeitos de infecção na gestação e é um antibiótico macrólido semelhante à eritromicina ○ se concentra principalmente na placenta, onde age no tratamento da infecção placentária→ reduz a transmissão para o feto ○ reduz tanto a taxa de toxoplasmose congênita quanto a taxa de acometimento grave ○ segura na gestação, podendo inclusive ser usada durante o 1º trimestre, na dosagem de 3g por dia, dividida em três tomadas ○ indicada: casos de infecção, assim que é feita a suspeita pelos resultados da sorologia, e também nos casos nos quais não foi confirmada a transmissão vertical Tratamento da infecção fetal ● infecção fetal comprovada pela presença do toxoplasma no líquido amniótico ou infecções comprovadas na gestação após a 32ª semana de gestação, mesmo sem o diagnóstico pré-natal ● pirimetamina, sulfadiazina e do ácido folínico até o final da gestação ● posologia ○ sulfadiazina 500 mg: 2 cp de 8/8h→ 3g por dia ○ pirimetamina 25 mg: 1 cp de 12/12h→ 50 mg por dia ○ ácido folínico 15 mg: 1 cp por dia→ 15 mg por dia ● sulfadiazina e a pirimetamina administradas concomitantemente possuem sinergismo contra os taquizoítas do T. gondii→ inibe replicação do parasita e têm atividade 8x vezes maior se comparadas com o uso isolado ● efeitos adversos ○ pirimetamina: inibe a di-hidrofolato redutase (importante na síntese do ácido fólico)→ depressão medular gradual e reversível, com neutropenia, anemia e trombocitopenia → importante a associação do ácido folínico (reduz a toxicidade sobre a medula óssea materna) ○ menos comuns: náuseas, vômitos, cólicas, além de alterações hepáticas e dermatológicas ○ mais comuns: combinações de pirimetamina e sulfadiazina do que com a espiramicina ● durante o tratamento com sulfadiazina e pirimetamina → coleta de hemograma quinzenal durante a utilização dessas medicações para controle do número de glóbulos vermelhos, plaquetas e leucócitos + USG para avaliar a possibilidade de anemia fetal utilizando a Dopplervelocimetria da artéria cerebral média, com estudo da velocidade máxima no pico sistólico ○ alterações significativas nos exames de controle → tratamento deve ser suspenso, sendo substituído pela espiramicina na dose de 3g ao dia ● tratamento com sulfadiazina e pirimetamina é contraindicado durante o 1º trimestre da gestação, devendo ser iniciado a partir da 16ª semana ● não há informações comprovada sobre a eficácia de outros fármacos para o tratamento da infecção no pré-natal porém pode ser utilizado: ○ sulfametoxazol-trimetoprima: pode ser considerado em casos de intolerância à pirimetamina ○ macrolídeos: azitromicina tem sido utilizada com sucesso para tratar a infecção pelo T. gondii tanto em modelos animais como em seres humanos com síndromes de imunodeficiência adquirida Sífilis congênita ● doença infectocontagiosa crônica ● período de incubação: 10 a 90 dias após o contato infectante (depende do número e virulência do treponema e da resposta imunológica do hospedeiro) ● evoluir cronicamente com manifestações clínicas exuberantes ou discretas, entremeadas com períodos latentes ● transmissão ○ vias principais e mais importantes: sexual (genital, oral e anal) e a vertical (da gestante para o feto – intraútero, ou neonato – periparto) ○ transfusão sanguínea (rara atualmente) ou por material perfurante contaminado acidental ou voluntariamente ● casos de sífilis congênita (SC) com altas taxas de morbimortalidade ● agente etiológico: Treponema pallidum ○ bactéria espiroqueta que não se cora pela técnica de Gram e nem cresce em meios de cultivo artificiais ○ patógeno exclusivo do ser humano, sensível ao calor, a ambientes secos, a detergentes e a antissépticos comuns ● OMS: 2 milhões os novos casos de sífilis anuais no mundo→ 90% em países em desenvolvimento ○ Brasil: 900.000 casos ○ países em desenvolvimento: 3% a 15% das mulheres em idade fértil têm sífilis ○ anualmente 2 milhões de gestantes são afetadas no mundo ○ sífilis congênita: consequências graves para a gravidez em 80% dos casos → 25% resulta em natimortos ou abortos espontâneos e outro 25% de RN têm baixo peso ou infecção grave (maior risco de morte perinatal) ● doenças de notificação compulsória: sífilis congênita, sífilis em gestante e sífilis adquirida Diagnóstico clínico ● sífilis só é infectante na fase recente (fases primárias e secundárias) ● apresentações variam de acordo com a imunidade celular individual, podendo haver a cura espontânea em até 60% dos casos Sífilis adquirida ● recente: lesões infectantes transitórias ricas em bactérias com menos de 1 ano de evolução após o contágio ○ sífilis primária → lesão circunscrita infectante (cancro duro, local por onde primariamente a bactéria penetrou no organismo); mais observada em pacientes do sexo masculino e raramente é diagnosticada em mulheres ○ sífilis secundária → lesões generalizadas infectantes (por exemplo: lesões exantemáticas e papulosas) em pele e em mucosas (genital, anal, bucal) e expressa a disseminação hematogênica das bactérias por todo o organismo ● latente: ausência de manifestações clínicas, mantendo-se as sorologias reatoras; ○ precoce: se até 1 ano de evolução ○ tardia: após 1 ano do contágio ● tardia (fase terciária): lesões destrutivas com poucos ou sem treponemas após o 1º ano de infecção ○ lesões circunscritas não infectantes (ex.: gomas) Sífilis congênita ● recente: quando se manifesta até o 2º ano de vida ● tardia: quando se manifesta após o 2º ano de vida ● acomete o concepto em qualquer período da gestação e as manifestações clínicas estão relacionadas ao tempo da infecção materna, se anterior ou durante a gravidez (grau de imunidade adquirida pela gestante, quantidade e virulência dos treponemas e ao momento da transmissão da infecção ao feto) ● manifestações clínicas podem estar ausentes ao nascimento ou surgir dias, meses ou anos após o parto ● gestações infectadas não tratadas→ óbito fetal (abortamento espontâneo e natimorto) ou morte neonatal precoce em cerca de 40% dos casos + várias alterações anatômicas no feto ○ sífilis adquirida tardia materna não tratada também pode infectar o feto, porém com frequência bem menor ● T. pallidum lesa primariamente a placenta→ placentomegalia ● feto ○ (1) agride inicialmente o fígado→ (2) pele, mucosas, ossos, pulmões e SNC Sífilis congênita recente ● maioria: hepatoesplenomegalia ● casos com maior virulência e sepse: anemia, icterícia,púrpura, hidropsia, derrame cavitário e maceração cutânea ● lesões cutaneomucosas: semelhantes àquelas que ocorrem na sífilis precoce adquirida ○ pênfigo sifilítico: lesão mais precoce e facilmente identificável, embora pouco frequente → múltiplas lesões bolhosas de conteúdo hemorrágico ou purulento ou descamativas nas regiões palmoplantares ○ sifílides: principalmente o tronco e as regiões palmoplantares → máculas e as pregas anogenitais como lesões papulosas (condilomas planos), papuloescamosas, papuloerosivas ou papulocrostosas ○ rágades ou fissuras: soluções de continuidade lineares e radiadas ao redor dos orifícios naturais do corpo ○ placas mucosas: ocorrem nos lábios, língua, palato e genitália ○ rinite e coriza sifilítica: secreção mucossanguinolenta ou purulenta espessa dificultando a respiração e a alimentação, geralmente acompanhada de choro rouco e, se houver lesão da cartilagem nasal, evoluindo para o nariz em sela, aspecto estigmatizante da sífilis ○ lesões ungueais: paroníquia e anoníquia são sinais típicos e podem acarretar alterações secundárias nas unhas ● lesões ósseas: clínica mais frequente da sífilis congênita, com comprometimento simétrico nos ossos longos ○ osteocondrite metaepifisária: lesão mais precoce e encontrada em 80% dos pacientes, mais frequente no fêmur e no úmero; muito dolorosa→ pseudoparalisia de Parrot (paralisia postural antálgica) ○ dactilite sifilítica: quando acomete os metacarpos ○ periostite: diagnosticada radiologicamente ao redor do 3º mês, acomete principalmente a tíbia, fêmur e úmero→ extenso e bilateral espessamento de aspecto estratificado da cortical das diáfises ósseas + dor ao movimento e pode ocorrer fratura ○ sinal de Wimberg: sinal radiológico → rarefação localizada na margem superior interna da tíbia, expressão clínica de uma metafisite ● lesões viscerais ○ hepatite: icterícia por deficiência de excreção da bilirrubina direta e hepatomegalia ○ esplenomegalia: mais frequente das manifestações viscerais ○ pneumonia intersticial: pneumonia alba→mais característica das lesões respiratórias e, geralmente, leva a óbito ○ renal: síndrome nefrótica devido a glomerulonefrite membranosa ou proliferativa por depósito de imunocomplexos ○ pancreática: pode ocorrer por fibrose ● outras lesões ○ anemia: predominantemente do tipo hemolítico, com teste de Coombs negativo; frequente e grave, podendo ser acompanhada por leucocitose, reação leucêmica e trombocitopenia; casos de grave evolução → coagulação intravascular disseminada ○ meningite: entre o 3º e 6º mês de vida (comprometimento mais comum do sistema nervoso, normalmente sem muita sintomatologia) → liquor tem celularidade aumentada à custa de linfócitos, além de aumento de proteínas e sorologia não treponêmica reatora ○ lesões oculares: coroidorretinite com o exame de fundo de olho de aspecto “sal e pimenta”; uveíte, ceratite intersticial, glaucoma, catarata e atrofia ótica ○ miocardite ○ síndrome de má absorção, desnutrição e baixo peso Sífilis congênita tardia ● quando a penetração dos treponemas ocorre nos últimos meses da gestação e eles são pouco virulentos ● clínica é mais evidente a partir do 3º ano de vida ● tríade de Hutchinson: achado clínico característico dessa fase → ceratite parenquimatosa, a surdez labiríntica e os dentes de Hutchinson ● lesões da córnea, dos ossos e do sistema nervoso são as mais importantes e algumas são estigmatizantes ● lesões oculares e auditivas ○ olhos: ceratite intersticial, geralmente bilateral, é a mais comum → se não tratada → cegueira; iridociclite, coroidorretinite e atrofia do nervo óptico ○ surdez labiríntica: comprometimento do VIII par craniano uni ou bilateral ● lesões osteoarticulares ○ tíbia em lâmina de sabre: osteoperiostite da tíbia ○ fronte olímpica: osteoperiostite com hiperostose dos ossos cranianos ○ nariz em sela: destruição do septo nasal ○ goma: podem ser encontradas em qualquer osso longo ou crânio, em especial o véu do paladar ○ hidrartrose de Clutton: derrame seroso nas articulações dos joelhos, sem alterações ósseas ○ sinal de Dubois: encurtamento do quinto quirodáctilo ● outras lesões ○ fígado: cirrose difusa ou mais raramente lesões gomosas ○ dentes de Hutchinson: sinal patognomônico, compreende os dentes incisivos pequenos, cônicos e com entalhes semilunares na borda cortante ○ neurológicas: meningite, em geral com pouca sintomatologia; paralisia geral juvenil, que ocorre dos 6 aos 20 anos de vida; e raramente tabes dorsalis Primária ● início: cancro duro ou protossifiloma de 21 a 30 dias após o contato infectante→ lesão geralmente única, indolor, como erosão ou ulceração com bordas endurecidas em rampa, fundo limpo, eritematoso, com pequena serosidade ○ visualização mais fácil no homem: frequentemente no sulco balanoprepucial e glande ○ na mulher: diagnosticado apenas esporadicamente por acometer principalmente o colo uterino e raramente a vulva ○ localizações extragenitais (boca e ânus) podem ser observadas ○ cancro duro não tratado: persiste por 30 a 90 dias, regredindo espontaneamente sem deixar cicatriz ○ 10 dias após o surgimento do protossifiloma→ adenopatia satélite bilateral, indolor, múltipla, sem sinais inflamatórios e não fistulizante ○ raros casos: cancro duro não se desenvolve, seja pelo contágio por meio de transfusão sanguínea ou em indivíduos que estavam em uso de antibióticos na época da contaminação, mascarando o surgimento da lesão inicial Secundária ● 50 dias a 180 dias do contágio → Treponema entra na circulação e se multiplica → roséola sifilítica: lesões exantemáticas generalizadas, simétricas e não pruriginosas ○ pode involuir em 45 dias ou surgir novas lesões maculares, papulosas, papuloescamosas ou raramente pustulosas na pele, denominadas de sifílides ○ quando em áreas úmidas e de atrito como as pregas labiais e as regiões axilares, inguinais e interglúteas → condilomas planos (pápulas ou placas erosadas extremamente contagiosas), que podem ser confundidos e tratados erroneamente como condilomas do HPV ○ mucosa genital e/ou oral: placas mucosas → múltiplas lesões erosadas com até 1 cm, em placas arredondadas ou ovais, sem sintomas ○ acometimento dos pelos: madarose, áreas de alopecia difusa no couro cabeludo ou com pelos tonsurados, chamadas de alopecia em clareira ○ unhas: paroníquia ou anoníquia ○ TODAS essas lesões involuem com ou sem tratamento, não deixando sequelas ● manifestações sistêmicas: astenia, anorexia, febre baixa, micropoliadenopatia generalizada, mialgia, artralgia, cefaleia, meningite, iridociclite, hepatite, esplenomegalia, periostite, glomerulonefrite e outras Latente ● não há manifestações clínicas visíveis Tardia ● pouco observada atualmente ● início: fase latente tardia e estende-se por vários anos ● manifestações geralmente ocorrem após o 3º ano de infecção ○ tegumentares (cutaneomucosas), viscerais (oculares, ósseas e cardiovasculares) e do sistema nervoso ● lesões não são contagiosas, ocorrendo por hipersensibilidade celular ao treponema ● envolvimento do sistema nervoso central (SNC): observado já nas fases iniciais da infecção ○ reação inflamatória da bainha de mielina, não havendo destruição anatômica das estruturas neurais ○ 10% a 40% dos pacientes não tratados→maioria é assintomática ○ logo após o contágio: sinais e sintomas neurológicos inespecíficos e comuns → cefaleia, insônia, ansiedade, obnubilação, preocupações hipocondríacas e até mesmo alucinações ● comprometimento do SNC: meningovascular e parenquimatosa Diagnóstico diferencial ● sífilis recente: cancro duro deverá ser diferenciado de todas as outras doenças causadoras de erosão e/ou ulceração na genitália, em especial o cancro mole ○ cancro misto de Rollet: sinais clínicos do cancro mole seguido do endurecimento característico do cancro duro ● diagnóstico diferencial frequente é com o herpes simples ● dúvida maior ocorre nos casos de lesões exo-ulceradas e nos casos de ulceração única, pois a aparênciaclínica das doenças se aproxima ● diferenciações devem ser realizadas com: escabiose, carcinoma espinocelular, fissuras e ulcerações traumáticas, assim como as lesões inespecíficas iniciais da donovanose e do linfogranuloma venéreo ● lesões de aftas genitais, principalmente vulvares, que podem ocorrer em muitos casos iniciais de soroconversão do HIV, confundem-se com lesões do “secundarismo” sifilítico ou até mesmo herpes genital ● roséola sifilítica e as sifílides devem ser diferenciadas entre as numerosas doenças provocadoras de exantemas (ex.: pitiríase rósea, farmacodermias, viroses, hanseníase virchowiana, colagenose, urticária etc) ● principal diagnóstico diferencial do condiloma plano é com lesões verrucosas exofíticas causadas pelo HPV (human papillomavirus) ● sífilis tardia ○ lesões gomosas: tuberculose, leishmaniose, esporotricose, entre outras doenças granulomatosas ○ neurosífilis: aneurisma congênito, meningite tuberculosa, tumor intracraniano, distúrbios psiquiátricos e emocionais Diagnóstico laboratorial e exames complementares ● pesquisa do treponema: Indicada na suspeita de cancro duro e nas lesões mucocutâneas presentes na sífilis recente ● reações sorológicas: dois tipos → treponêmicas e não treponênicas, e revelarão a presença e a quantidade de anticorpos antitreponêmicos circulantes ○ reações treponêmicas: em geral, positivam-se a partir da terceira semana de infecção, concomitante ao aparecimento do cancro duro ○ mais utilizados: FTA-Abs (Fluorescent Treponemal Antibody Absorption) IgG e IgM – a fração IgM demonstra infecção recente em atividade e negativa num tempo variável, enquanto a fração IgG mantém-se positiva permanentemente, não sendo utilizada para o controle terapêutico; MHA-Tp/TPHA (Treponema pallidum Micro Hemaglutination), ELISA (Enzyme-Lynked Immunosorbent Assay) e teste imunocromatográfico ou por aglutinação de partículas de látex (Teste Rápido) ○ reações não treponêmicas: antígeno reator sérico é a cardiolipina, evidenciando a formação de anticorpos antilipídicos ○ positivos a partir da quarta ou quinta semana após o contágio e são indicados tanto para o diagnóstico como para o seguimento terapêutico, pois seus resultados, além de qualitativos, são expressos quantitativamente (titulações seriadas 1/2, 1/4, 1/8...) ○ macro ou microfloculação: VDRL (Venereal Disease Research Laboratory) e RPR (Rapid Plasma Reagin) ○ utilizados tanto para o exame sérico como liquórico ● padrão-ouro: pesquisa direta do T. pallidum ● diagnóstico laboratorial da sífilis: necessários exames treponêmicos e não treponêmicos ● diagnóstico sorológico da sífilis congênita obedece aos mesmos parâmetros utilizados para a sífilis adquirida, porém com algumas peculiaridades na interpretação dos testes sorológicos ○ RN não infectados podem apresentar anticorpos não treponêmicos maternos transferidos através da placenta que se mantêm reagentes até o 6º mês de vida ou + ○ devem-se levar em conta a história clínico-epidemiológica da mãe, o exame físico do bebê e os resultados dos testes laboratoriais e achados radiológicos ○ sorologia não treponêmica (VDRL e RPR) é indicada para diagnóstico e seguimento terapêutico, devido à propriedade de ser passível de titulação ○ sorologia deve ser realizada no sangue do neonato → considerado diagnóstico quando o teste não treponêmico na amostra do recém-nascido apresenta um título 4x maior do que o título na amostra da mãe (confirmado em uma segunda coleta na criança) ○ RN com sorologias (VDRL/RPR) não reagentes, mas com suspeita epidemiológica → repetir esses testes após o 3º mês, devido à possibilidade de soro conversão tardia ○ sorologia treponêmica: uso limitado em recém-nascidos, pois os anticorpos IgG maternos ultrapassam a barreira placentária ● crianças maiores de 18 meses: resultado reagente de teste treponêmico confirma a infecção, pois os anticorpos maternos transferidos passivamente já terão desaparecido da circulação sanguínea da criança ● exame do líquido cefalorraquidiano (LCR) indicado em ○ pacientes com quadro de neurossífilis sintomática ○ pacientes que mantêm sorologia elevada, mesmo após tratamento correto ○ alta definitiva desses casos ○ toda criança com VDRL positivo no LCR é diagnosticada como tendo neurossífilis, independentemente de haver alterações na celularidade e/ou dosagem proteica ○ encontro de outras alterações no LCR é mais frequente nas crianças que apresentam evidências clínicas de sífilis congênita do que naquelas assintomáticas apesar de infectadas ○ caso não haja contraindicações: realizar punção lombar para a coleta de LCR com o objetivo de avaliar a celularidade, o perfil proteico e o VDRL, em todos os casos de sífilis em crianças, para a exclusão do diagnóstico de neurossífilis ○ comprometimento do SNC pelo T. pallidum ○ aspecto: claro ○ celularidade: acima de 10 linfócitos por mL (entre 5 e 9 linfócitos/mL é apenas suspeito); no período neonatal, acima de 25 linfócitos por mL ○ Dosagem das proteínas – superior a 40 mg%; no período neonatal, acima de 150 mg%; Reações sorológicas – o VDRL apresenta positividade entre 22% e 61% dos pacientes com neurossífilis; o teste RPR não se presta para o LCR (WHO, 2007); o FTA-abs no liquor é menos específico que o VDRL, mas é mais sensível ● exame radiológico ○ 70% a 90% desses casos sintomáticos as radiografias dos ossos longos revelam anormalidades metafisárias sugestivas da infecção (bandas translúcidas) ○ observa-se o envolvimento da metáfise e diáfise de ossos longos (tíbia, fêmur e úmero), com sinais radiológicos de osteocondrite, osteíte e periostite ○ recém-natos assintomáticos infectados (4% a 20%): alterações radiológicas são as únicas encontradas ○ justifica a realização desse exame em todos os casos suspeitos de sífilis congênita Tratamento Sífilis adquirida ● penicilina benzatina: altamente eficaz na prevenção da sífilis congênita ○ administração em gestantes não mostra ocorrências de reações anafiláticas ● penicilina é a única opção terapêutica que trata o feto, quando ministrada antes de 30 dias do término da gestação ● reação de Jarish-Herxheimer ○ endotoxemia causada pela destruição maciça dos treponemas com liberação de lipopolissacárides bacterianos ○ ocorre mais na fase exantemática da sífilis recente após a primeira dose do antibiótico ○ geralmente exige apenas medicações sintomáticas como analgésicos e antitérmicos comuns, involuindo espontaneamente em 12 a 48 horas, não se justificando a interrupção do esquema terapêutico ○ exacerbação das lesões, febre, calafrios, cefaleia, náuseas e artralgias ○ todo paciente com sífilis deve ser alertado quanto a essa possível reação quando instituída a terapêutica ○ em gestantes: deve-se estar alerta para a possibilidade de desencadeamento de trabalho de parto prétermo pela liberação de prostraglandinas ○ mesmos esquemas com penicilina G benzatina ○ contraindicado o uso da droga alternativa - doxiciclina Tratamento durante a gravidez ● tratamento completo deve ser efetuado o mais cedo possível ● crianças que nasceram de mães que são soropositivas para a sífilis e não tratados com penicilina com mais de 30 dias antes do parto: devem ser tratados com penicilina cristalina ou penicilina de procaína ● todos os bebês expostos a sífilis, incluindo bebês sem sinais ou sintomas ao nascer, devem ser seguidos de perto, idealmente com títulos de sorologia não treponêmica ● títulos devem diminuir aos 3 meses de idade e não serão reativos por seis meses ● testes treponêmicos não são úteis em lactentes, devido a anticorpos maternos persistentes Sífilis congênita precoce ● no período neonatal ○ RN de mães com sífilis não tratada ou inadequadamente tratada, independentemente do resultado do VDRL do recém-nascido: hemograma, radiografia de ossos longos, punção lombar (na impossibilidade de realizar esse exame, tratar o caso como neurossífilis) e outros exames, quando clinicamente indicados ○ (1) se houver alterações clínicase/ou sorológicas e/ou radiológicas e/ou hematológicas → penicilina G cristalina, na dose de 50.000 UI/kg/dose, por via intravenosa (EV), a cada 12 horas (nos primeiros sete dias de vida) e a cada 8 horas (após sete dias de vida), durante 10 dias OU penicilina G procaína 50.000 UI/kg, dose única diária, intramuscular (IM), durante 10 dias ○ (2) se houver alteração liquórica: penicilina G cristalina, na dose de 50.000 UI/kg/dose, IV, a cada 12 horas (nos primeiros sete dias de vida) e a cada 8 horas (após sete dias de vida), durante 10 dias ○ (3) se não houver alterações clínicas, radiológicas, hematológicas e/ou liquóricas, e a sorologia for negativa → penicilina G benzatina, na dose única de 50.000 UI/kg, IM + acompanhamento é obrigatório, incluindo o seguimento com VDRL sérico após a conclusão do tratamento ○ RN de mães adequadamente tratadas: realizar o VDRL em amostra de sangue periférico do recém-nascido ○ se for reagente com titulação maior do que a materna, e/ou na presença de alterações clínicas: realizar hemograma, radiografia de ossos longos e análise do LCR ○ se houver alterações clínicas e/ou radiológicas e/ou hematológica sem alterações liquóricas → tratamento igual (1) ○ se houver alteração liquórica→ tratamento igual (2) ○ RN de mães adequadamente tratadas: realizar o VDRL em amostra de sangue periférico do recémnascido ○ assintomático + VDRL não for reagente→ seguimento clínico-laboratorial ○ assintomático + VDRL reagente, com título igual ou menor que o materno→ acompanhar clinicamente ● período pós-natal (após 28 dias de vida) ○ sífilis congênita tardia ○ penicilina G cristalina na dose de 200.000 a 300.000 UI/kg/dia, IV ou IM, administrada 50.000 UI/kg/dose, a cada 4 a 6 horas, por 10 a 14 dias OU eritromicina, 7,5 a 12,5 mg/kg, VO, de 6 em 6 horas, por 30 dias ○ seguimento da criança ○ consultas ambulatoriais mensais até o sexto mês de vida e bimensais do 6º ao 12º mês ○ realizar VDRL com 1, 3, 6, 12 e 18 meses de idade, interrompendo o seguimento com dois exames consecutivos de VDRL negativos ○ realizar TPHA ou FTA-Abs para sífilis após os 18 meses de idade para a confirmação do caso ○ caso sejam observados sinais clínicos compatíveis com a infecção treponêmica congênita, deve-se proceder à repetição dos exames sorológicos, ainda que não esteja no momento previsto acima ○ diante de elevação do título sorológico ou da sua não negativação até os 18 meses de idade, reinvestigar o paciente e proceder ao tratamento ○ recomenda-se o acompanhamento oftalmológico, neurológico e audiológico semestral por dois anos ○ nos casos em que o LCR se mostrou alterado, deve ser realizada reavaliação liquórica a cada seis meses até a normalização dele; alterações persistentes indicam avaliação clínico-laboratorial completa e retratamento ○ nos casos de crianças tratadas de forma inadequada, na dose e/ou tempo do tratamento preconizado, deve-se convocar a criança para reavaliação clínico-laboratorial e reiniciar o tratamento dela obedecendo aos esquemas anteriormente descritos Controle do tratamento do casal ● VDRL é o melhor parâmetro de controle de cura da sífilis → baixa da sua titulagem sérica depois de instituída a terapêutica ○ pode haver elevação desses valores imediatamente após o tratamento, oriundo da liberação de antígenos quando da destruição dos treponemas ● testes não treponêmicos (ex.: VDRL) devem ser realizados mensalmente nas gestantes, e no restante da população (incluindo PVHIV), a cada três meses no primeiro ano de acompanhamento do paciente e a cada seis meses no segundo ano (3, 6, 9, 12, 18, 24 meses) ● resposta imunológica adequada: teste não treponêmico não reagente ou queda na titulação em duas diluições em até 6 meses para sífilis recente e queda na titulação em 2 diluições em até 12 meses para sífilis tardia ○ cicatriz sorológica (serofast): persistência de resultados reagentes em testes não treponêmicos após o tratamento adequado e com queda prévia da titulação em pelo menos duas diluições, quando descartada nova exposição de risco durante o período analisado→ não caracteriza falha terapêutica ● critérios de retratamento: reativação e/ou reinfecção ○ ausência de redução da titulação em duas diluições no intervalo de seis meses (sífilis recente, primária e secundária) ou 12 meses (sífilis tardia) após o tratamento adequado; OU aumento da titulação em duas diluições; OU persistência ou recorrência de sinais e sintomas clínicos ● se o paciente preencher os critérios de retratamento → investigação de neurossífilis por meio de punção lombar e retratamento com três doses de penicilina benzatina 2,4 milhões de UI, IM (uma vez por semana, por três semanas) ● todo paciente com sífilis ou com outra DST: sorologia anti-HIV, bem como marcadores para hepatites ● parceiro(s) sexual(is) do paciente com sífilis nunca devem ser esquecidos, solicitando sua presença ou o encaminhando para consulta em outro serviço Rubéola ● infecção viral ● geralmente: infecção leve ou assintomática em adultos ou crianças ● raramente: complicações clínicas mais graves como encefalite, artrite e trombocitopenia ● gestantes no 1º trimestre: abortamento, óbito fetal ou na síndrome da rubéola congênita ● síndrome da rubéola congênita: surdez grave, catarata, anomalias cardíacas e atraso mental ● reinfecção com rubéola pode ocorrer ● humanos são o único reservatório do vírus ● vacina é altamente eficaz ● agente etiológico: vírus da rubéola (RV), da família Togaviridae→ envolto com RNA de cadeia positiva ● transmissão: via respiratória e via hematogênica ● período de incubação: 2-3 semanas ● contágio pode acontecer 1 ou 2 dias antes da erupção cutânea e até 1 semana após ● erupção cutânea característica ○ início: face + espalha-se pelo tronco e pelas extremidades ● pode ser assintomática em 25% a 50% dos casos ● RV atravessa a barreira placentária→ dissemina-se nos tecidos fetais ○ efeito do vírus no feto depende do momento de sua infecção → quanto mais próximo da concepção, maior é o dano produzido ● aborto espontâneo pode ocorrer em mais de 20% dos casos quando a infecção materna por rubéola se dá nas primeiras 8 semanas de gestação ● síndrome da rubéola congênita: decorre da teratogênese do RV e pode apresentar anomalias congênitas como: alterações cardíacas (ducto arterioso persistente, defeitos do septo interatrial ou interventricular, estenose da artéria pulmonar), restrição de crescimento fetal intrauterino, microcefalia, hipoacusia neurossensorial, catarata congênita, microftalmia e retinopatia ● outras alterações transitórias: hepatoesplenomegalia, meningoencefalite, trombocitopenia e radioluscência óssea Fisiopatologia ● inibição da divisão celular vírus-induzida e os efeitos citopáticos diretos Diagnóstico ● suspeita clínica ou laboratorial da infecção na mãe (por meio da presença de imunoglobulinas séricas específicas – IgM e IgG) leva necessariamente à pesquisa do comprometimento fetal ● diagnóstico da infecção: diretamente, pela pesquisa do vírus no feto ou, indiretamente, pela constatação de sinais ultrassonográficos característicos da síndrome da rubéola congênita ● avaliação do líquido amniótico (coletado por amniocentese) é realizada pelo método RT-PCR (reação em cadeia da polimerase após transcrição reversa) ● pesquisa no sangue fetal (coletado por cordocentese) busca a identificação da IgM específica ● muitos sinais da síndrome podem ser identificados na vida pré-natal por meio da ultrassonografia, complementada, quando necessário, pela ressonância magnética: cardiopatias congênitas, microcefalia, alterações cerebrais, CIUR (crescimento intrauterino restrito), além de sinais de infecção grave aguda fetal, comum a várias infecções congênitas, que podemos chamar de “sepsis fetal”, podendo ser constatada por hepatoesplenomegalia, calcificações abdominais, ascite e até mesmo sinais de hidropsia fetal Tratamento ● tratamento fetal eficaz durante a gestação não existe no presente Citomegalovírus(CMV) ● um dos agentes etiológicos mais comuns entre os causadores de infecção congênita e perinatal ● herpesvírus com dupla hélice de DNA ● transmissão: contato com sangue, saliva, urina ou por contato sexual com pessoas infectadas ● 2º maior causa de acometimento viral em humanos (perde apenas para o vírus da gripe) Quadro clínico ● período de incubação: 28 a 60 dias, com média de 40 dias ● infecções primárias: produzem resposta humoral por imunoglobulina M (IgM) que desaparece em média em 30 a 60 dias, podendo eventualmente ser detectada em kits comerciais do teste ELISA (Enzyme Linked Immunosorbent Assay) ultrassensíveis por até 300 dias ● viremia: costuma ocorrer em duas a três semanas após a inoculação ● infecção primária em adultos geralmente é assintomática, mas podem ocorrer febre, mal-estar, mialgia e calafrios, além de leucocitose, linfocitose e testes de função hepática anormais ● reativação posterior da doença pode ocorrer em 5% a 15% dos indivíduos acometidos ● excreção viral do CMV pode durar anos após a primoinfecção ● infecção recorrente materna tem efeitos menos devastadores, restrita apenas a um quadro clínico similar ao das viroses mais comuns e autolimitado, como o da gripe comum ● fetos com infecção congênita decorrente de infecção primária materna→ 10% a 15% apresentam sintomas e sinais ao nascimento, sendo as manifestações clínicas mais comuns hepatoesplenomegalia, calcificações hepáticas, ascite, intestino hiperecogênico, cardiomegalia, derrame pericárdico e/ou pleural, calcificações intracranianas periventriculares, ventriculomegalia, microcefalia, icterícia, restrição de crescimento geralmente simétrica, hidropisia, coriorretinite e perda auditiva ● quadro agudo de infecção primária, a transmissão vertical para o feto pode ocorrer em 40% a 50% dos casos ● disrupções malformativas fetais são mais frequentes e mais graves quando a infecção ocorre em fases mais precoces da gestação ● elevada incidência de perda auditiva causada pelo CMV na população em geral Diagnóstico ● sorologia compatível com infecção primária ou recorrente materna, mas principalmente após a detecção de achados ultrassonográficos fetais sugestivos da infecção ● infecção primária materna: definida pela soroconversão de IgM anti-CMV, detectada pelo teste ELISA, ou pela presença de IgG antiCMV em pacientes com sorologia IgG e IgM negativas antes da gravidez ● diagnóstico da recorrência da infecção é suspeitado quando há aumento dos títulos de IgG anti-CMV ou nova soroconversão de IgM, na presença de IgG reagente previamente ● PCR) para a confirmação da infecção do feto, em amostras de líquido amniótico, sangue ou placenta Tratamento ● ganciclovir e foscarnet→ controverso Herpes ● herpes-vírus simples (HSV) ● lesões na pele e mucosas dos órgãos genitais masculinos e femininos ● surto herpético: vesículas únicas ou agrupadas na região dos genitais, períneo, nádegas, parte superior das coxas ou áreas perianais, que costumam ulcerar antes de desaparecer ● sintomas da infecção primária: mal-estar, febre ou adenopatia localizada ○ vesículas dolorosas ou úlceras no trato genital, febre, linfoadenopatia, disúria ou outros sintomas geniturinários não específicos ● HSV-1 parece ser mais prevalente entre as infecções do trato genital feminino ● perdura ao longo da vida, apresentando surtos de reativação periódicos ● portador, mesmo que assintomático, pode ser também transmissor ● transmissão: contato direto da mucosa→ replicação na derme e epiderme ● infecção primária: HSV-1 ou HSV-2 é detectado a partir de lesões genitais sem evidência sorológica de infecção prévia ● infecção não primária: o HSV-1 é detectado a partir de lesões genitais em um indivíduo com anticorpos HSV-2, ou vice-versa ● infecção recorrente: HSV-1 ou HSV-2 é isolado em mulheres com evidência sorológica de infecção para esse tipo de HSV em lesões genitais com episódios prévios ● aquisição materna de HSV-1 ou HSV-2 próximo ao parto→ 60% a 80% dos casos de infecção neonatal ● mulheres com HG recorrente apresentam menor risco de infecção neonatal de HSV (2%) quando comparadas com aquelas sem infecção prévia (25%) ou com infecção primária (57%) Diagnóstico ● essencialmente clínico (anamnese e exame físico) ● cultura e a biópsia raramente são utilizadas ● características clínicas: pequenas vesículas que se agrupam nos genitais masculinos e femininos ○ algumas vezes: lesões estão presentes dentro do meato uretral ou, por contiguidade, podem atingir a região anal e perianal, de onde se disseminam se o sistema imunológico estiver debilitado ● lesões do HG costumam regredir espontaneamente, mesmo sem tratamento, nos indivíduos imunocompetentes ● sintomas: ardor, prurido, formigamento e adenomegalia, que podem anteceder a erupção cutânea ○ hiperemia aparece alguns dias após → evolui para vesículas agrupadas → se rompem formando exulceração dolorosa→ cicatrização ○ vírus migra pela raiz nervosa até alojar-se num gânglio neural, onde permanece quiescente até a recidiva seguinte Tratamento ● 3 medicamentos antivirais da categoria B: aciclovir, fanciclovir e valaciclovir ● não existe ainda tratamento eficaz quanto à cura da doença ● primoinfecção ○ aciclovir 400 mg três vezes ao dia (7 a 14 dias) ○ fanciclovir 250 mg três vezes ao dia (7 a 14 dias) ○ valaciclovir 1.000 mg duas vezes ao dia (7 a 14 dias) ● recorrente ○ aciclovir 400 mg três vezes ao dia (5 dias) ○ fanciclovir 125 mg duas vezes ao dia (5 dias) ○ valaciclovir 500 mg duas vezes ao dia (5 dias) ● supressão ○ aciclovir 400 mg uma vez ao dia (6 meses) ○ fanciclovir 250 mg duas vezes ao dia (6 meses) ○ valaciclovir 500/1.000 mg uma vez ao dia (6 meses) Escolha da via de parto ● recomendas-e que uma cesariana seja realizada sempre que as lesões ativas estiverem presentes no início do trabalho, com membranas íntegras ou rotas a menos de 6 horas ●