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Aula 28 – Prosa de 30 99 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO Questão 01 (Uern 2015) Considere o texto e a imagem a seguir. O decênio de 1930 teve como característica própria um grande surto do romance, tão brilhante quanto o que se verificou entre 1880 e 1910, e que apenas em pequena parte dependeu da estética modernista. (Antônio Candido e J. Aderaldo Castello. Presença da Literatura Brasileira: Modernismo. São Paulo / Rio de Janeiro: Difel, 1979.) O comentário do especialista associado à imagem apresenta e representa características importantes da prosa modernista da geração de 1930. Em relação à produção literária identificada, assinale a alternativa correta. a) A preocupação com a documentação da realidade presente no Pré-Modernismo é retomada. b) Utiliza-se uma linguagem rebuscada objetivando demonstrar a importância do tema abordado. c) O regionalismo é explorado de forma preconceituosa, demonstrando com exagero a situação difícil das regiões retratadas. d) O desejo por um país melhor, isento de desigualdades sociais, faz com que os romancistas de 1930 descrevam cenários e personagens idealizados. Questão 02 (Upe-ssa 3 2016) A literatura de 1930 é demarcada por uma temática social, em que o urbano e o rural se intercruzam, haja vista os romances de José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Jorge Amado. Os dois primeiros autores dão prioridade às histórias que transcorrem em espaço rural; a mesma coisa já não se pode afirmar em relação à obra de Jorge Amado, pois grande parte dela tem como ambiente a cidade da Bahia, atual Salvador. Com base no exposto, observe as imagens a seguir: Analise as seguintes afirmativas: I. As três imagens referem-se, de modo simultâneo, às obras dos romancistas de trinta, José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Jorge Amado, pois a produção artística desses autores relata acontecimentos que ocorrem nos três espaços representados nas imagens expostas. II. Dos três autores mencionados, dois deles têm textos memorialistas, Graciliano Ramos, por relatar as memórias dos anos que passou na prisão, e Jorge Amado, quando narra a história dos amores de Gabriela com Nacib e de Dona Flor com os seus dois maridos. III. Há antagonismo entre as imagens 1, 2 e 3, respectivamente, com os romances de José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Jorge Amado os quais, pelo fato de fazerem parte da geração denominada regionalista, mimetizam, de modo crítico, aspectos da realidade que têm por cenários o campo e a cidade. IV. A imagem 2 representa o espaço onde transcorrem os acontecimentos relatados nos romances do ciclo do açúcar, de José Lins do Rego, enquanto a 3 relaciona-se com o cenário da seca, tema central de Vidas Secas. Trata-se de uma narrativa de Graciliano Ramos, na qual o animal e o homem se equivalem, pois, enquanto Fabiano se considera “bicho”, Baleia nutre sentimentos humanos. V. Dos três autores, o único que apresenta, na maioria de seus romances, um cenário urbano tal qual se encontra representado na imagem 3 é Jorge Amado, cuja crítica social se volta para acontecimentos na cidade da Bahia, atual Salvador. Está(ão) CORRETA(S) apenas a) I, II e III. b) I e II. c) IV. d) I e V. e) I, III e IV. Questão 03 (Unisc 2016) Leia atentamente o trecho do romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, e, depois, analise as afirmativas a seguir. “Novamente a cavalo no pedrês, Vicente marchava através da estrada vermelha e pedregosa, orlada pela galharia negra da caatinga morta. Os cascos do animal pareciam tirar fogo nos seixos do caminho. Lagartixas davam carreirinhas intermitentes por cima das folhas secas no chão que estalavam como papel queimado. O céu, transparente que doía, vibrava, tremendo feito uma gaze repuxada. Vicente sentia por toda parte uma impressão ressequida de calor e aspereza. Verde, na monotonia cinzenta da paisagem, só algum juazeiro ainda escapo à devastação da rama; mas em geral as pobres árvores apareciam lamentáveis, mostrando os cotos dos galhos como membros amputados e a casca toda raspada em grandes zonas brancas. E o chão, que em outro tempo a sombra cobria, era uma confusão 100 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) desolada de galhos secos, cuja agressividade ainda mais se acentuava pelos espinhos. (...) Quando Vicente se despediu, e montou ligeiro no cavalo que arrancou de galope, Conceição estirou-se na rede e ficou olhando o vulto branco que a poeira ruiva envolvia, até o ver se sumir atrás de um grupo de umarizeiras da várzea. Todo o dia a cavalo, trabalhando, alegre e dedicado, Vicente sempre fora assim, amigo do mato, do sertão, de tudo o que era inculto e rude. Sempre o conhecera querendo ser vaqueiro como um caboclo desambicioso, apesar do desgosto que com isso sentia a gente dele. E a moça lembrou-se de certa vez, em casa do Major, no dia em que se inaugurou o gramofone, e as meninas, e ela própria, que também estava lá, puseram-se a dançar. Os pares eram o filho mais velho da casa – hoje casado e promotor no Cariri – e dois outros rapazes, colegas dele, que tinham vindo passar as férias no sertão.” QUEIROZ, Rachel de. O Quinze. São Paulo: Siciliano, 1993, p. 13-17. I. O trecho apresenta um narrador em primeira pessoa. II. Os personagens não apresentam um grande aprofundamento psicológico. III. Nos parágrafos citados, observa-se uma identificação entre o espaço e o personagem masculino. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II estão corretas. b) Somente as afirmativas II e III estão corretas. c) Somente as afirmativas I e III estão corretas. d) Nenhuma afirmativa está correta. e) Todas as afirmativas estão corretas. TEXTO Na América Latina do século XX, em incontáveis momentos, a criação artística articulou-se com utopias ou perspectivas de transformação social. Em diferentes contextos, artistas usaram sua produção para corroborar determinados projetos políticos ou consentiram que suas criações fossem apropriadas e sustentadas por movimentos políticos, dentro ou fora do Estado. PRADO, Maria Ligia e PELLEGRINO, Gabriela. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2014, p. 187-188. Questão 04 (Puccamp 2017) É exemplo de uma literatura engajada em projetos de transformação social uma parte expressiva da obra romanesca de Jorge Amado, na qual, por exemplo, ressalta, em tom de denúncia, a) o melancólico final dos velhos engenhos açucareiros da Paraíba, como narrado nostalgicamente em Fogo morto. b) a reação da sociedade conservadora à vida marginal dos meninos abandonados, exposta com crueza em Capitães da areia. c) a brutalidade dos coronéis nordestinos do início do século, de hábitos ainda escravocratas, tal como se registra em São Bernardo. d) os hábitos autoritários da casta favorecida pela industrialização do cacau, apontados em Os velhos marinheiros. e) o papel político revolucionário assumido no sertão baiano pela protagonista de Gabriela, cravo e canela. TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES: Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o 1lazareto. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinhamdinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam: Ele é mesmo nosso pai e é quem pode nos ajudar... Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida: Ora, adeus, ó meus filhinhos, Qu’eu vou e torno a vortá... E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele. Jorge Amado, Capitães da Areia. 1lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças. Questão 05 (Fuvest 2016) Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento a) o experimentalismo estético, de caráter vanguardista, visível no abundante emprego de neologismos. b) o tratamento preferencial de realidades bem determinadas, com foco nos problemas sociais nelas envolvidos. c) a utilização do determinismo geográfico e racial, na interpretação dos fatos narrados. d) a adoção do primitivismo da “Arte Negra” como modelo formal, à semelhança do que fizera o Cubismo europeu. e) o uso de recursos próprios dos textos jornalísticos, em especial, a preferência pelo relato imparcial e objetivo. Questão 06 (Fuvest 2016) Apesar das diferenças notáveis que existem entre estas obras, um aspecto comum ao texto de Capitães da Areia, considerado no contexto do livro, e Vidas secas, de Graciliano Ramos, é a) a consideração conjunta e integrada de questões culturais e conflitos de classe. b) a reprodução fiel da variante oral-popular da linguagem, como recurso principal na caracterização das personagens. c) o engajamento nas correntes literárias nacionalistas, que rejeitavam a opção por temas regionais. d) o emprego do discurso doutrinário, de caráter panfletário e didatizante, próprio do “realismo socialista”. e) o tratamento enfático e conjugado da mestiçagem racial e da desigualdade social. Aula 28 – Prosa de 30 101 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência Questão 07 (Fuvest 2016) Considere as seguintes afirmações referentes ao texto de Jorge Amado: I. Do ponto de vista do excerto, considerado no contexto da obra a que pertence, a religião de origem africana comporta um aspecto de resistência cultural e política. II. Fica pressuposta no texto a ideia de que, na época em que se passa a história nele narrada, o Brasil ainda conservava formas de privação de direitos e de exclusão social advindas do período colonial. III. Os contrastes de natureza social, cultural e regional que o texto registra permitem concluir corretamente que o Brasil passou por processos de modernização descompassados e desiguais. Está correto o que se afirma em a) I, somente. b) II, somente. c) I e II, somente. d) II e III, somente. e) I, II e III. Questão 08 (Ufba 2012) O Mulungu do bebedouro cobria-se de arribações. Mau sinal, provavelmente o sertão ia pegar fogo. Vinham em bandos, arranchavam-se nas árvores da beira do rio, descansavam, bebiam e, como em redor não havia comida, seguiam viagem para o sul. O casal agoniado sonhava desgraças. O sol chupava os poços, e aquelas excomungadas levavam o resto da água, queriam matar o gado. Sinha Vitória falou assim, mas Fabiano resmungou, franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves matarem bois e cabras, que lembrança! Olhou a mulher, desconfiado, julgou que ela estivesse tresvariando. [...] Fabiano estirou o beiço e enrugou mais a testa suada: impossível compreender a intenção da mulher. [...] — Chi! Que fim de mundo! Não permaneceria ali muito tempo. No silêncio comprido só se ouvia um rumor de asas. Como era que sinha Vitória tinha dito? A frase dela tornou ao espírito de Fabiano e logo a significação apareceu. As arribações bebiam a água. Bem. O gado curtia sede e morria. Muito bem. As arribações matavam o gado. Estava certo. Matutando, a gente via que era assim, mas sinha Vitória largava tiradas embaraçosas. Agora Fabiano percebia o que ela queria dizer. Esqueceu a infelicidade próxima, riu-se encantado com a esperteza de sinha Vitória. Uma pessoa como aquela valia ouro. Tinha ideias, sim senhor, tinha muita coisa no miolo. Nas situações difíceis encontrava saída. Então! Descobrir que as arribações matavam o gado! E matavam. Àquela hora o mulungu do bebedouro, sem folhas e sem flores, uma garrancharia pelada, enfeitava-se de penas. [...] Alargou o passo, desceu a ladeira, pisou a terra de aluvião, aproximou-se do bebedouro. Havia um bater doido de asas por cima da poça de água preta, a garrancheira do mulungu estava completamente invisível. Pestes. Quando elas desciam do sertão, acabava-se tudo. O gado ia finar-se, até os espinhos secariam. Suspirou. Que havia de fazer? Fugir de novo, aboletar-se noutro lugar, recomeçar a vida. [...] RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 74. ed. Rio de Janeiro/São Paulo: Record. 1998, p. 108-110. De acordo com esse trecho de Vidas Secas, inserido na obra, é verdadeiro o que se afirma nas proposições 01) A personagem Fabiano aparece nessa narrativa — uma produção regionalista do Modernismo da década de 30 — como um representante do sertanejo, de consciência embotada e raciocínio lento. 02) O texto apresenta mais de um sujeito discursivo, pois a personagem sinha Vitória vai gradativamente ocupando todo o espaço no pensamento de Fabiano. 04) A personagem Fabiano, no seu circuito de fugas sem causas bem determinadas, torna-se cada vez mais fragilizada aos olhos da família. 08) O pensamento de sinha Vitória incita a curiosidade de Fabiano e ele percebe a realidade da seca transfigurada poeticamente. 16) Sinha Vitória, na narrativa, representa um elemento humano que possui um olhar capaz de compactar uma multiplicidade de imagens no sertão nordestino. 32) A narrativa deixa evidente um estilo pseudoacadêmico do narrador, que prevalecerá por toda a obra. Questão 09 (Upe 2015) “No dia seguinte, Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio, notou que as operações de Sinhá Vitória, como de costume, diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a diferença era proveniente de juros. Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria! O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda. Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra à toa, pedia desculpa. [...] O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o chapéu varrendo o tijolo. [...] Sentou-se numa calçada, tirou do bolso o dinheiro, examinou-o, procurando adivinhar quanto lhe tinham furtado. Não podia dizer em voz alta que aquilo era um furto, mas era. Tomavam-lhe o gado quase de graça e ainda inventavam juro. Que juro! O que havia era safadeza.” Sobre o fragmento do capítulo Contas, do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, assinale a alternativa CORRETA. a) Ao se referir a Sinhá Vitória, Fabiano admite que “a mulher tinha miolo.” Essa afirmação significa que a esposa era inteligente,tinha frequentado escola, sabia fazer conta, diferentemente dele, que “era bruto”, pois, também, não sabia ler nem fazer conta, nunca havia frequentado a escola. b) Quando o narrador personagem afirma que “O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o chapéu varrendo o tijolo,” significa que a personagem percebeu que a altivez era a única arma que possuía para enfrentar o proprietário das terras onde trabalhava, por isso resolveu camuflar o orgulho saindo sem dar as costas ao amo. c) No final do segundo parágrafo, quando se lê: “Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!”, tem-se um discurso direto, pois o narrador se afasta e deixa Fabiano demonstrar, de forma direta, que tem a consciência da exploração do patrão quando faz uso dos verbos no presente. d) Graciliano Ramos cria duas comparações ao usar o vocábulo 102 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) branco para designar o patrão e, posteriormente, ao atribuir ao narrador o enunciado: “Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!” coloca a personagem na condição de submisso, tal qual a de um escravo sem direito à liberdade, o que contraria os princípios do romance regionalista de 1930. e) Há algumas expressões usadas por Graciliano Ramos que quebram a verossimilhança existente entre a linguagem, a condição social e o nível de escolaridade de Fabiano, pois são metáforas eruditas, tais como: “perdeu os estribos”, batendo no chão como cascos” e “baixou a pancada e amunhecou”. Texto I “Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para este mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...” (Assis, Machado de, Memórias póstumas de Brás Cubas. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. p. 159) Texto II “Passemos por alto sobre os anos que decorreram desde o nascimento e batizado do nosso memorando, e vamos encontrá-lo já na idade de sete anos. Digamos unicamente que durante todo esse tempo o menino não desmentiu aquilo que anunciara desde que nasceu: atormentava a vizinhança com um choro sempre em oitava alta; era colérico; tinha ojeriza particular à madrinha, a quem não podia encarar, e era estranhão até não poder mais.” (Almeida, Manuel Antônio de, Memórias de um sargento de milícias. São Paulo: Panda Books, 2015, p. 14.) Texto III “Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça dos cabritos. Mas como não tinha roça e apenas se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e milho, comia da feira, desfazia-se dos animais, não chegava a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um cabrito. Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, que é do chão não se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgava-se, engolia em seco. Transigindo com outro, não seria roubado tão descaradamente. Mas receava ser expulso da fazenda. E rendia-se.” (Ramos, Graciliano, Vidas secas. - 92.ª ed. – Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 93) Questão 10 (Usf 2016) O processo de construção de um romance perpassa por variados elementos, entre os quais o tempo, espaço, tema, narrador e os personagens. Analise as assertivas a respeito dos romances lidos e das técnicas de elaboração narrativa e assinale o que for correto. I. Vidas secas, Memórias de um sargento de milícias e Memórias póstumas de Brás Cubas, de forma mais ou menos acentuada, têm em comum a presença do recurso conhecido por discurso indireto livre. II. A sobriedade formal do narrador em terceira pessoa do texto III contrasta com a atitude desafiadora e a irreverência com que se porta o narrador do texto I. III. Os excertos I e II apresentam traços em comum, como a conversa com o leitor e a ausência de idealização. IV. As obras lidas registram uma abordagem que suscita uma análise crítica da sociedade da época: a exploração do homem pelo homem, tanto no aspecto psicológico, como no aspecto político-social. V. As obras de onde foram retirados os excertos I e III apresentam como traço comum a presença de análise psicológica, ainda que o objetivo maior de Vidas secas seja a denúncia da miséria derivada da seca. É correto o que se afirma apenas em a) I, II, III e V. b) II, III e IV. c) II, III e V. d) I, IV e V. e) I, II, III, IV e V. Questão 11 (Espm 2017) A respeito da obra São Bernardo, de Graciliano Ramos, o crítico literário e professor João Luiz Lafetá afirma: Todo valor se transforma – ilusoriamente – em valor de troca. E toda relação humana se transforma – destruidoramente – numa relação entre coisas, entre possuído e possuidor. Tal é a relação estabelecida entre Paulo Honório e o mundo. Seu desenvolvido sentimento de propriedade leva-o a considerar todos que o cercam como coisas que se manipulam à vontade e se possui. O trecho de São Bernardo que melhor exemplifica a análise do crítico literário é: a) “Com efeito, se me escapa o retrato moral de minha mulher, para que serve esta narrativa? Para nada, mas sou forçado a escrever.” b) “Madalena entrou aqui cheia de bons sentimentos e bons propósitos. Os sentimentos e os propósitos esbarraram com a mi- nha brutalidade e o meu egoísmo.” c) “Bichos. As criaturas que me serviram durante anos eram bichos. Havia bichos domésticos, como o Padilha, bichos do mato, como Casimiro Lopes, e muitos bichos para o serviço do campo, bois mansos.” d) “E a desconfiança terrível que me aponta inimigos em toda a parte! A desconfiança é também uma consequência da profissão.” e) “A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste.” Questão 12 (Enem PPL 2015) TEXTO I Quem sabe, devido às atividades culinárias da esposa, nesses idílios Vadinho dizia-lhe “Meu manuê de milho verde, meu acarajé cheiroso, minha franguinha gorda”, e tais comparações gastronômicas davam justa ideia de certo encanto sensual e caseiro de dona Flor a esconder-se sob uma natureza tranquila e dócil. Vadinho conhecia-lhe as fraquezas e as expunha ao sol, aquela ânsia controlada de tímida, aquele recatado desejo fazendo-se violência e mesmo incontinência ao libertar-se na cama. AMADO, J. Dona Flor e seus dois maridos. São Paulo: Martins, 1966. TEXTO II As suas mãos trabalham na braguilha das calças do falecido. Dulcineusa me confessou mais tarde: era assim que o marido gostava de começar as intimidades. Um fazer de conta que era outra coisa, a exemplo do gato que distrai o olhar enquanto segura a presa nas patas. Esse o acordo silencioso que tinham: ele Aula 28 – Prosa de 30 103 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência chegava em casa e se queixava que tinha um botão a cair. Calada, Dulcineusa se armava dos apetrechos da costura e se posicionava a jeito dos prazeres e dos afazeres. COUTO, M. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. Tema recorrente na obra de Jorge amara, a figura feminina aparece, no fragmento, retratada de forma semelhante à quese vê no texto do moçambicano Mia Couto. Nesses dois textos, com relação ao universo feminino em seu contexto doméstico, observa-se que a) desejo sexual é entendido como uma fraqueza moral, incompatível com a mulher casada. b) a mulher tem um comportamento marcado por convenções de papéis sexuais. c) à mulher cabe o poder da sedução, expresso pelos gestos, olhares e silêncios que ensaiam. d) a mulher incorpora o sentimento de culpa e age com apatia, como no mito bíblico da serpente. e) a dissimulação e a malícia fazem parte do repertório feminino nos espaços público e íntimo. Questão 13 (Enem 2003) A velha Totonha de quando em vez batia no engenho. E era um acontecimento para a meninada. (..) andava léguas e léguas a pé, de engenho a engenho, como uma edição viva das histórias de Mil e Uma Noites (..) era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de prodígio. Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas. (..) Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações. O que fazia a velha Totonha mais curiosa era a cor local que ela punha nos seus descritivos. (..) Os rios e as florestas por onde andavam os seus personagens se pareciam muito com o Paraíba e a Mata do Rolo. O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco. (José Lins do Rego. "Menino de engenho") A cor local que a personagem velha Totonha colocava em suas histórias é ilustrada, pelo autor, na seguinte passagem: a) "O seu Barba-Azul era um senhor de engenho de Pernambuco". b) "Havia sempre rei e rainha, nos seus contos, e forca e adivinhações". c) "Era uma grande artista para dramatizar. Tinha uma memória de prodígio". d) "Andava léguas e léguas a pé, como uma edição viva das Mil e Uma Noites". e) "Recitava contos inteiros em versos, intercalando pedaços de prosa, como notas explicativas". Questão 14 (Uel) Refere-se a José Lins do Rego a seguinte afirmação: a) Tão próximo do estilo oral, ele nos narra o que viu e o que sabe da vida do nordeste, sobretudo da agonia dos engenhos e das personagens que não se livram do peso do passado. b) Suas personagens podem parecer secas como a natureza da caatinga, mas isso não lhes elimina a complexidade psicológica, que este autor faz ver com seu estilo duro, preciso, objetivo. c) Ninguém o superou em sua forma de ironizar, em sua capacidade de tratar dos assuntos mais graves com um humor impiedoso, fruto da inteligência e da melancolia. d) Em seus contos de estreia já se podia prever o grande romancista, podia-se pressentir o fôlego maior de uma linguagem revolucionária, aberta à invenção e ao falar sertanejo das suas Gerais. e) Seu regionalismo é saboroso e arrebatador, transportando-nos para o tempo heroico das sagas gaúchas e fazendo-nos viver as histórias violentas das famílias em conflito. Questão 15 (Enem 2015) Exmº Sr. Governador: Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928. [...] ADMINISTRAÇÃO Relativamente à quantia orçada, os telegramas custaram pouco. De ordinário vai para eles dinheiro considerável. Não há vereda aberta pelos matutos que prefeitura do interior não ponha no arame, proclamando que a coisa foi feita por ela; comunicam-se as datas históricas ao Governo do Estado, que não precisa disso; todos os acontecimentos políticos são badalados. Porque se derrubou a Bastilha - um telegrama; porque se deitou pedra na rua - um telegrama; porque o deputado F. esticou a canela - um telegrama. Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929. GRACILlANO RAMOS RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São Paulo: Martins Fontes, 1962. O relatório traz a assinatura de Graciliano Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos Índios, e é destinado ao governo do estado de Alagoas. De natureza oficial, o texto chama a atenção por contrariar a norma prevista para esse gênero, pois o autor a) emprega sinais de pontuação em excesso. b) recorre a termos e expressões em desuso no português. c) apresenta-se na primeira pessoa do singular, para conotar intimidade com o destinatário. d) privilegia o uso de termos técnicos, para demonstrar conhecimento especializado. e) expressa-se em linguagem mais subjetiva, com forte carga emocional.