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amérIca portugueSa: expanSão e dIverSIdade econômIca 97 1 análise de imagens As figuras abaixo são reproduções de retratos de monarcas. A primeira foi feita por Hyacinthe Rigaud em 1694 e retrata o monarca francês Luis XIV. A segunda é uma pintura de Dom João VI, rei de Portugal, feita por Jean-Baptiste Debret, em 1817. eXerCíCios De História a) Descreva as duas pinturas, destacando os recursos que os artistas utilizaram para valorizar a imagem dos monarcas. b) Preste atenção agora nas figuras abaixo, que representam os bandeirantes paulistas. A primeira é do artista Henrique Bernardelli, intitulada Ciclo de caça ao índio, feita em 1923. A segunda é uma escultura em bronze de Manuel de Borba Gato, feita por Nicola Rollo em 1921. H e n ri q u e B e rn a rd e ll i/ M u s e u P a u li s ta d a U S P, S ã o P a u lo . H é li o N o b re /A c e rv o d o M u s e u P a u li s ta d a U S P, S ã o P a u lo . J e a n -B a p ti s te D e b re t/ M u s e u N a c io n a l d e B e la s A rt e s , R io d e J a n e ir o . H y a c in th e R ig a u d /M u s e u d o L o u v re , P a ri s , F ra n ç a . HGB_v2_PNLD2015_084a098_u1c07.indd 97 3/21/13 3:30 PM 98 europa, o centro do mundo Quase todo o comércio feito no Brasil depende dos produtos vindos da Europa. Em matéria de gê- neros alimentícios, o país recebe de Portugal medíocres quantidades de farinha, de vinho do Porto e de especiarias, o suficiente para satisfazer a frugalidade portuguesa. O comércio de produtos de luxo é infinitamente mais significativo. Importa-se de tudo: peças de ouro e prata, galões, tecidos finos diversos, toalhas e uma série de outras mercadorias da moda, produzidas, na sua maioria, pelas manufaturas francesas. Uma vez por ano, entre os meses de setembro e outubro, Lisboa envia para a sua colônia, sob escolta de três ou quatro navios de guerra, uma frota carregada com esses produtos. Esta frota, após distribuir a sua carga pela Bahia de Todos os Santos, Pernambuco e Rio de Janeiro, é carregada com ouro e alguns diamantes – provenientes dos Direitos do Rei ou perten- centes a alguns particulares interessados em remeter suas riquezas para Portugal – e volta a se reunir na Bahia em dezembro ou janeiro, retornando daí para Lisboa. Do país, os navios mercantes portugueses levam, além do ouro e da pedraria, somente tabaco, açúcar e algodão – este último, ao que parece, produzido contra a vontade da metrópole. [...] O gado grosso é bastante comum no Rio de Janeiro, pois os padres jesuítas se encarregam de cuidar da sua conservação e reprodução. Para formar os seus rebanhos, esses religiosos fazem capturar nos bosques os vitelos e as novilhas selvagens, depois mandam abater uma parcela dos primeiros e confi- nam o restante, juntamente com as novilhas, nos muitos currais que têm, espalhados ao longo da costa do Brasil. Este processo lhes permite fornecer carne para todo o país. [...] Os porcos abundam no país e são vendidos a um preço igual ou inferior aos praticados na Bretanha. A carne destes animais, contudo, tem um inconveniente: como os habitantes têm o hábito de alimentar os seus porcos com peixe, ela apresenta um gosto demasiado forte de pescado. As galinhas são grandes, bonitas e de qualidade; seu preço, contudo, é bastante elevado. Em geral, são vendidas a três libras francesas. [...] O país produz uma grande quantidade de frutas: laranjas, limões de diferentes espécies, figos, bananas, abacaxis, batatas-doces, melões d’água, pistaches, etc. Há também muitas hortaliças e legumes varia- dos (couves, jerimuns, ervilhas, abóboras, etc). O peixe é tão abundante que todo mundo tem por hábito secá-lo e estocá-lo, seja para consumo dos fami- liares, seja para a alimentação dos escravos. Apesar dessa prática, sobra ainda uma grande quantidade de pescado para ser usada como alimento para os porcos. FRANCA, Jean M. Carvalho. Um visitante do Rio de Janeiro colonial. Revista Brasileira de História [on-line].1997, v. 17, n. 34. p. 149-161. a) De acordo com o relato anônimo, quais produtos eram importados da Europa? b) O que a utilização de produtos europeus permite revelar sobre o cotidiano e os hábitos coloniais? c) Descreva os produtos locais destinados ao consumo e os produtos destinados à exportação, conforme o relato do viajante francês. Que semelhança as duas representações dos bandeirantes têm com os quadros dos monarcas europeus? c) Pelo que você estudou no capítulo sobre bandeirismo e sobre a situação da capitania de São Vicente nos séculos XVI e XVII, a imagem do bandeirante mostrada nas pinturas é condizente com a situação dos paulistas e da vila de São Paulo? Explique. d) Note que as duas representações dos bandeirantes são posteriores às pinturas dos monarcas. Porém, as duas foram feitas na mesma época: a década de 1920. Pesquise o que acontecia no estado de São Paulo nesse período. e) Com base em suas pesquisas, procure explicar por que Henrique Bernardelli e Nicola Rollo repre- sentaram os bandeirantes com as características que você observou. Que intenções estariam por trás dessa forma de representação? 2 Análise de documento histórico O texto a seguir é um relato anônimo de 1748, escrito a partir da passagem de um navio francês pelo Rio de Janeiro. Leia-o e responda às questões propostas. HGB_v2_PNLD2015_084a098_u1c07.indd 98 25/03/2013 15:23 A América espanhola e a América inglesa8 cAPítuLo 99 p Tratado de Penn com os indígenas, pintura de edward hicks, do sécu- lo XIX, representando o fundador da colônia da pensilvânia, William penn, com um grupo de nativos americanos em 1682. B e tt m a n n /C o r b is /L a ti n s to c k cultura, dominação e refugiados Não podemos entender completamente o signifi cado da coloniza- ção do continente americano sem estudarmos a América do Norte, em especial o caso dos Estados Unidos. Inicialmente, as 13 colônias inglesas na América do Norte foram colonizadas, em grande parte, por indivíduos vitimados por difi culdades econômicas, pela intolerância e pela persegui- ção político-religiosa em sua região de origem. Na área colonial, buscaram uma nova vida e liberdade. Na América hispânica, a conquista espanhola signifi cou a dizimação de boa parte dos povos nativos e a desintegração da cultura daqueles que foram dominados. Os conquistadores manifestaram uma severa intole- rância em relação aos diferentes modos de viver e de ver o mundo das populações pré-colombianas. Colonizadores e colonizados integram processos que envolvem ideais e culturas diferentes, os quais, muitas vezes, manifestam-se em choques violentos e em múltiplas formas de dominação e resistência. Atualmente, guerras, confl itos, intolerância e, acima de tudo, o abis- mo econômico separando países ricos de pobres acabam forçando gran- des contingentes de população a mudarem de país e de vida. Mas será que, nesse início do século XXI, ainda é possível fundarem-se países cons- tituídos por uma população de refugiados, como ocorreu com a América colonial inglesa? E como se apresentam os povos remanescentes das culturas pré- -colombianas hoje em dia? para pensar HistoricaMente HGB_v2_PNLD2015_099a113_u1c08.indd 99 3/21/13 3:31 PM 100 europa, o centro do mundo AméricA espAnholA: A conquistA dAs civilizAções pré-colombiAnAs A integração da América ao contexto europeu se deu por meio do colonialismo mercantilista. Como você já viu, o crescimento do comércio europeu a par- tir do século XV, graças à expansão marítima, provo- cou uma dinamização comercial. Tendo definido que seu objetivo econômico era buscar riquezas, várias Coroas europeias partiram para a montagem e explo- ração de impérios coloniais. Entre as colônias e as metrópoles foi estabele- cido um conjunto de normas que regulamentou suas relações – chamado por muitos de pacto colonial. Segundo essas normas, as metrópolesexerceriam o “exclusivo comercial”, ou seja, o monopólio sobre tudo o que as populações das colônias importassem ou ex- portassem. Outro princípio estabelecia que, enquan- to a metrópole se concentrava no comércio, mais lu- crativo, a colônia se dedicaria à produção de gêneros agrícolas e à extração de recursos naturais. Dessa for- ma, a ideia de “pacto” aqui deve ser considerada mais uma relação de subordinação. Um vantajoso comércio colonial era fundamental para a prosperidade das metrópoles e, portanto, para a manutenção de um Estado centralizador e forte. Foi com esse objetivo que os europeus se estabeleceram na América. Submetendo os nativos e explorando seu trabalho, exterminaram grande parte dessas popula- ∏ Índios trabalhando numa mina, gravura de andré thevet, século XVI. utilizando a mão de obra nativa, os es- panhóis extraíam enormes quantidades de prata e ouro de suas colônias ameri- canas. ções, o que causou o declínio de povos como os incas da América do Sul e os astecas do México. Por volta do final do século XV, estima-se que perto de 100 milhões de indígenas, pertencentes a diversos grupos étnicos, ocupavam a América. Du- rante séculos, várias civilizações se desenvolveram no continente. Na Mesoamérica, trecho que vai do México à Costa Rica, sucederam-se civilizações como os olme- cas, os toltecas, o Império Teotihuacán e, principal- mente, os maias e os astecas. Por volta do século XII, na região da Cordilheira dos Andes, especialmente nos territórios dos atuais Peru e Bolívia, diversos grupos quíchuas foram reuni- dos formando o vasto Império Inca, que tinha como centro a cidade de Cuzco e era composto pelos ele- mentos culturais das civilizações precedentes. Chefiados por um imperador que, além de chefe militar, era considerado um deus na terra, o “filho do sol”, os incas conheceram seu auge nos séculos XV- -XVI, até a chegada dos espanhóis à região, em 1531. representação do imperador inca tú- pac amaru, de au- toria des conhecida, século XVIII. P R e p ro d u ç ã o /M u s e u N a c io n a l, C id a d e d o M é x ic o , M é x ic o . D e A g o s ti n i/ G e tt y I m a g e s HGB_v2_PNLD2015_099a113_u1c08.indd 100 3/21/13 3:31 PM a amérIca espanhola e a amérIca Inglesa 101 Pouco antes dos espanhóis, com a morte do imperador inca Huayna Cápac, em 1525, travou-se uma violenta disputa entre seus dois filhos, Huascar e Atahualpa, concebidos por esposas diferentes, e o poder central do império ficou abalado. Sob o comando do conquistador espanhol Francisco Pizarro, tropas de conquistadores, vis- tos como aliados pelos homens de Huascar, captu- raram Atahualpa, em Cajamarca. Na mesma época, os exércitos de Atahualpa prenderam, em Cuzco, o líder Huascar. Essa situação insólita, em que Huascar era pri- sioneiro de Atahualpa, que por sua vez era prisioneiro de Pizarro, durou quase um ano. Em 1533, Huascar foi assassinado em meio a conflitos entre grupos étnicos e as autoridades do antigo império. Atahualpa tam- bém foi condenado à morte por Pizarro, em agosto do mesmo ano. A dominação dos conquistadores, con- tudo, encontrou ainda uma forte resistência inca que durou mais de 40 anos, até a morte do último impera- dor, Túpac Amaru, em 1572, quando em definitivo os espanhóis firmaram sua presença e domínio. A civilização maia, cujo centro era a penínsu- la de Iucatã, na região sudeste do atual México, teve seu apogeu entre os séculos III e X. Organizava-se em cidades-Estado, e o domínio social, de caráter here- ditário, era exercido por uma elite religiosa e militar. Em torno dos centros urbanos, que somavam mais de cinquenta, havia aldeias de camponeses submetidos à servidão coletiva. Reunindo uma população superior a 2 milhões de habitantes, a civilização maia foi responsável pela criação de um sofisticado sistema de escrita e desen- volveu diversos calendários. Pouco se sabe sobre as causas de seu declínio. Suas cidades foram abandona- das e, na época da chegada dos espanhóis, já não exis- tia uma civilização maia organizada. A civilização asteca foi a mais grandiosa das civilizações da Mesoamérica. Com capital em Teno- chtitlán (atual Cidade do México), fundada em 1325, reunia uma população estimada entre 80 mil e 500 mil habitantes. O fim do império ocorreu com a conquis- ta espanhola, sob o comando de Fernão Cortez, entre 1519 e 1521. R e p ro d u ç ã o /E T A rc h iv eT h e P ri n t C o ll e c to r/ K e y s to n e p esta representação, de autoria desconheci- da, mostra guerreiros astecas defendendo o templo de tenochtitlán contra os conquista- dores (1519-1521). os maias, como todas as demais civilizações pré-colombianas, organizavam-se com base na servidão coletiva, imposta por um podero- so estado e sua burocracia, reforçada pela re- ligião e atuação sacerdotal. na foto, inscrição em pedra do século VIII. no alto dessa inscri- ção, nomes de reis maias. P HGB_v2_PNLD2015_099a113_u1c08.indd 101 3/21/13 3:31 PM