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SECRETARIA EXECUTIVA DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO
CADERNO TEMÁTICO
EDUCAÇÃO CIENTÍFICA
Caderno Temático
Educação Científica
DEZEMBRO/2022
GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO
Paulo Henrique Saraiva Câmara
SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE PERNAMBUCO
Marcelo Andrade Bezerra Barros
SECRETÁRIO EXECUTIVO DE GESTÃO DA REDE ESCOLAR
João Carlos Cintra Charamba
SECRETÁRIO EXECUTIVO DE PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO
Leonardo Ângelo de Souza Santos
SECRETÁRIA EXECUTIVA DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO
Ana Coelho Vieira Selva
GERENTE GERAL DO ENSINO MÉDIO E ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
(GGEAF)
Regina Celi de Melo André
GERENTE DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS DO ENSINO MÉDIO (GEPEM)
Ana Carolina Ferreira de Araújo
GERENTE DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS DOS ANOS FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL (GEPAF)
Shirley Cristina Lacerda Malta
GERENTE GERAL DAS MODALIDADES
Claudia Mendes de Abreu
SUPERINTENDENTE DE POLÍTICA EDUCACIONAL INDÍGENA (SUPIN)
Caetano Bezerra Barboza Neto
GERENTE DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS DE JOVENS, ADULTOS E IDOSOS (GEJAI)
Danielle da Mota Bastos
GERENTE DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS DO CAMPO (GEPEC)
Jailson Silva dos Santos
SUPERINTENDENTE DE EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL (SUEAI)
Cláudia Roberta de Araújo Gomes
COORDENADORA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Adriana Oliveira de Toledo
COORDENADORA DE ANOS INICIAIS ENSINO FUNDAMENTAL
Ana Maria Morais Rosa.
GERENTE DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA, DIREITOS
HUMANOS E CIDADANIA (GEIDH)
Vera Lúcia Braga de Moura
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
11
2. A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
13
3. A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NOS ANOS FINAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
39
4. A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NO ENSINO MÉDIO 61
5. A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NAS MODALIDADES DA EDUCAÇÃO
89
5.1 A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 89
5.2 A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO 99
5.3 A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO QUILOMBOLA 118
5.4 EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA 129
APRESENTAÇÃO
O Caderno de Educação Científica foi elaborado por professores da
Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco com o objetivo de
subsidiar o trabalho docente no desenvolvimento do seu fazer pedagógico das
diversas etapas e modalidades de Ensino da Rede Estadual.
Este documento tem como premissa que a Educação Científica pode e
deve ser desenvolvida desde o início da escolarização até a última etapa da
Educação Básica. Sabemos que a sociedade atual está permeada pela ciência
e pela tecnologia e, nesse cenário, o conhecimento é cada vez mais relevante
para a vivência plena da cidadania.
Esta proposta tem incidência direta no currículo escolar, na relação da
escola com seus atores e exigirá que o docente atue como um agente
transformador, com espírito crítico e criativo e que desenvolva competências
técnicas e instrumentais em sintonia com as demandas desta perspectiva.
O Caderno faz parte de uma coletânea de Cadernos Temáticos. Cada
um deles está estruturado em capítulos que abordam os fundamentos e
concepções norteadoras de cada etapa e modalidades, bem como seus
pressupostos conceituais, focando, sobretudo, nos processos de ensino e
aprendizagem que se constituem produto de investigação. Ele busca
oportunizar a reflexão, a investigação e a descoberta, bem como relacionar a
Educação Científica às práticas pedagógicas que propiciem o exercício da
curiosidade intelectual e o protagonismo dos estudantes. Também busca
orientar esses estudantes a tomar decisões, estimulando o discernimento
frente às adversidades que aparecem dentro das experiências em sala de aula
e as que surgem ao longo de suas vidas. Enfim, busca reconhecer que não
importa apenas o que sabemos, mas também como esse saber molda nossos
pensamentos e ações.
Portanto, professor, esperamos que o Caderno de Educação Científica
possa colaborar na busca do desenvolvimento de habilidades, definir conceitos
e conhecimentos, estimulando o estudante a observar, a questionar, a
investigar e a entender de maneira lógica os seres vivos, o meio em que vivem
e os eventos do dia a dia, buscando a cada dia a garantia da qualidade da
Educação de Pernambuco.
Ana Selva
Secretária Executiva de Desenvolvimento da Educação
11
1. INTRODUÇÃO
O CURRÍCULO DE PERNAMBUCO E A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA: UMA BREVE
REFLEXÃO
A origem da palavra currículo vem do latim “currere”, indicando rota,
caminho. É importante, contudo, ressaltar que um currículo deve ser um
documento referencial e ao mesmo tempo flexível que possibilite a
potencializar as práticas pedagógicas criativas pedagógica nas unidades
escolares. Nessa direção, representa a organização de um planejamento de
escolarização que envolve conteúdos específicos, temas transversais,
atividades pedagógicas, competências e habilidades a serem desenvolvidas
pelo estudante, bem como concepções de educação, visões de mundo e qual
sociedade se pretende construir.
Assim, trazemos à tona o conceito apresentado por Lopes (2002)
quando afirma que o currículo é compreendido como movimento do trabalho
intelectual e que exige constante conceitualização e reconceitualização por
revelar as (re)produções de diferentes segmentos da sociedade, sobretudo, as
concepções educacionais e práticas pedagógicas de professores e
pesquisadores.
Dessa forma, o Caderno de Educação Científica articulado ao Currículo
de Pernambuco (2019a; 2019b; 2021) surge de reflexões, do fazer pedagógico,
das experiências educacionais e sociais e da multidimensionalidade de saberes
e fazeres de diferentes profissionais da educação. E, por reconhecer os
processos de mudanças socioeconômicas, políticas, socioambientais e
culturais, bem como a transitoriedade da vida e suas impermanências,
consideramos seus impactos nas formas de ser e estar no mundo. Assim, as
propostas educacionais devem conceber perspectivas pedagógicas amplas,
flexíveis, multidisciplinares, considerando o seu entorno social de forma micro e
macro e a responsabilidade afetiva com seus pares, promovendo uma
educação em que os estudantes, no exercício da sua cidadania, contribuam
com uma sociedade ética, produtiva e com justiça social.
12
É, portanto, na perspectiva de contribuir com os múltiplos fazeres
pedagógicos, na relação dos processos de ensino e aprendizagem, que o
Caderno de Educação Científica está sendo apresentado. As várias etapas e
modalidades de ensino da educação básica estão contempladas neste
documento considerando as práticas sociais de professores e estudantes, para
que, em processo de mediação e numa constante reflexão-ação-reflexão
venham contribuir com as indagações suscitadas devido às rápidas
transformações sociais.
Nesse sentido, torna-se relevante a valorização de conhecimentos
prévios na perspectiva de compreender a(s) realidade(s), assim como o
permanente uso da curiosidade epistêmica recorrendo às abordagens
científicas, utilizando-se do olhar e desenhos investigativos, da reflexão, da
análise crítica, sem abrir mão do imaginário e seus símbolos, do poder da
criatividade e inovação, compreendendo as relações e inter-relações presentes
nos problemas levantados, face aos desafios biopsicossociais e às
complexidadessociopolíticas, culturais, históricas e econômicas.
Ressaltamos a importância de promover uma educação para os(as)
estudantes pernambucanos - nos mais diversos territórios, modalidades de
escolaridade e modalidades - a levantarem hipóteses, confrontá-las, testá-las,
aceitá-las ou não. Consideramos, sobretudo, a perspectiva educacional da
construção de uma sociedade onde os estudantes possam fazer o
enfrentamento às adversidades e desafios da vida de forma equânime,
respeitosa, inclusiva e cidadã.
Sendo assim, os(as) profissionais da educação encontrarão neste
caderno embasamentos norteadores de ações pedagógicas, além de temáticas
atuais com estratégias que convidam o estudante a confrontar a realidade, na
dimensão de uma educação transformadora e libertadora.
É nessa perspectiva, professor, que convidamos você a embarcar numa
viagem educacional permeada por uma pedagogia da afetividade, do cuidado
humano, do respeito à vida e às diferenças, da curiosidade científica e da
atenção à existência humana, sua complexidade e pluralidade.
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EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM ALICERCE MAIS
QUE NECESSÁRIO
“(...) todos começamos como cientistas; todas as crianças possuem a
base de um cientista que é a curiosidade ao desconhecido” (Carl
Sagan)
A Educação Científica é um campo propício para o desenvolvimento das
habilidades, a elaboração de hipóteses e a sistematização de conhecimentos.
Tais ações estimulam as crianças a observar o mundo que as cercam,
confrontar suas elaborações por meio das interações com o seu grupo e das
intervenções pedagógicas. Nesse universo exploratório, a curiosidade infantil
precisa ter espaço para ir além, precisa ser instigada, precisa ser percebida e,
sobretudo, ser reconhecida como subsídio para que outras elaborações
possam fluir, tendo nas experiências propostas e vivenciadas sua fonte de
pesquisa.
No livro Educação Científica: quanto mais cedo melhor, Roitman (2007)
discorre sobre a importância de vivenciar, desde muito cedo, experiências que
despertem o desejo investigativo dos bebês, crianças bem pequenas e
crianças pequenas, tendo em vista que durante o processo de desenvolvimento
e aprendizagem, possivelmente iniciado na vida intrauterina, eles/elas vão
adquirindo habilidades que serão fruto de suas experiências e que, quando
significativas, deixam marcas por toda uma vida.
O aprendizado nos seres humanos começa no seu nascimento, e
talvez no útero materno. Nas horas, semanas e meses após o
nascimento através de seus sentidos, a criança observa com atenção
e curiosidade tudo ao seu redor, procura definir as formas dos objetos
com as mãos, tenta entender e interpretar os sons ao seu redor, tenta
sentir o gosto das coisas, em um esforço gigantesco de compreender
o mundo em que vive. Em alguns meses aprende a se comunicar
dominando aos poucos a linguagem. Esse aprendizado é ampliado
ao longo dos anos e continua por toda a vida. (ROITMAN, 2007, p.
03)
Sendo a Educação Científica imprescindível para a aprendizagem e
também para a compreensão do mundo em que estamos inseridos, é mais que
2. A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS
INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
14
necessário abordarmos alguns tópicos que contribuirão para nossa reflexão
nesse texto: (i) a importância da Educação Científica na Educação Infantil,
primeira etapa da Educação Básica; (ii) como esse alicerce científico é
caracterizado; (iii) quais Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento
precisam ser garantidos; (iv) como os Campos de Experiências estão
vinculados à investigação científica vivenciada pelas crianças; (v) qual o papel
do professor durante o processo de aprendizagem; e (vi) como é possível
tornar a aprendizagem visível e geradora de outras aprendizagens.
Quando tomamos como referência as concepções de criança e infâncias
disseminadas nos documentos normativos da Educação Básica e da Educação
Infantil - DCNEI (2009), DCN (2013), BNCC (2017), Currículo de Pernambuco
da Educação Infantil (2018) - fica mais que evidente que precisamos enxergar
que a criança
...é sujeito histórico e de direitos que se desenvolve nas interações,
relações e práticas cotidianas a ela disponibilizadas e por ela
estabelecidas com adultos e crianças de diferentes idades nos grupos
e contextos culturais nos quais se insere. Nessas condições ela faz
amizades, brinca com água ou terra, faz-de-conta, deseja, aprende,
observa, conversa, experimenta, questiona, constrói sentidos sobre o
mundo e suas identidades pessoal e coletiva, produzindo cultura.
(BRASIL, 2013, p. 86)
Sendo assim, é impossível não contemplar a Educação Científica na
Educação Infantil, já que a criança é um sujeito que experimenta, questiona e
constrói sentido; que necessita vivenciar experiências que instiguem sua
curiosidade, que ofertem subsídios para que ela possa elaborar suas
hipóteses, ser confrontada, dialogar sobre suas elaborações, ser protagonista
de sua aprendizagem.
Desde muito cedo, a criança busca atribuir significado às experiências
vivenciadas. Durante essa busca, ela amplia de forma gradativa o seu campo
de curiosidade e suas inquietações. Nesse processo de aprendizagem,
destacamos a importância da mediação, da intencionalidade pedagógica que é
percebida nas orientações, nas escolhas dos materiais, na organização dos
espaços e nas proposições de situações de aprendizagens, fazendo com que
esse processo seja dialógico, seja um espaço de troca e de elaborações
coletivas, mas também seja espaço onde as aprendizagens individuais sejam
percebidas, valorizadas e partilhadas.
15
Como podemos então caracterizar um alicerce científico a ser vivenciado
com bebês (0 a 1 ano e 6 meses), crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a
3 anos e 11 meses) e crianças pequenas (4 e 5 anos e 11 meses)? Para
compreendermos essa caracterização, vamos partir do princípio posto na
segunda competência geral definida pela BNCC (2017), que versa sobre a
Educação Científica, trazendo em sua essência o desejo de aprender, de
investigar, de criar, de conhecer e de ter meios para isso.
Compreendemos, então, que um espaço educativo que não limita as
possibilidades de desenvolvimento, reconhece que “a aprendizagem é o surgir
daquilo que antes não havia, é uma pesquisa do único, do Outro, dos Outros
que se encontram em volta de um assunto” (ZERO, 2014, p.46). Sendo assim,
podemos afirmar que um alicerce científico contemplado na Educação Infantil é
caracterizado por vivências significativas e desafiadoras, é repleto de
possibilidades para que os bebês, crianças bem pequenas e crianças
pequenas tenham liberdade para experienciar, para curiosear, para enxergar
além, para construir e desconstruir, para explorar o ineditismo de tudo que está
ao seu redor. Não cabe, nesse alicerce científico, práticas pedagógicas que
apresentam propostas “prontas e acabadas”, propostas que negligenciam a
capacidade de pesquisa existente no outro e no coletivo e que, sobretudo,
“invisibilizam” as singularidades e as múltiplas linguagens das crianças que são
produtoras de saberes diversos.
Importante refletirmos sobre os Campos de Experiências e os Direitos de
Aprendizagem e Desenvolvimento dos bebês, crianças bem pequenas e
crianças pequenas, tendo em vista que todo o fazer pedagógico nessa etapa
da Educação Básica é bem distinto, sendo preciso reconhecer a criança como
centro do processo da sua aprendizagem e considerar o contexto sociocultural
2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências,
incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade,
para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e
criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes
áreas. (BRASIL,2018)
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em que está inserida. Desse modo, o arranjo curricular da Educação Infantil
“acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das
crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte
do patrimônio cultural” (BRASIL, 2017, p. 38).
Segundo o Currículo da Educação Infantil de Pernambuco (2018), a
abordagem pedagógica que contempla a concepção de criança e infâncias,
postos nos documentos mandatórios da Educação Infantil,
tem foco nas experiências que são sustentadas pela lógica do
conhecimento não como algo estanque, linear, instrumental, mas sim
como ciência, com uma construção que encanta e conecta a criança
com o mundo, que favorece a aprendizagem e o desenvolvimento,
que agrega diferentes linguagens, oportunizando possibilidades às
crianças para explorarem, brincarem, participarem, conviverem,
expressarem-se e conhecerem-se a si e ao mundo. (PERNAMBUCO,
2018, p.71)
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Ter foco nas experiências como ciência é fazer COM a criança, é
proporcionar que a criança explore os Campos de Experiências a partir das
vivências possibilitadas, sempre destacando que os mesmos estão
entrelaçados e são organizados a partir da articulação do conhecimento, das
práticas e das linguagens. O entrelaçamento dos Campos de Experiências
contempla os Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento e evidenciam o
protagonismo infantil, dando vez e voz às crianças que são o centro do
processo de aprendizagem.
Como podemos reconhecer no arranjo curricular da Educação Infantil a
interface com a Educação Científica? Mediante a compreensão aqui já descrita
sobre Educação Científica e pelo entendimento do que significa experiência de
Larrosa Bondía (2002, p.21), de que “a experiência é o que nos passa, o que
nos acontece, o que nos toca”. Assim sendo, vivenciar as experiências e ser
impactado por elas nos trará aprendizagem, pois seremos modificados pelo
que for vivenciado, e a criança não está isenta de vivenciar esse processo e
em seu percurso fazer pesquisas, produzir conhecimento, ter suas elaborações
compartilhadas e confrontadas, tornando os Campos de Experiências terrenos
férteis para fazer ciência. É importante ressaltar, contudo, que se trata de uma
junção indissociável (como bem retratado na imagem logo acima), tendo em
vista que existe uma retroalimentação, as experiências suscitam pesquisas
que, por sua vez, conduzem a novas experiências - um ciclo inesgotável de
produção científica.
Mediante o que já refletimos sobre Educação Científica, Educação
Infantil, os Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento, os Campos de
Experiência e a criança como centro de todo o processo, resta-nos refletir
sobre um ator que tem grande importância para o percurso da pesquisa na
Educação Infantil: o professor. O papel a ser desempenhado pelo professor
fará toda a diferença, uma vez que sua mediação, intencionalidade
pedagógica, organização dos espaços, escolhas dos materiais, olhar e escuta
atentos e ativos ofertarão subsídios imprescindíveis para que os bebês,
crianças bem pequenas e crianças pequenas possam ter liberdade para
“aprofundar” seus experimentos, buscar suporte sempre que necessitarem,
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possam ter seu lugar de voz e de escolha reconhecidos. Falamos do professor
que nutre a curiosidade, que instiga e é mediador das construções coletivas,
mas que também precisa estar atento à elaboração individual de todos que
compõem o grupo. Discorrendo sobre a importância da atuação pedagógica,
Proença (2018) ressalta que
a ação do educador compromissado com a aprendizagem pessoal e
dos indivíduos com quem convive mobiliza o grupo como um todo a
vencer desafios, a buscar respostas a situações-problema do dia a
dia, a compartilhar conquistas, contradições e conflitos, a ter objetivos
em comum, a cooperar em favor do bem-estar coletivo, enfim, a viver
a vida de grupo com toda a sua intensidade, afetiva, emocional e
cognitiva (...). (PROENÇA, 2018, p. 147)
O terreno fértil para os primeiros passos da Educação Científica precisa
ser vivenciado, apoiado nos eixos estruturantes da Educação Infantil: a
brincadeira e as interações. As investigações científicas precisam ter
significado para as crianças, precisam deixar marcas, serem vivenciadas de
forma lúdica e por meio de troca com seus pares e com os demais que
partilham do processo de pesquisa. A criança aprende em movimento,
interagindo com o mundo ao seu redor, questionando sobre o que a cerca,
pesquisando sobre o que tem interesse, elaborando suas hipóteses, sendo
desafiada a prosseguir com outras pesquisas e elaborações. Ressaltamos aqui
que as aprendizagens desse processo precisam ser mediadas e sobretudo
evidenciadas. Ter sua aprendizagem visível é uma necessidade coletiva e
individual. Essa visibilidade pode ser evidenciada pelas próprias crianças.
Porém, é o professor quem tem um papel fundamental para a sistematização
das evidências que atestam o percurso da pesquisa e da aprendizagem.
Segundo Rinaldi (2014), ao produzirmos traços, documentos que
testemunham e tornam visíveis as modalidades de aprendizagens individual e
de grupo, estamos ofertando: possibilidades para que cada criança se observe
enquanto aprende; concedendo visibilidade aos processos subjetivos; e
permitindo uma revisita aos processos de pesquisa e aprendizagem. Ao
discorrer sobre a importância de documentar o processo de aprendizagem,
Zero (2014) ressalta que
quando suas aprendizagens são documentadas, as crianças podem
revisitar, e, portanto, dar sentido novamente às suas experiências de
aprendizagens e, ao mesmo tempo, refletir sobre como desenvolver
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essas experiências mais adiante. (...) A documentação não se limita,
então, a tornar visível o que já existe, mas fazer as coisas existirem
porque as torna visíveis, portanto, possíveis. (ZERO, 2014, p. 21)
Os percursos de pesquisa e aprendizagem podem ocorrer de diversas
formas, porém, no contexto da Educação Infantil, acreditamos que os
ensinamentos contidos na Pedagogia de Projetos serão o ‘adubo’ perfeito para
que esse terreno fértil “produza muitos frutos”, já que o trabalho com projetos é
pautado no desenvolvimento humano e na construção de conhecimentos,
tendo a escola como um espaço de trocas e investigação. Tal perspectiva pode
proporcionar um trabalho contextualizado, mobilizando diversos conhecimentos
em diferentes áreas.
A Pedagogia de Projetos defende a aprendizagem criativa e significativa,
considerando a curiosidade das crianças, a pesquisa, as interações
estabelecidas com os pares e com o conhecimento, levando em conta o
contexto em que elas estão inseridas. Desta forma, os projetos têm a função de
tornar a aprendizagem ativa, interessante, significativa, real e atrativa para as
crianças, proporcionando um trabalho prazeroso, no qual as crianças sejam
estimuladas a buscar, fazer investigações, ler, calcular etc. De modo geral, a
Pedagogia de Projetos traz aspectos positivos para o aprendizado, pois:
Para isso, a construção de um projeto deve considerar as questões ou
conflitos que despertaram interesse das crianças, trazendo elementos para
OPORTUNIZA
a criança viver suas
experiências com alegria,
entusiasmo e desafios.
PERMITE
que a criança construa
sentido sobre sua atividade.
FACILITA
sua formação como pessoa
consciente de seu papel de
condutor da história.
PROPICIA
melhor compreensão da
historicidade do nosso tempo.
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estimular a criatividade e a espontaneidade delas. Sobre esta perspectiva,
Proença (2018) afirma que
o trabalho com projetos é uma atitude, uma postura, uma concepção
que vai além de uma metodologia; promove a reflexão do educador
sobre o seu “ ser-saber-fazer” pedagógico, contribui paradesabrochar
um sujeito sensível, capaz de ver o (s) outros (s) em si, seus
parceiros “mobilizadores” da ação: alguém que reflete sobre a própria
prática e pesquisa o seu sentido em uma busca permanente de
autoconhecimento. (PROENÇA, 2018, p.57)
Esta forma de trabalho tem a possibilidade de agregar o currículo aos
interesses das crianças, considerando suas opiniões, hipóteses, levando as
crianças a questionar e investigar sobre o tema envolvido, construindo
conhecimento nas interações estabelecidas e promovendo significados.
A seguir, veremos o relato de um Projeto desenvolvido com crianças de
04 e 05 anos, coordenado pela professora Magaly Cézar Lourenço Paixão
(Instituto da Criança - Belo Horizonte/MG) e compartilhado por Faria (2012).
Um projeto que surgiu da curiosidade de uma criança, suscitada após a leitura
do livro FESTA NO CÉU, de Angela Lago. O olhar atento e ativo da professora
fez toda a diferença para que muitas experiências significativas pudessem ser
vivenciadas.
A professora, como fazia todos os dias, estava sentada no chão com o grupo de
crianças, lendo para elas. Nesse dia, ela lia a história de uma festa no céu para a qual o sapo
não tinha sido convidado. Após a leitura, algumas crianças passaram a fazer comentários
sobre a história contada, relacionando-a com outras narrativas que tinham sapos como
personagens; outras saíram da roda pulando e cantando como sapos. Uma menina, que
permaneceu calada durante a leitura da história e que parecia um pouco desligada no
momento em que os demais faziam comentários, perguntou: por que o sapo não mora na
água salgada?
Essa pergunta, que poderia ter sido ignorada ou respondida imediatamente pela
professora, foi objeto de discussão e de grande interesse de todas as demais crianças, em
função da forma como a professora problematizou o assunto, devolvendo a pergunta para o
grupo e pedindo que desenhassem o que achavam que aconteceria se o sapo morasse no
mar. Foram feitos vários desenhos, por meio dos quais as crianças explicitaram suas
hipóteses: desenharam o sapo sendo arrastado pelas ondas do mar, sendo comido por um
tubarão, todo coberto de areia, entre outras. Essa estratégia contribuiu para aguçar a
curiosidade das crianças e deu origem a uma grande polêmica entre elas.
21
A partir daí, foi proposto o desenvolvimento de um projeto, posteriormente planejado
pela professora, em conjunto com as crianças. Planejaram onde buscariam as informações,
quais materiais e espaços utilizariam e em quais dias da semana se dedicariam ao projeto.
Assim, para encontrarem resposta a essa pergunta original, cuja resposta não se encontra
pronta em um livro, tiveram que compreender como são os animais que vivem no mar e
aqueles que vivem nos rios e lagoas, e quais os seus modos de vida. Para tanto, foram feitas
pesquisas, utilizando várias fontes: internet, enciclopédias digitais, livros e revistas. Além disso,
entrevistaram o professor de biologia da escola e contaram com muitas informações enviadas
pelos pais, que acabaram se envolvendo no projeto. Foram também, visitar um ranário no
Instituto de Zoobotânica, onde puderam ampliar seus conhecimentos sobre os sapos. Todos os
conhecimentos construídos pelo grupo eram registrados no “livrão” do projeto, ora por meio de
desenho, ora por meio de escrita, ora com colagem de gravuras. Houve, assim, no
desenvolvimento do projeto, muitas leituras e muitos registros, elaboração de convite para o
professor de biologia, sempre tendo a professora como leitora e escriba dos textos que eram
lidos e produzidos coletivamente. Houve, também, muitas discussões e argumentações,
observações de um sapo trazido por um pai, bem como os do ranário, e, por fim, muitos
desenhos e modelagens para ilustrar a apresentação que decidiram fazer as outras turmas da
Educação Infantil.
Todas essas ações contavam com a mediação da professora, que sempre esteve
atenta para que a pergunta inicial – “por que o sapo não mora na água salgada?” – se
mantivesse como foco de pesquisas, sem, entretanto, deixar de incentivar para que surgissem
novas questões. Fazia intervenções precisas e trazia informações importantes, fruto de suas
próprias pesquisas sobre o tema, contribuindo, dessa forma, para o processo de
desenvolvimento/aprendizagem das crianças. O projeto durou cerca de um mês e só foi
concluído quando conseguiram uma resposta satisfatória para a pergunta inicial, isto é: o sapo
não consegue sobreviver na água salgada porque ele respira pela pele, diferentemente da
maioria dos animais que vivem no mar, cuja respiração é branquial. (??)
O relato acima descreve uma proposta de projeto baseado nas
inquietações das crianças que teve um desdobramento interessante a partir da
escuta da professora, que levou as crianças a refletirem e pesquisarem sobre o
modo de vida dos animais, em busca de resposta para o questionamento
inicial, buscando informações, construindo novos conhecimentos, traçando
estratégias, caminhos, mobilizando conhecimentos anteriores e interagindo
com seus pares.
Uma outra proposta de Projeto pode partir de vídeos que instiguem a
curiosidade das crianças. Abaixo, mais uma possibilidade que certamente
encantará bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas.
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PROJETO BICHINHOS DO JARDIM
Links de vídeos que podem ser utilizados para iniciar a discussão sobre a temática do Projeto:
Borboleta Luna - Show da Luna - <https://www.youtube.com/watch?v=oLqEGAkj-qQ>
Formidável Formiga - Show da Luna - <https://youtu.be/uxbp9jAozRA>
OBJETIVOS:
Contribuir para que as crianças elaborem representações do mundo, propondo situações de
aprendizagem que fomentem a curiosidade, a descoberta do novo, a busca e formulação de
explicações para os fenômenos e acontecimentos do mundo natural e social.
Conhecer e identificar os bichinhos que moram nos jardins, nas hortas etc., nomeando-os
corretamente.
Conhecer as características dos bichinhos encontrados e como se adaptam ao meio em que vivem.
ETAPAS DO PROJETO:
1º momento: Com as crianças em roda conversar sobre o tema proposto. Incentivá-las a falar sobre suas
experiências: quem tem jardim em casa ou na casa da vovó? Quem conhece os bichinhos que moram nos
canteiros, debaixo das pedrinhas, no meio da terra?
Observação: a professora deve incentivar as crianças a expressarem seus conhecimentos, cuidando para que o
assunto explore a temática apresentada. Livros de histórias que podem ser utilizados para motivar as crianças
2º momento: Neste mesmo dia, deixar sobre as mesinhas livros que tenham imagens de bichinhos: sapos,
borboletas, formigas, caracóis, minhocas, joaninhas, aranhas, tatuzinhos, besouros etc. Deixar que as crianças
folheiem os livros, observando suas falas e anotando suas hipóteses.
Para casa: Pedir aos pais que mandem gravuras, livros e/ou revistas que falem sobre o tema para ser mostrado
na roda.
Passear pelo quintal ou jardim da escola para observar os bichinhos. Procurá-los debaixo das pedras, nas
árvores, dentro da terra e debaixo das folhas. Se for possível, realizar esta atividade com lupa. À medida que as
crianças forem identificando os bichinhos, confirmar as hipóteses que foram levantadas por elas, desde o início
do estudo.
3º momento: Realizar uma grande exploração sobre as características dos bichinhos do jardim, oferecendo
subsídios para que as crianças possam identificá-los (tamanho, sons que emitem, o que comem, …)
23
7º momento: Os textos produzidos coletivamente sobre cada bichinho estudado devem ser registrados pela
professora para a montagem do produto final. Para decidir o que fazer, sugerimos conversar com as crianças
sobre qual a melhor forma de compartilhar sobre as descobertas da turma.4º momento: Jogos na rodinha - Estou pensando num inseto…
Ele é pequeno, pode ser de cor vermelha ou preta, sua moradia se chama formigueiro.
Quem é ele?
Quem conhece e se lembra de insetos que têm asas?
Quem conhece a joaninha? Qual é a cor de suas pintinhas?
Quantas patas tem a barata? Ela é lisa ou áspera? Ela é seca ou molhada?
Realizar a mesma atividade com outros insetos já conhecidos pelas crianças.
5º momento: Verificar a possibilidade de inserir a família neste estudo para que possam mandar para a sala de
seu filho insetos vivos para observá-los, descrevê-los e classificá-los segundo os critérios já descritos aqui. No
final da atividade, serão devolvidos à natureza. Para cada tipo de inseto diferente que aparecer, estimulem as
crianças a refletir sobre:
O que ele come? Quando dorme? Onde vive? Onde tem sua toca?
Que outros bichos apareceram em suas casas que não puderam ser trazidos para a escola? Por quê?
Usar a lupa: escolher alguns insetos não perigosos e observá-los. Se for possível, desenhá-los no quadro ou,
então, montar cartazes com imagens grandes. Identificar imagens dos insetos desconhecidos em livros de
histórias, em filmes e documentários. Levantar questões sobre eles, comparando-os com os outros já
conhecidos.
6º momento: Sabemos que as crianças chegam à escola com uma bagagem de conhecimentos sobre diversos
assuntos. Como são encantadas com os bichinhos, bichos e bichões, possivelmente já terão experiências. Por
isso, utilize-os sempre, ressaltando e registrando as hipóteses levantadas pelo grupo durante as rodas de
conversas, pesquisas em livros etc.
Elabore, junto com as crianças, um quadro para registrar as hipóteses apresentadas.
24
BICHO O QUE SABEMOS O QUE QUEREMOS SABER
ABELHA
ELA VOA E TEM ASAS ELA BOTA OVO?
MINHOCA
ELA É MOLINHA E
VERMELHA
QUAL A SUA COMIDINHA?
No relato e projeto proposto ficam perceptíveis o quão é fundamental a
mediação do professor, uma vez que ele é o responsável por escutar as
inquietações das crianças e tornar observáveis a todas as demais,
estimulando-as a investigar, articulando a construção de novos conhecimentos,
explorando diferentes linguagens e estruturas textuais, confrontando as
diferentes ideias, proporcionando situações para que as crianças possam ouvir
e serem escutadas, além de explorar diversas fontes de informações e produzir
conhecimento.
Os exemplos apresentados também deixam claro o quanto é possível
começar, desde muito cedo, o caminhar com produção científica, tendo a
criança como o centro dos processos de pesquisa e aprendizagem, nutrindo a
curiosidade, ofertando subsídios para que as crianças, e também os
professores, sejam marcados pelas experiências vivenciadas e prossigam
explorando o universo que os cercam, sem receios de serem confrontados,
com liberdade para expor suas elaborações e, sobretudo, com encantamento
para aprender.
Mediante tudo que aqui refletimos, fica nítido que os primeiros passos da
Educação Científica precisam ser iniciados na Educação Infantil, de uma forma
muito diferenciada das demais etapas da Educação Básica - o Ensino
Fundamental (Anos Finais) e o Ensino Médio - tendo em vista as
especificidades dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem e os
interesses dos bebês, crianças bem pequenas e crianças pequenas. Esse é só
o começo da caminhada. Os passos, as curiosidades, as descobertas, as
experiências, as aprendizagens, as marcas... são para sempre!!
25
DICA PARA PROFESSORES:
1. Esteja atento à curiosidade das crianças.
2. Escute as hipóteses elaboradas pelas crianças.
3. Forneça possibilidades diversas para a pesquisa.
4. Flexibilize o planejamento.
5. Priorize o processo, não o produto.
6. Aumente o tempo para vivenciar Projetos.
7. Seja o mediador.
8. Busque colaboradores (pais, outros professores...).
9. Faça perguntas desafiadoras.
10. Documente o processo de aprendizagem.
Para finalizar, trouxemos algumas dicas para que o início dessa jornada
seja realizado da melhor forma:
SITES INTERESSANTES:
Portal Lunetas - https://lunetas.com.br/
Ciência Hoje para Crianças - http://chc.org.br/
Minas faz Ciência Infantil - https://minasfazciencia.com.br/infantil/
DICA DE FILME PARA CRIANÇAS
Luna, uma garota de seis anos que ama ciências, acredita que a Terra é
um enorme laboratório em que ela pode descobrir diversas curiosidades. A
cada episódio, uma curiosidade é abordada. Seja no quintal de casa ou na
praia, Luna, seu irmão mais novo, Júpiter, de quatro anos e o furão de
estimação da família, Cláudio, praticam ciência diariamente, formulando
hipóteses e fazendo experimentos. Criativa, curiosa e destemida, Luna
utiliza sua imaginação para descobrir suas diversas dúvidas. (Fonte??)
<https://www.youtube.com/channel/UC-adUJnjdrRnRlOJGoDtTqw>
26
A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
O papel da escola na formação científica das crianças nos Anos Iniciais
do Ensino Fundamental
As transformações científicas e tecnológicas que acontecem no mundo
influenciam o modo como a sociedade desenvolve a capacidade de interpretar
e se transformar para acompanhar esses avanços. Diante disso, é interessante
que a escola não fique alheia a essas transformações e ofereça possibilidades
às crianças de pensar criticamente e aprender como atuar no mundo.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece que
ao longo do Ensino Fundamental, a área de Ciências da Natureza
tem um compromisso com o desenvolvimento do letramento
científico, que envolve a capacidade de compreender e interpretar o
mundo (natural, social e tecnológico), mas também de transformá-lo
com base nos aportes teóricos e processuais da ciência. (BRASIL,
2017, p. 321).
Ou seja, aprender e praticar ciência não é o principal objetivo do
letramento, mas entender o desenvolvimento da capacidade de atuação no e
sobre o mundo, como um importante exercício da cidadania.
Partindo do princípio que o conhecimento científico e o desenvolvimento
tecnológico crescem a uma grande velocidade, as escolas precisam preparar
os estudantes para esses desafios e para a inserção cidadã. A ida das crianças
à escola abre várias possibilidades e, nesse sentido, o Letramento Científico
tem como objetivo promover possibilidades para a formação cidadã dos
estudantes. Nesse sentido, o Letramento Científico objetiva a promoção de
oportunidades em diversos âmbitos da formação do estudante,
compreendendo e apreendendo sobre os avanços e implicações da Ciência e
Tecnologia na sociedade.
Tornar um indivíduo letrado cientificamente é fazer com que ele seja
capaz de compreender o conhecimento científico, que consiga relacionar
esse saber com o seu cotidiano e participe das tomadas de decisões que
afetam a sua vida e da coletividade. Nessa perspectiva, o Letramento
Científico transforma nosso modo de olhar o mundo, e assim passamos a
27
‘olhar com olhos de interesse científico’, começando a nos preocupar e
entender o funcionamento adequado da vida cotidiana.
Refletindo sobre essa questão, o papel da escola é de fomentar e
estimular as crianças a procurarem respostas que se vinculem às questões
da sua vida cotidiana. É preciso que elas percebam e compreendam que a
Ciência está em tudo, nos alimentos, remédios, medicina, eletrônicos, ou
seja, no ambiente que as cerca. Para isso, é fundamental resgatar o
potencial criativo, bem como a imaginação e a curiosidade das crianças
durante os processos de ensino e aprendizagem, já que a vontade delas de
conhecer sobre as coisas se dá mediante tais estímulos.
Assim, é importante oportunizar momentos para que as crianças possam
experimentar, provar, teorizar, levantar hipóteses, elaborar seus escritos
etc.,a fim de construir os saberes científicos e suas implicações, bem como
conseguir “aprender a ver o mundo” e poder intervir. De acordo com
Merleau-Ponty (apud CAMPOS e NIGRO, 1999, p.74), “o mundo é o que
vemos e que, contudo, precisamos aprender a ver”.
São nesses momentos de observação e interação que os estudantes
vão aprendendo. A partir do momento em que eles vão experimentando,
vão também desenvolvendo conhecimentos prévios que serão validados no
desenvolvimento do fazer pedagógico. É nesse contexto que o espaço
escolar se destaca como cenário de transformação dessas informações em
saberes científicos.
Destacamos aqui as crianças dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental,
que fazem parte da terceira infância, compreendendo o período de 6 a 10
anos (PAPALIA e OLDS, 2006). São crianças que estão no estágio das
operações concretas, conforme Piaget (1999). Nesse estágio, as crianças
necessitam experimentar, observar e manipular para poder construir a sua
compreensão lógica sobre o objeto. E são essas crianças que desde muito
cedo já vêm tendo contato com as coisas à sua volta, que fazem parte do
seu entorno, desde o jardim, o quintal, as plantas, os animais, entre outros.
Partindo desse princípio, as práticas pedagógicas precisam estar
pautadas na contextualização dos conhecimentos para que a construção do
saber científico aconteça e faça sentido para as crianças. De acordo com
28
Lorenzetti e Delizoicov (2001, p.51), “as escolas, através de seu corpo
docente, precisam elaborar estratégias para que os alunos possam
entender e aplicar os conceitos científicos básicos nas situações diárias,
desenvolvendo hábitos de uma pessoa cientificamente instruída”. Sendo as
atividades práticas indispensáveis no processo de construção desse
pensamento científico, é importante que elas ocupem um papel central no
ensino das ciências, estabelecendo um diálogo entre teoria e prática,
sempre associadas à realidade dos estudantes.
Como dito, é importante que se estabeleçam momentos de
aprendizagem para que as crianças possam relacionar os conhecimentos
científicos com o seu dia a dia, baseando-se em atividades interativas e
dialógicas, que possam persuadir os estudantes na busca de explicações
científicas para além dos conteúdos prescritos nos livros didáticos. Sendo
assim, planejar aulas práticas no formato lúdico é uma boa opção para as
crianças se divertirem aprendendo Ciência.
Diferentemente de uma aula teórica, que sistematicamente acontece por
meio das explicações do(a) professor(a), nas aulas práticas as crianças
estão cercadas de muitas expectativas, são motivadas e desafiadas a
investigar as coisas que estão à sua volta, que chamam sua atenção e que
possam produzir reflexões e pensar sobre determinados fenômenos e suas
constatações. Em tais momentos, a mediação do professor é indispensável
para o sucesso das aulas. Ele poderá fazer uso de leituras de blogs, sites,
revistas como ‘Ciência Hoje das Crianças’, livros didáticos, com textos
científicos engraçados, inteligentes e profundos, diálogos, jogos didáticos,
uso do computador e internet no espaço escolar, manipulação de materiais
no laboratório com experiências ou mesmo da necessidade de explorar
outros ambientes fora da escola, visitas em espaços como zoológico,
museus, estações de tratamento, entre outros. Esses são alguns dos
recursos e espaços que o professor poderá lançar mão para ensinar as
crianças a pensar, a pesquisar, a experimentar, levantar hipóteses, a
questionar, a escutar atentamente o que o outro está expondo e consigam
construir os saberes científicos.
29
Como ressalta Lorenzetti e Delizoicov (2001), a escola não pode
proporcionar todos os conhecimentos científicos que as crianças
necessitam. Dessa forma, é importante que ao longo da escolarização elas
explorem outros espaços para promover a ampliação dos conhecimentos
para sua vida diária, contribuindo assim para ampliar seu desenvolvimento
cognitivo.
As propostas de atividades sugeridas para que as crianças possam
iniciar o Letramento Científico baseiam-se em atividades lúdicas para
instigar a sua curiosidade, partindo de situações problematizadoras. Nesse
sentido, é preciso relacionar as situações-problema com o dia a dia das
crianças, bem como associar as temáticas relacionadas aos animais, às
plantas, ao ambiente, ao corpo humano, entre outros, para tornar o estudo
mais prazeroso e adequado aos anseios das crianças que fazem parte dos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Segundo Lemke, para os estudantes
que estão nesse nível de ensino é importante “[...] desenvolver uma
curiosidade mais específica sobre como funcionam as tecnologias e o
mundo natural, como desenvolver e criar objetos e como cuidar deles, e um
conhecimento básico da saúde humana” (2006, p. 71, apud SASSERON;
CARVALHO, 2011, p.71).
Que atividades os docentes podem propor aos estudantes dos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental para aumentar o interesse deles pelas
ciências?
A sala de aula é um espaço adequado e privilegiado para a
sistematização do conhecimento científico, cabendo aos professores
elaborar estratégias de ensino que contribuam para o Letramento Científico
das crianças, partindo de situações que fomentem uma maior interação
entre o objeto de estudo, os estudantes e o professor. Dessa maneira,
Neves et al (2017) afirmam que
[...] as crianças, em suas interações com outras crianças e em
particular com os adultos, buscam interpretar a cultura da qual fazem
parte. As crianças não apenas adquirem os significados do mundo,
internalizando valores e normas culturais, como também contribuem
para sua produção e mudança. Integrar-se à cultura, portanto,
significa (re) produzi-la e (re) criá-la de maneira individual e coletiva.
(NEVES et al, 2017, p.349)
30
Para o trabalho prático é extremamente importante o diálogo. Nesse
sentido, Jacobik (2020) comenta da importância desse diálogo no fazer
ciência. Nesse momento, as crianças aprendem a organizar seu
pensamento e conseguem ser mais objetivas no momento da fala,
aprendem também a valorizar a fala do outro e a escutar. São nesses
momentos de interação que as crianças vão levantando hipóteses, dizendo
o que elas pensam sobre o objeto de estudo, elaborando respostas, antes
que sejam apresentadas a elas os conceitos prontos.
Uma outra importante ferramenta que o professor poderá utilizar para
ampliar os repertórios de conhecimentos da criança, tendo reflexos em sua
aprendizagem, é a leitura de textos de literatura infantil que tenham relação
com a Ciência. Como diz Lorenzetti e Delizoicov (2001), “esses tipos de
textos podem ser uma das formas de desenvolver a alfabetização e a
alfabetização científica”. Ainda sobre a importância da leitura, Cagliari
(1988, p.9, apud LORENZETTI e DELIZOICOV, 2001, p.53) ressalta que
ao discutir a leitura nas Séries Iniciais, afirma que os professores
deveriam ler algo diariamente para seus alunos. “Não ler só histórias,
mas também coisas sérias, como uma notícia, um texto científico ou
tecnológico, por exemplo, a história de quem inventou a lâmpada, a
máquina de escrever, etc. Ler não apenas uma história onde os
personagens são animais.... Mas também texto de zoologia a respeito
dos animais.
Refletindo na prática através da proposta de uma Sequência Didática
Tema: Curiosidades do Mundo Animal
Público: Estudantes do 2º ano do Ensino Fundamental
Interdisciplinaridade entre: Ciências Naturais e Língua Portuguesa
Os conhecimentos que remetem à temática sobre a vida dos bichos
fascinam as crianças e instigam sua curiosidade, despertando o interesse
em aprender mais sobre a vida animal e suas relações com o meio. A
atividade da página 93, do Almanaque Ilustrado de Alfabetização -Ano 2, do
Programa Criança Alfabetizada (PERNAMBUCO, 2019), pode ser o ponto31
de partida para o estudo sobre a vida animal, sendo a sequência didática
uma boa estratégia para ampliação desses conhecimentos. É interessante
ressaltar que os questionamentos podem surgir das e pelas crianças, sendo
também um ponto de partida para o desenvolvimento da sequência didática,
pois são conhecimentos que fazem parte da vida cotidiana das crianças que
começam a fazer relação com o que estão aprendendo.
A seguir, sugere-se algumas atividades e textos sobre curiosidades do
mundo animal que são ótimos para estimular, despertar o interesse e a
curiosidade das crianças em querer descobrir e aprender, de forma
prazerosa, sobre a temática. Além disso, a atividade constitui uma conexão
entre conhecimentos sobre o mundo animal e o trabalho conjunto com
leitura e escrita, proporcionando uma perspectiva interdisciplinar entre
Ciências Naturais e Língua Portuguesa.
Dessa forma, as atividades sugeridas foram elaboradas a partir de
algumas práticas de Linguagem, dentre elas, Oralidade, Leitura e Análise
Linguística, relacionadas ao componente curricular Língua Portuguesa; já
em Ciências, a atividade vincula à temática Vida e Evolução. O trabalho
interdisciplinar tem como propósito a intersecção entre os conteúdos desses
dois componentes, possibilitando que os estudantes tenham uma visão
mais ampla sobre a temática estudada, permitindo a construção dos
saberes de forma não fragmentada e também contextualizada, bem como a
aquisição da leitura e da escrita.
Descrição das etapas da Sequência Didática:
1º momento:
Oralidade - Proporcione um momento de conversa com as crianças sobre a
temática:
CURIOSIDADES DO MUNDO ANIMAL. Para isso, organize uma roda de
conversa e inicie perguntando a elas sobre as expectativas em relação à
temática. Quais animais conhecem, se sabem alguma curiosidade animal,
se esse animal está em extinção, qual a importância na preservação desse
32
animal, se sabe distinguir animais domésticos ou selvagens, aquáticos ou
terrestres, mamíferos, peixes, répteis, anfíbios e outras tipos de
curiosidades como o tamanho do corpo, de que é coberto, como nascem, o
que comem, os números de patas, onde vivem, o tamanho do rabo, o
tamanho do bico das aves, ou outros questionamentos que surgirem no
decorrer da conversa.
Para ampliar as discussões sobre a temática, utilize os links sugeridos
abaixo. Eles apresentam variadas curiosidades sobre os animais e trazem
imagens que prendem a atenção das crianças.
Título do vídeo e/ou texto Link de acesso
Conheça curiosidades dos
animais selvagens
https://www.youtube.com/watch?v=h4rreuScqOI
Curiosidades sobre animais que
você não sabia! - Fatos
interessantes sobre animais
https://www.youtube.com/watch?v=_NL9JDQP9H
4
Você sabia que… Mundo animal.
https://www.jornaljoca.com.br/voce-sabia-que-
mundo-animal/
23 coisas incríveis sobre animais
que você nunca imaginou
https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/20
17/08/23-coisas-incriveis-sobre-animais-que-
voce-nunca-imaginou.html.
Para o trabalho com os vídeos, imagens e textos é importante fazer a
mediação com os estudantes da compreensão e entendimento do que foi
assistido, visto e lido, podendo fazer uso de algumas perguntas para isso,
tais como: Quem gostaria de explicar o que é uma curiosidade? Alguém já
conhecia alguma dessas curiosidades? O que mais chamou a atenção
sobre essas curiosidades? Nesse momento de oralidade é fundamental a
escuta atenta, o saber ouvir, esperar os coleguinhas se posicionarem e
saber a sua hora de falar. Para isso, organize os turnos da fala para que
todos possam ser contemplados. É importante não esquecer de registrar,
ao longo das aulas, os conhecimentos prévios e os conhecimentos
33
adquiridos sobre a temática. Você poderá fazer uso do quadro para registrar
o que as crianças já sabem e o que descobriram sobre a temática. Esse
quadro pode ficar exposto na sala e servirá para sistematização na hora
que as crianças forem produzir o livro das curiosidades, que iremos propor
mais adiante.
2º momento:
Leitura - Os textos “Curiosidades do mundo animal” (veja os textos nas
imagens abaixo) são bem curtos e podem ser lidos por todas as crianças da
sala. Porém, faça uma leitura prévia para que as crianças se familiarizem
com algumas palavras. É importante que elas acompanhem essa leitura
atentamente, utilizando o dedo para o que for sendo oralizado, lembrando
que você é o modelo leitor. Por isso, leia em voz alta, com ritmo, entonação
e expressividade, sempre respeitando os aspectos de uma leitura fluente.
Mas, atenção, porque os textos, embora curtos, podem apresentar palavras
que as crianças não sabem o seu significado e dificultar a compreensão do
que se ler. Então, atenção para o vocabulário. Vá conversando com as
crianças sobre os significados das palavras, lance mão de perguntas sobre
palavras ou expressões desconhecidas. Isso ajudará no entendimento do
que está sendo lido. Além disso, as crianças vão percebendo que a Ciência
utiliza palavras científicas apropriadas, e de acordo com o nível de
escolaridade, é possível desenvolver e ampliar o repertório vocabular e o
saber científico, mas que tudo isso seja adquirido de forma contextualizada.
A seguir, estão os textos “Curiosidades do mundo animal” que fazem
parte do Almanaque Ilustrado de Alfabetização - Ano 2, Programa Criança
Alfabetizada, página 93.
34
Textos disponíveis em: http://www.educacao.pe.gov.br/portal/upload/galeria/17691/Almanaque%20Ano%202.
3º momento:
Saídas a campo - É importante que o professor, além de utilizar os
diversos textos e vídeos sobre a temática curiosidades da vida animal,
também possibilite a ida dos estudantes ao zoológico ou até mesmo um
passeio nos arredores da escola. Esses momentos aumentam a
curiosidade, o senso de observação, a criatividade e o interesse pelo que
está sendo estudado. Além disso, o contato com o ambiente e os animais
que ali vivem, permitirão que as crianças observem tamanho, formato,
cores, alimentação, comportamentos e outros aspectos que as observações
diretas proporcionarem. Sugere-se que, ao fazer essas saídas a campo, as
crianças elaborem, previamente, um diário de campo, enfatizando os
aspectos a serem observados e os registros, para depois serem usados na
sistematização das aprendizagens.
35
4º momento:
Mão na massa - Chegou a hora de pôr a mão na massa. A sugestão é
produzir um mural de curiosidades do mundo animal, visando compor um
mural de curiosidades científicas na escola e/ou em espaço digital, como
blog da turma/escola, padlet etc. Para isso, todos os conhecimentos que
foram adquiridos nos diversos momentos serão fundamentais para essa
produção. Nesse momento, as crianças sistematizarão as aprendizagens,
momento em que cada uma produzirá sua curiosidade científica, seguindo
as mesmas características do gênero.
Um importante aspecto para que possamos compreender a importância da
Educação Científica é relacionar quais habilidades estão sendo
desenvolvidas com os conhecimentos propostos na sala de aula. A seguir,
apresentamos o quadro que identifica quais habilidades foram trabalhadas
na sequência proposta:
Habilidades desenvolvidas com a sequência didática
Ciências
Temática: Vida e Evolução
(EF02CI04PE) Descrever e comparar
características de plantas e animais que fazem
parte de seu cotidiano, percebendo semelhanças
e diferenças (tamanho, forma, cor, fase da vida,
local e condições onde se desenvolvem etc.) e
relacioná-las ao ambiente em que eles vivem.
(EF02CI06BPE) Analisar as relações entre as
plantas, o ambiente e os demais seres vivos de
forma crítica, significativa e ética.
Língua Portuguesa
Prática de Linguagem - Oralidade
(EF15LP10PE) Escutar/visualizar, com atenção,falas de professores e colegas, formulando
perguntas pertinentes ao tema e solicitando
esclarecimentos sempre que necessário.
(EF15LP11PE) Reconhecer características da
conversação espontânea presencial, respeitando
os turnos de fala, selecionando e utilizando,
durante a conversação, formas adequadas de
tratamento de acordo com a situação e a
posição do interlocutor.
36
Prática de Linguagem - Leitura/escuta
(compartilhada e autônoma)
(EF15LP01PE) Identificar a função social de
textos que circulam no cotidiano, nas mídias
impressas, de massa e digital, reconhecendo
para que foram produzidos, onde circulam, quem
os produziu, a quem se destinam e que os
gêneros possuem funções sociais relacionadas
aos campos de atuação nos quais circulam.
(EF12LP02PE) Buscar, selecionar e ler, com a
mediação do professor (leitura compartilhada),
textos que circulam em meios impressos ou
digitais, de acordo com as necessidades e
interesses.
Prática de Linguagem - Produção de
textos (escrita compartilhada e autônoma)
(EF15LP05PE) Planejar, com a ajuda do
professor, o texto que será produzido,
considerando a situação comunicativa: (os
interlocutores (quem escreve/para quem
escreve); a finalidade ou o propósito (escrever
para quê); a circulação (onde o texto vai
circular); o suporte (qual é o portador do texto); a
linguagem, organização e forma do texto e seu
tema) pesquisando em meios impressos ou
digitais, sempre que for preciso, informações
necessárias à produção do texto, organizando
em tópicos os dados e as fontes pesquisadas.
Ao final, também sugerimos que o professor reúna todo material
produzido pelas crianças e organize um portfólio para ser apresentado aos pais
no momento de reuniões. Esse acervo poderá ficar exposto na biblioteca da
escola para consulta. Para isso, todos os conhecimentos que foram adquiridos
nos diversos momentos serão fundamentais para essa produção. Nesse
momento, as crianças sistematizarão as aprendizagens, momento em que
cada uma produzirá sua curiosidade científica, seguindo as mesmas
características do gênero.
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<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofi
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ZERO, Project. Tornando visível a aprendizagem: crianças que aprendem
individualmente e em grupo/Reggio Children; tradução Thaís Helena Bonini. -
1. ed. - São Paulo: Phorte, 2014.
http://www.educacao.pe.gov.br/portal/upload/galeria/17691/Almanaque%20Ano%202.pdf
http://www.educacao.pe.gov.br/portal/upload/galeria/17691/Almanaque%20Ano%202.pdf
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/rl000001.pdf
https://www.if.ufrgs.br/cref/ojs/index.php/ienci/article/view/246/172
39
“A educação científica, no sentido amplo,
sem discriminação e englobando todos os
níveis e modalidades, é um pré-requisito
fundamental para a democracia e para
assegurar-se o desenvolvimento
sustentável”. Declaração sobre Ciência e o
Uso do Conhecimento Científico
(Unesco/Budapeste/1999)
O conhecimento científico é o capital maisimportante do mundo
civilizado. Investir em sua busca e construção é investir na qualidade de vida
da sociedade. O investimento na pesquisa científica tem como principal
objetivo o conhecimento de tudo que nos cerca.
A segunda metade do século XX foi marcada pelo grande avanço na
produção de novos conhecimentos e na introdução de novas tecnologias, que
alteraram radicalmente os padrões estabelecidos até então, e resultaram em
mudanças de amplitude local e global em todos os segmentos das sociedades.
Nesse contexto, cresce cada vez mais a importância do papel da
educação e da pesquisa científica e tecnológica para atender às necessidades
e oportunidades que se apresentam a cada momento. Os instrumentos criados
pelas novas tecnologias dependem essencialmente de recursos humanos
capacitados para acessar informações e transformá-las em conhecimento e
inovação. Há uma correlação de desenvolvimento científico e tecnológico de
um país com a qualidade de vida de seu povo.
A educação científica, em conjunto com a educação social e ambiental,
oportuniza aos estudantes explorarem e entenderem o que existe ao seu redor
nas diferentes dimensões: humana, social, política e cultural. A educação
científica desenvolve habilidades, define noções, estabelece definições,
conceitos e conhecimentos, estimulando o estudante a observar, questionar,
investigar e entender de maneira lógica os seres vivos, o meio em que vivem e
os movimentos e fenômenos do cotidiano. Além disso, ela estimula a
3. A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NOS ANOS FINAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL
40
curiosidade, a imaginação e o entendimento do processo de construção do
conhecimento. Investir no conhecimento científico contribuirá para que os seus
resultados estejam ao alcance de todos. Portanto, é fundamental para que a
sociedade possa compreender a importância das ciências no cotidiano.
Educação científica e a formação de professores: o desafio de ensinar
cientificamente
Um dos grandes desafios a ser enfrentado é ensinar cientificamente, é
trazer esses conceitos para a sociedade como uma experiência educativa e de
emancipação.
Demo (2003) e Veiga (2004) referem-se à pesquisa como um caminho
didático e investigativo, em que a aprendizagem é guiada para a autonomia do
estudante. Os autores defendem que, ao percorrerem este caminho, os sujeitos
são motivados à construção da autoria e autonomia, provocando certa
independência intelectual, uma vez que aprendem a pensar por si, a construir,
reconstruir e posicionar-se diante do conhecimento. Adquirir cultura científica é
um direito, e a escola tem a função de difundi-la. O ensino fundamental precisa
se apropriar de todos esses aspectos de sentidos prático, cultural e social.
O papel do professor na educação científica é de criar condições para
que os estudantes aprendam a pesquisar e estimulá-los, fornecendo instruções
para que assumam sua experiência educativa como fonte de conhecimento
(VEIGA, 2004). Essa concepção torna a pesquisa uma prática de produções,
socializações de conhecimento e um caminho didático que permite orientar a
aprendizagem com vistas à autonomia do estudante, tornando-o um ser
intelectualmente independente. Os professores precisam educar de forma
estimuladora e despertar a criatividade dos educandos, para torná-los críticos,
reflexivos e ativos no processo educacional e não meros ouvintes de conceitos
prontos. Pensar a educação pela pesquisa é perceber a necessidade de uma
articulação entre teoria e prática, é conceber e desenvolver uma nova
construção social da aprendizagem, ou seja, construir conhecimentos que vão
além de uma instrução ou um mero repasse de conteúdo.
41
Para Fachín-Terán (2011), ser cientificamente culto implica também
possuir atitudes, valores e novas competências, principalmente, ter uma
postura aberta à mudança, que inclui ética e responsabilidade, estar informado
sobre determinadas situações e acontecimentos, sendo capaz de tomar
decisões sociocientíficas que tenham implicações pessoais e/ou sociais.
É de grande importância que o estudante seja preparado para tomar
decisões na vida de forma consciente e crítica, para se colocar como
participante ativo das ações sociais. Entendemos que essa educação científica
só será possível por meio de um novo pensar dos processos de ensino e
aprendizagem, de um novo olhar dos professores sobre as práticas docentes,
de um conhecimento adquirido por meio de questionamentos e reflexões, que
comece nos anos iniciais até os níveis superiores, com o intuito de alcançar
uma formação de professores pesquisadores capacitados para desenvolver a
educação científica em qualquer nível.
O movimento do professor pesquisador não é uma onda passageira,
pois a pesquisa é fundamental para o desenvolvimento profissional do
professor. A pesquisa favorece o desenvolvimento do professor como agente
de mudança e de produção da teoria crítica em educação. A pesquisa ajuda a
encontrar soluções e a lidar com pressupostos e representações, torna o
professor produtor do conhecimento e não apenas consumidor. Reconhecem
esses autores em tela que as principais críticas giram em torno do tipo de
conhecimento produzido, ou seja, é necessária a produção de conhecimento
teórico a partir do conhecimento prático.
O Trabalho de Conclusão do Fundamental (TCF) e a Educação Científica
Nos últimos tempos, desenvolver atividades de Iniciação Científica em
sala de aula da educação básica significa uma caminhada em direção à
formação integral dos estudantes, pois eles sentem-se motivados a
vivenciarem atividades investigativas, que resultam na produção e/ou
ressignificação de um conhecimento, sendo consideradas estratégias
importantes na construção do conhecimento significativo.
Esse percurso, objetivando a formação integral, vem sendo construído
desde a educação infantil, nos anos iniciais e finais do ensino fundamental e no
42
ensino médio. Nessa construção, consideramos a articulação curricular entre
as etapas da Educação Básica. A continuidade da educação articulada entre as
etapas é proposta na perspectiva de reconhecer que os objetivos da formação
básica devem promover a ampliação e a intensificação gradativa do processo
educativo, possibilitando e assegurando um percurso contínuo de
aprendizagens. O processo de transição entre as etapas requer uma atenção
cuidadosa para suas especificidades, pois cada etapa deverá consolidar o
caminho alicerçado na etapa anterior.
São várias as contribuições da Iniciação Científica no Ensino
Fundamental. Entretanto, para que elas ocorram, é preciso desenvolver nos
estudantes a capacidade de tomar decisões, sendo necessário que o conteúdo
trabalhado esteja associado ao contexto social. Desse modo, o papel do
professor é estabelecer relações e comparações que permitam tornar
significativa a aprendizagem.
Considerando a importância do contato prévio com a pesquisa científica
nos anos finais do Ensino Fundamental, a Rede Estadual de Educação de
Pernambuco desenvolveu, em 2016, o Trabalho de Conclusão do Fundamental
(TCF). No TCF, de maneira voluntária, os estudantes do 9º ano que estão
avançando para o Ensino Médio devem elaborar um trabalho de pesquisa com
base na investigação científica, refletindo sobre problemáticas do seu cotidiano
e do mundo.
O objetivo da Secretaria de Educação e Esportes é despertar o interesse
pela pesquisa, planejamento e investigação, a partir de algum tema que o
grupo de estudantes tenha vontade de saber mais. As pesquisas no TCF
podem ser desenvolvidas individualmente ou em grupo de até seis integrantes,
e serão orientadas, em sua maioria, por um professor cuja formação seja
relacionada ou afim à temática escolhida. O professor-orientador tem papel
fundamental durante esse processo de iniciação científica. Ele participa da
escolha do tema,pensa no percurso lógico e metodológico, auxilia no processo
de análise dos dados e reflete sobre a melhor forma de apresentação da
pesquisa.
No TCF, o estudante junto aos seus professores desenvolve um
trabalho de cunho científico norteado por um plano de voo. A ideia desse plano
43
é nortear e direcionar o trabalho. Ele contém elementos estruturantes comuns a
toda pesquisa científica, tais como tema, justificativa, problema, referencial
teórico, metodologia, resultados e discussões, produtos, cronograma e
referências. No entanto, o elemento produto é um item novo. Este estaria
relacionado ao elemento resultado, como algo gerado pelos estudantes ao final
de sua pesquisa. Esse produto “pode ser um aplicativo, uma exposição, uma
maquete, um vídeo, entre outras possibilidades” (PERNAMBUCO, 2019).
Bizzo (2002) afirma que o conhecimento científico se tornou uma
exigência básica para o convívio na atual sociedade. No entanto, para que
possamos manter esse crescente avanço científico, faz-se necessário formar
os cientistas. Para formá-los, é necessário que os estudantes sejam
estimulados a vivenciar desde cedo, no intuito de despertar a curiosidade, ter a
percepção dos problemas que nos rodeiam e formalizar a construção de
respostas norteadas pelo rigor científico. A formação científica dos estudantes
depende, em parte, da apropriação do conhecimento científico. Tal
conhecimento tange a compreensão do comportamento da natureza e, por
esse motivo, não se refere a conceitos prontos de verdades absolutas
(DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2007).
Que atividades os docentes podem propor aos estudantes do Ensino
Fundamental para aumentar o interesse deles pelas ciências?
Projetos, boas sequências didáticas, situações de interação de jogo,
estudos do meio, a ideia de um laboratório integrado à sala de aula,
experimentos como provocadores de olhares e as conjecturas do estudante,
todos esses exemplos constituem excelentes possibilidades de atividades que
visam promover um ambiente estimulador e desafiador para instigar nos
estudantes a curiosidade, a reflexão e o espírito investigativo. Dentre eles,
podemos destacar a participação em Feiras de Ciências como um excelente
elemento na mobilização e produção do conhecimento científico. Esses
momentos estimulam e envolvem os estudantes, professores e familiares na
busca de soluções para problemas do cotidiano ou de interesse mais geral.
44
Para Pavão (2008) a Feira de Ciências estimula, organiza e divulga a
produção científica da escola, anima alunos, professores e famílias e, quando
incorporada ao currículo, resulta numa estratégia educacional que
naturalmente estimula atividades de investigação científica na escola,
favorecendo o ensino de Ciências “fazendo ciência”. Em nosso estado temos o
privilégio de possuir um museu de ciências chamado Museu Espaço Ciência
que promove anualmente Feiras de Ciências objetivando a divulgação e a
educação científica, se constituindo em um conjunto de procedimentos voltados
à comunicação da ciência para estudantes, professores e o público em geral,
através de suas narrativas expositivas capazes de promover diálogos e
reflexões acerca das relações entre ciência e sociedade.
Para tal mobilização, é importante possibilitar a validação do
pensamento do estudante, permitir a ele tempo de hipótese, antes de
apresentar um conceito pronto, descobrir o que ele pensa sobre a temática.
Mas o principal instrumento que o professor pode desenvolver no estudante é o
livre pensar e pesquisar, ensinar a fazer pesquisa, ensinar a dúvida, ensinar a
validar, a ver o outro como fonte de conhecimento.
Esses são os instrumentos de trabalho nas formações: ensinar ao
estudante a busca pela autonomia, o que não significa de forma nenhuma o
individualismo, mas uma autonomia de pensar, de livre associar-se, de ir atrás
de informações para responder as dúvidas e as vontades de pesquisa que
esse estudante venha a ter. É necessário deixar claro que todo saber não é
estável, estático e imutável e que todo conhecimento pode ser modificado,
redirecionado e repensado.
45
SEQUÊNCIA DIDÁTICA - 1
Tema: CONCEITO DE ALAGAMENTO NAS ZONAS URBANAS
Público: Estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental
Interdisciplinaridade entre: Geografia, Ciências, Matemática e Língua
Portuguesa
Competências: Argumentar com base em fatos, dados e informações
confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e
decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a
consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional
e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos
outros e do planeta.
Professor, a atividade proposta foi construída em
consonância com o Currículo de Pernambuco, e
pode ser vivenciada no contexto de sala de aula,
permitindo articulação com outros materiais
pedagógicos. As aulas deste fascículo compõem
uma sequência didática metodológica, organizada
numa perspectiva interdisciplinar, em que as
atividades sugeridas podem e devem ser
alteradas, visando os objetivos pretendidos,
levando em consideração a realidade da turma e
de cada estudante e o nível de abordagem
pensado por cada professor nos contextos de suas
salas de aulas.
46
Após a realização de um levantamento bibliográfico e de campo das
características do meio físico e do uso e ocupação das terras onde está
localizada a escola e os seus arredores, concluiu-se ser esta uma área
suscetível aos alagamentos em pontos localizados nos fundos de vale ou
mesmo nas vertentes com baixa inclinação. O alagamento foi, portanto, o
processo físico elementar selecionado para a SD, potencialmente comum não
apenas no lugar de vivência dos estudantes, mas também em outros lugares
do município onde moram, assim como em grande parte das cidades
brasileiras.
A problemática das atividades foi focada em duas questões principais: a
causa dos alagamentos e as possibilidades de ocorrência tendo em vista o
lugar de vivência dos estudantes. Trabalhou-se com a hipótese de que, no
início da SD, quando questionados sobre as causas dos alagamentos, os
estudantes possam apontar o aumento da quantidade de chuvas como
decorrência do aquecimento global ou do crescimento das cidades. Ao apontar
esses fatores, elaboram opiniões pautadas no contexto imediato, ou seja,
naquilo que já viram ou ouviram falar sobre o assunto. Em geral, os estudantes
não relacionam um fenômeno com um conceito que está sendo estudado. No
caso do processo de alagamento, será interessante relacioná-lo com solo,
relevo, vegetação, volume de água e organização do bairro, por exemplo,
articulando diferentes conteúdo.
Cabe salientar que a suposição de que os estudantes venham a
empregar explicações generalistas ou animistas para a causa ou ocorrência de
um determinado fenômeno físico não significa subestimar sua inteligência ou
capacidade de raciocínio, mas sim admitir que tal entendimento pode se tornar
um obstáculo epistemológico, ou seja, um entrave para a construção do
conhecimento científico. O conceito tomado do senso comum, construído no
Problematização...
47
dia a dia, pode e deve ser desconstruído e superado pelos estudantes por meio
de atividades que problematizem seus conhecimentos espontâneos.
Objetivo geral:
Possibilitar a aprendizagem do conceito de alagamento por meio de:
a) Diferenciação de áreas do lugar de vivência pelo estabelecimento de
unidades de paisagem;
b) Superação das opiniões generalistas para a causa e ocorrência dos
alagamentos.
A proposta que será desenvolvida como exemplo para estruturar a SD
compõe-se de 10 questionamentos distribuídos em duas aulas envolvendo
várioscomponentes curriculares, como sistematizado na tabela a seguir:
ATIVIDADES AULAS QUESTIONAMENTOS E OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Leitura
inicial da
paisagem e
do
problema:
1ª e 2ª
aulas
Questionamentos de 1 a 10
São propostos questionamentos que privilegiam a
observação de cenários por meio de imagens que de alguma
forma representam o conceito principal abordado na SD
Questionamentos e objetivos
Qual a causa dos
alagamentos e as
possibilidades de
ocorrência, tendo em
vista o lugar de vivência
dos estudantes?
48
as primeiras
opiniões
(alagamento). Os questionamentos também são compostos
de situações que provocam a adesão do estudante a uma
opinião sobre quais são as causas do problema em tela e por
perguntas elaboradas a priori que o estudante fazem inferir
(recorrendo somente à memória, ou seja, aquilo que já viram
ou de que ouviram falar) se o processo em questão ocorre ou
não em seus lugares de vivência (escola e residência). Em
outras palavras, são as aulas nas quais os estudantes são de
alguma forma estimulados a expor opiniões, a argumentar
sobre o tema da SD.
Aula 01
1. Observe as fotografias a seguir:
Serra Talhada, no Sertão de Pernambuco, fica alagada após transbordamento do Rio Pajeú.
(FIGUERÊDO, 2020)
Passo a passo da sequência didática
49
As imagens da chuva torrencial que alagou BR-232 e causou incidentes no Grande Recife.
(PONCE, 2020)
PE: chuva forte deixa ruas alagadas e trânsito complicado no Recife. (TERRA)
50
Chuvas fortes deixam mortos e desabrigados em Pernambuco e Alagoas. (BERNARDES, 2017)
Chuvas deixam mais de 130 desabrigados em Pernambuco; Codecipe registrou 39 deslizamentos de
terra. (FOLHA, 2021)
1. O que há em comum em todas as fotografias?
2. No lugar onde você mora (casa, rua, bairro, cidade) ocorrem ou já ocorreram
alagamentos?
3. No lugar onde você estuda (escola), ou nas proximidades, ocorrem ou já
ocorreram alagamentos?
4. Em sua opinião, qual a causa de alagamentos como os mostrados nas
imagens?
a) Excesso de chuvas.
b) Aquecimento global.
c) Falta de investimentos em infraestrutura.
d) Impermeabilização da superfície de áreas planas ou mais baixas (em
relação ao seu entorno).
e) Ocupação humana muito próxima dos rios.
5. Leia atentamente os textos a seguir.
https://www.metropoles.com/brasil/meio-ambiente-brasil/chuvas-fortes-deixam-mortos-e-desabrigados-em-pernambuco-e-alagoas?amp#_blank
https://www.folhape.com.br/noticias/chuvas-deixam-mais-de-130-desabrigados-em-pernambuco-codecipe-registr/183630/#_blank
https://www.folhape.com.br/noticias/chuvas-deixam-mais-de-130-desabrigados-em-pernambuco-codecipe-registr/183630/#_blank
51
Texto 01:
Confira as imagens do alagamento em Serra Talhada, no Sertão de
Pernambuco. As pessoas ficaram ilhadas e os bombeiros foram acionados.
Devido ao transbordamento do Rio Pajeú, o município de Serra Talhada, no
Sertão de Pernambuco, ficou debaixo d'água nesta quinta-feira (26). Segundo
as informações da Rádio Jornal, vários bairros da cidade ficaram inundados e o
Corpo de Bombeiros foi acionado para remover as pessoas ilhadas. Não há
informação de vítimas fatais.
De acordo com a nota divulgada pela Secretaria de Infraestrutura do Estado de
Pernambuco (SEINFRA), quinze barragens do Estado, entre Sertão e Agreste,
atingiram as cotas máximas e acabaram vertendo. A Defesa Civil de Serra
Talhada informou ao Jornal do Commercio que atua na assistência de todos os
moradores e comerciantes afetados.
Fonte1
Texto 02:
Chuvas fortes deixam mortos e desabrigados em Pernambuco
Em Pernambuco, a Defesa Civil confirmou a notificação de duas mortes e um
desaparecimento no Agreste do Estado. Os óbitos aconteceram no município
de em Lagoa dos Gatos. A notificação do desaparecimento de um jovem foi em
Caruaru. Ainda segundo a Defesa Civil, cerca de 5 mil pessoas estão
desalojadas no Estado. Nos últimos dois dias, segundo a Agência
Pernambucana de Águas e Clima, choveu 140 milímetros. “As previsões
apontam que as chuvas devem continuar com intensidade nos municípios da
Mata Sul. Duzentos homens já foram enviados para dar suporte às equipes de
defesa civil dos municípios. Também já enviamos dois caminhões com
alimentos e lonas”, relatou o governador Paulo Câmara, que fará um sobrevoo
nesta tarde nos principais municípios atingidos. Em 2010, quando houve uma
1 SARMENTO, Robert. Confira as imagens do alagamento em Serra Talhada, no Sertão de Pernambuco.
26/3/2020. UOL. Disponível em: <https://tvjornal.ne10.uol.com.br/noticias/2020/03/26/confira-as-imagens-
do-alagamento-em-serra-talhada-no-sertao-de-pernambuco-186008/index.html>. Acesso em: 20 out.
2022.
https://tvjornal.ne10.uol.com.br/noticias/2020/03/26/confira-as-imagens-do-alagamento-em-serra-talhada-no-sertao-de-pernambuco-186008/index.html
https://tvjornal.ne10.uol.com.br/noticias/2020/03/26/confira-as-imagens-do-alagamento-em-serra-talhada-no-sertao-de-pernambuco-186008/index.html
52
grande enchente na região da Mata Sul, o volume de chuvas acumulado em
três dias foi de 180 milímetros. Segundo o secretário de Planejamento e
Gestão de Pernambuco, Marcio Stefanni, o Estado está monitorando todas as
áreas e observando a situação das escolas e dos hospitais da Mata Sul e do
Agreste. Hoje, a infraestrutura da Mata Sul está melhor do que em 2010. A
quantidade de água é muito grande, mas a barragem de Serro Azul acumulou
algo em torno de 15 milhões de metros cúbicos de ontem (sábado) para hoje
(domingo). Então, a barragem está operacional e, se não fosse ela, as cenas
seriam piores. Serro Azul está com apenas 10% da capacidade”, ressaltou o
secretário. De acordo com o secretário executivo da Defesa Civil, Tenente
Coronel Fabio Rosendo, as cidades em situação mais crítica são Rio Formoso,
Ribeirão, Água Preta, Palmares, Catende, Maraial, São Benedito do Sul e
Belém de Maria.
Fonte2
Texto 03:
Projeções de aquecimento global apontam o aumento de chuvas mais
intensas, de deslizamentos e de inundações no Brasil
Liderada por pesquisadores do Cemaden, o trabalho científico – divulgado hoje
(3) na publicação internacional da Frontiers in Climate – faz projeções com
diferentes níveis de aquecimento, indicando aumento na vulnerabilidade e
mudança nos impactos potenciais de deslizamentos de terra e inundações. Os
estudos mostram três regiões brasileiras, de áreas densamente povoadas,
onde os desastres geo-hidro-meteorológicos podem ser intensificados,
destacando: regiões Sul e Sudeste do Brasil (inclusive as regiões
metropolitanas) e parte leste do Nordeste.
Os cenários de mudanças extremas para a ocorrência de chuvas intensas e o
aumento do risco de inundações e deslizamentos foram estimados com a
projeção do aumento de aquecimento global (GWLs) de 1,5 º, 2º e 4º C. A
2 BERNARDES, Monica. Chuvas fortes deixam mortos e desabrigados em Pernambuco e Alagoas.
Estadão, 2017. Disponível em: < https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,chuvas-fortes-deixam-
mortos-e-desabrigados-em-pernambuco-e-alagoas,70001816915>. Acesso em: 22 out. 2022.
https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,chuvas-fortes-deixam-mortos-e-desabrigados-em-pernambuco-e-alagoas,70001816915
https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,chuvas-fortes-deixam-mortos-e-desabrigados-em-pernambuco-e-alagoas,70001816915
53
projeção mostra que o aumento em diferentes níveis de aquecimento provoca
uma mudança notável nas fortes precipitações, resultando no aumento do risco
de deslizamentos e inundações repentinas, no contexto das mudanças
climáticas.
NoBrasil, as principais regiões metropolitanas e centros turísticos – além das
regiões que detêm a principal infraestrutura brasileira – estão localizadas nas
áreas mais impactadas com o aquecimento global.
Fonte3
Texto 04:
O que é taxa de permeabilidade?
A explosão demográfica ocorrida no Brasil, a partir dos anos 60, fez crescer as
grandes cidades e, consequentemente, suas áreas asfaltadas e concretadas.
Infelizmente, os bueiros e galerias subterrâneas existentes não deram mais conta
de fazer o escoamento da água das chuvas. E mesmo as poucas “bocas de
lobos” começaram a ficar entupidas de lixo. O resultado de tudo isso é que as
zonas urbanas começaram a sofrer mais frequentemente com os alagamentos. E
a situação só tende a agravar-se, pois muitas pessoas criaram o costume de
colocar laje sobre as áreas verdes de quintais.
Com isso, os líquidos não escoam para o solo e os lençóis freáticos ficam com os
níveis cada vez mais reduzidos. Por esse motivo, os governos têm tomado
medidas extremas para manter os reservatórios em condições mínimas de
abastecimento. Mas nada tem sido o bastante. E os povos já estão se dando
conta da triste realidade. O intenso regime de chuvas, combinado ao solo coberto
por construções, ruas e calçadas, está fazendo com que a terra não absorva a
água. Uma última solução que tem sido adotada pelos municípios é o uso da taxa
de permeabilidade como uma regra a ser obedecida.
A legislação brasileira exige que uma porção dos terrenos, tanto privados quanto
públicos, seja permeável. Isso quer dizer que nestas áreas os fluidos poderiam
3 Projeções de aquecimento global apontam o aumento de chuvas mais intensas, de deslizamentos e de
inundações no Brasil. CEMADEM, 2020. Disponível em: <http://www2.cemaden.gov.br/projecoes-de-
aquecimento-global-apontam-o-aumento-de-chuvas-mais-intensas-de-deslizamentos-e-de-inundacoes-
no-brasil/>. Acesso em: 22 out. 2022.
http://www2.cemaden.gov.br/projecoes-de-aquecimento-global-apontam-o-aumento-de-chuvas-mais-intensas-de-deslizamentos-e-de-inundacoes-no-brasil/
http://www2.cemaden.gov.br/projecoes-de-aquecimento-global-apontam-o-aumento-de-chuvas-mais-intensas-de-deslizamentos-e-de-inundacoes-no-brasil/
http://www2.cemaden.gov.br/projecoes-de-aquecimento-global-apontam-o-aumento-de-chuvas-mais-intensas-de-deslizamentos-e-de-inundacoes-no-brasil/
54
escoar através dos sólidos. Ou seja, a água das chuvas poderia fluir
adequadamente até lagos, rios e mares. Claro que existem outras formas de
compensação ambiental. Uma delas é o plantio de árvores ou a taxa de área
verde. De todo o modo, a absorção de água pelo solo evita que os nutrientes da
terra empobreçam e sequem os lençóis freáticos. Então, ter áreas não
cimentadas nos terrenos – ou seja, mais jardins – é a melhor solução por hora.
Fonte4
Texto 05:
Os impactos da urbanização sobre o ciclo hidrológico no município de
Patrocínio
O ciclo da água, em suas condições naturais, pode ser apontado como um
sistema em equilíbrio. Porém, com o crescente processo de urbanização,
percebem-se impactos que acarretam alterações na dinâmica do ciclo
hidrológico como um todo ou em partes dele. Em áreas urbanas, a alta taxa de
impermeabilização do terreno, a remoção da vegetação e a canalização de
cursos fluviais provocam ou intensificam problemas de alagamentos e
inundações, bem como erosões e assoreamentos. É importante destacar que o
equilíbrio do ciclo da água é essencial para a manutenção da vida na Terra,
sendo importante conhecer as consequências do avanço urbano sobre esse
ciclo, mesmo em cidades pequenas, para possibilitar a diminuição dos
impactos e auxiliar na prevenção de problemas futuros.
Fonte5
4 CRUZ, Talita. O que é taxa de permeabilidade? Aprenda a calcular melhores materiais. PRO, 2022.
Disponível em: < https://www.vivadecora.com.br/pro/taxa-de-permeabilidade/>. Acesso em 20 out. 2022.
5 ROSA, Andressa Ferreira. Os impactos da urbanização sobre o ciclo hidrológico no município de
Patrocínio - MG. 2017. 35 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Ambiental) -
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2017.
https://www.vivadecora.com.br/pro/taxa-de-permeabilidade/
55
Esses conteúdos podem ser desenvolvidos interdisciplinarmente a partir
do 4º ano do Ensino Fundamental, considerando as diversas habilidades
que poderão ser desenvolvidas na SD proposta.
Aula 2
6. Releia os textos da aula anterior. Neles são apresentadas diferentes
opiniões sobre as causas dos alagamentos.
Agora responda:
7. Com qual dessas opiniões você se identifica mais, ou seja, qual delas
expressa melhor o seu ponto de vista sobre esse assunto?
a) Texto 1
b) Texto 2
c) Texto 3
d) Texto 4
e) Texto 5
8. Observe o gráfico seguinte.
Com base nas fotografias e nos textos apresentados,
pode-se desenvolver um conjunto de outras
atividades, como: interpretação de texto,
estimulando a competência leitora; desenvolvimento
do conceito de medida e quantidade; conceitos de
solo, drenagem, infiltração e ciclo hidrológico.
56
Agora responda:
a) O que o gráfico está mostrando?
b) Reflita novamente: ocorrem alagamentos na escola em que você estuda ou
na região em que ela se encontra?
c) Com base em quais conhecimentos você afirma existir ou não o problema do
alagamento na escola onde você estuda ou próximo dela?
Nessa aula, as atividades propostas possibilitam trabalhar com
porcentagem, elaboração, leitura de gráfico e estatística quanto à
organização dos dados referentes às respostas das atividades e, ainda,
interpretação dos textos. Do ponto de vista das habilidades de
pensamento, podem ser trabalhadas a argumentação por meio das
hipóteses e a análise do fenômeno.
Para orientar o processo de avaliação dos estudantes e das próprias
aulas, as questões a seguir, baseadas em Zabala (1998, p. 63), podem ser
úteis não apenas no que concerne à sequência didática apresentada, mas
também a outras sequências.
São elas:
57
a) As atividades da SD permitiram determinar os conhecimentos prévios dos
estudantes em relação aos conteúdos ensinados?
b) Os conteúdos foram propostos de forma significativa e funcional aos
estudantes?
c) Foi possível inferir a adequação das atividades ao nível de desenvolvimento
dos estudantes?
d) As atividades representaram um desafio que, considerando as competências
prévias dos estudantes, permitiu que avançassem, com a devida intervenção
do professor?
e) As atividades provocaram um conflito cognitivo e promoveram a atividade
mental dos estudantes, necessária ao estabelecimento de relações entre os
novos conteúdos e os conhecimentos prévios?
f) As atividades promoveram uma atitude favorável, ou seja, foram motivadoras
em relação à aprendizagem dos novos conteúdos?
g) As atividades estimularam a autoestima e o autoconceito dos estudantes em
relação às aprendizagens propostas, isto é, os estudantes puderam sentir que,
em certo grau, aprenderam, que seu esforço valeu a pena?
h) As atividades ajudaram os estudantes a adquirir habilidades relacionadas
com o aprender a aprender, de modo a serem cada vez mais autônomos em
seus processos de aprendizagem?
Referências:
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Pernambuco e Alagoas. Estadão, 2017. Disponível em:
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https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,chuvas-fortes-deixam-mortos-e-desabrigados-em-pernambuco-e-alagoas,7000181691558
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Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Ambiental) - Universidade
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https://www.terra.com.br/noticias/brasil/cidades/pe-chuva-forte-deixa-ruas-alagadas-e-transito-complicado-no-recife,128c73b71e2be310VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html#_blank
https://www.terra.com.br/noticias/brasil/cidades/pe-chuva-forte-deixa-ruas-alagadas-e-transito-complicado-no-recife,128c73b71e2be310VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html#_blank
https://jc.ne10.uol.com.br/galeria/2021/04/12050207-as-imagens-da-chuva-torrencial-que-alagou-br-232-e-causou-incidentes-no-grande-recife.html
https://jc.ne10.uol.com.br/galeria/2021/04/12050207-as-imagens-da-chuva-torrencial-que-alagou-br-232-e-causou-incidentes-no-grande-recife.html
http://www2.cemaden.gov.br/projecoes-de-aquecimento-global-apontam-o-aumento-de-chuvas-mais-intensas-de-deslizamentos-e-de-inundacoes-no-brasil/
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http://www2.cemaden.gov.br/projecoes-de-aquecimento-global-apontam-o-aumento-de-chuvas-mais-intensas-de-deslizamentos-e-de-inundacoes-no-brasil/
59
SARMENTO, Robert. Confira as imagens do alagamento em Serra Talhada, no
Sertão de Pernambuco. 26/3/2020. UOL. Disponível em:
<https://tvjornal.ne10.uol.com.br/noticias/2020/03/26/confira-as-imagens-do-
alagamento-em-serra-talhada-no-sertao-de-pernambuco-186008/index.html>.
Acesso em: 20 out. 2022.
UNESCO. Declaracion sobre la ciencia y el uso del saber cientifico.
Budapeste, 1999. Disponível em:
<https://ilamdocs.org/documento/2870/#:~:text=La%20Declaraci%C3%B3n%20
de%20Budapest%20es,Siglo%20XXI%3A%20Un%20nuevo%20compromiso>.
Acesso em: 22 out. 2022.
VEIGA, I. P. A. As dimensões do processo didático na ação docente. In:
ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO, 12. 2004,
Curitiba, PR. Anais...Curitiba: Champagnat, 2004. v. 1, p.13-30.
https://tvjornal.ne10.uol.com.br/noticias/2020/03/26/confira-as-imagens-do-alagamento-em-serra-talhada-no-sertao-de-pernambuco-186008/index.html
https://tvjornal.ne10.uol.com.br/noticias/2020/03/26/confira-as-imagens-do-alagamento-em-serra-talhada-no-sertao-de-pernambuco-186008/index.html
60
61
É com imensa satisfação que participamos de mais esta construção que
pretende inspirar você, professor, na tessitura de trabalhos que envolvam
intencionalmente a investigação científica. Vamos dialogar um pouco utilizando
os documentos norteadores da Educação Científica para e no Ensino Médio e
apresentar sugestões práticas que poderão servir de inspiração para o seu
trabalho em sala de aula.
O ensino e a aprendizagem são processos que se constituem produtos
de investigação. Assim, buscar nesses processos compreender como se
estabelecem aprendizagens ampliando os saberes é um desafio importante
para a escola. Nessa direção, o Currículo de Pernambuco traz orientações
relevantes para o olhar da escola, para esse cenário.
Se o ensinar e o aprender são, também, produtos de investigação,
promover nesse processo a educação científica é salutar na medida em que
permite a estudantes e a professores, no dia a dia da escola, construir
caminhos para a compreensão dos aspectos de investigação científica como
aliada da construção de conhecimentos e, assim, proporcionar tanto a
ampliação de possibilidades de intersecção entre diferentes saberes, quanto
aprofundar conhecimentos em áreas de interesse dos estudantes, favorecendo
a formação de pesquisadores e a divulgação da ciência.
Partindo do princípio que a educação é um direito humano e que há
necessidade de promover o desenvolvimento da ciência na escola, o terreno da
construção do conhecimento científico precisa estar fértil, preparado pelos
profissionais da escola e colocado em prática pela ação docente que,
atentando para as oportunidades de aguçar ainda mais a curiosidade dos
estudantes, poderão construir processos de investigação. Nesse contexto, a
Base Nacional Comum Curricular/BNCC traz, dentre as dez competências
gerais descritas a de
4. A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NO ENSINO MÉDIO
62
exercitar a curiosidadeintelectual e recorrer à abordagem própria das
ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a
imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar
hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive
tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
(BRASIL, 2018, p.9)
Percebe-se a importância e a urgência de que, no contexto da
investigação científica, o ensinar e o aprender estejam também mediados pelas
tecnologias de informação e comunicação, e isso pode ampliar sobremaneira
as possibilidades, seja no quesito interação, seja na utilização de softwares e
hardwares nos processos e nas etapas das pesquisas.
Nessa perspectiva, e buscando ratificar a importância do
desenvolvimento da autonomia intelectual, sem perder de vista a formação
ética, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96) traz,
dentre as finalidades do Ensino Médio, no Art. 35, incisos III e IV:
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico;
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos
processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino
de cada disciplina. (BRASIL, 1996)
Muitas são as possibilidades de construção de uma cultura de
investigação científica na escola. Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM- 2018) orientam que a pesquisa
esteja na escola “como prática pedagógica para inovação, criação e construção
de novos conhecimentos”. Assim, a pesquisa pode e precisa estar
constantemente presente. No que se refere aos itinerários formativos, as
DCNEM trazem, no Art. 12, parágrafo 2º:
Os itinerários formativos orientados para o aprofundamento e
ampliação das aprendizagens em áreas do conhecimento devem
garantir a apropriação de procedimentos cognitivos e uso de
metodologias que favoreçam o protagonismo juvenil, e organizar-se
em torno de um ou mais dos seguintes eixos estruturantes:
I - Investigação científica: supõe o aprofundamento de conceitos
fundantes das ciências para a interpretação de ideias, fenômenos e
processos para serem utilizados em procedimentos de investigação
voltados ao enfrentamento de situações cotidianas e demandas locais
e coletivas, e a proposição de intervenções que considerem o
desenvolvimento local e a melhoria da qualidade de vida da
comunidade. (BRASIL, 1998)
63
Desse modo, a investigação científica toma um espaço importante nos
processos de ensino e de aprendizagem, pois a construção do conhecimento
que pressupõe aspectos cognitivos e também pessoais alia-se às atividades
coletivas para enfrentamento de situações cotidianas com vistas à melhoria da
qualidade de vida em comunidade.
No sentido de apresentar uma possibilidade de sistematização do
trabalho que a escola desenvolve, na direção da investigação científica que se
apresenta em diferentes documentos com nomenclaturas distintas, mas que
traz consigo a mesma intencionalidade de propor a pesquisa na escola, instigar
a curiosidade e desenvolver a ciência, o Currículo de Pernambuco para o
Ensino Médio traz a investigação científica como eixo estruturante, conforme
Portaria 1.432/2018 e como unidade curricular no 1º Ano do Ensino Médio.
Assim, assegura um trabalho efetivo de pesquisa em qualquer que seja o
itinerário formativo, por meio da pesquisa sistematizada. Nessa direção, o
Currículo de Pernambuco propõe mudanças que
reforçam princípios já consolidados e importantes para identidade do
Ensino Médio, como a formação integral, a compreensão da
diversidade e das diferentes culturas, a pesquisa como prática
pedagógica, entre outros. (PERNAMBUCO, 2021, p.15)
Tais mudanças permitem ao estudante, logo no 1º ano do Ensino Médio,
aprofundar seus conhecimentos, a partir do viés da pesquisa, desenvolvendo o
pensamento investigativo, por meio de uma postura reflexiva e criativa.
Especificamente para o Ensino Médio, a contribuição do pensamento
científico está imbricada com o próprio desenvolvimento das atividades,
destacando aquelas que estão no seio da escola. De tal modo, considerando o
que os estudantes trazem de conhecimentos prévios, deve-se explorar as suas
habilidades, os seus interesses, os seus projetos de vida e compreender o que
pode ser impactante e prazeroso na construção do processo investigativo.
Nessa direção, o trabalho pedagógico alicerçado e demandado, a partir
da pesquisa científica, é fundamental, pois traz em si elementos para o
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico, a formação
ética, bem como a relação entre a teoria e a prática de cada componente e/ou
unidade curricular.
64
A fim de materializar e, de certa forma, mostrar alguns caminhos
possíveis nessa construção da Educação Científica para e no Ensino Médio,
serão apresentadas algumas possibilidades de trabalhos pedagógicos que
poderão servir de inspiração para os projetos em sala de aula, pois nas
construções, desconstruções e reconstruções, o trabalho na, pela e da escola
pode se tornar cada vez melhor.
Serão apresentadas a seguir sequências didáticas que estarão, na
íntegra, nos QR Codes indicados.
Sequência Didática/SD – 1
Linguagens e suas Tecnologias: uma proposta de SD envolvendo
processos de Investigação Científica
A sequência didática da área Linguagens e suas Tecnologias envolve os
componentes curriculares: Arte, Educação Física, Língua Portuguesa e
Línguas Estrangeiras. Salientamos que as propostas poderão envolver mais
componentes curriculares e, claro, poderão ser pensadas propostas de
diferentes áreas também.
A proposta é de uma sequência didática com o tema: A cidadania e os
direitos democráticos para o combate à violência contra a mulher e às
populações LGBTQIA+, para turmas do 1º ano do Ensino Médio. Pretende-se
estimular a curiosidade científica dos estudantes por meio de questionamentos
e análise de dados e fatos sobre a violência contra a mulher e contra a
população LGBTQIA+ para que identifiquem, planejem e pesquisem
formas/estratégias de combate e enfrentamento à violência, ao preconceito e à
discriminação tanto das mulheres, quanto da população LGBTQIA +,
promovendo o respeito à diversidade sexual e de gênero. Sugere-se que o
tempo de execução da sequência seja de 03 (três) aulas que serão aqui
apresentadas resumidamente.
Possibilidades de atividades envolvendo investigação científica
65
Todas as sugestões estão embasadas nas orientações do Currículo de
Pernambuco. Em cada aula há objetivos específicos; serão orientados também
focos pedagógicos, estratégias didáticas, sugestões para atividades
extraclasse e ainda uma possibilidade de aprofundamento de estudos.
Especificamente no foco pedagógico deve-se buscar uma dúvida,
questão ou problema que envolva a temática da área do conhecimento e da
trilha em que os estudantes estão matriculados e também formular e testar
hipóteses, estimulando a criatividade de cada um, a diversificação das
possibilidades de respostas, o questionamento e testagem permanente das
respostas apresentadas.
Para a primeira aula, a proposta é discutir, problematizar e compreender
conceitos de gênero, identidade, violência de gênero, sexo, orientação sexual e
sexualidade, a partir da leitura e análise de textos de diferentes tipologias e
linguagens que contribuam para a desconstrução de preconceitos e
estereótipos, valorizando a cultura de paz, a empatia, visando à equidade de
gênero e orientação sexual e o respeito às pessoas.
As discussões iniciais podem acontecer em torno de uma notícia e a
partir da qual os estudantes levantarão hipóteses sobre o que eles pensam a
respeito de violência: tipos, a razão pela qual existem, consequências, o que
fazer diante de uma situaçãode violência, entre outras. O professor poderá
também utilizar cartazes, infográficos, reportagens, podcasts disponíveis nas
mais diversas mídias.
Em seguida, a turma pode ser organizada em 05 (cinco) equipes. Nessa
atividade, faremos o levantamento dos conhecimentos prévios dos estudantes
sobre o tema. Assim, o professor distribuirá, para cada equipe, um envelope
fechado contendo, na parte externa, uma palavra ou expressão (gênero,
identidade de gênero, violência de gênero, sexo, orientação sexual,
sexualidade, LGBTfobia, homofobia, transfobia, masculinidade feminista...) e,
dentro do envelope, 02 (duas) tiras: uma de Laerte e outra de Armandinho.
Inicialmente, os estudantes conversarão entre si sobre a palavra escrita
na parte externa do envelope e o relator da equipe sistematizará as ideias
iniciais em uma folha de papel. Em seguida, cada equipe socializará suas
ideias e o professor fará as intervenções necessárias sobre os conceitos
66
apresentados pelos grupos. Esse é o momento de ampliar e aprofundar os
conceitos, expressões e ideias que destoam dos conceitos apresentados por
estudiosos, sociólogos, e pesquisadores da área de Direitos Humanos gerando
assim preconceitos e discriminação bastantes presentes no senso comum.
Ainda nessa aula, os estudantes farão a leitura compartilhada e a
análise temática e linguística das tirinhas sugeridas no anexo. Após a leitura e
análise das tirinhas, o professor mediará o debate com o grande grupo de
estudantes sobre os problemas que eles identificaram nos textos lidos, quais as
possíveis causas desses problemas (aproveitando aqui para trabalhar com o
desenvolvimento de hipóteses), as suas consequências e as possíveis
estratégias para resolver essas questões. Essas atividades além de
contribuírem para a reflexão dos estudantes podem também favorecer a
desconstrução de preconceitos e o combate de estereótipos.
Como atividade extraclasse, os estudantes serão orientados a lerem um
artigo para aprofundarem seus conhecimentos e a assistirem a um vídeo
também nos seus momentos de estudos fora da sala de aula, na seção
denominada: para inspirar.
Na segunda aula dessa sequência, pretende-se acessar, selecionar,
interpretar e ler criticamente informações sobre violência doméstica, sexual,
feminina contra a população LGBTQI+ e as formas de violência: física,
simbólica, psicológica, econômica etc. utilizando diferentes suportes e fontes:
online, impressas, para posicionar-se contrário a toda e qualquer forma de
preconceito, discriminação e desrespeito aos Direitos Humanos.
Na sessão denominada Foco Pedagógico6, será feita seleção de
informações e de fontes confiáveis utilizando diferentes técnicas e métodos de
pesquisa de cada área de conhecimento, assim como interpretação,
elaboração e uso ético das informações coletadas por meio de leituras críticas
das informações, utilizando procedimentos científicos que garantam
interpretações, como informações diversificadas, porcentagens e gráficos
confiáveis. Assim, nesse viés de discussão sobre as violências sofridas pelas
mulheres nos diversos espaços sociais, percebendo as marcas dessas
6 Termo referenciado na Portaria 1.432/2018 que orienta o processo de elaboração dos Itinerários
Formativos.
67
agressões e a importância de saber onde e como pedir ajuda, será exibido um
curta metragem para auxiliar a fomentar as discussões. Também serão
disponibilizadas diferentes fontes para um estudo dirigido.
Como atividade extraclasse será construído um pequeno questionário.
Cada estudante deverá aplicar, no mínimo, 05 (cinco) questionários com
integrantes da escola, comunidade e/ou família visando identificar e analisar
informações sobre gênero, identidade, violência de gênero, orientação sexual e
sexualidade. Após a aplicação, os estudantes devem identificar e sistematizar
as respostas encontradas, seguindo as proposições sugeridas pelo professor.
Na terceira e última aula da sequência, serão apresentadas proposições
para o combate à violência contra a mulher e a população LGBTQIA +, a partir
das diferentes linguagens, com ética e criticidade, promovendo a autonomia e o
protagonismo dos estudantes e desenvolvendo atitudes de respeito às
diferenças entre os seres humanos. Como Foco Pedagógico, serão discutidos
aspectos de como utilizar os conhecimentos gerados para solucionar alguns
dos problemas levantados tanto nas discussões até então, quanto naqueles
observados a partir do que foi coletado nos questionários aplicados.
Para estudo e análise das questões levantadas nas respostas do
questionário, serão organizados grupos de 06 (seis) a 08 (oito) estudantes,
para que eles explorem, consolidem e interpretem os resultados encontrados e
elaborem uma breve apresentação das informações coletadas e conclusões da
pesquisa. Sugerimos que o professor oriente a sistematização desses
resultados, apresentando possibilidades de tabulação tais como tabelas,
gráficos, porcentagens, quadros etc.
A partir da discussão e sistematização da pesquisa, cada grupo
elaborará estratégias para comunicar ao grande grupo os resultados e
conclusões encontradas, por meio da utilização de diferentes recursos e
linguagens. Os grupos devem fomentar, comparar e utilizar os conhecimentos
abordados e pesquisados nas aulas anteriores com os resultados do
questionário para fundamentar sua apresentação.
Sugerimos que a comunicação dos resultados seja feita por meio de
exposição oral por diferentes meios, como cartazes, aparelhos de celular ou
computador/Datashow. Contudo, é importante ressaltar que os estudantes
68
podem explorar outras formas, recursos e linguagens para apresentar
diferentes respostas do processo investigativo.
A seguir, propomos algumas atividades que promovem o protagonismo
dos estudantes e possibilitam a formulação de estratégias de mediação e
intervenção social, sobre as questões sociais apresentadas e discutidas na
sequência didática.
Sabemos que esses processos pedagógicos demandam maior tempo de
organização, produção e apresentação das equipes e mediação do professor.
Essas atividades podem ser vivenciadas também por meio de música/dança,
campanhas publicitárias, história em quadrinhos, slam, curta, entre outras. Há
proposições dessa natureza no anexo 06 do QR Code. Sugerimos que sejam
vivenciadas em parceria com outros componentes curriculares e/ou unidades
curriculares e que sejam socializadas de forma sistemática ao longo do ano,
evitando que a temática seja explorada apenas em eventos pontuais.
Apresentaremos, a seguir, uma sequência didática da área de
Matemática e suas tecnologias. Optamos por mostrar a organização com os
pormenores, conforme foi planejada.
ATIVIDADES DE CAMPO – PARA ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA!
Você poderá ler na íntegra a
sequência didática, bem como os
anexos acessando o QR Code ao
lado.
69
Sequência Didática/SD – 2
Matemática e suas Tecnologias: uma proposta de SD envolvendo
processos de Investigação Científica
TRILHA – Soluções Ótimas
Tema: A Matemática e a Educação no Trânsito.
Área: Matemática e suas Tecnologias
Componente Curricular: Matemática / Percepção probabilística
Objetivo Geral:
Identificar as principais causas de acidentes de trânsito e as suas
consequências.
Objetivos específicos:
● Levantar hipóteses sobre as causas de acidentes no trânsito;
● Refletir sobre decisões que são tomadas em situações do cotidiano no
trânsito e suas consequências;
● Reconhecer o conceito de PROBABILIDADE em situações cotidianas
que podem ocorrer no trânsito;
● Construir e testar o conceito de PROBABILIDADE.
Currículo de Pernambuco Ementa
(EMIFMAT01PE) - Investigar e
analisar situações-problema
identificandoe selecionando
conhecimentos de análise
combinatória e probabilísticos
relevantes para uma dada
situação relacionada a questões
do trânsito, elaborando modelos
para sua representação
Utilização dos conceitos probabilísticos
e da análise combinatória no intuito de
ampliar conhecimentos matemáticos,
visando a apresentação e a resolução
de situações-problema como:
emplacamento dos diferentes veículos,
número de acidentes de acordo com
horário e dia da semana (feriados e dias
letivos, por exemplo), número por
gênero, funcionamento dos semáforos
(onda verde, onda vermelha) etc.
70
TEMPO DE EXECUÇÃO: 02 (duas) aulas.
SUGESTÃO DE RECURSOS:
1. Vídeo: Coisa de Passarinho. 10 minutos
YAKHNI, Sarah. Probabilidade, frequência relativa. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=EuPGf5ul6y0>. Acesso em: 15 dez.
2021.
Caio se acha um rapaz sem sorte. Por meio de uma conversa com seu
pai, é instigado a pensar sobre o conceito de probabilidade de um evento e sua
importância em previsão de fenômenos aleatórios.
MATERIAIS A SEREM ENVIADOS PARA OS ESTUDANTES:
Texto de apoio sobre o conceito de Probabilidade contendo exemplos do
cotidiano.
DETALHAMENTO DE CADA AULA DA SEQUÊNCIA
Aula 1:
FOCO PEDAGÓGICO:
Identificação de uma dúvida, questão ou problema, a partir da seleção de
conhecimentos de análise combinatória e probabilística.
Primeira parte:
a) INDIVIDUALMENTE:
● Cada participante deve pensar em um acontecimento do trânsito que
seja provável de acontecer e um outro acontecimento do trânsito que
não seja provável de acontecer.
b) EM GRUPO:
● Utilize uma folha de papel para escrever em uma coluna os
acontecimentos do trânsito que podem ser previstos e, em outra coluna,
os que não podem ser previstos.
c) EM GRUPO:
● Discuta no grupo. Qual a probabilidade de um dos acontecimentos do
trânsito escolhido por cada grupo ser um acidente?
● Socialize com a turma o acontecimento do trânsito escolhido pelo seu
71
grupo.
Segunda Parte:
● Assistir ao vídeo “Coisa de Passarinho”.
Exibição de vídeo/animação como introdução à reflexão sobre o conceito
de Probabilidade.
Os estudantes devem ser avisados que será exibido o vídeo Coisa de
Passarinho, com 10 minutos de duração, retratando a curiosidade de um
rapaz em relação a acontecimentos que podem ocorrer no cotidiano e que têm
relação com a probabilidade.
Deve-se organizar a turma em grupos de 05 (cinco) estudantes para que
eles possam discutir inicialmente suas observações e curiosidades sobre o
vídeo. É importante que seja realizada uma leitura de imagem de todo o
contexto envolvido no vídeo, destacando as questões centrais abordadas,
reforçando a construção e aprofundamento do conceito. Após essa síntese, as
equipes devem responder a ficha de atividade.
EXERCÍCIO PARA CASA:
🡪 Solicitar que os estudantes realizem a leitura do texto de apoio sobre
Probabilidade.
🡪 Solicitar que os estudantes realizem uma pesquisa em casa sobre os
acidentes de trânsito mais comuns (BRASIL. Estatísticas de Acidentes.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, 2011. Disponível em:
<https://www.gov.br/dnit/pt-br/rodovias/operacoes-rodoviarias/estatisticas-de-
acidentes>. Acesso em: 26 nov. 2021).
🡪 Solicitar que os estudantes realizem uma pesquisa em casa, sobre o
surgimento do semáforo.
https://www.gov.br/dnit/pt-br
72
Aula 02:
FOCO PEDAGÓGICO:
Levantamento, formulação e teste de hipóteses sobre questões do
trânsito com as estimativas probabilísticas dos acidentes no trânsito;
Identificação de como utilizar os conhecimentos gerados para solucionar
problemas diversos relacionados ao trânsito e que envolva conceitos
probabilísticos e da análise combinatória.
O professor pode iniciar a aula apresentando a seguinte frase: “Onde a
Matemática está envolvida na Educação no Trânsito?”
Promover um debate com os estudantes sobre o que vem a ser
Educação no Trânsito, como pode ser vivenciada e quais atitudes que
não caracterizam uma Educação no Trânsito.
a) Refletir sobre qual o papel do cidadão e do poder público para uma
Educação no Trânsito mais consciente e eficaz.
b) A partir do debate sobre a Educação no Trânsito, levantar
questionamentos sobre as atitudes no trânsito e as suas consequências.
c) Promover reflexão sobre a busca de soluções (ou tomada de decisões)
em situações-problema ocorridas no trânsito.
d) Permitir que os estudantes se reconheçam como cidadãos que podem
modificar certas situações com a tomada de decisão correta e/ou
coerente, visando o melhor para a coletividade e não apenas para seus
interesses próprios. Buscar também destacar a responsabilidade do
cidadão e do governo.
Vamos refletir!!!
a) Qual a probabilidade de um dos estudantes dessa turma ter se envolvido
em algum tipo de acidente de trânsito?
b) Quem já se envolveu ou sofreu um acidente de trânsito?
c) Os que se envolveram em acidentes de trânsito (sendo vítima ou
causador), na sua opinião, quais foram as causas? Liste as principais
causas.
73
d) Na sua opinião, quais as principais causas dos acidentes de trânsito?
(Listar a opinião dos estudantes no quadro e/ou fazer um mural em
cartolina com essas informações)
e) O que você, como cidadão, pode fazer para diminuir ou amenizar os
acidentes de trânsito?
Vamos pensar um pouco e exercitar os nossos conhecimentos!
1º) Escolha um dos acidentes de trânsito listados pelos estudantes da turma.
Sabendo que esse acidente de trânsito escolhido pode acontecer em
qualquer dia da semana, qual a probabilidade desse acidente acontecer em
uma sexta-feira?
Faça um comentário da situação descrita. Como resolver esse problema?
Utilize alguns conceitos matemáticos construídos.
Sendo assim:
a) Quantas possibilidades temos nessa situação?
b) Quais são essas possibilidades?
Vamos refletir!!!
a) Qual a importância do semáforo para o trânsito?
b) Pode-se dizer que o semáforo é importante para a Educação no trânsito?
Por quê? Como seria o trânsito das grandes cidades sem essa ferramenta?
c) E você, enquanto cidadão, respeita as sinalizações?
d) Já presenciou um veículo passar no sinal vermelho? O que você acha
dessa atitude? Quais as consequências desse ato?
e) Conforme a pesquisa realizada em casa, responda sobre quando, onde e
quem criou o semáforo.
74
Vamos pensar um pouco e exercitar os nossos conhecimentos!
2º) Em um determinado semáforo, as luzes completam um ciclo de verde,
amarelo e vermelho em 1 minuto e 40 segundos. Desse tempo, 25 segundos
são para a luz verde, 5 segundos para a amarela e 70 segundos para a
vermelha. Ao se aproximar do semáforo, um veículo tem uma determinada
probabilidade de encontrá-lo na luz verde, amarela ou vermelha. Se essa
aproximação for de forma aleatória, pode-se admitir que a probabilidade de o
encontrar com uma dessas cores é diretamente proporcional ao tempo em que
cada uma delas fica acesa.
Suponha que um motorista passe por um semáforo duas vezes ao dia, de
maneira aleatória e independente uma da outra.
Analisando a situação descrita acima, qual é a probabilidade de o
motorista encontrar esse semáforo com a luz verde acesa nas duas vezes
em que passar? Analise e faça uma estimativa da probabilidade dessa
situação.
Fonte: https://www.minutoseguros.com.br/blog/entenda-as-cores-do-semaforo/
AVALIAÇÃO
a) Pesquisar o quantitativo de homens e mulheres na população de
Pernambuco.
b) Calcular a probabilidade de uma mulher se envolver em um acidente de
trânsito.
75
MATERIAL DE APOIO
PROBABILIDADE
Robson Luiz
A probabilidade é um ramo da matemática que estuda maneiras de como
estimar a chance de um determinado evento acontecer.
Por exemplo, imagine que tenhamos uma com10 bolas brancas e 20 com
bolas vermelhas. Certamente a chance de tirarmos uma bola vermelha é muito
maior, entretanto, isso não significa que vamos tirar uma bola vermelha na
primeira tentativa, pois há também bolas brancas. O estudo da probabilidade
permite medir a chance de tirar bolas vermelhas ou bolas brancas associando
essa chance a um número real.
Conceitos básicos de probabilidade
Experimento aleatório
Experimentos aleatórios são aqueles que, quando repetidos por diversas vezes
e mantendo-se os processos de execução, resultam em resultados
improváveis. Por exemplo, quando lançamos uma moeda dez vezes seguidas,
os resultados são improváveis, visto que, em cada lançamento, pode aparecer
a face cara ou a face coroa.
Espaço amostral
Vamos chamar de espaço amostral o conjunto de todos os possíveis
resultados de determinado fenômeno ou do experimento aleatório.
Exemplos
a) Ao lançar uma moeda, os possíveis resultados são cara ou coroa, logo o
espaço amostral é:
E1 = {cara, coroa}
b) No lançamento de um dado honesto, os possíveis resultados são as seis
faces dos dados, logo:
E2 = {1, 2, 3, 4, 5, 6}
c) Uma moeda é lançada duas vezes, assim, o espaço amostral é determinado
pelos pares ordenados em que o primeiro elemento representa o resultado do
primeiro lançamento e o segundo representa o resultado do segundo
lançamento, assim:
E = {(c, c), (c, k), (k, k), (k, c)}
c → Coroa
k → Cara
Evento
Um evento é todo subconjunto de um espaço amostral.
Exemplos
Considere o espaço amostral do lançamento de um dado, logo E =
{1,2,3,4,5,6}. Os casos a seguir são exemplos de eventos:
a) Evento no qual as faces são maiores que 3. Vamos denotar tal evento por A,
logo:
A = {4, 5, 6}
76
De modo geral, podemos escrever tal evento utilizando a notação de conjuntos:
Observe que todo elemento de A é elemento do conjunto E, logo, A é
subconjunto de E.
b) Evento no qual as faces são números ímpares. Nesse caso, vamos denotar
tal evento por B, assim:
B = {1, 3, 5}
Espaços equiprováveis
Considere um espaço amostral E e também um experimento aleatório desse
espaço. Vamos dizer que E é um espaço amostral equiprovável se todos os
eventos do experimento possuírem a mesma probabilidade de acontecer.
Exemplos
Imagine uma urna com apenas duas bolas, uma branca e outra preta. A chance
de tirarmos uma bola branca é a mesma de tirarmos uma bola preta, logo o
espaço amostral é equiprovável.
Outro exemplo é o nascimento de um bebê. A chance de ser menino é a
mesma de ser menina, logo tal evento possui espaço amostral equiprovável.
Fórmula e cálculo da probabilidade
A probabilidade de acontecer determinado evento A, representado por P (A), é
a divisão entre o número de casos favoráveis e o número de casos possíveis.
Podemos representar, então, a chance de ocorrer o evento A por:
Exemplo
Vamos determinar a probabilidade de tirarmos uma bola branca em uma urna
com 10 bolas brancas e 20 bolas vermelhas.
Para isso, vamos inicialmente determinar o número de casos favoráveis e o
número de casos possíveis.
Casos favoráveis → 10 (bolas brancas)
Casos possíveis → 10 + 20 (bolas brancas + bolas vermelhas)
Veja que os casos favoráveis são os casos que nos interessam – nesse caso, a
quantidade de bolas brancas – e casos possíveis representam o total de
elementos do espaço amostral. Vamos chamar de A o evento em questão,
assim:
A chance de tirar uma bola branca é, portanto, de 33,33%.
Fonte: https://escolakids.uol.com.br/matematica/probabilidade.htm
Por: Robson Luiz - Acesso em 26 ago. 2021.
https://escolakids.uol.com.br/matematica/probabilidade.htm
77
Você poderá ter acesso à íntegra da sequência didática acessando o seguinte
QR Code:
Concluímos a apresentação das duas primeiras sequências didáticas
esclarecendo que se trata de um material construído para compor este
documento com o intuito de trazer sugestões, formas de organização e alguns
elementos que possam servir de inspiração para trabalhos sobre diferentes
temáticas.
Apresentaremos, a seguir, dois trabalhos de investigação científica que
foram desenvolvidos em Escolas de Ensino Médio, sendo um na Escola de
Referência em Ensino Médio Solidônio Leite, em Serra Talhada, cujo tema
foi “Uso de extrato de plantas regionais para produção de xampus caseiros”, e
outro na Escola de Referência em Ensino Médio Aura Sampaio Parente
Muniz, no município de Salgueiro, com o tema “Avaliação de Composto
Vegetal no Controle de Aedes aegypti”.
Sequência Didática/SD – 3
Escola de Referência em Ensino Médio Solidônio Leite
A pesquisa desenvolvida na EREM Solidônio Leite usou extrato de
plantas regionais na produção de xampus caseiros. Partiu-se do princípio de
que o ensino de Química no contexto escolar deveria abordar questões
relacionadas à utilização diária de produtos químicos, visto que é relevante
buscar temas que proporcionem um ensino de Química contextualizado com o
dia a dia dos estudantes.
78
Dentre os vários temas possíveis de serem trabalhados destacam-se os
cosméticos. Esse tema desperta muito interesse entre os estudantes, uma vez
que seu uso faz parte do cotidiano tanto para fins estéticos e de higiene como
medicinais. Além disso, o tema cosmético possibilita o estudo de conceitos
científicos, tornando-o relevante para abordagem no contexto educacional.
Para esse processo de construção do conhecimento, por meio da
pesquisa desenvolvida, vinculamos uma necessidade comum às pessoas com
o estudo de química com o propósito de desenvolver o pensamento crítico dos
estudantes sobre o mundo que os cerca.
Os autores Santos e Schnetzler (1996) consideram que a função do
ensino de Química é desenvolver a capacidade de tomada de decisão, o que
implica na necessidade de vinculação do conteúdo trabalhado com o contexto
social em que o estudante está inserido.
Nesta perspectiva, e considerando a importância das práticas de
higienização para a saúde humana na prevenção de doenças, o trabalho
buscou produzir um xampu, feito com uma base de sabonete que possui um
baixo custo, com a finalidade de tornar-se uma alternativa no combate aos
vírus.
O uso de dermocosméticos são grandes potencializadores da beleza,
autoestima e, principalmente, da nossa saúde. Esses produtos são essenciais,
porém, muitas vezes são de alto custo. Podemos citar como exemplo deles, os
sabonetes para acne, xampus, maquiagens, batons, brilhos labiais e
semelhantes.
Segundo Klein e Penneys (1988), as comunidades antigas sempre se
utilizaram de plantas medicinais. A humanidade, por si, milhares de anos atrás
já utilizava plantas e ervas com o intuito medicinal e, até hoje, ainda são
utilizadas para tais fins.
Se considerarmos a acessibilidade e a rentabilidade que a utilização de
plantas trazem à comunidade, observar e explorar a vegetação local pode ser
útil para a produção de cosméticos. Dentro desse contexto, a babosa (Aloe
Vera) é uma planta que há muitos anos vem sendo utilizada para fins
fitoterápicos, e também passou a ser utilizada para outras finalidades, como o
caso das indústrias de cosméticos que passou a fazer sua utilização para obter
79
uma ampla variedade de produtos. Referentes aos seus benefícios, o seu
princípio ativo está presente no interior da folha onde se encontra um extrato
gel incolor.
Outra planta bastante utilizada para a produção de cosméticos é o
alecrim. Essa planta está no topo das mais ricas em antioxidantes que
combatem os radicais livres, sendo, portanto, uma boa opção para nutrição dos
cabelos. O alecrim é bom tanto para regenerar, travar a queda, quanto para
estimular o crescimento do cabelo. Além disso, tem ação “milagrosa” no
combate à oleosidade do couro cabeludo, uma das grandes responsáveis pela
queda capilar (RIBEIRO et al., 2012). Na realidade, essa é a grande função
primária do alecrim no cabelo.Desta forma, utilizando as propriedades presentes nessas duas plantas,
torna-se possível criar um xampu que seja ideal para cabelos oleosos, ao
mesmo tempo que combata a existência de vírus, considerando que os xampus
também apresentam em sua composição os surfactantes.
Os surfactantes do xampu são os responsáveis por fazer a remoção da
oleosidade excessiva, sujeira e microrganismos dos fios de cabelo e do couro
cabeludo, mantendo-os saudáveis e limpos, diminuindo a chance de dermatites
e queda de cabelo. Existem diversas substâncias com o poder de surfactante,
sendo as mais potentes a do grupo de sulfato (TRÜEB, 2007).
Muito se fala sobre a importância de lavar as mãos e desinfetar
superfícies e roupas para evitar a disseminação e contágio de vírus. Entretanto,
o cabelo também deveria ser lembrado como importante fonte de
contaminação e reservatórios de vírus, uma vez que como o fio de cabelo é
inerte, cabelos longos podem encostar em superfícies contaminadas sem que a
pessoa perceba. Dessa forma, é importante se conscientizar da importância de
se cuidar dos cabelos e de sua higienização na proteção contra diversos vírus.
A pesquisa teve caráter qualitativo. Segundo Severino (2007), a
metodologia qualitativa é um dos métodos mais adequados quando o estudo é
complexo, envolve considerações particulares e não carece de procedimento
estatístico.
Para a produção desse xampu foram utilizados os seguintes
ingredientes: base perolada (ou transparente) para sabonete líquido, água
80
mineral, essência de alecrim ou óleo essencial de alecrim, extrato de Aloe
(obtido por meio das folhas de babosa), corantes, extrato de alecrim e lauril
sulfato de sódio (LSS), um tensoativo aniônico, ou seja, um surfactante. O LSS
modifica a tensão superficial de um líquido, possibilitando que ele interaja com
outros elementos. Por esse motivo, ele é um produto químico utilizado em
diversos cosméticos e produtos de higiene pessoal, limpeza doméstica e
industrial.
Para produzir o xampu de alecrim e de Aloe vera, seguiu-se os seguintes
procedimentos técnicos:
Passo 1: Foram colocadas a base de sabonete e a água em uma vasilha e
misturado bem para que o sabonete se dissolva por completo.
Passo 2: Foi adicionada a essência de alecrim, o extrato de alecrim e o extrato
de Aloe vera e foram colocadas algumas gotas de corante e foram misturados
os ingredientes.
Passo 3: Foi acrescentado o anfótero ou o perolado aos poucos até sentir que
a mistura ficou cremosa.
Passo 4: Continuamos colocando o anfótero (de 50 ml a 100 ml a mais) até
que o xampu ficasse ralo de novo. Esse processo impede que o produto mude
de textura com o passar do tempo.
Passo 5: Para corrigir a cremosidade do xampu, que deve estar bem ralinho,
foi colocada a mesma quantidade de anfótero que colocamos no passo 4 (de
50ml a 100ml) de lauril. Foi mexido bem até que se transformou em um gel.
Logo após produzir o xampu, foram distribuídas amostras para
diferentes pessoas com a finalidade de avaliar a sua qualidade e eficiência.
Conseguimos observar nas respostas que o nosso produto se assemelha muito
ao comercializado na indústria cosmética, logo, evidenciamos mais uma
potencialidade desse produto, que é de baixo custo. Verificamos que o xampu
produzido nesse trabalho de pesquisa tem diversas propriedades hidratantes,
combate à oleosidade, caspas, queda e ainda tem um efeito de maciez após o
uso.
A íntegra do trabalho, bem como os detalhes da pesquisa, você poderá
acessar pelo QR-Code seguinte:
81
Apresentaremos a seguir um trabalho de investigação científica que foi
desenvolvido pela Escola de Referência em Ensino Médio Aura Sampaio
Parente Muniz no município de Salgueiro – PE, que se propõe a avaliar
extratos vegetais para controle de mosquitos como o Aedes aegypti, cujo título
é: “Avaliação de Composto Vegetal no Controle de Aedes aegypti”.
Sequência Didática/SD – 4
Escola de Referência em Ensino Médio Aura Sampaio Parente Muniz:
Avaliação de Composto Vegetal no Controle de Aedes aegypti.
Foi verificado que um dos grandes problemas enfrentados pela
população brasileira é o crescente número de casos de dengue, zika,
chikungunya e febre amarela. Ano após ano tem-se ações de políticas públicas
que visam combater o mosquito Aedes aegypti que é o vetor de transmissão
dessas doenças.
Na referida pesquisa, foram testados diferentes produtos derivados de
vegetais quanto à atividade inseticida contra mosquitos hematófagos. Entre os
vários produtos derivados de vegetais testados, o Líquido da Castanha de Caju
– LCC (Anacardium occidentale) mostrou-se eficaz por possuir substâncias
ativas biocidas que, em estudo anterior, demonstraram ter bom potencial de
efeito larvicida e ovicida frente aos mosquitos hematófagos, podendo ter sua
potencialidade ampliada quando associado a outros compostos biologicamente
ativos.
Assim, partindo de um estudo anterior que já testara a eficácia do LCC,
esta pesquisa se propôs a produzir um composto de LCC associado a outros
82
produtos vegetais, avaliando sua eficácia larvicida, ovicida e efeito atrativo ou
repulsivo sobre as fêmeas de mosquitos em ovitrampas, além de avaliar sua
eficiência em campo e seu impacto em organismos de diferentes níveis tróficos
do ambiente.
O uso de inseticidas sintéticos, mesmo não biodegradáveis e
acumulativos, surgiu como uma solução eficiente no combate desses insetos e
continua sendo o principal suporte em seu controle, entretanto, seu uso
continuado contribui para o agravamento de espécies resistentes.
Diante das dificuldades encontradas no controle de mosquitos com os
inseticidas químicos, em função do surgimento de resistência, é dada uma
crescente importância aos trabalhos de pesquisa que busquem por substitutos
a esses inseticidas com alternativas mais seguras para o ambiente.
Os princípios ativos vegetais proporcionam a utilização de moléculas
que, pela complexidade de composição, diminuem os riscos do aparecimento
de resistência (GALLO et al. 2002). A utilização desses princípios ativos,
encontrados em diversas plantas, para produção de extratos e óleos essências
tem sido cada vez mais frequente, uma vez que estudos apontam para uma
eficácia dos mesmos no combate a mosquitos (AMER; MEHLHOR, 2006).
A Anacardium occidentale, o cajueiro, planta nativa do território brasileiro
e difundida pelo mundo pelos portugueses, era usada como alimento indígena
e como planta medicinal. Entre os vários subprodutos do cajueiro está o LCC -
líquido da castanha de caju (Anacardium occidentale) que, por possuir
substâncias ativas biocidas como o ácido anacárdico, apresenta-se com
grande potencial no controle de vetores de doenças, com menor toxicidade
ambiental, sendo um produto de baixo custo e fácil acesso.
Os frutos de A. occidentale e os demais vegetais (batata, camomila,
feijão, beterraba, alho, capim-santo, erva-cidreira, hortelã, mastruz e limão)
foram adquiridos no comércio popular local, acondicionadas em sacos plásticos
e conduzidas até o laboratório da Escola Aura Sampaio Parente Muniz, em
Salgueiro, PE.
Para a produção dos extratos de LCC, as cascas das castanhas foram
esmagadas em prensas a frio e postas em solução aquosa com 25 ml, por um
período de 12 horas, em temperatura ambiente (25°C), obtendo-se um líquido
83
de coloração marrom e de odor forte, o qual foi filtrado e armazenado até ser
submetido aos ensaios.
O filtrado obtido foi distribuído em cápsulas de dois tipos (duras e moles)
as quais foram submetidas aos testes. Para a produção dos extratos dos
demais vegetais foram usados 30ml de álcool etílico e 10g de cada vegetal, por
um período de 12 horas, em temperatura ambiente (25°C). Os bioensaios
foram realizados com larvas e ovos de Aedes aegypti e Culex
quinquefasciatus. Para cadauma das amostras a ser testada, preparou-se três
grupos: Grupo Teste1, Grupo Teste 2 e Grupo Teste 3, apresentando cada um:
dez larvas, 3ml de LCC, 250 ml de água e 2 ml de um dos extratos vegetais.
Repetiu-se o mesmo procedimento com apenas LCC nas mesmas
concentrações. Os grupos controle foram submetidos às mesmas condições
dos grupos teste, porém, sem o LCC e sem os extratos vegetais.
O teste ovicida, consistiu em avaliar o desenvolvimento de 30 ovos sob
aplicação do LCC e dos extratos vegetais. Foram medidos o pH e a
temperatura do LCC antes dos testes. Nos bioensaios de germinação, foram
utilizados 5 ml das amostras de extrato de LCC nas concentrações de 25, 50,
100, 150 e 200 mg ml-1 em 30 sementes de alface, além do controle com água
destilada. A contagem das sementes germinadas foi realizada a cada 24h por 7
dias, sendo consideradas germinadas as sementes que apresentarem 2 mm de
raiz primária. O composto de LCC associado aos demais vegetais foi avaliado
quanto ao comportamento de oviposição das fêmeas (efeito atrativo ou
repulsivo) em armadilhas do tipo ovitrampa.
Constatou-se em cada teste larvicida a morte rápida das larvas testadas,
as quais receberam a concentração mínima de meio mililitro de LCC em um
tempo médio de 20 minutos, confirmando o efeito letal do produto. A taxa de
eclosão larval dos ovos expostos ao LCC foi significativamente menor quando
comparada ao controle e as cápsulas de gel que apresentaram maior
eficiência.
Em ovitrampas foi avaliado o comportamento de oviposição das fêmeas
em relação ao efeito atrativo ou repulsivo do produto. O efeito repulsivo ficou
mais evidente quando associado ao alho.
84
Diante da problemática, o líquido da castanha de caju apresentou-se
com potencial efeito larvicida e ovicida frente aos mosquitos hematófagos e,
quando associado aos vegetais testados, teve sua ação potencializada, uma
vez que adicionou o efeito atrativo em ovitrampas, sugerindo-o como produto
promissor na pesquisa por novos inseticidas naturais.
A pesquisa demonstrou relevância diante dos escassos produtos
naturais com estas finalidades e pela possibilidade de aproveitamento de
subprodutos da indústria da castanha. Esses resultados favoráveis estimulam a
continuidade do estudo, visando o seu uso prático para o controle de mosquitos
hematófagos.
Para mais informações sobre esta pesquisa, acesse o QR Code
seguinte:
Algumas considerações:
Muitas expectativas recaem sobre a educação básica, na formação dos
sujeitos, em especial, dos sujeitos do Ensino Médio. Esta etapa de ensino tem
como particularidade a necessidade da consolidação e o aprofundamento dos
conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
prosseguimento de estudos; a preparação básica para o trabalho e a cidadania
do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar
com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento
posteriores; o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento
crítico; e a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos
85
processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada
disciplina (BRASIL, 1996).
Todas essas finalidades possuem, em comum, entre outros elementos,
o princípio da autonomia como fator fundamental para seu desenvolvimento.
Conforme discutido anteriormente, os processos de investigação correspondem
à estratégia fundamental na Educação Básica. No Ensino Médio, os interesses
de cada estudante, suas curiosidades, ganham complexidades que devem ser
consideradas enquanto mobilizadoras das atividades escolares. Entretanto,
não correspondem à mera transmissão das ‘respostas corretas’ pelos
professores. Mas há todo o percurso sistemático da pesquisa. Nesse percurso,
os estudantes precisam realizar, de forma intencional como todo ato
pedagógico, a problematização de suas próprias dúvidas, o levantamento das
suas hipóteses, a seleção, tratamento e análise das diferentes fontes etc. Esse
processo não se realiza de forma natural. Necessita de uma mediação de
profissionais que possam permanentemente dialogar com cada estudante.
O diálogo apresentado aqui tenta superar a perspectiva da transmissão
de saberes de forma vertical de professor para estudante. Trata-se de uma
abordagem horizontal, onde os diferentes sujeitos interagem, pesquisam,
desenvolvem e descobrem, juntos, novas respostas e, principalmente, novos
olhares e possibilidades para o mundo.
É pelo prazer do caminhar, dos diálogos e das descobertas que a
pesquisa pode promover no espaço escolar, que nós, professores –
pesquisadores, nos mantemos em permanente aprendizado e discussões em
torno da valorização da investigação para promoção das diferentes habilidades
previstas para a Educação Básica e também nos mantemos vigilantes e ativos
na necessária valorização e divulgação da Ciência no nosso país.
REFERÊNCIAS
AGOSTINI-COSTA, Tania da Silva; JALES, Katiane Arrais; OLIVEIRA, Maria
Elizabeth Barros de; GARRUTI, Deborah dos Santos. Determinação
espectofotométrica de ácido anacárdico em amêndoas de castanha de caju.
Comunicado técnico, 2006.
86
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88
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89
5.1 A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
É decisivo saber o que fazer com o conhecimento, saber
pensar e intervir, propor alternativas, fazer-se sujeito de história
própria, individual e coletiva. Pesquisa começa na infância, não
no mestrado!7 (DEMO,2014)
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade da educação
básica, ofertada nas etapas dos Ensinos Fundamental e Médio, assim definida
pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996. O
reconhecimento do estatuto de modalidade, advindo da LDB, produziu efeitos
que vão além da consideração das especificidades e das necessidades dos
estudantes. Ela explicitou que o poder público tem o dever de ofertar educação
escolar regular a todas as pessoas – estando incluídas, portanto, aquelas que
não tiveram acesso ou continuidade de estudos na educação básica na idade
própria.
Isso tem implicações importantes, uma vez que, nessa perspectiva, o
atendimento educacional a jovens, adultos e idosos que não concluíram sua
escolaridade deixa de ser alvo de iniciativas esparsas, de caráter temporário,
ofertadas pelas redes de ensino, como ocorria no Brasil, e passa a assumir um
papel de política pública regular do Estado.
O atendimento escolar aos jovens, adultos e idosos, dever do Estado,
possibilita, assim, a reparação de diversas formas e práticas de exclusão a que
esses sujeitos têm sido historicamente submetidos. Além disso, configura-se
como estratégia para o desenvolvimento da nação, uma vez que promove a
efetivação de direitos de uma significativa parcela da população brasileira,
7 DEMO, P. Educação científica. REVISTA BRASILEIRA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – ISSN 2359-232X.
Vol. 1, nº 01, Maio/2014, p.
5. A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NAS MODALIDADES DA
EDUCAÇÃO
90
possibilitando a esses sujeitos avanços em termos cognitivos, sociais e,frequentemente, econômicos, em decorrência do acesso à elevação da
escolaridade.
Esse cenário aponta para alguns desafios, dentre os quais se destaca
levar sujeitos jovens, adultos e idosos a construírem, na escola, conhecimentos
e saberes necessários e significativos para sua atuação em um mundo em
constante transformação. Esse processo se dá na perspectiva de “um currículo
que valoriza [...] a identidade social, cultural, política e econômica do seu povo,
contribuindo para a formação de sujeitos autônomos, criativos e críticos [...]”
(PERNAMBUCO, 2019, p. 17). Consequentemente, a prática pedagógica
efetivada nas turmas da EJA deve promover o diálogo constante entre esse
currículo e os fenômenos políticos, econômicos, sociais, culturais e educativos
vivenciados por esses estudantes.
É importante ressaltar que esse movimento dialógico, de fundamental
importância para a aprendizagem dos estudantes, precisa estar ancorado em
perspectivas teórico-metodológicas orientadas para a investigação, a reflexão,
a análise crítica, de modo que sejam preteridas práticas fundadas no
autoritarismo e na ausência de questionamentos. É aí que a Educação
Científica assume papel de protagonista. Tal linha de pensamento exige a
instauração de um modo de pensar e fazer a prática educativa na EJA que
trata a pesquisa como referência para a construção do conhecimento,
contribuindo, assim, para o desenvolvimento da autonomia dos estudantes.
Como podemos perceber, essa concepção se distancia das práticas
identificadas com a “educação bancária”, criticada por Freire, que em pouco
contribui para o estabelecimento de um ambiente de abertura à reflexão, ao
questionamento e à crítica.
Em suas reflexões, Paulo Freire (1997) enuncia que o ato de ensinar
deve ir além de transmitir ou “depositar” conteúdos no educando. Ao contrário,
é um ato caracterizado pela dialogicidade entre os sujeitos, em que a reflexão
crítica assume papel central para a compreensão do estar no mundo e o
reconhecimento, de cada sujeito, como agente transformador.
Nesse sentido, ao estimular que os estudantes investiguem suas
realidades e elaborem hipóteses, submetendo-as à apreciação a partir do
91
conhecimento científico, a prática pedagógica na EJA contribui para o
desenvolvimento dos processos de conscientização dos estudantes e,
consequentemente, para a construção de conhecimento significativo para suas
realidades concretas.
É nesta direção de formação crítica e emancipatória para a cidadania
democrática que construir no coletivo e no diálogo o currículo, para pessoas
jovens e adultas, significa reconhecer a função da EJA e o compromisso
político e pedagógico das escolas públicas e dos espaços não formais na
sociedade brasileira, de modo mais amplo, e na sociedade pernambucana, de
modo mais específico.
É por meio da orientação segura do professor que os estudantes da EJA
podem se sentir mais confiantes e estimulados a se lançarem na gratificante
atividade de construir conhecimentos novos e significativos para suas vidas.
Esse processo deve ser iniciado com a própria definição do tema a ser
pesquisado, cuja escolha precisa partir de uma observação da realidade
vivenciada pelos estudantes.
Outro fator importante para permitir aos estudantes que se familiarizem
com os métodos científicos de construção do conhecimento é a adoção, pelo
professor, de estratégias de ensino e aprendizagem diversificadas. A
constância no estímulo à pesquisa, nesse contexto, torna-se fundamental.
Podemos nos perguntar: se, em todas as aulas, os estudantes da EJA apenas
receberem o “conhecimento pronto”, oferecido pela fala do professor e pela
leitura do material didático, como vão avançar na sua capacidade de pensar
autonomamente e construir suas próprias hipóteses sobre os fenômenos que
observam?
Nesse sentido, é importante oferecer aos estudantes jovens, adultos e
idosos oportunidades para conhecer e discutir procedimentos de pesquisa.
Podemos afirmar que, habitualmente, tais procedimentos não são objeto de
reflexão nas suas interações fora do ambiente escolar. Assim, para que
possam desenvolver a autonomia intelectual, os estudantes precisam vivenciar,
cotidianamente na prática escolar, procedimentos como levantamento de
dados, seleção das fontes de consulta, pesquisa bibliográfica, entrevistas,
registrando por escrito suas descobertas. Evidentemente, não é necessário
92
realizar todos esses procedimentos o tempo todo e em profundidade, mas é
fundamental que eles se tornem atividades corriqueiras, ao lado das demais
estratégias de estudo, com as quais os estudantes estejam gradativamente
mais familiarizados, à medida que avançarem em seus percursos de
escolarização.
PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
ADULTOS
ELABORAÇÃO DE UM DICIONÁRIO DE TERMOS PRÓPRIOS DE UMA
VARIEDADE DIALETAL
A variação linguística é um fenômeno que pode ser verificado em todas
as línguas, mas, apesar disso, é muito comum o estabelecimento de
concepções equivocadas sobre essa questão. Um indício disso é o olhar
frequentemente preconceituoso que se dirige a algumas variedades
linguísticas, sejam elas relacionadas a um determinado espaço geográfico ou a
uma comunidade de falantes específica.
Como forma de evitar a perpetuação desses estigmas, a escola pode
levar os estudantes da EJA a investigarem modos de funcionamento da língua,
por meio da pesquisa sobre a linguagem cotidianamente empregada pelos
falantes em um determinado contexto. A atividade que propomos a seguir é
oriunda de uma experiência vivenciada em uma das escolas situadas em
espaços de privação da liberdade da rede estadual, e que toma a linguagem
cotidiana como objeto de investigação. Apesar de estar vinculada, em sua
origem, ao contexto da educação prisional, a atividade pode ser adaptada a
diferentes contextos educacionais, uma vez que propõe reflexões sobre a
linguagem, elemento central na construção das identidades de todos, por meio
da qual nos constituímos.
Como ponto de partida, é possível que o professor apresente aos
estudantes algumas questões de pesquisa, com o objetivo de demonstrar que,
habitualmente, a investigação científica busca responder questionamentos
formulados com base na observação de um determinado recorte da realidade.
Cabe ressaltar que o estabelecimento das questões de pesquisa serve para
nortear o trabalho de pesquisa e, ao mesmo tempo, possibilita critérios de
93
avaliação da atividade. Nesse sentido, ao final do trabalho de investigação, os
estudantes podem realizar uma autoavaliação8, à medida que observem se os
métodos que empregaram foram capazes de responder, satisfatoriamente, às
suas questões de pesquisa.
1. Questões de pesquisa:
Existem termos e expressões que são usados dentro dos espaços de
privação de liberdade e não são comuns “no mundo de fora”?
Existem termos e expressões que, embora sejam usados nos espaços
exteriores ao cárcere, assumem significados diferentes no ambiente
prisional?
Quais as razões que explicam essa variação?
É possível ampliar a compreensão entre falantes das diferentes
variedades (aquela verificada no interior do ambiente prisional e a que
predomina no mundo além dos muros)?
2. Desenvolvimento da investigação
Como atividade preparatória, o professor discute com os estudantes o
tema da variação linguística. Para isso, propõe uma roda de diálogo em que
questiona os estudantes quantas línguas eles conhecem/já ouviram falar. Em
seguida, pergunta quais características, ou elementos, em suas opiniões,
permitem distinguir um idioma de outro.
Após esse primeiro momento, o professor lança aos estudantes um novo
questionamento: é possível identificar características diferentes, em um único
idioma, como, por exemplo, o português, de acordo com as pessoas que o
utilizam? A partirdas respostas, o professor conduz os estudantes à reflexão
sobre o fato de que a variação é um fenômeno comum a todas as línguas,
sendo importante que cada falante conheça diferentes variedades, mesmo no
seu idioma, para ampliar suas oportunidades de participação e de
compreensão de discursos.
8 É importante destacar que a autoavaliação é uma das funções da avaliação preconizadas pelo Currículo
de Pernambuco do Ensino Fundamental para a Educação de Jovens e Adultos, que a compreende como
“um processo pelo qual o estudante amplia a consciência acerca dos diferentes momentos e aspectos
envolvidos em sua atividade cognitiva”. (PERNAMBUCO, 2021, p. 30).
94
A etapa seguinte consiste em levar os estudantes a refletirem sobre os
usos distintos que eles mesmos fazem da língua. Para isso, o professor pode
propor uma atividade em que os estudantes respondam a questões como as
seguintes:
Você acha importante usar palavras, expressões, gestos e tons de voz
diferentes, de acordo com a pessoa com quem está falando? Ou
acredita que devemos nos comportar linguisticamente sempre de um
mesmo modo, independente de quem seja nosso interlocutor?
Você já percebeu que determinadas comunidades de falantes usam
termos e expressões próprios, que muitas vezes são desconhecidos por
pessoas que não fazem parte daquela comunidade? Se sim, poderia dar
exemplos?
O desconhecimento do significado de determinadas palavras e ou
expressões pode causar alguma dificuldade na comunicação? De que
maneiras?
Depois de terem refletido sobre a presença da variação linguística e
sobre a importância de se reconhecer diferentes formas de falar em um mesmo
idioma, o professor pode sugerir aos estudantes que iniciem uma investigação
sobre a própria linguagem que utilizam. A partir da observação dos termos e
expressões que empregam no cotidiano das comunidades a que pertencem
(comunidade escolar, religiosa, territorial ou de determinada faixa etária, por
exemplo), os estudantes podem elaborar glossários, em que registrem, por
escrito: a palavra, o significado que apresenta e um exemplo de uso em uma
frase. Caso seja viável, o professor pode solicitar que os estudantes registrem,
também, a classe gramatical a que pertence a palavra.
Durante a realização das atividades, é importante que o professor deixe
claro para os estudantes que este trabalho de pesquisa visa promover uma
compreensão sobre a linguagem utilizada concretamente nas interações que
os falantes estabelecem entre si. Dessa forma, neste processo, não há
julgamentos sobre a “correção” ou não das palavras e expressões
investigadas. Chamar atenção para esse fato é importante pois permite aos
estudantes o contato com procedimentos próprios do fazer científico,
demonstrando que a pesquisa linguística permite a compreensão de
95
determinadas questões tais como se apresentam na realidade, em vez de
reafirmarem preconceitos.
3. Culminância
Como culminância da iniciativa, pode-se fazer uma cerimônia de
lançamento da obra coletivamente produzida pelos estudantes, e convidar
membros da comunidade escolar para uma seção de autógrafos e de debate
com os autores.
INVESTIGANDO A NOSSA ALIMENTAÇÃO
Um dos objetivos desta proposta é despertar nos estudantes o interesse
pelo planejamento e pela tomada consciente de decisões, a partir da pesquisa
sobre um tema relevante do ponto de vista da saúde individual e coletiva: a
alimentação.
Além disso, as atividades propostas a seguir pretendem desenvolver a
autonomia dos estudantes e fortalecer as habilidades ligadas à investigação
científica, já desde a Educação Básica. Isso se ancora nas recomendações de
documentos curriculares vigentes em âmbito nacional e estadual, tais como a
demanda por práticas pedagógicas que estimulem a autonomia na
aprendizagem dos estudantes, e que ganha destaque na Base Nacional
Comum Curricular.
Nesse contexto, destacam-se o uso do método científico e a elaboração
de pesquisa científica em sala de aula. Tais atividades proporcionam aos
estudantes a construção e o aprofundamento de conhecimentos, ao passo que
esses sujeitos experimentam, sob a orientação de um professor, formas de
pensar de maneira lógica sobre fatos cotidianos, assim como a resolução de
problemas práticos.
A investigação sobre hábitos alimentares, proposta nesta sequência de
atividades, pode levar os estudantes a observarem sua realidade com atenção
e a ampliarem a consciência acerca da importância de fazer as escolhas mais
proveitosas, do ponto de vista nutricional, diante dos contextos concretos em
que se encontram – com seus limites e suas potencialidades. O tratamento
96
dessa temática abre, ainda, inúmeras possibilidades de trabalho
interdisciplinar, uma vez que a discussão acerca dos hábitos alimentares
abrange aspectos econômicos, sociais, históricos e culturais, como podemos
observar na figura a seguir:
1. Questões de pesquisa
Quais são os hábitos alimentares mais comuns entre as pessoas da
minha comunidade?
Quais elementos mais influenciam na escolha dos gêneros alimentícios?
É possível avaliar as escolhas que fazemos, a partir de referenciais de
saúde alimentar?
É possível adotar escolhas alimentares mais saudáveis, levando em
conta a cultura e a realidade local? Que mudanças podem ser
propostas?
2. Desenvolvimento da investigação
Nesta sequência de atividades, o primeiro passo pode ser dado em uma
roda de diálogo sobre a temática dos hábitos alimentares. Nessa etapa de
contextualização, o professor pode estimular a turma a estabelecer uma
comparação entre os hábitos alimentares atualmente verificáveis na população
e aqueles observados três ou quatro décadas atrás. Essa pode ser uma opção
viável em turmas da EJA que contenham um número significativo de adultos e
de pessoas idosas, por exemplo. Alternativamente, o professor poderá suscitar
um debate a partir de um texto ou vídeo que trate da temática em questão, de
modo que os estudantes percebam a ligação entre as atividades seguintes em
torno dos hábitos alimentares e sua influência na qualidade de vida.
97
O quadro abaixo apresenta sugestões de materiais que podem ser utilizados
nessa atividade:
CATEGORIA TÍTULO LINK
Texto Afinal, o que significa
ter um estilo de vida
saudável?
http://www.sban.org.br/uploads/BlogPDF2
0200707051706.pdf
Vídeo SBAN - Não existem
alimentos bons ou
ruins
https://www.youtube.com/watch?v=aN56hd-
UzVc
Na etapa seguinte, o professor apresenta aos estudantes a proposta de
realização de uma investigação sobre hábitos alimentares, em um determinado
segmento da população. Para isso, propõe diferentes possibilidades para esse
recorte, tais como: os moradores do(s) bairro(s) no entorno da escola,
trabalhadores de um determinado setor ou empresa, ou, ainda, os próprios
estudantes da escola. Nessa etapa, é importante levar os estudantes a
refletirem sobre as vantagens e desvantagens que cada escolha pode
proporcionar para a obtenção dos resultados da pesquisa – pois isso também é
um aspecto relevante no processo de investigação científica. Definido(s) o(s)
grupo(s) que se pretende investigar, o próximo passo é a elaboração dos
instrumentos de coleta de dados.
Novamente, é recomendável que o professor apresente aos estudantes
algumas propostas de instrumentos, para que possam se ampliar sua
familiaridade com o fazer científico, antes de propor ajustes e elaborar seus
próprios materiais. Contudo, a critério da observação que realiza da sua turma,
o professor pode propor que os próprios estudantes elaborem “do zero” os
instrumentos (que podem ser em formato de questionário, por exemplo).
De posse dos dados sobre os hábitos alimentares da população
pesquisada, é hora de os estudantes analisaremse esses dados revelam
proximidade ou distanciamento em relação às recomendações das autoridades
do campo da saúde alimentar. Para isso, será importante que os estudantes
tenham acesso a materiais que tratem dessa temática, o que consiste em mais
uma atividade de investigação. Os estudantes devem receber orientações
https://www.youtube.com/watch?v=aN56hd-UzVc
https://www.youtube.com/watch?v=aN56hd-UzVc
98
sobre como pesquisar na internet, de modo a serem capazes não apenas de
distinguir fatos de opiniões, mas também de reconhecer fontes de informação
fidedignas, como sites de órgãos governamentais, sociedades ou associações
científicas e universidades, por exemplo. Nesse momento, o professor pode
também conduzir atividades que promovam o contato dos estudantes com
essas recomendações, seja por meio de aulas expositivas, seja por meio de
palestras com profissionais da área da nutrição.
Em seguida, para explicitar os resultados de suas investigações e de
suas leituras, os estudantes podem elaborar quadros comparativos entre os
dados coletados e as recomendações acerca de saúde alimentar. Esses
quadros podem contribuir para ampliar a sensibilização dos estudantes em
torno da questão, além de promover a comunicação sobre o trabalho que estão
realizando com outros professores e estudantes de outras turmas.
Na etapa seguinte, pode-se partir para a possibilidade de criação de
soluções para as situações verificadas. Assim, caso os estudantes tenham
observado que os hábitos alimentares presentes na(s) comunidade(s)
pesquisada(s) são significativamente diferentes dos recomendados pelos
especialistas da área, podem propor ajustes que elevem a qualidade
nutricional. Uma ressalva se faz necessária: nessa etapa, é fundamental levar
os estudantes a perceberem que, muitas vezes, as escolhas são determinadas
por questões de ordem socioeconômica, sendo difícil propor alternativas mais
saudáveis diante de restrições financeiras; mas, em outras, é possível
considerar mudanças que não necessariamente acarretem aumentos de
custos. O mais importante é promover a construção de conhecimento a partir
de uma postura ativa dos estudantes, no sentido de ampliação de sua
autonomia.
É importante observar que essa sequência de atividades pode ser
ampliada, de modo a abranger competências e habilidades de diferentes áreas
do conhecimento, como mencionado. Nesse sentido, é possível inserir
atividades em que os estudantes sejam estimulados a elaborar planilhas de
custos, informando preços de diferentes gêneros alimentícios, por exemplo.
3. Culminância
99
Como fechamento dessa sequência de atividades, pode-se realizar um
evento, aberto à comunidade escolar, em que os estudantes apresentem os
resultados de sua pesquisa. Isso pode contribuir para fortalecer os vínculos
entre a escola e a comunidade, além de permitir um “retorno” aos sujeitos
pesquisados, sobre os dados que eles forneceram durante a realização da
pesquisa.
Referências:
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 15. ed. São
Paulo: Contexto, 2006.
BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola: o que é e como se faz. 23.ed. São
Paulo: Loyola, 2009.
DEMO, P. Educação científica. Revista Brasileira de Iniciação Científica –
ISSN 2359-232X Vol. 1, nº 01, Maio/2014.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo : Paz e Terra, 1997.
PERNAMBUCO. Currículo de Pernambuco para a Educação de Jovens e
Adultos – Ensino Fundamental. Recife: Secretaria de Educação de
Pernambuco, 2021. Disponível em:
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%20PUBLICA%C3%87%C3%83O.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2022.
5.2 A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO
Os territórios do campo são constituídos de especificidades próprias,
diversidades, diferenças, memórias, lutas, riquezas de cultura e história
inigualáveis, e tudo isso está sempre em construção e movimento. Neles,
encontramos a grande maioria dos povos e comunidades tradicionais, ciganos,
quilombolas, pecuaristas, artesãos e agricultores familiares de multipluralidade
gigantesca! Então, que melhor ambiente para se produzir conhecimento
científico senão nele?
http://www.educacao.pe.gov.br/portal/upload/galeria/21557/Curr%C3%ADculo%20de%20Pernambuco%20do%20Ensino%20Fundamental%20para%20EJA%20PUBLICA%C3%87%C3%83O.pdf
http://www.educacao.pe.gov.br/portal/upload/galeria/21557/Curr%C3%ADculo%20de%20Pernambuco%20do%20Ensino%20Fundamental%20para%20EJA%20PUBLICA%C3%87%C3%83O.pdf
http://www.educacao.pe.gov.br/portal/upload/galeria/21557/Curr%C3%ADculo%20de%20Pernambuco%20do%20Ensino%20Fundamental%20para%20EJA%20PUBLICA%C3%87%C3%83O.pdf
100
O estudante da Educação do Campo traz consigo uma
gama de saberes inexplorados e, muitas vezes, produz
ciência sem saber que a faz (quando armazena a água para
reutilizá-la, quando usa o sistema de plantio direto, quando
pratica o sistema de rotação de culturas etc.). Neste
contexto, o papel do professor pode, e deve ser: considerar a
experiência de vida dos educandos, ouvir, refletir, conduzir,
ajudar a tirar o máximo proveito destes conhecimentos, e
usar o trabalho e a pesquisa como princípios educativos,
vinculando a escola à realidade dos sujeitos do campo.
A história da Educação do Campo foi construída através da luta do povo
camponês por uma política que considerasse o campo como espaço de vida,
de trabalho, e de uma educação que integrasse os conhecimentos científicos
ao contexto local e experiências de vida dos estudantes. Isso vem sendo
conquistado! O próximo passo está neste caderno, e nós convidamos você,
professor, a fomentar, em seus estudantes, o interesse por investigar, por
refletir, analisar criticamente, fazer uso da imaginação, da criatividade e
pesquisa para realizar descobertas referentes às diferentes experiências de
vida dos seus educandos.
A INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA NA EJA DESTINADA ÀS POPULAÇÕES DO
CAMPO
A Educação do Campo, dentro da modalidade da Educação de Jovens,
Adultos e Idosos, se apresenta repleta de peculiaridades e como você
professor bem sabe, vive-se uma experiência nova a cada dia em sala de aula.
Neste caderno, vamos orientá-lo a aproveitá-las considerando os princípios da
Educação do Campo, e transformando-as em atividades que sejam edificantes
para o estudante, para você professor, e que contribuam significativamente
para a melhoria de vida, trabalho, e produção, tanto para benefício direto,
quanto para a comunidade na qual a escola está inserida.
Em sintonia com o Currículo de Pernambuco e a Base Nacional Comum
Curricular, podemos usar o TCF (Trabalho de Conclusão de Curso) como um
trabalho de educação científica, observando as metodologias adequadas à
101
realidade da escola do campo, unindo esforços para que o projeto
desenvolvido com os estudantes reflita de fato as condições de vida,
expectativas, trabalho e cultura do grupo, assim como o aprendizado relevante
desses/as estudantes. Além dos TCF, o dia a dia rural nos traz inúmeras
possibilidades de intervenção pedagógica, basta observar a realidade dos
educandos e identificar um objeto de pesquisa que traga resultados que
contribuam com o processo educativo e impactem suas realidades.
Essa intervenção toma corpo com metodologias e instrumentos próprios
que dependem do tipo de pesquisa que se pretende desenvolver, que podem
ser, por exemplo, um trabalho de educação científica assentado numa
pesquisa empírica (com trabalho de campo) por meio de visitas à comunidade
de forma a fazer um levantamento dos interesses e necessidades da
comunidade; numa pesquisa bibliográfica, coletando as informações
inerentes ao trabalho em revistas, livros, e artigos científicos que deem
embasamento ao tema investigado;ou até mesmo num estudo de caso, onde
poderão ser considerados e comparados os resultados obtidos por todos da
turma, em diferentes cenários e realidades.
A pesquisa deve ser o elemento de base para todo o trabalho. Vale
lembrar a importância da interação dos estudantes com entidades de classe,
familiares, trabalhadores, sindicatos e movimentos sociais como forma de
enriquecer o processo. Interagindo com outras pessoas, surgirão novos
questionamentos e ideias, aumentando o envolvimento do estudante e
possibilitando uma intervenção mais efetiva na comunidade local com os
resultados obtidos.
Tenha certeza que essa construção será significativa
para você, professor, e para seus estudantes. Ao ler as
sugestões de atividades você vai perceber que todo esse
processo é muito natural quando consideramos os
elementos trazidos pelos próprios estudantes. Vai ver
também que o envolvimento deles, de toda equipe
escolar, e da comunidade tornará a pesquisa prática e
produtiva. Muitas coisas serão descobertas, e elas trarão muitos benefícios e
conhecimentos para todos!
102
PESQUISA COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO
A participação ativa dos sujeitos na Educação do Campo deve se
consolidar para além dos espaços da sala de aula, concretizando-se tanto no
Tempo Escola, como no Tempo Comunidade. É no objetivo de intervenção na
comunidade que a pesquisa se encaixa como parte indissociável entre teoria e
prática, estimulando a curiosidade intelectual dos educandos e unindo os
trabalhos individual e coletivo.
Organizar o trabalho pedagógico utilizando a pesquisa como princípio
educativo na metodologia baseada nos princípios da alternância extrapola as
aulas expositivas tradicionais. Ao incentivar a problematização da realidade e a
possibilidade de intervenção na mesma, transformamos nossos estudantes em
sujeitos crítico-reflexivos e cheios de motivação para ampliar seus
conhecimentos e desenvolver um novo olhar para seu processo formativo na
escola. Neste processo, o estudante se reconhece também como sujeito ativo
no processo de aprendizagem, sendo parte dele como produtor de
conhecimento, e não apenas como mero expectador.
A estruturação do planejamento da pesquisa na metodologia baseada nos
princípios da alternância pode se configurar da seguinte forma:
Plano de pesquisa
Círculo de Diálogos
Partilha de saberes
103
Atividades coletivas que
devem gerar, por meio do
debate mediado pelo
educador, perguntas e
curiosidades pertinentes
à realidade da comuni-
dade local.
Etapa onde serão defini-
dos os procedimentos
metodológicos e os
instrumentos
investigativos a serem
desenvolvidos no tempo
comunidade da pesquisa.
Concretização e aplicação
do plano de pesquisa no
tempo comunidade pelos
educandos, com
orientação e apoio dos
professores.
Momento de socialização
coletiva das experiências
vivenciadas na pesquisa.
Análise e organização dos
dados coletados. Elaboração
de tabelas, gráficos,
desenhos, etc.
Reflexões vividas nas etapas
anteriores da pesquisa.
Construção de novos saberes
a partir dos resultados,
(re)formulações e novas
problemáticas.
Elaboração de projetos de
intervenção na realidade a
partir das questões
pesquisadas no Tempo
Comunidade e aprofundadas
no tempo Escola.
104
Diversificar estratégias e instrumentos de avaliação, no contexto da
pesquisa como princípio educativo da alternância, possibilita o
autoconhecimento dos estudantes, sua participação no processo formativo e
potencializa os saberes construídos se distanciando das práticas tradicionais
autoritárias de avaliação. Apresentamos abaixo estratégias de avaliação que se
enquadram neste cenário, e lembramos que os docentes podem criar novas
estratégias, considerando seus objetivos, a metodologia, e o tipo de pesquisa
que deseja trabalhar:
O conhecimento
produzido na escola ganha
materialidade a fim de
contribuir com a melhoria
de vida e condições de
trabalho das populações
do campo.
COMUNICAÇÃO DOS
RESULTADOS DA EMPRESA
Momento de diálogo dos
educandos com a família e
comunidade, compartilhando os
saberes e intervindo na
comunidade para superar os
problemas identificados na
pesquisa. A síntese pode ser
apresentada de forma escrita,
cantada, pintada, interpretada,
etc.
105
Propõe-se que a sistematização desses processos ocorra por meio de:
Diário de classe, registrando as atividades planejadas e executadas;
Ficha síntese de acompanhamento individual, observando e registrando
as dificuldades e as compreensões do estudante;
Fichas de autoavaliação dos estudantes, onde o próprio estudante faz
seus registros;
Ficha de parecer individual, registrando o aproveitamento individual de
cada estudante;
Fichas didáticas de estudo do tempo escola e do tempo comunidade;
Mapa de avaliação, registrando o aproveitamento coletivo;
Diário etnográfico, o próprio estudante registra suas impressões,
dificuldades e entendimentos;
Portfólio, registrando as produções realizadas ao longo do percurso
formativo.
Desenvolvem a
capacidade de
comunicação e
registro.
Registram de
forma escrita
as atividades
realizadas.
Exercitam a
exposição e a
reformulação
de opiniões.
Desenvolve o pensamento
reflexivo por meio de
atividades propostas
pelos estudantes.
Objetiva a
identificação de
temos relacionados e
suas inter-relações.
Objetivam o
amadurecimento de
processos críticos
de avaliação.
Objetivam resolver uma
situação problema sem
o auxílio direto do
educador.
Objetiva
desenvolver
habilidades de
expressão.
Elaboração
dissertativa do
tema a ser
estudado.
Registra a
trajetória.
106
OS EIXOS TEMÁTICOS DA EJA DESTINADOS ÀS POPULAÇÕES DO
CAMPO – POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA
A Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco instituiu, por meio
da Resolução CEE/PE 02/2009, diretrizes e normas específicas para a
educação do campo, reafirmando seus princípios e concepções, e garantindo o
acesso aos avanços científicos e tecnológicos disponíveis no mundo. Nesta
perspectiva, a Instrução Normativa 08/2020 orienta o trabalho pedagógico da
EJA destinada às populações do campo por meio do eixo articulador “trabalho
e educação do campo” e 4 (quatro) eixos temáticos que devem dialogar entre si
contribuindo na formulação de questões de pesquisas a serem
problematizadas. Neste capítulo vamos dialogar sobre cada um desses eixos,
suas respectivas possibilidades de intervenção pedagógica, e apresentar duas
sugestões de temas para possíveis pesquisas científicas por componente
curricular.
Eixo I - Trabalho, produção e suas formas de organização no campo:
Estudo da concepção de trabalho no
percurso histórico e suas mudanças sociais,
como elemento da cultura, de maneira que seja
entendida a relação Trabalho-Educação no/do
Campo com a economia solidária e agricultura
familiar, articuladas aos sistemas de produção.
Compreende-se o papel da família e as diversas
formas de organização do campo, nas
transformações dos ecossistemas nos seus
limites, potencialidades e desafios, face às políticas agrárias e agrícolas que
influenciam e repercutem nas realidades do campo.
Considerando a ementa do Eixo I, a elaboração de trabalhos científicos pode
se configurar da seguinte forma: em linguagens: produção, precificação e
venda de artesanato, cuidados posturais relacionados à manutenção da saúde.
Em matemática, estudo quantitativo da produção e questões de economia
107
solidária. Em ciências da natureza, questões locais de biodiversidade
socioambiental e a importância dos ecossistemas. Em ciências humanas, a
evolução das formas de trabalho na comunidade local e o estudo do solo paramelhores condições de plantio. Em práticas agrícolas, conhecimento e cultivo
de espécies agrícolas.
Eixo II - Política, emancipação, Estado e Sociedade:
Análise das mudanças conceituais de política, assim como a concepção
de Estado como uma criação histórica, compreendendo seu desenvolvimento a
partir da sociedade de classes, possibilitando na
sociedade atual examinar a superação da cidadania
dentro do neoliberalismo em direção a emancipação
humana no diálogo com os direitos humanos.
Considerando a ementa do Eixo II, a
elaboração de trabalhos científicos pode se
configurar da seguinte forma: em linguagens:
trabalhos laborais na entressafra e a influência da propaganda e do marketing
na valorização dos serviços. Em matemática, organização financeira de
cooperativas e quantificação de materiais para agricultura. Em ciências da
natureza, higienização correta de alimentos; alimentação saudável e qualidade
da água. Em ciências humanas: linha cronológica dos marcos históricos
locais e configuração socioeconômica local. Em práticas agrícolas:
agrotóxicos e conscientização ambiental.
Eixo III - Questão agrária e organizações sociais do campo:
Compreensão da questão agrária
no processo histórico do país com o
desenvolvimento político-econômico das
forças produtivas da colonização aos dias
atuais, com a introdução do problema
agrário no Brasil. Discute-se o surgimento
das grandes propriedades, a legislação, o
agronegócio, as políticas oficiais e suas
108
implicações na atual realidade brasileira, considerando as diferentes
organizações sociais do campo com o reconhecimento dos sujeitos históricos e
seus modos de vida e de atuação. Dá-se ênfase a uma nova matriz tecnológica
de base agroecológica.
Considerando a ementa do Eixo III, a elaboração de trabalhos científicos
pode se configurar da seguinte forma: em linguagens: a saúde corporal como
precedente às práticas laborais e a importância da alfabetização no processo
de valorização do homem do campo. Em matemática: melhoria da qualidade e
consequente aumento na produção agrícola e linhas de crédito e financiamento
para produtores rurais. Em ciências da natureza: benefícios da produção de
alimentos orgânicos e tipos de adubos. Em ciências humanas: reforma
agrária e os movimentos sociais. Em práticas agrícolas: latifúndio e minifúndio
no brasil e modernização da agricultura.
Eixo IV - Cultura e territorialidade
Discussão sobre diferentes conceitos de cultura,
seus lugares de produção e o olhar que eles
possibilitam sobre o campo. Refletir sobre as
possibilidades de construção identitária a partir
da dimensão cultural em que o indivíduo se
insere. Neste sentido, propõe-se construir
entendimento de territorialidade a partir de uma
dimensão espacial, cultural, econômica e
identitária.
Considerando a ementa do Eixo IV, a elaboração de trabalhos científicos
pode se configurar da seguinte forma: em linguagens: linguagem informal e
comunicação visual no campo e expressões culturais locais. Em matemática:
medidas de comprimento no campo e bioeconomia. Em ciências da natureza:
efeitos danosos de substâncias químicas nas culturas e nos seres humanos e
sistemas de condução e produção de animais. Em ciências humanas: o
processo de construção e/ou desenvolvimento da territorialidade étnica das
109
comunidades do campo, dando sentido ao território; levantamento de dados
sóciodemográficos em órgãos oficiais de pesquisa. Em práticas agrícolas:
segurança no manejo de maquinas e implementos agrícolas e uso de
equipamentos de proteção individual (EPI).
SUGESTÕES DE ATIVIDADES DIRECIONADAS À EJA DESTINADAS ÀS
POPULAÇÕES DO CAMPO
Primeiramente, lembramos que é indispensável o olhar pontual de
conteúdos e metodologias peculiares à realidade dos estudantes do campo,
determinando assim o objeto de pesquisa, a metodologia utilizada, e os
resultados esperados, de forma a obter um rico conjunto de processos de
aprendizagem com a prática pedagógica pretendida. As atividades que
trazemos neste capítulo foram pensadas para os estudantes dos Anos Finais
do Ensino Fundamental da EJA referente às populações do campo, e tem a
intenção de materializar tudo o que apresentamos até aqui.
As proposições abaixo se baseiam na pesquisa enquanto princípio
educativo da metodologia baseada nos princípios da pedagogia da alternância
e serão divididas 3 (três) etapas: plano de pesquisa, círculo de diálogos e
partilha de saberes. Relembramos que o centro do processo de produção do
conhecimento deverá ser sempre o estudante.
ATIVIDADE 1: USO (E RE-USO) CONSCIENTE DA ÁGUA
OBJETIVO GERAL
Conscientizar a comunidade local acerca dos benefícios do
armazenamento e reutilização da água na agricultura e no uso
doméstico.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Reconhecer a importância da água para o trabalho e para o uso pessoal;
Discutir as consequências do mau uso;
Apresentar possibilidades de armazenamento e reutilização;
Verificar na comunidade local a consciência coletiva do uso correto da
água.
110
DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO
Esta atividade conecta o Eixo Articulador, trabalho e Educação do
Campo, ao Eixo Temático I, trabalho, produção e suas formas de organização
no campo, trazendo reflexões acerca do uso da água, se consolidando como
uma pesquisa de campo com caráter quantitativo.
1ª Etapa: Plano de Pesquisa
Definição das Problemáticas:
Roda de escuta com os estudantes levantando a importância da água para
os seres humanos, animais e vegetais; o problema de falta de água no mundo;
as consequências sociais, ambientais e tecnológicas associadas aos
problemas causados ao meio ambiente pela falta d´água; a importância da
água para as produções e para o trabalho no campo; e outras.
Organização da Pesquisa:
Apresentar aos estudantes as fases do processo e definir coletivamente os
locais da comunidade e os sujeitos que participarão da pesquisa.
1) Análise de textos, filmes, músicas e outros materiais que trabalhem as
temáticas escolhidas na organização da pesquisa.
O PROFESSOR PODE APRESENTAR MAIS DE UMA SUGESTÃO DE
MATERIAL A SER UTILIZADO COMO BASE PARA A PESQUISA E
OS ALUNOS PODEM ESCOLHER O QUE MAIS SE APROXIMA DE
SUA REALIDADE.
111
2) Construção coletiva do instrumento: questionário. As proposições precisam
considerar o público que irá responder a pesquisa e as realidades dos
mesmos.
Possibilidades de temáticas a serem trabalhadas:
A origem da água potável utilizada na região;
O PROFESSOR CONDUZ O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DO INSTRUMENTO DE
PESQUISA CONSIDERANDO AS REFLEXÕES CONSTRUÍDAS ATÉ ESTE MOMENTO,
A REALIDADE, E AS NECESSIDADES DA SOCIEDADE LOCAL.
112
Uso adequado/inadequado da água;
Acessibilidade à água nas comunidades locais;
Desperdício de água na agricultura;
Uso de cisternas para armazenamento de água.
Realização da Pesquisa
Aplicação do questionário no tempo comunidade.
2ª Etapa: Círculo de Diálogos
Sistematização da pesquisa
Após socialização das experiências vividas na aplicação do questionário na
comunidade, os estudantes serão conduzidos ao processo de quantificação e
tabulação dos resultados obtidos por meio de tabelas, gráficos, textos, assim
como nas opções apresentadas no quadro expositivo do item 2 deste capítulo.
Realização da Jornada Pedagógica
O educador poderá utilizar como elemento das jornadas pedagógicas um
evento onde todas as equipes de trabalho, de forma coletiva, ou individual,
exponham seus trabalhos e vivenciem o aprofundamento dos saberes
populares e científicos em todas as suas dimensões: política, social, cultural,
ambiental, cognitiva, afetiva, ética, estética, técnica e tecnológica. As
estratégias de avaliação descritas no tópico 2 deste capítulopodem ser
utilizadas neste momento.
OUTROS ELEMENTOS DAS JORNADAS PEDAGÓGICAS QUE PODEM SER UTILIZADOS
ISOLADOS, OU EM CONJUNTO, SÃO: AULAS DIALOGADAS, PALESTRAS, DEBATES,
VISITAS ORIENTADAS À COMUNIDADE, ESTUDOS DIRIGIDOS, OFICINAS
PEDAGÓGICAS, SEMINÁRIOS, PAINÉIS E PROJETOS ARTÍSTICOS.
113
3ª Etapa: Partilha de Saberes
A comunicação dos resultados da pesquisa parte da tomada de atitude
diante dos resultados e dos conhecimentos construídos com a pesquisa a fim
de fornecer uma devolutiva para a família e a comunidade de forma a melhorar
a qualidade nas relações sociais e produtivas no campo. Este parecer pode
assumir o formato de diálogo, canções, poesias, cordéis, peças teatrais,
painéis, feiras de ciências, feiras de produtos agrícolas, e até mesmo como
projetos de intervenção. As estratégias de avaliação descritas no tópico 2 deste
capítulo podem ser utilizadas neste momento.
ATIVIDADE 2: ROTAÇÃO DE CULTURA, PRÁTICAS AGRÍCOLAS E
ALTERNÂNCIA DE CULTIVO.
OBJETIVO GERAL
Demonstrar ao corpo discente como a técnica de rotação de
culturas colabora na conservação do solo e reduz de maneira
eficiente os impactos ambientais, consequentemente, reduzindo a
degradação do solo.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
● Construir coletivamente uma consciência ambiental;
● Estabilizar a produtividade local;
● Reduzir a incidência de pragas e doenças no plantio;
● Melhorar a fertilidade do solo;
● Reduzir ou incentivar a não utilização de defensivos agrícolas.
DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO
Esta atividade conecta o Eixo Articulador trabalho e educação do campo
ao Eixo Temático III, questão agrária e organizações sociais do campo,
trazendo reflexões sobre os benefícios da rotação de culturas como melhoria
da produção agrícola. Consiste em desenvolvimento teórico, isto é, uma
pesquisa bibliográfica com múltiplas produções sobre o tema, com foco na
melhoria da produtividade e do desenvolvimento sustentável.
1ª Etapa: Plano de Pesquisa
114
Definição das problemáticas:
O educador poderá utilizar, como instrumento intermediador, a aula
dialogada para desenvolvimento orgânico dos conceitos propostos, respeitando
a bagagem de conhecimentos prévios, buscando a participação ativa dos
estudantes, resgatando seus conhecimentos empíricos sobre os plantios na
comunidade escolar e levantando as seguintes questões:
Organização da pesquisa
Após debate das proposições apresentadas e com o intuito de conhecer
sistematicamente o objeto de estudo, os estudantes devem escolher uma
temática a ser trabalhada na pesquisa, definindo o tamanho e os limites da
produção científica a ser construída.
Realização da pesquisa
Usando o princípio científico investigativo e estimulando a curiosidade, o
professor apresentará materiais para que os estudantes coletem dados e
informações sobre o espaço a ser estudado, como paleossolo, formações
topográficas pretéritas, práticas produtivas a fim de realizar a análise textual.
115
Sugestões de materiais:
Iniciando no Tempo Escola, a realização da pesquisa pode migrar para o
Tempo Comunidade, indo à campo e realizando coletas de materiais físicos
e/ou informações que sejam úteis à produção científica.
2ª Etapa: Círculo de Diálogos
Sistematização da pesquisa
Após diálogos coletivos sobre os materiais estudados, o professor deve
orientar a organização preliminar das informações coletadas. Para isso, utiliza-
se a elaboração de resumos, listas de tópicos relevantes, aplicação de
atividades diagnósticas, ou de questionários online, como este:
Produção de sínteses
Com a socialização e troca de conhecimentos construídas até aqui, os
estudantes estarão prontos para apresentar seus resultados. Nesta etapa, há a
liberdade de uma produção individual ou coletiva para a consolidação do
processo de pesquisa. Nela, o educando registrará as aprendizagens
116
consolidadas até o presente momento, tanto no Tempo Escola como no Tempo
Comunidade. Tal produção pode ser consolidada de diversas maneiras:
produção textual, confecção de mapas temáticos, maquetes, e outras
estratégias apresentadas no tópico 2 deste capítulo.
3ª Etapa: Partilha de Saberes
Comunicação dos resultados da pesquisa por meio de atividades
variadas
Com a intenção de validar a produção científica, é necessário partilhar esses
saberes, buscando melhorar a qualidade de vida da comunidade escolar. Essa
partilha pode se dar por meiode palestras endógenas e exógenas sobre o
referido tema; círculos de diálogos; júris simulados; textos escritos etc. Quanto
mais variadas forem as formas de linguagem, mais abrangente será a partilha
de tais saberes. Como sugestão específica para esta atividade, a apresentação
dos conhecimentos desenvolvidos sobre o tema poderá se consolidar de 02
formas:
Elaboração coletiva de uma cartilha voltada para a comunidade
escolar, onde será descrita, de forma coletiva e com linguagem
popular, orientações sobre como fazer, porquê fazer, e a importância
da rotação de cultura nas comunidades em foco;
Elaboração e entrega à comunidade escolar de documento contendo
gráficos explicativos dos resultados obtidos com a pesquisa que
sejam pertinentes a melhoria da agricultura local, como exemplo:
117
A escola do campo, incluída cada vez mais na agenda das políticas
públicas, tem como desafio oferecer educação de qualidade social para todos
os povos que vivem nesse e desse espaço. Se a escola do campo mudou é
porque o próprio campo está em movimento e é do campo que resultam as
reivindicações históricas mais acentuadas pela garantia do direito à vida com
dignidade e valorização humana. Neste contexto, a educação científica se
enquadra na perspectiva de ampliar e aprofundar os conhecimentos dos
nossos estudantes aproximando cada vez mais a escola das realidades vividas
nos territórios. Esperamos, professor, que este trabalho contribua
positivamente com a sua prática pedagógica, refletindo na melhoria das
condições de vida e trabalho dos nossos estudantes do campo.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade. Percurso Formativo. Projovem Campo - Saberes
da Terra. Brasília, 2008.
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade. Caderno de orientações pedagógicas para
formação de educadoras e educadores Programa Escola Ativa. Brasília,
2010.
PERNAMBUCO, Secretaria de Educação e Esportes. Educação do Campo:
Compartilhando saberes. Recife, 2013.
118
PERNAMBUCO, Secretaria de Educação e Esportes. Instrução Normativa Nº
08. Recife, 2020.
PERNAMBUCO, Conselho Estadual de Educação. Resolução Nº 02. Recife,
2009.
BRASIL, Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília,
2018.
5.3 A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO QUILOMBOLA
A Educação Escolar Quilombola (EEQ) precisa ser compreendida no
âmbito da educação para as relações étnico-raciais, partindo do princípio do
reconhecimento e valorização da diversidade cultural do Brasil e do Estado de
Pernambuco.
Para nos situarmos melhor sobre a EEQ
e sua importância no contexto da educação, se
faz necessário compreender que ela é uma
modalidade relativamente recente na educação
básica brasileira, que surge com a resolução
CNE/CEB nº 8 de novembro de 2012.
Vejamos, a seguir, o que nos diz o artigo 34, parágrafo 1º, desta
resolução:
Os currículos da Educação Escolar Quilombola devem ser
construídos a partir dos valores e interesses das comunidades
A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NO ÂMBITO DA PRÁTICA
PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA
119
quilombolas em relação aos seus projetos de sociedades e de
escola, definidos nosprojetos políticos pedagógicos. (BRASIL,
2012, p. 34)
Assim, a EEQ se configura como parte das políticas afirmativas
destinadas às populações negras do campo e também de áreas urbanas, que
se caracterizam por sua reconfiguração espacial e cultural em solo brasileiro,
em seus fazeres, falares, sabores, tecnologias, vivências e sobrevivências
específicas do processo de formação histórica do Brasil.
Não percamos de vista que, a educação tem como finalidade a
superação das desigualdades, das diversas formas de violência e a construção
de ambientes para a boa convivência com a diversidade cultural e ambiental.
Assim, construir uma cultura de convivência igualitária com essa diversidade é
um desafio instigante para professores em seus diálogos com os estudantes na
produção científica nos projetos didáticos, tendo a escola como um excelente
espaço para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
A experiência das comunidades quilombolas em Pernambuco, e em todo
território nacional, se dá, em sua grande maioria, entre populações negras do
campo, que compartilham o mesmo território, sendo este, um espaço de
produção da cultura e riqueza coletivas. Neste sentido, temos como indício a
120
necessidade de pensarmos os projetos de ensino que valorizem o
compartilhamento de afetividades, ideias, saberes e aprendizagens.
Dessa forma, professor, é importante construir uma escuta empática
com os estudantes, buscando compreender o lugar de fala de cada um, as
experiências e os conhecimentos que são trazidos de seus territórios.
Conhecimento Científico e Conhecimentos Tradicionais:
Os estudantes quilombolas e territórios quilombolas são repletos de
saberes e práticas próprias à sua realidade. Assim, professor, uma das
possibilidades de atuação didática poderia ser a de, a partir das ferramentas
técnicas e pedagógicas que possui, instigar e orientar esses estudantes a
olharem sua realidade de uma forma diferenciada e investigativa para que
consigam identificar as formas de conhecimento e os saberes mobilizados
individuais e coletivamente em suas práticas cotidianas.
A partir de uma circulação e ecologia dos saberes pertinentes às
práticas de convivência escolar, em um processo cíclico da
apreensão/produção coletiva de conhecimentos, é preciso agenciar junto aos
estudantes e comunidades, todos esses saberes de forma concreta e
sistematizada.
Daí vejamos algumas pistas elementares para o entendimento da
dinâmica de funcionamento das comunidades, que definem as bases da
Educação Escolar Quilombola assentadas no respeito e reconhecimento da
“memória coletiva, das línguas reminiscentes, da territorialidade, dos
marcos civilizatórios, das práticas culturais, das tecnologias e formas de
121
produção do trabalho, dos acervos e repertórios orais, dos festejos,
usos, tradições, da relação com a ancestralidade e demais elementos que
conformam o patrimônio cultural das comunidades quilombolas de todo o país”
(BRASIL, 2012). Nesse sentido, o conhecimento e ferramentas técnico-
científicas somam-se a esta realidade para a partir dela produzir experiências
pedagógicas outras.
Neste caso, você professor, tem o desafio de estimular seus estudantes
para que estes vejam a realidade que os circula como um campo de potência
científica, onde eles podem lançar suas inquietações e começar suas incursões
investigativas em busca de respostas, além de colaborar no sentido de instruir
e acompanhar os estudantes sobre como elaborar uma pesquisa de campo,
para que possam realizar visitas guiadas nos territórios que serão
estudados, levantamento documental e biográfico, sobre as histórias dos
artefatos, coisas e personalidades que fazem parte da identidade e dia a dia
das comunidades, estudos comparativos e de caso, no qual se possa
relacionar situações distintas no espaço e/ou tempo para delas extrair algum
resultado/resposta, entre outras modalidades de pesquisa, para que,
apropriados desses conhecimentos, os estudantes possam lançar-se em
campo com autonomia em suas investigações.
Sugestões de roteiro para a elaboração de um
projeto de pesquisa
A partir de agora, professores e estudantes
precisam reunir-se para elaborar o passo a passo da
pesquisa. Neste primeiro momento, você, professor,
pode escolher a melhor forma para abordar o tema
com os estudantes, seja por meio de contação de
histórias, apresentação de conteúdo audiovisual ou
bibliografias. O objetivo é introduzir o tema para os
estudantes. Você pode escolher falar de uma memória
amplamente conhecida ou uma memória que tenha se tornado pública
recentemente, a partir de novos estudos, fazendo com que os estudantes
entendam a importância da documentação das histórias da sua comunidade e
de outras também.
122
Bem, com essas dicas, conceituações e provocações que tentamos
apresentar nas linhas anteriores, propomos a seguir algumas atividades que
possam corroborar as compreensões acerca da Educação Científica nas
práticas pedagógicas desenvolvidas em seus contextos escolares.
Experiência 01:
CICLO PRODUTIVO DA MANDIOCA: Tecnologias e funcionalidade
econômica/social
Será utilizada uma metodologia de pesquisa de campo, em que os
estudantes investiguem diretamente o território onde acontece a produção
agrícola de mandioca, com a possibilidade, inclusive, desta investigação
123
ocorrer nos moldes de uma pesquisa participante, quando for o caso dos
estudantes serem residentes na própria comunidade que será campo da
pesquisa. A proposta é que os estudantes compreendam todo o seu ciclo de
produção, desde o preparo da terra até a sua colheita, considerando a
dinâmica social que envolve a produção, além da logística necessária para sua
distribuição doméstica e comercial, referendando metodologicamente esta
atividade de pesquisa ao Eixo Temático I, Trabalho, produção e suas formas
de organização no campo.
.
INFORMAÇÕES PRELIMINARES
A produção de mandioca, que pode mudar de nome a depender da
região do país, é base da dieta alimentar de grande número de famílias no
nordeste do Brasil e em muitas outras regiões, tanto do país quanto do mundo.
É uma das principais fontes de carboidrato, sendo alimento energético
fundamental para a sobrevivência de milhões de pessoas nos países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento, além de fazer parte da dieta
tradicional dos povos indígenas do Brasil, sendo a base de sua sustentação
durante séculos. Comumente, o cultivo é feito em pequenas áreas, como
agricultura familiar de subsistência, com tecnologia rudimentar, voltada para as
necessidades de pequenos produtores, especialmente na produção de farinha
e seus derivados.
Objetivo geral
Analisar aspectos básicos da funcionalidade econômica e social da
produção de mandioca para a comunidade em foco, considerando sua
importância para a sustentação existencial desta comunidade, em seu contexto
de vida tradicional.
124
Objetivos específicos
Em se tratando de fazer uma conexão dos conteúdos temáticos
propostos na atividade com o Currículo Pernambuco, destacamos, apenas
como exemplos, entre outras tantas possibilidades, a pertinência deles à
habilidades como as do componente História, Geografia e Ciências da
Natureza no Organizador Curricular do Currículo de Pernambuco Ensino
Fundamental (PERNAMBUCO, 2019) e do Currículo de Pernambuco da
Educação de Jovens e Adultos Fundamental (PERNAMBUCO, 2021),
respectivamente: EFO9HI45PE; EF07GE10PE; EF07CI05APE;
EFEJAAFHI44PE; EFEJAAFGE46PE; EFEJAAFGE37PE e EFEJAAFCI12PE.
A pesquisa pode ser empreendida com estudantes de todas as etapas
e modalidades da Educação Básica, sob orientação e acompanhamentode
professores das variadas Áreas de Conhecimento. Desse modo, tendemos a
garantir uma interdisciplinaridade e transdisciplinaridade adequadas à
modalidade da Educação Escolar Quilombola. No campo, as observações e
125
coleta de dados devem ocorrer em cooperação participativa com lideranças e
famílias da comunidade-território de observação da pesquisa.
Para a execução dessa pesquisa podem incluir: a utilização de roteiros
abertos e fechados de entrevista, coleta de depoimentos, observação
participante, registros audiovisuais (filmagens, fotografias), elaboração de
gráficos, tabelas, planilhas, diagramas, quadros estatísticos, mapas, uso de
material de referência bibliográfica, literatura, textos poéticos-musicais de apoio
etc.
Entre os possíveis meios que os resultados da pesquisa podem ser
apresentados, destacamos: registro escrito/gráfico de execução da pesquisa,
exposição de produtos, painéis e maquetes demonstrativos da cadeia de
produção da mandioca e de sua importância sociocultural na vida da
comunidade em foco, vídeos, palestras, debates, rodas de conversa,
apresentação artística com declamações de poesias e cordéis, performance
musical associada à temática, por exemplo. Pode-se contemplar, ainda, a
apresentação em forma de Trabalho de Conclusão do Ensino Fundamental
(TCF) e Trabalho de Conclusão do Ensino Médio (TCM), nos casos
pertinentes.
A avaliação de desempenho dos estudantes nas atividades, deve,
obviamente, permear todas as etapas da pesquisa e fazer uso dos
instrumentos mais adequados a esta atividade, como mencionado
anteriormente, na sugestão de roteiro para a elaboração da pesquisa.
126
Experiência 2
Nesta experiência propomos o trabalho que articula os princípios das
memórias coletivas, acervos e repertórios orais e ancestralidade das
comunidades, a partir da metodologia de pesquisa de campo e levantamento
biográfico. A proposta seria buscar na comunidade personalidades que foram
no passado ou são no presente importantes para a formação da identidade da
comunidade, tentando acionar, nos estudantes, habilidades ligadas à
construção de um repertório cultural por meio da reflexão sobre as diversas
fontes de conhecimento.
Acreditamos que o grande trunfo da colonização se dá no campo do
inconsciente, isto é, na capacidade que os colonizadores tiveram de impor a
sua versão da história, a versão dos “vencedores” em detrimento da versão dos
povos originários e escravizados, no caso os “perdedores”. Assim, por muitas
vezes, as perspectivas da história dos povos oprimidos e subjugados não são,
sequer, contadas e, quando contatas, são feitas de forma superficial ou
distorcida, o que faz com que essas populações desenvolvam uma consciência
de si deturpada.
Desta forma, nesta proposta, o objetivo é fazer o resgate dessas
memórias que foram negligenciadas, conscientes de que a tradição oral é uma
característica dos povos tradicionais/originários. Esta é uma pesquisa que se
dá, majoritariamente, no campo da escuta.
MEMÓRIA COLETIVA, ACERVOS, REPERTÓRIOS ORAIS,
PRÁTICAS CULTURAIS E ANCESTRALIDADES: Histórias
identitárias, personalidades e tradições
127
Muitos dos conhecimentos dessas populações são mantidos através de
gerações, de forma oral, fazendo com que esses saberes fiquem limitados
apenas à memória coletiva, sendo muitas vezes perdidas ou modificadas ao
longo do tempo. Com um trabalho de busca e documentação dessas memórias
nas comunidades, seria possível criar registros que pudessem imortalizar
narrativas, além de proporcionar materiais pedagógicos que poderiam ser
usados em outros momentos e por outros grupos.
OBJETIVO GERAL
Conhecer e documentar histórias relevantes para a
formação da identidade da comunidade, sejam elas histórias pessoais sobre
alguma(s) personalidade(s) importante ou eventos que tenham caráter
fundamental na formação e/ou constituição daquela coletividade.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Buscar junto aos mais velhos e aos
líderes das comunidades histórias
que possam ser documentadas como
fundantes para a formação coletiva
da identidade daquele grupo
Ouvir e registrar, a partir do formato
escolhido – texto, vídeos, áudios e
etc.- das histórias existentes.
Reunir, organizar e sistematizar todo
o material acolhido seguindo os
critérios da pesquisa científica.
128
Desta forma, professores e estudantes devem orientar-se no passo a
passo do roteiro para a elaboração de um projeto de pesquisa e pensar,
planejar, executar e avaliar, da melhor forma possível, um projeto que articule
esses princípios.
Concluímos assim nosso espaço de proposições, lembrando a todos que
essas são apenas sugestões, mas que vocês professores, não só podem como
devem extrapolar os limites deste caderno. Cada atividade pensada deve ter
como base, referência e finalidade a realidade e os interesses dos estudantes e
comunidades quilombolas, da mesma forma que, os esforços dos projetos e
trabalhos e científicos devem estar de acordo com as diretrizes da educação
escolar quilombola, do qual os pilares já citamos neste trabalho.
Sabemos que a realidade do chão de nossas escolas não é fácil, e que
por vezes pode se mostrar extremamente difícil concretizar os projetos na
prática, mas, se partirmos do pressuposto de que a educação crítica, engajada
e que considere a realidade do estudante é a nossa maior e melhor ferramenta
disponível de transformação social, podemos contar com auxílio dos
estudantes e a comunidade ao redor como aliados desse processo, tornando o
caminho mais fluido e com a possibilidade de resultados positivos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. MEC. Percurso Formativo. Projovem Campo - Saberes da Terra.
Ministério da Educação Continuada, Alfabetização. Brasília: MEC/SECAD, 2008.
PERNAMBUCO, Secretaria de Educação e Esportes. Caderno educação do campo:
compartilhando saberes. Rede estadual de ensino de Pernambuco. Dica Carneiro et
al. Recife, 2013.
PERNAMBUCO, Diário Oficial. Instrução Normativa SEE Nº 08/2020. Recife, 2020.
Fixa diretrizes e orienta procedimentos pedagógicos para a oferta do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos
(EJA), tendo em vista o atendimento da política pública da Educação do Campo, no
âmbito das Escolas da Rede Estadual de Ensino de Pernambuco. Disponível em:
<http://www.educacao.pe.gov.br/portal/upload/galeria/23232/INSTRUCAO_NORMATI
VA_SEE_organizacao_do_ano_2021.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2021.
BRASIL, Brasília Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara
de Educação Básica. Resolução nº 8 de 20 de novembro de 2012. Define Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica.
http://www.educacao.pe.gov.br/portal/upload/galeria/23232/INSTRUCAO_NORMATIVA_SEE_organizacao_do_ano_2021.pdf
http://www.educacao.pe.gov.br/portal/upload/galeria/23232/INSTRUCAO_NORMATIVA_SEE_organizacao_do_ano_2021.pdf
129
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
PERNAMBUCO, Instrução Normativa Nº 02. Fixa diretrizes e orienta procedimentos
para a oferta do Ensino Fundamental e do Ensino Médio na modalidade de Educação
de Jovens e Adultos, ao Atendimento da política pública de educação do Campo, no
âmbito das Escolas da Rede Estadual de ensino de Pernambuco que atendem as
populações do campo. Recife, 2015.
BRASIL. [Constituição (1988)] Constituição da República Federativa do Brasil:
texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações
determinadas pelas Emendas Constitucionais de Revisão nos 1 a 6/94, pelas
Emendas Constitucionais nos 1/92 a 91/2016 e pelo Decreto Legislativo no 186/2008.
Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas,2016. 496 p.
BRASIL. Resolução nº 8, de 20 de novembro de 2012. Define Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica. Brasília, 2012.
GENNARI, Emilio. Em busca da liberdade- traços das lutas no Brasil. Minas Gerais:
Expressão Popular, 2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 2011;
SANTOS, Antônio Bispo. Colonização, Quilombos: modos e significados.
1.ed.Brasília: UNB, 2015;
NASCIMENTO, Abdias. Quilombismo. 1.ed. Petrópolis: Editora Vozes, 1980;
SOUZA, Laura Olivieri Carneiro de. Quilombos: identidades e história. 1. ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
BRASIL, Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação. Parecer
CNE/CEB, Nº 01. Brasília, 2006.
5.4 A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA
EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: UMA MODALIDADE ESPECÍFICA E
DIFERENCIADA DA EDUCAÇÃO BÁSICA
Precisamos destravar o mundo, pois o mundo fechado não abraça a
diversidade.
(Edilene Pajeú, professora indígena do povo Truká, na II Conferência
Estadual de Educação, Pernambuco, 2014)
Vamos destravar o mundo? Mas, como devemos proceder diante da
diversidade, seja no campo dos saberes e do conhecimento ou nas relações
interétnicas, a fim de desenvolver o fortalecimento identitário e a promoção das
130
ações que favoreçam o respeito mútuo e a dignidade humana? Quais são os
caminhos que devemos percorrer?
Para isso, é importante conhecer a Educação Científica e utilizar seus
fundamentos teórico-metodológicos de pesquisa nos processos de ensino e
aprendizagem. Além disso, a Educação Científica deve se somar à educação
intercultural para que a formação dos estudantes seja capaz de torná-los
cidadãos críticos e conscientes de seu papel no processo de descolonização
do poder, do saber, do ser e da cosmogonia e promover a convivência de todos
os seres humanos com a natureza, e entre si (SACAVINO, 2014; WALSH,
2002).
Mas, afinal, para que serve a educação intercultural?
De acordo com Candau (2009, p. 113, grifo nosso), ela deve promover
uma educação para o
reconhecimento dos outros enquanto sujeitos, para que haja
diálogo entre os diferentes grupos socioculturais, resgatar os
processos de identidades culturais, tanto pessoais quanto
coletivos [...] capazes de favorecer a construção de um projeto
comum, para o qual as diferenças sejam dialeticamente integradas.
Saiba mais
Para aprofundamento do tema descolonização do poder, do saber, do ser e
da colonialidade cosmogônica, leia o artigo: “Da colonização à
descolonização: conhecimento, pensamento e saber” que esclarece os
conceitos sobre colonização e descolonização e ainda mobilizam a reflexão e
a crítica neste assunto.
Disponível em:
< https://anais.unilasalle.edu.br/index.php/sefic2016/article/viewFile/300/241>.
Acesso em: 11 de out. 2021.
https://anais.unilasalle.edu.br/index.php/sefic2016/article/viewFile/300/241
131
Em razão disso é que se destaca a importância do alinhamento entre a
interculturalidade e a Educação Científica, ambas articuladas aos princípios e à
finalidade da modalidade da Educação Escolar Indígena. Essa união é
fundamental para as práticas educativas e se materializa nos currículos das
escolas indígenas.
A Educação Escolar Indígena é uma modalidade de ensino
diferenciada da Educação Básica e é específica para os povos indígenas, de
acordo com o que preconiza o art. 205 da Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988, que concebe como universal o direito humano à educação e
que, assim concebido, é universal, interdependente, indivisível e, por sua
natureza, autoevidente.
Essa modalidade tem por finalidade a sistematização de conhecimentos
gerais e a inserção de saberes tradicionais, a utilização de materiais
específicos elaborados pelos professores indígenas, a confecção de um
calendário escolar ajustado ao modo e atividades de vida e rituais e a
construção de projetos político-pedagógicos e currículos diferenciados para
cada povo indígena (Resolução CNE/ CEB nº03/1999).
Além disso, essa modalidade de educação foi prevista pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96), para a implantação
da educação do indígena que considere as especificidades próprias de cada
povo e que seja diferenciada, específica e intercultural, com professores de
origem indígena devidamente habilitados em Licenciaturas.
A Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco, desde o ano
2002, conforme o Decreto Estadual nº 24.628/2002 que atende à modalidade
da Educação Escolar Indígena, oferta as etapas de ensino: Educação Infantil,
Ensino Fundamental, Ensino Médio e as modalidades da Educação de Jovens
e Adultos e do Ensino Normal Médio9 (LIMA; SÁ,2016).
A implementação da Educação Escolar Indígena na Rede Estadual de
Ensino explica-se pelo fato de, em Pernambuco, atualmente, existirem cerca de
15 povos indígenas (Atikum, Entre Serras Pankararu, Fulni-ô, Kambiwá,
9 Estima-se que existam hoje 149 escolas em territórios indígenas em Pernambuco, atendendo
a uma população educacional de 16.087 estudantes indígenas matriculados na Educação
Básica. Esse público é atendido por 1.789 professores, todos indígenas.
132
Kapinawá, Pankará, Pankararu, Pankararu Opará, Pankaiwka, Pipipã, Tuxá,
Tuxí, Truká e Xukuru de Ororubá e Xukuru de Cimbres) com características
próprias de organização social, política e econômica. Esses povos têm suas
crenças, tradições e costumes, sendo um deles bilíngue, os Fulni-ô (língua
materna Yathee). Assista ao vídeo, logo abaixo, que favorecerá melhor
entendimento.
Por isso, mediada por essas pautas, a Educação Escolar Indígena
chama para si o caráter diferenciado, específico, intercultural e bilíngue de sua
educação. Assim, preceituam as Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Escolar Indígena na Educação Básica (Resolução nº 05/2012), ao
afirmar os “princípios da igualdade social, da diferença, da especificidade, do
bilinguismo e da interculturalidade”, como diretrizes dessa prática pedagógica.
O Currículo Intercultural Indígena e a metodologia de projetos
O Currículo Intercultural Indígena, dentro de sua especificidade,
preocupa-se com a implementação dos valores étnicos e de memória coletiva
dos povos, das experiências presentes e da reflexão sobre o passado, ao
adotar novas metodologias transdisciplinares e interculturais para diligenciar os
eixos temáticos.
Vídeo
Título: Política de Educação Escolar Indígena em Pernambuco
Tempo:8m38s
Sinopse: O vídeo apresenta as narrativas dos indígenas e do representante
da Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco sobre o
funcionamento das políticas públicas na Educação Escolar Indígena em
Pernambuco
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yXUTdGr0ZH4>.
Acesso: 15 out. 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=yXUTdGr0ZH4
133
O currículo atende aos saberes culturais e tradicionais vivenciados na
comunidade, os quais se tornam conteúdo desse currículo escolar, como
elementos necessários ao fortalecimento da identidade indígena e sua
articulação com os projetos comunitários.
As áreas de conhecimento favorecem a comunicação e o intercâmbio de
informações, além da experiência da vivência de novos saberes, permitindo
que a história de vida e as práticas sociais sejam componentes curriculares,
com a inclusão de conteúdos mais significativos e relevantes para cada povo
indígena.
Nas escolas indígenas, para que seja garantida uma educação
diferenciada, é importante incluir conteúdos curriculares propriamente
indígenas e acolher modos próprios de transmissão do saber. E mais, é
imprescindível que a elaboraçãodos currículos seja compreendida como um
processo sempre em construção e em sintonia com a escola e a comunidade
indígena.
Os saberes próprios do povo devem ser inseridos no currículo das
escolas indígenas, assim como também os componentes curriculares que
atendam melhor às necessidades de cada povo, por meio de aulas e projetos
pedagógicos, como a realização de oficinas, e atendendo às diversidades
produtivas da agricultura familiar e potencialidades culturais da comunidade.
Assista ao vídeo a seguir:
134
No espaço pedagógico, desenvolvem-se as ações de forma solidária e
coletiva, a partir das proposições existentes na realidade do povo e do
compartilhamento de experiências entre a escola indígena e a comunidade.
Os conteúdos chegam à escola indígena por meio das pesquisas e
estudos realizados pelos professores indígenas, e têm a participação dos
estudantes indígenas, os quais contribuem para a prática educativa, a troca de
saberes, e fortalecem as escolas, garantindo sua autonomia intelectual. A
prática pedagógica dessa modalidade é fundamentada na:
Os projetos pedagógicos, de maneira interdisciplinar, são elaborados
junto com os estudantes indígenas, com uma metodologia desenvolvida na
prática pedagógica que inclui os cinco eixos temáticos da Educação Escolar
Indígena em Pernambuco, o que possibilita uma formação mais específica e
ampla para o indígena.
Vídeo
Título: Aula 01 – Ensino Médio da Escola Estadual Indígena João Alberto
Maciel
Tempo: 20m01s
Sinopse: A professora indígena, fundamentada nos saberes do seu povo,
ensina aos estudantes do Ensino Médio o uso das ervas medicinais para
promoção da saúde e qualidade de vida.
Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=CpSx5PE_J20>. Acesso
em 15 out. 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=CpSx5PE_J20
135
As práticas educativas de pesquisas e projetos pedagógicos se
organizam a partir dos eixos temáticos, sendo eles:
Também, há eixos temáticos específicos vivenciados nos currículos das
escolas indígenas nos territórios dos povos Fulni-ô, Kapinawá, Tuxá, Truká,
Xukuru do Ororubá. Os eixos temáticos específicos são:
Os eixos também são formas de organização do espaço escolar e do
tempo pedagógico e, sobretudo, constituem-se na matriz central da
organização do trabalho do professor indígena, pois incorporam valores morais,
atitudes, crenças e o modo de vida do ser indígena. Vamos compreender a
materialização das práticas pedagógicas por meio do vídeo a seguir:
Vídeo
Título: Educação no Chão da Escola do Povo Pankará- PE
Tempo:15m59s
Sinopse: O documentário apresenta os aspectos gerais da concepção do currículo
intercultural indígena nas escolas indígenas do território Pankará e como ele se
materializa na prática pedagógica e no desenvolvimento de projetos
interdisciplinares.
Disponível:< https://www.youtube.com/watch?v=ZYmvMHes7bU>. Acesso em: 16
out. 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=ZYmvMHes7bU
136
Ressalta-se que, no contexto da Educação Escolar Indígena, há um
movimento em torno de práticas pedagógicas com projetos desenvolvidos
para a organização de uma educação cada vez mais qualificada, com
metodologias de pesquisa que possibilitam entender a dimensão do
conhecimento, na perspectiva de uma construção coletiva que compreenda
outros espaços educativos do povo.
Assim, a metodologia de pesquisa desenvolvida em projetos presentes,
em todas as ações educativas, com a participação efetiva das lideranças, vai
desde o fortalecimento da história, através da memória e de relatos orais, até a
relação da escola com o universo religioso e com outros aspectos físicos,
econômicos, políticos, sociais e culturais, sempre num movimento circular de
aprender e ensinar.
3.2 Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) nas escolas indígenas
A partir das novas abordagens no ensino e das atividades ocorridas na
escola indígena, entende-se que se faz necessária uma leitura crítica do
mundo, para que se possa promover a reinvenção da sociedade e buscar
visibilizar a desordem absoluta da descolonização (WALSH, 2002). Para
aprofundamento dessa discussão, assista ao vídeo a seguir.
Com isso, os professores indígenas promovem a interculturalidade a
partir da prática pedagógica vivenciada na escola indígena, o que remete à
Vídeo
Título: Currículo e Ecologia dos saberes:
possíveis conexões
Sinopse: Webinar aborda sobre o currículo articulado
com as concepções da ecologia dos saberes que
apresentou as possibilidades para integração do
saber e do conhecimento diante da condução dos
processos de ensino e aprendizagem nas escolas
indígenas e não indígenas. Convidados – Thiago
Torres/Xukuru do Ororubá (COPIPE) e Saulo Feitosa
(UFPE). Disponível
em::<https://www.youtube.com/watch?v=xyWiq03Tn
WI>. Acessado: 17 out. 2019
https://www.youtube.com/watch?v=xyWiq03TnWI
https://www.youtube.com/watch?v=xyWiq03TnWI
137
perspectiva da interculturalidade crítica, a qual também rememora os
aspectos históricos e culturais do povo. Veja no vídeo abaixo a discussão
dessa temática.
A pesquisa escolar, a elaboração e a exposição das atividades nos
Trabalhos de Conclusão do Ensino Fundamental (TCF), bem como outras
atividades similares, estendem-se para as demais etapas e modalidades de
ensino, fazendo parte da culminância da aprendizagem e ocorrem no final do
bimestre, ou semestre, ou ano letivo, dependendo da gestão pedagógica da
escola indígena. Veja o vídeo, a seguir, com as apresentações dos projetos
desenvolvidos pelos estudantes indígenas do povo Pankará.
Na escola indígena, a exposição das atividades é apresentada para a
comunidade escolar e a comunidade indígena, com a presença de todos os
trabalhos que exploram os conteúdos vivenciados nas aulas e nas atividades
extraclasse. Os conteúdos apresentados contêm elementos que envolvem a
memória dos “mais velhos” da comunidade, considerados por eles como os
detentores do saber.
Vídeo
Título: XVI Movimento Cultural Pankará
Tempo:4h01m
Sinopse: O vídeo mostra as apresentações dos trabalhos de conclusão com o tema
“Espiritualidade, resistência e educação Pankará: sentidos e significados no território
sagrado” dos estudantes do Ensino Fundamental e Ensino Médio das escolas
indígenas no território Pankará. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=Y-2c688iUJg>. Acesso: 17 out. 2021.
Vídeo
Título: Currículo e Interculturalidade: diálogos
necessários
Tempo: 2h
Sinopse: Webinar aborda sobre a integração do
currículo com as concepções da interculturalidade e
apresentando as necessidades e as possibilidades
para o ensino e aprendizagem nas escolas indígenas
e não indígenas. Convidadas – Luciete Lopes / povo
Pankará (COPIPE) e Eliene Amorim (FAFIRE).
Disponível em:<
https://www.youtube.com/watch?v=MtvlhR2lawA&feat
ure=youtu.be>. Acessado:17 out. 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=Y-2c688iUJg
https://www.youtube.com/watch?v=MtvlhR2lawA&feature=youtu.be
https://www.youtube.com/watch?v=MtvlhR2lawA&feature=youtu.be
138
Os trabalhos apresentam, além dos conteúdos essenciais da Base
Nacional Comum Curricular os conhecimentos específicos da cultura e história
daquele povo indígena que são levados para as salas de aula pelos estudantes
indígenas, os quais passam a compartilhar suas experiências de forma
sistematizada.
As fontes dos conteúdos relacionados à cultura e história do povo estão
presentes na formação especifica e diferenciada e descritos nos documentos
escolares, mapas da terra e trabalhos de pesquisas, além de outros espaços
de aprendizagem nos próprios territórios. Esses conteúdos são o resultado das
pesquisas dos professores indígenas e são textos produzidose trabalhados na
sala de aula que trazem dos eixos temáticos da educação escolar indígena,
apontados anteriormente. O vídeo, a seguir, mostra as experiências nas
escolas.
Os conteúdos vivenciados estão presentes em vários espaços, nos
movimentos de luta pela terra, nas reuniões de professores indígenas, nas
reuniões dentro da comunidade e, principalmente, nas aulas-atividades. Eles
também estão presentes no decorrer do ano, nos rituais e festas tradicionais do
povo, nas reuniões pedagógicas, nas formações continuadas indígenas e nos
materiais específicos produzidos a partir do contexto local. O vídeo, a seguir,
mostra as narrativas de duas professores indígenas sobre a elaboração de
materiais e concretização das práticas pedagógicas e relações sociais, para
Vídeo
Título: Patrimônio cultural: desafios às
práticas pedagógicas
Tempo: 2h
Sinopse: Webinar borda a articulação entre o
patrimônio cultural e prática pedagógica na
integração do currículo para o ensino e
aprendizagem. Convidados – Professores
indígenas Tarcísio (Xukuru do Ororubá), Maria
José e Maria Nazaré (Pankararu); e Sandro
Guimarães (UFPE). Disponível em:<
https://www.youtube.com/watch?v=cmHYlQwnx
mw>. Acessado:17 out. 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=cmHYlQwnxmw
https://www.youtube.com/watch?v=cmHYlQwnxmw
139
construção de condições de estar, ser, pensar, conhecer, aprender, sentir e
viver de formas distintas (WALSH, 2002). A educação intercultural trata-se de
reconhecer o que existe nas diferentes culturas e evidenciá-las como riqueza.
Para isso, é necessário um processo sistemático de diálogo entre os
professores indígenas e os estudantes, considerando-se tanto os saberes
locais, quanto as suas práticas na concepção do enunciado da justiça-social,
cognitiva e cultural. Esse processo sistemático possibilita a formação de
relações igualitárias entre os sujeitos e os grupos socioculturais, assim como a
democratização social, atribuída pelas políticas públicas e afirmativas que se
vinculam aos direitos da igualdade e da diferença.
A interculturalidade crítica busca a transformação das estruturas
institucionais.
Com isso, a prática pedagógica é desenvolvida pelos professores
indígenas que lecionam na educação escolar indígena nos aspectos da
indignação, da memória dos mais velhos da aldeia, e na perspectiva de
mudanças (SACAVINO, 2014). Portanto, a afirmação dos direitos à diferença
não consiste em requerer direitos proporcionais para todos, mas, o direito à
diferença que requisita a especificidade sem depreciação e o reconhecimento
sem menosprezo ou sem a indiferença.
Ressaltam-se os projetos que são resultado da interação da escola
indígena com a comunidade:
Vídeo
Título: Contribuições Freireanas para Educação
Escolar Indígena
Sinopse: Webinar – As convidadas Elisa Urbano/Entre
Serras Pankararu e Luciete Lopes/Pankará, ambas da
COPIPE, apresentam como os aportes teóricos de
Paulo Freire influenciaram nas práticas pedagógicas
da Educação Escolar Indígena. Disponível em:<
https://www.youtube.com/watch?v=KRpeC7ojyxs>.
https://www.youtube.com/watch?v=KRpeC7ojyxs
140
Após essas considerações, seguem alguns exemplos de projetos
vivenciados nas escolas indígenas.
[...] o ato de aprender e ensinar na construção de um saber/conhecimento
outro, através da escola indígena, abrange alguns aspectos importantes e
requer desconstruir paradigmas:
1. Conhecer e localizar-se através dos saberes, tradicionalmente,
reelaborados junto ao seu povo: essa é a condição fundamental para todo
o processo do aprender e ensinar no contexto indígena. Conhecer e localizar-
se através da sua própria realidade, dos saberes que foram, e são,
elaborados e reelaborados por meio das relações sociais no próprio povo é a
base da educação escolar indígena. Desse modo, a investigação, a pesquisa,
a reflexão e análise acerca da própria realidade, dos saberes
tradicionalmente produzidos na relação com a/o Terra/Território, História,
Identidade, Organização, Interculturalidade, Espiritualidade, Agricultura, Arte
Indígena e o Bilinguismo.
2. A problematização dos saberes e conhecimentos
ensinados/aprendidos: a percepção e entendimento acerca da própria
realidade é ampliada através de uma reflexão que coloca em questão as
razões, saberes, conhecimentos que estão em jogo no ensino/aprendizagem
e que estão projetados na vida cotidiana. Por isso, a problematização consiste
em: formular perguntas; possibilitar dúvidas; buscar compreender e explicar
como operam os saberes tradicionais e os conhecimentos científicos. Além
disso, desvelar e reescrever outras versões da história, da matemática, das
ciências e de outras áreas de saber/conhecimento que foram universalizadas
inclusive por meio dos livros e diversos tipos de materiais didáticos.
3. A contextualização: esse processo vincula-se aos anteriores, pois refere-
se não apenas ao esforço de questionar a sua própria realidade e assim
desvelar situações, razões e interesses sempre em jogo nos saberes e
conhecimentos historicamente (re)produzidos. Além disso, a contextualização
assume outras perspectivas, pois age através do diálogo, ampliando o olhar e
trato sobre uma ecologia de saberes, conhecimentos, reorganizando-os e
reorientando-os em prol e em função do projeto de sociedade, da
sobrevivência material e imaterial de cada povo. [...]
Texto - Currículo Intercultural Indígena
141
PROJETO 01
Escola Estadual Indígena José Pedro Pereira – Povo Atikum
Município: Salgueiro-PE
SAÚDE MENTAL: A VIDA DO CIDADÃO ATIKUM EM TEMPOS DE PANDEMIA
• Problemática: Como está a saúde mental do povo Atikum Salgueiro em tempos de
pandemia?
• Objetivo Geral: Compreender a saúde mental dentro do povo Atikum e analisar os
desafios das pessoas que são acometidas pelos vários problemas psicológicos.
• Metodologia: Para desenvolver a pesquisa foram utilizados vários questionários e
entrevistas com moradores da comunidade, lideranças, integrantes da equipe de
saúde e o pajé que é um líder religioso do povo. Além disso, os outros
instrumentos como: fotos e vídeos serviram de fundamentação no
desenvolvimento desse trabalho.
• Justificativa: O trabalho que ora se apresenta, justifica-se pela curiosidade em
saber como se comporta uma pessoa que sofre com algum problema mental,
principalmente nesse momento tão difícil em que o mundo passa por uma
pandemia. Conhecer os principais sintomas, os tipos de tratamentos e quais as
dificuldades que enfrentam a cada dia.
• Conceito de saúde mental: É, em geral, o estado de equilíbrio entre a pessoa e
seu ambiente sócio-cultural que garante o seu trabalho, as relações intelectuais e
participação para alcançar o bem-estar e qualidade de vida. Segundo a OMS
(Organização Mundial da Saúde), é “um estado de bem-estar físico, mental e
social completo’’.
• Resultados: Os conselheiros de saúde indígena ajudam na organização da saúde,
além disso, temos o pajé. Ele é o líder religioso dentro do povoe desempenha
várias funções. Segundo o pajé, com a pandemia as comunidades tiveram que
mudar radicalmente a rotina, principalmente na questão cultural, onde todas as
atividades foram suspensas e aos poucos estão retornando. A população Atikum
Salgueiro aldeada é de 1.235 indivíduos. Para a enfermeira da Equipe
Multidisciplinar de Saúde Indígena, que assiste os indígenas de Atikum no
município acima citado, Ionara Freire, ‘’cerca de 30% dos indígenas, sofrem com a
depressão, por ser uma doença silenciosa, algumas pessoas que apresentam
sintomas relativos, acreditam não sofrer desse mal. Por isso, ela acredita queesse percentual seja muito mais alto por causa da não aceitação das
comunidades’’, ou seja, pela comunidade não acreditar que a depressão seja uma
doença.
• Conclusão: a pesquisa explícita contribuirá com mais informações acerca da
saúde mental dos indígenas Atikum. Espera-se que a população possa se cuidar
mais, baseando-se nos dados aqui explorados. Que este trabalho sirva de
exemplo para todos que se preocupam em se aprofundar sobre o cotidiano Atikum
acerca da saúde dentro do território.
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PROJETO 02
Escola Estadual Indígena Militão Primo dos Santos – Povo Truká
Município: Cabrobó/PE
SABERES DO NOSSO POVO
Problemática: Qual é o verdadeiro sentido dos nossos saberes tradicionais
e seus efeitos para, e com a natureza, para o povo Truká?
Justificativa: É de suma importância para o fortalecimento da cultura
tradicional do povo, preservando os ensinamentos adotados pelos nossos
anciões. Através deste, teremos o entendimento do verdadeiro sentido
dos nossos saberes tradicionais e seus efeitos para e com a natureza.
Objetivo: Este projeto tem a finalidade de mostrar, resgatar e fortalecer a
identidade do povo Truká em seu cotidiano, relatando suas crenças,
cultura e movimentos sociais.
Fundamentação: A pesquisa será fundamentada nas experiências dos
mais velhos do nosso povo nos seguintes aspectos: Fatos históricos:
Retomadas, movimentos sociais entre outros; Organização Social: Política
Social e Partidária; Religião, festividades tradicionais e culturais;
Economia do Nosso Povo: agricultora, fruticultura e pecuária, artesanato e
outros; Meio ambiente: Tipos de solos e vegetação, animais,
desertificação, água, assoreamento, erosão e lixo; Saúde: Medicina
convencional e tradicional; e Entretenimentos: Lazer, brincadeiras, locais
turísticos e artistas locais...
Metodologia: Desenvolveremos nossas atividades de forma lúdica e
interdisciplinar, priorizando todos os eixos temáticos (Terra, identidade,
história, organização e interculturalidade). Sendo eles trabalhado em
momento de pandemia, iremos utilizar as redes sociais, como o Google
Sala de Aula, Google Meet, WhatsApp, entre outros. O mesmo será
vivenciado com os estudantes da Educação Infantil, Ensino Fundamental
e Ensino Médio.
Resultados: Os estudantes descobriram por meio da pesquisa que ervas
medicinais têm indicação e contraindicação de uso. A medicina tradicional
esteve muito presente no cotidiano familiar durante o cenário de
isolamento social. Em relação ao meio ambiente, os estudantes
destacaram a importância do cuidado com o lixo, da preservação da
vegetação natural dos animais e da água. E, por último, conheceram a
história de luta do povo a partir de entrevistas com os anciões da família.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Cadernos de Educação. Educação Escolar Indígena: Ano V- nº 14-
1º edição- outubro/2000.
_____. Constituição Federal de 1988. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.ht
m>. Acesso: 27 abr 2020.
_____. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Leinº9.394/1996.
Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso
em:27 abr. 2020.
_____. Resolução CEB/CNE Nº 03/1999. Diretrizes Nacionais para o
funcionamento das escolas indígenas. Ministério da Educação/Conselho
Nacional de Educação - Câmara de Educação Básica, 1999. Disponível em:<
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB0399.pdf>. Acesso em: 29 abr.
2020.
_____. Resolução CNE nº 05/ 2012. Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Escolar Indígena na Educação Básica. Ministério da
Educação/Conselho Nacional de Educação - Câmara de Educação Básica,
2012. Disponível em: < http://mobile.cnte.org.br:8080/legislacao-
externo/rest/lei/86/pdf>. Acesso em: 09 jan. 2020.
LIMA, Wellcherline Miranda; SÁ, Evanilson Alves de. A luta pelo
reconhecimento dos povos indígenas: legitimando práticas e mecanismos que
possibilitam o seu protagonismo. IX Encontro Nacional de Direitos Humanos
de Estudos e Pesquisas, Vitória/ES: ANDHEP, 2016. v. 04. p. 01-15.
PERNAMBUCO. Decreto Estadual nº 24.628/2002: estadualização do ensino
indígena, no âmbito da educação básica, no sistema de ensino do Estado de
Pernambuco. Recife: Diário Oficial de Pernambuco, 2002.
_____. Resolução do CEE/PE nº03/2006. Credenciamento de instituições de
educação básica integrantes do Sistema Estadual de Ensino do Estado de
Pernambuco. Disponível em: <http://www.cee.pe.gov.br/wp-
content/uploads/2015/08/RESOLU%C3%87%C3%83O-CEE-PE-N%C2%BA-
03-2006.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2020.
SACAVINO, Susana. Educação, interculturalidade e direitos humanos
(2014). Disponível em:
<http://www.uece.br/endipe2014/ebooks/livro3/212%20EDUCA%C3%87%C3%
83O,%20INTERCULTURALIDADE%20E%20DIREITOS%20HUMANOS.pdf>.
Acesso em: 25 nov. 2019.
WALSH, Catherine. (DE)Construir la interculturalidade y colonialidad.
Consideraciones criticas desde la politíca, la colonialidad y los movimentos
indígenas y negros em el Ecuador, em Interculturalidad y politica, Norma Fuler
(ed). Lima: Red de Apoyo de las Ciencias Sociales, 2002. Disponível em:<
https://www.uasb.edu.ec › File › PonenciaLima>. Acesso em: 15 nov. 2019.
http://www.cee.pe.gov.br/wp-content/uploads/2015/08/RESOLU%C3%87%C3%83O-CEE-PE-N%C2%BA-03-2006.pdf
http://www.cee.pe.gov.br/wp-content/uploads/2015/08/RESOLU%C3%87%C3%83O-CEE-PE-N%C2%BA-03-2006.pdf
http://www.cee.pe.gov.br/wp-content/uploads/2015/08/RESOLU%C3%87%C3%83O-CEE-PE-N%C2%BA-03-2006.pdf
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FICHA TÉCNICA
COMISSÃO DE SISTEMATIZAÇÃO/REVISÃO DE CONTEÚDO
Adriana Oliveira de Toledo (GEEI)
Alciane Amorim Gomes (GGMOD)
Ana Carolina Ferreira de Araújo
(GEPEM)
Caetano Bezerra Neto (SUPIN)
Claudia Mendes de Abreu (GGMOD)
Claudia Roberta Araújo (SUEAI)
Danielle da Mota Bastos (GEJAI)
Jailson Silva dos Santos (GEPEC)
Regina Celi de Melo André (GGEAF)
Shirley Cristina Lacerda Malta (GEPAF)
EQUIPE DE ELABORADORES
Adriana Cecília Dantas Cintra
Siqueira dos Santos
Adriana Oliveira de Toledo
Alda Feliciano Bezerra
Alexandre Robson de Oliveira
Alison Fagner de Souza e Silva
Ana Carolina Ferreira
Ana Maria Morais Rosa
Andréa Rossana Barcelos Alves
Claudia Roberta de Araújo Gomes
Daniella Roberta Silva de Assis
Dara do Nascimento Almeida
Deybson Henrique Silva de
Albuquerque
Diego Bruno Barbosa Felix
Edney Alexandre de Oliveira Belo
Evande Odete Bezerra Souza
Horace José Jimenez
Isadora Gonçalves Brasil
Isael Tavares de Araujo
Jaciane Gomes Sousa de Lima
Silva
Jacineide Gabriel Arcanjo
Janaína Ângela da Silva
Joelma Henrique de Oliveira Braga
Juliane Suelen Gonçalves Rabelo
Galvão
Luciano da Nóbrega Azevedo
Magda Maria Bezerra Prado da
Costa
Maria do Carmo Correia de Oliveira
Galvão
Matheus Cristiano de Freitas
Oliveira
Mércia Cristina Duarte Santos
Merielle Cristine da Silva Arruda
Rayane Lima Gomes
Reginaldo Gomes Salvino
Rita de Kássia Pontes Silva
Rômulo Guedes e Silva
Sabrina de Souza Rocha
Shirley Cristina Lacerda Malta
Sonia Magali Alves de Souza
Terezinha Mônica Sinício Beltrão
Uanne Freire Bezerra Araújo
Vera Lúcia Braga de Moura
Viviane Rezende Alves
Wellcherline Miranda Lima
EQUIPE DE REVISORES
Caroline Cristina Portela Araújo
Jaciane Gomes Sousa de Lima Silva
Jacicleide Maria da Silva
Janaína Ângela da Silva
Maria de Fatima Andrade Bezerra
COORDENAÇÃO DO CADERNO
Alciane Amorim de Oliveira Gomes
Claudia Mendes de Abreu
Regina Celi de Melo André
DIAGRAMAÇÃO
Otávio Falcão